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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Rosângela Ascenção Dias de Souza Figaro

Análise da Afetividade de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e


Hiperatividade pelo Método de Rorschach: um enfoque Junguiano

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

SÃO PAULO

2009
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLÍNICA

NÚCLEO DE PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR

Rosângela Ascenção Dias de Souza Figaro

Análise da Afetividade de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e


Hiperatividade pelo Método de Rorschach: um enfoque Junguiano

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Dissertação apresentada à Banca


Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em
Psicologia Clínica sob a orientação da Profa.
Dra. Ceres Alves de Araújo.

SÃO PAULO

2009
Banca Examinadora
À Eloá,
que me lembra constantemente
a importância da Afetividade em nossas vidas.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Ao meu pai Oswaldo e à minha mãe Norma pelo apoio e amor incondicionais.
À minha irmã Marisa, quando havia tanto trabalho a ser feito.
À minha prima Elizabeth Cecília, por viabilizar a coleta de dados com o grupo controle.
A todos os que tornaram este trabalho possível, a minha profunda gratidão, em especial:
À Profª. Dra. Regina Sonia G. Nascimento por sua disponibilidade sempre generosa em
compartilhar seu conhecimento.
À Minha Orientadora Profª. Dra. Ceres Alves Araújo, por me orientar sempre na direção do
caminho da ética e do trabalho sério, especialmente com as crianças.
Ao Dr. Mauro Muszkat, pelo incentivo à pesquisa.
A todos os profissionais do NANI (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil-
UNIFESP), por me auxiliarem com a coleta de dados.
À Profª. Sonia Maria Silva pelo incentivo e suporte com a classificação das respostas do teste
e por ter “plantado” a idéia do mestrado.
Às minhas queridas Rita Rosa, minha terceira juíza, e Maria Mello pela presença sempre
amiga.
Ao Prof. Paulo Martins pelo suporte emocional e pela ajuda com o material para pesquisa.
À Márcia Sapata pela ajuda com a teoria.
À Mariana Leboreiro que com sua meiguice me socorreu muitas vezes.
À Profª. Yara G. Castro por sua paciência com a minha ignorância em estatística.
À Telma, Selma e Maristela pela parceria e companheirismo.
À Cidinha, Fátima, Lílian e Ceres pela compreensão dos meus déficits de atenção.
À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ao Programa de Estudos Pós-Graduados
em Psicologia Clínica, os meus sinceros agradecimentos pela bolsa de estudos que
possibilitou a conclusão desta pesquisa.
A esta força misteriosa, que promove os encontros e desencontros, a qual, como disse Jung,
alguns chamam de DEUS. Obrigada!
RESUMO

Este estudo se dedicou à análise das características afetivas e emocionais das crianças que
apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH. Os resultados
obtidos pela aplicação do Método de Rorschach de acordo com o Sistema Compreensivo de
Exner apontam para suscetibilidade a episódios depressivos. Verificamos também
dificuldades no controle inibitório, associadas a situações de estresse permanente, resultantes
de atividade ideacional intensa, o que interfere nos processos de atenção e concentração.
Foram observados sentimentos de angústia, gerados por certa consciência de necessidades não
atendidas. As crianças com TDAH apresentam características afetivas e emocionais
complexas, sendo o processamento das emoções o mais importante em sua atividade
psicológica. Tendem a buscar autonomia e auto-afirmação, correndo o risco de terem
condutas impulsivas ou de oposição. Com base na teoria junguiana representada pelas idéias
de Jean Knox sobre a memória implícita e os complexos, concluímos que por serem intensas
emocionalmente, as crianças com TDAH apresentam um estilo de resposta determinado pelo
Complexo Materno. Este se constituirá a partir de sentimentos e emoções armazenados na
memória implícita, decorrentes das aprendizagens ocorridas nas relações da criança com sua
mãe ou com seu cuidador.

PALAVRAS CHAVE: TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE –


AFETIVIDADE - TESTE DE RORSCHACH - COMPLEXO
ABSTRACT

This study was dedicated to the analysis of affectional and emotional characteristics of
children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder - ADHD. The results obtained by
applying Rorschach Test by Exner Comprehensive System indicate susceptibility to
depressive episodes. We also verify difficulties in inhibitory control, related to situations of
ongoing stress, resulting from intense ideational activity, which interferes with their processes
of attention and concentration.
There were observed distress feelings, generated by some awareness of unmet needs. ADHD
children present complex affectional and emotional characteristics, being the processing of
emotions the most important in their psychological activity.
They tend to seek autonomy and self-assertion, at the risk of having impulsive and opposing
behaviors. Based on Jung Theory represented by Jean Knox’s ideas about the implicit
memory and complexes, we conclude that for being emotionally intense, ADHD children
present a response style determined by Mother Complex. Such complex will be constituted
from feelings and emotions stored in the implicit memory, originated from the learning
occurred in the relationships between the child and their mother or care giver.

KEYWORDS: ATTENTION DEFICIT DISORDER AND HYPERACTIVITY – AFFECT -


RORSCHACH TEST - COMPLEX
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Distribuição da amostra de acordo com o sexo dos participantes ..........................58


TABELA 2 - Médias das idades dos participantes........................................................................59
TABELA 3 - Distribuição da amostra por sexo dos participantes. ...............................................59
TABELA 4 - Média dos anos de escolaridade dos participantes ..................................................60
TABELA 5 - Índice de Depressão (DEPI) Positivo......................................................................60
TABELA 6 - Médias do Índice de Depressão (DEPI) Positivo. ...................................................61
TABELA 7 - Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo: M< WSUMC ........................61
TABELA 8 - EB PER Extratensivo. .............................................................................................62
TABELA 9 - Médias do lado direito de eb (Experiência de Base):..............................................63
TABELA 10 - FM+m > ou < SH+C’............................................................................................64
TABELA 11 - Respostas FM. .......................................................................................................64
TABELA 12 - Análise das Médias FC: CF+C e C Pura...............................................................65
TABELA 13 - FC > ou < CF+C....................................................................................................65
TABELA 14 - A qualidade formal (FQ) de FC ............................................................................66
TABELA 15 - Médias de Afr........................................................................................................67
TABELA 16 - Médias de Cor Projetada .......................................................................................67
TABELA 17 - Porcentagem de Cor Projetada (CP)......................................................................68
TABELA 18 - Tabela das Médias de Respostas ao Espaço em Branco (S)..................................68
TABELA 19 - Porcentagem de (S). ..............................................................................................69
TABELA 20 - Blends: Respostas..................................................................................................70
TABELA 21 - Análise Qualitativa de Blends ...............................................................................70
TABELA 22 - Médias de SUMC’ e de WSUMC.........................................................................74
TABELA 23 - Índice de PTI .........................................................................................................75
TABELA 24 - Índice de CDI ........................................................................................................75
TABELA 25 - Índice de Hipervigilância (HVI) ...........................................................................76
TABELA 26 - Estilo Obsessivo. ...................................................................................................76
TABELA 27 - Nota D e Nota D Ajustada (Adj D). ......................................................................77
TABELA 28 - Lambda “L”...........................................................................................................78
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................10

2 OBJETIVOS......................................................................................................14

2.1 Objetivos gerais ..................................................................................................14

2.2 Objetivos específicos ..........................................................................................14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................15

3.1 O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ..................................15

3.2 O Desenvolvimento Emocional e a Modulação dos Afetos............................29

3.3 A Afetividade no Rorschach pelo Sistema Compreensivo de Exner ............34

3.3.1 O Índice de Depressão (DPI) ..............................................................................35

3.3.1.1 Aspectos qualitativos de DEPI............................................................................36

3.3.2 Erlebnistypus “EB” (Tipo de Vivência) .............................................................37

3.3.3 Experiência de Base ............................................................................................39

3.3.4 FC:CF+C.............................................................................................................39

3.3.5 Afr, WsumC:SumC’e a Modulação Suficiente do Afeto....................................40

3.3.5.1 A proporção afetiva (Afr)....................................................................................41

3.3.5.2 Proporção de Constrição: SUM C’: WSUMC....................................................41

3.3.6 Proporção de Complexidade (Blends: R) ...........................................................42

3.3.7 Respostas Complexas de Sombreado-Cor ..........................................................42

3.3.8 A projeção da Cor (CP).......................................................................................42

3.3.9 O uso do espaço em branco.................................................................................43

3.3.10 Lambda e a abertura para a experiência..............................................................43

3.3.11 O Escore D e D ajustado (ADJ D) ......................................................................44

3.3.12 As Constelações Positivas...................................................................................46

3.4 A cor como expressão do Afeto........................................................................47

4 MÉTODO ..........................................................................................................50

4.1 Características do Estudo.................................................................................50


4.2 Sujeitos ...............................................................................................................50

4.2.1 Critérios de inclusão ...........................................................................................50

4.2.2 Critérios de exclusão...........................................................................................51

4.3 Local da Coleta de Dados .................................................................................51

4.4 Instrumentos......................................................................................................51

4.1 O Método de Rorschach......................................................................................52

4.4.2 O Sistema Compreensivo de Exner ....................................................................52

4.4.3 Modulação dos Afetos ........................................................................................53

4.5 Procedimentos ...................................................................................................57

4.5.1 Seleção da Amostra.............................................................................................57

4.5.2 Aplicação dos Instrumentos ................................................................................58

4.5.3 Previsão de Análise.............................................................................................58

4.6 Cuidados éticos ...................................................................................................59

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.........................................60

5.1 Idade...................................................................................................................60

5.2 Sexo.....................................................................................................................61

5.3 Escolaridade ......................................................................................................61

5.4 Análise dos traços afetivos................................................................................62

5.4.1 Passo 1: O índice de Depressão (DEPI) ...........................................................62

5.4.1.1 DEPI > ou < 5 ....................................................................................................62

5.4.2 Passo 2: Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo e EBPER .............63

5.4.2.1 EB PER ...............................................................................................................64

5.4.3 Passo 3: Análise do lado direito de eb, a experiência de base ............................64

5.4.3.1 Análise de FM+m > ou < SH+C’ ......................................................................65

5.4.3.2 Análise das respostas FM separadas de m ........................................................66

5.4.4 Passo 4: Análise de FC:CF+C e C pura ..............................................................66

5.4.4.1 Análise de FC: CF+C .........................................................................................66

5.4.4.2 Análise de C Pura ...............................................................................................67


5.4.4.3 Análise da proporção FC > ou < CF+C............................................................67

5.4.4.4 A qualidade formal de FC...................................................................................68

5.4.5 Passo 5: A Proporção Afetiva (Afr)....................................................................69

5.4.6 Passo 6: A projeção de Cor (CP) ........................................................................69

5.4.7 Passo 7: Respostas ao Espaço em Branco (S).....................................................70

5.4.8 Passo 8: Respostas Mistas “blends”:...................................................................71

5.4.9 Passo 9: Análise Qualitativa de blends (respostas mistas)..................................72

5.4.10 Passo 10: Análise de SUMC’: WSUMC ............................................................75

5.5 As constelações Positivas ..................................................................................76

5.5.1 Índice de Transtorno de Percepção e Pensamento (PTI) ....................................76

5.5.2 Índice de Déficit Relacional (CDI) .....................................................................77

5.5.3 Índice de Hipervigilância ....................................................................................78

5.5.4 Índice de Estilo Obsessivo (OBS).......................................................................78

5.6 As variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse ........................................79

5.6.1 Nota D (D) e Nota D Ajustada (Adj D) ..............................................................79

5.7 Lambda “L” e a abertura a experiência .........................................................80

6 DISCUSSÃO......................................................................................................81

6.1 O “Complexo” TDAH.......................................................................................86

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................89

8 REFERÊNCIAS ................................................................................................91

APÊNDICE A - Termo de Esclarecimento sobre a pesquisa.............................................95

APÊNDICE B - Termo de Apresentação para Escola .......................................................96

APÊNDICE C - Questionário Sócio-demográfico.............................................................97

APÊNDICE D - Valores das Médias das Variáveis do Afeto (1° Juiz) .............................98

APÊNDICE E - Valores das Médias das Variáveis do Afeto (2° Juiz) .............................99

ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...............................................100

ANEXO B - Sobre o Método de Rorschach .......................................................................101


1 INTRODUÇÃO

O interesse em estudar as características emocionais de crianças que apresentam o


Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) nasceu de nossa experiência
profissional, inicialmente na área de educação infantil, trabalhando com crianças consideradas
agitadas. Esta experiência estendeu-se posteriormente à atividade clínica e, neste contexto,
deparamo-nos com a necessidade de uma maior compreensão de critérios diagnósticos que
pudessem transformar-se em ferramentas úteis ao entendimento e tratamento adequado das
carências dessas crianças. Sabemos que as queixas de desatenção, hiperatividade e
impulsividade, os sintomas cardinais do TDAH, podem estar presentes em diferentes
problemáticas, psiquiátricas ou não, em diversas doenças e ainda serem a forma de expressão
ou reação frente a ambientes desajustados. Assim sendo, carecemos de uma compreensão
ampla do transtorno, que possibilite o diagnóstico bem elaborado.
Em nossa tentativa de atender suas necessidades, ao longo do tratamento, aplicamos o
Método de Rorschach, pelo Sistema Compreensivo de Exner, em algumas crianças, a fim de
uma reavaliação dos dados do psicodiagnóstico. Além de coletarmos informações importantes
sobre o seu funcionamento psicológico, chamou nossa atenção o índice Positivo para
Depressão, apresentado por elas. Este fato contribuiu para a verificação da complexidade do
transtorno, que pode apresentar-se em termos comportamentais de diversas formas.
Há um grande número de comorbidades associadas ao TDAH, sendo quase uma regra
e não exceção, pois os autores estimam que apareçam em aproximadamente 65% dos casos. O
Transtorno Opositor, Transtorno de Aprendizagem, Transtorno de Conduta e Depressão, são
os mais comuns entre elas.
Topczewski (1999) escreve que a hiperatividade é muitas vezes a expressão de uma
disfunção orgânica, porque envolve diversas áreas do cérebro na determinação do quadro
hiperativo, mas considera que o estado psicológico pode ser o fator determinante na
hiperatividade. Logo, é provável que ambos os fatores, orgânico e psicológico, estejam
associados na constituição do transtorno.
Rohde (2003) afirma que como causas, os fatores neurológicos e geneticamente
determinados são os mais importantes em sua explicação e os estudos quase que
exclusivamente se destinam à compreensão sintomatológica. As pesquisas que enfocam os
fatores psicossociais são escassas, apesar de haver publicações que os apontam também como
determinantes importantes.

10
O detalhamento das características do TDAH está descrito e atualizado no Manual
Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais, Tradução Revisada DSM IV TR (2003),
sendo pesquisado há mais de meio século e na atualidade encontra-se em destaque dentre os
temas pesquisados por profissionais de saúde e educação. É considerado um transtorno do
neurodesenvolvimento que não apresenta uma etiologia específica, mas diversas alterações de
ordem neuroquímica, genética e ambiental. As crianças que o apresentam têm uma
performance prejudicada em tarefas que exigem atenção, planejamento e organização, além
de falhas na inibição comportamental, processos relacionados ao lobo frontal, a área do
cérebro responsável por tais funções.
No TDAH ocorre um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-
impulsividade, mais freqüente e grave do que aquele tipicamente observado nos indivíduos
em nível equivalente de desenvolvimento. Alguns sintomas hiperativos-impulsivos que
causam comprometimento devem estar presentes antes dos sete anos.
Quanto às dificuldades de atenção, verificam-se déficits da atenção seletiva, a qual
orienta a consciência para um determinado estímulo dentre uma variedade de estímulos para
que consigamos extrair algum significado. A atenção seletiva envolve também a habilidade de
atender preferencialmente a um contexto e simultaneamente ignorar detalhes não relevantes
(MUSZKAT, 2008).
Barkley (2002) propõe que o TDAH é um transtorno do desenvolvimento do
autocontrole (controle inibitório), refletido em prejuízos na vontade da criança, em sua
capacidade de controlar seu próprio comportamento. O modelo teórico deste autor se refere
ainda aos comprometimentos das funções executivas, que são aquelas que envolvem
planejamento e uso de estratégias de resolução de problemas, visando à execução de metas.
De acordo com a predominância de seus principais sintomas, desatenção, a
hiperatividade e impulsividade, o TDAH pode ser subdividido em três tipos:
I. Predominantemente desatento
II. Predominantemente hiperativo/impulsivo
III. Tipo Combinado: desatento+hiperativo/impulsivo
O subtipo apropriado para um diagnóstico atual, deve ser indicado com base no padrão
sintomático dominante nos últimos seis meses.
Nosso estudo foi realizado com crianças que apresentavam o TDAH do tipo
combinado, as quais diferem daquelas sem hiperatividade não apenas no seu padrão
emocional e comportamental, mas também em seu funcionamento cognitivo. Neste subtipo há
o comprometimento de duas áreas do cérebro: a frontal e a posterior. Estudos

11
neuroanatômicos por ressonância magnética mostram que há uma redução dos lobos frontais,
núcleos caudados e cerebelo. Estas duas últimas alterações explicam os sintomas de
hiperatividade e impulsividade, ao passo que as alterações dos lobos frontais seriam
responsáveis pelos sintomas de desatenção, ocorrendo uma dificuldade em acoplar a
informação entre estas duas áreas (NAHAS; XAVIER, 2005).
A forma pela qual estas crianças expressam-se e como se sentem é fonte de nossa
curiosidade e desejo de compreensão. Tanta atividade sem finalidade aparente, até mesmo nas
brincadeiras, onde observamos dificuldades em processos de começo, meio e fim,
demonstrando seus sentimentos de incompetência e inadequação. São freqüentes os
comentários: “vai demorar?” ou “sou tão azarado!” Interessou-nos pesquisar o Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade, a partir dos sentimentos e afetos dessas crianças, de sua
realidade e demanda internas, de seus pensamentos e emoções e acima de tudo, de seu
potencial, impedido de fluir e encontrar canais adequados de expressão.
Utilizamos afeto e emoção como sinônimos, nos referindo àqueles complexos de
reações que incluem componentes cognitivos, fisiológicos e comportamentais, fortes
alterações do estado psíquico, acompanhadas de determinadas modificações somáticas. Num
sentido amplo, nos referimos à emoção como processos de importância central na mente, os
quais envolvem alterações que se originam de uma situação que afeta positiva ou
negativamente a pessoa e que se manifesta em sua conduta fisiológica. Sabemos da
importância que as emoções desempenham na vida psicológica, pois tendem a permear a
maior parte das atividades, interferindo com os pensamentos, influenciando julgamentos,
decisões e comportamentos. Buscamos enfim, apontar o papel que as emoções desempenham
na organização psicológica das crianças com TDAH.
Para tal, utilizamos o Método de Rorschach, de acordo com o Sistema Compreensivo
de Exner. A avaliação dos dados forneceu contribuições valiosas sobre as características
emocionais das crianças que apresentam o transtorno e permitiu comparações com aquelas
que não o apresentam.
Entendemos ser necessária uma compreensão do ponto de vista biopsicossocial dos
fatores que atuam na determinação do TDAH, visto que o ser humano é um ser de relação e
não há um todo que não altere, nem seja alterado por suas partes e vice e versa. Supomos que
desta forma estaremos colaborando também para uma compreensão mais ampla das
características de quem o apresenta, em nosso caso, dessas crianças que não param e que
exigem de nós formas diferentes de abordar a experiência. A criança hiperativa interfere em
seu meio, mas também sofre as suas interferências.

12
Pensamos ser importante entender tais relações e para tal utilizamos o referencial
teórico da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, que nos oferece uma forma de abordar os
fenômenos de modo finalista e não causalista, considerando suas relações e interdependência,
o que nos permite ir além da classificação e descrição dos sintomas, tão importante, mas já
bem exploradas nas pesquisas, as quais se restringem ao “bio” e/ou ao “psico”, ficando a
carência de uma análise mais ampla. Esta é a contribuição à qual este estudo se dedicou.

13
2 OBJETIVOS

Dada a complexidade das características do TDAH, selecionamos alguns objetivos que


norteassem nossa pesquisa, na avaliação da afetividade das crianças que o apresentam.

2.1 Objetivo geral

Avaliar e analisar as características afetivas e emocionais da criança diagnosticada


com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade por meio do Método de Rorschach,
pelo Sistema Compreensivo de Exner.

2.2 Objetivos Específicos

Comparar as características emocionais das crianças que apresentam o TDAH com


aquelas que não o apresentam, verificando a possibilidade de um padrão de respostas que
indique um tipo ou traços de sua personalidade.
I. Examinar no Rorschach as variáveis do módulo do afeto, as constelações
positivas, os valores da proporção “EB” (Tipo de Vivência: introversivo e extratensivo)
e de “Lambda” (foco de atenção e abertura à experiência).
II. Avaliar o Escore D e D ajustado (Adj D) a fim de ampliar a compreensão das
capacidades de controle das crianças com TDAH em comparação às crianças que não o
apresentam.

14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nosso tema de estudo compreende a descrição das características do Transtorno de


Déficit de Atenção e Hiperatividade e sua fundamentação, assim como do desenvolvimento
afetivo e emocional da criança, a fim de que possamos ter parâmetros de comparação entre as
crianças que apresentam o transtorno com aquelas que não o apresentam. Também se fez
necessário abordar como o método de Rorschach avalia a Afetividade.

3.1 O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade:

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao longo dos anos


tornou-se um dos transtornos psiquiátricos que obteve relevante número de pesquisas e estes
estudos permitiram o desenvolvimento de critérios diagnósticos importantes.
Ao longo da história, sua nomenclatura teve várias mudanças e até o final da década
de 60, era conhecido como Lesão Cerebral Mínima e Disfunção Cerebral Mínima. Na década
de 70 os estudos eram voltados para os aspectos motores. Na década de 80 os autores
ressaltaram outros aspectos além da “síndrome hiperativa”, como a dificuldade em manter o
esforço e a atenção, em inibir respostas impulsivas, incapacidade de modular a excitação em
níveis apropriados e uma forte tendência para procurar recompensa imediata. Assim, com o
resultado dessas investigações, o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais de
1994 (DSM IV, 1994) denominou-o como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,
tomando como sintomas nucleares, a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. A
décima versão da Classificação Internacional das Doenças (CID 10) denomina-o de
Transtorno Hipercinético, sendo esta terminologia mantida desde 1993.
O TDAH é considerado um transtorno de desenvolvimento, acometendo cerca de 3 a
6% das crianças de tenra idade, persistindo na vida adulta em mais da metade dos casos e, é a
principal causa de encaminhamento de crianças para serviços especializados. Já foi também
considerado um transtorno comportamental de meninos, mas atualmente é bastante
encontrado em meninas, adolescentes e adultos. (ROHDE, 2003).
Os estudos atuais ainda apontam uma maior incidência do transtorno em meninos,
ocorrendo numa proporção cinco vezes maior (NAHAS; XAVIER, 2005).
O TDAH constitui um alcance impropriamente fraco da atenção em termos evolutivos,
que se refere à capacidade de orientá-la, focalizá-la e mantê-la. Soma-se a isso aspectos de
hiperatividade e impulsividade, ou ambos, inapropriados à idade. Para preencher os critérios

15
diagnósticos, é preciso estar presente antes dos sete anos e os sintomas estarem presentes em
diferentes ambientes, por exemplo, casa e escola.
Não há uma etiologia específica comprovada, mas considera-se que um conjunto de
fatores atue em sua determinação: fatores neuroquímicos, genéticos e ambientais.
De acordo com a prevalência de sintomas, ele pode ser subdividido em três grupos ou
subtipos, como descrito no DSM IV TR (2003): predominantemente desatento,
predominantemente hiperativo-impulsivo e o subtipo combinado (desatento e hiperativo-
impulsivo). Estes sintomas, também chamados de “cardinais”, para que sejam considerados
característicos, devem aparecer em freqüência acima do normal esperado para etapa do
desenvolvimento, e em pelo menos dois ambientes diferentes (por exemplo: casa e escola).
Os critérios diagnósticos descritos são os seguintes:
I. Desatenção: Se seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção, persistirem por
pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de
desenvolvimento:
a. Freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por
descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras.
b.Com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades
lúdicas
c. Com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
d. Com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.
f. Com freqüência evita, antecipa ou reluta envolver-se em tarefas que exijam
esforço mental constante(como tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais.
h.É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa.
i. Com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias.

II. Hiperatividade: Se seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade,


persistirem por pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o
nível de desenvolvimento.
a. Freqüentemente agita as mãos ou pés ou se remexe na cadeira.
b.Freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas
quais espera que permaneça sentado.
c. Freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é
inapropriado.Em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações
subjetivas de inquietação.

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d. Com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente
em atividade de lazer.
e. Está freqüentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo
vapor”.
f. Freqüentemente fala em demasia.

III. Impulsividade
a. Freqüentemente dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido
completadas.
b. Com freqüência tem dificuldade para aguardar a sua vez.
c. Freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo,
intromete-se em conversas ou brincadeiras).

Há outros sintomas que não estão listados nos critérios tradicionais, mas que são
bastante comuns e importantes para se fazer o diagnóstico:
a. baixa auto-estima;
b. sonolência diurna;
c. irritabilidade;
d. necessidade de ler mais de uma vez para fixar o que leu;
e. dificuldade em levantar de manhã e se “ativar” para começar o dia;
f. adiamento crônico das coisas;
g. mudança de interesse o tempo todo. No início as coisas são empolgantes depois
ficam desestimulantes;
h. intolerância a situações monótonas ou repetitivas;
i. busca freqüente por coisas estimulantes ou diferentes;
j. variações freqüentes de humor;

O transtorno caracteriza-se por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e


comportamentais, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil: o controle
inibitório que se refere à capacidade que a criança tem em inibir e controlar o seu
comportamento de acordo com as exigências das situações; memória operacional; funções
executivas e mais especificamente à dificuldades da atenção seletiva. Tais prejuízos estão
associados ao funcionamento de todo o lobo frontal.
Muszkat (2008) assinala que os lobos frontais são as partes mais recentes da formação

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do encéfalo e estão envolvidas com aspectos mais elaborados do comportamento humano e
têm a função de organizá-lo.
Inúmeros são os estudos dos lobos frontais, pois são regiões muito complexas,
responsáveis por funções importantes, tais como:

I. Regular o estado de atividade referente ao tono cortical, imprescindível para


regulação dos processos de ativação que estão na base da atenção voluntária;
II. Modular a atenção seletiva, a qual orienta a consciência para discriminar e priorizar
alguns estímulos em detrimento de outros (é uma das problemáticas da criança com
TDAH);
II. Regulação de movimentos e ações;
III. Planejamento e seqüência de respostas, que constituem a base das funções
executivas, também deficitárias no TDAH. As funções executivas se referem àquelas
habilidades associadas ao pensamento e se relacionam com habilidades de planejamento
e uso de estratégias de resolução de problemas visando à execução de metas e
envolvem: organização e planejamento de ação; comportamento orientado a metas;
manutenção da disposição para agir; inibição seletiva do comportamento, o controle
inibitório; capacidade de mudar o plano de ação diante de mudanças de tarefa,
flexibilidade mental; memória operacional; atenção seletiva, vigilância e resolução de
problemas; controle emocional e metacognição.
III. Memória, principalmente a memória de trabalho ou memória operacional. São
comuns as queixas de esquecimento em fazer as tarefas escolares, perder objetos, etc.

O sistema de memória operacional se relaciona às informações que são relevantes


somente para a execução de uma dada atividade, sendo assim mantidas na mente apenas
enquanto úteis e esquecidas em seguida. Para realizar determinadas tarefas precisamos manter
temporariamente as informações necessárias à sua realização. Esse armazenamento
temporário, bem como a manutenção ativa, deste tipo de conteúdo é o que se chama de
memória operacional. (MELLO; MIRANDA; MUSZKAT, 2005).
Desta forma abordamos as bases neurológicas do TDAH, mas ainda necessitamos
esclarecer que tendo sido o nosso estudo voltado para o tipo combinado do TDAH, aquele em
que há um misto dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, além da área
frontal, a área posterior do cérebro está envolvida na determinação dos sintomas. Nahas e
Xavier (2005) citam que estudos neuroanatômicos por ressonância magnética mostram uma

18
redução dos lobos frontais, núcleos caudados e cerebelo. Estas duas últimas alterações
explicam os sintomas de hiperatividade e impulsividade, ao passo que as alterações dos lobos
frontais seriam responsáveis pelos sintomas de desatenção, ocorrendo uma dificuldade em
acoplar a informação entre estas duas áreas.
De acordo com Barkley (2002, p. 50) o TDAH é um transtorno do autocontrole, sendo
refletido em prejuízos na vontade da criança, em sua capacidade de controlar seu próprio
comportamento: “Acredito que todos esses sintomas estão associados a um déficit primário na
inibição do comportamento, que é o símbolo do TDAH”.
Este autor traz uma contribuição significativa ao nosso estudo, focando a problemática
do transtorno na inibição dos impulsos, ou controle inibitório. Nos deteremos um pouco mais
em suas pesquisas, pois elas tratam do papel que a modulação dos afetos desempenham na
determinação do transtorno e serão de grande utilidade para atingirmos nosso objetivo de
melhor compreender a afetividade dessas crianças. Ele assinala que as crianças com TDAH
não têm problemas em filtrar informações, distinguir o importante do irrelevante naquilo que
são solicitadas a fazer. Elas perdem o interesse mais rapidamente pelo que fazem que as
crianças que não apresentam o transtorno. Sentem-se mais atraídas pelos aspectos
recompensadores, divertidos e reforçativos em qualquer situação. Isto se refere a um
problema no adiamento de gratificação, sendo de fundamental importância que entendamos
isto, pois acreditar que pessoas com TDAH sejam simplesmente muito distraídas frente a
tudo, seria repetir métodos que foram utilizados há quarenta anos atrás, reduzindo as fontes de
distração, sendo que tais tentativas podem tornar realmente essas crianças mais agitadas e
menos atentas. Reduzir a estimulação torna-se ainda mais difícil para uma criança com
TDAH. Seus estudos mostram que adicionar cor aos materiais de trabalho reduz seus erros
durante a execução das tarefas e com isto, comprovam que estímulos diferentes podem
aumentar as capacidades de prestar atenção e de completar seu trabalho com menos erros.
Assim, aumentar as inovações, a estimulação ou a diversão nas tarefas, pode auxiliá-las a ter
melhores resultados. As gratificações poderiam ser também abreviadas e as atividades
divididas em menores segmentos.
Tais afirmações nos parecem respeitar as idiossincrasias da criança com TDAH,
ressaltando suas capacidades ao invés de reforçarem os seus tão comentados “déficits”. Se
atendida em suas necessidades, esta criança poderá desenvolver e expressar sua criatividade,
suas habilidades, chegando aos mesmos resultados que a criança que não apresenta o
transtorno, porém através de outras estratégias, o que torna grande o desafio, pois elas
requerem mudanças de padrões previamente estabelecidos, novas formas de abordagem.

19
Para Barkley (2002) a hiperatividade, a impulsividade e a dificuldade em sustentar a
atenção são partes do mesmo problema subjacente - a inibição do comportamento.O autor
sugere ainda, a renomeação do transtorno, incluindo esta nova concepção, para “transtorno de
inibição do comportamento”. Tendo como foco de sua teoria a modulação dos afetos, afirma
que o controle dos impulsos atua também na noção de tempo, pois a capacidade de esperar
nos leva a criar um senso de passado e, deste, um senso de futuro; de desenvolver um discurso
interno e usar este discurso para controlar o nosso próprio comportamento; separar emoções
de informações; desenvolver a capacidade de análise e síntese; de interiorizar emoções e usá-
las para criar motivação interna para dirigir nosso comportamento em busca de objetivos.
Logo, se o TDAH é um problema relacionado à capacidade de inibir o comportamento,
presume-se que se refere também a problemas nessas habilidades mentais.
As conseqüências dessas dificuldades geram outras, relacionadas às funções
executivas, já comentadas, às quais capacitam o indivíduo ao desempenho de ações
voluntárias, que visam atingir metas específicas e o planejamento dessas ações. Englobam
todos os processos responsáveis por focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar
funções cognitivas, emoções e comportamentos, visando à realização de tarefas simples, de
rotina, e a solução de problemas novos.
Rohde (2003) ao comentar o modelo de Barkley aponta que este é denominado
modelo híbrido – aplicado apenas aos subtipos que apresentam hiperatividade, não incluindo
o subtipo desatento. O controle inibitório exerce papel preponderante, pois dele depende o
lapso de tempo necessário para que as demais funções executivas se processem de modo
harmonioso. Essas funções são: memória de trabalho verbal e não-verbal, a auto-regulação do
afeto, da motivação e dos níveis de atuação. Nelas estão implícitas as noções de tempo, cuja
capacidade necessária é a de antecipar conseqüências futuras, a partir do presente imediato e
de uma avaliação do passado.
De acordo com Mattos (2005) estas considerações sobre as dificuldades de
organização no tempo também são atribuídas ao córtex pré-frontal.
Podemos dizer, que embora as causas do TDAH não sejam exatamente conhecidas,
elas estão associadas a problemas do desenvolvimento e funcionamento da área frontal do
cérebro, caracterizando-o como um distúrbio neurocomportamental, bastante comum na
infância, estimando-se que 3 a 6% da população em idade escolar o apresente, assim como
2% da população de adultos. Estima-se que seja mais comum em meninos do que em
meninas. No entanto, os meninos são mais diagnosticados, pois são mais encaminhados aos
atendimentos devido à forma hiperativa ser mais comum entre eles. As meninas apresentam

20
mais freqüentemente o tipo desatento, e como não incomodam, muitas vezes ficam sem
diagnóstico.
O TDAH tem sido objeto de estudo de inúmeras pesquisas que visam aprimorar os
critérios diagnósticos e conhecer sua etiologia. Muitos estudos têm sido orientados para
encontrar uma causa biológica específica que o explique. As investigações científicas atuais
para a determinação da etiologia da síndrome atingem um amplo campo que vai desde
aspectos bioquímicos e neurológicos até psicológicos e sócio-ambientais.
A seguir discutiremos algumas pesquisas que buscaram esclarecer tais fatores e que
fornecem contribuições valiosas para um maior esclarecimento das características do
Transtorno, uma vez que nossa intenção é compreendê-lo de forma mais ampla, de forma
biopsicossocial.
Barbosa, Gaião e Di Lorenzo (1996) distinguem três concepções etiológicas para o
TDAH:
I. a que defende a síndrome como um transtorno de personalidade, oriunda das
abordagens psicodinâmicas;
II. a de base orgânica que considera o transtorno como sendo uma afecção cerebral; e
III. a genética, com a idéia de uma possível transmissão genética nas bases do TDAH.

Estudos recentes sobre síndromes localizadas sugerem que o TDAH resulta de uma
disfunção do lobo frontal, como anteriormente mencionado, devido a uma perturbação dos
processos inibitórios do córtex.
Rohde (2003) enfoca um desequilíbrio neuroquímico nos sistemas neurotransmissores
da noradrenalina e da dopamina, os quais se encontram em níveis inferiores, sendo o TDAH
provocado por uma baixa produção ou subutilização dessas substancias. O sistema
dopaminérgico vem sendo o foco da maioria dos estudos de genética molecular no TDAH.
Stefanatos (2001) e Wasserstein (2001) fazem um estudo com revisão de literatura,
discutindo três casos, para ilustrar o papel do Hemisfério Direito e seus mecanismos
especializados na regulação da atenção. O trabalho procurou demonstrar o complexo papel da
disfunção do hemisfério direito na manifestação do TDAH em adultos, o qual pode ser
compreendido num spectrum de distúrbios das regiões neuronais, especialmente as áreas
parietais do hemisfério direito e suas conexões a estruturas subcorticais (incluindo o sistema
límbico e núcleo do diencéfalo).
Os três casos ilustram as diversidades dos déficits neuropsicológicos vistos em adultos
com TDAH, mesmo naqueles selecionados por um possível perfil do Hemisfério Direito.Há

21
semelhanças de desempenho entre a pessoa que apresenta TDAH e a pessoa que apresenta
danos no funcionamento do lobo frontal, localizado no hemisfério direito.
A primeira aplicação comparou a produção da pessoa que apresenta TDAH a uma
pessoa com danos no funcionamento do lobo frontal. Foram submetidos a tarefas de cópias de
modelos (“Ramparts design”). Ambos mostraram dificuldades nas relações espaciais, na
cópia de problemas e de números. O adolescente com TDAH mostrou também perseveração
nos traçados, embora não apresentasse dificuldades nas habilidades matemáticas (discalculia).
Posteriormente foram aplicados testes projetivos e gráficos, nos quais foram constatados
traços de impulsividade e dificuldade de autocontrole. Os testes sugerem as distorções de
relações espaciais, visuais e funções viso-construtivas. Tomadas em conjunto, essas
informações clínicas descrevem que o TDAH é uma condição neurologicamente baseada e
encontrada em pessoas que têm um prejuízo no funcionamento do lobo frontal (lado direito).
Outros dois casos são discutidos para ilustrar essas constatações a respeito do
Hemisfério Direito. A avaliação que se segue, incluiu a aplicação do Wais III e verificou uma
discrepância significativa entre as habilidades verbais e não-verbais. As três pessoas
avaliadas, dois homens e uma mulher, jovens adultos que apresentavam TDAH estavam tendo
dificuldades sérias no funcionamento de sua vida adulta.Todos os três apresentaram um
resultado acima da média em suas habilidades verbais, que contrastou com um resultado
abaixo da média em suas habilidades não-verbais.
Numa outra avaliação, as habilidades acadêmicas foram averiguadas via “WRAT-III”.
Foram medidas as funções executivas, atenção, funções motoras, funções perceptivo-visuais,
memória e capacidade de aprendizagem. Todos os três apresentaram déficits de atenção e/ou
de funções executivas, como também na capacidade de aprendizagem e memória.
Embora esta pesquisa tenha sido feita em adultos, aponta a função significativa do hemisfério
direito na determinação dos sintomas do TDAH. Compreender o papel desempenhado por
este hemisfério nos será muito útil, pois sabemos que é também responsável pelo
armazenamento de memórias emocionais, o que será discutido mais adiante.
A etiologia genética tem sido sustentada a partir de estudos de família com filhos
adotivos e gêmeos que verificaram antecedentes de hiperatividade nos pais e falta de
associação dos sintomas entre crianças adotadas e pais adotivos. Os relatos das pesquisas de
Biederman et al (2001) afirmam que é comum que os pais das crianças com TDAH tenham
também o transtorno. Estes pesquisadores iniciaram em 1986 uma série de quatro estudos dos
aspectos genéticos do TDAH e dos transtornos associados ao TDAH. Na pesquisa foram
utilizados os critérios diagnósticos do DSMIII ou DSMIII-R para alcoolismo e outra

22
comorbidade.Aplicaram-se instrumentos estruturados para entrevistas psiquiátricas (NIMH -
Diagnostic Interview Schedule and Diagnoses Intervew para adolescentes e versão para pais).
Na base de todos os estudos, os autores concluíram que TDAH e Transtornos de Humor são
vulnerabilidades familiares compartilhadas.
As pesquisas mostram também uma alta taxa de comorbidade entre o TDAH e os
transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno desafiador de
oposição); depressão; transtorno de ansiedade; e transtorno da aprendizagem. No entanto, não
há estudos que expliquem as razões para que ocorram as comorbidades.
Spencer (2006) em seu trabalho sobre TDAH e comorbidade na infância oferece uma
interessante sugestão a fim de averiguarmos a incidência e/ou desenvolvimento de
comorbidades como transtorno de humor ou de ansiedade. Ele propõe um estudo com
“follow-up” que poderá indicar qual subgrupo de sujeitos com TDAH e comorbidades tem um
pior resultado, evidenciado significativamente pelas dificuldades sociais, emocionais e
psicológicas. Este tipo de pesquisa oferece uma contribuição à investigação dos fatores
psicossociais.
Masi et al (2006) realizaram um estudo sobre o TDAH e o Transtorno Bipolar na
infância e adolescência. Tiveram como objetivo fazer um estudo longitudinal e “cross-
sectional” de tal comorbidade. Eles observaram que de 98 pacientes, 37 apresentaram em
algum momento o diagnóstico de comorbidade em TDAH. Ela é freqüente na juventude e está
associada a um grande dano psicológico.
Sabe-se que o TDAH pode continuar pela adolescência e vida adulta, quase sempre
ocorrendo comorbidades. Neste sentido o diagnóstico adequado é imprescindível para o
prognóstico e prevenção.
Nas pesquisas de caracterização sócio-emocional, o estilo de criação e as
características de personalidade dos pais são considerados fatores que interferem no
desenvolvimento e curso do transtorno. Ajuriaguerra e Marcelli (1984) abordam a questão
clínica da síndrome, considerando que o transtorno hipercinético pode ser um estado reacional
a uma situação traumatizante ou ansiogênica que responde a uma angústia permanente. Para
Hernandez (1989) existe uma hiperatividade de comportamento ou uma hiperatividade reativa
gerada em ambiente onde há relacionamentos familiares insatisfatórios e falta de
reciprocidade afetiva, sendo a criança objeto de permanente desvalorização e alvo de crítica.
Estudos mais recentes têm apontado para uma etiologia multidimensional diante da
complexidade desse transtorno e da falta de evidências científicas sólidas que sustentem uma
etiologia única e de base exclusivamente biológica. Os pesquisadores passaram a afirmar que

23
a vulnerabilidade biológica e os fatores psicossociais interagem de um modo circular com
relação à causa, gravidade e resultado do transtorno.
Para Barkley, Murphy e Bauermeister (1998) o TDAH envolve interações
multidirecionais, recíprocas e dinâmicas entre influências genéticas, neurais, psicológicas,
comportamentais e ambientais que ocorrem ao longo do desenvolvimento da criança. Estes
autores nos auxiliaram em nossa proposta de compreender as características afetivas e
emocionais do ponto de vista biopsicosocial das crianças que apresentam o transtorno.
Cabe-nos agora discutir, seguindo a circularidade e integração dos fatores que
compõem o transtorno, algumas pesquisas que enfatizaram os aspectos psicodinâmicos,
esclarecendo o funcionamento psicológico e traços de personalidade das crianças com TDAH.
Estes trabalhos apontam suas características emocionais, acrescentando diferentes
informações sobre seu modo de sentir, pensar e agir.
Antony e Ribeiro (2004) apresentam-nos uma pesquisa qualitativa que objetivou
investigar o funcionamento psicológico da criança hiperativa baseada na teoria do ciclo do
contato da abordagem gestáltica, proposta por Ribeiro (1997). A amostra foi composta por 20
sujeitos e utilizaram a entrevista aberta e o Teste de Apercepção Infantil com figuras de
animais (CAT-A), como instrumentos de coleta de dados. Pais e professores preencheram
escalas de avaliação para o transtorno. Estes autores concluíram que a criança hiperativa
apresenta processos psicológicos específicos, que formam a base de sua personalidade e
apontam a hiperatividade como a característica que define o transtorno e não existindo
propriamente um déficit de atenção, mas uma hiperatenção, uma imensa capacidade de
atentar para os múltiplos estímulos ambientais. Há uma atenção exagerada voltada para o
ambiente, onde a percepção contínua do externo sobrepõe-se à percepção de si próprio,
evidenciando uma reduzida consciência de suas experiências internas. A criança orienta e
sustenta a atenção quando algo é de seu interesse, fazendo uso das funções da atenção, de
selecionar, focar, manter e dividir. Há um fenômeno motivacional ocorrendo subjacente ao
fenômeno cognitivo da atenção, a qual flutua para situações consideradas positivas fugindo
daquelas consideradas negativas, o que leva a considerar que a criança desvia a atenção de
tudo aquilo que fere sua auto-estima e senso de competência.
Examinando os resultados desta pesquisa, comparando-os com as pontuações sobre as
bases neurológicas do transtorno, citadas anteriormente, podemos verificar como estas
características apresentadas pelas crianças estão associadas ao funcionamento do lobo frontal,
relacionado ao controle inibitório, funções executivas e atenção seletiva. A criança com
TDAH estaria então, mais voltada para os acontecimentos externos, abarcando os estímulos
24
que lhe chegam sem selecionar alguns em detrimento de outros, fato que os autores acima
citados associam à capacidade motivacional.
Antony e Ribeiro (2004) observaram também em seu estudo o desempenho escolar e
verificaram o funcionamento cognitivo das crianças, inter-relacionando atenção-pensamento-
memória. As crianças apresentaram atraso no processo de aprendizagem com deficiências
específicas na leitura e na escrita, com indicações de deficiências nas funções viso-
construtivas.
Os autores colocam as características comportamentais destas crianças em termos de
paradoxos.

1º paradoxo - Refere-se à Lentidão no pensamento x Rapidez na percepção. Afirmam


que essa lentidão seja resultado da percepção rápida e do fluxo contínuo de idéias que a
criança precisa regular a fim de organizar seus pensamentos de forma significativa e coerente
para, então, interpretar e escrever aquilo que compreendeu.
Professores e pais afirmam que a criança presta atenção em tudo e em todos, mas parece não
escutar ou "estar voando" quando o assunto é de natureza acadêmica ou quando são
repreensões.
2º paradoxo: Atenção x Desatenção.
Quando avaliada a afetividade, os resultados apontam uma intensa sensibilidade e reatividade
emocional e um modo generoso de ser com o outro. Na compreensão dos pais e professoras,
são crianças com uma alta demanda de afeto que possuem uma carência afetiva, ou melhor,
um Déficit de Afetividade.
3º paradoxo: Déficit de Afetividade x Hiperemotividade. Os dois extremos
experimentados pela criança revelam uma dialética paradoxal de fenômenos que regulam o
equilíbrio do organismo: Hiper x Déficit. Esse funcionamento desarmonioso mostra que "o
excesso cria a falta", uma deficiência em uma função oposta complementar.
Analisando a criança hiperativa de acordo com o observado pelos autores, temos:
I. A inquietação e a desatenção significam que a criança está em contínuo movimento, em
busca de novos estímulos. Há um nível de excitação que a mobiliza para a execução da
ação, a qual é efetuada pronta e impulsivamente.
II. o contato superficial com as coisas, trocando incessantemente o foco da atenção de um
objeto a outro, prematuramente. A criança experimenta um estado permanente de
insatisfação. Vive um processo interminável de busca da própria auto-regulação, no qual
a hiperatividade e a desatenção disfarçam a condição essencial da síndrome que reflete

25
uma busca constante de objetivos. Tal fato faz com que responda ao mundo com
Hiperatividade, Hiperatenção e Hiperemotividade, como uma totalidade em ação, o que
pode também originar vários talentos e não apenas dificuldades.
A pesquisa de Antony e Ribeiro (2004) mostra uma nova forma de entendimento dos
sintomas cardinais do transtorno, observando que podem ser símbolos de um funcionamento
psicológico complexo e até mesmo paradoxal, expressando déficits e excessos. Porém ressalta
que estas características podem não ser necessariamente patológicas, mas ao contrário,
abrigarem talentos e potencialidades. Essa criança lança um desafio aos educadores, aos pais,
aos profissionais da saúde para uma mudança em seus modelos de pensamento, de
intervenção, de interação. Ela não aceita métodos padronizados de ensino ou modelos
educacionais rígidos. Anseia por criatividade, flexibilidade, afetividade e, sobretudo, ser
tratada como sujeito responsável por seu processo de aprendizagem.
Benckzik (2005) nos fala sobre o funcionamento psíquico dessas crianças avaliando
também seus sentimentos em seu estudo. Como instrumento utilizou o CAT-A em uma
amostra de quarenta crianças que compreendiam a faixa etária de seis a onze anos, alunos da
pré-escola até a sexta série do ensino fundamental. Vinte crianças compunham o grupo da
amostra clínica, diagnosticadas com TDAH do tipo combinado. Baseou-se nos critérios
diagnósticos do DSM-IV, entrevistas com pais e na Escala para professores e pais de TDAH,
de sua própria autoria. O Grupo II (grupo controle) foi composto por crianças selecionadas em
cinco escolas de duas cidades do interior de São Paulo. Foi aplicado também o Teste de
Raven das Matrizes coloridas para critério de exclusão de sujeitos com hipótese de
comprometimento intelectual. A pesquisa foi baseada na Teoria das Relações Objetais de
Melanie Klein e teve como resultados, através da análise do CAT-A, informações sobre sua
psicodinâmica, predominante entre meninos: negação maníaca, sentimentos derivados do
instinto de morte (raiva/inveja) e tendências destrutivas. Seu sofrimento psíquico constatado
através do teste constituiu um aspecto fundamental a ser trabalhado com pais e professores.
Este estudo apontou algumas pistas sobre o tipo de afeto inerente ao funcionamento
psicológico das crianças com TDAH, que puderam ser exploradas através de nossa aplicação
utilizando o método de Rorschach.
Gorodscy (2006) em um artigo derivado de sua tese de doutorado (1991) nos esclarece
sobre os aspectos psicodinâmicos das crianças com TDAH. Ela parte de sua prática clínica e
seu procedimento consta da aplicação de desenhos-histórias de Walter Trinca e da análise de
sua movimentação, buscando uma transformação de conteúdos corporais em simbólicos, pois
elas apresentam grande dificuldade em expressar o que sentem. O seu trabalho tem como

26
objetivo criar possibilidades para que a criança se expresse de uma outra forma, diferente da
movimentação excessiva. A autora compreende a hiperatividade excessiva como “corpos
vívidos” de desejos, intenções e valores; o movimento está sempre em relação com outras
pessoas e como expressão significativa das relações que a criança co-participa. Ela realizou
um estudo com 22 crianças entre sete e doze anos, que apresentavam TDAH, na Clínica
Psicológica da PUC-SP.Visando intervenção e compreensão das atividades e simbolizações,
essas crianças foram atendidas em sessões semanais de psicoterapia. O artigo focalizou o que
as crianças aprendem de si e de suas relações. Seu estudo considera corpo e mente, como
sistemas integrados e a linguagem do corpo como expressão de movimentos conscientes e
inconscientes, sendo que a criança deve ser ajudada a transformar movimento excessivo em
movimento criativo. Sua pesquisa conclui que a movimentação excessiva das crianças
atendidas está interligada à dinâmica de suas interações pessoais. São estas interações que
definem os seus limites e sua auto-regulação.
Conclui-se, pelos estudos aqui citados, que o TDAH envolve uma complexidade de
características, e pode ser definido tanto pelo patológico, quando pensamos nas dificuldades e
no impacto que seus sintomas causam aos que o apresentam como pelo aspecto criativo,
quando focamos a vivacidade, a espontaneidade, a afetividade acentuada e o inconformismo,
a busca por uma forma diferente de se abordar a experiência. Chama nossa atenção o
sofrimento psíquico causado pela sensação de inadequação e auto-estima rebaixada.
Em nossa tentativa de compreensão de tais características utilizando o Método de
Rorschach buscamos encontrar material sobre estudos feitos com esse importante instrumento
de avaliação psicológica em crianças com TDAH. Em consulta aos dados do Scielo, Pubmed,
Ovid, Google, Psyclit, Medline e EBSCO Eletronic Journals publicados nos últimos cinco
anos, foi encontrado um único estudo, realizado no Rio Grande do Sul por Graeff e Vaz
(2006). Estendendo nossa busca para datas anteriores a esse período, encontramos apenas dois
estudos: Cotugno (1995) e Osório, Bianchi e Loureiro (2000). Apenas o estudo de Cotugno se
refere ao Sistema Compreensivo de Exner.
Cotugno (1995) aplicou o Rorschach em oitenta crianças norte-americanas
constatando diferenças significativas entre as que apresentavam o transtorno e as que não o
apresentavam, com relação à baixa auto-estima, dificuldades e receio nos relacionamentos
interpessoais, tendência em viver mais experiências introspectivas e depressivas, tendências
em simplificar os estímulos (dificuldade na percepção concreta da realidade), maior
dificuldade quanto ao controle do estresse e desorganização do pensamento.
O estudo de Osório, Bianchi e Loureiro (2000) fez comparações com o estudo

27
normativo de Jacquemin (1975) e indicou maior impulsividade, alterações na capacidade de
pensar coerentemente, ansiedade interferindo na atenção e concentração, dificuldades na
percepção objetiva da realidade. Embora a pesquisa tenha encontrado resultados interessantes,
tem uma amostra reduzida (n=5) e está baseada nos dados normativos que datam de mais de
vinte anos, prejudicando a avaliação de seus resultados.
Graeff e Vaz (2006) em um artigo derivado de seu estudo sobre a personalidade da
criança com TDAH, descrevem a avaliação das funções executivas e suas manifestações na
técnica de Rorschach, nosso instrumento utilizado. Os resultados estão associados à falha
inibitória, dificultando o processo de auto-regulação. A impulsividade e a falha de controle
poderiam ser responsáveis pela precária modulação dos afetos face às necessidades do
ambiente. A pesquisa conclui pelos seus resultados, os prejuízos no autocontrole e auto-
regulação, ou controle inibitório, em virtude da falha na inibição da resposta impulsiva. No
entanto, o tipo de resposta que as crianças deram ao teste com maior freqüência, se refere
também à vivacidade e à espontaneidade, determinada pela cor das manchas em detrimento de
sua forma, por exemplo:
a) “parece um quadro todo colorido”; b) “sangue”. A primeira resposta indica uma demanda
de forma determinada secundariamente à cor, enquanto que na segunda resposta não há forma
definida. Tal fato caracteriza a pouca adequação aos dados de realidade, mas retrata uma
peculiaridade, ou um traço de personalidade dos que apresentam o transtorno.
Os resultados encontrados por Graeff e Vaz (2006) reforçam a dificuldade no controle
inibitório, como característica principal de personalidade das crianças que apresentam o
transtorno, apontando para as falhas na modulação e controle dos aspectos afetivos e
emocionais, ansiedade e dificuldades de introspecção e reflexão.
Barkley (1998) afirma que as técnicas projetivas, especialmente o TAT e Rorschach,
não apresentam diferenças significativas entre os resultados das crianças com TDAH e as que
não o possuem. Porém os estudos aqui citados, além de fornecerem informações
esclarecedoras sobre a dinâmica psicológica das crianças, demonstraram diferenças
significativas quando os resultados são comparados.
Procuramos com as pesquisas relatadas enfocar o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade em sua complexidade, quanto à etiologia, prevalência, comorbidades e
características emocionais das crianças que o apresentam. Nos dedicamos a compreendê-lo,
pelos seus fatores “psiconeurobiológicos”, pelas suas interações multidirecionais, recíprocas e
dinâmicas, que acontecem de modo circular, como nos fala Barkley (2002).

28
3.2 O Desenvolvimento Emocional e a Modulação dos Afetos

“Emoção é a principal fonte de consciência. Não há mudança da escuridão para a luz


ou da inércia para o movimento sem emoção” (JUNG, 2000)
Interessa-nos de que modo a criança com TDAH se engaja em situações carregadas de
emoção e reage a elas, como expressa a sua afetividade e com qual qualidade o faz.
Nossa tentativa será a de analisar o desenvolvimento emocional e a modulação dos
afetos do ponto de vista psiconeurobiológico, adotando o modelo dos autores da neurociência,
associado ao enfoque junguiano aqui representado pelas idéias de Jean Knox (1999), analista
junguiana, sobre a importância da memória implícita e os complexos na estruturação da vida
emocional.
Entendemos que desta forma poderemos atingir nosso objetivo de construir uma
análise ampla da afetividade da criança com TDAH, integrando os aspectos biológicos,
psicológicos e os sociais como sistemas interdependentes e dinâmicos, uma vez que
concebemos corpo e mente como uma unidade integrada, permeada pela emoção, a qual
atribuirá significado às experiências.
Como se desenvolvem a vida emocional e a capacidade afetiva? Os autores que se
ocuparam com o estudo do desenvolvimento infantil são unânimes em apontar a importância
das primeiras experiências do bebê em relação com sua mãe ou com seu cuidador, as
chamadas relações primárias. Esta parece ser a base sobre a qual se desenvolverá a vida
emocional, que começa com a capacidade que todo ser humano nasce de focar o olhar de um
outro ser humano. A tonalidade afetiva despertada neste encontro será de fundamental
importância para o desenvolvimento da vida emocional da criança.
Neumann , analista junguiano que estudou o desenvolvimento infantil, também lembra
a importância do vínculo mãe bebê como fator importante para o desenvolvimento emocional:
A relação primal mãe e filho é decisiva nos primeiros meses de vida de uma
criança. É nesse período que o ego da criança se forma, ou pelo menos começa a se
desenvolver; é então que o núcleo do ego, que já estava presente desde o início,
cresce e adquire unidade, de tal modo que podemos falar num ego infantil mais ou
menos estruturado. (NEUMANN, 1995, p. 11).
Segundo sua visão, mãe e bebê encontram-se juntos no domínio e no campo do
arquétipo materno, uma predisposição arcaica, um padrão antigo das experiências
relacionadas aos cuidados maternos. Estas experiências serão marcantes para o
desenvolvimento futuro, elas se constituem como um relacionamento único, pessoalmente

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colorido, entre a pessoalidade do bebê e a de sua mãe. Os padrões básicos, arquetípicos serão
transformados pela experiência pessoal.
Quando a mãe se relaciona com seu filho como uma pessoa, respeitando sua integridade, a
verdadeira natureza do filho vai sendo apreendida progressivamente por ambos. Além disso, o
bebê promove, de forma ativa (emissão de sinais), o apego de sua mãe para com ele,
demonstrando que esse “par afetuoso” é essencialmente interativo (FORDHAM, 1994).
Pelo que estes autores expõem, há ou deveria haver uma sintonia entre mãe-bebê que
eliciará respostas afetivas em ambos. Discutiremos mais adiante a importância e influência
que esta experiência tem para a modulação dos afetos, discutida por autores da neurociência.
Ela estimula o funcionamento do cérebro que por sua vez desenvolve áreas específicas para a
sua regulação.
Para Sroufe (1995) apego refere-se a um especial relacionamento entre o bebê e seu
cuidador, o qual compreende o primeiro ano de vida, ou além, e é inerentemente um
constructo emocional. Não só implica numa relação afetiva entre a criança e sua mãe ou seu
cuidador, mas é propriamente caracterizada em termos da regulação da emoção da criança.
Siegel (1999) retomando os conceitos da Teoria do Apego de Bowlby (1989) afirma
que o ingrediente primário do apego seguro é o padrão da comunicação emocional entre a
criança e seus cuidadores. É a qualidade com que ela se estabelece que determinará este
padrão. Desta forma, a emoção é importante para o desenvolvimento da identidade e
funcionamento da criança,
assim como, no estabelecimento das relações do adulto. As experiências precoces podem
tornar-se permanentes na memória emocional subcortical e ter efeitos duráveis. Este autor cita
o apego como um sistema inato no cérebro, que se desenvolve, influencia e organiza os
processos motivacionais, emocionais e de memória, a respeito das figuras cuidadoras
significativas. O sistema de apego motiva a criança a procurar proximidade com os pais e a
estabelecer comunicação com eles. Ele afirma que o apego surgiu durante a evolução, como
forma de aumentar a chance de sobrevivência da espécie humana, e também como forma de
auxiliar o desenvolvimento, uma vez que estabelecer um relacionamento interpessoal ajuda o
cérebro imaturo a usar as funções cerebrais maduras dos pais para organizar seus próprios
processos.
É através da relação de empatia entre a criança e seus cuidadores que se cria um vínculo de
apego seguro, que promoverá uma crescente e complexa segurança interna e externa para o
enfrentamento da criança em relação com o mundo.
Continuando com os pressupostos dos autores da neurociência, é no modelo

30
psiconeurobiológico de Shore (1994) onde encontramos considerações que apontam para a
integração das experiências emocionais básicas, aos seus marcadores biológicos, estimulados
pelo meio social. Suas idéias foram de fundamental importância para o entendimento da
modulação dos afetos e poderemos estabelecer relações entre elas e as idéias de Barkley
(2002) estudioso do TDAH citado anteriormente em nossa fundamentação teórica.
“O desenvolvimento humano não pode ser entendido separadamente das transações de
afeto. Realmente parece que o desenvolvimento da capacidade de experimentar, comunicar e
regular emoções pode ser o evento-chave da infância humana” (Shore, 1994).
O modelo psiconeurobiológico descrito por Shore (1994) propõe que o
desenvolvimento do cérebro está intimamente relacionado com os fatores ambientais, sociais
e psicológicos. As primeiras experiências, especialmente as carregadas de emoção, induzem e
organizam os padrões de funcionamento, crescimento e expansão das capacidades funcionais
do desenvolvimento individual. A empatia no relacionamento entre a mãe e o bebê parece ser
a base para a modulação do relacionamento do bebê com outras pessoas, o que acontecerá
posteriormente. O primeiro relacionamento, em geral com a mãe, é fundamental por causa da
intensidade com a qual ele é afetivamente carregado. Certamente, tal relacionamento tem uma
qualidade emocional especial para o bebê, contribuindo para a auto-regulação da sua mente. A
tese central de Shore é a de que o meio social, mediado pelas primeiras experiências com o
cuidador, influenciam diretamente os circuitos cerebrais do bebê que são responsáveis pelo
desenvolvimento sócio-emocional futuro. A experiência requerida para o crescimento do
cérebro nos dois primeiros anos de vida é especificamente a experiência sócio-emocional
embebida das relações de apego entre o bebê e sua mãe ou cuidador. Estas experiências
interpessoais carregadas de afeto têm um efeito especial na organização do sistema límbico,
as áreas cerebrais especializadas, não só pelo processamento da emoção, mas da organização
de novas aprendizagens e da capacidade de adaptação rápida aos desafios do meio ambiente.
O processamento emocional do sistema límbico é expandido no hemisfério direito do cérebro,
também chamado de mente direita. Este é o substrato do cérebro emocional, que tem um pico
de crescimento no primeiro ano e meio de vida e é dominante nos três primeiros anos.
Para Shore (1994) as relações de apego influenciam a maturação do hemisfério
direito, o qual atua como um sistema que prepara o organismo para lidar de modo eficiente
com os desafios externos e assim apresenta uma função adaptativa que media os mecanismos
de enfrentamento do estresse. Esta concepção psiconeurobiológica aponta o papel central das
experiências de apego, que são as capacidades de se estabelecer vínculos afetivos, no
desenvolvimento das capacidades de enfrentamento (“coping capacities’), ao longo da vida”.

31
Esta interação também faz com que a capacidade de resiliência da criança possa emergir, se
houver uma transição de afetos positivos para negativos, voltando a afetos positivos. A
falência da díade mãe-bebê, mediada pelo afeto, nos dois primeiros anos de vida constitui um
fator de risco no desenvolvimento.
Vimos no modelo deste autor que o crescimento e desenvolvimento de estruturas
importantes do cérebro coincidem com o período das relações de apego. Esta maturação
ocorre através de experiências sensoriais, como olfato, paladar, tato, desde os dois meses de
vida quando começa a mielinização das áreas occipitais e melhora a percepção visual. O bebê
e sua mãe estão prontos então, para iniciar uma importantíssima comunicação através do
olhar, onde um enviará pistas ao outro, sobre estados emocionais e necessidades. Num
primeiro momento, o bebê lidera e a mãe o segue. Muitas emoções positivas emergem e
expõem o bebê a altos níveis de informação cognitiva e social. Inicia-se um diálogo
sincronizado onde um aprende o ritmo do outro e muda seu comportamento para adequá-lo
nesta estrutura. Ocorre a acomodação de um self para outro self, caracterizando a Sintonia
Afetiva ou Sincronismo Afetivo. Estes intervalos de tempo, muitas vezes milésimos de
segundos, em que a mãe espera os sinais do bebê para engajar-se ou desengajar-se, permitindo
que ele os expresse, afetivamente sintonizada, constituirão a base da modulação do afeto.
Percebe-se então, que a modulação do afeto também é um processo que ocorre na relação
interpessoal, em que os estados emocionais internos de um serão monitorados pelo outro,
ocorrendo um aumento do estado positivo de ambos.
Ao examinarmos as considerações desse autor, podemos estabelecer algumas relações entre
estes pressupostos dos neurocientistas sobre as relações de apego, com os pressupostos de
Barkley (2002) mostra o quanto a noção de tempo está prejudicada na criança com TDAH,
por sua dificuldade de modulação dos afetos e controle inibitório, pois ela não consegue este
intervalo de tempo necessário para esperar, estabelecer um discurso interno, para depois
responder às situações, orientando-se no presente, passado e futuro. Um outro ponto
importante a ser observado é que as áreas cerebrais ativadas nessa aprendizagem das relações
de apego são as mesmas envolvidas na determinação dos sintomas do TDAH. Shore (1994)
observa que em indivíduos que apresentam um apego seguro, o córtex orbitofrontal direito
atua com mecanismos que recobrem eficientemente a regulação não só dos afetos positivos,
mas de estados emocionais como a raiva, angústia, medo, terror, em termos de duração,
freqüência e intensidade.
Nem sempre essa sintonia afinada ocorre, podendo haver períodos de estresse na díade.
Porém, se o período de estresse é seguido por outro, onde a sincronia é restabelecida, ocorre a

32
recuperação do estresse. As situações de estresse são tóxicas e colocam a criança em risco se
perdurarem por períodos prolongados e repetitivos. Ambientes inibidores que promovem
histórias menos afinadas e geram prolongados períodos de interação desregulada e níveis
elevados de afetos negativos, retardam a experiência dependente das áreas elevadas do
hemisfério direito, envolvidas na regulação do afeto. As patologias das relações de apego
seguro manifestam falências da auto-regulação, cujas limitações podem se expressar tanto
pelo controle excessivo ou descontrole em situações que requerem enfrentar desafios e
clamam por flexibilidade e adaptação, respostas ao estresse sócio-emocional. Elas constituem
uma vulnerabilidade ou fraqueza do sistema regulatório do hemisfério direito.
A modulação do afeto não é somente a redução da intensidade do afeto, da diminuição do
afeto negativo, mas a ampliação e intensificação de emoções positivas, a condição mais
complexa e necessária para a auto-regulação. A experiência emocional conseqüente deste
vínculo sincrônico, onde toda a organização psicossomática da mãe se relaciona com a
organização psicossomática do bebê, é impressa no sistema de memória imagética, visceral,
não verbal, chamada memória implícita, do hemisfério direito. Desta forma, as emoções são
reguladas e são reguladoras favorecendo o amadurecimento de um sistema regulatório no
hemisfério direito, cujo cenário necessário são as interações de afeto associadas ao apego
seguro.
Assim, o hemisfério direito é especialmente envolvido no processamento inconsciente da
estimulação emocional, na aprendizagem implícita. É ele que contem o circuito da regulação
emocional.
Knox (1999) cita que a memória implícita será de fundamental importância no
desenvolvimento emocional, pois cabe a este sistema registrar a tonalidade afetiva que emerge
neste processo de aprendizagem, em que as relações, ou o que é experienciado na realidade
externa, oferece o substrato, o material, para que o mundo interno se constitua. Esse “tom”
afetivo oferece a matriz ou significado para todas as representações associadas a ele e se torna
o padrão inconsciente que influenciará o funcionamento psicológico ao longo da vida,
formando um núcleo ao redor do qual circulam pensamentos, idéias, emoções
correspondentes. Á esse conjunto de idéias, emoções, sentimentos e pensamentos dotados de
uma carga afetiva, Jung chamou de complexos. Estes se assemelham aos modelos internos
operantes, descritos na Teoria do Apego de Bowlby (1989), segundo a qual a criança tem uma
tendência inata a colocar os relacionamentos no centro de seu mundo emocional, internalizá-
los e construir padrões generalizados destes relacionamentos, tornando-os significativos e
previsíveis.

33
O Teste de Associação de Palavras, elaborado por Jung em 1935, a partir de suas
experiências de associação, constatou a importância das emoções associadas às reações
fisiológicas, observando as alterações de transpiração, respiração e batimentos cardíacos
mediante a apresentação de palavras-estímulo. Jung afirmou que todos os conteúdos que são
difíceis de serem abordados são acentuadamente sentidos e estes conteúdos estão de alguma
forma ligados com reações fisiológicas, processos cardíacos, tônus dos vasos sangüíneos, a
condição dos intestinos, enervação da pele, respiração, etc. (JUNG, 1972).
Ele nos mostra como as emoções (a tonalidade afetiva decorrente da internalização da
realidade externa) estão registradas e associadas aos processos orgânicos, portanto um
mecanismo da memória implícita. Este sistema se refere a armazenamento de informações
que não podem ser evocados pela vontade consciente, como a lembrança de eventos
específicos.
Os conceitos de memória implícita e complexos esclarecem sobre a importância das primeiras
relações do bebê com sua mãe ou cuidador e as emoções associadas a esta experiência, pois se
tornarão marcantes na estruturação da personalidade, funcionando como um filtro através do
qual a realidade externa será interpretada, além de estabelecerem um padrão para
relacionamentos futuros. Logo, os complexos determinarão a percepção do mundo externo, a
partir da tonalidade afetiva armazenada na memória implícita, resultante das relações com as
figuras principais de apego, na tenra infância.
Nosso objetivo neste estudo será avaliar, a partir dos resultados obtidos pelo Método
de Rorschach, a qualidade da tonalidade afetiva das respostas das crianças com TDAH e fazer
inferências sobre a estruturação de sua personalidade de acordo com a Teoria dos Complexos
de Jung, atualizada pelo conceito de memória implícita, ampliação feita por Knox (1999) a
qual coloca os conceitos junguianos nos modelos atuais desenvolvidos pela neurociência.

3.3 A Afetividade no Método de Rorschach pelo Sistema Compreensivo:

Nos orientaremos neste trabalho considerando a afetividade como emoções, afetos,


sentimentos de prazer e desprazer, capacidade de trocas e de envolvimento em situações nas
quais a estimulação afetiva é eliciada. Elas constituem aspectos complexos do funcionamento
das pessoas, pois estão presentes na atividade psicológica, a ponto de interferir no
pensamento, julgamento, decisões e comportamentos. Algumas são sutis, diretas e fáceis de
serem manejadas e outras de difícil controle.
Como descrevem Sendín e Exner (1995) as emoções abarcam o dinamismo necessário

34
para o funcionamento mental, mas não se regem, na maioria das ocasiões por leis lógicas ou
facilmente compreensíveis. Elas estão articuladas com a ideação de um modo tão estreito que
se torna impossível separar, nos traços psicológicos, o elemento afetivo do cognitivo. A
divisão que fazemos entre elementos cognitivos e afetivos é artificial, pois estes estão
intimamente relacionados, em constante interação e influenciando-se mutuamente.
Por seu importante valor diagnóstico já bastante discutido pela literatura, tomamos
como nosso instrumento de pesquisa o Método de Rorschach de acordo com o Sistema
Compreensivo de Exner, utilizando os passos apontados juntamente com Sendín (SENDÍN;
EXNER, 1995) para a avaliação das variáveis que compõem o Módulo da Afetividade,
favorecendo a interpretação e análise dos dados.
Além do Módulo da Afetividade, incluímos em nossa análise o exame das
Constelações Positivas, que podem indicar possíveis comorbidades, os valores da Proporção
“EB” que se referem ao Tipo de Vivência do sujeito, para averiguar se é capaz de manter um
equilíbrio adaptativo entre os canais emocionais e ideacionais, e os valores de “eb” que
indicam a Experiência de Base, a natureza do sofrimento psíquico (caso ocorra) e os valores
de “Lambda”, os quais indicam como a pessoa aborda a experiência mantendo um foco
adequado de atenção ao que acontece ao seu redor.
Nos pareceu oportuno acrescentar, em nosso estudo, duas variáveis do Módulo de
Controle e Tolerância ao Estresse, as quais possibilitaram ampliá-lo, fornecendo outras
informações sobre a natureza da capacidade dos controles da pessoa ao enfrentar a demanda
externa. São elas: Nota D e Nota D Ajustada (Adj D).
Nossa intenção em acrescentar estes dados à análise do Módulo da Afetividade foi
justamente ampliá-la pesquisando algumas das características do TDAH, verificando a
capacidade atencional, a adequação da modulação dos afetos, a natureza da estimulação
interna experimentada e se existem outros transtornos associados ao TDAH, na população
estudada, como por exemplo, Depressão, Hipervigilância, Déficit Relacional, Estilo
Obsessivo, Transtornos de Percepção e Pensamento.

3.3.1 O Índice de Depressão (DPI)

Ao analisarmos o Afeto no método de Rorschach, verificamos em primeiro lugar, se a


Constelação de Depressão (DEPI) é positiva. Isto ocorre quando o sujeito preenche 5 (cinco)
ou mais critérios entre as 15 (quinze) variáveis que compõem esta Variável-Chave, a partir da
qual podemos começar a interpretação de um protocolo, verificando se há a presença de um

35
transtorno afetivo. Estes critérios estão descritos de forma semelhante ao DSM IV TR, onde
verificamos quais sintomas estão presentes, para levantarmos nossas hipóteses diagnósticas.
Assim, o primeiro passo para a avaliação de um protocolo consiste em verificar se o Índice de
Depressão (DEPI) é maior ou igual a cinco, sendo que cinco sugere que a pessoa apresenta
muitos dos traços encontrados no spectrum dos Transtornos Afetivos, como a Depressão.

3.3.1.1 Aspectos qualitativos de DEPI

A análise qualitativa de DEPI nos fornece informações das características dos


componentes depressivos do sujeito, pois apresenta variáveis cognitivas, afetivas e de relação
interpessoal e discriminá-las é importante, para enriquecer o diagnóstico.
As variáveis mais relacionadas com os aspectos cognitivos são:
I. MOR - conteúdo mórbido, por exemplo: “pele de animal arrancada e está
rasgada”
II. Índice de Egocentrismo - medida da proporção em que o indivíduo presta atenção
em si e nos outros;
III. FD - respostas de Forma-Dimensão, que envolvem impressão de profundidade,
distância ou dimensão, por exemplo: “Os pés são grandes e a cabeça pequena, parece
um gigante vendo de baixo para cima”;
IV. Índice de Intelectualização - o esforço ideacional empreendido pelo sujeito no
sentido de colocar uma certa distância entre si mesmo e os seus sentimentos,
representados pelos conteúdos: Arte (Art) e Antropologia (Ay) e código especial
Abstrato (AB).
V. Número de respostas complexas (Blends) - aquelas que apresentam mais de um
determinante, por exemplo: “duas pessoas segurando uma bola de boliche preta”,
contem o determinante de movimento humano (M) e o determinante de cor acromática
(FC’).

Já as variáveis que se referem aos elementos afetivos são:


I. C’ - respostas de cor acromática, aquelas em que o sujeito menciona branco, preto
ou cinza como cor, por exemplo: “parece morcego porque é preto”;
II. Afr - proporção afetiva;
III. Respostas Complexas de Cor-Sombreado - respostas determinadas pelo uso da
cor associadas com sombreado, por exemplo: “parece uma borboleta colorida e há

36
partes mais escuras e mais claras que formam desenhos nas asas”;
IV. Respostas que incluem o espaço em branco (S), por exemplo: “parece o olho
nesse buraco branco”;
V. Resposta de determinante Vista (V), em que há o uso do sombreado para criar
impressão de profundidade ou dimensionalidade, por exemplo: “é uma vista aérea das
montanhas”;
VI. A somatória de determinantes de Sombreado (SUM Sombreado) maior que o
número de respostas de movimento animal (por exemplo, “peixe nadando”) + respostas
de movimento inanimado (por exemplo: “água escorrendo”), que constituem a fórmula:
SUM Sombreado > FM+m.
As variáveis relacionais são:
I. COP - quando há a presença de movimento que inclui cooperação);
II. Índice de isolamento - baseado na freqüência de cinco conteúdos desprovidos de
componentes humanos: Botânica, Nuvem, Geografia, Paisagem e Natureza).
O exame cuidadoso do protocolo do Rorschach gera dados que possibilitam uma
análise bastante detalhada do funcionamento psicológico da pessoa, auxiliando o diagnóstico,
o tratamento e o prognóstico.

3.3.2 Erlebnistypus “EB” (Tipo de Vivência)

Erlebnistypus é um termo em latim, que significa “tipo”, usado por Jung (1972) para
designar os dois tipos psicológicos genéricos: o introvertido e o extrovertido. Hermann
Rorschach, os utilizou na análise dos dados de seu Teste das Manchas de Tinta. Porém os
termos foram traduzidos e empregados como extratensivo e introversivo. De modo geral, o
tipo extratensivo se refere às pessoas que se expressam mais pelos canais da emoção,
enquanto os introversivos são mais reflexivos e reservados. O Tipo de Vivência ou “EB”, a
forma abreviada de Erlebnistypus, é um indicador da proporção das respostas de Movimento
Humano (M) e respostas de Cor (C). Está presente nos índices da Ideação, do Afeto e do
Controle de Tolerância ao Estresse. Através dele podemos verificar o balanço, o equilíbrio,
moderação ou flexibilidade de pensamento, de expressar emoções e ainda, de escolher
estratégias adequadas e adaptativas para o enfrentamento das situações que envolvem solução
de problemas e tomada de decisões. São exemplos de respostas de movimento humano (M):
“duas mulheres dançando”; “um homem carregando uma bola de basquete”. Respostas de cor
cromática (C) são aquelas determinadas pelas áreas coloridas da prancha: “flores amarelas”

37
ou “uma cena do fundo do mar, porque é tudo colorido”.
A flexibilidade e a coerência adaptativas são indicadas no método de Rorschach pelos
valores da proporção de EB equilibrado, no qual nem M (respostas de Movimento Humano),
nem WSUMC (somatória das respostas de cor) excedem 2,5 vezes umas às outras e com uma
diferença de dois pontos.
EB pode se configurar moderadamente introversivo ou extratensivo dependendo do
estilo de vivência que uma pessoa apresenta ao abarcar a experiência. EB introversivo
indicará a preponderância do uso da ideação (M) sem prejuízo dos processos emocionais. Já
EB extratensivo, mostrará a tendência da pessoa em priorizar os canais da emoção
(predomínio das respostas de cor), sem prejuízo dos processos de pensamento. A ausência de
um estilo preferencial indica EB Ambigüal, caracterizado não pela flexibilidade adaptativa e
sim pela incoerência prejudicial à adaptação.
Sendo nosso foco de atenção o setor do Afeto no método de Rorschach, priorizamos a
análise de EB Extratensivo, o qual oferece informação sobre como influem as emoções nas
operações psicológicas do sujeito e será indicado como positivo, quando houver uma
predominância das respostas de Cor (WSUMC) sobre as respostas de Movimento Humano
(M), excedendo-as em 2,5 com uma diferença de dois pontos.
Pessoas moderadamente extratensivas são capazes de reconhecer seus sentimentos e os
dos outros, de responder a eles, de vivenciar e expressar seus sentimentos sem se tornar
excessivamente emocionais.
Os valores de EB podem, no entanto, apresentarem-se excessivamente extratensivos e
persistentes, o que denominamos de EB PER (EB Persistente), no qual a soma das respostas
de cor (C) excedem as de movimento humano (M) numa proporção superior a 2,5, com
diferença de dois pontos, indicando a preferência em lidar com a experiência principalmente
pelos canais afetivos, em detrimento dos canais ideacionais. Os extratensivos são mais hábeis
nos intercâmbios e descargas emocionais e se preocupam menos em modular suas expressões
afetivas e tendem a usar esses intercâmbios como fonte principal de obtenção de gratificação,
ou seja, para eles o contato com os demais e o processamento da emoção é prioritário, sendo
menos importante o controle dessas descargas. Estas descrições chamam nossa atenção,
considerando as dificuldades do controle inibitório apresentadas pela criança TDAH.
Portanto, a avaliação desses índices nos faz necessária.

38
3.3.3 Experiência de Base

eb (FM+m:C’+T+V+Y)

Esta é uma proporção que compara os determinantes de movimento animal e


movimento inanimado (FM e m) com os determinantes de sombreado: Cor Acromática (C’),
Textura (T), Vista (V) e Sombreado Difuso(Y). Estes são importantes para a análise do setor
do Afeto e informam sobre a pressão dos estímulos experimentada pelo indivíduo. Através de
sua análise pretendemos verificar a natureza das angústias, das pressões e sobrecarga
emocional que a criança com TDAH sofre. Podemos citar como exemplo de respostas de
movimento animal “ursos subindo a montanha” e de movimento inanimado “sangue
escorrendo” ou “fogo queimando”. As respostas de sombreado são determinadas pelas
nuances de claro e escuro presentes nas manchas: “parece viscoso” (textura), “mapa
geográfico” (vista), “parece tinta porque está mais claro aqui e ali é mais escuro” (sombreado
difuso). As respostas de cor acromática são aquelas determinadas pelo branco, preto ou cinza:
“morcego porque é preto”, etc.
Os dados do lado esquerdo de “eb” (experiência de base) representam os disparadores
de tensão interna do tipo ideacional (FM+m), que podem interferir nos processos de atenção e
no curso do pensamento deliberado. Indicam a atividade psicológica sobre a qual o indivíduo
não tem controle.
As informações do lado direito da proporção incluem todos os determinantes de
sombreado que aparecem nos componentes referidos (ex. soma de T inclui FT, TF e T) e os
determinantes de cor acromática (C’, FC’e C’F). Representam também estímulos que atuam
no interior do indivíduo provocando mal estar, mas do tipo emocional, o qual supõe um
aumento de afetos irritativos e perturbadores, indicando sofrimento e dor psíquica.
Espera-se que o lado direito de “eb” seja menor que o lado esquerdo, pois o contrário muitas
vezes indica a presença de um grau de sofrimento. A presença de Forma nestes determinantes
(C’, T, V, Y) pode demonstrar um maior controle sobre estes afetos desconfortáveis,
disparados em seu interior.

3.3.4 FC:CF+C

Esta proporção indica o bom nível de modulação das descargas e intercâmbios


emocionais deliberadamente iniciados. Estas respostas representam um conjunto de situações
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emocionais que o sujeito inicia deliberadamente, mas é capaz de controlar sua intensidade.
Interessa-nos especialmente o seu exame, pois, trata da capacidade de modulação do afeto,
traço de extrema relevância para a análise das características emocionais dos sujeitos com
TDAH, tema de nosso estudo.
A modulação moderada do afeto consiste em manter um equilíbrio adaptativo entre os
canais de expressão emocionais e ideacionais, entre padrões de descargas emocionais
reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis e mais intensos para processar a
experiência afetiva de maneira positiva (WEINER, 2000).
Tais capacidades são examinadas no método de Rorschach, na consideração suficiente,
mas não forçada, das características cromáticas da prancha, na proporção Forma-Cor (FC:
CF+C) adequada para a idade e na ausência de respostas de Cor Projetada (CP), que são
respostas de cor atribuídas a áreas acromáticas da prancha e indicam uma tendência em ver
cor onde ela não existe, expressando mecanismos de defesa contra sentimentos maciços de
desconforto e angústia.
As respostas FC expressam um processamento da emoção relativamente modulado, no
qual os afetos são expressos e se dissipam lentamente, sentidos de forma profunda, mas de
intensidade moderada. É um exemplo de resposta FC: “parece uma gravata borboleta
vermelha”. As respostas CF e C estão associadas a um padrão espontâneo e não modulado da
emoção, onde os sentimentos aparecem e desaparecem rapidamente, tendendo a
superficialidade, mas intensos enquanto duram. Como resposta CF podemos exemplificar:
“um pedaço de sorvete laranja” (a demanda de forma está secundariamente implícita, pois um
pedaço de sorvete pode ter diferentes formas). Já as respostas C (cor pura), não contem forma
implícita, como por exemplo: “este vermelho parece sangue”.
Uma boa proporção Forma-Cor equilibrada identifica, assim, uma boa capacidade
emocional para se adequar às situações. A proporção esperada em adultos é de 2:1.

3.3.5 Afr, WsumC:SumC’e a Modulação Suficiente do Afeto

Estas variáveis nos fornecem informações sobre a capacidade da pessoa de envolver-


se em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros, de envolver-se afetivamente,
sentindo-se confortável. A capacidade de modular o afeto suficiente é avaliada no método de
Rorschach por um Quociente Afetivo (Afr) adequado e um Wsum C (soma ponderada de
respostas de Cor) igual ou superior ao numero de respostas de cor cromática.

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3.3.5.1 A proporção afetiva: Afr

A Proporção Afetiva (Afr) compara o número de respostas dadas nas três ultimas
pranchas, cromáticas, com o número de respostas dadas às sete primeiras pranchas, as
acromáticas. Este índice fornecerá informações sobre o interesse do sujeito em processar a
estimulação emocional. A média esperada em adultos não-pacientes é de 0,69. Quando o
valor se mostrar elevado, indicará interesse e desejo em processar a estimulação emocional,
ocorrendo mais nos sujeitos extratensivos. Se diminuído, expressará um menor interesse em
processar a estimulação afetiva.Weiner (2000) nos diz que esta é uma variável estável e indica
um estilo do indivíduo, além de representar uma receptividade psicológica aos estímulos que
provocam emoção.
É importante observar que em crianças, nossa população de interesse, o Afr diminuído
é muito incomum, pois expressa a energia com que se processam os estímulos. As crianças
em geral são mais receptivas e respondem mais à estimulação emocional. Portanto, nos será
útil a avaliação desta variável para nos acercar de mais informações sobre a vida emocional
das crianças cuja faixa etária foi estudada, em especial as que apresentam TDAH.

3.3.5.2 Proporção de Constrição: SUM C’: WSUMC

Refere-se à contenção dos afetos, relacionando a constrição afetiva (C’) com o nível
de processamento das emoções deliberadas que o sujeito utiliza (Wsum C). Espera-se que o
lado esquerdo seja muito inferior ao direito, pois o contrário indicará que a pessoa internaliza
em excesso os afetos que deveria expressar, o que aumenta sua tensão interna e favorece o
aparecimento de sintomas psicossomáticos.
Anota-se a freqüência de todos os determinantes C’ (FC’+ CF+C’) à esquerda, e a
soma ponderada das respostas de cor cromática, à direita.
Cabe uma reflexão acerca da presença do determinante C’ (cor acromática), nos
protocolos de nossa população de estudo, uma vez que além de constrição afetiva, a qual
denota certo grau de sofrimento, pode indicar também o controle sobre as emoções.
Considerando que a criança com TDAH apresenta como dificuldade principal o controle
inibitório, então a presença deste determinante poderia indicar uma tentativa de algum
controle sobre a impulsividade também característica do transtorno.

41
3.3.6 Proporção de Complexidade (Blends: R)

Respostas complexas ou “blends” são aquelas que incluem mais de um determinante


na resposta, como por exemplo: “dois palhaços fazendo um número de circo. Eles têm uma
touca vermelha”. Nesta resposta há o determinante de movimento humano (M) e o
determinante de cor (C). Os “blends” indicam uma atividade cognitiva mais elaborada,
produto da atividade de análise e síntese dos elementos do campo estimular. A média
esperada é de 20 a 25% de respostas complexas em cada protocolo, mas sabe-se que pode
variar de acordo com o EB. Nos extratensivos é mais alta do que nos introvertidos.Em
crianças a média até seis anos é de 20% aumentando para 25% aos onze anos, mantendo a
mesma tendência em aumentar nos extratensivos e diminuir nos introversivos.
Sendín e Exner (1995) ressaltam o valor das respostas complexas para a análise
qualitativa dos dados. Afirmam que em toda atividade complexa se inclui algum tipo de
processamento afetivo, pois se excluirmos as respostas de Forma Pura, todos os determinantes
tem a ver com operações que envolvem o afeto. Em muitos casos a análise da composição das
respostas complexas trazem informação importante sobre a organização das informações no
processamento que o sujeito faz da realidade. Se conhecermos o significado de cada variável,
podemos interpretar as combinações que a pessoa preferencialmente faz ao longo do
protocolo, para captar mais dados de sua atividade psicológica.

3.3.7 Respostas Complexas de Sombreado-Cor

Por serem pouco comuns, apresentam grande significado quando aparecem. Referem-
se às respostas em que ambos determinantes de Cor Cromática e Sombreado aparecem juntos
na resposta emitida pelo sujeito. São respostas muito comuns em protocolos de depressivos e
são extremamente incomuns em crianças.

3.3.8 A projeção da Cor (CP)

É um fenômeno que ocorre quando o sujeito processa a cor em áreas onde ela não
existe. Isto se associa ao fato de uma necessidade de mascarar sentimentos desagradáveis,
substituindo-os por agradáveis.

42
3.3.9 O uso do espaço em branco

Este é um outro aspecto a ser considerado, sendo que se refere ao processamento de


áreas da mancha onde nada existe, ou seja, onde não há mancha. Sugere uma tendência a
buscar auto- afirmação e independência, certa tendência à oposição, negativismo e expressão
de sentimentos hostis, caso excedam a um número maior do que 3 (três).
Todos estes itens descritos compõem a análise do setor de Afeto no Sistema
Compreensivo. Analisados em conjunto, oferecem dados importantes que traduzem o modo
como as emoções interferem no funcionamento psicológico da pessoa. A sua análise norteará
o nosso estudo, somada ao exame dos valores de Lambda, do escore D e D ajustado (AdjD) e
das pontuações das Constelações Positivas.

3.3.10 Lambda e a abertura para a experiência

A forma como uma pessoa aborda a experiência envolve o quanto ela percebe o que
acontece à sua volta e em si mesma, como vai organizando as informações que lhe chegam e
se o faz de forma adequada à realidade. Para tal é necessário que mantenha um foco de
atenção equilibrado, que não seja nem restrito, nem aberto demais.
Weiner (2000) nos fala que as pessoas que mantêm um foco de atenção equilibrado
tendem a permanecer satisfatoriamente conscientes de eventos internos e externos, lidando
com a ambigüidade e incerteza das situações por meio de modo reflexivo, voltado para
solução de problemas em alguns momentos, e em outros com emocionalidade significativa.
Os valores de Lambda indicam a adequação do foco de atenção, e sua análise parece
propícia para enriquecer o nosso entendimento das crianças que apresentam o TDAH, visto
suas dificuldades em selecionar e manter a atenção, um sintoma chave na determinação do
transtorno.
Os sujeitos que apresentam os valores de Lambda entre 0.30 e 0.99 em geral manifestam
características adaptativas associadas a um foco de atenção equilibrado em todas as idades.
Porém, um Lambda > 0.99 indica uma falta de abertura adequada à experiência, com
tendência a encarar o mundo e a si mesmo com um foco de atenção muito restrito. Quando o
valor de Lambda é inferior a 0.30, os sujeitos tendem a apresentar uma abertura excessiva a
experiência, caracterizada por um foco de atenção muito amplo.

43
3.3.11 O Escore D e D ajustado (ADJ D): Variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse

A nota D e D ajustada nos fornecem informações sobre a capacidade de controle de


uma pessoa frente à demanda imposta. Estas variáveis refletem os recursos que uma pessoa
dispõe para organizar seu comportamento e enfrentar situações de mal estar, adequando-se às
situações externas, controlando o nível de estresse. É possível que um sujeito não disponha de
recursos suficientes frente a situações mais complexas e então se torne vulnerável e
sobrecarregado pela demanda interna de estímulos. Neste caso falamos de disparadores
internos de tensão que excedem sua capacidade de encontrar um equilíbrio, organizando seu
comportamento. Ou ainda, tendo recursos disponíveis, torna-se sobrecarregado ao enfrentar
situações que o afetam externamente. Deste modo, as exigências de sua vida quotidiana
excedem o repertorio de condutas que poderia lançar mão para se organizar, ficando à mercê
de sobrecarga situacional, de uma situação geradora de estresse, que após ser solucionada, a
pessoa volta a se equilibrar. Em ambos os casos a pessoa se encontra a mercê de
circunstancias internas ou externas que geram a necessidade de controle eficaz, podendo-lhe
faltar recursos ou estes serem inadequados.
Acrescentamos estas variáveis do controle e tolerância ao estresse à análise da
afetividade, pois entendemos que possam complementar a informação sobre as capacidades
de controle das crianças com TDAH, em comparação às que não o apresentam. Já
comentamos anteriormente a ênfase sobre esse tipo de dificuldade apresentada pelas crianças
de nosso grupo de estudo. Com estas variáveis poderemos apontar a natureza da sobrecarga
experimentada pelas crianças.
A nota D é composta por um índice dos recursos disponíveis para lidar com as
demandas experienciadas (EA) e de um outro índice que aponta a estimulação sentida (es), o
nível de demandas emocionais e ideacionais impostos sobre a pessoa pelos eventos internos e
externos. Para obtermos o valor do Escore D subtraímos o valor (es) do valor de EA: (EA-es),
incluindo o sinal. Esse valor bruto é então convertido em um valor diferencial de uma escala
baseada em desvios padrões, na qual cada desvio foi arredondado para 2.5. Assim, se o valor
bruto da diferença EA - es situa-se entre -2.5 e +2.5, não existem diferenças significativas
entre os dois valores e o Escore D é igual a zero (D=0). De modo geral, as pessoas que obtém
essa nota, não apresentam tensão, nervosismo, ou ansiedade e irritabilidade manifestas.
Se o valor bruto da diferença EA - es for maior que +2.5, o Escore D aumenta +1 a
cada diferença de 2.5 pontos. A nota D positiva (D > 0) indica que a pessoa apresenta
capacidades para lidar com demandas e uma reserva de recursos aos quais pode recorrer

44
quando necessário. Em geral, apresenta um bom nível de tolerância e controle do estresse,
sem desequilibrar-se. Ao contrário, se o valor da diferença se apresentar menor do que -2.5, o
Escore D diminui -1 para cada 2.5 de diferença. Quando a nota D se apresentar negativa (D <
0) é preciso verificar o grau de sua amplitude para que possamos detectar a extensão e a
probabilidade dos indivíduos que a apresentam, de se tornarem ansiosos e irritáveis, com
baixa tolerância à frustração e tendência a impulsividade resultante. Uma nota D Negativa = -
1 indica um leve grau de desconforto subjetivamente sentido, que pode aborrecer ou
preocupar o indivíduo, não chegando a comprometer sua adaptação. Uma Nota D negativa >-
1 indica, por sua vez, que as pessoas se tornam incapacitadas pelo estresse.
Para nosso estudo é importante salientar a diferença da impulsividade associada à Nota
D Negativa, da tendência emocional expansiva e orientação para a ação, a qual é apontada na
variável da modulação dos afetos, quando as respostas CF+C se encontram em maior
quantidade num protocolo. Enquanto CF+C indica uma preferência agradável, prazerosa e
persistente pela expressão de si mesmo com pouca contenção, a Nota D Negativa identifica
uma suscetibilidade a perdas de controle episódicas, indesejáveis e desagradáveis. Por esta
razão, esta diferenciação nos é útil ao exame das características afetivas das crianças com
TDAH.
Além da importância da Nota D, que nos oferece uma medida dos recursos disponíveis
e da estimulação sofrida para adequar o comportamento a situações de estresse, é possível
apontar se este é causado por situações passageiras ou que se prolongam. A variável Adj D (D
ajustado) ajuda a distinguir o estresse experimentado relativamente persistente do estresse
relativamente situacional. Assim, ajusta-se a Nota D, eliminando todos os determinantes
relacionados ao estresse situacional: subtrai-se do valor de “es” (estimulação sofrida) todas as
variáveis “m” (movimento inanimado) exceto uma e todas as Y (FY, YF e Y, respostas de
sombreado difuso, relacionadas ao estresse situacional) exceto uma. Assim teremos o valor de
Adj es. Em seguida, subtraímos este valor de EA (recursos disponíveis) e então teremos a
NOTA Adj D. Desta forma, a Nota D menor que Nota D Ajustada torna-se o índice do
desconforto situacional no Rorschach.
Espera-se que adultos apresentem uma Nota D Ajustada no intervalo zero, o que
significa que há um nível de tolerância adequada frente às tensões da vida quotidiana, de
modo que somente em situações de estresse intenso ou prolongado, poderiam apresentar
falhas nos controles de maneira significativa. Se D Ajustada > 0 o sujeito apresenta excelente
controle e tolerância ao estresse, pois conta com muitos recursos disponíveis que pode
manejar frente as suas necessidades. A Nota D Ajustada < 0 indica que a pessoa apresenta

45
menos recursos do que os necessários para enfrentar situações de sobrecarga emocional.
Em crianças é comum uma nota D Ajustada com sinal negativo (Adj D < 0), pois pode
indicar apenas uma imaturidade no desenvolvimento dos controles. Este deve estar de acordo
com a etapa do desenvolvimento em que se encontra a criança. Além disso, verificar a
amplitude desses valores se faz necessária para interpretações adequadas.

3.3.11 As Constelações Positivas

As Constelações Positivas constituem agrupamentos de dados que podem indicar a


presença de transtornos psíquicos. O seu exame pareceu necessário a fim de verificar as
comorbidades presentes no TDAH. A Constelação corresponde ao valor prognóstico que
essas variáveis têm, ou seja, nenhuma delas separadamente é significativa, mas sua presença
conjunta em um protocolo funciona como um sinal de alarme de grande precisão (SENDÍN;
EXNER, 1995).
A avaliação das constelações positivas presentes nos protocolos foi feita de forma
quantitativa e seguiu os critérios de Sendín e Exner (1995) e Exner (1999). Sua presença
depende de um valor padrão da pontuação:

I. Depressão (DEPI): 5 ou + indica a presença de traços encontrados normalmente


entre os diagnosticados com Depressão ou Transtorno Afetivo, mas também uma
organização psicológica mais vulnerável a esse diagnóstico. Inclui variáveis afetivas,
cognitivas e relacionais, como exposto anteriormente.
II. Índice de Transtornos de Percepção e Pensamento (PTI) > ou = 3. Este índice
encontra-se descrito apenas na última revisão de Exner (2003) e não há ponto de corte.
Não deve ser usado como fonte primária de diagnóstico, mas como uma escala
contínua, onde valores mais altos indicam transtornos mais sérios do pensamento e da
percepção, normalmente encontrados em amostras de esquizofrênicos.
III. Índice de Déficit Relacional (CDI): 4 ou + . Medida das dificuldades que o
indivíduo tem para enfrentar as demandas comuns de seu meio social. Indica
vulnerabilidade a situações de estresse e dificuldades em estabelecer e manter relações
interpessoais significativas e gratificantes.
IV. Índice de Hipervigilãncia (HVI): Positivo ou Negativo. É considerado positivo ou
negativo caso determinadas variáveis se encontrem presentes. Indica estilo
hipervigilante ou paranóide em relação ao meio ambiente, vulnerabilidade nos contatos

46
próximos, reserva e cautela nas relações.
V. Índice de Estilo Obesessivo (OBS): Positivo ou Negativo. Também considerado
positivo ou negativo caso determinadas variáveis se encontrem presentes. Aponta traços
perfeccionistas, meticulosidade, cautela e convencionalidade. A capacidade criativa é
rebaixada pela preocupação em não falhar.

Após termos apontado os passos seguidos em nossa análise do Rorschach para


obtermos subsídios necessários à interpretação da afetividade das crianças com TDAH,
constatamos através das comparações das informações fornecidas pelo Módulo do Afeto e das
variáveis utilizadas do Módulo de Controle e Tolerância ao Estresse, a diversidade e as
sutilezas dos conteúdos que podem ser apontados pelo Rorschach acerca do funcionamento
psicológico de uma pessoa. Chama à nossa atenção a relação entre Cor e Afeto e assim nos
deteremos ainda em examiná-la, pois verificamos pelo que foi exposto que a impulsividade
pode não estar associada à afetividade, mas ser conseqüência de inabilidades ao lidar com
demandas que podem ser percebidas como complexas por faltarem os recursos necessários
para enfrentá-las.

3.4 A cor como expressão do Afeto

Todos os testes que envolvem o uso da cor se baseiam no fato de que as cores
demonstram as reações sobre a afetividade. Tradicionalmente a cor é considerada um estímulo
emocional e responder à cor reflete a capacidade para reagir emocionalmente ao meio.
Quando um indivíduo dá uma resposta de cor, revela o reconhecimento de pressões
emocionais sobre ele e sua habilidade costumeira em reagir a elas.A resposta de cor quando
aparece denota uma interação emocional entre o indivíduo e o meio.
Halpern (1953), estudiosa do Rorschach infantil, nos oferece valiosa contribuição ao
fazer um relato do estilo de resposta da criança ao estímulo da cor, de acordo com seu estágio
de desenvolvimento. Ela diz que quanto mais tenra a idade da criança, mais as emoções serão
intensas, pouco socializadas e controladas.
Até os quatro anos de idade as respostas mais comuns nos protocolos serão C (cor
pura) ou CF (cor-forma secundária). A resposta C (cor pura) indica que as emoções são pouco
socializadas, pouco contidas. A resposta CF, a qual pressupõe uma demanda de forma,
indicará que alguma modulação dos afetos já começa a existir. Entre quatro e cinco anos, as
respostas de cor pura (C) tornam-se mais raras, enquanto que as CF (cor-forma) são mais

47
comuns. Assim, notamos que as reações emocionais da criança são essencialmente
egocêntricas, tanto quanto impulsivas. Somente com a idade de 8 a 12 anos, quando a criança
está voltada completamente para o social e apresenta maior controle emocional, há uma
mudança no padrão de resposta. Nesta etapa as respostas FC (forma-cor) ganham mais
expressão.
É importante notar que embora o processo educacional prepare a criança para um
padrão de reações emocionais socialmente aceitas, este processo pode não ser atingido e a
criança não alcançar a predominância das respostas FC sobre as CF e C, antes dos 11 anos,
possivelmente nem mais tarde. Considera-se também que a criança que tenha desenvolvido
esse forte controle dos afetos antes dos nove anos, sofreu formas repressivas de treinamento
pelo meio ou sua insegurança a tenha submetido a controles exagerados dos afetos. Em tais
casos é preciso considerar se a maturidade e o controle expressos na resposta FC é uma
maturidade verdadeira, resultante de uma resolução harmoniosa de conflitos, os quais levam a
uma integração suave ou paulatina dos sentimentos e capacidade de compreensão. A
diferenciação pode ser feita em termos dos outros escores, assim como dos conteúdos das
respostas.
Se a produção das respostas FC é o resultado de uma real maturidade, a repressão e a
inibição exageradas não estarão presentes em outras áreas da personalidade. Não haverá
necessidade de reprimir a fantasia ou restringir sua produtividade. O número de respostas
globais (as que utilizam toda área da mancha) será adequado para idade e as respostas de
movimento animal (FM) devem ser devidamente interpretadas. Além disso, as respostas FC
devem refletir uma real integração do controle e da emoção. É preciso a análise adequada para
verificar o que é uma tentativa pouco eficiente de adaptação e basicamente afeto primitivo,
que são as respostas nas quais a cor é usada de modo impróprio, como por exemplo, na
prancha VIII, urso cor-de-rosa. Neste caso o uso impróprio da cor expressa o pensamento
literal e concreto da criança e que pode sugerir uma tentativa forçada de controle dos afetos
que fogem à maturidade genuína esperada. Quando FC aparece com qualidade formal pobre,
há indícios de esforços exagerados na adaptação devido às inseguranças frente às pressões do
meio, mas a criança esforça-se para responder adequadamente. Por outro lado, caso nenhuma
resposta FC seja dada após os sete anos, pode-se inferir que o processo educacional,
educativo, não está sendo sentido, e a capacidade para maturidade emocional não está sendo
atingida. Quando as respostas de C pura (C) são numericamente predominantes nesta etapa,
há evidências de uma imaturidade no desenvolvimento afetivo.
Adrados (1985) faz considerações sobre as mudanças do Estilo de Vivência no

48
decorrer do desenvolvimento. As diversas posições existenciais refletem não apenas as
transformações e os conflitos internos que o indivíduo enfrenta ao longo da vida, mas a forma
que consegue encontrar para adaptar-se ao ambiente no qual se encontra inserido. A
porcentagem de respostas das ultimas três pranchas em relação ao total de respostas do
protocolo, nos dá o estilo de vivência e mostra a intensidade que as crianças respondem aos
estímulos emocionais. Quando a cor presente nas ultimas pranchas não tem força
estimuladora, a porcentagem é baixa e caracteriza o estilo vivencial introversivo. Do
contrário, determinará o estilo extratensivo.
Silveira (1985) mostrou a importância da proporção de respostas de cor em relação às
demais respostas, para compreensão da afetividade. Mediante esta relação é possível
desvendar a expressão do afeto e seus processos dinâmicos, pois a reação afetiva se expressa
nas associações com a cor. A análise da porcentagem de respostas das três ultimas pranchas
possibilita uma melhor compreensão do estilo de vivência (Erlebnistypus ou EB) mostra a
abertura que a criança tem aos estímulos ambientais.
Embora estes estudos não serem recentes, desenvolvidos há muito mais de dez anos,
são pioneiros ao oferecerem sua contribuição e servem como ponto de partida ou de base para
as inferências sobre a importância das respostas de cor e sua relação com a afetividade.
Lembramos que a porcentagem de respostas de cor das três ultimas pranchas sobre as demais
é mantida até hoje na computação dos dados do Rorschach como variável preponderante para
a caracterização da afetividade e das emoções nos mais diversos sistemas de classificação,
além do Sistema Compreensivo de Exner. Os nossos resultados foram analisados seguindo
estas considerações sobre a cor e o afeto, sua relação com o ambiente, considerando a etapa
de desenvolvimento à qual pertencem os nossos participantes, visto que estes autores chamam
à atenção para tal fato e discriminar o que podemos esperar de cada fase favorece o melhor
entendimento do modo de funcionamento das crianças de nosso estudo.
Todos estes dados analisados em conjunto nos permitem uma avaliação detalhada das
características emocionais. O nosso propósito é examinar como a criança com TDAH lida
com situações emocionais, como vivencia e expressa os afetos. Partimos do princípio que toda
sua organização psicossomática reage de modo específico de acordo com um estilo ou traço
que a diferencia das demais crianças. A fim de que possamos compreender tais traços ou
estilo de personalidade, necessitamos de parâmetros que norteiam o desenvolvimento afetivo-
emocional e fundamentem nossas observações, pois estabeleceremos comparações com
crianças que não apresentam o transtorno.

49
4 MÉTODO

A metodologia aplicada respeitou os dados apontados a fim de descrevê-los de forma


que representassem o fenômeno estudado, com base nas observações dos autores citados.

4.1 Características do Estudo

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa clínica, que teve como foco a
afetividade de crianças que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH).
Foi realizado um estudo quantitativo descritivo dos dados visando a compreensão e
interpretação das características emocionais da criança diagnosticada com o TDAH,
comparando-as com as crianças que não o apresentam, utilizando o referencial teórico da
Psicologia Analítica.

4.2 Sujeitos

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) sujeitos diagnosticados com TDAH, de acordo


com os critérios descritos no DSM-IV-R (2003) e com avaliação multidisciplinar
(psiquiátrica, neurológica, pedagógica, fonoaudiológica e psicológica) realizada no local da
coleta dos dados (NANI-UNIFESP). Estas crianças, que constituíram nosso grupo de estudo,
fizeram parte do processo de triagem e avaliação do NANI (Núcleo de Atendimento
Neuropsicológico Infantil da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP), onde foi
realizado o diagnóstico, pelas neuropsicólogas, médicos psiquiatra e neurologista,
psicopedagogas e fonoaudiólogas que fazem parte da equipe de profissionais do ambulatório
de TDAH.
Nossa pesquisa também constou de um grupo controle composto por 30 crianças não
diagnosticadas, alunos de uma escola da periferia da zona norte de São Paulo/Capital, dentro
da mesma faixa etária, as quais não apresentavam os sintomas cardinais do TDAH.
Consideramos que o nível sócio-econômico ao qual pertenciam os sujeitos era o mesmo, tanto
do grupo controle como do grupo de estudo, favorecendo assim, a comparação entre eles.

50
4.2.1 Critérios de inclusão

A faixa etária escolhida caracteriza a etapa do desenvolvimento em que há a maior


ocorrência da sintomatologia do transtorno, oferecendo assim maior possibilidade de compor
a amostra, sendo também a etapa em que há mais estudos científicos que se dedicam ao seu
esclarecimento. Consideramos que o tamanho desta amostra tenha sido adequado para
representar de forma fidedigna o fenômeno estudado, através da distribuição estatística dos
dados coletados, facilitando a análise.
Os critérios de inclusão estabelecidos foram:
I. Faixa etária entre seis e dez anos;
II. Diagnóstico de TDAH do tipo combinado, segundo os critérios do DSM IV TR
(2003) e avaliação clínica multidisciplinar;
III. Crianças cursando o ensino fundamental I (de primeira à quarta série);

4.2.2 Critérios de exclusão

Crianças que não preencheram os critérios do DSM IV R (2003) para TDAH na


triagem do processo de avaliação clínica multidisciplinar, ou que após terem sido avaliadas,
não tiveram o diagnóstico do transtorno.

4.3 Local da Coleta de Dados

A coleta de dados do grupo de estudo foi realizada no Ambulatório de TDAH do


Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil (NANI) da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP).
A coleta de dados do grupo controle foi realizada numa escola municipal de um bairro
da periferia da zona norte de São Paulo/Capital.

4.4 Instrumentos

Os participantes que preencheram os critérios de inclusão propostos foram avaliados a


partir dos seguintes instrumentos:
I. Questionário com dados sócio-demográficos aplicado apenas no grupo de estudo,

51
aos pais ou responsáveis pela criança, utilizado para caracterização da amostra em
termos de idade, sexo e escolaridade.
II. Método de Rorschach aplicado e avaliado pelo Sistema Compreensivo de Exner
(EXNER, 1995):

4.4.1 O Método de Rorschach

O Método de Rorschach é um instrumento diagnóstico importante para avaliação


clínica, que pode oferecer informações tanto da estrutura, como da dinâmica da personalidade.
É um teste de percepção e apreensão, que constitui uma tarefa cognitivo-perceptiva. Gera
dados e informações úteis sobre o funcionamento psicológico da pessoa e pode ser abarcado
por qualquer referencial teórico, não requerendo uma única teoria para sua interpretação.

4.4.2 O Sistema Compreensivo de Exner

O Sistema Compreensivo de Exner apresenta rigor psicométrico, sendo revisado desde


1960 através de pesquisas que visaram sua normatização e padronização. Possui um Módulo,
composto por variáveis que avaliam a Afetividade e por isso consideramos um instrumento
útil e adequado para a investigação a que se propõe este estudo.
Tal Sistema agrupa os dados em variáveis-chave para a sua interpretação. Estes
agrupamentos de dados se baseiam em cálculos matemáticos, proporções numéricas, a partir
da classificação das respostas dadas pelo sujeito. Este modo aponta dados que podem se
referir à probabilidade de algum tipo de transtorno sintomático, caracterológico ou do
desenvolvimento e ainda, variações normais do funcionamento da personalidade. Tem como
objetivo sistematizar os dados e validá-los em relação ao comportamento observável. A
estratégia de interpretação em seqüência chama a atenção para a abordagem de todos os dados
do teste e determina um ponto de entrada na análise do protocolo (WEINER, 2000).
Os módulos do Sistema Compreensivo de Exner são os seguintes:
I. Processamento da Informação: como a pessoa dirige sua atenção ao mundo
II. -Mediação Cognitiva: como a pessoa pensa sobre o que percebe
III. Ideação: como a pessoa percebe os objetos de sua atenção
IV. Controle e Tolerância ao Estresse: associado aos recursos adaptativos, os quais as
pessoas dispõem para lidar com a demanda e gerenciamento do estresse.
V. Recursos Afetivos: como as pessoas lidam com situações emocionais e como

52
vivenciam e expressam os afetos.
VI. Autopercepção: como as pessoas se percebem
VII. Percepção Interpessoal: como as pessoas percebem os outros e se relacionam com
eles.
VIII. Estilo Vivencial: a oitava chave se refere a um estilo vivencial introversivo ou
extratensivo, que não tem necessariamente implicações psicopatológicas.

O tipo vivencial introversivo refere-se ao sujeito que prefere demorar ao tomar suas
decisões, ou solucionar problemas, procurando analisar as alternativas possíveis. Prefere
manter suas emoções à margem e tende a basear-se em sua avaliação interna, usando a lógica
e não perdem tempo com tentativas de ensaio e erro.
O tipo vivencial extratensivo mescla seus sentimentos com os pensamentos na
resolução de tarefas. Isto não significa que seu pensamento seja menos consistente ou menos
lógico que o introversivo, mas refere-se à pessoa que se expressa pelos canais da emoção e
que se dedica a tentativas de ensaio e erro, na tomada de decisão.

4.4.3 Modulação dos Afetos

O presente estudo se deteve ao Módulo para avaliação dos recursos afetivos e,


portanto, pretenderá fazer inferências sobre a Modulação do Afeto das crianças que
apresentam TDAH.
A Modulação do Afeto se refere à maneira e à tranqüilidade como a pessoa processa a
experiência emocional. Assim, implica no modo como as pessoas lidam com os sentimentos
que surgem em si mesmas, e como reagem aos sentimentos de outras pessoas e a situações
que envolvam uma descarga emocional. A capacidade de modular o afeto de modo eficiente,
agradável e com moderação são requisitos de uma boa adaptação psicológica. A análise da
modulação do afeto no Rorschach compreende os seguintes aspectos:

I. Modulação suficiente do afeto: consiste na capacidade de envolver-se em


situações de tom emocional e trocar sentimentos com os outros, de sentir-se à vontade
em situações em que um nível moderado de emoção está sendo eliciado ou expresso.
Podemos avaliá-la pelo valor de Afr (proporção afetiva) e da proporção WSUMC: SUM
C’ (soma ponderada das respostas de cor em relação a soma das respostas C’)
II. Modulação Prazerosa do Afeto: consiste em ser capaz de manter um tom

53
emocional positivo que contribui para a pessoa sentir-se bem e contente. Mede-se a
modulação prazerosa do afeto pela análise de SUM C’(somatória das respostas de cor
acromática), Cor-Sombreado, SUM Sombreado (somatória das respostas de sombreado)
e C’ (respostas de cor acromática). Verificamos a tonalidade afetiva prazerosa se as
respostas de cor cromática excedem às de sombreado ou cor acromática.
III. Modulação Moderada do afeto: consiste em manter um equilíbrio adaptativo entre
os canais de expressão emocionais ou ideacionais, entre padrões de descarga emocionais
reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis e mais intensos para
processar a experiência afetiva de maneira positiva. Verifica-se a modulação moderada
do afeto pela análise da proporção Forma-Cor (FC: CF+C) que deve estar adequada
para idade, não havendo respostas de Cor Projetada (CP).

Além desse agrupamento de variáveis citado, nossa análise das variáveis do Módulo
do Afeto seguiu os passos apontados por Sendin e Exner (1999)

Passo1: Índice de Depressão Positivo: o ponto inicial da análise do Afeto é a


verificação do Índice de Depressão.

Passo 2: O Tipo de Vivência “EB”: Indica os estilos introversivo ou extratensivo. Em


nosso caso, nos interessará o estilo extratensivo, pois nos indivíduos que o apresentam, as
emoções exercem um papel fundamental.

Passo 3: Experiência de base

“eb” FM+m : C’+T+V+Y

Decidimos incluir em nossa análise, a proporção de respostas que dizem respeito à


Experiência de Base do sujeito: eb (FM+m:C’+T+V+Y), a qual se refere a uma proporção
que compara os determinantes de movimento não humano e movimento inanimado (FM e m)
com os determinantes de sombreado: Cor Acromática (C’), Textura (T), Vista (V) e
Sombreado Difuso(Y). Estes são importantes para a análise do setor do Afeto e informam
sobre a pressão dos estímulos experimentada pelo indivíduo. Pela sua análise é possível
verificar a natureza das angústias e das pressões pelas quais a pessoa está passando e dizem
respeito a uma situação de sobrecarga emocional e a sua natureza.
54
Os dados do lado esquerdo de “eb” representam os disparadores de tensão interna do
tipo ideacional, que podem interferir nos processos de atenção e no curso do pensamento
deliberado. Indicam a atividade psicológica sobre a qual o indivíduo não tem controle.
Os dados do lado direito da proporção incluem todos os determinantes que aparecem
nos componentes referidos (ex. soma de T inclui FT, TF e T). Representam também estímulos
que atuam no interior do indivíduo provocando mal estar, mas do tipo emocional, o qual
supõe um aumento de afetos irritativos e perturbadores, indicando sofrimento e dor psíquica.
Espera-se que o lado direito de “eb” seja menor que o lado esquerdo. Caso isso não ocorra, o
grau de sofrimento da pessoa é bastante elevado. É necessário revisar a incidência de Forma
nestes determinantes (C’, T, V, Y) que indicará o menor ou maior controle sobre estes afetos
desconfortáveis, disparados em seu interior.
Desta forma poderemos ter informações sobre quais são os tipos de afeto que causam
desconforto aos sujeitos.

Passo 4 : FC: CF+C


Esta proporção é um importante indicador da capacidade de modulação dos afetos.
Analisamos se FC (respostas de Forma-cor ) se mostra em proporção maior ou menor que as
respostas CF+C ( respostas de cor-forma e cor pura) que indicam que as descargas afetivas
ocorrem sem que o sujeito tenha controle racional sobre elas. FC indica o melhor controle
sobre das emoções.

Passo 5: A Modulação Suficiente dos Afetos


Afr, WSUMC: SUMC’
Como citado acima, estas variáveis nos fornecem informações sobre a capacidade do
indivíduo em envolver-se em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros.

Passo 6: Análise de respostas mistas ou blends


Indicam a complexidade com que a pessoa processa os estímulos estabelecendo uma
atividade de análise e síntese dos estímulos da mancha.

Passo 7: Análise das respostas mistas de sombreado


São as respostas de claro e escuro, ou cor acromática misturadas à de outros determinantes.
Sua análise indicará a natureza do sofrimento psíquico pelo qual a pessoa passa.
55
Passo 8: A projeção da Cor: são as respostas em que o sujeito vê cor onde ela não
existe. Indicará sentimentos de mal estar que precisam ser disfarçados.

Passo 9: Respostas do Espaço em Branco: são aquelas em que o sujeito processa áreas
da mancha onde nada existe e indicam negativismo, tendência a autonomia e auto-afirmação.

Passo 10: Lambda e a abertuta a Experiência:


Determinamos este passo o da análise da variável Lambda, a qual verifica a abertura à
experiência que o sujeito apresenta e informa se foco da atenção é restrito ou amplo.

Passo 11: As Notas D e Adj D:

Ao lado das variáveis do módulo do Afeto, analisaremos os valores das Notas D e Adj
D, as quais fazem parte do Módulo do Controle e Tolerância ao Estresse. Fornece
informações sobre o estresse permanente ou situacional pelo qual a pessoa passa e se dispõe
de recursos para enfrentá-lo.
Passo 12: Análise das Constelações Positivas
Consideramos serem úteis ao nosso objetivo neste estudo, contribuindo com o
esclarecimento de possíveis comorbidades. As constelações se referem a agrupamentos de
dados que definem critérios semelhantes aos do DSM IV R (2003), indicam se a pessoa
apresenta algum transtorno caractereológico ou psiquiátrico. São elas:
I. Índice de Transtorno de Pensamento ou Percepção PTI > ou =3 : indica se o
sujeito apresenta índice de transtornos de pensamento e percepção.
II. Índice de Depressão DEPI: Se > 5 indicará a presença de traços de Depressão ou
Transtorno Afetivo
III. Índice de Déficit Relacional CDI: Se > 4 indicará a presença de dificuldades para
estabelecer e manter relacionamentos interpessoais satisfatórios
IV. Índice de Hipervigilãncia HVI: Positivo ou Negativo: indicará se a pessoa
apresenta–se em constante estado de alerta, sentindo-se ameaçado ou vulnerável,
mostrando cautela nas aproximações com os outros.
V. Índice de Estilo Obsessivo (OBS): Positivo ou Negativo. Indicará se o sujeito
apresenta traços obsessivos de personalidade.
VI. Índice de potencial para suicídio. S-CON (indicador de potencial para suicídio,

56
porém inválido para menores de 16 anos, portanto não considerado em nossa avaliação).

4.5 Procedimentos

Estabelecemos algumas etapas para que os dados coletados fossem descritos e


avaliados de modo a retratar as características do transtorno.

4.5.1 Seleção da Amostra

Para composição da amostra do grupo de estudo, inicialmente foi feita uma triagem
dos prontuários das crianças diagnosticadas com TDAH, pela avaliação neuropsicológica e
multidisciplinar, realizada no Ambulatório de TDAH do NANI (Núcleo de atendimento
Neuropsicológico Infantil da UNIFESP) com o objetivo de selecionar os participantes.
A avaliação neuropsicológica foi realizada a partir do preenchimento de escala para
pais e professores para levantamento de dados que pesquisam se a criança apresenta perfil
para TDAH. Após esta etapa aplicaram-se testes para averiguação dos sintomas cardinais do
TDAH como atenção, impulsividade e hiperatividade, e também das funções
neuropsicológicas envolvidas. São exemplos destes testes: WISC III estimado, CBCL,
Wisconsin, Figura de Rey e CPT. Desenhos para conhecer as características emocionais
também foram aplicados individualmente e em grupo, pedindo-se à criança que recontasse
uma história, reproduzindo-a graficamente. Além da avaliação neuropsicológica, as crianças
passaram em consulta com o neurologista e o psiquiatra para avaliação clínica. Após a
avaliação ser concluída, realizou-se uma reunião com os profissionais participantes para troca
de informações, discussão e fechamento do diagnóstico. Desta forma garantiu-se o seu rigor
tão necessário a este estudo para composição da amostra.
Os pais ou responsáveis das crianças diagnosticadas foram contatados no local ou por
telefone e convidados a participar do estudo. Tendo respondido o questionário sócio-
demográfico, seguimos com a aplicação do teste. Os pais foram informados sobre a pesquisa a
ser desenvolvida e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a
participação da criança.
A amostra do grupo controle requereu um contato inicial com a direção da escola para
esclarecimentos sobre a pesquisa, para sua composição. Após sua autorização, os professores,
de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, selecionaram alunos que não apresentavam transtorno
de aprendizagem, nem sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade e enviaram

57
pedidos de autorização aos pais, juntamente com um texto explicativo sobre a pesquisa, para a
participação de seus filhos. As crianças que compuseram a amostra foram aquelas que
trouxeram as autorizações de seus pais assinadas e apresentadas ao professor, que por sua vez
as passou para a pesquisadora.

4.5.2 Aplicação dos Instrumentos

Os pacientes foram avaliados no local da coleta de dados, em uma única sessão com
duração de aproximadamente uma hora e meia. O questionário sócio-demográfico foi
aplicado antes do Método de Rorschach, somente para os pais das crianças do grupo de
estudo.

4.5.3 Previsão de Análise

A avaliação dos dados coletados foi feita com base na metodologia quantitativa,
analisados e interpretados de acordo com os pressupostos do Rorschach para investigação do
Módulo de Afetividade contidos no Sistema Compreensivo de Exner. Além destas, as
variáveis Lambda, Nota D e Adj D (Nota D Ajustada), pertencentes ao Módulo de Controle e
Tolerância ao Estresse e as Constelações Positivas, também foram avaliadas e analisadas. Os
dados foram lançados no Programa RIAP V (Rorschach Interpretation Assesment Program, 5ª
edição) para produção dos protocolos, sua análise e interpretação.
Numa primeira etapa as respostas foram classificadas e avaliadas também por um
segundo juiz, além da pesquisadora, a fim de se estabelecer a concordância entre juizes como
garantia de redução de erro na classificação das respostas, pois sua análise e interpretação
corretas dependem dela. As duas classificações foram comparadas para se estabelecer a
fidedignidade dos dados obtidos. Porém, constatamos a falta de concordância entre os juizes,
após o tratamento estatístico dos dados, em alguns resultados importantes do módulo da
afetividade, necessários a compreensão dos traços de personalidade da criança com TDAH.
Desta forma, vimos a necessidade de incluirmos um terceiro juiz que revisou a classificação
das respostas dos testes aplicados, sendo esta terceira e última classificação a mantida e
utilizada neste estudo para computação dos dados. Todos os cálculos estatísticos foram
realizados com a orientação da professora de Estatística da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, Iara Pisanelli G. de Castro.
O tratamento estatístico aplicado à análise dos dados contou inicialmente com a

58
digitação e processamento dos dados no programa SPSS 13,3. Posteriormente foi realizada a
computação dos dados com a aplicação do Teste T para comparação de médias de Amostras
Dependentes e construídas Tabelas Simples para o apontamento das freqüências. Foi utilizado
também o Teste de Fisher para comparação de proporções para amostras independentes. Foi
usada a margem de erro de 0,05.
Os dados coletados no questionário sócio-demográfico foram usados para caracterizar
a população, em termos de idade, sexo e escolaridade.

4.6 Cuidados Éticos

Os devidos cuidados éticos foram seguidos de acordo com as determinações da


Resolução nº 196 de 10 de Outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde e com utilização
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Compromisso do Pesquisador.
O projeto: “Análise da Afetividade de Crianças com Transtorno de Déficit de Atenção
e Hiperativide pelo Método de Rorschach: Um enfoque Junguiano” foi submetido à
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e somente após o parecer favorável, o pesquisador iniciou a coleta de dados.
Consideramos que os procedimentos utilizados neste estudo não causaram riscos ou
danos às pessoas envolvidas. Não obstante, pretendemos contribuir para a compreensão da
afetividade das crianças diagnosticadas com TDAH.
Após a conclusão da pesquisa, os sujeitos tiveram uma devolutiva juntamente com
seus pais, em grupo, para uma explanação geral dos resultados e conclusões do estudo.Foi
proposto, ainda, à coordenação do Ambulatório de TDAH do Núcleo de Atendimento
Neuropsicológico infantil (NANI), um programa de atendimento aos pais, constando de
quatro sessões, após a devolutiva. Escolhemos esta estratégia a fim de orientarmos os pais em
relação às necessidades das crianças e promover uma melhor comunicação entre eles e seus
filhos.

59
5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados do presente estudo. Inicialmente serão descritos


os dados sociodemográficos, os quais caracterizam a população em termos de idade, sexo e
escolaridade. Posteriormente serão descritos e avaliados os dados do Módulo do Afeto e as
variáveis incluídas na análise da afetividade da criança com TDAH, pela aplicação do
Rorschach.

5.1 Idade

IDADE
GRUPO
Com Sem
transtorno transtorno Total
IDADE 6 anos Freqüência e % 1 1
5 3,3% 1,7%
7 anos 10 10
33,3% 16,7%
8 anos 8 22 30
26,7% 73,3% 50,0%
9 anos 6 8 14
20,0% 26,7% 23,3%
10 anos 5 5
16,7% 8,3%
Total 30 30 60
100,0% 100,0% 100,0%

Tabela 1. Distribuição da Amostra por idade.

A amostra foi composta por crianças de seis a dez anos de idade. O grupo com
transtorno teve 33% de crianças com faixa etária de sete anos, 26,7% com oito anos, 20% com
nove anos, 16,7% com dez anos e apenas 3,3% com seis anos. O grupo sem transtorno, ou
grupo controle, teve 73,3% de crianças com oito anos e 26,7% de crianças com nove anos.
Verifica-se pelo exposto que as crianças apresentavam em sua maioria, entre oito e nove anos
de idade.
Quando comparadas as médias das idades, os resultados da tabela abaixo mostram que
ambos os grupos se equiparam, apresentando valores semelhantes: a média de idade do grupo
com transtorno foi de 8,13 anos e a do grupo controle 8,27 anos de idade.

60
Idade
GRUPO N Média Desvio Erro t p
Padrão Padrão
Com 30 8,13 1,17 0,21 - 0,563
transtorno 0,584
Sem 30 8,27 0,45 0,08
transtorno

Tabela 2. Médias das idades dos participantes.

5.2 Sexo

Foram selecionados participantes tanto do sexo masculino como do feminino. A


composição do grupo com transtorno se caracterizou apresentando 93,3% de participantes do
sexo masculino, enquanto que o grupo sem transtorno, ou grupo controle, apresentou 13,3%.
No grupo com transtorno encontramos 6,7% de participantes do sexo feminino e no grupo
controle 86,7%.

SEXO GRUPO
Com Sem Total
transtorno transtorno

Masculino 93,3 13,3 53,3


Feminino 6,7 86,7 46,7
Total 100,0 100,0 100,0
N 30 30 60
Teste de Fisher: p<0,05

Tabela 3. Distribuição da amostra por sexo dos participantes.

5.3- Escolaridade

Participaram do estudo crianças de primeira à quarta série do ensino fundamental. A


tabela abaixo mostra a média dos anos de escolaridade dos dois grupos, sendo que o valor do
grupo com transtorno é 3,13 anos e o do grupo controle é 3,27 anos. Estes resultados apontam
para a homogeneidade dos grupos em termos de escolaridade.

61
Anos de Escolaridade
GRUPO N Média Desvio Erro t p
Padrão Padrão
Com 30 3,13 1,17 0,21 0,58 0,56
transtorno
Sem 30 3,27 0,45 0,08
transtorno

Tabela 4. Média dos anos de escolaridade dos participantes.

5.4- Análise dos traços afetivos

5.4.1- Passo 1: O índice de Depressão (DEPI)

A tabela ao lado indica a presença ou não de Depressão nos participantes da pesquisa.


Verificamos que 43,3% dos sujeitos do grupo com transtorno apresentou índice positivo para
depressão e 56,7% não apresentou. Já no grupo controle o índice se mostrou positivo em
23,3% dos casos e não apareceu em 76,7% dos casos. Notamos a maior tendência do grupo
com transtorno em apresentar o índice positivo para depressão.

GRUPO
Com Sem Total
DEPI transtorno transtorno

SIM 43,3 23,3 33,3


Não 56,7 76,7 66,7
Total 100 100 100
n 30 30 60

Teste de Fisher: p>0,05


Tabela 5. Índice de Depressão (DEPI) Positivo.

5.4.1.1 DEPI > ou < 5

Considerando-se que a pontuação cinco indica a presença de muitos dos traços


encontrados entre os indivíduos que têm depressão ou transtorno afetivo, relacionamos as
médias dos valores apresentados pelos participantes. No grupo com transtorno encontramos a

62
média 4,20 e no grupo controle 3,67. Estes resultados revelam que a organização psicológica
das crianças com TDAH as tornam mais vulneráveis a apresentar depressão ou sofrer
alterações nos estados de humor. Os dados estatísticos mostram uma diferença significativa
entre os grupos (p=0,03).

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
DEPI Com transtorno 30 4,20 0,85 0,15 2,24 0,03
Sem transtorno 30 3,67 0,99 0,18

Tabela 6. Médias do Índice de Depressão (DEPI) Positivo.

5.4.2- Passo 2: Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo e EBPER

Analisadas as médias das respostas M (Movimento Humano) em relação às médias das


respostas de cor (WSUMC), observamos que o grupo com transtorno apresenta média 1,57 de
respostas M para 3,32 de respostas de cor, o que caracteriza o Tipo de Vivência Extratensivo,
com uma proporção maior à do grupo controle que também se apresenta como extratensivo,
com os seguintes valores: média de 0,77 de respostas M para média de 3,20 de respostas de
cor. Os dados estatísticos não mostram diferenças significativas entre os dois grupos, porém
indicam a acentuada tendência do grupo com transtorno a responder e atender à experiência,
pelos canais emocionais, a mesclar os sentimentos com seus processos cognitivos, sendo o
contato com os demais e o processamento das emoções, prioritário. As emoções exercem uma
maior influência em toda sua atividade psicológica.

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
M Com 30 1,57 1,87 0,34 1,88 0,06
transtorno
Sem 30 0,77 1,38 0,25
transtorno
WSUMC Com 30 3,32 2,33 0,42 0,19 0,85
transtorno
Sem 30 3,20 2,45 0,45
transtorno

63
Tabela 7. Tipo de Vivência EB (Erlebnystipus) Extratensivo: M< WSUMC.

5.4.2.1 EB PER

Os resultados apresentados indicam quanto EB Extratensivo se mostra persistente no


tipo de vivência dos participantes, indicando a predominância deste estilo nas operações
psicológicas dos sujeitos. O grupo com transtorno apresentou EB PER positivo em 23,3% dos
participantes e negativo em 76,6%. No grupo sem transtorno ou grupo controle encontramos
EB PER positivo em 16,7% dos participantes e negativo em 83,3%. EB PER quando se
mostra positivo assinala certa rigidez no estilo básico de resposta o que pode prejudicar as
condutas adaptativas. No caso de EBPER Extratensivo, ocorre a preferência em lidar com a
experiência pelos canais afetivos, em detrimento da utilização dos canais ideacionais
adequados. Pelos resultados obtidos concluímos que o grupo com transtorno apresenta uma
tendência maior em apresentar essa característica.

EBPER GRUPO
Com Sem Total
transtorno transtorno
SIM 23,3 16,7 20,0
NÃO 76,7 83,3 80,0
Total 100,0 100,0 100,0
n 30 30 60
Tabela 8. EB PER Extratensivo.

5.4.3-Passo 3: Análise do lado direito de eb, a experiência de base ( FM+m:SH+C’)

As médias apresentadas pelo grupo com transtorno apontam que o lado direito de eb:
(SH+C’=4,07) é menor que o lado esquerdo (FM+m=4,30), o que significa que as crianças
com TDAH estão sujeitas à tensão do tipo ideacional que interfere em seus processos de
atenção e no curso de seu pensamento. Trata-se de uma atividade psicológica que não é
controlada deliberadamente. O grupo controle por sua vez, apresentou o lado direito de eb
(SH+C’=2,53) maior que o lado esquerdo (FM+m=1,67), indicando que o tipo de sofrimento
psíquico é de ordem emocional. Há diferenças significativas entre os dois grupos, de acordo
com os dados estatísticos. O grupo com transtorno apresenta uma média maior tanto de

64
FM+m quanto de SH+C’, quando comparado ao grupo controle.

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
FM+m Com 30 4,30 3,33 0,61 3,78 0,00
transtorno
Sem 30 1,67 1,86 0,34
transtorno
SH+C’ Com 30 4,07 2,20 0,40 3,16 0,03
transtorno
Sem 30 2,53 1,50 0,27
transtorno

Tabela 9 - Médias do lado direito de eb (Experiência de Base):

5.4.3.1. Análise de FM+m > ou < SH+C’

Os dados da tabela abaixo se referem à comparação da proporção de respostas do lado


direito e esquerdo de eb (experiência de base). Nosso objetivo foi verificar quanto as respostas
FM+m se mostraram em proporção maior ou menor em relação às respostas SH+C’. Notamos
que no grupo com transtorno o lado esquerdo, FM+m (disparadores de tensão interna de
ordem ideacional) se apresenta maior que o lado direito, SH+C’ (disparadores internos de
tensão de ordem emocional; tensão e sofrimento psíquico). O valor de FM+m > SH+C’ neste
grupo é de 46,7 % e no grupo controle é 30,0%.
A proporção de respostas FM+m < SH+C’ no grupo com transtorno é de 43,3% e no
grupo controle 50,0%. Portanto, no grupo controle a proporção de respostas SH (sombreado)
e C’ (cor acromática) é maior, indicando um sofrimento psíquico de ordem emocional. O
grupo com transtorno apresenta uma proporção de respostas FM (movimento animal) e m
(movimento inanimado) maior apontando para uma ideação intrusiva, pensamentos sobre os
quais não há controle deliberado gerando mal estar de origem ideacional, o que interfere em
seus processos de atenção e pensamento.

65
FM+m: SH+C’ GRUPO
Com Sem Total
transtorno transtorno

FM+m<SH+C’ 43,3 50,0 46,7


FM+m=SH+C’ 10,0 20,0 15,0
FM+m>SH+C’ 46,7 30,0 38,3
Total 100,0 100,0 100,0
n 30 30 60

Tabela 10. FM+m > ou < SH+C’

5.4.3.2 Análise das respostas FM (movimento animal) separadas de m (movimento


inanimado):

A tabela abaixo mostra as diferenças significativas entre os grupos quanto as respostas


FM (movimento animal) associadas a uma consciência perturbadora de necessidades que não
estão sendo satisfeitas. Elas aparecem numa média de 2,73 nos participantes do grupo com
transtorno e 1,20 no grupo controle e, portanto indicam que o grupo com transtorno está mais
suscetível a este tipo de afeto.

Grupo N Média Desvio Erro t p


Padrão Padrão
FM Com 30 2,73 1,70 0,31 3,786 0,000
transtorno
Sem 30 1,20 1,42 0,26
transtorno

Tabela 11. Respostas FM.

5.4.4- Passo 4: Análise de FC:CF+C e C pura

5.4.4.1. Análise de FC: CF+C

Os dados da tabela ao lado mostram as médias das respostas FC (Forma-Cor) em


relação às respostas CF+C (Cor-forma + C pura). Observamos que no grupo com transtorno a
média de respostas FC é maior em relação às CF+C. O valor de FC no grupo com transtorno é
2,20 e o de CF+C 1,97, indicando uma tendência a processar a emoção de forma

66
relativamente bem modulada e reservada, sendo que os afetos surgem e se dissipam
lentamente, sentidos de maneira profunda, com intensidade leve a moderada. No grupo
controle o valor de FC é 1,60 e o de CF+C 1,87. Portanto neste grupo FC é menor que CF+C
apontando para uma forma mais intensa de processar a emoção, onde os afetos aparecem e
desaparecem rapidamente. Porém, não há diferenças significativas entre os grupos.

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão

FC Com transtorno 30 2,20 1,19 0,22 1,67 0,10


Sem transtorno 30 1,60 1,57 0,29
CF+C Com transtorno 30 1,97 1,97 0,36 0,21 0,84
Sem transtorno 30 1,87 1,80 0,33
C Com transtorno 30 0,23 0,63 0,11 -2,41 0,02
Sem transtorno 30 0,80 1,13 0,21

Tabela 12. Análise das Médias FC: CF+C e C Pura

5.4.4.2. Análise de C Pura

Os dados da tabela acima mostram diferenças significativas entre os resultados das


respostas C Pura obtidos pelos dois grupos. A média destas respostas no grupo com transtorno
é 0,23 e no grupo controle 0,80. Observamos a maior tendência do grupo sem transtorno em
expressar mais intensamente suas emoções, apresentando maior dificuldade em modulá-las.

5.4.4.3. Análise da proporção FC > ou < CF+C.


FC:CF+C GRUPO
Com Sem Total
transtorno transtorno

FC<CF+C 36,7 36,7 36,7


FC=CF+C 13,3 33,3 23,3
FC>CF+C 50,0 30,0 40,0
Total 100,0 100,0 100,0
n 30 30 60
Teste de Fisher: p>0,05
Tabela 13. FC > ou < CF+C

67
Através destes dados pretendemos mostrar o quanto FC é > ou < que CF+C em ambos
os grupos. O valor de FC>CF+C para o grupo com transtorno é 50,0% e para o grupo controle
30,0%. O valor de FC<CF+C para o grupo com transtorno é 36,7%, o mesmo encontrado no
grupo sem transtorno. Assim, notamos que o grupo com transtorno apresenta FC>CF+C
quando comparado ao grupo controle, indicando capacidade de modular as descargas afetivas,
e que quando estes recursos falham, o tipo de reação se assemelha ao grupo controle, pois o
valor de FC<CF+C é igual (36,7%) em ambos os grupos. FC é igual a CF+C em 13,3% nos
participantes do grupo com transtorno e no grupo sem transtorno o valor é 33,3%.

5.4.4.4. A qualidade formal de FC

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
FC- Com 30 0,83 0,95 0,17
transtorno 1,00 0,32
Sem 30 0,60 0,86 0,16
transtorno
FCo Com 30 0,60 0,72 0,13
transtorno 1,11 0,27
Sem 30 0,40 0,67 0,12
transtorno
FCu Com 30 0,70 0,88 0,16
transtorno 1,28 0,21
Sem 30 0,43 0,73 0,13
transtorno
Tabela 14. A qualidade formal (FQ) de FC.

A tabela acima mostra a qualidade formal de FC que nos fornece informações sobre a
qualidade com que a capacidade de modular as descargas afetivas (FC) ocorre nos
participantes de ambos os grupos. Embora não ocorram diferenças significativas, é possível
observar algumas tendências: os participantes do grupo com transtorno apresentaram uma
média maior de respostas FC- (0,83), o que significa que estas respostas não são bem vistas
quanto a sua qualidade formal, indicando que os recursos de modulação não são adequados à
realidade, tendendo à fuga à fantasia. Estas crianças também apresentaram maior média (0.60)
de respostas FCo (ordinárias ) as quais são respostas comuns e que aparecem na maior parte
da população, e de respostas FC u (incomuns) indicando um modo muito particular de
perceber a realidade. A média destas respostas é 0,70.

68
5.4.5.Passo 5: A Proporção Afetiva (Afr)

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
AFR Com 30 0,68 0,31 0,06 -2,19 0,03
transtorno
Sem 30 0,85 0,28 0,05
transtorno
Tabela 15. Médias de Afr.

Os resultados acima mostram que o grupo sem transtorno apresentou maior


receptividade psicológica aos estímulos que provocam emoção. A média deste grupo é de
0,85, enquanto que a do grupo com transtorno é 0,68. Os dados estatísticos revelam que há
diferenças significativas entre os grupos. Quando comparado ao grupo controle, o grupo com
transtorno apresentou menos interesse em processar a estimulação emocional.

5.4.6. Passo 6: A projeção de Cor (CP)

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
CP Com 30 0,03 0,18 0,03 1,00 0,33
transtorno
Sem 30 0,00 0,00 0,00
transtorno
Tabela 16. Médias de Cor Projetada

Quando comparadas as médias de respostas de cor projetada (CP) dos dois grupos,
embora não ocorram diferenças significativas entre eles, verificamos que o grupo com
transtorno apresenta média com valor maior (0,03) em relação ao grupo sem transtorno.

69
CP cor projetada

GRUPO-
Com Sem
transtorno transtorno Total
CP 0 Freqüência 29 30 59
% 96,7% 100,0% 98,3%
1,0 1 1
3,3% 1,7%
Total 30 30 60
100,0% 100,0% 100,0%

Tabela 17. Porcentagem de Cor Projetada (CP).

Ao examinarmos a tabela das porcentagens das respostas CP, notamos que apenas
uma criança do grupo com transtorno apresentou esse tipo de resposta constituindo a
porcentagem de 3,3%. Esse tipo de resposta é bastante incomum na população em geral e
significa a negação de afetos dolorosos substituindo-os por prazerosos.

5.4.7 Passo 7: Respostas ao Espaço em Branco (S):

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
S Com 30 1,87 1,14 0,21 4,01 0,00
transtorno
Sem 30 0,83 0,83 0,15
transtorno
Tabela 18. Tabela das Médias de Respostas ao Espaço em Branco (S).

Ocorrem diferenças significativas entre os dois grupos no que se refere às respostas ao


Espaço em Branco (S). O grupo com transtorno apresentou média superior (1,87) ao grupo
sem transtorno (0,83). O grupo com transtorno apresentou tendência em processar áreas sem
mancha, o que significa busca de autonomia e auto-afirmação.

70
S Espaço em branco

GRUPO
Com Sem
transtorno transtorno Total
S ,0 Freqüência 1 12 13
% 3,3% 40,0% 21,7%
1,0 13 12 25
43,3% 40,0% 41,7%
2,0 9 5 14
30,0% 16,7% 23,3%
3,0 4 1 5
13,3% 3,3% 8,3%
4,0 2 2
6,7% 3,3%
5,0 1 1
3,3% 1,7%
Total 30 30 60
100,0% 100,0% 100,0%

Tabela 19. Porcentagem de (S).

Ao observarmos a tabela acima, notamos que 43,3% do grupo com transtorno


apresentou uma resposta ao espaço em branco (S), 30% apresentou duas, 13,3% três
respostas, 6,7% quatro, 3,3% cinco e 3,3% uma. No grupo sem transtorno notamos que 40%
dos participantes não apresentou nenhuma resposta ao espaço em branco. Outros 40% dos
participantes apresentou apenas uma resposta, enquanto que 16,7% apresentou duas respostas
e 3,3% apresentou três respostas.

5.4.8. Passo 8 : Respostas Mistas “blends”:

A tabela abaixo expõe os resultados das médias de respostas mistas “blends” e das
demais respostas presentes nos protocolos de ambos os grupos. Ocorrem diferenças
significativas entre os resultados apresentados. O grupo com transtorno apresentou média de
2,80 respostas mistas para média de 21,63 respostas em geral. O grupo sem transtorno
apresentou 1,10 resposta mista para média de 17,93 respostas em geral. Observamos no grupo
com transtorno uma produção maior de respostas nos protocolos, do que o grupo sem
transtorno. Verificamos que ocorrem assim, mais respostas mistas, indicando uma atividade
cognitiva mais complexa, produto de uma considerável atividade de análise e síntese dos
elementos do campo dos estímulos.

71
GRUPO N Média Desvio Erro t p
padrão Padrão
BLENDS Com 30 2,80 2,51 0,46 3,35 0,00
transtorno
Sem 30 1,10 1,18 0,22
transtorno

Respostas Com 30 21,63 6,87 1,25 2,63 0,01


transtorno
Sem 30 17,93 3,49 0,64
transtorno

Tabela 20. Blends: Respostas

5.4.9. Passo 9: Análise Qualitativa de blends (respostas mistas)

Participante Grupo de estudo n.blends Grupo Controle n.blends


1 FT.m // FY.m.CF// 2 FM.m// M. FY// FM.FC 3

2 FC.FM, // FM.FC// 2 0 0

3 FM.FD.C’F// FD.FM // FC’.m// FC.FY// FM.CF // m.FC 1


5

4 4- M.C’F. CF// FC’.FY// FM.CF// m.C’F.C// // FY.M// CF.C’F// 2


4
5 FC.FM// m.FC// FM.M// m.CF FC’.FC 2
4
6 0 0 FD.M/ /m.FD.FC// m.M.FY// 4
m.C’F

7 FM.CF 1 FM.FC 1

8 FM.FC//FC’.FC FC.m//CF.C’F 2
2
9 FM.CF 2 FC.FC’//FD.FC//FC.FY
3
10 0 0 0 0

11 FM.FC//m.CF 2 0 0

12 FT.FC 0 0
1
13 CF.m//FM.CF 0 0
2
14 0 0 FM.FV/ /m.FY// FM.FC
3
15 FM.CF 1 Y.C
1
16 - M.C’F // M.FC// C’.C// YF.m// 0 0
CF.M// FM.m.CF// CF.m// C.M
8

72
17 - FC.FC’ // CF.M CF.YF 1

2
Participante Grupo de Estudo n.blends Grupo sem transtorno n.blends
18 0 0 0 0
19 0 0 0 0

20 FY.FC//FY.FC//FM.CF.m 0 0

3
21 FC.FC’//FM.FD//FM.FC’// 0 0
FC’.FM//FM.FC
6
22 0 0
FC’.FC//FM.FC’//M.FD//m.YF 4
23 FC.FM FM.FY//C.m
2 2
24 CF.m//YF.m//m.M 0 0
3
25 - m.FD.FC’// FC’.FM// m.FY FY.FM
m.FC’// FC.m// FM.FC// FM.FC 7 1
26 - FV.FC’// FM.FY
2 FM.FY//FM.FC
2
27 F.m//FD.m//FD.FC’//FM.FC’//FC’.FD T.m.C
C’F.m // FM.FC 7 1
28 FY.m// C’F.CF// M.YF// m.CF.Y m.CF
4 1
29 FM.FY 2 M.CF
1
30 C’F.m// M.m// FD.C’F// M.m//m.C’F 0 9

FC.M.m //m.CF// FC.FY// FM.FC 9


Total=82 Total=33

m = 31 m = 10

Y=9 Y=6

C-SH=12 C-SH = 8

SH-SH = 2 SH-SH=0

Tabela 21. Análise Qualitativa de Blends.

O quadro mostra a forma como os determinantes mistos aparecem nas respostas dos
participantes e ao examiná-lo constatamos a maior freqüência destas respostas no grupo com
transtorno, indicando a sua complexidade psicológica que se expressa através de acentuada
atividade cognitiva, de análise e síntese do campo estimular, mesclando-se com suas emoções.
A análise de cada determinante nos oferecerá informações sobre as características de sua
afetividade:

73
a) O determinante movimento inanimado: m
Indica um tipo de atividade cognitiva não deliberada que implica certo sentimento de
perda de controle, que pode facilmente interromper o curso do pensamento deliberado do
sujeito. Sugere uma reação à situações de estresse que a pessoa experimenta num
determinado momento, que geram incômodo e mal estar e aumentam a sobrecarga interna,
dificultando tanto os processos de concentração como de relaxamento. Pela quantidade deste
tipo de determinantes apresentada pelos participantes do grupo com transtorno, podemos
concluir que as crianças com TDAH estão mais sujeitas à apresentarem esse tipo de reação
quando sentem-se exigidas pelas situações externas, ocorrendo um aumento de pensamentos
invasivos que promovem a perda de controle sobre seu comportamento.

b) O determinante de sombreado difuso: Y


Tanto m quanto Y se refere a situações de estresse pelas quais a pessoa está passando
num determinado momento e que geram mal estar. Y é a resposta emocional a essas situações,
o que significa que quando aparecem revelam um aumento de sofrimento psíquico,
inundando-se de emoções paralisantes, sentimentos de não saber o que fazer. Notamos no
quadro descritivo dos determinantes que “m” em geral aparece associado à “Y” (ou FY), o
que sugere a tendência das crianças com TDAH, diante de situações estressantes, reagirem
com aumento de tensão recebendo estímulos ideacionais (m), perdendo o controle sobre os
pensamentos e serem invadidas por intenso mal estar e sofrimento, inundando-se de emoções
paralisantes (Y). Porém é preciso observar que estes determinantes se referem a uma situação
específica que quando resolvida, o mal estar também se dissipa. Indicam um mal estar agudo.

c) Respostas mistas de cor-sombreado (Color-SH):


Os determinantes de cor apareceram associados tanto aos de sombreado Y e cor
acromática FC’. Estas são respostas bastante comuns em protocolos de deprimidos. Nosso
grupo com transtorno apresentou tais tendências, expressando estresse situacional, passageiro,
e também um tipo de estresse mais crônico (FC’), o que faz com que essas crianças
confundam suas emoções, experimentando sentimentos positivos e negativos frente a mesma
situação. São dominados por uma emocionalidade mais intensa, que custa a passar, além de
ambivalência afetiva, a qual supõe uma grande dificuldade em manter a coerência das reações
emocionais a diversos tipos de estimulação afetiva, o que pode afetar suas relações
interpessoais.

74
d) Respostas mistas de Sombreado+Sombreado (SH/SH):
Incluem mais de um determinante de Sombreado e Cor Acromático (C’). São
respostas muito incomuns e aparecem no grupo com transtorno, sugerindo a possibilidade das
crianças que apresentam o TDAH registrarem vivências emocionais extremamente dolorosas,
que podem produzir um impacto perturbador em todo funcionamento psicológico, pois a
presença desse tipo de resposta sempre assinala a existência de conflitos emocionais que
aumentam o sofrimento psíquico. Nos protocolos encontramos duas respostas desse tipo, uma
delas associada a Y, portanto refere-se ao estresse passageiro, e outra associada à FV (Forma-
Vista), que diz respeito à forma como a pessoa se vê, a processos de introspecção, à sua auto-
estima com autocrítica negativa.

5.4.10 Passo 10: Análise de SUMC’: WSUMC

Abaixo apresentamos os valores das médias de SUMC’ (soma das respostas de cor
acromática) e das médias de WSUMC (soma ponderada das respostas de cor cromática).
Verificamos pelos resultados que o grupo com transtorno apresentas média de SUMC’ (2,10)
superior a do grupo sem transtorno (0,93). Este resultado indica que quando comparado ao
grupo controle, o grupo com transtorno está mais suscetível a experimentar afetos dolorosos
internalizados, prejudicando sua adaptação. O tratamento estatístico dos dados aponta
diferenças significativas entre os dois grupos, quando analisamos esta variável. O mesmo não
ocorre com WSUMC: a média do grupo com transtorno é 3,32 e a do grupo sem transtorno ou
controle 3,07, não havendo diferenças significativas entre os dois grupos. A análise da
proporção de SUMC’: WSUMC mostra que em ambos os grupos SumC’ apresentou-se
menor em relação a WSUMC e o valor desta variável é >2, um resultado esperado, pois
indica que podem experimentar a estimulação afetiva de modo suficiente e prazeroso,
vivenciar e expressar emoções de modo adaptativo.

75
GRUPO N Média Desvio Erro t p
padrão Padrão
SUMC’ Com 30 2,10 1,69 0,31 3,37 0,00
transtorno
Sem 30 0,93 0,87 0,16
transtorno
WSUMC Com 30 3,32 2,33 0,42 0,19 0,85
transtorno
Sem 30 3,07 2,31 0,42
transtorno

Tabela 22. Médias de SUMC’ e de WSUMC.

SUMC’:WSUMC Grupo
Com Sem Total
transtorno transtorno

SUMC’>WSUMC 30,0 6,7 18,3


SUMC’=WSUMC 6,7 20,0 13,3
SUMC’<WSUMC 63,3 73,3 68,3
Total 100,0 100,0 100,0
N 30 30 60

Tabela 23. SUMC’ > ou <WSUMC

A tabela acima nos mostra quanto SUMC’ é > ou < WSUMC. No grupo com
transtorno SUMC’ aparece maior do que WSUMC em 30% dos participantes, enquanto que
no grupo controle a tendência em aparecer maior que WSUMC é de 6,7%.
SUMC’ é menor que WSUMC em 63,3% dos participantes do grupo com transtorno e em
73,3% dos participantes do grupo controle. SumC’ é igual a WSUMC em 6,7% dos
participantes do grupo com transtorno e em 20% dos participantes do grupo sem transtorno.

5.5. As constelações Positivas

5.5.1. Índice de Transtorno de Percepção e Pensamento (PTI): > ou = 3.

Este índice não é utilizado como fonte primária de diagnóstico, mas deve ser utilizado
como uma escala contínua, na qual valores mais altos são menos preferíveis, e seu principal

76
propósito é alertar sobre possibilidade de dificuldades nos processos de pensamento
(Exner,2003).
A tabela abaixo mostra que não ocorreram diferenças significativas entre os resultados
apresentados por ambos os grupos e que nenhum deles apresentou indícios de transtorno de
percepção ou pensamento.

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
PTI Com transtorno 30 1,70 1,32 0,24 1,47 0,15
Sem transtorno 30 1,23 1,14 0,21
Tabela 23. Índice de PTI.

5.5.2 Índice de Déficit Relacional (CDI): 4 ou +

Esta é uma medida das dificuldades que o índivíduo tem para enfrentar com eficiência
as demandas comuns de seu meio social, vulnerabilidade a situações de estresse e dificuldades
em estabelecer e manter relações interpessoais significativas e gratificantes. Pelos resultados
abaixo relacionados, verificamos que 43,3 % dos participantes do grupo com transtorno
apresentou CDI positivo, e 56,7% não apresentou. No grupo sem transtorno o índice foi
positivo em 33,3% e negativo em 66,7% dos participantes, o que indica que as crianças com
TDAH apresentam maiores dificuldades em se relacionar e enfrentar as demandas, estando
sujeitas a viver situações de maior estresse.

GRUPO
Com Sem Total
CDI transtorno transtorno

SIM 43,3 33,3 38,3


Não 56,7 66,7 61,7
Total 100 100 100
n 30 30 60
Tabela 24. Índice de CDI

77
5.5.3. Índice de Hipervigilância

Este é um índice que verifica um estilo paranóide, de preocupação excessiva em


relação ao meio ambiente. Os indivíduos sentem-se vulneráveis a contatos próximos e agem
de forma cautelosa em suas relações. Pelos resultados encontrados, este índice está presente
em 3,3% dos participantes do grupo com transtorno e ausente em 96,7%. O índice não está
presente em 100% dos participantes do grupo controle.

GRUPO
Com Sem Total
HVI transtorno transtorno

Sim 3,3 1,7


Não 96,7 100,0 98,3
Total 100 100 100
n 30 30 60
Tabela 25. Índice de Hipervigilância (HVI)

5.5.4. Índice de Estilo Obsessivo (OBS)

Este índice mede a existência de traços perfeccionistas, meticulosidade, cautela e


convencionalidade. A capacidade criativa é rebaixada pela preocupação em não falhar. O
índice OBS foi negativo em 100% dos participantes de ambos os grupos.

GRUPO
Com Sem Total
OBS transtorno transtorno

Não 100% 100% 100%


Tabela 26. Estilo Obsessivo.

78
5.6. As variáveis do Controle e Tolerância ao Estresse

5.6.1. Nota D (D) e Nota D Ajustada (Adj D):

Medem a adequação da capacidade de lidar com as demandas em relação ao nível de


exigências com o qual a pessoa se defronta. A nota D Ajustada é um indicador útil à
discriminação do estresse situacional, passageiro, do estresse persistente. Ambas avaliam os
recursos que a pessoa apresenta para enfrentar situações que exigem adaptação e controle
adequado de seu comportamento para superar as dificuldades de determinadas demandas
impostas em alguns momentos da vida. O valor esperado para a nota D e Adj D é = 0 ou que
sejam positivas.
Quando comparado ao grupo sem transtorno, o grupo com transtorno apresentou tanto
a nota D quanto Adj D negativas, o que implica na falha de recursos disponíveis para
controlar e tolerar o estresse. Mesmo que as situações geradoras de tensão se dissipem, a
criança com TDAH continuará a ter dificuldades para controlar o seu comportamento estando
sujeitas a uma sobrecarga de estresse persistente relacionada à dificuldades de mobilizar os
recursos suficientes para amenizar o mal estar subjetivamente sentido, indicando que a
estimulação interna sofrida é maior que seus recursos para enfrentá-la.
Os resultados apresentam diferenças significativas entre os dois grupos. A média da
Nota D do grupo com transtorno foi -1,20 e do grupo controle 0,07. A média de D Ajustada
do grupo com transtorno foi -0,57 e a do grupo controle foi 0,27.

Grupo N Média Desvio Erro t p


Padrão Padrão
D Com 30 -1,20 1,75 0,32 -3.652 0,001
transtorno
Sem 30 0,07 0,74 0,14
transtorno
ADJ_D Com 30 -0,57 1,07 0,20 -3,576 0,001
transtorno
Sem 30 0,27 0,69 0,13
transtorno
Tabela 27. Nota D e Nota D Ajustada (Adj D).

79
5.7. Lambda “L” e a abertura a experiência

Os resultados abaixo se referem ao modo como a pessoa aborda a experiência e como


dirige sua atenção ao ambiente e o percebe. Verificamos que o grupo com transtorno, em
comparação ao grupo sem transtorno ou controle, apresenta abertura suficiente à experiência,
focando sua atenção de modo amplo, abarcando os dados significativos do campo estimular,
processando suas emoções e dando complexidade às suas percepções. O grupo controle
apresentou um foco de atenção muito restrito, com tendência a simplificar demais suas
percepções. A média de Lambda no grupo com transtorno foi 0,98, dentro do intervalo
esperado para todas as idades (0,30 a 0,99). A média do grupo controle foi 2,00 ( >0,99),
indicando falta de abertura adequada á experiência.

GRUPO N Média Desvio Erro t p


padrão Padrão
"L" Com transtorno 30 0,98 0,50 0,09 -2,73 0,01
Sem transtorno 30 2,00 1,98 0,36
Tabela 28. Lambda “L”.

80
6 DISCUSSÃO

Nosso estudo teve como foco a afetividade das crianças com TDAH. Houve uma
distribuição equilibrada da amostra em termos de idade e escolaridade. Quanto ao sexo dos
participantes não foi possível uma homogeneização dos grupos devido a algumas
contingências da coleta de dados. O TDAH tem uma prevalência maior no sexo masculino,
conforme vimos em nossa revisão de literatura, e, portanto tivemos muito mais meninos
diagnosticados do que meninas. Esperar por elas demandaria muito mais tempo para a
conclusão do nosso estudo, que precisou cumprir um cronograma para otimizar a avaliação
dos resultados. Por outro lado, para compor a amostra de nosso grupo controle na escola,
contamos com a seleção inicial dos professores, de alunos que não apresentavam os sintomas
cardinais do TDAH e cujos pais autorizassem a participação na pesquisa. E assim, as meninas
apareceram em maior quantidade que os meninos.
Decidimos manter a coleta de dados com os grupos, mesmo com tais características,
pois entendemos que seria possível fazer algumas inferências sobre as características afetivas
e emocionais da criança com TDAH, pela aplicação de nosso instrumento, o Método de
Rorschach de acordo com o Sistema Compreensivo de Exner.
Através da análise das Variáveis do Módulo do Afeto no Rorschach observamos as
tendências afetivas das crianças com TDAH, quanto a Modulação Suficiente do Afeto, a
Modulação Prazerosa do Afeto e a Modulação Moderada do Afeto, entendendo como
modulação do afeto, a maneira e a tranqüilidade que a pessoa processa a experiência
emocional, como lida com os seus sentimentos e como reage aos sentimentos das outras
pessoas e a situações que envolvam carga emocional.
Quanto a Modulação Suficiente do Afeto, que consiste na capacidade de envolver-se
em situações emocionais e trocar sentimentos com os outros, sentindo-se à vontade,
observamos diferenças significativas entre as crianças com TDAH e as que não o apresentam.
A criança com TDAH apresenta-se mais tímida ou contida, demonstrando um menor interesse
em envolver-se em situações emocionais, quando comparada à criança sem o transtorno. Esta
capacidade de modular o afeto suficientemente é refletida no Rorschach pelo Quociente
Afetivo (Afr) adequado e WSUMC (soma ponderada das respostas de cor) = ou > que o
número de respostas acromáticas (SUMC’). O valor da média de (Afr) das crianças com
TDAH é 0,68 e encontra-se adequado (o valor esperado é 0,69 para adultos não pacientes),
refletindo boa capacidade de envolvimento com situações carregadas de emoção. Porém,
como o valor da média de (Afr) do grupo sem transtorno foi 0,85, quando comparados os

81
grupos, este último parece demonstrar maior envolvimento.
A criança com TDAH apresenta capacidade adequada para vivenciar e expressar
afetos de maneira adaptativa (WSUMC > 2,5). Ela se deixa estimular e responde à
estimulação emocional. Porém, está mais suscetível a ser invadida por afetos dolorosos e
desagradáveis, associados a sentimentos de melancolia, tristeza e disforia, que interferem em
seu prazer, podendo internalizar tais afetos ao invés de expressá-los. Desta forma, a
Modulação Prazerosa do Afeto desta criança apresenta particularidades que a difere das
demais pelo seu nível de sofrimento interno, apontado em nossa revisão de literatura por
Benczik (2005). Tal característica foi refletida pela média de SUMC’=2,10, muito superior a
do grupo controle, que teve média = 0,93. Além disso, a análise dos blends, ou respostas
mistas, apontou para um número considerável de respostas de Cor-Sombreado e Sombreado-
Sombreado e refletem o quanto se sentem confusas e inseguras em relação aos seus
sentimentos, em geral atribuindo às pessoas e às situações, características positivas (cor) e
negativas (o sombreado) simultaneamente. Como conseqüência apresentam dificuldades em
discriminar os seus sentimentos atribuindo características negativas até mesmo ao que é
prazeroso ou positivo, com dificuldades de se sentirem felizes e satisfeitas. Na avaliação das
Constelações Positivas vimos que a criança com TDAH apresenta Índice de Depressão
(DEPI) positivo, indicando maior suscetibilidade a tornarem-se deprimidas. Ao incluírem
respostas de Sombredo-Sombreado revelam sentimentos de paralisia frente a situações de
estresse (Y). Em nossa análise dos blends (respostas mistas) este determinante esteve
associado a “m” (movimento inanimado), apontando para uma reação às situações estressoras,
porém com sentimento de perda de controle, afetando o curso dos pensamentos deliberados.
Ocorre assim, uma atividade ideativa, não deliberada, que gera mal estar.
Complementam estas informações o exame de “eb”, a experiência de base do sujeito.
Constatamos o aumento de FM+m, o lado esquerdo da proporção FM+m: SUMC’, havendo
diferenças significativas entre os resultados encontrados nos grupos com transtorno e sem
transtorno. Tanto FM como m representam aspectos importantes da atividade ideativa, que
interferem no curso dos pensamentos deliberados e podem acentuar a sobrecarga interna pela
qual a pessoa possa estar experimentando.Analisando as respostas FM separadamente vimos
que se mostram elevadas, em relação ao grupo sem transtorno, apresentando também
diferenças significativas entre os resultados encontrados. Elas se relacionam a um mal estar
experimentado referente a uma consciência de estados de necessidades não atendidas, que
provocam um aumento de tensão e da ideação, interferindo nos processos de atenção e
concentração.

82
Concluímos através da avaliação destas variáveis que a criança com TDAH está sob
forte tensão interna, gerando acentuada atividade mental provocada pela demanda, que podem
ser vivências de estresse ou sentimento de necessidades não atendidas, ou ambas, revelando a
sua extrema sensibilidade às situações externas. Estes fatores parecem ser a fonte de mal estar
(ideacional), ocasionando a perda do controle sobre seus pensamentos, sofrendo interferências
em seus processos atencionais. Estas informações obtidas pelo Rorschach são de enorme
contribuição à compreensão das características da criança que apresenta o transtorno, pois a
dificuldade em sustentar a atenção, selecionando alguns estímulos em detrimento de outros,
como apontamos em nossa revisão de literatura, constitui um de seus principais sintomas. Tais
achados poderiam sugerir a possibilidade do “déficit” de atenção ser conseqüência e não
causa, ou que ao avaliarmos os déficits de atenção, deveríamos incluir a avaliação dos fatores
emocionais e assim temos nesta altura de nossa discussão a importância dos fatores
biopsicossociais a serem considerados em seu conjunto ao elaborarmos um processo
diagnóstico, planejando o tratamento a fim de conseguirmos melhores prognósticos.
As variáveis que nos ajudam a compreender as situações de estresse são a nota D e D
Ajustada (Adj D). Ambas as notas se mostraram negativas, conforme nossa descrição dos
resultados, inadequadas a um bom ajuste adaptativo. A sua análise revelou que a criança com
TDAH está sob estresse permanente e que a estimulação interna é superior aos recursos que
dispões para tolerar e controlar o estresse, o que pode levá-la a condutas impulsivas, geradas
pelas dificuldades de adaptação. Observamos assim, outra fonte de informação importante
obtida pelo Rorschach acerca da impulsividade apresentada pela criança com TDAH, um de
seus sintomas cardinais. A nota D negativa (média -1,20) como apresentou o grupo com
transtorno, sugere que as crianças apresentam dificuldades de adaptação e a probabilidade de
que se sintam ansiosas, tensas e irritáveis, estando estas reações associadas à baixa tolerância
à frustração, gerando uma tendência á impulsividade. Mais adiante faremos uma diferenciação
deste tipo de impulsividade relacionada ao controle e tolerância ao estresse, da capacidade
emocional expansiva e orientação para a ação associada à proporção FC: CF+C, sobre a
Modulação Moderada do Afeto. A Nota D negativa identifica uma suscetibilidade a perdas de
controle episódicas, indesejáveis e desagradáveis.
As respostas ao Espaço em Branco também fazem parte da análise da Modulação
Prazerosa do Afeto. Os resultados obtidos mostraram diferenças significativas entre os dois
grupos, apresentando-se elevados (1,87) quando comparados aos resultados do grupo sem
transtorno (0,83). Esta situação mostra que a criança com TDAH apresenta maior tendência
em buscar sua autonomia e auto-afirmação. Caso esta tendência se acentue ocorrerá a

83
probabilidade do desenvolvimento de condutas de oposição. Mais uma vez o Rorschach
mostra o seu valor diagnóstico, pois poderá contribuir para a avaliação de algumas
comorbidades no TDAH, além da Depressão, neste caso do Transtorno Opositor, pelo exame
das respostas ao Espaço em Branco, principalmente.
A Modulação Moderada do Afeto se refere a capacidade de manter um equilíbrio
adaptativo entre os canais de expressão emocionais e ideacionais, entre padrões de descarga
emocional reservados e expansivos, e entre níveis de esforço razoáveis para processar a
experiência afetiva de maneira positiva (WEINER, 2000). Nos referimos a capacidade de
modulação do afeto como a possibilidade de vivenciar e expressar os sentimentos sem se
tornar excessivamente emocionais.
Estas capacidades são verificadas pelo Estilo de Vivência Extratensivo e EBPER
Extratensivo. Os resultados obtidos pela aplicação do Rorschach mostram que tanto o grupo
com transtorno, assim como o grupo controle, apresenta Estilo de Vivência Extratensivo. O
grupo com transtorno apresenta uma média maior de WSUMC (3,32) em comparação ao
grupo controle (3,20), o que caracteriza a maior proporção de respostas de cor sobre as
respostas de movimento, indicando um estilo emocional de ser. As emoções exercem uma
maior influência em toda a sua atividade psicológica. Os extratensivos são mais hábeis nos
intercâmbios e descargas emocionais e menos preocupados em modular ou conter suas
experiências afetivas, tendendo a usar seus intercâmbios como fonte principal de gratificação.
O contato com os outros e o processamento da emoção é prioritário (EXNER, 1999).
A criança com TDAH, no entanto, apresenta uma tendência mais acentuada em
persistir no estilo extratensivo, priorizando os processos emocionais em detrimento dos
ideacionais. O EB PER Extratensivo se mostrou positivo em 23,3% das crianças com TDAH
e em 16,7% das crianças sem o transtorno. Assim, as crianças que apresentam o transtorno
tendem a ser altamente expressivas e orientadas para ação e raramente refletem sobre suas
decisões. Em geral resolvem seus problemas por estratégias de ensaio-erro, em lugar de
refletir e conceitualizar. A boa adaptação requer em algumas vezes o planejamento ponderado
além do afeto reativo e segundo Exner, o tipo vivencial excessivamente emocional dos
extratensivos persistentes freqüentemente compromete a eficiência de suas soluções de
problemas, a qualidade de suas decisões e a adequação de seu ajustamento.
As descrições acima apontadas por Exner (1999), como características de
personalidade decorrentes de um Estilo de Vivência quando EB se mostra persistentemente
extratensivo, parecem se assemelhar ao que nos fala Barkley (2002) sobre as características
das crianças que apresentam o transtorno, com relação à sua dificuldade de modulação dos

84
afetos, de estabelecer intervalos de tempo, de separar emoções de informações, o que por sua
vez compromete a capacidade de planejamento e das funções executivas, envolvidas nas
soluções de tarefas. Logo, o EB PER Extratensivo mostra que há uma tendência à atuação no
meio, a hiperatividade, mais um sintoma cardinal do TDAH.
Resta-nos ainda comentar sobre a Modulação Moderada do Afeto, as proporções FC:
CF+C e CP (Cor projetada).
A proporção FC: CF+C (Forma-cor:cor- forma + cor pura) é muito importante na
compreensão da modulação dos afetos, pois trata do equilíbrio entre vivenciá-los e expressá-
los. FC refere-se a um processamento da emoção relativamente bem modulado e reservado. Já
as respostas CF e C estão associadas a um processamento relativamente espontâneo e não
modulado da emoção, às vezes superficiais e muito intensas enquanto duram. Os resultados
desta proporção foram salientados no estudo de Graeff e Vaz (2006), como essenciais na
compreensão da modulação do Afeto, sendo FC > CF+C a sua condição essencial, pois ao
contrário, FC< CF+C apontaria a falha dos controles. Em nosso estudo, o grupo com
transtorno apresentou FC> CF+C, indicando que a criança com TDAH é capaz de ter controle
racional sobre suas emoções, portanto equilibrando suas vivências e as descargas afetivas.
Surpreendentemente este resultado contrariou o que já foi apontado sobre a capacidade da
modulação dos afetos nas crianças com TDAH. Assim, pensamos ser necessário o exame
mais detalhado das respostas FC (Forma-Cor) para verificarmos a qualidade com que as
crianças estabeleceram este tipo de controle. Assim, incluímos a análise da qualidade formal
dessas respostas (FQ) que indica se a resposta respeita a qualidade formal da mancha, o que
constitui uma adequação aos dados da realidade. Verificamos através de nossos resultados que
houve a maior freqüência de respostas FC-(0,83%), portanto de qualidade formal inadequada,
o que mostra que mesmo estabelecendo o controle sobre as descargas afetivas, a criança com
TDAH o faz de forma inadequada à realidade, tendendo à fuga à fantasia. No que se refere às
respostas de Cor Projetada (CP), estas não foram encontradas como tendência das crianças,
tanto no grupo com transtorno, como no grupo controle.
Constatamos pela aplicação do Rorschach, que a criança com TDAH apresenta uma
afetividade complexa, pois se mescla com uma atividade cognitiva intensa, que se esforça nos
processos de análise e síntese, tentando abarcar as várias características do campo estimular,
haja vista a grande freqüência de respostas mistas apresentadas. Esta criança é extremamente
sensível ao que acontece ao seu redor, volta-se para o contato com o ambiente e com os
demais, sendo a vivência e expressão emocional, experiências prioritárias. Conscientes de
suas necessidades não atendidas experimentam estresse permanente, faltando-lhes os recursos

85
adequados para tolerar e manejá-lo. São invadidas por pensamentos intrusivos e por
sentimentos dolorosos, desagradáveis, que não permitem sentirem-se alegres e satisfeitas,
apresentando maior suscetibilidade a episódios depressivos e a desenvolver inabilidade social,
como vimos no índice de CDI (Índice de Déficit Relacional) positivo, ao examinarmos as
Constelações Positivas. Buscam autonomia e auto-afirmação.

6.1 O “Complexo” TDAH

Refletir sobre as características emocionais das crianças com TDAH nos leva a pensar
sobre padrões de reações emocionais, associados às primeiras vivências emocionais,
aprendizagens que ocorrem nas primeiras relações do bebê com sua mãe e dada a intensidade
com que ocorrem, se referem a etapas muito precoces do desenvolvimento emocional. Esta é
a fase em que a capacidade da modulação dos afetos começa a se desenvolver, pois está
relacionada à sintonia existente entre a mãe e o bebê, nesta etapa inicial de seu
desenvolvimento.
O modelo psiconeurobiológico descrito por Shore (1994), mencionado em nossa
revisão e literatura, fala da importância dessas experiências, especialmente as carregadas de
emoção, pois induzem e organizam os padrões de funcionamento, crescimento e expansão das
capacidades funcionais do desenvolvimento individual. A modulação do afeto é um processo
que ocorre na relação interpessoal, em que os estados emocionais internos de um serão
monitorados pelo outro, ocorrendo um aumento do estado positivo de ambos. Este fator
importante também nos é apontado por Gorodscy (2006).
Ao examinarmos as considerações de Shore (1994) podemos estabelecer algumas
relações entre os seus pressupostos, com os pressupostos de Barkley (2002), que nos mostra o
quanto a noção de tempo está prejudicada na criança com TDAH, por sua dificuldade de
modulação dos afetos e controle inibitório, pois ela não consegue este intervalo de tempo
necessário para esperar, estabelecer um discurso interno, para depois responder às situações,
orientando-se no presente, passado e futuro. Um outro ponto relevante a ser observado é que
as áreas cerebrais ativadas nessa aprendizagem das relações de apego são as mesmas
envolvidas na determinação dos sintomas do TDAH. Shore (1994), observa que em
indivíduos que apresentam um apego seguro, o córtex orbitofrontal direito atua com
mecanismos que recobrem eficientemente a regulação não só dos afetos positivos, mas de
estados emocionais como a raiva, angústia, medo, terror, em termos de duração, freqüência e
intensidade.

86
Os resultados encontrados no Rorschach apontam para um estilo de personalidade que
expressa essa intensidade emocional, a extratensão, principalmente quando é persistente, com
dificuldades nos controles inibitórios, mas que essencialmente estão relacionadas à
capacidade de tolerância e controle do estresse. O controle das descargas afetivas quando
acontece, se dá de forma inadequada. Poderíamos então supor que tais dificuldades de
modulação são uma expressão de um padrão de resposta emocional apreendido, por
interferências ocorridas na díade mãe bebê, onde o intervalo de tempo necessário para que a
expressão das necessidades de um fosse atendida pelo outro não ocorreu. É preciso lembrar
que todo bebê provoca respostas também em sua mãe, é o que nos mostra a
Intersubjetividade, e que a maioria das crianças que apresenta o transtorno foi um bebê muito
agitado. Logo, a agitação e hiperatividade, o símbolo do TDAH, como nos fala Barkley
(2002), está implícito nesta relação, promovendo uma tonalidade afetiva típica ao ambiente no
qual mãe e bebê estão inseridos.
A experiência emocional conseqüente deste vínculo sincrônico, onde toda a
organização psicossomática da mãe se relaciona com a organização psicossomática do bebê, é
impressa no sistema de memória imagética, visceral, não verbal, chamada memória implícita,
do hemisfério direito. Desta forma, as emoções são reguladas e são reguladoras favorecendo o
amadurecimento de um sistema atuante no hemisfério direito, cujo cenário necessário são as
interações de afeto associadas ao apego seguro.
Retomando as idéias de Knox (1999), verificamos que a memória implícita será de
fundamental importância no desenvolvimento emocional, pois cabe a este sistema registrar a
tonalidade afetiva que emerge neste processo de aprendizagem, em que as relações, ou o que é
experienciado na realidade externa, oferece o substrato, o material, para que o mundo interno
se constitua. Esse “tom” afetivo oferece a matriz ou significado para todas as representações
associadas a ele e se torna o padrão inconsciente que influenciará o funcionamento
psicológico ao longo da vida, formando um núcleo ao redor do qual circulam pensamentos,
idéias, emoções correspondentes. A esse conjunto de idéias, emoções, sentimentos e
pensamentos dotados de uma carga afetiva, Jung chamou de Complexos.
A partir desses pressupostos da teoria junguiana, podemos fazer algumas inferências
sobre as representações mentais da criança com TDAH, como seu mundo interno vai sendo
constituído a partir da internalização das experiências afetivas vividas nessa etapa do
desenvolvimento e que constituirão um padrão típico de respostas, um Complexo, que atrairá
pensamentos, idéias e emoções com uma tonalidade semelhante àquelas armazenadas na
memória implícita, a qual não é possível de ser recordada por vontade consciente, mas cada

87
vez que uma situação de tonalidade afetiva semelhante ocorrer, esse padrão de resposta
apreendido, será evocado, de modo inconsciente. Assim, entendemos as reações emocionais
das crianças com TDAH e suas características de personalidade também como um Complexo,
um padrão típico de respostas a determinadas situações carregadas de emoção, resultante das
experiências iniciais do desenvolvimento.
De acordo com a teoria junguiana, esta etapa inicial de desenvolvimento é marcada
pelas vivências do Arquétipo Materno, a matriz de todas as experiências que se referem aos
cuidados maternos, ativada pela relação mãe-bebê ou do bebê com seu cuidador. As reações
emocionais características das crianças com TDAH, decorrentes desta aprendizagem e
armazenadas na memória implícita, constituiriam um Complexo Materno, pois a tonalidade
afetiva registrada diz respeito a acontecimentos desta relação.
Os conceitos de memória implícita e complexos esclarecem sobre a importância das
primeiras relações do bebê com sua mãe ou cuidador e as emoções associadas a esta
experiência, pois se tornarão marcantes na estruturação da personalidade, funcionando como
um filtro através do qual a realidade externa será interpretada, além de estabelecerem um
padrão para relacionamentos futuros. Logo, os complexos determinarão a percepção do
mundo externo, a partir da tonalidade afetiva armazenada na memória implícita, resultante das
relações com as figuras principais de apego, na tenra infância. A tendência à agitação,
hiperatividade e impulsividade, além de serem conseqüências de um fator neurológico que as
determinam, também constituem um padrão de resposta emocional, um complexo materno,
fruto das experiências internalizadas nessa etapa do desenvolvimento, como anteriormente
mencionado. Entender as características da criança com TDAH desta forma permite-nos
enfocá-las do ponto de vista biopsicosocial. Acreditamos também que pela aplicação do
Rorschach e análise de seus resultados pudemos abordar os aspectos neurológicos,
emocionais e sócio-ambientais que caracterizam o comportamento da criança que apresenta o
transtorno, atingindo assim, o nosso objetivo neste estudo.

88
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa intenção com este estudo foi a de oferecer alguma contribuição à compreensão
das características afetivas e emocionais das crianças com TDAH, o qual é bastante estudado
na atualidade. Nos empenhamos em abordá-lo focando os fatores biológicos, psicológicos e
sociais.
Constatamos a carência de estudos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção
realizados com o Método de Rorschach que pudessem nos auxiliar em nossa fundamentação
teórica e os estudos com Rorschach infantil se baseiam nos textos clássicos sobre o assunto,
apontando assim, a necessidade de pesquisa neste campo. Ainda que não seja um teste para
avaliação do TDAH, este instrumento de importante valor diagnóstico nos foi de muita ajuda
à compreensão do funcionamento psicológico das crianças, principalmente no esclarecimento
das comorbidades do Transtorno, como a Depressão e o Índice de Déficit Relacional (CDI),
pela análise das Constelações Positivas. Portanto, sua inclusão ao diagnóstico multidisciplinar
pode ser útil, acrescentando informações que permitem o esclarecimento sobre os sentimentos
e emoções das crianças.
Nos deparamos, na realização de nosso estudo, com questões metodológicas para
composição das amostras, as quais tememos que comprometessem nossa avaliação, pois se
referiram ao sexo dos participantes da pesquisa. Como observado, o grupo com transtorno foi
composto basicamente de meninos, enquanto que o grupo controle, de meninas. Esta foi uma
contingência da coleta, como já foi mencionado, pelo fato do transtorno ser tipicamente
masculino e nos mostra a associação das queixas de hiperatividade, desatenção e
impulsividade ao gênero, pois os professores ao selecionarem alunos que não apresentassem
os sintomas, apontaram as meninas em maior número. Mantivemos os grupos com esta
composição, pois igualá-los quanto ao sexo demandaria um tempo muito maior para
conclusão da pesquisa e acreditamos que nosso instrumento poderia ainda assim, oferecer
dados relevantes sobre o funcionamento das crianças que apresentam o transtorno. Este fato
nos leva também a pensar que os sintomas cardinais do transtorno estão associados às queixas
de mau comportamento, sendo os meninos inquietos mais sujeitos à atribuição de um
“diagnóstico” e bom comportamento pode passar a ser um critério de avaliação de bom
ajustamento e ausência de dificuldades. As meninas, por apresentarem menos queixas de
inquietação podem ser menosprezadas em suas necessidades.
Nossa experiência no contato com as crianças com TDAH, nos fez refletir sobre a
importância do diagnóstico multidisciplinar e do enfoque biopsicosocial, pois nos auxilia no

89
detalhamento de suas idiossincrasias, respeitando suas individualidades. É preciso cuidar para
que não se criem rótulos e se diagnostique em excesso. Nossa condição social atual e nosso
momento histórico são marcados pela aceleração do tempo, onde os resultados em curto prazo
são priorizados, e a tolerância à frustração é baixa. As informações circulam em segundos de
um extremo ao outro, no planeta. A tecnologia avança, oferecendo possibilidades inúmeras de
comunicação. O tempo de espera deve ser abreviado ao máximo, pois se deve fazer mais no
menor tempo possível. Temos que atender a uma quantidade enorme de estímulos, para
processar tantas informações. A célebre pergunta da criança com TDAH “Vai demorar?”, é
uma condição da atualidade, portanto daqueles que não apresentam o transtorno. Assim,
dificuldades no controle inibitório e atenção seletiva são também próprias da atualidade, que
prioriza o urgente à custa do importante e a ação imediata à custa da reflexão, o acessório, à
custa do essencial. Intervalos de tempo necessários para produção de respostas adequadas às
necessidades individuais, que sejam adaptativas, ficam prejudicados mediante tal aceleração.
A criança que apresenta o TDAH pode estar sob este aspecto, mais “adaptada” a esta
condição, em sua forma de atender tal demanda, por ser mais rápida, mais criativa, afetiva,
tentar estratégias de ensaio-erro. Vai errar mais, porém realizará mais. Pelo exposto,
verificamos que diagnosticar se mostra um processo que deve ser feito com muita seriedade e
respeito, considerando o momento social no qual estamos inseridos.
Foi um pré-conceito da pesquisadora, a idéia de que não conseguiria chegar na
aplicação da prancha V (metade do teste) do Rorschach, pensando na agitação, desatenção e
impulsividade que teriam que ser enfrentadas na coleta dos dados. No entanto, apesar de seus
sintomas, elas se mostraram participativas e colaboradoras. Mais uma vez há que se cuidar
com os rótulos e os preconceitos reduzindo crianças a seus sintomas. As crianças com TDAH
requerem de nós novas formas de abordagem, apontando para a nossa falta de criatividade.
Deixar que se expresse em sua agitação, direcionando-a, auxiliando-a para que atinja
objetivos a curto prazo, como é próprio de nosso momento social atual, como dito acima,
talvez diminua seu sofrimento psíquico apontado em nossos resultados, sofrimento este, fruto
da percepção de sua inadequação aos moldes pré-determinados e pré-concebidos, que não
atendem às suas necessidades de realização. Talvez o nosso papel seja oferecer um modelo
“continente” onde intervalos de tempo sejam respeitados para que se crie um campo,
permeado pela linguagem do afeto, para que essas crianças possam voltar-se um pouco mais
para si e nem tanto para o externo, a fim de que construam uma auto-imagem mais positiva e
confiante.

90
8 REFERÊNCIAS

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94
APÊNDICE A – TEXTO DE ESCLARECIMENTO SOBRE PESQUISA

Esta pesquisa tem como objetivo analisar as características emocionais de crianças


com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, através da aplicação do Método de
Rorschach, também conhecido como o Teste das Manchas.
É nosso propósito colaborar para a compreensão de sua vida emocional dessas,
pesquisando como elas lidam com situações que envolvem a emoção, como lidam com elas e
de que forma expressam seus afetos.
É nosso propósito colaborar para a compreensão de sua vida emocional dessas, pesquisando
como elas lidam com situações que envolvem a emoção, como lidam com elas e de que forma
expressam seus afetos.

95
APÊNDICE B - TERMO DE APRESENTAÇÃO PARA ESCOLA

TÍTULO DO ESTUDO: ANÁLISE DA AFETIVIDADE DE CRIANÇAS COM


TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE-TDAH

O presente estudo destina-se a analisar a afetividade de crianças com um transtorno


muito estudado na atualidade chamado “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”,
que tem como sintomas principais: falta de atenção, agitação e impulsividade. Para tal
necessitamos também pesquisar as características emocionais das crianças que não o
apresentam. Assim, estamos convidando seu filho para participar do estudo, mediante a
aplicação do Método de Rorschach ( ou Teste das manchas ) em horário de aula.
Caso você autorize a participação de seu filho, envie esta folha devidamente
preenchida e assinada.

Nome do Pesquisado: ______________________________________________________

Nome do responsável_______________________________________________________
Data:
Assinatura: _______________________________________________________________

96
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO:

Nome:

Idade:

Sexo:

Data de Nascimento:

Escolaridade:

Há quanto tempo apresenta os sintomas de TDAH?

Data do diagnóstico de TDAH:

97
APÊNDICE D – VALORES DAS MÉDIAS DAS VARIÁVEIS DO AFETO (1° JUÍZ)

Com transtorno Sem transtorno Total


GRUPO Desvio Desvio Desvio
Média N Média N Média N
Padrão Padrão Padrão
EBPer - Juiz 1 2,4 30 2,7 2,54 30 2,7 2,4 60 2,7
FM+m - Juiz 1 4,0 30 3,0 1,6 30 1,8 2,8 60 2,8
/SOMBR Juiz 1 4,3 30 2,3 2,5 30 1,4 3,4 60 2,1
FC – Juiz 1 1,9 30 1,3 1,3 30 1,6 1,6 60 1,5
C+CF - Juiz 1 2,3 30 2,0 2,0 30 1,8 2,1 60 1,9
Pure C - Juiz 1 0,3 30 0,8 0,7 30 1,0 0,5 60 0,9
SumC - Juiz 1 2,1 30 1,7 1,1 30 1,0 1,6 60 1,5
WSumC – Juiz
1 3,5 30 2,2 2,9 30 2,1 3,2 60 2,2
Afr – Juiz 1 0,6 30 0,3 0,8 30 0,2 0,7 60 0,3
S - Juiz 1 1,8 30 1,1 0,8 30 0,8 1,3 60 1,1
Blends:R - Juiz
2,6 30 2,4 1,0 30 1,1 1,8 60 2,0
1
CP – Juiz 1 0,0 30 0,1 0,0 30 0,0 0,0 60 0,1
DEPI - Juiz 1 1,5 30 0,5 1,7 30 0,4 1,6 60 0,4
SCZI - Juiz 1 1,7 30 0,4 1,7 30 0,4 1,7 60 0,4
CDI - Juiz 1 1,5 30 0,5 1,6 30 0,4 1,6 60 0,4
HVI - Juiz 1 2,7 30 4,2 2,0 29 0,0 2,3 59 3,0
EB/M - Juiz 1 1,0 30 1,1 0,7 30 1,3 0,9 60 1,2
EB/C - Juiz 1 3,4 30 2,3 3,0 30 2,2 3,2 60 2,3

98
APÊNDICE E – VALORES DAS MÉDIAS DAS VARIÁVEIS DO AFETO (2° JUÍZ)

Com transtorno Sem transtorno Total


GRUPO Desvio Desvio Desvio
Média N Média N Média N
Padrão Padrão Padrão
EBPer - Juiz 2 1,5 30 2,3 2,1 30 2,8 1,8 60 2,5
FM+m - Juiz 2 4,2 30 3,3 1,7 30 1,9 2,9 60 2,9
SOMBR - Juiz
2 3,9 30 2,4 2,3 30 1,4 3,1 60 2,1
FC – Juiz 2 2,1 30 1,5 1,3 30 1,5 1,7 60 1,5
C+CF - Juiz 2 2,0 30 1,9 1,8 30 1,9 1,9 60 1,9
Pure C - Juiz 2 0,2 30 0,6 0,7 30 1,1 0,5 60 0,9
SumC - Juiz 2 2,1 30 1,7 1,0 30 0,9 1,5 60 1,5
WSumC - Juiz 2 3,1 30 2,1 2,8 30 2,3 3,0 60 2,2
Afr – Juiz 2 0,6 30 0,3 0,8 29 0,2 0,7 59 0,3
S - Juiz 2 1,9 30 1,1 0,7 30 0,8 1,3 60 1,1
Blends:R - Juiz
2 2,9 30 2,7 1,1 30 1,2 2,0 60 2,2
Respostas - Juiz
2 21,6 30 6,8 17,6 30 3,5 19,6 60 5,7
CP – Juiz 2 0,0 30 0,1 0,0 30 0,0 0,0 60 0,1
DEPI - Juiz 2 1,7 30 0,4 1,8 30 0,4 1,7 60 0,4
SCZI - Juiz 2 1,6 30 0,4 1,8 29 0,3 1,7 59 0,4
CDI - Juiz 2 1,5 30 0,5 1,6 30 0,4 1,6 60 0,4
HVI - Juiz 2 1,9 30 0,1 1,9 30 0,1 1,9 60 0,1
EB/M - Juiz 2 1,4 30 1,5 0,7 30 1,3 1,0 60 1,4
EB/C - Juiz 2 3,0 30 2,2 2,8 30 2,3 2,9 60 2,2

99
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE SÃO PAULO


COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

TÍTULO DO ESTUDO: “Análise da Afetividade em crianças com Transtorno de Déficit de


Atenção e Hiperatividade”.

Declaro que os objetivos e detalhes desse estudo foram-me completamente explicados,


conforme seu texto descritivo. Entendo que não sou obrigado a participar do estudo e que
posso descontinuar minha participação, a qualquer momento, sem ser em nada prejudicado.
Meu nome não será utilizado nos documentos pertencentes a este estudo e a confidencialidade
dos meus registros será garantida. Desse modo, concordo em participar do estudo e cooperar
com o pesquisador.

NOME DO PESQUISADO: _________________________________________________

NOME DO RESPONSÁVEL_________________________________________________

DATA:

ASSINATURA:

NOME DO PESQUISADOR: ________________________________________________


ASSINATURA____________________________________________________________

100
ANEXO B - SOBRE O MÉTODO DE RORSCHACH

Serão aplicadas as 10 (dez) pranchas que constituem o teste das manchas de tinta para
avaliação do índice de Afetividade, de acordo com o Sistema Compreensivo de Exner.

101

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