SUMÁRIO
Introdução; 1.Discurso Jurídico; 2.Análise dos Operadores Argumentativos;
Conclusão;.Bibliografia .
RESUMO
O presente artigo tem como proposta a aplicação dos princípios teóricos da
Semântica Argumentativa, na análise de um texto jurídico, em que se tratou de descrever
algumas formas pelas quais a argumentatividade se manifesta neste tipo de discurso.
RESUMO
INTRODUÇÃO
No Capítulo III de sua Arte retórica, Aristóteles afirma que existiu três gêneros de
retórica: o deliberativo, o judiciário e o epidítico.
No gênero deliberativo, aconselha-se ou desaconselha-se sobre uma questão de
interesse particular ou público. O judiciário comporta a acusação e a defesa. O demonstrativo
abrange o elogio e a censura. Essa tripartição do discurso foi elaborada tendo -se em vista os
três tipos possíveis de auditório.
O discurso judiciário, realizado originariamente na oralidade, referia-se àqueles
discursos levados a efeito por um acusador e por um defensor, diante de um juiz que,
avaliando os fatos passados, deveria se manifestar quanto ao justo ou o injusto. Tratava-se,
pois, de discursos realizados nos tribunais.
É provavelmente nesse sentido, que Serverim e Bruxelles (1979), utilizam a
expressão “prática-jurídica” para designar o conjunto de análises efetuadas sobre o direito
pelos juristas, opondo-a à “prática judiciária”, aquela dos tribunais.
Segundo Orlandi (1983), a tipologia que distingue os discursos como o jurídico, o
político, o religioso, o jornalístico, entre outros, é uma tipologia consensual, que parte de
distinções apriorísticas, dadas segundo critérios estabelecidos quer pela sociologia quer pela
teoria do conhecimento. Esta espécie de tipologia faz referências à existência prévia das
instituições. A distinção pode ser também estabelecida entre os domínios do saber, surgindo
daí o discurso filosófico, científico, poético, etc.
Uma vez que este trabalho tem como proposta o estudo prático dos recursos
lingüísticos da argumentação, nosso empenho é voltado à apreciação dos operadores
argumentativos, os quais insertos na própria língua, na sua gramática, assumem a orientação
argumentativa do discurso. Tal direcionamento, a que não é imune a qualquer discurso,
assinala sua inafastável intencionalidade. O texto jurídico é declaradamente argumentativo e
intencional.
No início de um acórdão, apresenta-se um resumo de seu inteiro teor denominado
ementa. Dela constam os principais aspectos do julgamento envolvido, com ênfase na
fundamentação legal aplicada no caso. Quem lê a ementa consegue ter a visão de todo o
acórdão, pois nela se inclui a síntese das principais partes deste.
Lembramos, ainda, que os acórdãos geralmente apresentam a estrutura básica do
silogismo: um relatório (premissa maior), a fundamentação legal (premissa menor) e a decisão
(conclusão). A elaboração do acórdão, paralelamente, traz o desenvolvimento do seu texto nos
moldes da estrutura clássica: proposição argumentação – conclusão. É tal disposição
verificável na peça que selecionamos para a análise que passamos a realizar.
Para desenvolver o trabalho analítico, elegemos um Acórdão da lavra da 2ª Câmara
de Direito Privado do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), que se encontra publicado no
suplemento de Jurisprudência do Boletim nº 1981, da Associação dos Advogados de São
Paulo – AASP, em 11/12/96, nas páginas 393 a 395 (em anexo).
Tal peça é o documento principal da 2ª instância, numa Ação de Indenização por
Danos Materiais e Morais proposta por usuária de certo plano de saúde. Em razão de não
havido o correto diagnóstico de sua doença e tampouco o adequado tratamento médico-
hospitalar, após longo tempo sem obter melhora em seu quadro, viu-se a cidadã no
constrangimento de procurar os serviços de outro profissional, o qual diagnosticou a sua real
doença, procedendo sua cirurgia e devolvendo-lhe sua saúde.
Depois, ajuizou-se a ação indenizatória visando a ver ressarcidos os danos materiais e
morais que sofreu daquele plano de saúde. A sentença julgou procedente sua pretensão e
arbitrou em trinta salários mínimos o valor a lhe ser pago pela Ré.
Ambas as partes inconformaram -se com referido decisorium. Houve concomitância
de Apelações: a Autora almejando a reforma da sentença para ver majorado o quantum da
condenação. A Ré, de sua vez, buscando sua exclusão do pólo passivo do processo e, no
mérito, pugnando pela integral improcedência do feito, paralelamente, havia interposto um
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agravo retido, com o fito de ver contraditada uma testemunha apresentada pela outra parte e,
assim, o insucesso da Autora.
Ao fim de sua apreciação, a turma de desembargadores deu provimento isto é,
reconheceu legítimo o pedido da Autora, modificando o valor da indenização de 30 (trinta)
para 200 (duzentos) salários mínimos. A apelação da Ré não obteve o sucesso que pretendeu,
pois – repelidas todas as alegações que apresentou – foi sua plenamente improvida.
É oportuno, ainda, registrar que o princípio legal, que embasou toda a pretensão da
Autora, mesmo que não mencionado no corpo do acórdão, é o artigo 159 do Código Civil
Brasileiro que diz:
Nos trinta e um parágrafos que compõem o texto forense que adotamos para nossa
análise, podemos registrar a ocorrência de diversos recursos lingüísticos da argumentação,
como passamos a ver, seguindo os itens por sua ordem de ocorrência no texto.
b) § 8 – (...) nem mesmo serviu de base para o acolhimento da ação – este operador
argumentativo é apresentado numa relação de exclusão, de negação. No contexto em que
aparece, atua como um marcador de exclusão, cujo objetivo é retirar da pretensão Ré toda e
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qualquer força que eventualmente pretendesse suscitar para sua defesa mediante o testemunho
que pretendera constituir como prova.
c) § 11 – (...) Quer ela, por isso ressarcir-se das despesas que teve (...)
Esse operador sintático-argumentativo apresenta-se a partir de uma inferência. Nos
parágrafos precedentes, há narrativa dos atos e fatos que culminaram com o ajuizamento da
ação, a qual acabou sendo remetida ao tribunal. Assim, a expressão visa a sustentar que a
pretensão da Autora (receber indenização) não é sem motivo, mas há segura fundamentação
(a inadequada prestação de serviços pela Ré). Seu valor argumentativo está no suporte prévio
que se dá ao que se está propondo. Podemos notar, ainda, que a expressão pode ser também
tomada para alcançar uma finalidade justificativa: a pretensão da Requerente não é de caráter
monetarista, mas tem como base os danos que lhe foram impostos pela Ré.
entidade de plano de saúde não encontra guarida para a sua pretensão de eximir-se da
responsabilidade assumida, desde a assinatura do contrato com a cliente, ora Autora. Notemos
a informação do acórdão de que na contestação, isto é, na defesa escrita apresentada pela Ré,
esta pretendeu chamar ao processo a empresa A.A.M. por meio do instrumento processual
denominado denunciação à lide. Este instituto tem como finalidade precípua o possibilitar a
qualquer que se veja como Réu a denúncia, o chamamento, enfim, a inclusão de outrem a
quem o denunciar atribui a responsabilidade, ou parte desta, no processo. Dele tentou se
socorrer a empresa-Ré.
Esta digressão visa a demonstrar a propriedade com que o relator do acórdão recorreu
ao termo em apreço: portanto. Visto que, de forma exclusiva, à Ré competia o responder
pelos danos causados à cliente, então – de fato – ficou sem sentido a invocação de normas
contratuais ou qualquer outra tentativa de sua parte.
Com efeito, todo o arrazoado previamente apresentado pelo acórdão é ato
preparatório para a conclusão trazida na frase destacada neste ponto. A conjunção
coordenativa, portanto , cuja ocorrência sempre se refere a determinado conteúdo que se
tenha acabado de firmar ou afirmar, é a marca argumentativa desta porção do acórdão,
utilizada num encadeamento conclusivo.
n) § 21 – Aliás, afora vaga a referência de que a autora (...) nada induz que isso
tivesse sido a causa (...)
A argumentação nesta porção de texto se apresenta pelo conectivo aliás, o qual cria,
ao enunciatário, a impressão de que o argumento que se está introduzindo é sem importância.
Todavia, embora não seja o caso aqui, pode ser considerado como um recurso estratégico da
argumentação, já que atua pelo que se denomina mecanismo de preterição. O argumento é
introduzido como se fosse irrevelante, já que os apresentados anteriormente é o que teriam
importância para a enunciação.
Por outro lado, ao concluir no raciocínio o termo nada, necessário se faz juntar o
termo aliás àquele para melhor compreender a pretensão do enunciador. Nessa recomposição,
temos: Aliás (...) nada induz que isso tivesse sido a causa (...) que é um uma afirmação
significativa para o acórdão, visto que – mais uma vez – restringe a possibilidade da Ré ver
realizadas as suas pretensões, as quais foram veiculadas mediante o recurso apresentado ao
tribunal.
CONCLUSÃO
Ao fim deste trabalho, tendo em vista os objetivos propostos desde seu início,
podemos dizer que os recursos lingüísticos constituem-se em ferramentas indispensáveis ao
discurso jurídico, com excelência quando no âmbito da argumentação.
BIBLIOGRAFIA