Você está na página 1de 62

| PRISCILA PORRUA |

| DALVAN ANTONIO DE CAMPOS |


| MARIANA MARTINS PEREIRA |

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO,
SAÚDE E SOCIEDADE

UFSC 2020
| PRISCILA PORRUA |
| DALVAN ANTONIO DE CAMPOS |
| MARIANA MARTINS PEREIRA |

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO,
SAÚDE E SOCIEDADE

UFSC 2020
FLO R I A N ÓP O LIS
GOVERNO FEDERAL

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)
Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS)
Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Cristiane Derani
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretor: Celso Spada
Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Lúcio José Botelho

EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE


Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição

Gestora Geral do Projeto Sheila Rubia Lindner


Coordenação de Produção de Material Elza Berger Salema Coelho

3
Autores Dalvan Antonio de Campos
Priscila Porrua
Mariana Martins Pereira

Revisores Nazaré Otília Nazário



Equipe Editorial Carolina Carvalho Bolsoni
Thays Berger Conceição
Deise Warmling
Dalvan Antonio de Campos
Sabrina Blasius Faust

Assessoria Pedagógica Márcia Regina Luz

Assessoria de Mídias Marcelo Nogueira Capillé

Equipe Executiva Patricia Dias de Castro


Gabriel Donadio Costa
Eurizon de Oliveira Neto

Design Instrucional/ Soraya Falqueiro


Revisão de Português e ABNT/
Elaboração das Questões Avaliativas

4
Identidade Visual/Projeto Gráfico Pedro Paulo Delpino Bernardes

Diagramação/Esquemáticos/ Laura Martins Rodrigues


Infográficos/Finalização

Desenvolvedor Web Kuassi Dodji Franck Kumako


Paulo Alexsander Godoi Lefol
Tcharlies Dejandir Schmitz

Supervisão de Desenvolvimento Web Sabrina Blasius Faust

Esquemáticos/Infográficos Web Naiane Cristina Salvi

Fonte para Imagem e Esquemáticos Adobe Stock, Rawpixel

P838a Porrua, Priscila

Alimentação e nutrição, saúde e sociedade / Priscila Porrua, Dalvan Antônio de Campos,


Mariana Martins. – Florianópolis : UFSC, 2020.
62 p. : il.
E-book (PDF)

ISBN: 978-65-87206-26-4

1. Nutrição. 2. Saúde e sociedade. 3. Obesidade. I. Porrua, Priscila. II. Campos, Dalvan Antô-
nio. III. Martins, Mariana. IV. Título.

CDU: 612.2

5
APRESENTAÇÃO 7 2.4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E
NUTRICIONAL E SUAS CONEXÕES COM O SUS 35
1 MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE, 2.5 A POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO 9 E NUTRIÇÃO (PNAN) 36
1.1 CONCEPÇÕES E MODELOS CONCEITUAIS DE SAÚDE 10
1.1.1 Diferentes formas de explicar a saúde 10 3 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
1.1.2 Modelos conceituais de saúde 13 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 38
1.1.3 Modelo de Determinação Social 3.1 A POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E
da Saúde e Modelo Biomédico 14 NUTRIÇÃO DO SUS: PROPÓSITO, DIRETRIZES
1.1.4 Conceito ampliado de saúde 16 E APLICABILIDADE NA APS 39
1.2 DETERMINAÇÃO SOCIAL DA ALIMENTAÇÃO 3.2 A POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE:
E NUTRIÇÃO 18 PROPÓSITO, DIRETRIZES E APLICABILIDADE NA APS 42
1.2.1 Cultura e alimentação 18 3.3 ATENÇÃO NUTRICIONAL NA APS:
1.2.2 Determinantes sociais da alimentação e nutrição 21 RECONHECIMENTO DO TERRITÓRIO E
1.3 PROMOÇÃO DA SAÚDE E DA ALIMENTAÇÃO ATENÇÃO INTEGRAL 45
ADEQUADA E SAUDÁVEL 24 3.4 TRABALHO MULTIPROFISSIONAL PARA O CUIDADO
INTEGRAL DA POPULAÇÃO 47
2 SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR 3.5 GUIA ALIMENTAR PARA POPULAÇÃO
E NUTRICIONAL NO BRASIL 26 BRASILEIRA COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO
2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS DA ALIMENTAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL 49
E NUTRIÇÃO 27
2.1.1 Direito Humano à Alimentação Adequada 27 ENCERRAMENTO DO MÓDULO 56
2.1.2 Segurança Alimentar e Nutricional e REFERÊNCIAS 57
Soberania Alimentar 31 MINICURRÍCULO DOS AUTORES 61
2.2 A LEI ORGÂNICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E
NUTRICIONAL (LOSAN) 32
2.3 GOVERNANÇA DA SAN NO BRASIL 34

6
APRESENTAÇÃO

Olá, profissional.

Desejamos boas vindas ao módulo de Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e


Alimentação e Nutrição, Saúde e Sociedade. da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)
Este módulo foi elaborado para no Brasil, além de aspectos relevantes da
proporcionar uma reflexão acerca dos Política Nacional de Alimentação e Nutrição
impactos dos fatores sociais, econômicos (PNAN), da Política Nacional de Promoção
e culturais sobre a alimentação e nutrição, da Saúde (PNPS) e do Guia Alimentar para
além da organização das políticas públicas a População Brasileira para organização da
do Estado Brasileiro e da atenção nutricional atenção às pessoas com sobrepeso e obesi-
na Atenção Primária à Saúde (APS). dade no âmbito da APS.
Nesta etapa de estudo, abordaremos a
relação entre a saúde e a sociedade, a ali-
mentação e a nutrição, e suas repercussões Desejamos a você bons estudos!
na percepção e abordagem do sobrepeso
e da obesidade. Também vamos aprofun-
dar conhecimentos importantes sobre a
trajetória conceitual e normativa do Direito

7
APRESENTAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final deste módulo, você deverá ser


capaz de elaborar um diagnóstico social
do território onde está inserido, composto
por determinantes sociais, equipamentos
e dispositivos legais de saúde, segurança
alimentar e nutricional e ações intersetoriais
para a prevenção e controle do sobrepeso e
da obesidade.

CARGA HORÁRIA DE ESTUDO


RECOMENDADA

Para estudar e apreender todas as


informações e definições abordadas, bem
como trilhar todo o processo ativo de
aprendizagem, estabelecemos uma carga
horária de 30 horas para este módulo.

8
UN 1
MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Nesta unidade, vamos conhecer a também pode ser observada nos significados
influência da organização da sociedade sobre a composição corporal, a alimentação
na alimentação e nutrição e no processo e a nutrição. A seguir, vamos explorar as prin-
saúde-doença, bem como as repercussões cipais concepções de saúde, os respectivos
na percepção e abordagem do sobrepeso e modelos conceituais e sua relação com a
da obesidade. Para isso, trabalharemos as alimentação, a nutrição e o excesso de peso.
diferentes concepções da saúde, os mode-
los conceituais, os determinantes sociais de 1.1.1 Diferentes formas de
saúde, a cultura alimentar, os determinantes explicar a saúde
sociais de alimentação e nutrição, assim
como as estratégias de promoção da saúde A necessidade de explicar porque os seres
e da alimentação adequada e saudável. humanos adoecem, e como podem restabele-
Acompanhe. cer sua saúde, é um tema que sempre acom-
panhou a humanidade. Ao longo da história,
1.1 CONCEPÇÕES E MODELOS mesmo antes da ciência moderna, já existiam
CONCEITUAIS DE SAÚDE explicações para as causas das doenças,
bem como formas de tratá-las e preveni-las.
Ao longo da história e entre as culturas Essas explicações, em geral, utilizam conhe-
existem diversas compreensões sobre o que cimentos mágicos, religiosos e/ou científicos.
é saúde e doença, bem como as formas de Vamos conhecer algumas a seguir, com base
diagnóstico e terapêutica. Essa pluralidade em Rosen (1994), acompanhe.

Antiguidade

A doença era atribuída a causas externas cuja explicação estava em fatores sobrenaturais,
para posteriormente vincular-se ao caráter religioso, envolvendo a igreja como local de
tratamento e os sacerdotes como mediadores da cura.

10
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Apesar da divisão histórica apresentada,


Grécia Antiga devemos considerar que as diferentes
percepções sobre a saúde e a doença
Surgiu a Teoria Hipocrática, que centrava nos fatores externos ambientais (clima, geografia, coexistem na sociedade. Atualmente, a
alimentação, trabalho excessivo) as causas das doenças.
medicina científica, baseada em estudos
Idade Média e evidências, é a forma mais aceita de
explicação no campo da saúde; entretanto, é
Sob forte influência do cristianismo, a doença toma sentido místico religioso (castigo) e comum os usuários buscarem outras formas
a cura é buscada em poderes miraculosos (relíquias, amuletos, água benta, exorcismo). de diagnóstico e tratamento, baseadas em
diferentes racionalidades terapêuticas.
Período do Renascimento

Surgiu a Teoria Miasmática, cuja explicação da doença estava nas partículas invisíveis, Como profissional da saúde, você
os miasmas. poderá em algum momento estar
diante de um desses casos. Lembre-
Revolução Industrial -se de ter uma abordagem empática,
compreendendo os motivos pelos
quais o paciente está buscando es-
Emergiu a Teoria Social da Medicina com alguns revolucionários como Virchow e Neumann,
ses outros tratamentos, para então
que buscavam a explicação da doença nas condições de vida e de trabalho.
auxiliá-lo com as perspectivas tera-
pêuticas que você utiliza na sua prá-
Século XIX tica profissional.

A partir das descobertas bacteriológicas, o conceito de doença é alterado, agora centrando


a procura da causa em um agente causal de origem bacteriológica. As sociedades e suas culturas são dinâ-
micas, alteram-se ao longo do tempo. Essas
Século XX variações influenciam no significado que as
pessoas atribuem ao que é ou não saudável
A insuficiência da Teoria Unicausal da doença abre espaço para a formulação de explicações
afetando as práticas cotidianas e, conse-
multicausais, de caráter biologicista e a-histórico, numa concepção reducionista do social.
quentemente, o perfil de morbimortalidade
da população (FERNANDEZ, 2014).

11
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Vamos refletir sobre o excesso de 2. No contexto da sociedade industrial,


peso na sociedade ocidental, ao longo da com novos modos de produção e valo-
história, para analisarmos tais mudanças rização da disciplina, passa-se a consi-
socioculturais. derar o corpo magro, em especial o das
mulheres, como sinal de autocontrole e
Excesso de peso é a categoria que
poder sobre si, uma prova de domínio
abarca o sobrepeso/pré-obeso, obe- da mente sobre o corpo (WOLF, 1992).
sidade grau I, obesidade grau II e 3. Nas últimas décadas, essa valoração
obesidade grau III.
estética negativa sobre o excesso de
peso intensificou-se, atingindo tam-
1. Antes do século XIX os corpos volu- bém a população masculina e diferen-
mosos eram considerados o padrão tes faixas etárias, provocando trans-
estético e de saúde, como se pode tornos alimentares, psicológicos, além
observar nas pinturas da época. A gor- de discriminação social. Concomitan-
dura era sinônimo de saúde, beleza e temente, os estudos científicos pas-
sedução. O excesso de peso era co- saram a identificar o excesso de peso
mum entre os nobres, devido ao aces- como um problema de saúde pública
so a alimentos em abundância e a não por ser um fator de risco para outras
realização de atividade física desgas- doenças crônicas não transmissíveis
tante. Deste modo, o poder financeiro (DCNT). Deste modo, o acesso a uma de um padrão de beleza e saúde desejável até
e político estava associado ao exces- alimentação adequada e saudável, a um problema estético e de doença. Assim,
so de peso, sendo a magreza sinal atividade física regular e a manuten- você pode perceber que as mudanças sociais
de dificuldade financeira, restrição de ção do peso corporal adequado pas- e produção de conhecimento, ocorridas ao
alimentos e posições sociais subal- sam a compor o padrão de estética e longo do tempo, influenciam na percepção
ternas (ANDRADE, 2003). Esta percepção de saúde (FREITAS, 2010). sobre o que é ou não saudável e desejável.
sobre a estética corporal permanece Veja que nos três momentos apresentados Esta reflexão não objetiva desconside-
até meados de 1830, quando é criado a percepção social e da saúde acerca do rar os conhecimentos atuais acerca dos
outro código da beleza. excesso de peso varia drasticamente, indo malefícios do excesso de peso à saúde

12
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

das pessoas, mas demonstrar que essas modelos conceituais de saúde. O modelo surgimento e a transmissão das doenças
variações de significado sobre “o saudável” conceitual é um conjunto de suposições nas populações humanas, dando base para
existem e podem estar presentes nos dife- baseadas na realidade e que busca indicar as terapêuticas. Destacam-se cinco princi-
rentes grupos sociais que compõem o seu regras existentes. pais modelos explicativos (ALMEIDA FILHO;
território. Além disso, busca-se salientar que No campo da saúde, os modelos ROUQUAYROL, 2002). Acompanhe as principais
o acometimento das pessoas pelo sobrepe- conceituais são utilizados para explicar o características de cada um dos modelos!
so e pela obesidade está relacionado com a
forma de organização e as características
Mágico-religioso
da sociedade. Cabia aos deuses definir o estado de adoecimento e cura dos homens, sendo
Agora que já vimos algumas das diferentes marcado pela noção de pecado-doença e redenção-cura.
formas de conceber saúde e doença, bem
Biomédico
como sua relação com o sobrepeso e a Tem como abordagem a patogenia e a terapêutica, classificando as doenças
obesidade, vamos conhecer os principais segundo forma e agente patogênico. Caracteriza-se pela explicação unicausal da
modelos conceituais de saúde. doença e enfoque nos aspectos biológicos. Entende o corpo como uma máquina
que pode ser compreendido e tratado em partes isoladas, por especialistas.
1.1.2 Modelos conceituais de saúde Processual
Baseada no modelo de História Natural da Doença (LEAVELL; CLARK, 1976).
Como vimos, existem diferentes formas Aponta que o corpo responde a estímulos patológicos do meio, tendo como
de pensar a saúde e a doença. Essas desfecho a cura, o defeito, a invalidez ou a morte.
variações influenciam na forma como os Sistêmico
profissionais da saúde, ao longo do tempo, A saúde e a doença são influenciadas por fatores políticos e socioeconômicos,
orientam as pessoas para terem hábitos fatores culturais, fatores ambientais e agentes patogênicos que estão relaciona-
saudáveis e estabelecem o diagnóstico e dos sinergicamente. A modificação de um dos níveis afetará os demais.
tratamento de doenças. Determinação social da saúde e da doença
Conforme o desenvolvimento do A saúde e o adoecimento estão relacionados com o jeito como as pessoas
conhecimento científico, foram criadas vivem. Ou seja, são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais,
psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de
novas formas de explicação para tais
saúde e seus fatores de risco na população.
fenômenos, bem como organizá-las em

13
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Atualmente, tanto o Modelo Biomédico


quanto o da Determinação Social da Saúde
(DSS) e da Doença estão presentes na
formação e prática dos profissionais da
saúde, o que mostra que apesar das reformas
curriculares e da formação para abordagem
a partir dos determinantes sociais, ainda
há hegemonia da abordagem biomédica
(ARAUJO; GOMES DE MIRANDA, 2014; BRASIL, 2014a ).
Devido à relevância desses dois modelos,
bem como sua relação com a forma de
abordagem das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT), no próximo item
conheceremos melhor suas características possível perceber que as mudanças do modo A identificação da doença em um agente
e interfaces com o sobrepeso e a obesidade. de produção e organização social alteram causador (unicausalidade) trouxe uma ideia
Vamos lá! o processo saúde-doença da população direta de cura. Ou seja, pensou-se que bastava
(GARBOIS; SODRÉ; DALBELLO-ARAUJO, 2017). identificar o agente causador e desenvolver
1.1.3 Modelo de Determinação Social O movimento da Medicina Social, por um medicamento que o eliminasse.
da Saúde e Modelo Biomédico identificar a importância da visão social, Assim, aos poucos a ideia do processo de
propunha ações sobre as condições de vida determinação social foi abandonada em de-
A ideia de determinação social da saúde das pessoas e na estrutura das cidades, trimento da unicausalidade e de uma visão
tem suas origens na medicina social europeia para diminuir os problemas de saúde. Essa estrita ao biológico, que teve algum êxito
dos séculos XVIII e XIX. Nesta época, houve forma de compreensão foi predominante com as doenças infecciosas e parasitárias.
um grande aumento dos problemas de saúde, até o final do século XIX e início do XX. A consolidação do Modelo Biomédico vem
devido à industrialização e seus efeitos, Isso porque, após a descoberta da bactéria com a publicação do Relatório Flexner, por
tais como: aumento da população urbana, por Louis Pasteur e sua identificação como Abraham Flexner, em 1910, o qual propôs
desemprego, falta de alimentos, de moradia, agente patogênico, houve grande euforia no um modelo ideal para formação médica,
jornada de trabalho excessiva. Assim, foi meio científico (VERDI; DA ROS; SOUZA, 2013). tendo como principais características:

14
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

a centralidade na cura de doenças, a as- raciais, psicológicos e comportamentais e um baixo nível de atividade física (BRASIL,
sistência hospitalar, a atenção individual, que influenciam a ocorrência de problemas 2019). A Vigitel (Vigilância de Fatores de
o foco no biológico, a visão mecanicista de saúde e fatores de risco à população, tais Risco e Proteção para Doenças Crônicas
do corpo e fragmentação da atenção pelas como moradia, alimentação, escolaridade, por Inquérito Telefônico), realizada em 2018
especialidades (PAGLIOSA; DA ROS, 2008). renda e emprego. Os determinantes sociais pelo Ministério da Saúde, aponta que entre
em saúde estão ligados ao conceito de ini- 2006 e 2018 tivemos:
quidade, ou seja, as desigualdades injustas, • Aumento de 67% do número de
Apesar das profundas críticas e da evitáveis e desnecessárias (GARBOIS; SODRÉ; pessoas com obesidade, variando de
ineficiência de uma abordagem es-
DALBELLO-ARAUJO, 2017). 11,8% para 19,8%.
tritamente biomédica em um contex-
to de DCNT, como a obesidade, as Nesse sentido, você já refletiu sobre o • Aumento de 30% no número de pessoas
ideias do Modelo Biomédico ainda impacto de determinantes sociais de saúde com excesso de peso (sobrepeso e
estão presentes no campo da saúde,
influenciando a formação e prática
como escolaridade, renda, emprego e produ- obesidade), passando de 42,6% para
dos diversos profissionais. ção de alimentos nos casos de sobrepeso 55,7%.
e obesidade que você acompanha em seu
território? Lembre que incluir os DSS no seu 60 55,7%
O desafio da atenção á saúde das pessoas processo de trabalho não implica em des-
50
com excesso de peso é entender que esse considerar o aspecto biológico. Atualmente
42,6%
modelo não é suficiente e nem adequado há necessidade de um modelo híbrido que 40
para abordar a obesidade e as DCNT. trabalhe com os aspectos biológicos, psíqui-
Já as discussões sobre a determinação cos e sociais em busca de uma abordagem 30
social da saúde ganham força no campo da integral e resolutiva para os problemas de 19,8%
saúde com o Movimento de Reforma Sanitá- saúde na Atenção Primária à Saúde (APS). 20
11,8%
ria. Os determinantes de saúde são as cir- Nas últimas décadas, vivenciamos
10
cunstâncias em que as populações crescem, profundas modificações do perfil epide-
vivem, trabalham e envelhecem, bem como miológico, antropométrico e alimentar da 0
os sistemas implementados para lidar com a população. Temos altas taxas de DCNT, de 2006 2018 2006 2018

doença. Assim, estão relacionados a fatores sobrepeso e obesidade, bem como um eleva- Obesidade Sobrepeso
sociais, econômicos, culturais, étnicos/ do consumo de alimentos ultraprocessados

15
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

A obesidade é uma condição crônica 1.1.4 Conceito ampliado de saúde foi considerado utópico e sofreu críticas,
multifatorial, relacionada a fatores genéti- passando por aperfeiçoamentos nas confe-
cos, metabólicos, hormonais, ambientais, O avanço do modelo biomédico, ao ser rências realizadas pela OMS nas décadas de
comportamentais, culturais e sociais, e insuficiente para explicar o complexo pro- 1970 e 1980 (SCLIAR, 2007).
também está associada ao surgimento de cesso de saúde e doença, além de apresen- As duas principais conferências que
outras doenças crônicas. Características tar elevado nível de intervenção e alto custo abordaram o tema foram: a Conferência
como baixa escolaridade, baixa renda, união para a população e o Estado, impulsionou a Internacional sobre Cuidados Primários de
conjugal (casados e viúvos) e envelhecimen- divulgação do conceito ampliado de saúde. Saúde, realizada em Alma-Ata, Cazaquistão
to são fatores associados às populações Publicado em 1948, pela Organização e a I Conferência Internacional sobre Promo-
mais vulneráveis à origem e distribuição da Mundial da Saúde (OMS), considera a saúde ção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá.
obesidade. Ou seja, não há um agente etioló- como o estado do mais completo bem-estar Veja a seguir como se apresentam as prin-
gico específico da obesidade, característica físico, mental e social, e não apenas a au- cipais contribuições dessas conferências
comum das DCNT. Assim a abordagem para sência de doenças. Por seu caráter subjetivo para a estruturação do conceito ampliado
sua prevenção e controle deve ser voltada e ideal de “perfeito bem-estar”, o conceito de saúde.
para os fatores sociais, comportamentais e
biológicos, conforme a perspectiva ampliada Declaração de Alma-Ata (1978)
de saúde (BRASIL, 2014b).
Apontou:
Agora que você conheceu as diferenças
e a complementaridade dos dois principais
• As desigualdades de saúde entre países desenvolvidos e
1978 subdesenvolvidos.
modelos conceituais de saúde e sua
• A responsabilidade governamental na provisão da saúde.
relação com a atenção às pessoas com
• A importância da participação das comunidades no planejamento
sobrepeso e obesidade, vamos aprofundar dos serviços de saúde.
conhecimentos sobre o conceito ampliado 1986
de saúde e sua implicação neste contexto.
Carta de Ottawa (1986)
Acompanhe.
Definiu os recursos necessários para saúde: paz, habitação,
educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos
sustentáveis, justiça social e equidade.

16
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

No Brasil, o conceito de saúde adotado a acessibilidade aos alimentos Aspectos sociais:


na Constituição de 1988 utiliza a perspectiva saudáveis.
ampliada, proposto no relatório final da 8ª 5. Prevenção de doenças: ações
Alimentação
Conferência Nacional de Saúde de 1986. direcionadas a evitar o surgimento
No relatório final, a saúde é tratada como de doenças específicas, diminuindo
resultante de condições como: alimentação, sua incidência e prevalência nas Habitação
habitação, educação, renda, meio ambiente, populações (CZERESNIA, 1999). Exemplo:
trabalho, transporte, emprego, lazer, liber- realização de abordagem individual Educação
dade, acesso e posse da terra e acesso a ou coletiva para orientação alimentar
serviços de saúde. Desta forma, a saúde é e prática de atividade física para
Renda
resultante das formas de organização social pessoas com sobrepeso identificadas
que podem gerar grandes desigualdades nos na população adscrita.
diversos níveis da vida (BRASIL, 1986, p. 4). Trabalho
O conceito ampliado norteia os trabalhos
Para saber mais sobre as diferen-
no Sistema Único de Saúde (SUS), conside- ças entre prevenção de doenças e Meio ambiente
rando a saúde e a doença como processos promoção de saúde, acesse o texto
que relacionam condições biológicas, “O Conceito de Saúde e a Diferença
entre Prevenção e Promoção”, de Lazer
sociais, políticas, econômicas, ideológicas e Dina Czeresnia, acessando o link:
culturais. Assim, como avanços desta pers- <http://www.fo.usp.br/wp-content/
pectiva, podemos destacar o trabalho com: uploads/AOconceito.pdf>. Emprego
4. Promoção de saúde: ações desen-
volvidas sobre os condicionantes A adoção do conceito ampliado possibilita Transporte
e determinantes sociais da saúde o planejamento de ações sobre os aspectos
que influenciam favoravelmente a comportamentais e sociais determinantes
Liberdade
qualidade de vida (CZERESNIA, 1999). no desenvolvimento do sobrepeso e da
Exemplo: articulação com agricultores obesidade. Acompanhe a seguir, elementos
Acesso e
para realização de feiras de alimentos que devem ser considerados na abordagem posse da terra
orgânicos no seu território melhorando das pessoas com excesso de peso.

17
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

1.2 DETERMINAÇÃO SOCIAL DA também com as crenças, os tabus e a religião


Aspectos comportamentais: ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO dos povos, e ordenam suas atividades
cotidianas (CANESQUI, 2005).
A alimentação e a nutrição também são
Atividade
influenciadas por questões socioculturais,
física Na alimentação humana há um en-
geográficas, econômicas e biológicas que contro entre natureza e cultura, uma
vão desde acessibilidade a determinados vez que, comer é uma necessidade
Uso de álcool tipos de alimentos, passando pelas tradições vital e também um mediador das re-
lações sociais e culturais.
e preferências alimentares aprendidas
Hábitos no contexto familiar, indo até os efeitos
alimentares dos hábitos alimentares na nutrição do As relações em torno da refeição, ato
organismo (BRASIL, 2013; PRADO et al., 2016). imerso em simbologias e significados,
Hábito tabágico Neste item vamos aprofundar os proporcionam convívio e trocas aos que
conhecimentos sobre os aspectos sociais se reúnem para esse evento. Sendo assim,
e culturais relacionados à alimentação, o quê, quando e com quem comemos
identificando os seus determinantes sociais está relacionado com às normas culturais
e as suas implicações no perfil alimentar e vigentes, fazendo parte de um sistema
Agora que já estudamos a importância da nutricional da população. simbólico acerca da alimentação.
utilização da perspectiva ampliada de saúde
para o cuidado das pessoas com sobrepeso 1.2.1 Cultura e alimentação
e obesidade, vamos aprofundar alguns dos
determinantes sociais da alimentação e A alimentação de um povo é parte
nutrição. Siga para conferir! constituinte de sua identidade cultural
e, juntamente com outros elementos, dá
significado à sua existência. Assim, as
tradições e os costumes relacionados à
alimentação estão intimamente relacionadas

18
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

O ato de comer está presente nos mais e a diversidade cultural de seus habitantes
diversos momentos, como: reuniões, festas, apresenta uma gama variada de alimentos e
encontros, banquetes, passeios, viagens, comidas regionais. Vejamos os exemplos a
cerimoniais, aniversários, dentre outros. seguir!
Veja que para cada um desses momentos
utilizamos diferentes tipos de preparações Norte
Nordeste
culinárias, em datas, horários e/ou períodos Região Norte
do ano específicos, e convidamos diferentes
Os índios nativos tinham como alimento básico a
pessoas. mandioca, que até hoje compõe os pratos típicos Centro-Oeste
Ou seja, a alimentação é polissêmica, da região. É usada no preparo do tucupi, um mo-
está articulada à cultura em que vivemos lho feito a partir do “suco” da mandioca ralada,
Sudeste
espremida, decantada e fervida, com adição de
e possui significados que transcendem alfavaca e chicória. Os peixes, as castanhas e
a manutenção do funcionamento do frutas silvestres também são marcas da alimen-
organismo. Devido a isso, mesmo com a tação no Norte. Como exemplos de pratos típi-
cos temos: pato no tucupi, o tacacá, entre outros. Sul
possibilidade tecnológica, não utilizamos
apenas moléculas de nutrientes para suprir Região Nordeste
as necessidades orgânicas (BRASIL, 2013).
Possui influência indígena, portuguesa, africana,
Deste modo, devemos considerar diferentes holandesa, francesa e inglesa, por isso sua culi- Região Centro-Oeste
elementos para compreender o processo nária é rica e variada. A região é dividida em duas
de escolha alimentar, tais como: acesso, partes: a zona da mata (litoral do Piauí ao sul da Antes da abertura da rodovia Belém-Brasília e
Bahia) e sertão nordestino (polígono das secas). da mudança da capital para a Brasília, a região
produção, abastecimento, comercialização e A primeira, com solo fértil, tem como alimentos era isolada, sendo sua culinária relacionada aos
consumo de alimentos (TEUTEBERG, 2009). mais usados a farinha de mandioca, o feijão, a recursos do meio ambiente, especialmente da
Além disso, a regionalidade – que carne seca, a rapadura e o milho. No sertão, se pesca e da caça. A migração de famílias do Sul
utiliza a carne (bovina e caprina), o leite, o queijo e Sudeste para trabalho na agricultura e pecuá-
considera a articulação do espaço e a manteiga. Como exemplos de pratos típicos ria ampliou a culinária, mas sem comprometer os
geográfico com as teias de relações sociais, temos: angu, cuscuz, carne de sol, queijo com pratos existentes. Como exemplos de pratos típi-
econômicos e culturais (SANTOS, 1988) – é rapadura, batata-doce com café, acarajé, abará, cos temos: peixe na telha, peixe com banana, car-
entre outros. ne com banana, bolinhos de arroz, entre outros.
determinante nos hábitos alimentares. O
Brasil, devido a suas dimensões continentais

19
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Mediante esta diversidade identificada na horários de trabalho, como exemplos, estão


Região Sudeste
culinária nacional fica a questão: poderíamos fazendo com que o convívio, associado à
Composta pelos estados mais ricos do país, essa identificar uma comida típica do brasileiro? produção e ao consumo das refeições, perca
região tem sua comida influenciada pelo proces- A resposta é sim, o feijão com arroz. Essa a importância.
so de colonização. A busca por ouro e diamante
levou os bandeirantes às Minas Gerais. Em São combinação garante uma dieta com boa A indústria de alimentos cada vez mais
Paulo houve a fixação dos imigrantes italianos; qualidade nutricional, energética e proteica, desenvolve produtos que substituem a prática
os espanhóis e árabes no Rio de Janeiro; e os ficando completa quando associada com culinária na cozinha doméstica. Alimentos
alemães e italianos no Espírito Santo. Além dis-
so, se soma os costumes portugueses, africanos legumes, verduras e carne (BRASIL, 2014c). prontos para o consumo, preparações
e indígenas. Como exemplos de pratos típicos congeladas, alimentos pré processados são
temos: moqueca de peixe e camarão à base de alguns exemplos. Consome-se cada vez
coentro e urucum, quibebe de abóbora, virado
paulista, tutu com torresmo, feijão tropeiro, vaca Para conhecer mais detalhes sobre menos alimentos in natura em detrimento
a cultura alimentar brasileira acesse
atolada, doce de buriti, doce de leite, queijo de de alimentos processados industrialmente,
minas, pizza, entre outros. o material do Ministério da Saúde
no link: <https://bvsms.saude.gov. que geralmente possuem pior qualidade
Região Sul
br/bvs/publicacoes/alimentos_ nutricional, com grandes quantidades de
regionais_brasileiros_2ed.pdf>.
sódio, açúcar e gordura.
Possui a maior influência de imigrantes, com ita- A indústria de alimentos, ao mesmo tempo
Conheça também a ferramenta Bio-
lianos, alemães, poloneses e ucranianos, que se
estabeleceram na atividade agrícola. Os polone-
diversidade & Nutrição com informa- em que alega contribuir com a praticidade
ções sobre alimentos regionais no
ses contribuíram com pratos à base de repolho, da alimentação, em um contexto de trabalho
link: <https://ferramentas.sibbr.gov.
pão de leite e sopas. Os italianos, com o cultivo distante das residências, falta de tempo e
br/ficha/bin/view/FN>.
da uva e seus derivados, bem como os embuti-
dos de carne, sorvetes, queijos e massas. Os ale- de habilidades culinárias para produção de
mães conservaram o cultivo da batata, as carnes refeições, promove uma padronização dos
defumadas, a linguiça e os laticínios. A presença Entretanto, atualmente, as mudanças hábitos alimentares e o rompimento abrupto
açoriana no litoral e da cultura gaúcha dos pam-
pas também marcaram a culinária. Como exem- sociais e a influência da indústria de alimentos com a cultura alimentar. Assim, temos uma
plos de pratos típicos temos: arroz carreteiro, e da mídia vêm produzindo alterações homogeneização da alimentação entre as
churrasco gaúcho, cuca alemã, barreado, tainha profundas e prejudiciais na cultura alimentar diferentes regiões do país, com aumento
assada, entre outros.
brasileira. A individualização dos modos de consumo dos alimentos industrializados
Fonte: BRASIL, 2015a. de vida e as diferentes configurações de (CANESQUI, 2005).

20
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

A isso, acresce-se a associação entre a sobrepeso e obesidade e rompimento com a determinantes para uma alimentação
indústria de alimento e a mídia. Mais de dois cultura e práticas alimentares da população adequada e saudável da população.
terços dos comerciais relacionados à ali- brasileira. Neste sentido, uma perspectiva ampliada
mentação na televisão são de publicidade de Ou seja, o modo de vida moderno, marcado da alimentação e nutrição deve considerar
alimentos industrializados e de redes de fast pelo consumo excessivo de alimentos aspectos como:
food, reforçando e incentivando o consumo ultraprocessados, além da inatividade física, • necessidades nutricionais das diferen-
desses produtos não adequados e saudáveis se apresenta como um dos maiores desafios tes fases do curso da vida;
para a nutrição da população. Além disso, as para a abordagem do excesso de peso • necessidades alimentares especiais
redes sociais como Instagram e Facebook, (BRASIL, 2019). (sobrepeso e obesidade, carências de
e mídias sociais como YouTube, também É importante compreender e identificar as micronutrientes, desnutrição, alergias
estão sendo utilizadas para divulgação implicações desse cenário na sua população e intolerâncias alimentares);
desses alimentos que, em sua maioria, são adscrita, buscando articular as ações • diferentes culturas alimentares;
industrializados do tipo ultraprocessado, intersetoriais para prevenção e controle • questões de gênero, raça e etnia;
como salgadinhos “de pacote”, biscoitos do sobrepeso e da obesidade. Assim, para • acessibilidade do ponto de vista físico
recheados, cereais matinais e refrigerantes auxiliar neste processo, no próximo item e financeiro aos alimentos;
e outras bebidas adoçadas (BRASIL, 2014b). vamos conhecer os principais determinantes • acesso a quantidade e qualidade
sociais de alimentação e nutrição. Vamos lá! adequada de alimentos;
• práticas produtivas adequadas e
O marketing induz vontades e dese-
jos, e gera uma necessidade pratica-
1.2.2 Determinantes sociais da sustentáveis.
mente real de consumo de alimentos alimentação e nutrição Em relação aos determinantes sociais da
industrializados ultraprocessados, o alimentação e nutrição, deve-se considerar
que contribuiu para uma alimenta-
Os fatores sociais e culturais influenciam um conjunto de fatores expressos em três
ção inadequada.
no relacionamento humano com os níveis sócio organizacionais (KEPPLE; SEGALL-
alimentos, bem como na formação dos CORRÊA, 2011), conforme apresentados a
O contexto apresentado não se limita à hábitos alimentares. As condições de vida seguir:
produção de novos e maus hábitos alimenta- e de acesso aos alimentos, considerando a 1. Macro (econômicos): o sistema políti-
res. Sua principal repercussão se apresenta produção, a distribuição, a comercialização, co-econômico mundial e nacional, as
em uma grande e crescente prevalência de a escolha, o preparo e o consumo são políticas econômicas, sociais, agríco-

21
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

las e ambientais e o reconhecimento insegurança alimentar, é importante utilizar, alimentos no território, favorecendo o consu-
do direito à segurança alimentar e em seu território, os fatores descritos mo, por exemplo de maior consumo de frutas,
nutricional. anteriormente para identificar problemas legumes e verduras. Como esses alimentos
2. Meso (regionais e locais): o preço que possam interferir na Segurança são perecíveis, exigem compra frequente.
dos alimentos praticado no mercado Alimentar e Nutricional (SAN), impactando Deste modo grupos que não conseguem
local, o custo de outras necessidades na distribuição do excesso de peso na acessar facilmente esse tipo de locais de
essenciais (saúde, educação, moradia, população que você acompanha. venda tendem a ter disponíveis em casa e
etc.), existência de programas para Para ilustrar, vamos pensar em dois consumir mais alimentos industrializados.
pessoas e famílias em risco social grupos com grandes diferenças alocados Além disso, fatores como menor escolari-
(perda da capacidade laboral por em um mesmo território: o primeiro, vive em dade e renda da família estão relacionados
idade, acidentes, problemas de saúde, uma parte urbanizada e bem estruturada, com a baixa disponibilidade de alimentos
problemas associados às fases da com maior poder aquisitivo, acesso a saudáveis (SOARES; FRANCA; GONÇALVES, 2014).
vida e fatores econômicos), racismo supermercados, feiras, escolas, unidade de
e qualquer forma de discriminação saúde próximos aos domicílios; o segundo,
negativa, programas de saúde e de outro vive em uma região periférica, sem A qualidade, a disponibilidade, o
educação, mercado de trabalho (em- infraestrutura urbana e saneamento básico, acesso, a utilização e a estabilidade
do alimento ficam comprometidas
prego, salário e estabilidade), cultura com menor poder aquisitivo e distante dos a depender do contexto em que se
alimentar, presença de saneamento comércios e serviços públicos. Veja que os vive, devido às iniquidades relacio-
básico e vigilância sanitária. dois grupos estão submetidos a condições nadas aos determinantes sociais.

3. Micro (domiciliares/individuais): esco- de vida e acesso a bens e serviços diferentes,


laridade, perfil demográfico, raça/cor, e que as pessoas que compõem o segundo Entretanto, apesar das diferenças, a
saúde, acesso a serviços e ações de grupo apresentam maior risco de estarem presença de produtos industrializados
educação alimentar e nutricional, ren- em situação de insegurança alimentar, ultraprocessados nos alimentos disponíveis
da disponível e estabilidade financeira, quando comparadas com o primeiro. no domicílio é uma realidade comum na
participação em programas sociais e A presença de locais que comercializam maioria das famílias brasileiras. Isso indica
na rede social de apoio da família. alimentos saudáveis próximos às residên- que há uma ocidentalização da dieta,
Considerando que o sobrepeso e a cias favorece uma alimentação saudável, situação que já ocorre em outras partes do
obesidade também são situações de devido à maior disponibilidade física desses mundo (SOARES; FRANCA; GONÇALVES, 2014).

22
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Evidencia-se a necessidade de trabalhar


sobre o ambiente obesogênico, que é o Caracteristicas que contribuem
ambiente organizado de forma a induzir a para um ambiente obesogênico
adoção de comportamentos alimentares
inadequados e pouca prática de atividade
física pelos indivíduos, hábitos de vida que
favorecem o sobrepeso e obesidade (FISBERG
et al., 2016). Ou seja, é importante compreender
e modificar as características que favorecem
a alimentação inadequada, inatividade física
e problemas de saúde mental relacionados
ao excesso de peso (FISBERG et al., 2016).
No processo de territorialização,
Ausência de feiras de Grande disponibilidade de
você deve identificar características que
alimentos nos bairros alimentos ultraprocessados
contribuam para o favorecimento de um
ambiente obesogênico, como os descritos
no infográfico ao lado. Isso possibilitará, a
partir da articulação com outros setores do
poder público e da sociedade civil, o desen-
volvimento de um ambiente que contribua
para prevenção e cuidado do sobrepeso e da
obesidade em sua comunidade.
Agora que estudamos os determinantes
sociais da alimentação e nutrição, vamos
trabalhar os aspectos relacionados à promo- Falta de áreas de lazer Problemas de mobilidade
ção da saúde e da alimentação adequada e para atividade física urbana, etc
saudável, bem como sua importância para o
cuidado das pessoas com excesso de peso.

23
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

1.3 PROMOÇÃO DA SAÚDE • violência, prática de atividade física (BRASIL, 2013). Veja
E DA ALIMENTAÇÃO • desemprego, a seguir o que essas estratégias envolvem:
ADEQUADA E SAUDÁVEL • falta de saneamento básico, 1. Educação alimentar e nutricional
• habitação inadequada ou ausente, promovendo autonomia e respeitando
A promoção da saúde ganhou destaque • falta de acesso à educação, a cultura alimentar.
no campo da saúde pública a partir da déca- • fome, 2. Estratégias de regulação de alimentos
da de 1980. A Carta de Ottawa, resultado da • alimentação inadequada, (rotulagem, informação, publicidade
I Conferência Internacional sobre Promoção • urbanização desordenada, e melhoria do perfil nutricional dos
à Saúde, realizada em novembro de 1986, é • má qualidade do ar e da água. alimentos).
a referência para o desenvolvimento da pro- A Promoção da Alimentação Adequada 3. Criação de ambientes promotores de
moção à saúde. Ela declara que para atingir e Saudável (PAAS) integra a Promoção da alimentação adequada e saudável
um estado de completo bem estar físico, Saúde, sendo uma das diretrizes da Política (bairros, escolas, locais de trabalho).
mental e social os indivíduos e grupos de- Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN). A PAAS pressupõe a articulação da
vem saber identificar aspirações, satisfazer A PAAS é definida como “prática alimentar saúde com outros setores, nas diferentes
necessidades e modificar favoravelmente o apropriada aos aspectos biológicos e esferas de governo, com participação do
meio ambiente (BRASIL, 2018a). socioculturais dos indivíduos, bem como ao controle social e do setor privado. Deste
A Carta de Ottawa propõe dentre os cam- uso sustentável do meio ambiente” (BRASIL, modo, a responsabilidade das equipes
pos de ação da promoção da saúde: o esta- 2013, p. 31). Deste modo, ela está vinculada da APS extrapola os limites das unidades
belecimento de políticas públicas favoráveis a estratégias de melhoria da qualidade de saúde, sendo necessário o trabalho
à saúde, a criação de ambientes propícios à de vida da população, por meio de ações intersetorial, bem como a atuação em
saúde, o fortalecimento da ação comunitária intersetoriais, voltadas ao coletivo, aos equipamentos sociais como espaços
em saúde, o desenvolvimento de habilidades indivíduos e aos ambientes (físico, social, comunitários de atividade física, escolas
pessoais, a reorientação dos serviços de político, econômico e cultural). e creches, associações comunitárias,
saúde para a promoção da saúde. O elenco de estratégias de saúde redes de assistência social, ambientes de
No SUS, a promoção da saúde é entendida direcionadas à PAAS deve contemplar trabalho, locais de produção e distribuição
como a possibilidade de transformar os atividades de incentivo, apoio e proteção de alimentos, restaurantes populares e
aspectos que determinam o processo saúde- articuladas com outras ações de promoção cozinhas comunitárias, dentre outros.
doença, tais como (BRASIL, 2018a): da saúde, principalmente relacionada à

24
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 1
SAÚDE E SOCIEDADE MODELOS CONCEITUAIS EM SAÚDE,
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

O trabalho com a promoção de saú-


de e PAAS são formas amplas de
intervir em saúde contribuindo para
escolhas saudáveis, indispensáveis
para manutenção da saúde, mas
também para o cuidado das pessoas
com sobrepeso e obesidade.

Assim, para prevenção e controle do


sobrepeso e da obesidade na APS, como
profissional da saúde, você deve orientar a
população para adoção de hábitos saudá-
veis com ênfase na alimentação adequada e
saudável e na prática de atividade física (AL-
MEIDA et al., 2017). É indispensável, também,
o reconhecimento dos espaços disponíveis
para aquisição de alimentos saudáveis e rea-
lização de atividade física no seu território.
Visto que você já aprendeu sobre a deter-
minação social da alimentação e nutrição e
sua importância para promoção de saúde,
além de conhecer a PAAS como estratégia
para abordagem do sobrepeso e da obesi-
dade, vamos trabalhar na próxima unidade a
relação intrínseca e interdependente da Se-
gurança Alimentar e Nutricional e da saúde.

25
UN 2
SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

Nesta unidade vamos abordar a trajetória Adequada, Segurança Alimentar e Nutri-


conceitual e normativa de temas fundamen- cional, Soberania Alimentar e Alimentação
tais como o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável e como se relacionam
Adequada (DHAA) e a Segurança Alimentar com o cuidado das pessoas com sobrepeso
e Nutricional (SAN) e a relação desses com e obesidade. Então, vamos lá!
a alimentação adequada e saudável e o
controle do sobrepeso e da obesidade. 2.1.1 Direito Humano à
Para elucidar a aplicabilidade dos con- Alimentação Adequada
ceitos, daremos ênfase à Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), Tanto a alimentação quanto a saúde são
ao Sistema de Segurança Alimentar e Nu- direitos humanos e ambos se caracterizam
tricional (SISAN) e, neste contexto, vamos por serem:
conferir como se articulam a Política Na-
cional de Segurança Alimentar e Nutricional interdependentes e
(PNSAN) e a Política Nacional de Alimenta- inter-relacionados
ção e Nutrição (PNAN). Acompanhe.
inalienáveis

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS DA universais


ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO indivisíveis

Existem alguns conceitos indispensáveis


para o entendimento da perspectiva adotada
pelo Estado brasileiro para construção das
políticas públicas e orientação da atuação
dos profissionais de saúde nas ações de
alimentação e nutrição no âmbito do SUS.
Apresentaremos, nesta unidade, os
conceitos de Direito Humano à Alimentação

27
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

Ou seja, não haverá saúde se não houver a tação adequada ou aos meios necessários O debate e a solidificação do Direito Hu-
garantia da alimentação adequada e ambas para sua obtenção” (ONU, 1999, p. 2). mano à Alimentação Adequada no contexto
são variáveis que compõem condições No Brasil, o direito social à alimentação brasileiro ocorreram por meio da criação:
mínimas para a dignidade e existência foi incorporado à Constituição em 2010, • do Conselho Nacional de Segurança
(ABRANDH, 2010). por meio da Emenda Constitucional nº 64. Alimentar e Nutricional (CONSEA) em
Historicamente são discutidas formas de Entretanto, na construção do SUS a pauta de 1993;
assegurar o acesso aos Direitos Humanos, alimentação e nutrição estava incorporada • das Conferências de Segurança
com destaque para a Carta Internacional na agenda do Estado. Destaca-se a Lei Alimentar e Nutricional (1994, 2004,
dos Direitos Humanos que reúne: a Orgânica do SUS (BRASIL, 1990), que aborda 2007, 2011 e 2015);
Declaração Universal dos Direitos Humanos o tema em diversos artigos, confira a seguir: • da promulgação da Lei Orgânica de
(1948); o Pacto Internacional dos Direitos Segurança Alimentar e Nutricional (LO-
Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC); SAN), que instituiu o Sistema Nacional
Artigo 13: determina que “a articulação das po-
e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e de Segurança Alimentar e Nutricional
líticas e programas, a cargo das comissões in-
Políticos (PIDCP). tersetoriais, deve abranger dentre as atividades, (SISAN) para a promoção do DHAA; e
Neste contexto, no PIDESC, em 1966, especialmente, alimentação e nutrição”. • da constituição do I Plano Nacional
foi elaborado o termo Direito Humano à de Segurança Alimentar e Nutricional
Alimentação Adequada, que influenciou as Artigo 16: estabelece que dentre as competên- (Plansan) (GABE; JAIME, 2019).
cias da direção nacional do SUS é necessário:
políticas e programas implementados no formular, avaliar e apoiar políticas de alimenta- Alinhado com as proposições interna-
Brasil, com duas dimensões inseparáveis: ção e nutrição. cionais, no Brasil entende-se que para que
1. Direito de estar livre da fome e da má efetivação do Direito Humano à Alimentação
nutrição; e Artigo 17: determina dentre as competências da Adequada é obrigatório que haja:
2. Direito à alimentação adequada. direção estadual do SUS a coordenação e, em
caráter complementar, execução de ações e ser-
Sendo assim, o Direito Humano à Alimen- viços de vigilância de alimentação e nutrição. 1. Disponibilidade: alimentos saudáveis
tação Adequada é definido como: “direito à disponíveis para obtenção e consumo
alimentação adequada ocorre quando todo Artigo 18: trata das competências da direção
homem, mulher ou criança, sozinho ou em municipal do SUS e determina que nessa esfera Exemplo de violação da dimensão dis-
sejam executados serviços de vigilância alimen-
comunidade com outros, tem acesso físico e tar e nutricional.
ponibilidade: Uma equipe de profissionais
econômico, ininterruptamente, a uma alimen- da saúde, em conjunto com a nutricionista

28
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

responsável pelo Programa Nacional de comércio desses mesmos alimentos. Nesse promover ou fomentar programas e politicas
Alimentação Escolar (PNAE), realizou a ava- caso, a situação de insegurança alimentar e públicas que aumente a disponibilidade –
liação antropométrica dos estudantes de um violação do DHAA se relacionam com a não física e a preços acessíveis – de alimentos
determinado território e constatou que há um disponibilidade de alimentação adequada e saudáveis no território. Esta situação de
percentual elevado de alunos com diagnós- saudável dentro das escolas já que a gestão insegurança alimentar é determinante para
tico de sobrepeso e obesidade. Também foi municipal do PNAE não está cumprindo a o excesso de peso (sobrepeso e obesidade).
observado que no território não há feiras e os função institucional como deveria.
alimentos in natura e minimamente proces- 2. Adequação: Alimentos adequados
sados, como frutas, verduras, legumes, arroz, em seus aspectos nutricionais e
feijão, são adquiridos em um único mercado sanitários, devendo contemplar também
cujo abastecimento é irregular e, portanto, referenciais de cultura, etnia e religião
nem sempre estão disponíveis. Em 90%
dos referidos casos, os responsáveis pelos Exemplo de violação da dimensão ade-
recursos financeiros do domicílio trabalham quação: Os profissionais da saúde visitaram
de 40 a 44 horas semanais e se alimentam uma aldeia indígena e verificaram que há
predominantemente de lanches adquiridos escassez de recursos e alimentos para as
nas proximidades do trabalho, alegando que famílias. No local há expressivo número de
os "pratos feitos" são mais caros. casos de excesso de peso e baixa estatura
Quanto aos alunos das escolas munici- em crianças. O cacique relata que os alimen-
pais, foi verificado que após a troca de ges- tos que deveriam ser entregues à escola da
tão municipal estão sendo adquiridos para aldeia não são entregues com regularidade
o PNAE muitos alimentos ultraprocessados e permanência e que muitos alimentos que
e processados, considerados restritos pela Além disso, os alimentos adequados e chegam à escola (produtos ultraprocessa-
legislação que regulamenta a alimentação saudáveis estão indisponíveis no território dos como ervilha enlatada e tortas salgadas
escolar no Brasil. para compra pelas famílias e não há recur- em pó), acabam sendo desperdiçados por
Além disso, há cantinas escolares que sos financeiros suficientes para aquisição, não fazerem parte da cultura alimentar. O
vendem somente alimentos ultraprocessa- mesmo em outros espaços. É competência cardápio da escola é feito sem a opinião dos
dos e processados, e em frente às escolas há do Estado e governos, incluindo o local, moradores da comunidade e, deste modo,

29
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

não é realizado o levantamento e diagnóstico ocorrem as secas, os moradores regular e permanente e isso se caracteriza
do que seria a cultura e o hábito alimentar. são prejudicados com a escassez de como uma situação de violação do Direito
alimentos em virtude da dificuldade de Humano à Alimentação Adequada.
3. Acesso: possibilidade de acesso físico.
acesso econômico e físico Em ambos os casos, o Estado (governo
a alimentos saudáveis das 3 esferas e a sociedade civil organizada)
têm obrigação prover alimentação ade-
Exemplo de violação da dimensão acesso: quada e saudável até que as comunidades
a. Ocorreu um derramamento de restabeleçam seu equilíbrio e condições
petróleo que colocou em situação de produção e abastecimento de alimento.
de risco à saúde uma comunidade Por exemplo, por meio de provimento direto;
inteira de pescadores artesanais. Os organização de feiras de agricultores locais,
moradores da comunidade dedicavam- abastecimento de água, entre outras estra-
se exclusivamente à pesca e ao tégias.
beneficiamento de peixes e frutos do Perceba que tanto a falta alimentos quanto
mar como a principal fonte de renda 4. Estabilidade do acesso: possibilidade a dificuldade de acesso aos alimentos saudá-
e abastecimento alimentar. Nesse de acesso de forma regular e veis constituem-se com violação do direito à
caso, com a inviabilização da pesca, permanente a alimentos saudáveis alimentação adequada. Neste sentido, deve-
os pescadores não conseguiram gerar mos considerar no trabalho na APS o excesso
renda e com isso perderam o acesso Exemplo de violação da dimensão esta- de peso como uma situação de insegurança
econômico aos alimentos e outros bilidade do acesso: devido a um desastre/ alimentar dependente desses fatores.
direitos fundamentais. crime ambiental numerosas famílias ficaram Articulado ao Direito Humano à Alimen-
b. Em outro caso, uma comunidade que desabrigadas e sem alimentação. A gestão tação Adequada, temos a construção do
reside em região pouco povoada e municipal se mobilizou para entregar cestas conceito brasileiro de Segurança Alimentar e
produz a maior parte dos alimentos básicas às famílias, porém, em quantidade Nutricional, indispensável para a efetivação
consumidos sofre no período de e periodicidade insuficiente. Deste modo, a do direito à alimentação. Discutiremos esse
intempéries. Todos os anos, quando estabilidade no acesso aos alimentos não é tema no próximo tópico.

30
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

2.1.2 Segurança Alimentar e Nutricional alimentos e a falta desses ligada a um déficit dimensões descritas a seguir, confira!
e Soberania Alimentar de produção, ou seja, acreditava-se que as
pessoas passavam fome porque não era pro- A segurança alimentar inclui
O conceito de Segurança Alimentar e duzida a quantidade suficiente de alimentos as seguintes dimensões:
Nutricional assim como o de saúde, evoluiu (BRASIL, 2010). • nutricional
ao longo do tempo. Historicamente, foi asso- Nesta lógica, a Revolução Verde foi a • biológica
ciado à segurança nacional, considerando a proposta para a necessidade de ampliar a • sanitária
capacidade dos países de prover alimentos produção de alimentos. Sendo concretizada
• tecnológica
para minimizar a vulnerabilidade política pela introdução da tecnificação agrícola com
• variáveis de acesso
e militar. Todavia, após as duas Guerras aproximação de empresas transnacionais
Mundiais e com a criação da Organização e seus pacotes tecnológicos (sementes,
• periodicidade (permanente)
das Nações Unidas (ONU) e da Organização máquinas, agrotóxicos) no meio rural. Neste • quantidade
das Nações Unidas para Alimentação e período, houve reforço da noção “alimento-
Agricultura (FAO), outras perspectivas foram -mercadoria” e incentivo da expansão de mo- Neste percurso, destacam-se as decla-
propostas e ficaram evidentes as tensões nocultivos como a soja, sem impacto sobre a rações da Conferência Internacional de Nu-
políticas geradas a partir dos distintos situação de fome da população (ARAÚJO, 2019). trição (1992/FAO/OMS) e a Cúpula Mundial
entendimentos sobre o que seria segurança Assim, na Conferência Mundial de da Alimentação (1996/FAO), quando o termo
alimentar (BRASIL, 2013). Alimentação, que aconteceu em 1974, foi Segurança Alimentar e Nutricional começou
Àquela época, houve uma polarização recomendado que, associado ao aumento a se consolidar reconhecendo-se a associa-
na discussão entre os que defendiam a ali- da produção de alimentos, fossem imple- ção direta entre o acesso ao Direito Humano
mentação adequada enquanto direito a ser mentadas políticas para o armazenamento e à Alimentação Adequada (BRASIL, 2010).
provido pelo Estado contra os que entendiam a distribuição, com vistas a mitigar a fome No Brasil, a partir de 2003, a alimentação
o alimento como mercadoria e, deste modo, e garantir o acesso aos alimentos. Todavia, é tratada como um direito da população que
a segurança alimentar seria assegurada a seguiu-se com problemas de acesso físico deve ser garantido pelo Estado por meio das
partir de mecanismos de mercado. Neste e econômico aos alimentos no contexto políticas públicas. Neste sentido, o conceito
contexto, a segurança alimentar durante nacional e internacional. Neste cenário, a de SAN, adotado pelo Brasil e construído de
um longo período foi relacionada especifi- partir da década de 1990, o conceito de forma participativa (sociedade e governo), é
camente à disponibilidade (quantidade) de segurança alimentar se amplia agregando as entendida como:

31
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

a realização do direito de todos ao tação adequada e saudável, temos a sobera- interesses econômicos sobrepõem os da
acesso regular e permanente a ali- nia alimentar, compreendida como o direito saúde, gerando problemas de saúde pública,
mentos de qualidade, em quantida-
de suficiente, sem comprometer o de decisão dos diferentes povos acerca do aumentos de gastos em saúde e diminuição
acesso a outras necessidades es- seu próprio sistema alimentar, produzindo da qualidade de vida (ALMEIDA et al., 2017).
senciais, tendo como base práticas alimentos saudáveis e adequados à sua Assim, o trabalho dos profissionais da saúde
alimentares promotoras de saúde
que respeitem a diversidade cultural cultura, de maneira sustentável, com possi- na APS passa pela compreensão dessa
e que sejam ambiental, cultural, eco- bilidade de acesso e que priorize as pessoas problemática nos territórios e pelo desen-
nômica e socialmente sustentáveis que produzem, distribuem e consomem volvimento de ações junto à população para
(BRASIL, 2013, p. 24).
os alimentos em relação às exigências de adoção de um estilo de vida saudável.
mercado (BRASIL, 2013). Para avançarmos na aplicabilidade dos
Além dos avanços normativos, concei- Ao compreender os conceitos, dimensões conceitos de abordados acima, no próximo
tuais, das estratégias implementadas para e fundamentos da Segurança Alimentar e item conheceremos quais são os princípios,
assegurar a Segurança Alimentar e Nutri- Nutricional, do Direito Humano à Alimenta- as diretrizes e os componentes do Sistema
cional e o Direito Humano à Alimentação ção Adequada e da Soberania Alimentar, os Nacional de Segurança Alimentar e Nutri-
Adequada, é importante destacar que houve profissionais da saúde podem dimensionar cional (SISAN), que, quando estruturado,
a redução da miséria, e a saída do Brasil do e abordar o problema do sobrepeso e da redundou em um impacto importante na
Mapa da Fome da FAO. obesidade, de forma mais resolutiva, buscan- redução da fome e da desnutrição, mas que
Apesar disso, nosso país ainda mantém do atuação multidisciplinar e intersetorial, não avançou no controle da obesidade, vez
desigualdades sociais que impactam direta- considerando que as escolhas alimentares que sofreu interrupção em sua governança,
mente na qualidade da alimentação. Há um possuem determinantes de distintas comple- a partir de 2015.
aumento das taxas de sobrepeso e obesida- xidades - individuais, coletivos e estruturais
de, coexistindo com a fome e a desnutrição: – e sobre os quais a população e as famílias 2.2 A LEI ORGÂNICA DE SEGURANÇA
temos um contexto complexo, que é agrava- do território terão (ou não) capacidades e ALIMENTAR E NUTRICIONAL (LOSAN)
do pela visão do alimento como mercadoria, competências para modificá-los por meio de
ocasionando problemas socioeconômicos, ações individualizadas. No contexto brasileiro, a Lei Orgânica de
ambientais e de saúde pública (ARAÚJO, 2019). Como vemos, a organização de nosso Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN)
Em busca de um sistema alimentar mais sistema alimentar não favorece práticas é um marco normativo que sistematizou
adequado e que contribua para uma alimen- alimentares saudáveis, pois em geral os conceitos e práticas fundamentais no

32
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

âmbito de Segurança Alimentar e Nutricional privados e dos critérios para sua


(BRASIL, 2006). Ela reforça a perspectiva O SISAN é o sistema por meio do concessão.
qual se organiza a estrutura para
da alimentação como direito social, cria o efetivação do direito humano à ali-
Sistema Nacional de Segurança Alimentar mentação e garantia da Segurança Diretrizes
e Nutricional (SISAN), estabelece os fluxos Alimentar e Nutricional da popula- I. Promoção da intersetorialidade de
ção brasileira.
de exigibilidade e os deveres do Estado em políticas, programas e ações governa-
relação à alimentação e nutrição. O Art. 2º mentais e não-governamentais.
da LOSAN afirma que: II. Descentralização das ações e
O SISAN está para a alimentação e
articulação, em regime de colaboração,
nutrição assim como o SUS está para a
A alimentação adequada é direito
entre as esferas de governo.
saúde. Deste modo, é regido por quatro
fundamental do ser humano, ineren- III. Monitoramento da situação alimentar
te à dignidade da pessoa humana e
princípios e seis diretrizes que norteiam o
e nutricional, visando subsidiar o ciclo
indispensável à realização dos di- planejamento das intervenções, a saber:
reitos consagrados na Constituição
de gestão das políticas para a área nas
Federal, devendo o poder público diferentes esferas de governo.
adotar as políticas e ações que se Princípios IV. Conjugação de medidas diretas e
façam necessárias para promover
e garantir a segurança alimentar e
I. Universalidade e equidade no acesso à imediatas de garantia de acesso à
nutricional da população (BRASIL, alimentação adequada, sem qualquer alimentação adequada, com ações que
2006, p. 3). espécie de discriminação. ampliem a capacidade de subsistência
II. Preservação da autonomia e respeito autônoma da população.
Além disso, reafirma o caráter multidi- à dignidade das pessoas. V. Articulação entre orçamento e gestão.
mensional da alimentação, recomendando III. Participação social na formulação, VI. Estímulo ao desenvolvimento de pes-
que as políticas públicas levem em conta execução, acompanhamento, moni- quisas e à capacitação de recursos
as dimensões: ambientais, culturais, econô- toramento e controle das políticas e humanos.
micas, regionais e sociais. Sendo que elas dos planos de segurança alimentar
devem respeitar, proteger, promover, prover, e nutricional em todas as esferas de Torna-se evidente a relação dos princí-
informar, monitorar, fiscalizar e avaliar a governo. pios e diretrizes do SISAN com o arcabouço
realização do direito humano à alimentação IV. Transparência dos programas, das teórico e ideológico do SUS e se reforça a
adequada (BRASIL, 2006). ações e dos recursos públicos e importância do caráter das intervenções

33
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

intersetoriais. A adesão a este sistema nos mentar e monitorar a execução do Plano Na- espaços de participação social e articulação
municípios e estados é voluntária, sendo cional de Segurança Alimentar e Nutricional entre sociedade e governo.
necessário o conhecimento de sua organi- (Plansan). Na esfera federal é denominada O trabalho do CONSEA contribuiu com
zação. A seguir, você conhecerá o funciona- Câmara Interministerial de SAN e é compos- importantes decisões para a promoção do
mento dos componentes do SISAN. ta por vários ministérios, entre estes o da DHAA, tais como:
Saúde, e coordenada no âmbito do Minis- • fortalecimento das políticas de
2.3 GOVERNANÇA DA SAN NO BRASIL tério da Cidadania. Nas esferas estaduais combate à fome e à miséria;
e municipais as CAISANs são compostas • questões de acesso à terra;
O SISAN foi criado num contexto de por diversas secretarias que da mesma • discutir alternativas e dar visibilidade à
evidências relacionadas à necessidade de forma são responsáveis pela coordenação necessidade de politicas para redução
abordagens intersetoriais, intrassetoriais, e monitoramento das políticas referentes à do uso de agrotóxicos;
multiprofissionais e transdisciplinares para temática. • inclusão do direito à alimentação na
garantia de uma alimentação adequada e Constituição Federal e a aprovação da
saudável para a população brasileira. Nesse 2. Conselho de Segurança Alimentar LOSAN;
contexto, seus componentes são organi- e Nutricional (CONSEA) • Plano Safra da Agricultura Familiar;
zados de modo a promover o diálogo entre Tem como função o acompanhamento, • Política Nacional de Agroecologia e
os distintos atores, setores e esferas de o monitoramento e a avaliação do desen- Produção Orgânica (PNAPO);
governo (DIAS et al., 2017). volvimento e da implementação do Plansan • Guia Alimentar da População Brasileira;
Essa articulação se materializa por meio que, por sua vez, é elaborado pela CAISAN. • formulação da Lei do Programa
de cinco componentes, a saber: CAISAN; Na esfera nacional, foi um órgão consultivo Nacional de Alimentação Escolar
CONSEA; Conferências de SAN; Órgãos e de acessoria à Presidência da República (PNAE) com obrigatoriedade de
entidades do poder público; e Instituições e composto por 2/3 de representantes da aquisição da agricultura familiar;
privadas. Dentre esses componentes serão sociedade civil e 1/3 de representantes • Política Nacional de Alimentação e
destacados os três primeiros, a seguir. do governo. Contudo, por meio de Medida Nutrição (PNAN); entre outros.
Provisória (MP n. 870 de 1º de janeiro de
1. Câmara Intersetorial de Segurança 2019), este colegiado foi extinto, no âmbito 3. Conferência de Segurança
Alimentar e Nutricional (CAISAN) federal. Nas esferas estaduais e municipais, Alimentar e Nutricional
Tem como atribuições elaborar, imple- os CONSEAs permanecem atuando, sendo São realizadas com periodicidade qua-

34
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

drienal e nelas se reúnem os conselheiros Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) Diretrizes da PNSAN
de Segurança Alimentar e Nutricional, e sua articulação com o SUS.
representantes do governo, a depender da
esfera (federal, estadual, municipal) e outros 2.4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA Promoção do acesso
interessados nas pautas. A cada quatro anos ALIMENTAR E NUTRICIONAL E universal à alimentação
se inicia um novo ciclo de conferências mu- SUAS CONEXÕES COM O SUS adequada e saudável
nicipais e estaduais cujos temas debatidos
irão compor a pauta da conferência nacional, A Política Nacional de Segurança Ali-
nos moldes do que ocorre com organização mentar e Nutricional (PNSAN), instituída no Promoção de sistemas
das conferências de saúde). ano de 2010, é reconhecida como um ponto alimentares sustentáveis
É fundamental que você compreenda máximo da solidificação do tema segurança (agroecológicos)
que o SISAN deve estar estruturado para alimentar na agenda governamental, incluin-
acolher as demandas locais de insegurança do o campo da saúde. Ela tem como objetivo
alimentar e nutricional, tais como o sobrepe- assegurar o direito humano à alimentação Instituição de processos
so e a obesidade. Nesta perspectiva, espe- adequada a todos os habitantes do território permanentes de educação
alimentar e nutricional
cificamente, admite-se que diante da baixa brasileiro, promovendo a soberania e a segu-
adesão ao tratamento individualizado, atuar rança alimentar e nutricional (BRASIL, 2010).
junto a estas instâncias colegiadas locais As diretrizes da PNSAN convergem na
Fortalecimento das ações de
pode potencializar os resultados da saúde perspectiva da universalidade do direito.
alimentação e nutrição em todos
para deter o crescimento do excesso de Deste modo, em seu conteúdo são abordados os níveis da atenção à saúde
peso e das DCNT no território, uma vez que, os itens da figura ao lado.
poderão ser articuladas ações intersetoriais A PNSAN deve ser implementada nas
que atuem sobre os determinantes sociais e distintas esferas de governo, incluindo a
Monitoramento da
ambientais da obesidade. APS, por meio de construção de Planos de realização do direito humano
Visto isso, no próximo item, conhecere- Segurança Alimentar e Nutricional, com base à alimentação adequada
mos um pouco mais da Política Nacional de em suas diretrizes e objetivos específicos.

35
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

tem a biodiversidade e fortaleçam a ção entre os setores, a participação social


Para conhecer na íntegra as diretri- agricultura familiar, os povos indíge- e a responsabilidade compartilhada entre as
zes da PNSAN acesse o link a seguir: nas e as comunidades tradicionais e esferas de governo, no planejamento e na
<http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2007-2010/2010/decre- que assegurem o consumo e o acesso execução das intervenções.
to/d7272.htm> à alimentação adequada e saudável, Nesse contexto, as diretrizes e pressu-
respeitada a diversidade da cultura postos da Política Nacional de Alimentação
alimentar nacional; e e Nutrição (PNAN) estão alinhados aos
Além de apresentar sua imagem-objetivo IV. incorporar à política de Estado o res- conceitos e princípios do DHAA e da SAN.
por meio das diretrizes, a PNSAN orienta os peito à soberania alimentar e a garan- Essa politica é a face mais concreta da arti-
caminhos para sua execução a partir dos tia do direito humano à alimentação culação entre saúde e SAN, explicitando as
seguintes objetivos específicos: adequada, inclusive o acesso à água, competências e responsabilidades da saúde
e promovê-los no âmbito das negocia- para contribuir para a garantia do DHAA no
I. identificar, analisar, divulgar e atuar ções e cooperações internacionais. Brasil. A PNAN – que integra a política de
sobre os fatores condicionantes da saúde – é o foco de nossos estudos a seguir.
insegurança alimentar e nutricional no A articulação e cooperação entre o SUS
Brasil; e Sistema Nacional de Segurança Alimentar 2.5 A POLÍTICA NACIONAL DE
II. articular programas e ações de e Nutricional (SISAN), por meio da PNSAN, ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (PNAN)
diversos setores que respeitem, busca fortalecer e organizar as ações de
promovam e protejam o direito humano alimentação e nutrição na Rede de Atenção Conforme discutido nos itens anteriores,
à alimentação adequada, observando à Saúde (RAS). Desta forma, é necessário a trajetória de segurança alimentar e
as diversidades sociais, culturais, dialogar com as demais ações no seu local nutricional teve seu fortalecimento legal no
ambientais, étnico-raciais, a equidade de trabalho para potencializar a atuação Brasil com a publicação da Lei Orgânica de
de gênero e a orientação sexual, bem sobre situações de insegurança alimentar Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN),
como disponibilizar instrumentos para e nutricional e dos agravos em saúde, criando o Sistema Nacional de Segurança
sua exigibilidade; como o excesso de peso, modificando seus Alimentar e Nutricional e com a instituição
III. promover sistemas sustentáveis de determinantes sociais. da Política Nacional de Segurança Alimentar
base agroecológica, de produção e Na prática, os profissionais da saúde e Nutricional.
distribuição de alimentos que respei- devem considerar a importância da articula-

36
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 2
SAÚDE E SOCIEDADE SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR
E NUTRICIONAL NO BRASIL

Assim, a PNAN, de 1999, com base que impactam no cuidado das pessoas
Na Lei estruturante do SUS (Lei nº no conceito de Segurança Alimentar e com sobrepeso e obesidade. Agora, vamos
8.080/1990) houve a inclusão da Nutricional estabelecido na I Conferência conhecer sua organização e aplicabilidade
vigilância nutricional e orientação
alimentar dentre as ações de saú- Nacional em 1994, extrapolou a abordagem na APS. Confira a seguir!
de a serem ofertadas à população. restrita e prescritiva do setor saúde e propôs
Este foi o um ponto de partida para a ações mais amplas relacionadas à produção
proposição de política específica de
alimentação e nutrição para o SUS. e ao consumo.
Em sua segunda edição, a PNAN manteve
seu vínculo ideológico e operacional com
A Política Nacional de Alimentação e PNSAN, incluindo dentre suas nove diretrizes
Nutrição (PNAN) proposta pelo Ministério a organização da atenção nutricional; a
da Saúde em 1999, que já em sua primeira promoção da alimentação saudável; a
edição reafirmava a necessidade de esta- participação e o controle social; entre outras
belecer conexões com outros setores para que serão discutidas na próxima unidade.
concretização do conceito ampliado de Ao considerar os diversos determinantes
saúde e consequentemente para a garantia sociais em saúde, a complexidade do conceito
de segurança alimentar e nutricional. de Segurança Alimentar e Nutricional, a
Estruturada em sete diretrizes, sendo a interdependência e interrelação dos direitos
primeira “Estímulo às ações intersetoriais, à saúde e alimentação, a PNAN representa
com vistas ao acesso universal aos alimen- um elo concreto e visível da saúde com a
tos”, a PNAN foi o primeiro documento oficial SAN. Desse modo, é fundamental que o
que afirmava a responsabilidade do Estado profissional da saúde conheça as diretrizes
Brasileiro na garantia do DHAA e da SAN. dessa política e seja incentivador das
Reflexões sobre a perspectiva setorial da práticas dela decorrentes.
saúde em relação aos problemas multifato- Já conhecemos os principais conceitos
riais de insegurança alimentar e nutricional, e as políticas públicas relacionadas à
tais como carências nutricionais, sobrepeso, alimentação e nutrição, bem como seus
obesidade, entre outras emergiram. elos com a saúde e, consequentemente,

37
UN 3
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Nesta unidade, estudaremos a organiza- um lugar estratégico na análise do problema


ção da atenção nutricional na Atenção Pri- e nas propostas de intervenções (DIAS et al.,
mária à Saúde (APS) para prevenção e ma- 2017). Nesse contexto, o maior desafio está
nejo do sobrepeso e da obesidade, à luz da em se compreender como esses múltiplos
Política Nacional de Alimentação e Nutrição fatores interagem e influenciam no avanço
(PNAN), da Política Nacional de Atenção Bá- da obesidade, para que seja possível ade-
sica (PNAB) e da Política Nacional de Pro- quar as políticas públicas que vêm sendo
moção da Saúde (PNPS). propostas e implementadas em resposta ao
Sendo o excesso de peso um problema de problema (MENDES, 2012).
saúde de origem multicausal, trataremos da Dentre as ações de enfrentamento e
Promoção da Saúde e da Promoção da Ali- controle da obesidade, no Brasil se destaca
mentação Adequada e Saudável, no contexto a PNAN.
do território de saúde da Atenção Primária à
Saúde (APS), alinhado com a segurança ali-
Integrando a politica de saúde, a
mentar e nutricional, os principios e diretrizes PNAN define as diretrizes para orga-
da APS e com as abordagens propostas pelo nização das ações de prevenção e
Guia Alimentar para a População Brasileira. tratamento da obesidade no âmbito
do SUS e, em conjunto com outras
politicas publicas, se propõe a res-
3.1 A POLÍTICA NACIONAL DE peitar, proteger, promover e prover
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DO os direitos relacionados à saúde e à
alimentação.
SUS: PROPÓSITO, DIRETRIZES
E APLICABILIDADE NA APS
Considerando o conceito ampliado de
A obesidade é considerada como uma epi- saúde e a segurança alimentar e nutricional,
demia mundial e sua crescente prevalência esta política apresenta como propósito a
vem sendo atribuída a diversos processos melhoria das condições de alimentação,
biopsicossociais, em que o “ambiente” (po- nutrição e saúde da população brasileira,
lítico, econômico, social, cultural) assume mediante a promoção de práticas alimen-

39
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

tares adequadas e saudáveis, a vigilância Dentre as diretrizes, destaca-se a primei- Portanto, é necessário alinhar as práticas
alimentar e nutricional, a prevenção e o ra: “Organização da atenção nutricional”, de atenção à saúde relativas à alimentação e
cuidado integral dos agravos relacionados à que se refere às atividades de atenção nutrição aos propósitos do modelo assisten-
alimentação e nutrição (BRASIL, 2013). Vamos nutricional integradas às demais ações de cial visando organizar a atenção nutricional
conhecer a seguir as diretrizes da PNAN: saúde nas redes de atenção, tendo a APS voltada para os principais problemas de saú-
como ordenadora. Na PNAN, a atenção nutri- de apresentados pela população adscrita.
Organização da atenção nutricional cional é definida como os cuidados relativos Em relação à organização e gestão dos
à alimentação e nutrição para promover e cuidados relativos à alimentação e nutrição
proteger a saúde, prevenir, diagnosticar e a PNAN recomenda que sejam seguidas seis
Promoção da alimentação
adequada e saudável tratar os agravos, associada às outras ações etapas, confira a seguir!
de atenção à saúde do SUS. A atenção nutri-
Vigilância alimentar e nutricional
cional deve ser organizada para indivíduos, I. Diagnóstico da situação alimentar e nutri-
famílias e comunidades, para construção de cional da população dos territórios.
uma rede integrada, resolutiva e humanizada
Gestão das ações de
alimentação e nutrição de cuidados (BRASIL, 2013). II. Estabelecimento da Vigilância Alimentar
Em seu modelo assistencial, o SUS e Nutricional (VAN) para identificação de
prioriza a ampliação e qualificação da APS, prioridades mediante ao perfil alimentar e
Participação e controle social
porta preferencial de entrada dos usuários nutricional da população assistida.
no sistema, coordenadora do cuidado e
Qualificação da força de trabalho ordenadora das Redes de Atenção à Saúde. III. Consideração das especificidades das
fases do curso da vida, de gênero, de dife-
Dessa forma, a atenção primária
rentes grupos populacionais, povos e co-
Pesquisa, inovação e conhecimento amplia a capacidade de identificação das munidades tradicionais identificados, nos
em alimentação e nutrição necessidades de saúde da população sob âmbitos comunitário, familiar e individual.
sua responsabilidade e contribui para que
Controle e regulação dos alimentos a organização da atenção nutricional seja IV. Inclusão da VAN no acolhimento aos
voltada para as necessidades dos usuários usuários e em todos os atendimentos e
Cooperação e articulação para dos territórios de saúde (MENDES, 2012). práticas da APS.
a segurança alimentar e nutricional

40
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

V. Conhecimento do território para identifi- cesso de trabalho das equipes da APS, pois da vida devem ser observadas na atenção
car possíveis determinantes e condicionan- contribui para a avaliação e organização da nutricional, cabendo aos profissionais da
tes da situação alimentar e nutricional da Atenção Nutricional no âmbito da APS e per- saúde identificar e priorizar aquelas com
população. mite que as equipes identifiquem indivíduos maior vulnerabilidade aos agravos relaciona-
ou grupos que apresentam agravos ou riscos dos à alimentação e nutrição.
VI. Organização das Redes de Atenção à relacionados ao estado nutricional e ao con- Quanto a práticas e processos de acolhi-
Saúde considerando as necessidades para sumo alimentar, bem como as prioridades de mento é preciso considerar a alimentação
Atenção Nutricional nos demais pontos de
acordo com o perfil alimentar e nutricional e a nutrição como determinantes de saúde
atenção.
da população assistida. e levar em conta a subjetividade e comple-
Lembre-se que os sujeitos da Atenção xidade do comportamento alimentar. Neste
De acordo com as etapas preconizadas Nutricional são os indivíduos, a família e a sentido, as equipes de referência deverão
pela PNAN, a Atenção Nutricional ofertada comunidade, sendo assim, as ações devem ser apoiadas por equipes multiprofissionais,
pelas equipes de APS deverá dar respostas ser desenvolvidas com metodologias ade- a partir de um processo de matriciamento
às demandas e necessidades de saúde da quadas para cada um desses enfoques. É e clínica ampliada, com a participação de
população do seu território, considerando os indispensável incluir os “sujeitos coletivos”, profissionais da área de alimentação e
problemas mais frequentes, relevantes e ob- que são as famílias e comunidades do ter- nutrição que deverão instrumentalizar os de-
servando critérios de risco e vulnerabilidade. ritório, que têm características dinâmicas, mais profissionais, para o desenvolvimento
Deste modo, a Vigilância Alimentar e formas de organização e necessidades dis- de ações integrais nessa área, respeitando
Nutricional deve ser incorporada ao pro- tintas. Além disso, todas as fases do curso seus núcleos de competências.

Com o apoio matricial, as equipes


de APS poderão compreender a im-
portância da vigilância e atenção
nutricional para o desenvolvimento
do cuidado em saúde, bem como ter
segurança na sua realização, qua-
lificando sua escuta e capacidade
resolutiva, em uma perspectiva hu-
manizada.

41
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Diante das diversas variáveis que podem ção dos usuários para a atenção primária Nosso próximo passo será conhecer os
influenciar as escolhas alimentares e o e desta para atenção especializada e hos- aspectos principais da Política Nacional de
diagnóstico de obesidade, é importante que pitalar, sendo sempre a APS a ordenadora Promoção de Saúde no próximo item.
as equipes de APS incluam em seu processo do cuidado.
de territorialização a identificação de locais 3.2 A POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO
de produção, comercialização e distribuição DA SAÚDE: PROPÓSITO, DIRETRIZES
de alimentos, entre outras características A organização do processo de tra- E APLICABILIDADE NA APS
balho das equipes e as LCSO serão
da população do território que possam
abordadas com mais detalhes no
relacionar-se aos seus hábitos alimentares Eixo II deste curso. Sabemos que questões relativas à
e estado nutricional, como os costumes e organização social, ao modo de produção e
tradições alimentares locais. (BRASIL, 2013). ao acesso aos alimentos podem determinar
Considerando a atenção nutricional na Você sabe se o seu Estado já instituiu as escolhas alimentares e o acometimento
Rede de Atenção à Saúde, mediante o perfil a Linha de Cuidado do Sobrepeso e da pelo sobrepeso e pela obesidade. Por
epidemiológico e nutricional da população Obesidade? Existe algum protocolo, manual exemplo, a violência urbana, a ausência de
brasileira, em 2013 o Ministério da Saúde ou nota técnica que defina o cuidado da locais seguros para prática de atividade
estabeleceu a Linha de Cuidado do Sobre- pessoa com sobrepeso e obesidade? física, o tipo de ocupação do indivíduo, o
peso e da Obesidade (LCSO) como parte da Caso ainda não existam iniciativas em seu tipo de transporte utilizado e a ausência de
Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com local de trabalho, você pode atuar para lazer ativo são exemplos de determinantes
Doenças Crônicas (RAPDC). a implementação da linha de cuidado no sociais do excesso de peso.
Para que a rede de atenção e a linha de seu território e organização da atenção às Assim, num contexto ampliado de saúde,
cuidado possam ser implementadas nos pessoas com excesso de peso. a OMS sugere que os programas, as políticas
serviços de saúde é necessária a elaboração e as atividades de promoção de saúde sejam
de protocolos, manuais e normas técnicas planejadas e executadas, conforme Brasil
que orientem a organização dos cuidados Lembre-se de que além das metas (2018a) e Sicoli (2003), de acordo com os
prioritárias relacionadas às ações
relativos à alimentação e nutrição nos princípios descritos a seguir.
preventivas e de manejo da obesida-
demais pontos de atenção e estabeleçam de, a PNAN considera as situações
os critérios de classificação de risco e de de desnutrição, carências nutricio-
nais específicas (carências de mi-
referência e contrarreferência para regula-
cronutrientes) e outras DCNT.

42
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

mas Prioritários. Os Temas Transversais são


os pilares da política e estão organizados da
Participação seguinte forma:
Empoderamento social
Princípios: • Determinantes Sociais da Saúde;
• Equidade e Respeito à Diversidade;
• Desenvolvimento Sustentável;
• Produção de Saúde e Cuidado;
Sustentabilidade Concepção • Ambientes e Territórios Saudáveis;
holística Equidade
• Vida no Trabalho;
• Cultura da Paz e Direitos Humanos
(BRASIL, 2018a).
Ações As diretrizes da PNPS determinam ações
Intersetorialidade multi-estratégicas para realizar a promoção da saúde no SUS,
com enfoque no trabalho intrassetorial e
intersetorial, estímulo ao planejamento
das ações mediante ao conhecimento
Neste sentido, a Política Nacional de das políticas públicas existentes. prévio do território, organização da rede,
Promoção da Saúde (PNPS) tem como As políticas de saúde que incluem a pro- implementação de intervenções para
objetivo enfrentar os desafios de produção moção da saúde devem consolidar práticas promoção da saúde e incentivo à gestão
da saúde e de qualificação contínua das voltadas para indivíduos e coletividades, em democrática e participativa. Além disso,
práticas sanitárias e do sistema de saúde. uma perspectiva de trabalho multidisciplinar, visa o estímulo a pesquisa sobre temas
Assim, o Brasil ratificou seu compromisso integrado e em redes, de forma que conside- relacionados à promoção da saúde e
com a ampliação e a qualificação de ações re as necessidades em saúde da população, desenvolvimento de atividades de formação
de promoção da saúde nos serviços e na articulada com os diversos atores e com o permanente dos profissionais da saúde para
gestão do SUS. A partir disso, foi inserida território. essas atividades.
na agenda estratégica dos gestores do A PNPS possui Temas Transversais, Dire- Já os eixos operacionais da PNPS são
SUS e nos Planos Nacionais de Saúde trizes, Eixos Operacionais e Competências estratégias para concretizar ações de promo-
subsequentes, ampliando as possibilidades comuns a União, Estados e Municípios e Te- ção da saúde. Para a organização da atenção

43
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

nutricional na atenção primária para preven- Entre os eixos operacionais está a territo- Para o desenvolvimento das ações de
ção e controle do sobrepeso e da obesidade, rialização, que é um processo de regionali- promoção da saúde no território é necessária
vamos conhecer melhor alguns deles: zação e considera a abrangência das regiões a articulação e cooperação intrassetorial
de saúde e sua articulação com os equipa- e intersetorial, compartilhando planos,
mentos sociais nos territórios (BRASIL, 2018b). metas, objetivos comuns entre os diferentes
Territorialização Pressupõe a identificação de singularidades setores e entre diferentes áreas do mesmo
territoriais para o desenvolvimento de ações setor. Um bom exemplo dessa articulação é
de promoção à saúde. Esse processo é a construção de um plano local de promoção
Articulação e cooperação
complementado na APS pelo cadastramento da saúde.
intrassetorial e intersetorial
das famílias adscritas, georreferenciamento Nesse processo de construção a gestão
de limites e áreas específicas e mapeamento tem papel fundamental para realizar de
Rede de Atenção à Saúde
do território. forma democrática e participativa o planeja-
Com o território de saúde mapeado é mento, regulação, financiamento, execução,
Participação e controle social possível estabelecer práticas de cuidado comunicação, monitoramento e avaliação
pautadas nas necessidades locais, na dos objetivos, metas, ações e indicadores
integralidade do cuidado, articulando-se propostos (BRASIL, 2018b). Assim se fortalece
Gestão com os equipamentos de saúde, a vigilância a participação e o controle social na ela-
em saúde, e assim a transversalização da boração de políticas públicas e nas ações
promoção nas Redes de Atenção à Saúde. relevantes que afetam a vida dos indivíduos,
Educação e formação
A obesidade, por exemplo, possui uma linha das famílias e das comunidades.
de cuidado específica dentro da RAPDC, Uma vez que há monitoramento e
Vigilância, monitoramento
mas pode envolver outras linhas de cuidado, avaliação dos dados de saúde dos serviços,
e avaliação
como as do diabetes e da hipertensão, mas há estímulo a uma atitude reflexiva e
Produção e disseminação também outras RAS, como a Rede de Atenção resolutiva sobre problemas, necessidades e
de conhecimentos e saberes Psicossocial, no caso de uma doença mental potencialidades; os profissionais de saúde
associada, e a Rede de Atenção às Urgências sentem a necessidade da aprendizagem
e Emergências numa possível agudização de para sua educação e formação, bem como
uma comorbidade. de produzir e disseminar saberes.

44
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Um exemplo é a organização do cuidado com enfoque na abordagem das DCNT.


do sobrepeso e da obesidade em uma UBS. Visto que conhecemos as principais
Os dados de consumo alimentar e de ava- características da PNPS, bem como sua
liação antropométrica subsidiam as ações articulação com a APS, vamos prosseguir os
a serem desenvolvidas pelo serviço, como estudos trabalhando a Atenção Nutricional
o estabelecimento de grupos terapêuticos na atenção primária, acompanhe!
sobre a obesidade e seus determinantes,
grupos de estímulo à atividade física; tam- 3.3 ATENÇÃO NUTRICIONAL NA APS:
bém podem ser usados para acompanhar o RECONHECIMENTO DO TERRITÓRIO
plano terapêutico, a evolução do problema E ATENÇÃO INTEGRAL
de saúde, os resultados alcançados pela
equipe de saúde e as mudanças nos hábitos As Doenças Crônicas Não Transmissíveis
individuais e nos dados de saúde da popula- (DCNT) são um desafio para os sistemas de
ção do território. saúde. Por isso, é preciso rever o paradigma
Como profissional da saúde, é importante do atendimento ao episódio agudo e da cura
conhecer a PNPS, que reafirma o entendi- do indivíduo para o cuidado contínuo às
mento de que a promoção da saúde é um condições crônicas, da atenção à saúde com
processo de capacitação da comunidade, o envolvimento da sociedade.
com vistas ao desenvolvimento de ações previstas para o processo de trabalho da Os sistemas de saúde que estruturam
para melhoria da sua qualidade de vida Estratégia de Saúde da Família (BRASIL, seus modelos com base em uma APS
e consequentemente da saúde (CARTA DE 2017a), baseada em atenção integral à saúde, forte, resolutiva e coordenadora do cuidado
OTTAWA, 1986). Neste sentido, considerando vinculação das equipes multiprofissionais à ao usuário têm melhores resultados nos
a influência da qualidade de vida e dos hábi- população de determinado território, porta indicadores de saúde da população (LAVRAS,
tos, as estratégias para promoção da saúde de entrada para o SUS, coordenadora do 2011). Neste nível de atenção as equipes
são centrais para a prevenção e o cuidado cuidado integral na rede. O trabalho das devem realizar a gestão do cuidado em
das pessoas com sobrepeso e obesidade. equipes de saúde na APS deve abranger a saúde às populações de seus territórios de
A operacionalização da PNPS na atenção promoção da saúde, por meio de ações que saúde, previamente definidos, e pelos quais
primária reforça as bases organizacionais promovam a qualidade de vida da população, assumem a responsabilidade sanitária.

45
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Deste modo, a territorialização é parte Recomenda-se disponibilizar dois tipos de mapas na Unidade Básica de Saúde (UBS),
do processo de trabalho e uma ferramenta confira no quadro.
de planejamento das ações direcionadas
à população de cada território, de cada
Objetivo: Sugere-se que este mapa seja exposto na re-
equipe. Esse processo deve ser dinâmico e Representar graficamen- cepção da UBS, apresentando a imagem da
sempre considerar as especificidades das Mapa de
te a área de responsabili- divisão das microáreas do território de respon-
delimitação
comunidades e famílias do território e as geográfica/
dade da equipe de saúde, sabilidade dos agentes comunitários de saúde
alterações que ocorrem ao longo do tempo permitir a visualização (ACS) e também apresentar a localização da
delimitação
espacial do território e UBS e dos equipamentos sociais (escolas, cre-
(LACERDA et al., 2012). do território
auxiliar a apreender suas ches, centros comunitários, clubes, igrejas e
São etapas desse processo: particularidades. outros serviços) presentes em cada microárea.
• Definição do território de atuação e
população sob responsabilidade das É um instrumento para o planejamento, cons-
unidades de saúde e das equipes. truído a partir do mapa do território e alimen-
• Programação e implementação das tado por informações geográficas, ambientais,
Objetivo:
atividades de atenção à saúde de sociais, demográficas e de saúde obtidas por
Mapa Melhorar a qualidade do
meio do processo de territorialização. Não
acordo com as necessidades de saúde inteligente serviço de saúde, pode
deve ficar exposto para população e, sim, per-
da população, com a priorização de ser feito por microárea.
manecer em local de uso exclusivo da equipe
intervenções clínicas e sanitárias nos de saúde, visto que registra a localização dos
problemas de saúde (segundo critérios domicílios, famílias e marcadores de saúde.
de frequência, risco, vulnerabilidade,
Fonte: NÚCLEO DE TELESSAÚDE DE SANTA CATARINA, 2016.
resiliência).
• Prover atenção integral, contínua e
organizada à população adscrita. A APS compreende o conjunto de ações gestão de ações voltadas às necessidades
Durante o processo de diagnóstico local de saúde organizadas de forma regionali- da população das áreas de abrangência das
e identificação das necessidades de saúde zada e local, que considera singularidades Unidades Básicas de Saúde as quais abri-
da população é importante utilizar o mapa e inserção sociocultural para desenvolver gam a Estratégia Saúde da Família. Nestas
do território, que é uma ferramenta de uma atenção integral e humanizada. Ela é equipes, o contato com os usuários se torna
planejamento em saúde (BRASIL, 2017b). efetivada por meio de práticas de cuidado e mais próximo, pois as equipes de saúde

46
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

se deslocam aos territórios em que vivem saudáveis, mercados, fast foods, os locais Lembre-se de que essas ações devem
indivíduos e familiares (BRASIL, 2017a). de produção e venda de alimentos (restau- estar alinhadas com as políticas públicas
Considerando a grande influência da rantes, bares), a coleta de lixo, saneamento de alimentação e nutrição, e comprometidas
alimentação e nutrição sobre o processo básico e espaços para realização de ativida- com a Segurança Alimentar e Nutricional na-
saúde-doença-cuidado, destaca-se a impor- des físicas e lazer ativo, dentre outros. quele território. Nesse sentido, vamos agora
tância da temática para as ações no âmbito Todos os profissionais da APS devem dar continuidade nos estudos abordando
individual e coletivo. O território deve ser participar do processo de territorialização as responsabilidades das equipes para o
olhado de uma perspectiva intersetorial, e mapeamento da área de atuação das cuidado integral.
uma vez que a obesidade como doença equipes de saúde, de modo a conhecerem o
tem determinantes sociais (condições território de saúde, seus coletivos, famílias e 3.4 TRABALHO MULTIPROFISSIONAL
econômicas, sociais, culturais, situação de indivíduos, bem como os riscos a que estão PARA O CUIDADO INTEGRAL
segurança alimentar e nutricional, acesso expostos, incluindo a insegurança alimentar DA POPULAÇÃO
aos alimentos, estabelecimentos de comer- e nutricional , aqui inseridos o sobrepeso e a
cialização de alimentos disponíveis, etc.), obesidade (BRASIL, 2017a). A APS é desenvolvida por meio de
que são identificados e monitorados nesse Sendo mais complexos, os processos práticas de cuidado e gestão, democráticas
espaço (LACERDA et al., 2012). de trabalho multiprofissionais, a atuação e participativas, sob forma de trabalho
interdisciplinar e a articulação em rede, para em equipe, dirigidas a populações de
o cuidado integral nas diferentes fases do territórios definidos, pelas quais assume a
Você já pensou quais características
e locais devem ser observados no
curso da vida, constituem como potenciali- responsabilidade sanitária, considerando a
território para proposição de saúde e dades para integralidade na atenção à saúde. dinamicidade existente no território em que
promoção da alimentação adequada As informações de Vigilância Alimentar vivem essas populações (BRASIL, 2017a).
e saudável para controle do sobrepe-
so e da obesidade no seu território?
e Nutricional com base nos marcadores Da mesma forma, a Atenção Nutricional
de consumo alimentar e estado nutricional no âmbito da APS pressupõe articulação
dos indivíduos e das famílias devem ser entre as equipes multiprofissionais que
Algumas das características e locais coletadas sistematicamente pelas equipes atuam no apoio matricial possuem papel
importantes neste contexto são a disponi- de saúde para subsidiar o planejamento das estratégico no apoio às equipes de Saúde Da
bilidade de água e alimentos, a presença de ações a serem realizadas na unidade de Família (eSF) para organização e oferta da
agricultura familiar, as feiras de alimentos saúde e no território (BRASIL, 2015b). Atenção Nutricional. Esse trabalho integrado

47
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

busca maior resolubilidade no âmbito da Para que a atenção nutricional alcance


APS e sua coordenação com os demais resultados efetivos, o processo de trabalho A Atenção Nutricional ofertada pe-
pontos de atenção da RAS. deve contemplar os seguintes elementos: las equipes da APS deverá dar res-
postas às demandas e necessidades
É a ESF, por meio de suas equipes, que deve de saúde da população, e organiza-
manter atualizado o cadastro das famílias da no âmbito individual, familiar e
e dos indivíduos para a análise da situação comunitário.

de saúde, considerando as características Intersetorialidade


Integralidade da
sociais, econômicas, culturais, demográficas no território de
atenção e das Considerando o processo de trabalho das
e epidemiológicas do território, a fim de iden- saúde
ações de saúde equipes multiprofissionais, a contribuição
tificar as demandas e necessidades de saúde propostas
de profissionais de diferentes núcleos de
de maior frequência e relevância, observando
saberes para a Atenção Nutricional na
critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência.
APS visa ampliar a capacidade de análise
As equipes multiprofissionais na APS
e resolução de problemas relacionados à
possuem competências e atribuições para Trabalho
alimentação e nutrição, tanto no âmbito
atuar em cenários, propondo ações de em equipe
individual quanto coletivo (BRASIL, 2014d).
caráter universal e específico. Devem atuar
As equipes multiprofissionais devem
de forma interdisciplinar e baseada no
desenvolver ações para (BRASIL, 2014d; 2017a):
território, para o desenvolvimento de olhar
• Identificar e analisar características
e escuta sensíveis aos problemas de saúde,
A articulação intersetorial constitui-se alimentares e nutricionais da popula-
possibilitando uma atenção integral à saúde.
como uma possibilidade de superação da ção adscrita, considerando a alimenta-
Além disso, as práticas de acolhimento
fragmentação dos conhecimentos, melho- ção como prática social relacionada a
precisam considerar a subjetividade e com-
rando o processo de trabalho, delegando aspectos socioeconômicos, culturais
plexidade do comportamento alimentar, o
saberes e habilidades, de modo a atuar e ambientais, além dos biológicos, de
que implica disseminar essas concepções
nos problemas de alimentação e nutrição modo a contribuir para a prática do
entre os profissionais, contribuindo para
mais prevalentes na população brasileira, o acolhimento e da clínica ampliada.
a qualificação de sua escuta e capacidade
sobrepeso e a obesidade (FITTIPALDI; BARROS; • Planejar e executar ações de educação
resolutiva.
ROMANO, 2017). alimentar e nutricional, bem como

48
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

grupos terapêuticos, de acordo com ca- veis, de forma a aumentar a resoluti- estudos e conhecer o Guia Alimentar para a
racterísticas alimentares e nutricionais vidade da Atenção Nutricional na APS. População Brasileira.
identificadas na população adscrita. • Racionalizar os encaminhamentos
• Diagnosticar os principais agravos para serviços de Atenção Especiali- 3.5 GUIA ALIMENTAR PARA POPULAÇÃO
relacionados à alimentação e nutrição zada, ambulatorial e hospitalar, com BRASILEIRA COMO INSTRUMENTO
e organizar critérios de classificação coordenação do cuidado e manuten- DE PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO
de risco para identificar prioridades e ção do vínculo pela equipe de referên- ADEQUADA E SAUDÁVEL
definição das ofertas de cuidado para cia na APS.
indivíduos e coletividades. • Desenvolver articulação intersetorial A OMS recomenda, por meio da Estraté-
• Compartilhar saberes dos núcleos nos territórios para a promoção da gia Global para a Promoção da Alimentação
profissionais junto aos demais profis- SAN, defesa e exigibilidade do DHAA. Saudável, Atividade Física e Saúde, que os
sionais integrantes da eSF que pos- Essas atividades relacionadas à governos formulem e atualizem periodica-
sam contribuir para a organização do alimentação e nutrição não devem se mente diretrizes nacionais sobre alimenta-
cuidado, utilizando metodologias da configurar como um processo paralelo no ção e nutrição, levando em conta mudanças
aprendizagem em serviço, como aten- trabalho das equipes de saúde, mas serem nos hábitos alimentares e nas condições de
dimento compartilhado, discussão de incorporadas na organização já existente. saúde da população e o progresso no conhe-
casos, entre outras. Além disso, é importante perceber que os cimento científico. Essas recomendações
• Pactuar na APS e em outros pontos da usuários com excesso de peso já estão têm como propósito promover e proteger a
atenção na RAS oferta de atendimento presentes no dia a dia do território, das saúde por meio da implementação de medi-
clínico nutricional aos indivíduos que atividades em grupo e nos consultório da das sustentáveis para a redução da doenças
apresentam agravos relacionados unidade de saúde. A visibilidade dessa e agravos associadas a alimentação a ativi-
a alimentação e nutrição, como o condição enquanto um problema de saúde dade física (BRASIL, 2014c).
sobrepeso e obesidade, utilizando a ser trabalhado, por meio das ações de A ingestão de nutrientes, propiciada pela
critérios de classificação de risco. alimentação e nutrição, é o principal desafio alimentação, é essencial para a boa saúde.
• Construir e implementar estratégias a ser trabalhado na APS. Igualmente importantes para a saúde são
clínico assistenciais e técnico pedagó- Após compreender a importância do os alimentos específicos que fornecem os
gicas, baseadas nos protocolos, nas trabalho multiprofissional para atenção nutrientes, as inúmeras possíveis combina-
notas técnicas e em fluxos disponí- nutricional na APS, vamos avançar os ções entre eles e suas formas de preparo,

49
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

as características do modo de comer e as possam adotar práticas alimentares promo- cessamento empregado na sua produção,
dimensões sociais e culturais das práticas toras da saúde e além de contribuirem para e devem ser abrangidas nas ações de edu-
alimentares. Destaca-se que o efeito bené- que compreendam os fatores determinantes cação em saúde e de educação alimentar e
fico sobre a prevenção de doenças advém dessas práticas, auxiliando os sujeitos na nutricional, seja em oficinas de grupo ou em
do alimento em si e das combinações de busca de habilidades para tomar decisões e atendimentos individuais. Confira!
nutrientes e outros compostos químicos que transformar a realidade.
fazem parte da matriz do alimento, mais do Alimentos in natura ou
que de nutrientes isolados (HARA et al., 2017; minimamente processados
BRASIL, 2014c). Como o excesso de peso é abordado
no seu contexto de trabalho? Utilizam
Porém, adotar uma alimentação saudável Alimentos in natura são aqueles obtidos
as orienações do Guia Alimentar para
não é apenas uma escolha individual. Muitos a População Brasileira nas ações? de plantas ou de animais (como folhas e
fatores – de natureza física, econômica, frutos ou ovos e leite) e adquiridos para
política, cultural ou social – podem influen- consumo sem que tenham sofrido qualquer
ciar, positiva ou negativamente, o padrão de O Guia Alimentar para a População processamento após deixarem a produção/
alimentação das pessoas (MARTINS, 2018). Brasileira trata das etapas do sistema natureza.
Outros fatores também podem dificultar a alimentar, do cultivo ao consumo, valorizando Alimentos minimamente processados
adoção de uma alimentação adequada e sau- os modos de produção socialmente, são alimentos in natura que, antes de sua
dável como o custo mais elevado (em algumas ambientalmente e economicamente justos. aquisição, foram submetidos a alterações
cidades e países, por exemplo) dos alimentos Desse modo, o Guia é proposto como mínimas como limpeza, moagem, remoção
in natura e minimamente processados diante ferramenta de apoio aos profissionais do de partes não comestíveis, fermentação,
dos ultraprocessados, a necessidade de fazer SUS e para a população em prol da promoção pasteurização, congelamento, agregação de
refeições em locais onde não são oferecidas da alimentação adequada e saudável, uma sal ou outras substâncias ao alimento.
opções saudáveis de alimentação e a exposi- vez que aborda a educação para ações de Os ingredientes culinários, produtos
ção intensa à publicidade de alimentos não seleção e preparo de alimentos considerando extraídos de alimentos in natura ou
saudáveis (MARTINS, 2018). as distintas características das regiões do diretamente da natureza e usados pelas
Dessa forma, instrumentos e estratégias país (BRASIL, 2014c). pessoas para temperar e cozinhar alimentos
de educação alimentar e nutricional servem Ele estabelece três categorias de alimen- e criar preparações culinárias costumam
para que pessoas, famílias e comunidades tos, definidas de acordo com o tipo de pro- gerar dúvidas e insegurança quanto ao seu

50
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

uso em relação às implicações na saúde.


Alimentos in natura ou minimamente processados:
Vamos conhecer alguns exemplos e saber
da forma ideal de sua utilização.
Legumes, verduras, frutas, batata, mandioca e outras raízes e
tubérculos in natura ou embalados, fracionados, refrigerados Exemplos: óleos de soja, de milho, de
ou congelados girassol ou de oliva, manteiga, banha de
Arroz branco, integral ou parboilizado, a granel ou embalado porco, gordura de coco; açúcar de mesa
Milho em grão ou na espiga, grãos de trigo e de outros cereais branco, demerara ou mascavo; sal de cozinha
Feijão de todas as cores, lentilhas, grão de bico e outras leguminosas refinado ou grosso.
Cogumelos frescos ou secos Esses alimentos devem ser utilizados em
Frutas secas, sucos de frutas e sucos de frutas pasteurizados e sem quantidades pequenas no preparo de receitas
adição de açúcar ou outras substâncias ou aditivos e cocção dos alimentos. Eles agregam
Castanhas, nozes, amendoim e outras oleaginosas sem sal ou açúcar sabor quando adicionados com moderação
Cravo, canela, especiarias em geral e ervas frescas ou secas a alimentos in natura ou minimamente
Farinhas de mandioca, de milho ou de trigo e macarrão ou massas processados. Como são alimentos com
frescas ou secas feitas com essas farinhas e água alto teor de nutrientes como sódio, gordura
Carnes de boi, de porco e de aves e pescados frescos, resfriados ou saturada e açúcar, seu consumo excessivo
congelados
é prejudicial à saúde, aumentando o risco
Frutos do mar frescos, resfriados ou congelados;
de doenças cardiovasculares, cárie dental,
Leite pasteurizado ou em pó, iogurte (sem adição de açúcar ou outra
substância) obesidade e outras doenças crônicas.
Ovos
Chá de ervas, café feito do grão Alimentos processados
Água potável
Produtos fabricados essencialmente com
a adição de sal ou açúcar a um alimento in
Alimentos compostos por dois ou mais itens in natura ou minimamente processados:
natura ou minimamente processado. São pro-
Granola de cereais, nozes e frutas secas, iogurte com frutas dutos relativamente simples que envolvem
(desde que não adicionado açúcar, mel, óleo e gorduras) técnicas de processamento como cozimento,
secagem, fermentação, salga, salmoura, cura

51
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

e defumação. Esse processamento tem


como objetivo principal aumentar a vida útil Exemplos de alimentos processados:
dos alimentos, bem como agregar sabor. Conservas de alimentos inteiros preservados em salmoura ou em solução
O Guia recomenda que esse tipo de ali- de sal e vinagre, tais como cenoura, pepino, ervilhas, palmito, cebola,
mentos deve ser combinado com alimentos in couve-flor, ovos de codorna
natura ou minimamente processados. Entre- Frutas inteiras preservadas em açúcar: frutas em calda ou cristalizadas
tanto o consumo isolado ou associado com Vários tipos de carne adicionada de sal e peixes conservados em sal
ultraprocessados deve ser desestimulado. ou óleo: carne seca e toucinho
Sardinha e atum enlatados
Alimentos ultraprocessados Queijos feitos de leite e sal
Pães feitos de farinha de trigo, água, sal e leveduras para fermentação
Produtos cuja fabricação envolve diver-
sas etapas e técnicas de processamento
Alimentos ultraprocessados incluem:
e vários ingredientes, muitos deles de uso
exclusivamente industrial. Neste grupo, Salgadinhos “de pacote”, cereais matinais, barras de cereal, bebidas
estão os alimentos industrializados que são energéticas, entre muitos outros novos produtos que chegam ao
preparados com a junção de substâncias ex- mercado todos os anos
traídas de alimentos como gorduras, óleos, Vários tipos de biscoitos, sorvetes, balas e guloseimas em geral
amido, proteínas e açúcares; derivadas de Sopas, macarrão e temperos “instantâneos”, molhos
constituintes de alimentos como as gorduras Refrescos e refrigerantes, iogurtes e bebidas lácteas adoçados
hidrogenadas e o amido modificado; ou pro- e aromatizados
duzidas em laboratório a partir de petróleo Bebidas energéticas
e carvão como corantes, aromatizantes, Produtos congelados e prontos para aquecimento como pratos de massas,
realçadores de sabor e outros aditivos. pizzas, hambúrgueres e extratos de carne de frango ou peixe empanados
Para reconhecer esses alimentos você do tipo nuggets, salsichas e outros embutidos
pode orientar os usuários a consultar a lista Pães de forma, pães para hambúrguer ou hot dog, pães doces e produtos
de ingredientes. Os produtos com cinco panificados cujos ingredientes incluem substâncias como gordura vegetal
ou mais ingredientes e com nomes pouco hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos

52
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

familiares (xarope de frutose, isolados pro- O uso de alimentos processados deve ser tornam nutricionalmente desbalanceados.
teicos, espessantes, emulsificantes, coran- limitado e em pequenas quantidades, como Por sua formulação e apresentação, tendem
tes, aromatizantes, realçadores de sabor e ingredientes de preparações culinárias a ser consumidos em excesso e a substituir
vários outros tipos de aditivos) geralmente ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente
são ultraprocessados. alimentos in natura ou minimamente proces- processados. Além disso, sua produção,
sados. Os ingredientes e métodos usados distribuição, comercialização e consumo
na fabricação de alimentos processados desfavorecem a cultura, a vida social e o meio
Para compreender melhor esta clas- – como conservas de legumes, compotas ambiente (BRASIL, 2014c).Destaca-se que é
sificação assista ao vídeo do Profes-
sor Carlos Monteiro, disponível no de frutas, queijos e pães – alteram de modo importante limitar o consumo dos alimentos
link a seguir: <https://www.youtube. desfavorável a composição nutricional dos ultraprocessados como junk foods e bebidas
com/watch?v=_Q9_0N6dVJE> alimentos dos quais derivam (BRASIL, 2014c). de alta densidade energética e incentivar o
consumo de proteínas e gorduras saudáveis,
vegetais, folhas verdes, frutas, castanhas,
De forma objetiva, clara e simples, esta- Quantidade
Porção de 0g ou 0ml por porção %VD(*) legumes e grãos integrais. Os carboidratos
belece que para alcançarmos uma alimenta-
Valor energético 0kcal = 0kJ 0% complexos são preferíveis aos açúcares
ção nutricionalmente adequada, saborosa e
Carboidratos 0g 0% simples e os alimentos ricos em fibra aos
culturalmente apropriada e promotora de um 0g
Proteínas 0% alimentos pobres em fibra. Além disso, é
sistema alimentar socialmente e ambiental- Gorduras Totais 0g 0% essencial que haja estímulo à leitura dos
mente sustentável é necessário o consumo Gorduras Saturadas 0g 0% rótulos ao invés das chamadas de marketing.
predominantemente de alimentos in natura e Gorduras Trans 0g --
O profissional de saúde deve sempre
minimamente processados (BRASIL, 2014c). Fibra alimentar 0g 0%
apresentar claramente a classificação e
Sódio 0mg 0%
(*)% Valores Diários com base em uma
recomendações aos usuários. Não se deve
A regra de ouro é: prefira sempre ali- dieta de 2000 kcal ou 8400 kJ trocar a “comida feita na hora” (caldos,
**VD não estabelecido
mentos in natura ou minimamente sopas, saladas, molhos, arroz e feijão, ma-
processados e preparações culiná- carronada, refogados de legumes e verduras,
rias a alimento ultraprocessados.
farofas, tortas) por produtos que dispensam
Os alimentos ultraprocessados devem ser preparação culinária (“sopas de pacote”,
evitados devido a seus ingredientes que os “macarrão instantâneo”, pratos congelados

53
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

prontos para aquecer, sanduíches, frios e outras questões relacionadas à alimentação


embutidos, maioneses e molhos industria- 3. Limitar o consumo de alimentos pro- e nutrição, a PNAN recomenda a realização
cessados.
lizados, misturas prontas para tortas). Da da Educação Alimentar e Nutricional (EAN)
mesma forma, as sobremesas caseiras são 4. Evitar o consumo de alimentos ultra-
que, em conjunto com outras estratégias
preferidas aos doces industrializados. processados. como a regulação de alimentos (rotulagem
e informação, publicidade e melhoria do
5. Comer com regularidade e atenção, perfil nutricional dos alimentos) e o incentivo
O Guia Alimentar para a População em ambientes apropriados e, sempre à criação de ambientes institucionais
Brasileira também apresenta algu- que possível, com companhia.
mas formas de composição das promotores de alimentação adequada
refeições principais. Acesse o ma- e saudável, incidirão sobre a oferta de
6. Fazer compras em locais que ofere-
terial na íntegra para conhecê-las: alimentos adequados e saudáveis nas
cem variedades de alimentos in natura
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/guia_alimentar_popula-
ou minimamente processados. escolas e nos ambientes de trabalho.
cao_brasileira_2ed.pdf> Acrescenta que a oferta de alimentos
7. Desenvolver, exercitar e partilhar ha- adequados e saudáveis também deve ser
bilidades culinárias.
estimulada entre pequenos comércios de
Além disso, o Guia apresenta os 10 alimentos e refeições da chamada “comida
passos para uma alimentação saudável, que 8. Planejar o uso do tempo para dar à de rua” (BRASIL, 2013).
alimentação o espaço que ela merece.
deve guiar o trabalho dos profissionais da Assim, e em consonância com o
saúde. Conheça-os a seguir. conceito ampliado de Saúde e alimentação
9. Dar preferência, quando fora de casa,
a locais que servem refeições feitas na adequada e saudável, a Educação Alimentar
1. Fazer de alimentos in natura ou mi-
hora. e Nutricional (EAN) não é suficiente quando
nimamente processados a base da ali- pensada de maneira fragmentada, isolando a
mentação. 10. Ser crítico quanto a informações, variável alimentar ou nutricional. Propostas
orientações e mensagens sobre ali-
mentação veiculadas em propagandas
de EAN para problemas multifatoriais
2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar exigem abordagem ampla e, nesse contexto,
comerciais.
em pequenas quantidades ao temperar
e cozinhar alimentos e criar prepara- a EAN deve ocorrer a partir de práticas
ções culinárias. problematizadoras e inclusivas, que
Para contribuir com a redução da proporcionem a escuta e instrumentalizem
prevalência do sobrepeso e da obesidade e a população para o autocuidado. Neste

54
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, UN 3
SAÚDE E SOCIEDADE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

sentido, os profissionais de saúde devem vistas à prevenção e controle do sobrepeso


realizar uma aproximação com a realidade e da obesidade.
local para um diagnóstico situacional com A EAN é a estratégia para essa abordagem
elementos que viabilizem condutas mais e o Guia um instrumento de apoio aos
assertivas. profissionais para desenvolvê-la.

As ações de EAN devem potenciali-


zar a capacidade dos sujeitos para
a construção de uma vida saudável,
mediante o desenvolvimento da au-
tonomia e da cidadania, com base
nas recomendações do Guia. Em
grupo, as ações coletivas permitem
o contato com diferentes realidades,
maximizando a capacidade dos indi-
víduos de superação de obstáculos
em relação à alimentação diante de
novas situações (BRASIL, 2014c).

A EAN pode ser realizada nos atendimen-


tos individuais, em atividades escolares, em
feiras, rodas de conversa, visitas domicilia-
res, em ações comunitárias, dentre outras.
Sabemos que nem sempre os profissionais
de saúde da APS possuem as condições ou
recursos ideais para o desenvolvimento das
ações, mas podemos encontrar caminhos
para facilitar a incorporação da alimentação
adequada e saudável pela população com

55
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, ENCERRAMENTO DO MÓDULO
SAÚDE E SOCIEDADE

Neste módulo você estudou os impactos Por fim, foi abordada a organização da
da organização social e da cultura nas Atenção Nutricional no âmbito da Atenção
práticas de alimentação e nutrição, bem Primária à Saúde e apresentado o Guia
como seu efeito na saúde das pessoas. Alimentar para a População Brasileira para
Foram apresentadas diferentes percepções apoiar a promoção da alimentação adequa-
e modelos conceituais de saúde, os deter- da e saudável.
minantes sociais de saúde, alimentação e Esperamos que você esteja mais familia-
nutrição, o conceito ampliado de saúde, a rizado com esta temática e que incorpore à
promoção da saúde e da alimentação ade- sua prática profissional um olhar ampliado
quada e saudável. acerca da saúde, da alimentação e da
Você também estudou os principais con- nutrição, para o cuidado das pessoas com
ceitos e políticas públicas de alimentação e sobrepeso e obesidade na sua população
nutrição no contexto brasileiro, compreen- adscrita.
dendo a alimentação como um direito que
deve ser garantido por meio de estratégias
dos serviços de saúde, articulado de forma
intersetorial, e que promova a Segurança
Alimentar e Nutricional.

56
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, REFERÊNCIAS
SAÚDE E SOCIEDADE

ABRANDH. Direito Humano à Alimentação ARAÚJO, G. A. S. O capitalismo e a


Adequada no Contexto da Segurança apropriação da natureza: usos, consequências
Alimentar e Nutricional. Brasília, DF: e resistências. Geousp – Espaço e Tempo
ABRANDH, 2010. Disponível em: <http://www. (Online), v. 23, n. 1, p. 112-123, abr. 2019.
actuar-acd.org/uploads/5/6/8/7/5687387/
dhaa_no_contexto_da_SAN>. Acesso em: 17 BRASIL. Ministério da Saúde. 8ª
fev. 2020. Conferência Nacional de Saúde. Relatório
final. Brasília: Ministério da Saúde, 1986.
ALMEIDA, L. M. et al. Estratégias e desafios
da gestão da atenção primária à saúde no BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de Setembro de
controle e prevenção da obesidade. Revista 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe sobre
Eletrônica Gestão e Saúde, Brasília, v. 8, n.1, as condições para a promoção, proteção
p. 114-139, jan. 2017. e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços
ALMEIDA-FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. correspondentes e dá outras providências.
Modelos de Saúde e Doença. Introdução Brasília, 1990.
à epidemiologia. 4. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro
de 2006. Cria o Sistema Nacional de
ANDRADE, S. Saúde e beleza do corpo Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN
feminino: algumas representações no Brasil com vistas em assegurar o direito humano
do século XX. Movimento, Porto Alegre, v. 9, à alimentação adequada e dá outras
n. 1, p. 119-43, 2003. providências. Brasília, 2006.

ARAÚJO, D.; GOMES DE MIRANDA, M. C.;


BRASIL, S. L. Formação de profissionais de
saúde na perspectiva da integralidade. Revista
Baiana de Saúde Pública, v. 31, p. 20, 2014.

57
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, REFERÊNCIAS
SAÚDE E SOCIEDADE

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no.
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção de Atenção à Saúde. Departamento de 2.436 de 21 de setembro de 2017. Aprova
Básica. Política Nacional de Alimentação Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde a Política Nacional de Atenção Básica,
e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde, da Família. Brasília: Ministério da Saúde, estabelecendo a revisão de diretrizes para a
2013. 2014d. (Cadernos de Atenção Básica n. 39) organização da Atenção Básica, no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília,
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de 2017b.
de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Atenção Básica. Estratégias para o cuidado Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
da pessoa com doença crônica: obesidade. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015a. Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção
Brasília: Ministério da Saúde, 2014a. à Saúde. Política Nacional de Promoção
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de da Saúde: PNPS: Anexo I da Portaria de
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Consolidação nº 2, de 28 de setembro
Social e Combate à Fome. Estratégia Básica. Marco de Referência da Vigilância de 2017, que consolida as normas sobre
intersetorial de prevenção e controle da Alimentar e Nutricional na Atenção Básica. as políticas nacionais de saúde do SUS.
obesidade: promovendo modos de vida e Brasília: Ministério da Saúde, 2015b. Brasília: Ministério da Saúde, 2018a.
alimentação adequada e saudável para a
população brasileira. Brasília: Ministério do BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de BRASIL. Ministério do Desenvolvimento
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Social. Secretaria Nacional de Segurança
2014b. Básica. Contribuições dos Núcleos de Alimentar e Nutricional. Princípios e
Apoio à Saúde da Família para a Atenção práticas para a Educação Alimentar e
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Nutricional [recurso eletrônico]. Brasília: Nutricional. Brasília, 2018b.
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Ministério da Saúde, 2017a.
Básica. Guia alimentar para a população BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
brasileira. 2. ed., 1. reimpr. Brasília: Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2018:
Ministério da Saúde, 2014c. Análise em Saúde e Vigilância de Doenças
não Transmissíveis. Brasília: Ministério da
Saúde, 2019.

58
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, REFERÊNCIAS
SAÚDE E SOCIEDADE

CANESQUI, A. M. (org.). Antropologia FITTIPALDI, A. L. M.; BARROS, D. C.; KEPPLE, A. W.; SEGALL-CORRÊA, A. M.
e nutrição: um diálogo possível. Rio de ROMANO, V. F. Apoio Matricial nas ações Conceituando e medindo segurança
Janeiro: FIOCRUZ, 2005. de Alimentação e Nutrição: visão dos alimentar e nutricional. Ciênc. saúde
profissionais da Estratégia Saúde da coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.1, p.187-
CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a Família. Physis, Rio de Janeiro, v. 27, n. 3, p. 199, jan. 2011.
diferença entre prevenção e promoção. 793-811, jul. 2017.
Cadernos de saúde pública, v. 15, n. 4, p. LACERDA, J. T.; BOTELHO, L. J.; COLUSSI,
701-709, 1999. FREITAS, C. M. S. M. et al . O padrão de C. F. Planejamento na Atenção Básica.
beleza corporal sobre o corpo feminino Florianópolis: Universidade Federal de
DIAS, P. C; HENRIQUES, P.; ANJOS, L. mediante o IMC. Rev. bras. educ. fís. Santa Catarina, 2012. (Eixo II: O Trabalho na
A.; BURLANDY, L. Obesidade e políticas esporte (Impr.), São Paulo, v.24, n.3, p. 389- Atenção Básica).
públicas: concepções e estratégias 404, set. 2010.
adotadas pelo governo brasileiro. Cad. LAVRAS, C. Atenção primária à saúde e a
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 7, GABE, K. T.; JAIME, P. C. Política Nacional organização de redes regionais de atenção
e00006016, 2017. de Segurança Alimentar e Nutricional. à saúde no Brasil. Saúde soc., São Paulo, v.
In: JAIME, P. C. Políticas Públicas de 20, n. 4, p. 867-874, dez. 2011.
FERNANDEZ, J. C. A. Determinantes Alimentação e Nutrição. São Paulo:
culturais da saúde: uma abordagem para a Atheneu, 2019. p. 46 LEAVELL, H.; CLARK, E.
promoção de equidade. Saúde e Sociedade, G. Medicina preventiva. São Paulo:
v. 23, n. 1, p.167-179, mar. 2014. GARBOIS, J. A.; SODRÉ, F.; DALBELLO- McGraw-Hill do Brasil, 1976. 
ARAUJO, M. Da noção de determinação
FISBERG, M.; MAXIMINO, P.; KAIN, J.; social à de determinantes sociais da saúde. MARTINS, A. P. B. É preciso tratar a
KOVALSKYS, I. (2016). Ambiente obesogênico Saúde em Debate, v. 41, p. 63-76, 2017. obesidade como um problema de saúde
-oportunidades de intervenção. Jornal de pública. Revista de Administração de
Pediatria, [s.l.], v. 92, n. 3, p.30-39, maio 2016. HARA, B. P. L. et al. Conhecimento de Empresas, v. 58, n. 3, p. 337-341, 2018.
nutricionistas sobre o guia alimentar para a
população brasileira. Nutrição Brasil, v. 16,
n. 5, p. 288-291, 2017.

59
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, REFERÊNCIAS
SAÚDE E SOCIEDADE

MENDES, E. V. O cuidado das condições PAGLIOSA, F. L.; DA ROS, M. A. O relatório SOARES, A. L. G.; FRANCA, G. V. A.;
crônicas na atenção primária à saúde: o Flexner: para o bem e para o mal. Revista GONCALVES, H. Disponibilidade domiciliar
imperativo da consolidação da estratégia Brasileira de Educação Médica, [s.l.], v. 32, de alimentos em Pelotas (RS): uma
da saúde da família. Brasília: Organização n. 4, p.492-499, dez. 2008.  abordagem do ambiente obesogênico. Rev.
Pan-Americana da Saúde, 2012. Nutr., Campinas, v.27, n.2, p.193-203, abr.
PRADO, S. D. et al. (Ed.). Estudos 2014.
NÚCLEO DE TELESSAÚDE SANTA socioculturais em alimentação e saúde:
CATARINA. Qual o objetivo e como saberes em rede. Rio de Janeiro: EDUERJ, VERDI, M. I. M.; DA ROS, M. A.; SOUZA, T,
elaborar o mapa do território adscrito pela 2016. T. Saúde e sociedade. [Recurso eletrônico]
equipe de saúde da família no contexto / Universidade Federal de Santa Catarina.
da Atenção Básica? 2016. Disponível em: ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Florianópolis: Universidade Federal de
<https://aps.bvs.br/aps/qual-o-objetivo- São Paulo: Hucitec, 1994. Santa Catarina, 2013. Disponível em:
e-como-elaborar-o-mapa-do-territorio- <https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.
adscrito-pela-equipe-de-saude-da-familia- SANTOS, M. Metamorfoses do espaço php/33313/mod_resource/content/2/
no-contexto-da-atencao-basica/>. Acesso habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. AtencaoBasica_2SaudeSociedade.pdf>.
em: 17 fev. 2020. Acesso em: 17 fev. 2020.
SICOLI, J. L.; NASCIMENTO, P. R. Promoção
OMS. Organização Mundial da Saúde. Carta de saúde: concepções, princípios e TEUTEBERG, H. O nascimento da era de
de Ottawa para a promoção da saúde. 1986. operacionalização. Interface (Botucatu), consumo moderna. In: FREEDMAN, P. A
Botucatu, v. 7, n. 12, p. 101-122, fev. 2003. história do sabor. São Paulo: Senac, 2009.
ONU. Organização das Nações Unidas. p. 234-261.
Comitê de direitos econômicos sociais e SCLIAR, M. História do conceito de saúde.
culturais do alto comissariado de direitos Physis: Revista de saúde coletiva, v. 17, n. WOLF, N. O mito da beleza: como as
humanos/ONU (1999). Comentário geral 1, p. 29-41, 2007. imagens de beleza são usadas contra as
número 12 - O direito humano à alimentação mulheres. Tradução de Waldéa Barcellos.
(art. 11). 1999. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

60
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, MINICURRÍCULO DOS AUTORES
SAÚDE E SOCIEDADE

Dalvan Antonio de Campos Adequada, Nutrição nos Ciclos da Vida, Serviços de Nutrição como Chefe do Núcleo
Nutrição nas Doenças Crônicas Não Trans- de Nutrição na Atenção Básica e como nutri-
Nutricionista formado pela Universidade
missíveis. Atua como Agente do Programa cionista até 2019. Foi cedida para o cargo de
Federal de Santa Catarina - UFSC (2009),
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Assessora da Subsecretaria de Segurança
Mestre em Saúde Coletiva (2016) pelo Pro-
no Centro Colaborador em Alimentação do Alimentar e Nutricional do DF no ano de 2012,
grama de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Escolar de Santa Catarina (CECANE/SC) si- atuando na reestruturação do CONSEA DF e
(PPGSC). Doutorando em Saúde Coletiva no
tuado no Departamento de Nutrição da UFSC da CAISAN DF, na 1ª Conferência Distrital de
PPGSC - UFSC. Trabalha com pesquisa em
desenvolvendo e executando ações de pes- SAN e suas Conferências Regionais prévias,
Saúde Coletiva, com ênfase nas Ciências
quisa, formação e assessoria. Docente do e na consequente publicação da LOSAN DF e
Sociais e Humanas, no Departamento de
curso de graduação em Nutrição do Centro da construção do 1º Plano Distrital de SAN.
Saúde Pública - UFSC desde 2009.
Universitário Uniavan (Balneário Camboriú). Foi nutricionista do Polo de Saúde Indígena
Endereço do currículo na Plataforma Lattes: de Marabá-PA, vinculado ao Distrito Espe-
Endereço do currículo na Plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2272195512817044 cial de Saúde Indígena Guamá-Tocantins
http://lattes.cnpq.br/2272195512817044
da SESAI/MS, enquanto cedida ao MS em
2015. Coordenadora da Linha de Cuidado
Priscila Porrua Mariana Martins Pereira
do Sobrepeso e da Obesidade desde 2015,
Graduada em Nutrição pela Universidade Graduada em Nutrição pela Universidade de atualmente trabalha na Diretoria de Atenção
Federal de Santa Catarina (UFSC), Especia- Brasília em 2006. Pós-graduada em Gestão Secundária e Integração de Serviços.
lista em Saúde Coletiva pelo Programa de Pública pela Faculdade Metropolitana de
Endereço do currículo na Plataforma Lattes:
Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFSC Belo Horizonte em 2008. Pós-graduada em
http://lattes.cnpq.br/3790547265453334
e Mestre em Agroecossistemas pelo Progra- Nutrição Esportiva Funcional pela Universi-
ma de Pós-graduação em Agroecossistemas dade Cruzeiro do Sul em 2011. Foi Pesquisa-
(PGA) pela mesma universidade. Possui dora Junior do OPSAN/UnB em 2007-2009.
experiência e interesse em atuar com temas Consultora Técnica da CGAN/MS em 2010,
relacionados à Pesquisa, Nutrição e Saúde quando ingressou na carreira de Especialista
Coletiva, Educação em Saúde, Educação Ali- em Saúde, especialidade Nutricionista da
mentar e Nutricional, Segurança Alimentar e Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Nutricional, Direito Humano à Alimentação Federal. Na SES-DF trabalhou na Gerência de

61

Você também pode gostar