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HANAUER, F.
ABSTRACT: This study directs our gaze towards the drawing, which is a
universal language present in all cultures since ancient times, as the first form
of the graphic expression of the child. The traces left on various surfaces are
marks driven by pleasure, where children record their thoughts and feelings.
The creative production, drawing as art, involves thinking, creativity, imagi-
nation and dreams. Through drawing children represent significant objects,
real or imaginary, processing experiences and thoughts. Childlike drawing
goes through stages as the child develops. The graphic evolution is related
to the maturation of motor and brain perception besides involving biological
and sensory mechanisms.
Keywords: Children’s drawing. Language. Creative production. Development.
e do agir – o olho segue a mão, que, por sua e da combinação de elementos da realidade.
vez, retrata o que o coração sente. Nesse sentido, desenhar é representar grafi-
O ato de criar envolve o pensamento e camente algo real ou abstrato, onde permeia
a criatividade, intensificando a inteligência o imaginário:
artística. Através da ação criadora, a criança A criança em atividade fabuladora ou
busca o saber, pois desenhar é embarcar expressiva participa ativamente do pro-
numa fantástica aventura para conhecer a si cesso de criação. Durante a construção
própria, ao outro e ao mundo que as rodeia. ela se coloca uma sucessão de imagens,
Para Lowenfeld (1977), a arte do desenho signos, fantasias [...] importantes para
possui papel fundamental na vida da criança, o conhecimento da produção da criança
visando formar um novo significado para e evidenciam o desenvolvimento e ex-
tudo que ela vê, sente e observa, pois cons- pressão de seu eu e de seu mundo. Para a
titui um complexo em que a criança reúne criança, essa linguagem ou comunicação
diversos elementos de sua experiência para que ela exercita com parceiros visíveis ou
formar um novo e significativo todo. invisíveis, reais ou fantasiosos, acontece
O desenho comunica e atribui sentido às junto com o seu desenvolvimento afeti-
sensações, sentimentos, pensamentos e rea- vo, perceptivo e intelectual e resulta do
lidade, por meio de linhas, formas, traçados exercício de conhecimento da realidade
e cores. Retrata a realidade e o imaginário, (FERRAZ; FUSARI, 1993, p.56).
onde a criança expressa os seus sentimentos
Com caráter livre e espontâneo, o desenho
e sua compreensão de mundo. Cada traço diz,
permite que a criança, desde a mais tenra ida-
muitas vezes, mais do que palavras.
de, conquiste sua relação com o mundo real e
Quando a criança desenha, ela representa imaginário, criando e recriando significações.
situações e personagens do mundo adulto, Para Derdyk (2004) o desenho constitui-se
manifestando-se simbolicamente. No dese- uma atividade do imaginário e, por ser uma
nho é possível perceber indicativos gráficos linguagem expressiva, a criança passa por um
do mundo real que é construído e apropriado processo vivencial e existencial, expressando
pela observação e imitação do cotidiano e, suas alegrias, medos, emoções e frustrações.
também, do imaginário, construído a partir
O fazer artístico da criança por meio do
da absorção da realidade.
desenho sofre influência da cultura através
Sendo assim, o desenho pode representar de imagens em livros, revistas, propagandas,
situações e realidades diversas para tudo o televisão e, também, por trabalhos de outras
que é visto, lembrado, imaginado ou, ainda, crianças e adultos. Conforme o Referencial
surgir de um movimento livre da mão sobre Curricular Nacional para a Educação Infantil
a superfície. (BRASIL, 1998), os trabalhos de arte das
A criança, através da capacidade simbóli- crianças revelam o local e a época histórica
ca, potencializa sua capacidade de criar. A sua em que vivem, suas oportunidades de apren-
imaginação desenha objetos significativos, dizagem, suas ideias e sentimentos.
sejam eles reais ou frutos da sua fantasia, O estilo dos desenhos infantis mostra
e expressa as emoções e sentimentos que a originalidade, mesmo com características
criança presencia. globais e universais presentes em várias
Ferraz e Fusari (1993) entendem que a culturas. Este estilo vai avançando confor-
atividade imaginária é uma atividade cria- me a criança cresce, com a maturidade dos
dora, resultante das experiências vivenciadas aparelhos perceptivos e motores.
senho, surgem as transparências e, nas figuras mão, começa a guiá-la e o faz de conta está
humanas, surgem pessoas de perfil, havendo presente.
uma coordenação entre a forma, o espaço e a Com a interação do meio, a criança perce-
cor que estrutura o desenho. be que pode fazer novos movimentos, o que
Por último, no “Realismo Visual” a crian- propiciará um controle maior sobre a mão.
ça representa apenas os elementos visíveis do Então, passarão a surgir movimentos espirais
objeto e critica os seus desenhos. Aparecem e círculos fechados, evidenciando a descober-
claramente as influências sociais, históricas ta da forma. Estas garatujas, na sequencia,
e culturais, bem como elementos do seu começam a ganhar nomes e detalhes e os
cotidiano. Há detalhes que particularizam as desenhos aproximam-se das formas reais.
figuras e a cor empregada tem papel realista Por último, a etapa “regra” caracteriza
e decorativo. a criança a partir dos seis anos e represen-
A ação de desenhar é uma das condutas ta relações sociais assumidas no meio em
da função simbólica descrita por Piaget (apud compromisso com o real, onde os desenhos
MOREIRA, 1984) ao lado do jogo, da imita- perdem o caráter mágico-mutante do sim-
ção, da imagem mental e da evocação verbal. bolismo e assumem regras e convenções
A autora compara as etapas do desenho com definidas, ganhando maior estruturação e
as etapas apontadas por Piaget – o exercício, expressividade. Nesta fase, as representações
o símbolo e a regra em “A formação do Sím- gráficas são fiéis ao aspecto observável dos
bolo na criança”. objetos representados, que são mais lógicos
Dessa forma, a primeira etapa – “do exer- do que visuais e há interesse pelos detalhes
cício” – compreende a fase do nascimento até decorativos.
o aparecimento da linguagem oral, ou seja, Pode-se perceber que a evolução do de-
constitui-se no período pré-verbal, onde a senho ultrapassa patamares ao mesmo tempo
criança apreende o meio que a cerca através em que a criança se desenvolve. Este avanço
dos sentidos e da ação sobre o objeto; os mo- gráfico está estreitamente ligado à maturação
vimentos são desordenados e incontrolados. da percepção motora e, também, a maturação
A criança, ao pegar pela primeira vez o cerebral, em que a criança modifica a percep-
lápis, experimenta-o como um brinquedo, ção do mundo ao seu redor com as imagens
exercendo uma ação lúdica. O desenho lhe mentais que constrói.
dá prazer e é o gesto que produz a marca. Ao De um rabisco sem objetivo, com movi-
dar lápis e papel para a criança, ela desco- mentos puramente musculares, ao alcance
brirá que é capaz de deixar naquele pedaço de um desenho estruturado, acompanham-se
de papel uma marca, e se surpreenderá com mudanças significativas no desenvolvimento
o fato de que, ao repetir o movimento, mais da criança, que envolvem mecanismos bioló-
uma marca surgirá. É um jogo de exercício gicos, sensoriais, cerebrais e motores.
que repetirá por muitas e muitas vezes. Sabe-se que o desenvolvimento ocorre em
A segunda etapa – “do simbolismo” – processo gradual. As crianças vão evoluindo
caracteriza a fase a partir do aparecimento e com elas, ao mesmo tempo, os seus dese-
da linguagem até os seis anos, aproximada- nhos. Por isso, o desenho não pode ser com-
mente. A criança interessa-se pelas realidades preendido como simples ato mecânico; cada
simbolizadas, desenha não só o que vê, mas gesto e movimento têm funções simbólicas
o que imagina e o símbolo é sua maneira capazes de contribuir para o desenvolvimento
de representar. O olho, que antes seguia a humano. Com relação a isso ressalta-se:
A criança, a grande autora dos eventos intelectual, físico e social. No aspecto emo-
mantém uma relação de prazer que im- cional há o retrato dos sentimentos de alegria,
pulsiona e estimula este seu fazer. O corpo tristeza, raiva, segurança... No desenvolvi-
inteiro da criança desenha concentrado na mento intelectual o aprendizado ocorre pela
pontinha do lápis, que lhe abre a possi- ação de desenhar e desperta a criatividade.
bilidade da experiência da conquista das No que se refere ao desenvolvimento físico,
formas. O desenho estabelece um elo de pode-se afirmar que a imagem que a criança
participação entre a criança e o mundo, tem do seu corpo é refletida em seus dese-
evocando e despertando formas, imagens, nhos; as habilidades nos traços demonstram
significados, através de seus recursos ma- coordenação motora e visual. Da mesma for-
teriais (DERDYK, 1990, p. 106). ma, no desenvolvimento social, os desenhos
É através da representação gráfica que a refletem as relações da criança com o meio
criança registra o seu mundo, aquilo que é onde representa situações vividas.
real e seu universo simbólico vivido diaria- Portanto, o desenho infantil tem uma im-
mente. Acredita-se, inclusive, que é por meio portância vital no desenvolvimento global da
do desenho que ela organiza informações, criança, enquanto ser social e historicamente
processando-as em conhecimentos a partir constituído, que usa deste instrumento para
do que é sentido e pensado. expressar sua vida.
Os rabiscos, conforme Derdyk (1990),
não são apenas atividades sensório-motoras.
Considerações finais
Os traços confusos no papel podem conter
evidências do estado de desenvolvimento A partir dos estudos realizados acerca do
da criança, como também estarem ali pelo desenho, reconhece-se a importância dessa
simples prazer da ação. manifestação gráfica, altamente criativa,
A criança rabisca e rabisca, e num piscar que faz parte do universo infantil. O ato de
de olhos descobre uma “gente”, uma semente. desenhar é visto como a atividade artística
Qualquer forma redonda, quadrada, vazia, preferida pelas crianças, cuja produção é rica
retangular, pequena, comprida, agrupada, em detalhes que expressam e comunicam.
qualquer configuração preenche um horizon- O desenho é uma linguagem gráfica em
te de significados (DERDYK, 1990, p. 100). que a criança deixa registrada a sua história,
Os primeiros desenhos parecem surgir onde cada traço, risco e rabisco revelam um
de forma espontânea e evoluem junto ao pouquinho da sua identidade, do sentir e do
processo de desenvolvimento da criança. Os pensar desse ser pequeno, mas histórico.
rabiscos iniciais apontam para a extensão do Como é carregado de significados, o desenho
gesto que deixa marcas, mas nem sempre registra as alegrias, medos, sonhos e leva o
possuem a intenção de transmitir alguma adulto a conhecer um pouquinho da criança,
mensagem. Ocorre, então, o aprimoramento de como ela pensa e de como age no e sob o
das capacidades sensoriais e motoras e o meio que a rodeia.
prazer de registrar. Com o tempo essas mar- Ao desenhar, a criança desenvolve seus
cas passam a ter uma intenção e a criança processos criativos, ampliando suas potencia-
comunica-se por meio delas. lidades de expressão. Ao mesmo tempo em
Dessa forma, observa-se que a produção que o desenvolvimento gráfico infantil é inato
artística da criança concebe elementos indi- da inteligência humana, também corresponde
cativos de seu desenvolvimento emocional, às condições socioculturais da criança e aos
AUTOR
REFERÊNCIAS