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equilíbrio contratual
O equilíbrio expressa-se, nas palavras de Jean Garnier, na ideia de perfeição.8 Entretanto, tal
perfeição não se traduz, necessariamente, em correspondência objetiva entre os valores ou
em prestações quantitativamente equivalentes. Busca-se, a rigor, atender aos interesses e
anseios de ambas as partes no caso concreto, manifestados por meio do sinalagma ou da
correspectividade entre as prestações estabelecida pela autonomia privada.
O ordenamento jurídico brasileiro promove o princípio do equilíbrio econômico dos contratos,
introduzido no sistema como novo princípio de direito contratual, dotado de plena autonomia,
ao lado da boa-fé objetiva e da função social do contrato.
O princípio do equilíbrio contratual encontra seu fundamento e justificativa no valor
constitucional da livre iniciativa, previsto nos arts. 1.º, IV;9 170, caput,10 Constituição da
República, na medida em que o respeito à alocação de riscos estabelecida pelos contratantes,
no decorrer da vida contratual, que exprime o equilíbrio econômico entre as prestações, nada
mais representa do que a obediência ao valor da autonomia privada. Por isso mesmo, a
perturbação desse equilíbrio deve ser combatida por meio dos mecanismos postos à
disposição pelo ordenamento jurídico.
3 Idem, p. 39.
4 Sobre o tema, v. Guido Alpa, Rischio. Enciclopedia del diritto. Milano: Giuffrè, 1989. vol.
40, p. 1158. Em que o autor passa em revista critérios que devem orientar o juiz na
repartição dos riscos, dentre os quais o exame da qualidade das partes; da prestação
(fungível, infungível etc.); e da função econômica do negócio.
5 Profili del problema dell'equilibrio contrattuale. Collana diritto privato. Università Degli Studi
di Milano. Dipartamento Giuridico-Politico: sezione di diritto privato, Milano: Giuffrè, 2004.
vol. 1, p. 44; tradução livre.
7 Sobre o tema, seja consentido remeter a Paula Greco Bandeira, Contrato incompleto, Rio
de Janeiro: Atlas, 2015, passim.
8 "É tão nobre tender ao equilíbrio quanto à perfeição; pois existe perfeição na observância
do equilíbrio" (tradução livre). Jean Grenier, invocado por Didier Matray et Françoise Vidts,
identifica o equilíbrio como a própria perfeição, que há de ser almejada pelos contratantes
(Les clauses d'adaptation de contrats, cit., p. 100).
9 "Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: (...) IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (...)".
11 No direito italiano, destaca Aldo Boselli: "as cenas precedentes esclarecem que este
princípio é fruto de tempos modernos caracterizados pela progressiva acentuação da
sensibilidade dos ordenamentos às exigências da socialidade e da correspondente mitigação
do rigor com o qual, até época recente, foi compreendido o princípio da imutabilidade dos
pactos contratuais" (Eccessiva onerosità. Novissimo digesto italiano. Torino: Utet, 1957. vol.
6, p. 332; tradução livre).
12 Sobre os novos princípios contratuais, cf. a lição de Gustavo Tepedino: "A boa-fé objetiva
atua preponderantemente sobre a autonomia privada. O equilíbrio econômico da relação
contratual, por sua vez, altera substancialmente a força obrigatória dos pactos, dando ensejo
a institutos como a lesão (art. 157 do CC), a revisão e a resolução por excessiva onerosidade
(arts. 317, 478 e 479 do CC). E, a função social, a seu turno, subverte o princípio da
relatividade, impondo efeitos contratuais que extrapolam a avença negocial" (Novos
princípios contratuais e a teoria da confiança: a exegese da cláusula to the best knowledge of
the sellers. Gustavo Tepedino. Temas de direito civil, Rio de Janeiro: Renovar, 2006. t. 2, p.
250-251).
14 "Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio."
15 V., sobre o tema, o interessantíssimo trabalho de Gustavo Tepedino, Notas sobre a
cláusula penal compensatória. Gustavo Tepedino, Temas de direito civil, cit. t. 2, p. 47 e ss.
17 "Art. 770. Salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no curso do contrato não
acarreta a redução do prêmio estipulado; mas, se a redução do risco for considerável, o
segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do contrato".
18 Sobre o tema, seja consentido remeter a Paula Greco Bandeira, Contratos aleatórios no
direito brasileiro, Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p. 129. Neste particular, aprovou-se o
enunciado 440 na V Jornada de Direito Civil, o qual autoriza a incidência da excessiva
onerosidade em contratos aleatórios. Confira-se: "Art. 478: É possível a revisão ou resolução
por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde que o evento superveniente,
extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato" (Disponível
em: [www. cjf.jus.br/CEJ-Coedi/jornadas-cej/enunciados-aprovados-da-i-iii-iv-e-v-jornada-
de-direito-civil/jornadas-cej/v-jornada-direito-civil/VJornadadireitocivil2012.pdf]. Acesso em:
02.11.2015. p. 159). Vale, ainda, destacar o Enunciado 583, aprovado na VII Jornada de
Direito Civil, que assegura a aplicação da disciplina dos vícios redibitórios aos contratos
aleatórios, com o seguinte teor: "O art. 441 do CC/2002 (LGL\2002\400) deve ser
interpretado no sentido de abranger também os contratos aleatórios, desde que não inclua os
elementos aleatórios do contrato" (Disponível em: [www.cjf.jus.br/CEJ-Coedi/jornadas-cej/
enunciados%20aprovados%20-%20VII%20jornada/view]. Acesso em: 02.11.2015). Tais
enunciados interpretativos denotam o reconhecimento do equilíbrio também nas relações
contratuais aleatórias.
23 Sobre o conceito de situação jurídica subjetiva, assinala Perlingieri: "Na maior parte das
hipóteses, o interesse dá lugar portanto a uma situação subjetiva complexa, composta tanto
de poderes quanto de deveres, obrigações, ônus. A complexidade das situações subjetivas -
pela qual em cada situação estão presentes momentos de poder e de dever, de maneira que
a distinção entre situações ativas e passivas não deve ser entendida em sentido absoluto -
exprime a configuração solidarista do nosso ordenamento constitucional" (Perfis do direito
civil: introdução ao direito civil constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 107).