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Mercado Financeiro

e de Capitais
Autor: Profa. Sirlei Pitteri
Colaboradores: Profa. Cristiane Nagai
Prof. André Galhardo Fernandes
Professora conteudista: Sirlei Pitteri

Possui pós-doutorado em Economia das Organizações pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade
de São Paulo (FEA­-USP, 2015), graduação em Física pela mesma instituição (1975) e mestrado e doutorado em
Administração pela Universidade de São Caetano do Sul (USCS, 2006 e 2012).

Tem experiência profissional como executiva do Citibank como gerente de projetos de TI para tesouraria, mercado
de capitais e negócios internacionais (1975-1987), diretora administrativa e financeira em empresa de construção civil
(1988-2003) e consultora de empresas, professora e pesquisadora em administração, com ênfase em relações entre
organizações, inovação em gestão, gestão das informações, governança corporativa e finanças corporativas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P688m Pitteri, Sirlei.

Mercado Financeiro e de Capitais / Sirley Pitteri. – São Paulo:


Editora Sol, 2020.

120 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Sistema financeiro. 2. Mercados financeiros. 3. Mercado de


capitais. I. Título.

CDU 336.76

U507.47 – 20

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Lucas Ricardi
Bruno Barros
Sumário
Mercado Financeiro e de Capitais

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10

Unidade I
1 POLÍTICAS ECONÔMICAS E TAXAS DE JUROS....................................................................................... 13
1.1 Como nasceu o conceito de juros.................................................................................................. 14
1.2 Políticas econômicas: fiscal, cambial e monetária.................................................................. 15
1.2.1 Política fiscal.............................................................................................................................................. 16
1.2.2 Política cambial........................................................................................................................................ 16
1.2.3 Política monetária................................................................................................................................... 16
1.3 Política monetária e as taxas de juros.......................................................................................... 17
1.3.1 Taxa Selic..................................................................................................................................................... 18
1.3.2 Spread bancário........................................................................................................................................ 19
1.3.3 Taxa CDI ou (DI)........................................................................................................................................ 20
1.3.4 Taxa Referencial (TR).............................................................................................................................. 21
1.3.5 Taxa de Longo Prazo (TLP).................................................................................................................... 21
1.3.6 Composição das taxas de juros.......................................................................................................... 21
1.4 Inflação, deflação, estagflação e índices..................................................................................... 22
1.4.1 Índices de inflação (indexadores)...................................................................................................... 23
2 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO (SFB)............................................................................................... 24
2.1 Mercados financeiros........................................................................................................................... 25
2.1.1 Mercado monetário................................................................................................................................ 25
2.1.2 Mercado de crédito................................................................................................................................. 25
2.1.3 Mercado de capitais................................................................................................................................ 26
2.1.4 Mercado de câmbio................................................................................................................................ 26
2.2 Formação do Sistema Financeiro Brasileiro................................................................................ 26
2.2.1 Conselho Monetário Nacional (CMN)............................................................................................. 28
2.2.2 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)......................................................................... 29
2.2.3 Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC).................................................... 29
2.2.4 Banco Central do Brasil (BC ou Bacen)........................................................................................... 30
2.2.5 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)......................................................................................... 30
2.2.6 Superintendência de Seguros Privados (Susep).......................................................................... 31
2.2.7 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).................................. 31
2.3 Entidades de apoio ao Sistema Financeiro Brasileiro............................................................. 32
2.3.1 Banco do Brasil (BB)............................................................................................................................... 32
2.3.2 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)................................... 33
2.3.3 Caixa Econômica Federal (CEF)........................................................................................................... 34
2.4 Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central.............................................................. 34
2.5 Comitê de Política Monetária (Copom)........................................................................................ 35
2.6 Os bancos e o custo de crédito........................................................................................................ 35
2.6.1 Inadimplência............................................................................................................................................ 36
2.6.2 Lucros............................................................................................................................................................ 36
2.6.3 Impostos diretos....................................................................................................................................... 37
2.6.4 Compulsório + encargos....................................................................................................................... 37
2.6.5 Custo administrativo.............................................................................................................................. 37
3 INSTITUIÇÕES OPERADORAS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL........................................... 38
3.1 Instituições bancárias e instituições não bancárias................................................................ 39
3.1.1 Instituições bancárias............................................................................................................................ 39
3.1.2 Instituições não bancárias................................................................................................................... 41
3.2 Operações ativas, passivas e acessórias........................................................................................ 42
3.2.1 Operações ativas...................................................................................................................................... 42
3.2.2 Operações passivas.................................................................................................................................. 42
3.2.3 Operações acessórias ou especiais.................................................................................................... 42
4 OPERAÇÕES NOS MERCADOS FINANCEIROS....................................................................................... 43
4.1 Fundamentos de matemática financeira..................................................................................... 43
4.1.1 Unidade de tempo-base da taxa de juros...................................................................................... 44
4.1.2 Taxas equivalentes e taxas proporcionais...................................................................................... 44
4.1.3 Valor presente (PV) e valor futuro (FV)........................................................................................... 47
4.1.4 Séries de pagamentos (PGTO)............................................................................................................. 48
4.1.5 Noções de calculadora financeira HP 12C..................................................................................... 50
4.2 Operações do mercado monetário................................................................................................. 52
4.2.1 Letras do Tesouro Nacional (LTN)...................................................................................................... 52
4.2.2 Certificados de Depósitos Bancários (CDB)................................................................................... 54
4.2.3 Certificados de Depósitos Interbancários (CDI)........................................................................... 55
4.2.4 Caderneta de poupança........................................................................................................................ 56
4.2.5 Commercial papers (notas promissórias)....................................................................................... 57
4.2.6 Debêntures................................................................................................................................................. 58
4.3 Operações no mercado de crédito................................................................................................. 61
4.3.1 Hotmoney................................................................................................................................................... 61
4.3.2 Desconto simples de títulos................................................................................................................ 63
4.3.3 Factoring..................................................................................................................................................... 64
4.4 Financiamentos com leasing............................................................................................................ 64

Unidade II
5 VALOR DAS EMPRESAS E O MERCADO DE CAPITAIS........................................................................ 74
5.1 Valor patrimonial das empresas...................................................................................................... 74
5.2 Valor mercadológico das empresas................................................................................................ 75
5.3 Valor econômico das empresas....................................................................................................... 75
5.4 Como aumentar o valor das empresas......................................................................................... 76
5.5 Financiamentos internos e a estrutura de capital................................................................... 78
5.5.1 Análise da estrutura de capital da empresa................................................................................. 78
5.5.2 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)................................................................................. 79
5.5.3 Estudo de alternativas de investimento em dois cenários..................................................... 81
5.5.4 Investimentos em cenários de expansão e recessão................................................................. 82
5.6 A migração do valor econômico das empresas......................................................................... 84
5.7 Entendendo o mercado de valores mobiliários......................................................................... 86
5.7.1 Abertura do capital................................................................................................................................. 86
5.7.2 Ofertas públicas........................................................................................................................................ 87
5.7.3 Negociação................................................................................................................................................. 87
5.7.4 Fechamento do capital.......................................................................................................................... 88
6 MERCADO DE CAPITAIS: ACIONÁRIO....................................................................................................... 88
6.1 Mercado de ações................................................................................................................................. 88
6.1.1 Ações ordinárias (ON) e ações preferenciais (PN)....................................................................... 88
6.1.2 Mercado primário e mercado secundário...................................................................................... 89
6.1.3 Bolsas de valores e mercado de balcão.......................................................................................... 89
6.1.4 O que são bolsas de valores?............................................................................................................... 89
6.1.5 O que é mercado de balcão?............................................................................................................... 90
6.1.6 O que é mercado de balcão organizado?....................................................................................... 90
6.1.7 Quem pode intermediar as negociações?...................................................................................... 91
6.1.8 Pregão e mercado à vista..................................................................................................................... 91
6.2 Rendimento e risco das ações........................................................................................................ 91
6.2.1 O que é risco de investimento?.......................................................................................................... 92
6.2.2 Risco de investir em ações................................................................................................................... 92
6.3 Índices representativos do mercado de ações........................................................................... 93
7 MERCADO DE CAPITAIS: MERCADORIAS E FUTUROS....................................................................... 94
7.1 O que são commodities?.................................................................................................................... 95
7.2 O que são bolsas de mercadorias e futuros?.............................................................................. 97
7.3 O que são derivativos?........................................................................................................................ 97
7.4 O que são swaps cambiais?............................................................................................................... 98
7.5 O que é hedge cambial?...................................................................................................................100
8 MERCADO DE CAPITAIS: FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO.........................................101
8.1 Conceito de Fundos de Investimento Imobiliário (FII).........................................................101
8.2 O produto...............................................................................................................................................103
8.3 Direitos e deveres dos investidores em FII................................................................................103
8.4 Estrutura de um FII.............................................................................................................................104
8.5 Categorias de FII..................................................................................................................................105
8.6 Vantagens dos FII sobre outros investimentos........................................................................105
8.7 Como investir em FII..........................................................................................................................106
APRESENTAÇÃO

Esta disciplina tem por objetivo apresentar conceitos básicos sobre o funcionamento dos
mercados financeiro e de capitais, bem como suas relações com as políticas econômicas brasileiras,
especialmente nos efeitos da política monetária sobre as taxas de juros praticadas pelas instituições
financeiras, públicas ou privadas.

Inicialmente, iremos apresentar o contexto econômico, político e financeiro brasileiro, situando


as decisões externas que podem afetar a gestão das empresas. Faremos uma apresentação das
políticas econômicas monetária, fiscal e cambial e explicaremos como os instrumentos da
política monetária utilizados pelo governo impactam as taxas de juros praticadas no Brasil.
Apresentaremos, ainda, as principais taxas de juros, com ênfase especial na taxa Selic, cuja
finalidade é estabelecer padrões para o controle da liquidez da economia. Abordaremos ainda
conceitos sobre inflação, deflação e estagflação, assim como os principais indicadores sobre a
economia brasileira.

Na sequência, traremos uma visão geral do Sistema Financeiro Brasileiro (SFB), que pode ser
definido como o conjunto de instituições, produtos e instrumentos que viabiliza a transferência de
recursos ou ativos financeiros entre os investidores (poupadores ou agentes superavitários) e
tomadores de recursos (agentes deficitários) da economia. Descreveremos os mercados monetário,
de crédito, cambial e de capitais, bem como as instituições públicas que regulam esses mercados:
Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB), Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) e Comitê de Política Monetária (Copom). Abordaremos ainda o papel das
instituições financeiras Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Trataremos também das instituições bancárias e não bancárias que compõem o SFB. A diferença
básica entre instituições bancárias e não bancárias é a atividade de depósitos em conta corrente. Existem,
portanto, instituições financeiras que podem receber depósitos em conta corrente, como os bancos
comerciais e bancos múltiplos, entre outras, e aquelas que apenas atuam como intermediadoras
dos agentes poupadores e tomadores de recursos. Abordaremos ainda as operações que são
efetuadas nos mercados monetário e de crédito, com exemplos práticos, utilizando a calculadora
financeira HP 12C e planilhas eletrônicas.

Abordaremos conceitos básicos sobre o mercado de valores mobiliários. Inicialmente, apresentaremos


as instituições envolvidas nas operações do mercado de capitais, bem como as etapas de abertura de
capital (initial public offering – IPO), a negociação e o fechamento do capital.

Posteriormente, faremos um detalhamento do mercado de capitais de ações (acionário),


apresentando os tipos de ações, os mercados primário e secundário, as bolsas de valores e outras
instituições envolvidas nesse mercado. Faremos ainda uma discussão sobre riscos e retornos envolvidos
nesse mercado.

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Abordaremos ainda o mercado de capitais voltado para mercadorias e futuros. Faremos um
detalhamento sobre os produtos negociados nesse mercado, como as commodities e uma ênfase
especial nos contratos de opção (derivativos) e suas variações: hedge cambial, swap cambial,
entre outros.

Por fim, apresentaremos conceitos sobre o mercado de capitais voltados para os Fundos de
Investimentos Imobiliários (FII). Apresentaremos o conceito do produto, os aspectos técnicos e as
vantagens desse produto com relação a outros investimentos.

INTRODUÇÃO

No Brasil, predominam milhares de micro, pequenas e médias empresas, raríssimas grandes empresas
e apenas cinco grandes bancos, que detêm o controle de quase todo o dinheiro que circula no país. No
entanto, são as micro, pequenas e médias empresas que sustentam a economia brasileira.

Dados de uma pesquisa do IBGE (2019) apontam um perfil interessante sobre os empregadores
brasileiros: existem, no Brasil, aproximadamente 5 milhões de empregadores, sendo 98,28% (4.942.765)
micro e pequenas empresas (0 a 49 empregados); 1,33% (66.869) médias empresas (50 a 250 empregados)
e apenas 0,39% (19.475) grandes empresas, incluídos aqui os órgãos públicos.

Por que isso é importante?

Porque observamos, com muita frequência, que as empresas, principalmente as pequenas e


médias, têm falido ou enfrentam sérios problemas de sobrevivência. Os empresários criticam a
carga tributária, os encargos sociais e os juros altos. Esses fatores contribuem, sim, para debilitar
as empresas.

A falta de conhecimento sobre como funcionam os bancos e os governos, ou seja, como as políticas
econômicas se relacionam com o sofisticado sistema financeiro, deixam os empresários fragilizados, pois
eles não têm tempo para estudar esses assuntos. Eles se ocupam, e devem se ocupar, em buscar clientes
no mercado, contratar e gerenciar pessoas, produzir bens e serviços, cuidar da logística e principalmente
preservar sua imagem corporativa na sociedade.

Vivemos em um momento em que aplicar os recursos escassos disponíveis com a máxima eficiência
tornou-se uma tarefa difícil. Exige-se um elenco de informações confiáveis para se tomar as decisões
sobre como e onde dedicar os recursos. Desse modo, as informações reais que norteiam nossas
decisões devem ser de responsabilidade dos advogados, economistas e contabilistas.

Vale ressaltar, entretanto, que em nosso país, em alguns segmentos da nossa economia, a função
do contabilista foi distorcida, estando voltada quase que exclusivamente para satisfazer as exigências
fiscais. No entanto, o perfil do contabilista vem se modificando já há algumas décadas, visando ampliar
a atuação dos profissionais da área contábil.

10
Compreender como funciona em profundidade o mercado financeiro e de capitais certamente irá
contribuir, de modo relevante, na produção de informações necessárias para decidir sobre as melhores
alternativas de investimentos, evidenciar a capacidade da empresa em gerar lucros e encontrar as
melhores formas de adquirir financiamentos.

Este livro-texto, portanto, tem com finalidade preparar os futuros economistas e contabilistas no
que se refere ao funcionamento do mercado financeiro e de capitais, para que possam ampliar sua
atuação nas empresas, como consultores dos empresários, apresentando relatórios confiáveis sobre a
empresa e tendências externas.

11
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Unidade I
1 POLÍTICAS ECONÔMICAS E TAXAS DE JUROS

Há noventa anos, em 24 de outubro de 1929, dia que ficou conhecido como a Quinta-Feira Negra,
aconteceu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, fato que abalou os mercados financeiros e jogou
os Estados Unidos na Grande Depressão de 1930.

Antes dessa Quinta-Feira Negra, os Estados Unidos apresentavam um crescimento industrial e


urbano sem precedentes. Essa ilusão de prosperidade levou muita gente a se endividar e comprar
ações na bolsa de valores. Só que a demanda excessiva por ações criou uma bolha especulativa –
as ações das empresas eram supervalorizadas – e essa bolha cresceu e estourou. Assim, a economia
dos Estados Unidos mergulhou na Grande Depressão. Famílias inteiras ficaram na miséria,
empresas e bancos faliram e fábricas fecharam.

Hunt e Sherman (2010, p. 185) escrevem sobre esse período: “o sistema econômico
capitalista parecia estar à beira de um colapso total. Era urgente tomar medidas drásticas que
revertessem o processo da crise”. Assim, os economistas se dedicaram em conhecer melhor a
natureza do problema que levou à Grande Depressao e que colocava em risco a existência do
sistema capitalista.

Considerado o fundador da macroeconomia, John Maynard Keynes (1883-1946) mostrou que


as economias capitalistas não tinham capacidade de promover automaticamente o pleno emprego,
abrindo caminho, assim, para o uso da política econômica. Para a maioria dos economistas, as
experiências realizadas durante a Segunda Guerra comprovaram, no essencial, a exatidão das
ideias de Keynes. O capitalismo podia ser salvo desde que os governos soubessem fazer uso de
seu poder de cobrar impostos, contrair empréstimos e gastar dinheiro (HUNT; SHERMAN, 2010).
Assim, a razão para a existência do governo é a de guiar os agentes econômicos e também
corrigir e complementar o sistema de mercado, o qual, sozinho, não é capaz de desempenhar
todas as funções econômicas.

O esquema a seguir ilustra o papel do governo no fluxo circular, denominação que Keynes utilizou
para desenvolver sua teoria:

13
Unidade I

Mercado de bens e serviços

Recebe Oferta Demanda Paga


- Bens - Bens - Bens - Bens
- Seviços - Seviços - Seviços - Seviços

Impostos Impostos
Empresas Governo Famílias
Infraestrutura Serviços públicos

Paga FP Demanda de FP Oferta de FP Recebe FP


- Salários - Trabalho - Trabalho - Salários
- Aluguel - Terra - Terra - Aluguel
- Juros - Capital - Capital - Juros

Mercado de fatores de produção

Figura 1

Este trecho, portanto, tem como finalidade explicar a relação entre as políticas econômicas e seus
reflexos na composição das taxas de juros e, consequentemente, nos mercados financeiro e de capitais.

Por que isso é importante?

Porque as sucessivas crises econômicas e políticas ao longo de mais de um século, bem como a
regulação do Estado na economia, interferem na vida das empresas de modo relevante.

Desse modo, como as políticas econômicas estão intimamente relacionadas com o sistema financeiro,
é muito importante compreender como os bancos e governos atuam em benefício das empresas e da
sociedade. Assim, iremos apresentar o contexto econômico, político e financeiro, situando as decisões
externas que podem afetar a gestão das empresas e dos imprevistos do macroambiente.

1.1 Como nasceu o conceito de juros

Kerr (2011) explica a intermediação financeira de modo muito simples: de um lado, temos um
investidor (poupador) que possui uma certa quantia de dinheiro (capital) que ele não utilizou para suas
despesas rotineiras. De outro lado, temos um tomador (de recursos), que gastou mais dinheiro do que
possuía para suas despesas rotineiras.

Um intermediário financeiro aproxima os dois e assim ocorre uma operação em que o investidor
empresta uma quantidade de dinheiro ao tomador por um determinado período. Após esse período, o
tomador devolve o dinheiro ao investidor acrescido de um valor adicional, como rendimento pelo uso
do dinheiro. Esse valor adicional corresponde aos juros.

14
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A exigência de um encargo como pagamento, em troca de um empréstimo de


bens ou serviços, não era um conceito socialmente aceito na vida comunitária
das sociedades primitivas. Empréstimos tinham a função de aliviar um aperto,
ou uma situação difícil de alguém, e o costume aceitável era não esperar nada
mais em troca, a não ser uma retribuição do mesmo tipo. Tirar vantagem da
dificuldade circunstancial de outro membro da mesma comunidade não era,
com razão, um comportamento bem-visto (KERR, 2011, p. 59).

Essa prática de comercializar dinheiro com cobrança era denominada usura, termo utilizado como
sinônimo de juros até a Idade Média. Assim, surgem as primeiras normas legais que estabeleciam o
que era considerado uma cobrança adequada e legal, diferenciando-a daquela considerada “extorsiva”.
O termo usura passa a designar as cobranças abusivas, e juro passa a designar uma cobrança legal.
Esse conceito de imoralidade da cobrança de um valor em troca de um empréstimo levou os antigos
legisladores a distinguir quantitativamente o ilegal do legal por meio da limitação do valor cobrado.
Buscava-se traçar uma linha divisória, separando o que seria uma cobrança de juros legal e justa daquilo
que seria uma cobrança de juros abusiva.

A intensificação das trocas, do comércio e da produção forçou as sociedades a rever o conceito


ético dessas cobranças por empréstimos, embora ainda demorasse muito tempo até que se percebesse
a importante função social do crédito e, consequentemente, dos juros.

No período da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), em que prevaleceu a ideologia do liberalismo,
a Inglaterra e a maioria dos países europeus abandonaram completamente o controle sobre as taxas de
juros, embora a preocupação com cobranças ilegais ainda existissem. Os contratos individuais passaram
a fazer uso dos dispositivos que possibilitavam a renegociação dos contratos, quando os juros eram
considerados abusivos pelo devedor.

Observação

No Brasil, houve períodos de maior liberalismo, com a cobrança dos


juros, alternados com períodos de menor tolerância. Em 1933, no governo
provisório de Getúlio Vargas, foi decretado, pela primeira vez no Brasil, um
valor máximo legal para as taxas de juros. A Constituição Federal de 1988
estabeleceu um limite para os juros em 12% ao ano, porém, em 2003, a
Emenda Constitucional n. 40 revogou esse artigo da CF, de modo que a
limitação dos juros deixou de existir.

1.2 Políticas econômicas: fiscal, cambial e monetária

Os juros são de extrema importância no processo de intermediação financeira. Quando são altos,
estimulam a poupança; quando são baixos, estimulam o consumo. Por sua vez, o consumo alto estimula
o aumento da produção e, consequentemente, dos investimentos.

15
Unidade I

Assim, a gestão da economia pelos órgãos do governo encarregados dessa tarefa tem vários objetivos,
como atingir o pleno emprego, distribuir riqueza, defender o poder aquisitivo da moeda e permitir que
a economia cresça. As ações do governo para esse fim são denominadas políticas econômicas, que se
dividem em: política fiscal, política cambial e política monetária.

1.2.1 Política fiscal

A política fiscal é o principal instrumento do setor público, pela qual o governo gerencia o orçamento
do Estado.

A política fiscal aborda o conjunto de medidas pelas quais o governo arrecada receitas e realiza despesas de
modo a cumprir três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos.

A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego
e estabilidade de preços. A função redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função
alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado.

Saiba mais
O orçamento do Estado tem tudo a ver com o nosso dia a dia. Para saber
como o orçamento público é elaborado, consulte o link:
ORÇAMENTO público: entenda como é definido. Politize!, [s.d.].
Disponível em: https://www.politize.com.br/orcamento-publico-como-e-
definido/. Acesso em: 23 mar. 2020.

1.2.2 Política cambial

A política cambial é utilizada para controlar as relações comerciais e financeiras que envolvem
países diferentes, principalmente nas operações de exportação e importação.

Quando o Brasil exporta bens e serviços, ocorre uma entrada de dólares na economia e quando
importa, ocorre uma saída de dólares. A situação de equilíbrio é avaliada pela balança comercial, ao
gerar saldo positivo ou negativo entre a exportação e importação de bens e serviços.

Já no âmbito financeiro, o equilíbrio é mensurado entre a quantidade de recursos (dólares) atraídos


para o mercado interno para pagamento das contas em dólares. A soma dos dois fatores resulta em
superávit ou déficit da chamada balança de pagamentos.

1.2.3 Política monetária

A política monetária é a parte da política econômica que cuida do controle da oferta da moeda e das
taxas de juros, visando manter a estabilidade do valor da moeda, manter uma balança de pagamentos
equilibrada e buscar o pleno emprego.
16
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

O principal órgão do governo executor da política monetária é o Banco Central (BC ou Bacen),
encarregado da emissão da moeda, da regulação do crédito, da manutenção do padrão monetário e
do controle do câmbio. Ele atua diretamente sobre o controle da quantidade de moeda em circulação,
buscando defender o poder de compra.

A política monetária pode ser restritiva ou expansionista. O objetivo da política restritiva é reduzir a
quantidade de moeda em circulação e tornar os empréstimos mais caros, por meio de uma taxa básica
de juros mais elevada. Ou seja, o Banco Central busca diminuir a quantidade de dinheiro em circulação
a fim de desaquecer a economia e evitar a inflação.

Por sua vez, o objetivo da política expansionista é tomar medidas que aumentem a quantidade
de dinheiro em circulação, diminuindo a taxa básica de juros e desonerando os empréstimos. Assim, o
aumento da quantidade de dinheiro em circulação aquece a economia e, consequentemente, ocorre
o crescimento econômico.

1.3 Política monetária e as taxas de juros

Os instrumentos mais usuais de que o Banco Central dispõe para executar a política monetária são:
depósito compulsório, open market e redescontos bancários.

O impacto que as alterações no recolhimento de depósitos compulsórios causam na economia está


relacionado com o efeito multiplicador bancário. Os bancos comerciais e as instituições que atuam
com depósitos à vista criam moeda ao fazer empréstimos. A essa moeda criada denomina-se moeda
escritural, ou moeda bancária.

O efeito multiplicador bancário e a criação de moeda escritural ocorrem porque os bancos recebem
depósitos à vista, mas sabem que não precisam ter todo o dinheiro disponível o tempo todo para os
correntistas. Estatisticamente, apenas uma parte pequena do total de recursos precisa estar disponível.
Assim, os bancos podem emprestar o restante, se não houver qualquer impedimento para que isso
aconteça (por exemplo, depósitos compulsórios).

A mesma moeda em circulação, que é de propriedade do correntista, agora está nas mãos dos
bancos, aumentando a quantidade de dinheiro na economia. Por conta disso, o Banco Central controla
a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos nos bancos, por meio de depósitos compulsórios,
limitando, assim, o efeito multiplicador bancário. Quanto maior o depósito compulsório, menos
dinheiro sobra para o banco emprestar e menor será o efeito multiplicador bancário e da criação da
moeda escritural.

O processo de colocação de títulos da dívida pública no mercado financeiro é feito por meio do
mercado aberto, mais conhecido como open market. A colocação de títulos no mercado retira moeda de
circulação e, portanto, reduz a liquidez da economia.

Quanto mais títulos lançados, menor a liquidez (menos dinheiro na economia) e maior a taxa de
juros (lei da oferta e da procura). Em sentido contrário, quando o governo recompra seus títulos, injeta
17
Unidade I

dinheiro na economia. Quanto mais títulos forem recomprados, mais aumenta a liquidez (mais dinheiro
na economia) e menor será a taxa de juros. Entre os instrumentos de política monetária, esse é o que
causa efeito mais rapidamente.

Quando os bancos comerciais necessitam tomar recursos, podem recorrer ao Banco Central, em uma
operação chamada redesconto. A garantia desses empréstimos geralmente é feita por meio de títulos
emitidos por instituições financeiras. O Banco Central aceita esses títulos e os desconta a uma taxa
pré‑fixada, definindo o prazo de liquidação da operação, que é geralmente um dia (overnight).

O controle da liquidez da economia por meio desse instrumento ocorre pela alteração das taxas
cobradas, dos prazos máximos para liquidação e dos limites máximos (volume de dinheiro) permitidos
para redesconto. Também são controlados quais títulos são aceitos como garantia.

Quanto mais rígido for o Banco Central nas operações de redesconto, mais reservas os bancos
terão que manter em caixa, menos dinheiro estará disponível para emprestar e menor será a criação
de moeda escritural.

1.3.1 Taxa Selic

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central e
pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Anbima) com o objetivo de tornar mais
transparente e segura a negociação de títulos públicos.

Na década de 1970, a custódia dos títulos públicos no Brasil ainda era feita por processo manual, o
que incluía desde o arquivamento por instituição até a movimentação física nos cofres dos bancos, com
grande risco de fraude e de extravio dos papéis. Com o sistema Selic, títulos e cheques foram substituídos
por simples registros eletrônicos, gerando ganhos em eficiência e agilidade, já que as operações são
fechadas no mesmo dia em que se realizam.

É interessante distinguir a meta da taxa Selic (Selic Meta), definida pelo Comitê de Política Econômica
(Copom), da taxa Selic determinada pela média ponderada das taxas de operações no mercado aberto
(Selic Efetiva), entre o Banco Central e as instituições financeiras, ou seja, determinada pela oferta e
procura. No Brasil, essa diferença é razoavelmente grande e é denominada spread bancário.

O Copom foi instituído em 1996 e é formado pelo presidente do Banco Central, seus diretores e alguns
chefes de departamento. Ele é responsável pelo estabelecimento da taxa básica de juros da economia.

Nas reuniões do Copom, que ocorrem no mínimo a cada 45 dias, estabelece-se a meta para a taxa
Selic. A mesa de operações do Banco Central procura atuar nos leilões do mercado aberto para atingir
essa meta. Após a reunião do comitê, publica-se uma ata da reunião. Ela costuma ser lida com atenção
pelos diversos agentes econômicos, com o intuito de entender o que foi discutido. Nessa ata, o Copom
informa também o viés da taxa.

18
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Um viés de alta autoriza o presidente do Banco Central a determinar um aumento da taxa antes
da próxima reunião, sem consultar o comitê. Um viés de baixa é o oposto e o viés neutro indica que
somente na próxima reunião do Copom a taxa básica de juros da economia será reavaliada.

1.3.2 Spread bancário

A palavra spread vem do inglês e significa extensão, largura, envergadura. A palavra é utilizada no
mercado financeiro justamente com o sentido de extensão (distância) entre duas taxas de juros. Quando
se fala em spread bancário, geralmente refere-se à distância entre a taxa básica e as taxas praticadas
pelos bancos.

Uma redução ou aumento na taxa básica de juros não implicará automaticamente em um aumento
ou redução nas taxas de juros cobradas pelos bancos dos consumidores. Isso porque vários fatores estão
envolvidos na determinação do spread bancário além da taxa básica de juros. Além da instabilidade
econômica e política em determinados períodos, outros fatores são o percentual de depósitos
compulsórios exigidos pelo Banco Central, a carga tributária incidente nos empréstimos, o risco de
inadimplência e o grau de concorrência existente no mercado financeiro.

O gráfico a seguir exemplifica a relação entre a taxa Selic média e as taxas de juros praticadas no mercado
de crédito brasileiro para cheque especial no período entre agosto de 1994 e maio de 2019. Na parte inferior
do gráfico, existem duas tabelas comparando as reduções da taxa do cheque especial e respectivo spread
no mês de janeiro de 2020 a partir das novas regras do Banco Central para essa modalidade de empréstimo:

Taxa de juros: cheque especial x taxa Selic média


330
300
270
240
210
180
150
120
90
60
30
0
ago/94
mai/95
fev/96
nov/96
ago/97
mai/98
fev/99
nov/99
ago/00
mai/01
fev/02
nov/02
ago/03
mai/04
fev/05
nov/05
ago/06
mai/07
fev/08
nov/08
ago/09
mai/10
fev/11
nov/11
ago/12
mai/13
fev/14
nov/14
ago/15
mai/16
fev/17
nov/17
ago/18
mai/19

Cheque especial Spread cheque especial Selic média


Var. mês atual Histórico Valor Mês Var. mês atual
Mês Taxa Spread
Taxa Spread Maior taxa 330,64 nov/16 -165,04
jan/20 165,60 154,41 Menor taxa 136,47 mai/13 29,13
dez/19 247,57 232,24 -81,97 -77,83 Maior spread 297,29 jan/18 -142,88
jan/19 267,25 245,16 -101,65 -90,75 Menor spread 67,83 jul/94 86,57

Figura 2

19
Unidade I

O gráfico a seguir apresenta a relação entre a taxa Selic média e a taxa do rotativo de cartão de
crédito, que continua sendo a mais alta do mercado – com a queda da taxa do cheque especial, ela
chega a ser quase o dobro desta.

Observa-se que a taxa de juros começou a se distanciar da taxa Selic no período de instabilidade
política que culminou com o impedimento da presidente Dilma Roussef, ocorrido entre maio de 2013 e
31 de agosto de 2016, quando atingiu a maior amplitude.

Taxa de juros: cartão de crédito rotativo x taxa Selic média


500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
mar/11
jun/11
set/11
dez/11
mar/12
jun/12
set/12
dez/12
mae/13
jun/13
set/13
dez/13
mar/14
jun/14
set/14
dez/14
mar/15
jun/15
set/15
dez/15
mar/16
jun/16
set/16
dez/16
mar/17
jun/17
set/17
dez/17
mar/18
jun/18
set/18
dez/18
mar/19
jun/19
set/19
dez/19
Cartão de crédito rotativo Spread cartão rotativo Selic média
Var. mês atual Histórico Valor Mês Var. mês atual
Mês Taxa Spread
Taxa Spread Maior taxa 497,73 dez/16 -180,94
jan/20 316,79 299,22 Menor taxa 250,18 jan/13 66,61
dez/19 318,75 300,28 -1,96 -1,06 Maior spread 427,80 jan/17 -128,57
jan/19 287,07 263,79 29,72 35,44 Menor spread 226,91 jan/13 72,31

Figura 3

1.3.3 Taxa CDI ou (DI)

A taxa CDI (ou DI) é uma referência muito importante da taxa de juros para o mercado financeiro
brasileiro. Ela é amplamente utilizada para, por exemplo, servir como meta de rentabilidade para fundos
de renda fixa, referência em outras operações do mercado financeiro, como operações de hotmoney, e
para indexar outros tipos de operações financeiras, como o CDB-DI. Desde 1998, a taxa DI é anunciada
como taxa efetiva anual.

Essa taxa é obtida por meio da média ponderada das operações efetuadas em Certificados de
Depósitos Interbancários (CDI). Essas operações são registradas na Central de Custódia e Liquidação
Financeira de Títulos (Cetip). Do mesmo modo que ocorre com os títulos públicos no Selic, a Cetip
calcula a taxa média ponderada dessas operações realizadas a cada dia e publica a taxa média de
depósitos interbancários (DI) do dia anterior.
20
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Devido à importância da taxa DI para o mercado financeiro, a Anbima calcula uma prévia da
taxa DI, levando em consideração apenas as maiores transações do dia, e as publica no mesmo
dia à noite.

1.3.4 Taxa Referencial (TR)

A Taxa Referencial (TR) foi criada em 1991 com a intenção de ser uma taxa básica referencial de
juros para substituir os Bônus do Tesouro Nacional (BTN), indexador utilizado até então e que havia
sido extinto. Essa taxa foi criada para servir como base para reajustes de contratos antigos (em OTN ou
BTN), remuneração em cadernetas de poupança e do dinheiro bloqueado pelo Plano Collor e na correção
de débitos de impostos, taxas e demais obrigações fiscais. Atualmente ela é utilizada para remunerar
cadernetas de poupança, FGTS e títulos da dívida agrária (TDA-E).

1.3.5 Taxa de Longo Prazo (TLP)

A Taxa de Longo Prazo (TLP) é a taxa de juros utilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) nos empréstimos que concede. Como tem foco no apoio à criação e expansão
de novos negócios, essa modalidade de cálculo afeta especialmente os empreendedores, incluindo aqui
também as pessoas físicas.

A TLP é relativamente nova, visto que foi criada em 2018, em substituição à Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP). É considerada uma adequação: enquanto a TJLP, por vezes, possuía uma taxa
abaixo da praticada pelos bancos comerciais e da própria taxa Selic (criando um déficit), a TLP
promove o nivelamento.

Entre outras vantagens da sua implementação, a principal delas diz respeito à desassociação das
taxas de juros do BNDES do direcionamento político, ou seja, o uso dela (como poderia acontecer no
TJLP) com outros interesses que não a sustentabilidade financeira da instituição e os objetivos que ela
promove (TAXAS..., [s.d.]).

1.3.6 Composição das taxas de juros

A composição das taxas de juros obedece o esquema a seguir:


Incerteza no retorno
do capital investido

Taxa livre de risco


Taxa nominal
Taxa real Taxa de risco

Inflação

Taxa de juros

Figura 4

21
Unidade I

O gráfico apresenta a função que determina as taxas de juros. Quanto maior a incerteza no retorno
do capital investido, maior é a taxa de juros. A incerteza no retorno do capital investido depende de
muitos fatores na composição do spread bancário. A taxa nominal é composta pela taxa de risco somada
à taxa livre de risco (spread bancário) e inclui, ainda, a inflação no período. Para conhecermos a taxa real
do investimento ou do financiamento, precisamos descontar a inflação do período.

1.4 Inflação, deflação, estagflação e índices

Inflação, em uma definição informal, é o aumento generalizado de preços em uma economia, que
provoca a redução do poder aquisitivo da moeda. Deflação, por sua vez, seria o contrário, uma redução
generalizada de preços na economia.

Em geral, inflação alta está ligada a crescimento alto. Quando as coisas vão bem, as pessoas
consomem mais e, se a oferta não acompanha o crescimento da demanda, há espaço para o aumento
de preços, gerando inflação.

Crescimento alto é algo desejável, mas inflação alta, não. Para lidar com esses dois objetivos
conflitantes (controlar a inflação e estimular crescimento) o Brasil adota, desde 1999, o sistema de
metas de inflação e garante autonomia ao Banco Central para combater apenas a inflação, ainda que
isso possa significar sacrifício ao crescimento econômico.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o termo inflação passou a ser amplamente
empregado como sinônimo de enormes aumentos de preços e da base monetária nos países da Europa,
principalmente Alemanha, Áustria e Rússia.

Até a década de 1930, a inflação geralmente era definida como um aumento anormal na oferta
de dinheiro sem um correspondente aumento na oferta de bens e serviços. Após os estudos de John
Maynard Keynes, entretanto, os economistas passaram a dar menos ênfase à quantidade de dinheiro
como principal determinante dos preços e do consumo total. O consumo corrente passou a ser
considerado mais como uma função da renda, e, assim, o foco da definição de inflação passou para o
aumento de preços.

A consequência direta da definição de inflação como um aumento no nível geral de preços e da


deflação como uma redução foi definir um índice de preços (ou média ponderada de preços individuais)
que sirva para medir a variável inflação. Porém, os diversos preços individuais em uma economia variam
diferentemente. Desse modo, qualquer índice de preços fornecerá apenas uma tendência central das
variações dos diversos preços individuais da economia.

Como o nome indica, estagflação combina estagnação econômica com a inflação. A estagflação na
economia corresponde a uma situação de recessão econômica, com a diminuição do nível de emprego.
Essa situação se caracteriza pela ausência de instrumentos da política econômica que regulem a economia.
Diz-se que um país está em estagflação quando registra uma estagnação no desenvolvimento
econômico seguida de inflação persistente.

22
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Esse termo surgiu na década de 1970 para descrever a crise econômica mundial. As suas causas
estavam no superaquecimento das economias dos países desenvolvidos, com a explosão da procura
por bens e serviços, mas com a diminuição da oferta, por conta das limitações colocadas pelos países
produtores de petróleo e, consequentemente, pela diminuição de atividades em setores dependentes
do petróleo. Isso levou a um aumento de desemprego e depreciação das moedas (ESTAGFLAÇÃO..., 2016).

1.4.1 Índices de inflação (indexadores)

Existem vários índices de preços no mercado brasileiro, apurados por diversas entidades.
Embora todos busquem medir a inflação, cada índice tem um objetivo, calculado de acordo com
sua metodologia própria.

O gráfico a seguir apresenta a evolução da inflação calculada pelos Índice Geral de Preços do
Mercado (IGP-M) no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longos dos últimos 25 anos, no
período de agosto de 1995 a agosto de 2019:

Evolução IGP-M e IPCA - janela de 12 meses


33%
30%
27%
24%
21%
18%
15%
12%
9%
6%
3%
0%
-3%
ago/95
mai/96
fev/97
nov/97
ago/98
mai/99
fev/00
nov/00
ago/01
mai/02
fev/03
nov/03
ago/04
mai/05
fev/06
nov/06
ago/07
mai/08
fev/09
nov/09
ago/10
mai/11
fev/12
nov/12
ago/13
mai/14
fev/15
nov/15
ago/16
mai/17
fev/18
nov/18
ago/19

IGP-M IPCA

IPCA IGP-M IPCA IGP-M


fev/20 3,90% 6,82% Variação Mês Variação Mês
há um mês 4,19% 7,81% Maior variação 26,36% ago/95 32,97% abr/03
há um ano 3,89% 7,60% Menor variação 1,65% jan/99 -1,72% dez/09
Variação do IPCA para fev/20 baseada na expectativa média apurada pelo Comitê de Acompanhamento Macroeconômico ANBIMA

Figura 5

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido mensalmente pelo IBGE, foi criado com
o objetivo de oferecer a variação dos preços no comércio para o público final. O IPCA é considerado o
índice oficial de inflação do país.

23
Unidade I

Outro índice importante é o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), divulgado pela Fundação
Getúlio Vargas. Esse índice foi concebido para equalizar correções de alguns títulos do governo.
Atualmente, é utilizado para correções de tarifas de energia elétrica e contratos.

Saiba mais
A reportagem a seguir traz um detalhamento das aplicações do IGP-M,
especialmente sobre contratos:
IGP-M: o que é e como funciona o IGPM acumulado. Toro Investimentos,
[s.d.]. Disponível em: https://artigos.toroinvestimentos.com.br/igpm-o-que-
e-indice-acumulado. Acesso em: 13 abr. 2020.

2 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO (SFB)

O Sistema Financeiro Nacional (SFN), também denominado Sistema Financeiro Brasileiro (SFB), é o
ambiente que agrega todas as instituições que viabilizam a intermediação financeira no país.

Mas o que é intermediação financeira?

De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(ANBIMA, [s.d.]a), a intermediação financeira é a atividade que consiste em transferir recursos de agentes
superavitários para os agentes deficitários.

Agentes superavitários são pessoas, empresas, instituições de modo geral, que possuem dinheiro,
porém pretendem guardar para gastar no futuro. Assim, eles emprestam esse dinheiro e cobram juros,
aumentando seus recursos. Poderão gastar, no futuro, quando recebem de volta o dinheiro com os juros.

Já os agentes deficitários (a maioria da população) são aquelas pessoas, empresas ou organizações


que não têm dinheiro, porém querem gastar agora e não se importam de pagar mais por isso, porém no
futuro. Assim, eles tomam dinheiro emprestado para pagar no futuro o valor que tomaram emprestado
mais os juros.
Intermediação financeira

Agentes superavitários Instituições financeiras Agentes deficitários

Poupadores Tomadores
Investidores Emprestadores
Depositam R$ Recebem R$
Recebem juros Pagam juros

Figura 6

24
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A intermediação financeira ocorre quando as instituições financeiras tomam dinheiro emprestado


dos agentes superavitários, ou seja, poupadores ou investidores, mediante a promessa de pagar
juros após um determinado tempo e, por outro lado, elas emprestam esse dinheiro para os agentes
deficitários, cobrando juros.

Se a taxa de juros que as instituições financeiras oferecem aos investidores for igual à taxa de juros
que elas cobrarem dos tomadores de empréstimos, a instituição financeira não ganha nada pelo serviço
de intermediação.

Assim, as taxas cobradas dos emprestadores é sempre maior que as taxas oferecidas aos investidores,
criando assim, o spread bancário, cuja finalidade é gerar dinheiro para as instituições financeiras. É a
remuneração que elas recebem pelo serviço prestado.

Mas e se o tomador do dinheiro não pagar conforme o combinado? Pode acontecer; porém, as
instituições financeiras possuem instrumentos que as permitem emprestar dinheiro reduzindo o risco
envolvido. Elas fazem uma avaliação do cliente antes de emprestar. Quanto maior o nível de inadimplência
avaliado pelo banco, maior o juro que o tomador de empréstimo terá de pagar (ANBIMA, [s.d.]a).

2.1 Mercados financeiros

Kerr (2011) escreve que o mercado financeiro costuma ser dividido em segmentos, apenas por
questões didáticas, pois na prática muitas vezes esses segmentos se confundem. Alguns autores dividem
o mercado financeiro em dois únicos segmentos, de acordo com o prazo das operações: mercado de
crédito e mercado de capitais. Outros autores ampliam essa segmentação e dividem o mercado financeiro
em quatro mercados, como veremos a seguir.

2.1.1 Mercado monetário

É o mercado onde se concentram as operações para controle da oferta de moeda e das taxas de juros
de curto prazo com vistas a garantir a liquidez da economia. O Banco Central do Brasil atua nesse mercado
praticando a chamada política monetária. O controle da liquidez da economia pode ser efetuado pela
venda ou recompra de títulos públicos, como Letras do Tesouro Nacional (LTN), por exemplo.

No mercado monetário, também são negociados títulos privados emitidos por bancos e por empresas.
Os mais importantes são os Certificados de Depósito Interbancários (CDI), negociados exclusivamente
entre instituições financeiras, e os Certificados de Depósito Bancário (CDB), que são vendidos ao público
em geral. As empresas, por sua vez, emitem debêntures e commercial papers (notas promissórias).

2.1.2 Mercado de crédito

Atuam nesse mercado diversas instituições financeiras e não financeiras, prestando serviços de
intermediação de recursos de curto e médio prazo para tomadores que necessitam de recursos para
consumo ou capital de giro. O Banco Central do Brasil (Bacen) é o principal órgão responsável pelo
controle, normatização e fiscalização desse mercado.
25
Unidade I

Nele, as instituições financeiras podem atuar na intermediação de forma direta ou indireta.


Quando atua de forma direta, a instituição recebe recursos de investidores (poupadores ou agentes
superavitários), assumindo a obrigação de devolver, ao investidor, o montante investido (capital inicial
acrescido de juros). A instituição fica devedora dos recursos captados (posição passiva).

De posse desses recursos, a instituição realiza empréstimos e financiamentos a tomadores de


crédito (agentes deficitários). A instituição fica credora dos recursos emprestados (posição ativa). Os
juros cobrados pelo banco na posição ativa são mais altos do que os pagos na posição passiva, cuja
diferença de taxas é denominado spread. Na intermediação indireta, as instituições atuam apenas como
intermediários, cobrando uma comissão pelos serviços.

2.1.3 Mercado de capitais

Tem como objetivo canalizar recursos de médio e longo prazo para agentes deficitários, através das
operações de compra e de venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre empresas, investidores
e intermediários.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o principal órgão responsável pelo controle, normatização
e fiscalização desse mercado.

2.1.4 Mercado de câmbio

Esse mercado é aquele onde são negociadas as trocas de moedas estrangeiras por reais (R$). O Banco
Central do Brasil é o responsável pela administração, fiscalização e controle das operações de câmbio e
da taxa de câmbio atuando através de sua política cambial.

2.2 Formação do Sistema Financeiro Brasileiro

O SFB é um dos mais avançados do mundo, e sua solidez se deve a uma gestão macroeconômica
comprometida com a estabilidade.

A formação do Sistema Financeiro Brasileiro começou em 1808, por meio da fundação da primeira
instituição financeira nacional, o Banco do Brasil, uma das poucas instituições da espécie no mundo,
naquela época, ao lado do Riksbank, da Suécia (1694), e do Banco de França (1800).

Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, novas instituições e estruturas de regulação foram criadas, como
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje entre as maiores agências de
fomento do mundo, e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), dedicado a financiamentos imobiliários.

Também foram instituídos o Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão federal superior responsável
pela fixação das diretrizes da política monetária brasileira, o Banco Central, encarregado da execução
das políticas monetárias e da regulação e supervisão do sistema financeiro, e a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), dedicada à regulação e supervisão do mercado de valores mobiliários.

26
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A estrutura do SFN pode ser classificada em três subsistemas. O primeiro é o subsistema normativo,
que estabelece as normas do sistema financeiro e fiscaliza suas aplicações. O segundo é o subsistema
supervisor, composto por entidades que supervisionam o cumprimento das normas. O terceiro é o
subsistema operador, que concentra todas as instituições que fazem a intermediação financeira entre
os agentes superavitários e os agentes deficitários.

O esquema a seguir ilustra como as instituições normativas, supervisoras e operadoras se relacionam.


Na sequência, apresentaremos uma breve descrição de cada uma dessas instituições, iniciando pelos
órgãos normativos e, posteriormente, apresentaremos as entidades supervisoras. Por fim, faremos uma
breve descrição das principais instituições operadoras, classificando-as em instituições bancárias, não
bancárias e acessórias.
Composição e seguimento do Sistema Financeiro Nacional
Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Previdência fechada
Órgãos normativos

CMN CNSP CNPC


Conselho Monetário Conselho Nacional de Conselho Nacional
Nacional Seguros Privados de Previdência
Complementar

Previc
Susep
Supervisores

BCB CVM Superintendência


Banco Central do Brasil Comissão de Superintendência Nacional de
Valores Mobiliários de Seguros Previdência
Privados Complementar
Operadores

Entidades fechadas
Bancos e Administradoras de Seguradoras e de previdência
caixas econômicas consórcios Bolsa de Valores resseguradores complementar
(fundos de pensão)

Bolsa de
Cooperativas Corretoras e mercadorias e Entidades abertas
de crédito distribuidoras* futuros de previdência

Instituições de Demais instituições Sociedades de


pagamento** não bancárias capitalização

* Dependendo de suas atividades corretoras e distribuidoras também são fiscalizadas pela CVM.
** As instituições de pagamento não compõem o SFN, mas são reguladas e fiscalizadas pelo BCB, conforme diretrizes
estabelecidas pelo CMN.

Figura 7

27
Unidade I

2.2.1 Conselho Monetário Nacional (CMN)

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão normativo mais importante do Sistema Financeiro
Nacional e tem a responsabilidade de formular as políticas monetárias, cambial e de crédito, objetivando
a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país. Foi criado pela Lei n. 4.595,
de 31 de dezembro de 1964.

Ao CMN compete:

• estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e creditícia;


• regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras;
• disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial.

Tradicionalmente, o Conselho Monetário Nacional era composto por apenas três integrantes: o
ministro da Fazenda, que ocupa o lugar de presidente do CMN; o presidente do Bacen; e o ministro do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.

É importante notar que, em 2019, houve uma reorganização nos ministérios. Com isso, a composição
do CMN passou a ser: ministro da Economia, presidente do Bacen, secretário especial de Fazenda
(ANBIMA, [s.d.]b).

Observação

No governo de 2019 a 2022, o nome do cargo ministro da Fazenda foi


trocado para ministro da Economia e acumulou outros ministérios.

Os objetivos do CMN são os seguintes:

• adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia nacional e seu
processo de desenvolvimento;
• regular o valor interno da moeda, corrigindo ou prevenindo os surtos inflacionários ou
deflacionários, de ordem interna ou externa;
• regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamentos do país, tendo em vista
a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira;
• orientar a aplicação de recursos das instituições financeiras, públicas ou privadas, visando
proporcionar, nas diversas regiões do país, condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico
da economia nacional;
• propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros com a finalidade de
aumentar a eficiência do sistema de pagamentos e mobilização de recursos;
28
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

• zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;

• coordenar as políticas monetária, de crédito, orçamentária, fiscal e das dívidas públicas, interna e
externa (KERR, 2011, p. 15).

2.2.2 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)

O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) é o órgão responsável por fixar as diretrizes e normas
da política de seguros privados, operacionalizadas pelos setores de seguros, resseguros, previdência
complementar aberta e capitalização.

O conselho é composto por representantes do Ministério da Fazenda (presidente), do Ministério da


Justiça, do Ministério da Previdência e Assistência Social, da Superintendência de Seguros Privados, do
Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários.

A Secretaria de Política Econômica (SPE) tem como uma de suas funções assessorar o representante
do Ministério da Fazenda no Conselho Nacional de Seguros Privados (BRASIL, [s.d.]).

2.2.3 Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)

O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) tem como função regular o regime de
previdência complementar, cuja operação é executada pelas entidades de previdência complementar.

O CNPC é constituído atualmente pelo ministro da Economia, atuando como Presidente do Conselho
e pelo superintendente da Susep, como presidente substituto. Suas atribuições são as seguintes:

• fixar diretrizes e normas da política de seguros privados;

• regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercem


atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados, bem como a aplicação
das penalidades previstas;

• fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização
e resseguro;

• estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro;

• conhecer dos recursos de decisão da Susep e do IRB;

• prescrever os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades


de previdência privada aberta e resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das
respectivas operações;

• disciplinar a corretagem do mercado e a profissão de corretor (BRASIL, [s.d.]).


29
Unidade I

2.2.4 Banco Central do Brasil (BC ou Bacen)

O Banco Central do Brasil é o órgão executor das políticas do Sistema Financeiro Nacional.
Foi criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É o principal executor das orientações
do Conselho Monetário Nacional (CMN) e responsável por garantir o poder de compra da moeda
nacional (KERR, 2011).

O objetivos do Banco Central do Brasil são os seguintes:

• zelar pela adequada liquidez da economia;

• manter as reservas internacionais em nível adequado;

• estimular a formação de poupança;

• zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro.

2.2.5 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão normativo responsável pelo desenvolvimento,


disciplina e fiscalização do mercado de valores mobiliários. Sua principal atribuição é a fiscalização da
emissão e negociação de títulos emitidos pelas sociedades por ações de capital aberto, para que as
bolsas de valores funcionem de acordo com os princípios éticos e legais.

A CVM é um órgão colegiado composto de um presidente e quatro diretores, nomeados pelo


presidente da República. Tem como principais funções:

• assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;

• proteger os titulares de valores mobiliários;

• evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado;

• assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e sobre as


companhias que os tenham emitido;

• assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários;

• estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;

• promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular


aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas (KERR, 2011).

30
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

2.2.6 Superintendência de Seguros Privados (Susep)

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) é o órgão responsável pelo controle e fiscalização


dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. É uma autarquia
vinculada ao Ministério da Economia e foi criada pelo Decreto-lei n. 73, de 21 de novembro de 1966.
Tem como missão desenvolver os mercados supervisionados, assegurando sua estabilidade e os direitos
do consumidor.

A Susep está constituída por representantes do Ministério da Justiça, do Ministério da Previdência e


Assistência Social, do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários. Tem como atribuições:

• fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das sociedades seguradoras,


de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na qualidade de
executora da política traçada pelo CNSP;

• atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações
de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro;

• zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados;

• proporcionar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles


vinculados, com vistas à maior eficiência do Sistema Nacional de Seguros Privados e do Sistema
Nacional de Capitalização;

• promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição, assegurando sua expansão e o
funcionamento das entidades que neles operem;

• zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;

• disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens


garantidores de provisões técnicas;

• cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por este forem delegadas;

• prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP (SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS


PRIVADOS, [s.d.]).

2.2.7 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc)

A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é uma autarquia de natureza


especial, dotada de autonomia administrativa e financeira e patrimônio próprio, vinculada ao Ministério
da Economia, com sede e foro no Distrito Federal (DF), tendo atuação em todo o território nacional. Sua
missão é fiscalizar e supervisionar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar
(fundos de pensão) e executar as políticas para o regime de previdência complementar.
31
Unidade I

A Previc, de acordo com o Decreto n. 8.992, de 20 de fevereiro de 2017, é dirigida por uma Diretoria
Colegiada, composta por: diretor-superintendente, diretor de administração, diretor de licenciamento,
diretor de fiscalização e monitoramento e diretor de orientação técnica e normas. Possui ainda, em sua
estrutura, gabinete, assessoria de comunicação social e parlamentar, coordenação-geral de suporte à
diretoria colegiada, ouvidoria, coordenação-geral de inteligência e gestão de riscos, coordenação-geral
de gestão estratégica e inovação institucional, corregedoria, auditoria interna, procuradoria federal,
além de cinco escritórios de representação em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e
Rio Grande do Sul (SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR, [s.d.]).

2.3 Entidades de apoio ao Sistema Financeiro Brasileiro

Além das instituições apresentadas, existem três instituições criadas com finalidade social: Banco
do Brasil (BB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica
Federal (CEF). O principal objetivo dessas entidades seria atuar nos mercados financeiros, promovendo o
desenvolvimento econômico, por meio de financiamentos subsidiados e outras atividades de natureza
social. Entretanto, elas foram perdendo sua função social ao longo do tempo, como veremos a seguir.

2.3.1 Banco do Brasil (BB)

O Banco do Brasil é uma instituição financeira brasileira, atualmente constituída na forma de


sociedade por ações, em que a União Federal participa com 50% das ações; 0,49% são ações em
tesouraria e as demais ações, totalizando 49,51%, são negociadas nas bolsas de valores Brasil e Estados
Unidos, sendo 23,91% de capital brasileiro e 25,6% de capital estrangeiro.

Sua criação ocorreu em 1808, ano em que a família real portuguesa veio ao Brasil. Após muitas
fusões com outras instituições e mudanças na sua orientação, ocorreu sua consolidação por meio da
Lei n. 4.595, de dezembro de 1964 (a Lei da Reforma Bancária), que marcou o início de um processo de
transformação dos diversos papéis até então desempenhados pelo Banco do Brasil enquanto instituição
financeira e partícipe na formulação e execução da política financeira e creditícia do governo. Essa
legislação criou o Banco Central (BC), transferindo-lhe aquelas funções que lhe são típicas, antes em
parte exercidas pelo BB.

O modelo institucional definido para o Banco do Brasil conservou a sua natureza mista de banco
de governo e banco comercial. Atuou como um banco de governo por realizar volumosas operações
lastreadas em recursos supridos por ordem e conta do Tesouro. Continuou com a função de agente
financeiro do Tesouro, além de desempenhar diversas tarefas, como administração do sistema de
compensação de cheques e suprimento de numerário para o sistema bancário – estas por delegação
do Banco Central –, administração do comércio exterior brasileiro, via Carteira do Comércio Exterior
(Cacex), e gestor de diversos fundos e programas oficiais.

Executou, também, operações típicas de banco comercial, mas mesmo nestas operou sob forte influência
das políticas governamentais, dada a visão de um banco voltado ao financiamento do desenvolvimento
do país. Concentrou sua atuação no financiamento de atividades produtivas, especialmente no setor
agropecuário, e estendeu sua rede de agências preferencialmente pelo interior do país.
32
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

2.3.2 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi criado em 1952, com o objetivo de
formular e executar a política nacional de desenvolvimento econômico. Investiu muito em infraestrutura,
mas a criação de estatais, aos poucos, liberou o banco para investir mais na iniciativa privada e na
indústria. Durante a década de 1960, o setor agropecuário e as pequenas e médias empresas passaram
a contar com linhas de financiamento do BNDE.

Em 1964, o Banco já descentralizava suas operações, por meio da abertura de escritórios regionais
em São Paulo, Recife e Brasília. Passou, ainda, a operar em parceria com uma rede de agentes financeiros
espalhados por todo o Brasil.

O BNDE se tornou uma empresa pública em 1971, possibilitando maior flexibilidade na contratação
de pessoal, bem como uma maior liberdade nas operações de captação e aplicação de recursos, com
menos interferência política.

Na década de 1970, o BNDE foi fundamental na política de substituição de importações. Os setores


de bens de capital e insumos básicos passaram a receber mais investimentos, contribuindo para a
consolidação, no Brasil, do maior parque industrial da América Latina. Começaram os investimentos em
segmentos ainda incipientes, como a informática e a microeletrônica.

Em 1974, o banco estabeleceu três subsidiárias para atuar no mercado de capitais, de modo a ampliar
as formas de capitalização das empresas brasileiras. Elas se fundiriam, em 1982, na BNDESPar.

O início dos anos 1980 foi marcado pela integração das preocupações sociais à política de
desenvolvimento. A mudança se refletiu no nome do banco, que, em 1982, passou a se chamar Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Durante a década de 1980, o conceito da integração competitiva se fortaleceu, por meio da expansão
do mercado interno e, ao mesmo tempo, o incentivo às exportações, mediante um programa específico,
criado em 1983.

Ainda na década de 1980, o BNDES passou a utilizar o planejamento estratégico, com a finalidade
de efetuar análises e formulação de políticas públicas com foco social.

Nos anos 1990, o BNDES teve papel importante na privatização das grandes estatais brasileiras. O banco foi
o órgão responsável pelo suporte administrativo, financeiro e técnico do Programa Nacional de Desestatização,
iniciado em 1991.

Em 1993, o BNDES iniciou a atuação em novos campos, com estímulo à descentralização regional,
com o incremento dos investimentos em projetos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O programa
de exportações passou a incluir as micro, pequenas e médias empresas. O setor de comércio e serviços
começou a receber investimentos do banco, e a preocupação com o meio ambiente ganhou força, com a
classificação do risco ambiental dos projetos. A área social também deu início ao programa de microcrédito.
33
Unidade I

Em 1995, o banco ampliou sua atuação com apoio ao setor cultural, com investimentos na produção
de filmes e na preservação do patrimônio histórico e artístico nacional. A partir de 2006, o BNDES
passou a investir na economia da cultura, com financiamentos para todas as etapas de sua cadeia
produtiva (BNDES, [s.d.]).

2.3.3 Caixa Econômica Federal (CEF)

A Caixa Econômica Federal (CEF) foi fundada em 1861 pelo imperador dom Pedro II. Desde
então, a Caixa caminha lado a lado com a trajetória do país, acompanhando seu crescimento e o
de sua população.

Em 1931, iniciou a oferta de operações de empréstimo por consignação para pessoas físicas; três
anos depois, por determinação do Governo Federal, assumiu a exclusividade dos empréstimos sob
penhor, o que extinguiu as casas de prego operadas por particulares. No dia 1º de junho do mesmo ano,
foi assinada a primeira hipoteca para a aquisição de imóveis da Caixa do Rio de Janeiro.

A CEF incorporou o Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1986 e assumiu definitivamente a


condição de maior agente nacional de financiamento da casa própria e de importante financiadora do
desenvolvimento urbano, especialmente do saneamento básico. No mesmo ano, com a extinção do BNH,
tornou-se o principal agente do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), administradora
do FGTS e de outros fundos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Quatro anos depois, em 1990,
iniciou ações para centralizar todas as contas vinculadas do FGTS, que, à época, eram administradas por
mais de 70 instituições bancárias.

Seus principais produtos são caderneta de poupança, empréstimos, gestão do FGTS, do Programa de
Integração Social (PIS), do Seguro-Desemprego, do crédito educativo e do financiamento habitacional
e transferência de benefícios sociais e das Loterias Federais, das quais detém o monopólio desde 1961
(CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, [s.d.]).

2.4 Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central

Castro (2016) escreve que os dois cargos públicos mais importantes do SFN são o do ministro da
Fazenda e do presidente do Banco Central. O ministro da Fazenda é quem cuida de toda a receita do
Governo Federal e organiza a maneira como o dinheiro é gasto.

Em última instância, é o ministro da Fazenda que libera as verbas para os outros ministérios e para os
governos estaduais e municipais e também quem faz o pagamento de emendas parlamentares. As conversas
com empresários e investidores sobre impostos e desonerações, a proposição de medidas e sua negociação com
o Congresso, a formulação de planos econômicos, entre outros, fazem parte do trabalho.

Todo esse processo envolve negociação, seja com o Congresso, governadores, prefeitos, empresários
ou com outros ministros. A política está no dia a dia do cargo, e seu ocupante responde diretamente
ao presidente da República. As funções do ministro da Fazenda são auxiliar o presidente da República e
administrar as contas do governo. É um cargo técnico e político.
34
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

O presidente do Banco Central é o responsável por zelar pela solidez do sistema bancário do
país e pela condução das políticas monetária, cambial, de crédito e de relações financeiras com o
exterior. Quando se fala de política monetária, o principal instrumento que o BC tem para cumprir
seu maior objetivo – que é o combate à inflação – é a decisão sobre a taxa básica de juros da
economia, a taxa Selic.

O presidente do Banco Central tem autonomia operacional. Isso significa que, apesar de ser
nomeado e demitido pelo presidente da República, não deve aceitar ingerências na condução da política
monetária. É um cargo técnico que costuma ser ocupado por economistas ou executivos vindos do
mercado financeiro. Além de possuir autonomia operacional e ser responsável pelo sistema bancário,
sua missão é controlar a inflação.

2.5 Comitê de Política Monetária (Copom)

De acordo com o Banco Central do Brasil ([s.d.]a), o Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão
formado pelo seu presidente e diretores que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia, a
taxa Selic. As reuniões ocorrem, normalmente, em dois dias seguidos, e o calendário de reuniões de um
determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.

A reunião do Copom segue um processo que procura embasar da melhor forma possível a sua decisão. A
decisão é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados.
As decisões do Copom são tomadas com base na inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), cujo objetivo é manter essa inflação alinhada com a meta definida pelo CMN.

A decisão do Copom é divulgada no mesmo dia da decisão por meio de comunicado na internet. As
atas das reuniões do Copom são publicadas no prazo de até seis dias úteis após a data da realização das
reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras, e a ata é divulgada
na terça-feira da semana seguinte, às 8h.

Uma vez definida a taxa Selic, o Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado
aberto, comprando e vendendo títulos públicos federais, para manter a taxa de juros próxima ao valor
definido na reunião.

A taxa de juros Selic é a referência para os demais juros da economia. Trata-se da taxa média cobrada
em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional (LTN), registradas diariamente no Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

2.6 Os bancos e o custo de crédito

Como visto anteriormente, a taxa básica de juros Selic é o ponto de partida para a composição da
taxa nominal, praticada pelos bancos. Além da taxa Selic, as taxas nominais incluem a inflação prevista
para o período, com base em indicadores econômicos, e outros componentes envolvidos na composição
do spread bancário, como demonstra o gráfico a seguir:

35
Unidade I

Composição do Spread
em 2016 (%)

Lucros e outros Inadimplência


34,02% 39,95%

Compulsório + encargos
2,61%

Custo administrativo Impostos diretos


0,75% 22,68%

Figura 8

Para entender como o spread bancário é formado, precisamos analisar a sua composição e explicar
como cada componente interfere em seu valor final.

2.6.1 Inadimplência

A inadimplência é a falta de pagamento de uma dívida. Assim, o consumidor inadimplente é aquele


que não pagou o que havia sido combinado. Quanto mais inadimplência, maior é a taxa de juros, pois o
risco de não receber a dívida faz com que as instituições financeiras “distribuam” esse risco para todos
os empréstimos que fará.

No Brasil, em 2016, a inadimplência contribuiu com 39,95% do spread. Esse percentual do spread
representa a margem de segurança em cada empréstimo que faz, a fim de compensar a eventual perda
decorrente de clientes que não pagam a sua dívida.

2.6.2 Lucros

O lucro nada mais é do que o resultado obtido pela instituição financeira, pela prestação do serviço
de intermediação. Tanto os bancos quanto as cooperativas financeiras, que oferecem crédito, geram
superávit financeiro a partir dessa margem entre o que pagam de rendimentos aos clientes que investem
e o que recebem com os juros sobre os empréstimos aos clientes que tomam crédito.

O percentual de lucro das instituições financeiras é de 34,02%, mostrando-se muito mais elevado
que outros setores da economia. Dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (2016)
apontam que as empresas concentraram esforços em 2016 na busca de seu reequilíbrio econômico‑financeiro,
tendo obtido relativo sucesso. As margens líquidas de lucro voltaram a crescer para o total da amostra
de empresas.

36
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

No caso da indústria (exceto a Vale), o indicador lucro líquido em relação à receita operacional, ou
seja, após as despesas com encargos das dívidas e as variações monetárias e cambiais, subiu de 3,7% em
2015 para 6,6% em 2016.

2.6.3 Impostos diretos

Os impostos que entram nesta conta são o Imposto de Renda (IR), o Imposto sobre Operação
Financeira (IOF), o Programa de Integração Social (PIS), a Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). A tributação brasileira
sobre a composição do spread é de 22,68% na sua composição e tem um peso significativo.

O IR e o CSLL incidem sobre os lucros da instituição, enquanto o PIS e Cofins são cobrados sobre a
receita total. O tributo que já é pago diretamente pelo cliente é o IOF, mas os bancos alegam que ele
ajuda a reduzir o rendimento do aplicador e encarecem o custo para o tomador, então o IOF acaba
fazendo parte da conta do spread.

2.6.4 Compulsório + encargos

O Banco Central recebe o depósito compulsório vindo de instituições bancárias por determinação
legal. Ele tem o objetivo de controlar o volume de dinheiro em circulação na economia e acaba afetando
diretamente as taxas de juros praticadas, pois esse depósito é um dinheiro “desperdiçado”, na opinião
das instituições financeiras, que poderia ser usado para gerar lucros para a empresa. Esse item com
outros encargos contribuem com 2,61% na formação do spread.

Lembrete

O compulsório é formado por uma parte do dinheiro depositado nos


bancos pelos correntistas. Esses recursos são mantidos no Banco Central e
os bancos não podem utilizá-los para fazer empréstimos.

2.6.5 Custo administrativo

Por fim, a composição do spread bancário acaba adicionando os custos administrativos referentes
aos gastos com salários e despesas dos funcionários e das agências bancárias para realizar as operações
de crédito. O custo administrativo representa apenas 0,75% do spread.   

Desse modo, já é possível perceber que quanto mais alta a taxa Selic, maiores serão as taxas de juros
que as empresas e as pessoas devem pagar aos bancos, em caso de necessidade de capital de giro ou
empréstimos, para manter seu negócio.

A taxa Selic vem sendo reduzida desde 2017, porém as taxas de juros para capital de giro das
empresas vêm aumentando, como se verifica em trecho da reportagem da revista Exame, publicada em
16 de março de 2020, a seguir:
37
Unidade I

Bancos aumentam juros em linhas de crédito para empresas

Mesmo com queda da Selic, as taxas do cheque especial e de capital de giro eram
menores há dois anos do que hoje

São Paulo – Está se transformando em algo usual. Os maiores bancos brasileiros


anunciam redução de juros assim que o Comitê de Políticas Monetária (Copom) divulga
corte da taxa básica da economia, que hoje está em 4,25% ao ano. É possível que esse
movimento se repita nesta semana quando a autoridade monetária volta a se reunir para
decidir se mantém ou reduz novamente a taxa Selic. Apesar dos cortes nos juros bancários,
os percentuais cobrados pelas instituições estão muito acima do patamar da Selic. Mas não
é só isso. Nem todas as linhas de crédito são contempladas com reduções – na verdade, há
casos em que a trajetória de juros é ascendente.

É o caso da linha de capital de giro prefixada de 365 dias para empresas do Santander. Há
dois anos, a taxa era de 25,82%, passou para 35,34% e atualmente está em 49,71%. Nessa
categoria, os juros mais baratos dentre as cinco maiores instituições são do Banco do Brasil,
que cobra 13,11% ao ano, de acordo com dados do Banco Central. Mas no ano passado
essa taxa era mais baixa, de 13,05%. O Itaú vem em seguida com 13,57%, o Bradesco com
21,18% e depois a Caixa com 34,30% (EXAME, 2020).

Fonte: Flach (2020).

Os bancos do governo (BB, BNDES e CFE) têm um objetivo social e não deveriam competir com os
bancos privados em termos de lucratividade. No entanto, eles atuam no mercado da mesma forma que
os bancos privados. Quase todos os economistas brasileiros não se cansam de escrever ou falar sobre
isso. Por exemplo, em matéria divulgada no caderno de Economia do jornal O Estado de São Paulo,
em agosto de 2006, Celso Ming já chamava atenção para essas distorções entre a política monetária
brasileira, seus efeitos nas empresas e a inadequação do papel dos bancos oficiais:

Uma das deformações que não tem explicação no Brasil é o que acontece
com os bancos oficiais. Uma de suas funções é atuar como mula madrinha:
o animal mais experiente, que já conhece o caminho, vai guiando os outros,
dando ritmo de caminhada à tropa. No entanto, Banco do Brasil e Caixa
Econômica Federal cobram spreads equivalentes aos dos bancos privados e,
de quebra, são campeões em tarifas bancárias. Em vez de liderar a derrubada
do spread e das tarifas, concorrem para mantê-los lá em cima. São mulas
mancas (MING, 2006).

3 INSTITUIÇÕES OPERADORAS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

As instituições operadoras do SFN são todas aquelas que atuam como intermediários financeiros
entre agentes superavitários e agentes deficitários. Entretanto, existem diferenças importantes entre
elas, relacionadas às atividades que desempenham e se distribuem de acordo com alguns critérios.
38
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

O primeiro deles é o critério de instituições bancárias e instituições não bancárias. O segundo se


relaciona ao tipo de operações: se operações passivas, operações ativas e/ou operações acessórias.

3.1 Instituições bancárias e instituições não bancárias

A classificação entre instituições bancárias e não bancárias se relaciona com o tipo de ativos que a
instituição está autorizada a emitir e/ou negociar. Em síntese, as instituições bancárias (ou monetárias)
são aquelas que aceitam depósitos à vista (operação passiva) e podem fazer empréstimos com lastro no
dinheiro que ela captou (operação ativa).

As operações bancárias podem ser os bancos comerciais, os bancos múltiplos (com carteira comercial),
as caixas econômicas, os bancos cooperativos e as cooperativas de crédito. Por sua vez, as instituições
não bancárias são todas aquelas que não podem fazer empréstimos de curto prazo. São classificadas
como não bancárias ou não monetárias (FBS, [s.d.]).

3.1.1 Instituições bancárias

Bancos comerciais

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo
principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o
comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral.

A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o


qual pode também captar depósitos a prazo. Por meio da Resolução CMN n. 2.099, de 1994, os bancos
comerciais devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve
constar a expressão “Banco” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, [s.d.]c).

Bancos múltiplos

O conceito de banco múltiplo foi criado em 1988, com a finalidade de racionalizar os processos e
consequentemente reduzir os custos operacionais das instituições financeiras.

Os bancos múltiplos são instituições financeiras, privadas ou públicas, que realizam as operações
ativas, passivas e acessórias por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ou
de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento
e investimento.

Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições
singulares correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada
por banco público.

O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas,
obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima.
39
Unidade I

As instituições com carteira comercial podem captar depósitos à vista. Na sua denominação social
deve constar a expressão “Banco”, por meio da Resolução CMN n. 2.099, de 1994 (BANCO CENTRAL DO
BRASIL, [s.d.]c).

Caixas econômicas

Integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro da Habitação. São


instituições com objetivos sociais, que concedem empréstimos e financiamentos a programas e projetos
na área da habitação, assistência social, saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esportes. Têm
a competência de vender bilhetes de loteria.

Cooperativas de crédito

As cooperativas de crédito são instituições financeiras formadas pela associação de pessoas, com
a finalidade de prestar serviços financeiros, exclusivamente, aos seus associados. Os cooperados são,
ao mesmo tempo, donos e usuários da cooperativa, participando de sua gestão e usufruindo de seus
produtos e serviços.

Nas cooperativas de crédito, os associados encontram os principais serviços disponíveis nos bancos,
como conta corrente, aplicações financeiras, cartão de crédito, empréstimos e financiamentos. Os
associados têm poder igual de voto independentemente da sua cota de participação no capital social
da cooperativa. O cooperativismo não visa lucros. Os direitos e deveres de todos são iguais e a adesão é
livre e voluntária.

Por meio da cooperativa de crédito, o cidadão tem a oportunidade de obter atendimento personalizado
para suas necessidades. O resultado positivo da cooperativa é conhecido como sobra e é repartido entre
os cooperados em proporção com as operações que cada associado realiza com a cooperativa. Assim, os
ganhos voltam para a comunidade dos cooperados.

No entanto, assim como partilha das sobras, o cooperado está sujeito a participar do rateio de
eventuais perdas, em ambos os casos na proporção dos serviços usufruídos.

As cooperativas de crédito são autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central, ao contrário dos
outros ramos do cooperativismo, tais como transporte, educação e agropecuária.

Os depósitos em cooperativas de crédito têm a proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de


Crédito (FGCoop). Esse fundo garante os depósitos e os créditos mantidos nas cooperativas de crédito
e nos bancos cooperativos em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial dessas instituições.
Atualmente, o valor limite dessa proteção é o mesmo em vigor para os depositantes dos bancos (BANCO
CENTRAL DO BRASIL, [s.d.]c). 

40
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

3.1.2 Instituições não bancárias

Bancos de desenvolvimento

O BNDES destaca-se como o principal agente do Governo Federal para financiamentos de médio e
longo prazos. Instituições de fomento regionais são o Banco do Nordeste do Brasil e o Banco da Amazônia.
Os bancos de desenvolvimento estaduais são controlados pelos governos estaduais e repassam recursos
oficiais internos e externos.

Bancos de investimento

Têm como principal função intermediar recursos de médio e longo prazos para financiamentos de
capital fixo ou capital de giro das empresas. Esses bancos não podem captar recursos de depósitos
à vista. Captam dinheiro por meio da emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDB),
Recibos de Depósitos Bancários (RDB) ou pela venda de cotas de fundos de investimentos. Essas
instituições são especializadas em subscrição pública de ações (underwriting) e estruturação de
financiamentos de projetos.

Bolsas de valores e de mercadorias e futuros

São instituições civis sem fins lucrativos, constituídas pelas corretoras de valores, com a
finalidade de fornecer infraestrutura para o mercado de ações, mercadorias e futuros. Sua principal
função é manter um local adequado para as negociações de compra e venda de ações, mercadorias
e índices. Esse local chama-se pregão. As operações feitas fora da bolsa são chamadas operações
de balcão.

Central de Custódia e Liquidação de Títulos (Cetip)

Como escreve Santos (2017), a Cetip é uma empresa privada e integradora do mercado financeiro.
Sua sigla significa Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos. É uma companhia de
capital aberto desde 2009 que oferece serviços de registro, central depositária, negociação e
liquidação de ativos e títulos. Por isso é conhecida como integradora do mercado financeiro. Possui
todas as suas atividades reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e é fiscalizada pelo
Banco Central.

A Cetip atua como câmara de registro, depósito, negociação e liquidação de valores mobiliários.
Atua de acordo com as normas aplicáveis da CVM e do Banco Central. Conta ainda com uma
estrutura de autorregulação, que fiscaliza e supervisiona as operações, as atividades da organização
e o mercado, a fim de verificar se as atividades que ocorrem em seus ambientes estão dentro das
normas. Além disso, a empresa segue o Código de Conduta do Participante, que estabelece regras
e procedimentos destinados à manutenção de elevados padrões éticos. O documento é aplicável
às instituições participantes e aos seus representantes, que têm acesso aos mercados organizados,
sistemas e serviços.

41
Unidade I

Empresas de factoring

Factoring significa fomento comercial e são instituições que exercem papel importante no mercado
financeiro. Não estão sujeitas às normas do Banco Central. Suas principais atividades se constituem de
comprar e vender direitos creditórios (duplicatas) provenientes de atividades industriais, comerciais
e serviços.

Administradoras de cartões de crédito

São empresas que prestam serviços de intermediação entre o consumidor e o varejista. O consumidor
paga anuidade à administradora e o lojista paga comissão sobre os valores vendidos por meio do cartão.
O lojista receberá os créditos em prazo equivalente ao que o consumidor paga ao cartão. Caso o lojista
queira antecipar os recebimentos, a administradora cria uma operação de desconto, com taxas de juros
praticadas no mercado.

B3 – Brasil, Bolsa, Balcão

A B3 – Brasil, Bolsa, Balcão foi criada em 22 de março de 2017, após a fusão da Central de Custódia
e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip) com a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo
(BM&FBovespa). Até então, essas eram as duas principais instituições do setor no país.

3.2 Operações ativas, passivas e acessórias

3.2.1 Operações ativas

As operações ativas são aquelas em que o banco oferece crédito aos clientes, ou seja, aquelas
em que a instituição bancária empresta dinheiro. São elas: abertura de crédito, simples e em
conta corrente; desconto de títulos; concessão de crédito rural; concessão de empréstimo para
capital de giro; aplicações (próprias) em títulos e valores mobiliários; depósitos interbancários;
operações de repasses e refinanciamentos; concessões de financiamentos de projetos do Programa
de Fomento à Competitividade Industrial.

3.2.2 Operações passivas

As operações passivas são aquelas em que os clientes deixam seu dinheiro sob responsabilidade ou
administração dos bancos. São elas: depósitos a vista (de pessoas físicas ou jurídicas); depósitos a prazo
fixo (de pessoas físicas ou jurídicas); obrigações contraídas no país e no exterior relativas a repasses e
refinanciamentos; emissões de Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs).

3.2.3 Operações acessórias ou especiais

As operações acessórias ou especiais geralmente são aquelas em que o banco atua como intermediador
entre duas pessoas, sejam físicas ou jurídicas: são as operações de câmbio; custódia de títulos e valores;
prestação de fianças e outras garantias.
42
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Ainda na categoria de operações acessórias, encontramos as operações de compra e venda de ouro,


administração de fundos de investimentos, administradoras de cartões de crédito, entre outras.

4 OPERAÇÕES NOS MERCADOS FINANCEIROS

Para o desenvolvimento deste tópico, faremos uma revisão sobre os conceitos envolvidos em
matemática financeira, bem como as equações algébricas que servirão de base para a programação das
planilhas eletrônicas e a utilização da calculadora financeira HP 12C.

4.1 Fundamentos de matemática financeira

Os conceitos envolvidos na matemática financeira são os seguintes: definimos capital (C) como
sendo o valor presente (PV ou VP) a ser corrigido a partir de uma taxa de juros (interest rate = i) por um
determinado período, resultando no montante (M), ou seja, o valor futuro (FV ou VF):

J = Ci M=C+J i=M/C-1

onde:

C = Capital

i = Taxa de juros (interest)

J = Juros

M = Montante

Existem dois tipos de capitalização ou regimes de capitalização:

• simples: o montante é igual ao capital x taxa de juros x período total;

• composto: o valor dos juros do primeiro período se agrega ao capital, formando o montante (M),
que passa a ser o capital para o segundo período, e assim sucessivamente.

Juros simples para n períodos:

J = Cin M=C+J M = C (1 + in)

Juros compostos para n períodos:

Partindo do conceito de juros simples, podemos expressar os juros compostos como sendo o resultado
M (montante) de cada período, em que os juros são incorporados ao C (capital). Assim, o montante
para o período 1 (M1) é calculado exatamente como nos juros simples. Para o segundo período (M2),
substituímos o C da equação por M1, e assim sucessivamente:
43
Unidade I

M1 = C (1 + i)

M2 = M1 (1 + i) = C (1 + i) (1 + i) = C (1 + i)2

M3 = M2 (1 + i) = C (1 + i) (1 + i) (1 + i) = C (1 + i)3

Teremos, então, a equação genérica:

M = C (1 + i)n

O montante (M) para n períodos é a multiplicação do capital inicial (C) com o fator de acumulação
de capital.

4.1.1 Unidade de tempo-base da taxa de juros

No mercado financeiro, a taxa de juros é expressa em diferentes bases e formas, para diversos
períodos de tempo e sob diferentes conceitos, seja porque está indexada a um índice de inflação ou
moeda, seja porque está associada a um dos tipos de ano/calendário.

Na ótica do ano/calendário, a taxa pode ser expressa em dias corridos ou dias úteis.

• Dias corridos: em geral, a convenção é considerar o ano de 360 dias corridos, equivalente a
12 meses de 30 dias corridos, seja para operações de taxa de juros composta, seja para linear.
Alternativamente, algumas operações são ainda cotadas em ano-base de 365 dias corridos,
quando o objetivo é considerar os juros com base em um ano exato.

• Dias úteis: a base de remuneração é dada por períodos equivalentes a 252 dias úteis – o
equivalente a um ano de 360 dias, 2 meses de 30 dias corridos cada e com 21 dias úteis. A
capitalização acontece somente nos dias úteis verificados no período entre a data de aplicação e
a data de resgate.

O formato de dias úteis se aplica à taxa Selic, que remunera títulos públicos, e à taxa CDI da Cetip,
que remunera operações com títulos privados no interbancário.

Independentemente do critério utilizado na expressão da taxa de juros ao ano, para calcular a taxa
efetiva referente ao período de capitalização do ativo, o mais importante é saber qual a metodologia
empregada na contagem do número de dias úteis existentes entre a data de aplicação e a data de resgate.

4.1.2 Taxas equivalentes e taxas proporcionais

As taxas de juros são índices fundamentais no estudo da matemática financeira. Os rendimentos


financeiros são responsáveis pela correção de capitais investidos perante uma determinada taxa de juros.

44
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Não importando se a capitalização é simples ou composta, existem três tipos de taxas: taxa nominal, taxa
efetiva e taxa real. No mercado financeiro, muitos negócios não são fechados em virtude da confusão
gerada pelo desconhecimento do significado de cada um dos tipos de taxa. Vamos compreender o
conceito de cada uma delas. 

• Taxa nominal: é aquela em que o período de formação e incorporação dos juros ao capital não
coincide com aquele a que a taxa está referida. Exemplos:

— Uma taxa de 12% ao ano com capitalização mensal.

— 5% ao trimestre com capitalização semestral.

— 15% ao semestre com capitalização bimestral. 

• Taxa efetiva: é aquela em que o período de formação e incorporação dos juros ao capital coincide
com aquele a que a taxa está referida. Exemplos:

— Uma taxa de 5% ao mês com capitalização mensal.

— Uma taxa de 75% ao ano com capitalização anual.

— Uma taxa de 11% ao trimestre com capitalização trimestral. 

• Taxa real: é aquela que expurga o efeito da inflação no período. Dependendo dos casos, a taxa
real pode assumir valores negativos. Podemos afirmar que a taxa real corresponde à taxa efetiva
corrigida pelo índice inflacionário do período (RIGONATTO, 2019). 

Taxas equivalentes e taxas proporcionais

Quando temos uma taxa de juros ao mês e precisamos saber qual a taxa equivalente ao ano, não
podemos simplesmente dividir ou multiplicar essa taxa por 12 meses. O mesmo é válido para se calcular
a taxa diária, não podemos simplesmente dividir ou multiplicar por 30. Essas regras funcionam apenas
para regime de capitalização simples, e recebem o nome de taxas proporcionais.

No caso de regime de capitalização composto é necessário utilizar a equação que pode ser programada
em planilha eletrônica.

Taxas proporcionais para juros simples:

45
Unidade I

Exemplo de aplicação

Calcule a taxa proorcional ao ano de 5% a.m. em regime de capitalização simples:

i1 = 5 % a.m. i2 = ? % a.a.

d1 = 30 (n. de dias do período da taxa i1)

d2 = 360 (n. de dias do período da taxa i2)

i 2 = i1 x d2 / d1

i 2 = 5 % a.m. x 360/30 = 60 % a.a.

Taxas equivalentes para juros compostos

Podemos dizer que duas taxas, referenciadas a períodos distintos, são equivalentes quando
produzem o mesmo montante no final de determinado tempo, pela aplicação de um mesmo
capital inicial.

P( 1 + ia) = P (1 + im)12

ia = (1 + im)12 - 1 im = (1 + ia)1/12 - 1

A equação genérica para taxas equivalentes é a seguinte:

onde:

i2 = taxa que eu quero

i1 = taxa que eu tenho

d2 = número de dias do prazo que eu quero

d1 = número de dias do prazo que eu tenho

Exemplo de aplicação

Calcule a taxa equivalente anual de 5% a.m. Observe que devemos utilizar as taxas em formato
decimal, ou seja 5% a.m. = 0,05.

i1 = 5 % a.m. i2 = ? % a.a.

46
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

d1 = 30 (n. de dias do período da taxa i1)

d2 = 360 (n. de dias do período da taxa i2)

i 2 = ((1 + i1) ^ d2 / d1) - 1

i 2 = (1,05 ^ 360/30) - 1 = 0,7959 ou 79,59% a.a.

Podemos deixar programado na planilha eletrônica, onde modificamos o conteúdo das células na
coluna A, se a taxa conhecida é ao ano, ou o conteúdo das células na coluna C, se a taxa conhecida for
ao mês. Obteremos, assim, a equivalência de qualquer taxa anual em mensal e vice versa, que são as
mais utilizadas no mercado.

4.1.3 Valor presente (PV) e valor futuro (FV)

Utilizando as equações apresentadas, podemos definir as equações para cálculo do valor futuro (VF ou FV)
da seguinte forma:

Juros simples Juros compostos

FV = PV (1 + in) FV = PV (1 + i)n

onde:

FV = valor futuro

PV = valor presente

i = taxa de juros

n = número de períodos

Cálculo de valor futuro para juros simples

PV = R$ 320.000,00

i = 12% a.a. = 0,12 (formato decimal)

n = 3 anos

FV = R$ 320.000 x (1 + (0,12 x 3))

FV = R$ 435.200,00

47
Unidade I

Cálculo de valor futuro para juros compostos

PV = R$ 320.000,00

i = 12% a.a. = 0,12 (formato decimal)

n = 3 anos

FV = R$ 320.000,00 X (1 + 0,12)ˆ3

FV = R$ 449.576,96

4.1.4 Séries de pagamentos (PGTO)

Séries de pagamentos são as modalidades para pagamentos das parcelas de um empréstimo.


Existem diversas modalidades no mercado, e a mais comum é a que determina parcelas uniformes ao
longo do tempo, que são parcelas de mesmo valor, postecipadas, ou seja, a taxa é combinada no ato
da contratação, e mesmo que o mercado modifique as taxas, o empréstimo continuará com a taxa
contratada e sem carência; assim, a primeira parcela vence após trinta dias da contratação.

A equação a seguir demonstra como calculamos as parcelas de um determinado empréstimo. A sigla


PMT vem da expressão inglesa payment e foi incorporada no Brasil por conta da calculadora financeira
HP 12C. No caso das planilhas eletrônicas, traduzidas para o português, utiliza-se a sigla PGTO, que vem
da expressão pagamento.

Equação para cálculo de parcelamentos (PGTO):

FV
PGTO =  1 i 1
n
 
 i 

Exemplo de aplicação

Um empréstimo de R$ 60.000,00 deverá ser pago em 24 parcelas mensais e iguais a uma taxa de
juros de 2% a.m. Calcule o valor das parcelas mensais e o valor futuro (FV) que será a base para o cálculo
das parcelas.

PV = R$ 60.000,00 i = 2% a.m. n = 24 meses


FV = R$ 60.000,00 x (1 + 0,02)24 = R$ 96.506,23

PMT = R$ 96.506,23/((((1+0,02)24) - 1) / 0,02) = R$ 3.172,27

48
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Utilizando a planilha eletrônica:

Figura 9

Importante: se a taxa de juros for anual, será necessário obter a taxa mensal equivalente.

Planilha para simular empréstimos:

Figura 10

49
Unidade I

Dica importante: quando for informar a taxa de juros, utilize o formato decimal. Por exemplo, na
célula D5 foi digitado 0,036 e em seguida formatado para visualizar em percentual pela função formatar
da planilha eletrônica.

Esse exemplo apresenta as fórmulas para o cálculo do financiamento em 12 meses, daí utilizarmos
as células A10, B10, C10, D10 e E10. Para se obter opções de prazos diferentes, como 24, 36 ou 48 meses,
basta copiar as fórmulas da linha 10 para as seguintes.

4.1.5 Noções de calculadora financeira HP 12C

A calculadora HP 12C funciona de modo diferente das calculadoras convencionais. A principal diferença
é a ordem com a qual colocamos os elementos para efetuar uma operação. Por exemplo, quero somar 4300
com 2300. Na calculadora convencional digito 4300, em seguida o sinal de soma (+), continuo digitando
2300 e, por fim, o sinal de igual (=). O visor da calculadora apresentará o resultado 6600.

Na calculadora HP 12C o procedimento é o seguinte: digito 4.300 e a tecla Enter; em seguida


digito 2.300 e o sinal de soma (+). Não preciso digitar mais nada, pois ele já apresenta, no visor, o
resultado 6.600.

Figura 11

Cores das teclas


Branca = normal

Laranja = pressionar antes da operação

Azul = pressionar antes da operação

Figura 12

A maioria das teclas da calculadora HP 12C apresenta três funções. A tecla impressa em cor branca
é para a operação normal. Para as outras funções, a tecla colorida deve ser pressionada antes da função
50
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

desejada. As funções cor laranja se encontram no lado superior da tecla; já as funções azuis, na parte
inferior das teclas.

Os cálculos efetuados pela calculadora HP 12C utilizam o sistema de ponto flutuante, ou seja, ela
guarda o resultado internamente com o maior número de algarismos possível, estejam eles na parte
inteira do número ou na parte decimal.

Por exemplo, o cálculo resultou em um valor com a parte inteira (antes do ponto decimal) muito
grande. Assim, posso programar a HP 12C para mostrar apenas 1 ou 2 casas decimais, ou mesmo zero
casas decimais.

Se, ao contrário, o cálculo resultou em um valor com a parte inteira (antes do ponto decimal) muito
pequena, ou até mesmo zero, preciso considerar o maior número possível de casas decimais. Assim,
posso programar a HP 12C para mostrar 5 ou 6 casas decimais.

Como faço isso?

Digito a tecla laranja “f” e em seguida digito o número de casas decimais que desejo. O visor
automaticamente apresentará meu resultado no formato solicitado.

Função CLEAR (f CLEAR)

Figura 13 – Função f (Clear)

Para zerar todos os acumuladores da HP 12C é muito conveniente teclar a função “f” e cada uma
das funções destacadas na figura.

Exemplo de aplicação

Qual o valor a ser resgatado de uma aplicação financeira de R$ 320.000,00 após 3 anos a uma taxa
de juros de 12% a.a.?

Tabela 1

Valor presente Períodos Taxa de juros Valor futuro


Limpar memória (PV) (n) (i) (FV)
f 320.000 3 12 FV
CLEAR PV n i 449.576,96

51
Unidade I

Qual será o valor da parcela mensal de um empréstimo pré-fixado de R$ 60.000,00 a uma taxa de
juros de 2% a.m. pelo período de 24 meses?

Tabela 2

Limpar Valor presente Períodos Taxa de juros Parcelas


memória (PV) (n) (i) (PMT)
f CHS 60.000 24 2 PMT
CLEAR PV n i 3.172,27

4.2 Operações do mercado monetário

4.2.1 Letras do Tesouro Nacional (LTN)

São títulos de remuneração pré-fixada, definida no momento da compra. Essa remuneração é obtida
por meio da compra dos títulos com um deságio sobre o valor nominal (VN). O preço pago pelo título
é denominado preço unitário (PU). O valor nominal é sempre múltiplo de R$ 1.000,00 e a taxa de juros
de remuneração é expressa em termos efetivos anuais, incidindo somente em dias úteis, fixados em
252 dias por ano (KERR, 2011).

O prazo máximo das LTNs é 24 meses. A fórmula que calcula o valor presente (PU) do valor nominal
no vencimento, dada a taxa de rentabilidade efetiva em termos anuais, é:

VN
PU  du
1  i 252

Onde:

VN = valor nominal para resgate do título no final

PU = preço unitário com seis casas decimais

i = rentabilidade anual do título, considerando só dias úteis, em porcentagem

du = dias úteis entre a data da compra (inclusive) e a data de vencimento (exclusive)

É intuitivo que quanto menor o PU, maior a taxa de rentabilidade do título, e quanto maior a taxa,
menor o PU, pois o investidor está comprando um título por um valor (PU) menor do que aquele pelo
qual irá revender (valor nominal no vencimento). Quanto menor esse valor, maior será a rentabilidade,
uma vez que o preço de venda e o prazo estão fixados.

52
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Exemplo de aplicação

Uma LTN vence em 20 de dezembro de 2019. Foi comprada em 19 de dezembro de 2017 e sua
liquidação ocorreu em 20 de dezembro de 2017 (a liquidação de uma operação é a última etapa do
processo de compra e venda de um título, quando ocorre a efetiva transferência da propriedade do título
e o pagamento e recebimento do montante financeiro envolvido). O rendimento da aplicação inicia-se
na data da liquidação da compra. Pagou-se pelo título R$ 852,30 (esse é o PU), e existem 504 dias úteis
entre a data da liquidação (inclusive) e a data vencimento (exclusive).

Valor nominal (VN) = R$ 1.000,00

Preço unitário (PU) = R$ 852,30

du = 504 dias

1.000, 00 1.000, 00
852,30 = 504
(1 + i)2 = => (1 + i) = 1,1732961/2
852, 30
1 i 252

(1 + i) = 1,083188

i = 0,083188 ou 8,3188 % a.a.

Utilizando a HP 12C

Se utilizarmos a HP 12C, é necessário, antes de usar a calculadora, configurá-la para que calcule as
frações de tempo com juros compostos. Para isso, tecle STO e EEX. Deverá aparecer um “c” minúsculo no
visor, indicando que os tempos fracionários serão calculados para juros compostos.

Tabela 3

Configurar Aparece Limpar 504


períodos 1.000 852,30 i
no visor memória ENTER
fracionários
252
STO c f CHS ÷

Tempos
EEX fracionários para CLEAR FIN FV PV n 8,3188
juros compostos

53
Unidade I

Com esse mesmo exemplo podemos informar a taxa e obter o preço do título (PU):

Tabela 4

504
Limpar memória 1.000 8,3188 PV
ENTER
252
f ÷
CLEAR FIN FV i n 852,30

4.2.2 Certificados de Depósitos Bancários (CDB)

São títulos emitidos pelos bancos para a captação de recursos. Os CDBs podem ser pré-fixados,
pós‑fixados, indexados à taxa flutuante (por exemplo, CDI ou TR) e também por variações cambiais.

Nas aplicações de CDB, o imposto sobre operações financeiras (IOF) incide quando o resgate/vencimento
for inferior a trinta dias. A alíquota de imposto de renda (IR) é variável e depende do prazo de aplicação,
como mostra a tabela a seguir:

Tabela 5

Prazo Alíquota de IR
Até 180 dias 22,50%
Entre 181 e 360 dias 20,00%
Entre 361 e 720 dias 17,50%
Acima de 720 dias 15,00%

Os bancos competem por recursos dos investidores nos CDBs, por meio de características
ligeiramente diferentes umas das outras. A diferenciação do produto tem como objetivo atingir
segmentos diferenciados de potenciais investidores.

Por exemplo, a CEF oferece três tipos de CDB: o CDB TR Caixa, remunerado por uma taxa
contratada TR diária + juros; o CDB Pré; e o CDB Flex, remunerado por uma taxa prefixada.
O CDB Flex oferece flexibilidade nos prazos de resgate, podendo ser resgatado em qualquer dia
até a data do vencimento. Cada instituição financeira possui seus CDBs com variações na taxa
de remuneração, valor da aplicação e prazo de aplicação, a fim de atender todos os segmentos de
potenciais investidores.

Exemplo de aplicação

Um investidor aplica R$ 50 mil em um CDB prefixado, sendo contratada com o banco uma taxa de
16% ao ano (base 360 dias) por um período de 45 dias. O IR retido na fonte é de (ver tabela anterior)
sobre o rendimento bruto. Calcular:

54
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

a) O montante bruto da aplicação.

b) O rendimento bruto da aplicação.

c) O IR retido na fonte.

d) O montante líquido (descontado o IR).

e) A taxa efetiva líquida da aplicação no período.

f) Taxa anual equivalente à taxa efetiva líquida obtida no item anterior.

O fluxo de caixa do ponto de vista do investidor é:

FV = ?

n = 45 dias

PV = 50.000

Figura 14
45
a) FV = 50.000 1  0,16  360 = R$ 50.936,28

b) Rendimento bruto = R$ 50.936,28 - R$ 50.000,00 = R$ 936,28

A alíquota é de 22,50%, então:

c) IR = R$ 936,28 x 0,2250 = R$ 210,66

d) Montante líquido = R$ 50.936,28 - R$ 210,66 = R$ 50.725,62

e) i = ML / C - 1 = R$ 50.725,62 / R$ 50.000,00 - 1 = 0,0145124 = 1,45124 % no período (45 dias)


360
f) i ano = 1  0, 0145124  45 = 0,1221706 = 12,217 % a.a.

4.2.3 Certificados de Depósitos Interbancários (CDI)

São títulos emitidos por instituições financeiras para captar recursos de outras instituições financeiras.
Sua função é lastrear operações de empréstimos entre elas. Os CDIs são isentos de IR e IOF.

Embora as taxas de CDI sejam diárias (taxa over), até 1998 eram anunciadas como taxa nominal
mensal, considerando um mês com 30 dias.

55
Unidade I

Atualmente, as taxas são anunciadas como taxas efetivas anuais, considerando o ano com 252 dias
úteis, do mesmo modo como o Banco Central faz com a Selic. Embora essa taxa over (nominal mensal)
tenha deixado de ser utilizada desde 1998, por tradição, alguns títulos do mercado ainda fazem referência
a ela.

Lembrete

As operações com CDIs são registradas na Cetip e dão origem à taxa CDI
(ou DI) por meio da média ponderada das operações efetuadas.

A taxa DI é uma referência muito importante da taxa de juros para o mercado brasileiro. Ela é
amplamente utilizada para, por exemplo, servir como meta de rentabilidade para fundos de renda fixa,
como referência em outras operações do mercado financeiro, como operações de hotmoney, e para
indexar outros tipos de operações financeiras, por exemplo, CDB-DI. Desde 1998, a taxa DI é anunciada
como taxa efetiva anual.

Conversão da taxa over nominal mensal em taxa over efetiva (mês = 21 dias)

Considere que a taxa média dos negócios lastreados em CDI (taxa DI) tenha sido anunciada em
determinado dia como sendo 1,21% ao mês (nominal mensal). Agora serão traçados os processos
para calcular a taxa over efetiva para um mês médio que contém 21 dias úteis e a taxa over anual
efetiva equivalente:

Passo 1: como a taxa foi informada em termos nominais mensais, para originar a taxa efetiva over
que a originou, basta dividir a taxa por 30:

Taxa over efetiva ao dia = i a.du = 0,0121 / 30 = 0,00040333 = 0,0403% a.du

Passo 2: calcular a taxa over mensal efetiva (mês de 21 dias):

i a.m.o. = (1 + 0,00040333) ^ 21 - 1 = 0,00850425 = 0,8504% a.m.o.

Passo 3: calcular a taxa over anual efetiva (ano de 252 dias úteis):

i a.a.o. = (1 + 0,00040333) ^ 252 - 1 = 0,10696127 = 10,6961% a.a.o.

4.2.4 Caderneta de poupança

É um investimento tradicional, de risco muito baixo e muito popular entre os investidores de menor
renda. Sobre os rendimentos, no caso de pessoa física – a maioria nesse tipo de investimento –, não
incide imposto de renda (IR) na fonte. No caso de pessoa jurídica, valem as mesmas alíquotas da tabela
dos CDBs.

56
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A caderneta de poupança rende a variação da TR mais juros de 0,5% ao mês. Entretanto, o principal
(capital) é primeiro corrigido pela TR e, depois, sobre o principal corrigido, incidem os juros de 0,5% ao
mês, com capitalização composta.

Tanto a TR quanto os juros incidem sobre o menor saldo diário de cada mês. Nesse caso, cada
caderneta de poupança tem uma data-base para início da contagem do período para o cálculo. Se
houver saques, o rendimento incidirá sobre o menor saldo do mês e, se houver depósitos, os valores
depositados só renderão no mês seguinte.

Exemplo de aplicação

Tome como exemplo uma aplicação de R$ 10.000 em uma caderneta de poupança com data-base
no dia 5 do mês. No primeiro mês, a variação da TR foi de 0,8000%; no segundo mês, de 0,7500%; e no
terceiro, de 0,7000%. A seguir, estão especificados os passos para calcular a rentabilidade efetiva
acumulada no período e o montante disponível no fim dos três meses.

Passo 1: rentabilidade efetiva acumulada em cada mês:

1 + i mês = (1 + TR)(1 + juros)

(1 + i mes1) = (1 + 0,0080) x (1 + 0,005) = 1,0130

(1 + i mes2) = (1 + 0,0075) x (1 + 0,005) = 1,0125

(1 + i mes3) = (1 + 0,0070) x (1 + 0,005) = 1,0120

Passo 2: rentabilidade efetiva acumulada nos três meses:

(1 + i acum) = (1 + i mes1) x (1 + i mes2) x (1 + i mes3)

(1 + i acum) = 1,0130 x 1,0125 x 1,0120 = 1,0380

i acum = (1,0380 - 1) = 0,0380 = 3,80% no período de 3 meses

Passo 3: calcular o montante no fim de três meses:

M = R$ 10.000 x 1,038 = R$ 10.380,00

4.2.5 Commercial papers (notas promissórias)

São títulos de curto prazo emitidos por empresas, não necessariamente de capital aberto, cujo
objetivo é captar recursos de curto prazo, geralmente para capital de giro. O prazo mínimo é de 30 dias
e o máximo depende da estrutura societária do emissor. Se a empresa emissora for uma sociedade por
ações de capital fechado, o prazo máximo é de 180 dias e, se for de capital aberto, é de 360 dias.
57
Unidade I

O custo de captação por meio de commercial papers, para a empresa emissora, é mais baixo do
que as operações convencionais de empréstimos, além de ser uma maneira ágil de captar recursos, em
virtude da eliminação de intermediação financeira dos bancos.

Além dos juros pagos aos investidores, as empresas emissoras arcam com as despesas de emissão,
como registro na CVM e publicações, e, em alguns casos, com as despesas (comissões) de intermediação
feita pelos dealers.

Os commercial papers podem ou não ser oferecidos pelo emissor com garantia, com remuneração
pré-fixada (mais comum) ou pós-fixada. No caso da pré-fixada, esses títulos são negociados no mercado
com um desconto (deságio) sobre o valor de face (valor nominal).

Exemplo de aplicação

Uma empresa deseja captar, por três meses, o valor de R$ 10 milhões, por meio da venda de 10 mil
commercial papers.

A empresa oferece aos investidores um deságio de 3% sobre o valor de face e arcará com as despesas
de emissão, estimadas em 0,5% de seu valor.

Calcule o preço de compra, a rentabilidade para os investidores, a receita líquida para a empresa e o
custo dessa emissão, sempre em termos de taxa mensal.

Tabela 6

Valor total da emissão R$ 10.000.000


Desconto de 3 R$ 300.000
Valor pago pelos investidores R$ 9.700.000
Despesas de emissão (0,5%) R$ 50.000
Valor líquido recebido pela empresa R$ 9.650.000

Custo para a empresa:


i a.m. = (10.000.000 / 9.650.000) ^ 1/3 - 1 = 0,0119 = 1,19% a.m.

Rentabilidade para os investidores:


i = (10.000.000 / 9.700.000) ^ 1/3 - 1 = 0,0102 = 1,02% a.m.

4.2.6 Debêntures

São títulos de médio e longo prazos emitidos por sociedades por ações de capital aberto ou fechado,
que asseguram a seus detentores (debenturistas) direitos de crédito contra a empresa emissora. Também
há debêntures sem vencimento estipulado, denominadas debêntures perpétuas.
58
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

O lançamento das debêntures pode ser feito por meio de uma oferta pública ou por uma colocação
privada, porém, as ofertas públicas só podem ser efetuadas por empresas de capital aberto. Elas devem
ser previamente registradas na CVM, respeitando as condições de emissão impostas.

Depois do lançamento no mercado primário, elas podem ser negociadas no mercado secundário. As
colocações privadas não precisam de registro na CVM. Em geral, são oferecidas aos próprios acionistas
da empresa emissora, ou para um grupo específico de investidores, ligados à empresa de alguma forma.
Essas debêntures não são negociadas no mercado secundário.

O agente fiduciário é a pessoa (ou instituição) que protege os debenturistas, zelando por seus direitos
e exigindo que a empresa cumpra as cláusulas da escritura de emissão. Ele deve apresentar relatórios
anuais com todos os fatos relevantes do exercício.

As garantias para as debêntures podem ser: reais, flutuantes, quirografárias (ou sem preferência)
e subordinadas. As garantias reais envolvem hipotecas de ativos da empresa (as emissões não podem
exceder 80% dos ativos). Nas garantias flutuantes, os credores têm preferência sobre os ativos da
empresa (não podem exceder 70% dos ativos). Nas garantias quirografárias, os debenturistas não têm
preferência sobre os demais credores, e o montante da emissão é limitado ao capital social da empresa.
Na garantia subordinada, os debenturistas têm preferência sobre os acionistas da empresa e não há
limite para emissão. As debêntures podem ser simples ou conversíveis em ações (DCA).

As empresas emitentes de títulos dispõem de um procedimento de consulta ao mercado,


denominado bookbuilding, cujo objetivo é conhecer as expectativas dos investidores com
relação ao ativo. A consulta ao mercado é feita normalmente de forma eletrônica, interligando
investidores, emitente de títulos e instituições financeiras com o sistema de distribuição de
títulos e valores mobiliários.

No Brasil, esse sistema não é muito desenvolvido, por falta de padronização desses títulos. A Cetip
criou em 2008 o Sistema Nacional de Debêntures (SND) com o objetivo de padronizar as informações
aos investidores.

Saiba mais
Essas informações podem ser acessadas no site:
www.debentures.com.br

Em 2001, a Bovespa criou um sistema chamado Bovespa Fix para compra e venda de títulos privados
de renda fixa, similar ao Tesouro Direto, que negocia títulos públicos federais.

A forma de remuneração das debêntures pode ser com taxas de juros fixas ou flutuantes, com ou
sem atualização monetária, por índices de preços (IGP-M ou IPCA, por exemplo) ou por participação nos
lucros. A seguir, um exemplo de debêntures pré-fixada com juros fixos
59
Unidade I

Exemplo de aplicação

Uma determinada empresa emitiu uma debênture com vencimento em quatro anos, pagando
semestralmente cupom de juros nominais de 12% ao ano. Ela está sendo vendida atualmente com um
deságio de 5% sobre o valor de face no vencimento (valor ao par) que é de R$ 10.000,00.

Para calcular o rendimento anual efetivo, o rendimento mensal efetivo e o rendimento anual nominal do
título, deve-se considerar o preço de compra da debênture, equivalente ao PU dos títulos públicos, que é de:

Valor de face no vencimento...................R$ 10.000,00

Deságio atual (5%)..................................R$ 500,00

Preço de compra.....................................R$ 9.500,00

Cupom de juros (12% a.a.).....................R$ 1.200,00 (ou R$ 600,00/semestre)

Fluxo de caixa
R$ 10.000,00

R$ 600,00

1 2 3 4

R$ 9.500,00

Figura 15

O rendimento efetivo semestral será a taxa interna de retorno (TIR) do fluxo de caixa apresentado.
A TIR é uma taxa que faz as entradas de caixa trazidas a valor presente se igualarem à saída de caixa,
tornando o valor presente líquido igual a zero.

Para calcular a TIR na HP 12C, é importante levar em consideração que a oitava parcela dos cupons
semestrais coincide com a entrada dos R$ 10.000,00 referentes ao resgate.

Utilizando a HP 12C

Tabela 7

Limpar 9.500 600 7 10.600


memória
f CHS f IRR
clear fin g CF0 g CFj g Nj g CFj 6,8319

60
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

TIR = 6,8319 % ao semestre

Para se obter a taxa anual nominal, basta multiplicar a TIR por 2:

i a.n. = 6,8319 x 2 = 13,6638% a.a.

Convertendo-se a TIR para uma taxa anual equivalente, tem-se:

i a.e. = (1 + 0,068319) ^ 2/1 - 1 = 0,141305 = 14,1305% a.a.

Convertendo-se a TIR para uma taxa mensal equivalente, tem-se:

i m.e. = (1 + 0,068319) ^ 1/6 - 1 = 0,011075 = 1,1075% a.m.

4.3 Operações no mercado de crédito

Como visto anteriormente, o mercado de crédito tem como objetivo suprir as necessidades de caixa
de curto e médio prazos das pessoas físicas e empresas. Algumas vezes, também são incluídas nessa
categoria as operações de bens de consumo duráveis.

Existem diversas modalidades de crédito de curto prazo para pessoas físicas e jurídicas. Para as
pessoas físicas, os mais populares são: cheque especial, crédito pessoal, cartões de crédito e crédito
consignado. Para pessoas jurídicas também existem diversas modalidades. Vamos detalhar a seguir
algumas delas.

4.3.1 Hotmoney

É uma operação de curtíssimo prazo, de poucos dias, cujo objetivo é resolver necessidades imediatas
de caixa das empresas. O custo do dinheiro nessa modalidade de empréstimo é muito alto. Suas
operações geralmente são atreladas à taxa do CDI mais um spread bancário. O empréstimo é repactuado
diariamente e incide IOF cobrado antecipadamente, a cada dia que a operação durar.

Exemplo de aplicação

Uma empresa precisou emergencialmente de caixa e tomou um empréstimo de R$ 1.400.000 (um


milhão e quatrocentos mil) por três dias em um banco, em uma operação de hotmoney. O contrato
previa juros diários atrelados à variação do CDI mais um spread bancário de 0,06% ao dia (note que,
nesse caso, o spread não incide cumulativamente sobre as taxas de CDI). Nesse empréstimo incide,
ainda, um IOF de 0,0041% ao dia, descontado antecipadamente. A taxa do CDI over nominal mensal, em
cada dia, foi de 1,60%, 1,80% e 2,00%.

61
Unidade I

Primeiro dia

Empréstimo = R$ 1.400.000

IOF = 0,0041 / 100 x R$ 1.400.000,00 = R$ 57,40

Depósito líquido na conta corrente da empresa = R$ 1.400.000 - R$ 57,40 = R$ 1.399.942,60

Juros = ((1,60 / 30) + 0,06) / 100 x R$ 1.400.000,00 = R$ 1.586,67

Saldo devedor ao final do primeiro dia = R$ 1.400.000,00 + R$ 1.586,67 - R$ 57,40 = R$ 1.401.529,27

Segundo dia

Repactuação do saldo devedor do primeiro dia = R$ 1.401.529,27

IOF = 0,0041 / 100 x R$ 1.401.529,27 = R$ 57,46

Saldo líquido na conta corrente da empresa = R$ 1.401.529,27 - R$ 57,46 = R$ 1.401.471,81

Juros = ((1,80 / 30) + 0,06) / 100 x R$ 1.401.471,81 = R$ 1.681,84

Saldo devedor ao final do segundo dia = R$ 1.401.529,27 + R$ 1.681,84 - R$ 57,46 = R$ 1.403.153,65

Terceiro dia

Repactuação do saldo devedor do segundo dia = R$ 1.403.153,65

IOF = 0,0041 / 100 x R$ 1.403.153,65 = R$ 57,53

Saldo líquido na conta corrente da empresa = R$ 1.403.153,65 - R$ 57,53 = R$ 1.403.096,12

Juros = ((2,00 / 30) + 0,06) / 100 x R$ 1.403.153,64 = R$ 1.777,33

Saldo devedor ao final do terceiro dia = R$ 1.403.153,64 + R$ 1.777,33 - R$ 57,53 = R$ 1.404.873,44

O fluxo de caixa da operação, do ponto de vista da empresa, em três dias é:


R$ 1.399.942,60

R$ 57,46 R$ 57,53 R$ 1.404.873,44

Figura 16

62
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

4.3.2 Desconto simples de títulos

Essa é, talvez, a operação de crédito mais tradicional e disponível para as empresas, cuja finalidade é
antecipar o fluxo financeiro das vendas de bens ou serviços, com pagamento a prazo.

A taxa de desconto incide sobre o montante a ser descontado e não sobre o principal do empréstimo,
em uma prática popularmente denominada “desconto por fora”. Incide, ainda, sobre as operações de
desconto o IOF e, dependendo da instituição financeira, incide também a taxa de abertura de crédito (TAC),
que pode ser fixa ou variável. No caso da taxa variável, incide, também, a taxa de cobrança (TC), que
varia em função do número de duplicadas descontadas. Vale ressaltar que alguns juristas consideram
essas taxas e tarifas ilegais.

Modelo genérico

O fluxo de caixa da operação, do ponto de vista da empresa, é o seguinte:


PV = valor líquido hoje

n = prazo

FV = valor nominal

Figura 17

A taxa de desconto (d) incide sobre o valor de face do título que está sendo descontado (FV) e produz
o valor líquido (PV), que será depositado na conta da empresa.

PV = FV (1 - d)

Exemplo de aplicação

Uma empresa precisa descontar uma única duplicata no valor de R$ 50.000 com vencimento em
40 dias. O banco cobra uma taxa de desconto de duplicata de 2,52% a.m. A alíquota de IOF é 0,0041% ao
dia, além de uma alíquota de IOF de 0,38 % sobre o valor do título. O banco cobra TAC de 1% sobre o
valor do título. Como se trata de um único título, o banco não cobrará TC.

Taxa de desconto = d = 40 / 30 x 2,52% = 3,36%

Valor do desconto = R$ 50.000 x 3,36% / 100 = R$ 1.680,00

Valor do IOF1 = 0,0041 / 100 x 40 x 50.000 = R$ 82,00

Valor do IOF2 = 0,38 / 100 x 50.000 = R$ 190,00

63
Unidade I

Valor da TAC = 0,01 x R$ 50.000,00 = R$ 500,00

Valor líquido recebido = R$ 47.548,00

A taxa efetiva de juros da operação no período é:

i cfe = R$ 50.000,00 / R$ 47.548,00 - 1 = 0,0516 = 5,16% no período

A taxa mensal equivalente é:

i a.m. = (1 + 0,0516) ^ 30/40 - 1 = 0,0385 = 3,85% a.m.

4.3.3 Factoring

Factoring é uma prestação de serviços e não propriamente uma operação financeira, apesar de
lembrar muito o desconto de duplicatas. As empresas de factoring surgiram nos Estados Unidos como
instituições especializadas em terceirizar as contas a receber de pequenas empresas. São, portanto,
prestadoras de serviços, não sendo enquadradas como instituições financeiras.

Teoricamente, a factoring faz um contrato com a pequena empresa, no qual ela compra todos os
recebíveis da empresa pagando à vista por isso. A factoring fica, então, com todos os direitos e deveres
sobre aqueles títulos.

Caso um devedor não pague o título no vencimento, o ônus da cobrança e eventual prejuízo pelo
não pagamento cabe à empresa de factoring. Não existe cobrança de IOF, pois não é uma operação
financeira, porém, os outros custos, como despesas bancárias, são repassados à empresa cliente.

4.4 Financiamentos com leasing

De acordo com Bordeaux-Rêgo (2006), o Banco Central do Brasil considera leasing um contrato denominado
na legislação brasileira como “arrendamento mercantil”. As partes desse contrato são denominadas
“arrendador” (banco ou sociedade de arrendamento mercantil) e “arrendatário” (cliente). O arrendador
adquire o bem escolhido pelo arrendatário, e este o utiliza durante o contrato, mediante o pagamento
de uma contraprestação.

O arrendador é, portanto, o proprietário do bem, sendo que a posse e o usufruto, durante a vigência
do contrato, são do arrendatário. A operação de arrendamento mercantil assemelha-se a um contrato de
aluguel, e pode prever ou não a opção de compra, pelo arrendatário, do bem de propriedade do arrendador.

O leasing não é considerado uma operação de financiamento. É uma operação com características
legais próprias. Nas operações de leasing, o bem é arrendado ao arrendatário, e pode ser adquirido ou
não por ele ao final do contrato. Nas operações de financiamento, o bem é sempre adquirido pela pessoa
que contratou o financiamento.

64
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A três modalidades mais utilizadas são as seguintes:

• Leasing operacional: não estabelece opção de compra para o arrendatário.

• Lease-back: a empresa vende seus ativos ao arrendador e continua a utilizá-los. Objetivo é o


levantamento de recursos para capital de giro.

• Leasing financeiro: tradicionalmente conhecida como leasing.

Na modalidade leasing financeiro, o prazo mínimo de arrendamento é de dois anos para bens com
vida útil de até cinco anos e de três anos para os demais. Por exemplo: para veículos, o prazo mínimo
é de 24 meses; para outros equipamentos e imóveis (bens com vida útil superior a cinco anos), o prazo
mínimo é de 36 meses. Já na modalidade denominada leasing operacional, o prazo mínimo é de 90 dias,
e o máximo é de 75% da vida útil do bem arrendado.

As operações de leasing não têm Imposto sobre operações financeiras (IOF). O imposto que será pago
no contrato das modalidades leasing financeiro ou lease-back é o Imposto Sobre Serviços (ISS).

No leasing financeiro, as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à


operacionalidade do bem arrendado (exemplos: seguro, registro do contrato) são de responsabilidade do
arrendatário. No leasing operacional, podem ser de responsabilidade do arrendador ou do arrendatário
(dependendo do que for pactuado no contrato de arrendamento).
Pagamentos mensais (R$)

Contrato de leasing
Empresa de leasing Empresa arrendatária
Termo de recebimento do bem

Fornecedor do bem
Compra do bem Entrega do bem

Figura 18

Vantagens do leasing:

• liberação de recursos financeiros para capital de giro;

• efeito fiscal (pagamentos podem ser deduzidos de despesas integralmente);

• custos de manutenção e riscos de obsolescência reduzidos na renovação do contrato.

65
Unidade I


Desvantagens do leasing:

• depreciação pertence ao proprietário do ativo, não pode ser deduzida do lucro tributável;

• valor residual não é dedutível do lucro tributável;

• valor residual não pode ser lançado como ganho adicional ao final do projeto;

• empresas de menor porte não têm patrimônio para garantir novos empréstimos.

Exemplo de aplicação

Estudo de caso: decisão entre capital próprio ou leasing

Um industrial tem a oportunidade de ampliar sua fábrica. Para tanto, precisará de novos equipamentos
que custam R$ 1 milhão. Ele pode adquiri-los com recursos próprios ou fazer uma operação de leasing.
Os elementos de decisão das duas operações são: 


• Recursos próprios: depreciação linear, vida econômica e contábil de seis anos, restando um valor
residual de 10% ao final. Os equipamentos serão vendidos ao final do projeto pelo valor residual
de R$ 100 mil.


• Leasing: os equipamentos em pauta podem ser arrendados por R$ 100 mil por ano.

As vendas são projetadas em R$ 800 mil por ano. O custo variável é de 20% das vendas. Os custos
fixos anuais são de R$ 150 mil.

Determinar o fluxo de caixa operacional e o valor presente líquido do projeto, sabendo que a alíquota
de IR é de 35% e que o custo de oportunidade do capital do industrial para aplicação neste projeto
é de 18% a.a.

Figura 19 – Fluxo de caixa operacional com recursos próprios

66
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Figura 20 – Valor presente líquido (VPL) com recursos próprios

Utilizando a HP 12C

Tabela 8

Limpar 1.000 371 5 436 18


memória
f CHS f NPV
Clear g CF0 g CFj g Nj g CFj i 321,69

Figura 21 – Fluxo de caixa operacional com leasing

Figura 22 – Valor presente líquido (VPL) com leasing

Utilizando a HP 12C

Tabela 9

Limpar 253,5 6 18
memória
f f NPV
Clear g CFj g Nj i 886,64

67
Unidade I

Análise da decisão de investimento

Apesar dos benefícios fiscais da depreciação dos ativos não circulantes, não se mostrou vantajoso
para o empresário investir seus recursos próprios (R$ 1 milhão) quando comparado com a operação
de leasing.

O fluxo de caixa com recursos próprios proporciona um VPL de R$ 321,69 em 6 anos, enquanto a
operação de leasing proporciona um VPL de R$ 886,64 no mesmo período.

Essa tem sido uma prática bastante utilizada pelos empresários, pois os benefícios fiscais no Brasil
não são atrativos para investimentos em ativos não circulantes.

Quanto mais a empresa se “desmobilizar”, vendendo seus ativos não circulantes (veículos,
equipamentos, prédios e instalações), maior será o seu ativo circulante que poderá ser utilizado
nas operações do seu negócio, com inovações, pesquisa, desenvolvimento, treinamento de pessoas,
publicidade, entre outros.

Nesse mesmo raciocínio, os ativos não circulantes precisam de, no mínimo, 5 anos para amortizar
a depreciação e deduzi-la dos impostos. Entretanto, nas operações de leasing, mensalmente, todas
as despesas com aluguéis e operações de leasing podem ser abatidos do IRPJ e CSLL, melhorando o
planejamento tributário e a performance geral da empresa (BORDEAUX-RÊGO et al., 2006).

Resumo

As sucessivas crises econômicas e políticas ao longo de mais de um


século, bem como a regulação do Estado na economia, interferem na vida
das empresas de modo relevante.

Como as políticas econômicas estão intimamente relacionadas com


o sistema financeiro, é muito importante compreender como os bancos
e governos atuam em benefício das empresas e da sociedade. Assim,
apresentamos o contexto econômico, político e financeiro, situando as
decisões externas que podem afetar a gestão das empresas e dos imprevistos
do macroambiente.

Os juros são de extrema importância no processo de intermediação


financeira. Quando são altos, estimulam a poupança; quando são baixos,
estimulam o consumo. Por sua vez, o consumo alto estimula o aumento da
produção e, consequentemente, dos investimentos.

Assim, a gestão da economia pelos órgãos do governo encarregados dessa


tarefa tem vários objetivos, como atingir o pleno emprego, distribuir riqueza,

68
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

defender o poder aquisitivo da moeda e permitir que a economia cresça. As


ações do governo para esse fim são denominadas políticas econômicas, que
se dividem em: política fiscal, política cambial e política monetária.

A política monetária é a parte da política econômica que cuida


do controle da oferta da moeda e das taxas de juros, visando manter a
estabilidade do valor da moeda, manter uma balança de pagamentos
equilibrada e buscar o pleno emprego.

Os instrumentos mais usuais de que o Banco Central dispõe para


executar a política monetária são: depósito compulsório, open market
e redescontos bancários. Depósitos compulsórios têm a finalidade de
controlar a quantidade de dinheiro na economia. O processo de colocação
de títulos da dívida pública no mercado financeiro é feito por meio do
mercado aberto, mais conhecido como open market, e os redescontos
bancários são operações que os bancos comerciais efetuam com o Banco
Central quando necessitam de recursos.

A principal taxa de juros do sistema financeiro brasileiro é a taxa Selic,


determinada pelo Comitê de Políticas Monetárias (Copom). Essa taxa é a
referência para o mercado financeiro estabelecer suas taxas de juros nas
intermediações financeiras. A diferença entre as taxas praticadas pelos
bancos e a taxa Selic é denominado spread bancário. Outras taxas utilizadas
no mercado financeiro são a taxa CDI, a TR e a TLP.

O Sistema Financeiro Nacional (SFN), também denominado Sistema


Financeiro Brasileiro (SFB), é o ambiente que agrega todas as instituições
que viabilizam a intermediação financeira no país.

O SFN costuma ser dividido em quatro mercados. O mercado monetário


é onde se concentram as operações para controle da oferta de moeda
e das taxas de juros de curto prazo com vistas a garantir a liquidez da
economia. No mercado de crédito atuam diversas instituições financeiras e
não financeiras, prestando serviços de intermediação de recursos de curto e
médio prazo para tomadores que necessitam de recursos para consumo ou
capital de giro. O mercado de capitais tem como objetivo canalizar recursos
de médio e longo prazo para agentes deficitários, através das operações de
compra e de venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre empresas,
investidores e intermediários. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é
o principal órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização
desse mercado. O mercado cambial é aquele onde são negociadas as
trocas de moedas estrangeiras por reais (R$). O Banco Central do Brasil é
o responsável pela administração, fiscalização e controle das operações de
câmbio e da taxa de câmbio atuando através de sua política cambial.
69
Unidade I

A estrutura do SFN pode ser classificada em três subsistemas. O primeiro é o


subsistema normativo, que estabelece as normas do sistema financeiro e fiscaliza
suas aplicações. O segundo é o subsistema supervisor, composto por entidades
que supervisionam o cumprimento das normas. O terceiro é o subsistema
operador, que concentra todas as instituições que fazem a intermediação
financeira entre os agentes superavitários e os agentes deficitários.

As instituições do subsistema normativo são: Conselho Monetário


Nacional (CMN), Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e Conselho
Nacional de Previdência Complementar (CNPC).

As instituições do subsistema supervisor são: Banco Central do Brasil


(BC ou Bacen), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência
de Seguros Privados (Susep) e a Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc).

O subsistema operador é constituído por todas as instituições que


operam no SFN, como os bancos comerciais e múltiplos, caixas econômicas,
corretoras e distribuidoras de valores, bolsas de valores, administradoras de
cartões de crédito, entre outras.

O SFN ainda possui três instituições de apoio, que se situam entre os


subsistemas supervisor e operador: Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica
Federal (CEF) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As instituições operadoras do SFN são todas aquelas que atuam


como intermediários financeiros entre agentes superavitários e agentes
deficitários. Entretanto, existem diferenças importantes entre elas,
relacionadas às atividades que desempenham e se distribuem de acordo
com alguns critérios. O primeiro deles é o critério instituições bancárias e
instituições não bancárias. O segundo se relaciona ao tipo de operações: se
operações passivas, operações ativas e/ou operações acessórias.

Exercícios

Questão 1. Leia o texto a seguir:

“A economia internacional ingressa numa fase de expansão nas três décadas seguintes à Segunda
Guerra, com o aumento do comércio e dos investimentos diretos ultrapassando o ritmo de crescimento
do produto global. Os Estados Unidos, que tinham emergido como a grande potência econômica
no imediato pós-guerra – detendo cerca de 25% do produto e do comércio mundiais –, recuam
para posições mais modestas no decorrer do período, à medida que o Japão e os países europeus
retomam os patamares de produção anteriores à guerra e passam a participar mais ativamente dos
70
MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

intercâmbios globais. O dólar se tinha convertido, entrementes, em moeda praticamente absoluta


nas trocas internacionais, o que suscitou algumas dúvidas sobre seu real poder de compra, uma vez
que o governo americano, pressionado pelas despesas decorrentes dos encargos militares assumidos
no plano mundial (inclusive com a custosa guerra do Vietnã), passou a emitir em ritmo superior ao
crescimento da produtividade na economia dos EUA.

Uma fase de recessão – baixo crescimento e pressões inflacionistas – seria conhecida nos anos 70,
com dois choques do petróleo (1973 e 1979) sucedendo à suspensão da conversibilidade do dólar em
ouro (estabelecida em Bretton Woods em 1944) e se antecipando à crise da dívida na América Latina.”

Disponível em: https://bit.ly/2Q6QHiv. Acesso em: 12 mar. 2020.

O problema enfrentando pelos Estados Unidos ao qual o texto faz referência é conhecido por:

A) Inflação.

B) Recessão.

C) Choques de oferta.

D) Estagflação.

E) Deflação.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a despeito do quadro inflacionário, o problema que os Estados Unidos enfrentaram


no referido período foi uma queda da atividade econômica associada a inflação elevada e persistente,
evento que ficou conhecido como estagflação.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a recessão foi, de fato, um problema no período mencionado. No entanto, o que foi
novo naquele momento foi a associação da queda da atividade econômica com o aumento dos índices
de preços de forma distendida.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: os choques de oferta ocasionados pelos choques do petróleo (1973 e 1979) não se
configuram problema exclusivo dos Estados Unidos no período, nem tampouco é a ênfase do texto destacado.
71
Unidade I

D) Alternativa correta.

Justificativa: a inflação persistentemente elevada associada à queda de atividade econômica mais


pronunciada castigou a economia estadunidense, por ser um evento “novo” e, consequentemente,
carecer de políticas econômicas capazes de debelar o problema com celeridade.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: não houve problema de deflação nos Estados Unidos no período destacado pelo texto.

Questão 2. Leia o texto a seguir:

“A Emenda Constitucional n. 95/2016 foi resultado das Propostas 241 e 55, que tramitaram,
respectivamente, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, alcançando sua votação final
em segundo turno nesta última casa legislativa, no dia 16 de dezembro de 2016. A partir de então,
foram inseridos no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) vários dispositivos que
implementaram um novo regime fiscal com um limite para os gastos do Governo Federal, que vigorará
pelos próximos 20 (vinte) anos. Esse novo regime valerá, portanto, até 2036, sendo o teto fixado para
2017 correspondente ao orçamento disponível para os gastos de 2016, acrescido da inflação daquele
ano. Para a educação e a saúde, o ano-base será [...] 2017, com início de aplicação em 2018. Qualquer
mudança nas regras só poderá ser feita a partir do décimo ano de vigência do regime, e será limitada à
alteração do índice de correção anual.”

Disponível em: https://bit.ly/2TZ5mh4. Acesso em: 12 mar. 2020.

Sabendo da importância do governo na condução da atividade econômica, a mudança na constituição


que convencionou-se chamar de teto dos gastos trata-se de uma política fiscal de cunho:

A) Contracionista, que, coeteris paribus, deve diminuir a atividade econômica em função da


diminuição relativa do Estado na economia.

B) Expansionista, uma vez que, coeteris paribus, deverá atrair mais capital privado, em detrimento do
capital público nos investimentos das atividades produtivas.

C) Contracionista, uma vez que, coeteris paribus, reduz o consumo do governo pelos próximos
vinte anos.

D) Neutra, uma vez que os gatos que o governo deixará de realizar serão supridos pela ação da
iniciativa privada, criando um efeito de deslocamento que anula a perda relativa de importância
do Estado.

E) Expansionista, porque permite que o governo haja de outras formas em alternativa ao uso do
orçamento público.

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MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: o congelamento dos gastos do governo deve impactar o consumo e diminuir os


investimentos, criando um ciclo vicioso que só será interrompido com uma nova emenda constitucional,
revogando e EC n. 95.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há nenhuma garantia segura de aumento do investimento privado na ausência do


investimento público. Em alguns casos, se o estado tem uma participação muito marcante na economia,
uma redução relativa da sua importância pode deprimir o consumo e isso pode reverberar para redução
de investimentos, aumento de desemprego e novas rodadas de diminuição de consumo, indefinidamente.

C Alternativa incorreta.

Justificativa: não há garantia de redução de gasto do governo, há um congelamento dos gastos


reais, o que pode ocasionar a diminuição de importância relativa do Estado na economia. Em valores
nominais, o volume de gastos deve continuar aumentando.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a diminuição do peso do Estado na economia não garante um aumento da participação


da inciativa privada. Além disso, a ação do estado é contracionista, ainda que o “buraco” deixado pelo
estado pudesse ser preenchido pela iniciativa privada.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: no que diz respeito à política fiscal, não existe outra forma de atuação do estado a não
ser pelo uso do orçamento público.

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