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Notas de Aulas AM III 2015/2016

Ano: 2o Ano - UNICV - 1o Semestre

1 Modulo V
Conteúdo
1 Modulo V 1
1.1 Série de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Série de Laurent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.3 Singularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3.1 Classificação das singularidades isoladas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.4 Teorema dos resíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.5 Teorema dos resíduos - aplicações ao cálculo de integral real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Não é paradoxo dizer que nos nossos mo-
mentos mais teóricos podemos estar mais
próximos das nossas aplicações mais prá-
ticas.
Alfred Whitehead

1.1 Série de Taylor


O teorema que se segue mostra que é também possível representar uma função, complexa de variável
complexa, diferenciável numa bola aberta por meio de uma série de potências de (z − z0 ) .
Teorema 1.1. (de Taylor). Seja f uma função diferenciável num conjunto aberto A ⊆ C e seja Br (z0 ) ⊆ A.
Então, nessa bola,

X n
f (z) = an (z − z0 ) , (1.1)
n=0

onde ˆ
f n (z0 ) 1 f (z)
an = = n+1 dz, (1.2)
n! 2πi C(z0 ,r) (z − z0 )
com n ∈ N0 .
Demonstração. (Omitido)
1
Exemplo 1.1. Vamos obter o desenvolvimento em série de Taylor da função f (z) = 1+z em torno de:
1
P∞ n
1. z0 = 0. Resolução: Temos que f (z) = 1+z = n=0 (−1) z n , com |z| < 1;
1 1 1
P∞ n 1 n P∞ n n
 = 1 1
2. z0 = 1. Resolução: Temos que f (z) = = n=0 (−1) 2n (z − 1) = n=0 (−1) 2n+1 (z − 1) ,

1+z 2 1− − z−1 2
2

com |z − 1| < 2.

1.2 Série de Laurent


O teorema que se segue vai permitir, sobre certas condições, fazer o desenvolvimento em série de Laurent dada em
(1.3).
Teorema 1.2. Seja f uma função diferenciável num conjunto aberto A ⊆ C e seja {z : R1 < |z − z0 | < R2 } uma
coroa circular contida em A (portanto, holomorfa em A). Então, nessa coroa circular tem-se
∞ ∞
X 1 X n
f (z) = a−n n + an (z − z0 ) , (1.3)
n=1
(z − z 0 ) n=0

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onde, ˆ
1 f (z)
an = n+1 dz (1.4)
2πi C(z0 ,r) (z − z0 )
com n ∈ Z e 0 ≤ R1 < r < R2 .

Observação 1.1. No caso das séries de Laurent, tem-se o seguinte:

1. A série (1.3) chama-se série de Laurent. Os coeficientes an e a−n são univocamente determinados
por f e z0 .
P∞
2. Chama-se de parte principal à série n=1 a−n (z−z1 0 )n e de parte regular (ou parte analítica) à
P∞ n
série n=0 an (z − z0 ) .

3. Se f é diferenciável em todo o disco |z − z0 | < R2 , então a−n = 0, para n ≥ 1 e

f (n) (z0 )
an = , (1.5)
n!
com n = 0, 1, 2, . . . , i.e, a série (1.3) reduz-se à série de Taylor.
1
4. O coeficiente de z−z0 , i.e, a−1 , satisfaz
ˆ
1 f (z)
a−1 = 0 dz
2πi C(z0 ,r) (z − z0 )
ou seja, ˆ
f (z)
0 dz = 2πi × a−1 . (1.6)
C(z0 ,r) (z − z0 )
1
Exemplo 1.2. Vamos obter o desenvolvimento em série de Laurent da função f (z) = z(1−z) em torno de:

1 1 1
P∞ P∞
1. z0 = 0. Resolução: temos que f (z) = z 1−z = z n=0 zn = n=0 z n−1 , com 0 < |z| < 1;
1 1 1 1 −1
P∞ n P∞ n+1 n−1
2. z0 = 1. Resolução: temos que f (z) = 1−z z = 1−z 1−(−(z−1)) = z−1 n=0 (− (z − 1)) = n=0 (−1) (z − 1) ,
com 0 < |z − 1| < 1.

1.3 Singularidade
Definição 1.1. Seja f : Ω → C. z0 ∈ Ω é um ponto singular de f, se f não é analítica em z0 .

1.3.1 Classificação das singularidades isoladas


Singularidade isolada
Definição 1.2. Diz-se que z0 é uma singularidade isolada de f se existir um número real r > 0 tal que f é
\{z }
diferenciável em Br (z0 ) 0 .
Exemplo 1.3. Seja f (z) = 1
z 2 +z 4 diferenciável em C\{0,±i} . z0 = i é uma singularidade isolada já que é diferenciável
\{i}
na bola B1 (i) .

Exercício 1.1. Classifique as outras singularidades da função anterior.

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Singularidade Removível
Definição 1.3. Uma singularidade z0 de f diz-se removível se lim f = l 6= ∞.
z→z0

z 3 −1
Exemplo 1.4. Se f (z) = z−1 então lim f = 3. Assim, segundo a definição anterior, z0 = 3 é uma singularidade
z→1
removível.
Observação 1.2. No caso de uma função possuir uma singularidade removível é possível extender f a
uma função fe tal que 
f (z) se z 6= z0

fe(z) =

l se z = z0

Pólo de ordem k
k
Definição 1.4. Uma singularidade z0 de f diz-se pólo de ordem k se lim (z − z0 ) f = l 6= 0, ∞.
z→z0
1 2
Exemplo 1.5. A função f (z) = z tem um pólo simples, z0 = 0, já que lim (z − 0)f = 1. E a função f (z) = (z−3)3
z→0
tem um pólo de ordem 3, z0 = 3, já que lim (z − 3)3 f = 2.
z→3
1
Exercício 1.2. Seja f (z) = sin(z) , mostre que os pontos singulares de f são zk = kπ, k ∈ Z. Classifique as
singularidades de f.

Singularidade essencial
Definição 1.5. Uma singularidade z0 de f diz-se essencial se não existe lim f.
z→z0
1
Exemplo 1.6. z0 = 0 é uma singularidade essencial da função f (z) = e , pois não existe lim f.
z
z→0
Exercício 1.3. Classifique as singulariades das seguintes funções:
1. f (z) = tan (z)
1
2. g (z) = e sin(z)
1
3. f (z) = (z−3i)3
.

Definição 1.6. Na série de Laurent, no caso em que R1 = 0, i.e, z0 é uma singularidade isolada de f, chama-se de
1
resíduo, e representa-se por Res (f, z0 ), ao coeficiente a−1 de z−z 0
na série de Laurent de f. Ou seja,
ˆ
f (z)
0 dz = 2πiRes(f, z0 ). (1.7)
C(z0 ,r) (z − z0 )
Atente-se agora ao próximo resultado, conhecido por teorema dos resíduos.

1.4 Teorema dos resíduos


O teorema que se segue é extremamente útil para o cáculo de integrais ao longo de um caminho fechado. Vai ser
possível calcular alguns integrais (muitos na verdade!) a partir do cálculo de resíduos. Em particular, há uma
aplicação no cálculo de integral real...
Teorema 1.3. (de resíduos). Seja f uma função diferenciável num conjunto aberto A ⊆ C e seja γ uma curva de
Jordan (s.r.) contida em A. Se as singularidades de f dentro de γ são z1 , z2 , . . . e zp então
ˆ p
X
f (z) dz = 2πi Res(f, zk ). (1.8)
γ k=1

Demonstração. (Omitido)

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Técnicas de cálculo de resíduos


1. Se z0 é uma singularidade removível então existe limz→z0 f (z) = l 6= ∞, assim

f (z) = a0 + a1 (z − z0 ) + a2 (z − z0 ) + . . .

donde, Res (f, z0 ) = a−1 = 0


2. Se z0 é um pólo simples então

Res (f, z0 ) = lim (z − z0 ) f (z)


z→z0

k
1. Se z0 é um pólo de ordem k então limz→z0 (z − z0 ) f (z) = l 6= 0, ∞, assim
a−k a−k+1 a−1 2
f (z) = k
+ −k+1
+ ··· + + a0 + a1 (z − z0 ) + a2 (z − z0 ) + . . .
(z − z0 ) (z − z0 ) (z − z0 )

donde,  k−1 
1 d k
Res (f, z0 ) = lim (z − z0 ) f (z) (1.9)
(k − 1)! z→z0 dz k−1

2. Se z0 é uma singularidade essencial, tem que se recorrer ao desenvolvimento da função em série de Laurent!!

Exemplo 1.7. Vamos usar o teorema de resíduos para calcular o integral


ˆ
1
dz.
C(0,2) z (1 − z)
1
Comecemos por notar que a função f (z) = z(1−z) tem singularidades nos pontos z = 0 e z = 1, ambos dentro
da circunferência C (0, 2) .

ˆ
1
dz = 2πi (Res(f, 0) + Res (f, 1))
C(0,2) z (1 − z)

Calculemos então os resíduos:

Método I
Para a singularidade z = 0 :


1 1 1X n
f (z) = = z
z1−z z n=0

X
= z n−1
n=0
1
= + 1 + z + z2 + . . .
z
para todo o 0 < |z| < 1.
Assim a−1 = 1 = Res (f, 0) .
Para a singularidade z = 1 :

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−1 1 −1 1
f (z) = =
z−1z z−11+z−1

−1 X n n
= (−1) (z − 1)
z − 1 n=0

X n+1 n−1
= (−1) (z − 1)
n=0
1 2
= − + 1 − (z − 1) + (z − 1) − . . .
z−1
para todo o 0 < |z − 1| < 1.
Assim a−1 = −1 = Res (f, 1) .

Método II
Vamos usar o facto das singularidades serem pólos. Assim podemos usar a fórmula (1.9). Ora,

1
lim (z − 0) f (z) = lim
z→0 z→0 1−z
= 1

o que confirma que z0 = 0 é um pólo simples. Deste modo, temos

1
Res (f, 0) = lim [(z − 0) f (z)]
0! z→0
= 1

(Compare)

 
1
lim (z − 1) f (z) = lim −
z→1 z→1 z
= −1

o que confirma que z1 = 1 é um pólo simples. Deste modo, temos

1
Res (f, 1) = lim [(z − 1) f (z)]
0! z→1
= −1

Finalmente, temos
ˆ
1
dz = 2πi (1 − 1) = 0.
C(0,2) z (1 − z)
´ 1
Exemplo 1.8. Vamos calcular |z|=1
e dz.
z

1
Resolução: Notemos que z0 = 0 é uma singularidade essencial. A função e z pode ser desenvolvida em
{z ∈ C|0 < |z| < ∞} como
1 1 1
ez = 1 + + + ···
z 2!z 2

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donde a−1 = 1 = Res (f, 0) . Deste modo,


ˆ
1
e z dz = 2πiRes (f, 0)
|z|=1
= 2πi.

Definição 1.7. Seja f uma função diferenciável em Br (z0 ) . Dizemos que f tem um zero de odem n em z0 se
f (z0 ) = f 0 (z0 ) = · · · = f n−1 (z0 ) = 0 e f n (z0 ) 6= 0.
Exemplo 1.9. Seja f (z) = z 2 − 4z + 4 tem-se que f 0 (z) = 2z − 4 e f 00 (z) = 2. f (2) = f 0 (2) = 0 e f 00 (z) 6= 0.
Portanto z0 = 2 é um zero de ordem 2.
Observação 1.3. Perceba agora, porque que se diz que, por exemplo, a equação z 2 − 4z + 4 = 0 tem uma
raíz dupla (de multiplicidade 2).

1.5 Teorema dos resíduos - aplicações ao cálculo de integral real


Proposição 1.1. Seja R(sin(θ), cos(θ)) o quociente de polinómios de sin(θ) e cos(θ), cujo denominador não se
anula sobre a cicunferência unitária, z = eiθ , θ ∈ [0, 2π[. Então,
ˆ 2π X
R(sin(θ), cos(θ))dθ = 2πi Res(f, zk ) (1.10)
0 k

onde zk são singularidades de f no interior de {z : |z| = 1} e f dada por


  2
1 z2 + 1
  
1 1 z −1
f (z) = R , . (1.11)
zi 2i z 2 z

Demonstração. Seja z = eiθ temos

eiθ + e−iθ z2 + 1
cos(θ) = = (1.12)
2 2z

eiθ − e−iθ z2 − 1
sin(θ) = = (1.13)
2i 2iz
Pelo teorema dos resíduos, temos
ˆ X
f (z)dz = 2πi Res(f, zk ). (1.14)
|z|=1 k

Por outro lado,

ˆ 2π ˆ 2π
eiθ − e−iθ eiθ + e−iθ ieiθ
R(sin(θ), cos(θ))dθ = R( , ) iθ dθ
0 0 2i 2 ie
ˆ 2π
= f (eiθ )ieiθ dθ
ˆ
0

= f (z) dz.
|z|=1

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´ 2π dθ
Exemplo 1.10. Vamos calcular 0 2+sin(θ) .
1
Resolução: Vamos usar a proposição (1.1). Pois, de z = eiθ tem-se que, dz = ieiθ dθ ⇒ dθ = iz dz

ˆ 2π ˆ
dθ 1 1
= z 2 −1
dz
0 2 + sin (θ) |z|=1 2+ iz
ˆ 2iz
2
= dz
|z|=1 z2 + 4iz − 1

2
√  √ 
Singularidades de z2 +4iz−1 : z0 = −2 − 3 i, z1 = −2 + 3 i.
√ 
Singularidades no interior: z1 = −2 + 3 i.
2
Logo, considerando f (z) = z2 +4iz−1 temos:
ˆ
2dz
= 2πi Res(f, z1 )
|z|=1 z 2 + 4iz − 1

2 3π
= .
3
(Verifique o resultado final)
Observação 1.4. Também pode-se usar o teorema de resíduos para calcular integrais impróprios (o leitor interessado
pode consultar a bibliografia da disciplina.)
Exercício 1.4. (suplementar)

1. Determine a ordem dos pólos dos seguintes funções


ez −1
(a) f (z) = z 2 (sol : 1)
z+1
(b) f (z) = z−1 (sol : 1)
cos(z)
(c) f (z) = z2 (sol : 2)
´ 2π 1 2π
2. Calcule 4−sin(θ) dθ (sol : ).

0 15

Referências
[1] Natália Bebiano lda Providência, ANÁLISE COMPLEXA, 2.a edição, grádiva, 2012

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