Você está na página 1de 151

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ARQUITETURA
RENASCENTISTA
Aula 01

Salvador
2019

Rafael Câmara
INTRODUÇÃO

⚫ “O estilo gótico foi criado para o abade de Saint Denis,


conselheiro de dois reis de França; o estilo renascentista,
para os comerciantes de Florença, banqueiros dos reis da
Europa”; (Nikolaus Pevsner)
⚫ “É na atmosfera desta próspera república comerciante que o
novo estilo aparece, por volta de 1420”. (Pevsner)
INTRODUÇÃO

◼ O Renascimento nasceu na Itália, porque ali, na verdade, o gótico


quase não foi explorado. Sempre houve, contudo, uma memória
muito viva das glórias do antigo Império Romano, presente nas
ruínas impressionantes de templos, teatros, termas, obras de arte
etc.
INTRODUÇÃO

◼ Esse “ressurgimento” das artes e valores clássicos impressionou tanto os acadêmicos, que
eles denominaram todo o período de Renascimento (ou Renascença).

“A Adoração dos Magos” (c.1480) -


“O Homem Vitruviano”
Boticelli
de Leonardo da Vinci
INTRODUÇÃO

⚫ Detalhe: “A palavra “renascimento” foi utilizada em tempos


para designar os cerca de 400 anos da arquitetura europeia
que vão desde o reaparecimento da tradição clássica, em
Florença, no século XV, até a emergência do Romantismo (...)
nos finais do século XVIII”; (Jordan)
⚫ Contudo, desde o final do século XIX, os historiadores
subdividiram “este movimento global em Renascimento
propriamente dito, Maneirismo, Barroco e
Neoclassicismo.” (Jordan)

“Perseu” (c.1806) de Antonio


Canova (1757-1822)
INTRODUÇÃO

⚫ Apesar de continuarem a ser erguidas várias


igrejas no período, o Renascimento foi, antes
de mais nada, um estilo “régio e mercantil”;
⚫ Ou seja, o estilo destacou-se tanto pela
arquitetura secular quanto pela religiosa. Os
seus grandes patronos serão a nobreza, os
banqueiros, os comerciantes e até mesmo
membros importantes do clero.
HISTÓRICO - HUMANISMO

◼ O Humanismo pode ser descrito como uma


reforma cultural e educacional defendida por
estudiosos, escritores e líderes civis entre os
séculos XIV e XV, em oposição à escolástica
medieval.
HISTÓRICO - HUMANISMO

⚫ Escolástica: modalidade de pensamento essencialmente cristão que dominou as


universidade medievais entre os séculos IX e XVI e que procurou atribuir aos princípios
religiosos ensinados pelo clero um caráter filosófico, de certo modo aproximando o
Cristianismo da filosofia da Antiguidade Clássica (ou seja, foi uma espécie de tentativa de
“racionalização do pensamento cristão” através das ideias de Platão, Sócrates etc.);
⚫ Os escolásticos, portanto, “tentam harmonizar os ideais platônicos com fatores de
natureza espiritual, à luz do cristianismo vigente no Ocidente”. (Ana Lúcia Santana)
HISTÓRICO - HUMANISMO

⚫ O termo “humanismo”, portanto, tem origem na forma de identificar (ou diferenciar) os antigos textos
“pagãos”, em oposição aos textos “divinos” da Igreja Católica (como a Bíblia e as obras dos principais
teólogos);

⚫ Detalhe: os humanistas não eram contra a igreja Católica! Eles apenas procuravam ignorar os séculos
de interpretações dos antigos textos feitas por autores católicos e ter um contato direto com as obras
originais da Antiguidade Clássica, lidas em sua inteireza (e não apenas através de comentários ou
versões reduzidas).
HISTÓRICO - HUMANISMO

◼ Portanto, a partir desse momento – quando os


textos clássicos são novamente valorizados e
“caçados” por toda a Europa - verificamos o
surgimento de inúmeras coleções de livros,
armazenados em bibliotecas cada vez mais
impressionantes.
HISTÓRICO - HUMANISMO

⚫ Na Itália, o programa educacional humanista foi rapidamente aceito e


em meados do século XV vários membros das altas classes já haviam
recebido uma educação humanista, incluindo até mesmo alguns dos
mais altos oficiais da Igreja;
⚫ Entre o século XV e o início do século XVI, vários papas foram
humanistas, como por exemplo Nicolau V (1447-1455), Pio II (1458-
1464), Sisto IV (1471-1484), Júlio II (1503-1513) e Leão X (1513-
1521: Giovanni de Medici).
⚫ Esses papas, por sinal, viriam a destacar-se como grandes
patronos (e protetores) dos principais artistas renascentistas.

Pio II
HISTÓRICO - HUMANISMO

◼ Muitos desses papas, na verdade, pensavam – e agiam -


mais como governantes comuns do que como
sacerdotes... Júlio II, por exemplo, em cujo reinado a
catedral de São Pedro foi iniciada, pediu a Michelangelo
para retratá-lo, numa estátua, com uma espada na mão
em vez de um livro; seu argumento: “sou um soldado,
não um erudito”.

Papa Júlio II
Cenas de batalhas com o Papa Júlio II
HISTÓRICO - HUMANISMO

◼ As obras literárias produzidas por Dante


Aleghieri, Francesco Petrarca e Nicolau
Machiavel, nesse mesmo período, enfatizavam
as virtudes da liberdade intelectual e da
expressão individual.

“Dante e seu Poema” (1460), pintura de Domenico di


Michelino, exposta na Igreja de Santa Maria del Fiore
(Florença)
HISTÓRICO – ROMA NO SÉCULO XIV

◼ O intelectual e poeta Francesco Petrarca (1304-1374) foi um dos


principais defensores dos ideais humanistas. Ao estudar as obras
clássicas do passado, desenvolveu um novo tipo de nostalgia pela
antiguidade clássica (e sua grandeza perdida): os seus ideais
procuravam demonstrar justamente a capacidade de regeneração
dessa antiguidade.
HISTÓRICO – ROMA NO SÉCULO XIV

◼ O contraste evidente entre a rica memória e o


estado lamentável em que se encontravam os
templos e palácios arruinados da outrora
“grande” Roma enchia Petrarca de tristeza e o
levou às lágrimas em sua visita à cidade em
1337.
Quadros que mostram o estado de abandono da
cidade de Roma até o século XV
HISTÓRICO – ROMA NO SÉCULO XIV

◼ Curiosidade: Entre 1309 e 1376, a sede do papado havia sido transferida para Avignon (França), em
função de conflitos da Igreja com a coroa francesa. Nesse período, a igreja teve sete papas, todos
franceses e, de certa forma, todos eles controlados pelos reis da França

Palácio Papal em Avignon


HISTÓRICO – ROMA NO SÉCULO XIV

⚫ Em várias oportunidades, Petrarca tentou convencer o


Papa a voltar para Roma, devolvendo à cidade a sua
condição de sede da Cristandade e, desse modo,
restaurando a sua antiga importância como centro mundial;
⚫ Em 1377, Gregório XI (Pierre Rocher
de Beaufort, um francês) finalmente
retorna à Roma, marcando uma
importante virada política para a
cidade.
HISTÓRICO – ROMA NO SÉCULO XIV

⚫ A substituição da história religiosa – a única que importava - por um renovado interesse na


história de Roma marcou o início de uma nova abordagem da historiografia e, ao mesmo
tempo, um interesse no estudo arqueológico dos antigos monumentos e obras de arte.
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

◼ Além dos próprios edifícios romanos, a mais


importante fonte para o estudo da arquitetura
clássica foi o tratado De Architectura, escrito
pelo engenheiro e arquiteto romano Marcus
Vitruvius Pollio (Vitrúvio) em 27 a.C. e
redescoberto em 1414 na biblioteca da abadia
de Monte Cassino (Itália).
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

Em De Architectura, como vimos, estão expressos os princípios clássicos


fundamentais da simetria, harmonia e proporção, o estilo e as proporções
apropriadas para diferentes tipos de edificações, bem como os métodos e
materiais de construção a serem aplicados pelos construtores;

A partir de então, Vitrúvio tornou-se uma fonte


inestimável de conhecimentos e uma referência básica
para os tratados de arquitetura de Leon Battista
Alberti (1404-1472) em diante.
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

⚫ O primeiro (e mais influente) autor a tratar da arquitetura


renascentista foi Leon Battista Alberti (1404-1472), um grande
humanista que, além de escritor, foi também arquiteto e
antiquário;
⚫ A sua principal obra é De re aedificatoria, composta de dez
livros sobre arquitetura (imitando a divisão dos temas adotada
por Vitrúvio), todos escritos entre 1443 e 1452 (mas só
publicados, postumamente, em 1485).
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

◼ Esse tratado procurou, em linhas gerais, expressar a importância das regras “cristalizadas”
a partir do exemplo dos antigos, a importância do conselho dos especialistas e do
conhecimento preciso obtido através da prática contínua.

Gravura do
“De re aedificatoria”
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

⚫ Resgatando Vitrúvio, Alberti lembrou que a arquitetura deveria


atender sempre a três princípios básicos: deveria ser funcional
(utilitas), ter a máxima solidez e durabilidade (firmitas) e, por fim, ter
uma forma “elegante e agradável à vista” (venustas);

⚫ A beleza, para Alberti, era algo inerente à estrutura. Exemplo:


muitas vezes o uso adequado de materiais comuns era mais
harmonioso do que o uso desordenado de materiais caros e
extravagantes.
OS TRATADOS DE ARQUITETURA

⚫ Se ao longo do século XV, o caráter dos tratados havia sido mais


literário, a partir do século XVI, contudo, eles voltaram-se mais para
a arquitetura, com uma ênfase maior em ilustrações (ou seja, um
tipo de coletânea de modelos a serem adotados pelos projetistas),
além de fornecerem uma clara orientação para o desenvolvimento
de “uma forma sólida e bem pensada de se construir”, influenciando
arquitetos e construtores até o século XIX;

⚫ Destaque especial para Os Quatro Livros de Arquitetura,


escritos por Andrea Palladio em 1570.
Exemplos de estudos arquitetônicos de Palladio
A RENASCENÇA E OS MONUMENTOS

⚫ Em termos dos antigos monumentos e obras de arte da Antiguidade Clássica, portanto, a


Renascença marcou uma virada;

⚫ O novo humanismo via os antigos monumentos como relíquias da grandeza perdida de Roma,
tanto imperial quanto cristã, dando-lhes uma importante significação política;

⚫ Além disso, os antigos monumentos eram também fontes de estudos: artistas e arquitetos podiam
aprender sobre arte, tecnologia e arquitetura; os humanistas podiam aprender sobre história, a língua
latina e sua respectiva literatura.
A RENASCENÇA E OS MONUMENTOS

⚫ Consequentemente, vários artistas passaram a visitar Roma


para estudar os monumentos e obras de arte clássicos:
dentre eles, figuras importantes como Brunelleschi, Donatello
e Masaccio, os primeiros grandes mestres da arte e da
arquitetura renascentistas.

“Santíssima Trindade”, de Masaccio


(c.1425-1427), afresco da igreja de
Santa Maria del Carmine (Florença),
uma das primeiras pinturas a fazer
uso da perspectiva linear
OS MECENAS RENASCENTISTAS

⚫ Cosimo de Medici e o seu neto (Lorenzo, o Magnífico), eram,


“segundo o estatuto social, cidadãos comuns, mas, pela sua
cultura, estavam ao nível dos grandes príncipes”. Fizeram de
Florença a cidade mais atraente da Europa;
⚫ Os grandes comerciantes foram os primeiros mecenas da
história. A eles devemos não só os palácios, quadros, esculturas
e literatura, mas sobretudo “o fato determinante dos florentinos
terem aceito o Renascimento como base da cultura”.

Davi de Michelangelo, encomenda da


guilda de comerciantes de lã de
Florença (Itália)
OS MECENAS RENASCENTISTAS

⚫ Deve-se, portanto, a uma série de famílias de grandes


comerciantes e banqueiros (Medici, Pitti, Strozzi etc.) o fato do
estilo renascentista, no século XIV, ter sido “inteiramente aceito
em Florença e ali desenvolvido a maravilhosa unanimidade de
propósitos, por 30 ou 40 anos, antes que outras cidades da Itália,
além de outros países estrangeiros, tivessem começado a
entender o seu significado”. (Pevsner)

Cosimo I – Grã-Duque da
Toscana
OS MECENAS RENASCENTISTAS

◼ Uma república comerciante naturalmente


tenderá mais para os ideais “mundanos” do
que para os ideais “transcendentais”
(típicos de uma mentalidade dominada pela
religiosidade); ou seja, tenderá mais “para a
clareza, e não para a obscuridade”.
OS MECENAS RENASCENTISTAS

◼ “E uma vez que o clima era claro, limpo, saudável, e que a mente das pessoas era clara, limpa e
orgulhosa, era ali que o espírito claro, orgulhoso e mundano da Antiguidade romana poderia ser
redescoberto, (...) era ali que sua atitude com relação à beleza física nas belas-artes e no domínio da
proporção na arquitetura poderia ter eco; era ali que sua grandeza e humanidade poderiam ser
compreendidas”. (Pevsner)
OS MECENAS RENASCENTISTAS

◼ E assim como os Medici (e famílias rivais) honravam os intelectuais e os


recebiam em seus círculos mais íntimos, assim como eles honravam os
poetas, esses ilustres mecenas, de fato, consideravam os artistas sob um
ângulo totalmente diferente do registrado durante a Idade Média. Ou seja, a
“moderna maneira” de considerar o artista e o respeito à sua genialidade
é algo que também nasceu na Toscana neste período.

Giovanni de Medici (Papa


Leão X – 1513 a 1521): brasão
OS MECENAS RENASCENTISTAS

◼ “Agora, esses homens, quando construíam uma igreja, não


queriam que sua aparência lhes lembrasse aquele incerto
amanhã ou aquilo que viria depois que esta vida terminasse.
Queriam que a arquitetura eternizasse o presente. Assim,
eles encomendavam igrejas como templos à sua própria glória”.
(Pevsner)

Túmulo de Lorenzo Medici (Capela


Medici), de Michelangelo
O ARQUITETO NA RENASCENÇA

⚫ Em 1334, as autoridades civis responsáveis pela nomeação de um novo


mestre de obras para a catedral e para a cidade de Florença escolheram
Giotto di Bondone (1267-1337), um pintor, porque estavam convencidas
de que o arquiteto da cidade deveria ser, antes de mais nada, um “homem
famoso”.

Campanário de Santa
Políptico de Santa Maria Fiore (Florença),
Reparata, de Giotto c.1298-1359
O ARQUITETO NA RENASCENÇA

◼ Assim, unicamente por acreditarem que “no mundo todo não se


poderia encontrar ninguém melhor neste e em outros assuntos”,
escolheram Giotto, embora ele não fosse construtor. Cerca de 60
anos mais tarde, por sinal, outros dois pintores estavam entre os
especialistas chamados para opinar sobre os projetos de conclusão
da nova catedral de Florença.

Campanário de Santa Maria Fiore (Florença),


c.1298-1359
O ARQUITETO NA RENASCENÇA

⚫ Esses eventos assinalam o começo de um novo período da história da


arquitetura como profissão;

⚫ A partir de então – e esta é uma característica específica da Renascença


– os grandes arquitetos eram pessoas que geralmente não tinham uma
formação específica na área: Rafael, Leonardo da Vinci e Bramante eram
pintores renomados; Sansovino era escultor; Brunelleschi era ourives e
relojoeiro; Baccio d’Agnolo era marceneiro etc.

Sansovino: “Netuno”
O ARQUITETO NA RENASCENÇA

◼ Ou seja, grandes artistas eram homenageados e recebiam


encomendas de trabalhos em outras áreas que não as de sua
especialidade, simplesmente pelo fato de serem grandes artistas!

Donato Bramante: “O
Interior de uma Igreja”
A ARQUITETURA RENASCENTISTA

⚫ O fascínio pela Antiguidade, porém, não era apenas estético:


era também social;

⚫ Ou seja, tendo em vista que o estudo do passado romano era,


neste momento, acessível apenas aos “instruídos”, demonstrar
conhecimento sobre a Antiguidade Clássica era sinal de status e
de domínio da leitura e da escrita.

Chiostro (Claustro) del Bramante (Roma),


anexo à Igreja de Santa Maria della Pace (1504)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA
◼ Assim, o artista e o arquiteto - que até então haviam se contentado
em aprender seu ofício com mestres e desenvolvê-lo conforme a
tradição e sua própria imaginação -, dedicavam agora sua atenção à
arte da Antiguidade, não apenas porque ela os encantava, mas
também porque lhes conferia distinção social.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA

◼ Do lado dos ricos e influentes patronos, o interesse pela


arquitetura, além de comprovar a sua erudição, funcionava
como uma forma de competição entre amigos e rivais pela
construção de edifícios cada vez mais destacados.

Palazzo Strozzi (Florença)


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ “A natureza secular do Renascimento – o “triunfo do Humanismo”


(...) – tem o seu símbolo (...) no palácio, e não menos nos
palácios de Florença. Estes foram construídos em meados do
século XV para famílias de comerciantes ou príncipes (...).
Variando nos pormenores, obedecem, todavia, ao mesmo tipo”.
(Jordan)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Os palácios renascentistas são fundamentalmente urbanos. Alguns chegam a ocupar um


quarteirão inteiro da cidade, e as fachadas, “como falésias de cantaria”, ficam junto à rua.

Palazzo Medici (Florença)


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

⚫ Todos têm um pátio interior com colunatas e “agradáveis


recantos sombreados”: “Aquilo que se espera da Renascença,
em termos de delicadeza e articulação, pode ser visto
principalmente nos pátios interiores”. (Jordan)

Palazzo Strozzi
(Florença)
Pátio interior do Palazzo Medici-Ricardi (Florença)
Pátio interior do Palazzo Ducale (Urbino)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ O pátio interno do Palazzo Farnese é


circundado por galerias em arcadas (como em
todo palácio renascentista), mas com colunas
dóricas e um friso de métopas e tríglifos.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Além disso, o primeiro andar do Palazzo Farnese


não tem uma galeria, mas sim “janelas nobres com
frontões, dispostas em arcadas cegas, segundo a
ordem jônica”. Essa disposição, na verdade, segue
o uso romano: “o dórico, mais rude, deve figurar
no térreo, o elegante jônico no primeiro andar e o
rico coríntio no segundo”. (Jordan)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO
⚫ O pavimento térreo dos palazzos destina-se à zona de serviço e inclui, por exemplo, escritórios,
estábulos, cozinhas, alojamentos dos guardas etc.;

⚫ Essas dependências têm normalmente pequenas janelas que dão para a rua, protegidas por grades de
ferro que, muitas vezes, contrastam fortemente com a cantaria rusticada”.

Detalhe da fachada do
Palazzo Pitti (Florença)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Rusticado (“cantaria rusticada”, “aparelho rústico”):


embora já tivesse sido usado em alguns (poucos) edifícios
da Antiguidade romana, esse revestimento tornou-se
realmente popular durante a Renascença, quando então
geralmente o andar térreo – e às vezes toda a fachada – era
decorado (revestido) dessa forma.

Detalhe da fachada do
Palazzo Pitti (Florença)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ O contraste entre o rusticado do andar térreo e as


paredes “lisas” dos andares superiores
normalmente enriqueciam as fachadas, tornando-as
mais imponentes e marcantes.

Palazzo Medici
(Florença)
Detalhe da fachada do Palazzo Pitti (Florença)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Praticamente todos esses imponentes palácios


possuem também uma série de salões no primeiro
andar, com tetos côncavos e pintados. No exterior, a
estes tetos correspondem às grandes áreas de
parede maciça sobre cada fila de janelas.
Palazzo Farnese
(Roma): piano
nobile
Palazzo Farnese: piano nobile
Palazzo Farnese (Roma): escadaria
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Finalmente, o palácio é coroado por uma cornija: a do


Palazzo Strozzi, por exemplo, projeta-se a mais de
dois metros sobre a rua, acentuando a sua
imponência.

Palazzo Strozzi (Florença)


Palazzo Rucellai (Florença)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: O PALAZZO

◼ Mais importante que as características individuais é o


fato de se ter criado desse modo um novo tipo urbano,
“que haveria de frutificar através do séculos na praça
georgiana, (...) e no banco da Wall Street. Os burgueses
abastados (...) tinham encontrado o seu símbolo
arquitetônico”. (Jordan)

“Palácio Renascentista”
construído em Nova Iorque no início do
século XX para um rico financista de Wall
Street
A ARQUITETURA RENASCENTISTA
⚫ Filippo Brunelleschi (1377-1446)
⚫ Leon Battista Alberti (1404-
1472)
⚫ Donato Bramante (1444-1514)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

⚫ De acordo com Pevsner, o primeiro edifício a assumir as


formas renascentistas foi o Asilo dos Enjeitados
(Ospedale degli Innocenti), de Filippo Brunellesci,
iniciado em 1421;
⚫ Antes disso, em 1419, o ourives e relojoeiro Brunelleschi
havia sido escolhido para terminar a catedral de Florença
(Santa Maria del Fiore); ele acrescentou um domo sobre o
cruzeiro, obra-prima da construção gótica italiana.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ Ospedale: o andar térreo apresenta uma colunata


com delicadas colunas coríntias e amplos arcos
semicirculares; o primeiro andar apresenta uma série
de janelas retangulares, de tamanho reduzido e bem
espaçadas, encimadas por frontões triangulares
pouco salientes.

Ospedale degli Innocenti


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI
◼ Medalhões em terracota colorida estão colocados no espaço livre entre um arco e outro. Acima deles,
um entablamento característico. Separando o andar térreo do primeiro andar, uma sutil arquitrave.

⚫ “Mas esses arcos que repousam sobre colunas tão delgadas são tão diferentes daqueles do Coliseu
(...) quanto dos que aparecem em qualquer arcada gótica”. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ A relação das igrejas de Brunelleschi com o


passado é parecida. Santo Spirito, projetada em
1436, é uma basílica de arcadas e teto plano;
“pode-se dizer que, por esses traços, ela seria
praticamente paleocristã”.

Basilica di Santo Spirito (Florença)


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ As bases e os capitéis das colunas coríntias, por outro


lado, bem como os fragmentos de um entablamento
que os encima, são romanos, “realizados com tal
fidelidade, compreensão de sua beleza vigorosa, que
iam além da capacidade dos arquitetos” do período
anterior. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ Os curiosos nichos das naves laterais também são de


inspiração romana, embora sejam tratados de modo
original. Mas, “se é verdade que os motivos até aqui
mencionados remontam à Idade Média, ou à Antiguidade, a
expressão espacial para cuja criação contribuem é
absolutamente nova e tem toda a serenidade do início da
Renascença”.
Interior da Igreja de Santo Spirito (Florença)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

⚫ Ainda sobre Santo Spirito: a altura da nave principal tem


exatamente o dobro da largura; o andar térreo e o andar do
clerestório têm a mesma altura; as naves laterais são formadas
por vãos quadrados, cuja altura tem o dobro da largura etc.;
⚫ “Caminhando através da igreja, talvez não registremos
conscientemente, de imediato, todas essas proporções, mas
mesmo assim elas contribuem para o efeito de serena ordem
que o seu interior produz”. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ “Hoje é difícil imaginar o entusiasmo da Renascença primitiva


por essas relações matemáticas simples aplicadas ao espaço.
Para se poder apreciá-las, é preciso saber que foi naquela época
– por volta de 1425 – que os pintores de Florença descobriram
as leis da perspectiva”. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ Consequentemente, “do mesmo modo que, como em


suas pinturas, eles já não se satisfaziam com uma
representação arbitrária do espaço, também os arquitetos
mostravam-se agora ansiosos por descobrir proporções
racionais para suas construções”. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

⚫ No mesmo ano em que S. Spirito foi iniciada, Brunelleschi projetou


uma igreja de plano completamente central,a primeira da
Renascença: Santa Maria degli Angeli
⚫ Brunelleschi afastou-se da composição normal das igrejas
românicas e góticas, evidenciando “um novo entusiasmo” e um
esforço renovado para dominar o espaço.

Igreja de S. Maria degli Angeli


Igreja de S.Spirito (1436)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ A função principal de uma igreja da Idade Média, como vimos, era guiar o fiel até o altar. Numa
construção de plano central, contudo, esse movimento não é possível.

Igreja de Sta. Maria degli


Angeli
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ A construção de plano central só exerce


plenamente todo o seu efeito quando é
observada de um determinado ponto focal. É ali
que o espectador deve se colocar e, dali, ele se
torna “a medida de todas as coisas”. Assim, “o
significado religioso da igreja é substituído por
um significado humano”.

Interior da Capela dos Pazzi, de Brunelleschi


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ Na igreja, “o homem não mais se esforça para


alcançar um objetivo transcendente: apenas
desfruta da beleza que o cerca e da gloriosa
sensação de ser o centro dessa beleza”. Ou,
como diz Pevsner: “Não se poderia ter concebido
nenhum símbolo mais eloquente (...) para a
nova atitude dos humanistas e seus patronos
com relação ao homem e à religião”.

Igreja de Sta. Maria degli Angeli


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: BRUNELLESCHI

◼ Contudo, isso não excluía o uso da planta centrada em pequenas


capelas ou em mausoléus de importantes famílias, como veremos
adiante...

Capela dos Pazzi, de Brunelleschi (iniciada em 1429)


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
FACULDADE DE ARQUITETURA

ARQUITETURA
RENASCENTISTA
Aula 02

Salvador
2019

Rafael Câmara
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Leon Battista Alberti (1404- 1472), de aristocrática


família florentina, era um típico cortesão italiano do século
XV: “cavaleiro e um atleta brilhante, (...) escrevia peças e
compunha música, pintava e estudava física e matemática,
era um perito em leis, e seus livros abordam tanto
questões de economia doméstica como de pintura e
arquitetura”. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ No contexto renascentista, Alberti representa um novo


tipo de arquiteto: enquanto Brunelleschi e Michelangelo
foram escultores-arquitetos, Giotto e Leonardo da Vinci
foram pintores-arquitetos, Alberti foi, de fato, o primeiro
dos arquitetos a atuar com o interesse focado na própria
arquitetura.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI
◼ A fachada da Igreja de San Francesco em Rimini, iniciada em 1446 (mas nunca terminada), é a
primeira da Europa a adaptar a composição do arco triunfal romano à arquitetura de uma igreja. Como
diz Pevsner: “com isso, Alberti revela-se muito mais empenhado do que Brunelleschi em reviver a
antiguidade”.

Arco de Adriano em Jerash (Jordânia)


A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ A parte lateral da igreja possui sete nichos em arcos


plenos, separados por pesados pilares. Esses nichos,
por sua vez, contêm sarcófagos, os monumentos aos
humanistas da corte de Sigismundo Malatesta (daí a sua
outra denominação: Templo Malatesta).
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Para a ala leste, aparentemente havia sido


projetada uma imponente cúpula, novamente
como um monumento à glória de Sigismundo e
sua esposa.

Recriação em 3D do
projeto original de Alberti
para a Igreja de
San Francesco
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ O mesmo “orgulho” de Sigismundo Malatesta é


demonstrado por Giovanni Rucellai, um mercador de
Florença para quem Alberti projetou a sua segunda
fachada de igreja: a de Santa Maria Novella (em
Florença).
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Nessa fachada, Alberti introduziu o motivo de grandes volutas, uma característica que viria a ter
enorme projeção ao longo dos séculos (especialmente a partir da Igreja de Gesú, de Giacomo
Vignola).
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

⚫ Para o mesmo patrono da fachada de Santa Maria


Novella, Alberti realiza outro projeto de destaque: o
Palazzo Rucellai, iniciado em 1446 (e também na cidade
de Florença);
⚫ Alberti empregou pilastras na fachada e, com isso,
introduziu “um novo e esplêndido meio de compor uma
parede”.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

⚫ Nesse palazzo, três ordens de pilastras aparecem superpostas,


com “um tratamento dórico livre” ao nível do andar térreo, um jônico
no primeiro andar e um coríntio no andar superior.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

⚫ Enquanto essas pilastras dividem a fachada


verticalmente, elegantes cornijas projetadas
realçam as divisões horizontais;
⚫ A cornija superior, por sua vez é, provavelmente,
a primeira de Florença. (Pevsner)
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ A proporção entre a altura e a largura nas partes


retangulares das janelas é igual à proporção entre a
altura e a largura dos vãos. Assim, “a colocação de
cada detalhe parece já estar determinada, e não há
possibilidade de qualquer mudança”.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Segundo os escritos de Alberti, é nesse equilíbrio que está a própria essência da beleza, que ele
define como sendo “a harmonia e a concordância de todas as partes realizada de tal forma que nada
possa ser acrescentado, retirado ou alterado, sem que seja para pior”.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI
◼ Para ilustrar o princípio da ordenação rigorosa que Alberti defendia também para o interior das igrejas,
vejamos o plano da Igreja de San Andrea em Mântua, última obra de Alberti, projetada por volta de
1460.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Curiosidade: a sua fachada “curiosamente


pagã” levou um cardeal a fazer o seguinte
comentário: “não sei dizer se isto se
transformará numa igreja, numa mesquita ou
numa sinagoga.”
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

Leste
⚫ Como em Santo Spirito, o lado leste dessa igreja
segue uma composição de plano central;
⚫ Do ponto de vista prático, essas igrejas de plano central
eram realmente pouco funcionais. Portanto, desde o
começo, pode-se perceber tentativas de combinar o
tradicional plano longitudinal com características centrais,
“esteticamente mais agradáveis”.

Oeste
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Em San Andrea, Alberti substituiu a disposição tradicional de


nave principal e naves laterais por uma série de capelas (que
tomam o lugar das naves laterais e que correspondem à
largura dos contrafortes).
Detalhe das
capelas de San
Andrea
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

⚫ Com isso, as naves laterais deixam de


participar de um movimento orientado na
direção leste e tornam-se uma série de
“centros menores” que acompanham a
espaçosa nave recoberta por uma abóbada de
berço.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

⚫ Em relação às paredes que encerram a nave, a


mesma intenção é evidente na substituição da
simples sequencia ininterrupta de colunas
(característica da basílica), por uma alternância
rítmica (a-b-a) de vãos abertos e fechados;
⚫ As colunas, por sua vez, são substituídas por
pilastras gigantes, as primeiras da arquitetura
ocidental.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI

◼ Podemos avaliar o quanto a manutenção das mesmas


proporções por toda parte é responsável pela “harmonia
profundamente tranquilizante” de San Andrea, se
observarmos que o mesmo ritmo (a-b-a) e as mesmas
pilastras gigantes são utilizadas como motivo principal da
fachada da igreja, e que a proporção dos arcos do cruzeiro
é a mesma das capelas laterais.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA: ALBERTI
◼ Coerente com suas próprias teorias, Alberti ainda erguia suas igrejas sobre uma plataforma elevada
(semelhante ao que faziam os antigos romanos com os templos).

S. Sebastiano San Andrea


Interior da Igreja de San
A ALTA RENASCENÇA

◼ “A Baixa Renascença havia redescoberto a Antiguidade e


tinha utilizado com prazer uma mistura de cópia de
detalhes e liberdade ingênua na reconstrução de algo mais
do que detalhes. A Alta Renascença [c.1480- c.1520],
não era muito mais precisa no uso que fazia das formas
romanas, mas o espírito da Antiguidade por um momento
reviveu de fato na austeridade de Bramante e na
maturidade de Rafael”. (Pevsner)

Tempietto di San Pietro


A ALTA RENASCENÇA

⚫ A Baixa Renascença foi essencialmente toscana; a Alta Renascença, contudo, é romana;


⚫ “Em Roma tornou-se um grande estilo internacional, legando à Europa uma arquitetura destinada a
perdurar durante três séculos, tal como Paris dera à Europa o estilo gótico”. (Jordan)
A ALTA RENASCENÇA

◼ A passagem da Baixa Renascença para a Alta Renascença, da delicadeza à


grandiosidade, e de uma concepção mais sutil das superfícies a uma modulação das
paredes num alto-relevo mais audacioso encorajou um estudo mais intenso das ruínas da
Roma Imperial.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ A primeira construção de Bramante foi feita em Milão, entre


1477 e 1480: a igreja de Santa Maria presso San Satiro;
⚫ Em função da semelhança com a igreja de San Andrea (de Alberti),
acredita-se que Bramante a teria conhecido muito bem antes de
elaborar o seu projeto.

San Andrea Santa Maria presso San Satiro


A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

◼ A igreja de Sta. Maria presso S. Satiro não


tinha espaço para o coro, levando Bramante a
adotar uma solução criativa (que também
demonstrava o seu talento na pintura e no uso
da perspectiva linear).
Sta. Maria presso S. Satiro
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

◼ Ele desenhou na parede um trompe-l’oeil


(“engana o olho”, em francês), técnica artística
que, com truques de perspectiva, cria uma
ilusão ótica que mostra objetos ou formas que
não existem realmente.
Villa Farnesina (c.1510), em Roma, do arquiteto Baldassari Peruzzi
Villa Farnesina (c.1510), em Roma, do arquiteto Baldassari Peruzzi
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ Em 1499 Bramante mudou-se de Milão para Roma: a partir de


então, sua arquitetura assumiu, de imediato, uma austeridade
muito maior;

⚫ O Tempietto di San Pietro, de 1502, é o primeiro monumento


que opõe a Alta Renascença à Baixa Renascença, e é também
um “monumento” em seu sentido mais preciso, isto é, uma
realização muito mais escultural do que propriamente
arquitetural.

Tempietto di San Pietro


A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ O Tempietto foi construído para assinalar o lugar em que se


supõe ter sido crucificado S. Pedro (Pevsner: “Assim,
podemos chamá-lo de um relicário ampliado”);
⚫ A primeira impressão do Tempietto, após as igrejas e
palácios do século XV, é “quase chocante”;
⚫ A ordem das colunas é o dórico toscano – “é a primeira
utilização moderna dessa ordem austera e despojada”.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ As colunas sustentam um entablamento clássico, outro traço que contribui


“para dar ao conjunto uma sensação de peso e rigor”.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

◼ Por outro lado, além dos tríglifos e das métopas, não há


um único cm² de decoração em toda a parte externa. Isso,
combinado com a simplicidade das proporções –
exemplo: a proporção existente entre a largura e a altura
no andar térreo é repetida no andar superior – dá ao
Tempietto “uma dignidade que está bem além do seu
tamanho”.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

◼ Pevsner: com o Tempietto, a Renascença atingiu


seu objetivo consciente de imitar a Antiguidade
clássica. Pois, bem além dos motivos da simples
expressão formal, esta é uma construção que
aparece, quase tanto quanto um templo grego, como
puro volume.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ Em 1506, o papa Júlio II confiou a Bramante a


reconstrução da Basílica de São Pedro, a mais sagrada
das igrejas do Ocidente. De fato, até aquela data, São
Pedro permanecia praticamente inalterada desde a sua
construção pelo imperador Constantino;
⚫ A São Pedro de Júlio II, porém, seria uma construção de
plano central – uma decisão surpreendente,
considerando-se a imensa significação religiosa dessa
basílica!

Planta baixa proposta por Bramante para São Pedro (Roma): trata-se de uma
cruz grega com quatro absides, inteiramente simétrica.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ Ou seja, com o próprio papa adotando esse símbolo de


mundanismo em sua própria igreja, “o espírito do
humanismo havia realmente penetrado no mais interior da
fortaleza da resistência cristã”. (Pevsner)
⚫ “Do ponto de vista geométrico, a planta de Bramante era
brilhante, mas impossível do ponto de vista litúrgico; não se
sabia em qual das quatro absides iguais se colocaria um
altar (...) e, se fosse colocado sob a cúpula (...), para que
lado se voltaria o celebrante”. (Jordan)
⚫ Ou seja, “foi um triunfo efêmero”.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ De fato, ao longo de quase cem anos de construção, a


planta de São Pedro foi sendo continuamente
modificada, obtendo-se, ao final, uma “gloriosa
basílica”;
⚫ “(...) uma vitória dos clérigos sobre os arquitetos”.
(Jordan)
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

◼ O que é novo, e inteiramente do século XVI, é a maneira de tratar


as paredes e, sobretudo, os pilares que sustentam o domo central,
as únicas partes do plano de Bramante que foram executadas e
que ainda são parcialmente visíveis.
A ALTA RENASCENÇA: BRAMANTE

⚫ Nelas, nada sobrou da “escala humana e da delicada


modelação, típicas da Baixa Renascença”. Trata-se de peças
maciças em pedra, “energicamente caneladas”, explorando
de forma intensa as potencialidades plásticas de uma
parede;
⚫ Bramante: “o arauto do Barroco.”
A ALTA RENASCENÇA: MICHELANGELO

◼ “A verdade é que ele [Michelangelo] pertenceu à Renascença


apenas por uns poucos anos, no início de sua carreira. A
Pietá, de 1499, pode muito bem ser uma obra da Alta
Renascença. Também o Davi pode participar do espírito da
Renascença. Já, da Capela Sistina, pode-se dizer o mesmo
apenas em parte; e de seu trabalho posterior a 1515 quase
nada é renascentista. Sua natureza tornou-lhe impossível
aceitar os ideais da Renascença por muito tempo”. (Pevsner)
RENASCIMENTO FORA DA ITÁLIA

◼ “Trata-se de um tema complexo, porque o desenvolvimento dessas concepções em qualquer outro país
não foi nem contínuo, nem lógico. A influência italiana fez-se sentir de modo arbitrário, dependendo
largamente das circunstâncias políticas. Mais ainda, nos países onde a tradição gótica estava mais
profundamente enraizada, o novo estilo, de início, foi usado apenas de modo superficial, como uma
nova forma de ornamentação. A primeira fase da arquitetura renascentista na França, na Inglaterra e
na Alemanha aparece, por isso, como uma arte híbrida, difícil de avaliar nos seus próprios termos.”
(Jordan)
RENASCIMENTO: ARTE
Vitral da Catedral de Chartres
Capela da Arena
Lamentation by Giotto in the
Scrovegni Chapel, c. 1305
Madonna with Child by Filippo Lippi
A Criação de Adão by Michelangelo Buonarotti

Você também pode gostar