PENSAMENTO
DEDICATÓRIA:
INDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................7
I PARTE
1. FUNDAMENTOS DA ÉTICA, CLARIFICAÇÃO DE
CONCEITOS .............................................................................................
4. OS VALORES EM ENFERMAGEM............................................................
8. TEORIAS ÉTICAS
II PARTE
1. ÉTICA RELACIONAL NOS CUIDADOS DE SAÚDE AO ADOLESCENTE -
- uma abordagem sobre o consentimento informado
INTRODUÇÃO
I PARTE
A questão ética é posta hoje com uma intensidade e uma urgência que se pode
medir pelos perigos presentes na actualidade e que se multiplicam. E esta
interrogação traduz-se frequentemente por uma procura e uma produção de
normas.
Os poderes públicos colocam barreiras à quantidade de riscos contemporâneos
(a informática face ás liberdades, a engenharia genética face aquilo que é o
Homem enquanto espécie); decidem actualmente regulamentar os
nascimentos assistidos tecnologicamente, os usos dos métodos de procriação
artificial; confronta-se com problemas da protecção da carta genética.” 1
Os profissionais de saúde apercebem-se de questões da mesma ordem e
procuram respostas a partir da sua prática. No mundo da enfermagem,
multiplicam-se as reflexões, as formações, iniciais ou contínuas, as publicações
sobre ética. E, apesar desta abundância, algo desordenada - mas é como a
própria vida - quantas vezes os profissionais se sentem sós e impotentes face
a questões difíceis. As soluções muito tempo retardadas, são muitas vezes,
ainda, tomadas de urgência, sem concertação ou com pouca, o desconforto, o
mau estar de muitos profissionais é evidente, e o do público é também muitas
vezes visível.
É, então, necessário, que os grupos profissionais ligados aos de
cuidados de saúde, se estruturem, por todos os meios à sua disposição, se
apetrechem para melhor fazer face, a estas situações: - é vital para todos e
para a sociedade. À criatividade que se manifesta no domínio das ciências e
das técnicas de vida e da saúde, deve responder a criatividade ética dos
profissionais da saúde.
Enquanto profissionais é imprescindível que procuremos enfrentar os
complexos desafios que se colocam na actualidade tanto a nível pessoal, como
institucional e social.
1
GEORGES Blandier, Le Désorde, Fayard, 1988, p. 182
10
2
In: Queirós, Ana. (2000). Empatia e respeito. Coimbra. Quarteto Editora.
3
Ver o Decreto-lei n.º 104/98 de 21 de Abril.
11
4
Nesta obra será usada indistintamente a palavra doente ou utente querendo significar a
pessoa que é assistida nas instituições de saúde hospitalares, centro de saúde, em ambiente
domiciliar ou outro contexto na comunidade.
5
Compaixão é um termo que entendemos ser bastante interessante quando o distinguimos de
algo que diga respeito a “caridade”, mas antes se refere ao genuíno interesse humano e
profissional em ajudar a diminuir o sofrimento do outro.
6
O papel de defesa ou de advogado do doente é uma expressão que significa que o
profissional de enfermagem assume uma nova competência ética que, nesta perspectiva
contemporânea, é fundamental para a realização da excelência em enfermagem e que se
concretiza por uma atitude de grande empenho na promoção da autonomia e
autodeterminação do doente, face ao seu próprio processo de cuidados na saúde e na doença.
12
7
SPARKES, A. W. (1991). Talking philosophy. A wordbook. Routledge, London.
13
8
RICOEUR, Paul(1991) - O Si-Mesmo como um Outro. Papirus Editora, S. Paulo, Brasil.
15
9
JONAS, Hans (1994). Ética, medicina e técnica. Lisboa: Vega passagens.
17
sua vida de família e no seu ambiente sociocultural e que por vezes chamamos
de a nossa consciência.
Em segundo lugar, a ética refere-se ao estudo e ao desenvolvimento dos
nossos padrões éticos pessoais (que nascem de dentro de nós e se mostram
fora de nós, nas nossas acções quotidianas). Como foi mencionado antes,
sentimentos, leis, normas sociais podem desviar-se daquilo que é ético.
Portanto, é necessário examinar constantemente os nossos próprios padrões
para nos assegurarmos que eles são razoáveis e bem fundamentados. A ética
também significa o esforço contínuo de estudar as nossas crenças morais e as
nossas convicções profundas que baseiam a nossa conduta de forma a
assegurarmos que nós próprios e as instituições que nós integramos vivem de
acordo com elevados padrões que são razoáveis e bem sólidos.
Bergum10 (1997) afirma que existe um reconhecimento cada vez maior de que
novos modelos de interacção no contexto dos cuidados de saúde são
necessários, talvez menos estruturados hierarquicamente ou menos focados
no que se refere ao poder e ao controle.
A mesma autora chama a atenção para os três tipos de conhecimento
necessário para o julgamento ético evoluir11. Os primeiros dois, conhecimentos
da experiência subjectiva (escutar as experiências dos pacientes), e abstracção
objectiva ou deliberada (pensamento tecnológico ou racionalidade) são formas
de conhecimento importantes.
O terceiro tipo de conhecimento fundamental para os cuidados de saúde é o
conhecimento compreensivo, necessário para o julgamento clínico ético, e
desenvolve-se através da participação (partilha) onde os profissionais se
esforçam por compreender o que significa a experiência para o paciente. A
sabedoria prática para a ética nos cuidados de saúde deve ser obtida ao longo
das acções com os doentes. A Enfermeira e o médico devem “mudar-se” do
raciocínio tecnológico e científico do laboratório para a beira da cama do
doente, onde o tacto e compreensão podem criar um necessário conhecimento
novo e enriquecedor.
10
In: BERGUN,Vangie.(1993).Participatory knowledge for ethical care. Bioethics
Boletim(2),Alberta, Canadá.
11
Nota: esta abordagem sobre os tipos de conhecimento é também fundamental para se
abordar a questão do desenvolvimento de competências ético-relacionais.
18
12
In: WINSLOW GR(1984) From loyalty to advocacy: A new metaphor for nursing. Hastings
Report 14:32-40.
21
Até certo ponto as enfermeiras agiram sempre como defensoras dos utentes. A
defesa do utente ganhou maior relevância quando entrou em conflito com a
defesa do médico ou a defesa de instituição empregadora.
À medida que a Enfermagem se foi assumindo como uma profissão autónoma
e não um subsistema dependente da medicina, a natureza de defesa foi-se
alterando.
Actualmente, a Enfermagem que tenta agir no papel de defensora do utente,
aceita a obrigação de ter o utente como a prioridade máxima, em qualquer
circunstância.
O desafio para uma Enfermeira que actualmente queira ser uma defensora do
utente, é exactamente ter a capacidade e habilidade de o ser, sem por isso se
tornar adversária de outros profissionais no Sistema de Cuidados de Saúde.
CORCORAN (1988. P. 248) sintetizou as dificuldades associadas à defesa do
utente:
- “ Desempenhar o papel de defensor do utente /cliente é difícil e
por vezes mesmo ameaçador porque promove a
autodeterminação do doente e porque os direitos morais e
obrigações associadas ao profissional podem não ser compatíveis
como as políticas institucionais ou regulamentos legais”13.
13
In: CORCORAN S. (1998). Toward operationalizing an advocacy role. J Prof Nurs 4:242-248,
July/August.
22
14
Adaptado :de SUSAN LEDDY; J. MAE PEPPER (1993). Conceptual Bases of Professional
Nursing - 3ª ed. Philadelphia: J. B. Lippincott Company.
25
15
Benner, Patricia (1984, 2001).From Novice to expert, excellence and power in clinical Nursing practice.
New Jersey. Prentice Hall. (Commemorative edition).
16
Ver: Queirós, Ana A.(2000). A prática em colaboração interdisciplinar implica uma partilha
dinâmica e flexível do estatuto de autoridade. Lisboa: Revista da Ordem dos Enfermeiros, Nº 0.
26
17
Benner, Patricia; Tanner, Christine A.; Chesla, Catherine A. (1996). Expertise in Nursing practise,
Caring, Clinical Judgement and Ethics. New York: Springer Publishing Company. Pág. 232.
18
Jasper, M.A. (1994). Expert: a discussion of the implications of the concept as used in nursing. Journal
of Advanced Nursing. 20, 769-776.
19
Walker, L. & Avant, K. (1988). Strategies for theory construction in nursing. 2nd edn.Norwalk
20
Ib.
27
21
Nota: esta é uma opinião pessoal, que provém da experiência no contacto concreto com enfermeiras,
tanto nos locais de trabalho, como em contextos de formação.
22
Ib.Pág233.
23
Citado por: Benner, Patricia (1984, 2001).From Novice to expert, excellence and power in clinical
Nursing practice. New Jersey. Prentice Hall. (Commemorative edition), pág.8.
28
nos apercebermos de outros aspectos da nossa vida em que não somos assim
tão competentes.
Benner et al.24 desenvolvem uma abordagem que procura clarificar que,
no que se refere às práticas de cuidar, em que o reconhecimento e o respeito
pelo outro, a realização mútua, o cuidar natural e a protecção perante a
vulnerabilidade, são centrais, é difícil, se não impossível, ter momentos que
não envolvem tanto a perícia clínica como a perícia ética.
Dreyfus e Dreyfus e Benner25distinguem quatro diferentes contextos, nos
quais as considerações éticas, surgem como particularmente importantes para
uma análise fenomenológica da apreciação de perícias clínicas: o
comportamento, a comunicação, a educação e a justificação,
1- O comportamento refere-se à forma como uma pessoa pode desenvolver
a habilidade de responder apropriadamente às questões éticas. A
experiência de que se produz aprendizagem sem que a pessoa que
aprende necessite de ter uma reflexão consciente, isto é, sem que ele ou
ela se relembre de alguma coisa, desde que emocionalmente envolvida,
serve para modificar o futuro comportamento intuitivo.
4. OS VALORES EM ENFERMAGEM
26
SIMON, S. B., et al .(1978). Valves clarification: a handbook of practical strategies for
teachers and students. Veer. Ed. New York: Hart Publiskingcom.cit.por: KOZIER, B., et al
(1995). Conceitos y temas en la práctica de la enfermería. 2ª ED. Madrid: Interamericana -
Mcgraw-Hill, 1995.
27
KOZIER, B., et al, op cit.
31
Socialização
Crenças Profissional
INTERPRETAÇÕES
INDIVIDUAIS
Hábitos Valores
Sociais
VALORES
Normas PESSOAIS
Princípios
28
Ib.
32
29
ANDRADE, Júlio Vaz (1992). Os valores na formação pessoal e social. Lisboa: texto editora.
30
IN: Queirós, Ana A. ; Catarino, Lígia; Santos, Elvira (2000). Educação em enfermagem.
Coimbra: Quarteto Editora.
31
ALFARO-LEFEVRE, R. (1996). Pensamento crítico em Enfermagem: um enfoque prático.
Porto Alegre: Artes Médicas.
33
32
BESANCENEY, Jean-Claude (1992). Qu´est-ce qu´un “problème étique” Paris, Soins
(561/562), Junho/Julho, p. 5-6.
35
33
ALFARO-LEFEVRE; Rosalinda (l996). “Pensamento crítico em enfermagem. Um enfoque
prático.” Porto Alegre: Artes Médicas.
36
34
Baseado na abordagem de Roque Cabral, IN: Bioética;op.cit.p.53-58
39
35
Sigilo = Segredo = Reserva, isto é, aquilo que se mantém oculto dos outros.
46
36
Disponível na internet em: www.cnecv.gov.pt
37
Disponível na internet em: http://www.icn.ch/
48
Dilemas possíveis
49
38
Isto é, tudo o que o médico ou enfermeiro pode saber, compreender, adivinhar no exercício
da profissão (doenças, circunstâncias que as rodeiam e ainda factos não relacionados com a
doença mas de que os profissionais tomem conhecimento no exercício da sua profissão, como
por exemplo as confidências que o doente possa fazer).
50
8. TEORIAS ÉTICAS
39
GILLIGAN, C. (1982) In a different voice: Psychological theory and wowen´s development.
Cambridge: Harvard University Press.
40
NODDINGS, N. (1984) Caring: a feminine approach to ethics and moral education. Berkeley:
University of California Press.
51
41
RAWLS,J.(1993).Uma teoria da justiça. Lisboa: Editorial Presença.
52
tinham uma origem divina. Para Kant, a habilidade de reconhecer tais valores
era uma parte essencial da racionalidade do ser humano. O que emerge a
partir deste pensamento foi um número de absolutas normas morais
complexas, conhecidas como os imperativos categóricos (Korner, 1982)42. Os
três pontos-chave na teoria moral de Kant são apresentados no Quadro 2.
Quadro 2
2. Para uma acção ser moral deve considerar sempre a pessoa como
um fim em si mesmo, com os seus direitos e nunca como um meio
42
KORNER, S. (1982). Kant. Harmondsworth: Penguin.
54
43
KENDRICK, K.D.(1993). Understanding ethics in nursing practice: the British journal of
nursing, 2 (18).
44
BURNARD, P. (1992). Making ethical decisions. J Community Nurs 1 (3). p. 18-19.
56
II PARTE
45
Nota: Utilizaremos os termos “adolescentes “ e “jovens “ como sinónimos, sempre que não estejam em
causa diferenças ligadas à idade. Estamos a usar os critérios da Direcção Geral da Saúde apresentados
no documento de 1998 “ A saúde dos Adolescentes, princípios orientadores”.
46
Queirós, Ana Albuquerque (2000). Actuação centrada na criança e na família. Revista IN VIVO.
57
47
Decreto-lei n.º 104/98 I SÉRIE-A -N.º93 -21/04/1998
48
Bergum, Vangie( 1998). Relational Ethics. What is it? IN TOUCH: Provincial Health Ethics
Network Volume 1, Issue 2.
49
Levine, Myra. (1977). Nursing ethics and the ethical nurse. American Journal of Nursing,
77:5, p. 846.
58
50
Compaixão é um termo que entendemos ser bastante interessante quando o distinguimos de
algo que diga respeito a “caridade”, mas antes se refere ao genuíno interesse humano e
profissional em ajudar a diminuir o sofrimento do outro.
51
Bergum,Vangie( 1998). Relational Ethics. What is it? IN TOUCH: Provincial Health Ethics
Network Volume 1, Issue 2.
59
modo de ser em vez de, apenas, o modo como decidimos agir52. Quer dizer
que nos preocupamos não só com a técnica de puncionar uma veia, mas
também com o modo como acontece esse momento terapêutico, a forma como
entramos em conversação, a forma como mostramos respeito ou a forma como
estamos uns com os outros.
O conhecimento das teorias éticas e dos princípios éticos é fundamental para
esta concepção de ética, mesmo que saibamos que este conhecimento, em si
mesmo, não é suficiente para uma consistente prática profissional ética. Ao
trabalharmos imbuídos de uma competência ética relacional, não ficaremos
satisfeitos observando uma criança que está a morrer, mesmo após ter sido
alvo dos melhores cuidados; em vez disso será importante que fiquemos com a
criança, com a família e que sejamos capazes de expressar atitudes e
emoções genuínas de consideração e compaixão.
O desenvolvimento de uma ética relacional nos cuidados de saúde em geral, e
nos cuidados de enfermagem em particular, exige que se construa uma
dinâmica interdisciplinar baseada na compreensão dos significados ético-
morais inerentes às complexas situações de cuidados e baseada também num
profícuo entendimento dos mútuos compromissos ético-deontológicos dos
vários intervenientes.
É necessário que se desenvolvam interacções de compromisso úteis e
baseadas em respeito mútuo, em conhecimento científico actualizado, baseado
igualmente em valores que permitam que os profissionais reconheçam as suas
incertezas e admitam a sua vulnerabilidade, a sua liberdade de escolha e a
importância do contexto ambiental, numa perspectiva sistémica profunda.
Neste caminho profissional, nesta perspectiva de ética relacional será
desenvolvida uma sabedoria que se espera encontrar nos enfermeiros com um
nível de proficiência avançado e que serão capazes de demonstrar a
compreensão quase que intuitiva (insights) e uma clarividência ética que
associa tanto o coração como a razão, isto é, em que nem a emoção ou o
52
Podemos aqui relembrar a frase de Francisco Varela que afirma que: “a ética está mais
próxima da sabedoria do que da razão, mais próxima da compreensão de que coisa deve ser
o bem do que da formulação de princípios correctos “ , In: Varela, Francisco, J.(1992).Sobre a
Competência ética. Edições 70, Lisboa. P.13.
60
53
Devemos referir que as ideias expressas se inspiram em dois livros fundamentais: BENNER, P.,
(1984). From novice to expert, excellence and power in clinical nursing practice. Menlo Park, Addison-
Wesley Publishing Company, e BENNER, Patricia; WRUBEL, Judith. (1989). The primacy of caring, stress
and coping in health and illness. Menlo Park: Addison-Wesley Publishing Company.
54
PORTUGAL - “A Saúde dos Portugueses” documento elaborado pela Direcção-Geral da Saúde
(Lisboa, 1997); disponível em: http://www.dgsaude.pt/Gdd/Saudeport.html
61
1.2- E o adolescente?
Deve ser considerado como pessoa autónoma ou a sua autonomia está ainda
reduzida? Há uma idade acima da qual se pode dizer que uma pessoa é
autónoma? Como decidir quais são as situações e as condições em que os
adolescentes podem tomar decisões por si próprias? Quando o princípio da
beneficência, do "fazer o bem" ao outro, deve sobrepor-se ao princípio do
respeito pela sua autonomia? Respostas a estas questões são essenciais se a
opção ética se traduz pelo respeito pelas decisões tomadas pela pessoa, no
contexto dos seus cuidados de saúde.
Legalmente, por via de regra, os adolescentes são pessoas, ainda em
fase de conquista de sua autonomia, e por isso com essa mesma autonomia
reduzida.
Se, na relação entre os profissionais da saúde e os adolescentes,
vigorar a noção de que a competência decisória individual deva basear-se
somente nos parâmetros legais, dela resultará que a maioria não poderá tomar
decisões sobre questões referentes à sua saúde. A prática corrente nos
cuidados de saúde mostra que, mesmo os profissionais que respeitam as
decisões de consentimento ou recusa de um adulto, entendem os adolescentes
como incapazes de decidir. Optam por condutas de natureza ética paternalista
aceitando que outros devam decidir o que é o "bom" para o jovem (LANTOS e
MILES, 1988; MORENO, 1989).
Todavia, essa tendência, a partir dos anos 60, vem sendo gradualmente
modificada·. Advoga-se que, eticamente, qualquer pessoa, independente da
sua idade, tendo condições intelectuais e psicológicas para apreciar a natureza
e as consequências de um acto ou proposta de assistência à sua saúde, deva
poder tomar decisões sobre tais medidas (AMERICAN BOARD OF
PEDIATRICS, 1987).
Existe fundamentação científica para aceitação dessas considerações
éticas, baseada nos trabalhos de psicologia evolutiva de Kholberg. As
pesquisas deste autor demonstraram que, a partir dos 12 anos de idade, o
indivíduo é capaz de reconhecer as regras e convenções sociais como suas, e
a importância delas para manter o convívio e o bem-estar social. Essa etapa é
64
Estádios do Desenvolvimento
NÍVEL II
55
Lourenço, O. (1992).Psicologia do desenvolvimento moral. Teoria, dados e implicações. Coimbra:
Livraria Almedina.
56
Ver também a explicação dada por Ribeiro, L. Fradique (1995).Cuidar e tratar, formação em
enfermagem e desenvolvimento sócio - moral. Lisboa: Educa, Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
65
Estádios do Desenvolvimento
NÍVEL III
Estádios do Desenvolvimento
1.3- O Consentimento
57
Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro
68
58
De acordo com a Convenção sobre os Direitos da Criança, Adoptada pela Resolução No. 44/25 da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989, nomeadamente no Artigo 12 - 1. Os
Estados- partes assegurarão à criança, que for capaz de formar seus próprios pontos de vista, o direito de
exprimir suas opiniões livremente sobre todas as matérias atinentes à criança, levando-se devidamente
em conta essas opiniões em função da idade e maturidade da criança.
71
59
Bergun, Vangie (1993). Participatory Knowledge for ethical care – Bioethics Boletim 5 (2) Alberta.
Canadá.
72
60
Art. 283º Propagação de doença, alteração de análise ou de receituário do Código Penal.
75
61
O recente texto do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida chama também a atenção
para estes aspectos. PARECER SOBRE SIGILO MÉDICO, 32/CNECV/2000.
62
Código Deontológico da Ordem dos Médicos. Documento disponível em:
http://www.ordemdosmedicos.pt/
76
2- CONSIDERAÇÕES FINAIS
63
ver o parecer do CJ /07/2000, IN: Ordem dos Enfermeiros, Nº 1, Novembro de 2000, pág.12.
77
convertida em direito absoluto; os seus limites devem ser dados pelo respeito à
dignidade e à liberdade dos outros e da colectividade.
BIBLIOGRAFIA
HOLDER AR. (1987).Minors' rights to consent to medical care. JAMA; 257 (24):
3400 - 2.
OUTRA BIBLIOGRAFIA
BENNER , P., (1984). From novice to expert, excellence and power in clinical
nursing practice. Menlo Park: Addison-Wesley Publishing Company.
NIGHTINGALE, F. (1969). Notes on nursing: What it is, and what it is not. New
York, NY: Dover Publications, Inc.
NELSON HL, NELSON JL. (1995). The patient in the family: an ethics of
Medicine and families. New York: Routledge.
OLSEN, D.P (1991). Empathy as an ethical and philosophical basis for nursing.
Adv Nurs Sci. 14:62-75.
GARCIA, Luís Miguel Pastor; CONREA, Francisco Javier Leon (1997). Manual
de Éica y Legislacion en Enfermeira - Bioética de Enfermeria. Barcelona:
Mosby.
PARKER, Michael (ED.) (1999). Ethics and community in the health care
profesions. London: Routledge.
PINTO, José Rui da Costa (1979). Questões de Ética Médica: Editorial Braga.
ROACH, M. Simone (1993).The human act of caring: a blueprint for the health
professions. Otawa: Canadian Hospital Association Press.
TADD,G.V. (1998). Ethics and values for care workers. Oxford: Blackwell
Science.
THOMPSON, Ian E.; MELIA, Kath M.; BOYD, Kenneth M. (1996,Third Ed.).
Nursing ethics. Edinburgh: Churchill Livingstone.
ANEXOS
88
ANEXO I
Artigo 78.º
Princípios Gerais
c) A verdade e a justiça;
d) O altruísmo e a solidariedade;
Artigo 79.º
Artigo 80.º
Artigo 81.º
Artigo 82.º
Artigo 83.º
Do direito ao cuidado
Artigo 84.º
93
Do dever de informação
Artigo 85.º
Do dever de sigilo
Artigo 86.º
Artigo 87.º
Artigo 88.º
Da excelência do exercício
Artigo 89.º
Artigo 90.º
Artigo 91.º
Artigo 92.º
Da objecção de consciência
ANEXO II
1º PASSO - VALIDAÇÃO
1.1 - a) Determine que padrões não estão a ser cumpridos e quais os que
estariam mais adequados na situação?
2º PASSO - COMUNICAÇÃO
g) Assine com o seu nome. Guarde uma cópia nos seus arquivos.
3º PASSO - RESOLUÇÃO
ANEXO III
Parecer sobre aspectos éticos dos cuidados de saúde relacionados com
o final da vida - 11/CNECV/95
I - RELATÓRIO
A. Preâmbulo
1. A história natural de muitas doenças, a agressividade da vida moderna, em
especial a do tráfego motorizado, sobre as pessoas, e o envelhecimento
aproximam os seres humanos do período final da sua vida biológica. Também
se refere, para tal, nas sociedades modernas, alguma perda ou desvalorização
do sentido da vida quando esta não é agradável para a pessoa.
Neste período os médicos são chamados a desenvolver um aspecto muito
delicado da sua actividade profissional, que não é a prática da medicina
curativa, mas da medicina de acompanhamento (à qual se chama também
medicina "paliativa").
Esta nova vertente da actividade médica tem já, hoje, as suas "leges artis", tão
bem estabelecidas quanto as da medicina preventiva e curativa 1.
A primeira regra é que, enquanto há uma esperança razoável de obter cura ou
melhoria do estado mórbido, com qualidade de vida aceite pela pessoa doente,
são as regras da medicina curativa, científicas e éticas, que devem ser
seguidas pelo médico; com ênfase no consentimento informado e nos
princípios da beneficência e da não-maleficência, no plano ético, e na rigorosa
avaliação clínica da situação, no plano científico.
Quando não há esperança razoável de cura e as melhorias presumidas
dependem de pesados sacrifícios físicos, impostos à pessoa doente pelos
tratamentos a efectuar, são as regras da medicina de acompanhamento que
devem prevalecer. doente, em fase de incurabilidade, o maior conforto e bem
estar, tanto físico como psíquico e afectivo.
Os tratamentos a efectuar destinam-se a actuar sobre os sintomas que traduzem
sofrimento e sobre situações agudas, curáveis por intervenções, médicas ou
cirúrgicas, imediatas (pneumonia, apendicite aguda).
As decisões médicas tomadas no âmbito da medicina de acompanhamento
têm um suporte científico, mas têm, principalmente, uma muito significativa
estrutura ética. Não é apenas o técnico que decide sobre o que fazer com um
corpo cuja vida biológica está a extinguir-se; é o médico, enquanto pessoa
107
humana, com uma longa tradição de respeito pelo doente, codificada desde
Hipócrates, o médico como membro de uma certa sociedade e, ainda, como
portador de uma determinada cultura, historicamente construída, quem
enfrenta a situação de acompanhar o seu semelhante num tempo, mais ou
menos breve, que o levará à morte.
A prestação de cuidados de saúde no período final da vida reveste-se, em
consequência, de um exemplar carácter ético.
2. É este carácter ético das decisões médicas que o presente relatório vai
analisar, como fundamento de um parecer, fazendo-o à luz da doutrina já
exposta no Relatório-Parecer sobre Procriação Medicamente Assistida deste
Conselho, aqui se reproduz no essencial:
"Este Conselho pretende desenvolver uma reflexão ética que, por um lado, seja
partilhada por todos os cidadãos da nossa sociedade pluralista, mas que, por
outro, não se limite a um pragmaticismo ético, a uma deontologia sem
fundamentação crítica, ou à aceitação passiva de práticas ou posições
comumente defendidas no nosso ou noutros países.
Nesta perspectiva, o Conselho pensa que a fundamentação ética deve apoiar-
se num conceito de natureza humana, sem limitar esta à vertente puramente
biológica, nem a alargar indevidamente, a ponto de a não distinguir da natureza
não humana. Pertencem à natureza do ser humano as dimensões de
racionalidade, de temporalidade, de historicidade, de finalidade em si e de
liberdade, que fazem dele um ente em permanente desenvolvimento, na
procura da realização de si próprio, com a possibilidade de recorrer às ajudas
externas, bem como às intervenções médicas que não contrariem
essencialmente a sua natureza, assim entendida.
Nesse sentido, é ético o comportamento que visa, promove ou respeita a
realização de si próprio, na relação constitutiva com e para os outros, no
quadro de instituições justas.
Essa necessidade ética de auto-realização pessoal e social (que se revela na
consciência do direito e da responsabilidade de cada pessoa na construção da
vida, própria e dos outros) exige a liberdade necessária para o seu pleno
exercício. Essa liberdade obriga a que nenhuma pessoa seja usada como meio
108
ou instrumento, para o que quer que seja. Cada pessoa humana deve ser
tratada como um fim em si mesma (...).
O reconhecimento deste valor não instrumental de cada pessoa é uma
importante conquista da nossa civilização e tem sido proclamado numa
variedade de formas: a abolição de todo o tipo de escravatura (incluindo a de
crianças); a declaração universal dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais; o reconhecimento do direito à objecção de consciência e à
liberdade religiosa, etc.
Liberdade ética não significa escolha arbitrária, permissividade ou relativismo
moral. Significa, sim, a possibilidade de realização de todas as potencialidades
da pessoa humana. Nesse sentido, a liberdade ética não se refere somente à
ausência de coacção externa, mas exige também a libertação de pressões
interiores, desde as que provêm de interesses científicos, económicos ou
políticos até às que se baseiam em preconceitos culturais ou positivismos
religiosos não livremente integrados. Exige igualmente a libertação interior de
bens menores, vícios ou egoísmos autodestrutivos, assim como de
absolutismos económicos ou hedonistas.
B. Análise Tipológica
Para que esta decisão médica seja eticamente correcta é necessário que:
4. Doente que não deseja viver, porque considera intolerável, para si, a
qualidade de vida de que pode dispor, está psiquicamente competente para
exercer a sua autonomia pessoal e pede, insistentemente, ao médico (ou a
outra pessoa) que o mate com meios farmacológicos, ou outros:
Se o médico (ou outra pessoa) aceder a este pedido e matar o doente por
causa do pedido pratica eutanásia voluntária activa.
Tal como no caso anterior, não devemos formar juízos éticos sobre a decisão
da pessoa que exerce, com liberdade, a sua autonomia pessoal, ao formular o
pedido.
Já merece cuidadosa reflexão ética a forma como se constitui, na consciência
profissional e moral do médico, a vontade de aceder ou não ao pedido
insistente do doente.**
Para muitos médicos, em Portugal, o facto de ser um homicídio, punido pela lei
penal, e de o Código Deontológico vedar aos médicos, expressamente, a
prática da eutanásia (sem qualificativos) é razão suficiente para não considerar
atendível o pedido do doente.
Outros, porém, nas situações em que o estar vivo é, para a pessoa, causa de
profundo sofrimento, que eles, médicos, não podem (ou não sabem) tornar
tolerável para essa pessoa, questionam-se se, nestas situações-limite, aceder
à vontade do doente não deve ser considerado o melhor procedimento e,
portanto, eticamente justificado pelo princípio da beneficência.
Com todo o respeito pelos casos particulares, que merecem ser analisados
com sensibilidade e lucidez para lhes descobrir as motivações profundas e a
natureza pontual e evitável, deve a reflexão ética exercer-se, contudo, sobre o
enquadramento geral da situação. Caso contrário, estaríamos a usar uma
"ética pragmaticista ou meramente casuística", formalmente rejeitada na
fundamentação atrás transcrita.
E o enquadramento geral é o de existir manipulação da vontade do médico (ou
outra pessoa) por parte do doente que pede, quase exige, ser morto, por uma
acção positiva praticada pelo próprio médico (ou por outra pessoa. Tenha-se
presente que, a nível legal, é na circunstância de se tratar de uma vontade
dominada por impulso relacionado com o estado do "doente" que reside a
principal característica do crime.
111
O juízo ético sobre esta decisão (médica), resultante de manipulação, deve ser
de desaprovação.
5. Doente em situação terminal, inconsciente e, portanto, incapaz de exprimir a
sua vontade. O médico (ou outra pessoa), dominado, psicologicamente, pelo
que ele considera ser a situação intolerável do doente, para a qual não tem
nenhum tratamento, decide matá-lo por meios farmacológicos ou outros.
Esta decisão (médica) configura o acto de eutanásia activa, involuntária
(porque o doente não manifestou a sua vontade).
Objectivamente, é uma decisão médica inaceitável porque o médico, por
compaixão real ou suposta, arroga-se o direito de dispor da vida de uma
pessoa humana; e não tem este direito na perspectiva ética em que se
fundamenta esta analise.
Para além deste risco real e comprovado, semelhante decisão médica ofende
os princípios éticos e deontológicos geralmente aceites na prática médica (com
excepção da Holanda 2).
6. Doente que, em circunstâncias normais e em perfeita consciência, elaborou
instruções proibindo a aplicação de certos tratamentos quando em situações
em que não possa exprimir a sua vontade, foi chamado (Testamento de vida),
mesmo que estas situações ameacem gravemente a sua vida:
Quando uma destas situações se apresenta, o médico tem de decidir se
obedece ou não à vontade livremente expressa por pessoa autónoma, em
tempo anterior.
A análise ética é difícil 3. Deve obedecer?
112
A luz do princípio da autonomia parecia que sim; mas pode ter-se a certeza de
que a decisão tomada pela pessoa, quando estava de saúde, é a sua vontade
genuína, agora que está gravemente doente? Se ela pudesse ser informada da
situação real actual não daria o consentimento para um tratamento que, no
passado e sem esta informação, recusou ?
Notas
II - PARECER
€ que, por isso, não há nenhum argumento que justifique, pelo respeito devido
à pessoa humana e à vida, os actos de eutanásia;
€ que é ética a interrupção de tratamentos desproporcionados e ineficazes,
mais ainda quando causam incómodo e sofrimento ao doente, pelo que essa
interrupção, ainda que vá encurtar o tempo de vida, não pode ser considerada
eutanásia;
€ que é ética a aplicação de medicamentos destinados a aliviar a dor do
paciente, ainda que possa ter, como efeito secundário, redução de tempo
previsível de vida, atitude essa que não pode também ser considerada
eutanásia;
€ que a aceitação da eutanásia pela sociedade civil, e pela lei, levaria à quebra
da confiança que o doente tem no médico e nas equipas de saúde e poderia
levar a uma liberalização incontrolável de "licença para matar" e à barbárie;
€ que, contudo, a rejeição dos actos de eutanásia, como pretensos direitos
individuais atendíveis de médicos (ou outros) e doentes (ou outros), cria
também obrigações individuais e sociais que não podem ser minimizadas ou
esquecidas, nomeadamente e muito especialmente:
· a responsabilidade privada e pública de cuidar adequadamente dos
doentes terminais e dos deficientes e dependentes de qualquer tipo;
· a prática de cuidados continuados às pessoas dependentes com
absoluto respeito pela sua dignidade e integridade como seres
humanos;
· a criação e manutenção das condições para praticar medicina de
acompanhamento (cuidados paliativos) a todos os que dela necessitem;
· o apoio às investigações sobre tratamento da dor e à criação de grupos
especializados nesta área dos cuidados médicos;
· o desenvolvimento, na formação médica e de enfermagem, pré e pós-
graduada, de um alto nível de preparação, para que os profissionais de
saúde saibam e possam assumir, conscientemente, as suas
responsabilidades éticas face aos doentes entregues aos seus cuidados,
em especial os que atingirem a fase terminal e devem morrer com
dignidade.
ANEXO IV
Declaração de Helsínquia
Introdução
Cabe ao médico salvaguardar a saúde das pessoas. O seu conhecimento e
consciência são dedicados ao cumprimento desta missão.
O Relator,
Prof. Doutor Walter Osswald
PARECER
ANEXO V
124
10. O doente tem direito de acesso aos dados registados no seu processo
clínico.
A informação clínica e os elementos identificativos de um doente estão
contidos no seu processo clínico.
O doente tem o direito de tomar conhecimento dos dados registados no seu
processo, devendo essa informação ser fornecida de forma precisa e
esclarecedora.
A omissão de alguns desses dados apenas é justificável se a sua revelação for
considerada prejudicial para o doente ou se contiverem informação sobre
terceiras pessoas.
12. O doente tem direito por si, ou por quem o represente, a apresentar
sugestões e reclamações.
O doente, por si, por quem legitimamente o substitua ou por organizações
representativas, pode avaliar a qualidade dos cuidados prestados e apresentar
sugestões ou reclamações.
Para esse efeito, existem, nos serviços de saúde, o gabinete do utente e o livro
de reclamações.
O doente terá sempre de receber resposta ou informação acerca do
seguimento dado às suas sugestões e queixas, em tempo útil.
5
O doente tem o dever de respeitar as regras de funcionamento dos serviços de
saúde.
6
O doente tem o dever de utilizar os serviços de saúde de forma apropriada e de
colaborar activamente na redução de gastos desnecessários.
131
ANEXO VI
Convenção de Oviedo
Preâmbulo
Cada Parte deverá tomar, no seu direito interno, as medidas necessárias para
tornar efectivas as disposições desta Convenção.
CAPÍTULO II – Consentimento
A esta pessoa deverá ser dada previamente uma informação adequada quanto
ao objectivo e à natureza da intervenção, bem como quanto às suas
consequências e riscos.
Artigo 6.º (Protecção das pessoas que não tenham capacidade para consentir)
1. Sob reserva dos artigos 17.º e 20.º, uma intervenção apenas pode ser
efectuada numa pessoa que não tenha capacidade para consentir, para seu
beneficio directo.
3. Quando, de acordo com a lei, um adulto não tem a capacidade mental para
consentir numa intervenção devido a uma incapacidade mental, uma doença
ou por razões similares, a intervenção apenas pode ser efectuada com a
135
A pessoa que sofra de doença mental grave não pode ser submetida, sem o
seu consentimento, a uma intervenção que tenha por objecto o tratamento
dessa doença, a não ser que a ausência desse tratamento corra o risco de ser
gravemente prejudicial à sua saúde, e sob reserva das condições de protecção
previstas pela lei, abrangendo os procedimentos de vigilância, de controlo e de
recurso.
1. Qualquer pessoa tem direito ao respeito pela sua vida privada relativamente
a informações sobre a sua saúde.
Os testes que sejam preditivos de doenças genéticas ou que sir-vam quer para
identificar a pessoa corno portadora de um gene responsável por uma doença,
quer para detectar uma predisposição ou uma susceptibilidade genética a uma
doença, podem ser efectuados apenas para fins médicos, e sob reserva de
aconselhamento genético adequado.
137
Uma intervenção que tenha por objecto modificar o genoma humano apenas
pode ser empreendida por razões preventivas, de diagnóstico ou terapêuticas,
e apenas se o seu objecto não for a introdução de modificações no genoma de
qualquer descendente.
ii) o risco que a pessoa possa correr não seja desproporcional aos potenciais
benefícios da investigação,
138
Artigo 17.º (Protecção das pessoas que não tenham capacidade para consentir
numa investigação)
1. Uma investigação sobre uma pessoa que não tenha capacidade para
consentir, conforme estipulado no artigo 5.º, pode ser empreendida apenas se
todas as seguintes condições estiverem reunidas:
2. O consentimento a que alude o artigo 5.º, deve ter sido dado expressa e
especificamente quer por escrito, quer perante uma entidade oficial.
i. não haja nenhum dador compatível disponível que tenha capacidade para
consentir,
iv. a autorização prevista nos parágrafos 2 e 3 do artigo 6.º, tenha sido dada
especificamente e por escrito, de acordo com a lei e com a aprovação da
entidade competente,
O corpo humano e as suas partes não devem ser, enquanto tais, fonte de lucro.
Artigo 22.º (Utilização de uma parte do corpo humano removida)
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem poderá dar, sem referência directa
a quaisquer procedimentos pendentes num tribunal, pareceres sobre questões
jurídicas relacionadas com a interpretação da presente Convenção a pedido:
aceitaram.
2. Qualquer reserva feita ao abrigo deste artigo deverá conter uma breve
exposição da lei pertinente.
148
4. Qualquer Parte que tenha feito a reserva mencionada neste artigo poderá
revogá-la através de uma declaração dirigida ao Secretário-Geral do Conselho
de Europa. A revoga-ção tornar-se-á efectiva no primeiro dia do mês a seguir à
expiração de um período de um mês depois da data da sua recepção pelo
Secretário-Geral.
a. todas as assinaturas;
ANEXO VII
Declaração Universal dos Direitos do Homem
Adaptada e proclamada pela Assembleia Geral
na sua Resolução 217 A (III) de 10 de Dezembro de 1948
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem
conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e
que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e
de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta
aspiração do homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de
um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo
recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de
novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da
pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se
declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores
condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
151
Artigo 2.°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente
de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político,
jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja
esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma
limitação de soberania.
Artigo 3.°
Artigo 4.°
152
Artigo 5.°
Artigo 6.°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da
sua personalidade jurídica.
Artigo 7.°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção
da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.°
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais
competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos
pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja
equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que
decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em
matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11.°
1 - Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que
a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo
público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam
asseguradas.
2 - Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua
prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional.
153
Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável
no momento em que o acto delituoso foi cometido.
Artigo 12.°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no
seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e
reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a
protecção da lei.
Artigo 13.°
1 - Toda a pessoa tem o direito de circular livremente e escolher a sua
residência no interior de um Estado.
2 - Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra,
incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14.°
1 - Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de
beneficiar de asilo em outros países.
2 - Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente
existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e
aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.°
1 - Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2 - Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do
direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.°
1 - A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de
constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião.
Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2 - O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento
dos futuros esposos.
3 - A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
protecção desta e do Estado.
Artigo 17.°
1 - Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
2 - Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.°
154
Artigo 27.°
156
Artigo 29.°
1 - O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é
possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2 - No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades, ninguém está
sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a
promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e
a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-
estar numa sociedade democrática.
3 - Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos
contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.°
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira
a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se
entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os
direitos e liberdades aqui enunciados