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VOLTAR ÀS AULAS? COM A ÉTICA DA ALTERIDADE, SIM!

Que a escola é a segunda família, todo mundo já sabe. No entanto, ela precisa estar


em harmonia com a primeira família. Seria muito fácil, caso houvesse um padrão
familiar. No entanto, não existem padrões familiares. Existem diferentes e diversas
organizações familiares.  
Diante da diversidade, as famílias também sustentam diferentes posições em relação à
educação dos seus filhos. Algumas famílias são mais liberais e, outras, por
conseguinte, mais tradicionais. As diferentes posições e opiniões implicam na tomada
de decisão, e estas, não ficam restritas a educação quando se trata somente de tempos
de Pandemia. Esse posicionamento, se reflete no campo da
política, economia, saúde, governo, religião, etc. Mas em educação, já
podemos perceber essa diversidade de opiniões, misturadas com
incertezas, medos, histórias, em relação ao retorno do início ao ano letivo. 
Enquanto algumas famílias estão convencidas de que o retorno as aulas deve ser
presencial, outras estão vivendo conflitos familiares, pois não encontram um lugar no
discurso do retorno presencial, que lhes dê segurança quanto a essa modalidade de
retorno.  
Quando estamos vivendo em um ambiente de incertezas, o melhor a se fazer é ser
prudente. Para que haja prudência, é necessário muito diálogo e respeito. A
escola, nesse sentido, precisa ser ambiente acolhedor da dimensão de humanidade que
há em cada família. De fato, não é momento de ver a escola como um lugar de
atividade mecânica de ensino e aprendizagem, pois, mais do que nunca, estamos todos
fragilizados quanto a condição humana, devido ao contexto que estamos vivendo.
É preciso que a escola redescubra a ética da alteridade. Segundo o
filósofo Emannuel Levinas, a alteridade é uma condição que permite ao
homem, através da ética, estabelecer pontes que superam os abismos que existem
entre o eu e o outro. A ética da alteridade, segundo o filósofo, coloca o outro no lugar
central. Ainda, Levinas crítica o pensamento e a cultura ocidental, pois, segundo ele, a
cultura ocidental preocupou-se sempre com o ”eu”, deixando o outro de lado. Como
consequência, a cultura ocidental prima pelo individualismo e a competição. 
Pensando assim, as escolas em suas práticas pedagógicas híbridas, precisam construir
uma cultura de alteridade como condição e princípio fundamental de sua filosofia
educativa. O movimento de alteridade não acontece somente entre escola e
família, mas inicia na própria escola: no reconhecimento do professor, funcionário e
gestor como pessoas emergidas em diferentes situações culturais no
contexto pandêmico. Agrega-se à estes, familiares, estudantes e comunidade em
geral. 
Por fim, a ética da alteridade é um lugar do entendimento, do diálogo, das críticas e da
mudança. Não há ética da alteridade quando alguém impõe ao outro o que fazer ou
deixar de fazer. Assim, o diálogo da escola com a família sobre o retorno escolar, bem
como, da família para com a escola, deve ser orientado por um diálogo horizontal de
compreensão mútua, e ao mesmo tempo de tomada de decisão, que respeite os
diferentes entendimentos sobre a pauta.  
Escutar, refletir e propor - dentro deste entendimento, são atitudes que levam à uma
relação saudável ao longo prazo. Não se trata de vencer, nem de convencer, mas de
amadurecer! Ambiente sem maturidade, normalmente oferece prejuízos.  
Vamos fazer do retorno às aulas um momento de amadurecimento e
aprendizagem. Afinal, este é o propósito da existência da escola como continuidade
dos bons valores iniciados na família.  
Um ótimo ano letivo a todos! 

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