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Filosofia Medieval

É a primeira fase da filosofia que chamamos de medieval que vai do séc V ao séc VII. O que
devemos entender inicialmente:
No surgimento do cristianismo nós temos aí a direta influência da tradição grega na estruturação
do pensamento cristão, na maneira de falar. Isso se deveu por que? Porque a influência da
cultura romana (e, por consequência, a influência da cultura grega, que lhe serviu de base) se
deu pelo domínio do império sobre as regiões nas quais o cristianismo crescia e o processo de
aculturação, que se deu quando o império foi pouco a pouco cristianizado.

Após a morte de Cristo, em Jerusalém, coube a seus discípulos propagarem sua doutrina, mas
foi Paulo de Tarso, um judeu altamente instruído na cultura judaica e helênica, o
principal responsável por difundir o cristianismo por toda a Europa. Originalmente, a
doutrina cristã era vista como uma seita dentro do judaísmo, cujo conteúdo era direcionado
tão somente ao povo hebreu, descendente da casa de Abraão, o pai da fé judaica. A
atividade de Paulo abriu as portas da doutrina cristã para o povo não judeu (os gentios e
os pagãos), e é a partir daí que surge o nome de católico (katolikós), que em grego significa
“universal”. A proposta universalizante da doutrina cristã é inovadora enquanto religião, e
nesse sentido encontra a necessidade de dialogar com a multiplicidade de filosofias e escolas
de pensamentos que prolife-ravam por toda a Europa. A principal questão da filosofia cristã da
época acaba por se tornar a seguinte: como conciliar fé e razão?O Helenismo se torna uma
proposta racional para o cristia-nismo, emprestando instrumentos teóricos para seu
embasamento. Assimilam-se, assim, conceitos filosóficos genuinamente gregos a uma gama de
pensamento herdada do Antigo Testamento judeu. Palavras como arché e logos aparecem
como conceitos fundamentais na forma filosófica do cristianismo, que se constitui enquanto
uma síntese entre fé judaica e filosofia grega.

Então, a gente tem cada vez mais o processo de cristianização circulando naquele território, se
desenvolvendo por pregações dos apóstolos, formando comunidades, ai a gente tem aquelas
comunidades do cristianismo primitivo, Gálatas, Éfeso, Tessalônica, toda essa região, e Paulo
vai ser o cara que vai estar circulando ali pelo império Romano e aos poucos, com bastante
embate no império, o cristianismo se populariza, depois Constantino dá a liberdade de culto aos
cristãos e ai vai rolando uma troca de influencias com o politeísmo romano, depois de um tempo
a religião se torna a oficial do império romano, cria uma unidade tão grande que mesmo depois
da queda do império romano, o cristianismo vai ser a cola da sociedade europeia, do período
gigante que conhecemos como Idade Média.

E nesse sentido, temos dois períodos da filosofia medieval, a patrística:


O nome é uma derivação parcial do termo Pater, que em português pode-se traduzir como
“padre”, o que demonstra a inspiração tanto na figura religiosa quanto na ideia de “pais da fé”,
dado o papel de fundadores.Todos os pensadores que desenvolveram suas teorias nesse
período exerceram um duplo papel: de um lado, eram responsáveis por suas comunidades
cristãs e desenvolviam sua fé na prática; de outro, escreviam obras que fundavam os
dogmas e as teses da Igreja.
Assim como padres que precisam dar vazão e resposta para a insegurança na fé demonstrada por
seus fiéis, os primeiros pensadores cristãos tentavam responder aos questionamentos e às
comparações com o pensamento clássico, como será visto nos filósofos apologistas e, de modo
direto, nas obras de Agostinho.
E pra esses primeiros pensadores cristãos a missão deixada por Cristo “Ide e pregai o evangelho
a toda criatura” não fica muito fácil, porque lembra que eu disse lá no inicio que a sociedade em
que eles estavam em contato era aquela sociedade que tinha contato com a filosofia clássica
grega? Então haverão muitos embates de pensamento entre fé e razão, e eles vão ter que levar
uma nova relação entre essa fé e essa razão para que os pagãos entendam as várias novas ideias
circulantes:
DOGMAS:
Criação do mundo, pecado original, encarnação e morte, juízo final, ressurreição.
Para a maioria desse pessoal, a criação do mundo se torna absurda, pois desde Parmênides os
fiosofos gregos já tinham a noção de que o ser não pode vir do não ser, a criação não pode
existir do nada, o mundo sempre existiu e os deuses sempre existiram. Não existe essa
concepção de um Deus pré-existente que vai criar as coisas depois do nada.
O pecado original também se torna inconcebível pois coloca o ser humano num movimento de
inferioridade, pois o pecado inicial de adão e eva leva toda a humanidade à desgraça, fazendo
com que o ser humano desde o seu nascimento esteja no erro e tenha que se voltar pra deus até o
fim de sua existência para pedir perdão, nunca atingindo a perfeição. Para os gregos isso é
totalmente impensável a impossibilidade de chegarmos a perfeição. Arístoteles entendia que
devíamos exercitar nossas virtudes ao máximo para chegarmos e externarmos a nossa
divindade. Para o pensamento clássico isso era impensável
E esses conceitos são dogmas, são verdades que não podem ser colocadas em contradição, que
devem ser aceitas, não podem ser criticadas. “Então você ta trazendo uma verdade que eu não
posso discutir sobre ela? Não posso colocar a prova?”
Então foi por isso que nesse início foi necessário
Já durante o segundo século da Era Cristã, notabilizaram-se figuras que, de alguma
maneira, mantinham a tradição grega do filosofar, fosse se colocando a favor de seus
predecessores, fosse discordando. A corrente predominante, nesse momento, era repre-sentada
pelos padres denominados apologistas. Tal termo deriva de “apologia”, que designa uma
defesa qualificada ou elogio. Esses pensadores, após sua conversão, formulavam textos
audaciosos de apoio aos princípios cristãos, e, de certa maneira, prestavam uma
elucidação sobre eles. Os textos se voltavam principalmente para os inúmeros pagãos da época.
Por terem se convertido, tinham como poucos a clareza do que inquietava os fiéis, tornando seus
escritos fundamentais à construção do cristianismo. Podem-se citar, nesse sentido, Teófilo
de Antioquia, Aristides de Atenas, Taciano, Atená-goras de Atenas e o mais reconhecido
entre eles, visto por muitos como um símbolo da tradição cristã filosófica, Justino Mártir
JUSTINO
Justino fez uma curiosa ligação entre os termos clássicos da Filosofia grega e a tradição
cristã. De acordo com ele, o logos (discurso verdadeiro que se revela, na visão dos gregos)
foi um anúncio da compreensão da verdade, que só se fez concreta na figura de Jesus.
Esse filósofo apologista inaugurou com seu pensamento a percepção de que os pensadores
gregos tenderiam, de certa maneira, para a visão cristã, mas esta não teria se frutificado porque
ainda faltava a vinda de Cristo. Em muitas de suas obras, Justino critica a religião pagã grega,
que estava na base dessa cultura, e tenta expor que a Filosofia grega era contrária ao paganismo
em sua raiz.

Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (184-254 d.C.) têm sua importância
destacada por serem os primeiros pensadores a procurarem assimilar o pensamento
platônico à doutrina cristã. Como São Justino, ambos entendem a Filosofia, por um lado,
como um instrumento teórico para a Teologia, e por outro, como uma preparação do espírito
para a revelação cristã. Os teóricos da patrística tendem a considerar os pensadores da Grécia
Clássica, por exemplo Sócrates, Platão e Aristóteles, como preparadores do cristianismo, por
sua sabedoria e virtude, colocando-os em uma posição na qual os filósofos clássicos
estariam para os gentios como os profetas do Antigo Testamento estão para o povo hebreu

Santo Agostinho

E aí a gente tem o mais famoso que é Santo Agostinho ou Agostinho de Hipona, era um cara
que antes de se converter ao cristianismo era um cara que viveu aí outras linhas de pensamento
em sua vida. Tendo vivido de 354 d.C. a 430 d.C., o filósofo é oriundo do norte da África, fruto
da união entre mãe cristã e pai pagão, o que já expõe um pouco da dicotomia que acompanharia
sua vida. No início de sua vida adulta, formou-se em retórica e, com o avançar da idade, aderiu
ao maniqueísmo, uma escola que via o mundo dividido entre as forças do bem e do mal, o bem
e o mal são o que constituem o mundo, estão no fundamento de todas as coisas . Após algumas
desilusões com os líderes dessa crença, Agostinho procurava respostas mais profundas,
respostas concretas e o maniqueísmo não pôde suprir isso, o próprio pensador maniqueísta da
época Fausto, alegou que o maniqueísmo não podia surprir as suas duvidas.
Agostinho aderiu ao ceticismo, que ganhava força na região de Cartago, onde viveu por
um razoável tempo. Nenhuma dessas crenças preencheu o vazio que Agostinho sentia, que
depois em suas obras vai mostrar que era Jesus Cristo
Só depois, la no final da sua vida, se converteu ouvindo os sermões de Santo Ambrosio, um
grande orador que chegou a emocionar Agostinho e cai em lágrimas.
Em maior contato com as epístolas de Paulo, conseguiu enxergar o ato íntimo que é a
conversão. E se batizou com seu filho. Agostinho em sua obra aponta uma relação que não
tinha sido oficializada como casamento, durando 13 anos, um noivado e uma relação posterior.
Só la em 391 que ele vai ser sacerdote em Hipona, primeiro como bispo auxiliar e depois como
bispo principal.
Como a gente viu antes, Agostinho já tinha contato com a filosofia, então muito da filosofia
Platonica e neoplatônica vai estar no seu pensamento. E dessa forma vai conseguir equalizar a
relação entre fé e razão. Platão entende um mundo sensível e um mundo inteligível, que o
mundo onde estão todas as verdades está no mundo das ideias e o sensível é uma cópia
imperfeita, vai atrair o olhar de Agostinho. Agostinho vai enxergar Platão como alguém que
estava explicando a fé cristã, sem saber que estava explicando a fé cristã.
Quando Agostinho começa a harmonizar as ideias filosóficas com o cristianismo, nós vamos ter
a ação do Filosofar na fé.
Para ele a fé é a substancia da vida, é a substância do pensamento, não existe um pensamento
sem a fé:
“Creio para entender e entendo para crer” É nisso que ele vai elaborar a teoria da iluminação
Uma das mais importantes passagens da teoria agostiniana aborda o conceito de
iluminação. A abordagem de Agostinho se funda, assim como qualquer teoria do
conhecimento, na busca pela verdade. Contudo, revelando-se um importante pilar da
religião e com uma fé inabalável, esse filósofo acredita – e usa sua vida para
exemplificar isso – que a intervenção divina é necessária e anterior à razão, para que de
alguma maneira seja possível atingir o conhecimento da verdade.
Para ele, a razão possui um papel fundamental na obtenção do conhecimento, mas ela só
consegue atingi-lo se anteriormente essa verdade for iluminada pela luz divina. Funda então
uma ontologia, ou seja, uma definição de ser que afirma que, antes de se conhecer, é necessário
crer, e de certo modo buscar se aproximar de Deus, como alguém que, para ver melhor no
escuro, se aproxima de uma vela ou lanterna. De certa maneira, o próprio conhecimento é fruto
da graça divina, ou seja, da vontade de Deus que se conheça sobre a realidade.
Razão e fé são conciliáveis, mas a razão sempre submissa a fé.
1º tema: Homem
O grande problema que nós temos que voltar a nossa atenção é o homem, não aquele homem
abstrato dos gregos, mas um homem concreto do dia-a-dia, um homem pecador, um homem que
acerta, erra, que é feliz, fica triste, ou seja, nós temos que nos voltar para nós mesmos, não um
homem universal em comum para nos guiar. Temos que buscar o homem na sua
individualidade, olhando para nós mesmos, encontramos Deus. Isso porque Agostinho tem uma
visão parecida do homem de Platão, corpo e Alma. E olhando para sua própria alma, ele vai
encontrar Deus e encontrando Deus vai entender mais ainda a sua alma, encontrando a paz e
uma vida tranquila.
Esse conhecimento pode ser interpretado desse modo porque Agostinho propõe Deus como a
verdade em essência, instituindo o homem apenas como participante da verdade. Este, por
sua vez, possui uma centelha divina, que pode se incendiar mais ou menos, dependendo
do esforço de cada homem e dos desígnios de Deus. Mesmo com influência do platonismo
tardio, as propostas de Platão e Santo Agostinho são distintas. A teoria de Platão não fincava a
verdade em nada externo às próprias ideias da razão de sua existência, enquanto Agostinho
claramente as sustentava tendo Deus como base.

2ª questão: origem do mal


O ponto é fundamentalmente o seguinte: se há apenas um Deus, não há força contrária a ele, e
ele é sumamente bom, de onde deriva o mal? A resposta a essa questão exige que se remeta a
uma definição anterior: Agostinho aponta que o mal não existe.
se o mal não existe, o que é isto que vemos como mal, então? Agostinho não nega a
valoração de algo como mau, enquanto um fenômeno da existência humana, ele nega sua
consistência real, isto é, propõe que o mal não foi criado, é apenas aquilo que se percebe quando
o bem e a verdade se ausentam. Para simplificar, pode-se remeter a uma explicação física:
basta pensar no frio. O frio de fato não existe, apenas temos o calor e a ausência dele. O
mesmo é com a luz, a escuridão é apenas o momento em que a luz não se faz presente. De
acordo com isso, fica a seguinte reflexão: como o bem se ausenta?

pelo Livre Abítrio:

Para Agostinho, Deus forneceu ao homem, junto com sua razão, a sua liberdade. Por ter
como um dom, concedido por Deus, a escolha de suas ações, ou seja, sua liberdade, o homem só
pode agir de acordo com o bem ou gerar a ausência dele. A liberdade é, na realidade,
um acompanhante necessário da racionalidade e da justiça. Se o homem não fosse livre,
como poderia manifestar justiça e ser elogiado por suas ações ou ser condenado por seus
pecados? Glória e punição só fazem sentido para aquele que pode, de alguma maneira, escolher.
Se ser justo é um dos atributos divinos, o homem deve ser livre.Agostinho assume que toda a
criação foi feita de uma vez, isto é, Deus teria criado o tempo, sendo anterior a ele. Desse modo,
todos os passos foram determinados de acordo com a vontade divina. Contudo, como
pode haver livre escolha se tudo é determinado? Essa questão está na base da divergência entre
os deterministas e aqueles que defendem a liberdade.Segundo Agostinho, que tudo tenha tido
um início deter-minado não interfere no livre-arbítrio. Apenas Deus vê o tempo
conforme a criação; o homem vive no tempo e tem suas ações resultando em
consequências. Em outras palavras, Deus conhece as consequências, mas o homem exerce a sua
liberdade em cada ato; Deus apenas possui clareza de como ele vai exercê-la.

DAS DUAS CIDADES

Em sua obra Cidade de Deus, Agostinho pensa a estrutura civil a partir da divisão da
cidade em cidade de Deus e cidade dos homens. Nessa obra, Agostinho trabalha a ideia de
cidade como uma “multidão de homens vivendo em mútua harmonia”, na qual se pode dividir
as pessoas tal qual a divisão clássica entre os dois filhos de Adão, os irmãos Abel e Caim, filhos
do mesmo pai, mas que buscam coisas diferentes. Enquanto uns amam o bem e a Deus acima de
si mesmos, outros amam o mal, ao adorarem mais a si mesmos do que a Deus. Essa divisão,
contudo, não está na cidade, mas em cada ser humano.

Escolástica:

Durante esse período, muito do que se desenvolveu anteriormente, mas que de alguma forma
destoava das teorias religiosas, passou a não ter importância ou a se tornar oculto. Pouco a
pouco, a produção de conhecimento começou a se concentrar nas estruturas religiosas
principais, como mosteiros e centros de estudos da Igreja. De certa maneira, a estrutura feudal
que foi se formando na Europa tornava interessante para as camadas mais poderosas a
manutenção de uma população iletrada e com acesso restrito ao saber, visto que, em qualquer
período histórico, conhecimento é poder. Nesse sentido, vamos entender como o conhecimento
passou dos bispados (St agostinho etc etc) e passou para as universidades cristãs, no período que
conhecemos como escolástica

Antes do século XIII, diversas estruturas começaram a se modificar na Europa, gerando


uma transformação séria na repercussão que a Filosofia tinha provocado até então. Diversas
traduções comentadas passaram a emergir no cenário universitário europeu,
principalmente as realizadas por judeus e árabes das obras clássicas de Aristóteles. Essas
interpretações e traduções combatiam as ideias da igreja.
A primeira posição da Igreja, nesse sentido, foi a proibição e a crítica severa àqueles que
utilizassem tais obras em seus estudos. Só que todas as teorias e proposições colocadas
como verdades inquietantes nas teses de Aristóteles que se revelavam não conseguiriam ser
mantidas sem repercussão durante muito tempo.

E o que foi feito? Mais uma vez a aproximação de filósofos clássicos com as ideias cristãs.
Nesse cenário, a Igreja passou a propor que os mais proemi-nentes teóricos desse período
optassem por traduzir as obras do filósofo grego. Essa decisão tinha dois objetivos: o
primeiro era fazer uma leitura cristã da doutrina aristotélica, e o segundo era retomar o
poder que se descentralizava aos poucos quando outros pensadores não cristãos começavam a
promover ciência. E como principal representante dessa missão temos Tomás de Aquino.

Cristianização do Aristotelismo:

Mostrar o aristotelismo como um grande instrumento para compreender as escrituras divinas.


Para isso ele vai criar a Suma Teológica: que é uma série de diálogos com os árabes, com
Aristóteles, com a própria Bíblia e vai partir das premissas teológicas e colocar os filósofos pra
debater essas premissas. Um grande diálogo sempre tendo por meta revelar a verdade para as
pessoas.

FÉ X RAZÃO
Além disso, São Tomas dá um valorizada na razão quando ele sai um pouco da ideia de
Agostinho e diz que devemos entender para crer. Não é que se não entendermos nós não iremos
crer, mas entendendo, nós reforçamos mais ainda a nossa fé. A filosofia vai nos dar um
conhecimento imperfeito sobre as coisas e a teologia vai trazer o esclarescimento, através da fé
há a melhoria da razão, a graça aperfeiçoa a natureza. Não adianta querermos entender as coisas
sem nos permitirmos ser alcançados pela graça.
DEUS
Além disso, discorda no sentido de que é desnecessário comprovar a existência de Deus e que o
conhecimento do próprio Deus é inacessível.

Aquino na verdade vai entender que a visão completa de Deus realmente é inacessível, mas que
as evidências da existência de Deus existem e podem ser acessíveis para todos, assim ele toma
essa acessibilidade a todos da existência de Deus como uma missão a ser seguida.

Para ele o objeto e investigação da filosofia e da teologia tem que ser Deus, e para ele o
conhecimento tem origem nos sentidos, eles nos possibilitam a compreensão da verdade. Mas,
somente os sentidos não são capazes de captar o conhecimento sozinhos, entra aí a função do
intelecto que é: perceber as qualidades sensíveis das coisas e realizar a transformação em
conceitos.

verdade natural x verdade revelada

As primeiras verdades são aquelas acessíveis ao conhecimento natural e que chegam ao


indivíduo pelo processo descrito anteriormente. São verdades que se revelam ao intelecto a
partir do esforço da própria razão. Estas foram se mostrando ao longo da história do
pensamento humano. O segundo tipo de verdades refere-se àquelas que ultrapassam as
capacidades naturais e a própria razão. Estas não são alcançadas em uma busca racional, sendo,
então, verdades reveladas. Enquanto as primeiras devem ser demonstradas, as segundas são
de demonstração impossível. Para Aquino, o conhecimento acerca de Deus é o mais alto
e valoroso ponto dos saberes humanos. Todo ato humano de conhecimento tende para a
busca de se conhecer a Deus, já que Ele é a satisfação perfeita para a qual nossos atos
tendem. Se Aristóteles coloca o conhecimento metafísico em um grau superior ao
sensível, o conhecimento de Deus, para São Tomás, é superior a todo conhecimento
metafísico. Diante disso, surge a seguinte questão: os dois conhecimentos acerca de
Deus são contraditórios? Para São Tomás de Aquino, não. A sabedoria divina é a mesma ao
fornecer as bases para a razão e as verdades reveladas. A verdade alcançada pelo conhecimento
natural concorda com a fé, e não a contradiz. Apresentar as provas da existência de Deus é,
assim, a melhor forma de garantir essa explicação

E aí teremos as 5 vias para provar a existência de Deus

VIA DO MOVIMENTO
A existência do movimento é um fato. É uma verdade tão evidente que, com exceção de
Parmênides, poucos tentaram negá-la. Como um bom leitor de Aristóteles, Tomás de Aquino
sabia que, antes de um algo movimento, é necessária a existência de um motor. Para que algo se
movimente, é indispensável a que atue sobre ele, transformando sua potência (possibilidade de
movimento) em ato (movimento). Nada pode estar em ato e potência ao mesmo tempo, sendo
causa de seu próprio movimento inicial. Pela impossibilidade de regredir ao infinito, se
propõe que haja um motor imóvel, e, consequentemente, que o movimento precisa ser
ato puro, ou seja, ser plenamente realizado, não possuir potências que não se
concretizaram. O único conceito que a mente humana concretiza, com tais atributos, é Deus.

VIA DO CONTINGENTE E DO NECESSÁRIO


dúvida é a seguinte: o mundo foi criado na eternidade (anterior ao tempo) ou no
tempo? Para Tomás de Aquino, não existe como provar a criação do mundo no tempo ou na
eternidade; é uma conclusão compreensível apenas por meio da revelação da fé.

existem dois tipos de permanência na realidade: as coisas que surgem e se extinguem,


que são contingentes, e as que desde sempre existiram. Tudo aquilo que não existia e passou a
existir não existe por si mesmo, sendo, portanto, criação.

Esse pensamento conduz a outra complicação: se só existissem seres contingentes, nada


existiria. Têm de existir, então, para além do conceito, seres necessários para outras
existências É preciso a existência de um ser cujas existência e essência sejam simultâneas, ou
seja, um ser atemporal. E novamente Deus aparece como resposta

Via dos graus de perfeição

Todas as coisas, quando comparadas em sua unidade, apre-sentam aspectos diversos. Em


dois objetos semelhantes, verifica-se na diversidade a possibilidade da comparação. Contudo,
ainda que nessas comparações não haja o parâmetro máximo, ele se anuncia. Um exemplo:
existem dois prédios de alturas diferentes. Sabe-se qual é o mais alto e conhecem-se alturas
superiores a ambos. Dessa forma, consegue-se criar conceitualmente a ideia de que existe algo
que seja extremamente alto, o objeto mais alto possível. Quando se associa essa ideia a
conceitos mais abstratos, como perfeição, verdade e beleza, parece que, por mais que os
conceitos sejam explorados até o que lhes é superior ou último, isso ainda não possibilita
uma compreensão completa, e o conceito de algo extraordinariamente perfeito novamente
aparece. Esse ser extraordinariamente perfeito é Deus, segundo a filosofia de Aquino

DESCARTES E O RACIONALISMO

Foi considerado pai da filosofia moderna, estamos falando do francês Rene Descartes.
Ele era um cara racionalista e o que isso quer dizer? Que o individuo através de sua
racionalidade chegava ao conhecimento do mundo. Apenas a razão poderia nos levar a isso, pois
os sentidos nos enganam.

Onde ele estava inserido? la no final do século 16, inicio do 17. Descartes tá ali no meio do
olho do furacão, no ponto de tensão e ruptura da Idade Média e da Idade Moderna. Dessa
maneira ele tem todo um embate religioso, como por exemplo a Reforma Protestante, novos
modelos de governo surgindo com a ascensão do Estado Moderno, o abandono dos moldes
feudais, etc.

Mas, a educação estava inserida onde? Na escolástica. o filósofo tem a base de sua educação
construída a partir dos ensinamentos dos jesuítas. Acredita-se que essa influência foi essencial,
fornecendo inclusive os alicerces do pensamento do qual ele posteriormente duvidaria em seus textos.
Em algumas de suas obras, é possível encontrar referências a essa formação e verificar uma crítica à
estrutura pouco direta do pensamento escolástico.

O que isso quer dizer? Que quando Descártes se forma, ele vai perceber que a escola que deveria ajuda-lo
no mundo prático, na vida, na realidade, não vai lhe servir de muita coisa e dessa forma, olha a ciência
tendo um determinado progresso fora dessas universidades e colégios.
Nas universidades só o que os caras faziam era discutir e não chegavam a nenhuma conclusão.

E dessa forma ele percebe que a filosofia tem verdades contestáveis, que não da pra ter uma certeza
universal para todas as coisas e lugares indefinidamente. Existe a filosofia com a sua discussão sem fim e
fora da filosofia existia a ciência com um determinado progresso. Ele percebe que tem que contestar toda
essa formação escolástica que ele recebe e começar a unificar o conhecimento com o conhecimento
científico, pois para ele, o conhecimento é um só e deveria haver um sistema de conhecimento e a partir
de princípios todo o conhecimento seguinte é derivado.

Árvore do Conhecimento:
Primeiro vem a metafísica, a raiz, , que vai nos dizer quais são os primeiros princípios que vão nortear
todo o conhecimento

Depois temos a física que vai fundamentar as ciências, os frutos dessa árvore: a mecânica, a medicina e a
moral.

A física estando no tronco da árvore dando sustentação pras outras ciências, percebemos que a filosofia
do descartes é mecanicista: o mundo é formado apenas de corpo e de movimento. Nós só progredimos
observando os corpos e a movimentação desses corpos

Mas e a matemática? Porque ela não está inserida nesse esquema da árvore logo o cara do Plano
Cartesiano, da geometria analítica, Descartes que era um grande matemático? Porque ela está num plano
maior, ela vai ser o FUNDAMENTO das ciências particulares e traz verdades incontestáveis,
diferentemente das verdades trazidas pela filosofia escolástica. E a árvore inteira é formada por verdades
incontestáveis

E aí temos o DISCURSO DO MÉTODO:


Descarte nos mostra como pensar de forma certa e segura, seguindo a matemática, ela vai nos possibilitar
a chegar em um método que nos leva a ideias evidentes, claras e distintas. Essas ideias são as verdades
incontestáveis que fundam as ciências particulares. E através disso, abandonamos as verdades
contestáveis da filosofia escolástica.

A simplificação cartesiana, então, é composta de quatro regras fundamentais: não aceitar uma coisa como
verdadeira se esta não for evidente enquanto tal, ou seja, não pode restar qualquer dúvida de sua certeza;
para simplificar a análise dos problemas, dividi-los em partes, o quanto for necessário, para evitar o erro;
promover a síntese, galgando certezas dos elementos mais simples aos mais complexos; e, por fim,
enumerar e revisar cada um dos processos, com o intuito de facilitar verificações futuras e garantir a si
mesmo que o erro não ocorreu

MEDITAÇÕES METAFÍSICAS

Aqui ele aprofunda mais ainda como chegamos às verdades que estão no fundamento da árvore do
conhecimento, é a sua raiz. Aqui ele coloca a duvida metódica e o caráter hiperbólico. Duvidar de tudo
aquilo qe a gente conhece, quer fundar um novo conhecimento duvidando de tudo aquilo que conhecemos
até aqui, até dos nossos sentidos.

Eu tenho todas as ideias fornecidas pela tradição e com a dúvida metódica eu tenho um filtro que vai me
permitir filtrar todas as ideias claras, seguras, evidentes, vendo o que eu posso absorver e sustentar. Essa
duvida é tão radical que ele vai duvidar de tudo, absolutamente tudo, até de sua própria existência. O tom
hiperbólico se deve ao fato de essa dúvida se estender a toda e qualquer certeza. Feito isso, deve-se examinar
cada uma das certezas anteriores, para então verificar se, após a análise, resta alguma certeza

Mas se os nossos sentidos são duvidosos, Descartes questiona a própria capacidade humana de conhecer,
como chegar a essas certezas?
Pondo em dúvida os sentidos, Descartes questiona a própria capacidade humana de conhecer. Os sentidos
eram, desde a Metafí-sica, de Aristóteles, a base do conhecimento. Descartes ataca, então, toda a Ciência
clássica ao pôr em dúvida os sentidos.

Os sentidos são responsáveis por quase tudo o que se conhece e, embora seja fácil reconhecer os seus
limites, parece impossível negar todas as certezas obtidas por meio deles. Como duvidar, por exemplo,
de estar tendo essa aula agora? Como duvidar da percepção imediata, daquilo que parece óbvio e
inegável? Para alcançar uma dúvida tão ampla, Descartes se ampara na possibilidade de ilusão. Todos, em
algum momento, já experienciaram um sonho que parecia muito real e que só se revelou falso no momento
em que se acordou. O que garante, então, que não estamos sonhando neste momento? Pode parecer
absurdo, porém é preciso lembrar que Descartes procura eliminar quaisquer possibilidades de dúvida. Em
outras palavras, ele duvida por uma questão de método. Porém, mesmo na ilusão, algo se manterá.

Deus enganador e radicalização máxima da dúvida com o gênio


maligno
Um último argumento colocará em dúvida até os elementos mais simples e diretos da percepção, que
pareceram resistir a toda e qualquer possibilidade de questionamento. Esse argumento se divide em
duas partes. A primeira se apoia em questionamentos anteriores da escolástica que agora reaparecem:
Deus é colocado como um elemento hipotético, ou seja, sua existência ainda não foi garantida. Mas,
enquanto hipótese, ele pode ser considerado como “todo-poderoso”, e, enquanto onipotente, nada o
impediria de enganar, mesmo nos elementos mais básicos. Nesse sentido, é lançada a perspectiva do Deus
enganador. Contudo, talvez esse argumento fracassasse quando alguém questionasse o fato de que um
Deus “todo-poderoso” seria sumamente bondoso, e, por isso, não poderia enganar. Descartes então
mobiliza a segunda parte do argumento, nos colocando um artifício psicológico, transformando o Deus
enganador em um gênio maligno, tão hipotético quanto o Deus “todo-poderoso”. Em suma, com o gênio
maligno, Descartes ressalta que pode existir um elemento, seja qual for o nome que se dê a ele, que seja
externo à humanidade (ou até natural da consciência, mas ainda desconhecido) e, portanto, incontrolável.
Assim, esse elemento seria capaz de enganar a todos em tudo, mesmo naquilo que parece impossível.
Enfim, tudo é, finalmente, dúvida: não há mais certezas seguras

Então até aqui só temos dúvidas e mais dúvidas:

Duvidando de tudo, podemos perceber que não podemos acreditar em nada, duvidando de tudo,
duvidando de tudo, da pra perceber que se eu duvido é porque eu estou pensando e se eu penso.... eu
existo. Então ele chega ao primeiro principio do seu conhecimento sistemático: PENSO, LOGO EXISTO.
Isso é uma ideia que já está na minha mente, é uma INTUIÇÃO.

Ele vai revolucionar a a filosofia moderna colocando o HOMEM como centro de tudo, inaugurando ai
uma ruptura com a filosofia escolástica.

E AÍ quais são as outras certezas já que eu sei que eu existo?


Ao chegar à certeza do cogito, Descartes obteve somente a primeira certeza; contudo, essa verdade
isolada de nada adianta. Reconhecer que a própria existência é indubitável não torna nem o mundo exterior
nem os outros, a princípio, evidentes, e, por fim, isso nem mesmo define o que se é, apenas garante que
se é. Se Descartes quer criar um método seguro e indubitável, ele precisa garantir certezas para além de sua
própria existência.Descartes conclui, portanto, que só pode chegar à realidade a partir da garantia de
seu próprio pensamento. Ao perceber tal fato, entende que pode duvidar da correspondência do que
pensa com a realidade, mas não do fato de que pensa naquilo que pensa, pois quem pensa, pensa sobre algo.
Precisa encontrar, então, entre suas ideias, uma que seja evidente e impossível de ser posta em dúvida.
Em outras palavras, mesmo na ilusão, as ideias ilusórias não deixam de existir, elas apenas não correspondem
ao real. Como é impossível garantir o que é real, só se pode garantir a evidência de uma ideia a partir do
momento que tal evidência não necessitar de qualquer correlação.Como parte de seu próprio método, o
autor divide as ideias em três tipos: aquelas que são fruto das experiências (ideias adventícias), que são
diretamente afetadas pela dúvida sobre os sentidos; as que são formadas por elementos da experiência,
mas não obrigatoriamente correspondem ao real (ideias imaginativas);e, por fim, aquelas que independem
de qualquer experiência e acompanham o sujeito desde o seu nascimento, não se dobrando perante a
dúvida sensível (ideias inatas).

As únicas ideias que sobrevivem à dúvida são aquelas conside-radas inatas, por não exigirem a
correspondência com o real. Entre elas, Descartes enumera duas que correspondem a esse pré-requisito: as
ideias de infinito e perfeição. A questão fundamental é a seguinte: como alguém poderia ter a ideia de infinito
e perfeição se vive em uma realidade marcada pela finitude e imperfeição? A única possibi-lidade é que tenha
sido criado por um ser perfeito – já que, se assim não fosse, esse ser também não teria deixado a ideia de
perfeição – e que ele tenha deixado no sujeito pensante essa ideia. Portanto, a ideia inata de perfeição exige
uma causa, e essa causa é Deus.No entanto, Descartes, ao provar a existência de Deus, não pretende
iniciar um movimento religioso. A ideia de perfeição exige uma causa, e essa causa é a ideia de Deus, que seria
outra ideia inata; portanto, a sua existência é a única possibilidade. Nesse sentido, ele utiliza Deus
como um artifício para dar consistência ao real. Na medida em que Deus existe, enquanto externo ao
pensamento do homem, o mundo externo tem a sua existência sustentada, cabendo agora aplicar o
método e verificar aquilo que é evidente e aquilo que não se aplica. Dado que Deus é perfeito, ele não pode
ser enganador. Portanto, volta-se à posição de certeza anterior ao argumento do gênio maligno, e dispõe-se
de elementos objetivos evidentes, como as grandezas e as estruturas simples, como as da Matemática, para
construir a Ciência

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