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ESTADO DE GOIÁS

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA


Superintendência de Policia Técnico-Científico
Gerência de Ensino Policial Técnico-Científico

Curso de Formação

Auxiliar de Autopsia
Médico Legista
Perito Criminal

NOÇÕES
DE
CRIMINALÍSTICA

Perita Criminal Emmeline Flor Ribeiro


Perito Criminal Fernando Fortes Picoli
Perito Criminal Wagner Torres Fernandes

Goiânia/GO
Agosto / 2015
ESTADO DE GOIÁS
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Gerência de Ensino Policial Técnico-Científico

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO pág. 2

2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA pág. 3

3 - EVOLUÇÃO CONCEITUAL pág. 7

4 - AS CIÊNCIAS RELACIONADAS COM A CRIMINALÍSTICA pág. 8

5 - A PERÍCIA NO CONTEXTO PROCESSUAL pág. 8

6 - CORPO DE DELITO pág. 10

7 - VESTÍGIO, EVIDÊNCIA E INDÍCIO pág. 11

8 - MODUS OPERANDI pág. 12

9 - LOCAL DE CRIME pág. 13

10 - ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME pág. 15

11 - REQUISIÇÃO DE EXAMES DE CORPO DE DELITO (PERÍCIAS) pág. 16

12 - PERÍCIAS pág. 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pág. 23

1 - INTRODUÇÃO

A Criminalística é uma disciplina jovem que surgiu a partir dos trabalhos desenvolvidos
pela Medicina Legal nos séculos passados.

Nos primórdios da fase técnico-científica, a partir do século XIX, cabia à Medicina


Legal, além dos exames de integridade física do corpo humano, toda a pesquisa, busca e
demonstração de outros elementos relacionados com a materialidade do fato penal, como o
exame dos instrumentos do crime e demais evidências extrínsecas ao corpo humano.

Com o advento de novos conhecimentos e desenvolvimento das áreas técnicas, como


física, química, biologia, matemática, toxicologia etc., tomou-se necessidade real a criação de
uma nova disciplina para a pesquisa, análise, interpretação dos vestígios materiais
encontrados em locais de crime, tornando-se, assim, fonte imperiosa de apoio à polícia e à
justiça.

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A Criminalística é uma ciência que se utiliza do conhecimento de outras ciências para


poder realizar o seu mister, qual seja, o de extrair informações de qualquer vestígio
encontrado em um local de infração penal, que propiciem a obtenção de conclusões acerca
do fato ocorrido, reconstituindo os gestos do agente da infração e, se possível, identificando-
o.

Portanto, Criminalística é uma ciência que objetiva a individualização e a identificação


dos elementos materiais relacionados aos delitos em geral, valendo-se das suas próprias
regras e metodologias e do conhecimento das demais ciências, a fim de saber o que
aconteceu, a maneira como se desenvolveu os fatos e quem cometeu o crime.

2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1 - MUNDO:

PRÉ-HISTÓRIA: historiadores citam a existência de reproduções de impressões a tinta,


desenhos em cavernas, vestígios de mãos e dedos.

SÉCULO VII, AC, na CHINA: utilização de desenhos digito-papilares em documentos.

MOISÉS: segundo a Bíblia, quando MOISÉS conduzia o povo de Israel para Canaã, Deus
estabeleceu leis e normas de conduta e leis espirituais. Dentre essas leis, uma que dizia:
"Quando na terra que te der o Senhor teu Deus para possuí-la se achar alguém morto, caído
no campo, sem que se saiba quem o matou, sairão os teus anciãos e os teus juízes, e
medirão a distância até às cidades que estiverem em redor do morto". DEUTERONÔMIO
21:1-2 - EXPIAÇÃO POR MORTE CUJO AUTOR É DESCONHECIDO.

EGITO E ROMA: diante de problemas de terras, havia pessoas especialistas nesse ofício.
VELHA ROMA: CÉSAR aplicara método do exame de local, segundo nos informa TÁCITO. É
que PLANTIUS SILVANUS, tendo jogado de uma janela sua mulher, APRÔNIA, foi levado à
presença de CÉSAR, que foi examinar o seu quarto de dormir e nele encontrou sinais certos
de violência. Este comparecimento de CÉSAR a um suposto local de crime, pode ser,
seguramente, o primeiro exame direto de um local de crime, visando tomar conhecimento do
fato ali, efetivamente, ocorrido e, em resumo, a coleta de provas para a formalização da
convicção.

LEI VALÉRIA: criou a primeira polícia de investigação, instituiu com delegação de poderes do
povo, dois QUESTORES PARRICIDII para presidirem os trabalhos criminais, dirigirem o
processo de instrução e procederem ao julgamento do investigado.

1550 – Ambrósio Pare: falava na França sobre os ferimentos produzidos pelos projéteis de
arma de fogo.

1563 – João de Barros: desenvolvimento da DATILOSCOPIA, com estudos das linhas


papilares.

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1651 – Paolo Zachias: publicou em Roma uma obra intitulada “Questões Médico Legais”,
conquistando assim o título de PAI DA MEDICINA LEGAL.

1664 – Marcelo Malpighi: médico anatomista, deu continuidade ao trabalho, empregando


conhecimentos de metodologia científica, estudando as papilas dérmicas nas mãos e
nas extremidades dos dedos.

1684 – Nehemiah Grew : publicou estudos sobre impressões digitais.

1753 – Boucher: realizou trabalhos sobre Balística Forense.

1823 – Purkinje: classificou os desenhos papilares em nove grupos.

1852 – Orfila: publicou um trabalho sobre Toxicologia.

– Charles Robin: aperfeiçoou a microfotografia, tornando possíveis os trabalhos sobre


Hematologia Forense.

– Alfhonse Bertillon: criou um sistema identificatório baseado em dados cromáticos que


evoluiu para o retrato falado.

1858 – William James Herschel: iniciou estudos sobre as impressões digitais, concluindo pela
sua imutabilidade.

– Henry Faulds: observou impressões digitais gravadas em peças de cerâmica pré-


histórica, iniciando seus estudos sobre as impressões digitais, sugerindo: Que as impressões
digitais fossem tomadas com tinta preta de imprensa; Que fossem examinadas com lentes;
Que existe certa semelhança entre as impressões digitais dos homens e dos macacos.

1864 – Lombroso: propôs o sistema antropométrico como processo de identificação.

1872 – Selmi: descobriu as ptomaínas, abrindo um novo campo na Toxicologia Forense.

1888 – Francis Gatton: fez estudos comparativos entre os sistemas de Bertillon


(Antropometria), e o das impressões digitais.

1891 – Francisco Latzina e Juan Vucetich: implementaram o sistema datiloscópico que


é usado até hoje no Brasil.

1893 – Hans Gross – Juiz de instrução e professor de Direito Penal, autor da obra "SYSTEM
DER KRIMINALISTIK" - SISTEMA DE CRIMINALÍSTICA, considerado o “PAI DA
CRIMINALISTICA”.

1894 – O trabalho de Hans Gross dá origem ao Laboratório de Polícia Científica da Espanha.

1899 – Hans Gross: criou na Áustria os arquivos de Antropologia e Criminalística.

1901 – Hans Gross: publicou a sua obra “Enciclopédia de Criminalística”.

1909 – A.N. Osborn: publicou um livro intitulado “Questioned Documents”.

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2.2 - BRASIL:

1603 – Com as ordenanças, tem-se notícia de atos técnicos, com o Código do Império
prevendo a realização de exames periciais.

1903 – Foi instituído o Sistema Dactiloscópico de VUCETICH no BRASIL.

1913 – RUDOLPH ARCHIBALD REISS, Diretor do Instituto de Polícia Técnica da Suíça, vem
ao BRASIL ministrar aulas de Criminalística.

1941 – DECRETO-LEI nº. 3.689, de 3 de outubro: instituiu o CÓDIGO DE PROCESSO


PENAL, que federalizou e unificou toda a legislação processual penal; também a perícia
oficial recebeu tratamento à altura da importância das provas que produz, mesmo não
havendo, na época, órgãos periciais estruturados em todo os Estados da federação; existiam
apenas os IML´s e alguns Institutos de Criminalísticas.

1947 – Aconteceu na cidade de São Paulo o 1º. Congresso Nacional de Polícia Técnica,
sendo formulados conceitos de Criminalística e de Medicina Legal;

1964 – REGIME DITATORIAL

- Triste período da Perícia Oficial.


- Em vários casos, os laudos serviram mais para respaldar a vontade do Estado do que
para atender aos reclamos da busca da verdade.
- Controle da Justiça.
- Ingerência no trabalho pericial.
- Não requisição da realização da perícia.
- Falta de interesse em melhorar as estruturas dos órgãos da perícia oficial.
- Ações exageradas e arbitrárias de agentes do Estado (militares e policiais,
principalmente).
- Caso do Jornalista Wladimir Herzog: foi assassinado por agentes do Estado, em que foi
produzido um laudo de suicídio por enforcamento.
- Casos reanalisados entre 1997/1999, por uma Comissão dos Desaparecidos Políticos,
nomeada pelo Ministro da Justiça.

1966 – Aconteceu na cidade de São Paulo o 2º. Congresso Nacional de Criminalística, sendo
formulados novos conceitos de Criminalística.

1988 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL

- Avanços no campo legislativo e estrutural.


- Novas Constituições Estaduais.
- Em nove Estados, determinou-se a desvinculação da estrutura da Polícia Civil, com
órgãos periciais com estrutura própria e autônoma.

1994 – Lei Federal nº. 8.862, de 28 de Março:

- Alterou o CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

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- Trouxe significativos avanços na produção da prova pericial.


- Perícia realizada por dois peritos.
- Formação universitária.
- Locais sem perito oficial: perícia deve ser realizada por dois profissionais com nível
superior.
- Preservação do local de crime pela autoridade policial até a chegada dos peritos.
- Vestígio encontrado no local de crime só poderá ser apreendido pela autoridade policial
depois de examinado e liberado pelos peritos criminais.

1995 – Lei Federal nº. 9.099 - JUIZADOS ESPECIAIS

- Outro avanço histórico.


- Lavratura de termo circunstanciado de infrações penais de menor potencial ofensivo.
- Requisição de exames periciais necessários.

1996 – PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

- Outro histórico avanço.


- Autonomia da perícia oficial nos seguintes termos:
"Fortalecer os Institutos médico-legais ou de Criminalística, adotando medidas que
assegurem a sua excelência técnica e progressiva autonomia, articulando-os com
universidades, com vista a aumentar a absorção de tecnologias”.
- Ordem dos Advogados do Brasil, Ministério Público, Magistratura, Comissões de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas Estaduais, Conselho
Federal de Medicina, Anistia Internacional e ONG´s de defesa de direitos humanos são
favoráveis à autonomia da perícia oficial como uma necessidade básica para
instrumentalizar a Justiça na apreciação de processo criminais respaldados com provas
substanciais, como também para garantir a defesa dos direitos individuais e coletivos do
cidadão.

2008 – Lei Federal nº. 11.690, de 09 de Junho:

- Alterou o CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.


- Perícia realizada por perito oficial, portador de curso superior.
- Locais sem perito oficial: perícia deve ser realizada por dois profissionais com nível
superior.
- Indicação e atuação de assistentes técnicos.
- Disponibilização no ambiente do órgão oficial, que mantém a guarda, do material
probatório que serviu de base à perícia, para exame pelos assistentes, na presença de
perito oficial.

2.3 - EM GOIÁS:

1965 – É criado o Laboratório de Polícia Técnica em Goiás.

1981 – É fundada a ASPEC-GO - Associação dos Peritos em Criminalística de Goiás.

1986 – É inaugurada, em Goiânia-GO, a sede do Instituto Médico-Legal e do Instituto de


Criminalística.

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2002 – Lei Estadual nº. 14.383: determinou a desvinculação da Superintendência da Polícia


Técnico-Científica da Diretoria Geral da Polícia Civil, tornando-a uma unidade administrativa
da Secretaria de Segurança Pública de Goiás.

2003 – Lei Estadual nº. 14.628: dá-se ao Instituto de Criminalística de Goiás, o nome de
Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues, ex-diretor do órgão.

2008 – É inaugurada, em Goiânia-GO, a atual sede do Instituto de Criminalística Leonardo


Rodrigues.

2008 – Portaria nº. 793, de 11 de novembro, do Sr. Secretário de Segurança Pública: Criação
do brasão da Polícia Científica de Goiás.

3 - EVOLUÇÃO CONCEITUAL

HANS GROSS (1893)

Criminalística é o estudo da fenomenologia do crime e dos


métodos práticos de sua investigação.

JOSÉ DEL PICCHIA (1947)

Disciplina que tem por objetivo o reconhecimento e


interpretação dos indícios materiais extrínsecos, relativos
ao crime ou à identidade do criminoso. Os exames dos
vestígios intrínsecos (na pessoa) são da alçada da
Medicina Legal.

HILÁRIO VEIGA DE CARVALHO (1966)

É a parte das ciências criminais que, ao lado da medicina


legal, tem por finalidade os estudos técnicos e científicos
dos indícios materiais do delito e da identificação do seu
autor, colaborando também com outros campos do direito
que dela careçam.

ASTOLFO TAVARES PAES (1966)

É a aplicação de qualquer ciência ou técnica a pesquisa e a


interpretação de indícios materiais relativos ao crime,

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evidente ou hipotético, e, no caso de confirmação de sua


ocorrência, à identidade de quem dele tenha participado.

EMÍLIO FEDERICO PABLO BONNET (1980)

A Criminalística policial ocupa-se com a identificação do


indivíduo, do exame dos vestígios, das manchas e rastros,
da falsificação de documentos ou moedas, das armas de
fogo e dos explosivos, bem como dos veículos de qualquer
tipo, quando suspeitos de estarem relacionados com um
fato doloso, culposo ou acidental.

JOSÉ LOPES ZARZUELA (1995)

A Criminalística constituiu o conjunto de conhecimentos


científicos, técnicos, artísticos etc., destinados à
apreciação, interpretação e descrição escrita dos
elementos de ordem material encontrados no local do fato,
no instrumento de crime e na peça de exame, de modo a
relacionar uma ou mais pessoas envolvidas em um evento,
às circunstâncias que deram margem a uma ocorrência, de
presumível ou de evidente interesse judiciário.

4 - AS CIÊNCIAS RELACIONADAS COM A CRIMINALÍSTICA

A Criminalística, segundo o mestre Gilberto Porto, estuda os elementos materiais do


crime, se valendo de várias outras disciplinas, das quais podemos citar:
 Física: Acústica, Eletricidade e Mecânica.
 Química: Orgânica, Inorgânica, Bioquímica, Bromatologia etc.
 Biologia.
 Matemática.
 Medicina Legal.
 Toxicologia.
 Odontologia Legal.
 Antropologia.
 Estatística.
 Ecologia.
 Informática.

5 - A PERÍCIA NO CONTEXTO PROCESSUAL

Ocorrendo uma infração penal (crime ou contravenção) nasce para o Estado o Direito
de punir, sendo concretizado pelo devido processo legal.

É em juízo que deve ser deduzida a pretensão punitiva do Estado, para a aplicação da

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sanção penal prevista no direito material.

Isto só é possível através da Ação Penal (promovida pelo Ministério Público), onde o
Estado deve dispor de elementos mínimos que lhe garanta conhecer a ocorrência do fato
criminoso e sua autoria.

Um dos instrumentos, embora não exclusivo, é o Inquérito Policial, o qual tem por
objetivo a apuração dos fatos, suas circunstâncias e definir sua autoria, com vistas a servir de
base à Ação Penal e às providências cautelares.

A partir da instauração do Inquérito Policial, a autoridade policial (delegado de polícia)


deverá tomar providência no sentido de obter provas materiais (exame de corpo de delito
que é realizada pelo perito oficial) e imateriais (assentadas, termos de declarações etc.),
para que o ato delituoso possa ser descrito em todas as suas circunstâncias, e se possível
determinar a sua autoria.

No âmbito da legislação vigente, o juiz deverá considerar todo o contexto das provas
(material e imaterial) carreadas para o processo judicial, sendo - no entanto - livre para
escolher aquelas que julgarem convincentes. É claro que ele, em sua sentença, irá discutir o
porquê de sua preferência.

Portanto, não há hierarquia de provas. Todas, em princípio, têm o mesmo valor


probante. Todavia, o que temos observado ao longo de muitos anos é que a prova pericial
acaba tendo prevalência sobre as demais.

E é muito simples explicar essa preferência.

A prova material (corpo de delito) é produzida a partir de fundamentação científica,


utilizando os conhecimentos das diversas ciências, pelos peritos oficiais (Perito Criminal,
Médico Legista e Odonto Legista).

Por outro lado, as chamadas provas imateriais, são subjetivas, dependem do


testemunho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a
simples falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, a falta de detalhes devido
ao intervalo de tempo entre a ação e o momento da oitiva, até a situação de má-fé, onde
exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à verdade.

A prova material é tão importante dentro do contexto processual que os legisladores,


quando da confecção do Código de Processo Penal (CPP), determinou no seu artigo 158:

Quando a infração deixar vestígios, será


indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
acusado.

Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância e a relevância que a


perícia representa no contexto probatório, referindo-se, taxativamente, sobre a sua
indispensabilidade, sob pena de nulidade de processos.

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6 - CORPO DE DELITO

6.1 - CONCEITOS:

Ensinam os antigos que, primitivamente, a expressão corpo de delito significava


apenas o cadáver da vítima, mas, com o tempo, passou a indicar toda pessoa ou coisa sobre
a qual recaiu a ação delituosa.

Dentro dos vários conceitos propostos pelos doutrinadores, destacamos alguns:

JOÃO MENDES DE ALMEIDA JUNIOR

Corpo de delito é o conjunto de elementos


sensíveis do fato delituoso.

PIMENTA BUENO
Corpo de delito é a demonstração ou
comprovação judicial da existência do crime ou
fato que se considera criminoso com todas as
suas circunstâncias que devem ser
cuidadosamente examinadas e descritas, pois
que esse todo é à base do procedimento
criminal.

6.2 - IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO:

 Provar se houve ou não a infração penal.

 Demonstrar a ação do sujeito ativo na ação penal.

 Fornecer subsídios de conhecimento técnico, científico e artístico necessários à


tipificação penal.

 Comprovar o nexo de casualidade entre o sujeito ativo e a infração penal.

 Perpetualizar o corpo de delito.

6.3 - MODALIDADES DE EXAMES DE CORPO DE DELITO:

Para os diferentes tipos de exames de Corpo de Delito (Perícias) existem três classes
de peritos oficiais:

o PERITO MÉDICO LEGISTA: é o responsável pela realização das seguintes perícias:


necroscópicas, exumações, lesões corporais, exame clínico de embriaguez, conjunção
carnal, atentado violento ao pudor etc.

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o PERITO CRIMINAL: é o responsável pela realização das seguintes perícias: local de


crime contra a pessoa, local de incêndio, local de explosão, local de desmoronamento,
local de acidente de trabalho, local de ocorrência / crime de trânsito, local de crime de
dano, local de arrombamento, papiloscópicos, grafotécnicos, contábeis, balística,
toxicológicos, biológicos etc.

o PERITO ODONTO LEGISTA: é o responsável pela identificação cadavérica através da


arcada dentária, bem como pela reconstrução e comparação facial.

6.4 - TIPOS DE EXAMES DE CORPO DE DELITO:

 Direto: Análise e descrição direta do corpo de delito.

 Indireto: Nos casos específicos em que não há possibilidade do exame direto do


corpo de delito, esses exames serão realizados com os documentos
constantes do inquérito policial ou do processo judicial.

7 - VESTÍGIO, EVIDÊNCIA e INDÍCIO

Os peritos criminais, ao examinarem um local de crime, estarão procurando todos os


tipos de objetos, marcas ou sinais sensíveis que possam ter relação com o fato investigado.

Todos esses elementos, individualmente, são chamados de VESTÍGIOS.

No momento em que os peritos chegarem à conclusão que tal vestígio está - de fato -
relacionado ao evento periciado, ele deixará de ser um vestígio e passará a denominar-se
EVIDÊNCIA.

Desse modo, no conceito criminalístico, EVIDÊNCIA significa qualquer material, objeto


ou informação que esteja relacionado com a ocorrência do delito.

Portanto, VESTÍGIO é todo objeto ou material bruto constatado e/ou recolhido em um


local de crime para análise posterior, enquanto que EVIDÊNCIA é o vestígio, que após as
devidas análises, tem constatada, técnica e cientificamente, a sua relação com o crime.

Essas duas nomenclaturas (vestígio e evidência) tecnicamente são usadas no âmbito


da perícia; no entanto, tais informações tomam o nome de INDÍCIOS, quando tratados na
fase processual, uma vez que o próprio Código de Processo Penal define em seu Artigo 239:

Considera-se indício, a circunstância conhecida e


provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias.

Em suma: INDÍCIO é uma expressão utilizada no meio jurídico que significa cada uma
das informações (periciais ou não) relacionadas com o crime.

Os vestígios, quanto à visualização, podem ser:

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Visíveis: são aqueles facilmente observados à visão desarmada (olho nu).

Latentes: são aqueles que serão visíveis aos olhos treinados de um especialista em
certas circunstâncias e tornar-se-ão facilmente observáveis através de processos nos
quais se utilizam materiais / equipamentos específicos.

Os vestígios, quanto a relação com o autor/vítima, podem ser:

Vestígios relativos: não guardam relação absoluta, identificável de pronto com o seu
autor. Essa relação é revelada por meio da identificação da classe a que pertence.

Vestígios absolutos: permitem estabelecer relação absoluta, direta, com o seu autor
ou com a vítima, como por exemplo, impressão digital e material genético contido em
vestígios biológicos.

A) Tipos de Vestígios:

 Vestígio Verdadeiro: é o produto da depuração total dos elementos encontrados no


local do crime, pois somente os são aqueles produzidos diretamente pelos atores da
infração e, ainda, que sejam produtos diretos das ações do cometimento do delito em
si.

 Vestígio Ilusório: é todo elemento encontrado no local do crime que não esteja
relacionado às ações dos atores da infração e desde que a sua produção não tenha
ocorrido de maneira intencional.

 Vestígio Forjado: é todo elemento encontrado no local do crime, cujo autor teve a
intenção de produzi-lo, com o objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais
produzidos pelos atores da infração.

8 - MODUS OPERANDI

Segundo entendimento dos autores das doutrinas em Criminalística, os peritos, ao


realizarem o exame pericial, devem perseguir seus objetivos periciais até responderem a três
perguntas básicas: O QUÊ? COMO? e QUEM?

Dentro dessas discussões doutrinárias, são englobadas outras perguntas, tais como:
ONDE? QUANDO? e POR QUÊ? além daquelas já descritas. Evidentemente, dependendo
dos elementos materiais (os vestígios) que os peritos tenham presentes para examinar.

O QUÊ? O que aconteceu naquele evento examinado. Isto é o que os peritos devem
responder após examinarem um local de crime ou um corpo de delito qualquer.

COMO? Como aconteceu aquele evento objeto dos exames periciais. Por intermédio
da análise dos vestígios presentes, os peritos deverão interpretar e relatar como aconteceu
determinado crime. A resposta a esta pergunta é muito importante, pois ela representa a
forma e metodologias empregadas no desenvolvimento do crime.

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QUEM? Quem foi o autor do delito objeto dos exames. Essa é uma das principais
perguntas que os peritos criminais devem responder, baseados nos vestígios, para atender o
objetivo final da Justiça. Claro que não serão em todas as ocasiões que existirão vestígios
suficientes para tal, restando para a polícia responder a essa pergunta ao final de todas as
investigações.

Como podemos observar, o MODUS OPERANDI está inserido na resposta ao COMO.

O MODUS OPERANDI ou a maneira como o delinquente operacionalizou o crime,


representa o próprio comportamento desse agente e as respectivas ferramentas empregadas
no auxílio ao seu objetivo ilícito.

Normalmente as pessoas cometem crimes continuados, o fazem de maneira repetitiva


em vários aspectos, pois é natural do ser humano a repetição de tarefas, de maneira e
medidos semelhantes. Assim, cada um desses delinquentes continuados adotará o seu modo
operacional para cometer crimes, sendo destaques nas ações semelhantes:
 Tipo de crime (prática do mesmo tipo de delito);
 Forma de acesso e de saída ao local do crime (adentramento e saída por um mesmo
tipo de via);
 Ferramentas empregadas (emprego de um mesmo tipo de ferramenta);
 Objetivo criminoso (furto ou roubo de um mesmo tipo de bem);
 Comportamento pessoal (semelhante rotina no interior do imóvel).

9 - LOCAL DE CRIME

9.1 - CONCEITOS:

O local de crime pode ser definido, genericamente, como sendo uma área física onde
ocorreu um fato – não esclarecido até então – que apresente características e / ou
configurações de um delito.

Mais especificamente, local de crime é todo espaço físico onde ocorreu a prática de
infração penal. Portanto, entende-se como local de crime qualquer área física, que pode ser
externa, interna ou mista.

Para robustecermos o nosso conteúdo e chamar a atenção logo de início para a


importância que representa uma perícia em um local de crime, incluiremos uma sábia
definição em forma de parábola do mestre Eraldo Rabelo, um dos maiores peritos do Brasil:

Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado,


cujas páginas por terem a consistência de poeira, desfazem-se,
não raro, ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou
negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados
preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos.

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Enfim, local de crime é toda a área onde tenha ocorrido um fato que, pela sua
natureza, assuma a configuração de delito – crime ou contravenção - e que, portanto, exija as
providências da polícia.

9.2 - CLASSIFICAÇÃO:

9.2.1 - Quanto à natureza do fato:

 Local de Crime de Homicídio.


 Local de Suicídio.
 Local de Ocorrência / Crime de Trânsito.
 Local de Arrombamento.
 Local de Incêndio.
 Local de Explosão.
 Local de Crime de Dano.
 Local de Crime contra o Meio Ambiente.

9.2.2 - Quanto à disposição dos vestígios:

 Local imediato: é considerado o local propriamente dito, ou seja, o local onde ocorreu o
fato e comumente se encontra o corpo da vítima.

 Local mediato: compreende as adjacências da área reservada ao ambiente imediato,


ou seja, toda a área além da demarcada como área imediata. Nesta área é comum a
constatação de marcas de pegadas, rastros de veículos, coisas ou objetos caídos
quando de luta corporal, instrumentos utilizados na prática do crime etc.

 Local relacionado: é aquele que tem relação do mesmo fato em outros locais, por
exemplo, em outros locais são encontrados objetos que tenham relação com o fato
ocorrido naquela área.

9.2.3 - Quanto ao ambiente:

 Local interno: é aquele em que o fato ocorreu no interior de um prédio ou dentro de um


terreno cercado.

 Local externo: é aquele em que o fato foi consumado em logradouro público (via,
praça, calçada) ou domínios de um terreno baldio sem obstáculos.

 Local misto: é aquele em que o fato ocorreu em locais interno e externo.

9.2.4 - Quanto à preservação dos vestígios:

o Local idôneo: é aquele no qual os peritos encontram os vestígios da mesma forma que
foram deixados na ação delituosa, ou seja, não sofreram quaisquer alterações após a
consumação do fato.

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o Local inidôneo: é aquele que, quando da chegada dos peritos, encontra-se alterado o
estado original das coisas, ou seja, sofreu alguma alteração após a ocorrência do fato,
sendo chamado também de local violado.

10 - ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

Com o advento da Lei Federal nº. 8.862/94, os peritos passam a ter uma garantia legal
para a preservação e o isolamento de locais de infrações penais, tarefa essa a cargo da
autoridade policial, sob pena de responsabilização futura pelo juiz.

No art. 6º, incisos I e II, ficou expressamente determinada tal obrigatoriedade, senão
vejamos:

Logo que tiver conhecimento da prática da


infração penal, a autoridade policial deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que


não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com


o fato, depois de liberados pelos peritos criminais.

O isolamento e a consequente preservação do local de infração penal é uma garantia


que o perito terá de encontrar a cena do crime conforme fora deixada pelo(s) infrator(es) e
vítima(s) e, com isso, ter condições técnicas de analisar todos os vestígios. É também uma
garantia para a investigação como um todo, pois teremos muito mais elementos a analisar e
carrear para o processo judicial.

Ao mesmo tempo em que o art. 6º e seus incisos I e II determinam a autoridade policial


que preserve o local e o corpo de delito, também exige que o perito relate em seu laudo se a
preservação deixou de ser feita ou ocorreu com falhas, conforme expresso:

Art. 169 - Para o efeito de exame do local onde


houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se
altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo,


as alterações do estado das coisas e discutirão,
no relatório, as consequências dessas alterações
na dinâmica dos fatos.

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Este dispositivo veio trazer uma responsabilidade enorme ao perito criminal. Devemos
compreender que esta exigência visa resguardar o local de crime, para que tenha o devido
isolamento e preservação, assegurando a idoneidade dos vestígios a serem analisados.

É importante salientar que o perito não deve deixar de realizar o exame solicitado por
falta de preservação ou qualquer outra alteração. Deve examinar da forma como encontrou e
ter o cuidado de registrar tudo em seu laudo.

Haverá, o perito, de ter muito bom senso nessa análise, e, se for absolutamente
impossível realizar qualquer exame, deve, pelo menos, registrar no livro de ocorrência e
encaminhar relatório ao seu diretor descrevendo como se encontrava o local.

LEGISLAÇÕES PERTINENTES:

Alteração de local especialmente protegido


Art. 166, CP - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local
especialmente protegido por lei:
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.

Fraude processual
Art. 347, CP - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou
administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou
o perito:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda
que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

Art. 312, CTB - Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com


vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente
policial, o perito, ou juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Lei nº 5970/73:
Art 1º.: Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro
tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local, a
imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele
envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego.
Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial lavrará
boletim da ocorrência, nele consignado o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas
as demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade.

11 - REQUISIÇÃO DE EXAMES DE CORPO DE DELITO (PERÍCIAS)

No modelo brasileiro, vigente em nosso Código de Processo Penal, cabe à autoridade


policial (delegado de polícia), presidente do inquérito policial, requisitar a perícia, conforme

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determina o inciso VII do Art. 6º:

Determinar, se for o caso, que se proceda a


exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias.

Também podem determinar a realização de perícias, o promotor de justiça – Art. 47,


CPP, e o juiz – Art. 423, CPP.

Além dessas autoridades, podem requisitar perícias o oficial (encarregado) que preside
o Inquérito Policial Militar (Art. 8º, “g”, art. 13, “f” e Art. 321, do CPPM) - e o presidente de
Comissão Parlamentar de Inquérito, municipal, estadual e federal.

Todavia, na grande maioria das ações delituosas, o delegado de polícia é o primeiro


profissional que toma conhecimento do fato e, por ser o presidente do inquérito, é quem mais
exerce essa obrigação.

Após a requisição da perícia pelas autoridades competentes, caberá a nomeação dos


peritos que irão executar os trabalhos ao diretor da repartição, conforme determinar o Art. 178
do CPP:
No caso do art. 159, o exame será requisitado
pela autoridade ao diretor da repartição,
juntando-se ao processo o laudo assinado pelos
peritos.

Desse artigo tiramos duas preocupações do legislador. A primeira tem o objetivo de


obstruir qualquer relação direta entre o requisitante e os peritos que irão efetuar o exame
pericial, evitando-se ingerências, preferências ou recusas sobre determinados peritos, por
parte do requisitante. A segunda preocupação, diz respeito à questão da especialização
necessária que o perito deve ter para realizar o tipo de exame que está sendo requerido,
onde somente o diretor do órgão saberá quem melhor desempenhará aquela tarefa.

A requisição da autoridade policial deverá ser feita por ofício e deverá constar as
seguintes informações:
a) breve histórico do fato delituoso;
b) relação do material enviado para a perícia;
c) nome da vítima ou suspeito;
d) horário, data e endereço do flagrante (Laudo de Constatação e Laudo Definitivo –
nos casos de exames em substâncias entorpecentes);
e) quesitos.

Prazo para elaboração do laudo pericial:

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial,


onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos
formulados.

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Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado


no prazo máximo de 10 dias, podendo este
prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a
requerimento dos peritos.

Nova Perícia: depois que o perito expediu o seu laudo, somente o juiz poderá
determinar a sua revisão ou mesmo a feitura de um novo exame por outros peritos, senão
vejamos:

Art. 181 - No caso de inobservância de


formalidades, ou no caso de omissões,
obscuridades ou contradições, a autoridade
judiciária mandará suprir a formalidade,
complementar ou esclarecer o laudo.
Parágrafo único - A autoridade poderá também
ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.

12 - PERÍCIAS

12.1 - PERÍCIAS DESCRITAS NO CPP

 Perícias em local de infração penal – Art. 169.


 Perícias de laboratório – Art. 170.
 Crimes contra o patrimônio – Art. 171.
 Avaliação econômica – Art. 172.
 Perícia de incêndio – Art. 173.
 Perícias documentoscópicas – Art. 174.
 Exames de eficiência em objetos – Art. 175.

Existem outras perícias elencadas no CPP, tais como: Autopsia – Art. 162 e Exumação
– Art. 163, sendo essas, no entanto, afetas a Medicina Legal.

12.2 - OUTRAS PERÍCIAS

12.2.1 - BALÍSTICA:
É uma disciplina, integrante da Criminalística, que estuda as armas de fogo, sua
munição e os efeitos dos tiros por elas produzidos, sempre que tiverem uma
relação direta ou indireta com infrações penais, visando esclarecer e descrever
as circunstâncias para perpetração da ação delituosa.

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ESTOJOS/
CÁPSULAS

PROJÉTIL
JAQUETADO

JAQUETA

CARTUCHOS PROJÉTIL FRAGMENTO FRAGMENTO


DE CHUMBO DE PROJÉTIL DE CHUMBO

12.2.2 - PAPILOSCOPIA:
Trata-se das perícias relacionadas à identificação de pessoas através dos
estudos das papilas dérmicas, as quais são classificadas por sua posição.
 Plantares: plantas dos pés
 Palmares: palmas das mãos
 Digitais: pontas dos dedos – são as utilizadas para a identificação civil
A partir de fragmentos de impressão digital coletados em locais de crime é
possível confrontá-los com padrões pré-existentes ou a partir de ficha de
suspeitos. Em muitas situações, considerando o conjunto das informações e
demais vestígios, poderemos ter uma identificação positiva da autoria do delito,
a partir de determinado vestígio de impressão digital.

ARCO PRESILHA EXTERNA PRESILHA INTERNA VERTICILO

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12.2.3 - EXAME DE DNA:


É a mais importante técnica de identificação humana, em que se obtém o perfil
genético, desde a descoberta do método das impressões digitais. O exame de
DNA obtido de vestígios biológicos é um importante instrumento de combate à
criminalidade e à impunidade, uma vez que gera provas materiais, na grande
maioria das vezes, irrefutáveis e podem ser utilizadas para incriminar ou
inocentar uma pessoa. Em casos criminais, o DNA tem sido extraído e
analisado em grande variedade de materiais biológicos, tais como: sangue,
sêmen, cabelo, saliva, urina, suor, fezes, impressões digitais, tecidos, células,
ossos e dentes.

12.2.4 - ÁUDIO E VÍDEO:


Compreende a realização dos seguintes exames: transcrição de áudio; captura
e melhoramento de imagem e identificação de voz. O material, objeto de perícia,
deverá ser previamente selecionado pela autoridade requisitante. O exame de
identificação da voz de determinada pessoa consiste, basicamente, na
comparação de uma gravação de voz suspeita com um padrão de voz coletado
do provável autor da voz suspeita. A partir dessas duas amostragens, são feitos
exames físicos, linguísticos e de digitalização gráfica por computador, dentre
outros tipos de modalidades sendo possível chegar ao resultado final somente
se considerarmos o conjunto dos exames efetuados.

12.2.5 - ENGENHARIA LEGAL:


Nas perícias de engenharia no âmbito da Criminalística, o perito criminal com
formação num dos diversos ramos de engenharia – civil, mecânica, elétrica,
florestal, agronômica, dentre outras – deverá buscar as técnicas e
conhecimentos específicos para aplicar na solução da perícia que lhe é
solicitada, associada com as técnicas criminalísticas aplicáveis a cada caso.

Tipos de exames:
 Desabamento de obras civis.
 Deslizamento de terra.

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 Vícios de construção – falhas ou irregularidades.


 Exames em equipamentos mecânicos e/ou elétricos.
 Avaliação de imóveis.
 Análise de orçamentos.
 Acidente de trabalho.

12.2.6 - MEIO AMBIENTE:


De uma maneira simples pode-se dizer que a determinação dos danos
decorrentes de uma degradação ao ambiente requisita conhecimentos de
Biologia – identificação de espécies de animais e vegetais envolvidas, Geologia
– tipo de solo e formação geológica existente no local, Engenharia –
mensuração da área afetada, sua posição geográfica, Química – para identificar
substância química como meio para degradação do meio ambiente,
contabilidade ou economia – para proceder cálculos monetários sobre prejuízos
e/ou sobre perdas futuras pelo dano causado ao meio ambiente.

12.2.7 - INFORMÁTICA:
Os crimes da área da informática começaram com a massificação do uso de
computadores pessoais. Principais crimes configurados: direitos autorais – uso
indevido de programas de computadores, crimes contra o consumidor – vendas
e manutenção de máquinas e programas, crimes contra o estado – sonegações
de impostos e fraudes - e crimes contra a pessoa – pedofilia, exploração sexual,
espionagem etc..

12.2.8 - IDENTIFICAÇÃO VEICULAR:


A identificação veicular é a modalidade de perícia ligada diretamente as
adulterações em veículos automotores e seus documentos. As adulterações nos
veículos consistem nas remoções de partes – transplantes de chassi - e nas
adulterações nos agregados que são o motor e o câmbio.
O trabalho pericial no caso consiste em constatar se houve adulteração,
diagnosticar o tipo de adulteração e quando possível evidenciar o número que
foi removido e/ou alterado.

12.2.9 - OCORRÊNCIA / CRIME DE TRÂNSITO:


O levantamento de local de ocorrência / crime de trânsito é a modalidade de
perícia cuja finalidade é avaliar as relações entre os envolvidos – veículo x
veículo(s), veículo(s) x pedestre(s) e veículo(s) x obstáculo(s) fixo(s) etc.,
através de vestígios deixados no local para se determinar a causa técnica do
evento. O levantamento tem o objetivo de estabelecer a causa determinante do
sinistro, que pode estar vinculada à máquina – falha mecânica imprevisível, ao
homem – ausência de percepção / reação, reação tardia e comportamento
(ilegal, perigoso, inusitado) e ao meio (falhas no sistema viário).

12.2.10 - LOCAIS DE MORTE:


Em Criminalística, devemos distinguir, fundamentalmente, dois tipos de morte: a
natural e a violenta. A morte natural é aquela atribuída à velhice ou à
decorrência de doenças. A morte violenta é a produzida por acidente, homicídio
ou suicídio. Ao perito criminal cabe estabelecer a materialidade do fato, as
circunstâncias em que ocorreu o evento, os meios / instrumentos empregados

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para a perpetração do delito e a autoria do crime. Ao perito médico legista cabe


determinar a causa da morte. A ausência de vestígios externos no corpo da
vítima, representados por ferimentos, não exclui a possibilidade de morte
violenta, o que somente poderá ser comprovada após a necropsia. O
diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio e acidente, em local de morte,
poderá, em determinados casos, ser estabelecido por meio do exame pericial de
local, da vítima e, posteriormente, comprovado, ou não, pela necropsia.

12.2.11 - Reprodução Simulada

Estabelece o art. 7° do CPP: “Para verificar a possibilidade de haver a infração


sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à
reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a
ordem pública”.
Reprodução é o de exame de corpo de delito, facultativo, complementar,
também considerado como misto, já que se baseia nas informações prestadas
pelas pessoas envolvidas no fato delituoso confrontados com elementos
técnicos resultantes do evento.

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TOCHETTO, Domingos, FILHO, Helvetio Galante, ZARZUELA, José Lopes, ARAGÃO,


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VELHO, Jesus Antônio, COSTA, Karina Alves, DAMASCENO, Clayton Tadeu Mota. Locais
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ZARZUELA, José Lopes. Temas Fundamentais de Criminalística. 1. ed.. Porto Alegre-RS:


Editora Sagra Luzzato, 1999.

COMPLEMENTAR (APOSTILAS):

ANDRADE, Marise, RIBEIRO FILHO, Joaquim Camelo. Crimes Contra o Meio Ambiente.
Curso de Formação de Perito Criminal, Gerência de Ensino do Policial Civil, Secretaria de
Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás, 2004.

FERNANDES, Wagner Torres. Quesitos Periciais. Gerência de Ensino Policial Civil da


Secretaria de Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás, 2003.

MJ/SENASP/ABC - Curso de Perícias Criminais.

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REIS, Albani Borges dos. Criminalística. Gerência de Ensino Policial Militar da SAESP,
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SANTOS, Antenor José de Pinheiro. Manual de Quesitação Pericial. Instituto de


Criminalística-GO, 2000.

SOUSA, Wanderli Rodrigues de. Criminalística. Gerência de Ensino Policial Civil – Cursos
de Formação de Delegado de Polícia, de Escrivão de Polícia e de Agente de Polícia, 2004 e
2009. Gerência de Ensino Policial Técnico-Científico – Curso de Formação de Perito Criminal
– 2010.

SOUSA, Wanderli Rodrigues de. Criminalística. Gerência de Ensino Policial Militar – Curso
Operacional de ROTAM – COR 5, COR 7, COR 10 e COR 11.

SOUSA, Wanderli Rodrigues de. Formulação de Quesitos. Gerência de Ensino Policial Civil
– Curso de Formação de Delegado de Polícia, 2004 e 2009, e Curso de Especialização em
Gerenciamento de Segurança Pública - CEGESP, 2007. Gerência de Ensino Policial
Técnico-Científico - Curso de Formação de Perito Criminal, 2010.

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