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SINOPSE

Jax Kingston

Comprimidos. Álcool. Adrenalina.

Estou viciado em decisões destrutivas que entorpecem minha dor.

Até uma noite em que cometo um erro catastrófico.

Para reparar minha reputação quebrada, minha equipe contrata Elena.

Uma babá bem paga começou a arruinar meus planos.

Ela é minha maldição disfarçada de minha salvação.

E meu mais novo vício.

Elena Gonzalez

Implorei ao universo que me salvasse do meu desastre financeiro.

Ele atendeu meu chamado com uma equipe de Fórmula 1 desesperada por um
milagre de relações públicas.

Uma temporada. Um trabalho. Um piloto britânico taciturno.

Exceto que Jax transforma nosso quarto de hotel em um campo de batalha.

Para vencer o inimigo, preciso encontrar seus pontos fracos.

O que descubro ameaça estragar tudo.

Ele. Eu. Nós.

O amor é uma zona de guerra e nenhum de nós planeja se render.


DEDICATÓRIA

Para meu povo ansioso lá fora – este é para você.

Não deixe suas preocupações vencerem.


PRÓLOGO

Elena

Treze anos atrás

— Se você não estiver pronta em cinco minutos, não terá


uma história. Você pode ter doze anos agora, mas sua hora de
dormir ainda é as oito. — A voz do meu pai ressoa pelos
corredores de nossa casa no segundo andar.

Corro em direção ao meu banheiro. Eu sou uma garota


com uma missão, correndo com a minha rotina de dormir, já
que meu dever de casa demorou muito hoje. Depois de escovar
os dentes, rapidamente puxo meu cabelo ondulado em uma
trança e troco minhas lentes de contato por óculos.

Eu chego na minha cama com trinta segundos de sobra,


pulando no colchão macio com um baque forte. Os passos de
Papi 1ecoam pelo corredor enquanto ele coloca a cabeça para me
verificar. Eu atiro para ele um grande sorriso enquanto cruzo
minhas pernas e aperto minhas mãos.

1 Papai.
Ele abre mais a porta, seus olhos castanhos me
encarando.

— Devo verificar se você usou fio dental?

Balanço minha cabeça de um lado para o outro enquanto


luto contra uma risadinha.

— O pagamento da sua próxima consulta ao dentista deve


sair do seu cofrinho.

— Prometo fazer isso amanhã. Estou morrendo de vontade


de ler com você e o dever de casa demorou uma eternidade. Por
que não posso ir para a escola com todos os meus amigos? Eles
terminam o dever em uma hora.

Desde que meu pai se tornou embaixador do México,


alguns anos atrás, nossas vidas mudaram. Fui matriculada em
uma escola particular, nos mudamos para um bairro melhor e
agora temos dinheiro para tirar umas férias. Mami2 fica em casa
enquanto Papi viaja do México para os Estados Unidos,
trabalhando em coisas importantes com o governo.

— Porque um dia você vai me agradecer por obrigá-la a


frequentar uma escola americana. Todas aquelas horas que
passo afastando pessoas más e consertando o México estão
valendo a pena.

— Mas eles me fazem falar inglês o dia todo. — Reclamo.

2 Mamãe.
Ele bate no meu nariz franzido.

— E que grande sotaque você tem agora. Estou feliz que a


mensalidade vale a pena. Aguardo com expectativa o dia em que
você atravessará a etapa de graduação em uma universidade
americana.

Ele se senta ao meu lado, minha cama afundando sob seu


peso enquanto ele se pressiona contra mim. Ele abre minha
cópia de Jogos Vorazes no último capítulo que paramos, pronto
para começar nossa tradição noturna. Com sua posição, vêm
muitas responsabilidades, incluindo a perda de nossas noites
de leitura.

— Você está pronta para começar? — Meu pai me mostra a


página do capítulo.

— Sim, sim, sim!

— Você conhece o negócio. — Ele afasta uma onda solta,


que escapou da minha trança.

Eu luto contra o desejo de revirar os olhos na parte de trás


da minha cabeça.

— Sim. Você começa, eu termino. Woo. Vamos começar. —


Eu giro meu dedo em um movimento dizendo a ele menos
conversa, mais leitura.

Sua voz áspera começa exatamente de onde paramos há


duas semanas. Sento-me contra meus travesseiros franzidos,
agarrando-me a cada palavra, animada com Katniss
sobrevivendo à cornucópia.

Ele me passa o livro na metade do capítulo. Meu pai me


corrige enquanto leio, com meu sotaque ficando mais pesado
conforme meu entusiasmo aumenta. O capítulo voa e me deixa
desesperada por mais depois de um momento de angústia.

— Mais um capítulo? Por favor? — Golpeio meus cílios


escuros para ele. Eles são longos o suficiente para roçar nos
meus óculos, um problema irritante geralmente evitado com
lentes de contato.

Ele balança a cabeça para mim.

— Eu gostaria de poder, chiquita3. Mami quer que eu a


ajude com a louça antes de dormir.

Eu me agarro ao seu lado, colocando todo meu esforço nas


palavras.

— Mas você se vai para sempre, então me deve pelo menos


dez capítulos.

— Diez? No mames4. — Ele ri enquanto me abraça. — Que


tal amanhã? Estou disposto a negociar com três capítulos.

Eu me afasto e cruzo os braços contra o peito.

3 Garotinha
4 Dez? Besteira.
— Ok. Se você precisa. — Eu aceno para ele, suspirando
enquanto caio dramaticamente no travesseiro.

— Eu sabia que a nova escola era boa. Olhe para você,


agindo como uma mocinha adequada. Sua leitura melhorou
muito este ano. Estou muito orgulhoso de você. — Meu pai dá
um beijo suave na minha testa antes de fechar a porta do meu
quarto.

Eu desligo minha lâmpada. Meus olhos se fecham e minha


mente vagueia, pensando sobre o livro e como o capítulo
terminou. A curiosidade sobre o que vai acontecer a seguir
consome minha paciência. Incapaz de adormecer, pego uma
pequena lanterna da mesa de cabeceira que guardo para noites
como esta.

Pego o livro e entro no meu armário. Se meus pais me


pegassem lendo isso tarde em uma noite de escola, eles me
fariam um discurso completo. Para salvar a todos nós, me
escondo em meu lugar habitual atrás de minhas roupas e
algumas caixas de papelão. A lanterna projeta sombras
enquanto abro o livro para o próximo capítulo.

Meu dedo me guia, segurando meu lugar enquanto pratico


a leitura. Katniss foge de outros enquanto evita ser morta. Ela é
corajosa e legal.

Um grito soa em algum lugar lá embaixo. Os pelos dos


meus braços se arrepiam de quão assustador parece. Os gritos
do meu pai me assustam e meus dedos trêmulos liberam a capa
dura. Ele cai no chão ao lado dos meus pés com um baque
pesado.

Prendo a respiração enquanto tento entender o que ouvi.


Vidros se espatifando à distância e as súplicas distantes da
minha mãe me deixam em pânico. Meu coração bate mais
rápido no meu peito quando meu pai muda de inglês para
espanhol, implorando por misericórdia. Vozes estranhas gritam
de volta antes que algo mais se quebre.

Papi me avisou sobre coisas assim. Ele me ensinou a ficar


no meu quarto e esperar que um deles venha me buscar.

Outro grito de minha mãe me tira o fôlego. Eu fico grudada


no tapete, meus dedos se atrapalham para pegar a lanterna.

Meu pai grita, implorando através da porta fechada do


meu quarto. Eu luto para controlar o tremor do meu corpo.

O som do estalo mais alto ecoa pela minha casa como se


alguém soltasse fogos de artifício no andar de baixo. Meu pai
para de gritar quando minha mãe solta um grito de dor.

Meus dedos tremem quando desligo minha lanterna. O


barulho de clique soa muito alto, quebrando o silêncio enquanto
a escuridão me esconde. Mais estalos acontecem, cortando os
gritos da minha mãe, enviando um arrepio nas minhas costas.

Um. Dois. Três.

Meus olhos lacrimejam enquanto luto para respirar, o som


sibilante do meu coração atrapalhando minha audição. No
fundo, sei que algo está errado, com meus pais não chorando
mais. Balanço minha cabeça como se o movimento pudesse
apagar a preocupação do meu cérebro. A ideia de algo ruim
acontecendo com eles é demais para mim.

Respiro fundo quando minha porta se abre.

É isso. Eles vão me encontrar.

A porta do armário abafa o som de passos. Eu puxo meu


corpo em um esforço para desaparecer no menor canto do
armário. Caixas e prateleiras de roupas me escondem.

Não sou Katniss Everdeen. Eu sou uma farsa, me


escondendo, o medo me fazendo enrolar em um pequeno monte
de nada. As portas do meu armário se abrem e o ácido sobe pela
minha garganta com o barulho. Não me atrevo a engolir com
medo de que o estranho me ouça.

Alguns cabides chacoalham e meus sapatos são


empurrados. Eu seguro a vontade de respirar quando algo bate
contra a caixa na minha frente. Tão rápido quanto a pessoa
desconhecida veio, eles fecham a porta do armário.
— A filha dele não está aqui. Talvez ela esteja com outro
membro da família? Ou devemos verificar todos os quartos?

Cubro minha boca para evitar que qualquer som escape.


Lágrimas respingam em meus dedos, mas fico em silêncio.

— Olvídalo5. Concluímos o trabalho. El jefe6 ficará


orgulhoso de nós e terá de nos promover depois disso. Eduardo
tem sido um pé no saco há anos.

Luto com tudo em mim para não ficar doente e me


entregar. Katniss não estaria chorando. Ela teria marchado
para fora do armário e feito algo. Qualquer coisa.

Sou uma covarde fraca e patética que mal recuperou o


fôlego enquanto luta contra a necessidade de vomitar.

Uma porta bate em algum lugar lá embaixo.

Mami e Papi virão atrás de mim. Eles estão bem. Talvez um


pouco machucados, mas eles virão.

Minutos se passam e ainda não ouço nenhum som em


minha casa. Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto
oro para que Papi venha me encontrar e me leve para a cama.

Não me movo por horas, com medo de sair. Meus olhos se


ajustam à escuridão enquanto me balanço para frente e para
trás para me acalmar.

5 Esqueça isso.
6 O chefe.
Eventualmente, rastejo para fora do meu esconderijo, meu
estômago embrulhando enquanto empurro a porta do armário.
Eu paro, ouvindo qualquer um que possa saber que estou aqui.
Minutos se passam antes que eu ache que é seguro me mover
novamente.

Respirando fundo, abro a porta do meu quarto. Ela range


como um daqueles episódios do Scooby-Doo. Meu batimento
cardíaco acelera enquanto solto uma respiração instável.

Odeio o escuro. Minha casa parece assustadora, com todas


as luzes apagadas e sombras persistentes nos cantos mais
escuros. A pele da minha nuca formiga. Meus pés me carregam
escada abaixo enquanto seguro minha lanterna em minhas
mãos, o desespero me dando forças para continuar andando.

— Mami? Papi?

Silêncio. Puro silêncio e escuridão fazem a veia em meu


pescoço pulsar. Luto contra o desejo de subir as escadas
correndo e me esconder debaixo das cobertas. Katniss seria
corajosa no escuro – forte e sem medo.

Tropeço em algo bloqueando meu caminho para a cozinha.


Minha cabeça cai sozinha.

— Não! Não, não, não, não, não.

A lanterna cai com um baque aos meus pés antes de rolar


para longe. Minhas pernas fraquejam quando meus joelhos
batem no chão, meus dedos agarrando a mão de minha mãe,
fria na minha e parecendo totalmente errada.

Lágrimas inundam meus olhos, escorrendo pelo meu rosto


antes de pousar nela. Eu rastejo sobre seu corpo e a puxo para
mim.

— ¡Mami! ¡Despiértate7! — Meus dedos trêmulos escovam o


cabelo de seu rosto, meu coração apertando para seus olhos
vazios olhando para mim.

Olhos frios e sem vida, sem qualquer sinal de seu calor.

— Mami, ¿qué pasa? Regresa a mi8. — Minhas mãos ficam


escorregadias enquanto eu perco meu controle sobre ela.
Verifico meus dedos, mas a falta de luz torna difícil ver o que os
deixou molhados. Lágrimas atrapalham minha visão enquanto
me movo em direção à minha lanterna. A luz pousa em meu pai,
deitado ao lado de minha mãe, uma trilha de sangue o
seguindo.

Um soluço se solta enquanto eu rastejo até Papi,


abraçando-o enquanto pressiono minha orelha contra seu peito,
esperando que ele ainda esteja vivo. Posso chamar um médico
ou a Abuela9 para me ajudar.

7 Acorde!
8 Mamãe, tudo bem? Volta para mim.
9 Avó.
— Por favor, Papi, não me abandone.

Silêncio.

Sem batimento cardíaco. Sem respiração. Nada.

— Não, não, não. — Sons magoados me escapam. Eu


choro em seu peito, perdendo o controle de mim mesma. Ele
cheira mal. Meus dedos agarram seu terno, sacudindo-o como
se ele pudesse voltar à vida.

Para voltar para mim.

— Não me deixe. — Minha voz quebrada grita.

Ninguém responde. Ninguém ouve meus gritos. Ninguém


pode salvar meus pais. Eles se foram.

Mortos.

Assassinados.

Minhas mãos brilham na luz fraca, ensanguentadas e


escorregadias. Uma onda de náusea me atinge. Eu mal chego
alguns metros antes do meu jantar subir de volta pela minha
garganta, meu corpo arfando até que não haja mais nada.

Coloco minhas mãos trêmulas no piso de madeira. Um


caco de vidro empala meu dedo, a dor aguda puxando um silvo
de mim. O sangue jorra enquanto arranco o pedaço grosso do
meu dedo médio.

Lágrimas correm pelo meu rosto antes de pousar no chão,


desaparecendo na trilha de sangue que meu pai deixou para
trás.

Deito no ladrilho liso, puxando meus joelhos em meu


peito, desejando que os assassinos tivessem me levado também.
Meu corpo treme enquanto me balanço para frente e para trás.
Eu desligo a lanterna e permito que as sombras entrem, me
cercando, o silêncio rasgando meu último pedaço de calma.
1

Jax

Nos dias de hoje

— Jax, seu café da manhã está esfriando! O que você faz a


manhã toda no seu quarto? Jogamos fora todas as suas revistas
Playboy anos atrás! — A voz da minha mãe vibra pelo interfone
do meu antigo quarto.

É o que acontece quando visito minha família durante as


férias de inverno. Nada diz mais férias do que chamadas para
acordar de manhã cedo e acusações sobre me masturbar antes
do meu chá da manhã.

Gemo quando saio da cama e pressiono o botão do alto-


falante.

— Estou desapontado com você. A última coisa que quero


ouvir quando estou à beira do orgasmo é a voz da minha mãe.

Sua risada faz o minúsculo alto-falante no meu quarto


estalar.
— Você é nojento. Deus me perdoe por criar alguém com
uma boca tão suja. Desça aqui, seu pai saiu para uma reunião
e eu odeio comer sozinha.

Somos esse tipo de família, com interfones e uma equipe


em tempo integral, porque papai era um boxeador famoso que
construiu uma vida luxuosa com nada além dos punhos. Ele
não luta mais, mas seus investimentos falam por si.

Nós caímos no mesmo escalão financeiro de alta classe dos


idiotas que costumavam rir de papai porque ele veio da pobreza.
Bem-vindo ao lado escuro; temos fundos fiduciários e mais
investimentos do que o maldito mercado de ações.

— Estarei aí em alguns minutos. — Afasto-me da parede e


entro no banheiro, querendo lavar meu torpor matinal.

Eu não tinha planejado visitar antes do início da


temporada da F1, mas mamãe me implorou. É difícil dizer não a
ela, especialmente quando ela diz que não estarei em casa na
Páscoa. Além disso, não é como se eu tivesse planejado muitas
atividades divertidas, visto que Liam está ocupado com Sophie e
Noah passa todo seu tempo livre com Maya. Nosso trio original
depende de mim.

Deus ajude a todos nós.

Pego meu frasco de remédio da bolsa de produtos de


higiene pessoal. Uma linda pílula branca se destaca na minha
pele bronzeada, tentando-me a relaxar. Com uma meia-vida
curta, autorização de um médico americano e a cláusula de
saúde mental da F1, posso tomar um Xanax 10sempre que
quiser. E, ultimamente, parece ser uma tonelada de merda.

Eu, um piloto de Fórmula 1 e extraordinário babaca, sofro


de ansiedade clínica. Se as pessoas ficarem sabendo disso, elas
podem rir muito antes de eu chutar a bunda delas, mostrando a
elas exatamente o que acontece quando eu sinto um tipo
diferente de nervosismo. Por fora, não pareço ansioso, mas por
dentro, sou uma bagunça filha da puta.

Desde que eu era criança, meu cérebro é como um


hamster em uma roda, focando nas mesmas questões
continuamente. Com a ansiedade, vêm os sintomas do ataque
de pânico. Elas me atingem com meus joelhos quase dobrando,
meu peito parecendo apertado e meus dedos tremendo ao ponto
da inutilidade.

Os ataques de pânico começaram há alguns anos,


prejudicando meu humor e minha produtividade. Eles
geralmente surgem quando estou estressado ao máximo, como
quando estou lidando com meus pais ou se fico sobrecarregado
com o futuro. Eles pioraram progressivamente ao longo do ano
passado. Depois de um ataque discreto no meio de uma corrida
que McCoy rotulou de “mau funcionamento técnico”, decidi que
os comprimidos eram minha única solução. Eu não queria fazer
10 É um medicamento que ajuda a controlar a ansiedade, situações de pânico e fobias.
terapia, então encontrei um médico americano que resolveria
meu problema sem compartilhar meus sentimentos. Agora,
Xanax me mantém são o suficiente para garantir que meu carro
de corrida não acabe na parede mais próxima durante cada
corrida.

Eu considero os sentimentos de pânico como minha


penitência por viver minha vida ao máximo enquanto minha
mãe sofre. A merda que está acontecendo comigo é um lembrete
constante dos sintomas semelhantes de mamãe. A doença de
Huntington11 é uma cadela assim, roubando momentos dela
ano após ano. Isso a torna fraca e débil. Meu exemplo e luz da
minha vida experimentam o pior tipo de prognóstico médico,
mas aqui estou eu vivendo uma vida pródiga com F1. Ataques
de pânico e ansiedade parecem pequenos em comparação.

Mas você sabe o que dizem os profissionais: um par de


xannies por dia faz com que as preocupações desapareçam.

Engulo a pílula antes de sair do meu quarto, não estou


mais com humor para ficar com meus pensamentos de merda.
Meus passos ecoam no piso de mármore enquanto caminho por
nossa luxuosa casa. As paredes claras combinam com os tons
claros que mamãe escolheu, criando um espaço acolhedor que
às vezes acho difícil de deixar. Os quartos de hotel em que vivo
cada semana não conseguem comparar.

11 É uma doença hereditária em que as células nervosas do cérebro se rompem ao longo do tempo.
Minha mãe sorri para mim quando entro na cozinha
construída para um chef.

— Se não é meu filho favorito.

— Sou seu único filho, o que significa que sou


automaticamente o favorito. — Eu me aproximo e coloco um
beijo no topo de sua cabeça antes de sentar em frente a ela.

— Você sempre foi uma coisinha atrevida que nunca aceita


um elogio. — Seus dedos trêmulos puxam seus fios loiros e
retos.

Sou o resultado amoroso da herança sueca da minha mãe


e dos genes londrinos pretos do meu pai. As crianças
costumavam me chamar de vira-lata. Embora isso costumava
me incomodar, desde então aprendi que as mulheres gostam
dos lábios carnudos que vieram do meu pai e dos olhos avelã
fundidos dos meus pais. Sem mencionar os cachos macios que
cortei nas laterais e indisciplinados na parte superior.

— Peço desculpas. Onde estão minhas maneiras?

— Provavelmente perdidas em algum lugar entre aqui e


Mônaco. Jackie traz à tona sua noite de cassino todos os anos
como um relógio.

— Essa história ultrapassou a viagem do Príncipe Harry


para Las Vegas. Eu gostaria de dizer que, afinal, sou
possivelmente o britânico mais turbulento. — Levanto minhas
sobrancelhas para cima e para baixo.

Nossa empregada de família, Jackie, coloca meu café da


manhã e chá na minha frente.

— Mesmo que sua mãe o trate como seu pequeno


príncipe, você é tudo menos um membro da realeza.

— Ai. Você estará beijando minhas botas assim que eu for


nomeado cavaleiro. — Eu pisco.

— Por quem? O servidor de garrafas em sua mesa VIP não


conta. — Jackie cruza os braços enquanto se inclina contra a
ilha da cozinha.

Minha mãe dá uma gargalhada.

— Você tem que sair em uma semana?

— Você é a única por quem eu consideraria desistir da F1,


mesmo que por dois segundos inteiros. — Balanço minha
cabeça para ela.

— É um segundo a mais do que ontem. Imagine se eu


mantiver você aqui por meses, então provavelmente conseguirei
o que quero, eventualmente. — Minha mãe leva a xícara de chá
aos lábios. Seus dedos trêmulos fazem com que o líquido
escorregue antes que metade do conteúdo derrame sobre sua
mão e vestido.

— Merda. Deixe-me ajudá-la. — Pego meu guardanapo de


pano e limpo o chá derramado, limpando as gotas de sua pele
pálida.

— Que constrangedor. — Ela suspira.

Meu coração dói com o olhar resignado em seu rosto. Sinto


uma onda de pânico crescendo em meu peito, a queimação
fazendo meus pulmões doerem a cada respiração. Xan, sinta-se
à vontade para começar a qualquer momento.

Exalo uma calma que não corresponde à minha frequência


cardíaca acelerada.

— O que o médico disse ontem?

Ela me envia o menor sorriso.

— Você não precisa se preocupar comigo.

— Mãe...

Ela revira os olhos para mim da maneira mais atrevida,


substituindo sua angústia.

— Certo, tudo bem. Ele disse que podemos monitorar os


problemas recentes que tive com meu humor e movimento. Mas,
no geral, estou indo muito bem. Eles têm grandes esperanças.
— Isso é uma boa notícia, então? Talvez não seja tão ruim
quanto eles pensam.

Sua mão trêmula segura minha bochecha.

— Bem, eles dizem que posso viver alguns anos a mais do


que o esperado.

— Então, você está falando mais quinze anos conosco,


mais ou menos? — Eu me ressinto de como minha voz soa
incerta.

— Não é uma coisa certa. Eu gostaria de poder lhe dar


mais informações, mas isso é tudo que tenho. — Seu sorriso
vacila.

Empurro meu prato de lado, sem vontade de comer.

— E o que ele disse que poderia consertar os tremores?

— A única coisa que podemos fazer é monitorar o quão


ruim eles ficam. Ah, e ele disse para ajudar com o estresse, meu
filho deveria parar de ser teimoso e ficar...

— Não.

— Mas...

— A resposta é não. — Suspiro. — Sinto muito. Odeio


desapontá-la, de verdade, mas não adianta. — Minhas mãos
tremem embaixo da mesa.

— Eu não posso deixar de tentar. Sempre que vou ao


médico, me preocupo com você. Penso em como você fica
ansioso e nos comprimidos que começou a tomar no ano
passado. Benzos12 nem são bons para você, então não tente
minimizar isso. Eu me pergunto se o tremor é por causa de...

— Mãe, por favor, pare de se preocupar comigo. — Minha


voz sai em um sussurro. Merda, odeio como ela pode chegar até
mim como ninguém, mas preciso ficar firme. — Podemos, por
favor, encerrar essa conversa? Vamos aproveitar a última
semana antes de eu ir. Não sei quando poderei voltar sem Liam
e tudo mudando na McCoy. — Minha voz cheira a desespero,
áspera e rachada enquanto olho para ela com os olhos
arregalados.

— Eu vou, por agora, mas apenas porque eu me apaixono


pelos seus olhos de cachorro o tempo todo. Foi assim que você
acabou com quatro cáries aos cinco anos.

— Eu sempre fui um encantador. — Atiro para ela meu


sorriso mais deslumbrante, na esperança de afastar todas as
suas preocupações sobre o assunto.

— Acredite em mim, estou bem ciente das manchetes do


Daily Mail. Você me tentou a vendar meus olhos muitas vezes.

12 Benzodiazepinas são uma classe de fármacos psicotrópicos.


Encolho-me.

— Desculpe, mãe.

— Estou ansiosa para o dia em que você conhecer o tipo


certo de mulher e colocar esses dias de clube para descansar.

Eu ri.

— Encontro e compromisso são duas coisas muito


diferentes.

— Com essa boca inteligente, quem poderia resistir a você?

Jackie pega meu prato inacabado.

— Qualquer mulher que pensa com o cérebro em vez de


com o clitóris.

Mamãe sufoca a risada.

— Jackie, você é horrível.

— Eu sei do que eu falo. — Jackie encolhe os ombros


antes de ir em direção à pia.

— Agora, depois de arruinar meu apetite, o mínimo que


você pode fazer é deixar sua mãe feliz. Você sabe o que eu amo
mais do que tudo.

— Papai?
Ela bufa.

— Essa foi boa. Parece que você pegou suas piadas de


mim, afinal. Gentil Senhor, por favor, leve-me para o nosso
lugar.

— Apenas por você. — Levanto-me e ofereço a ela minha


mão tatuada.

Ela se apoia em mim enquanto nos conduzo pela casa até


a sala de estar principal. O piano de cauda brilha no centro do
espaço. Eu a coloquei em uma cadeira confortável antes de
sentar no banco do piano, virando-me para olhar para ela.

Ela bate palmas e sorri.

— A melhor decisão que tomei como mãe foi forçar você a


ter essas aulas.

— Sério? De todas as opções de coisas que você fez, essa é


a melhor?

— Ai, sim. Seu pai não é bom cantor, então você é a


próxima melhor coisa.

Sorrio enquanto viro minhas costas. Meus dedos correm


levemente pelas teclas de marfim antes de começar a tocar a
música-tema de Jurassic Park.

A voz da minha mãe fala sobre a música.


— Não posso nem dizer que estou brava sobre como você
rejeitou aprender os clássicos para este tipo de música.

— Uma vez rebelde, sempre rebelde.

— Eu não sei disso. De quem você acha que conseguiu


isso? Você cresceu ouvindo histórias de ninar sobre eu
abandonando minha família sem olhar para trás.

— Você era uma rebelde com uma causa. Esse é o melhor


tipo.

— E não se esqueça disso. — Ela pisca para mim. — Toque


Clocks a seguir. Eu sei que você também adora.

Eu me perco na música. Como uma válvula, desligo meus


pensamentos, deixando as preocupações da minha vida
flutuarem com a melodia.

A melodia é assustadoramente bela, ecoando nos tetos


altos. Minha mãe sorri o tempo todo. Ela faz toda a minha visita
valer a pena, apesar da dor em meu peito toda vez que ela luta.

A vida recomeça quando cubro as teclas do piano e ajudo


minha mãe a subir as escadas para o quarto de meus pais.
Suas pernas trêmulas e sua bengala arrancam meu bom
humor, substituindo a felicidade pelo desespero.

Naquela noite, depois que mamãe começa a chorar depois


de deixar cair o garfo três vezes durante o jantar, mando uma
mensagem para alguns velhos amigos de festa sobre ir a um
clube. E como nada, meu mau humor é lavado com álcool e más
decisões.
2

Elena

— Com o cuidado que sua avó requer, não tenho certeza se


as necessidades dela estão sendo atendidas aqui. Ela deve ser
colocada em uma casa mais permanente, destinada a pacientes
de longo prazo. E com seus fundos, não tenho certeza se isso é
possível. — O médico levanta os olhos de sua prancheta.

Tudo sempre se resume a dinheiro.

Quer saber quanto eu tenho? Se você pegasse um euro,


pegasse fogo e jogasse na lata de lixo, isso resumiria minha
conta bancária.

Cada euro que ganhei foi para pagar os cuidados ou as


contas da minha avó. Amadurecer é difícil, mas se tornar adulta
com dívidas é bem pior.

Abuela me avisou sobre me formar em uma universidade


americana, mas não dei ouvidos. Eu queria seguir o desejo do
meu pai de frequentar uma escola nos Estados Unidos, apenas
para saber como os sonhos ficam melhores no papel. O que
deveria ter sido o sonho americano acabou se tornando meu
pesadelo recorrente de altas taxas de juros e empréstimos
excessivos. Inferno, o empréstimo que fiz para o meu diploma
poderia alimentar um pequeno país por um mês.

A dor em meu peito aumenta quando olho para minha avó


– a única conexão que me resta com meu pai. Eu faria qualquer
coisa para mantê-la feliz e saudável enquanto ela viver.

Seus olhos vidrados encontram os meus.

— ¿Marisol?

— Sí. Estoy aquí13. — Empurro o sentimento amargo de


ressentimento em relação a Abuela. Ter um parente com doença
de Alzheimer tem uma maneira engraçada de fazer você ansiar
por coisas simples, como não ser chamado pelo nome de sua
mãe. A ideia faz uma nuvem escura ocupar um lugar sobre
minha cabeça, mas luto contra a tristeza com a lembrança de
meus pais.

Embora eu despreze a amargura sobre minha abuela me


confundir com minha mãe, adoro parecer com ela. As pessoas
dizem que sou uma imagem esculpida, com curvas, cabelo
escuro com ondas naturais e altura média. A única lembrança
de meu pai que me resta são meus olhos castanhos e longos
cílios. Abuela costumava dizer que era o melhor dos dois.

Eu enfrento o médico.

13 Sim, estou aqui.


— Quanto mais essas instalações custam?

— No momento, você está olhando para uma estimativa de


4.000 euros por mês, mais ou menos.

A sala gira enquanto procuro suas palavras. São 48.000


euros extras por ano que não tenho. Estou mal conseguindo
sobreviver com meu pequeno apartamento em Mônaco do
tamanho de uma caixa de sapatos de criança.

— Podemos deixá-la ficar aqui por mais um mês enquanto


você resolve tudo, mas você precisará encontrar outros
arranjos. A condição dela piorou rapidamente, infelizmente, e
nossa equipe não está preparada para ela. O teste não
funcionou.

Luto a batalha para conter as lágrimas.

— Não há mais nada que você possa fazer? Nenhum outro


medicamento que você possa experimentar?

— Nestes casos, não. Sinto muito, Srta. Gonzalez.


Recomendo aproveitar o tempo que você tem e colocá-la em
algum lugar que possa cuidar dela até...

— Certo. — Mordo minha língua para me impedir de dizer


algo da qual me arrependerei.

— Se você quiser voltar para o México, os serviços de lá


são muito mais baratos. Você poderia encontrar uma boa
instalação com seus fundos limitados.

— Vou manter isso em mente.

Nada representa um bom plano como largar meu emprego


e voltar para o mesmo país em que meus pais foram
assassinados. Parece um futuro tão brilhante quanto o
apocalipse.

O médico sai do quarto com um adeus tenso, dando-me


privacidade com a Abuela.

— Nena, como está o Eduardito? — Abuela agarra meu


braço com uma mão frágil. Suas palavras parecem que atingem
meu coração com uma lâmina de barbear.

— Bem. Ele está ocupado trabalhando. — Ele não trabalha


há treze anos, mas quem está contando.

Pare de ser amarga, Elena.

— Por que você parece triste? Diga a ele para ficar mais em
casa com você e a bebê Elena. Eu disse a ele para trabalhar
menos, mas ele não escuta. Ele é teimoso como o pai.

Solto um suspiro profundo, e continuo como se fosse


minha mãe. Não há motivo para lembrar a Abuela que não sou
sua nora e que seu filho está morto. A última vez que mencionei
isso, ela chorou antes de ameaçar ela mesma matar os
assassinos. Foram necessárias duas enfermeiras e uma injeção
de algo poderoso para derrubá-la. Percebi naquele dia como
estava realmente sozinha em minha dor. Abuela não consegue
lidar com a verdade e, no final, não adianta. Os dois bandidos
que queriam ganhar o respeito de um líder de gangue de vilões
matando um embaixador morreram antes mesmo de irem a um
tribunal. É assim que o México funciona. Buscar retribuição é
inútil, com seu sistema quebrado cheio de corrupção e morte.

Por mais uma hora penosa, passo um tempo assistindo TV


e almoçando com ela. Dou um beijo na bochecha de Abuela
antes de me despedir. Assim que saio da clínica, pensamentos
preocupantes de como vou pagar os custos de seu arranjo de
vida me consomem. Não sei o que vou fazer para ajudá-la
enquanto tento não quebrar.

Opção 1: Mudar Abuela para o meu apartamento e me tornar sua


enfermeira em tempo integral enquanto trabalho no meu escritório.

Opção 2: Voltar para o México, também conhecido como o sétimo


círculo do inferno.

Opção 3: Tornar-me uma stripper, embora eu tenha nascido com dois


pés esquerdos e um terrível caso de medo do palco.

Descarto a ideia de voltar para o México. Essa opção é


terrível para minha saúde mental e meu trabalho, solidificando
assim meu raciocínio contra isso. A Abuela precisa da minha
ajuda, o que significa manter meu trabalho deste lado do
hemisfério. Passei anos fazendo conexões europeias no mundo
da F1 e me recuso a desistir delas. Com a ajuda de Elías e
relacionamento com as equipes, construí uma pequena empresa
representando atletas.

Existem empresas maiores que podem fazer meu trabalho?


Claro.

Existem empresas dispostas a se dobrar para ajudar seus


clientes, não importa o momento e a situação? Definitivamente.

Mas essas empresas não podem oferecer o tipo de


atendimento que eu ofereço. Atendo apenas alguns clientes por
vez, construindo sua presença social e colocando-os na melhor
luz com um plano individualizado. Com as referências de Elías,
construí uma base estável de clientes leais. Não é nada
comparado a uma grande empresa de RP, mas é tudo meu. Eu
construí do zero, e não estou disposta a abrir mão voltando
para o México. Isso é como desistir, e papi me ensinou a nunca
desistir, não importa o quão difícil tudo fique.

Volto para o meu apartamento patético que está a um ano


de ser condenado por instabilidade estrutural. A autopiedade
não combina comigo, mas mereço uma noite me afogando em
minhas dores.

Penso em ligar para Elías, mas opto pelo contrário porque


ele está ocupado com as verificações da pré-temporada da F1.
Mesmo meu melhor amigo não pode me ajudar a sair dessa
bagunça. Falar minhas aflições financeiras para Elías sempre
resulta em ele me oferecer dinheiro. Mesmo que eu recuse, ele
faz o que pode, me conectando com outras empresas de F1 para
trabalhar em suas relações públicas. Suas referências então me
recomendam a outras pessoas, o que me ajudou a construir
minha marca como uma consertadora de reputação.

No ano passado, tive minha maior chance depois que um


de meus novos clientes me recomendou para McCoy, uma
lendária equipe de F1. Fui contratada para ajudar um dos
melhores pilotos, Liam Zander, com sua reputação. Embora
esse trabalho fosse um destaque para mim, ele tinha uma data
de validade quando Liam trocou de equipe.

A caminhada de volta ao meu apartamento termina rápido


demais. Subo os degraus frágeis e entro no meu apartamento.
Meu chafurdar continua enquanto pulo o jantar, tomo um
banho e me jogo na cama. Sem adiar o inevitável, pego meu
telefone e reavalio minha conta bancária.

Demora menos de um minuto para entender como estou


ferrada. Jogo meu telefone para o final da minha cama
enquanto a desesperança destrói minha positividade.

— Deus, eu sei que estamos nos dando mal ultimamente,


mas eu ficaria eternamente grata por uma tábua de salvação
agora. Eu pego qualquer coisa. E sejamos realistas, eu poderia
usar um ou três milagres. Acho que paguei minhas dívidas, —
sussurro para o teto.

Minha cabeça lateja quando entendo minha situação.


Lamento minha abuela e a perda de sua memória. Outro ano,
outro teste fracassado. A última conexão com minha antiga vida
está escapando dos meus dedos e não há nada que eu possa
fazer para impedi-la. Abuela nunca vai conhecer meus filhos,
muito menos se lembrar de mim. A tristeza me envolve como
um manto.

Odeio quando a tristeza chega, como uma névoa escura


roubando minha felicidade. O sentimento se apodera de mim
com garras invisíveis e me mantém como refém. Isso não
acontece com frequência, mas quando acontece, toda a minha
vida vira de cabeça para baixo.

Meu telefone zumbindo interrompe meus pensamentos. Eu


me movo para pegá-lo no canto da minha cama. Um número
desconhecido pisca na tela e eu atendo sem hesitação.

— Olá?

— Oi, é Elena Gonzalez? — Uma voz masculina me


cumprimenta.

— Sim, é ela. — Minha voz falha.

— Ótimo. Meu nome é Connor McCoy. Recebi suas


informações de contato porque você trabalhou para Peter McCoy
no ano passado. Não tenho certeza se você está atualizada com
tudo, mas ele teve que tirar uma licença permanente, então
assumi o cargo. Eu sei que a temporada está prestes a começar,
mas preciso da sua ajuda com um projeto de relações públicas.

— Que tipo de projeto? — Precisa de tudo em mim para


controlar minha voz, não querendo que cheire a desespero.

McCoy tem apenas dois pilotos. Elías, que é novo na


equipe depois que Liam saiu na temporada passada, e o outro...
bem... eu sei o suficiente.

— Queremos contratá-la para um trabalho privado. Requer


muito do seu tempo, incluindo um contrato de exclusividade e
um acordo de não divulgação.

— Quais são as estipulações? — Permaneço indiferente,


apesar de meu corpo zumbir com antecipação. Nesse ponto, se
não envolver tirar minhas roupas, sou totalmente a favor.

Inferno – até isso parece tentador depois de verificar meus


fundos.

— Estaríamos pagando a você oito mil euros por mês


durante dez meses, a partir de março deste ano. Além disso, um
bônus de vinte mil euros se você conseguir chegar ao Prêmio
final, na primeira semana de dezembro. — Ele faz a segunda
frase soar como uma oração. — Queremos que você trabalhe
exclusivamente com Jax Kingston. O trabalho incluiria ficar de
olho nele e ajudar a impulsionar positivamente sua presença na
mídia.

Cem mil euros? Por esse tipo de dinheiro, eu faria


qualquer coisa.

— Tenho alguns clientes que preciso consultar. Se estiver


tudo bem, então posso absolutamente ajudar com o que você
precisar.

Connor analisa as partes principais do meu contrato,


listando tudo o que preciso fazer durante a temporada de
corridas. Seu plano é inteligente e bem pensado. Digo sim com
um pouco de medo, sabendo que não posso resistir a resposta
às minhas orações.

Nem todos os heróis usam capas. Acontece que alguns


usam tatuagens do rock fodão e um traje de corrida McCoy.
3

Jax

Quando eu tinha sete anos, meu pai me jogou na frente de


um saco de pancadas depois que dei um soco em uma criança
no pódio de uma corrida de kart. Eu estava com raiva do jovem
idiota que zombava do relacionamento dos meus pais. Naquele
dia, meu pai me olhou nos olhos e disse que eu precisava
afugentar meus demônios. Infelizmente, depois de todos os
esforços do meu pai, parece que decidi correr ao lado deles.

Os demônios vêm em todas as formas e tamanhos. Raiva.


Ansiedade. Uma aversão ao futuro. Os meus tentam-me a
submeter-me a Xanax para ter alguma paz de espírito. Não sou
viciado em drogas. Eu juro. Mas estou viciado no alívio
temporário que um Xan proporciona.

Imagino que o paraíso é muito parecido com a minha


cabeça depois que a pílula faz efeito – silencioso, calmo e muito
menos escuro.

Não era minha intenção que minha vida desse uma


guinada tão drástica este ano. À medida que a condição de
mamãe se torna mais generalizada e papai fica desesperado
para ajudá-la, brinco com a instabilidade. Eu cedo aos meus
vícios quando as coisas ficam difíceis. Mas com a evasão vem a
ansiedade, como um trem de carga me atingindo quando menos
espero.

Correr me mantém são. Algumas pessoas dizem que não


acreditam no amor à primeira vista, mas para mim, foi isso. Eu
me apaixonei pela adrenalina – uma amante desagradável que
me deixa tão rápido quanto veio. Eu corro atrás dela de
qualquer maneira que eu possa tê-la. Beber, dirigir, foder –
todas as atividades indutoras de adrenalina para manter o
nervosismo dentro de mim sob controle.

— Você com certeza bagunçou as coisas. — Connor McCoy


me encara em toda sua glória. Em vez de me divertir em
Melbourne antes do início da temporada, posso estacionar
minha bunda dentro de uma sala de conferências.

— Eu estraguei tudo. Você sabe, eu sei, até Elías, meu


novo companheiro de equipe, sabe disso.

— O que você fez é preocupante. Porra — Connor fecha os


olhos azuis e aperta a ponta do nariz — não destrua minha
confiança e me force a encontrar uma solução diferente para
controlar sua ansiedade. — Seu sotaque britânico tem um toque
especial.
— Não vai acontecer de novo porque aprendi minha lição.
Essas pílulas não combinam bem com o álcool, não importa o
que as canções de rap digam. — Não considerei os efeitos
colaterais da mistura dos dois, visto que o Xanax só
recentemente se tornou minha mais nova muleta para aliviar
minha ansiedade.

A mandíbula de Connor aperta.

— Pare de foder as coisas. Havia vídeos de você dançando


nas mesas, agindo como um homem selvagem, antes de
desmaiar ao lado de um mictório.

Contenho a vontade de me encolher.

— Odeio dizer que não sou um homem de classe e honra


nas primeiras horas da manhã.

— Sua idiotice pode competir com um reality show da


Bravo.

Deixo minha boca aberta em falso choque.

— Estou quase insultado. Ao contrário desses programas,


minha vida tem uma história cativante.

Sua expressão sombria me endireita.

— Seja sério. Entendo seu motivo de estar chateado. Sinto


muito pela sua mãe. A minha visitou a sua semana passada, e
ela me disse que não foi muito bem.

— Não faça isso. Nós não a trazemos aqui, — eu estalo.

Foda-se a mãe de Connor por fofocar sobre a minha. Você


pensaria que, sendo Londres uma cidade enorme, os ricos
ficariam em suas próprias mansões, longe uns dos outros. Mas
não, a mãe de Connor frequenta um clube semanal de novelas
obscenas com a minha.

— Ok. Que tal você avaliar sua imagem pública? As


crianças admiram você, pelo amor de Deus. O que você está
fazendo não está fazendo maravilhas pela sua carreira, com
patrocinadores e fãs questionando sua estabilidade.

— Acho que você tem sorte de eu ter apenas mais um ano


de contrato antes de ser renovado.

Connor puxa seu cabelo loiro.

— Não. Você tem sorte de eu gostar de você, apesar do


quanto você é um idiota. Pelo menos gosto de você o suficiente
para defender sua posição perante o conselho de patrocinadores
que não gostam de mim como eu sou. Eu me recuso a dar a
esses idiotas preguiçosos o que eles querem, então controle sua
merda. Com a saída de Liam, você é a única esperança da
empresa de subir ao pódio.

— Vou tentar o meu melhor. — Engulo de volta o


arrependimento. Connor não precisava enfrentar o conselho,
mas o fez como um favor para mim. E por isso, sou grato.

— Quero ter certeza de que deixei meu ponto claro. — O


olhar de urso de pelúcia de Connor não tem o mesmo impacto
do seu antecessor, Peter. Mas pelo menos ele é um cara positivo
que zomba menos, além disso, ele aguenta minhas merdas.

— Acredite em mim, entendi. A semana passada foi um


lapso de julgamento. — A culpa pesa dentro do meu maldito
peito, apertando meus pulmões como uma jiboia.

— Mais como se a semana passada fosse uma semana


difícil para sua família, que você experimentou em primeira
mão. Mas, com a condição de sua mãe e sua imprevisibilidade,
não posso correr o risco de que isso aconteça novamente
durante a temporada. A imprensa está dizendo que você está
em uma espiral descendente e não podemos permitir isso.

— Vou melhorar e não voltarei a cometer erros. Me chame


de um cara de garrafa de uísque pela metade.

A semana passada foi difícil, para dizer o mínimo. Usei


álcool para amenizar a tortura de ficar sentado enquanto
mamãe luta contra seu próprio inferno. Tremores. Mudanças de
humor. Todo o espectro de sintomas do caralho atrapalhou
nossa semana juntos.
Connor me encara.

— Estou falando sério. Você sabe que existem opções


melhores para manter os sintomas de ansiedade, certo?

— Diga-me, como se diz que eles não se importam porque


não adianta?

— Bem, eu vejo um ponto, então eu resolvi seu problema


com minhas próprias mãos. Pense em mim como seu fada
padrinho.

— Prefiro a versão de Al Pacino a um conto de fadas da


Disney.

— Bem, esteja preparado para minha oferta que você –


literalmente – não pode recusar.

Bato lentamente minhas mãos algumas vezes da maneira


mais sarcástica possível.

— Certo. Mal posso esperar para saber qual é o seu grande


plano.

— Como estou ocupado com todas as porcarias que Peter


deixou para trás, contratei alguém especial. Achei que seria
bom para você ter uma ajudinha de RP individual.

Amaldiçoo para mim mesmo enquanto inclino minha


cabeça contra o encosto da cadeira. As equipes de RP são as
piores, contribuindo com nada além de dores de cabeça e
julgamentos.

Os olhos perceptivos de Connor encontram os meus.

— Não vou compartilhar o que está acontecendo com sua


mãe para a representante de relações públicas porque minha
mãe iria me matar. Mas seus problemas com álcool e modos de
festa estão em discussão. Sempre que você sentir vontade de ser
um babaca, pense na equipe e na sua chance de um Mundial
este ano. Você realmente quer explodir?

— Não, eu não. — Respiro fundo quando alguém abre a


porta.

Olhos cor de uísque me encaram, emoldurados por cílios


grossos. Seu nariz fino termina antes que meus olhos pousem
em seus lábios carnudos. Picada de abelha não cobre isso. Mais
como se ela tivesse corrido direto para um ninho de vespas e
seus lábios perderam a batalha, tanto a parte superior quanto a
inferior do mesmo tamanho. Cabelos ondulados e escuros caem
ao redor dela, caindo sobre seus seios, balançando contra sua
blusa de seda. Sua roupa enfatiza sua figura, as curvas dela em
exibição, implorando para que eu me ajoelhe na frente dela
como a porra de um altar.

Elena é tudo que eu gosto em uma mulher. Quadris que


quero agarrar, uma bunda que quero ver enquanto a fodo por
trás e seios que eu não me importaria de beijar ao redor. Mas
com ela, não tenho a capacidade de pensar com meu pau.

De alguma forma, contenho um gemido quando minha


cabeça se levanta do encosto da cadeira.

— Elena, legal ver você aqui.

— Jax, não posso dizer que sinto muito por estar de volta.
— Ela se senta à minha frente e estende a mãozinha. Eu agarro-
a com uma mão tatuada, ossos falsos em preto e branco
envolvendo os dela enquanto aperto seus dedos. Um zumbido
de reconhecimento zumbe em mim. O desejo quente e ardente
faz minha mão apertar a dela com mais força enquanto meu
pau registra sua presença. Eu franzo a testa, odiando a maneira
como um toque dela me confunde.

A última vez que vi Elena, Liam anunciou que estava


deixando McCoy depois de ser vice-campeão. Com sua partida,
pensei que estava livre dela. Mas como o idiota que tenho sido
ultimamente, eu estava tão errado.

Eu não gosto de estar perto de Elena mais do que preciso.


Elena tem esse jeito de me olhar como se soubesse que há algo
estranho em mim. Como se ela quisesse me ver. Não o cara que
chega ao pódio toda semana. Não o homem com centenas de
tatuagens, parecendo um fodão, mas falhando por causa de
decisões erradas. E definitivamente não o cara que dorme por aí
para cobrir o vazio que sente a cada dia de sua vida.

E se há algo que aprendi nos últimos anos enquanto


observava minha mãe lutando, é que não posso me dar ao luxo
de alguém descobrir meus segredos. Para ser honesto, Elena
não poderia se dar ao luxo de ter um pedaço da minha mente,
mesmo que ganhasse na loteria três anos consecutivos.

Connor bate palmas.

— Liguei para Elena depois que ouvi que ela trabalhou


com Liam e você no ano passado. Achei que seria melhor
contratar alguém que você conhece.

Mais como alguém que eu sei que quero foder, mas um A


pelo esforço.

— Há quanto tempo. Férias no inferno?

— Lúcifer pediu para você passar por lá em breve. Diz que


tem um lugar especial pronto para você. — Seu sotaque embala
nas palavras, um ritmo melódico capturando minha atenção.

— Só se eu conseguir arrastar você para lá comigo. Afinal,


o inferno só é divertido quando estou com a melhor guia
turística.

Connor bate palmas e sorri para nós.

— Bem, que bom que vocês dois se dão bem, visto que
Elena será sua fã favorita nesta temporada.

Meus olhos vão de Connor para Elena.

— Eu realmente espero que isso não signifique o que você


está insinuando.

Elena ri do meu tom áspero, seus olhos brilhando sob as


luzes.

Connor entrega a Elena um passe de acesso exclusivo da


F1.

— Elena vai ajudá-lo a consertar sua imagem. Ela ficará


com você durante todo o cronograma do Prêmio para mantê-lo
na linha.

Minha mandíbula aperta a ponto de estalar.

— E o que diabos isso implica?

— Elena assinou um contrato onde ela vai morar com


você, certificando-se de que você tem os melhores interesses de
McCoy no coração. Cobriremos todas as despesas dela porque
queremos que ela se concentre em ajudá-lo. Além disso, ela
estará com você nas férias de verão, onde quer que você decida
ficar. Visto que a semana passada não correu tão bem, acho
melhor garantir que alguém te vigie durante toda a temporada,
incluindo as férias.
Não só tenho que sair com essa megera, mas agora tenho
que viver com ela? Puta merda. Se há uma coisa da qual tenho
certeza é que não mereço esse tipo de carma.

— Isso tem que ser uma piada. Eu não me inscrevi para


receber uma bola e uma corrente. — Minhas palavras saem em
um meio rosnado.

— E eu não me inscrevi para um piloto com bolas de gude


soltas o suficiente para estragar um jogo de Mancala14. —
Connor me lança um olhar agitado.

— E o que você espera que façamos? Trançar o cabelo um


do outro e assistir filmes juntos?

Os olhos de Connor deslizam de mim para Elena, lançando


lhe um sorriso caloroso.

— Ignore seu acesso de raiva. Ele vai se acostumar a ter


você por perto. — Porra de chance de isso acontecer. — Espero
que estejamos bem a partir daqui, mas você pode me enviar
uma mensagem se tiver alguma dúvida. — Ele olha para mim e
silenciosamente murmura se comporte antes de sair da sala.

— Bem, você reagiu como eu esperava. — Ela cruza as


pernas, chamando minha atenção para elas. Seus jeans grudam
em seu corpo e enfatizam tudo que preciso evitar.

14 Os mancalas constituem uma família de jogos em que o tabuleiro consiste de duas, três ou quatro
fileiras de buracos, nos quais são distribuídas pedrinhas.
— Parece que você passou de representante de relações
públicas para babá glorificada. Sempre quis viver essa fantasia.
Importa-se de interpretar?

Ela bate a mão bem cuidada no joelho.

— Só se você prometer dormir às dez horas.

— Isso pode ser arranjado depois de uma boa foda.

Um rubor saudável rasteja em suas bochechas enquanto


seus olhos percorrem minha parte superior do corpo. Sento-me
mais ereto, apreciando o zumbido de sua leitura. Da mesma
forma, o sangue em minha cabeça corre para outro lugar. O tipo
mais divertido que não se importaria de fazer Elena corar em
circunstâncias diferentes.

Seus olhos se estreitam.

— Você não consegue adormecer assistindo a um


programa da Netflix como todos nós?

— Onde está a diversão nisso?

— Falando em diversão, tenho algumas regras, já que


vamos morar juntos. — Ela joga o cabelo por cima do ombro,
evitando meu olhar.

— Não esperava nada menos de você.

Ela puxa um iPad da bolsa, sem perceber minha atração


por ela. A mesma deixando meu jeans desconfortavelmente
apertado e minha respiração pesada.

— Você durou três meses sem minha ajuda. Eu verifiquei


sua presença nas redes sociais e parece que temos um trabalho
difícil para nós. Como sua imagem atingiu o ponto mais baixo
de todos os tempos, não há outra maneira senão subir.

— E o que exatamente isso implica? Você será minha


namorada falsa? Eu amo esse tipo de história.

Ela revira os olhos.

— Nem mesmo uma namorada pode te salvar de sua


reputação. Tenho planejado diferentes passeios e experiências
para tornar sua personalidade tão limpa que você rivalizará com
uma estrela da Disney Channel.

Levanto uma sobrancelha.

— Antes das drogas e do álcool?

Elena ri. Eu odeio o jeito que soa – suave, despreocupada,


não contaminada pela angústia. Enquanto eu luto contra o
cansaço e o pessimismo ocultos, ela irradia esperança e calor.
Estou tentado a testar quanto tempo leva para estourar sua
bolha de positividade.

— Certo. Mas antes de começarmos, preciso que você me


conte o que aconteceu durante sua aventura de uma noite com
um mictório de clube.

Uma risada gutural escapa da minha boca. O som é


estranho, especialmente depois da minha semana infernal.

— Bem, quando um homem e uma mulher se amam


muito...

Ela joga uma caneta em mim. Ela quica no meu peito


antes de rolar de volta para ela.

Eu esfrego meu peito.

— Violência nunca é a resposta.

— Diz o cara que quebrou recentemente uma câmera de


paparazzi no valor de dois mil euros.

— Ok, a violência geralmente não é a resposta, mas os tons


racistas do repórter me irritaram. Ei, de uma perspectiva de
relações públicas, pelo menos eu paguei por uma nova.

— Atirar mil euros na cara dele não conta.

— No entanto, ele se curvou mais rápido do que minha


última foda para pegar as notas.

Ela faz uma careta para mim.

— Então, a história do clube?

Se ela não está me deixando livre hoje, mal posso esperar


para ver como será o resto da temporada.

— Durante o intervalo, tomei uma decisão estúpida


quando bebi e tomei um medicamento antiansiedade na mesma
noite. Verdade honesta. Portanto, é seguro dizer que a noite não
saiu como eu queria.

Seus olhos se suavizam, perdendo a dureza que tinha


momentos antes.

— Eu não sabia que você precisava de medicamentos para


controlar sua ansiedade.

Encolho os ombros.

— Poucas pessoas sabem.

— Você já tentou falar com um psicólogo para ajudar a


controlar seus sintomas de ansiedade? Ou você reconsiderou
sua medicação atual?

— Não, porque isso envolveria falar e eu absolutamente,


sob nenhuma circunstância, gosto de falar sobre meus
sentimentos. Foda-se, então não se preocupe em tentar. Eu
tenho um médico americano contratado que faz o trabalho
muito bem. — Bato meus dedos contra a mesa.

Ela me encara. É perturbador o quanto presto atenção às


manchas douradas em seus olhos castanhos. Absolutamente
positivamente desestabilizadores.

— Você precisa ser honesto comigo. Há algo mais que


preciso estar atenta além de crises de ansiedade?

Suas palavras ativam o cronômetro sinistro na minha


cabeça. Eu afasto a onda de ansiedade crescendo dentro de
mim, não querendo surtar na frente dela.

— Não. Apenas minha passagem habitual com uma


garrafa de Jack. Somos mutuamente exclusivos, então, por
favor, não tenha ideias.

Ela rola os olhos pela metade e balança a cabeça,


desviando sua atenção de volta para o iPad.

— Falando em álcool... posso não fazer parte do clube da


babá, mas ainda tenho algumas regras.

— Minha parte favorita das regras é encontrar uma


maneira de quebrá-las.

— Jax...

O som do meu nome deixando seus lábios envia uma onda


de energia por mim. Seus olhos queimam, tentando-me a exigir
mais de uma reação dela.

Pare de ser um idiota total.

— Certo, tudo bem. Deixe-me ouvir como você quer sugar


a diversão desta temporada. — Um pequeno sorriso puxa os
cantos dos meus lábios enquanto ela gira nervosamente seu
lápis Apple. Pelo menos eu a deixo tão inquieta quanto ela me
deixa.

— Primeiro, você precisa parar com o álcool. Não estou


dizendo para você parar completamente, mas praticar o
autocontrole. Não posso tirar você de um banheiro qualquer,
muito menos ajudá-lo a caminhar de volta para o nosso quarto
de hotel.

Por que meu pau lateja na minha calça jeans com o


pensamento de nós compartilhando um quarto de hotel? Isso é
bastante... incomum. A ideia de dividir um espaço com uma
mulher no passado me faria rir a ponto de chorar. Mas com
Elena, eu acho atraente, a proibição de nossa situação como
um afrodisíaco da pior espécie.

Rangendo os dentes, eu aceno.

— Justo. Eu também não quero beber como no intervalo.


— Às vezes não consigo evitar e o álcool turva meu cérebro o
suficiente para me oferecer um alívio temporário. Mas pela
minha chance no Campeonato, vou tentar lutar contra meus
problemas de uma forma diferente durante esta temporada.

Tentar sendo a palavra-chave.

— Segundo, você precisa ser honesto comigo. Se algo der


errado, quero saber para poder ajudá-lo. Se eu descobrir no dia
seguinte nos jornais, será tarde demais e vou ficar irritada.

— Ok. — Aceno com a cabeça em sua segunda regra


porque uma Elena furiosa parece quase tão divertido quanto
bater meu carro durante a primeira volta de um Prêmio.

— Próxima...

— Foda-se. Quantas regras você digitou? — Cruzo meus


braços contra meu peito. Seus olhos permanecem nos meus
antebraços antes de voltarem para o meu rosto, pegando meu
sorriso desonesto.

Ela cora enquanto coloca uma mecha de cabelo solta atrás


da orelha.

— Só mais algumas. Se nós dois voltarmos para a suíte à


noite, é isso. Sem sair. Eu quero confiar em você, o que significa
que você não pode fugir para fazer Deus sabe o quê.

— Deus pode não saber, mas o Diabo com certeza aprova.


— Meu sorriso fica mais largo enquanto suas mãos inquietas
voltam a girar nervosamente seu lápis.

— Certo... bem, de qualquer maneira, sem fugir. Este


trabalho significa muito para mim e preciso poder confiar em
você. Eles estão me pagando muito dinheiro para ajudá-lo. —
Seus olhos disparam para o lado.
— Bem, amor, pelo menos o pagamento no final de tudo
vai mantê-la por perto. Não finja que você não gosta de ajudar
idiotas como eu, que são mais fodidos do que a Casa Branca de
Donald Trump.

— Não. Eu adoro ajudar as pessoas a atingirem seu


potencial máximo. E eu vejo o que você pode ser se deixar para
trás essa terrível imagem pública.

— Não force muito os seus olhos. Você pode não gostar do


que vai encontrar, afinal.

— Eu não preciso gostar de você para fazer meu trabalho.

Bem, merda, ela me pegou.

Elena toca em seu tablet.

— Última coisa. Eu vou te seguir em quase todos os


lugares. Faz parte do meu contrato. — Ela morde o lábio,
revelando a ponta de seus dentes brancos.

É sobre como ela me dá uma semiereção com um olhar e


uma mordida do lábio. Meu pau não entende porque Elena é
uma má notícia. A pior notícia do caralho, pior do que o
príncipe Harry deixando a família real, e essa merda foi
catastrófica.

Caro pau, por favor, conheça a rocha e o lugar difícil no qual


você ficará preso nesta temporada.

— Isso significa que compartilhamos um quarto? Sempre


quis um travesseiro humano para abraçar.

Ela solta um suspiro falso.

— Você diria algo assim. Os quartos não estão incluídos.


Realmente, pretendo manter uma classificação para menores de
13 anos entre nós, então...

— Ouvi dizer que filmes para menores de 13 anos têm


cenas sensuais agora... — Solto um assobio baixo.

— Meu Deus. Nada disso vai acontecer entre nós.

A maneira como seus olhos se iluminam enquanto ela ri


me preocupa, porque estou tentado a fazê-la rir de novo.
Permaneço em silêncio, tentando envolver minha cabeça em ter
que passar meses com alguém como ela.

Google, como se diz estou fodido em espanhol?

Ela fechou a capa do iPad.

— Sério, Connor não incluiu uma cláusula de


relacionamento entre colegas de trabalho, mas é um dado
previsto por que não estamos buscando essa opção.

Claro, Connor não incluiu algo assim. Ele quer reivindicar


um pedaço de traseiro sexy. F1 tem poucas mulheres
trabalhando na indústria porque elas evitam nosso ambiente de
trabalho hostil, envolto em sexismo e manipulação.

Apesar de Connor não incluir uma cláusula, preciso me


lembrar de manter distância dela. Não importa o que aconteça,
ela e eu não podemos acontecer. É a razão pela qual me
ressinto de estar perto dela mais do que o necessário. Ela causa
reações às quais não estou acostumado, que não quero
explorar, não importa o quanto goste de seu tipo de atitude.

Eu não entendo esse tipo de história.

Enquanto meus amigos estão prontos para um final direto


da última comédia romântica cafona, eu sou mais adequado
para a Patrulha da Noite de Game of Thrones – isolado até o dia
da minha morte.
4

Elena

Bem-vindo ao inferno. População: Dois.

Na semana passada, quando Connor ligou e me deu um


resumo sobre meu trabalho este ano, ele me disse como eu
precisava morar com Jax. É o meu contrato mais estranho até
agora, mas eu não poderia dizer não aos milhares de euros que
ele ofereceu. Com tudo em jogo, estou disposta a fazer qualquer
coisa para reavivar a reputação de Jax.

Connor explicou os problemas de nível superficial com Jax


e por que McCoy precisa que ele seja o melhor nesta temporada.
Com Liam trocando de equipe este ano após uma briga com o
ex-CEO da McCoy, Peter, Jax é o novo rosto da empresa. Esta
temporada é a melhor chance de Jax ganhar um segundo
Campeonato Mundial.

Com todo o novo estresse, Connor está preocupado que


Jax pode quebrar. Estou aqui para ter certeza de que ele lide
com a pressão com o bônus adicional de eu corrigir sua
imagem.
Jax e eu entramos em nossa extravagante suíte de hotel.
Se eu quiser abordar a vida de forma mais positiva, posso
destacar o espaço de 185 metros quadrados com sua própria
área de jantar, sofá de canto e quartos separados. Exceto um
olhar para a figura enorme ao meu lado joga minha positividade
para fora da janela de nossa cobertura.

Nenhuma área parece grande o suficiente quando tenho


que passar um tempo com Jax dia após dia. Eu mal consegui
sair ilesa na última temporada trabalhando perto dele. Jax me
impediu de chegar a qualquer lugar em sua vizinhança além
das sessões forçadas de relações públicas com Liam. Sempre
que estávamos na mesma sala, Jax evitou qualquer conversa
comigo. Eu levaria isso para o lado pessoal, se não fosse pelo
fato de que a maioria dos atletas odeia trabalhar com
representantes de relações públicas.

No começo, quando comecei a trabalhar com pilotos,


pensei que fosse minha personalidade. Mas alguns anos nesta
linha de trabalho me ensinaram que ninguém gosta de ouvir o
que fazer, especialmente atletas arrogantes que têm habilidades
auditivas semelhantes às de uma criança. Meu trabalho me
ajudou a construir uma tolerância para idiotas cujos egos são
tão grandes que eles poderiam se inscrever para obter seu
próprio código postal.

Elías me pergunta todos os anos por que escolho trabalhar


como relações públicas para os maiores babacas da Europa. A
resposta é simples: não gosto de pessoas perfeitas. Os empregos
mais desafiadores são os melhores, então dê-me todas as
pessoas quebradas que precisam desesperadamente de alguém
para ajudá-los. Esses são os clientes de que gosto. Aqueles que
são assumidamente eles mesmos, uma e outra vez. Eles são
meu tipo favorito porque acho a jornada para ajudá-los a chegar
ao topo ainda mais emocionante.

Apesar da minha resiliência e experiência, Jax me provoca


como nenhum outro, com sua aversão por mim. Não consigo
entender por que isso me incomoda, muito menos entendê-lo.
Mas não sou idiota. Eu vejo como ele trata os outros e –
novidade – não é tão reservado como ele age comigo.

Isso afeta minha autoestima? Não.

Isso afeta minha paciência? Caramba, sim.

Não sei o que fazer com ele, mas estou na missão de


aprender tudo o que há para saber sobre ele. Jax usa a
angústia como um acessório. O preto tende a ser sua estética, a
menos que ele precise usar a marca branca de McCoy. Seu
guarda-roupa diário inclui Doc Martens15, camisetas e jeans
rasgados. Ele enfeita jaquetas com slogans e decora seus dedos
tatuados com anéis. Para resumir, ele é ruim até o último osso
britânico em seu corpo.

15 Marcas de botas.
Não importa o quão atraente ele seja, seus olhos castanhos
cautelosos gritam para ficar fora de seu caminho. Sem
mencionar que sua atitude em relação a mim é tão amigável
quanto andar em um beco escuro à meia-noite.

— Bem-vinda à terra dos ricos. Aproveite enquanto durar.


— Ele acena com a mão ao redor da suíte como um episódio
meia-boca de MTV Cribs.

— Uau, forma de definir o padrão com sua recepção


calorosa. Muito obrigada. — Fico olhando para ele, tentando
não me demorar em como sua camisa destaca músculos
protuberantes e braços cobertos por tatuagens.

Jax tosse, chamando minha atenção novamente. Seus


olhos têm uma leveza rara.

— Se você quiser ver minhas tatuagens de perto, tudo o


que você precisa fazer é pedir.

— Não estou interessada, mas obrigada pela oferta.

— Algumas mulheres implorariam por uma chance de vê-


las em toda a sua glória.

Eu torço meu nariz.

— Se é isso que as mulheres imploram, elas deveriam


reavaliar suas prioridades.
Sua risada arranca um sorriso de mim.

— Não destrua as prioridades dos outros. Nem todo


mundo é tão masoquista que se oferece para trabalhar comigo.

— Isso é muito vindo de um cara que gosta de explodir sua


carreira em merda como um passatempo.

Ele passa a mão pela barba por fazer.

— Há uma coisa que eu gosto de explodir, e posso garantir


que não é minha carreira.

Seguro a risada que quero desesperadamente deixar


escapar.

— Vamos jogar um jogo: você fica quieto e não fala mais.


Sua boca vai te causar problemas.

— Você ficaria surpresa com os tipos de problemas em que


posso entrar silenciosamente. — Ele me lança um sorriso
malicioso.

— Surpresa? Provavelmente. Interessada? Definitivamente


não.

— Vou gostar de ter você por perto. Não há nada que me


faça continuar como alguém decidida a resistir a mim.

— Resistir a você insinua que estou interessada em


qualquer coisa mais do que ajudá-lo.

— Eu voto que ajudando-me a gozar é o mesmo que


consertar minha reputação. O que você diz?

Jogo nele o meu melhor olhar de não se ache demais. Pego


minha bagagem e vou em direção ao meu quarto.

— Vou tirar uma soneca e tomar banho antes da entrevista


coletiva.

— Já está dormindo no trabalho?

Solto um suspiro profundo, não com humor mais para sua


provocação.

— Connor te mandou um e-mail com as perguntas e


respostas que eu planejei ontem. Acha que consegue lê-las?

— Já feito.

Congelo, pega de surpresa.

— Sério?

— Sim, ao contrário da sua opinião sobre mim, eu posso


ler. Muito rapidamente também, se é que posso dizer. Agora,
desde que sou um bom menino, você pode configurar a telly
com meu desenho animado favorito para se certificar de que eu
não fique entediado? — Ele se joga no sofá da sala.
Minha sobrancelha arqueia.

— Telly? — Preciso pesquisar as gírias britânicas no


Google porque algumas das coisas que ele diz não fazem sentido
sem pistas de contexto. Quem começou a chamar porta-malas
de bagageiro de qualquer maneira?

— Televisión. — Seu falso sotaque espanhol sai de sua


língua enquanto ele aponta para o controle remoto na mesa de
TV ao meu lado.

Tento com tudo em mim não sorrir.

— Vejo você em algumas horas. — Escolhendo ignorar seu


pedido, entro em meu quarto e fecho a porta atrás de mim.

— Eu posso fazer isso. Pense nisso como qualquer outro


trabalho. Um trabalho com um homem cuja voz ativa todas as
terminações nervosas do meu corpo, mas um trabalho, no
entanto. — Sussurro para mim mesma enquanto desempacoto
minhas roupas.

Um banho quente me prepara para o sucesso, livrando-me


do jet lag que senti antes. Eu me deito e fecho meus olhos,
desejando encontrar paciência para lidar com Jax.
Após minha soneca de uma hora, eu me visto. Uma blusa
de seda e calças de cintura alta são meu traje usual – simples,
básico e profissional. Meus acessórios incluem saltos e meu
iPad.

Saio do meu quarto para encontrar Jax descansando no


sofá, batendo uma bota contra a mesa de café enquanto ele
preguiçosamente muda de canal. Seus olhos passam por mim.
Como se meu corpo rastreasse o movimento, minha pele
aquece.

Uau. Se essa é a sensação que tenho com um simples


olhar, estou ferrada para a temporada. Talvez a ideia de colega
de quarto não fosse a melhor, afinal. Ele consegue causar uma
sensação de vibração no meu estômago com um olhar e um
simples puxão de seus lábios.

— Estou impressionado. Você saiu com dois minutos de


sobra. — Ele bate em seu relógio caro. — Normalmente, as
mulheres estão sempre atrasadas.

— Ao contrário da adorável companhia que você teve


antes, eu costumo chegar na hora certa. Especialmente para
horários que eu crio.

— Bem, eu me apressei, então espero que meu cabelo


pareça bom. — Ele passa o dedo pelos cachos, cortados até o
crânio nas laterais, enquanto parece selvagem no topo. Meus
dedos coçam para verificar se eles são tão sedosos quanto
parecem. Seus ossos faciais definidos parecem gravados em
metal bronzeado, perfeitamente equilibrados com lábios suaves
e beijáveis.

— Seu cabelo está bom, mas seu sorriso parece um


pesadelo. — Mexo com a alça da minha bolsa.

Seu sorriso faz minha pele parecer que alguém aumentou


o termostato da sala.

— Nós vamos nos divertir juntos. Nada que eu goste mais


do que uma garota que dá tanto quanto pode pegar.

— De alguma forma, você faz as coisas parecerem mais


pervertidas do que o necessário.

— É um talento.

— Um talento para fazer toda mulher sã correr na direção


oposta à sua.

Ele balança a cabeça.

— Eu não quero as sãs. Onde está a diversão nisso?

— Para alguém como você, posso imaginar que é um pouco


chato estar com alguém estável.

— Eu não sei. Você parece estável, mas aposto que é


selvagem na cama. Mais ou menos como o olhar que você tem
ao me examinar quando pensa que não estou olhando.

Engasgo com a minha inspiração repentina.

— O quê?

— Está tudo bem, amor. Seu segredo está seguro comigo.

— Tão seguro quanto foder um encontro de uma noite sem


preservativo.

Jax solta uma risada alta.

— Talvez ter você por perto não seja um pesadelo total,


afinal.

Espere, o quê?

Ele atende o zumbido do telefone.

— O carro está aqui.

Ando até a porta do hotel.

— Não vamos nos atrasar para a sua primeira conferência


porque isso não dá uma boa imagem em tudo.

— Ser bom é chato e detesto ser chato. — Jax me segue


até o corredor.

Escondo meu sorriso atrás do meu cabelo enquanto


caminhamos em direção ao elevador.
— Você não poderia ser chato se tentasse.

— Cuidado agora. Você vai me fazer pensar que está


flertando comigo. — Manchas douradas e verdes giram em torno
de seus olhos.

— Flertar com você significa que primeiro tenho que gostar


de você. E bem, isso é um não meu, burro.

— Mentirosa, mentirosa, as bochechas de Elena estão


pegando fogo. — Ele bate nas suas com ênfase. Um par de olhos
de cobra olha para mim, deslizando pelos ossos de esqueleto
falsos com tinta em sua mão. — Você está testando minha
autoestima, mas sua conversa sexy em espanhol compensa.

Entramos no elevador esperando. Jax mantém seus olhos


focados nos botões do elevador enquanto passo a curta viagem
explicando as obrigações e expectativas de hoje. Ele acena com
a cabeça, aliviando meu nervosismo crescente sobre seu
primeiro evento de publicidade desde seu último desastre de
relações públicas.

Saímos do hotel e entramos na parte de trás de um SUV


McCoy à espera, evidência da vida pródiga que Jax vive como
piloto de F1. O cheiro fresco de limão e couro invade meu nariz.

Olho para Jax, tentando obter uma leitura sobre ele. No


ano passado, embora eu me concentrasse principalmente em
Liam, fiquei intrigada com o homem sentado ao meu lado. O
pouco tempo que passei com ele foi o suficiente para despertar
meu interesse e me fez querer aprender quais fraquezas ele
disfarça como forças.

Jax encontrou seu par. Não sou de desistir de um desafio,


especialmente com meu futuro em jogo. Ele pode ser uma fera
na pista, mas posso me manter no cenário de relações públicas.

O silêncio não dura muito entre nós, com Jax quebrando


primeiro.

— Por que você concordou com esse desafio idiota? — Jax


bate os dedos contra o joelho em um ritmo desconhecido.

— Porque você é uma bomba nuclear esperando para ser


acionada com o apertar de um botão vermelho.

— Que visual fascinante. Você tem planejado dizer isso o


dia todo? — Seus olhos endurecem.

— Você me pegou. Passo horas pensando em minhas


refutações.

— Prefiro que você pense em mim em uma circunstância


diferente, mas é só uma questão de tempo.

Inclino minha cabeça para ele.

— Você tem uma opinião bastante elevada de si mesmo.

— Muito pelo contrário. Mas eu entendo que as mulheres


me acham bastante irresistível.

Meu escárnio soa mais como uma risada.

— Eu acho você irresistivelmente irritante. Isso conta?

— É um começo.

Eu o ignoro, não estou interessada em flertar. Ele continua


a mover os dedos contra o joelho ao som de algo que não
consigo definir.

— Eu nunca quis isso, — ele murmura enquanto olha pela


janela.

— O quê?

— Me tornar esse tipo de cara. — Seus olhos encontram os


meus enquanto ele vira a cabeça em minha direção.

— E que tipo de cara é esse?

— O tipo que estraga as coisas antes de ter a chance de se


tornar algo bom. Do tipo que precisa de uma babá porque não é
confiável.

— A escolha é sua de se deixar levar pelo excesso de


bebida e festa, funcionando, mas mal conseguindo sobreviver.
Ninguém está forçando você a bagunçar sua carreira.

— Certo. Minha carreira. — Sua voz resignada sugere


mais.

— Você quer mesmo ganhar um campeonato?

Sua coluna se endireita.

— Se você está fazendo essa pergunta, então acho que lhe


falta a inteligência para me ajudar. Que pena apoiar o velho
estereótipo da beleza sobre cérebros.

Cerro meus dentes juntos, lutando com tudo em mim para


não gritar com ele. Como alguém vai de sombrio a um idiota
completo em alguns segundos?

— Bem, então você tem que começar a agir como um


vencedor. Você viveu na glória de Liam por anos, ficando em
segundo plano no sucesso. Então, em vez de fingir ser um
fodão, por que você não se torna um?

Ele se vira em seu assento, dando-me uma visão frontal


completa dele que não posso ignorar. A visão dele sozinho faz
meus pulmões se contraírem. Tudo fisicamente nele me atrai.
De seus músculos tensos à maneira como seu jeans se agarra
ao corpo.

Os olhos de Jax brilham como se nossas idas e vindas lhe


dessem energia.

— Eu gosto de sua forma de franqueza. Palavras maldosas


de lábios sedutores, meu tipo favorito de tortura.

— Eu poderia dizer a mesma coisa sobre você, exceto que


não estou ansiosa por punição.

— Para alguém que parece toda arrogante e perfeita, você


com certeza tem uma boca safada. Ainda não conheci alguém
como você.

Meu coração bate mais rápido com seu olhar de


apreciação.

— Alguém que aguenta a sua atitude? Deve ser um pouco


chocante, tenho certeza.

— Você não tem ideia. — Ele me surpreende quando seu


polegar passa pelos ossos finos da minha mão, traçando as
pontas dos nós dos dedos. Respiro fundo, inalando o cheiro
amadeirado do sabonete de Jax, me perguntando se ele se
incomoda em colocar colônia.

Droga, ele cheira inebriantemente bem.

— O que você está fazendo? — Eu grito. Algo elétrico


acontece onde quer que seu polegar permaneça, deixando para
trás um caminho de calor. ¿Qué pasa conmigo16?

— Vendo se sua pele é tão macia quanto parece. — Seus


olhos capturam os meus, o redemoinho de cores escurecendo.

16 O que está acontecendo comigo?


— Bem, você não pode? Nova regra: sem tocar. — Eu me
afasto dele, apesar do desejo que tenho de manter minha mão
no assento de couro.

Ugh. Eu sou um clichê, fisicamente atraída por um cara de


quem eu deveria ficar longe.

Ele ri, o som áspero retumbando contra seu peito.

— Tantas regras. Acho que uma pequena parte de você


quer se libertar.

— E deixe-me adivinhar: você quer ser aquele a oferecer


esse tipo de ajuda?

— Não. Você não quer alguém como eu. Eu não sou o que
você está procurando.

Não era isso que eu esperava que saísse de sua boca.

— Por que isso?

— Eu seria o tipo de te quebrar em vez de te libertar. Como


um pássaro enjaulado, bonito de se ver, asas cortadas e tudo.

Como diabos alguém responde a isso? Eu não acho que


Jax seria tão sombrio quanto ele é. Ele parece mais cansado do
que no ano passado, chamando a parte escura e distorcida de
mim.

Ficamos em silêncio pelo resto da viagem de carro. Ignoro


a maneira como Jax olha para mim, embora meu corpo
permaneça hiperconsciente dele.

A excitação substitui o aborrecimento quando nos


aproximamos da área do paddock da F1. Nosso motorista nos
deixa ao longo da rua principal, o equivalente à fila da
fraternidade da F1. Cada equipe tem um motorhome onde os
membros da equipe e pilotos relaxam antes e depois das
corridas. Jax e eu passamos por edifícios brilhantes de todas as
cores e estilos diferentes, exsudando energia e ostentação.

Caminhamos até a sala de conferência de imprensa, um


prédio cinza simples onde repórteres, equipes de filmagem e
pilotos se encontram para conferências pré e pós-corrida. Jax
abre a porta da sala de imprensa, que está se mexendo com
atividade. Os cinegrafistas se apressam em montar tripés
enquanto os repórteres pegam seus microfones e blocos de
notas para fazer perguntas.

Duas mesas estão centradas em um palco com cartões de


visita. O melhor amigo de Jax, Liam, está sentado ao lado de
Noah e Santiago, dois pilotos da Bandini. Meu primeiro cliente
de F1 e novo companheiro de equipe de Jax, Elías Cruz, está
sentado atrás do assento designado a Jax.

— Lembre-se de jogar bem com as outras crianças, — digo


baixo o suficiente para apenas Jax ouvir.
— Mas e se eles não gostarem de mim? — Ele me bate com
olhos de cachorrinho que deveriam ser proibidos para pessoas
como ele. Ninguém com dezenas, senão centenas de tatuagens
deve ser capaz de parecer tão inocente quanto ele, minhas mãos
embaraçosamente persistentes em seu peito firme. Ele me lança
um sorriso por cima do ombro antes de entrar no palco. Atribuo
sua felicidade a estar cercado por seus amigos na primeira
corrida da temporada.

Elías abandona sua cadeira para vir até mim.

— Quando você me contou sobre o seu projeto privado,


não pensei que fosse trabalhar apenas com Jax. Já se
esquecendo dos pequeninos? Achei que éramos melhores
amigos.

Rio enquanto olho para ele. Elías tem uma beleza formal
com um sorriso perfeito, pele clara e cabelos escuros. Olhos
castanhos encontram os meus antes dele me puxar para um
abraço e me dar um beijo na minha bochecha.

— É apenas para a temporada.

— E se eu precisar de algo? Tipo, se eu fizer algo estúpido


ou socar alguém por acidente.

— Se você socar alguém na cara por acidente, procure um


advogado, não eu. De qualquer forma, estarei trabalhando com
você o tempo todo. Não seja dramático.

— Eu quase pensei que você era boa demais para mim


agora. Afinal, fui seu primeiro cliente. — Seu lábio inferior se
projeta.

Bato no queixo com o dedo indicador.

— Quando você coloca assim... talvez.

Ele me dá uma cotovelada suave nas costelas.

— Um mês com ele e você estará implorando para


trabalhar comigo novamente.

— Duas horas com ele e já estou tentada.

Elías ri.

— Bem, pelo menos ele é bonito de se olhar. Poderia ser


pior.

Esse é o Elías. Ele é minha dose diária de positividade.

— Cruz, traga sua bunda aqui. Você está segurando todo


mundo. — A voz áspera de Jax reverbera nas paredes da sala de
imprensa.

Cabeças se movem em nossa direção, atraindo atenção


indesejada.

— Vê? Te vejo mais tarde. Parece que meu novo


companheiro de equipe está de mau humor hoje. — Ele acena
antes de correr para seu assento.

Meu corpo se vira em direção ao palco, encontrando Jax


carrancudo para mim. Os punhos cerrados descansam na
frente dele. Atiro para ele meu sorriso mais falso. Seus olhos
brilham de aborrecimento antes que ele se concentre em Noah,
me ignorando novamente.

Os olhos azuis de Noah me avaliam antes de voltar sua


atenção para Jax e Liam.

Jax, Liam e Noah são próximos. Eles são um grupo de


caras com problemas suficientes para competir com as velhas
novelas da Abuela. Eles poderiam ter um show baseado no
namoro de Noah com a irmã de Santiago, Maya, enquanto Liam
namora a melhor amiga de Maya, Sophie, filha do chefe da
equipe de Noah. Eu gostaria de estar inventando isso. É como
se Romeu e Julieta encontrassem Velozes e Furiosos sem o crime
e o final trágico de Shakespeare.

Não consigo tirar da minha cabeça a imagem da


mandíbula cerrada de Jax enquanto ele olhava para Elías. Ele
não pode ter se incomodado comigo falando com Elías, certo?
Não há razão para Jax ser assim, já que Elías torce
secretamente pelo outro time desde que nasceu. Jax tem ainda
menos razão, já que ele não se preocupa com ninguém além de
si mesmo. O problema com as pessoas egoístas é que elas
querem tudo que não podem ter.

Desculpe, Jax, não sou uma opção porque estou muito


ocupada sendo sua solução.
5

Jax

— Já era hora de você aparecer. Eu estava começando a


me preocupar que você não quisesse mais ficar perto de mim
agora que você é um piloto figurão. — Liam me dá as boas-
vindas em sua suíte Vitus particular.

— Relatórios exclusivos dizem que você está muito


ocupado com a Srta. Sophie Mitchell. Quer comentar? — Seguro
um microfone invisível em seu rosto.

— Ah, foda-se. A mesma fonte me disse que McCoy deu a


você um monitor de tornozelo humano. Como está indo? — Ele
se joga em um sofá de couro.

— Tão incômodo quanto o negócio real.

— E você sabe como é a sensação de um monitor de


tornozelo, como...?

— Tive problemas no passado. Imagine isso.

— Eu quase acreditaria em você, exceto que sei que sua


mãe iria chutar seu traseiro. Já que ela está ocupada em
Londres, você terá Elena para fazer o trabalho por ela.

Finjo que a menção à minha mãe não me causa


desconforto. Todos os meus melhores amigos acham que ela
vive uma vida feliz em Londres, longe da mídia e do drama
racial. Eu mantenho essa parte de mim trancada de todos na
esperança de esconder os problemas da minha família.

— Não me lembre. Não sei como fiquei preso a Elena.

— Eu disse para você parar com o álcool, mas você não me


ouviu. Elena foi provavelmente a única louca o suficiente para
aceitar um acordo seguindo sua bunda o ano todo. Eu, por
exemplo, não gostaria.

— Lamento o que fiz. — Acomodo-me no sofá em frente a


ele.

Liam coloca um travesseiro sob sua cabeça.

— Bom. Use isso como um motivo para chutar traseiros. A


propósito, bom trabalho com a sua classificação em terceiro.
Você realmente tem a chance de vencer Noah no domingo.

Como um irmão mais novo, sinto orgulho com o elogio de


Liam.

— Obrigado. Eu não poderia ter feito isso sem você.


Literalmente, a propósito. Agora que você se foi, a atenção está
toda em mim, então, obrigado.

— Você pode fingir que não dá a mínima, mas busca a


aprovação daqueles ao seu redor. Que fofo. — Liam pressiona a
palma da mão em seu coração e bate seus cílios para mim.

Jogo um travesseiro em seu rosto.

— Idiota. Todos nós temos objetivos: você ser o melhor do


resto e eu ser o melhor.

— Oh, como a situação mudou.

— Depois de ficar em quinto lugar hoje, você se arrepende


de sua escolha?

Ele balança a cabeça.

— De modo nenhum.

Bato meus dedos contra meu joelho saltitante.

— Por que não?

— Porque eu consegui ficar com Sophie depois e ela fez


essa coisa com o meu...

Jogo outro travesseiro em seu rosto.

— Prefiro beber champanhe nos pódios.

— Falou como alguém que está a uma bebida de sua


primeira reunião do AA17.

Dou o dedo para ele.

— Você sabe o quanto eu te odeio?

— Se por ódio você quer dizer amor, então eu já sei. —


Liam me abre um sorriso de comedor de merda.

— Como você sabe?

— É uma sensação que eu fico por dentro, todo quente e


formigante. Mais ou menos como azia após comida mexicana
apimentada. E por falar em mexicana…

Passo a mão no rosto.

— Ah, não.

— Ah, sim. Você pode ter me desviado antes, mas eu vejo


através de você. — Liam faz uma careta ridícula de que estou de
olho em você movendo os dedos.

— Não há muito para compartilhar, exceto que agora estou


em prisão domiciliar.

Ele estala os dedos.

— Como o Homem-Formiga?

— Mais parecido com Disturbia.

17 Alcoólicos Anônimos.
— Seu conhecimento comum sobre os filmes de Shia
LeBeouf é uma bandeira vermelha. Na verdade, retiro o que
disse. Você é uma bandeira vermelha. Uma grande bandeira
vermelha que anda e fala.

Sorrio para ele.

— E eu vou acenar alto e com orgulho.

Meu telefone toca vinte minutos depois, interrompendo


minha conversa com Liam. Eu me desculpo, dizendo a ele que
vou encontrá-lo antes da corrida de amanhã.

— Olá, pai. Como está indo? — Saio da suíte de Liam.

— Melhor que o esperado.

— E a mamãe?

— Se distraindo lá depois de tudo. Mas também


importante, como você está? — A voz séria do meu pai arranca
um sorriso de mim. Ele intimida a todos, exceto mamãe e eu,
visto que nos trata como seus pertences mais queridos.

Se as pessoas pensam que minha atitude ruim é por causa


de pais ruins, elas estão redondamente enganadas. Os
Kingstons são todos sobre os sentimentos e essas merdas,
comigo tendo dias semanais de cinema enquanto crescia e
noites de pizza em família depois das minhas corridas de kart.
Saio do motorhome de Vitus. O sol brilha sobre mim
enquanto me inclino contra a lateral da estrutura temporária,
longe de olhos curiosos.

— Tudo está excelente.

Ele ri.

— Uau, não é à toa que você é um profissional na frente


das câmeras. Agora me diga como você realmente se sente, sem
a besteira, por favor.

Solto um suspiro alto.

— É uma merda estar longe de casa. Eu me sinto culpado


por competir enquanto vocês dois estão em Londres, lidando
com médicos e exames.

— Todos nós precisamos agir normalmente pelo bem de


sua mãe. Ela não suportaria pensar que você está mudando sua
vida por ela. Só peço que você a mantenha em mente quando
pensar em fazer merdas estúpidas como o que aconteceu
durante o feriado. Isso a afeta mais, especialmente quando ela
sabe que você está sofrendo por causa dela.

Como é possível sentir sua decepção a milhares de


quilômetros de distância? Minhas mãos começam a tremer e eu
as aperto para parar o movimento.

— Tenho alguém para ajudar a me manter na linha, então


não acho que esse problema vai acontecer novamente. Pelo
menos não ao nível do que aconteceu antes.

— E você acha que pode se manter junto no futuro


próximo? Sua mãe tem muito acontecendo agora e eu te amo,
mas a saúde dela é a prioridade agora. Não posso me preocupar
com vocês dois ao mesmo tempo. — Meu pai suspira. Eu o
imagino se esquivando em sua academia, escondendo essa
conversa de mamãe.

A dor aguda em meu peito fica mais forte.

— Sim. Eu posso ser melhor. Para você e ela.

— Não liguei para te incomodar com o seu erro, porque sei


que a equipe fará isso por mim. Eu queria que você soubesse
que talvez você devesse ligar para sua mãe. Ela está tendo um
dia difícil e isso significaria muito para ela.

Minhas mãos tremem mais enquanto luto para colocar ar


em meus pulmões.

— O que aconteceu?

— Você sabe que alguns dias são mais difíceis do que


outros. Seus telefonemas trazem um sorriso ao rosto dela, então
se você puder arranjar tempo em sua agenda lotada, eu
agradeceria.
— Claro. Ligarei para ela assim que puder.

— Obrigado. E parabéns pela sua grande qualificação. Nós


te amamos muito e estamos orgulhosos. Este vai ser o seu ano.
Nós sabemos.

— Obrigado, pai. Amo você também.

— Tenho outra ligação chegando. Falo com você amanhã.


— Ele desliga.

Mal posso esperar pelo meu habitual Especial Domingo de


Merda de me sentir mal depois de falar com meus pais. No
momento em que desligo, volto para minha suíte McCoy
particular, precisando de uma ajudinha na forma de uma pílula
antes de ligar para minha mãe.

A última pessoa que quero ver em um momento de


fraqueza está com a bunda plantada em um dos meus sofás.

Deus, Elena não pode ir, eu não sei, consertar uma crise de
relações públicas? Eu corro uma palma agitada pelos meus
cachos.

— Ei, isso foi rápido. Eu esperava que Liam fosse cuidar de


você por pelo menos mais uma hora. Quase bati minha
pontuação mais alta. — Elena me dá um sorriso hesitante
enquanto me mostra alguma criação de design de interiores de
um jogo em seu iPad. Ela criou uma enorme sala de estar com
decoração praiana, parecida com a mansão dos meus pais em
Londres. A memória do que estou perdendo causa a dor de algo
forte que dispara direto no meu coração.

Odeio o sorriso estúpido e tímido de Elena. Odeio como eu


quero ver mais para aliviar a onda de emoções dentro de mim.
Minha reação incontrolável em relação a ela resulta em raiva
substituindo ansiedade. Como um tsunami, estou em um
caminho irreversível de destruição.

— McCoy não paga Liam para cuidar de mim, eles pagam


você. Talvez você deva se concentrar em seu trabalho em vez de
brincar com um jogo estúpido. Se isso é o que você faz durante
seu tempo livre, talvez não valha o pagamento extra, afinal.

— Você não precisa agir como um idiota. — Seu olho


esquerdo estremece. É bastante cativante, o que aumenta
minha frustração.

— Agir insinua que esse não é meu comportamento


normal. É aí que você está errada. Este sou eu e talvez você
precise começar a envolver sua linda cabecinha nisso. Não
estou aqui para ser seu amigo, amor. — Algo sobre lutar com
Elena me revigora. É foda, mas a raiva em relação a ela é
melhor do que a ansiedade ameaçando meu controle.

Seu olho esquerdo trava uma guerra para permanecer


aberto.
— Se você está tendo um dia horrível, não desconte em
mim. Só estou aqui para te ajudar.

— Você só está aqui para ganhar dinheiro. A rotina de


mártir sacrificial é um pouco ultrapassada, especialmente para
alguém que sai com uma conta bancária acolchoada depois de
tudo isso.

Algo como um lampejo de culpa aparece em seus olhos


antes que ela se recupere.

— Nem tudo é sobre dinheiro.

— Ainda assim, você será a primeira a receber um cheque


mensal das minhas lutas.

Ela solta um suspiro resignado.

— Eu não sei o que te deixou tão bravo. Não há nada de


errado em ficar ansioso e irritado, mas você precisa se
controlar. Eu posso te ajudar se você me deixar.

— Você não pode consertar tudo.

— Eu não vou embora. Então, se eu não conseguir


consertar, vou encontrar alguém que consiga.

Essa é a minha preocupação. Não posso deixar que ela se


aproxime de mim, tentando me fazer melhor. Para me fazer
querer ser melhor.
A esperança é para os idiotas com seu futuro à sua frente.

A esperança é para aqueles que desejam sob as estrelas,


ou em uma igreja, ou em um momento desesperador de
necessidade.

O perdido não tem esse tipo de momento. Temos um


relógio biológico batendo acima de nossas cabeças, nos
lembrando de como o mundo é uma merda.

Aviso de spoiler: todos morremos no final. Exceto que


alguns de nós acabam lá mais rápido do que outros.

Entro no meu quarto sem olhar para ela. O baque da porta


fechando me enche de pavor. Sozinho novamente com meus
pensamentos, ódio por mim mesmo e preocupações sem fim.
Um time dos sonhos do pior tipo.

Minha respiração fica irregular enquanto considero as


consequências de minhas ações. Lutar com Elena aumenta meu
vazio, negro e sem fim. Sugar sua felicidade me fode ainda mais.
Ando pelo pequeno espaço, tentando aliviar meu coração
acelerado, mas falhando.

Meus pensamentos correm na minha cabeça, meu cérebro


mudando de um assunto para outro sem descanso.
Pensamentos de desapontar meu pai, preocupar minha mãe e
forçar Elena a se afastar empurram minha mente além do seu
ponto de ruptura. Respirações forçadas deixam meus lábios
enquanto tento respirar fundo. Todas as minhas estratégias
para relaxar falham. As frias paredes cinza parecem estar se
fechando, me dando pouco espaço para respirar. A ansiedade é
uma idiota desagradável assim. Isso arranca minha sensação de
fuga, crescendo a cada dia.

Pego meu frasco de comprimidos confiável da bolsa de


ginástica com as mãos trêmulas. Nada pode afugentar meus
medos como meu remédio. Tentei tomá-los menos. Tentei
mesmo. Momentos como esses testam minha força mental, e
não posso ligar para mamãe quando estou a dois segundos de
lançar minha merda.

O alívio inunda minha corrente sanguínea vinte minutos


depois, aliviando meu arrependimento enquanto ligo para
minha mãe.

Anseio pelo entorpecimento que um Xan proporciona.


Minhas habilidades de enfrentamento são uma merda, mas diga
algo sobre mim que não seja. Não vou prender a respiração
porque eles vão listar minhas falhas por um longo tempo.
6

Jax

A música explode pela suíte do hotel, me acordando.


Rosno enquanto jogo minhas cobertas e verifico a hora no meu
telefone. Cinco da manhã, porra. Meia hora antes de precisar
acordar para a corrida.

Saio do meu quarto, abrindo mão de uma camisa em favor


de descobrir o que diabos está acontecendo. Meus pés param
quando meus olhos pousam no objeto de minhas frustrações.

E quero dizer todas as minhas frustrações.

O tipo mental. O tipo físico. Do tipo que faz meu pau


ganhar vida dentro do short.

Elena usa um pequeno pedaço de roupa mais adequado


para uma passarela da Victoria's Secret. Sua camisola de seda
abraça suas curvas com a bainha batendo no meio da coxa. Os
globos de sua bunda chamam por mim, me implorando para
verificar o que está por baixo de seu vestido minúsculo.

— Bom dia. — Ela fala com uma voz cantada que não
combina com ela. A maneira como ela fala e o olhar que ela me
lança por cima do ombro gritam maliciosa.

Ou estou tendo a porra do melhor sonho ou um pesadelo


vivo. O cheiro de ovos e bacon me diz que tudo isso é muito
real. Meu pau lateja em meu short enquanto avalio as pernas e
a bunda de Elena. Essa porra de bunda.

Merda. Esta é uma verdadeira tortura.

— Você quer café da manhã?

Bem, foda-se. Quem sou eu para dizer não? Com Elena


parecendo um sonho molhado, vou aceitar qualquer coisa que
ela tenha a oferecer.

Sento-me à mesa de jantar, na esperança de esconder


minha ereção crescente. Meus olhos rastreiam cada movimento
seu. Do jeito que ela agarra a caneca de café na prateleira de
cima até ela se abaixando para verificar o bacon no forno.

Cada maldito movimento que ela faz me provoca.


Sinceramente, não consigo entender seu bom comportamento,
especialmente depois de ser um idiota com ela ontem.

Seus olhos brilhantes não combinam com o falso franzido


estampado no seu rosto.

— Você está bem? Seu rosto parece um pouco doloroso.


Essa não é a única coisa que causa dor.

Ela se aproxima, segurando um prato cheio de comida na


frente dela. Eu poderia me acostumar com esse tipo de
tratamento. Talvez ter uma babá não seja a pior coisa, afinal.

Ela se inclina para perto, me atingindo com o cheiro de


shampoo de morango.

— Esta situação pode ser de duas maneiras. Podemos nos


tratar com respeito ou você pode agir como um idiota comigo.
Mas se você escolher a segunda opção, fique atento, porque eu
não aceito merda nenhuma. Há mais de uma maneira de
torturar alguém. — Seus olhos se movem do meu rosto para
minha virilha, observando minha ereção.

Merda. Isso é sexy, mas errado pra caralho.

— E como estou sendo torturado? Parece que estou


conseguindo o melhor do negócio com café da manhã e um
show.

— Oh? Você pensou que isso era para seu benefício? Mais
como se eu tivesse agendado duas entrevistas consecutivas
para você depois da corrida, porque todos sabem que você ama
os holofotes. Embora as bolas azuis adicionadas à sua manhã
sejam uma vantagem. — Ela sorri largamente.

A maneira como ela planejou que eu tivesse o pior dia me


impressiona mais do que me irrita.

— Você me pegou.

Elena balança a cabeça.

— Pense nisso como um esclarecimento. — Ela caminha


em direção ao seu quarto com o prato do que deveria ter sido o
meu café da manhã. — Observação. Se você quiser café da
manhã, ligue para o serviço de quarto para você. Eu não sou
sua empregada. — Seu sorriso é a última coisa que vejo antes
de fechar a porta do seu quarto.

Elena Gonzalez provou ser uma oponente digna.

O jogo começou.

A equipe corre ao redor da garagem, fazendo verificações


de última hora antes do Grande Prêmio da Austrália. O Xanax
que tomei depois do café da manhã invadiu meu sistema,
transformando minha ansiedade em um problema temporário
do passado. Tomo a quantidade certa para acalmar as
preocupações enquanto fico alerta, porque a última coisa de que
preciso enquanto dirijo um carro a trezentos quilômetros é um
ataque de pânico.

Elena sorri para mim de um canto da garagem,


regozijando-se com seu movimento anterior.

Aproveito um Elías ocupado para falar com ela.

— Então, é assim que vai ser entre nós? Eu empurro, você


puxa?

— Depende. Você vai ser um idiota comigo durante toda a


temporada?

— Eu não sei. — Eu realmente não quero. Não é como se


eu pudesse prever quando a merda atingirá o ventilador para
mim.

— Que reconfortante.

Solto uma risada baixa.

— Alguns me chamam de imprevisível.

— Essas são as mesmas pessoas que deixaram você


desmaiado ao lado de um mictório? Porque eles não estão
errados.

Droga. Ela não se conteve. De alguma forma, acho isso...


revigorante.

Ai de mim. Um garoto rico que tem todo mundo e suas


mães beijando minha bunda por quinze minutos no centro das
atenções. Andar perto de alguém como Elena me lembra o quão
humano eu sou. É humilhante ao mesmo tempo que me
assusta como o inferno.

— Falando em imprevisível, eu poderia dizer o mesmo


sobre você. O show desta manhã foi outra coisa... você trouxe
todas aquelas camisolas para mim?

Suas bochechas ficam no melhor tom de rosa.

— É o que você mereceu.

— As pessoas sabem sobre esse seu lado?

— Aquele que não cai sem chutar e gritar? Oh, sim.

— Prefiro você gritando do que chutando, mas estou no


jogo se esse é seu jeito.

Suas bochechas vão do rosa ao vermelho sangue.

— Você não pode...

— Falar com você desse jeito? Eu não posso te dizer como,


depois do seu pequeno show, eu me masturbei com a imagem
de você curvada na minha cama enquanto eu te fodia? Com
certeza era uma maneira de me deixar animado antes da
corrida.

Os olhos de Elena vagam ao redor da garagem, pousando


em todos os lugares, menos onde eu os quero.

Estalo meus dedos na frente de seu rosto.

— Você pode jogar seus joguinhos, mas eu posso jogar os


meus. E garanto que vou conseguir o melhor negócio com isso.

Um membro da equipe me chama para me preparar para a


corrida.

— É melhor eu ir andando. Aproveite o Prêmio. — Eu amo


entrar na pele dela. Elena é macia, bronzeada, não me
importaria em beijar cada centímetro de pele.

Sim. Estou tão fodido.

— Boa sorte. — Elena murmura baixinho.

Lanço um sorriso para ela por cima do ombro antes de


pular no meu carro.

A equipe me puxa para o terceiro lugar na qualificação.


Minha localização no P3 me deixa atrás de Noah e Santiago, os
meninos Bandini que lutam com McCoy em todos os prêmios.

Equipamentos retardadores de chamas me protegem da


cabeça aos pés, garantindo minha segurança se algo der errado.
Minha bunda treme com o barulho do motor.

Luzes acima de mim acendem antes de escurecer. Meu


treinador pressiona o pedal e meu carro acelera. Eu corro na
primeira reta do Prêmio. As rodas rangem contra o pavimento
áspero enquanto recrio o treino de condução de ontem que
completei no simulador de McCoy.

— Bem-vindo de volta ao grid18. Liam, Elías e um monte de


outros estão atrás de você, então continue com o bom trabalho.
— Chris, o chefe da equipe, fala no rádio da equipe. Ele é um
homem de poucas palavras e uma atitude séria.

— Os pneus estão bons. O motor está quente como o


inferno.

— Parece que está funcionando então. Vou verificar em


breve.

Meu carro rasga a pista, volta após volta. Eu paro, dando à


equipe dois segundos para trocar meus quatro pneus. A
borracha encontra a estrada, me impulsionando pelo pit lane19
antes de eu voltar à corrida. Depois de trocar, preciso voltar a
subir no ranking.

— Liam está na sua frente. Na próxima curva, vá por fora


em vez de por dentro. Corte-o antes de pegar a estrada reta. —
A voz de Chris reverbera pelo minúsculo fone de ouvido.

Meu carro se arrasta atrás do carro azul marinho de Liam.


Tudo neste esporte é reduzido a um milissegundo, o que

18Posição de partida dos carros na corrida.


19A pit lane é uma faixa de circulação separada da pista por um muro, paralela ao grid de largada, ao
longo da qual estão localizadas as garagens das equipes.
significa que cada curva – cada maldita rotação de pneu – é
importante. Paro ao lado do carro de Liam antes de frear. Ele
pega por dentro como Chris pensava, e eu continuo por fora.

Meu carro passa pelo de Liam, seu motor não é páreo para
o meu. Corro pela reta a mais de trezentos quilômetros.

— Agora coloque Elías de volta em seu lugar de direito, —


Chris bufa no microfone.

— Então, para o fundo do grid? — Ajeito-me no banco,


minha respiração ficando mais pesada enquanto o motor
esquenta atrás de mim.

Chris e meu engenheiro principal riem quando passo na


frente de Elías na próxima curva.

— Você só tem Santiago e Noah à sua frente. Mostre a eles


quem é o pai deles.

Solto uma risada. Os carros vermelhos de Bandini


brilham, brilham pra caralho sob o sol quente. Meu carro para
ao lado de Santi em uma das curvas, mas ele me empurra para
baixo novamente, para o terceiro lugar. Seu carro toma o centro
da estrada, mas eu me aproximo por trás dele, minha asa
dianteira subindo. Na próxima curva, eu dirijo até a lateral de
seu carro antes de empurrar na frente. Seus pneus guincham
com sua frenagem repentina.
— Bom trabalho. Seu movimento será um tópico
interessante em minha coletiva de imprensa. James Mitchell
terá uma porra de um dia de campo se você vencer seus
meninos.

Por último, mas não menos importante, Noah Slade.


Quatro vezes campeão mundial da F1 e recém-eleito presidente
do time dominado pelas mulheres. Ele me verifica antes da
próxima curva.

Eu quero essa vitória pra caralho. Para mim, para a


equipe, para minha maldita sanidade. Vencer significa superar
minhas dúvidas. Ficar em primeiro lugar significa que sou digno
dos fãs que se preocupam comigo o suficiente para usar o
número do meu carro de corrida. A chegada ao pódio estabelece
um padrão e faz meu tempo longe da minha mãe valer a pena.

Noah não facilita para mim. Ele enfrenta meus


movimentos com resistência, dando-me oportunidades
limitadas de empurrá-lo para fora do primeiro lugar.

— Caralho dos infernos. — Murmuro baixinho.

Chris reativa o som.

— Por favor, mostre a este homem o que os carros McCoy


podem fazer.

Noah já ganhou campeonatos suficientes para uma vida


inteira. É hora de outra pessoa derrubá-lo do topo. Não sei
como Maya lida com seu ego.

Os pneus giram, as marchas do carro mudam e meu


coração dispara com o barulho do motor. Dou a volta no carro
de Noah em uma das últimas curvas, parando na frente dele
quando é mais importante. A multidão enlouquece quando
passo pela linha quadriculada. Um sorriso comedor de merda
puxa meus lábios porque eu fiz isso, porra.
7

Elena

Saio do meu quarto para encontrar Jax sentado no sofá,


balançando o joelho em agitação. Ele está bonito e pronto para
o baile de gala de Xangai em sua camisa e calças pretas de
botões. Como se vestir significa estar de acordo com as
expectativas da sociedade, ele abandonou a gravata borboleta.
Seus músculos se projetam contra o material caro de sua
camisa.

Basicamente, Jax é o pior tipo de tentação. Para o meu


trabalho. Para minha saúde mental. Pela sensação insana e
luxuriosa dentro de mim que não se importaria em aceitar sua
oferta de dar uns amassos. Mas ainda bem que valorizo meu
trabalho mais do que uma foda rápida com o pior solteiro da
Grã-Bretanha.

— Bem, você não parece nada mal. — Seu lábio se


contorce no canto antes de se estabelecer em uma carranca.

Eu bufo.
— Seus elogios são uma merda.

— Eu sou a última pessoa que você quer que elogie você.

— Por que você não tem tato?

— Tato não é nosso problema. — Seu sotaque britânico


enuncia suas palavras.

— É o meu problema com você. — Bato meu dedo


indicador no meu peito.

— O que você gostaria que eu fizesse sobre isso?

— Mataria você ser mais legal comigo? Inferno, que tal


menos temperamental?

Ele passa a mão pelo queixo mal barbeado.

— Você quer uma resposta honesta?

— Claro? — Exceto que minha voz soa tudo menos certa.

— Não fomos feitos para doces momentos e palavras


especiais. — Seus olhos examinam meu corpo novamente
enquanto ele fecha a distância entre nós.

Ignoro a onda de energia correndo por mim em sua leitura.

— Está bem então. Para que tipo de momentos estamos


destinados?
Sua mão roça meu rosto, provocando o menor arrepio em
mim. Ele agarra uma mecha do meu cabelo e a esfrega entre os
dedos, analisando-a como se contivesse todas as respostas.

— O tipo que só termina em decepção.

— Estou orgulhosa de você. Nem todos os homens podem


admitir suas falhas no quarto. — Toco em seu peito,
escondendo o quanto meu coração dispara com sua
proximidade. Minha mão aquece enquanto percorre os botões
de sua camisa para alisar uma ruga.

— Decepcionante é a última palavra que você usaria para


me descrever no quarto. — Sua voz é baixa com uma rouquidão.

— Oh, sério?

Sua mão flexiona como se ele quisesse me tocar


novamente antes de colocá-la no bolso.

— Sempre fui melhor em mostrar, não em dizer.

— Adequado, já que você tem o alcance emocional de uma


criança de cinco anos. Eles seguem o mesmo conceito.

Ele joga a cabeça para trás e ri.

— Posso assegurar-lhe que em todos os anos que estive


com mulheres, posso dizer com segurança que elas não
reclamaram.
— Provavelmente porque é você quem vai embora antes
que elas tenham a chance de falar.

— Ahh, já aprendendo meus truques?

— Truques insinuam que elas são sorrateiras. Você está


esquecendo que é meu trabalho aprender tudo sobre você.

Seus olhos escurecem.

— Mesmo as partes ruins?

— Especialmente essas. Isso torna este trabalho mais


interessante. — Junto minhas palmas e mexo meus dedos,
dando minha melhor impressão de gênio do mal.

— Não é o fato de que eu sou diabolicamente bonito e


tenho um sotaque matador?

Reviro meus olhos.

— Não. Eu classificaria isso como um golpe.

Mentiras. Seu sotaque e aparência são muito profissionais


nessa situação.

— Por que você acha difícil resistir a mim?

— Ehh. Não gosto de caras que agem como você.

— E isso é?
— Como se eles estivessem acima de mim.

Sua máscara de desinteresse escorrega por um momento.

— Não é assim que me sinto.

— É assim que você fica, que é tudo a mesma coisa. Está


bem. Sou uma garota crescida e posso lidar com homens como
você. Você não é o primeiro cliente que me tratou dessa
maneira. — Ando em direção à porta principal para sair da
suíte. Meu vestido de seda champanhe se agarra ao meu corpo,
tornando difícil dar passos longos.

Jax me alcança facilmente. Ele agarra meu cotovelo


suavemente, me virando em sua direção.

— Não posso falar pelos outros homens, mas não acho que
sou melhor do que você. Muito pelo contrário, na verdade. Você
é muito — ele morde o lábio enquanto examina meu corpo mais
uma vez antes de se demorar no meu rosto — boa para alguém
como eu.

— Alguém como você? — Eu fico olhando para sua mão,


tentando entender por que minha pele se arrepia com seu
toque.

Seu polegar roça preguiçosamente em minha pele.

— Sou mais adequado para destruir a felicidade de alguém


do que ser sua razão para isso.

Solto um suspiro profundo.

— Você sempre vai falar em declarações envoltas em


confusão?

— Sou como o Charada de Jim Carrey.

— De todos os filmes que você poderia fazer referência,


você escolhe a franquia Batman de George Clooney? Estou
perdendo todo o meu respeito por você.

— O fato de você ter um pouco de respeito por mim é


preocupante.

— Não se preocupe, está diminuindo a cada segundo.

Ele balança a cabeça, lutando contra o sorriso antes de se


contentar com uma carranca.

— Vamos. É hora de acabar com esse show de merda.

— Por que você odeia eventos de patrocínio?

— Eu odeio tudo que não é o meu carro. Prefiro cair fora


da face do planeta do que lidar com uma nova multidão de
pessoas todas as semanas que me fazem muitas perguntas.

Nós dois caminhamos para o corredor e em direção ao


elevador.
— Acho que você escolheu a carreira errada então. Corrida
e status de celebridade são sinônimos um do outro.

Jax pressiona o botão.

— Acredite em mim, eu não pensava nas consequências


quando era mais jovem.

— Por que você tem mais probabilidade de ficar ansioso


perto de outras pessoas?

— Parte disso.

Vago, mas eu o deixo manter seu segredo. As portas do


elevador se abrem e nós entramos.

Pressiono o botão para o lobby.

— Há quanto tempo você tem ansiedade?

— Desde sempre.

— E está piorando?

— Você não é terapeuta. Pare de cutucar meu cérebro em


busca de respostas.

Rio enquanto me inclino contra o corrimão.

— É chamado de conversa. Você deve tentar em algum


momento com o sexo oposto. Você ficaria surpreso com o que as
mulheres podem falar quando você não está transando com elas
em silêncio.

— Você é fofa, me incitando a falar mais sujo. Você fica


quente e molhada pensando em mim com outras mulheres,
desejando que fosse você?

Ah, merda. Muito bem, Elena. Divirta-se tentando sair da


confusão que você criou.

Reviro meus olhos.

— Não.

— No entanto, você gosta de trazer isso à tona. Por que


isso? — Seu sorriso me irrita.

Meus olhos se estreitam em seus lábios.

— Isso se chama piada.

— Posso garantir que sexo comigo é tudo menos isso.

Torço meu nariz em desgosto.

— Que nojo. Você é como um crítico cinco estrelas do


proprietário de um restaurante buffet chinês incompleto.

— O que diabos isso significa?

— Ninguém deve confiar em sua recomendação brilhante


até que eles próprios experimentem.
Uma explosão de risos escapa dele.

— Como diabos você vem com metade da merda que você


diz?

— Tenho uma boca rápida. É um talento.

Sua sobrancelha se levanta enquanto minhas palavras


afundam. Bem, merda, boca estúpida é mais parecida com isso
no momento.

Tento me recuperar.

— Vamos ignorar isso. E vamos passar muito tempo


juntos, então talvez você possa aprender a falar sobre outras
coisas além de sexo.

— Você é sempre tão mandona?

— Prefiro o termo assertiva. Mandona tende a ter uma


conotação negativa, especialmente para as mulheres.

Suas sobrancelhas se erguem.

— Você recebeu um monte de merda por ser uma mulher


que trabalha na F1, não é?

— O que te deu essa impressão? Como quase não há


mulheres no paddock de corrida ou como todos os homens me
ignoram na sala de imprensa?
Ele balança a cabeça.

— Outra razão para odiar as pessoas.

— Eu não vejo dessa forma. Eu penso nisso como mais um


motivo para provar que as pessoas estão erradas.

Jax e eu entramos na gala de Xangai trinta minutos


depois. Luzes de cristal penduradas no teto, lançando-nos em
um brilho dourado enquanto Jax nos carrega pela multidão. O
luxo nem chega a cobrir isso, com garçons circulando
oferecendo taças de champanhe de cem dólares e comida direto
da cozinha de Gordon Ramsey.

A atitude de Jax despenca quando ele é forçado a falar


com estranhos por mais de cinco minutos. Atribuo sua
irritabilidade a ter, de má vontade, que jogar bem por horas a
fio.

— Ah, Elena. Pensei que era você. Estou tentando


encontrar você há uma hora, esperando que você guarde uma
dança para mim. — A voz de Elías chama minha atenção.

— Elena precisa ficar ao meu lado esta noite. Talvez você


possa tentar de novo, não sei, nunca? — Jax o enxota com a
mão, convenientemente estendendo seu dedo médio.

— Ele está brincando. Ignore-o. — Meus olhos se estreitam


para Jax.

— Bom. Vou pedir ao DJ para tocar uma de suas favoritas.


Eu voltarei. — Elías me lança um sorriso secreto.

— Pare de o levar. — O rosnado na voz de Jax faz meu


sangue correr quente em minhas veias.

— É uma dança com um amigo. Pare de dar tanta


importância às coisas.

A mandíbula de Jax aperta, as sombras persistentes onde


os lustres não brilham.

— Amigo?

— Pode parecer um conceito estranho para você, mas


homens e mulheres podem ser amigos sem fazer sexo.

— Isso é treta. Liam e Sophie são um exemplo perfeito do


que acontece entre dois amigos.

Reviro meus olhos.

— Elías e eu nos conhecemos há anos. Não é assim entre


nós.
— Eu não pedi uma explicação. Faça o que você quiser. —
Ele se afasta, me dispensando.

Ignoro meu aborrecimento crescente enquanto procuro por


meu amigo. Elías é fácil de localizar perto da cabine do DJ,
puxando conversa com o homem que trabalha nas plataformas
giratórias. Ele sorri timidamente para o DJ enquanto se afasta.

Ele me puxa para a pista de dança, girando-me em um


círculo ao som de “La Bicicleta”.

— Então, você e o DJ? — Eu balanço minhas


sobrancelhas.

Ele balança a cabeça.

— Você sabe como é.

— Não consigo nem imaginar como você se sente.

— É difícil em um esporte como este. Eu não quero ser o


primeiro... você sabe.

Nunca será o momento certo para Elías se apresentar ao


mundo. Com sua carreira, ele permanece sigiloso sobre sua
sexualidade, apesar do quanto lhe dói esconder uma parte
importante de si mesmo.

— Tenho certeza de que isso é assustador, mas os tempos


mudaram.
A voz de Elías cai para um sussurro que me esforço para
ouvir por cima da música.

— Eu não sei sobre isso. Odeio quando os caras presumem


que vou conversar com eles porque eles têm um pau e uma
bunda boa.

— Espero que nos dias de hoje, as pessoas sejam mais


receptivas.

— Eu não quero ser o único a testar isso. Pelo menos


ainda não. Definitivamente não agora, depois de fechar contrato
com uma equipe de ponta.

— Quando você estiver pronto, me avise e eu vou te


ajudar.

Elías sorri.

— O que Jax e eu faríamos sem você?

— Embora você possa esquecer suas respostas a


perguntas durante uma entrevista coletiva, Jax pode acabar
como a próxima hashtag do Twitter em alta. E não por um bom
motivo.

— Você tem que admitir, a hashtag JaxAttack é muito


cativante.

— Quase tão cativante quanto a DST que ele vai conseguir


de qualquer mulher com quem ele se pegou no clube.

O peito de Elías treme enquanto ele ri.

— Diga o que quiser, mas ele traz um fogo em você que eu


não via há algum tempo. Eu estava ficando preocupado, sabe,
mas não quis dizer nada no ano passado. Você parecia cansada
e triste, e eu não tinha certeza se você estava estressada ou se
era por causa de outras coisas com sua avó...

— Eu não quero que você se preocupe comigo.


Principalmente sobre as outras coisas. — Meus olhos examinam
nossos arredores.

— Alguém precisa. Como está funcionando a nova


instalação dela?

— É caro, mas vale a pena. Eles até me enviam fotos dela


todos os dias e ela me liga uma vez por semana. Supostamente,
ela se tornou amiga de sua colega de quarto.

— Fico feliz em saber que ela está feliz. Ela poderia ter
estado lá anos atrás, se você tivesse aceitado minha ajuda.

— Não sou um caso de caridade.

— E ainda assim você ajuda todos os outros que são um.


— Ele me oferece um pequeno sorriso.

— Eu posso pagar o lugar agora por causa deste trabalho.


Com os pagamentos mensais para ajudar Jax, posso pagar a
casa dela e meus empréstimos, além do meu apartamento.
Estou até olhando para um lugar um pouco maior agora.

— Isso é bom. Não gosto de lugar que você mora.

Rolo meus olhos, ignorando-o.

Sua carranca não diminui.

— Você ainda está tendo aqueles pesadelos?

— Elías... No quiero hablar de eso20.

Pode me chamar de supersticiosa, mas não tenho


pesadelos desde o início desta temporada.

— Eu acho que você e Jax têm mais em comum do que


você pensa. Ambos evitam falar sobre as merdas que os
incomodam. Pelo menos com você, eu sei o que aconteceu. Mas
com ele, obviamente, ele grita bad boy com um passado triste. O
que você acha?

— Que passado triste? Seus pais estão vivos, apoiam sua


carreira de corrida e ele tem acesso a tudo o que o dinheiro
pode comprar. Ele é o garoto-propaganda do que acontece
quando mamães e papais dão tudo aos filhos. O que mais ele
poderia querer?

Elías me faz girar.

20 Não quero falar disso.


— Talvez você não esteja fazendo as perguntas certas.

A multidão estranhamente se divide, revelando Jax,


inquieto em um canto com Liam e Noah.

Como se ele me sentisse, seus olhos encontraram os meus.


Cada nervo do meu corpo se acende. Seu sorriso grita
problemas e promessas não ditas e a resposta do meu corpo à
sua atenção me preocupa. Minha atração por Jax ameaça o
plano cuidadosamente elaborado que fiz para ajudá-lo. Mas
coloco esses pensamentos de lado porque estou aqui para
aprender exatamente o que faz Jax Kingston funcionar.

Acontece que tenho que trabalhar com o maior desafio da


minha carreira até agora. Enquanto alguns podem ficar
intimidados pela atitude pobre e taciturna de Jax, eu não posso
esperar para começar a repará-lo do zero.

Lanço para ele um largo sorriso que tem suas


sobrancelhas franzidas e sua carranca se aprofundando.

Pode vir.
8

Elena

De alguma forma, Jax não me ouve quando entro em seu


quarto. Vou na ponta dos pés até a janela, agarro as cortinas e
as abro com um toque dramático.

— Bom dia, flor do dia!

Um rosnado estranho escapa dele enquanto ele se afasta


da luz.

— Que porra é essa?

— Hora de levantar. Temos um dia agitado planejado.

— Você pode voltar em algumas horas? Melhor ainda, não


volte mais. — Ele pega um travesseiro e cobre a cabeça. Sua voz
tem um tom áspero, rouco de acordar.

Aproveito a oportunidade para olhar suas costas nuas,


cobertas de tatuagens, mal um centímetro de espaço disponível.
Os músculos lisos se tensionam, criando ondulações em seu
corpo.
Meus dedos coçam para tocá-lo. Quase desisto, mas de
alguma forma me contenho.

— Essa é uma oferta tentadora.

— Não é tão tentador quanto um boquete matinal. Então,


a menos que isso esteja em jogo, você precisa ir. — O
travesseiro sobre seu rosto abafa sua voz.

— Quem diria que você era tão encantador pela manhã?

— O que posso dizer? Você traz o melhor de mim. — Diz


ele secamente.

Meus olhos se esforçam enquanto tento distinguir as


tatuagens espalhadas por seus braços definidos. Lambo meus
lábios, lutando com tudo em mim para não me aproximar.

Jax de repente se levanta contra a cabeceira da cama.


Corro para desviar o olhar, mas o sorriso em seu rosto me diz
que fui pega.

— Elena Gonzalez, você estava me examinando? Fico


lisonjeado.

— Por favor. — Reviro meus olhos. — Eu estava


questionando a rapidez com que poderia sufocar você com o
travesseiro.

— Se alguém me dissesse que eu morreria na cama com


você, não teria sido meu primeiro palpite.

Meus olhos caem para o tapete do hotel enquanto o calor


inunda minhas bochechas.

— Eu não posso acreditar que você beija sua mãe com


essa boca.

— Ela não se importa comigo. Não é minha culpa você ter


seu lápis Apple permanentemente implantado em sua bunda. —
Jax solta.

Tento ignorar a forma como seus músculos ficam tensos e


ondulam com o movimento rápido, mas não tenho muito
autocontrole em torno dele.

— Seguindo em frente... eu tenho sua primeira atividade


planejada para ajudar a reparar sua imagem. Prepare-se porque
temos que estar lá em uma hora. E certifique-se de usar roupas
de ginástica. — Saio de seu quarto sem olhar para trás. Vamos
ser realistas, eu não tenho o tipo de autocontrole necessário
para vê-lo sair da cama.

Jax me encontra na sala de estar vinte minutos depois. As


calças Adidas se agarram a suas pernas musculosas e sua
camiseta preta enfatiza sua forma tonificada.

Estou tentada a me bater por planejar um evento em que


poderei vê-lo em toda sua glória.
— Você vai vestida assim? — Os olhos de Jax começam
nas minhas tranças boxer à la Menina de Ouro antes de vagar
por cima do meu top e leggings.

— Sim. Estaremos nos movimentando. — Faço uma


pequena bomba de punho que deveria ter ficado em um vídeo
de treino dos anos oitenta.

— Foda-se minha vida. — Ele resmunga baixinho


enquanto saímos do quarto de hotel.

Sua reação me enche de orgulho que não deveria sentir.


Não importa o quanto eu deseje seus olhares ocultos e insultos,
eu resisto por ele e por mim.

Um rápido passeio de carro depois, chegamos ao local do


primeiro evento de Jax.

— Merda. Uma academia de boxe? — Ele olha para o


saguão com olhos arregalados e boca aberta.

Sorrio para ele.

— Surpresa! Ouvi dizer que você gosta de boxe como parte


da sua rotina de exercícios, então achei que seria uma boa
ideia. Pelo menos é algo em que você está interessado, além de
suas atividades extracurriculares habituais.

— Você está insinuando minha vida sexual de novo? — Ele


exclama.

— Que vida sexual? Aquela com a sua mão direita?

Os fãs nos olham de todas as direções enquanto Jax se


curva, rindo. Até eu estou presa em sua reação – feliz e
despreocupada.

Recupero minha compostura e o puxo para a mesa de


boas-vindas.

— Lutando contra a violência doméstica. Boa escolha. —


Ele me lança um sorriso genuíno. Um que o faz parecer jovem e
não atormentado com as preocupações que o incomodam mais
do que ele gostaria de admitir.

— Achei que era uma causa incrível para doar. Convidei


um monte de gente da F1, além de empresários locais. Todos os
lucros vão para uma instituição de caridade com sede no Reino
Unido, ajudando a apoiar as mulheres assim que elas deixam
seus agressores.

Foi necessário um planejamento adicional, mas adoro a


causa. Assisto muitos documentários, e um sobre uma mulher
que descreveu o processo exaustivo de escapar de seu agressor
ficou na minha mente. Jurei retribuir, então aqui estou, com o
dinheiro de Jax financiando a causa. Além disso, eu pensei que
seria o primeiro evento perfeito para aquecer Jax para minha
ajuda, mantendo seu interesse.

Fãs e convidados andam ao nosso redor, conversando e


participando de um leilão silencioso. Quantidades em massa de
pessoas se inscreveram antes, incluindo fãs de F1 que estão
dispostos a doar cem euros por alguns minutos no ringue de
luta com Jax, Liam, Santiago ou Noah.

Viro-me para encontrar os olhos de Jax em mim. Uma


sensação estranha toma conta do meu estômago, semelhante à
que tenho quando um avião está prestes a pousar.

— Eu disse que o ajudaria com sua reputação. Mas não


mencionei como pretendo ajudar muitas pessoas ao longo do
caminho com a ajuda de sua conta bancária luxuosa e conexões
com celebridades.

— Só você usaria minha fama para ajudar a arrecadar


dinheiro para filantropias. Puta merda.

— Seu elogio se perdeu em algum lugar do seu comentário.

— Eu não quero nem mesmo dizer isso como um golpe.


É... Isso é incrível. — Ele olha em volta com olhos brilhantes e
um grande sorriso. Quase como se ele se sentisse em casa no
ginásio, rodeado de tênis rangendo e balançando sacos de boxe.

Antes que eu tivesse a chance de comentar, a pessoa


principal que contratei para ajudar a organizar o evento nos
interrompe. Ela explica as metas para o dia enquanto Jax
escuta atentamente. Sua vontade de participar me surpreende,
especialmente quando ele envia mensagens para outros pilotos
para ter certeza de que eles estão vindo.

Durante as próximas horas, tento tirar meus olhos de Jax


no ringue, mas acho difícil. Como mais forte do que seus
músculos flexionando sob as luzes brilhantes do ginásio, difícil.
Sua pele brilha de suor e ele tem um sorriso permanente no
rosto durante toda a manhã. É tão empolgante que acho difícil
encarar por um longo período de tempo. É como olhar para o sol
por muito tempo com meus olhos ardendo e minha pele ficando
quente.

— Quer que eu tire uma foto dele para você? Eles


geralmente duram mais. — Uma mulher bronzeada que
reconheço instantaneamente como a namorada de Noah, Maya,
aparece ao meu lado. Maya é um pouco mais baixa do que eu.
Ela se veste com roupas de treino semelhantes às minhas, com
seu rabo de cavalo moreno balançando atrás dela. — Evento
incrível, a propósito.

— Tão bom e eu amo a causa. Maya, tire uma foto minha


enquanto está nisso. Vou mandar para as sobrinhas de Liam. —
Sophie, com coques loiros e um top fluorescentes e leggings
esportivos combinando, acena para Maya enquanto ela caminha
em direção ao ringue. Ela parece pequena comparada ao
octógono elevado de sparring21.

— Ela adora um bom momento fotográfico. — Santiago


Alatorre passa o braço em volta dos ombros da irmã enquanto
seus olhos castanhos olham para mim. Seu cabelo escuro goteja
de suor depois de sua rodada de sparring com um fã.

— Sunshine22, eu disse para você ficar a cinco metros de


distância. — Liam se inclina contra os cabos enquanto dá um
beijo no topo da cabeça de Sophie.

Sophie faz um barulho de engasgo.

— Eu disse para você parar de me ligar meses atrás.

— Não é minha culpa quando você está vestida assim. —


Liam dá a ela um sorriso alegre enquanto balança a cabeça, e
uma pequena sensação de ciúme me invade. Não para eles em
particular. Deus, não, eu não gosto de Liam assim. É mais
porque acho difícil ignorar minha sensação de solidão ao ver um
casal verdadeiramente feliz e apaixonado.

A última relação que tive foi há muito tempo, antes da


Abuela adoecer e eu começar a trabalhar no circuito de F1. Isso,
somado à minha incapacidade de imaginar um futuro com eles,

21 Fazer os movimentos de boxe sem aterrissar golpes pesados, como uma forma de treinamento.
22 Brilho do sol.
me levou ao fracasso. Eu não acho que sentiria falta de ter uma
conexão romântica com alguém, mas ver um casal feliz me bate
forte.

— Por que você quer que ela fique longe? Eu doaria mil
euros para ver Sophie chutar sua bunda lá. — Noah toma um
gole de água da garrafa de Maya.

— Eu gostaria de vê-la tentar. Jax me ensinou como


treinar anos atrás. — Liam se abaixa no chão do ginásio.

— E você ainda é terrível! Eu teria mais sorte ensinando


Santiago a lutar. — Jax joga as mãos no ar enquanto segue
Liam para fora do ringue.

Liam manivela seu dedo médio como um macaco saindo da


caixa. Uma risada suave escapa dos meus lábios, trazendo a
atenção de Jax de volta para mim. Seus olhos estreitos não
conseguem ter o efeito que ele deseja, em vez disso, causando
arrepios na minha pele.

Nota para mim mesma: pare de planejar eventos que exijam


que Jax tire a camisa. Seus abdominais são uma distração para
os espectadores.

Eu. Eu sou a espectadora.

— Eu não sei sobre isso. Eu vi o gancho de direita de


Santi. — Noah caminha até seus amigos.
— E não se esqueça disso. Um movimento errado em
direção a Maya e pronto. — Santi dá alguns socos no ar.

— Ei, é Elena, certo? Você se importa em tirar uma foto


nossa, por favor? — Maya me oferece sua câmera.

Ignorando a crescente sensação de solidão, tiro algumas


fotos e devolvo a câmera para Maya. O grupo ri enquanto
Santiago arrasta Noah para o octógono, alegando que ele
precisa lembrá-lo do que acontecerá se ele quebrar o coração de
sua irmã.

Pelo resto do dia, sinto os olhos de Jax em mim, mesmo


quando finjo estar ocupada com outras tarefas.

Eu não deveria notar. Não deveria querer. Mas, acima de


tudo, não deveria desejar mais.
9

Jax

Sobreviver às duas primeiras corridas incluiu um Xan por


noite e uma tonelada de respiração profunda.

A terceira corrida está intensa, comigo agindo mais como


um idiota do que o normal, porque odeio como Elena é
inevitável. Quanto mais tempo eu passo com ela, mais difícil é
resistir ao desejo de aprender tudo sobre ela.

Eu poderia culpar o estresse do Grande Prêmio de Bahrain


por minha recente irritabilidade, mas é uma desculpa para
como eu realmente me sinto. Em conflito. Frustrado. Com tanto
medo de ter alguém como Elena perto de mim dia e noite.

Coloco meus pensamentos de lado porque é um dia de


qualificação. Um zumbido desce pela minha espinha antes do
calendário do terceiro Prêmio do Campeonato Mundial.

Meu carro brilha sob as luzes do pit, a tinta prata lustrosa


brilhando, as rodas lisas e novas. Os carros de McCoy são um
dos melhores e a equipe trabalha duro para produzir carros de
corrida que acabem no pódio. Liam e eu fizemos isso juntos por
algumas temporadas antes dele partir, mudando para outro
time depois que ele se apaixonou por Sophie.

Pela primeira vez em anos, tenho confiança na garagem.


Quando Liam estava aqui, McCoy se concentrou em dar a ele as
melhores estratégias. Ele poderia aguentar a pressão enquanto
eu sou um canhão solto a um momento de falhar.

Mas agora, com ele fora e meu novo parceiro recém-saído


de um time inferior, tenho a chance de vencer o Campeonato
Mundial inteiro. Tudo o que preciso fazer é controlar minha
ansiedade e minha crescente irritação com minha colega de
quarto indesejável.

Elías passa um tempo em seu carro com Elena. Eu não o


achava irritante antes, mas agora não tenho certeza. Ele flerta
abertamente com Elena bem na minha frente. Prefiro introduzir
uma broca no meu olho do que os ver se juntar.

Minha aversão à ideia não é porque estou com ciúme. O


menino bonito Elías parece que pode oferecer a Elena tudo o
que alguém como ela merece em primeiro lugar. Uma vida
descontraída com risos, positividade e uma tonelada de outras
palavras felizes que não consigo nem começar a nomear, muito
menos experimentar eu mesmo.

Ok, pareço estar com um pouco de ciúme. Mas que seja.

Tento ignorar Elena o melhor que posso, mas roubo


olhares de vez em quando. O empurrão e puxão entre nós é
quase inebriante. Meu pau ganha vida em meu traje de corrida
enquanto a encaro do outro lado da garagem, me distraindo
com o vestido que ela usa hoje. Parece que foi feito para ela,
abraçando-a em todos os lugares que quero tocar.

Elena caminha até mim, arruinando minha ideia de evitá-


la.

— Ei, você. Como você se sente sobre a corrida de hoje?

— Animado para arruinar a competição. — Meus lábios se


erguem nos cantos quando imagino Elías me observando da
lateral do pódio.

— O sorriso em seu rosto deve me preocupar.

— Este não é o qual você precisa se preocupar. Esse é um


visual totalmente diferente.

Ela revira os olhos.

— Você não me assusta.

— Então o que te assusta? — Que porra você está fazendo?


Pare de tentar conhecê-la, seu filho da puta estúpido.

— Um par de coisas. Mas acima de tudo é arrependimento.


— Ela agarra seu iPad com força.

Como uma palavra pesa contra meu peito? Eu cruzo meus


braços e ela me surpreende, a nebulosidade em seus olhos se
dissipando.

— Puta merda, Gonzalez. Enquanto isso, tenho medo de


aranhas. Pequenos filhos da puta desagradáveis com olhos
redondos e potencial para pular. — Minha resposta arranca
uma risada estranha dela.

Ela afasta o cabelo escuro de lado, me atingindo com o


cheiro que passei a conhecer como distinto dela.

— Não sei se algum dia teria pensado em você como


alguém que tem medo de aranhas.

Bato meu queixo pensativamente.

— Provavelmente porque suas suposições sobre mim não


poderiam estar mais longe da verdade.

— Você está dizendo que é melhor do que a minha ideia de


você?

— Não. Eu sou muito pior.

Sua cabeça se inclina para trás, me acertando com olhos


suaves e um pequeno sorriso.

— Tudo o que você está faltando é um céu escuro, um raio


e um trovão sinistro para completar sua montagem de vilão.
Bato minhas mãos juntas.

— Agora você está entendendo. Sempre fui uma pessoa


que faz uma entrada incrível.

— E agora estou aqui para que você não saia de forma


nenhuma.

Solto um assobio.

— Estou impressionado com o seu nível rápido de


respostas.

Elena sorri.

— Obrigada. Minha abuela me ensinou bem.

Eu definitivamente deveria estar apreensivo sobre a forma


como meu pau se contrai quando Elena muda de inglês para
espanhol.

— Ela soa como alguém que tenho medo de conhecer. Se


ela é a rainha, o que isso faz de você?

— O peão.

— Acho que você precisa revisar essas referências ao


xadrez, amor. Ninguém quer ser o peão. Mas acho que se
encaixa. Você parece fraca e intocada pela verdadeira
adversidade, não forte o suficiente para brincar com os meninos
grandes no tabuleiro.

— Comentários como os seus são exatamente porque eu


gosto do peão. É a peça mais subestimada. — Ela olha para
mim, incitando-me com seu sorriso.

Dane-se ela e seus olhos brilhantes, manchas marrons e


douradas refletindo as luzes acima de nós, me fascinando.

— Então por que você quer ser um?

— Porque na vida real, não começamos como os mais


fortes. É sobre sobreviver às pequenas batalhas. Assim que o
peão chegar ao outro lado, ele pode se transformar em uma
rainha. É quem eu quero ser. A pessoa que sai mais forte do
que quando começou.

Suas palavras me atingem mais profundamente do que o


pretendido. Não posso lutar contra a tentação de aprender mais
sobre ela.

— E o que acontece quando você se torna a rainha?

Ela solta uma risada suave.

— O que acontece quando alguém se torna uma rainha?


Eles governam o mundo. Bem... meu mundo, quero dizer.

Desvio o olhar, ficando desconfortável com a ideia de


desfrutar de sua companhia mais do que deveria.
— Você provou ser uma oponente digna.

Ela inclina a cabeça para mim, franzindo as sobrancelhas.

— Por que tenho medo de perguntar o que você quer dizer


com isso?

— Porque a evolução incorporou uma resposta de luta ou


fuga em cada um de nós.

— Você está sugerindo que eu deveria fugir?

— Não. Você é toda lutadora. E é isso que a torna perigosa.


— Eu jogo com calma, apesar do meu próprio instinto de correr
na direção oposta dela. É um sentimento que vem de dentro de
mim, sussurrando como nada de bom pode vir disso. Um
sentimento que preciso manter, pelo bem da minha sanidade
cada vez menor.

Eu não quero gostar dela. Inferno sangrento, eu não quero


desejá-la como um idiota apaixonado que não consegue manter
seu pau sob controle. E eu com certeza não quero deixá-la
entrar.

Algumas pessoas têm mecanismos de defesa, enquanto eu


tenho armas de destruição em massa.

E como uma bomba detonada, não posso retirá-los.


— Estamos tão orgulhosos de você. Você tem tido um
desempenho tão esplêndido este ano. — O orgulho do meu pai
transparece no telefone.

— Quem diria que eu tinha isso em mim nesta temporada?


— Eu fico em volta da garagem, checando com os mecânicos
depois da minha rodada de qualificação anterior.

— Nós sabíamos. Sempre soubemos que você seria o


favorito assim que Liam fosse embora. Nós amamos ele, mas
não podemos deixar de ficar felizes por você. Quer dizer, que
qualificação incrível hoje! Você é uma potência nesta
temporada. — A voz da minha mãe fica mais alta quando meu
pai passa o telefone para ela.

— Não continue aumentando meu ego, mãe. Elena não


será capaz de me manter sob controle se você continuar.

— Quem é essa garota Elena que você mencionou algumas


vezes? — Meu pai resmunga ao telefone.

— Ele falou com ela na semana passada, quando você foi


ao banheiro. Eu acho que Jax gosta dela. — Minha mãe tenta
sussurrar, mas o microfone do telefone capta tudo.
— Devemos fazer uma verificação de antecedentes sobre
ela? — A voz do meu pai fica baixa.

Imagino meu pai esfregando a sobrancelha enquanto


pensa em entrar em contato com um investigador particular.
Pode muito bem cortar essa preocupação pela raiz, antes que se
empolguem.

— Espero que vocês dois saibam que posso ouvi-los. Não


vamos exagerar. Eu não tenho uma queda e não apreciaria
exatamente alguém bisbilhotando meu passado, então vamos
deixar o dela em paz.

— Oh, sim. Ele está definitivamente interessado nela. —


Meu pai ri.

— Vocês dois são de verdade? O que deu em você? Eu mal


a conheço, muito menos gosto dela. Na verdade, é o oposto do
que você pensa. Não aguento a presença dela.

Mamãe ri.

— Oh, inimigos-para-amantes. Agradável. É uma ótima


história para contar às pessoas quando elas perguntam como
você se apaixonou.

Exalo uma respiração ofegante.

— Quem diabos disse alguma coisa sobre amor? Ela é


minha representante de relações públicas, pelo amor de Deus.
Estou com ela há três semanas.

Três semanas de conversas acaloradas e reações


descontentes. Dias cheios de tensão palpável que nenhum de
nós tenta aliviar, o que leva a momentos mais estranhos.
Manhãs de seus mamilos enrugados me provocando enquanto
ela se serve de uma xícara de café. Noites dela relaxando no
sofá com suas pernas tonificadas em exibição, me implorando
para agarrá-las e explorar seu corpo. E o pior de tudo, não há
como escapar de suas risadas e desafios diários. Estou ansioso
para ouvir a merda saindo de sua boca, o que aumenta o nível
de preocupação crescendo em meu peito a cada dia que passa.

Basicamente, viver com Elena é como percorrer na água


sozinho no meio de um oceano – mortal, inútil e um passo em
falso de ir ao fundo.

— As mães têm esse tipo de sentimento sobre as coisas.

Meus dedos úmidos agarram meu telefone.

— Pai, por favor, controle sua esposa. Ela está delirando.

A risada de papai soa como um trovão estrondoso.

— Por que eu iria querer controlar o que a torna especial?


É como pedir ao sol para parar de brilhar.

O romance deles faz o ácido subir pela minha garganta.


Não porque eu não goste de como eles se amam, mas porque a
amargura ocupa um lugar no meu coração por saber que minha
mãe será privada desses momentos. Meu pai vai definhar com
ela quando ela piorar, perdendo uma parte de si também.

A ligação aleatória deles para me dar os parabéns significa


tudo para eles, mas me destrói pouco a pouco. É doentio fingir
que estou bem, apesar da guerra mentalmente exaustiva que
estou perdendo semana após semana.

Em vez de expressar minhas preocupações, as mantenho


ocultas.

— Vou desligar antes que vocês dois estraguem meu


apetite. Quando eu ligar para vocês amanhã, por favor,
mantenham o flerte ao mínimo. É bastante nojento.

Mamãe bufa.

— Talvez se você flertasse com o tipo certo de mulher,


então você não ficaria com nojo de nós. Imagine ir a um
encontro real. E não estou falando sobre o lixo que você faz com
mulheres aleatórias.

Meu pai assume.

— Ignore-a. Ela só está se divertindo com você.

Solto uma risada.

— Tudo certo. Preciso ir antes que Elena me diga que


estou atrasado para um evento de imprensa. Falo com vocês
dois amanhã.

Desligo assim que meus pais se despedem. Apesar da


sensação de tristeza que persiste após nossas conversas, atendo
suas ligações aleatórias porque sou um bobão por meus pais.
Eu os amo e quero fazer minha mãe o mais feliz possível, apesar
do seu único desejo que não vou realizar.

Chego à área de imprensa com alguns minutos de


antecedência. Meus pés congelam quando meus olhos pousam
em Elena e Elías conversando, fazendo com que um repórter
resmungão bata nas minhas costas.

Um gemido irritado escapa dos meus lábios. Meu


companheiro de equipe claramente não descobriu que Elena é
minha nesta temporada. Ela deveria estar se concentrando em
mim em vez dele. Sem pensar, elimino o espaço entre nós,
parando ao lado de Elena. Seu cheiro me acalma, me centrando
o suficiente para não fazer papel de bobo.

— Que bom, se não é minha pessoa favorita. — Minhas


palavras saem como um rosnado enquanto encaro Elías.

— E o que isso me torna? — Elena sorri e cruza os braços


sobre o peito.

Meus olhos passam preguiçosamente sobre ela em


desinteresse fingido, apesar do desejo de escanear seu corpo da
cabeça aos pés.

— Inferno reencarnado.

— Pelo menos eu sou quente. — Ela encolhe os ombros.

Elías ri a ponto de se curvar.

Meus punhos se fecham por conta própria.

— Você não pode fazer seu trabalho em vez de flertar com


meu colega de equipe?

— Ay, Dios23. — Elías suspira.

— Estranho, você sabe que o ciúme tem uma maneira de


fazer as pessoas fazerem coisas idiotas. É como marcar seu
território sem motivo, já que não há uma ameaça. — Ela franze
os lábios.

— Não estou marcando meu território. Estou


simplesmente declarando fatos. — Toco seu nariz enrugado.

23 Oh, Deus.
— Cuidado, Kingston. Com a forma como você continua
agindo, acho que se preocupa com outra pessoa além de você.

Suas palavras fazem pouco para aliviar a crescente


agitação dentro de mim. Claro, eu me preocupo com os outros,
incluindo meus amigos e família. Quem é ela para lançar
julgamentos de merda? Mantenho minha resposta para mim
mesmo, optando por passar por Elías para sentar ao lado de
Noah.

— E aí, cara. Achei que você fosse brigar com Elena e Elías
lá. — Os olhos de Noah me avaliam antes de voltar para Elías e
Elena sussurrando em um canto.

Se olhares matassem, Elías teria sido eviscerado. Em vez


disso, volto meu olhar para Noah, captando seu sorriso mal
escondido.

— Elías não consegue entender. Eles contrataram Elena


para me ajudar, não para ficar com ele. — Eu tiro um pedaço de
fiapo da minha calça jeans preta.

— Por que te incomoda se ele falar com ela?

— Porque temos a tendência de discutir, mas sempre que


Elías está por perto ela fica toda feliz e merda assim.

— Você parece ter inveja do relacionamento deles.


— A amizade deles.

A cabeça de Noah cai para trás enquanto ele ri.

— Certo. Amizade. Que azar com Elena. Mas o que você


espera? Duvido que ela queira arriscar seu trabalho para uma
aventura única com você.

— O que eu deveria fazer? Não posso exatamente desligar


meu pau e agir como se não estivesse interessado em transar
com ela.

Noah cruza os braços.

— Se você só está interessado em transar com ela, não


precisa agir de acordo com o seu impulso. Acho que você
cometeu erros suficientes para uma vida inteira. Isso significa
que você mantenha seu pau dentro das calças. Deixe-a fazer
seu trabalho e a deixe em paz.

Foda-se Liam e ele por complicar nossa rotina de foder por


aí e se divertir durante a temporada. Agora estou preso evitando
desastres de relações públicas e uma colega de quarto sedutora,
enquanto meus amigos estão ocupados demais beijando suas
namoradas.

Estou em um caminho solitário de destrutividade sem fim


à vista. Acontece que a miséria adora companhia, e eu a
encontrei em uma garrafa de Jack e uma recarga de Xans.
10

Elena

Entro no elevador do hotel com minha sacola de comida.


Jax me disse que ficaria na suíte enquanto eu saía e pegava o
jantar para mim. Quando o elevador para no andar do nosso
quarto, posso dizer que algo não está certo pela música
chegando ao corredor.

Minha frustração aumenta conforme me aproximo da


porta, a consciência correndo por mim em como Jax decidiu
aproveitar meus trinta minutos de liberdade.

Entro na suíte, encontrando-a escura e cheia de corpos. A


música sai dos alto-falantes, que não estavam presentes antes
de eu sair.

Encantador. Multidões de pessoas festejando como


estrelas do rock. Muitos corpos dançam, balançando ao som da
música, violando a política do hotel. Eu me movo em torno deles
enquanto procuro o homem por trás disso.

Não demoro muito para encontrar Jax, sentado em um


sofá com uma garrafa de Jack em uma das mãos enquanto uma
mulher tenta falar com ele. Ela se inclina para ele, sussurrando
em seu ouvido enquanto passa a mão em seu bíceps.

Rolo meus olhos ao vê-la. A fúria substitui a irritação


enquanto Jax permanece alheio enquanto arranco a garrafa de
uísque de sua mão.

Jax olha para mim, entediado e distante.

— Olha quem é.

— Tire todo mundo agora. — Minha voz permanece


estranhamente calma, apesar da raiva ameaçando explodir de
mim.

— Amor, você está matando meu zumbido. Se você não se


importa, vá para o seu quarto.

Em vez de lutar com ele, me viro e vou para o meu quarto


com pressa para me recompor antes de explodir. Entro no meu
banheiro e vou até a pia, despejando o líquido âmbar no ralo.

— Você não vai matá-lo. Você não vai matar...

Alguém grita ao longe sobre shots.

— Ok, você vai totalmente matá-lo. — Agarro a garrafa


com mais força enquanto sacudo as últimas gotas dela.

— Por que você está jogando fora um bom licor? — A voz


rouca de Jax me surpreende.

— Porque a diversão desta noite acabou. Eu não me


importo se você pousou no pódio antes, não é assim que você
deve comemorar. — Deixo a garrafa vazia no balcão.

Jax me dá espaço para andar em torno dele.

— Seu olho está tremendo.

— Sim, eu ouvi que quando isso acontece, é melhor as


pessoas correrem. Você inclusive. — Pego meu telefone e
procuro os melhores clubes de Bahrein.

Depois de encontrar o perfeito, ligo para eles. Repito as


informações do Amex de Jax para a anfitriã porque ele precisa
aprender a lição. No início da temporada, ele me deu a
autorização para usá-lo em casos que ajudassem a sua
reputação, e bem, isso exige. Estou salvando-o de si mesmo.

Os lábios de Jax formam um O quando eu desligo o


telefone. Saio do meu quarto, sem esperar para verificar se o
objeto de minhas frustrações está atrás de mim. Com pouco
esforço, encontro os cabos do alto-falante e puxo com força,
enchendo a sala em silêncio.

— Doce, doce silêncio. — Atravesso a sala de estar e apago


as luzes, resultando em gemidos de penetras.

Vou até a mesa de centro de madeira no meio da sala e fico


em cima dela.

— Gostaria de convidar a todos para o Club XS em


homenagem à corrida épica de Jax esta manhã. As primeiras
vinte pessoas lá ganham bebidas grátis na conta de Jax!

A sala fica vazia em questão de minutos, com as pessoas


quase tropeçando umas nas outras ao sair correndo pela porta.
Nem mesmo groupies podem resistir ao acesso a um dos clubes
mais exclusivos às custas de outra pessoa. Eu riria se não
estivesse chateada.

Verifico o quarto do hotel. Copos de plástico se espalham


pelo chão, junto com balcões cobertos com garrafas de álcool
pela metade e um pouco de pó branco que não tenho interesse
em limpar. Um euro enrolado ao lado grita a devassidão
esperada dos ricos e desavergonhados. Enquanto isso, Jax fica
por perto, pairando em um canto, avaliando minha reação.

Os olhos de Jax saltam entre mim e o balcão.

— Eu não usei drogas. Só bebi a ponto de me sentir um


pouco embriagado. Não estou nem bêbado, infelizmente porque
não pude continuar com isso.

Em vez de gritar com ele, pego uma lixeira e começo a


limpar a bagunça. Demoro dez respirações profundas e
purificadoras para eu reunir algumas palavras para me
expressar.

— Eu não deveria falar quando estou tão chateada.

— Para ser justo, você me disse que eu não podia sair.


Você nunca disse que as pessoas não podiam entrar.

As respirações extras que eu respiro não fazem nada para


acalmar minha frequência cardíaca crescente.

— Você está seriamente tentando justificar isso? — Aponto


em direção à bagunça ao nosso redor. — Semana após semana,
tento ajudá-lo a impulsionar sua imagem e fazer com que
pareça que você tem tudo sob controle. Claramente, é uma
mentira, com base na maneira como você continua tentando
arruinar tudo de bom que fiz.

Limpo a sala em silêncio, ignorando Jax, que ajuda. Ele


até limpa as drogas no balcão.

— Achei que isso me faria sentir melhor. — Jax coloca um


copo descartado na lixeira que estou segurando.

— E como foi para você?

— Não senti nada. Todas essas pessoas aqui e eu olhei


para a porta da frente, esperando.

Congelo, insegura de sua confissão.


— Por quê?

— Por que não sinto nada?

— Não. Por que você olhou para a porta?

Seus olhos brilham com uma vulnerabilidade rara que não


estou acostumada a ver nele.

— Eu estava esperando por você. Porque quando você está


por perto, eu sinto algo.

— E o que é isso? — Meu sussurro rouco preenche o


silêncio. Com base em como ele age ultimamente, não posso
dizer se ele é bom ou mau comigo.

— Eu não sei. E eu realmente não quero descobrir.

Meu peito aperta a ponto de causar desconforto. Não posso


perguntar a Jax o que ele quis dizer, porque ele se retira para
seu quarto, me deixando de fora, deixando-me para limpar sua
bagunça novamente.

Meus olhos se abrem para o sol espreitando através das


cortinas. Desligo minha lâmpada de cabeceira antes de me
esticar na cama. Como todas as manhãs, pego o porta-retratos
dos meus pais e faço uma oração rápida. Coloco de volta na
minha mesa de cabeceira e passo pela minha rotina matinal de
desligar todas as luzes do meu quarto.

Tenho um pouco de vergonha de admitir que ainda não


durmo no escuro. Eu não suporto as sombras se aproximando à
noite, me lembrando de memórias que luto para deixar ir. Um
dia, vou dormir como uma pessoa normal de 25 anos. Até lá,
continuarei a dormir com as luzes acesas porque afasta os
pesadelos.

Abrindo a porta do meu quarto, bato direto no corpo de


Jax. Solto um grito enquanto perco o equilíbrio. Minhas mãos
agarram seu peito para me impedir de cair. Um peito muito
forte, tatuado e sem camisa, que eu não me importaria de
explorar. O mesmo peito pertencente a um homem que me
deixa mais furiosa do que uma mulher desprezada por Jerry
Springer.

— Oh, eu estava prestes a verificar se você ainda estava


viva. Que pena. Quase pensei que você sufocou durante o sono,
mas percebo que não tenho tanta sorte.

De alguma forma, as duas células cerebrais funcionando


antes do meu café da manhã juntam algumas palavras
enquanto removo minhas mãos de seu peito.
— Bom Deus. Você toma pílulas de idiota todas as manhãs
em vez de vitaminas? — Meus olhos correm para cima e para
baixo em seu corpo antes de pousar em seu rosto.

Por que ele estava esperando do lado de fora da minha


porta? Por que ele está sem camisa? E por que diabos ele tem
que parecer tão bom? Ninguém deveria se parecer como ele às 7
da manhã. É uma vergonha.

Seus lábios se contraem.

— Não. Esse tipo de atitude não requer suplemento. Eu


estava prestes a acordá-la porque não quero que nos atrasemos
para o nosso voo. — Ele suga uma respiração audível enquanto
eu estendo a mão e escovo meus dedos através de uma
tatuagem de uma constelação desconhecida.

— Hmm. — Rastreio as estrelas individualmente, tentando


entender a maneira como meu corpo responde a ele. É um
mistério que ainda não compreendi totalmente. Nunca gostei de
idiotas confrontadores antes, mas aqui estou eu, tocando-o
intimamente. A carícia de uma amante quando somos tudo
menos isso.

— Sou geminiano. — Ele solta um suspiro suave, sua pele


eriçada onde meus dedos permanecem.

Interessante. Prazer corre através de mim com a ideia de


eu ter o mesmo efeito sobre ele que ele tem sobre mim. Pelo
menos minha atração não é unilateral.

— Isso explica muito.

— Diga. — Sua voz tem um tom humorístico.

— Você está com calor e frio. Para cima e para baixo. Mais
ou menos como aquela música da Katy Perry. — Meus dedos
correm impulsivamente por um conjunto de borboletas perto de
sua caixa torácica. Seus músculos se contraem ao meu toque.
Ele pode ser todo aguçado com suas palavras e atitude, mas as
borboletas delicadas que seguem seu lado contam uma história
diferente. Uma história que talvez eu nunca venha a conhecer,
visto que ele resiste a qualquer aparência de amizade comigo.

— E qual é o seu signo então? Minha vez de julgar,


especialmente quando você está me apalpando de graça.

Corro para remover minhas mãos de seu corpo, com


vergonha de prestar atenção na forma como meus dedos
zumbem por tocá-lo.

— Virgem. Também conhecido como o melhor.

— Falou como alguém tendenciosa. — Ele pega o telefone


do bolso da bermuda e digita nele. — Veja. Analítico,
observador, sarcástico, crítico. Ah, e eles até mencionam
virginianos no quarto. Diz que você gosta de uma boa dose de
carinho antes de receber, e pode ser um para muitos fetiches.
Eu me pergunto de que merda estranha você gosta?

— Além de caras que realmente me tratam com respeito?


O horror. — Suspiro zombeteiramente.

Ele ri, o som é suave e diferente de sua personalidade


abrasiva.

— Meu palpite é que bonecas de porcelana observam você


enquanto você faz sexo mundano. Você grita vício em boneca
assustadora, pois elas se parecem com você: vazias e pequenas.

Eu rio a ponto de ofegar. Infelizmente para mim, acho-o


engraçado quando diz algo tão ridículo com uma seriedade que
admiro.

— Oh, Deus. Você me pegou. Achei que meu segredo


estava seguro, mas aqui está você me descobrindo em algumas
semanas. Mantenho uma boneca na minha bagagem de mão
para esse tipo de noite.

— Hmm. Eu sabia que você era estranha. — Ele continua


rolando. — Oh, veja, eles dizem que os virginianos tendem a
sofrer em silêncio.

— Então, temos algo em comum?

O brilho que ele envia em minha direção me faz sentir


como se alguém tivesse arrastado um cubo de gelo pela base da
minha espinha.

— Sofrer significa que me sinto culpado. E se você está


tentando me fazer admitir que me sinto mal por te chatear,
tente de novo. Só porque McCoy a contratou, não significa que
preciso tornar seu tempo aqui mais fácil.

— Eu não desisto dos desafios. — Mantenho meu queixo


bem alto. Ele acha que pode instilar medo em mim, mas eu já vi
o pior das pessoas. — Certamente, boa sorte tentando tornar
minha vida um inferno. Eu não me importo com o calor.

Jax sai do meu caminho para que eu possa caminhar em


direção à cozinha. Mexo com a cafeteira do hotel, desesperada
por algo para colocar minha bunda em marcha. Vou precisar de
toda a ajuda que puder conseguir com Jax em um humor
irritável, logo de manhã.

Ele franze a testa enquanto se inclina contra o balcão.

— Cada vez que penso que disse ou fiz algo para fazer você
desistir, você me surpreende ao ficar. Por que isso?

— Se eu desistir porque você zomba de algo que faço,


então preciso reavaliar meu trabalho. Superar a mim mesma.
Estou aqui para o jogo longo.

— Esse é o meu medo com você. Jogo curto, jogo longo,


jogo final. — Seus olhos brilham com uma vulnerabilidade
incomum antes de desaparecer tão rapidamente quanto veio. —
Eu vou deixar você com isso então. Preciso me preparar para o
nosso voo.

Fico olhando para o corpo de Jax em retirada. Por que ele


tem medo de mim?

Na verdade, tenho medo dele. Não tenho ideia de como


lidar com minha atração por uma pessoa que não posso e não
devo querer.

— Onde você tem escondido isso nas últimas semanas?


Quando você mencionou que íamos em um jato particular, eu
não esperava por isso. — Fico olhando para o avião elegante de
Jax, a tinta preta brilhando sob o sol da manhã.

— Meu pai teve que pegá-lo emprestado para o trabalho,


mas vamos pegá-lo para o resto da temporada. Não se acostume
com isso. Uma temporada vai voar e então você estará de volta
às companhias aéreas comerciais com pretzels baratos e
crianças gritando. — Jax se apoia no tapete como uma
passarela, seus Doc Martens batendo contra o chão enquanto
ele gira.

— Você disse um trocadilho ruim? Estou chocada. — Meus


olhos permanecem em sua bunda. Não consigo nem me lembrar
da última vez em que estive tão focada em cada parte de um
homem. Das longas pernas de Jax para suas coxas musculosas,
para seus braços tensos de arrastar sua bagagem atrás dele.

— Meus olhos estão aqui. — Jax estala os dedos.

Meus olhos levantam, encontrando seus olhos castanhos.

— Eu sei. Eu estava checando o tapete. Preto como sua


alma, estou supondo?

— Agora você está entendendo.

Vendo que Jax é o equivalente humano de um cubo de


Rubik, eu estava – sob nenhuma circunstância – entendendo.

— Foi mal. Insinuar que você tem uma alma significa que
você é resgatável. Você é como minhas bonecas: vazias e com
frio.

Ele bate no peito com um dedo tatuado.

— Ênfase no frio, especialmente em volta do meu coração.


Você tem sorte de eu me importar com minha carreira, porque
se não, você perderia o emprego.
Solto uma risada estridente.

— Não, eu não faria. Eu acabaria trabalhando para


pessoas que realmente querem minha ajuda, em vez de um
idiota que age como se fosse um presente de Deus para a Terra.

Ok, talvez eu ficasse sem emprego pagando o dobro do que


normalmente ganho. Mas pelo menos eu demoraria alguns
meses para encontrar meu primeiro cabelo grisalho.

— Elena, querida, pare de mostrar suas verdadeiras cores.


Quase acho que você tem uma queda por nossas idas e vindas.
Não vou mentir para você, porém, esse tipo de tortura auto
infligida seria um traço de personalidade interessante.

— Minha personalidade está me implorando para enfiar


um calcanhar na sua bunda, mas eu mantenho isso sob
controle. Eu lido com os maiores idiotas nos bastidores em
conferências de imprensa.

— Quem diria que você tinha essas torções perversas? —


Jax ri do meu rosnado de frustração.

Subimos as escadas do avião e cumprimentamos o piloto.


O interior do avião é assustador. Estou cercada por preto – das
cadeiras de couro ao tapete e às paredes.

— Isso é seu?

— Isso é o que meu contador me diz. Por quê? — Jax se


acomoda em uma das cadeiras do capitão.

— É tão...

— Deprimente?

Aceno minha cabeça.

— Você pensaria que algo tão caro seria mais acolhedor.

— Eu gosto da cor.

— É o equivalente a um caixão voador.

Jax faz uma careta para mim.

— Adequado, visto que estou de luto pela perda de sua


carreira.

— Um pouco prematuro, você não acha?

Ele dá de ombros, pega os fones de ouvido da mochila e


mexe no telefone. Sento-me no lado oposto do corredor. Jax
permanece absorto em tudo o que ele faz, ignorando minha
presença.

Pego uma caixa de quebra-cabeça da minha bolsa e coloco


na mesa brilhante na minha frente. No momento em que Jax
mencionou um jato particular, perguntei se poderia comprar
algumas coisas para me manter entretida durante as semanas
de voo. Ele olhou para mim de forma estranha e disse para fazer
isso.

Classifico as peças em grupos com base nas arestas versus


peças normais. A tarefa é calmante, comigo me perdendo no
processo de arranjos.

Meu corpo estremece de consciência. Eu me viro para


encontrar Jax olhando para mim, sua carranca usual
substituída por um pequeno sorriso. No comando, minhas
bochechas coram com sua avaliação. Ele segura meu olhar
quando nossos olhos se encontram, me prendendo em uma
hipnose temporária. Parece que ele quer me deixar entrar por
um momento, me mostrando alguém diferente daquele que vi
nas últimas três semanas.

Algo na maneira como ele olha para mim me leva a


convidá-lo.

— Quer se juntar? — Sorrio enquanto mostro a ele uma


peça do quebra-cabeça.

Ele balança a cabeça, substituindo o sorriso por uma


carranca.

— Não.

Meu sorriso se achata.

— Ok. — Volto para a mesa, retomando minha tarefa.


— Talvez na próxima semana. — Ele fala baixo, fazendo-
me pensar que o ouvi mal.

Não digo nada. Talvez na próxima semana ele me dê uma


chance, mesmo que seja em silêncio enquanto trabalhamos
juntos. A mente de Jax não é nada como o quebra-cabeça de
mil peças na minha frente. Ele é um dos que terei mais
dificuldade em montar, me perguntando se vale a pena tentar.

Passo o que parecem horas organizando as peças por


grupos de cores. A foto deslumbrante de balões de ar quente
zomba de mim, todas as cores felizes e um dia brilhante. Meu
peito arde com a visão do festival de tirar o fôlego.

Invejo o tipo de liberdade que os balões de ar quente têm.


Eles não estão atolados por responsabilidades e bagagem extra
como eu.

Não sei o que me levou a escolher esse quebra-cabeça. No


final do voo, prometo a mim mesma que irei a um festival de
balões de ar quente. Não por causa da beleza ou raridade disso,
mas porque quero que isso me represente seguindo em frente.

Do meu passado. Por minha dor. E do vazio assustador


que ameaça meu futuro.
11

Elena

— Estou saindo. — Jax caminha em direção à porta


principal do nosso quarto de hotel em Sochi.

— Uh, com quem? Achei que íamos ficar no quarto. —


Levanto-me do sofá. Concordamos em não sair enquanto nos
ajustávamos ao jet lag depois de voar de Bahrein a Sochi.

— Você vai ficar em casa. Vou sair com meus amigos.

Meus olhos examinam seu rosto para avaliar sua


seriedade.

— Você não pode sair sem mim. Nós temos um acordo.

Ele aperta a ponte do nariz e fecha os olhos.

— Pelo amor de Deus. Quero sair com meus amigos, tomar


uma ou duas cervejas e conversar antes do treino de amanhã.
Não é exatamente uma rave.

— Que amigos?

— Não acredito que tenho que me explicar assim. — Ele


solta um suspiro profundo. — Noah, Liam e Santiago. Estamos
planejando ficar neste mesmo hotel. Se você está tão
preocupada comigo estragando a imagem em que está
trabalhando, não se preocupe.

Eu suspiro.

— Faz parte do meu trabalho garantir que você fique longe


de problemas.

— Bem, visto que todos os meus amigos têm reputações


completamente limpas agora, duvido que consiga reunir muita
publicidade negativa.

— Você está me pedindo para confiar em você?

— Querer sua confiança significa que eu teria que me


importar. E honestamente, com você, eu não podia me importar
menos.

— Não poderia me importar menos. Se você vai me


insultar, certifique-se de estar gramaticalmente correto. Isso
tende a ter um impacto maior.

Jax se vira e agarra a maçaneta da porta. Suas costas se


levantam para acompanhar sua respiração irregular.

— Você pode confiar em mim para não ir a um clube ou


ficar bêbado esta noite. Eu só quero uma noite com meus
amigos. Sem estresse, sem namoradas ao redor deles. Apenas
uma noite normal para esquecer.

— Esquecer o que? — Sussurro as palavras.

— Para esquecer como é se preocupar todos os malditos


dias da minha vida.

Isso parece o progresso que eu queria desde nosso


primeiro fim de semana juntos. Demorou um mês a mais do que
eu esperava, mas parece que valeu a pena comemorar a
pequena vitória.

— Você sempre pode falar comigo.

Jax olha por cima do ombro, me acertando com um olhar


retraído.

— Abrir-se para você é a última coisa que preciso nesta


temporada. Volto mais tarde. — Ele abre a porta e sai, o baque
da porta combinando com o latejar no meu peito.

Ligo para Elías trinta minutos depois porque não quero


passar a noite sozinha. Ele vem sem nenhuma pergunta,
provando repetidamente porque ele é a melhor pessoa em toda a
organização.
Duas horas e um lote de pipoca depois, Elías apaga
qualquer preocupação que eu tivesse sobre Jax.

— Por que você teve que escolher um filme para mulheres?


Posso ser gay, mas ainda tenho preferências masculinas.

— Na semana passada você escolheu. Não pedi para


assistir ao filme mais recente da Marvel, mas não é como se
você tivesse me dado uma opção.

— Você não pode comparar a Marvel com o que quer que


isso seja. Nenhuma mulher que se respeita deve aceitar de volta
um homem que fica com sua irmã. Ela deveria ter algumas
aulas. Ouça uma música da Taylor Swift, conheça um novo
homem e siga em frente. — Elías deita dramaticamente a
cabeça no meu colo.

— Mais fácil falar do que fazer.

— Se eu pudesse, estaria no próximo aplicativo de namoro,


sem perguntas. Ninguém se atreveria a deslizar para a esquerda
em mim. Você viu minhas maçãs do rosto? Essas idiotas podem
fazer um homem hétero me querer.

Nós dois rimos enquanto ele mostra a referida estrutura


óssea da qual tenho um pouco de inveja.

Ele bate no queixo.

— E se eu sair da F1, me tornar um influenciador e


viajarmos o mundo juntos? Vamos ser honestos, eu
provavelmente teria uma tonelada de visualizações e você
poderia me gerenciar como Kris Jenner. Seja minha momager24,
por favor?

Rio detestavelmente.

— Agora vocês dois estão fodendo ao ar livre? Posso tirar


uma folga de vocês dois? — A voz irritada de Jax me
surpreende.

Minha cabeça vira em direção a ele, abrindo um sorriso


brilhante para combater seu humor.

— Você perdeu a melhor parte! Elías fez uma coisa mágica


com a língua, apesar de eu ter literalmente todas as minhas
roupas.

— Ela está brincando. Estávamos assistindo a um filme.


Relaxa. — Elías coloca um espaço saudável de distância entre
nós.

— Tanto faz. Vocês são estranhos pra caralho. — Jax entra


em seu quarto e fecha a porta.

Elías se encolhe.

— Opa. Parece que o Sr. Rabugento está de volta.

Coloco minhas pernas embaixo de mim.

24 A mãe de uma pessoa famosa que também é seu gerente.


— Você pensaria que depois de algumas cervejas ele
relaxaria um pouco. Não entendo por que ele continua
pensando que estamos namorando.

— Não adianta negar que você é linda e eu sou gostoso.


Não é um choque que ele tire conclusões precipitadas sobre
nós.

Eu ri.

— Ele não precisa ser um idiota sobre isso. Uma coisa é


ficar irritado, mas outra é expressar sua antipatia cada vez que
nos vê.

— O raciocínio é simples.

— O que você quer dizer? — Sussurro no caso de Jax


poder nos ouvir.

— Ele tem tesão por você.

— Se por tesão você quer dizer um desejo ardente de me


ver desaparecer, então sim, ele tem.

— Não. Você não percebeu como ele verifica você do outro


lado da garagem? JaxAttack pode dizer uma coisa, mas seu pau
não concorda. Acho que isso o deixa ainda mais mal-humorado,
porque ele quer o que não pode ter.

Minhas sobrancelhas levantam.


— E você sabe disso como?

— Reconheço alguém andando com tesão quando os vejo.


É uma experiência bastante estranha, com ele cambaleando
quando você se inclina para verificar meu carro.

Cubro minha boca para abafar minha risada.

— Você não pode estar falando sério.

— Eu sei que é um choque, mas o solteiro mais inelegível


da Grã-Bretanha tem uma queda por você.

— É um choque porque ele age como um idiota com muita


frequência para que eu o considere cativante.

— Mas a verdadeira questão é: você o acha sexy? Isso é


algo que eu não me importaria de explorar. — Elías balança as
sobrancelhas.

— Eu acho que caras legais são sexy.

— Ronco. Chato. — Ele finge cochilar.

Empurro seus ombros.

— Quem disse que eles eram chatos?

— Eu! Eu tive que sentar ao lado deles para vários


jantares.

— Sério, o que havia de errado com eles? — Eu cruzo


meus braços.

— Juan era doce, mas uma mentira horrível com base em


todas as suas histórias. O pobre rapaz não teve nenhuma
chance contra você no quarto. Suas necessidades de alfa não
podiam ser atendidas, muito menos satisfeitas. E Pablo
precisava tirar a cabeça da bunda e sair da casa dos pais. Até
as flores e o chocolate perdem o encanto quando sai da mesada
dos pais de um adolescente de 25 anos. Miguel – o doce Miguel
americanizado – era incrível na época. Eu vou te dar isso.
Exceto que ele era um filhinho da mamãe que largou você
porque ela não aprovava uma mulher da Cidade do México. Ela
te tratou como se você cheirasse cocaína para passar o dia.

— Para ser justa, a família de Miguel estava protegida.

— De que? Senso comum?

Uma risada histérica irrompe de mim.

— Ok, obrigada por um lembrete de por que você não


aprovou nenhum dos meus namorados.

— Só estou tentando dizer que Jax pode gostar de você,


então ele provavelmente luta com isso. Talvez seja por isso que
ele é tão mal com você.

— Bem, isso não é uma razão boa o suficiente para ser um


idiota. Pelo menos não para mim. Eu não gosto do enredo do
cara rabugento que é mau com a garota que ele realmente gosta.
É um pouco batido em demasia e antiquado para o meu gosto.

— Mas pense em como seria divertido se você desistisse.


Estou suando aqui pensando nisso.

Rolo meus olhos, levantando-me do sofá.

— Você precisa ir. Já estou farta desta intervenção.

Elías caminha até a porta e sai para o corredor vazio. Ele


me dá um sorriso torto.

— Encare isso. Talvez você precise tentar uma rodada com


um menino travesso para perceber o que está perdendo.

— Diz o cara que é mais doce do que uma garrafa de


ponche. Boa noite e bons sonhos.

— Uma verdadeira amiga gostaria que eu tivesse sonhos


safados. Quanto mais safados, melhor.

Rio enquanto fecho a porta. Sonhos safados podem ser


bons para orgasmos, mas ruins para o coração. Odeio revelar a
Elías, mas Jax Kingston não é o que o médico receitou.
Com base na história recente de Jax na pista, não
esperava que ele subisse ao pódio em todas as corridas desta
temporada. Meus olhos ficam grudados nele quando ele sai de
seu carro de corrida depois de ficar em segundo lugar no
Grande Prêmio de Sochi.

O homem arrogante fez isso. Ele ficou entre Noah e


Santiago, o que por si só é uma grande conquista em
comparação com sua abordagem descontraída no ano passado.

— Droga, por que ele não pode ser uma merda este ano?
Eu ordeno que você pare de ajudá-lo. Honestamente, não
consigo lidar com esse nível de traição da minha melhor amiga.
— Elías me puxa para um abraço. Seu terno de corrida suado
pressiona contra mim.

— Ay Dios, ¡para! Você cheira mal. — Eu torço meu nariz e


engasgo.

— Este é o cheiro do trabalho e do amor. Você não


entenderia com seu recente estilo de vida luxuosa de jatos
particulares e quartos de hotel elegantes.

— Você me pegou. Não há absolutamente nenhum


trabalho necessário ao lidar com seu colega de equipe o dia
todo, todos os dias. — Eu mostro minha língua para ele.
— Elena, eu preciso que você me ajude em algo. — A voz
espinhosa de Jax chama nossa atenção.

— O dever chama. — Jogo minhas mãos para o lado e dou


um giro nos calcanhares antes de me afastar de Elías.

— Você precisa de mim? — Paro na frente de Jax.

— Siga-me. Eu tenho coisas a fazer antes de voarmos hoje


à noite e não tenho tempo para ficar sentado enquanto você
flerta com Cruz.

— Tudo bem. — Eu arrasto as palavras. Alguém poderia


pensar que depois de subir no pódio, Jax estaria com um
humor melhor.

Eu estava errada. Muito errada.

Sigo Jax pelos corredores vazios da McCoy até sua suíte


privada. De alguma forma, um mês com ele me ajudou a
desenvolver resiliência a sua atitude. Meus dias incluem um
lembrete matinal de que não estou aqui para jogar bem, seguido
de desejar que meu café fosse algo do tipo alcoólico.

— Se você planeja dormir com ele, pelo menos me avise.


Eu quero ficar longe de vocês dois quando a merda bater no
ventilador.

Paro no meu caminho e rio para o teto.


— Por que você está com ciúmes? Não é como se você
tentasse sair comigo.

Ele faz uma careta.

— Isso não tem nada a ver com ciúme.

— Estranho porque por alguma razão esquisita suas


palavras soam terrivelmente parecidas.

Seu tênis de corrida range contra o chão de ladrilhos


enquanto ele devora o espaço entre nós. Tudo sobre ele me
atrai, apesar de nossas personalidades contrastantes. Somos
como dois ímãs. Com uma virada, somos polos opostos, mas se
ele parasse de ser um idiota, tenho a sensação de que nos
encaixaríamos no lugar.

— Ciúme significa que tenho que gostar de você, ou pelo


menos querer você. — Seus olhos escurecidos percorrem meu
corpo, falhando em corresponder às suas palavras.

Ele intoxica meu cérebro com um simples olhar e uma


curva do lábio. Alguns fios em meu cérebro devem estar
cruzados se estou atraída por seu nível de idiotice.

— Poderia ter me enganado.

— Como assim?

Inclino-me mais perto, dando-lhe uma boa visão da minha


blusa. Como posso me importar com a modéstia quando estou
tentando provar um ponto? Cansei de lidar com a atitude dele
durante a semana.

— Você pode não gostar de me ter por perto, mas eu tenho


uma teoria que tem mais a ver com você me querer do que por
odiar minha ajuda. Você não pode deixar de desejar algo mais e
isso te assusta.

Ok, minha última frase é um palpite influenciado por


Elías, mas um palpite plausível, no entanto.

— Os desejos são para pessoas fracas. — Seus olhos


permanecem no meu peito.

O calor de seu olhar age como dedos invisíveis traçando


minha pele. Eu ignoro os arrepios deixados para trás.

— Você está certo. Os desejos são para os fracos que não


têm coragem de correr atrás do que querem.

Flertar com o desastre tem um aspecto, e é isso. O brilho


em seus olhos deveria me alertar. Em vez disso, fico enraizada
no chão, imóvel enquanto ele se inclina. Tudo para em torno de
mim enquanto seus lábios traçam levemente a curva do meu
pescoço. O ar quente escapa de sua boca, fazendo-me
estremecer com a nossa proximidade.

Eu não esperava que ele chegasse tão perto. Inferno, eu


não esperava que seus lábios fossem incríveis na minha pele.
Sua língua dispara, descendo pela coluna do meu pescoço.
Minhas pernas ameaçam dobrar.

— Oh, eu persigo o que eu quero. Odeio quebrar isso para


você, mas você não é isso, amor. — Ele se afasta e entra em sua
suíte, deixando-me confusa e um pouco envergonhada quando
fecha a porta.

Jax me quer. Ele é um mentiroso, tentando se convencer


mais do que a mim sobre seu desinteresse.

Depois de respirar fundo algumas vezes para acalmar meu


coração acelerado, entro em sua suíte. Meus olhos examinam a
sala vazia antes de pousar na porta fechada do banheiro. Eu me
impeço de bater uma vez que Jax fala.

— Corta essa merda. Você não pode continuar assim,


tremendo e ruminando e essas merdas quando deveria estar
comemorando. Não é à toa que já faz anos desde que você
ganhou um Campeonato Mundial. Você é um idiota patético que
não pode vencer porque está muito ocupado duvidando de si
mesmo.

Ah, não. Tudo gira em torno de mim enquanto tento


envolver minha cabeça em quanto desprezo Jax guarda para si
mesmo. Um pequeno grão de culpa passa por mim ao
bisbilhotar, mas preciso de toda a ajuda que puder para
entendê-lo melhor. Mesmo que seja às custas de algo de que
não estou exatamente orgulhosa.

— Ela está certa. Você é um pedaço de merda fraco.


Qualquer um que desse uma olhada em você agora concordaria.
— Sua voz falha.

Encolho-me diante dele referindo-se ao que eu disse. Eu


realmente não acho que ele seja fraco. Talvez um pouco
delirante e frustrantemente opositor, mas nem um pouco fraco.
É difícil ignorar a dor aguda atingindo meu peito enquanto ele
continua com seu discurso de auto-ódio.

— Você vai para a sala de resfriamento e agir como sempre


faz. Então você vai ligar para mamãe e papai mais tarde e
engolir tudo como um homem. Sem mais merda de ansiedade
depois de falar com eles. Cresça, porra.

Meu coração dói a ponto de explodir. Afasto-me da porta,


sabendo que ele merece uma aparência de privacidade.

Sento-me em um sofá e viro as costas para o banheiro,


refletindo sobre tudo o que ele disse. Meu estômago aperta com
a ideia de ouvi-lo claramente tendo um momento de angústia.
Não tenho orgulho de bisbilhotar, mesmo que tenha aprendido
sobre uma parte crucial de Jax que ele mantém escondida do
mundo. Quem diria que a antipatia que ele tem por mim é igual
ao que ele guarda para si mesmo?
A porta se abre alguns minutos depois. Minha coluna se
endireita enquanto os olhos de Jax queimam um buraco em
minhas costas.

— Você ainda precisa da minha ajuda com o que você


mencionou na garagem?

Ok, eu não parecia tão culpada quanto me sinto.

Ele solta um suspiro profundo.

— Não mais. Eu lidei com isso. É melhor celebrarmos a


vitória antes que Connor perca sua merda. Não posso me
atrasar para o meu próprio pódio.

Ignoro o desejo de consolá-lo. Ele se move em direção à


porta principal, silenciosamente me pedindo para segui-lo. Seus
olhos permanecem escondidos atrás de um par de óculos
escuros enquanto caminhamos em direção ao pódio, fingindo
que nada aconteceu.

Como se eu não tivesse encontrado um ponto de ruptura


em seu exterior áspero.

Como se eu não quisesse gostar dele mais do que não


gosto dele.

Como se eu não quisesse ajudá-lo por mais do que um


salário no final da temporada.
E o último é o pensamento mais preocupante de todos.

— Se não é minha mediadora favorita? — Connor faz um


gesto para que eu me sente em frente à sua mesa. Seu escritório
está vazio, sem lembranças pessoais para decorar o lugar. Acho
desagradável e estéril.

— Posso dizer pelo seu rosto que você acha este lugar
chato. Não vou mentir para você, ainda estou esperando o
próximo evento surpresa, me perguntando quando o conselho
vai me retirar do meu emprego. — Seus olhos encontram os
meus, brilhando com uma abertura que acho refrescante em
comparação com Jax.

— Não se eu puder evitar. — Levanto meu queixo com


confiança.

— Esse é o espírito. Você tem feito um ótimo trabalho até


agora. Muito bem em manter Jax sob controle. E de acordo com
minhas fontes, sua primeira arrecadação de fundos foi incrível.
Você deve se orgulhar de arrecadar milhares de euros para uma
causa tão grande.
— Estou feliz que você pense assim. Na verdade, tenho
algo a lhe pedir que pode ajudar a melhorar um pouco mais as
coisas por aqui.

— Diga e é seu. — Connor me dá um sorriso doce.

A cautela me deixa no limite, sem saber se Connor


pretende flertar. Ele deve notar a mudança em mim com base
na maneira como ele tosse antes de rir.

— Ah, não. Por favor, não tome minha disposição como


nada além de uma extensão de boa fé. Eu realmente quero que
Jax dê o seu melhor e tenho a sensação de que você é uma das
poucas pessoas que poderia ajudá-lo. Estou disposto a dar a
você tudo que você precisa para mantê-lo no topo do jogo.

— Bem, isso é algo que eu acho que pode ser útil para
ambos os companheiros de equipe, na verdade. — Desculpe,
Elías. Por favor, me perdoe, mas você precisa de alguém com
quem conversar também.

— Desembucha. Sua óbvia hesitação está me sufocando


aqui.

— Ok, bem, eu fiz algumas pesquisas sobre atletas e


desempenho sob estresse. Acho que a galera poderia se
beneficiar conversando com uma psicóloga especialista em
esportes. Encontrei alguns e compilei uma lista daqueles que
desejam viajar com a equipe de McCoy.

— Por que eles precisam de um psicólogo?

— Nós dois sabemos que Jax luta contra a ansiedade e,


como Elías é novo na equipe, não faria mal para ele falar com
alguém também.

Connor esfrega o queixo.

— E qualquer coisa dita nessas sessões permanece


confidencial?

— Esse é o trabalho do psicólogo. Acho que pode ajudar os


dois caras e fazer a diferença no gerenciamento do estresse e
dos medos de desempenho.

Jax precisa de toda a ajuda que puder conseguir e, por


mais confiante que esteja com minhas habilidades, não posso
me comparar a um profissional de saúde mental. Algo em meu
peito aperta com a lembrança de sua conversa no banheiro. Há
algo que o impede de realizar o que é capaz, e talvez falar com
alguém possa ajudar.

Estou disposta a tentar qualquer coisa para ajudá-lo a


controlar sua ansiedade.

— Feito. Tudo o que você precisa é seu. — Connor olha


para mim e sorri.
— Vou precisar que você de alguma forma convença Jax de
que é parte de seu contrato. Duvido que ele vá a essas sessões
de boa vontade.

— Ele vai fazer o que eu digo. Dê-me uma semana para


fechar o contrato com a psicóloga. Suponho que você vai me
enviar um e-mail com a lista de potenciais. — Connor diz com
uma autoridade que eu não vi nele ainda.

— Sim, claro. — Lambo meus lábios. — Eu tenho um


último favor.

Connor suspira.

— Por que sinto que vou me arrepender disso?

— Desculpe. — Eu me encolho. — Você pode, por favor,


fingir que foi você quem veio com isso? Jax vai me odiar se
descobrir que o forcei a um psicólogo.

— Ele não vai odiar você.

Vendo como Jax vocalizou uma e outra vez o quanto ele


odeia falar sobre seus sentimentos, é difícil acreditar em
Connor.

Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Confie em mim, ele vai.

— Jax não pode odiar ninguém. Ele odeia o mundo e as


cartas ruins dadas às pessoas, mas não pode odiar você. Confie
em mim, eu o conheço há um tempo.

Não tenho ideia do que fazer com seu comentário.

Connor não me dá a chance de perguntar o que ele quer


dizer.

— Eu sei que ele tem sido difícil, mas ele é um cara bom.
Um homem de família leal que tem alguns problemas que
podem atrapalhar. Ele está um pouco perdido, mas sei que vai
sair dessa. Gosto da sua ideia do psicólogo. E não se preocupe,
vou fingir que é culpa minha.

— Obrigada. — O alívio lava minha ansiedade anterior.

Conto hoje como uma vitória para o Team Elena.


12

Jax

Eu sou um idiota. Com base na maneira como Elena me


encara, eu nunca deveria ter planejado um jantar estúpido em
nosso voo de Sochi para Barcelona. Agora ela me olha com
esperança e merda assim. Esperança que eu preciso apagar já
que não há uso para isso. Pelo menos não para mim.

— Uau. — Seus olhos se movem de mim para os tacos e


vinho.

Isso totalmente parece um encontro. Merda.

— Eu estava desejando comida mexicana esta noite.

Ela olha para a comida, ignorando a aeromoça que a


conduziu para sentar na minha frente.

— Pare de agir estranho. Sua comida está esfriando. —


Pego um guardanapo de pano e coloco no meu colo.

Ela se acomoda no assento à minha frente.

— Tacos?
— Sim. Tacos. Você sabe mais palavras do que isso,
vamos. Eu literalmente te atordoei? Eu sei que pareço bem,
mas...

Ela levanta os olhos do prato.

— Estou surpresa. Acho que sua vitória no Prêmio o


deixou de bom humor.

Porra. Eu realmente sou um idiota total. Se este é um


gesto doce, estou fazendo meu trabalho fodendo tudo com a
gente muito bem. A única razão pela qual eu preparei este
jantar foi porque eu queria agradecê-la por sua ajuda até agora.

Em vez de expressar meus pensamentos, guardo minha


gratidão para mim mesmo.

— Agora eu sei como fazer você parar de falar.

A aeromoça pergunta se precisamos de alguma coisa, mas


eu a mando embora com um agradecimento.

— Portanto, temos quase oito horas juntos. Alguma aposta


sobre quanto tempo vai demorar até que um de nós diga algo
desagradável? — Bebo meu vinho para acalmar meus nervos.

— Com base na sua história, dou dois minutos.

— É a última vez que quero ouvir você se referindo a mim


e dois minutos na mesma frase.
O sangue corre para suas bochechas.

— Eu caí direto nessa.

— Eu não pude resistir. — Eu passo um dedo em sua


bochecha rosada sem pensar, apreciando a maneira como seus
olhos se nublam e seus lábios se abrem.

Ela se afasta do meu toque. Um sorriso aparece em seus


lábios enquanto ela pega um taco e dá uma mordida em sua
comida.

— Então... você se manteve firme por um mês – menos sua


tentativa fracassada de uma festa na suíte. Como você está se
sentindo?

Sorrio.

— A música soa melhor no pódio do que ficar de fora.

— Tenho certeza de que mais dessas vitórias estão por vir.

Por que ela sempre acredita em mim? Não importa


quantas vezes eu a rejeite, ela mantém sua merda positiva com
um sorriso.

— Diga-me, McCoy paga você extra para ser minha líder de


torcida pessoal?

— Eu deveria ter incluído isso no meu contrato.


Provavelmente poderia ter ganhado alguns mil euros extras por
ser sua coach motivacional.

— Sua perda é meu ganho.

Ela encolhe os ombros, optando por comer em silêncio.

Eu odeio ficar em silêncio. Por alguma razão masoquista


que não consigo compreender, quero que Elena preste atenção
em mim. Para me ver como algo mais do que um idiota irritável,
mesmo que seja por uma hora.

— Então, me diga algo que ninguém sabe sobre você.

Quem diabos começa com uma pergunta dessas?

Eu, um idiota filho da puta, é quem faz isso.

Ela engasga com sua bebida na exibição mais nada


feminina que já vi dela.

— O quê?

— Vamos, vamos jogar um jogo.

— Escolha um jogo diferente. Eu não gosto deste. — Ela


cruza os braços.

Meus olhos caem direto para seu decote porque tenho o


autocontrole de um adolescente. Olá, cérebro, encontre a sarjeta
para a qual você está se movendo permanentemente.
— Não. Então, me diga algo que ninguém sabe sobre você.

— Você é um idiota 99% do tempo, então não quero


compartilhar segredos com você.

— Mas pense no 1% de mim que você realmente gosta.


Vale a pena.

Ela pisca para mim sem responder.

Reviro meus olhos.

— Bem. Um segredo por um segredo. Vou começar a lhe


dar um pouco de fé em mim. Eu amo One Direction.

Ela ri antes de parar, provavelmente por causa da minha


carranca.

— Eu sinto muito. Achei que você estava brincando


comigo.

— Garanto que não, visto que fui VIP no último show


deles. A separação deles fez metade do Reino Unido chorar.

— Como você tem uma tatuagem do Coldplay e ainda


adora One Direction? — Ela aponta para a tatuagem da capa do
álbum Parachute do Coldplay no meu braço.

— Da mesma forma que você adora assistir as reprises de


Real Housewives e Downton Abbey. Não vou responder
honestamente se você for me julgar.

Ela coloca as palmas das mãos para cima em submissão.

— Tudo bem. Eu vou me comportar.

— Bem. Você pode me compensar dizendo algo que


ninguém sabe sobre você. — Eu sorrio para ela.

— Eu coleciono globos de neve.

Eu zombo.

— Besteira. Com certeza alguém sabe sobre sua coleção.

— Bem, ninguém sabe por que eu os coleciono. Eles só


sabem que eu faço.

Inclino-me mais perto, intrigado.

— Certo, tudo bem. Diga-me o porquê.

Arrependo-me de inspirar profundamente porque seu


perfume frutado agride meu nariz. Meus pulmões se contraem e
o sangue corre para o meu pau. Ela cheira bem. Muito, muito
bem pra caralho.

O que é muito, muito ruim.

— Os globos de neve são especiais, principalmente os que


tocam música. Esses são meus favoritos. Eu os amo porque
sinto que eles são um momento no tempo, capturados e
lembrados. Tenho algumas de diferentes cidades, uma da
universidade e alguns outros que são importantes para mim. —
Seu sorriso cai como se ela se lembrasse de algo desagradável.

Não gosto da expressão triste em seu rosto.

— Onde está sua coleção agora?

— Tenho um pequeno apartamento em Mônaco onde


trabalhava antes de tudo isso de F1 viajando com você.

— Você coletou algum durante esta viagem?

Ela pisca para mim.

— Não. Por quê?

— Estou me perguntando qual é a sua próxima memória


que vale a pena salvar. — Bem, porra, isso soou mais sonhador
do que o pretendido.

Com base na forma como suas sobrancelhas se erguem,


posso dizer que ela teve a mesma reação de surpresa. Em vez de
esperar que ela responda, mantenho a conversa. Só por
gentileza. Não porque estou interessado em conhecê-la mais.

Besteira. Foda-me de lado com um vibrador de 25


centímetros, por favor, porque estou realmente gostando da
companhia de Elena.

— Qual é a sua coisa favorita para fazer no seu tempo


livre? Obviamente, além de cuidar de mim.

Ela sorri.

— Gosto de assistir a vídeos no YouTube de pessoas


fazendo maquiagem.

— Deixe-me ver se entendi: você gosta de ver as pessoas se


maquiarem?

— Isso é o que eles costumam fazer. Mas eles também


fazem desafios como colocar maquiagem em seus namorados,
se arrumar sem as mãos e fazer maquiagem enquanto ficam
bêbados.

— Esses são alguns idiotas comprometidos, fazendo isso


por suas namoradas. Eu poderia totalmente ver Liam fazendo
essa merda para Sophie. Eu não vou mentir, estou surpreso que
você goste de ver as pessoas fazendo maquiagem em vez de
fazer você mesma.

— Os YouTubers mais talentosos fazem com que pareça


arte. É o meu prazer culpado.

Balanço minha cabeça.

— Se esse é o tipo de prazer que você gosta, os homens


estão fodidos. Eu amo preliminares tanto quanto qualquer cara,
mas eu traço um limite para pincéis de maquiagem.
Uma gargalhada escapa dela.

Eu não penso antes de falar.

— Eu gosto quando você ri assim.

Ela me olha como se eu admitisse que tenho uma coleção


secreta de brinquedos sexuais.

— O quê?

— Nada, — eu deixo escapar.

Ela deixa meu comentário ir. De alguma forma, duramos


um jantar inteiro sem discutir. Uma hora de nos conhecermos
mais do que nunca. Eu odeio admitir que conversar com Elena
foi relaxante e divertido, o exato oposto do que deveríamos estar
fazendo juntos.

Quando terminamos, ela se acomoda na cadeira do outro


lado do corredor para trabalhar em seu quebra-cabeça. Ela me
lança um sorriso tímido em um convite silencioso.

Balanço minha cabeça, negando seu pedido. Não porque


eu não queira. Minha rejeição é porque desejo mais tempo com
ela. Mais atenção, mais de suas risadas, mais de seus malditos
olhos cintilantes.

Seus ombros caem enquanto ela volta sua atenção para o


quebra-cabeça. É óbvio que ela esperava que eu participasse.
Mas fazer algo assim juntos pode dar a ela uma ideia errada.

Um relacionamento, mesmo algo tão platônico como uma


amizade, não funcionaria entre nós. Não pode funcionar. Se
aprendi alguma coisa com Liam e Sophie, as amizades só
terminam de um jeito, com eu te amo e sonhos de para sempre.

Alguém como eu sempre decepcionará alguém como ela.


Está escrito no meu DNA, entrelaçado com um gene idiota e
outras merdas que não podem ser substituídas.

— Espero que você esteja pronto para o próximo evento de


construção de reputação! — A voz cantante de Elena me acorda
da minha soneca no sofá. Eu não me incomodei em chegar ao
meu quarto por causa do quão exausto eu estava depois do
nosso voo para Barcelona.

Coloco-me em uma posição sentada, levando-a a se afastar


de mim.

— Você tem serotonina demais para ser considerada


humana. Como diabos você tem tanta energia feliz o tempo
todo?
— Diz o cara que treina muito, mas não tem endorfinas
para combinar.

— E deixe-me adivinhar. 'Endorfinas fazem você feliz e as


pessoas felizes não atiram em seus maridos'. — Tento meu
melhor discurso arrastado do sul de Reese Witherspoon.

— Você não citou Legalmente Loira. — Seus olhos


esbugalhados fazem um sorriso se espalhar pelo meu rosto.

Eu me abaixo e me levanto25 por algum motivo


desconhecido. A risada saindo da boca de Elena faz a ideia
estúpida valer a pena.

— Você adora filmes, não é? — Seus olhos se iluminam.

— Absolutamente. Acho que seria um crítico de cinema ou


coisa assim se não estivesse correndo.

— Sério?

— Oh sim. IMDB26 é minha bíblia e O Senhor dos Anéis é a


melhor série de livros adaptados para filmes. Eu sou um
cinéfilo.

— Meu Deus. Ai credo. Não diga assim. — Ela franze os


lábios da maneira mais adorável.

25 Ele faz uma referência ao filme do movimento que a Elle Woods ensina a sua amiga Paulette no salão
de beleza para conquistar o interesse amoroso dela.
26 IMDb, também conhecida como Internet Movie Database, é uma base de dados on-line de informação

sobre música, cinema, filmes, programas e comerciais para televisão e jogos de computador.
Adorável. Deus me ajude porque eu acho que minhas
bolas foram permanentemente separadas do meu corpo.

Cruzo meus braços.

— Não há nada de errado em ser um cinéfilo.

— Por favor, apenas diga que você gosta de filmes. Esse é o


meu conselho de relações públicas para você. A última coisa
que preciso é de alguém postando como você é outro tipo de
'filo'.

Jogo minha cabeça para trás e rio.

— Porra, não.

Ela balança a cabeça e ri comigo.

— Sério, você precisa começar a se preparar. Eu não quero


chegar atrasada.

— Podemos remarcar para nunca mais?

— Desculpe, estou esgotada por uma eternidade a partir


de agora, então este é meu único espaço livre. — Ela bate em
seu pulso sem relógio.

— Claro que você está. Você não diria que é bastante


conveniente?

— Qualquer coisa relacionada a você é tudo menos


conveniente. — Ela se levanta do outro lado da seção. — Você
está pronto para o que eu planejei?

— Nem um pouco.

— Perfeito! Vista-se com o terno que coloquei no seu


quarto enquanto você dormia. — Ela cobre a boca com a mão,
mas seus olhos traem sua diversão.

Olho para ela com ceticismo quando entro no meu quarto.


Uma roupa de coelhinho da Páscoa me assusta pra caralho,
com olhos enormes e um colete verde neon coberto de ovos
fluorescentes.

— Surpresa! Uma caça a ovos de Páscoa! — Ela bate


palmas exageradamente.

— Você deve estar brincando comigo. Um terno? Sério?

— Eu sei. Não é legal? Você não tem ideia de como foi


difícil encontrar um desses em tão pouco tempo. — Ela se
encosta na minha cômoda.

— Por que não posso me vestir como uma pessoa normal?

— Porque você é o anfitrião do evento e as crianças querem


um verdadeiro coelhinho da Páscoa.

— Coelhos nem botam ovos. Isso é estúpido pra caralho.


Ela dá de ombros, ignorando minha turbulência.

— Estúpido, mas eficaz. Estamos arrecadando dinheiro


para financiar playgrounds locais nas áreas mais carentes de
Barcelona.

Droga, quase concordo com seu pedido estúpido de roupa


de coelho com base na maneira como seus olhos se iluminam
com a ideia de doar dinheiro para crianças necessitadas.

Quase sendo a palavra essencial.

— Eu não vou usar isso. Eu me recuso. — Balanço minha


cabeça negativamente.

Ela balança o lábio no comando e junta as mãos em uma


oração simulada.

— Por favor? Pense nas crianças. Elas vão querer tirar


fotos com um coelho de verdade e se divertir. Além disso, os
pais estão doando muito dinheiro para encontrar ovos na pista
de corrida com você.

— O que eu ganho com isso?

— Além de arrecadar fundos para crianças de bairros


pobres que merecem equipamentos novos e seguros de
playground?

Quando ela coloca dessa forma, eu pareço o maior idiota.


Mas a roupa de coelho é horrível, e um sopro em sua direção me
diz que tem um cheiro ofensivo.

— Eu recebo um favor de você.

— Que tipo de favor? — Os olhos de Elena se arregalam.

— Não do tipo sexual baseado na expressão de horror em


seus olhos. Tudo está sobre a mesa, desde que não seja ilegal.

— Bem. Nada ilegal, nada sexual e nada que possa me


fazer perder meu emprego. — Ela estende a mão para mim.

Eu agarro, apreciando a sensação de sua mão na minha.

— Combinado.

— Eu serei amaldiçoado. Esta é a melhor merda que eu vi


em... bem... desde sempre... — Liam dá um tapinha em um dos
ovos do meu colete horrível.

— Não diga isso a Sophie. — Noah dá um soco no ombro


de Liam.

— Nem mais uma palavra sobre isso de vocês. — Eu olho


para eles apesar da falta de visibilidade do grande capacete.

— Eu vou ter certeza de contratá-lo para o aniversário do


meu filho um dia. Quanto você cobra por hora? — Noah dá um
puxão em uma das minhas orelhas.

— Vou me aposentar depois disso. Se você quiser me


contratar, espero que esteja tudo bem com seus filhos
aprendendo cada palavra suja do dicionário.

— Se meu filho aprender palavrões com você, não fiz meu


trabalho como pai. — Noah sorri para mim.

— Olhe para você, tendo uma namorada estável e falando


sobre crianças. Maya mantém suas bolas como reféns por
garantia?

— Idiota. — Noah franze a testa para mim.

— Oh, olhe, Elena está trazendo outra criança. Veja aquele


pequeno trouxa segurando sua mão. Acho que ele está
apaixonado. — Liam bate os cílios de uma forma dramática que
me faz querer bater na sua nuca.

Elena olha para a criança com o sorriso mais genuíno.


Estou preso olhando como um idiota, gostando de como ela
sorri para o garoto antes de oferecer a ele uma barra de
chocolate em tamanho real. A forma como meu peito aperta
quando ela enxuga uma lágrima de seu rosto desperta uma
mistura de emoções que quase me joga para trás. O anseio é o
que mais me impressiona.

Elena caminha até nós, parando meu dilema interno.

— Olá a todos. Este é meu novo amigo Rafael. Algumas


crianças levaram todos os seus ovos quando ele deixou cair a
cesta por acidente, então eu disse a ele que ele poderia conhecer
os melhores pilotos em vez de colecionar doces.

Jesus Cristo. Crianças podem ser brutais.

Liam se ajoelha na frente de Rafael.

— Quem é seu piloto favorito? Se for eu, tenho um doce


extra para você.

Rafael balança a cabeça, fazendo todos nós rirmos ao


apontar para Noah.

— Claro. Todo mundo adora o famoso Noah Slade. —


Resmungo baixo, o terno abafando minha voz.

— Não fique com ciúmes. Com a forma como você está


dirigindo nesta temporada, quem sabe o que vai acontecer a
seguir. — Noah se agacha na frente de Rafael. Ele tira o seu
boné da cabeça e o assina antes de colocá-lo na cabecinha de
Rafael.

Elena aponta para o meu capacete.


— Você já pode tirar isso. Sinceramente, só esperava que
você o usasse para a sessão de fotos.

— E você planejava me dizer isso quando?

Ela solta uma gargalhada mais alta.

— Assim que a caça aos ovos começou. Mas, uma vez que
você continuou sem reclamar, não pude resistir. Eu quis dizer
isso quando disse que era quase impossível para mim encontrar
um desses no último momento.

— Droga, ela te pegou bem. — Liam bate sua mão com a


de Elena.

— Retorno por semanas de atitude. — Ela encolhe os


ombros.

— Você é tão... — eu começo.

— Criança! — Noah nos interrompe.

Liam me olha enquanto ele assina a camisa de Rafael.

— Você só pode se culpar por ser um idiota


temperamental.

— Isso é bom. Eu ganhei um favor com isto. — Eu sorrio


perversamente para Elena assim que tiro a cabeça de coelho.

Sua boca se abre enquanto ela olha para meus amigos.


— Não é nada ruim nem nada!

Rafael sorri para mim e dá um abraço na minha perna. Eu


acaricio sua cabeça sem jeito, sem saber como agir perto de
crianças.

Liam balança a cabeça para Elena.

— Não somos o tipo que julga.

— Sim, e para ser honesto, temos mais medo de Jax


corromper você. — Os olhos de Noah deslizam de mim para
Elena.

Elena joga a cabeça para trás e ri. Não consigo tirar meus
olhos dela, não importa o quanto eu queira. Embora eu queira
ficar mais com ela, não posso. Mesmo algo como hoje me
empurrou para mais perto do que deveria estar com ela.

Quando chega a hora, sou o primeiro a pegar a estrada


correndo. E eu sou do tipo que não olha para trás.
13

Jax

— Não vou falar com um psiquiatra. — Fecho a porta do


escritório de Connor e me sento em frente a ele.

— Sim, você falará. Está no seu contrato.

— Onde? Por favor, mostre-me, porque da última vez que


verifiquei, as sessões psicológicas não estavam nas letras
miúdas.

— Está sob a cláusula que diz que você vai fazer o que eu
quiser, quando eu quiser. Seção 3B se você quiser ser
específico. — Ele vira seu laptop para mim, me mostrando a
seção destacada.

— Só pode estar brincando comigo. Não quero falar com


ninguém.

— É uma nova política da empresa. Os atletas falam com


um psicólogo uma vez por semana durante uma hora. Qualquer
coisa dita entre vocês dois permanece confidencial.
Cerro meus punhos.

— Por que você está fazendo isto comigo?

— Não é um ataque pessoal. É saudável e espero que


outras equipes nos imitem. Vocês lidam com altas velocidades,
colisões, estresse e uma tonelada de outras coisas. Eu prefiro
ter atletas mentalmente sãos dirigindo nossos carros. E não
finja que não teve outra merda te corroendo.

— Isso é diferente. Não tem nada a ver com minhas


habilidades de direção.

Connor zomba. — Oh, caia fora. Claro que sim. Você


tomando um Xanax no dia de uma corrida diz o contrário.

— Não é por causa das corridas e você sabe disso. É difícil


estar perto de toneladas de pessoas. Eu sinto que estou
constantemente ligado, me exaurindo tentando não dizer a coisa
errada ou agir da maneira errada.

Ele fecha o laptop, dando-me toda a atenção.

— Exatamente meu ponto. Todos podem falar com alguém,


inclusive você. Quero que meus pilotos estejam em ótimas
condições nesta temporada.

— Então Elías tem que fazer isso também?

— Não posso dizer quem vai ao psicólogo, mas estou


dizendo que você vai fazer isso.

— E se eu não disser nada durante a sessão?

Ele levanta um ombro.

— Então não faça. É sua hora para desperdiçar como


quiser. Se terminamos, preciso fazer uma ligação. E não se
atrase para a sua primeira sessão. — Ele me dispensa com um
aceno de cabeça em direção à sua porta.

Resmungo um adeus enquanto faço meu caminho em


direção ao consultório do Dr. Schwartz, a mais nova adição da
McCoy ao meu inferno pessoal.

Bato em sua porta. Ele a abre, deixando-me entrar em seu


escritório com um sofá, iluminação baixa e uma vela com o
cheiro de quando entrei no set do The Great British Baking
Show. Quão zen da parte dele.

— Bem-vindo, Jax. Prazer em conhecê-lo. — Dr. Schwartz


se senta à minha frente. Seus olhos castanhos gritam
serenidade e são acolhedores, enquanto os meus dizem que
prefiro ser fodido com uma serra elétrica do que estar aqui.

Gráfico, mas estranhamente imaginativo.

— Bem, Dr. Schwartz, ouvi dizer que vou visitá-lo todas as


semanas pelo resto da temporada.
Ele passa a mão pelo cabelo castanho antes de ajustar os
óculos grossos.

— Por favor, me chame de Tom. E sim, disseram que nos


encontraremos uma vez por semana, mas estarei de plantão se
você precisar de mais sessões. — Suas palavras carregam um
sotaque sulista.

— Duvidoso.

Ele ri.

— A maioria dos atletas resiste a trabalhar com psicólogo


no início. No primeiro momento, pode ser intimidante se abrir
com alguém, especialmente para aqueles que estão sob os
holofotes o tempo todo. É compreensível como você deseja
manter sua vida privada, privada.

— O que você sabe sobre atletas?

— Sou psicólogo de esporte, o que significa que me


especializo em clientes importantes que lidam com estressores
não típicos de uma pessoa normal. Já trabalhei com a NFL e
NBA. Embora eu seja novo na F1, posso garantir que vou
assistir aos domingos agora.

Bem, parece que Tom tem algumas credenciais em seu


nome.
— Fabuloso.

— Então, por que você acha que está aqui? — Ele junta as
mãos.

— Porque Connor está com vontade de levar um chute na


bunda.

Tom levanta uma sobrancelha.

Eu continuo.

— E caso você não saiba, eu não quero estar aqui. Este é o


maior desperdício de uma hora quando tenho tempo limitado
como é.

— Anotado. Só espero que com o tempo, você goste de


nossas sessões juntos. Meu trabalho é ajudar a tornar o seu
tempo na F1 mais fácil do que difícil. — Seu sorriso atinge seus
olhos.

— Minha vida seria mais fácil se eu não tivesse que ser


forçado a fazer isso todas as semanas.

Tom se inclina para frente em sua cadeira, seu olhar


aliviando meu desconforto.

— Entendo que não é exatamente o que você quer.


Ninguém gosta de ser forçado a nada, especialmente algo que
exija que você expresse pensamentos privados com um
estranho. Se você não se importa que eu pergunte, o que nesse
processo parece forçado para você?

— Connor me fez vir. Literalmente. Está no meu contrato.


— Eu puxo meu cabelo.

— Embora faça parte do seu contrato, o que quer que você


queira falar é com você. Existe alguma coisa que você gostaria
de obter ao vir a essas sessões semanais?

— Além de sobreviver uma hora sob seu microscópio?

Tom ri.

— Estou aqui para o que você precisar. Meu trabalho não é


avaliá-lo, mas sim auxiliá-lo no processo de lidar com os
principais fatores de estresse – tanto na pista quanto em sua
vida.

— Parece ótimo. — Parece um pesadelo, mas Tom não


precisa saber.

— Se estiver tudo bem para você, gostaria de definir


algumas metas para o tratamento. É algo que faço com todos os
meus clientes.

— Fácil. Meta 1: sobreviver nesta temporada. Meta 2:


chutar a bunda de todo mundo. Meta 3: ganhar outro
Campeonato Mundial.
Ele inclina a cabeça.

— Todos os seus objetivos estão relacionados à F1?

— Há algo de errado com isso?

— Não, é típico de atletas. Você pode acabar tendo suas


metas mudando assim que participar de mais sessões e ficar
mais confortável comigo.

— Excelente. — Inclino minha cabeça contra o sofá


enquanto começo a contar as placas do teto.

— Esta é a sua hora de fazer o que quiser e dizer o que


quiser, Jax. Aproveite ou fique em silêncio.

— Você não vai me forçar a falar? — Cruzo meus braços.

— Provavelmente farei algumas perguntas, mas você tem o


direito de recusá-las. Como eu disse, esta é a sua hora de fazer
o que quiser.

— Então, eu prefiro o silêncio, muito obrigado.

— Muito bem. — Tom mantém sua palavra, permanecendo


quieto pelo resto do nosso tempo.

De alguma forma, uma hora passa mais rápido do que o


esperado, comigo contando as placas do teto para passar o
tempo.
— Mesma hora na próxima semana? — Tom me oferece a
palma da mão quando eu saio da sala.

Eu pego e dou uma boa sacudida. — Certo. Não é como se


eu tivesse escolha.

— Todos nós temos escolhas na vida. Você optou por não


falar, como eu fiz a escolha de ficar quieto. O erro que as
pessoas cometem é pensar que não têm outras opções. Sempre
há alternativas, mas nem sempre são as mais fáceis.

Tento me manter ocupado na noite anterior aos treinos do


GP da Espanha. As tentativas incluem malhar, preparar o
jantar em uma pequena cozinha inadequada para qualquer
coisa que não seja diretamente do freezer e assistir a um
episódio de um programa de TV que minha mãe recomendou.
Claramente, a última tentativa foi uma decisão estúpida, visto
que Elena estacionou no pequeno sofá ao meu lado, alegando
que ela ama o show. Lá se vai minha tentativa de ficar longe
dela.

Eu vejo o que você fez aqui, mãe.


Ao longo da noite, tento ignorar os olhares de Elena em
minha direção. A maneira como ela morde o lábio inferior me
diz que ela tenta tanto quanto eu se concentrar no show. Minha
esperança de que ela não fale desvanece quando ela abre a
boca, liberando o lábio inferior que ela mordia.

— Posso te fazer uma pergunta? — Sua voz melódica


chama minha atenção.

— Não. Eu quero ver o que acontece a seguir. — A Netflix


me trai, perguntando se eu quero continuar assistindo.

O universo realmente me odeia. É oficial.

— Vamos. Qual é o problema em uma pergunta? — Ela se


vira para mim.

— Vindo de uma pessoa que ganha a vida fazendo


perguntas difíceis? Tudo. Além disso, quero saber se eles
encontram outra pista para o tesouro.

— Você está assustado? — Ela provoca.

Solto uma risada forçada.

— De?

— Respondendo a uma ou duas perguntas.

Levanto uma sobrancelha.


— Então agora são duas perguntas?

Ela me lança um sorriso radiante.

— Estou barganhando.

— Eu nem concordei com uma, muito menos duas.

— O que faria você concordar?

— Se você fizer perguntas, eu também faço. — Sim. Lá se


vai meu plano para evitar Elena a todo custo.

— Você sempre torna tudo tão complicado. — Ela balança


a cabeça. — Mas tudo bem.

— Tudo bem. Me dê sua primeira pergunta.

Ela enfia as pernas embaixo do corpo. Sua tentativa de


ficar confortável só significa problemas.

— Qual é o seu maior arrependimento?

Sua pergunta desperta minha curiosidade, mas não o


suficiente para me fazer responder a essa pergunta
imediatamente.

— Você não pode me fazer perguntas mais fáceis para me


conhecer? Qual é a minha cor favorita?

Seus olhos se estreitam.


— Isso é fácil. Verde.

Meu rosto deve gritar que porra é essa, porque ela solta
uma risada ofegante. Elena me lança um olhar que faria outros
homens se ajoelharem diante dela e implorar por seu tempo.
Mas não sou nada parecido com os outros homens. Muito
cansado, muito desanimado, muito autodepreciativo.

— Aw, você esperava que eu adivinhasse preto. Estou


insultada com o quão pouco você pensa das minhas
habilidades. Sua escova de dente e sua garrafa de água são
verdes. Você pode só usar preto, mas estou atenta a você.

Escondo meu sorriso atrás da minha mão.

— Palpite de sorte. Diga o nome de um dos meus filmes


favoritos.

— Jurassic Park.

Bem, merda. Ou ela roubou meu telefone ou ela domina


suas habilidades.

— Como você adivinhou esse? — Engasgo com as palavras.

— As pessoas dizem que a melhor maneira de conhecer o


inimigo é conduzindo observações completas.

— Você é absolutamente louca. — E eu absolutamente


gosto disso.
Ela faz uma cara engraçada da qual acabo rindo.

— Estou obviamente brincando. Sua única camiseta


colorida é uma camiseta preta com o logotipo do parque. E se
você vai usar outra cor além do uniforme, é algo que você ama.
— Ela morde o lábio inferior – um hábito desagradável que eu
gostaria de poder fazer por ela.

— Agora uma difícil antes de eu responder sua pergunta


original. Você deve provar que é digna de perguntas profundas.
— Inclino-me e elimino o espaço entre nós no pequeno sofá.
Meus lábios ficam perto da concha de sua orelha, sussurrando
palavras, sem me importar com as repercussões de minhas
ações. — Qual é a minha posição sexual favorita? — Meus
lábios tocando a pele macia, meus dentes roçando nela antes de
me afastar.

Ela treme ao comando. Eu amo isso. Eu odeio isso. Mas,


acima de tudo, quero mais disso.

— Acho que você gosta do estilo cachorrinho porque não


precisa encarar a pessoa. Insano, tenso e te deixa muito bem. —
Seus olhos escurecem quando pousam em meus lábios.

Porra. Ela me mantém na ponta dos pés.

Eu finjo indiferença, fugindo apesar de desejar sua


proximidade.
— Sem comentários.

Ela solta outra risada. Maldita seja por parecer cativante.

— Vou tomar isso como um sim. Então, mais uma vez,


qual é o seu maior arrependimento? — Seus olhos brilhantes
me enchem de uma sensação de calor que não consigo definir.

— Ser um babaca com minha mãe quando eu era


adolescente.

Ela inclina a cabeça para mim.

— Eu não esperava por essa. Por quê?

— Porque ela não merecia minha atitude. Eu gostaria de


ter aproveitado mais o tempo que tivemos, em vez de agir como
um idiota.

— Estou um pouco com medo de saber como um Jax mais


jovem se comportou se é assim que você age agora.

— Eu era um pirralho. Agora é diferente. Eu só quero fazer


meus pais felizes. — Eu suspiro. — Minha vez. Diga-me por que
você gosta de jogar aquele jogo de design de interiores no seu
iPad?

— Estou economizando dinheiro para comprar um


apartamento decente, então quero praticar minhas habilidades
de design. Eu sei que você acha isso bobo, mas eu não sou tão
ruim. Além disso, quem não gosta de trabalhar com dinheiro
falso?

— Para onde você planeja se mudar?

— Tenho um flat em Mônaco, mas procuro um melhor lá.


Quando me mudei para a Europa, há dois anos para começar
meu emprego, estava sem dinheiro, então meu apartamento não
é dos melhores. Isso e sustentar minha avó colocou um limite
no tipo de apartamento que eu poderia pagar. — Ela desvia o
olhar, prendendo o cabelo atrás da orelha.

— Sua avó mora com você?

Ela balança a cabeça.

— Não. Ela mora em uma clínica para pacientes com


doença de Alzheimer. Recentemente, mudei-a para um novo,
destinado a pacientes de longo prazo. — Ela desvia o olhar. — É
a razão pela qual aceitei este trabalho. Os cuidados dela, meus
empréstimos escolares e recursos para viver de verdade somam-
se.

— Esses lugares não são baratos. E os seus pais a


ajudam?

Elena coloca uma máscara ilegível que eu reconheço muito


bem.
— É o meu trabalho.

— Você é meio jovem para assumir esse tipo de


responsabilidade.

— Nem todos podem crescer com o nome Kingston,


obtendo tudo o que desejam com um estalar de dedos. — Ela
solta um suspiro resignado.

Elena teria ficado melhor enfiando um pingente de gelo no


meu coração. Seu julgamento me irrita, trazendo minha maior
preocupação de volta à superfície.

— Ao contrário de sua opinião sobre minha família, ser um


Kingston não pode lhe dar tudo, — eu ataco, pensando em
minha mãe. O dinheiro nunca vai comprar de volta os anos de
sua vida que ela está fadada a perder, não importa o quanto
meu pai deseje. Ele daria todo o seu dinheiro para ter mais
tempo com ela, sem dor.

Pensar na minha mãe estraga meu humor, me


empurrando para encerrar essa troca.

— Acho que já falei o suficiente por hoje. — Eu me levanto


do sofá.

— Jax, eu sinto muito. Eu não deveria ter dito isso. Foi


rude e crítico. — Ela pula de seu lugar no sofá e caminha até
mim, colocando a palma da mão no meu peito. Seu toque
acalma a raiva que ela ajudou a provocar em primeiro lugar.

Tento me afastar, mas ela se move em minha direção


novamente.

— Ok. Tanto faz.

Foda-se essa merda. Não preciso de Elena me trazendo o


mesmo nível de calma de um Xan.

— Eu não queria te chatear. Você tem o mundo a seus pés,


mas, ainda assim, você o joga fora com más decisões. Eu não
estava pensando.

— É assim que as coisas são entre nós. Um par de


conversas sem a gente brigar não vai mudar isso.

— Se é o que você quer.

— O que eu quero é que você receba a porra da dica e me


deixe em paz.

Seus ombros caem. Eu não deveria ser um idiota, mas não


posso impedir. Não faz sentido nos aproximarmos. Ela está
trabalhando enquanto estou sobrevivendo à temporada. Quase
esqueci por um momento, mas ela me trouxe de volta à
realidade.

— Sabe, você gasta muito mais energia afastando as


pessoas do que tentando conhecê-las. Um dia você vai perceber
o erro que cometeu e eu estarei ao seu lado assim que o fizer. —
Seus lábios se curvaram em um sorriso vacilante. Um que eu
odeio ver em primeiro lugar, não porque não seja bonito, mas
porque é perfeito pra caralho.

Como tudo sobre ela. Muito focado, muito organizado,


muito malditamente inatingível. Eu a odeio por isso. Eu a odeio
por invadir minha vida e me mostrar como é querer algo
diferente por uma vez.

Mas acima de tudo, eu a odeio por entrar no meu espaço,


por me tornar patético, por simplesmente acreditar em mim.

E o ódio me deixa com raiva.

Com raiva pra caralho.


14

Elena

Nas últimas seis semanas que trabalhei com Jax, ele


nunca expressou abertamente não gostar de mim. Achei que
parte de seus comentários espirituosos eram porque eu poderia
pegar sua merda antes de devolvê-la com um sorriso. Mas esta
noite, enquanto ele faz exatamente o oposto do que eu pedi a ele
novamente, talvez eu precise aceitar como ele não gosta de mim,
afinal.

De alguma forma, Jax me fez concordar em ir a algum


clube com ele para comemorar sua vitória pelo segundo lugar
no GP de Barcelona. Para ser justa, ele me disse que ficaria
calmo porque estava lá para sair com Liam e Sophie. Meu erro
foi acreditar nele em primeiro lugar. Claramente, sou uma idiota
porque ele fez exatamente o que eu deveria ter esperado.

Durante a primeira hora, ele estava relativamente normal.


Isso até que ele desapareceu por sólidos dez minutos, alegando
que tinha um telefonema para atender. Depois que ele voltou de
com quem quer que tenha falado, ele bebeu várias rodadas de
uísque, apesar dos meus protestos. Quando eu disse a ele que
Liam carregaria sua bunda bêbada para casa, ele riu na minha
cara. É seguro dizer que essa conversa foi uma droga.

Liam tem empurrado copos de água para ele sempre que


possível, mas Jax está longe demais. Agora, algumas mulheres
dançam ao redor dele, apalpando-o enquanto ele se perde na
música.

A coisa toda é nojenta. Mas também, está além de partir o


coração. Sua dor é óbvia a ponto de eu senti-la bem no fundo do
meu peito como se fosse minha. É difícil não perder a dor que
ele tenta esconder. Em seus olhos, em sua atitude, em sua
necessidade de se fechar a todos.

Não sei o que o empurrou. E não sei como ajudar, muito


menos como falar com ele.

— Eu não o vi assim tão bêbado... bem, acho que nunca.


— Sophie encara Jax com os olhos bem abertos.

— Isso é porque ele não fez isso na sua frente. Porém,


nesta temporada ele tem sido diferente, com menos seriedade
do que o normal. — Os olhos de Liam rastreiam os movimentos
de seu amigo. — Vou me certificar de que ele não faça nada
para prejudicar todo o trabalho que Elena fez para ajudá-lo.

— Você sabe por que ele age assim? Ele não vai me dizer
nada, — eu sondo, esperando que Liam tenha algumas
respostas.

— Às vezes ele fica puto. É aleatório, então não posso


determinar a causa disso. Mas quando ele fica com esse humor,
é melhor deixá-lo em paz para que ele clareie a cabeça.

— Qual cabeça, porque a maneira como aquelas mulheres


o agarram me faz pensar que estamos falando de dois tipos
diferentes. — Meu estômago torce em nós com a ideia de uma
mulher vindo para nossa suíte esta noite. Não sei o que fazer
com minha pequena onda de ciúme. Não há lugar para isso em
minha linha de trabalho, mas não posso ignorá-lo.

Acontece que Jax não é o único escorregando esta noite.

Liam faz uma careta.

— Emocionalmente ele está desligado. Mas ele está melhor


nesta temporada – pelo menos na mídia. Claro, tudo isso graças
a você. Graças a Deus você pôs fim aos boquetes públicos e às
mulheres vagabundas que saíam de sua suíte a qualquer hora
do dia.

Não consigo esconder a forma como meu corpo se encolhe.

— Ótimo. Fico feliz em saber que estou fazendo algo certo.


— Eu olho para longe enquanto reviro meus olhos. Estou
tentada a voltar para o hotel e deixar Liam para cuidar dele. Em
vez disso, fico por causa do meu trabalho e porque Jax parece
perdido, embora groupies o cerquem como se ele fosse um farol.

— Ugh. Não mencione o comportamento de mulheres na


cama dele. É nojento. — Sophie dá uma cotovelada nas costelas
de Liam.

— Eu vou dar uma olhada nele. — Eu fico de pé, não


querendo sentar por mais um minuto desta tortura. Ninguém
está se divertindo esta noite, exceto Jax, que parece bêbado e
deprimido enquanto balança com a música. Já é hora de pôr
um fim a tudo isso porque é o meu trabalho, goste eu ou não.

Evito dançarinos e homens suados com as mãos bobas


enquanto me movo no meio da multidão de frequentadores do
clube. Jax é fácil de detectar, com seu corpo alto e o pequeno
grupo de mulheres tocando nele. Eu as empurro e fico na frente
dele.

— Amor, é você? — Ele sorri para mim, todo bobo com


olhos vidrados.

— Quem é ela? — Uma mulher agarra seu braço,


apontando para mim com um dedo de ponta vermelha.

— A melhor parte do meu dia, — Jax responde com outro


sorriso.

Bem, isso é inesperado. Meu coração bate no meu peito


mais rápido do que antes.
— Ela pode ir agora. Eu prometo ser a melhor parte da sua
noite. — Ela vira as costas para mim, avançando mais perto de
Jax.

Nojento. Eu rolo meus olhos antes de gritar sobre a


música.

— Você tem certeza sobre isso? Devo avisar vocês dois


então. Jax, o médico ligou e disse que a erupção em seu pênis é
herpes. Certifique-se de encerrar esta noite se vocês planejam
dormirem juntos. — Minha voz é alta e clara.

A mulher franze os lábios em desgosto e abandona Jax,


deixando uma bagunça bêbada para eu lidar.

— Isso não foi legal. — Ele faz beicinho.

— Não estou aqui para ser legal.

— Eu sei disso. Você está aqui para arruinar minha vida.


— Ele solta um suspiro suave.

— O que você quer dizer? Metade do tempo você diz coisas


que eu não entendo.

— Dance comigo? — Ele me ignora.

— Você está louco? Você está tão bêbado que nem


consegue ficar em pé direito.
Ele grunhe.

— Ok, esqueça a dança. Que tal foder? Isso pode ser feito
deitado.

— Eu ficaria impressionada se seu pau funcionasse


mesmo depois da quantidade de álcool que você consumiu.

— Vamos testar. — Ele tem a audácia de parecer todo


orgulhoso de sua ideia.

Fecho meus olhos enquanto conto até dez, desejando ser


paciente com ele. Dez segundos longos demais, dando a Jax a
oportunidade de fechar o espaço entre nós.

Meus olhos se abrem para encontrar seu olhar


semicerrado a centímetros de distância. O corpo de Jax
pressiona contra o meu, as bordas duras dele encontrando
minhas curvas mais suaves. Parece que meu corpo ganha vida,
explodindo de energia, pulsando como os alto-falantes do clube.
Seu cheiro de especiarias e uísque me envolve enquanto corpos
suados nos empurram para mais perto.

Ele segura meu queixo entre o indicador e o polegar.

— Por que você? Por que não poderia ser outra pessoa
além de você? — A música alta não consegue esconder a dor em
sua voz.

— Para o trabalho? Eu estava disponível. Não é nada


contra você, por el amor de Díos27.

— Essa não é a pergunta que estou fazendo, — ele


balbucia.

— Estás tan borracho28, não tem nem graça. Precisamos


levar você para casa.

Jax tem outra ideia enquanto me puxa para ele. Um de


seus braços envolve meu corpo enquanto seus lábios encontram
os meus. Seu beijo é tudo menos gentil. Exige, roubando meu
fôlego e racionalidade de uma só vez. O gosto de uísque inunda
minha boca enquanto sua língua domina a minha, testando
minha resistência.

Meus dedos agarram sua camisa, desesperados por algo


para me estabilizar. Para me conectar ao solo antes que minha
mente se distancie.

E caramba, estou tentada a deixar todas as preocupações


sobre ele voarem enquanto sua língua acaricia meu lábio
inferior.

Oh. Meu. Deus. O que ele está fazendo? E o mais


importante, por que não o estou afastando? Seu beijo aquece
meu corpo. É um sentimento que nunca tive antes – um
sentimento que vicia, apesar da situação ser errada.

27 Pelo amor de Deus.


28 Você está tão bêbado.
Ele está bêbado.

Eu tenho um trabalho a fazer.

Ele tem muitas mudanças de humor para ser considerado


estável.

A lista poderia continuar e continuar.

— Jax. — Eu arranco meus lábios dele, abrindo meus


dedos de sua camisa e colocando minhas mãos contra seu peito
com toda a intenção de afastá-lo. Exceto que estou presa no
lugar, sem me mover, porque seu toque é elétrico. Tóxico.
Viciante.

É tudo que devo evitar sendo tudo o que desejo.

Sua boca se move para o meu pescoço, sua língua


disparando para correr pelo comprimento. Um arrepio percorre
minha espinha quando ele chupa a pele sensível.

Inclino-me para ele, precisando de apoio, tanto emocional


quanto fisicamente.

— Precisamos parar com isso antes de fazermos algo de


que nos arrependeremos. — Eu pareço tão sem fôlego quanto
me sinto.

Sua língua traça um padrão estúpido no meu pescoço.

— Vivo cada dia com arrependimentos. O que é mais um?


— Sua voz triste me bate bem no peito.

Ele belisca a carne sensível, provocando o menor gemido


de mim. Espero que ele não consiga ouvir por causa da música.

Empurro seu peito, finalmente conseguindo a distância


que preciso.

— E de quem é a culpa?

— Minha. Sempre foi. Sempre será. — Ele suspira


enquanto encara meus lábios com os olhos turvos.

Meu coração bate em uníssono com as batidas dos alto-


falantes, rápido, irregular e alto o suficiente para ouvir em meus
ouvidos. Com pouco protesto de Jax, eu o levo de volta para a
mesa VIP.

A atenção de Liam e Sophie se volta para nós. Sophie luta


para esconder seu sorriso enquanto Liam balança a cabeça,
esfregando a têmpora.

Mierda. Prefiro voltar para a multidão e me esconder pelo


resto da noite do que enfrentar esses dois.

— Bem, você o controlou em menos de quinze minutos.


Estou impressionado. Normalmente tenho que arrastá-lo para
fora da multidão. — Liam se levanta e agarra seu amigo,
deixando-o encostar nele. Pelo menos ele tem simpatia
suficiente para me salvar do meu constrangimento.

Sou grata pela luz fraca escondendo como meu rosto se


parece com a cor de uma luz de freio.

— Seu segredo está seguro comigo. — Sophie aperta os


dedos e faz um símbolo de zíper invisível nos lábios antes de
jogar a chave falsa atrás do ombro.

Solto uma risada nervosa enquanto Liam me olha com as


sobrancelhas franzidas. Ele não diz nada, optando por
concentrar sua atenção em Jax. Ambos permanecem normais
enquanto caminhamos pelo clube. Saímos pela entrada dos
fundos para escapar dos paparazzi. Um motorista de carro
alugado nos cumprimenta, abrindo a porta traseira para nós.
Liam empurra Jax para o banco de trás.

Sophie olha para Liam.

— Você deveria falar com ele. Não se trata mais apenas


dele, você sabe, porque o trabalho de Elena depende dele
também. — Ela franze a testa para Jax enquanto ela desliza
para o assento central ao lado dele, me forçando a sentar do
lado dela. Provavelmente melhor, visto que Jax já me atacou por
acidente.

Certo. Porque seus lábios caíram nos meus. Quem estou


enganando?
Isto é fantástico. Realmente, minha confiança em meu
trabalho está em alta.

Não.

Eu fecho a porta do carro.

— Está tudo bem, por favor, não fale com ele. Vou cuidar
disso e falar com ele que isso não vai acontecer novamente.

— Claro, ela pode falar comigo. Ela sempre quer falar


comigo. Ela não vai fugir, não importa quantas vezes eu diga a
ela para ir. — Jax murmura.

— Ignore-o. Ele diz merdas estúpidas quando está bêbado.


— Liam entra no banco do passageiro, lançando a Jax um olhar
que me diz que ele gostaria que seu amigo calasse a boca e
fosse dormir.

— Palavras sóbrias, pensamentos honestos. — Jax ri para


si mesmo.

— Não, idiota. Palavras bêbadas, pensamentos sóbrios. —


Sophie o corrige.

— Oh, entendi. Então, isso significa que está tudo bem


para eu dizer a Elena que eu a acho bonita?

Sophie joga a cabeça para trás contra o encosto de cabeça


e ri.
— Claro, vá em frente. Finalmente, a noite está ficando
interessante. Por que você não nos conta como realmente se
sente?

— Não o encoraje. — Liam resmunga.

— Elena é tão bonita que dói olhar para ela. — As palavras


de Jax causam um zumbido constante em meu estômago como
se eu tivesse bebido uma garrafa de dois litros de refrigerante
em menos de dois minutos. Estou seriamente confusa.

— Então por que você é um idiota mal-humorado perto


dela? — Sophie o provoca.

— Porque eu posso ser.

Liam geme.

— Esse é um motivo ruim.

— Bem. Porque eu não tenho escolha. — Ele rosna.

— Essa é uma razão ainda pior. Você não está entendendo


o ponto. — Sophie bate na têmpora de Jax.

Liam torce o corpo no assento e sorri para Sophie.

— Provavelmente porque ele bebeu o suficiente para matar


a maioria de suas células cerebrais.

Sophie junta as mãos.


— Ele deveria elogiá-la e depois se desculpar.

— Você não pode fazer Jax fazer qualquer coisa que ele
não queira fazer. Isso é o que o torna... bem... tão Jax. — Liam
olha para seu amigo.

E esse é o meu maior dilema. Eu quero saber o que faz Jax


sentir que não merece nada de bom em sua vida.

Eu quero saber sobre o homem que se esconde atrás de


artigos de notícias ruins e sexo sem sentido. O homem que
sussurra para si mesmo sobre não ser bom o suficiente.

Quero saber mais sobre ele e não tenho certeza se tenho


controle suficiente para me impedir de tentar.

No momento em que Jax acorda, estou em seu espaço. Ele


parece tão revigorado quanto seria de esperar, depois de
embriagar sua mente em um estupor na noite anterior. Eu não
ficaria surpresa se sua pele tivesse gosto de sua preciosa
garrafa de Jack. A imagem que tenho provando-o, me faz engolir
meu gemido. Enfio o pensamento no canto mais escuro da
minha mente, esperando que ele nunca veja a luz do dia.
Levanto-me do sofá e o sigo até nossa pequena cozinha.

— Precisamos conversar sobre a noite passada.

— Peço muito poucas coisas na vida. A primeira é que


ninguém me incomode antes do meu chá da manhã. E a
segunda é que ninguém me incomode depois do meu chá da
manhã.

— Jax... — eu advirto.

— Bem. Não há muito a dizer. Minha cabeça dói a ponto


de querer vomitar, então, por favor, guarde seu discurso para
quando eu sentir que posso ficar em pé sem o mundo girar.

— Que tal eu te ajudar. Comece com as palavras 'Sinto


muito, Elena' e continue a partir daí.

Ele me olha enquanto liga sua chaleira elétrica.

— Você está brava porque eu bebi?

— Sim. — As palavras saem em um silvo. — E se Liam não


estivesse lá para me ajudar? E se uma pessoa aleatória pegasse
um vídeo e o postasse on-line? Passei a maior parte desta
manhã vasculhando a internet para ter certeza de que ninguém
relatou nada de ruim sobre você. Você me disse que tentaria ser
melhor e eu acreditei em você, mas então você faz coisas assim,
me fazendo questionar o quão sério você é sobre sua própria
carreira! — Meu sotaque fica mais pesado à medida que fico
mais frustrada.

Seus olhos injetados de sangue deslizam da chaleira para


o meu rosto.

— Você acreditaria em mim se eu dissesse que não queria


ficar tão doido?

— Por que você é capaz de ficar doido? Você é quem me


beijou! E ficou bêbado! Eu deveria estar irritada.

Ele balança a cabeça antes de estremecer.

— Doido significa bêbado. Jesus, eu bebi muito.

— E o beijo? Você não pode mais fazer isso.

— Beijo? — Suas sobrancelhas se franzem.

Meu coração dá um mergulho em algum lugar no meu


estômago. Eu não esperava que ele não se lembrasse. Por algum
motivo, sua amnésia parece outra forma de rejeição.

Permita-me apresentar outra camada de fodido entre nós.

— Nós nos beijamos? — Ele diz as palavras em um


sussurro rouco. Seus olhos pousam no meu rosto antes de
fechar.

Fico olhando para ele, tentando manter a calma. Leva tudo


de mim para não ir para o meu quarto e lamber minhas feridas
em particular. Algumas coisas têm prioridade, como ensinar
uma lição a ele.

— Tudo o que aconteceu ontem à noite não acontecerá


novamente.

Ele passa a mão pelo cabelo.

— Merda. Sinto muito por beijar você. Eu não deveria ter


feito isso.

— Não estou mais falando sobre isso. Vou fingir que nunca
aconteceu, já que para você também é isso. — Ok, eu soei um
pouco amarga. — Estou falando sobre você ficando bêbado e
fora de controle.

Ele abandona o preparo do chá para me dar atenção total.

— Porra. Eu sinto muito. Eu não bebia assim desde o


intervalo e claramente meu sistema não estava de acordo.

Minha raiva retorna como uma onda, incontrolável


enquanto me varre.

— Esse pedido de desculpas seria suficiente se eu não


tivesse pedido a você várias vezes para parar de beber. Achei
que a festa na suíte fosse sua última rebeldia, mas claramente
estava errada. Não posso ajudar alguém que está decidido a
arruinar sua própria vida. E não que você se importe, mas não é
apenas sua carreira em jogo, é a minha também. Você já parou
um segundo para pensar sobre como sua reputação afeta a
minha? Não é justo você ir me arrastando junto porque tem um
complexo de superioridade e uma vontade de matar todas as
células do cérebro em funcionamento antes dos trinta anos.

Jax caminha até mim, ficando frente a frente. Nossa


proximidade me lembra da noite passada. De seus lábios na
minha pele, me beijando, me lambendo, me beliscando.
Suprimo um arrepio com a memória. Prefiro sentir raiva à
atração.

Ele olha nos meus olhos antes de fechar os dele.

— Sinceramente, sinto muito por ter feito exatamente o


que disse que evitaria. Sinto muito por colocar minha reputação
em risco, portanto, arriscar a sua também. Mesmo que não
queira sua ajuda, não quero arruinar o esforço que você fez
para construir seu negócio. E, acima de tudo, sinto muito por
beijar você quando estava bêbado. — Ele estremece.

— Sim, bem, desculpas não vão resolver mais. As palavras


são vazias. Elas não significam nada, a menos que você as
suporte.

Ele fecha as mãos ao lado do corpo.

— Esse é exatamente o meu problema. Eu não posso


suportar as palavras que quero dizer, então tudo que faço é
ficar com raiva.

— Por quê? — A questão que está saltando na minha


cabeça nos últimos meses me escapa. Por que ele é do jeito que
é? Por que ele não pode fazer o que quer? Por que ele escolheu
tomar decisões destrutivas?

— Eu não vou entrar nisso com você.

— Se você não quer falar comigo, então aprenda a se


controlar.

Ele solta um suspiro exasperado.

— Você não entende? É tudo o que tentei fazer.

Afasto-me e jogo minhas mãos no ar.

— O que você quer dizer? Você está além do frustrante!


Honestamente, você me deu um caso sério de chicotada
emocional.

— Me controlar inclui ficar longe de você. Olhar para você


me irrita porque me lembra de tudo que está dando errado na
minha vida. — Ele deixa escapar.

Elimino o último pedaço de espaço entre nós, colocando


minha mão em seu bíceps.

— O que há de errado?
Ele olha para minha mão, o fogo em seu olhar
desaparecendo quando seus olhos se fecham.

— Não é sobre o que está acontecendo de errado, porque


tudo é errado. Incluindo ter você por perto.

O que alguém diz sobre isso?

Eu não tenho a chance de pensar em uma resposta porque


Jax entra em seu quarto, me fechando mais uma vez.
15

Jax

— Ei, Sr. Segundo Lugar em todo o Campeonato Mundial.


Maneira de representar o nome Kingston. — A voz da minha
mãe ecoa pelo viva-voz.

Coloco minha bagagem no armário, pronto para a semana


de corrida de Baku.

— Oh, pare. Sua adoração é demais para mim.

— Acostume-se. Ela é sua maior apoiadora. — Papai diz.


— Então, qual é o seu plano para hoje?

— Não muito. Tenho um evento de patrocinador e algumas


entrevistas hoje. — Resmungo.

— Que tarefa árdua, viver uma vida agitada. — Papai ri.

— E como estão todos os seus amigos? — Mamãe adora


ouvir sobre eles.

— Liam e Sophie estão bem. Ela não pôde vir para esta
corrida por causa da universidade. Ela tem tentado viajar
conosco alguns fins de semana durante o horário escolar. E
Noah e Maya vivem entusiasmados, muitos amassos envolvidos.
Aposto que eles vão se casar dentro de um ou dois anos.

— Amor juvenil. — Mamãe suspira.

— E aquela garota Elena ainda está te seguindo? — Papai


não consegue evitar sondar sobre ela.

— Sim. Ainda está aqui, mantendo minha imagem


completamente limpa. — Não que eu tenha ajudado muito.
Tenho feito tudo ao meu alcance para manter para mim mesmo
desde o suposto beijo da semana passada com Elena que não
consigo lembrar por nada. Não sei se devo ser grato pela
amnésia ou me odiar por esquecer.

— Graças a Deus. Foi difícil defender suas ações na frente


do meu clube do livro. Eles continuam rotulando você como um
menino mau e não posso suportar meu filho igualando as
travessuras de alguns de nossos personagens. Idiotas
absolutos, alguns deles. — Mamãe ri.

— Como se atrevem seus amigos a me objetificar dessa


maneira! — Deixo escapar um suspiro de horror zombeteiro.

— Você não tem ideia do que dizem sobre alguns homens.


Não que você precise se preocupar, querido, — ela sussurra
para meu pai.
Tusso uma vez que o áudio pega o beijo deles.

— Ainda estou aqui.

— Desculpe. Ah, não! Olha as horas. Preciso correr. Gwen


me pediu para pegar algum tipo de vinho para nossa noite de
cinema. Tome cuidado, amor!

Todos nós sabemos que mamãe não vai correr para lugar
nenhum. O pensamento sozinho faz meu estômago revirar.

— Tchau, mãe e pai. — Passo o mouse sobre o botão


vermelho.

A voz de papai me impede.

— Jax. Espere.

Como um sexto sentido para más notícias, minha espinha


se endireita enquanto um arrepio percorre meu corpo.

— Sim?

Os passos do meu pai ecoam na ligação, seguidos pelo som


de uma porta fechando.

— Eu estava querendo falar com você. Eu não queria


incomodar você enquanto estava comemorando o fim de semana
passado e tudo.

— Por que tenho a sensação de que não são boas notícias?


— Não é terrível, mas não é ótimo. Sua mãe tem tido
muitos problemas de humor ultimamente.

— Ela não pareceu. — Muito bem fazendo suposições, Jax.


Isso é irônico vindo de um cara que também não parece um
pedaço de merda ansioso o tempo todo.

— Os tremores tem piorado, então a médica trocou o


remédio. Ela está tendo dificuldade de se ajustar. São coisas
pesadas e ela se beneficiaria com um pouco da sua atenção. Se
você tiver tempo, é claro. Eu não quero incomodar você.

Respiro fundo. A culpa surge de meu pai pensando que


estou ocupado demais para ajudar mamãe.

— Eu faria qualquer coisa para ajudá-la. Posso ligar mais


para ela e checar.

Só o pensamento me deixa em pânico. Mais telefonemas


significam mais ansiedade. Vendo que fiz um péssimo trabalho
controlando isso até agora, só posso imaginar o que acontecerá
comigo com mais ligações.

Se eu fosse corajoso, me abriria para meus pais e


expressaria minhas preocupações. Em vez de expressar meus
sentimentos, eu os reprimo. Eu posso lidar com isso. Eu preciso
lidar com isso.

— Você sabe que a família sempre vem em primeiro lugar.


— Isso é o que faz de você um Kingston.

Quão adequado. A mesma coisa que me faz família tem o


poder de me destruir.

Minha irritabilidade atingiu um novo pico depois que falei


com meus pais mais cedo. Passei meu almoço pensando em
pular a sessão desta semana com Tom, mas decidi comparecer
em toda a minha glória idiota.

Tom se senta à minha frente em sua cadeira de couro de


costume.

— Quer falar sobre alguma coisa hoje?

— Na verdade, não. — Fico olhando para o teto e conto as


placas. Cada vez que penso em minha mãe, eu reinicio.

Depois de vinte minutos, ainda não passei de dez placas.

Solto um suspiro agitado.

— Minha mãe está doente. — Eu não olho para ele. A


merda deve estar atingindo o ventilador hoje porque, pela minha
vida, não consigo imaginar um bom motivo pelo qual decidi me
abrir com Tom.

— Sinto muito ouvir isso, Jax. Pelo que você compartilhou


no passado sobre ela, posso dizer que ela significa muito para
você. Ela estar doente deve ser extremamente difícil para você.

— É ruim pra caralho. Odeio ouvir sobre isso. Odeio saber


que ela está lutando, ou que meu pai está em casa ajudando-a
enquanto estou aqui correndo e me divertindo.

— É completamente normal ficar chateado com tudo o que


você disse. E não deve ser fácil para você lutar contra esses
sentimentos sozinho todas as semanas.

Solto um suspiro profundo, na esperança de expulsar um


pouco da energia negativa fervilhando dentro de mim.

— É normal se sentir chateado todos os dias?

Não sei o que procuro ao me abrir com Tom. Mas preciso


desabafar com alguém porque desprezo o homem que me tornei,
para evitar todos os sentimentos que tenho em relação à doença
de mamãe.

— Claro, é normal. Eu não esperaria menos de alguém que


fala sobre sua mãe como você. Isso mostra o quanto você se
importa.

— Sim, bem, eu odeio o sentimento constante de culpa na


boca do estômago toda vez que eles me enviam mensagens de
texto ou me ligam. E então eu me odeio por me sentir assim em
primeiro lugar. Eu deveria ser grato por falar com mamãe como
é.

— Você pode ser grato e ainda estar chateado por ela estar
doente. Tudo bem se sentir assim. Se você não se importa que
eu pergunte, que doença sua mãe tem?

— Isso importa? — Não preciso da pena de Tom por causa


da doença dela. Quem conhece a doença de Huntington sempre
nos olha com o mesmo olhar. Um que é uma mistura de horror
e simpatia, como se isso nos fizesse algum bem.

— Isso me ajudaria a ter uma melhor compreensão do tipo


de situação com a qual você está lidando, mas eu entendo se
você não estiver pronto para isso.

— Eu não estou.

Tom acena com a cabeça.

— Isso é bom. Estou me perguntando qual é a parte mais


difícil de falar com seus pais?

— Cada vez que faço isso, me sinto pior. Aumenta a minha


ansiedade saber que ela continua piorando enquanto estou a
milhares de quilômetros de distância. Agora meu pai me pediu
para falar mais com ela porque ela está para baixo e isso me
estressa.
— E o que nos telefonemas mais estressa você?

— Ela finge que nada a incomoda. Estou bem ciente de seu


sofrimento particular, então odeio quando ela veste um
semblante corajoso. E então, meu pai me informa sobre seu
progresso e não é a melhor notícia ultimamente, o que aumenta
minha ansiedade.

— Parece que você quer falar com ela, mas é difícil


controlar a ansiedade que acompanha essas conversas.

— Claro, mas eu tomo Xanax, e isso ajuda.

— Você está ciente dos prós e contras associados ao uso


de benzodiazepínicos a longo prazo?

— Sim. Eu queria algo de ação rápida e começar algo como


Zoloft não iria funcionar. Agora não tenho certeza se Xanax foi a
escolha certa. É viciante ver meus problemas desaparecerem
com a ingestão de um comprimido.

— Benzos são conhecidos por esses efeitos instantâneos.


Se você algum dia quiser considerar a mudança de remédios ou
ter uma segunda opinião sobre o assunto, há muitos
psiquiatras que conheço para indicações.

Ficamos em silêncio por mais cinco minutos até que o


segundo caso de penugens quentes me atingisse.

— Este é o primeiro ano em que acho que minha culpa


está me sufocando. Não sei por que, mas a F1 não tem sido tão
divertida sabendo que ela está ficando mais doente enquanto
estou fora. Sinto que estou perdendo um tempo precioso com
ela porque sou egoísta.

— Você já pensou em dar um tempo na F1 para ficar com


ela?

Sim, mas não vou admitir isso para ele.

— Não importa. Não vai fazê-la melhorar.

— Pode não fazer. A verdadeira questão é se isso vai fazer


você se sentir melhor.

Droga, Tom, pare de fazer tanto sentido. Volto a contar as


placas do teto, me fechando para a única pessoa que mais me
abri.

Sento-me em meu assento habitual no jato particular. O


voo de nove horas de Baku para Mônaco me permite remoer
minhas emoções. Pelos primeiros trinta minutos, ignoro Elena e
seu quebra-cabeça estúpido.
Meus olhos voltam para ela a cada cinco minutos. Ela se
prova uma distração digna de meus pensamentos de merda. Ela
olha com raiva para uma peça, tentando encaixá-la onde
claramente não pertence.

— Talvez se você dobrar a peça com força suficiente, ela


finalmente cairá como você deseja.

Sua cabeça vira na minha direção.

— Aqueles que não ajudam não podem opinar. — Ela


trocou suas roupas normais por leggings e um casaco com
capuz que parece três vezes maior. A visão dela em algo tão
casual me faz desejá-la como um maldito idiota. Eu não deveria
desejá-la assim. Na verdade, não deveria desejá-la de forma
alguma. Mas aqui estou eu com uma semiereção por causa de
uma aspirante a Billie Eilish mexicana.

— Apenas observando. — Levanto minhas mãos.

Depois de mais alguns minutos com ela tentando encaixar


uma peça diferente, eu me levanto e me sento em frente a ela.

Não sei por que me preocupo, mas quero verificar seu


progresso.

— Uau, você fez o quê? Cem peças em algumas semanas?

Para ser justo, o quebra-cabeça parece difícil pra caralho.


Não sei por que ela escolheu um quebra-cabeça de mil peças
que me lembra o cérebro de alguém enquanto tropeça em
êxtase.

— Você vai continuar falando alto ou vai me ajudar? — Ela


provoca com um sorriso.

Pego a caixa do quebra-cabeça, querendo manter minhas


mãos ocupadas.

— Você teve que escolher o quebra-cabeça mais colorido e


complicado? — Há uma tonelada de balões de ar quente com os
padrões mais detalhados. Olhando para ele por alguns
segundos, meus olhos ficam tensos.

— Você acreditaria em mim se eu dissesse que parece mais


fácil no site?

Eu ri.

— Você leu os comentários?

— As pessoas ao menos revisam os quebra-cabeças? Eu


não achei que isso fosse uma coisa. — Sua boca cai aberta. —
Mas agora que você mencionou, talvez eu devesse, porque estou
convencida de que metade das peças estão erradas. Isso é o que
ganho por encomendar em algum site não confiável.

— Ou talvez você seja péssima em resolver as coisas.

— Falando o segundo quebra-cabeça mais difícil que já


encontrei.

Inclino minha cabeça para ela.

— Estou competindo com um conjunto de balões de ar


quente? Estou um pouco insultado. Talvez eu precise melhorar
meu jogo.

— Eu ainda tenho que decidir o que é mais difícil. Vou


mantê-lo informado. — Ela tenta esconder o sorriso por trás do
cabelo enquanto olha para o quebra-cabeça, mas eu pego.

Pela primeira vez, eu não a evito. Não consigo decidir se é


porque estou sozinho ou triste sobre a minha mãe. Elena e eu
trabalhamos em silêncio, comigo ajudando-a.

Curtimos o silêncio juntos. Ela não me pressiona para


falar e eu agradeço. Em vez de me perder em meus
pensamentos negativos, concentro-me na tarefa em mãos.

Eventualmente, Elena deixa isso de lado um pouco porque


ela quer tirar uma soneca. Volto para o meu lugar e toco minha
música em meus fones de ouvido. Depois de vinte minutos, eu
me viro para ela, observando seu perfil adormecido.

Eu nunca diria isso na cara dela, mas ela é uma das


mulheres mais bonitas com quem já estive. Natural com os
melhores tipos de curvas, bochechas cheias e pele com um
brilho saudável. Tudo isso irradiando positividade e um
atrevimento que passei a desfrutar, apesar de nossas brigas.

À medida que eu caio no sono, percebo que não tomei um


Xanax para me acalmar antes do longo voo. Não sei dizer se foi
a atividade relaxante do quebra-cabeça ou estar perto de Elena.

O último pensamento me preocupa. Elena é a única coisa


que eu não pude prever este ano. Ela ameaça tudo que eu
pensei que poderia aceitar sobre minha vida.

Eu não quero ter esperança. Eu não quero ser melhor. E,


acima de tudo, não quero ser lembrado de como minha vida
está vazia agora que estive perto de alguém que torna os dias
ruins suportáveis.
16

Elena

Jax superou minhas expectativas. Eu previ que ele testaria


meus limites já que Mônaco é conhecido por suas festas
malucas durante o fim de semana do Grande Prêmio. Além dos
eventos obrigatórios que Jax precisa comparecer para a McCoy,
ele fica em sua suíte à noite, sem álcool. Congratulo-me com a
calma que tem estado sem ele criar problemas. Isso me dá
esperança que ele aprendeu com seu deslize em Barcelona e
planeja se controlar melhor.

Para passar o tempo, Elías passa um tempo comigo na


suíte.

— Vamos jogar um jogo. — Elías balança uma caixa preta


acima da minha cabeça.

De alguma forma, consigo reunir minha expressão mais


entediada.

Ele balança a cabeça e revira os olhos.

— Multidão difícil esta noite. Sério, eu não sobreviverei a


outro episódio de Buffy, A Caçadora de Vampiro. Sinto muito,
mas você precisa verificar se você é do Team Spike. Angel é
irresistível e atencioso, enquanto Spike não tem alma.

— Vou fingir que você não disse isso. Spike sacrifica tudo
por ela no final. Até sua própria vida! Angel foge quando as
coisas ficam difíceis. Maneira de ser um herói.

Elías sussurra um psicopata baixinho.

— De qualquer forma... convidei algumas pessoas para


jogar porque precisamos fazer mais amigos.

— Por que suas ideias sempre me deixam desconfiada?

— Provavelmente porque vou pedir que você vá bater na


porta de Jax, visto que seus amigos estão vindo.

— Não! Por que você quer interferir?

— Porque jogar de Cupido é divertido. Sua tensão sexual é


sexy. Mais gostoso do que Spike transando com Buffy, apesar de
ser um inimigo. — Ele sorri.

— Não. — Eu mostro minha língua para ele.

— Podemos fazer isso da maneira fácil ou da maneira mais


difícil.

Balanço minha cabeça e cruzo os braços, recusando-me a


sair do sofá.

— Do jeito difícil então. Você pediu por isso. — Com pouco


esforço, Elías me puxa e me empurra em direção ao quarto de
Jax. Ele bate o punho contra a porta e me passa a caixa antes
de correr para o meu quarto.

— Encantador. Ele nem mesmo se preocupa em me


ajudar. — Bufo baixinho.

A porta do quarto de Jax se abre. Seus olhos me


examinam da cabeça aos pés, fazendo minha pele ficar quente
por baixo da minha legging e camiseta.

— O que você quer?

— Então... Elías tem uma ideia maluca.

— Todas as ideias dele são malucas.

Engulo de volta o nó na minha garganta.

— Concordo. Mas como já é um plano em andamento, você


quer jogar conosco?

— Eu não sou uma criança. Eu não jogo. — Sua


mandíbula aperta.

— Ok... — Eu fico olhando para a caixa Cartas Contra a


Humanidade. — Bem, acho que Elías convidou alguns de seus
amigos, então estaremos na sala de estar se quiser se juntar a
nós.

— Eu não vou. Eu estava no meio de um telefonema


quando você interrompeu. Se você acabou agora, tenho que
ligar de volta para o meu pai. — Seus olhos se fecham, mas não
rápido o suficiente.

Percebo a vermelhidão neles, o brilho que ele tentou


esconder com sua atitude ruim.

Eu não posso acreditar que estou considerando isso, mas


Jax está chorando? Quase acho que inventei, exceto quando ele
abre os olhos novamente, eles têm um inchaço que eu nunca vi
antes.

Puta merda.

A culpa me consome por interrompê-lo quando ele está


claramente passando por um momento difícil.

— Sinto muito se incomodei você durante algo importante.


Eu estava tentando ver se você queria passar um tempo com a
gente, mas posso dizer que não é um bom momento para você.

— Mesmo que meus amigos estejam vindo, eu quero ficar


sozinho agora.

O fato de ele evitar seus amigos me diz tudo. Um ano


atrás, Jax era todo sorrisos e conhecido por ser mais provável
que feche um clube. O homem na minha frente é um fantasma
dessa pessoa. Ele se tornou um homem que se isola do mundo
em vez de compartilhar seu fardo. E uma vozinha na minha
cabeça quer ser a pessoa certa para ele. A mesma voz insana o
achando atraente em primeiro lugar.

— Está bem então. Se precisar conversar mais tarde, você


sabe onde eu moro. — Aponto o polegar por cima do ombro em
direção ao meu quarto.

Ele me oferece um sorriso tenso antes de fechar a porta.


Eu giro em meu calcanhar. A imagem de Jax, chateado e triste,
puxa as cordas do meu coração de todas as direções diferentes.

Entro em meu quarto para encontrar Elías deitado em


cima da minha cama.

Ele me oferece um sorriso fraco.

— Estou supondo que não saiu como planejado com base


na sua carranca.

— Eu não o entendo.

— Ele tinha um motivo para seu humor desta vez?

— Algo sobre eu interromper uma ligação com o pai dele.

Elías olha para o teto e solta um grunhido.

— Não sei por que algo está errado.


— Provavelmente porque ele está errado.

— Bem, é péssimo para ele. Seus amigos vão se divertir


conosco enquanto ele faz beicinho em seu quarto.

Uma hora depois, nossa sala de estar está cheia de


risadas. Liam, Noah, Maya, Sophie, Elías, Santi e eu nos
sentamos em volta de uma mesa de centro na sala de estar.

Todo mundo parece que está se divertindo, mesmo sem


Jax. Além de Liam perguntar sobre ele trinta minutos atrás,
ninguém menciona sua ausência. Maya e Sophie passaram a
maior parte da hora incluindo Elías e eu em todas as conversas,
nunca nos fazendo sentir como estranhos.

— 'Este é o auge da minha vida. Eu sou gostoso, jovem e


cheio de escolhas de vida ruins’. Droga, quem diria que eu era
um grande partido. — Santiago lê seu conjunto de cartas
vencedoras.

— Quando você se descreve como um partido, isso


geralmente é um mau sinal. — Noah toma um gole de sua
cerveja.
— Acho que ele está aprendendo uma ou duas coisas
sobre petulância com Noah. Salve-o de uma vida de condenação
eterna, Maya. Não o deixe cair na mesma armadilha que seu
namorado. — Liam joga as cartas não escolhidas na caixa.

— Eu tentei. Minha mãe tentou. Até o nosso padre local fez


um discurso sobre ser humilde. — Maya faz uma careta de
brincadeira para mim.

Noah puxa Maya para seu lado.

— Eu até conversei com ele. Ninguém gosta de um idiota


arrogante a menos que você seja Maya. Ela me ama, apesar de
toda a minha idiotice.

Santi pressiona a palma da mão contra o peito e agita os


cílios exageradamente.

— Há esperança para todos nós.

A porta do quarto de Jax se abre. Ele caminha em direção


ao sofá, quase tropeçando nos pés.

— Então, todos estão aqui se divertindo. — Jax murmura


suas palavras. Ele cai no sofá e fecha os olhos.

Liam estreita os olhos para o amigo.

— Por que não vamos te levar para a cama? Você não


parece muito bem.
— Estou cansado de ficar no meu quarto. Todos vocês
estão aqui, se divertindo e rindo. Eu odeio ouvir isso.

Liam se levanta do chão.

— Você foi convidado, mas decidiu agir como um idiota em


vez disso. Não fique com raiva de nós.

— Estou sempre bravo ultimamente. — Jax suspira. Seus


olhos dilatados encontram os meus através do pequeno espaço
e minha respiração engata. Achei que ele estava melhorando e
dispensando o Xanax.

— E de quem é a culpa? Você pode falar conosco se quiser.


— Os olhos de Noah refletem a preocupação que sinto.

— Não há sentido. Todos vocês seguirão em frente e eu


ficarei sozinho.

— Você nunca vai ficar sozinho porque está preso a nós. —


Sophie dá a Jax um sorriso genuíno.

— E quanto a eles? — Jax aponta um dedo trêmulo para


Elías e para mim. — Você vai me largar para sair com este novo
casal?

— Não é assim e você sabe disso. — De alguma forma,


encontro minha voz, apesar de minha garganta estar entupida.

Os olhos de Jax deslizam de Elías para mim.


— Se Elías transar com ela, vou ficar com raiva.

Elías suspira.

— Concentre-se em você mesmo. Sério, você não tem nada


com que se preocupar.

— Eu não estou me preocupando. Ela pode estar com


você, mas com base na maneira como ela me olha, ela prefere
estar comigo. Você deve ser péssimo se sua namorada está
cobiçando outro cara. — Jax tenta afastar as mãos de ajuda de
Liam, mas Liam não desiste.

— É isso aí. Você terminou esta noite. — Liam agarra Jax e


o ajuda a voltar para seu quarto. Todos permanecem com os
olhos arregalados e em silêncio enquanto Liam fecha a porta do
quarto depois de empurrar Jax para dentro.

O clima de brincadeira de antes se foi, substituído por


preocupação e mal-estar. Ninguém protesta quando decidimos
encerrar a noite. Todos vão embora, incluindo Sophie e Maya,
alegando que precisam de um tempo de garotas.

Minutos se passam sem nenhum sinal de Liam. Ficando


ansiosa, eu ando pela pequena sala de estar. Por que Liam está
demorando tanto? Minha cabeça vira em direção à porta de Jax
uma vez que ela abre.

Liam leva um dedo aos lábios. Ele inclina a cabeça em


direção à porta principal do hotel e eu o sigo.

— Não sei o que está acontecendo com ele nesta


temporada. Ele não se abre, e porra, eu tentei o meu melhor.

— De todas as pessoas que eu esperava saber sobre o que


está acontecendo com ele, seria você.

— Somos melhores amigos, mas não consigo nem mesmo


fazê-lo admitir o que o está corroendo nos últimos meses. Eu
sinto que estou falhando com ele de alguma forma. Ele sempre
teve esses ataques aleatórios de tristeza e ansiedade, mas
aumentaram desde as férias de inverno do ano passado. Fique
de olho nele e neles. — Liam me passa um frasco de
comprimidos laranja. — Eu não acho que ele está abusando
deles nem nada porque eles não o deixariam dirigir se fosse esse
o caso. Mas estou preocupado que ele possa começar,
especialmente depois desta noite. Xanax claramente não o está
ajudando a lidar com o que diabos o está incomodando. Ele
deve considerar opções melhores.

— Opções?

— Xanax é conhecido por ser altamente viciante, a tal


ponto que o Reino Unido evita prescrevê-lo. Vou ter uma
conversa com ele e me oferecer para ajudar a encontrar uma
alternativa melhor. Pílulas não são ruins, mas não são as
melhores para um atleta como ele.
Merda. Eu fico olhando para o frasco, desejando poder
ajudar mais do que apenas com a imagem de Jax. Talvez as
sessões de terapia não sejam suficientes para o que quer que
esteja acontecendo dentro de sua cabeça. Nossa ajuda só pode
ir tão longe se ele continuar por este caminho de entorpecer sua
dor.

— É melhor eu ir andando. Talvez você possa falar com


ele. Ele age de maneira diferente com você, tanto de uma
maneira boa quanto de uma maneira ruim. — Liam sai com um
adeus.

Meu coração se acalma depois de alguns minutos olhando


o frasco de comprimidos de Jax. Uma ideia me ocorre e eu corro
para o meu quarto para pegar um papel e uma caneta.

Entro no quarto de Jax uma hora depois para colocar o


frasco de comprimidos em sua mesa de cabeceira. Espero que
minha ideia tenha algum impacto, embora pequeno.

Levo um momento para espiá-lo. Ele parece em paz


enquanto dorme, agarrado a um travesseiro. Algo se agita
dentro de mim. Eu quero ajudar Jax a sair de seu lugar escuro.
Não por um contrato e definitivamente não por dinheiro. Ele age
como perdido e derrotado, escondendo-se atrás de pílulas e
segredos.

Em vez de seguir minha intuição me avisando para desistir


e fugir, eu concordo com o diabo no meu ombro, dizendo-me
para ajudá-lo a qualquer custo.

Mas essa é a questão dos custos. Nenhum de nós sabe o


preço que estamos dispostos a pagar para ser a redenção de
alguém.
17

Jax

Quando comecei no kart, adorei o nervosismo pré-corrida.


Eu vivia para a adrenalina alta antes de uma corrida, o
burburinho da multidão me alimentando. A onda química
correndo pelo meu corpo alimentou meu vício em adrenalina.

Agora, eu olho para minhas mãos trêmulas com medo e


hesitação. Não querendo surtar durante uma entrevista
aleatória, pego meu frasco de pílulas da minha bolsa de corrida.
Depois do episódio de ontem à noite na frente dos meus amigos,
preciso ter mais cuidado com a quantidade que ingiro de uma
vez. Mas depois da ligação de ontem com meu pai, eu senti a
necessidade de fazer tudo na minha cabeça desligar durante a
noite.

Bom trabalho pra caralho. A culpa já me consumiu esta


manhã depois de ler a mensagem de Liam se oferecendo para
ouvir se eu precisasse de alguém para conversar. Por mais grato
que eu seja por Liam, falo o suficiente com Tom do jeito que
está.
Eu desatarraxo a tampa e despejo os comprimidos na
minha mão. Meu corpo enrijece ao ver vários pedaços dobrados
de papel roxo misturados com os comprimidos.

Eu despejo o resto do conteúdo da garrafa na mesa de


centro da minha suíte. Depois de olhar para os papéis
quadrados por alguns momentos, eu pego um do grupo, curioso
para saber o que diz. Escrita cursiva delicada que eu reconheço
como a da Elena cobre o papel.

Salve um Xanax, compre um cachorrinho. Isso o deixará


mais feliz a longo prazo.

Não sei por que essa declaração ridícula arranca uma


risada de mim. Interessado em ver o que mais Elena escreveu,
pego outro.

Se eu trocar seus Xans por Tic-Tacs, você notaria?

Eu pego o resto, mal escondendo meu sorriso de comedor


de merda enquanto desdobro cada um.

Abraços, não drogas. Sério, este é o seu voucher de abraços


grátis.

Se você pular os comprimidos, vou lhe oferecer uma atividade


de sua escolha.
Um cupom de 'desconto de gala grátis' se você pular a pílula.

Os comprimidos são tão anos 80. Você é muito legal para fazer
algo tão fora de moda.

Noite de cinema grátis por minha conta, jantar incluído, se


você jogar a pílula fora.

Uma lição grátis de conversa suja de espanhol se você não


tomar a pílula.

Nunca esperei que algo simples como isso me deixasse à


vontade. Elena, nem mesmo presente na sala, enche meu peito
com algo quente.

Elena não precisava fazer isso. Ela poderia ter me deixado


tomar minhas pílulas, desde que eu me comportasse da melhor
maneira. Achei que ela só se importava com isso, mas talvez eu
estivesse errado. Talvez ela querer me ajudar seja mais do que
uma maneira rápida de ganhar dinheiro.

Coloco os comprimidos e os pedaços de papel de volta no


frasco. Alguma chave dentro de mim vira enquanto salvo aquele
que quero usar quando a corrida terminar.

Eu quero mudar. Não porque McCoy quer ou porque todos


continuam me julgando. Quero mudar porque alguém que tem
todos os motivos para ir embora se recusa a sair do meu lado.
E é assim que chego à conclusão de que preciso me salvar.

— É nisso que você quer usar sua atividade? Sério? —


Elena olha o pedaço de papel roxo que ela escreveu. Ligo o
motor do meu SUV McCoy Z-Wagon e saio do estacionamento
do hotel.

— Sim. Digite seu endereço. — Entrego a ela meu telefone.

Acontece que salvar a mim mesmo inclui enfrentar alguns


dos meus medos sobre Elena. O primeiro passo no meu plano é
passar mais tempo com ela enquanto me esforço ativamente
para não ser um idiota. Ela merece coisa melhor de mim depois
de tudo que ela me ajudou.

— Não vou mentir, pensei que você escolheria uma coisa


mais divertida para fazer no seu dia de folga, antes das rodadas
de treino de amanhã.

— E perder a oportunidade de ver seus globos de neve


exclusivos? Nunca. — Mantenho meus olhos a frente, ignorando
a atração que tenho de olhar para Elena.

Ok, eu quero ver globos de neve e afastar Elena do cenário


da F1 por uma ou duas horas. Nunca fingi que não era egoísta.

— Eu vou me arrepender totalmente de mostrar isso a


você. Eu sei disso. — Ela me devolve o telefone com seu
endereço digitado no aplicativo GPS.

Eu nos levo ao seu pequeno apartamento localizado nos


arredores de Mônaco. O prédio de apartamentos mais antigo
parece muito diferente da minha luxuosa cobertura localizada
perto da costa.

— Este é o seu apartamento? — Fico olhando para o


prédio degradado a um ponto de uma rajada de vento o tombar.

— Sim. Eu sei que pode não ser o que você está


acostumado, mas nem todos nós podemos pagar um
apartamento de cobertura com serviço de manobrista pessoal.

— Eu sinto muito. Eu não queria te insultar. — Porra, eu


não percebi o quão diferentes nossas vidas eram até agora. Ela
faz pequenos comentários aqui e ali, mas não me atingiu
totalmente até este momento.

Ela pega as chaves da bolsa.

— Está bem. Eu acho que é caseiro.

É uma merda, é isso que é.

Elena e eu subimos as escadas para a entrada de seu


prédio. Eu a sigo enquanto ela faz uma curva fechada em um
pequeno corredor com muitas manchas diversas para o
conforto.

— Você mora no primeiro andar? Não é meio perigoso?

— Perigoso? — Ela olha para mim com as sobrancelhas


levantadas.

— Sim. Você sabe, não está seguro de ladrões e outras


coisas. — Luto para negar a preocupação atada em minha voz.

As costas de Elena se endireitam enquanto ela brinca com


suas chaves.

— Por favor, eu cresci no México. Uma escada não vai me


proteger das pessoas más lá fora. — Ela abre a porta de seu
apartamento.

Verifico a fechadura enferrujada antes de segui-la para


dentro.

— Mas você mora sozinha. Isso é diferente.

O que há de errado comigo, ficando todo preocupado e essa


merda?

Elena parece compartilhar o mesmo pensamento, com


suas sobrancelhas franzidas enquanto ela olha para mim com
os olhos arregalados.
— Eu moro sozinha aqui há dois anos. Acho que posso
lidar com isso.

— Você volta para casa com frequência? Para o México,


quero dizer?

Ela limpa a garganta.

— Lá não é mais minha casa.

Ok, maneira de foder com isso, Jax.

— Então, mostre-me as mercadorias boas.

Suave. Transição de dez entre dez.

Estou ferrado. Este plano está piorando.

Elena me dá o tour mais rápido conhecido pelo homem,


visto que seu apartamento é do tamanho do meu closet em
Londres. Ela me leva em direção à prateleira perto da janela que
abriga seus globos de neve.

— Uau. — Eu fico cara a cara com um globo de neve de


duas caveiras de açúcar. Não é exatamente o que eu esperava
de alguém como ela.

— Crânios de açúcar representam almas que partiram. —


Ela agarra o globo de neve.

— Se eles partiram, por que é colorido?


— Porque na minha cultura, a morte não deve ser sombria
e cinzenta. É para ser um momento de celebração. Mas acho
que é mais fácil falar do que fazer, porque é difícil como o
inferno comemorar algo que causa dor. — Elena balança o globo
de neve. Purpurina colorida cai sobre o conjunto de crânios.
Seus olhos ficam turvos quando ela o coloca de volta na
prateleira.

— Aquele toca música?

— Não. — Ela se move para outra. — Este eu comprei


depois que Elías me conseguiu um emprego na F1. Foi um dos
melhores dias de todos os tempos. Fiquei tão animada que
acabei comprando o primeiro globo de neve que vi, que não era
da equipe de Elías. — Seu sorriso atinge seus olhos.

— Vou esquecer o fato de que você comprou um globo de


neve Bandini porque é muito legal. — Eu verifico o carro
Bandini vermelho centrado no meio de uma pista de F1 falsa,
cercado por purpurina caída.

Elena ri enquanto o pega e sacode.

— Bem, acho que você vai gostar dessa parte. — Seus


pequenos dedos giram a maçaneta de metal na parte inferior do
globo, e a música tema da F1 é tocada. É uma melodia leve
comparada com a dramática usual que os canais de esportes
tocam na televisão.
Elena se manteve fiel ao seu fato, com cada globo de neve
servindo a um propósito único. Há uma variedade de globos de
neve, que variam de diferentes tamanhos a temas. Ela ainda
tem um que comprou depois de se formar na universidade, com
um diploma falso e uma pequena foto de Elena dentro dele. Seu
sorriso radiante mostra seu orgulho.

— Nunca me formei na universidade. Inferno, eu nem


mesmo fui. — Esfrego meu polegar na esfera de vidro.

— Não há nada de errado com isso. Você estava dirigindo


onde, tipo na Fórmula 3?

— F2, mas quem está verificando. — Eu lanço para ela um


sorriso arrogante.

— É por isso que acredito que você pode ganhar outro


campeonato novamente. Você tem um talento natural para
corridas. Você só precisa sair de sua névoa mental para fazer
isso.

— Seu otimismo é fofo.

— Hoje, você conseguiu. Você não tomou seu comprimido.


Em vez disso, você está aqui comigo. — Elena coloca o globo de
neve de volta na prateleira.

Ela me mostra alguns outros. Sua paixão e felicidade por


seus melhores momentos se espalham para mim. Ficar ao redor
dela me enche de um calor equivalente a deitar ao sol.

A gratidão por sua vulnerabilidade me torna estúpido.

— Obrigado por compartilhar esta parte sua.

Seus olhos vagam, não pousando em nenhum lugar em


particular.

— Achei que você escolheria ir a outro lugar para sua


atividade. Tipo, eu não sei, fazer algo masculino. Estou
surpresa que você pediu para ver esta coleção. É minúscula.

— Não pude resistir à tentação de aprender mais sobre o


seu segredo.

— Por quê?

Minhas mãos tremem com o desejo de ser honesto com ela.

— Porque mesmo que eu diga a mim mesmo diariamente


que você não precisa de alguém tão fodido quanto eu perto de
você, não consigo resistir a querer mais de você do que deveria.
— Algo me empurra para segurar sua bochecha. A mesma coisa
em mim que quer puxá-la para perto e pressionar meus lábios
contra os dela.

Ela me olha com os olhos arregalados e cativantes.

— O que você está fazendo?


— Eu não sei. — Inclino-me mais perto, respirando fundo
seu shampoo. Estou viciado na maneira como seus olhos
escurecem enquanto examinam meu rosto antes de demorar em
meus lábios.

Ela fecha os olhos enquanto meu polegar roça sua


bochecha.

— O que aconteceu com nenhum toque? É uma regra.

Tocá-la desperta uma onda de possessividade dentro de


mim.

— Seja uma quebradora de regras comigo. — Fecho a


lacuna entre nós quando uma mão vai ao redor de seu pescoço,
puxando-a. Ela engasga quando nossos lábios se tocam.

Mantenho isso suave e inocente, sem saber como ela vai


reagir. Em vez de me afastar, seus dedos agarram o tecido da
minha camisa, puxando-me para mais perto.

Nosso beijo não é nada com o qual estou acostumado –


todo doce e suave. Quero me desculpar por esquecer nosso
primeiro beijo porque fui um idiota bêbado. Me desculpar por
colocá-la em merda em um esforço para mantê-la longe. É um
choque para o meu sistema quando sua língua traça a costura
da minha boca antes de morder meu lábio inferior. Meu corpo
reage como nunca antes, um formigamento subindo pela minha
espinha.

Um rosnado sobe pela minha garganta. Eu me afasto.

— Então é assim que vai ser? Estou tentando ser legal


aqui.

Seus olhos têm uma leveza rara em relação a mim que


nunca vi antes.

— Quem poderia imaginar que o cara famoso por tantas


coisas perversas tentaria ser legal?

— Você está brincando com alguém que não leva suas


provocações levianamente.

— Se for tão leve quanto seus beijos, acho que vou


sobreviver. — Ela pressiona a palma da mão no peito e sorri
para mim.

Eu a calo com um beijo punitivo. Minha língua ataca a


dela, não a deixando escapar facilmente, querendo possuí-la.
Para mostrar a ela nossa conexão e fazê-la imaginar minha
língua em outros lugares. Lambendo, provocando. Elena se
derrete em meu corpo, cedendo para mim.

É inebriante senti-la contra mim. Ela dá tanto quanto


recebe. Minha pele aquece com a consciência dela passando as
mãos em meus braços tensos. Devo ter bebido meu peso com
álcool no clube para não me lembrar de beijá-la. Eu me
chutaria de novo por tomar uma decisão tão estúpida porque
essa merda é memorável.

Beijá-la tem gosto do tipo mais doce de destruição. Ela traz


meu corpo à vida com seu toque, um choque de energia
disparando pelo meu corpo. Meu pau lateja no meu jeans
enquanto ela passa a língua pelo meu lábio inferior. Pressiono
meus quadris nos dela, mostrando o quanto eu a quero. O
desejo deixa minha cabeça turva.

Ela interrompe o beijo antes de se afastar. Seus dedos


roçam seus lábios inchados, chamando minha atenção para o
dano que causei.

— Não acho que isso deva acontecer de novo.

— Por que não? — Eu dou um passo em direção a ela.

Ela dá um passo para trás novamente.

— Nós trabalhamos juntos. Não há necessidade de


complicar as coisas.

— Acredite em mim quando digo que beijar você é a coisa


menos complicada da minha vida agora.

Seus olhos brilham com algo que reconheço como pena.

— Você não está em um bom lugar.

— Estou cansado de viver assim. — E estou cansado de


permitir que cada dia seja atolado pela minha ansiedade.

— Acho que é um ótimo primeiro passo, mas isso não


significa que devemos fazer o que acabamos de fazer
novamente.

— Você vai agir como se nunca tivesse acontecido? — Eu


aperto minhas mãos juntas.

— Claro, visto que nos saímos tão bem com o primeiro. —


Ela se vira para pegar sua bolsa no balcão da cozinha.

A raiva borbulha dentro de mim com sua indiferença. Eu


ficaria insultado e questionaria minhas habilidades se não fosse
pela maneira como ela pressionou seu corpo contra o meu,
praticamente implorando por mais.

— E se eu não quiser fingir que não aconteceu? — Eu


deixo escapar.

Seus ombros caem enquanto ela suspira.

— Eu não vou arruinar sua recuperação por algo como


luxúria. Você precisa de estabilidade, e algo entre nós seria tudo
menos isso.

Até eu sei que isso é verdade. Estou tentando melhorar e


lutar contra a ansiedade que está me segurando enquanto ela
quer construir seu negócio ajudando-me. E se aprendi alguma
coisa com meus amigos, foi como, onde quer que haja luxúria
como essa, o amor é um efeito colateral arriscado.

Odeio como Elena está certa. Odeio tanto que fico em


silêncio por todo o caminho de volta para o hotel.

Minha ansiedade vence novamente, estragando minha


chance de algo bom. Elena e eu não estaríamos firmes, mas não
pelos motivos que ela pensa. Os relacionamentos – mesmo o
tipo físico – precisam de um nível básico de confiança.

Enquanto algumas pessoas têm fundações sólidas


construídas para suportar as adversidades da vida, o meu é o
equivalente a um castelo de cartas – suscetível a desmoronar
com a menor mudança.
18

Jax

— Eu quero deixar o Xanax. — Eu digo depois de contar os


ladrilhos pelo que parecem trinta minutos. As palavras de Elena
em seu apartamento me seguiram a semana inteira. Ela está
certa, o que me deixa com raiva. Se eu fosse um homem
normal, não teria que me preocupar com uma conexão com
alguém ameaçando me jogar do outro lado. Sua relutância em
me beijar de novo mostra o quão fundo eu caí em um buraco de
ressentimento e isolamento.

Tom cruza a perna sobre o joelho.

— Você gostaria de algumas referências para psiquiatras?

— Sim. Eu quero fazer isso da maneira certa, então o que


você achar que é melhor.

— Estou me perguntando o que mudou sua opinião sobre


a medicação?

— Ainda acho que a medicação é necessária, mas não acho


que o Xanax seja mais a escolha certa para mim. Quero tentar
algo diferente que se adapte melhor ao meu estilo de vida.

— Estou orgulhoso de você por querer mudar isso, Jax.

Ele deveria estar agradecendo a Elena, mas não quero


trazê-la para essas conversas.

— Obrigado.

— Posso montar uma lista de referências, se funcionar


para você.

— Certo. Quanto antes melhor. Você acha que a mudança


afetará minha corrida ou algo assim?

— Acho que um psiquiatra pode ajudar a determinar qual


é o melhor curso de ação. Mas eles sabem trabalhar com um
atleta como você.

— Isso é bom então. — Aceno, satisfeito comigo mesmo por


dar este primeiro passo.

— Eu sei que você pode vencer isso, Jax. A ansiedade não


define você. — Tom sorri para mim.

— Isso é fácil de dizer quando você não conhece meus


medos.

— Se você está disposto a compartilhar, eu gostaria de


ajudá-lo.
— Vamos deixar essa batalha para outra semana.

Ando pela sala de estar, olhando para a porta do quarto de


Elena. Desde que ela me mandou uma mensagem para me dizer
que não estava se sentindo bem, estou em alerta.

Nos últimos meses, ela nunca tirou uma hora de folga,


muito menos um dia. Embora eu prefira me sentir magoado por
Elena ter evitado nosso beijo, algo me diz que ela não desistiria
de me ajudar, muito menos por causa de um beijo.

Um beijo que ela quer esquecer que aconteceu.

Um beijo que eu não poderia esquecer mesmo se tentasse.


E porra eu tentei. Eu tentei tanto que quase bati minha cabeça
na parede do chuveiro ontem depois de me masturbar com a
ideia dela.

Desci para níveis mais baixos e isso diz algo vindo de um


cara que vive no fundo do poço.

Sua evasão me deixou no limite. Não porque me importo


com o bem-estar dela, mas mais porque não quero ficar doente
com qualquer vírus que ela esteja incubando em seu corpo.

Mentiroso.

Resisti ao impulso de bater em sua porta. Participei da


coletiva de imprensa sem ela, certificando-me de revisar o e-
mail que ela me enviou esta manhã com respostas a possíveis
perguntas. Esse é o tipo de workaholic29 que ela é, me
mandando merda para ficar por dentro de tudo.

Agitado comigo mesmo e com meu ritmo estúpido, bato em


sua porta. Meu coração ameaça escapar do meu peito enquanto
espero por ela. Minutos passam e a dor no meu peito não
diminui.

Bato novamente, querendo ter certeza de que Elena está


viva e não engasgando com seu vômito ou algo assim. Por
alguma razão, o repórter de relações públicas morrendo por conta
do próprio vômito enquanto seu colega de quarto espera do lado
de fora soa como uma manchete terrível. Ela gostaria que eu a
verificasse apenas por aquele potencial assassino de reputação.

Depois de mais um minuto de silêncio, coloco minha testa


contra a porta.

— Elena, você está viva aí? Não estou exatamente


preocupado, mas o silêncio é incomum. — Ok, estou um pouco
preocupado, mas que porra é essa?

29 Pessoa viciada em trabalho.


— Eu não estou me sentindo bem. Você pode não sair ou
não fazer qualquer coisa que possa te colocar em apuros hoje?
Eu sei que as festas são uma diversão louca e tudo, mas eu não
quero lidar com nenhuma repercussão amanhã.

Uma sensação de frio se espalha pelo meu peito com sua


voz estranha.

— Você precisa de remédio ou alguma merda? — Não


posso acreditar que estou falando com uma porta no momento,
praticamente implorando para que Elena abra.

Isso é inacreditável da minha parte. Eu deveria ir, mas


meus pés continuam plantados no tapete.

— Não.

— Isso é por causa de problemas femininos? — Deus,


estou me transformando em um maldito maricas hoje.

— Não. Deus, não. Vá sair com seus amigos sem ficar


bêbado, por favor. — Sua risada rouca não diminui minha
preocupação inicial.

Odeio sua risada forçada. Não é o seu costume. Porra, nem


mesmo é sarcástico para ela quando eu sou um idiota total.

Afasto-me de sua porta, ouvindo seu conselho. Liam


responde minhas mensagens e me diz para ir ao seu hotel.
No carro, não consigo parar de me remexer no assento, me
perguntando se Elena precisa de algo para se sentir melhor.
Peço ao motorista que dê meia volta e pare na farmácia mais
próxima.

Raciocino comigo mesmo enquanto paro como um idiota


no corredor de higiene feminina. Estou apenas fazendo isso
porque preciso que Elena me ajude com minha reputação. Nada
mais, nada menos. Ênfase no nada mais.

Estou perdido enquanto olho para os diferentes produtos,


toda merda de propaganda sobre fluxos pesados e produtos
antipesticidas. Puta merda. Agradeço a Deus por não ser
mulher neste momento. Quem diabos quer se preocupar com
produtos químicos enfiados em sua vagina?

Eu ligo para minha mãe.

— Ei, pergunta rápida. O que as mulheres preferem para a


época do mês? Há um monte de merda etiquetada como
absorventes ou absorventes internos e não consigo entender por
que uma mulher quer inserir algo parecido com uma bala de
papelão em seu corpo.

Minha mãe ri por trinta segundos sólidos em seu telefone.

— Por favor, me diga por que meu filho está comprando


absorventes em uma quarta-feira.
Gemo enquanto me inclino contra uma prateleira.

— Eu não sei o que estou fazendo. Elena está agindo de


forma estranha pra caralho e eu pensei que poderia ser o
período dela.

— Então, você foi à drogaria local para ela?

— Sim.

— Ela pediu alguma coisa em particular?

— Não. Ela me disse para sair com meus amigos.

— Mesmo assim, você está me ligando da loja? Isso não


soa como seu tipo usual de diversão.

— Você quer que eu soletre para você?

Mamãe ri.

— Não. Vou me divertir tirando minhas próprias


conclusões! Estou impressionada com a forma como ela
trabalhou um pouco de magia em você em tão pouco tempo.
Achei que ela demoraria meio ano, pelo menos.

— Isso nada mais é do que uma atitude amável de um


colega de quarto.

— Por que você é um defensor da bondade de repente? —


O bufo da minha mãe me faz sorrir.
— Certo, tudo bem. Ela me ajuda com um monte de
merda, então me sinto mal. Tenho ficado um pouco louco desde
que ela ficou enfurnada em seu quarto o dia todo.

— Realmente interessante. Você está preocupado com o


bem-estar dela?

— Não vamos entrar nisso agora. Você vai me ajudar ou


não?

— Claro. Qualquer coisa pelo meu filho que claramente


não gosta de Elena. — Minha mãe recita uma lista de itens que
eu deveria pegar.

Vinte minutos depois, entro em nossa suíte com duas


sacolas cheias de merda que as mulheres aparentemente
precisam para sobreviver ao seu período do mês. Não precisava
ser um gênio para adivinhar o doce favorito de Elena, visto que
ela mastigava todas as semanas enquanto trabalhava naquele
maldito quebra-cabeça. Comprei tudo que mamãe recomendou,
desde absorventes orgânicos de alta qualidade até alguma
almofada térmica que aparentemente ajuda a aliviar as cólicas.

Se eu pensei que estava fodido com Elena antes, hoje fecha


o negócio.

Hesito quando me aproximo de sua porta fechada.


Reunindo coragem, bato, esperando que ela finalmente abra.
Seu suspiro abafado atravessa a porta.

— Jax. Não estou com humor hoje.

— Ok, bem, eu comprei merdas para você passar pelo seu


dia ruim, então espero que você esteja com humor para Reese's
Pieces30. — Se ela não sair por causa disso, ela precisa ser
levada às pressas para o hospital mais próximo, porque ela deve
estar morrendo.

Seu silêncio me sufoca. Eu nunca pensei que ficaria


intimidado com o som, mas maldita seja, Elena fode as coisas
por dentro de mim.

Depois de um minuto sólido de pé na porta agindo como


um idiota, considero desistir. Quando me movo para colocar a
sacola no chão, a porta de Elena se abre.

Os olhos inchados de Elena parecem um golpe no meu


peito. Ela trocou seu traje de trabalho usual por leggings e um
suéter enorme com as datas da turnê de Ed Sheeran nele. Seu
cabelo parece algo saído de um filme pornô, despenteado e
diferente dela. Todo o conjunto é preocupante, especialmente
quando seu rosto pisca em choque enquanto ela verifica as
sacolas que eu seguro.

30 Reese's Pieces é um doce de manteiga de amendoim fabricado pela The Hershey Company
Não consigo descrever o sentimento dentro de mim. Uma
mistura de alívio e dor, tanto por ela estar claramente sofrendo
quanto por me mostrar que pelo menos está respirando.

— Eu comprei coisas para você. — Passo as sacolas para


ela como um idiota.

Ela encara os itens com olhos esbugalhados.

— Você foi à loja para mim?

— Não para você. Tive que pegar uma escova de dente


nova e pensei que você poderia precisar de alguns itens de
emergência. Não posso deixar você ficar doente e merda assim
antes do Grande Prêmio, porque preciso de você em ótima forma
para me acompanhar. — Maneira de não parecer um idiota, Jax.

— Oh, certo. — Seus olhos se fecham. — Bem, obrigada.


Isso é gentileza sua. — Ela agarra a maçaneta da porta e se
move para fechá-la.

Sem pensar, eu o bloqueio com meu pé calçado.

— Espera.

Ela recua.

— O quê?

Esfrego minha nuca.


— Há algo incomodando você?

— Não.

— Sua aparência diz uma coisa diferente.

— Uau, você realmente sabe como fazer uma garota se


sentir especial. — Ela tenta empurrar meu pé para fora do
caminho. Seus dedinhos pintados de roxo não são páreo para
mim.

— Bem, se algo estiver errado, você pode falar comigo. —


Porque você mesmo fez um bom trabalho. Idiota.

— Podemos ter nos beijado antes, mas não somos amigos.


Não falamos sobre sentimentos e coisas pessoais. Você deixou
bem claro.

Ela me excluindo é uma merda mais do que gostaria de


admitir. Eu não esperava que queimasse como uma cadela, mas
eu entendo que é garantido. Estar no lado receptor de um
ombro frio não é muito bom. Lição aprendida. É assim que os
outros se sentem quando os afasto?

— Bem, estarei aqui esta noite se você quiser conversar ou


algo assim. Melhoras. — Eu removo meu pé. Ela fecha a porta
com um adeus suave.

Sento no sofá e mando uma mensagem para Liam dizendo


que preciso cancelar nossos planos. Digo a mim mesmo que não
estou com vontade de sair – que prefiro assistir ao último filme
de ação do que me encontrar com meu amigo. Não é porque eu
quero estar por perto, caso Elena precise de mim.

Certo.

Uma batida na porta do hotel uma hora depois me


atordoa. Abro e encontro Elías parado ali, um pouco
maltratado.

— O que diabos você está fazendo aqui?

O humor de merda de Elena é por causa desse idiota?

— Eu trouxe o jantar para Elena. — Ele levanta uma


sacola marrom marcada para levar.

— Ela não está se sentindo bem, então duvido que ela


queira comer com você. — Eu não posso escapar desse filho da
puta, não importa o quanto eu tente.

— Eu sei disso. Nós mandamos mensagens. Você vai me


deixar entrar ou vai continuar olhando para mim como se eu
quisesse roubar seu brinquedo favorito?
Abro mais a porta, dando espaço a Elías para entrar. O
fato de Elena ter mandado uma mensagem para Elías me irrita.
A ideia me faz sentir estúpido, comprando suprimentos para ela
se sentir melhor quando ela o tem para contar.

Fico olhando para sua sacola de comida com desprezo.

— Boa sorte com ela. Ela é toda sua.

Elías olha para a porta fechada antes de olhar para mim.

— Isso não é o que você pensa que é. Não fique bravo com
ela porque estou aqui para ajudar.

— Eu nunca disse que estou bravo.

— A maneira como sua mandíbula se contraiu me diz algo


diferente. Já disse que ela e eu somos amigos. É isso aí. Ela
está tendo um dia ruim e quero ter certeza de que ela coma
alguma coisa.

Meu estômago afunda. Foda-me.

— O que está acontecendo? Por que ela está agindo do


jeito que está?

Ele balança a cabeça, baixando a voz.

— Não é minha história para contar.

— Fantástico. — Parece que nunca terei respostas porque


com base na minha atitude, duvido que Elena queira mergulhar
em seus sentimentos comigo.

— Se você espera que os outros se abram, você deve fazer


o mesmo.

— Eu não pedi conselhos a você.

Ele balança a cabeça.

— Bem. Não fique chateado porque estou aqui quando sou


a única pessoa com quem ela pode contar.

— Faça o que você quiser. Espero que você tenha seu pau
chupado muito bem por trazer o jantar para ela. — Uma
tempestade perfeita de raiva entra na minha corrente
sanguínea, fodendo tudo ainda mais.

— Foda-se você. Eu quase me sinto mal por quão


pateticamente ciumento você é. — Elías não se incomoda em
olhar para mim ao entrar no quarto de Elena, fechando a porta
silenciosamente atrás dele.

Vou para o meu quarto, desesperado para escapar das


palavras de Elías. Dane-se ele estando totalmente conectado
com Elena. Este é o lembrete perfeito de por que idiotas como
eu não se aproximam de outras pessoas. Somos mais
adequados para quebrar coisas além do reparo, certamente
arruinando tudo que tocamos.
Alguém bate na porta do meu quarto. Espero Elena, mas
em vez disso, Elías está do outro lado. De alguma forma, eu
resisto à tentação de fechar a porta em seu rosto depois de sua
pequena tarefa de trazer comida para Elena algumas horas
atrás.

— Você se importa se eu entrar por um segundo? Eu não


quero que Elena me ouça. — Ele olha para trás em direção à
porta fechada de Elena.

— Eu me importo, mas não é como se você estivesse me


dando muita escolha. — Eu dou a ele espaço para entrar.

— Algumas coisas precisam ser esclarecidas.

Fecho a porta atrás dele.

— Mal posso esperar.

— Bem, eu tentei o meu melhor para ser seu amigo e um


companheiro de equipe decente. — Elías se concentra em tudo,
menos em mim, enquanto caminha para a frente e para trás.

— Você tem. — Inclino-me contra a cômoda e coloco


minhas mãos nos bolsos.
— E tudo que você fez foi ser um idiota com Elena e eu.

— Não adianta negar. — Atiro para ele um sorriso tenso.

— Este é o problema que quero abordar com você. Eu não


posso ignorar como parte de você está com raiva de nós porque
você acha que estou interessado em Elena, mas posso garantir
que não estou.

Uma risada alta explode de mim.

— Você acha que eu sou estúpido? Vocês dois têm essa


coisa um com o outro.

— Por mais que me agrade saber que você pelo menos


gosta dela o suficiente para ter inveja de meu relacionamento
com ela, não é certo. Você não deveria estar agindo como um
idiota com ela porque está intimidado por mim.

— Você pode parar de andar? — Reclamo.

Elías para no lugar. Ele encara suas mãos, ainda sem


olhar para mim.

— Não gosto de Elena desse jeito porque sou gay.

De todas as coisas que eu esperava que Elías dissesse, sua


confissão não teria entrado na lista. Se o que ele diz é verdade,
então sou o maior idiota deste planeta.
Risca isso. O maior babaca deste lado do universo.

— Merda. Sério?

Ele suspira.

— Sim, idiota. Você tem ciúmes de um cara gay andando


com sua melhor amiga.

— Uau... Quero dizer, você é... bem, você. Eu não esperava


isso. — Acho minha capacidade de produzir palavras
incompreensíveis.

— Por quê? Porque eu corro com carros e gosto de merda


masculina, isso significa que eu não sou gay? As percepções e
estigmas de todos são a razão pela qual mantenho isso em
segredo, em primeiro lugar. — Ele rebate, olhando nos meus
olhos pela primeira vez.

— Desculpe-me, eu não quis dizer isso. É só que você


nunca insinuou isso.

— Sua reação é exatamente o motivo. É meu segredo. Um


que apenas Elena, e agora você, sabe.

Tento limpar meu rosto de surpresa.

— Por que você está me dizendo isso então?

— Elena não merece mais suas besteiras sobre nós,


especialmente porque ela ajuda você o tempo todo e você age
como uma criança. O mínimo que posso fazer é tornar a vida
dela um pouco mais fácil. Você quer ser um idiota com ela por
outros motivos? Ótimo. Mas eu não vou deixar você sentar e ser
um idiota com ciúmes por alguém que prefere foder o homem
mais sexy do ano da People Magazine.

Eu ri.

— Bem, pelo menos eu não preciso incomodá-la mais


sobre você.

— Você precisa parar de incomodá-la. Ponto. Você vai se


arrepender.

— Se a vida fosse tão fácil.

Elías acena com a cabeça.

— A vida nunca é fácil. Entrando aqui e contando meu


segredo para ajudar minha amiga? A merda mais difícil que tive
que fazer há algum tempo. Confiar em você apesar de mal te
conhecer? Pior ainda. Pelo que ouvi, você tende a perder a boca
quando fica embriagado, então não estou exatamente feliz em
confiar em você.

Merda. Estou chocado por ele confiar em mim o suficiente


para me dizer isso em primeiro lugar. E seu raciocínio por trás
disso é algo que eu não apenas respeito, mas invejo um pouco
porque não tenho o tipo de coragem dele. A disposição de se
sacrificar para proteger seu amigo é um traço de personalidade
que não posso exatamente ignorar.

Elías é um bom companheiro. Não admira que Elena se


sinta atraída por ele.

— Vou guardar seu segredo. Eu juro. — Quero dizer cada


palavra. — Eu posso ser um idiota, mas eu nunca trairia sua
confiança assim. O que você fez por Elena é admirável.

Droga, Elías. Ele está se tornando mais agradável aos


meus olhos a cada dia.

— Mas você ainda vai ficar distante com ela? Apesar de


saber que não vou fazer nada?

Eu acho que Elena não confessou como estávamos nada


além de distantes ontem. Mal sabe ele que eu empurrei para
menos distância, mas encontrei a resistência dela.

— Temos muitos obstáculos em nosso caminho.

E porra, eu sou o maior de todos eles.


19

Elena

O tempo não cura coração partido. É uma frase estúpida


para inspirar esperança. Na realidade, seguir em frente ainda
não curou meu coração. E Deus sabe que tentei.

Todo ano é a mesma sensação. O desespero se sobrepõe a


tudo o mais na minha vida no aniversário da morte dos meus
pais. As responsabilidades são colocadas em segundo plano
enquanto eu passo o dia lamentando a vida que deveriam ter
tido.

Elías foi embora horas atrás, certificando-se de que eu


fosse alimentada apesar de minha resistência às suas ofertas o
dia todo.

Saio para a varanda do hotel. A pista de corrida de Mônaco


está tão perto que posso ver as luzes daqui.

Olho para o céu estrelado, as lágrimas pinicando meus


olhos enquanto penso em meus pais.

— Quando vai ficar mais fácil? Todo ano tento fingir que
está tudo bem, mas, em vez disso, acabo evitando todo mundo.
Eu me sinto culpada por estar aqui enquanto vocês dois não
estão. Passar um tempo com outras pessoas nesse dia... isso me
lembra de tudo que vocês dois perderam. — Sussurro as
palavras para o céu. — Gostaria que o Papi estivesse aqui para
me ver usar o inglês todos os dias. Acho que ele ficaria
orgulhoso de como eu tenho pouco sotaque agora. E às vezes
finjo que Mami está cantando em meu ouvido, dizendo que tudo
vai dar certo. Eu gostaria de pensar que ela estaria discutindo
com a Abuela sobre a falta de netos agora também.

Pareço louca, falando sozinha.

— Meu Deus, às vezes me sinto tão só, até com Elías e


Abuela. Não é o mesmo sem vocês dois.

Fungo enquanto mais lágrimas caem. É estúpido, mas


libertador, tirar essas palavras do meu peito. Soluço
silenciosamente enquanto olho para o céu, pensando em meus
pais me observando de cima.

O tempo me escapa. O sol nasce lentamente, aquecendo a


pista de corrida de Mônaco com um brilho dourado.

A porta corrediça do quarto de Jax range se abrindo. Corro


para voltar para minha suíte, mas a voz de Jax me impede.

— Você não tem que entrar por minha causa. Se quiser,


pode fingir que nem estou aqui.

Limpo minhas bochechas com meu suéter, afastando


qualquer lágrima iminente.

— Isso é impossível. Acredite em mim, eu tentei. —


Continuo de costas para ele enquanto olho para minha porta de
correr, me perguntando o que fazer.

— Você está flertando abertamente comigo? Agora estou


preocupado que você esteja doente.

O mais fraco sorriso conhecido pela humanidade enfeita


meus lábios. Eu me viro e pego um lugar encostado no
corrimão, de frente para o sol nascente.

— Estou bem.

— Mamãe me ensinou que sempre que uma mulher diz


que está bem, então ela definitivamente está, sob nenhuma
circunstância, bem.

Solto uma risada suave.

— Sua mãe parece ótima. — Meu peito queima com a ideia


de não ter a minha.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Reúno o controle


de minhas emoções furiosas enquanto Jax olha para frente. O
sol continua sua subida lenta.
Jax continua olhando para frente.

— Ontem, um entrevistador me perguntou o que me faz


sentir vivo.

Viro minha cabeça em direção a ele.

— O que aconteceu com você ficar em silêncio para que eu


possa fingir que não está aqui?

— Eu pensei que você odiasse o quanto eu mantenho para


mim mesmo. Aqui estou eu sendo gentil e oferecendo a você
algumas migalhas de pão. — Seus lábios se contraem.

— Fui criada com o arroz sendo uma parte essencial da


minha pirâmide alimentar. Migalhas de pão é para mulheres
com dietas terríveis. — Escondo meu sorriso atrás da manga do
meu suéter.

Sua risada me enche de uma onda de calor, substituindo o


pavor frio que senti nas últimas vinte e quatro horas.

— Bem, fique feliz com o que estou disposto a lhe oferecer.


Então... enfim... O repórter me perguntou o que me faz sentir
vivo e eu respondi automobilismo.

— Ok, não sei se estou lutando para segui-lo porque ainda


não tomei café ou porque isso não é surpreendente.

— Talvez um pouco de ambos. Bem, eu menti. Mais ou


menos... sobre as corridas, pelo menos. O nascer do sol me faz
sentir vivo.

Jax parece nervoso ou sou eu analisando demais as coisas?

— Por quê?

Jax fica em silêncio por um minuto sólido. Ele me fisgou,


esperando sua resposta.

— Porque me lembra de como vou viver outro dia.

— Isso é chocantemente profundo da sua parte.

— Sua vez. Você me diz, Elena Gonzalez, o que a faz se


sentir viva?

Faço uma pausa.

— Meu trabalho?

Ele imita o som de uma campainha e uma gargalhada me


escapa. É bom rir descuidadamente, para aliviar a dor em meu
peito.

— Tente novamente. De jeito nenhum é isso que faz você


se sentir viva. Nesse caso, precisamos encontrar alguns hobbies
para você.

— Bem. Ok. — Mordo meu lábio enquanto penso em


minha resposta. — Vai soar tão estúpido.
— Você está falando com o homem que toma decisões mais
estúpidas em uma semana do que você poderia durante toda a
sua existência. Teste-me.

— Chuva. — Deixo escapar.

— Chuva? — Sua voz combina com a descrença em seu


rosto.

— Eu sabia que parecia estúpido, — murmuro baixinho.

Ele fecha a distância entre nós. Sua mão segura


suavemente meu queixo enquanto ele me força a olhar para ele.

— Eu não disse isso. Você está fazendo um trabalho


péssimo se explicando, sem ofensa. E isso diz algo, vindo de
mim.

Meu corpo fica sintonizado com sua presença. É como


tocar uma tomada elétrica, com uma faísca causando um
choque no meu coração.

— A chuva me faz sentir viva porque me lembra que a vida


é um ciclo. Água cai de cima para ser sugada de volta pelas
nuvens eventualmente – girando e girando. Eu amo as nuvens
de tempestade antes que as primeiras gotas caiam. Adoro a
sensação da chuva na minha pele e adoro o seu cheiro. É tão
estranho, mas meus dias favoritos são os mais sombrios. E nos
ensina como até as tempestades mais feias podem levar a um
arco-íris no final.

Os olhos de Jax ficam grudados nos meus. O olhar neles,


mistificado e algo mais, me assusta. Eu me afasto de seu
abraço, dando a nós dois alguma distância.

— Isso foi bastante poético. — Ele passa a mão pelos


cachos. — Você fez minha resposta empalidecer em
comparação.

Meus olhos observam o sol lentamente subindo no céu.


Não quero que nosso momento termine, uma ocasião rara com
Jax compartilhando uma parte de si mesmo.

— Por que você veio aqui?

— Verdade?

— Não, diga-me a mentira. — A pouca iluminação esconde


meu revirar de olhos.

— Eu tento o meu melhor para ver cada nascer do sol.

Meu coração afunda. Por alguma razão, pensei que ele


tinha vindo aqui para me ver. Na verdade, eu invadi seu
território.

— Eu não sabia disso. Obrigada por me deixar interromper


seu ritual matinal, então.

— O fato de você estar me agradecendo por dividir um


espaço com você por dez minutos mostra o quão idiota eu
realmente sou.

— Então por que não mudar? Por que você faz isso sua
missão manter todos emocionalmente distantes de você?

Ele suspira enquanto enfrenta o corrimão novamente.

— Você acredita em destino?

— Você realmente vai mudar de assunto assim? Você nem


respondeu à minha pergunta.

— Responda-me.

— Ok... — Eu penso na morte do meu pai. Em como o


destino desempenhou um papel em levá-los embora enquanto
me mantinha viva. Mas também penso em outros momentos
positivos, como Elías me conseguindo um emprego na F1 ou me
mudando do México para a universidade. — Quer dizer, eu
gostaria de não acreditar. Parece cruel pensar que alguns
eventos estão destinados a acontecer como morrer jovem, ou
doença, ou mesmo trauma. Mas de que outra forma podemos
explicar as coisas que acontecem? Acho que as pessoas não
seriam capazes de lidar com a vida se não acreditassem que as
coisas deveriam acontecer exatamente como acontecem.

— Sim, eu acredito no destino também. Como infelizmente


tudo acontece por um motivo, apesar de algumas pessoas serem
teimosas demais para aceitar isso. Como você disse, doença,
morte, vida. Tudo isso é parte do grande esquema das coisas,
gostemos ou não.

— Mas como isso se conecta ao motivo pelo qual você não


pode ser diferente comigo?

— Se conecta. — Ele me olha. Seus olhos escurecem


enquanto a emoção inunda seus olhos, revelando tristeza e
arrependimento. — Algumas pessoas veem o futuro em outras.
Alguém com quem querem passar a vida porque não conseguem
imaginar passar um dia sem elas. Mas com você, não vejo nada
de bom. Você se pergunta por que eu luto para estar perto de
você, e isso é válido. É porque, embora alguns estejam
destinados a se tornar algo grande, somos diferentes. Estamos
fadados ao fracasso desde o início. Quando eu olho para você,
lembro-me de por que Deus é uma piada e a vida é um grande
momento 'foda-se' após o outro.

Uau. O peso de suas palavras pressiona contra a já


crescente dor dentro do meu peito. Suas palavras sugerem
muito mais do que querer uma amizade e não tenho certeza de
como lidar com isso.

— Nós nunca poderíamos ser amigos, não é?

— Não. Passar um tempo com você, querendo mais de você


do que uma foda rápida, essa é a razão pela qual o destino é
cruel.

Sou atingida por outra onda de tristeza. Minha boca se


abre para dizer algo, qualquer coisa realmente, mas a mão de
Jax segurando meu rosto me choca.

Ele vira minha cabeça suavemente, me acertando com um


olhar de desespero.

— Você é o maior 'foda-se' do destino. Mas não é porque eu


não gosto de você. É porque estou apavorado com o que
aconteceria se eu parasse de tentar evitá-la.

Mierda.

— E o que aconteceria se você fizesse? — Não quero


desistir de fazer perguntas a ele, não quando ele finalmente
estava se abrindo para mim.

— Algo trágico desde o início.

— Essa é a sua perspectiva. E sobre a minha?

— Continue. Diga-me o que você acha que aconteceria se


eu parasse de evitá-la.

— Bem, se você fosse capaz de se controlar mais, acho que


finalmente sentiria algo em sua vida além de raiva e tristeza.
Seja de uma amizade ou de um relacionamento, todos merecem
felicidade, inclusive você.
Jax franze a testa, puxando a mão do meu rosto e
colocando-a no corrimão. Ele vira a cabeça em direção ao
horizonte.

— Parece que nosso tempo acabou.

— Jax, eu quero dizer isso. A felicidade não é algo a temer.


— Coloco minha mão sobre a dele, aquecendo a palma da
minha mão.

— Não tenho medo da felicidade. É mais como se eu


temesse o desespero que vem depois.

Antes que eu tivesse a chance de perguntar mais alguma


coisa, ele coloca o beijo mais suave no canto da minha boca.
Minha pele zumbe com a consciência enquanto seus lábios
permanecem no local.

Eu me odeio por inclinar-me para ele. Jax é viciante,


provando-me o quanto desejo seus lábios contra os meus. O
beijo no meu apartamento não satisfez um desejo – ele criou
um. Um que eu não tenho lugar para experimentar em primeiro
lugar, já que lhe pedi que se concentrasse em si mesmo em vez
de algo entre nós...

Jax se afasta de mim.

— Aprenda a deixar ir tudo o que está assombrando você.


Você não quer se tornar como eu, arruinando tudo de bom em
sua vida. Infelizmente, pessoas como eu não têm um grande
final feliz. Mas você merece tudo. A dança na chuva termina
com algum idiota apaixonado que pode lhe dar o melhor dele
pelo resto de suas longas vidas.

Ele caminha de volta para seu quarto, deixando-me em


uma confusão de minhas próprias emoções.

Jax Kingston roubou um pedaço do meu coração e não


tenho certeza se algum dia o recuperarei. E pior, não sei se
quero.
20

Jax

— Então, como você está esta semana? — Tom interrompe


minha contagem usual. Nós caímos em um padrão confortável,
comigo respondendo algumas de suas perguntas todas as
semanas. Não vou contar a Connor, mas ter alguém a quem
desabafar me ajudou a controlar minha ansiedade com mais
eficácia. Eu ainda tenho os tremores habituais e tudo mais, mas
é inevitável durante a transição para um novo medicamento.

— Está tudo bem. Tenho me preparado para o Grande


Prêmio do Canadá e me mantido ocupado.

— Ocupado é bom. E como está sua família?

— Mamãe está um pouco melhor esta semana. Pela


primeira vez em muito tempo, papai pôde viajar a trabalho. As
pessoas pensam que ele fica sentado o dia todo, mas na verdade
ele patrocina alguns lutadores de MMA promissores. Ele diz
que, infelizmente, o boxe é um esporte que está morrendo.

— O MMA é muito divertido. E é bom saber que sua mãe


está tendo uma semana melhor. Tenho certeza de que isso
ajuda com o seu estresse.

— Sim, obrigado porra. Na verdade, eles me pediram para


ficar com eles durante as férias de verão antes do Grande
Prêmio da Inglaterra.

— Como você se sente sobre isso?

— Bem, exceto que Elena está presa como minha babá em


Londres também. Isso significa que ela iria passar um mês
comigo e com meus pais. — Passo minha mão pelo meu queixo
mal barbeado.

— Um mês é muito tempo.

— Não me diga.

— Você quer que Elena os conheça?

— Na verdade, não. Por vários motivos, e o maior problema


é como ela não sabe que minha mãe está doente.

— Isso é algo que você deseja compartilhar com ela?

— Eu sei que posso confiar em Elena para não dizer nada,


mas isso não torna o processo mais fácil. Mas, honestamente,
não tenho muita escolha.

— E o que ela saber torna isso difícil para você?

— Parece que estou derrubando a última barreira entre


nós. Ela saberia tudo o que há para saber sobre mim.

— E o que te deixa com medo?

Respiro fundo enquanto considero desistir de contar a


Tom. Em vez disso, eu prossigo, sabendo que preciso falar com
alguém sobre isso. Uma anomalia sangrenta.

— Minha mãe tem doença de Huntington.

Tom permanece quieto. Seu silêncio alimenta meu medo,


fazendo-me sentar e olhar para ele.

Odeio a tristeza em seus olhos. Eu me acostumei com esse


olhar ao longo da minha vida.

— Você não precisa me olhar assim.

— Merda, Jax. Sinto muito por ouvir isso. — Ele balança a


cabeça.

— Isso não muda nada do que eu disse e as decisões que


tomei. — Coloco minhas mãos em punho na minha frente.

Ele bate com a caneta na perna.

— Você foi testado?

— Não. E eu não quero.

— O tremor que você tem e a ansiedade... você tem se


preocupado com isso, não é?

— Não me diga. Suponho que você esteja familiarizado com


a doença, então.

Tom solta um suspiro.

— Eu conheci alguém que foi diagnosticado. Eu o teria


dado outras recomendações se soubesse que isso pode ter sido
parte da ansiedade que você sente.

— Como o quê?

— Eu começaria pedindo que você considerasse o teste


genético em vez de tentar um medicamento diferente para
controlar seus sintomas. Uma das primeiras coisas que os
psicólogos consideram ao diagnosticar é qualquer condição
médica preexistente.

— Porra, não. Isso não é uma opção. Além disso, sempre


fui ansioso, desde que era mais jovem. Isso só piorou as coisas.

— Opções mudam. Você está falando sobre uma chance de


50/50 de você ter a doença de Huntington. Isso não pode ser
uma coisa fácil de lidar todos os dias, especialmente se você
tiver um início mais jovem em comparação com sua mãe.
Depende dos resultados do teste.

Coloco minha cabeça em minhas mãos. Ouvir de alguém


que não é meu pai não torna o fato mais fácil de engolir.

— Você acha que eu não sei disso? E já me encontrei com


um consultor genético no passado. Passei por todo o processo
antes do teste, mas não consegui prosseguir com ele. Eu estive
lá, fiz isso.

— Esse foi um primeiro passo extremamente corajoso.

Uma risada cruel sai de mim.

— Corajoso? Tive um ataque de pânico antes de entrar nas


instalações para o meu teste. Eu parei antes mesmo que
importasse.

— Acredite ou não, acho que você tentando fazer um teste


que pode definir sua vida para sempre como algo incrivelmente
corajoso de sua parte. Nem todo mundo se sentaria por meses
de aconselhamento genético em primeiro lugar. — O elogio de
Tom fez minhas bochechas corarem de maneira incomum.

— Ainda não sou forte o suficiente para seguir em frente


com isso. — Murmuro.

— Você sentar aqui e se abrir sobre o seu medo é forte.


Você está trocando de remédio porque percebeu que o outro não
estava te ajudando é corajoso, especialmente no meio da
temporada. Eu, por exemplo, acho que você é muito mais forte
do que acredita.
Recuo em mim mesmo, olhando para o teto.

Tom quebra o silêncio após alguns minutos.

— Meu trabalho não é forçar você a fazer o teste. Só posso


recomendar para você pensar nos prós e nos contras. Podemos
fazer isso juntos e ver qual solução é a melhor.

Por que se preocupar, quando minha vida tem cinquenta


por cento de chance de uma data de validade de merda?

Reviro-me a noite toda, lutando para adormecer por horas


após minha vitória no P3 do Grande Prêmio de Montreal. Mudar
para um novo medicamento tem sido mais difícil do que o
esperado, especialmente com a redução do alívio instantâneo
que Xan oferece na hora de dormir.

Rolo para fora da cama, desejando um copo de água fria.


Ficando quieto, vou em direção à cozinha. As luzes brilhando
sob a porta de Elena me fazem fazer um desvio.

Ela geralmente adormece depois de mim, mas 2 da manhã


é um novo nível de privação de sono para ela.
Abro a porta dela.

— O que você está fazendo acordada tão tarde — Minha


voz é cortada quando a encontro enrolada sob as cobertas
dormindo. Ela parece pacífica e jovem, seu cabelo castanho
cobrindo o travesseiro enquanto suas mãos agarram o edredom
branco.

— Como diabos você adormece com todas as luzes acesas?


— Sussurro enquanto afasto algumas mechas de cabelo soltas
de seu rosto.

Meu Deus, estou me tornando um esquisitão, observando-


a dormir. Levo um momento para avaliar seu quarto. Viver na
estrada significa que não temos muitas lembranças pessoais,
então a fotografia em sua mesa de cabeceira me chama a
atenção. Uma jovem Elena está pendurada nas costas de um
jovem que presumo ser seu pai. Uma mulher está ao lado dele,
parecendo uma versão um pouco mais velha de Elena. Eles
parecem felizes e despreocupados.

Afasto-me, desligando a lâmpada em sua mesa de


cabeceira antes de fazer meu caminho em direção ao banheiro
para desligar a luz de lá.

Ela devia estar morta de cansaço para adormecer assim.


Talvez ela trabalhe muito me seguindo o tempo todo, incluindo
as galas da madrugada e viagens.
Depois de desligar todas as luzes do quarto de Elena, fecho
sua porta. Pego um copo de água na cozinha e volto para o meu
quarto, pronto para uma boa noite de descanso.
21

Elena

Um grito bruto escapa dos meus lábios quando acordo em


um quarto escuro. Pressiono uma mão trêmula contra meu
peito como se pudesse acalmar meu coração acelerado. Minha
porta bate contra a parede quando Jax entra correndo.

— Jesus Cristo, Elena? — Ele vem para o meu lado da


cama.

Fico olhando para minhas mãos, não conseguindo dizer as


palavras. As imagens voltam da pior noite da minha vida. Muito
sangue. Sangue escuro e pegajoso.

Os dedos de Jax pressionam em meus ombros.

— Diga-me o que diabos há de errado com você?

Sangrento.

Pulo da cama e corro para o banheiro, acendendo as luzes


antes de chegar ao sanitário. Ácido cobre minha língua
enquanto meu jantar luta para voltar. Meus dedos tremem
enquanto agarro a lateral do assento de cerâmica.

— Porra. Você está doente? Devo chamar um médico? —


Jax se ajoelha ao meu lado, tirando meu cabelo do rosto.

— Luzes, — eu assobio. — Por que você desligou as luzes?


— Minha voz parece quebrada. Fraca. Derrotada.

Seus olhos selvagens vagam pelo meu rosto enquanto ele


agarra meu cabelo com mais força.

— Isso é por causa do escuro? Você me assustou pra


caralho. Achei que algo estava muito errado com você.

Outra rodada de náusea passa por mim, mas luto contra


isso. Fico de pé, minhas pernas bambas quase dobrando
enquanto caminho em direção a pia.

Mais imagens indesejadas inundam minha mente. Vidro


quebrado. Sangue, escuro e espesso, grudando no meu corpo.
Respiro fundo algumas vezes enquanto abro a água, coloco
sabão em minhas mãos e começo a lavar.

— Elena, fale comigo. Parece que você está prestes a


desmaiar.

Minhas mãos tremem enquanto me livro do sabonete.


Troco de tarefas, decidindo escovar os dentes vigorosamente até
doer antes de desligar a água. Meus olhos permanecem em
minhas mãos, parecendo limpas, apesar da sensação de nojo
pesando dentro de mim. Volto a abrir a torneira para lavá-las
novamente.

Jax me agarra e me levanta, me jogando por cima do


ombro.

— Chega de lavar as mãos de maneira estranha. Pare de


surtar e fale comigo.

Grito enquanto ele me carrega de volta para o quarto


escuro como breu.

— Não! — Agarro suas costas.

— Puta que pariu. Pare com isso.

— Eu quero as luzes! — Meu corpo treme enquanto luto


contra as lágrimas implorando por alívio.

Ele me coloca na cama e acende a lâmpada.

— Merda, Elena. Você tem medo do escuro?

Balanço minha cabeça e coloco meus joelhos em meu


peito. Meus olhos se demoram na foto dos meus pais antes de
fechá-los. Dor, incrivelmente quente, dispara em meu peito. Um
grito ferido sai de mim. Coloco minha testa contra os joelhos e
soluço, enrolando-me para me salvar do constrangimento de
Jax me ver perdendo o controle. A vergonha me preenche por
deixar alguém me ver assim, mas eu não tenho um pesadelo tão
vívido há muito tempo. Tanto tempo que esqueci como eles se
sentem.

— O que diabos aconteceu com você? — Jax sussurra. Ele


me surpreende quando se deita lentamente na cama e puxa
meu corpo enrolado para baixo sobre o colchão. Seu corpo se
molda ao meu. Minha pele arrepia com a consciência, desejando
sua proximidade, especialmente depois do que experimentei.

Não quero ficar sozinha e, de alguma forma, ele sabe disso.

Jax arrasta o edredom por nossos corpos, envolvendo-nos.

— Não apague as luzes de novo. Nunca, nunca mais.


Prometa-me. — Grito.

— Merda. Sinto muito. Não tinha ideia de que você tinha


medo do escuro quando as desliguei. Achei que você tivesse
adormecido e esquecido.

— Não tenho medo do escuro.

— Seus gritos dizem outra coisa.

— Tenho medo das minhas memórias. — Falo baixinho,


sem saber se ele me ouviu.

Pulo quando ele passa a mão pelo meu cabelo. Meus olhos
se fecham e minha cabeça lateja com sua lenta carícia através
das minhas ondas. Estou dolorosamente ciente do corpo de Jax.
Seu calor me envolve, oferecendo uma sensação de proteção.

— Vá dormir. Vou ficar de olho em todos os caras ruins.

Uma nova sensação de aperto em meu peito substitui a


que ficou para trás no pesadelo. Eu não acho que já fui tão
grata pela presença de Jax do que neste momento.

— Você está contando a si mesmo?

— Sempre. Mas protegerei sua virtude, não se preocupe.

— Esta não é uma boa ideia.

Sua mão encontra a minha e a aperta.

— Não. De modo nenhum.

Mesmo em meio à minha tristeza, minha frequência


cardíaca volta a aumentar.

— Então por que você está aqui?

— Você sempre me faz perguntas para as quais não tenho


respostas. — Ele parece confuso.

Minutos se passam. A mão de Jax envolve a minha, me


acalmando apesar de tudo.

— O que está acontecendo conosco? — Sussurro para mim


mesma.
— Eu gostaria de saber a resposta para isso também. Mas,
para ser honesto, estou morrendo de medo de descobrir.

Meus olhos ficam pesados enquanto ouço o som rítmico da


respiração de Jax. Luto contra a inconsciência e perco a luta. A
mão de Jax volta para o meu cabelo, correndo pelas mechas
pelo que parece uma hora.

Jax deixa para trás o beijo mais suave perto da base do


meu pescoço.

— Eu gostaria de odiar você. Mas em vez disso, você está


me fazendo gostar mais de você. Você finge ser essa pessoa
composta, mas está quebrada... danificada como eu. E o pior de
tudo é que eu quero saber suas partes bagunçadas também.
Quero juntá-las as minhas e ver o que criamos. Então, eu não
sei se devo correr na direção oposta ou implorar por uma
chance, apesar do quão idiota eu tenho sido, — ele sussurra.

Oh Deus. Ele acha que estou dormindo.

— Mas, acima de tudo, gostaria de não ser um covarde. Eu


não sou corajoso. Foda-se isso. Se eu fosse, então enfrentaria
meu futuro por você. E inferno, se isso não me preocupa mais
do que qualquer outra coisa. Você tem o poder de mudar tudo.

Não sei o que ele diz a seguir. Mesmo que eu tente ficar
acordada, a exaustão vence, com meus olhos se fechando
novamente.

Jax me observa de seu assento no sofá enquanto saio do


meu quarto.

— Eu preciso falar com você sobre a noite passada.

Tenho medo do que ele quer dizer, mas reúno coragem


para me sentar no sofá em frente a ele como uma adulta
madura. Meus olhos tentam encontrar um ponto na sala para
olhar, mas ele se levanta e se senta ao meu lado.

Torno-me agudamente ciente de seu corpo, como


eletricidade crepitante saindo dele em ondas, deixando arrepios
na minha pele.

Essas mãos estavam em mim ontem à noite, me


segurando, me fazendo sentir segura.

— Com que frequência você tem pesadelos?

— Não é mais frequente. — Evito seu olhar.

— E foi por causa de eu ter apagado as luzes? — Sua voz


atrai meus olhos de volta para ele como um navio em busca de
um farol em uma noite de tempestade.

— Eu não gosto do escuro.

Suas sobrancelhas se juntam.

— Eu não fazia ideia.

— Não somos exatamente melhores amigos.

— Eu não quero ser. — Ele resmunga baixinho.

— Sim, bem, você tem a personalidade de um cacto, então


também não estou exatamente interessada.

O canto de seus lábios se levanta.

— Não posso dizer que já ouvi isso antes.

— Babaca soa mais familiar?

— Você me chamou de babaca? — Ele arfa de forma


zombeteira enquanto se agarra a um colar de pérolas invisíveis.

— Babaca. Idiota. Pinche pendejo31.

Jax cobre minha boca com a palma da mão, seus olhos


refletindo uma leveza que desejo ver mais.

— Pare. Minhas orelhas virgens não aguentam isso!

31 Imbecil.
Abro minha boca e belisco seu dedo. Quem sou eu e por
que fiz isso?

Jax move sua mão para longe da minha boca. Seu polegar
acaricia meu lábio inferior enquanto ele me encara, com desejo
e algo mais, me puxando.

Estou tão ferrada além da razão.

Jax se afasta antes que eu tenha a chance de processar o


quão bom é seu toque.

— Você me pede para fingir que nunca nos beijamos, mas


estou achando muito difícil no momento.

— Por que eu mordi sua mão?

— Porque você está olhando para mim como se fosse


exatamente o que você quer. — Suas juntas roçam minha
bochecha.

Meu corpo ganha vida como se eu tocasse uma cerca


elétrica.

— Você precisa parar.

— O problema é que não quero mais. Evitar você é


exaustivo. — Ele me puxa para seu corpo firme enquanto seus
olhos procuram os meus por permissão.

Meus olhos se fecham no momento em que sua mão


segura minha bochecha. Seus lábios roçam os meus, hesitantes
e testando. O beijo suave não é o que eu esperava dele. É
chocante, mas revigorante, tornando impossível resistir. Tanto
que esqueço quem somos e me entrego ao momento.

Suspiro, oferecendo-lhe acesso à minha boca. Sua língua


provoca a minha. Nosso beijo se intensifica e fica mais
apaixonado. Jax me puxa para seu colo, encorajando-me a
montar nele. Sua ereção cresce enquanto me esfrego nele,
falhando em aliviar a dor dentro de mim. Seu beijo se torna
mais dominante. Ele luta para ganhar controle com a língua
enquanto suas mãos agarram meus quadris a ponto de doer.
Tudo sobre o beijo me implora para me submeter a ele. Gemo
quando ele morde meu lábio inferior, puxando e chupando a
pele sensível.

Minha mente fica turva enquanto nos beijamos. Suas


mãos agarram minha bunda e me puxam para mais perto. Um
gemido escapa de seus lábios enquanto ele segura minha
bunda, provocando um arrepio em mim.

Nosso beijo é erótico e tóxico, com uma pitada de caos.

Jax se move para o meu pescoço, deixando meus lábios


inchados e latejantes de seu ataque. Um telefone tocando soa
acima de nossa respiração pesada, me lembrando de tudo de
errado com este cenário.
Eu ainda, não estou mais esfregando nele como se eu
quisesse dar uma carona ao seu pau. Minhas bochechas coram
enquanto desço dele e fico com as pernas trêmulas,
pressionando minha mão nos lábios.

— Merda! — Ele encosta a cabeça no sofá.

— O que está acontecendo conosco? — Sussurro para mim


mesma.

— A pior coisa.

Uma dor aguda ecoa em meu peito.

— Isso nunca vai acontecer novamente. Não pode


acontecer de novo.

Suas mãos puxam seu cabelo.

— Porra. Isso não foi o que eu quis dizer.

— Então por que é a pior coisa? — Jogo meus braços no


ar. — Num segundo acho que você gosta de mim, no próximo
estou me perguntando o que está acontecendo com você.

Ele fecha os olhos.

— Gostar de você não é o problema.

— Então qual é o problema? Porque desde que te conheci,


você sempre é ríspido comigo. Mesmo quando eu estava
ajudando Liam, você mal olhou para mim, mal falou comigo. E
agora você está agindo melhor e não tenho ideia do que fazer
com isso também.

— Você não entende. Ser normal com você ameaça tudo


que eu configurei para mim.

— Não há nada de errado com o normal.

— Para pessoas como eu, é. Eu não posso ter esse tipo de


estilo de vida.

— Por causa do seu trabalho?

— Não. Porque sou um babaca que não merece esperança.


É cruel para nós dois.

— Todo mundo merece esperança. — Meu coração quebra


quando Jax olha para mim com o rosto mais dolorido.

— Não aqueles sem futuro. — Jax se levanta do sofá e


entra na minha bolha pessoal novamente. Ele dá um beijo
suave no topo da minha cabeça antes de se afastar. — Você
merece momentos dignos de comprar um globo de neve, não
aqueles contaminados com tristeza e arrependimento.

Ele se afasta, mas eu agarro sua mão, não o deixando ir.

— Não. Você fica bem aqui e me diga o que quer dizer. Eu


estou farta da atitude de desgraça e tristeza e declarações meio
disfarçadas.

Ele olha para as nossas mãos como se pudesse sentir


nosso vínculo estranho também.

— Minha mãe tem doença de Huntington. É genético e


uma merda, o que significa que há cinquenta por cento de
chance de eu acabar com a mesma doença. Esse diagnóstico
arruinaria qualquer chance de uma vida normal. Sem para
sempre. Sem final feliz. Nada, exceto um futuro cheio de dor
para mim e qualquer família que eu tenha. Eu me recuso a
arrastar alguém comigo, me vendo transformar em uma pessoa
que eles não reconhecem.

Lágrimas se acumulam em meus dutos oculares.

— Deus, Jax, sinto muito.

— Você não precisa se desculpar. Não é nada que eu não


tenha aceitado.

— Mas você tem? Você age como se uma chance meio a


meio fosse o fim. Não existem testes para verificar se você tem
essa doença em primeiro lugar?

— Eu não sou um dos seus malditos quebra-cabeças. Não


há como resolver os problemas da minha vida porque eu não
quero os resultados dos exames. Não consigo imaginar passar a
vida se meu teste for positivo, sabendo o resultado desse tipo de
doença. Já me encontrei com um consultor genético no ano
passado e decidi não fazer o teste, então não adianta tentar me
convencer.

— Mas você está assumindo que saber que tem é pior do


que não saber. Não pode ser saudável de qualquer maneira.

Sua mandíbula aperta.

— Pare de me psicanalisar.

— Eu não estou tentando. Eu só quero ajudá-lo a ver


outras opções.

— Você precisa aceitar minha escolha. Seu trabalho é ficar


de olho em mim e me ajudar com minha reputação. É isso aí.
Podemos ser atraídos um pelo outro... inferno, podemos beijar e
foder e fazer todos os pensamentos sujos que criei na minha
cabeça repetidamente, mas isso nunca pode se transformar em
nada mais.

Posso lidar com algo assim? Se minha reputação de


trabalho não estivesse em risco, eu gostaria de tentar mais com
Jax?

Jax puxa suavemente sua mão do meu alcance.

— Merda. Não se preocupe em pensar nessa oferta. Você


merece mais que isso. Você merece mais do que eu. — Suas
costas são a última coisa que vejo antes de entrar em sua suíte
e fechar a porta.

Caio no sofá, tentando envolver minha mente em torno da


revelação de Jax.

Depois de uma hora pensando e pesquisando, chego a


uma conclusão. Jax precisa acreditar em seu futuro. Ele precisa
querer algo mais na vida do que ter sucesso na Fórmula 1. Mas,
acima de tudo, ele precisa que eu lhe mostre que há mais na
vida do que as coisas que tememos.

Se deixarmos os pesadelos nos definirem, perderemos


nossos sonhos de vista
2

Elena

Enquanto Jax completa sua qualificação para o Grande


Prêmio da Hungria, eu me encontro com Connor para verificar o
progresso de Jax. Sentamos em seu escritório, refletindo sobre
os aspectos positivos da carreira de Jax e onde ele ainda pode
melhorar.

— Você realmente fez um trabalho incrível. Eu não pensei


que ele iria aguentar por tanto tempo.

— Eu tenho mais algumas coisas planejadas para ele.


Algumas atividades extras individuais com alguns fãs fanáticos.

— Ele gostará disso. Ele não gosta de se encontrar com


muitas pessoas ao mesmo tempo.

— Sim, a ansiedade tende a fazer isso com as pessoas.

— Até isso melhorou para ele. A propósito, obrigado por


sugerir o terapeuta. Foi uma ótima ideia e até alguns membros
da equipe têm se beneficiado com a ajuda.
Eu coro.

— É o mínimo que posso fazer. Eu li a pesquisa sobre


atletas e só esperava que funcionasse para esses caras.

— Sem querer mudar de assunto, mas queria te perguntar


sobre algo que notei.

As pessoas estão falando sobre Jax e eu? Deus, por favor,


não pergunte o que eu acho que você vai perguntar.

Ele ri para si mesmo.

— Não quero te causar nenhum alarme, mas é difícil para


mim não dizer algo.

Balanço minha cabeça para cima e para baixo, sem saber


se eu poderia dizer alguma coisa no momento. Dios, dame
paciencia32. Meu coração não pode ter um tempo esta semana.
Ele bate rapidamente no meu peito e meu joelho treme
enquanto balanço minha perna para cima e para baixo.

— Eu noto que Jax gosta de você. Outro dia, eu o peguei


olhando para você por um longo período em uma reunião da
McCoy. Eu queria garantir que você não se sinta desconfortável
ou pense que seu trabalho estará em risco se você negar seus
avanços.

32 Deus, dá-me paciência.


Vendo como Jax enfiou sua língua na minha garganta em
três ocasiões diferentes, eu definitivamente diria que é um
pouco tarde para esta conversa.

Finjo uma risada.

— Oh, não, Jax tem sido nada além de educado.

O olhar seco que Connor envia para mim chama a atenção


para minhas besteiras.

— Por favor, guarde suas mentiras para a mídia. Eu sei


que Jax é uma pessoa difícil de se trabalhar. Eu só quero que
você se sinta segura.

— Não é assim entre nós.

— Bem, se você já disse a ele para se foder, você não


perderá seu emprego por causa disso. Eu te prometo isso.

Reúno coragem para fazer a pergunta que me incomoda há


semanas.

— Por que não há regra contra esse tipo de coisa? Você


não quer eliminar qualquer drama desnecessário no local de
trabalho?

Connor dá de ombros.

— Meu pai se apaixonou pela filha de sua empregada


doméstica. Eles passaram muitos anos ouvindo que não
deveriam estar juntos por todos que deveriam apoiá-los. Não
quero ser a pessoa que atrapalha a chance de alguém alcançar
a verdadeira felicidade, especialmente depois de ouvir o quanto
isso afetou meus pais.

— Essa é uma razão muito mais profunda do que eu


esperava.

Ele ri.

— Eu só mencionei a coisa sobre Jax para ter certeza de


que você se sinta segura, já que você visitará sua família nas
férias de verão. Agradeço por você ficar de olho nele.

— Você não precisa me agradecer. Faz parte do meu


contrato. — Passo minhas mãos trêmulas pelo meu vestido.

— Contrato ou não, os caras têm sorte de ter você


trabalhando para eles. Você realmente é única. Além disso, não
faz mal que Jax tenha uma queda por você. Torna-o muito mais
complacente.

Bem, isso resolve tudo. Pena que todos saibam que Jax
Kingston tem uma queda por mim, exceto pelo próprio homem.
Estou convencida de que atualmente estou vivendo em
uma dimensão alternativa. Essa seria a única explicação para
tudo que está acontecendo agora, incluindo minha conversa
maluca com Connor antes.

Com Jax ocupado com uma reunião noturna da McCoy, eu


esperava voltar para um quarto de hotel vazio.

E eu fiz.

Mas eu também não fiz.

Entro para encontrar um quarto escuro como breu, com


uma luz noturna acesa na porta da frente. É um carro de
corrida azul de plástico com o tema da F1, parecido com algo
que um pai compraria na loja de presentes.

— De jeito nenhum. — Deixo a luz noturna acesa,


permitindo que a pequena luz me guie. Outra luz noturna está
acesa em um canto escuro da sala perto da porta do meu
quarto.

Abro meu quarto para encontrar outro carro de corrida ao


lado da minha cama.

— Meu Deus. — Várias luzes noturnas me oferecem


orientação em direção ao meu banheiro, onde encontro a última
luz noturna acesa.

Lágrimas inesperadas inundam meus olhos. Por que Jax


faria algo assim? E por que ele tem que destruir lentamente a
parede que tenho me protegendo dele?

Volto para a minha cama. De alguma forma, perdi a nota


ao lado do meu travesseiro. O rabisco familiar de Jax marca a
página.

Porque alguém precisa ajudá-la a consertar seu terrível ciclo


de sono. Chega de besteiras sobre dormir com todas as luzes
acesas. Todos os adultos que se respeitam usam lâmpadas
noturnas de F1 legais hoje em dia.

PS: Se algum paparazzi postar uma foto minha comprando


essa porcaria e disser que tenho medo do escuro, posso perder a
cabeça.

P.P.S. Valeu totalmente o risco pela minha masculinidade.

Agarro a nota de Jax enquanto me deito na minha cama.


Parece que tudo está mudando entre nós, com ele mudando nas
menores maneiras.

Achei que seria eu quem iria descobri-lo. Parece que


durante minha missão, perdi de vista seu poder sobre mim.
Eu dei a alguém que destrói tudo em sua vida algo que não
posso pegar de volta.

A possibilidade de ganhar meu amor.


23

Jax

Ter Elena consertando minha reputação apesar do desejo


de afastá-la? Arriscado.

Ter Elena vindo para minha casa, conhecer meus pais e se


juntar a nós como uma grande família nas férias de verão?
Completamente estúpido.

Para ser justo, eu não tive escolha. Connor deixou claro


que Elena precisava se juntar a mim onde quer que eu passasse
as férias, mas eu não pensei nas desvantagens de tê-la
passando o mês de férias com minha família.

Um olhar para mamãe envolvendo Elena em um abraço no


momento em que se encontram é o suficiente para soar o
alarme.

— Elena, é ótimo ter você aqui. Estou muito feliz em


conhecer a mulher que coloca meu filho em seu lugar.

— Oh. Olá. — Os braços de Elena permanecem ao lado do


corpo enquanto mamãe usa a pouca força que tem para apertar
o abraço.

A reação de Elena me faz rir para mim mesmo. Seu olhar


furioso não consegue alcançar o efeito desejado. Em vez disso,
meu sorriso se expande.

— Ouvimos dizer que você é a pessoa que devemos


agradecer pela desintoxicação do fígado de Jax. — Papai puxa
mamãe de volta, deixando-a se apoiar nele em vez de usar uma
bengala.

— Vocês todos vão continuar falando sobre mim como se


eu não estivesse aqui na mesma sala? Que maneira de me fazer
sentir bem-vindo. — Eu cruzo meus braços.

Dois membros da equipe pegam os pertences de Elena e


meus do chão e os carregam para cima.

— Oh meu Deus, quão grande você ficou! Aproxime-se


para que eu possa dar uma boa olhada em você. — Mamãe
suspira de brincadeira.

Caminho até ela e coloco um beijo em sua bochecha.

— McCoy me alimenta bem.

— Parece que a nova rotina de ginástica que fizemos está


dando certo. — Papai aperta os músculos do meu braço.

Jackie entra na sala, cumprimentando Elena e eu antes de


anunciar que o jantar está pronto.

— Você terá a melhor refeição da sua vida. — Pisco para


Elena.

— Mal posso esperar. — Seus olhos arregalados olham ao


redor, demorando-se nos lustres de cristal e nos móveis caros.

Todos nós entramos na sala de jantar formal dos meus


pais. É adequado para um aparelho de TV, com uma grande
mesa que acomoda no mínimo vinte pessoas. Grandes janelas
mostram nosso exuberante quintal com piscina e jardim.

— Uau. Eu me sinto muito malvestida e despreparada. —


Elena sussurra para mim antes de olhar para suas roupas.
Suas bochechas ficam vermelhas enquanto seus tênis rangem
contra o chão.

— Acontece que gosto do que você está vestindo. — Puxo a


manga de seu suéter Rolling Stones.

Papai ajuda mamãe a se sentar em sua cadeira à mesa.

— Espero que isso não seja muito sofisticado. Quando


percebi, Jackie já tinha preparado o jantar aqui. Normalmente
comemos na cozinha.

Elena e eu sentamos um ao lado do outro, sentados em


frente aos meus pais.
Papai se serve de uma taça de vinho depois de oferecer um
pouco para Elena e eu.

— É bom ter você de volta em casa, mesmo que seja por


pouco tempo.

— Estou feliz por estar de volta. Odeio viver de uma mala.

Ele dá um giro em sua taça.

— Alguma coisa especial que você planejou durante o seu


tempo aqui?

— Não exatamente. Nada além do material extra planejado


com McCoy antes da minha corrida em casa. Você sabe como o
GP da Inglaterra é selvagem aqui.

— Bem, há algumas coisas que planejei para ele. O


primeiro é neste fim de semana. — Elena fala.

Inclino minha cabeça para ela.

— E o que é isso?

— A Fundação Make-A-Wish33 entrou em contato comigo


para marcar um ou dois dias em que um fã o segue e passa um
tempo com você.

33A Make-A-Wish Foundation é uma organização sem fins lucrativos que ajuda a cumprir os desejos de
crianças com doenças críticas entre 2 e meio e 18 anos de idade.
Meus pais olham para Elena com carinho. Merda. Estou
tentado a cobrir a boca de Elena com fita adesiva para evitar
que meus pais se apaixonem por ela...

E agora estou pensando na fita adesiva enrolada nos


pulsos de Elena enquanto eu a fodo. Muito bem, Jax. Mexo-me
na cadeira, tentando controlar meus pensamentos, apesar do
sangue correndo para o meu pau.

Papai sorri para mim.

— O desejo de uma criança é sair com Jax? Uau. Você


deveria se sentir honrado, filho.

Certo. Pense no tópico mais importante em questão.

— Fiquei surpreso quando eles me contataram. — Elena


cora ao olhar para mim. — Não porque você não seja bom no
que faz. Eu estava nervosa para planejar algo que é claramente
importante para esse garoto.

— Por que isso? — Mamãe inclina a cabeça.

— A primeira vez que liguei para ele e disse quem eu era,


ele gritou ao telefone. Eu mal pude entender qualquer coisa que
ele disse, mas eu o entendi gritando sobre como conhecer Jax
será o melhor dia de sua vida. Não quero planejar nada chato
para ele ou não atender às suas expectativas.

— O garoto tem sorte de você ter planejado tudo. Confie


em mim. — Aperto sua mão, lançando lhe um sorriso suave.

Papai olha nossas mãos enquanto mamãe aperta os lábios


para esconder o sorriso.

— Teremos que convidá-lo para jantar ou algo assim. Dê a


ele toda a experiência de Kingston! — Mamãe bate palmas. —
Isso é maravilhoso. Não temos uma criança por aqui desde...
bem... Jax quando criança!

Elena sorri.

— Para ser justa, ele é um adolescente.

Mamãe não consegue conter sua empolgação.

— Oh, eu adoro uma boa angústia adolescente. Me


mantém na ponta dos pés. Você deve nos dizer o que planejou
para ele.

Elena e mamãe se deram bem, compartilhando detalhes


sobre Caleb que dizem ser meu maior fã. Passei o jantar
ouvindo atentamente, sem oferecer muito. Pela primeira vez em
torno de Elena, quero filtrar as palavras que saem da minha
boca.

É difícil ver que agora, em vez de ser um idiota total,


prefiro fazer outros tipos de coisas. O tipo travesso. O tipo
imprudente. O tipo que termina com nada além de orgasmos e
promessas falhadas.
24

Elena

Quando Connor me fez concordar em passar as férias de


verão com a família de Jax, pensei que era uma configuração
perfeita. Era para me dar a oportunidade de ficar de olho nele
enquanto planejava mais algumas atividades para restaurar a fé
do público nele.

Em toda a loucura de planejar passeios divertidos para


Caleb, eu negligenciei completamente a ideia de passar tanto
tempo com Jax e sua família. Eu esperava que fosse semelhante
a nós dividindo um hotel.

Eu estava errada. Tão errada em muitos aspectos.

O verdadeiro curinga é a mãe de Jax. Eu não sei como Jax


saiu do jeito que saiu, todo áspero, porque sua mãe é uma joia
absoluta. Vera é doce e carinhosa, exatamente o que eu gostaria
de ter na minha vida ultimamente.

— Então, eu estava pensando em fazer compras no centro


da cidade. Você quer se juntar a mim? — Vera bebe seu chá da
manhã. Jax teve sorte em herdar parte da boa aparência de sua
mãe. Ela tem cabelo loiro claro que combina com sua pele clara
e olhos cinza com um brilho permanente neles.

— Eu não sei sobre isso. Devo me encontrar com Jax e


discutir alguns planos para o intervalo.

— Eu acho que Jax pode cuidar de si mesmo por um dia.


Zack quer passar um tempo com ele enquanto nos divertimos
um pouco. Vamos, tire um dia de folga. — Ela bate seus cílios
loiros sujos para mim.

— Deixe-me checar com ele primeiro.

— Se você precisa. — Ela me dispensa com um sorriso.

Caminho em direção à ala da casa de Jax. Eu não estava


ciente de como sua família estava bem de vida até que eles
revelaram como eles têm quartos suficientes em sua casa para
nomear as áreas com as direções da bússola. Riqueza não é algo
com o que cresci e estar cercada por ela me lembra de como eu
não pertenço aqui. Tenho certeza de que os lençóis do meu
quarto de hóspedes são mais caros do que o pagamento do
empréstimo mensal.

Bato na porta de Jax. Ele abre alguns segundos depois


com nada além de uma toalha em volta da cintura. A água
escorre de seu cabelo molhado pelo rosto, caindo em seu peito
antes de escorrer por seu abdômen.
Conto as saliências dos músculos antes de encontrar seus
olhos.

Ele encosta a cabeça no batente da porta.

— Bom dia. Você bateu na minha porta para me encarar


ou tinha outra coisa em mente?

— Uhm. — Meus olhos voam de seu rosto para seu


abdômen. — Sua mãe me pediu para sair com ela. Eu disse a
ela que não poderia concordar até verificar com você. Eu sei que
planejamos discutir sua programação e revisar a visita de
Caleb, mas ela parece decidida de passar um tempo juntas.

Seus lábios pressionam em uma linha fina.

— Você pode ter um dia de folga, pelo amor de Deus. Eu


não vou dedurar você para Connor.

— Bem, eu não disse exatamente isso. — Balanço para


trás em meus calcanhares.

— Não, mas eu conheço você. — Seus olhos passam por


mim, observando meu vestido amarelo de verão. — Qualquer
coisa que deixe mamãe feliz é sempre uma boa ideia.

Suspiro. Se ao menos ele tratasse outras mulheres em sua


vida com o mesmo respeito.

— Ok, parece bom. Até logo. — Faço um movimento para


me afastar. A mão de Jax agarra a minha suavemente, me
parando. Meu corpo reage instantaneamente ao seu toque como
faíscas de estática.

— Você se importa em entrar por um segundo? Queria


fazer uma pergunta sobre a visita de Caleb. O garoto tem me
enviado mensagens de texto desde que você deu meu número a
ele. — Jax abre mais a porta para eu entrar.

— Certo. — Dou alguns passos hesitantes em seu quarto.

— Deixe-me me vestir.

Eu o verifico novamente. Por tudo que é mais sagrado, não


faça isso.

Seu sorriso radiante ameaça me nocautear. Ele desaparece


em seu banheiro, terminando minha leitura de seu corpo
definido. O mesmo coberto de tatuagens que quero explorar em
maiores detalhes.

Aproveito para dar uma olhada em seu quarto de infância.


Cartazes da banda cobrem uma das paredes, mostrando as
datas da turnê do Coldplay, Fleetwood Mac e Stormzy. Ele tem
uma vitrola à moda antiga com uma caixa de discos de vinil em
sua cômoda. Folheio alguns deles antes de pegar o álbum
Multiply do Ed Sheeran.

Jax sai de seu banheiro em jeans e uma camiseta. Seguro


meu suspiro com a perda de seu abdômen.

— Ter você aqui é como entregar meu diário. — Ele vem


atrás de mim. Seu corpo aquece minhas costas, fazendo minha
pele arrepiar. Seu dedo brinca com a alça do meu vestido de
verão.

— Você não queria me mostrar algo?

— Certo. — Sua voz sai áspera.

Movo-me para colocar o vinil de volta, mas a mão de Jax


me para. Ele arranca o disco das minhas mãos e o tira.

— Grande fã do Ed Sheeran? — Sua respiração aquece


meu pescoço.

Tento suprimir um arrepio e falho.

— A maior. — Viro-me. Meu peito roça no dele, provocando


a mais leve inspiração nele.

— Talvez eu apresente vocês dois. — Jax olha por cima do


meu ombro enquanto ele mexe para ligar. “I'm a Mess”, de Ed
Sheeran, começa a tocar.

— Sem chance. — Grito.

— Eu não deveria ter ciúmes do filho da puta ruivo, mas


agora tenho. — Seu sorriso deve me fazer correr. É incomum
para ele, tranquilo e tentador.

Eu quero mais de seus sorrisos e mais deste lado dele,


despreocupado e feliz.

Ele faz um movimento para me puxar, mas eu o evito,


acertando-o com um sorriso travesso.

— Você não pode retirar esse tipo de oferta por causa do


ciúme.

— Sem retorno? — Ele solta uma risada baixa.

— Sem retorno. — Repito enquanto ando em direção ao


outro lado de seu quarto, onde ele tem troféus e fotografias nas
prateleiras. Uma imagem se destaca para mim e eu a pego. Um
Jax adolescente sorri para a câmera, ignorando o tatuador atrás
dele enquanto Vera se senta ao lado dele e faz beicinho.

— Mamãe está fingindo lá. Foi ela quem assinou a


autorização para que eu fizesse minha primeira tatuagem antes
dos dezoito anos.

— Sério?

— Oh, sim. Ela até escolheu minha primeira tatuagem. —


Jax puxa a moldura das minhas mãos, seus dedos roçando nos
meus. O toque envia uma corrente de energia pelo meu braço.

— De jeito nenhum.
— Sim. Na época, eu achei constrangedor, mas adoro isso
porque me lembra dela.

Meu coração ameaça derreter em uma poça aos pés de


Jax.

— Qual? — Agarro o mesmo braço da fotografia,


procurando entre as incontáveis tatuagens que ele tem.

— Aposto que você não consegue adivinhar qual delas. —


Ele brinca.

— Estou nessa. — Procuro meticulosamente as tatuagens


em seu braço. No final da minha investigação, estou presa entre
duas opções. Sigo meu instinto, parando meu dedo naquela que
acho que sua mãe escolheu. — Esta. Definitivamente.

Seu corpo estremece quando meu dedo trilha pela tinta,


arrancando um sorriso de mim. Esta tatuagem não se encaixa
nos temas sombrios de suas outras. Uma bela flor se destaca
em comparação com seus outros designs assustadoramente
belos, que vão desde um ceifador a uma lápide. É seguro dizer
que ele tem tatuagens assustadoras.

— Pena que você não especificou o que aconteceria se você


escolhesse certo.

— O quê? — Grito. — Chutei certo? — Começo uma dança


da vitória, girando em um círculo, fazendo meu vestido girar ao
meu redor.

Jax sorri.

— Sim. — Ele passa o dedo indicador pela tatuagem de


uma rosa de papel feita de partituras. — Como você sabe?

— Honestamente, suas outras tatuagens são um pouco...

— Deprimentes?

— Eu não diria isso... você tem uma borboleta, afinal.

Ele ri para si mesmo.

— Escolho minhas tatuagens com base no meu humor.

— Típico geminiano.

Ele joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada.


Quando Jax parece tão tranquilo quanto está agora, fico
confusa. O adolescente sorridente na fotografia está muito longe
do homem que conheci nos últimos meses.

— Quando você descobriu sobre o diagnóstico da sua mãe?


— Eu deixo escapar.

Seus olhos se voltam para a foto em suas mãos.

— Vinte e um. Eles sabiam antes, mas não me contaram


até que sentiram que eu poderia lidar com a notícia.
Minha mão agarra seu bíceps. Esfrego meu polegar em
círculos, querendo acalmá-lo.

— Sinto muito. Posso imaginar que seja difícil para você,


com ela sendo uma das pessoas mais legais que já conheci.

— Ela é a melhor. Sem dúvida, minha pessoa favorita lá


fora.

Eu não consigo parar de lacrimejar.

— Por que você está olhando assim para mim? — Ele


levanta uma sobrancelha.

— Porque por trás de todas as tatuagens e rabugice, você


não é um cara mau.

— Elena... — Ele suspira, evitando meu olhar.

— Ouça-me. Você pode ter tomado decisões ruins. Na


verdade, espere... decisões terríveis. Mas isso não faz de você
uma pessoa má. Você pode escolher ser melhor. Ninguém está
te impedindo.

— Ninguém além de mim.

— Exatamente. O que é meio idiota, se você realmente


pensar sobre isso.

— Não me diga. Diga-me o porquê. — O canto de sua boca


se transforma em um sorriso malicioso.

— Sim. Você é um homem adulto, então é o único que


pode decidir ser melhor. Se eu fosse você, acharia exaustivo
manter um exterior tão áspero o tempo todo.

— Ao contrário da sua versão de cagar arco-íris?

— Pelo menos há um pote de ouro no final. — Sorrio para


ele.

— Não comece a desejar coisas que não podem acontecer.

Ele solta um suspiro enquanto corro a mão em seu peito,


deixando meu dedo arrastar em seus músculos.

Minha sanidade deixou temporariamente a mansão de dez


mil metros quadrados.

— Já está acontecendo. Você está mudando.

— Não me faça provar que você está errada.

Eu ri.

— Se você tem que fazer um esforço para ser pior, então


você está provando meu ponto.

— Eu tentei avisar você.

— Bem, você comprando luzes noturnas não grita mais


querendo me evitar, não é?

Seus olhos brilham com algo ilegível.

— Eu não queria acordar com seus gritos de novo.

— Certo. — Reviro meus olhos. Antes que eu tenha a


chance de considerar as consequências, fico na ponta dos pés,
deixando para trás um leve beijo em seus lábios. — Escolha ser
melhor.

Dou um passo para trás, mas Jax me puxa para ele. Seus
dedos correm pelo meu cabelo e seguram minha cabeça no
lugar enquanto ele me beija.

Dane-se isso. Beijar é muito simples para descrever o que


ele faz. Jax me devora, lambendo e mordendo meus lábios antes
que sua língua me possua. Os troféus chacoalham acima de
nossas cabeças quando ele me empurra contra a parede.

Ele pressiona seu corpo no meu. O contato faz minha


cabeça girar de luxúria. Sua língua luta contra a minha
enquanto sua mão se move da minha cabeça para a minha
coxa, levantando meu vestido. Estou empenhada em tomar uma
das decisões mais imprudentes da minha vida, mas não posso
impedir.

Não. É mais como se eu não quisesse parar. Não com meu


coração batendo forte em meu peito e meu clitóris latejando a
ponto de doer. Eu quero Jax, e não posso deixar de negar a mim
mesma este pequeno adiamento. Ele faz meu corpo zumbir
como nunca antes.

— Merda. Quero beijar você em todos os lugares e verificar


se você tem um gosto tão bom quanto eu penso. — Ele passa a
língua pelo comprimento do meu pescoço.

É uma emoção beijá-lo, tocá-lo. Como uma descarga de


adrenalina correndo por mim.

Meu corpo treme enquanto sua mão traça a parte interna


da minha coxa.

— Isto é tão errado.

— Mas parece tão certo. — Ele me cala enquanto seus


lábios voltam aos meus. Seus dedos puxam minha calcinha,
arrastando-a para baixo.

Seus dedos correram contra minha fenda, provocando um


suspiro em mim. A palma de sua mão empurra no meu lugar
mais sensível. A pressão dentro do meu corpo aumenta
enquanto ele me provoca, empurrando o polegar contra meu
clitóris. Jax captura meu gemido enquanto bombeia um dedo
em mim.

Eu não deveria gostar de seu toque tanto quanto gosto. Se


eu tivesse bom senso, o afastaria e acabaria com essa coisa que
crescia entre nós. Em vez disso, cedo à nossa atração, não
querendo acabar com ela.

Como posso quando ele deixa meu corpo febril de desejo?

Ele bombeia seu dedo em mim antes de adicionar outro,


me enchendo e me provocando.

— Olhe só como suas bochechas ficam vermelhas por


causa dos meus dedos. Eu me pergunto o quão vermelha você
ficará com meu pau enterrado até o final dentro de você.

Sua outra mão puxa para baixo a alça do meu vestido e o


bojo do meu sutiã de uma vez, revelando meu seio para ele. O
ar frio atinge minha pele antes que a boca de Jax envolva meu
mamilo.

Gemo quando seus dedos aumentam o ritmo. Minha


cabeça rola para trás enquanto seus dentes escovam contra
mim. Eu não deveria gostar da pontada de dor. Qualquer
pessoa sã não deveria. Mas eu não posso negar o empurrão
louco dentro de mim que quer tomar qualquer coisa que Jax
tenha a oferecer.

— Goze para mim. Eu sei que você quer. E porra, estive


delirando me perguntando como você fica enquanto desmorona
por mim.

Minhas pernas tremem a ponto de ceder, mas Jax me


segura. Com mais algumas bombeadas e seus dedos roçando
meu ponto mais sensível, eu me entrego ao prazer, deixando-o
invadir minha mente e corpo.

Jax me encara com calor em seu olhar. Uma vez que


minha respiração desacelera, ele puxa seus dedos para fora de
mim e traça minha fenda mais uma vez, me mostrando o quão
desesperada estou por ele. Ele não se incomoda em ir ao
banheiro para limpar as mãos.

Não. Ele continua o show, lambendo seus dois dedos


tatuados, limpando-os. Quase desmaio ao vê-lo.

— Jax, você viu Elena? Ela me disse que precisava


perguntar algo rápido, mas nunca mais apareceu. — A voz de
sua mãe vem de repente.

Oh, merda! Meu corpo fica ereto enquanto o medo afasta


minha euforia induzida pela luxúria. Jax sorri para mim e
pisca, antes de caminhar para um alto-falante de parede.

Meu Deus. Minha frequência cardíaca não desacelera. Eu


não posso acreditar que pensei que a mãe de Jax estava na
sala.

Jax pisca para mim enquanto pressiona um botão.

— Ela saiu há alguns minutos. Disse algo sobre pegar a


bolsa dela antes de sair com você.
Quem é essa versão dele e como faço para mantê-lo?

— Tudo bem. Vou chamar no quarto dela então.

Coloco a mão no meu peito, verificando meu pobre


coração.

— Oh, Deus. Achei que ela estava aqui.

— Claramente não. Eles não vêm para o meu lado da casa.


Pelo menos não desde que eu era adolescente e eles me
pegaram batendo uma punheta.

Por mais que eu queira fazer uma pergunta complementar


a essa história, preciso me concentrar.

— Não podemos fazer isso na casa dos seus pais.

— Prefiro palavras de afirmação. Tipo “Oh, Deus, nós


podemos fazer isso, especialmente na casa dos seus pais.”
Vamos lá, viva um pouco. — Jax ri.

Movo-me para pegar minha calcinha do chão, mas ele me


antecipa.

— Devolva isso.

— Eu gosto muito dela. Pegue outra.

— O que? Quem cresce apegado à roupa íntima?

— Eu. Vou interpretar isso como uma bandeira branca da


sua rendição.

— Para quê? Sua insanidade?

Seu sorriso largo faz meu peito apertar.

— Eu amo a maneira como você luta verbalmente comigo.


— Ele me puxa para outro beijo, apesar da minha necessidade
inata de escapar do quarto.

— Jax, pare. — Protesto sem fôlego depois que ele me beija


por mais um minuto.

— É melhor você ir, porque parece que mamãe quer dar a


você um dia para lembrar.

— Então, vamos agir como se isso nunca tivesse


acontecido? — Aponto para a cena do nosso crime.

— Ah, não. Definitivamente aconteceu. E isso vai acontecer


novamente. E de novo.

— E o grande foda-se do destino? — Provoco.

— Enquanto o destino está me fodendo, eu posso muito


bem foder você.
25

Elena

— Eu estava morrendo de vontade de ficar sozinha com


você antes de Caleb vir amanhã, mas Jax continuou dizendo
que você estava ocupada. Alguém te disse que você trabalha
muito? — Vera agarra sua bengala enquanto caminhamos por
um pequeno parque no coração de Londres. Quando perguntei
antes se ela queria que eu ligasse para o carro depois de passar
por várias lojas, ela me dispensou e disse que queria dar um
passeio.

Depois que Vera tropeça novamente, eu nos conduzo em


direção a um banco.

— Você se importa se nos sentarmos? Meus sapatos estão


me matando.

Ela me oferece um sorriso conhecedor.

— Oh, sim, essas sandálias parecem além de


desconfortáveis.

Rio enquanto nos sentamos debaixo de uma árvore.


— Você não deixa as pessoas escaparem facilmente, não é?

— Onde está a diversão nisso? E para ser justa, ouvi uma


ou duas coisas sobre você, o que me diz que você é do mesmo
jeito.

— Acho que é preciso um para reconhecer o outro.

— De fato. Qualquer pessoa que possa administrar meu


filho por meses a fio definitivamente merece um Prêmio Nobel
da Paz. Diga-me, por que você se inscreveu para o trabalho para
ajudá-lo?

Mantenho meus olhos focados em uma família brincando


de pega-pega no gramado em frente a nós.

— Eu precisava do tipo de dinheiro que eles estavam


oferecendo.

— Para ajudar sua avó, certo? Jax mencionou para nós


que ela está doente.

Mexo minha cabeça para cima e para baixo.

— Ah, isso é um gesto tão doce da sua parte. E um


sacrifício também para alguém tão jovem quanto você.

— Ela sempre esteve lá para mim enquanto eu crescia.


Devo tudo a ela, então o mínimo que posso fazer é garantir que
ela seja bem cuidada. — Não percebo meu erro até que seja
tarde demais.

— E seus pais? Eles moram na Europa? — Ela fala


suavemente.

Engulo o nó na minha garganta enquanto viro minha


cabeça para longe dela.

— Não. Meus pais faleceram quando eu era mais jovem.

— Oh, céus. Sinto muito por ouvir isso. Jax nunca me


disse. — Sua mão trêmula agarra a minha de uma forma
maternal.

— Ele não sabe. Não é um fato que compartilho com


muitas pessoas.

— Agradeço por você ter confiado em mim, especialmente


quando a dor nos faz recuar para dentro de nós mesmos.

Sentamos e assistimos as pessoas por alguns minutos.


Não sei o que dizer, e o silêncio de Vera me diz que ela também
não.

Vera ri sozinha.

— Sabe, meus pais são totalmente idiotas. Para ser


honesta, minha família inteira é um bando de gente podre.

Viro minha cabeça em direção a ela.


— O que aconteceu?

— Eles ameaçaram me cortar da família assim que


comecei a namorar o pai de Jax. No início, eles pensaram que
eu estava me rebelando, escolhendo namorar um preto de
família pobre. Minha mãe é britânica e meu pai sueco, como se
isso pudesse justificar sua mentalidade. Depois que as coisas
ficaram mais sérias comigo e Zack, eles não conseguiram lidar
com a filha que não namorava um homem branco. Fui contra
tudo o que seus corações racistas acreditavam.

— Sério? Então o que você fez?

— Eu disse às minhas irmãs para manterem contato


comigo antes de dizer aos meus pais para apodrecer no inferno.

— Não. — Cubro minha boca.

— Com meus dedos médios no ar também, devo


acrescentar. — Ela pisca para mim.

Uma risadinha explode fora de mim.

— Você é um ícone.

— Como Chanel Vintage, querida.

— Como você se mantém positiva? Conte-me seu segredo.

— Em vez de o quê? Mergulhar no meu diagnóstico e odiar


minha vida?

— Uau, eu não quis dizer isso. Por favor, não se ofenda. —


Levanto minhas mãos em submissão.

— Eu sei, só estou brincando com você. — Ela bate seu


ombro no meu. — Sempre fui assim. Mente sobre a matéria34 é
o meu estilo de vida. Não posso mudar as cartas que recebi,
mas posso mudar a maneira como abordo minha mão.

Ok, a mãe de Jax usou uma referência de pôquer. Ela


instantaneamente ganha pontos aos meus olhos.

— Isso é admirável.

— Desejo que partes de mim passem para o meu filho. —


Os lábios de Vera se comprimem em uma linha fina. — Ele
mudou junto com meu estilo de vida e isso parte meu coração.
Mantenho uma atitude extremamente positiva em relação a ele
porque não acho que ele poderia lidar com isso de outra
maneira.

— Eu também não acho que ele poderia. — Com base na


maneira como Jax lida com tudo com sua mãe agora, não posso
imaginar como seria para ele se ela revelasse o quanto sofre em
particular.

— Ele é uma pessoa muito frágil, apesar da fachada que


veste. Aquele menino é todo feito de marshmallow fofo por

34 O poder da mente para controlar e influenciar o corpo e o mundo físico em geral.


dentro, não importa o que a mídia diga sobre ele. Mas ele
mudou para melhor nas últimas semanas. Ele fica menos
agitado quando eu ligo para ele e, claro, todos nós sabemos que
ele não terá muitos problemas nesta temporada – se algum.
Graças a você, eu acho.

Sorrio para ela.

— É o meu trabalho.

Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— É mais do que isso. Um trabalho faz com que pareça


muito menos significativo do que é.

Minhas sobrancelhas levantam.

— O que você quer dizer com isso?

— Foi o destino você trabalhar com ele. As pessoas são


colocadas em nossas vidas por motivos especiais e acho que
você precisa explorar isso.

Fico quieta enquanto penso no que ela disse.

As mãos trêmulas de Vera se juntam.

— Só quero que meu filho seja feliz. Verdadeiramente,


profundamente feliz. Mais do que o que ele sente quando corre.
Quero que ele se cure e cresça e você faz parte dessa equação.
O que alguém diz sobre isso? Nada. Absolutamente nada.

Vera muda para outro assunto, salvando-me de minha


mente cambaleante. Passamos uma hora no parque
conversando sobre tudo e qualquer coisa.

Em algum momento, nós duas acabamos chorando


enquanto eu conto minha história do início até o hoje. Ela é a
primeira pessoa além da Abuela e do Elías que conhece minha
história. Vera tem essa sensação calmante de mãe sobre ela que
eu não percebi que estava desesperadamente querendo, embora
temporário.

Vera me puxa para um abraço assim que nos levantamos


do banco.

— Obrigada por ser corajosa e compartilhar uma parte de


sua vida comigo. Quando soube de tudo que você estava
fazendo por Jax, esperava que fosse forte, mas você é muito
mais. Obrigada por ser tudo o que meu filho precisa. Para
alguém que perdeu tanto em tenra idade, você realmente tem
muito a dar ao mundo.
Depois do meu dia com Vera, o pai de Jax planejou sua
versão de um jantar em família. Ele faz um churrasco com Jax
de pé ao seu lado, os dois conversando enquanto Vera e eu nos
sentamos a uma mesa perto da piscina, bebendo vinho juntas.
Não é nada que eu espere de uma família com dinheiro
suficiente para ter sua própria equipe trabalhando todas as
horas do dia.

— Eu poderia ter um pouco mais de vinho. Você quer


outra taça? — Vera aponta para a minha taça vazia.

— Certo. Mas eu posso pegar. — Levanto-me da cadeira,


mas Vera coloca a mão trêmula em meu ombro.

— Absurdo. Você é nossa convidada. Só vai levar um


momento. — Ela usa sua bengala para se levantar da cadeira. O
pai de Jax se oferece para ajudar, mas ela diz a ele para deixá-
la.

Jax caminha em minha direção e se inclina contra a mesa


de vidro.

— Sobreviveu o dia todo com minha mãe?

— Mais como prosperar. Ela é incrível. — Estico meu


pescoço e sorrio para ele.

Ele sorri de volta para mim, seus olhos brilhando de uma


maneira que eu comecei a gostar.
— Boa resposta. Estou meio surpreso que você esteja
relaxada com tudo isso, já que uma garota normal teria medo
de conhecer os pais de um cara.

Zombo, fingindo que não estava com medo de encontrar


Zack e Vera pela primeira vez.

— Isso só se aplica a conhecer os pais de um cara de quem


você gosta.

Também conhecido como Jax, mas não é como se eu


precisasse confessar essa informação a ele.

Jax esfrega o local perto de seu coração.

— Aqui estava eu pensando que você gostava de mim. Você


está me ferindo.

— Bem...

O vidro se estilhaça à distância. Zack corre para dentro da


casa com Jax e eu em seus calcanhares. Outro som de vidro
explodindo nos empurra em direção à área do bar. Vera olha
para o chão, suas bochechas coradas de lágrimas novas. O doce
cheiro de vinho paira no ar.

— Merda, querida, você está ferida? — O vidro estala sob


os tênis de Zack enquanto ele vai pegar Vera.

— Não. Que merda de bagunça! Apenas mais um dia


comigo estragando um momento divertido para todos. Eu não
sei por que diabos você fica comigo. — Ela diz chateada.

Zack levanta Vera e a coloca em uma banqueta do outro


lado da bagunça.

— Porque eu não poderia imaginar um dia sem você.

— Corta essa merda. Isso é um inferno para todos. — Os


olhos de Vera escurecem, um contraste gritante com o calor que
eles geralmente refletem.

O choque passa por mim com sua mudança repentina de


humor. É isso que as revistas médicas queriam dizer quando
descreviam as mudanças de humor com a doença de
Huntington?

— Não. É um momento difícil durante um bom dia. Isso é


diferente. — Zack dá um tapinha na coxa dela.

Mudo minha atenção para Jax. Seus olhos combinam com


a carranca em seu rosto enquanto Zack avalia Vera por
quaisquer ferimentos.

— Merda, você se cortou. Deixe-me pegar o kit de


primeiros socorros. — Zack sai correndo depois de verificar o
corte no pé de Vera.

— O que aconteceu, mãe? — Jax caminha até ela e agarra


sua mão trêmula.

— O que você acha? Ponha dois e dois juntos.

Jax olha para mim com uma expressão de dor que sinto no
fundo do meu próprio peito. Abro minha boca para oferecer
segurança, mas a fecho novamente quando ele balança a
cabeça.

Jax encara sua mãe novamente.

— Acidentes acontecem. É apenas uma garrafa de vinho.

— O único acidente é eu pensar que poderia viver uma


vida normal. Em vez disso, eu causo confusão e irrito todos ao
meu redor.

Jax respira fundo.

— Mãe, essa não é você.

— Esta sou eu. Essa é a pior parte. — Seus olhos


lacrimejam.

Meu coração aperta com sua vulnerabilidade. Jax e Vera


não precisam de um estranho observando seu momento tenso.
Afasto-me deles, lentamente recuando até estar em um corredor
separado.

Viro-me, direto em um corpo rígido. As mãos de Zack


envolvem meus braços para me firmar. Uma única lágrima
escorre por seu rosto. A dor silenciosa que esses dois homens
experimentam diariamente me enche de desespero.

— Sinto muito. — Sussurro.

— Por favor, ignore o que aconteceu. Vera tem alterações


de humor de vez em quando. Ela não tem orgulho deles, então
estou pedindo que você finja que não a viu desmoronar assim.

— Claro. Posso fazer algo para ajudar?

Ele engole e acena com a cabeça.

— Você poderia, por favor, verificar a comida? Tenho


certeza de que já está queimada e a última coisa de que
precisamos é um incêndio.

Concordo e Zack caminha de volta para o bar. Meus


passos ecoam pelos corredores vazios. Sem pensar, fico de olho
na comida na grelha enquanto penso.

Em minha pesquisa sobre a doença de Vera, muitos


médicos falaram sobre mudanças de humor e irritabilidade. É
uma coisa estar lendo sobre isso, mas é uma experiência
totalmente diferente ao ver com meus próprios olhos. Não
admira que Jax tenha ansiedade e estresse por causa de sua
mãe. Se eu estivesse na posição dele, duvido que estaria
melhor, sentindo-me impotente diante de sua deterioração.

O clique da grade desligando me surpreende. Viro-me para


encontrar os olhos de Jax olhando para mim. Ele não esconde a
dor em seu olhar enquanto respira fundo algumas vezes. Sem
pensar duas vezes, eu envolvo meus braços em volta de sua
cintura e dou um aperto nele.

— Sinto muito pela sua mãe. Deus, eu sinto tanto que você
tenha que passar por isso e fingir que está tudo bem. Ninguém
em sua família merece isso, principalmente sua mãe.

Seus braços copiam os meus, me segurando mais perto de


seu corpo e descansando seu queixo contra minha cabeça.

— Eu queria que ela não estivesse doente.

— Eu também.

— Eu gostaria que ela não tivesse essas mudanças de


humor. Não porque isso me incomoda, mas mais porque parte
seu coração. Ela se odeia depois pelas coisas que diz. Eu sei que
não é ela, mas às vezes levo suas palavras para o lado pessoal.

— Ninguém iria culpar você por se sentir assim. Isso


acontece com frequência? — Eu me movo para sair do abraço
de Jax, mas seus braços me apertam.

— Tantas vezes que eles mudaram recentemente o remédio


dela. É a única parte de sua doença que ela não consegue
esconder com um sorriso. Quando ela entra nessa, é uma
batalha consigo mesma.
— Como você se sente com isso?

— Tenho vontade de doar cada euro que ganhei para


encontrar uma cura.

— Você acha que os médicos vão descobrir?

— Provavelmente não durante a vida da minha mãe.

Espero que, se Jax tiver a mesma doença, uma cura seja


descoberta antes que qualquer sintoma apareça. Eu me bato
mentalmente por ter pensado nisso em primeiro lugar.

Jax me liberta do abraço, dando-me espaço para respirar


algum ar fresco.

Minhas mãos têm vontade própria, pressionando contra


suas bochechas e forçando-o a olhar para mim.

— Você sempre pode falar comigo. Estou aqui para te


ajudar.

— O que acontece quando você tiver que ir embora no final


da temporada?

— O que acontece se eu quiser ficar?


26

Jax

— Este é Caleb? Ele parece tão...

Elena levanta a sobrancelha, provocando-me para


terminar minha frase.

— Puro. — Forço. Durante minhas trocas de mensagens


com Caleb, ele nunca soou inocente. Mas um olhar para ele tem
minhas noções preconcebidas pegando fogo.

Surpreende-me que um cara magro vestindo uma gravata


borboleta, shorts pastel e mocassins é supostamente um dos
meus maiores fãs. A careca de Caleb brilha quando ele se
despede de seu motorista de táxi.

— Não julgue um livro pela capa, — Elena diz chateada.

— Com o tipo de livros pornôs que você lê, eu


definitivamente julgo.

— Eles são chamados de romance. — Ela joga a cabeça


para trás e ri.
Eu gostaria de poder beijar a curva de seu pescoço
exposto. Desde a nossa conexão ontem no meu quarto, não
consigo tirá-la da minha cabeça. Beijar Elena é erótico pra
caralho. É algo que quero repetir em outras circunstâncias, de
preferência com pouca ou nenhuma roupa.

Um gosto não foi suficiente. Eu quero tê-la para mim,


gritando meu nome enquanto empurro dentro dela,
solidificando a necessidade que tenho de reivindicá-la em todos
os sentidos.

Empurro minha luxúria de lado enquanto Caleb sobe os


degraus da minha casa.

— Bem-vindo, Caleb. Meus pais mal podem esperar para


conhecê-lo.

— Porra. Essa casa é incrível! E você! Inferno, Jax


Kingston. — Caleb empurra a ponte de seus óculos no nariz.

— Ele parece inocente e então ele deixa cair a palavra


porra. Meninos. — Elena sussurra baixinho.

— Esse é o meu tipo de fã. — Pisco para ela antes de pegar


a bolsa de fim de semana de Caleb dele.

Entramos e apresento nosso novo convidado aos meus


pais.

— Não brinca. Eles nunca me disseram que eu conheceria


o King Cobra também! — A voz de Caleb ressoa nas paredes da
nossa entrada.

Meu pai ri enquanto oferece a mão para Caleb apertar.

— Não ouço esse apelido há algum tempo.

— Por favor. Você é um dos boxeadores mais incrível de


todos os tempos. Eu assisti algumas de suas lutas antigas que
meu pai tem em VHS.

— Bem, garoto, você me envelheceu cerca de vinte anos


apenas com essa frase. — Meu pai dá a mamãe um espaço para
cumprimentar meu pequeno fã.

— Estamos felizes por ter você em nossa casa. Quando


Elena nos contou sobre você querer passar um tempo com Jax,
tivemos que convidá-lo. Qualquer coisa para o maior fã de Jax.

— A melhor escolha de todas. — Caleb cumprimenta


Elena.

A maneira como seu nariz se contrai me faz rir.

— Espere por amanhã. Elena planejou algumas atividades


legais para você.

— Sim! — Caleb joga o punho no ar.

Meus pais passaram o jantar inteiro conhecendo Caleb.


Acontece que o cara é um pouco rebelde com algumas
tentativas de escapar de seu quarto de hospital.

Parece que vamos nos dar bem.

Caleb tem muitas qualidades que considero adequadas.

Ele conta piadas e fala sarcasmo fluente. Seus


passatempos incluem assistir minhas corridas, vasculhar a web
em busca de novas músicas e flertar com enfermeiras no
hospital. Em outras palavras, ele é meu tipo de companheiro.

A criança tem uma energia infinita. Ele ainda quer fazer


mais depois que eu o deixei sentar ao meu lado durante uma
reunião de esclarecimento e o levei a um evento de
patrocinador.

Elena diz que ele é enérgico porque está animado para


passar um tempo com seu ídolo.

Eu. Um ídolo. Deus ajude a todos nós.

— Aqui está seu capacete. — Passo o equipamento de


segurança para Caleb enquanto ele olha boquiaberto para o
carro antigo da F1. A equipe nos abandonou no grid, voltando
ao pit para nos dar instruções através do rádio da equipe
quando estivermos prontos para a corrida.

— Nós realmente vamos dirigir isso? Meu Deus.

Rio.

— Isso é o que Elena programou para nós.

— Inferno, talvez eu tenha que beijá-la.

Levanto uma sobrancelha.

— Quer alterar essa declaração?

Suas bochechas ficam vermelhas. Parece que meu novo


companheiro tem uma queda.

— Então, o que há com vocês dois? Vocês estão


namorando?

— Não.

— Ficando?

— Não. — Reviro meus olhos.

— Dando uns amassos?

— Há um motivo para a rodada de vinte perguntas? —


Enfio as mãos nos bolsos do meu traje de corrida e me encosto
no carro.
Caleb sorri.

— Oh, sim. Definitivamente dando uns amassos.


Agradável. — Ele me oferece seu punho para socar. Eu o deixo
ter seu momento, esperando que ele deixe a conversa sobre
Elena de lado.

— Então, quando você vai passar de beijos para mais?

E lá se vai minha tentativa de satisfazer sua curiosidade.

— Sabe, talvez devêssemos ir para a sala de imprensa em


vez da pista de corrida. Com as perguntas que você está
fazendo, acho que você vai gostar mais disso.

Caleb bufa enquanto enfia o capacete na cabeça.

— Não há necessidade de ficar irritado. Estou apenas


curioso.

— Menos curiosidade, mais adrenalina, por favor.

— Acredite em mim, meu coração está batendo forte em


meu peito a uma frequência que meu médico consideraria
alarmante.

Meu sorriso desaparece.

— Isso é ruim? Talvez não devêssemos fazer isso.

Caleb acena para mim com a mão enluvada.


— Oh, por favor. Há anos que espero por este dia!

— Você tem?

— Com certeza. O câncer é uma merda, mas pelo menos a


Fundação Make-A-Wish faz com que a viagem valha a pena.

— Sinto muito, cara. Posso dizer que você é um cara bom


que não merece isso.

Os melhores geralmente não merecem. É uma lição que


aprendi várias vezes.

— Obrigado. Mas eu não odeio exatamente minha vida


porque estou conhecendo você no final das contas. O câncer
pode chupar minha bunda pálida.

Atiro para ele um pequeno sorriso.

— Qual é o seu segredo para se manter otimista?

— Amanhã não está garantido, então mais vale fazer do


dia de hoje minha cadela.

Eu não posso evitar a risada desagradável que me deixa. É


difícil não admirar alguém como Caleb, que não deixa sua
doença defini-lo. Quero aprender todos os seus segredos e
aplicá-los à minha própria vida. Talvez se eu tivesse seu tipo de
coragem, não seria um naufrágio tão ansioso que foge do
desconhecido.
— Admiro pessoas como minha mãe e você, que mantém
um sorriso no rosto apesar de tudo.

— Sua mãe? Ela também tem câncer? — O queixo de


Caleb cai aberto.

Merda. Que porra.

— Não. É melhor irmos. — Aponto para o carro de Caleb


em uma demanda silenciosa para irmos.

Ele me ignora.

— Há algo de errado com sua mãe? Você sabe que pode


confiar em mim porque prefiro passar por outra rodada de
quimioterapia do que revelar qualquer um dos seus segredos.

— Minha hesitação não é por causa da confiança.

Não. É sobre ser julgado por não fazer o teste por alguém
que passou por seu próprio inferno médico e sorri de qualquer
maneira. Não posso olhar para Caleb sem questionar minha
própria covardia.

— Não, mas eu quero que você saiba disso de qualquer


maneira. Sua mãe está bem, pelo menos?

Suspiro. A forma como os lábios de Caleb se contraem e


seus olhos se estreitam me diz que ele não vai abandonar esse
assunto, não importa o quanto eu deseje.
— Minha mãe tem a doença de Huntington. Não é o
mesmo que câncer, mas também tem um péssimo prognóstico.

— Lamento ouvir isso, cara. — Caleb coloca sua mão fina


no meu ombro. — Pode não ser câncer, mas é o seu próprio
inferno. Todas as doenças terminais têm o mesmo peso dentro
de nós.

Se Caleb tem alguma ideia sobre o risco hereditário que a


doença de mamãe representa para mim, ele não revela. E sou
grato por isso.

Compartilhar esta pequena parte de mim mesmo com


Caleb parece um progresso. Inferno, passar um fim de semana
com Caleb desafiou alguns dos meus próprios pensamentos e
crenças sobre viver com uma doença terminal. A maneira como
ele vê a vida, apesar de saber que tem câncer, faz minha
ansiedade parecer injustificada. Eu quero ser destemido como
ele. E se eu estivesse sempre destinado a passar tempo com
alguém como Caleb e ver a vida de uma perspectiva diferente?

Talvez o destino nem sempre seja um filho da puta


implacável, afinal.
— Então, Elena. Diga-me o que seria necessário para você
ir a um encontro comigo? — Caleb se senta ao lado de Elena no
sofá da minha sala.

Uma onda de possessividade me atinge do nada.

— Além de você precisar ter idade legal?

— Ai, cara. A idade é apenas um número.

Levanto uma sobrancelha para ele.

— Isso é o que todos dizem antes da prisão. — Elena


esconde sua risada atrás da palma da mão.

— Vamos, o que você me diz sobre jantar? — Caleb


balança as sobrancelhas para ela.

Elena balança a cabeça.

— Nós dois vamos levar você para jantar. — Deixo escapar.

Caleb aperta os olhos para mim, claramente infeliz.

— Nós?

— Nós vamos convidar Elena para jantar.

— Cara, sério? Maneira de roubar meu brilho.


— Melhor do que ser rejeitado.

Caleb dá de ombros, cedendo.

— Ok, estou vendido. Elena, vista seu melhor vestido e


joias.

— Os encontros geralmente têm que dizer sim primeiro. —


Olho para Elena, desafiando-a a dizer não.

Caleb se ajoelha na frente dela.

— Por favor, Elena Gonzalez da Cidade do México, você me


ofereceria o luxo de levá-la para um encontro. De preferência
com o dinheiro de Kingston porque estou limitado em minha
mesada depois de comprar um novo par de tênis.

Elena ri enquanto Caleb agarra sua mão e a beija.

— Certo. Qualquer coisa por você.

Eu gostaria que Caleb fosse dar uma volta em algum lugar


enquanto eu levo Elena sozinho. Vendo que a probabilidade de
ela dizer sim a um encontro comigo é de zero a nenhum, eu
afasto o desejo.

Sou bom em negar a mim mesmo o que quero. E com


Elena, quero mais. E foda-se se esse não é o pensamento mais
preocupante de todos.
Caleb não estava brincando quando nos pediu para nos
vestirmos. Ele aparece uma hora depois, vestindo um terno e
uma gravata borboleta.

Fico olhando para ele incrédulo.

— Você realmente colocou isso na sua mala?

— Claro. Um cavalheiro nunca sabe quando precisa de um


terno.

— Tem certeza de que é deste século?

O clique de saltos chama nossa atenção para o topo da


escada.

Elena agarra a bainha de seu vestido verde. Ela desce as


escadas, o material aderindo às suas curvas da melhor
maneira. O tipo de dar água na boca, o pau pulsar, eu faria
qualquer coisa para fodê-la.

Tusso e dou uma cotovelada em Caleb.

— Diga a ela como ela está bonita.

Ele revira os olhos para mim.


— Amador. Vou fazer melhor que você. — Ele vai para trás
do sofá e tira um conjunto de uma dúzia de rosas de caule
longo.

O merdinha está tentando me superar. Embora um pouco


irritado com a forma como os olhos de Elena se iluminam com
as flores, estou impressionado com a consideração de Caleb.
Claramente, preciso melhorar meu jogo.

— Ah, isso é fofo. — Elena respira fundo no buquê antes


de dar a Caleb um sorriso deslumbrante.

Ok, vou dar alguns pontos ao garoto, ele sabe fazer uma
mulher feliz.

Seus suaves olhos castanhos encontram os meus.


Brilhante e bonito, com um toque de travessura. Meu tipo de
garota.

Caleb pega um relógio de bolso vintage.

— É melhor irmos. A reserva é às oito. — Ele oferece o


cotovelo para Elena e ela ri para o teto.

Sua felicidade fez meu estômago apertar como uma boceta.


Pouco a pouco, Elena desliza pelas minhas barreiras
cuidadosamente colocadas e, desta vez, não posso dizer que
sinto muito por isso.
O carro alugado nos deixa em um restaurante caro que
faria um homem chorar depois de ver a conta. Não é nada que
eu espere que Elena goste, mas Caleb afirmou que nunca
comeu um bife de cinquenta dólares. Recusei-me a deixar o
idiota deixar meus cuidados sem o melhor dos melhores pelo
menos uma vez em sua vida.

Uma anfitriã nos coloca em um canto, oferecendo


privacidade. Caleb ajuda Elena a se sentar antes de pedir
licença para usar o banheiro.

— Isso é um pouco demais, você não acha? — Elena me


olha de seu menu.

Como um idiota, me concentro na maneira como a vela faz


seus olhos brilharem.

— Acho que sim, mas vai deixá-lo feliz. Não nos delate
para a mãe dele, mas pretendo dar a ele um pouco de vinho
também.

Ela solta uma risada suave.

— Você é demais.

— Diz a garota que foi além para planejar o fim de semana


de sua vida para ele. Estou tentando competir aqui.

— Você planejou um baile para ele e seus amigos em


algumas semanas, já que eles não podem ir a um de verdade.
Eu sou aquela que não pode competir.

— Ainda assim, ele provavelmente classificará este


encontro como sua coisa favorita. Ele totalmente tirou vantagem
de você para isso.

Suas bochechas ficam no melhor tom de rosa.

— Se isso o deixa feliz, então eu sou totalmente a favor.

— Altruísta demais para o seu próprio bem.

Sua cabeça se inclina em questão, mas Caleb nos


interrompe.

— Então, o que é preciso para conseguir uma bebida por


aqui?

Elena ri. Nós pedimos nossos pratos e eu mantenho minha


promessa, pedindo uma taça de vinho extra para Caleb tomar
alguns goles ocasionalmente. Nossa comida chega logo depois e
todos nós comemos.

— O bife está tão bom quanto você esperava?

— Não sei como voltarei a comer comida de hospital. —


Caleb fecha os olhos enquanto enfia outra garfada de comida na
boca.

— E você? — Procuro a atenção de Elena. Estou me


tornando um babaca carente e não sei como fazer isso parar.
Alguém – qualquer um – por favor, faça parar.

— Não gosto de restaurantes chiques, mas isso


definitivamente faz jus ao estilo. — Seus lábios envolvem seu
garfo enquanto seus cílios tremem fechados.

Imagino que ela pareceria igual com seus lábios em volta


do meu pau. Reverente e sedutor enquanto ela me leva a ponto
de engasgar.

Forço meus olhos para longe e ajusto minhas calças.

— Isto é o que eu gosto de ouvir. Eu posso cozinhar um


bife perfeito na grelha, então pelo menos eu tenho isso se correr
não der certo.

— Você cozinha? — Caleb recua em seu assento.

— Claro. Enquanto crescia, gostava de passar tempo com


Jackie. Ela me ensinou a cozinhar tudo o que sei.

— Uau. — Elena me encara.

— Quais pratos finos você pode cozinhar? Não deixe Jax te


impressionar. — Caleb aponta para ela com o garfo.
— Principalmente pratos mexicanos que você não conhece.

— Se você disser guacamole, posso nunca o deixar ir.

Elena ri.

— E tortilhas caseiras.

— Você é a garota perfeita. Case comigo esta noite. Você


cozinha, eu limpo. Combinação feita no céu. — Ele sorri para
ela.

Ela balança a cabeça enquanto uma risada alta irrompe


dela.

— Por mais doce que você seja, não estou interessada em


uma vida atrás do fogão. Desculpe.

— Então, eu tenho um último pedido antes que meu tempo


acabe com vocês dois. — Caleb remexe sua gravata borboleta.

Olho para ele.

— Os clubes de strip estão fora de questão.

Elena engasga com o ar.

— Oh meu Deus, Jax, pare com isso. Você está


envergonhando-o.

Caleb levanta o queixo mais alto.


— Eu quero fazer uma tatuagem.

Olho para ele.

— Sério? Mas você tem apenas dezesseis anos.

— Isso não tem preço vindo do cara que fez sua primeira
tatuagem com a mesma idade.

— Isso é diferente. Eu tive aprovação.

Caleb esfrega a cabeça careca.

— Minha mãe vai concordar.

Meus olhos pousam nos de Elena.

— O que você diz? Vamos conceder seu último desejo?

— Não gostaria de nada melhor. — O sorriso que ela


dispara em minha direção faz meu coração apertar
estranhamente no meu peito.

Merda.

Eu não quero me apaixonar, mas caramba se o sorriso


dela não faz o pouso forçado valer a pena.
27

Elena

Caleb está absolutamente apaixonado por Jax. Eu


esperava que Jax estivesse envolvido e fosse legal com Caleb,
mas ele vai além para fazer seus fãs vivenciarem os melhores
aspectos da F1. O homem tatuado que invadiu meus
pensamentos me mostrou um lado doce de si mesmo que ele
mantém escondido do mundo.

Enquanto eu planejava uma corrida falsa com carros


antigos da F1 para Caleb, Jax fez um esforço para planejar
outras saídas. Ele apresentou Caleb a Liam e Noah durante um
almoço surpresa. Mesmo o nosso jantar, sob o pretexto de me
levar para sair, foi realmente para tornar a última noite de
Caleb com Jax memorável.

Basicamente, Jax é tão digno que sou suscetível a cair por


causa de uma leve brisa.

Depois do jantar, Jax liga para seu tatuador para abrir sua
loja enquanto eu ligo para a mãe de Caleb para verificar se ela
aprova sua decisão. Ela me envia um e-mail com uma cópia
digitalizada de um formulário de consentimento assinado,
apoiando o plano.

Passei a maior parte da viagem de carro ouvindo os dois


discutindo fofocas e estatísticas da F1. Algo sobre Jax esta
semana é diferente. Não estou nem falando sobre o recente
incidente de enfiar a língua na minha garganta e me fazer gozar.

Ele parece... feliz. Felicidade verdadeira diferente de tudo


que eu já vi dele antes. Não sei se passar um tempo em Londres
o deixa mais à vontade ou se é por fugir das pressões da F1.

Parte de mim está esperando que tudo dê errado. Mas uma


parte maior – uma parte estupidamente esperançosa – está se
perguntando se ele vai ficar assim pelo resto da temporada.

Deus, espero que sim. Esta versão do Jax é uma que eu


gosto mais e mais a cada dia.

Nosso carro para na frente de uma loja moderna,


encerrando meus pensamentos.

— Pronta? — Caleb me oferece sua mão enquanto sai do


carro.

— Esta é uma ideia maluca. — Agarro sua mão estendida.

— As melhores começam assim. — Ele dá um beijo na


minha mão antes de soltá-la.
Sério, não sei onde esse cara aprendeu seus movimentos,
mas ele aumenta o charme por hora. Acho toda a coisa hilária.

Entramos em um escritório chique que eu nunca


associaria a tatuagens. Um lustre moderno está pendurado
acima de nós, destacando a acolhedora sala de espera.

— Este lugar é incrível, — sussurro para Jax. Meus olhos


se demoram na forma como sua camisa preta de botão se
agarra a seus braços, enfatizando os músculos que eu estava
segurando no outro dia. Quero traçar minha língua neles.

Os dedos de Jax levantam meu queixo antes que ele


pisque. Apanhada.

Minhas bochechas coram antes de examinar a parede em


destaque à nossa esquerda.

— O papel de parede é feito de designs que Alan fez. Talvez


se você olhar por tempo suficiente, você encontrará uma ou
duas das minhas. — Jax encolhe os ombros.

— De jeito nenhum! Isso é incrível. — Verifico os diferentes


padrões enquanto Caleb e Jax revisam a papelada.

Perco-me nos designs, amando a mistura de cores e arte


que o dono criou. Meus dedos pairam sobre uma cobra que
parece familiar.
— Achei uma!

— Parece mais assustadora quando está me olhando


assim. — Jax caminha para o meu lado, o calor emanando de
seu corpo.

Pego sua mão sem pensar. Uma onda de eletricidade passa


por mim, como se alguém estivesse pressionando faíscas na
minha pele.

— A cobra deslizando pelos ossos do esqueleto é o que a


torna assustadora.

Ele olha para minha mão tocando a dele.

— Por quê?

— É mórbido.

Seus lábios baixam.

— Eu fiz em homenagem ao meu pai.

E agora me sinto uma merda.

— Eu não queria...

Um pequeno sorriso puxa seus lábios.

— Estou te provocando. Como Caleb disse, o King Cobra


costumava chutar traseiros no passado. Esta é a minha
homenagem a ele.

— E os ossos?

Os dedos de Jax se entrelaçam com os meus.

— Bem, isso é mais uma coisa durona. Você não


entenderia.

— Você é a última pessoa que precisa de tatuagens para


provar o quão durão você é.

Ele inclina a cabeça para mim.

— Isso foi um elogio?

Rolo meus olhos enquanto sorrio.

— Não se acostume com eles.

— Jax, pare de tentar roubar o meu encontro. Vamos! —


Caleb acena para nós do corredor.

Jax parece que quer dizer algo, mas puxo sua mão.
Seguimos Caleb até a sala dos fundos, onde o tatuador de Jax,
Alan, arruma seus suprimentos.

Caleb se acomoda na cadeira principal enquanto Alan


prepara sua pele. Jax e eu sentamos um ao lado do outro no
canto apertado. Meu corpo fica ciente de sua proximidade, com
suas pernas roçando as minhas.
O desejo puxa meu estômago quando Jax entrelaça seus
dedos com os meus novamente. Seu polegar esfrega os ossos
finos da minha mão, provocando arrepios em minha pele.

— Isso é realmente o que você quer, cara? — Jax olha o


esboço da tatuagem de Caleb.

— Sim.

Jax acena para Alan, lutando contra um sorriso.

— Dê ao garoto o que ele quer.

Caleb relaxa em meio à dor, fazendo piadas enquanto Alan


pinta as letras. O processo é bastante curto. Nosso novo amigo
mostra sua tatuagem localizada na parte interna de seu braço,
onde costumo tirar sangue.

Traço ao redor da pele vermelha para evitar machucá-lo.

— “Sem chuva, sem flores”. Escolha interessante para


alguém da sua idade.

— É a frase favorita da minha mãe.

— E a localização? — Bato em uma veia.

— Achei que seria bom ter algo forte para olhar durante
minha próxima rodada de quimioterapia. — A resposta de Caleb
faz minha visão embaçar.
Ele me lança um sorriso vacilante.

— Não chore por mim, amor. É assim que são as coisas.

— Ei, não roube o apelido que dei a ela. — Jax envolve um


braço em volta do meu ombro, puxando-me para o seu lado.

A simples possessividade de Jax faz meu coração trabalhar


horas extras para acompanhar.

— Acho que é só isso. — Alan começa a arrumar seus


suprimentos.

— Espere. — Deixo escapar. — Eu quero uma tatuagem.

— Você quer uma tatuagem? Você? — A cabeça de Jax


salta para trás.

— É tão difícil de acreditar?

— Para ser honesto, sim. — Caleb entra na conversa.

Zombo antes de me virar para Alan.

— Quero uma pequena.

Jax levanta uma sobrancelha para mim.

— Você tem certeza disso?

— Sim.

Jax encolhe os ombros antes de se sentar com Caleb do


outro lado da sala. Agradeço que ele não me faça mais
perguntas, porque tenho medo de perder a coragem.

Mostro a Alan o design que quero e onde quero. Pode


parecer infantil e estúpido para qualquer outra pessoa, mas
para mim simboliza tudo o que quero me tornar enquanto
abraço as partes quebradas de mim mesma.

Alan levanta uma sobrancelha para mim. Ele pega seu


iPad e faz um esboço do design, tornando-o idêntico à foto que
mostrei a ele.

— Perfeito.

— E para verificar com certeza, você quer isso aqui? — Ele


bate na lateral do meu dedo médio, onde permanece uma
cicatriz irregular de muitos anos atrás.

— Isso mesmo. — Ofereço minha mão a Alan e ele começa


a trabalhar com o papel de transferência.

Ele prepara a pele. O zumbido ecoa pelas paredes. Recuo


quando a agulha toca minha pele, sibilando com a dor
inesperada.

Alan franze a testa.

— Desculpe. Vai doer.

— Caleb nem mesmo estremeceu. Como isso é possível? —


Meus olhos saltam entre todos os homens na sala.

— Eu sou furado o tempo todo com agulhas. — Caleb dá


de ombros.

Jax aperta o ombro de Caleb no gesto mais doce. A


maneira como Jax olha para Caleb me faz esquecer a dor por
um segundo.

— Isso é o que torna você o cara mais forte que conheci.

Caleb ri como se Jax tivesse dito a coisa mais engraçada


de todas. Quando Jax não ri de volta, as sobrancelhas de Caleb
se juntam.

— Oh, você está falando sério? — Sua voz ecoa sua


confusão.

— Claro. Qualquer pessoa que já lidou com a merda que


você tem e ainda usa um sorriso todos os dias é um fodão para
mim. — Jax solta o ombro de Caleb.

— Uau. Você está me emocionando. — Caleb reajusta seus


óculos.

Jax balança a cabeça.

— Estou falando sério. De certa forma, eu admiro você.

Meu coração ameaça explodir no meu peito. Eu não


esperava que a visita de Caleb impactasse Jax tanto quanto
tem, mas estou grata por Jax ter se conectado com alguém que
luta contra suas próprias lutas dia após dia. Caleb se comporta
com força e positividade, e é algo que acho que Jax pode
aprender com o tempo.

— Bem, uhm, obrigado. — As bochechas de Caleb coram


quando ele olha para sua nova tatuagem.

Jax arrasta sua cadeira para o lado do banco e agarra


minha mão desocupada.

— As tatuagens nos dedos doem mais do que algumas


outras. Aperte minha mão sempre que estiver com dor. Vai
acabar mais cedo do que você imagina.

Minha mente se concentra em seu toque em vez da


sensação de queimação.

— Uau. Como você cobriu todo o seu corpo com isso?

— A dor é apenas temporária. — Jax oferece um sorriso


tenso.

Alan volta ao trabalho. Agarro a mão de Jax como uma


tábua de salvação, concentrando-me em seu polegar esfregando
contra minha pele suavemente. Caleb conversa com Alan
enquanto permaneço hipnotizada por Jax.

Olho em seus olhos, pegando-o olhando para mim.


Lutando contra a vontade de me virar, eu me permito ceder ao
momento. Seus olhos escurecem enquanto vagueiam pelo meu
corpo, demorando-se no meu peito antes de encontrar os meus
novamente.

Ponto para mim por escolher o vestido verde esta noite. O


olhar que ele me manda faz com que o sutiã sem alças valha
ainda mais a pena.

— Porra. Você é realmente algo mais. Bonita, por dentro e


por fora, o que é dolorosamente piegas para dizer. — Ele leva
minha mão ao rosto e pressiona os lábios contra os ossos
frágeis. Meu corpo queima de desejo enquanto me concentro na
minha reação em relação a ele, ao invés da agulha cutucando
minha pele.

Torço meu nariz em falso desgosto.

— Quem diria que você não tinha habilidades para flertar?

— Isso porque ele geralmente não tem que trabalhar para


isso, já que as mulheres caem em seu colo. Dê a ele bastante
trabalho. — Caleb diz sobre o zumbido da agulha.

— A criança sabe quando calar a boca? — Jax murmura


baixinho.

— Não. Comecei a falar com um ano e nunca mais parei.


Minha mãe ameaçou me comprar uma focinheira.

Alan me dá permissão para sair do banco, terminando


meu momento com Jax.

— Eu nunca tive um pedido desse filme antes.

Minha visão fica turva enquanto eu avalio o broche de


tordo cobrindo a cicatriz da noite da morte dos meus pais. Tento
esconder minhas emoções, mas Jax agarra minha mão e avalia
a delicada tatuagem.

— Escolha interessante para uma primeira tatuagem.

— Grande fã da Katniss Everdeen, presumo? — Caleb bate


seu ombro contra o meu.

— Hmm. — Muito pelo contrário. Mas não posso ignorar a


conexão que tenho com a história, visto que é uma das últimas
memórias que tenho do meu pai.

Jax me ajuda a levantar do banco.

— Alguma coisa para você, companheiro? — Alan aponta a


agulha para Jax.

Ele balança a cabeça.

— Não. Estou bem hoje.

Jax ignora meu pedido para pagar pela tatuagem. Ele


cobre as despesas de tudo e nos leva até a saída. Todos
paramos, olhando para a chuva torrencial, sem encontrar nosso
carro à vista.

— Merda. Deixe-me verificar o motorista. — Jax pega seu


celular e volta para dentro, deixando-nos sob o toldo.

— Ei, Caleb, você já dançou na chuva?

Ele balança a cabeça.

— Não.

— Está tudo bem para você ficar na chuva por alguns


minutos?

— Eu gosto do jeito que você pensa. Além disso, eu nunca


digo não a uma dama. — Ele sorri.

Pego sua mão e o arrasto para a tempestade. A chuva bate


contra nossa pele enquanto toco uma música aleatória no meu
telefone. Caleb agarra minha mão e me gira.

É imprudente Caleb se expor assim? Sim.

É digno de seu próprio momento de globo de neve?


Absolutamente.
28

Jax

Não consigo tirar os olhos de Elena, sorrindo, apesar de


seu cabelo molhado grudado em seu rosto. Ela não deveria ser
atraente para mim naquele momento, já que ela se parece mais
com um gato molhado do que com um humano. Caleb e Elena
dançam na chuva, rindo apesar do trovão sacudindo a janela ao
meu lado.

Seu sorriso rouba meu oxigênio. Quero roubá-la para mim


enquanto possuo seus lábios, seus sorrisos e tudo mais.

Elena ri para o céu escuro enquanto Caleb a gira em um


círculo. Eles ignoram tudo ao seu redor enquanto ambos
dançam terrivelmente juntos no meio da tempestade.

Algo em mim se encaixa. Quero mais tempo com Elena.


Mais momentos roubados e beijos intensos. Mais dela lutando
para terminar os quebra-cabeças e eu a ajudando em silêncio.

Ficar longe dela é impossível, não importa o quanto eu


tente. Não apenas por causa de nossa química inegável. É
estúpido negar a atração que tenho por ela, esse cabo de guerra
sem fim entre minha sanidade e meu desejo. Quero ser
diferente... mudar a direção da minha vida por ela.

Acima de tudo, quero ser normal com ela.

Não se trata da nossa atração um pelo outro, mas sim de


algo mais profundo. Algo que eu não posso mais fechar os
olhos.

Quero Elena e cansei de fingir o contrário.

Depois de uma hora me revirando na cama, vou até a


cozinha, querendo um copo de água.

O som leve do piano tocando me conduz em direção à sala


de estar. Mamãe raramente toca piano hoje em dia e eu
adoraria vê-la performando ao lado de papai como quando eu
era criança. Em vez disso, estou surpreso ao encontrar Elena na
sala mal iluminada.

Elena se senta sozinha no banco do piano, de costas para


mim. Eu reconheço “River Flows in You” de Yiruma, mas o som
está desligado.
Elena passa a manga pelo rosto, fungando sobre a música.

Dou um passo hesitante em sua direção.

— Eu não sabia que você tocava piano.

Ela estremece. Fecho a distância entre nós, encontrando


seu telefone descansando no apoio de partitura, tocando a
melodia do YouTube.

— Por que sentar em um piano e não tocar? — Aceno


minha mão para que ela deslize e me dê espaço.

Ela me oferece um sorriso fraco.

— Eu não sei tocar.

Estou tentado a descobrir o motivo de suas lágrimas, mas


escolho contra isso depois que ela desvia o olhar para enxugar o
rosto com a manga do suéter.

— Por que essa música?

— Minha mãe adorava. Ela tocava, mas não conseguiu me


convencer a tentar porque eu queria me concentrar no balé em
vez das aulas da tarde. Eu gostaria de ter, no entanto.

Eu não perco o seu uso do tempo verbal no passado. Em


vez de extrair mais informações dela, faço uma pausa no vídeo.
Corro meus dedos pelas teclas antes de começar a música
novamente.

Seus olhos se expandem.

— Você toca piano?

Concordo.

— Você tem sorte de eu conhecer está. É um clássico.

Elena ajusta seu corpo o suficiente para ter uma visão


minha tocando. Levo um momento para olhar seu rosto
dilacerado pelas lágrimas. Sua tristeza me torna carrancudo.
Quando algumas lágrimas caem pelo seu rosto, volto para as
teclas, oferecendo privacidade.

A melodia nos envolve enquanto toco a música para ela


novamente. Quando chego ao segundo refrão, eu o amplifico,
adicionando mais notas. Meus dedos dançam nas teclas
enquanto Elena me observa.

Eu só performei na frente da mamãe, mas tocar para Elena


é revigorante. Um momento que eu quero manter, não querendo
me separar de animá-la. Para apagar a dor em seu rosto,
mesmo que seja apenas por alguns minutos.

Quando a música termina, ela se move para se levantar,


mas agarro seu pulso.

— Espera. Mais uma.


Ela se senta novamente, parecendo atordoada. Um arrepio
me percorre quando começo a tocar as primeiras notas de uma
música que acho perfeita para ela.

Seu rosto se ilumina quando ela reconhece “Photograph”


de Ed Sheeran.

— Honestamente, não tenho certeza se estou sonhando


agora. Me belisque?

Pauso a música e puxo seu cabelo em vez disso.

— Geralmente apareço em seus sonhos?

— Não. Não estou sonhando. — Suas costas tremem


enquanto ela tenta esconder sua risada.

Concentro-me nas teclas, tocando uma música para ela


que me lembra da esperança que ela me dá. A loucura que ela
desperta em mim para ser melhor, ser mais.

Mais para ela. Mais por mim.

A combinação de nós é mortal, mas imparável. Meu


autocontrole atingiu seu máximo, como um elástico prestes a se
romper.

Elena coloca sua mão sobre a minha depois que termino


de tocar a música.

— Obrigada. — Uma nova lágrima escorre por sua


bochecha.

Eu as odeio. Antes que ela tenha a chance de sair, limpo


as gotas com a outra mão.

— Por que você está chorando e como faço para que você
pare?

Elena me olha com olhos turvos.

— Ouvir você tocar a música que ela amava mexe muito


dentro de mim. A segunda foi um bônus adicional.

— Como o quê? — Minha voz soa rouca.

— Tudo. Felicidade, dor, apreciação. Tanta coisa está


acontecendo na minha cabeça que não consigo entender. Mas
acima de tudo, sinto falta dela.

— Acho que você perdeu sua mãe?

Ela funga.

— Sim. Quando eu tinha doze anos.

— Merda. Sinto muito por ouvir isso. — A ideia de passar a


vida sem minha mãe agora me deixa ansioso. Não consigo me
imaginar crescendo sem uma, para começar.

—Perdi meus pais no mesmo dia. — Ela faz uma pausa,


olhando para as teclas. — Eles foram assassinados. — Ela exala
uma respiração instável.

Agarro sua mão trêmula, agarrando seus dedos como a


tábua de salvação de que ela precisa.

— Porra.

— Eu estava lá. Quando aconteceu.

Puta merda. Eu não sei o que dizer. Tudo em mim dói só


de pensar em uma criança tendo que passar por esse tipo de
trauma.

— Foi a pior noite da minha vida. Eu estava lendo no meu


armário, me escondendo no caso de meus pais me checarem
antes de dormir. Mas então meus pais começaram a gritar e os
tiros aconteceram. E então houve silêncio.

— Você não precisa dizer mais nada.

— Não. Eu preciso. — Ela respira fundo. — Os homens


tentaram me encontrar, mas eu estava escondida atrás de
roupas e caixas. Assim que tive certeza de que eles foram
embora, desci as escadas e os encontrei. — Ela afasta a mão da
minha e cobre o rosto para esconder sua angústia. O soluço que
ela solta destrói meu coração, comigo indefeso enquanto ela
desmorona. Nada do que eu vou dizer pode tirar esse tipo de
dor.

— É por isso que não durmo no escuro. Eu tenho


pesadelos. Em alguns, os homens me encontram e me matam
depois que meus pais morreram. Em outros, meus pais são
baleados na frente dos meus olhos e eu não sou capaz de parar
os homens.

Levanto-me e puxo Elena comigo, segurando-a contra meu


peito, precisando mantê-la perto.

— Vamos eliminar esses pesadelos um de cada vez. Foda-


se tudo e foda-se qualquer um que tentar mexer com você de
novo.

Elena merece alguém na sua vida disposto a protegê-la. A


maneira como ela olha para mim me tenta a ser esse alguém
para ela. Exceto que não sou um herói.

E é isso que me deixa devastado.


29

Elena

Pressiono minhas mãos contra o peito de Jax, querendo


processar suas palavras.

Ele puxa minhas mãos nas dele e as segura contra o peito.


Seu coração dispara sob minhas palmas.

— Desculpe-me por ter sido um idiota com você. Porra,


sinto muito por ter tratado você do jeito que tenho tratado. Tudo
isso. A festa, pressionando você, as coisas ruins que eu disse.
Você merece coisa melhor do que eu te dei.

— Não quero que alguém se importe comigo por causa da


minha história de vida. — Tento me afastar dele, mas ele me
segura.

— Não é por causa da sua história. É por causa de quem


você é apesar dessa história.

Suas palavras agarram meu coração e me mantêm no


lugar. Não sei o que dizer ou como me sentir sobre a mudança
em sua personalidade. Compartilhar minha história não era
para fazê-lo sentir pena de mim. Com toda a honestidade, não
tenho ideia do que me deu para compartilhar essa parte
sombria de mim mesma com ele em primeiro lugar.

Mas eu fiz. Eu queria que ele visse meu verdadeiro eu. Não
a versão montada de mim mesma que todo mundo vê, mas
quem eu sou quando tudo o que é insignificante e temporário é
arrancado.

— Dê-me uma chance de fazer isso certo. — Seus dedos


calejados roçam minha bochecha.

Eu só posso acenar em concordância.

Ele inclina a cabeça, roçando os lábios nos meus.

Meus lábios formigam onde ele hesitantemente toca. Uma


explosão de energia se espalha pelo meu estômago, mas eu
afasto minha cabeça para olhar em seus olhos.

— Quer arriscar tudo? De verdade?

— Eu estou arriscando nada por tudo. É diferente.

Bem, como posso responder a isso?

Jax me salva, pressionando seus lábios nos meus. O calor


vindo do meu estômago se espalha pelo meu corpo enquanto ele
traça a costura da minha boca com a língua. A mesma língua
que se apropria de mim, consumindo todas as minhas dúvidas
sobre nossa conexão.

Uma de suas mãos envolve minha cintura enquanto a


outra agarra minha nuca. Nossa respiração se torna irregular
enquanto nosso beijo fica desesperado, com os dentes se
arranhando em nossa pressa.

Sua mão desce para a minha bunda antes dele me puxar


contra si. Gemo em sua boca quando sua ereção pressiona em
meu estômago. Ele morde meu lábio inferior antes de se afastar.

— Eu te quero tanto, não sei por onde começar.

Meus dedos percorrem seu peito, provocando o menor


estrondo de seu peito.

— Eu tenho uma ideia. — Sussurro antes de agarrar sua


nuca e puxá-lo em direção aos meus lábios. Nossos lábios
colidem enquanto derrubo a última barreira mental entre nós.

O desejo cresce dentro de mim enquanto nos beijamos até


o ponto de privação de oxigênio. Jax geme enquanto ele afasta
seus lábios, lançando sua língua através da carne inchada. Ele
agarra minha mão e pega meu telefone do suporte do piano
antes de me arrastar pelos corredores e subir as escadas em
direção ao seu quarto.

Permaneço em silêncio até que ele feche a porta do quarto.


— Então é isso.

Ele me abre um sorriso perverso que liquida minhas


entranhas.

— Não. Isso está apenas começando.

Volto para a cama enquanto ele coloca meu telefone na


cômoda. Ele caminha lentamente em minha direção, rondando
como um predador, com seu olhar me queimando de dentro
para fora. A fraca iluminação que espreita pela janela nos
oferece alguma orientação.

Ele agarra a barra do meu suéter antes de puxá-lo,


revelando meu sutiã de algodão. Como em “SexyBack” de Justin
Timberlake.

Os olhos de Jax permanecem no meu peito. Tento cruzar


os braços, mas ele os tira do caminho. Ele desabotoa o sutiã e o
joga por cima do ombro.

— Foda-se essa timidez. Você é linda. — Seus dedos


agarram o cós da minha legging e a puxam para baixo
lentamente, fazendo-me estremecer enquanto seus dedos
quentes percorrem minha pele.

Fico apenas com minha calcinha com pequenas bolinhas.


Antes que eu tenha a chance de comentar, Jax me levanta e
coloca minha bunda na cama. Ele separa minhas pernas e fica
entre elas.

Jax me beija preguiçosamente enquanto seus dedos roçam


o interior das minhas coxas. Ele segura a área que implora por
sua atenção.

Agarro seus ombros enquanto ele empurra o algodão para


o lado. Seu dedo traça minha fenda antes de pressionar contra
meu clitóris, meu corpo sacudindo com seu toque. Um gemido
me escapa enquanto ele espalha minha excitação.

— Você é uma coisinha responsiva para mim, não é? —


Seus olhos brilham enquanto ele continua sua lenta tortura no
meu feixe de nervos.

Ele insere um dedo em mim enquanto seus lábios


encontram o oco do meu pescoço.

— Eu me pergunto que barulho você vai fazer quando eu


te foder com minha língua. Você vai gemer? Gritar? Ou é do tipo
silenciosa que ainda não experimentou um orgasmo
avassalador?

— Avassalador? — Rio em seu peito.

Minha provocação não é bem aceita. Ele me empurra para


baixo no colchão, o calor de seu corpo me aquecendo em todos
os lugares. — É melhor que seja a última vez que você ri
quando estou fodendo você com o dedo. — Seu polegar aplica
mais pressão no meu clitóris enquanto ele rouba meu suspiro
com seus lábios.

Seus lábios fazem uma jornada dos meus lábios ao meu


mamilo. Ele puxa com força. A dor irradia antes do prazer
tomar conta, com Jax lambendo a área que ele roçou. Seus
dedos bombeiam em mim em uníssono.

Minhas costas arqueiam para fora do colchão enquanto ele


chupa a pele sensível ao redor do meu seio. Ele leva seu tempo
em um ponto antes de seguir em frente, sua habilidade e
atenção trazendo outra onda de prazer.

Marcas vermelhas florescem onde quer que seus lábios


permaneçam. Fico mais impaciente enquanto Jax lentamente
bombeia em mim, não me empurrando ao longo da borda.

— Você vai cumprir sua promessa ou vai continuar a nos


torturar? — Minhas palavras sem fôlego preenchem o silêncio.

— Torturar você é meu passatempo favorito. — Ele sorri


para mim.

— Não é engraçado.

— Mas eu prometo, no quarto, será apenas o melhor tipo


de tortura.

Meu coração dispara com a ideia, batendo mais rápido


enquanto Jax se move para longe do meu peito. Ele deixa um
caminho de beijos na minha barriga. O som de seus joelhos
batendo no chão de madeira me excita.

Ele puxa minha calcinha para baixo antes de substituir


seus dedos por sua língua.

Sua maldita língua. A mesma coisa que faz meus dedos do


pé se enrolarem na lateral da cama. Sua boca devora meu lugar
mais privado, deixando-me sem fôlego e carente de ansiedade.
Alguns gemidos desesperados escapam da minha boca. É um
som desconhecido para meus próprios ouvidos.

Jax enfia dois dedos em mim ao mesmo tempo em que


chupa meu clitóris. A galáxia explode atrás de minhas
pálpebras. Um calor cegante corre pela minha espinha antes de
se espalhar por todo o meu estômago.

Sua língua traça uma linha do meu centro até o interior da


minha coxa enquanto desço do meu orgasmo. Meu corpo treme
antes de seus lábios sugarem a pele de lá, deixando chupões
onde ninguém pode ver. Marcando-me apenas para seus olhos.
Como se ele precisasse provar a ninguém além de si mesmo que
ele me tinha.

Jax tira tudo de mim. Cada suspiro, cada gemido, cada


maldito nervo disparando em seu tormento. Ele se levanta de
seu lugar no chão enquanto lambe os lábios. É erótico, com
seus olhos capturando os meus.
Sento-me, agarro a bainha de sua camiseta e arrasto sobre
sua cabeça. Meus dedos traçam sobre a variedade de tatuagens
que cobrem seu peito, desejando que eu pudesse vê-las melhor.
Seus olhos se fecham enquanto meus dedos pairam sobre uma
carta do rei de copas perto de seu ombro. Em vez de um rei
animado, um esqueleto toma seu lugar ao lado de um coração
partido. Algo dentro de mim quebra com a minha interpretação
de sua tatuagem.

Ele é um homem perdido que se condenou à prisão


perpétua em solitária. Alguém com poucas esperanças para o
futuro, apesar do sucesso que teve até agora na vida. Alguém
que precisa ver o que está perdendo se continuar em seu
caminho destrutivo.

Quero mostrar a Jax como me importo com ele. Ele pode


se sentir indigno de afeto e de alguém em sua vida, mas
pretendo tornar minha missão prová-lo de maneira diferente.

Eu o puxo para o meu corpo e nossos lábios se chocam.


Meus dedos encontram seu cabelo, puxando os fios macios. Ele
empurra sobre mim e eu caio para trás, levando-o comigo sem
perdermos o beijo.

Pressiono em sua ereção com meus quadris, iniciando-o a


rolar, me dando a posição de poder. Ele solta um bufo enquanto
me afasto.
— Vá em direção à cabeceira da cama e segure na
estrutura. — Aponto para a lacuna na cabeceira da cama de
ferro.

— Você não deveria estar me dando ordens.

Reviro meus olhos.

— Isso é tudo que fiz nesta temporada até agora.

— As coisas vão mudar. — Seus olhos ardem de excitação.

— Eu certamente espero que sim. — Sorrio para ele


timidamente, esperando que suas palavras se apliquem a todas
as áreas de sua vida.

Ele segue minha liderança, sentando-se contra a cabeceira


da cama e agarrando-se à estrutura. A visão de seu corpo
tatuado à minha mercê me fez explodir de excitação.

Seus dentes puxam seu lábio inferior enquanto rastejo até


ele. Agarro as laterais da sua calça de moletom, e com ele
levantando seu corpo, eu a puxo.

— Merda.

Jax ri.

— É melhor que seja uma merda boa.

Engulo de volta minha preocupação com o tamanho dele.


— Sim. — Corro um dedo hesitante em seu comprimento.
Seu pau pulsa enquanto traço uma veia antes de limpar a gota
de pré-sêmen em sua ponta.

— Porra. — Ele joga a cabeça para trás.

Sorrio antes de afundar meu corpo no colchão entre suas


pernas abertas. Minha língua substitui meus dedos, traçando
linhas em seu eixo.

A respiração de Jax fica mais pesada, me encorajando a


continuar. Meus lábios envolvem a cabeça de seu pau. Ele solta
um gemido enquanto alterno entre chupar e brincar com minha
língua. Seu corpo fica rígido enquanto continuo a provocá-lo até
a beira do prazer, antes de voltar a lambê-lo lentamente.

— Quanto mais você joga, mais eu vou atrasar seu


orgasmo quando eu estiver profundamente dentro de sua boceta
gananciosa.

O calor líquido estoura na minha barriga. Aperto minhas


pernas juntas para aliviar a dor, mas falho miseravelmente.
Meus lábios envolvem sua ponta novamente antes de eu ser
arrancada e jogada nas minhas costas.

Uma lufada de ar escapa dos meus pulmões enquanto tiro


o cabelo do rosto.

— Sério?
— É isso por hoje. Se eu vou gozar, é melhor que seja pela
sua boceta me agarrando. — Jax sai da cama e pega um pacote
de papel alumínio de sua mesa de cabeceira.

— Um preservativo na sua mesa de cabeceira? O que você


é, um pré-adolescente que espera se dar bem na casa dos pais
dele?

— Mais como um jovem vigoroso de 26 anos que sabia que


te colocaria na minha cama. — Jax faz um trabalho rápido com
o preservativo.

Quem diria que eu teria uma queda por homens


arrogantes?

Ele agarra minhas coxas e me arrasta em direção à borda


do colchão.

Minha espinha formiga em antecipação.

— O que aconteceu com o estilo cachorrinho ser sua


posição favorita?

Ele esfrega a ponta na minha fenda, me preparando.

— Sempre há uma próxima vez.

Uma próxima vez. Porque ele quer fazer isso de novo. Uma
declaração tão simples fez meu coração apertar no meu peito.

Ele levanta minhas pernas e as coloca sobre seus ombros.


Em um movimento rápido, ele entra em mim. Um silvo escapa
da minha boca com a intrusão repentina. Nenhum aviso. Sem
beijos doces. Nada além de puro domínio enquanto seus dedos
agarram meus quadris deixando marcas para trás.

Droga, eu gosto disso. Gosto da maneira como seus olhos


se fecham – uma imagem de felicidade e outra coisa que não
consigo traduzir. Ele abre os olhos, permanecendo enraizado em
seu lugar enquanto olha profundamente nos meus como se
pudesse me ler.

Uma onda de emoção toma conta. Levanto-me nos


cotovelos para dar um beijo suave em seus lábios.

— Você está bem?

— Sim. Estou um pouco sobrecarregado.

Não pergunto por que e ele não se explica. Jax se inclina


para deixar um rastro de beijos do meu queixo ao pescoço. Ele
se move novamente. Seus movimentos ficam mais erráticos
conforme combino suas estocadas.

Eu amo a sensação dele. A plenitude, a força, o zumbido


crescente dentro do meu corpo.

Seus dedos levantam minha bunda da cama enquanto ele


ajusta seu ângulo, me atingindo de uma forma que rouba meu
fôlego com um impulso de cada vez. O calor se espalhando pela
minha espinha fica mais forte conforme meu orgasmo toma
conta de minha mente e corpo.

Minha explosão encoraja Jax, que fica desesperado


enquanto seus dedos agarram minhas nádegas a ponto de doer.
Agarro o edredom para manter minha posição enquanto ele
continua a bater em mim.

Seu pau roça no meu ponto G mais uma vez, provocando


outra experiência fora do corpo para mim.

— Porra! — O corpo de Jax estremece enquanto seus


quadris continuam bombeando em mim. Seu ritmo diminui
enquanto ele se recompõe. Ele remove minhas pernas de seus
ombros antes de seu corpo desabar em cima do meu, colocando
sua cabeça em meu pescoço.

— Elena... o que diabos eu vou fazer com você? — Ele


planta o beijo mais suave na minha pulsação acelerada.

— Tenho certeza de que podemos ser criativos.

Ele solta uma risada áspera – uma que enche meu coração
com um calor que quero prender ali. Quero tirar dele todos os
dias, até que se sinta confortável com a felicidade e o otimismo.

Uma que eu não me importaria de ser o motivo de todos os


dias.
30

Jax

Tudo mudou ontem. Eu não esperava destruir nenhuma


última fronteira entre Elena e eu. Mas com seus olhos tristes e
passado traumatizante, não pude evitar o desejo de acertar as
coisas entre nós. Ser alguém com quem ela pode contar em um
mundo que tirou quase tudo dela, e reparar a merda que fiz.

Em algum momento no meio da noite ela escapou do meu


quarto, deixando-me acordar em uma cama vazia com o cheiro
dela e de nós.

A incerteza toma conta de mim, deixando-me ansioso para


encontrá-la. O pensamento dela se segurando novamente e me
evitando não me cai bem depois do que compartilhamos.

E, foda-se, nós compartilhamos. Viciado não começa a


cobrir o que sinto por ela. Se a noite passada foi alguma
indicação de como pode ser entre nós, quero dar um soco no
velho eu por me conter por tanto tempo.

Caminho para o centro da casa onde sua suíte de


hóspedes está localizada e bato na porta.

— Elena, abra.

A porta se abre para uma Elena grogue com seu cabelo


ondulado que lembra algo saído de um videoclipe dos anos
oitenta. Fico olhando para suas coxas mal escondidas por sua
grande camiseta. Hematomas arroxeados espreitam arrancando
um sorriso de mim. Eu adoraria virá-la, levantar a bainha de
sua camisa e ver se sua bunda tem minhas marcas de
impressão digital. Posso ter sido um pouco duro, mas não
consegui me conter. Depois de ignorar minha atração por ela
por meses, foi difícil controlar meu desejo, e seu corpo recebeu
o peso disso.

Ela esfrega os olhos.

— E aí? Estou cochilando.

— Às 9 da manhã? Quem é você e o que fez com a


verdadeira Elena?

— Você me manteve acordada a maior parte da noite. O


que você esperava? — Ela boceja, franzindo o rosto de uma
forma fofa.

— Esperava você ficando até de manhã, para começar. —


Minha voz carrega mais mordida do que o pretendido.

— Eu não queria que seus pais me pegassem no seu


quarto.

— Eles não visitam meu quarto desde que eu era


adolescente, lembra? Em vez disso, usam o interfone.

Ela aperta os olhos.

— Oh.

— Certo. Oh. Então, seu quarto ou meu?

— O quê? — Ela cruza os braços, escondendo mal os


mamilos endurecidos. Que vergonha.

— O tempo está se esgotando. Decida.

Ela abre mais a porta, me dando espaço para entrar.

— Boa escolha. — Eu a levanto e a jogo no colchão. O grito


que ela solta coloca um sorriso no meu rosto.

— O que você está fazendo? — Ela ri.

Rastejo para a cama, colocando nós dois sob as cobertas.

— Silêncio. Você me manteve acordado a maior parte da


noite. Preciso do meu sono de beleza. — Puxo seu corpo para o
meu e ela coloca a cabeça no meu peito.

— Jax...

— Sim. — Envolvo seu cabelo em volta do meu punho para


manter sua cabeça no lugar. O cheiro de morangos me acalma
enquanto ignoro minha ereção crescendo com a proximidade de
Elena.

— O que acontece agora?

— Nós tentamos.

É a única resposta que posso dar a ela, mas é boa o


suficiente para mim.

Ela precisa se perguntar se ela pode lidar com algo comigo.


Eu não sou um filho da puta altruísta. Eu pego e pego até que
não haja mais nada a oferecer.

Mas com Elena, estou disposto a compartilhar. O bom, o


mau e o sem esperança.

— A que devo o prazer do seu telefonema? — Connor


atende seu telefone após dois toques.

Deito na minha cama, olhando para o teto abobadado.

— Além de dar os parabéns ao homem que conseguiu


ontem um patrocínio de cem milhões de dólares? Você esteve
ocupado nestas férias de verão.

Connor ri.

— Enquanto você estava ocupado sem fazer nada, eu


estive trabalhando.

— Ei, vale a pena fazer uma pausa de vez em quando.

— Eu sei. Você parece melhor. Mais relaxado.

Eu tusso.

— Certo. Eu queria compartilhar algo com você.

— Continue. — Alguns papéis farfalharam ao fundo.

— Então, você não disse abertamente que Elena não


poderia estar em um relacionamento comigo, mas eu...

— Vocês estão namorando agora?

— Bem, estamos... explorando nossas opções. Mas eu


queria te dizer antes que um repórter tire uma foto nossa ou
algo assim.

— Você não precisa da minha bênção. Mas devo avisá-lo


para...

— Não partir o coração dela?

Ele zomba.
— Não. Não sou tão previsível. Eu ia avisar você para se
cuidar. Você está em um lugar vulnerável e me preocupo que
você tenha dificuldades em um relacionamento depois de
recentemente encontrar seu equilíbrio.

— Eu posso cuidar de mim mesmo.

— Desculpe-me, eu não acredito inteiramente em você.


Não quero que você perca a única pessoa que tem apoiado você
durante todo o processo.

— Não vou perdê-la porque quero experimentar coisas com


ela.

— Anal não é o caminho para o coração de uma garota,


não importa o que elas digam a você.

Cerro meus dentes para suprimir minha frustração.

— Estou falando sério. Quero tentar ser melhor do que


tenho sido – por ela e por mim. E não por causa do sexo.

Connor faz uma pausa.

— Relacionamentos sérios dão trabalho. Você não pode


desistir a qualquer momento, quando as coisas ficam difíceis.

— Puxa. Não me diga. Eu recebo conselhos de amor


suficientes da minha mãe, cara.
— Se você está procurando minha bênção...

— Eu não estou. Quero ter certeza de que nada de ruim


acontecerá a ela se viermos a público.

Ele ri.

— Se você está me pedindo para não despedir Elena, eu


não o farei. Contanto que vocês dois ajam como adultos
profissionais com tudo relacionado a McCoy, vou fechar os
olhos.

— E vou manter o trabalho e o lazer separados.

— Por que tenho a sensação de que vou me arrepender


disso? — Connor suspira.

— Você e eu. Mas, dane-se, o caminho para o inferno não é


asfaltado para as maiores aventuras.
31

Jax

— Então, Jax. Diga-me como você está. — Tom me dá toda


a atenção, apesar de falarmos por meio de um laptop.

Tom me deu uma semana de folga de nossas sessões antes


de agendarmos check-ins semanais via internet durante as
férias de verão. Ele se ofereceu para alugar um escritório
temporário aqui, mas recusei depois que ele mencionou que sua
família nos Estados Unidos queria vê-lo. Posso ser um idiota
egoísta, mas não sou tão mesquinho.

— Tudo certo. Como está sua família?

— Bem. Eles estão felizes por eu poder fazer uma visita


rápida. E quanto a sua? — Os olhos de Tom refletem a bondade
que ele constantemente exala.

— Melhor agora que tive a oportunidade de visitar. Ver


mamãe feliz melhora minhas semanas.

— Você parece mais feliz também. É um alívio ver como ela


está se saindo com seus próprios olhos, em vez de ouvir sobre
isso pelo telefone?

— Sim. — E não faz mal ter Elena na minha cama


também.

— Como você está lidando com todas as mudanças? Sei


que a F1 significa muito para você, então me pergunto como o
intervalo afeta sua vida cotidiana?

— Eu não pensei muito nisso. Além de Caleb vir me visitar


na semana passada e querer aprender tudo relacionado a
McCoy, estou bem. Na verdade, estou muito feliz e não estou
nem um pouco estressado.

Não tenho muita certeza se a mudança é por causa da


positividade que irradia de Elena, minha visita ao lar ou minha
transição para um remédio para ansiedade mais confiável.

As sobrancelhas de Tom se erguem.

— Isso é ótimo. Merda, fantástico, honestamente.

Passo a mão pelo meu cabelo.

— Sim. Na verdade, vou levar Elena hoje para visitar


Londres e ver algumas coisas turísticas. A última semana foi
meio ocupada para nós e não exploramos muito.

— Acho que as coisas estão funcionando melhor do que


você esperava com ela visitando sua família?
— Bem, eu poderia passar sem que minha mãe se
apegasse a ela. Mas, além disso, as coisas estão... — faço uma
pausa, me perguntando o quanto devo contar a Tom.

Ele se senta em silêncio, me dando a escolha.

Derroto meu medo de me abrir e vou em frente.

— As coisas estão ótimas. Encontramos um ritmo um com


o outro. — Tanto dentro como fora do quarto, mas Tom não
precisa saber esses tipos de detalhes.

— Ela sabe sobre a condição de sua mãe?

— Sim.

— E ela sabe sobre o seu lado da história?

— Infelizmente, sim. Posso muito bem ser honesto, visto


que ela pode pesquisar informações sobre isso no Google e
descobrir de qualquer maneira.

Se Tom está surpreso, ele esconde bem.

— Você se abriu com ela. Isso é um grande negócio vindo


de você. Você deve se orgulhar de quão longe você avançou nos
últimos meses.

— Tenho certeza que ela é um grande motivo para isso.

— Você já pensou sobre o teste?


Sim.

— Não.

— Você acha que não saber pode impactar o


desenvolvimento de algo sério com Elena?

Sim.

— Não.

Tom acena com a cabeça.

— Bem, se você quiser fazer o teste, estou aqui para


orientá-lo nesse processo.

E como se nunca tivesse falado sobre isso agora, Tom


continua fazendo outras perguntas, incluindo o que planejei
para Elena hoje.

Estou grato pela transição. Tenho pensado em testes


genéticos mais vezes esta semana do que nos últimos anos.
Com mamãe lutando e Elena desafiando minhas crenças, estou
tentado a potencialmente mandar minha sanidade mental para
a merda. A ideia de saber sobre meu futuro tem o mesmo
fascínio que Elena – inevitavelmente destrutiva.
— Ninguém deveria estar tão animado para ver as Casas
do Parlamento. — Cutuco as costelas de Elena com meu
cotovelo.

Ela me lança um sorriso deslumbrante enquanto tira uma


foto.

— É o Big Ben.

— Posso mostrar o que mais é grande.

Ela cobre a boca para abafar a risada.

— Ay Dios. Ayúdame y dame paciencia35.

— Esquisito. Você me confundiu com Deus na noite


passada também.

Elena se inclina, o riso borbulhando fora dela


incontrolavelmente.

— Pare. — Ela bate nas minhas mãos enquanto belisco


seus lados. — Eu não posso lidar com essa versão de você.

— Do tipo legal? Você quer que eu volte a ser travesso?

Ela se endireita e sorri para mim.

— A felicidade fica bem em você.

— Você sabe o que mais parece bem?

35 Ai Deus. Me ajude e me dê paciência.


Seus olhos rolam sem esforço.

— Você. Você parece bem. — Beijo o topo de sua cabeça.

Elena passa a mão em seu vestido rosa claro. Um rubor


natural rasteja em suas bochechas, contrastando com sua pele
dourada.

Coloco um beijo em cada uma de suas bochechas,


arrancando um suspiro dela.

— Eu pensei que você sendo mal seria a minha morte, mas


mudei de ideia. Você ser atencioso e doce é absolutamente
assustador.

— Oh, amor. Se ao menos os pesadelos das pessoas


parecessem tão bons assim. — Giro nos saltos das minhas
botas.

Sua risada dispara direto pelo meu coração, me atingindo


com a melhor sensação. Um no qual eu sei que ficarei viciado,
apesar de temer que seja apenas temporário

Passamos a maior parte do final da tarde visitando todos


os pontos turísticos de Londres. Elena me convida para a hora
do chá e eu a deixo pagar porque a gratidão parece importante
para ela.

Percebo que gosto do tempo longe do circuito da F1. A


ansiedade que geralmente me corrói não está marcando
presença durante as férias de verão. Acho a experiência
bastante revigorante. Pela primeira vez, estou hesitante em
voltar à corrida. Essa incerteza incomum me faz pensar se estou
me divertindo o suficiente com a corrida para sacrificar os bons
anos que minha mãe ainda tem.

Elena empurra seu telefone na minha mão, me levando a


deixar meu dilema interior para outra hora.

Ela se afasta, deixando-me para trás ao entrar em uma


cabine telefônica.

— Você poderia tirar uma foto minha? Quero mandar para


o Elías.

Elena posa como uma influenciadora. Tiro algumas fotos


dela assim antes de fazer uma piada. A foto que tiro dela rindo é
a minha favorita e, como um idiota, mando para mim mesmo
antes que ela tenha a chance de pegar o telefone de volta.

— Algum outro desejo antes de voltarmos para a casa dos


meus pais?
— Podemos entrar nisso? — Ela aponta para a London
Eye: a atração turística suprema e uma monstruosidade.

Penso em um plano mais rápido do que o sangue no meu


cérebro pode se deslocar para o meu pau. Veja, eu posso estar
agindo mais como um cavalheiro, mas não tenho muito de um
cavalheiro.

— Certo. Vamos esperar a noite. Vai ser melhor... eu juro.


— Eu nos conduzo em direção a um pub local. Sentamos no
canto, longe de olhares curiosos, com minhas costas voltadas
para o bar.

Esses momentos me fazem odiar ser uma celebridade. Só


hoje, vinte pessoas pediram meu autógrafo. A atenção me
sufoca às vezes, especialmente quando quero me misturar como
um idiota normal levando minha garota para passear na cidade.

Merda. A minha garota? Droga.

Os olhos de nossa garçonete passam por mim antes de


brilharem com o reconhecimento. Ela finge o contrário
enquanto pergunta nossos pedidos de bebidas. Obrigado porra.

O nariz de Elena torce enquanto seus olhos examinam o


menu.

— O que eu peço?

A simples confiança que ela me oferece me enche de um


sentimento de orgulho ao qual não estou acostumado.

— Duas canecas de Guinness36, por favor. — Sorrio para a


garçonete. Ela sai antes de voltar com as bebidas.

Elena me dá carta branca para pedir nossa comida


também, então peço dois pedidos de peixe com batatas fritas.
Sua reação ao primeiro gole de sua bebida quase me fez cuspir
a minha.

— Isso é nojento. — Ela tosse antes de beber água do copo.

— Você disse a mesma coisa sobre engolir minha porra da


primeira vez. Veja o quão longe você chegou.

O olhar que ela me manda me faz jogar minha cabeça para


trás e rir.

— Você pode voltar a ser menos agradável?

— Você gosta de mim? Você realmente gosta mesmo de


mim? — Bato meus cílios.

Ela joga um guardanapo amassado em mim.

— Não. De modo nenhum.

— Aposto que você gostou de mim ontem à noite quando


eu estava entre...

36 Guinness é uma marca cerveja irlandesa.


— Dois pedidos de peixe com batatas fritas! — Nossa
garçonete enrubesce ao deixar a comida.

— Isso vai acabar no Twitter. Muito obrigada. — Elena


coloca uma batata na boca.

— Isso te incomodaria?

— O quê?

— Se de alguma forma acabássemos em um site de rede


social?

Ela come mais algumas batatas fritas, sem dúvida


ganhando tempo para pensar.

— Eu não sei, para ser honesta. O pensamento me


assusta porque sou uma pessoa muito reservada.

— E eu não sou. — Digo isso com mais veneno do que


pretendia. Não é dirigido a ela, mas sim à minha situação. Fama
não é nada do que parece. Ao contrário de Liam e Noah, eu não
me importaria de desaparecer de tudo.

— Não é inteiramente sua culpa, mas você não pode evitar


a fama ligada ao seu nome e trabalho. Eu prefiro ficar nos
bastidores.

— Eu também não gosto. A fama e a constante decepção


me seguindo se eu estragar tudo.
Elena franze a testa.

— Tenho certeza que não. E também, tenho medo do que


os outros profissionais de RP pensariam de mim. Eles podem
presumir que estou dormindo para progredir e conseguir mais
clientes.

— Foda-se eles. Quem se importa com o que as pessoas


aleatórias têm a dizer sobre nós?

Ela levanta uma sobrancelha.

— Existe um nós?

Sim, Jax, ótimo caminho a percorrer. Boa sorte navegando


neste.

— Eu sei que não deveria haver.

Seus olhos caem para o colo.

— Certo.

A maneira como meu peito dói ao ver sua dor é


perturbadora pra caralho.

Aperto sua mão, mantendo-a como refém.

— Mas eu quero mais com você. Para passar mais tempo


juntos e para que possamos nos conhecer em um nível mais
profundo.
— Já passamos meses juntos. Honestamente, eu poderia
ter vivido sem saber que você bebe suco de laranja depois de
escovar os dentes. Esse é basicamente o oitavo pecado mortal.

Sorrio enquanto balanço minha cabeça.

— Eu quero saber tudo sobre você.

— Você realmente não quer.

— Eu nunca estarei satisfeito até que eu saiba todos os


segredos obscuros que se passam dentro da sua linda mente.

— Eu pensei que eu estava vazia como minhas bonecas?

— Por favor, amor. A única coisa vazia em toda a nossa


troca foram minhas palavras. E eu me arrependo delas.

Ela revira os olhos.

Aperto sua mão com mais força.

— Mas eu sinto muito. Sério, sinto muito por cada coisa de


merda que eu disse. Vou compensar você a tempo. Com minhas
palavras, com minhas ações e, definitivamente, com minha
língua...

— Pare! Ok, você está perdoado. — Um rubor sobe do


pescoço às bochechas.

Coloco uma batata em minha boca e sorrio.


Depois do jantar e de algumas bebidas, Elena e eu
caminhamos em direção à London Eye iluminada. Passo da
linha com Elena no reboque. Ela levanta uma sobrancelha para
mim quando o segurança nos deixa passar sem nenhum
problema, nem mesmo pedindo qualquer identificação.

O atendente na área de carregamento me olha com os


olhos arregalados.

— Merda! Jax Kingston!

Outro trabalhador sorri para mim e pede meu autógrafo.

— Certo. Entregarei o que você quiser assinado. Presumo


que você tenha uma caneta ou algo assim?

Os dois caras acenam com a cabeça e me passam seus


chapéus de trabalho. Eles me perguntam sobre esta temporada
e como estão torcendo para que eu ganhe o Grande Prêmio da
Inglaterra em algumas semanas.

O lembrete me enche de pavor. Não quero que meu


intervalo com Elena seja interrompido. As coisas entre nós estão
começando a parecer certas. Banindo esses pensamentos,
sussurro algo para o trabalhador, pego a mão de Elena e
caminho para a próxima cápsula. Uma cápsula
convenientemente vazia de acordo com meu pedido de última
hora ao fã.

Ela ri para si mesma enquanto caminha para as barras de


segurança.

— O quê? — Eu ando até ela, pressionando seu corpo


contra o metal.

— O cara deu um jeito para garantir uma viagem


particular para você.

— Muito mais divertido para nós.

Ela levanta uma sobrancelha para mim antes de se


inclinar no vidro. Pressiono minha frente contra suas costas
enquanto corro a mão em sua coxa. O fato de ela usar um
vestido é um bônus adicional, dando-me acesso ao que estive
desejando o dia todo.

— O que você está fazendo? — Ela sussurra, embora


ninguém mais esteja na cápsula conosco.

— O que você acha? — Empurro seu cabelo para o outro


lado do pescoço, permitindo espaço para meus beijos. Traço o
chupão de ontem com a minha língua antes de chupar a pele
sensível novamente.
Elena geme, empurrando sua bunda no meu pau.

— Pare. As pessoas podem ver.

— Quem?

Elena olha para as outras cápsulas em nossa linha de


visão. Os caras que pediram meu autógrafo nos colocaram com
uma cápsula vazia atrás de nós. As pessoas que chegaram
antes de nós estão observando o horizonte de Londres com
pouco interesse no que estamos fazendo.

— Há pessoas bem ali. — Elena aponta para a cápsula


ocupada.

Levanto a bainha de seu vestido para que sua bunda nua


pressione contra meu jeans.

— Quem dá a mínima? Ruim para eles porque eu tenho a


melhor vista.

Uma das minhas mãos serpenteia ao redor dela para


mantê-la no lugar. Removo rapidamente sua calcinha e coloco-a
no bolso do meu jeans. — Vire-se.

— Mas e a câmera? — Ela aponta para o canto da capsula.

— Lembra do meu novo fã favorito lá embaixo? Enfatizei a


necessidade de privacidade, incluindo câmeras.
— Você sempre consegue o que quer?

Sorrio.

— Basicamente. Agora vire-se.

Ela hesitantemente se vira para mim.

— Sente-se na grade.

Sua cabeça vira em direção às pessoas na outra cápsula.

— Meu Deus. Eu não posso acreditar em você.

— Não vou pedir de novo. Sente-se na grade como a boa


menina que ambos sabemos que você gosta de ser.

Ela cora ao se sentar no metal frio. Suas costas estão


voltadas para nossos vizinhos, e a bainha longa de seu vestido
os impede de me ver cair de joelhos na frente dela.

Elena segue meu comando silencioso e coloca suas pernas


sobre meus ombros, dando-me acesso total a ela. Seus olhos se
fecham quando separo suas dobras e afundo minha língua nela.

Porra. Eu amo tanto o gosto dela quanto a forma como ela


reage ao meu toque. O gemido que ela solta faz meu pau latejar
no meu jeans. Eu a fodo com minha língua, provocando-a até a
beira do prazer.

Seus dedos necessitados agarram meu cabelo e me puxam


para mais perto. Eu chupo seu clitóris, puxando um suspiro
suave dela que eu não me importaria de ouvir todos os dias.

Todo dia.

Droga.

A ansiedade sobe pela minha espinha antes que eu tenha


a chance de desligá-la. Não quero me preocupar e me sentir
culpado pelo futuro. Mas é difícil ignorar como Elena me faz
pensar sobre os e se, e só isso é arriscado.

Esqueço minha confusão em seu corpo, fodendo-a


implacavelmente com minha língua antes que seu orgasmo a
rasgue. Suas pernas tremem contra meus ombros enquanto ela
tenta se recompor.

Mas, como eu, não quero que ela se recomponha. Eu a


quero desesperada por mais. Para que ela silenciosamente
entenda minha necessidade de dominá-la – ter alguma
aparência de controle sobre a espiral que nossas vidas estão se
tornando juntas.

Fico de pé. Elena se move para sair da grade, mas eu


balanço minha cabeça.

— Fique. — Desabotoo meu jeans e empurro para baixo o


suficiente para liberar meu pau. Bombeio algumas vezes,
amando como seus olhos focam em mim. Tudo de mim.
Elena vira a cabeça para checar nossos vizinhos. O grupo
de turistas está apaixonado pelo Big Ben e todas as atrações de
Londres.

— Eles não dão a mínima para o que está acontecendo


aqui. — Pego um preservativo da minha carteira e o coloco.
Elena suspira quando esfrego a cabeça do meu pau contra sua
abertura.

— Isso é o que você faz comigo. — Afasto suas pernas,


fazendo-a espalhar mais para mim. — Você me deixa
desesperado por mais.

Nós dois gememos quando eu a penetro com um impulso.


Balanço para trás para bater nela novamente, apoiando minha
palma contra o vidro ao lado de sua cabeça.

— Oh, uau. — Elena suspira enquanto agarra meus


ombros para alavancar.

Meu ritmo aumenta à medida que nossa cápsula continua


sua ascensão ao topo. Quando chegamos ao ponto mais alto,
um fio de suor escorre pelas minhas costas. A conexão que
tenho com Elena continua a crescer enquanto a bombeio como
um homem que está a um momento de perder o controle.

Elena segura minha cabeça entre as mãos e me beija.


Ainda estou dentro dela, sentindo a energia mudando ao nosso
redor. Está carregando, crescendo em algo insondável. Seus
beijos dizem tudo o que as palavras não podem. Ela exige
minha atenção enquanto seus dentes afundam no meu lábio
inferior.

Eu a beijo enquanto a fodo, me movendo mais rápido e


desleixado. Elena bane meus pensamentos negativos com seus
beijos eróticos, envolto em confiança e salvação.

Um desejo cresce dentro de mim para ser tudo o que Elena


precisa, apesar da minha ansiedade crescente.

Ser tudo o que ela não sabia que queria, mas não pode
viver sem.

E com esse pensamento, explodimos juntos em mais de


uma maneira.
32

Elena

Os sons de Jax e os grunhidos de seu pai enchem o


ginásio de boxe caseiro. Vera e eu sentamos em um banco que
parece feito sob medida para lhe oferecer o melhor conforto.

— Sabe, algo está diferente em você. — Vera bate no meu


tênis com a bengala.

— Estou testando um novo penteado. — Passo a mão na


minha coroa de tranças.

Ela balança a cabeça.

— Eu chamo de besteira. As mães sabem melhor. Você tem


um brilho na pele que não estou acostumada a ver, e meu filho
está sorrindo muito mais do que o normal. Isso foi o que deixou
tudo claro.

Minhas bochechas ficam vermelhas.

— Talvez seja algo que Jackie nos alimenta. Tive a


sensação de que havia algo estranho nos brownies dela.
Vera solta uma gargalhada.

— O que quer que você esteja fazendo por Jax, obrigada. —


Suas palavras me surpreendem mais do que seus braços
envolvendo meu corpo. — Eu só queria que ele encontrasse
alguém que o fizesse feliz. Para fazê-lo querer mais na vida além
de troféus e contratos. Essas últimas semanas com você foram
incríveis para ele.

— Eu não sei o que dizer.

Ela se afasta.

— Não se preocupe com isso. Não há nada que uma mãe


queira mais na vida do que ver seus filhos felizes. Você é isso
para ele.

— Estamos nos dando bem há apenas um mês... dois


meses, no máximo.

— O coração não liga para o tempo. Ele se preocupa com


os sentimentos. — Ela bate no peito.

— E se estiver errada?

— A pergunta que você deveria estar se perguntando é se


estiver certo. — Ela vira o corpo de volta para o ringue.

— Você planeja ficar olhando para mim o dia todo ou você


finalmente vai entrar no ringue? — Jax grita comigo do outro
lado da sala.

— Acho que é minha deixa para ir. — Eu me levanto do


banco.

— Mostre a ele como se faz.

Lanço um sorriso por cima do ombro enquanto ando em


direção ao ringue de luta. Zack acena para mim antes de sair e
caminhar em direção à Vera.

— Eu quero testar uma teoria. — Jax separa as cordas


para eu entrar.

— Oh, diga.

— Quantos segundos até você se render?

— Quinze. — Coloco um falso sorriso nervoso.

Ele me oferece um sorriso arrogante.

— Cinco.

Encolho os ombros.

— O jogo começou.

— Quando você estiver batendo com a mão no chão,


implorando para que isso acabe, lembre-se de não me negar
novamente.
— Você faz parecer que neguei sua oferta de sexo em vez
de aulas de autodefesa. — Na semana passada, quando ele
perguntou, recusei educadamente, dizendo-lhe que não
precisava delas. Eu acho que Jax ainda guarda rancor sobre
isso.

Zack grita do outro lado do ginásio, contando a partir do


três. No momento em que ele grita vai, Jax faz um movimento
inteligente que eu não esperava.

Ele balança o pé, me derrubando nas minhas costas. Zack


ri enquanto Vera grita comigo para me levantar e mostrar a ele
como as garotas governam o mundo. Minhas pernas
permanecem plantadas em cada lado de seu corpo grosso, me
dando um bom ponto de vista.

O corpo de Jax fica em cima do meu enquanto ele finge me


sufocar com um sorriso. Ele certamente tirou a maior parte de
seu peso de mim, o que é benéfico para mim. — Você fica bonita
com minhas mãos em volta da sua garganta.

Uma gargalhada me escapa. — Você é doente.

— Mas você gosta de mim de qualquer maneira. — Ele dá


um beijo suave na minha bochecha antes de se sentar e aplicar
um pouco mais de pressão no meu pescoço.

Ele hesita quando atiro para ele um sorriso semelhante ao


dele. Eu uso sua postura contra ele, com minhas pernas em
volta de sua cintura enquanto pressiono meu braço direito na
parte interna de seu cotovelo esquerdo e meu braço esquerdo
em seu ombro direito. Empurro meu pé em seu osso do quadril
antes de virar meu corpo. Ambas as minhas pernas se movem
sob as dele antes de pressionar sua cabeça no tapete.

Minhas pernas seguram seus braços presos entre elas


antes de eu agarrar seu pulso e fazer o som de um osso
quebrando.

— Você estava dizendo?

Vera grita enquanto Zack bate palmas.

A boca de Jax abre enquanto ele olha para mim.

— Isso foi sexy pra caralho.

Empurro seu pulso um pouco mais, não querendo


machucá-lo. Ele bate com a mão no tapete.

Levanto-me antes de oferecer a ele minha mão.

— Neguei o seu pedido porque já fiz aulas de defesa


pessoal. Se você tivesse parado de se lamentar depois que eu
disse não, eu teria te contado.

Ele agarra minha palma e se levanta, mal escondendo o


sorriso.

— Eu gosto de você mais e mais a cada dia. Você pode ser


a garota dos meus sonhos, Gonzalez.

O calor que irradia por todo o meu corpo com suas


palavras me diz o quanto eu quero que isso seja verdade.

Eu vou ser o par de Jax para a festa beneficente


arrecadando dinheiro para crianças adotivas. O evento visa
apoiar uma fundação para a qual ele doa muito dinheiro todos
os anos em homenagem a seu pai. Isso significa andar no tapete
vermelho enquanto me agarro ao braço de Jax, saindo
oficialmente como um casal.

Para dizer o mínimo, estou pirando, porra.

Eu ando em meu quarto improvisado, meus saltos


clicando contra a madeira enquanto ando para frente e para
trás. Uma onda de náusea me percorre quando penso em meu
nome sendo espalhado por tabloides e contas de rede social.

Uma batida na minha porta endireita minha coluna.


Respiro fundo algumas vezes antes de abrir. Jax se inclina
contra o batente da porta, parecendo atraente em seu smoking.
O material brilhante adere à sua forma da melhor maneira.
— Achei que deveríamos conversar antes desta noite. —
Ele entra no meu quarto sem um convite. Não que ele precise,
visto que ele vem me visitar diariamente agora.

— Sobre? — Movo-me em direção à cômoda, atrapalhando-


me com minha bolsa.

— Não é tarde demais para recuar antes que se transforme


em algo que não podemos controlar.

— É muito tarde para isso. Definitivamente, não podemos


controlar isso, — resmungo para mim mesma.

— Não é. Não quero que você se arrependa de ter seu nome


conectado ao meu. Podemos aparecer separadamente e
ninguém saberia a diferença. — Ele caminha atrás de mim,
aquecendo minhas costas. Seus olhos sinceros olhando para
mim através do espelho puxam meu coração.

— Dê-me uma boa razão para eu ir com você.

— Não é essa para encará-lo. Posso te dar inúmeras razões


pelas quais você não deveria. Essa seria a parte fácil. Mas não
há como voltar atrás de exibi-la para o mundo e reivindicá-la
como minha.

— Você não está se vendendo aqui.

Seus dedos agarram meu queixo, me forçando a olhar para


ele. — Eu não quero te desapontar. E porra, eu sei que vou.
Mas eu, sem desculpas, quero você amarrada a mim. Para te
exibir com este vestido e provar a todos que você é minha e
nenhum idiota pode ter você.

— Mas?

— Mas a parte boa de mim – embora uma pequena parte –


quer dizer para você correr na outra direção. Que não valho o
risco. Que meu futuro desconhecido poderia limitá-la.

— Você vale o risco, — digo com confiança, embora


estejamos falando sobre dois riscos diferentes. Ele de seu futuro
e eu de meu coração. É só uma questão de saber o que vai se
tornar um problema primeiro.

— Mesmo com Connor potencialmente desaprovando? —


Ele levanta uma sobrancelha.

— Ele não vai.

Suas sobrancelhas franzem juntas.

— Como você sabe?

— Falei com ele outro dia.

— Bom. Eu também. — Jax abre um sorriso revelador.

Bato em seu ombro.

— Idiota. Você estava me testando!


— Eu sei o quanto você se preocupa com seu trabalho. Não
quero que fique infeliz comigo por algo dando errado com isso.

— Eu amo meu trabalho, mas...

— Mas? — Jax se inclina mais perto, plantando um beijo


fantasma em meus lábios. Eu anseio por mais.

— Mas ter um emprego não é o meu objetivo de vida.

— Então o que é?

Encolho os ombros, não interessada em empurrá-lo além


do que ele pode aguentar.

— Isso é para eu descobrir.

O objetivo que tenho em mente não me assusta como


deveria. E isso por si só é a prova de como seria possível me
apaixonar por alguém como Jax.

Vamos torcer para que ele esteja disposto a se apaixonar


comigo.

— Pronta, amor? — Jax desliza em direção à porta da


limusine.

Agarro-me ao assento, minhas unhas cravando no couro.

— Na verdade, não.

As expectativas me inundam com pensamentos


autoconscientes. Jax nunca traz encontros para esse tipo de
função, muito menos alguém como eu. Alguém não ligado a
uma família rica ou a uma empresa chique. Aquela que tem
pagamentos de empréstimos e bebe garrafas de vinho barato
BOGO. O que eu estava pensando ao concordar com isso?

Roubo um olhar na direção de Jax, admirando em como


ele fica em seu smoking.

Oh, certo. É por isso.

Algumas câmeras piscam atrás do vidro, repórteres


antecipando nossa entrada. Minha respiração sai mais rápido
quando o pânico se instala.

— Ei. Faça algumas respirações profundas. — Jax enfia


uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Ele respira fundo
em uníssono, fazendo-me sentir menos idiota por enlouquecer.
— Você vai responder uma das perguntas deles e eles vão
acabar amando você. Eu posso te prometer isso. Você tem esse
jeito com as pessoas.

Seu elogio me aquece de uma forma que poucas palavras


fazem.

— Sinto muito. Eu normalmente não surto assim. Como


nunca.

O fantasma de um sorriso cruza seus lábios.

— É uma boa mudança de ritmo para mim ser o mais


calmo por uma vez. Eu sou aquele que tende a ser um pouco
bagunçado.

Eu ri.

— Essa é uma maneira de ver as coisas. Achei que ficaria


bem depois que saíssemos de casa.

Sua mão se prolonga, segurando minha bochecha.

— Se você quiser sair daqui, diga as palavras. Podemos


entrar em um pub e beber até não conseguirmos andar direito.

Minha respiração engata com sua ideia. Não posso


acreditar que Jax está disposto a abandonar um evento que
claramente é importante para ele por mim.

Levanto meu queixo, escondendo minha angústia.

— Não. Estamos vamos isso.

— Esse é o espírito, amor.

De alguma forma, essa palavra deixa minhas entranhas


quentes e piegas. Jax sai da limusine e me oferece sua mão.
Saio com as pernas bambas, rezando para não tropeçar em
meus saltos altos.

Câmeras piscam e luto contra a vontade de proteger meus


olhos.

— Respire fundo, — Jax sussurra em meu ouvido.

— Uma parte do meu eu introvertida está morrendo. Eu


posso sentir isso.

Jax ri, ganhando ainda mais atenção. Agarro a manga do


smoking de Jax como se ele fosse o último barco salva-vidas do
Titanic.

Jax caminha pelo tapete com uma arrogância que estou


acostumada a ver dele. Ele agarra minha mão, jogando-me um
sorriso por cima do ombro. Meu coração ameaça explodir com
seu olhar de felicidade incontida.

Um repórter chama Jax. Ele para, me puxando para o seu


lado.

A loira fala em seu microfone.

— Jax. É uma pena que seu pai não tenha podido vir esta
noite.

Seu sorriso desaparece, mas ele se recupera.


— Ele envia suas desculpas. Mas ele está orgulhoso do
quanto a organização cresceu desde que ele doou pela primeira
vez, dez anos atrás.

Ela acena com entusiasmo.

— Definitivamente. E devo dizer, não é com muita


frequência que o vemos com uma mulher ao lado. Quem é o seu
par esta noite?

Os olhos de Jax permanecem em mim o tempo todo em


que ele se dirige a repórter.

— Tenho sorte de ter Elena Gonzalez me acompanhando


esta noite.

As sobrancelhas da repórter se franziram.

— Gonzalez? Os mesmos que dominam o mercado de


farmácias latino-americano?

Cubro meu sorriso com a mão livre. Os olhos de Jax


brilham com a minha reação. Ele se vira para a repórter, dando-
lhe toda a atenção.

— Não. Elena Gonzalez como a fantástica representante de


relações públicas que mantém a mim e a outros atletas de F1
sob controle. Tenho sorte de tê-la trabalhando comigo este ano.
— Ele dá um sorriso deslumbrante para a câmera e aperta
minha mão.

Eu amo aquele sorriso. Eu amo tanto isso, eu não


processo suas palavras por alguns segundos. Tudo dentro de
mim ameaça explodir de felicidade com seu elogio.

A repórter pisca, claramente desarmada pelo enigma que é


Jax Kingston.

Você e eu, irmã.

A repórter se vira para mim.

— Bem, é um prazer conhecê-la, Srta. Gonzalez. Você


deve ter alguns poderes especiais se for capaz de controlar este.
Posso imaginar que ele é difícil. — Sua voz sugere sua
admiração. — E quem você está vestindo esta noite? Quero
adivinhar a nova coleção de verão de Valentino, mas detestaria
estar errada.

— Uhh... estante de liquidação da Zara? — Encolho os


ombros, lamentando minha declaração instantaneamente.
Minhas bochechas esquentam e eu considero retratar minha
declaração, mas tanto a repórter quanto Jax riem, aliviando
minha angústia.

Jax se inclina para mim. Seus lábios beijam minha


têmpora antes de roçarem minha orelha.
— Eu gosto muito de você, você não tem ideia.

Eu me perco em suas palavras, desejando afastar a


sensação de síndrome de impostor que tenho. Jax tem um jeito
de me fazer sentir que pertenço ao seu lado. Nenhum repórter
ou pergunta pode tirar isso de mim.

Eu levanto meu queixo e olho diretamente nos olhos da


repórter, permitindo que minha confiança cresça. Embora eu
possa não possuir nenhum Valentino ou um fundo fiduciário,
ainda pertenço a este lugar. Trabalhei muito ano após ano para
ajudar a elite e é hora de me divertir um pouco.

O peão não se torna uma rainha por pura sorte. É preciso


coragem, trabalho e confiança.

E estou tão pronta para fazer o meu caminho através do


tabuleiro.

— Bem-vinda ao clube: Oh merda, eu sou famosa. — Os


lençóis farfalham quando Jax rola em cima de mim.

Empurro meus cabelos bagunçados para fora do meu


rosto. — O quê? Existe um clube para isso?

Ele ri enquanto puxa o telefone de debaixo do edredom e o


entrega para mim. Eu examino o artigo, ignorando a forma
como os lábios de Jax encontram seu local favorito no meu
pescoço.

— Meu Deus. Meu anonimato durou menos de vinte e


quatro horas. — O nervosismo que eu esperava sentir assim
que a imprensa me conectasse a Jax não acontece. Em vez
disso, não posso evitar o calor que me enche com a menção no
artigo de Jax e eu juntos.

— Eles elogiam você no artigo e mencionam o sucesso da


sua empresa com Elías, Liam e eu. Vê? — Ele bate na tela. —
Eles não disseram nada de ruim. E obrigado por isso, porque eu
realmente não quero que você tenha que limpar uma briga que
eu tive com um jornal.

— Hmm. — Mastigo meu lábio.

— Diga que nunca mais duvidará de mim e que sempre


estou certo. — Ele me encara.

Ele me faz cócegas quando fico em silêncio por muito


tempo. Rio a ponto de chorar, admitindo que ele estava certo
sobre a coisa toda.

Pego o telefone que caiu.


— Eles realmente acabaram de dizer como JaxAttack está
agora domesticado e fora de serviço? Um: esse apelido é
horrível. E dois: estamos muito bem nesta foto. — Eu amplio,
verificando como ficamos incríveis juntos. Estou surpresa em
dizer que brilho sob os holofotes, apesar de toda a minha
hesitação na limusine.

A barba por fazer de Jax arranha a parte superior do meu


corpo enquanto ele continua sua exploração para baixo.

— Posso assegurar-lhe que JaxAttack é domesticado com


todos, exceto você.

Meu escárnio se torna um gemido quando ele levanta a


bainha da minha camisa e passa a língua em meu mamilo.

— Sério. Não fale sobre você na terceira pessoa. É muito


Júlio César da sua parte.

— Ou muito homem das cavernas da minha parte. Se


encaixa, visto que eu quero mantê-la toda para mim e foder
você a cada hora de cada dia, marcando você para que nenhum
filho da puta chegue perto do que é meu.

Minhas bochechas esquentam. — Você não usa palavras


doces, não é?

— Palavras maliciosas tornam o coração mais afetuoso.


Sorrio.

— Não é assim que diz o ditado.

Ele se move pelo meu corpo, seus lábios encontrando meu


clitóris rapidamente. E com alguns golpes de sua língua, estou
gritando palavras maliciosas para o teto também.

— Você pode se virar agora, — diz Jax com entusiasmo.

— O que você está fazendo aqui? — Olho em volta para um


bar vazio na cobertura.

— Eu prefiro mostrar a você. — Jax puxa minha mão,


levando-nos em direção à borda da varanda.

Meu queixo cai quando me inclino contra a grade de vidro.


— De jeito nenhum.

— Surpresa. — Ele sussurra em meu ouvido enquanto


pressiona nas minhas costas. Seu hálito quente puxa o menor
arrepio de mim. Um que ele percebe com base na maneira como
ele ri em meu ouvido antes de beliscar.

Centenas de balões de ar quente flutuam no céu, uma


variedade de cores combinando com um caleidoscópio.

— Uau. É quase exatamente como o quebra-cabeça.

— Tudo que você está perdendo é uma boa viagem com


ecstasy37.

Inclino minha cabeça contra seu peito e rio. — É um


quebra-cabeça bem feio, certo?

— O mais feio. Você precisa checar seus olhos.

— Diz o homem por quem meus olhos são atraídos em


primeiro lugar.

— Ok, você está certa. Você precisa verificar seus olhos e


sua cabeça.

Uma risadinha me escapa. Uma risada alta, não contida.

Os braços de Jax me envolvem. — Eu gosto quando você ri


assim. Mas, mais ainda, gosto de ser a razão por trás disso.

— Seu narcisismo não tem limites.

Ele ri, me segurando contra o peito.

— Eu gosto de meu ego acariciado.

— Entre outras coisas.

O tremor de seu peito arranca um sorriso de mim.

37 Ecstasy é uma substância psicotrópica usada frequentemente como droga recreativa.


— Então, isso é tudo que você sonhou?

Não tenho certeza de qual sonho ele se refere. O dele


finalmente se abrindo para mim e nos dando uma chance ou
meu sonho de ir a um festival de balões de ar quente. Para ficar
seguro, escolho a última opção.

— Disse a mim mesma que iria a um destes quando fosse


mais velha.

— Por que mais velha? Por que não agora? — Seus dedos
se entrelaçam com os meus contra a grade. Uma trilha de calor
sobe pelo meu braço direto para o meu peito.

— Eu queria ir quando sentisse que tinha superado tudo


do passado. Eu queria que fosse este grande momento de
desapego.

— É muita pressão para se colocar sobre si mesmo.

— Como assim?

— Eu não acho que alguém realmente segue em frente.


Você pode curar, com certeza, mas deixar ir insinua que você
não quer se lembrar mais. E as memórias não são o problema.
O erro que as pessoas cometem na vida é presumir que a dor é
ruim. Mas realmente, dor significa que você sente algo. Significa
que você está vivo. Trata-se de usá-la como uma arma em vez
de uma fraqueza. Portanto, cure-se, mas não deixe as memórias
irem. Elas são o que te tornam tão você.

Reflito com suas palavras.

— Isso foi... bem, uau. — Nenhuma outra palavra veio


para mim. Tudo o que sei é que quero absorver essa nova
versão de Jax até que não haja mais nada dele. Quando Jax era
um idiota comigo, eu lutei entre desejá-lo e não gostar dele. Mas
essa versão dele é inebriante.

Jax me vira, empurrando minhas costas contra o vidro.


Ele segura meu rosto antes de dar um beijo suave em meus
lábios.

— Eu quero sua dor. Eu quero os demônios que


permanecem na parte mais escura do seu cérebro. Compartilhe
os pensamentos assustadores comigo e compartilhe os felizes.
Eu não os trocaria por nada. Cansei de resistir ao que deveria
ter feito há muito tempo.

— E isso é?

— Você. Sempre foi você. Eu estava ferrado desde que você


entrou na sala de conferências McCoy quando Liam precisava
de ajuda. Mesmo quando fiz minha missão ter você longe de
mim. Especialmente quando você estava vulnerável comigo. Eu
quero estar quebrado com você.

— Normalmente não é assim que funciona.


Ele se inclina, seus lábios roçando os meus.

— Foda-se o usual. Eu não quero ser perfeito com você. Eu


quero ser a porra de um mosaico, feito de pedaços quebrados
tão coloridos que você não pode deixar de achá-los lindos.
33

Elena

— Feliz aniversário, minha doce criança! — Vera se levanta


da mesa do café para dar um abraço em Jax.

Hoje é o aniversário de Jax? Obviamente, ele mencionou


ser geminiano, mas não somei dois mais dois.

— É seu aniversário?

Ele sorri.

— Sim. Eu geralmente não dou muita importância a isso,


no entanto.

— Nunca vou entender por que ele prefere passá-los com


seus velhos pais. Todo verão é a mesma coisa com ele. — Vera
revira os olhos.

Jax se senta ao meu lado. Jackie coloca a xícara de chá e


café da manhã de Jax na frente dele.

Ele rouba um pedaço de bacon do meu prato.

— Nada que eu goste mais do que passar o dia com as


pessoas mais importantes da minha vida.

— Eu aceito isso, visto que a única outra opção é sair com


aquelas pessoas festeiras com quem você sempre tem
problemas, — diz Vera.

— O que você gostaria de fazer? — Examino o rosto de Jax,


observando seu sorriso tranquilo. Dia após dia ele fica mais
relaxado.

— Eu tenho algumas tradições.

— Como?

— Oh, é muito melhor se mostrarmos a você, — Vera entra


na conversa.

Ofereço a ela um pequeno sorriso. — O que quer que o


aniversariante queira... O aniversariante ganha. — Ele me dá
um sorriso malicioso.

— Isso é inofensivo comparado ao que eu imaginava. Uma


maratona de filmes é a última coisa que eu esperava de você, —
sussurro para Jax enquanto olho seus pais, abraçados a alguns
lugares de distância. Uma tela grande fica pendurada na nossa
frente para criar um ambiente de cinema.

— E o que você esperava? Eu jogando um pouco de raiva


na casa dos meus pais? — Jax pega um punhado de pipoca da
tigela no meu colo. Os créditos de abertura do filme
desaparecem e meu coração martela no peito quando Jogos
Vorazes começa.

A náusea me atinge do nada. Agarro a tigela de pipoca com


as palmas das mãos suadas, tentando desesperadamente
manter a calma.

A primeira cena é reproduzida e me lembra da minha


infância – dos meus pais e de tudo que perdi. Coloco a pipoca
no assento ao meu lado e corro para sair do cinema.

Lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto enquanto


caminho pelo corredor. A tatuagem em meu dedo queima,
zombando de mim, chamando-me para fora da minha besteira
de querer ser corajosa. Amaldiçoo as lágrimas e as enxugo com
a manga do meu suéter.

— Elena, pare, — Jax chama.

Continuo andando ignorando-o.

— Elena. — Sua voz soa mais perto.

Viro no corredor, desesperada por alguma distância


enquanto também anseio por seu conforto. Ótimo, até meus
pensamentos estão uma bagunça confusa.

A mão de Jax envolve meu braço e me vira.

— O que há de errado? Achei que você gostaria de Jogos


Vorazes. — Ele faz uma careta.

Eu evito seu olhar.

— Não.

— Então por que fazer uma tatuagem disso? Eu não queria


te chatear, eu juro. Achei que você ficaria feliz.

Precisa de tudo em mim para ignorar seu olhar.

— Eu fiz a tatuagem para o meu pai.

— Merda. Eu continuo fodendo as coisas.

Balanço minha cabeça tentando forçar as lágrimas para


longe.

— Não. Não é sua culpa. Você não poderia saber. O livro —


Solto um suspiro irregular. — O livro que eu estava lendo na
noite em que foram mortos...

— Foi Jogos Vorazes. Porra. — Ele termina por mim. Sua


mão envolve minha nuca, me forçando a olhar para ele. —
Podemos escolher outra coisa. Eu não dou a mínima para qual
filme, contanto que você esteja bem com isso.

Fico olhando para ele. Sua sinceridade cura os restos


esfarrapados de meu coração. Ele escolheu algo no seu
aniversário pensando que me deixaria feliz. Esse tipo de
altruísmo permite que uma nova sensação de calor substitua o
frio dentro de mim.

Sua presença me dá coragem para fazer algo estúpido,


mas corajoso. Para banir algumas das últimas memórias ruins
que me atormentam.

— Acho que quero assistir.

O polegar de Jax pressiona contra meu pulso latejante,


consciência inundando meu corpo.

— Mesmo que te assuste?

— Especialmente porque me assusta. — Levanto meu


queixo.

— Eu estarei lá por você. Você me tem.

Eu acredito em cada palavra sua. Voltamos para a sala de


cinema de mãos dadas. Alguém aperta o play e o filme começa
novamente. Jax não solta minha mão o tempo todo. Ele roça
suavemente sobre minha nova tatuagem enquanto eu
silenciosamente soluço para mim mesma na parte que lembro
de ter lido na pior noite da minha vida. Suas ações me dizem
tudo o que as palavras não podem.

Estou aqui por você. Vou lutar contra as memórias com você.
Vamos vencer isso juntos.

E não consigo evitar me apaixonar um pouco mais por ele


naquela noite.

— Eu não posso acreditar que vou ficar no box em um dia


de corrida. Puta merda! — Caleb salta para cima e para baixo.

— Ei, linguagem. Há crianças visitando. — Estou tentada


em bater nele com a lateral da minha prancheta.

— Mas vamos, essa é a coisa mais legal de todas. Veja Jax


em seu uniforme de corrida. Aguarde. — Caleb pega seu celular
e tira uma foto de Jax.

Confie em mim, acho que não posso olhar para nenhum


outro lugar a não ser para Jax em seu equipamento de corrida.

Saio do meu torpor.

— Aqui, deixe a equipe de filmagem tirar uma foto de vocês


dois.

— Claro, mi princesa Mexicana38. Boa ideia. — Caleb sorri.

38 Minha princesa mexicana.


Jax ri enquanto envolve um braço em volta do ombro de
Caleb. A imprensa tira algumas fotos dos dois, com Caleb
sorrindo para Jax.

A mãe de Caleb se aproxima. Presumo que se Caleb tivesse


cabelo, seria semelhante à cor loira de sua mãe. Eles têm os
mesmos olhos claros e sardas cobrindo o nariz.

Ela me dá um abraço.

— Obrigada por tudo o que você fez por meu filho. É tudo o
que ele falou neste mês. Isso manteve seu ânimo mesmo depois
de outra rodada de quimioterapia. — Seu sorriso vacila quando
ela me solta.

— Claro. Não foi nenhum problema. Você fez um trabalho


incrível criando-o porque ele é único.

— Em todos os sentidos da frase. Tenho dois filhos mais


novos e nenhum deles tem esse tipo de personalidade. — Ela
aponta seus outros dois filhos, ambos pequenos e loiros,
hipnotizados pelos mecânicos que trabalham nos carros de
corrida.

— Eu não sei como você faz isso. Três filhos são muito.

— Você não tem nenhum?

— Ah, não. Pelo menos ainda não. — Quase engasgo com o


pensamento.

— Apenas espere. Eu cresci como filha única e não queria


isso para meus filhos. Três podem parecer muito, mas eu tive
que me convencer a não ter um quarto, se você pode acreditar
nisso. — Ela ri para si mesma.

— Tenho certeza de que três é suficiente.

— Definitivamente. Você vai ver. Um dia, você vai perceber


do que estou falando. Esses três não poderiam ser mais
diferentes, mas eles se amam. E eles fariam qualquer coisa um
pelo outro também. — Ela sorri para seus filhos.

Um desejo que nunca tive antes ocupa um lugar no meu


coração. Um que eu não deveria, mas não posso negar.

Não quero algo temporário com ninguém. Eu quero tudo.


O relacionamento. Uma família. Os momentos que quero
manter pelo resto da minha vida.

E acima de tudo, acho que poderia querer tudo isso com


Jax.
34

Jax

Coloco meu fone de ouvido, desligando-me do resto do


mundo. Os mecânicos conduzem meu carro em direção à minha
posição de segundo lugar no grid. O motor ronca atrás de mim
enquanto esquenta, me lembrando da realidade do dia da
corrida.

Um calor extenuante. Pressão intensa. E o pior de tudo,


meu próprio demônio em meu ombro na forma de ansiedade de
desempenho.

— Meu Deus. Legal pra caralho, cara. Elena pediu ao


engenheiro para me deixar falar com você no rádio! Você acha
que eles podem me ouvir na TV? — Caleb grita no microfone.

O microfone pega Elena dizendo a ele para falar mais


baixo, como se ela pudesse ler minha mente.

— Aproveite, criança.

— Quem você está chamando de criança? Eu sou apenas


dez anos mais novo que você.
— Uma década é muita coisa quando você chega à minha
idade. — Agarro meu volante com mais força com minhas mãos
enluvadas.

— Pare de ser um idiota deprimente antes de sua corrida.

Eu rio.

— Alguma última palavra antes de eles te expulsarem do


microfone?

— Arrase, Kingston. Mostre a esses filhos da puta como é


fazer parte de uma dinastia do DNA. Seu pai pode ser uma
lenda no ringue, mas você é o rei da pista.

Eu rio de seu comentário. Mal sabe ele que meu DNA é


uma merda quando meu pai é tirado da equação. Mas eu
prometo a mim mesmo dar a Caleb um bom show, querendo
que ele aproveite cada segundo de sua experiência comigo.

A mecânica executa as últimas verificações antes do início


da corrida.

— Tenho que ir, companheiro. Vejo você no pódio do


vencedor.

A equipe tira meus aquecedores de pneus e sai correndo


da pista. Uma de cada vez, cinco luzes piscam acima do meu
capacete antes de desligar.
Empurro o acelerador enquanto aperto os botões do
volante. Meu carro se move para frente, guinchando enquanto
mantenho meu lugar atrás de Noah, o líder da corrida. A tensão
percorre meu corpo enquanto meu coração trabalha para
bombear sangue mais rápido. O som dos motores rugindo
aumenta a minha pressa, alimentando o demônio dentro de
mim que anseia por adrenalina.

— Bom trabalho saindo ileso da curva um. Não posso dizer


o mesmo sobre um motorista de Sauvage. Atenção na curva
dois – tende a ser onde você perdeu tempo durante a rodada de
qualificação, — Chris fala em meu rádio.

Mantenho o foco, correndo para o lado de Noah na reta,


apenas para vê-lo me empurrando de volta para a segunda
posição. O carro vermelho borrado em meus espelhos laterais
me diz que Santiago está perto demais do meu para-choque
traseiro para ser confortável.

— Monitore Santiago atrás de mim. Não gosto de como ele


performou ontem. — Sintonizo o que o outro engenheiro tem a
dizer. Santiago tende a fazer jogadas mais arriscadas que
geralmente compensam, mas não estou a fim de que ele
atrapalhe minha corrida em casa por causa de um acidente.

Um enxame de pessoas aplaude de uma das


arquibancadas quando eu passo por elas em um borrão. O
orgulho me faz empurrar com mais força para ultrapassar Noah
na próxima curva. É bom representar a minha corrida em casa
com um lugar na frente do grid. O GP da Inglaterra sempre foi
uma das minhas corridas favoritas, com fãs de toda a Grã-
Bretanha vindo para torcer por mim.

Na próxima curva, dirijo do lado de fora do carro de Noah.


Pisar no freio um segundo depois do sugerido me dá uma
vantagem contra ele. Eu paro na frente de seu carro, garantindo
o primeiro lugar.

Passo por uma das arquibancadas com o rugido do meu


motor. Os fãs de F1 torcendo por mim me revigora, alimentando
meu ego e a adrenalina correndo por mim. As ondas de azul,
vermelho e branco me dão uma sensação de nostalgia e
orgulho.

Volta após volta, Noah e eu competimos um com o outro.


Ambos colocamos nossos carros no box, apenas para voltar e
competir pelo primeiro lugar novamente. Assumo a liderança
mais uma vez e o mantenho no meu espelho retrovisor.

Meus olhos deslizam do espelho para a estrada um


segundo tarde demais. Um pedaço de escombros na estrada
pega no meu pneu.

— Merda! — Mudo de marcha, esperando que não tenha


tido nenhum dano.
Mais uma volta antes de eu receber a notícia desastrosa.

— Você está perdendo a pressão dos pneus. Vamos


precisar de você no pit, — Chris fala.

Aperto o volante com mais força, a raiva substituindo a


onda de energia de antes. Eu ir para o pit novamente significa
que Noah recupera seu primeiro lugar, com pouca probabilidade
de desistir para mim novamente.

Porra.

Eu paro, e a equipe corre para substituir meus pneus.


Meu carro sai do pit lane e volta para a corrida.

Corro pela pista, atingindo velocidades arriscadas de


colisões, tentando recuperar minha posição em segundo lugar.
Faltam apenas algumas voltas para eu garantir a vitória na
corrida em casa. Santiago deixa uma pequena abertura no
interior da próxima curva, o que me dá a chance de passar por
ele.

O suor escorre pelo meu rosto em minha máscara


protetora enquanto seguro o segundo lugar.

— Bom trabalho, Jax! — A voz de Chris explode.

O carro chacoalha quando pressiono meu pé contra o


acelerador. Noah se mantém no centro da estrada, não me
dando espaço para ultrapassá-lo.

— Porra. Ele não vai desistir.

— Você tem mais duas voltas para tentar, — oferece um


engenheiro.

Não me diga, porra. Passar pela próxima arquibancada me


enche de medo, em vez de excitação. O medo de falhar com
meus fãs corrói minha confiança para conseguir uma vitória no
primeiro lugar.

Não importa o que eu tente, encontro a resistência de


Noah. Ficar preso entre ele e Santiago não é o ideal, com este
último montando meu para-choque traseiro como se quisesse
me foder por trás.

Noah sela meu destino durante a última volta. Nós dois


passamos a linha quadriculada segundos separados um do
outro, com ele ganhando o Prêmio.

Um lampejo de decepção me percorre por não alcançar o


P1 na minha corrida em casa. Mas, ao contrário dos tempos
passados, onde a ansiedade apareceu em minha frustração,
permaneço calmo. Embora esteja chateado por não ganhar, não
estou muito incomodado com isso. Eu tenho Elena e Caleb para
sair quando as festividades acabarem, o que me excita mais do
que um troféu.
Quando Noah, Santiago e eu subimos ao pódio, mantenho
um sorriso no rosto. Eu me viro para o lado do palco,
encontrando Elena e Caleb torcendo por mim.

Posso não ter ganho o primeiro lugar, mas a recompensa é


tão grande. Meus olhos encontram a mulher que me manteve
são durante toda esta temporada. Elena me olha com felicidade
em vez de uma aversão ardente. E Caleb... bem, Caleb parece
que vai desmaiar de gritar e pular.

Meu maior fã bate em mim assim que saio do palco. Ele


envolve seus braços em volta de mim e aperta com força
impressionante para alguém que parece fraco.

— Obrigado pelas melhores memórias. Eu nunca vou


esquecer isso enquanto eu viver.

Eu lhe dou um abraço de volta.

— Você é um dos caras mais legais que eu já conheci.


Você me inspira.

Caleb me solta e me olha incrédulo.

— Como?

Meus olhos deslizam dos dele para os de Elena, pegando


seu lindo sorriso enquanto ela nos encara.

— Para ser mais forte do que os demônios que estão me


segurando.

— Você tem que ir? — Mamãe envolve seus braços em


volta de mim, tornando impossível me mover.

— A temporada está no meio. Então voltarei para casa,


para passar um tempo com você novamente.

— Ok, tudo bem, se você deve ir. Mas o que você diz sobre
deixar Elena para trás? Vamos alimentá-la bem, prometemos.
— Mamãe balança a cabeça enquanto papai esconde a risada
com uma tosse.

— Preciso que Elena me ajude. Talvez ela volte e faça uma


visita um dia. — Eu pisco para Elena.

Mamãe vai até Elena, usando sua bengala para obter


ajuda. Ela envolve seus braços em volta do último objeto de
meu carinho. A visão de mamãe sussurrando para ela me atinge
com força.

Eu não sei de onde diabos veio a emoção repentina, mas


me sufoca. Mamãe nunca teve uma filha ou namorada minha
com quem pudesse conversar. Elena abraçando mamãe de volta
desperta um desejo dentro de mim. Desejando que Elena ficasse
mais tempo. Desejando que ela passasse mais tempo com
minha família, como nossas noites de cinema ou sessões de
piano após o chá.

Desejando que ela se tornasse algo mais estável em minha


vida.

E o mais importante de tudo, desejo enfrentar meu maior


medo pela maior recompensa.
35

Elena

Austin, Texas, está repleta de fãs americanos que estão


vestidos com roupas Bandini, chapéus de cowboy e botas saídas
diretamente de um filme country. Eles tocam música honky-
tonk no rádio e os fãs vão atrás de suas caminhonetes. Absorvo,
curtindo a comida e a ação do sul da semana da corrida.

Jax e eu escolhemos jantar em um restaurante localizado


perto da pista. Decidimos por uma mesa do lado de fora,
apreciando os turistas que passavam por nós.

Eu o olho com curiosidade, observando sua postura rígida.

— Você pode tirar os óculos escuros, sabe. O sol está se


pondo.

— Estou tentando me misturar. — Ele abaixa seus Ray-


Bans antes de ajustá-los novamente.

Surpreendentemente, ele está certo. Ninguém se


aproximou dele até agora durante nosso jantar, que eu chamo
de vitória.
— É assim que você planeja viver o resto de sua vida?
Escondendo-se em plena vista?

Ele inclina a cabeça para mim.

— Não. Se eu fizesse do meu jeito, moraria perto dos meus


pais e continuaria isolado. Quando me aposentar, pretendo
comprar uma grande propriedade e torná-la tão legal que
raramente tenho que sair.

— Como o quê?

— Uma pista de boliche, um pequeno cinema, uma piscina


com toboágua. Talvez até um rio lento.

Bato minhas mãos juntas.

— Não se esqueça de um campo de minigolfe.

— E um campo de minigolfe. — Ele sorri.

— E uma casa na árvore!

Jax solta uma risada profunda.

— Algo mais?

— Você se esqueceu de uma fogueira com luzes


penduradas. Você sabe, as circulares que eles têm nos filmes e
no Pinterest?

— Este projeto está se revelando bastante caro se você


fizer do seu jeito.

Reviro meus olhos.

— Ei, você disse que queria uma propriedade da qual


nunca mais iria querer sair. Estou ajudando a tornar o sonho
realidade. Você deveria estar me agradecendo.

— Eu terei que sair eventualmente. Mas raramente é


preferível.

— Como para buscar mantimentos? — Sorrio.

— Precisamente. Foda-se os paparazzi sempre me


incomodando. Eu não iria querer isso para mim ou para
minha... — Sua voz some.

Preencho o espaço em branco com base na forma como as


mãos de Jax apertam na frente dele. O peso de seu deslize,
junto com a maneira como ele se fecha, mostra o quanto suas
palavras não ditas o abalaram. Já faz um mês desde que nos
conhecemos e ele ainda luta com a ideia de um futuro. Tento
não me ofender, mas meu peito aperta com sua apreensão. Não
estou pedindo para sempre, mas um pouco de fé seria bom.

Tento tornar a conversa mais leve.

— Quando você planeja executar este seu grande plano?

— Não tenho certeza. Só arranjei uma namorada há um


mês. Ela precisa me dar tempo e tudo mais, mas quem sabe o
que vai acontecer um dia.

Namorada.

Namorada?!

Internamente, estou gritando comigo mesma enquanto


estou jogando com a calma como um iglu maluco por fora.

— Então, sua namorada, hein? Quem é ela? — Inclino-me


sobre a pequena mesa do café e cutuco seu peito.

— Alguém em quem penso o tempo todo.

— Oh, diga-me mais. — Bato meus cílios.

— Ela tem uma boca perversa que é boa para várias


coisas.

Eu bufo.

— Nada como ser multitalentos.

— Você está me dizendo. Além disso, ninguém pode se


comparar a essa garota. Ela é a mulher mais bonita que já
conheci. — Jax ri, me acertando com a melhor versão de si
mesmo – despreocupado e todo tipo de bonito.

— Hmm. É melhor você ter cuidado, porque a aparência só


vai até certo ponto.
— Eu não estava falando sobre o exterior dela.

Meu coração derrete quando as palavras intensas de Jax


me deixam sem palavras.

— Eu mencionei que ela também faz meu chá da manhã


do jeito que eu gosto? Ou que eu amo como ela de alguma
forma se mudou para o meu quarto sem pedir. E como ela
chupa como...

— Ok! Ela entendeu!

Alguns outros clientes do restaurante olham para nós,


franzindo a testa antes de eu acenar para eles.

— Você esqueceu uma parte importante. — Mantenho meu


rosto neutro, não querendo sorrir.

— O quê? — Ele passa de um sorriso malicioso a


carrancudo.

— Em primeiro lugar, você nunca pediu a essa garota para


ser sua namorada, Kingston. Posso imaginar que é um conceito
estranho, visto que você raramente pede alguma coisa. — Bebo
minha água enquanto olho ao longe, fingindo que não estou
morrendo de vontade de ouvir o que ele vai dizer a seguir.

— Esquisito. Achei que passando todo esse tempo juntos


deixava isso bem claro. — Jax fecha a distância entre nós,
inclinando-se sobre a mesa. O barulho ao nosso redor diminui.
Seus lábios permanecem perto dos meus, pairando perto do
lugar que eu mais anseio por ele.

— Há uma diferença entre perguntar e presumir.

Os lábios de Jax pressionam contra os meus e solto um


suspiro.

— Elena Gonzalez — beijo — você me dará a honra — sua


língua traça a costura dos meus lábios, me fazendo tremer
apesar do calor do verão — de ser minha namorada?
Oficialmente. — Seus dentes arranham meu lábio inferior antes
que sua língua saia acalmando a área dolorida.

— Sim, — ofereço sem fôlego.

Ele dá um último beijo antes de sorrir para mim.

— Vê? Eu sabia que você diria sim. Não gosto de fazer


perguntas estúpidas para as quais já sei a resposta.

E assim, Jax ganha outra parte do meu coração, com


alguns beijos e um sorriso.
36

Jax

Liam me puxa para longe do nosso grupo de amigos,


deixando Sophie e Maya fofocando no ouvido de Elena enquanto
esperamos pelo nosso compromisso no Escape Room39.

— Eu queria te dizer que fico feliz em ver você não ficando


mais mal-humorado e ser mais você. — Liam passa seu cartão
de débito para o funcionário.

Em vez de voltar com um comentário mal-humorado,


coloco minha mão no ombro de Liam e o aperto.

— Obrigado. Lamento não ser a pessoa mais fácil de


conviver este ano.

O funcionário nos deixa a sós, resmungando algo sobre


verificar se nosso quarto está pronto.

39 Escape do Quarto é uma modalidade de jogo de desafio, misturando aventura e raciocínio produzido no estilo
point and click ("aponte e clique"), cujo objetivo é encontrar uma maneira de escapar de um lugar misterioso
utilizando todo tipo de objetos que encontrar. Normalmente há uma história introdutória explicando o
acontecimento e, um enredo a seguir através de diversos tipos de pistas/dicas para efetuar a fuga, além de
dispositivos dos mais variados tamanhos e cores, para abrir armários ou portas, inclusive a de saída.
— Isso é um eufemismo. Mas com você tomando o
equivalente humano dos tranquilizantes animais, não posso
culpá-lo. Falando nessas pílulas, você ainda as usa?

Cruzo meus braços.

— Não.

A sobrancelha de Liam se levanta.

— Não como “Não, não estou as tomando” ou “Não, gosto


delas de vez em quando, como tomar sorvete”?

Eu rio.

— Não. Estou farto dessa merda. Permanentemente.

Ele solta um suspiro alto.

— Obrigado, porra.

— Ainda as mantenho por perto para qualquer ataque de


pânico descontrolado, mas troquei os medicamentos. — Ignoro
a necessidade de contar a Liam sobre Tom e minhas sessões de
terapia.

— Você vai me prometer uma coisa?

Inclino-me contra o balcão, precisando de algo para me


apoiar para o que quer que Liam esteja prestes a jogar no meu
caminho.
— O quê?

— Estou feliz por você e seu relacionamento. Eu realmente


estou. Mas quero que me assegure que, mesmo que não dê
certo, você não vai cair no ciclo das pílulas e das festas.

Franzo a testa.

— Não der certo como?

— Relacionamentos dão trabalho. Eles não são fáceis.

— E?

— E, para alguém como você, temo que volte às formas


autodestrutivas de lidar com os aspectos negativos de sua vida.

— Prometo a você que não irei, mesmo se meu


relacionamento não der certo ou a merda ficar difícil. Eu
terminei com o Xanax. E festejar não é tão divertido sem você e
Noah.

Liam me puxa para um abraço, me surpreendendo.

— Bom. Agora vamos arrebentar e mostrar a Noah que


somos os mais espertos. Ele é todo alto e forte, pensando que
vai vencer.

O funcionário aparece alguns minutos depois para nos


conduzir a um corredor.
— Ok, pessoal, vocês vão colocar essas vendas nos olhos e
nós ajudaremos a guiá-los até duas celas escuras de prisão.
Dividam-se em dois grupos com quem você deseja ficar preso.
Um alarme soará e as luzes se acenderão, indicando que você
pode tirar as vendas. Não as tire até então. Procure pistas que
ajudem a tirar você e seus amigos das celas. Você terá uma
hora. Se precisar de uma pista, use o walkie-talkie que seu líder
de grupo possui. — Ele passa a cada um de nós uma venda
preta.

— Me lembra dos bons tempos, certo, Sophie? — Liam


pisca enquanto balança a venda na frente do rosto dela.

— Você está me envergonhando! — Sophie cora e pisa ao


meu lado. — Estou me juntando à equipe de Jax agora.

— Estamos todos no mesmo time. — Noah franze a testa


para o macacão laranja que nos pediram para vestir.

Elena segura sua venda com as mãos trêmulas.

— Você está bem? — Toco em sua mão.

Ela olha em volta antes de sussurrar:

— Eu não sabia que íamos ficar no escuro.

— Você não quer fazer isso?

— Eu não posso desistir. É embaraçoso. — Suas


bochechas ficam rosadas com o pensamento.

— Ninguém vai dar a mínima. Podemos fazer outra coisa e


explorar Austin.

Seus olhos deslizam da venda para os meus, traindo seu


medo.

— Você estará no meu grupo?

— Claro.

Elena suspira enquanto coloca à venda sobre os olhos. Ela


agarra minha mão, procurando conforto. Antes de Elena, eu
nunca fui isso por alguém. Mais importante, nunca quis ser
assim para alguém. Mas com Elena, esses momentos me
enchem de uma sensação que nunca experimentei antes. Isso
deveria me assustar, mas me sinto revigorado por ter sua
confiança. Nosso relacionamento está crescendo lentamente e
não posso dizer que sinto muito por isso.

Aperto sua mão enquanto os atendentes nos guiam para


nossas celas de prisão. Eles nos pedem para colocar nossas
mãos nas barras da cela, mas eu agarro a mão de Elena em vez
disso. Ela treme e sua respiração se torna mais audível quando
Liam, Maya, Santiago e Elías são colocados na outra cela.

— Você tem isso, — eu sussurro na direção que suponho


ser seu ouvido.
O som da porta da outra cela se fechando me dá esperança
de que tudo isso acabe logo para Elena. Assim que o alarme
toca, arranco minha venda. Elena faz o mesmo.

— Eu fiz isso. — Ela me oferece um sorriso tímido.

— Eu sabia que você poderia. Agora vá colocar suas


habilidades à prova. Você é nossa salvadora. — Puxo a manga
de seu macacão laranja.

Passamos uns bons dez minutos vasculhando a pequena


cela em busca de pistas.

Meu queixo cai quando Elena se ajoelha no chão de


cimento.

— Você não enfiou a mão no vaso sanitário.

Elena me encara, seu braço meio imerso na tigela vazia.

— Pode haver algo lá.

— Estou enojado, mas ligeiramente impressionado com


seu compromisso.

— Se importa em parar de flertar com sua namorada e


procurar por pistas? Você mal ajudou. — Noah anda de um lado
para o outro na cela de prisão de cinco por oito, procurando por
qualquer coisa que nos ajude a escapar. Sophie tenta levantar o
colchão da cama, mas não consegue. Eu me movo para ajudá-
la, levantando-o com um braço enquanto ela procura as
costuras.

Este é quem eu me tornei, saindo com meus amigos,


fazendo coisas normais sem um ataque de pânico pendente me
segurando. O grupo não teve problemas em aceitar Elena e
Elías. Embora, eles já se deram bem durante a noite de Cards
Against Humanity, que eu estraguei depois de muitos
comprimidos. Mas todos optamos por ignorar aquela noite.

— Terra para Jax, você pode me passar a colher? — Elena


me ataca de seu lugar na frente do banheiro.

— Eu não quero suas mãos sujas em nossa única pista.

Ela acena com a mão limpa na minha frente antes de me


oferecer um gesto vulgar.

— Você tem andado muito com Jax. — Noah ri.

— É mais como se eu estivesse passando muito tempo


dentro ela.

— Jax! Cállate40. — Os olhos de Elena se estreitam para


mim.

— Sim, por favor, Elena é como uma irmã para mim e eu


poderia passar sem ouvir esses detalhes. — Elías geme na outra
cela.

40 Cale-se.
O riso enche os dois blocos de celas. Eu não me ressinto
disso. Em vez disso, eu acolho, sabendo que estou no caminho
da cura, um dia de cada vez. Com Elena ao meu lado, espero
poder me recuperar dos erros que cometi e das pessoas que
afastei.

Quero ser diferente, mas ainda há uma coisa me


segurando. E pela primeira vez em muito tempo, estou
considerando o impossível. A única coisa que mamãe me
implorou ano após ano para fazer.

E caramba, é assustador pra caralho.

— O ônibus da festa nos pegou no hospital e nos levou por


uma hora antes de nos deixar no clube que você alugou. Era
uma droga, parecia algo saído diretamente dos estrondosos
anos 20, — Caleb grita ao telefone.

— Você convidou Francesca para dançar? — Coloco-o no


viva-voz enquanto amarro os cadarços do meu tênis de corrida.
Depois da nossa semana Make-A-Wish, Caleb queria começar
uma tradição de me ligar antes das rodadas de qualificação,
alegando que ele pode ser meu amuleto de boa sorte.

Você já tentou negar um adolescente? Eles são tenazes e


teimosos. Então, naturalmente, para evitar suas mensagens
chorosas e constantes, concordei e aceitei minha nova tradição.

— Claro. Com os movimentos de dança que Elena me


ensinou, eu era o cara mais popular lá.

— Você provavelmente é o cara mais popular, ponto final.

Caleb ri.

— Obrigado pelo elogio, mas com certeza sou o mais nerd.


O prêmio de cara mais legal vai para Dylan. Ele terminou o
tratamento, o que é basicamente uma medalha de honra por
essas partes do hospital.

— E como está indo sua rodada recente?

— Queima como uma cadela.

Meu coração afunda com o pensamento de Caleb em dor.


Aprendi a gostar do garoto. Ele me envia mensagens de memes
todos os dias depois que eu lhe dei permissão para entrar em
contato comigo sempre que quisesse.

— Você está se cuidando?

— Acho que sim. Tanto quanto posso, pelo menos. Mas


estou morrendo de tédio aqui. Eles bloquearam o acesso à HBO,
então estou sem sorte.

Solto uma gargalhada.

— Por que você não sai de fininho para algum lugar e fica
com Francesca?

— Você sabe que age como um irmão mais velho estranho?

Bem, merda, acho que estou agindo assim com ele.

— Você teria sorte de me ter como irmão.

— Não me diga. Isso me daria muito crédito por aqui.


Minha visita com você já me conquistou Francesca e seus
amigos. Fazer minha primeira tatuagem com Jax Kingston
diminuiu os holofotes de Dylan por uma semana inteira.

Quem diria que os hospitais têm uma hierarquia social


como o ensino médio? Eu com certeza não sabia.

— Como está minha princesa mexicana? — Caleb ronrona.

— Ela está bem.

— Apenas bem? Você deve ser um namorado terrível,


então.

Solto uma risada profunda.

— Por que isso?


— Porque ela disse a mesma coisa sobre você quando
liguei para ela na semana passada.

— Você fala com Elena?

— Duh. Alguém precisa garantir que você seja mantido na


linha.

— E ela disse que as coisas estão bem? — A curiosidade


me faz parecer um idiota.

— Meu Deus, você pensaria que vocês dois não falam um


com o outro. Ela disse que as coisas estão bem e que está feliz.
Isso é bom o bastante para você?

Isso é melhor do que bom. Por alguma razão, ouvir de


Elena é uma coisa, mas ouvir de Caleb é outra situação. E
ainda mais porque ela quer compartilhar parte de nosso
relacionamento com os outros.

Sim. Estou me transformando em um maldito idiota.

— Sim, isso é uma boa notícia, cara.

— Por favor, não quebre o coração dela. Pelo menos não


até eu completar dezoito anos e poder estar lá para recolher
todos os seus pedaços quebrados e colocá-la de volta no lugar.

Eu rio de sua piada, esperando não quebrar seu coração.


Não porque eu não quero que Caleb a tenha. Em vez disso,
quero mantê-la por mais tempo do que o previsto originalmente.

Odeio tirar isso de Caleb, mas não há nada mais longo do


que para sempre...

— Estou pedindo meu favor. — Inclino-me contra a porta,


tirando a atenção de Elena de empacotar sua bagagem.

Ela empurra os óculos até a ponta do nariz. Eu sou um


maldito idiota que adora como ela emite vibrações sexy
desgrenhadas. Eu gosto de Elena em vestidos e saltos, mas
gosto dela tanto em moletons e calças que ela roubou da minha
mala. Meus dedos se contraem, desejando arrancá-los dela.

— Não passamos dos favores? — Ela inclina a cabeça.

— Eu ganhei o meu de forma justa, o que significa que


você está tirando uma semana de folga.

Ambas as sobrancelhas dela saltam.

— O quê? Uma semana de folga do que exatamente?

— Trabalho.
Ela balança a cabeça.

— Eu não posso fazer isso...

— Claro que você pode. Já perguntei ao Connor. E antes


que você pergunte, eu prometi me comportar da melhor maneira
para que você pudesse se divertir como Sophie e Maya fazem.

— Você não pode ligar e usar meus dias de licença médica.

— Eu posso e fiz. — Encolho os ombros. — Você vai me


agradecer por isso. Não podemos permitir que você trabalhe até
uma cova rasa. — A ideia me ocorreu depois que Elena me
confessou durante o almoço um dia como ela nunca tirou um
dia de folga do trabalho. Nem mesmo quando ela tinha
dezessete anos e teve que trabalhar durante seu aniversário.
Essa é uma tragédia que ninguém deveria passar na vida.

Estou trabalhando para corrigir seu vício em trabalhar.


Pelo menos um pouco, para que ela possa ter tempo livre o
suficiente para realmente aproveitar a vida que ela trabalha
duro para sustentar.

Olhe para mim, todo atencioso e essa merda. Mamãe ficaria


orgulhosa.

— Não estou vendo como isso é um favor para você? — Ela


torce o nariz da maneira mais fofa.

Fofa. Adorável. Bela. Elena traz à tona o romântico


desesperado em mim que não pode deixar de querer fazê-la
sorrir novamente. Estou tentado a agarrar minhas bolas para
ter certeza de que ainda estão presas ao meu corpo, mas ignoro
o desejo.

— Quero que você aproveite uma semana ao meu lado


como minha namorada. Galas, conferências de imprensa,
pódios em dias de corrida. Você sabe, na verdade curtindo o
Grande Prêmio do México como uma local, ao invés de uma
empregada.

Ela solta uma risada que me seduz.

— Você sabe, as pessoas ficariam surpresas em saber que


ursinho de pelúcia macio você é por baixo de todas essas
tatuagens, músculos e palavras resmungonas.

— É uma coisa boa você ser boa no seu trabalho, amor,


porque não posso deixar esse segredo vazar.

Elena me bate com um sorriso deslumbrante que faz


minha pele ficar quente. Ela se afasta da cama e puxa minha
camisa, puxando-me em sua direção.

— Este é um segredo que guardarei com minha vida.

— Oh, e por que isso? — Minha voz soa rouca, minha


necessidade dela se tornando óbvia.

— Você é famoso, o que significa que o mundo sabe mais


sobre você do que você e eu gostaríamos. Mas o homem que
você é quando as câmeras desligam é alguém que quero manter
só para mim. É egoísta... mas nunca afirmei ser um anjo. —
Seu sorriso muda para algo desonesto, o brilho em seus olhos
insinuando mais.

— Seja tão egoísta quanto você quiser. Eu nunca pedi por


um anjo.

Elena envolve minha nuca com a mão e puxa meus lábios


em sua direção. Ela me mostra exatamente porque os anjos são
superestimados e a luxúria é o pecado mais mortal de todos
eles.
37

Elena

Meu telefone toca e eu me movo para pegá-lo da mesa de


cabeceira do nosso quarto de hotel. A mão de Jax mergulha e o
rouba do meu alcance antes que eu tenha um segundo para
verificar.

Ele está parado sobre mim como uma sombra, balançando


a cabeça.

— Não. Estou mantendo este bebê como refém por uma


semana.

— Isso é inútil. Eu tenho um iPad.

Ele sorri.

— Confiscado também, amor.

Meu sorriso desaparece.

— O quê? Por quê?

— Não trabalhar significa não trabalhar. E já que você é


você, eu não poderia arriscar o favor com você quebrando as
regras. Afinal, é apenas segunda-feira.

— Diz o cara que me pediu para violar as regras, —


murmuro baixinho.

— Ahh. Mas isso é diferente. Colho os benefícios dessas


regras quebradas. De qualquer forma, você pode sorrir em vez
disso, porque estamos saindo.

— Saindo? — A última vez que verifiquei, Jax teria uma


gala hoje à noite. Uma olhada no relógio do hotel me diz que ele
está ficando sem tempo para se arrumar.

Ele agarra minha mão e me levanta da cama.

— Você vai a uma festa de gala.

— Eu fui a uma festa de gala.

— Sim. Mas você já se embebedou em uma festa de gala


com garrafas de champanhe de duzentos dólares? — Ele sorri
perversamente.

Eu vejo para onde este desastre de trem está indo. Eu diria


que não, exceto que o sorriso no rosto de Jax me diz que um
favor é um favor, e a menos que eu esteja disposta a dever mais,
é melhor eu engolir isso.

— Vou me arrepender disso, não vou? — Reclamo.

— Só pela manhã, amor. Por enquanto, vamos nos soltar e


nos divertir um pouco.

Para pessoas como Jax, diversão é sinônimo de problemas.


Mas quando você namora o maior encrenqueiro, você acaba se
juntando a ele.

Recuso o champanhe depois de uma taça porque, se


pretendo ficar bêbada, essa é a última ressaca que quero
amanhã. Jax pede ao barman uma garrafa de tequila. Uma
garrafa inteira. Cem por cento de agave azul e cem por cento de
probabilidade de nos ferrar mais cedo ou mais tarde. Agarro a
bandeja carregando as sangrita41, rodelas de limão, sal e oito
copos de Caballito42 para nós e todos os nossos amigos.

Elías e eu ensinamos a todos a maneira correta de beber


tequila. Não fomos criados para derrubar copo após copo.
Nossos avós nos ensinaram a valorizar os sabores e apreciar
gole por gole.

41 Sangrita é um parceiro habitual de uma dose de tequila branca pura; um acompanhamento não
alcoólico que destaca a acidez crocante da tequila e limpa o paladar entre cada gole de pimenta.
42 Copo tradicional para se tomar tequila.
Jax me ajuda a me acomodar em meu assento em nossa
mesa. Sophie e Maya olham para a garrafa de tequila com um
sorriso enquanto Noah esfrega os olhos.

— Nós amamos tequila. — Sophie pega o copo comprido.

— O banheiro também depois que você vomita. — Liam


aperta o nariz.

— Isso aconteceu há um tempo. — Maya ri.

— Isso foi no mês passado, — Noah oferece secamente com


um sorriso.

— Certo, lembre-se de beber em vez de virar, — Elías grita


para o grupo enquanto derrama nos copos.

Todos estendem seus copos cheios no centro.

— Um brinde — grita Santiago.

— Aos amigos — começa Elías.

— Que se tornam família. — Noah sorri na direção de


Maya e Santi.

Os olhos de Elías e meus se encontram. Ele começou essa


conexão com todos ao organizar sua noite de jogo, mas Jax e
todos os outros solidificaram isso. Não consigo evitar a sensação
de vulnerabilidade se instalando em meu estômago ao fazer
novos amigos.

A consciência passa por mim enquanto movo minha


atenção para Jax. Maldito seja. Ele está trabalhando em cada
fenda da minha alma. Ele me faz querer ser aceita por ele e seus
amigos, que agem como uma família que eu sempre desejei,
mas não poderia ter. Ninguém quer ser amigo de quem fica
cancelando por causa do trabalho e outras obrigações, como
ajudar a Abuela. Bem, todos menos Elías, que não aceita “Estou
ocupada” como desculpa.

Jax deve sentir meu humor mudando porque ele aperta a


área acima do meu joelho de forma tranquilizadora.

— E para idiotas tristes como Liam, que nunca vão ganhar


outro campeonato em sua vida. — Jax quebra o silêncio
batendo seu copo contra o resto.

O grupo ri, levando embora meus pensamentos mais


sombrios.

— E aos idiotas que fizeram história ao se apaixonar mais


rápido do que o previsto. — Liam levanta uma sobrancelha na
direção de Jax.

Finjo não notar Jax balançando a cabeça, lutando contra


um sorriso. Finjo que meu coração não apertou com a ideia de
Jax se apaixonar. Finjo tão bem que acabo bebendo mais rápido
do que pretendia.

Alguns copos de tequila depois, ganho novos amigos, além


de uma ressaca assassina.

E definitivamente vale a pena a dor de cabeça latejante.

— Então, eu tenho uma pergunta que estou morrendo de


vontade de fazer a você. — Sophie balança o calcanhar do tênis.

— Oh, Deus. Não. — Maya geme para sua melhor amiga.

Repórteres e equipes de câmera circulam pela sala,


concentrando-se em preparar seu equipamento antes da
entrevista coletiva com Noah, Jax, Santiago e Elías. Os quatro
se sentam lado a lado em uma longa mesa, esperando o início
do evento. Ninguém presta muita atenção em nós.

Até agora, estou adorando minhas férias. Honestamente


me diverti, incluindo o tempo de garota que passei com Maya e
Sophie recebendo massagens e tomando sorvete enquanto
assistia a uma nova série de TV. É normal... mas tudo que eu
não sabia que precisava.
— Então, Jax claramente é um pouco selvagem, se você
me entende. — Sophie começa de qualquer maneira, ignorando
os protestos de Maya. — Estou morrendo de vontade de saber
se ele tem uma torção que não conhecemos. Todo mundo sabe
que ele gosta de merda em público, mas você sabe... ele tem
uma tara de ser chamado de daddy43? — Sophie balança as
sobrancelhas.

Se eu tivesse um copo d'água, agora seria a hora de


engasgar ao beber. Jax definitivamente tem uma queda por sexo
em público. Acho que nunca vou olhar as fotos da London Eye e
não pensar sobre o nosso tempo lá. Mas, em vez de confessar os
detalhes sujos, permaneço serena como treino atletas para
fazer.

— Sinto muito? Uma tara de ser chamado de daddy?

Sophie olha em volta antes de sussurrar:

— Sim. Daddy. Palmada. O combo. Vamos lá. Compartilhe


com as meninas.

Tento o meu melhor para não explodir em uma gargalhada


histérica. Os repórteres continuam fazendo perguntas,
concentrando-se nos pilotos em vez de em nossa sessão de
fofoca no fundo da sala.

Desviar. Sempre desvie.

43Daddy (papai) é usado com conotação sexual, um fetiche de como algumas pessoas gostam de ser
chamados durante relações sexuais.
— Isso é algo pelo qual ele é conhecido?

Por favor, diga que ele não é conhecido por nada. Não acho
que meu coração aguentaria essa notícia.

Sophie encolhe os ombros.

— É por isso que estou perguntando a você. Você é a


namorada aqui.

Maya esfrega os olhos e tenta se afastar de Sophie.

— Ignore-a. Ela está convencida dessa ideia desde o ano


passado.

— Isso é algum tipo de teste de iniciação de amigas? —


Inclino minha cabeça.

Sophie e Maya riem em uníssono. Ok, isso foi meio


estranho. Não estou pronta para esse nível celular de amizade
com ninguém.

Maya sorri para mim.

— Você é uma amiga há um bom tempo. Ficar bêbada com


tequila outro dia selou o negócio.

— Mas espalhar alguma fofoca não faria mal nenhum para


testar a sua lealdade. — Sophie pisca.

Rio com elas. Sair com Sophie e Maya sem me preocupar


com o próximo item da minha lista de coisas a fazer é
revigorante.

Jax olha para nós e sorri largamente. Seus olhos


permanecem em mim enquanto Noah responde a uma
pergunta. Eu não me incomodo em desviar o olhar, amando
cada segundo de sua atenção.

Jax termina sua conferência e me leva para longe de seus


amigos, alegando que precisa tirar uma soneca. Entramos em
um carro que nos espera e voltamos para o hotel.

Sento-me com as palavras de Sophie por cinco minutos


inteiros de silêncio antes de deixar a curiosidade levar o melhor
de mim.

— Então... eu tenho uma pergunta.

Ele levanta uma sobrancelha.

— Ok?

— Você gosta de ser chamado de daddy enquanto faz


sexo?

O rugido de risos que escapa responde à pergunta ridícula.

— Vou dizer a Liam para comprar uma mordaça para


Sophie para que ela possa aprender quando falar.
Meu queixo cai.

— Então, é verdade! Uma mordaça é totalmente algo que


um daddy usaria.

Jax ri a ponto de tossir.

— Porra, não. Se você me chamar de daddy, acho que


meu pau tentaria se separar do meu corpo e fugir.

— Graças a Deus. — Sussurro para o teto do carro.

— Mas eu tenho outras... peculiaridades. — Ele sorri.

Jax me mostra o quanto ele gosta de demonstrações


públicas de afeto. Ele me beija durante toda a viagem de carro
até o rádio que nosso motorista toca a níveis de estilhaçar os
tímpanos.

Jax me leva em direção a uma nova seção do paddock


McCoy, segurando minha mão na sua enquanto caminhamos
pelos corredores estreitos.

Concentro-me na forma como seu traje de corrida acentua


sua bunda, apreciando a vista.

— Você não tem que se preparar para a corrida?

— Eu irei para o pit assim que estabelecer você. — Ele


sorri por cima do ombro quando as portas de uma grande sala
se abrem.

— Onde está todo mundo? — Examino o espaço


desocupado.

— Este lugar privado é destinado à minha família e


amigos. — Ele me leva em direção a uma área com um sofá e
televisões mostrando as imagens pré-corrida.

Isso explica o vazio. Jax mantém sua vida familiar privada


do público. Ele não os deixa assistir a nenhuma corrida,
incluindo sua corrida em casa. O que acontece com Jax é que
ele ama demais, o que o faz se preocupar com o que a mídia
dirá sobre a doença de sua mãe. Então, em vez disso, Jax
escolhe uma vida de isolamento da imprensa. Ver seu dia de
corrida passando sozinho faz meu coração doer por ele de uma
nova maneira. Agora entendo como, embora seu favor me tenha
ajudado a relaxar, também o beneficia ter alguém que o aprecia.

Ele coloca um fone de ouvido na minha cabeça e verifica


todos os cabos com um enorme sorriso estampado no rosto.

— Isso permite que você ouça tudo do rádio da minha


equipe. — Ele explica diferentes botões e como silenciar sua voz,
como se eu pudesse fazer isso. Isso é como um passe de acesso
total à cabeça de Jax em um dia de corrida e estou aceitando.

Olho para ele, sorrindo.

— Isso é tão legal! Eu estou tão animada.

— Aproveite. Estava morrendo de vontade de ter você aqui,


mas você sempre encontra uma maneira de trabalhar durante
as corridas. — Ele me puxa e coloca um beijo em meus lábios.

Meu coração ameaça se tornar uma poça sob meus pés.


Do topo da minha cabeça às pontas dos pés, meu corpo zumbe
em aprovação.

— Há água na geladeira e você pode pressionar o botão ao


lado da TV se quiser comida e champanhe trazidos para você.

— Uau. Fale sobre o serviço cinco estrelas. Tenha cuidado,


Kingston. Uma garota pode se acostumar com esse tipo de
tratamento. — Levanto uma sobrancelha.

Jax ri para si mesmo.

— Você é simples de agradar. — Ele caminha até uma


gaveta e tira um saco de Reese’s Pieces dela.

Se eu não estivesse questionando minha afeição por ele,


agora seria a hora. A maneira como ele quer ter certeza de que
estou provida faz meus olhos arderem.

— Acho que nunca alguém cuidou de mim desse jeito. Não


desde Abuela...

— Eu sei. E eu quero ser o único a cuidar de você um


pouco... se você não se importa, é claro. — Ele sorri
timidamente.

Dios, ayudamé44. Um doce Jax é irresistível. Mas um Jax


tímido me faz querer girar em um círculo e rir para o teto como
um personagem de desenho animado tonto com corações
flutuando ao meu redor.

Ando até ele, fico na ponta dos pés e o beijo com cada gota
de apreciação que sinto. Pela primeira vez em muito tempo,
permito-me contar com outra pessoa.

44 Deus, ajude-me.
38

Jax

As coisas entre Elena e eu evoluíram ao longo dos meses.


De evitá-la a gostar dela, tudo está mudando depois de nossas
férias de verão juntos em Londres. Desde que saímos da casa
dos meus pais, ficamos juntos em um padrão confortável. Um
padrão tão tranquilo que tento a fazer feliz o tempo todo.

Depois de todos os eventos que ela planejou para mim, não


pude deixar de querer retribuir o favor. Sob o pretexto de
consertar minha reputação, organizei um evento para arrecadar
dinheiro para uma instituição de caridade da minha escolha.
Exceto que, ao contrário dos meus outros eventos de relações
públicas, Elena não tem ideia sobre este.

Sim. Planejei tudo sozinho depois de uma semana de


pesquisa, com a ajuda de Maya e implorando para que meus
amigos participassem.

— Você me deve muito por isso, — Noah resmunga


baixinho.

Olho ao redor da sala de conferências McCoy que reservei


para a atividade de hoje. Luzes brilham em Noah, Liam e eu
enquanto nos sentamos em três cadeiras lado a lado. Maya
espalhou todos os tipos de maquiagem e suprimentos em uma
mesa à nossa frente. Sua câmera fica em um tripé no centro da
sala, esperando para nos filmar.

— Aposto que Sophie vai ganhar. — Liam nos lança um


sorriso arrogante.

— Eu não teria tanta certeza sobre isso. Eu vi Maya fazer


isso com Santi e ele parecia a bela do baile depois que ela
terminou com ele. — Noah sorri.

— Ok, Sophie está trazendo-a agora. — Maya pula da


cadeira.

Passos ecoam pelo corredor. A porta range quando Sophie


e Elena entram na sala.

Elena verifica todos nós antes de olhar para mim em


confusão.

— O que está acontecendo?

— Surpresa! — Sophie bate palmas. — Estamos fazendo


um desafio de maquiagem!

— Desafio de maquiagem? — A boca de Elena cai aberta e


seus olhos se voltam para mim. — Você lembrou?
Oh, inferno, eu me lembrava. Depois de zombar dela no
avião meses atrás, aqui estou eu fazendo exatamente o que
acusei meus amigos de participar um dia. Um desafio de
maquiagem para caridade.

Esse sou eu... extraordinário romancista. A idiotice de


Noah e as lições de vida do meu pai passaram para mim de
várias maneiras.

— Seu namorado aqui quer arrecadar fundos de uma


maneira diferente usando o vlog de Maya. — Liam me lança um
olhar revelador.

Sim, entendi. Depois de toda a merda que dei a eles sobre


suas namoradas, caí na mesma armadilha. Hipocrisia que
chama.

— De jeito nenhum. — Elena não pode deixar de sorrir


para mim.

Ok, talvez isso valha toda a merda que meus amigos vão
me dar com base no sorriso dela.

— Sim! E ele escolheu uma instituição de caridade tão


maravilhosa. Ele quer arrecadar dinheiro para a doença de
Alzheimer usando o dinheiro da publicidade no meu vídeo. —
Maya verifica sua câmera.

Os olhos de Elena suavizam. Ela caminha até mim e fica


entre minhas pernas.

— Você planejou isso para mim?

Eu a puxo para o meu colo.

— Bem, achei que minha reputação precisava de uma


ajudinha.

Ela levanta uma sobrancelha.

— E você achou que um desafio de maquiagem era a ideia


certa?

— Uma vez, alguém me disse que idiotas comprometidos


faziam esse tipo de coisa, então pensei em tentar e ver do que se
trata. — Ok, esse alguém era eu, mas dane-se.

— Sua mãe estava certa. — Ela sorri.

— O que você quer dizer?

— Ela me disse que você era todo feito de marshmallow


fofo e tenho que concordar com ela.

— Marshmallow fofo? Agora estou muito curioso para ver


como Jax age com você quando ninguém está por perto, — Liam
grita do outro lado de Noah.

Eu o encaro.

— Chame-me assim de novo e vou enfiar minha bota tão


fundo na sua bunda que você não vai andar por uma semana.

— Foda-se o marshmallow fofo. Jax é mais o tipo de cara


Vegemite45, — Noah interrompe.

— Ok, passando para a parte mais importante de nossa


programação. Momento da Maquiagem! — Sophie verifica os
suprimentos na mesa. Ela puxa uma ferramenta de aperto que
parece um pequeno dispositivo de tortura e acena para Liam. —
Seus cílios vão ficar tão bonitos que vou ficar com ciúmes.

— Jax, você me deve um fim de semana em Ibiza depois


disso. — Liam geme.

— Combinado.

Elena beija minha bochecha.

— Obrigada por isso. Significa muito para mim que você


escolheu uma instituição de caridade para homenagear a
Abuela.

Tudo dentro de mim aquece com sua aprovação. Estou


feliz por ter decidido fazer algo para apoiar pessoas como sua
avó, dando a Elena sua própria versão de algo que ela gosta de
assistir todos os dias em seu telefone.

— Senhoras, cheguem aos seus postos de batalha, — grita


Maya.

45Uma pasta para passar na torrada feito de extrato vegetal. Popular na Austrália, somente eles são
suficientemente resistentes para comê-lo.
Elena pula do meu colo.

— Essa é a minha deixa.

— Faça-me parecer o melhor, amor. Por favor, mostre a


esses caras quem é o mais sexy de todos eles.

Alguma coisa dentro de mim está mudando e não é só por


causa de um novo medicamento. É mais do que isso. É por
causa do tempo com Elena, das sessões com Tom e um
sentimento crescente de esperança dentro de mim.

Espero que minha vida seja diferente.

Espero que eu não tenha a doença de Huntington.

Espero que eu possa acabar feliz com Elena, vivendo sem


preocupações e tristezas.

— Você está pronto para o Prêmio desta semana? — Tom


me recebe em seu escritório antes de se sentar na cadeira à
minha frente.

— Tão pronto quanto posso estar. — Fico confortável no


sofá. — Então, estive pensando.

— Pensar é bom.

Solto uma risada alta.

— Bem, na verdade tenho pensado sobre algumas coisas.


A primeira é que não percebi que gosto de estar em um
relacionamento.

— E como isso está indo para você?

Bato meus dedos contra o buraco em meu jeans rasgado.

— Bem. Surpreendentemente bem. — Tão bom pra


caralho, espero não estragar tudo.

— Você parece surpreso com isso.

— Eu estou. Nunca encontrei tempo para algo sério como


isso antes.

— Há quanto tempo você está namorando Elena? Já se


passaram dois meses?

— Perto. E acredite em mim, estou igualmente chocado.

Tom entrelaça os dedos.

— O que estar em um relacionamento te choca?

— Você precisa de mais além do fato de que eu sou eu e


Elena é a Elena?

Ele inclina a cabeça.

— Diga-me o que isso significa para você.

Oh, Tom. À medida que ficamos mais à vontade um com o


outro, ele se torna mais ousado em suas perguntas. Não sou
exatamente contra, mas me desafia a ser mais aberto com ele.

— Elena tem sua vida bem organizada, além de alguns


contratempos. Mesmo suas partes bagunçadas são inofensivas
comparadas às minhas. Ela deseja atingir os mais altos padrões
e não tem problemas em enfrentar seus problemas. E foda-se,
ela confia em mim para ajudá-la a superar seus medos.

— Isso te assusta? Alguém que confia em você para ser


sua rocha?

— É aterrorizante pra caralho.

Tom ri.

— Eu posso atestar isso.

— Você é casado. Fale sobre alcançar o mais alto nível de


confiança. — Aponto para seu anel.

— Claro. Mas eu não faria de outra maneira.

Luto para revirar meus olhos.


— Claro, você diria isso. Você é casado e um terapeuta,
então você deve pregar sobre boas vibrações e citações para
Segunda-feira de motivação.

Tom solta uma gargalhada.

— Diga-me uma coisa. Qual é a sensação de saber que


Elena confia em você o suficiente para contar com você quando
ela está com medo?

— Bom. Muito bom pra caralho. Como se eu fizesse o que


pudesse para banir todas as merdas que a prendiam, de uma
forma ou de outra.

— Então aí está. Sinto o mesmo por ter alguém que confia


em mim também.

Merda. Conversar com Tom me dá uma nova perspectiva.

— Eu tenho outro problema.

— Vamos ouvir isso.

Engulo de volta meus nervos.

— Quero fazer o teste preditivo. Preciso saber se tenho


Huntington ou não para poder seguir em frente. Vou pedir à
minha mãe para organizar o aconselhamento genético e o teste
propriamente dito.

As sobrancelhas de Tom se erguem – sua única


demonstração de surpresa. Ele se inclina mais perto.

— Isso é muito corajoso da sua parte. O que mudou?

Tudo. Cada porra de coisa e não há nada que eu possa


fazer sobre isso. Não quando Elena se infiltrou em minhas
paredes cuidadosamente erguidas, soprando através delas como
se fossem feitas de papel.

— Decidi que talvez eu esteja lidando com essa situação da


maneira errada. Com a nova medicação, alguns dos tremores
melhoraram e eu odiaria pensar que vou continuar me
preocupando com nada.

— Fico feliz em saber que a mudança de medicação tem


ajudado você. Posso dizer que você fez grandes melhorias em
sua vida até agora e estou muito orgulhoso de você.

Aceno minha cabeça.

— Não quero que as preocupações assumam mais a minha


vida. É exaustivo.

— Você sabe que sempre vou bancar o advogado do diabo.


Embora esteja impressionado com o progresso que você fez, me
preocupo com o que aconteceria se você não recebesse as
notícias que deseja ouvir. Especialmente se você descobrir más
notícias antes do fim da temporada. O que acontece então?
Meus olhos deslizam dos olhos de Tom para minhas mãos.

— Então eu faço o que faço de melhor.

— E o que é isso?

— Autodestruição.
39

Jax

Disco o número da minha mãe com dedos trêmulos.

Ela atende no primeiro toque, não me dando muito tempo


para me preparar.

— Ei! Que surpresa!

Respiro fundo.

— Ei, mãe. Eu tenho uma pergunta.

— Vou fazer o meu melhor para responder.

— Você diz a mesma coisa desde que eu era criança.

— Porque você era muito curioso para o seu próprio bem, e


faria um milhão de perguntas. Tenha simpatia por criar um
filho sem um smartphone.

— Uau, esqueci quantos anos você tinha.

Ela ri.
— O que você quer perguntar?

— Você me disse que teria alguém para fazer o teste


preditivo se eu quisesse?

A falta de resposta dela aumenta meu nervosismo.

Continuo querendo preencher o silêncio.

— Sempre posso esperar pelo fim da temporada de


corridas. Mas... — Talvez esse seja um plano melhor, caso as
coisas não saiam do jeito que eu quero e eu receba a sentença
de prisão perpétua que eu não quero.

— Não! Está bem. Posso fazer com que um conselheiro


genético se encontre com você por meio de sessões on-line antes
que você possa vê-lo pessoalmente quando chegar à Itália. Eles
podem obter os resultados mais rápidos.

— Você virá para a Itália? Eu não sei se eu...

— Claro, — ela diz sem hesitação. — Seu pai e eu podemos


voar para lá e nos encontrar com você antes de todos irmos ao
conselheiro. Isso nos dá cerca de duas semanas para fazer os
arranjos.

— Obrigado.

— Você não precisa me agradecer. É meu trabalho como


sua mãe. E estou tão orgulhosa de você por querer fazer isso –
por ser corajoso o suficiente para tentar.

— Tenho observado outra pessoa enfrentar seus medos e é


hora de fazer o mesmo.
40

Elena

Um grito sai correndo de mim quando pulo da cama. A


escuridão me faz estremecer quando uma onda de náusea me
atinge. Respiro grandes goles de ar para aliviar meu estômago
de embrulhar, querendo lutar contra a angústia.

Não é real. É apenas um pesadelo. Estou na Itália, não no


México. Eu sou uma adulta, não sou mais uma criança.

— Porra, sinto muito. Esqueci de deixar uma luz acesa. —


A voz sonolenta de Jax mal é audível por cima da minha
respiração pesada. Ele se apressa para encontrar o interruptor
da luz noturna.

A pouca luz ilumina seu rosto grogue. Tento levantar da


cama, mas Jax puxa meu braço, fazendo minha cabeça pousar
em seu peito.

— Não vá. Você não precisa mais fugir dos pesadelos, —


ele sussurra em meu cabelo.

Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto e pousam em


seu peito nu.

— Você quer falar sobre isso? — Ele passa a mão pelo meu
cabelo em um gesto que aprendi a amar.

Balanço minha cabeça.

— É constrangedor eu não conseguir dormir no escuro.


Que tipo de vida é essa?

— Uma onde você ainda está se curando. Coisas assim


levam tempo.

— Como você sabe?

— Porque estou aprendendo a curar também. Não é tão


fácil quanto os filmes tentam mostrar.

Solto uma risada rouca.

— Você é secretamente um idiota.

— Por que você acha que Liam e eu nos damos bem? Ele
tem seus livros e eu meus filmes. — Ele envolve seus braços em
volta de mim, apertando-me em seu peito. Seu cheiro picante
me acalma.

O silêncio nos envolve. Com Jax me segurando, a


escuridão não parece tão intimidante. A prisão mental que criei
ao longo dos anos afrouxa seu domínio enquanto Jax passa a
mão suavemente pelo meu cabelo.

Respiro fundo, me concentrando antes de me acovardar.

— Jax?

— Mm. — Seu peito faz barulho embaixo de mim.

— Acho que estou me apaixonando por você. — As


palavras saem de meus lábios no mais leve sussurro.

Ele fica quieto por um minuto sólido. Eu me questiono,


mas ele me aperta com mais força contra ele.

— Elena?

— Mm. — Eu o copio.

— Eu já sei que eu estou.


41

Jax

Minha mãe cumpriu sua promessa, agendando-me para


um lugar cobiçado com um conselheiro de genética italiano que
poderia agilizar meus testes. Mamãe não costuma jogar dinheiro
nas pessoas, mas faria qualquer coisa para que eu fosse testado
rapidamente, antes que eu me acovardasse. Eu fiz a retirada de
sangue na segunda-feira. Na quinta-feira, tive os resultados.

Meus pais e eu nos sentamos juntos no consultório


médico. Examino as características faciais do médico,
esperando por um sorriso ou um suspiro de alívio. Seu rosto
não revela nada enquanto ele lê o documento à sua frente.

Mamãe e papai pegam uma de minhas mãos trêmulas. Eu


os deixo cuidar de mim, a ansiedade tornando difícil para eu
respirar direito.

O médico olha para nós e abre a boca.

Basta uma palavra para mudar a vida de alguém.

Apenas uma palavra para destruir toda a esperança que


construí com Elena.

Oito letras. Quatro sílabas. Um significado.

Positivo.
42

Elena

Procuro o número de Liam no meu telefone e ligo para ele.

— Ei, Jax está com você?

— Não. Estou com a Sophie. Eu pensei que ele estava com


você?

Franzo a testa, verificando os quartos da nossa suíte


novamente. Desde Londres, começamos a dividir um quarto.
Seus Docs estão jogados em um canto ao lado do meu par de
saltos favoritos e minha maquiagem está alinhada no balcão do
banheiro ao lado de sua navalha. É doméstico e diferente de
tudo que eu poderia imaginar.

Minha procura não deu em nada.

— Não. Ele não atendeu minhas ligações. Mais cedo, ele


me mandou uma mensagem, dizendo que ia passar um tempo
com você hoje.

— Ele vai aparecer. Talvez ele tenha saído com alguns


amigos após as rodadas de prática. Ligue para Noah, porque
talvez ele tenha ouvido falar dele.

— Ok. Obrigada. — Desligo e tenho uma conversa


semelhante com Noah depois que interrompi seu jantar mais
cedo com Maya e Santi. Mando uma mensagem para todos que
saem com Jax, incluindo Connor, mas ninguém tem ideia de
onde ele está.

Envio outra mensagem pedindo a Jax para me ligar. Meu


instinto me diz que algo não está certo, mas não consigo
descobrir por quê. Em vez de me preocupar demais, tomo um
longo banho de espuma, esperando que um banho de espuma
possa me acalmar.

Meu telefone apita enquanto estou na banheira. Corro


para fora, pingando água em todos os lugares enquanto pego
uma toalha e envolvo em volta do meu corpo.

O nome de Jax ilumina minha tela e eu atendo.

— Ei, onde você esteve? Estou preocupada e pensei que


algo havia acontecido. — Solto um suspiro de alívio.

— Foi mal. Meus pais vieram de surpresa e estive com eles


o dia todo. Lamento não ter ligado antes. — Sua voz soa tensa e
fora do comum.

— Oh. — A decepção me preenche com a falta de um


convite.
— Sim. Eles estão hospedados em um dos apartamentos
alugados do meu pai, então decidi passar a noite com eles. Você
ficará bem sozinha esta noite?

A tontura me consome com sua preocupação.

— Eu dormi sozinha por vinte e cinco anos. Acho que


posso sobreviver uma noite sem meu guarda-costas pessoal.
Além disso, eu sempre tenho minhas lanternas noturnas super
legais e totalmente adultas que alguém me deu.

Ele não ri, substituindo minha felicidade por preocupação.

— Eu quero ter certeza de que você vai ficar bem. Se eu


não estiver lá... — Sua voz some.

— É uma noite, então não é grande coisa. Você pode me


compensar com abraços extras amanhã.

— Certo.

Uma sensação torturante dentro de mim me diz que algo


está errado, mas Jax não parece aberto para compartilhar
agora. Não quero ser uma namorada chata nem nada quando
somos novos.

— Acho que te encontrarei na pista amanhã se você ficar


com seus pais esta noite.

— Certo. — Ele solta um suspiro resignado.


— Está tudo bem?

Ele não responde imediatamente.

— Na verdade, não. Mas estará eventualmente.

— Você quer falar sobre isso?

— Não. — Jax faz uma pausa. — Sinto muito. — Ele não


diz mais nada.

— Vou deixar você ir então para que possa passar um


tempo com seus pais. — Escondo a dor em minha voz à sua
distância.

— Cuide-se. — Jax desliga, não me dando a chance de


perguntar o que ele quis dizer.

Depois de assistir a um episódio na TV e acender minhas


luzes noturnas, fechei os olhos, caindo na inconsciência.
43

Jax

Mamãe me implora para não sair do apartamento. Até


papai me pede para ficar e conversar com eles – para não
estragar tudo de bom que aconteceu comigo nesta temporada.
Eu não escuto seus apelos. Estou comprometido em me foder
da pior maneira possível para salvar a melhor coisa da minha
vida.

Mais cedo, levou tudo de mim para mentir para Elena e


não confessar as notícias desastrosas que descobri. Para pedir a
ela que me ame de qualquer maneira, doença e tudo. Mas não
posso fazer isso com ela.

Depois de tudo com sua avó, me recuso a ser mais um


fardo em sua vida. Não posso arrastá-la comigo, esperando que
ela fique bem em nunca ter seus próprios filhos.
Definitivamente, não posso pedir a ela que escolha um
relacionamento com alguém que murchará como uma planta
faminta à medida que envelhece. Inferno, eu não vou foder
como estou acostumado, muito menos adorá-la como ela
merece.

Cada decisão dolorosa que tomo esta noite é por ela.

A falsa festa do clube mais exclusivo do Milan.

A explosão de raiva que tive, resultando em virar uma


mesa e quebrar garrafas em todos os lugares.

Os seguranças me escoltando para fora do clube e me


jogando de bunda para fora.

Os paparazzi chamados por seus verdadeiros paparazzi


para estar lá ao mesmo tempo, filmando meu tumulo. Minha
falsa embriaguez estará espalhada em todas as plataformas de
mídia social amanhã de manhã.

Permito que a raiva me consuma enquanto lamento a vida


que eu queria. Estou sóbrio a cada maldito segundo da minha
queda, querendo me lembrar da dor. Eu mereço, sabendo
exatamente o quanto vai doer em Elena quando ela acordar e
perceber que eu a traí da pior maneira.

Ela pode não acreditar que eu a amo depois de tudo que


fiz, mas sinto isso vazando de cada nervo do meu corpo. O amor
não tem a ver com os sentimentos piegas que alguém lhe dá.
Dane-se as borboletas e essa merda. Foda-se os filmes
promovendo finais irreais em que o cara fica com a garota, não
importa o drama e os obstáculos em seu caminho.
O amor é perigoso e letal. É uma questão de sacrifícios e
disposição para proteger as pessoas de quem você cuida a todo
custo. Elena pode não ver dessa forma, mas eu quero salvá-la.

Os pesadelos de Elena não têm nada a ver com o que eu


vou me tornar um dia. Para salvá-la, eu mando meu
relacionamento para o inferno, comigo junto com ele.
44

Elena

Acordo com o meu telefone caindo da minha mesa de


cabeceira depois de vibrar uma e outra vez. Forçando-me a sair
da cama, me curvo para pegá-lo, esperando que quem esteja me
ligando às 5 da manhã tenha um bom motivo.

Tenho quatro chamadas perdidas de Connor, oito


mensagens de texto de Elías e várias notificações no Twitter.
Antes que eu tenha a chance de verificar, meu telefone toca
novamente, piscando com o nome de Connor. Respondo sem
pensar duas vezes.

— Ei, Connor. Acabei de acordar e vi que você me ligou?

— Onde diabos você estava ontem à noite? — A voz irritada


de Connor me atinge como uma dose de cafeína.

Minha frequência cardíaca aumenta.

— Dormindo no meu quarto de hotel?

— Por que você não estava assistindo Jax? — Ele grita.


— Jax? Ele está com os pais.

— Olhe suas mensagens.

Coloco Connor no viva-voz para poder abrir as mensagens


que ele me enviou. Cada mensagem fica cada vez pior, de Jax
festejando com um grupo de estranhos até ele pirando e
enlouquecendo. Luto para obter oxigênio em meus pulmões.

— Por que ele faria isso? — As palavras saem em um


chiado.

— Não sei, mas você tem que entender por que preciso
contratar outra pessoa para terminar este trabalho. Preciso de
alguém que seja objetivo com a situação. Foi um erro pensar
que vocês poderiam trabalhar juntos depois que vocês dois
começaram a desenvolver sentimentos. Vou confessar isso.

— Espera. Por favor, não me diga que você está me


despedindo?

— Não é nada pessoal. Você sabe que eu acho você


excepcional em seu trabalho, mas Jax... você está muito
envolvida emocionalmente e preciso de alguém para consertar
isso o mais rápido possível.

— Deixe-me ser a única a consertar isso. Por favor. —


Odeio implorar. Vai contra tudo em mim, mas estou disposta a
fazer isso por Jax e Abuela.
Connor suspira.

— Sinto muito, mas não acho uma boa ideia.

— Mas... — Minha voz tensa me faz estremecer.

— Eu realmente sinto muito por rescindir seu contrato


mais cedo. Eu absolutamente odeio fazer isso, especialmente
porque eu gostei de ter você por perto.

— Compreendo. — O que torna toda essa experiência


ainda mais dolorosa. Eu falhei. Claro e simples. Eu falhei tão
horrivelmente que espero que minha carreira possa se
recuperar disso. — Obrigada pela oportunidade. Sou eu que
lamento o que aconteceu.

— Elena, por favor, não deixe esta rescisão ou Jax


derrubar sua confiança. Você realmente é incrível no seu
trabalho.

Quem se importa em ser incrível quando não terei dinheiro


suficiente para ajudar a Abuela a longo prazo?

— Obrigada. — Consigo dizer.

— Por favor, não hesite em me pedir qualquer carta de


recomendação ou referência. Embora Jax não tenha
funcionado, tenho certeza de que há outros que se encaixam
melhor no seu tipo de serviço.
— Obrigada. — As consequências da decisão de Jax
causam estragos em minhas emoções. Meu corpo treme
enquanto tento me controlar ao telefone.

— Vou pedir à empresa que envie seu último pagamento.


Sinta-se à vontade para entrar em contato se precisar de
alguma coisa.

Uma respiração instável desliza pelos meus lábios


enquanto considero a perda do meu bônus.

— Adeus. Obrigada por tudo, Connor. Desculpe-me, eu te


decepcionei.

— Tome cuidado, Elena. Tchau.

O clique do telefone aumenta o vazio em meu peito. Tudo


gira em torno de mim. Eu deito na cama e fecho os olhos
desejando que as lágrimas desapareçam. A escuridão com a
qual estou muito familiarizada implora para assumir. Tento
lutar o melhor que posso, mas a traição faz com que a tristeza
envolva meu coração partido.

Jax arruinou mais do que minha confiança nele. Ele


precisou de uma decisão imprudente para jogar fora minha
chance de cuidar da Abuela da melhor maneira possível.
Pressiono meu rosto em um travesseiro para abafar meus
gritos. A única pessoa que deixei entrar em minha vida mais do
que qualquer outra a arruinou em questão de vinte e quatro
horas.

Choro por minha avó e minha reputação de trabalho,


agora manchada. Minhas lágrimas de tristeza se tornam
aquelas de frustração enquanto eu me culpo por ficar perto de
alguém como Jax. Ele me avisou que nada de bom poderia vir
de nós ficarmos juntos e ele estava certo.

Pensei que era a salvação de Jax, mas descobri que ele era
minha condenação.

Nada de bom poderia vir dele. Não importa o que eu faça,


não posso salvar alguém com a intenção de se afogar em álcool,
com aversão a si mesmo e autopiedade. Especialmente quando
ele está desesperado para afastar todo mundo às custas de sua
própria depressão e ansiedade. E o mais importante, eu não
quero.

Eu mereço mais do que isso. Porra. Eu mereço mais do


que ele.

Passo a próxima hora arrumando minha bagagem para


passar o tempo. Jax precisa voltar eventualmente para pegar
sua bolsa de corrida antes de suas rodadas de prática e eu
preciso de algo para ocupar minha mente. Do contrário, vou
acabar chorando e não quero deixar os pensamentos sombrios
vencerem hoje.

Por volta das 7 da manhã, Jax entra no quarto do hotel


como se fosse o dono do maldito lugar. Seus olhos deslizam da
minha bagagem na porta para encontrar o meu olhar.

— Por quê? — Faço uma carranca para seus olhos


vermelhos, odiando como isso me lembra de quanto álcool ele
bebeu na noite passada.

Seu olhar indiferente faz meu coração doer.

— Eu queria me divertir.

— Por que mentir? Por que não me pediu para ir com


você? — Por que esmagar meu coração com uma marreta
emocional?

— Porque eu não queria você lá, obviamente. Não estava


com humor para sua decepção e julgamento.

— Aconteceu alguma coisa com sua mãe? É por isso que


eles vieram para a Itália? Nesse caso, não há problema se você
cometeu um erro no calor do momento. Eu entenderia. — Seria
difícil, mas estou disposta a perdoá-lo porque me importo.

— Não. De modo nenhum. Tenho um monte de merda


acontecendo e precisava de uma noite sem você. Eu queria uma
noite de sono sem você acordando e gritando.

Meu coração destroçado se despedaça um pouco mais com


suas palavras.
— É assim que você se sente sobre nós? Alguns meses
atrás, você queria ser diferente. As pessoas não mudam tão
rápido. O que aconteceu? — Minha voz rasga.

— Eu não quero mais ficar perto de você. As coisas estão


mudando muito rápido e não consigo acompanhar você e as
demandas da temporada. Sinto muito por como as coisas estão
terminando entre nós.

— Eu não quero suas desculpas. Eu quero estar com


alguém mais forte do que o medo que os impede. — Eu de
alguma forma contenho a dor em minha voz, protegendo minha
dor atrás de uma parede de gelo.

— Isso é muito vindo de uma pessoa que tem medo da


porra da escuridão.

Respiro fundo, falhando em aliviar a queimação no meu


peito e olhos.

— Este não é você.

Ele vira a cabeça para longe de mim.

— Eu entendo que estou muito fodido para lidar com


alguém igualmente fodido. Tudo o que está acontecendo agora
na minha vida prova que não posso ser esse tipo de herói para
você. E não preciso namorar alguém atormentada por pesadelos
e memórias ruins, ou que estraga meu aniversário porque não
consegue nem assistir a um filme destinado a adolescentes.
Posso estar uma bagunça, mas você é o mesmo. Você apenas
esconde melhor. Vá para casa e se conserte. Cure. Encontre
alguém que seja melhor para você do que eu. — Sua voz falha.

Uma única lágrima escapa do meu olho e rasteja pela


minha bochecha.

— Eu não sabia que você se sentia assim sobre mim.

Seu peito treme, revelando sua irritação reprimida.

— Eu percebi ontem depois de tudo com minha mãe, eu


preciso de alguém que possa me apoiar, ao invés de eu apoiá-la.
A vida é muito curta para passar com o tipo errado de pessoa.

A respiração irregular que solto dói muito.

— A única pessoa que está errada aqui é você. Aproveite


sua vida, Jax. Espero que seja longa, para que você possa se
irritar com seu ressentimento e autoaversão. Obrigada por foder
meu trabalho e obrigado por esmagar meu coração em nada
para igualar ao seu. — Pego minha bagagem e passo por ele
sem olhar para trás. — E posso ter medo do escuro, mas talvez
seja por uma boa razão, visto que há monstros como você por
aí. — Afasto-me com meu queixo erguido, apesar do meu
coração quebrado.

Passo a caminhada inteira em direção a um táxi entoando


para mim mesma que eu vou conseguir. Como posso manter
minhas emoções neutras até perder a visão. No momento em
que entro no carro, um soluço rasga minha garganta. Desligo
meu telefone e cedo à tristeza e à traição, permitindo-me esse
único momento de fraqueza.

Prometo a mim mesma quando chegar em casa, não vou


chorar mais. Não por minha carreira. Não pelo meu passado. E
definitivamente não para pessoas que não apreciam o que há de
bom em suas vidas.

Cansei de salvar as pessoas às minhas custas. cansei de


me agarrar a um passado de mágoa, esperando que melhore
sem colocar esforço nisso. E, acima de tudo, terminei com Jax
Kingston e nada que alguém possa dizer ou fazer vai me
convencer do contrário.
45

Jax

— Espero que você esteja feliz pra caralho, seu pedaço de


merda. — Elías me empurra.

O suor escorre pelo meu rosto após uma intensa sessão de


prática. Meus pais acharam que seria uma boa ideia pular o
resto do fim de semana da corrida, mas eu não poderia fazer
isso com minha equipe. Além disso, o desaparecimento
dispararia muitos alarmes de Elena. Eu não estava mais dando
a mínima para ganhar o campeonato, não quando já perdi
tanto. Mesmo estando alguns pontos atrás de Noah é
enfadonho. Como posso estar feliz por possivelmente ganhar um
campeonato em alguns meses, quando não tenho nada para
esperar depois?

De alguma forma, Elías manteve sua raiva sob controle por


algumas horas enquanto terminávamos as entrevistas e
praticávamos na pista. Não era segredo que ele se ressentia de
mim pelo que eu fiz a Elena esta manhã, mas ele manteve isso
profissional na frente dos repórteres e da equipe. Meu momento
de paz chega ao fim quando ele me encara com as narinas
dilatadas e os olhos selvagens em busca do meu sangue.

Elías me empurra novamente, fazendo com que mecânicos


nos encarem.

Eu grito.

— Mantenha suas mãos para você antes de eu mostrar


como as minhas são boas quando elas reorganizam seu rosto.

Elías rosna.

— Você é o pior companheiro de equipe. O pior namorado.


Simplesmente o pior pra caralho.

— Você planeja compartilhar alguma informação nova


comigo? — Coloco minhas mãos no bolso para esconder meu
tremor.

— Eu não deveria ter dito a ela para tentar nada com você.
Você arruinou tudo. Agora sua avó precisa se mudar para uma
nova instalação depois de se acostumar com sua nova casa.
Tudo porque você é um idiota que não conseguiu manter a
calma por um ano. Um maldito ano! Elena e eu crescemos com
quase nada e você está aqui estragando o trabalho dela porque
quer. Vou tornar minha missão pessoal tornar sua vida
miserável aqui. Eu prometo.

Meu corpo enrijece.


— O que você quer dizer com a avó dela terá que se mudar
de casa?

Os punhos de Elías se apertam.

— Seu contrato era baseado em um pagamento mensal.


Agora que a temporada foi interrompida para ela, ela não pode
pagar esse novo lugar. E Elena não aceita merda das pessoas
sem que ela trabalhe para isso, então ela nunca vai aceitar meu
dinheiro se eu me oferecer para pagar pela estadia de sua
abuela. Acredite em mim, eu tentei. Sua pequena proeza não
apenas dificultou a contratação dela por outros, mas agora ela
não recebe o bônus de que contava para pagar suas contas.
Então, vá se foder, Kingston. Espero que se embebedar tenha
valido a pena arruinar sua reputação e a dela. — Elías me
ignora e sai da garagem.

Merda. Eu não pensei sobre a questão sobre o contrato de


Elena. Como eu poderia quando estava lutando contra minhas
próprias notícias.

Porra. Filho da puta de merda. É por isso que analiso


demais as decisões. Irracionais como a que eu fiz levaram a
merdas como essa. Ignoro a ansiedade rastejando em meu
cérebro porque não posso me dar ao luxo de enlouquecer agora.
Elena precisa da minha ajuda, queira ela ou não. É o mínimo
que posso fazer.
Corro para o escritório de Connor e entro sem bater.

— Era apenas uma questão de tempo antes de eu te ver


novamente. Voltou para mais repreensão? Estou surpreso que a
palestra desta manhã não tenha sido dolorosa o suficiente para
você.

Acredite em mim, sua palestra foi a coisa menos dolorosa


da minha semana inteira.

— Eu não estou aqui por mim. Eu preciso falar com você


sobre Elena.

Connor balança a cabeça.

— Por que você se importa? Você é aquele que não a queria


por perto.

Sento-me na cadeira vazia em frente a sua mesa.

— Eu não a quero por perto, mas isso não significa que eu


acho que ela não deveria ser paga por todos os danos que eu
causei. Eu cobrirei o resto do contrato de Elena, então não
retenha seu pagamento por causa do meu erro. Considere isso
como pagamento extra por trabalhar em condições perigosas.

— Eu deveria dizer não para que você aprenda sua lição e


viva com as consequências de suas ações.

Minha esperança é um salto de paraquedas.


— Puna-me como quiser. Eu não dou a mínima, desde que
ela receba o dinheiro que sempre planejou receber. — Minha voz
sugere o desespero que sinto.

Connor se recosta na cadeira e me encara.

— Diga-me por que você fez isso e vou ver se considero sua
demanda.

— Não.

— Você não está em posição de barganhar. Se você não


compartilhar, então não é meu problema o que acontecer com
ela. — Ele encolhe os ombros, dispensando-me.

Peso minha decisão com cuidado. Algumas respirações


profundas não fazem nada para aliviar o peso no meu
estômago.

— Eu não planejava arruinar sua chance de um emprego e


seu salários.

— Ainda assim você fez. — Ele bate a caneta contra a


mesa.

Uma respiração profunda. Duas respirações profundas. Três


– oh foda-se essa merda.

— Eu fiz o teste genético.


O rosto de Connor muda de raiva para compaixão.

— Porra.

— Não obtive os resultados que esperava. — Olho para


longe do olhar de Connor, com medo de ver sua pena. Aceitar a
simpatia dos outros parece uma forma de aceitar minha doença
e não estou pronto para isso.

— Merda, sinto muito, Jax, embora minhas desculpas


nunca possam ser o suficiente para você. Como posso ajudar?

Engulo, lutando contra os pensamentos que ameaçam me


consumir. Evitei falar com todo mundo sobre isso, inclusive
meus pais, porque negar parece mais seguro do que aceitar o
resultado sombrio da minha vida.

O primeiro pensamento que tive ontem foi como eu


precisava afastar Elena. Não por causa de minhas próprias
razões egoístas, mas porque eu não poderia ser egoísta o
suficiente. E vamos encarar – muitas decisões em minha vida
giraram em torno de mim. Mas terminar as coisas com Elena?
Essa foi 100% a coisa mais difícil que fiz para mim mesmo.

— Eu quero que as coisas sejam normais. Não preciso que


mais ninguém saiba antes do final da temporada. Se eu decidir
dizer alguma coisa.

— Mas a pressão é boa para você? Não quero que a F1


coloque mais estresse em seu corpo.

— Isso é tudo que tenho a meu favor. Sobrevivi toda a


minha vida ao volante, então acho que posso lidar com o resto
da temporada.

Connor acena com a cabeça.

— Eu vou ajudar Elena. Não se preocupe com isso.

— Não diga a ela que é por minha causa, por favor.

— Você realmente vai deixa-la ir?

Desvio o olhar.

— Ela nunca foi minha para mantê-la. A vida comigo seria


como viver em uma gaiola dourada – bonita de se ver, mas uma
gaiola, no entanto.

Eu nunca experimentei uma dor como quebrar o coração


de Elena. Aprender sobre meu diagnóstico e arruinar qualquer
chance de ter um futuro com a pessoa que amo, tudo em vinte e
quatro horas me esgotou. Luto contra tudo em mim para não
ligar para ela e implorar por uma chance. Para não lutar por ela
e por nós, porque não consigo imaginar não a ter por perto.

É preciso muita força para entrar em nosso quarto depois


da luta desta manhã.

Meu quarto.

Tomo um banho para me dar algo para fazer. Algo na


lixeira chama minha atenção quando estou prestes a sair do
banheiro. Eu pego a lixeira e a viro de cabeça para baixo. Cada
luz noturna que comprei para Elena cai na pia. A dor surda em
meu peito se transforma em uma ferida completa quando
encontro suas pequenas notas roxas que ela deve ter tirado do
meu frasco de comprimidos.

Luto entre querer bater meu punho no espelho e pegar


uma minigarrafa de álcool da geladeira para afogar minhas
emoções. Lutando contra o desejo, voto contra as duas opções,
esperando poder me controlar o suficiente para passar por esta
fase difícil.

Pego as notas da pia. Em vez de devolvê-las à lixeira,


coloco-as na minha bolsa de mão. Minhas mãos tremem
enquanto jogo cada luz noturna de volta na lixeira, porque não
tenho uso para elas.

Fico deitado no escuro, lutando para adormecer pela


primeira vez sem Elena. Para evitar a tentação de ligar para ela,
vou ao banheiro para pegar um copo d'água. A lixeira cheia de
luzes me provoca mais uma vez. Por um capricho, pego uma e
ligo na tomada do lado da cama de Elena.

Fico olhando para o carro de F1 e espero que ela possa


encontrar um dia em seu coração para amar outra pessoa.
Causar dor agora, em vez de mais tarde, parecia a melhor
opção, mas o raciocínio por trás de minhas ações não alivia a
dor no meu peito.

Não consigo imaginá-la me empurrando em uma cadeira


de rodas ou desistindo de ter seu próprio filho. Sua vida tem
sido atormentada por sacrifícios após sacrifícios e não consigo
acreditar que eu seja egoísta o suficiente para aumentar sua
miséria.

Fecho meus olhos, aceitando o desgosto, sabendo que fiz a


escolha certa por ela.

Mamãe bate na minha porta antes de entrar no quarto do


hotel.

— Seu pai queria que eu perguntasse se você estava


interessado em jantar conosco? Não queremos que você vá para
a cama com fome antes da qualificação de amanhã.

Não me incomodo em me levantar da cama. Depois de


fazer uma cara falsa durante as rodadas de prática, tudo que eu
queria fazer era chafurdar em meus sentimentos.

— Não, obrigado. Estou bem, pedirei uma refeição daqui a


pouco.

Mamãe vai para o outro lado da cama e sobe nela. Ela se


deita e agarra minha mão como se eu fosse uma criança de
novo.

— Diga-me como posso melhorar isso. Como posso


consertar?

— Não há nada para consertar. Foi feito porque eu destruo


tudo.

Ela aperta minha mão com mais força.

— Você sempre pode se desculpar. Se você se arrepende,


nunca é tarde demais para acertar as coisas com Elena. Você
está em um lugar vulnerável agora. Ela entenderia mais do que
ninguém como as coisas podem sair do controle.

— Não, ela não vai. Eu me certifiquei de que ela não iria


querer ficar comigo nunca mais, muito menos falar comigo. Usei
todos os segredos e momentos vulneráveis que ela já
compartilhou comigo contra ela.

— Por quê? — Mamãe não consegue evitar a tristeza em


sua voz.

— Porque eu não sou seu cavaleiro de armadura brilhante.


Eu sou a porra do ceifador cruel roubando seu maldito futuro.

— Eu me sinto tão culpada. Parte meu coração ouvir você


falar assim. — Ela vira a cabeça. Algumas lágrimas escorrem de
seu rosto para o meu travesseiro.

Uma sensação de frio se espalha pelo meu corpo com a


angústia da minha mãe.

— Por favor, não chore. Eu sinto muito.

— Eu não posso evitar. Você é meu filho e eu trouxe isso


para você. É minha culpa.

— Era uma chance meio a meio. As probabilidades


estavam contra mim desde o início.

— Mas você estava feliz. — Ela enxuga algumas lágrimas.


— Você estava finalmente encontrando a felicidade. Eu deveria
ter desencorajado você de fazer o teste. Em vez disso, ajudei
você, pensando que seria diferente. E agora...

— Agora eu salvei Elena de uma vida de dor. Não saber


teria me consumido eventualmente. Melhor saber agora do que
mais tarde, depois do casamento e...

— Filhos. — Mamãe acena com a cabeça em compreensão.

— Eu não teria sido capaz de negar a Elena essa


experiência. Se alguma vez ficássemos sérios assim.

— Você não deveria deixá-la decidir isso?

— Ela decidiria ficar ao meu lado.

— Então é alguém que você quer no seu lado desde o


início. — Mamãe me oferece um sorriso vacilante.

— Você não entende. Eu não posso suportar o peso dela


estar infeliz comigo. Eu nunca teria um filho sabendo que
poderia transmitir o gene. Isso e eu não quero que minha
namorada, ou talvez esposa um dia, cuide de mim enquanto eu
estou definhando.

Ela recua, seu corpo fica tenso.

— É assim que você acha que seu pai se sente por mim?

— Merda. Não. Papai te ama mais do que tudo. Mas não


estou cego para a dor que causa ele ao ver você chateada e
machucada.

Seu lábio treme.

— Eu imploro que você reconsidere seu relacionamento


com Elena. Você não quer tomar uma decisão séria quando está
emocional e perdido. Você recebeu notícias que virariam o
mundo de qualquer pessoa e não é hora de tomar uma decisão
que mude sua vida.

— Eu arruinei qualquer chance de nós voltarmos de


qualquer maneira. Eu tive de fazer isto. Sinceramente, não
esperava que o teste fosse positivo. — Minha voz engasga. —
Achei que tinha uma chance real porque os tremores
melhoraram depois de trocar os medicamentos e minha
ansiedade estava mais controlada.

Fiz um bom trabalho, destruindo todas as esperanças de


Elena de ter qualquer tipo de vida comigo. Abracei sua dor como
se fosse minha, com cada palavra de dor escapando de sua boca
me atingindo como uma adaga no peito.

Eu tive esperança, pelo menos uma vez. E como tudo na


minha vida, foi inútil e temporário.

Mamãe aperta minha mão com mais força.

— Eu sei. Eu esperava que não fosse. Deus, eu orava dia e


noite depois que marcarmos a consulta.

Uma lágrima escorre do meu olho. Não estou acostumado


a chorar, mas parece que tudo está desabando ao meu redor.
Cada maldita coisa.
— Para onde eu vou daqui?

— Você vai superar isso e aproveitar todos esses anos que


você ainda tem. Eu não posso responder o que você quer da
vida. Só você pode.

— Tudo que eu queria ou pensava que queria, parece


impossível. — Fico olhando para o teto.

— Apenas para você. — Mamãe permanece quieta, me


fazendo companhia em meio à minha miséria.

Mamãe não diz mais nada. Ela segura minha mão


enquanto cambaleio à beira de quebrar, não querendo me
empurrar para o limite.

Minha tristeza diminui, substituída pelo vazio.

Um vazio negro e entorpecedor.


46

Jax

Respiro fundo enquanto subo os degraus do meu jato


particular.

— Ei idiota, você está planejando entrar ou quer nos


deixar esperando aqui? — Liam grita atrás de mim.

Sophie ri.

— Por que eu convidei vocês dois de novo? — Cerrando os


punhos, entro na cabine. Memórias inundam minha cabeça
enquanto verifico o assento que Elena sempre preferiu. O vazio
em meu peito muda para saudade enquanto avalio o quebra-
cabeça completo.

— Porque você é um bom amigo e meu jato precisa de uma


verificação de manutenção. — Liam grita atrás de mim
enquanto entra.

— Você deveria voar em um voo comercial.

Liam engasga zombeteiramente.


— Você me odeia tanto assim?

Jogo-me em uma cadeira em frente à antiga de Elena.

Sophie olha o quebra-cabeça, traçando o dedo ao longo da


borda.

— Uau. Isso é impressionante. Eu não achei que você fosse


uma pessoa que gostasse de quebra-cabeças.

— Ele não é. — Liam desliza para a cadeira em frente a


mim.

— Oh. — Os olhos de Sophie brilham com o


reconhecimento.

— As coisas que fazemos por aqueles que amamos. —


Liam dá um tapinha na cadeira ao lado dele para Sophie se
sentar.

— Por que você terminou as coisas com Elena? — Sophie


morde o lábio inferior.

— Eu não estou falarei sobre isso com vocês dois. Ainda


não é tarde para vocês dois pegarem um voo. — A culpa destrói
minha clareza mental enquanto penso no verdadeiro motivo
pelo qual terminei as coisas com Elena. Odeio a imagem não
solicitada que se infiltra na minha cabeça dela chateada comigo,
segurando suas lágrimas enquanto ela levanta o queixo em
desafio.

Acima de tudo, odeio me perguntar se vou me arrepender


de ter afastado Elena pelo resto da minha vida. Acontece que
convidar meus amigos para um voo é tudo menos útil, em vez
disso, me deixa frustrado ao dar a eles um passe de acesso total
para o meu inferno.

Liam franze a testa.

— Não seja um idiota com a gente porque você fodeu tudo.

— Pare. — Sophie belisca o lado de Liam.

— Não. Qual é a utilidade de pisar em ovos perto dele?

— Porque você não conhece as razões das outras pessoas


para o que elas fazem.

Sim, Liam, ouça sua namorada. Atrapalho-me com meus


fones de ouvido, fingindo ignorar a conversa.

— Com base em como ele parece miserável, não acho que


ele tomou a decisão certa. Alguém tem que ser a voz da razão
por aqui.

Oh, foda-se.

— Você não sabe do que diabos está falando, — eu digo. —


Há uma diferença entre tomar a decisão certa e tomar a mais
fácil. Não faça julgamentos sobre merdas que você não entende.
— A raiva é uma sensação boa. A raiva é tão gostosa que quero
me agarrar ao sentimento em vez da ansiedade me puxando
para baixo uma e outra vez.

A boca de Liam cai aberta.

— Sinto muito. Eu só quero te ajudar.

— Eu não quero a ajuda de ninguém, especialmente para


merdas que você não consegue nem começar a compreender,
muito menos ajudar.

A dor passa pelo rosto de Liam.

— Escute, eu não posso entender você se você não


compartilhar o que está acontecendo em primeiro lugar. Somos
amigos e amigos ajudam uns aos outros.

— Isso não é algo que você pode desfazer com um sorriso e


com um discurso de me trazer de volta porque eu sou um idiota
total sem você. Nem todos nós podemos ser o Liam Zander, o rei
da merda e ainda conseguir o que quer no final. — Minha pele
fica quente e irritada e corro para me levantar.

Meus olhos pousam no quebra-cabeça. Cada emoção


passa por mim, fazendo meu peito doer enquanto avalio os
balões de ar quente. A lembrança de levar Elena ao festival
atormenta meus pensamentos. Uma imagem dela – radiante
enquanto sorri para o céu com a mesma reverência que ela tem
por mim. De como ela me beijou até que nossos lábios
estivessem inchados, sussurrando palavras doces para o céu.

Os balões me lembram daquele idiota estúpido e


esperançoso que concordou em fazer um teste por causa do
amor. Raiva e tristeza se fundem, substituindo a memória com
desespero.

Antes que alguém tenha a chance de me parar, eu passo


meu braço sobre a mesa. Centenas de peças do quebra-cabeça
voam pelo ar, espalhando-se pelo tapete preto como flocos de
neve.

Flocos de neve, porra.

Outra memória dos globos de neve de Elena me ataca


como balas de um rifle automático. Agarro minha camisa como
se isso pudesse entorpecer a dor que ecoa em meu peito.

Atravesso as peças do quebra-cabeça enquanto caminho


em direção ao quarto na parte de trás da cabine, quebrando
algumas involuntariamente com minhas botas. A porta batendo
atrás de mim combina com a pulsação em meu peito antes de
eu encontrar o silêncio.

O silêncio não é para os fracos de coração. É aí que os


demônios saem e brincam.

Bem-vindo de volta, filho da puta.


Uma batida suave me acorda. Levanto-me da cama e abro
a porta para encontrar Sophie olhando para mim.

— Ei, podemos conversar?

— Eu tenho escolha?

Liam chama da frente da cabine.

— Não, pode apostar que não, seu idiota de merda. E é


melhor você tratar minha namorada com respeito ou então eu
vou acabar com esse sorriso arrogante do seu rosto.

Sophie murmura desculpas.

Coloco minha cabeça para fora do quarto e encontro o


olhar de Liam.

— Desculpe-me por ter sido um idiota antes.

Seus olhos suavizam.

— Sim, sim, tanto faz. Não fique com os olhos marejados


para cima de mim. — Ele sorri de volta enquanto enxuga os
olhos com o dedo médio.

Solto uma risada enquanto abro mais a porta para Sophie


entrar.

— Entre.

— E mantenha a porta aberta, Sophie Marie Mitchell! Você


conhece a regra sobre outros caras. — A voz de Liam ecoa.

Ela morde o lábio para esconder a risada. Ignoro o protesto


de Liam enquanto fecho a porta atrás de mim.

— Sinto muito por surtar mais cedo. — Sento-me em uma


cadeira em frente à cama.

— E eu sinto muito que você esteja sofrendo agora. —


Sophie me copia, sentando na beira do colchão.

— Eu ainda não deveria reagir assim. Eu sou melhor do


que deixar uma explosão de raiva me controlar.

— Todos nós temos emoções. Honestamente, estou grata


por você ter se expressado, com raiva e tudo, porque acho que
você passou muito tempo escondendo como se sente.

Inclino minha cabeça para ela.

— Por que você diz isso?

— Porque estou perto de você há quase dois anos. Todo


mundo sabe que o que permanece por trás da fachada de
playboy nunca é bonito.
— E o que a fez chegar a essa conclusão?

— Comparei o quão feliz você parecia com Elena com como


você está agora sem ela.

Respiro fundo em uma tentativa de aliviar minha


preocupação crescente com Sophie cutucando minha cabeça.

— E?

— E é óbvio que você a ama o suficiente para se sentir


infeliz na ausência dela.

— Podemos não falar sobre...

Sophie se levanta e vem até mim. Ela se abaixa para


envolver os braços em volta do meu corpo e me puxar para ela.

— Eu não sei por que você terminou com ela, mas você
não tem que enfrentar sua tristeza ou ansiedade sozinho. Não
tome os comprimidos. Deixe-nos ajudá-lo e, por favor, não nos
afaste. Principalmente Liam. Ele se preocupa muito com você e
só quer apoiá-lo se você permitir.

— Não sei como começar a me explicar.

Ela se afasta e sorri.

— Essa é a beleza da amizade. Vamos ficar por aqui, com


ou sem um entendimento completo do que está acontecendo.
Pela primeira vez em alguns dias, sinto alívio. Tenho
amigos que se preocupam comigo o suficiente para não me
deixar cair em um ciclo vicioso de comprimidos e bebidas para
combater sentimentos opressores.

E com alívio vem a menor chama de esperança de que eu


superarei isso.

Tornei minha missão pessoal garantir que meu erro não


cause mais danos a Elena. Depois de consertar suas finanças
com Connor, preciso fazer conexões para ela. Começo com a
equipe que conheço melhor e planejo trabalhar do meu jeito a
partir daí.

Liam me agendou para me encontrar com James Mitchell,


chefe da equipe de Bandini, e o homem que basicamente
comanda o show lá. Ele pode ter cabelos grisalhos e algumas
rugas, mas o homem é uma fera absoluta. Acho que ele pode
me superar no supino em qualquer dia da semana.

James olha para mim com olhos verdes severos antes de


cair no papel na frente dele. Ele cruza as pernas e se recosta na
cadeira do escritório, me acertando com uma carranca.

— Por que ela?

— Noah me disse que não gosta dos representantes de RP


da Bandini. Achei melhor resolver o seu problema enquanto
conserto o meu.

Ok, mais como Noah desistiu depois que eu expliquei a


situação de Elena por causa do meu erro, mas James não
precisa saber disso.

Ele levanta uma sobrancelha escura.

— Deixe-me ver se entendi: você estragou tudo e fez com


que ela fosse demitida, mas quer que outra empresa a contrate.
Eu me pergunto por que isso.

Por fora, sou o Jax de sempre, frio e indiferente. Mas por


dentro, eu me encolho em quão longe minha bagunça foi que
até James sabe sobre isso.

— Ela é uma trabalhadora árdua e sabe o que faz. Minhas


ações não refletem sua ética de trabalho. Muito pelo contrário,
visto que ela durou quase uma temporada inteira perto de mim.

— No entanto, você é o único com um emprego bem


remunerado, enquanto ela está fora de um. Engraçado como o
mundo funciona.
— Não é engraçado. Se você não quiser contratá-la, tudo
bem. Vou levar suas referências a Sauvage.

— Eu não disse isso. Mas diga-me, por que você se


importa se eu a contratar? — Ele permanece estoico, exceto pela
menor contração em seus lábios.

— Eu tenho que soletrar para você?

— Por favor, diga devagar para ter certeza de que ouço


tudo. Eu estou ficando velho.

Estou tentado a ignorá-lo, mas me contenho porque Elena


ser contratada é mais importante do que meu dedo médio
inquieto.

— Liam me contou sobre você.

— Qualquer coisa que ele diga é provavelmente uma


versão diluída da verdade. É melhor você se lembrar disso. —
James me atinge com um sorriso aberto desta vez.

Bato no joelho com a mão trêmula.

— Eu quero que ela seja cuidada. Ela não merece perder


tudo pelo que trabalhou por minha causa. Eu cometi erros –
grandes erros – mas não era minha intenção que ela perdesse o
que ela mais se preocupa.

— Pelo que estou recolhendo durante esta conversa, não


sei se é isso que ela mais se preocupa.

Franzo a testa.

— Como você sabe?

— Se você estar aqui indica o quanto você se importa com


ela, tenho a sensação de que ela se sente da mesma forma. Não
que eu esteja aqui oferecendo conselhos grátis, mas se eu fosse
você, consideraria consertar as coisas. Posso dar uma olhada
em seu currículo e considerá-la para um emprego, mas isso não
muda o dano que você causou.

— Considerar?

— Não abuse da sorte. Diga a ela que você a ama. Grandes


gestos como este são doces e tudo, mas...

— Ela não pode saber, — eu deixo escapar.

James inclina a cabeça para mim.

— Isso é interessante. Por quê?

— Eu não quero que ela saiba que eu a recomendei para o


trabalho... se você decidir contratá-la, claro. — E eu espero que
sim.

— Vou direto ao ponto com você, semelhante à como fiz


com Liam.
— Porra, — eu sussurro baixinho.

— Ah, você está familiarizado com meu conselho não


solicitado. Bem, permita-me ser seus pais substitutos por dez
minutos, visto que você é amigo da minha filha e tudo.
Considere esta situação com cuidado. As pessoas têm sorte de
encontrar alguém que amam – quero dizer, amam de verdade –
uma vez na vida. — Ele bate no currículo de Elena para dar
ênfase. — Se Elena é essa pessoa para você, coloque sua merda
de lado e conserte. Arquive o orgulho, retire suas melhores
desculpas e reconquiste-a. Os erros podem ser esquecidos, mas
o tempo perdido nunca pode ser recuperado.

Sua declaração me atinge com força, e não por causa de


sua intenção original.

Elena não pode perder seu tempo com alguém como eu.

Alguém que deve viver uma vida envolta em momentos


difíceis.

Alguém que nunca vai ter seus próprios filhos, muito


menos viver para conhecer os netos.

Alguém que nunca será digno dela, não importa o quanto


eu desejasse que não fosse o caso.

E a última afirmação é a mais verdadeira de todas.


47

Elena

No momento em que vi minha conta bancária, liguei para


Connor.

— Você cometeu um erro. — Pulo as gentilezas e vou direto


ao ponto.

— Posso garantir que não cometi.

Ando pelo pequeno corredor do meu apartamento.

— Você me disse na semana passada que eu estava sendo


paga apenas pelos meses que concluí. Definitivamente, este não
é o preço que combinamos. — Verifico o extrato bancário mais
uma vez para ter certeza de que estou vendo as coisas direito. —
Inferno, este não é nem mesmo o preço de bônus sobre o qual
assinamos.

Ele suspira.

— Eu não deveria ter dito algo assim quando estava com


raiva. Você trabalhou duro para ajudar Jax e eu não deveria
usar seu erro contra você. Quanto ao bônus, considere-o um
subsídio de risco.

— Pagamento de risco?

— Você sabe, por Jax ser um babaca e bagunçar sua


reputação. Por seguir seu NDA46 e não compartilhar nada que
Jax possa ter dito ou feito durante seu tempo juntos.

— Não posso aceitar esse tipo de dinheiro por isso. — Até


eu tenho valores e aceitar duzentos mil euros por um trabalho
malsucedido parece que estou me aproveitando da situação.

Jax quebrando meu coração dói? Sim.

Ele merece o preço de um ano extra de pagamento?


Definitivamente não.

— Eu não sei o que dizer. — Suspiro.

— Diga que você vai aceitar e seguir em frente. Tenho uma


reunião para ir e não tenho tempo para conversar e fofocar
sobre meninos juntos.

Solto uma risada suave.

— Mesmo assim, você é o primeiro a fofocar.

— Bem. Você me pegou. Sério, foi bom conversar com


você, mas preciso ir. Boa sorte com sua avó e desejo-lhe muita
sorte lá fora.

46 Um acordo de não-divulgação.
Avó? Não me lembro de tê-la mencionado a Connor.
Agradeço e desligo, atribuindo a situação à boca grande de
Elías. Inclino minha cabeça contra o encosto do sofá e sussurro
meus agradecimentos a Deus.

Existem boas pessoas por aí, só preciso procurá-las nos


lugares certos.

— Você parece exausta. — Caleb aproxima a câmera do


FaceTime de seu rosto.

Para dizer a verdade, estou uma merda porque meu sono


nunca foi pior. Recuso-me a dormir mais com as luzes, não
depois de tudo que Jax disse. O medo e as memórias ruins
sempre foram minha fraqueza e talvez Jax esteja certo. Não
tudo que ele disse, mas uma pequena parte. Preciso enfrentar
meu medo para deixar de lado os pesadelos que me prendem.
Mas coisas como essa levam tempo, visto que tive pesadelos em
seis de sete noites.

Ele bate na tela, chamando minha atenção.

— Vamos, vire essa carranca de cabeça para baixo.


— Que tal agora? — Ofereço a ele um sorriso tenso.

— Hediondo e falso. Corta essa merda, Elena. Já se passou


uma semana e você mal saiu do seu apartamento.

— Eu mal saia do meu apartamento antes de ter um


emprego viajando pelo mundo.

— Ha, ha. Hilário. Não me faça voar até aí e chutar o seu


traseiro.

Meus olhos se estreitam.

— Eu gostaria de ver você tentar. Deixe-me ver esses


braços de novo.

— Guarde o quebra-cabeça, coloque algumas roupas que


não pareçam pertencer a um desfile de moda da Goodwill e vá
para fora depois que eu desligar.

— Uau, obrigada. Com seu charme, você deveria me ligar


com mais frequência. Está fazendo maravilhas pela minha
autoestima.

— Oh, por favor. Você tinha Jax Kingston cobiçando você,


então não posso dizer que você é difícil aos olhos. — Caleb ri até
tossir.

— Você está bem?


Ele acena para mim.

— Estou bem. É com você que estou preocupado. Eu não


tinha certeza se você estava com o mesmo mau humor de Jax e,
ao que parece, você está quase tão ruim quanto ele.

Meu coração afunda com a menção de Jax.

— Caleb, por mais que eu queira falar com você, eu não


quero falar sobre Jax.

— Você nem quer saber como ele está?

— Não.

— Ou quão miserável ele está sem você? Ele parece uma


bagunça durante as entrevistas. O cara tem as olheiras mais
escuras que nem a Sephora consegue consertar.

Isso é interessante. Minha sobrancelha se levanta, mas


meus lábios permanecem em uma linha neutra.

— Nem mesmo isso.

— Ok, bem, que pena, eu vou te dizer de qualquer


maneira. Ele parece uma semana de lixo sem você. Nunca vi um
homem parecer tão abatido e deprimido por largar alguém. Não
é estranho para você?

Eu esperava que Jax estivesse melhor sem mim. Depois de


tudo que ele disse, pensei que ele queria acabar comigo.

Claro, ele quis. Ninguém diz as coisas que ele disse a


alguém com quem quer estar.

— Acho que você está lendo coisas demais. — Puxo o fio


solto de um cobertor. — Você é jovem e nunca esteve em um
relacionamento. As palavras que ele disse não podem ser
retiradas com um pedido de desculpas.

— Posso ser jovem, mas eu passei por uma merda. E não


sou estúpido nem cego. Eu não sei o que ele disse para você,
mas pelo que parece, está o consumindo por dentro.

— Ótimo, ele é humano afinal, — murmuro baixinho.

— Olha, algo sobre isso não está certo. Ele obviamente não
está feliz sem você. Ele conseguiu o sétimo lugar na última
corrida. Sétimo! Pilotos como ele não vão do pódio ao
intermediário. Não quando ele está a algumas corridas de
derrotar Noah pelo título! Olá, ele não ganha um campeonato há
anos.

— Isso é uma vergonha. — Minha voz monótona não


combina com a preocupação que está invadindo meu cérebro.
Eu não deveria me preocupar com o desempenho de Jax
arriscando sua chance no Campeonato Mundial, mas acho
difícil não ter empatia.
Aqui estou eu, experimentando a mesma empatia que me
colocou nessa confusão para começar.

— Oh, cale a boca. — Caleb suspira. — Talvez ele esteja


doente.

Reviro meus olhos.

— Doente de que? Quebrando seu próprio coração?

— Agora ela finalmente entendeu, — Caleb sussurra para


o teto.

Solto uma risada.

— E o que, oh sábio, você sugere que eu faça?

Caleb sorri. Pareceria bastante sinistro, exceto que seus


óculos de aro afastam o visual.

— Você? Nada. Ele? Tudo.

Fico quieta porque tenho medo de perguntar. Estou grata


por Caleb. Ele e Elías me mantiveram sã ao longo da semana
passada, enquanto eu processava meu rompimento com Jax.
Sem eles, eu estaria afundado até os joelhos em comida para
viagem e vinho barato para anestesiar a dor.

Caleb olha para o lado.

— Ugh, Elena, alguém veio checar meus sinais vitais. Vou


mandar uma mensagem para você mais tarde?

— Claro. Tchau.

Desligo e volto a preparar o jantar. O tempo todo, eu luto


para tirar minha mente do que Caleb disse. A única pergunta
que passa pela minha cabeça é por quê.

Por que Jax luta depois de terminar tudo conosco?

Por que me importo com o que acontece com ele?

Por que sinto a necessidade de ligar e verificar como ele


está, apesar de como ele me tratou mal?

Apago a última pergunta da minha mente, não me


permitindo me preocupar por mais um segundo. Como um
jantar triste para um, antes de rastejar para a minha cama. A
escuridão inunda a sala quando apago a última luz e puxo as
cobertas até o queixo.

Meu coração dispara por alguns minutos antes de se


acalmar. Eu caí no sono, esperando não ter mais pesadelos.

Corro da minha cama para a cozinha depois de sentir o


cheiro do meu jantar queimado. A fumaça sai do forno quando
abro a porta, xingando a mim mesma por ter esquecido de
ajustar o cronômetro.

— Ótimo. Massa então. — Coloco minhas luvas de forno e


pego a frigideira do forno. Uma tosse me escapa enquanto
abano o ar ao meu redor.

Dizem que falar sozinha é um sinal de insanidade, mas


acho isso bastante reconfortante ultimamente. Sempre estou
acostumada a estar ocupada. Tenho trabalhado muito desde a
faculdade e acho difícil relaxar como ultimamente.

Daí a recente tentativa de experimentar novas receitas.

Meu telefone toca na outra sala. Ignoro enquanto encho


uma panela de água. O toque recomeça. Deixando para trás a
panela meio cheia na pia, saio da cozinha e encontro meu
telefone escondido em algum lugar entre as cobertas da minha
cama. Meu telefone para de tocar antes que eu tenha a chance
de atender.

Emite um bipe com um novo correio de voz. Desbloqueio e


aperto o play, curiosa sobre o novo número.

— Oi, Srta. Gonzalez. Aqui é James Mitchell, o chefe da


equipe da Bandini. Não tive a chance de conhecê-la enquanto
trabalhava com McCoy, mas ouvi coisas boas de Connor e Noah
sobre seu trabalho. Preciso de uma agente de relações públicas
que possa ajudar minha equipe com conferências de imprensa e
gerenciando sua imagem. Precisamos de alguém que trabalhe
remotamente de Mônaco, mas que possa estar de prontidão
para voos e conferências de última hora. Se você está
interessada nisso, por favor, entre em contato comigo até esta
sexta-feira para discutir a logística. Se não, vou interpretar o
seu silêncio como uma rejeição e passar para outra pessoa.
Tenha um ótimo dia.

Meu Deus. De jeito nenhum.

Primeiro as notícias de Connor alguns dias atrás, e agora


isso. Eu não posso ter essa sorte.

Posso?

Quer dizer, eu oro e tudo, mas não acho que Deus trabalhe
de tantas maneiras misteriosas. Apertando meu telefone contra
o peito, caio na cama, agradecendo a quem quer que esteja lá
me ajudando.

Apesar de tudo o que aconteceu comigo na semana


passada, sorrio e agradeço a Deus pelas pequenas bênçãos.

A paz dura apenas algumas horas antes de eu acordar


sozinha e no escuro, chorando por meus pais perdidos. O medo
me paralisa enquanto recupero o fôlego. O pesadelo me lembra
de como realmente estou sozinha e choro até dormir.
A escuridão vence esta noite, roubando minha felicidade.

O toque do meu telefone me acorda. Minha visão está meio


embaçada quando o pego da mesa de cabeceira.

— Olá? — Minha voz soa rouca.

O silêncio do outro lado da linha me pede para verificar


quem ligou. Retrospectiva: deveria ter feito isso antes de
responder. Mierda.

— Jax?

A respiração pesada e o farfalhar dos lençóis me dizem que


ele ainda está na linha.

— Por que diabos você está me ligando tão tarde? Na


verdade, por que diabos você está me ligando afinal?

— Eu não sei, — ele balbucia.

Ótimo. Marque recebendo uma ligação bêbada de um ex da


minha lista de desejos.

— Então, você me ligou porque está bebendo de novo.


— Não. — Ele responde muito rápido.

— Eu não quero falar com você. E eu especialmente não


quero falar com você quando você estiver bêbado.

— Eu não queria beber esta noite.

— No entanto, você de alguma forma está enrolando suas


palavras.

— Eu bebi sozinho — ele soluça — no meu quarto de hotel


para comemorar minha vitória.

— Parabéns, você ganhou o mais provável que seja um


idiota para o resto de sua vida e o Grande Prêmio de Cingapura
em um fim de semana. Você deve estar tão orgulhoso.

Ele suspira.

— Não estou orgulhoso. Estou sobrevivendo.

— Por que você me ligou? — Enuncio minhas palavras com


um toque de amargura.

— Você quer a verdade?

— Com você, talvez a mentira seja melhor desta vez. Sua


versão da verdade é um pouco brutal para o meu gosto.

— Ok. Mentira então. Eu não sinto sua falta.


Meu coração aperta no meu peito.

— Estou desligando agora. — No entanto, não consigo


encontrar vontade de pressionar o botão vermelho na tela.

— Mentira. Estou feliz sem você. — Ele suspira. — Eu não


penso em você de forma alguma. Não acordo todas as manhãs,
sonhando que você está aí, apenas para perceber que nada
disso é real. Mentiras, mentiras, mentiras.

Minha frustração cresce enquanto ele brinca comigo.

— Você não pode me ligar, bêbado e sozinho, dizendo que


sente minha falta quando me afastou. Não estou aqui para te
consolar. Você estragou tudo para mim. — Você nos arruinou.

— Eu sei, — diz ele sombriamente. — Eu só queria ouvir


sua voz. Foi egoísmo da minha parte.

— Por que fazer isso então?

— Para me lembrar por que tudo isso vale a pena. A dor, a


solidão... tudo isso. Para não desistir e implorar para você me
aceitar de volta.

— Jax... eu não sei o que você quer que eu diga. — Meu


coração dói no meu peito, opaco e latejante com sua admissão.
Não consigo entender a complexidade de sua mente.

— Nada. Isso foi o suficiente, então obrigado por


responder. Desculpe por ter ligado. Isso não vai acontecer de
novo. — Ele desliga antes que eu possa responder.

Minha confusão se transforma em raiva antes de se


transformar em tristeza. Eu não entendo a verdadeira razão de
Jax para me ligar, mas eu sei que ele deixou um buraco no meu
coração do tamanho de seu punho.
48

Jax

Merda. Eu estraguei tudo.

Beber foi uma ideia terrível. Mas ficar chateado e ligar para
Elena é exatamente o motivo pelo qual tenho problemas de
confiança com o álcool.

Digito uma mensagem de desculpas para ela no minuto


que acordo de manhã. Quando meu dedo paira sobre o botão
enviar, paro e ligo para Sophie.

— Oi. Preciso de ajuda. — Minha voz rouca dá o tom


desesperado que sinto no momento.

Sophie geme.

— Às 7 da manhã?

— Você pode explicar por que diabos está ligando para


minha namorada ao amanhecer? — O discurso irritado de Liam
é interrompido por seu bocejo.

— Eu queria pedir um conselho a ela.


— Bem. Você me deve um Starbucks depois de me acordar
tão cedo, — ele responde. Sophie murmura algo que eu só posso
imaginar entorpece o aborrecimento de Liam. Eu engasgaria se
não estivesse com ciúme.

— Ok, esqueça o Starbucks. Nos incomode todas as


manhãs, por tudo que me importa. — Liam ri.

Lençóis farfalham enquanto Sophie me pede para esperar


um segundo. Uma porta se fecha em sua extremidade do
telefone antes que ela atenda novamente.

— Então, como vai?

— Desculpe incomodá-la tão cedo.

Ela ri.

— Não se preocupe com isso.

— Então, cometi um erro ontem à noite.

— Como? — A voz preocupada de Sophie aumenta minha


culpa.

— Eu cedi e liguei para Elena depois de beber.

Ela solta um suspiro profundo.

— Ok, não é tão ruim quanto eu pensava. O que você


disse?
— Coisas que eu não deveria. Eu admiti como me sinto.

— Estou tendo problemas para segui-lo sobre por que isso


é uma coisa ruim. Você disse a ela que sente falta dela?

— Sim, — assobio. — Não é bom porque eu não quero dar


falsas esperanças a ela. E agora estou preocupado se devo
enviar a ela uma mensagem de desculpas ou fingir que nada
aconteceu.

— Por que você está querendo se desculpar por dizer a


verdade a ela?

Luto entre dizer a Sophie o verdadeiro motivo pelo qual


afastei Elena ou fingir que não preciso mais da ajuda dela. O
desespero de machucar Elena novamente me faz engavetar meu
orgulho.

— Não fui totalmente honesto com você sobre por que


terminei com Elena. É mais complicado do que você pensa.

Tão complicado quanto os fios em meu cérebro me dizendo


para perseguir Elena, apesar de tudo até este ponto.

— Dê-me um segundo, — Sophie murmura ao telefone.


Ouço atentamente seus passos enquanto ela abre a porta
novamente. — Liam, certifique-se de que meu café tenha uma
dose de Baileys47.

47 Baileys Irish Cream é o original creme de licor irlandês.


— Tão cedo? — O microfone do telefone capta sua voz.

— Jax, você acha que preciso de álcool para esta conversa?

Meu resmungo confirmatório a fez seguir enxotando Liam


para fora do quarto de hotel.

— Então, me diga o que está acontecendo.

Depois de pedir segredo de Sophie, compartilho tudo o que


aconteceu até este ponto. No final da conversa, ela soluça ao
telefone, sua tristeza combinando com o que eu sinto.

— Por que eu? Por que sou a primeira amiga que você
contou?

— Porque estou desesperado por um conselho de uma


mulher sobre como pedir desculpas por algo descuidado.

— Mas esse não é o conselho que quero dar a você. — Ela


funga.

— Por mais que aprecie seu conselho, não posso dar a


Elena mais do que isso. Então, por favor, me ajude a pensar no
que dizer, — sussurro, resignado com a situação.

— Ok, primeiro você precisa se desculpar por seu


confessionário bêbado. — Sophie continua dando-me uma lista
de instruções.

Depois de digitar o que Sophie considera a mensagem mais


perfeita, clico em enviar sem me questionar.

Jax: Dizer que sinto muito nunca será bom o suficiente, mas
quero dizer de qualquer maneira. Sinto muito por ligar para você
porque estou fraco demais para ficar longe de você por mais de
duas semanas. Sinto muito por ganhar sua confiança e arruiná-la
com minhas decisões. Sinto muito por quebrar seu coração
quando você confiou em mim para protegê-la. Sinto muito por ser
egoísta em primeiro lugar, esperando que nos apaixonássemos,
apenas para arrancar isso quando as coisas ficaram difíceis. E,
acima de tudo, sinto muito por não ser o homem que você merece,
mas gostaria de ser de qualquer maneira.

Sophie desliga depois de me garantir que não vai contar a


Liam sobre meu segredo.

Minutos se passam sem resposta. Tento me ocupar com


malhar e assistir a filmagens pré-corrida, minha incerteza e
preocupação crescendo conforme o tempo passa.

Meu telefone toca e eu corro para atendê-lo, derrubando


meu laptop no processo.

— Merda.

A única pessoa de quem eu não esperava uma mensagem


acende meu telefone.
Elías: Se você valoriza seus dedos, não envie mensagens
de texto para Elena novamente. Chinga tu madre, pendejo48.

A compreensão que eu não queria aceitar me bate,


destruindo qualquer esperança de que Elena um dia me perdoe.

— Ei, babaca. Boa sorte na sua qualificação hoje. Ainda


estou bravo com você, mas espero que chegue na P1. — Caleb
revira os olhos para a câmera do FaceTime.

A equipe do box me ignora enquanto me inclino contra


meu carro de corrida.

— Obrigado pelas palavras doces. Também te amo, cara.

— Se o seu amor for algo parecido com o que você teve por
Elena, terei que passar. — Caleb transforma suas palavras em
balas, perfurando minha armadura cuidadosamente erguida.

— O que você sabe sobre o amor?

— O suficiente para saber que você estragou tudo.

48 Foda-se sua mãe, idiota.


— Você vai me dizer a mesma coisa antes de cada
qualificação?

— Se isso é o que você precisa para tirar a cabeça da


bunda, então sou totalmente a favor.

Meus olhos vão da tela para Elías, que faz uma carranca
para mim do outro lado da garagem.

— Ainda bem que eu só tenho algumas eliminatórias


restantes. Não consigo imaginar minha vida sem sua atitude
alegre.

— Isso é o que você ganha por partir o coração de Elena. O


que eu lhe disse?

— Eu não atendi sua ligação para que você pudesse me


dar um sermão, — reclamo, a exaustão sugando minha
paciência. A culpa já torna difícil para mim funcionar todos os
dias, então a última coisa de que preciso é um garoto de
dezesseis anos me ensinando o pouco que sabe sobre o amor.

— Não, você atendeu para aliviar sua culpa. Não sou como
a ajuda paga que você tem ao seu redor. Vou te denunciar pela
sua besteira.

— Por todos os meios, me denuncie.

— Você precisa ir atrás de sua garota. Já se passaram três


semanas. O que você está esperando?

Um milagre parece um pouco religioso para o meu gosto,


então mantenho-o falso.

— Às vezes as pessoas não dão certo.

— Bem, essas pessoas são idiotas como você que


destruíram seu relacionamento com um erro.

— Fiz o que pude para corrigir meus erros e garantir que


ela seja bem cuidada.

— Espere, o quê? — Caleb me olha com desconfiança.

Merda.

— Fiz questão de corrigir meus erros com McCoy.

— Como você se certificou de que ela fosse cuidada?

— Do que você está falando? — Suave, Jax.

— Ok, cara, a quimioterapia pode ser uma droga, mas não


mata minhas células cerebrais. Você disse que fez o que podia
para garantir que ela fosse bem cuidada.

Um membro da equipe acena para mim.

— Eu tenho que ir. Eles estão me chamando para ficar


pronto.
— Não me faça ir todo 007 em cima de você e cavar no que
você está escondendo.

Minha risada sai forçada.

— Tudo bem, James Bond. Eu não sei que remédio eles


dão a você, mas seus delírios são esquisitos pra caralho.

Caleb estreita os olhos para mim.

— Boa sorte hoje, tchau. — Ele desliga sem me deixar


dizer adeus de volta.

Merda. Para o seu bem e meu, espero que ele não vá


cavando por aí.

Não posso deixar que as notícias cheguem até Elena de


que estive por trás de suas oportunidades recentes.

Elías me assusta pra caralho quando saio do pit lane.

— Porra. Você tem uma queda por espreitar nos cantos?

Sua carranca se contrai.

— Você me pegou. Estou esperando o momento certo para


pular em você.

— Se você está tentando reclamar de Elena um pouco


mais, salve para você. Tive um dia horrível. — Minha
qualificação foi para o inferno depois da minha conversa com
Caleb. De alguma forma, consegui controlar meu pânico antes
que se tornasse algo perigoso, mas isso prejudicou meu
desempenho.

— Eu queria te agradecer, na verdade.

Eu faço uma pausa.

— O que você quer dizer?

Elías se encosta na parede.

— Elena me contou como Connor ofereceu a ela uma


quantia ridícula de dinheiro por todos os danos que você
causou.

Encolho os ombros.

— Isso é ótimo. Pelo menos ela foi recompensada por


minha idiotice. — Meu corpo fica em alerta máximo enquanto
Elías me avalia.

— Sim, graças a Deus Connor é mais legal do que você,


certo?
— Certo, — ofereço na voz mais seca.

— Imagine meu choque quando Elena me ligou na semana


seguinte dizendo como James Mitchell, da Bandini, ofereceu a
ela um trabalho de relações públicas.

Levanto minhas sobrancelhas em surpresa.

— Não me diga? Talvez minha má publicidade tenha feito o


inimigo se interessar por ela.

Elías balança a cabeça.

— Você está me dizendo. Quão louco é essas duas


coincidências acontecerem no mesmo mês para alguém como
Elena?

— Tão louco quanto você pensa que me importo se temos


uma conversa sobre minha ex-namorada. — Minhas palavras
têm uma mordida nelas. Não quero falar sobre Elena,
especialmente com alguém como Elías. Penso nela o suficiente
sozinho, sem seu guarda-costas pessoal e melhor amigo
bisbilhotando.

O sorriso malicioso de Elías se transforma em um sorriso


aberto.

— E então eu recebi uma ligação de Caleb que queria


“checar Elena e me dar atualizações”. Mas antes de desligar, ele
mencionou como você tem consertado seus erros com Elena. O
que você acha disso?

Droga Caleb, eu confiei em você.

— Que você é uma merda em ligar os pontos.

— Eu acho que você está escondendo algo. De jeito


nenhum Connor ofereceu a Elena cem mil euros para ficar
quieta sobre trabalhar com você. Mesmo ele não é tão generoso.

Bem, porra, Connor deve ter se sentido péssimo por Elena.

— Isso é uma tonelada de dinheiro. Eu não sabia que valia


esse tipo de indenização.

Os olhos de Elías se estreitam.

— Esquisito. Eu não mencionei nada sobre o adicional de


periculosidade, mas Elena usou a mesma declaração.

Porra, porra, porra. Aborte a missão.

— Nós namoramos depois de tudo. Devemos ter o mesmo


humor.

— Certo. De qualquer forma, posso odiar você por partir o


coração dela, mas não posso odiar você por armar e se certificar
de que ela seja bem cuidada. Eu admiro isso, mesmo que você
não admita. — Ele fica em pé em toda sua altura, nos deixando
no mesmo nível.
— Não sei do que você está falando.

— Seu segredo está seguro comigo. Eu queria te agradecer.


— Elías estende a mão para mim.

Eu agarro e sacudo.

— Você nunca planejou contar a ela, não é?

Ele sorri.

— Não. Eu queria confirmar por mim mesmo. Acho que


você já causou dor suficiente para ela, então quero deixá-la
manter sua dignidade sobre seu trabalho.

— Você é um cara legal, Elías. Respeito isso.

— Já era hora de você perceber isso depois de trabalhar


comigo por uma temporada inteira.

Solto minha primeira risada genuína do dia. Pelo menos


posso sobreviver mais um dia sabendo que meu sacrifício
significa algo para Elena, mesmo que ela não saiba.

— Eu queria falar com você. — A voz de papai ressoa no


viva-voz.

Sento-me no sofá da minha suíte de hotel, preparando-me


para uma conversa há muito esperada. Desde meu diagnóstico,
mantenho minhas conversas com meus pais neutras, não
querendo perturbá-los mais. Mamãe não consegue olhar para
mim por longos períodos sem ficar com os olhos marejados.
Papai, por outro lado, manteve-se relaxado e nunca questiona.

Eu deveria ter adivinhado que ele estava ganhando tempo.

— Acho que chegou a hora de você me dar isso.

— Eu perguntaria como você está, mas estou supondo,


com base nos vídeos da imprensa, que você mal está
aguentando firme.

Agarro meu telefone e pressiono o botão do viva-voz,


querendo dar às minhas mãos algo para fazer.

— Estou animado com o fim da temporada.

— Eu posso imaginar. Você passou por muita coisa no ano


passado.

— O eufemismo do século.

— Como está tudo desde que você afastou Elena?

— A merda não começa a cobrir como me sinto sobre tudo


isso.

Ele suspira.

— Bem, você sabe que não sou do tipo que discute um


assunto.

Belisco a ponte do meu nariz.

— Acerte-me com isso.

— Tenho sido paciente, tentando esperar e ver como você


lida com a situação com Elena. Mas já passou muito tempo e
temo o que acontecerá se você continuar neste caminho.

— Eu tenho me mantido correto. Sem festas ou drogas


para me sentir melhor, não importa o quanto eu deseje que isso
possa diminuir a dor.

— Isso não é da minha conta, embora eu esteja feliz que


você tem se mantido limpo e focado. Estou falando de um tipo
diferente de caminho.

— Elena e eu estamos separados.

— Não é tarde demais para corrigir isso. Eu quero falar


com você e defender o caso dela.

Resmungo.

— Não é assim que funciona.


— Acontece quando você não está dando a ela uma chance
justa de tentar coisas com você, com diagnóstico e tudo.

— Você e ela não são iguais. Ela tem a escolha de ir


embora, você não.

— É aí que você está errado. Todos nós temos escolhas.


Decidi ficar com sua mãe, mesmo sabendo que ela ficaria
doente e precisaria de ajuda, porque amo vocês dois mais do
que qualquer outra coisa no mundo. Nenhuma doença poderia
me manter longe.

Meus pulmões queimam com a inspiração profunda que


puxo.

— Você era casado. Você jurou não a abandonar. Eu só


acelerei o inevitável com Elena.

— Que é o quê?

— Que vou ficar doente um dia e não quero trazê-la


comigo.

— Sua mãe não me puxou para baixo. Esse é o meu ponto


e por isso eu queria falar com você. Ela é a melhor parte dos
meus dias e não poderia imaginar de outra forma. Mesmo
quando ela está no pior momento, sinto-me grato por ela estar
ali para começar. É por isso que eu fiquei com ela quando ela foi
diagnosticada. Não era sobre um voto. É sobre um sentimento
que tenho por ela e nada se compara.

— E é por isso que você ficará arrasado quando ela morrer,


— eu grito. — Você está fadado a morrer junto com ela de todas
as maneiras que importam.

Eu amo o meu pai. A última coisa que quero ver é a luz


sumir de seus olhos aos poucos enquanto mamãe fica pior.

— Eu não vou morrer. — Ele solta um longo suspiro. —


Serei o mesmo homem que prometeu a ela que lutaria por ela e
por você. Não importa o que aconteça com sua mãe, sempre
terei você. E você é o maior presente que ela poderia ter me
dado. É por isso que estou aqui para dizer a você para tirar sua
cabeça da bunda e perseguir Elena, porque nós Kingstons não
desistimos das pessoas de quem gostamos.

Meu peito aperta.

— Eu te amo, pai. Eu te respeito por tudo que você me


deu, incluindo ajuda quando eu mais precisei.

— Mas...

Solto um suspiro resignado.

— Mas não posso seguir seu conselho desta vez.

Seu suspiro soa semelhante ao meu.

— Pelo menos pense e considere o que eu disse. E pense


em como seria a vida se você se permitisse aproveitar todos os
bons momentos com Elena antes que a vida ficasse difícil. São
muitas boas lembranças para neutralizar as difíceis.

— Por você, vou pensar sobre isso.

Sua risada profunda ecoa pelo telefone.

— Não minta para mim. Realmente faça isso.

— Tudo o que fiz foi pensar nas minhas decisões.

— Mesmo assim, você ainda está infeliz. Parece uma má


decisão para mim.

— Papai?

— Mm.

— Como você se sente quando mamãe tem um dia ruim?

— Como se eu quisesse destruir o mundo e encontrar uma


solução para ela. Quero gritar sobre como a vida não é justa e
de que adianta ganhar todo esse dinheiro se não posso comprar
o que quero.

— Meu ponto, exatamente.

— Isso pode ser o seu. Mas meu ponto? Os dias ruins


nunca superarão os bons. Nada pode substituir todas as
memórias que tenho e todas as que continuarei a ter com sua
mãe. Então, não, filho, seu ponto é nulo e sem efeito. Eu
poderia gritar que a vida não é justa. Mas a vida me deu ela,
então é um sacrifício que estou disposto a fazer. Você precisa se
perguntar, você vai deixar Elena fazer o mesmo?
49

Elena

Acordo e me visto para visitar a Abuela. A nova instalação


em que a coloquei quando comecei a trabalhar com Jax fica a
apenas alguns minutos a pé. Tudo sobre o lugar é conveniente,
e sentirei falta quando meus fundos acabarem e eu tiver que
movê-la. Consistência é essencial para pessoas como Abuela e
me mata perturbar a vida dela mais uma vez.

Entro no prédio e cumprimento os funcionários. Um dos


gerentes chama meu nome, pedindo-me para ir ao seu
escritório.

Um monte de cenários passa pela minha cabeça sobre o


que ele quer de mim. Ano após ano, recebia notícias
decepcionantes sobre a Abuela e, infelizmente, não é diferente.
Ele me aponta na direção de uma cadeira vazia enquanto se
senta à minha frente.

— Então, Srta. Gonzalez, lamento chamá-la antes que


pudesse ver sua avó, mas eu não queria perder você.
— Ela está bem?

— Oh, sim. Eu não queria te causar nenhum alarme. Ela


está bem e muito feliz aqui. É sobre isso que eu queria falar
com você.

Relaxo em minha cadeira enquanto minha frequência


cardíaca diminui.

— Oh, bom. Eu estava preocupada que algo tivesse


acontecido.

— Se algo acontecesse, ligaríamos para você e pediríamos


que viesse aqui imediatamente.

Certo. Tirei conclusões precipitadas. Concordo.

— Eu sei que discutimos o detalhamento das taxas antes


de você viajar. Eu queria que você soubesse que o restante da
estadia de sua avó foi coberto.

Meu queixo cai.

— O restante? Mas não sei quanto tempo é.

Faço as contas na minha cabeça, imaginando quem doaria


tanto dinheiro. A única pessoa que considero furtivo o suficiente
para fazer este plano é um dos cidadãos não-reais mais ricos de
Londres.

Aquele que partiu meu coração apenas algumas semanas


atrás.

Corro a mão trêmula sobre a boca, processando a


repartição das taxas que o gerente me mostra. Quando
pergunto quem doou os fundos, ele responde que não sabe
dizer.

Por que Jax faria isso? Por que ele iria querer me ajudar
depois de dizer que não quer nada comigo? Esse tipo de doação
não é o que alguém faz quando não quer ver alguém novamente.

O único tipo de pergunta que continua surgindo na minha


cabeça é por quê.

Por que isso?

Por que ele ainda se importa?

Por que ele me deixou ir?

Por que ele não me ama o suficiente para compartilhar seu


fardo comigo?

Despeço-me do gerente e subo a escada para visitar minha


avó. Seu corpo frágil afunda na cama. Dói ver suas bochechas
superficiais e olhos fundos enquanto ela me olha com as
pupilas brilhantes.

Sento em meu lugar de sempre ao lado dela e puxo sua


mão na minha.
— Hola, como te andas?49

— Marisol, no me gusta la ultima doctora50. Ela me cutucou


com uma agulha. Quero ir para casa.

Balanço minha cabeça e suspiro, desejando que Abuela se


lembrasse de mim uma vez. Lágrimas enchem meus olhos
enquanto assumo o papel de minha mãe. Cada minucioso
minuto drena minha energia, mas mantenho minha promessa
de visitá-la.

Mesmo quando ela não se lembra de mim.

Mesmo quando ela fica brava por causa de sua situação e


grita que vou deixá-la apodrecendo em algum asilo.

Mesmo quando meu coração se parte dia após dia quando


a visito, esperando que ela se lembre de mim, mesmo por um
segundo.

Cumpro meu dever de família, carregando o fardo. Meus


pais teriam feito o mesmo e dez vezes. Arquivando minha
tristeza, aproveito o tempo que tenho com a Abuela até que as
enfermeiras me dizem que o horário de visita acabou.

Levanto-me da cadeira e estico minhas pernas doloridas.

— Marisol, você vem amanhã?

49 Olá, como vai você?


50 Marisol, não gosto da última médica.
— Si, como não51. — Inclino-me e beijo o topo de sua
cabeça antes de sair de seu quarto.

Meu coração para. Meus pés param. Tudo ao meu redor


para.

Vera se inclina contra a parede, batendo com a bengala no


ritmo do relógio acima dela. Ela me oferece um sorriso tenso.

— Elena. — A pele ao redor de seus olhos se enruga,


refletindo a tristeza gravada em seu olhar.

— Vera?

— Parece que você viu um fantasma.

Olho para seu cabelo loiro brilhante e pele de porcelana.

— Você é pálida e tudo, mas não. Estou chocada por você


estar aqui. Como você sabia que eu estava aqui?

— Tenho minhas fontes.

— Foi você quem pagou para minha avó ficar aqui


indefinidamente?

Vera sorri.

— Prefiro que minhas doações permaneçam anônimas. Se


exibir é tão fora de moda.

51 Sim, por que não viria?


— Você está por trás do meu novo trabalho e do cheque de
bônus também?

Ela balança a cabeça em desacordo.

— Só posso supor que foi por causa de outro Kingston.


Posso ser fabulosa, mas até meu poder tem seus limites.

Uma risada desenfreada me escapa.

— Venha, vamos dar um passeio. — Ela me oferece o


cotovelo.

Cruzo meu braço com o dela enquanto aperto minha


palma suada.

— Por mais agradável que seja essa surpresa, o que você


está fazendo aqui?

— Estou cumprindo meu dever de mãe.

— Por Jax? — Minhas palavras refletem a confusão, sem


dúvida, gravada em meu rosto.

— Por você. — Ela permanece em silêncio depois disso.

Processo suas palavras enquanto saímos das instalações


da Abuela. O sol do final de outubro brilha sobre nós enquanto
caminhamos em direção à costa. Vera escolhe um local próximo
à costa, que nos dá uma boa visão do Mar Mediterrâneo.
Nós duas nos sentamos juntas em um banco, semelhante
ao nosso bate-papo em Londres meses atrás.

— Estou aqui por meus próprios motivos egoístas e porque


acho que você poderia usar algum conselho maternal. Sua mãe
foi tirada de você em uma idade tão jovem. Não consigo
imaginar o tipo de dor com a qual você lidou e as lutas que está
enfrentando agora com sua avó. Ser jovem e ainda carregar
uma responsabilidade tão grande sobre os ombros deve ser
exaustivo.

Concordo.

— A parte egoísta de mim está tão cansada disso.

— Não é a parte egoísta, é a parte humana. E é isso que a


torna genuína.

Abaixo minha cabeça e foco em minhas mãos em punhos


no meu colo.

— Alguns dias é difícil visitá-la.

— Por que ela pensa que você é filha dela?

Engulo para combater a secura na minha garganta.

— Você ouviu?

Vera agarra minha mão em um gesto maternal que anseio,


me lembrando de seus tremores.

— Eu não sabia que a condição dela era tão grave.

— É o que é. — Encolho os ombros.

— Oh, corte essa positividade tóxica. Você não precisa ser


forte o tempo todo. Diga-me como você se sente honestamente.

— Solitária. Tão terrivelmente solitária que choro até


dormir algumas noites. — Com o Elías viajando e a Abuela no
estado em que se encontra, sinto-me privada de afeto a ponto de
me sufocar como a escuridão que desprezo com tudo em mim.

Ela balança a cabeça e dá um tapinha na minha mão.

— Meu filho é um idiota. Um idiota altruísta, mas mesmo


assim um idiota.

A mera menção de Jax me irrita.

— Eu quero te contar uma história, mas você tem que


prometer ouvir até o fim. Não interrompa até eu terminar.

Minhas sobrancelhas franzem enquanto considero que tipo


de história ela quer compartilhar. Provavelmente algo sobre Jax
que vai me tentar a desmoronar na frente de sua mãe. Mas Vera
merece meu respeito e tempo, então aceno com a cabeça em
concordância, apesar de minhas emoções fermentando.

— Eu descobri minha condição alguns meses depois que


dei à luz a Jax. Quando meu avô foi diagnosticado com a
doença de Huntington, meus pais me enviaram uma carta de
cortesia sobre isso. Sem telefonema, sem saudação, sem
parabéns por dar à luz a uma criança. Apenas uma carta básica
desejando-me boa sorte e sugerindo que eu deveria fazer o teste,
caso fosse portadora do gene. — A voz de Vera falha.

Ela continua agarrando minha mão com mais força.

— Eu não conseguia entender esse tipo de diagnóstico. Eu


era recém-casada e tinha um filho. Mas quando descobri sobre
meu avô, foi como se meu mundo tivesse parado. Zack era meu
único sistema de apoio enquanto eu navegava pelo processo de
encontro com um conselheiro genético. A única razão pela qual
fiz o teste em primeiro lugar foi por causa do meu filho. Eu
poderia ter vivido uma vida feliz sem saber sobre algo que não
encontraria até uma idade mais velha, mas sabia que meu filho
merecia saber. Que ele merecia aproveitar cada momento que
eu pudesse oferecer a ele antes que minha doença começasse a
cobrar seu preço.

Ela solta uma respiração irregular.

— Foi a decisão mais difícil que já tive que tomar. Quando


descobri que era portadora do gene, fiquei com raiva e depois
fiquei deprimida. Zack estava lá para mim em cada passo do
caminho, garantindo que eu tivesse alguém ao meu lado. E, oh
Deus, Zack mal era um adulto. Sua carreira estava começando
a melhorar no cenário do boxe, e aqui estava eu, uma nova
esposa e um novo fardo para ele. A notícia do meu diagnóstico e
os hormônios pós-parto me fizeram entrar em depressão. Um
lugar profundo, escuro e solitário cheio de dúvidas e ódio. Por
mim, pela minha situação, pelas chances que empilhei contra
meu filho recém-nascido sem saber.

— Eu mal estava vivendo. Quase sem respirar, mas fiz


questão de cumprir meus deveres básicos de mãe. Um dia Zack
segurou nosso filho para mim e, meu Deus, ainda me lembro de
seu discurso até hoje. Juro que suas palavras afundaram em
meu coração e nunca mais saíram. Zack disse: “O sol pode
parecer que para de brilhar de vez em quando por causa de
uma nuvem, de uma tempestade ou da noite, mas ainda está lá.
Suporta tudo para alimentar as vidas que dependem dele. Você
é meu sol. Eu não me importo se você está escondida por causa
de uma tempestade ou o fim da porra do mundo. Não consigo
viver sem você e também não consigo imaginar um mundo onde
meu filho gostaria de viver”. — Algumas lágrimas escapam dos
olhos de Vera. Envolvo meus braços em torno dela e dou-lhe um
abraço, ainda sem falar como ela pediu porque ela precisa tirar
isso para fora.

— Parei de brilhar. Parei de viver. Permiti que um


diagnóstico que não me afetaria por anos sugasse minha
felicidade como um vácuo. Mas a bondade de Zack e meu amor
por Jax me tiraram disso, junto com a terapia. E você pode
estar se perguntando por que estou dizendo isso, mas juro que
é importante.

Ela solta um suspiro profundo.

— Eu entendo meu filho mais do que qualquer outra


pessoa. Ele pode ser construído como seu pai, mas ele tem cada
grama do meu coração. Ele a afastou em vez de mantê-la para
si mesmo. Ele levou anos para concordar com um conselheiro
genético pela primeira vez, mas depois de menos de uma
temporada com você, ele estava disposto a fazer o processo
novamente. Uma luz que eu não via nele desde que era mais
jovem finalmente acendeu novamente. Ele queria um futuro
diferente do que ele inventou em sua cabeça sobre ele viver
sozinho para o resto de sua vida.

Tudo em meu corpo se contrai. Tenho medo do que ela vai


dizer a seguir, mas espero com a respiração suspensa que ela
continue.

Sua voz falha.

— Como mãe dele, fiquei preocupada quando ele


perguntou sobre o teste novamente. Como eu poderia não
estar? Orei dia após dia para que ele recebesse as notícias de
que tanto precisava e ansiava. Exceto que ele não recebeu as
notícias que todos esperávamos. — As poucas lágrimas que
Vera derramou se transformam em uma cachoeira pelo seu
rosto. Meu rosto imita o dela e não tento afastá-las. — Me mata
saber que meu filho tem a doença de Huntington por minha
causa. Ele destruindo seu futuro com você roubou um pouco da
minha alma por causa da dor que sentiu ao fazê-lo. Odeio ver
meu filho arrasado por não estar com a pessoa que ama. Eu
não quero isso para ele.

Jax tem doença de Huntington? Meu coração não dói,


explode no meu peito como uma bomba. Tudo ao meu redor
perde a cor enquanto olho para sua mãe, desesperada para que
tudo isso seja uma piada.

— Ele foi diagnosticado? — As palavras saem de meus


lábios em um sussurro.

Ela balança a cabeça para cima e para baixo.

— Deus, eu gostaria que não fosse o caso.

Choramos juntas, nos abraçando. Lágrimas correm pelo


meu rosto enquanto penso em tudo que Jax fez para me afastar.
Choro por ele e por seu futuro do qual ele queria
desesperadamente escapar.

Ela sai de meus braços, apenas para agarrar minhas mãos


nas dela.

— Amo meu filho com tudo em mim, então vim aqui para
pedir que você o perdoe. Ele não estava em um bom lugar
quando disse aquelas coisas para você e ele só disse isso para
fazer você odiá-lo. Não posso sentar e vê-lo se tornar uma casca
de alguém que mal reconheço porque ele negou a si mesmo sua
chance de amor. Ele merece o sol, não importa o quanto ele se
esconda dele e viva nas sombras. Seja isso por ele. Tire-o para
fora. Tenha em seu coração vontade de lutar por ele, mesmo
quando ele acredita de todo o coração que ele não merece. O
amor não é fácil, e não estou aqui para lhe dizer que sua
história de amor será assim. Mas posso lhe prometer que meu
filho é, sozinho, um dos melhores homens que conheço, e não é
porque eu o criei. As ações que ele tomou para protegê-la depois
de afastá-la falam mais sobre o caráter dele do que qualquer
coisa que eu possa dizer. Ele é leal a você, mesmo quando
separados.

— Eu nem sei o que dizer. — Limpo as lágrimas do meu


rosto.

A dor aperta meu peito como garras enferrujadas. O fato


de que Jax carregará outro fardo além de sua ansiedade... eu
não posso suportar a ideia de ele estar em agonia.

— Meu filho fez a coisa mais difícil que eu acho que


alguém pode fazer. Ele partiu o coração da mulher que ama
para protegê-la, para dar a ela uma chance de sua própria
felicidade, não importa o quanto isso o privou da dele. E embora
eu me sinta culpada por ele ter te chateado, não vou negar o
quanto estou orgulhosa dele. Eu o criei para se preocupar mais
com as outras pessoas do que com ele mesmo, e isso para mim
é uma vitória. Então, por favor, tenha em seu coração o perdão
por ele. Lute por ele como meu marido lutou por mim. Mostre a
ele que o sol não para de brilhar, mesmo nos piores dias. — Ela
aperta minha mão antes de soltar.

— E se ele me rejeitar de novo?

— Ele pode. — Seus lábios se pressionam em uma linha


fina. — Mas acho que a segunda pergunta que você deve se
fazer é: “E se ele aceitar você, com futuro estragado e tudo,
porque ele não poderia imaginar um mundo sem você nele”?

E assim, Vera e eu olhamos para o oceano, ambas em


nossos próprios mundos.

Chego à conclusão de que nem toda história de amor é


escrita da mesma maneira. Desde o início, Jax e eu nunca
fomos feitos para um final básico com o garoto perseguindo a
garota no pôr do sol. Em nossa história, sou eu que preciso
abraçar as trevas para retirá-lo e salvá-lo. Do nosso passado.
Para nosso futuro. E, acima de tudo, pelo amor que sei que é
mais forte do que qualquer diagnóstico de merda ou ansiedade.

Não preciso de um final feliz. Preciso do nosso final. Aquele


que pode ser bagunçado e imperfeito, mas exclusivamente
nosso.
E está na hora de ir e lutar pelo que sei que é meu por
direito.
50

Jax

Sempre pensei que era um bastardo miserável e


insuportável antes de Elena. Mas a vida sem Elena? É como
viver no olho de um furacão. É calmo, silencioso, mas você está
dolorosamente ciente da destruição que se aproxima.

Liam franze a testa para mim do outro lado da minha


suíte.

— Você parece uma merda. Eu não teria imaginado que


você colocou P1 para a corrida de amanhã com base em quão
deprimido você está.

— Posso não parecer, mas estou emocionado com o fim da


temporada amanhã. Estou pronto para uma pausa.

— Para uma pausa ou para encher a cara?

Além do meu único momento de fraqueza na noite do


Grande Prêmio de Cingapura, não toquei em álcool desde que
terminei com Elena. Nem mesmo Jack pode curar o buraco do
tamanho de Elena em meu peito, não importa o quanto eu
desejei que curasse.

E pode apostar que eu gostaria que sim.

— Uma pausa. Eu quero passar um tempo com meus pais.


— E eu quero curar. Não posso fazer isso quando estou vivendo
sob o microscópio de Connor e as exigências excessivas da F1.

— Sua nova babá vai se juntar a você?

Sam, meu novo monitor de tornozelo e lembrete constante


do quanto eu arruinei minha vida, fica nos sofás fora da minha
suíte, me dando privacidade pelo menos uma vez o dia todo.

— Não. Connor confia em mim para me comportar desta


vez. — Provavelmente porque não serei mais um fardo.

— Isso é chocante. Achei que ele seria o primeiro a querer


que você fosse supervisionado depois da última vez.

— Ele não tem mais motivos para se preocupar. Termino a


F1 depois de amanhã.

Liam me encara com olhos arregalados.

— O quê? Não é uma piada engraçada, idiota.

— Eu não estou brincando.

— Você está desistindo? O que diabos deu em você? — Ele


franze a testa.
— Eu não fui totalmente honesto com você. — Desvio o
olhar.

— Não me diga.

Respiro fundo, esperando que isso me dê mais coragem.


Esses são os momentos em que eu gostaria de ter um Xan.
Deixei tudo sair, contando a Liam sobre tudo, desde que meus
pais me disseram que mamãe tinha Huntington. Os
comprimidos, o álcool, a ansiedade constante me paralisando a
ponto de mal viver. No final da minha história, estamos ambos
em silêncio e processando. Liam se levanta do outro sofá e se
senta ao meu lado. Ele parece atordoado.

— Sou totalmente a favor de nosso bromance52, mas não


preciso de suas lágrimas. — Dou uma cotovelada nas suas
costelas.

Liam envolve seu braço em volta do meu ombro e me puxa


para ele no abraço mais viril que experimentei. — Você é um
idiota estúpido por manter tudo isso para si mesmo. Eu estaria
lá por você se você tivesse pedido.

— Eu não queria incomodar ninguém. Além disso, você


tem Sophie agora, e Noah tem Maya.

— Seríamos amigos de merda se ignorássemos você por


causa de nossas namoradas quando você mais precisava de

52Bromance é uma expressão em língua inglesa utilizada para designar um relacionamento íntimo, não-
sexual e romântico, entre dois homens, uma forma de intimidade homossocial.
nós. E sejamos realistas, se há alguma coisa sobre mim e Noah
que você esperaria, é que nunca faríamos nada meia bunda,
inclusive amizade. — Ele me dá um tapa nas costas e me solta.
— Você não precisa enfrentar nada disso sozinho. Se você
quiser parar de competir, estaremos ao seu lado o tempo todo.
Você merece fazer o que te faz feliz.

— Não sei se algum dia serei feliz de verdade. — Uma vida


sem Elena, mesmo que eu viva sozinho perto da casa dos meus
pais, parece solitária pra caralho.

— Besteira. Você só precisa descobrir o que o faz se sentir


assim. Se não for corrida, que seja. Se isso significa voltar para
Londres e seguir em frente com a vida, então comece. Você tem
uma conta bancária grande o suficiente para não trabalhar
mais um dia em sua vida.

— A maior. — Pisco para ele.

Liam ri até o teto.

— Tudo que eu sei é que vou sentir sua falta. Por favor,
bata na bunda de Noah amanhã para poder deixar a F1 em
grande estilo. Não vou aceitar nada menos.
O suor encharca minhas costas enquanto meu motor
ronca contra minha espinha. As luzes se apagam na minha
frente. Pressiono meu pé no pedal e saio, o som de pneus
cantando ecoando atrás de mim. Meu carro passa pela primeira
curva antes que meu fone de ouvido vibre com atividade.

— Ei. Mantenha o ritmo e cuidado com os pneus. E tome


cuidado com Noah, porque ele vai pegar no seu pé.

Monitoro Noah o tempo todo que corro, certificando-me de


não dar a ele muitas oportunidades de me ultrapassar. Curva
após curva, lutamos pelo primeiro lugar. Ele assume a liderança
uma vez, mas eu o derroto depois de um pit stop bem-sucedido.

— Você está virando muito aberto na curva três. — Um


engenheiro fala pelo rádio da equipe.

Minha respiração fica mais pesada enquanto continuo a


avançar em direção à linha de chegada. Uma multidão passa
por mim, gritando enquanto os carros passam voando.

Noah sobe em direção à minha asa traseira, mas eu bato


no acelerador, voando por outra volta. Com uma última volta na
pista, preciso levar meu carro ao limite.

Chris torna sua presença conhecida.

— Firme. Não estrague tudo na última volta. — Concentro-


me na pista à minha frente enquanto cuido dos retrovisores,
empurro o carro de corrida até o ponto de ruptura. Curva após
curva mantenho minha liderança, não dando muito espaço para
Noah passar por mim. Com uma última curva, desço a reta final
do Prêmio.

Fogos de artifício explodem quando passo pela bandeira


quadriculada. Os sons de multidões barulhentas arrancam um
sorriso de mim enquanto corro pela pista para uma volta para
resfriar.

— Você conseguiu, porra. Droga, você é duas vezes


campeão mundial. Bom trabalho, Kingston! — Chris grita.

Jogo meu punho no ar, aproveitando a última volta da


minha carreira.

Meus olhos estão me enganando. Não há outra explicação


para a aparição parada ao lado do pódio, me observando.

Elena filha da puta Gonzalez, em pessoa. Ela sorri para


mim e acena, balançando uma camiseta McCoy com meu
número nela. Liam, Sophie, Maya e Elías estão ao lado dela,
torcendo por nós.
O que diabos ela está fazendo aqui? Mas o mais
importante, por que ela está sorrindo para mim como se eu
tivesse pendurado a porra da lua para ela?

Tento ignorá-la enquanto Noah derrama champanhe em


mim, mas meus olhos encontram os dela o tempo todo. Quando
eles me entregam meu troféu, sorrio para ela antes de levantá-lo
no ar. A multidão vai à loucura enquanto Noah e Santiago
borrifam champanhe nos fãs que gritam.

Os locutores pedem o fim da comemoração e saio do palco.


Dou uma olhada nela. Uma boa olhada, me perguntando como
diabos eu merecia sua visita ao meu último Prêmio, apesar de
tudo que fiz. Caminho em direção a ela, encharcando-a como a
terra no meio de uma tempestade após uma seca de um ano.

— Ei. — Ela me oferece um pequeno sorriso nervoso.

— O que você está fazendo aqui? — Luto contra meu


sorriso e falho.

— Queria ver como é um Campeão do Mundo de perto e


pessoalmente. Achei que valia a pena conferir se o pódio final
vai ao encontro do hype.

— Ele atendeu aos seus padrões?

— Na verdade, não. Eu esperava fogos de artifício melhores


para ser honesta.
Balanço minha cabeça para ela. Que porra ela está fazendo
aqui?

Ela agarra minha mão e me puxa para longe dos meus


amigos. Um zumbido de energia sobe pelo meu braço ao nosso
contato. Estou tentado a me afastar, mas me permito o
momento de tortura.

Embora eu esteja feliz por ela ter vindo – exultante mesmo


– não consigo expressar isso exatamente. Estou de prontidão
enquanto ela me puxa pela multidão antes de me levar em
direção a um motorhome escuro.

— Você não precisa parecer em conflito por me ter aqui. —


Ela coloca a palma da mão na minha bochecha.

Inclino-me para ela, desejando seu toque como o homem


fodido que sou. Qual é o problema em alguns minutos de sua
atenção, embora eu saiba que isso vai me devastar quando ela
for embora?

— Estou feliz por você estar aqui. A porra da verdade


honesta.

— Bem, isso é um alívio. Eu não tinha certeza se você me


ignoraria ou me beijaria.

Permaneço em silêncio porque temo que minhas palavras


traiam o que eu realmente sinto por ela. Por mais que eu
desejasse que ela estivesse aqui, não é o que deveria acontecer.

Elena suspira.

— Eu posso muito bem acabar com isso. — Ela esfrega o


polegar na minha barba por fazer antes de se afastar. — Em
primeiro lugar, você é o homem mais frustrante que já conheci.
Você me empurrou de propósito e se você fizer isso comigo
novamente, vou ameaçar ferir você fisicamente.

— Eu não sei o que...

Ela pressiona um dedo contra meus lábios, me calando.

— Guarde a merda para qualquer um menos para mim.


Eu sei, Jax. Eu sei de tudo. — Sua voz fica sombria enquanto
ela me encara com lágrimas refletindo em seus olhos.

— O que você quer dizer? — Minha voz arranha.

— Eu sei que você não recebeu as notícias que queria. Eu


sei que você disse todas as coisas terríveis para me fazer fugir.
Que você de alguma forma fez Connor pagar meu salário de um
ano inteiro, apesar de ter sido demitida, e como Bandini me
contratou por causa de sua conexão. Você tentou o seu melhor
para ter certeza de que eu estava bem sem você, embora eu
definitivamente não estivesse. Você não precisa mais fingir que
está bem. Eu não quero que você finja. Eu quero o bom e o ruim
e tudo mais com você.
Inclino minha testa contra a dela e solto um suspiro
profundo.

— Quem te contou?

— Importa quem? Essa não é a questão.

— Não, mas é por isso que você veio aqui? Por eu estar te
ajudando?

— Não. — Ela solta um suspiro agitado. — Eu vim aqui


porque você merece o mundo inteiro e cada momento de globo
de neve. E sou egoísta porque quero que todos esses momentos
sejam comigo.

Fecho meus olhos, protegendo o desejo.

— Eu deveria ir embora. Permanentemente.

Ela zomba.

— Eu gostaria de ver você tentar. Eu não me importo com


nada disso. Nada sobre o seu diagnóstico me assusta. Você
pode começar a ter sintomas amanhã e eu gostaria de estar ao
seu lado todos os dias depois. Já passei por perdas drásticas
em minha vida e a última coisa que quero é perder a pessoa que
amo, porque ela prefere ficar sozinha do que comigo. — Sua voz
falha.

Agarro seu pescoço e a forço a olhar para mim.


— Você não sabe o que está pedindo.

— Quem falou em pedir? Estou tomando nosso futuro em


minhas próprias mãos.

— E sobre crianças?

— E eles? Existem outras maneiras de ter filhos. Doadores


de esperma, adoção. As opções são infinitas. Eu não me importo
com os detalhes, desde que eu possa ter você.

— Elena... — Desvio o olhar, nervoso para encontrar seu


olhar. — Você tem certeza disso? Porque se você reivindicar que
quer tudo, então posso fazer o mesmo.

Seus pequenos dedos agarram meu queixo e me forçam a


encará-la.

— Eu não gostaria que fosse de outra forma. Viva uma


vida complicada comigo, Jax Kingston. Eu quero o caos. Eu
quero escuridão. Eu quero sol e tempestades com você. Mas
acima de tudo, eu quero você de qualquer maneira que eu possa
ter, porque eu te amo.

Suas palavras afundam em minha pele, gravando-se como


a tinta que cobre meu corpo. Eu não percebi o quanto eu
precisava dela até deixá-la ir.

— Eu também te amo. Mesmo quando eu tentei o meu


melhor não amar. — Minha mão aperta sua nuca e puxo seus
lábios nos meus. Eu a beijo com cada gota de amor que sinto,
esperando poder expressar todas as desculpas que eu queria
dizer a ela. Para lembrá-la de cada momento em que senti sua
falta, ansiava por ela, queria rastejar de volta para ela.

Ela suspira e eu aproveito, passando minha língua ao


longo da costura de seus lábios antes de provar. Com Elena, um
beijo nunca é suficiente. Nunca será o suficiente, em todos os
dias da minha vida, de agora em diante. Apesar do meu desejo
de continuar, eu me afasto.

Ela protesta com um gemido. Eu rio enquanto agarro sua


mão e a arrasto em direção ao motorhome de McCoy. Os fãs
chamam meu nome e eu aceno, mal prestando atenção porque
estou em uma missão.

Meu pau lateja em antecipação enquanto voltamos para a


minha suíte privada. Eu a puxo para outro beijo, removendo
suas roupas rapidamente. Ela puxa o zíper do meu traje de
corrida e eu ajudo, livrando-me das roupas suadas e
encharcadas de champanhe.

— Porra. Eu senti sua falta. — Eu a observo, amando cada


curva de seu corpo.

— Eu também. — Ela suspira quando meus lábios


encontram seu pescoço e sugam.

— Se eu fosse um cara bom, iria levá-la de volta ao meu


hotel e dar-lhe um reencontro que você merece.

— Não estou aqui para namorar o cara bom. — Ela segura


minha ereção e esfrega o polegar na fenda.

Jogo minha cabeça para trás e gemo.

— Então esteja preparada para todos os males.

Ela ri.

— Estou ansiosa por isso.

Eu a empurro em direção ao sofá. Elena se deita,


ocupando todo o espaço dele. Ela olha para mim como um
presente que eu não mereço, mas não posso deixar de ter.

— Está tudo bem ser feliz. — Ela sorri.

Agarro suas pernas e a puxo para o lado do sofá,


levantando sua bunda sobre o braço. Meus joelhos batem no
chão enquanto minha boca a devasta. O gosto dela é viciante
pra caralho, me lembrando de tudo que eu fui estúpido em
deixar ir.

Eu a beijo, lambo e a aprecio com cada carícia da minha


língua. Seus gemidos são uma sinfonia para meus ouvidos. Ela
engasga quando meus lábios envolvem seu clitóris. Coloco um
dedo e depois outro nela, preparando-a para mim.

Ela geme meu nome antes de detonar ao meu redor. Não


posso me afastar, querendo consumir tudo que ela tem a me
oferecer.

— Merda. — Ela suspira. — Senti tanto sua falta.

— Mova-se de volta.

Ela segue meu comando, movendo-se para que seu corpo


inteiro cubra o sofá novamente. Pego um preservativo da minha
bolsa de ginástica e coloco antes de rastejar sobre seu corpo.

— Senti sua falta mais do que posso começar a explicar.


Sinto muito por tudo, Elena. Sinto muito por magoar você e por
fazer você sentir que não era boa o suficiente para mim. A
verdade é que você sempre será boa demais para mim. Mas,
caramba, não posso desistir de você nunca mais.

— Mantenha-me para sempre. — Ela empurra os cotovelos


e me beija. Suas mãos vão para o meu pau, me tocando antes
de me guiar em direção a sua entrada.

Empurro dentro dela, gemendo enquanto ela puxa meu


cabelo.

— Porra.

Ela engasga quando me movo. Mantenho um ritmo lento,


querendo aproveitar o momento com ela. Golpes constantes e
tentadores a levam a puxar meu cabelo com mais força.
— Por mais que eu ame sexo lento, isso é uma tortura.

— O melhor tipo. Sempre o melhor com você. — Beijo seu


pescoço enquanto aumento meu ritmo e força, atingindo o
ponto que a faz arranhar minhas costas. O gemido saindo de
sua boca me excita. Meu ritmo fica irregular enquanto ela
agarra minhas costas, gemendo meu nome no meu ouvido.

Com mais algumas estocadas, ela explode em volta do meu


pau. Meus movimentos crescem implacáveis e desesperados
enquanto persigo o barato que apenas Elena fornece. Um calor
percorre minha espinha enquanto minha liberação se aproxima.
Eu gozo, estocando nela, devorando seus suspiros com meus
lábios.

Desabo em cima dela, abraçando-a perto do meu corpo.

— Eu te amo.

— Eu também te amo. — Sua voz falha.

Levanto minha cabeça de seu pescoço, enxugando uma


lágrima de sua bochecha com a ponta do meu polegar.

— Sexo tão bom assim?

— O melhor. Mas estou com medo de que você mude de


ideia se as coisas ficarem difíceis.

— Por todos os dias da minha vida, prometo que não vou


te afastar. Quando a vida ficar difícil, vou me apoiar em você.
Quando você precisar de mim, pode contar comigo para fazer o
mesmo. Eu quero nosso tipo de história de amor. — Eu a beijo
suavemente.

— Sem retorno?

Sorrio para ela com cada gota de amor que sinto.

— Sem retorno.
51

Jax

Três meses depois

Elena pode ter lutado por mim, mas não posso negar a
ansiedade crescente de que tudo é apenas temporário. Sempre
que caio em um ciclo de pensamento negativo, Elena me puxa
para fora. E para ser verdadeiro, eu me tranco na minha prisão
mental depois do Campeonato Mundial.

Deixar a F1 foi mais fácil do que eu pensava. São as visitas


ao médico e a adaptação à minha nova vida que não. Tento o
meu melhor para fazer avanços positivos. Tom é meu terapeuta
permanente agora, e tenho passado muito tempo consertando
com Elena.

Todos os tipos de reparações. O bom, o sexual e o tipo


totalmente despreocupado.

O que me leva ao meu próximo dilema. Falando


logisticamente, Elena e eu estamos atualmente em um
relacionamento à distância.
Ha. porra. ha.

Eu, que sou alérgico a qualquer coisa mais permanente do


que as sobras da semana passada, estou comprometido com
outra coisa que não minha carreira e minha família. Mas apesar
da minha paciência e lealdade para com Elena, não posso
continuar morando com ela longe. Um voo de Londres para
Mônaco é muito longo para o meu gosto. Mesmo Caleb me dá
uma merda sobre Elena morando longe de mim.

Nenhum de nós mencionou para onde queremos ir a partir


daqui. Depois que terminei meus eventos de imprensa e folga da
minha última temporada, voei para Mônaco, querendo
surpreender Elena.

Fiz planos. Grandes planos que me deixam bêbado de


excitação em vez de nervosismo. Ao contrário da minha última
grande mudança de vida, pensei em tudo. Cada detalhe e todos
os cenários possíveis. Eu sei que é uma loucura. Eu sei que a
maldita coisa toda vai fazer meus amigos questionarem se eu
perdi completamente o controle. Mas se este ano me ensinou
alguma coisa, é que não posso mais passar a vida esperando.

Não quero passar mais um ano da minha vida perdendo


meu tempo por causa das normas sociais. Bem, eu não quero
perder mais um mês, muito menos outro dia sem Elena ao meu
lado. E, acima de tudo, quero viver cada dia ao máximo agora
que sei que minha vida mudará drasticamente à medida que
envelhecer. Daí meu plano.

O primeiro passo foi me preparar.

A segunda etapa envolveu arrombamento e invasão.

E a etapa final está prestes a ocorrer, com base no barulho


da maçaneta da porta de Elena em seu apartamento.

Respiro fundo, colocando meus dedos inquietos no bolso


do meu jeans rasgado. Elena abre a porta e deixa cair as chaves
na mesa lateral. Ela fecha e tranca a porta da frente antes de
pendurar a bolsa, tudo sem me dar uma segunda olhada.

Sua consciência é uma merda. Combine isso com seu


apartamento de baixa qualidade e você terá a inspiração mais
recente para um episódio de Criminal Minds. Sombrio, mas
honesto.

— Bem, amor, vou te dizer uma coisa, você provou


exatamente por que não deveria mais viver sozinha.

Elena grita, pulando um pé para trás antes de bater na


porta.

— Que porra é essa, Jax!

Encosto-me na parede, sorrindo para ela.

— Estive esperando por você.


Ela empurra a mão contra o peito.

— E você não poderia ter me enviado uma mensagem?


Como você conseguiu minha chave?

— Seu senhorio foi facilmente comprado.

— ¡No mames!53 — Ela acende a luz ao lado dela,


envolvendo-nos com um brilho.

Depois de um ano com ela, eu aprendi suas gírias.

— Ok, certo, estou brincando. Peguei emprestada sua


chave reserva na semana passada.

— Por emprestado, você quer dizer “tirou do meu


chaveiro”?

— Precisamente. Você sempre teve jeito com as palavras.

Ela caminha até mim, abandonando seu lugar perto da


porta. Seus olhos deslizam de mim para a prateleira recém-
construída escondida atrás de um lençol.

— O que é isso?

Alerta de spoiler para todas os não avisados por aí:


construir móveis Ikea54 é como montar um conjunto Millennium
Falcon55 Lego sem quaisquer instruções. Fodidamente terrível.

53 Não acredito.
54 IKEA é uma empresa global privada especializada na venda de móveis domésticos de "baixo custo".
55 Millennium Falcon é nave de Han Solo em Star Wars.
— Um presente.

— Tentando comprar meu amor depois de alguns meses


juntos?

Sorrio para ela antes de dar um beijo suave em seus


lábios.

— Por que comprar algo que eu já tenho?

Elena balança a cabeça, escondendo seu sorriso.

— Então o que é?

Puxo o lençol, revelando minha criação.

Elena não se move, muito menos fala, enquanto seus olhos


pousam nas fileiras de globos de neve.

— Você guardou todas as notas? — Ela traça o vidro de


um globo de neve como se pudesse tocar seu pedaço de papel
lilás preso dentro dele.

— Eu não podia deixar você jogá-los fora. Eu não consegui


tudo delas ainda.

— O que você quer dizer?

— Verifique você mesma e me diga.

Elena lê cada uma de suas notas para mim. Rio com a


menção de Xanax, balançando a cabeça com o quanto eu era
um idiota dependente e irritável. Ela me pressionou a querer me
salvar com algumas notas rabiscadas e escondidas dentro do
meu frasco de comprimidos.

Pego um dos globos de neve e o sacudo, antes de girar a


maçaneta na parte inferior. A melodia suave de “Thinking Out
Loud” de Ed Sheeran toca quando passo o globo de neve para
ela.

— De jeito nenhum! Ed Sheeran?

Permanecemos em silêncio enquanto a melodia toca.


Lágrimas correm por seu rosto enquanto ela lê minha nota.
Tento afastá-las, mas perco algumas.

Seus olhos deslizam do globo de neve para o meu rosto.

— Eu não escrevi essa nota.

Uma risada suave me escapa.

— Obviamente, não. — Meu rabisco Quer casar comigo?


sobressai, ao contrário de sua letra cursiva elegante.

— Isso é loucura.

— Mas tão real. — Coloco o globo de neve na prateleira e a


puxo contra meu corpo. Seu calor se infiltra em mim, me
atingindo com uma nova onda de felicidade.
— É muito cedo.

— Nada mais na minha vida é “muito cedo”.

— Eu tenho uma vida aqui.

Rio para mim mesmo, amando a parte racional dela que


precisa questionar todas as questões possíveis antes de
concordar.

— Se você quiser ficar aqui, eu vou morar aqui também.


Posso viajar de Mônaco para Londres com mais frequência.

— Você faria isso por mim? — Ela olha para mim com as
bochechas manchadas de lágrimas.

— Claro.

— Mas e quanto à sua mãe?

— Vou visitá-la com frequência.

Elena balança a cabeça.

Meu peito fica apertado com sua rejeição potencial.

— Não adianta esperar por algo que sei que vai acontecer
de qualquer maneira. Não quero passar mais um dia sem você...
não mais com meu diagnóstico. Quer comecemos uma vida em
Mônaco ou Londres, eu só preciso de você. E sua avó porque ela
faz parte do pacote.
Mais lágrimas caem dos olhos de Elena.

— Sim.

Congelo.

— Sim, você vai se casar comigo?

— Sim. Sim. Sim! — Ela segura meu rosto com as mãos e


me puxa para um beijo. Um beijo que pretendia me consumir de
dentro para fora, solidificando minha necessidade de mantê-la
para sempre.

Ela se afasta.

— Sim. Vamos nos casar!

— Você nem mesmo quer ver o anel antes de concordar?

Ela joga a cabeça para trás e ri.

— Não. Você poderia me oferecer uma pedra da rua e eu


ainda diria que sim.

— Posso garantir que é uma pedra... gigantesca.

Sua risada se transforma em um bufo.

— Por favor pare. Você está matando o momento.

Puxo a pequena caixa da minha calça jeans, ajoelho-me e


abro a tampa. Minha mão agarra a dela em uma fortaleza.
— Elena Gonzalez, mal posso esperar para passar o resto
da minha vida com você, não importa o lugar, o tempo, os
problemas. Você é a heroína em nossa história, disposta a ficar
ao meu lado, não importa o quão escuro o futuro pareça. Tudo o
que quero fazer é torná-la minha para sempre. Sem retorno.

As mesmas duas palavras estão inscritas no interior do


anel porque sou um filho da puta mais sentimental do que
meus dois amigos. O que posso dizer? Ela tem uma maneira de
trazer isso à tona em mim.

Ela sorri para mim com carinho incondicional.

— Sem retorno, nem mesmo um único momento. Não em


seu momento mais escuro ou seu dia mais difícil. Eu vou te
amar por tudo isso.

Deslizo o anel em seu dedo. Meu peito se expande com a


visão do diamante solitário marcando-a como minha. Levanto-
me e puxo sua mão até meus lábios, beijando seu dedo anelar.

Puxo minha noiva para um beijo de verdade, marcando-a


possessivamente de todas as maneiras que posso. Para
agradecer a ela por seu amor, perdão e aceitação. Para afastar
suas dúvidas com um beijo e mostrar que quero tudo.

A esperança é para os homens com seu futuro à frente.

A esperança é para aqueles que desejam sob as estrelas,


ou em uma igreja, ou em um momento desesperador de
necessidade.

E, acima de tudo, esperança é para pessoas como eu.


EPÍLOGO

Elena

Um mês depois

— Sem espiar. — Jax reajusta a venda que cobre meus


olhos. Ele agarra minha mão e me puxa para fora do carro com
cuidado. De alguma forma, eu aguentei todo o caminho desde a
casa dos pais dele sem ficar com náuseas ou medo, visto que
meus olhos estavam cobertos o tempo todo. A escuridão não me
deixa mais com medo. Não depois de um mês de sessões de
terapia e exposições ao que eu mais temia.

— Onde estamos?

— Você precisa de uma resposta para tudo?

— Sim. Especialmente quando você me roubou antes que


eu pudesse tomar banho.

Jax ri. Ele não me deu a chance de fazer perguntas ou


tomar banho depois de nossa luta na casa de seus pais. Minha
pele zumbe com antecipação enquanto Jax me leva em direção
ao desconhecido.

Tento usar meus outros sentidos para ter uma ideia de


nossa localização. A grama estala sob meus tênis e os pássaros
cantam nas proximidades, sem revelar nada. O que diabos ele
quer fazer comigo à noite no meio do nada? Ele me levanta em
seus braços enquanto sobe algo que suponho ser um pequeno
lance de escadas. Uma porta se abre e o plástico faz barulho
sob nossos pés.

— Já me matando depois de um mês morando juntos?

— Eu quero me matar por concordar em viver com meus


pais enquanto descobríamos nossa situação de moradia. Fim da
história.

Eu bufo.

— Achei que você estava feliz por ter escolhido me mudar


para Londres? — No momento em que contei a Jax sobre minha
ideia, ele solicitou um reembolso pelos cuidados de Abuela e a
colocou para morar no melhor estabelecimento da cidade
enquanto nos mudávamos temporariamente para a casa de
seus pais.

— Oh, amor, estou em êxtase. Mas acho que meus pais


estão restringindo nosso estilo. — Jax para.

Bato em suas costas e ele me estabiliza. Ele me ajuda a


sentar em algum tipo de banco antes de se acomodar ao meu
lado, sua proximidade trazendo um sorriso ao meu rosto. Minha
frequência cardíaca aumenta quando ele deixa um beijo
prolongado na minha bochecha.

Seus dedos roçam em meus lábios antes de traçar um


caminho de calor até a venda. Eu me deparo com uma visão de
Jax sorrindo para mim enquanto ele coloca a venda dos olhos
no bolso.

Pisco em confusão para o piano na nossa frente. Algumas


velas acesas fornecem alguma luz, sugerindo uma casa em
construção.

— O que estamos fazendo em uma casa deserta aleatória?


— Minha voz ecoa pela área vazia.

— Deixe-me explicar com uma música. — Ele corre as


mãos pela fileira de teclas antes que a doce melodia de ‘All of
Me’ de John Legend preencha o ar ao nosso redor.

Sorrio para ele.

— Eu adoro quando você fica todo romântico comigo,


mesmo que o local grite mais assustador do que fofo.

Jax joga a cabeça para trás e ri. Ele perde uma batida
antes de pegar a música novamente. Eu amo quando ele toca
para mim, a paz dele se perdendo na música fazendo meus
olhos nublarem de lágrimas de felicidade. O desejo cresce
dentro de mim quando uma imagem dele ensinando nossos
filhos a tocar piano um dia me atinge. Quero aproveitar cada
memória com este homem antes que sua doença roube pedaços
dele. Cada beijo, cada momento de ternura, cada luta que
temos.

Um grande pedaço de papel azul espalhado pela estante de


música chama minha atenção.

Inclino-me mais perto.

— O que é isso? — Pego meu telefone do bolso e ligo a


lanterna.

— Continue olhando.

Viro a primeira página de um esboço básico de um terreno.


Uma nota na parte inferior menciona como o arquiteto precisa
incluir uma pista de boliche, uma sala de cinema e um armário
com espaço extra para saltos e sapatos.

A próxima página me faz sorrir. É um esboço do exterior


com um pátio, fogueira, luzes suspensas, uma piscina com
escorregador e um rio lento, e o layout de um campo de
minigolfe.

O esboço final tem água inundando em meus olhos. Traço


um dedo sobre o desenho colorido da casa da árvore mais legal,
com uma placa pendurada na frente rotulada As crianças
Kingston.

Não consigo esconder as lágrimas de felicidade caindo pelo


meu rosto enquanto me lembro de Jax e eu discutindo como
seria uma futura casa. Ele ouviu cada ideia e pediu a alguém
que as elaborasse de acordo com a nossa visão.

Envolvo meus braços e pernas em torno de Jax, forçando-o


a parar de tocar a música.

Seus braços me apertam contra ele.

— Acho que você gostou dos planos, então?

— Gostar deles? Eu amo eles! — Puxo seus lábios nos


meus, deixando para trás um beijo ardente. Meus dedos
enrolam em meus tênis enquanto ele me beija até perder os
sentidos, suas mãos deixando para trás um caminho de calor
onde quer que permaneçam.

Ele aponta para uma janela enorme do outro lado da sala.

— A casa da árvore pode ir para lá. — Ele nos força a


enfrentar outra janela, de frente para a vasta floresta. — E a
piscina e a fogueira ali, ao lado do campo.

— Nós vamos morar aqui? Sério?

— Não só nós.
Inclino minha cabeça para ele.

— Sério.

— Nenhuma casa na árvore está completa sem crianças. —


Ele sorri.

Eu o beijo novamente. A maneira como seus olhos brilham


com a ideia de filhos enche meu coração ao máximo. Não tenho
dúvidas de que este homem fará tudo para fazer seus filhos
sentirem cada gota de amor que ele tem nele. Eu deveria saber,
visto que estou recebendo isso há meses.

Jax inclina sua testa contra a minha.

— Eu te amo. Eu te amo tanto que quero manter você só


para mim. Mas a maior parte do meu coração deseja espalhar o
seu amor para as crianças que precisam. Para nossos filhos um
dia. Definitivamente não precisa ser agora, mas quero que você
saiba minhas intenções. Você merece tudo e eu quero ser o
único a fazer isso se tornar realidade.

Uma onda de adoração passa por mim.

— Eu te amo. Cada coisa sobre você.

— Ótimo. Agora, para a segunda parte desta noite.

Levanto uma sobrancelha.


— Tem mais?

— Claro. Agora que o romance acabou, estou aqui para


mostrar a você a segunda razão do piano. — Jax deixa um beijo
suave no canto dos meus lábios.

— Hmm. Diga-me mais.

— Eu tenho sonhado em foder você contra um por meses.


Agora é minha chance.

Rio para o céu noturno.

— Bem, Jax Kingston, o que você estava esperando?

— Você. Sempre você.

Um calor se espalha pelo meu corpo quando Jax me


mostra exatamente o quanto ele me ama. Nossa história não
será fácil, mas é real. Jax não era o único que precisava ser
resgatado. Enquanto ele estava lutando contra seu futuro, eu
estava lutando contra meu passado. Mas juntos, não
precisamos lutar sozinhos.

Somos mais fortes do que um diagnóstico ou o próprio


medo.

Mas, acima de tudo, somos mais fortes juntos do que


separados.
EPÍLOGO ESTENDIDO

Elena

Três anos depois

— Quanto tempo costuma durar uma cesariana? — Escovo


as palmas das mãos suadas no meu vestido.

— Foda-se se eu sei. Talvez devêssemos procurar no


Google? — Jax salta o joelho para cima e para baixo. A sala de
espera do hospital alemão está cheia com a família de Liam,
nossos amigos e o pai de Sophie, que por acaso é meu chefe.

— Cerca de 45 minutos. — Lukas, o irmão mais velho e


muito parecido com Liam, responde enquanto percorre o
pequeno espaço.

Jax olha para seu relógio.

— Ainda temos trinta minutos.

Posso dizer que ele está ansioso, mas não sei por quê.

— Quer dar uma volta?


Jax acena com a cabeça. Nós dois saímos da sala de
espera e descemos os corredores juntos. Ele permanece em
silêncio por alguns minutos até congelar.

— Tem certeza de que não quer ter seus próprios filhos? —


Ele solta.

Dou um passo atrás.

— Por que você está me perguntando isso?

— Porque tanto Maya quanto Sophie já engravidaram e


você nunca fala nisso. — Ele passa uma mão trêmula pelo
cabelo.

— Eu não pensei muito nisso. — Minto. Não consigo parar


de pensar nisso ultimamente, especialmente depois do chá de
bebê da Sophie.

— Seja honesta comigo.

Eu o ignoro e continuo caminhando, não querendo


encontrar seus olhos.

Ele grunhe.

— Não me trate como se eu fosse um conjunto de


porcelana frágil — Sua suposição não pode estar mais longe da
verdade.

Damos a volta na próxima esquina e eu paro novamente.


Uma janela de vidro revela alguns bebês em pequenos
recipientes de plásticos, envoltos em cobertores azuis ou cor-de-
rosa.

Coloco minha mão contra o vidro e respiro fundo.

— Eu sei que você não é frágil.

— Então o que a impede de querer um bebê?

— Não se trata de você. Sou eu. — Minhas palavras


pairam entre nós.

— O que você quer dizer? — Ele está ao meu lado, olhando


para os bebês também.

A verdade me escapa antes que eu tenha uma chance de


me deter.

— Tenho medo de não ser suficiente para eles.

Jax envolve seus braços em torno de mim e me aninha sob


seu queixo.

— Você sempre será o suficiente. Qualquer criança teria


sorte em ter você como mãe.

— Tenho medo de fazê-lo por conta própria. Sinto falta dos


meus pais e não tenho família para me ajudar. E tenho medo se
algo acontecer. E se eu os perder também? — Minha voz racha.
— Eu não posso trazer sua família de volta, mas posso
compartilhar a minha com você. E eu estarei lá para protegê-la
e a qualquer criança que tivermos. Você nunca estará sozinha
um dia em toda sua maldita vida enquanto eu viver. Estarei ao
seu lado, criando-os para dizer palavras de maldição britânica
adequadas e ensinando-os que a mãe deles é a melhor coisa do
mundo.

Meu peito treme de tanto rir. Seus braços me dão outro


aperto antes de me deixar ir. Meus olhos se desviam para trás
em direção aos bebês em suas camas. Uma criança prende
minha atenção, com apenas seu peso e altura escritos no
cartão. Ele chupa seu polegar minúsculo e nos olha com
grandes olhos castanhos.

— Por que você acha que ele não tem um nome?

— O pobre bebê foi abandonado em uma igreja local.


Ninguém ainda lhe deu um nome. — Uma nova voz soa de trás
de nós. Uma enfermeira sorri e conduz um carrinho de
suprimentos para bebês através do salão.

— Ele não tem nenhuma família? — Não consigo tirar os


olhos da criança, aconchegada em seu cobertor, seu rosto
bronzeado e rechonchudo com um ar rebelde fofo.

— Não que nós saibamos. E eu sinceramente duvido que


eles os encontrem. Com base na condição de como encontraram
a criança, é melhor que ele seja adotado de qualquer maneira.

Abandonado. Sozinho. Melhor ser adotado.

É como se uma luz acendesse entre mim e Jax.

— Você está pensando o que eu estou pensando? —


Sussurro, traçando o contorno do rosto do bebê com meu dedo.

— Esse é o nosso maldito filho e não o teremos de outra


forma.

Jax coloca a palma da mão sobre a minha, encurralando-a


contra o vidro. Nosso filho olha para nós com os olhos
castanhos mais doces que eu quero me perder. Sua entrada no
mundo foi tudo menos amorosa, mas com Jax ao meu lado,
planejamos amar aquele bebê com tudo em nós.

E juntos, nós três criamos nosso primeiro momento de


globo de neve como uma família.

Fim
AGRADECIMENTOS

Para minha mãe – você pode me chamar de seu raio de sol,


mas você também é o meu.

Para meus leitores, equipes e revisores – nada disso seria


possível sem vocês. Obrigada por seu apoio e entusiasmo
inabaláveis. Só espero continuar produzindo livros que vocês
adorem e personagens com os quais vocês se identifiquem.

Para Julie, obrigada por sempre me ajudar a tornar cada


livro melhor. Seja pelo conteúdo, pela promoção antes do
lançamento ou ouvindo minhas divagações, você é a melhor
suporte, e tenho sorte de ter você como amiga!

Para Mary e Val da Books and Moods – Amo vocês e todo o


conteúdo que vocês criam! Obrigada, Mary, por me ensinar
como reunir minha estética de mídia social e, ao mesmo tempo,
me proporcionar um estado constante de risadas. Você é uma
amiga tão divertida e eu agradeço você. Val, um dia chegarei a
esse livro, não se preocupe.

Para Erica – você é a melhor editora! Eu não poderia fazer


esses projetos ganharem vida sem você. De alguma forma, você
sempre tem uma maneira de saber o que precisa ser feito ou
consertado. Por favor, me ensine a lembrar pequenos detalhes
como você porque é um talento.

Para meus leitores beta – obrigada! Sem seus talentos


individuais, Wrecked não seria o que é hoje. Todos vocês são tão
especiais para mim e não consigo expressar com palavras
suficientes o quanto agradeço por você dedicar seu tempo para
me pressionar a fazer melhor. Cada um de vocês me deu um
feedback que ajudou a dar vida a este livro!

Para os verdadeiros pilotos de F1 – vocês não sabem que


eu existo, mas vou agradecer de qualquer maneira. Sua
resistência, destemor e dedicação ao esporte me inspiram a
continuar escrevendo sobre personagens que acho que
competiriam contra você.

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