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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MACROECONÔMICA – PROFESSORA ADRIANA PONTA
GIULIA ANTONETTI DE SOUZA
LUÍSA ALMEIDA DO VALLE BRITO

T1
(ANÁLISE MACROECONÔMICA DE REPORTAGEM)

RIO DE JANEIRO, RJ
2019
SUMÁRIO
1. Metodologia ---------------------------------------------------------------------------------- 3
2. Introdução/Resumo ------------------------------------------------------------------------ 3
3. Reportagem --------------------------------------------------------------------------------- 13
4. Análise Macroeconômica ---------------------------------------------------------------- 17
5. Bibliografia ----------------------------------------------------------------------------------- 20

2
1. METODOLOGIA
Foi solicitada uma análise macroeconômica de uma reportagem do ano
corrente, de acordo com conteúdos vistos em sala. Para tanto, selecionamos uma
matéria publicada no site da BBC News Brasil, em março de 2019.
A análise será feita com o apoio das obras referidas na bibliografia, bem como
nossas anotações sobre os conteúdos vistos em aula.

2. INTRODUÇÃO

Políticas macroeconômicas e a determinação do produto

Considerando-se a hipótese de uma economia fechada:


 Um aumento nos preços gera uma diminuição na demanda.
 um aumento nos preços gera também um aumento na oferta.
 Análise microeconômica: um mercado específico.
 Análise: macroeconômica: conjunto de todos os mercados.
 A variação da demanda agregada resulta em uma variação na produção.

Onde,
P= preço
Q=quantidade
S= supply/oferta
D=demanda
E= ponto de equilíbrio

Políticas Macroeconômicas
 Afetam a demanda agregada.
 São divididas em:
1. Política Fiscal
 Tributos e impostos (T).

3
 Gastos do governo – sendo contabilizados os gastos com
infraestrutura, como construção de escolas, hospitais e estádios
(G).
2. Política Monetária
 Emissão de moeda
 Controle da taxa de juros (i)
 Emissão de títulos públicos
 As politicas macroeconômicas podem causar efeitos importantes e
sistemáticos sobre a demanda agregada. Nesse caso, o modelo IS/LM é
utilizado para se analisar a determinação do produto e como a demanda
afeta a produção.
 Demanda Agregada (𝑄𝐷 ):
 Define-se demanda agregada como o nível de demanda total da
economia em um certo nível de preços, somando consumo
investimento e gostos governamentais.
Onde,
 1) 𝑄𝐷 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 𝐶 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜
𝐼 = 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
 2) 𝐶 = 𝐶 [𝑖, (𝑄 − 𝑇)] 𝐺 = 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑔𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑜
𝑄𝐷 = 𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑎𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑎
 3) 𝐼 = 𝐼 (𝑖), ↓ juros= ↓ consumo 𝑖 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠
↑ Renda disponível= ↑ consumo 𝑄 − 𝑇 = 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙(𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎
− 𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑡𝑜𝑠)
 4) 𝐺 = 𝐺̅ determinado fora do
Modelo; o governo decide o quanto gastar).
 Forma Linear Onde,
 7) 𝐶 = 𝑐 (𝑄 − 𝑇) − 𝑎. 𝑖 *a,b e c são constantes maiores
que zero.
 6)𝐼 = −𝑏. 𝑖 *𝑐 = 𝑃𝑀𝑔𝐶: propensão marginal
 Substituindo 4, 5 e 6 em 1: a consumir

𝑄𝐷 = 𝑐 (𝑄 − 𝑇) − 𝑎. 𝑖 − 𝑏. 𝑖 + 𝐺̅
𝑄𝐷 = 𝑐𝑄 − 𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺̅
no equilíbrio, 𝑄𝐷 = 𝑄
 7)𝑄𝐷 = 𝑐𝑄𝐷 − 𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺̅
𝑄𝐷 − 𝑐𝑄𝐷 = −𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺̅
𝑄𝐷 (1−)𝑐 = −𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺̅
1
 8) 𝑄𝐷 = (1−𝑐) . [−𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏) + 𝐺̅

4
 Keynes
 Com preços fixos a demanda agregada determina a produção, ou seja,
se afeta a demanda agregada afeta a produção.
 Um aumento nos gastos do governo G gera um aumento na demanda
agregada maior do que o aumento inicial do gasto governamental.
Efeito Multiplicador
 Considerando um aumento em G financiado por títulos, o aumento da
demanda agregada é igual ao multiplicador Keynesiano 𝛼 vezes a
1
variação dos gastos do governo.
1−𝑐
↑ 𝑄𝐷 = 𝛼. ∆𝐺

 Multiplicador do orçamento equilibrado


 situação em que o governo aumenta os seus gastos junto com os
impostos.
 ∆𝐺 = ∆𝑇
 ∆𝑄𝐷 = 1
 Política fiscal expansionista sempre gera um aumento no déficit publico?
 Falso, pois no caso do orçamento equilibrado os gastos do governo
são aumentados na mesma proporção do aumento dos impostos, não
alterando o déficit público.
 ∆𝑄 = ∆𝐺; ∆𝐺 = ∆𝑇 𝑒 ∆𝐷𝑃 = 0
 Um aumento no déficit público sempre está relacionado a uma política fiscal
expansionista?
 Falso, é possível aumentar o déficit público com uma redução de
impostos (T) maior do que a dos gastos do governo (G), ainda sim
caracterizando-se uma política fiscal restritiva. (T) possuiu um menor
impacto na demanda agregada por fazer parte da função consumo,
enquanto G tem um impacto muito maior e mais direto.

 Modelo IS/LM – considerando-se os preços fixos


 Curva IS (I=S) – curva de equilíbrio do mercado de bens

5
*Negativamente inclinada
∗↓ 𝑖 = ↑ 𝐼 𝑒 ↑ 𝐶, 𝑙𝑜𝑔𝑜 ↑ 𝑄𝐷
*se caem os impostos, aumentam os
investimentos e o consumo, logo
aumenta a demanda agregada.

 Deslocamento da IS – envolve G e T

*𝑖 fixo
*↑ 𝐺 𝑜𝑢 ↓ 𝑇 →deslocamento
para a direita

 Equação da curva IS – no equilíbrio 𝑄𝐷 = 𝑄


1
 𝑄𝐷 = 1−𝑐 . [𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺̅
1 1
 Considerando (1 − 𝑐) = 𝑠 podemos escrever 1−𝑐 𝑐𝑜𝑚𝑜 .
𝑠

 S= propensão marginal a poupar


 Inclinação da IS
 Determinada pelo coeficiente angular.
 Equação em função de i:
(1 − 𝑐 )𝑄 𝐷 𝑐𝑇 𝐺̅
𝑖=− − −
(𝑎 + 𝑏 ) (𝑎 + 𝑏) (𝑎 + 𝑏)
∆𝑖 (1−𝑐) ∆𝑖 1
 = − (𝑎+𝑏) ou ∆𝑄𝐷 = −
∆𝑄𝐷 𝛼 (𝑎+𝑏)

 Curva IS é mais achatada

*fatores que deixam a curva


mais horizontal: 6

𝛼 → 𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑒
↓ 𝑖 → ↑ 𝐼 𝑒 ↑ 𝐶 → ↑ 𝑄𝐷

 Curva LM (L=M) – curva do equilíbrio do mercado monetário


 Mercado monetário
o Demanda por meda- preferencia pela liquidez
+
𝐿 = 𝐿 (𝑖 − , 𝑄𝐷 )
*a demanda por moeda é uma função negativa da taxa de juros e
positiva da demanda agregada.
↑ 𝑖 →↑ 𝐿𝐸 e ↑ 𝑄𝐷 → 𝐿𝑇
*Em forma linear: 𝐿 = 𝑣𝑄𝐷 − 𝑓𝑖
𝑀
o Oferta de moeda:
𝑃
o Equilíbrio no mercado monetário:
oferta de moeda = demanda por moeda
𝑣 1 𝑀
10) 𝑖 = 𝑓 𝑄𝐷 − 𝑓 . 𝑃 Curva LM

 Curva LM
LM:
*Positivamente inclinada
*todos os pontos sobre a curva são pontos de
equilíbrio
*ponto C: fora da curva – desequilíbrio
*O que acontece em C? para o equilíbrio, dado
uma taxa de juros 𝑖0 , é necessária uma
demanda 𝑄𝐷 0 . Em C, a demanda é 𝑄𝐷 1 ,maior
que o necessário. Quando a demanda
agregada aumenta, há o aumento da demanda
por moeda pelo motivo transacional 𝐿𝑇 . O
desequilíbrio ocorre por excesso de procura
por moeda. 7
o Desequilíbrios:
- EDM: excesso de demanda por moeda

- EOM: excesso de oferta de moeda

o Inclinação de LM
∆𝑖 𝑣
𝐷
= >0
∆𝑄 𝑓

o LM é mais achatada

8
*𝑣 → 𝑝𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑜
*𝑓 → 𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑒
*↑ 𝑖 →↓ 𝐿𝐸 ⇢ 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑐𝑜𝑟𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑜 𝑓.
𝐷 𝑇
*↑ 𝑄 →↑ 𝐿 ⇢
𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑐𝑜𝑟𝑐𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑣.

- Se 𝑓 é grande, a moeda é muito sensível à taxa de juros.


Como ↑ 𝑖 →↓ 𝐿𝐸 , mesmo com pouca variação em 𝑖 gera muita
queda em 𝐿𝐸 . Se 𝐿𝐸 cai muito, 𝐿𝑇 tem que subir muito para gerar
equilíbrio novamente. Se 𝑣 é pequeno, a moeda é pouco
sensível à demanda agregada. Para 𝐿𝑇 subir muito, 𝑄𝐷 tem que
aumentar muito.

𝑀
o Deslocamento da LM – influenciado pela oferta de moeda 𝑃
𝑀
*Para cada ponto da curva, é
𝑃
constante
𝑀
*Se aumenta, LM se desloca para
𝑃
baixo e para a direita
𝑀
*Aumento de 𝑃 ocorre se:
𝑀 𝑀
↑ 𝑀 →↑ 𝑜𝑢 ↓ 𝑃 →↑
𝑃 𝑃
*diminuição ocorre se:
↓ 𝑀 𝑜𝑢 ↑ 𝑃

𝑀
Se cresce a oferta de moeda ↑ 𝑃 , para o equilíbrio se manter é necessário

aumentar a demanda por moeda. Para aumentar a demanda por moeda, ou os juros
diminuem ou a demanda agregada aumenta. A diminuição dos impostos desloca LM

9
𝑀
para baixo e o aumento da demanda agregada desloca LM para a direita. Se 𝑃

diminui, LM se desloca para a esquerda e para cima.

 IS/LM – Junção dos dois gráficos

 Curva da demanda agregada

*Ponto A - equilíbrio. O ponto A’ mostra


que esse equilíbrio é necessário em um
nível de preços 𝑃0 .
*Com um aumento nos preços
(𝑑𝑒 𝑃0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑃1 ) cai a oferta de moeda, o
que desloca LM para cima e para a
esquerda.
*O equilíbrio se desloca para o ponto B,
que corresponde a juros mais altos. O
aumento nos juros diminui os
investimentos e o consumo, logo,
diminuiu a demanda agregada.
*O impacto dos preços na demanda
agregada se chama: Efeito Liquidez
Real.
*A curva da demanda agregada é
negativamente inclinada

10
 Efeitos das políticas macroeconômicas sobre a demanda agregada
 Política fiscal
1) Aumento dos gastos do governo

*Efeito crowding out ou Efeito


deslocamento/esvaziamento parcial,
pois no final do processo a demanda
agregada aumentou.
*↑ 𝐺 →↑ 𝑄𝐷 (𝐼𝑆 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐼𝑆 ′ ), porém
quando
𝑀
↑ 𝑄𝐷 → 𝐿𝑇 ⇒ 𝐿 >
𝑃
Isso representa um excesso de
demanda monetária, para retornar
ao equilíbrio:
𝑇
↑ 𝑖 → ↓ 𝐿 (𝐿 = 𝑀
𝑃
) ou
↑ 𝑖 →↓ 𝐼, ↓ 𝐶 →↓ 𝑄𝐷
*Efeito crowding out em decorrência do
aumento dos gastos do governo

2) Redução dos impostos


↓ 𝑇 →↑ (𝑄 − 𝑇) →↑ 𝐶 →↑ 𝑄𝐷
 Politica monetária
3) Aumento na oferta de moeda
𝑀 𝑀 𝑀
↑ 𝑀 →↑ → 𝐿 < → ↓ 𝑖 →↑ 𝐿𝑇 (𝐿 = )
𝑃 𝑃 𝑃

↑ 𝐼, ↑ 𝐶 →↑ 𝑄

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 Curva da Oferta Agregada: caso clássico

1) ↑ 𝑀
Em 𝑃0 : A’B’ = EDB →↑ 𝑃
𝑀
↑ 𝑃 → ↓ → ↑ 𝑖 → ↓ 𝑐, ↓ 𝐼 →↓ 𝑄𝐷
𝑃
LM’ para LM
*Equilíbrio final:
𝑄 = 𝑄𝐷 ; ∆𝑀 = ∆𝑃

𝑀
= constante; i=i0
𝑃

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2) ↑ 𝐺 (𝑜𝑢 ↓ 𝑇)
↑𝐺
Em 𝑃0:

𝐴′ 𝐵′ = 𝐸𝐷𝐵 → ↑ 𝑃
𝑀
↑𝑃 →↓ → ↑ 𝑖 → ↓ 𝐼, ↓ 𝐶 → ↓ 𝑄𝐷
𝑃

3. REPORTAGEM
Por que o PIB não decolou e em 2019 pode ser pior que o esperado?
Crescimento morno e retomada lenta são combinações de palavras
recorrentes para definir a situação da economia brasileira nos últimos tempos.
Depois da boa notícia de que em 2017 o Produto Interno Bruto (PIB) ao
menos voltou a ficar positivo, após dois anos consecutivos de retração, o ritmo de
crescimento da economia não decolou e tampouco tem previsão de decolar no curto
prazo.
Em 2018, o PIB cresceu 1,1%, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. No último trimestre do ano, a variação foi de
0,1% em relação ao trimestre anterior.
"Um crescimento perto de 1% é um resultado muito fraco, se comparar com o que
esperávamos ao longo do ano", disse a economista Silvia Matos, que coordena o
Boletim Macro, do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia).
A versão mais recente do boletim destaca que o desempenho da economia
brasileira continua a frustrar as expectativas e reduz a projeção de crescimento em

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2019 de 2,3% para 2,1%. Devido à atividade fraca no fim do ano passado,
economistas passaram a esperar um resultado menos positivo em 2019 também -
embora melhor que em 2018. "Tem uma frustração generalizada, mas
principalmente na indústria de transformação e na construção civil", explicou Silvia
Matos, em relação aos últimos meses do ano passado.
Economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara tem uma previsão
de 2,8% para o PIB de 2019, mas diz que já sabe que terá de revisá-lo após analisar
o resultado de 2018. Entre outros fatores, ela destaca que deve haver um impacto
negativo no início deste ano decorrente da tragédia em Brumadinho (MG), onde
houve ruptura de barragem da Vale, que deixou 171 mortos e 139 desaparecidos.
"Isso deve afetar a indústria extrativa mineral e até os serviços relacionados àquela
indústria", disse ela.
O economista Marcelo Portugal, professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), resume assim a previsão para o ano: "eu não espero nada
de fantástico para 2019". Ele diz acreditar em um resultado um pouco acima de 2%
neste ano e que qualquer crescimento abaixo disso seria desapontador.
Portugal aponta que, além da lentidão, outra característica que pode ser vista
na atividade econômica do ano passado é a homogeneidade entre os setores. "Em
anos anteriores, tinha a agricultura indo muito bem e outros setores indo muito mal,
e o que aconteceu no ano passado é que não teve a mesma disparidade de anos
anteriores. De forma geral, desta vez foi morno e foi morno pra todo mundo."
A partir de conversas com economistas, a BBC News Brasil elencou três
áreas que devem ser alvo de atenção durante este ano para entender os rumos e o
ritmo da economia brasileira:
1. O cenário externo
A situação econômica dos outros países e a relação comercial do Brasil com eles
são fatores importantes para a economia doméstica. Se a economia vai bem para os
países que importam produtos brasileiros, a tendência é que eles aumentem o
volume de compras e que o Brasil consiga aumentar a exportação.
Além disso, quando a economia mundial está aquecida, os investidores
tendem a ficar mais animados e confiantes. A forma como esses países,
especialmente os Estados Unidos, tocam suas políticas monetárias também interfere
na economia brasileira.

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"Economias desenvolvidas estão dando sinais de desaceleração, como na
Europa e na China. Isso traz um pouco mais de cautela. Os bancos centrais já
perceberam isso e já estão se preparando para esses sinais de atividade mais
morna, mas por enquanto isso não é cenário que traz grande risco. Se a gente tiver
recessão mais forte nesse países, aí sim pode ser um risco", disse a economista
Thais Zara. Silvia Matos lembra que a recessão na vizinha Argentina, embora não
seja um fator determinante, atrapalha a economia brasileira. A economista aponta,
também, que é necessário ficar de olho nos termos de possível acordo comercial
entre China e Estados Unidos. A eventual decisão de a China comprar mais
commodities dos EUA pode diminuir o volume de commodities que os chineses
compram do Brasil.
"Estados Unidos e nós, Brasil, competimos no mercado de commodities. Pode
ser que tenha menos guerra comercial, mas pode ser que China tenha que comprar
mais do EUA para ter acordo. Dependendo de como for acordo, pode ser ruim para
as exportações brasileiras", afirmou Silvia Matos. Ela diz, ainda, que o Brasil tem
poucos acordos comerciais e pondera que ainda não está claro o caminho que o
novo governo vai tomar nessa área. "A sensação que eu tenho é que ainda temos
país com espaço muito grande pra ter papel mais relevante em relação à abertura
comercial. O mundo hoje depende das cadeias globais de valor."
2. A Reforma da Previdência
Apontada como um grande teste para o novo governo, todos os passos da Reforma
da Previdência enviada neste ano ao Congresso Nacional serão acompanhados
com atenção pelo mercado financeiro e pela população. Muitos economistas a veem
como principal medida para colocar as contas do governo em ordem - embora não
seja a única -, e apontam que é muito difícil, em qualquer lugar do mundo, aprovar
mudanças nas regras de aposentadoria e pensão. "Temos um elefante enorme na
sala, que é a Reforma da Previdência. A solvência fiscal ainda não foi resolvida e há
carência de recursos para outras áreas", diz Silvia Matos.
Após a eleição e até o início do ano havia uma expectativa de que a equipe
do presidente Jair Bolsonaro pudesse formular uma proposta de Reforma da
Previdência de forma a aproveitar o texto que já estava no Congresso e que já havia
sido aprovado. O governo optou, contudo, por enviar um novo texto aos deputados e
senadores, o que significa que a tramitação terá de começar do zero. Como se tratar
de uma proposta de emenda à Constituição, precisa ser aprovada em dois turnos,

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com o apoio de 3/5 dos parlamentares, tanto na Câmara quanto no Senado. Isso
pode influenciar, segundo Thais Zara, o momento em que a reforma surtirá efeito. "A
percepção de que a Reforma da Previdência levará mais tempo e que demore um
pouco mais pra se refletir acaba dilatando um pouco o prazo da recuperação. O
adiamento do prazo para aprovação da reforma pode adiar também o investimento,
pelo menos do ponto de vista dos investidores estrangeiros", disse.
Da forma como foi apresentada ao Congresso, a proposta de reforma tem
capacidade de gerar uma economia de R$ 161 bilhões em 4 anos e de R$ 1,072
trilhão em uma década, de acordo com os cálculos da equipe econômica. Como o
tema gera pressão de diversos grupos no Legislativo, é provável que a reforma sofra
alterações durante a tramitação, o que altera o valor de economia previsto para os
próximos anos.
3. Os investimentos
Ao lembrar que a Reforma da Previdência não resolve todos os problemas, Silvia
Matos aponta que o Brasil tem questões estruturais para resolver. "O nosso
potencial de crescimento, que é difícil de estimar, não é tão alto. Ter mais oferta de
energia, infraestrutura, isso faria o país deslanchar com eficiência." A economista diz
que, além de olhar para o número geral do crescimento da economia, é necessário
ter atenção ao desempenho do investimento.

"O investimento caiu 30% durante a recessão e só na guerra isso acontece. É


uma queda brutal em país que já tem baixo investimento. O investimento tem a ver
com a capacidade de crescer sem gerar muita inflação."
O governo quer leiloar, ainda no primeiro semestre, 24 projetos de
infraestrutura, como aeroportos, terminais portuários e a ferrovia Norte-Sul. Segundo
Marcelo Portugal, os processos de concessão na área de infraestrutura são capazes
de injetar confiança na economia, mas demoram para serem revertidos em
investimentos. "Isso leva tempo para ser revertido em investimentos e representar
crescimento efetivamente. É importante que o calendário comece este ano, mas o
efeito seria para o futuro, já que são investimentos de longo prazo", disse o
economista.
Como ficam o emprego e a taxa de juros?
O IBGE divulgou nesta semana que a taxa de desemprego no Brasil
aumentou ainda mais e atingiu 12,7 milhões de pessoas. O índice passou de 11,6%

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no trimestre encerrado em dezembro de 2018 e passou para 12% no trimestre que
termina em janeiro. A geração de emprego, principalmente no mercado formal,
normalmente é a forma pela qual a população mede se a economia no país vai bem
ou não. Em geral, quando há um crescimento significativo do PIB, os empresários
contratam mais gente e isso estimula essas famílias a consumirem mais - o que, por
sua vez, também aumenta a demanda por produtos e serviços na economia
doméstica.

"O desafio do emprego é muito grande. Com desemprego alto, as famílias


ficam cautelosas para consumir. Também tem muito emprego informal ou por conta
própria, que geralmente impede a pessoa de conseguir crédito. É um cenário de
dificuldade para as famílias", disse Silvia Matos. Em boletim sobre o tema, a
Rosenberg Associados aponta que a evolução do mercado de trabalho segue em
linha com a recuperação da atividade econômica gradual e afirma que está
perdendo tração. Diz, ainda, que é possível que o Banco Central tenha que fazer
novos cortes de juros. "Caso a evolução do mercado de trabalho não se intensifique,
novos cortes de juros poderão ser requeridos a fim de se garantir a convergência da
inflação para a meta em 2019 e 2020."
Para Marcelo Portugal, o crescimento baixo desafiará o Banco Central a
cortar mais a taxa básica de juros, que está em 6,5%, o menor patamar da história.
"O ponto central é que o dado de baixo crescimento vai colocar desafio ao Banco
Central para começar a coçar a cabeça e considerar possibilidade de que, mesmo a
6,5%, os juros estão altos", disse. O economista diz que há chances de o novo
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter "uma visão um pouco
diferente". A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável
por fixar a taxa básica de juros, será em março.

4. ANÁLISE MACROECONÔMICA
A fim de realizar uma análise macroeconômica da reportagem supracitada, é
necessário, primeiramente, compreender quais figuras compõe o cálculo do PIB.
Segundo Sachs e Larrain, (2006, p.24)
A primeira forma de calcular o PIB é usar o método do dispêndio. Por
esse processo, o PIB é medido como a soma de todas as demandas
finais do produto na economia. Há vários tipos de demandas finais. O
produto da economia pode ser usado para consumo familiar (C),

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consumo governamental (G), investimento em novo capital na
economia (I), ou venda líquida para o exterior (ou seja,
exportações/importações). Depois, supomos que os bens de
consumo têm o preço PC e que a quantidade C é comprada; que os
bens de investimento tem um preço P I, com uma quantidade
compradas; QI as compras do governo tem o preço PG com a
quantidade comprada G; as exportações tem o preço P X e que a
quantidade vendida no exterior é X; e as importações tem preço P M e
a quantidade importada é M.
O valor de mercado do consumo, portanto, é P CC, produto do
preço ao consumidor e da quantidade de bens de consumo
comprados. O valor de mercado de investimento (P II), gastos
governamentais (PGG), exportações (PXX), e importações (PMM)
pode ser encontrado da mesma maneira. Neste caso, portanto, o PIB
é calculado como:

PIB = PC C + PI I + PG G + (PX X – PM M)

Dessa forma, como estamos trabalhando com um modelo econômico


fechado, podemos excluir da equação as exportações e importações e, assim,
calcular o impacto no PIB das outras áreas apontadas como alvo de atenção pelos
economistas consultados pela BBC News Brasil.
A priori, a proposta de Reforma da Previdência tramitando no congresso,
pretende, simultaneamente, reduzir os gastos governamentais e aumentar a
arrecadação de tributos. A redução dos gastos é proposta, especialmente, através
da mudança no cálculo do benefício, que passaria da média dos salários do
beneficiário, descontando os 20% mais baixos, para a média de 100% dos seus
vencimentos. Já o aumento da arrecadação, viria através do aumento do tempo de
contribuição, que hoje é de 30 anos para as mulheres e 35 para os homens. Com a
nova proposta, a fim de receber 100% do benefício, é necessário contribuir por 40
anos.
Tomando como base a equação da demanda agregada:
1
QD = [ ] . [−𝑐𝑇 − (𝑎 + 𝑏)𝑖 + 𝐺 ]
1−𝑐

cabe analisar que ela seria negativamente afetada por tal reforma, como é possível
perceber no gráfico abaixo.

18
A queda nos gastos governamentais (G), a princípio, reduziria a demanda
agregada, deslocando a curva IS, como podemos observar entre os pontos A e B.
Tal redução seria determinada pelo produto da variação dos gastos pelo
1
multiplicador keynesiano (α = ). Levando em consideração que, no cenário atual
1−𝑐

de desemprego, além da renda disponível, a propensão marginal a consumir (c)


também sofre uma queda, em virtude da cautela exercida frente à incerteza que tal
aumento proporciona, a variação negativa na demanda agregada sofreria um
impacto ainda maior.
Outro ponto que merece atenção, embora tenha um efeito menos que G, já
que depende da propensão marginal a consumir, é o aumento na arrecadação de
tributos (T). Sendo (Q – T) uma função positiva de C, quanto mais impostos, menor o
consumo, o que, por sua vez, também gera um impacto negativo na demanda
agregada.
Em contraponto, visto que a taxa de juros (i) é função negativa tanto do
consumo (C), quanto do investimento (I), visando retomar o equilíbrio no mercado,
como é sugerido por Marcelo Portugal, o corte em tais taxas geraria um aumento na
demanda agregada (QD = C + I + G), em oposição à queda dos gastos
governamentais.
No entanto, esse aumento de QD ainda dependeria diretamente da propensão
𝑑𝑖 1−𝑐
marginal a consumir, já que a inclinação da curva IS é dada por [ 𝑑Q0 |IS = − 𝑎+𝑏 < 0] e

que, quanto maior a inclinação, mais efeito uma pequena alteração na taxa de juros
terá sobre a demanda agregada.
Dessa forma, de acordo com os dados analisados, concluímos que, sob uma
perspectiva macroeconômica, a expectativa de crescimento do PIB pode, de fato,

19
ser “pior que o esperado”, como implica o título da reportagem, com o declínio de
todas as variáveis estudadas que o compõe.
Sendo assim, uma possível solução seria aplicar uma política fiscal
expansionista, mantendo o orçamento equilibrado, garantindo que os gastos
públicos aumentem na mesma proporção que a arrecadação de tributos, o que
elevaria a demanda agregada (ΔQ D = α.ΔG), aquecendo a economia e possibilitando
o crescimento do PIB.

5. BIBLIOGRAFIA
POR QUE O PIB NÃO DECOLOU E EM 2019 PODE SER PIOR QUE O
ESPERADO? BBC NEWS BRASIL. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47397619>. Acesso em: 5 abr. 2019.

PREVIDÊNCIA: COMPARE COMO É A APOSENTADORIA HOJE E O QUE O


GOVERNO PROPÕE. UOL. Disponível em:
<https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/02/20/reforma-da-previdencia-o-
que-pode-mudar-aposentadoria-inss.htm>. Acesso em: 6 abr. 2019.

SACHS, Jeffrey D.; LARRAIN B., Felipe. Macroeconomia em uma Economia Global:
Edição revisada e atualizada, São Paulo: Pearson Makron Books, 2000.

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