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Material Teórico
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
• Introdução;
• O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio;
• A Tríade Vitruviana e a Categoria do Belo.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender a importância de Vitrúvio, considerado o primeiro tratadista em arquitetura.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
Introdução
A arquitetura sofre uma série de transformações em sua estrutura ao longo da
história da humanidade. Essas transformações ocorrem em função de uma série de
fatores. Podemos citar alguns desses fatores, como clima, relevo, legislação, eco-
nomia, tecnologia e técnica construtiva, política, cultura e costumes locais, entre
vários outros.
Figura 1 – Diagrama que se propõe a sintetizar história e teoria como pertencentes ao campo
crítico-analítico e reflexivo como suporte à prática dentro das compreensões de Nesbitt e Vitrúvio
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Para compreender mais sobre as diferenças da teoria e da história, leia a introdução do livro
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NESBITT, K. Uma nova agenda para a arquitetura – antologia teórica de 1965 – 1995. São
Paulo: Cosac Naify, 2006.
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Explor
Os princípios da basílica de Fano são descritos no capítulo 1 do livro 5. Para mais informações
a respeito, leia também o artigo publicado sobre a proposta de Vitrúvio VITRUVIUS’ BASILICA
AT FANO: THE DRAWINGS OF A LOST BUILDING FROM DE ARCHITECTURA LIBRI DECEM (Basílica
de Fano de Vitrúvio: os desenhos de um edifício perdido dos Dez livros da arquitetura) de
Paolo Clini, disponível em: https://goo.gl/1jXT52
Como, pois, eu estivesse obrigado por esse benefício, sem receio da pobre-
za no fim da vida, comecei a escrever estas coisas para ti, porque verifiquei
que edificaste e edificas no momento presente muitos monumentos e no
futuro te preocuparás com os edifícios públicos e privados, para que sejam
entregues à memória dos vindouros como testemunho dos feitos notáveis.
Redigi normas pormenorizadas, de modo que, tendo-as presentes, possas
por ti ter conhecimento perante obras já construídas ou futuras, quaisquer
que sejam. Com efeito, nestes livros expliquei todos os preceitos da arqui-
tetura. (VITRÚVIO, 2007, p. 60 – Dedicatória a Otávio César Augusto,
preâmbulo, livro 1)
Ainda que haja esse reconhecimento, Vitrúvio reivindica para si ter sido “o
primeiro a apresentar sistematicamente a totalidade da disciplina da arquitetura”
(KRUFT, 2016, p. 24).
Seus livros são a primeira teorização desenvolvida que se conhece da arqui-
tetura e o primeiro manual conjunto de urbanismo, construção, decoração
e engenharia. (MACIEL apud VITRÚVIO, 2007, p. 30 – Introdução)
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O tratado é dividido em dez livros precedidos, cada um, por um prefácio que
não necessariamente sugere o conteúdo do respectivo livro; o prefácio recupera, de
maneira bastante breve, o conteúdo do livro precedente. Entende-se, portanto, que
“os prefácios devem ser considerados uma unidade e contêm passagens fundamen-
tais sobre a função do tratado e sobre o entendimento do autor” (KRUFT, 2016,
p. 24). Os assuntos dos prefácios abordam temas variados que podem ser agrupados
em três conjuntos: a) o próprio Vitrúvio, b) a função do Tratado e c) problemas da
arquitetura em geral.
Mecenantismo: refere-se ao mecenas, que, de acordo com o dicionário virtual Aulete, sig-
Explor
nifica o indivíduo que protege e apoia, geralmente com dinheiro, as artes e as ciências, e
os profissionais que trabalham nessas áreas. O termo é decorrente de Caio Cílnio Mecenas,
estadista e patrono de letras romano que viveu entre os anos 68 a.C. (Arezzo) e 8 a.C (Roma).
Explor
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No segundo prefácio, o autor conclui que o arquiteto não possui poder para
conseguir realizar os seus projetos, de modo que esse profissional, bem como o
artista, é apresentado como um instrumento nas mãos do governante com a fi-
nalidade de alcançar os seus objetivos políticos. Ainda assim, sinaliza que o maior
sonho de um arquiteto é a construção de uma cidade.
No terceiro prefácio, Vitrúvio elucida a importância da arte na vida do homem e
contesta o valor que, em muitos casos, é negado ao artista, de modo que “a arte e
seus valores integram-se em um contexto cultural mais vasto, e seu nível entra em
interação com o grau de civilização de uma sociedade” (MACIEL apud VITRÚVIO,
2007, p. 37 – Introdução). De acordo com o autor, o artista se torna conhecido para
a posteridade tanto por meio do exercício da arte, mas, sobretudo, pelo trabalho em
grandes cidades, reis ou nobres cidadãos. Também conclui que nas artes em geral,
bem como na arquitetura, aquilo que é belo e excelente dispensa outros empenhos.
No quarto prefácio, estão registradas leituras sobre os temas dos estilos dórico,
coríntio e toscano, além de o autor versar sobre os templos circulares, portas dóri-
cas, jônicas e áticas, bem como os altares.
O quinto prefácio deixa transparecer que, segundo o próprio autor, o tratado
deve ser constituído de ciência e engenho. O vocabulário adotado para revelar um
caráter de autoridade em seu texto é sintético, prático e objetivo.
No sexto prefácio, Vitrúvio afirma que “o saber e a competência aliados à
honestidade são a verdadeira riqueza do arquiteto, pois são bens imperecíveis”
(MACIEL apud VITRÚVIO, 2007, p. 39 – Introdução).
No sétimo prefácio, o arquiteto enaltece a contribuição de seus “mestres” para
o desenvolvimento de sua percepção artística e de seus fundamentos. Atento ao
papel de pesquisador, reconhece os seus pares e revela os nomes de verdadeiros
historiadores de arte que contribuíram tanto no campo artístico quanto no campo
teórico. Nesse aspecto, Vitrúvio, ao citar os autores que o antecederam, reconstitui
uma trajetória que legitima o seu trabalho enquanto pesquisador.
O oitavo prefácio aborda aquilo que Tales de Mileto considerava a arche de
todas as coisas: a água. O livro aborda a hidráulica e a distribuição da água, toda a
engenharia que possibilitava a organização de uma infraestrutura que possibilitava
o acesso a essa fonte de vida.
No nono prefácio, Vitrúvio revela um descontentamento em relação ao enalte-
cimento aos atletas gregos através de louros e benesses, enquanto os intelectuais,
como os escritores, filósofos, inventores tinham a sua contribuição ao desenvolvi-
mento da sociedade pouco reconhecida.
De fato, os conhecimentos desses homens não só serviram para a cor-
reção dos costumes, como também foram úteis para todos em todos os
tempos, enquanto a celebridade dos atletas envelhece em breve tempo,
como os seus corpos, e nem no ponto máximo da sua carreira, nem na
posteridade, podem ser úteis à vida dos homens como o são os pensa-
mentos dos sábios. (VITRÚVIO, 2007, p. 433 – Utilidade perene dos
conhecimentos dos sábios, preâmbulo, livro 9)
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Por fim, o décimo prefácio que antecede o livro mais longo do tratado assume a
responsabilidade do arquiteto perante os orçamentos que prestavam a fim de evitar
que pessoas sem formação na área, não devidamente aptas, sabedoras e experien-
tes, usurpassem tal ofício.
da Antiguidade até a Modernidade, veja o livro PULS, M. Arquitetura e filosofia. São Paulo:
Annablume, 2006.
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1. Ordenação (ordinatio);
2. Disposição (dispositivo);
3. Euritmia (eurythmia);
4. Comensurabilidade (symmetria);
5. Decoro (decor);
6. Distribuição (distributio).
A ordenação refere-se à proporção de uma construção. Estrutura-se a partir de
um módulo básico e a relação que se estabelece entre si e com o todo. Logo, a
repetição desse módulo implica em uma quantidade, quantitas, e a harmonia entre
os elementos.
A disposição implica no posicionamento adequado dos elementos compositivos da
arquitetura, desde a sua concepção até a sua execução, com o intuito de se obter a
harmonia através da qualidade. A disposição está fundamentada em três outros concei-
tos: icnografia (ichnographia), ortografia (orthographia) e cenografia (scaenographia).
A ichnographia consiste no uso conjunto e adequado do compasso e da
régua, e por ela se fazem os desenhos das formas nos terrenos das zonas
a construir. A ortographia, por seu turno, define-se como o alçado do
frontispício e figura pintada à medida e de acordo com a disposição da
obra futura. A scaenographia é o bosquejo do frontispício com as partes
laterais em perspectiva e a correspondência de todas as partes laterais em
relação ao centro do círculo. (VITRÚVIO, 2007, p. 75 – A ordenação e a
disposição, capítulo 2, livro 1)
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Figura 2 – Templo dórico de Segesta na Sicília, como exemplo de decoro cumprindo um princípio;
nesse sentido, o templo despojado de ornamentos valoriza a verdadeira força dos deuses
Fonte: iStock/Getty Images
Ainda que apareça com frequência nas explanações sobre o conceito de belo,
Vitrúvio compreende que a proporção não é um conceito estético fundamental, de
modo que ela se estabelece como mera relação numérica definida de três maneiras:
1. como relação das partes entre si;
2. como referência de todas as medidas a um modulus que está em sua base;
3. como analogia das proporções do homem.
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Por mais relevante que sejam as percepções de Vitrúvio acerca da teoria e do
ofício da arquitetura, o seu tratado recebeu pouco prestígio na Antiguidade, não
tendo exercido qualquer influência sobre as construções e o pensamento da época.
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UNIDADE O Tratado de Arquitetura de Vitrúvio
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Arquitetura – a historicidade de um conceito um breve estudo sobre a mitologia da fundação da arquitetura
Arquitetura – a historicidade de um conceito um breve estudo sobre a mitologia da
fundação da arquitetura (1), Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima.
https://goo.gl/GSUHDF
Livros
Arquitetura e Filosofia
PULS, M. Arquitetura e filosofia. São Paulo: Annablume, 2006.
Estética e Filosofia
DUFRENNE, M. Estética e filosofia. São Paulo: Perspectiva, 2015.
Vídeos
A Beleza e sua importância – Café Filosófico, Prof. Tiago Amorim
https://youtu.be/QqUT31x-v3k
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Referências
KRUFT, H. W. História da teoria da arquitetura. São Paulo: EDUSP, 2016.
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