Você está na página 1de 18

Discipulado e Mentoria

FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e a Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.

FACULDADES BATISTA DO PARANÁ


Direção-Geral – Jaziel Guerreiro Martins
Gerência Acadêmica – Jaziel Guerreiro Martins
Gerência Administrativa – Jader Menezes Teruel
Coordenação dos Bacharelados em Teologia – Margareth Souza da Silva
Coordenação Adjunta do Bacharelado em Teologia EAD – Janete Maria de Oliveira
Autoria do Material – Marcílio de Oliveira e Édypo Felipe de Almeida Lima

Coordenação Editorial – Elen Priscila Ribeiro Barbosa


Coordenação de Produção – Murilo de Oliveira Rufino
Núcleo de Inovação e Desenvolvimento Educacional – Elen Priscila Ribeiro Barbosa
Revisão – Edilene Honorato da Silva Arnas
Design Gráfico e Diagramação – Thiago Alves Faria
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
Rozane Denes (Bibliotecária CRB/9 1243)

Oliveira, Janete Maria de.


Carisma e Caráter / Janete Maria de Oliveira – 1.ed. – Curitiba : Núcleo
de Publicações FABAPAR, 2019.
57 p.

ISBN: 978-85-89487-09-2

1. Carisma (Espirito Santo). 2. Caráter – Aspectos bíblicos. I.


Faculdades Batista do Paraná. II. Título.

CDD (21. ed.) – 231

Elaboração da ficha: Rozane Denes CRB9/1243


Dica
Preparamos uma versão para impressão, acesse!

Por meio do Adobe Acrobat Reader você pode economizar na impressão


da sua apostila! Escolha as configurações abaixo e imprima duas
páginas por folha, em preto e branco!

Se você ainda não tem o Adobe Acrobat Reader, baixe gratuitamente em


https://get.adobe.com/br/reader/

Atenção:

Sempre que você vir uma palavra colorida no meio do texto, clique sobre ela!
Discipulado e Mentoria
Marcílio de Oliveira
Édypo Felipe de Almeida Lima

Núcleo Criativo de Multimeios Educacionais

Curitiba
2019
Apresentação dos autores
Pr. Marcílio De Oliveira, Formado em Administração de Empresas
pela Faculdade de Ensino Superior do Paraná (FESP); em Teologia pela
Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR). Pós-Graduado em Psicoteologia
e Bioética pela Faculdade Paranaense (FAPAR); Mestre em Teologia pela
FABAPAR. Foi pastor de jovens na Primeira Igreja Batista de São José dos
Campos e na Primeira Igreja Batista de Curitiba. Atualmente, é responsável
pelo Ministério de Integração, Famílias e Células da Primeira Igreja Batista
de Curitiba. Atua como professor em classes na igreja desde o início do
ministério e leciona no Ensino Superior desde o início de 2018.

Édypo Felipe de Almeida Lima, Formado em Música pela Universidade


Estadual do Pará (UEPA), Bacharel em Administração de Empresas pela
Faculdade Estácio de Belém, Especialista em Gestão e Docência do Ensino
Básico e Superior pelo Instituto Carreira (IC) e em Teologia pela Faculdade
Teológica Batista Equatorial de Belém do Pará (FATEBE), Bacharelando
em Teologia Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR), técnico em violão
erudito pelo Conservatório Carlos Gomes de Belém do Pará. Foi líder de
ministério de música por 10 anos na Igreja Batista Jardim Nova Esperança
em Ananindeua, no Pará, sendo cinco anos como ministro de música e
líder de jovens.

7
Prefácio
Há alguns anos ouvia-se que uma das maiores carências do mundo
era a da liderança! Escreveu-se muito sobre como ser ou formar líderes
espirituais para o mundo. Pessoas que se levantassem para sonhar um
futuro melhor, que fossem capazes de inspirar outras a ir em busca desse
sonho e que tivessem a coragem e ousadia para ocupar os espaços para
a transformação da sociedade.

Esse ainda é um grande desafio, mas ao trabalhar com a formação


de líderes percebe-se que há uma necessidade de formar líderes que
cuidem de líderes! A liderança espiritual é uma tarefa maravilhosa, mas
quanto maior sua liderança, maior o risco de isolamento, quando não há
com quem conversar sobre as pressões e os pesos do ministério, quando
se perde os referenciais. É nesse ponto da estrada da vida que o perigo de
uma derrapagem pode colocar tudo a perder. Ela pode ocorrer de formas
distintas como alguma enfermidade física ou emocional, problemas de
relacionamento familiar ou com equipe de ministério e até pecados.

No momento em que há tanto investimento na formação de líderes,


formar mentores espirituais que possam servir de referencial e orientar
os novos líderes espirituais que surgem é extremamente útil à igreja e aos
pastores. O Curso de Mentoria se propõe a formar homens e mulheres
que sirvam a Deus como líderes de líderes. Gente que serve aqueles que
o Senhor levanta para liderar sua igreja nos próximos anos. Por meio
desse curso pode-se aprender princípios e valores eficazes no cuidado de
líderes, promovendo saúde integral no exercício do ministério.

Que Deus levante entre nós mentores segundo o seu coração para
este tempo tão desafiador.

Deus te abençoe!

Pr. Marcílio de Oliveira

9
Discipulado e Mentoria

11
Discipulado e Mentoria
Este capítulo tem por objetivo apresentar o conceito de mentoria,
discipulado e aconselhamento, suas relações e possíveis diferenças
dentro de uma perspectiva cristã. O que o levará à reflexão acerca da
importância da mentoria na vida do cristão e consequentemente em seu
ministério.

1.1 Mentoria
Mentoria é o processo de acompanhamento em que uma pessoa
é orientada por alguém. No mundo empresarial, Idalberto Chiavenato,
considerado um dos gurus da Administração de Empresas, conceitua o
ato de orientar como:

Determinar a posição de alguém perante os pontos


cardeais; encaminhar, guiar, indicar o rumo a alguém;
poder reconhecer a situação do lugar em que se acha
para se guiar no caminho. [...] Quando ingressam na
organização, ou quando a organização faz mudanças, as
pessoas precisam sentir em que situação se encontram
e para onde devem conduzir suas atividades e esforços.
(CHIAVENATO 2010, p. 172)

Na igreja, a mentoria é uma ação semelhante ao ato de orientar


citado por Chiavenato. Quando se é novo na fé, é necessário um
acompanhamento e cuidado de alguém mais experiente que guie,
encaminhe, indique o rumo o qual deve ser seguido para permanecer no
caminho da fé. Entretanto este acompanhamento não acontece apenas
para novos adeptos ao cristianismo. Cristãos mais maduros, também
precisam de orientações em algum momento de sua caminhada para
conseguir lidar com determinados desafios que se apresentam durante
sua caminhada terrena em busca de santidade, como os desafios do
casamento, o serviço na igreja, dentre outras demandas ao longo da
jornada de fé rumo à vida eterna.

13
A mentoria também pode ser um período de treinamento, em
que entende-se por treinamento “o processo pelo qual uma pessoa é
preparada para desempenhar de maneira excelente as tarefas específicas
do cargo que deve ocupar”. (CHIAVENATO 2010, p. 367). Você talvez tenha
estranhado a citação de um teórico do setor empresarial, mas Deus é um
excelente administrador (ARAÚJO 2012, p. 104); enquanto o treinamento
apresentado por Chiavenato visa que os funcionários da empresa gerem
cada vez mais lucro, Deus espera que todos os seus trabalhadores,
aqueles que põem a mão no arado, produzam cada vez mais frutos.

"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2


Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e
todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda.
(BÍBLIA SAGRADA, João, 15.1-2)

A definição apresentada por Chiavenato, mostra uma atitude


que todo cristão deve incorporar para servir a Deus. Esta atitude pode
ser traduzida como desempenhar com excelência as tarefas. O bom
desempenho nos esforços do serviço cristão não pode ser dissociado
de uma vida que é forjada por Deus. O Senhor molda vidas de formas
distintas, mas certamente uma das maneiras de trabalhar na vida do
cristão é o convívio relacional, a comunhão da igreja. Nessa comunhão,
há troca de experiências, conhecimentos, dons espirituais e nessa
mutualidade há crescimento espiritual das partes e da comunidade da fé
como todo. Crentes experientes ensinam e aprendem com os mais novos
na fé. Pessoas com certa maturidade espiritual ajudam umas às outras
a permanecerem crescendo diante de Deus. Tudo isso para oferecer
ao Senhor o que se tem de melhor: a vida dedicada no altar de forma
agradável a Ele.

A mentoria entendida como um período de treinamento visa


aperfeiçoar os servos do Senhor para o serviço na obra, pois não se deve
negligenciar o dom recebido de Deus. É necessário se dedicar para que
todos vejam o progresso das pessoas na área que têm dificuldade, não
para a glória, mas para que sejam salvas e levem a salvação a outros (1
Timóteo 4.14); uma vez que são encarregadas dos mistérios de Deus e
portanto devem ser fiéis à missão que lhes foi dada (1 Coríntios 4.1-2);

14
executando as atividades com excelência e zelo, pois chegará o dia em
que todos prestarão conta de suas ações ao Senhor (Romanos 14.11-12).
O próximo ponto tratará do conceito de discipulado e de sua relação com
a mentoria e o aconselhamento cristão.

1.2 Distinções e relações entre discipulado,


mentoria e aconselhamento cristão
Alguns autores apresentam discursos que tratam a mentoria
e o discipulado como sendo algo diferente, já outros, naturalmente,
apresentam como sendo a mesma coisa. Durante o desenvolvimento
deste ponto, serão apresentados alguns argumentos relacionados a essa
questão e falar-se-á sobre a relação que esses dois temas têm com o
aconselhamento cristão.

1.2.1 Discipulado
Para compreender o conceito de discipulado, é importante entender
como e quando se iniciava o processo de ensino no contexto judaico.

Os meninos judeus iniciavam seus estudos da Torah


(primeiros 5 livros do Antigo Testamento) aos 6 anos
de idade e aos 10 já a tinham decorado. Os que se
destacavam eram selecionados, se aprofundavam nas
Escrituras, na sua interpretação e na tradição oral. Aos 14
anos esses meninos já eram considerados a elite em Israel
e eram chamados de Talmidi ou Talmidim (discípulo) e se
dedicavam aos estudos sob os cuidados de um rabino,
posteriormente se tornavam mestres. Provavelmente
Jesus passou por esse processo (Lucas 2.46-47), pois era
reconhecido como mestre (João 1.38;20.16) .1

Jesus, como mestre, escolheu doze homens para serem seus


discípulos diretos, entretanto influenciou muitos outros que o seguiram de

1 DISPONÍVEL em :<https://www.pibcuritiba.org.br/educacaocrista/
downloaddemateriais/>. Acesso em: 24/06/2019.

15
perto e se tornaram seus discípulos. Discipulado é a estratégia utilizada
por Cristo, como mestre, para alcançar o mundo e proporcionar o avanço
do evangelho geograficamente através das gerações.

Todo seguidor de Cristo convertido aos seus ensinamentos estão


aptos a fazer novos discípulos. Ser um discípulo e discipular faz parte
da missão da igreja, mas exercer essas duas atividades não se traduz
em apenas aprender e ensinar. Jesus dizia aos seus seguidores que se
tornassem seus imitadores e isso implica em “pregar, curar os enfermos,
ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios [...]
Jesus veio para servir as pessoas e Ele envia sua igreja para servir ao
mundo”. (CAMPANHÃ, 2012, p. 17)

Ser discípulo de Jesus implica em compreender, viver e ensinar os


seus mandamentos. Cumprir com excelência esses três aspectos, torna o
homem discípulo autêntico de Cristo. A definição de Brandão (2014) pode
auxiliar a compreender melhor o que é ser discípulo:

[...] aluno, aprendiz, aquele que aprende, que segue e se


entrega ao ensino de alguém, aquele que se assenta aos
pés de um mestre para aprender com ele [...] todos aqueles
que se convertiam ao evangelho.

Ser discípulo exige um preço a ser pago: uma vida em santidade,


subordinação, comprometimento com Cristo, humildade, mansidão e
todos os aspectos contidos no fruto do Espírito, além de autonegação,
como o próprio Jesus disse:

Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também


o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas
aquele que me negar diante dos homens, eu também o
negarei diante do meu Pai que está nos céus. Não pensem
que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
Pois vim para fazer que o homem fique contra seu pai, a
filha contra sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos
do homem serão os da sua própria família. Quem ama seu
pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim;
quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é
digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue,

16
não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e
quem perde a sua vida por minha causa a encontrará.
(BÍBLIA SAGRADA, Mateus, 10.32-39)

Ser discípulo implica em perder a própria vida em prol da causa de


Cristo. Discipulado é ensinar a outros o quanto vale a pena perder a própria
vida para ser igual a Cristo. E isso não é uma escolha para os servos
de Cristo, é parte da missão da igreja como representante da missão
de Deus neste mundo. Ser discípulo “implica a aceitação de pontos de
vista e ensinamentos de um líder a quem obedecemos. O discípulo quer
aprender de seu mestre e tornar-se como ele em caráter” (COLLINS,
2005, p. 21). A mentoria e o discipulado só são possíveis por intermédio
do aconselhamento e ensino cristão. A seguir serão apresentados os
conceitos e aspectos do aconselhamento cristão e as possíveis diferenças
entre Mentoria e Discipulado.

1.2.2 Aconselhamento cristão


Quem nunca ouviu um conselho dos pais, amigos ou aconselhou
alguém que estivesse com dificuldades em uma determinada área? O
aconselhamento tem por objetivo ajudar as pessoas, estimular, orientar,
animar em momentos de dificuldades. Acontece através do diálogo, do
compartilhar com o próximo algo importante. Gary Collins diz que ajudar é
tarefa de todos. Embora existam profissões especializadas nesse assunto,
como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, dentre outros, todos
podem ajudar alguém. Muitas vezes, a ajuda que mais irá surtir efeitos
é a de alguém que está perto da pessoa que tem problemas em uma
determinada área, um simples amigo e leigo no assunto de aconselhar.

O aconselhamento cristão visa estimular o crescimento espiritual, a


confissão de pecados, a entrega total de vida a Cristo e o desenvolvimento
de princípios e valores fundamentados nos ensinamentos bíblicos. O
desenvolvimento dessas áreas levará as pessoas a um relacionamento
mais íntimo e intenso com Deus, mais amoroso com os seus semelhantes
e a serem mais resolvidas consigo mesmas. O aconselhamento cristão
se torna único, pois é inteiramente orientado pela influência e presença do
Espírito Santo (COLLINS, 2004).

17
O desenvolvimento do processo de discipulado e mentoria acontece
por meio do aconselhamento cristão. Todo discipulado e mentoria tem um
momento de aconselhamento e orientação como já visto anteriormente,
entretanto nem todo aconselhamento será necessariamente um
discipulado ou mentoria. O aconselhamento pode ser apenas uma ajuda
para uma dúvida ou dificuldade momentânea, algo pontual, entretanto
a mentoria ou discipulado são processos mais demorados, exigem
um acompanhamento mais detalhado, a longo prazo, com data e hora
marcada e visa atingir um objetivo específico.

Na Bíblia, não existe uma diferenciação entre mentoria,


aconselhamento e discipulado. Como exemplo, é possível citar do grego
algumas palavras bíblicas que podem referenciar o que se entende por
discipulado e mentoria.

Fazer discípulos (μαθητεύσατε > mathhteύsate): presente em


Mateus 28:19 quando Jesus diz “ide e fazei discípulos de todas as nações”.
Tem o sentido de ensinar, discipular. Jesus complementa orientando
a batizar em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Em Atos 14.21,
esta palavra aparece com o mesmo significado. Paulo parte para Derbe
juntamente com Barnabé, nesta cidade anunciam o evangelho e fazem
muitos discípulos.

Ensinar; Instruir (διδάσκοντες > didάskontes): presente em Mateus


28.20 é a continuação do texto anterior, Jesus orienta os seus discípulos
a ensinarem a outros o que Ele havia ensinado. Em Jo 14.26, Jesus afirma
que o Pai enviará o Espírito Santo consolador, que ensinara todas as coisas
para os seus seguidores os fazendo lembrar de tudo o que Ele havia dito.

Apascentar (ποίμαινε > poímaine): está presente em João 21:16,


quando Jesus orienta a Pedro que ele apascentasse e cuidasse de suas
ovelhas. Esta palavra também aparece em 1 Coríntios 9:7 com o mesmo
sentido, entretanto direcionado ao cuidado do gado. Também traz o
sentido de liderar, governar e guiar (Mt 2.6; At 20.28; 1 Pe 5.2).

Proclamar, anunciar, fazer menção publicamente (κηρύξατε >


khrύksate): presente em Marcos 16:15 mais uma orientação de Jesus
incentivando os discípulos a proclamarem o evangelho a toda criatura; no

18
versículo 16, ele complementa dizendo que todos os que acreditassem e
fossem batizados seriam salvos.

Na Bíblia, o termo para mentor ou conselheiro é discipulador


ou pastor, aquele que apascenta as ovelhas, que ensina e proclama
as boas-novas do evangelho, ou seja, de acordo com este estudo, o
significado de mentor e conselheiro seria um pastor aquele que “cuida do
gado” ou das ovelhas, aquele que cuida do povo de Deus. E discipulador é
aquele que ensina e proclama o evangelho sendo imitador de Cristo.

1.2.3 Diferenças entre discipulado e mentoria


Algumas igrejas fazem distinção entre os termos discipulado e
mentoria referindo-se a processos de desenvolvimento cristão distintos.
Assim sendo, o discipulado é uma ação voltada para o início da vida
cristã, em que princípios básicos da fé cristã são ensinados com vistas
à preparação de pessoas ao batismo. Para as igrejas que possuem tal
compreensão, a mentoria é um processo de orientação espiritual que vem
após o batismo e visa ao desenvolvimento do caráter cristão no indivíduo.

A mentoria espiritual é uma orientação para o desenvolvimento


do caráter do crente em Cristo. Um acompanhamento voltado para o
amadurecimento do povo de Deus, instruindo, treinando e capacitando
pessoas para estarem aptas ao trabalho em prol do Reino. “A visão de
crescimento integral deve conduzir todos os salvos a um estilo de vida
comunitário que incentive e promova o engajamento de cada membro
em seu ministério pessoal” (PIRAGINE 2015, p. 123). É uma forma de
organização fundamentada em uma visão que Deus deu aos seus servos
para orientar as pessoas para o serviço ministerial.

Na apostila do Curso de Formação Ministerial (CFM), em Mentoria


e Liderança Cristã, que a Primeira Igreja Batista de Curitiba oferece, há a
seguinte definição:

Discipular é acompanhar e ensinar novos convertidos em sua nova


vida com Deus, logo após a conversão, em seus primeiros passos na
fé. Já a mentoria é um acompanhamento de cristãos que já tem uma

19
certa caminhada com Jesus, com o propósito de orientá-los, apoiá-los
e incentivá-los em suas vidas e ministérios. A mentoria é para todos
aqueles que já caminham com Jesus há um pouco mais de tempo.

Tanto o discipulado quanto a mentoria acontecem por intermédio


do acompanhamento, aconselhamento e treinamento voltados aos que
receberam o chamado de Deus para colocar a mão no arado e servir como
bons mordomos. Entretanto há a preocupação de não apenas depositar
conteúdo no intelecto dos alunos. O Pastor Paschoal Piragine Júnior,
presidente da Primeira Igreja Batista de Curitiba, reforça que formar um
ministro é transferir experiência, valores, modelos e vida. Fazendo isso é
possível deixar as marcas de Cristo na vida das pessoas, para que estas
possam marcar outros e assim sucessivamente. Uma aula pode ser
esquecida, mas a experiência vivida será levada por toda uma vida.

Embora haja muita semelhança entre o discipulado e a mentoria, há


algumas distinções entre os dois termos e processos. Segundo Howard
e William Hendricks, “a palavra discípulo significa aprendiz” (HENDRICKS;
HENDRICKS, 2006, p. 176). Segundo os autores, o termo significa o
chamado de um professor para um aprendiz quase beirando uma
ordenança e tem foco maior na instrução. Já o termo mentoreamento
vem do latim, tem a conotação de proteger e o foco mais na iniciação de
um aprendiz rumo à maturidade. O mentor protege seu aprendiz rumo à
maturidade na vida.

Outra distinção clara é que o discipulado é realizado numa proposta


de relacionamento cristão mais informal, não necessariamente com dia
e hora marcada, ainda que isso possa ocorrer. Já a mentoria espiritual
é um relacionamento que visa ao desenvolvimento do cristão, mas
que se realiza num processo um pouco mais formal, com dia e hora
marcados, expectativas claras, ferramentas de avaliação de crescimento,
podendo ser realizada mesmo antes do batismo e não tendo uma data
pré-determinada para seu fim.

20
1.3 Fundamentos da mentoria espiritual
Segundo Robert Clinton (2000, p. 27), todo líder passa por fases
de desenvolvimento de liderança ao longo da vida. Desde a infância até
a maturidade, pessoas estão em desenvolvimento para exercerem seu
papel na sociedade, iniciando dentro da família e depois influenciando
pessoas em contextos distintos. Aqueles que se destacam na liderança
cristã mantêm um espírito de aprendiz em sua vida e compreendem que
devem deixar um legado desenvolvendo novos líderes.

Líderes cristãos em potencial necessitam de desenvolvimento de


liderança à medida que têm oportunidades de exercer novos ministérios
nas igrejas onde atuam. Poder contar com líderes experimentados que
compartilham histórias e lições aprendidas ao longo da vida ministerial
pode ser de grande valia aos mais novos que se mantêm abertos ao
aprendizado. Isso certamente poupa-os de erros já cometidos por outros
e leva-os a obtenção de bons resultados em um espaço de tempo menor
do que outros.

Para Clinton, a ação de mentorear:

faz referência a um modelo de treinamento informal de


pouca intensidade, em que uma pessoa com uma atitude de
servir, dar e encorajar (o mentor) vê potencial de liderança
em uma pessoa ainda a ser desenvolvida (o protegido) e tem
capacidade para promover ou influenciar significativamente
de outra forma o protegido para a realização do seu potencial
de liderança. (CLINTON, 2000, p. 37)

Já David Kornfield mostra o quão valioso é ter um mentor para


a vida, ao afirmar “quanta falta experimentamos sem um mentor! Não
chegamos nem próximos ao potencial com o qual fomos criados. Nem
imaginamos a profundidade dos propósitos de Deus para nossa vida”
(KORNFIELD, 2007, p. 204). Sem ter um mentor ou mentores corre-se o
risco da estagnação, da complacência, da ignorância, enquanto os anos
se passam.

21
1.3.1 Fundamentos bíblicos de mentoria
Há muitas passagens bíblicas que podem ser utilizadas como base
para a fundamentação teórica da mentoria espiritual. Abaixo cita-se
algumas que podem servir de referência, ainda que não esgotem a
exposição bíblica sobre o assunto. No Antigo Testamento, em 2 Crônicas
24:2, vê-se a importância do sacerdote Joiada na vida do novo rei Joás,
ajudando-o a fazer aquilo que Deus aprovava em seu reinado. Já o texto
de Provérbios 27:17 diz: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o
seu companheiro”.

No Novo Testamento o exemplo maior é o próprio Jesus, que


escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele
e os enviasse a pregar (Mc 3.14). Ele mesmo afirmou: “mas todo aquele
que for bem preparado será como o seu mestre” (BÍBLIA SAGRADA, Lucas
6:40b).

O apóstolo Paulo foi profundamente impactado com os cuidados


que recebeu de Barnabé no início de sua vida cristã, conforme nota-se
em Atos 11, quando foi buscá-lo em Tarso, levando-o a liderar os crentes
reunidos na cidade de Antioquia. O próprio Paulo inspirou novos líderes
para as igrejas, como Timóteo, Priscila e Áquila e Tito. Destaca-se aqui o
relacionamento entre Paulo e Tito, em que se pode notar as várias ações
e intenções de Paulo para que Tito pudesse avançar em sua liderança
espiritual. Em Tito 3:12, Paulo desejava passar mais tempo com Tito.
Em 2 Coríntios 2:13, Paulo se preocupa com o bem-estar de Tito. Em
2 Coríntios 7:5,6, Paulo foi encorajado e consolado com a presença de
Tito. Em Tito 1:4, Paulo demonstra intimidade com o seu discípulo; Em
2 Coríntios 8:23, fica claro que Paulo e Tito formavam uma equipe no
ministério de pastorear as igrejas.

Há ainda muitas outras passagens bíblicas e várias pessoas


que podem servir de inspiração na vida das pessoas. O pastor e autor
Wayne Cordeiro (2008, p. 12-14) demonstra isso ao relatar que qualquer
pessoa pode ser inspirada pelos heróis da fé na Bíblia. Suas vidas, seus
erros, acertos e aprendizados servem para ajudar qualquer indivíduo a
ter desenvolvimento espiritual compreendendo a vontade de Deus e
aplicando-a em sua vida.

22
Síntese
Neste capítulo foi visto que discipular, mentorear e aconselhar
pessoas faz parte da missão da Igreja de Cristo. Verificou-se que discipulado
e mentoria, de acordo com a Bíblia, possuem conceitos semelhantes, que
se trata de ensinar, treinar, cuidar, pastorear pessoas preparando-as para
uma caminhada firme na fé rumo à eternidade. Verificou-se também que
algumas igrejas atribuem conceitos diferenciados entre discipulado e
mentoria, tendo o primeiro foco em preparar os novos na fé em Cristo
para o batismo, já o segundo seria uma continuação do discipulado,
preparando, capacitando, treinando e orientando os servos do Senhor
para o trabalho em prol do Reino.

Observou-se que o aconselhamento cristão é uma ação


presente no ato de discipular e mentorear pessoas. No entanto, nem
todo aconselhamento é um discipulado ou mentoria, pois estes
dois se desenvolvem a longo prazo, com data e hora marcada, e o
aconselhamento pode ser mais simples e pontual. Foi estudado também
sobre os fundamentos da mentoria espiritual e a base que a Palavra de
Deus dá para sustentar a relevância deste tema. No próximo capítulo,
serão apresentadas as características de um mentor cristão e de um
mentoreando, e como deverá ser um relacionamento saudável entre eles.

23

Você também pode gostar