6. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
GLOSSÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À ELABORAÇÃO E A GESTÃO DE PROJETOS
Fonte: http://profzehistoria.blogspot.com.br/2010/04/as-origens-da-globalizacao.html.
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nos anos 1990 ações políticas e intelectuais ocuparam-se do conceito de exclusão. O fenômeno
da exclusão não deverá ser considerado individual e sim resultado de um processo social. Entre as
causas, destacamos o crescimento desordenado e desigual do processo de urbanização; a falência
das instituições de ensino; as mudanças territoriais pela mobilidade profissional e o processo de
desenraizamento associado; as desigualdades de renda; as dificuldades de acesso aos serviços;
e a ausência da garantia de direitos (WANDERLEY, 2004).
Observa-se, portanto, uma ausência ou ineficácia das ações políticas governamentais diante dos
inúmeros problemas sociais. Esses problemas são acumulados, e assistimos a uma convivência
(nada pacífica) de grupos sociais com alto poder aquisitivo com grupos excluídos e marginalizados
do mercado de trabalho e da sociedade (WANDERLEY, 2004).
No entanto, pobreza e exclusão não podem ser tomadas como sinônimos, apesar da estreita
relação entre elas. Wanderley (2004), utilizando-se de teóricos franceses, apresenta alguns conceitos
importantes para essa diferenciação. Entre esses conceitos, encontramos:
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• A desqualificação social: processo relacionado a fracassos e sucessos da integração,
desenvolvido por Serge Paugam, que iremos desenvolver mais adiante. A desqualificação
social é o inverso da integração social e está diretamente relacionada com a inserção no
mercado produtivo.
• A desinserção social: conceito desenvolvido por Vincent De Gaujelac e Isabel Leonetti, que
pode ser identificado como inverso à integração. São sujeitos que permanecem “fora da
norma”, como não tendo valor ou “utilidade social”. A desinserção é um fenômeno identitário,
articulando elementos objetivos e subjetivos, ou seja, a partir da impossibilidade produtiva
(elemento objetivo), o sujeito é marcado por um lugar de “inutilidade social”, que atribui a ele
uma identidade (elemento subjetivo).
• A desafiliação, desenvolvido por Robert Castel, é a ruptura de pertencimento, de vínculo societal.
Consideramos assim as populações com insuficiência de recursos materiais e também aquelas
fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional.
A exclusão é uma forma de relação social estabelecida com determinados grupos que interferem
nas formas de pertencimento, integração e valor.
Fonte: http://fazendooque.blogspot.com.
br/2011/05/mafalda-x-maradona.html.
Segundo Wanderley (2004), a pobreza nos dias atuais é considerada um fenômeno complexo e com
amplas dimensões, envolvendo aspectos culturais, sociais, históricos, econômicos e psicológicos.
Além dos grupos sociais classicamente excluídos (indigentes, subnutridos, analfabetos), outros
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contingentes populacionais encontram intensas dificuldades para a inserção no mercado de trabalho.
Portanto, não se trata só da ausência de renda, mas das formas de inserção social, da garantia de
direitos aos serviços públicos e da ausência de poder de diversos segmentos sociais.
Ainda no panorama da lógica produtiva e da exclusão social, utilizaremos outros conceitos. Nas
sociedades contemporâneas, encontramos a prevalência de dois imaginários – o da excelência e o
da inutilidade, como desenvolve Robert Castel apud Carreteiro (2004). No primeiro, destaca-se “a ideia
de triunfo, de excelência, de qualidade total”, associado ao imaginário da perfeição e da superação
de si próprio. Encontramos essa exigência social no mercado de trabalho e no ambiente escolar –
“para existir, é necessário brilhar e ser o melhor de todos”. No outro, temos os “extranumerários” ou
“inúteis no mundo”, para os quais as formas de sociabilidade são pautadas na instabilidade. Estão
fora de zonas de inclusão social e vivem a ausência do sentimento de pertencimento.
Portanto, teremos o “indivíduo por falta” e o “indivíduo por excesso”. No segundo caso, observamos o
processo de desfiliação social, e nele os sujeitos estão mais susceptíveis ao sofrimento e à invisibilidade.
Nesse grupo, temos os integrantes de categorias que vivem as injustiças sociais, a desvalorização,
a humilhação e a vergonha. Os seus códigos sociais e culturais são despidos de valor, existindo
uma desqualificação das experiências vividas. Essas invalidações acontecem em cenas públicas,
provocando um silenciamento dos afetos, de que participam as instituições e os sujeitos individuais
e grupais, processo que Carreteiro (2004) denomina lógica da invisibilidade do sofrimento.
Fonte: http://elmeme.me/Sol/17-muestras-de-que-mafalda-sigue-vigente-y-puede-analizar-perfectamente-la-realidad-actual_24711.
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Esses sujeitos, diante da desvalorização, humilhação e desqualificação, estão mais susceptíveis
a uma doença perigosa das sociedades humanas, o desenraizamento:
Segundo a autora, essa doença provocaria dois tipos de comportamentos – uma inércia da
alma quase equivalente à morte ou atitudes e métodos violentos que acentuam o desenraizamento.
Podemos encontrar, de um lado, um estado de estupor inerte e, de outro, uma atitude de guerra para
com a sociedade. Portanto, deparamo-nos com uma doença em estado de mutação – acentuada
duplamente pelo desenraizamento provocado pela pós-modernidade e pelos valores individuais
em detrimento dos valores coletivos.
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FIGURA 4 – Dominação
Dominação
econômica
Dominação
política
Dominação
cultural
Portanto, na elaboração e na gestão de projetos sociais, devemos estar atentos aos riscos
de impedir o empoderamento e a participação coletiva desses grupos. Isso porque não podemos
repetir modelos de ações sociais que mantêm a estigmatização da pobreza e um funcionamento
pela lógica da transformação dos direitos em ajuda e em favores.
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FIGURA 5 - Comunidade
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Outro aspecto importante a ser considerado na construção dos projetos sociais diz respeito ao
espaço territorial no qual se dão essas relações – as comunidades.
Portanto, envolver a compreensão do território ocupado pelos grupos sociais implica considerar
os aspectos psicológicos e psicossociais do sujeito. “Assim, entendê-lo é compreender o contexto
em que está inserido, considerando que o comportamento humano desenvolve-se e se expressa
em contextos culturais” (GOMES, OLIVEIRA e SOUZA, 2007) e relações específicas com o espaço
vivido e o espaço cultural.
O conceito de desqualificação social foi desenvolvido por Serge Paugam, sociólogo francês,
ao analisar os efeitos nos sujeitos que viviam o desemprego e um progressivo afastamento dos
vínculos sociais (PAUGAM, 2004).
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entre seus membros. É na esfera da situação de desemprego que encontramos o processo de
desqualificação social e de dependência dos serviços sociais (PAUGAM, 2004).
Fonte: http://www.tribunahoje.com/blog/1629/a-palavra-em-palavras/2011/12/08/tem-certeza-de-que-papai-noel-nao-existe.html.
Assim, não pode ser definida a partir de critérios quantitativos, mas sim de relações sociais,
que podem ser definidas por cinco elementos fundamentais, segundo Paugam (2004):
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realidade. Resumindo, mantém esse grupo integrado à engrenagem social, mas cristalizado
em um lugar de inferioridade.
• Resistência: trata-se de indivíduos que conservam os meios de resistência ao descrédito,
resistindo coletiva ou individualmente à desaprovação social, tentando resgatar ou preservar
sua legitimidade cultural e sua inclusão no grupo. Esse terceiro elemento é importante para
o planejamento de intervenções sociais, porque irá considerar a força de resistência desses
grupos para ações transformadoras da realidade.
• Modos de resistência ao estigma: esse elemento refere-se às possibilidades de resistência e
transformação da condição contínua de isolamento e estigmatização social que sofrem as
pessoas que estão excluídas da vida produtiva. Essas possibilidades variam de acordo com
o grau de aprofundamento no processo de desqualificação social. Segundo o autor, quando
maior o processo de isolamento e afastamento social, mais difíceis são as possibilidades de
ruptura com essa condição. Isso também implica dizer que os vinculados a programas de
assistência não configuram um grupo homogêneo. Portanto, é importante distinguir essa
população a partir da relação que é estabelecida com as ações assistenciais. Paugam (2004,
p. 70) apresenta três diferentes grupos: os indivíduos que possuem relações frágeis com
a assistência social são caracterizados por uma relação pontual, vinculada à necessidade
provisória desses serviços; um segundo grupo, que apresenta uma relação regular ou contratual,
é o dos assistidos e caracteriza-se pela constância do vínculo aos serviços assistenciais; e
o terceiro grupo, o dos marginais, é caracterizado por uma relação infra-assistencial ou por
uma ausência desses vínculos.
• Condições sócio-históricas: esse último elemento está associado às características da pobreza
nos tempos atuais, discutidas anteriormente (WANDERLEY, 2004), que impulsionam uma
procura crescente aos recursos da assistência:
o nível de desenvolvimento econômico vinculado à precarização do trabalho; a
fragilidade dos vínculos sociais e familiares; inadaptação ou ausência de ações do
Estado para assegurar à maioria um elevado nível de vida (PAUGAM, 2004, p. 71).
Tal realidade é semelhante à situação brasileira. Mas vale lembrar a experiência significativa
de projetos voltados para a economia solidária e o incentivo para criação de cooperativas, que
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buscam oferecer organização para atividades paralelas ao emprego formal. Esse exemplo poderá
ser um diferencial na tentativa de solidificar espaços solidários e possibilitar a inserção em
um modo produtivo diferente da relação empregado/empregador. Da mesma forma, poderá ter
um efeito de inserção social e participação coletiva, contrapondo-se ao isolamento social e ao
enfraquecimento dos laços de sociabilidade. Isso confirma a importância dos projetos sociais
na transformação da realidade.
A fragilidade dos vínculos sociais pode levar a uma fase de dependência dos serviços sociais
como uma forma de compensação da precariedade profissional durável, da diminuição de renda
e da degradação das condições de vida. Essa fase de dependência é seguida pela ruptura dos
vínculos sociais. E, nessa última fase, os indivíduos rompem com as malhas de proteção social e
vivem situações de crescente marginalidade social, “onde a miséria é sinônimo de dessocialização”
(PAUGAM, 2004, p.76).
Essa fase é bem conhecida em nossa realidade brasileira. Caracteriza-se pelo afastamento do
mercado de trabalho, problemas de saúde, falta de moradia, perda de contatos com a família etc.
“Sem esperanças de encontrar uma saída, os indivíduos sentem-se inúteis para a coletividade e
procuram o álcool como meio de compensação de sua infelicidade” (PAUGAM, 2004, p. 76).
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No entanto, essa última fase do processo de desqualificação poderá também atingir jovens,
sem passar pela dependência dos serviços sociais. Isso ocorre em função da ausência de relações
estáveis com a família. Diante das dificuldades em se inserir na vida profissional, a ausência de
apoio familiar constitui uma privação de uma das formas mais elementares de solidariedade.
Segundo Santos (2008), a conquista de direitos sociais nas relações de trabalho, na segurança
social, na saúde, na educação e na habitação culmina no estabelecimento da cidadania social.
Esta só poderá ser estabelecida a partir das condições de igualdade, pela legitimação dos direitos
e deveres que constituem a vida cotidiana. O autor ressalta também que a cidadania é um produto
histórico-social protagonizado por diferentes movimentos.
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Nesse cenário, observamos um retrocesso das políticas sociais por meio dos cortes nos
programas; privatização capitalista de certos setores estatais da saúde, da habitação, da educação,
dos transportes e da previdência social; transferência de serviços e prestações para o setor privado
de solidariedade social mediante convênios com o Estado; mobilização da família e das redes
sociais para o desempenho de funções de segurança social até agora desempenhadas pelo Estado.
A difusão social da produção e o isolamento político das classes trabalhadoras têm sido
acompanhados por uma constelação ideológica em que se misturam o renascimento do mercado e da
subjetividade como articuladores da prática social. Nesse contexto, assistimos a uma revalorização
da subjetividade em detrimento da cidadania:
Fonte: http://sociedadesemprisoes.blogspot.com.br/2011/12/mafalda-televisao-3.html.
Mas, apesar desse panorama pessimista, Sousa Santos (2008) argumenta sobre algumas
possibilidades emancipatórias e de resgate da cidadania – a ideia da participação e da solidariedade
como expressão de um desejo coletivo é a única susceptível de construir uma nova cultura política.
A politização do espaço social e cultural é um caminho efetivo para o exercício da cidadania.
Tornam-se imprescindíveis, nos tempos atuais, novas formas de cidadania. Faz-se necessária a
construção de espaços de convivências, contrapondo-se a ações individualistas. Essas novas formas
de convivência coletiva, ao contrário dos direitos gerais e abstratos, devem incentivar a autonomia e
combater a dependência burocrática, legitimar as competências interpessoais e coletivas. Na atual
realidade social, as novas formas de exclusão social tornam-se ocultas ou banalizadas pela produção
midiática (SANTOS, 2008). Como exemplos, podemos citar aquelas baseadas no sexo e as discussões
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sobre violência doméstica ou desigualdade social no mercado de trabalho; a perda da qualidade
de vida e a discussão banal sobre o modo de viver nas grandes cidades do país; a banalização do
consumo, com as ilusões vendidas pelas grandes indústrias de marketing e propaganda. Enfim,
como fundamenta o autor, o tratamento midiático dado às desigualdades sociais ora ocultam ou
legitimam, ora complementam e aprofundam os processos de exclusão social.
Subsíntese Excesso
A nova teoria da emancipação, aspecto útil para o nosso trabalho, baseia-se em uma nova
concepção democrática, inspirada nos movimentos sociais dos anos 1960, porque tenta combater
os excessos de regulação da modernidade por meio de uma nova equação entre subjetividade,
cidadania e emancipação.
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Propõe-se, portanto, um novo senso comum político, que implique o fortalecimento das relações
horizontais entre os cidadãos, ainda que permaneça a obrigação política vertical do Estado. Nessa
concepção, o Estado tem um enfraquecimento do poder e das ações controladoras, por meio da
descentralização. Portanto, esse novo senso comum político resgata as relações comunitárias,
retomando a sua potência transformadora e solidária, igualitária e autônoma (SANTOS, 2008).
Fonte: http://www.todohistorietas.com.ar/mafalda87.JPG.
SAIBA MAIS
Leia o artigo a seguir, que apresenta relações entre educação, cidadania e emancipação.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302007000200016
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UNIDADE 2
ESTRATÉGIAS E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS
Convém ressaltar que “as prioridades contempladas pelas políticas públicas são formuladas
pelo Estado, mas nascem das lutas pelos direitos de grupos organizados na sociedade civil”
(CARVALHO, 2001, p. 14). A partir das pressões e reivindicações de movimentos sociais, as demandas
e necessidades tornam-se prioridade efetiva quando ingressam na agenda estatal.
Assim, como desenvolvemos em capítulo anterior, o cenário atual impõe novos modos de
gestão da política social, a saber: as demandas políticas e econômicas mundiais, as exigências
de uma sociedade mais complexa, os constantes déficits públicos, a renovação tecnológica e da
informação, a precarização das relações de trabalho, o desemprego, a expansão da pobreza e o
aumento das desigualdades sociais (CARVALHO, 2001; PAUGAM, 2004).
Uma mudança histórica foi observada no final do século passado e início desse século – até os
anos 1970, os países desenvolvidos serviam como modelo para os em desenvolvimento na construção
e elaboração de políticas sociais que garantissem a conquista do bem-estar, porque configuravam
um Estado social capaz de gerar emprego e políticas sociais eficazes, que proporcionavam maior
equidade e garantia dos direitos sociais a todos os cidadãos. Mas, a partir da década de 1980, a
proposta universalista e redistributivista dessas políticas sucumbiu, diante das mudanças e crises
desse período (CARVALHO, 2001).
O cenário turbulento atual – a devastação das fronteiras com a globalização; o êxito mundial de
um modelo econômico capitalista neoliberal; o insignificante crescimento econômico nos países
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chamados “emergentes” ou “periféricos”; a hegemonia da especulação financeira e do poder
econômico sobre outros poderes sociais – gera mudanças nos valores socioculturais e aumenta
o grau de instabilidade das relações entre os indivíduos e nas organizações e, ainda, nos modelos
de governança e governabilidade que conhecemos (CARVALHO, 2001).
Fonte: http://noticias.uol.com.br/humor/2008_album.htm#fotoNav=6.
Segundo Carvalho (2001, p. 15), “os processos da globalização vêm alterando os padrões na
oferta de bens e serviços. Introduzem nova interdependência, que fragiliza o conhecido modelo
institucional do Estado-nação [...]”. Essa nova configuração movimenta-se em duas direções:
externa, pela associação de grandes grupos econômicos; e interna, pela transformação nas relações
sociais e de poder, descentralizada e fortalecida. Essa nova movimentação tem efeito nas formas
de governabilidade, nomeadas como governo global e governo local.
No campo social, tais relações ganham o oxigênio do chamado terceiro setor [...],
representado pela enorme expansão das organizações da sociedade civil e de
fundações empresarias sem fins lucrativos, que se movem em redes mundializadas, em
estreita intimidade com organizações supranacionais, especialmente as organizações
das Nações Unidas (CARVALHO, 2001, p. 16).
[...] articula uma heterogeneidade de organizações voluntárias sem fins lucrativos, que
inclui desde associações comunitárias e micro locais de entreajuda até organizações
articuladas em redes globais, atuantes no plano dos direitos humanos, na defesa das
minorias, na defesa do meio ambiente, no desenvolvimento local, entre outras. Tais
organizações expressam características multifacetadas e particularistas, próprias
da sociedade contemporânea (CARVALHO, 2001, p. 16).
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Portanto, em um cenário mundial competitivo e turbulento, o terceiro setor surge como uma nova
possibilidade de articulação de potencialidades, como uma “voz” representante das diferenças e
desigualdades sociais. Considerando essas potencialidades do terceiro setor, podemos vislumbrar
alguns objetivos e metas, a partir das ações desempenhadas por esses atores sociais e institucionais,
sendo fundamentais algumas premissas na sua composição (CARVALHO, 2001):
• O direito social como fundamento da política social, rompendo com práticas clientelistas e
priorizando ações emancipatórias no fortalecimento das potencialidades dos cidadãos usuários
dos programas, não somente em suas vulnerabilidades.
• Um novo equilíbrio entre políticas universalistas e focalistas, ou seja, deverá responder às
demandas das minorias ou às questões dos problemas sociais de maior amplitude.
• A transparência nas decisões, na ação pública, na negociação, na participação.
• A avaliação contínua de políticas e programas sociais, voltadas para medir a eficiência no
gasto e a eficácia e efetividade nos resultados.
Otimizar recursos, melhor controlar e avaliar resultados, ter clareza de compromissos
e responsabilidades para avançar na efetividade de nossos resultados não tem um fim
em si, mas é fruto das exigências trazidas pelo compromisso ético, subjacente a toda
e qualquer ação que se queira transformadora no campo social (CURY, 2001, p. 37).
Por processo lógico, compreendemos a necessidade de “que seus conteúdos e passos sejam
precisos, sistemáticos, em um encadeamento racional de seus elementos e de suas ações”
(CURY, 2001, p. 38). Por processo comunicativo, entende-se que o documento deve ser o resultado
de uma construção conjunta, envolvendo todas as partes atuantes no projeto para o alcance e
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escolha de objetivos, estratégias e resultados comuns. É importante que o projeto informe sobre
a importância e a necessidade de sua implementação e da competência da instituição envolvida
sobre sua eficácia e eficiência no alcance dos objetivos propostos. A cooperação e a articulação
fundamentam-se na obrigatoriedade de um trabalho conjunto, desenvolvendo a capacidade
do diálogo, do convencimento e da negociação. É fundamental a busca de novas parcerias e a
integração com as redes sociais existentes.
Dimensões do Cooperativo
Lógico Comunicativo
projeto social e articulado
Devemos considerar também que o processo de elaboração de um projeto social envolve uma
dimensão pedagógica, porque implica um importante aprendizado social. Espera-se que o processo
de construção e implementação de forma conjunta desenvolva algumas potencialidades, como
descrever, analisar e sintetizar os fatos e informações observados na realidade. O desenvolvimento
dessas habilidades poderá facilitar a comunicação e convencer sobre a importância das ações a
ser desenvolvidas pelas equipes ou comunidade; as habilidades que poderão ser utilizadas em
diferentes atuações e realidades sociais; e, principalmente, um aprendizado social que possibilite
o reconhecimento e a aceitação da alteridade nos trabalhos em grupo (CURY, 2001).
Segundo Cury (2001), as etapas que envolvem a elaboração de um projeto social são: o
planejamento, a implementação e a avaliação. Iremos discutir mais detalhadamente o primeiro e o
terceiro – planejamento e avaliação. As etapas da implementação serão discutidas posteriormente.
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2.3. Políticas sociais e racionalidade
A função da racionalidade para as Políticas, Programas e Projetos Sociais é favorecer uma
análise reflexiva sobre as ações e sua aplicabilidade em diferentes contextos sociais. Cohen e
Franco (2008) procuram estabelecer uma diferença entre a política econômica e a política social,
como um caminho necessário na avaliação das ações sociais.
Segundo os autores, há uma dúvida na compreensão e no campo de ação dos dois termos.
A inter-relação entre os dois conceitos e campos de atuação é inegável, mas a diferenciação de
ambos é útil para a determinação das potencialidades e limites de cada um deles. Portanto, vamos
enfatizar alguns determinantes fundamentais que operam sobre ambos (COHEN; FRANCO, 2008):
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FIGURA 11 - Mafalda
Fonte: http://centraldastiras.blogspot.com.br/2011/02/mafalda-indicador-de-desemprego.html.
Outro fator determinante na escolha de objetivos e metas das políticas sociais são os critérios
de equidade e eficiência. Eles devem ser analisados pelas seguintes perspectivas: dos princípios
de cada um dos conceitos; dos objetivos; e da execução desses nas políticas sociais. (COHEN;
FRANCO, 2008).
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Diante desse dilema, existem algumas possibilidades. A primeira delas estabelece o ideário
da igualdade de oportunidades para todos os indivíduos. Nessa condição, as recompensas serão
recebidas de acordo “com os méritos” para as ações individuais; no entanto, esse critério potencializa
as ações voltadas à meritocracia e acentua uma distribuição desigual de recompensas. A segunda
possibilidade utiliza uma distribuição final igualitária, independentemente do desempenho dos
indivíduos; no entanto, para o alcance dessa estratégia, é necessário considerar uma sociedade
de abundância, aspecto que torna essa ação demasiadamente idealista e utópica e ainda contribui
para uma representação coletiva de que não é necessário o esforço para obter a recompensa
(COHEN; FRANCO, 2008). Percebe-se, contudo, que não é possível contemplar todos os interesses e
desejos quando estabelecemos as metas para a eficiência de um projeto social. Torna-se, portanto,
imprescindível conhecer a realidade social em que estamos atuando para identificar a viabilidade
das metas escolhidas.
Ainda segundo Cohen e Franco (2008, p. 25), há um predomínio do princípio da igualdade como
ponto de partida, viabilizando oportunidades similares a todos, “ao mesmo tempo em que pretende
que a distribuição final, que será desigual, se mantenha dentro de certas margens consideradas
aceitáveis em cada contexto social”. Portanto, essa discussão mostra que equidade e eficiência
são os critérios fundamentais que sustentam os sistemas econômicos, políticos e sociais e que
geram, por meio das relações estabelecidas entre esses fatores, desproporcional distribuição de
riqueza gerada e, com isso, desigualdade social.
Cohen e Franco (2008) utilizam alguns princípios para analisar os fatores de equidade e eficiência
nas políticas sociais. Segundo os autores, devemos distinguir três tipos de objetivos:
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Costumam ter natureza e objetivos sociais de outra natureza. [...] Considere-se o
caso de programas orientados ao desenvolvimento das microempresas. [...] Optar
por esse setor implica proceder de acordo com o critério de equidade (COHEN;
FRANCO, 2008, p. 26).
Isso pressupõe que os investimentos estejam voltados para os setores sociais que carecem de
recursos para o seu crescimento. Portanto, os critérios de equidade ou eficiência serão contemplados
dependendo da escolha das microempresas beneficiárias; ou seja, no princípio da eficiência, serão
escolhidas as economicamente viáveis e, no da equidade, a escolha será determinada pelos atores
sociais mais carentes.
Na verdade, cabe salientar que, “quaisquer que sejam os fins últimos da política social, a
avaliação permite incrementar a eficiência na consecução do critério aceito como fim, inclusive se
este é a equidade” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 27). Na elaboração de políticas sociais, o princípio
da equidade é a prioridade e, em um segundo plano, fica estabelecido um equilíbrio entre os da
equidade e da eficiência. “Em um terceiro plano, o da implementação, não se pode evitar procurar
a eficiência quando se quer alcançar a equidade” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 27).
No entanto, se queremos alcançar e beneficiar os mais pobres com as políticas sociais, devemos
estar atentos para alguns problemas recorrentes em sua elaboração e procurar mudanças para a
realização de ações.
ACONTECEU
Leia o artigo a seguir, que apresenta um histórico das políticas sociais no contexto brasileiro, desde a
sua natureza até o seu desenvolvimento.
http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-02.pdf
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saúde pública. Isso implica dizer que o financiamento (tripartido) é composto pela “existência de
um subsídio estatal que não é distribuído segundo as carências ou a insatisfação das necessidades
dos incorporados ao sistema, mas de acordo com seu poder de reivindicação” (COHEN; FRANCO,
2008, p. 28). Por essa razão, as políticas sociais são segmentadas, absorvendo diferentes grupos
sociais, sem considerar sua real capacidade para satisfação das necessidades da população.
Portanto, tal cenário “nos obriga a procurar alternativas para que a política social realmente
contribua para elevar os níveis de vida da população, mesmo em um contexto de aumento das
necessidades sociais e das demandas organizadas” (COHEN; FRANCO, 2008). Alguns princípios
poderiam contribuir para a reorientação das políticas sociais e a equidade em seus resultados:
praticar uma política compensatória; aumentar a eficiência do gasto social; aumentar o alcance
dos serviços pelos beneficiários; e avançar no conhecimento técnico.
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O princípio da política compensatória deve atender aos mais necessitados, partindo do princípio
da seletividade, pois o universalismo trata da mesma maneira casos diferentes. “A equidade
aconselha a não aplicar a mesma solução a situações distintas” (COHEN; FRANCO, 2008). Mas, para
tanto, é necessário focalizar os serviços para uma determinada população-objetivo, porque alguns
deles deverão manter a universalidade. É necessário também estabelecer prioridades, evitando a
fragmentação da política social em múltiplas ações ineficazes, porque isso não produz impacto
nas causas dos problemas (COHEN; FRANCO, 2008).
É fundamental uma preocupação com a relação entre o gasto social e o aumento da eficiência e
da eficácia na execução dos objetivos propostos pelos projetos. Observamos constantemente uma
inadequação dos gastos de determinados programas sociais, gerada pela ausência de metodologias
de avaliação de resultados. Iremos discutir mais tarde o tema avaliação de projetos sociais, mas
antecipamos que ela permite a escolha de “alternativas mais econômicas para alcançar os objetivos
procurados e, por outro lado, efetuar um acompanhamento que permita reorientar o projeto quando
se julgar que os objetivos não estão sendo alcançados” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 31).
Segundo esses autores, “o alcance dos serviços pelos beneficiários exige analisar o modo
como estes são ofertados e os problemas de demanda que afetam a seus potenciais destinatários”
(COHEN; FRANCO, 2008, p. 31). A redefinição de oferta é garantir a chegada dos bens e serviços à
população demandante, que envolve cuidados na etapa do planejamento, devendo-se considerar
as estratégias de sobrevivência das famílias: “Deve-se também superar obstáculos culturais
quando o recebimento dos benefícios pode implicar em uma mudança de atitude ou de costumes
tradicionalmente estabelecidos e por isso gerar resistências” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 32).
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adequada não apenas para quantificar os problemas existentes, mas também para descobri-los”
(COHEN; FRANCO, 2008).
Política
compensatória
e avanço no
Otimização
conhecimento
dos serviços
técnico
Eficiência do
gasto social
Orientações para a
Política Social
Fonte: Elaborado pelo autor.
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“Um plano é a soma de programas que procuram objetivos comuns, ordena os objetivos gerais
e os desagrega em objetivos específicos, que constituirão por sua vez os objetivos gerais dos
programas” (COHEN; FRANCO, 2008). Os planos de ação de um programa social direcionam a
alocação de recursos determinados por uma decisão política.
Podemos diferenciar o plano de um projeto pois o primeiro possui um âmbito maior e menor
detalhamento, enquanto o segundo tem com menor âmbito e maior detalhamento (CURY, 2001).
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• Programa – é um conjunto de projetos com os mesmos objetivos. Estabelece as prioridades
das intervenções e aloca os recursos necessários.
• Projeto – um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-
relacionadas, com um período de tempo determinado.
Definindo a diferença entre plano, programa e projeto, podemos discutir a estrutura necessária
para a elaboração de um projeto. Iniciamos com o planejamento e pelos atores sociais envolvidos.
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Ao considerar as diferentes perspectivas e compreensão da realidade, estamos levando em
conta os aspectos políticos, sociais, valorativos e informacionais de um projeto, e não apenas os
elementos técnicos. Essa tarefa
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Cury (2001) apresenta um roteiro para nortear o processo de investigação e a primeira aproximação
com o contexto social:
Fundamenta a autora que a análise do contexto social contribui para a investigação da realidade
externa e a da dinâmica interna do projeto, constituída de história, valores, normas, conflitos e
necessidades. A elaboração de um diagnóstico situacional contribui para o processo de avaliação,
bem como auxilia no conhecimento das situações que possam limitar ou potencializar o alcance
dos resultados do projeto.
As informações poderão ser obtidas através de diversas fontes e de muitas formas, destacando-
se que quanto maior a diversidade das fontes de informações, maior o alcance da diversidade e
complexidade da realidade. Podemos citar algumas delas:
Sobre a inserção em determinado contexto social, vale ressaltar alguns pontos discutidos pela
área da psicologia social e comunitária, fundamentada em diferentes experiências com comunidades.
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Outra forma de inserção, que permanece até os dias de hoje, tem como objetivo a caridade
para os mais desfavorecidos. A crítica feita por Freitas (1998) pauta-se nas formas de vínculo e
nos objetivos voltados à população em situação de vulnerabilidade social, caracterizados por uma
oferta de serviços destinados à “melhora e adaptação social”, ou que, pelo menos, minimizem
seus problemas e sofrimentos. Minimizar os problemas não é transformar sua realidade social;
quando procuramos uma adaptação de classes desfavorecidas, construímos as ações em relações
verticais, que supõem um lado que possui o poder e o conhecimento e outro formado por sujeitos
destituídos desses fatores. Nessa forma de inserção, a relação com a comunidade está pautada
na filantropia (FREITAS, 1998).
A autora também desenvolve outra maneira, guiada pela curiosidade. Fundamenta-se na relação
com a comunidade como um “ser estranho”. Esse tipo de relação originou-se com o distanciamento
entre as instituições de formação e as necessidades sociais, temáticas e problemáticas vividas pela
população, que precisavam ser conhecidas e tomadas como objeto de investigação. Essa forma
de inserção está pautada na curiosidade científica, e a crítica de Freitas (1998) é a exploração das
problemáticas vividas como objeto de estudo sem o comprometimento de verdadeira transformação
de seu cotidiano.
Diferente das três formas anteriores, há um tipo de inserção motivada por um compromisso
ético com o modo de vida da comunidade:
[...] Orientada pelo compromisso de que o trabalho deve possibilitar mudança das
condições vividas cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta
é que estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. [...] As
problemáticas para a ação definem-se conjuntamente, construindo-se muitas vezes
instrumentais para aquela realidade em questão. Trata-se de uma inserção que se dá
na dependência da avaliação da população, comprometendo-se com a possibilidade
de mudança social e construção de conhecimento na área (FREITAS, 1998, p. 177).
Outro aspecto desenvolvido por Freitas (1998) diz respeito às práticas delineadoras de inserção
na comunidade, baseadas em três aspectos:
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• Apesar das incertezas e das delimitações durante o processo de inserção, o domínio específico
para a ação está ligado aos processos históricos e psicossociais que perpassam o cotidiano
das pessoas.
Portanto, é fundamental
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Portanto, as estratégias de inserção na comunidade objetivam um melhor conhecimento
da realidade social e favorecem a participação ativa da população envolvida. Esse processo é a
formulação do diagnóstico da situação ou a análise situacional e deve conter os seguintes itens
(FREITAS, 1998):
A partir das discussões e análise crítica sobre as formas de inserção e os trabalhos desenvolvidos
em comunidades, ressaltamos alguns princípios éticos e problemas encontrados na atuação
(FREITAS, 1998):
• Lida com grupos e, por isso mesmo, enfrenta dificuldades derivadas das
características de espontaneidade dos grupos, variação na quantidade e
composição dos seus membros, avanços e retrocessos existentes nas diversas
reuniões grupais, distanciamento que vai sendo criado entre as lideranças e os
demais; hierarquias internas e fontes de poder diversificados que se alteram
continuamente; e dificuldades e distorções comunicacionais acontecidas nas
reuniões;
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UNIDADE 3
ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROJETO
Após a etapa da análise situacional, o próximo passo será a elaboração dos objetivos do projeto.
“A elaboração e delimitação, a clareza e legitimidade dos objetivos são fundamentais para o êxito
de qualquer projeto, pois o seu delineamento implicará na execução e na avaliação das ações
desenvolvidas” (CURY, 2001).
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Segundo os autores, a diferença entre objetivos de resultado e objetivos de sistema baseia-se nos
interesses que a elaboração do projeto inclui. Assim, os primeiros visam modificar alguma parcela
da realidade por meio das ações desenvolvidas; os segundos estão direcionados aos interesses
específicos da organização (sistema) que realiza o projeto. Vale ressaltar:
As organizações são criadas para atuar sobre certos aspectos da realidade. Para
isso, seus diretores programam intervenções e mobilizam os recursos necessários
para pô-las em prática. Mas, ao mesmo tempo, surgem interesses que procuram
assegurar a sobrevivência organizacional e trabalhista, aumentar os recursos humanos,
financeiros e de poder etc. Esse conjunto de objetivos implícitos chega a se sobressair
aos objetivos expressos. Assim, a organização pode fracassar na obtenção destes,
mas atingir os objetivos de sistema (COHEN; FRANCO, 2008, p. 88).
A inserção de vários objetivos com natureza diferenciada recebe o nome de objetivos múltiplos. O
motivo principal é a existência de algum grau de complementaridade que faz com que, na execução
de um ou mais objetivos, haja aumento das probabilidades de alcance de resultados. No entanto,
alguns cuidados são necessários para a escolha e elaboração dos objetivos múltiplos:
Os objetivos são complementares quando atingir um deles implica a consecução dos demais
ou incrementa a probabilidade de consegui-los. Nos competitivos, pelo contrário, conseguir algum
implica sacrificar ou dificultar os outros. Os objetivos são indiferentes quando a execução de um
não altera a probabilidade de ter êxito com os demais.
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Outra diferenciação importante na escolha dos objetivos refere-se ao tempo de execução e
alcance dos resultados do projeto. Os objetivos imediatos são aqueles que se pretende conseguir em
curto prazo, enquanto que mediatos são os que se localizam no médio ou longo prazo. Imediatez ou
mediatez são critérios relativos que dependem da natureza, características, escala e fins perseguidos
pelo projeto. Por isso, uma definição rigorosa de tais termos é extremamente difícil, mas poderão
ser utilizados para medir tanto a direção como o grau de avanço alcançado pelo projeto.
• Objetivo geral – aquele que expressa maior amplitude, exigindo um tempo mais
longo para ser atingido e a ação de outros atores que, como nós, contribuem
para a resolução do mesmo problema. Assim, o objetivo geral é aquele que só
será alcançado pela multiplicidade e associação das ações [...].
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população-meta, grupo meta ou grupo focal”. O estabelecimento dos critérios de escolha é determinado
pelas avaliações de “indivíduos ou grupos que possuem em comum algum atributo, carência ou
potencialidade que o projeto pretende suprir ou desenvolver” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 90), em
determinada localidade espacial.
Os beneficiários indiretos legítimos são aqueles que não foram considerados como população-
objetivo, mas cujo favorecimento está de acordo com o propósito do projeto. Haverá, também,
beneficiários indiretos ilegítimos, que se beneficiaram com o projeto, sem estar vinculado aos
objetivos e propósitos do projeto. Há, ainda, os benefícios públicos com o projeto, por meio de um
benefício para o conjunto da sociedade, resultando em maior conscientização de determinado
problema ou um impacto social mais amplo (COHEN; FRANCO, 2008).
FIGURA 16 – População-objetivo
Beneficiários
indiretos
Beneficiários legítimos
diretos
Beneficiários
População- indiretos
objetivo ilegítimos
Beneficiários Benefícios
indiretos públicos
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3.2. Efeitos e impacto dos projetos sociais
FIGURA 17 – Projeto social
Podemos considerar que o efeito é todo comportamento ou acontecimento que sofreu influência
de algum aspecto do programa ou projeto. Assim, um projeto deve ter efeitos procurados, previstos,
positivos e relevantes. Entretanto, podem existir efeitos “não previstos”, mas que sejam compatíveis
com o projeto (COHEN; FRANCO, 2008).
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Outra consideração diz respeito aos efeitos procurados e não procurados. Os efeitos procurados
têm que ser previstos e também que ser positivos. Os efeitos positivos não procurados podem ter
sido previstos no momento de elaborar o projeto, sendo valiosos para os propósitos estabelecidos.
Os efeitos negativos podem prejudicar o possível êxito do projeto, sendo melhor sua previsão no
início da elaboração dele. A avaliação que acompanha o processo de operação permite aproveitar
as externalidades positivas desses efeitos e minimizar, ao mesmo tempo, os não previstos que
comprometem o alcance dos objetivos (COHEN; FRANCO, 2008).
“O impacto é definido como um resultado dos efeitos de um projeto” (ONU, 1984 apud COHEN;
FRANCO, 2008, p. 92). Portanto, “a determinação do impacto exige o estabelecimento de objetivos
operacionais e de um modelo causal que permita vincular o projeto com os efeitos resultantes de
sua implementação” (ibidem).
CURIOSIDADE
Leia o artigo a seguir, que analisa a transição da questão social no Brasil contemporâneo,
condicionada por políticas de transferência de renda e suas implicações sobre o padrão de
redistribuição da renda.
http://www.ipc-undp.org/publications/mds/20P.pdf
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seu desenvolvimento e seus resultados”. Também é possível acompanhar mudanças no percurso
planejado e realizar uma revisão das estratégias.
FIGURA 18 – Cronograma
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QUADRO 2 - Exemplo de cronograma de atividades
Mês
Atividade Responsável
11 22 33 44 55 66 77 88 99 110
3. Contratação da equipe.
5. Divulgação
7. Continuidade da execução
(especificar as ações dessa fase).
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consegue atender e, por essa razão, estabelece uma parceria com aquelas. Outra fonte de recursos
é a geração de receita própria, por meio de venda de produtos/serviços a associados ou terceiros
e doações de empresas e de indivíduos (ANDRADE, 2002).
Atualmente, têm surgido muitas iniciativas em prol do desenvolvimento social, favoráveis para as
transformações da realidade social pela mobilização da sociedade civil, mas, por outro lado, desafiam
a concorrência entre as organizações do terceiro setor para captação dos recursos necessários
ao desenvolvimento de projetos. O benefício dessa concorrência é o aumento da exigência às
organizações para um sistema de gestão de alta qualidade com indicadores de desempenho. A
potencialidade e importância do desenvolvimento de novas formas de captação de recursos é,
principalmente, a inclusão de novos conceitos para as organizações e a substituição das relações
paternalistas e ineficazes de atuação social, levando à implementar ações voltadas à eficiência
de resultado e sustentabilidade. Esse cenário impulsiona a busca em recursos junto às empresas
privadas e junto às agências de desenvolvimento internacional (ANDRADE, 2002).
Para captar recursos, é necessário que a organização sem fins lucrativos desenvolva um projeto
de captação, contendo os seguintes itens (ANDRADE, 2002):
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• Análise do mercado: faz-se necessário conhecer as empresas interessadas no financiamento
do projeto, com consistência de argumentos que justifiquem as ações propostas pelo projeto
e envolvimento do público-alvo.
• Marketing: nesse aspecto,
deverá ser exposto qual valor será agregado à empresa com o financiamento de tal
projeto. Não haverá necessidade de expor em mídia aberta a ação da organização,
mas uma exposição adequada, na mídia correta, pode alavancar mais investimentos
por parte das empresas privadas [...] Assim os próprios consumidores poderão
cobrar, pela opção de compra, qual empresa tem a melhor política social, merecendo
ser privilegiada em detrimento de outra que ainda não investe em projetos sociais
(ANDRADE, 2002, p. 64).
• Equipe gerencial: a escolha do pessoal que trabalhará no projeto é fundamental para a captação
de recursos, pois aumenta a credibilidade da ação.
• Planejamento financeiro: a apresentação do balanço patrimonial, o demonstrativo de resultados
e o fluxo de caixa contribuem para um conhecimento sobre o equilíbrio financeiro da organização
e sua capacidade de gestão financeira do projeto.
• Plano de implementação: deve detalhar, por meio do cronograma, “como o projeto será
implementado, especificando as principais atividades, prazos de cumprimento e responsáveis”
(ANDRADE, 2002, p. 65).
Para cada atividade prevista no projeto devem ser explicitados claramente quais os
recursos físicos, financeiros e humanos necessários, pois só assim será possível
elaborar um orçamento compatível com as necessidades das ações. O planejamento dos
recursos deve ser minucioso, a fim de diminuir as surpresas na fase de implementação
do projeto, dando contornos e limites à nossa ação (CURY, 2001, p. 47).
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QUADRO 3 - Modelo de orçamento
CONTRAPARTIDA
DESPESAS AGÊNCIA A AGÊNCIA B TOTAL
DA ORGANIZAÇÃO
1. Recursos humanos
2. Materiais
3. Alimentação
4. Transporte
TOTAL DE DESPESAS
RECEITAS
1. Doações
2. Recursos próprios
TOTAL DE RECEITAS
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QUADRO 4 - Modelo de cronograma físico-financeiro
Recursos humanos
Materiais
Alimentação
Transporte
Outros
Subtotal
Taxa de Administração
Total do projeto
Bolsa-auxílio
Total geral
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UNIDADE 4
AVALIAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS
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É cada vez mais constante a reivindicação de transparência e participação nas ações que
envolvem as políticas públicas e os programas sociais. As exigências pautam-se na necessidade
de acompanhar a distribuição do gasto público e a efetividade de ações que objetivam maior
equidade social. Portanto, as razões são inúmeras para a utilização de métodos de avaliação como
procedimento cotidiano das organizações governamentais e não governamentais. Podemos enfatizar
algumas delas, segundo Carvalho (2001):
• A avaliação é um dever ético. Isso implica dizer que “as organizações que atuam na esfera
pública precisam prestar conta à sociedade sobre os resultados/produtos de sua ação”
(CARVALHO, 2001, p. 61). A avaliação contínua de ações nesse campo torna-se imperiosa,
em função da relação desigual entre os altos índices de demandas trazidos pela situação de
pobreza, desigualdade e exclusão social e a insuficiente oferta de serviços sociais. Além disso,
a obtenção de impactos na intervenção social é, muitas vezes, imperceptível, considerando
a extensão da situação de vulnerabilidade social. Portanto, as ações sociais devem atender
aos critérios de eficiência, eficácia e equidade na prestação dos serviços.
• Como já desenvolvemos anteriormente, a avaliação tem uma função estratégica para levar
a uma mudança, se necessária, do percurso e na tomada de decisões nas ações sociais.
A avaliação poderá embasar com dados as justificativas para uma mudança estratégica,
contribuindo para estabelecer prioridades.
• “A avaliação tornou-se imprescindível para captar recursos, pois as agências financiadoras
exigem dados avaliativos dos resultados e impactos dos serviços” (CARVALHO, 2001, p. 61).
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• Sua inserção na comunidade;
• A atualidade de seus propósitos e métodos de ação;
• Sua flexibilidade para responder a antigas e novas demandas sociais;
• Seus valores e cultura institucional;
• Sua capacidade de estabelecer parcerias na realização de ações sociais de maior alcance;
• Sua visibilidade e legitimidade social;
• Reconhecimento e importância na esfera pública.
Outro aspecto importante é o momento em que a avaliação é realizada. Ela deverá iniciar-se
antecipando-se à ação (ex ante), para averiguar sua viabilidade num dado contexto. Enfatizamos que
ela não poderá acontecer apenas no final do programa ou projeto, ou seja, diante de uma proposta,
as alternativas são verificadas de acordo com os seus impactos, custos, nível de adesão
da organização e comunidade, padrões de intervenção, processos e resultados. É
uma avaliação do diagnóstico situacional e da proposta do projeto (CARVALHO, 2001).
Mas o que é a avaliação? “É atribuir valor, medir o grau de eficiência, eficácia e efetividade das
políticas, programas e projetos sociais. A avalição identifica processos e resultados, compara dados
de desempenho, informa e propõe mudanças” (CARVALHO, 2001).
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No entanto, algumas organizações enfrentam muita dificuldade no processo de avaliação, porque
entendem como um mecanismo para identificação de erros e para encontrar os culpados, e não
como parte integrante do percurso da elaboração e implementação do projeto, como uma fonte de
informação. Assim, o processo avaliativo vem acompanhado de sentimentos como medo, fracasso,
punição e reprovação. A forma de compreender o erro como uma fonte valiosa de informação
precisa ser incorporada no dia a dia do processo avaliativo e na revisão dos programas e projetos
sociais (RAPOSO, 2001).
O acompanhamento e a avaliação têm por objetivo assegurar que o projeto cumpra os objetivos
definidos, dentro dos prazos e orçamento previstos Os itens que devem compor o acompanhamento
e a avaliação de um projeto social são (RAPOSO, 2001, p. 94):
Contudo, a avaliação procura identificar os indicadores, ou seja, parâmetro que ajudem a mostrar
o desenvolvimento do projeto, considerando as metas e objetivos. Detalharemos esses conceitos
que são fundamentais para a compreensão do processo avaliativo: indicadores, eficiência, eficácia
e efetividade.
4.1. Indicadores
“Indicador é um fator ou um conjunto de fatores que sinaliza ou demonstra a evolução, o
avanço, o desenvolvimento rumo aos objetivos e às metas do projeto” (RAPOSO, 2001, p. 95). A
escolha de indicadores deverá ser construída conjuntamente no momento da elaboração do projeto,
e, considerando a diversidade dos campos de atuação social, não é conveniente a utilização de
indicadores padrão. A escolha dos indicadores pela equipe envolvida no projeto reforça a ideia
da importância da avaliação ser um processo contínuo e participativo. Ilustraremos, com a figura
do cone invertido, alguns critérios que poderão ser utilizados para a escolha dos indicadores de
resultados de projetos sociais.
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FIGURA 21 - O impacto dos projetos sociais
Segundo Raposo (2001), o propósito da figura do cone invertido é demonstrar, por meio de uma
representação visual, os itens que poderão ser alcançados pelas ações do projeto (tangíveis) e
aqueles que serão mais difíceis de ser atingidas (intangíveis), porque necessitam de instrumentos
mais complexos para a sua mensuração. Os itens apresentados na figura poderão compor os
indicadores de avaliação de projetos.
Portanto, para a escolha dos itens de avaliação de impacto, a equipe gestora do projeto deverá
responder às seguintes perguntas (RAPOSO, 2001, p. 97):
• O que queremos medir? Remeter-se sempre aos objetivos específicos do projeto, separando
os aspectos tangíveis dos intangíveis.
• O que meus parceiros querem medir? Identificar as diferentes expectativas dos financiadores e
as do executor. Normalmente, a agência analisa o impacto, buscando mudanças conjunturais
que foram provocadas pela proposta e o executor avalia o impacto de sua ação.
• Como posso medir? Como a equipe reconhece que as mudanças que estão sendo buscadas
estão em processo? Quais os comportamentos da clientela podem ser observadas como
sinalizadores de mudança, entre o diagnóstico situacional e a situação prevista?
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• Quem pode medir? A instituição pode assumir, levando-se em conta o amadurecimento
institucional? A atual equipe pode acompanhar e avaliar o processo? Há necessidade de
contratação de consultoria?
• Relevância e pertinência
O indicador deve medir os elementos mais significativos do programa e ainda aqueles
diretamente relacionados ao que se quer avaliar.
• Unidade
O indicador deve utilizar-se de um só aspecto da atuação e medi-lo.
• Exatidão e consistência
Os indicadores devem utilizar medidas exatas, proporcionando as mesmas medições
sempre que se use o mesmo procedimento de medição, independentemente das pessoas
que as efetuem.
• Objetividade
Cada indicador tem que se referir a fatos e não a impressões subjetivas.
• Facilidade de interpretação
O indicador deve ter relação com o que se quer medir e ser de fácil compreensão do
público-alvo a que se destina.
• Acessibilidade
O indicador deve basear-se em dados facilmente disponíveis de forma que se possa obtê-lo
mediante um cálculo rápido e a um custo aceitável, tanto em termos monetários como de
recursos humanos necessários para a sua elaboração.
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4.2. Eficiência
A avaliação da eficiência de um projeto analisa a relação entre o uso de recursos (financeiros,
materiais, humanos) e os benefícios resultantes. Um bom índice para avaliação desse critério é
ter um custo mínimo para o maior número e qualidade de benefícios. Atualmente, é fundamental
para um projeto ter eficiência, dado que os recursos são escassos e, em consequência, há uma
busca de racionalização nos gastos. Na realidade brasileira, além dessa escassez, o contingente
populacional que necessita dos programas e projetos sociais é muito grande (COHEN e FRANCO,
2008; CARVALHO, 2001).
Segundo Cohen e Franco (2008, p. 104), “a eficiência e a produtividade são conceitos semelhantes,
porque relacionam recursos com resultados”. No entanto, há uma diferença entre eles, no que tange
aos recursos considerados para a avaliação de determinadas ações e aos recursos empregados;
na produtividade, são considerados os recursos em unidades físicas, enquanto que, na eficiência,
são considerados os insumos em unidades monetárias. Acompanhando o conceito de eficiência,
temos o conceito de eficácia. Ambos são ferramentas úteis para estabelecer o grau de racionalidade
na alocação de recursos em atividades de projetos sociais.
4.3. Eficácia
Segundo Cohen e Franco (2008, p 102), “a razão essencial do projeto é produzir mudanças em
alguma parcela da realidade, solucionar um problema social, ou prestar um serviço a uma determinada
parcela populacional”. Portanto, a eficácia é medida pelo grau de alcance dos objetivos e metas
do projeto na população beneficiária, considerando um período de tempo determinado, ou seja,
considera dois critérios fundamentais em sua avaliação: metas e tempo.
4.4. Efetividade
Segundo Carvalho (2001, p. 72), a efetividade de um projeto envolve um dos princípios éticos
das ações sociais, porque “está relacionada ao atendimento das reais necessidades sociais [...],
à sua capacidade de alterar as situações encontradas”. A efetividade de um projeto social ou de
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determinada política social deve pressupor “mudanças significativas e duradouras na qualidade de
vida ou desenvolvimento do público beneficiário” (CARVALHO, 2001, p. 72). A efetividade é muito
considerada entre os critérios de avaliação das políticas públicas, considerando as desigualdades
sociais, pobreza e exclusão de nossa população:
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4.5. Metodologias de avaliação
Segundo Carvalho (2001), o processo de avaliação não pode depender de uma única abordagem
de acompanhamento, considerando o campo das ações sociais e sua complexidade de resultados.
Por essa razão, é necessária uma amplitude de métodos, compatíveis com a complexidade do
fenômeno e dos resultados a ser avaliados. O quadro a seguir associa metodologias de avaliação,
coleta de dados e o papel do avaliador:
Papel do
Tipos de abordagem Metodologias de avaliação Coleta de dados
avaliador
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4.6. Avaliação participativa
De todos os métodos de avaliação, a avaliação participativa ocupa um lugar de destaque em
projetos sociais.
O objetivo deste tipo de avaliação é minimizar a distância que existe entre o avaliador
e os beneficiários. É utilizada particularmente em pequenos projetos, que procuram
fixar as mudanças propostas criando condições para que seja gerada uma resposta
interna do grupo (COHEN; FRANCO, 2008).
Nesse método avaliativo, poderão ser utilizados instrumentos tradicionais, bem como outros
métodos, como definição de indicadores, aplicação de questionários, realização de entrevistas,
reuniões focais, observação participante, entre outros. Ainda é possível incluir, na discussão com
os envolvidos, novos processos de troca de informações e reflexão coletiva. O segundo objetivo
central da avaliação participativa é a aprendizagem social:
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de trabalho e nos beneficiários. Essas informações compartilhadas possibilitam a
apropriação do saber fazer social, a democratização do conhecimento e a transparência
da ação pública (CARVALHO, 2001).
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5. ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS
FIGURA 22 – Projetos sociais
1 - Título do projeto
O título de seu projeto deve refletir a natureza e o enfoque de seu problema. É conveniente
provocar um impacto em seu leitor e estimular a curiosidade para conhecer a sua proposta.
2 - Sumário executivo
O objetivo do sumário é apresentar ao futuro parceiro/financiador sua proposta geral, possibilitando
identificar a adequação às exigências de suporte técnico e/ou financeiro do projeto. Deverá resumir
todas as informações-chave relativas ao projeto, não devendo ultrapassar uma página.
3 - Apresentação da organização
A apresentação deve conter, segundo a autora: nome ou sigla da organização; composição da
diretoria, da coordenação e nome do responsável pelo projeto; endereço completo para contatos
e correspondências; histórico resumido da entidade (quando foi criada, diretrizes gerais, percurso
ligado ao social, parcerias e trabalhos realizados, resultados alcançados e principais fontes de
recursos ou financiamentos da organização).
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4 - Análise do contexto e justificativa
A análise de contexto deve descrever as deficiências e potencialidades da região à qual o projeto
se destina, as características da população e as iniciativas já desenvolvidas. Deve apresentar
uma análise do problema e suas implicações, especialmente quanto a aspectos quantitativos e
qualitativos. Essa análise deve ficar restrita aos elementos básicos relacionados ao problema, de
maneira que permitam esboçar alternativas viáveis de intervenção.
5 - Objetivos e metas
Os objetivos e metas do projeto devem ser definidos com clareza e precisão.
6 - Público-alvo
“Devem-se descrever as características (faixa etária, sexo, nível de escolaridade, situação
socioeconômica) dos beneficiários (público-alvo) diretos e indiretos do projeto” (CURY, 2001, p. 51).
7 - Metodologia
Deve-se relatar, resumidamente, o modelo teórico utilizado, explicitar as rotinas
e as estratégias planejadas, as responsabilidades e compromissos assumidos,
como o projeto vai se desenvolver, todos os envolvidos e o nível de participação/
responsabilidade de cada um (CURY, 2001, p. 51).
8 - Sistema de avaliação
É necessário descrever como serão o monitoramento e a avaliação do projeto, a partir de
indicadores tangíveis e/ou intangíveis, instrumentos e estratégias de coleta de dados e equipe
responsável pelo processo.
9 - Cronograma de atividades
O cronograma de atividades deve enumerar quais etapas devem ser seguidas no tempo para
realizar as atividades necessárias ao projeto.
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11 - Anexos
Os anexos devem conter informações e documentos adicionais que o financiador tenha solicitado
ou que sejam necessários para complementar as informações do projeto.
Lembre-se de que aquilo que parece óbvio para você, em geral, não o é para outro leitor. Não se
esqueça de informações que complementam seu projeto, tais como parcerias ou articulações com
outros projetos e instituições.
Procure não usar jargões. Eles confundem e diminuem a capacidade de compreensão daquilo que
você quer dizer, já que, em geral, os jargões são como grandes “guarda-chuvas” onde tudo cabe, não
deixando claro, para quem lê seu projeto, a que, exatamente, você se refere.
Às vezes, o texto começa a ficar muito longo, pois você sente dificuldade em explicar suas ações.
Tente fazer um quadro que sintetize o que você está querendo expressar, com uma legenda ou
observações que o esclareçam. Quadros e tabelas sempre permitem uma leitura mais objetiva dos
assuntos.
O número de páginas não torna o seu projeto melhor. Ao contrário, uma das características mais
procuradas hoje em dia em um projeto é a concisão. Ser capaz de elaborar um documento claro,
preciso e conciso é fundamental.
No caso de seu projeto solicitar, a terceiros, recursos para a compra de equipamentos ou outro
serviço especializado, mande em anexo o levantamento de preços de pelos menos três fornecedores.
No final, peça para outra pessoa ler seu texto e veja se ela o interpreta corretamente.
ATIVIDADE REFLEXIVA
Comentamos sobre projetos sociais e políticas sociais. Agora reflita sobre a seguinte questão: existe
um padrão para uma relação mais adequada entre desenvolvimento e políticas sociais?
Para ajudar na sua reflexão, sugere-se a leitura dos artigos a seguir:
Artigo 1: http://www.scielo.br/pdf/rk/v16nspe/05.pdf
Artigo 2: http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/7950/2/Desenvolvimento_e_politicas_sociais_uma_
relacao_necessaria.pdf
Artigo 3: http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/viewFile/142/162
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste material, falamos sobre a estruturação de projetos sociais partindo do pressuposto de
que toda ação social deverá contemplar a coletividade e a territorialidade. O profissional envolvido
em tais projetos deve fazer uma análise das demandas e das necessidades do campo social,
considerando a história coletiva, as relações intersubjetivas e as condições de sofrimento social.
Por fim, todo projeto social deverá contemplar a transformação da realidade social das pessoas
em condições de exclusão e vulnerabilidade, considerando a participação conjunta da população,
o processo de conscientização e a realidade sócio-histórica.
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GLOSSÁRIO
A posteriori: é o conhecimento ou justificação dependente de experiência ou evidência empírica.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_priori_e_a_posteriori.
Estado-nação: é uma área geográfica que pode ser identificada como possuidora de uma política
legítima que pelos próprios meios constitui um governo soberano. Enquanto um estado é uma
entidade política e geopolítica, uma nação é uma unidade étnica e cultural. Fonte: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Estado-na%C3%A7%C3%A3o.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. G. V. de. Organizações do terceiro setor: estratégias para captação de recursos junto
às empresas privadas. 2002. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Engenharia da Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
ARAÚJO, J. N. G.; CARRETEIRO, T. C. (orgs.). Cenários sociais e abordagem clínica. São Paulo:
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