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Professora autora/conteudista

KÁTIA VARELA GOMES


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pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.
SUMÁRIO
Unidade 1 - Introdução à elaboração e a gestão de projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1. Introdução à elaboração e a gestão de projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4


1.1. Exclusão social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1. Desqualificação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3. Cidadania e emancipação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Unidade 2 - Estratégias e elaboração de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2. Estratégias e elaboração de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19


2.1. O que são projetos sociais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2. Planejamento de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3. Políticas sociais e racionalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4. Problemas na elaboração das políticas sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5. Planejamento e elaboração de projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.6. Etapas para elaboração de um projeto social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Unidade 3 - Elaboração dos objetivos do projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3. Elaboração dos objetivos do projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37


3.1. População-alvo e outros beneficiários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2. Efeitos e impacto dos projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3. Elaboração do cronograma de atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4. Captação e alocação de recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

Unidade 4 - Avaliação de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4. Avaliação de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


4.1. Indicadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2. Eficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.3. Eficácia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.4. Efetividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.5. Metodologias de avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.6. Avaliação participativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5. Roteiro para a elaboração de projetos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

6. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

GLOSSÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À ELABORAÇÃO E A GESTÃO DE PROJETOS

1. INTRODUÇÃO À ELABORAÇÃO E A GESTÃO DE PROJETOS


A elaboração e a gestão de projetos sociais impõem uma discussão de conceitos fundamentais
associados às políticas sociais, que vão nortear os objetivos, metas e escolha do público-alvo como
beneficiários. Os conceitos que iremos discutir partem do princípio de compreensão de determinadas
estruturas sociais que geram exclusão e desigual divisão de recursos e oportunidades. Discutiremos
os efeitos do processo de exclusão nas subjetividades, na relação com o território e na relação com
os grupos de pertencimento e as comunidades.

1.1. Exclusão social


O tema da exclusão social é muito difundido, compondo o cenário de discussões políticas
e ações governamentais. No entanto, devemos considerar que esse tema é relativamente
recente e polêmico.

FIGURA 1 – Miséria.com. Angeli, 2004

Fonte: http://profzehistoria.blogspot.com.br/2010/04/as-origens-da-globalizacao.html.

A situação de pobreza e seus extremos, por exemplo, mendigos, pedintes, vagabundos e


marginais, povoou os espaços sociais, despertando relações sociais estigmatizantes. Mas apenas

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nos anos 1990 ações políticas e intelectuais ocuparam-se do conceito de exclusão. O fenômeno
da exclusão não deverá ser considerado individual e sim resultado de um processo social. Entre as
causas, destacamos o crescimento desordenado e desigual do processo de urbanização; a falência
das instituições de ensino; as mudanças territoriais pela mobilidade profissional e o processo de
desenraizamento associado; as desigualdades de renda; as dificuldades de acesso aos serviços;
e a ausência da garantia de direitos (WANDERLEY, 2004).

Excluídos são todos aqueles rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos.


[...] Os excluídos não são simplesmente rejeitados fisicamente, geograficamente ou
materialmente, não apenas do mercado e de suas trocas, mas de todas as riquezas
espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão
cultural (WANDERLEY, 2004).

Observa-se, portanto, uma ausência ou ineficácia das ações políticas governamentais diante dos
inúmeros problemas sociais. Esses problemas são acumulados, e assistimos a uma convivência
(nada pacífica) de grupos sociais com alto poder aquisitivo com grupos excluídos e marginalizados
do mercado de trabalho e da sociedade (WANDERLEY, 2004).

Portanto, deve-se considerar que a ausência ou a ineficácia de ações e políticas públicas na


década de 1980 estava diretamente relacionada com o fenômeno da exclusão. Além disso, nesse
período, a crise e a instabilidade dos trabalhadores assalariados, provocada pela emergência do
desemprego e da precarização das relações de trabalho, gerou um contingente populacional que
não conseguia retornar à vida produtiva (WANDERLEY, 2004).

Surge, então, um novo conceito de precariedade e de pobreza, que inclui os


desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado produtivo
e os jovens que não conseguem nele entrar, impedidos do acesso ao “primeiro
emprego”. [...] Assim, os excluídos na terminologia dos anos 90, não são residuais
nem temporários, mas contingentes populacionais crescentes que não encontram
lugar no mercado (WANDERLEY, 2004).

Novo contingente de pobreza e precariedade no trabalho

Desempregados de longa duração e jovens

No entanto, pobreza e exclusão não podem ser tomadas como sinônimos, apesar da estreita
relação entre elas. Wanderley (2004), utilizando-se de teóricos franceses, apresenta alguns conceitos
importantes para essa diferenciação. Entre esses conceitos, encontramos:

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• A desqualificação social: processo relacionado a fracassos e sucessos da integração,
desenvolvido por Serge Paugam, que iremos desenvolver mais adiante. A desqualificação
social é o inverso da integração social e está diretamente relacionada com a inserção no
mercado produtivo.
• A desinserção social: conceito desenvolvido por Vincent De Gaujelac e Isabel Leonetti, que
pode ser identificado como inverso à integração. São sujeitos que permanecem “fora da
norma”, como não tendo valor ou “utilidade social”. A desinserção é um fenômeno identitário,
articulando elementos objetivos e subjetivos, ou seja, a partir da impossibilidade produtiva
(elemento objetivo), o sujeito é marcado por um lugar de “inutilidade social”, que atribui a ele
uma identidade (elemento subjetivo).
• A desafiliação, desenvolvido por Robert Castel, é a ruptura de pertencimento, de vínculo societal.
Consideramos assim as populações com insuficiência de recursos materiais e também aquelas
fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional.

A exclusão é uma forma de relação social estabelecida com determinados grupos que interferem
nas formas de pertencimento, integração e valor.

A importância desses conceitos para a FIGURA 2 - Mafalda, Quino


elaboração de projetos sociais possibilita a
ampliação de seus objetivos e metas. Significa dizer
que as intervenções e ações sociais devem atuar
na transformação dos processos de construção
das subjetividades, pois os processos de exclusão
interferem nas identidades e nas relações sociais
intersubjetivas. Atuar na perspectiva social não
é apenas suprir ou possibilitar o acesso a bens
materiais e necessidades básicas, mas implica,
principalmente, transformar as relações.

Fonte: http://fazendooque.blogspot.com.
br/2011/05/mafalda-x-maradona.html.

Segundo Wanderley (2004), a pobreza nos dias atuais é considerada um fenômeno complexo e com
amplas dimensões, envolvendo aspectos culturais, sociais, históricos, econômicos e psicológicos.
Além dos grupos sociais classicamente excluídos (indigentes, subnutridos, analfabetos), outros

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contingentes populacionais encontram intensas dificuldades para a inserção no mercado de trabalho.
Portanto, não se trata só da ausência de renda, mas das formas de inserção social, da garantia de
direitos aos serviços públicos e da ausência de poder de diversos segmentos sociais.

Nesta direção, o novo conceito de pobreza se associa ao de exclusão, vinculando-


se às desigualdades existentes e especialmente à privação de poder de ação e
representação e, nesse sentido, exclusão social tem que ser pensada também a
partir da questão da democracia (WANDERLEY, 2004, p. 23).

Ainda no panorama da lógica produtiva e da exclusão social, utilizaremos outros conceitos. Nas
sociedades contemporâneas, encontramos a prevalência de dois imaginários – o da excelência e o
da inutilidade, como desenvolve Robert Castel apud Carreteiro (2004). No primeiro, destaca-se “a ideia
de triunfo, de excelência, de qualidade total”, associado ao imaginário da perfeição e da superação
de si próprio. Encontramos essa exigência social no mercado de trabalho e no ambiente escolar –
“para existir, é necessário brilhar e ser o melhor de todos”. No outro, temos os “extranumerários” ou
“inúteis no mundo”, para os quais as formas de sociabilidade são pautadas na instabilidade. Estão
fora de zonas de inclusão social e vivem a ausência do sentimento de pertencimento.

Portanto, teremos o “indivíduo por falta” e o “indivíduo por excesso”. No segundo caso, observamos o
processo de desfiliação social, e nele os sujeitos estão mais susceptíveis ao sofrimento e à invisibilidade.
Nesse grupo, temos os integrantes de categorias que vivem as injustiças sociais, a desvalorização,
a humilhação e a vergonha. Os seus códigos sociais e culturais são despidos de valor, existindo
uma desqualificação das experiências vividas. Essas invalidações acontecem em cenas públicas,
provocando um silenciamento dos afetos, de que participam as instituições e os sujeitos individuais
e grupais, processo que Carreteiro (2004) denomina lógica da invisibilidade do sofrimento.

FIGURA 3 - Mafalda, Quino

Fonte: http://elmeme.me/Sol/17-muestras-de-que-mafalda-sigue-vigente-y-puede-analizar-perfectamente-la-realidad-actual_24711.

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Esses sujeitos, diante da desvalorização, humilhação e desqualificação, estão mais susceptíveis
a uma doença perigosa das sociedades humanas, o desenraizamento:

O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e mais desconhecida da


alma humana [...]. Um ser humano tem raiz por sua participação real, ativa e natural
na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado
e certos pressentimentos do futuro (WEIL, 2001, p. 43).

Segundo a autora, essa doença provocaria dois tipos de comportamentos – uma inércia da
alma quase equivalente à morte ou atitudes e métodos violentos que acentuam o desenraizamento.
Podemos encontrar, de um lado, um estado de estupor inerte e, de outro, uma atitude de guerra para
com a sociedade. Portanto, deparamo-nos com uma doença em estado de mutação – acentuada
duplamente pelo desenraizamento provocado pela pós-modernidade e pelos valores individuais
em detrimento dos valores coletivos.

As sociedades pós-modernas operam uma transformação no modo de funcionamento da


sociedade e ressaltam o valor do sujeito individual em detrimento do coletivo. Esse modelo reforça
o individualismo. Em trabalhos desenvolvidos com lideranças comunitárias, observamos uma
referência a isso e um enfraquecimento dos movimentos sociais, identificados pelo esvaziamento
nas participações e mobilizações da comunidade. A queixa principal é a falta de participação dos
moradores em projetos para melhoria e transformação de sua situação de vida.

Essa “apatia” e a falta de envolvimento da população em projetos sociais que objetivam a


transformação de sua realidade de vida poderão ser entendidas como efeito das relações de
dominação. Utilizo a definição de relações de dominação de Pedrinho Guareschi (2005), que enumera
diversas formas de expropriação de poder:

• A dominação econômica, a expropriação de poder de trabalho de outras pessoas.


• A dominação política, na ausência de relações democráticas e justas.
• A dominação cultural, que naturaliza determinados valores, tornando-os cristalizados e imutáveis.

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FIGURA 4 – Dominação

Dominação
econômica

Dominação
política

Dominação
cultural

Fonte: Elaborado pelo autor.

Portanto, na elaboração e na gestão de projetos sociais, devemos estar atentos aos riscos
de impedir o empoderamento e a participação coletiva desses grupos. Isso porque não podemos
repetir modelos de ações sociais que mantêm a estigmatização da pobreza e um funcionamento
pela lógica da transformação dos direitos em ajuda e em favores.

Para tanto, na contrapartida às relações de dominação, encontramos as relações comunitárias


(GUARESCHI, 2005). Aqui, comunidade é entendida como uma associação que se dá na linha do
ser, isto é, por uma participação profunda dos membros do grupo. São relações pautadas no ser
e não no ter algo. Nas relações comunitárias, são mantidas a identidade, a singularidade e as
possibilidades de escolha do sujeito, ou seja, elas caracterizam-se por um ambiente democrático.
Essas relações são igualitárias, pois se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres
e incluem uma dimensão afetiva.

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FIGURA 5 - Comunidade

Fonte: maxstockphoto/ shutterstock.com

Ao falar de comunidade, consideramos um rompimento com a dicotomia entre coletividade e


individualidade. É um movimento de recriação permanente de existências coletivas vividas como
realidade do eu e partilhadas intersubjetivamente. Os valores comunitários devem ser interiorizados
como projeto individual para se transformar em ação. Dessa forma, comunidade abrange todas
as formas de relacionamento, encontra seu fundamento no homem visto em sua totalidade, é a
junção do sentimento e do pensamento, da tradição e da ligação intencional, da participação e da
vontade (SAWAIA, 2004).

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Outro aspecto importante a ser considerado na construção dos projetos sociais diz respeito ao
espaço territorial no qual se dão essas relações – as comunidades.

Vasconcelos (2002) aponta que as sociedades urbanas e industrializadas apresentam verdadeiras


etnias, tendo um comportamento próprio, um ser coletivo que é traduzido por uma visão de mundo
e por tipos de territorialidade. O território põe-se como lugar simbólico, onde a alteridade se
manifesta. A autora ressalta que é importante fazer uma distinção entre espaço estrutural, espaço
vivido e espaço cultural. O estrutural refere-se ao espaço objetivo, estruturado por cada sociedade,
de acordo com suas finalidades, funções e nível tecnológico. Ele é vivenciado diferentemente por
cada sociedade e dentro delas pelos grupos e pelos indivíduos. Assim, surge o espaço vivido como
espaço subjetivo, ligado a um comportamento social. O espaço cultural engloba também o vivido
e é denominado pela autora como geossimbólico, de comunhão com um conjunto de signos e de
valores.

Portanto, envolver a compreensão do território ocupado pelos grupos sociais implica considerar
os aspectos psicológicos e psicossociais do sujeito. “Assim, entendê-lo é compreender o contexto
em que está inserido, considerando que o comportamento humano desenvolve-se e se expressa
em contextos culturais” (GOMES, OLIVEIRA e SOUZA, 2007) e relações específicas com o espaço
vivido e o espaço cultural.

2.1. Desqualificação social


Esse conceito é muito importante para a nossa discussão e para intervenções na área social,
porque surge da análise dos efeitos na subjetividade a partir da exclusão de um contexto social
produtivo e, também, porque oferece caminhos na atuação e transformação dessa realidade
objetiva e subjetiva.

O conceito de desqualificação social foi desenvolvido por Serge Paugam, sociólogo francês,
ao analisar os efeitos nos sujeitos que viviam o desemprego e um progressivo afastamento dos
vínculos sociais (PAUGAM, 2004).

O autor desenvolve esse conceito estritamente vinculado ao enfraquecimento e à ruptura


dos vínculos sociais. Os sujeitos que sofrem o processo de desqualificação social passam pela
humilhação, que os impede de aprofundar qualquer sentimento de pertinência a uma classe social.
Os grupos sociais são heterogêneos, o que aumenta significativamente o risco de isolamento

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entre seus membros. É na esfera da situação de desemprego que encontramos o processo de
desqualificação social e de dependência dos serviços sociais (PAUGAM, 2004).

FIGURA 6 – Charge de Thomate

Fonte: http://www.tribunahoje.com/blog/1629/a-palavra-em-palavras/2011/12/08/tem-certeza-de-que-papai-noel-nao-existe.html.

O conceito de desqualificação social é caracterizado pelo movimento de expulsão gradativa


do mercado de trabalho e pelas experiências vividas na relação de assistência. Portanto, não fica
restrito ao critério de pobreza, mas envolve as relações de assistência, a partir da exclusão do
mercado produtivo (PAUGAM, 2004).

Assim, não pode ser definida a partir de critérios quantitativos, mas sim de relações sociais,
que podem ser definidas por cinco elementos fundamentais, segundo Paugam (2004):

• Estigmatização dos assistidos: a utilização permanente da assistência social condena


determinadas classes sociais a determinados lugares de trabalho estigmatizantes, alterando
sua identidade e transformando suas relações com os outros. O efeito subjetivo dessas
relações sociais é o isolamento e afastamento das pessoas que se aproximam da situação
em que vivem.
• Modo de integração: é fundamental considerar que o processo de desqualificação não é isolado
de elementos do conjunto social. Mantém esses sujeitos vinculados ao sistema social pela
assistência, identificando-os como desprovidos de potencial para transformar sua própria

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realidade. Resumindo, mantém esse grupo integrado à engrenagem social, mas cristalizado
em um lugar de inferioridade.
• Resistência: trata-se de indivíduos que conservam os meios de resistência ao descrédito,
resistindo coletiva ou individualmente à desaprovação social, tentando resgatar ou preservar
sua legitimidade cultural e sua inclusão no grupo. Esse terceiro elemento é importante para
o planejamento de intervenções sociais, porque irá considerar a força de resistência desses
grupos para ações transformadoras da realidade.
• Modos de resistência ao estigma: esse elemento refere-se às possibilidades de resistência e
transformação da condição contínua de isolamento e estigmatização social que sofrem as
pessoas que estão excluídas da vida produtiva. Essas possibilidades variam de acordo com
o grau de aprofundamento no processo de desqualificação social. Segundo o autor, quando
maior o processo de isolamento e afastamento social, mais difíceis são as possibilidades de
ruptura com essa condição. Isso também implica dizer que os vinculados a programas de
assistência não configuram um grupo homogêneo. Portanto, é importante distinguir essa
população a partir da relação que é estabelecida com as ações assistenciais. Paugam (2004,
p. 70) apresenta três diferentes grupos: os indivíduos que possuem relações frágeis com
a assistência social são caracterizados por uma relação pontual, vinculada à necessidade
provisória desses serviços; um segundo grupo, que apresenta uma relação regular ou contratual,
é o dos assistidos e caracteriza-se pela constância do vínculo aos serviços assistenciais; e
o terceiro grupo, o dos marginais, é caracterizado por uma relação infra-assistencial ou por
uma ausência desses vínculos.
• Condições sócio-históricas: esse último elemento está associado às características da pobreza
nos tempos atuais, discutidas anteriormente (WANDERLEY, 2004), que impulsionam uma
procura crescente aos recursos da assistência:
o nível de desenvolvimento econômico vinculado à precarização do trabalho; a
fragilidade dos vínculos sociais e familiares; inadaptação ou ausência de ações do
Estado para assegurar à maioria um elevado nível de vida (PAUGAM, 2004, p. 71).

Portanto, a amplitude do fenômeno da desqualificação social afetou o conjunto da sociedade


e pode ser considerada uma nova questão social. Segundo Paugam (2004), na França há um
constante medo coletivo de se tornar excluídos. Diante das frágeis solidariedades familiares,
restam as possibilidades de participação na economia informal, que permitem amortecer o efeito
do desemprego, mas que se revelam fracas e desorganizadas.

Tal realidade é semelhante à situação brasileira. Mas vale lembrar a experiência significativa
de projetos voltados para a economia solidária e o incentivo para criação de cooperativas, que

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buscam oferecer organização para atividades paralelas ao emprego formal. Esse exemplo poderá
ser um diferencial na tentativa de solidificar espaços solidários e possibilitar a inserção em
um modo produtivo diferente da relação empregado/empregador. Da mesma forma, poderá ter
um efeito de inserção social e participação coletiva, contrapondo-se ao isolamento social e ao
enfraquecimento dos laços de sociabilidade. Isso confirma a importância dos projetos sociais
na transformação da realidade.

A importância do conceito de desqualificação social é a estreita relação entre a precariedade da


vida profissional e uma diminuição dos vínculos sociais. Os desempregados estabelecem relações
mais distantes com os seus familiares, em função dos sentimentos de humilhação e vergonha
social. “Quanto mais precária for a situação no mercado de trabalho, maior é a possibilidade do
indivíduo não ter nenhuma relação com a família. Os homens entre 35 e 50 anos são mais atingidos
do que as mulheres, tornando-se mais introspectivos; mais absortos” (PAUGAM, 2004). Podemos
considerar que esse fenômeno atribui-se à exigência do cumprimento do papel profissional e da
provisão do lar de forma mais intensa aos homens do que às mulheres. Portanto:

A experiência da precariedade profissional é, efetivamente, mais dolorosa quanto


atinge os indivíduos no cerne da vida ativa. Quanto maior é a precariedade profissional,
menor é a possibilidade de o indivíduo solicitar ajuda do seu meio social (PAUGAM,
2004, p. 72).

Como consequência, em igual proporção às dificuldades encontradas no mercado de trabalho,


está o enfraquecimento dos vínculos sociais. “Um vazio social atinge esses grupos e determinadas
regiões da cidade, onde não existe nenhum sinal de sociabilidade organizada nos bairros populares”
(PAUGAM, 2004, p. 73).

A fragilidade dos vínculos sociais pode levar a uma fase de dependência dos serviços sociais
como uma forma de compensação da precariedade profissional durável, da diminuição de renda
e da degradação das condições de vida. Essa fase de dependência é seguida pela ruptura dos
vínculos sociais. E, nessa última fase, os indivíduos rompem com as malhas de proteção social e
vivem situações de crescente marginalidade social, “onde a miséria é sinônimo de dessocialização”
(PAUGAM, 2004, p.76).

Essa fase é bem conhecida em nossa realidade brasileira. Caracteriza-se pelo afastamento do
mercado de trabalho, problemas de saúde, falta de moradia, perda de contatos com a família etc.
“Sem esperanças de encontrar uma saída, os indivíduos sentem-se inúteis para a coletividade e
procuram o álcool como meio de compensação de sua infelicidade” (PAUGAM, 2004, p. 76).

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No entanto, essa última fase do processo de desqualificação poderá também atingir jovens,
sem passar pela dependência dos serviços sociais. Isso ocorre em função da ausência de relações
estáveis com a família. Diante das dificuldades em se inserir na vida profissional, a ausência de
apoio familiar constitui uma privação de uma das formas mais elementares de solidariedade.

1.3. Cidadania e emancipação


Nos tópicos anteriores, procuramos demonstrar, por meio da análise de alguns autores, os
efeitos subjetivos da exclusão social, com a finalidade de nortear alguns princípios de atuação
em projetos sociais. Complementando esses princípios, utilizamos o conceito de cidadania social,
desenvolvido por Boaventura de Sousa Santos (2008).

Segundo Santos (2008), a conquista de direitos sociais nas relações de trabalho, na segurança
social, na saúde, na educação e na habitação culmina no estabelecimento da cidadania social.
Esta só poderá ser estabelecida a partir das condições de igualdade, pela legitimação dos direitos
e deveres que constituem a vida cotidiana. O autor ressalta também que a cidadania é um produto
histórico-social protagonizado por diferentes movimentos.

No entanto, segundo o autor, atualmente observamos uma transformação das condições da


cidadania para a subjetividade. Essa mudança ocorre em função do alcance de determinadas
condições reivindicadas por ações coletivas. A segurança da vida cotidiana propiciada pela garantia
dos direitos sociais tornou possível certa autonomia e liberdade, bem como a promoção educacional.
Com isso, determinados grupos sociais conseguem planejar e escolher determinados caminhos
para a sua vida.

Mas, por outro lado, a transformação e o desenvolvimento social perpetuaram o aumento da


burocracia das instituições estatais e contribuíram para ações de vigilância controladora dos
indivíduos. Portanto, as conquistas da cidadania social, ainda que perpetuem a autonomia e a
liberdade, escravizam os sujeitos às rotinas da produção e do consumo, com o ideário da “liberdade
para escolher o que consumir”; a vida nas cidades alimenta o individualismo e o isolamento, destruindo
a solidariedade das redes sociais de interação e ajuda mútua; a cultura de massa midiática e uma
indústria de tempos livres transformaram a escolha do lazer num prazer previsível e programado,
mantendo a passividade do sujeito e a submissão ao poder do outro, condição semelhante à das
relações no trabalho. Enfim, um modelo de desenvolvimento que transformou o homem em objeto
de si próprio, narcísico, voltado à satisfação de seus prazeres individuais imediatos e que prescinde
da relação com o outro (SOUSA SANTOS, 2008).

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Nesse cenário, observamos um retrocesso das políticas sociais por meio dos cortes nos
programas; privatização capitalista de certos setores estatais da saúde, da habitação, da educação,
dos transportes e da previdência social; transferência de serviços e prestações para o setor privado
de solidariedade social mediante convênios com o Estado; mobilização da família e das redes
sociais para o desempenho de funções de segurança social até agora desempenhadas pelo Estado.

A difusão social da produção e o isolamento político das classes trabalhadoras têm sido
acompanhados por uma constelação ideológica em que se misturam o renascimento do mercado e da
subjetividade como articuladores da prática social. Nesse contexto, assistimos a uma revalorização
da subjetividade em detrimento da cidadania:

A aspiração de autonomia, criatividade e reflexividade é transmutada em privatismo,


dessocialização e narcisismo, os quais, acoplados à vertigem produtivista, servem
para integrar, como nunca, os indivíduos na compulsão consumista (SANTOS, 2008,
p. 255).

FIGURA 7 – Mafalda, Quino

Fonte: http://sociedadesemprisoes.blogspot.com.br/2011/12/mafalda-televisao-3.html.

Mas, apesar desse panorama pessimista, Sousa Santos (2008) argumenta sobre algumas
possibilidades emancipatórias e de resgate da cidadania – a ideia da participação e da solidariedade
como expressão de um desejo coletivo é a única susceptível de construir uma nova cultura política.
A politização do espaço social e cultural é um caminho efetivo para o exercício da cidadania.

Tornam-se imprescindíveis, nos tempos atuais, novas formas de cidadania. Faz-se necessária a
construção de espaços de convivências, contrapondo-se a ações individualistas. Essas novas formas
de convivência coletiva, ao contrário dos direitos gerais e abstratos, devem incentivar a autonomia e
combater a dependência burocrática, legitimar as competências interpessoais e coletivas. Na atual
realidade social, as novas formas de exclusão social tornam-se ocultas ou banalizadas pela produção
midiática (SANTOS, 2008). Como exemplos, podemos citar aquelas baseadas no sexo e as discussões

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sobre violência doméstica ou desigualdade social no mercado de trabalho; a perda da qualidade
de vida e a discussão banal sobre o modo de viver nas grandes cidades do país; a banalização do
consumo, com as ilusões vendidas pelas grandes indústrias de marketing e propaganda. Enfim,
como fundamenta o autor, o tratamento midiático dado às desigualdades sociais ora ocultam ou
legitimam, ora complementam e aprofundam os processos de exclusão social.

Souza denominou de “patologias da modernidade” as condições que expressam as manifestações


do homem (e seu sofrimento) diante dos excessos de regulação do cotidiano e seus efeitos.
Encontramos sujeitos manipulados, “robotizados”, controladores, déspotas etc. O autor faz uma
síntese dessas manifestações:

QUADRO 1 - Excessos de regulação

Subsíntese Excesso

Cidadania sem subjetividade nem emancipação. Normalização disciplinar, excesso de controle do


cotidiano.

Subjetividade sem cidadania nem emancipação. Narcisismo; autismo dessocializante;


consumismo.

Emancipação sem subjetividade nem cidadania. Despotismo; totalitarismo; reformismo


autoritário.

Emancipação com cidadania e sem Reformismo socialdemocrático.


subjetividade.

Emancipação com subjetividade e sem Messianismo.


cidadania.

A importância da discussão para esse trabalho fundamenta-se no esforço teórico de empreender


uma nova concepção de democracia “que permita reconstruir o conceito de cidadania, uma nova teoria
da subjetividade que permita reconstruir o conceito de sujeito e uma nova teoria da emancipação”
(SANTOS, 2008, p. 270), sendo levada para a prática e para o campo social.

A nova teoria da emancipação, aspecto útil para o nosso trabalho, baseia-se em uma nova
concepção democrática, inspirada nos movimentos sociais dos anos 1960, porque tenta combater
os excessos de regulação da modernidade por meio de uma nova equação entre subjetividade,
cidadania e emancipação.

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Propõe-se, portanto, um novo senso comum político, que implique o fortalecimento das relações
horizontais entre os cidadãos, ainda que permaneça a obrigação política vertical do Estado. Nessa
concepção, o Estado tem um enfraquecimento do poder e das ações controladoras, por meio da
descentralização. Portanto, esse novo senso comum político resgata as relações comunitárias,
retomando a sua potência transformadora e solidária, igualitária e autônoma (SANTOS, 2008).

Concluindo, os conceitos aqui desenvolvidos procuram representar a importância da conquista


dos direitos fundamentais que integram o homem ao seu grupo social e à coletividade como um
ser. Para tanto, é preciso fazer ecoar a voz de Mafalda:

FIGURA 8 – Mafalda, Quino

Fonte: http://www.todohistorietas.com.ar/mafalda87.JPG.

SAIBA MAIS

Leia o artigo a seguir, que apresenta relações entre educação, cidadania e emancipação.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302007000200016

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UNIDADE 2
ESTRATÉGIAS E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

2. ESTRATÉGIAS E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

2.1. O que são projetos sociais?


Os projetos sociais devem ser canais de atendimento e respostas às demandas e necessidades
dos cidadãos, compostos pelas políticas e programas sociais. A sua importância deve-se à
conquista da legitimidade reconhecida dos direitos dos cidadãos, fundamentados pela política
pública. No entanto, as reivindicações compõem o enredo de diversas manifestações e lutas
políticas, pois as desigualdades sociais e a destituição de direitos aos mais desfavorecidos
permanecem (CARVALHO, 2001).

Convém ressaltar que “as prioridades contempladas pelas políticas públicas são formuladas
pelo Estado, mas nascem das lutas pelos direitos de grupos organizados na sociedade civil”
(CARVALHO, 2001, p. 14). A partir das pressões e reivindicações de movimentos sociais, as demandas
e necessidades tornam-se prioridade efetiva quando ingressam na agenda estatal.

Assim, como desenvolvemos em capítulo anterior, o cenário atual impõe novos modos de
gestão da política social, a saber: as demandas políticas e econômicas mundiais, as exigências
de uma sociedade mais complexa, os constantes déficits públicos, a renovação tecnológica e da
informação, a precarização das relações de trabalho, o desemprego, a expansão da pobreza e o
aumento das desigualdades sociais (CARVALHO, 2001; PAUGAM, 2004).

Uma mudança histórica foi observada no final do século passado e início desse século – até os
anos 1970, os países desenvolvidos serviam como modelo para os em desenvolvimento na construção
e elaboração de políticas sociais que garantissem a conquista do bem-estar, porque configuravam
um Estado social capaz de gerar emprego e políticas sociais eficazes, que proporcionavam maior
equidade e garantia dos direitos sociais a todos os cidadãos. Mas, a partir da década de 1980, a
proposta universalista e redistributivista dessas políticas sucumbiu, diante das mudanças e crises
desse período (CARVALHO, 2001).

O cenário turbulento atual – a devastação das fronteiras com a globalização; o êxito mundial de
um modelo econômico capitalista neoliberal; o insignificante crescimento econômico nos países

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chamados “emergentes” ou “periféricos”; a hegemonia da especulação financeira e do poder
econômico sobre outros poderes sociais – gera mudanças nos valores socioculturais e aumenta
o grau de instabilidade das relações entre os indivíduos e nas organizações e, ainda, nos modelos
de governança e governabilidade que conhecemos (CARVALHO, 2001).

FIGURA 9 - Mundo equilíbrio, Angeli

Fonte: http://noticias.uol.com.br/humor/2008_album.htm#fotoNav=6.

Segundo Carvalho (2001, p. 15), “os processos da globalização vêm alterando os padrões na
oferta de bens e serviços. Introduzem nova interdependência, que fragiliza o conhecido modelo
institucional do Estado-nação [...]”. Essa nova configuração movimenta-se em duas direções:
externa, pela associação de grandes grupos econômicos; e interna, pela transformação nas relações
sociais e de poder, descentralizada e fortalecida. Essa nova movimentação tem efeito nas formas
de governabilidade, nomeadas como governo global e governo local.

No campo social, tais relações ganham o oxigênio do chamado terceiro setor [...],
representado pela enorme expansão das organizações da sociedade civil e de
fundações empresarias sem fins lucrativos, que se movem em redes mundializadas, em
estreita intimidade com organizações supranacionais, especialmente as organizações
das Nações Unidas (CARVALHO, 2001, p. 16).

Assim, o terceiro setor

[...] articula uma heterogeneidade de organizações voluntárias sem fins lucrativos, que
inclui desde associações comunitárias e micro locais de entreajuda até organizações
articuladas em redes globais, atuantes no plano dos direitos humanos, na defesa das
minorias, na defesa do meio ambiente, no desenvolvimento local, entre outras. Tais
organizações expressam características multifacetadas e particularistas, próprias
da sociedade contemporânea (CARVALHO, 2001, p. 16).

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Portanto, em um cenário mundial competitivo e turbulento, o terceiro setor surge como uma nova
possibilidade de articulação de potencialidades, como uma “voz” representante das diferenças e
desigualdades sociais. Considerando essas potencialidades do terceiro setor, podemos vislumbrar
alguns objetivos e metas, a partir das ações desempenhadas por esses atores sociais e institucionais,
sendo fundamentais algumas premissas na sua composição (CARVALHO, 2001):

• O direito social como fundamento da política social, rompendo com práticas clientelistas e
priorizando ações emancipatórias no fortalecimento das potencialidades dos cidadãos usuários
dos programas, não somente em suas vulnerabilidades.
• Um novo equilíbrio entre políticas universalistas e focalistas, ou seja, deverá responder às
demandas das minorias ou às questões dos problemas sociais de maior amplitude.
• A transparência nas decisões, na ação pública, na negociação, na participação.
• A avaliação contínua de políticas e programas sociais, voltadas para medir a eficiência no
gasto e a eficácia e efetividade nos resultados.
Otimizar recursos, melhor controlar e avaliar resultados, ter clareza de compromissos
e responsabilidades para avançar na efetividade de nossos resultados não tem um fim
em si, mas é fruto das exigências trazidas pelo compromisso ético, subjacente a toda
e qualquer ação que se queira transformadora no campo social (CURY, 2001, p. 37).

Portanto, o novo paradigma de elaboração, implementação e avaliação de projetos sociais


requer uma dimensão técnica, dada por uma maior competência na busca de estratégias que nos
propiciem resultados eficientes e eficazes. Mas isso não é suficiente, atualmente, pois a dimensão
ético-política delimita o sentido e os fins da ação social. Isso porque “atuar na esfera pública, coletiva
e social exige, antes de mais nada, um compromisso com a efetividade e, para isso, é preciso que
tenhamos uma visão crítica que questione, a todo momento, o sentido desse nosso agir” (CURY,
2001, p. 38).

2.2. Planejamento de projetos sociais


No planejamento de um projeto social, é importante considerar três dimensões para a compreensão
da dinâmica do processo. Assim, podemos considerar que esse é um processo lógico, comunicativo,
cooperativo e articulado (CURY, 2001).

Por processo lógico, compreendemos a necessidade de “que seus conteúdos e passos sejam
precisos, sistemáticos, em um encadeamento racional de seus elementos e de suas ações”
(CURY, 2001, p. 38). Por processo comunicativo, entende-se que o documento deve ser o resultado
de uma construção conjunta, envolvendo todas as partes atuantes no projeto para o alcance e

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escolha de objetivos, estratégias e resultados comuns. É importante que o projeto informe sobre
a importância e a necessidade de sua implementação e da competência da instituição envolvida
sobre sua eficácia e eficiência no alcance dos objetivos propostos. A cooperação e a articulação
fundamentam-se na obrigatoriedade de um trabalho conjunto, desenvolvendo a capacidade
do diálogo, do convencimento e da negociação. É fundamental a busca de novas parcerias e a
integração com as redes sociais existentes.

A cooperação e articulação fundamentam-se na obrigatoriedade de um trabalho conjunto,


desenvolvendo a capacidade do diálogo, do convencimento e da negociação. É fundamental a busca
de novas parcerias e a integração com as redes sociais existentes (CURY, 2001).

FIGURA 10 – Dimensões do projeto social

Dimensões do Cooperativo
Lógico Comunicativo
projeto social e articulado

Fonte: Elaborado pelo autor.

Devemos considerar também que o processo de elaboração de um projeto social envolve uma
dimensão pedagógica, porque implica um importante aprendizado social. Espera-se que o processo
de construção e implementação de forma conjunta desenvolva algumas potencialidades, como
descrever, analisar e sintetizar os fatos e informações observados na realidade. O desenvolvimento
dessas habilidades poderá facilitar a comunicação e convencer sobre a importância das ações a
ser desenvolvidas pelas equipes ou comunidade; as habilidades que poderão ser utilizadas em
diferentes atuações e realidades sociais; e, principalmente, um aprendizado social que possibilite
o reconhecimento e a aceitação da alteridade nos trabalhos em grupo (CURY, 2001).

Segundo Cury (2001), as etapas que envolvem a elaboração de um projeto social são: o
planejamento, a implementação e a avaliação. Iremos discutir mais detalhadamente o primeiro e o
terceiro – planejamento e avaliação. As etapas da implementação serão discutidas posteriormente.

No entanto, é necessário levar em conta a existência de uma interdependência entre esses


três momentos, para a eficiência, eficácia e efetividade no desenvolvimento e nos resultados de
qualquer projeto social (CURY, 2001). Em sua construção, devemos levar em conta a aplicação de
determinados recursos, a multiplicação de seu rendimento e o seu alcance na eficiência e na eficácia
de seus resultados. Isso só será possível com o aumento de sua racionalidade.

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2.3. Políticas sociais e racionalidade
A função da racionalidade para as Políticas, Programas e Projetos Sociais é favorecer uma
análise reflexiva sobre as ações e sua aplicabilidade em diferentes contextos sociais. Cohen e
Franco (2008) procuram estabelecer uma diferença entre a política econômica e a política social,
como um caminho necessário na avaliação das ações sociais.

Segundo os autores, há uma dúvida na compreensão e no campo de ação dos dois termos.
A inter-relação entre os dois conceitos e campos de atuação é inegável, mas a diferenciação de
ambos é útil para a determinação das potencialidades e limites de cada um deles. Portanto, vamos
enfatizar alguns determinantes fundamentais que operam sobre ambos (COHEN; FRANCO, 2008):

• A função de uma política econômica é estabelecer os critérios sobre a distribuição de renda


pelas ações governamentais. Por sua vez, a política social determina como será distribuída a
riqueza gerada pelas atividades econômicas de determinado país. Além disso, a distribuição
de renda deve ser equacionada, considerando a estrutura da oferta interna com a demanda de
distribuição de renda. Assim, a política econômica é utilizada para aquecer ou desestimular
certos setores da atividade econômica em determinado país.
• O emprego é outra dimensão importante da política econômica. Para análise dessa dimensão,
consideramos a equação da diferença entre a força de trabalho total disponível e a força de
trabalho total empregada, representada pelas taxas de desemprego e subemprego. Quanto
menor esse índice, mais satisfatória é a política econômica. No entanto, “a política social tem
um conteúdo próprio, independente das decisões econômicas quanto à variável emprego. Esse
conteúdo se relaciona tanto com a redistribuição de renda e da riqueza, como com o manejo
dos setores sociais” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 21). Sendo assim, a política social não deve
preocupar-se com as fontes de desigualdade, componente próprio da base do sistema e, por
essa razão, além de seu campo de atuação.

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FIGURA 11 - Mafalda

Fonte: http://centraldastiras.blogspot.com.br/2011/02/mafalda-indicador-de-desemprego.html.

Outro fator determinante na escolha de objetivos e metas das políticas sociais são os critérios
de equidade e eficiência. Eles devem ser analisados pelas seguintes perspectivas: dos princípios
de cada um dos conceitos; dos objetivos; e da execução desses nas políticas sociais. (COHEN;
FRANCO, 2008).

A equidade baseia-se em valores sociais estabelecidos em determinado período histórico-social.


Por sua vez, a eficiência seria o instrumento de avaliação do alcance de determinados fins fixados
pela sociedade. No entanto, atualmente, os princípios econômicos aceitam a eficiência como um
critério, sustentada pelo princípio hedonista, que concebe a felicidade individual atrelada à autonomia
e à possibilidade de escolhas. Em função desse modo de vida contemporâneo, as pessoas ampliam
sua produtividade e aumentam o acesso aos bens e serviços disponíveis (COHEN; FRANCO, 2008).
Podemos identificar esse aspecto com o efeito do programa Bolsa Família, desenvolvido pelo
governo federal, que elevou o poder aquisitivo e, com isso, o poder de compra de determinados
grupos sociais.

Para a sociologia, a eficiência é um critério fundamental para o adequado funcionamento da


sociedade. Cohen e Franco (2008, p. 23) discutem que, para a perspectiva sociológica, torna-se
necessário que algumas posições estratégicas sejam desempenhadas pelos melhores:

Isso justificaria tanto a organização hierárquica da sociedade e a existência de algum


sistema de estratificação social, como a distribuição desigual das recompensas para
motivar os mais capazes a ocupar essas posições.

No entanto, segundo os autores, a organização hierárquica desigual e a estratificação social


atingem diretamente alguns valores sociais sobre a igualdade entre os seres humanos. Sendo
assim, uma justiça distributiva seria o caminho para a equidade.

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Diante desse dilema, existem algumas possibilidades. A primeira delas estabelece o ideário
da igualdade de oportunidades para todos os indivíduos. Nessa condição, as recompensas serão
recebidas de acordo “com os méritos” para as ações individuais; no entanto, esse critério potencializa
as ações voltadas à meritocracia e acentua uma distribuição desigual de recompensas. A segunda
possibilidade utiliza uma distribuição final igualitária, independentemente do desempenho dos
indivíduos; no entanto, para o alcance dessa estratégia, é necessário considerar uma sociedade
de abundância, aspecto que torna essa ação demasiadamente idealista e utópica e ainda contribui
para uma representação coletiva de que não é necessário o esforço para obter a recompensa
(COHEN; FRANCO, 2008). Percebe-se, contudo, que não é possível contemplar todos os interesses e
desejos quando estabelecemos as metas para a eficiência de um projeto social. Torna-se, portanto,
imprescindível conhecer a realidade social em que estamos atuando para identificar a viabilidade
das metas escolhidas.

Ainda segundo Cohen e Franco (2008, p. 25), há um predomínio do princípio da igualdade como
ponto de partida, viabilizando oportunidades similares a todos, “ao mesmo tempo em que pretende
que a distribuição final, que será desigual, se mantenha dentro de certas margens consideradas
aceitáveis em cada contexto social”. Portanto, essa discussão mostra que equidade e eficiência
são os critérios fundamentais que sustentam os sistemas econômicos, políticos e sociais e que
geram, por meio das relações estabelecidas entre esses fatores, desproporcional distribuição de
riqueza gerada e, com isso, desigualdade social.

Cohen e Franco (2008) utilizam alguns princípios para analisar os fatores de equidade e eficiência
nas políticas sociais. Segundo os autores, devemos distinguir três tipos de objetivos:

• Assistenciais: procuram elevar o nível de consumo de uma parte da população e correspondem


ao princípio da equidade. Mas também devemos considerar que esse tipo de objetivo possui
um forte componente de investimento em capital humano.
• O investimento em recursos humanos: atende às necessidades de determinados grupos
sociais, ao investir em capital humano. A importância desse objetivo para uma política social é
o atendimento de determinadas demandas sociais, estabelecendo a importância da população
para assegurar sua continuidade e desenvolvimento. “O princípio da equidade rege as ações
de atendimento às necessidades de determinados grupos ao curto prazo e o princípio de
eficiência predomina a médio e longo prazo e em relação aos interesses societários” (COHEN;
FRANCO, 2008, p. 26).
• As atividades promocionais:

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Costumam ter natureza e objetivos sociais de outra natureza. [...] Considere-se o
caso de programas orientados ao desenvolvimento das microempresas. [...] Optar
por esse setor implica proceder de acordo com o critério de equidade (COHEN;
FRANCO, 2008, p. 26).

Isso pressupõe que os investimentos estejam voltados para os setores sociais que carecem de
recursos para o seu crescimento. Portanto, os critérios de equidade ou eficiência serão contemplados
dependendo da escolha das microempresas beneficiárias; ou seja, no princípio da eficiência, serão
escolhidas as economicamente viáveis e, no da equidade, a escolha será determinada pelos atores
sociais mais carentes.

Na verdade, cabe salientar que, “quaisquer que sejam os fins últimos da política social, a
avaliação permite incrementar a eficiência na consecução do critério aceito como fim, inclusive se
este é a equidade” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 27). Na elaboração de políticas sociais, o princípio
da equidade é a prioridade e, em um segundo plano, fica estabelecido um equilíbrio entre os da
equidade e da eficiência. “Em um terceiro plano, o da implementação, não se pode evitar procurar
a eficiência quando se quer alcançar a equidade” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 27).

No entanto, se queremos alcançar e beneficiar os mais pobres com as políticas sociais, devemos
estar atentos para alguns problemas recorrentes em sua elaboração e procurar mudanças para a
realização de ações.

ACONTECEU

Leia o artigo a seguir, que apresenta um histórico das políticas sociais no contexto brasileiro, desde a
sua natureza até o seu desenvolvimento.

http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-02.pdf

2.4. Problemas na elaboração das políticas sociais


Podemos citar entre os problemas mais comumente encontrados na elaboração e aplicação das
políticas sociais: o acesso segmentado; o universalismo aparente; a regressividade; o tradicionalismo,
inércia ou descontinuidade; e o surgimento instantâneo de novos temas e instituições (COHEN;
FRANCO, 2008).

O acesso segmentado é o impedimento do acesso a toda a população aos serviços sociais,


em função da concessão de direitos a diferentes grupos corporativos, característica mais notória
na previdência social ou, como na realidade brasileira, a participação de instituições privadas na

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saúde pública. Isso implica dizer que o financiamento (tripartido) é composto pela “existência de
um subsídio estatal que não é distribuído segundo as carências ou a insatisfação das necessidades
dos incorporados ao sistema, mas de acordo com seu poder de reivindicação” (COHEN; FRANCO,
2008, p. 28). Por essa razão, as políticas sociais são segmentadas, absorvendo diferentes grupos
sociais, sem considerar sua real capacidade para satisfação das necessidades da população.

Outro problema encontrado é o universalismo aparente, “que garante o direito de todos os


habitantes a receber alguns serviços, independentemente de sua capacidade de pagamento” (COHEN;
FRANCO, 2008, p. 28). O problema é que essa característica da política social não é alcançada
quando não são pensadas as formas de pagamento e geração de recursos para uma suficiente
distribuição igualitária.

A regressividade indica uma ineficaz redução das desigualdades na distribuição de renda,


em alguns casos (COHEN e FRANCO, 2008). Por exemplo, quando a utilização dos recursos da
política habitacional beneficia setores da classe média e média alta e não as classes sociais mais
desfavorecidas. Podemos utilizar como exemplo o programa Minha Casa, Minha Vida, desenvolvido
pelo governo federal, que, devido a algumas “brechas” de seu funcionamento, possibilita a aquisição de
imóveis pela classe média e média alta com a finalidade de investimento financeiro, transgredindo os
princípios iniciais estabelecidos, que eram garantir a moradia para setores sociais mais desfavorecidos.

O tradicionalismo e a inércia perpetuam uma estagnação em programas sociais, impedindo


a mudança, mesmo quando ineficazes. No seu inverso, a descontinuidade, os programas são
interrompidos antes do tempo necessário para avaliar seus resultados.

O surgimento instantâneo de novos temas e instituições dificulta a permanência e o investimento


em instituições mais sólidas e duradouras, porque se destinam recursos para instituições efêmeras,
desviando os financiamentos das atividades socialmente mais eficazes. A consequência desse fato
é a criação de instituições efêmeras, aumentando a competição, dificultando a coordenação das
ações e um direcionamento mais eficaz da utilização dos recursos públicos (COHEN; FRANCO, 2008).

Portanto, tal cenário “nos obriga a procurar alternativas para que a política social realmente
contribua para elevar os níveis de vida da população, mesmo em um contexto de aumento das
necessidades sociais e das demandas organizadas” (COHEN; FRANCO, 2008). Alguns princípios
poderiam contribuir para a reorientação das políticas sociais e a equidade em seus resultados:
praticar uma política compensatória; aumentar a eficiência do gasto social; aumentar o alcance
dos serviços pelos beneficiários; e avançar no conhecimento técnico.

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O princípio da política compensatória deve atender aos mais necessitados, partindo do princípio
da seletividade, pois o universalismo trata da mesma maneira casos diferentes. “A equidade
aconselha a não aplicar a mesma solução a situações distintas” (COHEN; FRANCO, 2008). Mas, para
tanto, é necessário focalizar os serviços para uma determinada população-objetivo, porque alguns
deles deverão manter a universalidade. É necessário também estabelecer prioridades, evitando a
fragmentação da política social em múltiplas ações ineficazes, porque isso não produz impacto
nas causas dos problemas (COHEN; FRANCO, 2008).

É fundamental uma preocupação com a relação entre o gasto social e o aumento da eficiência e
da eficácia na execução dos objetivos propostos pelos projetos. Observamos constantemente uma
inadequação dos gastos de determinados programas sociais, gerada pela ausência de metodologias
de avaliação de resultados. Iremos discutir mais tarde o tema avaliação de projetos sociais, mas
antecipamos que ela permite a escolha de “alternativas mais econômicas para alcançar os objetivos
procurados e, por outro lado, efetuar um acompanhamento que permita reorientar o projeto quando
se julgar que os objetivos não estão sendo alcançados” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 31).

Segundo esses autores, “o alcance dos serviços pelos beneficiários exige analisar o modo
como estes são ofertados e os problemas de demanda que afetam a seus potenciais destinatários”
(COHEN; FRANCO, 2008, p. 31). A redefinição de oferta é garantir a chegada dos bens e serviços à
população demandante, que envolve cuidados na etapa do planejamento, devendo-se considerar
as estratégias de sobrevivência das famílias: “Deve-se também superar obstáculos culturais
quando o recebimento dos benefícios pode implicar em uma mudança de atitude ou de costumes
tradicionalmente estabelecidos e por isso gerar resistências” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 32).

Outra ação fundamental no processo de possibilitar o acesso da população aos serviços é a


promoção da demanda, fornecendo informação sobre os serviços existentes; reduzindo os custos
aos usuários; facilitando o acesso pelos caminhos tortuosos e burocráticos das organizações.

O avanço no conhecimento técnico envolve as duas dimensões da política social – o elemento


político e o elemento técnico. O primeiro pode ser beneficiado pelas recomendações viáveis e
eficientes de pareceres técnicos no planejamento e na execução de determinada política social. Para
tanto, é necessária a realização de diagnósticos adequados e uma análise objetiva da realidade a
ser modificada. Nesse sentido, não bastam as descrições quantitativas das carências da população,
mas levar em conta os problemas que possam ser abordados, para definir prioridades. É claro
que “a possibilidade de realizar bons diagnósticos depende também de se dispor da informação

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adequada não apenas para quantificar os problemas existentes, mas também para descobri-los”
(COHEN; FRANCO, 2008).

FIGURA 12 – Orientações para a política social

Política
compensatória
e avanço no
Otimização
conhecimento
dos serviços
técnico

Eficiência do
gasto social

Orientações para a
Política Social
Fonte: Elaborado pelo autor.

2.5. Planejamento e elaboração de projetos


Segundo Cury (2001, p. 41), “na perspectiva do sistema de planejamento, uma política é um
processo de tomada de decisões”. A política social escolhe determinados setores que merecem
o investimento de ações e programas específicos; assim são estabelecidas formas de integração
entre as ações programáticas em um determinado marco teórico, histórico e espacial. Quando as
prioridades apresentam um modelo que relaciona meios e fins, em um determinado referencial de
tempo, chamamos de plano:

O plano fornece um referencial teórico e político, as grandes estratégias e diretrizes


que permitirão a elaboração de programas e projetos específicos, dentro de um todo
sistêmico articulado e, ao mesmo tempo, externamente coerente ao contexto no qual
se insere. Em um plano, os problemas são selecionados, estabelecendo-se áreas de
concentração, e para essas áreas elaboram-se programas, que, não raro, derivarão
em projetos (CURY, 2001, p. 41).

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“Um plano é a soma de programas que procuram objetivos comuns, ordena os objetivos gerais
e os desagrega em objetivos específicos, que constituirão por sua vez os objetivos gerais dos
programas” (COHEN; FRANCO, 2008). Os planos de ação de um programa social direcionam a
alocação de recursos determinados por uma decisão política.

O plano é um dispositivo das ações programáticas em uma sequência temporal,


de acordo com o desenvolvimento técnico e as prioridades de atendimento. Os
responsáveis por sua formulação são as Secretarias de Planejamento pertencentes
ao setor público (COHEN; FRANCO, 2008).

Como exemplo de um plano nacional, podemos citar o Plano Integrado de Enfrentamento ao


Crack e Outras Drogas, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da
Justiça, em 2011.

“O programa é o aprofundamento do plano, o detalhamento do setor das políticas e diretrizes


do plano” (CURY, 2001). Um programa é definido como um conjunto de projetos que buscam os
mesmos objetivos. “Ele estabelece as prioridades nas intervenções, ordena os projetos e aloca
os recursos setorialmente” (CURY, 2001). De modo geral, as organizações governamentais são as
responsáveis pelo desenvolvimento das ações programáticas, mas outras instituições privadas
atuam como parceiras delas ou atendem a setores desassistidos pelas políticas públicas. O tempo
de duração dos programas é, em geral, de um a cinco anos, embora existam muitos que superam
amplamente este período da vida (COHEN; FRANCO, 2008). Como exemplo de programa, podemos
considerar, como aprofundamento do plano citado antes, o programa Crack, É Possível Vencer.

Um projeto é “um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades


interrelacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um
orçamento e de um período de tempo dados” (ONU, 1984 apud COHEN; FRANCO, 2008, p. 85).
É a unidade mais operativa dentro do processo de planejamento. Está orientado à produção de
determinados bens ou a prestar serviços específicos. As organizações que têm a seu encargo a
formulação e execução pertencem tanto ao setor público como ao privado e desenvolvem suas
atividades na área do projeto.

Podemos diferenciar o plano de um projeto pois o primeiro possui um âmbito maior e menor
detalhamento, enquanto o segundo tem com menor âmbito e maior detalhamento (CURY, 2001).

• Plano – é composto de grandes estratégias e diretrizes. Possui um referencial teórico e político


e dispõe as ações programáticas.

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• Programa – é um conjunto de projetos com os mesmos objetivos. Estabelece as prioridades
das intervenções e aloca os recursos necessários.
• Projeto – um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-
relacionadas, com um período de tempo determinado.

Definindo a diferença entre plano, programa e projeto, podemos discutir a estrutura necessária
para a elaboração de um projeto. Iniciamos com o planejamento e pelos atores sociais envolvidos.

Partimos do pressuposto de que

planejamento, implementação e avaliação não devem ser separados, o planejamento


deve ser pensado sempre com um processo coletivo, grupal. Deve ter o envolvimento
participativo dos atores e seus conhecimentos específicos, práticas diferenciadas
e suas diferentes leituras da realidade (CURY, 2001).

FIGURA 13 – Planejamento participativo

Fonte: Jane0606/ shutterstock.com

No entanto, o planejamento participativo é uma tarefa difícil, considerando a heterogeneidade do


grupo social. A equipe de organização, os financiadores e/ou parceiros e os beneficiários de nossa
ação têm percepções diferentes sobre a mesma realidade. Essas diferentes percepções interferem
diretamente na escolha dos objetivos e estratégias, e o alcance de uma congruência entre estes
irá depender da posição de cada um e da percepção de sua própria realidade. Assim, nossa tarefa
é compreendermos essas visões de mundo, os interesses e desejos manifestos (em determinadas
situações, os desejos implícitos) e favorecer um posicionamento participativo e democrático dessas
diferentes “vozes” (CURY, 2001).

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Ao considerar as diferentes perspectivas e compreensão da realidade, estamos levando em
conta os aspectos políticos, sociais, valorativos e informacionais de um projeto, e não apenas os
elementos técnicos. Essa tarefa

envolve a identificação dos diferentes atores (pessoas e organizações) que poderão


influenciar, positiva ou negativamente, nos resultados do projeto e como esses atores
se inserem na realidade social, como a explicam e como solucionam os problemas
nela encontrados (CURY, 2001).

2.6. Etapas para elaboração de um projeto social


FIGURA 14 – Projeto social

Fonte: Rawpixel.com/ shutterstock.com

O primeiro passo na elaboração de um projeto é a análise do contexto, também chamada


diagnóstico da situação, análise situacional ou análise do cenário.

É preciso descrever, analisar e entender a realidade local, social e institucional na


qual pretendemos intervir e assegurar a conexão entre nossa intervenção no plano
micro (comunidade, público-alvo do projeto) e no plano macro (município, estado)
(CURY, 2001, p. 44).

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Cury (2001) apresenta um roteiro para nortear o processo de investigação e a primeira aproximação
com o contexto social:

• Quem são e como pensam os atores nessa realidade?


• Quais seus desejos e necessidades?
• Quais os problemas, suas causas e seus efeitos?
• Quais são os valores da equipe do projeto? Eles coincidem?
• Quais as características e competências da equipe?

Fundamenta a autora que a análise do contexto social contribui para a investigação da realidade
externa e a da dinâmica interna do projeto, constituída de história, valores, normas, conflitos e
necessidades. A elaboração de um diagnóstico situacional contribui para o processo de avaliação,
bem como auxilia no conhecimento das situações que possam limitar ou potencializar o alcance
dos resultados do projeto.

As informações poderão ser obtidas através de diversas fontes e de muitas formas, destacando-
se que quanto maior a diversidade das fontes de informações, maior o alcance da diversidade e
complexidade da realidade. Podemos citar algumas delas:

• Entrevistas ou reuniões grupais (também chamadas oficinas, grupos focais).


• Reuniões grupais com o público-alvo, para refletir sobre suas histórias de vida, sobre sua
relação com os principais problemas e demandas identificadas de seu cotidiano.
• Reuniões da própria equipe da organização, para refletir sobre os dados pesquisados e desenhar
o projeto a partir das várias opções surgidas e da análise de seu potencial e de sua viabilidade.

Sobre a inserção em determinado contexto social, vale ressaltar alguns pontos discutidos pela
área da psicologia social e comunitária, fundamentada em diferentes experiências com comunidades.

Freitas (1998), na tentativa de discutir e analisar as diferentes formas de inserção no contexto


comunitário, apresenta-nos uma transformação histórica da inserção em comunidades, pautadas
em objetivos e finalidades diferentes. Na década de 1970, motivados por ideários e pela necessidade
de transformação social, os profissionais inseriram-se nos bairros de periferia e nas favelas dos
grandes centros, tentando negar a sua origem cultural e de classe. Nesse período, as ações de
transformação eram vitais para os objetivos da inserção em determinadas realidades sociais. No
entanto, a autora critica a ausência de critérios mais definidos sobre os métodos utilizados para o
desenvolvimento do trabalho. As ações tinham como objetivo principal colaborar para a organização
e mobilização dos setores oprimidos, guiadas por uma militância e participação políticas.

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Outra forma de inserção, que permanece até os dias de hoje, tem como objetivo a caridade
para os mais desfavorecidos. A crítica feita por Freitas (1998) pauta-se nas formas de vínculo e
nos objetivos voltados à população em situação de vulnerabilidade social, caracterizados por uma
oferta de serviços destinados à “melhora e adaptação social”, ou que, pelo menos, minimizem
seus problemas e sofrimentos. Minimizar os problemas não é transformar sua realidade social;
quando procuramos uma adaptação de classes desfavorecidas, construímos as ações em relações
verticais, que supõem um lado que possui o poder e o conhecimento e outro formado por sujeitos
destituídos desses fatores. Nessa forma de inserção, a relação com a comunidade está pautada
na filantropia (FREITAS, 1998).

A autora também desenvolve outra maneira, guiada pela curiosidade. Fundamenta-se na relação
com a comunidade como um “ser estranho”. Esse tipo de relação originou-se com o distanciamento
entre as instituições de formação e as necessidades sociais, temáticas e problemáticas vividas pela
população, que precisavam ser conhecidas e tomadas como objeto de investigação. Essa forma
de inserção está pautada na curiosidade científica, e a crítica de Freitas (1998) é a exploração das
problemáticas vividas como objeto de estudo sem o comprometimento de verdadeira transformação
de seu cotidiano.

Diferente das três formas anteriores, há um tipo de inserção motivada por um compromisso
ético com o modo de vida da comunidade:

[...] Orientada pelo compromisso de que o trabalho deve possibilitar mudança das
condições vividas cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta
é que estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. [...] As
problemáticas para a ação definem-se conjuntamente, construindo-se muitas vezes
instrumentais para aquela realidade em questão. Trata-se de uma inserção que se dá
na dependência da avaliação da população, comprometendo-se com a possibilidade
de mudança social e construção de conhecimento na área (FREITAS, 1998, p. 177).

Outro aspecto desenvolvido por Freitas (1998) diz respeito às práticas delineadoras de inserção
na comunidade, baseadas em três aspectos:

• As necessidades da população é que devem indicar os caminhos para a atuação em comunidade.


Isso implica definir objetivos a posteriori.
• O trabalho deverá implicar a construção conjunta de canais e alternativas para que a população
assuma seu cotidiano, fomentando relações mais solidárias e éticas, assim como desenvolvendo
uma consciência crítica.

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• Apesar das incertezas e das delimitações durante o processo de inserção, o domínio específico
para a ação está ligado aos processos históricos e psicossociais que perpassam o cotidiano
das pessoas.

Portanto, é fundamental

[...] entender as tendências e ideologias que se materializam no cotidiano das pessoas,


que as faz sentirem-se com mais ou menos possibilidades de mudarem suas vidas,
em benefício a si e ao outro, de tal modo que este outro não apareça como uma
ameaça à sua vida, à sua convivência e à sua emoção, emoção essa que permeia as
relações humanas e as possibilidades futuras de convivência (FREITAS, 1998, p. 179).

Segundo a autora, a fase de investigação para a elaboração do diagnóstico da situação em


comunidades poderá ser construída utilizando algumas estratégias e instrumentos, além das que
já foram apresentadas por Cury (2001):

• Os contatos com a comunidade poderão ser estabelecidos por intermediários, individuais e/


ou coletivos, que procuram os profissionais ou instituições, solicitando alguma intervenção
para as situações problemáticas vividas na comunidade.
• Depois de estabelecida a entrada na comunidade, têm início os contatos para conhecer a
realidade social, por meio de relações intersubjetivas. O profissional observa o cotidiano das
pessoas e também está sendo observado pela comunidade.
• As entrevistas podem ser realizadas coletivamente, fora de um ambiente controlado, com
variação de participantes.
• As conversas informais – normalmente muito ricas e com maior potencialidade de aproximação
dos moradores de determinada região – acontecem nos lugares comuns e de circulação da
comunidade. Os conteúdos dessas conversas fornecem informações sobre a dinâmica social
e as modalidades de vínculo na comunidade.

Freitas (1998) acrescenta ainda:

• Visitas às casas ou a alguma reunião considerada importante, e/ou alguma


festividade. [...]

• Recuperação da história de constituição da comunidade através de fontes vivas,


como pessoas significativas, lideranças formais e informais, representantes de
entidades, igreja e templos, entre outros.

• Resgate de documentos do saber popular e uso de fotografias e/ou objetos e/ou


produções oriundas da produção cultural local.

• Encontros não programados, reuniões imprevistas e debates repentinos acontecidos


no seio dos grupos formais e informais.

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Portanto, as estratégias de inserção na comunidade objetivam um melhor conhecimento
da realidade social e favorecem a participação ativa da população envolvida. Esse processo é a
formulação do diagnóstico da situação ou a análise situacional e deve conter os seguintes itens
(FREITAS, 1998):

• Informações sobre a vida, condições de moradia e sobrevivência.


• Recuperação histórica da construção daquela comunidade.
• Identificação de necessidades e problemáticas vividas pela população na esfera do seu
cotidiano.
• Identificação dos modos alternativos de enfrentamento e resolução das necessidades e
problemáticas encontradas pelos moradores no seu cotidiano e nas relações estabelecidas.
• Discussão conjunta, com a comunidade e seus representantes, sobre as alternativas e estratégias
de enfrentamento das necessidades, assim como, possibilidades para sua viabilização.

A partir das discussões e análise crítica sobre as formas de inserção e os trabalhos desenvolvidos
em comunidades, ressaltamos alguns princípios éticos e problemas encontrados na atuação
(FREITAS, 1998):

• Ser um trabalho coletivo, envolvendo grupos de profissionais em uma perspectiva


interdisciplinar e transdisciplinar;

• É dirigido, orientado e balizado pelas necessidades e demandas coletivas da


população, que podem ter incidências e reflexos na vida particular das pessoas;

• Lida com grupos e, por isso mesmo, enfrenta dificuldades derivadas das
características de espontaneidade dos grupos, variação na quantidade e
composição dos seus membros, avanços e retrocessos existentes nas diversas
reuniões grupais, distanciamento que vai sendo criado entre as lideranças e os
demais; hierarquias internas e fontes de poder diversificados que se alteram
continuamente; e dificuldades e distorções comunicacionais acontecidas nas
reuniões;

• Necessita de um conhecimento contínuo e atualizado sobre a dinâmica e a vida


comunitárias, cujas alterações vão imprimindo novas diretrizes para o trabalho;

• Admitir a possibilidade de mudança como elemento presente: mudança de


estratégias, objetivos, problemáticas a serem trabalhadas e alternativas adotadas;

• Trazer, quase que a todo momento, questionamentos sobre a importância e


viabilidade do trabalho.

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UNIDADE 3
ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROJETO

3. ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROJETO


FIGURA 15 – Projeto social

Fonte: dotshock/ shutterstock.com

Após a etapa da análise situacional, o próximo passo será a elaboração dos objetivos do projeto.
“A elaboração e delimitação, a clareza e legitimidade dos objetivos são fundamentais para o êxito
de qualquer projeto, pois o seu delineamento implicará na execução e na avaliação das ações
desenvolvidas” (CURY, 2001).

Podem-se distinguir seis tipos de objetivos: de resultado e de sistema; originais e derivados;


únicos e múltiplos; complementares, competitivos e indiferentes; imediatos e mediatos; gerais e
específicos (COHEN; FRANCO, 2008).

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Segundo os autores, a diferença entre objetivos de resultado e objetivos de sistema baseia-se nos
interesses que a elaboração do projeto inclui. Assim, os primeiros visam modificar alguma parcela
da realidade por meio das ações desenvolvidas; os segundos estão direcionados aos interesses
específicos da organização (sistema) que realiza o projeto. Vale ressaltar:

As organizações são criadas para atuar sobre certos aspectos da realidade. Para
isso, seus diretores programam intervenções e mobilizam os recursos necessários
para pô-las em prática. Mas, ao mesmo tempo, surgem interesses que procuram
assegurar a sobrevivência organizacional e trabalhista, aumentar os recursos humanos,
financeiros e de poder etc. Esse conjunto de objetivos implícitos chega a se sobressair
aos objetivos expressos. Assim, a organização pode fracassar na obtenção destes,
mas atingir os objetivos de sistema (COHEN; FRANCO, 2008, p. 88).

Portanto, os autores salientam a importância do processo de avaliação, que irá possibilitar


investigação e vigência dos objetivos estabelecidos pelo projeto e a correspondência com os
objetivos implementados pela ação.

Outra distinção necessária é no estabelecimento dos critérios para a escolha de objetivos


originais e objetivos derivados, que explicita o propósito central do projeto. Por exemplo, um
programa nutricional tem como objetivo original melhorar o acesso e as condições de alimentação
da população-alvo. No entanto, associado a ele, serão incluídos os objetivos educacionais, derivados
das consequências das ações voltadas à educação alimentar desenvolvidas. No exemplo citado,
os objetivos educacionais são assumidos como integrantes do propósito do projeto, “ao comprovar
que o melhoramento do estado nutricional dos beneficiários de menores rendas é acompanhado
por uma melhora no rendimento escolar” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 89).

A inserção de vários objetivos com natureza diferenciada recebe o nome de objetivos múltiplos. O
motivo principal é a existência de algum grau de complementaridade que faz com que, na execução
de um ou mais objetivos, haja aumento das probabilidades de alcance de resultados. No entanto,
alguns cuidados são necessários para a escolha e elaboração dos objetivos múltiplos:

a) evitar objetivos que sejam conflituosos entre si;


b) essa alternativa pode dificultar a seleção das atividades do projeto e sua avaliação
posterior (COHEN; FRANCO, 2008).

Os objetivos são complementares quando atingir um deles implica a consecução dos demais
ou incrementa a probabilidade de consegui-los. Nos competitivos, pelo contrário, conseguir algum
implica sacrificar ou dificultar os outros. Os objetivos são indiferentes quando a execução de um
não altera a probabilidade de ter êxito com os demais.

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Outra diferenciação importante na escolha dos objetivos refere-se ao tempo de execução e
alcance dos resultados do projeto. Os objetivos imediatos são aqueles que se pretende conseguir em
curto prazo, enquanto que mediatos são os que se localizam no médio ou longo prazo. Imediatez ou
mediatez são critérios relativos que dependem da natureza, características, escala e fins perseguidos
pelo projeto. Por isso, uma definição rigorosa de tais termos é extremamente difícil, mas poderão
ser utilizados para medir tanto a direção como o grau de avanço alcançado pelo projeto.

Quanto à sua abrangência, os objetivos de um projeto podem ser divididos em:

• Objetivo geral – aquele que expressa maior amplitude, exigindo um tempo mais
longo para ser atingido e a ação de outros atores que, como nós, contribuem
para a resolução do mesmo problema. Assim, o objetivo geral é aquele que só
será alcançado pela multiplicidade e associação das ações [...].

• Objetivo específico – é um desdobramento do objetivo geral, expressando


diretamente os resultados esperados. É o foco imediato do projeto, orientando
diretamente nossas ações.

• Para evitar interpretações com relação aos objetivos de um projeto, devemos


sempre utilizar uma linguagem precisa e concisa. Propor um objetivo é expressar
nossa intenção transformadora, transformação que poderemos monitorar e
avaliar. Para que isso aconteça é preciso que cada objetivo explicite também
sua meta – objetivo quantitativo, temporal e espacialmente dimensionado, isto
é, além de expressar o que queremos, precisamos delimitar o quanto, em que
tempo e em que lugar ele se realizará (CURY, 2001, pp. 45-6).

É preciso distinguir as metas do projeto das normas técnicas de implementação. As primeiras


correspondem ao processo de quantificação dos objetivos. As normas (que erroneamente costumam
ser chamadas de “metas”) na realidade são as exigências técnicas que devem ser cumpridas para
atingir o objetivo. Podemos citar como exemplo que as metas de um programa nutricional escolar
seriam os níveis de cobertura que ele pretende atingir para o tipo de assistência alimentar definido para
a população-alvo. Por outro lado, cada tipo de assistência alimentar tem normas de implementação
que se expressam na quantidade de calorias e proteínas que devem ser consumidas para cobrir as
necessidades alimentares previstas pelo programa (COHEN; FRANCO, 2008). Portanto, as metas
são estabelecidas pela equipe responsável pela execução e avaliação do projeto, respeitando as
normas e exigências técnicas que deverão ser cumpridas.

3.1. População-alvo e outros beneficiários


Segundo Cohen e Franco (2008, p. 90), “a definição das metas inclui a determinação do conjunto
de pessoas ao qual se destina o projeto, o que é denominado população-alvo, população-objetivo,

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população-meta, grupo meta ou grupo focal”. O estabelecimento dos critérios de escolha é determinado
pelas avaliações de “indivíduos ou grupos que possuem em comum algum atributo, carência ou
potencialidade que o projeto pretende suprir ou desenvolver” (COHEN; FRANCO, 2008, p. 90), em
determinada localidade espacial.

Segundo os autores, o projeto deve priorizar os beneficiários diretos. No entanto, beneficiários


indiretos são uma categoria de pessoas que recebem impactos positivos pela realização do projeto,
mesmo que esse público não tenha sido considerado no momento da elaboração.

Os beneficiários indiretos legítimos são aqueles que não foram considerados como população-
objetivo, mas cujo favorecimento está de acordo com o propósito do projeto. Haverá, também,
beneficiários indiretos ilegítimos, que se beneficiaram com o projeto, sem estar vinculado aos
objetivos e propósitos do projeto. Há, ainda, os benefícios públicos com o projeto, por meio de um
benefício para o conjunto da sociedade, resultando em maior conscientização de determinado
problema ou um impacto social mais amplo (COHEN; FRANCO, 2008).

FIGURA 16 – População-objetivo

Beneficiários
indiretos
Beneficiários legítimos
diretos
Beneficiários
População- indiretos
objetivo ilegítimos

Beneficiários Benefícios
indiretos públicos

Fonte: Elaborado pelo autor.

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3.2. Efeitos e impacto dos projetos sociais
FIGURA 17 – Projeto social

Fonte: Rawpixel.com/ shutterstock.com

Podemos considerar que o efeito é todo comportamento ou acontecimento que sofreu influência
de algum aspecto do programa ou projeto. Assim, um projeto deve ter efeitos procurados, previstos,
positivos e relevantes. Entretanto, podem existir efeitos “não previstos”, mas que sejam compatíveis
com o projeto (COHEN; FRANCO, 2008).

Cohen e Franco (2008) salientam a importância da diferenciação entre objetivos e efeitos,


evidenciada pelo aspecto temporal das ações do projeto. Os primeiros constituem o planejamento
ou o que se pretende atingir com a realização do projeto, portanto, estão localizados antes de sua
execução e compõem um dos itens de sua elaboração. Os segundos resultados das ações consideradas
pelo projeto, portanto, são verificados durante ou depois dele e configuram-se pela verificação do
alcance efetivo dos objetivos propostos no momento de sua idealização. É possível, também, uma
distinção entre efeitos ou produtos intermediários (que ocorram durante a realização do projeto) e
finais (a transformação verificada na população-objetivo que pode ser atribuída ao projeto).

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Outra consideração diz respeito aos efeitos procurados e não procurados. Os efeitos procurados
têm que ser previstos e também que ser positivos. Os efeitos positivos não procurados podem ter
sido previstos no momento de elaborar o projeto, sendo valiosos para os propósitos estabelecidos.
Os efeitos negativos podem prejudicar o possível êxito do projeto, sendo melhor sua previsão no
início da elaboração dele. A avaliação que acompanha o processo de operação permite aproveitar
as externalidades positivas desses efeitos e minimizar, ao mesmo tempo, os não previstos que
comprometem o alcance dos objetivos (COHEN; FRANCO, 2008).

“O impacto é definido como um resultado dos efeitos de um projeto” (ONU, 1984 apud COHEN;
FRANCO, 2008, p. 92). Portanto, “a determinação do impacto exige o estabelecimento de objetivos
operacionais e de um modelo causal que permita vincular o projeto com os efeitos resultantes de
sua implementação” (ibidem).

Os resultados de avaliação do impacto poderão ser divididos em resultados brutos e resultados


líquidos. O primeiro diz respeito às modificações verificadas na população-objetivo depois que o
projeto esteja funcionando, durante um tempo suficientemente longo para que tais modificações
sejam observáveis. Os resultados líquidos são as alterações no grupo meta que podem ser atribuídas
única e exclusivamente ao projeto (COHEN; FRANCO, 2008). A discussão sobre os resultados do
projeto e formas de avaliação serão discutidos em outro capítulo.

CURIOSIDADE

Leia o artigo a seguir, que analisa a transição da questão social no Brasil contemporâneo,
condicionada por políticas de transferência de renda e suas implicações sobre o padrão de
redistribuição da renda.

http://www.ipc-undp.org/publications/mds/20P.pdf

3.3. Elaboração do cronograma de atividades


Planejar as atividades de um projeto é não só definir quais as ações e procedimentos
necessários para alcançar os resultados desejados, mas também programar o tempo
e a sequência em que se desenvolverá cada uma dessas atividades. O instrumento
utilizado para tal finalidade é o cronograma, que permite identificar as ações no
tempo, estimar o tempo em relação aos recursos, visualizar a possibilidade de
algumas ações acontecerem em paralelo e verificar a relação de interdependência
entre elas (CURY, 2001).

Segundo Cury (2001), o cronograma é um instrumento valioso para o planejamento e monitoramento


do projeto, pois, por meio dele, “podemos acompanhar as atividades no tempo, suas interdependências,

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seu desenvolvimento e seus resultados”. Também é possível acompanhar mudanças no percurso
planejado e realizar uma revisão das estratégias.

FIGURA 18 – Cronograma

Fonte: Line-design/ shutterstock.com

Algumas características deverão ser seguidas na elaboração do cronograma (CURY, 2001):

• Completo: com todas as atividades do projeto e seus respectivos responsáveis;

• Preciso: apontando o início e o fim de cada atividade;

• Lógico, de modo a mostrar as interdependências entre as diversas atividades

• Flexível, atualizado e sistematicamente analisado;

• Realista, baseado em estimativas reais.

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QUADRO 2 - Exemplo de cronograma de atividades

Mês
Atividade Responsável
11 22 33 44 55 66 77 88 99 110

1. Identificação, análise, contatos com


os vários atores sociais envolvidos.

2. Reuniões de elaboração do plano de


ação e formalização das parcerias.

3. Contratação da equipe.

4. Preparação e confecção do material


de divulgação do projeto.

5. Divulgação

6. Início de execução (especificar as


ações).

7. Continuidade da execução
(especificar as ações dessa fase).

8. Finalização da execução (especificar


as ações dessa fase).

9. Avaliação e elaboração dos


relatórios avaliativos.

Fonte: Cury (2001).

A próxima etapa na elaboração do projeto envolve o planejamento dos recursos e o sistema


de avaliação.

3.4. Captação e alocação de recursos


Consideraremos para apresentação deste tópico a problemática da captação de recursos
pelo terceiro setor. Esse segmento institucional ainda está construindo o seu lugar quanto ao
preenchimento de lacunas das ações públicas e ocupa um espaço intermediário entre a lógica
do mercado e do Estado. Portanto, precisa recorrer a esses dois setores para obter os recursos
financeiros, como colaboração, dependência e até mesmo subordinação. Entre as fontes de
recursos do terceiro setor, estão os recursos de investimento público, destinados à execução de
ações pelas organizações não governamentais que seriam de dever do Estado, mas que este não

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consegue atender e, por essa razão, estabelece uma parceria com aquelas. Outra fonte de recursos
é a geração de receita própria, por meio de venda de produtos/serviços a associados ou terceiros
e doações de empresas e de indivíduos (ANDRADE, 2002).

Atualmente, têm surgido muitas iniciativas em prol do desenvolvimento social, favoráveis para as
transformações da realidade social pela mobilização da sociedade civil, mas, por outro lado, desafiam
a concorrência entre as organizações do terceiro setor para captação dos recursos necessários
ao desenvolvimento de projetos. O benefício dessa concorrência é o aumento da exigência às
organizações para um sistema de gestão de alta qualidade com indicadores de desempenho. A
potencialidade e importância do desenvolvimento de novas formas de captação de recursos é,
principalmente, a inclusão de novos conceitos para as organizações e a substituição das relações
paternalistas e ineficazes de atuação social, levando à implementar ações voltadas à eficiência
de resultado e sustentabilidade. Esse cenário impulsiona a busca em recursos junto às empresas
privadas e junto às agências de desenvolvimento internacional (ANDRADE, 2002).

As condições favoráveis para a obtenção de recursos estão na apresentação de alguns aspectos


no projeto, entre os quais podemos citar (ANDRADE, 2002):

• Ter o foco de atuação definido;


• Estabelecer a comunicação adequada com a comunidade;
• Ter à disposição recursos humanos, contratados ou voluntários, capacitados para exercer e
gerenciar as ações propostas;
• Ter uma boa administração financeira, clara e transparente, conhecendo a composição dos
recursos disponíveis.

Para captar recursos, é necessário que a organização sem fins lucrativos desenvolva um projeto
de captação, contendo os seguintes itens (ANDRADE, 2002):

• Apresentação da organização: “É importante explicitar a missão da organização e sua visão de


futuro, apresentando a sua linha estratégica de atuação social” (ANDRADE, 2002). É necessária
a apresentação dos parceiros, com os quais a organização desenvolve ações, assim como
convém apresentar os projetos já desenvolvidos.
• Apresentação do produto/serviço: a apresentação dos objetivos do projeto deve ser consistente
com a missão da organização, especificando como a necessidade da comunidade será atendida.
Além disso, os proponentes devem justificar a necessidade do investimento e apresentar
benefícios reais.

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• Análise do mercado: faz-se necessário conhecer as empresas interessadas no financiamento
do projeto, com consistência de argumentos que justifiquem as ações propostas pelo projeto
e envolvimento do público-alvo.
• Marketing: nesse aspecto,
deverá ser exposto qual valor será agregado à empresa com o financiamento de tal
projeto. Não haverá necessidade de expor em mídia aberta a ação da organização,
mas uma exposição adequada, na mídia correta, pode alavancar mais investimentos
por parte das empresas privadas [...] Assim os próprios consumidores poderão
cobrar, pela opção de compra, qual empresa tem a melhor política social, merecendo
ser privilegiada em detrimento de outra que ainda não investe em projetos sociais
(ANDRADE, 2002, p. 64).

• Equipe gerencial: a escolha do pessoal que trabalhará no projeto é fundamental para a captação
de recursos, pois aumenta a credibilidade da ação.
• Planejamento financeiro: a apresentação do balanço patrimonial, o demonstrativo de resultados
e o fluxo de caixa contribuem para um conhecimento sobre o equilíbrio financeiro da organização
e sua capacidade de gestão financeira do projeto.
• Plano de implementação: deve detalhar, por meio do cronograma, “como o projeto será
implementado, especificando as principais atividades, prazos de cumprimento e responsáveis”
(ANDRADE, 2002, p. 65).

Portanto, ressaltamos a importância na clareza do projeto e no nível de detalhamento de suas


ações e recursos envolvidos.

Para cada atividade prevista no projeto devem ser explicitados claramente quais os
recursos físicos, financeiros e humanos necessários, pois só assim será possível
elaborar um orçamento compatível com as necessidades das ações. O planejamento dos
recursos deve ser minucioso, a fim de diminuir as surpresas na fase de implementação
do projeto, dando contornos e limites à nossa ação (CURY, 2001, p. 47).

O planejamento do orçamento de um projeto social possibilita indicar quais as fontes para a


obtenção dos recursos para cada item de despesa, especificando a origem dos recursos internos
(organização) e externos (entidades externas). O cronograma físico-financeiro é um instrumento
utilizado para a previsão dos gastos em determinado período de tempo e dos recursos necessários
para a realização das atividades do projeto (CURY, 2001).

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QUADRO 3 - Modelo de orçamento

CONTRAPARTIDA
DESPESAS AGÊNCIA A AGÊNCIA B TOTAL
DA ORGANIZAÇÃO

1. Recursos humanos

2. Materiais

3. Alimentação

4. Transporte

TOTAL DE DESPESAS

RECEITAS

1. Doações

2. Recursos próprios

TOTAL DE RECEITAS

Fonte: Souza (2001).

Outro item fundamental na construção do projeto e para a captação de recursos é o cronograma


físico-financeiro. Esse cronograma deve ser compatível com o cronograma de atividades e com os
recursos necessários à sua execução, detalhando o tempo e a evolução dos gastos em relação à
execução das atividades programadas para o período estabelecido.

O acompanhamento do cronograma físico-financeiro permite compará-lo com o que


foi realizado e medir os resultados dos trabalhos associados aos recursos aplicados.
Assim como o cronograma de atividades, esse cronograma permite a tomada de
decisões para alteração necessárias de percurso, quando identificados problemas
na execução e gestão dos recursos financeiros do projeto (SOUZA, 2001).

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QUADRO 4 - Modelo de cronograma físico-financeiro

Itens de despesa Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Acumulado

Recursos humanos

Materiais

Alimentação

Transporte

Outros

Subtotal

Taxa de Administração

Total do projeto

Bolsa-auxílio

Total geral

Fonte: Associação de Apoio ao Programa de Capacitação Solidária apud Souza (2001).

Ao tratarmosde alocação de recursos, não podemos desconsiderar os conceitos de eficácia e


eficiência, fundamentais para a racionalização em projetos sociais. Esses conceitos serão discutidos
no próximo capítulo, porque também compõem os itens da avaliação de projetos sociais.

Pág. 48 de 67
UNIDADE 4
AVALIAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

4. AVALIAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS


FIGURA 19 – Projeto social

Fonte: alphaspirit/ shutterstock.com

Segundo Carvalho (2001), a avaliação de políticas e programas sociais tornou-se um desafio


para as instâncias políticas e governamentais, para a pesquisa científica e para as organizações que
desenvolvem ações sociais. Em função da crescente rejeição dos métodos de avaliação tradicionais,
o desafio atual é a renovação de metodologias avaliativas inovadoras e eficazes. O motivo da
rejeição constante aos métodos tradicionais de avaliação ocorre em função da insuficiência na
apreensão da dinâmica das ações sociais, considerando a tomada de decisões, a implementação,
a execução, os resultados e os impactos produzidos. Como consequência, esses métodos não
oferecem informações úteis para influir nos processos geradores de ineficiência das políticas e
programas sociais.

Apesar dessa dificuldade, é imprescindível a utilização de métodos de avaliação de políticas,


programas e projetos sociais como um compromisso ético dos atores envolvidos. Estabelece-
se como método necessário para as transformações sociais e mudanças efetivas e, ao mesmo
tempo, possibilita um posicionamento crítico em relação aos programas ou ações que mantém
uma estagnação de situações críticas sociais.

A avaliação sistemática e contínua pode ser estratégica na oferta de informações


substantivas que possibilitem o exercício do controle social (mecanismo valioso de
democratização da gestão pública) e referenciem avanços na efetividade das ações
sociais. (CARVALHO, 2001, p. 60).

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É cada vez mais constante a reivindicação de transparência e participação nas ações que
envolvem as políticas públicas e os programas sociais. As exigências pautam-se na necessidade
de acompanhar a distribuição do gasto público e a efetividade de ações que objetivam maior
equidade social. Portanto, as razões são inúmeras para a utilização de métodos de avaliação como
procedimento cotidiano das organizações governamentais e não governamentais. Podemos enfatizar
algumas delas, segundo Carvalho (2001):

• A avaliação é um dever ético. Isso implica dizer que “as organizações que atuam na esfera
pública precisam prestar conta à sociedade sobre os resultados/produtos de sua ação”
(CARVALHO, 2001, p. 61). A avaliação contínua de ações nesse campo torna-se imperiosa,
em função da relação desigual entre os altos índices de demandas trazidos pela situação de
pobreza, desigualdade e exclusão social e a insuficiente oferta de serviços sociais. Além disso,
a obtenção de impactos na intervenção social é, muitas vezes, imperceptível, considerando
a extensão da situação de vulnerabilidade social. Portanto, as ações sociais devem atender
aos critérios de eficiência, eficácia e equidade na prestação dos serviços.
• Como já desenvolvemos anteriormente, a avaliação tem uma função estratégica para levar
a uma mudança, se necessária, do percurso e na tomada de decisões nas ações sociais.
A avaliação poderá embasar com dados as justificativas para uma mudança estratégica,
contribuindo para estabelecer prioridades.
• “A avaliação tornou-se imprescindível para captar recursos, pois as agências financiadoras
exigem dados avaliativos dos resultados e impactos dos serviços” (CARVALHO, 2001, p. 61).

Infelizmente, apesar da importância da avaliação no processo de elaboração, implementação


e resultados das ações sociais, as organizações enfatizam mais o planejamento e dão pouca
importância a ela, ocupando um “espaço” apenas nas justificativas ou na ratificação de determinada
ação ou para a captação de recursos.

As organizações, ao contrário, deveriam assumir a avaliação como procedimento


para aprimorar suas ações e, mais que isso, manter uma relação de transparência
de seus propósitos, processos e resultados com sua população-objetivo, parceiros,
financiadores e sociedade em geral (CARVALHO, 2001).

Outro aspecto importante é a autoavaliação institucional. É uma das formas de ganhos de


eficiência/eficácia para a organização. Seu objetivo central é comparar a capacidade de resposta
às demandas de seu público-alvo. Para tanto, é necessária a utilização dos seguintes elementos
de verificação (CARVALHO, 2001, p. 63):

• A coerência e relevância social de sua missão institucional;

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• Sua inserção na comunidade;
• A atualidade de seus propósitos e métodos de ação;
• Sua flexibilidade para responder a antigas e novas demandas sociais;
• Seus valores e cultura institucional;
• Sua capacidade de estabelecer parcerias na realização de ações sociais de maior alcance;
• Sua visibilidade e legitimidade social;
• Reconhecimento e importância na esfera pública.

Outro aspecto importante é o momento em que a avaliação é realizada. Ela deverá iniciar-se
antecipando-se à ação (ex ante), para averiguar sua viabilidade num dado contexto. Enfatizamos que
ela não poderá acontecer apenas no final do programa ou projeto, ou seja, diante de uma proposta,

as alternativas são verificadas de acordo com os seus impactos, custos, nível de adesão
da organização e comunidade, padrões de intervenção, processos e resultados. É
uma avaliação do diagnóstico situacional e da proposta do projeto (CARVALHO, 2001).

No período de intervenção propriamente dito, a avaliação de processo realiza o acompanhamento


da implementação e execução do projeto, por meio de indicadores próprios, selecionados pela
equipe idealizadora. Com a finalização do período de execução do projeto, é realizada a avaliação
dos resultados e dos impactos imediatos e mediatos. Contudo, esses impactos nem sempre são
perceptíveis imediatamente após o término da ação, sendo às vezes necessários, para tal verificação,
meses ou anos, dependendo do tipo de programa – é a avaliação post facto (CARVALHO, 2001).

FIGURA 20 - Etapas da avaliação

• Avalia diagnóstico situacional.


Ex-ante • Avalia a proposta do projeto.

Avaliação • Avalia a implementação e a execução.


de processo • Avalia os resultados e impactos.

• Avalia os impactos da ação após o


Post-facto
término.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Mas o que é a avaliação? “É atribuir valor, medir o grau de eficiência, eficácia e efetividade das
políticas, programas e projetos sociais. A avalição identifica processos e resultados, compara dados
de desempenho, informa e propõe mudanças” (CARVALHO, 2001).

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No entanto, algumas organizações enfrentam muita dificuldade no processo de avaliação, porque
entendem como um mecanismo para identificação de erros e para encontrar os culpados, e não
como parte integrante do percurso da elaboração e implementação do projeto, como uma fonte de
informação. Assim, o processo avaliativo vem acompanhado de sentimentos como medo, fracasso,
punição e reprovação. A forma de compreender o erro como uma fonte valiosa de informação
precisa ser incorporada no dia a dia do processo avaliativo e na revisão dos programas e projetos
sociais (RAPOSO, 2001).

O acompanhamento e a avaliação têm por objetivo assegurar que o projeto cumpra os objetivos
definidos, dentro dos prazos e orçamento previstos Os itens que devem compor o acompanhamento
e a avaliação de um projeto social são (RAPOSO, 2001, p. 94):

• Fidelidade aos objetivos do projeto;


• Adequação da metodologia e das estratégias;
• Alcance parcial das metas;
• Adequação dos recursos financeiros originalmente projetados e a sua realização efetiva;
• Monitoramento de mudanças conjunturais que podem comprometer ou recomendar a revisão
de práticas ou estratégias adotadas, tanto no que se refere às metas, quanto ao objetivo e à
concepção originais.

Contudo, a avaliação procura identificar os indicadores, ou seja, parâmetro que ajudem a mostrar
o desenvolvimento do projeto, considerando as metas e objetivos. Detalharemos esses conceitos
que são fundamentais para a compreensão do processo avaliativo: indicadores, eficiência, eficácia
e efetividade.

4.1. Indicadores
“Indicador é um fator ou um conjunto de fatores que sinaliza ou demonstra a evolução, o
avanço, o desenvolvimento rumo aos objetivos e às metas do projeto” (RAPOSO, 2001, p. 95). A
escolha de indicadores deverá ser construída conjuntamente no momento da elaboração do projeto,
e, considerando a diversidade dos campos de atuação social, não é conveniente a utilização de
indicadores padrão. A escolha dos indicadores pela equipe envolvida no projeto reforça a ideia
da importância da avaliação ser um processo contínuo e participativo. Ilustraremos, com a figura
do cone invertido, alguns critérios que poderão ser utilizados para a escolha dos indicadores de
resultados de projetos sociais.

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FIGURA 21 - O impacto dos projetos sociais

Fonte: Raposo (2001).

Segundo Raposo (2001), o propósito da figura do cone invertido é demonstrar, por meio de uma
representação visual, os itens que poderão ser alcançados pelas ações do projeto (tangíveis) e
aqueles que serão mais difíceis de ser atingidas (intangíveis), porque necessitam de instrumentos
mais complexos para a sua mensuração. Os itens apresentados na figura poderão compor os
indicadores de avaliação de projetos.

Portanto, para a escolha dos itens de avaliação de impacto, a equipe gestora do projeto deverá
responder às seguintes perguntas (RAPOSO, 2001, p. 97):

• O que queremos medir? Remeter-se sempre aos objetivos específicos do projeto, separando
os aspectos tangíveis dos intangíveis.
• O que meus parceiros querem medir? Identificar as diferentes expectativas dos financiadores e
as do executor. Normalmente, a agência analisa o impacto, buscando mudanças conjunturais
que foram provocadas pela proposta e o executor avalia o impacto de sua ação.
• Como posso medir? Como a equipe reconhece que as mudanças que estão sendo buscadas
estão em processo? Quais os comportamentos da clientela podem ser observadas como
sinalizadores de mudança, entre o diagnóstico situacional e a situação prevista?

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• Quem pode medir? A instituição pode assumir, levando-se em conta o amadurecimento
institucional? A atual equipe pode acompanhar e avaliar o processo? Há necessidade de
contratação de consultoria?

Ainda na definição dos indicadores, é fundamental assegurar alguns critérios e características


(CARVALHO, 2001, p. 78):

• Relevância e pertinência
O indicador deve medir os elementos mais significativos do programa e ainda aqueles
diretamente relacionados ao que se quer avaliar.

• Unidade
O indicador deve utilizar-se de um só aspecto da atuação e medi-lo.

• Exatidão e consistência
Os indicadores devem utilizar medidas exatas, proporcionando as mesmas medições
sempre que se use o mesmo procedimento de medição, independentemente das pessoas
que as efetuem.

• Objetividade
Cada indicador tem que se referir a fatos e não a impressões subjetivas.

• Serem suscetíveis de medição


A realidade sobre a qual se quer construir o indicador deve ser mensurável, sendo a
expressão quantitativa do indicador.

• Facilidade de interpretação
O indicador deve ter relação com o que se quer medir e ser de fácil compreensão do
público-alvo a que se destina.

• Acessibilidade
O indicador deve basear-se em dados facilmente disponíveis de forma que se possa obtê-lo
mediante um cálculo rápido e a um custo aceitável, tanto em termos monetários como de
recursos humanos necessários para a sua elaboração.

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4.2. Eficiência
A avaliação da eficiência de um projeto analisa a relação entre o uso de recursos (financeiros,
materiais, humanos) e os benefícios resultantes. Um bom índice para avaliação desse critério é
ter um custo mínimo para o maior número e qualidade de benefícios. Atualmente, é fundamental
para um projeto ter eficiência, dado que os recursos são escassos e, em consequência, há uma
busca de racionalização nos gastos. Na realidade brasileira, além dessa escassez, o contingente
populacional que necessita dos programas e projetos sociais é muito grande (COHEN e FRANCO,
2008; CARVALHO, 2001).

Segundo Cohen e Franco (2008, p. 104), “a eficiência e a produtividade são conceitos semelhantes,
porque relacionam recursos com resultados”. No entanto, há uma diferença entre eles, no que tange
aos recursos considerados para a avaliação de determinadas ações e aos recursos empregados;
na produtividade, são considerados os recursos em unidades físicas, enquanto que, na eficiência,
são considerados os insumos em unidades monetárias. Acompanhando o conceito de eficiência,
temos o conceito de eficácia. Ambos são ferramentas úteis para estabelecer o grau de racionalidade
na alocação de recursos em atividades de projetos sociais.

4.3. Eficácia
Segundo Cohen e Franco (2008, p 102), “a razão essencial do projeto é produzir mudanças em
alguma parcela da realidade, solucionar um problema social, ou prestar um serviço a uma determinada
parcela populacional”. Portanto, a eficácia é medida pelo grau de alcance dos objetivos e metas
do projeto na população beneficiária, considerando um período de tempo determinado, ou seja,
considera dois critérios fundamentais em sua avaliação: metas e tempo.

A medição da eficácia leva em consideração os meios e fins da execução de determinado projeto,


ou seja, avalia o grau de alcance na execução dos objetivos e metas propostos e os resultados
alcançados. A avaliação da eficácia é a mais utilizada, sendo considerada como um dos objetivos
éticos do projeto, juntamente com a efetividade (CARVALHO, 2001).

4.4. Efetividade
Segundo Carvalho (2001, p. 72), a efetividade de um projeto envolve um dos princípios éticos
das ações sociais, porque “está relacionada ao atendimento das reais necessidades sociais [...],
à sua capacidade de alterar as situações encontradas”. A efetividade de um projeto social ou de

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determinada política social deve pressupor “mudanças significativas e duradouras na qualidade de
vida ou desenvolvimento do público beneficiário” (CARVALHO, 2001, p. 72). A efetividade é muito
considerada entre os critérios de avaliação das políticas públicas, considerando as desigualdades
sociais, pobreza e exclusão de nossa população:

É possível mesmo dizer que as investigações avaliativas vêm concentrando esforços


na busca de correlacionar objetivos, estratégias, conteúdos e resultados com os
impactos produzidos, isto é, com o grau de efetividade alcançado (CARVALHO, 2001,
p. 72).

A medição da efetividade também se utiliza do critério tempo – o antes e o depois – e tem


se apresentado com uma das dificuldades na avaliação dos projetos sociais, em função de uma
complexa relação de causalidade entre os ganhos de efetividade e o programa implementado.
Podemos considerar que a efetividade tem duas dimensões em função dos fins perseguidos pelo
projeto – é a medida do impacto e o grau de alcance dos objetivos.

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4.5. Metodologias de avaliação
Segundo Carvalho (2001), o processo de avaliação não pode depender de uma única abordagem
de acompanhamento, considerando o campo das ações sociais e sua complexidade de resultados.
Por essa razão, é necessária uma amplitude de métodos, compatíveis com a complexidade do
fenômeno e dos resultados a ser avaliados. O quadro a seguir associa metodologias de avaliação,
coleta de dados e o papel do avaliador:

QUADRO 1 – Associação de metodologias de avaliação, coleta de dados e o papel do avaliador

Papel do
Tipos de abordagem Metodologias de avaliação Coleta de dados
avaliador

Quantitativa - centrada Metodologias apoiadas Ênfase em instrumentos Avaliação externa.


no sistema de ação. na estatística e na de medição Papel de expert.
experimentação controlada. quantitativa. Definição
Esquema explicativo de indicadores de
hipótético-dedutivo. resultados.

Qualitativa - centrada Metodologias apoiadas nas Ênfase na coleta de Autoavaliação


na lógica dos atores. sociologias. dados qualitativos: os assistida dos
processos em jogo. sujeitos envolvidos
Análise de processos sociais. (sujeito coletivo).
Observação e registro
Pesquisa-ação. de fatos significativos. Papel facilitador
em relação
Esquema interpretativo de aos sujeitos
compreensão de dinâmicas envolvidos.

Pluralista - centrada Metodologias de avaliação Ênfase na coleta Coavaliação entre


nas relações entre o apoiadas nas mudanças de dados quanti- categorias de
sistema de ação e a programadas (políticas qualitativo. atores implicados.
lógica dos atores. públicas, programas).
Definição de Papel de mediador.
Pluralidade de abordagens indicadores de
para apreender e aferir processos e de
processos, resultados e resultados.
impactos de políticas e
programas. Utilização de vários
instrumentos de coleta
de dados, incluindo a
observação.

Fonte: Carvalho (2001).

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4.6. Avaliação participativa
De todos os métodos de avaliação, a avaliação participativa ocupa um lugar de destaque em
projetos sociais.

O objetivo deste tipo de avaliação é minimizar a distância que existe entre o avaliador
e os beneficiários. É utilizada particularmente em pequenos projetos, que procuram
fixar as mudanças propostas criando condições para que seja gerada uma resposta
interna do grupo (COHEN; FRANCO, 2008).

No processo de um projeto social, a estratégia participativa prevê a adesão da comunidade


no planejamento, programação, execução, operação e avaliação dele. Dessa forma, a avaliação
participativa é um componente de uma estratégia diferente de projetos, fazendo com que sua
adequada implementação dependa em grande parte da população afetada por eles. Na avaliação,
existem instâncias em que a participação comunitária se torna imprescindível, como ao estabelecer
prioridades em projetos de múltiplos propósitos (COHEN; FRANCO, 2008).

A avaliação participativa surgiu com o método da pesquisa-ação, utilizando princípios,


procedimentos e estratégias semelhantes. A potencialidade dessa metodologia avaliativa é a
aproximação gradativa da realidade na qual se desenvolve a ação e, pelo fato de ter aproximações
com a pesquisa-ação, baseia-se no envolvimento e na participação conjunta de todos os envolvidos
(CARVALHO, 2001).

A amplitude e a potencialidade do método de avaliação participativa vão além do envolvimento


coletivo, ou seja, proporcionam uma apreensão do pluralismo social, incorporam os sujeitos
implicados nas ações e desencadeiam um processo de aprendizagem social. No entanto, a avaliação
participativa não poderá ficar restrita à coleta de informações dos participantes envolvidos, mas,
“[...] através do ato de pôr, em comum, no debate avaliativo a diversidade de opiniões, de valores,
de expectativas e de representações que se têm da ação esses sujeitos se tornam partícipes da
avaliação e comprometidos com a ação” (CARVALHO, 2001, p. 85).

Nesse método avaliativo, poderão ser utilizados instrumentos tradicionais, bem como outros
métodos, como definição de indicadores, aplicação de questionários, realização de entrevistas,
reuniões focais, observação participante, entre outros. Ainda é possível incluir, na discussão com
os envolvidos, novos processos de troca de informações e reflexão coletiva. O segundo objetivo
central da avaliação participativa é a aprendizagem social:

[...] Ela socializa os dados e acrescenta novas informações e conhecimentos, que


estão na maioria das vezes departamentalizados e segmentados nas diversas equipes

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de trabalho e nos beneficiários. Essas informações compartilhadas possibilitam a
apropriação do saber fazer social, a democratização do conhecimento e a transparência
da ação pública (CARVALHO, 2001).

No entanto, diante da complexidade desse método avaliativo, algumas competências adicionais


do avaliador são necessárias, por exemplo, a capacidade de envolver os atores sociais no programa
com habilidades de mediação e estimulação do processo. Vale lembrar que, apesar da importância
desse método avaliativo, nem sempre ele é o mais adequado para a realidade que se procura
avaliar, e determinadas ações ou projetos poderão necessitar de outros métodos associados
(CARVALHO, 2001).

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5. ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS
FIGURA 22 – Projetos sociais

Fonte: Tetiana Yurchenko/ shutterstock.com

Para contribuir na elaboração de projetos sociais, sugerimos um roteiro, contendo todas as


informações necessárias para a compreensão da proposta (CURY, 2001, pp. 49-51):

1 - Título do projeto
O título de seu projeto deve refletir a natureza e o enfoque de seu problema. É conveniente
provocar um impacto em seu leitor e estimular a curiosidade para conhecer a sua proposta.

2 - Sumário executivo
O objetivo do sumário é apresentar ao futuro parceiro/financiador sua proposta geral, possibilitando
identificar a adequação às exigências de suporte técnico e/ou financeiro do projeto. Deverá resumir
todas as informações-chave relativas ao projeto, não devendo ultrapassar uma página.

3 - Apresentação da organização
A apresentação deve conter, segundo a autora: nome ou sigla da organização; composição da
diretoria, da coordenação e nome do responsável pelo projeto; endereço completo para contatos
e correspondências; histórico resumido da entidade (quando foi criada, diretrizes gerais, percurso
ligado ao social, parcerias e trabalhos realizados, resultados alcançados e principais fontes de
recursos ou financiamentos da organização).

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4 - Análise do contexto e justificativa
A análise de contexto deve descrever as deficiências e potencialidades da região à qual o projeto
se destina, as características da população e as iniciativas já desenvolvidas. Deve apresentar
uma análise do problema e suas implicações, especialmente quanto a aspectos quantitativos e
qualitativos. Essa análise deve ficar restrita aos elementos básicos relacionados ao problema, de
maneira que permitam esboçar alternativas viáveis de intervenção.

A justificativa deve expor seus argumentos, correlacionando as deficiências locais,


necessidades e potencialidades descritas e analisadas com a alternativa de intervenção
escolhida, demonstrando a relevância e a necessidade de realização do projeto, bem
como sua capacidade de transformação da realidade analisada (CURY, 2001, p. 50).

5 - Objetivos e metas
Os objetivos e metas do projeto devem ser definidos com clareza e precisão.

6 - Público-alvo
“Devem-se descrever as características (faixa etária, sexo, nível de escolaridade, situação
socioeconômica) dos beneficiários (público-alvo) diretos e indiretos do projeto” (CURY, 2001, p. 51).

7 - Metodologia
Deve-se relatar, resumidamente, o modelo teórico utilizado, explicitar as rotinas
e as estratégias planejadas, as responsabilidades e compromissos assumidos,
como o projeto vai se desenvolver, todos os envolvidos e o nível de participação/
responsabilidade de cada um (CURY, 2001, p. 51).

8 - Sistema de avaliação
É necessário descrever como serão o monitoramento e a avaliação do projeto, a partir de
indicadores tangíveis e/ou intangíveis, instrumentos e estratégias de coleta de dados e equipe
responsável pelo processo.

9 - Cronograma de atividades
O cronograma de atividades deve enumerar quais etapas devem ser seguidas no tempo para
realizar as atividades necessárias ao projeto.

10 - Cronograma físico-financeiro do projeto e composição do orçamento


O cronograma físico-financeiro deve conter a previsão de todos os custos, por item de
despesa, durante o tempo de duração do projeto. A composição do orçamento deve
explicitar o planejamento da cobertura/composição desses custos (CURY, 2001, p. 51).

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11 - Anexos
Os anexos devem conter informações e documentos adicionais que o financiador tenha solicitado
ou que sejam necessários para complementar as informações do projeto.

Dicas para a elaboração de projetos

Comentários gerais e opinativos não devem constar nos objetivos.

Lembre-se de que aquilo que parece óbvio para você, em geral, não o é para outro leitor. Não se
esqueça de informações que complementam seu projeto, tais como parcerias ou articulações com
outros projetos e instituições.

Preocupe-se sempre com a lógica de sua argumentação.

Procure não usar jargões. Eles confundem e diminuem a capacidade de compreensão daquilo que
você quer dizer, já que, em geral, os jargões são como grandes “guarda-chuvas” onde tudo cabe, não
deixando claro, para quem lê seu projeto, a que, exatamente, você se refere.

Às vezes, o texto começa a ficar muito longo, pois você sente dificuldade em explicar suas ações.
Tente fazer um quadro que sintetize o que você está querendo expressar, com uma legenda ou
observações que o esclareçam. Quadros e tabelas sempre permitem uma leitura mais objetiva dos
assuntos.

O número de páginas não torna o seu projeto melhor. Ao contrário, uma das características mais
procuradas hoje em dia em um projeto é a concisão. Ser capaz de elaborar um documento claro,
preciso e conciso é fundamental.

No caso de seu projeto solicitar, a terceiros, recursos para a compra de equipamentos ou outro
serviço especializado, mande em anexo o levantamento de preços de pelos menos três fornecedores.

No final, peça para outra pessoa ler seu texto e veja se ela o interpreta corretamente.

Por último, lembre-se de realçar as positividades e potencialidades de sua proposta. Ou seja, é


importante que os financiadores entendam o quadro que você analisou como passível de ser
transformado através das ações propostas e que sua exposição não os leve a considerar uma perda
de tempo financiar o projeto.

(Fonte: Gestão de Projetos Sociais, 2001)

ATIVIDADE REFLEXIVA

Comentamos sobre projetos sociais e políticas sociais. Agora reflita sobre a seguinte questão: existe
um padrão para uma relação mais adequada entre desenvolvimento e políticas sociais?
Para ajudar na sua reflexão, sugere-se a leitura dos artigos a seguir:

Artigo 1: http://www.scielo.br/pdf/rk/v16nspe/05.pdf
Artigo 2: http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/7950/2/Desenvolvimento_e_politicas_sociais_uma_
relacao_necessaria.pdf
Artigo 3: http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/viewFile/142/162

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste material, falamos sobre a estruturação de projetos sociais partindo do pressuposto de
que toda ação social deverá contemplar a coletividade e a territorialidade. O profissional envolvido
em tais projetos deve fazer uma análise das demandas e das necessidades do campo social,
considerando a história coletiva, as relações intersubjetivas e as condições de sofrimento social.
Por fim, todo projeto social deverá contemplar a transformação da realidade social das pessoas
em condições de exclusão e vulnerabilidade, considerando a participação conjunta da população,
o processo de conscientização e a realidade sócio-histórica.

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GLOSSÁRIO
A posteriori: é o conhecimento ou justificação dependente de experiência ou evidência empírica.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_priori_e_a_posteriori.

Empoderamento: é a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a


conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Fonte: https://www.significados.com.br/
empoderamento/.

Estado-nação: é uma área geográfica que pode ser identificada como possuidora de uma política
legítima que pelos próprios meios constitui um governo soberano. Enquanto um estado é uma
entidade política e geopolítica, uma nação é uma unidade étnica e cultural. Fonte: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Estado-na%C3%A7%C3%A3o.

Transdisciplinar: uma disciplina transdisciplinar é mais do que um conjunto de disciplinas que


colaboram entre si em um projeto com um conhecimento comum a elas. Significa também que há
um modo de pensar organizador que pode atravessar as disciplinas e que pode dar uma espécie
de unidade. Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/transdisciplinaridade/.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. G. V. de. Organizações do terceiro setor: estratégias para captação de recursos junto
às empresas privadas. 2002. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Engenharia da Universidade
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ARAÚJO, J. N. G.; CARRETEIRO, T. C. (orgs.). Cenários sociais e abordagem clínica. São Paulo:
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PAUGAM, Serge. O enfraquecimento e a ruptura dos vínculos sociais: uma dimensão essencial
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