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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

30/12/2021

Número: 0809820-27.2018.8.10.0001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 10ª Vara Cível de São Luís
Última distribuição : 11/12/2020
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Defeito, nulidade ou anulação, Imissão na Posse
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
J LINO EMPREENDIMENTOS E CONSTRUCOES LTDA - ME ARAO VALDEMAR MENDES DE MELO (ADVOGADO)
(AUTOR)
JOSE LINO DA SILVEIRA NETO (AUTOR) ARAO VALDEMAR MENDES DE MELO (ADVOGADO)
BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA (REU)
SANDRO PEREIRA DE LIMA (REU)
LUIZ BARBOSA LIMA NETO (REU)
BANCO DO NORDESTE DO BRASIL SA (REU) CARINE DE SOUSA FARIAS (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
58599 29/12/2021 08:17 Sentença Sentença
864
PROCESSO N.º 0809820-27.2018.8.10.0001

AÇÃO REIVINDICATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO E TUTELA DE

URGÊNCIA

REQUERENTES: J LINO EMPREENDIMENTOS E CONSTRUÇÕES LTDA – ME e JOSÉ LINO DA SILVEIRA NETO

REQUERIDOS: BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA.; SANDRO PEREIRA DE LIMA; LUIZ BARBOSA LIMA
NETO e BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A

EMENTA: ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA E


REGISTRO IMOBILIÁRIO. FRAUDE DO NEGÓCIO JURÍDICO. EXISTÊNCIA. PROVAS
SUFICIENTES NO SENTIDO DE EXISTIR A FRAUDE. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. OUTORGA DE
ESCRITURA. TITULARIDADE DO DOMÍNIO DO AUTOR. POSSE INJUSTA DOS RÉUS.
REQUISITOS COMPROVADOS. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO ANULATÓRIA E REIVINDICATÓRIA.

SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO

J LINO EMPREENDIMENTOS E CONSTRUÇÕES LTDA – ME e JOSÉ LINO DA SILVEIRA NETO


ajuizaram a presente AÇÃO REIVINDICATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDI
CO E TUTELA DE URGÊNCIA contra os requeridos BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA.; SANDRO
PEREIRA DE LIMA; LUIZ BARBOSA LIMA NETO e BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A.

Aduzem que são os legítimos proprietários e possuidores do imóvel situado a Rua 19, nº 08, Quadra
XII, Loteamento Jardim Primavera(Cohajap), com a matrícula 116527, livro nº 2, fl.162, cujas especificações e limites
estão devidamente registrado na Matrícula n.° 116.527, as Fls. 162, do Livro n.° 2-AAI, do Cartório de Registro de
Imóveis da 1a Zona da Comarca de São Luís-MA, e registro anterior Matrícula n° 17.091 às fls. 061 do Livro n° 2-CL,
constituído conforme descrição abaixo:

“Constituído pelo lote de terreno próprio sob o n° 08 da Quadra XII, situado na Estrada MA-53, trecho
Caratatiua - olho D'Água, antiga estrada do Jaguarema, do Loteamento JARDIM PRIMAVERA, nesta
capital, com as seguintes dimensões, limites e área: frente para a Rua 19 mede 12,00m (doze metros);
linha de fundos limitando- se com o seu correspondentes à Rua 17, mede 12,00m (doze metros);
laterais direita e esquerda, fazem limites entre si respectivamente/excetuando-se a lateral esquerda do
lote 06 (seis), que faz limite com o lote 05 (cinco), e mede 27,00m/(vinte e sete metros); tendo forma
retangular e área de 32-1, 00m2”.

Prosseguiu informando que o referido terreno foi murado pelos Autores, sendo que nos últimos dias,

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verificou-se que os Requeridos, derrubaram-no e iniciaram a limpeza do local, conforme foto anexadas com exordial.

Aduzem que tomaram conhecimento através do Sr. HUGO SATURNINO SANTA CRUZ - pessoa na
qual iniciou as tratativas para compra legítima do imóvel, após buscas no 1º cartório de registro de imóvel, onde se
constatou através das certidões de registro, ônus e reipersecutória, ora solicitadas, que o imóvel já havia sido vendido,
para a empresa BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA., ora 1ª Requerida.

Na verdade, os Autores descobriram tratar-se de um negócio fraudulento realizado a sua revelia, onde
os Requeridos falsificaram diversos documentos públicos. Vale frisar que o Autor não conhece nenhum dos Requeridos,
razão pela qual procurou a delegacia de polícia de defraudações, para noticiar o fato criminoso, bem como pedir as
providências através de representação criminal, processo nº.64832/2018 para abertura de inquérito para
responsabilização dos culpados, conforme boletim de ocorrência.

Diz mais, que os Requeridos, através de vil ardil, utilizaram-se de documentos falsificados, fazendo-se
passar pelos Autores, para perpetrar a referida fraude, trazendo aparência de legalidade ao negócio jurídico,
procedendo até o registro do referido imóvel nos cartórios competentes.

Argumentou que os Requeridos perpetraram a respectiva falsidade, fazendo-se passar pelos Autores,
ocasião em que realizaram ato jurídico de procuração pública, devidamente registrado no livro 039, protocolo 05145,
folha 091, 5º translado, 2º Oficio Extrajudicial de São José de Ribamar, passando os poderes para LUIZ BARBOSA
LIMA NETO, para a venda do referido imóvel, conforme documentos juntados com a inicial.

Concluem sustentando que os requeridos realizaram negócio jurídico completamente nulo, vez que a
vontade do proprietário do imóvel foi viciada, de forma criminosa, através da falsificação de vários documentos públicos,
bem como conseguiram até financiar o referido imóvel do Autor junto ao Banco do Nordeste, deixando o bem imóvel
gravado indevidamente com hipoteca, referente a Cédula de Crédito Bancário n° 240.2017.468.999, conforme atesta a
certidão de ônus constante dos autos.

Ao final, requereu a concessão da tutela de urgência para suspender ou cancelar a imediata abertura de
matrícula av. 01/116.527 – protocolo nº 184.678 – São Luís, 11 de janeiro de 2017 e demais atos seguintes e
averbações subsequentes, para que seja permitido que o proprietário do referido imóvel exerça os seus plenos direitos
de propriedade com consequente imissão dos autores na posse do imóvel, bem como no mérito que seja julgada
procedente a ação para declarar a anulação de todos os atos eivados de nulidade, especialmente a escritura de compra
e venda registrada no 2º Oficio de Notas, ato 023298, Livro 0789, folhas 036 e 036v, bem como, o cancelamento
imediato da abertura de matrícula av.01/116.527 – protocolo nº 184.678 – São Luís, 11 de janeiro de 2017 e demais
atos seguintes e averbações subsequentes referentes ao 1º cartório de registro civil de São Luís/MA.

Alternativamente, requereu, ainda, a procedência dos pedidos contidos na presente ação para confirmar
a imissão definitiva dos autores na posse do referido imóvel, bem como para declarar a nulidade da escritura de compra
e venda registrada no 2º Oficio de Notas, ato 023298, Livro 0789, folhas 036 e 036v, bem como, o cancelamento
imediato da abertura de matrícula av.01/116.527 – protocolo nº 184.678 – São Luís, 11 de janeiro de 2017, e demais
atos seguintes e averbações subsequentes referentes ao 1º cartório de registro civil de São Luís/MA, e ainda a
declaração de nulidade da procuração pública lavrada as fls. 091, do livro 039, datada de 04/05/2017, do 2º Ofício
Extrajudicial da Comarca de São José de Ribamar-MA, bem como a condenação dos Réus, ao pagamento dos danos
suportados pelos Autores, a ser apurado em fase de liquidação de sentença, e ainda, sejam condenados os Requeridos
a reparação pelos DANOS MORAIS a serem arbitrados, conforme entender Vossa Excelência dentro dos parâmetros
legais, acrescidos de correção monetária e juros legais.

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A decisão de ID nº 10627509 determinou a designação de audiência de justificação prévia realizada no
dia 24/04/2018, somente com a presença dos requerentes e de sua testemunha que teve seu depoimento colhido,
conforme termo de audiência de ID nº 11278778.

Decisão de ID nº 11304105 restou deferida a tutela de urgência requerida para determinar o


bloqueio da matrícula 01.116.527, livro nº 2 - AAI, fls. 162, no Cartório de Registro de Imóveis da 1ª Zona de São
Luís, bem como para determinar a IMISSÃO DO AUTOR na posse do imóvel objeto da lide e a citação dos
requeridos.

Devidamente citado o réu Banco do Nordeste contestou a ação suscitando a preliminar de ilegitimidade
passiva e no mérito a improcedência da ação por inexistência de Ato Ilícito e ausência de Dano Moral (ID nº 12093376).
Intimado os autores apresentaram réplica reiterando a responsabilidade do banco requerido que gravou indevidamente
a hipoteca no registro do imóvel, referente a Cédula de Crédito Bancário n° 240.2017.468.999. Despacho de ID nº
19349551 determinou intimação dos requerentes para indicarem os endereços dos réus sob pena de extinção do
processo.

Decisão de ID nº 25139031 proferido no Conflito de Competência nº 0809820-27.2018.8.10.0001


determinou a competência deste juízo. Remetidos os autos a este juízo, restou deferido o pedido dos autores e
determinou a citação dos réus por edital.

Devidamente citados os réus não contestaram a ação, conforme certificado no ID nº 50416591.


Decisão de ID nº 52542463 determinou a intimação da Defensoria Pública Estadual para exercer a curatela especial aos
réus revéis citados por Edital, Sandro Pereira de Lima, Luiz Barbosa Lima Neto e Brasil Verde Agroflorestal Ltda.

A Defensoria Pública Estadual contestou a ação em favor dos réus suscitando a preliminar de
nulidade de citação e no mérito requereu a improcedência da ação (ID nº 52996578). Intimado o autor apresentou
réplica sustentando a ausência de nulidade de citação e requereu a procedência da ação. Ato ordinatório de ID nº
54875909 determinou que as partes especificassem outras provas, tendo elas não requerido outras provas.

É relatório. Decido.

JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO

Dispõe o art. 355, I, do CPC que o juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença, quando
não houver necessidade de produção de outras provas.

Na situação em apreço, todos os elementos necessários ao deslinde da controvérsia já se encontram nos


autos, de sorte que nada acrescentaria a produção de provas em audiência, o que permite o julgamento do feito no
estado em que se encontra.

Aliás, é firme a jurisprudência do STJ no sentido de que compete às instâncias ordinárias exercer juízo
acerca da necessidade ou não de dilação probatória, haja vista sua proximidade com as circunstâncias fáticas da causa.
Na linha desse entendimento, confiram-se, entre outros, os seguintes julgados: AgRg no REsp 762.948/MG, Rel. Min.

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Castro Filho, DJ 19.3.07; AgRg no Ag 183.050/SC, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 13.11.00; REsp 119.058/PE,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 23.6.97.

ÔNUS DA PROVA

O deslinde deste feito remete o julgador à análise pura e simples do ônus probatórios. Sendo assim,
incumbe à parte autora provar o fato constitutivo do seu direito alegado e à parte ré, cabe a prova de fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito vindicado pela parte autora, conforme se infere a regra de distribuição inserta no
artigo 373 do Código de Processo Civil/2015, verbis:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Sobre a matéria, leciona ALEXANDRE DE FREITAS CÂMARA: “Denomina-se prova todo elemento
que contribui para a formação da convicção do juiz a respeito da existência de determinado fato”.

Ademais, apesar do novo entendimento trazido pelo Código de Processo Civil/2015 de que o ônus
probatório passou a ser dinâmico, nada mudou em relação a distribuição, ou seja, cabe ao autor, como dito
anteriormente, o dever de provar os fatos constitutivos de seu direito (inciso I do art. 373, CPC/2015), e ao réu o dever
de provar a existência de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor (inciso II do art. 373,
CPC/2015).

Com efeito, à luz da sábia doutrina temos que:

O fato constitutivo é o fato gerador do direito afirmado pelo autor em juízo. Compõe um suporte
fático que, enquadrado em dada hipótese normativa, constitui uma determinada situação
jurídica, de que o autor afirma ser titular. E como é o autor que pretende o reconhecimento
deste seu direito, cabe a ele provar o fato que determinou o seu nascimento e existência.

O fato extintivo é aquele que retira a eficácia do fato constitutivo, fulminando o direito do autor e
a pretensão de vê-lo satisfeito – tal como o pagamento, a compensação, a prescrição, a exceção
de contrato não cumprido, a decadência legal.

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O fato impeditivo é aquele cuja existência obsta que o fato constitutivo produza efeitos e o
direito, dali, nasça – tal como a incapacidade, o erro, o desequilíbrio contratual.

O fato impeditivo é um fato de natureza negativa; é a falta de uma circunstância (causa


concorrente) que deveria concorrer para o fato constitutivo produzisse seus efeitos normais.

O fato modificativo, a seu turno, é aquele que, tendo por certa a existência do direito, busca, tão-
somente [sic], alterá-lo – tal como a moratória concedida ao devedor.

Assim se estrutura o sistema processual brasileiro, cabendo a cada parte provar o que alegou – ou
‘contraprovar’ aquilo alegado e provado pelo adversário.

RESPONSABILIDADE

Verificada a existência das condições da ação e dos pressupostos de constituição e de


desenvolvimento válido e regular do processo, bem como não vislumbradas as situações de perempção, litispendência
ou de coisa julgada, entendo estar o feito hígido para julgamento do mérito, pois, as partes dispensaram a produção de
outras provas.

Inicialmente rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelo Banco do Nordeste, uma vez
que o resultado da demanda afetará os interesses da instituição financeira, pois trata-se de pedido de cancelamento de
registro de hipoteca que lhe foi dada pela realização de contrato de (Cédula de Crédito Bancário n° 240.2017.468.999)
com os demais corréus, sendo, portanto, o Banco requerido legitimado a figurar na polaridade passiva da ação.

Quanto a preliminar de nulidade de citação, igualmente a rejeito tendo em vista que verificando-se que a
citação por edital foi precedida de diligências, na tentativa de localizar os demandados, não há falar em nulidade com
base no fato de ainda existir diligências passíveis de serem realizadas, na medida em que jamais se esgotarão todas as
possibilidades de providências que se possa imaginar com tal intuito, valendo, isto sim, apreciar com razoabilidade o
que já foi diligenciado, sem sucesso, na tentativa de localizar os requeridos que escondem flagrantemente para evitar as
consequência, inclusive criminais, decorrentes dos atos por ele perpetrados.

Rejeito a preliminar de inépcia da inicial, posto que a peça inicial da Ação Anulatória preenche os
requisitos legais, contendo os fatos, fundamentos e pedidos, na forma legal.

Ultrapassadas as preliminares, passo ao julgamento do mérito da ação.

Trata-se de Ação de Reivindicatória, em que alega a parte autora ser proprietária de um terreno situado
nesta cidade de São Luís o qual pretende usar e gozar, sendo impedida pelos requeridos.

Requer a condenação dos réus a restituírem o imóvel e na declaração de nulidade da escritura de


compra e venda registrada no 2º Oficio de Notas, ato 023298, Livro 0789, folhas 036 e 036v, bem como, o

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cancelamento imediato da abertura de matrícula av.01/116.527 – protocolo nº 184.678 – São Luís, 11 de janeiro de
2017, e demais atos seguintes e averbações subsequentes referentes ao 1º cartório de registro civil de São Luís/MA, e
ainda a declaração de nulidade da procuração pública lavrada as fls. 091, do livro 039, datada de 04/05/2017, do 2º
Ofício Extrajudicial da Comarca de São José de Ribamar-Ma, bem como a condenação dos Réus, ao pagamento dos
danos suportados pelos Autores, a ser apurado em fase de liquidação de sentença, e ainda, sejam condenados os
Requeridos a reparação pelos DANOS MORAIS.

Sabe-se que a ação reivindicatória tem como fundamento o disposto no art. 1228 do Código Civil que
assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, bem como reavê-los de quem quer que
injustamente os possua.

Desta forma compete aos autores, que declararam serem os reais proprietários do imóvel,
indispensavelmente, provar o Domínio do bem, a sua individualização, além da posse exercida por terceiros, seja de
boa ou má fé, em nome próprio ou de outrem.

A comprovação do Domínio do imóvel que se busca reivindicar se faz através de certidão atual do
registro imobiliário, assim como de sua cadeia sucessória.

A doutrina afirma que a comprovação do domínio do bem através do registro de imóveis constitui
requisito indispensável ao ajuizamento da demanda petitória, nos termos do art. 524 do CC.

Exige-se, ainda, para o ajuizamento da ação reivindicatória, além da comprovação do domínio do bem
que se pretende reivindicar, a sua completa individualização, mencionando elementos que o caracterizem como sua
localização, confrontações, extensão territorial, de modo a distingui-lo de outros imóveis.

No caso dos autos a referida identificação/individualização é extraída da própria matrícula do bem no


registro imobiliário juntada pelos autores no ID nº 10565522, vez que esta documentação cartorária traz informações
quanto suas confrontações, área, divisões e repartições.

O memorial descritivo do imóvel juntando pelos autores também individualizou e identificou o imóvel, já
que trouxe informações concernentes à confrontação, área total e área construída, elementos irrelevantes para o
deslinde da controvérsia da causa.

Por fim, os autores comprovaram que a posse exercida por réus, era de má fé, em nome próprio e
injusta, uma vez que decorreu de negócio jurídico fraudulento, ou seja, os autores não realizaram contrato de compra
venda do imóvel perante os réus, mais precisamente perante o falsário, LUIZ BARBOSA LIMA NETO, que levou uma
pessoa fazendo se passar pelo autor JOSÉ LINO DA SILVEIRA NETO, que apresentou a carteira de identidade juntada
nos autos falsa, conforme informações concedidas pelo oficial do Cartório do 2º Oficio Extrajudicial de Ribamar, que
forneceu cópia dos referidos documentos, ocasião em que realizaram ato jurídico de procuração pública, devidamente
registrado no livro 039, protocolo 05145, folha 091, 5º translado, 2º Oficio Extrajudicial de São José de Ribamar,
passando os poderes para LUIZ BARBOSA LIMA NETO, para a venda do referido imóvel de propriedade dos autores.

Portanto, restou provado nos autos que os requerentes não realizaram a venda do imóvel, fazendo jus
reaver o imóvel objeto da lide do poder de quem injustamente a possua ou detenha no caso da requerida BRASIL
VERDE AGROFLORESTAL LTDA, através de seu sócio, SANDRO PEREIRA DE LIMA, adquiriu o referido imóvel

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fraudulentamente, nos termos do art. 1228 do CC.

A posse injusta é aquela que contraria o domínio do autor, ou seja, é aquela exercida contra a vontade
do dono do imóvel, fundada na inexistência de causa jurídica que justifique a prática da posse, nos termos da
jurisprudência pátria, in verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REIVINDICATÓRIA - OUTORGA DE ESCRITURA - TITULARIDADE DO


DOMÍNIO DO AUTOR - POSSE INJUSTA DOS RÉUS - REQUISITOS COMPROVADOS. - Em ação
reivindicatória, que é de cunho petitório, basta ao autor provar a sua propriedade e a posse injusta do
réu. - Quando se trata da ação dominial por excelência, que é a reivindicatória, fundada no art. 1228 do
CC/2002, injusta é qualquer posse que contrarie o domínio do autor. (TJMG - Apelação Cível
1.0093.11.001263-5/001, Relator(a): Des.(a) Alexandre Santiago, 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
13/03/2019, publicação da súmula em 21/03/2019)”

Assim sendo, os autores comprovaram a provas juntadas na exordial os requisitos exigidos ao


reconhecimento do direito reivindicatório do imóvel, bem como da anulação do registro imobiliário resultante da compra
venda efetuada de forma fraudulenta.

Como dito, a comprovação do domínio do imóvel objeto da lide, restou atestada pela Certidão de
Registro Imobiliário de Id nº 10565522 em que consta os requerentes como proprietários do imóvel, assim como a
posse de injusta e de má fé exercida pelos réus BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA; SANDRO PEREIRA DE
LIMA; LUIZ BARBOSA LIMA NETO que inclusive gravaram de ônus real o imóvel junto ao requerido Banco do
Nordeste por meio da aquisição fraudulenta do bem.

Portanto, é indiscutível que a certidão que ampara o pedido inicial é válida e cumpre o requisito
suficiente para a procedência da ação petitória quanto à comprovação do domínio e sua correta individualização, assim
como da nulidade do negócio jurídico efetuado pelos requeridos sobre o bem de propriedade dos autores.

Referido documento atesta, portanto, tanto a comprovação do domínio, quanto a individualização do


bem.

Por fim, demonstrados os requisitos anteriores, no que toca à efetiva demonstração de que o bem
reivindicado encontrava-se na posse dos réus, referida constatação constituiu fato notório e incontestável nos autos,
inclusive fato que ensejou a concessão da tutela de urgência.

De se concluir, portanto, que estando presentes os requisitos legais que evidenciam a procedência do
pleito reivindicatório e anulatório, tenho que a entrega do imóvel aos requerentes é medida que se impõe.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

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Número do documento: 21122908172394200000054886881
Em relação aos DANOS MORAIS, no caso concreto, demonstra-se absolutamente cabível, eis que
evidente o dano extrapatrimonial causado aos autores pelos réus BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA;
SANDRO PEREIRA DE LIMA; LUIZ BARBOSA LIMA NETO, que articularam todo negócio jurídico fraudulento com
intuito de retirar a propriedade do bem dos requerentes e obter a concessão de crédito perante o terceiro requerido
(Banco), ocasionando transtornos aos autores que firam impedidos de dispor livremente sobre imóvel em decorrência da
gravação de ônus real sobre o mesmo.

O requerido Banco do Nordeste, embora tenha participado de negócio jurídico com os demais corréus,
agiu de boa fé na medida em que desconhecida a fraude, portanto, não deve ser responsabilizado pelos danos morais
pleiteados em razão da culpa exclusiva de terceiro, no caso os demais réus.

Em uma das melhores definições de dano moral, está a lição do Desembargador SÉRGIO CAVALIERI
FILHO, em sua obra Programa de Responsabilidade Civil, às folhas 76, leciona o magistrado:

“Só deve ser reputado como dano moral a dor, o vexame, sofrimento ou humilhação, que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflição, angústia e desequilíbrio em seu bem estar. Mero dissabor, aborrecimento,
mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada, estão fora da órbita do dano moral, porquanto
além de fazerem parte da normalidade do nosso dia–a-dia, no trabalho, no trânsito, entre amigos
e até no ambiente familiar tais situações não são intensas e duradouras, ao ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano
moral, ensejando ações judiciais em busca de indenização pelos triviais aborrecimentos.”

Logo, resulta evidente a obrigação de indenizar, o caso do dano é in re ipsa, logo não é necessária a
apresentação de provas que demonstrem a ofensa moral dos requerentes. O próprio fato da fraude e os ônus incidentes
sobre imóvel já configura o dano pleiteado.

Em casos semelhantes, a jurisprudência nacional vêm entendendo ser cabível a fixação de dano moral:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.


ACUSAÇÃO DA PRÁTICA DE RECEPTAÇÃO DE BICICLETA. VIOLAÇÃO AO DIREITO DE IR E VIR.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. DANO MORAL "IN RE IPSA". DEVER DE INDENIZAR
CONFIGURADO. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de improcedência
proferida nos autos desta ação de indenização por dano moral. Pretende a parte autora, pai e filho, ser
indenizada pelo dano moral sofrido em decorrência da conduta dos réus que teriam acusado o primeiro
autor de furto e o segundo de receptação de uma bicicleta que seria de propriedade da primeira
demandada, tendo acionado a Brigada Militar que encaminhou todos à Delegacia de Polícia para

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averiguação dos fatos. Nos termos do art. 187 do Código Civil , comete ato ilícito, passível de
reparação, o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. "In casu", restou evidenciado o abuso
de direito por parte dos demandados a partir do confronto das versões à luz dos documentos juntados
aos autos. O primeiro autor, menor à época dos fatos, por suspeita dos réus de que a bicicleta que
portava era a que lhes pertencia e havia sido furtada, foi por eles abordado em via pública e restou
impedido de se retirar do local. A abordagem ultrapassou a esfera do mero esclarecimento dos fatos,
sendo o menor abordado na condição de... receptador. Por outro lado, o constrangimento ilegal
suportado pelo menor e seu pai, segundo autor, que foi chamado pelos réus para esclarecer a questão,
restou comprovado pela própria ocorrência policial lavrada quando da chegada das partes à Delegacia
de Polícia. Dano moral "in re ipsa" configurado a partir do fato de os autores terem sobre as suas
cabeças a pecha de receptadores, tendo o menor, inclusive, violado o seu direito de ir e vir,
necessitando ambos comparecer à delegacia de polícia para prestar esclarecimentos. Sendo assim,
presentes os pressupostos do dever de indenizar, impõe-se o provimento do recurso, fixando-se a
indenização de acordo com os precedentes proferidos em casos análogos. APELAÇÃO PROVIDA. (
Apelação Cível Nº 70047388020 , Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio José
Costa da Silva Tavares, Julgado em 01/10/2015).

Assim, pondera-se que a indenização não deve ser objeto de enriquecimento sem causa, e que tem a
função de recomposição do bem violado, devendo ser evitado por outro lado, que seja irrisória, de modo a coibir a
perpetração de ilícito e desestimular a reiteração; Desta forma, entendo que, o valor dos DANOS MORAIS, deve ser
fixados em R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo em vista os constantes transtornos que os autores passaram.

No que diz respeito aos juros de mora, este devem ser de 1% (um por cento) ao mês, contados da data
do evento danoso, de acordo com o art. 398 do Código Civil c/c as Súmulas 43 e 54, do STJ. A correção monetária, nos
índices da Corregedoria Geral de Justiça, a partir da data da publicação desta sentença, de acordo com a Súmula 362,
do STJ.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS

De ouro lado, quanto aos danos materiais pleiteados os autores não juntaram, tampouco quantificaram
o prejuízo efetivamente sofrido nos autos, restando inepto seu pedido.

Assim, a indenização por danos materiais na modalidade em que fora pleiteada exige um prejuízo
econômico concreto, ao passo que não tendo sido este comprovado, indevido o seu ressarcimento.

DISPOSITIVO

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Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO contido na inicial, extinguindo o
processo com resolução do mérito, na forma do art. 487, inciso I do CPC, confirmando a decisão de tutela de urgência e
condenando OS REQUERIDOS BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA; SANDRO PEREIRA DE LIMA; LUIZ
BARBOSA LIMA NETO e BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A a restituírem o imóvel à parte autora, bem
como condeno exclusivamente os réus BRASIL VERDE AGROFLORESTAL LTDA; SANDRO PEREIRA DE LIMA e
LUIZ BARBOSA LIMA NETO a indenizarem os autores com R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais,
acrescido de juros de 1% (um por cento) ao mês, contados da data do evento danoso, de acordo com o art. 398 do
Código Civil c/c as Súmulas 43 e 54, do STJ. A correção monetária, nos índices da Corregedoria Geral de Justiça, a
partir da data da publicação desta sentença, de acordo com a Súmula 362, do STJ;

Julgo ainda, procedente a ação para declarar a nulidade da escritura de compra e venda
registrada no 2º Oficio de Notas, ato 023298, Livro 0789, folhas 036 e 036v, bem como, o cancelamento imediato
da abertura de matrícula av.01/116.527 – protocolo nº 184.678 – São Luís, 11 de janeiro de 2017, e demais atos
seguintes e averbações subsequentes referentes ao 1º cartório de registro civil de São Luís/MA, assim como, da
procuração pública lavrada as fls. 091, do livro 039, datada de 04/05/2017, do 2º Ofício Extrajudicial da Comarca
de São José de Ribamar-MA, a fim de que possa ser restabelecida a propriedade do imóvel em favor dos
autores sem a incidência de qualquer ônus real sobre o mesmo.

Condeno ainda, os requeridos ao pagamento das custas processuais, e honorários advocatícios que
arbitro de 15% (quinze por cento) do valor da condenação, na forma do art. 85, § 2º e 6º do CPC, considerando o grau
de zelo do profissional, a natureza e a importância da causa e o trabalho realizado pelo advogado.

Oficie-se aos Cartórios, com cópia desta decisão para que procedam-se com retificações necessárias a
o registro do imóvel objeto da lide.

Transitada em julgado, certifique-se e arquivem-se com as devidas cautelas.

CÓPIA DA SENTENÇA ASSINADA SERVE COMO MANDADO JUDICIAL PARA TODAS AS


FINALIDADES LEGAIS E PROCESSUAIS.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

São Luís/MA, 29 de dezembro de 2021.

MARCELO ELIAS MATOS E OKA

Juiz de Direito Auxiliar – Entrância Final

Respondendo pela 10ª Vara Cível

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