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“Libertação nacional e cultura”, de Amílcar Cabral, destaca o papel

fundamental que a cultura tem na libertação de um povo. A partir desse mote,


o autor objetiva relacionar raças, etnias e elementos culturais da sociedade
com a luta pela libertação nacional, e identifica cultura como uma expressão
da realidade local de cada grupo social. Tais questões se colocam como
fundamentais para entender passado e o presente, bem como o momento
histórico que a sociedade atravessa nos dias de hoje, com a pandemia do
coronavírus e a intolerância política, religiosa e racial.
Chama a atenção a forma como Cabral, com muita criatividade, se apropria
de algumas tendências da época em que descreve para esclarecer seu ponto,
mas compreendendo que a libertação só vem, de fato, superando o sistema
que oprime e destrói, e deixando de lado alguns dogmas e crenças. Para o
autor, uma revolução não pode ser “importada”, isto é, cada lugar tem as suas
características específicas e a população deve desenvolver a partir das
condições impostas por sua própria realidade local o seu movimento de luta
pela libertação.
Dessa forma, a cultura tem o papel de criar uma unidade, etapa essa que
é imprescindível para um processo de libertação e que leva às forças
populares a organizar-se em prol de um objetivo em comum e fortalece o
sentimento nacional. Penso que, embora não seja essa a proposta principal
do texto, discussões importantes sobre raça e preconceito poderiam ter sido
melhor trabalhadas na obra. Por outro lado, entendo que o autor tenha optado
por não focar muito nessa questão para não se desgarrar do cerne de seu
texto. Mas minha opinião é que poderia ter mergulhado um pouco mais no
assunto.
Bato nessa tecla, pois encaro com extrema importância essa temática.
Como o texto em si aborda sobre liberdade e cultura, e vivemos em um país
que trouxe muito culturalmente dos povos africanos e indígenas, senti um
pouco essa ausência. Não é nada, porém, que tenha estragado a obra, de
forma alguma. Apenas acredito que poderia tê-la deixado mais completa.
Levanto essa questão para encerrar meu comentário: Um desenvolvimento
maior sobre a intolerância racial não teria enriquecido mais a obra? O que
acha, professor?

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