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A importância da 

Literatura
25 DE JULHO DE 2019 ~ MARIE ASMAR

Artur Silva
3 h · 
Trechos sobre a importância da Literatura por Olavo de Carvalho:

[1] “O domínio da língua e da literatura é a condição prévia para TODOS os


estudos superiores, inclusive os estudos da área cientifica. Se você não tem a
sensibilidade literária suficientemente aguçada, dificilmente entenderá o que
quer que seja.”

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[2] “Conselho urgente: Pare de ler livros em inglês por algum tempo e leia
tudo o que puder da melhor literatura em português. Depois leia o que puder
em línguas aparentadas ao português: francês, italiano, espanhol. Sem um
agudo senso da linguagem literária, você nunca vai entender em profundidade
nada do que lê, por mais que estude filosofia, ciências sociais, direito ou o que
quer que seja. Nenhum filósofo jamais escreveu uma só linha que fosse para
um público sem cultura literária ou treinado somente em academês vulgar. E
ninguém jamais adquiriu sensibilidade literária lendo predominantemente
livros escritos numa língua muito diferente da sua própria.”

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[3] “Quem não consegue interpretar uma obra de literatura corretamente não
conseguirá jamais entender os fatos da história e da sociedade, ou mesmo os
da sua própria vida. A cultura literária é a condição mais básica do
entendimento. Mas estou com o saco cheio de ver pessoas que não sabem ler
“Batatinha quando nasce” interpretando nada menos que a Bíblia.”

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[4] “Pessoas que escrevem mal percebem mal, retêm mal, e com a maior
facilidade se enganam a si mesmas quanto às suas intenções simplesmente
trocando os nomes dos sentimentos que as movem. A literatura e o
conhecimento da alma humana sempre andaram juntos. Ninguém pode
apreender nuances e sutilezas da vida emocional com uma linguagem tosca,
mesmo que gramaticalmente correta.”

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[5] “A imaginação tem que ser treinada para ela se tornar um instrumento de
compreensão da Realidade e não uma atividade ociosa que vai fazer você ficar
especulando sobre coisas que não vão acontecer jamais, que não têm a menor
possibilidade e que são somente um jogo. A Grande Literatura do mundo
contém um material que, para o estudante de Filosofia, é absolutamente
precioso. A Literatura é uma maneira de você amadurecer na sua visão da
Realidade. Claro que, pelos processos atuais de ensino da Literatura nas
universidades, a experiência imaginativa pode se tornar totalmente impossível.
Impossível. Porque, vamos dizer, quando você lê Dostoievski, Tolstoi,
Shakespeare, você está tendo acesso ao que essas grandes mentalidades
conceberam sobre as possibilidades da vida humana. Agora, se você começa a
encarar aquilo apenas como estrutura textual, começa a encarar aquilo sob o
ponto de vista estruturalista ou desconstrucionista etc., o elemento de
experiência sumiu. Então aquilo não é mais um espelho da vida.”

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[6] ”A literatura não é compreensão das ciências, nem da sociedade, nem de


nenhuma coisa em particular, mas simplesmente experiência acumulada e
narrada da vida. É assim porque em nossa individualidade não podemos viver
todas as experiências. Noventa e nove por cento das nossas experiências são
experiências acumuladas dos outros, que nós ouvimos falar, que nós lemos…
E a literatura é o núcleo, é o que tem de melhor sobre a experiência humana.
São aspectos altamente significativos da experiência humana condensados em
símbolos e que você toma como se fossem pílulas. A literatura de ficção é
isto: a aquisição de experiências humanas e dos meios de simbolizá-las, de
narrá-las, pois ter a experiência apenas não basta. Nós precisamos narrar a
experiência não apenas para os outros, mas também para que a experiência
torne-se pensável para nós, com o objetivo de dominá-la intelectualmente. O
indivíduo que leu dez, vinte, cem, mil narrativas ficcionais como romances,
peças de teatro etc narrará as suas experiências para os outros e para ele
mesmo de um modo muito mais claro e direto. Por outro lado, uma pessoa
inculta não sabe narrar precisamente as suas experiências. A pessoa inculta
toma a sua história e a reduz a uma história parecida e mais simples, mas
nunca a toma com a devida precisão. É por isso que quanto mais inculta é a
pessoa mais letais são para ela os problemas psicológicos. Dramas que um
homem culto consideraria como ridículos levam um homem inculto ao
suicídio. Por que os crimes passionais são em muito maior número nas classes
incultas? Porque essas pessoas não sabem lidar com o problema, não possuem
meios de elaborar intelectualmente o drama. Nem elas e nem o seu meio
social. Então tudo vira tragédia”.

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[7] “Cultura pessoal não é você ler um monte de livros, não é ser capaz de
falar sobre arte, sobre filosofia, sobre história, etc., mas é você ter um
conjunto de equipamentos que permita a você olhar a situação real, tanto a
situação pessoal quanto a da comunidade imediata, quanto a de um país,
quanto a do mundo inteiro com uma multiplicidade de perspectivas que
validem a sua visão perante a consciência de outras épocas e de outras
civilizações.”

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[8] “Cultura literária não é ler muitas obras de literatura. É absorver delas, e
incorporar na nossa própria alma as inumeráveis superfícies refletoras com
que, pela imaginação de muitas vidas possíveis, elas nos ajudam a perceber e
compreender a alma alheia.
Quem não quer fazer o esforço para adquirir essa capacidade não tem
NENHUM interesse em compreender o seu próximo, e toda a sua presunção
de “amá-lo” é pura pose.”

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[9] “A aquisição da alta cultura é o único meio que você tem para ter uma
conduta moral que preste. Fora disso, você está no mundo da
irresponsabilidade moral. Por exemplo, existe um escritor inglês Frank
Raymond Leavis, que dedicou sua vida a mostrar para as pessoas que a
literatura de ficção é uma meditação sobre as possibilidades da vida moral
humana. Na medida em que concebe enredos e situações possíveis, você está
pesando um nível de responsabilidade moral que está presente na infinidade
das situações humanas mais particulares e até indescritíveis. Ora, São Tomás
de Aquino dizia que o «grande problema da moral é que a regra é a mesma,
mas as situações são infinitamente variadas». Então, você não sabe como
entender a regra geral em relação a cada situação. Ao mesmo tempo, você não
pode viver todas as situações humanas, mas pode imaginá-las. Você pode
ampliar o seu imaginário até ser capaz de compreender as situações humanas,
as mais diferentes possíveis, e as mais afastadas da sua experiência imediata.
Como é que nós fazemos isso? Por imaginação e pela literatura de ficção. Sem
isso você simplesmente não compreende as situações. Não compreende a
delicadeza e a subtileza das situações. Se você não compreende a delicadeza e
a subtileza das situações, você vai julgar os seres humanos mediante uma
projeção ingênua da sua própria pessoa sobre eles, sem entender exatamente o
que está se passando com eles.(…)

Vivenciar imaginativamente as mais variadas possibilidades de vida humanas,


de situações humanas, de dramas humanos, de conflitos humanos, é o
aprimoramento da sua imaginação moral, e não há outro instrumento para
isso. Portanto, a grande literatura tem uma função eminentemente educativa e,
pior: só ela tem essa função educativa. O simples raciocínio lógico, moral, não
serve para isso. Mesmo as obras de filosofia moral e de teologia moral mais
sublimes que existem, não servem para isso; por exemplo, uma grande obra-
prima como a “Teologia Moral” de Santo Afonso de Ligório, são oito
volumes onde ele vai estudando as mais diferentes situações. Santo Afonso de
Ligório era bastante detalhado, mas em comparação com a variedade real das
situações humanas, aquilo é nada. Ou seja: o pensamento lógico jamais
poderia abranger a totalidade da situações, é necessário uma imaginação
poderosa, porque através da imaginação você se identifica com os outros.(…)

Porém, o tempo que eu vejo as pessoas perdendo, fazendo julgamentos morais


sobre coisas que não entendem, é um negócio terrível. Então, por que em vez
de fazer julgamentos morais, se tem tanto interesse em moralidade, você não
tenta ampliar a sua percepção moral através da leitura ds grandes obras de
literatura? Não há uma grande narrativa, romance, conto, novela, peça de
teatro que não seja baseada num conflito moral. Pelo número de romances,
contos, novelas e peças de teatro existentes, você imagina o número de
conflitos morais diferentes que podem existir.Você tem a solução de todos
eles na cabeça? Não.”
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[10] “Cada personagem, cada situação ficcional, cada emoção, cada


ambigüidade e cada paradoxo da narrativa tem de se impregnar na sua mente
como possibilidade humana concreta, reconhecivel na vida real — na sua
própria e na das pessoas que você conhece. Tem de se transformar num
ÓRGÃO DE PERCEPÇÃO.
Só assim a leitura literária vale a pena e tem verdadeiro poder educativo. Faça
isso com obras da literatura dos dois últimos séculos durante alguns anos, e
depois você lerá a Bíblia com olhos mais penetrantes.

É preciso evitar, naquelas, todo tecnicismo acadêmico e, nesta, toda


especulação teológica. Não ‘analise’ o texto, apenas guarde os conteúdos na
memória até que eles próprios comecem a lhe mostrar o que desejam lhe
mostrar.

Análises técnicas e especulações teológicas, só muitos anos depois de ter


assimilado muitos textos dessa maneira. Antes, não.
Leia tudo como se fosse narrativa de acontecimentos reais, sentindo
intensamente a presença das situações, personagens, conflitos, etc. Acredite
em tudo como se estivesse vendo com os próprios olhos ou vivenciando você
mesmo as situações.

Com essa prática, aos poucos as histórias da Bíblia se tornarão tão


transparentes para você como se fossem notícias de hoje em dia, sem que você
precise “interpretá-las”.

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[11] É preciso ler a Bíblia sem a carga de lições morais e teológicas que
geralmente antecedem e deformam a sua leitura. É preciso lê-la como se você
estivesse VENDO tudo se passar diante dos seus olhos ou mesmo sentindo na
carne como se você fosse um dos personagens. Mas você não conseguirá fazer
isso com a Bíblia se antes não fizer o mesmo com MUITAS histórias da
literatura simplesmente humana.

Tem muita gente que discute Bíblia o dia inteiro e até hoje não entendeu isso.”

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[12] “Por que o sujeito que estuda muita literatura é um homem culto e o
homem que estuda muita física, muita matemática (ou quaisquer outras
disciplinas especializadas) não é?

Em primeiro lugar, todas as descobertas científicas se refletem na literatura de


algum modo. Então, o sujeito que lê bastante literatura algo ele sabe da teoria
da relatividade, da teoria quântica e da influência da física na sociedade.
Contudo, nada da literatura universal está referido nos livros de física. Assim,
lendo literatura ele saberá algo de física, mas lendo física ele não conhecerá a
literatura. Essa é a primeira observação de ordem mais prática e imediata.

Em segundo lugar, a literatura usa a linguagem corrente entre as pessoas. Ela


procura repetir o estado da linguagem na sociedade (…) A linguagem que é
utilizada pelo escritor é a linguagem da própria sociedade, ao passo que a
linguagem da física não é a linguagem da sociedade, é somente a linguagem
dos físicos. Isso quer dizer que o homem que absorveu cultura literária tem os
instrumentos linguísticos para dialogar com a sociedade. A literatura lhe dá
isso. Mas o estudo da física, da química, não vai lhe dar isso de maneira
alguma.

Em terceiro lugar, os assuntos abordados pela literatura são assuntos de


interesse geral: a vida humana, o destino humano, os dramas humanos. Todo
mundo tem vida, destino e dramas, incluindo os físicos. Ao passo que os
problemas abordados pelos físicos, ainda que estejam presentes na sociedade,
não fazem necessariamente parte da consciência das pessoas. O teu
desconhecimento acerca das partículas subatômicas não afetará
fundamentalmente as tuas decisões na vida. Mas problemas referentes ao
amor, à morte, ao ódio, à tristeza, ao casamento, às relações humanas todo
mundo tem. Então de cara o assunto do qual a literatura trata é a vida de todo
mundo, e não a vida de um grupo especializado.

Em quarto lugar, repare no seguinte: alguma forma de literatura narrativa é


encontrada em todas as culturas, mesmo nas mais primitivas. Ao passo que
outros departamentos do conhecimento, como, digamos, uma técnica
matemática mais avançada, são encontrados somente em algumas. Mas a
cultura narrativa é onipresente. E, sendo onipresente, nós podemos dizer que
ela é a primeira e mais básica forma de cultura”.

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[13] ”Na leitura de um romance ou de uma peça o negócio é você tentar
primeiro estabelecer comunicação com o autor. O resto vem depois. Mas os
convites para você desviar a atenção do essencial são inúmeros. Porque como
você está lidando com uma história que é uma especulação sobre as
possibilidades da vida humana, o autor dessa história, pensando bem, está
falando de uma coisa muito grave e que diz respeito a você. É o famoso
adágio latino ‘De te fabula narratur’, ou seja, a história contada é a sua. Para
entender isso você precisa estar num estado de abertura do próprio coração,
numa abertura de sinceridade. Acontece que essa atitude cria uma tensão, um
nervosismo. E você pode tentar aliviar essa tensão baixando a qualidade da
sua atenção para os aspectos lógicos ou verbais da narrativa para você sentir
que saiu da história, que ela não é mais a seu respeito. Você corta o fio que te
liga à situação real. Daí é evidente que você não está entendendo mais nada.

A contradição e a tensão são as marcas do personagem real. E se são as


marcas do personagem real, quer dizer que a atitude do leitor também precisa
ser de tensão. Essa tensão será a marca da consciência. E o estudo literário ou
é um treinamento da consciência, para que ela seja capaz de abarcar uma
extensão cada vez maior e mais complexa de dados, ou é uma brincadeira
universitária. Isto que eu estou dizendo está a tantas léguas da preocupação de
qualquer ensino universitário no Brasil que eu nem sei se entenderiam do que
eu estou falando. Isto que até os anos 60-70 seria facilmente compreendido
em qualquer meio universitário, hoje não dá mais. Claro que os estudos que
não implicam tensão de consciência mas apenas QI podem ser feitos por
qualquer pessoa independentemente do seu grau de consciência e maturidade.
Porque habilidades parciais são uma coisa e consistência da personalidade é
outra. Mas a verdadeira educação visa ao indivíduo real enquanto sujeito de
seus atos, moralmente responsável e eventualmente culpado. Então não há
educação possível sem a ideia da responsabilidade e da culpa, e sem essa
tensão de consciência da qual estou falando”.

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