Você está na página 1de 8

RELATO DE EXPERIENCIA DO FORUM ESTADUAL DE PREVENÇÃO E

ERRADICAÇÃO DO TRAVALHO INFANTIL DO MARANHÃO/FEPETIMA:


Campanha “É só uma Criança: Exploração Sexual, uma das Piores Formas de
Trabalho Infantil”

RESUMO: Este artigo teve como objetivo relatar a


experiência com a Campanha “É só uma criança:
Exploração Sexual, uma das piores formas de trabalho
infantil” realizada pelo Fórum Estadual de Prevenção e
Erradicação do Trabalho Infantil do Maranhão/FEPETIMA
em 2017. Para tanto, a campanha contou com a adesão
dos 70 municípios com maiores índices de trabalho
infantil e com apoio das rádios e redes televisivas com
objetivo de alcançar todos os municípios do Estado. Foi
realizado o II Workshop de Trabalho Infantil em que foi
dado visibilidade para o tema da campanha. Além da
realização de ações de prevenção realizada pelos
municípios em todo o Estado.

Palavras-chave: Exploração Sexual. Trabalho Infantil.


FEPETIMA.

ABSTRACT
Keywords:

1 INTRODUÇÃO

A violência contra crianças e adolescentes representa grande incidência no


Estado do Maranhão, conforme o número do Disque 100, apontado no Balanço Geral
2011 a 2016, em que foram analisados os dados de 2014 a 2016 no que diz respeito
às denúncias de violência sexual contra esse público. A exploração sexual ocupa 21%
dos registros da violência sexual, somando 462 registros, ficando atrás apenas do
abuso sexual. Nesse contexto, “a exploração sexual de crianças e adolescentes” foi o
tema escolhido para a campanha de 12 de junho – Dia Mundial de Combate ao
Trabalho Infantil, a ser desenvolvida pelo FEPETIMA em 2017.
Apesar das evidências dessa prática no Maranhão, há uma invisibilidade e,
consequentemente, a subnotificação dessa forma de exploração e violação de direitos
pelas diversas camadas sociais e órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. A
exploração sexual de meninas e meninos é silenciada por inúmeros motivos, dentre os
quais se apontam a culpabilização da própria criança ou adolescente pela exploração
e a justificativa desta como meio de sobrevivência própria ou da família.
Compreendendo que o fenômeno retrata um cenário em que:
“É violado o direito de não ser explorado economicamente, de não trabalhar
antes dos 14 anos, e, após os 14 anos, de trabalhar em condições dignas,
sem perigo e não estigmatizantes. A violência sexual contra crianças e
adolescentes é inaceitável, além de ilegal. Ela fere a ética e transgride as
regras sociais e familiares de convivência mútua e de responsabilidade dos
adultos para com as crianças. Essa violência se contrapõe aos direitos
humanos conquistados pela sociedade. Ela nega a dignidade do outro, do
ponto de vista de sua integridade física e psicológica.” (FALEIROS;
FALEIROS 2008, p.38).

Além de representar uma violação aos direitos humanos, revela um papel


inverso da sociedade que tem o dever constitucional de proteger, mas acaba
transgredindo, seja por que é quem violenta ou por que é quem silencia a violência.
É importante ressaltar que há mecanismos legais nacionais e internacionais
que protegem a infância e a adolescência dessa violação. A Constituição Federal, no
Artigo 227, fala que é “dever da família, da sociedade do Estado [...] colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”. O Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA também discorre sobre o
assunto em seu artigo 5º, em que:
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais”. (BRASIL, 1990)
O Brasil regulamentou a Convenção 182 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) que trata da proibição das piores formas de trabalho infantil, em que,
de acordo com a lista TIP da OIT, que definida pelo Decreto Nº 6.481, de 12 de junho
de 2008, no artigo 4ª e inciso II:
Art. 4o Para fins de aplicação das alíneas “a”, “b” e “c” do artigo 3 o da
Convenção no 182, da OIT, integram as piores formas de trabalho infantil:
II - a utilização, demanda, oferta, tráfico ou aliciamento para fins de
exploração sexual comercial, produção de pornografia ou atuações
pornográficas. (BRASIL, 2008).

Destaca-se, ainda, a existência de instrumentos como o Plano Nacional de


Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador
e o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes, ambos se constituem de propostas e metas que orientam ações
integradas e articuladas com vistas a eliminar as piores formas de trabalho infantil e ao
enfrentamento a violência sexual.
Diante da necessidade de sensibilização e mobilização social para o
enfrentamento da exploração sexual contra crianças e adolescentes, as instituições
que compõe o FEPETIMA resolveram por deliberar sobre a realização da Campanha
Estadual “É só uma Criança!”.

2 O FÓRUM ESTADUAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÂO DO TRABALHO


INFANTIL DO MARANHÃO – FEPETIMA
O Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil do
Maranhão (Fepetima) foi criado em 16 de novembro de 1999, originando-se enquanto
estratégia de articulação e aglutinação de atores sociais institucionais, envolvidos com
políticas e programas de prevenção e erradicação do trabalho infantil no Estado do
Maranhão. Trata-se de um espaço democrático, coletivo, que tem a finalidade de
fomentar, fortalecer e disseminar propostas e estratégias conjuntas entre governo e
sociedade civil para o combate ao trabalho infantil.
O FEPETIMA faz parte de uma Rede Nacional de Combate ao Trabalho Infantil
formada pelos Fóruns de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente
Trabalhador, presentes nas 27 unidades da Federação, coordenada pelo Fórum
Nacional de Combate ao Trabalho Infantil/FNPETI, criado em 1994, com o apoio da
Organização Internacional do Trabalho - OIT e do Fundo das Nações Unidas para a
Infância - UNICEF.
A composição inicial do Fórum contou com o apoio do Fundo das Nações
Unidas para a Infância – Unicef, do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente Pe. Marcos Passerine, e posteriormente da Organização Internacional do
Trabalho – OIT, Departamento de Serviço Social e o Programa de Pesquisas de Pós-
Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, antiga
Delegacia Regional do Trabalho, atualmente, Superintendência Regional do Trabalho,
Ministério Público do Trabalho, a Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social
de São Luís a Agência de Notícias da Infância Matraca.
Dentre as atuações marcantes do Fepetima, destaca-se a elaboração do Mapa
do Trabalho Infantil no Maranhão na década de 90, a realização do Prêmio Cataventos
de Liberdade, que premiou as melhores produções da imprensa maranhense sobre o
combate ao trabalho infantil no Estado, vale ressaltar, que uma das ações apoiadas
pelo Fórum nos anos 2000 foi a implantação do Programa de Prevenção e
Erradicação do Trabalho Infantil da OIT, bem como o Programa Bolsa Família com
transferência de renda, que interviu diretamente na realidade de famílias em situação
de vulnerabilidade social, sobretudo aquelas que se encontrava no trabalho infantil.
Nos últimos anos o FEPETIMA vem fomentando a realização de campanhas de
sensibilização de prevenção e erradicação do trabalho infantil em períodos
estratégicos, como por exemplo: durante o carnaval; dia 18 de maio (Dia Nacional de
Combate ao Abuso e a Exploração Sexual Contra Criança e Adolescente); 12 de junho
(Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil), festejos junino, finados, 12 de outubro,
entre outras. A escolha das datas deve-se à maior visibilidade da ocorrência da
contratação de mão de obra infantil, como o período do carnaval e festas juninas,
como também por serem datas conhecidas mundialmente como de luta pelos direitos
das crianças e adolescentes. As campanhas são realizadas sob orientação da OIT e
do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil/FNPETI.
Destaca-se ainda, o compromisso com o incentivo ao protagonismo juvenil e a
inserção desses nas discussões, como a Promoção do I Concurso de Poesia do
Fepetima envolvendo a Região Metropolitana de São Luís, que aconteceu com o apoio
da Secretaria de Estado da Educação e do Ministério Público do Trabalho, além da
Criação do Comitê Estadual de Adolescentes pela Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil no Maranhão/CEAPETIMA, que congrega mais de vinte e dois
municípios com representação de adolescentes.
O FEPETIMA tem atuado no sentido de mobilizar e apoiar os munícipios
(secretarias municipais), o Estado (Secretarias Estaduais de Educação, Saúde,
Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Educação, dentre outras), Órgãos de
Defesa e Responsabilização (Justiça do Trabalho, Ministério Público do Trabalho,
Superintendência Regional do Trabalho, Conselho Tutelar), sociedade civil, além da
mobilização dos meios de comunicação em massa. Uma vez que o Fórum é um
espaço que aglutina todos esses agentes sociais.
Por sua natureza, o Fórum deve ser considerado de importante relevância
social, pois representa uma necessidade coletiva interinstitucional e intersetorial de
combater o trabalho infantil no Estado do Maranhão, no qual busca a soma entre o
cumprimento do dever institucional de cada órgão que o compõe e o compromisso dos
representantes desses órgãos para atingir a finalidade do Fórum Estadual de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil no Maranhão.

3 – RELATO DE EXTERIÊNCIA: CAMPANHA “É SÓ UMA CRIANÇA:


EXPLORAÇÃO SEXUAL, UMA DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL”

A campanha foi pensada em plenária do FEPETIMA, e a partir daí deu-se início


ao processo de construção da mesma com a formação de uma subcomissão de
trabalho para a elaboração e divulgação da ação. Com o objetivo de alcançar o maior
número possível de pessoas, foram realizadas sensibilizações das mídias de grande
circulação Estadual, em especial rádios e jornal televisivos. Também contou com a
articulação das Secretarias Estaduais de Saúde, de Educação e, em especial, de
Desenvolvimento Social, por coordenar as Ações Estratégicas do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil, que é executado em setenta municípios
maranhenses, realizando, assim, a mobilização em massa dos municípios para
adesão à campanha. Foi construída uma agenda integrada com órgãos de proteção,
defesa e responsabilização para a realização de blitz nos municípios da Região
Metropolitana de São Luís.
A Campanha também buscou inserir as crianças e os adolescentes como
atores principais para o enfrentamento da exploração sexual, realizando rodas de
conversas com crianças e adolescentes na capital do Estado e estimulando a
realização das atividades com adolescentes pelos municípios. O Fórum realizou,
ainda, em parceria com o TRT/MA e a SRT/MA, o II Workshop de Trabalho Infantil,
abordando o tema “Exploração Sexual, uma das piores formas de trabalho infantil”,
evento em que foi lançada a Campanha Estadual.
Quanto aos materiais de divulgação para a sensibilização do tema, foram
elaborados e distribuídos panfletos, cartazes, informes digitais para redes sociais
(facebook, Instagram, WhatsApp, e-mail), além de outdoor expostos em pontos
estratégicos de algumas cidades do Maranhão e aplicação de busdoor (aplicados na
parte superior da traseira dos ônibus) que percorreram toda a Região Metropolitana de
São Luís na vigência da Campanha.

4 RESULTADOS ALCANÇADOS

Foi realizado o II Workshop de Trabalho Infantil, em que também foi lançada a


Campanha “É só uma Criança!” Exploração sexual, uma das piores formas de trabalho
infantil. O evento contou com, aproximadamente, 180 participantes, dentre
Magistrados do TRT 16ª Região, membros do MPT/MA, Prefeitos, Policiais
Rodoviários Federais, Secretários de Estado, representantes da Universidade Federal
do Maranhão, Servidores Públicos, Universitários, Organizações da Sociedade Civil e
população em geral. Foi um momento de apresentação da situação da Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes no Estado, bem como das estratégicas de
combate a esse problema. Dividido em painéis, foram trabalhados os temas “Trabalho
Infantil: entre o necessário e o digno”, proferido por Maria do Socorro Almeida de
Sousa (Juíza do Trabalho); “Exploração sexual, uma das piores formas de trabalho
infantil”, apresentado pela professora Carla Cecília Serrão Silva (UFMA); e
apresentado o aplicativo Mapear, da Polícia Rodoviária Federal, que é utilizado no
mapeamento dos pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes
em rodovias e estradas.
Os principais meios de comunicação do Estado divulgaram o lançamento da
Campanha, que contou com o apoio das rádios e emissoras de São Luís, realizando
matérias acerca do tema e da programação, contribuindo para que a Campanha
atingisse todo o Estado. Vale salientar, ainda, que houve adesão das Campanhas
pelas rádios que apoiaram a veiculação dos spots na grade da programação e
promoveram momentos de debates a respeito do tema por meios de presenças de
representantes do FEPETIMA. As TV’s também oportunizaram esse diálogo nos
programas diários de jornalismo, abrindo espaço para entrevistas nos principais jornais
televisivos com a participação de membros do Fórum na abordagem da temática.
Os Setenta municípios que executam as Ações Estratégicas do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil no Estado do Maranhão aderiram a Campanha,
levando aos territórios ações de sensibilização e combate à exploração sexual de
crianças e adolescentes.
O FEPETIMA estimulou os órgãos a desenvolverem o tema em suas
atividades, como, por exemplo, o CEREST Regional São Luís que trabalhou o tema
‘Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes’ em 03 Escolas, 02 Unidades de
Saúde da Capital e com equipes multiprofissionais de 02 municípios da Região
Metropolitana. Nessas ações foi alcançado um total de 114 profissionais de Educação,
Saúde e Assistência Social.
Houve a promoção de espaços de discussão do tema com os donos de bares,
feirantes, comerciantes, trabalhadores e população de forma geral, por meios da
realização de blitz nos municípios com esse foco, o que se caracterizou como um
momento de conscientização e de ressignificação da visão sobre o trabalho infantil,
com destaque para o enfrentamento à exploração sexual.
As crianças e adolescentes foram incentivadas para atuarem como
protagonistas na prevenção e denúncia ao trabalho infantil, o que se tornou possível
com o apoio das gestões municipais que aderiram à campanha e somaram no
envolvimento destes, tanto nos espaços escolares, como no Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos.
Diante do exposto, a Campanha “É só uma criança” buscou a integração e
fortalecimento da rede inter e intrasetorial de combate ao trabalho infantil e de toda a
sociedade no intuito de tirar da invisibilidade crianças e adolescentes que estão sendo
vítimas da Exploração Sexual no Estado do Maranhão.
4 CONCLUSÃO

Diante da realidade da exploração de crianças e adolescentes no Estado, existe


uma necessidade de fortalecer o trabalho em rede, juntando forças com os demais
movimentos sociais, com os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo para
efetivamente garantir a dignidade às crianças e adolescentes, criando uma articulação
intersetorial de proteção por cada uma e cada um, visando o acesso aos direitos
fundamentais, dando-lhes a oportunidade de viver seus ciclos de vida sem que lhes
sejam furtados a vivência e inocência da infância e adolescência, não permitindo ou
aceitando a imposição de atribuições indiferentes à sua faixa etária e, acima de tudo,
se colocando no papel de corresponsável no enfrentamento da exploração sexual.
Além de ser considerada uma das piores formas de trabalho infantil, a
exploração sexual trata-se de uma prática criminosa, com penas previstas pelo Código
Penal e pelo próprio ECA. Essa conduta não pode ser vista como trabalho, a criança
ou adolescente não pode ser vista como responsável pela situação de exploração. O
adulto que explora, induz, agencia ou facilita essa prática é quem deve ser
responsabilizado.
O FEPETIMA tem pautado, junto aos órgãos das diversas esferas de poder, a
abordagem do combate ao trabalho infantil no Maranhão, em especial as piores
formas como a exploração sexual, integrando as agendas nacionais e estaduais
relacionadas ao tema, estimulando e promovendo a proteção integral de nossas
crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Balanço 2011 a 2016 - Crianças e Adolescentes. Balanço da Ouvidoria


de Direitos Humanos. Ministério dos Direitos Humanos, Brasília, 2016. Disponível em
http://www.mdh.gov.br/disque100/balancos-e-denuncias/2016-xls/balanco-2011-a-
2016-crianca-e-adolescente Acesso em Mar/2018.
_________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Presidência
da República, 1988. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Acesso em
Mar/2018.

_________. Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6481.htm.
Acessado em: 28/03/18.

_________. Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do


Adolescente, Brasília. 1990. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L8069.htm Acesso em: Mar/2018.

FALEIROS, V. P.e FALEIROS, E. S. Escola que protege: Enfrentando a violência


contra crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008, 2ª edição.

FNPETI. Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. O que


é o Fórum. Disponível em: < http://www.fnpeti.org.br/quem-somos/o-que-e-o-forum> .
Acessado em: 07/03/2019.

Você também pode gostar