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para mediar sobre ela. No interior dessa esfera, temos algumas características muito importantes a
serem ressaltadas como essenciais, pois sem elas, a atividade estética pode se tornar descolada do
mundo real, e não é essa sua essência. Com isso, quero dizer que dela se espere certa fidelidade ao
que é objetivo na vida, porque sem isso se torna apenas um produto de pura subjetividade e sem
compromisso com o que é concreto. Desse modo, a Estética, como uma forma de captar e
reproduzir a vida (tendo seu surgimento nela mesma) de maneira elevada, conta com algumas
especificidades que a transforma numa das objetivações complexas do homem. E uma delas, é a
arte de narrar. Como foi dito, a Arte surge da vida (e para ela retorna), como uma forma de
enriquecê-la, pois é entendido que no dia a dia surgem necessidades, as quais nem sempre são
respondidas de imediato, seja pela falta de experiência com devido acontecimento, ou por
acidentalidades recorrentes do cotidiano, sendo necessário uma abstração de nível superior à do
imediato, e é aí que o “narrar” entra em ação. Pressupõe-se que a narração seja contar a vida assim
como ela é, uma unidade em contradição de experiências objetivas, sensíveis e momentâneas. Então
o ato de narrar, significa assumir o compromisso de constatar e trazer de forma artística tudo o que
a compõe, com todos os detalhes possíveis, com um olhar crítico e sóbrio. E se esse conceito
significa trazer aos ouvintes uma visão crítica sobre as experiências mundanas, logo, um bom
narrador é aquele que conhece a vida do modo que a própria acontece, no imediato, vivendo,
participando e tomando posição diante de todas as suas ocorrências, sejam elas boas ou ruins. Ao
passo que uma história é narrada, cria-se um vínculo entre o leitor e o que é objetivado na obra,
pois, como já foi citado anteriormente, a Arte é uma das formas de se responder aos problemas
gerados na vida. E se na vida de quem lê há os mesmos problemas, conclui-se que o que é narrado
se estende para além da obra, permeando a vida das pessoas como possíveis respostas às situações
diversas.
De acordo com Lukács apud Patriota, o Ser é constituído por “faculdades anímicas” que
interagem entre si, sendo todas elas, utilizadas no momento em que o mesmo se objetiva por meio
de suas ações. Essa ideia se contrapõe a sua percepção de juventude, caracterizada pela
fragmentação e isolamento das “disposições subjetivas”, fruto de premissas kantianas, e de toda a
lógica capitalista, que se manifesta numa divisão social do trabalho. Aqui, mais uma vez é marcada
uma das principais fundamentações do materialismo-histórico dialético, que além da realidade
objetiva ser uma unidade dialética em constante contradição, a realidade subjetiva também se faz da
mesma maneira. Deve-se ter em mente que ao observar o ente e suas ações, essa interação constante
entre tais faculdades não ocorre sempre de maneira harmoniosa, podendo se tornar um contato
conflituoso. Então, partindo desses pressupostos, entende-se que a atividade científica pode ser
influenciada pela fantasia, tornando-se um ato de criação, pois ao tentar se aproximar do objeto
estudado por meio da pesquisa e abstração, criando conceitos, teorias etc., esses mesmos produtos
podem deixar de ter contato com o mundo real, convertendo-se em fantasias, só que quando tais
elementos fantásticos são utilizados com moderação, há efetividade. Mas o que se percebe
atualmente, é que no cotidiano essa relação aparece quebrada, o que, apoiado em Marx ano, é fruto
das relações sociais capitalista de produção, pois nela, o trabalho é fracionado em partes e
especializado apenas em uma delas, e devido à essa situação, o homem estranha a si mesmo e à sua
atividade produtiva, por não perceber a conexão rica por trás de todo o seu ato. Isso acaba por gerar
outros problemas, como: dificuldade de desenvolver sua personalidade em sua totalidade, não
reconhecer a si próprio suas produções e como alguém que produz seu devir. Em contrapartida, essa
separação ocorre apenas no imediato, no próprio agir prático. Visto que é próprio do cotidiano
capitalista essa vivência estranhada, para Lukács ano, é um problema de efeitos atrofiantes para o
desenvolvimento do Ser e sociedade. Com isso fará sua crítica frente a filosofia burguesa,
principalmente a vertente que o filósofo intitulou de “anti-capitalismo romântico”, devido à
omissão, por parte dessa, ao estudo da esfera imediata, pois caso o fizessem, teriam de propor uma
superação ao sistema de produção operante, o que também implicaria numa autocrítica, devido às
suas teorias e práticas.