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Apesar de sempre ter sido muito popular, nunca fui de fazer festas
enormes e, depois de toda a pompa do meu aniversário de quinze anos, optei
por algo mais familiar ao completar dezesseis. Meus pais e amigos haviam se
reunido ao redor da piscina na minha casa para um churrasco. Confesso que
festas em roupas de banho ao invés das de gala tinham sua vantagem. Eu
jamais poderia ver o abdômen do Guto se ele estivesse usando um terno.
Estava tão distraída olhando para ele que não vi de onde veio a onda
que me atingiu. Saltei da espreguiçadeira, enquanto chacoalhava minhas
mãos e tentava tirar a água do rosto.
— Filho de uma...
— Olha lá o que vai dizer. — Meu amigo estendeu as mãos e jogou
mais água em mim, impedindo-me de xingar a mãe dele.
— Você sabe que se entrar na água de uma vez seu corpo se acostuma
com a temperatura bem mais rápido, não é?
— Melhor agora?
— Obrigada.
— Não por isso. — Deu de ombros. — Você sabe que estou sempre
aqui para te ajudar. Nossa! Dezesseis anos, Rosi. O tempo passou tão rápido;
parece que foi ontem que você começou a andar e a correr pela casa toda,
enlouquecendo a gente.
— Agora, Live?
Virei a cabeça e percebi que o meu melhor amigo estava ao meu lado,
atento a cada uma das minhas reações ante a presença do Guto.
Dias atuais...
Vê-la chorando daquele jeito partia o meu coração, mas não podia mais
adiar aquela conversa. O tempo estava passando e logo seria tarde demais.
— Eu não vou tirar, sabe o quanto isso é importante para mim. — Ela
deu alguns passos cambaleantes para trás, mas foi parada pela parede do
corredor diante do nosso quarto.
— Quando nós nos casamos, você queria; cinco anos depois, estamos
aqui, tendo essa discussão. — Me levantei, enxugando as lágrimas com as
costas das minhas mãos.
— Eu quero o divórcio.
— Sim.
Voltei para dentro do nosso quarto, fui até o meu closet, peguei uma
mala pequena e comecei a jogar algumas roupas lá dentro.
— Embora, acho que não tem mais motivos para vivermos sob o
mesmo teto. Amanhã, vou contatar os advogados e pedir que providenciem
os papéis do nosso divórcio.
— Rápido assim? — Ela arregalou os olhos castanhos, surpresa com a
minha fala.
— Está certo.
— É justamente por ser a primeira vez que não podia deixar você
extrapolar. Vai que fica tonta? Como vou explicar para o seu Ricardo que a
filha dele deu pt e eu tive que levá-la para o hospital?
— Para com isso. — Virei de lado e coloquei uma mão na cintura para
observá-lo melhor enquanto o meu amigo dava partida no carro. — Sabe que
não sou de beber assim. Além disso, eu ainda nem tenho carteira de
habilitação, então você é quem iria dirigir. Não teria problema nenhum eu
tomar alguns drinks.
— Achei que tivesse sido coisa da minha cabeça. Assombração, sei lá.
— Contar o quê?
Eu não poderia julgá-lo; nem todos os pais eram tão legais quanto os
meus. Eles sempre foram muito abertos comigo, conversávamos sobre tudo,
ou quase tudo, pois nunca admiti para o meu pai a paixão secreta que eu
nutria pelo melhor amigo dele.
— Vai entrar? — Abri o cinto quando o Daniel estacionou na entrada
da minha casa, que ficava em um restrito condomínio fechado.
— Honestamente, eu não sei. Porém, saber que não vou mais ter que
discutir isso com ela, me alivia.
— Vou. Não aguento mais isso. Não estamos na mesma sintonia e não
dá mais para ficarmos juntos.
— Cara, sabe que eu sou seu amigo e que estou aqui para apoiar você
no que precisar. — Meu pai esticou a mão e afagou o ombro do Guto, que
abriu um meio sorriso, contente com o carinho do melhor amigo.
— Muito obrigado, Ricardo.
— Não! Peguei umas coisas e joguei numa mala, que está no carro. Ia
procurar um hotel para passar alguns dias até decidirmos como a nossa
situação vai ficar. Estava saindo do condomínio quando passei aqui na porta e
percebi que precisava de um ombro amigo. Desculpa aparecer à noite, no
meio de uma quinta-feira.
— Relaxa, amigos são para isso. — Meu pai sorriu e o Guto sorriu de
volta.
— Ele está com problemas pessoais e muito chateado. Não é para ficar
espionando o coitado.
— Ótimo!
— Estou. Vou ficar aqui por um tempo até resolver uns assuntos.
Reparei bem nela. A menininha que tinha visto nascer, quando eu tinha
dezoito anos, e segurara em meus braços, já não era mais tão menininha
assim. Ela tinha feito dezoito anos na semana passada e agora tinha
literalmente a metade da minha idade. Havia comemorado em uma boate com
os amigos e já tinha começado a faculdade. O tempo estava passando e eu
sentia que, de alguma forma, estava ficando para trás.
— Publicidade e Propaganda.
— Ah, é isso mesmo.
— Acho que você vai ter que esperar, porque o meu irmão está lá. Um
cano trincou no banheiro dele e o pedreiro vem arrumar hoje.
— Pode até não demorar, mas eu não asseguro que o banheiro vai estar
respirável quando ele terminar. — Ela fez uma careta e eu ri.
Tomei banho, fiz a minha barba, e saí do banheiro dela o mais rápido
possível. Eu já estava vivendo uma situação complicada o suficiente, não
precisava complicar ainda mais.
Capítulo 4
— Agora que entrou para a faculdade, ela está se achando. — Ele deu
de ombros antes de sumir pela porta da sala.
Continuei pelo mesmo caminho que ele até chegar perto da mesa onde
os meus pais já estavam sentados. Parei ao lado deles e dei um beijo na
bochecha de cada um antes de puxar uma cadeira e sentar-me junto a mesa
diante de um belo bolo de cenoura com cobertura de chocolate. A minha
dieta não iria gostar nem um pouco, mas eu não ia resistir a comer um
pedacinho.
— Tá! — Puxei uma torrada para o meu prato e estiquei o braço para
pegar o pote de geleia de morango que estava na frente do meu irmão. —
Pai?
— Estava pensando sobre aquele carro que você disse que me daria
quando eu passasse na faculdade. Não que eu não goste da carona da minha
mãe, mas ia ser bom ter um pouco de autonomia e não faria com que ela se
atrasasse para o trabalho todos os dias.
— Filha, o Gutemberg está ocupado, não tem tempo para bancar o seu
motorista — recriminou-me a minha mãe.
Logo depois, eu me levantei e fui com a minha mãe até o carro dela, e
vi que nem o do meu pai nem o do Guto estavam lá mais.
— Eu vou providenciar.
— Alô, Thiago?
— Você e a Olivia...
— Acabou.
— Eu sinto muito.
— Também sinto, mas acho que vai ser melhor para os dois.
— Ótimo. Isso facilita muito as coisas, pois ela pode querer parte da
empresa.
— Espero que não, mas penso em deixar a casa para ela juntamente
com uma quantia em dinheiro.
— Pode entrar.
— Ah, sim! Peça ao Ricardo para conversar com ele. Ele é melhor com
pessoas. — Abri um sorriso amarelo. Eu já era do tipo pouco comunicativo e,
enfrentando um divórcio, preferia ficar na minha bolha o máximo possível.
Abri uma aba de buscas no meu navegador e, quando dei por mim,
estava procurando por apartamentos para alugar e comprar. Já que pretendia
deixar a casa para a Olivia, teria que encontrar outro lugar para viver, longe
dela e longe do meu melhor amigo. Não gostava de pensar nisso, morávamos
perto um do outro desde que eu nasci, mas ainda nos veríamos todos os dias
na empresa.
Capítulo 6
— Ah, quê? — Pisquei várias vezes até fitar o rosto do meu melhor
amigo, com os cachinhos do cabelo dele caindo sobre a testa.
— A minha viajada de agora não tem nada a ver com os livros, antes
fosse. — Apoiei o meu queixo nas palmas das mãos e os cotovelos na minha
coxa. Com o corpo curvado para frente, voltei a encarar os alunos que
passavam de um lado para o outro do campus, seguindo para os prédios onde
teriam as suas aulas.
— Então o que foi, gata? — Ele puxou o meu queixo e me fez encará-
lo.
Girei o corpo e tombei a cabeça sobre o seu ombro. Daniel era o meu
melhor amigo desde sempre. Nos conhecemos na escola e sempre fomos
inseparáveis; se havia alguém que poderia me ajudar com aquela inquietação
no meu peito, era ele.
— O Guto está morando lá em casa.
— Você não teve nada a ver com isso, né? — Ele franziu o cenho e me
olhou cheio de julgamento.
— Eu sou, por isso que acho que você não faz o perfil de destruidora
de lares.
— Meu pai que convidou. Disse que ele poderia ficar por lá quanto
tempo precisasse. Em uma mansão daquelas, espaço é o que não falta mesmo.
— O que quer que eu diga? Vai lá, tira a roupa, se joga nele e tenham
uma noite louca com o seu pai dormindo no quarto ao lado? Amiga, você
sabe que eu te amo, mas não quero ser culpado pelos seus BO’s depois.
— Meu pai sempre foi muito de boa. Ele nunca achou ruim de nós dois
dormirmos juntos.
— A gente pode nunca ter dito para ele que eu sou gay, mas acho que
ele meio que sabe que eu nunca tiraria o seu cabaço.
Engoli em seco.
— Será?
É!
Conselho?
Esse mesmo!
Melhor amigo do seu pai?! :O Não, Rosi! Quantos anos ele tem?
36, eu acho.
Sim.
Ele é muito velho para você. Além disso, acha que seu pai vai
aceitar que vocês tenham alguma coisa? Eles são amigos, pode se
sentir traído.
— Seja lá o que for fazer, toma cuidado. — Piscou para mim antes de
colocar a mão sobre a minha e abrir a porta. — Agora, vaza.
— Grosso. — Cerrei os dentes e ele riu. — Vem amanhã para
maratonármos juntos aquela série?
— Você já é de casa, mas para saber que eu sou legal, vou comprar um
estoque caprichado de balas tubos e minhocas cítricas.
Sabia que era uma péssima ideia, assim como o Dani e a Deborah
haviam dito, mas a minha vontade de me atirar nos braços do Guto, agora que
ele era um homem solteiro, havia triplicado. Seria difícil me controlar com
ele morando na mesma casa que eu.
Capítulo 7
Puxei a porta e deixei que o advogado passasse por ela. Assim que
Danilo entrou na minha sala, nos tranquei lá dentro para que não fossemos
interrompidos e apontei para um sofá, indicando-o a se sentar ali.
— Mas você não a ama? — Danilo me encarou e fez uma pergunta que
me deixou sem jeito.
— Danilo, honestamente, eu não sei se amei algum dia. Sabe esse amor
que descrevem nos comerciais de televisão, o que nos deixa sem ar e faz com
que os nossos corações parem de bater? A Olivia é uma mulher linda, tem um
sorriso e um jeito encantador. Quando eu me aproximei dela, nós vivemos
ótimos momentos juntos, mas não sei se a atração sexual pode ser descrita
como esse amor todo. No entanto, o principal motivo de ter decidido me
casar com ela foi a possibilidade de construir uma família. Eu quero filhos, ao
menos um. Depois que ela me disse que não queria ter filhos, eu me senti, de
certa forma, enganado. Sei que pode soar horrível, mas ela não me parece
mais a pessoa certa.
— Não quero parecer o vilão da história, mas nem eu, nem a Olivia,
estamos dispostos a abrir mão do que queremos. Parece horrível continuar em
um relacionamento desse jeito. A última briga foi a gota d’água para mim.
— Parece menos horrível hoje do que ontem. Sei que você pensa como
eu pensava, que casamento é para o resto da vida, mas a verdade é que acho
que me precipitei e escolhi a esposa errada. Me deixei levar pelo anseio por
ter uma família e não levei em consideração o que queria a mulher com quem
estava me comprometendo.
— Combinado.
— Rosi!
— E daí? — Voltei a fitar o kindle; iria ler a cena e fingir que meu
irmão não estava parado na minha porta, encarando o interior do meu quarto.
— Você é chata, hein?
Movi os ombros, sem dar importância para o que meu irmão estava
falando.
— Era só isso?
— Valeu.
Guardei o meu kindle, decidida a deixar a leitura para depois, e fui para
o meu banheiro. Iria tomar um banho e me ajeitar para o tal churrasco. Vi a
minha calcinha dentro da pia e me perguntei se havia a deixado ali, pois
sempre a esquecia no registro depois que tomava banho. Sorri ao me recordar
que o Guto havia tomado banho no meu banheiro hoje mais cedo antes de
sair para trabalhar. Provavelmente, fora ele quem tirara a minha calcinha do
registro. Fiquei sem graça e ao mesmo tempo muito curiosa com o que
poderia ter passado pela cabeça dele. Ao menos a calcinha era uma das
minhas mais bonitinhas.
Ricardo sabia como melhorar o meu astral, mais do que eu mesmo. Era
impressionante como alguém podia me conhecer tão bem. Éramos mais
próximos e mais confidentes do que eu jamais fui com qualquer um dos meus
irmãos, e era difícil pensar na minha vida sem o meu melhor amigo, pois eu
sabia que, independentemente do que acontecesse, sempre o teria ao meu
lado.
— Não vem com essa. — Olhei torto enquanto lavava a minha mão na
pia da enorme área de lazer da mansão do Ricardo. — Se me deixasse
terminar...
Abri a geladeira, que ficava do outro lado da pia, e peguei uma cerveja
para mim e outra para o meu melhor amigo. Ele arrancou a tampa e
brindamos, batendo o pescoço das longnecks um no outro.
— Elas não estão nem olhando e nem eu. — Saí de fininho quando
percebi que o clima entre os dois havia ficado mais quente.
Muitos diziam que o fogo, todo aquele calor que sentíamos das
primeiras vezes, desaparecia com o casamento. Poderia até acontecer com
alguns casais, mas Ricardo e Margarida estavam juntos há vinte anos e eu via
o mesmo brilho no olhar que tinham quando éramos mais jovens.
Mordi o lábio para não engolir em seco. Ela estava usando um biquíni
pequeno que mostrava muito e escondia pouco. A parte de cima era no
formato cortina e quase que só cobria o bico dos seus seios, que eu não me
lembrava de serem tão grandes. A parte de baixo, entrava na sua bunda e a
deixava toda de fora. Vê-la vestida daquele jeito me inquietou e eu não era
capaz de compreender o motivo. Talvez fosse algum instinto paternal que eu
desconhecia por ainda não ter filhos.
Foi inevitável que a minha atenção não se prendesse ali. Os seios dela
eram firmes, e os mamilos se eriçaram com o toque dos seus dedos. Engoli
com força quando a minha boca se encheu de saliva.
— Ainda não, filho. Esse seu tio molenga nem sabe preparar carne
direito. — Ricardo me olhou com um ar debochado e eu abri um sorriso
amarelo.
— Guto?
— Na piscina, agora?
— Já é noite.
Meus pais sempre foram muito tranquilos com o meu espaço. Minha
mãe era aberta comigo e conversávamos sobre tudo, ou quase tudo... já que
nunca tive coragem de dizer para ela que era completamente apaixonada pelo
Guto. Eles sabiam que não adiantava nada controlar demais, pois os pais da
minha mãe sempre foram muito religiosos e cheios de regras, e isso não
impediu que ela engravidasse de mim aos dezessete. Ela tinha sido expulsa de
casa e ido morar com o meu pai. Anos depois, meus avós tentaram uma
reaproximação, mas ela não parecia disposta a perdoá-los.
Aos dezoito anos, eu ainda era virgem, pois o único homem com quem
já dormi era o meu melhor amigo, que tinha tanto interesse em rapazes
quanto eu. Os orgasmos que tive foram autoinfligidos enquanto eu tentava
conhecer meu próprio corpo. Não que eu fosse uma garota feia e não tivesse
tido oportunidades, mas só não queria nenhum dos caras com quem me
envolvi.
Dani sempre dizia que o meu amor platônico pelo Guto nunca iria sair
disso, mas, no fundo, bem no fundo, eu tinha esperanças. Ele estava se
divorciando e eu agora era maior de idade. Poderia riscar dois empecilhos da
lista quilométrica, e isso aumentava as minhas chances.
***
Não sei quando peguei no sono, mas acordei com o meu celular em
cima do peito e deitada toda torta na cama. Depois ficava com as costas
doendo e não sabia dizer o porquê.
Ouvi uma batida na porta e percebi que fora isso que havia me
acordado. Puxei o meu celular e vi que o visor mostrava oito da manhã de um
sábado.
Fiquei sem entender a reação dele até me tocar que estava de calcinha e
sutiã. Meus pais e meu irmão estavam acostumados a me ver daquele jeito,
mas ele era a primeira vez.
— Não sabia que você estava trocando de roupa — disse, ainda virado
para o outro lado, envergonhado.
Fui até o banheiro, escovei os meus dentes, e penteei o meu cabelo. Saí
do quarto pronta para fazer com que ele me notasse.
Capítulo 11
A verdade era que eu não tinha conseguido dormir. Já fazia duas noites
que eu passava em claro, desde que havia decidido pelo divórcio. Porém,
precisava me lembrar de que as outras pessoas não tinham nada a ver com
isso e que num sábado todo mundo esperava poder dormir sem o
compromisso de acordar cedo.
— Ah, achei você. — A voz da Rosi me fez procurar por ela pelo
cômodo, até encontrá-la escorada no batente da porta.
— Esse vestido é lindo, não acha? — Ela passou as mãos pela lateral
do corpo, atraindo minha atenção para suas curvas.
— Volta lá e coloca camiseta e calça jeans. — Meu tom de voz foi bem
mais ríspido do que eu gostaria.
Ela bufou, mas sua expressão de fúria não me influenciou. Preferia ela
brava comigo do que em uma roupa como essa.
— Gosto do vestido.
— Então, pede a ele para levar você, mas eu acho que ele vai
concordar comigo. — Me levantei do banco disposto a sair da cozinha e
deixá-la ali, mas Rosi segurou meu braço, forçando a minha parada.
O calor dos seus dedos contra o meu pulso adentrou a minha pele como
um veneno sútil e paralisante, que me deixou formigando. Odiei o efeito que
o seu toque causou em mim, principalmente pela forma como reagi diante
dele. Por um momento, esqueci de que ela era a filha do meu melhor amigo e
pensei apenas no quanto ficava sensual naquele vestido vermelho e apertado.
Minha boca voltou a salivar e eu umedeci os lábios. Me imaginei tocando os
dela e, nesse momento, como se tivesse sido atingindo por um raio, puxei o
meu pulso. Eu não podia, sob circunstância alguma, me permitir pensar em
algo assim.
— Ai! — Ela cambaleou para trás, supressa com a minha reação bruta.
Eu não deveria ter alterado o tom de voz com ela, mas não consegui me
controlar. Rosi estava mexendo com a minha cabeça, ou talvez ela já
estivesse bagunçada por causa do divórcio e eu estava vendo coisas onde não
havia.
— Pelo quê?
— Você não é meu pai, Guto — disse com rispidez, como se a minha
fala a houvesse deixado muito irritada.
Não entendi a sua reação. Só queria que ela entendesse que eu queria
bem a ela.
Rosi fez que sim e seguimos em silêncio até a garagem onde o meu
carro estava estacionado. Tirei a chave do bolso, destravei o veículo e a Rosi
entrou pela porta do carona. Seguimos até a autoescola e a Rosi ficou em
silêncio por todo o caminho; ainda parecia emburrada com alguma coisa que
eu havia dito e isso me deixava chateado.
— Quando eu disse que você é como uma filha para mim, é porque eu
me orgulho muito de você. Quando eu tiver uma filha, se tiver uma, quero
que ela seja como você.
— Não entende que não é dessa forma que eu quero que me veja? —
Ela coçou os olhos e eu tive a sensação de que estava afastando as lágrimas.
Me senti péssimo por estar a magoando sem saber o motivo.
Eu não era um homem religioso, apesar dos meus pais terem me criado
para ser. Sempre gostei de ciência e acreditava em fatos, mas com os meus
lábios a centímetros dos da Rosi, eu consegui entender a definição de
tentação e pecado: era quando se queria muito fazer alguma coisa, mas que
era extremamente errado.
Você é como uma filha para mim... Sua voz ecoou na minha mente e eu
apertei o controle com força entre os meus dedos, acionando um monte de
botões de uma única vez.
Não desejava que ele me visse como filha, mas sim como sua futura
esposa. Não alguém que ele colocasse na cama para dormir e para quem
contaria uma história, mas queria ser aquela que ele levaria para cama e
transaria a noite toda.
— Estou entrando... Espero que você não esteja pelada porque não
quero ver as suas tetas.
— Agora, até eu amo esse cara. Vou poder beber e deixar você dirigir.
— E por que está triste? Não quer dirigir e ele te obrigou? Isso muito
me surpreende, porque você nunca foi o tipo de garota que aceita que
decidam alguma coisa por você. Me pede conselhos, mas sempre faz tudo ao
contrário.
— Acredita que ele teve coragem de dizer que sou como uma filha para
ele e que se tiver uma filha, quer que ela seja igual a mim?
— Se ele tiver uma filha com você aumenta muito as chances de ser
como ele quer. — Riu todo debochado e eu tive vontade de arrastar a cabeça
do meu melhor amigo na parede.
Olhei torto para ele, mas não disse nada. Dani sabia o quanto eu amava
o Guto e sonhava em ficar com ele, mas tirava sarro de mim na maioria das
vezes. Namorar o melhor amigo do meu pai com o dobro da minha idade
parecia tão impossível quanto querer um ator de Hollywood que nem sabia
quem eu era.
Desci as escadas indo para a cozinha, mas antes de chegar lá, passei
pela sala de estar onde meu pai e o Guto estavam assistindo algum jogo de
futebol. Estavam compenetrados, atentos a cada movimento e vibravam com
os lances dos jogadores do São Paulo.
— Ah, pelo amor de Deus, seu juiz — resmungou o meu pai, levando
as mãos à cabeça. — Você viu, Guto? O cara entrou com tudo, quase quebrou
a perna do nosso atacante, e o juiz ainda vem dizer que não é falta para
cartão. Cadê o VAR numa hora dessas? Aposto que esse cara é corintiano.
Apenas fiz que sim. Não era nenhuma novidade para o meu pai; Dani e
eu éramos inseparáveis desde os meus oito anos quando começamos a estudar
juntos na mesma escola.
— Série. Saiu uma nova ontem sobre um bruxo na idade média que
persegue monstros. Estávamos muito a fim de ver.
Percebi que o Guto apenas ficou nos observando, mas não se deu ao
trabalho de dizer nada. O clima entre nós dois ainda estava muito estranho
desde o momento no carro dele depois da autoescola, porém, eu ainda não
havia desistido do Guto. Havia esperado dezoito anos por uma chance com
aquele homem, e poderia esperar um pouco mais.
Capítulo 13
— Dorme direto. Prefiro eles aqui do que a Rosi indo para casa dele,
mas ele é um bom garoto, o conheço desde pequeno. É filho do Thiago,
aquele advogado da firma que trabalha para gente. O moleque também está
fazendo Direito e deve seguir os passos do pai.
— Realmente, parece um bom rapaz. — Voltei a me acomodar no sofá
ao lado do meu melhor amigo quando o segundo tempo do jogo começou.
Tudo o que eu tinha que fazer era torcer para que a Rosi focasse no
garoto e parasse de me tentar. Isso era o melhor para nós dois.
— Sabe que eu confio cem por cento no seu julgamento. Acredito que
se fecharmos esse negócio vai ser muito lucrativo para nós. Essa semana eu
estava analisando o desempenho de marcas próprias de outros supermercados
e as perspectivas são muito boas. Se conseguirmos um produto de qualidade,
poderemos reduzir custos com distribuidores e outros atravessadores,
garantindo um menor custo para os nossos consumidores finais.
— Sim, senhora.
Margarida era uma mulher radiante, que alegrava a todos a sua volta, e
me achava um cara de sorte por tê-la como amiga. Ela e o Ricardo eram
felizes e a prova viva de que o amor poderia ser real.
Capítulo 14
— Bem, também.
— Yakissoba.
— Oba! — Ele se sentou e foi direto se servir. — Pai, vai ter uma
excursão para o MASP na semana que vem, eu posso ir? Vai ser muito legal.
Daniel vivia dizendo que não tínhamos nada a ver, que o melhor era
que eu desencanasse. Às vezes, eu sentia que precisava aceitar isso, mas,
quando tentava me desfazer da esperança, a história se tornava outra, pois no
fundo, bem no fundo, acreditava que eu tinha alguma chance. O divórcio dele
depois do meu aniversário de dezoito anos era um sinal.
Ainda estou no primeiro, mas acho que ele tem seus motivos
para agir assim. Ele sempre focou em proteger a irmandade, ele passou
séculos sendo desse jeito.
Ah, não! Ele tem que cuidar da mulher que está grávida dele.
Tenho ranço.
#ProntoFalei.
Kkkk
E o que decidiu sobre o amigo do seu pai?
Toma cuidado.
— Sabe que eu amo você. — Pulei para o colo dele e o abracei até
sufocá-lo.
— É bom mesmo.
Sabe que eu amo você... a voz da Rosi se declarando para um cara com
a idade dela ecoou na minha mente enquanto eu estava a caminho do quarto.
Era bem melhor assim, para todo mundo.
Senti um aperto incomodo, mas não dei importância para isso, tinha
outros problemas para resolver e deveria ficar feliz pelo namoro da Rosi. O
garoto sendo filho do Thiago deveria ser uma boa pessoa.
— Oi, Guto.
— Oi. — Senti um gosto amargo na boca ao, sem querer, olhar para o
decote da sua camisola.
Garanti a mim mesmo que ela não estava vestida desse jeito para
chamar a minha atenção. Era insano sequer cogitar nisso. Rosi estava com o
namorado no quarto e era óbvio que eles deveriam ter transado ou ainda iriam
transar naquela noite.
Dei um passo para o lado e Rosi virou de costas, descendo pela escada.
Assim que ela sumiu de vista, apressei-me em ir para o quarto de hóspedes
onde eu estava dormindo. Tranquei a porta e me escorei nela, ofegando.
Parecia que quanto mais eu dizia a mim mesmo que não deveria olhar com
cobiça para a filha do meu melhor amigo, mais os meus olhos queriam
passear pelo corpo dela.
Abaixei a cabeça e inspirei, expirei, e inspirei novamente. Queria
controlar as batidas frenéticas do meu coração. Segunda-feira, eu teria que
buscar urgentemente um outro lugar para morar. Eu nunca havia me sentido
tão mal por olhar desse jeito para uma mulher. Só de pensar na reação do
meu melhor amigo ao descobrir que eu havia reparado nos seios da filha dele,
eu mesmo tinha vontade de me dar um soco.
Voltei para o meu quarto após ter saído para tomar água e encontrei o
Daniel me olhando com uma expressão cheia de julgamento, o que me fez
estremecer.
— O que foi?
— Ele quem? Ah, fofa, você acha que eu sou idiota? Não teria saído do
quarto com essa camisola promíscua se não fosse para chamar a atenção do
Gutemberg. Ou tem alguma outra pessoa aqui nessa casa que você queria que
a visse assim? Porque não venha me dizer que é só uma camisola. Ninguém
usa uma camisola pequena de cetim e renda se não quer ser notada.
— E...?
— E nada. — Bufei. — Ele não disse nada nem fez nada. — Joguei o
meu corpo na cama ao lado do meu melhor amigo.
— O que você esperava que ele fizesse? Que pegasse você no colo, te
levasse para o quarto de hóspedes, e te desse uma noite de sexo muito louca?
— Deitou-se de lado para me observar melhor e, de cenho franzido, aguardou
a minha resposta.
— Não quero ser o pessimista, mas vou te dizer algo que você precisa
parar pra pensar. O cara tem a vida feita, quase quarenta anos, passou por um
montão de coisas, e está se divorciando da esposa. Ele pode não ter o menor
interesse em você, e você está fazendo tudo isso por nada.
— Eu sou uma mulher interessante e vou fazer com que ele note isso.
Daniel foi embora no domingo pela manhã, bem cedo. Disse que
precisava estudar uma matéria e ler alguns textos que os professores da
faculdade haviam passado para ele. No fim, tinha me deixado sozinha com
meus pensamentos e sonhos platônicos.
Enquanto lia um texto sobre teoria das cores, fiquei pensando no que
faria para chamar atenção do Guto. Porque, por maiores que fossem os
nossos empecilhos, eu sentia que ele me queria, apenas não tinha coragem de
dizer.
— Você continua sendo muito sem graça nos jogos, Guto — disso o
meu melhor amigo ao guardar as cartas, e percebi que a nossa tarde de
domingo jogando baralho tinha ido para o saco.
— Você é um chato. — Ele fez uma careta e, quando vi, nós dois
estávamos rindo juntos.
— Eu sou um chato, mas eu sei que você me ama.
— Estávamos jogando pife, mas não tem graça nenhuma jogar contra o
Guto, porque ele ganha todas. O Rodrigo até se irritou e já foi embora.
— Distribua as cartas, meu amor. Quero ver por quanto tempo esse
engomadinho do seu melhor amigo consegue se manter invicto.
— Parece que nós temos uma vencedora aqui. — Ele levantou a mão
dela, todo orgulhoso.
— Guto!
— Podem ir.
Você já está jogando comigo, não está, garota? Aquela foi uma
pergunta que eu só fiz mentalmente ao travar meus olhos no castanho dos
seus.
— Pode ser.
Daniel dizia que as chances do Guto sentir algo por mim eram nulas.
Ele era um cara mais velho, que estava em um momento da vida diferente do
meu, porém, depois daquela noite de domingo, da forma como ele se
esforçava para não me olhar diretamente nos olhos ou para não encarar o meu
corpo, percebi que ele estava lutando contra algo que poderia ser um
combustível. Eu apenas precisava acender uma faísca para que pegássemos
fogo.
Eu ainda era virgem e se tinha alguém que eu queria que mudasse esse
meu status era o Guto.
Quando os meus pais subiram para dormir, Guto foi para perto do meu
irmão, que estava estirado no sofá da sala.
— Ishi, tio! Acabei de usar o vaso. Acho que se o senhor esperar uns
dez minutos, dá para entrar de boa.
Guto fez uma careta ao imaginar o cheiro que o meu irmão poderia ter
deixado no banheiro dele. Rodrigo sempre foi um pouco porquinho e ainda
bem que ele possuía o próprio banheiro no quarto.
— Pode usar lá, Guto — disse para ele naturalmente, sem deixar que
qualquer comemoração ficasse explícita.
Estava prestes a ir atrás dele, quando meu irmão parou na minha frente.
— Deve ser por causa que ele e a tia Olivia terminaram, né? Coitado.
— Mas o filme que está passando agora não vai passar amanhã.
— Ela já tinha dito para você ir dormir que eu sei. Quer que eu a
chame?
A bunda da Rosi não era grande demais, mas era redonda e linda.
Apenas um pequeno fio da calcinha descia por entre as suas nádegas e cobria
o seu buraco enrugado. Acima, na linha da cintura, havia um lacinho delicado
com alguns cristais que brilhavam com os movimentos dela. Achei que
aquela era a pior parte, mas, quando a Rosi se virou para mim, fui tomado por
um tesão, que não sentia por muitas mulheres da minha idade.
— Ah, você saiu. Agora posso tomar banho — disse, como se não
tivesse enxergado problema algum em eu vê-la praticamente nua.
— É, faz tempo. — Ela passou por mim e entrou no banheiro, mas não
fechou a porta.
Dentre todas as garotas do mundo, por que eu queria tanto trepar com a
filha do meu melhor amigo?
***
— Eu não ligo.
Maldita determinação que ela havia herdado da mãe.
Toquei o meu pau sob a bermuda e senti que ele estava pulsando, o
sexo poderia ter sido um sonho, mas o desejo era bem real e estava ali, me
enlouquecendo. Joguei as pernas para o lado e me sentei na beirada da cama.
Segurando o meu pau com uma mão, abaixei a minha bermuda com a outra.
Uma parte de mim esperava ter uma visita noturna do Guto. A outra, a
racional, recordou-me das palavras do meu melhor amigo e do fato do meu
pai estar dormindo no quarto ao lado.
Embora meu plano parecesse ter fracassado, ainda não tinha me dado
por derrotada. Eu amava aquele homem desde que conhecera a palavra amor.
Só desistiria dele quando ficasse evidente que eu não tinha mais chance
alguma.
Acordei mais cedo do que o normal, pois iria para a autoescola antes da
minha aula na faculdade. Me arrumei, colocando uma calça jeans ao me
lembrar da surtada do Guto da última vez, mas tentei parecer mais bonita e
sensual possível com uma calça apertada e uma blusa com decote.
— Bom dia!
— Seu pai não pode fazer isso? Ou, sei lá, você não pode pedir um
motorista de aplicativo?
Engoli em seco diante da resposta dele. Guto sempre havia sido muito
carinhoso comigo, mas, naquele momento, parecia um verdadeiro cubo de
gelo. Se me ver nua não significou nada para ele, então por que estava agindo
daquele jeito?
— Você não vai se atrasar, eu juro. E meu pai ainda nem acordou.
Ele ficou me encarando por alguns segundos até que balançou a cabeça
em afirmativa e eu abri um sorriso.
— Tudo bem.
— Muito obrigada!
— Certo.
— Eu não deveria sentir tesão por você. Isso é errado , Rosi. É a filha
do meu melhor amigo.
Ele puxou mais a peça até que o meu seio esquerdo saltasse para fora
do sutiã. Eu não imaginava que iria perder a virgindade dentro de um carro,
mas estava tudo bem para mim, porque eu não queria que ele parasse. A
textura úmida e aveludada da sua língua traçou o contorno do meu seio até
que seus lábios envolveram meu mamilo. Pressionei minhas pálpebras,
fechando meus olhos ainda mais, para que eu não perdesse nenhuma daquelas
sensações de prazer e excitação que jorravam pelo meu corpo.
Com uma mão, Guto mantinha a minha blusa abaixada, usando a outra
para pressionar a minha cintura e me apertar contra a ereção na sua calça. Eu
rebolei mais intensamente nele, pedindo que me tornasse sua. Eu poderia ser
virgem, mas conhecia muito bem aquele desejo. Muitas vezes eu havia me
tocado imaginando como seria ter as mãos dele no meu corpo.
— Não entende que não podemos fazer isso, Rosi?! — Vi os olhos dele
se encherem de lágrimas e vi o semblante excitado dar lugar ao ar de
desolação e culpa.
— Eu quero.
— Guto...
— Guto...
Quando chegamos mais perto foi que eu percebi que o havia afastado
mais. Eu amava aquele homem e, pelo desejo com que ele me beijou, percebi
que o sentimento era mútuo. Por que não poderíamos simplesmente ficar
juntos?
Capítulo 21
Eu achei que iria conseguir resistir; fui tolo o bastante para pensar que
a situação não sairia do meu controle, porém, lá estava eu, de pau duro e com
o sabor dela na minha boca. Havia beijado a Rosi como nunca tinha beijado a
Olivia e, por pouco, não a fodi na garagem, sujeito a ser pego no flagra pelo
meu melhor amigo.
— Bom dia, cara. — Abri um sorriso amarelo, sem saber o que fazer.
Havia contado para o Ricardo tudo, a vida inteira, mas não sabia como
reagir diante daquela situação. Se eu fosse pai, não iria querer que um cara,
nem mesmo um desconhecido, falasse para mim sobre desejos sexuais e
amassos com a minha filha.
— Ah, a minha mala. — Fiquei ainda mais sem jeito quando ele notou
que eu havia juntado as minhas coisas. Além disso, escondi minha mão para
que ele não notasse os machucados.
O que poderia dizer para ele? Nunca havia mentido para o Ricardo na
minha vida, mas que opção eu tinha? Falar que a filha dele era a minha maior
tentação não era a melhor alternativa.
Pensei que no meu escritório eu teria paz, mas assim que puxei a
pesada porta de madeira , deparei-me com uma pessoa que não queria ver
sentada na minha cadeira, girando como e a sala fosse dela.
— Você foi bem rápido, hein? — Ela abriu a bolsa, tirou uma pasta de
papel e colocou sobre a minha mesa.
— O que é isso?
— Não tem nenhuma outra — disse num tom firme. Em partes era
verdade, pois a mulher que estava roubando o meu sono não poderia ser
minha.
— Cinco milhões mais a casa, que vale uns dez. Acho que é um bom
acordo.
— Você tem muito mais do que cinco milhões nas suas contas.
— Isso não importa. Caso não se lembre, nós nos casamos com
separação de bens. O dinheiro é meu, eu trabalhei por ele. Acho que cinco
milhões é uma quantia suficiente para que você possa ter uma vida
confortável sem se preocupar com trabalho.
Não respondi ao ataque dela. Tornar aquele clima horrível ainda pior
não era a melhor alternativa para o momento. Esperava que ela apenas
assinasse os papéis sem criar caso.
— Ainda podemos ser amigos. — Insisti com um gesto para que ela
me entregasse.
Deixei que ela saísse sem que eu comentasse algo sobre continuarmos
ou não com encontros sexuais depois do fim do nosso casamento. Essa era
uma outra área que andava muito conturbada na minha vida.
Assim que Olivia fechou a porta do meu escritório ao passar por ela,
peguei o telefone sobre a minha mesa e liguei para o Danilo, dizendo que iria
mandar um motoboy entregar para ele os papéis assinados pela minha ex-
esposa.
— Sim, senhor.
— Obrigado.
Subi de elevador até a sala onde teria a minha primeira aula e me sentei
bem no fundo. Iria ficar dispersa como na autoescola e não queria que a
professora ficasse incomodada comigo. Peguei o meu caderno e fiz alguns
desenhos, rabiscando a esmo enquanto me lembrava do sabor dos lábios dele
nos meus, das suas mãos pelo meu corpo, e da sua boca nos meus seios...
Eu queria mais dele, muito mais...
Estava muito ansiosa para que o meu dia acabasse. Mal via a hora de
voltar para casa e vê-lo. Queria que o beijo se repetisse e ansiava para que ele
fosse além. O meu amor platônico finalmente não era mais tão platônico
assim.
Demorou tanto tempo para vir alguma mensagem, que nem sabia se ela
iria me responder. Era provável que na cidade do interior onde ela havia ido
morar, o celular nem funcionasse direito.
Rolou o quê?
O quê?
Isso é obvio. Não acha que o seu pai vai dar um treco quando descobrir
que você quer namorar o melhor amigo dele?
— Rosi.
— Acho que está. Não perguntei. Você sabe como ela é estranha,
muito na dela. Apesar de ser muito diferente de mim, eu gosto daquela
garota. Sinto falta de quando ela morava em São Paulo e eu podia ir até lá
para a gente se ver.
— Depois a gente fala sobre ela. Tenho que te contar uma coisa que
aconteceu hoje cedo. — Puxei ele pelos ombros até um corredor lateral diante
de umas salas que estavam sempre vazias.
— Não teve nada de sonho. Guto e eu nos beijamos. Foi no carro dele e
foi muito real.
— Que ele não deveria sentir tesão por mim. Disse que era errado e
está muito preocupado com o que o papai vai achar disso tudo.
— Você tem razão. Parece louca, mas tem razão. Meus pais iriam
surtar tanto quanto o seu pai se soubessem da verdade. Porém, não quero um
relacionamento hétero só porque eles acham que é o certo. Você ama o Guto,
sempre amou. Acho que a sua situação é tão complicada quanto a minha.
— Ele está lutando contra isso, porque acha que é errado, só porque as
pessoas dizem que é errado. Não sei onde, porque não tem nenhuma lei que
proíba um cara de trinta e seis namorar uma mulher de dezoito. Porém, hoje,
quando ele me beijou, tive a certeza de que ele me queria.
— Sempre fui uma ótima aluna. — Dei de ombros e ele riu, como se
não acreditasse em mim, mas, no fundo, eu sabia que era puro deboche.
Capítulo 23
Quando saí do escritório naquele fim de tarde, uma chuva fina caía
mansa e escorria pelos vidros do meu carro. Era como se nem o clima
estivesse em seu melhor momento. Sozinho no carro, parado no trânsito a
caminho do hotel, onde passaria à noite, não me restava mais nada para me
manter longe dos meus devaneios. Liguei o som alto, coloquei uma batida de
rock pesada, que ecoava em minha cabeça, porém, não foi o suficiente para
afastar meus pensamentos, pois a letra da música Forbidden Love do The
Darkness falava sobre um amor proibido. Nada poderia ser mais adequado
para o momento que eu estava vivendo.
De longe
Era errado e proibido desejar a Rosi, porém, quanto mais eu dizia para
mim mesmo que não podia, que não deveria, mais eu a queria. Agradecia o
lapso de sanidade, pois, caso contrário, teria transado com ela na garagem do
Ricardo, no local onde meu melhor amigo poderia nos ver e a situação ficaria
ainda pior.
Rosi poderia ser uma mulher agora, mas não era uma mulher para mim.
Qualquer sentimento que eu nutrisse por ela era errado e proibido. Deveria
usar todas as minhas forças e energias para mantê-lo escondido no canto mais
obscuro de mim. Ricardo não iria saber o quanto eu desejava a filha dele e eu
nunca mais iria tocar a Rosi.
— Isso.
A Rosi...
Ela era proibida para mim, mas, às vezes, parecia difícil me lembrar
disso. Desabotoei o meu blazer e o coloquei sobre uma poltrona ao lado da
cama, e fiz o mesmo com a minha camisa, antes de tirar os sapatos, a calça e
a cueca. Precisava de um banho relaxante, depois do gelado que havia
tomado pela manhã.
Queria arrancar aquela tentação de mim. Por que era tão difícil?
— Por que, Rosi? Com tantos homens da sua idade, por que gostar de
mim?
Quando dei por mim, estava com os olhos fechados e a mão no pau. Na
minha mente, eu me encaixava na Rosi e ela deitava a cabeça no meu ombro,
gemendo baixinho, enquanto eu começava a me mover em seu interior.
Deveria ser quente e apertada... a sua bunda macia esfregando em mim
tornaria tudo ainda mais delicioso. Gozei, pensando no quanto gostaria de
estar dentro dela.
— Pai, onde está o Guto? — Não sabia se era adequado fazer aquela
pergunta, mas quando vi o meu pai chegar sozinho e se sentar na sala como
fazia todos os dias para ver o jornal, fiquei curiosa. Estávamos na sala de
jantar, horas já haviam se passado e nenhum sinal dele. Como sempre
chegava com o meu pai, deveria haver algum motivo para ele ainda não estar
ali.
— Ah!
Eu não possuía qualquer prova disso, mas a sensação que eu tive era
que ele estava fugindo de mim. Certamente, ele se preocupava mais com o
que as outras pessoas e o meu pai pensavam do que com o que sentíamos um
pelo outro.
Depois de ter comido com muito esforço, empurrei a cadeira, fui até a
cozinha lavar a louça e subi para o meu quarto. Tinha uns textos da faculdade
para ler e um trabalho para concluir.
— Oi, mãe.
Fazia um bom tempo que a minha mãe não aparecia no meu quarto
daquele jeito. Na adolescência, costumava ser para me dar broncas longe do
meu pai e do meu irmão.
Ela se sentou na minha cama e bateu no colchão ao lado dela para que
eu me sentasse ali. Ao fazer isso, ela me deu a certeza de que pretendia
conversar comigo. Se era para me dar uma bronca ou um conselho, eu só
descobriria em breve.
— Você e o Guto.
— Oi, mãe.
— Você jura?
— Quero saber o que aconteceu, filha. Não adianta me dizer que não
houve nada. Conheço muito bem o Gutemberg, e ele ficava superestranho
perto de você. Parecia fazer de tudo para te evitar.
Olhei para o chão, fitando as unhas feitas dos meus pés. Entendi toda a
dificuldade que o Dani tinha em dizer para a família dele que era gay. O
medo de ser julgada era muito grande, porém, a minha mãe costumava ser
uma pessoa muito insistente, e eu não teria paz até que ela arrancasse de mim
a verdade.
— Rosimeire.
— Oi, mãe.
— Acha que a sua mãe que te carregou nove meses no ventre não sabe
quando tem algo acontecendo? Ele fez algo com você, querida?
— Quê? Não! — respondi para que a minha mãe não criasse nenhuma
imagem mental ruim do Guto, porém, acabei dizendo rápido demais. — Bom,
ele não fez nada que eu não quisesse.
— História nenhuma.
— Vai me contar ou prefere que eu chame o seu pai para termos uma
conversa em família?
— O papai também.
— Mas a minha diferença de idade para o seu pai é de cinco anos e não
de dezoito.
— Era por isso que eu não queria contar. — Me levantei da cama, mas
a minha mãe me segurou pelo pulso e me puxou de volta.
Não queria contar, porém, senti a necessidade, e sabia que ela não iria
me dar paz.
— Não acha que sou eu quem tem que definir isso, mãe? Seus pais
também achavam que o papai não era o cara certo para você e te expulsaram
de casa quando você não quis me abortar. Se você não tivesse seguido o seu
coração, eu nem estaria aqui. — Meus olhos se encheram de lágrimas e
minha mãe também chorou.
— É, eu consegui.
Desejava estar perto dela, queria poder ouvir sua voz, ou apenas
observar o seu sorriso. Essa vontade aumentava exponencialmente a cada dia
que passava sem vê-la. Esse deveria ser o tal sentimento que chamavam de
saudade.
— É sobre o divórcio?
Ah, o divórcio... fui casado com a Olivia por cinco anos, mas, na última
semana, eu não tinha pensado nela e nem em nenhum dos momentos em que
vivemos juntos. Talvez eu devesse estar triste, lamentando pelo fim do meu
casamento, porém, eu sentia um certo alívio. Era horrível pensar assim, mas
parecia que eu havia me livrado de um obstáculo na minha vida. Eu estava
livre, mas livre para quê?
Para Rosi...
Eu ri, mas, no fundo, estava rindo de tristeza por minha cabeça sequer
cogitar aquela possibilidade. Não adiantava nada eu ficar livre para a Rosi,
pois ela nunca poderia ser minha, nem que eu jamais tivesse me casado.
Talvez, se eu tivesse dez anos a menos e o Ricardo não fosse o meu melhor
amigo, mas esses eram dois fatores que eu não poderia mudar.
— Tenho certeza de que não irei, mas sei que não entrou aqui para
falar sobre o meu divórcio. O que foi?
Das poucas coisas que eu tinha tanta certeza, uma era o fato de que
acabaria fazendo besteira se continuasse tão perto da Rosi. Muito sêmen
havia descido pelo ralo do banheiro do hotel enquanto eu pensava nela.
— Bom dia.
— Eu gostava da casa que deixei para minha ex-esposa, mas não sei o
que quero agora; pretendo ter um tempo para pensar antes de decidir qual
rumo vou tomar para minha vida.
Nós dois caminhamos até onde o carro dele estava estacionado junto à
uma vaga na rua e aceitei a carona para que ele me levasse ao primeiro
endereço, que ficava apenas a poucas quadras dali.
Pela cara do corretor, eu soube que não seria uma surpresa se alguns
dos inquilinos daquele prédio usassem o lugar como um motel particular.
Porém, não cabia a mim julgar quem se deitava ou não nas camas ali. Eu
apenas precisava de um canto para ficar por um tempo até que que decidisse
qual rumo iria dar para a minha vida.
— Compreendo.
— Obrigado.
— Guto!
— Tem muitas coisas que eu deixei na casa. Posso passar aí mais tarde
para buscar?
— Vou passar aí depois que sair da empresa. Deve ser lá pelas sete.
— Tudo bem.
— Obrigado, Olivia.
— Por nada.
Achei que, contando para a minha mãe o que eu sentia pelo Guto e a
nossa situação, as coisas fossem ficar mais fáceis. Em uma realidade utópica,
ela contaria para o meu pai, ele diria ao amigo que aprovava o nosso
relacionamento, e seríamos felizes para sempre, porém, isso não aconteceria
nem nos meus sonhos.
Já fazia uma semana que eu não via o Guto. Queria perguntar para o
meu pai como ele estava, já que se viam todos os dias no trabalho, porém,
tive medo de que pudesse causar alguma reação ruim.
Estava arrependida pela forma como agi com ele, fui com sede demais
ao pote e acabei o espantando. Talvez , se eu não tivesse me insinuado tanto ,
ele ainda estaria hospedado na minha casa.
Esse é o Bulldog.
Logo abaixo da mensagem dela havia uma foto de um cara. Ele era
alto, com cabelo castanho e musculoso. Pelos traços do rosto, imaginei que
pudesse ter a idade do Guto, ou algo parecido. Ela estava reclamando do jeito
do cara e da rivalidade que ele tinha com o seu pai, porém estava achando
que era mais no nível do quem desdenha quer comprar.
Ele é casado?
Rosi!!!
Não sou como você que gosta desses caras bem mais velhos.
Por que está dizendo isso? Achei que o seu pai fosse um cara
legal.
Ah, meu pai é um cara legal, sim. Porém, parece que não é
legal o bastante para aprovar um relacionamento entre mim e o
Guto.
Já falou para ele?
Ansiosa para saber como o pai dela vai reagir com o namoro.
Você já leu?
Beleza. Beijos!
Será que ele não havia gostado do beijo tanto quanto eu? Bufei,
soltando o ar com força. Não era possível que um mesmo momento pudesse
ser tão diferente para duas pessoas. A forma como ele tinha me beijado e
percorrido o meu corpo com as mãos e com a boca, dava a impressão de que
ele estava gostando bastante, mas será que o Dani e o os outros estavam
certos? O Guto não era homem para mim?
Odiava estar vivendo aquele dilema. Era tão injusto gostar tanto de
uma pessoa e não poder simplesmente ficar com ela.
Capítulo 27
— No divórcio?
— Vou até a minha antiga casa buscar algumas coisas que deixei lá e
terei que encontrar a Olivia.
— Sabe que minha casa vai sempre estar de portas abertas para você.
— Amigos são para essas coisas. — Ele deu uns tapinhas no meu
ombro. — Sei que, se eu estivesse no seu lugar, você estaria fazendo o
mesmo por mim.
— Bom, então nos vemos amanhã. — Ricardo sorriu para mim. — Boa
sorte com a Olivia. Se seguir seu coração, tudo ficará bem. — Ele acenou e
deixou a minha sala.
Joguei a chave do carro no bolso e segui até a sala, esperando ver todas
as minhas coisas empacotadas em algumas caixas, para que eu pudesse ir
embora o mais rápido possível. Porém, não estavam lá. Olivia,
possivelmente, nem havia se dado ao trabalho de pedir que uma das
empregadas juntasse as minhas coisas por ela.
O cômodo estava silencioso e se não fosse por ter ouvido a voz dela há
alguns minutos, eu teria achado que a Olivia não estava ali. Empurrei a porta
e entrei a passos lentos, mesmo sabendo que havia sido convidado a entrar.
— Olivia?
— Estou aqui.
Virei a cabeça e a vi sentada na cama. Ela estava com uma fina
camisola de seda e os cabelos escuros soltos ao redor do rosto, emoldurando-
os. O que havia dado nas mulheres para quererem usar tantas roupas
provocativas diante de mim? Ou não usar roupa nenhuma... lembrei-me da
Rosi nua na minha frente e essa imagem me perturbou. Deveria apagá-la da
minha memória, precisava, mas simplesmente não conseguia.
— Quer dizer que um papel faz com que você me ache menos gostosa?
— Então, quer dizer que mal nos separamos e você já está trepando
com outra? — Cerrou os dentes e fez um bico, irritada com algo que só
existia na cabeça dela, ou talvez fosse eu o equivocado e o meu tesão pela
Rosi estivesse bem evidente.
— Se eu fosse pai... bom, seu eu for pai algum dia, eu serei um bom
pai.
— Eu duvido que vá encontrar essa esposa perfeita que você tanto quer
— disse em tom de maldição, mas fingi não estar ouvindo, pois, no fundo,
nem queria cogitar que ela pudesse estar falando a verdade.
Depois de quase duas semanas sem nos ver, com desculpas e mais
desculpas para não ir à minha casa, Guto e eu ficaríamos frente a frente.
Aquele era o evento mais importante em anos e ele não poderia simplesmente
desaparecer.
Boa festa!
Obrigada!
A festa seria no supermercado que fora dos meus avós, pais do meu
pai, em um bairro do subúrbio, onde tudo havia começado.
— Obrigada.
— Seus pais vêm para festa, amor? — Minha mãe tombou para o lado,
prendendo o cinto antes de procurar os olhos do meu pai.
— Meu pai disse que vem, mas você conhece o velho, depois que
compraram aquela chácara, eles não saem de lá por nada.
— Ah, vai ser legal ver o vovô. — Rodrigo deu um pulinho no banco e
percebi que, apesar de não parecer, meu irmão estava prestando atenção no
que os nossos pais estavam falando.
— Eu também acho. Vou perguntar para eles qual semana eles acham
que é melhor.
— Perfeito.
Meu pai dirigiu por quase meia hora até chegarmos ao supermercado.
Ele deu a volta e estacionou na área de carga e descarga, onde havia um
caminhão com a logo da rede. Nós descemos do carro e seguimos até a
entrada. Já passava das oito horas da noite e o mercado já estava fechado para
os compradores e, transitando em seus corredores, estavam apenas os
convidados para o momento solene. Na entrada, em uma área mais aberta e
mais ampla, havia algumas mesas montadas para o coquetel e um espaço com
cadeiras diante de um pequeno púlpito onde o meu pai e o Guto deveriam
fazer alguns pronunciamentos falando sobre a marca própria de produtos.
Segui atrás dos meus pais para um pequeno círculo de pessoas e não
demorou muito para que eu o visse. Guto estava conversando com um cara,
mas não dei muita importância, pois meus olhos ficaram focados na razão dos
meus sonhos desde que eu era capaz de fantasiar com algum homem. Percebi
que ele ficou tenso, mudando o peso de uma perna para outra, mas não
desviou o olhar. Ele estava lindo, não que já não fosse bonito no dia a dia,
mas estava ainda mais, dentro de um terno preto bem alinhado, como se
houvesse se vestido para um grande baile. Os olhos castanhos dele passearam
por mim e o meio sorriso me indicou que ele havia gostado do que tinha
visto.
— Oi, Rosi.
Gostaria que ele não mexesse tanto comigo; era difícil me controlar
daquele jeito; não sabia o que fazer, e obviamente, metia os pés pelas mãos.
Porém, a vontade de me jogar nos braços dele ainda era muito forte. Era
pedir demais que a situação fosse mais fácil?
— Entendi. — Ele não tirou os olhos de mim e isso fez com que eu
ficasse ainda mais vermelha.
Quê? Ficou doida, Rosi? Não era para você estar na festa?
O seu Bulldog.
É bem mais bonito pessoalmente do que pela foto que você me
mandou.
Ele é seu?
Me diz que é seu que vou soltar fogos por você finalmente estar
paquerando.
Obrigada.
— Oi, Rosi. — Ouvi a voz do meu melhor amigo e vi que ele estava se
aproximando de mim. Guardei o meu celular na bolsa e me espichei para
abraçá-lo.
— Hum, tá gata!
— Obrigada!
— É o cara da Deborah.
— Jargão do Sul.
— Isso mesmo!
— Não sei. Ela não falou nada, nem admitiu que estava a fim, mas me
pediu para ficar longe dele.
— Não! Nós dois? — Dani apontou para a gente. — Não sei de onde
tirou isso, mas, definitivamente, não somos namorados.
— Um amigo.
Nenhuma palavra foi dita; Guto queria tanto quanto eu. Pouco nos
importamos com a festa que estava acontecendo no supermercado. Daquela
vez, Guto não iria interromper o nosso momento.
Ele passou a língua pelos meus lábios ao puxar meu cabelo pela nuca e
tombar minha cabeça para o lado. Seus dentes rasparam a pele frágil da
minha garganta e o chupão que veio em seguida me fez gemer baixinho.
Segurei na beirada da mesa e fechei os olhos, entregando-me ao momento
que eu sempre sonhei, o de me tornar mulher nos braços de Gutemberg
Toledo.
Guto passou a mão por entre os nossos corpos e tocou a minha vagina,
sob minha calcinha. Eu me espichei sobre a mesa, rebolando na madeira
velha e empoeirada, que rangeu. Torci para que a música da festa abafasse
nossos sons.
Ele se afastou um pouco, apenas para puxar a minha calcinha; fez com
que ela escorregasse pelas minhas pernas e a colocou dentro do bolso.
Enquanto abria a própria calça e tirava o membro dela, Guto percorreu com a
boca o meu decote e empurrou com os dentes, para que pudesse abocanhar o
meu mamilo.
Sem sair de mim, Guto tirou uma das mãos das minhas coxas e a
colocou sobre o meu clitóris. Com pressão e movimentos circulares, e com
ele me estimulando, apertei mais os seus ombros, porém, dessa vez, não era
por dor. Rebolei nele, esfregando as minhas pernas na lateral das suas e logo
fui invadida por uma onda que espantou a dor e me deixou toda formigando.
— Não.
— Porra! — Ele passou uma mão pelo cabelo, puxando-o para trás,
quase o arrancando. — Eu tirei a virgindade da filha do meu melhor amigo.
Onde eu estava com a cabeça? — Ele estava falando sozinho, mas quando
voltou a me encarar, percebi que o questionamento a seguir seria para mim.
— Você e o Daniel... nunca?
— Se eu tivesse dito para você que era virgem, você teria transado
comigo?
Quando eu gozei dessa vez, tive que morder meus lábios para não
gritar alto. O prazer era intenso e arrebatador. Estava completamente sem
forças e meu corpo todo tremia.
Uma batida forte na porta fez com que o Guto se levantasse e ajeitasse
a calça.
Havia feito o meu melhor para me manter afastado dela por semanas,
porém, encontrara com a Rosi por alguns minutos em um evento público, e
bastou um cara flertando com ela para que eu perdesse completamente a
razão. Num piscar de olhos, a arrastara para uma sala velha e suja e trepei
com ela feito um animal.
Ela era só uma menina virgem. VIRGEM! Rosi tinha apenas dezoito
anos e eu a fodi sem qualquer cuidado. Só de pensar na dor que ela pode ter
sentido pela forma bruta com que eu agi, sentia vontade de socar a minha
própria cara.
Eu tinha batido muita punheta para aquela garota, mas estar dentro dela
foi inigualável, e pensar no prazer que eu senti, mesmo que tivesse sido uma
trepada desesperada, fazia com que eu sentisse ainda mais culpa.
— Caralho!
Era errado, era muito errado, mas eu a queria tanto! Além disso, a Rosi
não colaborava, fazia de tudo para que eu a desejasse ainda mais.
A Rosi tinha apenas dezoito anos, metade dos meus trinta e seis. Estava
no início da vida e eu não tinha o direito de violá-la como eu violei. Um oral
não recompensava o fato de ter rompido o seu hímen; na verdade, só piorava.
Não bastava tê-la invadido com o pau, também fiz com a língua.
Era a primeira vez que eu tirava a virgindade de uma mulher, mas sabia
que não deveria ter sido feito daquele jeito. Muito carinho e sem pressa era o
mínimo. Virgindade não era algo que se tirava com uma trepada, algo bruto e
faminto como eu tinha feito.
Eu amo você, Guto... Será que amava mesmo ou era só uma paixonite
adolescente? Não poderia negar que ela era bem determinada. Havia me feito
extrapolar a linha do bom senso e o resultado foi ter tirado a virgindade dela
feito uma besta.
Então, eu deveria deixá-la com aquela lembrança de sexo ruim até que
conhecesse outro cara que cuidasse dela como merecia? Soquei a parede.
— Está tudo bem, Rosi? — Meu irmão me cutucou e virei para o lado
para encará-lo quando chegamos na nossa casa.
— Ah, garoto, não enche! Não posso ficar feliz? Foi um dia importante
para o papai.
Já era tarde e pensei que ela pudesse estar dormindo, mas, para a minha
surpresa, Deborah respondeu rápido.
Ela levou uma eternidade para responder e pensei que poderia estar
processando a informação. Será que a Deh achava que eu iria ficar virgem
para sempre?
Você e o Bulldog?
Não, amiga!
Eu não tive nada com o seu cara. Pode ficar tranquila.
Foi romântico?
Doeu muito?
Para caramba!
Não, Deh! Foi bom. Depois ele fez um oral incrível em mim.
Apesar de toda a urgência, Guto me fez gozar duas vezes.
Estar nos braços dele foi muito melhor do que eu imaginei que seria.
Sempre sonhei com esse momento e finalmente aconteceu.
Rosi!
Eu preciso ir dormir agora.
Apesar da dor, que eu sabia que iria sentir, pois todos os relatos de
perda de virgindade diziam que doía, tinha sido incrível. Sentir o corpo dele
no meu, a boca dele na minha enquanto me fazia mulher era um sonho se
tornando realidade.
Abri o registro e deixei que a água escorresse pelo meu corpo enquanto
fechava os olhos e revivia as imagens do que havia acontecido entre nós dois.
No momento em que ele me tomou, justificou toda a minha espera. Era como
se o meu corpo e a minha alma pertencessem àquele homem.
Fiquei olhando para o celular e para a foto que ele usava, uma dele
sorrindo com uma praia ao fundo. Ele poderia até não ser, mas eu o achava o
homem mais bonito do mundo. Sofri por antecipação enquanto aguardava
uma resposta.
O celular vibrou e meu coração quase saltou do peito. Não era outra
mensagem, ele estava ligando para mim. Precisei recuperar o fôlego e
demorei alguns segundos para atender.
— Guto...
— Não diz isso. Fala qualquer coisa, mas não me pede desculpas.
— Nunca tinha transado com uma virgem antes, mas imagino que não
seja desse jeito que se tire a virgindade de alguém. Preciso consertar isso, não
quero que o sexo seja uma lembrança ruim para você.
Estava bem longe de ser uma lembrança ruim para mim, mas algo me
impeliu a não contar isso para ele antes que me dissesse o que pretendia.
— Como?
— Fazendo direito.
— Posso. Vou dizer que vou dormir no Daniel e te encontro onde você
quiser.
— Combinado.
Ele não poderia devolver a minha virgindade, mas me daria uma noite
digna de uma primeira vez, e isso era tudo o que eu queria.
Capítulo 31
Imaginava que fosse manter o meu desejo por ela silenciado com
punhetas e sofrimento autoinfligido, porém, bastou um estopim para que eu
arrastasse a menina para uma sala e tirasse a virgindade dela, sem qualquer
hesitação.
Não importa quantas vezes ela tenha dito que queria o que aconteceu
entre nós dois, porque ainda me sentia culpado, mas eu tinha esperanças de
corrigir esse momento com ela. Bem no fundo, algo dentro de mim me dizia
que seria bem mais fácil se eu aceitasse que nós dois queríamos um ao outro,
pois Rosi fazia questão de deixar isso bem evidente, mas o meu racional e a
minha moral diziam que isso era muito errado.
Rosi tinha metade da minha idade e era a filha do meu melhor amigo.
Eu a tinha visto crescer, cheguei a trocar fraldas dela! Ricardo confiava em
mim para cuidar da sua filha, mas ali estava eu, programando como seria uma
noite de sexo com ela.
Com que cara iria olhar para o meu melhor amigo? Certamente não
seria nada fácil encará-lo durante a próxima semana, mas esse era um assunto
com o qual deveria me preocupar depois.
Apesar de ter permanecido solteiro por muito tempo, nunca fui do tipo
cafajeste e galinha. Sempre tratei as mulheres com o carinho e o amor que
mereciam, porém, isso nunca me impediu de meter os pés pelas mãos e, às
vezes, fazer péssimas escolhas, como o meu casamento com a Olivia.
Eu queria ter uma família, ter filhos e uma esposa ao meu lado, uma
mulher que eu amasse incondicionalmente e que me amasse também, porém,
parecia que era algo que eu nunca iria ter.
Senti uma mão quente tocar o meio das minhas costas e todo o meu
corpo estremeceu. Soltei um gemido abafado, seguido de um suspiro, e
espichei o corpo para cima.
— Rosi.
— Guto.
— Vamos entrar?
— Obrigada.
Guto puxou a cadeira para mim e deu a volta na mesa, para sentar-se na
minha frente. Ele era ainda mais romântico do que eu imaginava.
Fiquei paralisada, apenas olhando para o rosto dele. Era a primeira vez
que me levavam para um jantar romântico, e um com o Guto era ainda mais
especial. Ele estava lindo, com um terno bem alinhado e a barba feita,
fazendo com que ele parecesse ter uns dez anos a menos do que tinha de fato.
Eu não parava de olhar para ele, não conseguia fazê-lo. Era como se
quisesse me garantir a todo momento que ele estava ali comigo.
— Bem. — Segurei a mão dele, que estava sobre a mesa e Guto sorriu
para mim. — Já terminei toda a parte de legislação e vou fazer a prova
amanhã.
Daniel costumava dizer que eu era uma garota estranha, sempre muito
para frente, mas que, às vezes, ficava envergonhada do nada. Provavelmente,
fosse porque aquele homem mexia com todos os meus sentidos.
Poderia ser fácil para ele falar, mas a minha ansiedade estava me
deixando louca. Mal via a hora em que ele me tomaria nos braços para fazer
amor comigo a noite toda.
— Estou ansiosa.
— É...
— Rosi, eu não...
— Prometi.
— Esquece tudo e pensa só em nós dois.
— É muito bom!
Guto não disse nada, mas percebi que as suas bochechas coraram,
como acontecia comigo o tempo todo quando estava com ele. Será que isso
era um sinal de talvez?
Sabia que era sonhar alto, mas quem sabe ele não me tornaria a sua
namorada? Não me importava, nem um pouco, de manter o nosso
relacionamento as escondidas.
— Estou no primeiro período ainda, acho que é meio cedo para ter uma
opinião formada.
— Muito! Apesar dos textos chatos e sem sentido, mas, como sempre
fui uma boa leitora, eu me livro deles bem rápido.
— Aqueles melosos?
— Com os personagens?
— Com você.
— Rosi!
Guto não me olhava como se eu fosse alguém com que ele precisava
conviver, mas sim como se estivesse ali por mim.
Meu coração voltou a bater acelerado quando ele deu a partida no carro
e avançou para a rodovia. Em poucos minutos, estaríamos sozinhos, e não
seria como na festa, com a possibilidade do meu pai ou de qualquer outra
pessoa nos pegar no flagra; seriamos apenas nós dois, com toda calma e
paciência do mundo.
Coloquei uma mão sobre a sua coxa e ele tirou uma do volante para
tocar a minha.
Eu abri a boca várias vezes, mas não consegui emitir nenhum som, pois
estava completamente em choque. Eu imaginava uma noite romântica, mas
não estava preparada para aquilo. Busquei os olhos do Guto e encontrei o seu
sorriso antes de voltar a fitar o quarto. Havia mais velas e rosas do que eu era
capaz de contar. Sobre os móveis, a mesa, e até na cabeceira da cama, havia
arranjos de rosas vermelhas, o chão também estava coberto de pétalas, e as
velas destacavam as chamas por entre as flores. Guto nem precisou acender a
luz do quarto, pois elas eram tantas, que ofereciam uma iluminação agradável
e amarelada.
Tombei a cabeça para trás e elevei meus lábios, pedindo pelos dele e
Guto me atendeu, me beijando. Foi um beijo carinhoso, mas não menos
intenso do que os outros que já havíamos trocado antes.
Ele subiu uma das mãos e tocou o meu rosto, segurando-o enquanto
aprofundava o beijo. A sensação da sua língua tocando a minha era mágica,
afrodisíaca e enlouquecedora. Eu me entreguei para ele como na primeira
vez, sem ressalvas ou medo. Meu coração já era do Guto, mas agora o meu
corpo havia se tornado também.
— Espera.
— O que foi? Por favor, não me diz que você mudou de ideia.
— E como funciona?
— Quero que tire a roupa para mim e me diga como e onde eu devo te
tocar.
Tentei puxar o vestido para cima, a fim de me livrar dele de uma vez,
porém, Guto segurou a minha mão e me fez voltar a encará-lo.
— Com calma.
Guto o tirou da casa e fez o mesmo com os restantes, até que meu
vestido fosse aberto. Puxei uma das mangas para o lado e indiquei o meu
ombro.
— Me beija.
Guto passou os dedos por debaixo do fecho e os moveu até que a peça
abrisse, mas ele não a removeu, atendendo exatamente o que eu havia pedido.
— Tira... — Tinha que me conter para não dizer que queria que ele me
jogasse na cama e arrancasse a minha roupa o mais rápido possível.
Peguei uma das mãos dele e a trouxe até o seio que estava livre. Guto o
apertou e eu joguei a cabeça para trás, gemendo. Ele sugou meu mamilo,
mordiscou o meu seio, e me enlouqueceu. Queria mais, muito mais, queria
sua boca em mim inteira.
Ele não parou de sugar o meu seio para puxar o elástico da minha
pequena e fina calcinha de renda e brincar com o tecido, antes de puxá-la
para baixo. Rebolei para que terminasse de escorregar pelas minhas coxas e
finalmente fiquei completamente nua na frente dele. Chutei a minha calcinha
e o meu vestido para algum canto do quarto antes de afastar as minhas pernas
o máximo que consegui.
— Agora, quero a sua boca aqui. — Coloquei seu indicador sobre o
meu clitóris.
Ele afastou as minhas pernas, pegou um dos meus pés, tirou a minha
sandália, beijou meu tornozelo, a batata da minha perna, seguiu até o meu
joelho e a face interna da minha coxa. Sua respiração tocava a minha pele tão
sensível e me arrepiava por inteira, provocando diversos calafrios.
— Você quer?
— Sim, por favor... — Esfreguei as coxas uma na outra, mas isso não
era o suficiente para aplacar a necessidade que ele havia criado ali.
Ele ajeitou as minhas pernas sobre os seus ombros, veio com a boca na
direção do meu sexo, soprou um hálito quente, que me retorceu de dentro
para fora, e beijou o meu ventre, fazendo-me gemer em desespero. Já não
estava aguentando mais.
— Guto!
A cada vez que ele parava e soltava o seu hálito refrescante em mim,
eu dava um gritinho alucinado e enterrava ainda mais os meus dedos no
lençol. Depois do que estava fazendo comigo, Guto não poderia me culpar
por estragar a roupa de cama. Ele me atirou de um precipício, apenas para me
amparar em um colchão macio.
Iria perguntar o que tinha acontecido, mas ele me puxou de volta para o
seu colo e me acomodou sobre o seu pênis. Esfreguei-me no membro que
latejou debaixo de mim. Eu havia gozado com o oral, mas estava longe de
estar satisfeita.
Meu coração estava estranho, não sabia se essa era a melhor definição,
mas foi a que eu encontrei. Estava culposamente feliz. Não deveria ter
gostado tanto daquela noite, mas gostei.
A noite havia sido ótima, mas não poderia se repetir. Rosi estava na
lista das mulheres com quem eu não poderia ficar e o que eu estava sentindo
não importava. Já tinha ido longe demais. Tê-la nua nos meus braços, depois
de uma noite de sexo, era algo que nunca deveria ter acontecido, mas aquela
seria a última péssima decisão que eu tomava em relação a ela.
— Bom dia! — Espichou o pescoço para tocar seus lábios nos meus e
eu não recusei o beijo, deveria, mas não recusei. — Foi a melhor noite que eu
já tive. — Aninhou-se mais, apertando o seu corpo no meu.
Não disse nada sobre a frase dela, mas, sem dúvidas, também fora a
melhor noite que eu havia tido nos últimos anos.
— Você trabalha tanto. Tenho certeza de que não vai ser um dia que
vai te prejudicar.
— Não é por isso, Rosi. Era uma noite. Não podemos continuar
fazendo isso.
— Eu gostei, você gostou, não entendo por que não continuar. Algo tão
bom não deveria ser proibido.
Puxei meu telefone do bolso e vi que ainda eram seis da manhã, daria
tempo de me arrumar e chegar para trabalhar como se nada houvesse
acontecido.
— Precisamos, sim, Rosi. Isso não é uma brincadeira. Foi uma noite,
apenas uma. Não sou o homem certo para você e, com o passar do tempo, irá
perceber isso.
— Você não quer? — Ela passou a mão pelo seio e minha boca
salivou, meu pau, que já estava muito rígido, ficou ainda mais ereto quando
olhei para o corpo dela com malícia.
— Era só a noite passada, Rosi, não vamos transar de novo.
— Rosi, não! — Segurei o seu cabelo, mas não consegui impedir que
ela aproximasse a cabeça do meu pênis.
Com os dedos enterrados no seu cabelo, trouxe sua cabeça para mim e
passei o meu pau nos seus lábios. Deveria ser mesmo um pervertido, pois me
retorci de prazer com isso. Rosi envolveu meu pau com suas mãos pequenas
e delicadas, acolhendo-me dentro da sua boca molhada e quente.
Rosi se levantou, limpando o canto dos lábios com a ponta dos dedos e
com um sorriso travesso que me provocou além do limite.
— Não é possível que isso só seja bom para mim. — Colocou a mão
sobre o peito, que se movia acelerado.
— Não é uma questão de ser bom ou não, Rosi, mas de ser certo ou
errado.