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SECRETARIA DO ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS

PLANO DE ESTUDO TUTORADO/ATIVIDADE COMPLEMENTAR 2021


COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA – VOLUME 4
NOME DA ESCOLA: PROFESSORA HAYDÉE DE SOUZA ABREU
ALUNO:
TURMAS: 2º1, 2º2, 2º3 E 2º4 PROFESSORAS: CRISTIANA E FLÁVIA
MESES: 10,11 e 12/2021 TURNO: DIURNO
NÚMERO DE AULAS POR SEMANA: TOTAL DE SEMANAS:04
NÚMERO DE AULAS POR MÊS:

SEMANA 07
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S): Todos os campos de atuação social e Campo artístico-literário
OBJETO(S) DE CONHECIMENTO: Elementos característicos do gênero, peculiaridades do estilo da autora,
efeitos de sentido de recursos expressivos, compreensão e interpretação do texto com base nos
elementos composicionais e linguísticos.
HABILIDADE(S): EM13LP01 Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições
de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e
perspectivas, papel social do autor,época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de
construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.
EM13LP49 Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários para
experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.
EM13LP03 Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de
relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de
paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
EM13LP06 Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de
determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposição de palavras,
dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.
EM13LP46 Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo
diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos,
para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica
CONTEÚDO RELACIONADO: Conto fantástico
INTERDISCIPLINARIDADE: Arte, Filosofia, Sociologia e História
▶Ponto de partida
1ª parte
Certamente, ao longo da sua vida, dentro ou fora da escola, você se deparou com diversos gêneros
literários, como poemas, romances, textos dramáticos e contos. Dentre esses, deve se lembrar dos
contos de fada, de aventura, de suspense, de terror e contos fantásticos. Qual deles é seu preferido?
Você tem o hábito/gosta de ler contos? Quem são os autores desse gênero que você conhece? Em
que lugar podemos encontrar textos assim? Como são essas histórias? O que esse gênero tem de
diferente dos outros? Em geral, que tipo de histórias são narradas nos contos? Comente.
Vamos fazer algo diferente! Por alguns minutos, tente se lembrar do último conto que você leu. Feito
isso, preencha a ficha a seguir em relação ao conto e, depois, compartilhe as informações com a
turma.
Título: _______________________________________________________________________
Autor: _______________________________________________________________________

• Sobre o que era a história? ______________________________________________________


• Qual era o enredo? ____________________________________________________________
• Onde e em que tempo se passava? _______________________________________________
• Quem eram os personagens? ____________________________________________________

●E como era o narrador?


●Como terminava o conto? Agora defina com suas palavras
●O que é um conto?
●Para que um conto é escrito?

Respostas pessoais.

2ª parte
Vamos discutir outra questão: o que é algo “fantástico” para você? Pense em outras palavras e
expressões que podem servir de sinônimo. Cite um exemplo de alguma situação “fantástica” que você
presenciou. O que aconteceu para você chamá-la de “fantástico”? No site www.sinonimos.com.br,
entre as acepções para “fantástico” estão as seguintes palavras:

Surpreendente, extraordinário, impressionante, incomum,


espantoso, assombroso, fantasioso, irreal.

Disponível em: https://www.sinonimos.com.br/fantastico/ Acesso em março de 2019.

Já aconteceu alguma coisa estranha na sua vida? Algo que o surpreendeu muito e você não conseguiu
explicar?
• Pensando em tudo o que discutimos, defina: o que é para você um “conto fantástico"?
Conto fantástico são narrativas em que há a presença de seres sobrenaturais e ações inexplicáveis.
_____________________________________________________________________________

ATIVIDADE 1
Vamos analisar a seguir uma lista de contos extraídos de dois livros bem conhecidos: Contos fantásticos do
século XIX e Os cem melhores contos brasileiros do século [XX]

Quem sabe diz

2
Você conhece ou já leu um desses contos, ou um dos autores? Qual dos títulos dos contos chamou
mais a sua atenção? Por quê? Qual texto deixou você com vontade de ler? O que esses títulos
sugerem de misterioso, fantástico ou sobrenatural? Comente.
Agora, (...) escolha um desses contos e desenvolva uma história que seja possível a partir do título.
Imagine como seria esse conto. (...). Para ajudar a desenvolver sua história, tente garantir os seguintes
aspectos:
• Situação inicial (personagens, tempo e espaço)
• Conflito (algo que rompe a tranquilidade do início)
• Desenvolvimento do conflito (a situação vai se agravando)
• Clímax (revelação, ponto de maior tensão da história)
• Desfecho (solução ou término do conflito, que pode ser bom ou ruim
Respostas pessoais.

ATIV
IDA
DE 2

Com
certe
za,
você

ouvi
u
falar
na
escri
tora
brasi
leira
Lygi
a
Fagu
ndes
Telle
s. Já
leu
um
de seus contos? Do que tratava a história? Gostou ou não gostou? Por quê?
(...)
O que vocês entendem pela palavra “caçada? Quem são os principais personagens de uma caçada?
Em que ambiente ela acontece?
• Imaginem como seria uma caçada representada em uma pintura bem grande.
• Agora, pensem que essa pintura foi feita em uma tapeçaria antiga, muito envelhecida.
• Isso parece misterioso para você? Por quê?

TEXTO 1
3
Parte 1
A CAÇADA
Lygia Fagundes Telles

A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus anos embolorados e
livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma
mariposa levantou voo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.
— Bonita imagem — disse ele.
A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no
cabelo.
— É um São Francisco.
Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja.
Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.
— Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso… Pena que esteja nesse estado. O homem
estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.
— Parece que hoje está mais nítida…
— Nítida? — repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída. — Nítida,
como?
— As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?
A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão
pálido e perplexo quanto a imagem.
— Não passei nada, imagine… Por que o senhor pergunta?
— Notei uma diferença.
— Não, não passei nada, essa tapeçaria não aguenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho
que é a poeira que está sustentando o tecido acrescentou, tirando novamente o grampo da cabeça.
Rodou-o entre os dedos com ar pensativo. Teve um muxoxo: — Foi um desconhecido que trouxe,
precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estava por demais estragado, que era difícil
encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto… Preguei aí na parede e aí ficou. Mas já faz anos isso.
E o tal moço nunca mais me apareceu.
— Extraordinário…
A velha não sabia agora se o homem se referia à tapeçaria ou ao caso que acabara de lhe
contar. Encolheu os ombros. Voltou a limpar as unhas com o grampo.
— Eu poderia vendê-la, mas quero ser franca, acho que não vale mesmo a pena. Na hora que se
despregar, é capaz de cair em pedaços.
O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria
assistido a essa mesma cena. E onde?…

Respostas pessoais.

Agora, vamos (...) responder a algumas questões:

1. (...) O estilo de Lygia Fagundes Telles é minucioso e detalhista. Encontre um exemplo disso
nessa parte do texto.

Exemplos possíveis: “Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros.”; “A mariposa
levantou voo e foi chocar- -se contra uma imagem de mãos decepadas.”; “A velha tirou um grampo do
coque, e limpou a unha do polegar.”

2. O espaço onde se passa a história sugere algo misterioso? Justifique.

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Sim. A loja de antiguidades remete ao passado; e a descrição do espaço, a algo sombrio, oculto,
abandonado, empoeirado, corroído: ...tinha cheiro de uma arca de sacristia com seus anos
embolorados e livros comidos de traça.

3. Há algo no início do texto que anuncia um acontecimento trágico? O quê?

Sim. A mariposa que se choca com a imagem de São Francisco com as mãos “decepadas" prenuncia
algo trágico, sangrento, doloroso.

4. O texto apresenta referências religiosas? Quais? Que sentido elas acrescentam à história?

Sim, a arca da sacristia e a imagem de São Francisco.

5. O que o narrador quer dizer com “anos embolorados", no 1º parágrafo? Como se chama essa figura
de linguagem?

O autor quis reforçar a ideia de ambiente consumido pela passagem do tempo. Trata-se de uma
sinestesia.

6. Qual é a reação do homem e da velha diante da tapeçaria? Eles têm a mesma percepção?
Não. A velha não dá nenhum valor à tapeçaria e a vê envelhecida e estragada (como ela é no plano do
mundo real); já o homem fica admirado, enxergando-a nítida e viva (plano irreal, fantástico).

7. Há algo de misterioso na origem da tapeçaria? O quê?


Sim. A forma como ela surgiu na loja: um desconhecido que precisava de dinheiro a deixou lá para ser
vendida e nunca mais apareceu.

8. A) Qual tempo verbal que mais aparece no discurso do narrador? Cite um exemplo.
B) E nas falas das personagens? Justifique com um trecho.
As formas no tempo pretérito predominam no discurso do narrador, bem como o presente no discurso
dos personagens.

9. No último parágrafo, por que a mão do homem tremia? O que estava acontecendo com ele?
A mão do homem tremia, provavelmente, porque ele estava nervoso. Ele tinha a sensação de já ter
visto aquela cena antes.

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10. A quem pertence a seguinte fala no último parágrafo: Em que tempo, meu Deus! em que tempo
teria assistido a essa mesma cena. E onde?…? Está mais próxima do narrador ou do estado emocional
do personagem? Como se chama esse tipo de discurso? Justifique.
Apesar de estar no discurso do narrador, a fala pertence ao personagem “homem" que “invade" a (fala)
do narrador. Trata-se do discurso indireto livre, indicado pelos pontos de exclamação e interrogação e
pelo conteúdo da fala, próximo à realidade do personagem.

SEMANA 08
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S): Todos os campos de atuação social e Campo artístico-literário
OBJETO(S) DE CONHECIMENTO: Peculiaridades do estilo da autora, efeitos de sentido de recursos
expressivos, compreensão e interpretação do texto com base nos elementos composicionais e linguísticos;
intertextualidade.
HABILIDADE(S): (EM13LP01) (EM13LP49) (EM13LP03) (EM13LP06) (EM13LP46)
CONTEÚDO RELACIONADO: Conto Fantástico
INTERDISCIPLINARIDADE: Arte, Filosofia, Sociologia e História
ATIVIDADE 3

Você está gostando do conto? O que você acha que vai acontecer agora? Está curioso? Vamos
continuar a leitura e conferir!

Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontando para uma
touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do
bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta, cujo rosto se reduzira a um esmaecido contorno.
Poderoso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos
tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta.
O homem respirava com esforço. Vagou o olhar pela tapeçaria que tinha a cor esverdeada de um
céu de tempestade. Envenenando o tom verde-musgo do tecido, destacavam-se manchas de um
negro-violáceo e que pareciam escorrer da folhagem, deslizar pelas botas do caçador e espalhar-se no
chão como um líquido maligno. A touceira na qual a caça estava escondida também tinha as mesmas
manchas e que tanto podiam fazer parte do desenho como ser simples efeito do tempo devorando o
pano.
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— Parece que hoje tudo está mais próximo — disse o homem em voz baixa. — É como se…Mas
não está diferente? A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los.
— Não vejo diferença nenhuma.
— Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta…
— Que seta? O senhor está vendo alguma seta?
— Aquele pontinho ali no arco… A velha suspirou. — Não vejo diferença nenhuma. — Mas esse
não é um buraco de traça? Olha aí, a parede já está aparecendo, essas traças dão cabo de tudo —
lamentou, disfarçando um bocejo. Afastou-se sem ruído, com suas chinelas de lã. Esboçou um gesto
distraído: — Fique aí à vontade, vou fazer meu chá. O homem deixou cair o cigarro. Amassou-o
devagarinho na sola do sapato. Apertou os maxilares numa contração dolorosa. Conhecia esse
bosque, esse caçador, esse céu — conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o
perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa
madrugada! Quando? Percorrera aquela mesma vereda aspirara aquele mesmo vapor que baixava
denso do céu verde…Ou subia do chão? O caçador de barba encaracolada parecia sorrir
perversamente embuçado. Teria sido esse caçador? Ou o companheiro lá adiante, o homem sem cara
espiando por entre as árvores? Uma personagem de tapeçaria. Mas qual? Fixou a touceira onde a
caça estava escondida. Só folhas, só silêncio e folhas empastadas na sombra. Mas, detrás das folhas,
através das manchas pressentia o vulto arquejante da caça. Compadeceu-se daquele ser em pânico, à
espera de uma oportunidade para prosseguir fugindo. Tão próxima a morte! O mais leve movimento
que fizesse, e a seta… A velha não a distinguira, ninguém poderia percebê-la, reduzida como estava a
um pontinho carcomido, mais pálido do que um grão de pó em suspensão no arco.
Enxugando o suor das mãos, o homem recuou alguns passos. Vinha-lhe agora uma certa paz,
agora que sabia ter feito parte da caçada. Mas essa era uma paz sem vida, impregnada dos mesmos
coágulos traiçoeiros da folhagem. Cerrou os olhos. E se tivesse sido o pintor que fez o quadro? Quase
todas as antigas tapeçarias eram reproduções de quadros, pois não eram? Pintara o quadro original e
por isso podia reproduzir, de olhos fechados, toda a cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o
céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada, só músculos e nervos apontando para a
touceira…“Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?”

Agora vamos responder as seguintes atividades.

1.A) Qual parágrafo descreve a pintura da tapeçaria? Qual é o tempo verbal predominante nessa
descrição? B) O narrador usa outras expressões para detalhar a descrição?
O 1º parágrafo descreve com minúcias (detalhes) a pintura da tapeçaria, sendo uma das marcas o predomínio do verbo no
pretérito imperfeito. Além disso, expressões como “No primeiro plano” e “Num plano mais profundo” ajudam a detalhar
essa descrição.
2. Que palavras no texto sugerem imagens fortes, de sofrimento, dor? Qual é a relação disso com o
tema do conto?
Termos como: “barba violenta”, “céu de tempestade”, “Envenenando”, “maxilares numa contração dolorosa” antecipam a
violência que a caça vai sofrer, além de reproduzir e potencializar a tensão vivida pelo personagem.

3. No 1º parágrafo, há alguma referência implícita a uma figura mitológica? Qual? Em qual trecho?
Sim, um dos caçadores tem a “barba violenta como um bolo de serpentes”, o que remete à figura de Medusa, ser da
mitologia grega que tinha os cabelos de serpente e petrificava as pessoas que olhassem para ela.

4. No 2º parágrafo, o que é possível entender pelas “manchas de um negro-violáceo"? Onde elas


aparecem e o que devem representar?
Tudo indica se tratar do sangue do animal escondido atrás da touceira, cuja coloração se tornou negro-violáceo (violeta
escurecido) pelo aspecto envelhecido e desbotado da pintura.

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5. No segundo dia, o que mudou na percepção do homem sobre a pintura? Quais palavras expressam
essa passagem de tempo? Justifique.
O homem enxerga a pintura mais nítida: “— Parece que hoje tudo está mais próximo”/ “Ontem não se podia ver se ele
tinha ou não disparado a seta…” A passagem de tempo é marcada pelos advérbios hoje e ontem.

6. A) Em que parte do texto, o homem parece entrar na pintura? O que no texto indica isso?
B) E em que momento ele parece sair dela? Por quê?
No penúltimo parágrafo, após o homem deixar cair o cigarro e tensionar o maxilar. A partir da frase: “Conhecia esse
bosque, esse caçador, esse céu...” predominam os verbos no pretérito imperfeito, o que indica a perspectiva do homem
imersa na pintura. Quando o ponto de vista dele sai da pintura, os verbos voltam a ficar no pretérito perfeito:
“Compadeceu-se daquele ser em pânico [...] Enxugando o suor das mãos, o homem recuou alguns passos. ”

7. No penúltimo parágrafo, o homem se coloca várias perguntas. O que ele está procurando saber? A
que conclusão ele chega? Em que trecho isso aparece?
Com as perguntas, o homem procura saber quem ele foi na cena. A única conclusão é de que ele foi um dos personagens
da cena representada: “Uma personagem de tapeçaria”.

8. Que verbos são usados para indicar a fala dos personagens em discurso direto?
Os verbos de elocução: disse e lamentou.

9. No discurso indireto livre, a fala e emoção do personagem surge dentro do discurso do narrador,
como se vê no trecho
A — Parece que hoje tudo está mais próximo — disse o homem em voz baixa.
B — “Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?”
C — essas traças dão cabo de tudo — lamentou, disfarçando um bocejo.
D — quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada!
E — Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta…
Alternativa D, principalmente devido ao trecho ah, essa madrugada!

10.No último parágrafo, há algum exemplo do estilo detalhista da autora? Qual?

Sim, a possível lembrança do homem quando teria pintado a cena “podia reproduzir, de olhos fechados, toda a
cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada...”

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SEMANA 09
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S): Todos os campos de atuação social e Campo artístico-literário
OBJETO(S) DE CONHECIMENTO: Peculiaridades do estilo da autora, efeitos de sentido de recursos
expressivos, compreensão e interpretação do texto com base nos elementos composicionais e
linguísticos; intertextualidade.
HABILIDADE(S): (EM13LP01) (EM13LP49) (EM13LP03) (EM13LP06) (EM13LP46)

CONTEÚDO RELACIONADO: Conto fantástico


INTERDISCIPLINARIDADE: Arte, Filosofia, Sociologia e História

ATIVIDADE 4

Está gostando? Pelo andar da história, o que você acha que vai acontecer no final? Encontrou alguma
pista nos parágrafos anteriores? Vamos logo ver como termina o conto!

Parte 3

Apertou o lenço contra a boca. A náusea. Ah, se pudesse explicar toda essa familiaridade
medonha, se pudesse ao menos… E se fosse um simples espectador casual, desses que olham e
passam? Não era uma hipótese? Podia ainda ter visto o quadro no original, a caçada não passava de
uma ficção. “Antes do aproveitamento da tapeçaria…” — murmurou, enxugando os vãos dos dedos no
lenço.
Atirou a cabeça para trás como se o puxassem pelos cabelos, não, não ficara do lado de fora, mas
lá dentro, encravado no cenário! E por que tudo parecia mais nítido do que na véspera, por que as
cores estavam mais fortes apesar da penumbra? Por que o fascínio que se desprendia da paisagem
vinha agora assim vigoroso, rejuvenescido? …
Saiu de cabeça baixa, as mãos cerradas no fundo dos bolsos. Parou meio ofegante na esquina.
Sentiu o corpo moído, as pálpebras pesadas. E se fosse dormir? Mas sabia que não poderia dormir,
desde já sentia a insônia a segui-lo na mesma marcação da sua sombra. Levantou a gola do paletó.
Era real esse frio? Ou a lembrança do frio da tapeçaria? “Que loucura! … E não estou louco”, concluiu
num sorriso desamparado. Seria uma solução fácil. “Mas não estou louco. ”Vagou pelas ruas, entrou
num cinema, saiu em seguida e quando deu acordo de si, estava diante da loja de antiguidades, o nariz
achatado na vitrina, tentando vislumbrar a tapeçaria lá no fundo.
Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos
na escuridão. A voz tremida da velha parecia vir de dentro do travesseiro, uma voz sem corpo, metida
em chinelas de lã: “Que seta? Não estou vendo nenhuma seta…” Misturando-se à voz, veio vindo o
murmurejo das traças em meio de risadinhas. O algodão abafava as risadas que se entrelaçaram numa
rede esverdinhada, compacta, apertando-se num tecido com manchas que escorreram até o limite da
tarja. Viu-se enredado nos fios e quis fugir, mas a tarja o aprisionou nos seus braços. No fundo, lá no
fundo do fosso, podia distinguir as serpentes enleadas num nó verde-negro. Apalpou o queixo. “Sou o
caçador?” Mas ao invés da barba encontrou a viscosidade do sangue.
Acordou com o próprio grito que se estendeu dentro da madrugada. Enxugou o rosto molhado de
suor. Ah, aquele calor e aquele frio! Enrolou-se nos lençóis. E se fosse o artesão que trabalhou na
tapeçaria? Podia revê-la, tão nítida, tão próxima que, se estendesse a mão, despertaria a folhagem.
Fechou os punhos. Haveria de destruí-la, não era verdade que além daquele trapo detestável havia
alguma coisa mais, tudo não passava de um retângulo de pano sustentado pela poeira. Bastava soprá-
la, soprá-la!
Encontrou a velha na porta da loja. Sorriu irônica:
— Hoje o senhor madrugou.
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— A senhora deve estar estranhando, mas…
— Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho…
“Conheço o caminho” — murmurou, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as
narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando
embaçada, lá longe? Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto,
engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas. Quis retroceder, agarrou-se a um armário,
cambaleou resistindo ainda e estendeu os braços até a coluna. Seus dedos afundaram por entre
galhos e resvalaram pelo tronco de uma árvore, não era uma coluna, era uma árvore! Lançou em volta
um olhar esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os
cabelos empastados de orvalho. Em redor, tudo parado. Estático. No silêncio da madrugada, nem o
piar de um pássaro, nem o farfalhar de uma folha. Inclinou-se arquejante. Era o caçador? Ou a caça?
Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as
árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado? … Comprimiu as palmas das mãos contra a
cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o
lábio gretado. Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta
varando a folhagem, a dor! “Não…” – gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou
encolhido, as mãos apertando o coração.

Publicado no livro “Antes do baile verde”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1979, foi incluído entre “Os cem melhores contos
brasileiros do século”, seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, pág. 265

Agora, vamos responder as questões.


SEMANA 9:ATIVIDADE 4

1. No início do texto, o homem questiona se aquela sensação com a pintura é ou não real. Que trechos
indicam isso?
Sim, no 1º e 2º parágrafo, nos trechos: a caçada não passava de uma ficção. Antes do aproveitamento da tapeçaria… —
murmurou [...] Era real esse frio? Ou a lembrança do frio da tapeçaria? “Que loucura!… E não estou louco”, concluiu num
sorriso desamparado. Seria uma solução fácil. “Mas não estou louco. ”.

2. No 2º parágrafo, o homem se pergunta por que sente a pintura cada vez mais nítida. Qual é sua
hipótese? O que isso sugere?
Resposta pessoal.
Sugestão: Porque ele pôde observar por um tempo maior a pintura. A proximidade do homem com a cena retratada na
pintura.

3. Em algum momento o personagem sonha? Em qual parágrafo? Como é possível saber que ele
sonhou?
Sim, no 5º parágrafo. É possível pois os trechos misturam ações de dentro e de fora do sonho, como “atirou-se de bruços
na cama”, “A voz tremida da velha parecia vir de dentro do travesseiro...” e “O algodão abafava as risadas que se
entrelaçaram”. É possível perceber que se tratava de um sonho no começo do 6º parágrafo: “Acordou com o próprio grito
que se estendeu dentro da madrugada. Enxugou o rosto molhado de suor. ”

4. No 5º parágrafo, há alguma referência ao caçador? Como o homem descobre que ele não é o
caçador na pintura? Releia os trechos.
No 5º parágrafo há uma referência ao caçador por meio da barba com “as serpentes enleadas”. O homem
percebe não ser o caçador no sonho, pois apalpou o queixo e não encontrou a barba, mas a “viscosidade do
sangue”, antecipando uma pista de que ele será a caça no final.

Releia os trechos — Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o
caminho… “Conheço o caminho” — murmurou, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as
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narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando
embaçada, lá longe? Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto,
engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas.

5. O homem repete a frase da velha com o mesmo sentido? A que “caminho” ele se refere?
Não. A velha se refere a conhecer o caminho da loja de antiguidades; já o homem, ao repetir a frase dela, dá a
entender que conhece o caminho da cena representada na pintura: a caça.

6. Que palavras no trecho indicam que o homem entrou na cena da tapeçaria? Como esse movimento
é narrado?
No início do antepenúltimo parágrafo, após o verbo “Parou”, quando o homem “Dilatou as narinas” e sentiu o
cheiro da folhagem, ele já estava dentro da tapeçaria. As formas verbais no gerúndio que indicam o movimento
da tapeçaria a tomar conta do homem e do espaço, no trecho: “Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de
folhagem e terra [...] E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar
sorrateiramente pelo chão, pelo teto, engolindo tudo...”

7. Que trecho marca a imersão completa do homem na tapeçaria? Que tempo verbal indica isso?
Justifique.
O trecho do antepenúltimo parágrafo: “não era uma coluna, era uma árvore! Lançou em volta um olhar
esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque...” O verbo que indica isso está no pretérito mais-
que-perfeito, logo após os dois pontos.

8. Afinal, quem era o homem na pintura? O caçador ou a caça? Qual trecho do texto dá essa certeza?
No penúltimo parágrafo, no trecho: “Era o caçador? Ou a caça? [...] caçando ou sendo caçado. Ou sendo
caçado?…” A repetição em destaque reforça a pista do sonho (de que o homem seria a caça), confirmando-se no
final quando o homem sente “a dor” da flecha: “Não…” – gemeu, de joelhos.

Agora, vamos comparar o início (I) com o final (II) do conto A caçada:
I A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus anos embolorados e livros
comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa
levantou voo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.
II Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a
folhagem, a dor!
[...]
“Não…” – gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos
apertando o coração.

9. Há algum elemento do início que se repete no fim do conto? O quê? Qual é a relação de sentido
entre eles? O que mudou de um para o outro?
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As “mãos decepadas” na imagem de São Francisco, no 1º parágrafo, reaparecem simbolicamente na
cena final, com o destaque para as mãos do próprio homem “apertando o coração” após levar a
flechada.
10.No início do conto, quem era representado na imagem com “as mãos decepadas”. Isso ajuda a
explicar o final trágico? Por quê?
A imagem com as “mãos decepadas” no início sugere que ele estava impossibilitado de proteger a
caça de seu destino trágico. Uma vez que ele é o santo protetor dos animais (alvos das caçadas).
Porém, estava impossibilitado de proteger a caça de seu destino trágico.

11.Explique oralmente por que é possível considerar A caçada, de Lygia Fagundes Telles, um “conto
fantástico”. Que características do conto fantástico estão presentes no texto lido?

É esperado que os alunos reconheçam o elemento fantástico, sobrenatural, impossível no mundo real,
como o fato de uma pintura “ganhar vida”, ou um homem literalmente entrar em uma pintura e
participar da cena representada nela: no caso, tomar o lugar da caça e ser atingido pela flecha.

12.Quais são os dois planos (natural e sobrenatural) presentes na história? Há presença de flashbacks
ou tempo psicológico, em que passagem?
O principal elemento é a hesitação entre o mundo natural/real e o sobrenatural/irreal, predominando
este último. O tempo psicológico no conto se manifesta em algumas lembranças vagas do homem,
como a sensação de já ter visto ou participado da cena representada na pintura, além do sonho
narrado no 5º parágrafo.
13.O conto causou estranhamento para você? Por quê?

(Pessoal)

Sim, pois apresenta elementos que não existem no mundo real.

SEMANA 10
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S): Todos os campos de atuação social e Campo artístico-literário
OBJETO(S) DE CONHECIMENTO: Síntese dos conceitos: contexto de produção, estilo e construção
composicional do gênero.
HABILIDADE(S): (EM13LP01) (EM13LP49)
CONTEÚDO RELACIONADO: Conto Fantástico
INTERDISCIPLINARIDADE: Arte, Filosofia, Sociologia e História
ATIVIDADE 5
Vamos conhecer um pouco mais da vida e obra de Lygia Fagundes Telles?

12
Pensando nessas informações, vamos pensar sobre o contexto de produção do conto “A caçada”,
preenchendo a tabela a seguir:
1.
a) Quem é a autora? Que imagem ela transmite
por meio de sua obra?
b) Quem pode ser seu público leitor?
c) Em que contexto histórico esse conto foi
escrito? Como isso se relaciona com o tema?
d) Com que finalidade a autora escreveu o conto?

2. Lendo o conto, foi possível você perceber sua forma breve, concisa e direta? Você foi “pego” “numa
tacada só”? Explique.

3. Vamos relembrar cada momento que compõe o enredo da narrativa. Em linhas gerais, preencha a
tabela a seguir, conforme cada parte do conto A caçada.

Situação inicial

Conflito

Complicação (desenvolvimento do conflito)

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Clímax

Desfecho

Pensando nessas informações, vamos pensar sobre o contexto de produção do conto “A caçada”,
preenchendo a tabela a seguir:
1.
a) Quem é a autora? Que imagem
ela transmite por meio de sua obra?

b) Quem pode ser seu público


leitor?

c) Em que contexto histórico esse


conto foi escrito? Como isso se
relaciona com o tema?

d) Com que finalidade a autora


escreveu o conto?

2. Lendo o conto, foi possível você perceber sua forma breve, concisa e direta? Você foi “pego” “numa
tacada só”? Explique.
Sim, os fatos da narrativa desenvolvem-se de maneira breve e direta, mantendo a expectativa do leitor
até o fim.

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3. Vamos relembrar cada momento que compõe o enredo da narrativa. Em linhas gerais, preencha a
tabela a seguir, conforme cada parte do conto A caçada.

Situação inicial

Conflito

Complicação
(desenvolvimento do
conflito)

Clímax

Desfecho

SISTEMATIZANDO APRENDIZAGENS
Afinal, como foi para você estudar o gênero conto fantástico? O que mais chamou sua atenção? O que
você desenvolveu até aqui será importante na continuação dos seus estudos? O que você sente que
precisa retomar ou aprofundar? Em linhas gerais, como você avalia seu desempenho nesta Sequência
Didática?
Volte agora à definição que você formulou para o gênero “conto fantástico” no Ponto de Partida
(começo da SD) e repense:
• Alguma coisa mudou? O que aprendeu de novo? Acrescentaria algo?
_____________________________________________________________________________

Conto Fantástico
Contexto de • Gênero textual produzido com a finalidade de narrar uma história de ficção,
produção misturando o mundo real com elementos sobrenaturais/extraordinários. Em
geral, é publicado em livros, coletâneas de contos, mas pode ser encontrado
na internet, em sites e blogs dedicados ao tema.
Composição • Narrativa breve, concisa e direta;
• Narrador em 1ª ou 3ª pessoa;
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• Personagens, enredo, tempo e espaço;
• Situação inicial, conflito, desenvolvimento, clímax e desfecho.
Estilo e • Predomina o tempo verbal no pretérito no discurso do narrador e no presente
linguagem nas falas das personagens;
As falas dos personagens podem aparecer em discurso direto, indireto ou
indireto livre;
• No discurso direto, as falas podem ser marcadas por travessão, aspas e
verbos de elocução;
No discurso indireto livre, as falas e emoções dos personagens “invadem” o
discurso do narrador, sem marcas.
Presença de figuras de linguagem, como a metáfora e a sinestesia.

Para saber mais: Se possível, assista a uma resenha de um de seus livros de contos, chamado Antes
do baile verde. O vídeo foi publicado por Isabella Lubrano, em seu canal sobre livros no You Tube “Ler
antes de morrer”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sequência Didática de Língua Portuguesa – Ensino Médio – Campo Jornalístico Midiático: Conto
Fantástico (adaptada) – IQE (Instituto Qualidade no Ensino).

CRMG – Currículo Referência de Minas Gerais

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