FUNDAMENTOS DE
GESTÃO DO DESIGN
CAPÍTULO 1
A ÁREA DO DESIGN
Para tornar o design compreensível a quem não é especializado na área, uma série
de tópicos e questões deve ser considerada. Primeiro, devemos descrever a nature-
za da profissão, as diversas áreas em que o design é praticado e os vários métodos
que os profissionais de design empregam em seu trabalho. Podemos, então, avaliar
a relevância do design para a ciência da administração e descobrir o que se pode
aprender com o processo criativo. Por último, precisamos avaliar o impacto do de-
sign sobre o desempenho corporativo a fim de determinar o que os gestores podem
ganhar com ele.
Neste livro, o termo “design” é usado para designar a profissão como um todo
e “designer” refere-se à pessoa que o pratica.
T
Todos os homens são designers. Tudo o que fazemos, quase o tempo o
todo, é design, pois o design é básico para todas as atividades humanas.
—Victor Papanek
A IDEIA DO DESIGN
Existem muitas definições de design. Em termos mais amplos, design é uma ativi-
dade que confere “forma e ordem para atividades cotidianas” (Potter, 1980). Antes
de escolher uma definição consagrada, é importante analisar a etimologia da palavra.
“Design” deriva do termo latino designare, traduzido como “designar” e “desenhar”.
Em inglês, o substantivo “design” manteve esses dois significados. Dependendo do
contexto, a palavra significa: “plano, projeto, intenção, processo” ou “esboço, mode-
lo, motivo, decoração, composição visual, estilo”. No sentido de intenção, “design”
implica a realização de um plano por meio de um esboço, padrão ou composição
visual.
Portanto, a palavra “design” em inglês manteve os dois sentidos da palavra la-
tina (“designar” e “desenhar”), dado o fato de ambos os significados serem original-
mente um só, com “intenção” equivalente a “desenho” em sentido figurado. Assim,
a análise etimológica da palavra leva-nos à seguinte equação:
DEFINIÇÕES
Uma fonte frequente de confusão é o fato de que “design” pode referir-se tanto a
uma atividade (o processo de design) quanto ao resultado dessa atividade ou pro-
cesso (um plano ou forma). A mídia tende a aumentar a confusão usando a palavra
“design” para falar de formas originais, mobília, luminárias e moda, sem mencionar o
processo criativo por trás delas.
A International Council Societies of Industrial Design (ICSID), organização que
reúne associações profissionais de designers do mundo todo, oferece a seguinte
definição:
A vantagem dessa definição é que ela evita a armadilha de ver o design somente a
partir da perspectiva do resultado (estética e aparência). Ela enfatiza noções de cria-
tividade, coerência, qualidade industrial e forma. Os designers são especialistas que
refinaram a habilidade de conceber a forma e possuem conhecimento multidisciplinar.
Outra definição aproxima o campo do design da indústria e do mercado:
D
Design industrial é o serviço profissional de criar e desenvolver concei-
tos e especificações que aprimoram a função, o valor e a aparência de e
produtos e sistemas para o benefício mútuo do usuário e do fabricante.
CARACTERÍSTICAS PALAVRAS/
DO DESIGN DEFINIÇÃO DE DESIGN TERMOS-CHAVE
AS DISCIPLINAS DO DESIGN
O design como profissão é, na verdade, uma família de profissões que se desenvol-
veu em torno da concepção de diferentes formas (Forty, 1994). Há quatro tipos de
design que correspondem aos principais domínios por meio dos quais a profissão é
integrada na sociedade e descrevem suas possibilidades de entrada e interface com
as diferentes funções da empresa: design de ambientes, design de produto, design
de embalagem e design gráfico.
Design de ambientes
O design ambiental compreende o planejamento de um espaço para uma empresa e
a criação de todos os espaços que fisicamente a representam – fábricas, áreas de es-
critório, áreas de produção, espaços comuns (cafeterias, áreas de recepção), espaços
comerciais (butiques, quiosques, estandes de lojas de departamentos) e exposições
e estandes (mostras comerciais). A criação do ambiente de trabalho de uma empresa
representa um papel fundamental na qualidade da produção, na construção de uma
cultura e na comunicação de sua estratégia. O design ambiental pode também servir
para espaços comerciais, redes de lojas franqueadas, lojas, shoppings e supermer-
Exemplo: The Glass Innovation Center for Corning (Design de Ralph Appelbaum As-
sociates).
Design de produto
Geralmente este é o único tipo de design conhecido pelo público. As pessoas quase
sempre conhecem o design de produtos por meio de criações de “astros” do design
em móveis, moda e automóveis. A imagem do design de produto orienta-se para a
moda e a vanguarda, muitas vezes porque a imprensa privilegia esse sistema de de-
sign. Entretanto, o design de produto não se restringe a móveis, luminárias, tapetes,
moda e carros. Os designers de produto intervêm em praticamente todos os setores,
o que inclui:
Exemplos: iMac da Apple, ThinkPad da IBM, Good Grips OXO e a cadeira Aeron de
Herman Miller.
Design de embalagem
Embora menos conhecido do que o design de produto, o design de embalagem cons-
titui a maior parte do trabalho em design. A concepção de embalagens para produtos
manufaturados é parte do desenvolvimento da marca em produtos de consumo, cos-
méticos e medicamentos. O design, nesses produtos, serve para protegê-los durante
o manuseio, armazenamentos, transporte e venda. O design de embalagem às vezes
não se encontra dissociado do produto, como no caso de laticínios, comidas enlata-
das, comidas congeladas, água mineral, molhos, etc.
O design de embalagem facilita o reconhecimento de produtos nas lojas e simplifi-
ca seu uso pelo consumidor final. Além disso, reforça os ganhos relacionados à ideia de
Design gráfico
O campo do design gráfico trabalha com símbolos gráficos e tipografia para represen-
tar o nome de uma empresa, suas marcas ou seus produtos. O designer gráfico está
integrado em diferentes áreas do design:
O design gráfico está na moda. Quem não tem um logo hoje? Cidades, regiões, asso-
ciações humanitárias, redes de televisão... nada escapa da “logomania”.
Até mesmo a marca pessoal é importante para o sucesso profissional. Como as marcas
estão por toda parte, os designers gráficos têm que ir além da criação de uma identidade
visual: eles promovem uma promessa de valor. Essa área do design visa à concepção de
sistemas complexos de identidade visual que sejam adequados aos sistemas internos
de sinalização e comunicação da empresa. Em suas comunicações externas, a empresa
se diferencia por uma linguagem gráfica e verbal específica e aplica essas mensagens
de acordo com seus diferentes públicos. Os programas de computador tornam o design
gráfico mais flexível e o manejo de padrões de design pelo usuário mais fácil.
O design da Web, ou design digital multimídia, evoluiu a partir da emergência da
tecnologia de informação. Nenhuma empresa, na nova economia, pode operar sem
o auxílio de um designer profissional de Web. Esses designers da Web tendem a ter
Design ambiental
Cerâmica Design de
Layout Têxteis Ferramentas
exposições
Produtos
Tipo Moda Ambientes
Engenharia
Gráfico
Mod
De ção
elag
sen ula
ho Sim
em
Caligrafia
2
Construção de
ARTE carruagens CIÊNCIA
ARTESANATO
Cerâmica
Bordado
Joalheria
RAÍZES DO
ARTESANATO
Percepção 1
Imaginação Geometria Habilidade Conhecimento
de materiais Processos
Propriedades táteis Manipulação
Visualização Testes
Apresentação e
persuasão
Síntese
Compreensão e
equilíbrio das exigências
dos interessados
Pensamento e ação
intuitiva
* N. de R.T.: As informações contidas nesta seção do livro, embora sejam contempladas nos cursos
de design no Brasil, são organizadas de maneira distinta, especialmente com relação à temporalidade
do curso. No país, a maioria dos cursos tem duração média de quatro anos e as diretrizes do Ministé-
rio da Educação definem a carga horária mínima.
O design adota diferentes rotas de entrada a fim de ser integrado em uma organiza-
ção. A variedade de aplicações do design, no entanto, não deve ocultar o fato de que
há somente estruturas comuns entre essas diferentes perspectivas administrativas.
As três estruturas mais comuns para a chegada ao design são:
Os designers têm uma atuação prescritiva. Eles sugerem como o mundo poderia
ser; em certa medida, são todos futuristas. O processo de design é essencialmente
experimental; ainda assim, não é puramente ideacional: produz esboços, desenhos,
especificações e modelos.
Holt (1990) identifica três tipos de processos de design:
Etapa 1: Pesquisa
O designer examina o briefing, que identifica o problema e o objetivo do projeto de
design. Ele então avalia a oportunidade e a importância do projeto para a empresa
e faz perguntas a diferentes envolvidos para melhor compreender os dados que a
empresa utilizou para tomar sua decisão de lançar o projeto. O designer prossegue,
analisando o posicionamento do produto ou aspectos gráficos no mercado competiti-
vo e explora parâmetros técnicos e funcionais do projeto. Essa análise costuma levar
o designer a fazer estudos complementares e a acumular documentação sobre o
“ambiente” ou contexto do projeto. O objetivo dessa fase é duplo: esboçar um diag-
nóstico do projeto e definir um conceito visual (ou criar um roteiro ou uma definição
verbal e textual do projeto).
Etapa 2: Exploração
Depois de compreender o problema em sua totalidade, o designer emprega todos os
seus recursos criativos para concretizar o conceito fazendo esboços das diferentes
formas possíveis que o projeto pode adquirir. Esses esboços auxiliam a desvendar os
eixos de criação e a descobrir as diferentes arquiteturas do produto, sinais gráficos e
opções de estilo que podem ser úteis para o design.
As diretrizes criativas que se destacarem serão apresentadas para o cliente em
“esquemas”, ou desenhos de diferentes soluções e perspectivas propostas. A fase
de exploração termina com a seleção de uma ou duas diretrizes por um comitê que
inclui o cliente.
A apresentação ao comitê possibilita que as reações de diferentes pessoas se-
jam analisadas e que seja estabelecido um diálogo sobre os elementos concretos e
visuais do projeto. Esse diálogo ajuda a melhorar as diretrizes criativas escolhidas.
As soluções são examinadas de acordo com uma análise das restrições estéticas,
funcionais e técnicas. Essa fase encerra-se com a seleção de uma ou duas soluções,
a serem desenvolvidas na etapa 3.
Etapa 3: Desenvolvimento
Agora é o momento de formalmente representar as soluções escolhidas em três
dimensões. Essa versão em 3D é indispensável porque permite o julgamento da qua-
lidade da forma no espaço. Um modelo em tamanho natural é produzido, podendo
também ser funcional. O designer faz planos técnicos do protótipo para pré-teste.
Esses esboços possibilitam que o designer verifique as restrições técnicas para a
Etapa 4: Realização
Na etapa 4, o designer trabalha na realização do protótipo para o projeto. Ele cria do-
cumentos de execução e um plano que define os materiais utilizados, o tratamento
da superfície e a cor para os diferentes elementos do produto ou letreiro. Essa fase
é demorada, pois exige a colaboração de diferentes departamentos – do fabricante e
de fornecedores externos.
Etapa 5: Avaliação
Testes são lançados considerando três eixos distintos:
A MISSÃO DO DESIGNER
BONNIE B. BRIGGS
CONCLUSÃO
● O design é um processo que cria uma forma, um artefato envolvendo a unidade
entre restrições estruturais, funcionais e simbólicas
● O design é uma atividade profissional que pode ser praticada em diferentes dis-
ciplinas. As disciplinas do design são: design de ambientes, design de produtos,
design de embalagens, design gráfico e design para a Web
● O design ingressa em uma organização por meio de diferentes funções: CEO,
comunicações corporativas, pesquisa e desenvolvimento (P&D), produção e
marketing
● O design gera resultados visuais ou formais em todas as fases do processo
criativo
● O design é um processo criativo e de gestão