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TRABALHO DA UNIDADE II – INTRODUÇÃO AS CIÊNCIAS SOCIAIS

PROF.: ANTONIO CARLOS ANDRADE RIBEIRO


DISCENTE: ARTHUR ALVES MARTINS – 20.2.3062
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No dia 11 de agosto de 2021, na cidade de Nortelândia no Mato Grosso, ocorreu um fato


um tanto quanto curioso nas ruas da cidade. Um empresário chamado Dabliu Mendes, proprietário
da empresa Mega Loja Prime, saiu pelas ruas distribuindo 10 mil reais para a população local com
o intuito de ajudar no marketing do seu negócio e dividir o lucro com os moradores. O acontecido
resultou em reações positivas e negativas dadas por diferentes âmbitos populacionais. Em face de
todos os conteúdos relacionados às teorias da ação estudados na Unidade II, analisarei o acontecido
em uma ótica diferente da apresentada, elencando o comportamento das figuras envolvidas no
evento com a tradição racional utilitarista e com a abordagem teatral de Goffman.

A tradição racional-utilitarista tem seu uso como inspiração em diversos períodos da


história, e sua oscilação é acompanhada também de transformações dadas as necessidades dos
intervalos temporais. Os aspectos marcantes do utilitarismo em seu prelúdio sociológico são
atribuídos a um espectro pragmático do indivíduo, esse espectro, que baseado na ação racional,
prega o auto interesse do sujeito no cenário em que ele atua. Tais interesses podem ser atribuídos
a qualquer coisa que irá beneficiar o indivíduo no mundo material, assim, ditando uma fala
defendida por um adepto à tradição utilitarista, Jeremy Bentham, “[...]os seres humanos agem em
todas as circunstâncias de modo um a evitar a dor e buscar o prazer porque eles – para dizer de um
modo um pouco diferente – desejam aumentar a sua utilidade.” (JOAS, Hans; KNÖBL, Wolfgang,
Teoria Social Vinte Lições Introdutórias, Rio de Janeiro, 2017, p. 42).

Percorrendo entre as diferentes fases da concepção utilitarista, chegamos a um ponto em


que a mesma simpatiza com a teoria da troca, esta que, juntamente com a concepção do conflito
abordada acima, nos ajudará desvendar aspectos racionais do acontecimento de Nortelândia. Esse
lado moderno da tradição racional demonstra o modo que as trocas sociais ocorrem sob
determinados moldes de justiça e igualdade, de modo que o indivíduo possa fazer uma troca justa.
Tomando conta de que no evento da cidade do Mato Grosso tenhamos três atores sociais (o
empresário, a população e os comerciantes que ficaram irritados) pode-se aplicar uma concepção
racional utilitarista. A troca social ocorrida entre o empresário e o público beneficiou ambos sem
violação jurídica e pode ser explicada pelas seguintes motivações: Dabliu, o empresário, realizou
a ação visando a satisfação de seu interesse individual, que é, o marketing que consequentemente
irá alavancar o sucesso de seu negócio; o público também agiu de maneira racional, pegando o
dinheiro distribuído que alimentara sua necessidade de poder material. Já a causalidade que
estimulou a irritação dos comerciantes da cidade pode ser dada pela teoria da equidade, que, em
suma, diz: quando as trocas sociais ocorrem sem reciprocidade, são violadas ou injustas, pessoas
ficam irritadas, ou seja, os comerciantes acreditam que a troca social realizada foi injusta pois
afetaria suas vendas, resultando em estresse.

Um outro modo de abordagem que se aplica aos acontecimentos de Nortelândia pode ser
explicado pela abordagem teatral de Erving Goffman. Em sua tradição defendida, Goffman,
compara as ações sociais com uma peça teatral e os atores que a compõem, e tem como seu objetivo
analisar cada elemento da cena realizada a fim de um único propósito, este, que pode ser voltado
para o bom-senso em uma representação verdadeira ou falsa, como dito abaixo (GOFFMAN,
Erving, A representação do eu na vida cotidiana, Rio de Janeiro, 1956, p. 70):

Em nossa própria cultura anglo-americana parece haver dois modelos do bom-senso, [...],
a representação verdadeira, sincera, honesta; e a falsa, que falsificadores completos
reúnem para nós, quer não se destinem a ser levadas a sério, como no trabalho dos
vigaristas. [...] tendemos a julgar as representações tramadas como algo que foi
pessoalmente montado – um elemento falso colado ao outro, uma vez que não há uma
realidade à qual os elementos do comportamento fossem a resposta direta.

Como observado acima, vamos tomar os acontecimentos como algo tramado, e


discorreremos a abordagem levando em conta quatro elementos que compõem a cena: o cinismo
do ator, o palco, os bastidores e as expressões utilizadas, sejam elas diretas ou indiretas. Durante o
evento, o ator está no teto solar de um carro acompanhado de um carro de som, que neste, há um
megafone que confirma e induz as pessoas a participarem da ação do ator principal (Dabliu). Essa
atividade realizada pelo megafone evidencia a manipulação a qual o ator define deliberadamente a
imagem que quer passar de si e de sua atividade (cinismo). Na cena do ator andando nas ruas,
temos que ele está no palco, pois age para como todas as atenções estejam voltadas para o mesmo
e sustenta expressões para controlar seu público. Já os bastidores podem ser apresentados como a
jogada de marketing do empresário, em que é deixada de lado o cunho social da ação. Ações
implícitas que representam os bastidores no evento ocorrido podem ser descritas pelas seguintes
indagações: “Por quais ruas vamos rodar?”. “Em qual carro o empresário estará?”. “Quais notas
poderemos usar para que a ação percorra por mais tempo?”. “Em qual horário a ação deverá ser
executada?”. Essas, entre outras, são representações de questões discutidas antes da ação ser
executada confirmando a trama. Por fim, os tipos de expressões utilizadas pelo ator podem ser
caracterizados por objetos que confirmavam a posição que o mesmo desejava apresentar, como
roupas e acessórios de uso pessoal, e também gestos que despertavam admiração e interesse pelo
público como o fato de o ator não entregar o dinheiro na mão das pessoas e sim jogar para o alto.

Destarte, observa-se que mesmo ações individuais tomadas por atores sociais implicam não
só motivações de interesse próprio, mas sim, eventos institucionalizados em arcabouço econômico
do nosso sistema. A participação de agentes sociais é fundamental para a realização dessas ações
socioeconômicas, em que, a estrutura dessas relações, dadas por redes sociais, podem ser analisadas
e nos ajudam a compreender a configuração atual da sociedade.

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