Habitação Unifamiliar
Material Teórico
Construção do Repertório – Parte I
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Construção do Repertório – Parte I
• Levantamentos Preliminares;
• Estudos de Projetos Análogos;
• A Pesquisa para Construção de Repertório.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Sistematizar os levantamentos e pesquisas como base para o processo de projeto.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
Levantamentos Preliminares
Segundo Francis D. K. Ching (2013), “a arquitetura é geralmente concebida
(projetada) e realizada (construída) em resposta a um conjunto de condições exis-
tentes”. Para o autor, esse conjunto de condições existentes é denominado “o pro-
blema”, enquanto “um novo conjunto de condições será a solução”.
“A fase inicial de qualquer processo de projeto é o reconhecimento de
uma condição problemática e a decisão de se encontrar uma solução para
ela. O projeto é, acima de tudo, um ato deliberado, um esforço com
certo propósito. Um projetista deve primeiramente documentar as con-
dições existentes de um problema, definir seu contexto e levantar dados
importantes para serem assimilados e analisados. Essa é a fase crucial do
processo de projeto, já que a natureza de uma solução está inexoravel-
mente relacionada à maneira como o problema é percebido, definido e
trabalhado”. (CHING, 2013)
8
anteriormente, porém, como dito na unidade I, há diversos conceitos do que seja
arquitetura e, para Unwin (2013), “a arquitetura de uma edificação, um grupo de
edificações, uma cidade, um jardim, etc., será considerada sua organização concei-
tual, sua estrutura intelectual”.
Bruno Zevi (1996) entende que a “joia arquitetônica” é o espaço resultante dos
elementos que o definem, ou seja, as “fachadas de uma casa, de uma igreja ou
de um palácio”. Portanto, embora esses elementos possam ser “belos” e “a caixa
artisticamente trabalhada, ousadamente esculpida”, é o espaço por eles definidos
como o protagonista da arquitetura. Este debate não se encerra com essa expla-
nação de Zevi (1996), pois as investigações formais contemporâneas, segundo
Montaner (2010), ampliam a discussão.
“A arquitetura é geralmente concebida (projetada) e realizada (construída)
em resposta a um conjunto de condições existentes. Essas condições po-
dem ser de natureza puramente funcional ou refletir, em graus variados, a
atmosfera social, política e econômica. De qualquer maneira, pressupõe-se
o conjunto de condições existentes – o problema”. (MONTANER, 2010)
9
9
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
nos atrai, nos eleva, nos subjuga espiritualmente; a arquitetura feia será aquela que
tem um espaço interior que nos aborrece e nos repele. O importante, porém, é
estabelecer que tudo que não tem espaço interior não é arquitetura” (ZEVI, 1996).
Este debate não se encerra com essa explicação de Zevi (1996), pois as investi-
gações formais contemporâneas, segundo Montaner (2009), ampliam a discussão.
Para Montaner (2009), “não podemos pretender reduzir os mundos criativos exclu-
sivamente às condições econômicas e ideológicas”, nem tampouco reduzir a análise
da arquitetura aos elementos individuais e isolados, mas “de maneira mais abrangen-
te possível em relação ao seu contexto, como sistemas de objetos que têm relação
com as diversas concepções do sujeito e do tempo”. Devemos, portanto, procurar
fazer uma leitura da arquitetura contextualizada, no tempo, na paisagem e entender
o pensamento do arquiteto e suas aspirações e seu engajamento político, social etc.
Para se produzir uma boa arquitetura, deve-se estudar boa arquitetura. Para se
projetar boas residências, deve-se estudar boas residências. Estabelecer o que é
uma boa arquitetura não é uma tarefa fácil, mas um bom caminho é procurar estu-
dar os arquitetos mais conceituados (e premiados), independente de se “gostar” ou
não da sua produção arquitetônica, para a partir do entendimento da sua obra e do
seu pensamento conseguir retirar subsídio para definição de possíveis parâmetros
comparativos. A seguir vamos ver como a pesquisa e a análise de projetos residen-
ciais podem contribuir para a construção de um repertório.
10
entendimento da organização espacial por meio de uma leitura das circulações,
fluxos e hierarquia dos espaços projetados.
1
Tadao Ando, nasceu em 1941 em Osaka, Japão. Ganhador de diversos prêmios de arquitetura, entre eles: Medalha
Alvar Aalto da Finnish Association of Architects, Medalha de ouro de arquitetura da Académie d’Architecture de
France e Pritzker Prize, além de diversos títulos honoris causa.
11
11
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
12
Figura 4 –Fotografias do interior – Casa Azuma
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons
Explor
13
13
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
Contexto
14
Figura 8 – Fotografia interior – Ville Savoye
Fonte: Wikimedia Commons
15
15
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
16
Figura 11 – Plantas | Cortes – Villa dall’Ava
Fonte: OMA, 1991
17
17
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
Explor
Leia mais sobre uma análise comparativa entre os projetos de Le Corbusier - Villa Savoye e
de Rem Koolhaas – Villa Dall Ava, feita em pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida por
Carolina Gonçalves Cypriano, sob orientação do prof. Me. Franklin Roberto de Paula Ferreira,
disponível em: https://goo.gl/GZd6W7
18
segurança para que o homem realize as suas atividades ao ar livre. Segun-
do, por uma razão econômica, algumas antigas cidades e comunidades
foram construídas de modo a formar um anel único, com o espaço central
descoberto. Isto permitia uma densidade populacional relativa aliada a
um baixo custo de defesa. Como terceiro item destacamos as condições
climáticas, o pátio em lugar da casa isolada com suas quatro faces expos-
tas ao Sol, ao vento etc., fazia com que um edifício protegesse o outro, e
este espaço descoberto poderia ser o local onde seria cultivado as plantas,
as águas da chuva seriam recolhidas para o uso doméstico e na criação
de um microclima menos hostil que o externo. O quarto remete às co-
notações religiosas; este espaço aberto relembra a imagem do homem
no Paraíso terrestre. Acrescentamos aqui, um quinto fator: os aspectos
culturais; cada povo interpretou e usufruiu deste lugar conforme as parti-
cularidades de suas tradições”.
Explor
Leia o artigo “O que é pátio interno? – Parte 1”. Disponível em: https://goo.gl/m7sqfT
Leia mais sobre o pátio interno, na Tese de Doutorado do arquiteto Luiz Augusto dos Reis-
Explor
19
19
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
Figura 14 – Planta | Casa com três pátios – Mies Van Der Rohe
Fonte: FAU-USP
Numa análise feita na residência de três pátios pela autora do blog3 “trespatios”,
fica mais evidente o enfrentamento do arquiteto e sua busca pelo entendimento e
compreensão sobre a existência humana:
“Analisando agora a casa em sua totalidade, temos primeiramente um grande
pátio, sendo este uma extensão da casa, que é envolvida por grandes muros.
Nesse pátio encontramos a representação da natureza que, não mais no estado
puro, passa-nos a ideia artificial de mundo. Nesse pátio não há uma forma de
se relacionar com a natureza como faria as famílias-tipo, cultivando flores ou
inserindo objetos de lazer. O que temos é apenas uma relação contemplativa
da constante sucessão do mesmo. Veremos o correr do tempo natural que o
jardim e as árvores, juntamente à visão que se tem do céu nos proporcionaria
[...] Ao reorientarmos nossa análise para os materiais da casa, percebemos
que o arquiteto trabalha tanto com materiais tradicionais como o tijolo, a
pedra e o couro quanto com materiais mais avançados como o aço e o vidro.
Um elemento presente nos desenhos da casa com três pátios é a lareira feita
em tijolos. A mesma é disposta na parede de maneira discreta para não per-
mitir a sensação de verticalidade, como se fosse apenas um objeto que reme-
te a uma evocação de passado, um tempo que pode voltar sobre si mesmo.
A pedra utilizada nos muros e no piso faz referência às tradições locais.
É um artifício utilizado por Mies como forma de passar mais subjeti-
vação da modernidade, afirmando a condição temporal da habitação.
2
No sentido de influenciar. Nota do autor.
3
<https://goo.gl/CcZ95E>, a autora do blog se identifica apenas como Carolina.
20
Ainda em relação influência de Nietzsche, Rohe acaba eliminando a verticali-
dade na casa para conseguir afirmar o sujeito como o protagonista, como se
a horizontalidade fosse a negação da divindade e a referência a um espírito
mundano. [...] A simetria também vai ser um recurso muito utilizado por ele
para determinar uma nova compreensão do espaço. Existe de certa forma
uma simetria sensorial: o pé direito da casa é próximo de 3,20 metros e isso
faz com que um indivíduo de estatura mediana esteja dividindo com o olhar
os planos do piso e do teto. Poderíamos dizer que esse cuidado tomado
pelo arquiteto faz referência à escala de percepção humana. Todos esses
efeitos darão a sensação de que o indivíduo encontra-se num templo, mas
certo de que nele tem apenas o homem como protagonista. Ao olharmos
o interior da casa com três pátios percebemos que o mobiliário é escasso.
Eles fazem parte de um contexto artístico dentro cada casa. O mobiliário é
reduzido porque o indivíduo não precisa de muitos objetos para viver, mas,
de elementos que vão auxiliar na reflexão sobre sua própria maneira de vi-
ver. Sendo assim, o conforto passa a ser uma espécie de busca a percepção,
como se fosse um conforto espiritual”.
Iñaki Ábalos (2012) nomeia essa casa de Mies como a casa de Zaratustra, afirmando
a grande influência de Nietzsche na produção desse período de Mies van der Rohe:
“Sabemos que aqueles foram anos complicados para Mies van der Rohe:
sua misteriosa renúncia, em 1921, à família que construíra, e o auge do
nacional-socialismo obrigaram-no a questionar a sua vida particular e profis-
sional justamente quando alcançara um grande prestígio, e se vira rodeado
por um círculo de amizades e por referências culturais que lhe possibilita-
vam consolidar sua criatividade (em especial, Alois Riehl, seu cliente que,
além de ser o autor do primeiro livro sobre a figura de Nietzsche – sig-
nificativamente intitulado de Friedrich Nietzsche como artista e pensador
– introduziu-o em um meio de personalidades de grande influência como
Werner Jaeger, historiador da cultura, e Heinrich Wölfflin, historiador da
arte, bem como Hans Richter, Walter Benjamin e Romano Guardini, que
igualmente conheceria no período). Tanto Fritz Neumeyer, como Franz
Schultze e Francesco Dal Co, em seus respectivos textos sobre Mies van der
Rohe, descrevem distintos aspectos desse período em que sua formação in-
telectual é aperfeiçoada e sistematizada, mencionando Nietzsche, o grande
pensador antipositivista, e Romano Guardini, teólogo, como as suas leituras
mais intensas e frutíferas de então. Em 1927, Mies van der Rohe observa:
‘somente através do conhecimento filosófico revelam-se a ordem correta de
nossas tarefas e o valor e a dignidade de nossa existência”, explicando as-
sim o valor que atribui à sua reeducação, um processo que em grande parte
vai significar um distanciamento do positivismo e, portanto, do espírito que
animou todo o projeto moderno”. (ÁBALOS, 2012)
Leia mais sobre as casas de Mies van der Rohe, o artigo da arquiteta Luciana Fornari Colombo,
Explor
A Casa Núcleo de Mies van der Rohe, um Projeto Teórico sobre a Habitação Essencial, dispo-
nível em: https://goo.gl/7NAJgW
21
21
UNIDADE Construção do Repertório – Parte I
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
A boa-vida
ÁBALOS, Iñaki. A boa-vida. Barcelona: Gustavo Gili, 2003.
Por uma Arquitetura
CORBUSIER, Le. Por uma Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1973.
Sistemas arquitetônicos contemporâneos
MONTANER, Josep Maria. Sistemas arquitetônicos contemporâneos. Barcelona:
Gustavo Gili, 2009.
Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos
MONEO, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito
arquitetos contemporâneos. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
A análise da arquitetura
UNWIN, Simon. A análise da arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013.
Saber ver a arquitetura
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Leitura
Casa Azuma – Tadao Ando
https://goo.gl/bjXJaa
Ville Savoye, Poissy – Le Corbusier
https://goo.gl/n8TdHi
Ville Savoye, Poissy – Le Corbusier
https://goo.gl/RyDstg
Rem Koolhaas – Villa dall’Ava
https://goo.gl/gkDkR1
Rem Koolhaas – Villa dall’Ava
https://goo.gl/hRcc78
Análise Villa Savoye e Villa Dall Ava
https://goo.gl/GZd6W7
O que é o pátio interno? – parte 1
https://goo.gl/m7sqfT
As casas pátio de Mies Van Der Rohe
https://goo.gl/CcZ95E
A Casa Núcleo de Mies van der Rohe, um Projeto Teórico sobre a Habitação Essencial
https://goo.gl/7NAJgW
22
Referências
CHING, F. D. K. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013. Re-
curso online ISBN 9788582601020.
23
23