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TÓPICOS DE PALEOGRAFIA I
DOCENTE: Prof.ª Susana Tavares Pedro
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Assim sendo, embora os traços das letras não sejam omitidos completamente, este
trabalho terá como foco principal a forma das respetivas letras resultantes, ou seja, da
sua morfologia. Será utilizado ainda como um método auxiliar a medição da largura
média das letras proposto por Gilissen.
2. ANÁLISE
2.1. Comparação e Descrição da Morfologia e do Ductus
2.1.1. Maiúsculas
Foral de Botão
A B C D E F G H I J
Registo do Foral
a b c d e f g h i j
k
l m n
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putting them into words in an unambiguous way. (…) they are based (…) on the
appearance of the page as a whole, and consequently take account of codicological
and ornamental features».
DEROLEZ (2003:7)
Assim sendo, as primeiras impressões não são suficientes para descrever a forma
das letras maiúsculas presentes em ambos os manuscritos, pelo que será necessário
fazer uma descrição mais completa da sua morfologia e do ductus das letras mais
relevantes:
O «a» maiúsculo do Foral de Botão (figura 1 (A)) apresenta linhas mais retas
contrariamente ao «a» maiúsculo que se pode observar no Registo do Foral que
apresenta linhas mais curvas. Os traços do primeiro «a» são ainda mais longos e
compridos do que os traços do segundo. Se verificamos o ductus (figura 3) de ambas as
letras podemos constatar que o «a» maiúsculo do Foral contém um maior número de
traços (cinco traços, três tempos) do que o «a» maiúsculo do Registo (três traços, três
tempos).
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Existem duas formas de «e» no Foral (figura 1 (D) e (E), um mais elaborado que
o outro, o «e» em (E) contém um traço decorativo na curvatura e em ambos nenhum
dos traços se toca. No Registo o «e» apresenta também duas formas (figura 2 (d) e (e)),
uma semelhante ao «e» em (D), porém tal como no «c» apresenta dois traços
decorativos no seu olhal. O mesmo acontece com o «e» em (e) que apresenta os meus
traços decorativos no seu olhal.
O «j» no Foral (figura 1 (F) e (G)) apresenta apenas uma forma porém em (G) a
haste descendente passa ligeiramente da linha de escrita O «j» no Registo (figura 2 (h))
apresenta apenas uma forma onde a haste descendente não passa da linha de escrita e
apresenta um traço decorativo curto à esquerda ligado à cabeça.
O «n» é distintivo em ambos os manuscritos. No Foral (figura 1 (H)) os traços
são mais curvados e no Registo (figura 2 (k)) mais retilineos. No Registo existe um
traço decorativo que separa as duas pernas do «n».
O «o» é idêntico em ambos os documentos conto no Foral (figura 1 (I)) a letra
apresente um traço decorativo no olhal e no Registo (figura 2 (l)) a parte inferior é igual
ao «d» e ao «e».
O «s» é distinto em ambos os manuscritos. Como se pode observar na figura 4,
no do Foral (figura 1 (J)) esta letra é feita com três traços curvos enquanto que o «s» do
Registo (figura 2 (m) é feito com quatro traços. Poré, o tempo de ambos é igual, sendo
três o número total de tempos. No «s» do Registo o primeiro e quarto traço tem um
topo que ascende acima do traço superior, ou de forma mais pronunciada ou menos
pronunciada. Para além disso a cabeça da letras fora um um olhal com o traço
intermédio.
As restantes letras maiúsculas, «f», «g», «l», «m» e «t« (figura 2 (f), (g), (i), (j) e
(n)), apenas se encontram no Registo do Foral.
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2.1.2. Minúsculas
Foral de Botão
Registo do Foral
Se a análise das maiúsculas nos pode levar a querer que se trata de dois copistas
diferentes, a análise das minúsculas neste ponto do trabalho irá meter essa posição em
causa e levantar a hipótese que porventura se possa tratar do mesmo copista. Na tabela
1, apresentada de seguida, estão apresentadas todas as letras presentes no Foral de Botão
e no Registo do Foral que possuem uma morfologia e ductus aproximadamente igual:
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FORAL DE BOTÃO REGISTO DO FORAL
O «e» apresenta também duas formas. O primeiro «e» é formado três traços e o
segundo «e» por. O segundo «r» só se pode observar no Registo. O «h» possui em
ambos os manuscritos uma haste ascendente vertical, que não passa da linha de escrita e
um ombro que ultrapassa essa mesma linha de escrita e formando quase um também um
olhal e com uma saída curva. No «i», «m» e «n» podemos observar que as pernas são
traçadas de forma idêntica assim com os pés de cada letra. O mesmo acontece com as
letras «p» e «q» que apresentam uma haste descente semelhante. O olhal das letras
anteriores, assim como no «o», é também idêntico. O «r» existe em ambos os
manuscritos com duas formas. Um «r» redondo e curvo e o segundo «r» a que Derolez
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designa com “straight r”. As últimas quatro letras («t», «u», «x» e «y») são todas elas
muitos semelhantes, apresentando pernas, curvaturas e hastes traçadas da mesma forma.
Quais são então as diferenças mais relevantes nas minúsculas? Comecemos por
analisar a letra «g»:
Esta letra, apresenta no Foral uma cauda sob a linha de escrita, contrariamente
no Registo que passa dessa mesma linha. O olho em ambos é consideravelmente
diferente uma vez que no Foral o olho é mais aberto que no Registo. Relativamente à
cabeça no Registo este traço é mais perpendicular à linda de escrita contrariamente ao
Foral em que o mesmo traço se encontra com um ângulo mais na diagonal. O número de
traços e tempos, no entanto, é equivalente nos dois manuscritos.
Nesta letra, embora a forma que se pode encontrar no Foral exista também no
Registo, onde a haste é idêntica e o pé também, podemos verificar a existência de uma
outra forma no Registo. Esta forma apresenta um pé com um traço muito mais comprido
do que no formato anterior. O número de traços das duas formas é também diferente, a
primeira forma apresenta apenas um traço feito na vertical enquanto a segunda forma
apresenta dois traços um na vertical e outro na diagonal.
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O caso de maior diferença é na letra «s»:
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Figura 9 - letra «s» minúscula
105 x 7 = 735mm
735 + 15 = 750mm
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750 ÷ 200 = 3,75mm
Medida da coluna=58 mm
Número de letras contadas=200
Número de linhas até à 200ª letra= 8 + 12mm (termina na letra “s” da linha 9)
58 x 8 = 464mm
464 + 12 = 476mm
476÷ 200 = 2,38mm
«In the Iberian Peninsulas (…) a distinctive style of writing was developed for the
production of well-made manuscripts, especially those in the vernacular, which takes
its place alongside Textualis. It has until now not been incorporated within the
Lieftinckian system, although it generally displays the same basic characteristics as
Hybrida. The script is bold, with club-shaped ascenders that are vertical or slope to the
left. It does not exhibit horizontal compression, but contains numerous Gothic fusions,
at least when traced with some care.»
DEROLEZ (2003:172)
Na tabela apresentada em baixo será feita uma comparação entre algumas das
letras minúsculas presentes no Foral de Botão e no Registo do Foral e a respetiva
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classificação de Derolez para as mesmas, para, deste modo, ser possível determinar a
classificação da escrita dos manuscritos.
Cursiva
Portuguese and Spanish Northern
Hybrida and Semihybrida Textualis
Cursiva Antiquor
Southern Textualis
Northern textualis
Southern Textualis
Após esta comparação podemos concluir que ambas as escritas podem ser
classificadas como hybrida. No entanto, o que as distingue são as suas influências. O
Foral de Botão como Derolez (2003:172) afirmou tem um influencia na textualis e o
Registo do Foral tem letras com a influência da escrita cursiva. Assim, devido as estas
diferentes influências, assim como a notória diferença no uso, traço e ductus das
maiúsculas, tal como a diferença na largura média das médias as conclusões finais deste
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trabalho serão que se trata de manuscritos em que a sua escrita igual e é executada por
mãos distintas levando às diferenças e influências apontadas anteriormente.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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