Sistemática II:
Cristologia,
Antropologia e
Hamartiologia
Indaial – 2021
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof. Alexandre de Paula Amorim
A524t
Amorim, Alexandre de Paula
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Teologia Sistemática II:
Cristologia, Antropologia e Hamartiologia. Uma Teologia Sistemática, por definição,
é uma exposição da doutrina cristã, por isso, de forma econômica, apresentaremos
apenas um panorama, ressaltando os temas clássicos mais importantes.
Na Unidade 2, veremos que o Deus que criou o ser humano e lhe deu a capacidade
de crer e pensar, pode nos ensinar, pela Sua Palavra, como usar a razão para o nosso
bem, para o progresso da humanidade e para a glória Dele. Veremos também aspectos
da criação da humanidade e poderemos identificar os apontamentos teológicos sobre
a imagem de Deus no ser humano, entendendo os aspectos material e imaterial do
homem, ainda abordaremos os aspectos da essência da natureza humana.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo
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ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é uma
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
CRISTOLOGIA –
DOUTRINA BÍBLICA DE
CRISTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati-
vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 - A
HUMANIDADE E A DIVINDADE DE CRISTO:
UMA PESSOA, DUAS NATUREZAS
1 INTRODUÇÃO
Um dos assuntos mais debatidos, em termos de cristologia, é a questão das
duas naturezas de Cristo, ou seja, sua humanidade completa e complexa, com toda
sua materialidade e imaterialidade, e sua divindade completa e imbuída em todos os
aspectos atributivos.
3
NOTA
Concílio: é uma reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo
de discutir e deliberar sobre questões pastorais, de doutrina, fé e
costumes. Os concílios podem ser ecumênicos, plenários, nacionais,
provinciais ou diocesanos, consoante o âmbito que abarquem.
Credo: conhecido também como confissão, símbolo ou declaração
de fé, é uma asseveração das crenças compartilhadas da comunidade
religiosa ou secular, na forma de uma fórmula fixa que resume os seus
princípios fundamentais.
2 O NASCIMENTO DE CRISTO
O nascimento de Cristo constitui, para os cristãos, o acontecimento mais
importante na história e que mudou, para sempre, a formatação do mundo em termos
cronológicos, sociais, culturais e religiosos. O tempo passou a ser contado em antes e
depois de Cristo. A sociedade obteve um vislumbre maior de unidade e equanimidade. A
cultura se reestabeleceu na beleza e na majestosidade e a religião dirimiu os panteões
e sustentou o monoteísmo.
4
Berti (2017) afirma que teólogos reconhecem as dificuldades da doutrina do
nascimento virginal, embasados em arcabouços céticos que apontam a improbabilidade
de um nascimento nesses moldes, perguntando-se como uma doutrina tão fundamental
para o cristianismo apresenta tão poucas evidências disso nas Escrituras. Ainda afirmam
que o nascimento virginal de Jesus nada mais é que uma reedição de antigos mitos e
questionam acerca de como os relatos bíblicos se divergem e, em divergindo, como
pode haver neles veracidade.
A Igreja Apostólica nunca teve dúvida sobre esta questão. Diz ainda,
que os primeiros líderes da Igreja cristã, conhecidos como Patriarcas
Cristãos ou Pais da Igreja, corroboraram os ensinos apostólicos e cita
exemplos: “Em 110 A.D. Inácio escreve: “Pois nosso Deus Jesus Cristo
[…] foi concebido no ventre de Maria [...] pelo Espírito Santo. Pois a
virgindade de Maria e Aquele que dela nasceu […] são os mistérios mais
comentados em todo o mundo […]”. Este Inácio, é tradicionalmente
aceito, como um dos discípulos e talvez o mais próximo, do apóstolo
João. Aristides, em 125 A.D., fala do nascimento virginal de Jesus:
“Ele é o próprio Filho do Deus excelso que se manifestou pelo
Espírito Santo, desceu dos céus e, nascido de uma virgem hebreia,
se encarnou a partir da virgem […]”. Em 150 A.D. Justino oferece uma
gama de provas a favor da ideia do nascimento miraculoso do Cristo:
“Nosso mestre Jesus Cristo, que é o primogênito de Deus Pai, não
nasceu como resultado de relações sexuais […] O poder de Deus,
descendo sobre a virgem, cobriu-a com sua sombra e fez com que,
embora ainda virgem, concebesse […]”. Tertuliano, um advogado
convertido, talvez o primeiro cristão de maior influência no segundo
século da era cristã, nos informa que, em seus dias (200 A.D.) “existia
não apenas um credo cristão estabelecido, sobre o qual todas as
igrejas concordavam […]” em seus escritos é citado esse credo quatro
vezes, o qual inclui as palavras – ex virgine Maria – que significa “da
Virgem Maria”, claramente aludindo a Cristo como nascido de uma
mulher virgem (MACDOWEL, 1996, p. 116).
5
através do ato sexual normal, seja por meio de uma forma substituta
de penetração. Eles não são realmente semelhantes à concepção
virginal não sexual que está no âmago das narrativas da infância
de Jesus, concepção esta, em que nenhum elemento ou deidade
macho insemina Maria […]. Portanto, nenhuma busca por paralelos
nos tem dado explicação verdadeiramente satisfatória de como os
primitivos cristãos chegaram à ideia de uma concepção virginal – a
menos, é claro, que ela realmente tenha acontecido historicamente.
2.1.1 Salvação
O nascimento virginal de Cristo demonstra que a salvação deve vir do Senhor,
exatamente como Deus havia prometido em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.15), em que
a “semente” da mulher (Jesus) acabaria por destruir a serpente (Diabo). O nascimento
virginal de Cristo inequivocamente lembra que a salvação jamais virá por meio de
esforços humanos, mas por obra do próprio Deus. Desse modo, a salvação se deve
à obra sobrenatural de Deus e isso é evidenciado no início da vida de Jesus, quando,
segundo o apostolo Paulo, em sua epístola ao Gálatas, diz que: “[...] Deus enviou seu
Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a
lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.4-5).
6
observam essas possibilidades mais acuradamente, é possível entender melhor como
Deus ordenou uma combinação de extensão humana e divina no nascimento de Cristo,
de modo que sua plena humanidade se evidencia pelo seu nascimento humano e
comum, por meio de uma mulher, e sua plena divindade é evidenciada por uma obra
espiritual, mediada pelo Espírito Santo, em Sua concepção, no ventre de Maria.
2.1.3 Impecabilidade
O nascimento virginal também possibilita a verdadeira humanidade de Cristo
sem a herança pecaminosa adâmica (de Adão). Segundo apontamentos teológicos mais
ortodoxos, os seres humanos, em sua totalidade, herdaram a culpa legal e uma natureza
moral corrompida do primeiro homem, Adão. Para essa situação, por vezes, nomeia-se
de Pecado Herdado ou Pecado Original. Assim, o fato de Jesus não ter apresentado um
pai humano significa que a linha de descendência de Adão é parcialmente interrompida,
ou seja, pode-se dizer que Jesus não descendeu de Adão exatamente como todos os
seres humanos. Diante disso, compreende-se por que a “culpa legal” e a “corrupção
moral”, que pertencem a todos os outros seres humanos, não pertencem a Cristo.
NOTA
Hieros gamos: é um termo atribuído ao ritual sexual que representava
um casamento entre um deus e uma deusa, ou entre um(a) deus(a) e
um(a) humano(a), resultando no nascimento de um semideus, tendo
um significado simbólico ou mitológico.
Ortodoxia: interpretação, doutrina ou sistema teológico implantado
como único e verdadeiro pela Igreja.
7
3 A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO
Em paralelo ao nascimento virginal, mostra-se a plenitude da divindade e da
humanidade de Cristo. Em se tratando da doutrina das duas naturezas de Cristo, a
cristologia bíblica dá conta de que, na encarnação, essas naturezas, a divina e a humana,
permanecem distintas e são unidas por completo em uma única pessoa.
• “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” (BÍBLIA SAGRADA, Is 9.6).
• “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (BÍBLIA
SAGRADA, Lc 2.11).
• “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do Pai” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 1.14).
• “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi
designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição
dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 1.3-4).
• “sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a
tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (BÍBLIA SAGRADA,
1Co 2.8).
• “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos
a adoção de filhos” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.4-5).
8
o cristianismo afirma que Cristo possui duas naturezas, que Ele é
tanto divino quanto humano. Ele existe com Deus o Pai na eternidade
como segunda pessoa da Trindade, mas tomou a natureza humana
na encarnação. O que resulta disso não compromete ou confunde a
natureza divina com a humana, de modo que Cristo é totalmente Deus
e totalmente homem e permanecerá nesta condição eternamente.
Às duas naturezas de Cristo subsistindo em uma única pessoa se dá
o nome de União Hipostática (CHEUNG, 2003, p. 118).
9
SAGRADA, Lc 4.1-13) e a prova de Adão e Eva no jardim do Éden (BÍBLIA SAGRADA, Gn
2.15-3.7), o que também é verificado claramente na discussão proposta pelo apóstolo
Paulo, ao apontar os paralelos entre Adão e Cristo, nas questões da desobediência de
Adão e obediência de Cristo (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5.18-19).
Para ser exemplo e padrão de vida. O apóstolo João diz: “[...] aquele que diz que
permanece nEle, esse deve também andar assim como ele andou” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo
2.6), e traz à lembrança de todos que, “quando Ele se manifestar, seremos semelhantes
a Ele” e que essa esperança futura de conformidade com o caráter de Cristo confere aos
homens, mesmo agora, pureza moral cada vez maior à vida (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 3.2-
10
3). O apóstolo Paulo indica que os homens continuamente estão sendo “transformados
[...] na sua própria imagem” (2Co 3.18), avançando, assim, ao alvo para o qual Deus salva
os homens: que é ser “conformados à imagem de seu Filho” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 8.29).
O apóstolo Pedro informa que, especialmente no sofrimento, é necessário considerar
o exemplo de Cristo: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos
exemplo para seguirdes os seus passos” (BÍBLIA SAGRADA, 1Pe 2.21).
11
3.2.2 O debate acerca de impecabilidade e pecabilidade de
Cristo
Há uma série de discussões teológicas, antigas e modernas, sobre a possibilidade
ou não de Jesus cometer pecados em seu ministério terreno. O conceito de que Jesus
não podia pecar se chama “impecabilidade” (non posse peccare – “não poder pecar”)
e o conceito de que ele podia pecar, mas não o fez, é denominado “pecabilidade”
(posse non peccare – “poder não pecar”).
NOTA
William Shedd: foi o maior sistematizador, depois de Charles Hodge,
da teologia calvinista americana entre a Guerra Civil e a Primeira
Guerra Mundial.
Charles Hodge: foi professor, exegeta, escritor, pregador e pastor
Presbiteriano norte-americano e um dos maiores expoentes e
defensores do calvinismo histórico nos Estados Unidos durante o
século XIX.
12
Segundo Tronco (2009, s.p.), “é certo que nenhum teólogo conservador está
disposto a atacar a divindade de Cristo, então a discussão é sobre se Cristo foi ou não
tentado e se ele podia ou não ceder à tentação”.
Diante disso, é que Jesus se compadece dos homens, pois Ele pode sentir o
peso ou a força das tentações, mesmo não tendo nenhuma possibilidade de pecar, pois,
segundo as Escrituras, Ele é Deus e Deus não tem a possibilidade de pecar, e o pecado
não procede de Deus; o apóstolo João, em sua primeira epístola afirma: “porque tudo
que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba
da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 2.16).
O Sínodo de Antioquia (341 A.D.) afirmou que Cristo se esvaziou de “ser igual a
Deus”, mas continuou defendendo, em seu escopo, a divindade absoluta de Cristo. Já
a Reforma Protestante discutiu se Cristo teria se esvaziado de seus atributos, como
onipotência, onipresença e onisciência sem, porém, afetar sua completa divindade
e a Teologia do século XVIII, ou Teologia Liberal, afirma, por meio de alguns de seus
estudiosos, que Cristo se tornou menos ou menor que Deus.
NOTA
Sínodo: assembleia periódica de bispos de todo o mundo que,
presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos ou problemas
concernentes à Igreja Universal.
Protestantismo: foi um movimento religioso que se voltou contra
ações e regras da Igreja Católica. O principal agente da Reforma foi o
monge alemão Martinho Lutero (1483-1546).
Teologia liberal: é um movimento teológico que surgiu da reação ao
racionalismo iluminista e da valorização da experiência e da essência
pelo romantismo dos séculos XVIII e XIX, principalmente entre igrejas
protestantes europeias e seu correspondente no catolicismo, o
modernismo teológico.
14
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou
como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9 Pelo
que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está
acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse
que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (BÍBLIA SAGRADA,
Fp 2.5-11).
15
(skema), daquele que é o “Rei dos reis e o Senhor dos senhores, o
único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem
homem algum jamais viu, nem é capaz de ver (BÍBLIA SAGRADA, 1Tm
6.15-16)”.
Permanece então que μορφή (morphé) deve aplicar-se aos atributos
da divindade. Ou seja, é usado substancialmente no mesmo sentido
que carrega na filosofia grega. Sugere a mesma ideia que é expressa
de outra maneira em João por ὁ λόγος τoῦ θεοῦ (o (ro) logos tou teou
– “o Verbo de Deus”), em escritores cristãos das épocas seguintes
por υἱός θεοῦ ὢν θεός (uios (ruios) Teou on Teos – “o Filho de Deus
que é Deus”) e no Credo Niceno por θεός ἐκ θεοῦ (teos ek teos –
“Deus de Deus”). Ao aceitar essa conclusão não é necessário supor
que o apóstolo Paulo derivou conscientemente seu uso do termo
de alguma nomenclatura filosófica. Havia especificidade suficiente,
mesmo em seu uso popular, para sugerir esse sentido quando isso
foi transferido dos objetos dos sentidos às concepções da mente.
Ainda que o apóstolo João tenha adotado λόγος (logos – “palavra”)
e o próprio apóstolo Paulo tenha adotado εἰκών (eikon – “imagem”)
e πρωτότοκος (protótokos – “primogênito”) da linguagem das escolas
teológicas existentes, parece muito longe do improvável que a
expressão análoga μορφὴ θεοῦ (morphé teou – “forma de Deus”)
tenha sido derivada de uma fonte similar. As especulações dos
judaísmos alexandrino e gnóstico formaram um meio pelo qual os
termos filosóficos da Grécia antiga foram trazidos ao alcance dos
apóstolos de Cristo. Assim na passagem sob a consideração, o μορφή
(morphé) é contrastado com o σχῆμα (skema), como aquele que é
intrínseco e essencial com aquele que é acidental e para fora. E as três
cláusulas implicam respectivamente a natureza divina verdadeira
de nosso Senhor (morphé teou – μορφὴ θεοῦ – “forma da Deus”), a
natureza humana verdadeira (morphé doulos – μορφὴ δούλου –
“forma de servo”), e o exterior da natureza humana (skemati os
antropos – σχήματι ὡς ἄνθρωπος – “figura humana”).
Em nada esse processo afetou a divindade de Jesus nem o uso dos seus
atributos divinos. Na verdade, o autoesvaziamento contempla o verdadeiro Deus que
morreu em humilhação, na condição de um homem real e completo, para salvar homens
completamente perdidos.
16
3.3.2 Teorias falsas sobre o conceito da kenosis
Algumas teorias, tal qual a teoria Kenótica, apontam que Cristo renunciou a
alguns ou todos os seus atributos divinos. Essas ideias não são sustentáveis por várias
razões: primeiro, Jesus, em carne, afirmou ser igual a Deus (BÍBLIA SAGRADA, Jo 10.30);
segundo, se Jesus passou a ser menos divino, houve, então, uma alteração na pessoa
de Deus, conceito que colocaria a própria divindade em xeque, já que “Deus não muda”
(BÍBLIA SAGRADA, Tg 1.17); terceiro, o aspecto substitutivo da morte de Jesus exige
que ele seja perfeito homem, ao mesmo tempo que os aspectos propiciatórios (que
significam satisfazer as exigências de Deus) e redentor (Aquele que resgata por meio de
pagamento) da sua morte exigem que Ele seja perfeito Deus, a fim de sanar um débito
das dimensões do próprio Deus.
Outra teoria, chamada de gnosticismo, diz que Cristo apenas parecia ser
homem, pois disfarçava sua divindade ou apenas a refletia em forma humana. Cristo não
disfarçou ou refletiu sua divindade, Ele apenas assumiu a humanidade. As Escrituras
demonstram que a divindade podia ser reconhecida nEle (BÍBLIA SAGRADA, Jo 1.14;
14.9; Hb 1.3).
NOTA
Teologia Kenótica: surgiu com variados teólogos na Alemanha, entre
1860 e 1880, e na Inglaterra, entre 1890 e 1910, que basicamente
interpretaram Filipenses (BÍBLIA SAGRADA, Fp 2.5-7) ensinando que
Jesus deixou de ser Deus no seu autoesvaziamento.
Gnosticismo: da palavra grega gnose (“conhecimento”) pregava
que o mundo havia sido criado por uma divindade imperfeita e que,
por isso, a vida na terra era apenas uma forma maléfica usada para
aprisionar o espírito humano e que o bem só seria alcançável em
um nível espiritual. Também, por isso, acreditavam que não havia
porque nos culparmos pelos males existentes na terra, uma vez que
tudo isso era propiciado pela prisão material da qual deveríamos nos
libertar e que fora criada pelo deus mal que criara a terra.
17
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O fato de Cristo ter sido gerado e nascido de forma virginal, ou seja, sem a
interferência de um pai humano, constitui-se em ponto de sustentação teológica
para as doutrinas das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, bem como para
as doutrinas da impecabilidade e salvação, entre outras.
18
AUTOATIVIDADE
1 Em termos de o nascimento virginal sendo visto como fundamental para os
desdobramentos doutrinários que sustentam a fé cristã, aponte ao menos três áreas
teológicas de suma importância que essa doutrina sustenta e resuma cada uma
delas.
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – F.
19
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – II – I.
d) ( ) II – III – I.
I- Teoria Kenótica.
II- Teoria Gnóstica.
20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
JESUS, SEUS OFÍCIOS E SUA OBRA
1 INTRODUÇÃO
Timothy George (1994) ajuda a entender os aspectos dos ofícios e da obra de
Cristo, através de uma leitura mais acurada da obra de João Calvino, o reformador de
Genebra, e afirma que:
21
NOTA
Múnus: a palavra múnus tem origem do latim munus, que significa “dever”,
“ônus”, “função” e “encargo”. É principalmente utilizado dentro do âmbito
jurídico, como um conjunto de obrigações de um indivíduo.
No Israel bíblico, fora por Deus estabelecido três ofícios de cunhos político
e religioso. Eram eles: o Profeta, o sacerdote e o Rei. Esses ofícios eram distintos e
exercidos cada qual por uma pessoa diferente.
NOTA
Teocracia: um termo de origem grega que significa “governo divino”; trata-
se de um governo em que justificativas de natureza religiosa orientam a
formação do poder instituído. Na maioria dos casos, o chefe político é visto
como um representante direto de alguma divindade ou chega a assumir a
condição de divindade encarnada.
22
no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu
ungido para sempre” (BÍBLIA SAGRADA, Sm 2.35).
2.1 PROFETA
Jesus, segundo os escritores do Novo Testamento, é Aquele que viria e seria
“o Profeta”. Ele fora assim reconhecido pela mulher da cidade de Samaria (BÍBLIA
SAGRADA, Jo 4,19) e pelo homem que era cego de nascença (BÍBLIA SAGRADA, Jo 9,
1-17). O evangelista Mateus escreve que havia uma impressão muito forte de que Jesus
fosse “algum dos profetas” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 16.14). Ao citar o livro de Deuteronômio
(BÍBLIA SAGRADA, Dt 18.15), Pedro o identifica como Aquele profetizado por Moisés
(BÍBLIA SAGRADA, At 3.22-24).
Tal qual os profetas veterotestamentários, Jesus falava ao seu povo acerca das
palavras de Deus: “Ouviste o que foi dito [...] Eu, porém vos digo [...]” (BÍBLIA SAGRADA,
Mt 5 – no sermão do monte ou da montanha) e seguia, assim, estabelecendo-se como
intérprete fundamentado nos escritos do Antigo Testamento e também transmitindo
uma nova revelação através da pregação do Evangelho. E a pregação do Evangelho foi
o foco principal de seu ministério profético (BÍBLIA SAGRADA, Mt 4.17, 23; Mc 1.15-17; Lc
4.43).
23
2.2 SACERDOTE
Ele é o “Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (BÍBLIA
SAGRADA, Hb 5.6; 6.20; 7.3;17;21). É assim que o Novo Testamento apresenta Jesus,
em termos sacerdotais, aludindo a profética sentença de Salmos (BÍBLIA SAGRADA, Sl
110.4).
Jesus, em seu ofício sacerdotal, orou por seu povo (BÍBLIA SAGRADA, Jo 17).
Ele ainda continua exercendo o ministério da intercessão (BÍBLIA SAGRADA, Hb 7.24-25;
Rm 8.34). Em sua oração sacerdotal, Jesus abençoa seu povo, em particular, os pobres
de espírito, os humildes, os misericordiosos etc. (BÍBLIA SAGRADA, Mt 5.1-12).
2.3 REI
O Novo Testamento corrobora a afirmação de Jesus como Rei. Uma das histórias
mais conhecidas dos escritos neotestamentários é aquela em que o rei Herodes manda
matar os recém-nascidos de uma cidade pequena, chamada Belém. Ao fazer isso, o
rei Herodes credita a Jesus, o recém-nascido, a afirmação de que Ele é Rei. Herodes
procurava matá-lo, pois julgava, baseado nas profecias do profeta Miqueias (BÍBLIA
SAGRADA, Mq 5.2; Mt 25.6), que, daquela pequena cidade, viria aquele que guiaria o
povo de Israel como seu líder primaz (BÍBLIA SAGRADA, Mt 2.1-8). Outro significativo
cumprimento profético acerca da realeza de Jesus é Sua entrada triunfal em Jerusalém
(BÍBLIA SAGRADA, Mt 21.1-11; Zc 9.9).
24
Em Sua morte, pesou sobre sua cabeça a acusação: Iesus Nazarenus Rex
Iudaeorum – “Jesus Nazareno Rei dos Judeus” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 27.37).
Em termos de linhagem Davídica (de Davi), Jesus era o Rei há muito esperado;
os evangelistas Mateus, João e Lucas apontam Jesus como “Filho de Davi”, o que o
coloca em posição de sucessão real (BÍBLIA SAGRADA, Mt 1.1; 9,27; Jo 7.42; At 13.22a-
23). Também era o “Filho de Deus”, situação que o coloca em reinado eterno (BÍBLIA
SAGRADA, Mc 1.1; Lc 3.38; Mt 16.16). O Novo Testamento ainda faz uma junção dessas
duas identidades: real e divina (BÍBLIA SAGRADA, Lc 1.32;35; At 13.22-23;33; Rm 1.3-4).
25
aplicou. A penalidade pelo pecado deve ser paga. E deve ser paga na integralidade.
Nenhum pecador poderá pagar por seu pecado e ser salvo.
3.1 PROPICIAÇÃO
A propiciação significa, em termos abrangentes, que a morte de Cristo aplacou
a ira de Deus contra os homens pecadores. No núcleo da propiciação, encontra-se
a justiça retributiva, que consiste em que Deus, sendo justo, tem de punir total e
cabalmente o pecado e isso aconteceu de forma completa e eficaz quando Ele, Deus
o Pai, aplica misericordiosamente essa punição (justiça retributiva) ao derramar sua ira
sobre o seu Filho, Jesus Cristo (BÍBLIA SAGRADA, Lv 16.11-17; 1Jo 2.2; Rm 3.25-26).
3.3 REDENÇÃO
Redenção significa que, nesse aspecto da morte de Cristo, é destacado o pano
de fundo que rivaliza contra a escravidão impetrada pelo pecado imputado a todos os
homens. Todos os homens, inequivocamente, nascem escravos do pecado. Com base
nessa asseveração, é mister dizer que todo homem necessita que haja um pagamento
pelo “resgate” que o alforrie dessa escravidão, pois, sendo o homem o próprio escravo,
está então desprovido de poder, de qualquer sorte, efetuar esse pagamento. Necessita
o homem de alguém que o faça em seu lugar.
26
Segundo a doutrina da expiação, é através da redenção que Cristo Jesus oferece
seu sangue como pagamento pela liberdade do homem. A redenção, como libertação
da escravatura que o pecado impõe, começa nessa vida e se perpetua na ressurreição
do corpo (BÍBLIA SAGRADA, Mc 10.45; 1Pe 1.19; Ef 1.7).
3.4 RECONCILIAÇÃO
Reconciliação é o aspecto da morte de Cristo que se impõe contra a inimizade
gerada pelo pecado entre Deus e o homem.
Existe ainda uma tese recente denominada “tese das múltiplas intenções”,
que basicamente afirma que Deus teve múltiplas intensões realizáveis com a morte de
Cristo, como:
27
• assegurar a salvação dos eleitos;
• pagar a penalidade pelo pecado de todos, tornando possível a todos a salvação;
• reconciliar todas as coisas com Ele mesmo (BÍBLIA SAGRADA, Rm 8l.32-33; 2Co 5.14-
15; Jo 10.11; Ef 5.25; 1Jo 2.2; 2Co 5.17-21; 2Pe 3.9).
28
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A obra de Cristo é definida pelas realizações em Sua vida para obter a salvação dos
homens pecadores, incluindo Sua morte na cruz e o que essa morte realizou, o que,
na teologia, é chamado de expiação. Aos homens, eram necessários sacrifícios
expiatórios de cunho provisório, antes da morte de Cristo na cruz, que envolviam a
imolação de animais, sacrifícios que foram totalmente inutilizados com o advento do
Cristo, que comprovadamente é o sacrifício eficaz, completo e definitivo. Na essência
nuclear da morte de Cristo, encontra-se a substituição penal e que a expiação
consiste em cinco aspectos distintos: propiciação; expiação purificadora; redenção;
reconciliação; e vitória cósmica.
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• A expiação purificadora remove a responsabilidade, por meio da morte de Cristo,
que apenava o homem e lhe impunha um castigo eterno, trazendo, com isso, a
purificação através do perdão dos pecados.
• As teorias e modelos sobre a expiação são pretensas teses orquestradas pela igreja no
decorrer dos séculos, em uma tentativa de explicar a aplicabilidade da morte de Cristo
como objeto redentivo, que, em resumo, rivaliza ou corrobora com a substituição
penal.
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AUTOATIVIDADE
1 Os ofícios de Cristo são baseados em funções político-religiosas da liturgia e
da legislação judaica do Antigo Testamento, cada uma empregada a uma pessoa
diferente, mas, no caso de Cristo, esses ofícios se unem em uma única pessoa,
trazendo sobre Ele as múltiplas responsabilidades e seus desdobramentos. Descreva
quais ofícios e o que cada ofício destaca na pessoa de Cristo.
3 A ideia da palavra penal, na doutrina da substituição penal, está ligada à ira de Deus.
Diante disso, há muito tempo, essa doutrina tem sido fonte de enormes controvérsias
dentro e fora do escopo eclesiástico. Ela é deveras criticada como exageradamente
legal ou forense, pois a expressão empresta seu uso do arcabouço jurídico. Para
alguns, o uso do termo “substituição penal” alude ao um enebriar do amor de Deus,
pois parece fazer sobrepujar a ira de Deus sobre o amor de Deus. Analise as sentenças
a seguir:
4 A obra de Cristo é definida pelas realizações em Sua vida, para obter a salvação dos
homens, incluindo Sua morte na cruz e o que essa morte realizou. Associe os itens,
utilizando o código a seguir:
I- Propiciação.
II- Expiação purificadora.
III- Redenção.
IV- Reconciliação.
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V- Vitória cósmica.
VI- Extensão da expiação.
VII- Teorias e modelos sobre a expiação.
5 Justiça retributiva consiste em que Deus tem de punir total e cabalmente o pecado.
Em termos de justiça retributiva, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Elabora, em seus termos, que, sendo Deus Justo, deveria punir somente em
parcialidade o pecado, o que deveria ter sido demonstrado, de forma completa,
quando Deus, misericordiosamente, deixa de aplicar em Seu Filho, Jesus, essa
punição (justiça retributiva), ao não derramar Sua ira sobre Ele.
b) ( ) Elabora, em seus termos, que, sendo Deus Justo, pune em sua totalidade o
pecado de Cristo, que, encarnando em forma de homem, o experimentou em si
mesmo. Assim, Deus demonstra, de forma completa, quando, misericordiosamente,
aplica em Seu Filho, Jesus, essa punição (justiça retributiva), ao derramar sua ira
sobre Ele.
c) ( ) Elabora, em seus termos, que, sendo Deus Justo, pune em sua totalidade o
pecado, o que é demonstrado, de forma completa, quando Deus, misericordiosamente,
aplica em Seu Filho, Jesus, essa punição (justiça retributiva), ao derramar sua ira
sobre Ele.
d) ( ) Todas as alternativas anteriores estão corretas.
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UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
JESUS: RESSURREIÇÃO, ASCENSÃO E
SEGUNDA VINDA
1 INTRODUÇÃO
Quando se fala de ressurreição, deve-se ter em mente sempre que o Cristianismo
é uma religião de ressurreição, que é o ponto de convergência da fé cristã; negar a
veracidade histórica da ressurreição de Cristo é o mesmo que tirar toda a razão de ser,
tanto histórica quanto transcendente do Cristianismo.
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Sobre a ascensão, deve-se observar que, no Credo dos apóstolos, uma das
antigas confissões de fé do cristianismo, afirma-se que Jesus “subiu aos céus e está
sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”. Esse acontecimento em que Jesus “subiu
para os céus” é denominado, nos meios teológicos, de “a ascensão de Jesus”, evento
que se deu diante dos discípulos 40 dias depois de Sua ressurreição. O apóstolo Paulo,
na carta que escreve aos Efésios, afirma que, em consequência de ter sido assunto
aos céus, Cristo reina soberano sobre todos os governos celestes, autoridades terrenas,
forças e poderes, tanto terrenos quanto nas esferas espirituais (BÍBLIA SAGRADA, Ef
1.21).
Seu nome traz, em Si, uma autoridade que está acima de todos os títulos
autoritativos que existiram no passado, existem no presente e existirão no mundo que
haverá de vir.
A ascensão de Jesus revela que Ele está vivo entre os homens, de uma forma
diferente e nova. Não se encontra mais em um lugar específico no Oriente Médio ou
em nenhum lugar específico neste mundo, como acontecia antes de Sua ascensão.
Segundo a Bíblia, Ele agora se encontra ao lado do Pai – depois de ir para o céu, está
à destra de Deus (BÍBLIA SAGRADA, 1Pe 3.22), presente em todo espaço de tempo e
próximo a cada homem que vive neste planeta.
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2 A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
A ressurreição de Jesus se mostra importante por uma gama de motivos.
Trata-se de um testemunho do poder de Deus. Se alguém crê na ressurreição, é fato
que também crê em Deus, pois, Deus realmente existindo, sendo Ele criador de todo o
universo e que age poderosamente para sustentar este universo, é certo que se acredita,
logicamente, que Ele tem poder de trazer à vida os mortos. E se Ele não tivesse este
poder, Ele não seria Deus, e não sendo Deus, não seria digno de nossa devoção e louvor.
Somente Deus, que é o autor da vida, pode trazê-la de volta após a morte;
somente Deus pode reverter o horrível terror que a morte imprime no homem, e somente
Deus pode extrair o poder do aguilhão que é a morte e tirar das mãos da morte a vitória
do jazigo. “Ao ressuscitar Cristo dos mortos, Deus nos faz lembrar de Sua absoluta
soberania sobre a morte e vida” (HABERMAS; LICONA, 2004, p. 197).
Em termos práticos, pode-se dizer que qualquer um pode morrer por outro,
mas qual entre os homens pode ressuscitar da morte? O Cristianismo, ao contrário de
outras religiões, possui seus fundamentos sobre a pessoa divina de Cristo Jesus, o
qual, transcendendo a morte, promete aos que creem em Seu nome que acontecerá o
mesmo com eles, ou seja, ressurgirão dos mortos: “Pois, se cremos que Jesus morreu
e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que
dormem” (BÍBLIA SAGRADA, 1Ts 4.14).
• pregar sobre Jesus como o Cristo enviado por Deus para a salvação dos perdidos
seria fantasioso (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.14);
• ter fé em Jesus seria em vão (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.14);
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• todos os testemunhos acerca da ressurreição seriam mentirosos (BÍBLIA SAGRADA,
1Co 15.15);
• todas as pregações acerca da ressurreição seriam mentirosas (BÍBLIA SAGRADA, 1Co
15.15);
• a remissão do pecado não alcançaria nenhuma pessoa (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.17);
• todos os cristãos que morreram teriam desaparecido (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.18);
• os cristãos seriam os mais infelizes dos homens (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.19).
Todavia, sabemos pelo testemunho das Escrituras que Cristo ressuscitou dos
mortos e é Ele “as primícias dos que dormem” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.20), assegurando
àqueles a quem Ele mesmo redimiu de que irão segui-lo na ressurreição.
A bíblia garante a ressurreição dos que creem em Cristo na sua segunda vinda
para buscar a igreja durante o arrebatamento: “[...] e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com
eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (BÍBLIA SAGRADA, 1Ts 4.16-
17). Essa expectativa e segurança ilustram uma canção de esperança de autoria do
apóstolo Paulo (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.55), na qual diz: “Onde está, ó morte, a tua
vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” – mas que relação há desses versos com a
importância da ressurreição? O próprio apóstolo responde: “o vosso trabalho não é vão”
(BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.58).
Ele lembra aos cristãos que, por terem convicção de sua ressurreição e por
causa dessa nova perspectiva em uma nova vida, serão perseguidos, ainda sofrerão
toda a sorte de perigo pela causa de Cristo (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.29-31). Foi assim
que Jesus agiu e foi assim que milhares de mártires cristãos agiram por toda a história,
ou seja, de bom grado, abandonaram suas vidas neste mundo, na esperança da
ressurreição para uma vida eterna.
A ressurreição é o triunfo glorioso para todo aquele que crê em Jesus Cristo,
pois Ele morreu, foi sepultado, ao terceiro dia ressuscitou e um dia voltará, conforme
as Escrituras relatam; desse modo, os que morreram confiando em Cristo serão
ressuscitados e aqueles que permanecerem vivos até a sua volta serão transformados
e receberão novos corpos, corpos glorificados (BÍBLIA SAGRADA, 1Ts 4.13-18).
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2.1 EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
Sobre a importância da ressurreição, foi demonstrado que, sem ela, a fé cristã
seria apenas mais uma religião, cujas bases se firmariam em alguém comum e em suas
palavras vazias. Para a fé cristã, a ressurreição é o ponto transcendente e incomum
que alicerça a fé dos homens crentes em Jesus em uma esperança de vida eterna. No
entanto, para algumas pessoas, a ressurreição não passa de apenas uma invenção de
homens fanáticos, que, de alguma forma, intentaram revolucionar a fé antiga de um
povo antigo.
Nesse período em que o texto paulino fora escrito, várias testemunhas do fato
da ressurreição que habitavam em Jerusalém ainda viviam e, certamente, poderiam
desmentir a afirmação do apóstolo sobre um “suposto” sepultamento de Jesus que
nunca havia acontecido. Contudo, ninguém nunca contrariou esses escritos; pelo
contrário, o que se vê é uma gama de apontamentos corroborativos. Além de que não
haveria tempo suficiente para a disseminação de uma lenda aludindo a um “suposto”
sepultamento de Cristo nem para fazer com que todos cressem e aceitassem tal
situação. O próprio apóstolo Paulo passou duas semanas na cidade santa de Jerusalém
(BÍBLIA SAGRADA, Gl 1.18) e pôde confirmar com as testemunhas que, de fato, Jesus
havia sido sepultado.
Podemos ainda demonstrar que, por meio do próprio Novo Testamento, houve
um enterro e que testemunhas factuais e conhecidas participaram do evento:
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é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro. No lugar
onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro
novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Ali, pois, por causa
da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o
corpo de Jesus (BÍBLIA SAGRADA, Jo 19.38-42).
Outro ponto importante é considerar a figura de José de Arimateia
e Nicodemus. Nenhum acadêmico de nosso tempo afirma que José
é uma invenção dos primeiros cristãos, sobretudo por se afirmar
que ele era um membro do Sinédrio, fato que poderia ser facilmente
desmentido, assim como Nicodemos, que era um fariseu, doutor
da Lei e príncipe dos Judeus. Além disso, até mesmo detalhes
incidentais que os evangelhos fornecem, principalmente sobre José,
corroboram sua existência histórica. As narrativas afirmam que ele
era rico (o que justifica o tipo de túmulo) e que ele era de Arimateia
(um lugar sem nenhuma importância e simbolismo na Bíblia) (CRAIG,
1995, p. 141).
38
pagar os soldados destacados para cuidar do túmulo para sustentarem essa acusação,
conforme explicita a Bíblia:
Essa é uma evidência bem persuasiva para mostrar que o túmulo estava vazio.
Um sexto ponto é o fato de que o túmulo de Jesus não foi venerado, indicando,
assim, que ele estava e permanece vazio.
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É importante salientar que boa parte dos judeus cria na ressurreição, como
comprovam os textos de Isaías (BÍBLIA SAGRADA, Is 26.19): “Os vossos mortos e também
o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque
o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos”,
de Ezequiel (BÍBLIA SAGRADA, Ez 37.10): “Profetizei como ele me ordenara, e o espírito
entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso” e de
Daniel (BÍBLIA SAGRADA, Dn 12.2): “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão,
uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno”. Contudo, os judeus
acreditavam que a ressurreição dos mortos apenas se daria no fim dos tempos, e não
em meados da história, e também criam que a ressurreição seria para todos e não para
um indivíduo isoladamente.
40
A ascensão de Jesus é expressamente carregada de significância por inúmeras
razões, sendo importante elencarmos algumas delas que se possa entender a
importância visceral desse evento:
42
4.1 O PROPÓSITO E OS RESULTADOS DECORRENTES DA
SEGUNDA VINDA DE JESUS
A segunda vinda de Jesus Cristo abalizará o começo de Seu novo ministério
terreno. Jesus como “O Rei dos reis” se assentará sobre Seu trono glorioso. Ele
estabelecerá Seu Reino e governará a terra de Jerusalém que será a capital desse
reino. O resultado de Seu domínio será a transformação da terra. Ele removerá da terra
a presença e as implicações do pecado. Nesse reino futuro, a terra estará plena da
glória de Jesus e Deus será visto em Seu verdadeiro caráter de santidade, de amor e de
verdade.
43
Israel será limpo de seus pecados e a nação será convertida a Cristo, o Messias
(BÍBLIA SAGRADA, Ez 36.24-29; Zc 12.10; 13.1); Israel será exaltado sobre todas as outras
nações (BÍBLIA SAGRADA, Zc 8.20-23; Is 49.22-23; 60.3-16); e Israel executará sua obra
sacerdotal e trará as outras nações a Deus (BÍBLIA SAGRADA, Is 61.6; 66.19; Zc 8.23).
A segunda vinda de Jesus trará um absoluto juízo de morte para a besta, para o
falso profeta e para suas hostes (BÍBLIA SAGRADA, Ap 1.13-14; 19.19-21; 2Ts 2.8; Ap 16.13-
16; Jo 3.9-16; 2Ts 1.7-10). Todos os indivíduos, os quais tiverem recebido permissão para
viverem no reino milenar de Cristo, estarão em submissão à legislação desse reinado
e habitarão juntos em paz (BÍBLIA SAGRADA, Mq 4.3). O domínio de Cristo será em
tudo reconhecido por eles e eles aprenderão de Jesus e de Seus caminhos (BÍBLIA
SAGRADA, Is 2.2-3; Zc 14.9, 16; Sl 72.8-11).
O primeiro aspecto diz respeito aos salvos por Jesus, os crentes ou os cristãos.
O segundo aspecto faz referência à nação de Israel e às demais nações.
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O primeiro aspecto faz menção ao senhorio de Cristo e alude a Ele como o Noivo
da Igreja. No segundo aspecto, Jesus é revelado como Messias e Rei (que se assentará
no trono político de Davi). O primeiro aspecto alude à bem-aventurada esperança dos
homens, crentes, salvos por Jesus, o segundo aspecto alude à purificação e à exaltação
da nação de Israel.
Alguns teólogos têm descrito esse primeiro aspecto da segunda vinda de Jesus
como sendo o “rapto” e o segundo aspecto aponta para “revelação”.
NOTA
Rapto: nesse caso, é uma transliteração do original grego raptzo, que
significa ser “retirado”. É uma referência ao arrebatamento da Igreja.
A vinda de Cristo para a Igreja acontecerá antes da sua vinda com a Igreja.
Os teólogos defensores da teoria do rapto pós-tribulacional afirmam que o segundo
aspecto da vinda de Jesus se seguirá imediatamente ao primeiro aspecto. Com isso,
querem ensinar que Jesus virá para a Igreja e, então, prontamente e de forma mais que
imediata também virá com a Igreja para a Terra. Os teólogos que defendem o rapto pré-
tribulacional ou o rapto meso-tribulacional querem dizer que haverá um período entre
os dois aspectos da vinda de Cristo. Eles ensinam que “o casamento do Cordeiro, a
recompensa dos crentes e toda ou a segunda parte da grande tribulação ocorrerá entre
os dois aspectos da vinda de Cristo” (WHITCOMB, 2016, p. 240).
NOTA
• Pós-Tribulacionismo: defende que o arrebatamento da igreja e a segunda vinda de
Cristo são um único evento, que ocorrerá após o período de grande tribulação.
• Pré-Tribulacionismo: essa visão defende que a volta de Cristo se divide em duas etapas:
primeiro para buscar a igreja antes da tribulação. A igreja passará por sete anos na
presença de Cristo. Os pré-tribulacionistas acreditam que, nesse período, os santos
estarão em uma espécie de tribunal de Cristo, onde ele distribuirá
os galardões. Em segundo lugar, defendem que Ele volta em glória,
sendo visível a todos após o período de grande tribulação, agora
para inaugurar o milênio literal e reinar com os santos devidamente
galardoados.
• Meso-Tribulacionismo: defende que a igreja será arrebatada no meio
da grande tribulação.
• Grande tribulação: é um termo bíblico que descreve o período que
antecede a volta de jesus cristo e por consequência julgamento final
de Deus. Segundo a tradição cristã, ocorrerá na metade final de um
período de sete anos e será o período mais aflitivo de toda a história.
45
4.2.1 A vinda de Cristo para a Igreja
Esse primeiro aspecto da vinda de Cristo se refere a que os salvos por Jesus,
que estarão mortos no dia dessa segunda vinda para igreja, serão ressuscitados para
a imortalidade, e os salvos por Jesus que forem achados ainda vivos serão todos
transformados da mortalidade para a imortalidade e terão seus corpos glorificados. Os
salvos por Jesus imortalizados serão, então, arrebatados, ou seja, levados da terra, para
se encontrarem com Jesus Cristo nos ares e se tornarão, então, coerdeiros com Ele de
todas as coisas (BÍBLIA SAGRADA, 1Ts 4.16-17; 1Co 15.51-53; 1Ts 5.9-10; 2Ts 2.1; Mt 24.37-
42; Lc 17.34-36; Jo 14.3; Fp 3.20-21; 1Jo 3.2; Rm 8.23).
46
LEITURA
COMPLEMENTAR
JESUS COMO SENTIDO ÚLTIMO DA HISTÓRIA HUMANA. ELEMENTOS DA
CRISTOLOGIA DE W. PANNENBERG
Além do tema da encarnação que será tratado neste artigo, há outros elementos
da cristologia de Pannenberg que são fundamentais para responder à pergunta do
valor universal do evento Jesus Cristo. O nosso estudo terá a preocupação com a
fundamentação histórico-cristológica para o sentido último que envolve o ser humano.
A temática antropológica, de certo modo, aparece na nossa abordagem, sobretudo
quando falamos da encarnação do Filho de Deus. Deus se faz homem e vem morar entre
nós. A encarnação histórica de Jesus representa a salvação para toda humanidade. Esse
princípio se torna indispensável para a fé cristã e se concretizou na entrada do Filho no
mundo e na sua obediência filial ao Pai. Jesus se encontra numa relação contrária com
o ato de Adão, uma vez que não sucumbiu à tentação de ser igual a Deus, como foi o
caso do primeiro homem, mas se fez obediente até a morte.
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aguarda”. Na pessoa de Jesus a humanidade vive a sua liberdade plena. Todos os pontos
indicados acima deverão levar em consideração o tema da história, uma vez que para
nosso teólogo, somente na história é possível compreender a pessoa de Jesus Cristo.
48
A autodistinção de Jesus do Pai, ao assumir a sua condição de criatura, afirma
o fundamento da própria possibilidade e realidade de cada existência criada. A pessoa
pode, por Jesus Cristo, superar através da própria autonomia as dificuldades e limites,
realizando a sua vocação, elevando-se além das fragilidades presentes na vida que
constituem uma situação de escravidão e alcançar a verdadeira libertação.
Por fim, Jesus já revela no presente o que a humanidade será no futuro. Ele,
ressuscitado dos mortos, representa o futuro escatológico do ser humano, revelando-
se como o “já” teológico, como a esperança realizada para o ser humano que “ainda
não” experimenta em plenitude a própria salvação. Jesus já é o protótipo da realização
humana, antecedendo-nos como mediador e reconciliando-nos com Deus. Nesse
sentido, pode-se afirmar que a nossa salvação se fundamenta n’Ele. Jesus nos liberta
e nos dá novamente a qualidade de filhos de Deus. A ação de Deus na história, pela
encarnação, abre à humanidade um horizonte de esperança e de futuro. É uma esperança
futura que marca o caminho da pessoa como fim definitivo, e, tal fim acontece no tempo
escatológico, momento de plena realização do ser humano em Deus.
49
O teólogo da história desenvolve a problemática, mostrando que na igreja antiga
toda história da cristologia, em grandes linhas, apresentava a encarnação como o
movimento de Deus até o ser humano. Somente depois, essa ideia foi reformulada com
o pensamento de Irineu. O bispo de Lyon demonstrou na encarnação a realização do
destino da perfeição humana. Jesus é, de forma proléptica, o que acontecerá com todo
ser humano. Pannenberg expõe que não é fácil falar da encarnação da segunda pessoa
da Trindade como algo isolado, pois a vida de Jesus se encontra situada dentro do todo
do acontecer da história da salvação. O método teológico usado por ele mostra que
a encarnação acontece dentro do processar da historicidade humana. Ela caracteriza
apenas um momento no todo da história e da vida de Jesus Cristo. Com isso, não se
pode negar que, se o Filho não tivesse se encarnado (fato histórico), seria impossível
para a teologia formular uma compreensão sobre ele e sobre sua história. Também seria
ininteligível falar de redenção como participação no Logos divino, o que já havia intuído
Atanásio em sua teologia.
50
da tipologia adâmica de Paulo não conseguiu fazer jus ao fato de
que o aparecimento do novo Adão, Jesus Cristo (1Cor 15,45ss), foi
associado com a nova vida do Ressuscitado em (Rm 5,13s), com a
obediência filial de Jesus Cristo em seu caminho para a cruz, mas em
nenhuma das duas passagens seu aparecimento foi associado a seu
nascimento.
Cabe dizer que Pannenberg empenha-se para achar uma solução para a
problemática cristológica aqui abordada. Ele se esforça pelo caminho da história em
formular uma cristologia que integre a vida de Jesus numa perfeita unidade histórica. O
seu empenho pela via histórica e da antropologia acrescenta contribuições para melhor
entender a pessoa de Jesus. Harmonizar a encarnação com a ressurreição, ou seja, o
pré-pascal e o pós-pascal, continua sendo uma busca incessante da Igreja cristã. É na
busca de tal compreensão que se dará possibilidade ao cristianismo de apresentar Jesus
como o salvador de toda humanidade. Pannenberg se empenha para fundamentar a
validade de seu argumento cristológico na missão de Jesus, na sua obediência ao Pai
e na ressurreição. É considerando as características mencionadas que ele consegue
adentrar um pouco mais na vida e na história de Jesus de Nazaré, mostrando que
nela se realiza a plenitude da vida de todo ser humano. Pela história de Jesus se pode
compreender o projeto revelador do Pai e a oferta da salvação para todos.
Pannenberg apresenta Jesus Cristo como modelo para o ser humano, afirmando
51
assim a sua posição antropológica: a salvação da pessoa está em Jesus Cristo. Não se
trata de uma salvação fora da história e alienada do mundo, ao contrário, ela se dá na
história do ser humano situado no mundo. Também não se pode esquecer de afirmar
que o Filho se faz ser humano, encarna-se para elevar toda humanidade à condição
divina. A antropologia adquire um caráter cristológico e a cristologia se fundamenta no
ser humano revelado em Cristo Jesus.
52
característica específica de homem celeste, conheceu e evidenciou também uma outra
singularidade que conota a natureza humana de Jesus enquanto tal, no seu diferenciar-
se do Logos e de todos os outros seres humanos, devido a sua impecabilidade. Na
mesma direção foi a afirmação cristológica do concílio de Calcedônia: O Filho de Deus,
encarnando-se, é em tudo igual a nós, menos no pecado. A Igreja antiga buscou esse
fundamento na perfeição moral de Jesus e na firmeza de sua união com Deus. A única
qualidade que caracteriza o ser humano de Jesus na sua especificidade derivaria assim,
de seu ser-por-si individual, ideia que influirá em certas interpretações modernas da
santidade de Jesus.
53
no Horto das Oliveiras (Mc 14,35s; Mt 26,39; Lc 22,40-44) e também na cruz com sua
súplica ao Pai. O contexto da tentação mostra que a fidelidade de Jesus à sua missão
pressupõe sua liberdade. Ela acontece quando Ele não recusa uma resposta positiva à
sua missão, mantendo-se fiel a tal missão. Pode-se dizer que o drama vivido por Jesus
não é solucionado em nenhuma instância humana, é somente no conteúdo de sua
mensagem salvífica, assumido na sua missão, missão que provém de Deus e constitui
a sua liberdade. É pela autoridade de Deus à qual Jesus recorria em sua mensagem
e atuação que seu drama será solucionado. A solução se dá diante da ressurreição e
passa a não ser uma experiência pessoal de Jesus, mas acontecimento que atinge
a todos os seres humanos. Jesus é o representante de toda a humanidade diante de
Deus, e tal fato demonstra que Ele realizou em sua vida a determinação específica do ser
humano como tal. Na ressurreição, Ele garante aos demais seres humanos a comunhão
com Deus. A cristologia moderna compreende que Jesus é o homem autêntico em sua
abertura para Deus, na sua total confiança no futuro, na sua responsabilidade filial em
relação ao mundo e à solidariedade com os outros.
Jesus, como já dito, é o Adão renovado, não apenas ser vivente, mas espírito
vivificante como se lê em (1Cor 15,45s). Em vários textos do teólogo luterano, ele identifica
em Jesus o modelo para a pessoa humana, mas com isso não se quer dizer que já tenha
se realizado em cada pessoa tudo o que já sucedeu n’Ele. Jesus é o protótipo para
toda humanidade, e ela deve continuar o seu percurso de vida rumo a sua realização
plena que será no fim da história, com a escatologia. Na sua obediência ao Pai, bem
54
como no testemunho do reino vivenciado por Jesus, ele se revela como Filho de Deus.
Ao chamar Deus de Pai, Jesus está em perfeita sintonia com Ele. Sua filiação implica
também a sua forma de se relacionar com Deus, bem como a sua ação. Tal exigência,
implícita necessariamente em sua missão, foi o centro da controvérsia que o envolveu,
levando-o à condenação e morte na cruz. É evidente que a compreensão de Jesus
como salvador da humanidade não é um dado isolado, antes de tudo, ela é um ato
de fé; porém é somente mediante o conhecimento dessa ação salvífica que se torna
possível crer nessa verdade. O evento Jesus Cristo não é um fato deslocado na história
da salvação, ele faz parte do todo da ação reveladora de Deus.
FONTE: Adaptado de PINAS, R. H. Jesus como sentido último da história humana. Elementos da Cristologia
de W. Pannenberg. Atualidade Teológica. Ano XVI, nº 42, 2012. Disponível em: https://web.archive.org/
web/20180507012919id_/https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/22304/22304.PDF. Acesso em: 7 out.
2021.
55
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
56
• A segunda vinda de Jesus tem dois propósitos primazes, que são: “vinda de Cristo
nos ares para a Igreja” e a “vinda de Cristo para a terra com a Igreja”. O primeiro
aspecto da vinda de Cristo se refere a que os salvos por Jesus, que estão mortos,
no dia dessa segunda vinda para igreja, serão ressuscitados para a imortalidade, e
os salvos que forem achados ainda vivos serão todos transformados da mortalidade
para a imortalidade; já o segundo aspecto da segunda vinda de Cristo se refere a sua
volta acompanhado pela igreja santa e glorificada e que Jesus se revelará a si mesmo
como “O Rei dos reis” em toda sua majestade, glória, poder e domínio.
57
AUTOATIVIDADE
1 No mundo antigo, professar a fé em um único Deus causava estranheza. Todos os
povos nutriam fé em um panteão de deuses. O povo judeu, diferentemente desses
povos, cria somente em um único Deus, poderoso e criador de tudo e de todos. E é no
meio desses judeus monoteístas que surgem os cristãos, também monoteístas, mas
crendo que esse Deus, no qual devotavam sua fé, havia encarnado e habitado entre
eles. Diante disso, responda: no que se baseia a fé cristã?
( ) A ascensão significa que Jesus não obteve sucesso em sua obra terrena.
( ) A ascensão marcou o retorno a sua glória terrena.
( ) Depois que Jesus ressuscitou dos mortos, Ele “se apresentou vivo”.
( ) A ascensão indica a finalização do seu ministério na terra.
( ) A bíblia esclarece que a ascensão de Jesus fora um retorno literal e corpóreo ao céu.
( ) Jesus é aquele com quem o Pai se rivaliza nos céus depois de sua ascensão.
( ) A ascensão de Jesus Cristo, teologicamente falando, é o evento que trouxe condições
a Ele de desenvolver seu ministério terreno e o seu ministério celeste ao mesmo
tempo.
58
a) ( ) F – F – F – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V – F – F.
c) ( ) V – V – F – F – F – V – V.
d) ( ) V – F – V – F – V – F – V.
e) ( ) F – V – F – V – F – V – F.
6 A igreja primitiva firmava sua fé na esperança da segunda vinda de Cristo. Leia o texto
a seguir e preencha as lacunas:
7 A segunda vinda de Jesus Cristo conterá dois aspectos primazes. Sobre os dois
aspectos da segunda vinda de Jesus, assinale a alternativa INCORRETA:
a) ( ) O primeiro aspecto diz respeito aos salvos por Jesus, os crentes ou cristãos.
b) ( ) O segundo aspecto faz referência à nação de Israel e às demais nações.
c) ( ) Alguns teólogos têm descrito esse primeiro aspecto da segunda vinda de Jesus
como o “rapto”.
d) ( ) A vinda de Cristo para a Igreja acontecerá única e exclusivamente antes de sua
vinda com a Igreja.
e) ( ) Os teólogos que defendem o rapto pré-Tribulacional ou o rapto meso-Tribulacional
querem dizer que haverá um período entre os dois aspectos da vinda de Cristo.
59
60
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO. Comentário aos Salmos (Patrística, 93). São Paulo: Paulus, 1998. v. 3.
BERTI, M. Razão para crer – Nascimento Virginal. Escola Bíblica IBCU, 2017.
Disponível em: https://marceloberti.files.wordpress.com/2017/02/razao-para-crer-
nascimento-virginal-marcelo-berti.pdf. Acesso em: 7 jun. 2021.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução: João Ferreira de Almeida. rev. atual. 2. ed. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.
61
CRAIG, W. L. Did Jesus rise from the death? Grand Rapids: Zodervan, 1995.
GEORGE, T. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.
HABERMAS, G. R.; LICONA, M. R. The Case for the Resurrection of Jesus. Michigan:
Kregel Publications, 2004.
HOEKEMA, A. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1999.
LIGHTFOOT, J. B. St. Paul’s Epistle to the Philippians. Londres: Macmillian and Co.,
1898.
62
OLSON, R. E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São
Paulo: Editora Vida, 2001.
ORR, J. The progress of dogma. The Virgin Birth of Christ, The Fundamentals.
Western Theological Seminary, Allegheny, Penna. 1897.
SPROUL, R. C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São José dos Campos: Ed. Cultura
Cristã, 2019.
VOS, H. Série Concisa: Introdução à Bíblia. São Paulo: Ed. BV Books, 2020.
63
64
UNIDADE 2 —
ANTROPOLOGIA –
DOUTRINA BÍBLICA DO
HOMEM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati-
vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
65
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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66
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A CRIAÇÃO DO HOMEM E SEU OBJETIVO
E A “IMAGO DEI” REVELADA NA
HUMANIDADE
1 INTRODUÇÃO
Certamente, não existe pergunta mais intrigante e de acirrada discussão do
que: “qual a origem do ser humano?”. Sua origem é divina, segundo os relatos bíblicos.
Por certo, segundo a crença judaico cristã, mesmo se tratando de narrativas mitológicas
para algumas pessoas, essa é a mais correta entre as outras possibilidades de respostas.
Diante desse fato, existem partidários das mais diversas correntes, opiniões
e matizes ideológicas e teológicas, que se opõem às teses dos escritos bíblicos e as
questionam na tentativa de desacreditar o relato bíblico da criação do ser humano,
como sendo um axioma.
67
Algumas questões como “Qual a veracidade ou cientificidade dos relatos
bíblicos? Se Deus é tão poderoso para criar o ser humano, por que o fez tão imperfeito? Se
existe um Deus, por que Ele deixou pistas na natureza que parecem contradizer o relato
bíblico?” (RYRIE, 2004, p. 196) expõem, segundo os articulistas contrários à doutrina da
criação bíblica do ser humano, a fragilidade que alicerça a doutrina criacionista bíblica.
2 A CRIAÇÃO DO HOMEM
Pode-se descrever, em poucas palavras sobre a criação do homem, que Deus
criou o primeiro humano a partir do pó da terra e, com seu sopro de vida, o fez alma
vivente (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.27; 2.7).
68
NOTA
O Breve Catecismo de Westminster foi um Sínodo que reuniu teólogos
calvinistas ingleses e escoceses, em 1643, na Abadia de Westminster, na
Inglaterra, durante cinco anos. Foi considerada a mais notável assembleia
dos puritanos calvinista. Durante o Sínodo, foram produzidos, A Confissão
de Fé, os Catecismos Maior e o Catecismo Breve, o Diretório de Culto Público a
Deus, a Forma de Governo da Igreja, a Ordenação e o Saltério. O documento é
composto por 107 questões e suas respectivas respostas.
Teologicamente, Deus não precisava criar o homem, mas o fez para a sua própria
glória. Deus não precisa do homem nem do restante da criação para nada, porém, ambos
o glorificam e lhe trazem contentamento. Segundo a teologia da triunidade divina,
por toda a eternidade, sempre houve perfeito amor e comunhão entre os membros
da Trindade (BÍBLIA SAGRADA, Jo 17.5; 24). Deus não criou o homem porque andava
solitário ou em busca de comunhão com outras pessoas, Deus não precisava de nós
por motivo nenhum. No entanto, Deus nos criou para a sua própria glória. Deus se refere
aos homens, seus filhos e filhas das extremidades da terra, como aqueles “que criei para
minha glória” (BÍBLIA SAGRADA, Is 43.7; conferir também Ef 1.11-12). Assim, devemos
fazer “tudo para a glória de Deus” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 10.31).
Alguém pode contestar ser errado que Deus tenha criado o homem buscando
glória para si mesmo, mas não estaria em Deus o erro. O erro na verdade estaria em
os homens buscarem glória para si mesmos. Não é isso que as Escrituras mostram
no dramático exemplo da morte de Herodes Agripa I? Não foi o caso em que Herodes,
depois de embebido em orgulho, aceita o clamor da multidão? “É voz de um deus, e
não de homem!” (BÍBLIA SAGRADA, At 12.22) e, “no mesmo instante, um anjo do Senhor
o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (BÍBLIA
SAGRADA, At 12.23).
69
3 A “IMAGO DEI” REVELADA NA HUMANIDADE
No livro de Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.26-27), afirma-se que o ser humano
foi criado à imagem e semelhança divina. As principais tradições judaicas interpretam
a declaração sobre a criação humana ser imagem e semelhança como uma analogia à
capacidade criativa. Essa interpretação é corroborada pelo contexto imediato seguinte
(BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.28), informando que o ser humano participa, de algum modo, da
atividade criadora, ocupando o topo da pirâmide da criação.
O homem é único em sua constituição, é somente sobre ele que Deus diz refletir
sua imagem e semelhança, e, por isso, o homem distingue-se das demais criaturas.
A expressão “imagem e semelhança de Deus” descreve o homem na soma de sua
existência, em sua totalidade. O homem é um ser que reflete e espelha Deus em seus
atributos compartilháveis, caráter e moral (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.26-28).
70
Segundo Pinto (2005, s.p.), a definição de Imago Dei é: “Personalidade teomórfica
dependente, manifesta em estrutura, relacionamento e domínio”. Diante dessa breve
definição, faz-se necessário compreender sua profundidade. Para isso, apresentaremos
uma breve definição de cada aspecto que compõe a definição apresentada.
NOTA
Substancialismo: qualquer doutrina que aceita a existência de uma
ou múltiplas realidades permanentes e essenciais, as substâncias, que
consistem no que há de eterno e fundamental no devir e na contingência
dos seres naturais.
Racionalismo: é a corrente filosófica que iniciou com a definição do
raciocínio como uma operação mental, discursiva e lógica, que usa uma
ou mais proposições para extrair conclusões, ou seja, se uma ou outra
proposição é verdadeira, falsa ou provável. O racionalismo é uma teoria que
se baseia na afirmação de que a razão é a fonte do conhecimento humano.
71
A dimensão teológica da pessoa está em sua condição de imagem de Deus e de
criatura de Deus chamada à existência pelo próprio Deus, segundo a tradição judaico-
cristã. Como criatura que recebe a sua existência como um dom, a pessoa está orientada
para Deus. Entre Deus e a pessoa, há uma relação interpessoal, um frente a frente. Em
virtude de seu fundamento transcendente, está a pessoa numa condição ontoaxiológica
(valores morais intrínsecos) superior às demais criaturas. O ser humano, em termos de
sua pessoalidade, é detentor de um valor absoluto e não pode ser instrumentalizado em
função do estado, do mercado nem da religião.
Para Clément (1972, p. 48-49), o ser humano “se faz pessoa plenamente quando
supera sua própria natureza dando a sua vida não só por seus amigos, mas também por
seus inimigos”.
72
FIGURA 1 – DETALHE DA CAPELA SISTINA – MICHELANGELO
73
A renovação da imagem de Deus no homem implica que o homem é capaz de
retornar para Deus, para o próximo e para a criação para governá-la.
Não podemos pensar em Cristo separado daqueles que Ele mesmo redimiu, seu
povo, nem podemos pensar em seu povo separados dEle, pois assim se dará na vida
futura, em que a glorificação dos cristãos acontecerá junto com a glorificação de Jesus,
o Cristo. É exatamente isto que Paulo ensina em Colossenses (BÍBLIA SAGRADA, Cl 3.4):
“quando Cristo que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados
com ele, em glória”. O que é a glorificação se não voltar à perfeição criacional dos homens
efetuada por Deus e refletindo a Sua imagem completamente restaurada?
Devemos ver o homem à luz de seu destino final [...] Adão ainda
podia perder a impecabilidade e bem-aventurança, mas aos santos
glorificados isso não poderá mais ocorrer. Adão era capaz de posse
non peccare et mori – “posso não pecar e morrer”, os santos na glória,
porém non posse peccare et mori - “não serão capazes de pecar e
morrer”. Esta perfeição, que não se poderá perder, é aquilo para o
qual o homem foi destinado e nada menos do que isto.
74
3.5 POR QUE DEUS CRIOU O SER HUMANO COMO “MACHO E
FÊMEA”?
Um dos aspectos da criação do ser humano referentes a imagem de Deus foi
sua constituição como homem e mulher. A bíblia diz: “Criou Deus, pois, o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (BÍBLIA SAGRADA, Gn
1.27). A narrativa do Gênesis ainda mostra o mesmo elo entre criação à imagem de Deus
e criação como homem e mulher (BÍBLIA SAGRADA, Gn 5.1-2): “No dia em que Deus
criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou,
e os chamou pelo nome de homem, no dia em que foram criados”.
75
3.5.1 Relações interpessoais harmoniosas
A criação divina não nos constituiu seres humanos como pessoas isoladas,
vivendo de forma avulsa, mas criou-nos, segundo sua imagem, para podermos alcançar
unidade interpessoal, e de variados e em todos os modos sociais humanos. A unidade
interpessoal é de extrema profundidade no âmbito familiar consanguíneo, como também
o é na igreja, a família espiritual.
O fato de a Bíblia dizer que homens e mulheres são “à imagem de Deus” deveria,
por si só, excluir toda a superioridade ou toda a inferioridade, e qualquer ideia sexista
de “melhor” ou “pior” do que o outro. Se Deus considera os seres humanos iguais e tem,
76
em seus termos, o real valor de cada qual, então isso deveria resolver a questão, pois a
avaliação divina é o verdadeiro parâmetro do valor pessoal por toda a eternidade.
O segundo fator é que deve ser compreendido o que a lei mosaica prescreve e
ordena como o modo de ser e o comportamento ideal para manutenção das relações
saudáveis entre os indivíduos. Na prática, sabe-se que nem tudo o que está escrito na
lei era obedecido pelos hebreus. Desse modo, não só a mulher, mas todos os membros
de Israel, homens, servos, escravos, concubinas e, até mesmo, o próprio Yahweh, em
algum grau, não recebiam o tratamento devido, prescrito pela lei.
77
Quando o autor do escrito original e os copistas não fazem nenhuma referência
de destaque na atuação e na liderança de mulheres, em termos escriturísticos, isto é,
uma evidência de que não se trata de um fato excepcional, o que, de fato, estava prescrito
conforme a lei é que as mulheres eram excluídas apenas do sacerdócio. Contudo, é
necessário dizer que se trata da ocupação de maior exigência em Israel, o que também
excluía a maioria dos homens. Além dos sacerdotes serem escolhidos especificamente
de uma tribo, teriam que cumprir rigorosas exigências, que, dificilmente, uma mulher
conseguiria cumprir, dada a sua função precípua dentro da organização social (RIBEIRO,
2020).
Ainda que, em Coríntios (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 11.7), o apóstolo Paulo, por
exemplo, afirme que “O homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de
Deus, mas a mulher é glória do homem”, não se deve interpretar que ele está negando,
minimizando ou inferiorizando a mulher, visto que esta foi criada à imagem de Deus; ele
simplesmente sustenta que há diferenciações permanentes entre homens e mulheres,
que se refletem no modo de vestir e agir na congregação dos crentes em Jesus.
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/_dxuaCDxnsfM/TAkpJOraiCI/AAAAAAAAAHo/8IJkDXqvTKg/s1600/
o+pecadooo.png>. Acesso em: 10 ago. 2021.
O primeiro está em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.16), quando Deus faz uma
declaração sobre as consequências ou os castigos por causa da queda do homem no
pecado e diz a Eva: “o teu desejo (ou devoção) será para o teu marido, e ele te governará”.
O outro versículo do Antigo Testamento que menciona esse governo dos maridos
sobre suas mulheres pode ser encontrado no livro de Ester. Em recusa, a rainha Vasti
não atende ao pedido de seu esposo, o rei Xerxes, para desfilar sua beleza diante de um
grupo de homens alcoolizados. O rei Xerxes, extremamente ofendido, faz um decreto,
o qual manda que seja enviado para todas as províncias de seu reino, no qual declara
que: “cada homem fosse senhor (governasse) em sua casa” (BÍBLIA SAGRADA, Et 1.22).
79
Mesmo sendo diminuto o número de textos, diante da vastidão escriturária
veterotestamentária, isso não significa que os escritos judaicos não corroboram a
questão autoritativa do homem como governante em seu lar, o que, em certos aspectos,
não gerava intensos debates, dada a empiricidade do assunto.
O apóstolo ainda completa que: “[...] maridos, amai vossa mulher, como também
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Ef 5.25).
80
Desse modo, a Bíblia atribui aos homens e às mulheres papéis distintos, porém,
importantes nas constituições sociais cristãs, em que homem e mulher são iguais em
essência, como seres humanos criados à imagem de Deus e que não ignoram suas
funcionalidades como corpo de Cristo, entendendo que cada qual exerce seu papel
dentro de um espectro autoritativo, que não envolve abusos de poder masculino ou
inferioridade feminina.
81
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O homem foi criado para refletir, espelhar, espalhar e representar Deus. Havia
capacidade no homem de não pecar e na concepção reformada, a Imagem de Deus
consiste na integridade original da natureza do homem, integridade que se expressa
no conhecimento, na justiça e na santidade/retidão.
• A queda no pecado desfigurou a imagem de Deus nos homens. Mesmo com a queda,
o homem não perdeu o seu estado ontológico de imagem de Deus.
• O homem, que havia sido criado para refletir Deus, em decorrência da queda, passou
a precisar ter restaurada a sua condição de criatura feita à imagem e semelhança de
Deus – restauração que é contínua e se estenderá por todo o processo redentivo, o
que só será possível através do reconhecimento do sacrifício de Cristo pelos homens.
A restauração perfeita e completa da imagem de Deus nos homens, redimidos e
82
rendidos a Cristo, se dará na participação da final glorificação de Cristo Jesus, que é
a volta à perfeição criacional dos homens, efetuada por Deus, a qual reflete a imagem
de Deus completamente restaurada e que, em termos de redenção, é o propósito
final redentivo para o homem. Alcançar a perfeição da imagem de Deus nos homens
será o auge da consumação desse plano redentivo para eles, o que só se possibilita
em Cristo.
• Deus é responsável pela criação direta do ser humano, tendo os criado indistintamente
como macho e fêmea, o que significou que a intenção de Deus, ao fazer isso, foi
demonstrar a importância das relações interpessoais harmoniosas e a igualdade em
termos de pessoalidade – essas relações se aprofundam no casamento, em que dois
iguais se distinguem em suas naturalidades, e mostram, em certo grau, a relação
demonstrada na Trindade divina.
83
AUTOATIVIDADE
1 Segundo a crença judaico-cristã, a doutrina da criação divina se fundamenta apenas
na Bíblia. O que essa afirmação busca enfatizar?
3 O homem e a mulher foram criados por Deus em igualdade, no que diz respeito
à dignidade, porém, distintos em suas funções e num relacionamento de
complementaridade. Sobre a criação do homem, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
( ) Segundo o relato de Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.27; 2.7), Deus criou o primeiro
humano a partir do pó da terra.
( ) Sempre houve uma criatura “preexistente” de caráter sub-humano, a qual deu origem
ao homem.
( ) Os seres humanos são seres criados e isso significa que eles têm existência
independente ou são autoexistentes.
( ) A humanidade existe como o resultado da intenção inconsciente e planejada a partir
de um impulso de um ser inteligente.
( ) O homem e a mulher são mostrados como feitos de forma igual à imagem de Deus.
( ) É de extrema profundidade no âmbito familiar consanguíneo como também o é na
igreja, a família espiritual.
( ) Isso significa enxergar os aspectos do caráter divino uns nos outros.
( ) Refletem em certo grau a pluralidade de pessoas e de relação dentro da Trindade.
( ) A criação divina não nos constituiu seres humanos como pessoas isoladas.
( ) Deveria por si só excluir toda a superioridade ou toda a inferioridade.
( ) Chega a sua expressão plena no casamento.
( ) O que ele simplesmente sustenta é que há diferenciações permanentes entre homens
e mulheres.
6 A criação dos seres humanos é fruto da bondade divina, criados para se deleitarem da
relação complementar entre homem e mulher, como também da dimensão relacional
que mantinham com o criador. Com base na autoridade e nos diferentes papéis para
homens e mulheres, assinale a alternativa CORRETA:
85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
O SER MATERIAL E IMATERIAL
1 INTRODUÇÃO
O homem é um ser complexo, porém, completo e unitário, embora seja
particionado. Nesse sentido, em sua integridade, o homem é constituído por duas partes
distintas, chamadas na Teologia de parte material e parte imaterial. Em se tratando de
materialidade do homem, isso é muito bem entendido, devido ao fato de que a ciência,
através da área da biologia, apresentar tudo o que se conhece sobre corpo humano.
Todavia, a imaterialidade humana é constituída de algumas facetas, as quais não se
pode ratificar como sendo completamente conhecidas, pois as ciências que se propõem
a estudá-las, apesar dos avanços nas áreas que as constituem, ainda caminham
bastante pelo caminho da subjetividade.
87
É provável que a concepção mais difundida, na maior parte da história
do pensamento cristão, é a de que os homens são compostos de
dois elementos: um aspecto material, o corpo; e um componente
imaterial, a alma ou espírito. O dicotomismo foi comum desde os
tempos mais remotos do pensamento cristão. Após o Concílio de
Constantinopla em 381, porém, cresceu em popularidade a ponto
de ser praticamente a crença universal da igreja (ERICKSON, 1997,
p. 507).
FONTE: <https://media.metrolatam.com/2019/12/02/davincivitruvelu-08f833946ea-
422525d285f5804479097.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2021.
88
Como se pode esperar, parece existir certa dificuldade em fixar uma concordância
sobre o tema, pelo fato de as Escrituras aplicarem diferentes termos para indicar a parte
imaterial do homem. As Escrituras falam tanto em “alma” quanto em “espírito” e seus
respectivos termos originais, em hebraico e no grego, e a incorrência de variadas palavras
assinalando o aspecto imaterial do homem se torna, então, o cerne do problema.
Em resumo, o argumento tricotomista diz que, uma vez que a Bíblia utiliza
algumas palavras diferentes para se referir ao aspecto imaterial na composição da
natureza humana, isso significa que esse aspecto imaterial deve ser composto, ou seja,
o homem deve ter uma alma, um espírito e um corpo físico – assim, o homem deve ser
um indivíduo tripartido ou tricotômico.
Nesse argumento, pode-se ver que a relação intercambiável das palavras não
tem a significância que os tricotomistas tentam lhes atribuir.
Com base nesses exemplos, o primeiro verso diz que, quando o homem morre,
sua alma sai de seu corpo, e o outro diz que é o espírito que se esvai do corpo humano no
momento da morte – mas qual dos dois elementos realmente sai do corpo no momento
da morte: a alma ou o espírito? Simples, não existem dois elementos, mas somente um.
Esse único elemento imaterial presente na natureza humana é, às vezes, chamado de
“alma” e, às vezes, de “espírito”, na Palavra de Deus. São termos diferentes para designar
exatamente o mesmo elemento e, evidentemente, isso nos é mostrado na totalidade
da Escritura. É possível comparar com os livros de Reis (BÍBLIA SAGRADA, 1Rs 17.21) e
Salmos (BÍBLIA SAGRADA, Sl 31.5), por exemplo, em contraste com Eclesiastes (BÍBLIA
SAGRADA, Ec 12.7) e Coríntios (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 3.5).
89
Deus, é que o ser humano passa a ser alma vivente, ou seja, um ser vivo. A partir de tal
narrativa, abre-se a possibilidade da interpretação que há no antropos dois elementos
constitutivos: um de natureza material e o outra de natureza imaterial.
Essa ideia, das diversidades de palavras para a significância dos termos alma
e espírito, como se pode observar, expõe com precisão o argumento hermenêutico
(interpretativo) dos teólogos tricotomistas. No entanto, sabe-se que o ser humano não
se constitui humano por possuir diversos elementos materiais ou, da mesma maneira,
por possuir diversos elementos imateriais.
90
NOTA
Metafísica: surge com Platão para superar as limitações dos primeiros
filósofos, que se mantiveram na busca de um princípio físico da natureza.
Esse princípio, conforme Sócrates, Platão e Aristóteles afirmaram,
seria transcendente e não estaria na realidade sensível ou no mundo físico,
ainda que Aristóteles efetue, posteriormente, uma crítica à metafísica de
seu mestre, a metafísica ainda mantém sua característica transcendental.
Essa teoria filosófica da metafísica platônica foi mais bem elaborada nos anos
subsequentes, gerando o que se chama de neoplatonismo. O neoplatonismo empresta,
sem advertências à metafísica platônica, elaborando uma complexa doutrina, na qual
ratifica que o mundo físico, imbuído de sua materialidade imperfeita, não poderia
ter sido criado de forma direta pelo imaterial, pois, segundo o conceito doutrinário
metafísico, o contato direto entre ambas as esferas incidiria em impureza na perfeição
pura do mundo espiritual, o que acarretaria sua contaminação e, para sanar o problema
metafísico criado pelo neoplatonismo, surge uma série de mediadores que postulam
entre o espiritual perfeito e o material imperfeito.
A doutrina da tricotomia, em suma, não tem suas raízes na Bíblia, mas em uma
filosofia não cristã de aspectos pagãos. Não à toa, grande parte dos que defendem uma
natureza tricotômica no homem garantem também que o espírito é a parte do homem
que se comunica com Deus. Eles querem dizer, com isso, que o espírito é o aspecto mais
elevado do homem, afirmação radicada no platonismo, que diz ser o espírito perfeito e
puro, e, assim, pode se comunicar com Deus, que é o perfeito, o espiritual e o puro – o
espírito, na verdade, é o próprio homem.
91
conseguinte, também para a soteriologia (doutrina da salvação), além de alterar a própria
antropologia, segundo apresentada nas Escrituras.
92
NOTA
Espiritismo: é uma doutrina de cunho científico-filosófico, estabelecida no
século XIX, por Denizard Hippolyte Leon Rivail, mais conhecido como Allan
Kardec.
NOTA
Platão (427-347 a.C.) foi um filósofo grego da Antiguidade, considerado um
dos principais pensadores da história da filosofia. Era discípulo do filósofo
Sócrates. Sua filosofia é baseada na teoria de que o mundo que percebemos
com nossos sentidos é um mundo ilusório, confuso.
Nas configurações mais modernas, esse pensamento encontra eco nas figuras
de Kant e Julius Müller. Em suas interpretações filosóficas, a depravação da vontade
ou da deficiência moral no homem só pode ser real a partir de um ato pessoal de
autodeterminação ou de uma expressão volitiva em um estado prévio ao da vida material.
Para eles, em sua totalidade, os homens que vivem materialmente ou se materializaram
têm suas definições últimas determinadas por essa ação pré-temporal.
93
NOTA
Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo alemão, fundador da “Filosofia
Crítica” – sistema que procurou determinar os limites da razão humana. Sua
obra é considerada a pedra angular da filosofia moderna.
3.2 CRIACIONISMO
Segundo os proponentes da teoria criacionista, Deus cria almas diuturnamente
para as conectar com os corpos gerados em concepções humanas.
94
NOTA
Louis Berkhof (1873-1957) foi um teólogo sistemático reformado, cujas
obras têm sido muito influentes na teologia calvinista da América do Norte
e da América Latina. Sua Teologia Sistemática tem sido, durante décadas, o
livro-texto utilizado em muitos seminários de teologia protestantes no Brasil.
95
Alguns argumentos, que corroboram a teoria do criacionismo, dizem que, na
criação, é possível perceber que existem diferenças entre a origem do corpo e a origem
da alma e que, no decorrer das evidências bíblicas, podemos compreender que sempre
existe algum tipo de separação entre esses dois aspectos (BÍBLIA SAGRADA, Is 42.5; Nm
16.22; Hb 12.9). Esse pensamento se esforça em manter una a alma, visto que a alma é
indivisível.
Outra objeção a essa teoria se dá em a criação de Eva ser bem evidenciada pelo
escritor bíblico e, nessa criação, nada se observa sobre a origem da alma da Eva. Não se
vê Deus soprando nela o fôlego de vida ou dando a ela uma natureza excepcionalmente
diferente da do ser humano; o que se vê é ela sendo criada a partir do ser humano e
compartilhando com ele sua essência e natureza.
3.3 TRADUCIONISMO
O traducionismo responde à pergunta “como foi criada a primeira alma?”, a partir
tanto de uma perspectiva bíblica quanto filosófica cristã. Todavia, as proposições dos
traducionistas encontram mais intensas evidências na literatura bíblica – ao contrário
do criacionismo, que parece inferir mais do que se alicerçar. Contudo, vale demonstrar
que tanto o traducionismo quanto o criacionismo são opções que se encontram na
historicidade da igreja cristã e ambas as partes são defendidas por cristãos.
96
Logo, a alma tem origem a partir do momento da concepção, em um processo
natural, e é transmitida de pais para filhos. Alguns dos representantes dessa corrente
são Tertuliano, Lutero, Augustus Hopkins e Charles Ryrie.
NOTA
Tertuliano (160-220) foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo, nascido
em Cartago na província romana da África Proconsular. Ele foi o primeiro autor cristão a
produzir uma obra literária (Corpus) em latim.
97
A teoria leva a dificuldades insuperáveis a cristologia. Se em Adão a
natureza pecou globalmente, e esse pecado foi, portanto, o verdadeiro
pecado de cada parte dessa natureza, não se pode fugir à conclusão
de que a natureza humana de Cristo também foi pecadora e culpada,
porque teria pecado de fato em Adão (BERKHOF, 2013, p. 189).
98
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A teoria do traducionismo tem bases mais firmes na teologia e é a mais aceita entre
os cristãos, segundo a qual a alma tem origem a partir do momento da concepção,
em um processo natural, e é transmitida de pais para filhos, e, assim, todas as
substâncias da alma ao ser humano.
99
AUTOATIVIDADE
1 A discussão sobre a constituição do ser humano esteve presente na Igreja desde os
primórdios, tendo recebido atenção exclusiva em pelo menos dois concílios: I Concílio
de Constantinopla, em 869, e IV Concílio de Constantinopla, em 381. Sobre a questão
da constituição humana, disserte sobre o que é concepção dicotômica e tricotômica
do ser humano.
2 Do ponto de vista filosófico, vê-se o predomínio de uma visão dual do ser humano
como composto de corpo e alma. Já do ponto de vista místico, sem o rigor científico
que restringe a definição e o sentido de cada termo utilizado, permitindo uma
abordagem mais poética, pode-se usar a visão tripartida do ser humano como um
motivador em fazê-lo buscar algo além das suas limitações, isto é, a buscar a Deus.
Segundo as visões acerca de dicotomia e tricotomia, explique por que a dicotomia
parece ser uma doutrina bíblica mais aceita do que a tricotomia.
3 “A expressão ‘homo somaticus’, hoje, é tanto quanto rara; no entanto, era uma
expressão comum nos tempos de Filão de Alexandria e do apóstolo São Paulo. Estes
e outros autores desse período identificaram dois elementos na constituição humana:
um psíquico e outro somático” (MONDIN, 2003, p. 28). Sobre preexistencialismo,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
100
4 O fundamento e a finalidade última do ser humano é o sagrado. A religião, então, seria
a substância e a cultura seria a sua forma. Toda a manifestação e produção humanas
têm como finalidade o encontro com o divino. Sobre o criacionismo, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) Cada alma individualmente deve ser considerada uma imediata criação de Deus,
devendo sua origem a um ato criador direto, cuja ocasião não se pode determinar
com precisão.
b) ( ) Deus cria, guarda e distribui as almas diuturnamente, conectando-as cada qual
com os corpos gerados em concepções humanas preexistentes.
c) ( ) Alguns argumentos que corroboram a teoria do criacionismo dizem que, na
criação, é possível perceber que existem diferenças entre a origem do corpo e a
origem da alma.
d) ( ) O criacionismo sintetiza a declaração da criação direta de Deus para cada alma.
101
102
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
A CONSCIÊNCIA DO HOMEM
1 INTRODUÇÃO
“A consciência é uma instância, um poder implantado em nós que avalia
moralmente os nossos atos, nossos pensamentos, nossos planos e opiniões” (BÍBLIA
DE ESTUDOS DE GENEBRA, 2004, s.p.).
Segundo Ryrie (2004, p. 229), “A consciência é aquela voz interior que impele a
pessoa a fazer o que ela considera correto”, enquanto, de acordo com Sanders (2004), “A
consciência, segundo desígnio divino, deve ser o nervo central de nosso ser que reage
ao valor moral intrínseco de nossos atos”.
103
admiráveis, reverentes, sempre novas e crescentes que preenchiam a alma humana.
O que anteriormente se citou, constitui-se um exemplo importante, que indica que,
mesmo nos âmbitos seculares de extrema influência humanista, historicamente, se
reconhece a importância da consciência.
FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/03/consci%C3%AAncia_326869622.
jpg>; <https://bahaiteachings.org/wp-content/uploads/2015/11/The-Human-Conscience-Proof-that-God-
-Exists-900x380.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2021.
104
Imaginando a inexistência de absolutos como princípios transcendentes,
como se pode explicar, então, a mecanicidade daquilo que se trata nominalmente de
consciência? Na estruturação relativista, a resposta é que a consciência se vê definida
apenas em termos evolucionários:
Já no âmbito da espiritualidade, a dor indica que algo não vai bem com a alma.
Assim como a ciência desenvolveu remédios que curam o corpo físico, o corpo espiritual
de Deus, a igreja, através de Jesus, o Cristo, e imbuída do poder outorgado pelo Espírito
Santo, oferece o remédio chamado perdão. Quando há uma consciência de culpa real,
é exigido o perdão real.
105
O termo hebraico “( הָעָדֹוּתtoda'ah”) traduzido no Antigo Testamento por
“consciência”, aparece de forma esparsa. Todavia, no Novo Testamento, reconhece-
se, com mais plenitude, a importância da funcionalidade da consciência no âmbito da
vida cristã. Já a palavra grega συνείδηση (“syneídisi”) aparece cerca de 31 vezes no
Novo Testamento, com significância apontando para “consciência”. Segundo alguns
eruditos do grego bíblico da era medieval, a ideia por traz dessa palavra envolve a ideia
de “acusação e justificação”.
106
A aprovação de si mesmo significa que se fez o que se deveria fazer; e
a condenação indica o contrário. Sempre quando faz o que não deve,
o homem se torna culpado diante da própria consciência, o homem
prova-se falso e traidor de si mesmo, perdendo o respeito próprio.
Segue-se, então, severo juízo da consciência, que, em certos casos,
leva o homem ao remorso, ao desespero e até ao suicídio. Aquele que
fica sem o apoio de si mesmo torna-se desamparado, condenado
pela própria consciência e por Deus. Aquele que não tem o apoio de
si mesmo condena-se a um fracasso completo na vida.
O mais interessante, diante de tudo isso, é que sempre se achará alguém disposto
a oferecer uma defesa muito bem formulada eticamente para legitimar atividades que
Deus julga ofensivas a Sua pessoa. Os seres humanos desenvolveram uma capacidade
acurada para defenderem a si mesmos das acusações e das culpabilidades morais.
FONTE: <https://entenderficcao.com.br/wp-content/uploads/2018/09/800px-Eug%C3%A8ne_Ferdinand_
Victor_Delacroix_018-e1538360746432.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2021.
107
encontrar uma ranhura de veracidade na visão evolucionária, pois, realmente, as
pessoas podem ter uma consciência altamente sensibilizada quando formatadas a
um conjunto de regras e normas elaboradas por homens em detrimento às leis divinas
estabelecidas por Deus nas Escrituras. Em algumas comunidades evangélicas, aquilo
que atesta a envergadura da fé de alguém é se ele joga futebol ou não. Se a pessoa
cresce em um ambiente em que o jogo é pecado e ela decide jogar o que acontece?
Essa pessoa, geralmente, é debelada por culpa. Que resposta poderia se dar a isso?
Informaria a pessoa que jogar futebol não é pecado e sua consciência foi viciada? Sim,
essa poderia mesmo ser uma boa abordagem, mas poderia também ser um gerador de
inúmeros problemas, já que a consciência pode justificar quando deveria acusar e pode
acusar quando deveria justificar.
Martinho Lutero, quando inquirido na Dieta de Worms, disse que agir contra a
própria consciência não é correto e muito menos seguro. Agir contra a consciência é
pecado. Esse princípio não foi inventado por Lutero para o período de seu inquirimento
diante dos clérigos em Worms, esse é um princípio do Novo Testamento: “[...] Tudo o que
não provém de fé é pecado” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 14.23).
É possível até praticar algo que se desencontre com as leis divinas e que é
proibido irrestritamente por Deus e achar que não há problema algum nisso, mas, o que
não se pode fazer é, no derradeiro dia diante do Senhor Eterno, dizer que não se sabia
que essa prática desagradaria ao Senhor ou que a própria consciência não acusou e que
se agiu de acordo com ela.
108
possíveis e imagináveis deveria evitar o mal. “Para o cristão, a consciência não é a
autoridade final em sua vida. Somos chamados a ter a mente de Cristo, conhecer o bem
e possuir mente e coração treinados na verdade de Deus, para que, nos momentos de
pressão, sejamos capazes de permanecer firmes com integridade” (SPROUL, 2013, p.
15).
Por suposto, não se deve esquecer que, nas mãos de Deus, está a régua que
mensura cada um dos homens e que todos os homens serão julgados por ele segundo
as suas obras. Deus “[...] retribuirá a cada um segundo o seu procedimento [...]” (BÍBLIA
SAGRADA, Rm 2.6). É o caráter de Deus o determinador do que é justo, santo, reto, moral
e correto; é o Seu caráter que fixa esses elementos na mente humana, trazendo ao
homem o dever de buscar viver baseado nesse caráter.
Assim, o homem encontra em Jesus o mais alto ideal e padrão e é, com base
nesse ideal e padrão, que cada homem tem nEle a franca expressão do dever de buscar
ser como Ele foi.
Segundo as Escrituras, cada homem foi criado por Deus segundo a Sua própria
imagem – “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1.26a) – e, devido a isso, naturalmente, encontra-
se nos homens a expressão do dever de se parecer com Ele, com Deus. Essa naturalidade
impele a criatura a se aproximar à similaridade do seu criador, principalmente em seus
aspectos atributivos.
Essa lei da naturalidade está expressa na natureza e demonstra que todo ser,
intuitivamente, busca se parecer com seu imediato superior; desse modo, é mister que
o homem viva de acordo com as expressões características de Deus. O homem deve
109
exigentemente viver para alcançar o padrão de caráter ao qual Deus havia idealizado
quando o constituiu um ser vivente.
Como não há justiça em julgar uma sequoia por seu pouco crescimento de um
ano para outro ano, em relação a outra que já está estabelecida como árvore adulta,
também não há justiça em julgar os homens em relação ao seu crescimento na busca
pela estatura de varão perfeito.
Nem mesmo Deus assim nos julga. Ele é justo e só nos condena por
não sermos o que podíamos e devíamos ser na hora do julgamento.
É por isso que a consciência do homem pode servir de aferidor na
vida prática; porém o homem deve reconhecer que está debaixo da
obrigação de ir aproximando-se mais e mais do caráter de Deus, o
aferidor final (LANGSTON, 2019, p. 85).
110
LEITURA
COMPLEMENTAR
A TEOLOGIA TEM ALGO A DIZER SOBRE O SER HUMANO?
Introdução
Por mais que falemos de Teologia, no singular, temos de reconhecer que existem
várias teologias, frutos de sistemas e escolas teológicas. Isso não é negativo; pelo
contrário, enriquece ainda mais o diálogo dentro da própria Igreja e com a sociedade.
As diversas áreas do saber teológico também se abriram à discussão pública e, com o
auxílio das ciências modernas, tornaram-se ainda mais capazes de contribuir com o
saber-fazer teológico e de legitimar sua significatividade no e para o mundo histórico.
111
A reflexão que segue tem a finalidade de elucidar a natureza, o objeto, o método
e as principais áreas de especulação da Antropologia Teológica e, com isso, demonstrar
sua importância para a investigação e compreensão do ser humano.
112
Podemos dizer que a natureza da Antropologia Teológica consiste em investigar
o ser humano e a história humana à luz dos dados revelados da Sagrada Escritura, à luz
da fé; seu objeto é o próprio ser humano, criado por Deus a sua imagem e semelhança;
seu método funda-se no dado revelado e na sua interpretação, vias para a compreensão
do ser humano na sua integralidade.
113
Em Jesus Cristo, o ser humano reencontra o caminho definitivo de união com
Deus e, com isso, o resgate da sua dignidade. Os mistérios da criação, encarnação e
ressurreição revelam ao ser humano o verdadeiro sentido da sua existência. Criado à
imagem e semelhança de Deus, é destinado a viver para sempre Nele.
Todavia, isso não significa que o ser humano, na sua condição de criatura, não
tenha consistência própria. Dotado de faculdades naturais, constituidoras do seu ser,
tem o poder de criar e transformar as coisas. No entanto, não é causa de si mesmo,
mas ser causado, ser no Ser e, por isso, somente em Deus poderá encontrar sua plena
consistência, solidificada no ato de ser livre.
Contudo, o ser humano pode fazer mau uso da sua liberdade, distanciando-se
de sua inclinação natural para o bem, ferindo a si mesmo e aos outros. A Antropologia
Teológica, nesse sentido, busca compreender a condição do ser humano como ser livre
e as propriedades do bem o do mal implicadas no agir humano. Fundamentalmente,
reflete sobre o sentido da vida, sobre os valores que a orientam e sobre o reto agir para
se realizar como gente.
Desde a sua criação, o ser humano foi chamado por Deus à santidade.
Entretanto, seduzido pelo mal, afastou-se do seu Criador para buscar, fora Dele, o seu
fim. Ao descobrir-se inclinado para o mal, sujeito a muitos perigos, e ainda mais distante
de Deus e, portanto, dividido em si mesmo, o homem vive a tensão constante entre o
bem e o mal, seja em sua vida particular, seja em sua vida coletiva. Essa é a condição
humana de pecado.
114
A condição de pecador compromete a natureza originária do ser humano,
porque o diminui, impedindo-lhe de alcançar sua plena realização. Não obstante, o
resgate de sua natureza e da sua inclinação ao bem realiza-se no mistério salvador de
Jesus Cristo, que liberta o ser humano do mal, concedendo-lhe a graça de comunhão
com o seu Criador.
O ser humano, embora agraciado pela aliança com Deus, continua sendo
humano e, portanto, limitado, frágil, vulnerável. Essa sua condição o abre à perspectiva
do perdão partilhado, da reconciliação assumida como estilo de vida e da constante (re)
construção.
Essas três dimensões não se referem a três homens, mas a um só; não
correspondem a etapas sucessivas, cronologicamente presentes na história do ser
humano. Ao contrário, a condição humana de criatura é perene e, por isso, tais dimensões
convivem simultânea e diversamente na vida de cada pessoa e em cada momento da
história.
Conclusão
A investigação sobre o ser humano é a mais incrível especulação que pode ser
feita. As ciências que diretamente se ocupam dessa tarefa reconhecem o quanto o ser
humano é inesgotável e, ao mesmo tempo, fascinante; a cada descoberta, reconhece-
se a sua complexidade e beleza, vulnerabilidade e vigor.
Antropologia Teológica é isso: uma ciência que busca conhecer o ser humano
na sua integralidade. Para isso, parte de Deus e a Ele retorna, porque O considera não
somente causa, mas fim último do ser humano. Todavia, parte também da realidade
concreta do ser humano e, para isso, serve-se da contribuição das várias ciências e
se coloca em atitude de permanente diálogo com elas, a fim de que tanto a riqueza
do mistério de Deus quanto do mistério humano sejam cada vez mais conhecidas e
aprofundadas e se tornem, com isso, fonte de esperança em contextos tão controversos,
marcados por relativismos e fundamentalismos.
FONTE: Adaptado de SILVA, A. W. C. A teologia tem algo a dizer sobre o ser humano? In: SILVA, A. W. C.;
BARBOSA, L. F. S.; ZACHARIAS, R. (orgs.). Antropologia Teológica: pensar o humano na universidade. São
Paulo: Ideias & Letra, 2017. p. 15-25.
115
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O apóstolo Paulo enfatiza a sensibilidade de consciência, ao dizer que existe uma lei
natural escrita nos corações dos homens, afirmando que as leis morais de Deus já
atuavam no homem muito antes das tabuas do Sinai.
• Todas as coisas que são corretas e justas são determinadas única e exclusivamente
pelo caráter santo e irrepreensível de Deus e nunca pela consciência humana.
• Segundo as Escrituras, cada homem foi criado por Deus segundo a Sua própria
imagem e, devido a isso, naturalmente se encontra nos homens a expressão do dever
de se parecer com Deus.
116
AUTOATIVIDADE
1 A narrativa da queda humana no Gênesis é importante para a concepção acerca
da natureza humana. Nesta, o narrador deixa em relevo a mudança em relação à
percepção que Adão e Eva tinham de si memos, ao tomaram consciência de sua
nudez. Disserte, apresentando algumas definições de consciência.
3 Histórica e classicamente, a consciência foi vista como a nossa ligação com a ética
transcendente, que reside em Deus. Com base na frase que complementa esse
pensamento, assinale a alternativa CORRETA:
4 Segundo alguns eruditos do grego bíblico da era medieval, qual é a ideia por traz da
palavra grega συνείδηση (“syneídisi”)?
a) ( ) Resiliência e positividade.
b) ( ) Indução e resignação.
c) ( ) Acusação e justificação.
d) ( ) Medo e tristeza.
“A consciência pode ser movida a uma sensibilidade distorcida. Se viu aqui neste
tópico que a visão evolucionaria e relativista, quanto a consciência, se fundamenta
sobre princípios de reação subjetivas a tabus impostos pela sociedade. Embora não
convincente, se pode encontrar uma ranhura de veracidade na visão evolucionária”.
117
I- Pois as regras foram criadas para serem quebradas e, em determinados momentos, a
consciência corrobora esse escopo e não condena a ação humana.
II- Pois agir contra a consciência é um desafio mental.
III- Pois a ação temerária, em relação à consciência do pecado, é diminuta.
IV- Pois realmente pessoas podem ter uma consciência altamente sensibilizada, quando
formatada a um conjunto de regras e normas elaboradas por homens em detrimento
das leis divinas estabelecidas por Deus nas Escrituras.
V- Pois errar é humano e, quando se erra sem intenção, a ação é simplesmente um
equívoco.
VI- Pois as pessoas podem agir ignorando as consequências, pelo fato de nunca terem
sido orientadas ao que é realmente certo e errado.
VII- Pois agir contra a consciência é pecado.
VIII- Pois as Escrituras agem de forma a ensinar tudo o que se deve saber sobre a
natureza da consciência humana, e o homem, sabendo das leis de Deus, nunca peca
contra elas.
118
REFERÊNCIAS
ALLISON, G. R. 50 Verdades Centrais Da Fé Cristã – Um Guia Para Compreender e
Ensinar Teologia. São Paulo: Vida Nova, 2021.
ALMEIDA, J. F. Bíblia Sagrada. ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
1993.
119
HABERMAS, G. R.; LICONA M. R. The Case for the Resurrection of Jesus. Grand
Rapids: Kregel Publications, 2004.
KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valério Rodhen e António Marques. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 1993.
LEWIS, C.S. Reflections on the Psalms. New York: Harcourt, Brace & Co., 1958.
120
RYRIE, C. Teologia Básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
SPROUL, R. C. Como Posso Desenvolver Uma Consciência Cristã? São Paulo: Fiel,
2013.
121
122
UNIDADE 3 —
HAMARTIOLOGIA –
DOUTRINA BÍBLICA DO
PECADO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati-
vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
123
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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124
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A REALIDADE DO PECADO DESDE O
COMEÇO
1 INTRODUÇÃO
Os termos encontrados nos escritos bíblicos para se referir à realidade do
pecado são múltiplos e variados. Na língua hebraica, os termos mais comuns são hata´t
(que aparece de diversas formas com a mesma raiz), ´awon, pesha´, ra´, e no grego
hamartia, hamartema, parabasis, paraptoma, poneria, anomia e adikia. Entre estes
termos há distinções expressas que evidenciam os diferentes aspectos mediantes os
quais se pode pensar a complexa realidade que é o pecado. O pecado é fracasso, é erro,
é iniquidade, é falta de lei, é injustiça. É um mal insolúvel, em termos humanos. Do ponto
de vista da tradição cristã, sua característica mais notável é a oposição a Deus.
Neste sentido, é pertinente concordarmos com Paul Tillich (2011), um dos maiores
teólogos sistemáticos do século XX, ao afirmar que o ser humano é essencialmente
bom, mas existencialmente alienado. Tillich diz mais:
125
FIGURA 1 – DETALHE DA CAPELA SISTINA DA CRIAÇÃO DE ADÃO
FONTE: <https://cientistasdescobriramque.files.wordpress.com/2020/04/figura-paulo-simoes-ii.jpg>.
Acesso em: 15 ago. 2021.
126
se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos
por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram
nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração
insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram
a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso,
Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de
seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles
mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a
criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até
as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por
outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também,
deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente
em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e
recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por
haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os
entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas
inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade;
possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade;
sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes,
soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais,
insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora,
conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte
os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também
aprovam os que assim procedem (BÍBLIA SAGRADA, Rm 1.18-32).
“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é
a transgressão da lei” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 3.4).
127
O pecado define-se, então, em afrontar a Deus e transgredir a Sua lei moral,
e isso abrange não só as ações individuais de cada homem, como furtar, mentir ou
matar, mas também atitudes que contrariam as exigências de Deus ao homem, como
os dez mandamentos, em Êxodo (BÍBLIA SAGRADA, Ex 20), que já nos principiam essas
exigências, as quais não só coíbem ações pecaminosas, mas atitudes errôneas também:
“Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o
seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que
pertença ao teu próximo” (BÍBLIA SAGRADA, Ex 20.17). Deus explicita que o anseio de
roubar ou cometer adultério também se constitui em pecado diante dEle.
FIGURA 2 – COBIÇA
FONTE: <https://www.vittude.com/blog/wp-content/uploads/traicao-infidelidade-o-que-acontece-na-men-
te-das-pessoas-1200x799.jpeg>. Acesso em: 15 ago. 2021.
128
Desse modo, podem surgir como dúvidas “de onde veio o pecado?” e “como ele
adentrou no mundo?”. Segundo as Escrituras, o homem pecou, e antes dos homens, os
anjos pecaram; nos dois casos, o fizeram por escolha intencional e voluntária. “Mesmo
antes da desobediência de Adão e Eva, o pecado se fez presente no mundo angélico
com a queda de Satanás e dos demônios” (GRUDEM, 1999, p. 405).
Deus não pecou nem é culpado pelo pecado. As Escrituras afirmam que: “Suas
obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há
nele injustiça; é justo e reto” (BÍBLIA SAGRADA, Dt 32.4); “não fará justiça o juiz de toda a
terra?” (BÍBLIA SAGRADA, Gn 18.25); “Longe de Deus o praticar Ele a perversidade, e do
Todo-Poderoso o cometer injustiça” (BÍBLIA SAGRADA, Jó 34.10). Deus sequer deseja a
injustiça: “Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (BÍBLIA
SAGRADA, Tg 1.13).
129
FIGURA 3 – A SERPENTE
FONTE: <https://images.pexels.com/photos/8458997/pexels-photo-8458997.jpeg?auto=compress&cs=-
tinysrgb&dpr=2&h=650&w=940>. Acesso em: 15 ago. 2021.
Em relação aos homens, como visto, o primeiro pecado foi o de Adão e Eva no
jardim do Éden (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.1-19). O ato de comer aquele fruto se caracterizou
em desobediência a uma clara ordem de Deus. Segundo alguns estudiosos, essa cena
emblema o pecado original.
Segundo J. I. Packer:
130
o pecado original é o pecado derivado de nossa origem, não é
uma expressão bíblica (foi Agostinho quem a cunhou), mas é uma
expressão que traz a uma proveitosa focalização a realidade do pecado
em nosso sistema espiritual. A asserção de pecado não significa que
o pecado pertence à natureza humana como Deus a fez (“Deus fez o
homem reto”, Ec 7.29),nem que o pecado está envolvido no processo
de reprodução e nascimento (a impureza ligada à menstruação,
esperma e parto, em Levítico 12 e 15 era somente típico e cerimonial,
não moral e real), mas sim que (a) a pecabilidade marca todos desde
o nascimento, e está lá na forma de um coração motivacionalmente
torcido, anterior a quaisquer pecados reais; (b) esta pecabilidade
interior é a raiz e fonte de todos os pecados reais; (c) ela nos vem
por derivação de uma forma real, embora misteriosa, desde Adão,
nosso primeiro representante diante de Deus. A afirmação do pecado
original indica intrinsicamente que não somos pecadores porque
pecamos, mas sim que pecamos porque somos pecadores, nascidos
com a natureza escravizada ao pecado (PACKER, 1998, p. 78-79).
Eva confiou na sua própria avaliação do que era certo e do que seria melhor para ela,
negando às palavras de Deus a prerrogativa de definir o certo e o errado. Ela viu “que a árvore
era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento” e,
portanto, “tomou-lhe do fruto e comeu” (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.6). Ainda, o pecado original
deu uma resposta diferente à pergunta: “Quem sou eu?”. A resposta correta era que Adão
e Eva eram criaturas de Deus, dependentes dEle e sempre subordinadas a Ele, seu Criador
e Senhor. Todavia, Eva e, depois, Adão sucumbiram à tentação de ser “como Deus” (BÍBLIA
SAGRADA, Gn 3.5), tentando, assim, colocar-se no lugar de Deus.
131
dúvida, uma serpente real e palpável, que falava em virtude da inspiração de Satanás
(BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.15; Rm 16.20; Nm 22.28-30; Ap 12.9; 20.2).
3 NATUREZA PECAMINOSA
“Nós podemos definir a natureza pecaminosa do homem como uma forte
disposição da mente para o mal (Cl 1.21; Rm 8.5-7)” (CHEUNG, 2005 apud ARAÚJO NETO,
2005), ou seja, essa natureza pecaminosa é aquele aspecto no homem que o torna um
rebelde contra a pessoa santa de Deus. Quando se fala da natureza pecaminosa, faz-se
referência ao homem ter uma afeição natural pelo pecado; o homem sempre escolhe
fazer sua própria vontade, em vez de escolher fazer a vontade de Deus.
FIGURA 4 – A MALDADE
Todos os homens têm uma natureza pecaminosa, que afeta cada parte do seu
ser. Isso é o que se chama na Teologia Cristã reformada de “depravação total”. Todo
homem se desviou do propósito de Deus, que é espelhar as virtudes de Deus (BÍBLIA
SAGRADA, Is 53.6). O apóstolo Paulo, em Romanos (BÍBLIA SAGRADA, Rm 7.14), diz: “eu,
todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” e continua: “de mim mesmo, com
a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado” (BÍBLIA
SAGRADA, Rm 7.25). O rei Salomão corrobora que “Não há homem justo sobre a terra que
faça o bem e que não peque” (BÍBLIA SAGRADA, Ec 7.20). O apóstolo João é ainda mais
franco sobre o tema: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos
enganamos, e a verdade não está em nós” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 1.8).
Quando dizemos que todos os seres humanos têm uma natureza pecaminosa,
isso abrange até os infantes. É o que o rei Davi diz no Salmo (BÍBLIA SAGRADA, Sl 51.5),
quando mostra que o pecado já fazia parte da sua constituição humana: “Eu nasci na
iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. E corrobora a ideia quando afirma:
“Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham,
proferindo mentiras” (BÍBLIA SAGRADA, Sl 58.3).
A Bíblia diz que Deus criou os homens bons e sem uma natureza pecaminosa:
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou” (BÍBLIA SAGRADA, Gn 1. 27). No entanto, em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn
3), é registrado que o homem desobedece a Deus e sucumbe diante do pecado e,
133
fundamentado nessa ação, o pecado entra em sua natureza. Instantaneamente, eles
sofreram as consequências dos seus atos e foram imediatamente atingidos por uma
sensação de vergonha e inabilidade, escondendo-se da presença de Deus (BÍBLIA
SAGRADA, Gn 3.8). Quando geraram filhos, juntamente com a transmissão da imagem
de Deus, também transmitiram a natureza pecaminosa, e isso se evidencia quando, logo
na primeira linhagem descendente, o primeiro filho Caim mata seu irmão Abel (BÍBLIA
SAGRADA, Gn 4.8).
Desse modo, geração após geração, a natureza pecaminosa passa de pai para
filho e, consequentemente, a toda raça humana. “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porque todos pecaram” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5.12).
Quando o pecador é regenerado por Cristo, não é apenas uma forte disposição
da mente para o mal que é crucificada, mas, sim, o velho homem é crucificado, uma
natureza em sujeição ao pecado é crucificada e morta, e esta não deverá nunca mais ser
ressurreta. Na conversão a Cristo, na qual o homem é regenerado, ou gerado de novo,
não há apenas a circuncisão de uma disposição mental, mas o desapossar do corpo da
carne, a circuncisão espiritual de Cristo (BÍBLIA SAGRADA, Cl 2.11).
134
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Há múltiplos e diversos termos para se referir ao pecado, e que o termo mais usado
pelos cristãos é o termo hamartia.
• O pecado pode ser descrito como uma árvore de vontade própria, tendo duas raízes
mestras: uma é um “não” para Deus e Seus mandamentos, a outra é um “sim” para o
Eu e interesses do Eu.
• Pecado é deixar de se conformar à lei moral de Deus não só em ato e em atitude, mas
também em natureza moral.
• A natureza pecaminosa é o aspecto que torna o homem rebelde contra Deus, bem
como inclina a vontade do homem para o mal, atingindo todos os homens adultos ou
crianças, sendo transmitida pela concepção natural.
• O pecado original é o pecado derivado de nossa origem, não sendo uma expressão
bíblica, mas cunhada por Agostinho de Hipona.
• Não somos pecadores porque pecamos, mas, sim, pecamos porque somos pecadores,
nascidos com a natureza escravizada ao pecado.
• As Escrituras dizem que Deus criou os homens bons e sem natureza pecaminosa.
135
• Em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3) é registrado que o homem desobedece a Deus
e sucumbe diante do pecado e que, fundamentado nessa ação, o pecado entra em
sua natureza.
• Quando o pecador é regenerado por Cristo, não é apenas uma forte disposição da
mente para o mal que é crucificada, mas, sim, o velho homem é crucificado, uma
natureza em sujeição ao pecado é crucificada e morta, e esta não deverá nunca mais
ser ressurreta.
136
AUTOATIVIDADE
1 Na perspectiva bíblica, o pecado não é somente o ato de praticar o mal, como também
um estado de alienação em relação a Deus. Como se pode descrever o pecado?
( ) O pecado se define, entre outras coisas, em afrontar a Deus e transgredir a sua lei
moral, e isso abrange não só as ações individuais de cada homem, como furtar, mentir
ou matar, mas também atitudes que contrariam as exigências de Deus ao homem.
( ) O descrente (o homem não redimido), mesmo dormindo, embora não cometa atos
pecaminosos nem nutra ativamente atitudes pecaminosas, é ainda “pecador” aos
olhos de Deus; ele ainda tem uma natureza pecaminosa que não se conforma à lei
moral de Deus.
( ) Mesmo antes da desobediência de Adão e Eva, o pecado se fez presente no mundo
angélico com a queda de Satanás e dos demônios.
( ) O pecado não surpreendeu a Deus, ele não foi pego de surpresa. O pecado não
desafiou ou sobrepujou a sua onipotência ou o seu controle providencial do universo.
( ) “Em relação aos homens, o primeiro pecado foi o de Adão e Eva no jardim do Éden”
(Gn 3.1-19). O ato de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal é, em
muitos aspectos, típico do pecado em geral.
137
I- Nós podemos definir a natureza pecaminosa do homem como uma forte disposição
da mente para o bem e para mal.
II- O comportamento humano é totalmente inclinado ao pecado, o qual brota
naturalmente.
III- Como o sal salga cada gotícula do oceano, assim o pecado afeta todos os átomos da
natureza humana. Está tão tristemente lá, tão fartamente lá, que se você não puder
detectá-lo, então você está ludibriado.
IV- A natureza pecaminosa só é destruída após o homem ser crucificado, morto e
sepultado com Cristo.
5 Com relação ao pecado original ter mudado a essência de nossa humanidade como
foi criada originalmente, analise as assertivas a seguir:
I- A maior parte das denominações, apesar de suas diferenças, no que diz respeito ao
grau de decaimento, faz algum tipo de distinção entre o que chamaríamos de imagem
de Deus, segundo a qual fomos criados em sentido mais amplo, e imagem de Deus
em sentido mais estrito.
II- Em nossa humanidade, fomos criados num sentido mais amplo, no qual certos traços
nos fazem seres humanos: nossa habilidade de pensar, o fato de que temos uma
alma etc.
III- Originalmente, tínhamos a capacidade ímpar de refletir o caráter e a santidade de
nosso criador.
IV- Creio que a queda penetrou até o próprio âmago, até o centro de nossa vida espiritual
e moral. Isso afeta todas as nossas partes. Afeta nossas mentes e nossos corpos.
138
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
A QUEDA DO HOMEM
1 INTRODUÇÃO
A queda do homem é o momento registrado nas Escrituras em que Adão e Eva
desobedeceram a Deus. Esse ato terrível do primeiro casal é chamado na Teologia de
pecado original, pois foi, nesse momento, que o pecado contaminou a humanidade,
deslocando-a do seu estado original de criação, causando, assim, a separação entre
Deus e o homem.
O primeiro homem, Adão, fora criado à imagem de Deus, e o homem era bom e
justo, no começo de tudo (BÍBLIA SAGRADA, Ec 7.29).
Então, Deus, o criador, colocou o homem no jardim do Éden, para que ele o
cultivasse, para que trabalhasse a terra, e deu ordens para que o homem não comesse
da árvore do conhecimento do bem e do mal.
FIGURA 5 – A QUEDA
“O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-
lo. E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim,
mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela
comer, certamente você morrerá” (BÍBLIA SAGRADA, Gn 2.15-17).
139
Todavia, o Diabo, ou Satanás, apareceu à mulher em forma de uma serpente e
a enganou, induzindo a mulher a comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
A mulher, uma vez enganada, também deu daquele fruto, ao qual Deus proibira que
comessem, a Adão seu marido. E assim, ambos pecaram contra o Deus criador (BÍBLIA
SAGRADA, Gn 3.1-13; 1Tm 2.14).
Deus, diante dessa situação, pronuncia uma maldição contra o primeiro casal,
que incluiu dor, trabalho árduo e morte física (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.16-19), e os
expulsou do jardim do Éden (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.23). “Assim o homem caiu do seu
estado original e o pecado produziu efeitos devastadores na humanidade” (CHEUNG,
2003, p. 112).
3 O PECADO ORIGINAL
O termo pecado original se refere à culpa que foi herdada de Adão, e não ao
pecado cometido por ele primordialmente.
140
O termo é enganoso. Ele alude a alternativas que incluiriam – culpa
original – e talvez – pecado herdado –, mas entende que culpa
original, por ser compreendida incorretamente como se referindo
ao pecado de Adão, e pecado herdado pode ser compreendido
incorretamente como se referindo à transmissão de culpa baseada
na nossa relação física com ele (GRUDEM, 1994, p. 494-495, grifo
nosso).
Cristo é achado como o cabeça federal dos eleitos, Ele é o outro Adão, conforme
aponta a Bíblia, “O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém,
é espírito vivificante” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.45). Ou seja, o primeiro Adão trouxe a
imputação da culpa, já o segundo a imputação da justiça que todo eleito ou, em
termos mais simples, todo salvo por Jesus, através da regeneração nEle mesmo, recebe
única e exclusivamente pela fé na obra redentora de Cristo Jesus.
141
Alguns versos da Bíblia apontam para a culpa imputada que o homem recebeu
de Adão:
O homem não herdou de Adão somente a culpa pelo pecado, mas também a
natureza pecaminosa, o que significa dizer que o homem não é culpado diante de Deus
somente por seu pecado, mas também por uma disposição para o pecado e rebelião
contra as leis de Deus. Corrupção herdada é o termo que teólogos cunharam para
designar a disposição pecaminosa que o homem recebe da herança adâmica.
Para alguns estudiosos, a doutrina da queda deveria beber nas fontes filosóficas
seculares, que apontam que os homens nascem dispostos a fazer o bem. A Bíblia, porém,
não corrobora com essa ideia, como mostra o livro de Provérbios: “A estultícia está
ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (BÍBLIA SAGRADA,
Pv 22.15). O apóstolo Paulo ensina que: “[...] todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos,
por natureza, filhos da ira, como também os demais” (BÍBLIA SAGRADA, Ef 2.3).
142
humana, e cometido uma série de enganos, mas não entendem como rótulo de pecado
as transgressões por eles praticadas. Há uma diferença abissal entre o que eles pensam
sobre pecado e o que a Bíblia ensina sobre pecado.
A definição que a Bíblia traz sobre pecado é que este nada mais é do que “toda
transgressão contra as leis estabelecidas por Deus”. O apóstolo João escreve, em sua
epístola primeira, que: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei,
porque o pecado é a transgressão da lei” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 3.4).
O homem peca quando não executa as ordens de Deus da forma que deveria
ou quando não leva em conta as proibições de Deus. Deve-se pensar, então, que, se
o pecado viola a lei moral de Deus, toda ação particular que é pecaminosa deve ser
definida a partir da relação com essa lei moral e, diante disso, asseverar se uma violação
aconteceu. Visto que a lei moral de Deus trata de todas as áreas, desde as subjetivas,
como os pensamentos, até as objetivas, como ações, quer a lei tenha mandamentos
explicitados ou inferências apenas, é certo dizer que nem pensamentos nem ações são
neutros moralmente falando: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 10.31).
Matar uma pessoa, por exemplo, não é somente um ato objetivamente físico,
mas envolve a subjetividade dos pensamentos. Ninguém começa matando fisicamente,
mas, sim, na mente:
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar
estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que
[sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e
quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do
tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo
(BÍBLIA SAGRADA, Mt 5.21-22).
Outro exemplo que o próprio Jesus dá nos textos de seu Evangelho é sobre o
adultério. Nenhuma imoralidade sexual se dá fora do corpo, toda imoralidade começa
no coração do homem e é explicitada externamente somente mais tarde, seja em ato
sexual com parceria, seja em autossexo, entre outras situações. Jesus diz: “Ouvistes o
que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher
com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 5.27-28).
143
concepção mental. Sabe-se, naturalmente, que nem todo pecado concebido na mente
se externaliza, mas todo pecado fisicamente praticado nasceu no coração do homem.
É certo que muitos homens cometem mais pecados físicos que outros, mas todos os
homens pecam em seus pensamentos, desagradando a Deus recorrentemente.
Ainda pecamos em palavras, que parece ser um meio termo entre o físico e
o abstrato. Segundo Jesus: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os
homens, dela darão conta no Dia do Juízo” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 12.36). Todos os
homens, em algum momento, usam de termos frívolos e palavras de cunho duvidoso
para se referir a algo ou alguém. Assim, agem porque todo o homem é pecador por
natureza, de acordo com o apóstolo Paulo, “pois todos pecaram e carecem da glória
de Deus” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 3.23), enquanto João afirma que: “Se dissermos que
não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está
em nós [...]. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a
sua palavra não está em nós [...]” (1Jo 1.8,10). Os Salmos (BÍBLIA SAGRADA, Sl 130.3-4)
advertem que a menos que o Senhor Deus traga perdão a alguns dos homens, ninguém
poderá estar justificado em sua presença: “Se observares, Senhor, iniquidades, quem,
Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam”.
Ninguém é inocente diante de Deus. Todo ser humano é culpado desde que
nasceu mediante a imputação do pecado de Adão, mas não somente isso, todo ser
humano também herdou de Adão uma disposição totalmente pecaminosa, que traz
rebeldia e desafia comumente a Deus em ações, pensamentos e palavras por toda a
vida. O resultado disso é a morte, pois todo homem se encaminha para uma condenação
eterna, somente cambiada pela intervenção salvífica de Jesus através do Espírito Santo.
144
“O pecado operou um dano considerável na pessoa humana” (CHEUNG, 2003,
p. 115). Estudiosos apontam argumentos que implicam a descaracterização de Adão
como imagem de Deus, ou seja, Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, mas
o pecado alterou essa condição a ponto de os descendentes gerados após a queda
serem apenas imagem do homem, a partir do próprio Adão. Os sustentadores desse
argumento inferem a passagem de Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 5.1-3):
Apesar disso, essa passagem não traz indicativos de que a imagem de Deus fora
de tal modo distorcida que o que se obteve de Adão, após a queda, foi apenas imagem de
homem. Nesse sentido, o que se lê e se consegue observar claramente é que Adão fora
feito a imagem de Deus e sua descendência à sua própria imagem. Pode-se valer aqui
de uma simples equação: se X = Y e Y = Z, isso resulta em X = Z. A passagem bíblica não
aponta, em hipótese alguma, uma mudança imagética de nenhuma sorte, apenas se
propõe retratar a continuidade da imagem de Deus através do primeiro homem criado,
em vez de deformá-la ou extingui-la. Adão portava a imagem de Deus e a passou a seus
descendentes, e esse deve ser ponto pacífico.
Diante desses versos, pode-se argumentar que seria ilegítimo apelar à imagem
de Deus no homem se essa imagem não mais existisse. Entretanto, esses exemplos
bíblicos a respeito da imagem de Deus são, de modo óbvio, autorizados e legítimos. O
primeiro exemplo vem da fala do próprio Deus e o segundo, da pena de um apóstolo.
Outro argumento que se deve considerar é que se, por definição, o homem só
o é pela imagem de Deus nele, então, se essa imagem não mais existisse ou estivesse
sobremodo desfigurada, o homem não seria mais homem. No entanto, sabemos que
a imagem de Deus no homem não permaneceu completamente intacta, ou seja,
o pecado trouxe certas nuances de distorções. A queda do homem alterou a ordem
perfeita das coisas, e aquilo que era “muito bom” deixou de ser assim, como se pode
ver em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 6.5): “Viu o Senhor que a maldade do homem
se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu
coração”, versículo que descreve apropriadamente a natureza humana e sua inclinação
pecaminosa impressa nos “pensamentos” inclinados ao mal.
145
FIGURA 8 – MALDADE HUMANA
O apóstolo Paulo diz que satisfazer “as inclinações da nossa carne” (da natureza
humana) é seguir “fazendo a vontade da carne e pensamentos” (seguindo desejos e
pensamentos maus) (BÍBLIA SAGRADA, Ef 2.3). No mesmo enfoque, Jesus diz que:
“Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição,
furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 15.19). Portanto, é assim
que as Escrituras definem a natureza humana pecaminosa, como uma disposição
maligna de sua própria mente ou, ainda, como uma disposição para pensamentos e
ações que contrariam as normas ou os preceitos das Escrituras.
• “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que
se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para
a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (BÍBLIA
SAGRADA, Rm 8.5-7).
• “Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes
não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”
(BÍBLIA SAGRADA, 2Co 4.4).
• “E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento
pelas vossas obras malignas” (BÍBLIA SAGRADA, Cl 1.21).
146
alguém apresenta tendência à desobediência às Escrituras, esse permanece deficiente
naquilo que julga e entende. Por conseguinte, “O temor do Senhor é o princípio da
sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Sl 111.10).
NOTA
Noético: termo que procede no grego noésis (latim: intellectus) e designa
a faculdade intelectual ou racional da mente humana; aquilo que só é
do, ou que pertence ao, intelecto ou à mente, e que se caracteriza pela
atividade intelectual. Por vezes, pode significar o elemento de um ato
intencional, como ver ou planejar.
Em Eclesiastes, lê-se que “[...] também o coração dos homens está cheio
de maldade, nele há desvarios enquanto vivem [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Ec 9.3), e o
profeta Jeremias assevera que: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (BÍBLIA SAGRADA, Jr 17.9). De acordo
com Cheung (2003, p. 117), “O homem em sua condição não regenerada é aqui descrito
como mal, louco e incurável”.
148
• “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica
aqueles a quem quer” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 5.21).
• “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (BÍBLIA SAGRADA,
Ef 2.1).
• “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos
amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo
[...]” (BÍBLIA SAGRADA, Ef 2.4-5).
5 DEPRAVAÇÃO TOTAL
Conforme lembra o apóstolo João: “nós sabemos que já passamos da morte
para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte”
(BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 14). As Escrituras ensinam, pelo modo descrito por João, o que
se chama na teologia (reformada) de a depravação total do homem.
Existe um efeito danoso na depravação total, o qual é tão extensivo que matou o
homem em sua espiritualidade, incapacitando-o de qualquer cooperação com Deus para
a sua salvação. Nota-se o que Paulo diz aos Romanos e uma explicação sobre o texto:
O termo depravação total está correto, mas pode também ser enganoso; em
si, não pretende dizer que o homem é imbuído de uma malignidade exacerbada, mas
que o efeito danoso no homem é penetrantemente abrangente, de forma que toda a
pessoalidade humana fora afetada pelo mal, pelo pecado.
151
• “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores. Portanto, assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, porque todos pecaram. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo
sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça,
veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” (BÍBLIA SAGRADA,
Rm 5.8-12,18).
• “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à
escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de
agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero,
consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado
que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não
faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que
não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao
querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao
homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei
que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que
está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo
desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de
mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei
do pecado” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 7.14-25).
• “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (BÍBLIA
SAGRADA, 1Co 2.14).
• “Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados
em Cristo” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.22).
• “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais
andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade
do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também
todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a
vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como
também os demais” (BÍBLIA SAGRADA, Ef 2.1-3).
• “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão
da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”
(BÍBLIA SAGRADA, Cl 2.13).
• “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é
perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (BÍBLIA SAGRADA, Tg 3.2).
• “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a
verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos
cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (BÍBLIA
SAGRADA, 1Jo 1.8-10).
• “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (BÍBLIA
SAGRADA, 1Jo 5.19).
152
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A Bíblia ensina que o pecado de Adão foi uma ação em nome de todos os homens,
pois os homens são descendentes de Adão e que toda a humanidade está condenada
por seu pecado, não por causa de relação física somente.
• O termo pecado original refere-se à culpa que foi herdada de Adão, e não ao pecado
cometido por ele primordialmente.
• O homem não herdou de Adão somente a culpa pelo pecado, mas herdou também
a natureza pecaminosa. O homem não é culpado diante de Deus somente por seu
pecado, mas por sua disposição para o pecado e para rebelião contra as leis de Deus.
• Ninguém é inocente diante de Deus, isto é, todo ser humano é culpado desde que
nasceu mediante a imputação do pecado de Adão.
• Todo ser humano herdou de Adão uma disposição totalmente pecaminosa, que traz
rebeldia e desafia comumente a Deus em ações, pensamentos e palavras por toda a
vida.
• Todo homem se encaminha para uma condenação eterna, somente cambiada pela
intervenção salvífica de Jesus através do Espírito Santo.
153
• O homem, em sua condição não regenerada, é descrito como mal, louco e incurável.
• O termo depravação total está correto, mas também pode ser enganoso, pois, em si,
não pretende dizer que o homem é imbuído de uma malignidade exacerbada, mas
que o efeito danoso no homem é penetrantemente abrangente, de forma que toda a
pessoalidade humana fora afetada pelo mal, pelo pecado.
154
AUTOATIVIDADE
1 O pecado não se origina em ação ao acaso, mas procede da mente. A depravação
da mente torna-se expressa na transgressão contra a ordem estabelecida. Qual é o
conceito de queda do homem?
3 A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada, mas onde aumentou
o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte,
também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo,
nosso Senhor (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5:20-21). Considerando o termo pecado original,
segundo Wayne Grudem, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O termo refere-se à culpa que foi atribuída a Adão, e não ao pecado cometido
por ele primordialmente no jardim.
b) ( ) O termo refere-se à ação de Satanás ao enganar Eva e, consequentemente,
Adão.
c) ( ) O termo refere-se à culpa que foi herdada de Adão, e não ao pecado cometido
por ele primordialmente.
d) ( ) O termo refere-se ao ato sexual entre Adão e Eva.
e) ( ) O termo refere-se à maldição das dores de parto, que a mulher passou a sofrer
ao dar à luz.
a) ( ) Efeito teutônico.
b) ( ) Efeito antético.
c) ( ) Efeito tetânico.
d) ( ) Efeito noético.
e) ( ) Efeito nutético.
5 Os escritos bíblicos testemunham que Jesus Cristo viveu como homem e foi
tentado à semelhança dos seres humanos, porém, sem nunca ter cometido pecado.
Considerando o termo depravação total, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:
155
( ) Não significa somente carência do bem, mas também carência do mal.
( ) O termo pretende dizer que o efeito danoso no homem é penetrantemente abrangente,
de forma que toda a pessoalidade humana fora afetada pelo mal, pelo pecado.
( ) Não significa que o homem está entregue à própria vontade, de forma íntegra e
completa, mas que, de certa forma, há uma centelha de bondade que o auxilia na
tomada de decisões.
( ) O termo pretende dizer que o homem se tornou inclinado ao mal somente em suas
ações, nunca em suas intenções.
( ) Não significa somente carência do bem, é mais do que simples privação; quando
o homem está entregue à própria vontade, ele se aprofunda de forma íntegra e
completa em seu próprio pecado, e a graça de Deus o restringe e o faz despertar para
algumas coisas boas.
( ) O termo pretende dizer que o homem é totalmente corrompido em seu caráter, mas
não em sua essência, e que sua consciência permanece intacta do efeito do mal.
156
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
HERANÇA ADÂMICA DO PECADO E A
JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
1 INTRODUÇÃO
A Bíblia ensina que, mesmo que o homem nunca tivesse pecado, nunca tivesse
feito algo errado, ainda assim, ele seria descrito como pecador perante Deus. Isso é
o pecado original. É a essa doutrina bíblica do pecado original que se aponta como a
herança adâmica do pecado.
FIGURA 11 – HEREDITARIEDADE
FONTE: <https://sites.google.com/site/transmissaodavida/_/rsrc/1479813692373/transmissao-de-carac-
teristicas-hereditarias/hereditarias.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2021.
157
A doutrina do pecado original é realçada em Romanos (BÍBLIA SAGRADA, Rm
5.12): “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos
pecaram”. Esse pequeno verso lembra a todo ser humano que, a partir do pecado de
Adão, a morte passou a fazer parte de toda a raça humana. A morte, segundo o apóstolo
Paulo, não virá quando todos pecarem, mas, por todos terem pecado em Adão, a morte
já veio. Todos pecaram, mesmo antes de nascer, em algum lugar do passado, todos
pecaram, e nascem “mortos nos [...] delitos e pecados” (BÍBLIA SAGRADA, Ef 2.1).
Quando todos pecaram para que nasçam mortos no pecado? Diante da questão,
uma das únicas respostas possíveis é exposta na carta aos Romanos (BÍBLIA SAGRADA,
Rm 12), assim como as que foram apresentadas anteriormente.
2 IMPUTABILIDADE DO PECADO
Segundo Granconato (2009), “Imputar significa atribuir, identificar ou entregar
algo a alguém. O aspecto central desse conceito não é a mera influência, mas o
envolvimento”. No caso do pecado, trata-se da “culpa do pecado” (BÍBLIA SAGRADA, Lv
17.4; 1Sm 22.15; Sl 32.2; Tg 2.23; 2Co 5.19).
159
aliava a esse pecado pelos seus próprios. Embora não considerasse
que o homem nasce com a retidão original, entendia que “Deus
concede a cada indivíduo, desde a primeira aurora da consciência,
luz que é suficiente para anular a influência da depravação herdada
(GONÇALVES, 2011).
160
3 O PODER DO PECADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
O pecado domina o coração humano, e se fosse pela sua vontade,
condenaria cada alma. Se não compreendermos nossa própria
perversidade ou não enxergarmos nosso pecado como Deus vê, não
poderemos entendê-lo ou fazer uso do remédio contra ele. Aqueles
que tentam justificá-lo, negligenciam a justificação de Deus. Até
compreendermos quão totalmente repugnante nosso pecado é,
nunca poderemos conhecer a Deus (MACARTHUR, 2002, p. 101).
161
libertará” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 8.31-32). Os que contestaram rebateram que: “Somos
descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis
livres?” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 8.33), ao que Jesus replicou-lhes: “Em verdade, em
verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado” (BÍBLIA SAGRADA,
Jo 8.34).
Esse pecado afetou tão intimamente Davi que ele despeja seu coração, perante
Deus, quando escreve o Salmo 51, no qual Davi mostra claramente as consequências
que marcaram a vida dele: “[…] Purifica-me do meu pecado […]” (BÍBLIA SAGRADA, Sl
51.1-5). A ação de pecado traz uma mancha para a vida do homem, traz uma marca e
evidencia sua transgressão, por isso a necessidade de purificação. “Faze-me ouvir júbilo
e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste” (BÍBLIA SAGRADA, Sl 51.8).
O pecado traz infelicidade, pois ninguém que se constitui amigo do pecado pode
ser achado amigo de Deus e, fora da presença de Deus, o que se encontra é infelicidade,
por isso o clamor do rei por júbilo e alegria: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro […]”
(BÍBLIA SAGRADA, Sl 51.11). O pecado afasta o homem da presença santa de Deus, um
coração impuro não contempla a Sua presença; Deus é puro e separado de toda forma
de mal e Davi clama para que Deus crie nele um coração puro, um coração de carne,
não mais endurecido pelo seu próprio egoísmo: “Restitui-me a alegria da tua salvação
[…]” (BÍBLIA SAGRADA, Sl 51.12).
162
4 A REMISSÃO DOS PECADOS
A remissão de pecados está fundamentada na obediência completa e irrestrita
de Cristo, o que significa seu perfeito cumprimento da lei. O Antigo Testamento
apresenta uma variada gama de textos que aponta para a obra da justificação, como
Salmo (BÍBLIA SAGRADA, Sl 32.1), Isaías (BÍBLIA SAGRADA, Is 43.25; 44.22) e Jeremias
(BÍBLIA SAGRADA, Jr 31.34). O perdão que Deus concede na justificação se aplica a
toda e qualquer sorte de pecados, sejam eles pecados presentes ou passados, além
de futuros, e, por isso, remove a culpa e a penalidade por completo, uma vez que a
justificação é efetuada de uma vez por todas sem a possibilidade de ser repetida. Nada
nem ninguém pode, de forma alguma e em tempo algum, depositar nada na conta de
nenhum homem que tenha sido justificado, pois esse homem já foi isento da condenação
e herdou a vida eterna. Textos como os de Romanos (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5.21; 8.1,32-
34), Hebreus (BÍBLIA SAGRADA, Hb 10.14), Salmos (BÍBLIA SAGRADA, Sl 103.12) e Isaías
(BÍBLIA SAGRADA, Is 44.22) corroboram essa verdade.
163
Na realidade da justificação, Deus remove dos homens a culpabilidade pelo
pecado original, isso significa remover a sujeição do homem pecador à punição eterna,
ou seja, a morte eterna devido ao pecado original, o que é diferente da situação inerente
à culpabilidade pelos atos de pecado (pecados praticados), oriundos da condição do
estado de pecado em que, ainda, o homem se encontra, ou seja, a culpa foi removida, mas
não o estado de pecado original. A culpabilidade é um instrumento alertador, que produz
no homem o sentimento de culpa, de aparto de Deus, de tristeza, de arrependimento,
frustação, vergonha etc. É, por isso, que o homem necessita confessar os seus pecados,
novos e antigos, pois a culpabilidade gera no coração do homem essa necessidade,
conforme expressa nos Salmos (BÍBLIA SAGRADA, Sl 25.7; 51.5-9). O homem que foi
regenerado, redimido e justificado por Cristo em seu interior é cônscio de seu pecado e
isso o leva a confessá-lo, buscar consolo na graça e no perdão divinos e abandonar e
frear a prática do pecado.
A Bíblia ensina que, pela fé, o homem obtém “[...] remissão de pecados e herança
entre os que são santificados […]” (BÍBLIA SAGRADA, At 26.18) e que a fé não traz aos
homens apenas paz com Deus, mas traz ainda, acesso a Deus e alegria na esperança
da glória (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5.1-2); além disso, mostra que Cristo nasceu sob a lei:
“para que recebêssemos a adoção de filhos” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.5). Desse modo,
consegue-se distinguir como os dois elementos na imputação da justiça de Cristo ao
homem pecador: a adoção de filhos e o direito à vida eterna.
164
A adoção de filhos e filiação moral dos homens redimidos e justificados por
Cristo andam lado a lado e lhes imputam a condição de se comportar em obediência a
Deus como filhos que agora são. “[…] Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção
de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho,
que clama: Aba, Pai” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.4-6). O apóstolo Paulo demonstra os dois
elementos, a adoção de filhos e o direito à vida eterna.
Quando os homens pecadores são adotados por Deus, eles obtêm seus direitos
de filhos e, assim, passam a figurar como herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo,
conforme pode ser visto em Romanos (BÍBLIA SAGRADA, Rm 8.17). Em sua significância,
é certo dizer que os homens, adotados como filhos de Deus, passam a exercer o direito
de herdeiros de todas as bençãos espirituais que possam desfrutar nessa vida, sendo a
mais importante delas o dom do Espírito Santo.
6 A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
Embora a doutrina da justificação pela fé seja de suma importância na
historicidade da igreja cristã, muitos entendem pouco ou nada sobre ela, não sabem em
que consiste nem o que Cristo tem a ver com a doutrina.
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não
tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou
uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos
e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é
o proveito disso? (BÍBLIA SAGRADA, Tg 4.14-16).
Tem sido usado inadvertidamente para corroborar essa falacial disputa, que
afirma ser essa a base para o ensino, por parte do apóstolo Tiago, de uma justificação
por obras. No entanto, não há nada de conflituoso e divergente quando se apura a que
públicos os apóstolos se dirigiam e o que buscavam combater.
FIGURA 14 – JUSTIFICAÇÃO
Contudo, Tiago objeta os erros antinomianos (anti: contra; monos: lei). Esses
homens afirmavam possuir a fé salvadora e santificadora, mas apenas em uma esfera
intelectual, separando as suas atribuições espirituais das sociais. Intelecto abastado
e prática vazia. Então, o apóstolo lembra que, segundo a lei de Deus, em uma fé vazia,
a bondade dEle não opera. Deus espera que através das “[...] vossas boas obras, os
homens glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 5.16).
166
A fé justificadora é uma fé viva, genuína e frutífera, que se manifesta em
obras para a glória de Deus. Ainda que Tiago cite o exemplo de Abraão, aludindo a sua
justificação pela obra que oferece sobre o altar (BÍBLIA SAGRADA, Tg 2.21), ele o faz
apontando para a sinergia entre a fé e as obras. As obras, nesse caso específico, eram
uma externalização da fé, pois “Abraão creu [na fé] em Deus e isso lhe foi imputado para
justiça” (BÍBLIA SAGRADA, Tg 2.22-23).
167
Desse modo, pode-se dizer que, pela justificação por fé, o homem é livre da
culpa do pecado, pois, através da morte sacrificial de Cristo, o homem é salvo da
penalidade que o levava ao inferno. O salário do pecado, a morte penal ou morte eterna,
foi paga na cruz. Pela justificação por fé, o homem está sendo salvo do poder que o
pecado imprime em sua vida diária, mediante a habitação do Espírito Santo em si, o
qual outorga, ao homem, o poder de filho, para vencer as lutas que se apresentam. Esse
poder que o Espírito outorga é o poder de Cristo, que se contrapõe ao poder egoístico e
carnal. Pela justificação por fé, o homem será livre integral e completamente do poder
do pecado e, no futuro, quando glorificado, o homem salvo por Cristo será totalmente
livre da presença do pecado. Nenhuma evidência do pecado será encontrada no homem
eleito para salvação por Cristo. Os homens salvos terão os seus corpos redimidos e
passarão de mortais para imortais, de corruptos para incorruptível e o único poder que
se instaurará sobre o homem é o de Cristo.
168
LEITURA
COMPLEMENTAR
O PECADO
I. A NATUREZA DO PECADO
A. Terminologia
No Novo Testamento, as palavras gregas mais comuns para pecado são: asebeia
(Rm 1.18; Tt 2.12), significando impiedade; adikia (Rm 1.18; 3.5; 1Co 6.8), indicando
injustiça, falta de retidão; parabasis (Rm 2.23,25; 5.14), traduzida por transgressão,
169
quebra da lei; anomia (Rm 4.7; 6.19; 1Jo 3.4), iniquidade, ilegalidade; parakoe (Rm 5.19),
para dizer desobediência, não fazer o que Deus manda.
B. Conceito de Pecado
Ryrie diz que pecado é qualquer coisa contrária ao caráter de Deus. Esse
enunciado não deixa claro em que plano essa contrariedade pode ocorrer, se apenas
em atos ou também no estado da alma.
Berkhof tem uma definição mais precisa. Diz ele que pecado é falta de
conformidade com a lei moral de Deus, seja em ato, disposição ou estado. Podemos
dizer que, segundo essa definição, pecado é qualquer ação, omissão, atitude ou
estado de alma que esteja em desacordo com a vontade revelada de Deus. Ele implica
transgressão, ilegalidade, desobediência, desvio da vontade divina. Para esclarecer
melhor a ideia bíblica de pecado, destacaremos quatro aspectos.
O pecado é sempre algo contra Deus e a sua vontade manifesta. Mesmo quando
ele atinge diretamente as pessoas, em última análise, é contra Deus que ele está sendo
praticado, porque contraria a vontade de Deus. A lei de Deus para a vida humana é,
em parte, revelada na consciência moral das pessoas (Rm 2.14,15) e, de forma mais
completa, nas Escrituras Sagradas (Rm 2.17,18). O Espírito Santo ajuda a entender os
retos caminhos de Deus, se a Ele nos submetemos (1Jo 2.27- 29).
Quando se fala da “lei moral de Deus”, quer se referir a todo o conjunto de normas
divinas para a vida, cuja exigência central é o amor incondicional a Deus, com reflexo na
relação com o próximo (Dt 6.5; Mc 12.30). O pecado, portanto, em última análise, reflete
a falta de amor leal a Deus e ao próximo. Deus é amor (1Jo 4.8), e sua vontade é “boa,
agradável e perfeita” (Rm 12.2). Pecado é estar fora desse amor e dessa vontade divina;
é “errar” esse alvo.
170
2. Pecado inclui o estado da alma e seus efeitos
Pecado não é apenas o que fazemos ou deixamos de fazer; ele inclui também a
disposição de vontade contrária a Deus. O ser humano tem uma natureza pecaminosa,
ele está inclinado para fazer aquilo que o torna reprovável aos olhos de Deus. Paulo
diz que “A mentalidade da carne [natureza humana decaída] é inimiga de Deus, pois
não está sujeita a lei de Deus, nem pode estar” (Rm 8.7). E Jesus ensinou que “do
coração [interior da pessoa] é que saem os maus pensamentos, homicídios, adultérios,
imoralidade sexual, furtos, falsos testemunhos e calúnias” (Mt 5.19).
171
Por esse mesmo princípio, aqueles que estão privados da sua capacidade de
discernir entre o bem e o mal e fazer a escolha certa, provavelmente não têm o mesmo
grau de culpa daqueles que, ao contrário, estão em plena capacidade de fazer escolha
consciente entre o bem e o mal. Isso se aplica às crianças tenras e àqueles que perderam
a razão. A aplicação da justiça divina a cada um é perfeita, e, com certeza, não atribui a
ninguém culpa sem levar na devida conta a capacidade moral de cada um.
Como começou o pecado na humanidade? Qual a sua fonte? Que efeitos ele
produz? Examinaremos essas questões destacando a queda da humanidade e os seus
efeitos na vida do primeiro casal e em toda a ração humana e em sua sociedade.
1. A descrição bíblica
172
À luz de Romanos 5.12ss e 1 Coríntios 15.21,22, entendemos que a descrição
da queda é de um acontecimento histórico, algo que aconteceu realmente num
determinado momento da história da humanidade. Como diz Bruce Milne: “É impossível
manter o paralelo entre a obra de Adão e a obra de Cristo se for negada a queda como
um acontecimento no tempo e no espaço”.
2. A origem do pecado
Não foi Deus quem criou o pecado nem quem induziu o homem a pecar. Tiago
diz que “Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1.13). O pecado nasce
dentro do homem, quando ele é submetido a fatores que o estimulam a transgredir a
lei de Deus. No caso de Adão, foi o Diabo com suas artimanhas que o induziu a pecar.
Com o intuito de levar Adão a desobedecer a Deus, o Diabo deu vários passos.
Primeiro, tentou confundir a mulher no tocante ao que Deus havia dito: “É assim que
Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn 3.1). Ele alterou os termos
do mandamento divino, acrescentando-lhe algo, tornando-o, assim, muito pesado e
restringindo excessivamente a liberdade do homem. Com isso, ele estava tentando
valer-se de uma possível ignorância da mulher quanto ao que Deus realmente tinha dito,
e denegrir o caráter bondoso do Criador. Entretanto, a mulher estava bem-informada do
mandamento divino e respondeu que não era assim.
Então, ela viu que “a árvore era boa para dela comer, agradável aos olhos e
desejável para dar entendimento, tomou do fruto, comeu e o deu ao marido, que também
comeu” (Gn 3.6). Ela buscou satisfação para os seus desejos em algo divinamente
proibido. Dessa forma, o primeiro pecado foi consumado, e consistiu num ato de
desobediência ao mandamento divino. Tiago diz que “cada um é tentado quando atraído
e seduzido por seu próprio desejo. Então o desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado;
e o pecado, após se consumar, gera a morte” (Tg 1.14,15).
173
Percebe-se que, na raiz do pecado, está a incredulidade em Deus e Sua palavra.
Com um coração incrédulo, o indivíduo se volta mais facilmente para a satisfação dos
seus próprios desejos, independentemente dos limites impostos por Deus. Além desses
elementos pessoais que estão na base da prática do pecado, há também as tentações,
isto é, circunstâncias ou agentes externos que procuram induzir a pessoa ao pecado.
Nessa condição, isto é, sob tentação, é preciso um esforço maior para dominar o desejo
pecaminoso, pois, como disse Deus a Caim, “o pecado jaz à porta, e o desejo dele será
contra ti; mas tu deves dominá-lo” (Gn 4.7).
Millard J. Erickson especifica que há três tipos de desejos naturais que, embora
bons em si, são áreas potenciais para a tentação e o pecado. São eles:
FONTE: Adaptado de SEVERA, Z. de A. Manual de Teologia Sistemática. ver. e ampl. Curitiba: A.D.
Santos Editora, 2016.
174
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Mesmo que o homem nunca tivesse pecado e nunca tivesse feito algo errado, ainda
assim, ele seria descrito como pecador perante Deus.
• Cada homem é tão culpado dessa desobediência primáaria quanto Adão, assim
também todo homem sofre a mesma punição aplicada ao primeiro homem.
175
• Não há contrassensos entre a teologia da justificação pela fé em Tiago e Paulo.
176
AUTOATIVIDADE
1 O pecado imputado implica a consequência da transgressão de Adão, recaindo sobre
seus descendentes, por meio da transmissão da natureza caída. O que significa
imputar e qual é o aspecto central desse conceito no caso do pecado? Com quais
três doutrinas bíblicas esse conceito se relaciona?
3 Há dois aspectos importantes sobre a natureza da relação que Jesus mantém com
os seres humanos. O primeiro é o aspecto objetivo e o segundo, o aspecto subjetivo.
Por causa de sua nova posição (justificação) e relação (adoção) para com Deus Pai
em Cristo, os seres humanos tornaram-se participantes da natureza divina. Sobre a
justificação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) A justificação é um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de
Jesus Cristo, que todas as exigências da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador.
( ) A justificação pela fé se opõe à condenação.
( ) A justificação não é um ato interno, ou seja, não ocorre no interior da vida do pecador;
produz alterações no seu caráter e não acontece na esfera do Tribunal de Deus.
( ) Na justificação, Cristo não apenas retira dos homens suas iniquidades, mas os reveste
de novas vestes, as vestes de sua própria santidade.
( ) O direito à vida eterna está incluído na corrupção do coração do homem, que se
considera um filho de Deus.
177
c) ( ) A bíblia ensina que os homens são justificados pela fé ou mediante a fé, mas
também por obras ou mediante as obras.
d) ( ) A fé justificadora é uma fé viva, genuína e frutífera, e se manifesta em obras
para a glória de Deus.
178
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. C. Justificação, somente pela fé em Jesus Cristo. Pequenos
Sermões, Grandes Mensagens, 2017. Disponível em: https://danielgalia.wordpress.
com/2017/02/13/justificacao-somente-pela-fe-em-jesus-cristo-2/. Acesso em: 14 jul.
2021.
LAWSON, S. O foco evangélico de Charles Spurgeon. São José dos Campos: Fiel,
2012.
179
PACKER, J. I. Teologia Concisa: síntese dos fundamentos históricos da fé cristã.
Campinas: Luz para o Caminho, 1998.
180