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A revisão do conceito de socialização implicou na revisão de uma série de outros conceitos marcados
pela uma visão eurodescendente e adultocêntrica de criança, a ele atrelados, como o conceito de cultura,
infância, e conseguintemente o conceito de educação.
A reinterpretação do conceito de socialização, com base nas novas representações
da infância e da compreensão da criança concreta, captadas nas pesquisas empíricas
gera resultados que tem repercursão nas instituições de educação e propõe acções
educativas que sejam compatíveis com essas novas representações, pois, a revisão desse
conceito, passa a absorver representaões da infância diferentes daquelas do passado.
Insiste-se no estudo da socialização como via de mão dupla, interessando incluir as
relaçoes não apenas entre crinças e adultos, como também, entre as crianças entre si
(VALENÇA, 2010, p.64-65).
O novo paradigma estabelecido pelos chamados “novos” Estudos Sociológicos da
Infância dialogam com a Sociologia da Educação, na medida em que, refletem sobre as
diferentes concepções de infância e e modos de ser criança, instigando-nos a pensar em
outras formas de educação, em outras concepções de professor e de professora, de
“adulto-professor diferente”, que possa propiciar condições favoraveis a autonomia
infantil, não apenas em relação à reconstrução, pela criança, do conhecimento existente,
como também, para a ação colectiva dessa experiêcia e da sua imaginação (FARIA,
1999, p.213 apud FARIA E FINCO, 2011, p.12).
O diálogo entre estas duas subáreas da sociologia exige “(...) pensar na formação
docente para a emergência de novas pedagogias, que promovam e recebam “com bons
olhos” a transgressão, a incerteza, a complexidade, a diversidade, a não linearidade, a
subjetividade, a singularidade, as perspectivas múltiplas e as especificidades espaciais e
temporais” (FINCO 2010, p.175 apud FARIA E FINCO, 2011, p.12).
Porém, o diálogo entre a Sociologia da Infância e a Sociologia da Educação não se
restringe somente à educação escolar, mas a educação no seu sentido mais amplo, de
reprodução da existência humana, pois, “ao mesmo tempo em que o mundo é
adultocentrico, as crianças aprendem mesmo quando o adulto não tem intenção de
ensinar” (GUNNARSSON, 1994 apud FARIA E FINCO, 2011, p.13). As crianças
estabelecem relacões com os adultos e com outras crianças, elas são simultaneamente
produto e produtoras das culturas infantis e dos processos educacionais que as
envolvem.
Nosso argumento neste artigo é de que essas duas subáreas do conhecimento
sociológico não podem ser pensadas de forma separada, pois, uma implina na outra.
Como Rocha (2002) e outros autores acima citados defendem e nós coroboramos, que a
infância e a educação constituem um campo complexo de investigação. Portanto, a
Sociologia da Infância sendo uma disciplina que analisa a relação entre a autonomia e
dependência infantil (relação adulto-criança e criança-criança) e as suas modificações
no tempo (HENGST & ZEIHER, 2004 apud FARIA E FINCO, 2011, p.13) não pode se
furtar em momento algum da reflexão sobre os processos educativos que envolvem
essas relações. Pelo que, uma perspectiva sociológica educacional sobre a infância faz-
se necessária para a compreensão das especificidades das culturas infantis (PROUT,
2004; SARMENTO, 2007 apud VALENÇA, 2010, p. 69).
Como nos lembra Valença (2010), numa perspectiva semelhante a de Barbosa
(2007):
Precisamos, pois, de ampliar nossa representação da educação para que
se torne compatível com as competências infantis constatadas em
pesquisas empíricas e modeladoras do conceito de socialização
predominante na sociologia da infância. Porém, temos que ir mais
adiante: é necessário entendermos que a apropriação da cultura pelas
crianças faz parte do processo educativo. E, ainda, que o trabalho
educativo, que tem como objetivo a humanização, inclui o conceito de
socialização (VALENÇA, 2010, p. 70).
Referências bibliográficas
COLONNA, Elena. (2012). Eu é que fico com a minha irmã: vida quotidiana das
crianças de um bairro periférico de Maputo. Braga: Universidade do Minho (Tese de
Doutoramento em Estudos da Criança com especialidade em Sociologia da Infância)
FARIA, Ana Goulart de; FINCO, Daniela (Org.) (2011). “Apresentação”. Sociologia
da Infância no Brasil. Campinas:SP, p.vii-viii
ROCHA, Eloisa Acires Candal. (2011). “Prefácio”. FARIA, Ana Goulart de; FINCO,
Daniela (Org.) Sociologia da Infância no Brasil. Campinas:SP, p.vii-viii