SAMAIN, Etienne. Aby Waburg. Mnemosyne. Constelação de Culturas e Ampulhetas de Memórias

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Aby Warburg. Mnemosyne. Constelagao de culturas e ampulheta de memérias Para situar minimamente o autor e sua obra’ _Aby Warburg (1866-1929)" é, hoje, conhecido como ‘0 pai da iconologia’. Ele é, também, um historiador 1 Avinicar este ensaio, cito quaro obras fundamentals que me ajuda “ram a ousar entrar no labirinto warburgulano:Gombrich (1970), Mi- | chaua (3998), Did-Htuberman (2002),0 numero da revisa Homme “Revue Frangaise d Anthropologie (2003), ‘Warburg nasceu em 13 de junho de 1866 e morreu em Hamburgo “em 26 de outubro de 1929, de uma crise cardaca. Aby Warburg era _judeu ni pratcante, fto que agravou as relagdes familiares quan easou (1892) com Mary Hertz, lulerana ¢ estudante de artes na ersidade de Bonn, onde, desde 1886, tinha se matriculado ne ‘ndo judaica da Histria da Arie, “desuiando [mais uma “yed) interdigdo mosaica das imagens esulpidas’ Ficonografia, entendo esse eslorso descritivo de compreensi pintura, por exemplo, procurando saber qual é 0 projeto ido artista, quals as condigbes socials ds épocs, 0 seu pairocinador € 0 destinatério da obra, Mas procuro nder as temiticas que a airavessam: as figuras, os fos, a8 texturas, as cores, Dov & iconologis, Etienne Samain A Goddlieve, Matra, Tiwani e Yuko A Francoise. das artes e um antropélogo. Primogénito de uma fami- lia de banqueiros judeu-alema de Hamburgo, desespe- todavia, uma dimensio mais ampla, Além de ter que responder AAs questdes aclma referidas, icondiogo trabalha em torao de produjoes imagétices que carregamn memories cultura e tempo Talidades; nem sempre definidas, He sobcevos, por assim dizer, os sildncios «08 gritos que a terra, 4 tintas as madeiras €08 marmores The reapreseniam num outro tempo, 0 tempo que presencia. Numa enirevista, Georges Didi-Huberman (200ab, p. 18) precsara que para o historlador da arte de hoje, a iconoiogia é “a disciplina ‘ugisiralmente constituida por Erwin Panofsky como explicacio dos simbolos visuals do cliente. Maso que entende Warbur era bem diferente: a deciragde simbolica era para ele apenas uma etapa, o que miraya era uma interpretagio sintomal [escarececet ‘mais adiante o conceito que nao equivale a0 de sintomstivol da cultura, através de suas imagens, sues crengas, seus continentes ‘escur0s, seus residuos, seus deslocamentos éeorigem, seus ror 1s do recalque. Algo, finalmente, bastante proximo da psicandlise freudians (que Panofsky detestava)”. SL sequeno e de satide frd- diz que teria tro- ‘com 0 seu irmao radamente ansioso € liicido, p gil, vidente de um invisivel, a lenda cado seu direito de primogenitura mais jovem, Max, 0 qual se engajava a Ihe fornecer tantos livros quanto precisaria para realizar um dos seus sonhos: a famosa biblioteca (Foto 1 ¢ Foto 2) de forma cliptica que, na hora da morte de Warburg, reunia mais de 70 mil volumes* sempre reorganiZa- dos em fun¢ao — dizia — da “lei da boa vizinhanga” (entre os saberes). 1010 | — A frente do edificio da Biblioteca Kul tenchasheDlaiek WeDo Want da Ciéncia da Cultura, sobre a fachada, obseryarr ae em alto relevo, a iniiais KBW, Foto: E.Samain. Cam nema dsorSoaos nanan ei 2 Biblioteca fo tempo (1933) enazinda vorlines gan are? Hauicivaasinacsame dat meee dezancs mustard. Sobre a biblioteca de Warburg comes ‘Ae'Mncmosyn(s); de Aby Warburg Eoie anise net SS are’, Poltsis n° 17, Universidade Federal Fume M888 sea biblioteca representava uma das palxies de ‘Warburg. A outra, que empreendera desde 1924, sera Peipuiirteto’ de um Atlas de imagens. Mnemosyne (Der Bilderatlas Mnemosyne’), isto & segundo seu proprio desejo, “Uma historia de arte sem palav 61, ainda, uma “hist6ria de fantasmas para pessoas adultas’, Desafio tanto como paradoxo, na medic; em que, nutrido de uma informagao livresca, esc e erudita fora do comum e possuidor de uma sabe: visual artistico, antropoldgico, linguistico, histéric incomum, Aby Warburg pretendia firmar sua procur: de entendimento das culturas humanas, por m 79 painéis®, de fundo preto, reunindo aproximac mente 900 imagens (principalmente fotografia P&B, retiradas de um arquivo de mais de 25» tos), E do espirito desse Aflas que tratara prir mente o presente ensaio, Antes de falar desse ultimo projeto cientifico de Warburg e de tentar desvendar aspectos ¢ dime heuristicas presentes na iltima prancha que eee parece-nos relevante reals: ee 7m es peererelidade gs Warburg, dand pageeren eter subsidios bibliograficos que p ns Penetrar numa obra tio complexa q ipla e fecunda’, as’ Veremos ue, a 79 (que exploraremos), Pesar da‘numeracio que termina com a pra 4 obra publicada contém um total de * ito que levanta eventuais outras quest a Memos, que intula Warburg dia ates ¢ omeNdo dois textos 8 obra cieatifca de Were et Portugues qu do uns le Anténio Guerreiro (2095) 6 pranchas, el oun | oa fi ini F010 2 — Interior da biblioteca eliptica de Warburg. Foto: E. Samain. Deis anos antes de sua morte, Warburg (1998b) escrevia®: ‘Se rememoro a viagem de minha vida, parece-me que minha missdo é operar como um sismégrafo da alma so- bre uma linha divis6ria entre duas culturas. Situado pelo ‘meu nascimento entre o Oriente ¢ o Ocidente, levado por uma afinidade eletiva & Itdlia, que deverd buscar cons- truir uma nova personalidade em torno do divisor de Aguas da Antiguidade paga e da Renascenca crista do sé ‘culo XY, fui conduzido América (Warburg alude & via- ‘gem que fez no Novo México em 1895-1896 no meio dos indios Pueblo], [ilegivel) um objeto colocado a servigo de uma causa suprapessoal, para conhecer sua yida nessa tensio entre dois polos que sio a energia natural, instin tiva e paga [0 pathos dionisiaco (0 “demoniaco” de War burg) na perspectiva visiondria do alemio Friedrich ‘eabou de organizar um coloquio sobre Aby Warburg (Lisboa, abril de 2010), ¢ de Claudia de Mattos Yaladao (2007), Binteressantenotar como o proprio Warburg encarays aus exstncia fandamensalmente, como sendo uma missdo profitica e uma verda

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