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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA.

UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO PARA A TEORIA DO


DIREITO DA PERSONALIDADE
Revista de Direito Privado | vol. 2/2000 | p. 187 - 204 | Abr - Jun / 2000
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 1 | p. 817 - 835 | Out / 2011
DTR\2000\688

Walter Moraes
In memoriam (Adjunto de Direito Civil na Universidade de São Paulo).

Área do Direito: Constitucional; Civil


Sumário:

- 1. Direitos de personalidade: extensão, perplexidades - 2. Que é personalidade, que é


pessoa - 3. Por que este estudo - 4. Visão metafísica - 5. Da natureza humana - 6. Se a
personalidade se reduz à natureza em oposição à pessoa - 7. Confirma-se o sobredito
por uma razão psicológica - 8. Como pode a parte do composto natural tornar-se objeto
de direito - 9. O direito objetivo de personalidade

1. Direitos de personalidade: extensão, perplexidades

Nossa doutrina civil já está familiarizada com esta classe de direitos: direito à vida, ao
corpo, à imagem, à honra, à liberdade, ao nome, à intimidade. A lista não fica aí. Gierke
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já incluía a livre atividade (intelectual, corporal, econômica, o monopólio), sinais de
identificação análogos ao nome (firma, marca, selo ou chancela, símbolo, nomes das
coisas), produções do espírito (a criação autoral, a invenção). Adiante, a doutrina passou
a acrescentar: o estado civil, a integridade moral, a psique, a igualdade, a verdade, o
trabalho, a clientela – além de desdobrar direitos de base em outros tantos
pretensamente autônomos: a integridade física e a psíquica, a saúde, as partes do corpo
(unidas ou separadas), o cadáver, produtos da pessoa, o segredo, as cartas, o domicílio,
a reputação, a boa fama, a consideração, o pseudônimo, a alcunha, títulos, signos
figurativos (emblemas, brasões, insígnias, divisas; cogitou-se, ainda, dos números
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telefônicos e das placas de automóvel) e um número indefinido de liberdades. A
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jurisprudência francesa, conforme Raymund Lindon, considera direitos deste setor os
souvenirs de família (papéis, registros, peças decorativas, costumes, armas, diplomas,
correspondência, retratos) e a sepultura. Na relação de Henrique Hubmann o número
dos direitos de personalidade ascende a 32, sem contar possíveis e novos
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desdobramentos; e, na do nosso Limongi França, sobe a 60.

Não se pode deixar de levar a sério a importância relevante desses direitos,


notadamente na vida moderna. Testemunho eloqüente de tal importância é o estarem
eles a ingressar incessantemente nas legislações civis e no Direito vivo através de
rigorosa jurisprudência. E, contudo, sua quantidade e variedade, o desassombro da
doutrina em entumescer-lhe o acervo, a singularidade e a sutileza de muitos deles
deixam a sensação ora de algo muito sofisticado dentro do campo jurídico, ora de uma
doutrina desorientada ou perdida em dimensão cujas bases ainda não logrou encontrar.

Que há de comum entre os direitos de personalidade? Que ponto dá apoio à unidade do


conjunto?

A própria denominação da categoria aponta na direção da idéia de personalidade, ou de


pessoa, que a compreende ou nela está compreendida; alguns escritores, com efeito,
preferem denominá-los direitos “da pessoa” ou “essenciais (ou inerentes) à pessoa”, ou
“personalíssimos”.

Que têm a ver, todavia, tais direitos com a pessoa ou com a personalidade?
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PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

Dizer que, subjetivamente, são da pessoa é dizer coisa não falsa, mas vazia; porque
todos os direitos são da pessoa e analogamente da personalidade, ou seja, pertencem
todos, sem exceção, à pessoa, único sujeito dos direitos. Dizer, objetivamente, que são
os que se exercem sobre a mesma pessoa importa reconhecer que os diferentes objetos
dos direitos de personalidade são, ou compõem, ou pelo menos sustentam, a pessoa ou
a personalidade. Mas terá cabimento admitir que, v. g., a intimidade doméstica, ou o
trabalho, ou os alimentos, ou uma fotografia, ou um poema, ou um brasão, ou a
sepultura e tantos outros bens tidos aqui e ali como de personalidade, sejam, realmente
e sem fantasia, coisas da constituição essencial de uma pessoa? Ou elementos
componentes ou integrantes de uma pessoa? Podemos conceder que se trata de valores
relacionados com a pessoa, e talvez não mais. Assim, não é possível ver na relação
entre a pessoa e os ditos valores, em todos os casos, algum nexo de necessidade, de
intimidade, e tanto menos de existência ou de subsistência da personalidade. O
referencial relação é demasiado geral e vago: todos os bens que a ordem jurídica
reconhece como possíveis objetos de direito estão relacionados com a pessoa, direta ou
indiretamente; e, desse todo, relação direta deve ocorrer com mais da metade. Por isso,
seguindo por essa trilha, não é, de fato, necessário grande esforço ou habilidade
dialética para introduzir no campo dos direitos de personalidade muitas e muitas
banalidades.

Os juristas alemães que no século XIX, desde Puchta até Gierke, Kohler, Gareis e outros,
empenharam-se na elaboração de uma teoria científica do direito da personalidade,
juristas de grande porte, foram, não obstante, mentes formadas dentro do idealismo
romântico e não lograram disfarçar sua predileção pelo trato nebuloso dos temas
abstratos, compensada a massa de seu pensamento pelo vigor de uma habilidade verbal
extremamente fascinante. Esta marca ficou impressa na teoria e, com ela, recebeu-a a
doutrina italiana, que a reelaborou e transmitiu. A doutrina do direito da personalidade,
cheia ainda de imprecisões, contradições e perplexidades, continua a não dispensar o
arrimo retórico para suprir o seu déficit de clareza e coerência. Gierke, que terá sido o
mais explícito dentre os primeiros expositores, definiu os direitos de personalidade como
aqueles “que asseguram ao seu sujeito o domínio sobre uma parte componente da
esfera da própria personalidade” (“die ihrem Subjekte die Herrschaft uber einen
5
Bestandtheil der eignen Persönlichkeitssphäre gewährleisten”). Que coisa é a “esfera da
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personalidade”? Isto Gierke não define. Se se referisse a partes componentes da
personalidade ficaríamos a supor que, para ele, a personalidade (ou a pessoa) seria um
composto formado de partes. Esta “esfera” da personalidade é o ingrediente etéreo da
visão de Gierke. Hegel, já muito antes, divisara na ordem jurídica um Recht der
Persönlichkeit als solcher. Nas Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito deixou escrita
7
em tom ardente uma página sobre o dito direito. Não creio que alguém consiga
explicar, com honestidade, o que quis o filósofo dizer, acerca do “direito da
personalidade como tal”. De Cupis, tratadista atual, conceitua os direitos de
personalidade como os referidos a “modos de ser” (modi di essere), físicos ou morais, da
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pessoa. “Modo de ser” é a vaguidade, expressiva talvez, que De Cupis cuida em
deliminar com um discurso circunlocutório nas páginas seguintes. Dentro da nossa
doutrina, tem-se freqüentado com certa insistência a idéia de consistir, esta categoria
jurídica, em direitos que têm por objeto “emanações da personalidade”. Acresce a este
ambiente de obscuridade que a doutrina não se detém – salvo exceções raras – a
indagar do que seja, afinal, a personalidade ou a pessoa que é o seu campo de trabalho.
Parece ora que é notória ou pressuposta a noção, ora que coincide simpliciter com a de
indivíduo humano; mas a alusão ou intenção nunca é ao conceito jurídico estrito de
personalidade. De outro lado, personalidade e pessoa são, de ordinário, conceitos
empregados, indiferentemente, um pelo outro. Considere-se De Cupis, que referiu à
pessoa (modos de ser da pessoa) os direitos de personalidade. E, se, para Kohler, “o
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objeto do direito da personalidade é a própria pessoa”, como escreveu, por que, então,
não o chamou “direito da pessoa”? É que, para Kohler, falar em personalidade ou em
pessoa foi indiferente, ou, pelo menos, não relevante no caso: “Das Recht an eigenen
Person oder Persönlichkeit muss der Ausgangspunkt einer jeden Rechtsordnung sein”.

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2. Que é personalidade, que é pessoa

Em Direito, define-se personalidade com grande precisão, nestes termos: aptidão para
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ser sujeito de direito. Ser sujeito de direito (de direitos e obrigações) é ser pessoa.
Pessoa e sujeito, no plano jurídico, são conceitos equivalentes. Personalidade vem a ser,
então, aptidão para ser pessoa; seja, personalidade é o quid que faz com que algo seja
pessoa. E isto é exato.

Estes conceitos de personalidade e de pessoa pode afirmar-se que satisfazem os


desígnios práticos do trato jurídico estrito, no qual o que interessa da pessoa é ser ela o
sujeito de atribuição dos direitos e das obrigações. Admiravelmente simples e claros,
aptos a serem apreendidos de imediato, não revelam, contudo, as extensões conceituais
de que necessitamos para avaliar a personalidade pelo prisma crítico de um possível
objeto de direito.

Tudo indica que o lugar adequado a esse trato deve ser a Psicologia. A opinião que em
sede psicológica se ensaiou de forma sobre a personalidade tem-se revelado, todavia,
algo enormemente controvertido. Os especialistas confessam a rara dificuldade dessa
tarefa de fazer ciência do individual, único parâmetro invariável, talvez, das suas
conclusões. Mira y López arrola uma dezena delas, propostas por alguns dos mais
eminentes psicólogos. Vêem-se poucas coincidências e muitas contrariedades ou
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desconexidades. Outro tanto faz Lundin, examinando grupos conceituais. O mesmo
Mira y López refere que, em Berna, 1949, expertos reunidos em congresso e
empenhados em traçar os limites de um conceito de personalidade aceito pela maioria
significativa dos psicólogos chegaram à conclusão de que tal conceito seria “(…) a
estrutura e a silhueta psíquica individual” ou seja, ainda, “o modo de ser peculiar do eu”.
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A Psicologia dita experimental, ou aplicada, ou científica, ocupa-se, com efeito,


abundantemente do tema da personalidade, encarando-a, em geral, como princípio de
definição da individualidade do homem, a partir da conjugação de fatores
psicossomáticos e traços característicos que tornam cada homem alguém externamente
inconfundível. Mas este aspecto que aos psicólogos interessa essencialmente (da silhueta
psíquica, do modo de ser peculiar), em função do comportamento individual, não é o
preciso ponto do conceito que importa ao Direito teórico e particularmente ao direito da
personalidade, no qual se busca saber em que consiste a personalidade enquanto
aptidão para ser sujeito ou pessoa.

3. Por que este estudo

Gordon Allport, professor de Harvard, justamente célebre por seus estudos sobre a
personalidade, deixa algumas notas críticas à estreiteza das concepções psicológicas que
reduzem o homem a um ser “reativo”, objeto da observação e análise de pequenos
fenômenos sob condições controladas. E, entre essas notas, a de que “uma concepção
exclusivamente psicológica da pessoa humana é um sonho vão. É preciso conhecer
também sua natureza metafísica e seu lugar no plano cósmico. A sabedoria antiga –
prossegue –, tanto filosófica quanto teológica, deveria ser consultada e incorporada, se
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não quisermos lidar com superficialidades complexas”.

Ocorreu-me, por isso, de compulsar as lições daquela multissecular escola de


pensamento cujas raízes e estruturas aristotélicas nunca envelhecem, a ver até que
ponto suas claras proposições sobre a pessoa e a personalidade poderiam aproveitar à
doutrina jurídica.

Não há corrente científica ou filosófica que tenha dedicado tanto tempo e tão
perseverante empenho à investigação da pessoa quanto a do pensamento cristão. E isto
porque, desde os primeiros séculos, os sábios do Cristianismo viram-se envolvidos com a
dilucidação de dois pontos fundamentais da doutrina: o “mistério” da encarnação e o da
Trindade. Se Deus é um só – e não poderia deixar de sê-lo, segundo o dogma – a
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unidade é da divindade, isto é, da natureza divina, porque as pessoas são três: a


trindade é das pessoas. É, pois, uma só natureza (um espírito) e são três pessoas. De
outro lado, a segunda pessoa, o Verbo, encarnou-se: assumiu uma natureza humana,
que é a unidade psicossomática do homem Jesus Cristo. De modo que uma só pessoa
passou a sustentar duas unidades de natureza; uma divina (a deitas) e uma humana (a
humanitas), sugerindo ambos os dogmas uma distinção real entre a pessoa e a
substância natural personalizada. Os doutores da Igreja não puseram em dúvida a
verdade intrínseca desses dados de fé. Reconhecendo, embora, que tais verdades não as
alcançava a razão humana, não admitiram, tampouco, que algum mistério da fé pudesse
representar um absurdo ou algo irracional. Seu imenso esforço filosófico desenvolveu-se
no sentido de compreender ao menos a coerência racional da Trindade e da encarnação
do Verbo, e isto incluiu a penetração analítica das idéias de pessoa e de natureza.
Demais, a especulação filosófico-teológica sobre estas questões nunca perdeu o caráter
de urgência, já que, das sucessivas e persistentes contestações da doutrina (heresias),
as mais importantes versaram ou incluíram matérias atinentes às pessoas de Deus e de
Cristo (monarquianismo, arianismo, nestorianismo, eutiquianismo, macedonianismo
etc.). O uso da palavra persona para designar o indivíduo humano foi introduzido pelo
Direito Romano. Mas a pesquisa do conceito de pessoa como ente distinto do
fisiopsiquismo humano (ausente em Aristóteles e na demais Filosofia grega) é iniciativa
da filosofia patrística. A palavra personalitas, bem como o correspondente conceito, é
criação exclusivamente escolástica. Ao tempo de Alberto Magno e Tomás de Aquino, o
pensamento filosóficoteológico, organizado em Schola já há mais de três séculos e
seguindo geralmente os padrões da Filosofia platônica, recebeu o contingente orgânico e
metafísico do aristotelismo, e com ele novos e inusitados padrões de realismo, disciplina
e exatidão racionais.

Não cuide o leitor em deparar entre os tomistas puros, mesmo os do século XX ou XIX, o
tema da pessoa-personalidade tratado na área da Psicologia (Filosofia Natural) ou da
Ética, cujos subsídios, sem embargo, são indispensáveis para completar-lhe a noção e,
designadamente, para introduzi-lo no âmbito do Direito. Mas a questão da pessoa é
assunto eminentemente metafísico. O trato psicológico e moral da pessoa e da
personalidade só aparece na filosofia dos tomistas que avançaram alguns aspectos
sistemáticos da disciplina aristotélica, às vezes, aliás, muito proveitosamente.

4. Visão metafísica

Desde o ponto de vista da Metafísica, a relação entre personalidade e pessoa é a de


subsistência e substância.

Substância pode definir-se como o que é em si e não em outra coisa. Kleutgen diz: “ser
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por si subsistente”. Diz-se que a substância subsistit (siste por si e não carece de outro
fundamento) e substat aos seus acidentes como fundamento ou sujeito. Sendo sujeito,
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sustenta-se: na expressão lapidar de S. Tomás, sustentatur in se ipso. Trata-se, então,
daquilo que para subsistir não depende de estar noutro sujeito: é essencialmente
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independente.

A independência própria da substância chama-se subsistência, que Gredt define com


proposição clara mas insuscetível de razoável tradução: “independentia in essendo a
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subiecto inhaesionis”. Subsistência vem a ser, pois, aptidão para ser sem dependência
(“esse aptum ad essendum sine dependentia a subiecto inhaesionis”).

A substância é imperfeitamente subsistente quando por sua natureza se ordena a ser


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com outra substância. Quando perfeitamente subsistente – ordenando-se a ser em si
só e não com outra – a substância chama-se suposto (em latim, suppositum, em grego,
hypóstasis). O suposto é o que de mais completo existe no gênero da substância, e a tal
ponto é per se que não pode estar ou comunicar-se com outra. Define-se: substância
singular perfeitamente subsistente e incomunicável.

O suposto da natureza racional se diz pessoa.


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Esta noção explica a clássica definição de Boécio acatada e sustentada por S. Tomás e
invocada ainda hoje pelos melhores psicólogos: “substância indivídua da natureza
racional” (“Persona est rationalis naturae individua substantia”). Na qual o termo
“indivídua” vale, conforme La Vaissière, como indivisa em si (singular e hipostática) e
separada de qualquer outra substância (“divisa a quolibet alio substantiali”),
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incomunicável.

A subsistência do suposto diz-se também supositalidade (suppositalitas) e a subsistência


da pessoa, personalidade (personalitas).

A supositalidade, como forma em que se constitui o suposto, é: aquilo que uma


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substância singular se faz formalmente subsistente e incomunicável; assim também a
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personalidade (um id quo) em relação à pessoa (id quod). Da personalidade diz
Garrigou-Lagrange que é o constitutivum formale da pessoa: aquilo pelo que o sujeito
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racional é o que é (“brevius est id quo subiectum rationale est id quod est”).

A natureza (rationalis naturae individua substantia) é, a seu turno, parte formal da


hypóstasis: o suposto é o id quod tem natureza; a natureza o id quo – aquilo em que o
suposto se constitui na sua espécie. A subsistência ou supositalidade, sendo o que
formalmente faz subsistente e incomunicável a substância, é o que delimita a natureza
substancial, a qual tem na subsistência, como modo substancial positivo, sua definitiva e
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última determinação na linha da natureza. Natureza, na concepção aristotélica
fundamental, é um princípio de movimento (arché kinésios); as coisas que trazem em si
25
o princípio motivo, as coisas da natureza, se dizem, por extensão, natureza. Pode
assim definir-se natureza: o ser substancial considerado como primeiro princípio
operativo. Mercier diz: “é o ser considerado como primeiro princípio das operações das
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quais ele é a causa ativa ou o sujeito passivo”.

O suposto, sendo o que tem a natureza, é também aquilo que age na natureza. O
axioma diz que “as ações são dos supostos” (“actiones sunt suppositorum”).
Coincidentemente, na ordem em que é a natureza racional o princípio formal em que se
constitui o suposto, é este, isto, é a pessoa, que age na natureza. Por isso a pessoa, que
é hypóstasis, é, outrossim, essencialmente, sujeito, como diz a lição freqüente de
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Garrigou-Lagrange: o sujeito primeiro de atribuição da natureza racional.

Por onde serem abundantemente precisas as definições jurídicas declinadas acima (n.
2), de pessoa e de personalidade, pontos, aliás, onde os conceitos ontológicos e os
éticos se equivalem ou se convertem.

5. Da natureza humana

O indivíduo da espécie humana – o homem – é um composto psicossomático. É corpo e


psique (ou alma), o que vale dizer um corpo animado segundo o princípio operativo da
natureza.

Consta, com efeito, o composto natural que informa substancialmente a pessoa da


reunião de matéria corpórea (uma organização química com as suas propriedades
físicas) à substância psíquica, a qual pode ser considerada em si mesma (a psique), na
sua essência (a vida) e nas suas potências. A enumeração das potências por gêneros é
lição ordinária da Antropologia filosófica: a potência vegetativa compreende as forças
naturais, a nutrição, o crescimento, a geração ou procriação; a potência sensitiva, a
sensação, a cognição sensitiva, o senso comum, a fantasia, a estimação, a memória; a
potência locomotiva, a automovimentação; a potência apetitiva, o apetite sensitivo, que
pode ser concupiscível ou irascível; a potência intelectiva, que comporta a inteligência e
a vontade.

É ainda da natureza da psique efetivarem-se constantemente as suas potências, isto é,


realizarem-se em atos. Assim, o “fantasma” retido na mente é a fantasia em ato, pois,
como descrevia o bom Bernardes, “depois que a fantasia formou a sua espécie (os
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filósofos chamam-lhe “fantasma expresso”) ou selo expressivo de qualquer objeto, cuja


representação lhe havia entrado por algum dos sentidos particulares, havia de mandar
ao entendimento outra espécie deste seu conhecimento, para o informar daquele tal
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objeto, de que ela já estava informada”. E assim também o conceito (apreensão) é a
cognição em ato, e a idéia, o pensamento, o juízo, a invenção, são espécies do intelecto
em ato.

No mais, às potências, e, por virtude delas, às substâncias e ao todo psicossomático,


competem propriedades essenciais suas, as quais repercutem na humanitas de cada um.
A vontade inteligente, p. ex., naturalmente capaz, por si e como causa de si, de
estabelecer os seus próprios fins e governo, é livre, o que, de resto, a torna capaz de
alimentar sujeito moral na pessoa qual entre sui iuris (como usam os filósofos).
Radicalmente genuína a autonomia da vontade (aliás, a única verdadeira fonte nômica
no mundo), é esta faculdade, em sede de livre arbítrio e enquanto gera sua própria lei
de agir, potência inviolável; inviolabilidade que comunica ao todo humano e o faz
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rigorosamente digno de deferência, respeitável, como diz Lahr. A pessoa, que, como
suposto, opera a liberdade e ostenta a eminente dignidade do homem, propriedades
que, todavia, tem sede na anima intellectiva, transmite, por sua vez, à composição
natural a unidade (ou individuidade) e a incomunicabilidade inerentes à substância
hipostática. Trata-se, destarte, de propriedades que, originariamente ou pela
participação do suposto, inerem à natureza. Ora, não é difícil reconhecer, entre estes
componentes da natureza humana (substâncias, potências, atos, propriedades), objetos
dos direitos básicos de personalidade.

6. Se a personalidade se reduz à natureza em oposição à pessoa

No plano metafísico distinguem-se personalidade e pessoa, natureza e pessoa, como


ficou demonstrado. A personalidade e a natureza são, cada qual, id quo; a pessoa é id
quod.

Questão de grande importância para a teoria do direto da personalidade é: se a


personalidade se identifica ou coincide com a natureza em frente à pessoa, ou seja, em
oposição à pessoa. Porque:

a) se a personalidade reduzir-se à natureza, e suposto que os direitos subjetivos de


personalidade recaem sobre componentes da natureza (ns. 5 e 7), a denominação
“direito da personalidade” terá sido aplicada com propriedade, eis que ajustada ao
conceito que exprime, isto é, à idéia de um direito referido à personalidade posta como
objeto, numa relação em que a pessoa (algo distinto) é sujeito; b) caso contrário, se a
personalidade não estiver na natureza mas, notadamente, na pessoa, o que se tem é
nomen que traduz conceito ilusório ou aproximado do absurdo: 1) ilusório porque,
referido à natureza, e não à personalidade, tal direito, não é ele da personalidade, e sim
da natureza ou “humanidade” de cada um; 2) ou, então, absurdo porque, referido tal
direito à personalidade enquanto está na pessoa, confundir-se-iam no mesmo termo
sujeito e objeto deste direito, o que é impossível, já que os conceitos de sujeito e objeto
só existem na medida em que se excluem: algo só é objeto enquanto em confronto com
um sujeito.

Para a concepção psicológico-experimentalista (pode tomar-se por paradigma a definição


do excelente Allport ou a de qualquer outro citado na nota 10) parece notória a
coincidência entre personalidade e natureza, já que naquele campo a personalidade é
vista como o sistema psicofísico dinamicamente organizado, a determinar as
singularidades do pensamento. Mas, se a Psicologia desconhece distinção real entre o
sujeito pessoal e a hominalidade existencial pura, não abre espaço para uma relação
sujeito-objeto dentro da individualidade humana, o que contraria a realidade, porquanto,
na vida jurídica, tal relação é constantemente experimentada.

Em Filosofia esta questão é desenvolvida especialmente na área ontológica na


antropológica. Considerados os pressupostos metafísicos como ponto de referência,
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divisam-se duas linhas principais de pensamento: uma substancialista e outra


fenomenista.
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Esta última, gerada no racionalismo empiríco de Locke, Hume e outros de seu tempo,
encontrou campo fértil no pensamento racionalista e materialista posterior, bem como
entre cultores da moderna Psicologia Científica. Elimina da personalidade a noção de
substância (considerada ininteligível mesmo que fosse real) e a reduz a um acervo de
fenômenos afetados dos caracteres que definem o eu pessoal. Porquanto “a pessoa
humana – é a resposta de Piat – é alguma coisa mais do que uma síntese de estados
conscientes e subconscientes, a teoria fenomenista não satisfaz; é dela, especialmente,
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que se pode dizer: que é falsa naquilo mesmo que nega”.

Na visão fenomenista, tanto dos filósofos como dos psicólogos nela arrimados, pode
dizer-se, a personalidade é o mesmo complexo natural psicossomático considerado
naqueles fatores que determinam a individualidade. É tão-somente um modus da
materialidade humana. Ainda assim, porém, a posição fenomenista não se ajusta à
hipótese “a”, posta acima, e o fenômeno dos direitos de personalidades resta
inexplicado. É que, para essa concepção, desconsiderado o fato da substancialidade real
e distinta do sujeito hipostático, a pessoa é o homem. Pessoa é uma palavra, uma
mentalização, e não alguma realidade distinta mesmo ontologicamente. Tudo se reduz a
uma só coisa, que é a unidade psicofísica do homem existente e individual, a qual não
suporta a dualidade real sujeito-objeto, que qualquer relação jurídica pressupõe. Caem,
então, os fenomenistas na hipótese “b-2”.

Há outra corrente na opinião que, mantendo-se, embora, sobre bases metafísicas, chega
a aproximar-se do fenomenismo nesta questão: cuida de demonstrar a redução da
personalidade à natureza, louvada no pressuposto de que a incomunicabilidade ou
independência do suposto não é senão algo negativo; destarte, a subsistência é simples
aspecto especial da natureza e a pessoa nada mais é do que a natureza individual real,
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considerada desde o ponto de vista inteiramente negativo de sua incomunicabilidade.
Como visto, incide esta teoria na mesma indistinção dos fenomenistas. Também aqui
tudo se reduz à natureza e de modo algum se explica o fato de ocorrerem no mesmo
indivíduo o sujeito e o objeto de um direito subjetivo.

A teoria da linha substancialista pura refuta a possibilidade da redução


personalidade-natureza. E demonstra a distinção considerando que a subsistência é uma
perfeição positiva que se acrescenta à natureza substancial, já que, entre independência
e dependência, esta é imperfeição e aquela perfeição, não importando o fato de ser
negativa a voz que a traduz; trata-se, então, de um quid que delimita a natureza, um
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modo substancial positivo que a ela acresce e que dela se distingue realiter. A
personalidade não é, portanto, a própria natureza da substância (seja, a natureza
humana singular); mesmo porque a natureza, ainda a natureza individuada, atribui-se à
pessoa, segundo ensinou S. Tomás, como parte essencial desta (“Suppositum
significatur ut totum habens naturam sicut partem formalem et perfectivam sui”). Pelo
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que não poderia um dizer que “Pedro é a sua natureza”.

O que não se concede, pois, em nenhuma das versões dadas, é que a personalidade (na
natureza) se oponha à pessoa. Exclui-se a hipótese “a”, acima colocada. Na linha
fenomenista e no pensamento de alguns metafisícos, não há distinção real alguma; tudo
se reduz à natureza: hipótese “b-2”. A concepção substancialista pura é a que,
compatível com a realidade dos direitos de personalidade, os quais sabemos que existem
e obram eficazmente, opondo deveras um sujeito a coisas de sua própria natureza, é a
que lhes elucida o fenômeno: a objetivação real se dá entre a pessoa (substância
hipostática plena constituída na personalidade) e a natureza: hipótese “b-1”.

7. Confirma-se o sobredito por uma razão psicológica

A realidade do confronto personalidade-natureza pode ser observada, também, desde


outro ângulo, no desenvolvimento da teoria filosóficopsicológica que se aplica a
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discriminar um “eu objeto” diante de um “eu sujeito”.


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O “meu”, explica Jolivet, está além do “eu”. Contudo, o tipo mesmo do “meu”, o que é
meu ao máximo, é tudo quanto constitui a minha vida orgânica e psicológica; e é por
referência a este “meu” rigoroso e estrito que se definem os graus da nossa posse dos
seres e das coisas. O “meu” é, pois, antes de tudo e essencialmente, o que eu sou, isto
é, tudo o que pode servir de atributo a um “eu”. Assim se desdobra o “eu”, marcado pela
distinção entre um “eu sujeito” (um je, dizem os autores franceses) e um “eu objeto”
(um moi). O “eu objeto” (isto é, o “meu” estrito) designa o conjunto orgânico, fisiológico
e psíquico que me constitui; o “eu sujeito”, o sujeito ou princípio a que se atribuem
todos os elementos desse conjunto, significa a tomada de posse do “eu” por si mesmo e
que se faz um “por si” – uma pessoa – ou medida em que o homem se possui pela razão
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e pela vontade; o sujeito absoluto, diz Lahr, “que me aparece como que o substrato do
meu ser e cujo desaparecimento ou substituição equivaleria ao meu próprio
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aniquilamento”.

8. Como pode a parte do composto natural tornar-se objeto de direito

Na ordem ontológica tudo é bom porque tudo convém ao seu próprio appetitus ou
tendência. Assim, o bem é propriedade de todo ser e ambos se convertem.

Na ordem ética é bem, pode dizer-se, o fim a que o homem tende (appetit) para
satisfação de uma necessidade ou de um desejo (appetitus); na definição clássica de
Aristóteles, “bem é aquilo a que tudo tende” (mais conhecida a versão latina: “bonum
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est id quod omnia appetunt”); S. Tomás diz: “quidquid appetitur”. Maritain explica que
a noção moral de bem tem duas implicações: uma de valor, que é o bem na perspectiva
da causalidade formal; outra de fim (na linha moral), que é o bem “considerado na
perspectiva da causalidade final; trata-se do bem ao qual o homem tende, e que toma
39
por escopo na sua atividade como agente livre”. Cathrein, completando a noção,
acrescenta, com S. Tomás, que não é bem moral verdadeiro o que serve tão-somente
para conseguir outro (bonum utile: utilitarismo), nem o que serve para desafogar
simplesmente um apetite proporcionando deleite (bonum delectabile; edonismo), senão
unicamente o que satisfaz por causa de si mesmo, prescindindo do deleite (bonum
40
honestum). Nesta dimensão, constituem-se em bens, para um sujeito, as substâncias,
essências, potências, atos e propriedades que integram o seu composto natural, pela
suficiente razão de carecer delas o homem, como é evidente.

Em sede jurídica, estes mesmos componentes da natureza humana – bens éticos –


vão-se convertendo em bens de direito, notadamente para o seu sujeito, à proporção
que, tornando-se relevante razão de relações intersubjetivas (n. 1), a mesma ordem
jurídica lhes vai conferindo tutela específica. Em tese, todos esses componentes podem
vir a ser reconhecidos como objetos de direitos subjetivos.

Os bens que em Direito se qualificam como de personalidade são partes integrantes do


homem in natura. Com efeito, excluam-se das extensas relações de bens de
personalidade (supra, n. 1) os que extravasam dos limites da individualidade humana,
também os simples desdobramentos de componentes fundamentais e algumas
extravagâncias do entusiasmo teórico avaliáveis de pronto, e teremos alguns poucos
direitos básicos, estes admitidos pela communis opinio doutrinária: o corpo (saúde etc.)
e a psique (integridade psíquica), que são substâncias, a vida, que é essência da psique,
a obra dita do espírito, que é ato da potência intelectiva, a imagem, que é propriedade
do corpo (visibilidade), a condição de família, que é propriedade da potência generativa
(congeneratividade), a liberdade e a dignidade, que são propriedades da anima
intellectiva, a identidade (verdade pessoal, nome) e a intimidade (incomunicabilidade
ontológica), que são propriedades do todo humano – além de outros cuja qualificação
como bens e direitos de personalidade é discutida.

9. O direito objetivo de personalidade

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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

Anotada a inadequação do nomen “direito de personalidade”, bem como da imagem


conceitual daí emergente, à realidade da correspondente relação (n. 6), importa, sem
embargo, reconhecer que o dito nome é, hoje, expressão geralmente empregada na
doutrina e nas leis para designar os direitos que estamos a versar. É uma denominação
que a terminologia jurídica já assimilou, aparentemente como fato consumado. Resta
estarmos avisados de que estes direitos não objetivam a personalidade nem bens que a
integrem, senão o composto natural do homem a que a personalidade infunde
substancialidade pessoal e determinação na linha da natureza. De sorte que o termo
“personalidade” ganha, aqui, acepção analógica, referindo-se a realidades
essencialmente diversas.

A norma básica que ordena este tipo de relação jurídica, ao mesmo tempo em que
assegura ao sujeito, absolutamente, a disposição de partes de sua própria natureza,
impõe, como ficou assinalado (n. 1), a sujeito passivo universalmente tomado, um dever
geral de abstenção ou respeito, dizendo, v. g.: “respeita a vida de cada homem”. É uma
regra de teor simples e denso e de alcance extensíssimo, a qual responde ao caráter
absoluto e à essencialidade do direito e do objeto que compreende; é, destarte,
absoluta, e poder-se-ia dizer categórica.

A ordem normativa ou conjunto das normas que disciplinam as citadas relações


chamamos, outrossim, direito da personalidade.

* Recupera-se, neste tópico, o excepcional artigo de Walter Moraes, publicado na RT


590/14-24, expressão do pensamento desse grande jurista, recentemente falecido.

1. Gierke. Deutsches Privatrecht, I, 82, p. 709 et seq., e 83, p. 724 et seq.

2. Ravà. Istituzioni, I/316 et seq.; Messineo. Manuale, II, 51, p. 19 et seq.; Colin e
Capitant. Traité, I, 581-586, p. 342 et seq.; Mazeaud. Leçons, I, II, 633-641, p. 663 et
seq. e 673-682, p. 200 et seq.; Pontes de Miranda. Tratado de direito privado,
VII/727-756; De Cupis. I diritti della personalità, I e II, 69 et seq., p. 159 et seq.;
Gangi. Persone fisiche e persone giuridiche, 144-160, p. 173 et seq.; P. Kaiser. “Les
droits de la personnalité”. RTDC 69, p. 445 et seq., 1971; Peter Schwerdtner. Das
Persönlichkeitsrecht in der deutschen Zivilrechtsordnung, p. 101 et seq., 117 et seq.,
130 et seq. e 210 et seq.

3. Raymund Lindon. Les droits de la personnalité, 327-411, p. 191 et seq. Cf. H. E.


Perreau. “Des droits de la personnalité”. RTDC p. 501 et seq., 1909.

4. Henrique Hubmann. Das Persönlichkeisrecht, 21-46, p. 175; Limongi França. “Direitos


da personalidade: coordenadas fundamentais”. RT 567/9.

5. Gierke. Op. cit., 81, p. 702.

6. Idem, ibidem, p. 705.

7. Hegel. Grundlinien der Philosophie des Rechts, 36, Hoffmeister, p. 52.

8. De Cupis. Op. cit., I, 14, p. 29.

9. Kohler. Lehrbuch der Rechtsphilosophie, trecho transcrito por Hubmann. Op. cit., 15,
p. 89.

10. Kohler. Lehrbuch des bürgerlichen Rechts, I, 100, p. 265. “Persönlichkeit ist die
Befähigung Subjekt von Rechten und Pflichten zu sein”. Ráo. O direito e a vida dos
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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

direitos, II, 63, p. 154 e nota 57. Uma parte da doutrina continua a falar em capacidade
de direito (ou de gozo) em contraposição à capacidade de fato (ou de agir, ou de
exercício), que é a capacidade civil propriamente dita. Ferrara. Trattato di diritto civile
italiano, 71, p. 338 (“la qualità più essenziale dal punto di vista giuridico è quella di
essere soggetto di diritti, cioè, la personalità giuridica. Personalità è eguale a capacità
(…). Personalità giuridica vuol dire soggettività di diritti ed obblighi”); 95, p. 443 (“Il
soggetto di diritto se dice persona”).

11. Mira y López. Psicologia geral, 246. “Para William Stern a personalidade é a pauta
unitária e significativa de vida que permite estabelecer a introcepção”. H. Murray
define-a como ‘a organização de todos os processos cerebrais em atividade’. K.
Schneider considera-a como ‘a totalidade do sentir e do querer vital’. D. Katz define-a
como ‘o resultado do ajuste das necessidades biológicas às barreiras sociais’. Watson
afirma que é ‘o produto final do sistema de hábitos’. Thurstone concebe-a como ‘a
integrante dos fatores psíquicos’. Carmichael descreve-a como ‘a organização total do
ser humano em qualquer fase de seu desenvolvimento’. K. Jaspers diz que é ‘o conjunto
de relações compreensivas entre os estados psíquicos no que têm de particular em cada
indivíduo’. Mc Dougall definiu-a como ‘a síntese de todos os traços e funções em sua
interrelação dinâmica’. K. Menninger opina que é ‘a integrante da individualidade
psíquica’. Churchman sustenta que é ‘a medida das ineficiências típicas’. Eisenk
interpreta-a como ‘a soma total das pautas atuais e potenciais de conduta do organismo,
determinadas pela herança e pelo meio’”. R. W. Lundin. Psicologia da personalidad, p. 19
et seq.

12. Op. cit., ibidem.

13. Gordon W. Allport. Personalidade, p. 672 et seq. e 691 e 692. Allport distingue duas
linhas de concepção psicofilosófica sobre o seu tema: uma “essencialista”, outra
“positivista”. Declara-se um essencialista. Define personalidade: a “organização
dinâmica, no indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e
seu pensamento característicos” (?).

14. Kleutgen. Die Philosophie der Vorzeit, II, 592, p. 94. “So bleibt uns also von jenen
beiden Eigenschaften, dem substare und subsistere, nur die letztere als das im strengen
Sinne wesentliche Merkmal ubrig. Die substanz ist demgemäss ein für sich bestehendes
Wesen.” A definição geralmente usada diz: “id quod est in se non in alio tanquam in
subiecto inhaesionis.” Gredt. Elementa Philosophiae Aristotelico-Thomisticae, II, 720, p.
122. “Ideo recte definitur substantia essentiali definitione: res cuius quidditati debetur
esse in se et non in alio.”

15. S. Tomás. De potentia, q. 9, 1. São os seguintes os textos de S. Tomás sobre a


personalidade e a pessoa, bem como os que versam a noção de substância
especialmente aplicável àqueles conceitos: Summa theologica, 1.ª, qs. 2, 2; 3, 3; 29, 1,
2 e 3; 39, 4; 50, 2. 3.ª, qs. 2, 2; 4, 2; 17, 2. Summa contra gentiles, 3, 52 e 4, 43.
Commentarium in IV libros Sententiarum P. Lombardi, 1, 4, 2, 2 e 23, r, 4, 3, 5, 3, 2.
Quaestiones quodlibetales, 2, 2, 4. De anima, q. 1, 1. De potentia, q. 9, 1 e 2. De ente
et essentia, 7. Commentarium in Aristotelis Metaphysica, lecs. 10, 13 e 21. Totius
logicae summa (doutrina tomista, autoria dúbia), 2, 2.

16. Gredt. Elementa Philosophiae Aristotelico-thomisticae, II, 720, p. 122. “Esse in se,
esse per se seu subsistere significat aliquam independiam in essendo i. e.,
independentiam a subjecto inhaesionis.”

17. Gredt. Op. cit. II, 726, p. 126.

18. V. Gredt. Loc. cit., p. 127. Leva-se em conta, aqui, apenas o que na linha aristotélica
se diz substância prima (prote ousia), que é a substância singular ou o indivíduo; não a
substância segunda (deutera ousia) que são os gêneros e espécies substanciais
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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

(Aristóteles, Categoriae (V), 2, a, 11; Metaphysicorum I (V,8), 1.017, b, 10). S. Tomás.


De potentia, q. 9, 2. A outra divisão é a que discrimina substância completa e substância
incompleta na substância prima. Na redação de Zacarias van de Woestyne (Cursus
philosophicus, II, p. 13-14): “1) completa, quae alia substantia non indiget, ut cum ea
totum substantiale constituat; homo, v. g. totaliter sumptus, ex propriis et internis
elementis est independens sive per se stans; 2) incompleta, quae alia substantia idigeat,
ut cum ea totum substantiale constituat; sic anima spiritualis indiget corpore, ut
hominem, ens per se stans constituat; materia indiget forma, haec illa corpus exsurgat”.

19. S. Tomás. Summa theológica, 3.ª, q. 2, 2 e 3.

20. La Vaissière. Philosophia naturalis, II, 248, p. 181.

21. Gredt. Op. e loc. cits.: “Subsistentia, tanquam forma, qua constituitu0r suppositum
seu perfecte subsistens, definitur: Id quo formaliter substantia singularis redditur per se
subsistens et incommunicabilis. Subsistentia etiam suppositalitas vocatur, et subsistentia
personae personalitas.”

22. Woestyne. Cursus philosophicus, II, 238. “Persona positivum dicit: est quidam – ut
infra in recitatione sententiarum exponitur – asserant personalitatem (= id quo) dicere
aliquid negativum, omnes tamen concedere tenentur personam (= id quod + id quo) non
posse esse suptam ut aliquid negativum: persona enim semper supponit realitatem
naturae singularis.” A doutrina esposada por Woestyne (escotista) é reprovada pelos
tomistas no ponto em que concebe a personalidade como um negativum e a pessoa
como algo que supõe a natureza.

23. Garrigou-Lagrange. De Deo trino et creatore, q. 29, art. 1, V, p. 103 et seq.

24. Gredt. Op. e loc. cits.: “Suppositum se habet ut totum, cuius pars formalis est
natura. Ideo suppositum dicitur esse ut quod, natura ut quo: suppositum est id quod
habet naturam, et natura est id quo suppositum est constitum in specie sua”; 727, p.
129: “(…) Id, quo formaliter substantia singularis redditur per se subsistens et
incommunicabilis, est terminatio naturae substantialitatis, qua haec ultimo terminatur in
linea naturae.”

25. Kleutgen explica que, quando Aristóteles fala em “princípio de movimento”, não quer
significar com isso apenas um sentido ativo, senão também princípio passivo de
movimento. “Grund der Bewegung ist aber nicht ausschliesslich im activen Sinne zu
nehmen. Je nachdem es dem Naturwesen eigen ist, zu bewegen, oder bewegt zu
werden, liegt in ihm ein thätiger Grund (princípio ativo), die Bewegungskraft, oder ein
leibender, die Beweglichkeit, durch die es geschieht, das ihm die Bewegung natürlich ist”
(op. cit., 685, p. 251-252). A definição de Aristóteles que está na Physica II, 192, b, 21,
menciona de fato os dois sentidos do princípio do movimento: “princípio e causa do
movimento e da imobilidade naquilo em que está como fundamento e por si e não como
acidente”. A definição a que alude Kleutgen é a dos Metaphysicorum V, 1.015, a, 18.
Gredt diz: “Attamen commoniter etiam compositum (ex materia et forma) hoc vocatur
natura, quia est primum principium ‘quo’ motus, qui convenit supposito” (Elementa, II,
269, p. 230). La Vaissière: “Natura potest spectari physice vel metaphysice. A.
Metaphysice. Si consideratur relate ad rem habentem talem naturam, ‘absolute et
principaliter, significat essentiam simpliciter et integram uniuscuiusque rei prout per
modum formae totalis significatur (…)’. B. Physice. Natura est substantia existens
considerata quatenus est primum per se principium operationum et passionum
substantiae” (Ph. naturalis, II, 248, p. 180-181).

26. Mercier. Cours de Philosophie, II, 148, p. 301.

27. Garrigou-Lagrange. Op. cit., p. 101. “(…) primum subiectum attribuitionis eorum
quae eis conveniunt.” p. 102: “(…) subiectum attributionis naturae, existentiae, et
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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

accidentium”; ibidem: “(…) primum subjectum attribuitionis et alteri non attribuibile”.

28. Bernardes. Luz e calor, 38 (Lello, I/36).

29. C. Lahr. Manual de Filosofia, p. 268. “Pelo contrário, a pessoa inteligente e livre
governa-se a si mesma e permanece senhora dos seus destinos (…). Além disso, é
próprio da pessoa ter o caráter de fim, e com tal ser capaz de direitos (…) pelo fato de
ser senhora de si própria e dos seus atos, é absolutamente inviolável, inalienável,
respeitável; tem valor absoluto.”

30. Locke: “Cumpre renunciar a qualquer idéia de sujeito substancial. Uma substância,
sendo o que, por definição, subjaz aos fenômenos (única ordem de coisas suscetível de
experiência cognitiva), é incognoscível, impensável, e, ademais, inútil e contraditória,
pois, se os fenômenos carecem de um suporte (substância), careceria também de
suporte o próprio suporte” (An Essay on Human Understanding, II, c. XXIII). Hume:
“Não há consciência precisa da unidade e identidade do eu. A sensação do self não é
uma experiência, mas uma construção dos filósofos, pois, penetrando em mim mesmo,
não encontro senão percepções particulares” (A Treatise of Human Nature, I, I, VI e IV,
VI). Kant: “Materialmente, o eu não é mais do que uma sucessão de fenômenos e, como
sujeito permanente, colocado para além dos fenômenos, tem de ser rejeitado porque
não se apóia na experiência. Mas como unidade formal é admissível e corresponde à
consciência de unidade, identidade e autonomia obtida pela intuição dos múltiplos e
diferentes estados internos. Esta função, consistente em apreender a diversidade e
multiplicidade de elementos da intuição, produz uma unidade transcendental (isto é, um
objeto): o eu formal” (Kritik der reinen Vernunft, II, II (Dialektik), c. I, s. III). Taine: “O
moi se reduz a uma série de estados psíquicos interiores” (De l’intelligence, II, III, I).
Dentro do fenominismo: Berkeley (Principles of Human Knowledge I), Condillac (Traité
des Sensations), Stuart Mill (Hamilton’s Philosophy).

31. C. Piat. La personne humaine, p. 380.

32. Mercier. Cours, II/307. “Or, d’après Duns Scot suivi en cela par plusieurs thèologiens
et philosophes modernes, la subsistence ne serait qu’un aspect spécial de la nature; le
même être que nous appelons essence ou nature individuelle lorsque nous le
considérons en lui-même, d’une façon absolue, nous l’appellerions hipostase, suppôt,
personne, lorsque nous le considérons comme non communicable à autrui; la distinction
entre la nature réele et la personne se réduirait donc à une affaire de point de vue; la
personne serait simplesment la nature réele consideré au point de vue tout négatif de
son incommunicabilité. Le même être, conservant tous les principes positifs qui
expliquent qu’il soit complet en lui-même, cessairait d’être complet par le fait seul qu’il
serait considéré en rapport avec un autre suppôt. Une simple considération mentale sans
fondement objectif constituerait la personnalité.” Os tratadistas costumam fazer
remontar a teoria a Duns Escoto (1266-1308). Kleutgen, referindo-se a ela em breve
comentário, fá-la voltar mais atrás, até Henrique de Gand, e, daí adiante, até Durand e
todos os nominalistas; e anota que, na opinião destes, cada substância como tal estaria
na sua própria realidade por inteiro, o que era necessário para que pudesse ser por si,
pois a verdadeira subsistência é a que implica independência, por isso que de modo
algum se une a outro subsistente (op. cit. 616, p. 134-135: “Scotus aber mit seine
Schule, und vor ihm Heinrich von Gent, ferner Durand und sämmtliche Nominalisten
läugneten es. Sie waren der Meinung, jede Substanz als solche besitze in ihrer
Wesenheit selbst alles, was was nöthig sei, um für siche sein zu können; (…). Das
Vermögen zu subsistiren habe jede Substanz durch ihre eigne Wesenheit; die Wirkliche
Subsistenz aber dadurch, dass sie mit keinen andern subsistirenden Wesen auf jene
Weise vereinigt werde, welche die genannte Abhägigkeit zur Folge habe”). A lição de
Woestyne, que segue a orientação escotista, diz, com efeito, que se faz distinção entre:
“a) natura singularis (= id quod est persona), b) subsistentia seu incommunicabilis
existentia (= id quo est persona = esse sui juris)”; mas, ex datis ordinis naturalis non
probatur distinctio realis: in ordine naturali sinne ulla exceptione asserendum:
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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

quamcumque substantia singularem rationalem esse personam” (op. cit., p. 237).

33. A tese de Gredt diz exatamente que “Subsistentia non est aliquid negativi, sed est
positiva perfectio distincta ab individuatione et superaddita naturae substantiali singulari.
Neque consistit in exsistentia vel in ordine ad exsistentiam, sed in terminatione naturae
substantialis, qua haec terminatur positive in linea naturae” (op. cit., 726, p. 126).
Mercier: “Donc il y a, en chaque substance individuelle, un principe unificateur, à raison
duquel le sujet est immédiatement suscetible de l’existence; ce principe intrinsèque,
d’ordre quidditatif, s’appelle suppositalité, personnalité, subsistence (…). Il semble donc
que la suppositalité ou la personnalité soit constituée par une perfection positive, à
raison de laquelle l’individu est une substance une, complète en ellemême et, par suite,
incommunicable à un autre sujet qu’elle même” (op. cit., 152, p. 313-314). Suárez (
Disputationes metaphysicae, XXXIV, sec. II, 20, p. 339-344) ensina: “Quocirca, si
comparemus suppositum ad naturam distinguitur tanquam includens et inclusum; nam
suppositum includit naturam et aliquid addit, quod personalitas, suppositalitas aut
subsistentia creata appellari potest; natura vero ex se praescindit ab hoc addito seu a
subsistentia”. Também Suarez admite, como alguns dos mais puros tomistas (Caetano e
João de S. Tomás, ainda os complutenses “abreviados” e os salmanticenses), que a
subsistência é modo real substancial; mas o grande Mestre de Coimbra é sempre
criticado nesta matéria, no preciso ponto em que supõe preexistir a natureza à
substância (e. g., Gredt, op. cit., 728 e 729, p. 130-131; Garrigou-Lagrange, op. cit., p.
103).

34. S. Tomás. Summa theologica, 3.ª, q. 2, 2. Garrigou-Lagrange. Op. cit., p. 104.


Contudo, admitem os tomistas que se possa conceber a subsistência identificada com a
natureza, em certo sentido, porque, acrescentando-lhe algo positivo, concretamente é
como que se a absorvesse. Gredt: “Posset enim concipi sine absurdo subsistentia
tanquam positiva perfectio identificata tamen cum natura, sicut individuatio in
substantiis corporeis his substantiis addit aliquid positivi, quod tamen eis intrinsecus
imbibitur tamquam realiter eis identificatum” (op. cit., 729, p. 130). Também em La
Vaissière se lê: “Si vero natura consideretur relate ad suppositum, seu ad subsistentiam
primam perfecte individuam, natura compositionem saltem methaphysica facit cum
substentia, ita ut concipiatur quasi causa materialis actuata in ratione suppositi: ita ut
Petrus concipiatur ut compositus ex sua humanitate et sua ‘Petreitate’.”

35. Jolivet. Traité de Philosophie, II. Joliver desenvolve a teoria psicológica da


personalidade extensamente a partir do n. 557, p. 636. Introduzindo a matéria, diz que
“les problèmes que pose le moi sont ceux de sa nature, de sa formation et de son
évolution, des troubles qui peuvent l’affecter, enfin, des conditions de la personnalité”.
“Le mien – descreve – c’est donc d’abord et essentiellement tout ce que je suis,
c’est-à-dire tout ce qui peut servir d’attribut à un “je”. Ainsi s’accuse l’espèce de
dédoublement du moi, marqué par la distinction du moi et du je, le “moi” dèsignant
l’ensemble organique, physiologique et psychique qui me constitue (moi-objet) et le “je”,
le sujet ou le principe auquel sont attribués tous éléments de cet ensemble (moi-sujet).
C’est ce “je” qui donne leur forme propre aux faits psychologiques, à savoir, la forme de
faits personnels, et la vie psychologique est de plus en plus personnalisée à mesure que
le “je” qui culmine dans l’activité volontaire domine et unifie plues fortement l’ensemble
du moi objectif”.

36. Lahr. Manual, p. 266.

37. Que coisa é a personalidade di-lo, no entanto, a Ontologia. Afirmar, então, que a
consciência de si e o domínio de si definem ou são a personalidade psicológica e moral
vale, na verdade, dizer que são prerrogativas eminentes da personalidade pelo prisma
dessas Ciências particulares. Mas a personalidade não é para a Psicologia ou para a
Moral coisa diferente do id quo ontológico, isto é, daquilo que ela é em si mesma. A
observação toca especialmente à tese de muitos racionalistas (Descartes, Locke, Kant,
Günther, Kuhn, Dieringer e outros), de que é ou consiste, a personalidade (ou
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CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA. UM CONTRIBUTO
PARA A TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE

constitui-se, a pessoa), na consciência. Gredt, op. cit., 728, p. 130: “haec sententia
absurdis abundat: a) infantes ante usum rationis, ebrii, amentes, distracti, dormientes
non essent personae; b) novo actu conscientiae, nova constitueretur persona”.
Garrigou-Lagrange (op. cit., p. 103): “Inter modernos, plures hanc quaestionem
consideraverunt sub aspectu non ontologico, sed solum psychologico et morali; ac
dixerunt: personalitas constituitur aut per conscientiam suiipsius aut per libertatem. Sed
conscientia et libertas sunt solum manifestationes personalitatis; subjectum sui
conscium debet prius constitui ut subjectum capax dicendi: ego. Item subjectum liberum
est quidem moraliter sui iuris per libertatem, sed prius debet ontologice constitui ut
subjectum: ego, tu, ille.”

38. Aristóteles. Ethica nicomachea I, 1.094, a, 2; S. Tomás. Summa theologica, 1.ª q. 6,


2.

39. J. Maritain. Problemas fundamentais da filosofia moral, p. 47.

40. V. Cathrein. Philosophia moralis, 110, p. 83.

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