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Suporte Básico de Vida

Autoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo


Profa. Neisa Castells Fontes
Colaboradora: Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho
APRESENTAÇÃO

A finalidade deste livro é expor os principais tópicos sobre o primeiro atendimento à vítima de
acidentes e situações de emergência, habilitando profissionais e futuros profissionais da área da saúde
na realização dos primeiros atendimentos, desde o momento em que ocorre a emergência até a chegada
de um serviço de emergência médica.

Os objetivos gerais são: proporcionar o conhecimento e a proficiência nas técnicas de Suporte Básico
de Vida, por meio de ensinamentos teóricos e de treinamentos práticos realizados com materiais e
equipamentos especializados; discutir os principais temas relacionados às ocorrências das situações de
emergência; desenvolver a consciência sobre a importância do atendimento rápido e hábil nas diversas
situações de emergência; fornecer fundamentos teóricos e práticos dos atendimentos às vítimas em
situações de emergência; e conhecer o papel do profissional de saúde diante das situações de emergência.

Os objetivos específicos são: identificar as principais situações de emergência, fazendo a avaliação


inicial da vítima; conhecer os Sistemas de Emergências Médicas (EMS); estudar os aspectos legais e
éticos nos atendimentos de emergências; conhecer os protocolos para atendimentos de emergências;
capacitar o aluno para atuar em situações de emergência.

INTRODUÇÃO

A importância para o enfermeiro de conhecer primeiros socorros reside no fato de que acidentes
podem acontecer no trânsito, em casa, na escola, no trabalho, numa atividade esportiva, ou seja, em
qualquer lugar e a qualquer hora, sempre estaremos sujeitos à exposição a situações que podem exigir
atendimento de emergência.

Este livro-texto aborda os principais conceitos, como a cadeia de sobrevida para o atendimento
extra‑hospitalar de situações emergenciais, bem como os protocolos de atendimentos, que adotam um
padrão com a finalidade de propiciar agilidade e eficiência ao atendimento às vítimas dos principais
tipos de situações emergenciais.

Primeiramente, abordaremos o sistema de emergências médicas e os principais protocolos de


atendimento de emergências, bem como questões éticas e leis sobre o tema.

Depois, serão apresentadas as situações mais comuns de emergência médica extra‑hospitalar.


Essas situações foram divididas em emergências envolvendo tecidos e ossos, emergências envolvendo
sistema músculo-esquelético, traumatismos, emergências cardiovasculares, envenenamento e
outras emergências comuns como engasgo, desmaio, crise asmática, crise convulsiva, primeiros
socorros no parto extra‑hospitalar e emergências diabéticas. Para cada tema será realizada uma
contextualização com a situação de emergência para depois ser feita instrução sobre as ações de
primeiros socorros.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Unidade I
1 O ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

1.1 O sistema de emergências médicas

O sistema de emergência médica pré‑hospitalar teve sua consolidação durante a guerra do Vietnã,
reduzindo drasticamente o risco de morte dos feridos, seja através do controle de grandes hemorragias,
como também no transporte rápido das vítimas até os centros especializados. Na década de 1970, houve
uma valorização desse tipo de atendimento e a criação de insumos importantes, como o desfibrilador
cardíaco, instrumento utilizado até hoje, contudo, com uma influência tecnológica invejável.

O Serviço de Emergência Médica (SEM) consiste num conjunto de ações extra‑hospitalares,


hospitalares e intra‑hospitalares que possibilitam uma ação multidisciplinar rápida e eficaz em situações
de emergência clínica ou traumática e com risco de vida eminente.

Ele tem como representação visual um símbolo de origem americana denominado Estrela da Vida,
constituído por seis faixas e pelo bastão com a serpente enrolada, no centro, que está relacionado à área
da saúde. Cada faixa corresponde às fases de um atendimento de emergência:

Figura 1 – Estrela da vida

• Detecção – percepção da situação de emergência e da presença de vítimas.

• Alerta – rede de contatos.

• Alguns autores defendem a existência de uma fase intermediária.

• Proteção – ações desenvolvidas para evitar um agravo da situação de emergência.

• Pré‑socorro – medidas adotadas até o socorro especializado.


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Unidade I

• Socorro – cuidados direcionados à vítima com intuito de aliviar o sofrimento, reduzir a incapacidade
e prevenir a morte.

• Transporte – transferência da vítima do local do acidente até a unidade de saúde que ofereça
tratamento adequado.

• Tratamento definitivo – local onde o tratamento definitivo da vítima é realizado.

Um dado importante a ser mencionado refere‑se à consolidação de uma política de saúde pública para os
atendimentos de urgência e emergência. Pode‑se observar que, nos últimos anos, houve a implementação de
diferentes estratégias de coordenação no sistema de atendimento móvel de urgência. Essas estratégias têm
sido adotadas por diversos programas de governo nas três esferas de poder – federal, estadual e municipal –
como políticas públicas de saúde para consolidar as atividades do atendimento pré‑hospitalar (APH).

A Portaria nº 814, de 24 de julho de 1999 regulariza as atividades do APH em todo o Brasil, enquanto
que a Portaria nº 884/GM, de 2001, normatiza os Serviços de Atendimento Pré‑Hospitalar Móvel de
Urgência e define princípios e diretrizes da regulação médica das urgências; em 2002, a portaria nº
2048/GM, estruturou o Sistema de Urgência e Emergência e o Atendimento Pré‑Hospitalar em dois
tipos de atendimentos, o Suporte Básico de Vida e o Suporte Avançado de Vida, e um ano depois houve
a consolidação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu – 192).

O Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução n° 1.451, de 10 de março de 1995, faz menção a dois
conceitos de atendimento que estão relacionados ao fator tempo como determinantes no prognóstico vital. A
urgência significa uma situação imprevista, com ou sem risco potencial de vida, mas em que a vítima necessita
de cuidados médicos imediatamente, enquanto a emergência implica uma situação de risco iminente de vida ou
sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995).

Cabe ressaltar que essa portaria também está determinando os diferentes tipos de transporte para
a remoção da vítima dependendo da gravidade e do risco de vida apresentado. Entre eles podemos
destacar: Ambulância de Transporte (Tipo A), Ambulância de Suporte Básico (Tipo B), Ambulância de
Resgate (Tipo C), Ambulância de Suporte Avançado (Tipo D), Aeronave de Transporte Médico (Tipo E),
Embarcação de Transporte (Tipo F) (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995).

Saiba mais

Para conhecer mais sobre a legislação do atendimento pré‑hospitalar


(APH) no Brasil, leia:

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção às urgências.


Brasília: Ministério da Saúde, 2003. (Série E. Legislação de Saúde). Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_urgencias.pdf>.
Acesso em: 11 jan. 2017.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

2 O ATENDIMENTO PRÉ‑HOSPITALAR

O Ministério da Saúde define APH como os cuidados imediatos oferecidos às vítimas de agravos
traumáticos ou não, que podem acarretar sofrimento e até morte, no local do acidente, prestados
por profissionais treinados, como bombeiros, policiais, médicos, equipe de enfermagem (enfermeiro,
auxiliares e técnicos) até o encaminhamento da vítima, que pode ser aéreo, terrestre ou marítimo,
dependendo da gravidade, para um serviço de saúde especializado.

O APH envolve uma sequência de atividades que compreendem desde a segurança do local, avaliação
inicial da vítima e estabilização dos sinais vitais é até o transporte adequado e rápido para uma unidade
especializada. Para que esse atendimento seja eficaz, é necessário que a equipe tenha um preparo
emocional, cognitivo e psicomotor.

Antes da determinação do tipo de atendimento, o socorrista é obrigado a avaliar a cena para que
possa dimensionar os riscos potenciais existentes nela, prevenindo, dessa maneira, outros acidentes que
possam vir a ocorrer. A avaliação de cena é divida em quatro fases:

• Segurança – verificar se a cena é segura para ser abordada.

• Cinemática do trauma – verificar como se deu o acidente ou sinistro.

• Bioproteção – uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), luvas, óculos de proteção e


máscara, para evitar a contaminação por agentes biológicos ou substâncias tóxicas.

• Triagem e número de vítimas.

A execução do APH pode ser realizada em dois modelos distintos: suporte básico de vida (SBV) e
suporte avançado de vida (SAV).

2.1 Suporte básico de vida (SBV)

Consiste no atendimento básico, isento de cuidados invasivos, podendo ser realizado por leigos
previamente treinados. A unidade móvel é composta de um motorista e um técnico ou auxiliar de
enfermagem, cabendo a eles atender situações de inexistência de risco imediato à vida.

Compete à equipe de suporte básico:

• Atendimentos a pacientes traumatizados, quaisquer que sejam as causas, uma vez que seja
estabelecido pelo médico regulador que não há risco imediato à vida.

• Atendimentos a pacientes portadores de patologias clínicas, quaisquer que sejam as etiologias,


uma vez que seja estabelecido pelo médico regulador que não há risco imediato à vida.

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Unidade I

2.2 Suporte avançado de vida (SAV)

É caracterizado pelo atendimento mais invasivo e com suporte ventilatório e circulatório, em


situações em que há um grau de comprometimento das funções vitais capaz de comprometer seriamente
a qualidade ou a expectativa de vida da vítima. Essa unidade móvel é formada, obrigatoriamente, por um
médico, um enfermeiro e um motorista, que se revezam conforme escala de trabalho pré‑determinada.

Compete, portanto, à equipe de suporte avançado:

• Atendimentos a pacientes traumatizados, quaisquer que sejam as causas com risco imediato à vida.

• Atendimentos a pacientes portadores de patologias clínicas, quaisquer que sejam as etiologias em


que haja risco imediato à vida.

3 A CORRENTE DE SOBREVIDA

Uma vez abordada a cena do trauma ou o local onde a vítima se encontra e definida a prioridade do
resgate, que estará diretamente relacionada com o maior risco de morte, o socorrista deve iniciar uma
sequência de atividades padronizadas e ordenadas, denominada Corrente de Sobrevida.

Em 1992, a American Heart Association (AHA), define a Corrente de Sobrevida como uma
série, ordenada e encadeada, de medidas que devem ser tomadas no atendimento de uma Parada
Cardiorrespiratória (PCR). Para que essa cadeia seja eficaz é necessário que todas as etapas sejam
realizadas, pois todas têm similar importância, além de serviços de atendimento de emergência ágeis e
bem-preparados.

A cadeia de sobrevivência é constituída de 5 elos:

1 – Reconhecimento imediato da PCR e acionamento do serviço e urgência.

2 – Ressuscitação cardiopulmonar (RCP), com ênfase nas compressões torácicas.

3 – Rápida desfibrilação.

4 – Suporte avançado de vida.

5 – Cuidados pós‑parada cardíaca eficiente.

Em 2015, de acordo com revisão das diretrizes do AHA, a cadeia/corrente de sobrevida deve ser
definida como a partir do local onde ocorreu a PCR, se intra ou extra‑hospitalar, criando duas cadeias
de sobrevivência do adulto. Para o extra‑hospitalar, a ênfase é a resposta imediata à PCR súbita. Dentro
desse contexto, há a necessidade de exposição nas mídias sociais da necessidade de recrutamento de
voluntários para realizarem a RCP se estiverem próximos a uma vítima de PCR. Já a prevenção desses
eventos indesejáveis é o foco no intra‑hospitalar (AHA, 2015).
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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Saiba mais

Para conhecer mais sobre a corrente de sobrevida, leia o documento


disponível no site da Universidade Aberta do SUS (UNA‑SUS):

NITSCHKE, C. A. S.; NAZÁRIO, N. O. Acervo de recursos educacionais em


saúde. Universidade Aberta do SUS, 2013. Disponível em: <https://ares.
unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/950>. Acesso em: 20 jan. 2017.

Podemos descrever os elos dessa corrente e as avaliações necessárias para esse atendimento como:

O primeiro elo: acesso precoce

Estudos recentes mostram que não é mais necessário checar o pulso, e sim reconhecer se a
vítima está em PCR. Dentro desse elo pode‑se incluir a avaliação primária em que é avaliada a
responsividade/nível de consciência, através de um contato verbal ou tátil; se a vítima não responder,
imediatamente, deverão ser observados os movimentos respiratórios por 10 segundos, se a vítima não
estiver respirando ou estiver com dificuldade respiratória, o Serviço de Emergência – Samu 192 deve
ser acionado rapidamente.

Ao deparar com qualquer acidente, alguns aspectos devem ser considerados obrigatoriamente, para
manter a segurança tanto da pessoa que estará prestando os cuidados quanto da própria vítima.

• Segurança do local do acidente.

• Quantidade de vítimas.

• Gravidade do caso.

• Nível de consciência da(s) vítima(s).

• Necessidade de movimentação/remoção da(s) vítima(s).

• Informação das testemunhas.

• Mecanismo de lesão e cinemática do trauma.

• Estado geral da(s) vítima(s).

As informações obtidas por esse processo são de extrema valia para o posterior exame a ser
realizado na vítima, pois com base nas lesões sofridas e nos seus sinais vitais, as prioridades do
atendimento serão estabelecidas.
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Unidade I

Outro ponto, não menos importante, para que não haja contaminação, é a utilização de
equipamento de proteção individual (EPI) pelo socorrista, antes da manipulação da vítima, como: luvas
de procedimentos, avental, óculos e máscara. Na ausência desse material, deve‑se tentar ter o máximo
de cuidado ao manipular a vítima.

Observação

A segurança da vítima e do socorrista é primordial, mesmo antes do


atendimento, logo, é importante observar rapidamente se existem perigos,
como: fios elétricos soltos e desencapados; tráfego de veículos; andaimes;
vazamento de gás; entre outros.

A avaliação secundária é a realização do exame da vítima de uma emergência clínica ou traumática.


Ela deve ser rápida, sistemática e realizada imediatamente após a avaliação inicial da cena e deve
compreender:

• Nível de consciência (respostas lógicas de nome, idade).

• Respiração (entrada e saída de ar espontânea).

• Presença de hemorragia (detectar quantidade e local de saída).

• Tamanho e simetria das pupilas.

• Temperatura corporal.

• Presença de ferimentos e incapacidade funcional.

• Áreas dolorosas.

Cabeça e pescoço

Após a avaliação do nível de consciência, deve-se palpar cuidadosamente a cabeça e o pescoço


à procura de fratura, hemorragia ou depressão óssea. Também deve-se solicitar que o acidentado
movimente lentamente o pescoço, verificar se há dor nessa região e, em caso positivo, interromper
imediatamente o exame. Faz‑se necessário também questionar se a vítima consegue movimentar os
quatro membros, suspeitando de fratura da coluna cervical.

Coluna dorsal

O exame consiste em apalpar toda a coluna dorsal, desde a nuca até o sacro, questionando sobre dor,
que pode indicar alguma lesão.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Tórax, abdome e membros

Deve-se expor o tórax, o abdome e as extremidades da vítima e procurar algum ferimento,


sangramento, deformação, edema e dor à manipulação. Torna‑se importante levar em consideração a
exposição excessiva da vítima. É importante solicitar a movimentação ativa dos quatro membros para
pesquisar a presença de incapacidade funcional.

Ao se deparar com uma vítima inconsciente, deve-se, primeiramente, manter as vias aéreas abertas,
realizando a hiperextensão da cabeça ou lateralizá‑la e depois realizar o exame geral, atentando para
alguns parâmetros:

• Ausência de respiração.

• Ausência de circulação (pulso ausente).

• Hemorragia abundante.

• Sinais de envenenamento.

Lembrete

Recomenda‑se que na falta de habilidade, não se manuseie a vítima,


e, em vez disso, aguarde-se o profissional habilitado, e, enquanto isso,
ofereça-se apenas proteção a ela. Contudo, se o local oferecer risco de vida,
se possível, deve-se retirar a vítima.

O segundo elo: RCP precoce

Esse elo inclui o início das manobras de reanimação (massagem cardíaca) logo após a não
identificação de sinais de vida, descritos no elo anterior. Seguindo as diretrizes da AHA a RCP terá ênfase
na massagem cardíaca, mas esta, para ser de qualidade e ter eficácia, deverá comprimir o tórax na
frequência e profundidade adequadas, permitindo o retorno total deste a cada compressão, minimizando
interrupções nas compressões e evitando ventilação excessiva (AHA, 2015).

Diante disso, a sequência ABC muda para CAB, isso quer dizer que até 2010 dava‑se maior ênfase na
abertura de vias aéreas (A) e breathing – respiração (B). Nos novos guidelines a ênfase é dada primeiro
na compressão torácica (C).

Existem trabalhos que demonstram a importância crucial apenas da compressão cardíaca nos dez
primeiros minutos e seus bons resultados mesmo sem a respiração.

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Unidade I

Observação

O oxigênio é fonte de vida, sendo distribuído para todo o corpo através


dos batimentos do coração, logo, na ausência deste, há sofrimento,
potencialmente fatal, da maioria dos órgãos do corpo humano. Por
exemplo, as células nervosas do cérebro podem morrer após três minutos
sem oxigênio.

O terceiro elo: desfibrilação precoce (DEA)

A grande maioria das paradas cardíacas ocorre por um fenômeno chamado fibrilação ventricular
(FV) e a taquicardia ventricular (TV), as quais são caracterizadas por um ritmo caótico do batimento do
coração, no entanto, a aplicação de um choque elétrico é capaz de estabilizar o ritmo.

Por essa razão, programas comunitários, no mundo todo, chamados Acesso Público à Desfibrilação,
disponibilizaram desfibriladores esternos automáticos (DEA) em locais públicos, como aviões, aeroportos,
estádios desportivos, entre outros, com o intuito de que pessoas treinadas ou leigas possam dispor deles
e aplicar o choque antes mesmo da chegada do serviço de emergência. Atualmente, sabe‑se que a
desfibrilação precoce é o elo da corrente que mais pode aumentar os índices de sobrevivência fora do
ambiente hospitalar.

O quarto elo: serviço médico básico e avançado de vida

O atendimento precoce, seja o básico ou o avançado, prestado por profissionais capacitados no local
da emergência, é outro elo fundamental para o sucesso do tratamento da parada cardíaca, uma vez
que se tem acesso ao suporte ventilatório; à terapia intravenosa, com a administração de medicações
capazes de manter algumas funções vitais; ao controle de arritmias; e à estabilização da vítima para o
transporte até o local adequado.

O quinto elo: cuidados integrados pós‑PCR

Dentre alguns cuidados, tem-se a estabilização hemodinâmica da vítima, otimizando a função


cardiopulmonar e prevenindo a disfunção de múltiplos órgãos.

Observação

A partir de dois minutos uma vítima de PCR começa a apresentar lesões


cerebrais e intervalos superiores a dez minutos diminuem a praticamente
zero a possibilidade de recuperação sem algum dano cerebral significativo.
Isso ocorre devido à interrupção do fluxo sanguíneo cerebral decorrente da
cessação dos batimentos cardíacos.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4 ATENDIMENTO BÁSICO AO POLITRAUMATIZADO

O APH se inicia quando o socorrista chega à cena do trauma e, antes mesmo de atender à vítima, avalia
a cena, adota procedimentos de segurança local, que confirmam a veracidade das informações, realiza
a triagem e identifica as prioridades. De acordo com um consenso geral, a avaliação rápida e precisa de
uma vítima de trauma é de extrema importância para que medidas sejam aplicadas adequadamente ao
suporte de vida, através de uma abordagem sistematizada e de um tempo adequado. Dentre as etapas
dessa sistematização, temos:

• Preparação.

• Triagem.

• Exame primário (CAB da vida).

• Reanimação.

• Medidas auxiliares ao exame primário e à reanimação.

• Exame secundário e história pregressa.

• Medidas auxiliares ao exame secundário.

• Reavaliação e monitoração após a reanimação.

• Cuidados definitivos.

É necessário que os exames primários e secundários sejam feitos continuamente no decorrer do


atendimento, haja vista que uma vítima de trauma pode reverter seu quadro em muito pouco tempo.

Para um atendimento adequado à vítima de trauma, as atividades citadas, muitas vezes, são
realizadas simultaneamente, pois a vítima necessita de um cuidado rápido e eficaz, específico para a
situação vivenciada. Para uma vítima gravemente traumatizada, o limite entre a vida e a morte pode ser
definido nos primeiros momentos do atendimento.

Antes da avaliação inicial, deve-se isolar o local e proporcionar segurança à vítima e ao socorrista,
o que inclui manter‑se afastado de: incêndio, linha elétrica danificada, produtos perigosos, tráfego
de veículos, armas, presença do agressor no local e condições adversas, como locais de difícil acesso,
iluminação precária, condições do tempo e situações imprevisíveis.

Observação

Em alguns instantes, o socorrista deve observar a situação e começar a


decidir com calma, mas rapidamente, o melhor a fazer.
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Unidade I

Realizado o procedimento descrito anteriormente, os próximos passos a serem seguidos numa


situação de emergência incluem:

Proteção

Individual e coletiva:

• Isolamento da área.

• Uso de roupas claras.

• Luvas descartáveis e máscaras (se necessário):

— O uso de luvas previne o contato do socorrista com o sangue e com secreções da vítima, além
de proporcionar mais qualidade ao atendimento.

Sinalização

Coloque dispositivos de advertência (triângulo, pisca‑alerta, folhagens, tochas) a pelo menos 50


metros antes do local.

• Peça a outras pessoas para parar e ajudar.

• À noite, use roupas claras ou tenha sempre à mão um pedaço de tecido claro.

Isolamento

Tem o objetivo de delimitar a área de ação dos socorristas, impedindo a interferência de curiosos.
Pode ser feito com cordas ou com uma barreira humana, aproveitando os próprios espectadores. Essa
barreira deve estar sempre voltada para a via e de costas para o acidente.

Localização

Atenção na observação do local do acidente, pois nem sempre as lesões externas são as únicas, ou as
vítimas que você visualiza inicialmente são as únicas. Faça uma busca procurando pistas, como: vítimas
projetadas do veículo, crianças sobre o veículo, vítimas presas nos bancos traseiros.

As etapas da sistematização do atendimento à vítima com trauma são divididas em:

• Preparação: para que o atendimento seja realizado com êxito, é necessário que a equipe de
atendimento se organize, seja no âmbito pré‑hospitalar, seja no intra‑hospitalar, uma vez
que a estruturação do atendimento pré‑hospitalar (APH), deve ser inter‑relacionada com o
intra‑hospitalar, de tal forma que este deverá ser notificado durante o transporte da vítima,
visando à provisão de todos os recursos humanos e materiais necessários ao atendimento. O APH
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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

prioriza a manutenção das vias aéreas, o controle de hemorragias, a imobilização e o transporte


seguro a um centro de referência em trauma, preferencialmente.

• Triagem: a classificação de acordo com a gravidade é a característica principal dessa fase, além da
disposição dos recursos disponíveis, baseados no CAB da vida, pois quando há situações em que
exista um grande número de pessoas, é importante que as vítimas com risco iminente de morte
sejam removidas com prioridade ao intra‑hospitalar.

• Exame primário: para identificar e corrigir as condições da vítima que ofereçam risco de morte,
faz‑se necessária uma avaliação rápida e dinâmica, para estabelecer prioridades e otimizar o
atendimento. O exame primário deve ser feito em não mais que 5 a 10 minutos e ser conduzido
de acordo com o mnemônico ABCDE do trauma (ATLS):

— A (airway): vias aéreas + proteção da coluna cervical.

— B (breathing): respiração e ventilação.

— C (circulation): circulação com controle da hemorragia.

— D (disability): incapacidade, estado neurológico.

— E (exposure): exposição com controle do ambiente.

Só se passa para o próximo passo após o anterior ter sido completamente resolvido.

É de suma importância ressaltar que as diretrizes da Associação Americana de Cardiologia de 2010


para a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e para o atendimento cardiológico de emergência (ACE)
recomendam uma alteração na sequência de procedimentos do suporte básico de vida (SBV) de A‑B‑C
(via aérea, respiração, compressões torácicas) para C‑A‑B (compressões torácicas, via aérea, respiração)
em adultos, crianças e bebês (AHA, 2010).

O motivo é que, segundo estudos, a maioria das PCRs ocorre em adultos, e a maior incidência
ocorre em pacientes com arritmias cardíacas potencialmente fatais. Para essas vítimas, os elementos
iniciais cruciais de SBV são compressões torácicas e a desfibrilação precoce. Logo, na sequência
utilizada anteriormente (ABC), as compressões torácicas, muitas vezes, eram retardadas enquanto,
com a alteração da sequência para C‑A‑B, as compressões torácicas são iniciadas mais cedo, e o
atraso na ventilação será mínimo.

Lembrete

A omissão de socorro é prevista pelo código penal, no artigo 135,


e consiste em não prestar assistência a qualquer pessoa ou criança,
seja inválida ou ferida em situação de perigo, quando não há risco ao
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Unidade I

socorrista. Contudo, se a pessoa que irá prestar socorro não se sentir


segura para realizar o procedimento e chamar ajuda especializada,
descaracteriza-se a omissão de socorro.

Manutenção das vias aéreas com proteção da coluna cervical

A avaliação das vias aéreas à procura de alguma obstrução (corpo estranho, sangue ou
fratura) é a primeira ação do profissional que presta atendimento à vítima. Durante todas as
manobras de abordagem das vias aéreas, a estabilidade da coluna cervical deve ser mantida,
seja manualmente, por outra pessoa, seja com o uso do colar cervical, para evitar movimentação
excessiva dessa área.

Respiração e ventilação

A estabilização de uma vítima de trauma não indica uma ventilação adequada, logo o socorrista
deve atentar para o bom funcionamento pulmonar, expondo o tórax da vítima e colocando a mão sobre
este; assim, o examinador pode, além de observar os movimentos da caixa torácica, senti‑los.

Circulação com controle da hemorragia

A presença de grandes hemorragias é a principal causa de óbito em vítimas de trauma que se


acarreta diretamente uma hipotensão severa. Alguns parâmetros podem ser utilizados para avaliar
indiretamente o volume sanguíneo na abordagem primária:

• Nível de consciência: a diminuição do volume sanguíneo reduz o fluxo sanguíneo cerebral, o que
logo influencia o nível de consciência de uma vítima de trauma, a qual pode alternar da agitação
até a inconsciência.

• Pele: grandes hemorragias levam à diminuição da circulação geral, alterando a cor, a temperatura
e a umidade da pele.

• Pulso: em situações de perda sanguínea, podem‑se perceber alterações no volume, na frequência


e na regularidade do pulso. Para que se avalie melhor, os pulsos centrais, como o femoral e o
carotídeo, são os preferenciais. Logo, a ausência deles indica uma necessidade de intervenção
rápida e imediata, evitando a morte da vítima.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Figura 2 – Anatomia dos vasos

Controle da hemorragia

Hemorragias externas são visivelmente identificadas e controladas no exame primário, com


medidas simples, como compressão manual ou uso de outros dispositivos (talas infláveis ou
manguitos, por exemplo).

Caso o sangramento não cesse com o uso do curativo compressivo, podem‑se utilizar, como último
recurso, torniquetes.
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Unidade I

Figura 3 – Torniquete

Incapacidade (avaliação neurológica)

O nível de consciência é avaliado de forma rápida e padronizada por meio do procedimento cuja sigla
é AVDN (A: alerta; V: responde a estímulo verbal; D: responde a estímulo doloroso; N: não responde) e
do tamanho e simetria das pupilas.

Outros fatores podem estar relacionados com o rebaixamento do nível de consciência, dentre eles o
uso de álcool, drogas e medicamentos.

Exposição/controle do ambiente

Para que a avaliação primária seja eficaz, é necessário expor a vítima, despindo‑a, e, dessa
forma, realizar o exame da cabeça aos pés, tanto na região frontal quanto na dorsal. Nessa fase,
deve ser realizada a imobilização cervical ou de alguma outra fratura, caso necessário. É preciso
ressaltar que, para assegurar a privacidade da vítima e evitar a hipotermia, deve ser utilizado um
cobertor ou uma manta térmica.

Reanimação

No risco iminente de morte, o processo de reanimação deve ser imediato, dotado de medidas que
possam promover e otimizar a sobrevida da vítima, seguindo todas as etapas do CAB da vida.

Exame secundário

Imediatamente após a estabilização da vítima e o exame primário, deve ser feita a avaliação
secundária, que consiste em um exame geral minucioso, associado com exames complementares, como
radiografias e estudos laboratoriais, para posterior tratamento definitivo eficaz.
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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Observação

A responsabilidade da equipe de profissionais que atuam na área de


APH ocorre quando esta não cumpre a obrigação que tem em relação
à vítima, causando‑lhe dano. Isso inclui alguns atos que caracterizam o
erro, como a negligência, que constitui a omissão ou a não observância de
determinados deveres por parte da equipe; a imprudência, que constitui
a omissão de cautela, precipitação ou audácia do ato a ser realizado pela
equipe; e a imperícia, que constitui a inaptidão, ignorância, falta de destreza
ou insuficiência de conhecimento técnico.

Numa tentativa de padronização e uniformização das condutas a serem tomadas no atendimento


às emergências médicas, várias instituições de ensino de vários países, sobretudo Estados Unidos,
desenvolveram cursos de capacitação, que estão sendo difundidos em todo o mundo, tais como: o
PreHospital Trauma Life Support (PHTLS), da National Association of Emergency Medical Technicians;
o Advanced Trauma Life Support (ATLS), do American College of Surgeons; o Advanced Cardiac Life
Support (ACLS) e o Brain Attack, da American Heart Association; o Fundamental Critical Care Support
(FCCS), da Society of Critical Care Medicine; o Pediatric Advanced Life Support (PALS), da American
Academy of Pediatrics e da American Heart Association.

Esses cursos são elaborados com um alto nível de conteúdo científico e realizados dentro de padrões
didáticos preestabelecidos, rígidos e atualizados periodicamente, para que o conteúdo do manual
acompanhe a evolução do conhecimento médico e tecnológico.

Resumo

Nesta unidade, abordamos alguns aspectos históricos do atendimento


de urgência. Vimos que, durante a Guerra do Vietnã, houve redução
drástica do risco de morte dos feridos, devido tanto ao controle de grandes
hemorragias quanto ao transporte rápido das vítimas. Também aprendemos
que, no Brasil, somente na década de 1980 foi criado o primeiro sistema
de emergência médica, conhecido como Samu (Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência).

Tivemos a oportunidade de conhecer as modalidades de atendimento


pré‑hospitalar (APH), que pode ser realizado em dois modelos distintos:
Suporte Básico de Vida e Suporte Avançado de Vida. As fases desses
momentos estão representadas nos dois maiores símbolos do APH: a estrela
da vida e a corrente de sobrevida.

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Unidade I

Quanto ao aspecto ético, tivemos a oportunidade de aprender


que, embora o Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde
estejam desenvolvendo ações com a finalidade de normatizar ética
e legalmente o atendimento pré‑hospitalar, ainda não existem
normas claras e precisas sobre esse atendimento. Vimos também
que todo socorrista possui o dever de agir sem causar dano à vítima
(responsabilidade da equipe), e cabe à pessoa atendida fornecer
informações com fidelidade, confidencialidade e veracidade, bem
como, se quiser, exercer o direito de recusar o atendimento, quaisquer
que sejam as causas. O Código Civil prevê punição àquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar o direito
de outrem ou causar‑lhe danos. Numa tentativa de padronização e
uniformização das condutas no atendimento às emergências médicas,
diversas instituições de ensino de vários países, sobretudo Estados
Unidos, desenvolveram cursos de capacitação, que têm se difundido
por todo o mundo.

Finalmente, conhecemos alguns aspectos que devem ser considerados


diante de qualquer acidente, relacionados com a segurança tanto da
vítima quanto do socorrista. São eles: segurança do local, quantidade de
vítimas, gravidade do caso, nível de consciência da vítima, necessidade
de movimentação da vítima, informações das testemunhas, mecanismos
de lesão e cinemática do trauma, estado geral da vítima, entre outros. A
avaliação da vítima deve ser sistemática e no sentido cefalocaudal.

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