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3º aula

Dois pontos ainda não abordados:


1º ponto: A quarta vigência da carta constitucional. A carta teve 3 períodos de vigência
Mas houve um quarto período em 1919 - a revolta monárquica, monarquia do norte que
durante alguns dias restabeleceu a carta constitucional.
2º ponto: génese da constituição de 1976. A constituição de 33 manteve-se ainda
provisoriamente em vigor no período que vai de 1974 a 1976 como uma constituição
flexível, isto é ela podia ser afastada tanto pela junta de salvação nacional, quer pelos
decretos leis aprovadas pelo conselho da revolução. Durante o período transitório entre
1974 e 76 a estrutura política portuguesa obedecia no fundo às seguintes traves.
- 1 ideia: A 25 de abril de ____ foi eleita a assembleia constituinte encarregue de fazer a
constituição.
A génese da constituição de 1976 anda em torno de dois conflitos estruturais que estão
na base da feitura da Constituição e na base do período transitório entre 1974 e 1976:
1º entre a legitimidade revolucionaria (forca das armas) e legitimidade democrática de
uma assembleia constituinte eleita por sufrágio universal.
2º conflito: aquele que opunha a legitimidade militar à legitimidade partidária.
Legitimidade militar estava sintonizada com a revolucionária, foram os militares que
fizeram a revolução.
Esta tensão é a patente ao longo dos dois anos entre 1974 e 1976. Entre eles há dois
presidentes da república. Período de uma primeira moderação.
A este primeiro governo provisório sucedem 4 governos mais radicais. E o ultimo
governo provisório, o 6º, é mais moderado. Durante este período revolucionário o poder
constituinte estava dividido. Como? Havia um poder constituinte que estava a organizar
a constituição, era o poder nas mãos dos partidos e nas mãos da legitimidade
democrática resultante das eleições de 1975 e havia outro poder constituinte presente na
mão dos militares. Na junta de salvação e no conselho da revolução.
Apesar de haver dois poderes constituintes, há todavia confluências e influências. Os
militares impuseram parte do modelo que havia de ser acolhido pela constituição de
1976 e fizeram através de dois pactos/duas plataformas:
 Uma entre o MFA e os partidos politicos. Esta primeira plataforma ditou duas
coisas;
1- foi condição par a realizada das eleições de 75
2- o conteúdo da própria constituição as forcas armadas condicionaram os
termos da constituição, designadamente impuseram que a constituição tivesse um órgão
de componente militar (conselho da revolução)
Os militares impuseram q o primeiro presidente da rep eleito fosse um militar. Nesta
primeira plataforma o PR nem era eleito por sufrágio direto
 Surge uma segunda plataforma. Verão quente de 11 de março a setembro
1975-periodo das nacionalizações, período da coletivização. Em 25 de
novembro de 1975 liderado pelo general Ramalho Eanes dá-se um contragolpe
que vem paralisar a vertente radical da revolução. Este contragolpe tem outros
protagonistas e vai obrigar as forças armadas a realizar uma segunda
plataforma/acordo entre MFA e partidos políticos que vem suavizar a natureza
radical do primeiro. O Presidente da República e os militares aceitam que ele
passe a ser eleito por sufrágio direto. Não escrevem mas está acordado que os
partidos terão que ceder aceitando que os candidatos sejam militares, isto
significa que o Presidente da República é eleito por sufrágio direto mas o
primeiro presidente tem que ser militar. Esta constituição teve ate hoje 7
revisões
O que pode caracterizar as 7 revisões da constituição?
Duas grandes linhas:
 1º Linha caracterizadora tem a ver com a revisão de 82 e a de 89,e é a linha que
se resume na desmarxização da constituicao. Em 89 apenas se mantem uma
expressão: a referencia ao principio socialista, que ainda hoje conta do
preâmbulo. E o que anima as outras revisões??
 Par além de aspetos que não são tão de detalhe, mas para além de uns que dizem
respeito à organização politica, há uma preocupação que anima as outras 5
revisões: a união europeia , a preocupado internacional.
Hoje coloca-se uma dúvida que é: passados 40 anos de vigência da constituição de
1976, será que materialmente ainda estamos na vigência da constituição de 1976 ou será
que apenas formalmente a temos, já que quanto ao conteúdo ela deixou de ser a de 76?
Para responder a isto há que recorrer à identidade da constituição, procurando ver se os
elementos caracterizadores da constituição são hoje em 2017 os mesmos que
caracterizavam a constituição em 1976?
Para ver isso podemos começar por ver o primeiro aspecto da identidade de uma
constituição:
A ordem de valores/ axiológica de um constituição. Aqui chamamos a atenção a dois
aspetos prévios:
 Todas as constituições expressam uma ordem de valores, todas têm determinada
ordem axiológica. Esta unidade do sistema de valores de uma constituição traduz
a identidade axiológica dessa constituição.
 A identidade axiológica da constituição portuguesa pode resumir se em 4 ideias:
1- há uma ideia de direito, a constituição retrata o estado de direitos
humanos
2- ela tem um projeto politico com determinados fins. Os fins resumem-se na
expressão: estado de direito democrático.
3- tem a ver com a inserção externa do estado, como é que Portugal se
relaciona com os outros no plano mundial. Portugal é um estado soberano com uma
soberania que tem dois limites: soberania internacionalizada e é uma soberania
europeizada.
4- como é que se organiza internamente o poder? Portugal é um estado unitário
descentralizado.
Estas são as 4 ideias que sintetizam a ordem de valores da constituição portuguesa. A
identidade axiológica da constituição impõe várias obrigações:
1º impõe um dever de agir em conformidade- todos os órgãos devem agir num
sentido de concretizar estes valores
2º dever negativo-não contrariar, não violar, não agir em sentido contrario. Há
um principio de interpretação do direito ordinário em conformidade. Com os valores da
constituição. Se o direito ordinário tiver algumas das suas normas dois sentidos deve-se
pretender o que é conforme com a ordem de valores da constituição. Há na génese da
constituição dois conflitos: legitimidade revolucionária e democrática, militar e
partidária e dentro dos partidos que compunham a assembleia que fez a constituição
havia também grandes divergências ideológicas. Isto resulta que a constituição é
compromissória. As normas da constituição são compromissórias e tendem a ser
conflituantes.
É possível com base na mesma constituição, na mesma norma, defender sim e o não, o
quadrado e o redondo, o preto e o branco. Ex: a constituição permite ou não o aborto? a
constituição permite ou não o casamento entre casais homossexuais?, a constituição
permite ou não a Eutanásia.?
Como se resolvem os conflituos constitucionais?
Fundamentalmente há dois critérios de resolução:
 Parte de uma pergunta: os valores em conflito tem todos o mesmo nível
hierárquico ou há uns com prevalência sobre outros? Ex: a constituição consagra
a dignidade da pessoa humana. O direito fundamental dos produtores de ovos
tem a mesma valor da dignidade da vida humana? Onde há hierarquia de valores
temos critério de resolução de conflito. Os valores que tem prevalência tem
primado sobre valores de nível inferior. Primeira resolução: pode acontecer que
os valores tenham o mesmo patamar hierárquico. Como se resolve? Ele resolve-
se através do método de ponderação. Qual é que no caso concreto deve ceder
perante outro ,mas com base nesta ideia: eles podem ceder mas um não pode
ocupar a totalidade do espaço retirando ao outro sequer um mínimo de
operatividade, porque ambos tem igual valia um não pode suprimir o outro por
completo. Ex: liberdade de informar e reserva da intimidade da vida privada.
A ordem de valores numa constituição nem sempre é pacifica
Outros pontos:
 Mesmo os valores que são prevalecentes (ex. dignidade da pessoa humana),
com base da dignidade humana podem-se justificar posições jurídicas
antagónicas. Mesmo no direito à vida, pode ser legitimo o homicídio por
legitima defesa. Artº 24. Isto levanta serias duvidas se é legitimo privar a vida de
alguém para defender a propriedade privada. Exemplo daquele que vai furtar as
maças e o proprietários tem arma que em vez de disparar para o ar resolve dar
um tiro ao ladrão, se isso é apenas uma questão de excesso de legitima defesa ou
problema de valores constitucionais.
Ultima nota: quem tem a ultima palavra na revelação dos valores da constituição, é o
tribunal constitucional.

Nota:
Evolução da ordem axiológica da constituição nestes 41 anos. Ela evoluiu na ordem de
valores. Como?
Gerou em certas áreas costume contrário à constituição, gerou-se um costume contrário
à constituição.
Houve casos de desenvolvimento constitucional, projetado sobre as normas da
constituição o q leva a q se possa dizer q a constituição tem hoje uma nova identidade
axiológica. Se excetuarmos a parte sobre os direitos fundamentais, ocorreu uma
verdadeira mudança no sentido material da constituição. Formalmente ainda se diz
constituição de 1976 mas materialmente pouco tem a ver com ela. Com base em 3
argumentos:
 mudou o principio socialista, marxista desapareceu
 o principio da soberania hoje em 2017 não tem nada a ver com o de 1976
 a modificação do sistema de governo, ele mudou nos últimos 40 anos e 12
meses.
Não devemos estranhar que nestes quarenta e um anos a constituição tenha mudado. A
constituição é um organismo vivo. O tempo muda-nos e também muda o texto
constitucional.

4 ideias axiológicas da nossa constituição:


1 estado de direitos humanos-(rever) a constituição consagra três ideias a proposito:
I) Estado servo da pessoa humana artigo 1º, que tem o proposito da criação de
uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais fraterna. Ideia de poder
politico humano e democrático. O estado de direitos humanos é mestrado de
direitos fundamentais. Naturalmente que um estado de direitos humanos é
sempre incompleto por natureza, quer sempre mais. Por outro lado é estado
baseado pelo respeito da dignidade humana. É a tradição judaico crista,
tradição do existencialismo, tradição do renascentista Pico de la Mirandola e
a tradição iluminista. A dignidade da pessoa humana aparece como principio
universal. Entidades públicas e privadas tem que respeitar e implementar a
dignidade humana. Garantia e defesa da cultura da vida. Portugal é um
estado de Direitos Humanos perfeito? Não! Não ao nível da constituição mas
ao nível do direito ordinário. Há um desfasamento entre constituição e
direito ordinário. Constituição refém do direito ordinário. O facto de um
tribunal constitucional dizer que não é inconstitucional não quer dizer que o
tribunal não possa errar. Portugal é também estado de direito democrático.

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