UMA HISTÓRIA MODERNA

SOBRE ODESENVOLVIMENTO
DO JOGO 0-E XADREZ

MEUS GRANDES
PREDECESSORES
VOWME5
C:OM A CONTRlB UlÇÂO OE OMITRY PL!SETSKY
lR:AOUÇÂO OE FRANCISCO GARCEZ LE.ME E.
JOSHUAM OE BRAGANÇA SOARES
1~ EDIÇÃO- 2008

EDITORA
sous
www.ecltorasolis.coni.br
MEUS GRANDES
PREDECESSORES
V0WME5

EDITORA
sous
www.ecltGrasoHs.coni.br
C Garry Kasparov 2006

Plimàra edição em português: dezembro de 2008

C Editora Solis 2008

Editor. Francisco de Assis wrcez Leme

Rc-nsão técnica: Jussara Chaves Garcez Leme
Projeto gráfico de capa: Ulhôa Cintra Com. Visual e Arq.
Editoração eletrônica: Camera Tre
Impresso no Brasil por R.R.Donnelley Moore com a tecnologia CTP

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Kasparov; Garry
Meus grandes predecessores, volume 5: uma história
moderna sobre o desenvolvimento do jogo de xadrez / wrry
Kasparov; com a contribuição de Dmitry Plisetsky; tradução de
Francisco de Assis Garcez Leme e Joshuah de Bragança Soares. -
1 ed. - Santana de Parnruba, SP; Editora Solis, 2008.

Título original: Maí Velik:iye Predschestvennik:i :

TomS
Conteúdo: v. 5. Viktor Kortchnoi e Anatoly
Karpov.

1. Xadrez 2. Xadrez - História I. Plisetsky,

Dmitry. II. Título.

........... CDD-794.12

Índices para catálogo sistemático:

1. Xadrez : História 794.12
ISBN: 85-98628-11-5 (volume 5)

As fotografias e ilustrações incluídas neste livro procedem dos arquivos do Museu de Xadrez
da Rússia, das revistas "Xadrez na URSS" e "64", dos arquivos pessoais do autor e de Sergei
Voronkov, Alexander Roshal, Genna Sosonko, Yuri Averbakh e Boris Dolmatovsky e arquivos
da Editora Solis.

Direitos exclusivos para Brasil e países de expressão em língua portuguesa. Nenhuma parte desta publicação
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SUMÁRIO

Introdução

Viktor, o Terrível

Anatoly, o Décimo-Segundo

.-.... índice de Jogadores

IIMiillíiiila Índice de Aberturas

 INTRODUÇÃO
AVIDA DEPOIS DE RSCHER

Este volume é dedicado ao décimo-segundo Campeão Mundial, Anatoly Karpov, ao seu

adversário histórico, Víktor Kortchnoi, e à luta extraordinariamente dramática que travaram
pelo trono do xadrez, que se encontrava vazio pela prematura saída de Fischer. Outro tema
importante - a revolução das aberturas das décadas de 1970 e 1980 - se mostrou tão
abrangente e interessante que se tornou necessário tratá-lo separadamente, no que será o
primeiro volume do meu novo projeto "Xadrez Moderno" .
No volume anterior coloquei a sugestão provocativa de que, em um match com Fischer,
Karpov teria chances reais de vencer e que o campeão americano desistiu de defender o seu
título por temor de perder para um adversário desconhecido - o líder de uma nova geração, um
poderoso profissional, que tinha assimilado plenamente as lições de seu grande predecessor.
Agora tentarei justificar essa sugestão, ao imaginar um possível cenário do match e estudando
cuidadosamente as qualidades extraordinárias de Karpov, que lhe permitiram permanecer
durante quase um quarto de século no topo do xadrez mundial, ou literalmente, a um passo
dele. Este capítulo veio a se tornar um dos mais longos de toda a coleção, o que não é
surpreendente: a influência de Karpov no desenvolvimento do xadrez verdadeiramente marcou
época - foi sentida até o final do século 20.
Mas uma contribuição enorme também foi feita por Kortchnoi, um jogador legendário, que
foi capaz de fazer o que parecia impossível: conquistar o tempo. De forma contrária a todas as
impressões acerca dos limites da idade, este grande lutador de matches e torneios atingiu o auge
de sua criatividade aos 47 anos, superando os antigos Campeões Mundiais Petrosian e Spassky.
Na história do xadrez ele foi o único desafiante a disputar de fato três matches pelo Campeonato
Mundial e em um deles, cm Baguio (1978), por muito pouco não se tornou Campeão Mundial,
apesar de ser 20 anos mais velho que seu adversário.
Afinal, parecia que o jovem Karpov, apoiado por todo o poder da máquina soviética,
simplesmente não tinha rivais: a geração mais velha dos Grandes Mestres de maior categoria já
5
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

havia deixado a cena e a geração intermediária havia sido "nocauteada" pela Segunda Guerra
Mundial (Fischer "se nocauteou" a si mesmo) e, na geração jovem, apesar de todo brilho e
profissionalismo, não havia nenhuma estrela da magnitude do Campeão. O único acontecimento
digno de nota em meados dos anos 1970 seria, sem dúvida, o match Fischer-Karpov, que daria um
impulso colossal ao desenvolvimento do xadrez. Quando esse match fracassou, seguiu-se um
período de calmaria e decepção. Mas como a natureza não admite o vácuo, uma tentativa vigorosa
de conquista do topo do xadrez foi feita por Viktor Kortchnoi, que foi, no entanto, forçado a
deixar a URSS onde era perseguido e buscar apoio moral no Ocidente.
Suas batalhas com Karpov, particularmente o match de Baguio, tiveram uma enorme
influência em todos os aspectos do jogo - os puramente enxadrísticos, os de fora do tabuleiro
e os psicológicos. Como se verificou mais tarde, este foi o prelúdio do choque de Karpov com
o líder já da gerayão seguinte - o autor destas linhas (que será o tema do 2º volume do meu
novo projeto "Xadrez Moderno"). Kortchnoi, depois de me passar o "bastão olímpico" no match
de 1983, continuou a participar com sucesso de torneios e acabou se revelando como um
exemplo excepcional de longevidade esportiva. Neste sentido, ele só pode ser comparado com
Lasker e Smyslov, mas as vitórias de Kortchnoi foram alcançadas no xadrez ultra-intensivo de
nossos dias!
Todos estes matches pelo Campeonato Mundial exigiram um sério trabalho de pesquisa. Aqui
estão não somente os frutos da colheita da revolução das aberturas pós-Fischer, mas também o
rápido avanço do pensamento enxadrístico impulsionado pela nossa era atual dos computadores...
Quando analisava as partidas de Karpov e Kortchnoi, recordando as partidas já examinadas
de outros Campeões e desafiantes, comecei a imaginar o papel da intuição no espírito criativo
de famosos enxadristas. A questão me intrigou: não estaria aqui a explicação final das
diferenças de estilo de jogo? Assim, os Grandes Mestres podem ser arbitrariamente
classificados em três grupos:
1. Jogadores dotados de relativamente pouca intuição (segundo os padrões dos Campeões,
é claro!): Steinitz, Botvinnik, Euwe, Fischer... Mas eles possuíam qualidades que compensavam
diretamente isso: erudição, lógica, disciplina, vontade férrea e capacidade de trabalho incomum.
2. Jogadores com forte, às vezes até fenomenal, intuição estratégica: Capablanca, Smyslov,
Petrosian, Spassky, Karpov... Dos desafiantes, talvez só Rubinstein possa ser incluído neste
grupo. Todos eles são capazes de descobrir o melhor lugar para suas peças com impressionante
facilidade e precisão.
3. Jogadores com forte intuição específica, agindo em situações agudas onde o equilibrio
material e posicional foram rompidos: Lasker, Alekhine, Tal, Kasparov... E também Chigorin,
Bronstein, Stein e Kortchnoi - que no começo dos anos 1960 era chamado de "Tal ao avesso".
Embora possa haver quem questione esta classificação, devo dizer que ela é fruto de
meticuloso estudo e comparação do gênio criativo dos Campeões. Aliás, ao analisar antigas
partidas no computador, verifiquei que muitas decisões intuitivas dos clássicos estavam certas
e que muito mais erros tinham sido cometidos em análises posteriores. Isso parece ser um
paradoxo, pois a análise pode ser feita devagar e movendo-se as peças. Mas o fato é que nesse
momento a intuição, que opera com intensidade durante uma partida em condições de extrema
tensão e com tempo limitado, é então desligada. Na verdade, a intuição é a Czarina do tabuleiro!

Quero expressar meus agradecimentos aos ilustres treinadores da USSR- Alexander Nikitin e Mark
Dvoretsk,.y, aos Grandes Mestres Igor Zaitsev, Yuri F.azuvaev, Yuri Dokhqyan e Vladimir Belov e ainda ao
Mestre Alexander Shakarov, que me auxiliaram na preparação deste volume para a edição.

6
 CAPÍTULO UM
VIKTOR, O TERRÍVEL
O Maratonista
É difícil falar sobre um contemporâneo que
dedicou de forma tão intensa ao xadrez uma
vida rica em acontecimentos grandiosos e inte-
ressantes. Basta lembrar que Viktor Lvovitch
Kortchnoi (nascido em 23 de março de 1931)
obteve os primeiros sucessos há mais de meio
século! Muitos dos que nasceram nos anos 1930
e 1940 já encerraram a carreira, ao passo que
Kortchnoi, ainda no início do século XXI,
continua participando de torneios e os jovens
só têm a invejar sua energia, sede de luta e a
capacidade de entregar-se totalmente quando
Joga.
Este capítulo é completamente comparável
em tamanho a alguns dos capítulos dedicados
aos Campeões Mundiais. E aqui não se trata só
da extraordinária e extensa carreira enxadristica
de Kortchnoi, mas também de sua rara cria-
tividade e esforço incansável para descobrir
alguma coisa nova nas posições aparentemente
já estudadas à exaustão. Durante toda a vida ele
esteve na linha de frente do xadrez, prestando
valiosa contribuição ao seu desenvolvimento.
Foi precisamente este fato que me levou a
dedicar um espaço maior ao seu trabalho ori-
ginal, destacando suas características principais.
A contribuição de Viktor Lvovitch Kortchnoi
é vastíssima: por muitas décadas ele corrigiu e
alterou seu próprio estilo várias vezes, mas a
nota principal que permaneceu invariável foi
sua busca da verdade do xadrez. Ele sempre se
mostrou implacável consigo mesmo e com os
adversários. Naturalmente, este traço de seu
caráter não atraía amigos. Mas se assim não
fosse, seria impossível buscar a verdade
eternamente fugaz do xadrez. É preciso estar
preparado para que cada movimento desco-
berto seja posto em dúvida e para que cada
decisão seja rudemente criticada. É preciso
encarar a verdade de frente e não ter medo de
chegar a conclusões, até as mais imparciais,
desde que reflitam a realidade.
Desde jovem, Kortchnoi se revelou um
7
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
enxadrista incomum. A maior parte dos
enxadristas prefere atacar e poucos gostam de
jogar na defensiva, ou seja, na retaguarda,
preparando-se pacientemente para o contra-
ataque. Esta era precisamente a maneira de
jogar de Kortchnoi: provocar o fogo inimigo,
aceitando sacrifícios, e então explorar de forma
magistral os pontos fracos que surgiam na
posição adversária. Este arriscadíssimo estilo
valeu-lhe ainda nos anos 50 o mérito singular de
adversário difícil e incômodo para qualquer
Grande Mestre e até para o Campeão Mundial.
Admirável paradoxo: quando fiz passar
centenas de partidas de Kortchnoi por um filtro
rigoroso, selecionei umas quarenta dentre as
mais representativas. Inesperadamente, acon-
teceu que nas vinte primeiras, abrangendo os
anos de 1954 a 1977, ele jogava com as pretas.
Pensando bem, esta peculiaridade corresponde
plenamente ao caráter de seu gênio criativo.
Estas coincidências, aparentemente acidentais,
confirmam a tendência geral.
Sobrevivente do Cerco de
Leningrado
Kortchnoi teve uma infância cheia de
dificuldades e privações, como tantas crianças
da época da Grande Guerra. Meio século
depois, ele escreveu: "Evidentemente não
recebi uma educação propriamente soviética na
minha família. Talvez meu pai tenha pago caro
o preço deste descuido, pois junto com algumas
centenas de outros combatentes voluntários,
armados de forma precária, morreu na região
do lago Ládoga, em novembro de 1941. O
mesmo destino tiveram os demais membros da
família de meu pai, na qual eu tinha sido criado:
todos morreram de fome no cerco de Lenin-
grado. Mas eu escapei. Sobrevivi".
Foi só aos 13 anos que Viktor pôde estudar
xadrez a sério, quando, no outono de 1944,
entrou para o clube de xadrez do Palácio dos
Pioneiros, em Leningrado. Na mesma ocasião
ele também se inscreveu em dois outros clubes:
o de recitação e de música, mas não tinha boa
8
dicção e nem um piano, instrumento indis-
pensável para os exercícios. Ele já sabia jogar
xadrez muito bem, como ficou comprovado um
ano antes, quando participou em um torneio
juvenil, depois da suspensão parcial do cerco da
cidade, ao que parece após ler o anúncio em um
muro arrasado pelo bombardeio no Palácio
Anitchkov: "Segunda-feira: início das inscrições
de alunos para o campeonato aberto de xadrez
de Leningrado. Assinado, o Diretor do Clube de
Xadrez, A. Model".
O jornalista Oleg Skuratov lembra: "Em
Fontanka troava a artilharia, quando Viktor e eu
nos sentamos para a primeira partida de xadrez.
Meu adversário era um menino magro, de
cabelos escuros, trajando um blusão
acolchoado. Jogávamos no porão do palácio;
fazia um frio terrível, mas achávamos o saguão
deserto do abrigo antiaéreo simplesmente
divino. Lembro-me de como me impressionei
ao ver o meu parceiro fazer anotações precisas
da partida em um caderno escolar. Com
interesse acompanhei os símbolos de xadrez
que ele anotava, que me intrigavam. O resultado
disso (como na realidade pareceu para mim!) foi
que perdi em um misterioso final de peão. Com
o semblante carregado, dirigi-me a Model e
exclamei: 'Perdi!'. Ele perguntou: 'Para quem?'.
Olhei outra vez para o caderno e li o
sobrenome do adversário. 'Um certo
Kortchnoi', respondi com mau humor. O
menino de blusão acolchoado olhou bravo para
o meu lado... por muito tempo ele não me
perdoou a impensada expressão 'um certo'. Aos
doze anos ele já demonstrava um notável senso
de dignidade".
Os primeiros livros de xadrez de Kortchnoi
foram o manual de Lasker e a obra de
Tartakower Osvobqjdemrye Chakhmary (O Xadrez
Libertado) e seus primeiros mestres de xadrez
foram Andrei Batuev e Abram Model. Depois,
Kortchnoi estudou no grupo do futuramente
famoso treinador Vladimir Zak (em 1946, um
menino de apenas 9 anos de idade, Bória
Spassky, o procurou e logo se tornou um de

seus alunos favoritos) e, em dois anos, já estava
participando no Campeonato de Juniores da
URSS. Depois de cinco rodadas ele já se
encontrava entre os líderes, mas, ao perder uma
partida, desanimou e, por fim, só ficou em 11 º
e 12º lugares. Quem passou para o primeiro
lugar foi então o seu futuro e implacável
adversário Petrosian...
No entanto, nos dois campeonatos subse-
qüentes de juniores (1947 e 1948), Kortchnoi
saiu vencedor, apesar de enfrentar grandes
dificuldades no segundo destes dois cam-
peonatos. "Depois de perder na primeira
rodada, ele ficou tão desanimado que escreveu
uma carta melancólica ao treinador Zak
dizendo que não acreditava mais em si mesmo",
afirma o escritor Viktor Vasiliev. Ele só se refez
do desânimo depois da resposta do seu tutor
em um telegra,ma severo e animador. Muitas
partidas daquele período se perderam, mas
preservou-se o divertido final de uma miniatura
de um jogo entre o jovem Kortchnoi de 17 anos
e o menino Bória Spassky, de 11 anos (Lenin-
grado, 1948).
ll .. J!fg4? (ao invés do normal l l ... ~g7)
12.~d5!, e as pretas abandonaram, após
notarem com horror que após 12 ... ~xf3
13.~xf6+ 'tie7 14.~d5+ e gxf3 perderiam
uma peça. A resistência sem esperanças seria
prolongada após 12 ...'tid8 13.~xg4 ~xg4
14.h3 ~h6 15.fxe5 dxe5 16.ii.g5+ <tid7
17 .~f6 !!g8, mas o angustiado Boris não teve
Viktor, o Terrível
mais a força moral...
David Bronstein recorda a difícil exibição de
partidas simultâneas com relógio para dez
candidatos a mestres, que ele ministrou no
outono de 1948, em um clube de xadrez de
Leningrado: "Cada um jogava por si, mas vi
como do lado de um dos tabuleiros, por trás
dos ombros de Tcherepkov, um jovem espiava
com olhos cheios de brilho e inteligência. A
sessão durou bastante tempo, talvez umas cinco
horas. Já no final, do lado de um tabuleiro, com
uma posição interessantíssima e compli-
cadíssima, ficamos três. Meu adversário
principal estava sentado tranqüilamente, mas
seu consultor voluntário estava se mexendo
nervosamente e todo o tempo não tirava os
olhos de mim. Cerca de 15 minutos depois,
Tcherepkov me propôs o empate e eu, dando
um suspiro de alívio, concordei. E então, Virya
Kortchnoi (precisamente o consultor) saltou da
cadeira, se inclinou na mesa do jogo e rápido,
como se temesse que eu pudesse evaporar e
desaparecer no ar, com a voz ousada, inimitável,
que posteriormente se tornou famosa,
exclamou: 'Você não venceu? Mas você tinha
prometido! Só 5-5!'. Eu não me perturbei e
respondi calmamente: 'O que quer dizer? Quem
lhe disse isto? Eu estava sonhando com 5-5.
Afinal, estes são jogadores de uma cidade de
antigas tradições e grande cultura enxadristica'.
E então Kortchnoi se acalmou".
Este foi o primeiro encontro dos dois
notáveis enxadristas que daí por diante
passaram a se relacionar com invariável simpatia
e respeito.
Ao terminar os estudos secundários,
Kortchnoi decidiu dedicar-se ao xadrez, mas,
mesmo assim, matriculou-se na Faculdade de
História da Universidade de Leningrado. Mais
tarde ele escreveu: "A pobreza dos estudantes é
proverbial. Eu mesmo só tinha uns trocados
para pagar o bonde e cigarro barato; raramente
podia pagar um mísero jantar de estudante".
Ele gostava muito de História, mas gostava
mais do xadrez e... também do baralho (como
9
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
antes dele Lasker e depois dele Karpov) .
Segundo uma testemunha ocular, "no apar-
tamento em que muitos outros jovens
enxadristas se reuniam, ele podia jogar xadrez
ou poker desde a manhã até a noite; fazia um
intervalo quando tinha que ir para a próxima
rodada do Campeonato de Leningrado e por
volta da meia noite ele voltava e novamente
podia jogar muitas mãos de carteado".
Kortchnof s; mpre se revelou habilidoso-·nas
complicações e no cálculo de variantes
Graças à sua rara independência e
objetividade de pensamento, ele gozava de uma
incontestável autoridade dentre os enxadristas
de Leningrado; quando surgia algum conflito
durante os torneios, os participantes, em vez de
se dirigirem aos árbitros, preferiam recorrer a
Viktor, cujo veredicto dirimia a questão. No
entanto, esta independência também tinha seu
lado negativo. Alguns anos mais tarde ele
admitia: "Eu desafiava todos os obstáculos e a
10
confiança que depositava em mim mesmo
chegava às raias do ridículo". Ele não tinha
nenhum auxilio qualificado e quando, no final
dos anos 1940, o grande mestre Tolush
ofereceu esse auxílio, "para fazer dele um
mestre", ele respondeu com orgulho: "Eu me
tornarei mestre sozinho!". E logo cumpriu o
que disse, depois do torneio em memória de
Tchigorin (Leningrado, 1951). Posteriormente,
ele lamentou profundamente ter dispensado a
ajuda de Tolush, quando este conseguiu
transformar Spassky...
Enfim, apesar de todas as qualidades de
jogador talentoso e promissor, cada novo passo
de Kortchnoi custava-lhe enormes esforços. Na
sua primeira semifinal do Campeonato da
URSS, em 1950, ele teve que se contentar em
iniciar com... O em 7 (!), mas em seguida
conseguiu se recuperar na reta final: +4 =4.
Terminou a próxima semifinal (em 1951) com
um resultado positivo e, em 1952, finalmente,
passou para a final, que em seguida terminou
com um honroso sexto lugar, à frente de
Bronstein, Smyslov e Keres. Este foi seu
primeiro grande sucesso.
Segundo o próprio Kortchnoi, ele alcançou
este progresso não pela compreensão do jogo,
mas por mérito do trabalho intensivo no
tabuleiro: "Eu poderia não estar jogando
melhor, mas resistia tenazmente, e como os
Grandes Mestres costumam ser gente comum
(eles também se cansam, cometem erros e se
atrapalham com o tempo), pude muitas vezes
sair incólume. Nesse torneio, joguei pela
primeira vez com o campeão mundial Botvinnik
e, apesar to término da partida com empate, na
análise que fiz percebi como ainda estava longe
da sabedoria enxadrística. Dei-me conta de que
a noção que tinha da estratégia do xadrez era
ainda muito insuficiente. Além disto, eu não
sabia atacar e não gostava de atacar; a defesa era
minha tática natural. Os meus adversários
muitas vezes exploravam esta minha estratégia
unilateral ... Entendi que devia diversificar meu
estilo: poder atacar e tomar a iniciativa".

Kortchnoi também se classificou com
razoável confiança para a final do seguinte XXI
Campeonato da URSS. Na semifinal, em Vilna,
em 1953, venceu uma partida memorável contra
Suetin. Nofinal complexo, com muitas peças,
ele inesperadamente sacrificou um peão e a
qualidade no 30º lance, reagindo rapidamente e
conseguindo virar o jogo. Ele escreve: ''Antes
deste encontro, por algum motivo não tinha me
dado conta de que um sacrifício, mesmo que
forçado, mesmo quando as damas não estão no
tabuleiro (!) pode levar à retomada da iniciativa
e à conquista da vitória... Eu precisava rever
muitos conceitos que tinha até então sobre o
xadrez".
O Campeonato da URSS que se realizou no
início de 1954, em Kiev, veio a ser um novo e
notável marco na biografia de Kortchnoi.
Depois da derrota inicial para Suetin (em uma
arriscada variante Dragão Acelerado), ele teve
três vitórias e duas derrotas - com Taimanov e
Petrosian - e passou para o grupo principal. Na
sétima rodada, cabiam-lhe as pretas contra o
experiente Semion Furman, futuro segundo de
Kortchnoi e, em seguida, treinador de Karpov
por muitos anos, com meio ponto acima dele.
O primeiro lance de Furman não era segredo
para ninguém: 1. d4 !?
O repertório de aberturas de Kortchnoi
/ desperta grande interesse, uma vez que, como já
foi dito, a maior parte das suas melhores e mais
características partidas, tanto na fase jovem
quanto na fase madura, eram jogadas com as
pretas. Depois de l .e4, ele costumava usar
quase sempre, e com bom resultando, a Defesa
Francesa, mas deixou também sua marca na
Defesa Siciliana, na Alekhine, na Pirc-Ufimtsev
e na Caro-Kan, bem corno na Variante Aberta
da Ruy Lopez (como se descreverá mais
adiante). Depois de 1.d4, durante muitos anos
ele empregou constantemente a dinâmica
Defesa Grünfeld e só na meia-idade é que se
fixou em defesas mais fundamentais, a Nimzo-
Índia e a Defesa Índia da Dama.
Naquele tempo, a Defesa Grünfeld dava
Viktor, o Terrível
amplo espaço para a criatividade: as brancas
buscavam apenas manter as esperanças de uma
vantagem. Mas o importante era que o plano
estratégico das pretas nesta abertura corres-
pondia plenamente ao estilo de contra-ataque
de Kortchnoi. Deixando as brancas criarem um
forte centro de peões, ele fazia o que podia para
debilitar e destruir este centro, esperando
explorar as fraquezas que inevitavelmente
surgiam na posição do adversário. A partida
seguinte com Furman dá uma boa ilustração
desta estratégia, embora a mesma apresente
falhas.
Partida 1
s. Furman - V. Kortchnoi
Kiev 1954, 8ª rodada
Defesa Grünfeld D92
1.d4 lZ:)f6 2.c4 g6 3.lZ:)cJ dS 4.lZ:)f3 (ou
primeiramente 4.lt..f4 lt..g7 5.e3 e ãcl - volume
3, partidas 12 e 29) 4 ... .i.g7 5.il.f4 0-0 6.ãcl
Após o usual 6.e3 c5 7 .dxc5 ~ a5 as brancas
não obtêm nenhuma vantagem (Rau-
zer-Alartotsev, 7° Campeonato da URSS,
Moscou 1931; Levenfish-Botvinnik, 11ª partida
do Match, Moscou/Leningrado 1937).
''A idéia da variante com 6.ãcl é tomar a
coluna e, cujo controle desempenha um papel
importante na continuação da partida; além
disso, a ameaça ao peão c7 induz as pretas a
tomarem c4, o que também definitivamente é
um benefício para as brancas." (Furman) Essa
variante se tornou bastante popular na virada
do século 21. É necessário que se diga que nos
dias de hoje já foi estudada à exaustão.
6... dxc4
Isto é considerado mais seguro do que 6 ... c5
7 .dxc5 il.e6, como nas partidas de Ragozin
com Botvinnik (8ª partida do Match, Leningrado
1940) e Mikenas (12º Campeonato da URSS,
Moscou 1940), ou 7 ... dxc4 8.~xd8 ~xd8 9.e3
(9.e4!? ~a6 10.eS Bronstein-Filip, Torneio de
11
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Candidatos de Amsterdã 1956) 9 .. .'~Ja6 10.c6
bxc6 l l.~xc4 li:ld5 l 2.~e5 li:lb6 13 .~e2 f6
14.~g3 com um final complicado, levemente
melhor para as brancas (Kortchnoi-Stein, 30º
Campeonato da URSS, Ierevan 1962).
7.e3
Fortalecendo a casa d4. A partida
Borisenko-Kortchnoi (Leningrado 1953)
seguiu 7.e4 c5 8.dxc5 ~a5 9.li:ld2 ~ e6
10.~xc4 ~xc4 l l.li:lxc4 ~xc5 12.~e2 li:lc6,
com igualdade, mas mais tarde, contra
Zagorovsky (Sochi 1958), Kortchnoi empregou
a forte novidade 9.e5!. Depois disso, 7 ... ~g4!
entrou na ordem do dia (Pachman-Gligoric,
Havana 1962). Essa continuação foi ativamente
testada ao final do século 20 e na linha principal
8.~xc4 ~xf3 9.gxf3 li:lh5 10.~e3 e5 l l.dxe5
~xe5 12.~xd8 i!xd8 as pretas têm no final um
jogo perfeitamente aceitável.
7... ~e6!?
Uma novidade, embora também seja possível
jogar 7 ... c5 8.ii.xc4 cxd4 9.~xd4 ~bd7
10.~g3 ~b6 (mas não 10 ... e5? l l .lz::idb5 lz::ie8
12.lz::ie4 ~a5+ l3.it'd2 ~xd2+ 14.lz::ixd2 a6
15.f)c3 lz::id6 16.lz::id5! Furman-Livshin, 3ª
rodada) l l.~b3 ~g4 12.f3 ii.d7 13.0-0 lz::ih5,
(Borisenko-Byvshev, Leningrado 1954) ou
mesmo 7 ... lz::ibd7!? 8.~xc4 c5 (Kar-
pov-Kasparov, 3ª partida do Match de partidas
12
rápidas, Nova Iorque 2002), em ambos os casos
com igualdade.
8.li:lg5 ii.d5
Por muitos anos esse lance foi feito de forma
automática, até que na partida Dreev-Sutovsky
(Essen 2000) ocorreu 8 ... ~g4!? 9.f3 ~c8. Mais
tarde obtive sucesso jogando isso contra
Karpov (1 ª partida do Match de partidas rápidas,
Nova Iorque 2002).
9.li:lxd5
Uma troca aparentemente natural. Em
resposta a 9.e4 as pretas haviam preparado
9 ... h6! 10.exd5 hxg5 1 l.~xg5 lz::ixd5
12.~xc4 lz::ib6 l3.~b3 lz::ic6, por exemplo:
14.d5 ~d4 15.0-0 !ie8, com igualdade
(Toran-Kortchnoi, Palma de Mallorca 1968),
ou l4.lz::ie2!? (uma tentativa de explorar o
poder dos dois bispos) 14 ... a5 e nos dias de
hoje a prática demonstra que as pretas têm
contrajogo suficiente.
9...lz)xd5 10.~g3?!
Mantendo o bispo, com a esperança de
completar rapidamente o desenvolvimento e
tomar a iniciativa. Entretanto, isso não ocorre e
o lance da partida prova ser uma perda de
tempo importante. Desde os meados da década
de 1980 o imediato 10.~xc4 tem sido jogado,
com a idéia do gambito 1O... li:lxf4 11.if f3 !.
10 ... cS!
Um típico lance corrosivo "Grünfeld",
ressaltando o atraso no desenvolvimento das
brancas. "É claro que nem pensei em tomar o
peão com 10 ... b5? em vista de ll.b3!."
(Kortchnoi)
11.ii.xc4 cxd4 12.~b3
Se 12.0-0, então 12 ... e6, atacando o cavalo
de g5 e mantendo o peão a mais. Aparen-
temente Furman havia depositado todas as suas
esperanças no lance da dama, que cria ameaças
contra o cavalo em d5, o ponto f7 e o peão b7.

12 ... dxe3!?
"A partida entra em uma fase de
complicações violentas. Após pensar por mais
de uma hora, rejeitei 12 ... e6 em vista de
13.~xb7 ctJd7 (13 ... ctJb6 14.ctJxf7)
14.kxd5." (Kortchnoi). Embora, em minha
opinião, após 14 ... ~xg5 somente as brancas
podem ter problemas na posição.
Havia outra alternativa razoável em
12 ... ~a5+ 13.'it>e2, e agora não 13 ... ctJb6?!
(com a idéia de 14.ctJxf7 ctJxc4 A.Geller)
devido a 14.ii.xf7+ @h8 15.h4 ctJc6 16.h5!?
~xg5 l 7.hxg6 h5(6) 18.kf4 com um ataque
perigoso, mas 13 ... d3+ 14.kxd3 (14.@xd3
l2:la6 15.i..xd5 .lâad8! 16.@e4 e6 etc.)
14 ... ctJc6 15.l2:le4 l2:ldb4, com igualdade, ou
13 ... e6 14.i..xd5 ~xd5! (isso é mais simples
do que 14 ... exd5 15.~xb7 l2:la6 16.i..d6 dxe3
17.fxe3 d4! 18.ctJf3 ~xa2 19.l2:lxd4! .lâfe8
20.I!hdl I!ad8 21.~b5!?) 15.~xd5 exd5
16.I!c7 b6 com um final favorável às pretas.
Entretanto, o lance da partida é mais agudo e
mais interessante.
De qualquer forma, torna-se óbvio que o
renomado teórico e "especialista com as
brancas" Furman já havia perdido o duelo da
abertura. Na altura do 12º (!) lance as brancas se
encontram em uma posição desagradável e ele é
obrigado a procurar um modo de manter o
Viktor, o Terrível
equihbrio. Parece-me que isso demonstra o
nível do desenvolvimento teórico daquela
época.
13.it.xdS e6 (um ataque duplo, o bispo é
incapaz de se movimentar devido a 14 ... 'i!fd2+)
14.êZ:}xe6 ~as+ 15.I!c3
Após 15.@fl fxe6 16.it.xe6+ (16.i..f3 ctJc6)
16 ... @h8 17.~xe3 l2:lc6 (Kortchnoi) as pretas
têm forte iniciativa pelo peão: é difícil para as
brancas trazerem a sua torre de hl para o jogo
e deixar o rei em segurança.
15 ... fxe6 16.i..xe6+?!
''As brancas continuam a jogar por um ataque
e terminam em posição inferior. Ao invés disso
elas poderiam ter entrado em um final
aproximadamente equilibrado: 16.i..xb7
Si.xc3+ 17.~xc3 ~6 18.~3 exf2+ 19.@e2
ctJd7 20.~xb6 axb6 21.it.xa8 .lâxa8"
(Kortchnoi). Ou se aventurarem com o agudo
17.bxc3 exf2+ 18.@e2 (18.it.xf2? ~e5+
19.@fl ~f5) 18 ... ~f5 19..lâfl ctJa6 etc.
16 ...@h8 17.0-0?!
A posição das pretas também é preferível
após 17.fxe3 ctJc6 18.i..f2 ~xc3+ 19.bxc3 I!f6
20.0-0 I!af8 (não é fácil para os bispos brancos
mostrarem o seu poderio), mas o jogo estaria
indefinido.
17 ... e2!
Agora a vantagem das pretas é óbvia: seu
peão "fraco" terminou imune devido ao garfo
em d4. "É um pouco pior jogar l 7 ... exf2+
18.1Lxf2 1Lxc3? 19.bxc3 com ameaça de mate
na grande diagonal, ou 17 ... ~xc3 18.bxc3!
ctJc6 19.~xb7 com vantagem para as brancas."
(Kortchnoi)
18.!!el l2:}c6 19.I!ccl?
Talvez 19.Ji.c4 fosse um mal menor, embora
após 19 ... &e8 20 ..lâccl ~d2 21.f3 ctJd4
22.~d3 ~g5 o peão e2 causasse inúmeros
problemas às brancas.
13
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
19 ...:ãadS?
''Aqui eu repeti o erro de Furman - continuei
jogando por um ataque, enquanto era o
momento de seguir um caminho mais prosaico:
19 .. .<~::id4! 20.YWds (20.Plfc4 b5! - G.K.)
20 ... YWb6 21.~g4 gad8 22.YWc4 YWxb2 com
alguma vantagem para as pretas." (Kortchnoi)
Uma avaliação muito modesta! Após
20 ... YWd2! 21.~e5 gad8 22.~xg7+ Wxg7
23.YWxb7+ Wh6 o mais provável é que não
exista defesa para as brancas, por exemplo:
24.~b3 gde8 (ameaçando ... YWxcl) 25.:ãbl
gxf2 26.~g8 (desespero) 26 ... gxg8 (ou
simplesmente 26 ... gfl+) 27.Wxf2 ge8
28.Wgl lz::lc2 e novamente o jogo é decidido
pelo peão e. Tivessem as pretas explorado essa
oportunidade, a partida teria se tornado um
trabalho esplêndido da arte enxadrística .. .
Posso acrescentar que o imediato 19 ... YWd2 é
menos efetivo em vista de 20.YWe3 YWxe3
21.fxe3 gae8 22.~d7 gxe3 23.~f2 ~d4
24.~xc6 bxc6 25.b4 Wg8 26.h3 e embora não
seja evidente como as brancas possam se
desembaraçar, também não é claro como as
pretas possam vencer. Digamos, 26 ... a5
27.bxa5 c5 28.:!âbl ge7 29.~xd4 cxd4 30.:ãb3
gd8 31 _gd3 com um provável empate.
20.YWxb7 (agora as brancas têm uma posição
perfeitamente aceitável e até chances de uma
vantagem) 20 .. .êt~d4 21.~c7 YWd2 22.~xdS
YWf4
''As ameaças parecem muito perigosas, mas
14
Furman encontra a linha correta de jogo."
(Kortchnoi)
23.f3 ~e5?
Uma tentativa frustrada de manter a tensão.
O lance 23 ... gxd8 era essencial "com um jogo
complicado e de duplo gume" (Kortchnoi), por
exemplo: 24.:ãc8 lz::lxe6 25.:ãxd8+ lz::lxd8
26.YWe7 ~d4+ 27.Whl ~b6 28.YWxe2 lz::lf7 e
embora as brancas tenham uma pequena
vantagem material, as pretas se salvam.
24.g3 YWe3+?!
Não funciona 24 .. .'~:)xf3+? 25.Whl YWh6
devido a 26.~f6+!, mas 24 ... YWxf3 25.YWxf3
lz::lxf3+ 26.Wg2 lz::lxel+ 27.:ãxel gxd8 seria
mais resistente (Kortchnoi), embora após
28.gxe2 as pretas estariam frente a uma defesa
desagradável em um final com um peão a
menos.
25.Wg2 /;z_)xe6 (é claro, não 25 ... lz::lxf3?
26.~f6+!) 26.YWe4?
Em um feroz apuro de tempo (menos de um
minuto para 15 lances!) Furman se apressa em
trocar as damas e derperdiça uma vitória
simples - 26.~e7 fü7 (26 ... ggs 27.YWe4)
27.YWc8+ ou 27Jâc2!.
26... YWxe4 27.fxe4 :ãxdS 28.:ãxe2 @g7 (as
pretas manobraram para restaurar uma
igualdade material aproximada e consolidam a
sua posição) 29.:ãc4 @f6 30.:ãa4 :ãd7 31.:ãa5
~d4 32.h4 ½-½
Empate de comum acordo: a torre e os dois
peões são um pouco mais fortes do que as duas
peças menores, mas... o apuro de tempo!
Depois do empate mencionado acima,
Kortchnoi obteve cinco vitórias seguidas e
conquistando 9,5 pontos em 12, liderava o
torneio! Mas então Yuri Averbakh, um
participante do recente Torneio de Candidatos
em Zurique, criou coragem e tomou a dianteira.
No encerramento, na 19ª rodada, ele jogava
com as pretas contra Kortchnoi... Alguns anos
depois, Yuri Lvovich lembrava: "À frente de
Kortchnoi e Taimanov por 1½ ponto, eu me
sentia muito bem humorado e ingenuamente

supus que o humor do meu adversário também
fosse similar: de qualquer forma, eu não poderia
ser alcançado e ele tinha assegurada a divisão do
segundo lugar. Depois de Kortchnoi utilizar
uma melhoria na partida, imaginei que ele não
tivesse intenções pacíficas, mas continuava com
meu bom humor e simplesmente não criei
nenhum espírito de luta, mesmo quando
imaginei que estivesse em um final perdido. No
entanto, de repente, os espectadores vieram em
meu auxílio. Eles estavam torcendo
abertamente para o mais jovem competidor,
sem medo de expressar em voz alta a sua
simpatia. E quando me vi numa situação crítica,
eles começaram a repetir baixinho na galeria:
'abandone Averbakh!, abandone Averbakhf. Isso me
tocou como um toque de clarim chamando-me
à batalha e, por isto, rangendo os dentes,
procurei as chances mínimas de salvação.
Decidi não perder antes do esgotamento do
tempo no lance 40, para adiar a partida e não
dar prazer aos mais apaixonados torcedores de
Kortchnoi. Cumpri este objetivo mínimo,
agüentando até o lance 40, mas minha posição
continuava triste. E aqui me ajudou o próprio
Kortchnoi. Em vez de adiar a partida, ele
resolveu acabar comigo logo, vendo no relógio
que ele ainda tinha tempo. Mas, no calor do
momento, ele desperdiçou uma vitória... A
partida foi adiada somente no 56º lance e foi
acordado o empate sem ter sido reiniciada."
Viktor, o Terrível
Este é apenas um dentre numerosos
episódios que revelam o gênio enxadrístico de
Kortchnoi. Na verdade, ele conquistou a
simpatia de todos com seu modo ousado e
versátil de jogar, enriquecendo a lista dos heróis
daquele campeonato: 1.Averbakh - 14,5 em 19;
2-3.Kortchnoi e Taimanov - 13; 4-5.Lisitsyn e
Petrosian - 12,5; 6.Kholmov - 10,5; 7-9.
Furman, Nejmetdinov e Suetin - 10, etc.
Eis o que escreve Alexander Konstan-
tinopolsky no seu artigo conclusivo do
campeonato: "Na pessoa de Kortchnoi, o
xadrez da URSS tem um talentoso repre-
sentante com um estilo notável, um candidato
plenamente digno do título de Grande Mestre.
Na sua primeira apresentação, ele se distinguiu
como um jogador hábil nas complicações e no
cálculo de variantes precisas, mas agora, sempre
mantendo esta qualidade valiosa, demonstra
que também pode enfrentar a batalha no estilo
de posições clássicas. Ele é muito jovem:
durante o torneio ainda não tinha completado
23 anos e isto explica, em parte, o risco
injustificável que corria em algumas partidas.
Embora às vezes ele pudesse vencer usando
estes recursos, deveria, contudo, se convencer
de que este é um modo irrealizável de se
progredir".
Este sucesso no campeonato nacional não foi
por acaso, pois, como sabemos, Kortchnoi o
confirmou um mês depois, no primeiro torneio
internacional de sua carreira, em Bucareste, em
1954, onde enfrentou a feroz rivalidade de
Rashid Nejmetdinov, um experiente mestre
vindo de Kazan, que imprimiu um ritmo
acelerado desde o início. Só depois de uma
vitória contra Filip na 12ª rodada é que
Kortchnoi pôde alcançar o líder. Mas que
vitória verdadeiramente difícil!
Kortchnoi escreveu em 1961: "Verdadeiras
obras de arte de xadrez são criadas quando UOJ_
ataque talentoso e inteligente se depara com
uma defesa feroz e criativa. Defender é tarefa
considerada ingrata, apesar de ter seu lado
romântico, mas existem mestres da defesa
15
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(Steinitz, Lasker, Nimzovitsch, Botvinnik,
Petrosian) que deram uma contribuição para a
história do xadrez não menor do que a de
jogadores notáveis pelo estilo de ataque
(Morphy, Anderssen, Alekhine, Tal, Geller). A
partida que segue mostra acima de tudo minha
preferência enxadrística".
Partida 2
M. Filip - V. Kortchnoi
Bucareste 1954, 12ª rodada
Defesa Grünjefd D86
1.d4 ~f6 2.c4 g6 3.~c3 dS 4.cxdS ~xdS
5.e4 ~xc3 6.bxc3 il.g7 7..1t.c4 0-0
Uma das corajosas experiências de
Kortchnoi: ao invés do usual 7 ... c5, ele
emprega a difícil variante Simagin, onde as
pretas primeiramente jogam ... l2lc6 e
desenvolvem sua ala da dama.
8.~e2 ~c6
Agora as brancas mantêm seu centro
poderoso e estão próximas de conquistar uma
vantagem, mas é aí que se esconde a principal
esperança das pretas: demonstrando que a
vantagem necessita de um jogo ativo (um
axioma formulado há muito tempo por
Steinitz), o adversário poderá se enfraquecer -
alvos para um contra-ataque!
9.~gS!?
"Uma vez que as pretas não estão atacando o
ponto d4, as brancas têm a possibilidade de
desenvolverem o seu bispo não através de e3,
como é usual, mas de forma bastante mais
ativa", explica Kortchnoi. Dois meses antes, no
Campeonato da URSS, Lilienthal jogou 9.0-0
contra ele (9.h4?! - volume ],partida 61), e após
os lances 9 ... 'i!fd7 (o lance patenteado de
Kortchnoi; a resposta-padrão é 9 ... b6)
10.~a3?! l2la5 11..~d3 b6 12.tz:)f4?! ~b7
13.'i!fe2 ~fd8 14.~adl e6 15.e5 c5! 16.dxc5
l!fc7! l 7.cxb6?! ~xe5 18.~xeS .1i.xe5
16
19.l2le2 axb6 20 ..1i.cl .1i.d5 as pretas com
precisão converteram sua vantagem no final.
9 ... 'i!fd7 (Kortchnoi é tão confiante em seu
lance que não se apressa em jogar 9 ... ~a5,
Kopylov-Simagin 19º Campeonato da URSS,
Moscou 1951) 10.0-0 (10.~d2 e5!?) 10 ... ~aS
ll.~d3 b6 12.'i!fd2
12 ... 13.dS?!
O mesmo rumo de complicar o jogo o
máximo possível. ''As pretas, que jogam pela
vitória, deliberadamente se submetem a um
ataque perigoso, esperando mais tarde
conquistar contrajogo no centro. Após 12 ... cS
13.~6 as brancas manteriam uma vantagem
mínima em uma posição comparativamente
mais simples." (Kortchnoi)
13 ..il.h6 ~h8 14.ãadl .il.b7 15.l!fgS! e6
(preparando ... c7-c5; se de imediato 15 ... cS,
então 16.d5) 16.eS!
Explorando o enfraquecimento da casa f6. Se
16.f4 as pretas planejavam 16 ... f6 l 7.ifg3 f5.
16 ... cs 17.~f4
Filip conduz bem a partida. Todas suas forças
estão dirigidas à ala do rei, ameaçam-se /
tz:)h5-f6+ ou h2-h4-h5, e no momento não "é
possível a exploração das fraquezas das brancas
no centro (a casa d5 e o peão d4) Entretanto,
isso não significa que a posição das pretas esteja
perdida: não há mate forçado e no futuro
distante elas esperam a chance de lançar um

contra-ataque.
17 ... cxd4 18.cxd4
Deve ser considerado o imediato 18.l2lh5!?.
Então seria perigoso jogar 18 ... l!BdS 19.cxd4!
(a dama não pode ser distraída da defesa do rei),
enquanto após 18 ... fS 19.cxd4 l!Bf7 20.l2lf4
evita o pior que as pretas poderiam fazer
trocando o bispo de casas pretas - 20 ... ii.g7
2L~xg7 cJilxg7, mas 22.ii.e2 seguido por
h2-h4 as brancas teriam mantido uma clara
iniciativa. De qualquer forma, o enfra-
quecimento das defesas do rei das pretas é mais
importante do que todos os outros fatores!
Entretanto, após o lance da partida, as
brancas também têm uma poderosa pressão.
Mas são dessas pequenas nuanças que
geralmente dependem os resultados das
partidas...
18...l2lc6 19.dS!
Um rompimento típico. "O simples 19 .ii.b5
teria sido muito forte. Após 19 ... a6 é verdade
que 20.l2lh5 não funciona devido a 20 ... f6!,
quando as pretas se defendem com facilidade,
mas após 20.~xc6 l!Bxc6 21.f3 a ameaça de
li:lh5-f6 força as pretas a jogarem ... f7-f5.
Após o possível 21.. .~d7 22.l2lh5 f5 23.l2\f4,
em vista de h2-h4-h5, as pretas têm uma
pos1çao difícil." (Kortchnoi). Digamos,
23 ... 'i!fc4 24.h4 cJilf7 25.hS B'.g8 26.hxg6+
(26.a3 !? B'.xd4? 27 J~c 1 !, quando tanto
27 ... 'i!fa4 28Jâc7+ B'.d7 29.~g7!!, como
27 ... 'i!fb5 28.~f8!! ou 28.hxg6+ hxg6
29.~g7! ! são ruins para as pretas) 26 ... hxg6
27.VJ!fh4 B'.xd4 28.il.f8!! ou 27 ... VJ!fxa2 28.~gS
com um ataque terrivelmente forte.
Entretanto, no caso de 21...VJ!fc2! 22.VJ!fe7!
(22.h4 VJ!ff5) 22 ... ii.d5! 23.B'.cl 'i!fa4 24.B'.c7
'i!fxd4+ 25.cJilhl ~f8 26.l2\xd5 VJ!fxd5 27.~xf8
B'.xf8 28.f4 VJ!lxa2 a vantagem das brancas pode
não ser suficiente para a vitória.
Viktor, o Terrível
19 ... exdS
Após 19 ... l2\xe5 (19 ... ii.xeS? 20.dxc6)
20.dxe6 VJ!fc7! (Kortchnoi) o papel decisivo
será desempenhado pelo peão passado móvel
das brancas. Elas têm mais de uma maneira de
desenvolverem a sua iniciativa:
1) 21.B'.fel l2\xd3 22.e7! B'.e8 23.~xd3 B'.ac8
24.h4 ou 21 ... f6 22.'i!fg3 ii.g7 23.~xg7 VJ!fxg7
24.~bS B'.xdl 25.B'.xdl 'i!fe7 26.~d7 ~d8
27.l!Bc3 l2lxd7 28.VJ!fc7 ~c6 29.h3!! (V. Belov)
29 ... cJilg7 (não é melhor para as pretas 29 .. .'~f8
30.B'.d6! g5 31.li:le2! ou 29 ... VJ!le8 30.l2ld5!
cJilg7 31 .VJ!lxc6 li:le5 32.VJ!lc7+ cJilh6 33.f4 l2lc6
34.l2\xf6! etc.) 30.B'.d6! B'.c8 3 l.~xc6 "tl.xc7
32.:Sxc7 cJilf8 33J~c8+! cJilg7 34.exd7 l!Bxd7
35.B'.c7! com uma vitória muito bonita;
2) 21.ii.fS :S.xdl ?! 22.B'.xdl :Se8 (22 ... f6
23.'i!fg3 il.g7 24.l2\xg6! bxg6 25.B'.d7!) 23.h4!
ii.f3 24.B'.d7! ou 21...f6 22.~g3 ~g7
(22 ... l!Be7? 23.~xg6!) 23.~xg7 l!Bxg7
24.~c2 VJ!le7 25.il.b3 com uma vantagem
duradoura;
3) 21.Ji.bS f6 22.VJ!lg3 VJ!le7 (também é mau
para as pretas 22 ... a6 23.Ji.d7 ou 22 ...~g7
23.~xg7 VJ!fxg7 24.VJ!fa3!) 23.~d7! l2lxd7
24.exd7 (ameaçando l2lxg6) 24 ... ~g7
25.~3+ cJilh8 26.Ji.xg7+ cJilxg7 27.l2le6+
cJilh8 28.l2\xd8 ~xd8 29.l!Bc3! (com a ameaça
de !!el) 29 ... ~d6 (também não há esperança
com 29 ... VJ!feS 30.'i!fxeS fxe5 31.f4! e4 32.:S.cl
e ,E\'.c7) 30.B'.el cJilg7 31.l!fe3, vencendo.
E claro, tal perspectiva não atraiu Kortchnoi e
ele preferiu eliminar o peão perigoso.
17
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
20.il.bS?
À primeira vista, o lance mais natural: são
ameaçados tanto 21.l2:lxd5, como 21.e6 fxe6
22.l2:lxg6. Entretanto, o bispo é distraído da ala
do rei e, dessa forma, outros caminhos
precisariam ser avaliados:
1) 20.l2:lh5 W.ie7 (20 ... W.ie6 21.f4) 21.l2:Jf6+
.txf6 22.exf6 W!f e5 23.'%!Kh4! âe8 (também é
insuficiente 23 ... W.ih5 24.'i!fxh5 gxh5 25.f4!)
24.~g5 h5 25 ..1i.f4 'i!fe6 (25 ... 'i!fb2 26.~xg6!)
26.~g5 ou 24 ... l2:ld4 25.'i!Hh6 l2:le6 26.f4!
l!fe3+ 27.Whl (com a ameaça de !iel e :Sxe6)
27 ... Y!fc5 28.f5 W.if8 29.fxe6 'i!fxh6 30.exf7+
Wxf7 3 l .Ji.xh6, vencendo;
2) 20.e6 W!fe7 21.exf7+ ifxf7 22.l2:Jxg6!
(Kortchnoi sugeriu 22.!ifel, mas 22 ... l2:le5!
estanca o ataque: 23.!ixe5 ~f6 24.!if5 .1i_xg5
25_gxt7 .1i.xh6 26.:ãxb7 ~xf4 com final
aproximadamente igual) 22 ... hxg6 23.il.xg6
'i!fe7. Devido a esse lance, Kortchnoi
considerou ser prematuro o sacrifício de cavalo,
mas após 24.ifh5! as brancas têm um ataque
muito forte: elas ameaçam !:i.fe 1, Eld3-g3 e o
avanço do peão f. Por exemplo:
a) 24 ... ~e5?! 25.f4 it.d4+ 26J~txd4 l2:lxd4
27.~g5 W!ig7 28.f5 ou 27 ... l2:le2+ 28.Whl
l2:Jxf4 29 ..txf4 :ãf8 30.h3! d4 (30 ... ifg7
3 l.lâf3) 3 l..1i.c2 !, vencendo;
b) 24 ... l2:le5 25.f4 l2:lxg6 26.i¼'xg6+ ~g7
27.ãfel !id6 28.~xg7+ ~xg7 29.ii.xg7 e os
três peões passados e conectados decidiriam o
final a seu favor.
A pergunta é auto-sugestiva: isso significa que
toda a estratégia das brancas esteja incorreta?
De forma objetiva, sim. Entretanto, é
necessário que se tenha em conta que essa
partida foi jogada ao raiar do desenvolvimento
da Defesa Grünfeld e surgiu uma posição
complicada e pouco estudada. As conse-
qüências do sacrifício sem dúvida estavam
longe do óbvio para Filip (ainda estávamos na
era pré-Tal!) e, com o objetivo de esclarecer a
situação o mais rápido possível, ele escolheu
uma continuação mais tranqüila, a qual pareceu
18
ser a solução ótima para o problema.
20 ....1i.xe5!!
Você não precisa ser um Tal para calcular,
após 20 ... d4? 21.e6 l!fe7 22.exf7+ 'i!fxf7, o
golpe combinatório 23 ..íri.c4! 'i!f xc4 24.l2:\xg6,
vencendo. Mas você precisa ser um Kortchnoi
para encontrar 20 ...Ji.xe5 !!. Isso soa como uma
tempestade, mas de fato é um sacrifício de
dama bastante paradoxal.
21..1l.xc6 (é desfavorável para as brancas
21.l2:Jxd5 l!fxd5 22.Ji.xc6 ~xh2+! ou 22.gxd5
:ãxd5 23.1i.xc6 1i.xh2+!) 21...il.xf4 22.'i!ff6
É ameaçado mate e a dama está pendurada -
muitos jogadores com as pretas, ao olhar essa
posição à distância, teriam simplesmente parado
de calcular. Mas Kortchnoi sutilmente notou
que o sacrifício da sua dama por dois bispos e
dois peões daria boas contrachances.
22 ... .1i.xh6 23.Ji.xd7 âxd7
''A compensação das pretas· pela dama é
bastante superficial, mas a característica da
posição mudou. Ao invés de um ataque ao rei,
as brancas agora enfrentam problemas de difícil
solução." (Kortchnoi). Realmente, é difícil para
as suas torres penetrarem na posição inimiga
(os bispos impedem isso) e, mais importante -
elas estão restringidas pelo peão d passado.
Além disso, ao bloquear esse peão, a torre
poderá ficar sob ataque de um dos bispos.
24.:â.fel 1i.f8!
Evitando .1âe7: qualquer troca é vantajosa
 Viktor, o Terrível

para as brancas, pois o poderio da dama é avançar o seu peão passado - agora, no caso da
fortemente aumentado. Uma situação similar troca da torre pelo bispo, elas manterão seu
ocorreu em uma partida minha com Karpov (3ª bispo de casas pretas, que, mais do que qualquer
partida do Match, Nova Iorque 1990), na qual eu outra peça, desempenha o importante papel de
sacrifiquei minha dama por duas peças menores defender o seu rei.
e um peão: meu adversário também teve que
trocar peças, mesmo à custa de material...
25.h4?!
Jogado de forma rotineira, mas com o bispo
de casas pretas no tabuleiro, o ataque com
h2-h4-h5 não tem objetivo. O lance 25.2:!d3
com a ameaça de 2:!de3-e8 era correto, quando
as pretas, para evitar a troca das torres, teriam
que jogar 25 ... ~b4!? (Kortchnoi). É claro que
as chances das brancas são melhores, a pergunta
é o quanto são.
25 ... âadS 26.h5?!
Se Filip tivesse olhado um pouquinho para o
29J~edl?
futuro teria imaginado que o peão poderia ser
Com a aproximação do apuro de tempo, Filip
bloqueado imediatamente através de 26.âd4!,
perde completamente o fio da partida e permite
pois após 26 ... ~g7 27.°t!ff4 a troca imediata
a troca. De acordo com Kortchnoi, as brancas
27 ... ~xd4 28.°t!fxd4 é perigosa para as pretas
teriam empatado sem dificuldades através de
tendo em vista o enfraquecimento das defesas
de seu rei. Entretanto, o calmo 27 . .. h5 teria 29.2:!h3 ii.g7 30.°i:Wc6 (ou 30."t!fh4 d3 - você
mantido uma posição indefinida. Para explorar não pode assustar Kortchnoi com um simples
o poderio da sua dama, as brancas teriam que xeque em h7!) 30 ... d3 31..:àe8+ .E!xe8
ter jogado g2-g4 e essa é uma decisão bastante 32.°t!fxd7 il.b5! 33.~xb5 .:ê:el+ 34.Wh2 d2
comprometedora. 35.~d3 dl~ 36Jâxdl 2:!xdl 37.°t!fa6 âd5
Mas através da inércia, Filip fez o "lance de 38.°t!f xa7 âa5 e âxa2.
ataque" 26.h5?!. Uma situação típica, na qual 29 ... il.xd3 30.âxd3
um jogador, após conquistar uma vantagem, "A posição a que se chegou apres_ynfá uma
não encontra o plano correto e permite ao seu vantagem mínima para as pretas. O final da
adversário mudar a direção da partida com a partida foi jogado sob severo apuro de tempo e
ajuda de um sacrifício inesperado. Esses pontos eu consegui levar a melhor sobre meu
de mudança são normalmente indeterminados, adversário." (Kortchnoi)
e em tal situação não é fácil encontrar os lances
30 ... âcS
mais fortes. Esse é o perigo maior quando se
As pretas têm excelente compensação
enfrenta jogadores como Kortchnoi, que
material pela dama - torre, bispo, dois peões e
percebe essas nuanças psicológicas com grande
perspicácia e não perde uma oportunidade de um rei bem protegido. Seus planos incluem a
lançar um contra-ataque. criação de outro peão passado na ala da dama.
26... d4 (após esse lance, as brancas precisam Ainda assim, isso pode não ser suficiente para a
jogar com exatidão para manter o equihbrio) vitória. Não é nosso objetivo a avaliação exata
27.hxg6 hxg6 28.~d3 il.a6 deste final, mas é interessante observar a
As pretas não somente obtiveram·sucesso em energia e a engenhosidade com as quais

19
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Kortchnoi conduz a etapa técnica da partida.
31.'f!ff3
Talvez a melhor chance prática de salvar a
partida fosse entrar em um final de torres com
um peão a menos - 31.Ei.xd4 il.g7 32.'f!fxg7+
Wxg7 33.lâxd7 (Kortchnoi), embora após
33 ... Ei.cl+ 34.Wh2 a5 seja difícil para as
brancas trocarem seu peão a pelo peão b e as
pretas mais provavelmente tenham uma posição
tecnicamente vencedora.
31. .. il.g7 32.~e4 âcd8 33.f4 âd5 34.g4
il.f6 35.Wg2 wrs 36.Wf3 b5 37.~el wgs
38.'f!fb4 t!.Sd7 39.'f!fb3?! a5 40.a3 llc5
41.~bl ãdc7 42.We2 a4 43.'f!fhl t!.7c6
44.'f!fbl ãcS 45.'f!fhl âc2+ 46.âd2
Após 46.Wf3 há uma escolha entre o agudo
46 ... b4 47.axb4 a3 e se 48.t!.xa3, então
48 ... â2c3+ 49.!!xc3 dxc3 (Kortchnoi) e o
tranqüilo 46 ... t!.c 1.
46...Ei.eS+ 47.Wdl âc3 48.~d5
"O lance 48.gS era mais resistente. No caso
das pretas tentarem a vitória com 48 ... d3? não
funcionaria: 49.gxf6 t!.xa3 50.Ei.a2 lâxa2
51. ~h6 e são as brancas que vencem."
(Kortchnoi). Mas após 48 ... ãxa3 as pretas
manteriam uma vantagem decisiva.
48 ...âxa3 49.'f!fxb5
Pendurada sobre as brancas, como uma
espada de Dâmocles, paira a ameaça d4-d3:
49.gS d3! ou 49.~c6 âal+ 50.Wc2 d3+! etc.
49 .. J~al+ 50.Wc2 âcS+
De acordo com Kortchnoi, era mais simples
50 ... Ei.e3 com a ameaça 5 l...d3+ 52.ãxd3
lâe2+, por exemplo: 51.'i!fdS t!.c3+ 52.Wb2 d3
ou 51.'i!fb8+ Wg7 52.gS d3+ 53.Ei.xd3 ãe2+
54.âd2 t!.a2+ 55.Wcl i.b2+! 56Jâxb2 !!axb2
e qualquer resistência adicional é sem sentido.
51.Wd3 t!.el (51...a3! seria vencedor)
52.ãc2?! (realmente seria melhor 52.EÍ.a2)
52...âdl+
Também venceria 52 .. Jâxc2 53.Wxc2 a3
seguido por a3-a2.
20
53.'~e2?
Um erro grosseiro, mas a recomendação de
Kortchnoi de 53.EÍ.d2 :Sc3+ 54.We2 também
não teria salvado as brancas em vista de
54 ... !!hl! com a ameaça decisiva de 55 .. Jâe3+
56.Wfl t!.h2+.
53 ... d3+ 54.Wxdl dxc2+ 55.Wcl a3
56.~a6 il.b2+ 0-1
Na rodada final, os dois principais nvrus
estavam nivelados e aqui Viktor foi ajudado
pelo seu compatriota Furman, que derrotou
Nejmetdinov, decidindo o resultado do torneio:
1.Kortchnoi - 13 em 17; 2.Nejmetdinov- 12,5;
3-4.Filip e Kholmov - 11, etc.
Naquele tempo, as regras para classificação
eram rigorosas: Kortchnoi já tinha obtido prata
no campeonato nacional e já se tornara um
novo Mestre Internacional, mas para chegar ao
próximo passo, no 22º Campeonato da URSS
(um Zonal do Campeonato Mundial!), precisava
superar a barreira da semifinal. Na primeira
rodada da final (Moscou, 1955), ele teve
problemas com as pretas contra Simagin com a
sua favorita Defesa Grünfeld; fez uma defesa
difícil e depois analisou a posição adiada por
dois dias, mas no reinício não conseguiu se
salvar. Por muito tempo, esta derrota dolorosa
deixou Kortchnoi em estado de choque
psicológico. O resultado foi o 19º lugar, o
penúltimo...
No entanto, ele demonstrou logo que aquele
revés tinha sido acidental. Primeiramente,

conseguiu êxito na semifinal do próximo
Campeonato da URSS: nestes torneios, ele
manteve o jogo extraordinariamente estável:
por oito anos seguidos conquistou um lugar
classificatório (duas vezes com o primeiro
lugar). Depois, pela primeira vez ele foi
Campeão de Leningrado (17 em 19); dividiu a
vitória com Olafsson no torneio tradicional de
Hastings (1955-1956) e teve desempenho digno
no 23º Campeonato da URSS: 1-3.Averbakh,
Spassky e Taimanov - 11,5 em 17; 4.Kortchnoi
- 11; 5-7.Kholmov, Polugaevsky e Tal - 10,5,
etc.
Após conquistar finalmenteo título de
Grande Mestre, Viktor teve uma espécie de
descanso: nos três campeonatos nacionais
seguintes, ocupou lugares modestos nas
classificações gerais. No entanto, com vitórias
admiráveis em partidas individuais, ele como
que advertiu o mundo do xadrez: está chegando
o dia em que o gênio de Aladim sairá da garrafa!
Nos volumes anteriores, escrevi sobre o
Campeonato Zonal da URSS de 1958, que deu
um brilhante triunfo a Tal e uma amarga
decepção a Spassky. Mas já na hora de sua
estrela começar a brilhar, o "mago de Riga" foi
incapaz de solucionar o problema Kortchnoi,
perdendo para ele na metade do torneio. A
propósito, depois deste revés, Tal terminou
com 8 em 9 (!).
É bem sabido que, para Tal, Kortchnoi era o
adversário mais difícil e incômodo - o único
enxadrista em todo o mundo contra o qual,
depois de se tornar campeão e até ex-campeão
do mundo, ele não tinha ganho uma única
partida, enquanto perdeu cinco, com outros
cinco empates! Mesmo depois de muitos anos,
o relacionamento enxadrístico deles perma-
neceu imutável. Antes da semifinal do Torneio
de Candidatos em 1968, o resultado das suas
partidas decisivas tinha sido 9-1 em favor de
Kortchnoi e, depois do Match, tornou-se 11-2.
E foi somente ao final da rivalidade entre os
dois, em meados dos anos 80, que Tal
conseguiu melhorar um pouco este balanço
Viktor, o Terrível
catastrófico.
Kortchnoi e Tal foram dois dos melhores joga-
dores de partidas-relâmpago de seu tempo
É provável que o estilo "sinuoso" de
Kortchnoi não permitisse a Tal ditar o
desenrolar dos acontecimentos nas partidas
entre eles, como nos jogos com outros
adversários. Tal gostava de sacrificar e tomar a
iniciativa, mas isto não preocupava Kortchnoi,
que aceitava "tudo o que vinha", opondo defesa
tenaz até poder lançar o contra-ataque. O
principal é que ele não perdia a cabeça frente às
arremetidas de Tal. A partida deles naquele
Campeonato, apesar dos mútuos equívocos e
imprecisões, é bastante típica da rivalidade entre
os dois nos anos 50 e 60. Era o embate feroz de
duas concepções diametralmente opostas:
ataque e defesa.
Partida 3
M. Tal - V. Kortchnoi
25º Campeonato da URSS, lvga 1958,
9ª rodada
Defesa Francesa C18
1.e4 e6
A resposta favorita de Kortchnoi a l.e4,
predileção que ele mantém até os dias de hoje.
Muitas de suas brilhantes vitórias em torneios e
Matches estão associadas à Defesa Francesa.
2.d4 dS 3.iclc3 (3. éZJd2 - partidas 13, 52 e 5 3)
3 ... ll.b4 4.eS cS 5.a3 ll.xc3+ 6.bxc3 icle7
21
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

O plano favorito de Botvinnik. Kortchnoi,

que pegou e desenvolveu suas idéias, conduziu
com muito sucesso essa posição complicada e
desequilibrada, na qual há um conflito básico:
as brancas têm dois bispos e um centro
poderoso, mas por outro lado elas têm
fraquezas crônicas na ala da dama, as quais são
obviamente alvos para o contra-ataque das
pretas. Naquela época tais esquemas de dois
gumes eram uma arma ideal para jogadores
com estilo de contra-ataque
7.'i!:Vg4 (7.a4 -partidas 12, 22 e 23) 7.•.f5
Mais tarde Kortchnoi somente jogou
7 ... 'i!:Vc7 ou 7 ... cxd4 (partidas 14 e 27), assim
como 7 ... 0-0!. Como ele próprio admitiu,
utilizou o lance de cavalo "somente uma vez na
minha vida - com o objetivo de pegar Tal em
uma variante preparada". E ele o pegou!
8.ll.d3 h5 9.'i!:Vh3
Tal repete os lances da partida na qual venceu
Petrosian (24º Campeonato da URSS, Moscou
1957), embora ele também tenha utilizado
9.'i!:Vf4! (contra Erepova, Riga 1953). Naquela
oportunidade, ele não gostou da troca das
damas após 9 ... 'i!:Vh4 (a moda atual é
9 ... 'i!:Vc7!?) 10.~e2 'i!:Vxf4 1 l.~xf4 /?Je7
(Bisguier-Fine, Nova Iorque 1948). Aqui as
brancas têm um final um pouco melhor, mas
como Kortchnoi escreveu muitos anos atrás,
"evidentemente essa continuação posicional
não é do gosto do temperamental Tal."
É curioso como os gostos mudam: o Tal mais
recente preferiu entrar nesse final contra
Petrosian (50º Campeonato da URSS, Moscou
1983), embora ele fosse incapaz de imaginar as
vantagens da sua posição... Para mais detalhes
sobre 9.'i!:Vf4!, veja a partida Stein-Petrosian,
vencida brilhantemente pelas brancas (volume 3,
partida 56). Entretanto, 9.'i!:Vh3 não compromete
nada.
9...cxd4
A posição crítica da variante.
10.i?Jf3?!
Mas isso é muito irresponsável! As chances
das brancas estão associadas principalmente
com a revelação das fraquezas das casas pretas
do adversário, por exemplo: 10.i?Je2 dxc3
1 l..1i.xf5 exf5 12.'i!:Vg3 ou de imediato 10 ..1i.xf5
exf5 1 l.cxd4 (se 1 l.'i!:Vg3 Euwe sugeriu
11 ... .te6 12."i!fxg7?! ~d7 e ~g8; também não
é claro 11.. .g6 12.cxd4 eiJc6 13.i?Jf3(e2) h4! e
14 ... h3) 1 l...i?Jc6 12.i?Je2 '%!f a5+ 13 ..1i.d2
YWb5 14.'%!fe3, e as pretas ainda têm que
resolver o problema da retirada do rei.
Ao invés disso, as brancas iniciam o jogo em
ambos os flancos, planejando particularmente o
agressivo g2-g4. Mas durante o processo, o rei
é privado do escudo de segurança e as pretas
adquirem excelentes contrachances. O jovem
Tal acreditava implicitamente na sua estrela da
sorte, o que era explorado por Kortchnoi, a
demonstrar um sutil conhecimento da
psicologia do adversário. Afinal, na maioria das
posições você deve fazer de forma objetiva
melhores lances e não aqueles que corres-
pondem ao seu estilo ou ao seu estado de
espírito. Especialmente se isso for obviamente
esperado pelo seu adversário!
10...'i!:Vc7!
Uma importante melhoria - o ganho de um
tempo. No Campeonato da URSS do ano
anterior, Tal abriu as defesas do "Tigran de aço"
após 10... /?Jc6?! 1 l.g4 /?Jfe7 12.gxh5! '%!fc7
(12 ... "i!fa5!?) 13 ..tf4 /?Jg6 14.'%!fg4 /?Jxf4

22

15.!fxf4 dxc3 16.!fgS! etc. De forma
alternativa, 10 ... dxc3 l l.g4 l:iJe7 12.gxh5 não é
melhor para as brancas, enquanto se 10 ...!faS
provavelmente teria seguido 1 l.:àbl (11.0-0!?)
l l...!fxc3+ (11...dxc3 12.g4) 12.Jld2 ifxa3
l3.g4 (o posicional 13.0-0 com a idéia de
14 ..ixfS exf5 15.ifg3 novamente é bom)
l3 ... /:iJe7 14.gxhS (é menos claro 14.l:iJxd4 a6)
seguido por ~g 1 - tais posições, com torres
ativas e iniciativa duradoura atraíam muito a Tal.
A partir de c7 a dama tanto ataca os peões
inimigos ( c3 e em particular e5), como de
forma profilática defende o peão de b7
antecipando a ... li:lbc6, ....td7 e ... 0-0-0.
Entretanto, nenhum dos lados faz o roque -
outra indicação da alta intensidade da luta que
prevalece nessa partida.
11.~bl (11.0-0 não está de acordo com o
1
planejado g2-g4) 11 ... dxc3
Não havia grande objetivo em jogar
l l...~xc3+ 12 ..td2 e g2-g4 (como antes
IO ... ~a5). Entretanto, seria também aceitável
l l.. .li:lc6!? 12.g4 li:lfe7 13.cxd4 li:lxd4
14.li:lxd4 l!Nc3+ 15 ..id2 l!Nxd4 16.f4
(Konstantinopolsky-Ivashin, partida por
correspondência 1948) 16 ... .id7 com jogo
indefinido.
12.g4 CLJe7 13.gxhS
Isso pode se tornar um perigoso peão
passado se as brancas, criando pressão na
coluna g, forem capazes de tomar em g7 ou
forçar g7-g6. Mas as pretas precisam de apenas
dois lances para rocarem na ala da dama, suas
peças estão dispostas de forma compacta e elas
têm vantagem material e contrajogo contra o
peão e5.
13 ... CLJbc6 14.~f4
Aparentemente, o melhor lance. "Essa
posição é atingida por Keres em seu livro, que a
julga ser favorável às brancas, pois, em sua
opinião, o peão g7 está prestes a ser perdido. A
presente partida mostra que a situação é
altamente de dois gumes", escreve Kortchnoi,
que refuta 14.l!Ng3?! ~xh5 15.l!Nxg7 li:lxe5
Viktor, o Terrível
16.li:lgS li:lxd3+ l 7.cxd3 li:lg6 18. l!Ng8+ li:lf8
19.f4 f6, vencendo e considera que 14.@dl
(com a idéia de 14 ... li:lxe5 15.l!Ng3) deve ser
considerado, embora, a meu ver, após o simples
14 ... .td7 e ... 0-0-0 as brancas não tenham
compensação real pela desintegração do seu
centro e a insegura posição do seu rei.
14 ...li:lg6!
Esse recurso, preparado em casa, não foi
percebido por Keres em sua análise: as pretas
todavia capturam o peão e5, que está
restingindo o seu jogo. Após 14 ... g6?! 15.h6
li:lf5 16.0-0 li:lce7 17.h7 li:lg7 18.li:lg5 as
brancas manteriam a iniciativa.
15.$.g3 (a troca de bispos l 5.~xg6 fxg6
teria significado o fracasso do plano das
brancas) 15 ...t2lgxe5
Agora, para justificar o seu plano audacioso
na abertura, Tal terá que demonstrar milagres
de engenhosidade.
16.t2lxe5
"As brancas de forma incorreta restringem o
seu leque de possibilidades. Seria funda-
mentalmente mais correto mover o rei sem
trocar os cavalos - 16 ~fl." (Kortchnoi).
Entretanto, após 16 ... f6 as brancas enfrentam
problemas difíceis: 17 ..ib5 .id7 l 8.~xc6
(Kortchnoi) 18 ... l!N xc6 ! 19 .llxe5 0-0-0 !, e
não é possível 20 ..tg3(d4) devido a 20 ... eS
com contra-ataque decisivo. Dessa forma, o
lance de Tal pode ser duramente condenado.
16 ... t2ixe5 17.<Bfl (17.@dl? li:lxd3!)
23
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
17...Ad7 (17 ... f6?! 18.ggl !) t8.~h4?
''A ativação da dama é um erro significativo,
que coloca as brancas em uma posição difícil.
Elas deveriam ter jogado 18.gele após 18 ... f6
19.kg6+, seja para onde for o movimento do
rei, as brancas mantêm a iniciativa."
(Kortchnoi). Por exemplo: 19 .. .'~d8 20.'i!?g2
com a ameaça de 21..:âxe5! fxe5 22 ..:âel e
kxe5xg7, abrindo o caminho para o peão
passado h.
18... f6?
A ruptura imediata no centro - 18 ... d4
também é ineficaz em vista de 19 ..:âgl ! (mas
não 19.~xd4 ~c6 20.ke4 ~c4+ 21.~xc4
~xc4 22.ii.xb7 .:âd8) 19 ... ~c5 20.~xe5
~xe5 21..iâg5 ~f6 22 ..:âxb7 ~c6 23.:!âc7 com
substancial compensação pelo peão, ou
19 ... ~f3 20.~xc7 ~xh4 21..:âxg7 kc6
22.Ji.f4! (confiando novamente no peão h
passado) 22 ... 'i!?e7 (22 ... .:âd8 23.h6; 22 ... ê2if3
23.ke2!? e gg3) 23.~g5+ 'i!?f8 24.~f6 ~f3
(24 ... .iâxh5 25 ..th7!) 25 ..iâg3 com um final de
duplo gume.
Entretanto, na opinião de Kortchnoi, "O
lance anterior das brancas poderia ter sido
castigado pelo poderoso golpe tático 18 ... ê2Jf3!,
pois as complicações após 19. ~b4 ~ c6
(19 ... e5!? - G.K.) ou 19.~g4 ~d2+
20.'i!?g2(e2) e5 21.~xg7 0-0-0 são
claramente favoráveis às pretas". O lance
19.h6! é mais forte, mantendo a tensão na ala
do rei. Assim, no caso de 19 ... g5?! 20.~h5
(20.~g4!?) 20 ... ~d2+ 21.'i!?g2 ~c6
(21...~c5 22 ..:âxb7) 22.~b5 ~c8 23.~xg5 o
ataque das brancas compensa completamente
sua deficiência material. Mas após 19 ... ê2ixh4!
20.hxg7 0-0-0! 21.gxh8~ .iâxh8 22.~xc7
'i!?xc7 as pretas têm dois peões pela qualidade e
um final melhor.
19.il.xe5! (agora a idéia corajosa de Tal se
justifica) 19 ... ~xeS
Após 19 ... fxe5 20.il.g6+ @f8 21.~b4+
@g8 22.~xb7 (Kortchnoi) as brancas têm um
jogo confortável. Não é claro como as pretas
24
poderão trazer sua torre de h8 para o jogo (se
22 ... 'i!fc6, então 23 ..:âgl).
20 ..:âxb7 âb8! (trocando a torre ameaçadora
da 7ª fileira; 20 ... g5? 21.~4!) 21 ..:âxb8+
''A interposição 21.f4 entra em
consideração." (Kortchnoi). Então após
21.. .~d6 22 ..:âxb8+ ~xb8 23.~g4 não é
muito bom jogar 23 ... @f8? 24 ..:âgl, mas
23 ... f5! 24.~g5 (24.~xg7? ~xf4+ 25.@g2
~h6, vencendo). É possível o lance 24 ...kb5!,
com vantagem para as pretas.
21. .. 'i!fxbS 22.~g4 (após 22 ..:âgl ?!
Kortchnoi pretendia 22 ... g5, mas também é
forte 22 ... ~b5) 22 ...@fS 23.âgl
Continuando a construção de ameaças, as
quais parecem bastante perigosas: as pretas já
não têm as peças coordenadas.
23 ... g5!
''A única defesa, mas perfeitamente suficiente.
As pretas devolvem o último dos peões
sacrificados, mas o seu rei encontra um refúgio
confortável em g7." (Kortchnoi)
24.hxg6!
Eu não acho que "é mais correto entrar em
um final aproximadamente igual" - 24.h4 ~f4
25.hxg5 ~xg4 26 ..iâxg4 (Kortchnoi), pois
após 26 ... e5! as brancas enfrentariam uma luta
difícil pelo empate: 27 .âg3 .iâxh5 28.gxf6 fil3 !
ou 27 ..:âb4 .iâxh5 28 ..:âb8+ @e7 29 ..:âb7 @d6
30.gxf6 e4 31.~e2 fil7, e se 32.~g4, então
32 ... d4 33.~xd7 d3! e as pretas vencem.

24...Wg7 25.h4 as
"Um lance profilático proveitoso, evitando
uma possível invasão da dama branca na
posição das pretas via b4. Falando de forma
geral, as pretas agora precisam observar
ruidadosamente, para salvaguardar sua
retaguarda contra a penetração da dama
branca." (Kortchnoi). Também merece ser
analisado 25 ... l!fd6 ou 25 ... l!fb7.
26.l!g3 l!fbl+ 27.Wg2
Se 27.ée2 as pretas planejavam 27 ... it.b5
com a troca dos bispos, embora após 28.it.xbS
lfxb5+ 29.éf3 ambos os lados tenham
chances. Parecia prometer mais 27 ... l!fb7!?
com a idéia de e6-e5.
27...l!fb7 28.hS d4+ (também após 28 ... eS
29.it.fS · d4+ 30.éh2 a posição é
21>roximadamente equilibrada) 29.~e4
De acordo com Kortchnoi, 29.f3 l!fd5
30.fil3 e5 31.it.fS it.xf5 32.l!fxfS d3! é mau
para as brancas, embora 33.cxd3 c2 34.!fül
leve ao empate, por exemplo: 34 .. .l!Hd4 35Jâcl
'lfh2 36.h6+! B'.xh6 37.l!fd7+ com xeque
perpétuo.
29....i.c6
Kortchnoi classificou esse lance como um
erro, sugerindo que 29 ...l!fbS 30.fil3 l!f g5
31.l!HxgS fxg5 teria conduzido a "um
complicado final de bispo e torre, com
consideráveis dificuldades para as brancas".
Porém, após 32.B'.hl! e .lâbl suas chances são
ainda um pouco melhores.
Assim, a partir do 19º lance, ataque e defesa
equilibram um ao outro e o final mais lógico
teria sido o empate. Mas Tal, como freqüen-
temente ocorria com ele após uma mudança
favorável dos acontecimentos, já não pensava
mais em manter a igualdade, mas em vencer! E
ele passou dos limites...
30.it.xc6 l!fxc6+ 31.égl l!HdS 32.l!ff4 l!f e5
Viktor, o Terrível
33.h6+??
No apuro de tempo Tal imaginou ter visto
uma "combinação vencedora", que tem uma
refutação simples. Ele teria empatado através de
33.l!ff3! l!fd5 34.l!ff4 (ou 34.l!fxdS exd5,
com empate) 34 ... l!feS 35.l!ff3 com repetição
de posições.
33 ...B'.xh6 34.l!fxh6+ Wxh6 35.g7 l!fxg3+
0-1
Uma partida dramática!
Igual resultado foi o do duelo do campeonato
nacional seguinte. Kortchnoi de novo jogou
com as pretas e desta.vez superou em astúcia o
adversário usando a Variante Najdorf da
Defesa Siciliana.. De novo suportou a forte
pressão, que era insuportável para muitos
outros adversários do jovem Tal. Eis como
Viktor Vasiliev caracterizou esses antípodas do
xadrez:
"O estilo de Kortchnoi é o estilo de Tal como
que ao avesso. Tal sempre procura tomar a
iniciativa, ao passo que Kortchnoi está sempre
pronto para ceder sem compaixão. Tal gosta de
atacar, Kortchnoi gosta de defender. Tal joga
com grande confiança com as brancas,
Kortchnoi, com as pretas. O próprio Tal, às
vezes jocoso, outras vezes sério, chama suas
falhas constantes de 'medo de Kortchnoi', mas
o motivo deve ser bem outro. Pelo visto, o estilo
de contra-ataque de Kortchnoi, com recursos
inesgotáveis de defesa e tenaz esforço para
desfazer o equilíbrio, lhe dá condições de
25
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

agüentar firme os ataques de Tal". "costumeiros" apuros de tempo, seus

Não devemos nos esquecer de que, naquele resultados melhoraram bastante.
tempo, o grande mestre de Riga estava em plena
ascensão para o cume do Olimpo do xadrez, de O Primeiro Ouro
maneira praticamente irresistível. Kortchnoi era
o único capaz de enfrentar com êxito a nova
estrela, fato que pode dar uma idéia de sua
atividade no final dos anos 50.

Desde jovem Kortchnoi formou seu repertório

de aberturas baseando-se principalmente em
Botvinnik
Mikhail Yudovitch procurou fazer uma
avaliação mais concreta do estilo de Kortchnoi
depois do 25º Campeonato da URSS,
escrevendo: "O estilo de jogo de Kortchnoi é
caracterizado por expenencias ousadas,
originalidade na avaliação das posições, e
abordagem peculiar dos problemas estratégicos,
especialmente a fertilidade e tenacidade na
defesa de posições difíceis. Ele não alcançou
grandes sucessos competitivos no campeonato,
devido a um certo 'descuido' no estágio técnico No 27º Campeonato da URSS (Leningrado
da partida, e também porque sua originalidade 1960) Kortchnoi conquistou a primeira das
em lidar com certas variantes de abertura se suas quatro medalhas de ouro

transformava às vezes em afetação que O auge do período inicial da carreira de

conflitava com as exigências das posições. Ele é
um jogador de grande potencial e deve procurar
se esforçar para que seus arroubos de
criatividade não entrem em contradição com o
rígido padrão das disputas nos torneios. Não há
dúvida de que ele obterá bem melhores
resultados se tentar livrar-se de seus
costumeiros apuros de tempo".
Não sei se Kortchnoi chegou a ler estas
linhas, o certo é que logo, apesar de seus
Kortchnoi foi no 27º Campeonato da URSS
(Leningrado, janeiro-fevereiro de 1960),
quando, finalmente, ele conquistou a primeira
de suas quatro medalhas de ouro. Os jogadores
das gerações mais antigas lembram a incrível
tensão das disputas nos Campeonatos da URSS
e a celebridade dos participantes, com o que
poucos torneios internacionais podiam ser
comparados. O título de Campeão da URSS
tinha um grande significado: durante muitos

26

anos era uma espécie de entrada na elite do
xadrez mundial.
Jogando na sua cidade natal, Viktor se sentia
inicialmente nervoso e tinha dificuldade de se
ajustar à sua melhor forma: perdeu para
Lutikov, empatou com Taimanov, derrotou
Sakharov no seu conhecido estilo de contra-
ataque (de novo com a variante Najdorf da
Defesa Siciliana!) e, depois, derrotou Nei e
Smyslov, mas perdeu para Simagio - depois de
6 rodadas ficou um ponto atrás do líder
Petrosian.
A virada ocorreu em uma partida dramática e
intrigante com Leonid Shamkovich. O
"milagre" dessa partida pareceu ser pura sorte,
mas conhecendo a característica do talento de
Kortchooi e seu modo de encarar o xadrez,
entende-se que não há explicação mística, mas
plenamente racional dos acontecimentos que
ocorreram na atmosfera agitada do jogo. Eis o
que Tal e seu segundo Koblenz escrevem sobre
a partida:
"É perfeitamente claro: para torcer fielmente
para Kortchooi, é preciso ter nervos de ferro e
um coração de aço. Estas qualidades eram
indispensáveis para o público de Leningrado,
quando seu favorito enfrentou Shamkovich,
mestre de Moscou. Kortchnoi surpreendeu o
Grande Mestre Shamkovich na abertura com o
interessante sacrifício de um peão, mas
Shamkovich logo tomou a iniciativa e logo
também a tempestade se armou na posição do
rei das Pretas. Kortchnoi, como de costume,
estava resistindo desesperadamente, mas o
Grande Mestre moscovita já tinha aplicado um
golpe de chave no seu oponente. Os árbitros já
estavam prontos para marcar o final, quando os
ombros do Grande Mestre tocaram o tatame ..."
Partida 4
L. Shamkovich - V. Kortchnoi
21° Campeonato da URSS
Leningrado 19601 r rodada
Defesa Nimzo-India E25
Viktor, o Terrível
1.d4 luf6 2.c4 e6
Essa fuga da Defesa Grünfeld foi provocada
possivelmente pelo temor de alguma variante
preparada pelo adversário - um teórico
proeminente, conhecido pela sua abordagem
profunda e incomum na solução dos problemas
da abertura. Entretanto, em seu "caminho
alternativo" Kortchnoi foi, por assim dizer, da
frigideira para o fogo.
3.luc3 ~b4 4.a3 (a agressiva variante
Samisch) 4 ... il.xc3+ 5.bxc3 cS 6.f3!? (6.e3 foi
analisado nos volumes anteriores) 6 ... dS
7 ,cxdS luxdS 8.dxcS fS
A seqüência 8 ... ~a5 9.e4 luf6 ou
9 . ..liJe7(c7) é sólida, como jogado por
Smyslov, mas não 9 ... ~xc3+?! 10.~d2 ~e5
11. ê2ie2 com a iniciativa para as brancas
(Kortchnoi-Bykov, Leningrado 1957).
9.e4!?
"Uma novidade inesperada, que
aparentemente desconcertou Kortchooi." (fal)
9 ... fxe4 10.'i!Kc2 exf3?
Isso dá às brancas uma liderança esmagadora
no desenvolvimento. A recomendação de Tal,
1O... e3 !, é correta (Furman-Polugaevsky, 31 º
Campeonato da URSS, Leningrado 1963).
tt.fõxf3 'i!faS 12 ..1l.d3 liJc6 13.0---0 Vl!ixcS+
14.Whl .1l.d7 (14 ... ifxc3 15.'i!fbl ! com a
ameaça mortal de ~b2) 15.liJgS!
Transferindo o cavalo para e4 com o ganho
de um tempo e de forma simultânea evitando o
roque na ala da dama (em vista de li:\f7). Se
15.~g5, então 15 ... ê2lde7 e ... 0----0-0.
15 ...liJeS 16.liJe4 Vl!ic7 17.~gS .fü"S
É difícil dar algum bom conselho às pretas:
não poderia ser 17 ... li:le7 18.lâael, nem
17 ... li:lxd3 18.Vl!ixd3 (ameaçando c3-c4)
18 ... b5 l9.'1!ff3 .1l.c6 20.:ãael, vencendo.
18.c4! liJe7 19.cS! (ao custo de apenas um
peão as brancas conquistaram um ataque
decisivo) 19 ... ~c6
Um fato raro nas partidas de Kortchnoi: no
19º lance já está em uma posição sem
esperanças. Uma derrota espetacular teria
27
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
ocorrido após 19 .. .lLlc8 20J~xf8+ <it1xf8
21.lãfl+ t2:lf7 (21...<it1g8 22.t2:lf6+!) 22.~f2
.1i.e8 23.t2:lf6! !.
20.lud6+ <it1d7 21.~c3?!
Após uma série de lances fortes e enérgicos,
Shamkovich começa a fraquejar. Seria
imediatamente decisivo 2 I..1i.xe7 ! <it1xe7
22.~c3. Se Kortchnoi tivesse perdido essa
partida, é duvidoso que ao final saísse vitorioso
desse Campeonato da URSS...
21. .. tZ:lxdJ 22 ..ilxe7
Também se manteria urn ataque poderoso
com 22.l!Vxg7 gxfl + 23.Eí.xfl .1i.d5 24 ..1i.xe7
<it1c6 25 .lãbl !. As brancas pensaram que
22.Jl.xe7 também fosse bom, mas aqui
começam a ocorrer milagres.
Shamkowich deve ter se deliciado com o
cálculo de variantes agradáveis como 22 ... gf2
23 .lãxf2 t2:lxf2+ 24. <it1g 1 .1i.d5 (24 ... lãg8
25.â:fl) 25 ..1i.g5! (25.~xg7 t2:lh3+! 26.gxh3
1!:fxc5+ 27.<it1fl gg8! 28.1!:fxg8 <it1xe7 ou
26.<it1fl Eí.g8! 27.~xg8 i.c4+ 28.t2:lxc4 1!:ff4+
29.<it1el ~f2+ 30.<it1dl 1!:fd4+ leva somente ao
empate) 25 ... êz::lg4 26.1!:fxg7+ @c6 27.l!Vd4
l!Va5 28 ..1i.d2 l!Vxc5 29.gcl ou 25 ... t2:le4
26.t2:lxe4 .1i.xe4 27.Wlxg7+ Wc6 28.W.id4 il.c2
29.lãcl e5 30.Wifc4 e caem as cortinas.
Então, para pelo menos prolongar a
resistência, algo extraordinário é apresentado
pelas pretas...
22 ....1i.xg2+!
Uma surpresa! A posição das pretas
28
permanece perdida, mas Kortchnoi não
desperdiça uma oportunidade para desferir um
golpe desagradável, forçando seu adversário a
novamente resolver alguns problemas não
totalmente claros, em um momento em que
mentalmente já tinha marcado o ponto na
tabela do torneio.
23.<it1xg2 t2:lf4+ 24.ãxf4 (forçado)
24 ... ãxf4 25.I.{dl
A resposta humana mais natural: mobilização
com a ameaça do xeque descoberto (em
particular t2:lb5+). Mas talvez tivesse sido mais
simples jogar 25.l!fd2!? ãg4+ (25 ... l!fc6+
26.t2:le4+!) 26.<it1h3 l!Vxc5 27.t2:lxb7+ l!fd4
28.ãdl <it1xe7 29.~xd4 ã:xd4 30J~xd4 com
um final vencedor, ou o mais agressivo
27.<it1xg4 <it1xe7 28.lãfl ! com um meio-jogo
vencedor.
25 ...l!Vc6+ 26.@g3 l!fa4!
A única possibilidade de continuar a luta e
novamente criando algumas ameaças: tanto
... ãg4+ como ...l!Vxdl e em alguns casos
...<it1xe7. Agora são as brancas que precisam se
esforçar para encontrar a única continuação
distinta para a vitória. Mas em tal situação é
muito difícil evitar perder a cabeça e trocar o
cálculo de variantes agudas, nas quais, para
desenvolver um ataque vencedor, você tem que
fazer um sacrifício temporário de material.
27.c6+?
Um lance impulsivo no apuro de tempo - um
sacrifício de peão ditado pelo desejo de retirar

do rei inimigo a casa c6, após o que a invasão
da dama em g7 parece fatal para as pretas (o
imediato 27."yJ,/jxg7 encontra o mesmo
mecanismo de empate: 27 ... âf3+! 28.'iitxf3
lrxdl +). Mas isso é uma ilusão de ótica! Além
disso, o cavalo em d6 perdeu o seu apoio...
Enquanto isso, 27.âbl! (Tal) teria sido
decisivo: 27 ... âg4+ 28.'iith3 Wxe7 29."yJ,/ff3! -
era necessário ver esse lance terrivelmente forte,
criando ameaças irresistíveis. As pretas não
tinham nada melhor do que 29 ... fil4+ 30.Wg3
l!g4+ 3 I."yJ,/jxg4 "yJ,/jxa3+ (é um pouco mais
resistente transpor para um final perdedor -
3I..."yJ,/jxg4+ 32.Wxg4 b6 33.l2le4 etc.)
32.Wh4 "yJ,/jxc5 33."yJ,/Jxg7+ Wxd6 34.âdl + e
para se evitar o mate elas têm que entregar a
dama.
27...bxc6 28."yJ,/jxg7
A tentativa de corrigir a idéia errada através
de 28."yJ,/Jh2?! não funciona em vista de 28 ... eS!
29."yJ,/Jh7+? We6 30.'i!fxa8 "yJ,/jxa3+ com mate,
ou 29.âd2(d3) We6! com vantagem óbvia para
as pretas.
28.. .ilf3+!
Shamkovich nã viu esse contrajogo astuto.
Agora subitamente ele se encontra na posição
de ter que salvar a partida.
29.Wxf3 'i!Hxdl+ 30.We3 'i!Hcl+!?
Um xeque de sondagem: para onde irá o rei?
As pretas já têm o empate nas mãos: 30 ... "yJ,/Jh3+
31.Wd2 "yJ,/ja2+ 32.Wcl! "yJ,/jxa3+ 33.Wc2
!fa4+ 34.Wcl. Algumas chances de vitória são
prometidas por 31. .. c5 !, mas aqui as brancas se
salvam através de uma surpreendente
construção "no ar" - 32.~b7! (32 ..i.g5+
Wc6!) 32 ... "yJ,/jdS+ (32 ... "yJ,/jxb7 33.i.xc5+ Wc6
34.'i!Vg2+) 33.Wel Wc6 (33 ... ife4+ 34.Wfl !
!ff3+ 35.Wel ou 34 ... ~l+ 35.Wf2 "yJ,/jxh2+
36.We3 com empate) 34 ..i.xcS! e as pretas são
incapazes de derrubar essa construção:
34 ... âbs 35.~as+ Wb5 36 ..i.b4 ou
34 ... ~hl+ 35.Wd2 "yJ,/jxh2+ 36.Wc3 âc8!
(uma emboscada) 37.a4! ~h3+ 38.Wd2,
mantendo o equilibrio.
Viktor, o Terrível
31.Wd3?
O descuido final. Seria essencial 31. Wf3,
quando as pretas não têm nada melhor do que
31...~dl+ 32.We3 "yJ,/Jh3+ 33.Wd2 c5! (cf. o
comentário ao 30º lance das pretas). Agora tudo
termina de forma prosaica.
31...'i!Hbl+ 32.'iite3 'i!Hg6! (agora as brancas
sofrem perda decisiva de material) 33.ii'b2
Wxe7 34.'i!Hb7+ Wxd6 35.'i!HxaS 'i!Hgl+ e
nesse final de dama com dois peões a mais as
pretas venceram sem dificuldades.
Depois, graças aos bons ventos da sorte,
Kortchnoi obteve mais três vitórias seguidas
contra Gufeld, Llberzon e Polugaevsky, mas
seus principais concorrentes também foram
rápidos: Petrosian empatou (ambos com 7½ em
10); Geller e Bronstein ficaram um ponto atrás.
Bronstein escreveu logo depois: "O torneio
começou com um ritmo um pouco lento. Não
vendo boas combinações, e não tendo motivo
para agitação, os espectadores exclamavam:
'Sem Tal não tem graça!'. Mas de repente, tudo
mudou. Apareceu um substituto à altura de Tal,
era Kortchnoi, jogador de excepcional talento e
estilo original. Seu modo de jogar, de combate
intransigente, influenciou positivamente toda a
disputa".
Segundo Tal e Koblenz, "no início da
segunda metade do torneio, todos queriam
saber se Kortchnoi seria capaz de continuar
ganhando; afinal, seu adversário na 1Oª rodada
era o até então invencível Polugaesvsky".
Esta partida tornou-se antológica para a
Defesa Grünfeld, passando a figurar em todos
29
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
os manuais de aberturas. A partida foi
extremamente aguda e, nesta luta complicada e
fora dos padrões, Kortchnoi simplesmente
provou que era mais forte e apareceu em todo
seu brilho; quando começou o jogo concreto,
de cálculo, entrou em ação o seu famoso
contra-ataque. Foi sob a influência desta partida
que, meio século depois, tomei a Defesa
Grünfeld como arma, incluindo a variante com
7...';zja6.
Partida 5
L. Polugaevsky - V. Kortchnoi
27° Campeonato da URSS
Leningrado 1960, 10ª rodada
Defesa Grünfeld D97
1.d4 êuf6 2.c4 g6 3.êuc3 d5 4/2it3 .1J..g7
5.'i!fb3 dxc4 6.'i!fxc4 0-0 7.e4 êzJa6
"Em meados do século 20 esse lance
raramente era utilizado. Dessa forma, ao jogá-lo
eu contava com o efeito de uma ligeira
novidade." (Kortchnoi). E de fato, naquela
época jogava-se a variante Smyslov - 7 ... ~g4
8.~e3 ê2ifd7 (cf. volume 2).
8.~e2
Ou 8 ..1J..f4 c5, como nas minhas partidas com
Topalov (Sarajevo 1999) e Piket (Wijk aan Zee
2000).
8 ... c5 9.d5 e6 10.0-0 exd5 11.exdS iJ..f5
A resposta padrão, conduzindo a uma tab!Ja
da segunda metade dos anos 1980 e da década
de 1990. Hoje em dia, também é popular o lan-
ce incomum 1 l...ê2ib4 com a idéia de 12 ..1:â.dl
b6, explorando a posição do cavalo em b4.
30
12.a3
Evitando a invasão do cavalo preto em b4.
Mas esse é um plano lento (a teoria estava então
dando os seus primeiros e tímidos passos) e é
melhor para as brancas simplesmente comple-
tarem o seu desenvolvimento. Nos matches pelo
Campeonato Mundial contra mim Karpov
jogou 12 ..1J..f4 ou 12 ..Ê'.dl (como fizeram mais
tarde Piket e Anand), enquanto Timman e
Khalifman seguem 12 ..1J..e3. Para maiores deta-
lhes, veja o volume 2 da série Xadrez Moderno.
Casualmente, Kortchnoi avaliou a posição do
diagrama como favorável às brancas, con-
cluindo que "graças ao seu forte peão central
elas teriam uma vantagem, embora Polugaevsky
não fosse capaz de demonstrar isso, assim
como vários adversários de Kasparov." Apesar
disso, eu imagino que as pretas realmente
enfrentam problemas difíceis. Assim, em minha
partida contra Piket (Amsterdã 1995), fui
incapaz de conter o avanço do peão d passado.
E eu imaginei que em nossa era é realmente
muito perigoso jogar tais posições tão
arriscadas e com riscos estratégicos após um
longo intervalo de tempo, confiando apenas em
impressões residuais de muitos anos antes.
12 ....Ê'.eS 13 ..Ê'.dl (é mais agudo 13.ii.f4 liJe4
14.liJb5!? - Bronstein) 13 ... êzJe4 (também é
bom 13 ... 'i!fb6) 14 ..1J..e3 êzJd6!?
As pretas novamente têm muitas possi-
bilidades, mas jogam da forma mais criativa.
15.'i!ff4 (15.~b3 liJc7 com igualdade)
15 ... ê2le4?!
Voltando outra vez! ''As brancas não
previram esse lance, é claro. Parece ilógico, mas
cria uma quantidade de ameaças! Em particular,
16 ... êiJxc3 l 7.bxc3 1âe4." (Kortchnoi).
É curioso como a avaliação do salto do cavalo
mudou: Tal generosamente lhe deu dois pontos
de exclamação, Kortchnoi e ontros comen-
taristas deram um, mas no recente livro de
Kortchnoi Minhas Melhores Partidas (Olms 2001)
não há ponto de exclamação. Eu vou mais
longe: o lance, embora inesperado, é, de forma
objetiva, duvidoso...
 Viktor, o Terrível

16.~b5?! adversário não forem imediatamente aparentes.

É vantajoso para as pretas 16.!il.xa6 bxa6
17.~a4 l!fa5 18.~xcS ~xc5 19.b4 l!fd8! etc.
Após longa ponderação, Polugaevsky sacrificou
seu peão b2, para criar seu próprio jogo,
baseado no fortalecimento de seu peão d.
Karpov atuou de forma similar contra mim na
19" partida do nosso match de 1986.
Mas em dada instância, seria melhor 16.ll.d3 !,
para explorar não somente o fortalecimento do
peão d, como também o pobremente defendido
rei preto. Se 16 ... !il.xc3 17.bxc3 ~xc3, então
18.!fh6! ~xdl (a idéia de Kortchnoi 18 ... "i¼ff6
é duvidosa devido à resposta 19.!il.xfS '%!fxf5
20.~gS! ou 19 ... ~xdl 20.:ãxdl "i¼fxf5 17.:ãa2
21.~gS :ãad8 22."i¼Vxh7+ Wf8 23.:ãel !, Uma continuação tentadora, mas parecia
vencendo), por exemplo: mais promissor 17.:ãabl !il.g7 18.g4 (18.d6!?)
1) 19.:ãxdl f6 (19 ... ll.xd3?! 20.~gS!) 18 ...!il.d7 19.!il.d3 (combatendo o cavalo de e4)
20.il.xfS gxf5 21.~h4 :ãe5, "e seria possível 19 ...ll.xb5 20.it.xe4 (recomendado por Geller)
estancar o ataque das brancas" (Kortchnoi), 20 ... ~c7 21.~g5!? .tf6 22.h4 ou 20 ... "i¼Vd7
mas após 21.d6! isso não é fácil de fazer. As 21.d6 :ãxe4 ( esse sacrifício de qualidade é
pretas poderiam provavelmente devolver a
praticamente forçado: 21...B'.e6 22.Ji.d5!)
qualidade - 19 ...:ãxe3!? 20.fxe3 '%!ff8, quando
22."i¼fxe4 it.c6 23.'%!ff4 :ãe8 24.h3 com um
elas realmente estancam o ataque: 21. "i¼f xf8+
'i!?xf8 22.!il.xfS gxf5 23.~h4 b5 24.~xfS b4 jogo muito complicado, mas o peão passado
25.axb4 cxb4 etc.; permite às brancas encararem o futuro com
2) 19.~gS! "i¼Vxg5 (era isso que Kortchnoi confiança. É mais seguro 19 ... '%!ff6!
planejava jogar; se 19 ... "i¼ff6 20.'%!fxh7+ Wf8 (Kortchnoi), embora após 20.'%!fxf6 it.xf6
21..lâxdl !il.xd3 as brancas tinham 22.~e6+! 21.g5 o cavalo em b5 e o peão passado
~xe6 23.dxe6 g5 24."i¼fxd3, vencendo) restrinjam a posição das pretas, no momento
20.ii.xgS! :ãel+ 21.ll.fl ii.d3 22.h3!! seu peão a mais não é sentido e a posição é de
(ninguém percebeu esse lance tranqüilo; equilibrio dinâmico.
22.:ãxdl :ãxdl 23.g4 it.xfl 24.h4 ~c7 25.!il.f6 17...ll.g7 18.Ji.c4
~e8 26.!il.e7 ~g7 27.!il.f6 ~e8, com Aumentando a pressão e ameaçando um
igualdade) 22 ... :ãxfl+ 23.Wh2 ~c7 24.!il.f6 possível d5---d6. ''As brancas rejeitam 18.d6
~e8 25.it.e7 com chances de vitória: 25 ... ~c7
devido a 18 ... it.e6 19.'%!fxe4 ii.xa2 20.~xb7
26.ll.xcS ~xd5 27.ii.d4 f6 28."i¼Vd2! ou
~b6! 21.~xb6 axb6, quando elas têm
25 ... ~g7 26.'%!fd2!, e a móvel dama branca é
compensação insuficiente pelo material
mais forte do que o exército descoordenado das
pretas. perdido. Mas o bispo em c4 corta a saída da
16...ll.xb2 dama. Uma alternativa seria o não apressado
É claro! "Kortchnoi continua Kortchnoi." porém mais seguro 18 .h3 !? ." (Kortchnoi).
(fal). Ele é fiel ao seu credo criativo: sempre Nesse caso, as pretas poderiam iniciar o ataque
aceita sacrifícios, se os benefícios para o ao cavalo de b5 - 18 ... '%!fa5! (ameaçando

31
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

... lZlb4) 19.lz:ld2 c4! 20 ..ixc4 ~a4 ou 19 ..ic4

l!ra4 20..l:kl .id7! com um jogo confortável.
18 ...~f6!
Planejando tanto ... fie4 como ... lz:lh5. É
impressionante a agilidade deste cavalo! E como
é notável a engenhosidade em uma posição
altamente complicada! Não surpreende que os
olhos de Polugaevsky estivessem fascinados:
eram muitas as continuações tentadoras...
19.~d6?!
Kortchnoi condena esse lance, sugerindo ao
invés dele 19.~d6 ou 19."i!fg3 "com chances
aproximadamente iguais."
Entretanto, se
19.~d6 então 19 ... ~aS! e Ei.ad8 e se 19.~g3
- 19 ... Ei.e4 20 ..ie2 (20 ..id3? ~g4) 20 ... lZlhS
21."i!fd6 il.d7!, em ambos os casos com
iniciativa para as pretas.
Por outro lado, 19.lz:lg5 !? teria pelo menos
justificado o lance ii.c4 e mantido uma posição
complicada: 19.. !~::ig4?! 20.d6 ou 19 ... ê2:lh5?!
20.~f3 h6 21.lZlxf7 "i!fd7 22.d6 são perigosas
para as pretas e então elas têm que tomar
cuidado com o vento - 19 ... h6 20.lz:lxf7!
<tlxfl 21.ê2:ld6+ <tlf8 (se 21...<tlg8 também há
22.~xfS) 22.lz:lxe8 "i!fxe8. As pretas têm duas
peças pela torre, mas o poderoso peão passado
das brancas, por todas as aparências, dá a elas
chances iguais.
19 ... ~h5 20.lz:lxb7 "i!fc8 21."i!fd6?
Aparentemente natural, mas de fato o lance
perdedor. Seria essencial 21. ê2:ld6 e embora
após 21 ... ~8 "as brancas tivessem perdido
material sem compensação suficiente"
(Kortchnoi), elas teriam um interessante
sacrifício de dama - 22.'i!fxfS! gxf5 23.lz:lxe8
~xe8 24.ii.xa6 'i!fa4 25 ..ie2 com chances de
salvação. É verdade, ao jogarem 25 ... c4!? ou
25 ... ê2:lf6! as pretas no entanto manteriam uma
vantagem óbvia.
21. .. 1.tfüS!
Uma resposta brilhante, completamente não
percebida por Polugaevsky. Agora se ameaça
tanto ..."i!Hxb7 como ....if8 e fica claro que as
brancas estão prestes a perder material. Seu
ataque provou ser uma miragem, enquanto as
peças pretas, de forma sutil e como por mágica,
ocupam as casas necessárias.
22 ..ib5 (22.h3 'i!f xb7 23.g4 .ih 1 ou
23 ... .ie4, vencendo) 22 ...Ei.xe3!
"Evitando uma armadilha esperta: 22 ....if8?
23 ..ixe8 il.xd6 24.l2:\xd6 e o cenário muda
radicalmente." (Tal).
23.fxe3 .if8 (também são possíveis o
imediato 23 ... ifxb7 24.il.c6 'i!fb6 ou
24.'i!f xcS ê2:lf6) 24."i!fd8
Não teria ajudado jogar 24.ifeS 'i!fxb7
25.Ei.b2?! lz::id7 26 ..ic6 'i:lfc8 (26 ... 'i!fxc6!?)
27.'i!fc3 il.g7 28.'i!fd2 .1i.xb2 29 ..ixa8 'i!fxa8
30.'i:lfxb2 lz::ihf6 (Kortchnoi) ou 25.e4 'i!fxb5
26.exfS ê2:ld7, vencendo.
24 ...'i!fxb7 2S.il.c4
"Seria um pouco mais resistente 25.Ei.b2"
(Kortchnoi), embora após 25 ... lz::id7 as brancas
perderiam tanto com 26 ..ic6 'i:lf xb2 27.'i!fxa8
'i!fxa3, ou 26 ..ixd7 "i!fxb2 27.'i!fxa8 .fi.xd7.
25 ...lz::ic6! (mais vistoso do que 25 ... l2::id7)
26.'i!fh4 (26.dxc6 ~xd8 27.cxb7 ~xdl +
28.<tlf2 ~bl 29 ..idS il.e6, vencendo)
26 ... lz::ia5 27 ..tfl 'i!fb3 28.!'iad2 "i!fxe3+
29.'i!i>hl il.e7?
"Desde o lance 25 os dois jogadores estão
envolvidos em um feroz apuro de tempo. Aqui

32

as pretas teriam evitado o avanço do peão d
através de 29 ... êz::ib7!." (Kortchnoi)
30.l!fa4 l!fc3?!
De acordo com Kortchnoi, essa é "a única
defesa contra as ameaças de E'.e2 e l!fxa5." Mas
talvez 30 ... i.d8!? tivesse sido melhor.
31.d6? (seria mais resistente 31.i.d3 !)
31 ...ll.f6 32.d7
"Na variante 32.!!d3 i.xd3 33J~xd3 l!f cl
34.!idl as pretas teriam vencido através de
34 ... l!fh6!. Também não é comum (no apuro
de tempo!) enxergar a seguinte variante: 32.g4
!fxf3+ 33.~g2 l!fxg4 34.l!fxg4 ~xg4
35.~xa8 .txdl 36.Ê'.xdl ê2Jb3!." (Kortchnoi)
32 ... E'.d8 33.E'.e2 <tlg7 34.Wgl l!fb3
3S.l!fxb3 l2Jxb3 36.h3?! (36.l2Je5 l2Jd4)
36 ... li)g3 ("esse cavalo novamente tem algo a
dizer", comentou Tal com um sorriso) 37.E'.e3
~xfl 38.!!xb3 ii.c2 0-1
Um exemplo clássico de contra-ataque!
Depois Viktor teve empates com Bronstein,
Petrosian e Averbakh e derrotou Gurgenidze e
Spassky. Com 11 em 15, liderou com Petrosian,
com meio ponto à frente de Geller. Mas, nessa
altura, quatro rodadas antes do término da
cansativa maratona, um terrível capricho da
sorte aguardava Kortchnoi.
Partida 6
V. Bagirov - V. Kortchnoi
27° Campeonato da URSS,
Leningrado 1960, 16ª rodada
Viktor, o Terrível
26 ... ii.c3 27.ll.xa8?! (27 .E'.xe3 ! l!Hxe3
28.êz::lxt7! :Sxdl 29.êz::ixh6+ teria forçado o
empate) e aqui Kortchnoi, que planejava jogar
27 ... ~xel 28Jâxel (28.i.b7? :ãxd6 29.exd6
e2!, vencendo) 28 .. Jâxa8 29.ib'f3 e2, por
engano tomou... o bispo de a6!
Viktor Vasiliev escreve: "Tudo se passou
literalmente em questão de segundos, quando
Kortchnoi retirou o bispo do tabuleiro e,
empalidecendo, parou, com a mão levantada.
Cruzando o olhar com Bagirov, sussurrou bem
baixinho: 'Abandono'. De repente, com um
esforço para não deixar a mão tremer, assinou
as planilhas da partida, levantou-se e saiu sem
olhar para os lados, sem ver nem ouvir nada. Se
ele tivesse ouvido como as pessoas do auditório
do Palácio de Educação Física de Leningrado
tinham começado a murmurar, ao perceberem
o que tinha acontecido... Ele foi embora,
atormentado com uma coisa: como isto foi
acontecer? Perder meio ponto ou talvez até um
ponto de maneira tão medíocre e ridícula!
Afinal, a posição de Bagirov já era pior e, além
disso, ele caminhava para o apuro de tempo.
Que estupidez, pegar o bispo errado e de
repente perder tudo: uma torre, a partida e com
ela as esperanças do título há tanto esperado de
Campeão da URSS..."
Na verdade, este foi um golpe terrível, do
qual poucos poderiam se refazer. A posição no
grupo que liderava mudou: agora Geller subira
meio ponto. Na rodada seguinte, correndo
grande risco e passando perto da derrota,
Kortchnoi conseguiu vencer Krogius.
Na opinião de Tal e Koblenz, o "equívoco
ridículo" contra Bagirov não perturbou
Kortchnoi. Eis o que eles escreveram:
"Kortchnoi possui um dos estilos mais
característicos, que não é muito fácil de
adivinhar. Aliás, um dos autores deste artigo
(não é difícil adivinhar qual deles), não
conseguiu descobrir a chave apropriada do
enigma do cidadão de Leningrado. Talvez, a
partida com Krogius permitirá dar um passo
33
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
nesse sentido. A abertura foi bastante tran-
qüila... De repente, Kortchnoi mudou o curso
da disputa e o peão isolado do adversário ficou
bastante forte. O plano podia ser incorreto no
princípio, mas continha muitas armadilhas, de
uma das quais Krogius não conseguiu escapar".
No entanto, nesse dia os seus rivais também
ganharam, mantendo o status quo: Geller -12½
em 17, Kortchnoi e Petrosian - 12.
Depois veio a penúltima rodada, com o
encontro decisivo com Geller. "De fato, é
muito interessante que os líderes se encontrem
no final e especialmente se tiverem um estilo de
jogo atraente. Esta partida atraiu como um imã
a atenção de todo o auditório."(fal e Koblenz).
Era evidente que só uma vitória (com as
pretas) daria a Kortchnoi chances reais para a
medalha de ouro. Kortchnoi tinha que vencer
um oponente que gozava de ótima reputação de
jogar com as brancas e que, além disso, estava
em excelente forma, pois, antes desta partida,
Geller tinha conquistado 9 pontos em 10. Nesta
ocasião ele se contentaria com o empate e é
difícil imaginar como alguém pudesse jogar
conscientemente para vencer com as pretas um
Grande Mestre de elite, famoso pela preparação
profunda das aberturas. No entanto, Kortchnoi
conseguiu criar sérios problemas para Geller,
não só problemas enxadrísticos, mas também
psicológicos, que no final das contas se
tornaram insolúveis mesmo para Geller.
Partida 7
E. Geller - V. Kortchnoi
27° Campeonato da URSS,
Leningrado 1960, 18ª rodada
Defesa Afekhine B03
1.e4 ~f6
A primeira surpresa: as brancas são
convidadas a tomar espaço e lutar por uma
vantagem, mas... em uma partida aguda e muito
complicada! "A escolha da abertura mais ou
menos correspondia com minha disposição
34
imprudente; embora a Defesa Alekhine não seja
totalmente correta, é uma abertura de luta. Não
é acidental que ocasionalmente ela seja utilizada
por Fischer, Larsen e Hort." (Kortchnoi)
Além disso, essa defesa nunca havia ocorrido
em alguma das partidas sérias de Geller. Mas,
conhecendo seu maximalismo inato, pode-se
admitir que ele tentaria "castigar" seu
adversário pela sua audácia, ele seria arrastado
pelo redemoinho da batalha e enquanto isso
poderia esquecer seus objetivos competitivos -
sobre o fato de que precisasse somente de um
empate. E foi exatamente isso o que aconteceu!
2.e5 ~d5 3.d4 d6 4.c4
Mais tarde, até o fim da sua carreira, Geller
quase que exclusivamente jogou 4.0f3 (em
particular, contra Kortchnoi, no Torneio
Interzonal de Estocolmo 1962, 3ª rodada).
4 ... ~b6 5.f4 (a variante mais agressiva, mas
também a de mais duplo gume) 5 ... .if5
(5 ... dxe5 6.fxe5 c5?! - volume 2, partida 60)
6.~c3 dxe5 7.fxe5 e6 8.0f3 .ie7
Geralmente é jogado 8 ... ~c6! 9 ..ie3 .ig4,
9 ... ~d7 ou, mais freqüentemente, 9 ... .ie7
10.d5!? com grandes complicações, as quais
então eram consideradas favoráveis às brancas,
mas agora são consideradas aceitáveis para as
pretas.
9..ie2 (como mais tarde ficará evidente, seria
mais claro 9 ..id3!) 9...0--0 10.0--0 f6
Ao minar o centro do adversário as pretas
resolvem seus problemas de abertura, embora
as brancas mantenham uma certa vantagem de
espaço.

u.Af4?!
A ausência do cavalo em c6 induz Geller a
procurar novos caminhos, mas nesse esquema o
bispo poderia defender o peão de d4. Não tem
sentido 11.c5 lZ:ld5 12.lZ:lh4 em vista de
12 .. .lZ:lxc3 13.bxc3 !íl...e4. Após 1 l.~e3, fora o
lance l 1...l2:Jc6 as pretas também podem jogar
l I...fxe5 12.lZ:lxe5 lZ:l8d7. A linha que talvez
mellhor correspondesse com os objetivos das
brancas no campeonato seria l l .exf6 .1i.xf6
12.Ae3 lZ:lc6 (as pretas transpuseram para a
variante 8 ... lZ:lc6 9.!íl...e3 !íl...e7, tendo evitado
10.d5!?) 13.l!Vd2 l!Ve8 (13 ... Yie7!?) 14J~[adl
&18 15.Y!!Ycl com uma vantagem mínima para
as brancas (Suetin-Kortchnoi, 20º Campeonato
da URSS, Moscou 1952; Feldman-Kortchnoi,
Leningrado 1953).
A conclusão de Kortchnoi foi inequívoca:
"Então, eu tinha alguma experiência com isso,
em comparação com Geller, que sabia dessa
posição apenas por ter ouvido falar. Minha
escolha da abertura havia sido correta! Agora
era somente uma questão de jogar bem."
11 •••l2:Jc6 (colocando pressão de imediato no
peão d) 12.exf6 !íl...xf6 13.dS
Talvez Geller quisesse jogar 13.l2:Jb5, mas
aqui ele percebeu que isso era um furo n'água
em vis ta de 13 .. J~f7 (ou 13 ...:Sc8 com a
mesma idéia de a7-a6) 14.d5 exd5 15.c5 e
agora não 15 ... !íl...xb2 16.cxb6! .1i.xal 17 .bxc7
!fe7 18.lZ:lg5, que parece muito perigoso para
as pretas" (Kortchnoi), mas l 5 ... lZ:lc4!
l6.lZ:lxc7 lZ:lxb2 (16 ... lZ:le3!?) 17.\l!i'd2 (se
l7.\l!i'b3(xd5), então 17 ... B'.c8) 17 ... d4! com
jogo muito agudo.
13 •••lZ:laS
De forma bastante estranha as brancas já
enfrentam problemas muito difíceis: seu peão
c4 está pendurado e o bispo preto está restrito
na ala da dama. Algumas decisões importantes
têm que ser tomadas...
14.l2le5!?
''Aqui não há dúvida de que inicialmente
Geller planejasse jogar de forma diferente, por
Viktor, o Terrível
exemplo 14.d6 cxd6 15.ii.xd6, mas ele não
gostou de 15 .. .:Sf7 16.c5 lZ:lbc4, quando as
ameaças das pretas - ... lZ:lxb2, ... l2:Je3 e ... l2:Jxd6
- parecem difíceis de serem paradas. Mas agora
o cavalo branco termina em um estado de
suspensão!" (Kortchnoi).
Mas o lance na partida foi aparentemente o
melhor. É desfavorável para as brancas jogar
14.lZ:ld4?! lZ:laxc4 15.lZ:lxe6 ~xe6 16.dxe6
'i!fxdl! 17.:S.axdl (17.lZ:lxdl &e8) 17 ... lZ:lxb2
18.:S.cl :ãae8 ou o mais agudo 14.lZ:lb5 lZ:laxc4!
(o lance de Kortchnoi 14 ...!íl...xb2 não é claro,
devido a 15.!íl...xc7) 15.!íl...xc4 (15.dxe6 Y!!Yxdl e
lZ:lxb2) 15 ... lZ:lxc4 16.lZ:lxc7 :S.c8 17.lZ:lxe6
!íl...xe6 18.dxe6 \l!i'b6+ 19.@hl ~xe6 etc. E o
objetivo de um empate através de 14.dxe6
!íl...xe6 (14 ... lZ:laxc4 15.!íl...xc4 lZ:lxc4 16.l!fd5!)
15.c5 .1i.xc3 16.\l!i'xd8 :ãaxd8 17.!íl...xc7! .1i.xb2
18.:S.ab 1 não era com o que Geller sonhava
quando ele iniciou a partida e jogou l l.Si.f4?!.
14 ....1i.xe5
"Um erro, típico da fase inicial na minha
carreira enxadristica: no esforço de conquistar
material o mais rápido possível, subestimei as
possibilidades táticas do adversário," escreveu
Kortchnoi, recomendando 14 ... ~e7!? 15.g4!
( 15. YWd4 :Sad8 ! com a ameaça de ... lZ:lc6)
15 ... i.xe5 16.i.xe5 exd5 (após 16 ... lZ:laxc4
17.gxf5 lZ:lxe5 18.fxe6 ou 18.dxe6 Y!!Yg5+
19.@hl B'.xf5 20.Yib3 B'.e8 21.lZ:lb5 a "cunha"
de e6 equilibra as chances) 17.!íl...d4 Si.e6, "e a
35
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
posição das pretas é mais agradável." O lance
17 ... c5 ! é ainda melhor.
Entretanto, as brancas também podem jogar
de maneira mais forte - 17 .~g3 ! ~e6 18.cxd5
com contrajogo pelo peão, suficiente para o
empate: 18 ... .ã'.xfl + 19.~xfl t2lxd5 20.t2lxd5
'%Wc5+ 21.2i.f2 '%Wxd5 22.iVxd5 2i.xd5 23.Bdl
c6 24.b4 t2lc4 25.~xc4 ~xc4 26.Bd7 e ~d4
ou 18 ... t2lxd5 19.t2lxd5 iVc5+ 20.Bf2 Bxf2
21.Bcl iVxd5 22.iVxd5 ~xd5 23.@xf2 t2lc6
24.~xc7 e Bdl, tendo por objetivo a troca das
torres e do bispo de casas brancas pelo cavalo
de c6.
Do ponto de vista prático, 14 ... iVe7 teria
sido um pouco mais eficaz, pois não seria fácil
para as brancas encontrar uma forma de
desembaraçar o seu bloco de peças e decidirem-
se pelo enfraquecedor 15.g4!. Entretanto, isso
não significa que 14 ... ~xe5 tenha sido um erro.
Uma análise imparcial mostra que essas duas
continuações são aproximadamente equiva-
lentes.
15.2i.xe5 t2laxc4 16.2i.xc4 t2lxc4 17.2i.xg7!
"Eu não vi esse lance!", admitiu Kortchnoi.
''A segurança do rei é um dos fatores mais
importantes do meio-jogo. Agora são as
brancas que têm a iniciativa e as pretas têm que
lutar pela igualdade." Na minha opinião, isso é
um exagero: Kortchnoi encontra uma possi-
bilidade muito interessante de contrajogo.
17 ... t2le3! (após 17 ... @xg7 18.iVd4+ e
iVxc4 as brancas realmente têm a iniciativa)
18.iVe2!?
O maximalismo de Geller se mostra por si
mesmo. Para conseguir um empate seria mais
seguro jogar 18.iVd4 iVg5 19.Bf2 t2lc2!
20.Bxc2 iVxg7, com igualdade. (Kortchnoi)
18 ... t2lxfl 19.2i.xf8 t2lxh2!
Agora as coisas também são inquietantes para
o rei branco. Foi alcançada uma posição
altamente incomum, na qual ambos os reis
estão expostos, mas as pretas são as primeiras a
dar xeques e isso permite a elas chances de
confundir seu adversário.
36
20 ..1i.c5
Após 20.@xh2? ~4+ 21.@gl iVd4+! (não
é tão claro 21...Bxf8 22.iVe5!) 22.@h2 Bxf8
23.Bdl (23.dxe6 Bf6, vencendo - Kortchnoi)
23 ... iVf4+ 24.g3 iVg4 o peão a mais dará a
vitória às pretas.
E no caso de 20.dxe6 t2lg4 21.e7 as brancas
balançariam à beira do abismo: 21... '%W d6
22.iVf.3 2i.e6 23.t2le4 iYhl+ 24.@fl iVe5!
25.@gl! ou 21...iVd4+ 22.@hl iVf4 23.g3
iVxg3 24.Bfl ! (após o lance de Kortchnoi
24.'%Wc4+? há o decisivo 24 ... Si.e6! 25.iVxe6+
@h8) 24 ... ~d7 25.'%Wc4+ @h8 26.~g7+!
@xg7 27.'%Wf7+ @h6 28.iVf8+ com xeque
perpétuo.
''A notícia do empate na partida
Bagirov-Petrosian surgiu como um incentivo
aos líderes: eles começaram a jogar com grande
intensidade. E o resultado foi provavelmente a
partida mais interessante do campeonato." (Tal,
Koblenz)
20 ... lz:íg4!
A resposta mais desagradável para as brancas.
As pretas criam a ameaça de ... ~4-h2+, a
qual, entretanto, não é mortal: seu rei também
está exposto e o peão branco força o caminho
em direção a e7. "Mas no final eu joguei a
partida da minha vida!" (Kortchnoi)
21.dxe6 iVh4 22.e7 "i!fh2+ (22 ... Be8?
23.iVc4+ @g7 24.'%Wf4! Kortchnoi) 23.';!;>fl
"i!ff4+ 24.';!;>gl
Geller, de forma instintiva, move seu rei para

longe do centro, embora 24.<i!?el !? com a
ameaça de êZJdS fosse perfeitamente seguro e
tivesse conduzido rapidamente ao empate tão
desejado pelas brancas:
1) 24 ... i9g3+ 25.Wdl Wf7 (Kortchnoi;
25 ... êZleS!? 26.êZldS c6, com igualdade)
26.Wfc4+ Wg6 27.~cl êZ::ieS 28.êZ::ie2 ii°d3+
29.Wfxd3 êZlxd3, com empate, ou simplesmente
25.Wd2, forçando o xeque perpétuo -
25 ... Wff4+ 26.Wel (26.Wdl êZlf6! e as brancas
perdem após 27.êZld5? 'i!Ua4+ 28.b3 'i!Ud7
Kortchnoi) 26 ... 'i!Ug3+;
2) 24 ... :S.e8 25.êZldS! i9h2! (mas não
25 ... 'i!Ug3+? 26.<;;t?d2 b6 27.âfl!, vencendo -
Kortchnoi) 26.êZlxc7 :S.xe7 com xeque
perpétuo inevitável, ou 26.Wd2!? 'i!Uh6+
27.Wc3 lZlf6 28.êZlxc7 êZle4+ 29.<;;t?b4 êZlxc5
30.Wfc4+ i;_e6 31.i9xc5 com a garantia do
empate.
24 ...l'ieS (é claro, evitando a repetição de
lances) 25.'i!Uf3
Agora 25.êZJdS? era mau, em função de
25 ... 'i!Uh2+ 26.Wfl c6! (Kortchnoi).
25 ...'i!Uh2+ 26.Wfl 'i!Uh5!
27.'i!UdS+?
Jogado no calor da batalha. Após o tranqüilo
27.Wgl! as pretas dificilmente ficariam satis-
feitas com 27 ... c6 28.'i!Uf4! ou 27 ... b6
28.'i!Uds+ 't!?g7 29.i;_d4+ Wg6 30.'i!Uc6+ 't!?f7
3 l.'i!fxc7 "ãxe7 32.'i!Uf4 e então elas teriam que
suplicar por um empate por repetição de lances
- 2 7 ... 'i!Uh2+ 28 s!?fl 'i!Uhs ! (é ruim para elas
Viktor, o Terrível
28 ... 'i!Uhl +? 29.We2 'i!Uxal 30.WfxfS Wfxb2+
31. Wd3 etc.)
Kortchnoi fez um comentário valioso: "Em
sua carreira, Geller jogou e venceu muitos jogos
decisivos. Quando ele precisava ganhar e o
adversário se satisfazia com o empate, ele
calmamente quebrava a resistência do
adversário. Ele raramente se encontrava na
situação oposta - a de lutar por um empate. E
nessa partida, seus nervos o derrubaram. Aliás,
situações similares também ocorreram comigo
e nem sempre saí com honra de uma situação
difícil."
27 .. .<:J;;g7 28.'i!Ud4+?!
Somente um erro - e já não é fácil para as
brancas coordenarem suas peças. "O lance de
desenvolvimento 28.:Sel era sem dúvida mais
forte, embora após 28... ~d3+! 29.i9xd3
'i!Uxc5 30.'i!Ug3 h5 as pretas se mostrassem
melhor, pois 31.'i!Uh4? não é possível devido a
3 l...'i!fc4+ quando as brancas perdem a dama."
(Kortchnoi). E já através de 31.'i!Uf4! E!:xe7
32Jâxe7+ 'i!Uxe7 33.êZldS elas teriam
conquistado o empate: 33 .. ."i!ff7 (33 ... 'i!fd6
34.'t!fg5+) 34.'i!fxt7+ Wxt7 35.êZlxc7 êZle3+
36.Wf2 êZldl+ 37.Wg3 êZlxb2 38.êZlbS.
28... Wg6 (aqui o rei de forma alguma é
ameaçado) 29.êZle2
Uma escolha difícil. Não seria possível
29.'i!Ud8? 'i!Uhl+ 30.i;_gl êZle3+ nem 29.êZldS?
't!fhl+ 30.'t!Kgl i;_d3+ 31.Wel 't!fxgl+
32.~xgl .t.c4 (Kortchnoi), enquanto se
29.:!âdl as pretas teriam respondido 29 ... b6
30.'t!fd8 't!fhl+ 31.Íi.gl 'i!;>f7! 32.:Sel 'i!Uh6!
33.'t!fdS+ ~e6, cercando o peão e7.
29 ...'i!fhl+ 30.tZlgl?
Uma resistência mais obstinada seria
oferecida entrando em um final ruim através de
30.'i!Ugl 'i!Uxgl+ 31.Wxgl b6 32.~a3 êZle3
(Kortchnoi) ou 32 ... cS 33.b4 li:le3! e ... tZlc2.
As pretas teriam tomado o peão e7, mantendo
a iniciativa. Com as damas, elas rapidamente
criam ameaças decisivas ao rei.
30 ... b6 31.'i1fr'd8 li:lf6 32.i;.a3 ~e4 33.'i!fd2
37
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
cS 34.b4 c4 35.bS .ild3+ 0-1
"Essa é uma partida especial, uma daquelas
que moram no meu coração. Jogada quase ao
final de um torneio muito difícil, é repleta de
espírito de luta do início ao fim." (Kortchnoi)
Na rodada final, ambos os rivais de
Kortchnoi obtiveram vitórias, mas ele também
ganhou "por encomenda" de Suetin e assim se
tornou campeão nacional: 1.Kortchnoi - 14 em
19; 2-3.Geller e Petrosian-13½. 4.Bagirov-12;
5.Polugaevsky - 11 ½. 6.Averbakh - 11; 7-
8.Smyslov e Taimanov - 1O½; 9-1 O.Krogius e
Spassky - 10; 11.Simagin - 9½; 12.Brostein -
9, etc.
Brilhante final! E assombrosa agressividade:
+12-3=4. "Minha minuciosa auto-análise
produziu frutos", escreveria Kortchnoi anos
mais tarde. E acrescentaria: "Acho que no sen-
tido de competição, tive aqui um de meus
maiores sucessos". Como vimos, o torneio foi
excelente para ele, não só como competição,
mas também pela sua criatividade. Ele triunfou,
porque seguiu à risca a sua maneira caracte-
rística de jogar. Seus adversários, mesmo os
mais famosos, não conseguiam suportar a
tensão que Kortchnoi criou e que foi a marca
registrada de seu estilo de jogar por muitas
décadas.
Cito a seguir as reações interessantes de dois
participantes daquele campeonato.
Bronstein: "Em princípio, só três jogadores:
Kortchnoi, Petrosian e Geller, disputavam o
primeiro lugar, cada um com seu lema: 'Arriscar
e vencer!' (Kortchnoi); 'Vencer sem correr
risco!' (Petrosian); e 'Criar!' (Geller). Além disto,
em seu estilo, cada um destes três é um
verdadeiro campeão. O jogo do novo Campeão
da URSS é caracterizado pela admirável
tenacidade na defesa, variedade de recursos no
ataque e dominação e maestria virtuosa no
final ... É de se esperar que esta vitória não faça
o jovem Grande Mestre perder a cabeça".
Simagin: "O jogo de Kortchnoi é origina-
líssimo. Em contraste com alguns de seus
38
colegas, ele não tem como objetivo racionalizar
seu estilo de jogar. Logo no começo da partida,
ele impõe complicados quebra-cabeças ao
adversário. Este esforço para criar complicações
leva-o frequentemente a posições duvidosas,
obrigando-o a levar horas para repelir os
ataques do adversário. Ele é um jogador de
excepcional força de vontade e, no campo do
domínio da tática, a meu ver ele não fica atrás
de Tal.
O Drama de Curaçao
No meio de um torneio internacional
organizado pelo Clube Central de Xadrez
(Moscou, maio-junho de 1960), Kortchnoi
venceu cinco partidas sucessivas e ainda
terminou meio ponto atrás dos vencedores: 1-2.
Kholmov e Smyslov - 8½ em 11; Kortchnoi -
8, etc. Mas aqui ele venceu outra partida de
caráter didático na Defesa Grünfeld e contra
um antigo "carrasco", Vladimir Simagin,
especialista nesse tipo de abertura.
Partida 8
V. Simagin - V. Kortchnoi
4
Moscou 1960, 8 rodada
Defesa Griinfeld D91
1.d4 li'lf6 2.li'lf3 g6 3.c4 il.g7 4.li'lc3 (4.g3 -
partidas 100 e 101) 4 ... d5 5.il.g5 (não é a
variante mais agressiva, mas uma das mais
seguras; 5.il.f4 - partida 1; 5.l!fb3 - partida _5)
5 ... li'le4 6.cxd5
Após 6.il.h4 Kortchnoi costumava jogar
6 ... c6 ou 6 ... c5, mas mais tarde a resposta
principal se tornou 6 .. .'~Jxc3 7.bxc3 dxc4 8.e3
b5 ou 8.~a4+ ~d7 9.~xc4 b6.
6 ... li'lxg5
Na partida anterior Simagin- Kortchnoi (20º
Campeonato da URSS, Moscou 1952), após
6 .. . li'lxc3 7.bxc3 'iWxd5 8.e3 ~g4 9.~e2 li'lc6
10.~4 0-0 11.0-0 1:!fe8 12.~g3 as brancas
mantiveram alguma vantagem.

7.làxg5 e6
Na partida Petrosian-Kortchnoi (41 º
úmpeonato da URSS, Moscou 1973) as pretas
surpreenderam seu adversário com um
sacrifício de peão - 7 ... c6 !? e após o cauteloso
8.làf3 (o lance 8.dxc6 é mais crítico) 8... cxd5
9.e3 0--0 10.Ji.e2 l2::ic6 11.0--0 e6 conquistaram
uma posição perfeitamente sólida.
8.làf3
Após a aguda tentativa 8.'i!Hd2 exd5 9.'i!He3+
Wf8 10.'i!Vf4 ~f6 1 l.h4 h6 12.l2::if3 c6 13.e3
.t.e6 14.~d3 l2::id7 15.0---0----0 tanto 15 ... @g7
16.g4 ~8! (Spassky-Stein, 31º Campeonato
da URSS, Leningrado 1963) como 15 ... ~8!
(Bisguier-Kortchnoi, Lone Pine 1979) são
possíveis, em ambos os casos com igualdade.
8 ... exd5 9.e3
Uma nuança de Grande Mestre: o imediato
9.b4 permitiria 9 .. J!fd6! e se 10.~3, então
1O.. .'~Jc6 !. Dessa forma, as brancas são
forçadas a desperdiçar um tempo com 10.a3 e
após 10 ... 0--0 1 l.e3 c6 12.Ji.e2 Ji.f5 13.0--0
làd7 14.l2::ia4?! (14.'i!fb3, com igualdade)
14 ... a5! 15.'i!Hb3?! b5 16.l2::ic5 a4! 17.l!fc3
làb6 18.l2::id2 'fiae8 19.'fifel 'fie7 e as pretas
têm um jogo excelente (Seirawan-Kasparov,
Olimpíada de Dubai 1986).
9... 0--0
Hoje em dia 9 ... a5! 10.Ji.e2 0--0 11.0--0 c6 (1.
lvanov-Tseshkowsky, lerevan 1977) é consi-
derado o mais preciso. É sobre tais micro
nuanças que a moderna teoria das aberturas é
construída.
Viktor, o Terrível
10.Ji.e2
Mais tarde se tomou claro que o clássico
ataque da minoria - 10.b4! é mais enérgico. São
possíveis as seguintes continuações:
1) 10 ... ~e6 1 l.Ji.e2 l2::id7 12.0--0 f5 13 ..lâel
g5 (o mesmo plano do comentário do lance 11
das pretas, mas... contra um adversário muito
mais sofisticado!) 14.El.cl @h8 15.Ji.d3 c6
(15 ... a6!? Karpov) 16.b5 g4 17.l2::id2 c5
18.dxc5 l2::ixc5 19.l2::ib3 l2::ixb3 20.axb3 ! 'B.c8
21. l2::ie2 e as brancas foram capazes de explorar
os buracos na posição do inimigo
(Karpov-Kortchnoi, Londres 1984);
2) 10 ... c6 1 l.Ji.d3!? (11.Ji.e2 Ji.e6 12.0--0
l2::id7 13.'ficl ocorreu na partida de referência
Antoshin-Gligoric, Zagreb 1965) l 1... l2::id7
12.0--0 l2::ib6 13.a4 Ji.e6 14.b5 c5 15.dxc5!
ii.xc3 16.'B.cl Ji.b2 17.!!bl Ji.f6 18.cxb6
(Seirawan-Kortchnoi, Bruxelas 1986)
18 ... 'i!Hxb6 e o par de bispos das pretas
compensa o enfraquecimento do peão isolado
d5;
3) 10 ... 'i!Hd6 1 l.'i!Hb3 Ji.e6 12.Ji.e2 c6
13.0-0 l2::id7 14.lZ:lel a5!? com um jogo
complicado (Barbero-Kortchnoi, Olimpíada de
Novi Sad 1990).
10 ... c6 11.0--0
Se 1 l.b4!? poderia seguir l 1...ii.e6 ou
11.. .a5!? 12.b5 a4 (12 ... c5!?) 13.0--0 l!f a5
(Ostermeyer-Kortchnoi, Biel 1984). Em
qualquer dos casos, a abstinência de b2-b4
torna as coisas mais fáceis para as pretas.
11 ... Ji.e6
Uma pequena inovação, como 11. .. a5!?
(Uhlmann-Simagin, Budapeste 1961). Antiga-
mente era jogado 11. .. 'i!He7, por exemplo:
12.'ficl l2::id7 13.lZ:lel l2::ib6 14.l2::id3 'fie8
15.l2::ic5 l2::ic4 e ... b7-b6, com igualdade
(Vaitonis-Keres, Tartu 1938) ou 12.a3 l2::id7!?
(12 ... ile6 13.'B.cl l2::id7 14.lZ:lel l2::ib6 15.lz:ld3
'fiad8 16.lz:lc5 ii.c8 17.b4 lz:lc4 e b7-b6, com
igualdade, Lasker-Botvinnik, Nottingham
1936) 13.b4 l2:lb6 14.~3 Ji.e6 15.'fifel f5
16.~fl g5 17. lz:le2 lz:lc4 com igualdade
39
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
aproximada (Aronian-Kortchnoi, 24º Cam-
peonato da URSS, Moscou 1957).
12.êZ}a4 (12.b4!?) 12 ...0d7 13.13.cl 'f/e7
14.lDel ãae8
"Uma vez que as brancas não criaram
nenhuma ameaça concreta, as pretas com
tranqüilidade dispõem as suas peças - no
centro, mas com a idéia de em breve lançar um
ataque na ala do rei." (Kortchnoi)
15.0d3 .ilfS (ameaçando ....ilxd4) 16..ilf'3
êZ}b6! 17.êZ}acS 0c4 18.b3 êZ}d6
A colocação ideal para o cavalo em tais
posições com estrutura de peões "Carlsbad".
Nós já vimos isso em duas partidas analisadas
num volume anterior, Bobotsov-Petrosian e
Porstisch-Kasparov (volume 3, partidas 43 e 44).
19.13.el hS! 2O.g3 h4 21..ilg2 ~c8 22.êZ}f4
hxg3 23.hxg3 'f/g5 24 ..ilh3!? (para poder
jogar Wg2 e B'.h 1 após a troca dos bispos de
casas brancas) 24 ... fS!?
As pretas são contrárias às simplificações -
uma clara indicação de que jogam para ganhar!
25.~g2 (agora 25.Wg2 teria deixado o bispo
fora de jogo em h3) 25 ...'i!fh6
Com a intenção óbvia de jogar ... g6-g5,
seguido por ... f5-f4 e possivelmente trans-
ferindo a torre para a coluna h.
26.0xd5!
Simagin, um jogador de estilo de ataque, tenta
alterar o rumo dos acontecimentos com o
auxílio de um sacrifício de peça. As brancas
perderiam após 26.f3? g5 27.0fd3 (27.tz:lh3
40
f4) 27 .. .iâxe3! 28.!l:xe3 ~xd4, enquanto se
26 ..ilf3 g5 27.0h5 Kortchnoi planejava
27 ... iâe7 (ameaçando 28 ... g4 29.tz:lxg7 gxf3)
28 ..i.e2 f4 com um ataque muito forte. Nem
28.lilxg7 iâxg7 29Jãc2 iâh7 3O.lfld3 f4 ou
28.g4 lile4!? 29.gxf5 .ilxf5 3O.tz:\xe4 ~xe4
31 ..ilg4 âef7 etc seriam melhores para as
brancas.
26 ... cxdS 27.it.xdS+ ilf7!
Um momento muito interessante - um
daqueles que falam muito sobre a força de um
jogador. A característica da posição mudou de
forma repentina: após uma longa manobra, é
hora de complicações táticas não claras, com
desequilibrio material. Um jogador tem que
atuar com categorias de posições muito
diferentes e não é qualquer um que seria capaz
de voltar e avaliar corretamente uma situação
nova. Mas Kortchnoi encontrou um caminho
de continuar a luta pela iniciativa através de um
contra-sacrifício de qualidade. "Naquele dia eu
não queria jogar de forma defensiva. De fato, as
brancas realmente entregariam seu bispo
poderoso, que cobre todas as casas brancas
nessa posição, por uma torre desprezível?!"
Vamos ver o que outras continuações
prometiam. No caso de 27 ... tz:\f7 28.tz:lxb7 as
brancas têm três peões pela peça e uma posição
sólida e podemos considerar que tenham feito
uma troca favorável (após 28 ... ~e6 Kortchnoi
indica 29 ..ilg2 "com jogo indefinido''). Após
27 .. .'i!?h8? 28.Wg2 'f!h7 29.iâhl ~6 3O.'i!ff3!
as pretas estão em dificuldades devido à cravada
na coluna h. Seria melhor 27 ... Wh7, mas aqui
também as brancas jogam 28.Wg2! (ao invés da
sugestão de Kortchnoi 28.f4 g5 29.B'.c2 'i!ff6
3O.!!h2+ ~6 31.Wf2 <ilg7 com vantagem
para as pretas) 28 ... 'f/g5 29.B'.hl+ ~h6
3O.lild3 ou 3O.l!ff3 com as idéias de tz:\xb7 e
tz:ld3-e5, assim como IDi4 e 13.chl, mantendo
compensação real pela peça sacrificada.
28.e4!?
As brancas continuam a jogar pela abertura
da posição, com a esperança de explorar a

cravatura da torre. ''A ameaça era ... b7-b6 e
após a retirada do cavalo - ... St.b7 ou ... St.e6
(Kortchnoi). Se 28.~xf7+ (28.l!ff3 g5!) teria
seguido 28 ... êuxf7 (não é tão claro 28 ... <i!?xf7
29.!ff3 !'!h8 30.'i!fd5+) 29.'JJ!if3 g5!. Agora é
mau jogar 30.êuxb7 g4 3 L'JJ!id5 .1Le6 32.~5
(32.!fc6 .:S:c8 e ameaça ... êug5-f3+ força as
brancas a entregarem a dama) 32 ... .:S:b8
seguido por ... êug5-f3+ e um ataque terrivel-
mente forte nas casas brancas. O prudente
30.!fhl (30.'JJ!id5 :ãd8) 30 ... 'JJ!ixhl+ 31.<i!?xhl
12mbém é favorável às pretas em vista de
31...b6 32.<Lld3 .1Lb7+ 33.<i!?gl gLf3!.
28...fxe4
Outra decisão não trivial. A seqüência 28 ... f4
(mas não 28 ... b6? 29.e5) 29.e5 fxg3 30.fxg3
1!fh3 31.'JJ!if3 teria conduzido a um jogo
complicado. Mas aqui não seria fácil para as
pretas desenvolverem um ataque ao rei e a
dupla de peões passados centrais teria dado às
brancas perspectivas satisfatórias. E isso teria
sido uma pequena conquista para Simagin: sua
combinação teria forçado seu adversário não
somente a resolver problemas práticos
inesperados, mas também a entrar em riscos
estratégicos definitivos.
29.êuxe4
As coisas parecem ser desesperadoras para as
pretas (29 ... êuxe4 30.ãxe4, vencendo).
29 ... ll.e6!!
"Uma defesa que não foi prevista pelo meu
adversário." (Kortchnoi). Um lance fantástico,
Viktor, o Terrível
surpreendentemente belo: as pretas não
somente eliminam a cravada - deixam sua torre
ser tomada com xeque!
30.êuxd6 gLxdS 31.ãxeS+ ãf8
Como vimos, Kortchnoi não somente se
mostra à altura da situação quando a caracte-
rística da partida muda agudamente, como
também manobra para colocar seu adversário
sob os problemas mais desagradáveis. Afinal, o
próprio Simagin se empenhava em tomar a
iniciativa, mas ao invés disso foi forçado a
estancar ameaças (no momento, mate em um
lance).
32.ãe4?
Um erro grave, que conduz à perda de uma
peça. "Seria essencial jogar 32.f3 !l:xe8
33.éuxe8 l!fe3+ 34.<i!?g2 ~xe8 35 .l!fel,
35.'JJ!fd3 ou 35.ãc7 - em ambos os casos com
jogo aproximadamente igual" (Kortchnoi).
Mesmo assim, os dois bispos das pretas seriam
ligeiramente mais fortes do que a torre e dois
peões e seu poderio seria muito perturbador
para o rei branco. Evidentemente, foi disso que
Simagin não gostou.
32 ... gS!
Uma surpresa: desde h6, de onde cria
ameaças na coluna h, a dama subitamente ataca
o cavalo em d6. "Provavelmente meu
adversário não viu isso. Se esse lance, essa idéia
- a captura do cavalo! - não estivesse disponível
para as pretas, com 32 ... St.xd4 elas teriam
tomado a iniciativa, compensando seu deficit
material." (Kortchnoi). Mas, na minha opinião,
após 33.ãc2! .1Lxe4 (claramente não funciona
33 ...:ãxf2?) 34.êuxe4 'JJ!ig7 35.~g4 as brancas
têm um forte peão de sobra.
33.ãc7 'JJ!ixd6 34.ãee7
Se 34 ..lâxg7+ <i!?xg7 35.ãe5 as pretas
planejavam 35 .. .Jt.f3 !, prendendo o rei
inimigo: 36 ..lâxg5+ (36.'tfNd2 ~h6!; 36.'JJ!icl
g4) 36 .. .<i!?f6 37.~d2 .:S:h8, vencendo. O ataque
desesperado na 7ª fileira também não consegue
nada: os bispos defendem todas as casas. O
destino da partida está decidido.
41
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
34... il.f6 35.ãed7
Seria uma defesa mais firme 35.ãcd7! "i!fc6
36.ãc7, praticamente forçando o sacrifício da
dama - 36 ... il.xe7! 37.ãxc6 bxc6 "com clara
vantagem para as pretas." (Kortchnoi). Isso é
provavelmente suficiente para a vitória: a dama
sozinha dificilmente impedirá que a torre e os
dois bispos criem ameaças decisivas ao rei
branco.
35 ...'i19e6 36.ãxdS
As brancas perderiam tanto após 36.'tibl
ii.e4 37.WHel 'i!fg4 com a ameaça de ... 't!ff3,
como 36.ç!,,h2 ~e5 (Kortchnoi) ou
36 ... il.xd4!
36 ..."i!HxdS 37.'t!fhS il.g7 (estancando com
facilidade a ameaça de despedida da dama)
38.'t!fg6 't!fxd4 39.'t!fe6+ ~h7 40.'i19h3+ ~g6
41.'t!fe6+ !!f6 42.'t!fe2 b5 43.g4 ~h6 0-1
Nessa partida Kortchnoi novamente
demonstrou suas melhores qualidades - sua
habilidade em reagir de forma adequada na
troca de situações e colocar problemas que
psicologicamente eram os mais desagradáveis
para o seu adversário, além do cálculo preciso
nos momentos críticos.
Em julho de 1960, o Campeão da URSS
dividiu o primeiro lugar com Reshevsky em um
importante torneio internacional, em Buenos
Aires, à frente de outros 18 participantes,
inclusive Szabo, Taimanov, Evans, Olafsson,
Unzicker, Gligoric, Benko, Uhlmann, Ivkov e o
jovem Fischer. Em outubro, ele teve uma estréia
bem sucedida para a equipe soviética na
Olimpíada de Leipzig: +8=5 no 4° tabuleiro.
Devo lembrar aos leitores que nos três
primeiros tabuleiros jogavam Tal, Botvinnik e
Keres e nos dois reservas, Smyslov e Petrosian.
Um grupo fantástico!
Aquele ano memorável foi coroado com a
vitória contra Botvinnik no match tradicional de
Moscou-Leningrado. Botvinnik estava se
preparando ativamente para seu match de
revanche com Tal, e um duelo com o novo
campeão nacional seria apenas um bom treino
42
para ele. "Bem, para mim, jogar com o
'Patriarca' - como Botvinnik era apelidado - era
uma coisa fora do comum!" escreve Kortchnoi
- e, com sua costumeira impiedade para consigo
mesmo, critica seus comentários de quase meio
século atrás: "Para um jovem Grande Mestre é
agradável gabar-se de sua vitória contra o ex-
Campeão Mundial, ressaltando, ao mesmo
tempo, a consistência de seu jogo e a natureza
lógica do resultado. Mas, na linguagem das
fábulas soviéticas, 'tornei as coisas mais difíceis
para mim mesmo', ou seja, não fui capaz de
encontrar nas análises caseiras a vitória no caso
da manobra do bispo a h3. Ao mesmo tempo,
houve uma vitória... Uma partida fraca de
ambos adversários".
Ele teve também uma excelente atuação no
28º Campeonato da URSS, um Torneio Zonal
(Moscou, janeiro-fevereiro de 1961): 1.
Petrosian - 13,5 em 19; 2.Kortchnoi - 13; 3-4.
Geller e Stein - 12; 5-6.Smyslov e Spassky- 11,
etc.
O drama final de Spassky, que tinha 24 anos,
foi descrito no volume 3 (partidas 53 e 57). Hoje,
Boris Vasilievitch explica a sua falha como
"mau agouro" ou "castigo divino" e julga que,
se tivesse terminado entre os quatro primeiros,
a história do xadrez poderia ser diferente. "Se
eu tivesse passado para o Interzonal, o torneio
dos Candidatos em Curaçao poderia ter dado a
vitória a Keres". É verdade, o resultado do
torneio em Curaçao poderia também ter sido
diferente, se Stein tivesse jogado lá e não
Benko.... Contudo, somos obrigados a repetir
mais uma vez, a história não reconhece a
conjugação no modo condicional.
Logo depois daquele campeonato, começou o
match-revanche Tal-Botvinnik. Às vésperas, os
dois jogadores, através de seus segundos,
expressaram o desejo de trabalhar com
Kortchnoi. A reação de Kortchnoi foi
eloqüente: "Recusei os dois. Não por pensar
que não tinha nada a aprender de Botvinnik ou
de Tal, mas pensei que, se pretendia lutar pelo
título de Campeão Mundial, não deveria ir

trabalhar com eles. Em nosso tempo, muitos
enxadristas jovens têm um comportamento
diferente..."
Torneio de Candidatos em Curaçao (1962).
Kortchnoi era para Tal o adversário mais difícil
e incômodo
A estréia de Kortchnoi no torneio Interzonal,
que se realizou um ano depois, causou enorme
ansiedade nos torcedores: um fiasco sensacional
em uma partida com Cuellar, derrotas contra
Portisch e Fischer... Ao lado do jovem
americano, Petrosian e Geller com confiança
alcançaram sua meta. Mas, no entanto,
Kortchnoi também conseguiu entrar para o
torneio dos Candidatos, obtendo nove vitórias e
um empate em uma importantíssima partida da
última rodada. Ao passo que Stein, que estava
no mesmo plano, perdeu e, embora ocupasse
um sexto lugar classificatório, acabou sendo o
"quarto excedente" na disputa das estrelas da
URSS que, por capricho da FIDE, só tiveram
três vagas.
A "Batalha dos Oito" na longínqua ilha de
Curaçao (maio-junho de 1962) já foi descrita em
parte no volume 4, no capítulo "O Pacto Russo".
Propriamente, o pacto consistia em que três dos
grandes mestres soviéticos - Petrosian, Keres e
Geller - deviam empatar todas as partidas
disputadas entre eles mesmos, esforçando-se ao
mesmo tempo para vencer o fragilizado Tal,
(que jogou depois de uma grave cirurgia),
contra o intransigente Kortchnoi e Fischer, para
não dizer nada de Benko e Filip, de categoria
inferior.
Mas já no princípio o plano pragmático não
Viktor, o Terrível
funcionou: depois de começar com quatro
empates, Kortchnoi de repente saiu à frente,
obtendo três vitórias sucessivas, contra Fischer,
Filip (em 101 lances depois de dois dias de jogo)
e Tal! Eis a seguir, a primeira partida:
Partida 9
R. Fischer - V. Kortchnoi
Torneio de Candidatos, Curaçao 1962,
5ª rodada
Defesa Pirc-Uftmtsev B09
1.e4 d6 2.d4 /;z)f6 3.êuc3 g6
Kortchnoi não jogou mais do que uma dúzia
de partidas em toda a sua carreira com essa
defesa, considerando-a "não totalmente cor-
reta". Nessa ocasião, levando em consideração
o reduzido repertório de aberturas do seu
adversário, ele esperava pegá-lo em uma
variante específica.
4.f4 (4.~f3 -partidas 73 e 74) 4 ... ~g7 5.~f3
0-0
A alternativa é 5 ... c5 6 .dxc5 (6 .~b5+ ~d7
Savon-Kortchnoi, 41 º Campeonato da URSS,
Moscou 1973) 6 ... l!Ha5 7.~d3 l!Hxc5 8.l!He2
~g4! 9.~e3 l!Ha5 10.0--0 0--0 1l.h3 (11..íâadl
ê2:lc6 12.it..c4 ~h5 !? , Spassky-Fischer, 17ª
partida do match, Reykjavik 1972) 11 .. .~ xf3
12.l!Hxf3 ~c6 13.~e2?! ~d7 14.c3? ê2:lde5!
15.fxe5 ~xe5 16.l!Hg3 ~xd3 ... 0-1 (Hübner
-Kortchnoi, Skelleftea 1989).
6.~e2
"De acordo com o estágio da teoria em 1962,
o melhor lance nessa posição seria 6.it..e2."
(Kortchnoi). Após essa partida, todo mundo,
inclusive Fischer, mudou para 6.it..d3 (volume 4,
partida 72) .
6... c5 7.dxc5 l!Ha5 8.0-0 l!Hxc5+ 9.'t>hl
~c610.êud2
Uma idéia de Evgeny Vasyukov, refutada por
ele mesmo. É melhor 10.it..d3 seguido por l!Hel
e it..e3 (Boleslavsky-U fimtsev, Sverdlovsk 19 51)
43
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
ou primeiramente 10."JJ!fel.
''Antes do torneio," lembra Kortchnoi, "em
uma casa de férias próxima a Moscou, eu tinha
estudado essa mesma posição com meu auxiliar,
o Grande Mestre Vasyukov. Falando de forma
geral, naquela época não joguei a Defesa Pire e
suas várias ramificações eram desconhecidas
para mim, mas Vasyukov me convenceu a
arriscar: Fischer costuma jogar assim! E Fischer
não me decepcionou."
10 ... aS!
Uma forte novidade. Naquela época
10 ... ê2ld4 11.ê2lb3 ê2lxb3 12.axb3 (Vasyukov-
Bastrikov, Kiev 1957) ou 10 ... ~e6 11.ê2lb3
~6 12.g4! eram consideradas favoráveis às
brancas.
11.~b3?!
"Isso em breve criou sérias dificuldades para
as brancas. Lances não rotineiros necessitam de
respostas não rotineiras para refutá-los",
escreve Kortchnoi, que recomenda 11.~c4.
Aqui estão algumas amostras de variantes:
1) 11...'2lg4 12.'2ld5! (é insípido 12.~xg4
~xg4 13.~xg4 ~xc4) 12 ... '2lf2+ 13.E:xf2
~xf2 14.ii.e3 ~h4 15.'2lcb6! (não 15.g3 ~h3
Westerinen-Donner, Bamberg 1968) 15 ... Éi.b8
16.'2lxc8 Éi.f(b)xc8 17.g3 ~h6 18.f5 g5
19.~d2! (não 19.h4 ii.xb2 Filipowicz-Platter,
Varsóvia 1964) 19 ... ~f6 20.h4 ou 19 ... Ji.xb2
44
20.Ji.xg5 "JJ!fg7 21..lâfl, "e as pretas têm uma
posição difícil";
2) 1l...ii.g4! 12.~e3 ~5 13.~xg4 '2lxg4
14.~gl b5! 15.'2lb6 ~d4! 16.h3 ~xgl
17.'2lxa8 '2lt2+ 18.É\.xf2 ~xdl 19.É\.xdl
ii.xf2, com igualdade, ou 14.h3 e após
14... '2lxe3 15.~xh5 gxh5 16.'2lxe3 "a posição
das brancas é um pouco superior", mas é
interessante 14 ... ii.xc3!? 15.bxc3 '2lf6
(Kortchnoi) ou 14 ... b5! com fácil igualdade.
11 ... ~b6 12.a4
Defendendo contra a ameaça de ... a5-a4-a3.
As alternativas seriam desfavoráveis: 12.'2ld5
'2lxd5 13.exd5 a4! 14.dxc6?! (14.'2ld2 '2lb4
15.'2lc4 ~c5) 14 ... axb3 15.cxb7 É\.xa2!
(Kortchnoi) 16.bxc8"JJ!f É\.xc8 17.~d2 .il.xb2,
vencendo, ou 12.a3 a4 13.'2ld2 "JJ!fc5 ou
13 ... ~d4.
12 ... ~b4
Como resultado da lenta manobra
~f3--d2-b3, surge uma versão favorável às
pretas da variante Dragão.
13.g4?
Um lance padrão de ataque, mas aqui ele
caminha para um poderoso contra-ataque. A
prática tem demonstrado que as brancas não
têm chances iguais mesmo após 13.f5 d5 14.e5
'2le4!, ou 13.~f3 ii.e6 14.~d4 ii.c4 15.'2lce2
(15.Éi.el '2lg4!) 15 ... e5 16.'2lb5 d5!, ou
13.Éi.a3 Éi.d8 14.~f3 d5 15.e5 '2le4 16.'2ld4
f6!.
Entretanto, a recomendação de Kortchnoi
13.'2ld2! é melhor e, no caso de 13 ... d5?! 14.e5
'2le4 15.~cxe4 dxe4 16.c3 '2ld3 l 7.'2lxe4
'2lxcl (17 ... '2lxb2? 18.~d4!) 18.~xcl ~f5
19. '2lg3 as pretas não têm compensação
suficiente pelo peão, enquanto se 13 ... Ji.e6,
então 14.f5 com jogo agudo. Também não são
claros 13 ... Éi.d8 ou 13 ... ~d7. De fato, "é difícil
sugerir como as pretas possam manter sua
vantagem."

13 .....ixg4! 14.il.xg4 l2Jxg4 15.'i!fxg4 l2Jxc2
16.lL)bS
Após 16.'Lld5?! 'i!fxb3 17.ei:Jxe7+ ~h8
18.f5 ei:Jxal 19.f6 jJ_xf6 20.13.xf6 lâfe8 21.'Lld5
!fc4! 22.'Llc3 (22.~h6? lâxe4) 22 ... 'Llb3
23 ...ih6 ei:Jc5 ou 23 ... ~g8 (Kortchnoi) as
pretas repelem o ataque e serão capazes de
converter sua qualidade de vantagem.
16•..l2Jxal 17.l2Jxal 'i!fc6
"No momento, materialmente está tudo bem
com as brancas, mas suas peças estão mal
colocadas e a perda de material é inevitável."
(Kortchnoi).
18.fS
Alternativas sem esperanças seriam 18.'i!ff3
1!fc8 19.~g2 ~c4! 20.b3 'i!fxcl ou 19.'Llb3
!fc4, pegando o peão de a4, ou 19 ...ie3 ..ixb2
20.lâbl (20.'Lla7 'i!ixa4; 20.êZ)b3 'i!fc4!)
20 .. ...if6 21.'Lla7 ~xa7 22.Ji...xa7 'i!fxa4 e as
pretas vencem.
18 ...'i!fc4 19.'i!ff3 'i!fxa4 20.l2Jc7 'i!fxal
21.é2Jd5?
O erro decisivo. Como mostrado por
Kortchnoi, seria essencial jogar 2 l. é2Jxa8 lâxa8
22.fxg6 fxg6 23.~3+! (se 23.'i!ff7+ ~h8
24.'i!fxe7, na esperança de 24 ... 'i!fa4 25 ...ie3
!l:e8?? 26 ...id4! !, quando vencem as brancas,
então simplesmente 24 ... ~1! 25.'i!fxb7 lâe8
26.:Sel 'i!fd3, vencendo) 23 ... Wh8 24.'i!fxb7
com chances de empate em vista de 24 ... lâf8
25 ..13.xfS+ ..ixf8 26.'i!fc8 ou 24 ... lâg8 25.'i!fb3
(25.~xe7!?) 25 ... ~ l 26.'i!Vc4.
21...lâae8 22.il.gS
Após 22.Ji...h6 ~xb2 23.'L\xe7+ .13.xe7
Viktor, o Terrível
24.jJ_xg7, de acordo com Kortchnoi, o lance
"cínico" 24 . .. f6! teria vencido.
22 .. JWxb2 23 ...ixe7 (ou 23.'L\xe7+ lâxe7
24.jJ_xe7 ..ie5!) 23 ... ii.eS! 24 ..13.fl (24.'i!Vh3
~e2) 24 ...'i!fcl+ 25.lâfl ~h6 26.h3 gxf5
27.ii.xf8 .13.xf8 28.l2Je7+ ~h8 29.l2Jxf5 'i!fe6
30 ..13.gl a4 31.~g4 'i!fb3 32.'i!ffl a3 0-1
Depois do primeiro quarto do Torneio, o
Grande Mestre de Leningrado, com 5 pontos
em 7, estava um ponto à frente de Geller, Keres
e Petrosian. No segundo quarto, ele começou
também com quatro empates, e, depois de 11
rodadas, estava à frente junto com Geller, a
meio ponto de Keres e Petrosian e um e meio à
frente de Fischer.
Mas jogando sob condições climáticas
tropicais de forte calor, o efeito se fez sentir: ele
ficou cansadíssimo. Viktor Vasiliev escreve:
"Ele não estava pronto para esse evento
importante, principalmente não estava prepa-
rado fisicamente. Já no final do primeiro quarto,
quando os seus rivais observavam com temor
os seus sucessos, Kortchnoi percebeu perfei-
tamente que seria incapaz de lutar pelo primeiro
lugar. Jogava com dificuldade e depois de cada
partida se sentia cansado e exausto".
Sabendo disto, não causa estranheza o trágico
erro de Kortchnoi na segunda partida com Fischer.
Partida 10
V. Kortchnoi - R. Fischer
Torneio de Candidatos, Curaçao 1962,
12ª rodada
45
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
31.il.c6?
Um blecaute mental! As brancas tinham
inclusive 31.~2+!, mantendo seu peão a mais
e todas as chances de vitória: 31 ... l2Je5 32.l2Jc4
ou 31.. .'~g8 32.il.c6 êz:lxc6 (de outra forma
b4--b5) 33.!k 1 1:zJfe5 34.dxc6 etc.
31. . .'-tlxc6 32.13.cl ?? 'i!f a7! e as pretas
ganharam uma peça e com ela a partida. "Sim,
foi terrível perder dessa forma para o americano
convencido," escreveu a imprensa soviética.
Apesar de tudo, depois deste episódio
dramático, ele ainda conseguiu vencer - e em
bom estilo - uma "partida de costume" contra
Filip. Mas depois perdeu para Tal (a única vez
em muitos anos) e terminou a primeira metade
do Torneio em quarto lugar, um ponto atrás de
Geller e Petrosian e meio ponto à frente de
Keres.
Eis o que escreve Yuri Averbakh, treinador de
Grandes Mestres soviéticos: "Depois da
primeira metade do torneio, nosso grupo
cresceu: chegaram as esposas dos competidores
- um fato que trouxe uma certa diversidade à
vida limitada que levavam. Organizou-se um
breve intervalo de lazer para todos os
competidores em S. Martin, uma ilha ainda
menor que Curaçao, onde eles tomaram sol e
banho de mar. Depois de cinco dias retomaram
o torneio. O início da segunda metade foi
marcado por uma magnífica arrancada de Keres
- 3 em 3! Mas ele não conseguiu decolar,
porque Petrosian e Geller estavam só meio
ponto atrás".
Parece que a semana de descanso em S.
Martin abateu o ânimo de Kortchnoi. No início
do terceiro quarto, ele perdeu para Geller,
Petrosian e Keres ... Viktor Vasiliev conta: "O
que aconteceu com ele em Curaçao foi uma
espécie de recorde. E não somente na sua
carreira individual de enxadrista: a história do
xadrez, que narra numerosos episódios trágicos,
dificilmente relata uma situação em que, em
uma competição dessa envergadura, um líder do
torneio tenha sofrido quatro derrotas seguidas!"
46
De forma conclusiva, Kortchnoi caiu fora da
luta pelo primeiro lugar e acabou ficando 4
pontos atrás de Petrosian, 3½ atrás de Keres e
Geller e ½ ponto atrás de Fischer. Restou para
ele um prêmio de consolação ao vencer o
americano no mini-match entre eles (2½-1 ½),
com uma vitória decisiva no terceiro quarto. Eis
um toque característico: o vencedor do torneio,
o pragmático Petrosian, gastou em todos os
seus lances em 27 partidas um total de 48 horas
e 40 minutos, enquanto o implacável lutador
Kortchnoi gastou 72 horas e dez minutos, ou
seja, uma vez e meia a mais!
Depois de um fracasso desses, muitos
desanimariam, mas não Kortchnoi. Ao regres-
sar para casa, ele redobrou as energias para
eliminar as deficiências do jogo. Passados cinco
anos ele escreveu: "Em Curaçao me faltaram
disciplina e técnica para converter uma
vantagem em alto rúvel (embora eu possuísse
alguma técnica!). Mas onde havia forte
resistência surgiu a precipitação, talvez pelo
nervosismo (como Alekhine comentou certa VCZJ a
técnica é puro nervosismo - G. K). Nos finais das
partidas sentia cansaço e, como resultado,
vinham os erros. Novamente tive que voltar a
consultar os livros e estudar as partidas de
Rubinstein e outros especialistas em finais. Seis
meses depois, no campeonato nacional em
Ierevan, me senti muito mais seguro".
De fato, no 30º Campeonato da URSS, em
Ierevan, (novembro-dezembro de 1962),
Kortchnoi lutou somente pelo primeiro lugar e
com sucesso: 1.Kortchnoi - 14 pontos em 19
(depois do começo com 11 em 13!); 2-3.
Tairnanov e Tal - 13½; 4.Kholmov - 13; 5.
Spassky- 12½; 6.Stein - 11 ½ etc. Logo depois,
este triunfo foi coroado com a brilhante vitória
no Memorial Capablanca (Havana, 1963): 1.
Kortchnoi -16½ em 21; 2-4.Geller, Pakhman e
Tal - 16. Segundo a imprensa, os especialistas
observaram mudanças óbvias no jogo de
Kortchnoi, como estilo mais flexível e universal
do que anteriormente.
Antes afirmava: "Não gosto de ser o primeiro

a atacar, como também não gosto de sacrificar
minhas peças e peões". Mas agora passou a
fazer lances, sobre os quais escreveu mais tarde:
"Desta vez, traindo meu costume, lutei pela
iniciativa, sacrifiquei um peão". Além disso,
aprendeu a explorar com habilidade até uma
pequena vantagem posicional. Ao mesmo
tempo, ele compreendeu perfeitamente que
ainda não tinha alcançado a perfeição técnica
que aspirava.
"Os estudos de Kortchnoi impulsionaram o
desenvolvimento de muitas aberturas por uma
década." (Genna Sosonko)
No final do mesmo ano, o seu jogo sofreu um
declínio passageiro que foi quase inevitável por
causa da acirrada rivalidade que reinava então
no xadrez soviético. No 31 º Campeonato da
URSS (1963), que, devo lembrar, foi uma prova
eliminatória não para o Torneio Interzonal, mas
para um Zonal de dois turnos, Kortchnoi alcan-
çou o 1Oº lugar e foi permitido que ele jogasse
a próxima fase somente como um "Grande
Viktor, o Terrível
Mestre excepcional". Mas também no ''Torneio
Zonal dos sete" ele dividiu o 5º e 6º lugares,
após ser derrotado no final por Stein (volume 3,
partida 6J) e por Spassky.
Novamente ele não desanimou! Foi muito
interessante saber que, como eu mesmo muitos
anos depois, um dos livros que Kortchnoi
constantemente tinha em mãos era a coleção
"300 partidas de Alekhine"; e com freqüência
voltava ao que aquele gênio do xadrez
recomendava. Como Alekhine, ele bem que
poderia afirmar: "Foi com o xadrez que formei
meu caráter". Ou: "O xadrez ensina primeiro e
antes de tudo a objetividade. Com o xadrez
você pode se tornar um Grande Mestre, basta
reconhecer seus defeitos e deficiências".
Outro valioso pensamento de Alekhine era:
"Para se tornar um Grande Mestre, além do
talento, é preciso ter um futuro material seguro
e grande capacidade de trabalho". Kortchnoi
completou este pensamento: "É preciso ter um
amor abnegado ao xadrez. A era dos gênios
inatos (Capablanca), que dedicavam pouca
atenção à preparação, já passou. Agora o
sucesso exige muito trabalho".
Assim é que, sendo já duas vezes Campeão da
URSS, ele continuou trabalhando no xadrez
como ninguém, com a exceção, talvez, de
Bobby Fischer. Kortchnoi tinha 33 anos e
estava no auge de suas forças ... Mais tarde
lamentava ter perdido muito tempo na
juventude, e por não ter aprendido a jogar
corretamente, lutar corajosamente pela
iniciativa. "Percebi que tinha que reaprender,
que o meu modo de jogar estava cheio de
deficiências e que desconhecia os rudimentos
do xadrez dos Grandes Mestres. Durante uns
dez anos procurei dominar essa cartilha. Por
fim, já completamente munido de meus
conhecimentos e compreensão do xadrez, já
passando dos quarenta anos, senti-me pronto
para enfrentar qualquer adversário em busca do
título de Campeão Mundial. Como já esgotara
boa parte da energia dada por Deus, não
consegui de fato me tornar um Campeão
Mundial..."
47
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

Abertura Para Todos os

Tempos
O próximo ponto culminante de Kortchnoi
foi sua convincente vitória no 32º Campeonato
da URSS (Kiev, 1964-1965). Dois anos depois,
ele escrevia: "O que me ajudou foi a versa-
tilidade. Acho que foi então que entendi melhor
as posições". Já o seu início - com 10 em 11! -
praticamente não deixou dúvida quanto ao
destino da medalha de ouro. Entre os derro-
tados estavam: Shamkovich, Lein, Averbakh,
Kholmov, Bronstein, Tal ...
A partida decisiva da batalha pelo primeiro 68 ... il.b3?
lugar foi com Tal. A partida foi adiada em um Permitindo a fuga do rei branco. Após
final em que Kortchnoi estava melhor: "torre e 68 ... 'it>d3 as pretas teriam conquistado o
cavalo contra torre e bispo". O Mestre A. empate, por exemplo: 69 ..lâe8 'it>d4 70.'it>el
Petersons, um dos participantes do torneio, 'it>d3 71..lâe7 ~f3 (Petersons)
recorda: "Devido a que Tal, por motivo de 69.'it>e2! il.g4+ 70.'it>d2 il.fS 71.gti il.g4
doença, tinha muitas outras 'pendências', o jogo 72_gf4+ 'it>eS 73.'it>e3 il.e6 74.:ã.f8 .i.h3
ficou muito tempo interrompido e virou 0
75.gas c,t,rs 76.gas+ <,t>g6 77.<,t>f4 h4 (se
77 ...~fl, então 78 ..lâg5+ 'it>h6 79 ..lâd5, seguido
centro das atenções dos participantes e do
por .lâd6+ e 'it>g5) 78.ga6+ <,t>g7 79.gxb4 e as
grande número de torcedores. Nos primeiros
pretas abandonaram no lance 93.
dias, a opinião era de que as brancas venceriam.
Também importante foi a partida com o
Mas, então, os interesses das pretas começaram
Grande Mestre moscovita Vasyukov, um
a ser defendidos por ninguém menos que
jogador com um estilo agudo de ataque, que
Petrosian, que sugeriu que o resultado mais
somente jogava l.e4. Dificilmente é necessário
provável seria o empate. Os enxadristas que
dizer que em resposta Kortchnoi escolheu a
estavam em Kiev - Tal, Koblenz, Klovans e
Defesa Francesa. Após um erro no 12º lance,
Petersons passaram muitas horas analisando a
ele terminou em uma posição difícil, mas, de
posição adiada e também concluíram que a
acordo com o relato da imprensa, "como de
partida deveria terminar empatada".
hábito, ele manteve uma compostura invejável,
No recomeço da partida, Kortchnoi forçou a de forma inesperada tomando a iniciativa e a
vitória pelo sacrifício da qualidade, mas Tal situação instantaneamente mudou a seu favor".
resistiu desesperadamente, apoiando-se no
material limitadíssimo que restava. O desfecho
veio no 68º lance.
Partida 12
E. Vasyukov - V. Kortchnoi
32º Campeonato da URSS, Kiev 1964/ 65,
Partida 11 9ª rodada
V. Kortchnoi - M. Tal Defesa Francesa C19
32º Campeonato da URSS, Kiev 1964/ 65,
9ª rodada
1.e4 e6 2.d4 d5 3.~c3 .i.b4 4.e5 c5 5.a3
il.xc3+ 6.bxc3 ~e7 7.a4

48

Aqui, como na variante 7.ê2if3, os resultados
páticos e criativos de Kortchnoi não são piores
cio que após 7. ~ g4 (partidas 3, 14 e 27) . Embora
nem sempre a abertura termine a seu favor, ele
magistralmente mantém a tensão no
complicado meio jogo "francês".
7••• lZ:lbc6 8./.;z)f3 ~d7
Mais tarde, seguindo o exemplo apresentado
por Kortchnoi, 8 ... 'iWa5 ! se tornou quase
automático, forçando 9.'iWd2 (partida 22) ou
9.Ad2 (partida 23).
9..i.e2 (Fischer preferia 9.li.d3 - volume 4,
partida 95) 9 ... f6?!
Um lance típico de solapamento, embora a
prática demonstre que seja melhor aplicá-lo
mais tarde, quando o bispo branco (ou a dama)
tenha tomado uma posição relativamente
passiva em d2. É verdade, 9... 'iWa5 agora pode
ser respondido com 10.0-0!, pois após
10 .. .!fxc3?! 1 l.~d2 ~b2 12.ãbl 'iia3
13Jlxb7 as brancas tomam a iniciativa.
Naqueles anos freqüentemente era jogado
9...!fc7 10.0-0 f6 (ao invés do velho 10 ... b6
11.li.a3 ê2la5 Tolush-Botvinnik, Moscou
1943/44) l l.exf6 gxf6 12.c4, mas 12.li.a3! é
mais forte: 12 ... c4 (12 ... cxd4?! 13.ê2lxd4)
13.!fd2 ou 13.!fol e li.fl, sondando os
"buracos" na posição inimiga e confiando no
poder do bispo em a3. Promete menos para as
brancas 12.dxc5 e5! 13.c4 li.e6 14.cxd5 ê2lxd5
15.êzJd2 0--0-0 16.lzJe4 lzJc3! l 7.ê2ld6+ !fxd6
18.cxd6 l2Jxdl 19.:ãxdl l2Jd4, com igualdade
(Panchenko-Bagirov, Chelyabinsky 1972).
10.exf6 gxf6 11.dxc5
Para mim, parece mais promissor jogar
11.0-0! 'iWc7 12.li.a3 (if. o comentário anterior],
enquanto se 1 l...~a5, então 12.li.a3 ou 12.c4,
e é difícil para as pretas criarem contrajogo que
compense a posição enfraquecida do seu rei.
11 ...~a5
Seria pior para as pretas l 1...iVc7 12.l2Jd4!.
mas elas poderiam ter considerado l l...e5!?
12.l2Jh4 (12.0-0 "%!:Vc7!, como na partida
anteriormente mencionada Panchenko-
Viktor, o Terrível
Bagirov) 12 ... 'iWa5 13.li.h5+ 'it>d8, planejando
... 'it>c7, ... ãag8 e ...'it>b8 com jogo agudo.
12.!fd2?!
Uma perda de tempo, induzindo a uma das
linhas com 8 ... 'iWa5. É mais preciso 12.0-0!,
quando é perigoso para as pretas jogarem tanto
12 ... ~xc5? 13.'i!fd2 e li.a3!, como
12 ... "%!:Vxc3?! 13.:ãbl 0-0-0 (13 ... YWxc5
14.:ãxb7) 14.li.b2 ~xc5 15.li.xf6 ãhf8
16.:ãb5 !fd6 17.li.h4. E se 12 ... e5 as brancas
podem lutar por uma vantagem através de
13.c4 li.e6 (13 ... dxc4 ou 13 ... d4 - 14.l2Jd2!)
14.cxd5 l2Jxd5 15.li.d2 ~xc5 16.c4 etc.
12 ... ~xc5?
Agora o bispo das casas pretas das brancas se
torna terrivelmente forte e a posição de
Kortchnoi se torna crítica. A partir de 1965, as
pretas conquistaram resultados razoáveis ao
jogarem 12 ... 0--0-0 ou 12 ... e5.
13.~aJ ~a5 14.0--0
É óbvio que mais cedo ou mais tarde seguiria
e3-e4 e as pretas enfrentariam uma luta feroz
pelo empate: sua estrutura de peões está
quebrada e, além disso, as brancas têm dois
bispos formidáveis. Mas é interessante acom-
panhar como Kortchnoi, de forma criativa e
profunda, se aprofundando nos segredos da
posição, vai resolvendo os seus difíceis
problemas e, de forma gradual, não obstante a
"ajuda" do adversário, cria contrajogo perigoso.
14 ... 0--0
49
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
As pretas se auto-restringem com o roque na
ala do rei: se 14 ... 0-0----0 as brancas tinham o
desagradável 15.~d4! (com a ameaça de ~b5)
15 ... ~xd4 16.~xe7 ~xe2+ 17.!fxe2 :àde8
18.~xf6 :ãhg8 19.~e5 e o contra-ataque na
coluna g é muito tardio, enquanto se 14 ... eS,
então 15.:ãtbl 0-0----0 16.!ibS !fc7 17Jâabl.
15.:ãfdl?!
Um atraso. Também pouco seria conseguido
com 15.c4 'i!fxd2 16.~xd2, mas após 15.:ãtbl!
"as pretas estão em consideráveis dificuldades"
(Petersons), por exemplo: 15 ...!fc7 16.~d4!
ou 15 ... ~c8 16.:àbS !fc7 17.c4.
15 ...ãti 16.c4
"Eu teria preferido entrar em uma jaula de
leão a trocar as damas com as brancas nessa
posição," brincou Tal em análises posteriores,
sugerindo 16.'i!fcl "e aqui não tem nada
melhor". De fato, após 16 ... 'i!fxc3 17.:ãd3 'i!fa5
18.~h4 ou 17 ...ib2 !fa5 18.c4 as brancas têm
boa compensação pelo peão e dessa forma é
melhor 16 ... eS l 7.c4 .fi..e6 com jogo
complicado.
16 ... !fxd2 (seria mais astuto 16 ...:ãc8, mas
então as brancas teriam mantido as damas
através de 17.c3) 17.ãxd2 ãc8 (17 ... ~a5!?)
18.aS ~g6 19.a6! b6 20.ãadl?
Um lance aparentemente natural, mas não se
deveria permitir ao cavalo preto ir a f4.
Entretanto, 20.g3 (Petersons) é refutado através
de 20 ... dxc4 21.:ãadl (21.~xc4 ~ce5, com
igualdade) 21...~b8! etc.
E somente o oportuno 20.cxd5! exd5 21.g3
(mas não 21.:ãxd5?! ~f4 22.:ãd2 ~xe2+
23.:ãxe2 ~g4! ou 21.c4?! ~a5!), assim como
21 ..t.d6(b2) ou o sutil 21.:ãe 1, teriam
condenado as pretas a uma difícil defesa: seu
peão d5 é muito fraco e qualquer ataque ao
peão a7, "pregado" no tabuleiro pelo peão a6,
pode-se mostrar fatal para elas.
20... ~f4 21.!t.fl
Não é tão claro 21.cxdS exd5 22.~d6
(22.~fl ?! ~g4!, e a torre em dl está mal
colocada) 22 ... ~xe2+ 23.:ãxe2 :ãd8 e ~c8!,
50
extraindo o "prego" em a6.
De qualquer forma, parece que as brancas
ainda têm a iniciativa (elas ameaçam g2-g3 e
cxd5). Em todo caso, Kortchnoi aqui pensou
por quase 50 minutos. E, como os fãs diziam na
época, ele "fez um Kortchnoi':
21. .. eS!?
Um sacrifício de peão não convencional,
totalmente inesperado pela razão de que
21...~aS seria perfeitamente aceitável: após
22.g3 (22.cxd5 ~xd5, com igualdade)
22 ... ~xc4! 23 ...txc4 :ãxc4 24.gxf4 :ãxf4 as
pretas têm boa compensação pela peça
(ameaçam também capturar o peão de a6),
enquanto se 22 ...td6 poderia seguir 22 ... ~xc4
(22 ... e5!?) 23 ...txf4 ~xd2 24.:ãxd2 e5
25.~6(g3) ~e6, quando a torre e o peão não
são mais fracos do que o bispo e o cavalo.
Entretanto, Kortchnoi esforçava-se para tomar
a iniciativa, não para igualar a posição!
22.cxdS ~a5
O quadro mudou totalmente. Ao invés dos
peões e dobrados, as brancas agora têm um
peão a mais passado em d5 - e no entanto a
posição é completamente indefinida. Esse peão
bloqueia a ação frontal das torres, salvando as
pretas da pressão na coluna d. Elas ameaçam
... ~c4 (uma posição favorita dos cavalos de
Kortchnoi especialmente na Defesa
Grünfeld) e após a troca do bispo por esse
cavalo, o peão a6 será atacado pela torre desde

a4 ou pelo bispo desde b5(c8) - e ele se tornará
uma fraqueza. Além disso, surgirão ameaças ao
~ o da coluna g.
fl.g3 (um lance normal: de qualquer forma,
as brancas têm clara compensação pelo peão -
isso é "sentido" até pela máquina) 23 ... €lh3+
Também seria possível 23 ... i.g4!?. A
combinação complexa de fatores diversos,
t:anto estratégicos como táticos, faz a posição
das brancas bastante perigosa. Do ponto de
vista prático, em todo caso, no limiar do apuro
de tempo.
24.~g2 €lc4 25.ilb4?!
Uma escolha difícil - uma tentativa de lutar
pela iniciativa! "Vasyukov decidiu sacrificar a
qualidade. E não somente pelo enfra-
quecimento das casas brancas." (Petersons).
Mas talvez ele devesse ter sido paciente e jogar
25.il.xc4 gxc4 26.1t.b2 il.g4 27.B'.el !?.
Entretanto, as debilidades na posição das
brancas prometiam um jogo completamente
igual.
25 ...e4!? (seria melhor 25 ... l2Jxd2! 26.'fi.xd2
llg7 ou 26 ... h6, permitindo ... l2Jg5, com
alguma vantagem para as pretas, mas Kortchnoi
foi tentado por outra idéia muito interessante)
Ui.~d4
26 ... €lxf2! (um belo golpe; não são possíveis
nem 27.:Sxf2? l2Je3+, nem 27.~xf2? e3+)
27.!!el!
Vasyukov encontra uma resposta forte, que
dá às brancas compensação suficiente pela
Viktor, o Terrível
qualidade.
27 ... €lxd2
"Seria possivelmente mais forte 27 ... e3"
(Petersons), mas após 28.lâxf2 exf2 29.Wxf2
l2Je5 30.h3 as brancas têm um bom jogo. O
equilibrio aproximado poderia ser mantido por
27 ... €lg4 28.ilxc4 'fi.xc4 29.c3 f5.
28.il.xd2 ~g4 (dificilmente seria mais forte
o algo inesperado 28 ... €lh3 29.B'.xe4 €lg5
30.lâh4 'fi.e7 31 .i.d3 ! 'fi.eS 32.d6 - 32.c4 b5 ! -
32 ... B'.dS 33.li.b4) 29.lâxe4
Deve-se admitir que a troca do peão f2 pelo
peão e provavelmente se mostre mais favorável
às brancas. Os lances subseqüentes tiveram
lugar no apuro de tempo.
29 .. .l~)eS 30.ilb4 ãg7 31.h3 (31.c3!? com
a idéia de 31...ÉÍ.g4 32 ..â:el) 31. .. i.eS 32.c4?!
Condenando esse peão à morte. Teria sido
mantida igualdade aproximada com 32.B'.f4
ilg6 33.c3 €ld3 34.il.xd3 ~xd3 35.€lc6.
Também seria possível apoiar o bispo em b4
através de 32.c3 (Petersons), por exemplo:
32 ... ilf7 (não seria melhor para as pretas
32 ... il.g6 33.B'.e3 ou 32 ... B'.d7 33.d6 1J.f7
34Jâf4) 33.':2)e6 il.xe6 34.dxe6 'fi.e8 35.e7
.ã:gxe7 36.il.xe7 'fi.xe7 e a debilidade do peão
a 7 requer uma certa precisão das pretas no
caminho do empate.
32 ...il.g6 33 ..â:el?
Um segundo erro em seguida. A reco-
mendação de Petersons 33.lâe3 também é
duvidosa em vista de 33 ... l2Jxc4 34.'fi.c3 il.e4+
e ...il.xd5. Seria essencial jogar 33.E'.f4 ~xc4
34.Wf2 e embora após 34 ... ~eS 35.'fi.xf6 .â:f7
36.:Sxf7 '!ixf7 37.We3 as brancas estejam um
pouco pior, podem ter a esperança de um
empate.
33 ...il.d3 (agora as pretas ganham material e,
com isso, a vitória) 34.~e6 !!d7
Um lance sólido no apuro de tempo. Havia
uma vitória mais rápida através do vistoso
34 ... 'fi.xc4! 35.~xg7 (35.ilxd3 ~xd3,
vencendo) 35 ... .â:c2+ 36.Whl (36.il.e2 il.xe2)
36 ... ~f3! com a ameaça de ... .â:h2 mate, ou
51
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
... ~xel.
35.Ac3 Axc4 36.~xeS? (Vasyukov já tinha
desanimado: 36.~xc4 ~xc4 37.li:if4 seria uma
defesa mais firme) 36...il.xdS+ 37.@gl fxeS
38.ãxeS il.xe6 39.ãxe6 gel 40.@g2 I:!d2+
41.Ae2 @f7 42.l:ie4 i!c6 43.@fl e aqui, tendo
verificado que já havia passado o controle de
tempo, as brancas abandonaram. (0-1)
Assim, Viktor Lvovitch conquistou com
brilho a sua terceira medalha de ouro: 1.
Kortchnoi - 15 em 19 (+11=8); 2.Bronstein -
13; 3.Tal - 12½ ; 4.Stein - 12, etc. E se a essa
vitória incontestável acrescentarmos também
sua vitória no Campeonato de Leningrado -15
em 17, teremos uma série vitoriosa
impressionante - 30 em 36!
A. Petersons com grande entusiasmo
escreveu a seguinte observação na revista
Shakhmary de Riga: "O notável êxito de
Kortchnoi na semifinal evidentemente não foi
considerado por alguns como tão notável assim,
mas todos os torcedores unanimemente
reconheceram que na final o Grande Mestre de
Leningrado teve um desempenho simplesmente
magrúfico. Ele terminou dois pontos à frente
do adversário mais próximo, sendo que o único
jogador que até então tinha alcançado uma
distância assim nos Campeonatos da URSS
havia sido Botvinnik, vinte anos atrás".
B. Baranov e V. Mikenas publicaram
semelhantes elogios na revista Shakhmary v
SSSR· "Kortchnoi alcançou Keres no número
de medalhas de ouro conquistadas no
campeonato nacional. Só Botvinnik conseguiu
mais... Kortchnoi possui em seu acervo não só
combinações admiráveis, mas também
belíssimos ataques e, conseqüentemente,
partidas posicionais e finais sutis. Enquanto
Petrosian faz manobras demoradas, aguardando
o instante para a ação decisiva, enquanto Tal
pretende a mesma coisa usando recursos
táticos, Kortchnoi combina habilidosamente no
seu jogo estes dois métodos. Não raro, ele
abandona seus próprios planos ativos e deixa o
52
adversário concretizar os seus pensamentos,
para observar as falhas e desferir o contragolpe.
Provavelmente foi este detalhe que deu
condições a Kortchnoi para 'discernir' a
incorreção de muitos ataques de Tal e conseguir
esmagadora vantagem nos encontros
individuais com ele. Kortchnoi joga a abertura
de forma despretensiosa, tentando conseguir
uma posição complicada que lhe agrade. Ele
aceita sacrifícios de bom grado, embora
algumas vezes suas decisões pareçam ser
duvidosas. Contudo, é preciso ter em mente que
o jogador de Leningrado só entra nessas
posições quando sua fina intuição, em conjunto
com o seu cálculo rápido e profundo, sugerem-
lhe que as idéias do adversário possam ser
refutadas. Em resumo, Kortchnoi é um
psicólogo sutil, que sabe reconhecer os pontos
fortes e fracos do adversário e, dessa forma,
dirigir a luta para o seu lado".
Foi depois deste campeonato nacional que os
responsáveis pelo xadrez soviético voltaram a
atenção para o vazio e falta de estrelas nos anos
60. A imprensa já advertia: "É preciso que nos
detenhamos especialmente no fato de que,
dentre os competidores, não houvesse joga-
dores jovens. É um triste paradoxo constatar
que o mais 'jovem' do torneio era o ex-campeão
mundial Tal, de 28 anos de idade. Qual o
motivo deste fato alarmante? Talvez estejamos
trabalhando mal com os nossos jovens enxa-
dristas, exigimos pouco deles, e nos esforcemos
pouco para incutir qualidades de luta em nossos
jovens jogadores".
O verdadeiro motivo da ausência de novos
super-stars, do enorme "buraco negro" desde Tal
até Spassky e Karpov, se tornou claro mais
tarde: o xadrez perdeu pelo menos duas
gerações por causa da Segunda Guerra
Mundial...
Acho que na URSS "trabalhou-se mal" não
propriamente com a juventude, mas com alguns
Grandes Mestres bem conhecidos, que não
conseguiam licença para participar de torneios
no exterior. Kortchnoi não é exceção, apesar de

IOdos os seus títulos. Assim, em 1963, ele e
.Keres foram convidados para a Copa
Piatigorsky, em Los Angeles, mas o Campeão
Mundial Petrosian também queria ir para lá.
Então, os organizadores enviaram três passa-
gens. Kortchnoi lembra: "Mesmo assim, não
me enviaram. Quem foi com a minha passagem
aos EUA foi a mulher de Petrosian".
Na primavera de 1965, o tricampeão da URSS
foi convidado a participar de um importante
torneio em Zagreb, na Iugoslávia, mas a
Comissão de Desportos propôs que ele fosse
participar de um pequeno torneio na Hungria.
Naturalmente, Kortchnoi não aceitou... Na
verdade, em agosto ele foi à Hungria e obteve
mn resultado absolutamente recorde no torneio
do Memorial Asztalos -14½ em 15! Ele obteve
ainda uma vitória significativa no torneio
internacional realizado no outono em Ierevan:
1.Kortchnoi - 9½ em 13; 2-3.Petrosian e Stein
-8 1/z etc.
Na vida comum, as relações entre Kortchnoi e
Petrosian variaram, mas diante do tabuleiro
sempre foram adversários irreconciliáveis
No encerramento do Campeonato Europeu
de Equipes (Hamburgo, junho de 1965) ele foi
inesperadamente convidado a ficar no
Ocidente. Recusou o convite, dizendo que "os
enxadristas da URSS são gente muito privi-
legiada". Porém, depois do regresso, lamentou:
"Onze anos de vida normal perdidos". Sem
dúvida, a impossibilidade de participar de bons
torneios fere e ofende qualquer enxadrista
proeminente, no auge de suas forças. E assim,
em 1965, ele, por iniciativa própria, chegou ao
Viktor, o Terrível
extremo: "Decidi me filiar ao Partido Comu-
nista como última chance de facilitar minha
sorte. Na verdade, no começo deu certo".
Na ocasião, teve grande repercussão a dupla
vitória de Kortchnoi contra Petrosian no
tradicional match Moscou-Leningrado (i\foscou,
Novembro de 1965). Com o adiamento da
primeira partida em um complicado meio-jogo,
os adversários começaram a segunda partida no
dia seguinte. Tigran Vartanovitch, em uma rara
ocasrao, 1mc1ou a partida com 1.e4!
"Obviamente, preparando-se para o próximo
match pelo Campeonato Mundial, ele queria
ampliar seu repertório de aberturas", decidiu
Kortchnoi, que respondeu com a Variante
Aberta da Ruy Lopez. Após o lance 21 das
brancas surgiu uma situação aguda.
Partida 13
T. Petrosian - V. Kortchnoi
Match Moscou x Leningrado, 1965
"Aqui eu pensei por meia hora," escreveu
Kortchnoi. "Como impedir o lance de cavalo
para f5? Se 21...g6 segue 22.f4 com a
continuação praticamente forçada 22 .. . h5
23.f5 hxg4 24.fxe6 :ê:xh4. Em meus
pensamentos voltei várias vezes a essa posição
crítica. As pretas aparentemente têm um ataque,
mas essa posição não me seduz devido à sua
'irracionalidade', o fato de que é impossível
53
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
decidir o quanto é favorável. E eu já imaginava
que após outras continuações as brancas
pudessem ter uma vantagem. Em raciocínios de
um jogador de xadrez o papel principal é
desempenhado por fatores psicológicos.
Freqüentemente eles são guiados não por
avaliações objetivas, mas pelos seus próprios
sentimentos subjetivos, aqueles que eles podem
se permitir. Tal definitivamente seguiria essa
continuação, mas eu a evitei devido ao fato de
que o jogo resultante não seria do meu gosto.
Após longo raciocínio, hesitações e dúvidas, eu
respondi de forma diferente".
21. .. ~c6 22.f4 (22.t~)f5 h5!) 22 ... d4+
23.~g2 ~xg2+ 24.êz)xg2 dxc3 com um final
complicado. As coisas terminaram em um
apuro de tempo, no qual o último erro foi
cometido por Petrosian. "Em suas partidas
comigo, os nervos do grande estrategista com
freqüência o derrubavam." E sse comentário diz
tudo sobre o caráter de Kortchnoi!
A partida foi adiada com um final de torre
sem esperança para as brancas. Ao recomeçar o
jogo, Petrosian desistiu depois de alguns lances.
Naquele mesmo dia, Kortchnoi venceu também
a primeira partida. O Mestre A.Geller recorda:
"Viktor ficou bastante satisfeito com a análise
das partidas. Durante o match de dois turnos
Moscou-Leningrado de 40 tabuleiros, o líder da
equipe visitante, que tinha tido duas partidas
adiadas com Petrosian, passou a noite em claro,
analisando várias dezenas de partidas de seus
conterrâneos, o que, no entanto, não o impediu
de vencer sem demora as duas partidas contra o
Campeão Mundial na manhã seguinte. Em
geral, Kortchnoi em suas análises tinha a
habilidade de 'penetrar' instantaneamente na
posição para descobrir rapidamente a resposta
mais forte a seu favor, uma característica que o
iguala a Alekhine".
Dos torneios de Kortchnoi em 1966, os mais
memoráveis foram as vitórias alcançadas em
Bucareste (12½ em 14!) no Memorial Tchigorin
em Sochi (11 ½ em 15) e o melhor resultado de
todos no primeiro tabuleiro reserva da
54
Olimpíada de Havana (10½ em 13). Como de
costume, não faltou ali a Defesa Francesa: para
Viktor, o Terrível, esta é verdadeiramente uma
abertura para todos os tempos! A partida
descrita a seguir ilustra bem o seu modo de
jogar.
Partida 14
D. Minic - V. Kortchnoi
Bucarest 1965, 5ª rodada
Defesa Francesa Ct 8
1.e4 e6 2.d4 d5 3.'<lc3 ii.b4 4.e5 c5 5.a3
ii.xc3+ 6.bxc3 fi:Je7 7. ~g4 (7 .a4 - partidas 12,
22 e 23) 7 ... ~c7
O sacrifício dos peões g7 e h7 está mais de
acordo com o credo de Kortchnoi do que
7 ... fi:Jf5 (partida 3). Entretanto, contra Minic
um ano após, no match Iugoslávia - URSS
(Budva 1967), ele escolheu o sólido 7 .. . 0---0!
8.fi:Jf3 (hoje em dia as esperanças das brancas
estão associadas com 8.ii.d3!?) 8 ... fi:Jbc6
9.ii.d3 f5 10.exf6 !!xf6 11.ii.gS (11.~5?! h6
12.0---0 c4! 13.i.e2 ~a5 14.ii.d2 ~d7 15.2âfbl
~c7, com igualdade, Mecking-Kortchnoi Wijk
ann Zee 1978) 11 .. JH'7 12.~5 g6 e os
jogadores concordaram com um empate,
embora após 13.~4 c4 14.~e2 ~a5 15.i.d2
fi:Jf5 16.~gS i.d7 a posição ainda seja repleta
de luta (Ljubojevic-Kortchnoi, Llnares 1985).
8.~xg7 ãg8 9.~xh7 cxd4
As pretas declaram sua prontidão em
lançarem um contra-ataque na primeira
oportunidade. Surge uma posição muito aguda,
na qual nenhum dos dois reis se sente
totalmente confortável e a diferença entre
defesa e ataque não é nítida. Aqueles que
entram nessas complicações (indepen-
dentemente de com as brancas ou com as
pretas) correm um considerável nsco
estratégico.
10.Wdl
Um lance bizarro e original, à moda do

jogado por Tal na 1ª partida do seu match com
Botvinnik em 1960 (de fato o que ocorreu foi
6 ... t!fc7 7.'i!fg4 f5 8.'i!fg3 fi:Je7 9.t!fxg7 :Sg8
I0.1!fxh7 cxd4 11.@dl!? - volume 2, partida
127), e então também por Bronstein. As
brancas querem jogar fi:Jf3 e então um possível
~g5, de forma diferente da variante usual com
IO.l2Je2 fi:Jbc6 11.f4 (partida 27).
10... ~bc6!
Se 10 ... lz:id7 1 l.fi:Jf3 e as chances das pretas
estarão reduzidas a 11 ... lz:ixe5 (cj comentário a
seg,11ir'), pois dificilmente elas igualarão com
l l...lz:ic5 12.lz:ig5 ou 11.. .fi:Jf8 12.'i!fd3 dxc3
(12 ...t!fxc3? 13.t!fxd4) 13.âbl etc.
11.fi:Jf3 dxc3
Evitando a perigosa variante 11 ... fi:Jxe5
12.ii.f4 t!fxc3 13.fi:Jxe5 t!fxal+ 14.ii.cl d3!?
{também não é claro 14 ...:Sf8 15.ii.d3 .i..d7
16.@e2, Tal-Bronstein, partida rápida, Moscou
1967) 15.t!fxf7+@d8 16.'i!ff6! dxc2+ 17.@d2
1!rd4+ 18 ..i..d3 @e8? 19.@e2! ii.d7 20.ii.e3
!fb2 21.~cl iâc8 22.fi:Jxd7, vencendo
(Bronstein-Uhlmann, Zagreb 1965). Somente
20 anos depois foi encontrada a melhor defesa
- 18 ... 'i!fc5! (B. Stein-Beliavsky, Londres 1985).
12.fi:Jg5!?
Uma tentativa de melhoria. A partida Minik-
Ivkov (Titogrado 1965) seguiu 12.:Sbl .i..d7
13.ii.g5 0--0--0, com igualdade, enquanto após
12 ..i..f4 (Kuijpers-Padevsky, Moscou 1963) há a
boa resposta 12 ... 't!fb6!.
12 •• J:!f8
Viktor, o Terrível
Uma resposta relativamente modesta. Um
jogo indefinido e irracional resulta após
12 ... t!fxe5 13.t!fxf?+ @d7 (mas não
13 ... @d8? 14.t!fxg8+ fi:Jxg8 15.fi:Jf?+ e fi:Jxe5
Minic-Zinn, Zonal de Halle 1967) ou
12 .. .'tJxeS 13.f4 (13 ..i..f4 't!fb6!) 13 ... :Sxg5!?
(também tem sido jogado 13 ... f6) 14.fxg5
lz:i5g6 e 15 ... e5! e o poderoso peão central,
juntamente com a triste posição do rei inimigo,
dá às pretas todas as razões para otimismo
(Adorjan-Portisch, Campeonato Húngaro
1966), assim como o recentemente na moda
12 ... fi:Jd8!? 13.f4 .i..d7 (Short-Neelotpal,
Dhaka 1999).
O lance da partida permite às brancas
defenderem seu peão e5, retornando sua dama
e tomando o peão c3, não com o seu cavalo em
e2, mas em g5, o que obviamente é mais
promissor. Mas, por outro lado, o rei branco, ao
se movimentar para d 1, não poderá mais buscar
proteção na ala do rei e as pretas têm um plano
envolvendo o roque na ala da dama e a rápida
abertura do centro.
13.f4 .i..d7 14.'i!fd3
Prometia pouco 14.~d3 't!fb6 (O'Kelly-
Pietzch, Havana 1965). No tabuleiro Kortchnoi
pensou que 14.:Sbl fosse mais desagradável
para ele; contra isso, mais tarde responderam
14 ... fi:Ja5 (Pietrusiak-Uhlmann, Zonal de
Halle 1967).
14 ... 0-0-0 (não 14 ... lz:id8?! ou 14 ... d4?!
devido a 15.fi:Jh7) 15.t!fxc3 @b8
Talvez fosse melhor o imediato 15 ... d4!?
16.'i!fc5 fi:Jd5 e ... f7-f6.
16.~bl (16.a4!? Kortchnoi) 16... d4 17.t!fc5
~d5 18.~e4?!
"Agora as pretas têm chances aproxi-
madamente iguais. Deveria ter sido jogado
18.~d2." (Kortchnoi). As brancas teriam
ameaçado jogar @e 1 e ~d3 e iniciado a
conversão do seu peão a mais. E se 18 .. . f6,
então 19.~h7 (com ganho de tempo!) 19 ... :S.t7
20.fi:Jxf6 fi:Jxf6 21.exf6 .1:!xf6 22.g4!? e5 (após
22 .. J!:!xf4? há a punhalada 23 ..i..a6!) 23.f5 etc.
55
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
18... f6 (desenvolvendo com sucesso o seu
plano) 19.exf6
19 ... eS! (não perdendo tempo com
19 ... {Jxf6) 20.il.d2
''A única defesa contra a ameaça de ...~f5."
(Kortchnoi). Não mudaria nada 20.~a6 b6. A
posição central das brancas lentamente começa
a se desmoronar: é difícil para o seu rei
encontrar uma proteção segura.
20 ... il.fS 21.il.d3 exf4 22.@cl @a8
23.~el?
Uma imprecisão imperceptível mas séria, que
perde um tempo precioso - a torre está
"batendo" no espaço vazio. Ambos os lados
ainda teriam chances após 23.g4 (Kortchnoi)
com a idéia de 23 ...~xg4 24.:ãgl, ou 23.:ãbS
~h7 (23 .. .ltie3? 24.ila5!) 24.:ãfl ou o
imediato 23.:ãfl b6 24.~c4 {Je3 25.ilxe3
dxe3 26.~c3.
23 ... b6
Com a intenção de ...{Je3 - esse cavalo não
pode ser tolerado, mas após a troca em e3 as
pretas adquirem um poderoso peão passado. As
brancas são forçadas a resolverem alguns
problemas bastante difíceis.
24.~c4
"Minik pensou que esse lance fosse o erro
decisivo," escreve Kortchnoi, "mas após
24."i!Ub5 {Je5 as pretas têm uma vantagem
clara." De fato, 25.{JcS {Jxd3+ 26.{Jxd3 :ê:xf6
não traz nenhum alívio, enquanto se 25.Wb2,
56
então 25 ... {Je3 !.
24 ...{Je3 25.il.xe3 dxe3 26.'i!fc3 'i!fd7!
Kortchnoi constrói a sua iniciativa com lances
fortes e naturais. O tentador 26 .. .!Ue8 teria
permitido a ativação da torre - 27.:ê:b4! (não é
tão bom para as brancas 27.{JcS :ãe5! 28.{Ja6
"i!Ud6) 27 ...:ãc8 28.:ãc4 com a idéia de 28 ... li.e6
29.:ãxc6! ~xc6 30.~xc6+ :ãxc6 31 ..t.bS li.d5
32.{Jc3! li.xg2 33.{Je2, com igualdade. As
coisas também não são totalmente claras após
28 ... b5!? 29.f7! bxc4 30.fxe8'%!U .lâxe8
31.'%!Uxc4 .lâb8 (31..."i!Ub6 32.{JcS!; 31...:ãc8
32."i!Uc3!) 32.{Jc3 ~d6 33.{JbS "i!Uf6 34.'i!fc3,
com o objetivo de trocar as damas.
27.~fl
Parece mais astuto 27.g3, quando o simplório
27 ...:ãc8? leva a 28.{Jd6! 'i!fxd6 29.~xf5, com
igualdade. Mas nesse caso, as pretas têm a boa
resposta 27 ... :ê:fe8! 28.f7 (não 28.gxf4 ilxe4
ou 28.{:igS :ãe5! com a ameaça ...:ê:c5, e se
29.:ãbS, então 29 ... ~xd3 30.:ãxe5 {Jxe5
3 l."i!Uxe5 :ãc8, vencendo) 28 ...:ãxe4 29.li.xe4
li.xe4 30.gxf4 ~xf7 31.'%!Uxe3 ii.f5! com um
ataque irresistível ao rei.
27 ... ~c8! 28.@b2 (28.:ãxf4 {Je5 29."i!Uxe5
~xd3 30.:ê:b2 e2, vencendo - Kortchnoi)
28 ...{Jd4
Seria mais simples 28 ... ~d5!, forçando
29.:ãxf4 {Je5 30.~4 {Jxd3+ 31.cxd3 "i!Ue5+
(não 31...li.e6?! devido a 32.{Jc3! 'i!fxg2+
33.Wal :ãxc3 34.~xf8+ :ãc8 35.'i!fxc8+!
li.xc8 36.f7 ~g7+ 37.d4 ~f8 38.:ãgl ! e2
39.Wb2, com igualdade) 32.lz:'lc3 .t.xd3 33.:ãcl
:ãxf6 com vantagem esmagadora, ou
3 I...:ãxf6! ! (ameaçando ...:ãfc6, e ... Ji.e6, e
... ~xd3) 32.{Jxf6 :ãc2+! 33.@xc2 ~xd3+
34.Wb2 ~xbl+ 35.Wc3 ~d3+ 36.Wb2 ~c2+
37.@al ~cl+ 38.Wa2 li.e6+ com ameaças
arrasadoras.
29.~b4 a5
Isso é também muito bonito e coloca as
brancas em problemas virtualmente insolúveis.

30.'i!fel?
Um lance passivo, que conduz a uma
atástofe imediata. Seria necessário muito mais
cngenhosidade das pretas após 30.~e7! l!fa4
JU!bcl (mas não 31.:S.xf4 ãfe8! ou 31.f7
~b5!), por exemplo:
1) 31.. . .l:3.fe8?! 32.~d6 :ãc6! (32 .. J!xc2+
33.I!xc2 'i!fb3+ 34.<.ticl ~xd3 35.'i!fdS+ <.tib8
36.!fd6+ com xeque perpétuo; também não é
claro 32 ...ii.xe4 33.f7 ~xd3 34.fxe8~ :ãxe8
35.t!i'dS+ <.tib8 36.cxd3 ou 33 ... .l:3.xc2+
34.~xc2 ~b5+ 35.Wal tiJxc2+ 36 ..l:3.xc2
tfxfl+ 37.Wa2 ~b5 38.fxe8'i!f+ 'i!fxe8
39.I!b2) 33.!fd5 (33.~xf4? e2!) 33 ... ~ e6
34.~c3! (34.f7 fü8!) 34 .. ..1l.xd5 35.tiJxa4
llxf6 (35 ... f3 36.tiJc3 fxg2 37.f7!) 36.:ãxf4!
llxf4 37.~xb6+ Wa7 38.~xd5 !!t2 39.!!el
com chances de empate;
2) 31...~bS! 32Jâxf4 .l:3.fe8! 33.~xe8
lfxa3+ 34.<.tibl .l:3.xe8 35 ..l:3.xfS ~d4 ou
32.~xbS 'i!fxbS+ 33.<.tial t!i'a4 34.c4 (34.:ãxf4
&e8 35.'i!fd6 ~xe4 36.f7 .l:3.c8, vencendo)
34.. J:ke8 35.tiJc3 'i!fc6 36.~g7 'i!fxc4 com
um ataque vencedor.
30 ... ~xc2! (também teria sido decisivo
30 ...!!xc2+! 31.~xc2 l!fhS+ 32.@cl liJe2+)
31.~xc2 'i!fb5+ 32.~b3 ~xe4 1-0
Sem dúvida, depois de l.e4 e6 2.d4 d5 foram
usados contra Kortchnoi não só 3.lf:lc3 (mais
ou menos umas duzentas vezes), mas também
3.~d2 (umas cem vezes). Ele tentou 3.. .'~Jc6 e
Viktor, o Terrível
3.. .tiJf6, mas o que mais jogou foi 3 ... c5,
deixando o peão d5 isolado. Na próxima partida
antológica, ele conseguiu demonstrar de modo
convincente o principal trunfo das pretas nessas
posições, ou seja, jogo de peças ativas, mesmo
sem damas.
Partida 15
A. Matanovic - V. Kortchnoi
Wijk aan Zee 1968, 2ª rodada
Defesa Francesa C08
1.e4 e6 2.d4 d5 3.~d2 cS 4.exdS exdS
5.~gf3
Em mais de 20 vezes em partidas de
Kortchnoi também ocorreu 5.Xlb5+ ~d7 - por
exemplo na 16ª e na 22ª partidas de seu match
com Karpov (Baguio 1978).
5 ... a6
Algumas vezes Kortchnoi respondeu
5 ... ~f6 ou 5 ... c4, mas principalmente
5 ... ~c6 6.~b5 ii.d6 (mais o experimental
6 ... cxd4 7.'i!fe2+ 'i!fe7 ou 6... 'i!fe7+) 7.0-0
tiJge7 8.dxc5 ii.xcS 9.~b3 ii.d6 (o primeiro
match com Karpov, Moscou 1974) ou 9 . .. ~b6 -
contra Anand (partida rápida, Londres 1994) e
McShane (Reykjavik 2003). Toda uma época!
6.dxcS (Geller e Tal preferiam 6.~e2!)
6 ... ~xc5 7.~b3 .i.a7! 8.~d3
Podemos também mencionar 8.~g5 liJe7
9.'i!fe2 tiJbc6 10.0---0-0 0-0 l 1.'i!fd2 ~f5
12.tiJfd4 tiJxd4 13.'~Jxd4 ii.xd4 14.'i!fxd4 .l:3.c8
15.~d3 f6 (Stein-Kortchnoi, Moscou 1967) ou
8.~e2 tiJf6 9.0-0 ~c6 10.ii.gS 0-0 l l.c3 !!e8
12.'~bd4 'i!fd6 (Estevez-Kortchnoi, Interzonal
de Leningrado 1973), em ambos os casos com
igualdade.
8 ... 'i!fe7+!
Isso havia sido jogado em 1950 por Lásló
Szabó. ''Aqui pensei que Matanovic estava
verdadeiramente surpreso: é difícil acreditar que
as pretas, com o peão d5 isolado, estivessem
elas mesmas oferecendo a troca das damas..."
57
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(Kortchnoi). De forma especial pelo fato de que
no duelo anterior entre os mesmos adversários
(Olimpíada de Havana 1966) tivesse seguido
8 ... lz::lc6 9.0---0 com ligeira vantagem para as
brancas.
9.ife2
Ou 9 ..fi.e2 lz::lf6 10.0-0 0-0 11.lz::lfd4
(11.~gS!? Keres) 11...lz::lc6 12.gel lz::le4
13.ii.e3 lz::le5 14.lz::ld2 f5, com igualdade (Ciric
- Kortchnoi, match Iugoslávia - URSS, Budva
1967).
9 ... lz::lc6 10.0-0 j_g4 11.h3 il.h5 12.ii.f4
ifxe2 13.il.xe2 lz::lf6 14.c3 0-0 15.ãfel gres
"É razoável supor que as brancas não estejam
piores. Mas o peão d5 como que hipnotizou
Matanovic. Afinal de contas, no final da partida
essa é uma fraqueza, um alvo conveniente! Ele
então, pensando que tinha uma vantagem,
olhou para as maneiras de convertê-la.
Enquanto isso, as pretas não experimentam
nenhuma dificuldade. Suas peças estão
dispostas de forma harmoniosa e ativa, mirando
as casas centrais. Em tal situação, o peão de d5
não é uma fraqueza, mas um ponto forte!"
(Kortchnoi)
16.g4?!
"E aqui está a consequencia das pretas
superestimarem as suas chances. Matanovic
queria transferir o seu bispo de casas brancas
para g2, mas ao fazer isso enfraquece seus
peões da ala do rei - e na seqüência esse será o
fator que o levará à derrota," escreve
58
Kortchnoi, agregando que, após 16.ii..fl, ele
provavelmente teria jogado 16 ... ge4, se bem
que 16 ... .fi.xf3 17.gxf3 d4 seja mais simples,
com igualdade.
16 ... il.g6 17.iHl ãe4 18.i!xe4 il.xe4
19.ii.g2 h5! 20.g5 lz::ld7 21.ãdl lz::lf8 22.~e3
(trocando o forte bispo em a7) 22 ... ~xe3
23.fxe3 lz::le6 24.h4 ãe8 25.<i!?f2 lz::le7 26.~h3
~c2 27.ãal
Kortchnoi pensou que essa fosse a única
defesa: "após qualquer outro lance da torre" -
digamos, 27 _gfl !? - "teria seguido 27 ... ~xb3
28.axb3 lz::lc5." Entretanto, 29.lz::leS teria dado
às brancas jogo suficiente: 29 ... lz::lxb3 30.'i!?e2!
lz::lc5 31.lz::lxf7 ou 29 ... lz::lfS 30 ..fi.xfS gxe5
31.~c2 lz::le4+ 32.'i!?g2 <i!?f8 33.ãf4 We7
34.'i!i'f3.
27 ... lz::lg6 28.~xe6?
Um erro fundamental, que livra as pretas do
seu peão isolado. Seria correto 28.lz::lbd4 .fi.e4
29.t:i:dl, ainda mantendo aproximada igualdade.
28 ...fxe6 29.'i!?g3 (após 29.lz::lcS ~.f5 é mau
jogar 30.lz::lxb7? gb8, enquanto se 30.<i!;>g3,
então simplesmente 30 ... ge7) 29 ... eS
30.lz::lbd2?!
O lance 30.lz::lcS oferecia melhores chances
de empate.
30 ... lz::le7 31.ãel lz::lf5+ 32.'i!?h3 lz::ld6
33.'i!?g2 'i!?f7 34.lz::lfl 'i!?e6 35.lz::lg3 g6 36.lz::ld2
ãf8 37.ãe2 b5 38.ãf2 ii.f5 39.<i!?fl ãc8
40.'i!?el a5 41.a3 b4 42.axb4 axb4 43.lz::le2
!!a8 44.lz::lb3 lz::le4 45.ãh2 i!b8 46.cxb4 !!xb4
47.lz::lbcl
 Víktor, o Terrível

47... lz)d6 N o entanto, tudo poderia ter sido diferente,

-roda essa etapa da partida é de natureza
licnica. A posição das brancas é perdida: são
iaapazes de defender seus peões enfra-
tpcridos." (Kortchnoi)
G.b3 (48.êi:ic3 êi:ic4) 48 •••êi:ie4 49.êi:igl êi:ic5
•<itidl lz)xb3 e as brancas abandonaram no
f,4º lance (0-1). Kortchnoi considerou essa a
adhor partida jogada por ele nessa variante.
A crença na solidez das posições "francesas"
axn um peão dS isolado é um tema recorrente
ao toda a carreira de Kortchnoi. Até certo
ponto, ele segue o princípio de Bronstein,
bmulado anos antes no match disputado com
Botvinnik (1951): com um jogo preciso, é
possível deter o "isolani'! De fato, Kortchnoi
aio perdeu nenhuma partida com a "Francesa"
DOS matches com Karpov (1974 e 1978). Mas, de
broa objetiva, deve ser dito que às vezes ele se
envolvia em defesas muito extensas e
obstinadas, em posições bastante duvidosas. No
apítulo sobre Karpov, veremos com que
sutileza ele as tratou com as brancas (partidas 52
t 53').
uma vez que Kortchnoi venceu Gipslis
literalmente por um milagre. Minha atenção
também se voltou para o estágio de abertura
desta partida dramática.
Partida 16
V. Kortchnoi - A. Gipslis
Match Tallin 1967
Abertura Inglesa AJO
1.c4
Jogando com as brancas, Kortchnoi sempre
preferiu as partidas fechadas e normalmente só
abre com l .e4 de forma experimental e quando
fez preparações decisivas para um adversário
específico.
1. .. c5 2.êi:if3 êi:if6 3.êi:ic3 e6 4.g3 b6 5.iLg2
il.b7 6.0-0 ile7 7.d4 cxd4 8.Wfr'xd4 0-0 9.e4
êi:ic6 10.Wfr'd3

As Experiências Scheveningen
Kortchnoi começou o próximo ciclo do
Campeonato Mundial com o Zonal, 34º
Campeonato da URSS (fblisi, 1966-67). Dessa
vez, ele se ateve puramente à estratégia racional
de torneios, tendo como objetivo uma das
quatro vagas classificatórias. Mas, apesar de
invicto, ele não conseguiu de imediato o seu
objetivo: 1.Stein -13 em 20; 2.Geller - 12½; 3- 10 ... dS
5.Gipslis, Kortchnoi e Taimanov - 12, etc.
"Essencial, de outra forma as pretas
Para peneirar a "quinta vaga extra", foi
acabariam em uma posição restringida,"
preciso realizar um match-torneio adicional de
escreveu Kortchnoi logo após a partida, mas em
dois turnos com três jogadores (Tallinn, 1967).
Que prova difícil! Taimanov terminou as quatro 1995 ele acrescentou: "Dúzias dos jogadores de
partidas com empate, enquanto Kortchnoi e hoje em dia estão prontos para fazer de mim
Gipslis se debateram e o resultado foi que todos motivo de piada por essa frase. No entanto, há
os três jogadores fizeram 2 em 4. Taimanov, que 30 anos atrás e anteriormente, mestres (aqueles
tinha um coeficiente mais baixo no torneio que compreendiam o xadrez eram muito
principal, foi eliminado. inferiores aos mestres modernos) apresentavam

59
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
as coisas da seguinte forma: 'o lado que está
restringido tem dificuldade em manobrar as
suas peças.' Mas os criadores do 'esquema
porco-espinho' - o qual é personagem total-
mente viável nos eventos dos dias de hoje -
modificaram a fórmula: 'o lado que ocupou
espaço tem problemas com a defesa dos seus
postos'. No caso do 'porco-espinho' - com a
defesa dos peões c4 e e4. Em certas ocasiões eu
também joguei o 'porco-espinho' - quando
tinha que lutar desesperadamente por uma
vitória com as pretas. Mas, em princípio, tanto
Gipslis como eu somos jogadores com uma
abordagem clássica da estratégia do xadrez e
não reconhecemos o insidioso 'porco-
espinho!'" (Para mais detalhes sobre o 'porco-
espinho', veja o volume 1 da série Xadrez
Moderno).
11.eS?! ~d7! 12.cxdS ~b4 13.'i/.fe4?!
~xd5, e pelo 30º lance surgiu um final de peças
menores com um peão a mais e chances de
vitória para Gipslis, mas em feroz apuro de
tempo ele não conseguiu fazer seu 40º lance, o
último antes do controle de tempo! A respeito
disso, Kortchnoi comentou: "Eu não gosto das
expressões freqüentemente utilizadas pelos
analistas - 'partida crucial', 'guerra de nervos',
'erros em massa' - mas é difícil explicar de outra
forma o desfile teatral de erros menores e
enganos vexaminosos, concluindo em suicídio,
ou mais exatamente - na perda da partida."
Kortchnoi não demorou em demonstrar
brilhantemente que estava certa sua entrada no
torneio Interzonal. Em maio de 1967, em
homenagem ao 50º aniversário da Revolução de
Outubro, a URSS organizou simultaneamente
dois grandes torneios internacionais, um de
"super-star!' em Moscou (vencido por Stein) e
outro mats modesto em Leningrado.
Naturalmente, Viktor Lvovitch tinha todo
direito de jogar em Moscou, mas foi obrigado a
jogar em Leningrado "para fortalecer o
60
sistema". O resultado foi impressionante: 1.
Kortchnoi - 13 em 16 (+10=6); 2.Kholmov -
12; 3-4.Barcza e Taimanov - 10½ etc.
V. Osnos e P. Kondratiev escreveram na
revista Shakhma!J de Riga: "O resultado de
Kortchnoi é excepcionalmente elevado, mas
para ele não é uma raridade. É sabido que a
forma competitiva, da qual tantas coisas
dependem, não pode se manter imutável por
muito tempo. E em algumas ocasiões ocorreu
que os maiores sucessos do excepcional Grande
Mestre de Leningrado foram alcançados, por
assim dizer, na hora 'errada'. E no momento
mais importante, isto é, no evento
classificatório da FIDE, Kortchnoi se encon-
trava 'em baixa'. Assim, no 34º Campeonato da
URSS e no conseqüente match-torneio dos três
ele teve uma atuação apenas 'satisfatória'. Já em
Leningrado, ele melhorou o jogo de rodada em
rodada. É de se esperar que esta tendência
permaneça constante, e que ele chegue em boa
forma ao próximo Torneio Interzonal...
Kortchnoi se manteve sempre fiel ao seu estilo
original e inimitável. A partida disputada com
Suetin é um exemplo clássico de sua crença
criativa no jogo com ás pretas (de início, defesa,
se possível com aquisição de material e, depois,
com o contra-ataque)".
O relato dessa partida requer uma breve
introdução. A contribuição de Kortchnoi à
teoria da Defesa Francesa e da Variante Aberta
da Abertura Espanhola é bem conhecida, mas
muitos jogadores, especialmente os jovens, não
têm a mínima idéia de que ele tenha sido o
inventor de importantíssimos desenvolvi-
mentos na Variante Scheveningen da Defesa
Siciliana. Contra Kholmov (Zonal de Moscou
1964), após 1.e4 c5 2.~f3 e6 3.d4 cxd4
4.~xd4 l2'if6 5.l2'ic3 d6 6.it.e2 ii.e7 7.0--0 0--0
8.i..e3 ~c6 9.f4 ele utilizou pela primeira vez o
que desde então se tornou um plano clássico -
9 ...ii.d7 10.~el l2'ixd4 11.it.xd4 ii.c6

Após 12.l!f g3 as pretas fazem o lance-chave
12••. g6. Uma debilidade assim na ala do rei
parece inadmissível, mas Kortchnoi estabeleceu
que é difícil para as brancas a sua exploração e
as pretas têm tempo suficiente para armarem
um contrajogo na ala da dama. Além disso, as
brancas têm um peão fraco em e4 (ou, se ele
puder avançar, em e5).
Kholmov escolheu a continuação sólida, mas
passiva 13.~e3 e após 13 ... l!fa5 14.e5 dxe5
15.fxe5 ~d7 16.B'.adl .1i.c5 17 ..i..xc5 l!fxc5
l8.l!fxc5 ~xc5 19 ..i..f3 &c8 20.ãd4 ãfd8
2 l .ãf4 ~e8 as brancas tinham um final
levemente inferior, mas através da sua
engenhosidade defensiva conseguiu salvar a
partida. Em breve foi feita uma nova tentativa,
mas ela também não rendeu bons frutos:
16.~e4?! ~xe5 17.'8f6+ .1i.xf6 18.ãxf6
~d7! 19.!H2 e5 20 ..1i.c3 l!fb6 21.~xb6
axb6 ... 0-1 (Parma-Spassky, Belgrado 1964).
As pretas também têm um bom jogo após
13.Si.f3 b5 14.a3 a5 15.ãadl b4 16.axb4 axb4
17 .e5 (isso somente leva à simplificação)
17 ... .1i.xf3 18.~xf3 bxc3 19.exf6 ~xf6
20.l!fxc3 ~xd4+ 21.~xd4 .:S.a6 22.1âf3 ~a8
23.b4 ãc6 24.B'.al (24.c3 d5 25.f5 :ãc4
26.'i!Ud2 teria mantido um meio-jogo de peças
pesadas aproximadamente igual: as brancas têm
um peão passado, mas a proteção de seu rei está
enfraquecida) 24 ... ~8 25.c3 ãfc8 26.h4 h5
27.'i!Uf6 ~c7 28.:ãa3 d5 29.@h2 ãc4 30.b5?
(mas isso é um erro grosseiro) 30... ~b8 3 I.ãf2
Viktor, o Terrível
ãxb5 ... 0-1 (Milic-Kortchnoi, Belgrado 1964).
Então surgiu 12.~d3. A reação de Kortchnoi
foi original e arriscada: 12 ... a6 (12 ...CzJd7!
13.l!fg3 e5 com igualdade) 13.@hl b5 14.a3
l!fd7 15.!!f3 CzJh5 16.l!fe3 f5 17 ..:S.h3?!
(17.B'.fl) 17 ... ~f6 18.exf5 exf5 19.ãel ãae8
20.l!fd2 êz:Jg4! 21.~e2 ~ f6 e após "jogo
verdadeiramente duvidoso" as pretas conse-
guiram uma posição razoável e até chances de
tomar a iniciativa e no final venceram no 58º
lance (Matanovic-Kortchnoi, Hamburgo 1965).
Somente 16.f5! ~f6 17.'i!Uf2 (Kortchnoi)
teria exposto os defeitos da sua posição. Em
estruturas similares, a ruptura f4-f5 se tornou
típica. Um vívido exemplo é a partida Karpov-
Hübner (Bad Kissingen 1980).
Eu me lembro da minha primeira aula
"Scheveningen", dada por Oleg Privorotski no
Palácio dos Pioneiros em Baku. Foram essas
partidas que me foram mostradas: naquela
época todos cresciam com as partidas dos mais
fortes jogadores soviéticos das décadas de 1950
e 1960. Oleg Isaakovich nos disse: "Como
Kortchnoi nos mostrou, após 9 ... ~d7 10.l!fel
CzJxd4 1 l..~xd4 ~c6 as pretas não têm nada a
temer e dessa forma as brancas devem jogar
10.~b3!". Entretanto, ocorreram outras
formas de desvio e uma delas foi demonstrada
por Suetin.
Partida 17
A. Suetin - V. Kortchnoi
Leningrado 1967, 12• rodada
Defesa Siciliana B83
1.e4 c5 2.êz:Jf3 e6 3.d4 cxd4 4.êz:Jxd4 êz:Jc6
5.l'tic3 d6
Esse é na opinião de Kortchnoi "o lance mais
preciso para as pretas, se elas pretendem jogar a
'Scheveningen': dessa forma elas evitam tanto o
Ataque Keres 6.g4, como a Variante Rauzer
6.ii.g5."
61
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
6.~e3 ~f6 7.ile2 iL.e7 8.f4 0-0 9.'i!Vd2!?
(as brancas evitam 9.0-0 ~d7 - veja acima)
9 ... ~xd4
Agora, se 9 ... ~d7 há o desagradável
10.0,dbS, embora o defensor natural esteja
também preparado para defender sua posição
restringida: 10 ... dS 11.eS 0,e8 12.0-0 g6
13.0,d4 0,g7 etc. (Llberzon-Kortchnoi, 38º
Campeonato da URSS, Riga 1970).
A partida Sakharov-Krogius (32º Campeo-
nato da URSS, Kiev 1964/65), na qual se
originou o plano com 9.'i!Vd2, seguiu com 9 ... a6
10.0-0-0 'i!Vc7 l 1.g4! com a iniciativa para as
brancas, a qual em princípio foi confirmada pela
prática posterior. Ao redor do final do século,
1O... lZ:ld7 11.g4 lZ:lxd4 se tornou popular. E de
imediato o contra-ataque central 9 ... eS !
(Kupreichik-Kasparov, Kislovodsk 1982) foi
considerado o melhor método para igualar a
partida.
10 . .âxd4 ~d7 11.eS (de outra forma
11 ... ii.c6 e o cavalo não é forçado a se retirar
para e8) 11 ... dxeS 12.fxeS ~e8 13.0-0
"Uma continuação mais tranqüila do que o
duplamente agudo 13.0-0-0. A ausência de
pressão direta no peão eS dá a vantagem às
brancas." (Osnos, Kondratiev) . Mas se as pretas
conseguirem resolver o problema do seu
"cavalo mau" em e8, essa vantagem se
evaporará.
13 ... .ãc6 14.ãadl "i!f a5! (ao invés do
desanimado 14 ... ~c7 as pretas criam a ameaça
de ... ~d8xd4 e ...ii.cS) 15 ..1Lf3
Parece mais atraente 15.a3 com a idéia de
15 .. Jâd8 16.~e3 ~xd4?! (16 ... b6 17.<tihl !)
l 7.ãxd4 ii.cS 18.b4! ~xd4 19."i!fxd4 ~xa3
20.bS ii.dS (20 ... ~d7 21.lZ:le4 e ãal) 21.lZ:lxdS
exdS 22.ãal W!/e7 23.~xa7 etc. Entretanto,
aqui é correto 15 ... lZ:lc7! e após 16.b4
(16.W!/e3 lZ:ldS) 16 ... ~xa3 17.bS as pretas se
salvam através de 17 ... ~ad8! 18.lZ:lbl ãxd4
19.~xd4 'i!faS 20.c4 a6!.
15 ....ãxf3
"Uma imprecisão significativa. Através de
62
15 .. Jâd8 (com a ameaça .. Jâxd4 e ... ii.cS) as
pretas teriam ganho um tempo importante para
o reagrupamento." (Osnos, Kondratiev). Por
exemplo: 16.~e3 .ãxf3 17Jâxf3 ti:Jc7,
igualando com rapidez. Mas Kortchnoi é ávido
por mais!
16.i!xf3 ãd817.<tihl (17.~f2!?) 17... ~c7
"Agora, se 17 ... ii.cS, é possível 18.lâd3."
(Osnos, Kondratiev). E após l 8 ... Ji.xd4
19.~xd4 ~xd4 20.'i!fxd4 lZ:lc7 21.a4 as brancas
têm alguma vantagem e, mais importante - um
jogo fácil.
18.l:!g3 i!d7!?
Parece que as pretas estão correndo um risco
deliberado, provocando o fogo inimigo. Teria
igualado 18 ... f6 19.exf6 (19.'i!fh6 ãf7)
19 ... ii.xf6 20.âd3 ~xd4 21.ãxd4 ãxd4
22.'i!fxd4 ~fS, mas as brancas forçariam o
empate através de 20.Ji.xf6 ~xd2 21 .~xg7+
'iith8 22.ãf7+ 'iitg8 23.2âg7+.
19.W!/h6 ~e8 (que pena...) 20.~e3
O peão eS e o bispo em d4 paralisam a
posição das pretas e se o cavalo branco se
movesse de c3 para e4 e o peão de c2 para c3,
elas estariam totalmente sem contrajogo.
20 ... hS!
"Como sempre, Kortchnoi confronta seus
adversários com os maiores obstáculos."
(Osnos, Kondratiev). Uma defesa paradoxal
fora do comum: naquela época era considerado
de certa forma não aceitável fazer um

~ e nto assim com o peão à frente do rei.
Mas as pretas querem finalmente trazer o seu
canlo para o jogo através de ... g7- g6 e
-~7- f5 e as brancas não terão o típico lance
à ttStriçào g2-g4.
Com esse mesmo objetivo, não seria mau
3Lg6 - por exemplo, 21.ID13 h5 e ...0.g7,
mas então as brancas teriam pregado o peão em
•1 através de 2l.~h6, embora após 21...f6 (é
tb2mente aceitável 21...0.g7?! 22.l:ni3 ft::lh5
23.1Idd3! !'3xd4 24.ãxd4 l!i'xe5 25.l!i'd2)
22.ItbJ ãt7 e é duro para elas contarem com
«pdquer vantagem real.
O curso posterior da partida mostrou que a
acolha de Kortchnoi foi correta. Suetin
despendeu bastante tempo, mas foi incapaz de
ai2r qualquer ameaça séria na ala do rei,
mfraquecida pelo avanço do peão h e as pretas
conquistaram contrajogo suficiente. Na
wadade, elas sempre tinham que lembrar que a
ausência do peão em h7, em conjunto com a
mfraquecida casa f6, na qual o cavalo branco
estava avidamente de olho, eram poten-
cialmente uma fonte de problemas, e que após
o menor deslize esses problemas se tornariam
insolúveis.
21.nn (21.'tife2!? e ãgd3) 21...l!i'b4
22.~e2 "Wc4 23.c3 g6 24.!Igf3 lt::lg7 25.b3
••6 26.~g3 h4 27.~e4 0.rs 28.'!Wf4 'i!fxa2
"Somente quando o cavalo se estabelece em
15, de onde cobre as abordagens imediatas ao
seu rei, as pretas se aventw:am a capturar o peão
a2.'' (Osnos, Kondratiev)
Viktor, o Terrível
29.i.cS
" Um lance tentador, mas não promete às
brancas mais do que o empate. Teria conduzido
a um jogo incerto e complicado 29.g4 hxg3
30.hxg3 ctJg7 31.g4 ãh8+ (31 .. .liJxd4 32.J1b3!
- G.K) 32.Wgl ãh4" (Osnos, Kondratiev).
Mas isso é refutado pelo simples 33.i.f2. E se
32 ...ãxd4 33.cxd4 l:ni4, então 34.gxfS! ã xf4
35.f6+ i.xf6 36.exf6+ Wg8 37.:Sxf4 'ii'xb3
38.:Sh4! quando a ameaça de llf2-h2 e lãh8
mate dificilmente pode ser evitada.
Entretanto, ao invés de 30 ... 't;g7? ou,
digamos, 30...°Wxb3? 3 l.g4 0.xd4 (outros
lances também não salvariam as pretas)
32.'i!fh6! e 0.f6+ com mate, as pretas tinham
uma boa escolha entre 30...?ie2! e 30...0.xd4
31.cxd4 i!fc2!, quando em ambos os casos o
ataque das brancas seria imobilizado.
29...lJe2
Um sólido lance de alivio: a dama retorna ao
centro dos acontecimentos. Pode parecer que o
potencial defensivo das pretas seja tão grande
que elas poderiam estancar qualquer ataque
mesmo no caso do arriscado 29 ... 'i!fxb3
30.~xe7 ãxe7 31.l:ni3 Wg7, por exemplo:
32.ã xh4 ã d7 33.l!i'g5 lt::lxh4 34.'tiff6+ Wg8
35.l!fxh4 Wg7 ou 32.g4! hxg3 33 .hxg3 ruis
(33 ...'i!fdS 34.g4) 34.~h8 Wxh8 35.g4 Wg7!
36.gxfS exf5 com plena compensação pela
peça (é improvável que existisse qualquer coisa
melhor do que 37.ft::lf6 'i!fxc3 38.lt::lhS+ $'g6
39.0.f6+ com xeque perpétuo).
30.ã3f2 'i!fd3 31Jl f3 {ou 31.~xe7 ãxe7
32.ãd2 'i!fe3, com igualdade) 31. .. "We2
32.!!3f2 'i!fd.3 (um empate por repetição?)
33.l!d2?!
"Como ocorre freqüentemente, o lado que
ataca superestima as suas chances." (Osnos,
Kondratiev). Eu acrescento: em um agudo
apuro de tempo!
63
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
33.. J!fxd2! 34.fLJxd2 ~ xc5 (a torre, bispo e
peão são compensação excelente pela dama)
35.l2le4 ~e3 36.li:if6+?!
"Subitamente encontrando-se no papel de
defensor, Suetin atua de maneira extremamente
incerta. Seria essencial 36.t!ff3 , com a ameaça
de li:if6+, e se 36...Wg7, então 37.l2id6 com
boas chances de empate." (Osnos, Kondratiev)
36...©g7 37.t!t'c4 (37.l2lxd7? .txf4
38.li:ixf8 _txeS 39.4Jd7 .txc3, vencendo)
37....ãdd8
Com a idéia de âh8!. O peão h parece ser
uma fraqueza, mas prova ser forte, pois evita
que as brancas libertem seu rei através de
g2-g3. E desde que seu rei esteja sob perigo
constante, é difícil para elas criarem qualquer
contrajogo efetivo.
38.4Jg4 lib6 39.CzJf2? (um erro fatal, com a
seta prestes a cair, embora após 39.1We2 .ãh8
com a ameaça de ...lz:Jg3+ a posição das pretas
seja ainda melhor: 40.CzJf2 :ShS etc.) 39....txn
40..ãxn li:ie3 0-1
O torneio interzonal de Sousse (no outono de
1967) foi um dos acontecimentos mais interes-
santes do xadrez naqueles anos, não só pelo
excelente início e retirada sensacional de Bobby
Fischer do torneio. A disputa pelos seis lugares
classificatórios nos matches de Candidatos foi
incrivelmente dramática. Kortchnoi só tinha
64
como objetivo a classificação, alternando
empates com algumas raras vitórias: contra
Kavalek, Byrne, Larsen... Mas depois de perder
nas rodadas 15 e 17 para lvkov e Matulovic,
escorregou do "mais dois" e parecia ter perdido
toda chance de sucesso. Contudo, cinco vitó rias
seguidas, inclusive contra Portisch, que estava
1 ½ ponto à frente, ajudaram-no a reverter a
situação: 1.Larsen - 15½ em 21; 2-4.Geller,
Gligoric e Kortchnoi- 14; 5.Portisch-13½; 6-
8.Reshevsky, Hort e Stein - 13.
Logo depois, agora na categoria dos
candidatos, alcançou a primeira e talvez a mais
importante de suas quatro vitórias em Wijk aan
Zee Ganeiro de 1968): 1.Kortchnoi - 12 em 15;
2-4.Hort, Portisch e Tal - 9; 5.G heorghiu - 8'/2;
6-7.Matanovic e Ciric - 8, etc. O seu início - 8
em 8, depois, 10½ em 11 (quatro pontos à
frente dos adversários mais próximos) poderia
causar inveja ao próprio Fischer! O semanário
moscovita "64" infor mou que, na ocasião, em
Wijk aan Zee, tinha chegado uma carta de
Belgrado, do grande mestre Trifunovic que
dizia: "Até eu, que sou uma velha raposa de
torneios, me assusto com essa superioridade.
Será que todo o mundo, menos Kortchnoi,
esqueceu de como se joga xadrez?"
A Imprensa européia dizia: "Antes, mais de
uma vez, testemunhamos vitórias brilhantes de
Kortchnoi. Agora pode-se afirmar com certeza:
sempre que joga no exterior, Kortchnoi chega
em primeiro lugar... O seu triunfo em Wijk aan
Zee pode ser comparado com a atuação de
Alekhine em San Remo (1930)". Além do mais,
esse triunfo foi fruto de um trabalho árduo: no
torneio, Kortchnoi efetuou 607 lances - mais
do que qualquer outro competidor (Gheorghiu,
por exemplo, fez 345).
Poucos se surpreenderam ao vê-lo vencer
outra partida contra Tal, mas acho que convém
notar a atitude de autocrítica de Kortchooi ao
avaliar seu momento decisivo nessa partida.

Partida 18
V. Kortchnoi - M. Tal
Wijk aan Zee 1968, 8ª rodada
19.lLlxe6?! fxe6?
"As brancas fizeram essa troca, pois não
.ü:mi nenhuma forma de fortalecer a sua
posição. Mas a troca tampouco lhes trará
qualquer benefício em particular. Após
19...!fxe6 as brancas dificilmente contariam
<nm alguma vantagem: seus bispos não tem
objetivos," escreveu Kortchnoi em 1968, mas
cm 1995 ele acrescentou com convicção: "após
I7 anos da conclusão da partida, devo ser mais
funco: no caso de 19 ...'it'xe6, em vista da
posição terrível do bispo em b2, a posição das
brancas está próxima de estar perdida."
2O.c4! (Tal não viu isso) 20 ...it\xc4
O computador prefere 20...~xcS 21.AxeS
&c8, mas, de acordo com Kortchnoi, após
22.1l.xb8 iixb8 23.'i!fb3 "as brancas têm uma
óbvia vantagem posicional." O bispo de casas
brancas contra um cavalo - a combinação
&vorita de Fischer...
21..l xf6 gxf6 22.1l.xc4 dxc4 23.!t'g4+ Wh8
24.'tifd4 (24.\!fxc4!?) 24...l!fd8 25.lWxc4
llxcS 26.bxc5 \Wd7?! (seria mais resistente
26...'it'dS - Konchooi) 27.l!ff4, e as pretas
abandonaram no lance 59. (1-0)
Também é interessante o comentário de
Viktor, o Terrível
Kortchnoi em sua partida com Ciric (10ª
rodada), após 1.d4 d5 2.c4 e6 3.lLlc3 0 f6
4 . .tgS il.e7 S.e3 0-0 6J~cl h6 7..i.h4 b6
8 ..txf6 1l,xf6 9.cxdS exdS 1O.g3: ''Não sei se
esta posição já ocorreu antes, mas Ciric
considera o lance IO.g3 e o plano associado a
ele como invenção núoha. Mais tarde utilizei
várias vezes a variante com 6.:!ãcl, que foi
bastante forte contra a D efesa Tartakower-
Makogooov-Bondarevsky. Para o match
disputado em Merano (1981), Karpov e seus
'camaradas', ao invés de 7 ...b6, prepararam o
forte lance 7 ...c5!." (partida 84).
Naquele ano, Kortchooi finalmente deu um
salto em direção ao Olimpo, ao vencer
Reshevsky (5½-2½) e Tal (5½-4½) nos matches
de Candidatos. Mas e~tão perdeu para Spassky
(3½-6½) tomando-se efetivamente o terceiro
enxadrista do mundo, ganhando o direito de
participar na rodada seguinte, sem precisar
submeter-se à classificação. Todos esses duelos
foram comentados detalhadamente pelos
competidores no adnúrável livro "Matches de
Candidatos', publicado em Belgrado em 1969.
Depois da derrota na final, Vik.tor Kortchnoi
reconheceu que o seu adversário tinha jogado
melhor, principalmente no meio-jogo, e com a
objetividade que lhe era particular, explicou:
"Spassky escolhe para cada adversário o que
não é de seu agrado. Acho que ainda no período
preparatório do nosso match ele esboçou o tipo
de disputa necessário para impor a maneira
mais desagradável de jogo para mim. Para isto
bastava exanúnar algumas dezenas de partidas
núnhas contra enxadristas com estilo de espera
e observar o grau de incerteza que eu mostrava
nessas partidas. Na verdade, não consegui
romper uma só vez o cerco de Spassky'' (cf.
também o início do capitulo "Tempestade no
Olimpo", volume 3).
Durante os dois anos e meio até os próximos
matches de Candidatos, Kortchnoi exibiu uma
série completa de resultados de alta classe: no
final de 1968, venceu um supertorneio em
Mallorca (+10=6, à frente de Spassky, Larsen e
65
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Petrosian); em 1969, venceu mais três Torneios
Internacionais, e em Mallorca dividiu o 3° e 4°
lugares; em 1970, ele se destacou em Rovinj/
Zagreb (dividindo, junto com Fischer, o 2°-6°
lugares) e no 38º Campeonato da URSS em
Riga, onde com grande segurança conquistou a
quarta medalha de ouro (+12-1=8). Ele iniciou
também o ano de 1971 com mais uma vitória
em Wijk aan Zee.
- sucesso); na 6ª e 8ª, ele pôs em jogo as suas
Final dos anos 1960 - Petrosian, Kortchnoí e
Taimanov analisam uma partida
As avaliações atuais que ele faz de seus
próprios comentários sobre as partidas daquele
período são, em geral, autocríticas e agudas. Por
exemplo, na partida com Hübner (Wijk aan Zee
1971): "Estes comentários parecem mais uma
conversa com um jornalista do que um trabalho
sério, mas a partida é interessante". Ou, sua
vitória contra Spassky (Palma de Mallorca,
1968), quando, depois do 20° lance, escreveu:
"A posição das brancas é melhor, mas as p retas
mantêm o equilibrio. D epois de 20.. .d5 21
cxd5 cxd5 22 e5, as chances reais de vencer são
poucas". Mas, agora ele admite francamente:
" Um comentário fraco, do princípio ao fim. A
primeira frase não tem sentido: como a posição
das brancas é melhor ou como há equilibrio no
tabuleiro? Na variante em questão, as brancas
estão em melhor posição graças à fraqueza dos
peões do lado da dama das pretas".
O adversário de Konchnoi oo matcb de
quartas-de-final do Torneio dos Candidatos de
1971 foi o altamente experiente Efim Geller,
(cf. o capítulo "Petrovitch -Ameaça aos Can,peõel',
66
no volurne 2). Na primeira partjda, Geller
empregou sua favorita Defesa Índia do Rei, mas
contra Kortchnoi esta não era a melhor opção.
A posição de Geller se tornou cada vez mais
complicada, entrou em grande apuro e no lance
36 ultrapassou o limite de tempo. V. Osnos e G.
Sosonko, assistentes do Grande Mestre de
Leningrado, escrevem: ''A derrota no início é
sempre desagradável, visto que o jogador
precisa buscar a desforra (este comentário foi
feito por Geller na conclusão do n1atcb). É
provável que esta circunstância tenha afetado o
jogo de Geller, com longos períodos de
reflexão em quase todas as partidas restantes do
matcb".
Mas muita disputa ainda estava por vir. Nas
partidas pares, Gellcr jogou só l .e4 e
Kortchnoi só empregou a defesa Siciliana: na 2ª
e 4ª partidas, a Variante do Dragão (mas sem
"experiências com Scheveningen". Devo
lembrar aos leitores que o matcb teve dez
partidas, e, depois da vitória na 7ª, Kortchnoi
estava liderando por 4½-2½. Assim, a oitava
partida foi praticamente a última chance de
Geller salvar o matcb. A tensão nervosa tinha
chegado ao limite.
Partida 19
E. Geller - V. Kortchnoi
Quartas-de-Final dos Candidatos,
Moscou 1971 - 8" rodada
Defesa Siciliana B85
1.e4 cS 2.<~0 d6 3.d4 cxd4 4.lf::.xd4 l2lf6
5.l2lc3 a6 (não 5 ...e6 6.g4, como ocorreu na 6ª
partida) 6.i.e2 e6 7.0-0 il..e7 8.f4 0-0 9.'~ hl
l2lc6 l0.ke3 'f!fc7 1l.a4 il.d7
Kortchnoi é fiel à sua manobra favorita,
mesmo com a inclusão de a7- a6. Hoje em dia,
todos fazem de forma automática o lance mais
preciso 11 .. Ji e8 - Eu mesmo joguei isso
muitas vezes, em particular nos 111atches pelo
Campeonato Mwidial com Karpov e Anand
(para detalhes, veja o vo/uQJe 2 da série X adrez

MDámto).
12.~b3!
E ssa retirada há muito tempo se tomou
padrão: de outra forma, aqui seguiria a "mano-
bra aliviadora de Kortchnoi" ... ti:ixd4 e .. .~c6,
a>m igualdade. Agora, entretanto, as brancas
1ân alguma van tagem. Mas - e é difícil acreditar
- nesse ponto Geller já havia consumido 1 hora
e 35 minutos!
12 ...b6 13..!0
''Após o desvio de flanco 13.g4 as pretas
responderiam com o contrajogo central
13 ...d5!" (Gufeld). De fato, após 14.e5 li:ie4
15.li:ixe4 dxe4 as pretas teriam wn bom jogo;
se 16.c3 até mesmo 16 ... g5!? é possível.
13..•ã fd8
Um velho plano com a manobra do bispo a
e8, desocupando a casa d7 para o cavalo. Hoje
cm dia, as pretas geralmente retiram seu bispo
para c8, seguido de ...~b7 e ...li:id7, mas
naquela ép oca isso era considerado incomum.
14JWe2
As brancas pretendiam o plano que era
tradicional naquela época, envolvendo a
preparação de e4-e5 e um ataque de peça na ala
do rei. Mas o lance moderno 14.g4! é mais
enérgico, dando às brancas chances melhores de
questionar a estrutura defensiva das pretas:
14 .. .~e8 (agora após 14 ...d5 15.e5 as pretas
oão têm 15 . . .li:ie4, enquanto se 15 ...lz::\e8,
então 16.tfe2) 15.g5 lild7 I6.~g2 etc.
14... .1'.eS 15.~ f2 I!dc8!?
Viktor, o Terrível
Estratégia de espera. "Tomou tempo
considerável de Geller encontrar a solução para
tais lances." (Gufeld) ·
16..ág3 (16.g4!? Gufeld) 16...li:id7 17.l!adl
(ou 17.lLJd5 exd5 l 8.exd5 ~f6 19.dxc6 lLJc5,
com igualdade - Flohr) 17...~ f6
"Esse lance me surpreendeu, mas se
17...lLJc5 eu também planejava 18.e5." (Geller).
E se I8 .. .d5, então 19.f5! com um ataque
poderoso, por exemplo: 19 ... lLJxb3 20.cxb3
ii.c5 2 l.fxe6 fxe6 22.lilxdS! exd5 23.ii.xd5+
Wh 8 24 .'t!ff3 etc.
18.e5! dxeS 19.fxeS Ji.e7
O peão e5 é tabu: após 19...t\Z)dxe5 (é pior
19 ....1Lxe5? 20 .~xc6) 20..1Lxc6 il_xc6 2 1.ID'el !
'ã'b7 22..1l.xe5 ii.xe5 23 .lti'xe51i.xg2+ 24 .Wgl
as brancas converteriam sua peça a mais.
20.li:id4
Foi sugerido que 20 ..fi.xc6 \!fxc6 21.t\Z)d4
também teria mantido uma posição de ataque,
embora aqui as pretas pudessem contar com a
igualdade jogando 21...irb7! e ...t\Z)c5.
20... t\Z)xd4 (20... lLJcS 2 l.b4 !? Gufeld)
2I.ãxd4 ã a7 22.l!g4!
Arderam acalorados debates entre os analistas
a respeito de 22.lLJdS!? exd5 23.e6. Na opinião
de Flohr, "com esse simples golpe tático, as
brancas teriam fechado a posição para sua
vantagem."
Como evidência foram dadas as seguintes
linhas: 23 .. . 'ili'c5 24.ãxd 5 'i!fxc2 (após
24 ... 'i½Vc4 25.exd7 !:!xd7 26.lWxc4 ãxc4
27J:'.!xd7 Axd 7 28.2t.d5 ou 25 ... A xd7
26 .\!Yxc4 ã xc4 27.ã fd l ~e8 28.ã5d2 ~g5
29.ãe l ! ãc8 30.l!d5 ii.e7 3 l.a5 e as brancas
têm final de jogo melhor) 25.exf7+ Axf7
26.~xe? Axd5 27.Axd5+ Wb8 28..teS "com
ataque decisivo" (Gufeld), embora, na minha
opinião, após 28 ... t\Z)f6! 29.ifxa7 tfe2!
30.ã b l t!Yxe5 31.tfxa6 Jâe8 32.~f3 'i!!fxb2! a
posição esteja empatada.
Pode parecer que o imediato 23 ...t!fxc2 seja
também aceitável: 24.exf7+ $.xf7 25.'tifxe7
lic5 26.\ih4 lilf6 ! 27.ii.f2 ã ac7 etc.
67
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Geller escolheu uma continuação que foi
muito mais desagradável para as pretas, mas
aqui outra surpresa o aguardava.
22 ...hS!
Um lance que evoca lembranças da partida
com Suetin (partida 17), especialmente porque
aqui as pretas não têm o cavalo "mau" em e8.
"Uma defesa assim é típica do estilo de
Kortchnoi em geral, mas aqui também é de
forma objetiva a melhor possibilidade, embora
seja contrária a um conhecido axioma: não
avance os peões no lado do tabuleiro onde
estiver mais fraco." (Gufeld)
Na opinião de Flohr, um Grande Mestre de
estilo clássico tradicional, "através de 22...0f8
as pretas teriam atingido uma posição
perfeitamente sólida e após 23.h4 teria se
desenvolvido uma luta complicada." Entre-
tanto, aqui, no meu ponto de vista, a avaliação
de Gufeld (segundo de Geller) é mais precisa:
"Em todas as variantes as brancas têm uma
poderosa iniciativa. Ameaçam intensificar a
pressão através de h4-h5".
23.ãe4 g6
"Após 23 ...h4 24.~f2 as pretas têm uma
posição difícil." (Gufeld). Kortchnoi coloca
para seu adversário um difícil problema
psicológico (ainda mais, com sua falta de
tempo): agora o ataque das brancas definiti-
vamente deve ser acompanhado de sacrifícios.
E Geller mergulhou em pensamentos angus-
tiantes...
68
24.h3
Os comentaristas de forma unânime
condenaram esse lance e colocaram nele um
ponto de interrogação. "É surpreendente que
um tático tão esplêndido quanto Geller marque
passo e ao final perca a batalha, desperdiçando
a excelente oportunidade 24.~xb5!? gxh5
25.lãf6!, quando seria difícil para o grande
Kortchnoi encontrar uma defesa." (Flohr).
Difícil, mas possível!
Diagrama de Análise
É claro, é mau jogar 25 ...~xf6? 26.exf6
~xf6 (um sacrifício forçado de dama: 26...'i!fc5
27J?g4+! ~ 28.!f'd.2 ou 27 .. .<it1h8 28.ãc4!)
27.~xc7 0xe4 28.¾xb6 0xc3 29.bxc3 !rd7
30.'iixhS f6 (30 .. Jâxc3 3 1.l!t'g4+ Wh7
32.~d4) 31.'iie2!, e as brancas seriam capazes
de converter seus dois peões a mais, ou
25 ...'ird8? 26.'i!fxhS ~f8 27.l'!h6! 0g6
(27...f5 28.ãh8+ rt;g7 29.'t!fh6+ rj)f7 30.ãh4!
Gufeld) 28.ãg4 ~6 29.exf6 'ilexf6 30.1d2!
com um ataque irresistível No entanto, as
pretas têm uma defesa - e aparentemente, não
só uma:
1) 25..JWc5 (Kortchnoi) 26.i!h6!? (o lance
de Gufeld 26.!!g4+ não traz nenhuma
vantagem em vista de 26 ...hxg4 27.'ilexg4+
~ h7 28.0e4! 0xf6! 29.0xf6+ ~xf6 30.exf6
it'f8 ou 29.exf6 ~f8! 30.t!fM+ @g6 3 l .0xc5
bxc5, com igualdade) 26...fS! 27.exf6 .ixf6
28.gxe6 'iWf8! 29.0<!5 Wxh6 30.0e7+ ¾xe7
3 l.1!xh6 ~ 32.!!e6 i:l.i7 com compensação

-6cicnte pela dama;
2) 25 ...li:lf8! Uma típica manobra defensiva
que cria um posto avançado em g6, apoiado
pdo peão f7 e pelo bispo em e8: 26.W!xh5
'ls6 27.ãg4 (não é melhor para as brancas
27.ID:3 t!id8 28.il.el f5! 29.exf6 il.xf6 ou
28...il.f8 29.ãh3 f5!) 27 .. .il.xf6 28.exf6 'i!fd8
29..&.eS 'i!fd2! 30.h3 ãc5! 31.$)h2 iLc6 com
'l20tagem para as pretas, ou 26.ãh6 li:lg6
27.lfxhS il.f8 28..IDl7 il.g7 29.il.h4 (nada é
conseguido através de 29.ãxg7+ @xg7
30ih4 f5 ! 31.exf6+ @g8) 29 . ..iLxeS 30.il.g3
~g3 3 l .hxg3 f5 !! (também uma defesa típica)
32l1xc7 lãaxc7 33.li:ld5 (não há nada mais)
33 ... fxe4 34.li:lxc7 ãxc7 e são as brancas que
têm que encontrar um empate.
Deve ser mencionado que, fora o temático
25l!f6!? (bloqueando o peão f7~ as brancas
wnbém têm 25.li:ld5!? (após 25.'ti'xhS? f5!
26.ti'h6 li:lf8 suas esperanças são frustradas)
25 ... exdS com complicações muito
interessantes:
1) 26.ã g4+?! (26.e6? i.fxc2 ou 26 ... dxe4!
27.il.xc7 !!axc7) 26... hxg4 27JWxg4+ ~
28.1!fh5 ! il.g5 ! 29.e6 (após 29.'i!fr'xg5?! rui a
bcJa defesa29 ... 'i'c6! 30.ãf6 l!fxc2 31.'iWb.6+
~g8! 32.'i'gS+ 'i!fg6!) 29... li:leS 30.e7+ <:Ji/xe7
31.!VxgS+ Wd7 32.i.xeS ii'xc2 33.il.g3!
(33.'it'g4+? ~ d8 34.'ti'g5+ ãe7 35.ii.d6 !Ve2,
vencendo) 33.Jâc6! 34.illi4 Wc8 35.l!fd8+
~b7 36.'ifxe8 ãc7 37.il.g3 ga8 38.'i!feS ãd7,
e as pretas mantêm sua vantagem de qualidade
e chances de vitória;
2) 26.'i'xbS dxe4! 27.\!ig4+ Wf8 28.l!fhS!
il.g5! 29.e6 (29.'i1i'xg5? 'ti'c6 30.ãf6 'i!fxa4
31.h3 ãc5! ou 31.'i!fb6+ <tie7 32.'i!fh4 Wd8
33.b3 'ti'b4! 34.ã xn+ Wc7 35.e6+ ©c6,
vencendo) 29...li:le5 30.e7+! Wg8! 31.'i!fxgS+
li:lg6 32.il.xc7 !!cxc7 33.a5! (33.h4 !!c5!)
33 ... bxaS! (agora 33 ...ãcS? leva a 34.axb6!
!!xg5 35.bxa7 iLc6 36.a8t!i+ il.xa8 37.e8if+)
34.h4 ã xe7 35.hS âe5 36.ãfS ~xf5 37.'ti'xfS
ãe7! 38.hxg6 e3 39.gxf7+ JJ..xf7 e o forte peão
passado garante o empate às pretas: 40.'t!KxaS
Viktor, o Terrível
(40.'i!'g4+ Wf8 41.'i!fe2 Ac4!) 40...e2 41 .l!fel
Ag6 42.c4(3) i.d3.
Assim, após 24.il.xh5 gxh5 aparentemente
não são decisivas as continuações de ataque
para as brancas, mas por muitos mais lances a
ameaça de sacrifício do bispo fica no ar. É
necessário coragem considerável do jogador das
pretas para correr um cisco assim - eu diria a
coragem de um andarilho equilibrista nas
cordas, onde um passo em falso pode levar ao
desastre. Mas Korcchnoi. de forma perspicaz,
percebeu que seu adversário estava em tal
estado de nervos que encontraria dificuldades
especiais em decisões comprometedoras envol-
vendo sacrifício material.
24... Af8
Outro momento interessante. Geller
novamente tem muito no que pensar.
25.il.h2
Por alguma razão ninguém mencionou
25.il.xhS!? gxh5 26.il.b4 ! com a ameaça de
Af6 (e se 26...li:lcS?, então 27.!!g4+! !), embora
isso pudesse colocar para as pretas problemas
até mais difíceis do que o sacrifício do lance
anterior. Após 26...fS 27.exf6 Af7 28.!!f3 o
ataque das brancas parece muito perigoso.
Vamos examinar também os lances com a
dama:
1) 26...l!fb8 27.il.f6 li:lxf6 28.âxf6 il.g7
29.'t!KxhS I!c5 30.'i!fgS Wf8 31.b4! il.xf6
(31...ãxc3? 32.I!g4) 32.tfxf6 :ãxc3, e embora
após 33 .:!lh4 lãg3 34.ãh8+ ãg8 35.ifb6+
69
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
We7 36.!!xg8 g a8 ou 33.Wh2! âe3! (de outra
forma â h4) 34.ãxe3 g d7 as pretas têm um
bispo por dois peões, sua defesa é difícil (a
palavra final pode ser dada pelo peão passado
h);
2) 26 ... 'tlfc5! 27.gf3! it.h6 (27 ....i.g7?
28.gg3 com a ameaça de g xg7+! e 'i'xh5)
28Jã g3+ ~ h7 29..i.g5! !Yf8 30.!!f4 â c5
3 l.li:le4! (31.'tlfxh5 f6!) 31.. .â xe5 32.li:lf6+
li:lxf6 33.t!fxe5 li:ld5 34.âh4 f6 35.l!Ve4+ i.g6
36.~xh6 t!fxh6 37.l!fxe6 e as brancas, tendo
recuperado material, mantêm a .iniciativa.
Após a recusa de Geller da peça sacrificada, as
pretas conseguem consolidar sua posição e a
batalha prossegue a passos medidos, sem
ultrapassar os limites da igualdade aproximada.
25...i.g7 26.ãe3 êZ::lc5 27.ti'el
"Porque as brancas cedem terreno? Aqui
também 27.i.xh5 gxh5? 28.IU6 teria dado a
elas um ataque irresistível." (Gufeld). E ntre-
tanto, na minha opinião, o tranqüilo 28 ...li:ld7!
29.l!Vxh5 li:lf8 e ...li:\g6 (uma manobra
familiar!) estancaria o ataque e dessa forma é
mais forte 28Jãg3!, por exemplo: 28...Wf8
29.â gS! 'i!fc6 (também não é suficiente
29...li:\xa4 30.t!fxb5) 30.âxg7! ~ xg7
3 l .llfxh5 ãd7 32.tt'g5+ Wf8 33.'i!fh6+ '.t>g8
34.âf4 ou 33 ...~e7 34.iff6+ Wf8 35.$.f4,
mate.
"De fato, as pretas podem jogar 27 ...li:\xa4,
quando então as brancas têm meramente uma
vantagem mínima," acrescenta Gufeld. Mas, de
acordo com o computador, aqui os dois lados
têm chances iguais.
27....i.c6 28.i.xc6
"Tanto agora como no lance anterior, seria
essencial 3'.Xh5, quando o cenário ainda teria
permanecido indefinido." (Flohr). É pena,
28 ..i.xbS?! agora é muito tardio: 28 .... gxh5
29.'i!fb4 'ti'd8 (29 ...l!fe7!? com a idéia de
li:ld7- f8- g6) 30.'ilfxhS 'iWd2! (30...li:\xa4!?)
31.!!g3 (3J.~e2 l!Vh6, vencendo) 31...'flxc2
32.a5 li:le4! 33.1âg4 (se 33.ã xg7+ @xg7
34.'t!Yg4+ Wf8 35.axb6, então 35 ... l!Vt2!!)
70
33 ... êZ::lxc3 34.axb6 lâb7 35.bxc3 't!Hh7!
36.'t!HgS ãxb6 37.llff6 li'! b7, vencendo.
28...'t!fxc6 29.Vb4 !!d7 30.ã ef3 bS!
"Kortchnoi lança um contra-ata9ue. A
calmaria paira sobre a ala do rei e, como
acontece com fre9üência na Defesa Siciliana, a
batalha é decidida a favor das pretas na ala da
dama." (Flohr)
3l.axb5 axbS 32.b4?!
"Um erro posicional decisivo." (Gufeld). Isso
provavelmente é um exagero, embora de fato
fosse realmente mais sólido 32.~g3, com jogo
aproximadamente igual.
32...li)d.3! 33.li:le4
Devido à situação do match, Geller precisava
pelo menos manter algumas complicações e,
com sua seta quase caindo, evitou o deprimente
33.â xd3 â xd3 34.cxd3 'ti'xc3 - aqui, com seu
bispo "mau" e peões fracos, o limite dos sonhos
das brancas é o empate: 35.'t!fe4 !!c7 ou
35.!Be7 't!fc7! 36.!!xf7?! (36.'t!fd6 ~f8)
36... i:Yxe7 37.ã xe7 ãcl+ 38 ..i.gl .i.xe5
39Jlxe6 .i.d4 40.ãxg6+@f7 etc.
33...l!Vxc2 34.li:lf6+?
"Isso equivale à capitulação. Seria essencial
34.li:ld6, quando as pretas têm uma escolha:
34...ãc4 ou, o que é mais forte, atacar com
34...ãa8, seguido por ...l:!ai" (Flohr).
A segunda sugestão é duvidosa em vista de
35.lLlxf7! 1!a2 36."t!fgS êZ::lxb4?! 37 ..i.g l !. Mas
34...ãc4! (34...li:lxe5 35 ..i.xe5 .i.xe5 36.li:lxc8
'tixc8, com igualdade) 35.li:lxc4 Vxc4

36.ti'xc4 (36.lf.fgS 'iWxb4 37.'We3 'iWcS!)
36 ... bxc4 37.& l (não 37.bS? c3) 37 .. /ê)xb4
(37...ltJxeS 38Jãc3!) 38.!k3 êtJd3 39.ãxc4
li)xeS teria deixado as pretas com uma
vantagem simbólica.
34....âxf6 35.exf6 ãdS (estancando com
&cilidade a única ameaça de ~ g5-h6) 36.ãe3
Wc4 (36...'ti'd2!) 37.'iWg3?
O último trejeito do apuro de tempo.
Entretanto, após 37,ãe4 tanto 37 .. .'~Jf2+
38.:Sxf2 ãdl+ 39 ..âgl 'iWcl (Flohr), como
37 ... lf.fc3! 38.$.g3 ãc4 ou 38.'rlt'g3 ãf5
39.ãxfS exf5 40Jâe2 f4 teriam sido decisivos.
37...h4 0-1
Aqui Geller ultrapassou o limite de tempo
(pela terceira vez no matcb~ e Kortchnoi venceu
- 5½ • 2½.
Kortchnoi e seu segundo Genna Sosonko no
início dos anos 1970
O 111atch semifinal com Petrosian foi
excepcionalmente duro, modorrento e nada
espetacular: nove empates e uma 'Vitória para o
ex-Campeão Mundial. As apostas nunca tinham
sido tão altas: qual das estrelas soviéticas seria
capaz de enfrentar na final o irresistível Fischer?
Petrosian não foi capaz. Entretanto, naquela
época Kortchnoi também provavelmente não
conseguiria parar o americano...
Em uma história satírica de ano novo, "Match
das Eras" publicada no semanário "64",
grandes jogadores do passado se encontravam
com nossos contemporâneos e cada um
escolhia um adversário de estilo similar. Coube
Vlktor, o Terrível
a Kortchnoi formar o par com... Emanuel
Lasker! Bem, a comparação é muito apropriada.
Afinal, o próprio Kortchnoi escreveu certa vez:
"Em seu tempo, Lasker observou que, com
igual equilíbrio de forças no tabuleiro, o jogo
raramente é interessante e costuma terminar em
empate. O enxadrista que não gosta de empates
(e eu sou um deles) deve procurar romper o
equihbrio. Ou ele sacrifica alguma coisa para
tomar a iniciativa, ou deixa o adversário atacar,
procurando dessa forma criar pontos fracos na
posição contrária para que possa explorar
depois. Gosto de atrair o adversário desta
maneira". Isso lembra muito o modo de jogar
de Lasker.
Esta continuidade da criatividade de
Kortchnoi também é indicada por pequenos
detalhes, como a observação que ele faz sobre
sua partida com Georgadze (Batumi, 1999), em
que depois de l.d4 dS 2.c4 e6 3.êtJc3, seu
adversário respondeu 3 ...~b4: "Não dou muito
valor a este lance. A velha regra 'desenvolva
antes os seus cavalos!', ditada para nós por
Emanuel Lasker há mais de 100 anos, ainda não
perdeu a sua validade."
Antes e Depois da Fuga
Foi precisamente naqueles anos que surgiu a
rivalidade de Viktor Kortchnoí com o jovem
Anatoly Karpov que começava a se sobressair
rapidamente no xadrez. Eles já tinham se
encontrado em 1969, quando Karpov se mudou
para Leningrado e seu treinador veio a ser o
Grande Mestre Semion Furman, que tinha
trabalhado muitos anos com Kortchnoi. A
primeira partida para valer disputada entre eles
foi no Campeonato da URSS em 1970, com
derrota do estreante, que apesar de tudo tirou
uma lição útil da derrota: "Após analisar o
desenrolar da partida, imaginei isso: antes das
partidas com Kortchnoi, não deveria confiar
nos conselhos de abertura de Furman. Após
anos trabalhando juntos, Kortchnoi conhecia
bem o estilo de Furman e podia adivinhar quase
infalivelmente não só a abertura, mas também a
71
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
linha na gual a partida se desenvolveria.
Quantas vezes observei isso! Mas ele não me
pegou mais desprevenido, pois após ouvir meu
treinador, seguia o meu próprio caminho."
No Memorial Alekhine (Moscou 1971)
Kortchnoi já via no jovem Karpov um
adversário bastante perigoso
No entanto, em 1971, um pouco antes da
disputa dos Candidatos com Geller, Viktor
Kortchnoi teve um ma/eh-treino com Karpov.
Para Kortcbnoi este método servia de teste de
preparação: em 1970, seu adversário de treino
foi Bronstein; em 1973, Hübner; em 1976,
Timman. Em S das 6 partidas, Karpov jogou
com as brancas e em uma, com as pretas. O
resultado desta disputa doméstica feroz foi 3-3
(+2-2=2). Foi uma excelente escola para o
Grande Mestre de 20 anos de idade! Entretanto,
na opinião de Karpov, "Kortchnoi também
tirou proveito do ,natch: depois de fazer algumas
72
correções em suas preparações, ele arrasou
Geller praticamente sem lhe dar nenhuma
chance".
Logo os dois rivais trocaram golpes
dolorosos: três rodadas antes da final do
Torneio Memorial Alekhine (1971), Karpov
venceu e como resultado se tornou um dos
vencedores do torneio, enquanto Kortchnoi
venceu a partida decisiva na penúltima rodada
em Hastings (1971-72), onde, marcando ll
pontos em 15, dividiram a primeira colocação.
Além de Hastings, toda a atividade de 1972
trouxe grandes dificuldades para Korcchnoi.
Numa entrevista ao semanário "64" ele
declarou:"Não houve um só simples evento
onde joguei de forma fácil Literalmente fui
forçado a 'me virar' para conquistar meus
objetivos. Meus resultados foram bons, mas
inferiores aos de 1969, que considero meu
melhor ano" (provavelmente, levando em conta
também Mallorca, em dezembro de 1968).
Não obstante, para o Torneio Interzonal de
Leningrado (maio /junho de 1973), Kortchnoi
chegou em excelente forma, começando com 8
em 9, sendo 4 em 5 contra seus compatriotas
(por força dos sorteios compulsórios, os
competidores soviéticos jogavam uns contra os
outros nas rodadas iniciais) . Imaginava-se que
os principais rivais na batalha pelas três vagas
para o Torneio de Candidatos fossem Larsen,
Tal e Karpov.
É pena, Tal começou com um empate e três
derrotas e na sexta rodada perdeu também com
brancas contra Kortchnoi após o modesto
l.CLJf3 li'if6 2.c4 b6 3.g3 c5 4.~g2 ~b7 5.0-0
g6 6.b3 ~g7 7.~b2 (os espirituosos batizaram
este início de "Abertura dos Quatro Bispos").
Nessa ocasião, Larsen, ardendo de desejo de se
reabilitar após a esmagadora derrota no match
com Fischer (veja o capítulo "O Massacre em
Denvef', no volume 4), saiu à frente, liderando
com 5½ em 6! Na 7ª rodada, ele empatou e foi
pego por Kortchnoi. No dia seguinte,
assistimos à arrebatadora disputa destes líderes,
a gual teve grande influência no desenvol-
vimento subseqüente do Torneio.

Interzonal de Leningrado (1973): Larsen e
Taimanov, "as duas vítimas de Fischer",
observam o jogo do líder
Partida 20
B. Larsen - V. Kortchnoi
Inte,z.onal de Le11ingrado 1973
8ªrodada
Abertura Jngksa A 20
l.c4 e5 2.g3 (2.~c3 permite posições com
...il.b4, porém agora as pretas podem
empreender ações centrais) 2...c6 3.~ f3
Prometia mais 3.d4 (o próprio Kortchnoi
jogou isso em um 111atch com Bacrot... em
1997!), mas Larsen joga a abertura na sua
maneira favorita, provocando ... e5-e4.
Anteriormente ele havia se sentido muito
confortável em tal posição fora de padrão.
3 ...e4 4.~ d4 dS 5.c><d5 l!rxd5!?
"Paul Keres costumava preferir 5 ...cxd5 ou
5 ...li:lf6 6.lz::\c3 VWb6 7.l2lb3 cxd5. Por duas
vezes falhei em conseguir uma vantagem com
as brancas contra Keres. Dessa forma, em
minhas análises caseiras, dediquei muito tempo
a 5 ... l!fxd5.!" (Kortchnoi)
6./f:)b3
Ou 6.êuc2 êuf6 7.~g2 'tifh5 8.h3 'tifg6
9.li:lc3 ~d6, com igualdade (Shamkovich-
Bronstein, Moscou 1970). Comparando a
posição resultante com a conhecida variante
l .e4 c5 2.c3 lz:\f6 3.eS ~ dS 4.d4 cxd4
5.Wxd4, onde 5 ... e6 é considerado melhor,
Kortchnoi declara ser mais promissor 6.e3.
Mas, aparentemente, esse lance também não o
Víktor, o Terrível
incomoda: 6 ... li:lf6 7.~c3 'ii'eS 8.~g2 ~c5
9.êub3 ~b6 10.f.3 (10.d4 exd3) 10 ... exf3
I I.'ii'xf3 't!ff5, com igualdade (Hübner-
Kortchnoi, 7ª partida do match, Solingen 1973).
6 ...0 f6 (em seguida também foi tentado
6 ....âf5!? 7.JJ..g2 '%!9d7, com igualdade) 7.i.g2
No caso de 7.0c3 'iih5 8.d3?! exd3 9.tfxd3
~a6! as pretas têm um jogo excelente (Larsen
-Gulko, Hastings 1988/89).
7...'i!fh5 (com a idéia de 8.êuc3 .ih3!) 8.h3
Kortchnoi estanca a recomendação de Igor
Zaitsev 8.!fc2 tanto através do agudo 8...~3
9.~xe4 ~xe4 1O.'tifxe4+ il.e7 1l.ti:lc3 0d7
com compensação pelo peão, como com
8 ...$.fS 9.~ d4 ~g6 10.'i!9b3 b6, com
igualdade.
8...Wg6 9.0 c3 êubd7
Como ficou claro posteriormente, esse não é
o lance mais preciso. Seria melhor 9 ... li:Ja6 !,
deixando aberta a diagonal para o bispo em c8
e ameaçando um possível ...ti:lb4.
10.ifc2!
"Esse lance leva a uma posição com alguma
vantagem para as brancas. Eu tinha mais receio
de 10.0-0 .âd6 l l.d3 exd3 12.e4," escreve
Kortchnoí. No tabuleiro ele calculou a variante
12 .. .~eS! 13.f4 'tifxg3 14.fxeS ~xeS?! e não
viu a resposta 14 ...JJ..xh3! 15.l!ff3 'i!fxg2+
16.!i'xg2 ~xg2, que teria deixado as brancas às
margens da derrota: l 7Jixf6 gxf6 18.exd6
â g8 l 9.Wf2 h5! ou l 7.Wxg2 $.xe5 18.É!f5?!
(é mais resistente 18.$.gS) 18 ...êug4! etc.
Devo mencionar que l3.'i!i>b2? (ao invés de
13.f4?) também é mau: 13 ..hS! 14.f4 h4 15.g4
~xg4! com um ataque poderoso para as pretas.
Aparentemente as brancas devem jogar a9ui
13.~f4 0- 0 14 .~xeS ~xe5 15.'i!fxd3,
pensando apenas na igualdade.
IO .. .e3 11.'%!9xg6 exf2+! (após l I...exd2+?!
12.~xd2 hxg6 a tarefa das pretas é mais difícil)
12.'i!i>xf2 hxg6 13.d4
"As brancas entram em uma batalha aberta. O
peão central que agora se ergue é a força da sua
posição, mas necessita de defesa constante.
73
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Deveria ser considerado o modesto 3.d3."
(Kortchnoi)
13 ••.li.)b6 14.e4 .te6
Kortchnoi obviamente esperava que seria
possível colocar pressão nos peões e4 e d4 -
afinal tinha obtido sucesso com freqüência em
tais contra-ataques na Defesa Grünfeld. Aqui
também, no final, seu plano se justificou,
embora não sem a ajuda de Larsen.
15.i.f4
Subseqüentemente, na partida Simagin-
Naumkin (Moscou 1984) foi jogado l5.luc5
0--0-0?! 16.li.)xe6 fxe6 e aqui 17.eS! com a
idéia de i.e4 teria dado uma vantagem
apreciável às brancas. Então seria correto
15 ...il,xcS 16.dxcS l2Jc4 e, uma vez que o bispo
branco ainda não saiu de f4, o cavalo preto
conquistou uma posição excelente em e5.
15... ~b4
Mantendo a opção do roque na ala do rei. O
lance 15 ...0--0-0!? teria excluído 16.li.)c5? em
vista de 16 .. Jâxd4, mas ao lado do tranqüilo
16.l!adl teria permitido a ruptura violenta
16.dS!? cxd5 17.ãacl @d7 18.!kdl! ~c8
19.l2Jb5 l!d7 20.li.)xa7+ ~d8 21.li.)bS. Isso
poderia não ser ruim para as pretas, mas deve-
se concordar que uma corrida assim com o rei
parece muito perigosa, especialmente em uma
partida tão importante.
16.li.)cS!
Isso não só "parece muito forte" como na
verdade o é! Entretanto, as brancas também
74
manteriam alguma iniciativa com 16.l!ac l
(Osnos) 16 . ..li.)hS (16...0-0-0? 17.dS;
16...i.xbJ?! 17.axbJ 0-0-0 18.dS!) 17.iloeJ
li.)c4 18.dS ou 16.l!adl 0--0-0 (após o lance de
Kortchnoi 16 ...l!d8 novamente é bom
17.l2Jc5!) 17.g4 e se 17 .. .l!he8, então 18.dS!.
16...0-0-0!
O mais sensato: tanto desenvolve como
defende o peão. Não seria tão bom 16...lãd8
17 .e5 ! ou 16..~xcS 17 .dxc5 li.)bd7 l 8.i.d6
(Kortchnoi).
17.li.)xe6!
"Jogado sem hesitação. Eu invejo as pessoas
que passam a vida sem uma sombra de dúvida
sobre aonde estão indo." (Kortchooi). Embora
nessa circunstância não houvesse uma escolha
em particular: 17.lâad 1 !ixd4 ! ou 17 .a3 .àxc5
18.dxcS li.)c4 não teria satisfeito as brancas.
J7_ ..fxe6
Na opinião de Kortchnoi, as pretas agora têm
alguma vantagem (!): seus trunfos são as
ameaças sobre a recém-aberta coluna f e as
fraquezas na posição do adversário (em
particular, o peão g3). As brancas têm não
somente uma melhor estrutura de peões, mas
também os dois bispos e o bispo de casas
brancas poderá entrar em jogo de forma muito
efetiva. D e fato, devido à posição insegura do
seu rei, as brancas têm que jogar com muito
cuidado e Larsen falha ao enfrentar esse
problema.
18.a3?!
Um erro, que não foi notado por ninguém.
Seria muito mais forte 18.li.)e2! e se 18...mtf8,
então 19.h4 com uma vantagem clara: 19 ...li.)hS
20..àh3 ou 19 ... ~c4 20.bJ lud2 21.eS li.)dS
(21...li.)hS 22.$'e3) 22.&cl !. É melhor jogar
18 ... li.)h5, para após 19.l!ad l lutar por um
empate através de 19 ...li.)xf4 (não 19 ...l!hf8
20..àf3 ou 19 ...li.)c4 20.il.cl eS 21.b3!)
20.li.)xf4 ãhe8 21.h4 ãxd4!? 22.~xd4 i.c5
23.lãlidl eS 24.ÜJ+ $'b8 25.li.)e6 .àxd4+
26.~xd4 exd4 27.ãxd4 c5 28.~d6 l!xe4
29.l!xg6 l!e7. Mas aqui também as chances das
brancas são melhores: com jogo em ambas as
alas, o bispo domina o cavalo (Fischer

provavelmente jogaria esse final até os reis
solitários!).
18...1'.e7 19.!iadl !Ihf8
Seria impreciso 19...~c4? ! 20.1'.c 1 e5 em
vista de 2l.d5 ãhf8 22.$>e2 ~h5 23.âd3 e a
posição das brancas é melhor: as pretas não têm
possibilidades de desenvolver uma iniciativa.
Mas agora se ameaça ...g6-g5. Foi aringido o
momento crítico da pa~tida.
20.$>e2?
Um erro imperceptíve~ mas grave, que perde
um tempo precioso. "No caso de 2O...if3 a
variante 20 .. .lilc4 21.~cl ã xd4 ou 2 l...e5
teria ganhado força." (Kortchnoi). Seria mais
enérgico 21.b3 li\xa3 22.d5!, quando a
atividade dos bispos brancos compensa a perda
do peão.
Mas, sem dúvida, o imediato 2O.h4! seria o
mais correto. Por exemplo: 20 ... 0b5 21...ib3
tilxf4 22.gxf4 !!xf4+ 23.<;tig3! (defendendo o
peão h4) 23 ...âdf8 24.1'.xe6+ $>c7 25.ãd3 e a
posição é de equihbrio dinâmico.
20..A)c4!
Um poderoso Z}l'ischenZfíg, colocando grandes
problemas para as brancas. Talvez Larsen.
estivesse esperando 2O...lilh5 2l...if3! ~xf4+
22.gxf4 âxf4 23.~g4 . com jogo aproxi-
madamente igual: 23 ...~d7 24.d5 lâdf8
25.Wd3 etc.
21.h4?!
"Um recurso excelente de contra-ataque!
Esse lance, com a intenção de .1ili3 com um
Viktor, o Terrível
ataque ao rei preto não era o único que eu
esperava." (Kortchnoi). Mas aquele que era o
mais forte há apenas alguns lances, agora causa
às brancas nada mais do que problemas.
Entretanto, elas tinham uma escolha difícil:
21.~cl?! 0h5 22Jâd3 c5! (Zaitsev) 23.dxc5
(23.d5? 0e5) 23 ... il..xc5 ou 23.b3 cxd4
24.bxc4 dxc3, atacando as casas pretas. Não se
quer entregar o peão através de 21.63 ~xa3,
mas de forma objetiva, essa seria a melhor
chance.
21 ...tilbS!
Belo e inesperado. As pretas iniciam um
contra-ataque, de imediato se livrando do
perigoso bispo em f4. É auto-sugestivo
2I...0xb2!?. Kortchnoi não gostou de 22.ãbl
1'.xa3 23.1'.h3 ãxd4 (23 ...!ffe8 24.d5)
24.1'.xe6+ ê2id7 (?- G.K) 25.1'.e5 c5 (?- G.K)
26.1'.xd4 cxd4 27.0b5, vencendo, mas as
pretas teriam se defendido através de
25 .. J:!f.2+! 26.~xf2 ê2id3+ 27.@e3 03xe5 e,
sobretudo, um lance antes elas teriam mantido
uma clara vantagem: 24...$>d8! 25.Ae5 â b4
26.~d6 ãe8! etc.
A escolha de Kortchnoi é a prova da evolução
do seu estilo: enquanto anteriormente ele
preferiria o "sofrimento" por um peão, agora
ele não desperdiça uma oportunidade de mmar
a iniciativa e com o auxílio de um sacrifício de
qualidade.
22.~b3 â xf4!
Uma resposta brilhante!
75
Gany Kasparov - Meus Grandes Predecessores
23..ixe6+?
A mudança abrupta do cenário desequilibrou
Larsen. "Esse lance foi feito com o sentimento
de contradição, que é bem desenvolvido em
muitos Grandes Mestres. É como se dissesse
'não permitirei que você, meu caro adversário,
me leve para o caminho das suas variantes - eu
tenho meus próprios caminhos!"'. (Kortchnoi)
É claro, seria essencial jogar 23.gxf4 tf:ixf4+
24.Wf3 CzJxh3 ! (seria mais fraco 24.. Ji!f8
25.Wg3!) 25.li!xb3 ciJxb2. Esse, o melhor
caminho para as pretas, foi encontrado por
Kortchnoi somente muitos anos mais tarde!
Poderia seguir:
1) 26.Ê'.d2? tf:ic4 27.ãdl .ixa3 ! (a
recomendação de Kortchnoi 27...e5 não é clara
devido a 28.d5!, mas não 28.dxe5?! ,ixa3)
com a ameaça decisiva de ....ib2, enquanto se
28.tf:ie2, então 28 ... e5!, vencendo;
2) 26.!!gl ! e5! (Kortchnoi sugere 26...ã xd4
27.ã xg6 .if6 28.e5?! Axe5 29.CzJe4 ã d3+
30.Wg4 I!xb3 31.Wxh3 ciJd3 32.!!gS b6,
vencendo, mas 28.tf:ie2! e h4-h5- h6 é mais
forte, por exemplo: 28 . . .ãa4 29.luf4 l!xa3+
30.Wg4 âa4 31.hS! com contrajogo) e é difícil
para as brancas conquistarem um empate tanto
após 27.dxeS t2id3 28.CzJe2 (28.a4 1âf8+!)
28 ...l2!xe5+ 29.Wg2 M6 30.CzJf4 (30.00 c5
3 l.CzJf4 I!d2+!) 30 ...I!d4 31.Whl ã xe4
32.ê2Jxg6 c5, ou após 27.dS l2::ld3 28.I!al
(28.I!xg6? ã f8+ e ...CzJf4) 28 .. J~f8+ 29.@g3
c5 30.ãhh 1 (30.ã a2 c4) 30...ã f4 ou 28.dxc6
bxc6 29.l2::le2 ã f8+ 30.Wg2 (30.Wg3? li:)f2)
30...ã f2+ 31 .Whl ãxe2 32.ãxd3 I!xe4.
Entretanto, aqui seria necessário extrema
precisão e eogenhosidade por parte das pretas,
enquanto após o lance da partida elas têm
iniciativa duradoura com equilib rio material e as
brancas são obrigadas a conduzir uma defesa
totalmente desesperada.
23... Wc7 24..ixc4 li:)xg3+ 25.<,Pe3 lãd18!?
A seqüência 25 ...li:)xhl 26.'it>xf4 fi:lf2
27.~ d2 li.xh4 28.Wf3 ã f8+ 29.Wg2 ã f4 teria
conduzido a um final de partida técnico, com
76
um peão de vantagem para as pretas, mas
Kortchnoi planejava um ataque - e eu acho que
isso era mais desagradável para. Larsen! De
forma geral, bispos de cores opostas ajudam a
salvar a partida, mas aqui, apesar do material
reduzido, Kortchnoi consegue usar esse fator
para criar ameaças ao rei branco.
26...~ xh4 27.Wd3 (27.i~!del? l2::lxe4
28.{)xe4 Axel , vencendo; 27.ã g2 g5 etc.)
27.. ltf2 28.ãd2 .âg5! (com forças reduzidas
as pretas tecem uma rede de mate no centro do
tabuleiro!) 29.!txfl lãxf2
30.fi:le2
Essa não é a melhor defesa: 30..if7 (após
30.Ag8(e6) ã d2+ 3 l .Wc4 li.f4 outro peão está
perdido) 30 ... IDJ+ 31.Wc2 (31.@c4 b5+)
31...Ae3 32.ã g2 .âxd4 33.~g6 Ae5 e as
coisas também são sem esperanças para as
brancas.
30...ã o+ 31.Wc2 {)xe4 32..id3?!
Seria uma defesa mais resistente 32.ãg4
éi::ld6! (como Kortchnoi colocou, "as pretas
precisam posicionar suas peças de tal forma que
não sejam ameaçadas") 33.ãxgS (33 ..âd3 .âf6)
33 ...CzJxc4 34.lãxg6 I!f7 e ainda existe um
longo processo de conversão à' frente.
32.,_ge3 33.éi::lc3 (33.ãg4? ã xd3, vencendo)
33 ...l2ig3 34.d5 A f6 35.t2ldl
"Seria mais preciso o imediato 35.dxc6,
quando 35 ...Wxc6? não teria perdido material
após 36.AbS+" (Kortchooi). Mas 35 ... bxc6
36.l2::ldl ãf3 37.Axg6 ê2Je2 teria deixado as

pretas com todas as chances de vitória.
35... W'J 36.dxc6 Wxc6 37.it.xg6 Wd6
Apesar da resistência desesperada do
adversário, as pretas ainda têm um peão a mais
com posição melhor. Para elas a vitória é apenas
uma questão de tempo e de técnica, algo que
020 falta a Kortchnoí.
38A el tiJfS 39lte8 tiJd4+ 40.Wd2 .l!i.gS+
"Um lance fraco. O bispo estava melhor
colocado em f6. Mas esse era o 40° lance, o
último antes do controle de tempo."
(Kortchnoi). Teria vencido de forma mais
rápida 40.. .!!g3!
41.'i!?el it.b4+ 42.© d2 ã g3 43.Ae4? (um
erro grave, embora também após 43 ..\1i.d 3
1'g5+ 44.'i!.tc3 ~f6 45.'it>d2 !:!'.g2+ 46.@e3
l!gl 47.@d2 tz:lf3+ 48.'i!.te3 Elxdl 49 ..l!i.e2 Jâbl
SO.it.xf3 !:!'.xb2 os dois peões a mais teriam
assegurado a vitória às pretas) 43... AgS+ 0-1
As brancas abandonaram: 44.'i!?el ãgl +.
De forma essencial, foi exatamente esta
partida que pôs a perder as esperanças que
Larsen tinha d e alcançar o Torneio de
Candidatos: a desastrosa derrota provocou nele
o desânimo. Na segunda metade do torneio, ele
estava completamen te irreconhecível e, ao
sofrer mais quatro derrotas, saiu fora da disputa
pelas vagas.
Kortchnoi, por sua vez, na 9• rodada venceu
mais um rival perigoso: Robert Byrne (que
alcançou 6½ em 8) e continuou avançando com
confiança. Casualmente, na partida com Byrne
ele utilizou o mesmo plano raro contra a Defesa
Índia do Rei que Taimanov havia jogado em seu
match com Fischer, mas com sucesso muito
maior (cf. partida 39, comentário ao lance 9 das
brancas). Kortchnoi comentou essa partida
com tantos detalhes que 22 anos mais tarde ele
simplesmente acrescentou: "Bons comentários.
Aconselharia cada jovem mestre a trabalhar em
suas vitórias (e também derrotas!) da forma
como fiz aqui."
Mas na 13ª rodada, de forma inesperada ele
perdeu para Rukav'Ína e foi alcançado por
Viktor, o Terrível
Karpov, que durante todo o torneio manteve
um jogo bastante equilibrado e firme. Assim,
eles terminaram juntos as partidas restantes,
com 3½ em 4 0), totalizando 13½ em 17, um
ponto à frente de Byrne, que sem dúvida jogou
o "torneio da sm vida". Também Kortchnoi
considera este Ioterzonal junto com os torneios
de Wíjk aan Zee e Mallorca (1968) como as
melhores conquistas de sua vida.
Os dois felizes vencedores do Torneio
Interzonal de Lenlngrado (1973)
Os ex-Campeões do Mundo Spassky e
Petwsian eram considerados os favoritos do
ciclo de Candidatos de 1974. Mas Kortchnoi e
Karpov superaram todas as expectativas,
quando Kortchnoi venceu Mecking (+3-1 =9) e
Pet.rosian (+ 3-1 = 1), que desistiu p rema-
turamente, e Karpov a Polugaevsky e Spassky.
Os detalhes destas duas disputas e do match final
de Candidatos entre Kortchnoi e Karpov estão
descritos no capítulo sobre o 12° campeão
mundial.
Foi nessa altura que contra Kortchnoi
começou a perseguição que o levou afinal a
abandonar a URSS. Convém lembrar que na
final seria designado o adversário do americano
Fischer e as autoridades soviéticas escolheram
Karpov. Kortchnoi escreve: "Nosso n1atch foi
considerado ser um acontecimento de
importância política por todos os órgãos da
União Soviética. Uma ação que deveria garantir
a vitória do jovem desafiante - um russo,
proveniente da classe operária, que se mantinha
fiel e obediente às autoridades. Puseram à sua
77
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
disposição os melhores recursos, inclusive com
todo apoio fora da área do xadrez... Quando o
match terminou, chegou a vez de cumprir a
segunda parte, justamente a mais fácil do
objetivo político pretendido, ou seja, a minha
punição. D evia ser um castigo exemplar que
servisse de advertência para os outros. Por que?
Pela independência de pensamento e conduta.
Em termos concretos, porque eu lutei nesse
111atch, quando para todo o mundo já era claro o
que devia acontecei'.
"No início nos relacionávamos de forma
regular" (Karpov)
O motivo oficial da punição foi a entrevista
áspera e irritante que Kortchnoi deu a B. Kaµtc,
publicada no jornal iugoslavo "Politikd' na
conclusão do match. Aqui está o texto
subversivo e, como demonstrado pela lústória
subseqüente do xadrez, de fato sem significado
objetivo - em sua conclusão final, Viktor
Lvovich estava completamente enganado:
'54.cho que Petrosia11, a que111 venci na semifinal, é
superior a K.arpov. E de um modo geral, nem Spassl?Y
nem PolugMvsky, que perderam para K.arpov, são
ieferiores a ele no conhecimento do xadrez e no talento.
78
Acho que e,1 também posso ser con,parado com esses
Grandes Mestres. Eu até ofereci mais resistência do q11e
eles... K.arpov não possui Htfl rico arsenal ne1t1 grandes
'rec11rsos' enxadrísticos, ,nas é umjogador de muita.força
de vontade e empenho pela vitória. Com sua poderosa
jorpa de vontade, ele esmago11 seus adversários, inclusive
a 11Ji111••• Quando perdi o match para Spass'9 (1968),
foi muito di.ficil, mas percebi sua força eprevi sua vitória
contra Petrosian. E Spassk:)• veio a se tornar Campeão
Mu11diaL fá quanto ao meu último adversário, não
posso dizer que o aguarda 11111 f11turo brilhante. "
A resposta das autoridades foi severa: um
decreto do Comitê dos Esportes proibiu
Kortchnoi de participar de qualquer torneio
internacional duraot.e um ano, por motivo de
"conduta inadequada"; além disso, o seu
estipêndio de Grande Mestre foi reduzido em
um terço. Começou contra ele uma campanha
no jornal "So,yetsl?Y Sporl', no qual o seu antigo
amigo, agora pior inimigo, Petrosian, publicou
uma réplica "Sobre 11111a entrevista de V. Kortch11ol',
juntamente com cartas indignadas de leitores
sob o título "Um Grande Mestre sem espírito
esportivo".
O ano da desgraça, 1975, foi certamente o
mais difícil na carreira profissional de
Kortchnoi. Em fevereiro, "à guisa da incensa
preparação do match de Karpov com Fischer, os
principais Grandes Mestres soviéticos foram
obrigados a apresentar por escrito, ao mesmo
tempo, a avaliação que faziam do estilo e dos
pontos fortes do jogo de Fischer, e também de
Karpov, para comparação". Kortchnoi recusou
atender esta determinação (seria suficiente uma
carta semelhante à de 1972, conforme o
descrito no no início do capítulo "A Batalha dos
Deu.rei' no volume,{). Em março foi cancelado o
convite para ele participar do torneio
internacional em Tallinn... Mas logo Karpov
veio em seu auxílio. Kortchnoi explica: "Ele já
havia se cornado o Campeão Mundial sem jogar
com Fischer e o público já começava a esquecer
quem Karpov havia vencido: suas vítimas,
Spassky e Kortchnoi, tinham caído em desgraça
e em conseqüência disso, na obscuridade.

Lpov tomou as providências para que eu
~ readmitido e assim fui autorizado a
,-nicipar do Torneio Memorial AJekhine, em
Moscou, no outono, e depois também em
llastiogs (1975-76)".
Sem dúvida, no supertorneio de Moscou, a
,-rida mais importante de Kortchnoi foi a que
ck jogou com Petrosian. Já no século XXI, não
posso deixar de citar alguns de seus
Clllllentários notáveis. Acho que ele é, de um
modo geral, um dos melhores comentaristas da
listória do xadrez.
Com o "Tigran de Aço" Kortchnoí disputou um
número recorde de Matches de Candidatos:
1971, 1974 , 1977 e 1980
Partida 21
V. Kortchnoi - T. Petroslan
Me1!10riafAJekhine, Moscou 1975,
11" rodada
AberlHra Catalã EOl
1.c4 luf6 2.luc3 e6 3.luf3 dS 4.d4 Ji.e7 5.g3
t-G 6.Ag2 li:}bd7 7.'t16d3!?
"Esse lance bastante estranho foi mostrado
para mim ames das partida por Yakov Murey...
E embora ele já tivesse sido empregado
2nteriormcnte - em minha base de dados
encontrei a partida Koblenz- Bogoljubov
(1939) - é Murey, certamente, que merece o
crédito pelo desenvolvimento do lance 7.'tifd3
(com a minha ajuda) nas modernas partidas de
Grandes Mestres."
7...c6 8.0--0 b6 9.e4 ~ a6 10.b3
Viktor, O Terrível
10. ..ã c8
''Petrosian sempre trata novidades com
respeito. Ele nunca tenta refutá-las no tabuleiro,
mas busca em primeiro lugar uma continuação
mais segura. Mais tarde foi estabelecido que as
pretas podem igualar através da continuação
l0 ...dxc4 l l.bxc4 eS 12.dxeS lug4 Também,
nesse momento ou no lance seguinte, deve ser
considerado ...b6-b5, forçando as brancas a
jogarem cxd5. Mas Pecrosian não empreende
nada ativo.
11..âf4 lle8?! 12.ã fdl ti:lf8 13.a4 Ab4
14.e5 ~ 6d7 15.i.d2 li:}b8 16.Wc2!, e uma vez
que 16 ... dxc4 17.bxc4 ~xc4? 18.li:}e4 é
desfavorável para as pretas, as brancas romaram
a iniciativa. No 30° lance as p retas foram
obrigadas a entregar a torre por um poderoso
cavalo em d6. ''E ao mesmo tempo, para
Petrosian o sacrifício de qualidade era um tema
estratégico recorrente - dessa forma ele venceu
numerosas partidas!".
A partida foi adiada duas vezes {Kortchnoi
teve a ajuda na análise de seu conterrâneo e
velho amigo Spassky) e foi disputada em um
período total de três tard es, com as brancas
entrando em apuro de tempo por três vezes!
Por fim, Kortchnoi, já exausto, descobriu o
inesperado lance 66 no tabuleiro. Petrosian
cometeu também um erro inesperado e no
lance 74 admitiu a derrota. Eis o epílogo de
Kortchnoi: "Passados alguns anos, Yakov
Murey me escreveu, dizendo: 'J\ vitória desta
79
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
partida foi de nós três: minha na abertura, sua
no meio-jogo e de Spassky no final'. Essa é a
verdade. Gostaria de aproveitar a oportunidade
para expressar minha gratidão a Boris Spassky
pelas suas excelentes análises nos adiamentos."
Foi naquele outono, em novembro, que me
encontrei pela primeira vez com Karpov e
Kortchnoi no tabuleiro, no então popular
torneio dos Palácios dos Pioneiros. Em cada
rodada, o Grande Mestre capitão jogava ao
mesmo tempo com sete jovens adversários;
depois, o seu resultado era somado ao resultado
da equipe e os vencedores eram os que tivessem
obtido o maior número de pontos. Karpov
jogou por Tcheliabinsk; Kortchnoi, por
Leniogrado; Spassky, por Moscou e Bagirov,
por Baku, minha cidade natal, e assim por
diante.
A equipe de Baku não era muito forte e eu,
menino de 12 anos de idade, candidato a
mestre, muitas vezes tive que jogar
praticamente corpo a corpo com o Grande
Mestre, que prestava atenção principalmente à
partida com seu adversário mais perigoso. Na
primeira rodada, perdi em uma excelente
posição para Smyslov; na segunda rodada,
ganhei um ponto em um final de torre com
Katalymov; na terceira, empatei com
Polugaevsky em uma posição de força. Na
quarta rodada, jogando com Karpov, acabei
ficando sozinho e, infelizmente, não pude
resistir, apesar de ter de novo uma excelente
posição. Seguiu-se um empate com Kuzmin. Na
sexta e última rodada, jogamos com Kortchnoi,
que travava uma luta desesperadora com
Karpov e Smyslov em busca do melhor
resultado entre os Grandes Mestres, enquanto
Leniogrado disputava com Moscou o primeiro
lugar na contagem global.
A partida transcorreu de maneira bastante
tensa. Kortchnoi exercia forte pressão, tentando
superar Karpov a qualquer preço. Para ele, isso
era um assumo crucial - vencer pelo menos
uma pequena revanche! Eu usei a Defesa Índia
80
do Rei e encontrei a Variante Siimisch.
Sacrifiquei um peão para conseguir compen-
sação na forma de um poderoso bispo de casas
pretas contra um cavalo. No final, as pretas
tomaram a iniciativa e Kortchnoi teve que
resolver alguns problemas muito difíceis.
Casualmente ele escapou, mas às custas de
grandes esforços e o Grande Mestre perdeu um
"ponto" extra nas outras mesas. Assim, foi
Smyslov quem terminou com o melhor
resultado: 38 pontos em 42, com Karpov e
Kortchnoi meio ponto atrás. É verdade que os
pontos ganhos por Karpov tinham mais peso;
em comparação com seus rivais ele combateu
com as duas equipes mais fortes, a de Moscou e
a de Leningrado... As emoções de Viktor
Lvovich eram fáceis de se ver.
O "fina/e soviéiico" da despedida de Viktor
Lvovitch Kortchnoi foi a vitória conquistada no
primeiro tabuleiro na Copa de Equipes da
URSS (fbilisi, abril de 1976): 5 em 7, à frente de
Karpov (4 em 6), Petrosiao, Tal e Smyslov. No
111atcb principal entre ''Trud'' (Trabalho) e o
Clube Central do Exército, foi o reserva Gipslis
ao invés de Karpov quem enfrentou, com as
pretas, Kortchnoi - e não resistiu à pressão do
adversário. O leitor pode se lembrar q ue algo
parecido tinha acontecido na Olimpíada de
Buenos Aires, em 1939. Alek.híne e Capablanca
também estavam disputando o melhor
resultado no primeiro tabuleiro e, quando o
cubano não jogou a partida com seu rival
principal, o enfurecido Alekhine esmagou o
jogador reserva...
Em julho de 1976, divulgou-se uma noticia
sensacional no mundo do xadrez: um dos
vencedores do torneio de Amsterdã, o
tetracampeão da URSS, Viktor Kortchnoi, tinha
solicitado asilo político na Holanda! Como ele
mesmo deu conta, a decisão tinha sido tomada
no final de 1974. Subseqüentemente, ele frisou
repetidas vezes os motivos puramente
profissionais de sua atitude, dizendo
simplesmente "que se viu obrigado a ir embora,
para continuar poupando sua vida de enxadrista
 Viktor, o Terrível

tpac os dirigentes do Partido, aliados a alguns partida-relâmpago 1970) as brancas tentaram

Ga.ndes Mestres, tinham decidido sufocar". explorar a ausência do cavalo em f3 através de
Naturalmente, as autoridades soviéticas 8.~d2 fi:Jbc6 9.tfg4 (9.~f3 - partida 2J), mas
iattrpretaram a deserção de Kortchnoi como
após 9... 0-0 10.fi:JD f6 ll.~d3?! f5! 12.'i!fg3
an ato político e desfecharam contra ele todo o
c4 13.i.e2 b5 14.0-0 bxa4 elas nada
poder da máquina da propaganda: uma conseguiram.
declaração publicada pela Agência TASS, uma
8 ...fi:Jbc6 9.fi:Jf3 i.d7
prolixa resolução da Federação de Xadrez, uma
A linha principal - um lance flexível de
cana aberta condenatória assinada por mais de
desenvolvimento, embora Viktor Lvovich
.30 Grandes Mestres soviéticos (não assinada
também tentasse tanto 9 .. . 0-0, como 9 . .. f6.
por Botvinnik, Bronstein, Spassky e Gulko) e
10.~ e2
uma carta condenatória publicada em separado
por Karpov... Todos demonstravam unanime- O lance 10.~ bS?! é duvidoso devido a
mente a sua indignação "em face da conduta
1O...fi:Jxe5 ! (Mnatsakanian-Kortchnoi, l erevan
indigna de Kortchnoi" e aprovavam o veredicto 1965), enquanto se 10.Ad3, então 10 ... f6!
da Federação de "privá-lo dos títulos despor- (Fischer- Uhlmann, Interzonal de Estocolmo
ávos e do direito de representar a escola 1962; Tringov-Kortchnoi, Olimpíada de Skopje
soviética de xadrez na arena mundial". 1972).
Kortchnoi tinha representado esta escola 10.. J!cS
durante bem uns vinte anos e desempenhou sua Seria mais agudo 10 ... f6 l I.exf6 gxf6
função com toda dignidade; entre os membros 12.~a3!? ou 12.dxcS (partida 12'), mas talvez
da seleção da URSS, ele detinha o título de isso estivesse mais de acordo com a preferência
Tencedor de cinco campeonatos de equipes da deTimman...
Europa (+22-3=11) e de seis Olimpíadas
Mundiais (+50-3= 31). A última vez que jogou
pela URSS, com o brilho de sempre, foi na
Olimpíada de Nice (197 4). De suas oito vitórias,
a de que mais gost0 é o "duelo francês" com a
ascendente estrela do xadrez europeu, Jan
T1mman.

Partida 22
J. Tlmman - V. Kortchnoi
Oli11,píada de Nice 1974
Defesa Francesa Ct 9
ll.il.d3
Esse lance não perde um tempo: com a torre
l.e4 e6 2.d4 d5 3.lE)c3 .ib4 4.e5 c5 5.a3
em c8, 11. .. c4 e ...f7-f6 são mais fracos, uma
il.xc3+ 6.bxc3 fi:Je7 7.a4 (7.~g4 - partidas 3,
vez que as pretas não têm o roque na ala da
14 e 27) 7 .. .'i!fa5!?
Tanto agora como um lance antes, após dama seguido por contrajogo central e na ala do
7 ... ~ bc6 ou 7 ...~ d7 8.fi:Jf3 , esse lance de rei, enquanto se 11 ... 0-0, então 12.h3 é
dama "matou" a popular idéia 7 .a4. desagradável. D essa forma, as pretas são
8.!Vdl forçadas a trocarem as damas. Com esse
Na partida Fischer- Kortchnoi (Herceg Novi, objedvo, as brancas também podem jogar o

81
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

imediato 1 l.Aa3 !? (l l.dxc5 l2lg6, com 23.dxe5 ã xc3 ou até 22...0d8!? 23.Xi.d2 <tle6
igualdade; Smyslov-Uhlmann, Mar del Plata 24.c3 lle8 25.~ ltJgS 26.fJ ii..c8!.
1966) 1 I.. .cxd4 12.cxd4 ll!xd2+ 13.Wxd2
lz::'la5 14.!!libl ou 13 . .. 0f5 14.c3 e lihbl.
11 ... cxd4 12.cxd4 'i!Vxd2+ 13 ..ft.xd2
(retirando do cavalo preto as casas b4 e a5)
l3 .. . b6!?
Uma novidade. Anteriormente Portisch e
Uhlmann chegaram à igualdade após 13 ...l2lf5
14..âxfS exf5.
14.l!a3
Mantendo a tensão no momento, que poderia
ser rapidamente aliviada através de 14.aS ltJxa5
15.AxaS bxa5 16.~aS l2lc6 17.lh3 ~e7
20...ê2lfe7!?
(17 ...a5!?) 18.Wd2 a5 19.lâhal S b8 e as pretas
Um momento car:acteristico. É auto-sugestivo
não têm nada a temer.
2O ...ltJcxd4+ 21.ii..xd4 ltJxd4+ 22.0xd4 fxe5,
14...0-0 15.0-0 (as brancas gostariam de
por exemplo: 23.ltJb5 (23.ltJb3 e4) 23 ... 1t..xb5
deixar o seu rei no centro, mas no caso de
24.ii..xbS (de outra forma ...e5-e4) 24...ãxc2+
15.We2 f6! é difícil manter o peão em e5 ou,
25 .<;!;>e 1(3) :Sf8 26.~e2 e4 com boa
após exf6, se preparar para ...e6-e5) 1?...llc7
compensação pela peça, ou 23 .lt.a6 exd4
Agora se 15 ...f6 segue 16. exf6 gxf6 17.ã e 1
e as pretas não se apressam em atacar no centro. 24.ii..xc8 ã xc2+ 25.Wd3 ãxc8 26.<~xd4 É!c4+
16.l'lbl h6 17.Wfl l2Jf5 18.St..c3 l!fc8 27.g;es i.xa4 28.Wxe6 ãxg4 com empate
19.@e2 f6! fácil. Mas Kortchnoi cem sede de vitória e corre
No momento exato. Smyslov recomendou um risco estratégico linútadol
19...ltJaS, mas após 2O.1i..xa5 bxa5 2l.c3! as 21.exf6 gxf6 22.h4
brancas teriam tido a chance de gradualmente Após 22..âa6 ge8 as pretas teriam ameaçado
abordarem os peões passados na coluna a. E ...e6- e5. Mas poderia se considerar o
não foi para atingir uma posição tão passiva que profilático 22.Wd2!? (Smyslov)
Korcchnoi jogou a Defesa Francesa! 22...i.e8!?
20.g4 Rejeitando novamente, por uma questão de
Desalojando o cavalo antes da troca em f6, princípio, a simplificação 22.. .t~Ja5 23.il.xaS
pois de outra forma ele seria capaz de ir para
bxa5 - embora após 24.We3 ç!Jfl as pretas
d6. Com esse lance, as brancas efetivamente
tenham uma posição sólida, mas assim não seria
permitem um empate, mas a recomendação de
possível confundir seu jovem adversário.
Smyslov 2O.exf6 (2O.Aa6 ãf8!) 20 .. .gxf6
21.lt.xfS exf5 22.ltJel, com a idéia de após 23.g5?!
22...~?! 23 ..áxa5 bxa5 24.~d2 gc4 25.c3 Essa dificilmente é a forma de libertar o bispo
ãxa4 26Jâxa4 ~xa4 27.!!a I ii..b5 28.ã xaS a6 preto. Também seria desfavorável 23.h5?!, pois
29.l2ld3 l!e8 3O.l2lf4 explorar as fraquezas dos após 23 ...fS!, as pretas colocam seus olhos
peões pretos, não promete nada de útil, uma vez sobre o peão h5. Mas 23.ii..d2 ou 23.ka6 â d8
que 22...lle8+ e .. .ãe4, assim como 22...0e5!? 24 ..âd2 teriam permitido às brancas lutarem

82

poc uma vantagem posicional.
23....âhS (agora pode-se provavelmente falar
,obre um equiltbrio dinâmico) 24.gxf6 ~ f5
25.AxfS exfS 26.<ite3
Após livrarem-se da potencial ameaça
_e6-e5 e da cravada do seu cavalo em f3, as
bcwcas ao menos podem pensar sobre a
ruptura a4-a5.
26... wti 27.:âb5?!
Um atraso, além do que nessa casa a torre se
lllOsttará vulnerável. As brancas deveriam ter
jogado de forma imediata 27.a5! bxa5
28.~xa5 e após 28 ...~xaS?! 29.lzJe5+ Wxf6
30l!xa5 gxc2 31.~ 6+ ou 28.. Jãd7 29.l2le5+
lõxe5 30.dxe5 ã xc2 3 1.ã el ! <ite6 32.~d2!
das desenvolveriam uma perigosa iniciativa.
Dessa forma, 28 ...ãe8+! 29.l2le5+ l2!xe5
30.dxe5 Bxe5+ 31 .'i!?d4 ã'.e4+ 32.<;!?xd5 ãd7+
33.©c6 ©e6 seria melhor, quando os bispos de
cores opostas asseguram o empate, apesar da
atividade do rei branco.
27...lâd7 (um lance aparentemente passivo,
mas que fortalece as ameaças latentes das
pretas) 28.aS
Não há nada melhor: 28.l2le5+ ? l2lxe5
29.dxeS é estancado através de 29 .. J~xc3+!
30.ã xc3 d4+ , enquanto a recomendação de
Smyslov 28.© f4 ©xf6 29.a5 é duvidosa em
vista de 29...~ g7! 30.axb61:í'.g4+ 31.We3 lãe4+
32.©d2 .âxf3 33.bxa7 ãe2+ 34.'i!?cl l2lxa7
35.ãc5 l2lc6 ou 30.lzJe5 l2lxe5 31.dxeS+ We6
32.ct>e3 (32.axb6? lãg4+ 33.©e3 d4+!
34.Wd3 lãe4! 35 .b7 ~e2+ 36.©d2 !!b8,
vencendo) 32 ...lãg4 33 .Wd3 (33 .Wd2 d4!
34.~b2 1:í'.f4) 33 .. Jâe4 34.lãb4 b5 com
vantagem óbvia das pretas.
28 ...lãe8+ 29.lZ:ieS+! (após 29.Wf4 &4+
30.Wg3 ©xf6 Kortchnoi de forma inesperada
teria criado um ataque terrivelmente forte:
31.lZ:ieS lãg7+ 32.Wh3 ~e2 33.1:í'.bl bxa5! e
Viktor, o Terrível
não é possível 34.~xc6? devido a 34... ilD
com mate inevitáve~ 29...~xeS 30.dxeS
30...d4+! 31.~xd4 f4+! 32.© xf4?!
As pretas subitamente variam para um
contra-ataque (o esquema favorito de
Kortchnoi!), desequilibrando Timman. No
apuro de tempo ele "vai à deriva" e perde a
chance de criar a máxima dificuldade para o
adversário através de 325~d3 ~g6+ 33.Wc3
ik8+ 34.'~b2 ãxd4 35.axb6 axb6 36.lãa7+
Wf8 37.e6!.
32 ... !!xd4+ 33.©e3 ã xh4 34.!íd3
(34.axb6? ID.3+ e ...ã xa3) 34...a6! 3S.ã d7+?!
(teria mantido boas chances de vitória 35.lãbdS)
35...Wf8 36.llbdS?
E esse foi o erro decisivo. Seria essencial
36.i!xb6 lãxe5+ 37.Wd2, depositando suas
esperanças na atividade das torres e do peão f6.
36...it.ti (agora as pretas serão capazes de
converter sua vantagem material) 37.f4 .\lxd5
38.lãxdS bxa5 39.ilxa5 @ ti (39 ...hS!?
40.lãxa6 lãhl) 40.i!xa6 'it'g6 41.'i!?e4 (ou
41.lãc6 lãd8 42.We4 lãhl) 41 ...ã c8 42.lla7
0-1
As brancas abandonaram sem esperar por
42 ...!!c4+ 43 .~d5 llhxf4 44.EKg7+ Wf5.
Como ocorre com freqüência no xadrez, o
duelo com Timman teve uma continuação
interessante. Logo depois de sua deserção da
URSS, Kortchnoi jogou todo um ,natch de dez
paródas com Timman, que serviu como um
83
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
bom aquecimento para o ciclo de Candidatos de
1977. As duas primeiras partidas terminaram
empatadas; na terceira, Kortchnoi escolheu
novamente a Defesa Francesa e começaram as
desventuras de Timman no match.
Partida 23
J. Timman - V. Kortchnoi
Match Leeuwartkn 1976 - 3ºpartida
Defesa Francesa Cf 9
1.e4 oo 2.d4 dS 3.làc3 i.b4 4.es c5 5.a3
i.xc3+ 6.bxc3 li:Je7 7.a4 li:Jbc6 8.li:Jf3 l!f'a5!
(8 ... i.d7 - partida 12) 9.i.d2 (dessa vez
Timman evita 9.ifd2 - partida 22) 9...~ d7
10.~ e2
Outra tab!Ja daquela época. Após 10.i.bS?!
(com a idéia de 10 ... a6 I l.i.e2!) Kortchnoi
introduziu tanto 10 ... c4 (contra Cherepkov,
Leningrado 1964), como 10 ...l!f'c7 (contra R.
Byrne, Olimpíada de Nice 1974).
10...f6!
Outra novidade. O centro das brancas é
atacado imediatamente após elas terem retirado
seu bispo da diagonal e1-a3. Anteriormente
havia sido jogado 10 ... l!fc7 (Kurajica-
Timmao, Skopje 1976), mas mais
freqüentemente 10 .. .c4 com a idéia de 11.h4 f6
(Fischer-Padevsky, Olimpíada de Varna 1962)
ou 11.0--0 f6 (Kortcbnoi também jogou isso),
mas aqui as pretas receiam 11.l2:}g5!? (a partida
de referência: Stein-Uhlmann, Interzooal de
Estocolmo 1962, 3ª rodada), por exemplo:
1) 11...0--0 12.0-0 f6 13.exf6 ãxf6 14.i.g4
h6 l 5.l2:)f3 0c8? (J 5 ...!!af8!) 16.!!el êzJb6
17.'ifcl ãaf8(17...ti.:lxa4? l8.'i!Va3 b519.'t!fd6
l!fd8 20.ã:xe6!) 18.l!f'a3 0d8 19.0 e5 !
~xa4?! (em desespero: 19...:Sxf2 20.:s!:fl!!)
20.l!fcl 'i!fb5 (Timman- Uhlmann , Skopje
1976) 21.:Sbl! 'i!fa4 22.:Sb4 l!fa5 23.ãxb6,
vencendo;
2) l 1...h6 12.l2:)h3 0-0-0 13.l2:}f4! com
alguma iructattva (Kavalek-Ublmann,
Interzooal de Manila 1976), embora a prática
84
subseqüente mostre que as pretas têm
consideráveis recursos defensivos.
Agora as brancas têm negado o salto do
cavalo, mas talvez possam castigar seu
adversário pelo enfraquecimento da posição?
ll.c4
A resposta mais natural: as brancas abrem a
posição, tentando explorar o poderio dos seus
dois bispos. No caso de l l.exf6 (11.l:'.!bl
'ifc7!) l 1...gxf6 12.0--0 0-0-0 13.:Sel c4 a
posição é uma versão razoável para as pretas da
variante 10 ... c4, e após 14.'i!i'cl IDlg8 15.i.fl
l2:}g6 16.'i!fa3 e5 (Tringov-Timman, Plovdiv
1983) Otl }4.i.fl lz.:lg6 (14 ...li:lf5!? 15.l!fcl b5
Uhlmann) 15.~h6 ã bg8 16.'tfd2 (Anand-
Arkhipov, Moscou 1987) 16 .. . e5 elas
conseguem resolver com sucesso seus
problemas de abertura.
li ...ifc7 12.cxdS
Ou 12.exf6 gxf6 13.cxdS êzJxdS, e aqui ao
invés de 14.c4, Spassky contra Kortchnoi W
partida do match, Belgrado 1977 /78) jogou
14.c3 0-0-0 15.0--0 ãhg8 16.ãel , mas após
16 ... e5 ! 17.c4 iili3 18.~ fl (18.li:lg5 li:lc3!)
18 ...êzJb6 19.d5 lzJxc4! 20.dxc6 'fi'xc6 2 1.g3
~xfl 22Jâxfl e4 foram as brancas que
jogaram por um empate. Mais ta.tde 16.g3 e
16.Whl se tornaram objeto de debates teóricos,
mas não 16.dxc5 e5 17.'it'hl ?! l2:}f4 ! 18.i.c4?!
(18.~xf4 i.113!) 18 ...ãxg2 19.i.xf4 ãg4
20.'i!i'e2? ã xf4, vencendo(Lederman-
Kortchnoi, Beersheva 1978).

12...~xd5 13.c4 ~ de7 14.exf6 gxf6
15.dxc5
Comparativamente melhor. Não promete
mda l5.Ac3 0--0-0 16.d5 (16.0---0 cxd4 e
...Ae8) 16 ... exd5 17.Axf6 (17.cxdS Ae6)
17 ... ãhf8, ou 15.d5 exd5 16.cxd5 €lxd5
17.l!Yc2 0-0-0 (Slobodjan-Zude, Bad
Wõrishofen 1998).
15...0--0-0
Pelo peão as pretas têm uma boa posição
central e a perspectiva de um ataque na coluna
g. Situações similares, onde as brancas
apturaram em c5 e tentaram conseguir uma
Tmtagem em posições com um peão a mais
(embora triplicado) e uma abertura central,
ocorreram anteriomente nos n;atches Smyslov-
Botvinnik, e de uma forma geral as pretas
demonstraram a viabilidade da sua posição.
16.Ac3 (16.a5 a6!) 16 ... e5! (abrindo o
am.inho para o bispo em d7 e tomando o
controle da casa d4) 17.'i!fd6
Não desejando se submeter ao risco de um
ataque após 17.0---0 ãhg8, Timman se apressa
cm trocar as damas, esperando no final explorar
a vantagem dos dois bispos e, no momento, do
seu peão a mais, o qual as pretas teriam que
gastar algum tempo para recuperar.
17.. .lz)fS!?
O mais consistente, embora também seja
possível 17...ãhg8 18.'i!fxc7+ (18.l!rxf6 ãg6!
19.t!ff7 ã xg2) 18 ...W><c7 19.g3 JJ.f5 com um
final agudo.
18.t!fxc7+ (é claro, não 18.1fxf6? &if8
19.t!fgS !!hg8 20.'i!fd2 ã xg2) 18...r.!txc7
19.0--0
As brancas também dificilmente poderiam
esperar sucesso através de 19.0--0-0 €Jfd4
(19...Ae6 20.ãhel !) 20.Axd4 €lxd4 2 1.~xd4
exd4 22.!!xd4 JJ.xa4.
19...êi)fd4 (se 19 ....i.e6, então simplesmente
20.!ifdl) 20.~ xd4 ~ xd4 21.Adl
No Informador Hartoch colocou um ponto de
exclamação nesse lance, mas seria mais sólido
2 l.Axd4 ! exd4 22.Ad3, bloqueando o
Vlktor, o Terrível
potencialmente perigoso peão passado d. Nesse
caso, 22.. !Bc6?! teria levado a 23.ãfbl E!de8
24.ãbS, enquanto a tentativa de expulsar o
bispo bloqueado em d3 - 22 ... Ae8?! seria
refutada por 23.f4! JJ.g6? 24.fS Aí! 25.a5! etc.
Seria melhor 22 ...ã de8 23.a5 A c8, mantendo
o equilíbrio dinâmico: as vantagens e
desvantagens dos dois lados na posição são
mutuamente equivalentes.
21...©c6!
O jovem Grande Mestre holandês poderia se
mostrar horrorizado com essa resposta: o rei
preto subitamente caminha em direção à
batalha, com a intenção de eliminar os peões
adversários. Mas as brancas ainda não têm
nenhuma razão para o pânico.
22.A xd4?!
O primeiro passo em direção ao abismo. Era
muito difícil para as brancas darem às pretas um
forte peão passado. Se 22.ID> 1 ou 22.Ab4 havia
a resposta desagradável 22...JJ.fS !, mas o
solapamento do centro do adversário seria mais
enérgico: 22.f4! ~xc5 23.fxeS fxe5 24.ãel
(Hartoch) 24...~ xc4 25.&l e a atividade das
peças brancas, especialmente a dos dois bispos,
dá a elas um jogo perfeitamente bom.
No momento mais responsável, quando
decisões altamente importantes deviam ser
tomadas, Timman começa a agir de maneira
incerta e em literalmente dois lances ele perde a
batalha.
22...exd4 23.AfJ+?
85
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
É provável que esse já seja o erro decisivo. O
bispo não deveria ser retirado de d 1: se ele não
bloqueia o peão de d3, pelo menos teria
permanecido n a casa de coroação. As brancas
deveriam colocar todas as suas forças na batalha
com o peão d! Seria essencial 23 .ã b 1, para após
23 ...d3 24.a5 d2 25.f4 'i!?xc5 26.ãxb7 !!he8
27 .ãxa7 ~f5 trazer o rei através de 28.<;!i>t2 e,
aparentemente, escapar do pior.
23... Wxc5 24.i.xb7 ~.f5!
Uma resposta muito forte: agora as brancas
não podem desenvolver sua torre via b l e elas
não têm defesa contra o ameaçado avanço do
peão d. Seu peão a mais não é sentido - a
atividade do rei preto é muito mais importante.
25.it.f3 (25.it.d5 ~c2! e ...d4--<l3) 25.. J!he8
26.ã a2 ã b8 (26...d3!?) 27.ãd2 ã bl
Também seria bom 27 ...:Sb4, mas Kor tchnoi
escolhe um caminho para converter sua
vantagem que envolve a troca do par de torres
e dos bispos.
28.g4 (28..ie2 ãeb8) 28...ã eel 29.ã xel
ã xet+ 30.'it'g2 i.e4 (mais simples
tecnicamente do que 30 ...it.g6) 31.il.xe4 ã xe4
O destino da partida está decidido pelo peão
passado d, apoiado pelo rei: o rei branco,
cortado da coluna e, pode somente observar o
avanço inexorável em direção à casa de
coroação.
32.Wf3 (a idéia de H artoch 32.f3 é derrotada
por 32 ...ãe3 33.<it't2 B'.a3 e ...B'.xa4) 32...ã eS
33.h4 (ou 33.ãc2(b2) d3 ! e ...<.!?d4)
86
33... Wxc4 34.ã c2+ Wb3 35.ã c7 d3 36.ãxh7
ã dS 37.ã b7+ <.&c2 38.l! c7+ Wbl 39.ã b7+
© ai 40.!Ib5 ã d8 0-1
Kortchnoi também venceu a quarta partida e,
ao final, venceu o match antecipadamente: 5½-
2½. O que causou impressão não foi somente o
resultado, mas também a característica do
encontro: Kortchnoi jogou com muita energia,
de forma tão envolvente e interessante que
mesmo um jogador tão brilhante e criativo
como Timman foi incapaz de contê-lo. Esta
vitória segura contra um dos mais fortes jovens
Grandes Mestres do Ocidente marcou o irúcio
da ascensão ao ponto mais alto da carreira
enxadrística de Kortcbnoi.
Foi precisamente no período de 1976 a 1980
que seus brilhantes resultados competitivos se
associaram a uma admirável riqueza de idéias
criativas e a contribuição de Kortchnoi ao
desenvolvimento do xadrez atingiu seu auge
histórico. Note-se que ele já estava beirando os
cinqüenta anos de idade! Este fato desmentia
em grande parte as antigas impressões a
respeito da idade limite para as grandes
conquistas no xadrez.
A fase áurea da carreira de Kortchnoi situa-se
no período entre os seus dois matches com
Polugaevsky {1977 e 1980)
Não posso deixar de lembrar aqui o parecer
expressado na carta acima mencionada de
Karpov: "A decisão de V. Kortchnoi de desertar
da Pátria me causa desgosto, porque o passo

que ele deu é uma ameaça para o futuro de sua
carreira de enxadrista". Curiosamente, que
ameaça seria essa? Quem sabe, seria o boicote,
dali por diante, em todos os torneios
internacionais com participação de Grandes
Mestres soviéticos? Ou, talvez, Karpov tivesse
em mente a carta da Federação Soviética ao
Congresso da FIDE, propondo a exclusão de
l<ortchnoi dos próximos 111atches de candidatos?
Entretanto, o Congresso da FIDE e a
Olimpíada que se realizaram em Israel em 1976
sofreram o boicote da União Soviética e de
outros países do bloco socialista. "Na ausência
deles", escreve Kortc.hnoi, "a carta da
Federação de Xadrez da URSS foi Lida, mas era
tio absurda que não chegou sequer a ser posta
an discussão".
O mundo do xadrez aguardou com ansiedade
os próximos Matches de Candidatos, nos quais
surgiu subitamente uma intriga completamente
nova ...
Massacre em Evian
Para chegar ao l!latch pelo Campeonato
Mundial, Kortchnoi tinha que superar uma
"barreira tripla" de seus antigos compatriotas.
As "pedras" no seu caminho eram Petrosian,
Polugaevsky e Spassky.
Eis como ele recorda o l!latch de quartas-de-
fina! com Tigran Petrosian (II Cioccio,
primavera de 1977): "O primeiro teste foi em
uma atmosfera de profunda hostilidade. Nossas
forças enxadrísticas eram absolutamente iguais,
mas os meus nervos foram mais fortes". A
qualidade das partidas do dificílimo match de 12
partidas foi relativamente baixa, com boas
idéias alternando-se com erros grosseiros.
D epois de quatro empates, Kor tchnoi venceu a
quinta partida, mas Petrosian reagiu e venceu a
sexta. Seguiu-se mais um empate. Na oitava
partida, o ex-Campeão do Mundo conseguiu
uma vantagem posicional óbvia, mas no apuro
de tempo subitamente jogou 33.e3-e4??,
deixando a torre em e 1 en prise do bispo em g5.
Este erro inexplicável ditou o destino da
Viktor, o Terrível
partida, e talvez, de todo o match. A vitória foi
de Kortc.hnoi: 6½-5 1/2 (+2-1=9).
O tnatch semifinal com Lev Polugaevsky, em
Evian, no verão de 1977, foi bem diferente.
Kortchooi demonstrou um jogo verda-
deiramente forte, decidido e interessante, com o
que, literalmente, arrasou o seu adversário. Ele
indicou a sua estratégia do n,atch já na primeira
partida: utilizando uma continuação muito rara,
inesperadamente passou para um final com
vantagem de uma qualidade, mas Polugaeevsky
tinha compensação mais que suficiente para
manter o equilibrio. Entretanto, agindo com
grande energia e criatividade, Kortchnoí
gradualmente converteu a vantagem de
qualidade.
Provavelmente, esta partida tenha lhe
sugerido que as posições de finais de partidas
complicadas e fora do padrão fossem um ponto
fraco de Polugaevsky e que, ao entrar em finais
assim, a brilhante preparação de aberturas do
adversário poderia ser neutralizada. E na partida
seguinte os fatos também se desenvolveram de
modo similar.
Partida 24
L. Polugaevsky - V. Kortchnoi
Senijinal de Candidatos, Evian 1977, 2'partida
Defasa Índia da Dama E19
I.d4 ~f6 2.c4 e6 3.~ f3 b6 4.g3 Ab7
(4 ...~a6 - partidas 90, 91 e 98) 5.Ag2 A e7
6.0-0 (6.~c3 ~e4 7.Ad2 - partidas 97 e 99)
6 ...0-0 7.liJc3
Para o match de 1980 entre os mesmos
adversários, Polugaevsky preparou o agudo
7.d5!? (volume 3, partida 27).
7 ... ~ e4 8.'i!fc2 ~ ><c3 9.'ii'xc3 f5
As outras continuações nessa popular tabfya
de abertura, as quais também foram utilizadas
diversas vezes por Kortchnoi, são mencionadas
nos comentários da partida Euwe-Keres (volul!le
2, partida 25).
I0.b3 .if6 n.A b2 ~ c6
87
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Três anos mais tarde foi testado 11.. .d6
12.ãad l a5!? (ao invés do usual 12 ...'ii'e7,
como Reshevsky jogou já em 1940 e então
também Botvinnik con tra Tal, Moscou 1960,
21ª partida do match) 13.0el iLxg2 14.0xg2
0 c6 e as pretas por duas vezes mantiveram o
equilibrio (Polugaevsky-Kortchnoi, 2ª e 4ª
partidas do Rlatch, Buenos Aires 1980).
12ltadl!
Um lance mais preciso do que l 2.'ii'd2, ao
qual as pretas também responderam 12 ... 0e7
13.0el iLxg2 14.0xg2 g5 !? 15Jlad l 0g6
16 .f3 'ii'e7 17.e4 fxe4 18.fxe4 1J..g7 19Jâxf8+
líxf8 20 Jifl ãxfl + 2 l.~xfl ½ -1/2 (Pirc-
Euwe, Olimpíada de Amsterdã 1954).
12•. .0 e7
A linha usual, que foi substituída, 12 ... ii'e8
13.tfc2 0 d8 14.d5 ~xb2 15.~ xb2 exd5
16.cxd5 c5? 17.dxc6 dá vantagem para as
brancas (Boleslavsky-Taimanov, Torneio de
Candidatos de Zurique 1953). Mas na partida
Miles-Korrchnoi (\Xlijk aan Zee 1978) as pretas
escolheram 12 .. .We7 !? e após 13.l!i'd2 0 d8
14.d5?! A xb2 15.'t\fxb2 d6 (com a idéia de
...e6- e 5) 16.dxe6 0 xe6 17 .b4 ( 17 .e3 as
iguala) 17 ... f4 ! 18.ãd2 líf6 19.lli'c3 ãaf8
20.a3 lli'e8! 2 1.~ d3 'ii'h5 elas desenvolveram
um ataque perigoso e venceram n o 33° lance.
13.0 el il,xg2 14.0xg2 gS!?
Nas pegadas de E uwe! Tradicionalmente se
pensava que em variantes assim tranqüilas da
D efesa Índia da Dama as brancas tivessem un1a
88
vantagem mínima, uma vez que não são
ameaçadas por nada e podem jogar por uma
vitória sem risco em particular, pelo aumento
gradual da pressão. Mas o lance das pretas
mostra que elas não se limitam a lutar
pacientemente pela igualdade, mas que desejam
tomar a iniciativa oa ala do rei.
15.l!i'c2! (preparando e2-e4) 15...0 g616.e4
f4
É claro, 16 ...fxe4?! l 7.~xe4 cairia como
uma luva para as brancas, uma vez que ...g7- g5
provaria ser um grave enfraquecimento.
17.eS ilg7 18.i.fe4
As brancas mantêm seu peão central. Keene,
no Informador e depois dele Matanovic e
Ugrinovic na Enciclopaedia of Chess Opemrings
recomendaram 18.~a3 "com uma leve
vantagem para as brancas." Mas após 18 ...ã f7
(ou, de forma imediata 18 ...cS, com a idéia de
19.dxcS i.fe7!) 19.ii'e4 c5 se desenvolve um
jogo de duplo gume: 20.b4?! gxh4 21.0xf4
l2\xf4 22.gxf4 l!i'f8 23 .ii.cl tili6 e Axf4 ou
20.dxcS 0xe5 2 1.Ab2 0c6 22.Axg7 <Ji/xg7
23 .gxf4 gxf4 24.~hl bxcS 25.0xf4 ~ h8
26.0d3 fil5 27.!!g l Wie7 com aproximada
igualdade.
18...l!fe7 19.!id3 lâad8 2O.lâel dS! (uma
excelente maneira de criar contrajogo) 21.exd6
É claro, não 21.cxdS !!xd5, mas agora o
bispo em g7 se torna ativo.
21 ...'i!fxd6 22.!tedl
No caso de 22.'i!fxe6+? Wxe6 23.ã xe6
0 e5! 24.ã d l Wf7 as pretas teriam capturado a
torre - a justificativa tática da idéia de
Kortchnoi! Dessa forma, as brancas apóiam seu
enfraquecido peão d4, esperando subse-
qüentemente explorar as fraquezas na posição
do adversário. As pretas, em comp aração,
contam com um contra-ataque usando seus
peões g e f avançados.
22...l!fe7 23.0el 'i:Wf6
Deve ser considerado 23 ... g4!?, mas
aparentemente no lance anterior Kortchnoi já
planejava ...l!ff6--f5 com a troca das damas e a

implementação consistente do seu plano. Seu
adversário pensou por wn longo tempo...
24.l!ld2
Até certo ponto Polugaevsky jogou de
maneira perfeitamente lógica, mas guando a
situação se tornou bastante "selvagem",
arecendo da costumeira pauta, começou a
perder confiança. Assim agui através de 24.g4!
~ (de outra forma ~f.3) 25.b4 teria atingido
91:U desejo - uma posição sólida e um pouco
melhor, embora, é claro, ainda houvesse uma
batalha complicada à frente.
24..Ji'fS! 25.'ii'xfS?
Uma troca aparentemente natural, mas falha,
condenando as brancas a um final inferior.
Após 25.!te2 elas teriam mantido um jogo igual
e até mesmo possíveis chances de uma
nntagem, por exemplo: 25 ...'ii'xe4?! 26.ã xe4
c5 27Jâxe6 cxd4 2 8.<i?tfl ou 25 . . . c5?!
26Ji'xf5 exf5 27.dxcS bxc5 28.~xg7 Wxg7
29.ãed2!, tomando a coluna d. Evidentemente
é melhor 25 ... ã dc8, com a idéia de 26.h3
!fxe4 27.ãxe4 ãf5! ou 26.'ii'c6 e5 27.~a3
(27.'JJJixc7? e4) 27. ..lue7!, com igualdade (é
extremamente perigoso jogar 28.~xc7?! e4
29.ãd l ã f7 com a ameaça de .. .l!lg4, ...l2)f5 e
...e4-e3).
25...exfS!
Com a iminência do apuro de tempo,
Polugaevsky aparentemente subestimou essa
captura: o adversário voluntariamente dobra
seus peões! Mas Kortchnoi sutilmente sentiu a
Viktor, o Terrível
dinâmica da posição resultante: as pretas mais
possivelmente controlariam a coluna aberta e
(em função da posição infeliz da torre branca
em d3), e o seu grupo de peões na ala do rei
constitui-se em uma grande força.
26.it'lg2 g4! ? (outra surpresa: 26... fxg3
27.hxg3 f4 é auto-sugestivo, desdobrando
imediatamente os peões) 27.it'lxf4
Deve-se considerar 27.f.3, mas as brancas,
com pouco tempo, podem não ter gostado de
27 . . .h S 28.W fxg3+ 29.hxg3 f4.
27...lZ}xf4 28.gxf4 ~ b6! 29~ e2 i.xf4
Após rapidamente se livrarem de seus peões
dobrados, na "sua'' ala as pretas obtiveram wna
maioria de peões avançados. As brancas devem
jogar com muita precisão para sustentar esse final.
30.ã e6?
Completamente desequilibrado tanto pela
poderosa pressão de Kortchno.i como pela
imprevista mudança dos fatos, Polugaevsky
comete o que provavelmente seja o erro
decisivo. Seria essencial 30.~dl , continuando a
lutar pela coluna e e a partir daí pelo empate.
30..JUeS (agora a coluna e está sob o
controle das pretas) 31J!f6 ã el+ 32.Wg2 ãf8
(uma torre preta invade a posição do adversário,
enquanto a outra elimina a sua torre ativa)
33.1:txf8+ c;!;,xf8
34.dS?I
Alguns comentaristas recomendaram
34.~a3+, mas após 34 .. .<~f7 35.dS ãe2 as
brancas não têm nada melhor do que entrar em
89
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
um final perdido de torre: 36.d6 cxd6 37 ..áxd6
.áxd6 38.ãxd6 ãxa2 39.b4 &4 40.ã d7+ 'it>g6
etc. Provavelmente seria mais resistente 34 ..ác3
i!e2 35.a4(a3), mas aqui tamb ém após 35 ... h5
as brancas não têm maneira de se oporem ao
assalto combinado das peças pretas.
34....ád6 (34... E!e2!?) 35..ác3 ã cl! 36~ d2
ã c2 37.a4 f4
Os peões brancos na ala da dama estão
"congelados"; enquanto os peões pretos
avançam na ala do rei, criando ao mesmo
tempo, com núnimo esforço, um ataque ao rei
(a estratégia de finais favorita de Kortchnoil).
38.h3 t3+ 39.~ h5 40.h><g4 hxg4 41.~el
O lance secreto. As brancas abandonaram
sem prosseguir, não esperando por 4 1 ... $..c5
42.~e3 ãe2+ 43.<~fl .áxe3 44.ã xe3 ãxe3
4 5.fxe3 g3 ou 42.b4 .1t..d6 43.i!d4 g3! 0-1
Na terceira partida, quando logo após a
abertura as brancas chegaram a um final técnico
de bispo e cavalo contra torre e peão,
Polugaevsky novamente não fez uso de todas as
suas chances, ao passo que Kortchnoi foi capaz
de lhe colocar problemas insolúveis na partida.
D epois desta vitória, com o escore de 3-0, o
resultado do 111atch não deixou mais dúvidas. Mas
ainda estavam por vir m uitos outros fatos,
interessantes puramente do ponto de vista do
xadrez.
Ali.ás, as partidas desse match e mesmo o nome
de Kortchnoi não eram publicados na imprensa
soviética em geral e às vezes ficávamos sabendo
dos resultados com atraso de até uma semana
(afinal, como poderia um enxadrista soviético
perder de zero para um canalha desertor?).
Lembro-me que uma vez meu treinador
Alexandre Nikitin, com um sorriso
conspiratório, me propôs examinar "três partidas
recentes". Ele me mostrou as partidas sem fazer
comentários, apenas estalando a língua depois de
alguns lances. Depois perguntoi.c "O que você
acha? Quem estava jogando?" Uma dedução
direta me fez ver que se tratavam das três
primeiras partidas do match de Kortchnoí contra
90
Polugaevsky. Mas era difícil imaginar que todas
as três partidas tinham sido vencidas pelo
mesmo jogador! Estas vitórias me causaram uma
profunda impressão, particularmente pela
inesgotável energia e criatividade de Kortchnoi
que, aos olhos de um candidato a mestre de 14
anos de idade, não condizia com sua imagem de
um Grande Mestre de 45 anos. ..
Depois de um intervalo de dois empates,
novas provações aguardavam Polugacvsky. Na
sexta partida, Kortchnoi, com liderança
esmagadora, aventurou-se a uma experiência
ousadíssima para aqueles tempos.
Partida25
L. Polugaevsky - V. Kortchnoi
Semfinal ck Candidams, Evian 1977, 6· partida
Defesa Ínglesa A40
l.d4 e6 2.c4 b6! ?
Naquela época essa defesa irregular era
considerada "deformada" e a sua teoria estava
em estado rudimentar. No século 19 foi jogada
ocasionalmente por jogadores ingleses e
americanos e no irúcio da década de 1920 pelos
hipermodernistas Breyer, Réti e Nimzovitsch.
Em 1975 foi seriamente retomada por Tony
Miles. Seu exemplo foi seguido por Keene,
Scean, Speehnan, Plaskett, Conqucst, Hodgson,
King, Short, Adams, Sadler... dessa forma, essa
variante pode acertadamente ser chamada de
Defesa Inglesa.
Não é acidental que Kortchnoi tenha usado
uma das idéias corajosas de Miles, que se
distinguia pelo manejo original das aberturas
(em uma ocasião ele conseguiu, com as pretas,
bater ninguém menos do que Karpov após l.e4
e6?! 2 .d4 b5). Isso teve uma implicação
psicológica óbvia: o desvio de caminhos
teóricos bem conhecidos era especialmente
desagradável para um adversário exausto pelo
seu sofrimento anterior.
3.e4
A ocupação critica do centro. Após o menos

agressivo 3.0f3 lt..b7 4 .g3 lt..b4+ 5.~ d2
(Rnbinstein- Nimzovitsch, Gotemburgo 1920)
S.. .A xf3 ! 6.exf3 ~xd2+ as ptetas têm um
l,om contrajogo.
Para 3.d5 Miles costumava responder
3 ... 1!fh4, mas, 9uando perdeu para Karpov
após 4.0c3! lt..b4 5.Ad2 0f6 6.e3 (Bugojno
1978), mudou para 3 ...0f6. E após 3.a3
costumava escolher 3 ... g6 ou o lance antigo
3... f5 (Bóen-Green, Londres 1856; Wisker-
Bird, Londres 1873., 3" partida do match),
acreditando nos recursos das pretas após 4 .d5
{)f6 5.g3 lt..b7. Essa crença foi dividida por
Speelman, Short e Morozevich, 9ue dessa
forma con9uistaram empates contra mim
(partidas rápidas, Frankfurt 2000) e Karpov
(Cannes 2002).
3...~ b7
Após isso as brancas estão na encruzilhada.
4.'i!fc2
Uma maneira nova de defender o peão de e4.
Antes dessa partida e posteriormente,
defendiam com o peão, cavalo ou bispo:
1) 4.f3 ~ b4+ (é mais agudo 4 ...f5 5.exf5
liJh6 !? 6.fxe6 0f5! 7.0e2 ~d6 Ree- .Miles,
Wijk aan Zee 1979) 5.Ad2 (5.lod2?! f5! com a
idéia de 6.exf5 ifb4+) 5 ...~d2+ (Bõbm em
torneios em 1977 sustentou 5 ...~ h4+)
6.l/fxd2 0h6!? 7.0c3 0--0 8.0---0-0 f5 com
jogo interessante (Kortchnoi- Speelrnan, partida
rápida, Nova Ior9ue 1995);
2) 4.0c3 ~ b4 e agora 5.~d3 f5 !
Viktor, o Terrível
(Mason- Tinsley, Londres 1899; Kaplan-Miles,
São Paulo 1977; Adorjan- Spassky, lnterzonal
de Toluca 1982), 5.d5 1J!ie7 (Tartakower- Réti,
Gotemburgo 1920), 5.f3 f5 !? (ao lado de
5 ... 'i!¼'h4+) 6.exf5 0 h6 (Panno-Mil.es, Buenos
Aires 1979) ou 5.'i!¼'c2 'i!¼'h4 6.~d3 f5
(Farago-Miles, Hastings 1976/77), em cada
caso com jogo duplamente agudo;
3) 4.lt..d3! (a melhor resposta) 4 ... fk6
(Knott-Perrcn, 1° Congresso Americano, Nova
Ior9ue 1857; 4 ... il.b4+ 5.Ad2 Boden-Owen,
7• partida do ,natch, Londres 1858) 5.l2ie2 -tlb4
6.l2ibc3 ~xd3+ 7.lti'xd3 e os dois bispos das
pretas não compensam totalmente a vantagem
espacial das brancas. Dessa forma o agudo
4 ... f5!? 5.exf5 está na moda e desde que
5.. .Axg2? 6.ifhS+ g6 7.fxg6 lt..g7 8.gxh7+
Wf8 (Browne-Miles, Tilburg 1978) 9 .0h3 ! seja
muito pe.rigoso para as pretas, elas começam
jogando 5 .. . lt..b4+! 6.~ 0f6 - e aqui os
duelos teóócos ainda prosseguem.
4...~ h4!?
Novamente ameaçando o peão e4! Mas esse é
um lance arriscado; a dama fica sob ata9ue.
Parece mais sólido jogar 4 ... ~b4+ 5.0d2
(5.~d2 ~e7) e então 5 ... f5 6.exf5 0h6!?
(Lalic-Kengis, Olimpíada de Manila 1992),
5 .. .0f6 6.lLd3 c5 7.d5 b5! (Rogozenko-
Teske, Dresden 1996), ou 5 ... c5 6.d5 f5 ! 7.a3
~a5 (Y. 1:fikhalevski- Young, Santa Mônica
2004). Também tem sido jogado 4 .. ..g6 5.~c3
il.g7 6.~e3 0 e7 7.0---0-0 0-0 8.f4 f5 9.e5 d5
(Levitt-Short, Calcutá 1998).
Agora as brancas têm muitas continuações
tentadoras, mas qual delas promete uma
vantagem? Posso imaginar como Polugaevsky
tenha ficado nervoso, o longo tempo em que
ele encarou essa posição não teórica, apoiando
a cabeça nas mãos... Sendo um pesquisador
curioso, ele não gostava de ter gue resolver
novos problemas de abertura no tabuleiro e a
contagem do match de nenhuma for ma o
inclinava a tomar decisões intuitivas de alta
qualidade.
91
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
5/L)d2
Evitando 5.li)c3 il.b4 6.kd3 (6.d5 ii.xc3+!
lvanchuk-Sadler, partida às cegas, Mônaco
1998) 6 ... f5, transpondo para a já mencionada
partida Farago-Miles, ou 6 ... .fl.xc3+!? 7.bxc3
f5 - essa é a novidade dos anos 1990. Naquela
época também havia sido tentado 5.kd3 f5,
5 ... ii.b4+ ou 5 ... li)c6, e também5.d5 f5!
6.exf5 exd5, com igualdade.
5... l\b4 6.kd3 f5?!
Talvez seja mais preciso 6 ...tfg4, por
exemplo: 7.@fl f5! (Quinn-Speelman, Zonal
de Dublin 1993; l.evitt-Ehlvest, Nova Iorque
1994) ou 7/i:Je2 (planejando 0-0) 7 ...Wixg2
8.ãgl 'i'xh2 9.l:!xg7 l2ic6 com jogo agudo.
7.itlgf3 iLxd2+
Posteriomente também ocorreu 7 ...l!fg4?!
8.0-0 ou 7 .. .l!fbs 8.0-0 li)f6 9.h3 (tranqüila
profilaxia) 9 ...0-0?! (é melhor 9 ...~xd2
10.é2ixd2 l'ilc6) 10.eS g5? 1 l.exf6 g4 12.hxg4
fxg4 13.itle5 ãxf6 l4.ll)e4 ... 1-0 (Kiriakov-
Shepherd, Port Erin 2000).
8.00?
Aqui estão os frutos da abertura experimental
das pretas. Nada é oferecido por 8.l'ilxd2 l'ilf6
9.g3 'ifh3 (9...ifb5!?) 10.Afl 'iWbs 1 I.ii.g2
0- 0 12.0-0 l'ilc6 13.l!fc3 (Ki.riakov- Tratar,
Pardubice 1995) 13 ... eS! com a idéia de
14.dxe5 li)xeS!. Mas é surpreendente que
Polugaevsky não tenha jogado 8.kxd2 't!fg4
9.l2ie5! (não é tão claro 9.h3 'ifxg2 10.@e2
'tWg6! 11.&gl V!Hfl 12.dS l2Jf6) 9 ... l!fxg2
92
10.0-0-0 com perigosa iniciativa pelo material
sacrificado.
Uma vez que 10...'f!fxf2? 11.lâhgl Yfxd4
12.~c3 Yfe3+ 13.Wbl ou 10 ...kxe4?
1 J..tlligl ~xd3 12.l/Hxd3 ~e4 ( 12 ... i!fxf2
13.!!xg7) 13.i!fg3 g6 14.l2!xg6 seja claramente
mau para as pretas, elas defenderiam através de
10 ... fxe4 l 1.ke2 l2if6 (se l I...é2ic6 12.l2Jxc6
~c6, então 13.d5!) 12.Ae3 'i!h3! 13.ãdgl
l2Jc6! (Rogcrs) 14.l2!xc6 (mas não 14.ã xg7?!
tzlxd4! ou 14.ãg3 'i!ff5 15.ãgS?! tzlxd4!
Webster-Adams, Prestwich 1990) 14 ... kxc6
J5.llxg7 !!g8 (15 ... 0-0-0!?) l6.ã xg8+ é2ixg8
17.dS exd5 18.cxdS .âxd5 19.!Yxc7 lile7,
contolando a posição.
Entretanto, é muito mais forte 12.lãltgl !,
uma vez que 12...'ti'xf2? leva a 13.~6!! com a
ameaça de Ah5+ e ti'xf2, enquanto após
12 ... i!fxh2 13.Ae3! a ameaça de captura da
dama (!!hl e ã dgl) evita que as pretas
completem com sucesso o seu desen-
volvimento: se 13 ...l2Jc6 é possível o restritivo
14.'i!c3, assim como o impaciente 14.ãhl
fuxd4 15.kxd4 'i!f4+ 16.~bl 0-0 (16 ... 't!ff5
17.!!hgl) 17.é2lxd7! l2Jxd7 18.kxg7! com um
ataque. Também favorece as brancas 12..."ifb3
13.ãxg7 l2Jc6 14.ll)xc6 ~xc6 l 5.d5!.
E se, de forma imediata, 11 ... l!fh3, então
12.Iihgl novamente coloca problemas difíceis
para as pretas: 12 ... d6 13.!!xg7! dxeS 14.ãxc7
ou 12 ...g6 13 ..âg4 ~4 l4.d5! etc.
Após o lance impulsivo da partida, as brancas
não conseguem nenhuma compensação séria
pela posição enfraquecida do rei.
8...'i!h5 9..fl.xd2 l2if6 (outro ataque ao peão
e4) 10.exfS?! (todavia, seria mais seguro para
as brancas 10.e5 l2Je4) IO... Axt3! ll.gxf3
Após o "corajoso" l l.fxe6?! teria seguido
não somente l l...Ab7, mas também
1 l. .. fuc6! 12.exd7+ ~f7 13.gxf3 (13.Ac3
Ag4) 13 ...é2ixd4 14.'ti'c3 'tih3+ 15.<i!rel 't!fg2
16.ãfl lL}xf3+ 17.~d l ã hd8 18.'it'c2 ãxd7
19.&d l ãad8 com vantagem para as pretas.
ll ...l2Jc6 12.1\cJ 0--0
O prematuro 12 ... 1!fxf3 teria ajudado o

adversário a coordenar suas forças - 13.!!gl
8--0--0 14..âe2 etc. Entretanto, teriam sido
mantidas mais chances de uma vantagem
amvés de 12...0--0-0!, análogo à partida já
mencionada Quinn- Speelmao (a qual seguiu
6...1!fg4 7.<i.t>fl f5 8.l2lgf3 .âxd2 9.l2ie5 'iWh4
IO.li)f3 t!t'h5 l I..âxd2 l2if6 12.exfS .âxf3
13.gxf3 l2lc6 14..âc3 0-0-0!).
13.l'Iel?!
Uma perda de tempo. A posição das brancas
ainda não seria tão má se elas tivessem jogado
13.l'.!gl!, preparando para tirar a torre e sair
m m o rei.
13...ifh3+!
De novo um lance desalentador. Polugaevsky
esperava o natural 13 ...t1ixf3, mas então após
14.lãgl i!fh3+ 15Jâg2 as brancas não têm
motivos para queixas: seus bispos são muito
fortes e e elas até mesmo são capazes de tomar
a iniciativa.
14.<i!i'e2
Após 14.<it>gl?! l2lh5 15.l!fd2 lue7!, as
brancas teriam que urgentemente trocar as
damas para evitar um ataque de mate: 16.it'g5
-tlxf5 17.l!fg4 ~f4 18..âe4 (1 8..âfl 't!Yh6)
18...l2lh4 19.!fxb3 l2ixh3+ 20.<it'fl &d8 e os
cavalos pretos são mais fortes do que os bispos
brancos.
14...ã ae8 (mobilização, embora tivesse dado
alguma vantagem 14...t!t'b4!? com a idéia de
15.fxe6l2lxd4+ 16.~xd4 t!Yxd4 17.@fl dxe6)
1S.<.i'd1 ?!
Seria correto 15.fxe6 ~ xe6 16.C~?d2.
Víktor, o Terrível
15... eS! (de novo as pretas não capturam f3!)
16.dxeS ~ xeS
A posição finalmente se tornou clara. As
brancas não conseguiram aliviar a tempo a
tensão do peão e ficaram com peões triplicados,
que começam a cair como frutas maduras.
17..âe2 (não seria melhor l 7 .it.xe5 ãxe5
18.âxe5 ~xf3+ - Keene) 17...luxf3! 18.!fd3
!!xe2 I9.ã xe2 (19.<it'xe2? i!fh5, vencendo)
19...t!Ygl 20.l!hel ~xel 21.<it'><el Wixh2
Keene coloca um ponto de interrogação
nesse lance, recomendando 2 1...ifg 1+ 22.~d2
!ixh2. Agora não é possível 23.ãe7? devido a
23 .. .t!Yxf2+, enquanto no caso de 23.<i!i'c2
'i!Hd6 24.l.!fxd6 cxd6 as pretas têm o melhor
final (25Jãe7 h5!). Entretanto, após 23 .f3 !
ainda há muito por jogar.
22.l'.!e7! t!fgl+ (não 22 ...ãf7 23ixf6, com
igualdade, mas seria interessante 22 ...it'h6!?)
23.<.f.'e2 !ig4+ 24.~el b5 25.it'g3! 'i'xg3?!
Mas isso é realmente uma imprecisão. Em
outra versão do final de torre - após 25 ...lãfl!
(Keene) 26 ..iÍt.xf6 gxf6 27.'i!fxg4+ (27.!Ie4?
ifxg3 28.fxg3 ~g7 e ...<i.t>h6-g5) 27 ...hxg4
28.g e4 ãg7 as p.retas teriam muito mais
chances de sucesso.
26.fxg3 ã17 27..ixf6 gxf6 28.ãe8+ Wg7
29.<.t>n ~ h6 30.b4!
Após atingir um final de torre com peão a
menos, Polugaevsky resiste com toda a sua
força e cria contrajogo verdadeiro. É difícil
dizer o quanto Kortchnoi teria melhorado o
jogo das pretas na série de lances no apuro de
tempo seguinte (uma análise detalhada desse
final não entra em nossa apreciação).
30 .. .<i.t>gS 31.&8 <;!;;xfS 32.lãxa7 d6 33.a4
We6 34.aS bxa5 35.ãxaS
Evidentemente seria pior para as brancas
35.bxaS <i.t>d7 36.ãaS?! (36.l!b7 lif8)
36.. .ãe7! 37.a6 lãe5 etc.
35...fS 36.cS! ã h7
Se 36...g g7 teria seguido 37.&7, por
exemplo: 37 ... d xc5 38.ã a6+ <i.t>d5 39.l'.!a5
~c4 40.ãxc5+ <i!txb4 4 l .ãxf5 mi1 42.ã f4+
93
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
© bs 43.ãh4 cs 44.We2 c4 45.Wd2 Wb4
46.ç!?c2 com empate.
37.cxd6 cxd6 38.bS h4
No caso de 38...l'!c7 (38...i!b7!?) 39.&2
não há vitória nem através de 39...d5 40Jãa6+
wes 41.!!h6 !!:c2+ 42.WO lãc3+ 43.S 'f2 âb3
44.É!xhS !!xb5 45.g4, nem de 39 . . .ã b7
40.âb2 Wd5 41.WO @c5 42.Wt<t ã xb5
43.ãh2 !!b4+ 44.WxfS !!bs 45.We4.
39.gxb4 ã xh4 40.ã aS l!b4 41.libS $'dS
42.WO?
Com suas setas para cair, ambos os jogadores
deixaram de registrar a partida e, sem p erceber
que o lance 40 já tinha sido alcançado,
continuaram a jogar em tempo de relâmpago.
Como resultado, as brancas desperdiçaram o
empate, que agora estava bastante próximo:
42.ãb6! ~ c5 43.! k 6+ (Keene) ou 42 ... lãb3
43.We2 f4 44.Wt2 'it>es 45.ãb8 d5 46.b6 $?d6
47.lãfS.
42 ...l!b3+? (mas as pretas também des-
perdiçaram a vitória através de 42 ...WcS!
43.â f8 f4 44.ãfS+ d5 45.© e2 ã d4) 43.Wf4
WcS
44.ã cS+?
Um erro grave. As brancas deveriam ter
parado, recuperado a respiração e feito o
simples lance 44.$>xf5, o qual após 44 .. . lãxbS
45.ã a(d)8 ou 45.ãc8+ conduz a um final
empatado, com torre contra torre e peão.
44...WxbS 45.WxfS ã e3!
Cortando a coluna e do rei preto, após o que
94
sua resistência será sem sentido. Provavelmente
a situação lembrou Ko rtchnoi da terceira
partida do seu match com Timman, onde seu
peão passado d, apoiado pelo rei, da mesma
forma avançou com sucesso para a casa de
coroação. (partida 23')
46.Wf4 ã el 47.lãdS Wc5 48.Í!c8+ Wd4
49.00 dS 50.00 ã es 51.ã as Wc3 52.2!a3+
Wb4 53.l!al d4 54.làcl d3 55.ã cS d2
56Jl b8+ Wc3 57.!Ic8+ 'it>d3 58.lãd8+ @c2
59.lãc8+ Wdl 0-1
Eu me lembro de como Vladimir Bagirov,
naquele tempo segundo de Polugaevsky, ao
voltar a Baku, expôs as partidas desse match no
Clube de Xadrez Burevestnik, queixando-se do
"difícil destino" que tinha cabido ao seu protégé.
Para mim foi muito interessante ver o lado das
análises, relatos e experiências de urna pessoa
que estivera tão próxima dos acontecimentos.
Para minha surpresa, fiquei sabendo que na
verdade a disputa tinha sido muito mais difícil
do que parecia, principalmente na segunda
metade do match. A preparação de abertura de
Polugaevsky tinha sido de alta qualidade,
chegando a criar sérios problemas para
Kortchnoi.
O que de modo especial transtornou Bagirov
foi a 7• partida, na qual foi jogada uma linha da
Variante Merano, em cuja preparação ele e
Polugaevsky gastaram muito tempo e esforços.
Partida 26
V. Kortchnoi - L. Polugaevsky
Semjnal de Candidatos, Evian 1977, rpartida
Defesa Semi-Eslava D47
1.c4 ~ f6 2.~c3 e6 3.~f3 dS 4.d4 c6 5.e3
~ bd7 6..Ad3 dxc4 7..âxc4 bS 8..âd3 .i.b7
(criação de Larsen - a também chamada
"Merano melhorada'') 9.0--0
Anteriormente era muito popular 9.e4 (vol11t1,e
4, partidas 43 e 47).
9...b4 10.~ e4 1l..e7 11.<t )xf6+ lilxf6 12.e4

M l 9 ...iv<e4 20.ãadl &d8, mas aqui também as
A 5ª partida seguiu 12 .. J~c8?! 13.'tia4 a5
14.ãdl 0-0 e as pretas gradualmenre igualaram.
Mas após 13.a3 (Keene) ou 13.'i!fe2 é muito
mais difícil fazer isso: o lance de torre prova ser
mna perda de tempo.
13.Wc2
Naquela época l3.'tie2 ou 13.eS eram
consideradas as principais continuações, por
exemplo:
l) 13.'i!fe2 c5 l4.dxc5 0d7 15.c6! .âxc6
16..âe3 (16.ãdl 0c5! Kramnik- Lautier,
partida às cegas, Mônaco 2000) 16 .. .$.b7
17.ãfcl $.d6 (Savon-Vaganian, 38°
Campeonato da URSS, Riga 1970;
Kasimdzhanov- Akopian, Ierevan 2001),
17... 'tib8 (Browne-Polugaevsky, Interzonal de
Manila 1976) ou 17 .. .l!Na5, como M. Gurevich
jogou contra Lautier e Piket (2000), em caso
com vantagem mínima para as brancas;
2) 13.es l2id7 14.l!Yc2 h6 15.~7+ <it'h8
16.$.e4 ~6 17.~e3 c5! 18.dxcS ,âxc5?!
19.B'.adl! (uma novidade; 19.$.xb7 'ti'xb7
20.il.xcS ãfc8 com igualdade; 19 ...âxcS?!
Axe4 20..âxb6 $.xc2 21 .1;,.c7 B'.fc8 22.il.d6 aS
Polugaevsky-Larsen, Interzonal de Palma de
Mallorca 1970) 19 ...$.xe3 20.ã xd7 ãac8
2I.B'.xb7 ã xc2 22.lãxb6 ãxf2 23.B'.xf2 $.xb6
24.@fl .âxf2 25.~xf2 e as duas peças
menores das brancas superam a torre e o peão
(3ª partida).
Esse final pode ser evitado através de
Viktor, o Terrível
brancas exercem uma certa pressão: 2 1.~gS!?
(após 21.B'.d6 'ti'aS 22 ...âxcS 0 xc5 23.'ti'c4
segue 23 ... ãc8) 2 1...$.xf2+ (é ruim para as
pretas 21...hxgS? 22.é2:)xg5, enquanto se
21... f6, então 22..i.114) 22.ãxf2 é2:)f6 23.B'. xd8
(não é claro 23.l!k'e l :Sxdl 24.tvxdl é2:)g4 !
25.½h4 B'.c8 26.é2:)el ~xt2 27.~xt2 YWa5)
23 ...0xe4 24.ãxf8+ Wh7 25.jji4, obtendo
torre, bispo e cavalo pela dama.
Aparentemente Polugaevsky subestimou as
desvantagens de 18...iv<cS?! em seus estudos.
De outra forma ele teria encontrado o simples
18 ...é2:)xc5 ! (uma novidade dos anos 1990)
19..àxb7 ifxb7 20..àxcS ãfc8 ou 19.~xcS
il,xe4 20.tfxe4 .âxc5 21.B'.ac l !!ad8 seguido
por ...B'.d5 e ..Jâfd8, com igualdade.
Agora, ao invés de 14.'ti'c2 as brancas jogam
14.$.e4 e após 14 .. .ãb8, de forma inesperada
elas sacrificam um peão - 15.a3!? bxa3 16.b4
a5?! (16 .. .1;..xb4? 17.~h7+!) 17.bxaS 'ti'xa5
18 ..½xa3 kxa3 l9.$.xh7+! (a mesma
combinação, mas de uma forma mais
complicada) 19 ... @xh7 20.0g5+ ©g6
2l.'ti'd3+ f5 (21...~xgS 22.f4+Wh6 23.~h3+
Wg6 24.fS+ exf5 25.ãD f6 26.ãfS! ãh8
27.tvg4+ 00 28.e6+, ganhando a dama)
22.~xe6 com ameaças arrasadoras
(Kasimdzhanov-Lesiege, Olimpíada de
Istambul 2000), embora 16 ...fS seja mais sólido
(Khalifman- Bareev, Dortmund 2000). Mas
essas.são nuanças da virada do século 21 ...
13...h6 14 ..àe3
Uma novidade que, no entanto, não causa
nenhum problema particular às pretas. Os
lances 14.eS é2:)d7 teriam conduzido à mesma
posição da 3ª partida. Não é melhor jogar
14.ãdl ãc8 (G. Kuzmin-Bagirov, Zonal de
Lvov 1978) ou 14.a3 c5! (Illescas- Anand,
Madrid 1993).
14 .. .ã c8 15.ã fd l (mais tarde tentaram
15.~, 15.a3 e 15.lifacl(dl), mas em todos
os casos as pretas não têm do que se queixar
sobre a abertura) 15 .. . cS!
95
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Um solapamento típico do centro, que liberta
o jogo das pretas.
16.dxc5 l2::ig4 l 7...âd4 e5 18.h3 Qá é o único
lance; tanto 18.~xeS? âxc5, como l 8.a3?!
bxa3 19.ã xa3 exd4 ou l9.iWb3 ã b8! são ruins
para as brancas) 18...exd4 l9.hxg4 ã xcS
20.'t!fd2
20 ... aS?!
Muito lento. Seria mais eficaz 20....1'..c8!
(trancando de imediato o peão g4), após o que
Keene ofereceu 2 1.ii'f4 no I,iforo,ador. Mas essa
é uma recomendação duvidosa, pois após
21.. . iWd7 ! não é fácil, se for possível, para as
brancas encontrarem um caminho claro para a
igualdade.
21.ã acl (agora a posição é aproximadamente
igual) 21...'i!Vd7?
Mas esse é um erro sério: um "ganho de
tempo" assim, através do ataque ao peão g4,
envolvendo a concessão da coluna e,
simplesmente joga para a mão das brancas.
Seria melhor 21. .. ã xcl 22.l~xcl 't!fd7 23.'t!ff4
ãc8, com igualdade (Graf-Novikov, 58°
Campeonato da URSS, Moscou 1991) ou o
indefinido 2 1.. .ãe8 !?.
22.ã xcS ~xc5 23.gS! (o fraco peão g
repentinamente desempenha o papel de um
aríete: após a sua troca pelo peão h, o rei preto
se sentirá desconfortável) 23 ... hxgS
Também deixaria as brancas com uma
perigosa iniciativa 23 ...hS?! 24.g6! fxg6
25.'ti'gS ou 23 ...'ili'e6 24.ãcl ! ~b6 25.°iWf4,
96
enquanto após 23 ...!i'g4 24.gxh6 ~e8 25.hxg7
Wxg7 2 6.~cl ~b6 27.lilh2 as pretas não têm
compensação pelo peão.
24.'i!fxgS 'i!fe7
Se 24 .. ~b6, então é desagradável 25.lileS.
Polugaevsky aparentemente imaginou que seria
capaz de estancar as ameaças das brancas n a
coluna h sem muitas dificuldades, mas isso se
tornou muito clificil para ele.
25.'i+'b5!
É daro, Kortchnoi nem pensa em trocar as
damas - 25.l!!/xe7 .§J.xe7 26.!icl em
perseguição ao peão d4, pois após 26 ...ã c8
27.âxc8+ ~xc8 28.l2::ixd4 A f6 29.lilcó .i.d7
30.lilxaS ~ b2 o par de bispos das pretas
compensa o peão.
25...g6
Permitindo que a dama branca vá a h6, após
o que a posição das pretas provavelmente não
será defensável por muito tempo. Mas
25 ...'i+'d6 também não teria resolvido seus
p roblemas após 26.ãel !, por exemplo:
26....i.b6 (26 ... a4 27.ã cl ! .i.b6 28.!ic4) 27 .e5
1Wh6 28.!fxh6 g«h6 29.e6 ou 26 .. .!Vb6 27.b3
ke7 28.~c4 com uma iniciativa poderosa.
26.'i!.fh6 (como ocorre amiúde, ameaças
diretas se mostram bastante efetivas) 26•..'ilff6
As pretas tamb ém estariam frente a
dificuldades após 26...!ie8 27.lZ:igS 'i!ff6
28..i.c4! (atingindo a coordenação ideal das
peças) 28 . .. ãe7 - aqui é bom 29.ãd3! ~xe4
(29 ...V!lg7 30.'i!ih4) 30.~xfl+ VJ!/xf7 31.lilxfl
~xd3 32.'i!fgS, assim como 29.eS! iWg7
30.i!'h2! (ameaçando 3 l.e6) 30 ... 'tifxe5
3 l.~xf7+ $)f8 32.!fh6+ 'i!.fg7 33.'i!Vh4 com
um ataque muito forte (33 . . .!fe5 34..1'..xg6).
27•.1'..c4! d3 (27...~xe4? 28.lilgS; 27.. .ã e8
28.lilgS !!e7 - cf. 26...ã e 8) 28.eS !ff5
Não seria melhor 28...'ti'g7 29.'i!fgS! .i.xf3
30.gxf3 ~d4 3I.f4 ~xb2 32.ã xd3 (Keene)
32 .. .Ik8 33.e6! ~ f6 34.exf7+ ~ 35.'i!.fxaS
ou 35.ifb5, vencendo.
29líxd3 ~ e4
No apuro de tempo, Polugaevsky considerou

essa posição ainda não totalmente clara, mas
agora vem um final espetacular.
30.ãd6! (um lance brilhante: a ameaça é ~!f6)
30...l!fg4
A torre é tabu - 30...i.xd6 3 l.ê2lg5,
enquanto se 30 ...'i!fh5, então 3L'tlfxh5 gxb5
32J!d7 .âxf3 33.gxf3 Wg7 34.f4 @g6
35 ..âd3+ ~h6 36.Wg2 etc.
31.I!f6 ~fS 32.b3
Apoiando o bispo em c4 e mantendo
ameaças decisivas. A resistência adicional das
pretas no apuro de tempo se mostrará fútil.
32 ... ~d4 33.l2\xd4
O mais simples, embora também fosse
possível vencer através de 33.:ê:d6 .àc5 34.liJgS
tih5 35 ..âxf7+ ã xf7 36.°ifxb5 gxh5 37.ê2ixf7
ii.xd6 38.l2Jxd6 .àbl 39.ê2ib7.
33 ...'it'xd4 34.ã xg6+! ..txg6 35.ti'xg6+
~ h8 36.~b6+ Wg8 37.e6 (transpondo para
um final vencedor com dois peões a mais)
37 ...'i,i'e4 38.exf7+ !!xf7 39.'%1ff6 ii'bl+
40.Wh2 ifh7+ 41.<i!?g3 'tifd3+ 42.f3 l!fxc4
43.!fd8+ 1- 0
A contagem atingiu 6-1 a favor de Kortchnoi
- quase como a de Fischer! Mas, uma vez que
eles eram obrigados a jogar 16 partidas, o match
continuou. A favor de Polugaevsky deve ser
dito que, mesmo com um pesadelo de diferença
nos pontos, ele não desanimou e continuou a
lutar: venceu a 8ª partida e depois, conseguiu
posições promissoras por diversas vezes. Mas
Víktor, o Terrível
como Bagirov explicou de forma entristecida,
"sempre lhe faltava algo. Era como se
Kortchnoi estivesse enfeitiçado". E ao final sua
vitória foi por 8½-4½ (+5-1=7).
Essa derrota fragorosa foi também,
naturalmente, o resultado da instabilidade
psicológica de Polugaevsky, que sempre sentia
dificuldades em jogar com Ko.rtchnoi. Em
muitas fases das partidas ele jogou muitíssimo
bem, mas nos momentos decisivos da disputa
quase não conseguia conter a tensão e este
"quase não" bastou para a vitória impres-
sionante de Kortchnoi. O mais admirável foram
a sua forma brilhante e o salto agudo em seu
potencial criativo, inacreditáveis para um
jogador de 45 anos. Ele mesmo fez uma breve
declaração sobre o que ocorreu: "Eu fui bem
mais forte no tabuleiro, meus nervos estavam
novamente bem resistentes e a assessoria de
meus segundos foi mais eficaz" - ele se referi~ a
Rayrnood Keene, Michael Stean e Yakov Murey.
É bem provável que este match tenha servido
como um sinal de advertência para Karpov e
seus treinadores, pois até então Ko.rtchnoi
nunca tinha jogado com tanta energia,
disposição e criatividade! O que impressionava
era a diversidade de métodos criativos que
empregava. Além disso, manifestava-se a sua
propensão para finais complicados, fora do
padrão. Seu manejo virtuoso desses finais
permitiu-lhe enfrentar de modo confiante um
e:xpert em teoria de aberturas e mestre em jogo
complicado, como era Polugaevsky. E foi
também nos finais que Kortchnoi conseguiu
criar graves problemas para Karpov no
encerramento da maratona em Baguio...
A Revanche de Belgrado
Uma aresta em particular foi imposta ao tJJatch
final de Candidatos com Boris Spassky
(Belgrado, inverno de 1977-78), devido ao fato
de que em meados dos anos 1970 o ex-
Campeão do Mundo também tinha se tornado
um desafeto das autoridades soviéticas. Mas
então, nas palavras de Kortchnoi, ele
97
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
conquistou o que parecia se.r impossível:
"Virtualmente era o único dentre os nossos
milhões de imigrantes que recebeu a dupla
cidadania e, sem perder o passaporte soviético,
mudou-se para Paris! Ourante alguns anos ele
lutou por sua independência política, mas, 'por
acaso', recebeu permissão de sair, exatamente
um mês depois de minha fuga da URSS".
Já no primeiro match disputado com Karpov
(1974), Kortchnoi se defendeu do penetrante
olhar do adversário usando óculos escuros
Pela situação de dupla cidadania, aos olhos
das autoridades soviéticas, diferentemente de
Kortchnoi, Spassky continuou sendo
" representante da Escola Soviética de Xadrez".
As autoridades ajudavam assim o parisiense de
última hora na tentativa de proteger Karpov de
um novo encontro com Kortchnoi e de
proteger a si mesmas contra a ameaça de que a
URSS viesse a perder de novo a coroa do
xadrez. O jogo do "traidor" no match com
Polugaevsky causou alguns alarmes: embora até
aquele momento a condição preponderante de
98
Karpov parecesse inabalável, a ascensão de
Kortchnoi estava sendo muito rápida e
inesperada. E se, dentro de um ano, ele
progredisse mais a ponto de poder combater
com Karpov em condições de igualdade?
Afinal, no matcb final de Candidatos em 1974,
apesar da vantagem inicial, Karpov teve
dificuldade para repelir o insistente adversário.
Agora que Kortchnoi tinha escapado das garras
do Comitê de Desportos e reunido uma boa
equipe de treinadores, as coisas poderiam ficar
bem mais difíceis...
Não sei até que ponto estas intrigas dos
bastidores do tabuleiro possam ter afetado a
atividade enxadrística de Spassky, mas uma
coisa é certa: apesar da assessoria de muitos
anos de seu treinador Igor Bondarevsky, o
início do árduo ,natcb (a melhor de vinte
partidas) foi catastrófico para o ex-Campeão
Mundial. Na primeira partida, ele foi salvo
literalmente por milagre: na pressa do apuro de
tempo, Kortchnoi, "de qualquer forma" fez o
41° lance - o único que deixou escapar a vitória!
Na segunda partida não houve milagre.
Kortchnoi optou por uma variante arriscada de
sua favorita Defesa Francesa; como ficou claro,
ele estava pronto para jogar assim não só contra
os adversários de classe inferior, mas também
contra os que estavam no nível mais elevado. E
assim, Spassky falhou ao enfrentar os
problemas complicados que surgiram.
Partida 27
B. Spassky - V. Kortchnoi
Final de Candidatos, &!grado 1977, 2' partida
Defasa Franctsa Ct 8
l.e4 e6 2.d4 d5 3.'Llc3 ltb4 4.e5 c5 5.a3
Jl.xc3+ 6.bxc3 'Lle7 7.tfg4 (7 .a4 - partidas 12,
22 e 21) 7 ... cxd4
A seqüência 7 ... 'f8c7 (mais tarde Kortchnoi
preferiu 7 ... 0-0!) 8.tfxg7 lâg8 9.'ii'xh7 cxd4
transpõe, mas aqi.µ as pretas têm que contar

com 8.il.d2 (como jogado por Velimirovic) ou
com a antiga idéia de gambito de Geller
8..iid3!? cxd4 9 .lL!e2.
8.Vxg7
Agora se 8.i.d3, segue 8 . .. 'it'a5! 9.lL!e2 lL!g6
(fal- Bronstein, 3?' Campeonato da URSS,
Kiev 1964/65). Por outro lado, 8.cxd4 Vlc7
9.'ét>dl - a 12' partida continuou 9 .. .0-0
(9... tz:.'l f5 10.~f3 lzJc6 l l.i.d3 /iJce7 12.1l.d2
Ad7 13.a4! e ~ . Spassky- Lutiko,; Moscou
1960) 10.'2:HJ f6 l 1..td3 /iJf5 12.°ffh3 ~ c6
13.g4 fxe5 14.dxe5 ~xe5! com jogo agudo e
aproximadamente igual
8...lãg8 9.l\fxh7 VJfc7
Após o experimental 9 ... !ia5? seguma
I0.tz:.'le2 (fimman- Kortchnoi, 5ª paxtida do
Match, Leewaden 1976) ou 10 .ã b l /iJbc6 (as
pretas não conseguem igualar com 10 ... 'ti'xc3+
ll..td2 tixa3 12.<~:)fJ! ou l l...'tifc7 12.f4
~ bc6 13./iJfJ il.d7 14.li:lgS ! AJexander-
Botvinnik, 1natcb Inglaterra-URSS, 1946)
l l.tz:.'l f3 ..id7 12.t!xb7 'ifxc3+ 13.'ét>d 1 ~ a5
14.t!b4!. .. l-0 (Short-Timman, Amsterdã
1988).
10.liJe2 ( 10.~dl - partida 14) 10... ~ bc6
l1 .f4 .td 7
Naquela época esse lance eca feito de forma
automática, mas mais tarde, não sem a
influência da p resente partida, também
começaram a jogar l l ... dxc3!? 12.~d3 d4
13.liJxd4 ~xd4 14.~xd4 ..id7, embora após
15Jlgl! ltJf5 16.'ti'f2 as brancas mantenham
uma vantagem definitiva.
l2.'ti'd3 dxc3 (a tab!Ja principal da variante)
13.A e3
Uma resposta fora do comum e que pouco
p romete: as brancas fariam melhor
primeiramente eliminando o peão c3. Naqueles
anos jogavam principalmente J3 .l2:)xc3 a6
14Jâb l ãc8 (ou 14 ...li:laS, mas não
14 ...0--0--0? 15.!fxa6!) 15.h4! (15 ...id2 tz:.'laS !
Li1ienthal-Levenfish, Moscou 1936) 15 ...~ fS
(1 5...tz:.'la7?! 16.!!h3 ltJb5 l 7.!!b3 lz:Jf5 18.hS!)
l 6.IDt3 liJce7 17.~d2 com vantagem
Viktor, o Tenivel
(Kortchnoi-Nogueiras, Bruxelas 1988). É mais
preciso 13 .. .liJf5!? 14.lz:JbS llt'd8 e assim hoje
em dia supõe-se que a resposta mais
desagradável para as pretas seja 13.'t!ixc3!.
13...d4!?
Outra novidade e, ainda mais, esse sacrifício
de peão se mrnotÍ típico! A parte o antigo lance
de Uhlmann 13 ... tz:.'lfS, também é de uso
comum 13 . .. 0-0- 0 e após l 4.~ f2 (1 4.g3 d4!)
14 ... d4 conduz à posição da partida.
14.~ f2
I sso parece ser uma perda de tempo, mas
Spassky queria capturar cm d4 somente após as
pretas terem rocado na ala da dama, para o
ataque :io peão a7. No caso de 14.~xd4 liJxd4
as pretas também têm contrajogo aúvo:
l5 ..ixd4 liJd5 16 .g3 ..ic6 17.llgl ( 17.~e2
ltJxf4 !) 17 . .. 0-0-0 ou 15.°i!fxd4 lzJf5 16.°i!fc5
tfc6! 17.0-0-0 (17.!idl? ~e4!) 17 ...'ti'b6!
18.'%!fxb6 axb6 19..ixb6 ãxa3 20.@bl & 4
com um final excelente.
14...0-0-0 15.lz:Jxd4
Posteriormente, o lance 15.g3 ocorreu muitas
vezes, mas aqui, à parte o sólido 15 ... liJf5
l 6 ..âg2 lz:Jce7 (Bronstein-Schmidt,
Copenhagen 1991) ou 15 .. . ltJg6 16.'ilic4
(16.it.g2 li:lcxeS !) 16 .. . f6! (Rytshagov-
D jurhuus, Asker 1997) as pretas podem jogar
ao "estilo T al" - 15 ...lzJxeS!? l 6.fxe5 i.c6
17.ãgl ã g4! , também capturando o peão e5 e
obtendo séáa compensação pela peça.
99
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
15...tilxd4 16.'i!!Yxd4 b6
Como é usual nessa variante, surgiu uma
situação altamente fora do comum. O fato de
que seja boa para as pretas é indicado até pela
aguda variante 16...it.c6!? 17.YWxa7 ãd2
18.it.b6 'i/Hb8 (Keene) 19.'i!i'aS ãxc2 20.it.cS
lud5 21.it.d6 b6 22.'i!fa6+ 'i'b7 23.!Vd3 ã d2
etc. Entretanto, Konchnoi não viu o sentido em
se lançar imediatamente em complicações
indefinidas e manteve duradoura compensação
posicional pelo peão, graças à crônica fraqueza
do rei branco.
l 7. .11.h4 (se l 7.'i!Vd3 it.c6 18.Wxc3, então
18 .. .lud5 ou 18... ãg4) 17... .tbS 18.We4
.\lxfl
Entra em consideração l 8 ...ii..c6 e se 19.l!fc4
'it>b7 20.'i!!Yxc3, então 20 ... ãg4! com a
iniciativa.
19.ã xfl
Keene condenou esse lance e recomendou
19.°ilf'a8+ @d7! 20.0-0-0+ it)ds 21.ãxds+
exd5 22.°ilf'xdS+ @c8 23.°ilf'a8+ com xeque
perpétuo. Mas após 20 ...We8! 21.ãxd8+
l!fxd8 22.'ã'xd8+ c;!?xd8 23.ãxfl ãxg2
24.ãhl c;!?e8 25 ..11.xe7 (de outra forma lufS!)
25 ...© xe7 26.b4 c;!?f8 chega-se a um final de
torre onde as brancas enfrentam uma luta
deprimente por um empate, em vista das
numerosas fraquezas de peões. Seria mais
preciso 20.ã dl+! e uma vez que 20...éeS?
21.Êixd8+ t/fr'xd8 22.°ilf'xd8+ @xd8 23.@xfl
agora favorece as brancas, só resta 20...tildS
21.ãxd5+ com o mesmo xeque perpétuo.
Entretanto, o lance da partida também não
merece ser criticado: no momento as brancas
mantêm o equilibrio e, ainda mais, esperam
gradualmente repelir o ataque, escondendo o
seu rei entre os peões da ala do rei e então, no
final da partida, avançar seu peão passado h
com efeito decisivo. Mas, como foi dito há
muito tempo atrás por Tarrasch, antes do final
os deuses criaram o meio-jogo! E Kortchnoi
julgou corretamente que, com as damas
jogando, as ameaças das · pretas ao rei eram
100
muito sérias.
19...!tdS! 20•.txe7 (20 ..i.f6? 'i!ec6! 2l.~f3
lufS) 20...'t!fxe7 21110
21. ..ébS!
" Convidando as brancas a se deleitarem com
um outro peão," escreve o Grande Mestre
Alexei Kuzmin. "Finais com peças pesadas às
vezes são chamados de o quarto estágio da
partida de xadrez: isso é um tributo ao grande
número de problemas que neles surgem. Temos
aqui uma ilustração brilhante do tema de um
ataque combinado em tais posições."
22.00?!
Mas essa é uma séria imprecisão. É claro,
22.ã xc3? teria perdido por 22 ...'ifb4+, mas
após 22.g3 ! seriam as pretas que teriam que
procurar po_r uma resposta digna. Keene
recomendou 22 ...Êid2 23.ãxc3 ãgd8 com um
ponto de exclamação e uma avaliação de "=".
Mas após 24.h4 as brancas têm uma clara
vantagem (24...ã h2?! 25.ã dl!). Na minha
opinião, seria melhor jogar 22...'ilic5! 23.lWe3
(23.Wfl? ã d2) 23 ...i!d4 24.'ifxc3 ãc4
25.'ife3 'ilic6 com um empate garantido:
26.'tlrd3 ãd4! 27.1Wxd4 'i!ixf3 28.ã dl \ihl+
29.Wd2 1Wxh2+ 30.© cl 'iWxg3 etc.
22...ãd2!
Agora essa invasão, que cria ameaças tanto
para o rei como para o peão c2, força a troca de
um par de torres e permite às pretas
desenvolverem uma perigosa iniciativa.
23.ãf2

Após 23.g3? t+'c5 (também seria possível
23...ãxh2 24.ãxc3 \Wd 7! 25.ã d3 ifb5)
24.ti'b4 (não 24.h4? ãxg3) 24 ...ifdS
25.'tfd6+ 'i'xd6 26.exd6 ãxh2 as brancas têm
mo final muito difícil.
23...ãgd8 24.'t!t'O (após 24.âxd2? são fortes
tanto 24 ...i!xd2 como 24... cxd2) 24...I!xf2+
25.<i!?xf2 ã d2+ 26.<;t>gJ
O rei de fato não conseguiu uma proteção
segura: 26.<i!?fl? é sem esperanças em vista de
26...'i!lcS 27J! dl (A. Kuzmin) 27 .. JWc4+
28.<i!?el 'i!t'd4 29.ã xd2 'tfxd2+ 30.<áfl ifxc2.
26...li'd8!
Um lance excelente, forçando o adversário a
RSOlver novos problemas. Talvez Spassky
tivesse contado com 26 .. Jlxc2 27J~dl ! (a
m;omendação de Keene 27.'t!fd3? é má devido
'ii'd8! com as ameaças
a 27 ... l!d2 28.fi'xc3
decisivas ...&13+ e .. :ifg8+, por exemplo:
29.tlt'c6 !i'g8+ 30.~h3 ~ h7+ 31.S>g3 'i!Vg6+
32.<i!?h3 !!d8! 33.g4 t!fh7+ 34.S>g3 lâd3+)
27...'ti'f8 28.l!:fc6!, e após 28.. Jld2 (o que
mais?) 29.ãxd2 cxd2 30.1:!i'd7 'i!fxa3+ 3 1.00!
Wc5+ 32.S>e2 ~c4+ 33.S>e3 as brancas
teriam estancado o ataque e conquistado o
anpatc.
27.t!fe4 (o peão c2!) 27 ...'t!fg8+ 28.Wh3
9bs+ 29.<i!?g3 !fg7+ 30.Wh3 lid8
(provocando outro enfraquecimento) 31.g4
O único lance: se 31.gJ? as pretas teriam
'WCllcido com o inesperado 31 ...l!t'h8+ 325it>g4
ngs+ 33 .@f3 'i!fxh2.
3t...ã h8+ 32.Wg3 °iWh6 33.l!:fg2
O ataque ao longo da coluna h força as
br.ancas a moverem a dama do centro. No
momento elas são incapaies de consolidarem
suas forças, tra:tendo sua corre inativa para o
jogo ou pelo menos ameaçando xeque perpétuo
com sua dama.
33...'t!Yb4+ 34.©0 lid8
O ponto culminante dessa partida muito
complicada e tensa. O resultado é decidido no
apuro de tempo, literalmente dentro do curso
de dois lances.
Vlktor, o Terrfvel
35.'i!fg3?
Ao ativar urgentemente a sua torre com
35.~ fl ! (A. Kuzmin), as brancas todavia teriam
tomado a posição, por exemplo: 35 .. J~d2
36.!!f2 'i!ed8 37.@g3 ~c2! 38.llxc2 i!dJ+
39.Wh4 'i!ih7+ com xeque perpétuo. Não é
aparente nada melhor para as pretas e isso não
é surpreendente: todas as peças brancas estão
no jogo!
35...'i19e7?!
Um erro em resposta, que faz a vitória muito
difícil. E mbora, em uma situação tão tensa, com
alguns minutos no relógio, não seja fácil
encontrar a continuação mais forte...
Somente 35 ...'i!fh7! teria enfatizad o
completamente os defeitos de 35.°i!Yg3: o peão
c2 é atacado e após 36.f5 ã d2 assim é o peão
h2. Após 37.h4 existem duas respostas fortes:
37 ... ãxc2 38.ã dl (38.~e3 ãd2!) 38 ...'i!fb6
quando com igual material elas têm um ataque
poderoso e um peão passado e o mais
complicado 37 ... exfS 38.e6+ @b7 39.e7
fxg4+ 40.!fxg4 f5 4J.\!i'g5 'ilff7 42.'~g3
We6! (mas não 42 ... r!e2 43.llfl ! lit'd5 44.ã f2)
e em vista da posição exposta do seu rei,
provavelmente as brancas não tenham defesa.
36.gS?
O erro fatal. Na tentativa de criar uma saída
escapatóàa para o seu rei, Spassky desperdiça a
última chance de resolver o problema da sua
torre em al - 36.llel! (Keene) 36 . . .'ilfb7+
37.@e3 ~ d2 38Jie2 \Wd5 39.it'f2. E embora
101
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
após 39 .. Jãd I as pretas tivessem mantido
pressão (a torre inoportuna não pode ser
retirada: 40.!!el? ã d4 4 l.'iWf3 'iWc5 e vencem),
as brancas ainda teriam çonsideráveis recursos
defensivos.
36..J~d2 (agora as pretas vencem) 37.<t>g4
'ti'b7 38.l!fxc3 (eliminando o perigoso peão,
que é imparável após 38.:Sgl l!fe4 e ...t!fxc2)
38•••ã g2+ 39.Wb3 ã f2! 40.<t>g4 lWe4 0-1
É inevitável a perda decisiva de material.
O efeito dessa vitória foi tão forte que nas
próximas quatro partidas pares, onde a Defesa
Francesa foi testada novamente, Spassky evitou
7.'i!fg4 em favor da variante posicional com
7.éêJf3. Só na 12ª partida, quando seu adversário
já liderava por ampla margem e a sorte do match
já estava quase decidida, é que ele se aventurou
novamente com a saída da dama.
A incerteza de Spassky também se mostrou
na 3ª partida, quando outra vez, como na 1ª e s•,
foi discutida a Abertura Inglesa com l .c4 c5
2.éêJf3 éêJf6 3.lik3 tz:lc6 4.d4 cxd4 5.éêJxd4 e6
6.g3. Em posição levemente inferior,
repentinamente ele capturou um peão
"envenenado" com a sua dama no 27° lance,
permitindo um forte golpe do seu adversário.
As pretas perderam material e logo depuseram
as armas.
A Direção do Comitê dos Esportes, .inquieta
com o rumo indesejado dos acontecimentos,
decidiu que a raiz do problema residia... na falta
de conhecimento de Bondarevsky quanto à
teoria moderna. Estavam presentes no match
dois dos agentes do Campeão Mundial - seu
treinador principal, Semioo Furmao e o
correspondente de Sovetsk;y Sport e do semanário
64, Alexander Roshal, que no outono de 2005
me relatou pela primeira vez o que aconteceu
naqueles dias em Belgrado:
"Furman tinha passado por uma grave
operação onze anos antes e na ocasião os
efeitos d.a terrível doença estavam reapa-
recendo. Aparentemente preocupado com a
saúde, ele não queria ficar hospedado em um
102
aposento individual e me perguntou se não me
incomodaria em dividir o quarto com ele.
'Porque haveria problema em ficar sozinho?',
perguntei surpreso. E então, após alguma
hesitação, Semion Abramovitch, de forma
angustiada me disse que estava sendo
pressionado pela Direção da Comissão de
Esportes para que ajudasse Spassky. 'O que eu
posso fazer? Eles podem tornar as coisas
difíceis para mim se eu recusar.'"
"Furman de maneira alguma queria ajudar
alguém contra Kortchnoi, com quem tinha
trabalhado por muito tempo antes da era
Karpov (no entanto, Kortchnoi ainda supõe
que Furman o espionou desde 1972). E eu disse
para ele: 'Do que você tem medo? Temos
Karpovl'. Mas o modesto Furman sentiu-se
retraido em telefonar para Karpov. Então eu
mesmo telefonei a Karpov, pedindo orientação
sobre o que Furman deveria dizer às auto-
ridades. E Semion Abramovich respondeu ao
delegado-chefe do Comitê dos Esportes, que
chegara a Belgrado: 'Karpov me proíbe de fazer
isso, pois sou seu segundo e se eu começar a
ajudar Spassky, revelarei os segredos de
Karpov."'
"Com isto, deixaram Furman em paz. Mas
todo este embaraço custou ao pobre Semion
muito nervosismo e noites em claro. Ele
começou a passar mal e chamei o médico de
nossa embaixada, que ordenou: 'Ele deve ir para
casa imediatamente'. E Furman foi mandado de
volta. Três meses depois morreu... Tenho a
convicção de que essa situação estressante
agravou a sua doença e apressou a sua morte".
Ao custo de muitos esforços, Spassky tentou
mudar os rumos do match, mas as três partidas
seguintes, 4•, s• e 6ª terminaram empatadas e a
7ª, para sua desgraça, veio a ser uma das
conquistas mais criativas da carreira de
Kortchnoi.
Partida 28
V. Kortchnoi - B. Spassky
Final de Ca11didaws, Belgradí) 1977, r partida
Ga.mbito da Dan,a D58

l.c4 e6 (evitando pela primeira vez no ma#b
1.. .c5) 2.tZ)cJ dS 3.d4 $..e7 4.~f3 ~ f6 5.Ag5
~ 6.e3 b6 7 ...âh4 b6
A confiável variante Tartakower-Makogonov,
que não somente faz parte do repertório de
aberturas de 10 Campeões Mundiais, como
1m1bém do 12° e do 13º.
8lkl
Esse lance de esper-a, em conjunto co m
I.Ae2 e 8.!fc2, subsátuiu a antiga linha
principal 8.cxd5 ~ xdS 9.Axe7 !fxe7
10.ti:lxd S exdS seguido po r l l...~e6! e
12...c5 com igualdade. (volu,ne 4, partida 103).
8.....ib7 9.A xf6 ..âxf6 10.cxdS exd5 ll.b4
(uma tentaàva de comprimir a ala da dama das
pretas) 11 ...c6?!
Seria mais enérgico l l. .. c5 12.bxcS bxcS,
por exemplo: 13.'tifb3 .\tc6!, 13 ...ibS ~a6! ou
13.dxcS lz:}d7 14.lz:}b5 l:!!c8!. Entretanto,
Spassky tinha como objetivo ...a7- a5 e se
~ b5, somente então c6--c5.
12..i.e2
Na 11 ª partida Kortchnoi utilizou um plano
original - 12 ...âdJ! !!e8 13.0-0 ~ d7 14.'ifb3
~f8 15 .!!fd l ã c8 16 ...âb 1 ~e6 17 .a4
(l 7.a3!?) 17 .....âa8 18 ...ta2 com a idéia de
~ 5 ou e3-e4, mas na seqüência Spassky
conseguiu superar. seu adversário e conquistar a
primeira de suas quatro vitórias em uma
siruação desesperadora no 111atch (cf. vol11me J,
páginas 325 a 328).
12...~ d7
Logo em seguida foi considerado mais
preciso 12 ...'i!fd6, por exemplo: 13.'i!½'b3 li:Jd 7
14.0-0 a5 15.a3 !!fe8 16.ãfdl Ae7 (ou de
imediaro 16 .. .axb4 17.axb4 b5 e ... ~b6)
17 .E!b 1 (Brown-Hort, Rcykjavic 1978)
17.. .axb4! l 8.axb4 !la7 e ...!!ea8 com jogo
confortável para as pretas.
13.0--0 a5
''Um lance agudo. É óbvio que 13 ...bS não
seduz as pretas, pois l 4.a4 a6 15 .a5 .\te7
16.l:!bl e em breve as brancas jogarão seu
cavalo de t1 a c5 (li:le 1-d3-c5). A continuação
Viktor, o Terrível
tranqüila 13 ...~ e8 l 4.'i!Yb3 lz:}f8 também foi
considerada pelo meu adversário como não
totalmente satisfatória, cm vista de 15.b5. Se
fosse permitido às brancas a troca em c6, então
o p eão d5 seria fraco, enquanto após 15 ... cS
16.dxcS bxcS 17.ãfd l ~xc3 18.'i!i'xc3 ~ e6
surgiria uma posição indefuúda, com chances
aparentemen te iguais, mas isso também não
causou grande apelo a Spassky." (Kortchnoi)
14.bS (14.a3 axb4 e as pretas têm a coluna a)
14...cS 15.dxcS!
As brancas tentam, de uma maneira bastante
incomum, explorar a fraqueza da casa c6. Stean
recomendou 15J~el c4 16.~d2 com a idéia de
1'.D e ~ fl - g3-e2- f4. Mas as pretas oão são
obrigadas a jogar ...c5-c4, é melhor 15 ...!k8!.
15...li:JxcS (a tentativa 15 ... ..âxc3? 16.:Sxc3
bxc5 não funciona, pois as brancas interpõem
l6.c6!) 16.~ d4 'i!fd6 l7.~g4!?
O rotineiro 17 ...tn llfd8 e ...ã ac8 teria
con duzido a uma luta complicada, onde os dois
bispos das pretas compensariam a fraqueza do
peão d5 isolado.
17...I!fd8 18.I!el (com a idéia sensata de
ãe2-d2) 18•.•tt:)e6
Uma retirada não forçada. Seria possível o
simples 18 . .. g6, mantendo o equilíbrio
dinâmico. "Outra forma de igualar seria
18 ... ~ e4. Entretanto, o lance feito por Spassky
é mais ativo: as pretas conseguem o controle da
força , o orgulho da posição das brancas - a casa
d4." (Kortchnoi).
103
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
19..âxe6!? (se 19/ilce2, então seria possível
19 .. .ãac8) 19 ... fxe6 20.tilc6!
O ponto crucial do interessante plano das
brancas, que semeou numerosos perigos para as
pretas: em breve, seus dois bispos
desaparecerão do tabuleiro.
20. , ..i.xc6
A decisão prática correta. Após 20.. J~d7
(20 .. J:!dc8? 21.tile4) Kortchnoi planejava
21 .lz:Ja4 (no ChessBase, Donev estancou o lance
de Stean 21.e4 através de 21.. .~g5!), mas as
pretas entregariam o peão b6: 21...ã c7!
22.Cz::ixb6 .t><c6 23.bxc6 &6 24.lZ:Jd7 ãaxc6
25.Cz::ixf6+ gxf6 26.ãxc6 ifxc6 com jogo
indefinido (Donev). Seria mais forte 26.Él.bl !,
com uma leve, porém duradoura vantagem para
as brancas: a atividade das pretas na coluna e é
temporária, enquanto o enfraquecimento de
seus peões e a posição aberta do rei são fatores
permanentes! De maneira incompreensível
Spassky não quis entrar nessa posição: todo o
tempo ele teria que esperar por várias ameaças.
21.bxc6 .ixc3?!
Após 21...1lfb4?! as brancas manteriam a
.iniciativa através de 22.a3 ! l!fxa3 23.c7 â dc8
24.Cz::ib5 (Stean) 24 ... "i19b4 25.~bl V/!Je7 26.e4
dxe4 27.ãxe4. Entretanto, as pretas teriam
titado o espinho imediatamente através de
2 l...'iWxc6 22.lile4 "i19b7! (mas não 22...tfd7
23.Cz::ixf6+ gxf6 24.it'd4! ç!;;/g7 25 .'ti'xb6)
23 .tilxf6+ gxf6 24.l!fg4+ ~f7, quando
conquistam o empate com jogo preciso:
25.'ifhS+ @g7 ou 25.tff4 e5 e 26.ii'xh6?
falha devido a 26 ...ãh8, capturando a dama.
"Eu tinha visto tudo isso perfeitamente bem
quando fiz o 19º lance," escreve Kortchnoi e
explica sua escolha por uma consideração
psicológica: ele percebeu que o adversário não
se satisfaria com um empate. Especialmente
porque na variante 25.ii'f4 eS (na minha
opinião é mais sólido 25 ...&c8! 26.'i:fxh6 ãh8
27.'i'f4 ã xcl 28.ã xcl ãc8, com igualdade)
26.116f5! as pretas ainda têm que lutar por isso:
26 .. .@g7 (26 ...:Sg8?! 27.f4! ãae8 28.ã c2 e
\
104
ãec l ) 27.'i!t'g4+ Wh8 (27 ...Wf7 28.f4!)
28.ii'e6 !ât'8 29.&6 ãae8! 30.!!xb6 ãxe6
3 l.ã xb7 !:!c8 etc.
22.ã xc3 ã ac8 23.~c2
De novo, como na 2ª partida, chega-se a um
final com peças pesadas e novamente um muito
tenso e incomum! Como contrapartida do
perigoso peão avançado e, as pretas planejam
criar o seu próprio peão passado na coluna d e
esperam ao final distraírem as peças brancas da
coluna e e levar à mutua eliminação desses
peões. É interessante seguir como Kortchnoi
consegue evitar esse desenvolvimento
aparentemente óbvio e inevitável dos
acontecimentos.
23 ...eS?
Spassky de forma consistente desenvolve seu
plano, não vendo nenhum perigo em particular
no surgimento do peão branco em c7. Mas ele
faria melhor em bloqueá-lo em uma de duas
maneiras:
1) 23 ...~c7 24.~g6 !!d6 25.ã ecl eS (se
25 .. .b5 as brancas têm o desagradável 26.ã c5
b4 27.e4!?) ou 24.a4 ã d6 ~5.ãcl e5
26.tfd3(b3) e o peão c6 continua attestringir a
ação das pretas;
2) 23 ...ã c7 (Kortchnoi) 24.âbl llb8 25.ã b5
eS 26."i19b3 ã xc6 27.ãxc6 'i!Vxc6 28.ãxd5
@h8 29.gJ com uma pequena porém
duradoura vantagem para as brancas em vista
das fraquezas crônicas dos pe?es .inimigos.

24.c7! ã d7 25_gcl d4 26.ã c6 'ii'd5
O peão passado branco já está em c7, mas as
pretas também não estão longe disso: o lance
...d4-d3 será feito com ganho de tempo. AJém
disso, o rei branco já não tem uma casa de fuga,
e um tempo será perdido para criar uma.
Baseado em considerações gerais, sem dúvida
Spassky pens~u que poderia entrar nessa
corrida com seü, adversário. Mas a avaliação
intuitiva de Kor'tchnoi provou ser mais
profunda ...
27.'i/.fbl! (é claro, não 27.:ãxb6?? lãdxc7)
27...d3
"Se 27 ... bS, então 28.e4! 'fflfl 29.ff!xb5 e
após 27...dxe3 28.fxe3 b5 29.lãb6, as brancas
,·encem, pois 29...ã dxc7 perde por 30.á:xc7
ãxc7 31 J:!b8+ w.f7 32 .Wfr'f5+." (Kortchnoi)
28.'tlfxb6 d2?!
É difícil conter um lance assim - o peão se
aproxima da casa de coroação com o ganho de
wn tempo! Mas esse parece ser o erro decisivo:
as pretas não tinham bloqueado a 2ª fileira. Seria
essenciaJ 28 ...~xa2!, e se 29.'i!Vb7, então
29 .. .lãf8 (a ameaça de ti'xf2+ possibilitaria o
ganho de um tempo altamente importante)
30.h3 'i!fxf2+ 31.Wh2 d2 32.lãdl ff!xe3
33.c8'ii lãxb7 34.'tlfr'xb7 ii'f4+ 35.Wgl 'i.lfe3+
36.<~b2 'ilff4+ com xeque perpétu.o. (Donev)
De fato, aqui também após 29.h3 ! as brancas
manteriam a vantagem e chances de sucesso:
29... lãfl 30.'ifa6 ~xf2+ 3 l .Wh2 'WfS (a dama
não tem volta) 32.c4! i!f4+ 33.Whl lãff8 (é
mau para as pretas 33 ...lãfxc7? 34.t!¼'c4+, assim
como 33 ...lãcxc7? 34.ãxc7 d2 35.ã (i!V)c8+
etc.) 34.l\Yxd3 Wh7 35.~c4 e desapareceu o
trunfo das pretas (o seu peão d), enquanto o
trunfo das brancas (o peão e) permanece. E
embora com as damas e as quatro torres no
tabuleiro, as pretas ainda teriam esperanças de
contrajogo envolvendo o avanço do peão a, elas
estariam frente a uma luta difícil pelo empate.
Mais uma vez devemos aplaudir a visão a longo
prazo de Kortchnoi!
29,g dl Wxa2
Viktor, o Terrível
Se 29...'ilfd3 as brancas vencem por 30.VWb7
t!fe2 (30 ... lãf8 31.c8'ti') 31.'i.!fxc8+ Wh7
32.'ffh8+! (ou 32.h3 "tifxd l+ 33 .Wh2
Kortchnoi) 32 .. .Wxh8 33 .ãxh6+! gxh6
34.c8'1!f+ Wg7 35.Wxd7+ e 'i!fxd2.
30.h3!!
A chave-mestra da brilhante combinação das
brancas. "Um lance muito importante! As
pretas não especularão por muito tempo as
fraquezas da retaguarda das brancas."
(Kortchnoi)
Pode se assumir que Spassky considerou
principalmente 30.°Wb7?, quando é mau jogar
30...1/.fal? 31.Wxc8+ Wh7 32.~ h8+! Wxh8
33_gxh6+ gxh6 34.c81\i+ Wg7 35.'i.!fxd7+
com ameaças arrasadoras, mas as pretas se
salvam com outra versão do sacrifício de torre
- 30...t½'a4!! 3l.'i!fxc8+ Wh7 32.h3! (é claro,
não 32.ti'g8+? Wxg8 33.c8W+ ~ h7 34.'lc2
l!fal ! e as pretas vencem - Stean) 32... ~xc6
(32 ...i!fxdl +? 33.$>h2, vencendo) 33_gxd2
'i!Hcl + 34.Wh2 ifxd2 35."tifb8 !!xc7 36.tfxc7
(Donev) com um final de damas empatado.
É fácil verificar que aqui as brancas não têm
nada melhor. Após o lance da partida e a
resposta das pretas, parece que a posição é
quase a mesma, mas... somente "quase"!
30.. J!fa4 31.ãxd2! ã xd2 32.'ifb7!
Outro lance preciso, que acerta todas as
coisas. As pretas são forçadas a trazerem de
volta a sua torre e a entrarem em um final de
dama e torre, onde inevitavelmente perderão
105
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
material devido às ameaças de mate do
adversário.
Stean recomendou 32.'ti:Vb8 ã xb8
33.cxb8'i!f+ $'h7 34.ã c8- para um humano as
ameaças das brancas parecem muito
ameaçadoras, mas a máquina não tem medo de
ter seu rei perseguido: 34 ... 'i!fd l + 35. ~h2
ã xf2 36.ãh8+ $'g6 37.'i!fe8+ ãf7 38.'t!fc6+
M5. Um enfraquecimen to decisivo do ataque
não é aparente de imediato, mas um estudo
cuidadoso revela que o rei preto passou dos
limites da fronteira do risco aceitável - após
39.ã e8! gf6 (não há nada mais) 40.'i!fb7 l!Kd6
(40...'~g6 41.ãe7) 4 l.e4+ 'i!tg6 42Jãe7 as
brancas todavia vencem, embora não sem
algumas aventuras: 42 .. .<it'hS 43.!fc8 g5
44.ã g7 l!Ve6 45.l!Kc2.
32 .. J!ddS 33.cxd8'if+ l!xd8
34.lãc7!
"O ataque continuai" escreve Viktor Lvovich.
"'Seria interessante saber quantos lances à
frente Kortchnoi calculou as variantes!?' Bent
Larsen perguntou invejosamente admirado em
seus comentários da partida." O resultado é que
as pretas podem defender g7 somente
entregando seu peão e, após o que sua
resistência é amplamente uma formalidade.
34 ... 'i!fal+ 35.@b2 e4 36.\!fxe4 'ti'f6
(36 ...a4 37.I!a? l!Kb2 38.f4 ou 37 ... a3
38.'iWe6+ 'i!?h7 39.ti'e?) 37.f4 °iff8 38.ãa7
°ifc5
"As pretas ofereceriam uma resistência mais
106
tenaz através de 38 .. Jle8! 39.'iWd4 l!Kf6, ou
39.it'd3 l!Kc5, ou 39.l!Kf.3 l!Kf5." (Kortchnoi).
Mas seria melhor 39.l!Kc6! Wh7 (39.. J~xe3?
40.ãa8) 40.l!Kc3, quando as brancas vencem.
39.l!Kb7 ii'c3 40.l!Ke7 ã f8 41.e4! 'i!fd4
(4I...gxf4? 42.e5) 42.fS b5 (42 ...tfc3 43.eS,
enquan to se 42 ... a4 as brancas planejavam
43.lld7 l!Hf6 44.'i!fxf6 l!xf6 45.lla7 llb6
46.llxa4) 43.llxaS l/.i'd2 44.'i!leS l!KgS 45.ã a6
ã f7 46.llg6 it'd8 47.(6 h4 48.f><g7 1-0
Um exemplo clássico da exploração do poder
de um peão passado.
As três partidas seguintes foram uma djsputa
não menos ardente, feroz e aberta e
proporcionaram grande satisfação ao numeroso
público de Belgrado.
Na 8ª partida, após erros de seu adversário no
apuro de tempo, Spassky tOmou a iniciativa em
um final agudo, mas ao reiniciar, já em um
segundo apuro de tempo, perdeu inicialmente a
vantagem e no 51° lance repentinamente
entregou um importantíssimo peão, sofrendo,
conseqüentemente, a quarta derrota. O escore
ficou 6-2 a favor de Kortchnoi. Uma vantagem
enorme, que refletiu com precisão as forças
relativas no match.
Imagine o leitor: "mais cinco" após sete
partidas com Polugaevsky e "mais quatro"
depois de oito partidas com Spassky! Isto deu
muito o que pensar às autoridades esportivas
soviéticas: Kortchnoi tornara-se perigosíssimo.
A imprensa ocidental começou cada vez mais a
se referir a ele como "Viktor, o Terrível" (um
apelido alusivo ao Czar Ivan, o Terrível).
Na 9• partida, com 1.c4 e6 2.l'i:lc3 f5 3.l'i:lf.3
CLJf6 4.b3 b6 5.g3, foi Kortchnoi quem teve um
final melhor e atormentou o adversário
insistentemente na continuação da partida, mas
Spassky agüentou o embate e conseguiu o
empate no 71° lance. Já a 10ª partida foi outro
drama para ele: depois de conseguir uma clara
vantagem contra a Defesa Francesa, quase
perdeu no apuro de tempo, cedeu a iniciativa e
seu jogo literalmente se desmoronou na

cootinua.ção da partida.
A partir da 11ª partida, começaram os
milagres. Na hora em que todos achavam que a
derrota estava tomando um rumo decisivo, de
repente Spassky subitamente ganhou um sopro
de vida: e Kortchnoi sofreu quatro derrotas
consecutivas! Este foi um caso único em sua
batalha pela coroa (sem contar o fracasso nas
rodadas 14 a 17 em Curaçao) e, de forma geral,
02 história dos JJtatches desta categoria. A
diferença de pontos chegou ao mínimo: 7½-
6%.
Os fãs soviéticos do xadrez estavam
perplexos: o que estava acontecendo com
Kortchnoi? Os jornais falavam de conflitos, e
uma nota lacônica no semanário "64" dizia:
"Depois que Spassky venceu as partidas 11, 12
e 13, Kortchnoi deu um ultimato, exigindo que
codas as partidas restantes fossem disputadas
cm recinto fechado, sem assistência de
espectadores, ou que o match fosse transferido
para outro país, ameaçando retirar-se caso a sua
exigência não fosse atendida... De acordo com
as regras, o árbitro chefe, B. Kazic, informou a
Kortchnoi que sua exigência não podia ser
atendida. Para pressionar os árbitros e os
organizadores, Kortchnoi fez um comunicado,
informando que se recusava a jogar e estava
partindo de Belgrado. Depois disse que queria
reunir uma conferência de imprensa em
Zurique para e:xpor suas decisões ulteriores,
mas, depois de algumas horas, ele avisou que
iria continuar o match. A 14ª partida que se
seguiu foi disputada em 2 de janeiro, visto que
o jogo de 30 de dezembro tinha sido adiado por
Kortchnoi, contando-se este intervalo como
segundo time-out. O resultado foi uma nova
vitória de Spassky."
Foi só alguns anos mais tarde que Kortchooi
revelou em seu livro Anti-Xadrez o que tinha
acontecido naquele match: «Meus au:xiliares e eu
mesmo notamos um recrudescimento da
atividade por parte dos soviéticos. Em Belgrado
aparecia ora um, ora outro Grande Mestre
soviético e lvonin, o principal diretor de xadrez
Viktor, o Terrível
e vice-presidente do Comitê de Esportes da
Rússia chegou também para assistir ao match.
Além disto, funcionários da embaixada soviética
em Belgrado, pessoas com maletas, cuja origem
soviética era inegável, passavam apressados pelo
saguão. Que armas eles estavam empregando
contra mim não dava para adivinhar, mas tudo
ao redor pareda enigmático e sombrio, sem
excetuar a conduta de Spassky. N a segunda
metade do match, Spassky não se sentou diante
do tabuleiro no palco; quando se dirigia ao
tabuleiro para fazer um lance, ia se balançando,
com os olhos semi abertos, como se estivesse
hipnotizado..."
Kortchnoi resolveu protestar: aquilo o estava
deixando nervoso - sentado sozinho diante do
tabuleiro, sem ver o seu adversário que parecia
estar jogando hipnotizado. "Ele não parecia
estar normal. Se bem que em matches de
Campeonatos Mundiais possa ocorrer toda
sorte de bruxarias..."
Apesar de tudo, Spassky não vê nada de mais
nessa forma de jogar. Ele diz: "Essa idéia me
ocorreu no match com Fischer. Eu me sentia
oprimido por permaocer sob a vista do público
por muitas horas, perdia a concentração e sentia
grande dificuldade para voltar a me concentrar.
O mesmo aconteceu em Belgrado". De acordo
com o ex-campeão, as cinco primeiras filas
eram ocupadas por "gente de Kortchnoi" (ou de
Karpov? - G.K) e a pressão visual dessa gente
era tão forte que sua mente parou de funcionar
na terceira hora do jogo. Foi aí que Spassky
exigiu que os organizadores instalassem uma
sala reservada no palco onde ele ficaria, quando
fosse a vez do adversário jogar e também
quando ele pensasse no seu próprio lance.
Foi por isto que ele e Kortcbnoi, como o
próprio Kortchnoi mais tarde explicou,
"iniciaram o match em termos amigáveis, mas
terminaram como inimigos" (muitos anos
depois, essas paixões naturalmente se
atenuaram, não obstante o surgimento de
outras desavenças). Não deve haver dúvida de
que, para o lado soviético, o match de Belgrado
107
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
tenha sido uma espécie de campo de prova em
preparação para a batalha principal com o
"malfeitor": eles tinham estudado os hábitos
dele, as reações diante dos provocadores
externos, um know-bow que mais tarde foi útil
em Baguio...
Para felicidade de Kortchnoi e "para surpresa
de muita gente", ele conseguiu se refazer desses
golpes terríveis, suportar a pressão psicológica
e, como ele diz, "escapar do mergulho mortal".
Ele teve alguns empates e depois, em uma luta
disputadíssima, venceu a 17ª e a 18ª partidas,
concluindo dignamente o estranho match: 10½-
7½ (+7-4=7). O resultado foi uma simbiose
dos dois matches precedentes de Kortchnoi, que
foram ao mesmo tempo uma guerra de nervos
feroz (como com Petrosian) e uma
demonstração de sua riqueza de idéias e sede de
lutar (como com Polugaevsky).
Assim, passados mais de 9 anos, Kortchnoi
venceu uma revanche convincente contra
Spassky pela sua derrota no match final de
Candidatos de 1968. É curioso que nesta
mesma série de partidas, mas que somente nas
quartas-de-final, Portisch também se desforrou
de Larsen em 1968 (embora na semifinal tenha
perdido para Spassky). O s motivos dessas
revanches, ainda que com certo atraso, podem
bem ser comparados: tanto Spassky como
Larsen já tinham alcançado o auge da carreira,
ao passo que seus adversários, graças a uma
enorme dedicação ao estudo, ainda conti-
nuavam a progredir.
Em 1968, Spassky estava em plena ascensão,
e com muita habilidade causou problemas
bastante desagradáveis para Kortchnoi, que não
teve condições de superar a tensão criada pelo
seu rival. Mas, em 1977, os papéis se inverteram.
Sem dúvida, o ex-Campeão Mundial ainda
possuía enorme reserva de forças, mas isto não
bastava para deter Kortchooi, que se
aperfeiçoava em todos os aspectos do jogo,
enfrentando de bom grado todas as
complicações e pronto para disputar o meio-
jogo e a fase final, em posições melhores e até
mesmo inferiores.
108
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r,..i ',
~~-cv
Assim, o ciclo de Candidatos de 1977
terminou com triunfo para o desertor.
Kortchnoi conquisrou o direito de disputar um
segundo match com Karpov, dessa vez fora da
URSS.
Baguio na Visão de Kortchnoi
Depois do afastamento de Fischer, parecia
improvável que alguém pudesse enfrentar
Karpov no próximo match pelo Campeonato
Mundial: o jovem campeão estava progredindo
de torneio em torneio. Afinal, somente matches
entre adversários iguais, quando existe u m
choque violento de diferentes concepções e
estilos, é que atraem a atenção do público em
geral, tornando-se marcos notáveis do
desenvolvimento do jogo. Para felicidade do
xadrez, um dos Grandes Mestres da antiga
geração, Kortchnoi, soube alçar seu potencial
criativo e preparar muitas idéias interessantes
para o duelo com Karpov e, acima de tudo,
manteve o frescor das idéias e o espírito de luta.
Assim sendo, o match na estação de veraneio
filipina de Baguio Qulho a outubro de 1978),
que o público de forma geral recorda muito
bem, infelizmente, pelas intrigas políticas e
seqüência constante de escândalos, do ponto de
vista da habilidade eoxadrística teve também
seu lado de êxito. Gostaria de abordar este
evento duas vezes (como fiz com o match de
Capablanca-Aleklúne, no wlu111e 1): em primeiro
lugar, do ponto de vista do perdedor e, em
segundo lugar, do ponto de vista do vencedor.
Darei ênfase especial à an.álise do conteúdo do
xadrez e, dentre os inúmeros acontecimentos à
margem das partidas, que foram amplamente

propagados na imprensa, insistirei apenas
naqueles que, a meu ver, tiveram influência
maior no curso competitivo do match.
As regras incomuns e opressoras para o
desafiante, válidas neste e nos próximos dois
matches pelo Campeonato Mundial, que
determinavam jogar até seis vitórias sem contar
os empates, com um match-revanche, em caso
de derrota do Campeão, tinham sido adotadas
com participação de Karpov em uma reunião
do Comitê Central da FIDE em Caracas
(outubro de 1977). "Supostamente sob pressão,
os soviéticos concordaram que o match pelo
Campeonato Mundial não constasse de 24
partidas (como antes), mas sim de um número
ilimitado. Em compensação, garantiram para si
todos os demais privilégios!" - escreve
Kortchnoi. A indignação de Kortchnoi é justa:
os matches-revanche tinham sido abolidos nos
anos 1960 e, além do mais, jogar um ,11atch
ilimitado e, no caso de vitória, uma revanche
ilimitada, era de fato um peso inconcebível para
o desafiante, que já tinha passado por um árduo
processo de qualificação.
Na sede da FIDE em Amsterdã, 15 de
fevereiro de 1978. Atrás do Dr. Euwe, a lista
das cidades candidatas ao match pelo título
mundial
Incomum era também a escolha do local:
Baguio se encontra a 250 km da capitaJ filipina,
Manila, a 1500 metros acima do nivel do mar.
Às vezes a cidade desaparece na neblina
espessa: o match estava marcado para a estação
chuvosa, de furacões e tempestades. Costumam
ocorrer também deslizamentos de terra e
Viktor, o Terrível
interrupção de energia elétrica... E, ainda, a
FIDE tinha recebido propostas de cidades
européias. Por que motivo Baguio se tornou o
lugar escolhido para o match do Campeonato
Mundial? A resposta a esta pergunta deve ser
procurada no organizador, o extremamente
ativo e de uma esperteza sem limites, Florêncio
Campomanes, que sonhara com o match
Fischer-Karpov e que tinha intermediado as
negociações entre os dois (veja-se o capítulo
"Abdicação" no volume 4). Em Baguio, ele
favoreceu os dirigentes soviéticos e Karpov,
assistindo ao Campeão de todas as maneiras,
embora como organizador do match devesse
manter-se neutro. Q uatro anos mais tarde,
como recompensa, ele receberia os votos
decisivos dos países do Bloco SoVlético como
candidato nas eleições à presidência da FID E ...
Florencio Campomanes e Max Euwe: o futuro e
o então Presidente da FIDE
Para compreender adequadamente a situação
anterior ao match, deve ser lembrado que a
mulher e o filho de Kortchnoi ainda estavam na
URSS, com o visco de saída negado (mais tarde,
o filho foi preso e condenado a dois anos e
meio por "não prestar o serviço militar"). Na
primavera de 1978, Kortchooi apelou ao
Presidente da FIDE, Max Euwe, pedindo que
ajudasse a sua familia a sair da URSS, para que
se garantissem condições iguais no ,natch com
Karpov". Mas a FIDE não teve nenhum poder
para isto.
Konchnoi: "Os membros de minha familia
109
 Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

foram feitos reféns, gue tinham gue pagar pela

minha deserção". Antes de viajar para o match,
ele fez mais uma tentativa: publicou uma carta
aberta para Brejnev, pedindo gue "mostrasse
um gesto de boa vontade" e permitisse que sua
familia pudesse sair da URSS. Em Manila, ele
entregou a carta à Embaixada Soviética e de
novo a leu numa entrevista coletiva; mas foi
uma voz clamando no deserto. A familia só foi
libertada depois do match de Merano em 1982.
A equipe do desafiante era composta por
cinco pessoas e a do campeão por cátorze. "Eu
"Quando ao invés do hino nacional da URSS
estava psicologicamente pronto para uma tocaram a 'Internacíonal~ os presentes se
batalha árdua, mas a chegada de um levantaram. A Sra. Leeuwerick e eu não."
destacamento tão numeroso pr.ecipitou m.inha À direita, o embaixador da URSS, Mikhailov
depressão", admite Kortchnoi. Entretanto, o Na primeira sessão do tribunal de recursos foi
número de auxiliares cnxadrísticos era o discutida a questão de que se Kortchnoi poderia
mesmo: Kottchnoi tinha Keenc, Stean e Murey; jogar sob a bandeira suíça. A líder da sua
Karpov tinha Balashov, Zaitzev e Tal (só a delegação, Petra Leeuwerick (mais tarde esposa
partir da 29" partida é que a eles veio se juntar de Kortchnoi; ao final da Segunda Guerra ela
Vasyukov). Olhando adiante, devo dizer que a tinha sido presa pelas autoridades de segurança
equipe de Kortchnoi era inferior à soviética em da URSS em Viena e cumprido dez anos nos
rating, experiência e conhecimentos, mas graças campos de concentração de Stálin) apresentou
à incrível energia do desafiante e à sua uma autorização por escrito da Federação Suíça
capacidade de trabalhar sem parar por horas a de Xadrez, mas Baturinsky insistiu que o
fio, foi mantida uma igualdade definitiva na desafiante só poderia jogar sob uma bandeira
análise das posições adiadas (com exceção, com a .indicação "Statelesl' (apátrida). E ele
talvez, de um par de vezes) e no final da
conseguiu! É verdade que depois do protesto de
maratona todos estiveram à altura do
Kortchnoi chegou-se a um acordo: as bandeiras
acontecimento.
grandes da PIDE, da URSS e das Filipinas
No dia da estréia do matcb, 12 de julho, o
foram colocadas no palco, mas nenhuma
chefe da delegação soviética, Coronel Viktor
bandeira sobre a mesa de jogo. Apesar disso,
Baturinsky "por ordens do Campeão" declarou
Kortchnoi tem razão quando escreve: ''.A partir
publicamente que Karpov concordava em fazer
daí fui despojado não só de uma bandeira, mas
o aperto de mãos antes da partida (sobre este
ponto, as regras, por sugestão de Kortchnoi, também do tratamento legal igual".
continham a condição: "se um dos O desafiante decidiu jogar usando óculos
competidores não pretendesse o aperto de espelhados e isto absolutamente não era devido
mãos, deveria informar previamente o árbitro ao brilho do sol meridional. " O objetivo era
sobre esta decisão') e não se opôs a que seu simples: privar Karpov de sua ocupação
adversário usasse uma cadeira especial, mas favorita - ficar na mesa com o olhar fixo no
pediu que a cadeira fosse examinada... por raio- adversário. Com os meus óculos espelhados, a
X . O que de fato foj feito - exatamente como única coisa que ele podia ver era o seu próprio
com a cadeira de Fischer durante o match de reflexo".
Reykjavik (c( capítulo "A Batalha dor Deuses'' no As quatro primeiras partidas do match
vo/11me4'). acabaram em empate, embora na terceira

110

partida Kortchnoi tivesse um ataque perigoso,
mas ao não encontrar a continuação mais forte,
perdesse a vantagem. No meio da segunda
partida, surgiu outro conflito: os assistentes de
Karpov lhe ofereceram uma bebida parecida
com um iogurte de frutas. Kortchnoi protestou:
pelas regras da FIDE, era proibido qualquer
contato entre os espectadores e o jogador.
Baturinsky deu uma resposta irônica e
instigados pelo assessor de imprensa do
Campeão, Alexander Roshal, os soviéticos
batizaram o protesto de Kortchnoi como
"tempestade em um copo de iogurte". Mas para
evitar qualquer sugestão de auxílio externo, o
árbitro-chefe, Lothar Schmid, pediu que a
bebida a partir daí fosse dada a Karpov em uma
só ocasião e ao mesmo tempo das partidas.
A( .,
.é_
"O objetivo dos óculos espelhados era simples:
privar Karpov de sua ocupação favorita de fitar
o adversáriou. (Kortchnoi)
Este "iogurte" estranho, que segundo Karpov
podia ter uma de duas cores, "dependendo da
quantidade de acidez no copo", também
incomodou Kortchnoi: ''Era interessante
observar como subrepticiamente eles traziam a
bebida por volta de duas horas de jogo e então
a entregavam para Karpov, que pulava da sua
cadeira e a detonava. Eu notei que após o sea
'iogurte' Karpov freqüentemente começava a
Viktor, o Terrível
jogar com a velocidade de uma metralhadora!
Não seria um mau negócio levar esse 'iogurte'
para uma análise química ..." Ora, quando um
dos participantes de um ,natch de Campeonato
Mundial é privado da igualdade de direitos e é
posto sob constante pressão, qualquer desvio
das normas pode incomodá-lo e parecer
perigoso e suspeito. Mais tarde, como veremos,
os ataques psicológicos por parte da equipe
soviética foram altamente efetivos.
Da quarta partida em diante, quando o D r.
Euwe já tinha ido embora de Baguio (o
representante da FIDE deixado no ,natch foi
Campomanes!), um lugar não muito afastado
do palco foi ocupado por uma "criatura
estranha", o posteriormente famoso Dr.
Zukhar. "Ele olhava fixamente para mim,
tentando atrair minha atenção", escreve
Kortchnoi. ''A ligação dele com Karpov era
inegável. Ele se sentava e ficava ali sem se
mover durante cinco horas - mesmo um robô
invejaria seu poder de concentração! - mas,
quando era a vez de Karpov jogar, ele
simplesmente ficava petrificado. Podia-se sentir
o pensamento colossal que se processava
dentro desse homem!". Kortchnoi pediu que
ele fosse retirado, mas Baturinsky não
concordou e daí por diante a batalha pró e
contra Zukhar passou a ser a intriga principal
fora do tabuleiro naquele match.
Enquanto isso, veio a 5ª partida, que sem
dúvida foi a mais interessante das que tinham
sido jogadas até então e tem importância para
que se possa compreender a lógica do rnatch.
Partida 29
V. Kortchnoi - A. Karpov
Mat&h pelo Can,psonalo M11ndial, Bag11il) 1978
s•partida
Defesa Nimzo-Índia E42
1.c4 êi:)f6 2.d4 e6 3.lz)c3 .âb4 4.e3 cS (nas 7ª
e 17ª partidas foi jogado 4 ... 0-0 5.~d3 -
partida 76) S.'~)e2!?
A velha Variante Rubinstein, revivida na
111
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
época por Kortchnoi, que demonstrou os
perigos que aguardavam as pretas. Foi devido à
resposta 5.'5Z:le2 que 4 ... c5 praticamente não é
jogado nos dias atuais.
5 ... d5
A 3• partida seguiu 5 ...cxd4 6.exd4 d5
(6 ... t2:le4 7.a3! Kortchnoi-Timman, Las
Palmas 1981) 7.c5 t2:le4 8.âd2 (8.g3!?
Kortchnoi- Sakaev, São Petersburgo 1997)
8 .. .ct:\xd2 9.\Wxd2 a5 (outros planos são: 9 ...b6
10.a3 .i.xc3 1l.lZ:lxc3 bxc5 12.dxc5 a5
13.~b5+ ~d7 14.0-0 0-0 15.b4 Reshevsky-
Najdorf, Dallas 1957; 9 ... t2:lc6 10.a3!
Kortchnoi-Spassky, 41 ° Campeonato da URSS,
Moscou 1973; 9 .. .!Yf6 10.a3! Kortchnoi-
Stanek, Pula 1997) l 0.a3 .i.xc3 l l.lilxc3 com
pequena, porém duradoura, vantagem para as
brancas, como foi confirmado na partida
Kortchnoí-Seirawan (Bad !Gssingen 1981).
A alternativa é 6 ... 0-0 7.a3 ile7, quando as
brancas têm a escolha entre o agressivo 8.d5
exd5 9.cxd5 :ãe8 (9... ~c5 10.b4 i.b6 11.lila4
Torre-Karpov, Londres 1984) 10.d6!? (no
começo dos anos 1980 foram tentados tanto
Hr.g3 como 10.~e3) 10...ii.fS l l.g3 ãe6
(l I.. .'i!fb6?! 12..i.g2 .i.xd6 13 ..i.e3
Kortchnoí-:Miles, Wijk aan Zee 1984) 12..áf4!
(não é claro 12..i.g2 E!xd6 Gligoric-Karpov,
Bugojno 1980) 12 ... tz:lh5 13 ..i.e3 (Kortchnoi-
Kindermann, Beersheva 1984) e o tranqüilo
8.g3, como Kortchnoi jogou contra A.
Geenfeld, (Beersheva 1997) e H. Olafsson
(Reykjavic 2000), ou 8.lilf4!? d5 9.cxd5 lilxd5
10.tz:lcxd5 exd5 1l.~d3 tz:lc6 12.0- 0! e
novamente as brancas têm uma leve e
duradoura vantagem (Krammnik- Leko, 9ª
partida do ,natch, Budapeste 2001, partida
rápida).
6.a3 .i.xc3+ 7.ct:lxc3 cxd4 8.exd4 dxc4
9.A xc4 ct:lc6 10•.i.e3 0--0 11.0--0 b6
Uma vez que as brancas, que como
compensação pelo seu "isolaní" têm a vantagem
do par de bispos, pretendem atacar na ala. do rei,
as pretas precisam controlar com segurança a
casa d5.
112
12.'f!d3
Mais tarde foj estabelecido que 12.'il:Vf3! it.b7
13 ~ d3 coloca para as pretas problemas mais
sérios, por exemplo:
1) 13 ... 'il:Vd7 (13 ... !!b8 14.~g3! Befuivsky-
Andersson, Bugojno 1984) 14.'i!fü3 tz:le7
15.Ag5! (é menos enérgico 15.Ei:adl Sadler-
Karpov, Mônaco, partida rápida 1998)
15 ... t2:lg6 l6..i.xf6 gxf6 e agora não 17.d5
A xdS 18Jladl !Yc7! com jogo agudo (ao invés
de 18 .. . Ei:adS?! 19.it.e4! Vaganian-A.
Petrosian, Tel Aviv 1982), mas 17.lhd l! & d8
18.lifel ou 18.i.e4 e a posição das pretas é
pior, por conta da fraqueza dos seus peões e da
constante ameaça de d4-d5;
2) 13 .. . Ec8 14.i!adl Ei:c7 15.'ili'h3 l:i::Je7
16..i.g5 lilg6 l 7.'ifVg3 E!d7 18.d5! (Kasparov-
Psakhis, 6ª partida do match, Múrcia 1990) ou
14 ... h6 15.!fg3 <i!?h8 16.'tib3 -tlg8?! 17.dS!
(Kortchnoi-Vyzhmanavin, Moscou 1994,
partida rápida) e em ambos os casos a ruptura
central assegurou às brancas uma iniciativa
poderosa.
12 ... i.b7 13.ã adl h6
"Um lance profi.lárico útil, antecipando a
ameaça de .'i:i'.g5. Entretanto, tem o defeito de
enfraquecer a diagonal bl-h7 e é na exploração
dessas fraquezas que as ações das brancas a
seguir são direcionadas." (Averbakh)
14.0!?
"Uma idéia relativamente nova, a qual já tinha
ocorrido em partidas de mestres ingleses: as

brancas preparam para mudar o bispo para h4
ou g3." (Avetbakh). Posso também mencionar
14 ..if4 li:Je7 15.!!fol li:Jfd5 l 6.~g3 li:Jg6
l 7.f3 !!c8 18.li:Jxd5 it.xd 5 19.it.a6 !!a8
20.!!cl h5 21.'it>t2 'ii'f6 22.~e3 ãfe8 23 ..ie5
½- ½ (Korcchnoi-C.Hansen, Biel 1992).
t4 .•.l2)e7 15. .tf2 li:Jfd5
"A forte casa d5 garante às pretas pers-
pectivas perfeitamente boas." (Tal). "Deve-se
con siderar l 5 ...~d7 e se 16 ..i.a2, então
16 . .. !!fc8 17 ..t.bJ êilg6 18.h4 tzld 5 com um
jogo igual." (Averbakh)
Pode parecer que Kortchnoi tivesse como
objetivo não tanco uma vantagem de abertura,
mas uma manobra complicada de luta em uma
posição o nde o equilíbrio estivesse algo
perturbado. Em dada instância, o conflito é um
pensamento pré-determinado: o "isoftml' e os
dois bispos contra o poderoso posto de d5 -
qual dos dois prevalecerá?
16.~,a2 li:Jf4
Aqui também Averbakh prefere 16 ... 'tlfd?.
"Após 16 . ..'f:lf5 as pretas teriam que contar
com 17.t:2)xd5 ~xd5 18.i.bl, o que da mesma
forma cedo ou tarde teria forçado ...g7- g6. O
Campeão Mundial não tem pressa em
completar o seu desenvolvimento e provoca seu
adversário a avançar os peões da ala do rei,
contando que o enfraquecimento da posição
das brancas poderá se revelar cedo ou tarde."
(fal)
17.'i!fd2 tilfg6 18.~ bl 'i!fd719.h4! (a única
forma de lutar pela iniciativa) 19 ...ã fd8 20.hS
li)f8 2 l.Sl.h4 f6
As pretas são forçadas a criar uma debilidade
em e6, mas sua posição permanece muito
sólida.
22.t:2)e4 (ameaçando i.xf6) 22 . ..Ci\dS (de
acordo com Tal, "um lance forçado e ao mesmo
tempo muito útil, consolidando a posição")
23.g4 ã ac8 24..tg3
As brancas dificilmente progredirão com seu
ataque e ainda, ao avançar os peões da ala do rei,
Kortchnoi criou certos problemas para seu
Viktor, o Terrível
adversário. E embora, com as d amas no
tabuleiro, a exposição do rei branco pareça
perigosa, o par de bispos suprime o contrajogo
das pretas, atacando à distância suas defesas e a
ameaça de armar a bateria l!Bd3+i.bl amarra o
cavalo na casa f8.
24 ....i.a6 25.gfel g c6
" Uma continuação do plano pretendido. O
agudo 25 ...f5?! teria se justificado
completamente após 26.tild6 f4 (26... 1Ic6! -
G.K). Entretanto, no caso de 26.t:2)f2! o cavalo
branco teria mudado para uma posição
favorável." (Tal)
26.!!cl êile7
Uma tentativa de colocar pressão no peão d4.
Se 26 ...S'J..b? a resposta seria 27.S'J..c2 (com a
ameaça de $.a4) e se 27 .. . f5, então 28.fi:Jt2.
Entretanto, Tal e Averbakh pensaram que fosse
mais preciso 26 ...i.b5!?.
27..!!xc6 l!fxc6 (seria pior para as pretas
27 ...t:2)xc6 28.êild6, pois se 28 ... ~c? seguiria
29.~f4) 28. .ta2 ifd7 29.t:2)d6
29 ... .tb7
Tal pensou que "a decisão de Karpov de se
desfazer do seu bispo de casas brancas é a única
correta, uma vez que 29.. .t:L)dS 30.~xd5 exd5
3 1.~e3 é desfavorável para as pretas, enquanto
após o natural 29 ...êilc8 há uma combinação
espetacular - 30.ãxe6! (mas não 30.dS? tilxd6
3 l .dxe6 V!ffe7 32 ..ixd6 !!xd6 33.'i!fxd6 !Yxd6
34 .e?+ ~h7 35.e8'i!f 'i!fg3+) 30.. .êilxe6
31.'i'e3 ~f8 32 ..txe6 l!Be7 33.êilf5 com
113
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
perigosas ameaças." Mais precisamente - com
uma vitória: 33 .. .'ti'e8 34.Ael ! e Ab4+.
Averbakh indicou a resposta correta -
3 2 ... l!fa4 !, mas acrescentou que "após
33.êi::lf5! as brancas têm um ataque muito
forte". Entretanto, se continuarmos essa varian-
te - 33 .. .l!fd l+!, torna-se claro que as chances
de ambos os lados são iguais: 34.~h2 'i!Hc2+ (e
não 35.$'h3? devido a 35 . . ..ifl+ 36.~h4
Wg2), 34.~el ~d3! (é mau para as brancas
35.Axc8? ã e8 36.1'.e6 $.c4) ou 34.'i!fel
:ãxd4! 35.êi::lxd4 l!fxd4+ 36.'i!ffl l!fdl+
37.<;t,;,g2 êi::le7 38.Af4 ~e2.
Também não alcançaria o objetivo 30.êi::lf5
em vista de 30 ...$'h8, e se 3 J.êi::lh4 - 31 ...fi:Je7
32.~f2 .ib7, enquanto se 31.êi::le3(xh6), então
31..JWxd4 32.l!fxd4 ã xd4 conduz à
simplificação e a um provável empate. Dessa
forma, 29 .. .êi::lc8!? teria feito as coisas mais
fáceis para as pretas, mas Karpov pode não ter
gostado das variantes agudas que surgiriam
então: supôs que o ataque das brancas poderia
ao final ser decisivo?!
30.~xb7 'i!fxb7 31.'i!fe3 <i!?h8 (na opinião de
Ave~kh, deveria ser levado em séria
consideração 3 J .. .lf::id5 32.l!fe4 i.fc6, não
concedendo a coluna e) 32.ã ct !
É claro, não 32.~xe6?! êi::lxe6 33.'~'xe6
'¾!fxD, com igualdade.
32.. /LJdS 33.'i!fe4 i.Vd7 (33 .. .ãc8!'?)
34.i.bt 'ti'bs
"Ao se encontrar em uma posição difícil, a
engenhosidade de Karpov procura contra-
chances. No momento, ele provoca o
enfraquecimento da ala da dama das brancas."
(fal)
35.b4
O ardiloso 35.Ad6? teria sido estancado
através de 35 ...l!fxb2 (35 .. .!!xd6?? 36.!t'h7+!
êi::lxh7 37.ãc8+ e mate) 36.ã c6 li:lc3 37.l:!xc3
l!fxc3 38.$.xf8 f5 39.gxfS ã xd4 ou
38 ...'i!fxd4+ 39.!fxd4 ãxd4 etc.
35...'fid7?!
"As pretas voltam com a dama para a defesa.
114
Aqui Velimirovic recomendou 35 .. .aS, mas
então é possível 36.~d6!, e depois de, por
exemplo, 36... fS (36...!fxd6?? 37. V8h7+! -
G.K) 37.gxf5 li:lf6 38.l!feS as complicações
favorecem as brancas." (Averbakh)
Ainda assim, Karpov estava errado ao não se
decidir pelo lance ativo 35 ... a5!, minando a ala
da dama do adversário. Após 36..1J.d6 ele tinha
a resposta simples 36 . . .@g8! e se 37 ..1J.xf8
@xf8, então 38.l!fh7? é ruim em vista de
38 ...l!fe2! 39.l!fh8+ @e7 40.l!fxg7+ ~d6
com um contra-ataque decisivo enquanto
38.'i!fr'xe6 êuf4 39.'i!.fc4 °iWg5 40.$.a2(g6) liJd5
conduz a um jogo complicado, onde o rei das
brancas está muito exposto e as pretas sempre
encontrarão xeques salvadores.
36.l!fd3 'i!fe7
Agora ... a7- a5 pode ser respondido por
b4-b5, onde a torre branca conquista outra casa
de invasão - c6.
37.©f.? f5!?
"Levando em conta o urunente apuro de
tempo do adversário, Karpov de forma abrupta
torna o jogo agudo," escreve Tal. "Jogo passivo
não teria sido promissor." De fato, após
37 ...l!fd7 38.b5 as pretas têm uma posição
difícil: os bispos são claramente mais fortes do
que os cavalos e as brancas podem cons-
tantemente ameaçar a vantajosa troca das
damas.
Com o lance jogado, as pretas quebram a
cadeia de peões ininúga e abrem o jogo,
obtendo contrachances definitivas associadas
com a posição exposta do rei branco. Dama e
cavalo e, especialmente, dois cavalos, são uma
força poderosa! Entretanto, as brancas também
adquirem alguns trunfos, tais como a casa eS
para seu bispo. Mas o principal é que , na busca
de um can1inho para salvar a partida, Karpov
muda de forma aguda a característica do jogo, o
que é especialmente desagradável quando o
adversário está no apuro de tempo.
38.gxfS exf5 39.ãel l!ff6 (antes do controle
do tempo - uma pequena armadilhai) 40..1J.e5

Como foi notado por vários comentaristas, o
tentador 40Jâe5? f4 41.!!5 fxg3+ 42.©gl
teria perdido por 42 ... li:lf4! 43.'i!fe4 ãxd4
44.ãxf6 l!dl +.
40...lih4+ 4I.Ag3 lif6 42.!!hl!
'~pós repetir lances para ganhar tempo no
relógio, as brancas continuam jogando pela
vitória. Deve-se admitir que elas têm funda-
mentos para isso." (Tal)
42...ltJh7!
O lance secreto. "A partida foi adiada em uma
posição difícil para Karpov. Até agora cu acho
dificil entender como aconteceu que nem os
meus segtµrtlos, nem os Grandes Mestres
;omalistas, nem eu próprio vimos o lance
secreto de Karpov. O lance foi realmente forte
e no tabuleiro tive que gastar ao redor de
quarenta minutos para alinhar um plano. Pouco
depois do reinício, eu já me encontrava em
~ era apuro de tempo.'' (Kortchnoi)
"Como ficou claro mais tarde, no campo de
Kortchnoi foi considerado principalmente
42.. .lcie6 e 42 ...'iVgS." (Tal). Mas 42 ...lz:Je6? é
fraco em vista de 43 ..àe5 li:ldf4 44.ti'xf5,
'ffllcendo, enquanto 42...lig5 43.~4 l!fxh5
(43...li:Jf4 44.'iifl) 44.lixf5 lixf5 45 ..i.xf5
(Averbakh) 45 .. .ã e8 46..âg3 leva a um final
que é difícil para as pretas.
43..àeS 'fi°g5 44.ifxfS lid2+ 45.@g3 ~ hf6
46.llgl ã e8?!
É cliãcil dizer o quanto foram profundas as
análises do adiamento, uma vez que 46...lie3!
Vlktor, o Terrível
47.~g2 (47.Wh2 'i!Hf2+) 47 ...'i!fxa3 (47 ...li:le7
48.'i!fd3!, tendo como objetivo a troca das
damas) 48.b5 Wb4 teria dado às pretas uma
posição muito mais defensável do que a da
partida.
47.il.e4!
Esse lance tomou de Kortchnoi quase todo o
seu tempo restante. Se 47.'~h3?, Karpov
planejava 47 ...ã xe5! 48.dxe5 li:Jf4+ 49.<it>g3
li:l4xhS+ 50.©h3 Gz.Jf4+ com um empate.
47...~ e7 (47...'i!fe3 48.'~g2!) 48.'i'h3 !!c8
·~pesar da igualdade material, o final após
48 ...ã f8 49.!tg2 li:Jxe4+ 50.S'h2! li:lg5
5 I.ãxd2 lz::lxh3 52.Wxh3 ã xf3+ 53.Wg4 é
desfavorável para as pretas.'' (Tal). As brancas
também podem considerar 49.Wh4!? 'i!fa2
50.Axf6 ãxf6 5 1.i¼'g3 '%!Yg8 52.'i!fe5 l!ff8
53.©h3, vencendo.
·~ tentativa de ganhar um peão - 48... lig5+
49.Wh2 t!fr'xh5 teria levado a um final difícil
para as pretas após S0.t!fr'xh5 Gz.Jxh5 51.l::ic l. O
Campeão Mundial também se empenha em
ativar a sua torre." (Averbakh). Os próximos
oit0 lances para o controle de tempo foram
feitos em ritmo de relâmpago por ambos os
jogadores.
49.@h4 ãcI 50.ti'g3
"Entra em consideração 50.'i!fg2, trocando as
damas." (Averbakh). Isso é colocado de forma
muito branda! Com 50.'i!Vg2! as brancas teriam
conquistado um fina] vencedor: 50 ... 'i!ixg2 (a
respeito de so...'i!fg5+? veja o comentário ao
próximo lance) 5U!!xg2 fill+ (5 1. ..lâal
52.ãc2!) 52.l=lh2 Gz.Jxe4 53.fxe4 (mais simples
do que 53.ãxhl Gz.Jf2! 54.~g3 ! li:lxb ]+
55.<.!?g2) 53 ...l:!el 54.@g4 !txe4+ 55.Wf3 ã e l
56.l::ig2 lz:Jf5 57.Wf4 lâfl + 58.@e4 Wg8 59.d5
Wf7 60.d6 etc.
Agora, entretanto, nem as damas ou as torres
são trocadas, e as pretas mantêm esperanças de
salvar a partida. Mas essa ainda não foi a última
careta do apuro de tempo...
50...ãxgl
'~ tentativa de ganhar a qualidade -
115
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
50.. .i!i/gS+? 51.i!i/xg5 hxg5+ 52.ãxg5 Ethl+
53.~g3 ~ gl + 54.~f4 ~fd5+ 55.li.xdS
l2:lxd5+ 56.Wf5 ~e7+ teria perdido por
57.'i!te6 lâxg5 58.@xe7 lâxhS 59.f4, quando o
peão d não pode ser parado." (Tal)
51.i!i/xgl @g8?! (era mais resistente
51...i!i/a2) 52.ii'g3?!
Tal não fez comentário nesse ponto,
enquanto Averbakh somente notou que "se
52.li.xf6 há a resposta 52 ... ii'f4+''. Entretanto,
após 53.Wh3 'i!fxf6 54.ti'g4! as brancas têm
uma grande vantagem (54...lllxd4? 55.li.h7+).
Além disso, seria muito forte 52.dS, uma vez
que os peões são tabu: 52 .. .li:lexd5? 53.~xd5+
~xd5 54.Axf6.
wn
52.•.
"Seria necessário 52...Wffi, embora mesmo
após isso a posição das pretas tivesse
permanecido angustiante." (Tal). Assim, após
53.il.xf6 gxf6 54.d5 f5 55.d6 fxe4 56.dxe7+
Wxe7 57.~c7+ as brancas chegam a um final
de dama com boas chances de vitória.
53.Ag6+ ~e6??
Inesperadamente errando em direção a mate
em poucos lances. Se 53 ...liJxg6+?! 54.~xg6+
Wf8(g8) 55.lllg3! /~f7 56.~xf6 (56.b5
i!ilcl !?) 56 ...gxf6 57 .i!i/c7+ We6 58.'i!fc6+
r;i;e7 59.'i!Vd5 as pretas têm um difícil final de
dama, mas após 53 ...r;i;f8 elas teriam mantido
contrachances em vista da posição aberta do rei
branco (se 54.@b3, então 54 ... i!i/cl).
54.ii'b3+ li!td5
116
S5..âe4+??
Com a seta quase caindo, Kortchnoi não vê
um mate forçado, o qual lhe teria permitido
abrir o marcador no match: 55.li.t7+ 'it>c6
56.l!:i'e6+ ~b7 57.ilxe7+ etc.
55...~xe4 56.fxe4+ ~xe4 (foi alcançado o
segundo controle de tempo) 57.lli'g4+ <it>d3
''Aqui Kortchnoi pensou por 40 minutos. A
colocação ativa de todas as peças pretas
permite-lhes esperar pelo empate." (Tal)
58.'i!i'O+
Na opinião de Tal, seria mais perigoso 58.d5,
após o que a "única" forma de salvar a partida
seria 58 ... g5+ 59.hxg6 %!fel+ 60.'i.fg3+
'i!fxg3+ 61.Axg3 lL\xg6+ 62.<it>h5 ~f8,
neutralizando o peão d (digamos, 63.@xh6
'it>c4 64.r;i;g7 ~d7 65.d6 a5 66.bxaS bxa5
67.rjJfl ~ d5 68.'it>e7 $'c6 69.a4 ~b6 70.We6
~ d7, com igualdade). Mas Averbakh indicou
um outro caminho: 58 .. .ifel + 59.tfg3+
"i!fxg3+ 60.Wxg3 lL\xd5 6I.li.xg7 r;i;e4
62.Si.xh6 c2:lf6 63.Wh4 Wd3! "e ao entregar o
seu cavalo pelo peão hS, as pretas transpõem
para um final aproximadamente igual ao da
partida."
58...'i!fe3
Como foi notado pelos comentaristas,
58.. .<.Y;>c4 teria levado a um empate com as
damas no tabuleiro: 59.tff7+ Wd3 60.!fxe7
't!fel+ com xeque perpétuo. Também é possível
jogar 59 ... c2:ld5 60.li.xg7 'il¼'g5+ ou 60.'i!fxg7
Wel + 61."i!fg3 't!fe4+ etc.
S9.Wg4
Não seria melhor 59.i:fxe3+ r;i;xe3, • por
exemplo: 60.Wg4 We4! 61.~xg7 ~f5 62 ..âf8
~e3+ 63.'i??h3 ~f5, com igualdade (Averbakh)
ou 60.d5 g5+! 61 .<;!?g4 ~xd5 62.i.g7 Wd3
63.Axh6 c2:lf6+ 64.~xg5 l2Jxh5 65.<it'xh5 Wc4
66..tf8 Wb3, eliminando os peões brancos.
59...i!i/xO+ 60.~xO g6 61.Jld6 ~fS?!
Karpov literalmente tropeça a um passo do
empate: 61...gxh5! 62.Axe7 'ititxd4 e
...~c4-b3. Agora as brancas conseguem
devastar a ala do rei inimiga, mantendo um dos

seus peões na ala da dama.
62.@f4 lLJh4 (62 ...~xd6? 63 .bxg6 ~e8
64.d5, vencc::ndo) 63.$>g4 gxhS+!
O cavalo tem que ser entregue, pois após
63 ...~fS? 64.hxg6 ~xd6 65.@f4 novamente
ele não poderá parar os dois peões passados.
64.C&xb4 <i!>xd4 65.~ b8
"De outra forma, o empate é conseg,.údo
muito simplesmente." (Averbakh). "Um final
curioso, no qual as pretas têm que ser
extremamente cuidadosas." (Tal)
65 ... aS 66.~ d6 <&c4 67.© xbS a4 68.@xh6
Wb3!
Forçando as brancas a entregarem seu bom
peão b e ficar. com seu mau peão a3. As pretas
teriam perdido após 68 ...bS? 69.C.!.'g5 $>b3
70.@fS @xa3 7 l.~ e5 ~ b3 72.$>d5 a3
73.W<:5 a2 74.~es.
69.bS ~c4 70.'i&g5 $>xb5
Foi atingido um final teoricamente empatado,
onde as brancas têm um bispo a mais e um peão
de torre com a casa de coroação na cor errada.
O método de conquistar um empate em tais
condições (com um peão em a3 contra peões
cm a4 e b1} foi analisado em detalhes pelo
Grande Mestre Averbakh em sua série de finais,
publicada pela primeira vez em 1956.
71.'iti'fS ~ a6 72.<i!>e6 <i!>a7
"No momento, o reí preto não pode
abandonar seu canto. As brancas venceriam se
fossem capazes de afogar o rei e desse modo
força.rem o avanço do peão b. Mas elas não são
apazes de conseguir isso." (IaJ)
73.'i&d7 $>b7 74.1l.e7 @a7 75."&c7 <i!>a8
76.~ d6 @a7 (76 ...bS? 77.~cS, vencendo)
77.'i&c8 ~ a6
Mas não 77 .. /J;;aS? 78.1lb8 bS 79.@c7,
forçando 79 ... b4 80.axb4 a3 81.bS a2 82.b6 e
83.b7 mate. Esse método vencedor , apontado
por Horwitz (1885), também foi dado por
Euwe em Pmctiscbe Schaoklessm (1927). Mas
f.alando de modo geral, esse método de
afogamento do rei é conhecido desde tempos
. ..
1memonais.
Viktor, o Terrível
78.$>b8 bS
O último lance de peão. "Levando-se em
conta a regra dos cinqüenta lances, há um
suspiro de alivio na sala de imprensa: a partida
não se concluirá antes do 128° lance..." (Tal)
79.1lb4 (estancando a ameaça de 79 . .. b4
80 ..11.xb4 @b6, com igualdade) 79 .. . @b6
80.<it'c8
80.. .~ c6!
"Somente ao ser movimentar para fora do
canto as pretas poderão salvar a partida."
(Avcrbakh). Após 80 ...<J;i>a6? 81 .'iti/c7 @a7
82.1lc5+ 'i&a6 83.'it>c6 ©a5 84.~e3 ©a6
85.A b6 as brancas vencem.
81 .@dS @dS
"Por mais de quarenta lances as brancas
tentam em vão mudar o conhecido veredicto da
teoria - Empate! Mas, ao mesmo tempo, as
pretas devem atuar muito cuidadosamente: seu
rei está constantemente à beira da zona de
perigo." (Tal)
82.Ci!?e7 @e5 83.$117 @d5 84.Wf6 @d4
85.@e6 ~ e4 86.kf'S Wd4 87.Wd6 @e4
88.i.g7 @f4 89.CBe6 <i!>IJ 90.@eS Wg4
9l.i.f6 '&bS
Aqui a partida foi adiada pela segunda vez e
concluída somente após a próxima partida, a 6ª
(Abertura Inglesa, empate no 23º lance). Ainda
é necessário algum cuidado de Karpov e junto
com seus treinadores ele sem dúvida refrescou
sua memória de análises clássicas, demons-
trando que o rei preto não pode ser colocado
117
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
para fora.
92.Wf'S (o lance secreto) 92...'i!i>h6 93..i.d4
Wh7 94.Wf6 Wh6 95.A e3+ <i&h5 96.<i&fS
<i&h4 97.Ad2 Wg3 98.i.gS wo 99.1l.f4 Wg2
t00.A d6 oo 1ot..ih2 <i!tg2 102.Ac7 <i!tf3
l 03.A d6 We3 104.WeS 00 105.<i!i>dS c.!?g4
106.WcS Wf5 107.Wxb5 We6 108.Wc6
É claro, não 108.Ah2 @d7 109.@xa4
Wc6(8) e .. .Wb7-a8, com empate.
108...'i!tf6
Um final similar (com um peão a3 contra um
peão em a4) foj analisado por Kling e Horwitz
(1851), Berger (1921) e pelo teórico soviético
Rauzer (1928), que introduziu a regra da zona
de empate para o rei preto. E Karpov, seguindo
essa regra, conseguiu empatar.
109.Wd7 @g7 110.Ae7 c.!?g8 Ul.c.!?e6 <!tg7
112•.i.cS @g8 113.@f6 @h7 114.@17 @h8
l15.i.d4+ c.!?h7116..i.b2 'i!?h6 117.<.t>g8 <i!tg6
118•.i.g7 @fS 119.@17 @gS 120•.1l.b2 @h6
121.Acl+ Wh7 122.i.dl @h8 123.1l.c3+
Wh7 t24 •.i.g7 ½-½
Afogado! De acordo com testemunhas,
quando o empate rof finalmente registrado,
Baturinsky trocou beijos com Campomanes na
frente de todos!
"Inicialmente verifiquei a exatidão da defesa
de K.arpov em um final difícil para ele", explica
Kortchnoi, "e então, percebendo que ele tinha
aprendido bem o 'dever de casa', me permiti a
satisfação de afogar o Campeão Mundial.
Primeiramente, ao agir assim, não precisava lhe
oferecer o empate; depois, embora o
afogamento seja normal em uma partida de
xadrez, nunca deixará de ser uma situação
humilhante. É engraçado, mas é um fato! É bem
possível que, depois disto, Karpov tenha se
sentido ofendido".
Seja como for, antes do irúào da 7ª partida
Karpov não se levantou para o aperto de mão e
somente cumprimentou Kortchnoi "com um
sorriso repreensivo" quando o seu adversário se
sentou. Kortchnoi relata: "Em um momento,
também me levantei... Agora vejo com clareza
118
que este tinha sido um 1ru.c10 sutilmente
premeditado para o espetáculo antes da
próxima partida".
Mas a 7ª partida, em sua opinião, se tornou a
primeira dentre várias partidas extraordinárias
nesse match. O desafiante conseguiu uma
vantagem óbvia na abertura, ganhou a
qualidade, (cf. comentário sobre o 8º lance da
parti.da 76), mas a partir do 27' lance, ambos
adversários começaram a ser afetados pelo
iminente apuro de tempo. E por algo mais!
Kortchnoi escreve: "Temendo o psicólogo
soviético, joguei a partida instalado em um
abrigo. Ficava sentado não no palco, mas na sala
de descanso diante de um monitor. Só quando
Karpov fazia seu lance é que eu, com má
vontade, ia para o tabuleiro, não querendo
imitar o comportamento de Spassky no match
que tinha disputado comigo. Por não estar
acostumado a isso - normalmente fico sentado
diante do tabuleiro cinco horas seguidas -
joguei longe do meu melhor."
A posição de adiamento já parecia sem
esperanças para Kortchnoi, mas junto com
Murey, ele achou um caminho nada simples
para o empate. No dia seguinte, o Campeão
apenas lançou um olhar para o lance anotado
do seu adversário e imediatamente ofereceu o
empate. Foi uma atitude que despertou novas
suspeitas no campo do adversário: ''Por que
Karpov não quis conferir nossa análise de casa?
Será que ele já sabia disto antes de recomeçar a
partida?"
Outra surpresa desagradável aguardava
Kortchnoi na 8ª partida. Antes do irúcio, ele,
como de costume, estendeu a mão para o
adversário, mas este respondeu logo que não ia
mais apertar a mão de Kortchnoi "devido ao
seu comportamento inadequado". Surpreso,
Kortchnoi voltou-se para Schmid, que estava a
seu lado: ''Você entende o que está
acontecendo?" (de acordo com as regras,
Karpov era obrigado a avisar antes o árbitro). O
árbitro, constrangido, murmurou que isto podia
ser esperado, e acionou os relógios. Kortchnoi

estava fora de si: "Que espalhafatosa, pérfida
violação do acordo! O tiro acertou o alvo:
joguei como uma criança."
An tes do início da oitava partida, de forma
inesperada, Karpov recusa o aperto de mãos
de praxe ( Bagulo 1978)
Seguiu-se, então, uma abertura imprevista: 1
e4 eS 2.~f3 ~ c6 3.iLbS a6 4 . .1l.a4 fõf6 S. 0--0
~xe4 6.d4 bS 7.iLb3 dS 8.dxeS .1l.e6
9.li:ibd2!? (em vez do cosrwneiro 9.c3 .1l.c5 -
pt,rtidas 35 e 75) 9..•/õcS 10.c3, e depois de
pcnsafdurante 40 minutos (!), Kortchnoi fez o
lance "secundário" IO...g6?!. A 10• partida
seguiu 10...d4 1 1.-tlgS!? - a notável novidade
de lgor Zaitzev (volume 2, partida 118') e as pretas
conseguiram o empate com dificuldade. A
n:sposta 10... g6 foi inesperada para Karpov,
mas ele encontrou um forte sacrifício de peão:
11.1!fe2 Ji..g7 12.fõd4! ~ xeS?! 13.f4! li:ixeS?!
13.f4 tz::lc4 14.fS gxfS 1S.li:lxfS e já no 28°
lance, as pretas desistiram. " Karpov conduziu
bem o ataque. Em um torneio de primeira
categoria uma partida assim teria uma nota de
2Valiação bastante alta." (Kortchnoi)
No entanto, o Campeão não conseguiu
manter o êxito. Depois de dois empates, o seu
:adversário igualou o escore na 11ª partida,
v:uendo-se de um esquema raro: 1.g3 c5 2.Ji..g2
~6 3.e4 g6 4.d3 lJ..g7 S.f4 d6 6.fõf3 -tlf6
7.0--0 0-0 8.c3 etc. N o 26° lance, as pretas
comete.raro um erro gro~sciro e no 51 ° lance::
desistiram. "Eu tinha uma boa posição, mas de
repente ocorreu uma falha ... De fato, há dias em
que a apatia ataca e tudo parece dar errado."
{Karpov).
Viktor, o Terrível
Kortchnoi comenta: ''Talvez Karpov esteja se
referindo ao fato de que seu pobre psicólogo,
após concordar em passar para a 7ª fileira, tenha
sido incapaz de ajudar o Campeão. Ou, algo
parecido nesse mesmo campo? O fato é que
para a 11ª partida meu psicólogo V.Berginer
chegou e, desconhecido por todos, sentou-se
tranquilamente na s• fileira... O adversário não
cometeu mais o mesmo erro. Rompendo o
acordo de cavalheiros verbal, Zuk.har, no início
da partida seguinte sentou-se na quarta fileira.
Meu psicólogo foi logo identificado e eles,
usando sua vasta superioridad e numérica,
'cercaram-no de atenções' e por isto ele não
conseguiu mais trabalhar direito. Ficou bem
claro para mim que, em tais circunstâncias,
Berginer não seria ú til, e dessa forma, foi
embora depois da 14ª partida".
Na 12ª partida, Kortchnoi escapou em um
final ·um pouco pior. E a 13ª partida, em minha
opinião, teria se tornado a melhor do match, mas
infelizmente... As descrjçõcs desta partida
dramática e da seguinte, a 14ª, são apresentadas
no capítulo sobre Karpov (partidas 74 e 7S).
Depois de obter duas vitórias seguidas, o
campeão finalmente conseguiu a contagem de
3-1. Kortchnoi escreve: "A partir desse
momento, os soviéticos, com ajuda de
Campomanes, começaram a armar um esquema
de vig11ância policial na sala. Foi exigida a
comprovação de identidade de quem quisesse
comprar ingresso. Os guardas de segurança
vigiavam rigorosamente as pessoas 'suspeitas'.
Para não ser distraído, Zukhar estava sempre
rodeado de seus próprios homens".
D urante todo o mês de agosto, pairaram
sobre Baguio nuvens de tempestade: o comitê
de apelação se reunia constantemente - entre as
delegações das partes em disputa dava-se uma
troca de comunicados hostis e minuciosos
pedindo explicações da recusa do aperto de
mãos, do papel do D e. Zukhar, indagando quem
era ele, se era psicólogo ou parapsicólogo,
discutia-se a " propaganda soviética", da parte
de Pctra Lecuwerick, se ela ónha direito de
119
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
representar a Suíça e assim por diante. A
atmosfera do match estava supera9uecida!
Festa com bolo por ocasião da vitória do
Campeão, vendo-se o assessor de imprensa
Roshal, Karpov, o Coronel Edmonson e o
Dr. Zukhar
Durante a 15º partida, Karpov "introduziu
um novo tipo de armamento na batalha":
começou a balançar-se na poltrona. Kortchnoi
escreve: "Poltrona cômoda; enquanto o jogador
pensa no ~ce que vai fazer, o seu adversário
começa a se balançar! Retirei-me da mesa e,
imitando a 'moda de Spassky', fui estudar a
posição no tabuleiro mural". Avisado por
Schmid, Karpov, respondeu: 'Ele se incomoda
com isto; eu me incomodo com seus óculos
espelhados'. Dentro de uns quinze minutos, o
balanço parou; a posição era de empate...." E a
16ª partida também terminou com empate,
9uando pela primeira vez no match foi
empregada a Defesa Francesa.
A 17ª partida foi trágica para Kortchnoi. Ao
entrar, ele chamou Campomanes e exigiu que
Zukhar voltasse para a 7" fileira. Campo já ia
responder: "Mas foi decidido pelo tribunal...",
quando Kortchnoi, agitando os punhos, não
esperou a resposta e disse: "Ou você o retira em
dez minutos ou eu mesmo resolvo". E
Kortchnoi escreve: " Campomanes, muito
atrapalhado, reuniu-se numa roda com os
soviéticos. Karpov chegou e, vendo que meu
relógio já estava marcando o tempo, saiu com
um sorriso irônico e foi para a sala de descanso.
120
O assunto não lhe dizia respeito. Como se não
fosse ele 9ue tivesse perdido a cabeça, quando
Schmid tentou e.x-pulsar Zukhar da sala na 9ª
partida".
A exigência de Kortchnoi foi atendida
rapidamente; Campomanes esvaziou as seis
primeiras fileiras da sala e Zukhar teve que
ocupar a 7ª fileira (aliás, nesse dia o jogo estava
sendo assistido por cerca de trinta turistas
soviéticos). Escreve Kortchnoi: "Não foi nada
fácil para mim conquistar esta pequena vitória.
Perdi muita energia e onze minutos de um
tempo precioso! É possível jogar uma partida
séria e intensa depois de passar tanto
nervosismo? É muito difícil. Karpov estava
perdendo, mas depois... Depois, comecei a
cometer erros graves e logo no início perdi uma
vitória óbvia e, em seguida, em apuro de tempo,
---
consegui levar um mate ridículo em uma
posição de empate!" (partida 76).
( '
O chefe da delegação soviética, Coronel
Baturinsky, vibra de satisfação após a vitória
de Ka rpov na 17ª partida, que levou a con-
tagem para 4 - 1 a favor de Karpov
A contagem era de 4-1 a favor de Karpov. O
resultado do match parecia já estar decidido.
Kortchnoi escreve: "A minha situação era
desesperadora. Pedi meus dois últimos time-011ts
e parti para Manila com Petra Leeuwerick, para
ao menos descansar e me refazer". Em Manila
ele deu uma emrevist.a coletiva na qual
informou sobre o pacto "dos soviéticos com
Campomanes", dizendo também que a
novidade "enxadrística" soviética na pessoa de
Zukhar tinha sido preparada com antecedência
 Viktor, o Terrível

para o 1natch com Fischer. Kortchooi tinha crime a ela atribuído. Aqui ocorreu rudo ao
exigído que fosse instalada uma divisória de contrário. É evidente que caso fossem
vidro entre os jogadores e os espectadores, criminosos perigosos ou verdadeiros terroristas,
dizendo: "Para que o match não se torne por dinheiro nenhum seriam libertados".
impossível é preciso dividir o centauro com a
cabeça de Zukhar e o corpo de Karpov".
Mas Stean e Murey o persuadiram a continuar
o 1t1atch. Keene e Baturinsky assinaram um
acordo de "cavalheiros" pelo qual Kortchnoi
retirava a exigência da divisória de vidro entre
os espectadores e os jogadores e o uso de
óculos espelhados ("que atrapalhavam a vista de
K.arpov''). Por sua vez, Karpov concordava que
"o Professor Zukhar se sentasse na parte
reservada aos membros oficiais da delegação
soviética, da 18ª partida até o final do match".
As três partidas que se seguiram terminaram
com empate e na 20ª, em que K~tchnoi usou
pela primeira vez a defesa Caro-Kan, aconteceu
um milagre: Karpov conseguiu uma posição
absolutamente vencedora, mas fez um lance
secreto secundário (depois de ter pensado meia
hora!), deixando de obter a vitória que já parecia
certa na continuação.
Um novo desvio na disputa começou com a
19ª partida. Kortchnoi escreve: "Obtive dois
assistentes voluntários, gratuitos, dois iogues, os
americanos Stephen D wyer e Victoria
Shepperd. Bastou que eles ficassem na sala na
posição de lótus, que aconteceu algo com
Zukhar. Ele tampou os olhos com um lenço e
depois de algum tempo se retirou da sala até o
final da partida." Na véspera da 21' partida,
outra vez, o tribunal de apelações tornou a se
reunir. Kortchnoi diz: "Campomanes informou
que os meus iogues, membros da organização
'Ananda Marga', tinham sido acusados do
assassinato de um diplomata indiano, mas Segunda metade do match: os iogues
Dada e Didi ensinam sua arte a Kortchnoi
tinham pago fiança e foram soltos, por falta de
prova. Como eram possíveis criminosos, não Mesmo assim, o tribunal afastou os iogues da
deveriam ter acesso ao local dos jogos. Assim sala e depois também do hotel em que
era o modo de ver dos soviéticos. Em todo o Kortchnoi estava hospedado. Ele ficou muito
mundo vigora o princípio da 'suposição da irritado ao saber que seus novos assistentes, que
inocência': a pessoa não pode ser tratada como eram diplomados pela Universidade de
criminosa, enquanto não houver prova do Harvard, Dada e Didi, segundo o seu nome

121
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
oriental, foram obrigados a assinar um "termo
de responsabilidade", comprometendo-se a não
saírem da casa de campo em que se
encontravam. Como era de esperar, Kortchnoi
fez outro protesto...
Na 21 ª partida, novamente como na 9ª,
ocorreu a variante do Gambito da Dama, com
5.$.f4, que deve sua subseqüente popularidade
a Kortchnoi. Em todas as três partidas do match
em Baguio, disputadas com esta variante,
Karpov teve que conduzir uma defesa difícil.
Na 2l3 partida, ele tentou solucionar o
problema recorrendo a um arriscadíssimo e
inesperado contra-~taque na abertura,
implicando sacrifício de material. Um
estratagema deste tipo poderia muito bem dar
certo na era anterior aos computadores e, além
do mais, Karpov mantinha firme a iniciativà no
f!Jatch, ao passo que o próprio adversário
reconheceu que estava exausto.
No entanto, o adversário disputou a partida
com impressionante sangue-frio, chegando a
afirmar posteriormente que esse tinha sido sua
maior conquista no match. Vale dizer que, com
exceção do próprio Kortchnoi, este duelo ao
mesmo tempo complicadíssimo e fascinante
tinha sido comentado várias vezes por muitos
comentaristas de renome: Tal, Larsen,
Kholmov, Filip, Paooo, Pachman, Keene,
Timman, Dvoretsky...
Partida 30
V. Kortchnoi - A. Karpov
Match pek CampeonatQ M11ndia4 Bagllio 1978
21• partida
Gambito da Dama DJ7
1.c4 '2)f6 2.12)c3 e6 3.li::if3 d5 4.d4 !l..e7
5..if4
Em comparação com 5.~gS, esse lance, nas
palavras de Kortchnoi, "é menos estudado e dá
espaço para a imaginação criativa dos jogadores
e (especialmente!) dos seus treinadores." Nos
anos 1960-70, o hlnce 5 .i.f4 foi jogado por
Petrosian ocasionalmente e tam bém pelos
122
jogadores húngaros Portisch, Forintos e Farago.
5 ... 0--0 6.e3 c5 7.dxc5 ~xc5 8.'i!fc2 12)c6
9.!ldl (após 9.a3 'tifaS as brancas mantêm uma
escolha entre 10.ã dl, o modesto 10.gcl e as
continuações mais ambiciosas I0.~d2!? ou
10.0-0--0!? - volume 4, partida 41) 9 ... \Wa5
10.a3
10... g e8?!
"Outra novidade da formidável equipe
soviética. E>,.1>lorando sua leve liderança no
desenvolvimento, as pretas tentam construir um
ataque ao rei branco preso no centro. D eve-se
reconhecer o mérito de Karpov. É extre-
mamente raro que ele crie algo de novo no
tabuleiro. D e acordo com rumores, o lance de
torre a e8 foi fruto da imaginação de uma das
pessoas do seu quartel-general - o Grande
Mestre Igor Zaitsev," comenta Kortchnoi, não
sem veneno.
A linha principal ainda é 10 ... ~e7 1 l.~ d2
e5 (quando, em 1979, inspirado pelas idéias de
aberturas de seus adversários, Karpov utilizou
essa variante com as brancas contra Spassky,
esse respondeu l 1...~d7?! e não conseguiu
equilibrar) 12.i.g5 d4 13.~b3 e aqui há uma
grande quantidade de teoria, cuja base foi
estabelecida em Baguio:
1) 13 ... l!fd8 l4.i.e2 h6 (l4 ... ~g4!?
Petrosian-Filip, Torneio de Candidatos,
Curaçao 1962; Portisch-Spassky, O limpíada de
Havana 1966) l 5.~xf6 i,xf6 16.0-0 ~e6
(16... g6!?) 17.~c5 Wie7 18.4Jxe6 l!exe6

19.tz:ld5 com uma ligeira vantagem para as
brancas (9ª partida).
Mais tarde ficou claro que é mais forte
14 .. .a5! - a história dessa variante inclui as par-
tidas Farago-Geller (Novi Saci 1979),
Kortchnoi-Hübncr (6ª partida do matth, Mera-
no 1980/81), Portisch-Beliavsky (Moscou 1981),
Ko rtchnoi-K arpov (1 1• partida do matcb,
Merano 1981) etc., assim como a partida de
simultânea AJ.t;erman- Kasparov (fel Aviv 1998);
2) 13 .. .Wb6 (uma continuação mais tediosa,
após a qual as pretas experimentam certas
dificuldades técnicas) l4.~xf6 it.xf6 15.tz:ld5
9d8 16 ..1l.d3 g6 17.exd4 tZ)xd4 18.t2Jxd4
cxd4 l 9.tz:lxf6+ t!!xf6 20.0--0 .1l.e6 2Uí fel
(2 l.f4!? Forintos) 2l...ãac8 22.b3 llfd8 e na
final Karpov conquistou um empate (23ª
partida).
11.tild2! (com a ameaça de b2- b4; é ruim
para as brancas l l.b4 tZ)xb4 ou I l.lz:ie5 d4!)
11 ...eS 12 •.t..gS lz:id4
I sso é o que compreende a idéia principal das
pretas. ~'Tendo destruído sua base no centro,
elas são o brigadas a continuar no estilo de
sacrifkios. Após 12 ...d4 13.~b3 'tifb6 14.tZ)a4
Ab4+ 15.axb4 !Vxb4+ l 6.li.)d2 as brancas
iepulsam o ataque". (Kortchnoi). Assim
16...dxc3 17.fxe3 tZ)d4 não funciona, devido a
18.exd4 exd4+ 19.@f2, vencendo."
(Dvoretsky)
13.'ilibl!
A única decisão correta! O covarde 13.lia4
1fxa4 14.t2Jxa4 li.)c2+ 15.Wc2 t2Jd4+ 1 16.'~el
teria levado somente a um empate. "Uma vez
que Karpov tinha jogado os primeiros 12 lances
em meio minuto, eu não desejava checar a
correção do sacrifício, principalmente porque
um Grande Mestre com a minha idade e
experiência freqüentemente determina a
conveniência de um sacrifício em um relance. A
posição após 13.exd4 exd4+ 14.0 e2 t2Je4
l 5.b4 ~f5 não me atraiu e então eu não me
incomodei em procurar nada adiante."
(Kortchnoi). De fato, 14 ...t2Jg4! (com a mesma
Viktor, o Terrível
ameaça de ...d4-d3 e ....àxf2 mate) 15.~h4 d3!
16.'tifxd3 lzJe5 17.'ilafxd5 it.f5 e o afogamento
com peças não é capaz de auxiliar o seu rei
(18.b4 i..xb4 etc.).
13...~ fS ( 13 ... ~g4? 14 ..àxf6 gxf6
15.li.)xd5, vencendo) 14.~ d3 e4? !
Pata explorar a energia da torre em e8, as
pretas gostariam de abrir a coluna e. Entretanto,
elas tinham uma alternativa mais tenaz:
l4....t..xd3 15.'i!fxd3 lue4 16 .li:lcxe4 dxe4
17.'i!fxe4 li:lb3 18.1Wc2 li.)xd2 19Jlxd2
(19.!i'xd2 "ti'a4! com contrajogo pelo peão,
mas não a alternativa de Tal, 19.. .~xd2+?!
20.!!xd2 h6 21..ith4 g5 22.~g3 f5 devido a
23.!!d5 !) 19 ... f6 20.~xf6 ! (se 20.Ab4 então
seria aceitável 20 .. .it.f8(e7) Maria) 20 ... gxf6
2 1.b4 'ti'xa3 22.bxc5 l!fal + 23Jâd l 'i!fa5+
24.@e2 ou 22 ... 'i!fxc5 23.0--0 lâad8 24 .Sfdl
e, em vista da posição enfraquecida do seu rei,
as pretas se mostram um pouco pior.
As brancas enfrentam um problema difícil.
Uma coisa é clara: após o imediato 15..àxf6?
exd3 a torre em e8 começa a operar e as pretas
conquistam excelente contrajogo: 16.~xd4
~ d4 17.li:lxd5 bS etc. Isso significa que o
bispo deve ser movido de d3. Mas para onde?
15.~c2!?
Mais uma vez Korcchnoi fez um comentário
notável: "Quantas vezes tenho sido censurado
como um 'caçador de peões', por ter como
objetivo capturar material a qualquer custo, por
123
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

mais terrível que tenha sido o ataque que tive
que suportar por esse material! Mas aqui eu me
abstive de 15.il.fl , que teria dado às brancas
vantagem material, embora eu não tenha visto
uma refutação direta para esse lance. E as
análises caseiras após a partida mostraram que
as brancas poderiam repelir o ataque. Mas que
variantes complicadas!... Não foi em vão que eu
tenha. jogado po; três meses com o campeão
mais prático da/história do xadrez! Até eu fui
capaz de aprender um pouco sobre como
economizar tempo e energia. E eu aprendi! E
em um par de minutos, sem me aprofundar em
detalhes, em bases gera.is eu fiz um prático lance
Karpoviano."
Uma importante nuança psicológica: após o
paradoxal lance Steinitziano 15.lt.fl ! as brancas
teriam ficado sob um ataque, sem saber o quão
profundamente essas variantes haviam sido
estudadas em casa pelo seu adversário. Vamos
considerar duas direções:
1) 15 ....âxa3?! l 6 ..âxf6 gxf6 17.l!fcl il.b4
18.exd4 e3 (Kortchnoi) 19.lZlfJ ! ou 17.cxdS
Ab4 18.exd4 e as pretas não tçm compensação
real pela peça sacrificada: se l 8.. .e3 l 9.'t!fxf5
Axc3 20.bxc3 Vxc3, então 21.'t!fg4+! @ b8
22.fxe3 (fimman) 22 .. Jãxe3+ 23.00! ou
22 .. J!fxe3+ 23.ii.e2, vencendo;
2) 15 ....lZlg4 16.cxd5 lZle5 l7.exd4! (na
variante de Kortchnoi 17.tfcl lix!3+ 18.it.xd3
exd3 l 9.b4 l!fa6 20.bxc5 'tig6, na minha
opinião é mais forte 2 1.b4 ! h6 22.@fl ,
enquanto as pretas têm 19 ... .âxb4!? 20.axb4
l!fxb4 com jogo agudo) e as brancas mantêm a
vantagem tanto após 17...it.xd4 l 8.Ae3 ~xe3
l.9.fxe3 V!Hc5 20.Ltidxe4 'ti'xe3+ 21 ..âe2
(fim.man) ou 18.ii.e2 Ltid3+ (18 ... ii.xf2+?!
19.W !) 19.'it>fl e após 17 ...tilfJ+ 18.gxfJ
exf3+ 19.lZlde4 l!xe4+ 20.\Wxe4! ou
19 ....âxe4 20.tfcl e .âe3, quando iniciam a
conversão do seu material a mais.
Todavia, Kortchnoi rapidamente jogou
15.~c2, tendo julgado de forma sensata que
após isso (em comparação com o objetivamente
mais forte 15.Si.fl) as brancas não enfrentariam
ameaças cm particular e, mesmo que elas não
conquistassem uma grande vantagem, seu
adversário teria que mudar do ataque para o
estudo de posições inferiores, onde o limite dos
seus sonhos seria o empate.
1S...lz:lxc2+ 16.!fxc2
16... !fa6
Uma escolha difícil Larsen sugeriu 16...d4,
mas isso é fraco devido a 17 .il.xf6 dxc3
(17 ... gxf6 18.~b3 d3 19.'ti'xd3!, enquanto a
idéia de Tal 17 ...dxe3 l 8.fxe3 i.xe3 é incorreta
em vista de 19.lZlfl 1) l 8.'ti'xc3 'ifb6 (trocando
as damas?!) 19.g4! ~xg4 (de o utra forma
20..txg?) 20.ã gl e agora são as brancas que
estão no ataque.
Mas entra em consideração l 6 ...d xc4
l 7.$.xf6 gxf6 (Kholmov), sem temer 18.lZlxc4
em vista de 18 .. .l!fa6 19.'ti'a4 (é mais fraco
19.~dS?! ã ac8 20.!fc3 .âe7 ou 19.!id5
'ti'xc4 20.!!xf5 !!ac8 com a ameaça de ...ilxa3)
19 ...!t'e6! 20.0-0 (20 .l21a5 .âf8!?) 20 ... a6
com uma boa partida para as pretas: os dois
bispos e vários recursos táticos compensam o
enfraquecimento da ala do rei
Entretanto, Kortchnoi estava planejando
18.0-0! com as ameaças de b2- b4 e ~ dxe4.
De fato, após 18 ...Af8 (18 .. .'~g7? 19.b4!)
19.~dxe4 Ve5 20.!!d4 I!ac8 2l.'t!d2 as
brancas têm uma clara vantagem. No caso de
18 ...'i!fa6 19.tild 5 ~ ac8 20 .1Wxc4 'iti'e6

124

21.CLJf4 (Kortchnoi) 2L..'i!fxc4 22.l2\xc4
lled8! (Dvoretsky) isso não é tão bom, mas é
melhor 20.f3!, iniciando o jogo por um ataque.
"Com o lance da partida, Karpov sacrifica um
peão, mas evita a ruptura dos seus peões da ala
do rei. É possível que a continuação escolhida
por ele seja objetivamente mais fraca do que
16...dxc4 l7.i.xf6 gxf6, mas não se pode
esquecer que em mais de três meses eu também
ensinei alguma coisa ao campeão - evitar
fraquezas irreparáveis de peões!" (Kortchnoi).
Com essa idéia, também é interessante 16...~e7
17.~xf6 ~ xf6 18.CLJxdS ~e5 (Tal) 19.0-0
llac8, embora após 20.'i!n>3 'i!Ya6 21.f3 exf3
22.l2\xf3 ou 21.. .it.d7 22.llcl o poderoso
cavalo em d5 evita que as pretas consigam
igualar.
17.~xf6 't!fxf6 18.lDb3!
Talvez Karpov esperasse 18.l2\xd5 'i!i'g5 (Tal)
19.0-0 ~d6! (Dvoretsky), provocando g2- g3 e
obtendo bom jogo p elo peão sacrificado. Mas
as b rancas jogam de forma mais forte,
ganhando um tempo ao atacar o bispo de c5.
18...~ d6 19.llxdS lleS
Forçado. Não tem sentido 19 ...~eS 20.l2ld4
~d4 21 J'.!xd4 "fig5 devido a 22.0-0! .th3
23.f4 e.xf3 24J~xf3 e após 24 ...ãxe3 25.'i!fd2!
!iel+ 26.ç!;>f2 "iVxg2+ 27.'it>xel lâe8+ 28.:ã'.e4
as brancas vencem. (Dvorcrsky)
Kortch noi deu 19 ...1Wg6 20.0-0 'ilfh6
(20 ...~ h3? 21.f4) 2l.g3, com o sumário:
"Karpov aparentemente decidiu que da mesma
forma seria incapaz de explorar essa debilidade
e preferiu trocar as peças brancas centralizadas.
E realmente 21 ...i.g4? 22.li::lxe4 i.f3 23.CLJbd2
lãxe4 24 .li::lxf3, vencendo (Kholinov), enquan-
to após 2 1...°ifg6 (2 1...~e5 22.f4!) 22.li:)d4
~3 23.lld l JÍf8 24.li:)de2 Ag4 25.llld4 e
li::lf4 as brancas têm um peão a mais e dominam
o centro - o peão e4 das pretas é fraco e o seu
bispo não pode encontrar ocupação.
20.lf)d4 ~c8
Outro momento muito importante.
Vlktor, o Terrível
21Jl xe5!
"Fiel a suas táticas, Kortchnoi evita uma luta
corpo a corpo. Ao lado disso, através de 21 .f4
ele poderia ter colocado seu adversário cm uma
posição difícil, pois o sacáfício de peça
21...exf3? 22.li::lxf5 fxg2 23.:Sgl é
insuficiente." (Tal). Mas, de fato, após
21...ã xdS 22.li)xd5 'iWb4+ 23."ti'f2 'tlfh5 ou
23.g3 "ti'b3 as coisas estão melhores para as
pretas do que na partida.
Nas palavras de Kortchnoi, "as brancas
precisam ter cuidado - após 2 l. li:)xf5 lãxd5
22 .l2\xd5 tfxf5 23.Wb3 'iWeS 24.g3 (24.a4!?)
24... bS ! 25.l!fxb5 ã b8 26.~d7 W9xb2 27.0-0
'i!fxa3 elas teriam perdido praticamente wda a
sua vantagem." Mas 28.'i!fg4! teria ganhado o
peão e4. Além disso seria possível 22.cxd5!
'i!Yxf5 23.0-0, forçando as pretas a sofrer com
um peão a menos tanto com as damas em jogo
- 23 . .. 'i!i'eS 24.g3 (no caso de 24 ...Axa3
2s.m31 Jl.xb2? 26.li)a4! JÍcl(a l) 27.Wxb7 o
resultado novamente é decidido pelo peão
passado d), ou sem as damas - 23 ... t!fxd5
24.ãdl "ti'e5 25.g3 .ãf8 26.~xe4 'i!xe4
27.l2\xe4 f5 (27 ...ã c2 28.ãd8) 28.li:)g5 .ãe7
29.li:)f3 il.f6 30.b4 etc.
Ainda assim, em conexão com o comentário
ao próximo lance, 21.Sxe5! dá às brancas boas
chances de vitória.
21...W9xe5 22.li)xfS?!
A sugestão de D voretsky seria mais forte:
22.f4 ! 'i!ff6 (não é melhor 22 ... °ifcS 23 .li:)a4,
enquanto 22 ...exf3? 23.li:)xf5 é simplesmente
125
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
incorreto) 23.8xe4 ~xe4 (23 ...'t!ig6 24.8f6+
~xf6 25.~xf5) 24.l!Yxe4 I!xc4 25.0-0 com
grande vantagem para as brancas.
22 ...'tifxfS 23.0-0
''Psicologicamente compreensível: eu estava
cansado de jogar com o meu rei no centro e
decidi devolver o peão, mas para completar meu
·desenvolvimento, esperando na seqüência
explorar as debilidades táticas na posição das
pretas - e4, b7, d6 e a 8ª fileira," escreve
Kortchnoi, m'e.Qcionando 23.\Wxe4? tixe4
24.c2\xe4 !ixc4 25.l2::ic3 .1ixa3 e oferecendo
uma escolha entre:
1) o "técnico" 23.i!fb3 - mas aqui, em minha
visão, após 23 .. .\Wc5! 24.0-0 \Wxc4 25.'tifxb7
!tb8 26.ifxa7 ãxb2 27.'ilid7 Jif8! (não é tão
claro 27 .. .Axa3 28.'i!fe8+ A f8 29.<tlxe4)
28.êz::ldS !ia2 as pretas têm boas chances de
salvar a partida;
2) o "forte" 23.<tlxe4 e se 23 .. . b5, então
24.0-0 ãxc4 (eu acho que 24 ...Af8 25.b3!
.1i.xa3 26.& l é ruim para as pretas) 25.'i!M2,
"mantendo um saudável peão a mais". Mas, de
acordo com Dvoretsky, após 25 ...sJ..c7 26.8g3
~e6 27Jãd l g6! "a atividade das peças pretas
compensa amplamente o seu déficit material".
É mais astuto 25.\Wdl !? com a idéia de
25 ...ll.c7 26.lz:Jg3 ~e6(5) 27.~f3 .
Kortchnoi escolheu talvez a melhor e
certamente a mais venenosa continuação: o
adversário foi capaz_de recuperar o seu peão e
parece que agora o empate é inevitável. mas...
23...l!xc4 24.ãdl
Não 24.'ifb3?! ~c8.
126
24...'i!feS?!
A partir de agora e, então, no 38º lance,
Karpov procura contrachances de forma
engenhosa após sua arriscada novidade de
aberrura. Mas esse lance, de for ma geral, foi
condenado.
Tal recomendou 24 ...fi.e7. De fato, após
25.:tâd4 ãxd4 26.exd4 1!fg5! (26 ...Af6
27.lz:Jxe4, e não é possível 27 .. .Axd4? devido
a 28.<tlf6+! Kholmov) 27.8xe4 1!fd5 não é
fácil para as brancas converterem sua vantagem
de peão: 28.1!fd3 'i!fa2 ou 28.1!fa4 Axa3!,
enquanto se 28.l2ig3 (Kortchnoi), então
28 ... g6 (Dvoretsky) 29.'f9e4?! (é melhor
29.8e2) 29 .. .1!fxe4 30.<tlxe4 f5 e
...Wf7-e6-d5 com um empate. Mas, um lance
antes, 27.g3! é mais metódico, com a idéia de
27 ... e3 (27 ... f5? 28.i!fb3+ e 'i!fxb7) 28.f4!
tig4 29.\We4, vencendo (Kholmov), ou
27 ...lliS 28.Wg2! b6 (28 ...e3 29.'i!fcl) 29.h4,
ganhando o peão e como consolação.
Kortchnoi considerou ser a melhor defesa
24 ... Af8 25.ãd8 (seria desfavorável 25.ãd4?!
I!xd4 26.exd4 't!½'g5 27/bxe4 'tifd5 28.'it'd3
tfa2 etc.) 25 . .. g6 26.'it'dl Wg7 27.h3 "com
alguma vantagem para as brancas." É pena,
27.ãd4 !fc8 28.!ixe4 não funciona devido a
28 ...~xa3!.Dessa forma, na minha visão, é
mais preciso 26.'iid2! e se 26 ...©g7, então
27.ãd4! ganhando o peão e4, enquanto após
26...1!fe5 27J~a8 Wg7 (27 ... a6? 28.!fd8)
28.!ixa7 as brancas novamente têm um peão a
mais, embora após 28 .. .1!fd6 29.~xd6 Axd6
ainda seja possível lutar por um empate.
25.g3 (agora se ameaça ifb3) 25... a6
26.'i!fbJ bS (26...ãc7 27.luxe4 ou, de acordo
com o gosto, 27.'ilfdS) 27.a4!
Inesperadamente se torna claro que , devido à
fraqueza na sua retaguarda e à vulnerabilidade
de sua torre e bispo, as pretas perdem um peão.
Elas escolheram um mal menor.
27... â b4! (se 27 ...!!c5, então 28.axbS axb5
29.'i!fa2! .1t,í8 30.!!d8 W!ie7 31.1!fa8 f5 32.!ib8
W!id6 33 .Wg2, vencendo) 28.l!fdS 'i!fxdS

29.llxdS .tf8 30.axbS aS! (evitando 30 ... axb5
JI.I!xb5) 31.ã d8
· "Nessa posição, Bent Larsen sugeriu 31.b6
Jlxb6 32.ã xa5 ãxb2 33.éuxe4, quando ele
..-ai.ia (e justificadamente - G.K) que as brancas
1lêa:t boas chances de vitória. De minha parte,
-=redito na força do peão passado! (Kortchnoi)
31 ...ãxb2 32.ãaS fS
Após 32 .. J~b3 as brancas vencem através de
33.liJd5 f5 (~.g6 34.ãxa5 .tc5 35.b6! ~b6
36.I!a8+ e ã b8) 34.!:txaS ~fl 35 .b6 .td6
(35 ...~e6 36.lLk7+!) 36.ãa7+ ~e6 37.tuc7+
~c7 38Jãxc7! (Kortchnoi) 38 .. . lâxb6
39.ã xg7, vencendo. Também não deixa
~rança 32...a4 33.!!xa4 g b3 34.!!c4 g6
35.lãc6 ii..g7 36.ãc8+ .tf8 37.g4! (Dvoretsky)
33.ãxaS .tb4 34.lla8+ ,J;r,
A torre em b2 está colocada de forma ideal:
da impede o avanço do peão passado b e ataca
o ponto t2. A primeira vista pode parecer que
nesse final as pretas têm mais chances de
ffllpate do que as brancas de vitória. Mas o
desafiante mostra que as coisas não são assim.
35.&2la4
Deslocando a torre da 2ª fileira e assegurando
o avanço do peão b. Nas palavras de Kortchnoi,
"Um cavalo na borda do tabuleiro parece mal
colocado - todos os jogadores, incluindo os
Grandes Mestres, sabem disso. Mas o objetivo
primordial das brancas é evitar um ataque ao
seu peão em t2 com a torre em b2 e o bispo em
el !".
Após 35.-tldS?! as brancas teriam que avaliar
tanto 35 ... .iel 36.~fl ã bl ! (Dvoretsky),
como 35 ....tc5 36JTh8 g5. Entretanto, na
opinião de Dvoretsky, teria sido muito force
interpor o xeque 35.ãa7+ !, pois se 35 ...Wf6,
então agora é decisivo 36.0d5+ <"Ji;>g6 37.b6
.tel 38.b7, enquanto após 35 ...~e6(g6) o
lance 36.0a4! consegue um maior efeito.
35 ...ã bl+ 36.Wg2 .td6 37.lla7+ 'i!tf6
38.b6 A b8?!
Após 38...h5 (Kholmov) as brancas teriam
vencido através de 39.€lc3 !!b3 40.€ld5+ @e6
Viktor, o Terrível
41.0 f4+! ii_xf4 42.gxf4 g6 43.b7 e
Wg3- h4-g5 (Timman).
"Seria melhor 38 ...ã b4," comenta Kortchnoi.
" Nesse caso, as brancas teriam movimentado o
seu rei cruzando a ala da dama - 39.Wfl ou
recorrido a táticas, iniciando com 39.0c3." E
concluído com a variante 39... l=!b3 40.liJdS+
'r!;,e5 41.0c7 1J..xc7 42.bxc7 (aqui 42 .ãxc7
ãxb6 43.ã xg? é insuficiente devido a 43 . . .h6)
42 ...ã c3 4 3.cS'iW ãxc8 44.ãxg7 ãh8 com
chances de empate (por exemplo, 45.f4+ exf3+
46.<i!i>xD ~ f6 47.ãa7 h6 48.ãa6+ <t;;g7 etc.).
É possível que Karpov tenha recusado
38 ... ãb4 devido a 39.'J;fl - ele não queria
permitir a fuga do rei branco. Entretanto, o
caminho para a ala da dama era muito lento e
durante esse tempo, as pretas também poderiam
ter trazido o seu rei e tentado explorar a posição
infeliz do cavalo em a4. Ao passo que após
38...~b8 é mais provável que sua posição seja
objetivamente perdida.
39.ãa8!
Após o lance de Panno 39.ãc7!? Ovoretsky
recomendou 39... h5!?
39....àeS?!
D efendendo contra -tlc3-d5, mas
permitindo 0c5. Muitos recomendaram o mais
resistente 39 ...ii..d6, por exemplo:
1) 40.!!86 ~ eS! (mas não 40 .. .<itle6 41.b7
~d7 42.€lb6+ <tlc7 43.0c4 1i..e7 44.-tla5
.td6 45 J~a8 Wd7 46.ãg8, vencendo -
Kortchnoi) e agora não 41.lãa7 lãb4 42.-tlc3
127
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
devido a 42 .. Jlxb6! (após o lance de
Kortchnoi 42 ...ã b3 é forte 43.É!a5+ We6
44.0b5) 43.lãxg7 lãb3 44.li:)e2 É!b2 45.li:)d4
~ c5 46Jixh7 ~xd4 47.exd4+ ~d4 com um
provável empate, mas de forma imediata
41.li:)c3! ã b3 (se 41...~4(2) 42.ãaS+ 'i!le6,
então 43.E!b5!) 42J~ta5+ We6 43.l2:fü5 il.e5
44.b7, planejando, ao entregar o peão b,
ap'lmhar um peão na colheita da ala do rei:
44 ...Wd7 45.b8\!fr' 1'.xb8 46.0d4 E!b7 47.!!xf5
ou 44 .. Jâb2 45.b8W .iixb8 46.0d4+ g)e7
47.0xf5+ e a debilidade do peão e4 causa a
ruína das pretas;
2) 40.0c3 ãb3 41.0d5+ $'e6 (41...We5?!
42.0c7!) 42.0c7+ 'í!td7 43.0e8 g6 44.li:Jxd6
Wxd6 45.E!b8 $>c6 e aqui Timman deu 46.h4,
mas Dvoretsky refutou isso através de
46 ... ã xb6 47.E!xb6+ g;>xb6 48 .g4 fxg4
49.@g3 Wc5 50.Wf4 Wd5 51.©xg4 Wc4!,
com empate - e sugeriu 46.g4! fxg4 47.<;t,g3
E!bs (47 ...ãb2 48.b7! h5 49.ãg8 wxb7
50.llxg6 etc.) 48.Wxg4 ã f5 49.Wg3 ID:3+
50.'í!tg2 ãf7 51.lãc8+ @xb6 52.lãe8 com boas
chances de vitória.
Na partida tudo se provou mais simples: o
peão branco alcançou rapidamente a casa b7,
onde foi defendido pelo cavalo em c5 e a torre
ganhou a oportunidade de lançar um ataque de
surpresa na retaguarda inimiga.
40.t2lc5! .id6 41.b7 <#ie7 42.ãgS ~e5 (seria
pior 42...~ 43.lãd8 ou 42 ... g6 43.fi:la6!)
43.f4!
O !Jlnce secreto, que inclui o rei na partida. A
posição adiada já é, é claro, tecnicamente
vencedora para as brancas, embora elas ainda
tenham que evitar numerosas ciladas,
envolvendo ameaças ao seu peão b7 (i.e., um
ataque ao cavalo em c5 com a torre em b5). Na
continuação, que teve lugar no dia seguinte,
Karpov colocou uma resistência desesperada.
43...exf3+ 44.c;tixf3 <;t,n 45l!c8
"De acordo com minhas análises de
adiamento, a manobra 45.:Sd8 We7 46.lãd7+
<;t>e8 (46...Wfo? 47.ã dS! Ac7 48.t2la6 ã xb7
128
49.lãd7) 47.EidS .tb8 48.ã xf5 teria
conquistado um outro peão, mas apenas
temporariamente. Após 48....âa7!, o peão b
está perdido. Eu queria mais!" (Kortchnoi).
Entretanto, após 49.ã e5+ ! Wf7 50.0e6! Wf6
51.ãaS lãxb7 52.li:Jd8 e &6+ (Dvoretsky) as
pretas têm problemas e dessa forma é correto
48 ... .ád6! 49.lile4 .áe7 (fal), com chances de
empate.
Por outro lado, é mais forte 47.e4! (ao invés
de 47.:Sd5), quando após 47 ...ãbS as brancas
vencem tanto após 48.exf5 lãxc5 49.ãxg7 h6
(Keene admitiu que essa posição incomodou
sua equipe durante a análise) 50.f6! ,;t,f8
(50 ....td6 51.f7+ 00 52.lãg6 etc.) 51.ãe7
.td6 52.lâd7 ~e5 53_<;t>e4 E!bs 54.<i!.'f5 il.c7+
55.Wg6 ã xb7 56.lãh7 @e8 57.©xh6
(Dvoretsky), assim como a linha de Timman
48J:id5! fxe4+ (48 ....âb8 49.exfS 1'.a7 50.f6!
gxf6 51.l2::le4 ã b3+ 52.Wg2! We7 53.ãh5 ou
52...lãb2+ 53.'i!?h3 .áb8 54.t2lxf6+) 49.'i!?xe4
~b8 50.Wd3 .ta? 51.$'c4 ã b6 (51. ..E!b2
52.0b3) 52.t2le4! .âb8 53.:SbS etc.
45...'i!?e7 46.h3!
"Esse lance astuto escapou à atenção dos
especialistas soviéticos." (Kortchnoi). Também
seria possível o frontal 46.e4 sugerido por Tal,
por exemplo:
1) 46 ... g6?! 47.0d3 fxe4+ 48.'~ xe4 .âxg3
(após 48 ....ád6 49.ãh8 ©d7 50.:Sxh7+ Wc6
5 1.ãg? as brancas simplesmente têm dois
peões a mais) 49.hxg3 ãxb7 50.0c5 (criando
dominação com um exército pequeno)
50...ãbl 51.We5 lãel + 52.0e4 e o restante é
questão de técnica;
2) 46 ... fxe4+ 47.éxe4 .âd6 48.'~dS
(transpondo de maneira forçada para um final
teórico de torre e dois peões contra bispo e dois
peões) 48 ... i.xc5 (48 ... ãb5? 49.ãe8+!)
49.b8'i:V ã xb8 50.:Sxb8 il.gl 51.h3 Wfl
(Timman) e ainda está à frente um lento
processo de conversão.
Mas após análises caseiras Kortchnoi chegou
à conclusão de que poderia conseguir sem ter

que demonstrar seu conhecimento de um final
técnico (onde a vitória para as brancas de modo
algum é simples e escorregará das mãos após o
menor erro) e fez um lance que nada
compromete, prepara g3- g4 e dá ao adversário
• oportunidade de declarar suas intenções.
46...bS?!
Um enfraquecimento. Entretanto, mesmo
uma defesa mais resistente'mo teria ajudado,
por exemplo:
1) 46... g6 47.g4 ~ b5 48.gxfS gxf5 49.~d3
.àd6 50.l'.!h8 (Dvoretsky) ou 47 ... fxg4+
48.©xg4! seguido por 00, vencendo (Larsen);
2) 4 6 ...ã bS 47.g4 fxg4+ 48.hxg4 .1ld6
49.©e4 h6 (49...g6? 50.gS!) 50.©d3 !!b4!
Sl.e4 li.e5! (Andersson) 52.l!g8 ! e as pretas
estão em zug':lJl!ang. 52 ...ãd4+ 53.We2! ãb4
54.lo:13 ou 52 ... © t7 S3.ãd8 1Jc7 54J!!d7+
'i!i>e8 55.ãd5 .i.f6 56.eS 1l..e7 57.ãd4! ãb5
S8.lla4 ! ~xc5 59.ila8+ ©f7 60.b8'iW,
vencendo (análises de Dvoretsky).
47.1::tgS! (uma manobra sutil, forçando as
pretas a permitirem à torre ir a d8) 47 .•.Wfi
.alid8 gS
A última chance prática. É mau 48 ...We7
49.!td7+ We8 50.1::tdS, pois o peão hS ficará
sob fogo.
49.g4!
Um caminho preciso de converter a
vantagem. A seqüência 49.li)d3?! g4+ !
50.hxg4? (50.Wg2 ! <t/e7 51 .~dS é correto -
Dvoretsky) 50... bxg4+ 5 l.©f2 We7! 52.{)xeS
Vlktor, o Terrível
© xd8 53.b8!6+ ãxb8 54.li:lc6+ Wc7
55.li)xb8 @xb8 56.e4 '9c7! (Tal) ou 52.ÉldS
Jl.b8! 53.ãxf5 ãxb7 54.!i!gS m,3 ! 55.~f4
i!b2+ 56.ç!i>e} @f6 57.l!xg4 c;&f5 58.l!g8 ©e4
teria levado ao empate.
49...hxg4+ (seria claramente ruim 49 ... fxg4+
50.hxg4 h4 51 .li)d7 e b8=='if, vencendo)
50.hxg4 ~ e7 (50 .. .<;;t,?f? 5 J.âc8 ! fxg4 +
52.~xg4 .âd6 53.e4 .ili.f4 54.c;&rs !tfl 55.{)d7
We7 56.e5, vencendo - Kholmov) 51.!!g8
fxg4+ 52.~xg4 ç!i>f7 (52 ...~d6 53 .lua6)
53.l!c8 .td6 54.e4
Outro peão passado começa a avançar (a
conseqüência do lance de solapamento g3- g4!)
e o destino da partida está decidido.
54 .. .l~gl+ (ou 54 .. .'it>f6 55.b8~ .âxb8
5611xb8 lâxb8 57.lõd7+ We6 58.lõxb8 ©eS
59.ç!;>f3 g4+ 60 .ç!i>e3 g3 6 I.li)c6+ à?d6
62.otld4, vencendo) 55.Wf5 g4 56.eS!
"llma vez que Karpov não abandonava,
aparentemente esperando prolo ngar a partida,
decidi concluir as coisas da forma mais bonita e
o mais rapidamente possível." (Kortchnoi)
56...!!fl+ 57.~e4 ã el+ 58.ÇSdS !tdl+
(58...li.xe5 59.li)d3) 59.li:ld3! ã xd3+ 60.Wc4
1-0
As pretas abandonaram e a contagem se
tornou 4-2.
Na 22• partida (de novo com a Defesa
Francesa), as coisas caminhavam para um
empate, mas o desafiante cometeu um grave
erro no apuro de tempo e perdeu um peão.
Quando o tempo se esgocou, a posição dele já
não tinha salvação. "Pelo visto, o 'iogurte'
estava muico nutritivo naquele dia. Karpov
continuou jogando como se lhe tivessem dado
corda (embora pudesse adiar a partida), fez
quatro lances fracos e, na posição adiada, o
empate estava bem perto", escreve Kortchnoi.
Na 23" partida, a vantagem estava do seu lado,
mas Karpov "não sem dificuldade encontrou
uma defesa de problema" e conseguiu empatar.
Entretanto, na 24º partida, Kortchnoi jogou
com sucesso a Variante Abert.a da Ruy Lopez
129
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(cf. partida 31, comentário ao 9º lance das
pretas) e pela primeira vez em um longo
petiodo de tempo conquistou uma vantagem
com as pretas, mas Karpov "de novo conseguiu
o empate". Por outro lado, o Campeão poderia
ter vencido a 25ª partida, mas errou grossei-
ramente no ~cional apuro de tempo do
adversário e foi forçado a buscar a salvação na
posição adiada. O empate na 26ª partida não foi
tão sangremo.
Vendo o estado de desânimo e decepção do
seu rival, Kortchnoi reuniu as últimas forças
para tentar mudar o curso do match, mas "a
busca desesperada da vitória pode causar o
fracasso a qualquer momento e na 27ª partida,
(na minha opinião, uma das mais fracas do
match), foi o que afinal aconteceu". Notemos a
importante novidade introduzida por
Kortchnoi no que se considerava uma vaiante
inofensiva da Abertura Inglesa: l.c4 e5 2.éz:Jc3
éz:Jf6 3.éz:Jf3 éz:Jc6 4.g3 A b4 5.ludS éz:JxdS
6.cxdS Ci:\d4 7.l2Jxd4 exd4 8.'ti'c2!, com
melhor posição das brancas. Mas Karpov
conseguiu equilibrar as chances e depois,
quando o seu rival, na corrida para a miragem
de uma vantagem, cometeu uma série de
incorreções, ele tomou a iniciativa e conquistou
a vitória.
A contagem ficou 5-2 e Karpov tinha que
vencer só mais uma partida. Aqui, porém, o
match entrou na fase mais intrigante. "Os deuses
do Olimpo abandonaram seu filho e voltaram a
atenção para o enteado... O jogo de Karpov não
deslanchava, alguma peça estava quebrada no
seu esplêndido motor de xadrez. O estilo quase
clássico do artista perdeu o brilho costumeiro e,
o que é pior, simplesmente se deformou ao
peso da pressão exercida sobre ele pelo
'coletivo': a técnica refinada se desgastou e a
previsão digna de um computador se
transformou em fiasco. As massas começaram a
devorar o criador" (texto extraído de um artigo
de Emmanuel Sztein, futu.ro assessor de
imprensa de Kortchnoi).
Na 28ª partida, a Variante Aberta da Ruy
130
Lopez novamente passou por um duro teste. A
restauração desta variante nos anos 1980 e 1990
está ligada em grande parte ao nome de
Kortchnoi, que a defendeu em Baguio e, três
anos mais tarde, em Merano. E embora na 14ª e
18ª partidas do match de Merano as brancas
puderam ter importantíssimas vitórias (partidas
85 e 86), as idéias de Kortchnoi não perderam a
atualidade e alguns de seus princípios notáveis
ainda servem de orientação nos dias de hoje.
Partida 31
A. Karpov - V. Kortchnoi
Matçb pelo Campeonato Mundial, Baguio 1978
28'partida
Abertura ]½, lflpe-:z. C82
l.e4 e5 2.Ci:\f3 éz:Jc6 3.~b5 a6 4.Aa4 Ci:\f6
5.0--0 lz:Jxe4 6.d4 bS 7.Ab3 dS 8.dxe5 Ae6
9.c3 0c5
Naquela época, essa era uma linha
relativamente pouco estudada. Após a 14ª
partida, Kortchnoi evitou temporariamente
9 ....ác5 (partidas 35 e 75'). E na 24" seguiu
9 ....áe7 10.Ac2 0c5 1l.h3 0-0 12.~el ~d7
13.0d4 0xd4 14.cxd4 0b7 15.0d2 c5
16.dxcS 0xc5 17.éz:Jf3 com uma pequena
vantagem para as brancas, a qual, entretanto, foi
neutralizada rapidamente.
10.iJ.c2 Ag4 11,ge1 1J..e7 12.l2Jbd2 'ti'd7
13.Ci:\b3
Um plano natural, mas não o mais vigoroso,
o que também pode ser dito sobre 13.h3 sili5
14.l2Jf1 !id8 15 .l2Jg3 Ag6 16.ê2Jd4 O-O!?
17.~fS lz:Je6 18.Ag4 lz:Jcxd4 19.cxd4 c5
20.0f5 'i!fa7! 21.Ci:\xe7+ 1Wxe7 22.Ae3 cxd4
23.~xd4 !!c8 .. . 0- 1 (Hübner- Kortchnoi,
Tilburg 1986).
Como ficou claro posteriormente, é mais
enérgico 13.l2ifl! ãd8 14.0e3 Ah.5 15.b4!
(após 15.lz:Jf5 0- 0 16.Ci:\xe7+lz:Jxe7 Kortchnoi,
com as pretas, em 1987 derrotou YGruenfeld,
A.Sokolov e Marjanovic) 15 ...l2ie6 e aqui as
brancas têm jogado tanto 16.éz:Jf5 0-0 17 .a4
(Balashov-Portisch, Moscou 1981) ou 16...d4?!

J7 ..1l.e4 ! (Hjartarson-Kortchnoi, 1ª partida do
•atcb, Saint John 1988), como 16.g4 .1l.g6
J7.lZlf5 0--0 18.a4 l::!fe8 19.axb5 axb5 20..1l.d3
ID>8 21.'i!fe2 ~cd8 22.ã a5! com pressão
apreciável (Khalifman- Marin, Olimpíada de
Istambul 2000).
13...lZle6
Seria mais fra<jO 13...'~Jxb3?! 14.axb3 ou
13... 0-0 14.li.)xé5 .âxc5 15.b4 .§lb6 16.~d3
g6 17 ..âh6 :Sfe8 18.a4. ''.As pretas
deliberadamente evitam o roque; a torre em h8
terá o que dizer." (fal)
14.h3 (14.~d3 ~5! 15.~fd4 .1l.g6, com
igualdade - Schmidt- Kortchnoi, Londres 1979)
14.....i.hS 15..tf5 (lutando pelas casas centrais)
IS...l2kd8
Uma novidade. Anteriormente havia sido
jogado 15 ... ã dS?! 16.a4!, mas mais tarde
l5....1l.g6!? foi utilizado com sucesso (Nw10-
Tal, Naestved 1985; Leko-Piket, Wijk aan Zee
2000).
16.1le3 a5
Um avanço típico: as pretas querem tomar
espaço na ala da dama com ganho de tempo
(...a5- a4) Também é interessante 16...li.)b7
com a idéia de ...c7-c5 (Sigurjonsson-Stean,
Munique 1979). "Karpov estava preparado para
isso e pretendia jogar 17.éz.)bd2 c5 18.éz.)fl."
(fal).
17.i.cs
Tal explicou esse lance sensato como sendo
devido a um relaxamento do Campeão após sua
Viktor, o Terrível
5ª vitória na partida anterior e pelo desejo de
evitar complicações. Mas tinha algo melhor? D e
acordo com Flohr, "as coisas poderiam ser
fortemente ativadas com 17.a4", mas após
17 ...bxa4 as brancas não têm vantagem:
18.~bd21lg6, 18.éz.)bd4 c5 ou 18.li.)cS .txc5
19,.1l.xc5 g6 20..1l.xe6 li.)xe6 2 l.1'.e3 ~xf3
22.'ti'xt3 0--0, com igualdade. Também pouco
promete 17.lZlc5 .1l.xc5 18.~xc51'.g6 l9..1l.g4
h5 20.~xe6 ~xe6 2 l .1'.e3 c5 (Zarnicki-
Sorokin, Villa Gesell 1996).
17...a4 18..1l.xe7 f!ixe7 19.éz.)bd2
Mas isso realmente é resultado de
relaxamento. "As brancas gostariam de jogar
mais ativamente com esse cavalo, mas no caso
de 19.êi:ibd4 éz.)xd4 20.cxd4 ~ e6 as pretas
mon tariam rapidamente um contrajogo contra
o peão central." (fal). Após 21.W'c2 0-0!
22.i.xh7+ Wh8 23.g4 .1l.g6! 24.Axg6 fxg6 é
isso mesmo. .Mas, como as partidas ao final do
século mostraram, após 21.g4 .1l.g6 22.ãc l as
brancas têm chances um pouco melhores.
Desse modo, então após 19.éz.)bd4! (a única
forma de se lutar por uma vantagem) come-
çaram a jogar 19... c6.
19...c6
Assim as brancas não obtiveram sucesso em
controlar com firmeza a casa c5 e as pretas
resolveram seus problemas de abertura. Além
disso, elas agora podem gradualmente pensar
em tomar a iniciativa estratégica. O plano de
Kortchnoi se justificou completamente!
20.b4
Um lance perfeitamente razoável, embora, de
acordo com Flohr, negue às brancas a
possibilidade de jogar na ala da dama e
enfraqueça a casa c4, que será importante no
final da partida (a ameaça de ...d5- d4).
"Karpov não avaliou essa posição com muito
otimismo", explicou Tal. "Enquanto isso, o
simples 20.~c2 teria permitido a ele jogar sem
o menor risco."
20.. .lLlgS (para, após a troca de um par de
peças menores, permanecer com o cavalo
131
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
contra o bispo) 21.l/fr'e2 g6 22.Sl.g4?!
Alguém pode não gostar de se colocar um
ponto de interrogação aqui, mas de forma
objetiva, isso é um erro. "O Campeão
aparentemente 'acreditou' no seu adversário.
Após a retirada do bispo para d3 ou c2 ele teria
mantido uma posição excelente. A maioria dos
peões das pretas na ala da dama é estática - o
avanço de qualquer peão automaticamente ativa
o bispo." (fal) E realmente, 22.~d3! l2!de6
23.tfe3 ~xf3 24.l2lxf3 l2!xf3+ 25.'i1Nxf3
(Filip) as brancas estão bem.
22... il.xg4 23.bxg4 ~e6 24.'i!fe3
24 ... hS!
Explo rando a posição da torre em h8. Em
uma boa posição, como Tal colocou, "as pretas
podem se permitir jogar de forma aguda, não
somente porque sua situação competitiva
argumente contra meias-medidas".
25.l2!xg5
Se 25.l2lh2 poderia seguir 25 . .. hxg4
26.l2lxg4 0-0--0 (fal) e o rei das pretas se
esconde na ala da dama, enquanto as brancas
enfrentam dificuldades na coluna h, ou
25 ... ~a7, "tendo como objetivo um final
melhor." (Flobr)
25...'i'xgS 26.'iWxgS {)xg5 27.gxhS
"Talvez em seus cálculos preliminares as
pretas tenham confiado no ativo 27.f4?! {)e6
28.f5, mas aqui elas descobriram que após
28 . .. l2lg7 elas seriam forçadas a fazerem
concessões materiais ou posicionais." (fal).
132
Também entra em consideração 28...l2lf4 ou
28 ...0g5.
27...ãxh5 28.00 ~ h4 (surgiu um final
complicado, com chances um pouco melhores
para as pretas, mas, é claro, com jogo preciso as
brancas poderão ser capazes de segurar a
partida) 29.ãadl We7
Trazendo o rei. Seria sem sentido 29...0e4
em vista de 3O.ã d4! (Filip) 30 ... ã h6(7)
31 .E!:e3 We7 32.f3.
3O.f3 /f)e6 31.0e3 ã d8 (para apoiar a
ruptura ...d5-d4) 32.lug4 ~g5 (32 .. .l'Llg7!)
33./f)e3?!
A tentativa 335Bf2?! teria sido refutada por
33 ...0e4+ 34.fxe4 !!xg4, quando o final de
torre é vantajoso para as pretas. Karpov não
tem objeção à repetição de lances, mas seria
preferível 33.:Sd4, para após 33 ...0e6 recuar
34.~d2." (Tal)
33...{)e6 (33 ...d4!?) 34.~g4 {)g7!
"Após repetir lances para ganhar tempo no
relógio (como é comum, Kortchnoi estava em
apuro de tempo), as pretas encontram o melhor
plano. Praticamente qualquer final de torre é a
seu favor." (fal)
35.liJe3?! (as brancas recuam de forma
errada - todos os analistas notaram, seria
claramente melhor 35.'í!?f2) 35...~ fS?
Um lance excelente, que aparentemente foi
subestimado por Karpov.
36./f)c2?!
"É paradoxal, mas a despeito dos peões
dobrados, o final de torre é vantajoso para as
pretas. A variante 36.l2lxf5+?! gxf5 37.ãd4 f4
38.g4 (seria sem esperança para as brancas 38.rt>f2
We6. - G.K..) 38 .. .ã dh8 39 .!ixf4 !ihl +
4O.~f2 ã8h2+ 41.Wg3 ã xel 42.Wxh2 ~xe5
claramente mostra isso. Aqui também as
brancas deveriam jogar 36.liJg4!?. Karpov joga
no apuro de tempo do adversário, mas as pretas
encontram o único recurso e um bastante
efetivo." (fal)
36...r!c4 ("como se pode evitar lembrar aqui
o lance 2O.b4?", suspira Flohr) 37.l:!d3 d4!

N ão obstante, rompendo no centro. Eu acho
que Karpov também subestimou esse lance,
pois envolve um sacrifício temporário de peão."
38.g4 ~ g7 39.làxd4 (39.e6? ~xe6
40.~xd4 M6 Tal) 39...~ e6 40.I!edl
Se 40.a3, então..<40 ... ti:lf4! , por exemplo:
41.ãde3 ~ d5 42:.ad3 ~xc3 43.!foe3 1ldxd4
com chances consideráveis de vitória.
40.../f)xd4 41.cxd4 (teria sido até pior para
as brancas 4 l .~xd4 Ê!dxd4 42.cxd4 ~b4)
41...I!xb4 42.00
Aqui a partida foi adiada. As brancas tinham
se livrado da sua fraqueza em c3, mas agora o
avanço dos peões pretos na ala da dama será
extremamente perigoso para elas.
42 ... cS!?
O lance secreto. Por todo o match o desafiante
havia evicado continuações muito compro-
metedoras. Nessa ocasião, circunstâncias o
forçaram a isso. Aparentemente há uma vitória
elementar em 42 ...I!b2+ 43Ji td2 (43.lã3d2?
!txd4) 43 ...llxd2+ 44.:Sxd2 S'c6 45.S'e3 c5,
mas após 46.f4! lãxd4 47.!'!xd4 cxd4+
48.We4! (mas não 48.'i?xd4? b4 49.éc4 b3!
50.axbJ axb3 5J.éxb3 f!ld5! - G.K.) o final
de peões resulta empatado em vista de 4 8 .. .b4
49.f5+" - afirma Tal na revista 64 e depois dele
Filip no Informador.
E Flohr na revista Shakhmaty v SSSR,
enterrando totalmente o candidato, determinou
que "no caso de 46.dxc5 (?- G.K) 46 .. J!ixd2
4H.t>xd2 Wxe5 (?? - G.K) 48.Wc3 'i!ld5
Viktor, o Terrível
49.Wb4 ~c6 50.g5! as brancas vencem."
Entretanto, 47 ... Wd5! 48.f4 b4! produz
exatamente o resultado contrário: 49.'i&d3
©xc5 50.f5 (50.©d2 'i&d4) 50 ...g5! 51.e6
fxe6 52.f6 'i&d6 53 .S'c4 b3 54.axb3 a3! ou
49.g5 'it>xc5 50.f'S gxf'S 5 l.e6 'it>d6 52.ext7
We7 53.g6 f4 e as pretas vencem.
Isso sugere a idéia de que após 46.f4 seja mais
forte o imediata 46 ...b4!, pois 47.dxc5? l!xd2
48.$>xd2 é mau devido a 48 ...Wd5! (veja
acima). O fmal de torre após 47.We4 fS+!
48.exf6 ©xf6 49.d5 b3 50.axb3 axb3 51.ID>2
~fü8 também é dificil para as brancas, por
exemplo: 52.©d3 ã b4 53.~c3 (53.f5 g5)
53 .. .E!xf4 54.!!xb3 We5 ou 52.g5+ 'i&e7
53.~e5 Wd7! 54.f5 (54.ID>I i!e8+! 55.<it'f6
c4) 54 ... gxf5 55.g6 ãe8+ 56.<~xf5 c4 57.g7
Wd6 58.'~f6 l:!g8, vencendo.
Levando-se em conta a fadiga enorme após o
agudo apuro de tempo c cinco horas de jogo
tenso (assim como os dois meses e meio de
estresse do mat,h) seria impossível calcular com
precisão no tabuleiro todas as variantes. E
Kortchnoi preferiu outro lance, que também
colocasse problemas desagradáveis para as
brancas. Essa não é uma decisão fácil: a um
passo da derrota no match permitir ao adversário
criar uma dupla de peões móvcis no centro!
Após anotar seu lance, por duas vezes retirou a
planilha do envelope no qual seria selada. Como
resultado, para os próximos 14 lances na
continuação da partida só lhe restavam 22
minutos. Entretanto, isso provou ser suficiente
para a vitória...
43.d5
Após 43.dxcS I!xd3 44.!!xd3 !!b2+ 45.$>e3
ãxa2 as pretas têm um final de torres
facilmente vencedor: 46.c6 ãc2 47.ãd5 ãxc6
48.l:!xb5 !!a6 49.ã b2 a3 50.&2 g5. Nada
promete para as brancas 43.We3 c4." (fal).
Dessa forma Karpov tentou criar um contra-
acaque, mesmo à custa de um peão.
" Quando caminhava para a continuação,
estava certo de que com jogo preciso Karpov
seria capaz de salvar a partida. Mas no meu
apuro de r.cmpo ele continuou a jogar
133
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
relâmpago e por duas vezes desperdiçou um
empate certo," escreveu Kortchnoi em seu livro
Antichess. E ntretanto, após o término das
análises, nem Karpov em Baguio, nem eu mais
de um quarto de século depois, fomos capazes
de encontrar esse "empate certo" para as
brancas!
43•..ã h2+ 44.'i!lg3
Provavelmente 44.ã3d2 não seduziu Karpov
devido a 44... a3! 45.We3 b4 46.f4 c4 e os
peões das pretas são muito mais perigosos do
que os das brancas: 47.f5 gxf5 4 8.gxf5 ãxd2
49.ãxd2 b3 50.f6+ We8 (o contrajogo central
claramente se mostra in eficaz) 51.Wd4 b2
52.Ê'.dl c3 53.@xc3 ãxd5, vencendo.
Entretanto, na partida, o contrajogo das
brancas também foi muito tarde.
44...ãxa2 (o mais poderoso, embora também
seja bom 44...g5, n ão permitindo ao adversário
cdar uma cadeia de peões móveis) 45.ã e3
"Provavelmente era com isso que as brancas
contavam quando sacrificaram o peão. Agora se
abrem linhas para a torre. Esse último lance
parecia ter vindo como uma surpresa para
Kortchnoi - dos vinte minutos que lhe
restavam, ele pensou por dez." (fal)
45...b4 46.e6 ã a3 47.ã e2
Talvez fosse a melhor chance 47.ã xa3 !?
bxa3 48.exf7 (Filip), mas mesmo aqui após
48 ... ã b8! as brancas estão perdidas: 49.~f4
a2, 49.Efal(d3) ã b3 ou 49.d6+ @xf7 etc.
47...fxe6 48.ãxe6+ Wf7
49.ã del
134
"Ambos os jogadores estavam cansados.
Após 49.g5 as brancas manteriam a
possibilidade de desenvolver sua iniciativa. As
pretas talvez seriam capazes de estancar o
ataque, mas pelo menos elas teriam se
mobilizado completamente." (Tal)
"Se Tal repreende Karpov pela oportunidade
perdida 49.gS, então surge a questão: teria sido
a posição após 48 ... 'i!?f7 realmente não
alcançada pelos treinadores em suas análises da
posição adiada?, pergunta Flohr com surpresa,
sugerindo 49 .. .ãd7, "após o que o método
vencedor para as pretas é similar à continuação
da partida." E, realmente, não tão complicado:
se, por exemplo 50.!!c6, então 50 ... b3!
51.ã xcS b2, vencendo.
49...ã d7!
Neutralizando as ameaças das brancas. As
pretas poderiam ter jogado fora a vitória com
49 ...ã xd5? 50.ãe7+ ~ f8 (50 ...$'f6?
51.í'Ile6+ 'i!?g5 52.:Sg7, vencendo - Filip)
51.ãe8+ ~ g7 52.E!le7+ 'i!?h6 53.lli?! ãad3
54.@h4! g5+ 55.@g3 ã d6 56.Wl8+ @g6
57.~7, com igualdade. Agora os peões pretos
na ala da dama são irresistíveis.
50.ãb6 (ou 50.gS ã d3) 50...ã d3 5t.ã ee6
ã3xd5 52.llxg6 a3 53.llbf6+ We7 54.lle6+
Wf8 55.ãef6+ ©e7 56J~e6+ Wd8 57.lla6
l!b7 58.ã g8+ Wc7 S9.ã g7+ lâd7 60.ã gS b3
61.l::txcS+ <.&b8 0-1
As brancas abandonaram e a contagem se
tornou 5-3.
A derrota acima foi a única do Campeão em
Baguio com as brancas. Tal escreve: "Kortchnoi
disputou esta partida com grande entusiasmo".
Baturinsky admite: "A derrota de Karpov na 28ª
partida foi até certo ponto natural, porque essa
foi a melhor partida de Kortchnoi no mate#'.
Como se não tivesse havido uma 21 •...
Segundo o próprio Karpov, ele poderia dar a
virada na próxima partida "mas circunstâncias
imprevisíveis prejudicaram minha disposição de
combater e me forçaram a um 'superaque-

cimento' demorado na expectativa da próxima
disputa". Uma hora antes do início do jogo, os
organizadores anunciaram um time-out técnico
(devido a problemas de fornecimento de
energia) e, dois dias depois, Kortchnoi solicitou
um último time-out "alegando ter-se queimado
muito no banho de mar", necessitando do
atendimento dos assistentes iogues que, sem
sair da vila d urante todo aquele mês,
"trabalharam abnegadamente, fortalecendo seu
estado físico e espírito de luta". Kortchnoi
estava bastante satisfeito com os iogues: "Com
o surgimento deles, Znkhar começou a
literalmente definhar na &ente dos meus
olhos!"
Conseqüentemente, a 29ª partida só começou
depois de uma semana. A aber tura não foi
comum: 1.c4 li:Jf6 2.~ c3 e6 3.e4!? (antes
Kortchnoi só tinha jogado 3.d4 ou 3.li:Jf3)
3...cs 4.es li:Jg8 5.d4 cxd4 6.it'xd4 'Llc6
7.1We4 d6 8.li:Jf3 dxe5 9.ttixe5 'Llf6 (não
permitindo a troca do bispo: 9... ~d7 10.-tlxd7
t!fxd7 11.~g5 Geller- Filip, lnterzonal de
G oremburgo 1955) l0.liJxc6 'i!fb6 U.'i!ff3
bxc6 e a fraqueza do peão e condenou as pretas
a uma longa e desagradável defesa em uma
posição levemente inferior. " De novo pude
encontrar uma variante da qual o Campeão do
Mundo não tinha a menor idéia! Ele gastou
mais de uma hora nos seus nove primeiros
lances, mas mesmo assim não conseguiu
descobrir como equilibrar", escreve Kortchnoi
e continua: " Na continuação da partida,
novamente em meu apuro de tempo, ele se
desviou do rumo certo e perdeu".
Partida 32
V. Kortchnoi - A. Karpov
Makh pela Campeonato Mundial, Baguio 1978
29ªpartida
Viktor, o Terrível
47 ... ~ d6?!
Seis lances após o reinício da partida, tendo
conquistado a igualdade, Kar.pov começa a
cometer imprec1soes. Primeiro, "após
47...-tlh7! 48.-tld3 2l.d6 as pretas não têm do
que reclamar: 49 ...tc3 -tlf6 50 ...teS -tle4
51.~ xd6 ã xd6 52.-tle5+ <Ji?g7!" (Tal) e,
segundo, 47 ...il.f6 ou 47 ...ã d6 também não são
maus.
48.kc3 lud7?
Tal e Filip deixaram passar esse lance em
silêncio, embora após ele as coisas se tornem
difíceis para as pretas. Também seria suficiente
48.. .ll b6 49.Wf3!, mas elas poderiam se
defender através de 48...~c7! com a idéia de
...!!d6.
49.gxf5+ exf5 50.g4! liJb6
Seria desfavorável 50 ... $.e5 (50... fxg4?
5 I.-tle4) 51.:lãxd7 Jl.xc3 52.gxf5+ WxfS
53.!l:d5+ <;!,f4 54.-tld3+ (Tal e Filip sugeriram
54.liJh3+, mas aqui 54...Wg4 55.~xgS ~ d4
56.lue4 a5 não é totalmente claro) 54 ...$'g4
55.luxc5 etc.
51.00 il.e7 (5 1...kc7 52.!l:e l !) 52.il.a5?!
Apuro de tempo. Seria muito forte 52.liJd3 !.
52 ...â f6! 53.<~g2 fxg4
Após 53 ...ctJc8 (Filip) é possível 54.!l:d7 e se
54 ... fxg4, então 55.2ãc7 ID'8 56.-tlxg4 com
boas chances de vitória.
54.liJxg4 ã e6 55.<i!?fJ $.f6 (55 ...éi:lc8
56J!d5!?) 56.ttixf6! E!xf6+ 57.@g4 fi)c8?!
"A defesa alternativa seria 57...lz:\xc4 58.bxc4
135
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
1lf4+ 59,g.>g3 ã xc4, mas no momento as
pretas não precisam correr riscos." (Tal).
Especialmente porque após 60J~d2 ãa4
61..tb6 c4 62.00 c3 63.ãg2 ou 62 .. . g4+
63.We3 elas provavelmente teriam perdido.
Mas elas poderiam ter incluído 57...lâf4+! e
somente após 58.Wg3 respondido 58 ...éz::ic8.
58.il..dS?! (seria mais preciso 58.JJ.c7! lt:ie7
59.iJ.d6 com uma vantagem óbvia) 58...lâf4+
59.Wg3 l!f5 (59 ...ãd4? 60.lâxd4 c xd4
6 l .Wg4 ~d6 62.it.xgS, vencendo) 60.a4 Wf7?
"Talvez o erro decisivo," achou Tal, que
recomendou 60...ã e5 (após o que, entretanto,
6 J.ç!;>g4 lâe4+ 62.@D lâf4+ 63.We3) ou
60 ...lâf7, o que "ainda manteria possibilidades
de resistência: 61.lâdS ãfS 62.lâd7 lâf7
63.lâxf? ~xf7 64.i.xgS 'i!?e6 seguido por
~ b6--d7."
61.lâd3?!
Parece mais desagradável para as pretas
61..âc7 ou 61.lâel!
61...l!eS?
Também seria ruim 61...lDe7? 62.lâd6!, mas
6l.. .'i!?g6 'faz sentido"' (fal), após o que as
brancas teriam jogado 62.lâd7 ou 62.aS ile5
63.00.
62.c.ftg4 'i!?g6 63.aS! l:le4+ 64.WO lâf4+ (ou
64 ...lâh4 65Jâd5 etc.) 65.We3 ã h4 (65 ...lâfS
66.We4 g4 67..th4, vencendo) 66.ã dS ã b3+
67.Wd2 ã xb3 68.ã xc5 ã b8 69.lâc-6+ cãf5
70.lâxa6 g4 71.lâf6+ 'i!?e4 72.JJ.c7 l:lb2+
73.C.!,c3 lâb7 74.2.h2 lâh7 75.iJ.b8 lâb7
136
76.Ag3 !!bl 77.llf4+ We3 78.lâf8 fi:Je7 79.a6
As pretas abandonaram e a contagem se
tornou 5-4!
Na 30' partida, Karpov jogou l .c4 e, depois
de uma demorada manobra, chegou-se a um
final de torres igual. A partida foi adiada, mas
não foi reiniciada, porque os competidores
concordaram com empate mediante a
intermediação do árbitro. Kortchnoi afirma:
"Oh, o que não aconteceu naqueles dias no
campo soviético! Oficiais de alta patente -
Ivonin (o chefe estatal do xadrez soviético), o
cosmonauta Sevastyanov (por assim dizer, o
chefe social - o Presidente da Federação), já se
encontravam h á muito tempo em Baguio,
aguardando com impaciência o banquete de
encerramento. Mas o banquete ainda não tinha
acontecido..."
E então chegou o dia da memorável e sofrida
31ª partida. A abertura não anunciou nenhuma
partida em grande escala. Depois de t.c4,
Karpov nã.o quis que se repetisse o cas.o da 29ª
partida e pela primeira vez respondeu l...e6
2.lilc3 d5, enquanto Kortchnoi, pela primeira
vez em toda a história dos encontros com o
jovem rival, usou a tranqüila variante Carlsbad
3.d4 fi:Jf6 4.cxd5 exdS 5 ...igS ..ie7 6.e3 0-0
7.iJ.d3 lf)bd78.~ t3 l!e8 9.'ii'c2 c6 10.0-0
~ f8 11 ..âxf6 li.xf6 12.b4 .i.g4 13.fi:Jd2 E!c8
14.~ fS il.xf5 15.!fxfS !fd7 16.'ti'xd7 fi:Jxd7
17.a4 1J..e7 18l!fbl <t\f6 19.a5!? (segundo as
palavras de Tal, foi precisamente este lance
questionável que ao final proporcionou o

sucesso das brancas) 19...aS 20.~a4 etc.
Na verdade, Kortchnoi havia rejeitado o
ataque tradicional da minoria de peões b2-b4-
b5, supondo com razão que as pretas
estancariam esse at.aque com c6-c5. Ao invés
disso, optou por um plano incomum e pouco
usado: fixou os peões da ala da dama,
conquistando um poderoso posto avançado em
c5 para o cavalo e a possibilidade de preparar
uma ruptura no centro através de e3- e4. Um
plano análogo ocorreu na partida Andersson-
Kasparov (2ª partida do ,na/eh, Belgrado 1985),
com a única diferença de que lá as damas ainda
estavam no tabuleiro e e3-e4 conduziu a um
jogo duplamente agudo. No fi.nal do jogo o rei
branco pôde passar para d3, enquanto o rei
preto não teve um posto privilegiado no centro,
de modo que no final da partida este fator veio
a ser virtualmente decisivo.
Kortchnoi fez o cálculo psicológico correto
para que a manobra lenta para a iminente
ameaça estratégica de e3-e4 viesse a ser a mais
desagradável para o adversário. Naturalmente,
Karpov queria de algum modo abrir o jogo em
busca de maior clareza, mas foi obrigado a
esperar... Kortchnoi jogou e3-e4 só depois do
esgotamento do tempo, no 41 ° lance! E Karpov,
que contava com uma enorme reserva de
tempo, não queria adiar a partida em uma
posição indefinida e resolveu tentar a sorte:
"Respondi literalmente em poucos segundos.
Ele fez o 42° lance e respondi imedia-
tamente...", diz Kortchnoi. Conseqüentemente,
houve trocas e quando a partida foi adiada foi
alcançado uma difícil final de torres para as
pretas.
Partida 33
V. Kortchnoi - A. Karpov
lvfatch pelo Campeo11alo M11ndial, BtJguio 1978
31'partida
Viktor, o Terrível
47.fS!
''A dupla de peões em c5 e f5 restringe muito
a mobilidade do rei preto. Aqui a partida foi
adiada e Karpov, t0mando o tempo que lhe
restava no relógio, selou seu próximo lance. As
análises mostraram que a posição das pretas era
muito perigosa. Na continuação da partida (não
pela primeira vez) ocorreu o inesperado.
Inicialmente o desafiante perdeu várias
continuações mais fortes, mas no momento em
que o empate estava próximo das mãos, o
Campeão cometeu um sério erro." (fal).
47 .. .gxfS 48.gxfS
Agora as pretas têm que comar sempre com
os possíveis rompimentos a5- a6 e d4-d5. Mas
a vantagem das brancas é suficiente para a
vitória? Em seu livro muito interessante e de
alta qualidade Practical Rook Endings (Olms
1999), Kortchnoi dedicou 21 páginas de
análises a esse final excepcionalmente
complicado! E no final ele chega à conclusão de
que, no entanto, as pretas poderiam ter se
defendido. Mas eu me aventuro a afirmar que a
sua posição já está perdida (embora, quem sabe,
esse veredicto também possa ser discutido?).
Em meu ponto de vista, em certas linhas
supostamente empatadas dadas por Kortchnoi,
as brancas podem conquistar uma vantagem
decisiva com jogo sutil e inesperado. De início é
importante compreender - e Kortchnoi explica
muito bem isso no seu livro - que, de uma
maneira geral, as brancas jogam pela vitória.
Em particular, isso é devido à posição diferente
137
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
dos dois reis: as brancas podem se tomar muito
ativas (tanto após o sacrifício de peão d4-d5 e
~d4, como após a manobra de b4 seguida por
d4-d5 ou a5-a6 e ~ a5), enquanto o rei das
pretas está limitado pelos p eões f5 e c5 e o
primeiro xeque na 7ª fileira forçará o recuo para
a s~. A soma desses fatores posicionais permite
às brancas partirem para sacrifícios materiais,
uma vez que em algumas variantes até mesmo
um peão passado é suficiente para a vitória: em
vista da distância do rei das pretas, elas são
forçadas a entregar a torre por ele e o seu
contrajogo é usualmente muito tarde...
Agora vamos ver como os fatos se
desenvolveram nesse final verdadeiramente
histórico.
48...ã gS
"Seria passivo 48...ãa8 - após 49.&2 as
brancas teriam jogado o rei para b4, ameaçando
as rupturas d4-d5 e a5-a6" (fal). Aqui teria
seguido 49 .. .~e? 50.Wc3 Wd7 51.'i!tb4 ~c7
52.d5 cxd5 (após 52 ...2Ie8? 53.d6+ as brancas
têm uma vantagem posicional decisiva e
Kortchnoi convincentemente demonstrou uma
vitória) 53.~b5:
1) 53 ... d4 54.ãe2 ãd8 55.ãe?+ Wc8
56.~b6 d3 57.!k?+ ~ b8 58.~ xb?+ Wc8
59.2::'!c?+ Wb8 60.a6 d2 61.El:b?+ <;!;>a8 62.c6
ou 54 . . J!g8 55.ãe?+ Wc8 56.@b6 (atividade
do rei!) 56 ... d3 57.c6! bxc6 58.a6 ~b8
59.lâd? c5 60.Wxc5 (após a troca de peões, as
138
brancas mantêm o seu altamente importante
peão f5 e o seu rei simplesmente captura mate-
rial na ala do rei) 60 ... ãgl 6Lãxd3 ã cl+
62.~b6 l!b l+ 63.@c6 ãal 64.<;!;>d? ã xa6
65.<;!;>e? Wc7 66.âd7+ @c8 67.l!d6, vencendo
(Kortchnoi);
2) 53 ... ãe8! (isso é muito mais interessante)
54 .ãg2! (Kortchnoi com os lances 54.a6
bxa6+ 55.ã xa6 esperava por 55 ... ã e3?
56.&6+, não venceria devido a 55 ...ãb8+ !
56.gb6 lib7! e se 57.Wa6, então 57 . .. ãb8
58.ãxf6 d4 com um empate fácil: 59.ãd6 d3
60.ã xd3 Wc6) 54 .. .l!e3 (é mais fraco
54 ...â d8? 55.ã g6 lid7 56.:!~xf6 d4 57.ãe6 d3
58.ã el d2 59.ãd l lâd4 60.f6 etc.) 55.Z:ig?+
Wb8 (se 55 ...<;!;>c8 seguiria 56.a6! bxa6+
57.éc6 çt,b8 58.'í!ld6 d4 59.c6 âc3 60.ãb7+
Wc8 61.lif7 <;!;>b8 62.l!xf6 d3 63.Wd7,
vencendo) 56.a6! (a única maneira!)
56 ... bxa6+ e as brancas têm duas continuações
teotado.ras:
a) 57.'í!lc6!? (talvez o mais forte) 57 ... d4
58.lig6 lixb3 59.ãxf6 a5 60.@d7 e o peão d é
restringido pela torre de d6, após o que é
decisivo o avanço combinado dos peões e e f;
b) 57.@xa6 57 ...!!xh3 (57...ãb3 58.âfl)
58.@b6 l!b3+ 59.@c6 d4 60.1If7 ãa3 (60...d3
61.!!x f6 d2 62.l!d6 l!f3 63,g xd2 ã:xf5
64.@b6 <;!;>c8 65.l!a2, vencendo) 6 I.!!f8+ Wa7
62.Wd7 lâa5 63.c6 ã d5+ (63 ...d3 64.c7 d2
65.ã a8+ $>b6 66.ã b8+ <:Ji;a7 67.lib7+ Wa6
68.ãbl e c8~, vencendo) 64.<~e6 âc5
65.Wxf6 l!xc6+ 66.@e5 ãcl 67.'í!lxd4, e,
embora ao custo de enormes esforços, as pretas
tenham conseguido eliminar o peão e, elas têm
literalmente um tempo a menos para serem
capazes de neutralizar o peão f: 67 ... ~ fl 68.f6
h5 69.We5 h4 70.ID18 ãel+ 7 1.Ç,tlf5 ãt1+
72.We6 Ê'.el+ 73.<;!;>d? lifl 74.We7 ãe l+
75.@f8 ã hl 76.rl h3 77.<;!;>e7, vencendo.
Entretanto, vamos retornar à não menos
fascinante posição da partida.

49.@c3?!
De acordo com Kortchno~ ele fez esse lance
de terceira categoria por razões psicológicas:
pode-se assumir que em suas análises caseiras a
equipe de Karpov pudesse não ter dedicado
atenção suficiente a ele.
A ruptura 49 .d5? seria prematura em vista de
49 .. J:!d8! 50.d6 ã e8, quando o final de peões
é empatado e de outra forma a torre preta vai a
e5, atacando os peões c5 e f5. Mas, como todos
os comentaristas observaram, dois "lances mais
perigosos para as pretas" são auto-sugestivos -
49.ã a2 e 49.ã e6:
l) 49.&2 (com a idéia de a5- a6, trocando 0
peão b7 e atacando o peão c6) 49 .. J~g3+
50.<;t>e4 ã xh3 5l.a6 (o lance 51.dS pode ser
respondido tanto pelo lance de Kortchnoi
51...b4, ou através de 51...l:Dt4+ 52.©f3 ãd4!
53 .dxc6 bxc6 54.a6 âd8, com empate)
51...bxa6 52.ãxa6 ã h4+ 53.@d3 ã h3+
54.@d2 e agora é ruim jogar 54... b4? 55.ã xc6
b3 56.ãd6! ou 54 ...h5? 55Jâxc6 h4 56.ã c7+!
(esse plano é mais poderoso do que o de
Konchnoi, 56.ãb6 ID:3 57.r!xb5 h3 58.c6 h2
59.ãb7+ $>e8 60.:!âli7 @d8 61.ãxh2 ãxf5
62.$>d3 etc.) 56.. .@e8 57.c6 com uma ruptura
decisiva (57 ... ãf3 58Jâf7 @d8 59.ãxf6 h3
60.dS h2 61.d6, vencendo), mas as pretas são
resgatadas por 54 ... ã h2+! 55.@c3 :!ih3+
56.©b4 ãd3 57.:Sxc6 ã xd4+ (o contrajogo
das pretas chega na hora certa: elas são capazes
de ativar seu rei) 58.@xbS ãd5 59.ãc7+ 'i!?e8
60.@b6 ãxf5 61.ã b7 ãt2 62.c6 ã b2+ 63.$'a7
Viktor, o Terrível
!k2 64.c7 Wd7! 65.$>b8 ©e6 66Jâb5 f5 (ao
entregar um dos seus peões, as pretas rompem
com seu rei na ala do rei) 67.c8!f+ ãxc8+
68.<;t>xc8 f4 69.©c7 f3 70.©c6 t2 71.Ê'.bl @f5
72.ã fl h5 73.ãxf2+ 'it>g4 74.@dS ©g3, com
um empate.
Com base nessa variante, Kortchnoi
corretamente concluiu em suas análises que o
lance 49.!Ía2 fosse insuficiente para a vitória e
procedeu a análise da seguinte continuação
enérgica, a qual também tinha sido, fora de
qualquer dúvida, cuidadosamente estudada no
campo de Karpov;
2) 49.ãe6!. O mesmo plano de criar peões
passados conectados, mas sem perder tempo na
captura do peão a6: após a5- a6 e bxa6 as
brancas capturam imediatamente em c6 e esse
tempo, no meu ponto de vista, se prova
decisivo. Por exemplo:
a) 49 ...ãas 50.ãd6! @e7 51.d5 ã xa5 (é
ruim para as pretas 5 l...cxd5 52.!ib6 ã xa5
53.ãxb7+ ©d8 54.©d4) 52.!ie6+! ©d7
53.ã xf6 b4 54.Wc4 b3! (uma posição muito
aguda!) 55.lâf7+ ©c8 56.©xb3 cxd5
(Kortchnoi também deu uma análise detalhada
de 56...ãxcS 57.d6, vencendo) 57.f6 lâa l
(57 ...ãbS+ 58.<i!?c3 ãxc5+ 59.©d4 ã cl
60.lãe7 ©d8 61.~dS b5 62.We6, vencendo)
58.&7! (é mais fraco 58.©c3 !Ifl 59.©d4ãf5
60.h4 h5 6I.ãh7 .ãxf6 62.<i!?eS !!g6 e ...b7- b6,
com um empate) 58 ... ©d8 59.©c3 âfl
60.ãxb7 ã xf6 61.Wd4 !!f3.
Diagrama de Análise
139
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Na opinião de Kortchnoi, isso é um empate:
62.Wxd5 ã xh3 63.<.!í'c6 Wc8!. Entretanto, há o
lance terrivelmente forte 62.h4! !, forçando a
torre preta a tomar uma posição infeliz: após
62...l\f5 elas vencem através de 63.c6! Wc8
64Jã:h7 h5 65.Wc5 d4+ 66.<.!?b6, se 62...!'.th3 -
63.'i!te5! (mantendo o peão d5: ele cobre o rei
contra xeques) 63 ...d4 64.Wd6 Wc8 65.l:Th7
!Ic3 66.c6 $'b8 67.Wd7 d3 68.!'.txh6 e i!d6,
restringindo o peão d e avançando seus
próprios peões, ou 62 .. .lâf4+ 63.We5! ~ g4
64.Wd6 gg6+ 65.<.!?xd5 ã g4 66.hS !'.tgl
(caçando após o peão h5 permitir o mortífero
Wd6) 67.ãh7, vencendo;
b) 49 .. .ã g3+ (forçado) 50.$)e4! (50.Wd2?!
~ 3 51.d5 .ãxa5 52.dxc6 bxc6 53 ..ãxc6 ãa4
54.ãb6 .fil4 , com igualdade) 50...l!xh3 51.a6!
(se 5 l .d5 Eth4+ 52.<~ d3 as pretas se salvam por
52 ... ã a4 e llxa5) 51.. .ãh4+ 52.'~e3 ãh3+
53.Wf4 bxa6 54.ãxc6 e as pretas têm uma
escolha:
bl) 54 ... ID14+ 55.© e3 a5 56.ãb6 b4
57.2:l:b5! (esse caminho, em vez de 57 ..ãb7+
We8 58.c6 Wd8 59.©d3, pois aqui , ao invés
de 59...a4? 60.d5! Wil 61.Wc4, vencendo,
como foi dado por Kortchnoi, há a resposta
59 ... b3! com jogo indefinido) 57 .. .b3
58.ã xaS, eliminando um dos peões pretos,
após o que o outro não será tão perigoso e a
dupla de peões brancos rapidamente decide o
resultado: 58 ...We7 59.ãb5 g h2 60.ÇPe4 b2
61 .'it'd5;
b2) 54 .. .a5 55.We4 âc3 (55 ...a4 56.ãb6!;
55 ...b4 56.ã a6!) 56.Wd5. Outra posição muito
aguda, com peões passados para ambos os
lados. A vantagem decisiva das brancas é que os
seus peões são apoiados pelo seu rei e sempre
podem criar ameaças ao rei inimigo. Se 56...h5,
então 57.ãc7+ ç!.,g8 58.'it'e6! h4 59.Wxf6 h3
60.ãg7+, por exemplo: 60 .. .Wh8 61.lã:g4!
Wh7 62.d5! :SxcS 63.d6 :Sd5 (Kortchnoi)
64.ã h4+ Wg8 65.We6 !!d3 66.d7 h2
(66 ...:Se3+ 67.WdS Étd3+ 68Jã:d4) 67.ã xh2
ge3+ 68.-.!?f6 ã d3 69.:Sg2+ Wf8 70.2:l:g7
140
ã ct6+ 7 t.We5 ã dl 72.:Sh7 ou 60 ... @f8
61.d5! S xc5 62..ãa7 (as brancas entregam seu
peão e, mas seus peões d e f são suficientes)
62 ... :Sc8 (62...We8 63 .We6) 63.&7 Wg8
64.ã xh3 :Sd8 (Kortchnoi) 65Jàd3 WIB 66.d6
We8 67.<.!?e6 e os peões pretos da ala da dama
não conseguem mais avançar.
Seria mais forte 56...b4, com a idéia de
57.:Sa6? h5 58.:Sxa5 b3 (distraindo a atenção
das brancas com a ajuda dos peões a e b)
59.&7+ WIB! 60.@e6 h4 61.Wxf6 (6 1.ãf7+
Wg8 62.@xf6 h3) 61. ..Ç&e8 62.d5 h3 63.c6
Wd8 64.We6 b2! , com igualdade. (Kortchnoí)
Entretanto, aqui também as brancas podem
vencer através de um astuto xeque
intermediário - 57.ãc7+!. Após 57 ... Wg8
agora é bom 58.!fa7 h5 59.ãxa5 b3 60.!!al !,
enquanto se 57.. .<;tiIB, então 58.S'e6 (mas não
58.&7? b3 59Jãxa5 h5 etc.) 58 ...a4 (ou
58 ... b3 59.d5 e Wxf6) 59.d5 a3 60.Wxf6
conduz à mesma situação, quando o peder dos
peões passados é combinado com ameaças de
mate.
Diagrama de Análise
Não há maneira de salvar a partida: 60...Wg8
61.l:!g7+ Wh8 62.ã a7 ou 60 ...©e8 61.ga7 b3
62.:Sxa3 b2 63.!fa8+ ©d7 64.ãb8 ãxc5
65.g xb2 Itxd5 66.lã:b7+ e embora as pretas
tenham trocado seus peões a e b pelos peões e
e d, o final resultante com o peão f contra o
peão h não deixa esperanças para elas.

Assim, a análise dada para as variantes com
49.:Se6! mostra que a posição adiada era
todavia vencedora para as brancas. Para chegar
a essa conclusão, me baseei não somente no
computador, mas também em primeiro lugar na
intuição. Após fazer um estudo cuidadoso das
profundas análises de Kortchnoi, fui imbuído
pelo sentimento persistente de que a vantagem
posicional das brancas nesse original final de
partida seria suficiente para a vitória. E na
seqüência as pesquisas confirmaram isso...
Quanto ao lance feito na partida 49.Wc3?!,
objetivamente joga fora a vitória, embora
prepare uma armadilha esperta.
49...ãeS?!
"Uma vez que o final de peões está empatado,
a torre ocupa a importante coluna aberta. Após
49...Bg3+? 50.'it1b4 ãxh3 as pretas enfrentam
retribuição pelo seu "arrebatamento de peões":
5l.d5 cxd5 52.c6 bxc6 53.a6 e o peão a não
pode ser parado." (Tal). Entretanto, após
53 .. J~h4+ 54.~cS lâa4 (Kan) 55.~b6 b4
56.a7 c5 57.Wb7 c4 58.:Se6 :Sxa7+ 59.'it'xa7
c3 60.Ik6 d4 não são as pretas que perdem,
mas as brancas! Ao invés de 52.c6? o lance
correto é 52.!!e6! lli3 53.!!b6 i:!xf5 54.1:!xb7+
~e6 55.a6 :!!fl 56.a7 &l 57.c6, vencendo.
Mas um lance antes as pretas também poderiam
jogar de uma maneira mais forte: 5 I...ãh4+!
52.Wb3 I!h3+ 53.çt,b2 cxd5 (Kan),
conquistando um empate: 54.c6 bxc6 55.a6
l:!h4 56.©b3 c5 57.lãa2 !!h3+ ou 54.lãe6 b4!
55.:!!b6 :!!a3 56Jixb7+ 'it'e8 57.c6 Wd8
58.:Sf7 ãxa5 59.ã xf6 ~c7.
Onde então está a vitória das brancas? Ela é
mostrada por Kortchnoi: 51.a6! bxa6 52.d5!.
O triunfo da idéia principal! As pretas têm duas
respostas:
1) 52 ...cxdS 53.c6 ãh4+ 54.WcS ãc4+
55.©xdS aS (55 .. Jlcl 56.'i!?d6, vencendo -
Kortchnoi) 56.Wd6! (o plano de Kortchnoi
Viktor, o Terrível
56.ã b2 E!cl 57.:SXbS é insuficiente devido a
57 ... We7!) 56...b4 57.ãe7+ @f8 58.ãa7 b3
59.c7 e as brancas vencem, explorando o poder
do seu peão passado f5. As pretas não são
socorridas por 53 .. Jâg3 54.c7 lãg4+ 55.$'c5
ãc4+ 56.@d6 d4 57.@d7 d3 58Jàd2 ã d4+
59.<it>c6 ã c4+ 60.'i5'b7;
2) 52 ...:Sb4+ 53.'~a5 cxdS 54.ãc2 d4!
(Kortchnoi recusou 54...'i5'e7 devido a 55.c6
@d8 56.Wb6 çt,çg 57.ã g2, quando a torre
decisivamente invade a coluna g) 55.c6 d3 e
agora não 56.c7? dxc2 57.c8!f ã c4 58.'i!i'e6+
Wf8 59.l!i'xf6+ We8 60.tlfe6+ $>d8! 61.tlfd6+
'i!tc8 62."i!fxa6+ r:Ji1c7 63.'t!fb6+ ~c8 64.!fe6+
Wd8 com empate (Kortchnoi), mas somente
56.ãd.2! ãc4 57.$'b6, conquistando a vitória:
57 ... b4 (57 .. .<~e7 58.:SXd3) 58.ã xd3 a5 59.c7
a4 60.gd7+ We8 61.lld6 (ameaçando ãc6)
61.. .:!!xc7 62.©xc7 a3 63.E!a6 h5 64.©d6 (o
rei calmamente retorna e vai capturando os
peões - na hora certaQ 64... h4 65.Wc5 h3
66.Wxb4 h2 67.ãe6+ <:Ji/fl 68.ãel.
Para completar o quadro, podemos men-
cionar que as pretas também não se salvam
através de 50...ã d3 (ao invés de 50 ...ãxh3)
S l .a6! ãxd4+ 52.WaS :!!a4+ 53.@b6 ou
51. .. bxa6 52.WaS ãxd4 53.çt,xa6 b4 54.Wb6
b3 55.@xc6 .lâb4 (55...ã c4 56.r.!ld6 ãd4+
57.@c7 ãc4 58.c6 ãc2 59.ãe3 b2 60.ã b3
@e7 6l.h4 h5 62.ãb7! We8 63.©d6,
vencendo - Kortchnoi) 56.!!b2 b5 57.<:Ji/c7 h4
58.c6 We7 59.<:Ji/c8 $>d6 60.c7 ãc4 61.ãd2+
$'c6 62.@d8 @b7 63.ãd7 e caem as cortinas.
Assim, 49 ... ã g3+? realmente teria perdido.
Mas um empate poderia ser conquistado através
do razoavelmente óbvio (embora quem sabe o
que pode ser considerado óbvio na continuação
da 3r partida de um match exaustivo?!)
49 ...ãgS! (atacando o peão f5, que é muito
mais importante do que o peão h3) 50.ãe6
ãxf5 5 l.a6 bxa6 52.ã xc6 a5!.
141
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Diagrama de Análise
A posição das pretas é muito melhor do que
em muitas das variantes analisadas
anteriormente, pois a ausência do peão f5
permite-lhes ativar seu rei. Objetivamente, as
chances para os dois lados agora são aproxi-
madamente iguais:
I) 53.$'d3 e agora uma possível continuação
é 53 .. J~f3+ 54.@e4 l!xh3 55.!k7+ @g6 56.d5
f5+! (Kortchnoi) 57.Wd4 I!h4+ 58.©d3 a4
59.d6 a3 60.d7 a2 61.ãc6+! (61.d8'!W? ãh3+!)
61...<~h5 62.~6 &4 63.d8'i!f ãxa6 64.'tife8+
Wg4 65.~e2+ $'g5 com empate, embora seja
mais astuto 53 ... a4!? 54.©e4? (seria correto
54.ã b6) 54 .. .ã fl 55.ãa6 f5+! e agora são as
pretas que jogam pela vitória: 56.©e5 f4
57.&7+ Wg6 58.& 5 f3! (mas não a sugestão
de Kortchnoi 58 .. .'~g5 59.c6 ou 58 ...b4
59.ã xa4 b3 60.~, com igualdade) 59.$'f4 f2
60.Wf3 b4 61.ãxa4 b3 62.ã b4 ãhl 63.©xf2
b2, vencendo;
2) 53.:Sa6 ~f3+ 54.Wd2 b4 55.ãxaS ©e6
com igualdade (Kortchnoi) ou 54...a4 e as
brancas têm que sacrificar um peão: 55.dS .lâfS
56.ãa7+ Wg6 57 .©c3 ãxd5 58.Wb4, mas isso
é suficiente apenas para o empate - 58 .. .!!d3
etc.
O lance de Karpov 49 ... ãe8?! também não
é perdedor, embora contudo conduza as pretas
a mais problemas complicados.
50.:Sd2
Tal recomendou o lance 50.ãa2 no lugar do
142
da partida. E realmente, 50 .. .ãe3+ 51.@d2!
(5 l.$'b4 :Sd3 !, com igualdade - Kortchnoi)
51...ãxh3 52.a6 bxa6 53.ã xa6 teria levado a
uma posição da variante com 49.l'Xa.2, onde as
pretas teriam que demonstrar o único caminho
para o empate. Mas pode-se recordar que
Kortchnoi deliberadamente evitou essa linha, a
qual certamente tinha sido analisada pela equipe
do seu adversário. Talvez fosse por essa
mudança dos fatos que Karpov estivesse
esperando, quando jogou 49 ... !fo8. · E
Kortchnoi, fiel à sua estratégia psicológica, se
empenhou em finalmente distrair seu adversário
de suas análise da partida adiada.
SO...ãe4
"Um caminho perfeitamente sólido para o
empate. A ruptura 5 l .d5 não é perigosa para as
pretas. O único plano de jogar pela vitória é
romper com o rei pela ala da dama. Os
próximos lances são forçados." (Tal)
51.©b4 (novamente Kortchnoi evita
5U!a2) 51 ...'it>e8! 52.a6
"Uma última tentativa, que inesperadamente
prova ter sucesso." (Kan).
52 ... bxa6 53.<&aS Wd7 54.Wb6! b4 55.d5
(uma ruptura longamente aguardada, que agora
requer das pretas uma certa precisão para ser
defendida) 55...cxdS 56l!xd5+ Wc8 57.ãd3
É claro, não 57.c6'? b3!.
57...aS?
Após atingir o segundo controle de tempo
(no 56° lance), Karpov comete um erro fatal, ao
 Viktor, o Terrível

fazer um lance instintivo: ele queria ativar. seus peões.

peões passados o mais rápido possível. Mas as 59.Wc6!
pretas não tinham tempo para avançá-los! Seria "Ao trazer seu rei com o ganho de um tempo,
essencial combinar ataque com defesa: de as brancas conquistam um peão muito
acordo com Tal, "todas as dificuldades das importante." (fal). O resultado escá decidido.
pretas teriam ficado para trás se elas tivessem Karpov fez mais uma dúzia de lances submissos
jogado 57 .. J~c4! 58.c6 (58J!g3 ã c3 ou e no final totalmente desnecessários.
m~smo 58 ...Wd?) 58 ...ãc3." 59...@b8 (ou 59...ãd4 60.ã xb3 a4 61.É!g3)
Realmente, nesse caso a torre preta teria 60.ã xb3+ Wa7 6I.ã b7+ 'i!i>a6 62.lâb6+ Wa7
apoiado com sucesso o avanço do seu peão b e 63.WbS a4 64.!!xf6 ã f4 65.ãxh6 a3 66.ãa6+
restringido o avanço do peão e inimigo. Um Wb8 67.ãxa3 âxf5 68.Jlg3 ãf6 69.!!g8+
empate seguiria tanto após 59.É!d6 b3 60.ãxf6 Wc7 70.llg7+ Wc8 71.É!h7 1- 0
Wd8 6I.ã d6+ We7 (Kortchnoi), como A contagem se tornou empatada: 5-5 e o
também 59.ãd2 b3 60.ãg2 $'d8 61.Wb7 a5 resultado do match estava agora pendurado por
62.ã d2+ We7 63.c7 a4 64.c8W .ãxc8 um fio.
65.Wxc8 a3 66.ã d?+ e a força dos peões
pretos obriga as brancas a forçarem o xeque
perpétuo.
Comentando sobre o erro de Karpov, o
veterano mestre soviético Ilya Kan escreveu:
"Esse final de torre poderia entrar para a
história dos enigmas nas batalhas pelo
Campeonato Mundial." Em minha opinião, esse
é um exagero artístico: a história do xadrez
conhece enigmas muito maiores - o terrível
erro de Chigorin na 23ª partida do seu match
contra Steinitz (voi11n1e 1, partida 26), os
"blecautes" de Bronstein durante a continuação
da 6ª e da 23ª partidas do seu malch contra
Botvinnik (volt,me 2, partidas 61 e 66) e assim por
diante.
58.ãg3 (e subitamente fica claro que aqui não
há mais o empate!) 58 ... b3
Na opinião de Tal, "após 58...ãc4 as pretas
teriam mantido chances de salvar a partida."
Outros comentaristas também recomendaram
esse lance mais resistente. Mas aqui também as
brancas têm um caminho bem delineado para a
vitória: 59.c6 Wd8 60.c7+ @e7 6J.i:!e3+ 'i.!id6 Ao empatar a contagem no final do match em
62.âd3+ We5 63.ã d8, e após 63 ... b3 64.c8~ Baguio (1978), Viktor Kortchnoi quase se
sagrou Campeão Mundial
ã xc8 65.ãxc8 a4 66.!k5+ $'d4 67.ã bS @c4
há a manobra de flanco 68.Wa5 a3 69 ..ãb4+! "O fenomenal 5-5 veio a ser um equilibrio
Wc3 70.@a4 a2 71 .ã xb3+ @c2 72.ãa3 Wb2 não só competitivo, mas também ideológ1co;
73 .Wb4, transpondo para um final vencedor de ficou claro que o desertor, privado de sua

143
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
familia e da pátria, o tempo todo cercado por
uma manada de 'rinocerontes', em condições
de liberdade seria capaz de conseguir o
impossível" (E. Sztein).
Como foi que Kortchnoi conseguiu este
milagre? Por que, quase a terceira vez em
seguida - um recorde único em sua gloriosa
carreira - Karpov foi incapaz de segurar um
final inferior? É natural, é mais simples falar do
cansaço do Campeão. Mas uma explicação
desse teor diminui, a meu ver, o mérito de
Kortchnoi, que embora 20 anos mais velho que
o seu adversário, criou para ele problemas de
maneira incansável e constante. É claro, o
entusiasmo fantástico e o talento criativo de
Kortchnoi, mesmo em uma situação de 1J1atch
sem esperanças, também afetaram a condição
de Karpov, provocando-o a cometer novos
erros. É importante observar que estamos
falando não de equívocos e erros graves, mas de
deterioração gradual de posição: pouco a pouco
Kortchnoi derrotou seu majestoso rival! Acho
que estas vitórias de Kortchnoi são bem mais
valiosas que as vitórias de finais complicados
contra Polugaevsky, ou mesmo Spassky, nos
matches de 1977.
Eis a opinião do próprio Kortchnoi: "O que
de fato aconteceu na segunda metade do match?
Karpov tinha uma vantagem colossal não só
psicológica, competitiva e enxadrística, mas
também política; no entanto não teve como
capitalizar isso e foi perdendo tudo pelo
caminho. A úrúca concessão com que o lado
soviético concordou, que era retirar o psicólogo
deles do meu campo de visão, custou caro ao
Campeão. Karpov perdeu suas melhores
qualidades, e principalmente, sua perspicácia
psicológica de avaliar a posição! É o tip o de
conhecimento da impressão que o adversário
possui da posição. A capacidade de entender a
linha do pensamento do adversário sigrúfica
muito! Significa reduzir pelo menos até a
metade a análise de possíveis respostas do
adversário e, para me expressar de maneira mais
simples, significa prever o que ele vai fazer.
144
Karpov possui esta qualidade mais do que
qualquer outro e, no entanto, a perdeu! Neste
sentido, ele se mostrou tão impotente na 29• e
na 31 ª partidas, quanto tinha se revelado
poderoso na 13ª partida e na p rimeira metade
da 17ª. Era evidente que tinha perdido a
confiança em si mesmo".
Para falar objetivamente, deve-se notar que
não foi absolutamente pela ausência de Zukhar
das fileiras da frente da sala que Kortchnoi
venceu estas três partidas; na verdade, ele
combateu com a fúria de um leão. Cerca de seis
anos depois, o seu exemplo heróico me inspirou
numa situação mais desesperadora ainda, em
que e.stive envolvido depois da 27ª partida de
meu prjmeiro match com Karpov (1984-1985).
E os acontecimentos no final do match em
Baguio foram, até certo ponto, uma antecipação
do drama que seria representado na última terça
parte de nosso v1atch em Moscou, especialmente
nos dias finais. Mas disto trataremos no vo/111T1e 2
da série Xadrez. Moderno.
,,
--
'
-- -
,f\
·-· _,._
•
25 de julho de 1978: em homenagem ao
~,. I
segundo aniversário da fuga de Kortchnoi para
o Ocidente, a gerência do hotel onde
Kortchnoí se hospedava ofereceu-lhe um
enorme bolo "xadrez"
Agora, depois da 31ª partida, venceria o match
o jogador que conquistasse a primeira vitória.
Karpov pediu um time-011t e para tentar repelir e
reduzir a tensão, viajou com Sevastyanov para
Manila, onde torceu furiosamente pelo " nosso"
time no jogo URSS-Yugoslávia no Campeonato
Mundial de Basquete. Enquanto isto, em

Baguio, o "nosso" outro time tinha lançado
wna ofensiva decisiva contra os iogues; naquele
momento, o lado soviético tinha tudo sob
controle.
O árbitro principal, Schmid, tinha ido embora
depois da 27ª partida (tinha compromissos
inadiáveis na Alemanha) e foi substituído no
Comitê de Apelações pelo novo árbitro-chefe
Filip, vindo da "fraterna" Tchecoslováquia.
Euwe, que tinha chegado para o final do ,natch,
também foi embora precisamente depois da 31ª
partida. Isto foi uma pena.! Kortchnoi afuma
que "Karpov teve que esperar pela saída de
Euwe, a única pessoa que os soviéticos de certo
modo respeitavam. O Presidente deixou Baguio
nos clias mais quentes do match, sob pretexto de
ir colocar em ordem ... a Federação Venezuelana
de Xadrez! Pelo visto este compromisso era
mais importante do que a questão de proclamar
o Campeão Mundial. Na verdade, antes da
partida, em uma conversa com Keene e Petra
Leeuwerick, Euwe tinha dito que "se os
soviéticos prejudicassem os iogues de novo, me
dariam permissão para suspender o matei!'.
O ataque contra os iogues tinha começado
em 14 de outubro, com uma entrevista coletiva
dada por Campomanes, declarando que os
"criminosos" Dwyer e Shepperd estavam
novamente visitando o hotel em que o
desafiante estava hospedado e utilizando a
condução oficial do match, e exigiu de
Kortchnoi "que observasse as normas de
decência e respeito aos organizadores". Em
resposta, Kortchnoi convidou jornalistas e, sob
a orientação de Dada e Didi, praticou uma série
de exercícios de ioga.
No dia seguinte, véspera da 32ª partida, a
delegação soviética apresentou um reque-
rimento ao Comitê de Apelações solicitando
que os " terroristas criminosos" fossem
expulsos do match. Eis um resumo que merece
ser lido: "O organizador do match, Sr. Campo-
manes, várias vezes solicitou oficialmente o
encerramento deste relacionamento e, no
memorando de 13 de setembro (depois da 21ª
Viktor, o Terrível
partida - G.K.), avisou sobre a possibilidade de
suspender o niatch para garantir a segurança
individual e pública. Entretanto, o relacio-
namento dos membros da delegação do
desafiante com os elementos criminosos
continuou".
Como podemos ver, em 1978, Campomanes
e a equipe de Karpov estavam planejando a
possibilidade de s1,spender o 111atch. Quando o escore
chegou a 5-5, começaram a circular boacos de
que a delegação soviética, preocupada com o
estado de saúde do Campeão, tinha sugerido
que a FIDE suspendesse o 111atch. Nesse caso, é
claro, Karpov conservaria o título. A certa
altura, Euwe teria clito a Keene que, no caso de
resultado de empate, o ,nateh seria encerrado.
Isto é o que poderia acontecer, por exemplo, na
hipótese de empate na 32ª partida. É bem
possível que esta idéia tivesse sido sugerida pelo
Dr. Euwe. Em todo caso, seis anos e meio
depois, a sugestão foi concretizada com peclido
formal de Sevastyanov para outro Presidente da
FIDE - Campomanes - quando ele encerrou
meu primeiro match com Karpov em situação
similar e com o mesmo pretexto...
A maratona das Filipinas foi para Karpov uma
provação íncrivelmente difícil
No dia da 32ª partida, 17 de outubro,
realizou-se uma importante reunião do Comitê
de Apelações e Keeue, que na ocasião tinha se
tornado o chefe da delegação do desafiante,
"depois de resistir obstinadamente - para salvar
as aparências - concordou com a exigência de
expulsar os iogues de Baguio". E às duas da
145
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

tarde, sem que Kortchnoi fosse informado - melhor resultado no tabuleiro 1: +7=4. Depois
"todos os poderes e informações estavam então de todos os sofrimentos nas Filipinas, este
nas mãos de Keene" -, os iogues foram embora acontecimento parecia incrível! E pelos
da vila. resultados de 1978, conquistou merecidamente
Segundo Kortchnoi, quando ele chegou para o único "Oscar do Xadrez' de sua carreira e,
a partida, a sala parecia uma praça de manobras dessa forma, um prêmio especialmente
policiais: o edifício estava cheio de policiais precioso.
fardados e à paisana. Antes da partida ele pôde
ver "no rosto dos soviéticos uma sensação... de Última Batalha pelo Trono
triunfo, um regozijo malicioso". E ele continua: O boicote rigoroso por parte da Federação
"A partida começou. Os diretores do xadrez Soviética obrigou Kortchnoi a perder pelo
soviético ocuparam a fileira da frente e na 4ª menos dois importantes torneios em 1979, o de
fileira estava... nosso velho conhecido Zukhar". Montreal (1-2.Karpov e Tal) e o de Tilburg (1.
Faltando quase quinze minutos para as oito, Karpov). Mas suas conquistas em outras
Stean passou um telegrama de protesto ao Dr. competições estiveram sempre à altura de um
Euwe, mas já era tarde demais... O desafiante vice-Campeão Mundial: dividiu o l º e 2º lugares
jogou mal e adiou a partida em uma posição com Ljubojevic em São Paulo e Buenos Aires
desesperadora (.partida 77). (contagem total +1 5=11) e vitórias em um
Na manhã seguinte, "por sua própria match-torneio de quatro jogadores na Africa do
iniciativa, Keene telefonou a Filip e informou a Sul e também no Campeonato Aberto da Suíça
desistência de Kortchnoi". Mas este, por sua - 12 em 13, ficando 4,5 pontos à frente do
vez, escreveu uma carta a Filip dizendo: "Não segundo colocado.
recomeçarei a 32ª partida, mas não assinarei a
planilha da partida, pois a partida foi disputada
em condições absolutamente ilegais..."
Kortchnoi protestou perante a FIDE e não
compareceu à cerimônia de encerramento. "Este
era também meu protesto contra a conduta dos
soviéticos e de Campomanes. Em um malch que
tinha sido transformado em uma batalha
sangrenta, onde com a cumplicidade do Comitê
de Apelações todas as noções de lealdade tinham
sido rejeitadas, onde as regras e acordos tinham
sido violados sem escrúpulos - em uma
competição deste tipo, até mesmo a cerimônia de
encerramento acaba sendo uma praça de
execução de uma vítima privada de direitos".
Esta derrota dolorosa significou, com efeito,
o fim das esperanças de Kortchnoi de vir a ser
o Campeão Mundial. Isso torma ainda mais
surpreendente que logo depois do match,
enquanto o jovem Campeão partia para "um
merecido descanso" (e isto acontece t.ambém
ainda em nossos dias), o desafiante de 47 anos
Viktor Kortchnoi em torneio no
encontrou forças para liderar a equipe da Suíça Clube de Xadrez São Paulo em 1979
ua Olimpíada de Buenos Aires, conquistando o

146

No inverno, preparando-se para o ciclo
seguinte de Candidatos, Kortchnoi jogou em
Linares (2º-4° lugares) e Wijk aan Zee (3° lugar),
observando-se que lá não compareceram
jogadores da URSS.
A forma que adquirira o ajudou a superar
comodamente a primeira barreira difícil: as
quartas-de-final com Petrosian (Velden, março
de 1980). Foi um match de dez partidas e
Kortchnoi, depois de vencer a s• e a 9ª e com
sete empates, venceu antecipadamente por 5,5-
3,5. Um mês depois, ele dividiu o 1° e 3° lugares
com Andersson e .Miles em um torneio em
Londres.
O próximo teste, como três anos antes, foi
um match semifinal com Polugaevsky, em
Buenos Aires, no verão de 1980, desta vez com
"somente" 12 partidas. A nova disputa foi
duríssima para Kortchnoi, pois não conseguiu
vencer com as brancas! Polugaevsky, que estava
na crista da onda (tinha derrotado Tal nas
quartas-de-final), ofereceu uma resistência bem
maior do que em Evian. Após perder um final
de torre quase equilibrado na 4ª partida, ele
venceu a 6ª e, depois de ter perdido a 8ª,
desforrou-se com ajuda de uma brilhante
novidade na 12ª (partida 27, vo/11111e 3) e de novo
equilibrou a contagem: 6-6.
Depois disso, o regulamento estipulava duas
partidas complementares e mais duas ainda, no
caso de 1-1, e se o empate persistisse o
vencedor do ma/eh seria o que tivesse vencido
um número maior de partidas com pretas (ou
seja, Kortchnoi).
Então se iniciou o clássico tie-break de duas
partidas. Na 13ª partida, novamente Kortchnoi
foi incapaz de fazer valer as peças brancas;
ainda mais, em um final de jogo difícil com
cavalo contra bispo, selou no lance secreto o
único lance salvador. Muitos, inclusive o árbitro
principal Najdorf, acharam que a posição adiada
estava perdida para as brancas, mas ao
recomeçar, Kortchnoi forçou o empate com
precisão.
Surgiu então uma situação bastante intrigante,
Viktor, o Terrível
visto que Polugaevsky somente deveria jogar
pela vitória, fosse na 14ª partida, fosse em uma
das duas partidas adicionais, caso houvesse
empate. Os torcedores conjecturavam: será que
o Grande Mestre soviético conseguiria repetir o
milagre que tinha operado na 12ª partida? O
que aconteceu depois foi descrito eloqüen-
temente pelo porta-voz de Korrchnoi,
Emmanuel Sztein:
"A decisiva 14ª partida teve início no
domingo às 16h00. De novo tínhamos as
pretas; como jogar? Kortchnoi com seus
treinadores, os Grandes Mestres Stean e
Seirawan, tinha passado toda a noite lapidando
uma variante sutil da Abertura Inglesa, em que
as pretas dão o xeque com o cavalo em d3,
impossibilitando o roque das brancas. A
variante era arriscada, mas Kortchnoi estava
contando com o elemento-surpresa: se o
adversário jogasse da forma antiga, nós o
"surpreendeáamos" com a melhoria esque-
matizada por Michael Stean... Naqueles
mesmos dias, o 111atch Hübner- Portisch estava
sendo disputado na Itália e Bent Larsen estava.
lá como correspondente do jornal argentino
Clarf,,. Quando fui comprar o jornal na manhã
seguinte, abri o Clarín e... fiquei abismado: lá
estava a variante inteira, inteirinha! Acontece
que tinha sido jogada na partida entre Hübner e
Portisch na véspera, terminada com empate.
Mas Larsen... Larsen, que conhecia muito bem
esse esquema, mostrou como as pretas
poderiam melhorar o jogo. Mas antes, ele
mostrou a melhoria para as brancas. Era a
surpresa! Quando entrei no quarto do hotel,
eles estavam lá, preparando-se. Mostrei o jornal.
Foi um alvoroço! Não sabíamos o que fazer;
estávamos desesperados. Viktor e eu fomos dar
uma volta e, em dado momento, eu disse: "Só
resta uma saída: apostar rodo. Serov (o chefe da
delegação soviética - G.K) não deve saber ler
espanhol. Além disso, ele não compraria jornal
pagando em dólar. Quanto à Embaixada, só vão
mandar os jornais amanhã, afinal, hoje é
domingo." Vikror estava absorto em seus
147
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
pesamentos... Finalmente, o jogo começou e ele
escolheu precisamente aquela variante. Eu disse
para eles - 'relaxem'. Na verdade, a posição
critica daquela variante está ao 14° ou 15° lance.
O dilema estava armado: ou uma coisa ou
outra... Notei como Viktor saiu apressado do
palco e se post0u na sua saleta de descanso,
uma espécie de jaula. Ele esperava. Como uma
fera presa na armadilha, ele espreitava .. .
Naturalmente, Polugaevsky não sabia nada do
jornal e, na verdade, tudo terminou mesmo em
dez minutos. Alguns dias depois, Larsen
escreveu um artigo no Cfarin com o titulo:
"Pobre de q11ettJ nãrJ lê Larsen".
Histórias como esta só podiam acontecer na
era da pré-informática e pré-internet. O
fracasso de Polugaevski foi causado pela
velocidade de tartaruga com a qual as infor-
mações se propagavam... Vamos analisar esta
partida dramática, cujos primeiros 14 lances
coincidiram com a 5ª partida do match de
candidatos paralelo de Hübner-Portisch
Partida 34
L. Polugaevsky - V. Kortchnoi
Match de Candidatos, B11e11os Aires 1980
14'pa-rtida
Aberlllra Inglesa A34
I.lLJf3 lLJf6 2.c4 c5
Nas numerosas partidas precedentes do
match, Kortchnoi jogou somente 2 .. .b6,
resultando na Defesa Índia da Dama (volume 3,
partida 27').
3.fLJc3 d5 4.cxd5 ~xd5 5.e4 (um lance
popular naquela época) S... ~ b4 6.JJ.c4 ~ d3+
A sensacional partida Polugaevsky-Tal
(Interzooal de Riga 1979) seguiu 6 .. ..1'.e6
7.JJ.xe6 t'.i)d3+ 8.'í!i>fl fxe6 9.fLJg5 '%Wb6!?
IO.!fe2? c4 com jogo excelente para as pretas
(volume 2, partida 145), mas já em 1980 foi
encontrada a forte resposta 10.'i!ff3!.
7 .<:i;e2 ~f4+
A troca 7 ...fLJxcl+ 8.ãxcl tem sido julgada
favorável às brancas desde os tempos das
148
partidas de Talcic contra Spielmann (Viena
1928) e Rubinstein (Rogaska $latina 1929) e
também Botvinnik contra Kasparian (1938).
8.© fl ~e6
Essa manobra de cavalo também é
usualmente considerada inadequada - devido
ao sacrifício de peão a seguir. Entretanto,
Porstisch e imediatamente após ele Kortchnoi e
Stean, trabalharam em um novo plano de
desenvolvimento para as pretas.
9.b4!?
Após o tranqüilo 9.~e5 (Averbakh-
Bondarevsky, Moscou 1946) a reposta das
pretas com maior sucesso tem sido 9...g6.
9...cxb4
Em breve, seguindo o exemplo de Tony
l'vfiles, se t0rnou conhecido um interessante
sacrifício de peão - 9 ... g6!? 10.bxc5 1i.g7
I l.j,xe6 ~xe6 12.d4 t'.i)c6 13..lte3 com um
jogo agudo e indefinido (Seirawan-Miles,
Londres 1982; Kasparov-Shirov, simultânea de
Pestovo 1986; Vallejo-Leko, Linares 2003). A
teoria ainda não deu um veredicto final sobre
essa variante. Ela freqüentemente é evitada
tanto pelas brancas, como pelas pretas: é uma
aventura muito arriscada!
10.lLJdS
Naquela época, essa era a continuação
principal. "As brancas controlam espaço,
desenvolvem seu bispo de cl em uma diagonal
esplêndida e aparentemente conquistam
perspectivas muito boas. Mas Portisch foi capaz
de superar essa ilusão de ótica e reavaliar a
posição resultante." (Makarichev)
Mais tarde foi considerado ser mais forte
l0.lLJe2! 0ic7 (agora é mau 10...g6? devido a
l I.iJ.b2 j,g7 12.JJ.xe6! ~ xb2 13.j,xn+)
1 l.d4 e6 12.h4 com excelente compensação
pelo peão (Hübner-Tukmakov, Wijk aan Zee
1984; Kasparov- Grünberg, simultânea em
Hamburgo 1985).
10...g6!
Essa descoberta virtualmente revolucionou a
avaliação da posição! As pretas resolvem o
problema do desenvolvimento da sua ala do rei

e no esquema "Grünfeld" que resulta são as
brancas que têm que jogar precisamente, uma
vez que seu predomínio central não compensa
os defeitos da posição do seu rei em fl.
ll.it.b2 (não é melhor para as brancas l l .a3
¾g7 12.lãbl li:lc6, com igualdade) ll ....âg7
12. A xg7 ctlxg7 13.fi:lxb4 0---0
Mas não de imediato 13 ...~ g4? em vista de
14.il.xf7+ Wxfl 15.t'i:les+ ou 15.l2:lg5+.
14.d4?
É estranho, mas tanto H übner como
Polugaevsky foram derrubados pelo seu senso
de perigo. O lance da partida parece natural,
mas permite ao adversário fazer um ataque
imediato ao centro das brancas. E embora isso
ainda não seja finalmente catastrófico, torna
muito mais circunspecto jogar 14.h3 com
igualdade, como recomendado por Larsen e
muitos outro s comentaristas.
14...~ g4
"Aqui Polugaevsky pensou por 30 minutos e
pela primeira vez ele "não adivinhou" o lance
feito por Hübner. Realmente, as coisas não são
de todo fáceis para as brancas: efetivamente elas
têm uma "Grünfeld" com o rei ruim e o cavalo
de f3 já cravado." (Makarichev)
15.We2?!
Hübner escolheu 15.l!fd2 e após 15 ... A xf3
16.gxf3 0 c6 (l6 ... a5!?) 17.lf::ixc6 bxc6
Portisch chegou a um jogo confortável - se
18.<;!?g2 pode seguir 18 .. . e5! 19.i:':Thdl exd4
20.'i!fxd4 1!Yh4. A continuação foi 18.f4?! e6
Víktor, o Terrível
19.°fWe3 'iff6 20.Ae2 lãfd8 2 1.â dl :âab8
22.a3 lãb2 23.Wg2 lãdb8 24.lãhel ã 8b3
25.lãd3 (25.'i!ic l Wh4) 25 ...!!xd3 26.l!fxd3
(ou 26.Axd3 fi:lh5 27.f5 ~h4) 26...'ffxf4 e as
pretas deveriam vencer. Mas Hübner
miraculosamente conseguiu salvar a partida (e
ao final, após uma série de empates, venceu o
match: 6 ½-4½).
Na opinião do Grande Mestre Makarichev, as
brancas deveriam ter jogado 15.d5 e iniciado a
retirada de suas forças (bispo para e2, b4 -
cavalo via c2-e3 ou d3-e5), se possível
evitando perdas." :Mas aqui também após
15 ...li:ld7 as precas têm um jogo excelente: se
16.il.e2 então é forte 16 ... f5!
15 ... 'i!fd6! 16.~d2 ~ e6 17.il.xe6 (as
brancas agora são forçadas a dar o bispo pelo
cavalo) 17 ... ~xe618.We3?!
"Essa manobra tem sua lógica: a ameaça é
~ e5. Apesar de tudo, as brancas lutam p ela
jniciativa!" (Makarichev). Ainda assim, isso é
um erro que agrava as dificuldades das brancas.
É claro, Polugaevsky imaginou que seria .ruim
mover o seu rei para o centro, mas ele queria
eliminar a cravada. A inesperada novidade das
pretas obviamente havia perturbado seu
equilíbrio psicológico (não é segredo que
geralmente ele não reagia da melho.r forma em
tais situações).
D eve-se considerar 18.ilYd3, com a idéia de
desenvolver a torre de h l e jogar Wfl . Nesse
caso, o agudo l 8 ... f5 l 9.e5 a5 (Sveshnikov) é
refutado através do golpe de computador
20.~3! l!fxb3 21.axb3 com uma cravada
salvadora na coluna a. E embora após 18 ... ã d8
ou l 8 ... li::ld7 as pretas pudessem manter uma
vantagem apreciável, em vista da sua
insegurança do rei branco e a posição excêntrica
do cavalo em b4, a posição das brancas ainda
teria per manecido defensável.
18...(5!
O mais enérgico, embora as pretas também
tenham uma iniciativa bastante perigosa após
18 ...~ d7 19.li:lgS (Makarichev; 19.0 d5 ~xt:3
149
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
e 20... f5!) 19...~d6!? 20.f3 (20.h3 li.:Jb6!)
20...f6 21.CLJxh7 <;5>xl:t7 22.fxg4 CLJb6.
19.'ifdJ
"Após l 9.CLJe5? as pretas teriam conquistado
um ataque decisivo através de 19 ... li.:Jd7 20.f3
lZ:ixe5 21.dxe5 fxe4 22.fxg4 E!ad8 23.'ffb2
'i!fl>6+ (seguido por 24.<Jlxe4 !1f2 25. 'i!fb3+ <Jlg7.
- G.K). A posição das brancas também seria
inviável após 19.eS? f4+ 20.@e2 li.:Jc6."
(Makarichev). Seria até melhor 20 ...Axf3+
21.$'xf3 a5 22.CLJc2 'ifd5+ ou 21.gxf3 ~c4+
225Í:i'el a5 23.lz.:Jc2 CLJc6, vencendo.
19...fxe4! 20.'tixe4 'tixe4+ 21.@xe4 ti:ld7
"A partida entrou em um final difícil para as
brancas. Além disso, Polugaevsky tinha apenas
1O minutos para os 19 lances restantes."
(M:akarichev)
22.!!hcl?!
As brancas já desanimaram. A única forma de
manter as chances de salvar a partida seria
através da ativação do desafortunado cavalo -
22.lZ:id5, para após 22 ...~xf3+ 23.gxf3 lZ:if6+
24.CLJxf6+ E!xf6 25.Eihcl !te6+ 26.$>f4 l!d8
27.'f!..c7 g xd4+ 28.@g3 E!b4 invadir a 7ª fileira
com as torres: 29.Eidl ! S't7 30.E!dd7 ~e2
31.a3 E!bl 32.<i.t?g2 E!bb2 33.<it'g3 etc.
Entretanto, 22... e6! tecia deixado as pretas
com van tagem óbvia, tanto após 23.CLJc7 &c8
24.E!a(b)cl !tf5! como 23.l"2if4(c3) .ixf3+
24.gxf3 ã f5! E também 23.êZ:ie3 l2lf6+, uma
vez 9ue 24.@d3 .ixf3 25.gxf3 lZ:id5! e 24.<ó5>f4
.ixf3 25.gxf3 ~d8 e 24.@eS !!ad8 etc. são de
150
todo insuficientes.
22 ...ã f5!
"Um lance muito desagradável, preparando
tanto a manobra CLJd7-f6--<l5, como a dobrada
de torres na coluna f." (M:akarichev). Apesar da
ausência das damas, a posição não perdeu suas
características de meio-jogo: ainda há uma
plenitude de peças no tabuleiro e as chances das
pretas criarem ameaças ao rei branco estão
longe da exaustão, sem falar no ataque aos
peões enfraquecidos.
23.!Ie7?!
"A torre se move para um garfo. Seria
provavelmente um mal menor 23.CLJd3,
mantendo algumas chances práticas".
(Makaàchev). Enquanto 23.êZ:ld5 poderia ter
encontrado a forte resposta 23 ... lZ:if6+ !
24.êZ:lxf6+ exf6 25.lãel (25.d5 ã e8+ 26.Wd4
ã d8) 25 ...~xf3+ 26.gxf3 ãe8+ 27.<;5>d3 ãxel
28.Jlxel Jlxf3+ 29.Wc4 ã xf2.
23...CLJf6+ 24.Wd3 (24.©e3 a5 25.êZ:ld3
.ixf3 26.gxf3 ti:ld5+ etc.) 24...aS 25.'f)c2 ti:ldS
26.l!xb7 ~ f4+ 27.We4 CLJxg2 28.CLJeS Eif4+
29.WdS ~f5! 30.l!c7
"Não há defesa contra as ameaças de ....àe4
ou ...~xc2, uma vez que 30.ãb2 ã xf2 31.ãcl
:ãc8 e ...lZ:if4+ conduz ao mate. As brancas
perdem uma peça". (Makarichev)
30...ãdS+ 31.WcS .àxc2 32.l2Jc6 ã e8
33.l2Jxe7+ 'it>f'8 34.CLJc6 l:!f5+ 35.lDeS e2Jf4
36.ã xh7 Wg8 37.ã d7 ti:ld3+ 38.Wb6 êzJxe5
39.dxe5 !!exe5 40.ãcl ã f6+ 41.©a7 ãxf2
0-1
As brancas abandonaram e Kortchnoi venceu
o 111atch.
Mas, todas as aparenc1as indicavam que já
tinha passado o apogeu da forma de Kortchnoi
e já se podia notar uma certa decadência.
Provavelmente a idade estivesse começando a
revelar seus efeitos, pois afinal ninguém possui
reservas de energia ilimitadas - além disto,
notava-se a ausência dele nos torneios mais
fortes: para manter a forma necessária deve-se

enfrentar constantemente adversários da
mesma categoria. O primeiro match com
Polugaevsky tinha indicado uma decolagem
sem precedentes (sem dúvida, devida em parte
à mudança para o Ocidente, onde ele se tornou
um homem livre), mas o segundo ,natcb
anunciou que o final da era de ouro da sua
carreira estava se aproximando.
Não foi nada fácil para Kortchnoi a final do
,natcb de Candidatos com o excelente grande
mestre alemão Robert Hübner (em Merano, no
inverno de 1980-81), um dos raros na história
de jogadores de categoria internacional que
obtiveram sucesso também fora do xadrez:
Hübner é um eminente filólogo e autor de
numerosas obras científicas (para não
mencionar seus artigos e comentários sobre
xadrez).
Muitos jogadores da geração mais antiga se
lembram da notável ascensão do jovem Hübner
no Torneio Interzonal de Mallorca (1970), do
seu jogo seguro e maduro no match com
Petrosian (1971) e da sua inesperada desistência
do match, após seis empates e derrota em uma
boa posição na 7ª partida; outra derrota trágica
nas mãos de Petrosian veio ao final do Torneio
lnterzonal de Biel (1976), que o privou de
classificação nos ,natches de Candidatos. Mas no
ciclo seguinte, o Dr Hübner alcançou o auge da
sua carreira, dividindo o 1° e 3° lugares com
Petrosian e Portisch no Torneio lnterzonal do
Rio de Janeiro (1979), quando venceu partidas
contra Adorjan e Portisch e iniciou de forma
esplêndida o encontro final com Viktor, o
Terrível...
Já em 1973 eles tinham se encontrado em um
match de treinamento de oito partidas, gue
Kortchnoi venceu com dificuldade (4½-3½).
Mas agora, com 32 anos, Hübner estava no
auge de suas forças criativas e jogando de forma
segura e tenaz - após seis partidas estava na
liderança: +2-1= 3. Na sétima partida, uma
Francesa com 3.fi:}d2, ele obteve um final
claramente superior, com um par de bispos
poderosos. Kortchnoi se defendeu com talento
Viktor, o Terrível
e, na continuação da partida, em um feroz
apuro de tempo, conseguiu equilibrar. O
empate agora era inevitável, mas no 63° lance,
Hübner subitamente deixou passar um xeque
com o cavalo e perdeu uma torre!
Com dificuldade. ele usou toda a técnica para
vencer a 8ª parti.da, conseguindo pela primeira
vez dominar o ,natch, com a contagem de 4½-
3½. Nesse ponto se deu a virada psicológica. A
partida seguinte foi adiada em um final quase
equilibrado e depois seguiu-se a 10ª partida, que
também foi adiada, mas com óbvia vantagem
para Kortchnoi.
No dia segi.únte as agências de noticias
espalharam por todo o mundo a notícia
sensacional de que Hübner tinha se recusado a
reiniciar a partida e abandonado o match! O
match seria a melhor de 16 partidas e mesmo a
provável contagem de 6-4 não seria assim tão
catastrófica. Mas, após o seu erro trágico de
uma torre, pelo visto Hübner perdeu a
confiança em si mesmo... Apesar de todas as
dificuldades, Kortchnoi venceu seu segundo
ciclo de Candidatos em seguida - feito só
conseguido anteriormente por Smyslov e
Spassky. Mas tornar-se finalista em também
outros dois ciclos (1968 e 1974) - ninguém
havia ainda conseguido!
Foi também em Merano que se realizou em
seguida o match do Campeonato .Mundial com a
disputa de K arpov- Kortchnoi (outubro-
novembro de 1981). A data sofreu um atraso,
porque o novo presidente da FIDE, Fridrik
Olafsson, adiou o match por um mês "desejando
garantir condições de igualdade para os dois
competidores'', isto é, para ter tempo de
finalmente conseguir a permissão para que a
familia de Kortchnoi pudesse dei..xar a URSS.
Nada disso foi conseguido e um ano depois, na
eleição do presidente da FIDE no Congresso
em Lucerna, os países do bloco soviético se
recusaram a apoiar Olafsson e deram
preferência a Campomanes...
As autoridades soviéticas fizeram todo o
possível para ajudar Karpov a cumpnr as
151
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
palavras de despedida pronunciadas pelo
próprio Brejnev: "Você conquistou a coma,
agora a mantenha!". O n,atch foi acompanhado
de uma campanha patriótica sem precedentes.
Foram oferecidos a Karpov os melhores
treinadores e toda ajuda que só a máquina
estatal poderia disponibilizar. A atmosfera de
suspeitas que cercava a disputa de Merano pode
ser avaliada pela atitude da delegação soviética
(sem excluir Karpov), que chegou algumas
semanas antes ao local para examinar a água
potável, condições climáticas e rúvel de núdos e
radiações (isso foi revelado à imprensa pelo
presidente da comissão organizadora).
Merano, 1981. ~Não existe match fác/1 quando
se disputa o título mundial" (Karpov)
O público ficou espantado ao ver os dez
enormes containers desembarcados pela equipe
de Karpov. Os jornais italianos publicaram
fotos desse aparato com títulos espalhafatosos
como "As A rmas Secretas dos Russos?' Mas
Batutinsky explicou que a experiência de mais
de três meses em Baguio tinha ensinado uma
lição: "Quem sabe dizer quanto tempo vai durar
este ,natch? É preciso providenciar muitas coisas.
Fichários, livros de xadrez, material teórico, os
resultados de muitos dias de trabalho
preparatório... Esta parte da carga pode ser
considerada uma arma secret1. Há também a
necessidade de medicamentos, alimentos,
equipamentos para esportes. D essa forma se
acumulou uma bela tonelada de mercadorias".
O ,natch não foi tão complicado como o de
Baguio. Embora Kortchnoi tivesse mantido seu
vigor através de disputas de torneios inferiores
durante o ano, na verdade ele já não tinha a
152
energia para enfrentar seu jovem adversário, que
compareceu fortemente armado. O 111atch foi
novamente de seis vitórias e o começo foi
desanimador para o desafiante: três derrotas em
quatro partidas. O motivo da derrota não foi
tanto a superpreparação de Karpov na abertura,
mas simplesmente o jogo inicialmente fraco de
Kortchnoi, que não foi derrotado pelo
adversário, mas por si mesmo. Como ficou
claro, desde o começo a sua pressão sangüínea
subiu e os olhos doíam e lacrimejavam, como
nunca tinha acontecido antes com ele.
Alguns anos depois, Kortchnoi recordou:
"Em Merano, Karpov com seus 'camaradas'
(eram 43 e chegaram a uns 70 no fim do match),
me obrigaram a suportar um pesadelo".
Kortchnoi estava convencido de que os últimos
progressos da inteligência da URSS tinham sido
empregados contra ele. "Não há dúvida que
aquela gente de Karpov estava sentada na fileira
da frente com a finalidade de usar instrumentos
para estudar minhas condições - pulso e assim
por diante. Além do mais, eu estava recebendo
algum tipo de irradiação no auditório ou na casa
de campo onde estava hospedado". O seu
porta-voz Emmanuel Sztein também achou que
"em Merano havia algo de sinistro" e em uma
entrevista declarou como surpreendeu três
estranhos no seu quarto de hotel, revirando
seus papéis e como um deles espirrou um
produto nos seus olhos, após o que ele perdeu
a consciência e mais tarde teve grandes
problemas com sua pressão arterial e com a sua
visão...
É verdade, o controle policial e a atividade
dos serviços especiais de inteligência eram uma
nota característica nos encontros de vários
Campeonat0s Mundiais, desde o match Spassky-
Fischer. Mas nada sei a respeito de
instrumentos secretos e de irradiação de um
dos adversários. Então, só posso confirmar as
palavras de Kortchooi, de que durante esses
1natches ocorre todo tipo de bruxaria. E não
somente porque o sistema nervoso do jogador
sofre uma tensão fora do comum.

Seja como for, Konchnoi encontrou forças
an si mesmo para continuar a batalha, embora
naquele momento não fosse claro como
poderia mudar o rumo infeliz do makh. Na 5ª
partida ele tentou sem sucesso por m:us de 30
lances vencer um final de torres com quatro
peões em uma ala contra três na outra. Naquela
ocasião eu estava jogando em Tilburg e lembro
que comentei com surpresa: "Por que perder
~to tempo? É um empate morto!" Mas
Petrosian e Spassky não concordaram e me
explicaram o sentido da tática de Kortchnoi: no
dia seguinte a uma sessão de adiamento assim,
seria muito difícil jogar para ganhar com as
brancas...
E a 6ª partida lembrou ao mundo o antigo
Kortchnoi! Enquan to na segunda partida,
depois de l.e4 e5 2.lilfl ele respondeu com o
modesto 2 ...it)c6 3.Ab5 it)f6 e, na 4ª partida,
ele tivesse mudado para 2 ...lz:lf6, agora, que não
havia nada a perder, ele resolveu renovar o
duelo teórico iniciado em Baguio, na sua
favorita Variante Aberta da Ruy Lopez. Pode-se
dizer que foi com esta partida 9ue o match
verdadeiramente começou: com uma batalha
tensa, intransigente e críticos duelos oa
abertura.
Partida 35
A. Karpov - V. Kortchnoi
Match pelo Campeonato M1mdio4 Merono 1981
6·pamda
Abert",r, &y Lopez C82
1.e4 eS 2.it)f3 lz:lc6 3 ..i.bS a6 4.Aa4 it)f6
S.0--0 it::l><e4 6.d4 bS 7..i.b3 dS 8.d><eS ke6
9.c3
E ssa partida teve uma influência tão forte no
desenvolvimento da teoria das aberturas que
depois dela jogadores com as brancas, a
começar por Karpov, de forma crescente foram
preferindo freqüentemente 9.li.Jbd2 (partidas 85
t 86).
9 ... Acs IO.li)bd2 0--0 u.Ac2 Jt.rs t2./i)b3
..tg6!
Vlktor, o Terrível
Ao invés de 12 ... Ag4 (.partida 15), Kortchnoi
adotou uma variante que tinha sido estudada já
em 1955 por GeUer e o seu segundo Bonda-
revsky nos preparativos para o match com
Smyslov pelo título de campeão da URSS. Em
seguida, ela foi jogada por Savon, Yusupov,
Speelman e o próprio G eller.
13./i)fd4
Se l 3.a4, então 13 ...A b6 14.axb5 axb5
l 5.ãxa8 'i!f xa8 (Tukmakov-Savon, 37º
Campeonato da URSS, Moscou 1969) ou
14.it)bd4 it)xd4 l5.li.Jxd4 'i'd7! 16.Ac3 l2Jc5
17.aS il.a7 18.f4 Axc2 l9.it)xc2 f6 20.exf6
ãxf6 (Van der Wicl-Kortchnoi, Wijk aan Zee
1983), cm ambos os casos com igualdade.
13 ... .âxd4 14.cxd4
Pouco era prometido por 14 .li.Jxd4 °t!fd7!,
quando após 15.li)xc6 1:li'xc6 16.Ae3 ãfe8
tanto 17.f4? li)xc3! (Kortchnoi-Karl,
Campeonato Suíço 1982), como 17.D? it)xc3 !
(Spcelman-Timman, 6ª p artida d o maJch,
Londres 1989) são ruins para as brancas. Ou
15.f4 it)xd4 16.cxd4 f6 17 ..âe3 e agora não
17 ... fxe5?! (Leko-Kortchnoi, Leon 1994)
devido a l 8.dxe5, mas 17 .. Jlad8, com
igualdade (Klovans- Dorfman, Moscou 1981).
14... aS 15...ie3 (não é tão bom para as
brancas l 5.f3 a4 ! ou 15 .Ad3 '%ib8 16 .kf4
'i!fb6!) 15 ...a4!
Anteriormente essa posição era considerada
como favorável às brancas em vista de
15 .. _li)b4?! 16 ...ibl a4 l 7.lz:ld2! a3 18.'t:!Vcl !
com a ameaça de bxa3 (Karpov-Savon,
Moscou 1971).
16.luc1
Após 16.it)d2 a3 agora é mau para as pretas
jogarem 17.Wfr'cl? axb2, quando está perdido o
peão d4. O caminho correto é 17.E!bl axb2
l 8.lz:lxe4 _âxe4 l 9.!!xb2 1:!i'd 7 (A.Jvanov-
Yusupov, Frunze 1979) 20.~d3 ! Jt.xd3
2 l.'i!½'xd3 com pressão no peão b e ao longo da
coluna e. Aqui Kortchnoi defendeu seu ponto
de vista com as pretas contra Hübner (Chicago
1982; Olimpíada de Lucerna 1982) e Lobron
153
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(Paris 1984), mas Karpov, com as brancas,
derrotou Yusupov (50º Campeonato da URSS,
Moscou 1983).
Entretanto, a partir do final dos anos 1980, o
lance 16. <'Dd2 começou a ser questionado com
16 ... f6! , por exemplo: 17.&1 fxe5 18.<"Dxe4
dxe4 19.d5 <'De7 20.ilc5 lãf7, com igualdade
(lvanchuk-Grischuk, Rethymnon 2003).
16...a3
Uma inclusão útil, tanto para o meio-jogo
como para o final, onde a debilidade do peão a2
é especialmente sensível. O imediato 16 ...f6
conduz após 17.f3 (17.~d3!?) 17 ... fxe5!
l 8.fxe4 ( l 8.dxe5? d4! Voitkevich-Sideif,
URSS 1981) 18 ... :s'.xfl+ 19.!fxfl a uma
partida muito aguda.
17.b3
Se 17.fill, então 17 ... f6 ganha força: 18.f3
fxe5! 19.fxe4 i!xfl+ 20.'ti'xfl exd4
(Unzicker- Kortchnoi, Beersheva 1984),
enquanto a tentativa 17 .bxa3 !!xa3 l 8.ilb3
~c3 19.!fd2 b4 20.~ é estancada através
de 20 ...~xd3 21.'i!Yxd3 'i!fa8!, com igualdade
(Nunn-Marin, Olimpíada de Tessalônica 1988).
17 .. . f6!
Kortchnoi não chegou nesse encontro com as
mãos vazias. As partidas Romanishin- Yusupov
e Tseshkovsky- Geller (48° Campeonato da
URSS, Vilnius 1980/81) seguiram 17 ... ~b4
18.~b1 c5 e na segunda delas, as brancas
conquistaram uma vantagem óbvia após
19.dxc5! l2!c6 20.l2ie2 !fe8 21.f4. Nessa
154
ocasião, as pretas atacaram o centro a partir do
outro lado, sem se apressarem a ocupar com o
seu cavalo a casa b4.
18.exf6
'Talvez esse lance envolva algum descuido:
agora as pretas conseguem um bom jogo no
centro e na ala do rei". (Geller). Também seria
desfavorável para as brancas 18.f3 fxe5!
19.fxe4 (19.dxe5? d4!) 19...ãxfl + 20.tfxfl
exd4 etc.
.Mas não muito antes do match, a partida
Aseev- Dorfman (Saratov 1981) seguiu
18.l2:id3!? fxe5 19.<"Dxe5 l2!xe5 20..i.xe4 dxe4
21 .dxe5 âe8 22.'3cl âxe5 23.tfxd8+ g xd8
24.l=lxc7 !!ed5 com um final ligeiramente
inferior para as pretas. Uma defesa alternativa
seria 21.. .'i!Vxdl 22J'Uxdl g fd8 23.h3 (é mais
forte 23.g dcl !? - Wedberg) 23 ... ~f7
24.ãxdS+ ãxd8 25.ãcl ãc8, com igualdade
(Ivanchuk-Timman, Novgorod 1995).
18...tfxf6 19.li::)e2 li:lb4! (também não é
mau 19 .. .~e7 20.âcl l2!b4 21..i.bl lâ.ae8
22.li::)c3 0xc3 23.ã xc3 ~xb l 24.'ffxbl c6,
Speelman- Timman, 4ª partida do match,
Londres 1989) 20.i.bl 'W/e7
Um sólido lance profilático: as pretas inibem
f2-f3 e defendem o cavalo de b4. Seria
prematuro 20 .. .c5?! em vista de 2 l.f3 <'Dg5
(Nunn; 21.. .<'Dd6 22.i.xg6 e dxc5) 22.!Vd2!
~e6 23.i.xg6 ~xg6 24.dxcS.
Geller pensou que 20...ãae8 (Liberzon-
Stean, Beersheva 1982) 2 l.'iWc 1 c5 fosse
"muito mais ativo" e se 22.'i'xa3?, então
22 ... 0d2!. Entretanto, após 22.f3! as chances
das brancas são pelo menos iguais: 22 ...~d6
23.~gS !Vf7 24.'i!Yxc5 e 'iWxb4, ou 22 .. .'t!fe7
23.iâe l iz:Jf6 24.l2if4 ~ xbl 25.ã xbl etc.
21.tfel
Logo em seguida Razuvaev recomendou
2 1.lâe l !? com a idéia de f2- f3, mas na partida
Short-Timman (Olimpíada de Ierevan 1996)
isso foi respondido por 21.. .l2:ixf2! 22.~ xt2
Axbl 23.!!xbl ã xf2! 24.<~ xf2 ãf8+
25.l2if4!? (evitando o empate após 25.'~gl

t!fe3+ 265iit'hl li}d3 27.ã fl ã xfl + 28.l!fxfl
li)f2+ 29.<~gl l2::lh3+) 25 ...ãxf4+ 26.~gl lãe4
27.l!fd2 li}d3! 28.Wl lãxd4 29.ã D l2::\f4!
3O.iff2 g5 31.ãe3 ãe4, e, amplamente graças
ao peão a3, as pretas têm compensação
suficiente pela qualidade.
21 ...!!fe8 (21...!!ae8!? Geller) 22.l2::lf4 (as
brancas devem jogar cuidadosamente: 22.D?
l2::\f6 23.il.d2 l2::ld3, ou 22.'ifcl? l2::lxf2 !
23.'it'xf2 i.xbl com a ameaça de ...l2::\d3+ são
ruins para elas) 22...il.f7
23.t!fcl ?!
Hübner coloca um ponto d e interrogação
nesse lance "inexplicável" e recomenda 23.D.
Realmente, após 23 ...l2::lc3 24.Ad2! (seria mais
fraco 24.'ifxc3 'i!.i'xe3+ 25.l!fxe3 ãxe3 26.~f2
Etae8) 24 ...iH6 25.~f2 l2::lc6 (25 ... 0xb1
26.A xb4) 26.Axc3 'i!fxf4 27.il.d3 as chances
são aproximadamente iguais.
Geller, Nuno e Suetin sugeriram o "sólido"
23.l2::ld3 (livrando-se do desagradável cavalo em
b4), embora, em minha visão, após 23 ... l2::lc6!
as chances das pretas são um pouco melhores.
Do ponto de vista de jogar para manter o
equilíbrio, seriam possíveis 23.2lxe4 dxe4
24.l!fe2 e ã cl.
Seria um lance mais ambicioso 23.'i!fcl: as
brancas ameaçam tomar o controle da casa c5
após l!el e f2- f3 e exercer pressão na coluna e.
Mas a resposta das pretas desmorona esses
planos. Após a partida, Karpov admitiu que, nas
suas preparações e durante a própria partida, ele
Viktor, o Terrível
subestimou os perigos escondidos na posição
das brancas.
23...cS!
Uma solução radical para o problema! As
pretas sacrificam um peão, mas se livram da sua
debilidade em c7, abrindo a coluna e e obtendo
o peão passado d - quantos bônus por um
pequeno déficit materiall
24.dxcS
De outra forma, ...c5~. Mas se 24.Axe4?!
'i!fxe4 25.'i!fxc5, então 25 ... l2::lc2 com forte
contrajogo - Tal e Geller deram a variante
26.lãacl &c8! 27.Wxb5 l2::lxe3 28.ãxc8 ã xc8
29.fxe3 'i!.i'xe3+ 3O.$lbl ãc l. As brancas
também têm um final difícil após 28 . . .l2:lxfl !?
29.llxe8+ .áxe8 3O.'i!fxdS+ 'i!fxd5 31.l2::lxd5
0 d2, de novo devido ao "calcanhar de Aquiles"
em2...
24 •..'i!Yf6
''Agora a disputa pela casa d4" (Hübner). Ao
mesmo tempo, não é tão fácil para as brancas
coordenarem a ação das suas peças.
25..i.xe4
Após o astuto 25.'S'dl !? com a idéia de
25 ...~ xal ? 26.i.d4 l!fxbl 27.'i!fxbl 0 d2
28.t+'f5 l2::lxf1 29.'i!fg5 kg6 3O.0 xg6,
vencen do (Nunn) ou 25 ... l2::lc3?! 26.k d4!
~xdl 27.i.xf6 gxf6 28.ãxdl seguiria o
simples 25 ...ã ad8! com contrajogo suficiente.
25..l!xe4
Ameaçando ...ã xf4 e ...l2::ld3, assim como
...d5-<l4.
155
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
26.lue2?!
"De acordo com Tal, o Campeão Mundial
inicialmente tinha planejado 26.!fd2, para
cravar o peão d5 através do ataque ao cavalo em
b4, mas então ele não gostou de 26 .. .1/fb2.
Embora após 27.!!fdl as pretas não tenham
nada significativo, a não ser a mera
compensação pelo peão." (Gelice)
Entretanto, após 27 .. _gae8 !, essa
compensação é mais do que suficiente: 28.f3
!!xe3 29.Wxb4 g5 30.lz)h3 lãe2 31.ifg4 h6 ou
28.'i/i'xb2 axb2 29.g abl g5 30.lue2 ~5
3 I .ÉÍxb2 .ixe2 32.gxe2 d4, e se 28.g3, então
28 ... luc6! 29.~xb2 (se 29.lue2 são bons
tanto 29 ... b4 como 29 ... lue5) 29 ...axb2
30Jãabl d4 31..i.d2 g5 32.fJ g 4e7 33.l2:lh3
l2:le5 (ou 33 ... h6 34.~ xb2 .id5) 34.luxg5 .id5
etc. Em todas essas variantes as brancas são
obrigadas a se defender contra a pressão do
adversário.
26...d4 27.ciJgJ ãee8 28.'ili'd2 l2:lc6
(28...dxe3? 29.fxe3 ~b4 30.É!f4, recuperando
a peça) 29..igS l/feS 30.!!acl
As brancas não querem entregar o seu único
trunfo - seu peão a mais em c5. Geller deu a
alternativa 30.ãfel ~xc5 3l.0e4,
"retomando o peão e ativando suas forças",
mas após 3 l ...ifd5 32.fJ .tg6 a vantagem está
com as pretas.
30...d3
"Mantendo a tn1c1at:1va: agora ...ifb2 ou
...l2:ld4 são possíveis ameaças" (Suetin). Além
disso, as pretas não relutam em tomar o
controle da coluna e.
31.lâfdl
Pareceria ser melhor 31.!Ue l li'b2
(3 1.. .'t!fd5 32..if4) 32.luf5, mas após
32 .. Jãxel + 33.ãxel ãe8 34.ãxe8+ .i.xe8
35.f3 .ig6 36.l2ld6 l2ld4! as debilidades das
brancas na ala da dama teriam causado a elas
inúmeros problemas.
3l ....tg6 32. .te3 !!e6 (com a intenção de
156
...llae8) 33..i.(4 W'f6 (33 ... 'ilfb2 34.h4!?)
34.ãel ãae8 35.l!xe6 ãxe6 36.ãbl?
Em uma posição difícil, as brancas evitam a
invasão da dama em b2. "Se 36.E!dl então é
muito forte 36 ... 0d4 com a idéia de
...'De(c)2" (Geller). Ou 36 ... h5!? - isso
também é bom após 36..ie3.
Provavelmente a última chance seria 36.ãel,
para após 36 .. ,g xel +?! 37.'i!i'xel 'i!i'xf4
38.'tife6+ <;!?f8 39.W'xc6 explorar a posição
aberta do rei preto, por exemplo: 39 ... !i'd4
40.'i!fcS+ ©e7 4I.W'h7+! ©f6 42.'ifc6+, e
nada é conseguido por 42 .. .'it>g5 em vista de
43.'t!ff3! d2?! 44.h4+! ~xh4 45.lufS+ .ixf5
46.'t!fxf5 d l!V+ 47.~h2 (ameaçando 48.g3
mate) 47...ifxn 48.ifxf2+ ~g5 49.i.vg3+
com melhor final de dama para as brancas.
36...bS!
Uma vez que Karpov defendeu na ala da
dama, Kortchnoi começa um ataque na ala do
rei, ameaçando jogar ...h5-h4-h3 com ganho
de tempo e debilitar seriamente as casas brancas
da posição do adversário - em particular fJ.
Também não seria mau 36 .. /L!d4!?.
37.h3
"Um lance essencial" (Geller). No caso de
37 ..i.g5 \!fd4 38 ..ie3 l!fe5 39.b4 h4 40.lufl
h3 a posição das brancas realmente é crítica,
mas agora também isso é inevitável.
37... M
Começa a falar o costumeiro apuro de tempo
de Kortchnoi. Após 37 ... 0d4! 38 ..i.e3
(38 ..ig5 'Lle2+! 39.l2:lxe2 :!!xe2, vencendo)
38 ... h4! (isso é mais forte do que a
recomendação de Hübner 38...l2:lc2) 39.l2:lfl
'Lle2+ 40.'~ hl .ie4! 41.0h2 ~e5 as pretas
teriam conquistado um ataque decisivo.
38..âgS 'i!Yd4 39•.i.e3
Karpov defende desesperadamente, tentando
confundir seu adversário e consolidar um
pouco sua posição. E ele quase consegue isso!

39...!fdS?
Uma grande vantagem seria mantida através
de 39 ...~e5! 40.li)fl ~d5 (Nunn), por
exemplo: 41.f3 ~ d4! ou 41.ilel ~e4, e após
42.fJ, então 42 .. .~xf.3! 43.gxf3 ~e5 44.~
I!g6+ 4S.<M2 g g3 46.ii'dl gxh3 47.I!h l g5 e
as brancas não têm defesa.
40.li)fl ?
Um erro em resposta. "No apuro de tempo
do adversário, as brancas simplesmente fazem
um lance de forma mecânica, que havia sido
planejado muito tempo antes." (Geller).
Enquanto 40.~e2!, ameaçando o "garfo" ézJf4,
poderia tê-las salvado da derrota total e mesmo,
na opinião de muitos comentaristas, dado a elas
chances de vitória. Embora, em minha opinião,
após 40 ... ~fS! 4I.li)f4 l:!e8 42.ãdl I!d8 as
pretas mantivessem compensação razoável pelo
peão: 43.tz::ixg6 Wxg6 44.\Wc l (44..âf4 :SdS)
44 ..."i!füS etc.
40....te4 (as pretas conseguem fazer seu
último lance antes do controle de tempo, o qual
dá a das um ataque irresistível) 41~ f4
Resulta que após 4 1.f3 as pretas vencem
através de 41 .. .hfJ! 42.gxfJ ~ eS 43.©hl
l:!g6 ou 43 .li)h2 li)xf3+ 44.li)xf3 'i!fxf3
(Nuno) 45 .'Wxd3 'i!fg3+ 46.@fl g xe3
47.'i!i'dS+ ©f8!
4l ...Jl.xg2 0-l
O lance secreto. As brancas abandonaram em
vista de 42.~e3 'i!i'f3 43.li)xg2 (43.'i!fxd3
.âxb3) 43 ...ge2.
Vlktor, o Terrível
A contagem agora era 3-1 e a situação do
111atch se complicou um pouco mais: Karpov
temporariamente "perdeu" as peças brancas.
Na 8ª e na 1O' partidas, ele jogou l .e4 eS 2. li)f3
tz::ic6 3 .âc4, na 12ª, l .c4 e todas elas, inclusive
a 7ª e a 11ª, terminaram empatadas. Naqueles
dias, conforme as diretrizes do Comitê de
Esportes, um grupo de Grandes Mestres se
reuniu com urgência no Centro de Treinamento
Olímpico em Novogorsk, nos arredores de
Moscou, para analisar dia e noite as variantes
temáticas d e abertura, inclusive a Variante
Aberta da Ruy Lopez.
Em Merano, não houve uma "segunda
Baguio": Karpov venceu por 6-2
Na 9• partida, o campeão empregou uma
novidade forte e inesperada no Gambito da
Dama e cuidadosamente obteve vantagem no
jogo incerto do seu adversário (partida 84). A
contagem se rornou 4- 1 e naturalmente pouca
gente acreditava que fosse possível ocorrer uma
repetição de Baguio: bastava para Karpov
vencer mais duas partidas e ele ainda tinha força
suficiente (é verdade que milagres às vezes
acontecem: em seu primeiro match comigo, ele
já liderava por 4-0 após nove partidas!).
Entretanto, na 13ª partida, soou um sinal de
alarme para aquela enorme equipe soviética:
Kortchnoi marcou a segunda vitória no 111atch
em ótimo estilo.
Partida 36
V . Kortchnoi - A. Karpov
Malch pelo Campeonato Mundial, Meraao 198 t
13' partida
Gambito da Dama D31
157
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
l .c4 e6 2.lzJC3 d5 3.d4 JJ.e7 4.cxd5
Antes disso no match somente havia ocorrido
4/i:)0 lz:\f6 e nas partidas ímpares, desde a 1"
até a 9ª, Kortchnoi não obteve nenhuma
vantagem real após S.ii.g5 h6 6 ..ih4 0-0,
enquanto na 11 ª ele nada conseguiu na variante
que havia causado momentos muito
desagradáveis a Karpov em Baguio, - 5 .~ f4
0-0 6.e3 c5 (cf. partida 30).
4 ... exd5 5..if4 c6
Na partida Timman- Karpov (Bugojno 1978),
após 5 ...lz:\f6 6.e3 0-0 7."fJ/c2 c6 8.ii.d3 ãe8
9.00 ~ bd7 10.0-0-0 êz:lf8 l l.h3 tendo
obtido uma versão favorável da estrutura
Carlsbad, as brancas foram as primeiras a iniciar
um ataque ao rei.
6.e3 JJ.f5
O lance 6...JJ.d6 é mais sólido, porém mais
passivo: 7 ~xd6 (certamente não é mais forte
7.~g3, Botvinnik-Kurajica, Belgrado 1969)
7 ... 'i.Wxd6 8.~d3 com vantagem mínima para
as brancas (Gligoric-Portisch, Palma de
Mallorca 1967).
7.g4!?
Se6>uindo as pegadas de Botvinnik, que jogou
isso com sucesso no match com Petrosian
(1963). É interessante que na complicada
posição resultante, Kortchnoi também tenha
obtido sucesso em superar completamente seu
formidável adversário.
7 ... JJ.e6 (7 ....ig6 8.h4!) 8.h3
A continuação aguda 8.b4 lild7 (8...i.xh4?!
9.'iW63!) 9.hS 'i!fb6 (Botvinruk-Spassky, Leiden
1970) já foi descrita no volume 2 - partida 71,
enquanto 9 .. .<~fü6!? (Kasparov- Karpov, 21ª
partida do match, Moscou 1985) será analisada
em detalhes no volume 2 da série Xadrez, Moderno.
8...ttlf6
Não é claro o que pode ser mau no
desenvolvimento tranqüilo do cavalo, mas ao
mesmo tempo as pretas têm experimentado
com freqüência dificuJdades e muitas partidas
terminaram de forma triste para elas. Também
se considera favorável às brancas 8 ... .td6
158
9.lilge2 ~e7 IO.tfb3 (Kortchnoi-Spassky, 2ª
partida do match, Kiev 1968). Dessa forma, hoje
em dia se prefere iniciar de imediato o contra-
jogo na ala do rei: 8...êz:ld7 9.ii.d3 g5! 10..tg3
h5 11.0 (1 l.gxh5 lilgf6) l l...tlfb6 12.ãb l c5
13.Wfl bxg4 14.fxg4 êz:lh6 15.~g2 f5 t6.'tiff3
fxg4 l 7.hxg4 lilf6, com igualdade (Rustemov-
Vallejo, Dos Hermanas 2003) ou l 1...lilgf6
12Jlh2 êz:lb6 e ...JJ.d6 com bom jogo para as
pretas (Krush- Bruzón, Buenos Aires 2003).
9.§ld3 c5 10.ttlf3 0- 0 11.©fl! (uma
daquelas raras instâncias em que é apropriado o
roque artificial) 11 ... ttlc6 12.Wg2 ãc8
As pretas não igualariam compJetamente com
12 ... cxd4 13.êz:lxd4 0xd4 (ou 13 ... ~ d6
14.Axd6 'i!fxd6 15.lilce2 ã fe8 16.ãcl ~d7
17 .~b 1! Geller-Spassky, Moscou 1967)
14.exd4, como na 14ª partida do match
Botvinnik- Petrosian (volume 2, partida 11).
13.ã cl
É algo prematuro 13.dxcS i.xc5 (Bronstein-
Kuijpers, Amsterdã 1968), pois as pretas
adquirem a ameaça ...d5-d4.
13.. Jie8?
É difícil acreditar que um lance natural assim
possa ser mau. Kortchnoi, Keene e muitos
outros analistas recomendaram 13 ... a6. De
fato, nesse caso, 14.dxcS não é muito efetivo:
14...~xcS 15.êz:lb5 êz:lb4! ou 15.a3 d4, com
igualdade. Karpov decidiu manter a tensão,
colocando para Kortchnoi um problema
relativamente novo, mas ele o enfrentou de

maneira impecável.
14.dxc5! i.xc5 15.~ b5
As brancas ocupam a casa d4 com ganho de
tanpo e conquistam uma vantagem duradoura
graças ao controle do centro, superioridade
espacial e maior atividade das suas peças - em
particular seus bispos, que controlam as
diagonais-chaves.
Pode parecer que uma posição assim com um
"isola11l' seria conveniente para as as pretas, urna
vez que o rei branco está muito exposto. Mas
aqui, o peão g4 não é tanto assim uma
debilidade, como um posto avançado,
restringindo a mobilidade das peças inimigas e
criando a ameaça de g4-g5. Além disso, as
brancas também têm ameaças perigosas na ala
da dama, onde suas peças estão muito melhor
colocadas para entrar em ação. E, de forma
bastante estranha, as pretas são obrigadas a
resolverem problemas difíceis e desagradáveis:
elas não têm nenhum sinal de um verdadeiro
contrajogo.
l5 ... .áf8 ( l5 .. .'i!fb6? 16..ác7, vencendo,
enquanto se l5 ...l!fe7, então é bom 16.~gS)
16.~ fd4!
"Karpov só estava esperando 16.tilbd4 e
agora, de for ma não característica, ele
mergulhou em pensamento por 35 minutos."
(Keene). Agora as precas precisam o tempo
todo contar com a troca ~xe6, a qual as livrará
do seu "isola,11', mas lhes dará novas debilidades
e fortalecerá a ameaça de g4-g5 seguido por
'tib.5 e um ataque terrivelmente forte ao seu rei.
16...~ xd4
Seria um erro jogar I 6 ...'i!9'd7? 17.tilxe6
llxe6 18 ..áfS ou 17 ... fxe6 18.g5. "D e acordo
com o campeão, ele rejeitou o planejado
anteriormente 16...Vb6 devido a l 7.l!fb3 tilaS
18.t!fa41i.d7 l 9 ..if5 com a troca vantajosa dos
bispos." (Geller). Entretanto, após l 9 ...ii.xf5
20.li~xfS l!c4 2J .!!xc4 tilxc4 22.b3 tilb2
23.~d4 'tWxbS 24.'i!fxb2 essas vantagens são
leves. Tal e Geller estancaram l 7.'i!fb3 com
17 ...~ xd4 18.luxd4 (18.exd4 ã c4!)
Viktor, o Terrível
l 8 ...lfxb3, achando que após l 9.CzJxb3 as
brancas teriam somente uma vantagem mínima.
Entretanto, após 16 ...'i!Yb6 Kortchnoi de fato
planejava 17 .li:lxe6!, o que também na minha
visão seria muito mais promissor: 17 ...ãxe6
l 8.lud4 gj;ee8 19.'i!fb3 ! e os bispos das brancas
dominam - as pretas enfrentarão um final
muito di6cil, ou 17 ... fxe6 18. g5 l'i:ld7 (se
18 .. .li:'ie4 então é forte 19.l'i:lc3! tilxc3?
20.~h7+ ou 19 ...ãcd8 20.'ti'g4) 19.'t!fhS g6
20..áxg6 hxg6 2 l.'i!fxg6+ Wh8 (21.. ..ág7?!
22.tild6! etc.) 22.tile7 ã e7 23.€lxe6 !ib4 (é
mais fraco 23 ...~xb2 24.1i.d6! ã h7 25.ik2)
24.€ld4 (o lance: de Kortchnoi; 24.mtdl !?)
com um ataque poderoso.
Não seria melhor 16 .. .'i&'aS, po r exemplo:
17.a3 ~ xd4 18.€lxd4 llxcl 19.'i!Hxcl lãc8
20.l!fbl .ád7 2 1.ã cl e as pretas estão
condenadas a uma defesa passiva, ou
novamente o enérgico ]7.tilxe6!? fxe6 18.g5
tild7?! (após 18 .. .'~:le4 são bons tanto 19 ..!.xe4
dxe4 20.'iWb3, como 19.~c3) 19.'tifhS ! g6
20.1'.xg6 bxg6 2 1.t!fxg6+ $'b8 22.~d6 ! (se
22.tilc7 ã e7 23.tilxe6, então 23 ... ãce8 !)
22 ... .áxd6 23 ..áxd6 d4 (não seria melhor para
as pretas 23 .. .ii'd8 24.t!hdl ou 23 ...it'a4
24.b4) 24.'i&'b.6+ $>g8 25.g6 t!fd5+ 26.0 €lf6
27.ãcS! 'iWxa2 (27 .. .'ti'xd6 28Jàb5) 28.ãhS
'i/9xb2+ 29.$>g3 ~ xhS+ 30.'i!fxhS ã c7!
3 I..áxc7 li!e7 32.~d6 !!g7 33.~ f8 1!,
vencendo.
l 7ltxc8 ~ xc8
Se l 7 ....áxc8 novamente é bom 18.exd4 e
então 18 ...'iWaS 19.a3 com as idéias de i.c7 e
b2-b4 (Kortchnoi), 18 ...'ti'b6 19.'flb3,
l8 ...~ e4 19.l!fc2 ou L8 ... a6 19.~c7 !!e7
20.t!fc2 com pressão desagradável, difícil de ser
neutralizada: 20 ... ãd7?! 2 1.~cl ~ d6 22.tile6
fxe6 23.~xd6 ã xd6 24.VWxc8 (Kortchnoi), ou
se 20 ... hS, então 2l.f3. Em rodas essas
variantes, é ób\Tia a diferença de atividade das
peças brancas e pretas.
18.exd4!
Talvez Karpov estivesse esperando o
159
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
"tradicional" 18.lilxd4.
]8...t!fd7
Se 18 ... a6 Kortchnoi deu 19.lild6,
conquistando a vantagem dos dois bispos, mas
também é bom 19.lilc7 ãe7 20.'ii'c2. Se
18 ... l!fd8, então 19.~b3, enquanto as pretas
também enfrentariam um teste difícil no final
após 18...ã e7 19.lilxa7 'i!fa8 20.lilb5 1Wxa2
21.ti'al ! 1:!fb3 22.~a3 ti'xa3 23.bxa3.
19.0c7 (muitos apontaram a alternativa
tentadora 19.lilxa7 !? ã a8 20.lilbS ãxa2
21.~3 e depois os lances de torre - li:Jc7 ou
ãcl) 19.. .ãc8
Se l9...~ d8 com a idéia de 20.lilxe6 \!fxe6,
então após 20 .lãe l ! e li:Jxe6 da mesma forma as
pretas teriam ficado com um peão débil em e6.
20.lilxe6 fxe6 (20 ...~xe6? 2l.~f5) 21.ã el
a6?
A opinião geral era a de que isso seria uma
grave perda de tempo, embora já fosse difícil
oferecer às pretas qualquer bom conselho: após
21...~d6 (Kortchnoi) o mais simples é 22.t!ff3,
enquanto se 21...~f7 com a esperança de
22.g5?! lilh5 e ...li:Jf4+ com contrajogo nas
casas pretas (Tal, Geller), então 22.'ii'e2!.
Karpov claramente subestimou
conseqüências da troca em e6 e percebeu muito
tarde o perigo da sua posição. Ele estava
pensando de forma geral em posições com um
"isolan?' (inferiores par.a as pretas, mas
defensáveis), enquanto Kortchnoi explorou as
características concretas da dada posição. Os
160
problemas enfrentados pelas pretas provaram
ser muito mais graves do que à primeira vista e,
além disso, são como uma bola de neve.. .
22.gS (iniciando um ataque decisivo)
22... lile4
Após o passivo 22 .. .lile8 23.'ã'g4 l:!c6 24.h4
(Kortchnoi) as pretas morrem sufocadas.
ª Dessa forma Karpov torna o jogo agudo e a
sua idéia se prova justificada." (Geller)
23.'tit'g4!
No caso de 23.ii.xe4 dxe4 24.l!xe4 'iWd5
(Keene) a partida teria ficado um pouco mais
animada, embora após 25.'ti'e2! as brancas
ainda manteriam uma vantagem (25 ...'i!fxa2
26J~xe6). Mas agora, de maneira bastante
estranha, não é aparente nenhuma defesa
satisfatória para as pretas.
23...~ b4 24.lle2 I!f8 (24...lle8? 25.D li:Jd6
26.a3 Aa5 27 ..íb<d6 'i!fxd6 28.~xh7+!) 25.0!
Isso é mais efetivo do que 25.il.xe4 dxe4
26.Ag3 e ~xe4 (Korcchnoi).
25...'i!fti
Uma tentativa desesperada de criar contra-
jogo ao longo da coluna f Se 25 ...lild6 as
brancas teriam vencido através de 26.a3 j,a5
27.~xd6 l!i'xd6 28.i:fhS! g6 29.i.xg6 hxg6
30.'i!fxg6+ <4i>h8 31.'i!Yb6+ <4?g8 32.!!xe6.
26. .ie5! li:Jd2
Um momento crucial.
as
27.a3
Geller colocou nesse lance dois pontos de
interrogação (1) e na seqüência Tal declarou que

27.f4 teria dado às brancas uma vantagem
decisiva. Mas a variante deles 27...l2Je4
28Jãxe4?! dxe4 29.i.c4 l:!e8 30.fS não é
convincente devido a 30...e3 ! com jogo agudo.
Parece ser melhor o prosaico 28.a3 ii.e7
29.i.xe4 dxe4 30.ãxe4. Também não é
completamente claro 27 ...l2Jc4 28.g6 'i!fd7
29.gxh7+ @h8, embora, é claro, as brancas
tenham uma grande vantagem. Entretanto,
como veremos, 27.a3 vence forçado!
27 ...i2Jxf3 28.g6?
Um lance impulsivo, que joga fora a vitória!
Seria até pior 28.axb4?: 28.. .l2lel+ 29.llxel
t!ff2+ 30.Whl 'i/fxel+ 3 L!i'gl lid2. "Mas a
esperta tentativa das pretas teria se provado
insuficiente se as brancas tivessem jogado
28.~g3! com as ameaças de axb4 e !í'.f2." (Tal).
Agora são ruins para as pretas 28...Ae7 29.!!f2
ou 28 ... it.el 29.23.xel l2lxel+ 30.Axe l ,
enquanto se 28 ... l2Jh4+!? existem duas
respostas valiosas:
l) 29.~h2 ê2Jf3+ 30.~hl ~d2 (também não
poderia ser 30...Ae7 3 l.'3.f2 ou 30...l2Jh4
31.il.xh7+! Wxh7 32.t!fxh4+ Wg8 33_gf2
Kortchnoi) 3 l .g6 (isso parece mais simples do
que 3 U!f2) 3 l...hxg6 32.'3.f2 Ae3 33.g fl
~xd4 34.il.d6, vencendo;
2) 29.'fi'xh4 't!if3+ 30.~h2 'Wxd3 31.!i'g4!
1'.e7 (não 31...Ad2 32.t!fxe6+ Wh8 33.il.d6
ãg8 34Jãf2 ! com a ameaça de 'i!fxg8;
34 ... ãd8 35.t!ff7) 32.'t!!xe6+ ~f7 33.ãf2
'i!t'g6 34.'i!fxd5 ~ 35.ãxf7+ 'i!fxt7 36.'i!fxb7
Axg5 37.Ad6+ @e8 38.ti'c8+ Ad8 39.t!fc6+
'i!t'd7 40.'i!fxa6 e a vitória das brancas é uma
questão de tempo.
28...hxg6
Isso salva as pretas. Entretanto, também após
28.l2lel+ !? (não mencionado por ninguém)
29.Wh2 'il.fe7! (mas não 29...l2Jf3+? 30.Whl
hxg6 3 l .it.xg6, vencendo) 30.gxh7+ Wh8 um
dos bispos brancos é trocado e a posição
permanece indefinida: 31.~g6 lz::lf3+ 32.Whl
l2lxe5 33.dxe5 AcS etc.
29.Ag3
Viktor, o Terrível
Não é possível 29.~xg6? devido a
29 . ..l2Jh4+ ou primeiramente 29 ... t!fxg6.
Também seria fraco 29.axb4?! l2lel+ 30.ãxel
iff2+ 31.Whl 'i!fxel+ etc.
29...Ae7?
O erro fatal. Após 29...l2le l +? 30.lãxel
it.xe 1 31.~xe 1 os dois bispos teriam decidido
o final favoravelmente às brancas. Entretanto,
como foi notado por todos os comentaristas,
após 29...l2Jh4+! 30.~h2 ê2Jf3+ 3 1.~h l o
retorno paradoxal 31 .. .ê2Jh4 !! teria forçado o
empate: 32.ãf2? i2Jf5 e 32.'3.c2? !ff3+!, e
32.Axh4? 'ii'fl +! são ruins para as brancas,
enquanto se 32.l!fxh4 (32.©h2 lLJf3+) poderia
seguir tanto 32...'i!¼'f3+ 33.lãg2 'i!¼'xd3 34.axb4
23.fl + 35 .Ê'.gl (35.@h2 't!t'dl) 35... 1Wf3+
36.~h2 't!fe2+ 37.lãg2 'iWdl, com igualdade
(Kortchnoi), como 32...~e7!? 33.'irg4 tli'f3+,
recuperando a peça, com igualdade.
30.ãf2
Agora as pretas sofrem grande perda de
material e em breve o desafiante obterá um final
tecnicamente vencedor.
30...l2Jel+ 31.~bl ifxf2 (não 3 l...ê2Jf3?
32.il.xg6 'tiff6 33.ti'hS) 32.~xf2 ~xd3
33.'i!fxe6+ lãf7 34.il.g3 ~xb2 35.'i!fxdS Af6
Seria ligeiramente mais resistente 35 ...bS
(Kortchnoi), mas aqui também após 36.l!fa8+ e
'%\fxa6 as pretas estão perdidas.
36.Ad6
'½s ameaças de 'ire6 e 'i!fe8+ forçam ambos
os peões pretos g a darem um passo adiante e,
161
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
dessa forma, se torna impossível a criação da
bem conhecida fortaleza de empate." (Geller)
36... gS 37.~b3 (forçando o ganho do
cavalo; também teria vencido 37.lie4 g6
38.tfxg6+ ii.g7 39.1l.e5 Kortchnoi)
37... .i.xd4 38.~e6 g6 39.'i!fe8+ ~ g7
40.~ eS+ i&xe5 41.ifxeS+ Wh7 (foi atingido o
controle de tempo) 42.'i!fxb2 1-0
O último lance foi o secreto. Sem retomar a
partida, as pretas abandonaram.
" Aturei Moscou, at urei Bagu/o, mas não pode-
ria aturar Merano e por isso tomei a decisão
de nunca mais disputar matches com Karpov."
Adeus ao Sonho
Em 1982, Kortchnoi participou de cinco
torneios e venceu três, mas devido ao boicote
soviético se viu obrigado outra vez a perder os
mais importantes acontecimentos do ano:
Hastings, Wijk aan Zee, Mar del Plata, Sarajevo,
Dortmund, Londres, Bugojno, Turim, Tilburg...
No outono ele liderou a equipe suíça na
162
Olimpíada de Luccrna e na 10ª rodada
encontrei-me com ele pela primeira vez. De
forma geral, eu estava jogando no tabuleiro 2,
com Karpov no tabuleiro 1. Mas o campeão
mundial diplomaticamente evitou o encontro
com seu implacável adversário: ele deveria ter as
pretas e, pelo visto, não julgou necessário se
arriscar. Além disso, era uma oportunidade
conveniente de me "prestigiar" contra
Kortchnoi, para ver qual seria o resultado.
Travou-se uma árdua disputa na Benoni
Moderna: eu joguei arriscando-me ao máximo,
mas por fim, depois de terríveis complicações e
erros mútuos em apuro de tempo, venci.
Comentarei este duelo no livro que pretendo
escrever sobre minhas partidas selecionadas.
Aliás, antes do 1ruc10 da partida,
transgredindo a proibição oficial, fiz um
movimento de me dirigir ao meu adversário
para o costumeiro aperto de mão, mas
Kortchnoi recusou, talvez (pensei inicialmente)
lembrado da amarga experiência de Baguio e
Meraoo, onde o aperto de mão tinha sido
abolido. Foi só posteriormente que veio a
explicação. Em Lucerna, os três
conhecidíssimos enxadristas desertores, Viktor
Kortchnoi (Suíça), Lev Alburt (EUA) e Igor
Ivanov (Canadá) tinham feito um pacto de
evitar o aperto de mão antes da partida para
evitar me colocar em uma posição
desconfortável! Na Olimpíada anterior (Malta,
1980), Karpov tinha ignorado a mão esticada de
Alburt e a foto que registrou a recusa foi
publicada em toda a imprensa do O cidente.
Kortchnoi terminou aquele ano com um
breve match de treinamento com Tunman: 3-3
(+ 1-1= 4). No início de 1983, precisamente
antes dos matches de Candidatos, ele jogou
também em Wijk aan Zee, onde se manteve
completamente intransigente, mas também com
o pior resultado em muitos anos (+5-6=2). No
entanto, ele jogou nas quartas-de-final com
Portisch (Bad Kissingen, primavera de 1983)
corno nos bons velhos tempos.
O início deste match parecia a derrota de

Polugaevsky em Evian (1977). Na l' partida,
Kortchooi escolheu uma variante rara da
Abertura Inglesa e, embora as pretas tivessem
realizado um bom jogo (if. parlida 71, vo/11171e J),
Portisch usou quase todo o tempo do relógio e
foi incapaz no apuro de tempo de segurar um
final de torres aproximadamente igual. Na 2•
partida ele obteve um final "anti-Grünfeld"
típico, favorável às brancas, mas, ao fazer o
lance 36 de forma incorreta, desperdiçou todas
as chances de vencer. É provável que o peso
destes erros tenha afetado Portisch na 3ª
partida, que se tornou o ponto alto do 17/atch.
Parlida37
V. Kortchnoi - L. Polugaevsky
A1atch de Candidatos, Bati Kissingen 1983
]'partida
Abertura Inglesa AJJ
l.c4 c5 2.~ f3 éi\c6 3.éi\c3 ~ f6 4.d4 cxd4
s .éi\xd4 e6
Essa bem conhecida tabrya de abertura
ocorreu cerca de cinqüenta vezes nas partidas
de Kortchnoi.
6.~ dbS
Viktor Lvovich inicialmente jogava 6.~g5.
Então, ele utilizou 6.g3, incluindo seu ,natch
com Spassky (1977 /78) e em 1988 Karpov
jogou isso contra ele. Ele também tentou 6.~f4
d5 (6 ... ~b4 7.l2:ldb5) 7.cxd5 l2:lxd5 8.l2:lxc6
b xc6 9.~d2, mas ao final deu prioridade a 6.a3
e com sua ajuda venceu duas partidas
importantes em seus matches contra Sa:x (Wijk
aao Zee 1991) e Ponomariov (Donetsk 2001).
Realmente, 6.a3 !? permite manter o número
máximo de peças no tabuleiro, forçando
lentamente linhas evitadas. Eu também
empreguei esse lance com sucesso em uma
ocasião - contra Wan Welly (Moscou 2004).
6...d5!
No match de Candidatos Kortchnoi-
Polugaevsky (1980) foi tentado 6 ...~ b4 7..fi.f4
0-0, seguido por 8.~c7 1/fe7 9.~d6 Axd 6
10.l!fxd6 (1ª e Sª partidas) ou 8.~d6 ~xd6
Viktor, o Terrive/
9.l2:lxd6 (7ª, 9ª e 13• partidas). Ao conquistar o
controle da casa d6, as brancas obtêm uma leve
porém duradoura vantagem, a qual foi
con firmada por Kortchnoi com suas vitórias
sobre Anderssoo Qoanesburgo 1981) e Y.
Gruenfeld (Olimpíada de Lucerna 1982).
7.2.f4!
No caso de 7.cxd5 l2:lxd5 8.ci::)xd5 (8 .e4
ci::)xc3 9.!i'xd8+ Wxd8 JO.l2:lxc3 .1Lc5, com
igualdade) 8 . .. exd5 9.'iWxd5 ~b4+ 10.~d2
~e6 1 I.!fxd8+ ãxd8 ou 10 . . JJe7 (Suba-
Portisch, Olimpíada de Tessalônica 1984);
Ljubojevic- Topalov, partida às cegas, Mônaco
1999) as pretas têm excelente compensação
pelo peão sacrificado.
7 ...eS 8.cxdS exf4 9.dxc6 bxc6 10.'iWxd8+
Wxd8
Uma variante popular naquela época.
"Eu dediquei muitos dias e noites na análise
dessa posição", escreve Kortchnoi. "Traba-
lhando tanto sozinho, ou com vários auxiliares
- Stean, Velirnirovic e Gutman - eu gastei pelo
menos 80 horas de trabalho tentando refutar a
opinião da teoria, de que as chances são
aproximadamente iguais. À primeira vista, as
coisas parecem ruins para as pretas. Seu rei está
no centro e os seus peões da ala da dama estão
fracos. Mas, por sua vez, as brancas têm
problemas com o desenvolvimento da sua ala
do rei, enquanto as pretas podem livremente
desenvolver as suas forças, ao mesmo tempo
criando ameaças na ala da dama e no centro. Ao
163
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
se dar uma olhada rápida na posição, o primeiro
lance que vem à mente é l 1.0-0-0+, mas após
11. ..~d7, é muito desagradável a ameaça de
...êi:Jf6-g4. Então, de acordo com a teoria, o
único lance sensato para as brancas é 11.ãdl +,
mas as 80 horas de trabalho em casa não me
convenceram da força desse lance teórico! Após
pensar no tabuleiro por 20 minutos, joguei de
forma diferente".
l t.li:)d4!?
Para Portisch, que reverenciava com devoção
os cânones teóricos, isso foi uma surpresa
desagradável! As brancas, de forma abrupta,
mudam a direção da partida: o cavalo, que
usualmente mira a casa d6, agora ataca o peão
c6 e a torre, que permanecia em a l, está pronta
para apoiar esse ataque desde c l.
A decisão de Kortchnoi também é
interessante do ponto de vista psicológico: é
bem sabido que Portisch freqüentemente se
tornava confuso quando havia uma mudança
aguda na situação do tabuleiro. Em geral, esse é
um problema para a maioria dos jogadores que
dedicam muito tempo ao estudo de aberturas:
eles se sentem muito bem em casa em "suas"
posições, mas "sucumbem'' em posições
desconhecidas. Kortchnoi, de forma aguçada,
percebe os momentos nos quais ele pode se
desviar da teoria - uma novidade assim, mesmo
que objetivamente não seja tão forte - tem o
máximo efeito psicológico. Uma habilidade
para variar a característica da partida , levando
em consideração os aspectos individuais do
adversário, que é duplamente valiosa em matches,
sempre foi um dos seus pontos fortes.
Casualmente, no mesmo v1atch, Kortchnoi
mais tarde voltou para a linha usual: 11 .Wl +
~d7 12.lud6 e ao invés do passivo 12 ... 'i!?e7?!
13.g3! (Polugaevsky- Gligoric, Bugojno 1982)
ou o arriscado 12 ..Jâb8?! 13.làxf7+
(Andersson- Timmao, Bugojno 1982), na Sª
partida seguiu 12 .. .Wc7 l3.làxf7 ã g8 14.làeS
(14.g3 ã b8! Andersson- Tal, 2ª partida do
111atch, Malmõ 1983) 14 .. .ã b8 com jogo
164
perfeitamente bom pelo peão e na 7• partida -
l2 ...2l,xd6 13.ãxd6 ã b8! J4.b3 (1 4.ã d2 !te8
15.g3 f3, com igualdade, Karpov- Polugaevsky,
Londres 1984; H.Olafsson- Portisch, Nova
Iorque 1984) 14 ... E!M 15.g3 ct/e7 16.ã d2 c5,
com igualdade (16 ... h5!? Kir. Georgiev-
Topalov, Sarajevo 2000).
u ...'it>c7
Um lance aparentemente natural, mas
analistas consideraram perigosa a posição do rei
na coluna e (devido ao recurso de ãc 1) e desde
aquela época as pretas começaram a jogar
11 .. .~d7, como escolhido por Timman e
Polugaevsky contra Andersson (filburg 1983),
ou 11. .. ~b7, como jogado por De Firmian e
Karpov contra Salov (Amsterdã 1996; D os
Hermanas 1997).
D essa forma, a maior parte da variante 6 ...d5 !
passou com sucesso pelo teste de resistência.
Mas a brilhante vitória "psicológica" de
Kortchnoi permanece como uma peça
magistral na lústória do xadrez...
12.g3 ~c5?!
Isso fortalece as ameaças táticas das brancas
ao longo da coluna e. Seria mais seguro
12 ...~b4 "seguido por ...ii.xc3, para bloquear
essa coluna." (Kortchnoi), e se 13 .ã c 1, então
13 . .. ãd8!
Mas foi até melhor 12 ...âb8! e uma vez que
as brancas não podem escapar com 13.0-0-0
ou l 3.lub3, Kortchnoi recomendou a
"continuação aguda 13.2lg2 ãxb2 14.!tcl
seguido por 0-0, com compensação pelo peão."
Entretanto, em minha visão, após l 4 ... fxg3
15.hxg3 (15.li:kbS+? @b6) 15 ...cS 16.lua4
(16.li:Jdb5+? Wb8) 16 ...ã xa2 17.li:)xcS i.xc5
18.ãxcS+ 'it>d6 19.ãc6+ We7 ou 19.ãgS ã g8
20.ãb4 h6 a compensação é claramente
inadequada.
13.ã cl ! (possivelmente Portisch esperasse
13.li:)b3 ~b4, com igualdade) 13... fxg3
Isso elimina a ameaça de gxf4, mas, por outro
lado, abre a coluna para a torre em h l .
Kortchnoi considera outras duas possibilidades:

1) l3 ...~g4 "com a ameaça de tomar a
iniciativa através de ...~xf2". Entretanto, se
14.~g2 as pretas jogam 14 ...!!b8!, uma vez
que 14 ... ~xf2? não funciona em ,-ris ta de
S.tz:lcb5+ !. Mas Kortchnoi planejava o gambito
14.b41? ~xb4 15 ..iÍ.g2 e ~ com chances um
pouco melhores para as brancas;
2) 13 ...!!b8 (tomando o controle da casa bS e
ameaçando ...~xd4) 14.~b3 gxb3!? 15.axb3
li:)g4.
Diagrama de Análise
No tabuleiro, as brancas pretendiam jogar
16.tiJdS+ ~d6 17.Etxc5 çt,xc5 18.êuxf4 Wb4
19.tz:ld3+ Wxb3 20.Wd2! !!d8 21.<.t'cl "com
alguma vantagem", embora a posição
possivelmente seja empatada.
Mais tarde, em análises caseiras, "Kortchnoi
descobriu que após 17 .. .fxg3 !! ameaçando
...~xf2 e ...gxh2, ganhando a outra torre" e
chegou à conclusão de que ''a minha variante,
preparada no tabuleiro, não teria funcionado."
Realmente é fraco 18.hxg3?! '.!?xcS, mas é
melhor tomar a vantagem da qualidade através
de 18.!:IaS!, quando as pretas enfrentam uma
batalha pelo empate tanto após 18 ...gxf2+
19.<;t>d2 cxd5 20.fi.g2 .iÍ.e6 21.h3, ou
18 ... ~xf2 19.~g2 tz::)xbl 20.~e3 ~f2
2 l.hxg3 lug4 22.~c4+ @e6 23 ..ixc6 a6 ou
20....iÍ,e6 21.Axhl gxh2.
A alternativa é 16 ..iÍ.g2 .iÍ,xf2+ 17 .@fl,
quando as pretas "não têm retirada satisfatória
Víktor, o Terrível
para o seu bispo em vista do xeque de cavalo
em bS ou dS e em seu próximo lance as brancas
jogarão ~dl, mantendo uma leve vantagem
material Didicilmente essa vantagem seja
decisiva, entretanto..." (Kortchnoi). Embora, na
minha opinião, após 17 ... fxg3 18.hxg3 ~d7!
(mas não 18 ... 1i.xg3 19 ..iÍ,xc6! com a idéia de
I 9 ...Wxc6 20.~e4+ e tz::\xg3) seja difícil falar
em uma vantagem para as brancas.
14.bxg3 A a6?
Portisch quebra sob tensão! Ele só precisava
jogar 14 ...!!b8, para após 15.~b3 (nada é
conseguido por 15 /ôd5+ 'i!td6 16.li::ixf6 .ixd4
l 7.tz::le4+ @c7) 15 ...~b4 16 ..iÍ.g2 St.d7, nas
palavras de Kortchnoi, "salvaguardar-se das
ameaças das brancas e montar uma defesa de
longo prazo."
Resumindo as impressões entre os lances 11 e
14 das pretas (a fase cótica da partida), pode se
estabelecer que elas desperdiçaram muitas
continuações mais seguras e também algumas
mais agudas, explorando as características
dinâmicas da posição - tais como a presença do
peão em f4 e a possibilidade de atacar os peões
de f2 e b2. Entretanto, o único lance que
verdadeiramente merece ser criticado é o
"descuidado", como foi definido por
Kortchnoi, 14° lance, após o que a posição das
pretas desmorona literalmente como um castelo
de cartas.
15.tz::\xc6!
"Esse lance inesperado vence a partida. E,
165
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
efetivamente, não somente a partida, mas todo
o match! D e fato, Portisch não foi capaz de se
recuperar desse golpe e perdeu o mat.h por 6-3!"
(Kortchnoi)
15 ....âb7 (ou 15 ... Wxc6 16.lâa4 com um
ataque irresisúvel, no qual o papel decisivo é
desempenhado pela torre de hl) 16.lz)a4!
Mesmo assim! "É claro, não l 6.i.g2? .âxc6
17 .i.xc6 .âxf2+ e as pretas recuperam o peão,"
(Kortchnoi), embora mesmo aqui, após
l 8/it'xf2 lz::lg4+ 19.<.!i>g2 Wxc6 20..ãh5! as
b rancas manteriam a iniciativa.
16....â.xf2+
"Se 16 ...~ xc6 17 ,gxc5 Wd6, então
18.ãxc6+ <.!i>xc6 19.i.g2+ @d6 20 ..âxa8
ã xa8 2 l .ãh4 e a vitória para as brancas não
apresentaria nenhuma grande d ificuldade."
(Kortchnoi)
17.@xf2 ÍLJe4+
Também não haveria esperança após
I 7 ....âxc6 18 ..âg2 làg4+ 19.'it>gl lz::le5
20.lãh5! (usando todo o espaço do tabuleiro)
2 0 ... Wd 6 21.g d J+ Wc7 22.É!xe5 .âxa4
23.É!d4 ãae8 24.fü.5 (Kortchnoi), ou de forma
mais rápida - 23.ã e7+ Wb6 24.ã b7+ ç!.,a6
25J~d6+.
18.\&gl
As brancas teriam vencido mais
simplesmente através de l 8.We3 .âxc6 19 .i.g2
(assim como 19.âxc6+ Wxc6 20.Wxe4)
19 . . . f5 ( 19...ã ae8 20 J!xc6+) 20.ãhfl IDtf8
(20 ...g6 21..âxe4 fxe4 22.ãf6) 21.ãxc6+
Wxc6 22.ãxf5 I::Ixf5 23.1'.xe4+ ã d5 24.lâc3 -
bela geometria! Entretanto, a retirada para gl
não prejudicaria nada.
I8....âxc6
As precas temporariamente restabeleceram a
igualdade material, mas após o óbvio lance a
seguir, a derrota é inevitável para elas.
19.i.g2 g ae8 (se l 9 ... f5, então 20.g4 g6
21.gxf5 gxfS 22 Jàh6, ganhando o bispo)
20lth4! f5 21.g4!
Temas geométricos precisos. Como em
muitas outras partidas de seu período maduro e
166
posterior, Kortchnoi apresenta uma excelente
visão do tabuleiro.
21 ...f4
O u 2 1...Wd6 22.Eixc6+ Wxc6 23.gxf5 Wb5
24 ..ixe4 Wxa4 25.~c6+ Wa5 26.~xe& â xe8
27.ãxh7, vencendo (Kortchnoi).
22.ãxc6+!
Ganhando duas peças pela torre. Também
seria bom 22.g5 ã hf8 23.g xh7 ! (mas não a
variante de Kortch noi 23.ãxc6+? <.!i>xc6
24.lz::lc3 f3! 25.~xf3 ãxf3 26.exf3 éZlxg5, com
igualdade) 23 ...\&d6 24.~g7 ½xa4 25.!ic4,
vencendo.
22.•.w xc6 23.lz)cJ Wc5 24.~ xe4 Wd4
25.ii.O
As brancas têm vantagem material decisiva e
a partida rapidamente chega a uma conclusão
lógica.
25... ã b8 (25 . ..We3 26.gh5!) 26.lZla4 llb4
27.âhS! g d8 (27 ...ãxa4? 28.ãd5+, com mate
ou captura da torre) 28.b3 (28.lZlc5 !?) 28...h6
29.© f2 !id6 30.ã fS g5 31.â f7! (com a ameaça
de !ie7-e4+) 31...WeS 32.ã xa7 ã d2 33.'i)cS
llbd4 34.g a6 lld6 35,g a5! 1-0
Na 4ª partida, Portisch tentou a desforra a
todo custo e no 33° lance sacrificou a qualidade,
mas, em um agudo apuro de tempo, Kortchnoi
tomou a iniciativa e logo após o apuro de tempo
fez um ataque irresistível ao rei. O resultado
ficou 3½-½I O final do match de 10 partidas
estava decidido.

Na semifinal, coube a Kortchnoi jogar contra
mim. Em minha preparação supus de imediato
que o meu adversário ainda estava afinadíssimo
com o pensamento exadrístico, estabelecendo o
caminho principal de desenvolvimento da teoria
de abertura e gerando idéias novas, originais, ou
então redefinindo substancialmente as antigas.
Isto também foi mostrado pelo nosso ,natch.
Inicialmente, o match deveria ser realizado no
final do verão em Pasadena. As intrigas que
levaram ao fracasso do evento por causa do
meu não comparecimento e os fatos
surpreendentes que afinal possibilitaram a
realização do match, são assuntos que vou
descrever no volume 2 da série Xadrez Moderno,
sobre as disputas com Karpov (uma vez que
estes episódios se referem mais à minha luta
com Karpov). Tudo poderia ter sido diferente,
se Kortchnoi não tivesse tomado a nobre
decisão de jogar a semjfinal e se valesse do seu
direito formal de passar diretamente para a
final. Contudo, ele demonstrou de fato que as
suas críticas ao campeonato de "papel" não
eram palavras vãs.
Em setembro, Kortchnoi chegou a Nikshitch,
na Yugoslávia, justamente no momento em que
eu estava terminando com sucesso um super-
torneio ali. As negociações sobre o match,
sancionadas por Moscou, foram feitas
inicialmente através de intermediários e
seguiram com grandes dificuldades. Mas o
impasse se desfez, quando prometeram a
Kortchnoi que sua exigência principal e legítima
seria atendida, ·encerrando-se o boicote dos
enxadristas soviéticos. Pelo que sei, quem
desempenhou um papel ativo nas negociações
foram, por um lado, o jornalista Alexander
Rosbal e por outro o jornalista Brana
Zerncevic, da Iugoslávia.
A retomada de nossas relações pessoais foi
ajudada pelo rorneio-relâ:mpago de Horceg-
N ovi, organizado imediatamente após o
Torneio de Nikshitch. Venci esta disputa de
duas rodadas de nove Grandes Mestres (13½
em 16), derrotando duas vezes Kortchnoi, que
obteve o segundo lugar (10½). Talvez ele tenha
Viktor, o Terrível
se impressionado com o fato de que eu jogasse
no mesmo torneio que ele, mesmo antes da
conclusão das negociações. Para ele, este
torneio-relâmpago seria o primeiro
rompimento do boicote em sete anos. Várias
vezes pudemos falar francamente a respeito do
futuro match que ambos aguardávamos
impacientemente.
Em Horgen 1994, uma das três dezenas de
partidas que disputamos
Em seguida nosso match de 12 partidas
tornou-se realidade (Londres, novembro-
dezembro de 1983). A atmosfera era bem mais
tranqüila do que se esperava. :Minhas relações
com Kortchnoi eram normais. Percebi que,
apesar da enorme diferença de idade (32 anos),
ele era um adversário perigos1ss1mo,
conhecedor a fundo de inúmeros proce-
dimentos enxadrísticos. Eu sabia que não devia
deixá-lo ditar o jogo nas posições simples e
técnicas, e, em minhas preparações, prestava
atenção especial a estudos de finais práticos. No
match isso resultou de muito interesse!
No entanto, na 1• partida, perdi
vergonhosamente - essa partida, talvez para
sempre, permanecerá como minha única
derrota para Kortchnoi.
Partída 38
G. Kasparov - V. Kortchnoi
Mat,h de Candidatos, Londres 1983
t• partida
Defasa Índia da Dama E 12
167
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
1.d4 &LJf6 2.c4 e6 3.&LJf3 b6 (naqueles anos
Kortchnoi mais freqüentemente respondia
3 ... .tb4+) 4.l21c3 .ib7 5.a3
Esse lance poderia ser esperado: eu o jogava
com regularidade e muito sucesso. Mas nas
partidas do meu adversário a posição ocorreu
somente duas ou três vezes.
5 ... d5 6.cxd5 ~xd5 7.e3
A continuação mais dinâmica 7.Wfc2 foi
descrita nas análises da partida Pettosian-
Smyslov (vol11me 3, partida 14). Posso acrescentar
7 ... ~ xc3 8.bxc3 .te7 9.e4 0--0 10.it.d3 c5
11.0-0 l!!lc7 12.1!fe2 &LJd7 13 ..tb2 ã ac8
14.&LJd2 ã fd8 15.ãfdl ~f6 com igualdade
aproximada (Kasparov- Kramnik, Linares
2004).
I 9...~d7.
7...g6!
Uma surpresa! A linha usual naquela época
era 7 . ..i.e7 8.ll.b5+ c6 9.i.d3 (volume 3,
partidas 14 e 45). O lance novo 7 ... g6 já era
conhecido (havia sido jogado por Short e
Adorjan), mas antes clisso eu não o havia
estudado com seriedade. E dei pouca atenção à
partida de cinco minutos Tal-Kortchnoi
(Herceg Novi 1983), que seguiu assim:
7 ... ~xc3 8.bxc3 g6.
A resposta do meu adversário altamente
experiente abruptamente mudou o cenário da
posição: ela se transformou em um tipo de
Defesa Grünfeld, que faz parte do arsenal de
Kortchnoi desde muito antes de eu ter nascido
168
(partida 2). Agora é clifícil para as brancas
construírem um ataque combinado no centro e
na ala do rei (o que era precisamente o que eu
tinha feito com muito sucesso!), e elas têm que
procurar novos caminhos. Kottchnoi percebeu
de forma perspicaz que eu poderia ficar ·
nervoso - especialmente na primeira partida do
match - e perderia meu objetivo. Mais do que
isso: o efeito da surpresa se provou formidável!
8..tb5+
Polugaevsky- Kortchnoi (1 ª partida do match,
Londres 1984) seguiu 8.h4!? .tg7 9.h5 c5?!
10..tb5+ ll.c6 l l.~d3 &LJd7 12.e4 ~xc3
13.bxc3 ll9c7 14.it.gS!, com uma vantagem
óbvia para as brancas, mas seria mais seguro
Outra linha segue 8.~xd5 exd5 (não é cão
sólido 8 ...V!fxd5 9.l!Vc2 Timman- Short,
Londres 1982; Kramnik- Kortchnoi, Mônaco
1994, partida às cegas) 9 ..tbS+ c6 10.it.d3 .tg7
1 I.e4 dxe4 12..txe4 h6 13 ..tg5 f6!? 14.i.e3
0-0 15.~3+ ~ h8 16.0--0--0 f5 com jogo
indefinido (Atalik- Kortchnoi, Olimpíada de
Manila 1992) ou l l.b4 0-0 12 ..td2 ~d7
13.ãbl ã e8 14.0-0 &LJf6, com igualdade
(Kasparov-Kramnik, relâmpago pela internet
2001).
8...c6 9•.td3
Na primeira tentativa, joguei por analogia
com a variante 7 .. ..te7 e na segunda, contra
Timman (Amsterdã 1991), 9.it.a4 ll.g7 10.e4!?
(ao invés do usual l0.0-0 0--0 l l .e4 ~xc3
12.bxc3 c5 l3.i.g5 t!fd6, com igualdade,
K upreichik- Makarichev, Kiev 1984);
Radjabov-Karpov, Moscou 2002, partida
rápida) 10 ... &LJxc3 1 l.bxc3 e após 1l .. .h6!?
12.h4 l!'c7 13.eS li:\d7 14~f4 h6 15.l!Vcl
0-0-0 16. lJB e3 c5 17. ~d2 'i!?b8 se
desenvolveu uma aguda batalha, que ao final
conduziu ao empate.
9•••.tg7 l0.e4

As brancas não conquistam a vantagem com
10.0---0 0---0 l I.izJxd5 cxd5 (farjan-Adorjan,
Vrsac 1983). A partir de meados da década de
1990, pata jogar e3-e4 sem permitir a troca em
c3, começaram a jogar 10.lzJe2?! (após o que
10 .. . c5l é forte) ou I0.lzJa4. Mas é duvidoso o
quanto a defesa das pretas pode ser abalada
dessa forma, como tem sido demonstrado na
prática através de Karpov, Short, Grischuk e
Kramnik..
10•..<tl><c3 11.b><c3 c5!
Um lance novo, mais energico do que
11 ...0---0 (Ftacnik-Adorjan, Banja Luka 1983).
Os bispos fianquetados das pretas batem com
muita força no centro do adversário - uma
excelente versão da "Grünfeld"!
12.~g5
É agradável desenvolver uma peça com
ganho de tempo, mas seria mais seguro
12.~bS+ ~c6 l 3..\lxc6+ lzJxc6 14.~e3
(Ftacnik) ou l2.~e3 0---0 13.0---0.
12...i.fd6!
As pretas não querem aliviar a pressão em d4,
assumindo corretamente que o ganho de um
tempo mais adiante não traria às brancas
nenhum benefício.
13.eS (mais cedo ou mais tarde sena
impossível seguir sem e4-e5) 13 ...°i!fd7
Também seria preferível 13 ... !fd5, mas
Kortchnoi quis me provocar a fazer a resposta
em seguida.
14.dxcS?
"É difícil entender esse lance." (Kortchnoi).
E, de fato, porque de fotma voluntátia romper
meu peão central, quando após o simples
14.0--0 0-0 l5.t!fr'e2 cxd4 16.cxd4 lLJc6
17.~e3 ou 17.li.e4 as brancas não estariam
ameaçadas por nenhum perigo? Mas eu já
pensava em aliviar a situação rapidamente e,
como ocorria com freqüência comigo naquela
época, subestimei os fatores dinâmicos da
posição...
Viktor, o Terrível
14...0-0! (mas não 14 ... bxc5 15.A bSl A c6
16.a4 e somente as pretas teriam problemas)
15.cxb6 axb6 16.0-0 'fic7
Mirando imediatamente os peões c3 e e5 e
preparando-se pata trazer o cavalo. Após o
apressado 16...lzJc6? 17.~e4 ~c7 18 ..tf6!
~xf6 l9.exf6 'ilif4 20.'i!ibl (20.'iled7!?
Dvoretsky) as brancas teriam tomado a
iniciativa.
"Pelo peão as pretas conquistaram pressão
nas debilidades das brancas e um bem sucedido
desenvolvimento de suas peças. Está claro que
as brancas não poderão manter sua vantagem
material. Mas serão capazes de quebrar o
desenvolvimento harmonioso das pretas?"
(Kortchnoi)
17.~ bS!?
As brancas de forma aguda mudam a
característica da partida: entregando de
imediato o importante peão eS, tentam explorar
a atividade de suas peças e o momentâneo
atraso de desenvolvimento das pretas.
Inicialmente eu tinha planejado 17Jlel com
a possível seqüência l 7...lzJc6 18.~ e4 ãaS
19.~f6 ou 17 ...~xc3 18.li.e7 ãe8 19~b4,
mas em uma análise mais próxima descobri um
interessante sacrifício de qualidade para as
pretas - 17 ...l;:::id7! 18 ..i.e7 (é muito desa-
nimado l8.~f4 :ê:fd8) 18 .. .~xf3! (não é tão
claro 18 ...4Jxe5 19.~xf8 lz:lxf3+ 20.gxf3
~ xf8 21.Ae4) 19.gxf3 (19.~xf3?! lzJxeS
20.ãxe5 .i.xe5 2 l..i.xf8 ~ xf8, ganhando um
169
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
peão) 19 ....âxe5 20.~xf8 it.xh2+ 2 1.@g2
!!xf8 e as brancas estão frente a uma defesa
muito desagradável.
Até esse ponto eu já tinha utilizado mais do
que duas horas, enquanto os primeiros 15
lances de Kortchnoi foram feitos em somente
quatro (!) minutos. É verdade, em seu próximo
lance ele gastou cerca de 50 minutos...
17 ...~xeS!
Essa resposta, explorando o estado indefeso
dos bispos de b5 e g5, coloca os maiores
problemas para as brancas. Seria claramente
vantajoso para as brancas 17 ...Axf3?! 18.'i9xf3
lh5 19.a4 Axe5 20.g3 't!fxc3 21.'ifxc3 ~c3
22.lladl (Kortchnoi) ou 22.llacl! (Dvoretsky).
Vamos também considerar desenvolvimentos
tranqüilos:
1) 17 ...lZ'Jc6 18.i!i'd6 Axe5 19.°i!fxc7 J;.,xc7
20.l:!f'd l e a vantagem das pretas é meramente
simbólica, ou 18.Af6!? lZ'Jxe5 19.tZ'ixe5 Axf6
20.lZ'id7 (Kortchnoi) 20 ...Axc3 21.tZ'ixf8
(Dvoretsky também sugeriu o não claro
21.~cl) 21.. ..t.xal 22.cuxe6, com igualdade;
2) 17...cua6 18.M6 Axf6 19.exf6 iVxc3
20.'i!Vd4 1Vxd4 21.lZ'ixd4 lZ'ic7 22.~fb l , com
igualdade (Kortchnoi), ou l 8.a4 Axf3 19.1Vxf3
J;.,xe5 20.g3 Wxc3 21.'t!fxc3 A,xc3 22.S:acl
com plena compensação pelo peão sacrificado.
18.á:t.h6 (é claro, não 18.lZ'Jxe5? !fxe5
19.J;.h6 'i!fxb5 20.lf!d4 e5, vencendo)
18... ~ g7?!
Tendo obtido uma estrutura de peões melhor
de forma permanente, Kortchnoi quer evitar
qualquer falta de clareza e decide o resultado
com o auxílio de simplificação e de meios
puramente técnicos (como ficou claro
posteriormente, essa era a sua pedra angular da
estratégia do 111atch).
E auto-sugestivo 18 .. .l!d8!, embora isso
tivesse permitido um sacrifício de dama -
19.tZ'ixeS?! lãxdl 20.&xd] e se 20 ...f6?, então
21.cud7! lZ'Jxd7 22.ã xd? Wfc5 23.lãg7+! Wh8
24.lãxb? 'i1Hxb5 25.Ag7+ @g8 26.~xf6 com
contra-jogo suficiente. Ainda assim, após
170
20 . .. lZ'ic6 21.lZ'ig4 lZ'JeS! 22.li:lf6+ Wh8
(Dvoretsky) ou 20...~c6!? as pretas teriam
estancado as ameaças do adversário e
gradualmente convertido sua vantagem
material.
Provavelmente, tudo o que restava às brancas
fosse o paciente l. 9.l!fe2, por exemplo:
19....1t.xf3 20.l!fxfJ ãa5 21.a4 .i.xh2+ 22.Whl
ãd5 23.g4! $.e5 24.lãadl com boa
compensação pelo peão, ou 19 ... ~g7 20.~xg7
Wxg7 21.l!fe3 Axf3 22.~xf3 lZ'ia6 23.i.xa6!
lãxa6 24.llfbl com uma posição inferior, mas
defensável.
19.~xg7 Wxg7
Após a troca dos bispos de casas pretas, as
brancas conseguiram a oportunidade de criar
contrajogo nas enfraquecidas casas pretas.
20.!Vd4+ @g8
No caso de 20.. .f6?! 21.êzJgS We7
(21...'ifc8? 22.llael e5 23 .llxeS!, vencendo -
Kortchnoi) 22.I!ael e5 23.f4 as pretas teriam
defendido através de 23 ...tZ'ic6 24.'ili'xb6 fxg5
(Dvoretsky) ou 23 ... lZ'Ja6!? 24.êzJf3 (não é
suficiente 24.fxeS fxg5 25.e6+ @h6) 24...e4
etc. Mas após 22.tZ'ih3! (esse lance também foi
recomendado por Dvoretsky) as brancas, que
ameaçavam l!fxb6, teriam mantido alguma
vantagem.
Em todo caso, um posterior enfraquecimento
das defesas do rei não seria do gosto de
Kortchnoi.
21.lZ'ig5?

A escolha desse caminho errado para o cavalo
justifica plenamente as pretas terem evitado
complicações três lances atrás.
Somente a centralização através de 21.0e5!,
que envolve um sacrificio de peça, teria dado
um ataque suficiente para pelo menos um
empate: 2I..Jãd8! (não é tão bom 2l...f6?
22.lZlc4 ou 21..J~fas 22.c4 lZlc6 23.Axc6
Axc6 24.f4 - Kortchnoi) 22.Wfh4! g d5
23.lZlg4 ãxb5! 24.&dl ! (infelizmente não vi
essa forte resposta; após 24.lZlf6+? çpf8 o que
segue é sempre ruim para as brancas:
25.lZlxh7+ Wg7, ou 25.!fxh7 lZld7!, ou
25.~h6+ i;!;>e7 26.fi)gS+ Wd7 27.&dl+ <it>c6!
D voretsky) 24 .. .lãd5! (24 . . .fik6? 25 .ãd7!;
24...~d5? 25.c4! l.Wxc4 26.lãcl, vencendo -
Kortchnoi; 24 ...g5 25.1Llf6+) 25.c4! e agora:
1) 25 ...~xd l 26.lZlf6+! 'it>f8 27.!ixdl
(também leva ao empate 27.~h6+ We7
28.0g8+ We8 ou 28...Wd7 29.lãxdl+ Wc6
30.°i!fe3 &5 Dvoretsky) 27...h5 28.'ti'g5 &5
29.~h6+ <t/e7 e "nada melhor do que um
xeque perpétuo poderá ser encontrado pelas
brancas" (Kortchnoi);
2) 25 ...lãd6 26.lZlf6+ @f8 27."1.ff4 (ou
27.l!fh6+ We7 28.i!Yh4 Wf8, com um empate -
Dvoretsky) 27 ... lãc6 28.'ifh6+ <'J;;;e7 29.êi)g8+
We8 30.êi)f6+ com xeque perpétuo.
Após perderem essa oportunidade, as brancas
concedem complecameote a iniciativa ao
adversário.
21... h6 2Vt \e4 A xe4 (com a troca desse
poderoso cavalo, desaparecem todas as minhas
esperanças de ataque) 23.'ifxe4 êi)a6!
Simples e bom. Após 23 ... êi)d7 as brancas
teriam escapado através do ataque duplo
24.il.xd7 i!Vxd7 25.'ti'e3, enquanto agora elas
têm que escolher o menor de dois males.
24.l!i'eJ?!
Novamente um lance fraco. O cavalo das
pretas, de forma clara, tem melhores
perspectivas do que o bispo branco e após
24.~xa6! g xa6 25 .°ife3 "a vantagem das
pretas seria meramente teórica" (Kortchnoi).
Vlktor, o Terrível
No tabuleiro, não gostei de 25 ...ãfa8!
(25 .. /s!ig7 26.lãfb I) 26.\Wxh6?! lãxa3
27Jãxa3 ãxa3 28.h4 VWxc3 29.hS ~al
30.hxg6 lãxfl+ 31.'i!?xfl 't!fd3+ 32.~gl
'iWbJ+ 33.@h2 !fxg6, quando provavelmente
as pretas têm um final de damas vencedor. E se
26.lãfb l (26.ã abl!?) 26 ... .ê:xa3 27.ã xa3
lãxa3 28.g3 (Dvoretsky), então 28 .. . b5!,
evitaria com sucesso o fmaJ com quatro peões
contra três em urna ala. Mas o passivo 25. l!fb4
Eic8 26.âfcl teria dado às brancas a chance de
um empate.
24.•JWcS!
Outra surpresa desagradável. Eu esperava
24...h5 25.~xa6 lãxa6 26.lãfbl ãfa8 27.ãb3.
Mas, agora, as coisas estão muito mais difíceis
para as brancas, uma vez que as pretas, ao
manterem o seu cavalo, obtêm possibilidades
adicionais de lutar por uma vantagem. É fácil
dar um passo em falso nessa situação,
especialmente quando se sente aflito pelo
resultado fracassado da abertura.
25.~xcS
Que pena, isso é forçado: seria ruim para as
brancas 25.'ti'e2 êi)c7, assim como 25.~xa6
i!Vxe3 26.fxe3 lãxa6 - devido ao aparecimento
da terceira debilidade (o peão e3), as brancas
têm um final de torres muito dificil.
2S...0 xcS 26.Eifbl !!fd8 27.il.fl?!
Porque tão longe? Deveria ser considerado
27.a4 ou mesmo 27.~c6 lãac8 28.il.f3
(28.Eixb6? Eid6 29.~b7 lãxb6 30..1l.xc8 lãc6,
171
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
vencendo) 28 ...ãd6 e agora não 29.a4 êzJd7
30.:Sb3 lãc5 "seguído pela mudança do bispo
preto para o centro e para a ala da dama"
(Kortchnoi), mas 29.Ê!b4!? êz:ld3 30.É!d4 ã xd4
3 l .cxd4 com chances de empate, embora após
3 l ...'it>f8 (Dvoretsky) os problemas das
brancas não estejam no final.
27...ã d6 28.ã b4 ©f8 29.a4
Com pouco tempo não é fácil decidir
entregar o peão com 29.&bl lãxa3 30Jàxb6
ã xb6 3 l .Ê!xb6 :Sxc3. :Mas em princípio,
conforme já mencionado, a troca dos peões da
ala da dama e a transição para um final com três
peões contra quatro na ala do rei seria um
importante recurso de empate para as brancas.
29...ã aS
Eliminando a ameaça de a4-a5 e fixando a
debilidade de a4. Também deve ser considerado
29 ...'it>e7, com a idéia de 30.Ji..bS lãad8,
enquanto "no caso de 30.lãabl ã xa4
(30...êz:lxa4? 31.i!a l) 3Lã xb6 ã xb6 32.ãxb6
êz:le4 as brancas estariam frente a uma defesa
longa e desagradável." (Dvoretsky)
30.g3?!
Outro lance apressado no apuro de tempo.
Seria melhor 30.1i..b5 e após 30.. .lz)xa4?!
3 l ..½xa4 b5 32.I!xbS I!xa4 33.ã bb I lãc4
34JTu3 ã d3 35.ã cl ou 30 ...We7 31.Wfl as
brancas teciam esperanças de empate.
30...We7 31.~ g2 f5! (assegurando a casa e4
para o cavalo) 32..âbS
"É mim jogar 32.f3 .ãd2+ 33.$'gl éz:Jd7
34..âbS lz:le5, quando as peças das pretas se
tornam ·muíto ativas, mas o tranqüilo 32.lãa2!?
êz:le4 33.lâc4 (de acordo com Dvoretslg, seria 11111
pouco n1aispreciso 33.J1c2. - G.K) teria forçado as
pretas a olharem para caminhos mais sutis para
fortalecer sua posição." (Kortchnoi). D essa
forma, é muíto apressado 33...b5?! devido a
34.!!xe4! fxe4 35..àxb5 (Dvoretsky), mas
33 ...e5 teria mantido uma vantagem estável.
32...ã d2?!
Um lance muito apressado... que produz um
efeito maravilhoso! Atividade teria se iniciado
172
somente após 32 .. .'~ d8 e .. .Cti?c7. Além disso,
as pretas tinham um bom plano envolvendo a
sua vantagem de peões na ala do rei: 32...gS etc.
33.ã d4?
Em sério apuro de tempo, as brancas não
vêem a perda de um peão. Também seria ruim
jogar 33 ..àc6? êz:ld3 34.l:!xb6 ti:Jxf2!
(34 .. J!xf2+ 35.~ gl l!c2 36.ãbS etc.) 35.m,s
(35.Cé!?gl ~h3+ 36.@hl ã eS!) 35 .. J~a6
36.ã b7+ @f6 37 ..àbS êz:lg4+ 38.@gl ã ad6!
ou 36..ib7 lâad6 37.a5 lã6d3! 38.a6 (também
não ajudaria 38J!tb4 ãxc3 ou 38.@gl éz:Jb3+
39.$'b I E!xc3 40 ..âg2 !!cc2) 38 ... êz:ldl +
39.<;!i>fl ãe3!, quando o cavalo e as duas torres
encarceram o rei branco.
Somente 33 ..ãab l! (explorando o defeito do
lance anterior das pretas - o enfraquecimento
do peão b6) teria dado uma chance real de
salvar a partida: 33 ... ti:Je4 34.lãlb2 .ãxb2
35.ãxb2 lz:Jxc3 (35 ...<;!i>d6 36..àd3, com
igualdade) 36.~c6 ~ xa4 (também não é
melhor 36 ...S>d6 37.!!xb6 ~c7(5) 38.ãb3 ou
36.. .ã a6 37.lãb3 li:ld5 38.1i..b7 .ãxa4 39..àxdS
exd5 40.ã xb6) 37.~xa4 ãxa4 38.!!xb6
(Dvoretsky) e o resultado mais provável do final
"quatro contra três" fosse o empate.
33.. ,gxd4 34.cxd4 êàxa4!
Um simples golpe tático, que transforma a
partida em um final de torres facilmente
vencedor.
35..ãxa4 (seria até pior 35 ..ii.xa4 b5 ou
35 ..àc6 liJc3 36.ãe l ã a2, vencendo)

35...llxbS 36.lla7+ Wd6!
O excessivamente cauteloso 36...Wf6'l! teria
dado às brancas algumas chances: 37.h4! ãd5
38.ãb7 b5 39.Wf3.
37.ãh7?!
Kortchnoi dá outras duas continuações, as
quais "teriam exigido grande engenhosidade das
pretas para conquistarem a vitória":
1) 37.©f3 ~b3+ 38.@e2 b5 39.h4 h5
40J~g7 ©d5 41.llxg6 b4 42.E!h6 llb2+
43.'iàt>e3 b3 44.!!h8 (44.B'.xh5 B'.e2+!) 44 .. J!c2!
45.llb8 ©c4 e o peão b, com o apoio do rei,
decide o resultado: 46.llc8+ Wb4 47.llb8+
@c3 48.ã c8+ @b2 49.ãb8 ã c4 so.çt,f4
lãxd4+ 5 l.@g5 çt,c3 52.@xhS b2 53.ãxb2
@xb2 54.©g5 ã g4+ 55.'i!?f6 f4 56.@xe6
ã xg3!;
2) 37.h4 h5 38.@fl (38.ãg7?! ãd5 39.ãxg6
b5 40.©f3 ã xd4 41.lTh6 b4 etc.) 38 ... e5!
39.ãg7 (após 39.dxeS+ ãxeS o rei branco est.í
cortado e o peão b corôa) 39...exd4 40.ãxg6+
Wd5! 41.ãgS Wc4 42.ãxh5 ãc5 ! (seria muito
mais complicado 42 ...d3 43.ã h6!) 43.l~fü8 bS
44.hS b4 45 .h6 b3 46.ãb8 llc7 ou 46.h7 ãc7,
vencendo.
37... hS 38.I!g7?! (de acordo com Kortchnoi,
novamente seria mais resistente 38.~, como
na variante dada acima) 38.. ~ dS 39Jl xg6 b5
40.@f3 h4
"É uma questão de estilo: 40.. J!xd4 também
venceria sem dificuldades.'' (Kortchnoi)
41.©e3 (41.ã g8 ã bS) 41...b3 42.'i!?d2
(42.'i!?d3? ãbS) 42 ...ã xd4+ 43.Wc3 b2!
44.'iàt>xb2 ã d2+ 45.'i!lc3 ã xf2 46.h4
Aqui as cortinas poderiam ser abaixadas, mas
continuei por uma questão de inércia. Após
46.hJ o mais simples seria 46 ... h4 47.g4
(47.gxh4 ãf3+ e ...ã xh3) 47 .. .<;t,es 48.ãg5
. (48.gxf5 ã xf5, vencendo) 48 ...ãf3+ 49.Wd2
Wf4 50.!ThS fxg4 (Kortchnoi) ou 50.ãg8
ãxh3 51.gxfS @xf5, evitando o final de torre
problemático com os peões f e h.
46...f4! 47.ã gS (também é sem esperanças
para as brancas 47.!!h6 fxg3 48.ãxhS :Sf5! ou
Viktor, o Terrível
47.g4 bxg4 48.ã xg4 e5) 47...ã f3+ 48.'i!?d4
â><g3 49.llxhS ã e3! 50.!ih6 <J.?e7 51.hS e5+
52.©dS f3 0-1
Uma derrota dolorida! Mas, no entanto,
quatro empates sucessivos me trouxeram de
novo ao normal e a virada veio na sexta partida,
que foi adiada em uma posição indefinida, com
um provável empate. Na continuação, ao tentar
deixar a partida mais aguda, Kortchnoi escolheu
uma continuação que não era a melhor e no 57°
lance surgiu um prosaico final de torre, no qual
as brancas tin ham que mostrar uma certa
precisão para conquistar o empate. Kortchnoi
precisava encontrar uma forma vantajosa de
entregar a torre por um peão passado, mas
trocou os lances, perdendo um xeque
intermediário e a sua posição se tornou sem
esperanças.
Ao final venci com a contagem de 7 -4 (+4 -
1= 6). Em entrevista depois do match, Kortchnoi
admitiu: "Depois da 6ª partida, perdi a fé na
minha técnica e nos meus segundos. A
contagem se igualou, mas psicologicamente
houve perda. A impressão que tinha de
Kasparov antes do match, a de um jogador de
um único golpe de nocaute, estava errada.
Kasparov é um jogador de alta técnica para a
sua idade. Ele só se arrisca quando tem
confiança de que tal passo é justificado" .
Alguns comentaristas ocidentais sugeriram
que eu expressasse minha gratidão a Kortchnoi
por ter acelerad o minha maturidade enxa-
drística, ajudando-me a alcançar a sutileza do
jogo posicional. D e fato, é difícil superestimar
os benefícios deste 111atch.
Assim, em fins de 1983, o "eterno" candidato
deu adeus ao sonho de vir a ser um Campeão
M undial. No t0rneio de Candidatos do ciclo
seguinte (Iv1ontpellier, 1985), ele 'terminou bem
atrás dos lideres, embora continuasse a vencer
ou a obter as primeiras classificações em outros
torneios: em 1984 foram os de Wijk aan Zee,
Beersheva, Sarajevo e uma vitória contra
Polugaevsky no tabuleiro 3, no segundo match
173
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
URSS-Resto do Mundo; em 1985, em Tilburg,
Lucerna (tabulei.rol no Campeonato Mundial
de Equipes) e Bruxelas...
Contra a Índia do Rei
Mesmo no período tardio da sua carreira,
jogando até 150 partidas em um ano, Kortchnoi
continuou a reformular e harmonizar o seu
esúlo. Ele mesmo escreve: "Minhas partidas
com Panno (1985), Arnason (1987) e Pinter
(1988), são motivo de orgulho para mim, uma
demonstração da vitória do caráter sobre
hábitos nocivos". Na verdade, Kortchnoi
começou a lutar com mais requinte pela
iniciativa com as brancas, o que em combinação
com sua técnica apurada lhe rendeu excelentes
resultados.
Mesmo na fase posterior da carreira de
Kortchnoi, disputando até 150 partidas por
ano, ele continuou a organizar e harmonizar o
seu estilo
174
Muito típica é a introdução à partida com
Seirawan (Lugano, 1986): ''Botvinnik acon-
selhava os Mestres e Grandes Mestres a
planejarem o repertório de suas aberturas, a fim
de não precisarem combater contra seus
próprios sistemas. É bom saber que Botvinnik,
na verdade não chegou a jogar mais de 50
partidas por ano e por isto não era difícil para
ele seguir o próprio conselho. No final do
século XX, o xadrez progrediu muito e se
tornou mais intenso. Aumentou muito o
número de Grandes Mestres de primeira classe,
que na época de Botvinnik eram poucos. Hoje
existem jogadores que, depois de estudarem
minuciosamente alguma abertura, jogam-na
indiferentemente com pretas ou brancas... Por
um bom tempo procurei seguir o conselho de
Botvinnik, até que uma vez me aventurei. Foi
assim: durante um torneio, eu estava me
preparando para uma partida com Spassky,
devendo jogar com as pretas. Estudei com
atenção como ele empregava a Variante
Fechada da Defesa Siciliana. O modo como ele
manejava esta posição me impressionou. N as
minhas tentativas de refutar sua estratégia não
tive sucesso e consegui apenas o empate com
dificuldade. Mas valendo-me dos conhe-
cimentos que aprendi, decidi tentar jogar 'como
Spassky'. Uma vez que raramente jogo l .e4,
resolvi adotar as idéias dele contra os
partidários do lance l .c4. É verdade que as
pretas têm um tempo a menos, mas isto não me
perturbou. Derrotei sucessivamente Seirawan,
Suba e Karlsson com as pretas. 'E gora', decidi,
'depois da experiência com as pretas, resolvi
jogar esta posição com as brancas!"'
Seguiu 1.c4 eS 2.g3 0 c6 3.~ g2 g6 4.0c3
i1.g7 S.d3 d6 6.ílbl fS 7.b4 0 f6 8.b5 li:Je7
9.ifb3!? b6 IO.e3 0-0 U.0 ge2 ~ b7 12.a4
ã b8 13.i.a3 i.c6 14.0-0 g5 15.d4! e as
brancas, depois de tomarem a iniciativa, no final
tiveram uma vitória espetacular. Assim, no
período de quatro meses, Kortchnoi derrotou
Seiravan com este esquema de jogo com as
pretas (Torneio de Candidatos de Montpellier,

1985) e com as brancas (Lugano, 1986).
Nos capítulos anteriores o leitor teve
oportunidade de conhecer o repertório de
aberturas de Kortchnoi com as pretas.
Curiosamente, entre suas múltiplas respostas a
l .d4, ele quase nunca jogou a Defesa Índia do
Rei, que parece ser uma arma ideal para quem
joga no contra-ataque. Evidentemente, como
fervoroso " Grii,ifeldista", ele não gostava de
fechar o seu bispo em g7. Pelo contrário, duran-
te toda a vida ele sempre gostou de jogar contra
a "Índia Antiga" com as brancas, usando quase
todas as variantes: não só com o desenvol-
vimento do bispo em ,ltg2, mas tam bém a
Sãmisch, e a clássica com ~f3 e .1i.e2.
Kortchnoi sempre estudava profundamente
seus planos. Foi especialmente valiosa a sua
contribuição à reavaliação da variante de
Taimanov com 10.$.e3, enterrada cm 1953 e
revivida em 1987. D e geração em geração,
passou-se adiante um estereótipo que atingiu o
próprio Fischer: "O ataque das pretas na ala do
rei foi praticamente elaborado para um mate
forçado", mas graças a Kortchnoi, todo mundo
começou a olhar de forma. diferente para as
possibilidades destas posições. Ocorre que as
brancas não são tão indefesas na ala do rei e até
dispõem de possibilidades interessantes de
ofensiva na ala da dama.
A primeira partida segundo este tema,
disputada no torneio interzonal de Zagreb, em
1987, ressoou como um trovão em céu claro e
expressa manifestamente o eterno esforço de
Kortchnoi na busca de caminhos originais e
imprevistos. Não sem razão esta par tida foi
considerada como a mais importante partida
teórica do "Infarr11ador 44".
Part.ida 39
V. Kortchnoi - H. Hulak
Tqmeío lTlttr11adonaí de Zagreh 1987
1o·rodada
Defesa Índia do Rei E99
Vlktor, o Terrível
V~z.)f3 êi)f6 2.c4 g6 3.êi)c3 A g7 4.e4 0-0
5.~e2 d6 6.d4 e5 7.0-0 l2ic6 (7 .. .lf::ibd7 -
partida 41) 8.d5 ~ e7 9.~ el
Anteriormente Kortchnoi havia jogado com
sucesso tanto 9.li:\d.2 (contra Geller, 1ª partida
do match, Moscou 1971), como 9.3'd2 (contra
Byrne, lnterzonal de Leningrado 1973, 3ª
rodada). E uma vez ele tentou o excêntrico
9.a4, tendo como objetivo uma versão
favorável de seu plano favorito com Ae3, mas
após 9 ... a5! 10.'~)e l l2id7 1 J.i.e3 f5 12.f3
~ cS l3.~d3 b6 14.b4 ~xd3 l5.'i!exd3 axb4
16.~ b5 Wh8 as pretas, ao se absterem de
... f5- f4, obtiveram uma boa pos1çao
(Kortchnoi- Kasparov, Barcelona 1989).
9...l2id7
Atrapalhando a ruptura típica c4-c5. A
alternativa é 9 ... l2ie8 (partidas 40 e 41), mas não
9 .. .c5?! 10.f4! (Kortchnoi- Ciocaltea,
Olimpíada de Nice 1974).
10.1Le3
Por muito tempo esse lance foi considerado
menos apropriado do que 10.~ d3 (volume 4,
partida 64). "O reagrupamenro planejado pelas
brancas parece bastante lento, mas o que se
pode fazer? Eu próprio escolhi essa variante
muitos anos atrás e dediquei centenas de horas
ao seu estudo." (Kortchnoi)
10 ...fS U .f3 f4
Mais raramente é jogado I l .. Jlf7
(Kortchnoi-Spasov, Maribor 1995) ou 11... h6
12.~d3 b6 13.b4 g5 14Jicl (não é d.aro 14.c5
~f6 15.cxd6 cxd6 16.b5 l2ig6 17.~b4 ltJf4-
Kortchnoi- urtaev, O limpíada de Manila 1992)
14 .. .~ f6 l 5.~f2 f4 16.$.d2 h5 17.Wh l!? (o
prelúdio de um plano astuto) 17 ...~g6 18.c5
ã n 19.cxd6 cxd6 20.ãgl ! illi6 21.g3 !. .. 1-0
(Kortchnoi-Spraggett, Olimpíada de Manila
1992).
12..1l.f2 g5
A tabiya principal da variante 10.$.e3, na
linhagem direta das partidas históricas de 1953,
Eliskases-Gligoric e Taimanov-Najdorf (volume
4, partida 29).
175
Garry Kasparav - Meus Grandes Predecessores
Há previsão de tempestades em ambas as alas,
com o ataque das pretas parecendo ser o mais
perigoso: elas têm o rei das brancas à vista! E as
partidas mencionadas acima terminaram em
desastres para as brancas. Mas Kortchnoi tinha
sua própria concepção, refletindo seu otimismo
inerente: "As pretas estão avançando os seus
peões da frente do rei, deixando-o comple-
tamente sem proteção. Se o adversário não
vacilar e o ataque for rechaçado, se iniciará a
linha de mate ao rei preto desguarnecido. Isso
foi o que de fato ocorreu em muitas partidas
nas quais joguei essa variante."
13.t'i:lb5!?
Um Jance extremamente paradoxal, em uma
posição que aparentemente havia sido estudada
à exaustão. Entreranto, ele envolve uma idéia
estratégica profunda: através de <tla7xc8,
eliminar o poderoso bispo do adversário e
reduzir agudamente o efeito da ruptura
...g5-g4.
Logo em seguida uma defesa aceitável foi
encontrada para as pretas e então Viktor
Lvovich introduziu 13.a4!? (com respeito aos
lances anteriores 13.t'i:ld3 e 13.b4 - volume 4,
partida 29), por exemplo:
1) 13...h5 14.li:lb5 li:lf6?! 15.li:lxa7 ~d7
16.li:lb5 g4 (Kortchnoi- Hellers, Estocolmo
1987) e aqui Konchnoi recomendou 17.g3!? e
li:lg2, ou 14.a5!, como jogado por ele contra
Poster (Suíça 1994) e Xie Jun (Praga 1995);
176
2) 13 . .. l2Jg6 l4.a5! (após l4.~d3 li:lf6
15.c5 h5 16.h3 lãf7 17.c6 a ofensiva das
brancas é estancada através de 17 ... a5!
Kortchnoi- Kasparov, Amstcrdã 1991)
14 .. J~f7 (14 ... a6 15.~d3 li:lf6 16.cS h5
17.cxd6 cxd6 18.li:la4 ... 1-0
Kortchnoi-Gelfand, Tilburg 1992; l 4 ...ç!;>h8
15.lt:ld3 !.\g8?! 16.c5 ~f8 17.c6! b xc6
18.êt:lb4! <tle7 19.li:lxc6 lt:lxc6 20.dxc6 com
vantagem óbvia, Kortchnoi-Shirov, Horgen
1994) 15.b4 li:lf6 16.c5, como Kortchnoi
derrocou Nuno (Amsterdã 1990) e J.Polgar
(Pamplona 1990), ou até 15.cS!? ~xc5
16.~xc5 dxc5 17.Ac4 Wb8 18.a6 ... 1-0
(Kortchnoi-P.Popovic, Brno 1992);
3) 13 ... a5 !? 14.l2Jd3 b6 15.b4 axb4 (seria
pior 15 ... h5?! 16.bxa5 ~ xa5 l 7.lt:lb5 êt:lf6
18.~el I!a6 19.a5 ... 1-0 Kortchnoi- Van der
Wiel, partida-relâmpago, Bruxelas 1987)
16.~xb4 t'i:lf6 17.&3 A d7, com chances para
ambos os lados (Yusupov-Kasparov,
Olimpíada de Ierevan 1996).
Mas a partir de 1996, considerando exauridos
os recursos de ataque de 13.a4, Kortchnoi
mudou para o não menos complicado 13.& 1,
com a idéia de 13 ... t'i:lg6 14.cS! ~xc5 15.b4
l2Ja6 16.~d3 (não é claro 16.<tlb5 Ad7
17 .li:lxa7 Kortchnoi-M.I vaoov, Enghien les
Bains 1997) 16 ... h5 17.li:lb5 A d7 18.a4 ~6
19 Jãc3, como nas partidas Piket-Kasparov
(Linares 1997) e Kortchnoi-Cvitan, Pula 1997).
13...a6?!
A partir de então, jogadores com as pretas
empregaram tanto a idéia do gambito
13 . .. ~ f6!? 14.lt:lxa7 i.d7 (Benjamin-Nuno,
Hastiogs 1987/ 88) como também o profundo
13 .. .b6! 14.b4 (14.a4 a6 15.li:lc3 a5!) 14 ... a6
15.~c3 ( l5.lZ.la3?! h5 Khuzman-Smirin,
Sverdlovsk 1987) 15 ... lZ.\g6, 15 ... lt:lf6 16.c5
!rb8 ou 15 .. .h5 (Kortchnoi-Ye Jiang Xuan,
Olimpíada de Novi Sad 1990) e, de uma forma
geral, foram capazes de neutralizar 13.~bS.

14.li:)a7! (é claro!) 14.. .â xa7?!
Ao se deparar com uma idéia incrivelmente
inovadora do seu adversário, Hulak tenta refutá-
la caçando o bispo. Mas tudo havia sido
antecipado pelas b rancas! Evidentemente seria
melhor 14...tz::lf6 (Konchnoi) 15.li:)xc8 ãxc8
16.cS g4, embora seja difícil para as pretas
contar com qualquer ataque real sem o bispo de
c8.
15 ..ixa7 b6 16.b4!
A única forma! Seria impreciso 16.cS dxc5 !
17.'iia4 .ii.b7!? 18.kxa6 .ii.xa6 l9.iflxa6 'iia8
20.a4 (20.Wl>S ãd8) 20 .. .lZlc8 (20...lZlb 8?
2 l.'i!fc4) 2 1.aS (Kortchnoi) devido a 21...fi'1b8!
22.'i!fc4 lud6 e ...~xa7.
Agora, entretanto, resulta que o bispo em a7,
embora cortado, permanece vivo. E as brancas,
explorando esse fator, conseguem romper a ala
da dama do adversário. Meus treinadores e eu
olhamos de novo essa posição em 1988, quando
eu jogava regularmente a Defesa Índia do Rei, e
chegamos à conclusão de que as pretas não
devem jogar isso.
16...kb7
Com a ameaça de ...'iia8 ou ... luc8. O lance
16...cS? não funciona devido a 17 .dxc6 luxc6
18.li'dS+, enquanto após 16 ... lZ:lf6 17.cS g4
18.ãcl ou 16...lug6 17.lud3 li:lf6 18.cS o
ataque das brancas chega primeiro.
17.cS!
O lance mais forte. Também foi jogado
17.i.Va4 tz::lc8 18.cS dxc5 l 9 ..ixa6 ~xa6
20.l!fxa6, mas após 17 ... c5! a vantagem das
brancas evapora.
17...dxcS
Uma nuança psicológica importante: o jogo
começa a se desenvolver na ala da dama e as
pretas são obrigadas a esquecer seu ataque ao
rei. Seria mau jogar 17 ... b xcS? 18.bxcS
( 18.'iia4!?) l 8 ...~a8 (18...dxcS 19.!!.cl ou
19.lâbl i!a8 20.d6!) 19 ..ib6! cxb6 20.c6,
vencendo (Kortchnoi).
Viktor, o Terrível
18.â cl! (é claro, não 18.bxcS? l2Jxc5 19.ãcl
l!fd6 com a ameaça de ...&8) 18...lilc8
Se 18...cxb4, o mais forte é 19.d6!, por
exemplo: 19 ...'Llc6 20..ii.xa6 .txa6 21.âxc6
(Kortchnoi) 21 ... cxd6 22.l!xd6 âf7 23 ..ii.xb6!
ou 19 ... cxd6 20.1\fxd6 ãf6 2 l.ifc7 'i!fc8
22.'Lld3 ãc6 (22 . . .a5 23.l2if2) 23.âxc6 luxc6
24 .'iixc8+ (24.~xb6!?) 24 ...i.xc8 25.:!;1cl
li:)xa7 (25 ...i.b7 26.tz::\xb4!) 26.!!.c7 com uma
invasão decisiva (Karolyi- Kupreichik, Lvov
1988).
19.bxc5 i.a8 (após 19 ...lZ:lxcS 20.!txcS!
bxc5 21.i.xcS lud6 22.'ilfb3(a4) e lud3 as
brancas têm uma vantagem posicional óbvia)
20.c6
Tirando completamente do jogo o bispo de
c8. As brancas também poderiam ter
considerado 2 0 ..ii.xb6!? cxb6 2 1.c6 ~c5
22.'Lld3 luxd3 23.~xd3 b5 24 .ifa3 ifb6+
25.ifcS, negando qualquer contrajogo às pretas
e condenando-as a uma defesa difícil.
20 ...luf6 2t.i.xb6 luxb6 22..ixa6 g4?!
Uma tentativa rotineira de ataque, a qual
somente conduz a nova debilidade. Chances
muito melhores seria oferecidas por 22 ...'i!fbS!
(22 ...~d6 23.~d3 e luc5) 23.Whl VJl!a7
24.'i/He2 (Kortchnoi) 24 ...lt:JhS !?. De fato, com
o enérgico 2 5.d6!, as brancas continuaóam
jogando pela vitória: 25 ...ã f6?! 26.d7 li:lxd7
27.g4 ! lZ:lg3+ 28.hxg3 ~xc6 29.gxf4 exf4
30.i.bS ou 25 ... cxd6 26.c7 ~b7 (26...lilc8
27.'iWd3 'iWb6 28.'i!fb3+ 'i!fxb3 29.axb3 lilf6
177
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
30.éZ::ld3) 27 ..i.xb7 l!Fxb7 28.~d3 lz:lc8
29.~c4+ c,!;h8 30.lz:ld3 etc.
23.lild3 (o cavalo segue o caminho para
c5--e6) 23 ... g3?!
Seria mais resistente 23 ...hS ou 23 ...ifb8
(Kortchnoi), embora isso dificilmente influísse
no resultado da partida.
24.h3 (matando qualquer contrajogo)
24 .. .l~ e8
O imediato 24 ...Wb8 teria permitido 25.d6.
As pretas estabelecem um bloqueio em d6, mas
agora o peão a começa a avançar.
25.lz:lcS 'ifb8 26.a4 ~d6 27.as iDbc8
28.Whl Wa7 29.t!fc2 lZ)e7 30.llbl lDg6 (ou
30...lãb8 3 Uãxb8+ 'tifxb8 32 ..i.b7) 31 .!!fel
il.f6 32.il.fl il.xc6
Forçado: a pressão das brancas na ala da
dama já é quase insuportável Não seria possível
32 ...'tii'xaS em vista de 33.!l:al VWb4 34Jicb1
i!fd4 35.lZ)e6.
33.dxc6 l!fxa5 34.l!al 'i!Yb4 35.lt)e6 1-0
É surpreendente que, mesmo já com 56 anos
de idade, ele foi capaz de vencer o Torneio
Interzonal: 1.Ko rtchnoi - 11 em 16; 2-3.
Ehlvest e Seirawan - 1O, à frente de Nikolic,
Torre, Polugaevsky, Miles... E no início do
mesmo ano de 1987, Kortchnoi obteve o
primeiro lugar com Short em Wijk aan Zee,
estabelecendo um recorde do número de
vitórias (quatroO neste prestigiado e tradicional
torneio.
Bruxelas, 1987. Os três "K's" na Assembléia
da Associação dos Grandes Mestres
As sucessivas tentativas que ele fez para
178
"refutar" a Defesa Índia do Rei também tiveram
grande sucesso: após a partida com Hulak, ele
conqLústou muitas vitórias admiráveis na
variante com 13.a4!?. Aqui seu único fracasso
em um período de oito anos foi na partida
comigo em Amsterdã, em 1991. Um ano depois
nos chocamos novamente em uma Defesa Índia
do Rei no Campeonato da Europa por Equipes
em D ebrecen. na qual escapei por um triz. E em
seguida Kortchnoi tentou melhorar o jogo das
brancas em uma partida com Shirov.
Partida 40
V. Kortchnoi - A. Shlrov
BHenos Aires 1993
5'rodada
Defasa Índia M Rti E 98
1.c4 lZ)f6 2.lZ)c3 g6 3.e4 d6 4.d4 il.g7
5.ii.e2 0--0 6.êDfJ eS 7.0--0 lDc6 8.dS lDe7
9.ê2iet lile8
Esse lance, utilizado por mim em partidas
com Shirov (Olimpíada de Manila 1992) e
Kortchnoi (Debrecen 1992), costuma ser
considerado mais fraco do que 9 ...~ d7 (partida
39'). Pode ser, mas 9 ... li::le8 também tem o
direito de existir. O cavalo defende a casa c7
contra a invasão das peças brancas, o que reduz
a eficiência do plano padrão com 10.ê2ld3 e
c4-c5. Entretanto, as brancas têm outras
possibilidades.
t0.~e3
É claro, Kortchnoi não se satisfaz com a

continuação relativamente segura - mas
também inofensiva! - 10.li:id3 f5 l l.f4
(Pettosian-Tal, Bled 1961).
10 .•• rs 11.0 r4
Outra idéia seria 1 l ... c5 (partida 41). Posso
também mencionar 11 ...© b8 12.a4 ( 12.c5!?)
l2 ... !t)g8 13.c5iüt6 14.Af2 li)gf6 15.a5li)h5
l 6.g3 (Kortchnoi- J.Polgar, Praga 1995) ou
16.li:id3! (Gelfand- J.Polgar, Dos Hermanas
1996) com uma partida complicada, um pouco
melhor para as brancas.
12..âf2 h5
Kortchnoi ficou surpreso de que eu pudesse
recomendar esse lance e não 12 ... gS, após o
que ele jogou 13.cS ~g6 14.a4 ãf7?! 15.~d3
.âf8 16.aS Éig7 l 7.a6!? (contra Van Welly,
Antuérpia 1997). Entretanto, na minha opinião,
l3.g4! é mais conveniente, cortando pela raiz o
contra-ataque das pretas. Em uma situação
diferente, pode ser é claro, mais vantajoso
manobrar sem b7- b5, mantendo a casa h5 para
o cavalo.
13.cS gS 14.a4
A partida mencionada anteriormente
Shirov-Kasparov seguiu 14.cxd6 cxd6 15 .a4
~g6 (15 ...l:!f6!?) 16.lilbS a6 17.li:la3 li:lf6
18.li:lc4 g4 19.m3 g3 20.hxg3 (seria melhor
20..âb6 W!e7 21.~ hl !, mas não 2l.m4?
!t)xd5! 22.exd5 l!fh4 23.h3 .âxh3! etc.)
20...fxg3 2l..âxg3 h4 22.lÍ.h2 lz:)h5
(22 ....âh6!?) 23.'tib6 'tig5 e ...~g3! com bom
jogo para as pretas.
Mais tarde Viktor Lvovich mudou para
14.cxd6 cxd6 (14 ... li)xd6 15.li)d3
Kortchnoi-Relange, Cannes 1996) 15.@hl !?
~ g6 16Jitcl .iÍd7 ( 16 ... .iÍh6 17.li:lbS! a6
l8.li:la7 .âd7 19.m3 etc.) l 7.a4 .âh6 com
uma luta duplamente aguda
(Kortchnoi-J.Polgar, Viena 1996).
Também há outro plano - 14.likl dxc5
IS ..âxc5 ãf6 16.t+'b3 Wh7 17.~d3 ãg6
18.êi:lb5! a6 19.li:la7 llxa7?! (seguindo as
pegadas de Hulak!) 20 ..âxa7 b6 21.Eic2
(2I.li)b4!? Khuzman) 21.. .~ d7 22.'i!fcl ~c8
Viktor, o Terrível
23.il.bS !t)cd6 24..âxc7 &i:Jxc7 25Jâxc7 ~bS
26Jlb7 e é duvidoso o quanto as pretas têm
compensação suficiente pela qualidade e peão
(Kortchnoi-G.Hernandez, 1• partida do match,
Mérida 1996).
14 ... ~ g6 (14 ...Eif6!? e ...ãg6,
Kortchnoi-J.Polgar, paràda às cegas, Mônaco
1994) lS.aS .âh6!?
Limpando a coluna g. Além disso, após
... g5-g4(- g3) seu bispo "mau" encontrará
emprego - digamos, .âg5-h4 etc.
Após o insípido l 5...ãf7?! 16.cxd6 cxd6 o
plano com 17.li:ib5 ! é até mais desagradável:
17 ...a6 l 8.lilc3 li)f6 19 .t2:la4 (O'
Kelly-Ghitcscu, Sandefjord 1975), o que levou
à rejeição de toda a variante com 9 ... êi:le8.
Também não é suficiente 15 .. .dxcS 16.lÍ_xcS
li:ld6 17.t2:ld3 'i!fl 18.a6 b6 19.Axd6!. .. 1-0
(Kortchnoi- Nemet, Suíça 1994).
16.~ bS!?
Uma novidade. Contra mim, em Debrecen,
Kortchnoi escolheu 16.b4 <i!?h7 17.cxd6
(17.a6!?) l7 ...cxd6 18.êi:lbS e em uma luta
complicada após 18 ... g4 (se 18...a6 19.~a3
li:if6 então 20.Eic l !) 19.fxg4 bxg4 20 ..âxg4
Axg4 21.l!fxg4 !t)f6 22.l!ff3 (22.l!ffS!? lz:)xd5
23.t!Ke6) 22 ...t!Kd7! 23.!t)xa7! li:lg4 24.b5!
êi:lxf2 (24 ...êi:le3? 25.b6!) 25.'t'fxf2 f3!
26.!t)xf3 'i!i'g4 27.b6 1!fxe4 28JUe l °i!fxd5
29.i!fc2 ãae8 as pretas experimentaram sérios
problemas, mas conseguiram um empate no
lance 44.
179
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
16...a6 (forçado: entregar o peão a7?!)
l 7.l2:la3 c;t>b8
Com a intenção de ... ã g8. Não seria melhor
para as pretas 17 ...Ilf7 18.~c4 Ilg7 (18 ...dxcS
19.ê:i::ld3!) 19.&3 etc.
18.fik4 (se l 8.cxd6, na esperança de
18 ... cxd619.lZ)c4, então 18 ... ~xd6! com jogo
não definido) 18 .. J~g8 19.Ila3 ~ f6
'~té aqui Shlrov não teve que pensar muito -
ele estava repetindo o jogo de Kasparov, que já
tinha utilizado essa variante várias vezes. Agora
ele comete um erro, ativando prematuramente
seu cavalo. Seria correto tanto 19 . .. ~ f8 como
19...dxcS 20..ãxcS ~ 6 - foi devido a isso que
na seqüência jniciei mais cedo as trocas em d6!"
(Kortchnoi)
Mas, na minha opinião, 19 ...lZ)f8 é muito
passivo, pois após 20.cxd6 cxd6 (20.. .lZ)xd6?
2 l.~xe5) é difícil para as pretas criarem
ameaças na ala do rei. E se 19 .. .dxc5 !? há
20.l2:ld3!? ~ d6 2 J.lZ)xc5 quando as pretas têm
que jogar muito criativamente em busca de
contrachances: 2 1... g4 22.lZ)xd6 cxd6 23.lile6
il.xe6 24.dxe6 g3 25 ..ãb6 gxh2+ 26.@hl 'fle7
27.ãd3 ~ h4 28.Ilf2 ã'.ac8! 29 ..ãfl .if8
30J!c2 ãxc2 3 l.!fxc2 'ii'xe6 32.i.fl i.e7 etc.
20.cxd6 cxd6 21.~b6?!
Kortchnoi coloca um ponto de interrogação
nesse lance, lamentando: "É ruOcil ser um
pioneiro!" De fato, após 2 l .'i!ib3 g4 (2 l ...i!Je7
22.W'M!) 22.l!fb6 recomendado por ele e por
Sh.irov, as brancas teriam mantido a vantagem,
embora o quanto seja grande essa vantagem seja
outra questão: 22 ... 'tixb6 23.~xb6 ã b8
24 .Whl i.g5 25.Ik3 .âh4 26.~d3 gxf3
27.gxf3 ~3 28.ãg l ÉKg7.
21 .. .l!b8 22.lâc3
Se 22.t!i'c2 g4 23.ãc3 (23.fxg4 hxg4 Shi.rov),
en tão 23 ... g3! 24.hxg3 fxg3 25.i.xg3 h4
26.~h(f)2 fiJh5 com jogo excelente pelo peão.
Talvez o bispo perigoso pudesse ser trocado de
imediato - 22.~xc8, embora após 22 ...ãxc8
23.'i!i>b l g4 24..ãb6 t!i'd7 as chances das pretas
não sejam piores.
180
22...g4! 23.fxg4
"Jogado após longa reflexão. As pretas
ameaçavam ... g4-g3 e em alguns casos também
a captura em f3" (Kortchnoi). Por exemplo:
23.Whl (Shirov) 23 ...g3 24..ig l gxh2 25 ..âf2!
h4! e ...~ h 5 com a invasão do cavalo em g3.
23...lZ)xe4!
Se 23 ...hxg4 as brancas planejavam 24.~xc8
!Ixc8 25.i.xg4 ãxc3 26.bxc3, e uma vez que
26...êiJxg4? 27.°ti'xg4 '5'xa5 28.'iWhJ! seja mau
para as pretas, "o bispo de casas brancas se
toma muito forte": 26 ...~xe4 27 ..ãb6 l!i'f6
28 ..ãe6 ou 26 ... t!fxa5 27.~e6 ã g7 28.'i!fd3
ã c7 29.c4 etc.
Kortchnoi também pensou que 23 ....ãxg4
não fosse perigoso para ele - dessa forma as
preras evitam a troca do seu bispo pelo cavalo,
explorando sua superioridade em força na ala
do rei, elas poderiam ter tentado criar pressão
na coluna g e no fraco peão e4. Mas após 24.h3
as brancas de fato têm uma boa posição.
24Jlxc8 ãxc8 2S.~ xc8 'flxc8
Shirov deveria ter eliminado um dos
poderosos bispos do adversário - 25 ...~xf2
26.ãxf2 'ti'xc8. Aqui Kortchnoi considera
27.gS .&xg5 28 ..âxhS (28..&xa6 fJ !) 28 ... 't!icS
29 ..âxg6 ãxg6 30.'ifc2 'i!fxc2 3 l.!!xc2 ãg8
com um fi nal um pouco melhor para as pretis:
"sua formação de peões é altamente promis-
sora".
Seria evidentemente melhor 27.gxhS - na

optruao de Kortchnoi, após 27 ...tz::lh4 ou
27 ...li:Je7 "a posição das pretas parece muito
ativa", mas na minha visão, tanto após
27 ...tz::lh4 28.làf3 tz::lf5 29.'&bl làe3 30.làb4
lãg7 31.làg6+ $1g8 32.h3 lãc7 33.l!fe4, como
27.Ji:Je7 28..i.f3 ou 28.CLJc2 não é fácil para
elas quebrar o bloqueio nas casas brancas e a
posição não é clara.
26.il.b6!
"Outro lance difícil. As brancas devem
preservar seus bispos - eles serão muito úteis!"
(Kortchnoi)
26...CLJe7! (evitando a perigosa ativação do
bispo de casas brancas no caso de 26...hxg4?!
27.il.xg4 ou 26...h4?! 27.$.d3 tz::lf6(g5)
28.$.f5) 27.gxb5 iLJf6 28.b3!
"Esse é o melhor do estilo 'desajeitado' de
Kortchnoi." (Larsen). Seria fraco jogar 28.$.f3
t!ff5 ! com a ameaça de ... e5-e4 (Knaak),
enquanto se 29.'i!fc2, então 29 ... ~xc2
(29...e4? 30..ád4) 30.làxc2 'L!exd5.
28...êàexdS 29.il.c4 tlfc6 30.ã f2
"A posição é incomum. Os peões centrais das
pretas não podem ser subestimados - em
qualquer final elas terão a vantagem. Bent
Larsen, que gostou muito dessa partida,
considerou essa posição como vencedora para
as brancas. Aparentemente ele simplesmente
confundiu o desejável pelo real..." (Kortchnoi)
30... ãcS?
Um erro fundamental em uma posição muiro
complicada. O tranqüilo 30...ãf8! (Shlrov) teria
Viktor, o Terrível
permitido às pretas, no mínimo, manterem a
igualdade: 3 l .il.xd5 CLJxd5 32.lãc2 (é ruim
jogar 32.l!ig4?! CLJxb6 33.axb6 d5 ou, como
mostrado por Kortchnoi, 32.lãd2?! CLJe3
33 ..áxe3 fxe3 34.ãxd6 e2 35.ãxh6+ Wfxh6
36.t!fxe2 'ã'f4) 32 ... tlfb5 33.tz::lf3 (não
33 .l!t'g4? 'Lle3 ou 33.t!fdJ?! t!fxd3 34.~xd3
e4) 33 ... l!fxb3 (33 ...!Xe8!? 34.làh4!) 34.!!d2
t!fxdl+ 35.lãxdl làxb6 36.lãxd6 ii..g7 37.axb6
(37.âxb6? e4) com um final empatado.
Kortchnoi continua 37 ... aS 38J?d7 lãb8
39.h6 il.xh6 40.tz::lxe5, com igualdade, ou
37 ... e4 38.CLJg5 e3 39.~fl ~ c8 e aqui "o
caminho mais simples para o empate é
40.lãd8+ ~xd8 41.'L!f7+". Mas após
41.. .@h7! 42.tàxd8 il.d4 e ...~xb6 não é
claro o quanto as brancas conseguirão
neutralizar os dois peões passados das pretas -
a e e. Na minha opinião, é mais simples jogar
40.g3 f3 41.tz::lxf3 lãc2 42.'~gl ou 40Jâd7
!!e l + 41.'i!le2 lãc2+ 42.@ f3 ã:fl+ 43. ~e4
il.f6 44.~t7+ $1g8 45.~ h6+ © h8 46.CLJf7+
com xeque perpétuo.
31.$.xdS fzJ xdS (não sena melhor
3 l.. .Vixd5 32.gd2) 32.llc2 CLJc3 33.'i!fg4!
Há igualdade material, mas as brancas de
forma inesperada lançam um ataque e as pretas
perdem devido a uma cravada fatal do seu
cavalo.
33... llfS
Se 33 ...'t!Ye8 as brancas teriam vencido
através de 34.t!fh3 'i!fc6 35.'il:Ye6 ou 35.~f3 e
~ h4. Kortchnoi considerou que a melhor
defesa fosse 33 ... ãg8 34.t!fe6 ~f8 (34...il.g7?
35.h6), embora após 35.h6! t!fe4 36.~ as
brancas também pudessem ter vencido.
34.lild3 tlf e8 35.CLJb4! (com a ameaça
decisiva de lâd5) 35...dS 36.iLJxdS .àcS+
37.il.xcS lãxcS (37...tàxd5 38.il.f8!) 38.h6
t!ff8 39.llxc3 1-0
Uma partida complicada, dinâmica, típica da
batalha na Defesa Índia do Rei, na qual o jovem
talento falhou em suportar o assalto do
veterano de 63 anos de idade.
181
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
No mesmo ano, ao tomar parte no
Campeonato Holandês por Equipes, Konchnoi
também melhorou o jogo das brancas em outro
setor de sua aguda variante da Defesa Índia do
Rei. E m sua partida com Nijboer ele conseguiu
executar o mesmo sacrifício de peça destrutivo,
visando criar uma avalanche de peões, como Tal
tinha feito uma vez (volume 2, partida 133) e
também Spassky (volume 3, partida 77).
Partida 41
V. Kortchnoi - F. Nijboer
HoÍl1nda 1993
Defesa Índia do Rei E98
1.d4 luf6 2.c4 g6 3.t2lc3 Jl.g7 4.e4 d6
S. .te2 0-0 6.luO eS 7.0-0 luc6 8.dS t2le7
9.t2lel lile8 (no entanto é mais sólido 9... lild7
- partida 39) 10.Ae3 fS 11.0
11 ... cS?!
Ao invés do usual l l...f4 12.il..f2 g5 13.c5
(partida 40') as pretas desejam primeiro se
proteger na ala da dama e somente então iniciar
o contra-ataque na ala do rei. Entretanto, tanto
a prática como a minha própria experiência
sugerem que geralmente esse lance é
insuficiente: as pretas pe.r dem tempo e da
mesma forma são incapazes de bloquear
completamente o flanco.
12.l~ d3!
Não muito antes disso, contra o mesmo
adversário em Wijk aan Zee (1993), Kortchnoi
182
escolheu 12.dxc6 bxc6 13.'i!fd2 (13.c5? ! d5)
13 ....te6 14.ã dl "fie? 15.f4 e após 15 ... exf4
16.il..xf4 fxe4 17.êilxe4 (17.c5? ~ d5)
17...t!fb6+ 18.il.e3 I!xfl+ 19.<,t,xfl !fxb2
20.i!'xb2 il.xb2 21.~xd6 as pretas
conquistaram chances iguais através de
21.. .il..e5 !. Mas Nijboer seguiu errado, entrou
no apuro de tempo e acabou perdendo.
O lance de cavalo é mais forte: as brancas
gradualmente preparam o sacrifício de peça em
c5, explorando a distância de ambos os cavalos
pretos da defesa desse ponto.
12...f4 l3.il.f2 hS?!
Kortchnoí é terrivelmente crítico em relação
a esse lance, considerando-o a razão da
esmagadora derrota das pretas nessa partida,
acrescentando: "O problema é que esse lance
foi recomendado em uma posição similar pelo
Campeão Mundial Kasparov!"
Entretanto, eu recomendei ...h7- h5 em uma
posição diferente (conforme comentário ao 12º
lance das pretas na partida 40'). Em tais posições
tão complicadas e duplamente agudas, todas as
dintinções precisam ser sentidas de modo
aguçado. Aqui eu preferiria l3 ...g5 - todos os
tempos são preciosos para as pretas e agora
14.g4 não é muito perigoso para elas, uma vez
que elas conseguiram "congelar'' a ala da dama.
E para as brancas, se elas têm por objetivo um
sacrifício de peça, jogar g2-g4 é inconveniente.
Aqui poderia ter seguido 14.b4 b6 15.a4 a5
16.bxc5 bxc5 17,g bl ~g6 e na variante com
18.li::lxc5, ao invés do lance desnecessário
.. .h7-h5 as pretas deveriam ter feito o mais útil
...~g6.
São em nuanças assim que se compreende o
entendimento desta ou daquela posição.
Nijboer pensou que tivesse erguido uma
fortaleza, mas de fato ela se prova uma ilusão.
14.b4 (é essencial abrir a coluna b) 14... b6
15.a4 a5 16.b><cS b><cS
"Após 16 ... dxcS as pretas ficam com dois
peões debilitados - b6 e e5, mas por outro lado,
elas obtêm uma boa casa para o cavalo - d6. É

vei;:dade que ...dxcS poderia não ser efetivo no
andamento da presente partida." (Kortchnoi)
17.l!bl gS
Lançando uma contra-ofensiva, em uma
posição aparentemente sólida. Mas Kortchnoi
notou que, nos seus 17 primeiros lances, as
pretas fizeram 11 com os seus peões e
avançaram todos os oito! Enquanto isso, suas
peças estão todas atravancadas nas 7ª e 8ª
fileiras ...
18.~ xcS!
"Isso veio como uma surpresa para o meu
adversário, assim como, entretanto, muitos
outros dos meus lances nessa partida," observa
Kortchooi com satisfação. "Seria possível o não
apressado 18.~b3, da mesma forma com
sólida vantagem para as brancas." E se
l 8 ...itlg6, então 19.~6. Mas o sacrifício de
cavalo é mais efetivo!
18...dxc5 19.~xc5 êi:lg6?!
Na opinião de Kortchnoi, "seria correto
19....ãf6, defendendo a casa b6 e planejando
colocar a torre em g6 e o bispo em 1'8. Após
20.~3 $..1'8 2l.~f2 g4 22.cS © h7 23.d6 as
brancas têm excelente compensação pela peça
sacrificada, mas ainda há uma séria batalha em
perspectiva."
Entretanto é mais forte 2l.$.b6!, forçando
21..1{xb6 (de outra forma 22.c5!) 22.'ti'xb6
!i'xb6+ 23.ãxb6 e após 23 ...êi:lfS
(23 .. .êi:lxd5?! 24.êi:lxdS, vencendo) 24..ãg6+
Viktor, o Terrível
êi:lfg7 25.ã xg5 as brancas têm uma torre e três
peões por duas peças menores e toda chance de
vitória. O que podem fazer as pretas? Se
20...itlg6 ou 20 ...êi:ld6 seguiria 2 l.~b6 e
c4- d, enquanto se 20...êi:lc7, então 2 l .d6! Só
resta 20 .. Jâaa6, mas então também após
21 ..àf2 g4 22.c5 as coisas estão difíceis para as
pretas. Entretanto, após o lance da partida elas
perdem até mais rapidamente.
20.$.b6! (as brancas não precisam ganhar a
qualidade: o principal é avançar a avalanche de
peões) 20 ...'tiff6 21.c5 g4 22.d6! (evitando ser
distraído por 22.fxg4) 22 ... gxf3 (22...~e6
23.d7) 23.gxf3
Um sacrifício de qualidade, demonstrando o
poder dos peões brancos! Também seria bom o
simples 23.1'.xf3!? l'!f7 24.'i'dS.
23... ~ h3 24.~ hl! ~ xn 25..i.xn 'tife6?!
Seria um pouco mais resistente 25 ...êi:lxd6,
conectando as torres. Na verdade, a posição das
pretas permanece perdida tanto após 26.~xd6
i9xd6 27.cxd6 lt.f6 28.êi:ld5 ~d8 29.êi:lc7 l'!b8
30.~b5 e ~xa5, como após 26.cxd6! - o peão
passado é muito forte.
26.d7 êi:lf6 (seria sem esperanças 26...êi:ld6
27.~xd6 i.lfxd6 28.cxd6, assim como o
"relativamente melhor" 26 ....âf6 27 .l!fd5
!i'xd5 28.êi:lxd5 - KortchnoD 27.d8'ti' lâfxd8
28.it.xd8 ~ d7 29.~ gS lâc8
O u 29 ...êi:lxcS 30.êi:ld5 &7 31.lâb6 ~f7
(31...'ã'e8 32.~b5) 32 ..âc4 'i!?h8 33.'r,!i'gl com
ameaças decisivas.
30.ii'd5 li)gf8
Após 30 .. .'~'xdS 3 l .exd5 ãxc5 32!~)e4
(Kortchnoi) ou 30...lZ:lxcS 3 I.lâb6! 'i.lfxd5
32.exd5 êi:l1'8 (32 .. .<it'f? 33 ..âh3) 33.ãc6 ã xc6
34.dxc6 o peão passado é irresistível
31.~ e7 li.JxcS? (entregando uma peça, mas
3 l...~h8 32.~xf8 êi:lx1'8 33.ãb5 também seria
ruim para as pretas) 32.it.b3 °i!fxd5 33.~xdS
1-0
Se 33 ....ãc6 34.!kl .
Não obstante, Kortchooi considera ser a
Defesa Índia do Rei uma "abertura bastante
183
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
flexível", só não concordando com a Variante
Clássica no lance 7 ...li:lc6. "É surpreendente o
fato de que muitos jogadores de elite optem por
este lance menos flexível e que leva a um jogo
agudo com ataques em alas opostas. Assim,
7 ...~ bd7, 7 ...'!ua6 ou 7 ... exd4 são o caminho
para uma batalha estratégica tranqüila".
Bem, veremos ainda quais as conseqüências
que o "tranqüilo" 7 ... lz:Jbd7 pode ter (.partida
41). Como a prática de meio século demons-
trou, o lance 7 ...li:le6 não é lá tão "inflexível" e
a avaliação categórica de Kortchnoi reflete bem
seu maximalismo natural. Aliás, o bem
conhecido defensor da Defesa Índia do Rei,
Eduard Gufeld, afirma categoricamente que,
pelo contrário, em toda.<; as suas três principais
variantes (com 3.g3, 5.f3 e 5.li:lf3, i.e2 e 0-0)
as pretas devem desenvolver seu cavalo da dama
somente em c6, pois esta é a única maneira de
conquistar contrajogo suficiente.
Examinador Rigoroso
Em sua longa carreira, Kortchnoi, como ele
mesmo afirma, encontrou-se com repre-
sentantes de pelo menos seis gerações no
tabuleiro. Além disso, contra os jovens ele
sempre jogou movido por um entusiasmo todo
especial, de uma forma criativa muito
interessante. E mesmo os Grandes Mestres
dentre os dez melhores do mundo muito
freqüentemente são incapazes de encontrar o
antidoto eficaz contra suas idéias profundas e
incomuns.
Seu forte ainda são as continuações novas,
imprevisíveis e enérgicas, que mudam de forma
aguda a situação no tabuleiro. Muitas vezes seus
adversários simplesmente não conseguem se
orientar, embora tradicionalmente se considere
que o cérebro jovem reaja mais rapidamente a
quaisquer mudanças. Mas até seus anos mais
avançados, Kortchnoi não perdeu o frescor de
percepção. Mudanças repentinas do ambiente
não o atemorizam - ele até procura estas
situações! Ainda nos dias de hoje, um ritmo de
xadrez desigual é o seu elemento natural! Mais
184
ainda: como já foi dito, uma técnica
excepcionalmente elaborada e compreensão das
posições. Dessa forma, suas partidas com
jogadores jovens, levando cm consideração sua
força e potencial, são especialmente impor-
tantes e instrutivas.
Começarei pelo torneio de dois turnos com
oito Grandes Mestres em Tilburg (1989), que
foi memorável para mim. O competidor mais
velho era Viktor Kortchnoi, de 58 anos, e o
mais jovem era o Grande Mestre ucraniano
Vasily lvanchuk, de 20 anos, que era classificado
como número 3 no ranking mundial. O enorme
talento de lvanchuk era óbvio: Botvinnik
chegou a prever a vitória dele em Tt!burg,
apesar da participação do Campeão Mundial.
No começo do torneio, Vasily justificou estas
esperanças: como Kortchnoi e eu mesmo, ele
teve uma contagem de 3 em 4, empatando com
as pretas com Kortchnoi. Na 5ª rodada,
consegui derrotar lvanchuk, mas Kortchnoi
também venceu! Não obstante, ao conquistar
cinco vitórias consecutivas, eu me distanciei de
meu rival e na segunda metade do torneio só
houve uma disputa pelo segundo lugar.
Depois de sua derrota para mim, I vanchuk
tentou de forma desesperada melhorar sua
posição no torneio, mas sem sucesso. E a sua
partida do segundo turno com Kortchnoi foi a
sua última chance de terminar nos primeiros
três lugares. Convém dizer que Vasily sempre se
distinguiu pela seriedade com que aborda a
partida: ele poderia jogar qualquer coisa, mas
tentava escolher as aberturas de forma
específica para cada adversário. Entretanto, aqui
ele encontrou sua vez!
Partida 42
V. Ivanchuk - V. Kortchnoi
Til!111rg 1989, 9' rodada
Abertura Catalã E04
l.d4 luf6 2.c4 e6 3.g3
Não é a arma principal de lvanchuk. É

possível que ele tenha escolhido a Catalã sob a
influência do "'atch Kasparov-Kortchnoi
(1 983), onde as pretas perderam par 2½-½
oessa abertura. Se Vasily esperava que o seu
lldversário ainda tivesse um gosto desagradável
na boca, esse truque psicológico se provou
injustificado.
3 ...d5 4.i.g2 dxc4 s.li'lo (após o tranqüilo
5.1i'a4+ ltJbd7 as brancas retomam o peão, mas
usualmente perdem sua irúciativa de abertura)
5-.li'lc6!?
Uma variante rara naquela época - embora
após essa partida ela tenha ganhado ímpeto! Era
muito popular 5... a6, enquanto no match contra
mim Kortchnoi tentou 5 ... c5, 5 ... ~d7 e
5 ... li'Jbd7.
6.'f/Ja4 (6.0-0 a6 ou 6...ãb8 IGr.
Georgicv- Kortchnoi, Biel 1992) 6....àb4+
7.Ad2 li'Jd5 (7 .. ,j_d6!? 8.0-0 0-0 9.!fxc4 e5
Karpov-Kramnik, Wijk aan Zee 1998) 8,j_xb4
Mais raramente se joga 8.l!fb5, para após
8 ... 0-0 recuperar o peão - 9.1!fxc4, e após
8...~xd2+ 9.<Llbxd2 c3 JO.bxc3 lz:lxc3
l I.1!id3 lZ:ld5 12.0-0 0--0 seguido por e2-e4
para obter ótima compensação por ele.
8...li'Jdxb4 9.a3
"A teoria considera ser mais prudente 9.0-0
!lb8 IO.lz:lc3 a6 l l.ltJe5, mas alguns jogadores,
inclusive lvanchuk, não procuram segurança no
xadrez! (Kortchnoi)
9...bS! 10.!VxbS
No caso de 10.!fdl lz:ld5 as pretas têm uma
posição perfeitamente sólida e um peão a mais:
l l.e4 (l l.a4 b4) l 1...ltJb6 12.lz:lc3 a6 13.0--0
0--0 14.~d2 il.b7 15.ãad t 'f!ie7 16.h4 .ãad8
(Karpov-Kramrúk, partida às cegas, Mônaco
1999).
l0•••lz:lc2+ 1Vi!?d2
Após a ultimamente na moda l I.<itifl ~ d7!
12.!!a2 ltJ6xd4 13.lWcS lWe7 ou 13 ... ltJfS!?
(Karpov-Van Wcly, partida rápida, Dubai
2002), também é difícil para as brancas
contarem com uma vantagem.
11 ...li'lxal (desde meados dos anos 1990
Víktor, o Terrível
também tem ocorrido l 1...j_d7!? 12.~c2
ltJxd4+ 13.,t\xd4 Axb5 14.lz:lxb5 !!b8 com a
dama por três peças e um jogo muito
complicado) 12.!fxc6+ j_d7 13.t!,Yxc4
13 ... cS!
Uma novidade excdente, abrindo uma linha
toda nova na teoria da Catalã. A velha partida
Aizenshtadt-Taimanov (Leningrado 1949)
seguiu 13 ... gb8 l4.b4 c5 15.lz:lc3 cxd4
16.lz:le4 il.b5 17.t1fa2 d3! com a iniciativa para
as pretas (18.ãxal lãc8!), mas Taimanov .
sugeriu 15.'i!fc3! cxb4 16.axb4 a5 17.!fxal
axb4 18,gcl , quando os dois cavalos das
brancas superam a torre, apesar do forte peão
passado b. Desde aquela época a variante
5 ... lz:lc6 foi arquivada.·
Kortchnoi dá uma explicação interessante
para a origem do lance 13 ... c5: "Um dos
maiores especialistas com as brancas na
Abertura Catalã nos anos 1970 e 1980 foi o
Grande Mestre Genna Sosonko. Uma vez eu
notei que com as preras ele tinha como objetivo
obter essa posição. Ele pensava em alguma
coisa! Mas em quê? Seus adversários evitavam a
posição crítica. Gastei muitas horas em casa
olhando essa variante e encontrei uma melhoria
para as pretas!".
14.~a2
Essencialmente o único lance. As alternativas
são ruins para as brancas: 14.lz:lc3? 'Bb6! (esse
lance, dado por Kortchnoi no lnfarmaáar, é mais
185
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
agressivo do que 14 ... cxd4 15.ci::lxd4 lâc8
16.lid3 e5), ou 14.~e5? ãc8 15.d5 ãb8!
14...!fa5+ 15.b4?
Em uma situação desconhecida e subitamente
aguda, as brancas cometem um erro grave.
Aparentemente a novidade do adversário
deixou lvanchuk em estado de choque.
Imediatamente após, Kortchnoi recomendou
15.ci::lc3 cxd4 16.l2::ixd4 lâd8 17.ã:xal! (l7.e3
e5 18.b4 l!fa6 ou a minha sugestão- 18 ... fib6
19.l2::id5 il.e6!) 17...e5 18.b4 'ii'b6 19.l2::ic2, e
essa se tornou a linha principal de toda a
variante. Após 19 ... 'ifxf2 as brancas podem
jogar 20.l2::ie3 il.e6+ 21.l2::icd5 0-0 22.'i!fc4
~xd5 23.~xdS 'i!fxh2... ½- ½
(Bareev-Adams, Dortmund 2000) ou 20.il.dS
0-0 2l.ti'c4 Ae6 22.l2::ie3 ll.+'xh2 23.'i!Vh4
'ifxh4 24.gxh4 f5 25.$>c2 (25.'it>el !?)
2 5 ... $'f7 26.ãdl f4 27.l2::ic4 ½-½
(Kasparov-Adams, Wijk aan Zee 2001).
E u joguei com Adams na última rodada e
estava um ponto à frente de Anand e Kramnik.
Meus colegas sorriram: essa realmente é a
forma de se jogar a abertura, quando se precisa
de um empate? Contudo, percebi que as
brancas tinham alguma vantagem e queria jogar
essa posição complicada. Mas então imaginei
que tivesse cometido alguma imprecisão e
ofereci o empate... Exatamente um ano mais
tarde, no mesmo local, ao invés de 26.lldl
seguiu 26.ãgl ! ã d7 (26 ... g6!? Ftacoik)
27.~xe6+ 'it>xe6 28.l2::ia4 Wf6 29.l2::ic5 â:d4?
30.l2::ixf5!. .. 1~ (Kasimdzhanov- Van Wely,
Wijk aan Zee 2002). É claro, seria essencial
29 ...lâc8, mantendo consideráveis recursos
defensivos.
15...cxb4 16.'i!.fxal llc8 17.~eS ( 17.ãcl?!
ã xcl 18.'i!/xcl 0-0 com a ameaça de &8+
etc.) 17... A bS
186
18.~ e3
Uma escolha difícil em uma posição
indiferente. "Após a partida, analistas
declararam que seria mais resistente l 8.a4,
quando as brancas ainda teriam chances de
salvação. Partidas posteriores não confirmaram
essa opinião." (Kortchnoi)
D e fato, após 18 ... 0-0 o rei branco da
mesma forma está em uma posição terrível:
após 19.l2::id3, tanto 19...~xd3 20.$'xd3 e5! e
o preparatório 19 ... b3+! são fortes, enquanto se
19.'ti'b2 (Kortchnoi), então 19 ... 'iexa4 20.~e4
ã:íd8 com um ataque. Ou 19.ft.e4 f6! 20.~d3
(20.l2::if3 b3+ etc.) 20 ... f5 21.il.fJ b3+ 22.~c3
~ xd3 e ...'ifb4 . . . 0-l (Kaidanov-Goklin,
Filadélfia 1998).
18...!tc2 (a invasão decisiva) 19.~0 ~
20.a4 f6 21.li:ld3 il.c4
Ameaçando ...ãa2. Do ponto de vista do
computador, 21...~xd3 22.<i.t.'xd3 'f.ic7
23.ç!;,e3 'i!.fc4 24.l:!dl :il!a2 vence mais
simplesmente, mas um humano segue seu
próprio caminho.
22.l2::id2 'iligS+?!
As pretas teriam encerrado o assunto com
22 ...il.xd3 23.exd3 (23.Wxd3 l'.!c3+ 24!.&e4
'fi°f5 mate) 23 ...\tfg5+ (Kortchnoi) 24.We4 fS+
25.ç!;,es f4+ 26.~xe6 ãe8+ 27.Wd7 'f.id8
mate. Contudo, elas ainda vencem.
23.li:lf4 eS (23 ...ãc3+!? Kortchnoi)
24.li:lxc4 exf4+ 25.gxf4 "i!VfS! 26.~ d6 (não
seria melhor 26. 'i!i'b 1 ã e8+ ou 26.il.e4 :Sc3+

etc.) 26... l!fe6+ 0- 1
Nada a fazer: 27 ..ie4 (de outra forma
...l!fb3+) 27 .. Jãc3+ e ...~xd6.
Graças a essa vitória, Viktor Lvovich
estabeleceu-se com firmeza no 2° lugar, que
manteve até o fim do torneio: 1.Kasparov - 12
em 14; 2.Kortchnoi - 8 1/2; 3.Sax - 7; 4-5.
Ljubojevic e Ivanchuk - 6½ etc.
O Torneio Interzonal do ciclo seguinte,
realizado pela primeira vez pelo sistema suíço
(Manila, verão de 1990), foi marcado pelo
resoluto surgimento na arena da geração dos
jovens de vinte anos, embora alguns lutadores
experientes também tenham se classificado para
o Torneio de Candidatos: 1-2.Gelfand e
Ivanchuk - 9 em 13; 3-4.Anand e Short - 81/z;
5-1 1.Sax, Kortchnoi, Hübner, Nikolic, Yudasin,
Dolmatov e Dreev - 8. Juntamente com
Timman, Speelman e Yusupov (finalista e
semifinalistas no ciclo anterior), eles formaram
sete duplas de match e depois os sete vencedores
receberam ainda Karpov (como participante no
match pelo Campeonato Mundial de 1990).
Na primavera, Konchnoj se aqueceu pata o
Torne.io Interzonal em dois torneios com
quatro Grandes Mestres - um evento de três
rodadas em Beersheva e um evento de duplo
turno em Roterdã. Em ambos os eventos ele
obteve o primeiro lugar, e, como
posteriormente em Manila, permaneceu invicto.
É surpreendente que a bela partida a seguir com
o Grande Mestre israelense Alon Greenfeld, de
26 anos, realizada no início do Torneio de
Beersheva, tenha sido a única partida do torneio
que não terminou empatada!
Partida 43
V. Kortchnoi - A. Greenfeld
Beersheva 1990, 1• rodada
Abertura Tnglesa AJO
1.c4 li)f6 2.-tlcJ cS J.li:)13 e6 4.g3 b6 s..tg,2
.tb7 6.0--0 Ae7
Viktor, o Terrfvel
Após 6 . .. a6 7.b3 d6 Kortchnoi também
jogou d2-d4 e após cxd4 ele respondeu tanto
'it'xd4 - contra S. Garcia (Moscou 1975), como
~xd4 - contra H jartarson (Reykjavik 1988) e
Ivanchuk (filburg 1989).
7.b3
Para mais tarde, após d2-d4 e cxd4,
possibilitar a reromada em d4 com o cavalo.
Após o direto 7.d4 cxd4 8.l!fxd4 nos velhos
tempos Kortchooi muitas vezes enfrentou
8...0c6 ou 8... 0--0 e ...0c6 (partida 16) e na
era "porco -espinho" - 8 ... d6 seguido por
...0 bd7.
7 ...d6
É bom para as pretas 7 ...d5 8 .cxd5 li)xd5,
com igualdade. Mas, como Kortchnoi observou
com perspicácia, os entusiastas da "porco-
espinho" não querem um jogo igual.
8.d4 {é mais lento 8..ib2 0-0 9.e3 a6 1O.d4
cxd4 11.l2:\xd4 Kortchnoi- Portisch, 9ª partida
do J11atch, Bad Kissingen 1983) 8 ... cxd4
9.~xd4
Após 9.luxd4 i._xg2 10.S>xg2 'W/c7 l l.e4 a6
12.Ab2 'i¼Vb7 13J~el 0-0 as pretas têm menos
problemas (Kortchnoi-Polugaevsky, Biel 1986).
Kortchnoi já havia comentado uma posição
"porco-espinho" desse tipo (conforme partida
16). E na introdução dessa partida acrescentou:
"Em certa extensão, os entusiastas da 'porco-
espinho' estão certos. Estão convencidos de
que o principal no xadrez não é o material,
tampouco o espaço, mas a coordenação e
187
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
atividade das peças - e essa coordenação pode
ser alcançada mesmo em um espaço reduzido.
E tal jogo entrou na moda. Enquanto
anteriormente era considerado extremamente
indesejável conceder o centro, agora inúmeros
jogadores, literalmente desde os lances iniciais,
concedem o centro e iniciam a construção da
sua defesa ao longo da 6ª fileira. Eu acho que o
leitor entenderá porque para mim, formado
com um conhecimento ortodoxo do xadrez,
essa partida seja tão preciosa."
9 .. .'<lbd7?!
Não é a seqüência mais precisa de lances, o
que também é o caso de 9 ... a6?! 10.~a3!
(evitando ... l2Jbd7) 10 ... 0-0 11.B'.fdl com
pressão para as brancas (Kortchnoi-A.
Greenfeld, Beersheva 1988). Mas hoje em dia
todos sabem que é correto 9 ... 0-0!, por
exemplo: 10.~b2 (se 10.~a3, então
10 .. .l2:la6!) 10 ... a6 1 l.~fdl l2:lbd7 12.'i!Ud2
'i!Uc7 13.l2:ld4 ~xg2 14.'~xg2 'i!Ub7+ 15.f3
l2:\e5 !. . . ½-½ (Kortchnoi-Polugaevsky, 11 ª
partida do match, Buenos Aires 1980).
10.l2:lb5!
Novidade de Kortchnoi, a qual ele empregou
pela primeira vez na 6ª partida do seu match de
Candidatos com Hjartarson (Saint John 1988).
Ao atacar o peão d6, ele causa uma certa
desarmonia nas fileiras do adversário.
10 ... l2:lc5
Se 10 ... l2:\e4? as brancas planejavam
1 l.'i!Uxg7 ~f6 12.'i!Uh6 ~xal 13.t2lg5! com
um ataque poderoso. Entretanto, após 10 ... dS!?
11.cxdS ~xd5 12.'i!Uf4 0-0 13.~b2 a6 14.l2:lc3
elas teriam somente uma pequena vantagem.
tU!dl l2lfe4?!
Uma peça de preparação fracassada de
Greenfeld. Ele já tinha jogado isso contra
Andersson (Olimpíada de Tessalônica 1988) e
perdido, mas agora aparentemente ele tinha
encontrado uma melhoria.
Agora seria essencial 11. .. d5, seguindo o
exemplo da já citada partida de referência
Kortchnoi-Hjartarson, vencida de forma
188
brilhante pelo veterano: 12.cxdS exd5 (as
pretas também não equilibram completamente
após 12 ... l2:lxd5 13.e4 ou 12 ... ~xd5 13.'i!Uf4)
13.~h3!? 0-0 14.~b2 a6 15.l2Jc3 ~e8
16.~acl l2:le6? 17.~xe6! fxe6 18.lz::\a4 b5
19.t2lc5 ~c8 20.l2:\e5 etc., com uma atadura
completa. O jovem Grande Mestre islandês
claramente subestimou a idéia estratégica do
seu adversário.
12.'i!Uxg7!
Outra novidade brilhante! As brancas
entregam uma torre e então iniciam um ataque
com seus cavalos ao espírito de Morphy ou
Chigorin.
A partida Andersson-Greenfeld seguiu 12.b4
~f6 13.'i!Ue3 ~xal 14.bxcS bxc5 15.t2lg5!
~d4 16.t2lxd4 (16.'i!Uf4! 'i!Uxg5 17.l2:lxd6+ é
ainda melhor) 16 ... cxd4 17.B'.xd4 l2:lc5
18.~xb7 t2lxb7 19.t2lxf7 Wxf7 20.'i!Uf3+ Wg8
21.'i!Uxb7 ~b8 22.'i!Ue4 ... 1---0. Nessa ocasião,
Greenfeld aparentemente planejava jogar
14 ... 0-0 ou 12 ... a6, mas Kortchnoi se
antecipou a ele, demonstrando a sua própria e
altamente impressionante interpretação da
variante.
12 ... ~f6 13.'i!Uh6 ~xal 14.lz::lgS!
Uma posição surpreendente, que jogada pela
primeira vez é difícil para as brancas (elas estão,
afinal, com uma torre a menos) e, de uma forma
especial, para as pretas: elas podem se confundir
na procura da melhor defesa!
14 ... il.eS?

Um lance aparentemente natural, mas
incorreto. Citando uma extensa análise do
Grande Mestre Matthias Wahls, Kortchnoi
sugere que "a única possibilidade de evitar uma
derrota rápida é 14 ... 'i:!ff6!: 15.li:)xe4 l2:lxe4
16.ii.xe4 'i!fxh6 17.ii.xh6 ii.xe4 18.l2:lxd6+
<tie7 19.l2:lxe4 2i.e5 (19 ...ii.f6? 20.ii.cl!) 20.f4
it.b2 21.B'.bl ii.d4+ 22.<tig2 ~hg8 (22 ... f6
23.e3! ii..xe3 24.ii.g7) 23.ii.gS+ f6 24.~4
!!g6 25.'.!ã'f3 a5 (25 ...hS 26.b4! e aqui não há
defesa contra a ameaça de e2-e3) 26.g4 - e as
brancas têm uma clara vantagem posicional."
Talvez seja até melhor o imediato 25.b4!?
!!c8 26.Wf3 (com a idéia de 26 ... B'.xc4? 27.e3)
- as brancas têm dois peões pela qualidade e
uma vantagem óbvia em vista da posição infeliz
do bispo preto. Dessa forma, as pretas
poderiam defender com 20 ... ii.f6
(S.Kuznetsov-Mayorov, partida por
correspondência 1994) ou 2l...ii.f6!? 22.<tif2
ãhg8 com boas chances de empate.
15.b4!?
É estranho que em seu livro "Minhas 55
Melhores Partida!' (2004) Kortchnoi não tenha
comentado de nenhum modo esse lance (assim
como também Ftacnik no ChessBase) , embora já
em 1990 no Informador ele indicasse uma forma
mais simples de vencer - 15.l2:lxe4! ii.xe4 (ou
15 ... ~xe4 16.ii.xe4 ii..xe4 17.f4 etc.) 16.ii.gS!
f6 l 7.f4 fxg5 18.fxeS com um ataque
irresistível. Posso acrescentar 16 ...l!fd7 17 .f4 !
(ou 17.b4 ii.xg2 18.bxcS Shchekachev-
Kersten, Bad Zwesten 2003) l 7 ... a6 18.fxeS
axb5 19.B'.xd6 1J!fc7 (19 ... ii.xg2 20.1J!if6!)
20.ii.xe4 l2:lxe4 2l.B'.xe6+!
Na partida Petursson-Akesson (Estocolmo
1991) ocorreu o tentador 15.f4?! e após
15 ... ii.f6? 16.l2:lxe4 ii.xe4 l 7.b4 ii.xg2
18.bxcS a posição das pretas desmoronou.
Entretanto, 15 ... 1J!if6! 16.'i:!fxf6 it.xf6
17.l2:lxe4 i.xe4 18.ê2Jxd6+ We7 19.ê2Jxe4
gad8 teria levado a um jogo aproximadamente
igual.
15 ...1J!if6
Víktor, o Terrível
Relativamente a melhor chance. Seria mais
fraco 15 ... ê2Jc3 (como as análises têm
demonstrado, outras respostas também são
inadequadas) 16.ê2Jxc3! (não é tão claro
16.bxcS 1J!if6!) 16 ... ii.xg2 17.bxc5 2i,xc3
(17 ...'i!ff6 18.'i:!fxf6 e l2:lb5!) 18.<tixg2 1J!if6
19.~xf6 ii.xf6 20.l2:le4 com uma vantagem
óbvia para as brancas (Tsesarsky-A.Greenfeld,
Givatayim 1997), mas é mais eficiente 19.'i!fhS!
dxc5 20. l2:le4 'i!fg6 2 l.1J!i f3, vencendo.
16.'i!fxf6 l2Jxf6 (se 16 ... .1Lxf6 teria seguido
17.bxcS _txg5 18.ii.xgS 0--0 19.cxd6 com um
final vencedor) 17.f4!
De acordo com Kortchnoi, também seria
possível 17 .bxc5 ii.xg2 18.f4, mas aqui após
18 ...ii.d4+! 19.â(ê2J)xd4 dxc5 as pretas salvam
a partida.
17 ... .1Lxg2 (17 ... ii.al? 18.l2Jxd6+! We7
19.bxcS ii.xg2 20.ii.a3! bxc5 21.Wxg2,
vencendo) 18.fxeS
"Uma posição pitoresca. As pretas ainda têm
uma torre a mais, mas também três peças
amarradas, além da ameaça de l2:lc7+!"
(Kortchnoi)
18 ... dxeS (18 ... ~c6? 19.ê2Jxd6+ Wf8
20.exf6) 19.bxcS ii.c6 20.lZ:k7+ ~f8?!
"O lance perdedor. Seria mais resistente
20 ...We7 21.ii.a3! b5! 22.l2Jxa8 b4 23 .ii.xb4
B'.xa8 24.~f3 ~d7 25.B'.xd7+ ~xd7
26.l2Jxe5+ Wc7 27.ii.aS+ Wb7 28.ê2Jxf7. As
brancas têm boas chances de vitória, mas a
189
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

batalha ainda não está encerrada." (Kortchnoi).

Mas na minha visão, após 28 ....ii.e8 29.~e5
.E!:c8 o final ainda está completamente
indefinido: como as pretas perderiam se elas
têm uma qualidade?!
Assim, eu preferiria 23 ..fi.b2! :ãxa8
(23 ... ii..xa8 24 ..ii.xe5 :ãc8 25.:ãfl, vencendo)
24.:ãfl ! (não 24.1i.xe5 ~e4) 24 ... :ãg8
(24 ... ~e4 25.:ãxf7+ ée8 26 ..E!:c7 ~xg5
27 ..E!:xc6 @d7 28.:ãa6, vencendo) 25 ..fi.xe5
:ãg6 (25 ... ~e4 26.~xf7) 26 ..ii.d6+ ée8
2 7. ~f3 com um peão a mais e um final
tecnicamente vencedor.
Seria interessante se ao invés de 21 ... b5 as
pretas jogassem 21...~e4!? 22.~xe4 .fi.xe4,
mas aqui também após 23.c6+! @f6 24.~xa8
.lâxa8 25.c7 :ãc8 26 ..ii.d6 .fi.f5 27.c5! b5
(27 ...bxc5 28.:ãcl) 28.:ãfl ég6 29 ..ii.xe5 f6
30..fi.d6 a posição das pretas é inviável.
Assim, baseado em todas as análises acima,
pode se dizer que de fato 14 ... .ii.e5 já fora o
lance perdedor.
21.~xaS .ii.xa8 22 ..fi.b2?!
Continuando a jogar por um ataque por
inércia. ''A sugestão dos comentaristas foi mais
enérgica: 22.cxb6 axb6 23.:ãd8+ @g7 24.:ãxh8
@xh8 25.~xf7+ e então ~xe5. Eu temia que
após 22.cxb6 as pretas pudessem mover seu rei
para g7, mas dificilmente elas seriam capazes de
segurar a posição com dois peões a menos, com
um deles já na 7ª fileira!" (Kortchnoi). É isso,
23.bxa7 .lâc8 24 ..ii.e3 com uma vitória fácil.
22 ... :ãgS (não seria melhor 22 ... @g7
23 ..ii.xe5 @g6 24.:ãfl) 23 ..ii.xeS ée7
Se 23 ... ~e8, então 24.~xh7+ ée7 25 ..fi.d6+
éd7 26 ..ii.f4+. As pretas conseguiram algumas
chances práticas de salvação, mas as brancas
não jogam fora a vitória.
24.:ãfl ~d7 (ou 24 ...:ãg6 25.cxb6 axb6
26 ..ii.xf6+ :ãxf6 27.:ãxf6 éxf6 28.~xh7+
@f5 29.h4) 25.~xfi
25 ... bxcS
Contando com os bispos de cores opostas.
Kortchnoi coloca um ponto de interrogação
nesse lance, recomendando 25 ... ~xc5
26 ..ii.d6+ éd7 27 ..ii.xc5 bxc5, mas após
26.~h6! :ãg6 27.:ãf7+ as brancas também
devem vencer.
26.il.d6+ ée8 27•.ii.c7 ée7 (27 ...:ãf8(g7)
28.~d6+, penetrando com o cavalo em c8)
28.:ãf4 il.c6 (28 ...:ãg7 29.~d6 a6 30.~e4)
29.éf2 :ãg7
Se 29 ....ii.a4!?, então seria bom 30.il.d6+
ée8 31.h4. As brancas convertem sua
vantagem material posicional com precisão.
30.~eS! ~xe5 31..ii.xeS :ãg6 (3 l...:ãf7
32 ..fi.d6+) 32.:ãh4 h6 33.il.f4 il.b7 34.@e3
.ii.a6 35.il.xb6 e5 (35 ....fi.xc4 36 ..lâxc4 :ãxh6
37.:ãxc5 :ãxh2 38.:ãa5 Kortchnoi) 36.@d3
:ãd6+ 37.@c3 1-0
Se 37 ... :ãd4 38 ..ii.e3 etc.
Uma partida impressionante! Em plena era da
pré-informática, Kortchnoi encontrou e
desenvolveu uma idéia arriscada de gambito,
que mudou radicalmente a natureza da disputa.
Seu adversário era um Grande Mestre que tinha
dedicado muita atenção à abertura e tinha a
fama de ser um excelente analista, mas no
presente caso, logo no início, sucumbiu vítima
da imaginação viva de Kortchnoi ...
Em 1991, Kortchnoi venceu seu match de
Candidatos com Sax no desempate (3-3; 2½-

190

1½), mas, no seguinte match de quartas-de-final,
perdeu para Timman (2½-4½); No Torneio
lnterzonal seguinte (Biel, 1993) ele combateu
com todas as forças: começou com 2 em 2, por
seis rodadas liderou o grupo, respondeu a duas
derrotas com duas vitórias e somente após
perder na penúltima rodada para Anand (com
erro de apuro de tempo em final igual) é que
terminou a esperança de se tornar um dos
Candidatos à coroa pela 11 • vez (!!).
Pouco antes disto, Kortchnoi disputou um
match de treinamento de oito partidas com o
Grande Mestre holandês Jeroen Piket de 25
anos, o qual venceu de forma arrasadora - 6-2
(+4=4). Na terceira partida, Piket recebeu uma
boa lição com as pretas na Defesa Tarrasch.
Partida 44
V. Kortchnoi - J. Piket
Match, Nijmegen 1993 3ª partida
Gambito da Dama D34
l.d4 d5 2.c4 e6 3.lz)f3 c5 4.cxd5 exd5 5.g3
~c6 6.il.g2 'tlf6 7.0-0 il..e7 8.'tlc3 0-0 9.il..g5
il.e6 (é mais sólido 9 ... cxd4 - volume 3, partida
75) 10.dxc5 il.xc5 11.Éicl
As pretas esperam resistir no final inferior
após l 1.i.xf6 !? ( 11.'tla4 - volume 2, partida 45)
11...'i!fxf6 12.'tlxdS 'i!fxb2 13.'ilc7 :Sad8
14.ii'cl 'fWxcl 15Jãaxcl e 'tlxe6
(Rubinstein-Schlechter, Viena 1908;
Petrosian-Spassky, 16ª partida do match,
Moscou 1969), mas Kortchnoi tem um plano
diferente.
11 ...ii.b6?!
É melhor jogar 11 ...il..e7 12.'tld4, quando
12 ... 'tlxd4?! 13.'fWxd4 conduz a uma velha
tabrya, conhecida desde as partidas
Rubinstein-Salwe (Lodz 1908) e mal e sem sucesso contra ele. Assim, em 2000
Marshall-Rubinstein (Lodz 1908, Carlsbad
1911) e 12 ... h6 - até as mais modernas
posições do tipo 13.i.e3 'i!fd7 14.ii'a4 il.h3
com um jogo aceitável (Kortchnoi-Nunn,
Hastings 1975/76).
Viktor, o Terrível
12.b3!
Um lance muito forte e profundo de
Rubinstein, criando a ameaça de il..xf6 e 'tlxd5.
12 ... d4?!
A resposta 12 .. Jâe8 13.e3! (Rubinstein-
Lasker, Berlim 1918) conduz a uma ligeira,
porém duradoura vantagem para as brancas. O
lance da partida permite o enfraquecimento dos
peões pretos, tornando até mais difícil para elas
equilibrarem a posição.
13.'ile4 'i!fe7 (deixando a casa d8 para a
torre) 14.'ilh4!?
Outra novidade e em uma variante rara!
Antes disso havia sido jogado 14.'tlxf6+ ou
14.'tlfd2.
14 ... ~hS 15.il.xf6 gxf6 16.'i'::Vd2 'tle5
(16 ... fS? l 7.'fWh6! fxe4 18.ii.xe4 f5 19.êz:Jg6+)
17.'i!fh6 êz:Jg6 18.'i':fhS! e após uma dura
batalha, não sem erros, as brancas venceram a
partida. Ao final, Piket, a exemplo de muitos
outros jovens adversários de Kortchnoi, foi
incapaz de suportar a tensão!
Eu acho que depois da catástrofe deste match,
Piket adquiriu o "complexo de Kortchnoi":
desde então, Jeroen normalmente joga muito
em Wijk aan Zee, o holandês estava em boa
forma e derrotou Timman e Short, tendo
empatado comigo, com Kramnik e Anand, mas
na última rodada não conseguiu resistir ao
ataque de Kortchnoi que estava com escore de
191
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
menos um no torneio e buscava pelo menos
melhorar um pouquinho a sua situação.
Em Groningen, em fins de 1993, realizou-se
um torneio de classificação para o Campeonato
Mundial da PCA - Professional Chess
Association, que era mais forte até que um
Torneio Interzonal. Nas onze rodadas,
Kortchnoi conseguiu vencer somente uma
partida, mas que partida! Aliás, a vitória foi
outra vez contra um jovem Grande Mestre.
Partida 45
G. Serper - V. Kortchnoi
Groningen 1993 9ª rodada
Abertura Inglesa A29
1.c4 ~f6 2.~c3 e5 3.~f3 ~c6 4.g3 d5
5.cxd5 ~xd5 6.il.g2 ~b6 7.0-0 Ae7 8.!'ibl
g5!?
Ao invés do usual 8...0--0 9.b4! (um exemplo:
Kasparov-Timman, Wijk aan Zee 2001). Após
essa partida, a investida audaciosa 8 ... g5 se
tornou muito popular, embora, em minha visão,
com um jogo preciso das brancas ela nada de
bom ofereça às pretas. É uma outra coisa
quando você encontra um lance assim pela
primeira vez ...
"Em meu fervor para tentar uma experiência,
inspirei-me nesta extraordinária, mas quase
esquecida partida Smyslov-Kortchnoi,
Moscou 1960: 1.e4 c5 2.l2lf3 d6 3.d4 cxd4
4.l2::lxd4 l2::lf6 5.l2::lc3 g6 6.~e2 Ag7 7.l2lb3
192
l2::lc6 8.g4 b6 (8 ... d5!?) 9.f4 il.b7 10 ..t.f3 0--0
l 1.h4 a5 12.a4 l2::lb4 13.h5 d5 14.e5 l2::lxg4
15.l2::ld4 l2lh6 16.hxg6 fxg6 17.l2le6 'iWd7
18.l2::lxf8 .E:xf8 19.l2::lb5 d4 20.~xb7 'iWxb7
21.0--0 l2lf5 22.l2::lxd4 l2::lxd4 23.'iWxd4 'iWc8
24.'i!fe4 l2::lxc2 com um empate no 37º lance."
(Kortchnoi)
9.d3
Se 9.d4, então 9 .. .exd4 10.l2::lb5 .ilf5 11..1:!al
~e4, com igualdade (Claesen-M.Gurevich,
Antuérpia 1994). É mais interessante o gambito
9.b4!? g4 I0.l2::lel l2::lxb4 I 1.l2lc2 l2::lc6!?
12.il.xc6+! bxc6 13 .d4 com jogo agudo
(Gulko-Benjamim, Campeonato dos EUA
1997; Khalifman-Lutz, Nova Delhi 2000).
9... h5
Uma novidade. Seria inadequado 9 ... g4
10.l2::lel h5 l 1.l2lc2 h4 12.b4, como na partida
de referência Hodgson-Bareev (Belgrado 1993).
Entretanto, Kortchnoi não conhecia essa
partida e não considerou ser uma melhoria
9 ... h5. "Uma tentativa de valor foi o esquema
escolhido por Smyslov: 9... f5 e ...il.f6".
10.a3 h4 ll.b4 hxg3 12.hxg3 a6 13.b5
'tld4?! (uma surpresa, que confunde as
brancas) 14.bxa6?
Seria correto 14.l2::lxe5 'i!fd6 15.f4! (esse
lance não foi visto por Serper) 15 ... l2::lf5 (mas
não 15 ... 'iWcS 16.e3 ou 15 ...gxf4 16.l2::lxf7!
Wxf7 17 ..t.xf4 'iWc5 18.e3 l2::lf5 19.l2::le4 'iWxa3
20.g4) 16.l2::le4 'iWd4+ I 7J~t2 gxf4 e após
18 ..t.xf4 l2ld5 "A posição das brancas é
perfeitamente ativa. Ainda, é questionável o
quanto elas tenham compensação pelo peão."
(Kortchnoi)
Seria até mais forte 18.il.b2! 'iWa4 (18 ...'i!Hd8
19 ..E:xf4, vencendo) 19.'iWcl ! fxg3 20.lâf4 e de
forma inesperada a dama preta é capturada.
Dessa forma, o ataque corajoso de Kortchnoi
não é totalmente correto, mas seu adversário
seguiu de forma errada nas complicações.
14 .. J~xa6 15.l2::lxd4?
Novamente seria preferível 15.l2::lxe5 - agora
15 ... 'iWd6 16.f4! l2::lf5 seria ruim em vista de

17.lZ:lb5, e assim as brancas planejavam
l 5 ... ~xa3 "com chances aproximadamente
iguais".
15 ... exd4 16.~b5?!
Não percebendo a resposta das pretas. ''Aqui
nós atravessamos um fenômeno que costumo
chamar 'efeito jovem Tal', escreve Kortchnoi
sobre os lances 14-16 das brancas. ''Ao jogar
uma partida com toda a sua energia, emanando
uma espécie de influência hipnótica e um ar de
confiança absoluta, um jogador pode às vezes
convencer o seu adversário que seus truques
são perfeitos e absolutamente irrefutáveis! Eu
conheci Tal muito bem e ele estava ciente e de
fato se orgulhava de suas habilidades hipnóticas.
No meu caso, nunca tive qualquer idéia do que
acontece fora do tabuleiro - até Serper começar
a me mostrar variantes nas análises post-mortem."
(Kortchnoi)
16 ... ~a4! (com a ameaça de ... c7-c6) 17.e3
c6 18.~xd4 ~c3 19.'i!fc2 ~xbl 20.'i!f xbl
t!fd6 21.'i!fb3?
Seria mais resistente 21. e4! 'i!fh6 22.Ê'.el
(Kortchnoi).
21 ...'i!fh6 22.âel c5 23.~f3 ~h3 24J!i'xb7
i.xg2 25.'i!fc8+ it.d8 26.Wxg2 Ê'.e6! 27.~gl
(se 2H!i'fl, então 27 ... 'i!fh3+ 28.We2 ~xe3+!)
27 ...'i!fhl+ 28.Wfl B'.f6 e as pretas
conquistaram uma vitória espetacular com um
ataque direto ao rei. 0-1
Muitos outros jovens jogadores também
Viktor, o Terrível
encontraram dificuldades em enfrentar uma
abordagem tão criativa como a de Kortchnoi na
solução de problemas complexos e com o seu
natural estilo de jogo sinuoso. Quando eu o
encontrei no supertorneio realizado na cidade
suíça de Horgen (1994), diante de meus olhos,
com as pretas, ele deixou completamente
perplexo Boris Gelfand - um bom teórico e um
dos dez melhores jogadores do mundo na
época, que tinha jogado muitos matches de
Candidatos.
Partida 46
B. Gelfand - V. Kortchnoi
Horgen 1994 4ª rodada
Defesa Nimzo-Índia E59
1.d4 êz)f6 2.c4 e6 3.~c3 (com freqüência
muito maior Boris joga 3.êz)f3) 3 ... .ãb4 4.e3
c5 5.~d3 d5 6.~f3 ~ 7.~ êz)c6 8.a3
it.xc3 9.bxc3 dxc4 10.~xc4 'i!fc7 11.i.a2 e5
12.h3
12 ... b6!? (ao invés do tradicional 12 ... e4 -
uma novidade com a idéia de ... e5-e4 e
it.a6-d3; atualmente está mais na moda
12 ... ~f5) 13.'i!fc2?!
Após longa reflexão, Gelfand não escolheu a
melhor resposta. Levaria a um jogo
aproximadamente igual 13.Ê'.el e4 14.êz)d2
(Knaak-Kortchnoi, Baden-Baden 1995).
Mas tornou-se a continuação principal 13.d5
193
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
e4 (ou 13 ... !!d8 14.e4) 14.dxc6 (se
14.tzJh(d)2, então 14 ... tzJe5, com igualdade)
14 ... exf3 15.'%!fxf3 com alguma vantagem para
as brancas. Aqui costumava-se jogar 15 . .. 'i!:Ve5
ou 15 ... ~a6 (esses lances foram considerados
por Kortchnoi), mas então surgiu 15 ... ~e6!?
16.~ xe6 fxe6 17.c4 ~ac8 18.~b2 'i!:Vxc6
(Yakovich-Tiviakov, Elista 1997) ou
primeiramente 18 ... tzJe8 (Zifroni-Iordachescu,
Panormo 2001) e em ambos os casos as pretas
ainda tiveram que lutar pela igualdade.
Gelfand não queria simplificar a posição de
forma imediata, mas seu lance permitiu ao
adversário desenvolver o seu plano
brilhantemente. Naquela época eu tinha somente
uma impressão bastante vaga dessa variante e,
observando a partida em momentos variados,
fiquei muito surpreso quando em poucos lances o
bispo preto surgiu em d3. Alguns dias depois,
quando conversava com Boris, ele falava de forma
admirada da grande escala das idéias de
Kortchnoi...
13 ... e4 14.tzJg5 ~a6 15.ãdl (seria
inadequado para as brancas 15 .êi:ixe4 tzJxe4
16.'i!fxe4 ~xfl 17.~xfl :!âae8 etc.) 15 .. Jâ.ae8!
Mas não imediatamente 15 ... ~d3 - após
16Jâxd3 exd3 17.'i!:Vxd3 "as brancas têm
excelentes chances de tomar a iniciativa graças
ao seu forte peão central e com o despertar dos
seus dois bispos que descansam." (Kortchnoi)
16.f3 (16.d5?! tzJa5) 16 ... .1l.d3 17.'%!ff2
(agora é favorável às pretas l 7.!!xd3?! exd3
18.'%!fxd3 tzJa5: o lance f2-f3 debilita a defesa
do rei e tira a casa f3 do cavalo em g5) 17 ...h6
Também deve-se considerar 17 .. .tzJa5
(Kortchnoi) ou l 7 ... c4.
18.fxe4 (após 18.tzJxe4 ~xe4 19.fxe4 tzJxe4
20.'i!fc2! ~d6! ao restringir os bispos, as pretas
também teriam mantido alguma vantagem)
18 ... hxg5 19.lâxd3 tzJxe4 20.!i'f3 tzJa5 (com a
ameaça de ... c5--c4) 21.c4
194
21. .. b5! Gogo enérgico!) 22.cxb5 c4 23.!!dl
tzJb3 24 ..i.xb3 cxb3 25.gbl!
A única defesa contra o rápido peão passado:
é mau jogar tanto 25 ...'fi.d2 tzJxd2 26.!!xd2 'i!fc3
e .. .E:xe3 (Kortchnoi), como 25.a4 'i!Vc2!
25 ...'~Jc3 26.lâxbJ tzJxdl 27.!i'xdl
Ao entregar a qualidade por dois peões, as
brancas quase equilibraram, mas... caíram em
terrível apuro de tempo e após um erro grave
no lance 36 foram no entanto forçadas a
capitular. 0-1
Depois dessa derrota dolorida, Gelfand
também perdeu para mim e para Yusupov. Mas na
rodada seguinte, Kortchnoi venceu Lautier e
passou a liderar o torneio comigo com 4 pontos
em 5. Então, Viktor Lvovich reduziu o ritmo e
deixou Shirov e Yusupov ficarem meio ponto à
sua frente.
Já no final, jogando com pretas contra Peter
Leko, um menino de 15 anos, que acabava de
entrar na arena mundial, Kortchnoi lutou
desesperadamente pela vitória que o ajudaria a
ganhar o 2º lugar (desnecessário dizer que a
abertura era a Defesa Francesa). Durante todo
o torneio, Peter jogou com muito cuidado e
Kortchnoi, como me lembro, até especulou:
"Quero ver como Peter jogará aos 50 anos, se
joga isso aos 15!" Mas neste encontro, o jovem
húngaro teve que se envolver em uma batalha
aberta e, depois de passar por sérias
complicações e um perigoso apuro de tempo,
conseguiu o empate.

Na Virada do Século
No final de 1994, Kortchnoi representou a
equipe suíça na Olimpíada de Moscou. Era a
terceira viagem à pátria desde a deserção em
1976. No verão de 1990, o Presidente da URSS,
Mikhail Gorbatchov tinha restituído a cidadania
soviética a muitas personalidades culturais que a
tinham perdido, inclusive a Kortchnoi. Viktor
Kortchnoi ficou satisfeito com este ato de
justiça ao afirmar: "Vejo nesta atitude o
reconhecimento de minha contribuição ao
progresso do xadrez na URSS". No entanto, ele
recusou a oferta soviética, porque estava
aguardando a cidadania suíça. Só após receber a
cidadania suíça é que ele viajou, em 1992, à sua
cidade natal de Leningrado, naquela primavera
já rebatizada como São Petersburgo.
São Petersburgo, maio de 1992. Kortchnoi
com a Sra. Leeuverick na primeira viagem de
volta à pátria depois de 1976
Também na primavera de 1994 ele viajou a
Moscou, para o torneio "Estrelas do Kremlin"
da Associação Profissional de Xadrez, a PCA
(primeira etapa do Circuito de Partidas Rápidas
Viktor, o Terrível
Intel Grand Prix, sendo que posteriormente
ainda jogou em Nova York, Londres e Paris).
A partir de então, Kortchnoi teve a felicidade
de tomar parte em eventos enxadrísticos
realizados no território da ex-URSS. Talvez a
participação mais interessante de todas tenha
sido o torneio de Grandes Mestres em abril de
1997, em São Petersburgo, que reuniu
virtualmente a nata do xadrez de Leningrado
desde a metade do século 20, com exceção de
Spassky e Taimanov. Pela primeira vez se
encontraram no mesmo palco seis émigrés:
Kortchnoi, Sosonko, Tseitlin, Salov, Yuclasin e
Komarov, e também seis enxadristas nativos de
São Petersburgo: Khalifman, Svidler, Sakaev,
Epishin, Aseev e S. Ivanov.
Entre os favoritos do torneio estava o bi-
campeão russo, Peter Svidler, de 20 anos; ele
tinha vencido o campeonato nacional pela
terceira vez, dividiu a vitória comigo e com
Kramnik em Tilburg, em 1997 e se tornou um
dos maiores Grandes Mestres do mundo. Mas,
nessa ocasião, Peter jogou consideravelmente
abaixo de sua forma - e a causa disto . foi
evidentemente a seguinte partida maravilhosa,
antes da qual os dois adversários tinham feito 3
pontos em 6 e ainda mantinham esperanças de
um final com sucesso. A diferença de idade
deles é de 45 anos!
Partida 47
V. Kortchnoi - P. Svidler
São Petersburgo 7" rodada
Defesa Índia do Rei E94
1.d4 ê2:lf6 2.c4 g6 3.l2:lc3 !iJ..g7 4.e4 U-0
5.!iJ..e2 d6 6.lz::lf3 e5 7.0-0 ê2:lbd7
O lance mais em moda é 7 ... 0c6 (partidas 39
e 41), mas Svidler gostava de jogar à maneira
antiga, freqüentemente desequilibrando seus
adversários como resultado de posições
complicadas, mesmo que elas fossem
ligeiramente inferiores para as pretas.
"É louvável que um jogador jovem pretenda
195
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
conhecer o repertório dos velhos mestres - eles
tinham somente uma fração das informações
dos dias de hoje, mas não compreendem o jogo
de forma pior do que os modernos Grandes
Mestres." (Kortchnoi)
8.il.e3 W!/e7 (8 .. Jâe8 9.dS!) 9.'i!fc2 ~g4
(9 ... exd4!?) 10..tgS f6 11 ..1l.d2 c6 12.dS!
Na partida Schandorff-Svidler (forshavn
1997), jogada dois meses antes, as pretas con-
seguiram um bom jogo após 12.h3 ~h6
13.g_adl fS 14 ..tgS l!fe8 15.dxeS dxeS
16.exfS gxfS 17.E:fel e418.~h2 W!/g6 19 ..1l.f4
~f7 20.~fl ~cS e no final venceram.
12 ...fS
Se 12 ... cS?! as brancas planejavam 13.~bS
com a idéia de 13 ... ~b6 14.b4! a6 15.bxcS ou
13 ... ~b8 14.~el, mantendo a iniciativa.
13.~gS!
Uma novidade inesperada! A velha partida
Kortchnoi-Mestel (Beersheva 1984) seguiu
13.exfS!? gxf5 14.~g5 ~df6 15.f3 ~h6
l 6.~d3 ~d7 17 .:Sae 1 com pequena vantagem
para as brancas - após 17 ... Wh8 18.@hl
~fg8?! 19.f4! e4? 20.~cxe4! fxe4 21.~xe4
elas conquistaram excelente compensação pela
peça e venceram no 43° lance. E novamente
Kortchnoi fez um comentário notável:
"Línguas maliciosas dirão: Svidler foi azarado -
sua preparação para esse encontro foi baseada
em urna partida que eu havia jogado 13 anos
antes e ele encontrou uma melhoria nela. Mas
eu havia esquecido essa partida e joguei de
196
forma diferente e até, diriam, mais forte. Bem,
primeiramente teria sido bom para Emanuel
Lasker lembrar suas partidas, e durante aqueles
13 anos eu joguei duas vezes mais partidas do
que o Doutor (em Filosofia) Lasker jogou em
toda a sua carreira! Em segundo lugar, não seria
tedioso, especialmente considerando o número
de partidas que eu havia jogado, repetir a
mesma coisa tantas vezes? Mesmo em se con-
siderando o sucesso prático. Para mim, com o
meu caráter, isso teria sido bastante tedioso. E
mais um _ponto: não me considero ser um
jogador tão clássico que se esqueça de fazer
mudanças. E fiz mudanças com especial prazer,
melhorando o meu próprio jogo. Dessa forma,
salvo raras exceções, eu joguei a abertura de
cada partida como se fosse a primeira vez na
minha vida."
13 ... ~df6?!
De uma forma bastante estranha, esse já é
quase o erro decisivo! Também seria insufi-
ciente 13 ... ~cS?! 14.b4 ~xe4 (14 ... ~a6 15.a3
ou, de acordo com Khalifrnan, 15.dxc6 bxc6
16.b5, com a tomada da casa dS) 15.~gxe4
fxe4 16.dxc6 bxc6 17.W!/xe4 e "o peão c6 teria
sido perdido (Kortchnoi). Então os comentaris-
tas recomendaram o lance não muito bonito
13 ... l2:'lb6, que embora não iguale, teria pernúti-
do às pretas colocarem uma firme defesa.
14.f3 ~h6
15.cS! (sacrificando temporariamente um
peão, as brancas exploram a falta de harmonia

na disposição das peças inimigas) 15 ... cxd5
Como mostrado por Kortchnoi, as pretas
também têm grandes dificuldades após
15 ... dxc5 16.dxc6 bxc6 l 7.lLla4 ou 16 ... b6
17 /i)d5 etc.
16.li:lxd5!
Isso é muito mais forte do que 16.exd5
(Khuzman) l 6 ... dxc5 17 .ii.c4 'ít>h8 - aqui as
pretas ainda podem de alguma forma se segurar,
enquanto na partida as brancas de forma muito
rápida ergueram uma forte pressão (de fato,
para isso elas tiveram que demonstrar uma cria-
tividade notável).
16 ...li:lxd5 17.SLc4! (o surgimento decisivo
do bispo, atacando a diagonal) l 7 ... f4 (seria ina-
ceitável para as pretas 17 ... dxc5 18.ii.xd5+
'ít>h8 19.âacl fxe4 20.lz::lxe4) 18.it.xd5+ 'i&h8
19.h4!
Outro lance enérgico - o único que mantém
a chama da iniciativa!
19 ... dxc5 20.É!acl li:lg8 21.~xcS h6
22.~xe7
Até aqui foi tudo forçado. Agora as brancas
poderiam considerar 22.it.b4!? ~xc5+
(dificilmente seria apropriado 22 ... ~e8
23.~c7 hxg5 24.hxg5) 23 .ii.xcS hxg5
24.hxg5 âd8 25.'ít>fl lz::lf6 26.gxf6 ii.xf6
27.lâhl+ 'ít>g7 28Jâh2 g5! (28 ... ii.d7 29.lfohl
âh8 30.âxh8 âxh8 31.âxh8 e ~xb7,
vencendo) 29.g4! (29.!khl ~f5!) 29 ... 'i&g6
30.b4 com vantagem. Mas Kortchnoi
arquitetou uma combinação brilhante!
22 ...li:lxe7 23.li:lti+! 'ít>g8
Após esse lance, Svidler provavelmente
imaginou que o pior havia passado para as
pretas. Seria mais fraco 23 ... 'ít>h7 24.il.b4, por
exemplo:
1) 24 ... CZlxdS 25.il.xf8 li:le3 26.âc7 ii.xf8
27 ..B'.fcl 'ít>g8 28.li:lxeS il.e6 29.li:lxg6 ii.d6
30.ãxb7 (Kortchnoi) 30 .. .ãb8 3 l.CZle7+ <i&f8
32.âxb8+ ii.xb8 33.lz::lc6 ~d6 34.eS ii.c7
35.lz::ld4 ~c4 36.ãxc4! lz::lxc4 37.li:le6+ e
lz::lxc7 com uma vitória fácil;
2) 24 ... âe8 25.CZld6 lz::lxd5 26.li:lxe8 li:lxb4
Viktor, o Terrível
27.âc7 'ít>g8 28.âxg7+ 'ít>f8 29.lz::lc7 ou 25 .. .
âd8 26.Sl.xb7 .B'.b8 27.li:lxc8 li:lxc8 28.ii.a5
(Kortchnoi), também vencendo.
Mas aqui seguiu um ensurdecedor lance
tranqüilo.
24.ii.b3!!
Como Kortchnoi admitiu, não foi fácil para
ele não jogar 24.lz::lxh6+ Wh7 25.li:lg4. Mas
nesse caso, após 25 ... li:lxd5 (não de forma
imediata 25 .. Jâd8 devido a 26.ii.a5!) 26.exd5
âd8 27.âc7 Wg8! 28.ii.c3 âxd5 29.âel ii.xg4
30.fxg4 b5 as pretas conquistariam chances de
empate.
24 ...!!xti 25.Éic7 ii.f6
Não mudaria nada 25 ... ~f8 26.~b4 Wg7
27.!Ucl (Kortchnoi) ou 25 ... 'ít>f8 (Khuzman)
26.ii.b4 il.f6 27.ãdl ! as 28 ..B'.d8+ 'ít>g7
29.ii.a3(d6), vencendo.
26.ii.b4 'ít>g7 27J!fcl
Uma construção rara na prática de Grandes
Mestres. É difícil calcular uma coisa assim à
frente: suponha que as pretas conseguissem se
desembaraçar?! Então elas teriam a vantagem!
Mas não, a intuição e o cálculo de Kortchnoi
não o enganaram: não há qualquer salvação.
Embora por um longo tempo, mesmo a
máquina "que tudo vê" não tenha entendido
isso...
27 ... a5 28.ii.a3! (28.ii.d6? .B'.a6) 28... b5
29.ii.cS (não 29.ii.xf?? b4 30.ii.d5 ~b8)
29 ... ii.a6 30.ii.xti 'ít>xti 31.bS! 1-0
O golpe final. As pretas abandonaram,
197
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
evitando sofrimento desnecessário após
31...gxhS 32 ..t.xe7 Jl.xe7 33.~lc6 e ãxh6.
Uma combinação profunda e nuito longe de
óbvia - não foi sem motivo que Spassky,
convidado de honra do torneio, deu a essa
partida de Kortchnoi o prêmio de beleza. E
Svidler, depois de parar os relógios, apertou a
mão do adversário e disse: "É pena que eu não
esteja usando um chapéu para tirá-lo em sua
homenagem". De acordo com Alexander
Khalifman, Peter estava em estado de choque
após essa derrota e exclamou surpreso: "Vejam
o que acontece: em 1984 Kortchnoi jogava
muito bem, agora joga melhor ainda; como
jogará em 2010?"
São Petersburgo, 1997. "Em 1984 Kortchnoi
jogava muito bem, agora joga melhor ainda;
como jogará em 2010?" (Peter Svidler)
É verdade: com 66 anos, Viktor Kortchnoi
jogava com entusiasmo juvenil! Na 9ª rodada,
ele derrotou Sakaev em elegante estilo, usando
uma novidade da sua variante favorita desde
198
Baguio (l .d4ê2Jf6 2.c4 e6 3.l2Jc3 .t.b4 4.e3 c5
5.l2Je2 cxd4 6.exd4 d5 7.c5 l2Je4 8.g3 !?); na
1Oª rodada, ele superou Epishin com as pretas
em uma variante atual do Gambito da Dama
Aceito e, por fim, com 7 pontos em 11, dividiu
a vitória do torneio com Khalifman e Salov.
Kortchnoi disse em uma entrevista: "Devo
admitir que a torcida do auditório, que estava
sempre repleto, me inspirou e creio que pela
primeira vez na vida percebi a energia invisível
que vinha dos espectadores".
A disputa com Epishin teve uma continuação
peculiar: um mês depois, no Campeonato
Europeu por Equipes, Alexander Beliavsky
(atualmente o único tetracampeão da URSS
ainda vivo, além de Kortchnoi) foi derrotado da
mesma forma. Minha atenção foi atraída tanto
pelo plano da abertura como pelas observações
feitas pelo vencedor.
Partida 48
A. Beliavsky - V. Kortchnoi
Pula 1997
Gambito da Dama Aceito D20
1.d4 d5 2.c4 dxc4
"O Gambito da Dama Aceito: é possível qÚe
novamente por influência · dos Campeões
Mundiais?" - assim foi como Kortchnoi
comentou o lance do seu adversário Petersons
em 1965 (tendo em mente a influência de
Petrosian, que havia jogado com sucesso essa
abertura em seu match com Botvinnik) e em
1995 ele considerou necessário acrescentar:
"Campeões Mundiais sem dúvida influenciam a
moda no xadrez. Compare o jogo dos torneios
de hoje em dia com aqueles dos anos 1970 e
início dos 1980! É isso que Kasparov está
fazendo ... ".
3.e4 ê2Jf6
"Falando de forma geral, estava convencido
de que a melhor resposta era 3 ... e5: as pretas
atacam o centro, não esquecendo o
desenvolvimento das suas peças. Mas na prática

nem sempre acontece - especialmente na
abertura - que seja escolhido o lance mais forte,
mas com freqüência 'o que seja mais
interessante'. Mas aqui eu estava interessado em
uma posição aberta, que em breve foi atingida,
talvez devido à lembrança da Defesa Alekhine
que usei uma vez em minhas partidas."
(Kortchnoi)
4.e5 ê'ild5 5.i.xc4 fi'lb6 6.i.b3 (de acordo
com Kortchnoi, seria melhor 6.i.d3) 6 ... fi'lc6
7.fi'le2 i.f5 8.ê'ilbc3 e6 9.a3 'i!fd7 10.0--0
0-0-0!?
Isso é mais agudo do que 10 ... i.e7 (Granda-
Kortchnoi, Wijk aan Zee 1997).
11.il.e3 f6 (uma experiência anterior foi
11.. .h5 12.~cl f6 lU!dl ~f7 14.exf6 gxf6
Van Wely-Kortchnoi, Wijk aan Zee 2000)
12.exf6 gxf6
"Na época em que essa partida foi jogada, a
teoria dessa posição estava insuficientemente
desenvolvida. Entretanto, Beliavsky não
precisava de nenhuma recomendação teórica
em especial. Existem jogadores que fazem uso
da teoria e esses são a maioria esmagadora, e
aqueles que são os criadores da teoria. Beliavsky
está dentre os últimos. Sem falsa modéstia, eu
também me incluiria dentre os criadores da
teoria do xadrez. É natural que para os
pioneiros, que abrem novos caminhos, as coisas
nem sempre acabem de forma suave, para
alegria dos seguidores." (Kortchnoi)
13.fi'la4
Viktor, o Terrível
Uma novidade. Epishin "queimou os dedos"
após 13.Eiel filas 14.i.f4? e5! 15.~e3
(15.dxeS?! ~c6) 15 ... hS 16.Êi'.cl? (16.dxe5!)
16 ... ~bc4 17.it.xc4 l2::lxc4 18.~b3
(18.dxe5!?) 18 ... ~xe3 19.fxe3 ~e6! 20.~5
i.h6 2l.~xd7+ E!xd7 22.Wf2 h4 23.~e4
~d5! etc.
Também era conhecido o lance relativamente
melhor 13.~g3, a que as pretas costumavam
responder 13 ... i.g6, mas na partida Piket-
Kortchnoi (Batumi 1999), não desejando perder
um tempo, responderam 13 ... ~xd4 e após
14.i.xd4 ~xd4 15.~bS 'i!:Vxdl 16.ãfxdl ~c5
17.~xfS exf5 elas entraram em um final
levemente inferior.
13 ... h5 14.ãcl h4 15.filc5 il.xc5 16.Eixc5
<it>b8 com um jogo confortável para as pretas.
Na altura do 30º lance elas desequilibraram
completamente o adversário e em seguida
conquistaram uma vitória merecida. (0-1)
Em setembro de 1997, Kortchnoi disputou
um match de seis partidas com a estrela
ascendente do xadrez francês, Etienne Bacrot
de 14 anos e venceu por 4-2. Um ano antes,
Bacrot tinha massacrado Smyslov (5-1), mas
não se deve esquecer que Vasily Vasilievitch
Smyslov, sendo exatamente dez anos mais velho
que Kortchnoi, naquela ocasião já tinha passado
para o "grupo dos veteranos". Kortchnoi dava
a impressão de ter esquecido a idade e
continuava a combater com sucesso os
melhores Grandes Mestres de todas as
gerações, ignorando os Campeonatos Mundiais
de Seniores.
Na verdade, ele tinha prazer em participar de
matches de exibição e matches-torneios como os
de "Veteranos contra as mais fortes jogadoras"
ou "Veteranos contra jovens talentos". Assim,
em fevereiro de 1998, Kortchnoi, Spassky,
Gligoric e Taimanov disputaram um encontro
de duas rodadas com Bacrot, Ponomariov,
Nataf e Shaked. Nas suas oito partidas,
Kortchnoi obteve mais vitórias que qualquer
outro (quatro!!) e, como Spassky, teve um
escore de "mais duas" e os veteranos venceram
199
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
na contagem geral com 16½-15½.
Em março de 1999, Viktor Kortchnoi fez
outra viagem a São Petersburgo e finalmente
"acertou as contas com Spassky", derrotando-o
em um match de dez partidas rápidas, na qual a
contagem foi 6-4 (+4-2=4).
Em 1999 Kortchnoi finalmente "acertou as
contas" com Spassky, ao derrotá-lo no xadrez
rápido por 6-4
Na virada do século, Kortchnoi tomou parte
em três Campeonatos Mundiais da PIDE,
realizados com o sistema de nocaute (1997,
1999 e 2001): na segunda rodada em Gronigen,
ele perdeu em uma batalha feroz para Short, no
desempate; em Las Vegas, ele superou
Dolmatov em um desempate, mas depois
perdeu para Kramnik e, em Moscou, de novo
no desempate, sofreu uma derrota contra
Psakhis (aliás, bicampeão do Campeonato da
URSS). O nível do preparo de Kortchnoi é bem
ilustrado em uma partida do mini-match com
Segei Dolmatov que começou com 1.c4. Eis o
seu comentário:
''Ao me preparar para o match, notei que
Dolmatov se vale mais da Defesa Holandesa, em
duas variantes: a Stonewall e a Variante Leningrado
- posições que são bastante ativas, mas fora de
moda, e sem dúvida, não totalmente seguras. É
uma escolha um tanto estranha e na qual
desconfio haver uma abordagem psicológica. A
maior parte dos Grandes Mestres costuma
desprezar as aberturas duvidosas. Talvez
subconscientemente haja um desejo de castigar o
adversário irreverente o mais rápido possível:
'Como é que ele ousa empregar esta abertura
200
contra mim?'. Enquanto isto, esta abertura foi
analisada por todos os lados no seu laboratório
doméstico. O Grande Mestre vai ter uma
decepção ao jogar com as brancas - utilizando
métodos rotineiros, esta 'abertura duvidosa' não
será rompida! Este contexto psicológico era claro
para mim e por isto me preparei com toda
seriedade. Mesmo assim, não consegui encontrar
uma vantagem clara na variante Stonewall depois de
l .d4 e por este motivo preferi começar a partida
com l.c4, para ter a opção de utilizar o esquema
com o peão branco em d3".
A partida seguiu 1... f5 2)813 '-8f6 3.g3 d6!
(3 ... e6 4.~g2 ~e7 5.0-0 0-0 6.'-8c3 d5 7.cxd5
exd5 8.e3 ~h8 9.b3 '-8c6 10..tb2 ~e6 l l.'-8e2
~g8 12.d3 ~d7 13.a3 ~d6 14.~c2 ~ae8
15.b4... 1-0 Kasparov-Short, Partida Rápida,
Paris 1990) 4.d4!g6 5.~g2 ~g7 6.0-0 0-0
7.'-8c3 e as brancas atingiram a posição principal
da Variante Leningrado evitando a StonewalA
Ainda mais, após 7... c6 Kortchnoi lançou
uma surpresa sobre o adversário, que tinha sido
especialmente preparada para o match -
8.~3!? (mais tarde no desempate ele até
jogou 7.~3) 8... ~h8 9.1:!dl '-8a6 10.°i!fa3!
~e8 ll.b4 '-8c7 12.~b2 e5?
Nas atuais circunstâncias, essa resposta
padrão é um erro!
13.dxeS dxe5 14.'i!faS! '-8a6 15.bS b6
16.°ilfa3 '-8c517.bxc6 e418.'-8d4 °ilft719.ãacl
~e6 20.'-8cb5 a6 21.'-8d6 'i!fc7? (um erro
grosseiro em uma posição difícil) 22.'-8b7! 1-0.

Um exemplo modelo de uma vitória
psicológica na abertura.
E aqui está outro comentário característico da
sua introdução a essa partida: "É difícil encontrar
um lugar nesse mundo em que o xadrez desperte
menos interesse do que em Las Vegas - já há
bastante diversão por lá sem o xadrez! No entanto,
esse foi apontado como um grande evento
enxadrístico, o qual os influentes representantes
da FIDE até chamavam de Campeonato
Mundial." Kortchnoi típico!
É estarrecedor que mesmo na idade de 70 anos
ele não tenha reduzido a sua atividade enxadrística
e a geografia de suas aparições se mantivesse tão
ampla como antes: Olimpíadas de Istambul
(2000), Bled (2002), Calviá (2004) e Turim (2006)
(NE. - e Dresden (2008}), o tradicional Torneio de
Wijk aan Zee (2000) e Biel (2001 e 2003), o
Memorial Stein em Lvov (2000) e o Memorial
Najdorf em Buenos Aires (2001), onde aliás
derrotou Judith Polgar em uma Defesa Francesa...
Outro evento notável foi o match de Kortchnoi
com Ruslam Ponomariov, de 17 anos, o futuro
Campeão Mundial da FIDE (Donetsk, janeiro de
2001). A diferença entre os dois jogadores é de
quase 53 anos!
Esse match de oito partidas foi muito duro e
terminou com a contagem de 4-4 (+2-2=4). As
duas vitórias de Kortchnoi foram conquistadas
com as brancas em uma linha bem conhecida da
Abertura Inglesa: 1.c4 c5 2.Íclf3 Í<lf6 3.Íclc3 Íclc6
4.d4 cxd4 4.Íclxd4 e6 6.a3!? (6.Í<lbd.5 - partida
37) 6... ii.e7 7.e4 0-0 8.Í<lt3
Viktor, o Terrível
Na segunda partida, 8... d6 levou a um ''porco-
espinho" (aliás, não somente Kortchnoi, mas
também Karpov, gostam de jogar contra a
''porco-espinho": eles estão sempre procurando
novas idéias) 9.ii.e2 b6 10.0-0 ii.b7 11.ii.f4
Ei.c8 (11...Í<le5!?) 12.Ei.el a6 13.ii.fl Wic7
14.b4 EÍ.fd8 (seria mais ativo 14 .. .ttk5 15.Ícld2
@h8 e então ... Ei.g8 e ... g7-g5 ou ...Í<lfd7 e
... g7-g5, à la Fischer!) 15.Ei.cl~eS 16.~d2
Wib8 17.h3 ii.c6 18.Wie2 ~g6 19.ii.g3 Wib7
20.~b3 h6 21.Ei.bl! ii.f8 22.0 Ei.e8 23.ii.f2
Wib8 24.Wie3 ~d7 25.Ei.edl ii.b7? 26.~a4! e
ao final de 117 lances (!) as pretas abandonaram.
Na partida final, a oitava, Ponomariov jogou
de maneira bastante mais forte: 8 ... Wf c7!
9.ii.g5 b6 10.ii.d3 h6 U.ii.h4 ~h5 12.ii.xe7
~xe7 13.0-0 ii.a6 14.EÍ.cl ~f4 15.~bS!?
(tendo como objetivo a criação de uma posição
fora do padrão; algo similar ocorreu na minha
partida com Kramnik, Tilburg 1997) 15 ... ii.xbS
16.cxbS Wid6 17.ii.bl Wixdl 18.Ei.cxdl d5
19.eS g5 20.Ei.fel e após uma batalha protelada,
não sem erros, as brancas no entanto obtiveram
uma vitória no lance 66 e igualaram a contagem
do match.
Estas partidas são interessantes principal-
mente para ver como Kortchnoi superou
Ponomariov: ao criar posições indefinidas, cheias
de vida, o veterano cansou o jovem adversário
com um jogo demorado, com apuros de tempo e
provocando erros recíprocos até que, por fim, o
exausto Ruslan não suportou a tensão e cometeu
o último erro. Para Ponomariov, o match com
Kortchnoi se tornou aproximadamente o mesmo
que o notável aprendizado do match com
Reshevsky em 1961 para o jovem Fischer de 18
anos. O jovem Grande Mestre ucraniano
entendeu a lógica da disputa e conseguiu um
grande avanço. Graças principalmente a esta
valiosa experiência, um ano depois ele conseguiu
vencer o Campeonato Mundial da FIDE, em
Moscou, quando derrotou em mini-matches
Morozevitch, Bareev e Svidler, e na final,
Ivanchuk (4½-2½).
O seu rival também brilhou depois desse
201
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
match, quando venceu um fortíssimo torneio de
duas rodadas em Biel, no verão de 2001:
1.Kortchnoi - 6 em 10; 2.Svidler - 5½; 3.
Gelfand - 5; 4-6.Grischuk, Lautier e Pelletier -
4½. Nem é preciso dizer que este tinha sido um
presente valiosíssimo para o seu 70º aniversário,
que também foi comemorado nos torneios
rápidos, na primavera, em São Petersburgo e
Zurique. Em novembro de 2002 ele acrescentou
ainda a vitória compartilhada em primeiro lugar
em um torneio aberto em Curaçao, dedicado ao
40º aniversário do famoso e, para Kortchnoi,
igualmente dramático torneio dos Candidatos (cf.
o capítulo sobre o "Drama de Curaçao'').
L Q
1 A alternativa é 5 ... ~g4 6.~bd2 ~bd7 7.g3
Viktor Kortchnoi com o samovar, prêmio con-
cedido ao vencedor do tradicional torneio
relâmpago Vetcherki. Ao seu lado, Bronstein e
Tal
Aliás, Karpov gosta de contar o número dos
primeiros lugares que conquistou sozinho ou que
dividiu com outros em vários torneios, inclusive
competições por equipes, até mesmo as mais
insignificantes. Aqui, passando já de uma centena
de competições, ele se considera o recordista
absoluto (e o que não deixa de ser verdadeiro,
embora o quadro seja diferente se forem
contados apenas os supertorneios). No entanto,
se for feita uma contagem igualmente escru-
pulosa para Kortchnoi, quem sabe ele não fosse
capaz de superar o seu adversário histórico?
O mês de fevereiro de 2003 encontrou
Kortchnoi em Reikjavik, onde disputou com
sucesso um torneio de categoria 15: 1.Shirov - 7
em 9; 2.3.Kortchnoi e Macieja - 6; 4-5.McShane
e I. Sokolov - 5½; 6.Adams - 5, etc. Ao terminar
em posição tão alta, ele teve a ajuda de uma
202
vitória na última rodada sobre seu "velho
adversário", Bacrot, então com vinte anos de
idade. Esta partida foi incluída no livro com
aprovação do próprio Viktor Kortchnoi.
Partida 49
V. Kortchnoi - E. Bacrot
Rqkjavik 2003, 9ª rodada
Defesa Eslava D23
1.c4 ~f6 2.~t3 c6 3.d4 d5 4.ifc2 (evitando
as linhas principais da Defesa Eslava, onde seu
adversário se sentia muito confiante) 4 ... dxc4
5.ifxc4 ~f5
(Kortchnoi-Bareev, Enghien les Bains 2003).
6.g3
Outra tentativa, feita seis meses mais tarde,
não obteve sucesso em particular: 6.e3 ~bd7
7.~bd2!? (7.~d3 ~xd3 8.~xd3 e5, com
igualdade, Kortchnoi-Godena, Suíça 1999)
7 ... ifc7 8.~3 h6 9.~c4 e6 10.~d3 ~xd3
11.~xd3 c5 e as pretas conquistaram o empate
(Kortchnoi-Bacrot, Biel 2003).
6... e6 7.ii.g2 ~bd7 8.~c3
Três meses depois, contra Motylev no
Campeonato Russo por Equipes (Tolyatti
2003), Kortchnoi tentou 8.0--0 $_e7 9.~3
~b6 10.lilbd2 0-0 11.~c4, mas após
11...ifa6!? 12.ii.f4 ~b6 13.~feS (uma
novidade, que no entanto não muda a avaliação
da posição) 13 .. J~fd8 14.!!fdl ~e4 as pretas
mantiveram o equilibrio.
8... ii.e7 9.l!fb3
Um lance raro, que pelo menos cria alguns
problemas através do ataque ao peão b7. A
posição após 9.0-0 0-0 já havia ocorrido com
o jovem francês e ele estava preparado tanto
para o preguiçoso 10.e3 (Mednis-Bacrot, 4ª
partida do match, Cannes 1996) como para o
questionável 10.~h4 ~b6 1 l.~3 ~xd4
(Rogers-Bacrot, partida rápida, Batumi 2001).
9 ... ~b6 (9 ... ~b6 teria distraído o cavalo da
casa e5) 10.~d2 ii.g6
 Viktor, o Terrível
- --- - --
Ao encontrar um plano desconhecido, Bacrot ··disse um~~--~:~- -n o tabul~ir~-~psic
/ /

efetua um cauteloso lance profilático, embora o logicJPíénte difícil considerar variantes com a,
simples 10 ... 0-0 tivesse dado às pretas um jogo troc'a de um bispo por um cavalo e a ameaça de
normal: 11.e4 il.g6 12.lZk4 !Yxb3 13.axb3 . uma troca asmmé frsqQ~1!temente-sül5éstimada.
ii.b4 14J3 c5 ou 11.lz:Jc4 ifxb3 12.axb3 ii.b4 · Nas dadas circunstâncias, Kortchnoi explora as
13.ii.f4 a5 ½-½(Goldin-Dreev, Novosibirsk características concretas da posição - os
1989). "bura~os'! rg_deando o rei preto. É.importante
n.lz:Jc4 l!Vxb3 para as branc;~ Illant:erem-e', ;-~~ cavalo em c3,
Deve ser considerado l 1...'t!fa6!?. Ao trocar para ameaçarem êz:lb5.
as damas, as pretas andam no território do 15 ... exd5 (15 ... cxd5? 16.~f4) 16.iH4 (com
adversário: o jogo em finais complicados, com a ameaça de lz:Jxd5) 16...lz:JbS?!
perspectivas de iniciativa, há muito tempo tem Uma resposta passiva, com a esperança de
sido o forte de Kortchnoi! derrotar a primeira onda de ataque e escapar no
12.axb3 êz)d5 13.0--0 f5?! final da partida. Parece perigoso jogar 16 ... lz:Jb6
Bacrot faz um lance de forma geral, com base (16 ... ii.f7? 17. êz:lxc6 ! bxc6 18 Jâxa 7 ~ de8
posicional, apoiando o seu cavalo em d5 e 19.âfal, vencendo) 17.~fcl ii.d6?! 18.ii.xd6
planejando contrajogo contra os peões âxd6 19.lz:Jb5 lâe6 20.lz:Jxa7+ '5'b8
dobrados b. Mas Kortchnoi, como veremos 21.lZ:i5xc6+ bxc6 22.lz:Jxc6+ (Khuzman), com
agora, também considera os fatores dinâmicos três peões pela peça e uma continuação de
da posição, transformando sua debilidade em ataque, ou 17 ... âd7?! 18.êz:lb5 '5'd8 19.êz:lxa7
força! '5'e8 20.b4 com um peão a mais e uma
Seria claramente ruim para as pretas iniciativa poderosa (20 ... ii.xb4? 21.lz:J5xc6!).
13 ... lz:J7b6? 14.êz:lxd5 êz:lxd5 15.ii.xd5 cxd5 A única forma de defesa é 17 ... a6!. Agora
16.lz:Jb6! Entretanto, após 13 ... 0-0 (Khuzman) nada é conseguido através de l 8.b4 ii.xb4
elas teriam todas as chances de igualar, por 19.éz:lxc6 bxc6 20.lz:Ja2 ii.f8 21.lâxc6+ '5'b7
exemplo: 14.êz)aS lâtb8 15.e4 êz)b4 16.~f4 e5! 22.lâc7+ '5'b8 23.êz)c3 ii.d6 24.lâc6
17 .dxe5 ( 17 .ii.xe5 lz:Jxe5 18.dxe5 êz:ld3) (Khuzman) em vista de 24 ... lz:Jc8 !. É mais
17 .. .lz:lc5 18.êz:lc4 lz:Jxb3 19.lâadl lz:lc5 etc. forte primeiro 18.~e5! e se 18 ... !füg8, então
14.'cla5 0--0-0 agora 19.b4! ~xb4 20.lZ:ixc6! bxc6 21.êz:la2
Tudo isso parece muito lógico... ~a5 (não 21...ii.f8? 22.lâxc6+ '5'b7 23.lâc7+
'5'b8 24.lâxg7+ ou 21.. .ii.d2? 22.lâxc6+ '5'b7
23Jâc7+ '5'a8 24.êz)b4, com ameaças
arrasadoras) 22.13.xc6+ '5'd7 23.~d6+ '5'e7
24.lâxd8 ~xd8 25.b4, retomando a peça com
vantagem óbvia. Também não seria melhor
19 ... ii.g5 20.f4 ii.f6 21.b5 axb5 22.lz:Jxb5 !!d7
23.êz:la7+ '5'd8 24.êz:)5xc6+! bxc6 25.~xc6
lâb7 26.lâa6, vencendo.
Dessa forma, 18 ... lâhg8 ao invés de
18 ... ~g5!? 19.f4 (19.e3 êz:ld7) 19 ... ii.f6 e
embora após 20.b4 as brancas mantenham a
iniciativa, as pretas têm chances de resistir.
Uma surpresa desagradável. As brancas 17 .!ifcl ~d6 (o terrível bispo branco precisa
subitamente iniciam um ataque ao rei! Gufeld ser neutralizado com urgência) 18.~><d5 .i.xf4

203
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
19.luxf4 âxd4
20/z)c4! (Kortchnoi demonstra sua aguda
percepção tática) 20 ... i.ti
Bacrot decide entregar o peão. Não é possível
20 ...a6? em vista de 21.l2:le6! com as ameaças
de l2:lxd4 e l2:lb6 mate! Se 20 ... l2:la6, então
21.e3 gdd8 22.l2:lxg6 hxg6 23.l2:le5 (um cavalo
superpoderoso!) 23 .. J:!d2 24.l2:lxc6!
(Khuzman). Seria mantido equilibrio material
através de 20 ...bS!? 21.l2:le6 gd7 22.l2:le5 ãd6,
mas após 23.l2:lc5 ge8 24.f4 ge7 25.gdl as
brancas têm uma vantagem esmagadora.
21.:ãxa7
Assim, a posição se esclareceu: as brancas têm
um peão a mais com uma posição ativa e as pretas
enfrentam uma luta difícil pelo empate. De fato
elas não obtiveram sucesso em organizar O jogo
contra os peões enfraquecidos b2 e b3.
21. .. ~xc4 (se 21...:ãeS, então é bom 22.e3
gdd8 23.h4 Khuzman) 22.:ãxc4! (mais preciso
do que 22.bxc4 B'.d2) 22 ... B'.dl+ 23.©g2 i!e8
Somente as brancas se beneficiam com / / A lista da~.~-pãffiêlpaçàes--.QQ_ período de
23 ... g5 24.l2:le6 ge8 (24 ... h6 25.tZi'lf' 2003 a 2Ü0S permaneceu quase tã~nsiva
25.l2:lxg5 !!xe2 26.l2:lxh7 e !!f4, vencendo. /
24.l:'Ic2 (24.h4!? Khuzman) 24 ...'i!?c7?! /
Seria mais resistente 24 ... l2:la6, forçando de
imediato a troca das torres - 25.gas+ ~; d7
26.gxeS 'i!?xe8 e após 27.l2:ld3 surge a Mestre em toda a história do xadrez. A
versão levemente mais favorável para as pret
do que a alcançada na partida no lance 30.
25.B'.a5 g6 26.l2)d5+! ©c8 (ou 26 ... ©d6 · ·or, quando ele jogou com Bacrot (62 a s).
27.l2:lc3! gd4 28.:ãa4 l:!xa4 29.bxa4) 27.l2)e3 / É fe ~nal também a data de na ·mento
204
l:'id4 28.âa4 ãed8 29.gxd4 .E!xd4 30.l2)c4
!tdl?
Evitar o final de cavalo conclusivamente
arruína as chances das pretas. Embora, no caso
de 30 ... l2:la6 31.:âd2 ãxd2 32.l2:lxd2 l2:lb4
33.<i!?f3 Wd7 34.Wf4 (Khuzman) as brancas
também venceriam de forma gradual.
31.!!d2 gbl 32.b4 (resolvendo o problema
dos peões dobrados) 32 ... b5
Após 32 ... Wc7 33.b5 cxb5 34.l2:la3 ou
32 ... l2)a6 33.b5 cxb5 34.l2:ld6+ Wc7 35.l2)xb5+
Wc6 36.l2:lc3+ (Khuzman) desapareceriam os
últimos sinais de contrajogo das pretas.
33.l2)e5
Fora o peão a mais, as brancas também têm o
domínio total. A queda dos peões pretos da ala
do rei e a marcha de coroamento do peão h das
brancas são praticamente inevitáveis.
33 ..'i!?c7 34.h4 Wb6 (ou 34 ... l2:la6 35.!!d7+
éb6 36.l2:ld3) 35.éf.3 l2)a6 36.l2)d7+ éc7
37.l2)f8 l2)xb4 38.l2)xh7 l2)d5 39.l2)f8 l2)b6
40.l2)xg6 l2)c4 41..E!c2 l2)xb2 42.l2)e5 b4
43.ãxc6+ Wb7 44.h5 1-0
Em maio de 2003, realizou-se um interessante
match pela internet (sinal dos tempos!) entre
equipes de São Petersburgo (Khalifman,
Svidler, Kortchnoi e Sakaev) e do NAO de
Paris, o principal clube da Europa (Kramnik,
Radjabov, Fressinet e Karjakin). Três partidas
terminaram com empate e Kortchnoi venceu
Fressinet, conquistando , a vitória para sua
cij~~ / .1
como antes. Kortchnoi saudou o Ano No~e
2005 em um torneio em Drammen, nà
Noruega, onde derrotou Magnus Carlsen, de 14
anos, que era na ocasião o mais jovem Grande
diferença de idade entre eles é de 59 anos!
"~.~ , ente. com Smyslov ocorreu uma diferenç
-------------
 \
dos competidores com quem Kortchnoi A chave para compreender o fenômeno'
disputou partidas famosas: de Lovenfish (1889) Kortchnoi pode estar nos comentários das suas
a Carlsen (1990) a diferença é de 101 anos. Só partidas. Que avaliações implacáveis, com
Smyslov teve uma diferença maior (102 anos): relação a si mesmo, firmes e objetivas! É esta
de Duz-Khotimirsky (1881) a Bacrot (1983). visão ultracrítica diante dos problemas do;
Mas "na idade de Smyslov", Kortchnoi xadrez, que ele desenvolveu desde a juventudei
conquista atualmente resultados mais que lhe dá o poder de manter a clareza/de
importantes e obviamente não pretende parar. pensamento e de continuar progredindp:/ Em
Assim, na homenagem a Geller (Odessa, julho combinação com a saúde robusta, e,§.U<"é a base
dá longevidade enxadrística. __.,.., /-
de 2005), ele disputou uma partida rápida com
o menino ucraniano Stanislav Bogdanovitch, de /
12 anos...
Qual é o segredo da longevidade enxadrística
sem igual de Kortchnoi? Enquanto o
prolongamento da carreira de Smyslov foi
ajudado pelo seu senso inato de harmonia e a
sua incrível intuição, já na era soviética
Kortchnoi tinha qualidades atribuídas a ele que
supostamente eram típicas de Botvinnik. Foi
dito que para obter sucesso você precisa sem
falhar desenvolver em si mesmo uma
hostilidade em relação ao seu adversário e
entrar dentro de um· conflito no qual o
desequilibrará e aumentará o seu próprio
espírito de luta. Entretanto, a vida tem
mostrado que isso está longe da verdade. Não
se pode negar que Kortchnoi tem um caráter
difícil (mas... quem não tem?). Todos conhecem
os seus comentários cáusticos e mordazes, que
costumam acertar o alvo com precisão. É claro,
ao longo da passagem de meio século, muitas
vezes ele experimentou forte hostilidade, mas Gosta;ift__ de concl,:rti este· c·apítul9 sobre
isto dificilmente poderá ser considerado como Vikto/' Kortchnoi com algumas pà1ayras
o leitmotif de uma carreira tão longa e brilhante. ma;;ávilhosas do seu antigo segundo\ e
Parece-me que, além do enorme talento, é cor1patriota, o Grande Mestre Genna Sosonkói
também uma questão do amor desprendido de '"Uma vez, depois que ele descobriu um:).
Kortchnoi pelo xadrez e do seu supremo nova idéia após uma análise demorada, eu ~
profissionalismo. Ele passou toda a vida a~onsl".lhei .ª não utiliz~-la em um torneio q~e
reaprendendo e reelaborando seu estilo. me parecia menos importante, mas ,tjue
Spassky tem razão ao considerar Kortchnoi um guardasse aquela idéia para um evento de aior
"trabalhador extremamente duro" e diz com impo~tância. Ele então me respondeu: ara um
um sorriso: "Quando ele vivia na URSS, eu o outro· ~orneio vou imaginar outr coisa nova;
chamava de herói do trabalho socialista, mas não armaZeJl:_o novidades."'/
quando se mudou para o Ocidente, dei-lhe o "Via de r~grã,-as~obertas de abertura
título de herói do trabalho capitalista!". feitas por Kortchnoi não são simplesmente um

205
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

lance ou uma manobra reforçando uma variante

ou refutando uma avaliação geralmente aceita.
Na maioria das vezes, trata-se de todo um
complexo de idéias, uma nova concepção em
uma defesa ou sistema particular. Embora ele
não tenha dado seu nome a nenhuma abertura,
as invenções dele, durante décadas, deram um
forte impulso ao progresso de muitas aberturas.
A sua interpretação de posições da Defesa
Francesa, quando a presença de um peão
isolado é mais do que compensada por um bom
jogo das peças, da Variante Tartakower no
Gambito da Dama, da Variante Aberta da
Defesa Ruy Lopez, a qual tinha sido
considerada não totalmente satisfatória depois
do match-torneio de 1948 e que foi revivida por
Kortchnoi no mais elevado nível, inclusive dos
matches para o Campeonato Mundial. Ele
imaginou e introduziu um salto paradoxal de
cavalo no 4° lance, o qual iniciou todo um ramo
novo da Abertura Inglesa (l.c4 e5 2.'~Jc3 l2:lf6
3.l2:lf3 l2:lc6 4.g3 l2:ld4!?). A variante da Defesa
Grünfeld, hoje considerada fundamental nesta
abertura e que causou inúmeros problemas para
as pretas (1.d4 l2:\f6 2 c4 g6 3.l2:lc3 d5 4.cxd5
l2:\xd5 5.e4 l2:\xc3 6.bxc3 i.g7 7.l2:lf3) foi
empregada com propriedade pela primeira vez
por Kortchnoi. Muitas variantes da Defesa
Índia do Rei - uma abertura que ele considerava
dificílima para as pretas e, nas profundezas da
alma, até duvidosa - são inconcebíveis na teoria
moderna sem o nome de Kortchnoi".

206
 CAPÍTULO DOIS
ANATOLY, O DÉCIMO-SEGUNDO
O Talento Providencial
Na virada dos anos 1960-1970, quando
cresceu na URSS a preocupação com a falta de
novas estrelas no xadrez mundial, finalmente
surgiu em cena um admirável jovem talento,
Anatoly Evgenyevitch Karpov, nascido em 23
de maio de 1951. O estilo profundo, insinuante,
a percepção posicional sutil e a extraordinária
tenacidade, praticidade e flexibilidade
rapidamente o elevaram ao topo do Olimpo do
xadrez. Fisher foi o primeiro a perceber
claramente todas estas qualidades de Karpov e
em 1975 imaginou que um adversário tão
poderoso seria muito duro para ele.
O xadrez de Karpov se distinguiu sempre
pelo grau elevadíssimo de eficiência. Em
comparação com Kortchnoi e comigo, ele não
era um pesquisador de aberturas e não
procurava aperfeiçoar o xadrez; a sua grande
habilidade estava em selecionar e absorver
novas idéias para utilizá-las brilhantemente na
prática. Quantos pontos, especialmente com as
brancas, ele acumulou literalmente do nada! A
aptidão para pegar no ar as tendências do
progresso do xadrez, que era uma característica
de Lasker em tempos passados, serviu para que
ele encontrasse o seu lugar nas circunstâncias de
mudanças do final do século XX.
A carreira enxadrística gloriosa do 12º
Campeão Mundial pode ser dividida
arbitrariamente em quatro períodos, que são
como as quatro fases de seu talento criativo, do
ponto de vista da sua contribuição para o
xadrez.
1. De 1968 a 197 5. Época de rápido pro-
gresso criativo e da formação do estilo, quando
lançou as bases de seus conhecimentos
clássicos do xadrez. Neste período de-
sempenhou um papel muito importante o
treinador permanente de Karpov, o Grande
Mestre Semion Furman. O auge deste período
de importância fundamental foi o match
semifinal de Candidatos com Spassky, em 1974.
2. De 1975 a 1985. Esta foi a década em que
207
Gany Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Karpov manteve o título de Campeão. Houve
um declínio da criatividade: pelo visto, ele foi
"abalado" pelo match não disputado com
Fischer. Inicialmente ele colheu os louros do
seu grande trabalho anterior, o que na verdade
bastou para desmentir os boatos que corriam
sobre ele, apelidando-o de "campeão de papel".
O dificílimo match com Kortchnoi (1978)
forçou-o a buscar reservas de reforço de seu
estilo de jogo, e, no início dos anos 1980, ele
passou para um novo plano, chegando ao ponto
mais alto desta fase em nosso primeiro match
(1984-1985). A experiência mais difícil da sua
carreira foi não vencer este match, depois de
liderar por 5-0 e perder nosso segundo match
(1985).
3. De 1986 a 1990. Esta é a época do
"segundo fôlego" para Karpov. Demonstrando
uma força de vontade fenomenal, ele acumulou
forças para o match-revanche (1986), e concluiu
uma revisão decisiva de seu repertório de
aberturas, abandonando o lance favorito l.e4
etc. Acho que este foi nosso melhor match e um
dos melhores em toda a história do xadrez.
Após perdê-lo, no entanto, Karpov ressurgiu:
venceu brilhantemente o match superfinal de
Candidatos contra Andrey Sokolov (o ponto
mais alto deste período!) e quase vencendo
nosso quarto match (1987). Mesmo a derrota da
24ª e decisiva partida não o desanimou: ele
dividiu comigo a vitória no Campeonato da
URSS (1988), teve um desempenho excelente
nos supertorneios da Copa do Mundo (1988-
1989), venceu o ciclo seguinte de Candidatos e
disputou com grande tenacidade o nosso quinto
match (1990).
4. De 1991 a 1998. Perdidas as esperanças de
reconquistar a coroa, Karpov demonstrou
abatimento e desilusão: perdeu o difícil match de
Candidatos para Anand (1991 ), e também foi
derrotado por Short (1992). Mas depois de
minha saída da FIDE, Karpov iniciou um novo
surgimento. Venceu o match contra Timman,
tornando-se Campeão Mundial segundo a
versão da FIDE (1993). Em Linares (1994),
208
disputou o "torneio de sua vida" e derrotou
com segurança Gata Kamsky em 1996 - o auge
deste período! Em 1998, disputou com Anand
outro match que foi o seu "canto de cisne" dos
muitos anos de luta pelo Campeonato Mundial.
Tomei os quatro períodos descritos acima
como esquema para a análise da carreira de
Anatoly Karpov, o último de meus
predecessores.
"Um Menino Sério"
Filho do superintendente de uma fábrica da
cidadezinha de Zlatoust, nos Urais, perto de
Tchelyabinsk, o menino To!Ja era pobre como
milhares de crianças nascidas e criadas em
famílias de operários daqueles anos de pós-
guerra. Aprendeu a jogar xadrez aos quatro
anos com o pai. Ao contrário dos pais de
Capablanca e Reshevsky, seu pai não perdeu as
primeiras partidas para o filho, mas venceu
todas sem exceção (esta era, afinal, a escola
soviética de xadrez!). Karpov lembra, em seu
livro O Xadrez é Minha Vida", escrito em co-
autoria com Aleksander Roshal: "Eu estava no
ponto de me debulhar em lágrimas e só não
chorava porque meu pai dizia: 'Alguém tem que
vencer; se você começar a chorar, não jogarei
mais com você'. Foi aí, talvez, que
subconscientemente e de forma intuitiva
comecei a aprender uma importante lição de
xadrez: a ameaça é pior do que a execução... "
Com apenas sete anos de idade, ele se
inscreveu na seção de xadrez do clube de
esportes da metalúrgica e já no primeiro torneio
completou a norma de 3ª categoria. Após dois
anos de batalhas entusiasmadas, alcançou a 1ª
categoria. Naquele tempo, o jovem Tal era o
ídolo dos mais jovens, em uma época em que o
xadrez estava conquistando grande popu-
laridade. Os primeiros livros que To!Ja leu sobre
xadrez foram os de Vassily Panov, Curso de
Aberturas e Capablanca. Ao estudar as partidas
seletas do grande enxadrista cubano, Karpov
aperfeiçoou notavelmente o seu potencial e
conhecimentos de xadrez e teve também a

felicidade de ser discípulo do conhecido
treinador de Tchelyabinsk, Leonid Gratvol, que
também preparou os futuros Grandes Mestres
Timoschenko, Sveshnikov e Pantchenko. Com
apenas dez anos de idade, To!Ja já era campeão
"adulto" da cidade e participante no
campeonato adulto da região. Aos doze anos,
como o mais jovem candidato a mestre do país,
viajou a Moscou para uma sessão na recém-
fundada Escola Botvinnik.
"A sensação do Campeonato Juvenil foi o
resultado de Tolya Karpov, de 10 anos de
idade, vindo de Zlatoust, nos Urais: 6 pontos
em 8" - Revista "Sovetsky Saiuz", 1961
Inicialmente, o jogo do menino franzino,
vindo dos Urais, não causou grande impressão
em Botvinnik. Karpov afirma: ''As observações
de Botvinnik sobre meu manejo inepto das
aberturas produziram seu efeito, levando-me a
estudar livros sobre xadrez". O autor favorito
na época era Yuri Balashov, futuro Grande
Anatoly, o Décimo-Segundo
Mestre, amigo e auxiliar de Karpov: Quando
Botvinnik passou pela cidadezinha de Zlatoust,
ficou conhecendo os pais de To!Ja e pronunciou
seu veredicto: "Uma boa familia e um menino
sério". E assim, na segunda metade dos anos
60, Botvinnik prenunciou um grande futuro
para Karpov.
Logo a familia Karpov se mudou para Tula,
onde o pai foi nomeado engenheiro-chefe de
uma fábrica. Naqueles anos, competições pela
norma de mestre eram muito mais raras do que
nos dias de hoje. To(ya aproveitou a primeira
oportunidade que se lhe ofereceu em um
torneio de "mestres contra candidatos", em
Leningrado (verão de 1966), tendo como
segundo o mestre Anatoly Matsukevitch, de
Tula. Superando a norma por dois pontos
(+5=10), alcançou vitórias memoráveis contra
o experiente Tchistyakov e Ravinsky. Ali
também ficou conhecendo Igor Zaitsev,
excelente analista, com quem posteriormente
jogou sete matches pelo Campeonato Mundial (e
com quem, naquele verão disputou um mini
match recreativo (co,iforme volume 4, partida 48,
comentário ao 6° lance de brancas).
O primeiro torneio em que participou no
exterior foi o de Trinec, na Tchecoslováquia
(1966-1967): 1. Karpov - 11 em 13 (+9=4); 2-
3. Kupka e Kupreitchik - 9½; 4. Smejkal - 9,
etc. Neste torneio, o mestre de 15 anos
derrotou seus principais rivais, o jovem Smejkal
de 20 anos, e Viktor Kupreitchik, de 17 anos.
Karpov também festejou o ano novo seguinte
no exterior, em Groningen, na Holanda, onde
foi disputada a Copa Niemeijer, que foi,
efetivamente, o Campeonato Europeu de
Juniores. É interessante que o primeiro lance
de Karpov tenha sido feito pelo ilustre
hóspede, o Dr. Euwe: a pedido do jovem, o
ex-Campeão do Mundo jogou e2-e4. A
disputa teve duas fases: a semifinal (sete rodadas
segundo o sistema suíço) e o torneio final de
oito (todos jogando com todos). To(ya jogou a
fase semifinal com pragmatismo invejável:
depois de duas vitórias no início, consegwu
209
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
cinco empates e ao dividir os segundo a sexto
lugares, se classificou para a final (ao vencer um
torneio blitz, disputado no único dia livre com
o resultado 13½ em 16). Aqui, seus adversários
foram Jan Timman e Andras Adorjan. Karpov
começou com 2½ em 3, mas Timman
conquistou meio ponto a mais. A vitória contra
o adversário holandês na 4ª rodada decidiu o
resultado do torneio. Depois, o jogador
soviético venceu mais uma partida e conquistou
o primeiro lugar com 5½ em 7 (+4=3).
O estilo profundo e insinuante, o faro posi-
cional apurado, a tenacidade fora do comum e
o espírito prático e flexível logo levaram
Anatoly Karpov ao topo do xadrez
Botvinnik observou com satisfação a
facilidade desta vitória e fez uma descrição
precisa de Karpov: "Competidor inteligente,
que sempre sabe jogar para ganhar e quando
deve buscar um rápido empate. Nos círculos
enxadrísticos do Ocidente, chegou a ser
criticado pela série de empates curtos no
210
torneio de Groningen. Por si mesma, esta
opção não era mesmo das melhores, mas é de
admirar e muito que um mestre de 16 anos
fosse capaz de adotar táticas competitivas,
características de um Grande Mestre maduro".
No verão de 1968, o jovem Anatoly concluiu
os estudos secundários e se matriculou na
Faculdade de Mecânica e Matemática da
Universidade de Moscou. Ali venceu com
facilidade o Campeonato da Universidade com
10 em 13 (+7=6). No outono, participou de
uma sessão de treinamento da equipe das
Forças Armadas, antes do Campeonato por
Equipes da URSS, onde conheceu o treinador
dos enxadristas do exército, o Grande Mestre
de Leningrado Semion Furman. Foi um
encontro verdadeiramente histórico.
Mais tarde Furman escreveu: "Karpov foi
inscrito na equipe para jogar no primeiro
tabuleiro junior. Ele era então um menino
franzino e pálido e de aparência um tanto
fleugmática. Parecia que tinha alguma
dificuldade para mover as peças no tabuleiro.
Seria ele capaz de participar de grandes
competições?". Roshal cita um chiste de
Gufeld, que também estava encontrando To!Ja
pela primeira vez: "Este menino nunca vai ser
um Grande Mestre, pois é muito leve". Mas esta
predição não incomodou Furman: "Na
verdade, a natureza não dotou Karpov de um
físico avantajado, mas lhe conferiu um raro
talento enxadrístico e grande força de espírito,
além de diligência e modéstia. Quando comecei
a trabalhar com Karpov, percebi imediatamente
que ele era um jogador capaz e com um grande
futuro".
Esta avaliação já tinha sido demonstrada no
Campeonato por Equipes da URSS, em Riga
(dezembro de 1968), onde o jovem mestre teve
um resultado de 10 em 11 (+9=2). Daí por
diante, ele foi melhorando sempre todos os
pontos de seu jogo, especialmente as aberturas.
Furman, grande especialista em teoria, tinha o
seguinte lema: "Os adversários devem ser
cercados de surpresas, como a raposa na caça é

cercada por bandeirolas vermelhas". Tanto ele
como Karpov cercaram os adversários. Para ter
mais comodidade no trabalho, no ano seguinte,
Karpov se mudou para Leningrado, e transferiu
a matrícula para a Faculdade de Economia da
Universidade de Leningrado. Foi então que o
xadrez se tornou a ocupação prioritária da sua
vida.
O encontro com o Grande Mestre
Semion Furman foi verdadeiramente
providencial para Karpov
Logo ele venceu um torneio classificatório de
seis rodadas entre os três melhores juniores do
país (Leningrado, primavera de 1969), e depois,
também, o Campeonato Mundial da juventude
(Estocolmo, 1969). As únicas dificuldades que
teve foram na semifinal (quando quase perdeu
para Hug e Torre), mas na final mostrou-se
inexpugnável. Particularmente importante foi a
disputa da terceira rodada com o forte sueco
Ulf Andersson, que foi literalmente sufocado
por To/ya com a preferida abertura espanhola. O
resualtado final foi: 1.Karpov - 10 em 11
(+9=2); 2-3.Adorjan e Urzika - 7; 4. Kaplan -
6, ½; 5.Andersson - 6, etc. Foi a primeira vitória
- brilhante vitória - de um jogador soviético
em Campeonatos Mundiais de juniores desde o
sucesso de Spassky em 1955.
Apesar de ter conseguido um alto padrão de
jogo até os 18 anos, tornando-se um Mestre
Internacional, ele ainda não havia disputado
uma umca partida séria com um Grande
Mestre: era um 'paradoxo daqueles tempos,
Anatoly, o Décimo-Segundo
quando os torneios com Grandes Mestres eram
uma raridade. Com um ritmo de vida diferente,
ele já pretendia disputar um lugar no "Match do
Século" (em Belgrado, na primavera de 1970).
No início dos anos 1970, Anatoly procurou
recuperar o tempo perdido. O primeiro passo
foi uma vitória inequívoca no Campeonato da
Federação Russa (Kuybyshev, maio-junho de
1970) com status de semifinal de Campeonato
Nacional: 1.Karpov - 12½ em 17 (+8=9); 2.
Krogius - 11; 3-4.Antoshin e Dementiev -
1O,½; atrás deles vieram A. Zaitsev, Rashkovsky,
Tseshkovsky, etc.
Depois disso, ele viajou com Leonid Stein até
a distante Venezuela, onde finalmente competiu
em um torneio internacional de grande
prestígio (Caracas, verão de 1970). No início,
Karpov liderou sozinho com 6 em 7. Depois,
como ele mesmo admite, estava ansioso por
esperanças mais ambiciosas de "Grande
Mestre"... quando, subitamente foi derrotado
por lvkov (depois de recusar o empate
oferecido); quase perdeu para Panno, desistindo
também para Kavalek. "Eis aí, a perigosa
sensação da proximidade da meta!". No
entanto, depois de se recompor, conseguiu a
norma de Grande Mestre: 1.Kavalek - 13 em
17; 2-3.Ivkov e Stein- 12; 4-6.Benko, Karpov e
Panno -11 ½ etc.
Ao estrear no 38º Campeonato da URSS
(Riga, novembro-dezembro de 1970) ele
rapidamente se classificou entre os principais
jogadores do país: 1.Kortchnoi - 16 em 21; 2.
Tukmakov -14½; 3.Stein - 14; 4.Balashov -
12½; 5-7.Gipslis, Karpov e Savon - 12, etc.
Entretanto se esperava mais dele. Ele foi
criticado pelo excesso de cautela ao jogar,
totalizando 14 empates! Tal julga que "o jovem
ainda respeitava muito seus adversários mais
velhos e não tinha conseguido ainda extirpar a
timidez que sentia diante deles". Furman
responde pelo seu pupilo: "Na posição dele
agora é difícil experimentar. Ele é obrigado a
mostrar um bom resultado para garantir
sucesso esportivo. Por isto ele precisa reprimir
211
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
as emoções, os impulsos criativos e jogar de
uma forma um pouco mais seca".
"Quando iniciei meu trabalho com Karpov, logo
percebi que ele era um jogador habilidoso com
perspectivas promissoras" (Furman)
No ano seguinte, junto com Furman, Karpov
continuou a ascensão constante em busca da
perfeição no xadrez. D epois de vencer uma
semifinal do Campeonato Nacional (+9=8),
seguiu-se uma merecida atuação no fortíssimo
39º Campeonato da URSS (Leningrado,
setembro-outubro de 1971 ): 1.Savon - 15 em
21; 2-3.Smyslov e Tal - 13½; 4. Karpov - 13
(+7-2=12). No entanto, ele não ficou contente
com sua atuação e se queixou de falta de sorte:
erros nas partidas com Vaganian e Smyslov
(volume 2, partida 117), uma esmagadora
vantagem desperdiçada contra Savon (no apuro
de tempo dele) etc. Diz Karpov: "Ninguém me
deu um 'presente' de pelo menos meio ponto
nesse torneio, em troca de tantos que dei".
Apesar do cansaço (tinha passado todo o
segundo semestre jogando), Anatoly não
perdeu a oportunidade de se testar em um raro
supertorneio de 18 Grandes Mestres, o Torneio
Memorial Alehhine (Moscou, novembro-
dezembro de 1971).
"No sorteio do emparceiramento, Anatoly
não conseguia desatarrachar a cabeça da
matriochka, a bonequinha em que seu número no
torneio estava escondido. Alguém bem-
humorado na platéia exclamou: 'Muito
fraquinho ... Como ele agüentará o torneio até o
final?'. Nos primeiros dias houve muitos
empates curtos e corriqueiros, mas no final a
disputa se tornou mais dura. Nosso jovem
212
'racionalista', como às vezes era chamado, se viu
obrigado a mudar de tática. Naquela altura já
tinha nove empates e só uma vitória contra o
húngaro Lengyel" (Roshal).
Na 8ª rodada, ele empatou com o Campeão
Mundial Spassky, na 9ª com Tal e na 1Oª, com
Petrosian. Ele lembra: ''Aqui então decidi: é
tudo ou nada! Não era possível continuar
perdendo tempo, porque os adversários com
quem iria jogar eram muito difíceis. Na rodada
sucessiva, jogava afinal com as brancas. E a
partida em que derrotei Vlastimil Hort, que foi
um sucesso no sentido competitivo e criativo,
veio a ser o ponto da virada para mim no
torneio".
Hort naquela época era um dos mais fortes
enxadristas do mundo (no "match do século" ele
havia vencido Polugaevsky no tabuleiro 4) e
estava à frente de Karpov na lista de
classificação: quando se encontraram, tinha um
ponto a mais.
Partida 50
A. Karpov - V. Hort
Memorial A lekhine, Moscou 1971
11ª rodada
Abertura Inglesa A30
1.e4 c5 2.~f3 d6 3.d4 cxd4 4.~xd4 ~f6
5.~c3 e6 6.g4!?
Karpov venceu várias partidas instrutivas e
bonitas (dadas neste livro) com o Ataque Keres,
mas a partir do início dos anos 1980 teve
também alguns reveses com ele, assim como
empates, como na 1ª partida de nosso primeiro
match (1984-85), onde as pretas não
experimentaram nenhum problema na abertura.
6 ... ~c6 (6 ... h6 - partidas 83 e 89) 7.g5 ~d7
8.il..e3 a6
Com a idéia de ... f!íc7 ou ... ~xd4 e ... b7- b5.
Mais tarde, esse lance, que na época não era
essencial, começou a ser preterido em favor de
8 ... ii.e7 9.h4 0--0, após o que as brancas podem
optar entre 10. f!íd2, 10. ~e2 ou o lance mais
enérgico 10.f!íh5 (Sax-Polugaevsky, Haninge

1989).
9.f4
Anos depois Karpov escreveu que então teria
preferido 9.~gl. Tentei atacar isso da minha
própria maneira, mas após 9 .. .ii.e7 10.h4 0----0
l l.h5?! éiJde5 12.éiJxc6 éiJxc6 13.f4 b5
14.!YD Ji.b7 15.Ji.d3 éiJb4! não consegui nada
da abertura (Kasparov-Polugaevsky, Moscou
1979).
Seria melhor 10.!Yh5 0----0 11.(µ}-() .:àe8
12.lâg3 (12.f4!?), como nas partidas R.Byrne-
Spassky (Bugojno 1978) e Dirk van Riemsdijk-
Najdorf (São Paulo 1978). Ou de imediato 9.h4
e se 9 ... ii.e7 (9 ... !Yc7)- 10.~h5, IO.!Yd2 ou,
como jogado por Karpov, 10.~e2 (partida 71).
9 ... Sl.e7
"Se 9 .. .h6 provavelmente meu adversário se
assustaria com o lance que eu planejava jogar -
I0.éiJxe6. Surgiriam então imensas
complicações: 10 ... fxe6 1 L!Yh5+ c:JJe7
12. ~3 (os lances 12.iic4 e 12.eS que também
foram tentados, seriam igualmente estancados através de
12 ... Yife8! - G.K) 12 ... ~e8 13.~h4 com
conseqüências difíceis de serem estimadas. Era
precisamente disso que a minha posição no
torneio necessitava." (Karpov). Após 13 ... c:JJd8!
e ... c:JJc7 as brancas ainda teriam que
demonstrar que o seu ataque era merecedor da
peça sacrificada.
10 ..:àgl éiJxd4 (10 ... 0-0!?) 11.ifxd4 eS
12.'i!fd2 exf4 13.$.xf4 CzJeS 14.Sl.e2 j.e6
Seria ruim 14 ... ~aS 15.CzJd5 (Karpov)
15 ... ~xd2+ 16.ii.xd2 .:àb8 (16 ... Ji.d8
17.Ji.b4!) 17.0-0-0 e as pretas ficam sob uma
atadura típica.
Anatoly, o Décimo-Segundo
15.éiJdS!?
"De imediato! De outra forma a dama
inimiga toma uma posição ativa (15.0----0-0
~a5!)" (Karpov). Realmente, após 16.c:JJbl!
.:àc8 (16 ...0-0? 17.éiJdS) 17.CzJdS ~xd2
18 .lâxd2 as brancas também têm perspectivas
melhores.
15 ... Sl.xdS 16.exdS
"Normalmente se tenta ocupar a casa
bloqueada com uma peça", escreve Karpov,
admitindo que 16.~xd5 "teria me deixado
com uma vantagem, uma vez que o peão d6
precisa ser defendido o tempo todo" (por
exemplo, 16 ... ~6 17.(µ}-() 0-0 18.lâgfl
etc.) e ele explica a sua opção: "mas então o
meu peão e4 em alguns casos também
precisaria de proteção, o que teria restringido
meu bispo de casas brancas. Agora, no entanto,
esse bispo não tem restrições de movimento,
uma vez que o seu opositor preto já saiu do
tabuleiro."
16 ...éiJg6 (16 ... 0-0 17 .0-0-0 teria
condenado as pretas a uma defesa passiva)
17.ii.e3 h6!
Um lance original, complicando agudamente
a situação - "arriscada para ambos os lados!".
Ao custo de um peão as pretas detêm o rei
inimigo no centro e atrasam a mobilização do
exército branco. Entretanto, como o centro está
fechado, não é aparente como pegar o rei
branco e as pretas têm da mesma forma muitos
problemas com a sua mobilização.
18.gxh6 ilh4+ 19.Wdl gxh6 20.ilxh6
il.f6?!
Com um jogo inventivo as pretas já quase
igualaram, mas a idéia tentadora de jogar o seu
bispo em e5 se torna a causa de novas
dificuldades. Essa casa seria melhor ocupada
pelo cavalo, que agora está fora de jogo. E o
bispo, ao permanecer em h4, teria evitado a
ocupação da casa e 1 pela torre, e as brancas
perderiam tempo para retirar o seu rei para um
lugar seguro.
Então seria correto 20 .. J:!fe7! com a
213
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
intenção de ... 0-0-0, por exemplo: 21..ig7 (o
lance 2 l.ii.g4 seria estancado por 21.. .'~Je5 !)
21...Ei.h7 22.~d4 ~f6 (agora isso é mais
apropriado, uma vez que as pretas armam uma
defesa ativa, onde até a torre em h7 poderá ser
útil) 23.~xf6 ifxf6 24.~cl 0-0-0, com
igualdade, ou 23.Ei.el ~e5! 24.~g4 Ei.xh2
25.ifxh2 it.xh2 26.Ei.xe7+ ~xe7 27.~d2
~f4+ com um final empatado.
21.c3 it.eS?!
Novamente seria melhor 21...ife7! com a
mesma idéia de 22.it.g4 ~e5! e se 23.~c2
(nada se consegue com 23.h3 ~c4! ou 23.Ei.el
it.h4 24.Ei.e2 Ei.g8), então 23 ...:Sxh6! 24.ifxh6
~xg4 25.Ei.xg4 ife2+ 26.~b3 ifb5+ 27.Ei.b4
(27.~a3 ifc5+) 27 ... ifxd5+ 28.~a4 a5! com
um contra-ataque perigoso. Seria possível
22.it.h5 (para após 22 ... ~e5 responder
tranqüilamente 23.~c2), mas aqui as pretas
sacrificam um segundo peão - 22 ... 0-0-0!
23.it.xg6 fxg6 24.Ei.xg6 e após 24 ... Ei.dg8
25.Ei.xg8 Ei.xg8 26.~c2 ife4+ 27.~d3 Ei.g2+
28.it.d2 ifa4+! 29.b3 ifh4 é difícil para as
brancas converterem a sua vantagem material.
22.Ei.g4!
"Um lance de muitos propósitos!"
(Dvoretsky). No momento, o peão h2 não
preocupa Karpov - o mais importante é não
permitir a ativação da dama preta. Após
22.~c2?! ifh4! 23.lle3 ife4+! 24.it.d3
if a4+ 25.b3 ifa5 apareceriam pontos
vulneráveis na posição das brancas e, ao
214
defendê-los, elas perderiam sua vantagem.
"Após 22.~g5 ifb6 23.~e3 ~c7 eu não
teria conseguido muito afinal", pensa Karpov.
Mas 23.~c2! (23.Ei.g2!? Dvoretsky) seria mais
enérgico: 23 ... Ei.xh2 24.fill ~t2 25.:Sxh2
'iWxh2 26.Ei.fl com pressão perigosa. Isso não
parece pior do que a continuação da partida,
mas conduz a uma posição mais clara, onde, do
ponto de vista prático, é mais fácil para as pretas
se defenderem (26 ... ~f8, Ei.e8 etc.).
22 ... ~f6!
"Seria relativamente melhor 22 ... llxh2,
reestabelecendo a igualdade material."
(Karpov). Mas após 23.~c2 as pretas têm uma
posição difícil: "o lance 23 ... ~e5? conduz à
perda de uma peça: 24.Ei.g2 (24 ... ~4 25.Ei.xh2
ifxh2 26.~b5+), enquanto se 23 ... 'i!fd7, então
é forte 24.Ei.fl" (Dvoretsky) ou 24.Ei.e4+! ~e5
(24 ...it.e5 25.ii.g4 f5 26.'i!fg5! ~e7 27.it.h5+
~d8 28.Ei.xe5! dxe5 29.d6 com ameaças
arrasadoras) 25.Ei.hl 'iWf5 26.it.d3 com um
ataque poderoso, ou se 23 ... ~e5, então 24.Ei.fl
'i!fd7 25.Ei.e4 etc.
23.h4!
''As pretas esperavam por 23.~c2? ~e7!
24.~e3 Ei.xh2 ou 24.~g5 iff5+. Mas agora
não é possível 23 ... 0-0-0, nem 23 ... ~xh4
devido a 24.~g5". (Dvoretsky)
23 ... 'i!ffS!
A dama não perderá sua liberdade e resulta
que as peças adversárias que a atacavam
precisarão de defesa. A dama branca está
dividida literalmente em duas: tem que guardar
tanto o peão d5 como o bispo em h6. E não
pode se mover para longe do rei, que
permanecendo no centro impede que a última
reserva, a torre em al, entre no jogo, o que
mudaria de imediato o curso da partida.
O cenário dessa partida é bastante incomum:
por um longo período solistas individuais
ocuparam o palco, enquanto as forças principais
de ambos os lados observavam o que estava
acontecendo. Então porque as pretas perderam
essa estranha batalha? Simplesmente porque, no
momento decisivo, quando tinham

pouquíssimo tempo, sutilmente esqueceram de
mobilizar seus "espectadores"...
24.ãb4!
"Uma casa excelente para a torre!" (Karpov).
Pode parecer que 24.ãa4 também seja forte,
t:unbém evitando o roque na ala da dama
(24 ... 0-0--0? 25 ..1i.g4) e no caso de 24 ... l!fd7
25 ..lâb4! ganhando um tempo importante para
<i!?c2. Mas após 24 ... /JiJe7! 25.ii.e3 Eí'.g8
26 ..1i.b5+ (26.'i5'cl B'.g3!) 26 ...@f8 27 ..1t.h6+
fl.g7 a situação teria se tornado mais
complicada.
24 ...ii.f6?
Perdendo o controle da casa f4, a qual é
prontamente utilizada pelas brancas como
acampamento, consolidando sua posição. As
pretas não conseguem equilibrar em nenhum
caso, mas após 24 ... B'.g8 25 ..1i.d3 (25Jâxb7?
~f4; não é claro 25.'i!fg5!? /JiJe7 26.~xf5
~xf5 27 ..1i.g5 f6) 25 ... '%!fh3! 26.@c2 /JiJxh4 ou
24 ... eiJe7 25.ii.g5 h6 26 ..1i.e3 .1t.g3 27.h5 eiJxd5
elas pelo menos recuperariam o peão e
manteriam algumas chances práticas.
25.h5 (voltando o cavalo e ao mesmo tempo
tornando seu peão passado mais defensável)
25 ...eiJe7 (25 ... /JiJe5? 26.gf4) 26.âf4!
Uma torre obstinada! Após 26.~f4?! (para
ativar rapidamente as peças ao custo do peão
d5) poderia seguir 26 ... âxh6! 27.'i!fxh6 eiJxd5
28.Eí'.g4 (28.Eí'.xb7 l!f e4!) 28 ... 0--0--0 29.l!fd2
âe8 com uma iniciativa perigosa pela qualidade.
26...'i!f e5
Foi atingido o ponto culminante da batalha.
Anatoly, o Décimo-Segundo
27.âf3?
A torre demonstra milagres em termos de
manobra, criando ou, ao contrário, estancando
uma ameaça atrás da outra. Mas ainda trabalha
isoladamente e o estado indefeso da ala da dama
das brancas requer dela extrema precisão! Ao
deixar seu peão h5 sem defesa por um
momento, ela jogará fora a sua vantagem.
Enquanto isso - um fato não mencionado
pelos comentaristas! A torre tem alguns lances
melhores: 27.Eí'.fl, 27.Eí'.f2 ou até o extravagante
27.âa4. Digamos, após 27.Eí'.fl os problemas
não serão resolvidos através de 27 .. J![xh6
28.~xh6 eiJf5 em vista de 29.~xf5 'i!fxf5
30.~e3+ @f8 31.~f3, quando elas
pemanecem com um peão a menos. E no caso
de 27 ... 0-0-0 28 ..lÍ.f4! (mas não 28.@c2
B'.xh6! 29.ii.g4+ @b8 30.l!fxh6 l!fe4+ com um
empate) 28 ... ~xd5 29.~xd5 ê2lxd5 30 ..lÍ.d2
ou 28 ... ~e4 29.c4 :ãhg8 30.~d3! ~xd3+
(30 ... l!fg2 31.@c2) 31..lÍ.xd3 ii.xb2 32.íâbl
elas têm um final de partida difícil.
27 ...eiJxdS?!
Karpov não faz nenhum comentário a esse
lance no apuro de tempo. Uma avaliação crítica
dele teria destruído o mito da perfeição do jogo,
o qual estabelece que o vencedor não pemite ao
adversário nem mesmo uma simples chance de
salvação. Karpov escreveu que a ameaça de
28 ..lÍ.f4 "forçou" as pretas a seguirem por um
caminho perigoso. Mas se Hort tivesse rocado
para a ala da dama, as brancas teriam problemas
com seu peão d5, com seu rei, que bloqueia a
torre em a 1 e com ~ sobrecarga da sua dama.
"Após 2 7 ... 0- 0-0 ! o final permaneceria
indefinido. Seria obviamente incorreto
28.@c2? âxh6. Se 28.Eí'.d3 seguiria 28 ... Ê'.dg8!
29 ..1i.f4 (29.lie3 .flf5 - G.K.) 29 . .. l!ff5 com a
ameaça desagradável de ... Ê'.g2. É
inconvincente 28 ..lÍ.e3 ê2lxd5 29 ..lÍ.d4 ~e6,
enquanto no caso de 28 ..1i.f4 não é aparente
como duvidar do simples 28 ... 'i!fxh5!"
(Dvoretsky). Além disso, após 29.c4 l!fg6
30.!ifl l!f g7 31.@cl eiJg6 32 ..1i.e3 âde8 as
215
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
pretas têm um jogo confortável.
28.âd3! ãxh6 (28 ... ~e7? 29.~f4 'tlff5(e4)
30.!!xd6) 29.âxdS (é claro, não 29.'tlfxh6?
~g5 30.Yi:Yh7 ~e3+ Karpov) 29 ...'tlfe4
Após 29 ... ~e6 as brancas têm uma opção
entre um ataque com material igual - 30.Wc2,
trazendo finalmente a torre de al para o jogo, e
o final prosaico com um peão a mais - 30..l~xd6
Yi:Yxd6 3 l.~xd6 !!d8 32.~xd8+ ll.xd8
33 .Wc 2 etc.
30.ãd3!
Uma chance pratica brilhante (se ameaça
!!e3), o que resulta em sucesso instantâneo. A
torre demonstra eficiência viável, ao derrotar
praticamente sozinha toda a horda inimiga!
Após 30.~xh6 ~xd5+ 3 l.Wc2 as pretas
defenderiam através de 31...~eS 32.~e3
(32.ifgS?! ife4+ 33.~d3 ~a4+ 34.b3 ~a5,
com igualdade) 32 ... 0-0-0 ou mesmo
31...~fS+ 32.~d3 ~f2+ 33.ifd2 (33.Wb3
~b6+) 33 ... ~xd2+ 34.Wxd2 We7 e o final
com bispos de cores opostas promete o empate.
30 ... ~hl+?
Uma catástrofe no apuro de tempo. Seria
essencial 30 ... ~h7, por exemplo: 31.ll.g4
(31 .!!xd6? .1i.g5 !, também nada se consegue
através de 3 l..~.G .1i.g5 ! ou 3 1. ~ e3+ .1i.e5)
31...ii.gS! 32.~e2+ Wf8 33.Wc2 !!e8 ou
3 l.Wc2 0-0-0 32.!!fl ge8 33.~g4+ Wb8
com chances de uma defesa bem sucedida.
31.Wc2 ~xal 32.~xh6 ~e5 33.~g5!
Evitando o roque na ala da dama, ameaçando
216
irg8+ e abrindo caminho para o peão h. Nessa
posição sem esperanças (se 33 ... !!d8, então
34.Wb3 ou 34.a3) as pretas perderam pelo
tempo. A partida foi considerada a melhor do
torneio. 1-0
Depois de um empate com Tukmakov, o
Grande Mestre de 20 anos obteve mais duas
vitórias tranqüilas. Na disputa com Bronstein,
empregou o plano preferido com 6 ..1i.e2 contra
a variante Najdorf da Defesa Siciliana.
Bronstein tentou melhorar o jogo das pretas em
comparação com a partida Geller-Fischer
(conforme volume 2- partida 98, comentário
sobre o 7º lance), mas não teve sucesso. No 23º
lance, as brancas ganharam um peão e nesse
momento, segundo Roshal, acima do ruído da
sala de imprensa ouviu-se distintamente a voz
calma e lenta de Furman dizendo: "O To/ya
vence, quando tem material a mais; não duvido
nem um pouco". No dia seguinte Karpov
derrotou Kortchnoi em bom estilo com as
pretas. Depois de empatar com Stein e Smyslov,
ele venceu Savon na última rodada e,
alcançando Leonid Stein, dividiu com ele o 1° e
2º lugares.
Com relação a este resultado, Botvinnik disse
em um telefonema para Kotov: "Lembre-se
desta data: 18 de dezembro de 1971. Hoje
surgiu em nosso país um novo astro de primeira
grandeza do xadrez". E nas páginas do
semanário 64, Petrosian também teceu um
grande elogio ao jogo de Karpov: "Gosto do
jeito dele, seu modo de encarar o xadrez, seu
caráter competitivo e sua prudência. Gostei
daquela atitude no final do torneio, quando ele
jogou mais rápido, obviamente tendo antes
calculado que, graças à sua juventude, ele teria
mais força do que os adversários mais velhos, e
de um salto ultrapassou a muitos, como se
estivéssemos parados no lugar. Acho que hoje
Karpov é nossa principal esperança e talvez nos
próximos anos ele se torne a barreira
intransponível no caminho dos enxadristas do
Ocidente para alcançar a coroa de Campeão
Mundial".

• terrível adversário. Essa destreza era uma nota
o em posições difíceis.
Depois do sucesso de Anatoly no Memorial
Alekhine (1971), Botvinnik afirmou:
"Lembrem-se desse dia: surgiu em nosso país
um novo astro de primeira grandeza no
xadrez"
O Presidente da FIDE, Max Euwe, também
achou que Karpov seria provavelmente um
futuro rei do xadrez. Perguntado em uma
entrevista se poderia ser um Campeão Mundial,
Karpov respondeu com franqueza, sem
rodeios: "Certamente que sim, só que não nos
próximos quatro anos. Ainda preciso aprender
muita coisa".
Passadas apenas algumas semanas, Karpov
partiu para o torneio de Hastings (1971/1972),
onde começou com 7 em 8. Depois, com um
empate com as pretas com Gligoric, venceu
outra partida e... sentiu que sua resistência
estava minguando: "Para ser sincero, eu estava
mesmo exausto". Depois de uma derrota na 14ª
rodada para Kortchnoi, fazendo esforços
hercúleos, conseguiu vencer Markland na
partida decisiva e igualou-se ao seu único rival:
1-2.Karpov e Kortchnoi - 11 em 15; 3-4.Byrne
e Mecking - 9½; 5-6.Gligoric e Najdorf - 8½;
7-8.Andersson e Unzicker - 8.
Sua próxima competição, o Campeonato por
Equipes da URSS em Moscou (março de 1972)
Anatoly, o Décimo-Segundo
tornou-se memorável devido às esplêndidas
vitórias posicionais com as brancas contra
Smyslov e Taimanov e com as pretas contra
Stein. Nesta partida, ele demonstrou uma
admirável tenacidade e talento na defesa, que
posteriormente viriam a se tornar famosos,
rechaçando com precisão o ataque direto do seu
característica de Karpov desde seus dias de
infância, quando ainda não tinha conhecimento
da teoria de aberturas e muitas vezes terminava
Naquela mesma primavera, realizou-se em
Moscou um torneio relâmpago de duas rodadas
entre os mais fortes enxadristas soviéticos.
Vencendo 12 partidas sucessivas na segunda
metade (contra Kholmov, Stein, Tal, Bronstein,
Polugaevsky, Taimanov, Balashov etc.), Karpov
terminou dividindo o 1° e 2º lugares com
Tukmakov, jogador de Odessa. "Esta
compettçao extenuante fez Karpov perder o
gosto dos torneios relâmpagos por um bom
tempo. Mas ele nunca esqueceu a divisão do
primeiro lugar, o que, por algum motivo,
considerava ser um fracasso. Quando ocorreu
de se encontrarem em Odessa, teve a
oportunidade de disputar um match relâmpago
contra Tukmakov. Com o escore de 0-13,
Tukmakov desistiu..." (Roshal).
Em seguida, Anatoly liderou a equipe
soviética na Segunda Olimpíada Estudantil
(Graz, agosto de 1972). Um ano antes, tinha
jogado no tabuleiro 3 (+7=1), mas agora
demonstrou que era um digno líder (+5=4).
Anatoly Bykhovsky, treinador da equipe jovem
da URSS, recorda:
"Foi aquela Olimpíada que revelou Karpov
para mim. Em Porto Rico, a facilidade e
elegância de sua maneira de jogar me causaram
uma impressão indelével. Geralmente, ele era o
primeiro a terminar suas partidas, depois de
gastar não mais de uma hora no relógio. Após
serem derrotados, os adversários olhavam para
ele perplexos: parecia que não compreendiam
as idéias e lances do jovem Grande Mestre. .-\
217
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
meu ver, ele possui um estilo de jogo tão
original que é difícil até nomear um predecessor
e este é sempre um indício de seu talento
verdadeiro... Em Graz ele jogou com Robert
Hübner. Sempre achamos difícil jogar contra a
equipe da Alemanha Ocidental, e aqui Hübner
estava à frente de Karpov na disputa pelo
melhor resultado no tabuleiro 1. Era aquele
mesmo Hübner que havia sido derrotado por
uma vantagem apertada no match de Candidatos
por Petrosian (e o mesmo Hübner que logo
haveria de jogar brilhantemente na Olimpíada
Mundial de Skopje). Foi um encontro crítico
sob todos os aspectos: determinou a ordem de
força por muito anos adiante e mostrou como
Karpov se comparava com o principal Grande
Mestre do Ocidente. Anatoly demonstrou tanto
que compreendia melhor a sutileza da posição
como a analisava mais profundamente".
O "conhecimento" travado com luminares
estrangeiros da nova geração foi típico de
Karpov: antes de Hübner, lembro aos leitores
que ele tinha derrotado Timman (1967-1968),
Andersson (1969) e também o "Pelé do xadrez',
o futuro bicampeão de Torneios Interzonais, o
brasileiro Henrique Mecking (Hastings, 1971-
1972).
Karpov também brilhou na primeira
participação em Olimpíada Mundial (Skopje, no
outono de 1972) com a melhor contagem no
primeiro tabuleiro reserva (+12-1=2). Tal
escreve: "Este tinha sido um verdadeiro
'espetáculo beneficente' de Anatoly. Foi só em
Skopje que percebi que Karpov era mesmo
capaz de conseguir os maiores êxitos. Antes
também alcançara excelentes resultados, mas no
sentido criativo o jogo dele ainda não me havia
impressionado. Agora admiro as partidas de
Karpov puramente no sentido do xadrez. Na
Olimpíada, ele sozinho disputou quase tantas
partidas deste tipo quanto todos os demais
membros da equipe juntos. E por isto acho
impossível apontar qual foi a melhor partida".
Por decisão da FIDE, Karpov, como
Campeão Mundial júnior, foi admitido no
218
Torneio Interzonal de 1973 sem ter disputado a
qualificação. Com isto, não havia a necessidade
de jogar no Zonal, o 40º Campeonato da URSS
e, junto com Petrosian e Keres, partiu para um
supertorneio em San Antonio (novembro-
dezembro de 1972), organizado no fervilhar da
onda do xadrez que reinava nos Estados
Unidos após a vitória de Fischer no match
disputado com Spassky.
Ali o jovem Grande Mestre, inicialmente
competindo com Larsen e Keres, outra vez
começou com 7 em 8!
Partida 51
A. Karpov - S. Gligoric
San Antonio, 1972 - 8ª rodada
Abertura Ruy Lopez - C94
1.e4 e5 vt1f3 t2ic6 3.il.b5 a6 4.il.a4 t2if6
5.0-0 il..e7 6.:ãel b5 7.il.b3 d6 8.c3 0-0 9.h3
t2ib8 (9 ... '2la5 -partida 66) 10.d3
A discussão teórica sobre 1O.d4, a qual se
arrasta até os nossos dias, era algo que Karpov
prepararia para um ano mais tarde, mas nesse
instante, contra um especialista ria Variante
Breyer, ele escolhe um esquema mais
restringido, mas não menos venenoso, onde o
avanço lento do peão d é compensado pelo seu
surgimento em d4 no momento mais favorável
às brancas.
10 ... '2lbd7 11.'2lbd2 ~b7 12.'f:!O '2lc5
13.il.c2 :ãe8 14.'2lg3 il.f8 15.b4
Tirando o cavalo da sua forte posição, mas
também dando um pretexto ao adversário para
um contrajogo na ala da dama. No caso de
15. t2ih2 as pretas conseguem desenvolver o
contra 15 ... d5! (15 ...lf)e6 16.d4 exd4 17.cxd4
c5!, com igualdade, Schmid-Spassky, San Juan
1969) 16."i!ff3 h6 17.t2if5 a5 18.t2ig4 t2ixg4
19 .hxg4 a4 20.il.e3 '2le6 21. '%!f g3 dxe4
22.dxe4 "i!ff6 23.:E'fadl &d8 24.'%!ft3 '2lg5
25."i!fe2 il.c6 com ligeira vantagem (Vasyukov-
Karpov, Leningrado 1971).

15.. .lLJcd7 16.d4
Foi jogado muitas vezes 16.~b3, que provoca
mn jogo duplamente agudo: 16 ... d5!? 17.~ g5
a5 18.a3 dxe4 19.êZJxe4 h6 20.êZJxf6+ êZJxf6
2I.êZJxe5 .1âxe5! 22Jâxe5 hxg5 23.B'.xb5 ~d5.
Entretanto é mais seguro responder 16 ... a5
17.a3 axb4 18.cxb4 h6 19.d4 (19.êZJf5 d5! Tal-
Spassky, 11 ª partida do match, Tbilisi 1965)
l9 ... c5 20.bxc5 dxc5 21.dxe5 lZJxe5 22.êZJxeS
&<e5 23.ll.b2 B'.e8 24.~f3 c4 25.ll.c2 (Tal-
Smejkal, Tallin 1971) e agora as pretas podem
igualar com a manobra de dama 25 ... ~d2!
26.!'!acl ~g5.
16 ... h6
É mais fácil igualar com a operação de
simplificação 16 ... a5!? 17.ll.d2 (l 7.a3 axb4
18.cxb4 c5 Vasyukov-Averbakh, Moscou 1964)
l7 ... axb4! 18.cxb4 exd4 19.êZJxd4 d5 (Tal-
Timman, Niksic 1983), que foi o que colocou
fora de uso o lance 10.d3.
17.~d2 (uma defesa profilática do peão b4
contra os ataques do bispo em f8) 17 ...êZJb6
"Um lance posicional sólido, ao estilo de
Gligoric. O contra-lance central l 7 ... d5 teria
conduzido a partida ao longo de linhas de
complicações táticas, o que não significa que as
pretas não correriam riscos." (Karpov)
18.1l.d3
Continuando a útil profilaxia: a partir de d3 o
bispo impede o contrajogo com ... a6-a5. Dessa
forma as pretas iniciam a preparação de
... c7-c5.
Anatoly, o Décimo-Segundo
18 ...!'!c8
Seis meses mais tarde, na partida Karpov-
Spassky (Moscou 1973) seguiu 18 ... g6 19.~c2
êZJfd7 20.B'.adl ~g7 (também não é tão mau
20 ... c5!? 21.bxc5 dxc5 22.êZJxeS lZJxe5
23.dxe5 B'.xe5 24.~f4 B'.e6) 21.dxe5! dxe5
22.c4! bxc4 23.ll.xc4 ~e7? (seria correto
23 ... lZJxc4 24.~xc4 !'!e6! 25.ll.e3 .ã'.d6, com
igualdade - Karpov) 24.~b3! c5 25.a4! (resulta
que agora as brancas não são obrigadas a tomar
em c5, mas podem fortalecer a sua posição
entregando a qualidade) 25 ... c4 26.~a2 ll.c6
27.a5 ~a4 28.~cl lZJc8 29.il.xh6 ~xdl
30.B'.xdl êZJd6? (Karpov recomenda 30 ... êZJf8
31.i.xc4 êZJd6 32.ll.g5 .t.f6) 3 l ..t.xg7 ~xg7
32.~g5!! (a invasão decisiva; seria ruim
32.~d2? êZJf6 33.~xd6? devido a 33 ... ÉÍ.ad8!)
32 ... f6 33.~g4 ~h7 34.êZJh4! e em vista de
34 ... êZJf8 35 .lZJxg6! lZJxg6 36.B'.xd6! ~xd6
37.~h5+ ~g8 38.êZJfS! as pretas
abandonaram.
19.~c2 ~d7?
"O irúcio de uma manobra fracassada. A
dama se dirige a c6, planejando ficar à frente
dos peões. Mas porque então as pretas
perderam tempo com 18 ... B'.c8?" (Karpov).
A posição crítica surgiria após 19 ... exd4
20.cxd4 c5 21.bxc5 (21.d5!? êZJfd7!) 21...dxc5
22.d5. Karpov julgou ser isso favorável às
brancas. "Em todo caso, nem Gligoric, nem
Spassky seguiram assim na posição. Da mesma
forma, essa seria a única maneira das pretas
justificarem seu lance 18 ... ~c8, seguido por
22 ... c4 23.ll.fl b4 ou 23 ... c3.
20 ..lâadl ~c6 21.il.e3 lZJa4 22.!'!cl
(ameaçando c3-c4) 22 ... êZJb6 23.~bl
Profilaxia novamente, embora nesse
momento "seria melhor o imediato 23.êZJd2,
seguido por êZJb3 (e possivelmente lZJa5), não
temendo 23 ... d5 em vista de 24.dxe5 !'ixe5
25.i.d4 dxe4 26.êZJdxe4" (Karpov). O atraso
de somente um lance permite às pretas evitarem
a desagradável manobra de cavalo.
23 ... ~d7 24.êZJd2 c5! 25.bxcS dxcS 26.dS
219
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Devido à vulnerabilidade do seu cavalo em
b6, as pretas não conseguem avançar seu peão a
c4 e as brancas criam um bastião inexpugnável
no centro, restringindo as forças do adversário.
26 . ..tila4 27.c4! b4 28.l!fl! 'i9'c7 29.f4
~d7 30.'i9'c2 ~c3
As pretas estão prontas para entregar um
peão - somente para forçar a troca do bispo
branco pelo seu cavalo e assim tentarem erguer
uma muralha defensiva nas casas pretas.
31.fS! ~f6 32.~e2!
"Talvez fosse mais sólido ganhar um peão
através de 32.~f3 e 33.Ji.d2, mas durante a
partida eu pensei que então Gligoric teria
sucesso em restringir o avanço na ala do rei
através de um bloqueio nas casas pretas (... il...e7
e ... éiJh7). Então decidi não perder tempo."
(Karpov)
32 ...~xe2+ 33.ll.xe2 il...d6 34.g4! ~f8!
O bloqueio 34 ... 'i!fd8 35.h4 éiJh7 36.éiJf3
il...e7 não duraria muito, devido a 37.'i!i'g2 Ji.xh4
38.~xh4 ~xh4 39.~hl ~f6 40.Íih5 ~d6
41.:ê:chl ~f8 42.gxh6! gxh6 43.~xh6,
estraçalhando a defesa. Então o rei preto foge
da zona de perigo.
35.h4 ~e7 36.gS hxg5 37.hxg5 lild7
38.~g4
"O primeiro assalto permitiu às brancas
conquistarem uma vantagem de espaço
apreciável. Para construir sua vitória, elas têm
que trazer as reservas." (Karpov)
38.. JâgS 39.~f2 ~h8 40.~hl ãcg8 41.'i!fdl
220
Seria mais forte 41.a3! a5 42.!i'a4 (com a
ameaça de lilb3) 42 ... ~b6 43.l!fb5! (a dama
está perfeitamente segura no meio das forças
inimigas, e o bastião das pretas se desmorona
rapidamente) 43 ... ~xhl 44.~xhl lâa8 45 .f6+!
(Karpov) 45 ... gxf6 46.Íih6! ou 44 ... li.c8
45 .'i!fxa5 il...d7 46.f6+ gxf6 47.il...xd7 lilxd7
48.!i'xc7 il...xc7 49.axb4 cxb4 50.gxf6+ éiJxf6
5 l.~f3 ~g4 52.il...a7 ~d7 53.c5, vencendo.
41 ... ~dS
O lance que Karpov considerou necessário,
41.. .f6, também dificilmente permitiria às
pretas escaparem de sérias dificuldades. E
41...~a5 42.~3 Ji.c8 não teria evitado que as
brancas abrissem com vantagem a ala da dama:
43.~g3 ~d8 44.í!hfl ! ~c7 45.gal !
42.'iBgl!
À primeira vista, uma manobra inexplicável
de dama. "Lances assim são muito difíceis de
serem encontrados!" escreve Karpov e explica
de forma muito inteligível as razões da sua
decisão:
''As brancas têm uma vantagem espacial
óbvia. Para aumentar o seu ganho posicional,
necessitam encontrar um plano claro para o
reagrupamento das suas peças. Eis aqui meus
pensamentos básicos a respeito da posição: 1)
As pretas têm somente uma debilidade óbvia -
o peão c5; um ataque sobre ele pode ser
armado com rapidez - isso permitirá que os
poderes de manobra das peças do adversário
sejam restringidos; 2) A melhor casa para o rei

é f3, onde ele não está sujeito a xeques e super-
protege o bispo de g4, abrindo a diagonal
gl-a7 para a bateria~+~ e a 2ª fileira para as
manobras da torre; 3) As brancas precisam lutar
pelo controle da coluna h e desenvolver uma
iniciativa na ala do rei; em um momento
oportuno, elas podem mudar todo o peso da
luta para a ala oposta, explorando a grande
mobilidade das suas forças. O último lance das
brancas contempla todas essas condições."
42 ...l2lb6 43.ãh2 ~e7?
As pretas ainda não sentiram o perigo na sua
ala da dama e tentam lutar pelo controle da
coluna h (44.~hl ~d8), ao invés de negarem
a possibilidade de transferência ao cavalo
branco via b3 para a5 - 43 ... a5! e ... a5-a4.
44.l2lb3
Agora que esse cavalo está paralisando a ala
da dama das pretas, seus recursos de resistência
rapidamente se evaporam.
44 .. .'it>c7 45.'it>f3! l2ld7 46.a3! bxa3
47.ãa2!
O reagrupamento planejado foi executado e
se torna claro que o rei preto, ao fugir para a ala
da dama, foi direto da frigideira para o fogo.
47 ... ãh4 48.gxa3
48 ... gghS
Tática esperta - 48 ... ct::\f6 49.gxf6 gxf6 não
ajuda: 50.ga5! ggxg4 51.~xg4 gxg4
52.'it>xg4 ~d8 53.lz::ixc5 ~xc5 54_gxc5+ 'it>d7
55.1::i.bl ~a8 56.~d2 e o rei branco se esconde
dos xeques facilmente (56 ... ifg8+ 57.'it>f3
Anatoly, o Décimo-Segundo
~h8 58.1::i.a5 ~3+ 59.'it>e2 ifg4+ 60.'it>d3
etc.).
49.1::i.bt gbs
A ameaça de ct::lb3-a5 força o retorno da
torre, o que significa a queda das últimas
esperanças das pretas.
50.~el! lâxg4 51.'it>xg4 il.c8 52.!VaS+ 1-0
Se 52 ...1::i.b6, então a única forma de vencer é
53.ct::\xc5 ~xc5 54.ãxb6!
Depois, Anatoly ficou mesmo cansado:
cometeu um equívoco em uma boa posição e
perdeu para Portish. Depois ainda, na 13ª
rodada, já como único líder, foi incapaz de
derrotar Kaplan e no final poupou Mecking,
embora este se tivesse mostrado "bastante
nervoso" antes do jogo, olhando para ele como
"um animal selvagem perseguido". Mesmo
assim, o resultado não foi ruim: 1-3. Karpov,
Petrosian e Portisch- 10½ em 15; 4. Gligoric -
10; 5. Keres - 9½; 6-7. Hort e Suttles - 9; 8-9
Larsen e Mecking - 8½.
No dia da última rodada, Karpov se
encontrou com Fischer pela primeira vez. Os
organizadores convidaram o Campeão Mundial
a visitar o torneio e, ao saberem que ele tinha se
atrasado, até adiaram o início da partida 15
minutos. Petrosian observou: "Agora Fischer
chega atrasado não só nas suas partidas mas
também nas dos outros".
"Sentamos-nos e ficamos esperando. Fischer
chegou com Euwe, logo subiu ao palco e foi
apertar a mão de cada um dos jogadores. Esta
foi toda a minha impressão", escreveu Karpov
no seu livro Chess is my Lift (Deryataia Vertikal -
em português ';4 Nona Vertical'~ ainda não
traduzido - N. do E.). Mas em seu outro livro
S estra Mqya Kaissa (em português Caissa, Minha
Irmã, 1990, ainda não traduzido - N. do E.) ele
acrescentou: "Fischer apareceu no último dia, o
que não foi muito feliz. Os vencedores - e eu
era um deles - pacificamente dividimos os
pontos e Fischer, que ficou sentado entre os
espectadores menos de 15 minutos,
compreendeu a situação e desapareceu".
221
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
É possível que já então, no final de 1972, não
só Botvinnik, Petrosian e Tal, mas também
Fischer, depois de observar cuidadosamente
Karpov no tabuleiro, tivesse percebido que esse
"menino muito sério" iria intervir na batalha
pela coroa do xadrez.
Karpov dá a sua primeira entrevista a
Aleksander Roshal, depois da sua primeira
Olimpíada (1972)
"Este Não é o Meu Ciclo"
Enquanto se preparava para seu primeiro e,
como posteriormente se veio a saber, seu único
Torneio lnterzonal, Karpov jogou em
Budapeste, na primavera de 1973, (+4=11), 2º
lugar depois de Geller) e em um match-torneio
das equipes da URSS, no qual derrotou Spassky
e Taimanov (+2=2) no tabuleiro 1.
Naquele ano, levando em conta o aumento do
número de jogadores fortes, a FIDE pela
primeira vez dividiu a fase interzonal em dois
torneios separados. Dali por diante, para a
classificação para o Torneio de Candidatos,
seria preciso terminar não entre os seis, mas nos
três primeiros lugares de cada um dos Torneios
lnterzonais. A divisão era feita por classificação,
o que causou uma incompatibilidade óbvia: em
Petróp<:>lis, no Brasil, dos seis candidatos do
ciclo anterior só havia um, Geller, ao passo que
em Leningrado (em junho de 1973) havia cinco:
Kortchnoi, Larsen, Hübner, Taimanov e
Uhlmann. Lá estavam também o terrível Tal,
que tinha vencido cinco torneios seguidos e o
Jovem Karpov, que estava conquistando
222
sucessos constantes. E só três lugares!
Entretanto, como Tal observou corretamente,
se a tarefa de terminar entre os três primeiros
lugares é tão difícil, que sentido tem se aspirar
ao título de Campeão Mundial?
Karpov se propôs o encargo audacioso de
vencer o Torneio lnterzonal (o que prometia
um adversário relativamente mais fraco no
primeiro match de Candidatos), ou, ao menos,
conseguir uma classificação. Muitos anos mais
tarde, quando as proibições foram suspensas,
ele revelou à imprensa que tinha se preparado
para esse torneio junto com Kortchnoi:
"Um dia, alguns amigos chegaram de
surpresa e passamos uma noite agradável e
jovial. Em dado momento, alguém sugeriu:
vamos tentar adivinhar quem disputará o match
final de Candidatos e quando a dupla final for
decidida, abriremos nossos envelopes. Lembro-
me de ter escrito: Spassky-Petrosian. Eu tinha
certeza de que eles eram os mais fortes
candidatos... Não mencionei meu nome, porque
não achava mesmo que seria a minha vez,
primeiro porque não possuía a experiência de
jogar nessa categoria, e, depois, achava que
meus principais adversários eram de forma
objetiva mais fortes que eu. Naturalmente, estas
previsões foram logo esquecidas por todos,
inclusive por mim mesmo. Mas quando
Kortchnoi e eu fomos designados como os
finalistas, o nosso amigo que tinha guardado as
previsões, veio revelá-las. Só em uma previsão
aparecia a dupla Kortchnoi-Karpov, e a letra era
de Kortchnoi... "
Isto mostra uma perspicácia invejável, mas
antes os dois "K" teriam que superar a barreira
interzonal. Nesse torneio, Karpov tinha como
segundos rião só Furman, mas também o
moscovita Yuri Razuvaev, que ele como
Balashov conheciam desde a escola Botvinnik.
Depois da Olimpíada Estudantil de Porto Rico
(1971 ), Anatoly tinha pedido aos seus colegas
de equipe para ajudá-lo e a Furman no ciclo de
qualificação do próximo Campeonato Mundial.
Deve-se dizer que os dois Yuris (Balashov e
 Anatoly, o Décimo-Segundo

Razuvaev), agora bem conhecidos Grandes Karpov - 4½; Kuzmin - 4. Era a hora de
Mestres e treinadores, estavam entre os mais mover as brancas, a arma mais perigosa em toda
eruditos enxadristas da geração jovem. Dessa a carreira de Karpov.
forma nasceu a equipe de treinamento do
futuro Campeão Mundial.
Partida 52
A. Karpov - G. Kuzmin
Interzonal de Leningrado 1973, r rodada
Defesa Francesa - C09

1.e4 e6 (para evitar ser torturado na

Espanhola, Gennady Kuzrnin escolhe uma
defesa que raramente utilizava) 2.d4 d5 3.lz:}d2
Naquela época, esse lance tranqüilo Tarrash-
Geller trouxe quase 100% de sucesso para
Karpov. Mas seus matches com Kortchnoi (1974
e 1978) mostraram que não é tão fácil para as
Karpov conheceu o auxiliar e amigo de muitos brancas vencerem contra a posição com um
anos Yuri Balashov ainda na Escola Botvinnik, peão isolado e a partir de 1982 Anatoly também
em 1963
passou a utilizar 3.lZk3.
O árbitro principal do Torneio Interzonal de 3 ... c5
Leningrado, Aleksander Kotov escreve: "De Anteriormente Kuzmin havia jogado
irúcio, o jogo de Karpov não foi brilhante como 3 ... dxe4. Nessa oportunidade ele decidiu
o de Kortchnoi. As vitórias dele não vieram em melhorar o jogo das pretas em comparação com
série, mas se espalhavam por pontos e meios as partidas de Karpov contra Krogius
pontos. Os seus golpes não derrubavam os (Kuybyshev 1970) e Vaganian (Budapest 1973).
gigantes, embora conseguisse um grande Mas aqui ele não teve sorte - isso era "território
número de vítimas. Karpov jogou com cuidado, do adversário": Karpov e Furman
às vezes fugindo de complicações não muito empenharam-se em resolver os segredos da
claras. Ora, um jogo assim é um caminho certo variante 3. lz:}d2 desde o irúcio dos anos 1970.
4.exd5 exd5 5Jf:}gf3 (em Baguio Karpov
para o sucesso em disputas classificatórias.
mudou para 5.~b5+) 5 ... lz:}c6 (5 ... a6 - partida
Porém, quando por vontade do destino surgiam
15) 6.~b5 1i.d6 7.dxc5 .1Lxc5 8.0-0 lz:}ge7
complicações no tabuleiro, Karpov sabia
9.lz:}b3
solucioná-las com a prec1sao de um
computador. Neste ponto estava preparado
para o sacrifício e não tinha medo de agravar a
posição".
Nas seis primeiras rodadas ele venceu com as
pretas contra Estevez, Tukmakov e Cuellar,
(depois de deter com dificuldade o ataque
violento do adversário no apuro de tempo),
empatou com Hübner (em uma disputa dura e
fascinante) e com Kortchnoi e Taimanov.
Naquele momento o grupo que liderava era:
Larsen- 5½ em 6; Byrne e Kortchnoi -5;

223
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
9... ~d6
Esse lance, posteriormente utilizado por
Kortchnoi, era relativamente inexplorado
naquela época. Nas partidas mencionadas
acima, ocorreu o usual 9 ... ~b6 10.E'.el 0-0 e
Krogius falhou em resistir após 11 .~e3 ii..g4
12.~xb6 ~xb6 (12 ... axb6!?) 13.~xc6 l2:Jxc6
14.~xd5 l2:Jb4 15.~e4 ii..xf3 16.gxf3,
enquanto com Vaganian seguiu l l .~g5 !
(aproveitando o fato de ter enfraquecido a
defesa do cavalo e7) 11.. .h6 12.~h4 g5
(expondo o rei: seria melhor 12 .. Jie8!? 13.h3
a6 14.~d3 ~e6) 13.i..g3 l2:Jf5 14.~d2 l2:Jxg3
15.hxg3 ~f6 16.c3 ~f5! ("um excelente
sacrifício de peão", embora também seja
possível 16 ... a6 17.i..fl Eí'.d8 18.~fd4 ii.d7
19.~e2 g4) 17.~xd5 E'.ad8 18.l!Uc4 ~d3
19.~a4 ii.xb5 20.~xb5 g4 21.l2:Jfd4 l2:Jxd4
22.cxd4 a6 23.~h5 i.xd4 24.~xg4+ ~g7
25.~f3! (uma decisão muito sutil, estar no
meio jogo e procurar uma forma de atacar o rei)
25 ... ~xb2 26.E'.adl b6 27.~7 .B'.xdl 28.E'.xdl
~g4 29Jâbl Eí'.d8 30.~xa6 Eí'.dl+ 31.~xdl
~xdl+ 32.~fl l!Uc2 33.~5 li.a3 34.~d5!?
(não se opondo à troca dos peões na ala da
dama) 34 ... ~f8 35.~d2 ~e4 36.c;t>h2 ii..c5
37.lLlcl c;t>g7 38.l2:Jd3 ~d4 39.~e2 ii..d6?
(39 ... l!fc4 Karpov) 40.c;t>h3! ~d5 41.l2:Jf4
ii..xf4 42.gxf4 e as brancas venceram esse final
de damas.
10.~g5!
No match de Moscou contra Kortchnoi
(197 4), foi testado muitas vezes 10.c3 ~g4
11. ~bd4 0-0 e somente na 18ª partida Karpov
retornou para o enérgico lance de bispo.
10 ... 0-0 11.~h4
Com a idéia de ii..g3: as brancas concedem
dois tempos para trocar os bispos de casas
pretas. Dezoito meses mais tarde, na acima
mencionada partida com Kortchnoi, a
disposição ótima de forças foi encontrada -
11.E'.el ! (impedindo o desenvolvimento da
dama em b6) 11...'iic7 12.c3 ii.g4 13.h3 ii.h5
14.ii.e2! h6 15.ii.xe7! l2:Jxe7 16.l2:Jfd4 e após
224
16 ... ~xe2 17.~xe2 a6 18.'f.!ff3 ãad8 foi
alcançada uma posição padrão, onde as brancas
têm uma leve porém duradoura vantagem, mas
as pretas conseguiram uma oportunidade de
conquistar o empate, após uma batalha
extenuante.
11 ...~c7?!
Perdendo a chance de conseguir um bom
jogo. Esse lance indica um conhecimento
inadequado das sutilezas de tais posições: a
dama ficaria melhor em b6! Em análises após a
partida, foi examinado 11 .. . ii..g4 12.ii.g3
ii.xg3 13.hxg3 ~6! 14.Ji.d3 etc. O plano do
adversário atraiu Kuzmin e em sua partida com
Uhlmann pela 13ª rodada ele melhorou o jogo
das brancas com 12.ii..e2! - como o próprio
Karpov jogou seis meses depois (partida 5J).
Mas partidas do ano seguinte mostraram que
é melhor o imediato 11 ...~6!, quando as
pretas não têm problemas de abertura, por
exemplo: 12.~d3 a5 13.a4 l2:Jf5! 14.ii.xf5
~xf5 15.li.g3 ll,xg3 16.hxg3 ii.e4, com
igualdade (Balashov-Gulko, Moscou 1974).
12.li.g3 ~xg3 13.hxg3 íl.g4
Em posições com um peão isolado em d5 é
útil para as pretas a troca desse bispo - assim,
pelo menos, ele não se transforma em um
"peão grande" colocado em e6.
14.!!el E'.ad8 15.c3 ~b6 (finalmente a dama
se coloca onde deveria estar) 16.~d3
16... l2:Jg6
Evitando a criação de qualquer debilidade,

mas não evitando o fortalecimento da posição
pelo adversário. Com a manobra típica
16 ... ~h5 (e se 17.l!fc2, então 17 ... ~g6) as
pretas também manteriam esperanças de
amortecer gradualmente a ligeira iniciativa das
brancas através de uma defesa precisa e
paciente.
"É claro, 16 ...d4 seria respondido por 17.c4",
escreve Karpov. Mas então após 17 .. . l2:'ig6 as
brancas gradualmente perderiam toda a
vantagem! Eu acho que de fato teria seguido
17.~xh7+! 't!?h8 18.~d3 dxc3 19.bxc3,
quando as pretas não têm compensação pelo
peão (se 19 ... l2:'if5?!, então seria forte 20.l!fd2!
com a idéia de 20 ... l2:'ixg3 21.l!ff4 ou
20 ... ~xf3 21.gxf3 ~xg3 22.@g2!).
17.l!fc2 .1l.xf3 18.gxf3 !!d6?
Aparentemente ativo e consistente: ao
defender o seu cavalo, as pretas asseguram o
avanço do seu peão h7 para h4. Mas se alguém
olhar adiante verá que toda essa operação é
simplesmente uma perda de tempo.
Em estruturas assim você pode se livrar do
seu peão isolado na primeira oportunidade que
convenha, e agora esse é precisamente o
momento -18 ... d4!, pois 19.c4?! é desfavorável
devido a 19 ... l2:'ice5 !. Karpov considera 19 .f4
dxc3 20.bxc3 "com uma posição interessante,
na qual os peões das brancas restringem os
cavalos pretos em ambas as alas." Mas, na
minha visão, após 20 ... :ê:fe8 2 l.~e4 lZ'if8
22.~e3 e ~ae 1 a vantagem das brancas é
comparativamente menor.
19.f4 .E!.fd8
É bom defender o "isolanl' de forma indireta
- aumentando a atividade das peças e dispondo
as torres em colunas adjacentes. Mas aqui
ambas as torres estão apoiando o peão d5, que
no momento não é atacado por ninguém!
Infelizmente agora é muito tarde l9 ... d4?!
devido a 20.c4 e após 20 ... l2:'ib4 21.l!fd2
l2:'ixd3 22.l!f xd3 l!f d8 23.lâe4 estará perdido o
peão d.
Anatoly, o Décimo-Segundo
20.a3!
O efeito desse lance tranqüilo é equivalente
ao estrondo de um trovão: as pretas finalmente
perdem qualquer esperança de jogar ... d5--d4 e
ficam sem contrajogo. Enquanto isso, "o plano
das brancas é claro: transferir seu cavalo para f3,
dobrar as torres na coluna e e então, de acordo
com as circunstâncias, avançar seu peão f e os
seus peões da ala da dama." (Karpov)
20... hS?!
As chances das pretas estão associadas com o
jogo no centro e na ala da dama, mas
definitivamente não na ala do rei. Entretanto,
após 20 ... a5 2 l.~d2 e l2:'if3 elas também teriam
um longo caminho para o equilibrio.
21.'t!?g2 h4 22.lâe2!
Karpov em sua essência! O direto 22.lâh 1
após 22 ... hxg3 23.fxg3 lâe8! teria obrigado as
brancas a neutralizarem uma invasão na coluna
e. Parece ser bastante bom 22.lz::ld2 com a idéia
de 22 ... h3+ 23 .Wgl! e lz::\f3. Mas a decisão de
Karpov é muito mais efetiva. Imaginando que o
seu adversário esteja trabalhando sob uma
ilusão, ele não tem pressa e em primeiro lugar
não lhe permite nem mesmo uma ligeira
atividade. Além disso, ele toma o controle da
coluna e, ao longo da qual será lançado o golpe
decisivo. É interessante que a invasão pela
coluna h permaneça somente como uma
ameaça (embora uma ameaça que as pretas
devam levar em consideração!).
22 ... ~f8 23.~d2 lâh6 24.li)f3 bxg3
225
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
25.fxg3 if:}d7
Não aliviaria o destino das pretas 25 ... d4
26.c4, por exemplo: 26 .. .1~:'ld7 27.b4!, 26 ... a5
27.!:fael, 26 ... !fc5 27.f5! ou 26 ... !fa5 27.c5!
e E\.ael.
26.!tael
Os dois lados completaram os seus planos de
reagrupamentos. E resulta que a pressão das
brancas na coluna e é muito real, enquanto o
domímio das pretas na coluna h nada promete,
uma vez que a sua torre não está apoiada. Não
tendo encontrado o tempo para a atividade na
ala da dama, as pretas condenaram a sua dama à
inação. Suas peças estão espalhadas em
desordem, enquanto as forças das brancas estão
prontas para atacar a fortaleza do rei. É aqui
onde a diferença de conhecimento posicional se
manifesta, mesmo entre Grandes Mestres.
26 ...'it>fS
Outros lances não são melhores.
27.g4!
Quando surgem objetivos bem delineados, já
em sua juventude Karpov era capaz de mudar
rapidamente do pensamento em modelos e
esquemas para o cálculo concreto. Algumas de
suas decisões podem parecer inesperadas (por
exemplo, a troca das damas próximo ao final),
mas tudo é calculado com precisão excepcional.
27... WJic7
As pretas não têm nada em que basear
qualquer contrajogo, e a sua pos1çao é sem
esperanças: 27 ... if:}cS (27 ... g6?! 28.g5 e
226
ii.xg6!) 28.ii.f5! !fb3 (28 ... WJic7 29.g5 E\.h8
30.Wg3, como na partida) 29.!fxb3 if:}xb3
30.~d7 ! f6 3 l.E\.e8+ ãxe8 32.E\.xe8+ Wfl
33.g5 ou 30 ... g6 3 l.E\.e8+ E\.xe8 32.!:i.xe8+
Wg7 33.~xc6 bxc6 34.El.e7, vencendo.
28.gS E\.h8 29.Wg3! if:}cS 30.~fS g6 31.b4!
if:}e4+
Após 3 l...gxf5 (3 l...if:}d7 32.~xg6!)
32.bxc5 o rei preto não consegue escapar:
32 ... d4 33.El.h2! E\.g8 34.WJixfS com as ameaças
de E\.h7 e !ff6 e os lances de dama não são
melhores - 32 ... WJiaS 33.E\.e3! e WJixf5,
32 ... WJic8 33.E\.h2 El.g8 34.!:i.h7! ou 32 ...WJid7
33.E\.h2 E\.g8 34.E\.h6!.
32.~xe4 dxe4 33.!fxe4 Wg7 34.bS if:}35
35.!fe7! !fxe7
No caso de 35 ...!fxc3 (na tênue esperança de
36.E\.e5?? E\.h3+!) as brancas vencem através de
36.E\.e3! !fb2 37.El.bl ! WJixbl 38.!ff6+ Wg8
39.!fxd8+ e !fxa5 com uma peça a mais, ou
36 ... !fc8 37.El.e6! Wg8 38.E\.xg6+! fxg6
39.E\.e6 com ameaças arrasadoras.
36.B'.xe7 El.d3 37."f!.c7 if:}b3 38.Wg4 "f!.f8
39.El.ee7 1-0
É inevitável a invasão do cavalo em e5. Um
modelo de planejamento estratégico, baseado
em um avaliação das características verda-
deiramente significativas da posição.
No dia seguinte, Karpov enfrentou uma
prova difícil - uma "tortura espanhola" na
partida com Tal, que estava ansioso para
amenizar o seu início fraquíssimo (o ex-
Campeão Mundial não estava bem, mas rejeitou
categoricamente todos os conselhos médicos
para se ausentar do torneio). A posição adiada -
duas torres com um peão passado a contra
torre, bispo e cavalo mais três peões, todos da
ala do rei, parecia ser uma posição perigosa para
as pretas, mas ele foi capaz de salvar esta
posição ao reiniciar a partida. Anatoly de
imediato executou o lance mais forte para as
brancas (o qual encontrou enquanto dormia!),
mas que, no entanto, não foi suficiente para a

vitória. Depois desta partida, o mestre
americano Zuckerman, segundo de Byrne e
amigo de Fischer, declarou: "Se Karpov puder
salvar estas posições, será impossível alguém
derrotá-lo". Mas, segundo as palavras de
Karpov, o seu principal rival, Kortchnoi
"reprovou Tal sem fundamento, por não querer
vencer uma posição melhor de adiamento..."
Depois, Karpov esmagou Quinteros (uma
das cinco premiadas "melhores partidas") e
com a contagem de 7 em 9, obteve o segundo
lugar. Um ponto à sua frente estava Kortchnoi
que tinha acabado de derrotar Larsen (partida
20) e Byrne. Mas bastou a ele tropeçar na
rodada seguinte e Karpov, após derrotar
Uhlmann em uma disputa difícil, o alcançou.
Na 13ª rodada, o jovem Grande Mestre venceu
o "duelo espanhol" contra Gligoric, mas
Kortchnoi também venceu. Na 14ª rodada,
Kortchnoi empatou com Smejkal, mas Karpov
derrotou Rukavina e pela primeira vez se
tornou o único líder - 11 em 14. Diz Kotov:
"Os movimentos das rodadas de Kortchnoi e
Karpov pareciam corrida de bicicleta na pista,
quando dois competidores ficam sempre à
frente na mesma distância, alternando todo o
tempo a liderança".
Na 15ª rodada, Karpov empatou e outra vez
havia dois líderes. Duas rodadas antes do
término, a luta por um lugar dentre os três
desejados tornou-se disputadíssima: Karpov e
Kortchnoi tinham 11 ½ pontos, Byrne possuía
11 e Smejkal, 10½. Na 16ª rodada Kortchnoi e
Byrne venceram suas partidas, ao passo que
Karpov disputava com as pretas contra Smejkal,
que havia deixado o público maravilhado com
uma série de sete vitórias alcançadas no meio do
torneio. Foi um duelo agitado e nervoso!
Smejkal tomou uma iniciativa perigosa, mas
perdeu muito tempo pensando e, em grave
apuro de tempo, primeiramente desperdiçou
sua vantagem e depois, no 39º lance, perdeu um
peão. Ao reiniciarem a partida, Karpov
explorou tecnicamente outro erro cometido
pelo aflito adversário e venceu um final
Anatoly, o Décimo-Segundo
memorável, com damas e bispos de cores
opostas.
A questão do trio de liderança se decidiu:
Karpov, Kortchnoi e também Byrne, que estava
um ponto atrás (um triunfo magrúfico para o
Grande Mestre americano de 45 anos). Mas
quem ocuparia o primeiro lugar? Na última
rodada, Byrne no 13° lance empatou com
Uhlmann com brancas e tudo agora estava nas
mãos dos dois "K", que jogavam com as
brancas: Karpov contra o filipino Torre e
Kortchnoi contra Hübner.
Antes das partidas, o rival propôs a Anatoly
que terminassem as duas partidas com empate
para que o primeiro lugar fosse dividido "com
justiça". Karpov lembra: "Naturalmente rejeitei
esta 'variante de Kortchnoi' e por isto ele ficou
aborrecido. A proposta era desagradável para
mim, pois, em nosso país, estes 'truques' são
terminantemente condenados. Venci
rapidamente contra Torre e saí com ele para
fazer a análise. Nisto, Kortchnoi chegou e em
voz alta (para todo o mundo) e maliciosamente
(para mim) disse: 'Bem, fui forçado a vencer
Hübner'. Agora imagino: ele e eu teríamos nos
tornado inimigos muito mais cedo se ele não
vencesse aquela última partida do Interzonal".
O resultado da disputa apertada de
Leningrado foi o seguinte: 1-2.Karpov e
Kortchnoi -13½ em 17; 3.Byrne - 12½; 4.
Smejkal - 11; 5-6.Hübner e Larsen - 10; 7.
Kuzmin - 9½; 8-1 O. Gligoric, Taimanov e Tal -
8½; etc. Aliás, no entanto Karpov atingiu seu
objetivo maior: no outono, quando se sorteou o
emparceiramento para os matches de
Candidatos, atribuiu-se de forma convencional
a ele o primeiro lugar no Interzonal e, graças a
isto, ele escapou das quartas de final com
Spassky e Petrosian e recebeu Polugaevsky
como adversário. Por outro lado, Kortchnoi
também não se queixou do destino, pois coube
a ele jogar com Mecking, vencedor do outro
Torneio Interzonal no Brasil.
É curioso o que Mecking declarou naquele
verão: "Só Karpov e eu é que podemos arrancar
227
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
o título de Campeão Mundial de Fischer". Ao
saber disso, Karpov pensou: "Sem dúvida, não
seria mal encontrar Mecking no match final de
candidatos... Mas isto seria pouco provável. Eu
achava que nós dois ainda éramos muito
inexperientes para disputar o match final. Todos
os meus grandes torneios internacionais
podiam ser contados nos dedos e, portanto
significavam muito pouco para disputar o título
de Campeão Mundial. Seria mais realista
depositar minhas esperanças nos próximos três
anos. Por isso é que disse aos jornalistas: este
não é o meu ciclo".
Naquela época, Kortchnoi também deu um
prognóstico, como de costume interessante do
ponto de vista profissional, a respeito dos
acontecimentos que deveriam ocorrer no
Olimpo do Xadrez: Afirmou ele:
"Talvez seja difícil para mim vencer o Torneio
de Candidatos. Entre meus rivais existem alguns
adversários 'incômodos'. De um modo geral,
acho que a geração derrotada por Fischer não
pode mais enfrentá-lo com sucesso. Esta
228
missão pertence aos jovens. Será que Karpov
poderá fazer frente a esta situação? Não sei.
Pelas últimas exibições de Karpov, pode-se ver
que como competidor de torneios ele não está
à altura de Fischer... Karpov melhora de um
torneio para outro. Em uma das minhas
declarações, afirmei que neste ciclo ninguém
teria condições de derrotar Fischer. Para isto
Karpov ainda tem pouca experiência e poucos
conhecimentos. Acho que ele acredita em mim
e por isto mesmo afirmou que 'este não era o
seu ciclo'. No entanto, no Torneio lnterzonal,
ele lutou pela colocação mais alta e mostrou
maior maturidade no jogo do que anteriomente.
Está se tornando um grande competidor de
torneios, arriscando-se quando preciso e se
tornando capaz de lutar pela vitória em cada
partida disputada. Além disto, ele é bastante
prático e não comete erros grosseiros. Hoje, seu
modo de jogar lembra os melhores anos de
Spassky: serenidade em cada compeuçao,
uniformidade em todas as fases da partida e
ausência de falhas grosseiras".
Exatamente uma semana depois do Torneio
lnterzonal, Kortchnoi e Karpov estavam
jogando de novo pela URSS no Campeonato
por Equipes Européias (Bath, julho de 1973),
onde Karpov obteve o melhor resultado no
tabuleiro 4 (+4=2). A prova seguinte foi o 41º
Campeonato da URSS (Moscou, outubro de
1973), que foi o mais forte por muitos anos: 1.
Spassky - 11 ½ em 17; 2-6.Karpov, Kortchnoi,
Kuzmin, Petrosian e Polugaevsky - 1O½; atrás
deles, Geller, Keres, Taimanov, Tal, Tukmakov,
Smyslov, e outros.
Karpov lembra: "Pela primeira vez coloquei
os olhos no título de campeão da URSS; meus
resultados estáveis e muito bons me davam
direito a almejar este título. Contudo, fui
impedido de conquistar o primeiro lugar,
principalmente devido a uma certa
ambivalência. Por um lado, queria ganhar o
campeonato, mas por outro era impossível 'uma
exposição completa', uma vez que surgiam à
frente as quartas-de-final do match de

Candidatos com Polugaevsky. Era preciso
poupar minhas energias e minhas aberturas".
Tal: "Karpov transformou este torneio em
uma espec1e de campo de provas.
Freqüentemente, o jovem Grande Mestre tem
sido repreendido pela insuficiência do não
muito amplo repertório de aberturas (iguais
reclamações eram feitas a respeito de Fischer
em 1970-1971). Acredito que, em muitas
partidas deste campeonato, o Grande Mestre de
Leningrado deliberadamente procurou aber-
turas desconhecidas, tentando dominá-las, por
assim dizer, em operação. Esta foi precisamente
a direção que tomou, esforçando-se para não se
desviar do programa traçado".
Madri 1973 - Partida contra uma das espe-
ranças do Ocidente, o Grande Mestre
Ulf Andersson
Outra observação importante de Karpov:
"Spassky pedalou o quanto pôde e se esforçou
ao máximo, sem poupar nenhuma descoberta
teórica para os matches de Candidatos,
revelando seus planos com generosidade em
inúmeras variantes, convencido de que antes
dos matches de Candidatos tinha que pôr suas
forças à prova. Acho, porém, que a vitória de
Spassky no campeonato não foi assim tão
convincente e promissora para ele. O ex-
Campeão Mundial teve uma posição perdedora
comigo, poderia perder forçado para
Kortchnoi, e tinha uma posição difícil contra
Kuzmin ... Se ele perdesse para algum de nós, o
vencedor dividiria o primeiro lugar com ele".
Anatoly, o Décimo-Segundo
Uma avaliação excessivamente sóbria do jogo
de um futuro e perigoso adversário, cujo triunfo
no campeonato nacional provocou admiração
geral.
A última fase de seus preparativos para o
match com Polugaevsky foi um torneio
disputado em Madri (novembro-dezembro de
1973), onde Anatoly jogou juntamente com
Furman: "Botvinnik era contra a minha viagem.
Ele calculava que quanto melhor eu me saísse
em Madri, tanto piores seriam as coisas para
mim nos matches de Candidatos. Eu pensava
diferente. E não me enganei".
O jovem competidor começou com 2½ em 3
(derrotando Pomar e Andersson). ''Joguei, por
assim dizer, tecnicamente, sem dar tudo de
mim." Quatro rodadas antes do final, Uhlmann
liderava sozinho: 8½ em 11; atrás dele vinham
Karpov, Furman, Tukmakov, e Hort com 7½.
Nessa situação, nem é necessário explicar a
importância competitiva da seguinte partida
contra o experiente Grande Mestre alemão.
Partida 53
A. Karpov - W .Uhlmann
Madri 1973, 12ª rodada
Defesa Francesa - C09
1.e4 e6 (é claro: Uhlmann é um dos maiores
especialistas na Defesa Francesa) 2.d4 d5
3.'2id2 c5 4.exd5 exd5
Nos padrões dos dias de hoje, é difícil para as
brancas jogarem por uma vitória nessa variante.
E mesmo Karpov, com toda a sua habilidade
espantosa em acumular pequenas vantagens e
então transformá-las em uma vantagem
substancial, dificilmente teria acumulado tantos
sucessos sem a "ajuda" dos seus adversários.
Mas esses erros, como na presente partida, são
às vezes tão imperceptíveis, que somente após
uma análise minuciosa são possíveis de serem
encontrados...
5.'2igf3 ~c6 6.il.b5 il.d6 7.dxc5 il.xc5
8.0-0 ~ge7 9.~b3 il.d6 10.il.gS 0-0 ll.il.h4
229
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
O tempo para 11 .~el ! (Karpov-Kortchnoi,
18ª partida do match, Moscou 197 4) ainda não
havia chegado.
11 ... .tg4 (como já mencionado, é melhor
l 1...ii'b6!, mas não 11.. .'i!Vc7?! - partida 52)
12..te2!
Uma idéia excelente de Gennady Kuzmin.
12 ... .thS
Uma tentativa de melhorar o jogo das pretas
em relação à partida Kuzmin-Uhlmann
(lnterzonal de Leningrado 1973, 3ª rodada) , a
qual seguiu 12 ... ifb6 13 ..ixe7! (uma surpresa
desagradável: na resposta, as pretas pensaram
por uma hora e vinte minutos!) 13 .. .'~Jxe7
(após 13 ...Ji.xe7 14.ifxdS não é fácil encontrar
uma compensação digna pelo peão) 14.ifd4
!fxd4 15.~fxd4 .1t.d7 (não seria melhor
15 ....ixe2 16.'~Jxe2) 16.~adl Z!fd8 17.!!fel
çt>f8 18.c3 a5?! 19.a3 a4 20.~al ! ~c8
21.~ac2 ~b6 22.~e3 .if4 23.'~dc2 ~e6
24.!!d4! ~xe3 25.~xe3 ~c4 26J~edl ! !!dc8
27.~xdS Ji.xd5 28.!!xdS ~xb2 29.:Sbl ~c4
30.:Sxb7 ~a5 (30 ... ~xa3? 31.!!dd7) 31.~bbS
e as brancas converteram seu peão a mais.
Mas Karpov também estancou o novo lance
de Uhlmann. Foi ao final desses fracassos que
as pretas foram induzidas a procurar novos
caminhos de defesa contra 1 l .Ji.h4.
13.:Sel ii'b6 14.~fd4
''Após libertarem seu cavalo de e7 da cravada,
as pretas planejavam utilizá-lo no ataque ao
bispo em h4 e assim as brancas precisam
230
controlar a casa f5." (Karpov)
14 ... .tg6 (para estabelecer controle sobre as
casas centrais) 15.c3 !!fe8 16.ii.fl .te4
Desocupando a casa g6 para a manobra
... ~g6-e5. Entrar no final com 16 .. .'~Jxd4
17.~xd4 ~f5 18.ifxb6 axb6 19.:Sxe8+ :Sxe8
não teria igualado completamente em vista de
20 ..ibS! !fa8 (20 ... ~eS?! 21...id8) 21.~g3!
(não 21.~gS h6 22.Ji.d2 .ie5, com igualdade)
2 l.. ...ixg3 (ou 2 l...'~Jxg3 22.hxg3) 22.hxg3
~d6 23.lz::ld4 e em vista da debilidade dos
peões, a posição das pretas é um pouco pior.
17.~g3 li.xg3 18.hxg3 a5?!
"Uhlmann deve ter subestimado os perigos à
sua frente, de outro modo teria se restringido ao
simples l 8 .. Jâad8" (Karpov), por exemplo:
19.a4 lz::lxd4 20.lz::lxd4 a6 etc.
19.a4!
A casa b5 se torna um importante ponto
forte para as peças brancas e Karpov faz um
uso efetivo incomum deste posto avançado.
19...lz::lxd4 20.lz::lxd4! (a única possibilidade
de jogar por uma vantagem) 20 .. .êZ:k6
Não seria possível 20 ...if xb2? devido a
21.~bS, com duas ameaças desagradáveis -
lz::lc7 e ~e2!. As pretas são forçadas a permitir
a ativação do cavalo em b3 e toda a sua
estratégia, baseada na ação restritiva da dama
em b6 se mostra inútil.
21.ii.bS ~ed8
22.g4!
O objetivo desse avanço não se torna claro de
imediato. As brancas não estão pensando em

um ataque - elas se preparam para o final!
"Lances assim me proporcionam a maior
satisfação: as brancas conseguem enxergar o
futuro. E no futuro imediato, a partida será
transposta para um final duplo de torres com
bispos de casas brancas. A mobilidade do bispo
preto está resringida pelo seu próprio peão em
d5 e agora o meu peão em g4 o atrapalhará
ainda mais. Pode ser objetado: mas você
colocou um peão em uma casa da mesma cor
do seu próprio bispo! Isso é verdade, mas o
meu bispo está trabalhando ao longo de
diagonais diferentes." (Karpov)
22 .. .'f~xd4?
O julgamento de Karpov, que é de valor
metodológico, teria encontrado sérios contra-
argumentos caso as pretas não se apressassem
nas trocas, mas seguido a recomendação do
próprio Karpov: "Teria sido tecnicamente
melhor o lance preparatório 22 ...:ãac8".
Aparentemente, dessa forma as pretas
manteriam um equilibrio aproximado: 23./f)f5
(23.f3 ~g6) 23 ... ~xf5 24.gxf5 d4! 25.iVg4
/f)a7 26.~fl iVf6 ou 23Jâcl /f)xd4 24.iVxd4
iVxd4 25.cxd4 @f8 com boas chances de
empate.
23.iVxd4! iVxd4 24.cxd4 :ãac8 25.f3 il.g6
26.:ãe7! b6
De acordo com Karpov, "já era hora
provavelmente de decidir por medidas ativas
como 26 ...:ãc2". Entretanto, após 27.:ãael !
(não de imediato 27.'.ãxb7 :ãxb2 28.'.ãa7 :âd2
29.:ãxa5 :ãxd4 30.:ãa7 '.ãb4 com um empate
provável) 27 .. .h6 28.:ãxb7! B'.xb2 29.:ãee7 as
pretas estariam frente a uma defesa difícil:
29 ... '.ãc8!? (29 ...:ãd2 30.it.e8!, enquanto se
29 ...:ãb4 então é desagradável 30.f4) 30.@h2!
:ãcc2 31 .@g3 :ãxg2+ 32.@f4 @h7 33.:ãbd7 e
:ãxd5, mantendo a vantagem.
27.:ãael h6 28.'.ãb7
As brancas estão ameaçando invadir a 7ª
fileira com sua segunda torre e iniciar a
perseguição ao rei.
Anatoly, o Décimo-Segundo
28 ... :âd6?
Praticamente tirando a torre do jogo - e isso
é suficiente para Karpov vencer. Ele não teme a
invasão da outra torre: por si mesmas, ou até
com o apoio do seu bispo, elas só podem dar
alguns xeques, tomar um par de peões,
enquanto o par de torres brancas unidas tecerá
uma rede de mate.
"Se agora 28 ... :ãc2 então seria muito
desagradável para as pretas 29.:âe2 :ãxe2
30.~xe2 :âd6 31 .~b5, seguido pelo avanço do
rei branco ao centro, o que o capacitará a
conseguir a dominação apesar do material
limitado." (Karpov). Mas parece-me que essa
variante teria deixado as pretas com chances
reais de salvação: 3 l...@f8 32.@f2 it.c2 33.'.ãc7
~7 34.@e3 g5!, bloqueando o caminho do rei
ao centro. Não é aparente como as brancas
poderiam trincar essa fortaleza.
Posso acrescentar que após o lance único
28 ... :ãc2! as pretas manteriam recursos
defensivos no caso de 29.:ãxb6 :ãxb2 30.:ãa6
:ãd2 3 l.:ãxa5 :ãxd4 ou 29.:ãee7 :ãxb2 30.~e8
:âd6! 31.f4 ~e4 32.it.xf7+ @h7 (por exemplo,
33.it.h5 :ãc6! 34.:ãxg7+ @h8 35.:ãgc7 :ãxc7
36.:ãxc7 :ãxg2+ 37.@fl :ãa2 38.:ãc6 :ãxa4
39.:ãxh6+ @g7 40.:ãxb6 :ãxd4 etc.).
29.:ãee7 hS
Agora seria muito tarde 29 ...:ãc2 em vista de
30.:ãb8+ @h7 31.:ãee8 :ãcl+ 32.@h2 ~bl
33.f4 ~e4? 34.f5 g6 35.f6! g5 36.:ãg8! :ãxf6
37.:ãh8+@g738.:ã.bg8 mate. "As pretas teriam
231
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
evitado todo esse 'brilhantismo' somente
através de 33 ... ég6, o que teria me forçado a
também operar de forma mais prosaica."
(Karpov). Isso é, 34.B:e7! (com a ameaça de
B:bb7 ou B:f8) 34 .. Jâf6 35.ég3 Ê'.dl (35 ... hS
36.gxhS+ éxhS 37.B:eS+ e E'.xdS) 36.fS+ égS
37.B:g8 g6 38.B:xt7! B:xd4 39 ..i.e2, quando os
dias das pretas estão contados.
30.gxhS ll.xh5 31.g4! ..lig6 32.f4 E'.cl+
33.ci!;>f2 !k2+ 34.ci!;>e3 .i.e4 (também seria ruim
para as pretas 34 ... ãe6+ 35.E'.xe6 fxe6
36.E'.xb6) 35.ãxti E'.g6 36.gS
Uma torre preta corre inutilmente de um lado
para outro na posição inimiga, enquanto a outra
ainda está fora de jogo... O restante é claro sem
comentários.
36 ...ci!;>h7 37.ãfe7 ~xb2 38 ..i.eS! l!b3+
39.ci!;>e2 E'.b2+ 40.ci!;>el! ãd6 (40 ... B:bl+
41.éd2 B:b2+ 42.éc3 ~c2+ 43.éb3 Karpov)
41.ãxg7+ ci!;>h8 42.ãge7 1-0
Ou 42J~gf7 'i!?g8 43.fS. As pretas
abandonaram, pois a única forma de evitar o
mate seria através de 42 .. Jâbl+ 43.éf2 E'.b2+
44.ég3 B:g2+ 45.éh3 :Se2 46 ..i.bS! Si.fS+
47.ég3 ~xe7 48.ãxe7 etc.
Um excelente final de 3½ em 4, inclusive uma
vitória com pretas na última rodada, permitiu
ao Grande Mestre soviético de 22 anos tornar-
se o único vencedor de um torneio importante
pela primeira vez: 1.Karpov - 11 em 15; 2.
Tukmakov - 1O½; 3.Furman - 10; 4-5.Hort e
Uhlmann -9½; 6-7. Andersson e Portisch - 9.
Na cerimônia de encerramento, juntamente
com o primeiro prêmio, ele recebeu também o
primeiro "Oscar" do xadrez. Não parece ser
sintomático? Antes o "Oscar" só tinha sido
conquistado por Spassky (1968-1969) e Fischer
(1~70,1971 e 1972).
E claro, Fischer continuou a observar o
surgimento da nova estrela com atenção
contínua, estudando o estilo e hábitos de seu
provável adversário. Muito eloqüente é o
testemunho de Tal que, junto com Karpov,
232
jogou em exibições simultâneas no festival de
jovens e estudantes, em Berlim, no verão de
1973:
"Depois de uma das sessões simultâneas, os
organizadores atraíram nossa atenção para uma
senhora que todo o tempo havia ficado do lado
da mesa de Karpov com uma câmara na mão.
Era a mãe de Robert Fischer que, a pedido do
filho, tirou algumas fotos. O Campeão Mundial
queria conhecer Karpov um pouco melhor,
porque achava que Karpov viria a ser seu
adversário no match do Campeonato Mundial
de 1975. Devo confessar que na época eu
achava que isto seria difícil, mas Fischer
demonstrou que enxergava bem longe... "
Duelo de Estreantes
O primeiro adversário de Karpov nos matches
de Candidatos foi Lev Polugaevsky, de 39 anos,
bicampeão da URSS e vencedor de muitos
torneios internacionais, que também estreava
em competições de alto nível. No entanto, ao
contrário de Karpov, ele já tinha alguma
experiência em matches: dois matches pelo título
de Campeão Nacional (com Aleksander Zaitsev
e Petrosian) e o confronto com Hort no "Match
do Século". Mesmo assim, como afirma Tal, a
maior parte dos especialistas previu a vitória do
competidor mais jovem, mas ... após uma luta
bastante disputada.
Moscou, 1974 - Quartas de final do Torneio de
Candidatos: Karpov-Polugaevsky
O próprio Polugaevsky calculou suas chances
com muita modéstia, mas sem deixar de se
preparar com todas as forças: "Não estava lá

muito satisfeito com o adversário que me foi
destinado. É verdade que Karpov tinha dito que
este não era ainda o 'seu' ciclo de Candidatos,
mas seu sucesso estupendo e o enorme talento,
que aumentava a cada dia que se passava,
demonstravam claramente que no mundo do
xadrez ele era um fenômeno extraordinário.
Talvez tenha sido por esta razão que minha
atitude frente ao match foi muito séria. Sem me
entregar a uma ocasião sequer de descanso, me
empenhei todo o tempo na preparação das
aberturas. (Mais tarde procurei evitar este erro).
Eu sabia que Karpov nunca recusava um duelo
teórico, uma vez que confiava em si mesmo, nas
análises e na sua aptidão para resolver os mais
imprevisíveis problemas no tabuleiro. Decidi
causar-lhe uma surpresa: com as pretas, jogar só
meus esquemas sicilianos e, com as brancas, em
vez de meu lance preferido l .c4, mudar para
l .d4 a fim de lutar na variante principal da
Defesa Nimzoíndia, firmemente adotada no
repertório de Karpov"
Uma nota curiosa é o que observa Roshal:
"Quando Polugaevsky estava se preparando
para o match com Karpov, examinou umas 250
partidas dele e verificou que havia muita coisa
em comum entre Karpov e Fischer. Na
abertura, os dois jogam 'xadrez direto'. O que
será que Polugaevsky quis dizer com esta
definição? Tanto Fischer como Karpov estão
prontos para uma disputa teórica fundamental,
porque acreditam na exatidão do seu método de
abertura - os dois costumam empregar só
continuações cuidadosamente estudadas e
analisadas em variantes previamente escolhidas.
Ao mesmo tempo, a técnica de Fischer e
Karpov é excepcionalmente requintada e
dificilmente pode-se encontrar equívocos nesta
técnica, apesar de ambos jogarem mais rápido
do que todos os demais Grandes Mestres mais
fortes".
Karpov possuía também uma estratégia de
match característica: "Na opinião de Furman,
antes do match com Polugaevsky eu já tinha um
conhecimento suficientemente profundo,
Anatoly, o Décimo-Segundo
embora talvez não muito extensivo, das
aberturas. Nosso 'plano de campanha' era, em
poucas palavras, o seguinte: Polugaevsky gosta
de posições calculadas; por isto neste caso é
preciso não deixar que ele obtenha estas
posições. A limitação do repertório de aberturas
de meu adversário simplificou nossa tarefa".
Como resultado, neste match - de forma única
em todas as quartas de final - a discussão teórica
se deu só em duas variantes: uma linha popular
da Variante Najdorf na Defesa Siciliana (6.1i.e2
e5 7.ltfü3 li.e? 8.0-0 1i.e6 9.f4 VJJlc7 10.a4
lz::ibd7 1 l.~hl) e a Defesa Nimzovitsch (4.e3
0-0 5. ~d3 c5 6.lz::if3 d5 7.0-0 dxc4 8.~xc4
lz::ic6 9.a3 it.a5). Apesar de terem surgido
posições conhecidas do meio-jogo, começaram
já no momento da abertura grandes reflexões
dos dois competidores, as quais às vezes
levaram a decisões duvidosas. É bom lembrar
que estávamos na era da pré-informática,
quando a análise doméstica da primeira metade
do jogo, com raríssimas exceções, tinha caráter
geralmente ilustrativo. No entanto, esta "batalha
renhida" possibilitava inúmeras posições típicas
na Defesa Siciliana, que podia ser
reconsiderada, prestando uma valiosa
contribuição à sua teoria.
Nos primeiros estágios do match (Moscou,
janeiro-fevereiro de 1974), travou-se uma luta
equilibrada e difícil: as três primeiras partidas
terminaram em empate. Pelas novas regras da
FIDE, adotadas por influência de Fischer, os
jogadores jogavam até um número determinado
de vitórias; nas quartas-de-final, jogavam até
três vitórias (mas sem passar de 16 partidas).
Botvinnik escreve: "Inicialmente Karpov não
conseguia ver onde estavam os pontos fracos
do seu adversário, mas empregou uma das
características mais fortes da natureza - seu
programa autodidática, reorganizando-se. A
questão era que Polugaevsky é forte quando
sabe o que fazer, porém quando o plano não é
claro e a partida começa a se arrastar, ele se
torna mais fraco. Depois da 4ª partida, Karpov
adquiriu confiança".
233
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Partida 54
A. Karpov - L. Polugaevsky
Match de Candidatos, Moscou 1974 - 4ªpartida
Defesa Siciliana - B92
1.e4 cS 2.~f3 d6 3.d4 cxd4 4.~xd4 ~f6
5.~c3 a6 6 ..te2
O lance favorito de Karpov. "Essa
continuação tranqüila me parece ser uma das
respostas mais sólidas à Variante Najdorf.
Normalmente ela exige que as pretas não
tomem decisões posicionais independentes no
tabuleiro, enquanto nas variantes mais agudas
os dois lados atuam por muito tempo de acordo
com o conselho de terceiros e mesmo para um
jogador habilidoso pode ser difícil continuar o
desenvolvimento quando as análises caseiras
chegam ao final."
6 .•• es
Em seus matches comigo (1984-85 e 1985) e
Anand (1995) o único tópico de discussão foi a
Variante Scheveningen, que surgia após 6 ... e6
(veja o volume 2 da série Xadrez Moderno).
7.~b3 .te7 8.0--0 .1l.e6
É ligeiramente mais preciso 8 ... 0--0 e se
9 .~e3 e somente então 9 ... ~e6 !, mas não
9 ... ~c7?! (Geller-Fischer, Torneio de
Candidatos, Curaçao 1962, 2ª rodada). Os
comentários dessa partida também descrevem
as sutilezas de toda a variante (cf. partida 98,
volume 2).
9.f4 ~c7 10.a4
Posteriormente vários lances foram utilizados
contra mim: 1O.f5 .tc4 11 .~g5 (011,
Olimpíada de Moscou 1994), 10.l'Z'ld5 (Anand,
Llnares 2000) e o mais agressivo 10.g4!? (Ye
Jiangchuan, partida rápida, Batumi 2001).
10 ••• lclbd7 11.Whl!?
O lance novo de Geller. Como na 2ª partida,
as brancas evitam o tradicional l l .f5 ~c4 e o
que já foi a continuação principal, mas que não
é mais assunto: 12.~e3 0-0 13.a5 b5! 14.axb6
234
lclxb6 (volume 4, partida 70), assim como a
tentativa fracassada 12.a5 0--0 13.~g5 âfc8
14 ..txc4 ~xc4, com igualdade (Karpov-
Gheorghiu, Moscou 1971).
11 ••• 0--0
É claro, não 11 ... :ãc8?! 12.f5 ~c4 13.a5 0--0
14.~xc4 'i!fxc4 15Jâa4! ~c6 16 ..te3 com
uma atadura, (Geller-Ivkov, Hilversum 1973),
pois após 16 ... b5? 17.axb6 o peão a6 está en
prise.
12 ..te3
Naquela época a estocada corajosa 12.g4!?
não ocorrera a ninguém - aparentemente isso
foi jogado pela primeira vez na partida
Korsunsky-Kasparov (Baku 1976).
Além disso, ainda não era tarde para jogar
12.f5 .tc4 e agora nem 13.a5 com a idéia de
13 ... b5 14.axb6 ~xb6 15 ..t.gS - embora
então 15 ... d5!? ou, mesmo antes, 13 ... ~ b5!?
14.lclxb5 axb5 15 ..tgS b4 16.~d3 lclc5
(Ivkov-Mecking, Interzonal de Petrópolis 1973,
3ª rodada), ou 13 ..tgS Ê'.fc8 14.a5 h6,
transpondo para uma posição da partida 011-
Kasparov (para maiores detalhes, veja volume 4,
partida 70, comentário ao 12º lance das brancas).
12 ... exf4 13.'.ã:xf4
13 ••• lcleS!?
Uma novidade. A 2ª partida seguiu 13 ... BJe8
14.l'Z'ld4 (seria questionável 14.a5 ~xb3
15.cxb3 d5! 16.exd5 ~c5! Tringov-Browne,
Olimpíada de Nice 1974) 14 ... l'Z'le5 15.lclf5
lclg6 16.ÉÍ.fl ~f8 17.~d4 (também foi

recomendado 17 .~d4, mas após 17 ... Cz::le5 as
pretas estão bem) e, como considerado de
forma geral, as brancas conquistaram uma
vantagem posicional.
Entretanto, Polugaevsky, Botvinnik e outros
comentaristas não viram o típico contra-ataque
17 ...d5 !, que dá às pretas um bom jogo:
18.Cz::lxd5 (seria pior para as brancas 18.Cz::lh6+
gxh6 19.~xf6 j;_g7 ou 19.Ê[xf6 dxe4)
18 ... Cz::lxd5 19.exd5 j;_xf5 20.!!.xf5 ~e7
21.!!.f3 Cz::lh4 22.!!.h3 Cz::lf5 23.~d3 g6 ou
18.exd5 ~xf5 19.!!.xf5 ~d6! 20.~g5 ~e5
21.~c4 '%!Ub6 etc.
14.Cz::ld4
Seria mais preciso 14.a5! (.partidas 56 e 51),
mas não 14.Cz::ld5 ~xd5 15.exd5 Cz::lfd7 16.!!.b4
!!.fe8 17.a5 ~f6, com igualdade (Hulak-
Portisch, Indonésia 1983).
14 ...!!.adS!
Uma jogada que envolve uma disposição de
forças original. Também seria apropriado o
lance padrão 14 ... !!.ac8, por exemplo: 15.Cz::lf5
j;_xf5 16.exf5 d5! 17.Cz::lxd5 Cz::lxd5 18.~xd5
!!.fd8 19.~e4 !!.e8 com contrajogo adequado
(R.Byrne-Portisch, Las Palmas 1976).
15.~gl?!
O primeiro raciocínio relativamente longo (1 O
minutos) não produziu a melhor reação à
novidade - o próprio Karpov falou muitas
vezes da necessidade de se escolher com
cuidado um lugar para a dama, mas aqui de
forma voluntária a coloca em um canto.
Também prometia pouco 15.Cz::lf5 ~xf5
16.!!.xf5 ~c8! 17.~fl ~e6 18.!!.dl !!.c8
19.~d4 ~d8! (Adorjan-Portish, Campeonato
Húngaro 1975). O lance mais recomendável foi
o único aconselhado por muitos comentaristas:
15.a5 (com a mesma ameaça de Cz::lxe6 e it.b6),
embora após 15 .. J~d7 16.Cz::lf5 it.d8 17.Cz::ld5
Cz::lxd5 18.exd5 it.xf5 19.!!.xf5 (Botvinnik)
19 ... !!.e8 não há dúvida sobre alguma
vantagem para as brancas.
15 ...!!.d7 16.!!.dl ges 17.Cz::lfS?! (seria mais
seguro jogar 17.Cz::lxe6 fxe6 18.~b6 ~c6
Anatoly, o Décimo-Segundo
19.~e3 ~d8, com igualdade) 17 ...il.dS!
Esse é o esquema imaginado por
Polugaevsky: tem tudo defendido e não há nada
para as brancas atacarem!
18.Cz::ld4
Após pensar por 25 minutos Karpov admite
que o seu lance anterior foi sem sentido. Se
18.~d4 teria seguido o libertador 18 ... d5!
19.exd5 Cz::lxd5 20.Cz::lxd5 ~xd5 com a iniciativa
para as pretas.
18 ...Cz::lg6?!
Desperdiçando uma oportunidade excelente
de realçar a incerteza do jogo das brancas na
abertura - 18 ... ~c4! (Polugaevsky) e após
... d6-d5 se tornaria claro que as pretas estão
muito melhor preparadas para a abertura do
centro.
19.~ffi ~eS Gogado após quase 20 minutos
de hesitação) 20.~f4!?
Karpov explora prontamente a indecisão do
adversário, abrindo um caminho para sua dama.
Polugaevsky sugeriu o profilático 20.h3 !?
(tirando das pretas a casa g4), mas aqui também
após 20 ... ~c8 ou 20 ... .1i.c4 as chances são
iguais.
20 ...'i!fcS
Convidando o adversário a entrar em um final
aproximadamente igual. Conduziria a um jogo
mais complicado 20 ... ~a5 (Polugaevsky) ou
20 ... j;_c4!?
21.~xe6 'i!fxgl+ 22.gxgl gxe6 23 ..i.O
Defendendo com firmeza a debilidade de e4,
235
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
mesmo ao custo da transformação do bispo em
um "peão grande"! Após 23.B'.gfl !? tinham
uma escolha entre o tranqüilo 23 .. .h6 e o
ataque imediato ao peão e4 através de
23 ... CzJg6 (mas não de imediato 23 ... .ãaS?!
Devido a 24.êz:ld5! CzJxe4? 25.b4! .ãd8
26 ..ãxe5 e ~g4) 24 ..ãg3 ~a5 (ameaçando
... 1i..xc3) 25.CzJd5 B'.xe4 26 ..ãd3 CzJxd5!
27 ..ãxe4 CzJe3, conquistando um empate.
23 ... CzJeg4 24.!.i:gfl .ãb6 25J!d2 1i..e3
(também teria assegurado um equilíbrio
confortável 25 ... .ãaS!?) 26.i.xe3?
Brincando com fogo! Karpov não quer trocar
seu bispo "estúpido", antecipando de qualquer
forma que já o tivesse discriminado! Após
26.1i..xg4 Cz)xg4 27.~xe3 CzJxe3 28.B'.D CzJc4
29.lâd4! êz:le5 (não 29 ... CzJxb2? 30.CzJd5 e o
cavalo preto caiu em uma cilada) a calmaria teria
descido ao tabuleiro e a paz estaria concluída.
De acordo com testemunhas oculares, muitos
dos especialistas no salão de imprensa estavam
confusos: como, após seu jogo insípido na
abertura, Karpov evitava oportunidades de
forçar o empate? Somente Balashov, que
conhecia muito bem a Karpov, declarou
tranqüilamente: "Por que ele iria querer o
empate? Há muito tempo ele está jogando pela
vitória". Obviamente, na dada circunstância, o
Grande Mestre não avaliava a posição (agora é
claramente mais promissora para as pretas), mas
o estado psicológico dos dois adversários.
26 ...CzJxe3 27.Eibl Wf8
Esse lance óbvio foi feito de forma rápida.
Também deve ser considerado o agudo
27 ... g5!? (Polugaevsky).
28.Wgl lâc7 29.Wf2
A recomendação de Polugaevsky 29.B'.e2
CzJc4 30.CzJdl é inadequada devido a 30 ... d5
(Botvinnik) 3 l .exd5 B'.xe2 32 ..fi.xe2 CzJxd5 ou,
até mais desagradável, 30 ... g5! 31.CzJf2 h5.
29 ... CzJc4 30.lâd3 gs!
Decidindo finalmente mostrar alguma
atividade. "Muitos pensaram que a manobra
... B'.e5-c5 teria dado às pretas boas chances de
236
vitória. No entanto, pode ser visto que após
30 ...:Se5 3 l.b3 ! CzJa3 32.lâb2! âec5 33.CzJe2 as
brancas teriam empatado." (Botvinnik). Isso é,
33 ... CzJxc2 34 ..1:!xd6 We7 35.âdl etc.
31.h3 h5 32.lz'ldS
Aqui Polugaevsky já estava no apuro de
tempo e tal era o seu estado emocional que,
após uma trama sem deixar uma simples peça
ou peão en prise, perdeu essa posição excelente
em oito lances!
32 ... êz'lxd5
O início da virada. As pretas sonham em criar
uma fortaleza, sem pensar em uma vitória. Seria
mais forte 32 ... B'.c5! (também não é mau
32 ... ãc6!?) e, segundo Botvinnik, "teria
mantido uma ligeira vantagem", mas na minha
opinião, também daria chances para mais:
33.êz'lxf6?! ãxf6 34.Wg3 (34.We2? l:z:\e5)
34 ... h4+ 35.Wf2 CzJb6! ganhando um peão
(Polugaevsky) ou 33.b4 âc8 34.Wgl ! (34.âc3?
g4, vencendo) 34 ... lz:le5 35.lâc3 ãxc3
36.lz:lxc3 :ãe8! 37.ii..e2 lâc8 38.âb3 êz:lc6!?
(aparentemente não é o único caminho)
39 ..ãd3 l:z:ld4 40.El.a3 êz:ld7 e as brancas
enfrentam uma defesa desagradável.
33.lâxdS! lZ'ie5?
O primeiro passo em direção ao abismo.
Após 33 ... :Sf6! as pretas ainda manteriam a
vantagem: 34.B'.xg5 (34.Wgl CzJe5) 34 ... lZ'id2
35.ãel :ãxc2 36.Wg3 h4+! 37.Wg4 :ãxb2 ou
34.2âf5 :ãxf5 35.exf5 CzJd2 36.:Sdl (36.:Scl
CzJxf3 37.Wxf3 :Sc4!) 36 ... CzJxf3 37.~xf3

nxc2 38.!!xd6 'àxb2 e as brancas têm que
tentar o empate em um final de torres onde têm
um peão a menos (39.f6 We8 40 ..1âd5 B'.b6
41.'àxg5 :Sxf6+ 42.'t>e4 ãg6 43.!'!xh5 :Sxg2
etc.).
34.c3 h4
Outra pequena concessão. Seria melhor
34 .. .B'.f6 (Polugaevsky) 35.We3 g4 36.~e2
We7, com igualdade.
35.âbdl We7 36.âld4!
As brancas fortalecem a colocação das suas
peças o máximo possível, mas ainda é cedo para
se falar em uma vantagem para elas.
36... f6?!
Prendendo a sua própria torre em e6, a qual,
é claro, deveria ser deixada com liberdade de
ação. Na opinião de Botvinnik, após 36 ... b6
37.âb4 !'!c6 38.ii..e2 a5! 39.âb3 Wd8 as pretas
não teriam dificuldades. Também não seria mau
36 ... !'!f6 (mas não a recomendação de
Polugaevsky 36 ... âg6 devido a 37.~e2!), mas
o melhor seria 36 ...!!c5! - aqui somente as
brancas poderiam ter algum problema: 3 7 .ii..e2
B'.xd5 38.B'.xd5 tz::ld7! 39.B'.xg5 tz::lc5 e após
40.ãg4 tz::lxe4+ 41.Wf3 tz::ld2+ 42.Wf2 tz::le4+
38.1Le2!
''As brancas ignoram a possibilidade de
Anatoly, o Décimo-Segundo
38.ãb4, forçando a retirada 38 .. Jk7 e
preparam o avanço dos seus peões da ala da
dama." (Botvinnik)
38 ... WdS
Outro lance impetuoso no apuro de tempo.
Para sua desgraça, Polugaevsky coloca o seu rei
em c7 para a defesa dos seus peões d6 e b7:
Mas ao libertar a sua torre em e6, ele prende a
sua outra torre! "Com 38 ... lz:Jg6 39.ãb4 'àc7
seguido por ... !!e5 as pretas teriam impedido o
plano do adversário e consolidado a sua
posição." (Botvinnik). Também seria aceitável
38 ... b5!? 39.axb6 ãxb6 40.b4 B'.c6, por
exemplo: 41.c4 !'!c7! 42.b5 a5 ou 41.&5 B'.xc3
42.!!xa6 B'.c2 43.B'.a7+ Wd8 44.b5 tz::ld7
45.We3 f5, com igualdade.
39.c4 Wc7?
Um erro fatal, com a seta quase caindo.
"Exausto pelo cálculo interminável de variantes
(embora se saiba que isso não melhora a
qualidade das mesmas) e deprimido pelo meu
modo imperturbável, no apuro de tempo
Polugaevsky não somente desperdiçou a
enorme vantagem que conquistara, como
também comprometeu sua posição." (Karpov)
Através de 39 ... b6! (Polugaevsky) 40.b4 bxa5
41.:Sxa5 Wc7 as pretas teriam saído com
segurança do apuro de tempo, mantendo todas
as chances de empate. E até mesmo o
"inescrupuloso" 39 ... We7 40.b4 'àc7 41.b5
âc8! as manteria flutuando.
40.b4! tz::lg6
Uma resposta instantânea - o último lance
antes do controle de tempo! É pena, 40 ... b6 já
seria muito tarde em função de 4 l .b5 axb5
42.cxb5 B'.c2 43.a6 e B'.d2!. Mas agora as
brancas também criam um peão passado e
vencem a partida.
41.b5
"A análise no adiamento dessa partida não
trouxe nenhum conforto às pretas." (Botvinnik)
No dia seguinte, nas palavras de Roshal,
Karpov chegou para a continuação "cansado e
sonolento, não conseguindo nem dormir nem
237
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
comer alguma coisa durante a análise
noturna...". Nem precisa dizer que essa é uma
situação comum!
41. .. axbS (seria completamente ruim
41...lâc5? 42.b6+ c;t,c6 43.kdl ou 43.kh5,
vencendo) 42.cxbS ãc2 43.b6+ Wd7
Se 43 ... c;t,c6, então 44.We3 (Polugaevsky),
por exemplo: 44 ... lâxe4+ 45.lâxe4 c;t,xd5
46.a6! ou 44 ... lâc5 45.lâxc5+ dxc5 46.lâd8
~f4 47.lâc8+ c;t,d7 48.lâc7+ Wd6 49.~g4 e
descem-se as cortinas.
44.lâd2!
Um lance de força terrível. Agora o
anteriormente desconhecido bispo "estúpido",
que Karpov preservou da troca, se torna o
solista principal!
Entretanto, a variante 44.c;t,e3 ~f4
45 ..tb5+! c;t,e7 46.a6 ~xg2+ 47.'~:f.3 ~el+,
que conduziria ao empate na visão de
Polugaevsky, também traria o sucesso às
brancas após 48.c;t,g4! lâc8 49.lâc4! lâxc4
50.axb7 ou 48 ... c;t,f7! 49.c;t,h5! (mas não
49.axb7?? c;t,g6! 50.lâd2 lâxe4 mate) 49 ... lâc8
50.lâxd6.
44 ...ãxd2 45.ãxd2 ãe5
Após 45 ... lâxe4 46.kb5+ c;t,c8 todos deram
47Jk2+ c;t,b8 48.a6 bxa6 49.kxa6 lâe8 50.b7
~e7 51.lâe2! ganhando o cavalo, embora fosse
mais simples 47.lâxd6.
46.a6! Wc6 (ou 46 ...bxa6 47.~xa6 li:Je7
48.lâb2 li:Jc6 49.~b5! Polugaevsky) 47.2:!b2
~f4 (47 ... :t:'fa5 48.~c4 e kd5+) 48.a7 ãa5
238
49.~c4! e em vista do inevitável lâa2 as pretas
abandonaram. 1-0
Karpov lembra: ''Aqui ainda não foi o fim,
mas apenas a primeira brecha e Polugaevsky só
foi destruído na partida seguinte. Utilizar as
variantes dele contra ele próprio é como
atravessar um campo minado. Mas foi assim
que estruturei este match: quando se perde no
próprio terreno, a dor é mais forte. Não há
dúvida de que o risco era enorme, mas eu não
tinha medo de me arriscar".
Na 5ª partida, Polugaevsky lançou mão de
outra novidade e logo conquistou uma posição
vencedora. Mas Karpov suportou com grande
determinação, o que literalmente enfeitiçou o
adversário. Karpov prossegue: "Polugaevsky
acreditava em minha tranqüilidade... Devo dizer
que, nos matches em geral, aí pela 3ª ou 4º
partida, começa-se a apalpar o adversário, seu
humor e até, talvez, seus desejos. Às vezes a
adivinhação dos pensamentos dá certo, ou pode
ser até que se perceba o rumo desses
pensamentos. É provável que Polugaevsky
tenha percebido também que eu não estava
mais com medo e que eu já tinha atribuído-lhe
um zero, explicando-se dessa maneira por que
eu estava tão calmo assim, ao passo que ele
ainda tinha que conquistar uma vitória - e você
não concorda que esta é uma situação
engraçada? É como se a vantagem psicológica
tivesse passado para meu lado. E foi isto que o
destruiu!"
Partida 55
L. Polugaevsky - A.Karpov
Match de Candidatos, Moscou 1974 - 5ªpartida
Defesa Nimzo-Índia - E56
1.d4 ti:Jf6 2.c4 e6 3.li:Jc3 ~b4 4.e3 0-0
5.~d3 c5 6.ti:Jf3 d5 7.0-0 dxc4 8.~xc4 li:Jc6
9.a3 ~as
Um plano raro (se comparado com 9 ... ~xc3

IO.bxc3 'fJ!fc7), que já tinha sido utilizado por
Karpov e antes dele - pelo próprio Polugaevsky
e Larsen. As pretas desejam manter o seu bispo
ou trocá-lo em circunstâncias favoráveis.
10..âa2
Naquela época, o principal lance dos anos
1960, 10.'fJ!id3, já tinha saído de moda. A 1ª
partida seguiu 10.ii.d3 cxd4 l 1.exd4 ii.b6
12 ..âe3 lild5 e aqui as brancas utilizaram
alguma preparação caseira que foi altamente
considerada por Botvinnik: 13 .ii.g5 !? (ao invés
de 13.lilxd5 exd5 14.h3 li:le7 15.ii.g5 f6
16.it..d2 .1i.f5, com igualdade - Gligoric-Karpov,
Hastings 1971-72) 13 ... f6 14.it..e3! lilce7
15.'fJ!fc2 li:lxe3 16.fxe3 g6 l 7.ii.c4 (l 7.lila4!?)
17 ... lilf5 18.!Uel Wg7 19 ..lâadl com uma
vantagem. Mas então Polugaevsky encontrou
alguma melhoria para as pretas e iniciou
jogando 10.ii.a2.
10 ... a6?!
Karpov repete um jogo recente dele com
Taimanov, seguindo o princípio de "não mexer
nisso". Mas a questão é que esse lance não é
claro: li:lb5 não é uma ameaça e a perda de
tempo na preparação de ... b7-b5 parece um
luxo muito grande.
A 7ª partida seguiu 10 .. .ii.b6 l l.dxc5 ii.xc5
12.b4 ii.d6 13.~b2 'fJ!f e7 14.'fJ!ic2 it..d7
15 ..lâfdl ?! lile5! 16.lilg5 .:Sac8 l 7.f4 lilg6 com
igualdade, mas através de l 5.li:le4!
(Polugaevsky) as brancas manteriam a
vantagem. Outras tentativas conhecidas de
equihbrio são 10 ... cxd4 l l.exd4 it..b6 12.it..e3
lild5 (Taimanov-Parma, Tbilisi 1973) ou
10 ... 'fJ!fe7 I l.'fJ!ic2 cxd4 12.exd4 .:Sd8
(Donner-Unzicker, Bad Eibling 1974).
11.ii.bl!
Uma novidade! As alternativas são mais
fracas: 1 l.lile2 cxd4 12.li:lexd4 li:lxd4
13.li:lxd4 ilc7 14.iLd2 .âd6 15 ..:Scl ii.d7
16 ..âb 1 .lâc8 com igualdade, (Taimanov-
Karpov, 41 º Campeonato da URSS, Moscou
1973) ou ll.lila4 cxd4 12.exd4 h6! 13 ..âf4
ilc7 14 ..1i.xc7 'fJ!fxc7 15.~e2 .:Sd8 16.!ffdl
Anatoly, o Décimo-Segundo
.1i.d7 17.!facl it..e8 com igualdade, (3ª partida).
Aqui estão os comentários de Polugaevsky
feitos em 1981: "Quando as pretas na 3ª partida
conquistaram a igualdade com facilidade, pensei
comigo mesmo: vale a pena seguir a mesma
variante de novo? Vale a pena desperdiçar uma
partida com as peças brancas devido a uma
discussão teórica? Mas no entanto, percebi que
a verdade estava bem próxima das mãos! E de
repente quantidade se transformou em
qualidade - as muitas horas de análises
permitiram-me descobrir a ordem correta dos
lances e infligir um sério golpe no sistema que
Karpov escolheu para o match, o qual tinha sido
jogado constantemente .... por mim mesmo. As
brancas podem se orgulhar do lance da partida.
De forma aparentemente contrária aos
inabaláveis princípios do xadrez, elas movem o
seu bispo três vezes na abertura e, enquanto
ainda não desenvolvidas, obtêm uma posição
vencedora."
n ... ~b6
O fato de Karpov gastar somente sete
minutos nesse lance confirma sua abordagem
prática peculiar na solução de problemas
inesperados de abertura. Após 1 l...b5?! o
simples 12.dxc5 é desagradável, mas deve ser
considerado l l...~e7.
Dezesseis anos mais tarde, Karpov explicou
os motivos psicológicos detrás dos seus lances
11 e 12: "Novamente entrava em uma
preparação caseira, e uma esplêndida, mas no
239
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

momento em que meu adversário fez esse lance,
compreendi de imediato: isso é o fim, sou
incapaz de salvar a partida. Mesmo sem ter
tempo de ficar ansioso ou de sofrer, senti de
imediato que não havia esperanças. Mas se for
assim, valeria a pena desanimar? Afinal, já tinha
acontecido e não se pode mudar nada; como se
diz, não se deve chorar sobre leite derramado. E
adotei uma postura filosófica. É claro, não me
ocorreu entregar a partida Sou um competidor
e enquanto eu tiver pelo menos uma chance,
lutarei. Vamos ver, pensei, como ele vai fazer
isso."
É surpreendente como mesmo muitos anos
depois ambos os competidores do match
considerassem a posição após 11 .ii.b 1 como
sendo virtualmente vencedora. Embora mesmo
sem a ajuda de um computador, acreditando
somente no senso comum e em simples análise,
pode-se considerar que os recursos defensivos
das pretas ainda são muito grandes.
12.'i!fc2
"Direto e muito forte!" (Polugaevsky).
Também não é mau 12.dxc5 .l'.l.xc5 13.b4 e
2lb2 (como na 7ª partida - conforme
comentário ao 10º lance das pretas) com uma
leve porém duradoura vantagem para as
brancas, como é típico em tais estruturas
simétricas.
12 ... g6?
Um enfraquecimento fatal na grande
diagonal. "Isso não resolve os problemas
defensivos das pretas, mas o que elas podem
fazer?", escreve Polugaevsky, dando 12 ...cxd4
13.exd4 lz:lxd4 (? - G.K) 14.lz:lxd4 %lfxd4
15.ii.e3 %lfd6 16.~g5 l'!d8 (Botvinnik)
17.ii.xf6! com um ataque poderoso (se
17 ... gxf6 o lance intermediário 18.l'!dl! é
forte).
Mas os dois jogadores superestimaram as
virtudes da posição das brancas - após 13 ... h6!
as pretas se defenderiam com sucesso, por
exemplo: 14.:S.dl (14.ii.e3 lz:le7 ou mesmo
14 ... lz:lxd4!?) 14 ... %lfc7 (14 ... lz:le7!?) 15.lz:le4
(15.d5 lz:le5!) 15 ... lz:lxe4 16.%lfxe4 f5 17.W!ic2
(17.~h4 ~e7) 17 ... ii.d7 etc.
13.dxcS it.xcS 14.b4 2le7 (também é
favorável às brancas 14 ...ii.d6 15.:S.dl Wfíe7
16.ii.b2) 15.ii.b2 eS
"Talvez a melhor chance prática (15 ... b6?
16.lz:le4). As pretas não têm uma casa
conveniente para o seu bispo de casas brancas
ou para a dama." (Polugaevsky)
16.ãdl 'i!fe8
Após 16 ... Wfíc7 Botvinnik e Polugaevsky
recomendaram 17 .2la2 ii.g4 18.lz:ld5 lz:lxd5
19.ii.xd5 iâac8 20.Wfíe4 "com uma pressão
muito forte" e "uma vantagem decisiva para as
brancas", principalmente levando em
consideração 20 ... ii.f5 21.~c4 ~6 22.~3.
Talvez seja até melhor jogar 20.h3 ! ii.xf3
(20 ... Ji.f5? 21.e4) 21.ii.xf3 com uma vantagem
óbvia. E além disso - 17.e4!? e lz:ld5!
17.bS
"Também é possível a abordagem posicional
- l 7.h3, ~a2 etc. Mas eu estava convencido que
a posição estava madura para medidas mais
positivas." (Polugaevsky)
17 ... axbS 18.lz:lxbS ii.fS 19.'i!fe2
19 ... il.xbl
Entregando a qualidade sem nenhuma
compensação. Infelizmente é ruim para as
pretas 19 ... ~8 20.ii.xf5 gxf5 21.lz:lh4 'i!fc8
22.Wfíf3, assim como 19 ... e4 20.lz:lh4 :S.d8
21.!3.xd8 ~xd8 22.lz:lxf5 gxf5 23.~a2 com
um forte ataque, ou 20 ... ~g4 21.f3 exf3
22.gxf3 ii.h.5 23.lz:lc7 Wfíc8 24.lz:lxa8 W!íh3

240

25.l!ff2! (pretendendo °iWg3; também é
suficientemente bom 25.l2:ib6 ~xh4 26.l2:id5 -
Botvinnik, Polugaevsky) 25 ... l2Jg4 26.ii'g3
l!'xh4 27.~xh4 .1i.xh4 28.fxg4 .1i.xg4 29.Ekl !
Ag5 (29 ...:ãxa8 30.:Sc4 h5 31.h3) 30.l2:ic7
Axe3+ 31.~fl ii.xcl 32.ii.xcl com vantagem
material decisiva.
20.l2:ic7 °iWb8 21.l2:ixa8 ilf5 (é até pior
21...e4? 22.:Saxbl exf3 23.ifxf3 e o cavalo em
f6 está sob ataque) 22.iclb6 e4
Em uma posição desesperadora Karpov tenta
complicar o jogo o máximo possível, mesmo ao
custo de novas concessões. Ele abre a diagonal
para o bispo branco e dá às peças do adversário
um ponto forte central - tudo em consideração
ao enfraquecimento da ação do peão do rei
inimigo. Ainda é totalmente indefinido como
esse enfraquecimento poderá ser explorado,
mas agora há algum pretexto para a criação de
contr~ogo!
23.tud4 l2:ixd4 24.il.xd4 ilg4 25.f3 (isso
não pode ser evitado) 25 ... exf3 26.gxf3 ile6
Na opinião de Polugaevsky, "talvez o bispo
pudesse ser recuado a h5, para manter o peão f3
sob ataque," mas isso teria permitido 27.il.xf6
.1i.xf6 28.l2Jd7, vencendo.
27 .ãacl (seria até mais forte o imediato
27.ii'b2! Botvinnik) 27 ... ãdS 28.ii'b2! l2:ie8
Nesse momento Tal, que chegava ao
auditório, fez uma consideração interessante: "A
primeira coisa que me chamou a atenção (eu
ainda não tinha visto a posição) foi ver que,
com passos medidos, Karpov andava
calmamente de um lado para outro do palco.
Seu adversário estava sentado com a cabeça
entre as mãos e, de uma forma simplesmente
física, podia-se perceber que ele tinha
problemas. 'Tudo parece claro', pensei comigo
mesmo, 'as coisas estão difíceis para
Polugaevsky'. Mas o tabuleiro mural mostrava
justamente o contrário! As brancas têm uma
clara qualidade sobrando - em tais posições,
costuma-se dizer que que o restante é questão
de técnica. Quem sabe, talvez a confiança de
Anatoly, o Décimo-Segundo
Karpov, seu hábito de manter a compostura
mesmo nas situações mais desesperadoras,
tenha se transmitido ao seu adversário e feito
Polugaevsky excessivamente nervoso".
Os espectadores viram que Anatoly tinha até
um ligeiro sorriso no rosto. "Para ser honesto,
isso não era uma presunção, mas algo que
aconteceu por si mesmo," disse ele anos mais
tarde. "E foi a minha serenidade de
comportamento habitual que dominou
Polugaevsky. Eu vi o que tinha feito no
tabuleiro, mas ao mesmo tempo estava bem
calmo e jogava com facilidade! Isso significava
que eu estava vendo alguma coisa que ele não
tinha visto... Ele tinha um olhar triste. De novo
e de novo trabalhava nas variantes - e não podia
entender como eu poderia escapar. Isso era
surpreendente! - afinal, ele olhava para algo que
não estava ali... ".
29.Aes .id6
Nesse momento não é possível tirar a dama
do canto: se 29 ... ifa7 as brancas resolvem o
assunto tanto com o "gelado" 30.a4 ~as
31.~5, como com o " quente" 30.~5!?
l2:ig7 3 l.:Sxd8+ .ixd8 32 ..1i.d4 (e se
32 ... ifxa3, então 33.1:!al) .
30..1i.xd6 (seria muito forte o paralisante
30.ifd4! e novamente é mau 30 ... ifa7 devido
a 3 l.Axd6 :ãxd6 32.l2:ic8) 30...:âxd6
~
31.°iWb4?!
Como Botvinnik observou corretamente,
aqui há mais de uma maneira de vencer. De
241
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
forma particular, t0do mundo sugeriu 3 l .'i!fbS
(tirando a importante casa gS da dama preta)
3l...\l¼'d8 32Jlxd6 li:lxd6 33.!!dl 'f!ic7
34 .'ifeS ou 3 l .ãxd6 lixd6 32.a4 - de acordo
com Botviruúk., "o peão a deve ser tomado",
mas é até melhor 32.'i!Vd4!, uma vez que é mau
32...t!Hxa3 devido a 33.2'.:!al 'i!Vb3 34.2'.:!a8,
vencendo.
31...'it'd8!
Subitamente a dama preta se torna ativa e as
pretas têm que ganhar a partida de novo.
Levando em conta o vexame do erro cometido
e o cansaço acumulado pelas cinco horas de
jogo, não é muito fácil se reajustar para tal
tarefa.
32.ã xd6 lzJxd6 33.Étdl llt'g5+ 34,<i!m lZ:ifS
35.l!ff4 'i!Kf6 36.Lz)a4
"No apuro de tempo as brancas fazem o
primeiro lance correto no camiho escolhido,
mas seguem errado depois." (Polugaevsky).
Após 36.Lz)d7? l!fb2+ 37.<it>gl ~xd7 38.!!xd7
'iWe2! as pretas conquistariam o empate com
facilidade.
A alternativa seria 36.li:lc4 ~xc4 37.'i!Vxc4 e
se 37 ... 'fWe5, então 38.lif4 'i!fb2+ 39.~el
'if xa3 40.e4, praticamente forçando
40 ... 'ii'c3+ 4l.\l!fd2 'i:!fxf3 42 .ex fS 't!ibl+
43.We2 'i!fxb2+ 44.Wd3 l!fh3+ 4 5.©c4 Wxf5
46.'tlfd8+ c:Jilg7 47.it'd4+, quando as brancas
podem vencer. Botvinnik, Tal e Polugaevsky
deram 37 ... 'ii'b2+ 38.i!Ye2 'i!Vxa3,
classificando essa posição como empatada. Mas
na minha visão, as brancas são capazes de
gradualmente conver ter sua vantagem de
qualidade: 39.1Wd3 'i!Vc5 40.çtie2 seguido por
e3-e4 ou 39 ... 'ifb2+ 40.l°i!d2 'i!VeS 41.f4 etc.
36... Ji.b3! 37.l°i!d2?
"Como sugerido por Furrnao, ainda oferecia
chances de sucesso 37.~el. Dessa forma, as
brancas defendem seu importante peão e3 e
podem esperar converter gradualmente sua
vantagem material". (Polugaevsky) Seria mais
metódico 37.ãd 3! e após 37 ... ~xa4
(37 ... .!c2 38J:!d2) 38.'iVxa4 'i!Vb2+ 39.Wgl
242
'i!fcl+ 40.'i!fdl ou 39 .. . h5 40.'i!fb3 a tarefa das
brancas seria grnndemente simplificada.
37...gS!
"Karpov, com frieza e habilidade
sw-preendeotes, descobre cada chance
concebível de cootrajogo. Quanto às brancas,
elas claramen te tinham perdido a compostura".
(Polugaevsky)
38.'i!fbS+
"Após 38.v.!i'e4 .i.xa4 39.Wxa4 'tie5 a dama
preta se torna mais ativa e ganha um peão".
(Borvinnik)
38...© g7 39.liJb2
A situação se torna mu_ito mais aguda
imediatamente antes do controle de tempo. O
lance "ativo" 39.li:lcS?! é fraco devido a
39...'i!Vc3! 40.li:lxb3 tfxe3+ 41.~fl l!fxf3+
42.<i!?gl 'ti'xb3 (42 ... 'ffe3+!?) 4 3.'ii'eS+ 'í!?g6
e as brancas só têm um empate.
39....i dS!
Após 39 ...'iWe7 40.&2 a iniciativa das pretas
teria se evaporado.
40.~d3?!
Com seu último lance antes do controle de
tempo as brancas jogam fora os últimos
vesógios de sua anóga vantagem. Em seus
comentários, Polugaevsky recomenda 40 .li:ldl
com a idéia de 40 ... lz::IM (Botvinnik) 41.f4! ,
quando as pretas perdem (4 1... .!c6 42.'ti'd8) e
dá o lance 40...Lz)xe3! como o único que
conduz ao empate, que Karpov teria que
encontrar no tabuleiro!
 Anatoly, o Décimo-Segundo

Ao mesmo tempo ele acrescenta: É claro que apreciar plenamente que enorme força ele
40.f4 falha devido a 40 ... ~d6!''. Mas essa estava enfrentando.
continuação aguda também é perigosa para as
pretas e as forçaria a demonstrarem as análises
Partida 56
preásas do adiamento! Após 4 I .ãxd5 !Vxb2+
A. Karpov - L. Polugaevsky
42.'it'g3 l.'tJe4+ 43.Wf3 ltJd2+ 44.@g4! a única
Match de Candidatos, Moscou 1974 - 6'partida
forma de jogar é 44 ...h5+ ! 45.<.?txhS ~e4!, por Defesa Siciliana - B92
exemplo: 46.fxgS We2+ 47.$)h4 'ilff2+
48.'~g4 ~g2+ 49.~5 °%!fxg5+! 50.'~xe4
t!g2+ com perseguição perpétua ao rei, ou 1.e4 c5 2.lf:10 d6 3.d4 cxd4 4.~ xd4 lf:lf6
46.ãxg5+ lt)xg5 47.fxgS (47.WxgS i!Vg2+ 5.~ c3 a6 6..te2 eS 7.~b3 Ae7 8.0-0 Ae6
48.wt'S ~g6+ etc.) 47 ...'iWe2+ 48.Wh4 'i'xe3 9.f4 VJJic7 10.a4 lf:lbd7 11.'i!i>hl!? 0-0 12..âe3
49.'i'g3 l!fr'e4+ 50.'i'g4 !Vel+ 51.Wh5 'i'e8 exf4 13.l!xf4 it}e5 14.a5!
Urna melhoria importante (na 4ª partida foj
52.'i'd4+ f6+ 53.Wg4 ~e2+, salvando o final
jogado 14.ltJ<l4 - partida 54). As brancas de
de damas com um peão a menos.
imediato fixam a ala da dama inimiga e
40... ~ d6! 41.~ f4!
desocupam a casa a4, através da qual sua torre
Esse lance secreto é a única forma de forçar
da dama entrará em jogo.
o empate. A continuação não foi longa.
14...~ fd7 (posteriormente somente jogaram
41...gxf4 42.ã xd5 'Wb2+ (não seria melhor
14 ...ãac8 ou 14 ...ãfe8 - partida 51) 15.!tfl
42 ... fxeJ+ 43.Wxe3 !fe6+ 44.$)d4) 43.Wfl!
A f6?!
fxe3 44.ãgS+! ½-½ Subestimando o papel do posto avançado
Em vista de 44 ...Wh6 45.1!Yxd6+ Wxg5
potencial das brancas em d5 no território
46.Wfe7+, capturando o peão e3.
inimigo e que dessa forma necessita controle
especial. Seria mais sólido 15 .. .!!ac8 ou
Karpov resume: "Um empate que foi uma
15 ... ãfe8, não temendo a manobra ~d4-f5.
catástrofe - Polugaevsky percebeu que não
poderia vencer nenhuma posição contra mim".
Tal concorda: "Foi efetivamente esta partida
que foi a última do match; o restante das partidas
foi unilateral. Karpov estava em plena ascensão,
ao passo que Polugaevsky não tinha condições
de recuperar a tranqüilidade depois dos golpes
sofridos na 4ª e 5ª partidas". Polugaevsky
deixou mesmo de converter sua superioridade
em preparação das aberturas, por estar sendo
inferior ao adversário na disputa seguinte...
Polugaevsky se apresentou para a 6ª partida
abatido, atormentado por pensamentos de má
sorte e da injustiça do destino: em vez de um 16.~ dS! ii.xdS 17.tfxdS!
ponto e meio certo, somente meio ponto e, em Um súbito recrudescimento da batalha - um
vez da liderança no match, o papel de ter que sacrifício intuitivo de dois peões! Ao explicar
correr atrás. Nesse momento - após somente, essa decisão incomum em um comentário feito
exatamente, cinco partidas! - era para ele, como em 1978, Karpov expôs as particularidades de
para muitos outros especialistas, ainda difícil seu estilo:

243
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
''.Algumas vezes sou censurado por ser seco,
racional e cuidadoso. Sim, sou um jogador
prático e o meu jogo é amplamente baseado na
técrúca. Eu me esforço em jogar o xadrez
'correto' e nunca corro riscos como, digamos,
Larsen. Com as brancas, como todo mundo,
tenho por objetivo uma vantagem desde o
início, mas com as pretas primeiramente tento
igualar completamente. Quando há uma opção
de lances, de forma alguma escolho o mais
simples, mas de preferência o mais vantajoso. Se
existirem igualmente muitas continuações boas,
minha escolha dependerá em grande parte do
meu adversário. Contra Tal, por exemplo,
prefiro seguir em posições simples que não são
do seu gosto, enquanto contra Petrosian tento
fazer o jogo mais complicado. Mas se eu vejo
somente um caminho correto, então, seja quem
for que estiver jogando contra mim, vou
somente por esse caminho. Entretanto, sinto
que recentemente meu estilo passou por certas
alterações.
Vamos voltar à partid,-i. Anteriormente o
sacrifício de dois peões, que ofereci a
Polugaevsky, provavelmente não me teria
ocorrido. Todos pensaram que tivesse sido
preparado em casa. Mas, 'com Deus por
testemunha', foi pura improvisação ao
tabuleiro. Até hoje acho essa uma decisão
'terrível' de minha parte. Mas após o tranqüilo
17.exd5 -t)c4 18.~xc4 'i!fxc4 nada mantém a
vantagem das brancas na abertura".
17..•'i!Hxc2t
Aceitando o desafio! Polugaevsky aqui
pensou por mais de uma hora: supôs que as
brancas tinham uma vitória forçada preparada
em casa?! Na opinião de Karpov, "no caso das
pretas recusarem o sacrifício, teriam ficado sob
forte pressão posicional". Na minha opinião,
após 17 ...-t)c6 18.c3 ~e5 elas teriam
simplesmente uma posição levemente inferior,
mas - e isso é o mais importante -
provavelmente Polugaevsky não acreditasse gue
seria capaz de defendê-la contra Karpov!
18.lLld4 'i!fxb2 (seria perigoso 18...'i!fcS?!
244
19.l2if5!) 19.ãabl 'tli'c3 20.~fS 'iWc2!
A melhor defesa. Após 20 ...-t)cs 21..~d4
ifc2 22.-t)xd6 'eixe2 23.~xe5 -t)d7
(23...~xe5? 24.l2ixt7!) 24.~g3 a dominação
das brancas se estenderia por quase todo o
tabuleiro.
21.llbel?!
Esse lance tomou 20 minutos de Karpov,
mas... "Uma imprecisão: agora as pretas
encontram uma defesa. Após 21.lãfel as
brancas conquistariam uma. grande vantagem".
Sim, a disposição das torres é um dos
problemas mais traiçoeiros da abertura e meio-
jogo! Mas, na dada circunstância, faz sentido
deixar a torre na coluna b, mantendo a ameaça
de invasão em b7. Entretanto, o quanto as
brancas tenham uma vantagem após 21.ãfe l
ainda é urna questão aberta:
1) 21...ã fd8 22.l2!xd6 -t)b8!? (não é
aparente nenhuma refutação imediata a essa
manobra) 23.ã xb7 -t)bc6 24.~b6 ~e7
25.~xd8 l!xd8 26.Etxe7 -t)xe7 27.'i!fxe5 'i!Hd2
28.lãbl -t)g6! 29.%!fh5 (29.'i!Hd5 :Sxd6
30.'i!fxd2 ã xd2 3 l..1'.xa6 :S.a2, com igualdade)
29...~xd6 30Jã dl 'i!ff6 31.:Sxd8+ lWxd8
32.'i!fdS ifb8 33.g3 -t)e7 com chances de
empate;
2) 21.. .-t)cs 22.-t)xd6 -t)cd3 23.~xdJ
~xd3 24J~edl e aqui Karpov somente
considera 24...l2if2+? 25.~xf2 'tWxf2 26.e5,
vencendo, ou 24...-t)eS 25.-t)xb7 (em minha
V1são, seria mais forte 25 ..1'.d4 ou 25.ãxb7

&b8 26.l:"!b6!), embora também seja possível
24 .. .'~~b2!? com boas chances de se segurar
após 25.!idc l 'tifd3 26.'i!fxd3 luxd3 27.!idl
(k5 ou 25.!ifl '#!fd3 26.'i!fxd3 luxd3 27.ãxb7
!fb8! etc.
21.••lucS?!
Um lance óbvio, mas... agora as pretas
balançam à beira do abismo! É estranho que
Karpov aqui não tenha feito nenhum
comentário. Afinal, já cm 1975 Botvinnik
notava que "as pretas deveriam ter mobilizado
de imediato a sua torre da dama através de
21..JfadS! e no caso de 22.luxd6 (22. 'i!fxb7?!
f:Jc5! - G.K.) 22 ... lubS consolidaria a
colocação das suas peças". Após 23."i!fc5 l!9a4!
Isso realmente teria dado a elas uma forma clara
de igualar:
1) 24.!ial tib3 25.Iitbl (25.&bl l!9a2)
25 ...lubd7! (forçando a troca das damas)
26.!ixb3 luxe5 27.j.xe5 lZ:id7! 28.~b6 (ou
28.luxf7 lZ:ixc5, com igualdade) 28 ... ~xa l
29.~d8 toes 30.!ib6 !!xd8 3 l.êi'lxb7 êi'lxb7
32l!xb7 ~c3, empatando;
2) 24.lZ:Jxb7 êi'ld3 25.Axd3 ~xd3 26.~ xf6
(ou 26.i!ffS lud7 27.luc5 êi'lxc5 28.~c5 ãe8
29.e5 ã d5 etc.) 26 ...gxf6 (também empataria
26...l'ild7 27.W!fc6 gxe3 !) 27 ..i.116 l!e8 28.!i'fS
t!fdl! 29.!Vfl l!fxel 30.~xel !!xe4 31.i!t'cl
(3 1.~gl ? !!ed4) 3 l...~c4! com um empate
espetacular.
22.êi'lxd6 li:lcd3 23..i.xd3 luxd3
"O único lance! Após 23 ...'tifxd3? 24,j.d4
com a ameaça de !!dl a posição das pretas teria
se tornado crítica". (Botvinnik). Por exemplo:
24 .. .êi'lg4 25. â dl ~e2 26.e5! com uma
catástrofe clássica na casa f7.
24.ã dl li:lb4 2S.'i!f><b7?1
Karpov se apressa em recuperar o material o
mais rápido possível, embora 25.'ti'hS! (após o
lance de Botvinnik 25.l!ffS as pretas têm a
resposta satisfatória 25 ... lz:'lc6) "teria criado a
ameaça de 26.ãxf6 gxf6 27.Wg4+ $'h8
28..1t.b6, que não é facilmente estancada -
25 ...g6 26.'tieS".
Anatoly, o Décimo-Segundo
É claro, após 26...!fxc5 27.~c5 a defesa
das pretas é difícil, mas aparentemente elas têm
um reagrupamento salvador - 27 ...Ac3 !
28.êi'lxb7 .ãfe8 29.§ f3 li'la2 30.lz:'ld6 lãe5 com
chances de igualar, ou 28Jif3 lua2 29 ..ãbl
(29.!!dfl ~b4! 30.luxb7 j.xc5 3 I..:2Jxc5 &7
32.e5 lãe8, com igualdade) 29 ... lte5 ! 30.g4 (se
30J~xb7 então o empate é forçado por
30 ... ãfd8) 30...êi'le3 3 l.!!xb7 (31.lãbfl !?)
31.. ..ãfbS! 32.filxf7 (não é melhor 32.!!e7
~ bl + 33.@g2 lãb2+) 32 .. .l~xb7 33Jâxb7
il.xd6 34.1'.xd6 êi'lxe4 35.~e5 êi'lt2+ 36.$>g2
êi'lxg4 37.!!g7+ @f8 38 ..ãxb7 lãd8, todavia
conseguindo empatar.
2S•...ãab8 26.'tifa7
26 .•.'i!i'c6?
Polugacvsky sucumbe sob a tensão e comete
um erro decisivo. "Teria dado algum contrajogo
às pretas 26...'tife2, embora mesmo aqui após
27 .~b6 a vantagem é das brancas" (Karpov).
Uma afirmativa questionável: 27 ...êi'ld3!
28.êi'lfS luf4 29.lue3 Ae5 e não é aparente
nenhuma vantagem.
Seria muito mais desagradável para as pretas
27.ãde l!?. Após isso Botvinnjk recomendou
27 ... 'tifh5 (? - G.K) 28.!!5 l!fg4 "com uma
posição sustentável", mas aqui é forte 29.e5!. E
é até melhor 28 ..ãxf6! gxf6 29.lz:'lf5 com um
ataque irresistível: 29 ....ãbS 30..i.h6! ou
29... ã fe8 30.l!fe7! etc.
Então para onde a dama deve ir? Após
27.. .l!fg4?! é possível o tranqüilo 28.h3 tf e6
245
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
29.lãdl , assim como o agudo 28 ..ãxf6!? gxf6
29.l2:)f5 ~xe4 30.l2:)e7+ ~h8 31..id2 com a
iniciativa para as brancas. Seria perigoso
27 ... ~a2? devido ao mesmo sacrifício
temático 28.ã xf6! gxf6 29.l2:)f5, quando é
duvidoso o quanto as pretas tenham uma defesa
satisfatória: seria mau 29...l2:)d3 30.'t!fxa6 âbl
devido a 3 l .~ e?+ Wg7 32.~h6+! ! quando as
pretas são arrasadas; se 29 ...l2:)c6, então
30.tlfxa6 tlfxa5 3 l.'ii!Vfl ! com ameaças
decisivas, enquanto após 29 ... !fr'xaS há um
lance tranqüilo de força mortal: 30.ã fl !!
(30 .. .l2lc6 3 l.!fr'd7 etc.).
Parece que somente 27 ...ii'h2! (defendendo
contra 2âxf6!) teria mantido chances iguais, por
exemplo: 28.li::ic4 (nada se consegue com
28J!bl 'ilfe2 ou 28.fü2 ~e5 29 ..âf4 ~d4)
28 . . .V!Ya2 29.e5 li::ic2! E as precas estão bem.
27.il.f4!
Um lance típico de Karpov, negando ao
adversário mesmo um sinal de contrajogo. "A
ameaça de e4-e5 restringe as pretas e o seu
cavalo de b4 encontra-se fora de jogo."
Também seria decisivo o agudo 27.ã xf6! gxf6
28.it.h6 com a ameaça de ife3, por exemplo:
28 ... V!fc2 (28 ... l2:)d3 29.it.xf8) 29.!:ic l !fd3?
30.~d7! 'i!fe2 31.ifh.3 ou 29 ...V!fe2 30.'i!fd4
l2:)d3 31.~xf6 'tifb2 32.'i!fgs+ @h8 33.\ti'gJ!
etc. Na sala de imprensa esse sacrifício de
qualidade foi fervorosamente apoiado por
Furman, mas ao ver o lance de Anatoly, ele
disse: "Isso também é bom".
27...ã a8 28.~ f2 !!ad8 (se 28 .. .'iWc3, em.ão
29.~e2!) 29.\ti'g3!
''A ameaça é mais forte do que a execução!
Paradoxalmente, isso realmente com freqüência
é o caso. As brancas não se apressam em
avançar e4-e5 e aumentam a pressão".
(Karpov)
29...1Wc3
''As p retas não têm defesa satisfatória:
Karpov conseguiu implementar sua estratégia
mais efetiva - da dominação. O material é igual,
mas as peças brancas ocupam posições fortes e
246
controlam as casas mais importantes do
tabuleiro, enquanto as peças pretas são
simplesmente alvos convenientes para elas
atacarem. Só falta às brancas concentrarem suas
forças paca o golpe decisivo contra a ala do rei
das pretas". (Botvinnik)
30.t'ifJ 1fc2 31.ã dfl il.d4 32.~ h6 (uma
finalização simples, mas espetacular; também
teria vencido 32.l2:lf5 i½'xe4 33.~d6) 32 . ..l21c6
33.lZ)fS
O lance 33.l2:lxf7 'it.fc4 de forma alguma teria
"complicado as coisas", como Karpov
escreveu, mas seria uma segunda forma de
vencer: após 34~xg7! para evit.ar um belo
mate, as pretas deveriam se separar da sua dama
- 34.. .'ilfxfl+ 3 5.ã xfl it.xg7 36.ifb3!, então
da sua torre - 36...ã xf7 (36...l2:)d4 37.l2:lh6+
Wh8 38.'ii!Vg8+! e li::if7 mate) 37.tfxf7+ ~ h8 e
após 38.i!Yc7! - também do seu cavalo!
33...'tWb2
Ou 33 .. .~e5 34.~xg7! ~ xg3 35.ãxg3
(Karpov) 35 ...hS 36.~f6+$)h7 37.ãg7+ Wh8
38.ã xt7+ @g8 39.li::ih6 mate (Botvinnik).
34.~ cl! lWbs 35.lt'lh6+ @h8 36.lt'lxn+
(para completar, as pretas também têm que
entregar material) 36...!!xn 37.!!xf7 il.f6
38.l!i'f2 ~ g8 39.ã><f6 gxf6 40.\Wxf61-0
A melhor partida do n1atch.
A contagem era de 2-0 com quatro empates.
Karpov precisava só de mais uma vitória, que
poderia talvez conquistar na 7' partida.

Polugaevsky estava muito nervoso: primeiro,
perdeu a vantagem da abertura que tinha
conquistado e, logo em seguida, de forma
repentina lançou um ataque infundado contra a
ala do rei, que só fez enfraquecer o próprio
terreno. No 25° lance, Karpov p ôde com
vantagem abrir o centro e conquistou uma
importante vantagem. Tal afirma: "Era como se
ele tivesse decidido não se desviar do programa
planejado, em que o resultado melhor nas
partidas com as pretas era um empate".
O matcb terminou na 8° parúda. Em princípio,
este foi o final de um leão mortalmente ferido.
(uv Jignifica "Leão" em rtlSJO - N do T)
Partida 57
A. Karpov - L. Polugaevsky
Match de Candidatos, Moscou 1974 - 8ªpartida
Defa;a Siciliana - B92
1.e4 cS 2.4)13 d6 3.d4 cxd4 4.4)xd4 4)f6
s.4)c3 a6 6.$.e2 eS 7.4)b3 $.e7 8.0--0 Ae6
9.f4 ~c7 10.a4 ~ bd7 lVi!.>hl 0--0 12.i.e3
exf4 13.l!xf4 4)eS 14.aS! (14.~ d4 - partida
54) 14...ã fe8
O utra produção dos mecâtúcos de corrida
(14 .. .~ fd7 - partida 56).
Mais tarde as pretas mudaram para o lance
padrão da Siciliana l 4 ... lâac8, preparando
...~fd7 (agora isso é seguro, uma vez que as
brancas não têm li:Jd5) e evita &l- a4-d4, por
exemplo: l 5.lâa4 ( 15 ..ib6 ii'd7 16.ãa4?
ãxc3) 15 .. .li:Jfd7! (com a ameaça de ...i.g5)
16.lâfl t2'lc4 17 .fi.xc4 ii.xc4 l 8 .lâf2 Af6
19..id4 ãfe8, com igualdade (Karpov-Browne,
Manila 1976). Seria melhor 15.li:Jd4, mas aqui
também após 15 ... ti:Jfd7 é difícil para as
brancas conseguirem uma vantagem
percepóvel: 16.lâfl E'.fe8 17.ti:Jf5 Af8 18.ii'el
~h8 19.Vifg3 g6 (Tal-K.Grigorian, 42º
Campeonato da URSS, Leningrado 1974),
16.irel !!fe8 17.ii'g3 ~g6 18.lãffi ~f6
(Tseshkovsky-Balashov, Zonal de Vilnius 1975),
Anatoly, o Décimo-Segundo
ou 16.'tid2 ~fe8 17.~fS ii.f8 18.lâf2 ~h8 e
... g7- g6 (Matanovic-Polugaevsky, Moscou
1977).
15.$.b6 (15.liJd4!? Tseshkovsky-
Polugaevsky, Sochi 1974) 15...if'd7 (também é
possível 15 .. .!fc8 com a idéia de ...~ fd7)
16Jàa4 E'.ac8!
Um bom lance, embora fei to após 45 minutos
de raciocínio, o que indica a indecisão de
Polugaevsky. O desajeitado 16 ... 0c6
(Botvinnik, Karpov) não é utilizado pelas
pretas.
17.!!d4
Uma manobra que à época era considerada
perigosa para as pretas. Mas ela é de fato?
17.•. Vc6
Comentando essa partida no "Informador',
Polugaevsky aqui sugeriu 17 .. Jlxc3! 18.bxc3
ifc6! "com jogo indefinido". Karpov rebate:
"Entretanto, o próprio fato das pretas se
aventurarem em um sacrifício de qualidade
questionável, tendo como objetivo uma
compensação p osicional indefinida, é favorável
às brancas."
Usando a lógica pura de avaliação posicional
é, é claro, sem sentido. Mas levando-se em
consideração fatores concretos, torna-se claro
que as pretas realmente têm muitas
compensações pela qualidade: seus bastiões
centrais são fortes, enquanto os peões brancos
estão quebrados e são alvos para ataque. Se
ameaça l9.. .Vxc3 e elas têm que jogar 19.lrel
247
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(19.c4 itJfd7!), mas após 19 ... d5! 20.ã dl
(20.\lfg3 étJg6) 20... ltJxe4 as pret.as nada têm
a temer, por exemplo: 21.c4 ltJxc4 22.ltJd4
!Yc8 23.ltJxe6 fxe6 24..âd3 itJxb6 25.1l.xe4
dxe4 26.axb6 e3, com igualdade.
18.ã cll
Karpov está satisfeito com sua postçao:
"Então, as brancas reagruparam e querem
lançar a manobra tradicional nessa variante
étJb3-d4-f5. Enquanto isso, o adversário não
tem um plano ativo" (geralmente associado
com .. .itJfd7). Mas ele ainda não tem nenhum
problema!
18...i.xbJ
"Apressando-se em eliminar esse cavalo
promissor. Se 18 ...étJg6 teria seguido 19.étJd4''
(Katpov). Polugaevsky também avaliou essa
posição favoravelmente às brancas. Entretanto,
é difícil dizer o quanto na verdade sua iniciativa
é perigosa: 19 ...i.vd7 20.ãfl ltJe5, e após
2 l.étJf5 ao lado de 21.. . .txf5 deve ser
considerado o sacrifício úpico 21.. .ãxc3!?
22.bxc3 ltJxe4.
Pode-se agora concluir que todo o plano das
brancas com a manobra da sua torre
(al-a4-d4-d2) e o cavalo (b3-d4-f5) não é
assim tão terrível corno o descrito pelos
comentaristas e autores de artigos teóricos.
Além d.isso, a troca 18 ...~xb3, embora não
248
20... AgS?
Um erro grave, que leva à perda da pattida e
do ,natch. A partida Safarov-E.Vladimirov
(1975), jogada pouco depois, seguiu 20...ii'c7!
2I.iz::id5 (2l.b4?! .âg5) 2I...'ti+'xa5 22.ltJxe7+
:Sxe7 23.ãxd6 'f.ic7 e o poderoso posto
avançado e5 assegura às pretas uma boa
posição.
Karpov novamente rebate: "Entretanto, com
toda certeza, o jogo das brancas pode ser
melhorado: 2 l..ãd5 étJf6 22 ..tb6 ti'c6
23.ãxf6! gxf6 24..tg4 com uma iniciativa
poderosa pela qualidade". É pena, essa variante
está "furada": ao invés de 22 ... l!.fc6? as pretas
têm o muito forte 22 ... étJxd5! 23.iv<c7 étJxf4
24.~b6 ltJxe2 25.'i!Yxe2 ~f6 com
compensação excelente pela dama.
Após entregar a dama de outra maneira,
Polugaevsky encontra dificuldades insuperáveis.
2l.lâxd6 il.xf4
No caso de 21...'f.ixd6 (21.. .l!.fc7 22 ..ãf5)
22.1/;fxd6 .âxf4 23.~4 ã b8 24.étJd5 a dama
branca novamente é mais rápida do que as
torres pretas e está programada a marcha do
peão b3-b4-b5.
22.ãxc6 ãxc6 23.b4! (iniciando a conversão
da maioria de peões na ala da dama)
23 ...lL!f6?!
"Seria melhor 23 ...!kc8, coordenando as
peças pesadas" (Karpov). Mas aqui também
após 24.bS as pretas não podem salvar a
partida: 24 ...axb5 25.g3! .âg5(h6) 26.it.xbS
com a ameaça de 'i!Yd5.
''.As pretas deveriam ter unido suas torres
através de 23 ...ãee6, mantendo sob controle a
importante casa d6" (Botvinnik). E realmente,
24.bS axb5 (24 .. .ã ed6? 25.~fl!; 24 .. .ãc7
25.it.b6!; 24 ...ã c8 25.'i!Yd5!) 25.Axb5 ã cd6
26.êz)d5 .ig5 parece bastante mais resistente.
24.b5 ã ce6 25.bxa6 bxa6 26.g31l.g5 27.b4
il.h6 28.i.b6!
''.A debilidade do peão em a6 tem
conseqüências fatais" (Karpov). Também seria
vencedor o "agudo" 28.g4 g5 29..ie3, mas

Botvinnik não gostava disso e... essa não é a
maneira de Karpov finalizar!
28...li)ed7
"A retirada do cavalo centralizado permite ao
bispo do rei das brancas tornar-se mais ativo. A
última possibilidade de resistência seria
28 ...lz::ifdT' (Botvinnik). Mas então cresceria a
atividade do cavalo branco - 29.lz::id5 ! lãc6(8)
30.'t>g2 licl 3 1.'il!a4 etc.
29.$.c4 ã eS (ou 29 .. J~c6 30.Axa6 lz::ixb6
3l.Ab5, vencendo) 30.'tifb3! .E!b8 31..âxfi+
'i!?b8 32.tfc4! .àd2 33..il.c7 2lc5
34.i!fxcS! lZ::lxc5 35.A xbS A xc3 36.bxc3
~ fxe4 37.c4
Como resultado as brancas têm somente um
peão a mais no final do jogo - e nenhuma
chance de salvação para o adversário!
37.. .l2)d7 38.$.c7 g6 39.A e6 lz::iec5
40.$.xd7 Ci:lxd7 41.$.d6 1-0
Numa entrevista dada depois do match,
K arpov admitiu com dignidade que o escore de
3-0 não tinha refletido a verdadeira correlação
de forças puramente enxadrísticas dos
competidores; o que atuou naquele match foi o
estado psicológico de Polugaevsky. Esta
constatação faz lembrar a declaração dada por
Fischer depois do match com Taimanov: "O
resultado foi muito alto... A luta foi muito mais
difícil ... É mais fácil ser um cavalheiro quando
se vence..." Sem dúvida, pode-se concordar
com o que diz Tal: "No plano competitivo
Anatoly, o Décimo-Segundo
psicológico, Karpov mostrou-se superior ao seu
adversário".
O próprio Polugaevsky confirmou este fato:
"Hoje, olhando para trás, vejo claramente os
erros que eu cometia ao me preparar para o
match, dedicando muito tempo ao trabalho
puramente enxadrístico e me descuidando da
preparação psicológica".
Entretanto, houve "algo mais", como
apontou o Grande Mestre Alexei Suetin: "Não
quero dizer que o resultado do match não tenha
sido influenciado pelo estado psicológico de
PoJugaevsky ou pelo seu repertório de
aberturas; esta influência houve e não se pode
negar. Mas a principal razão da enorme derrota
foi o modo de jogar do vencedor. Karpov
possui uma técnica assombrosa, sempre a
serviço de um sadio espírito prático. Ele joga
com facilidade e rapidez, calculando a posição
com precisão, causando a impressão de que o
equihôrio das suas avaliações é mais perfeito do
que o dos seus adversários. Observou-se muitas
vezes que K arpov parecia ser um pouquinho
inexperiente. Esta impressão é justa, mas
observe-se também a rapidez com que ele
adquire esta experiência. Karpov é um aluno
que aprende durante todo o tempo do jogo. E
os professores, ao capitularem, lhe dão notas
altas".
Muita gente que assistiu ao breve match teve a
impressão de estar presenciando um pequeno
prodígio ( e o que não seria depois da
semifinal!). Karpov recorda: "O que mais me
admirou foi que a derrota de Polugaevsky não
afetou em absoluto seu relacionamento comigo.
Pelo contrário, quanto mais as coisas pioravam
para ele, tanto mais atencioso e camarada ele se
mostrava comigo. Só com ele e nunca mais,
com mais ninguém, cheguei a discutir detalhada
e francamente uma partida disputada. As nossas
análises nos aproximavam muito. Um dos
resultados paradoxais do match foi que pude
ganhar a amizade dele. Quem me dera todos os
matches tivessem sempre um desfecho assim!"
249
 Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Um Salto no Escuro
A próxima disputa de Karpov foi o ,natch
semifinal com Spassky (em Leningrado, na
primavera de 1974), que merece ser analisado
nos núnimos pormenores, porque foi um dos
mais brilhantes eventos enxadristicos daqueles
anos, comparável a um match pela disputa do
titulo mundial. O talentoso jovem que fazia
rápidos progressos teve como adversário o ex-
Campeão Mundial de 37 anos, que havia
acabado de vencer brilhantemente o
Campeonato da URSS e o match de quartas-de-
fina] com Byrne. A disputa era de quatro
vitórias, mas com o limite de 20 partidas.
A outra semifinal seria disputada por
Petrosian e Kortchnoi e por isto, na ocasião,
Karpov foi comparado com D' Artagnan e os
três mosqueteiros. Escreve Roshal: "Antes do
match semifinal, Spassky era o favoi:ito. Muitos
achavam que nas quartas-de-final não foi
propriamente Karpov que derrotou
Polugaevsky, mas Polugaevsky é que derrotou a
si próprio. Só Botvinnik deu um sorriso,
dizendo: 'Inexplicavelmente ele também vai
derrotar Spassky'. E o cauteloso Petrosian
previu uma 'luta não menos interessante do que
um duelo entre qualquer um dos participantes e
Fischer'. N o entanto, a maior parte das
previsões apostava na vitória de Spassky".
Não foi diferente o parecer de Max Euwe,
Presidente da FIDE, que tinha vindo prestigiar
a abertura do tJJatch. Em uma entrevista coletiva
ele confirmou sua preferência por Spassky. "É
que ele já reabilitou a antiga forma"
(pronunciamento que até provocou a
observação de Botvinnik de que não era
conveniente que o Presidente da FfDE
'expressasse prognósticos'). Mas Euwe logo
atalhou: "Convém saber que no
desenvolvimento de jogadores jovens e
talentosos, podem ocorrer saltos de qualidade.
É difícil adivinhar se Karpov vai dar um salto
destes agora; se der, não excluirei a
possibilidade de gue ele consiga até o titulo de
Campeão Mundial".
250
Pergunto: O que o próprio Karpov pensava
do match que escava para começar? Alguns anos
depois ele diria: " Não cheguei sequer a tentar
adivinhar o que ia acontecer. Enquanto podia
me comparar com Polugaevsky, Spassky era um
peso que eu nunca tinha levantado. E u não me
dedicava muito ao xadrez nem antes nem
depois desse match. D esenvolveu-se a
concepção geral, desenvolveu-se a estratégia
psicológica; busquei os pontos fracos da defesa
e dos golpes de esgrima do meu adversário e,
além do mais, estruturei métodos para tentá-lo
e derrotá-lo aqui ou aplicar-lhe um golpe fatal
ali. Procurei esquecer o profundo respeito que
tinha por Spassky e me esforcei em não pensar
em sua grandeza. E disse a mim mesmo: tens
diante de ti uma missão dificílima e incomum ...
O que me ajudou muito foi o material do match
de Spassky com Fischer, tanto o material de
xadrez como o material psicológico".
Na realidade, quando foi disputado o match
Spassky-Fischer (1972), insistiu-se na
necessidade de um sério estudo das aberturas.
Mas Fischer abandonou o xadrez e os ecos de
Reykjavik logo se atenuaram. Os mais duros
duelos de abertura daquele 1natch foram sendo
esquecidos e a preparação voltou a se teduzir ao
estudo de exames teóricos nas revistas
Shakhma!J v SSSR e Shakhmat,ry BJlt(f/eten, bem
como o exame das partidas no Informador.
Como antes, as linhas de abertura usadas por
Spassky contra adversários igualmente
"eruditos" fizeram com que ele pudesse obter
posições complicadas de meio do jogo, em que
o papel principal era o da improvisação e
intuição.
Este foi, afinal, um curto período de calmaria
antes da revisão radical dos métodos do estudo
de aberturas. O match Spassky-Karpov foi um
evento memotável, depois do qual todo o
mundo viu com clareza a grande importância
das aberturas. Spassky preparou-se para o matcb
à moda antiga, comprovadamente inadequada e
que logo o deixou praticamente "sem
aberturas". Já Karpov e seus treinadores, pelo

contrário, du rante mais de dois meses se
exercitaram no aperfeiçoamento dos planos de
abertura, estudando não tanto as variantes,
quanto os fundamentos conceituais de linhas de
abertura, das posições do meio-jogo e, às vezes,
do final da partida. Karpov estudava de 10 a 12
horas por dia. Spassky não tinha noção do
poder do Grande Mestre que ia enfrentar...
Desta vez, Karpov teve a ajuda de Furman e
R.azuvaev (sem Balashov, porque Spassky tinha
chamado este último para ajudá-lo, sem saber
que ele estava na equipe d o adversário;
Balashov manteve a neutralidade). Foram
preparadas duas surpresas fundamentais: com
pretas, a D efesa Caro -Kan e com as brancas,
uma alteração parcial para l.d4, isto é,
'.'servindo" dos dois lados. Qual o resultado?
"Durante todo o match, Sp assky não conseguia
se adaptar a mim e minha abertura era bastante
incômoda para ele. Ele, como Polugaevsky
antes dele, não conseguia obter suas posições
favoritas" (Karpov).
A era Karpov teve início precisamente com a
sua vitória no match semifinal contra Boris
Spassky em 1974
O início do match pareceu confirmar as
previsões. Por causa de um forte resfriado,
Karpov se viu obrigado a pedir um ti,ne out
ainda antes da primeira partida. "Um dia depois,
eles voltaram ao tabuleiro: um indivíduo senhor
de si, bronzeado do sol (vindo de wn resort na
montanha), de porte atlético e um jovem
Anatoly, o Décimo-Segundo
franzino, pálido, ainda convalescendo de um
resfriado e por isto mesmo um tanto arqueado".
Esta foi a descrição feita por Roshal, mas ao ver
Karpov perder com brancas, usando uma
defesa Siciliana (volume 3, partida 8J'), Roshal
chamou a atenção para um detalhe curioso: ''.Ao
voltar para casa depois de uma sessão de
adiamento já sem esperança, F urman, embora
transtornado, não esqueceu de lembrar a
Karpov que Fischer também tinha perdido a
primeira partida para Spassky e que, .o em por
isto, deixou de vencer o matei/'.
E Karpov seguiu esta recomendação,
observando bem o estado de espírito do
adversário e refletindo: ''A vitória na primeira
partida foi ruim para Spassky, tal como sua
vitória na primeira partida contra Fischer.
Sabendo que tudo estava claro, ele se acalmou e
descansou" .
Na segunda partida, em resposta a l.e4,
Karpov usou a defesa Caro-Kan pela primeira
vez na vida. O seu adversário compla-
centemente resolveu adiar o debate de abertura,
oferecendo empate logo no 17° lance.
Botvinnik escreve: "Tanto Spassky como os
'especialistas' não tiveram dúvida do resultado.
A decisão era sintomática. O Spassky de hoje
quer vencer com o menor esforço possível; ele
não está disposto a suportar uma sobrecarga e
deseja se poupar".
Para o desdobramento do match, a 3ª partida
foi de grande importância.
Partida 58
A. Karpov - B. Spassky
Matcb de Candidatos,Leningrado 1974
]"partida
Defesa Índia do Rei - E91
1.d4!?
Todos esperavam l .e4 e uma melhoria das
brancas na Defesa Siciliana, mas Spassky teve
uma nova surpresa: Karpov tinha começado
uma partida dessa forma poucas vezes na vida!
251
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Imaginando que o seu jovem adversário
estivesse preparado para as principais linhas do
seu repertório de aberturas, o ex-Campeão
Mundial teve que escolher ao tabuleiro entre
essa que já tinha utilizado ou algo que fosse
novo, mas conhecido somente em termos
gerais.
Posso imaginar em que Spassky pensava
durante esses momentos. Ele nunca teve por
objetivo ser um especialista em aberturas,
considerando a si mesmo como o rei do meio-
jogo. Seu treinador por muito tempo, Igor
Bondarevsky, não "exagerava" o papel do
conhecimento de aberturas, mas pensava que o
principal era ter a cabeça tranqüila antes da
partida e sobre a abertura era suficiente ter uma
impressão geral e, de uma forma ideal, o
conhecimento de poucas sutilezas.
l..!~Jf6 2.c4 g6
Uma surpresa em troca? Não desejando
conferir o que a equipe de Karpov tinha
preparado na D efesa Nimzo-Índia ou na Índia
da Dama, Spassky começa relembrando suas
partidas da Índia do Rei, tentando encontrar
uma posição meio esquecida e algumas idéias
que poderiam ser utilizadas.
3.~ c3 21.g7 4.e4 d6 5.~o 0-0 6.Jl.e2 c5
Spassky teme a preparação das linhas
principais e ao invés de 6 ...e5 responde com
uma variante rara da Índia do Rei. Entretanto,
dificilmente essa tenha sido uma boa decisão.
Isso permitiu que Karpov considerasse a
posição, surgindo para ele uma nova abertura,
na qual utilizou considerações gerais através das
quais se guiara em situações similares.
7 .0-0 ~ g4 8.dS
Não foi difícil adivinhar qual a opção de
Karpov. Quando ele estudou as partidas de
Polugaevsky, é claro, percebeu como esse
manejava de forma esplêndida tais posições
com as brancas e adotou seu método. Além
disso, Karpov gostava de bloquear o centro
com d4-d5 na Ruy Lopez e essa experiência se
tornou útil na Índia do Rei.
8 ...~ bd7 9.il.g5 a6 10.a4 l!ic7 11.lWd2
252
A troca dos bispos sugerida por Borvinnik -
1 l.~d2 .txe2 12.ii'xe2 pouco promete após
l2 ... h6 13.~f4 tlfa5. Karpov provoca uma
troca diferente, contando que mais cedo ou
mais tarde seu bispo b ranco ganharia
importância.
11 ...liae8 12.h3 il.xf3 13.~xO e6 14.b3?!
A tentativa de imediatamente abrir a parti.da -
14.dxe6 fxe6 15.â adl seria estancada através
de 15 ...~e5! l6.il.e2 ~fl, com igualdade. E
Karpov decide esperar, momentaneamente
acumulando pequenas vantagens. Mas ao invés
de 14 .b3, que retira o apoio do seu cavalo, seria
melhor jogar 14.a5 (tomando espaço e,
principalmen te, restringindo a dama preta)
14 ...~h8 15.S:a2 exd5 16.cxd5 c4 17.&4
~e5 18..te2.
14.. .'i&b8! (o início de um reagrupamento
padrão) 15.Sl..e3
No momento o bispo nada faz em g5 e as
brancas o retiram para uma posição que em
breve se mostrará desagradável para o
adversário. Botvinnik sugeriu 15.lãacl, mas não
é claro o quanto as brancas possam se gabar
após 15 ...'ã'b6 16.~f4 lilg8.
15 ...lilg8 16.~e2
O segundo bispo também começa a olhar em
direção à ala da dama, para garantir o caminho
do peão f2.
16...eS!?
Uma decisão inesperada, mas bastante lógica:
as pretas contam com o efeito de ... f7-f5 e a

uoca dos bispos de casas pretas. Outra forma
de lutar pela igualdade seria a abertura do
centro - 16 ...1Wa5 17.lãacl exd5. O simétrico
18.exdS teria permitido contra-chances às
pretas após 18 ...fS - 19.g3 'ff.e7 20Ji fe1 'ff.fe8
ou 19..id3 1Wb4 (19.. .f4? 20.ltie4!) 20..tf4
~5. Seus problemas são mais difíceis após
18.cxd5, embora tenham uma opção:
1) 18 .. .~c3 19.~c3 'ff.xe4 20.1Wb2 ltigf6
21..if3 'ff.e7. Essa tentativa direta de tornar a
posição envolve um sacrifício de qualidade por
alguma compensação: 22.~g5 ãe5 23 ..1U'4
<;!;>g8 24.~xeS ltixe5 25.!!bl ifb4 ou 22.3l.g4
<;!;>g8 23.~xd7 ltixd5 24.Ad2 gxd7 25.'ff.f3
1!fd8 26.~h6 f5 27.'ff.dl ltif6 28 ..ixf8 'iWxf8;
2) 18 ...ltigf6 19.ãfel 'ifb4, lançando-se em
·complicações, as quais após uma eliminação de
peças em massa terminam em um final
prosaico: 20 ..i.f4 (20.f3 ltih5 e as pretas têm
uma variante razoável da Benoni Moderna)
20...~xe4 (20...ltie5 21 .1Wc2! - é uma variante
da Benoni Moderna que agora é mais agradável
às brancas) 21.ltixe4 ãxe4 22.'i!fxb4 cxb4
23.~xd6 'ff.fe8 24.f3! !!xe2! 25.ãxe2 gxe2
26.:Sc8+ .tf8 27.~xf8 li::lxf8 28Jãxf8+ Wg7
29.ã b8 a5! (mas não 29...ã e?? 30.Wf2 gd7
3 l.'it'e3 ã xd5 32.!lxb7 a5 33.Ei:b5 ~dl
34.ã xa5 lâbl 35.Wd4 ãxb3 36.Wc4 'ff.b2
37.gbS Sxg2 38.aS, vencendo) 30Jixb7 ãe3
31.ãb5 lâxb3 32.gxa5 'ff.a3 33.d6 ã d3. Aqui as
chances de um empate são muito reais, por
exemplo: 34.!lb5 ~ xd6 35.~ xb4 l!d2 ou
34_g a6 b3 35.E!b6 'it>f6 36.aS We6 37.a6 ~d6
38.a7 ãxb6 39.a81W b2 40.l!i'a2 Wf6 41.lW"bl
h5 - com urna dama assim, as brancas não
podem vencer.
17.g4
Um lance muito comprometido estra-
tegicamente. Karpov tenta restringir o contra-
jogo do adversário, contando que o
enfraquecimento da sua ala do rei não seja
importante, uma vez que as peças pretas estão
posicionadas de uma forma defensiva. De fato,
Anatoly, o Dédmo-Segundo
o avanço g2-g4 é uma parte importante do
plano das brancas, mas para o efeito máximo
precisa ser escolhido o melhor momento para
isso.
Novamente, como no 14° lance, seria mais
recomendável 17.a5 f.5! 18.f3 e se 18 ... 'i!fd8!
(18 ...li:Jgf6 19.g4!) é forte o profilático
19.~h2! para após 19 ... 'ifib4 ter 20.g3 (com a
seqüência 20 ...tfe7 21.g4! °ã'b4 22.'iWel!
'i.Wxel 23 ..!Tuxel .ih6 24.~xh6 ltixh6 25.exf5
gxf5 26.~dl ãe7 27..i.c2 lãg7 28.ggl),
enquanto se 19 ... ~gf6 esse é o momento certo
de jogar pela restrição - 20.g4!, não permitindo
a ativação da dama. Aqui é ineficaz 19 ... f4 uma
vez que sem o seu bispo de casas brancas as
pretas não podem criar nenhuma ameaça séria
ao rei inimigo, enquanto que a ofensiva das
brancas na outra ala se desenvolverá de forma
desenfreada.
17...'ii'dS?!
Spassky introduz o seu plano, mas seria mais
forte o imediato 17 ...f5! , para após 18.f3 (se
l 8.gxf5 gxf.5 19.exf5 então as pretas têm
l 9 ...e4! 20.f3 exf3 21.gxf3 - 21..i.xf3? ã xe3!
-21...°ã'a5 22.ã cJ ltie7 com forte contrajogo)
18 ...'i!fd8 19.Wg2 poder levar a um "empate
morto": 19.. .f4! 20.~f2 a5! 21.h4 h6 22.ltibS
ltib8.
t8.'it>g2 lWb4
A penúltima ligação com o esquema
planejado: o peão h3 está bloqueado e se
19..ig5 seguiria 19...~6!. Com o rei em g2, a
tentativa de bloquear completamente a posição
através de 18...f5, que anteriormente havia sido
um lance bem sucedido (esperando por 19.f3
f4! 20 ..ifl a5!), nessa ocasião teria conduzido
a uma vantagem das brancas: 19.gxf5! gxf.5
20.exf5 e4! 21.f3! exf3+ 22.~xf3 l'Zlgf6 23.a5
lzJe5 24 ..ig5 ltif7 25 ..âf4.
19.0
O ponto de virada da partida, que por muito
tempo permaneceu não descoberto.
253
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
l9...~ b6?
Somente pode-se tentar adivinhar porque
Spassky falhou no ápice da batalha. Talvez ele
pensasse que, com as damas em jogo, as pretas
não precisassem temer o posterior avanço do
peão g4?
Dificilmente seria tolerável 19 ... f6 20.~f2
i.h6 2 1.~ d3 ~g5 22.h4! i!fd2 23.ã fd l
~xd3 24.~xd3, mas o temático 19...f5! teria
mantido a tensão: após 20.a5 ~h6! 2 I.i.xh6
(21.g5? f4!; 21.exfS g xf5 22.i.d3 e4!)
2 l ...'Llxh6 22.l!fr'e l '¼Wd8! as pretas têm um
contrajogo ativo, enquanto 20.!fel !fxe l
2 I .ãaxe 1 não promete o mesmo efeito
formidável como o da par tida, uma vez que
teria seguido a troca dos bispos de casas pretas
- 21 ... ~h6! 22..i.xh6 'Llxh6. Aparentemente a
passividade do bispo e2 não permite às brancas
qualquer chance de sucesso: 23.aS fxg4
24.hxg4 (24.fxg4 g5 25.'Lldl ã xfl 26.ã xfl
ã f8) 24 . . .'Llf7! 25 .ãb l ãc8 2 6.b4 cxb4
27.ãxb4 'Llc5 28.ã fb l lãc7 29.'Lla4 ltJxa4
30.:Sxa4 lãe8 3 1.&b4 ã ee7 32.Étb6 ~g7 e as
coisas terminam em um empate. Mas 23.exfS!
gxf5 24.aS teria aberto levemente a ala do rei e
deixado Karpov com chances reais de uma
vantagem.
20.gS! it.g7 21.~ fl 'i!ff4 22.Jl..e3 'i!fh4
23.'i!i'el!
Inesperado e muito efetivo. Após a troca das
damas desaparecem as ameaças ao rei das
brancas e elas subitamente adquirem uma
254
superioridade em força na ala da dama, para
onde as pretas, espremidas em duas fileiras, não
poderão transferir com rapidez as suas reservas.
A ameaça da troca dos bispos de casas pretas
pode agora ser esquecida, a cunha em g5
impede o movimento normal das peças
inimigas e, durante o tempo que as pretas
gastarão na troca do seu peão nocivo, as brancas
abrirão com efeito decisivo a coluna b.
23...'i!fxel 241.(fxel h6
Ou 24 ... f6 25.h4. As pretas são incapazes de
fechar a ala da dama (24... a5? 25.l2)b5) e
somente podem esperar pela inevitável
rachadura das suas defesas.
25.h4 hxg5 (após 25 ... f6 26J!!hl as brancas
também têm urna posição arrasadora) 26.bxgS
ltJe7
Por somente um momento é muito tarde para
as pretas jogarem a6-a5 . ..
27.a5!
Após esse lance, a partida efetivamente está
encerrada. A resistência desesperada de Spassky
não pode mudar nada.
27...f6 28.Jâebl fxg5 29.b4! (o peão g5 não
poderá andar) 29...'LlfS!?
Imaginando que, dado o desenvolvimento
normal dos fatos, não há meios de salvar a
partida (29...g4 30.bxcS! l2)xc5 3 1.~xc5 dxc5
32.lãxb7, vencendo), Spassky sacrifica o seu
cavalo, para mudar agudamente a característica
do jogo.
30.Jl..xgS!

Vendo que 30.exfS e4! 3 L ~d2 exf3+
32.ii.xf3 gxfS aguçaria o jogo e permitiria
algumas chances ao adversário, Karpov toma
outra decisão psicológica sutil. Ele permite que
o cavalo preto se estabeleça no centro do
tabuleiro, onde se mostra estar em um
isolamento esplêndido, em nada influenciando a
partida. Como resultado, o adversário ainda não
tem nenhuma esperança de contrajogo. Para
tomar essa decisão, Karpov gastou apenas
quatro minutos!
É interessante que para programas de
computador as continuações 30.cxfS e
30.ii.xg5 são praticamente equivalentes. Mas a
captura da peça teria vencido de forma mais
rápida, como demonstrado pela variante acima:
33.Ah5 l!c8 34.bS g4 35.ãhl Wg8 36.Ag6
.i.d4 37.~7+ Wg7 38.AhS f4 39.Sg5+ !,
vencendo.
30...ti:ld4 (se 30 ...~6 seria extremamente
desagradável 31.exfS! .i.xgS 32.cZle4) 31.bxcS
li::lxc5 32.Ilb6!
O início da invasão decisiva. O peão d6 está
sob fogo, mas novamente Karpov não tem
pressa em tomá-lo, fortalecendo de forma
estraté!,>ica a colocação de suas peças primeiro.
32....1'.f6 33.Ilhl+!
O caminho mais preciso. Após 33.ãxd6
Botvinnik viu 33 ...Wg7 como a última chance
de salvar a partida, embora isso pudesse ser
somente uma forma de prolongar o sofrimento:
34.~xf6 ãxf6 35.Axf6+ @xf6 36.Adl tiJd3
37.ã bl ~ e7 38.ti:le2 g5 39.ã b6+ Wg7
40.ti:lxd4 exd4 4 l.Aa4!, vencendo.
33...Wg7 34.~h6+ 'it>g8 35.~xf8 ã xf8
36.ã xd6 <it>g7 37.Xt.dl!
O bispo até agora dorminhoco ajuda a troca
de um dos cavalos. Seu melhor momento
chegará 1Olances mais tarde!
37...1J.e7 (se 37 ....i.d8 cotão 38.li)a4 ii..c7
39.ti:lxcS .i.xd6 40.ti:lxb7 Ab4 4 1.cS,
vencendo) 38.Ilb6 .i.d8 39.Ilbl ã fi 40.ti:la4
lod3 4V~b6 g5 42.0c8!
Uma solução elegante. Agora se 42...g4 há a
Anatoly, o Décimo-Segundo
forte resposta 43.li:id6 gxf3+ 44.<~fl e o
aparentemente belo cavalo no centro é incapaz
de socorrer as pretas.
42...li:icS 43.li:id6 21!d7 44.-tlfS+ li::lxf5
45.exfS e4
O lance secreto. Porque Spassky voltou após
o adiamento é o último mistério dessa batalha
maravilhosa.
46.fxe4 ê2:)xe4 47..i.a4 lle7 48.I!bel ! 0 c5
49.I!xe7+ .i.xe7 50..i.cl .i.d8 51.!!al Wf6
52.d6! Wd7 53.Ilbl WeS 54.Iidl <M4 SS.ãet
1- 0
As pretas foram castigadas pela sua indecisão
em desenvolver um plano basicamente bom.
A contagem se tornou 1-1 e Karpov ganhou
um novo sopro de vida. Na 4• partida Spassky
novamente não conseguiu nenhuma vantagem
contra a Defesa Caro-Kan e se contentou com
um final levemente inferior - empate no 43°
lance.
Cada match tem as suas partidas culminantes,
quando os adversários ficam face a face
demonstrando suas habilidades. Aqui a 5ª
partida foi uma dessas. Nesta ocasião Spassky
não temeu se envolver em uma batalha crucial
na direção principal - em um esquema de
abertura para o qual o adversário sem dúvida
estava muitíssimo bem preparado.
Partida 59
A. Karpov - B. Spassky
Match de Candidatos, Leningrado 1974
5ªpartida
Defesa Nifllzo-Índia - E59
l.d4 (de novo!) 1. •• ti:lf6 2.c4 e6 3.0 c3 .i.b4
4.li::lf3 (4.a3 - partida 4; 4.e3 - partidas 29 e 73)
4 ... c5 5.e3 d5 6•.i.d3 0-0 7.0- 0 li::lc6
(7 .. .dxc4 - partida 55) 8.a3 .i.xc3 9.bxc3 dxc4
10.~xc4 'iic7
Essa é uma das tab!Jas de abertura, cujo
manejo determinava a categoria de um jogador
daquela época. Pela riqueza de conteúdo é
255
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
comparável com os esquemas típicos na
Espanhola ou no Gambito da Dama. O
conflito básico na posição é determinado pelo
equilibrio material problemático "dois bispos
contra bispo e cavalo". Cada lado tem suas
vantagens (a grande quantidade de peões
brancos no centro é a troca pelo livre
desenvolvimento das peças pretas e a sua
estrutura de peões livre de defeitos), que torna
o final dependente somente da maestria dos
dois jogadores. Nos nossos dias, a avaliação de
muitas variantes de abertura depende das
sutilezas da luta de dois bispos contra bispo e
cavalo.
ll.$.d3
Naquela época, a continuação mais na moda.
Botvinnik. considerou ser mais interessante
l l .Ae2, mas isso é questão de gosto. Após
11...eS 12.~c2 ã d8 13 ..1i.b2 .1i.g4! 14.dxe5
'tlxe5 15.c4 uma partida modelo é Khalifi:nan-
Kramnik (Línares 2000), que incorpora as
características mais típicas do meio-jogo:
15 ...'tlxf3+ 16.gxf3 ~ h3 17.ãfd l 'ti°c6l
18.l!fc3 l2le8 19.<r.t>hl i.e6 20.ãgl f6! 2 l.ã g3
E!d7 22.&gl &d8 23 ...ác l .1d'5! 24.e4 ..ág6
25.h4 li}c7 com jogo excelente para as pretas.
Também é freqüentemente jogado 1 l .~a2,
como, digamos, Gelfand-Kortchnoi f.,partida 46).
E, em tempos recentes, se tornou popular
1 l.it.b2 e5 12.h3, quando após 12...e4 13.~2
li}a5 14..b2 ..áf5 15.c4! ãfe8 16.dS ltJd7
17.f4! exf3 18.~xf3 ..ág6 19.h4! as brancas
tomam a iniciativa (Kramnik-Tiviakov, Wijk aan
256
Zee 2001) e dessa forma é melhor 12 ... ~f5
13.~e2 ã ad8, mantendo a tensão no centro.
ll ...e5 12.Wc2 ãe8
No primeiro match Petrosian-Spassky
(Moscou 1966, 20ª partida), as pretas perderam
um tempo - 12 ...~g4 13.li}xe5 ltJxe5 14.dxe5
!fxe5 15.f3 ~d7 e após 16.a4 as brancas
tomaram a iniciativa.
13.ltJxcS
A variante aguda l3.e4 exd4 14.cxd4 ..ág4!
(Bronstein-Euwe, Torneio de Candidatos de
Zurique 1953) simplesmente demonstra a
solidez das defesas das pretas e pode conduzir a
um empate bonito por xeque perpétuo:
15.l!fxc5 ~xf3 16.gxf3 ~d7! 17.~e3 ltJxe4
l8.~xe4 !!xe4 19.fxe4 ~g4+.
Outra linha - 15.e5 ..áxf3 16.exf6 êtJxd4
l 7 ...áxh7+ ©h8 18.fxg7+ 'i!?xg7 19.~b2 g ad8
20.gxf3 (uma vez se pensou que 20.g fcl levava
ao empate - 20 ... ã h8 21.~xcS+ t!fxc5
22.ã xcS ©xh7 23.~xd4 .ãhg8, mas após
20 ... ã eS! 2 l.~xd4 ãxd4 22.gxf3 !!g5+
23.©fl ~xh2 a ameaça de ...ã g2 força as
brancas concordarem com um final perdido:
24.<i!?e2 ~xh7) 20 ... ã h8 21.'it>hl trouxe
sucesso às brancas na partida I.Sokolov-
Kasparov (Wijk aan Zee 1999), mas somente
devido a 21...ãxh7?.
Aparentemente minha série de sete vitórias
sucessivas naquele torneio estava destinada a ser
quebrada... E já um quarto de século antes essa
variante tinha sido analisada pela equipe de
juniores do Azerbaijão e eu sabia a receita
correta: 2 1. ..@f8!! 22.it'e4?! f5! 23.l!lh4
ã xh7 24.tif6+ ©e8 25.ã fel+ Wd7 26.ãeS
Wc8 27.it.xd4 cxd4 28.~xfS+ Wb8. Na
posição final as coisas estão difíceis para as
brancas e meu companheiro de equipe
R.Tavadian venceu dessa forma uma partida na
Espartaquíada Geral de Escolares em 1974. Ele
lembrou perfeitamente bem "o que fazer'',
enquanto minha memória me derrubou de
forma inesperada! Após 2 1... Wf8 as brancas
têm que pensar em termos de empate, se isso
ainda for conseguido: 22 ...áxd4 :Sxd4 23.!tfc l
.ãh4 (23.. .b6 24.Wg2) 24.'i!fxc5+ etc.

13...t~)xe5 14.dxe5 'ti'xeS 15.0 .ie6 16.e4
Jlad8
Outra forma de igualar posteriormente foi
demonstrada por Spassky em seu 111atch com
Portisch (4ª partida, Genebra 1977): 16 ...c4
l7.~e2 Wc5+ 18.c;t>hl li::id7 19 .Af4 b5.
l7 ..i.e2
O momento de avançar - l 7.f4?! Wfc7 18.e5
ainda não chegou: após 18 ...c4 19.~e2 119c5+
20.'~hl Ag4! 21.i.xg4 <tlxg4 22.ilb l b6
23.h3 li:lh6 a posição das pretas é claramente
superior.
17... b6 18.a4
Em primeira instância, as brancas precisam
ativar seu bispo de casas pretas, que não tem
adversário, mas isso não é fácil de se fazer:
18.Ae3 tiJdS!, enquanto se 18.c4 as pretas
podem optar pelo duplamente agudo
18 ...it'd4+ 19.Wh l it'xal 20.Ab2 Wxfl +
2 1.Axfl li:ld7 22.a4 <tlb8 ou o mais sólido
18 .. .li:lhs I9.Ab2 'iWgS 20.~bl li::if4 2UH1
hS 22.@ h l h4.
J8 ....i.d7 19.ildl A c6 20.1lxd8 ilxd8
2l..ie3 b6! (é claro, não 21...tiJdS? 22.'ilid2!
i!Yxc3 23 .ã d l !) 22.$..f2 l2::ih5
As brancas mantiveram seus dois bispos, mas
não conseguiram ativá-los e assim não há
dúvida se têm qualquer vantagem. A posição
das pretas é sólida, enquanto as ilhas de peões
brancos na ala da dama podem se tornar uma
fonte de preocupações. Karpov, não tendo
experiência de jogar posições assim, continua a
desenvolver o seu plano que parece prometer
uma vantagem...
Anatoly, o Décimo-Segundo
23.g3
A partir desse ponto avançado é aparente
uma certa superficialidade na decisão de
Karpov; resultado da qual as possibilidades de
atividade de seu adversário aumentam pouco a
pouco, embora no momento o equilíbrio
dinâmico não esteja alterado. Simples igualdade
seria mantida através de 23 _gd 1 gxd l +
24.llxdl (Kotov) ou 23 ..tfl li::if4 24 ..tg3 g5
(Botvinnik).
23...gS!
Uma resposta brilhante e inesperada. Fica
claro que a ameaça de f3-f4 é um fantasma,
enquanto o enfraquecimento dos peões f3- e4
uma realidade.
24.il.bS
Agora as brancas precisam dedicar alguma
atenção à defesa. Assim 24 .~ d 1 ~ xd 1+
25.Wfxdl teria transferido a iniciativa para as
pretas: 25 ...g4! 26.'ti'd8+ c;t>g7 27.'i.!i'h4 gxf3
28..i.xf3 l2)f6 29.~e3 hS, enquanto livrar-se do
seu peão fraco através de 24.aS g4 25.axb6
axb6 teria mantido a igualdade.
24...Ab7! 25.l!dt
1ovam eote as brancas não evitam a
preparação de ... g5-g4. A mesma troca de
torres após o preparatório 25.aS g4 teria
assegurado um empate simples: 26.ildl l!xd l +
27.'i!fr'xdl gxf3 28.axb6 axb6 29.l!fd8+ Wg7
30.'i!fxb6 'i!fxc3 31.'tifxcS 'i!xc5 32.il..xc5
i.xe4.
25...ã xdt+ 26.Wxdl l2)f6!
Uma decisão excelente. Se as brancas
permitirem ... g5-g4, o peão e4 pode cair,
abrindo a grande diagonal das casas brancas,
que serâ dominada pelo bispo em b7. E Karpov
falhou ...
27.g4
E sse desejo de suprimir a ameaça é muito
arriscado, enquanto 27.aS ainda a teria evitado
(27 ... g4? 28.a6!) e permite às brancas
manterem a igualdade sem dificuldades:
27.. .'~g7 28.a6 Ac8 29.l!fr'd8 Ae6 30.'6d3 g4
31..ilc6 gxf3 32.'i.!i'xf3 ou 27 ... bxa5 28.Wfr'd8+
257
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Wg7 29.i.fxa5 lê.::lxe4.
27 ...!fxc3 28..\ig3?
E esse é um erro grave, que coloca as brancas
à beira da derrota. Seria mau o imprudente
28.'i!fd8+ Wg7 29.ilc7? devido a 29 ... 'ifxf3!
30.'i!fxb7 lê.::lxg4 31..\ig3 lê.::le3 (fal). E somente
tirando a dama da defesa do peão f3 - 28...liel !
as brancas manteriam o equilíbrio: 28 ... lfb2
29..\ig3 Wg7 30.ii'd6.
28... Wg7! 29.ile2
A troca das damas 29.Wfr'd3 l!fxd3 30.~xd3
teria eliminado a ameaça ao peão f3, mas
30 ...~c6! forçaria as brancas tanto a ir para
troca nova e desfavorável - 31 .ii.b5 ~xb5
32.axb5, quando após 32...lê.::ld7 elas têm um
final desagradável (por exemplo, 33.'i t'f2 <;tif6
34.f4 lê.::lf8! 35.We3 lê.::le6 36.fxg5+ hxg5
37.~b8 ~f8! 38.e5 We6 39.~xa7 ~ d7
40.ée4 f6!, vencendo), ou permitir que as
pretas criassem dois peões unidos e passados
após 3 l.a5 lê.::ld7!.
29... ~ c6?
O momento chave da partida e possivelmente
de todo o n,atch! Após conduzir esplen-
didamente um meio-jogo complicado e
conquistar chances reais de vitória, Spassky
comete um erro grave, um descuido de um
h10ce.
As pretas teriam conquistado uma grande c
aparentemente decisiva vantagem através de
29...h5!. As brancas não podem manter sua
construção defensiva, uma vez que 30.h3? é
258
respondido pelo arrasador 30 .. .li'lxe4!
enquanto o contra-ataque salvador 30.'i!fd6 de
fato não as salva: 30...hxg4 31.~e5 'i!fel+
32.~l ii'e3+ 33.Whl 'i!Yxf3+ 34.~g2 l:lff2
35.t!i'xf6+ t!i'xf6 36.~xf6+ @xf6 37.e5+
Wxe5 38.~xb7 c4, vencendo (fal). Tudo o que
resta é entrar no final da partida - 30.~el ifb2
31.gxh5! (é totalmente ruim para as brancas
3 l.h3 hxg4 32.hxg4 ~c6 ou 3 l.h4 hxg4
32.hxg5 ~h5! 33.'i!fd6 ifcl 34.<itifl gxf3
35.~ xD lê.::lf4 36.~f6+ Wg8 37.~d8+ @h7)
31...t2:'lxh5 32.'i!fd8 t2:'lf6 33.Wfr'd2 ~xd2
34.~xd2 e é difícil para as brancas evitarem a
derrota: 34 .. ..âc6 35.a5 Wg6 36.~d3 li:ld7
37.~c3 f6 e as pretas vencem.
30.~d6!
Essa estocada, criando a ameaça terrível de
3 l.~e5, foi obv iamente ignorada por Spassky.
E le é obrigado a trocar as d amas ime-
diatamente, perdendo todas as esperanças de
sucesso.
30.. J!Hd4+ 31.t!i'xd4 cxd4 32.a5! bxa5!
Após 32...lê.::ld7 33.axb6 axb6 34.~f2 não é
fácil empatar contra os bispos despertados. Mas
com um peão preto alcançando a4, a igualdade
é óbvia.
33.~eS Wg6 34.Sl.xd4 t2:'le8 3S.~xa7 h5
36.gxhS+ é xhS 37.Wf2 Wg6 38.i.d3 li:lg7
39.~b6 a4 40.~ cs t2:'le6 41.ii.d6 'i!?h5 ½-½
Uma partida importante! Naruralmente, a
oportunidade perdida preocupou e
decepcionou Spassky, mas mesmo assim, como
na época ele era o mais experiente lutador de
matches em todo o mundo, foi capaz de se
recompor e chegar para a próxima partida cheio
de otimismo. E a nova partida foi outra de
grande importância. No 23º lance, Karpov
causou mais uma surpresa ao adversário...
Karpov lembra: "Mesmo quando igualei a
contagem, Spassky não entendeu o que estava
acontecendo e permaneceu no estado oUmpico
da certeza de sua superioridade e sucesso no

final. Foi só a 6" partida que o despertou. Dei-
me conta desta situação ao olliar para de: era já
outro Spassky, gravemente ferido, agitado, sem
entender o que estava acontecendo".
Partida 60
B. Spassky - A. Karpov
Match de Candidatos, Leningrado 1974
6 4 partida
Defesa Caro-Kon - B18
J.e4 c6 (é claro!) 2.d4 dS 3.'Dc3 dxe4
4.'Dxe4 .11.fS 5.'Dg3 Ag6 6.'Df3 (6.h4! -
partida 62) 6. ..êz)d7 7.i.d3 e6 8.0-0 'Dgf6 9.c4
.i.d6 10.b3 0-0 11.llb2 'i!ffc7
Ou l l...c5 12 ..1l.xg6 hxg6 13.l!e l i!/c7
14.dxc5 .1l.xc5 15.!fc2 :âfd8 16.ê2le4 ê2ixe4
17 .'t1e><e4 ½-½ (2ª partida do match).
12..txg6 bxg6 13.'i!ffe2 files 14.~e4 ê2lxe4
1S.t!fxe4
Os ajustes de abertura de Spassky claramente
tiveram que ser adiados e já para a sua terceira
partida com as brancas ele foi forçado a
desempenhar um papel tedioso em um cenário
estranho. Forçar o adversário a jogar o que de
não gosta é uma grande conquista na luta do
match.
O resultado do meio-jogo não promete
nenhuma grande aventura. Nenhum lado tem
qualquer debilidade ou dificuldade em
desenvolver suas forças. o momento não se
prevê nenhum confronto e manobras sem
pressa são perfeitamente lógicas.
Anatoly, o Décimo-Segundo
15....áe7
As pretas prosseguem em sua estratégia de
espera, enfatizando a solidez da sua posição.
E las até evitam o lance lógico libertador 15 ...e5.
Se agora 16 .c5, então é boa a sugestão de
Botvinnik 16....te7! 17.ê2ixe5 ê2lxe5 18.dxe5
~ xc5, enquanto após 16.l!ael ! ê2if6 l 7.'ti'h4
pode-se concordar com a opinião de Karpov de
que as brancas têm uma ligeira iniciativa,
embora após 17 ...e4 18.'LJg5 ~ f4 19.k!e2 e3 !
20.f><e3 (20.D b5! 2l.g3 AxgS 22.l!fxg5 b><c4
23.bxc4 ~6 24.Ac3 'i1Va6, com igualdade)
20...l!xe3 21.!!et2 .áxgS 22.'%lfxg5 1ã'.e7! ela
gradualmente enfraqueça: 23.lYh4 I!ae8
24.ã xf6 gxf6 25.dS g5 26.'i1Vt2 cxd5 27.li.xf6
ã e6 28.cxd5 làd6 29.~xg5 l!xdS.
16.!!adl llad8 17.filel t!fa5!
Essa ativação também seria implementada
após 17 .. .it.f6 18.~c 1 (se agora 18 ...eS, então é
for te a resposta de Botvinnik l 9.~ b2!)
18 ...!fa5 19.a4 'ã'f5, com igualdade.
18.a3 'i:Wf5 19.l.!He2
Após a troca das damas as brancas não têm
chances de uma vantagem, mas agora fica claro
que a manobra da dama preta foi uma ligação
para um elegante plano de ativação.
19...gS! 20.h3
Spassky fez esse lance de forma muito rápida,
retardando a ruptura d4-d5 até o melhor
momento. E de fato, após 20.dS exd5 as
brancas não têm nenhum benefício previsto
nem com 21.li:ld4 l!fh7 (ou 2 1...'%lfe4 !
Botvinnik) 22.cxd5 cxd5 23.l!fb5 ~d6!, ou
com 21.cxdS g4! (Karpov) 22.ê2ld4 'i:Wxd5
23.i!/xg4 lilf6.
20...g4 21.hxg4 'i!fxg4 22.dS?!
À primeira vista, um avanço no momento
opormno, uma vez qne após a dupla troca de
peões será vantajoso para as brancas
entregarem sua dama por duas torres. A
avaliação de Karpov foi muito profunda: "A
posição das brancas é ligeiramente mais livre
259
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
graças à dupla de peões c4-d4, mas a abertura
do centro reúrará delas essa talvez única
vantagem. Seria melhor 22.lld3 $.f6 23Jl e3".
Eu acho que, no entanto, aqui também após
23 ...'ti'h5 possa se falar sobre uma igualdade.
22...cxdS 23.cxdS
23...e5!!
Um dos melhores lances do match. Lembro
que ele causou em mim uma forte impressão.
Esse fortalecimento claramente foi ignorado
por Spassky, que possivelmente esperasse por
23 ...1J.d6? 24.dxe6 ãxe6 25.W'xe6! fxe6
26.ãxd6.
É claro, o sacrifício de peão é somente
imaginário: 24.li:lxeS?l l!fxe2 25.lâxe2 ~ d6
26.ãde l l2lxe5 27.JJ.xeS 1J.xa3, mas as pretas
deixam seu adversário com um aparentemente
poderoso peão passado central. É pena,
somente aparentemente: ele será bloqueado
com segurança pelo cavalo e no final se tornará
uma fraqueza apreciável. Esse método de
"envolvimento" de um peão passado d6 na
Defesa Grünfeld foi um que usei em meu match
em Sevilha contra Karpov (1987), mas em
meados da década de 1970 tal interpretação foi
uma revelação, um importante passo adiante no
entendimento do xadrez.
24.d6!?
Após 24.lli'bS há um caminho muito simples
para a igualdade: 24 ... iL.cS ! 25.li:lxeS l2lxe5
260
26.~xe5 ~ xf2+ ! 27.'ít>xf2 ã xe5 28Jixe5
°ti'f4+ 29.'i!,,g l t!.fxe5.
24....\if6 25.lDd2?!
Novamente Spassky é inferior ao adversário
na avaliação da posição - em uma partida de
mat&h uma coisa assim é desanimadora e joga
fora sua confiança. Ele superestimou a força do
peão d6 e evitou um meio-jogo igual após
25.'iib5, onde seu peão passado teria
restringido as forças das pretas, por exemplo:
25...e4 26.~h2 'i!fe6 27.bf6 li:lxf6 28.'il.fxb7
!id7 29.'i!fb4 tz:ld5 30.'i!fc5 ã xd6. No entanto,
no final da partida ele se transfor mou em um
estorvo! Mas para mostrar isso é necessária
grande prec.isão por parte das pretas e Karpov
a demonstrou.
25...'tixe2 26.ãxe2 ã c8! 27.li:ie4
De novo uma decisão questionável. As
brancas dirigem o b.ispo a d8, onde estará
pronto para atuar em ambas as alas. Teria sido
melhor bloquear a coluna e através de 27.~c4!
.1Lg5 28.a4 para manter o equil.tbrio após
28 ... f6 29.g3 00 30.Wg2, uma vez que é
difícil para as pretas fortalecerem a sua posição.
27...1J.d8 28.g4 f6 29.<Jig2 'ttf7 30.llcl ?!
Karpov coloca um ponto de exclamação
nesse lance: controla a coluna cl Mas Tal
discorda de maneira lógica: "As brancas não
podiam ter trocado as torres: embora agora
elas ocupem a coluna e, não há casas de
invasão para a torre. Deveria ser considerado
o imed.iato 30.a4. Com todas as quatro torres
no tabuleiro, seria perigoso para o rei preto se
aproximar do peão d6 devido à ameaça de
f2-f4" .
30....1Lb6 31.ã ec2 ã xc2 32.!lxc2 'i!?e6
33.a4
As brancas decidem incluir seu bispo na
defesa do peão d6. Prometia menos o avanço
do outro peão: 33.b4 a5 34.bxa5 ~ xa5
35.'~g3 b5 ou 33 .. .<.!?d5 34.@f3 g6 35.ã d2+
ll.d4 36.li:lg3 lâc8.

33...aS!
Isso não significa profilaxia, mas o início de
um plano profundo de jogar pela vitória. As
brancas não têm jeito de fortalecer a sua
posição, mas o mesmo não pode ser dito das
pretas.
34. .taJ !!b8!
Resulta que Karpov prepara ...b7-b5, o que é
difícil evitar. Assim, se 35.t2Jc3?! a torre retorna
de forma vantajosa - 35 ...ãc8.
35..ãc4!
A torre quer ajudar o cavalo a desenvolver a
manobra e4-c3-b5 . Ainda não há outro
trabalho de ajuste maior na coluna e.
35.....i.d4! 36.f4!
Após o direto 36.l2ic3 as pretas teriam
conqtústado a vantagem após 36...éz:::lb6 37Jl.c7
.1Lxc3 38.ã xc3 é2id5 39.!icS b6 40.S:.c2 b5.
36...g6
Anatoly, o Dédmo-5egun<Jo
As pretas têm que concordar em trocar um
par de peões, uma vez que no caso de 36 ...bS
37.axb5 .Eixb5 as brancas conseguem
desenvolver uma operação de troca até mais
favorável: 38.fS+ Wd5 39.l2ic3+! ~xc3
40J'!xc3, conquistando excelentes chances de
empate.
37.itlg3?!
Após o lógico 37.fxeS $.xe5 38.!ic7 não
seria fácil para as pretas demonstrarem a
realidade da sua vantagem. Se 38 ...bS teria
seguido 39.!ia7 b4 40.~cl ã c8 41..lll.e3 ã c2+
42.©fl ! ãb2 43.é2ic5+ é2ixc5 44.J..xcS com
boas chances de um empate: 44 ... S:xb3
45.We2! ã b2 46.Wd3! ou 44 .. .$.xd6 45.&6
ã d2 46.Wel !!d5 47 ..tb6 .tg3 48 ..tt2 ~6
49.ãxa5.
Após o mais sutil 38...b6! 39.g5! f5 40.éz:::ld2
o uso do computador é um sparring-guia
companheiro que pode nos conduzir a um
surpreendente final empatado: 40...bS 41.é2Jf3
b4 42.S:.xd7 bxa3 43.ãe7+ éxd6 44.lãxe5 a2
45.ãe l S:.xb3 46.lâal S:b2+ 47.ég3 éc5
48.l2ie5 Wb4 49.é2ixg6 éb3 50.é2if4 g bl
51.S:.xa2 S>xa2 52.g6 S'a3 53.g7 S:.b8 54.lile6
!!g8 55.<it>f4 <it>xa4 56.<JlxfS © b4 57.Wf6 éc4
58.itlf4 a4 59.l2:.)e2 ©d3 60.li:kl+ Wc2
61.é2Ja2 éb2 62.-tlb4 a3 63.<M? Efü8 64.g8~
ã xg8 65.Wxg8 éb3 66.lild3 Wc3 67.l2icl
Wc2 68.é2Ja2 Wb3 69.l2icl+ @b2 70.éz:::ld3+.
Entretanto, 40....1l.f4! 41.é2if3 ke3 deixa no
entanto chances de sucesso às pretas.
37...exf4!
Novamente Karpov espreme o máximo da
situação! Após o natural 37 ... b5 38.fS+ gxf5
39.gxfS+ $'d5 as pretas teriam conquistado um
empate: 40.ãc7 b4 41..1l.xb4 S:.xb4 42.ãxd7
ã xb3 43.éz:::lhS! e4 44.ãe7 (Spassky) ou
40 ... bxa4!? 41.bxa4 S:.b3 42.ã xd? S:.xa3
43.lilh5 e4 44.ãe7 !fa2+ 45.Wh3 ~xd6
46Jàxe4 $'d5 47.S:.e6.
38.ãxd4 fxg3 39.'it>xgJ l!c8 (o controle da
coluna e foi passado para as pretas e isso de
imediato faz a defesa ~ais difícil) 40.!idJ
261
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
40 .. .g5!
Eu penso que Spassky possa ter subestimado
a força desse lance, o último antes do controle
de tempo. As pretas asseguram wna posição
sólida para o seu cavalo em e5 e se preparam
para jogar ... b7-b5. Embora exista muito
pouco material no tabuleiro, não é fácil para as
brancas se defenderem.
41..tb2 b6 42.ii.d4
Nas análises da posição adiada, o lance
42.ã c3 provocou discussões entre os analistas.
A recomendação de Karpov 42 .. J:!h8
dificilmente pode dar algo às pretas. Só resta a
troca das t0rres - 42 ...~xc3+ 43.Axc3. Agora
o final após 43 ...'~Jc5 44.~f3 CLJxb3 45.d7
$'xd7 46..âxf6 ~c5 47 ..i.xg5 CLJxa4 48.<;t>e4
foi corretamente julgado por Botvinnik ser um
empate, uma vez que o cavalo será incapaz de
auxiliar o rei com o avanço dos peões, por
exemplo: 48 ...Wc6 49.Wd4 CLJc5 50..âe3 b5
51.g5 ~e6 52.ÇYc3 S'd5 53.g6.
Diagra ma de Análise
262
Botvia.nik (assim como todos os
comentaristas posteriores) também considerou
corno empatado o final surgido após 43 ...~xd6
44.b4.
Não há como negar que a sua variante seja
elegante e convincente: 44...axb4 45.~xb4+
$'d5 46.a5 b5 47.a6 Wc6 48.i.aS! ~c5!
49.Wf3 CLJxa6 50.~c3 b4 5 l.Axf6 b3 52.We2
CLJc5 53.$>dl CLJe4 54.~d8 $'d7 55 ..taS, mas
o problema é que ela contém um erro logo no
primeiro lance! Na posição do diagrama,
ninguém reparou gue o belo 44 ...b5 !!
possibilita às pretas criarem um perigoso peão
passado.
Após 45.axbS o método vencedor é simples:
45 ...a4! 46.b6 a3 47.bS a2 48.@f3 êi:ieS+
49.~g3 (49.We4 êi:ixg4 50.~f5 êi:ie3+ etc.)
49.. .<~d7 50 ..tb2 ~c8 51.1'.al Wb7 52.kd4
êi:id3 53.~xf6 Wxb6 54.@f3 êi:ic5 55 ...½b2
$'xb5 56.@e3 Wc4 5Hitd2 ~ b3+ 58.We3
$'d5.
A vitória é mais difícil quando o peão branco
está mais longe - 45.bxaS bxa4:
l) se 46.a6 $>c7 47.WD as pretas vencem
mais facilmente através de 47...êi:ieS+ 48.@e4
êi:ixg4 49.~fS êi:ih6+ !, por exemplo: 50.Wxf6
g4 51.~d4 a3 52.Wg5 a2 53.©f4 Wc6 54.a7
$>b7 55 ...½al $'xa7 56.<it;g3 Wb6 ou 50.©g6
g4 5 LWxh6 g3 52.WhS g2 53...½d4 a3 54.@g4
a2;
2) uma corrida fascinante de dois peões pre-
tos poderá ser observada no caso de 46.©f3
êi:ieS+! 47.©e4 lt:lxg4 com a seqüência 48.a6
Wc6 49.©f5 êi:ih6+ ! 50.@xf6 g4 51.Wg5 a3!
52 ..td4 g3 53.Wf4 g2 54.©f3 êi:if5 ou o pouco
mais complicado 48.'ít>f5 CLJe3+ 49.~e4 CLJdS
50.~b2 @e6! 5 l .a6 f5+ 52.$>f3 êi:ic7 53.a7
Wd5 54...½cl (54.M6 g4 55.~4 a3 55.Wxf5
g3 56..tes a2!) 54...f4! 55 ..âb2 êi:ia8! 56.~a3
We5 57.$>g4 We4! 58..tcs f3 59.<~g3 g4
60.©f2 Wd5 61.Ae7 ~c4 62.©g3 ~b3, ven-
cendo;
3) a vitória é mais difícil se as brancas
tentarem através de 46 ..tb4+ ©c6 47.'ít>f3 não
permitir ao peão preto alcançar a3. Agora a

perseguição após o peão a5 joga fora a vitória:
47 ...~ b5? 48.il.e7! $'xa5 (ou 48 .. .li:ie5+
49.Wg3 l2it7 50.00! ~a5 51.We4 li:lh6
52 ..âxf6 a3 53 ..âxg5 €ixg4 54.~cl a2
55 ...tb2) 49.<it>e4 Wb5 50.Wd5 ¾Je5 51.il.xf6
€ixg4 52 ...txg5 a3 53 ...tcl a2 54...tb2 Wb4
55.Wd4 Wb3 56.il.al Wc2 57.<;t>c4 l2if2
58.Wb4 Wbl 59.~d4 l2id3+ 60.'i&b3 com um
empate.
O problema é resolvido através de uma
inesperada manobra de cavalo: 47 ...€ie5+!
48.ég3 lµc4! 49.il.e7 (conduziria à mesma
posição 49.il.c3 a3 50.il.xf6 a2 51.a6 Wb6 etc.)
49...a3 50.a6 a2 51.1'xf6 Wb6 52.Wf3 Wxa6
53.We2 (53.We4 <;t>a5 54.Wf5 Wa4 55.@xg5
'i&b3 56.~al ~c2 57.<~f4 ~bl 58.g5 ~xal
59.g6 €ie5! 60.g7 l2ig6+ 61.WgS l2ie7 62.Wf6
l2ig8+ 63.Wf? Wb2 64.Wxg8 al ='i!f,
vencendo) 53...~b5!
Diagrama de Análise
O lance 54.Wdl permitiria às pretas uma
vitória fácil: 54.. .lue3+ 55.Wcl €ixg4 56.~g7
l2if2 57.Wb2 g4 58.©xa2 (forçado, pois infe-
lizmente não é possível 58.il.e5) 58 . .. g3 !
59.il.e5 g2 60.il.h2 'i!tc4 61.Wb2 Wd3!
62.'i&cl We2 63.Wc2 Wfl 64.Wd2 l2ig4, ven-
cendo.
Mas no caso de 54.Wd3 elas teriam que
encontrar a solução de problema 54 ... €ia3 !!,
evitando que o rei se aproxime do peão a2.
Então, nem 55.Wd2 Wc4 56.Wcl <.it>b3
57.i.g7 l2ic4 58.il.f6 fz:le3, nem o desesperado
Anato/y, o Décimo-Segundo
55.~e4 Wc4 56.'i!?f5 'i&d3 57.Wxg5 êz:lc4
58.<Ji'h6 'i!i'c2 59.hl Wbl salvam as brancas
da derrota.
42 ...ãc6 43.~c3 ãcS?
Todos os comentaristas pensaram que a
captura de peão 43 .. Jãxd6 44.1ãxd6+ Wxd6
teria permitido às brancas boas chances de
empate após 45.b4. É provável que ambos os
jogadores tenham chegado à mesma conclusão
em suas análises de adiamento. Entretanto,
45 ... b5! conduz a uma posição já examinada
anteriormente. Assim um grave erro analítico
teria cancelado o resultado de um belo jogo
anterior das pretas.
44.@g2 Uc8 45.@g3 êz:leS! 46.i.xeS fxeS
Evidentemente julgando ser empatado o final
bispo x cavalo, Karpov deposita suas
esperanças no final de torre - e ele não se
engana, como mostrado pelo .lance seguinte, da
origem "caseira" da qual este erro seja bastante
provável.
47.b4?
Um erro imperceptível, mas isso perde a
partida. Ao tentar reduzir o material restante ao
rrúoiroo, as brancas presenteiam o adversário
com um tempo altamente importante. Como
mostrado por Spassky, as brancas também
teriam perdido após 47.Wf3 ~ d8 48.b4 (ou
48.$'e4 ãxd6 49.1ãxd6+ Wxd6 50.WfS @d5
5 I.~xg5 e4 52.'í:&f4 Wd4 53.g5 e3 54.g6 e2
55.g7 el°9W 56.g8'i!f 'i!Hfl+ 57.~g4 °Wgl+)
48... axb4! 49.1ãb3 âf8+! 50.<-!,,e31ãf4! 5I.âd3
ãxg4 52.d7 1ãg3+ etc.
263
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Pode parecer que somente o lance de
problema 47.00! l'Li8 48.:Sf3 ! teria salvado as
brancas. Spassky abrevia suas análises na
posição após 48.. Jàxd6 49.!US ãd3 50.~xgS
ã xb3 5 l .llg6+ Wd5 52.g5 com a avaliação
"com conttajogo pelo peão e chances de
empate". De fato, 52...lifü4 53.<it>e3 :Sxa4
54.llxb6 :Se4+ 55.Wf.3 ã f4+ 56.'it>e3 a4 57.g6
llg4 58.& 6 conduz a um empate claro.
47...e4! 48.ã d4
Já não há nenhuma forma de salvar a partida.
É mau jogar tanto 48.!ib3 Wxd6 49.bxa5 bxa5
50.Wf2 <i:!7d5 51.$>e3 :Ses 52.:Sa3 (52.lãb7
:Sc3+ 53.We2 <it>e5 54.ijbS+ <i:!7f4 55.E{xa5
:Sc2+) 52 ...WeS 53.llb3 :Sd5 54.â c3 Ei'.d3+!,
como 48.ã d l :Sd8 49.bxa5 bxa5 50.:Sel !
We5 ! 51.:SfJ , o que, segundo análises de
Spassky, teria dado uma vitória técnica merecida
tanto após 51...:Sxd6! 52Jàf5+ Wd4, ou por
51...e3! 52.:Sf5+ \t>e4, por exemplo: 53.:SxgS
âxd6 54.:Sg8 ã dl 55.ãe8+ 'i&d3 56.:Sd8+
$'c2 57.:Sc8+ Wd2 58.:Sd8+ ~el 59Jâa8 e2
60.:SxaS :Sd3+! 61.Wf4 @f2 62.:Se5 l:if3+
63.@gS :Se3.
48.. .<~eS 49.lidl axb4 50.ã bl llc3+
51.@f2 ãd3 52.d7 :Sxd7 53.llxb4 lld6
54.We3 l!d3+ 55.@e2 E!a3 56Jâxb6 llxa4
0- 1
Uma partida muito sutil, embora não sem as
suas falhas.
Karpov passou à frente: 2-1. Sem dúvida, os
erros do ex-Campeão na s• partida, e
especialmente, na 6ª abalaram a sua confiança
no sucesso, o que arressou o desfecho.
Roshal escreve: Ao perder um empate no
reinício da 6ª partida, Spassky, angustiado,
acabou derrotado por completo na 7ª partida.
Mas Karpov, talvez influenciado pela iminência
do desfecho, ou levado pelo entusiasmo da
juventude, em dado momento, tomou uma
decisão afoita e na posição adiada não
conseguiu vencer.
264
Partida 61
A. Karpov - B. Spassky
Match de Candidatos, Leningrado 1974
?4partida
Defesa Holandesa - A85
1.d4 d5 2.c4 e6 3.'fk3 c6 4.e3 f5
Em sua busca por es9uemas desconhecidos
de seu adversário, Spassky escolhe o
estrategicamente arriscado esquema
"stonewall", que anteriormente não havia
ocorrido em suas partidas. E novamente sua
escolha se prova fracassada. Spassky anulou sua
vantagem na experiência de jogar posições
típicas de meio-jogo e Karpov foi capaz de
manejar uma posição padrão nessa variante
através do uso de considerações gerais.
S.f4
"Karpov mantém a fé em sua maneira de
jogar - em primeiro lugar restringir as
possibilidades do adversário." (Botvi.nnik)
5...liJf6 6./tln ii.e7 7 ..1'.e2 0-0 8.0-0 liJe4
Botvinnik considerou muito apressado o salto
do cavalo em direção ao centro e sugeriu fazer
imediatamente a manobra do bispo .tc8-d7-
e8-h5(g6): 8 ....td7 9.liJe5 .!e8. Perto de 20
anos mais tarde Karpov novamente jogou essa
linha e as pretas igualaram resolvendo o
problema do desenvolvimento do seu bispo de
outra maneira: 8 ... b6 9.'i!fc2 Ab7 10.cxd5
cxd5 l 1.ild2 liJc6 l2.a3 li'le4 13.:Sfcl :Sc8
14.'tlfdl "iWd7 15.ilel lãc7 l6Jâc2 li'lxc3
l7.g xc3 :Sfc8 18.ãacl 3'.d6 19.l!ea4 li'lb8
(Kru-pov-Ivanchuk, Tilburg 1993).
9.ifc2 êzJd7 10.b3 êzJxc3
Ao invés dessa troca também prematura que
simplesmente restringe as pretas, elas deveriam
ter jogado 10 .. .liJdf6.
11.ti'xc3 'tlf6 12.{)eS! iid7
Esse lance aparentemente natural permite às
brancas prepararem a troca vantajosa dos
bispos de casas pretas. A manobra do bispo via
e8 para h5 deveria ter sido feita após profilaxia
- 12... A d6 13.a4 l!ee7!

13.a4! é2)e4?! (esse lance, fruto de meia hora
de raciocínio, foi condenado por Botvinnik, que
pensou que seria preferível a atividade no
centro com 13 ...c5) 14.'ilid3!
14 ... sH6?
As brancas decidem entregar seu bispo pelo
cavalo formidável, mas após isso o bispo
branco se torna o senhor completo da diagonal
das casas pretas! A variante 14....te8 15 ..ta3
.txa3 l 6.ãxa3 a5 17 ..tf3 também teria
deixado uma situação não promissora, onde,
fora a sua vantagem espacial, as brancas teriam
a possibilidade de atacar o posto central de seu
adversário com o seu bispo, enquanto as pretas
teriam que se resignar com um cavalo "eterno"
eme5.
Então agora seria necessário 14 .. .c5,
iniciando o jogo no centro e ativando o bispo
passivo em d7. Após 15.cxdS exd5 16.dxcS
é2)xc5 17.~xd5+ .àe6 18.ii'xd8 E!fxd8
19..tc4 .txc4 20.bxc4 ~ ac8 as pretas teriam
compensação pelo peão, enquanto no caso de
16.~a3 ~e6 17.dxc5 é2)xc5 18.~dl lz:Je4
19.~e7 VJ!fxe7 20.llid4 lãfc8 as brancas
manteriam uma vantagem posicional óbvia, mas
a posição das pretas seria muito resistente.
15.i .a3 ãe8
Esperanças de criar contrajogo seriam
prometidas por uma operação central:
15 ...dxc4 l6.bxc4?! c5 17 ..tD ~e5 18.fxe5
il.c6, mas 16.~xc4! c5 17 Jãadl teria
extinguido de imediato a atividade das pretas.
Anatofy, o Dédmo-Segundo
16.~ hS! g6
''.Agora o bispo de casas brancas de Spassky
está severamente restringido, e o peão de g6,
após a abertura inevitável da coluna h, se
tornará um bom alvo de ataque para as
brancas." (Botvinnik). Além disso, foram
debilitadas mais duas casas pretas - f6 e h6.
17.il.f3 il.xeS
"I sso conduz a uma posição perdedora"
(Botvinnik). Mas uma sugestão do Mestre
Cherepkov para ativar seu bispo dorminhoco -
17 ...b5 não resolveria os problemas das pretas
após o tranqüilo 18.~xe4! dxe4 l 9.'ili'e2.
18.dxeS! hS
Antecipando g2- g4, mas Karpov realça os
defeitos desse avanço com uma troca oportuna.
19.il.xe4! fxe4 (após l9...dxe4? as brancas
teriam conquistado a coluna d) 20.'i'd2 Wf7
21.aS n h8 22.il.d6! !!h7 23.Wi'b4
Karpov desenvolve consistentemente sua
estratégia de contenção. Agora ele retira a
mobilidade das peças pretas, forçando-as a
vegetarem atrás de duas filefras.
23....t.cs 24.lâa2 Wg8 25.h3 a6 26.g3
O plano das brancas se torna claro: elas
querem sua torre da dama em g2, levar o seu rei
para a ala da dama e então destruir as defesas do
.rei inimigo com g3-g4 e f4-f5.
26...~ d71
Spassky decide tentar distrair o adversário do
seu plano e Karpov - talvez erradamente -
decide tomar um peão que simplesmente estava
impedindo as pretas de coordenarem as suas
peças.
27.llixb7 ~ e8 28.'i!fb4 ã aa7! 29.ã g2
Seria mais forte 29.VJ!fb6! 1.!fa8 30.1.!fd4 I!ab7
3 l.b4 - as peças pretas ocupam posições
tragicômicas e as brancas também ameaçam a
destruição da ala da dama através de b4-b5.
29...ãab7 30.'i'c3 libf7 (trocando o apoio
poderoso para a ala do rei) 31.AcS g5!
''.A (tltima chance: afinal, em poucos lances a
partida seria adiada e a resistência após as
análises do adiamento seria um assunto sem
esperanças." (Botvinnik)
265
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
32.~ b6?
''.Aqui, pela única vez em virtualmente todo o
match", escreveu Botvinnik, "o adversário de
Spassky mostrou que tinha apenas 23 anos -
uma idade muito jovem para eventos de tal
intensidade. O pensamento de que sua posição
fosse vencedora impediu que Karpov avaliasse
calmamente a situação" - e após relaxar ele
transpôs os lances em seu plano. A forma mais
segura e forte era a troca oportuna 32.cxd5!,
forçando as pretas a abrirem a coluna e:
32...cxd5 (32...exd5? 33.e6!) 33.kb6 ~8
34Jâcl com um peão a mais e uma vantagem
posicional enorme.
32...l!fd7 33.cxd5 exd5!
A dama, após se dirigir a d7, fez essa captura
possível e as brancas inesperadamente têm que
pensar a respeito da segurança do seu rei.
34.g4 hxg4 35.bxg4
Tal sugeriu que Karpov seguisse nessa
posição, considerando que ele venceáa devido
ao inevitável f4-f5.
35 ...gxf4!
A abertura da posição é a única chance das
pretas. O grau de ásco não desempenha
nenhum papel - as coisas não podem ser piores
do que já são.
36.exf4 ã h4 37.fS ã tb7
Pela primeira vez na partida as pretas
conseguiram a oportunidade de criar algumas
ameaças e Karpov, imaginando seu erro, se
torna nervoso e mergulha em pensamentos por
266
15 minutos. A decisão a que chegou de
nenhuma forma foi a melhor e provavelmente
indique que ele estivesse um pouco chocado.
38.e6?
É dific.il condenar um lance feito no apuro de
tempo. Tudo parece correto: sim, a dama preta
conquista a perspectiva de atacar de surpresa a
posição das brancas, mas Karpov tinha
planejado uma tru\nobra que tinha por objetivo
assegurar o seu rei. Entretanto, a idéia mostra
ter uma falha.
Enquanto isso, na atmosfera nervosa que
havia surgido no tabuleiro, a remoção corajosa
do rei da zona de perigo - 38.©f2! - reria dado
às brancas boas chances de vitória. Após
38 ...ã h3 resulta uma situação extremamente
intrincada de 39..te3 'f!!ie7 40.@e l c5!
41.~xcS Wfxe5 42 ..td4 li!c7! 43.l!fb6 ã cl+
44.'~d2 Wic7. Só restaria 39.l!g3 ã h2+
40.We3! (esse caminho, no meio de um inferno
de balas! O cauteloso 40.©el ? poderia até
perder: 40.. .c5! 41..txcS 't!fb5 42.ãf2 ãhl+
43.© d2 ~ 7h2 44.@c2 'tirfl ! 45.'t!fd2 Vbl+
46.<;!;>c3 lâcl+ 47.@b4 ã c4+ 48.© a3 l!fal+
49.'t!fa2 Wicl + 50.'ilfb2 l!a4+!) 40 ... ã 7h3
4 l.Wf4! !. É surpreendente, mas essa casa é o
abrigo mais confortável para o rei. Aqui não é
de todo fácil alcançar - em todo caso, fui
incapaz de fazer isso em minhas análises. E
enquanto isso os peões brancos estão prontos
para começar a avançar...
38.. .'ti'd6 39.'ti'g3

O computador de forma oturusta avalia a
posição após 39.ii.e3!? lâ1i2 40.~d2,
calculando (eu reforço a palavra "calculando")
que as brancas ainda têm chances de vencer.
Ent.retanto, não é fácil para mim confirmar isso,
mesmo âpós fazer uma análise, a qual, aliás, é
difícil de ser feita nessa posição, devido à
abundância de possibilidades para ambos os
lados.
39...ã bl+ 40.wtl ~ b4! (mesperadamente
se to.roa claro que essa manobra salva as pretas)
41.'iWe3 (o lance secreto) ½-½
Os jogadores concordam com um empate
sem continuar a partida. Realmente, nessa
posição aguda nenhum dos lados pode se
oferecer a correr o risco e as análises mostram
que o empate é inevitável. O final desse
magnífico thriller enxadrístico poderia ser
41...ãlb3 42.ãg3 ã h2+ 43.ã g2 ã2h3
44.ifg5+.
Diagrama de Análise
O último teste antes do reconhecimento do
empate. Parece ser muito tentador 44 .. J::1.g7?,
especialmente no caso do óbvio 45.tfd8? as
pretas até venceriam com o astuto 45 ... c5! -
resulta que as peças brancas são incapazes de
salvar o seu rei: 46.'ifxdS e3+! 47.Wgl e2!
48.ãxe2 ~c6!! 49.'i!.Vxc6 'i'd4+ 50.ãff2
lWdl+. Por our.ro lado, após 45.lWcl! se torna
claro que as pretas moveram sua torre em vão
para g7. A ameaça principal é 46.f6 (por
exemplo, 45 . .. d4 46.f6!) e não é aparente
Anatoly, o Décimo-Segundo
nenhuma forma efetiva de estancá-la. Na
variante 45 . .. ã c3 46.ifd2 ãf3+ 47.© gl!
(47.~el !!c3!) 47 .. .~xd2 48.!!xd2 ã xg4+
49.ãg2 as brancas perdem um peão, mas o
inevitável f5-f6 custará a elas o seu bispo. ;\las
após 44 .. .'i:t>h8 !, as brancas, não cometendo o
mesmo erro duas vezes, (45.ãdl? c5! e são as
pretas que vencem!), dão xeque perpétuo -
45.\Wf6+ ~g8 46.l!i'gS+.
Este foi o prelúdio do último momento
critico do match: o destino ofereceu a Spassky
uma salvação milagrosa, com a chance de tentar
finalmente romper a solidíssima defesa Caro-
Kan. Ele chegou para a 8ª partida com espírito
de luta, mas o seu jovem adversário não perdeu
o cont.role que sempre mostrava e se revelou
novamente como um brilhante defensor.
Partida 62
B. Spassky - A. Karpov
Match de Candidatos, Leningrado 1974
s·partida
Defesa Caro-Kan - 819
1.e4 c6 2.d4 dS 3.lik3 dxe4 4.lz:)xe4 ~ f5
s.lz:)g3 i.g6 6.h4! (6.{)f3 - partida 60) 6 ... h6
7.h5 il.h7 8.lz:)O t2)d7 9.~ d3 ~xd3 10.'r:!fxd3
{)gf6
Naquela época se costumava jogar 10 . .. l!Hc7
(prevenindo ~f4) e então ...0-0-0 (uma vez
que 0-0 era considerado muito perigoso),
embora 10 .. .<~Jgf6 ou 10 ... e6 não fossem uma
rejeição do "programa compulsório": se
J l.il.f4 as pretas respondiam 11... ti'a5+
12.il.d2 (após 12.c3 as brancas têm problemas
com o roque: a dama em a5 mantém sob fogo
os peões a2 e h5) 12 ... l!fc7, retornando para a
linha usual.
Na 4• partida, após 10 ... e6 Spassky
empregou uma idéia nova - l l .b3 {)gf6
12.~ b2. A reação de Karpov foi poderosa -
12 ... ~a5+ ! 13.~c3 (13.c3 i..a3) 13 .. .~b4
14.i.xb4 1Wxb4+ 15.'ti'd2 ~xd2+ 16.~d.2
267
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
c5, com igualdade.
11 ..âd2
Nessa ocasião, não desejando evidentemente
uma discussão nas que então eram as principais
linhas da Caro-Kan, Spassky havia preparado
outro lance ra~o. Assim como para l l..i.f4,
após l 1..."i!fa5+ ao final da década de 1970 o
mestre letão Vicolins encontrou o curioso plano
12.c3 e6 13.a4!? e 14.b4 (removendo o ataque
ao peão h5) seguido por 0-0. Isso não parece
muito convincente e nos anos 1980 não foi
assunto por muito tempo. Seguindo o exemplo
de Larsen, as pretas adotaram esquemas mais
dinâmicos, com roques para lados opostos -
1l ... e6!? 12.0-0-0 il..e7 e não obstante ...0-0.
Na prática corrente de torneios essa é a
abordagem dominante.
ll ..."i!fc7
12.c4
O caminho usual é 12.0-0-0 e6 13.'i!fe2 e
l2le5 (seguindo a partida de referência: Spassky-
Petrosian, 13ª partida, Moscou 1966) ou
I3.l2le4 - esse lance é considerado o mais forte
até hoje em dia (volume 2, partida 145).
Ao iniciar jogo ativo antes de rocar, Spassky
deseja conquistar alguma coisa dessa forma.
tvfas o quê?
12...e6 13.'i!fe2
Em Spassky-Portisch (9ª partida do match,
México 1980) as brancas retornaram ao banal
13.0-0-0, quando 13 ... 0-0-0 14.il..c3 c5
15.'~bl cxd4 16.~xd4 a6 conduz a uma
268
posição que, embora com o peão em h4, havia
ocorrido entre os dois adversários já em
Budapeste 1961!
l3 ...il..d6!
Após 13 . .. 0-0-0 as pretas devem temer
14.c5 e um peão branco ofensivo na ala da
dama. Isso ocorreu pouco depois na partida
Karpov-Hort ((Ljubljana 1975), mas Hort com
esperteza criou contrajogo: 14 ...ãgS! 15.b4 g6
16 .l'!b l gxh5 17.$'fl ãg4 l 8.ã b3 @b8
19.~xbS ~xh5 20.ã xbS ~ f6 2 1.Iie5 .âg7
22.bS ~d5 etc. Mas Spassky pode ter planejado
14.l2:le5. Em qualquer caso, 13 .. ..i.d6! ainda é
considerado ser o melhor.
14.'t\fS .âf4
A partida Karpov-Pomar (Olimpíada de Nice
1974) seguiu: 14... ~ ? ! 15.~xd6+ Vfxd6
16..i.a5 ! !Ide8 17.éê::le5 ! e as pretas ficaram sob
pressão. O fato de Anatoly começar a jogar essa
vaóante com as brancas indica sua alta avaliação
da idéia de Spassky! Obviamente ele não estava
satisfeito com a posição das pretas na presente
partida. Mas voltaria a ela mais tarde.
Aqui deve ser dito que a linha mais
interessante, ao longo da qual essa variante se
desenvolveu, resultou ser 14 ...0-0! 15.l2:lxd6
'i!fxd6.
Diagrama de Análise
Graças ao roque para a ala do rei (em vez da
ala da dama), as pretas conquistam um recurso
poderoso na luta pela iniciativa: ...b7-b5!. Essa
idéia foi tentada pela primeira vez em 1975 em
uma partida entre dois mestres de Leningrado:

16.0-0-0 b5! 17.cxb5 cxb5 18.Wbl b4
19.'~Je5 ê2ld5, com sérias chances para as pretas
na ala da dama. Eu também joguei isso duas
vezes com as pretas (aconselhado pelo meu
treinador Alexander Shakarov). Meus
adversários evitaram o roque na ala da dama,
mas da mesma forma concederam a iniciativa.:
16.ãh4 b5! 17.'i!tfl bxc4 18.!Vxc4 °iWd5
19.llfe2 'i/fb5 20.b3 a5 (Lanka-Kasparov, Riga
1977) ou 16.~c3 b5! 17.cxb5 cxb5 18.~xb5
ê2ld5 19.ê2le5 l:iJxeS (19 ... CLJ7f6!?) 20.dxeS
li.Jxc3 2 l .bxc3 ~c7 (Kapengut-Kasparov,
D augavpils 1978).
D essa forma 16.0-0-0 é no entanto o
melhor e se 16 .. . bS - 17.g4!. Na partida
Mnatsakanian-Bagirov (Kirovakan 1978) após
17 ... bxc4 (embora também mereça análise o
atualmente esquecido 17 .. .i2ixg4!? 18.ãhgl
f5) 18.gS hxg5 19.h6 g6 20.h7+ i2ixh7
2 1.lz:lxgS lz:lxg5 22.~xgS f6? 23.~e4 as
brancas conquistaram um ataque muito forte,
mas 22 ... c3 ! teria provavelmente conduzido ao
empate: 23.ll:fe5!? cxb2+ 24.'~ b l ~xe5!
25.dxeS f6 26.ã xd7 fxg5 27.ãhh7.
15.~xf4 Vixf4 16.i2ie3
16..."iWc7?!
"Seria perigoso jogar 16 .. .0-0-0 17.cS com
a ameaça de lí::'lc4- d6+. Então, a solução
correta seria o lance corrosivo l 6 ...c5 ! e se
17.lí::'ldS li:lxd5 18.cxdS, então 18 . .. 0-0
19 .dxe6 ã fe8" . (Botvinnik). Por exemplo:
20.0-0 l!xe6 21.Wfb5 tfc7. .. ½-½ (fal-
Anatoly, o Décimo-Segundo
Portisch, Bugojno 1978).
A mesma operação que a planejada por
Karpov poderia ter sido iniciada de imediato:
l6 ... b5!? 17.cxbS (ou 17.d5 cxd5 18.li:lxd5
lz:lxd5 19.exd5 0-0 20.dxe6 !!ae8) 17...cxbS
18.\!.fxb5 0-0 com contrajogo suficiente.
Após a perda de um tempo somente, Karpov
não seria inteiramente capaz de igualar por
muito tempo. Ainda assim, os recursos
defensivos na posição se provaram suficientes
para que ele suportasse um ataque poderoso.
17.0-0-0 b5
O rei branco (em comparação com o preto)
se moveu para fora do centro e o ativo 17 ...c5?
agora é perigoso: 18.li:ld5 ! li:lxd5 19. cxd5
cxd4+ 20.'i!tbl e5 2l.li:lxd4 0-0 22.li:lfS,
vencendo (Botvinnik).
18.cxbS!
Após o tentador 18.cS novamente há uma
opção entre 18 ...~ d8 19.Wbl 0-0 20.g4 ~e4
e 18 ...0-0-0 19.'i!tbl $>b7 20.li:lc2 lí::'ld5 com
chances aproximadamente iguais.
Spassky planeja uma ofensiva grandiosa,
assumindo corretamente que o rei preto não
tem lugar para se esconder, a não ser a ala do
rei.
18...cxbS+ 19.Wbl 0--0 20.g4!
A abertura da coluna g é a ligação principal
do ataque das brancas. O lance 20.tixb5?!
&b8 significaria para elas a rejeição da
atividade e entrar na defensiva. Após 2 l .Vie2 as
pretas têm uma escolha ampla de continuações
promissoras: 21...ãb4 22.ãc l t!fb7 23.ãc2
~8 ou até mesmo o simples 2 l...ãxb2+
22.ll:fxb2 ãb8. Seria melhor 21.Wk'd3 1Wb7
22.!!d2, mas aqui também as pretas não têm do
que se queixar: 22 . .. ãfc8 23 ..lãc2 ãxc2
24 .li'xc2 ãc8 25 .!fd3 (25.l:We2 li:lxb5!)
25 ... lz:le4.
20...lí::'le4 21.llhgl
O lance 21.ã dg 1? !, usual nessas posições,
teria permitido ao adversário diminuir a
velocidade do ataque através de 2 1...tff4! (não
é possível 22.g5?? devido a 22 ...~xf3!). Kotov
2 69
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
recomendou o fantasioso 2 l. t2:lg2, mas essa
retirada dificilmente fortaleceria o ataque:
21...li::ld f6 22.lz::Je5 ~c8 23.ã hel r!fd8 24 .f3
li::ld6.
A abertura imediata de linhas não produziria
o efeito desejado - 2 l .g5 bxgS (também não
são claras as conseqüências de 21...li)xgS
22.lz:lxgS bxgS 23.ãdgl f6) 22.!tbg l f6 23.d5
itldcS 24.tild4 âae8 25.itlxb5 'ti'f4 com jogo
duplamente agudo.
21...~ gS! (evir.ando a abertura da coluna g;
se 2l...'ã'f4?, então é forte 22.gS! itlxgS
23.itlxgS hxgS 24.lãg4 'tif6 25.'tixbS)
22.li:\xgS hxgS
23.dS!
As brancas novamente não se inceressam pelo
peão b5 - somente pelo ataque! "Será que
Spassky acreditava que o seu adversário fosse
capaz de defender sua posição quebrada?",
escreve Botvinnik, que considerou ser
necessário 23.'~'xbS.
Dvoretsky é da mesma opinião: "As brancas
têm recursos insuficientes para um ataque
direto ao rei (em parte como conseqüência do
seu cavalo não estar muito bem colocado em
e3). Elas podem lutar por um a vantagem
somente concedendo a iniciativa
temporariamente - aceitando o sacrificio do
peão, pelo quaJ seu adversário conquista
compensação definitiva, mas no entanto
insuficiente: 23.!i'xbS ~ b8 24.'6'd3! (mas não
a recomendação de Bocvínnik 24.'t!Ye2? devido
270
a 24 ...ãxb2+! 25.\!.fxb2 g b8) com a idéia de
lâd2 e !!e l ."
Ainda assim, após 24 .. .lLJb6! 25.lãd2
(25.ãc l 'ti'f4) 25 ...Eifc8!? as pretas teriam
esperanças de um bom contrajogo.
23...a6!
Uma serenídade assombrosa! Após 23 ... Y!!ieS
24.dxe6 'f:Vxe6 as brancas teriam tomado o
peão sem risco: 25.'i!fxbS itleS 26.\!fdS. Para
perder tempo na defesa de um peão de segunda
categoria quando você está sob o fogo da
artilharia, além de um excelente senso
posicional, é preciso também ter uma grande
coragem.
24.h6?!
Consistente, mas ineficaz! A estratégia correta
seria jogar no centro: 24.dxe6 fxe6 25.itlc2!
tieS!
Diag rama de Análise
Após o natural 26.'~'d2 o corajoso
26 . ..tàcS! (26 . .. <tlf6?! 27.f3!) 27.ãgel tli'f4
teria permitido às pretas tanto defender o peão
e6, como ativar as suas peças.
Como resultado, as brancas teriam que
inicialmente se guiar pela estrutura corrompida
dos peões advetsários, ameaçando entrar em
um final favorável, o 9ue seria conseguido
através de 26.ã ge l !. As pretas têm duas
alternativas, mas em ambos os casos teriam que
resolver alguns problemas dificeis:
1) 26 ... lãad8 27.lz::lb4 'i'xe2 28.Eixe2 tilf6
 Anatoly, o Déeimo-Segundo

29.ã xd8 ã xd8 30.lila6 (30.f3 ã d6!)

30 ... lz::lxg4 31.iz.::lc7;
2) 26 ...~xe2 27.ãxe2 iz.::lc5 28.liJel! ~d8
29 .ãxd8 ãxd8 e uma defesa desagradável
aguarda as pretas tanto em um final com o
cavalo - 30.lã:eS ã dS 3 l .ã xd5 exd5 32.<Bc2
'i!:lf7 33.b4 liJe6 34.'~d3 'i!?f6 35.<;!;>d.2, como
em um final com a torre- 30.liJO ~ d5 3 l.CzJe5
~ 32.b4 éz::ld3 33.iz.::lxd3 ~ xd3 34.E:xe6 ã d4
35.a3 ãxg4 36.ã xa6 ã gl + 37.Wc2 ã fl
38.ã g6 ã xf2+ 39.~d3.
A escolha de Spassky, baseada na intuição e 2S ...éz::lf6!
no lema "Prá Frmte, Kazimirych!' [volume 3, pág. Esse lance forte veio como uma surpresa para
302 - N do T] é, oa verdade, um exemplo de Spassky e ele pensou por aproximadamente
uma hora e meia em sua resposta, deixando
uma troca desigual de peões, que alivia as pretas
somente 18 minutos para 14 lances.
de um de seus peões enfraquecidos e rerira das
Parece ser a reação natural 25 ...©g??, após o
brancas seu peão h5, que teria grande qual provavelmente seguiria o ameaçador
inportância no final. É pena, isso se torna claro 26.f4! !. Se 26 ...gxf4, a seguinte variante
somente após nenhum raciocínio ser capaz de vencedora foi dada por Tal: 27 .'i!fh2 ã h8
demonstrar a força do seu ataque. E Spassky 28.lilg2 e5 29.lilh4 li:lf6 30.liJfS+ <Bg6
tinha que tomar essa decisão com o tique-taque 31.ã cl 'iid8 32.ãc6, mas se as pretas não
do relógio... enfraquecerem a sua posição em consideração
24 ...gxh6! por manter o seu peão f4, então após
Outro esquema defensivo - 24...g6 25.dxe6 28.J~ac8! não há uma forma clara de vencer.
fxe6 foi condenado por Tal com base na E ainda o ataque das brancas é irresistível,
mas para isso elas devem jogar com muita
variante 26.liJfS!? ãae8? 27.h7+ ! Wxh7
28.ãxd7+ ! ~xd7 29.ã h l+ <Bg8 30.'i!feS, mas energia e precisão! Assim, o imediato e "óbvio"
27.gS na esperança de 27 ...hS? 28.dxe6 fxe6
as pretas teriam estancado o ataque ao ativar a
29.lilg4!! com ameaças arrasadoras (29 ...t!fc6
sua dama: 26...'i!feS! 27.'i!fd2 exfS 28Jãgel
30.ãxd7+ ! ~xd7 31.l!feS+ <Bf7 32.g6+ We7
'i!ff6 29.'i!fxd7 !!ad8 30.llfb7 ã xdl+ 31.ã xd l
33.ll9g7+ We8 34.é2\f6+ lãxf6 35.lli'xf6 'iVd5
l!f7 ou 27.W!lc2 exf5 28.~xd7 ~ac8 29.'ilt'd2
36.'i!Vf7+ <;!;>d8 37.ãgl) é estancado pela
fxg4. Ainda assim, as brancas teriam mantido
simples resposta 27 ... 'i'eS!, quando o ataque
uma vantagem após o menos espetacular
perece gradualmente: 28."i!fhS (28.l!fh2 hS)
26.ã cl ! tfb7 (ou 26 . ..'i!ff4 27.ã gdl) 27.~fl
28 . . .iie4+ 29.liJc2 lWg6 30.gxh6+ Wh7
$'h7 28.liJg3.
31.~e2 é2\f6.
Karpov espera que durante o tempo que as A possibilidade salvadora das pretas lhes é
brancas vão gastar para tomar o peão de h6 ele retirada através da troca preparatória 27.dxe6!
consiga consolidar a sua posição. fxe6 (27 . .. fxe3 é refutado pelo simples
25.É!hl 28.t¼'xe3) e agora é muito forte 28.gS!, por
Parece que as pretas têm problemas. exemplo: 28 ... fxe3 29.'ilt'hS e2 30.1!fxe2 e as

271
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
pretas, apesar do peão a mais, não têm defesa
(30 ... l2le5 3 l.!!xh6 gad8 32.g dh l !Ih8
33.Wafh2 t!fr'b8 34.!Ih7+ g xh7 35.V!!íxh?+ Wf8
36.i!fl + We8 37.g6), ou 28 ...l2le5 29.V!!íh5!
li:Jf7 30.l2:lg4 !Iad8 3 l .gxh6+ <áh8 32.l!Hg6
l2le5 33.V!!íg7+ V!!fxg7 34.hxg7+ Wxg7
35.l2:lxe5 com vantagem decisiva.
26.ã xh6
Seria tentador 26.d6!?, mas muito arriscado
no apuro de tempo. Além disso, as memórias de
sofrimento das brancas na 6ª partida devido a
um peão assim ainda eram evidentemente
muito recentes. A melhor linha é 26...iYc6
27.D Wg7 28. °ifh2 í!h8, com equilíbrio
dinâmico: 29.í!d3! (29.V!!íe5? iYxf3!)
29...!fac8 30.!Ic3 l!Ha8 3 l.!Ic7 b4 32.'ii'e2 aS
33.!:'fücl !Ixc7 34.dxc7 ãc8 35.V!!fd3 l!fb7
36.~d8 li:Je8 37.V!!íd4+ Wg8 38.\!Hd8 ~f8 e
aqui o truque elegante 39.l2ld5! conduz após
39 ...@g7 40.l2le7 !Ixc7 4 Uâxc7 li:Jxc7
42.'i!Vd4+ Wf8 43.li.Jc8! à criação de uma não
menos elegante construção de empate.
26...Wg7 27.!Ihbl ã ad8 28.dxe6 fxe6 (ou
28 ...g xdl 29.li:Jxd l 'i!fc6! 30.!Iel '¼lfxe6
3 i .li:Je3 !Ie8, com igualdade) 29.li:Jc2
Outra tentativa de conseguir uma vantagem
seria 29.gcl V!Jíf4 30.f3 e após 30...:âd7
31 J~c6 as pretas estão em sérias dificuldades:
3 J•. Jâfd8 32.!Ixe6 :E!d2 33.li:Jf5+ @g8 34.!le7.
Entretanto, o mais ativo 30 .. J::Ih8! teria
mantido o equilfürio: 3 l.ãxh8 ã xh8 32.li:Jc2
Wf7 33.!Iel !Ie8 34.a3 ou 31.filel gd7
32.!Ic6 !Ih2.
29...lli'.f4 (seria mais simples 29...1Wc4!, com
igualdade) 30.f3
O duplamente agudo 30.V!!íxe6!? não é tão
inofensivo. No caso de 30.J!xdl + 31.!Ixdl
'i!.fxg4 32.V!!íd6! as brancas têm a iniciativa, então
as pretas têm que jogar de forma mais corajosa:
30 .. .'ii'e4! 31.'ii'b3 t!xd t+ (após 31..J!h8
32.f3 âxhl 33.âxhl 'ii'd3 34.'ii'xd3 â xd3
35.!Ifl li.Jd5 36.Wcl Wf6 a atividade das pretas
em um final com peão a menos pode se provar
insuficiente: 37.l2lel â d4 38Jl f2 We5 39.!Id2
272
etc.) 32.!Ixdl l2\xg4! 33J~d7+ (33.!Iel 'iWc4)
33 ... Wg6 34.E!d6+ !If6 35.l!fg8+ WhS! e as
brancas não têm mais recursos de ataque.
30•.•Wf7
31.a3
A última chance seria o astuto 3 l.l:Llel!?
gxdl+ 32.'ii'xdl. Tal pensou que após 32 ...eS
o peão seria trocado e com isso desapareceria o
principal problema das pretas. Mas se
continuarmos essa variante - 33.li:Jd3 'i/fd4
34.l!ic2! :Se8 (34 ... e4 35.fxe4 l!Hxe4 36.ã el !)
35.l2lc5 e4 36.fxe4 li:Jxe4 37.l!ib3 @g6
38.~ h3, a iniciativa das brancas se mostra
perigosa. Uma construção defensiva excelente
foi apontada por Spassky: 32 ...<áe7! 33.li:Jd3
'ti'd4 34.'iid2 (34.\!Hc2 é2:ld5!) 34 ...!!d8
35.!Idl ã d5! E as pretas, após a consolidação
central, não se mostram piores. ·
3J...e5 32.li:Jb4 e4! 33.fxe4 ã xdl+ 34.ãxdl
ã e8! (agora o conflito está complet.'ltllente
exaurido) 35.li)xa6 l!ixe4+ 36.l!fxe4 E!xe4
37.l2:lc7 b4 38.axb4 ãxb4 39.!Ifl ã f4 ½--½
Uma verdadeira batalha de gigantes!
Este empate derrubou o ex-Campeão pela
base. Tal escreve: "O match terminou
praticamente na 8" partida, quando Spassky não
conseguiu vencê-la. De minha parte, não
duvidei um segundo sequer do rápido fim da
partida depois que as brancas partiram para o
ataque com o lance 24.h6. Mas, depois do lance
25 ...li:Jf6 (Karpov fez este lance com toda

rapidez), Spassky não teve mais como vencer.
Este golpe é ainda mais forte do que qualquer
derrota. Q uando estas posições não podem ser
vencidas, começa-se a perder a confiança e a
mente é povoada por todo tipo de pensamentos
diabólicos, como por exemplo: "Será que é
possível vencer?"
Na 92 partida, uma "surpresa ao contrário"
aguardava o já debilitado Spassky: a volta ao
l.e4 ! E aqui se deu a conhecer outra vez a sua
fraca preparação do pré-111atch: com a Defesa
Siciliana, Spassky não dispunha de uma única
variante segura e bem estudada que
correspondesse ao seu estilo ativo.
Karpov escreve: "Quando joguei l .e4.,
Spassky com o olhar completamente vago
começou pela segunda vez a arrumar as peças
com as duas mãos - que, aliás, já estavam bem
arrumadas. E le demonstrava nervosismo...
Provavelmente este golpe também tenha sido
uma surpresa. A questão é que, em comparação
com Fischer, que mudava de aberturas depois
de fracassos relativos, eu, pelo contrário, evitava
aberturas que tinham tido sucesso
2
anteriormente. Assim, na 11 partida, joguei
l .d4 . Provavelmente foi bastante difícil para
Spassky se preparar para as partidas comigo".
Partida 63
A. Karpov - B. Spassky ·
Match de Candidatos, Leningrado 1974
9'partida
Defesa Siciliana · B83
1.e4 c5 2.l2Jf3 e6 3.d4 cxd4 4.l2Jxd4 l2Jf6
S.lilc3 d6 6.~e2 ~e7 7.0- 0 0- 0 8.f4 l2Jc6
9.~ e3 il.d7
Aparentemente Spassky estava um pouco
perturbado e por precaução decidiu evitar 9 ...e5
l O.<~)b3 a5 l 1.a4 l2Jb4 (1 ª partida). Ele não
queria testar a qualidade da equipe de apoio de
Karpov. Entretanto, ao final tudo se reduziu a
posições com .. .e6-e5, mas em uma versão
menos favorável para as pretas ...
Anatoly, o Décimo-Segundo
10.l2Jb3 aS?!
Um lance estrategicamente duvidoso. Spassky
ainda tem em mira o esquema que tinha
analisado junto com Bondarevsky. Entretanto,
essa dificilmente seria uma análise detalhada
dos seguidores da teoria da "cabeça tranqüila",
como mostrou o curso subseqüente da partida.
O usual 10...a6 ou l0...l!fc7 teria direcionado a
partida para as linhas da Scheveningen clássica.
ll.a4 l2Jb4 12.~ 0 ~ c6
Se 12 ...eS, tem sido considerado ser o mais
forte 13.Whl, desde a época das partidas de
Gdler: 13 ...!!cS 14.ãf.2 !!c4 15.fxeS dxe5
16.!!d2 °OJJc7 17.'ti'gl! com vantagem (Geller-
Reshevsky, 3ª rodada do lnterzonal de Palma de
Majorca 1970) ou 13 ...~c6 14 .fxeS dxe5
15.°i!fe2 "i!fc7 16.~f2 l2Jd7 17.lãad l çt,h8
(Geller-Polugaevsky, Portoroz 1973) l 8.gd2
& d8 19.'iig3.
Spassky não se apressa em se libertar, mas seu
adversário observa seus preparativos,
imaginando que ...e6-e5 seja a única chance das
pretas.
13.l2Jd4!
Em comparação com a 1ª partida, o cavalo
ganha a oportunidade de retornar ao centro,
após o que o adversário não terá compensação
pelo eterno posto avançado de suas peças em
b5. Além disso, após ...e6-e5 o cavalo pode
saltar para f5 e Spassky entra em um
enfraquecimento de sua estrutura de peões.
273
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
13...g6
Preparando ...e6-e5. O esquema passivo
13 ...l!fb8 14.'i!ee2 ãe8 15.~ad l © h8
(Klovans-Vasyukov, Riga 1968) não satisfez
Spassky.
14.I!f2! e5 (a ameaça de I!d2 não dá tempo
para uma preparação mais cuidadosa desse
avanço) 15.it:ixc6 bxc6
Após 15 ...0xc6?! 16.f5! as pretas estariam
em uma posição difícil sem nenhum golpe
estratégico.
16.fxeS dxeS 17.~ 0!
O meio-jogo resultante parece muito atraente
para as brancas, mas não há nada que anuncie
uma derrota inúneute.
17...'it'c8?!
Isso simplesmente provoca um lance útil de
peão das brancas e induz a ativação do seu
bispo por f3. Botvinnik sugeriu 17 .. .~d7!
18.'i!fc4 é2lb6 19.'tib3 21..gS 20.2l.c5 (20.~dl
ã b8) 20 ...i.e?, armando uma defesa, ou
18.ãd l !? 'Wfc7 e a posição das pretas é mais
sólida do que ua partida.
18.h3! ~ d7
Spassky provavelmente tinha planejado
18...'ffr'e6, mas então percebeu a tempo que
após 19.ãcl! as brancas desenvolvem um
reagrupamento extremamente desagradável:
19.. Jâa(f)d8 20.~e2 l!d4 21.b3! e 22.2l.c4
(Karpov, Botvinni.k).
19. .!g4 bS'!
Um enfraquecimento sério da proteção do
rei. Na opinião de Karpov e de Botvinnik, as
melhores chances de defesa eram oferecidas por
19 ...'i!Vc?, para após 20.:iâdl ãad8 2 1.@hl
~g7 22.~b l f5 ! 23 .e xf5 é2ld5 provocar
complicações. Mas aqui também após
20 ..!xd?! 'i!Vxd7 21.'i!Vc4 a vantagem das
brancas é óbvia.
20.~xd7 ~ xd7 21.~c4 il.h4 22.Itd2 ~ e7
274
23.110
Karpov e Botvinnik consideraram esse ser o
mais forte e reJettaram o outro
desenvolvimento de ataque 23.i.cS 'i!Vg5
24.ã d? devído ao sacrifício de qualidade
24 .. .~xc2 25 ..ixf8 ã xf8. De fato, após
26.ãbl ~g3! (26 ...l!fxg2+ 27.'it'xg2 ~e3+
28.WO 0xc4 29.b3 conduz a um final de jogo
inferior) as pretas têm compensação excelente:
27.lWxc6 leva a 27 .. .lê:::iel! com a ameaça de
....àh2+.
Entretanto, ao invés de 24.ãd7, o lance
24.llad l! lãfd8 25.~ xd8+ ~ d8 26.Rfl seria
muito mais forte e após 26 ... lãd7 27.1Lxb4
axb4 28.'i!Vxc6! i½'e3+ 29.~h2 teria deixado as
pretas em uma posição sem esperanças:
29 ....!g3+ 30.~hl lãa7 31.~d5 '%!fe2
32.'i!VbS! ou 29...l'!!d8 30.~d5 ife2 31.ã t3,
vencendo.
Karpov, muito provavelmente de forma
intuitiva, escolheu um plano que mais adiante
fortaleceu a sua posição, ma.is de acordo com o
seu estilo de jogo.
23..Jifd8 24.~ bl!
Esse belo "lance para trás" provocou uma
verdadeira agitação na sala de imprensa e no
auditório. O cavalo se muda para uma casa
melhor no momenro mais conveniente.
24...~ b7
A troca das damas teria enfraquecido os
peões das pretas de forma irreparável e
conduzido a um final de jogo tecnicamente

perdedor: 24...ife6 25.°i!fxe6 fxe6 26.li:\a3.
25.~b2! ~g7 26.c3 (as brancas também
teriam uma vantagem enorme após 26.Éixd8!?
ãxd8 27.êz:ld2) 26...li:\a6
As pretas têm que se retirar para o canto do
tabuleiro. O precipitado ataque de surpresa
26...ãxd2 27.li:\xd2 li:\c2 28.i.cS li:\el falha
cm salvá-las: 29.!!xel i.xel 30.li:\f3 'r!i'xb2
31.li:\xel 'fi<l2 32.li:\f3 'i'f4+ 33/~hl gd8
34.i.gl ou, de maneira mais metódica, 29.lZ:lb3
~ d3 30.l\i'xd3 'i!i'xb3 31 .'iid6 't!ie6 32.\Wxe6
fxe6 33.2ád l gd8 34.bd8 ½xd8 35.b4 com
um final vitorioso.
27.ã e2!
"Seguindo o velho princípio de Steinitz - não
troque peças quando você tem a posição mais
livre. Agora se ameaça 28.g3 e 2ãef2''
(Botvinnik). A concessão temporária da coluna
d não é perigosa - é mais importante para as
brancas manterem a torre para o seu ataque na
coluna f e ao mesmo desocuparem a casa d2
para o seu cavalo.
27.. _gf8?
As preras não deveriam mostrar tal
indiferença com a coluna d. Seria mais
resistente 27 ... ~d6 28.li:\d2 !!e8, erigindo
linhas de defesa para o caso de 29.'ti'a2 .i.d8
30J~c4 ã d7 3 l.2áef2 f6. Agora o at.aque direto
32 ..i.gS lZ:lcS 33.~xf6+ .ixfü 34.2ãxf6 ganha
material, mas dá contrajogo às pretas -
34 . .. li:\xe4 35.l2ixa5 'f!lc7 36Jle6 ã de7
37.ãxe7+ E!xe7 38.b4 c5, mas por outro lado,
Anatoly, o Décimo-Segundo
32.b3! as deixará sob uma pressão posicional
insuportável. É possível que até seja mais forte
29.li:\f3 ~d8 30.b4 axb4 3 l .cxb4 f6 32Jâd2!
ã xd2 33.~d2 ½e7 34.'8g5! .i.xb4 35.~xb4
fxg5 36..i.d6, realçando o destino lamentável
do cavalo preto.
Também seria insuficiente 27 ...ã d7 28.'8d2
l2ic7 - uma ofensiva combinada deixa as pretas
com uma vantagem decisiva: 29.li:\f3 ~f6
30.~g5 ilxg5 3 I.<tlxg5 f6 32.ã ef2 ãf8
33.'i!fcS! h4 (33 .. .'efa8 34.h4! e as pretas estão
em zugZfPang. 34 ... lia6 35.ã xf6! ã xf6
36.gxf6 ~xf6 37.~f8+) 34.li:\h7! (após
34.'f!ixaS .ãa8 35.V1fc5 fxg5 36.'f!lxe5+ Wg8
37.l!fxg5 .ãg7 38.'f!ixb4 c5! as pretas ainda
têm algumas esperanças) 34 ... 0e6 35.V:fc4
~h7 36.l!ixe6 ge7 37.'i!fd6 Wfc7 38.'f!lxc7
!!xc7 39.Éixf6 com um final vencedor.
28.ti:)d2 ~d8
Totalmente submisso. Seria necessário algum
esforço por parte das brancas tanto após
28 ...ii.e7 29.0b3! VJlc7 30.ãef2 f6 3 l.ãd2 e
se 31...gfdg 32.ãxd8 .i.xd8, então 33.0xa5!
t!fxa5 34.'f!ixc6 gb8 35 ..ãdl ! ~ e7 36.~7
ãe8 37.&7, como após 28...ãae8 29.'8b3
J.d8 30.ãef2 f6 3 I.ãd2 f5 32.ãfdl ti:)b8
33.li:\c5 Wit:J 34.'#Wxt:J ~xt:7 35.'8b7 $..c7
36..icS, vencendo.
29.0 0 f6 30.l!d2! 1'..e7 3I.'iWe6! (a invasão
decisiva) 31 ...l!ad8 (se 3 l...éub8 o mais
simples é 32.lâfdl seguido pelo inevitável ãd7!)
32.ãxd8 .1&xd8 33.ã dl lZ:lb8 34.A cS l!h8
3S.ã xd8! 1-0
Uma conclusão elegante: 35 ...l!xd8 36..te7!
Tal: "O final da 9ª partida causou uma
impressão completamente indelével. Em geral,
é difícil que alguém me surpreenda, mas o To/ya
fez isso, com uma dúzia de esplendidos lances
em apenas cinco minutos". A contagem se
tornou 3-1 e Karpov só precisava mais uma
vitória.
Na 10' partida, Spassky estava pronto para
tentar atacar outra vez as fortalezas da Caro-
275
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Kan, quando, pela primeira vez no 111atch,
Karpov respondeu a l.e4 com l. ..eS, sem
medo de usar a variante Breyer da Ruy Lopez -
a defesa favorita do seu adversário. E ra um
desafio. As brancas logo fecharam a posição
com d4-d5 e conquistaram uma iniciativa
duradoura. Botvinnik diz: "Um caso raro,
quando Karpov foi obrigado a lutar contra seu
próprio método de donúnação".
Partida 64
B. Spassky - A. Karpov
Match de Candidatos, Leningrado 1974
to• partida
32.Sl.a7! (mais tarde esse procedimento foi
utilizado pelo próprio Karpov - partida 66)
32 ... ã bb7?! (parece mais sólido 32 ...ã a8 e se
33.kf2(b6), então 33 ... ã xa2 34.~xa2 ã b7 e
.. .M6!) 33.'ifel Wi'd8 34.'it°t'l E!c8?!
Seria mais preciso o imediato 34....t.f6.
35.ã a6 M 6 36.Sl.b6 'Be7 37.lãa7 ã cb8
"Evitando uma armadilha bem camuflada:
após 37....àh4? 38.!!xb7! ~xf2+ 39.~ xf2
'i:Vb4+ 40.<it>gl a posição das pretas
dificilmente é defensável." (Botvinnik).
Entretanto, aqui não é claro 40 ... SLxh3 ou
40 ... CDf6 (esse lance também segue após
40.éfl). E ntão é muito mais forte 39..ixf2!
ãc7 40.ã b8 ãc8 (40 ... 'i!fgS 4l.'i&h2) 4I.ãxc8
i'..xc8 42.~xb5, quando de fato as precas têm
276
uma pos1çao difícil: 42 ... lz:Jf6 43.lãa? o u
42.. .lilc7 43.c4! etc.
38.ã xb7 ã xb7 39.00 (também não seria
mau 39.Wbl !? ~ h4 40.'i!fgl) 39...i.h4
40.'ifgl <tlg7 41.ãa7?
Após 41.lãa8! Karpov ainda enfrentaria uma
luta difícil pelo empate: 41...t~)c??! 42.kxc7
!!xc7 43.~b6 ãc5 44.ã a7 o u 41 ... ifg5
42.hS ~h5 43.lilcl ~xh3 44.çt)e2! t+'gS!
(44 ...~d? 45.&7) 45.:ãxe8 ~xg2 46.Wd2!
~xf3 47.'ilfxgS i_.xgS 48.AM etc.
Spassky me disse que foí nesse momento,
antes do adiamento da partida, que subitamente
percebeu que não tinha forças para lutar por
uma vitória, gue estava mentalmente exausto. E,
tendo perdido a confiança no sucesso, entregou
a bata.lha...
41 ...lãxa7 42.~ xa7 ti'd8 43.~ b6 Wc7!
44.ifxc7 êilxc7 com empate no 61° lance.
Tal: "Simplesmente não vou comentar a 11 ª
partida, a final, por ser uma cópia exata da 21 ª
de Spassky com Fischer em Raykjavik. Ali Boris
conduziu todas as partidas tinais em um estado
de tensão e depressão. Tentou, tentou, tentou...
mas em vão. Não, ele não entregou o match
como um mau negócio - isso somente ocorreria
com o seu próprio consentimento. Ocorreu
subconscientemente. Sua mão se moveu
sozinha, ele é um desses jogadores que não se
entrega de forma consciente...
Conheço bem a atitude de Spassky: o mesmo
aconteceu comigo na 21• partida do matrh
revanche com Botvinnik. Quando cheguei ao
tabuleiro, pensei que, se Deus quisesse, eu
venceria... Não venci! E com Spassky aconteceu
o mesmo, tanto contra Fischer, como contra
Karpov".
Partida 65
A. Karpov - e. Spassky
Match de Candidatqs, LeningradQ 1974
11ªpartida
Gambitq da Dama - D58

1.d4 ~ f6 2.c4 e6 3.~f3 d5
Um duelo psicológico que é típico da disputa
de matcher. as brancas não atendem ao desejo do
seu adversário de jogar a Defesa Nimzo-Índia e,
em respo sta, as pretas não querem trocar para
linhas da. Índia da Dama.
4.luc3 il.e7 5.il.g5 h6 6..ib4 0-0 7.e3
(7.ãc] - partidas 72 e 82) 1 ... b6 (não seria
difícil esperar essa popular variante por parte de
Spassky, que le,,a o nome do seu segundo
Bondarevsky) 8.1l.e2
O lance de Kortchnoi, embora ele também
utilizasse 8Jãc l (partida 28). Aqui Fischer jogou
8.cxd5 vob1T11e'/, partida 103').
8... i.b7 9.i.xf6!?
Uma parte importante de um p lano destinado
a restringir a mobilidade das peças inimigas, em
particular dos bispos e deixar as pretas com
poucas chances de conttajogo.
9...~ xf6 10.c><d5! exd5 11.0-0
Eu teria preferido l l.b4, que após 11. .. c5
12.bxc5 bxc5 13.ãbl .ic6 14.0-0 êbd7 ou
11.. .c6 12.0--0 lud7 se transpõe usualmente
para a variante 1 l.0- 0 lud7 12.b4.
ll ...it'd6?!
O primeiro momento questionável.
Numerosas partidas jogadas desde então têm
mostrado muitos outros planos mais
promissores, envolvendo ...c7-c5:
l) l l. ..~e7 12.\!fb3! ã d8 13.&dl. Isso
necessita de uma certa precisão na defesa. Seria
passivo 13 ... c6?! 14.ã fel il.c8 (também
Anatoly, o Décimo-Segundo
favorece as brancas 14 .. .lê::ld7 15.il.fl lê::lf8
16.e4 dxe4 17.lL!xe4 lL!e6 18.il.c4 ã e8
19.t2:)e5 & d8 20.f4 Beliavsky-Georgadze, 47º
Campeonato da URSS, Minsk 1979) 15.~c2!
c5?! 16.e4! dxe4 17.lL!xe4! e as pretas estão
em uma situação difícil (Karpov-Beliavsky,
Reggio Emilia 1991).
Seria mais enérgico 13 ... c5! (esse lance se
provou melhor do que sua reputação inicial)
14.dxc5 .ixc3 l5.~xc3 (após 15.c6 l2\xc6
16.'ã'xc3 ~ac8 as pretas têm bom
desenvolvimento em troca do seu peão isolado)
15 ... bxc5 (as pretas também precisam não se
preocup ar demasiado com os peões
pendurados) 16.!kl é2Jd7 17.ãc2 ã dc8 (não
17 ...!tab8?! l8.b3 'f8e6 19.l=!d l 't!fb6 20.lZ'lel
Kortchnoi-Geller, 5ª partida do match, Moscou
1971) l 8.'ilt'a3 a5 19.ãfcl 'iif6 20.il.bS ..1l.c6
2 1.1l.xc6 !!xc6 22.'ã'd3 ã d6, com igualdade
(Veingold-Tal, Tallinn 1983). Mais tarde
Timman por duas vezes - contra Yusupov
(Roterdã 1989) e Ivanchuk (Hilversum 1991)
tentou trabalhar nos peões pendurados das
pretas através de 16.ãd2 li::ld7 17 .ãc I a5
l 8.'ifa3, mas foi incapaz de demonstrar uma
vantagem para as brancas;
2) l l.. .é2Jd 7. Essa também é uma boa
continuação para as pretas. No vo/rm;c 3 (pág.
328) já falamos sobre 12.~3 c6 (fimann-
Spassky, Bugojno 1982; Hilversum 1983). Outra
posição critica - 12.b4 c5 13.bxc5 bxc5 14.ã bl
il.c6 - ocorreu sete vezes (D somente nos meus
matches com K arpov (1984-87) e no volume 2 da
série Xadrez Moderno retornarei a ela;
3) 11...cS (com os dois bispos, também é
possível essa atividade imediata) 12.dxc5 e aqui
há dois caminhos: 12 ....âxc3 13.bxc3 bxc5
14.'.ãb l Vc7 (seria mais fraco 14 ... lie7?!
Kaspa.rov-Torre, Moscou 1981; após 15.ifa4!
é2Jc6 16.li'a3 as pretas estão em dificuldades)
15.t2:)e5 e as brancas mantêm a pressão
(Kramnik-Khalifman, Linares 2000), ou
277
Gany Kasparov - Meus Grandes Predecessores
12...bxcS!? (essa tentativa de reabilitar l l.. .c5
pode se mostrar bem sucedida) l3.~3 ~ c6
14.~ adl lz.Jd7!? 15.lz.Jxd5 l'.!b8 etc.
12.i!cl! a6
As pretas são forçadas a perder tempo com
esse lance "não essencial" para defender a casa
b5. Elas estariam pior após 12 ... c6 13.e4! e o
tardio 12 ...c5? é completamente mau: 13.dxc5
bxc5 14.lz::le4!.
13.a3 ê2ld7
Botvio.n.ik observou que "a posição alcançada
é similar à bem conhecida variante da D efesa
Grünfeld": 2 ...g6 3.Ct:lc3 d5 4.lz::lf3 ~g7 5.i.g5
lz.Je4 6.cxd5 lz::lxg5 7.lz::lxg5 e6 8.li:)D exd5
9.e3 0--0 10.i.e2 c6 11.0-0 f9e7 12.a3 i.e6
13.!!cl <tld7 e então 14.-tlel li:)b6 15.00
E!:ad8 16.li:)cs i.c8 17.b4 <tlc4 18.GLJbl b6
(18 ... ê2ld6!?) 19.GLJb3 ~ a6 20.l!el E!:fe8
21.CzJ ld2! b5 22.E!:al ~c8 23.~fl '!Wd6
24.CzJcS (Lasker-Botvio.n.ik, Nottingham 1936).
Na minha visão, a similaridade é bastante
arbitrária nesse instante: as peças e os peões das
brancas estão dispostos exatamente como os de
Lasker, mas as pretas já enfraqueceram a
estrutura dos peões em sua ala da dama.
Embora na seqüência, em posições tipicamente
de meio-jogo, essa similaridade possa se
manifestar.
14.b4
As brancas começam a jogar para amarrar a
ala da dama e as pretas são obrigadas a esquecer
a atividade com ...c7-c5. Mas elas podem tentar
explorar o enfraquecimento da casa c4.
14... bS
Botvinnik aprova essa continuação
comprometedora (ele próprio jogou isso contra
Lasker). Tal, em comparação, considera ser uma
"decisão atrevida" e a causa inicial das
dificuldades das pretas, sugerindo 14 ....i.e7
15.~d3 'iWe6! 16.ifc2 i.d6 e então l 7.Af5
Wfe7 18.e4 dxe4 19.~xe4 kxe4 20.GLJxe4 ~f4
21.lãcdl l2if6 com igualdade aproximada.
278
15.CzJel?!
"É surpreendente que Karpov também
manobre como Lasker. Entretanto, na opinião
de Karpov, seria mais forte 15.CzJd2 e <tlb3,
evitando ...a6-a5. Nesse caso, a posição das
pretas teria ficado mais passiva." (Botvinoik)
15...c6!
Tal sugeriu não bloquear o bispo - 15 ...Ct:lb6
16.Ct:ld3 lz::lc4 17.0c5 ~c6, mas o reforço do
peão b5 também tem suas vantagens.
16.CzJd3 CzJb6?!
Somente o imediato 16...a5 ! permitiria às
pretas explorarem a imprecisão das brancas
(15.CzJe l ?!) na implantação do seu plano
estratégico correto. A torre preta ficaria liberada
para a necessidade de defender o peão e após
...a5-a4 e ...GLJd7-b6-c4 o peão a3 não teria se
tornado uma fraqueza.
17.a4! (uma resposta excelente, forçando as
pretas a pensarem de forma constante sobre a
defesa do seu peão a6) 17 •..Jid8? !
Esse lance, considerado por Tal ser a única
possibilidade de conseguir pelo menos algum
contrajogo, foi condenado de forma correta por
Botvinnik e por Karpov. O primeiro sugeriu, ao
invés, 17 .. .lz.Jc4 18.lz.Jc5 E!:ab8 (quando pode
seguir l 9.~ d3 ~ d8 20.a5 ~c7 21.g3 'Wie7
22.i¼'c2 ~ d6 23.GLJe2 ~ be8), e o segundo -
17 ...i!ad8 18.GLJcS ~c8 ("com sua torre em
d8 e o bispo em f6 as pretas não teriam muito a
temer com a ruptura central"). Mas
provavelmente seria melhor 17 ...E!:ae8

18.CzJcS ~c8 19.& 1 (19.~g4 'flc7) 19...~d7.
De qualquer forma, as brancas estão
"ligeiramente melhor", mas no momento nada
têm de real.
Com o reagrupamento ineficaz feito por
Spassky, se inicia uma redução gradual nos
recursos defensivos das pretas, embora, como
ocorre freqüentemente nas partidas que tiveram
uma importância excepcional no curso da
história do xadrez, a avaliação dos fatos
subseqüentes tenha sido influenciada pelo
resultado final.
18.~c5 ~ c8 19.a5! ~ c7 20.g3 ~ c4
As pretas desenvolveram as suas intenções,
mas a estrada para o eqtúhbrio não se tornou
nem um pouco mais fácil, especialmente após a
oportuna abertura central feita pelo seu
adversário. Para o orgulho das pretas - seu
cavalo em c4 -, merece ser lembrado o
comentário de Botvinnik acerca de sua partida
já mencionada com Lasker: "Imaginei que o
Doutor havia me enganado. O cavalo está
lindamente posicionado em c4, mas e daí?".
Para ativar os seus bispos, as pretas têm que
avançar seus peões f e g, debilitando seriamente
as defesas de seu próprio rei. Entretanto, Lasker
não foi capaz de escolher um momento
oportuno para a abertura central e a partida
terminou empatada.
21.e4! ~ h3
"Possivelmente esse seja o erro decisivo."
(Tal). Essa avaliação provavelmente seria
Anatoly, o Décimo-Segundo
melhor aplicada a 17 . .. ~d8, que inicia a
manobra, o objetivo da qual foi de fato
assegurar a casa h3 para o outro bispo. Tal
recomenda 2l...dxe4 22.l~J3xe4 ifg6. Então
23.~xc4 bxc4 24 Jâxc4 il..h3 25.ãel ã fe8
certamente teria permitido às pretas ativarem o
seu jogo, mas o tranqüilo 23.ãel! ~h8
(23 . ..il..h3, como na partida, não deixa
esperanças) 24.~d2! teria mantido a vantagem
das brancas.
22Ji el!
Outro plano promissor para o fortalecimento
da posição seria 22.eS We7 23.lãel , mas
Karpov é consistente em sua intenção de abrir
o centro enquanto as forças pretas estão mal
coordenadas.
22...dxe4
Não é possível para as pretas manterem o
centro. Botvinn.ik pensou que 22 ...ã fe8 fosse
mais resistente, mas então as brancas teriam
mudado o jogo para um laço - 23.eS \Wg6
24 ..id3 ~f5 25.êZ:le2 Axd3 26.~f4, ou
continuado a pressão central - 23.~f3.
23.~3xe4 'i!fg6
A escolha para um exército que tenha perdido
a coordenação é limitada. O "mais cauteloso"
(de acordo com Botvinnik) 23 ...'%!fd8 não traria
nenhum alívio em vista de 24.'ti'b3! (também é
interessante 24 ..ixc4 bxc4 25.'ifc2! com a
idéia de 25 . .. t!fxd4 26.~cd l 'i'e5 27.~xa6!) e
as pretas não têm uma continuação aceitável:
24 ...tfxd4 25.g4! f5 26.!l:c.dl ! 'i'e5 27.~d6!,
vencendo.
24.~ hS!
Karpov continua a fortalecer a sua posição,
não permitindo ao adversário nem mesmo uma
ilusão de contra-jogo após 24.~xc4 bxc4
25.tfe2 ~f4 26.ãal ãfe8 27.'%!fe4 ~ h8.
24...'ifh7
O ativo 24...iff5, na esperança de mudar o
rumo da partida nas complicações após
25J'.fo3! Vi'd5 26.g4! f5 27.ã xh3 fxe4 teóa
resultado em um final de jogo ruim: 28..i.g6
~d6 29.lfü5 'ilfa2 (após 29 ... tfc4 30.lrd2!
279
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
E:f6 31.:!ãcl a dama está perdida) 30.\!fe2 !
'ã'xe2 31.lãxe2.
2S.i!ff3
Também é vantajoso para as brancas
25.CzJd2!? lzJxd2 26.'ifxd2 'i!Vf5 27.'i!Ndl! lãfd8
28.ã e7 g6 29..tD ..ád6 30.ãel - as
debilidades crônicas das pretas na ala da dama
as condenam a um prolongado sofrimento.
25...f5?
Ao colocar sua peça mais forte fora de jogo
de forma conclusiva, Spassky assina a sua
própria sentença de morte. Eventos fascinantes
teriam se desenvolvido no caso de 25 ....iJ5
26.lik3 ã fc8. Agora não é tão claro 27.1!fxc6
.1l.f4 28..txt7+@h8, mas a ruptura 27.d5! teria
provocado complicações táticas, conduzindo a
uma vitória das brancas: 27 .. .CzJe5 28.'ifdl
2âd8 29.'ã'd4 f6 30.li:ib7! ã db8 3 l.dxc6 li:id3
32.li:id5 .te5 33 .li:ie7+ ~h8 34.li:id6! .txd6
35.'il¼'xd6 lãd8 36.~xd8+! ãxd8 37.c7 :ãf8
38 ..tg6! ..áxg6 39.c8l!f A e8 40.lz:Jf5 li:ixel
41.lãxel 'i!Hg8 42.'ã'xa6 l!i'd5 43.l!i'd6 etc.
Botvinnik e Karpov consideram ser a última
chance 25 ...'i!Nf5, por exemplo: 26.l!fxf5
(26.ãc3 'ã'd5!) 26 .....áxf5 27 ..tD ã fc8
(27 ... ã fd8 ? 28.li:ic3! ã xd4 29 ..txc6 ã a7
30.Axb5!) 28.1'..e2! li:id6 29 ...ád3 "com
vantagem para as brancas" (Karpov).
Realmente, após 29...CzJxe4 30.Axe4 .txe4
3 l.li:ixe4 f5? 32.li:ic5 .i.d6 33.ã e6 as brancas
têm uma posição vencedora, mas 29....th7!
ainda coloca alguns problemas. Além disso, é
280
claramente mais forte 31 .. .~b8, com chances
de salvação: 32.~g2 (32.d5 f5!) 32 ... .ta7
33.li:id6 lãd8 34.:ãxc6 gµ<d4 35.:ãe7 A c3! - e
o final não é cotalmente claro. Então seria
melhor jogar 29.li:id2! .td8 30.lzJD! ã c7
31 .li:ie5 com pressão muito forte, ou de
imediato 27.lt.e2!? li:id6 28 ...ád3 li:ixe4
29 ...áxe4 .txe4 30.lzJxe4 f5 3 l.li:ic5 .td6
32Jle6 .txc5 33.dxc5 ri;ac8 34.ãdl com
chances excelentes no final de torres. Dessa
forma, após 27 ...áe2 (ou 27.~D lãfc8 28..âe2)
faz sentido para as pretas pensarem sobre um
sacrifício de peão: 27 . .. !!fe8 28.~xc4 bxc4
29.!:!xc4 ~d6! 30.D h5 ! 3 l.Wf2 ..áf8,
confiando no poder salvador dos dois bispos.
26.li:ic3 g6 27.'i!fxc6! gxhS 28.li:idS! (a
partida está decidida) 28...f4 29Jãe7! l!frs
Se 29... fxg3 na vã esperança de 30.lãxh7??
gxf2+ 3 l.Whl Ol!f+ 32.~ fl !!xfl mate, as
brancas vencem mais simplesmente através de
30.li:if6+! !!xf6 3 l.~ xa8+ }âf8 32.'i!fxf8+
Wxf8 33.ãxh7.
30.l!xc7 l!ae8 31.it'xh6 ã f7 32.â xf7
O terrivelmente forte 32.li:id7! forçaria as
pretas a entregarem, quase por nada, a sua peça
mais valiosa.
32...~ xf7 33.l!i'xf4 lâe2 34.li'c7+ Wf8
35./f)f4 1-0
As pretas abandonaram e Ka.rpov selou o
match em 4-1 (com seis empates).
Esta partida, como todo o match, mostrou
como era infundada a teoria da "cabeça fria",
professada por Spassky e seu segundo. Tornou-
se bastante óbvio: para conquistar sucessos
consistentes em alto nível, não basta ter apenas
uma impressão geral sobre os esquemas de
aberturas utilizadas e um punhado de idéias.
Sem um amplo e preciso conhecimento, é
impossível obter as posições desejadas de meio-
jogo e você tem que se contentar em entrar
naquelas que o adversário usa para atraí-lo,
nunca as desejadas, de modo que a sua "cabeça
fria" deverá ter muito espaço para a criatividade.

Infelizmente, depois desta derrota, Spassky
não se sentiu animado a recomeçar o trabalho
sistemático sério e seus resultados começaram
de ano em ano a declinar de forma constante. E
Karpov se tornou para sempre para ele wn
adversário dificil: a contagem geral das partidas
deles com o controle de tempo clássico foi de
+13-1=20 em favor do 12º Campeão Mundial.
Karpov recorda: "De todos os matches que já
disputei, este foi o único no qual o xadrez em si
e as lmpr.ovisações desempenharam o papel
principal. Muitos anos depois, Spassky me
disse: 'Não posso jogar com você, porque não
entendo seu jogo, não consigo acompanhar seu
pensamento.. .'. Para entender e reconhecer isto,
não bastou para ele perder este matclr, precisou
de anos de reflexão e observação do meu jogo.
Felizmente, o tnatch em questão não prejudicou
nosso relacionamento. O subseqüente
abandono gradual da elite enxadrística deste
lutador maravilhoso não é uma coisa que eu
atribuir¼l a mim: não fui quem o quebrou, foi
Fischer. E como haveria de ser nossa disputa, se
não tivesse existido um Fischer, é quest.ão de
mera suposição".
Eis mais duas opiniões de pessoas
interessadas - dois ex-Campeões Mundiais:
Tal: "A vitória de Karpov sobre Spassky
causou-me maior impressão do que a vitória de
Kortchnoi sobre Petrosian. A questão que me
interessava mais era saber como Karpov
reagiria à sua primeira derrota, uma vez que não
estava acostumado a perder e também não
parecia imune às derrotas. Mas vieram a 2ª e a 3ª
partidas: primeiro foi a defesa Caro-Kan e
depois, l.d4. Esta já não era a resposta de um
menino, mas de um homem feito. Lembro o
meu match com Spassky em 1965. A certa altura,
depois da 5ª partida, tentaram me convencer:
'Desista do e2-e4; troque de disco. Procure
desviá-lo'. Mas naquele momento eu já 'tinha
me enredado'. O Karpov de hoje) embora mais
jovem que o Tal de então, não se enredou; o seu
repertório de aberturas foi treinado como a voz
de um bom cantor e ele o mantém bem
Anatoly, o Décimo-Segundo
guardado, não o revela antes de jogar. Muitos de
seus esquemas de abertura lembram o modo de
Furman de manejá-las. Aqui este jovem
enxadrista confia indiscutivelmente em seu
mestre. E confia cegamente. Furman tem uma
intuição excepcionalmente sutil das aberturas e
pela compreensão que tem do jogo é um grande
enxadrista".
A outra opinião é de Botvinnik: "O match
com Spassky foi como um salto no escu ro:
antes, Karpov não tinha tido ainda um sucesso
dessas dimensões. Ao propor ao adversário uma
disputa forçada, intransigente, Spassky sofreu
quatro der rotas em nove partidas. Depois da
11 ª partida, a contagem foi de 7-4, o mesmo do
match de Reykjavik. Karpov teve uma atuação
brilhante. É difícil apontar onde se saiu melhor,
se no ataque ou na defesa. O cálculo das
variantes costumava ser combinado com jogo
posicional. Karpov percebeu que para superar
Spassky era preciso dedicar-se de corpo e alma
ao xadrez... Este match esclareceu a situação no
topo do xadrez. Pelo menos para aqueles que
quiserem reconhecer isso.
Yuri Razuvaev percorreu com Karpov todo o
ciclo de Candidatos de 1974
Sem dúvida, este foi um match histórico: o
cruzamento de dois luminares do xadre.z: um
que surgia rapidamente e outro que mergulhava
lentamente no ocaso, um caso parecido com o
de Keres e Euwe, no passado (conforme o
volume l). Esta tinha sido de fato a última chance
de Spassky para a desforra em favor de seu
281
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

ótulo mundial. Passados três anos, o seu último
match de Candidatos, disputado com Kortchnoi,
parecia mais a agonia de um grande jogador
(conforme o capítulo "A Revanche de Belgrado''),
mas na disputa com Karpov, principalmente no
início, Spassky ainda estava cheio de energia e
ambições, quase como nos seus melhores
tempos.
Não sei explicar como tantos especialistas
tenham predito a vitória de Spassky.
Aparentemente, naquela época eles não
prestavam a devida atenção aos rating.r que
serviam como indicadores objetivos da força do
enxadrista. Era assim que o quarteto de
Candidatos figurava cm 1° de julho de 1973:
Karpov - 2660; Spassky - 2655; Kortchnoi -
2650; Petrosian - 2640. Isto é, pode-se falar de
aproximado equilíbrio de forças. Depois,
Spassky ganhou pontos no Campeonato da
URSS e no match com Byroe, como Karpov
ganhou no torneio de Madri e no match com
Polugaevsky. As classificações da FIDE foram
publicadas depois em 1° de maio de 1974, já
com o resultado dos matches semifinais de
Candidatos: Karpov - 2700 (!); Kortchnoi -
2670; Spassky - 2650; Petrosian - 2640.
Estes valores não são simples palavras. Em
um período de muitos anos, Karpov obteve
bons resultados e, acima de tudo, demonstrou
um elevado padrão de jogo. Foi assim que ele
alcançou o nível mais elevado de seu talento na
disputa com Spassky e foi a partir desse match,
e não de abril de 1975, que teve início a era
Karpov.
Coroação
Restava só o match final com Kortchnoi.
Karpov lembra: "Quando me perguntavam
como avaliava minhas chances, respondia
invariavelmente: o jogo mostrará; no entanto,
eu já estava pensando em Fischer e ninguém me
ouviu mais dizer que este não era o meu ciclo".
Botvinnik também acreditava nele, ao
responder as perguntas dos fã5 do xadrez: "Não
se preocupem; Karpov não venceu Polugaevsky
e Spassky para perder para Kortchnoi".
A final de Candidatos com Karpov-Kortchnoi foi
de fato o match do Título Mundial
Antes porém, um mês depois dos matches
semifinais dos Candidatos, realizou-se a
Olimpíada Mundial em Nice Gunho de 1974),
marcada para coincidir com o 50º aniversário da
FIDE. Os organizadores prepararam excelentes
condições de jogo, esperando que o "Torneio
das Nações" viesse a ser a estréia de Fischer na
condição de Campeão Mundial. Causou
alvoroço o fato de que, pela primeira vez, a
equipe da URSS seria comandada por Karpov; o
novo candidato à coroa que sonhava com uma
batalha com o Campeão. A disputa deles estava
sendo aguardada com enorme interesse, mas,
infelizmente, Fischer não compareceu...
A esplêndida equipe dos seis soviéticos:
Karpov, Kortchnoi, Spassky, Petrosian com os
reservas, Tal e Kuzmin, do começo ao fim da
Olimpíada, não sofreu uma única derrota e
conseguiu um dos melhores resultados da
história: 1. URSS - 46 em 60; Iugoslávia - 37½;
EUA -36½, etc.
Karpov teve uma atuação brilhante. Como
Tal em sua época, em apenas dois anos ele subiu
de um posto de reserva para o 1° tabuleiro.
Após cinco vitórias sucessivas no grupo
preliminar, conquistou uma sexta vitória no
início do torneio final, jogando contra Hort, e
em seguida, depois de um descanso de um
empate, liqüidou também Unzicker.

282

Partida 66
A. Karpov - W. Unzicker
XXI O/i,,,píada de Xadrez
Nice 1974
Abertlfra ~ úpez - C98
l .e4 e5 V t:ltJ fdJc6 3.il.b5 a6 4..ãa4 fdJf6
S.0-0 .ãe7 6.âel bS 7.~.b3 d6 8.c3 0-0 9.h3
tõas (9... 0b8 - partidas 51, 70 e 102') 10.1'c2
cS 11.d4 lic7 12.lubd2 fdJc6
Uma variante antiga do sistema Chigorin, cuja
popularidade cresceu muito após essa partida.
As pretas começaram a preferir 12 ... cxd4
l 3.cxd4 fdJc6! (isso é muito melhor do que
13 .. .lt.b7 - vofut!le 4, partida 54).
13.dS!
A continuação mais forte (Reshevsky e
Fischer jogavam 3.dxcS - volume 4, partida 19).
Por um longo período o peão dS assegura uma
vantagem espacial às brancas e, associado a isso,
o objetivo de manobrar as peças.
13...fdJd8
Seguindo Rubinstein. Após l3 ...0a5 14.63!
o cavalo só tem a casa b7. Aqui a partida Geller-
Meckiog pode ser considerada um exemplo
modelo do jogo das brancas: 14 .. ..i.d7 15.êi:'lfl
lõb7 16.'Llg3! (mais flexível do que 16.c4,
Karpov-Andersson, Estocolmo 1969) 16 . .. c4
17.b4 ãfc8 18.êi:'lfS ~f8 19.lZ:fü2 a5 20.ãe3
axb4 2 l .cxb4 .ãxf5 22.exf5 c3 23.0g4 ii..e7
24.l2:lxf6+ ~xf6 25.ãe4! 1!fd7 26.~f3 com
uma vantagem.
14.a4 (as torres das pretas não estão
conectadas e esse lance corrosivo está próximo
de ser desagradável para elas) 14..lib815.axb5
A moda pelo antigo lance 13.dS foi revivida
através da partida Stein-Ivkov (3ª rodada do
lnterzonal de Amsterdã 1964), onde após 15.c4
.ãd7?! 16.axb5 axb5 17.cxbS .ãxb5 l 8..ia4
&8 19.ãe3 l2:lb7 20.ãea3 as brancas tomaram
o controle da coluna a. Seria mais sólido
l 5 .. .b4 e então ...ttle8, ...g7- g6 e ...f7-f6
(Bogoljubow-Rubinstein, Baden-Baden 1925).
15... axbS
Anatoly, o Décimo-Segundo
O que as brancas devem jogar?
16.b4!
Um típico procedimento moderno em
posições assim. As brancas não abrem mão de
sua ofensiYa na ala do rei, mas, ao abrir uma
segunda frente, desejam criar condições mais
favoráveis para ela. Entretanto, se o adYersário
responder de forma fraca, elas podem também
conseguir muito na ala da dama, explorando a
coluna a e a debilidade do peão b5 (cf. o
comentário ao lance 16 das pretas).
Após o imediato 16.fdJfl o grande Akiba
demonstrou um plano de defesa já no começo
do século 20, o qual de imediato se tornou
padrão: l 6 ...êi:'le8 17.g4 g6 18.Gg3 tzJg7
19.~ h l f6 20.ãgl é2:lf7 21.i.e3 .ãd7 22.~e2
ãa8 (22 ...tZlgS!?) 23.fdJd2 Wh8 24.b3 ~7
25.~d3 !!a6! (Bernstein-Rubinstein, Ostende
1907) ou 22.Vfl ãa8 23.1Wg2 ã xal 24.ãxal
'ifr'b7 25.~h2 ã a8 26.~fl ã a6! 27.ti)d2 'i!Ba8
(Thomas-Rubinstcin, Baden-Badcn 1925). Ou
16.c4 b4 17.tzJfl 0 e8 18.g4 g6 19.1'.h6 'Llg7
20.êi:'le3 f6 21 .<it'g2 é2:lf7, com igualdade
(Bogoljubow-Rubinstein, Berlim 1926).
16 ...fdJb7
A incompetência desse cavalo constitui-se em
um problema considerável para as pretas.
Imitando Rubinstein, elas gostariam de jogar
16 ... l2:le8 com a intenção de 17.lZlfl g6 l8.g4
tzJg7 19.l2:\g3 f6 e ...l2:\f7, mas aqui elas devem
contar com 17.bxcS!, quando tanto 17 ... dxcS
18.c4 b4 l9.l2:lb3, como 17 ... !fxc5 18.&3
283
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
tz:lb7 l 9 ..ta3 envolvem novos inconveoieotes:
no primeiro caso, o peão c5 se torna um alvo e,
no segundo caso, o peão b5.
Costuma ser jogado 16 ... c4, mas esse lance
também tem uma desvantagem óbvia: as
brancas adquirem o recurso adicional f2-f4 e
após e5xf4 não só as pretas conseguem a casa
e5, mas também as brancas conquistam a
importante casa d4 para o seu cavalo. Após
17.tz:lfl tz:le8 18.03h2 não é apropriado o
ativo 18 ... f5?: 19.exfS (a casa e4 se torna um
elemento importante da vantagem posicional
das brancas) 19 ... .txf5 20..txf5 !!xf5 2 l..te3
!!f8 22.0f3 0f6 23.0g3 tz:lt7 24.ãa7! ãb7
25 .!fa5 (Geller-Smyslov, 3ª rodada do
Interzonal de Palma de Mallorca 1970). Seria
mais restritivo 18 ... f6, mas aqui também após
19.f4 tz:lfl 20.0f3 g6 21.fS 0g7 22.g4 as
pretas têm dificuldades (Karpov-Spassky, 41 °
Campeonato da URSS, Moscou 1973).
17.0ft .id7 18.~e3
Seria menos promissor jogar l8 ..td2 :Sa8
19.ti:le3 ãfc8 20.©h2 ãxal 21.l\i'xal l!fd8!
22.~a7 !!a8! 23.\!fxb7 !!b8 24.'t!Ya7 1/2-½
(Spassky-Kortchnoi, 1ª partida do match, Kiev
1968).
18.••ã aS 19.'i!'d2 :Sfc8?
As pretas escolhem uma configuração
incorrera para as suas peças pesadas e devido a
isso perdem a batalha pela coluna a. A forma
correta foi apontada pelo próprio Karpov:
19...llib8 20..td3 !fc8!, após o que as pretas
trocam um par de torres e aumentam suas
chances de uma defesa bem sucedida.
20. .id3 g6 21.l2lg3 i.f8 Qutar pela coluna a
teria perdido um peão: 21...li'd8? 22.ãxa8
lãxa8 23.bxc5 <tlxc5 24.it.xcS dxc5 25.tz::ixe5)
22.lãa2! c4
A invasão da dama após 22...ãxa2 23.'t!fxa2
cxb4 24.cxb4 ifc3 teria simplesmente
descobetto outra debilidade na posição das
pretas - o -peão b5: 25.!fbl 'Wa3 26.ãcl
ãxcl + 27..àxcl 1Wa4 28..ie3 .te7 29.ltle2.
23.~bl
284
O objetivo desse lance, evitando a rápida
concentração das peças brancas na coluna a, é
nada fazer com a superproteção do peão e4.
Karpov não quer permitir ao adversário a mais
leve contrachance e então, de forma radical,
evita ...f7-f5.
23...tfd8
"Também após 23 ... tz::id8 24.ãe2 não
haveria discussão sobre a coluna a. Além disso,
as pretas teriam também que contar com
24.ãxa8 ãxa8 25..th6". (Karpov)
24.~a7!
Essa manobra original se tornou uma técnica
conhecida na luta pela coluna aberta após a 1O"
partida da match Spassky-Karpov (.partida 64).
Ali Karpov conseguiu se defender e agora ele
próprio testa sua eficiência. As brancas
bloqueiam temporariamente a coluna a,
concentrando suas peças pesadas sob a
cobertura do bispo e, no momento
conveniente, após a retirada do seu bispo,
invadem a posição do adversário. Em grande
parte devido à má posição do seu cavalo em b7,
é difícil para as pretas conterem essa intenção
óbvia.
Aliás, em uma situação similar (na verdade em
outra abertura clássica - o Gambito da Dama),
eu utilizei a .td3-h7 para tomar o controle da
coluna h (Kasparov-Karpov, 21ª partida do
malch, Moscou 1985).
24...li:)eS 25.~c2 li:)c7 26.ã eal 'fie7
27..àbt .àe8

"As pretas fizeram seu melhor para preparar o
jogo na ala da dama, ao unirem suas forças. Mas
as brancas, explorando a sua vantagem material
e o alto grau de manobra das suas peças, inicia-
ram a ação na outra ala." (Karpov)
28.{)e2 {)d8 29.{)h2 1i..g7 30.f4! f6?
Capitulação posiciona:!. Seria essencial
30...exf4 3 J.{)xf4 f6 32.{).f.3 {)f1 33.CLJd4
lue5, pernútindo ao adversário um ponto forte
central, mas conqtústando o posto avançado de
e5.
31.fS g5?!
Esse peão não deveria ser movido.
Dificilmente fosse melhor para as pretas
31...gxf5 32.exf5 li:117 33.1i..e3 iff8 (Karpov)
34.CLJg4. A defesa mais firme seria ficar parado,
evitando qualquer avanço de peão. Agora,
entretanto, as casas brancas na ala do rei das
pretas estão debilitadas e Karpov com
consistência inicia o desenvolvimento de uma
vantajosa operação de troca dos bispos de casas
brancas.
32.1i..c2! 1i..f7
As debilidades das casas brancas periféricas
não podem ser eliminadas: 32 ...h5 33.11..dl
Wh7 34.CLJg3 h4 (34.. 5.ti?h6? 35.h4!) 35.t'f:igfl
CLJfl 36.1i..h5, vencendo.
33.lZ:ig3 {)b7 34.11..dl! h6?!
Deveria ser evitado esse avanço sem sentido
que simplesmente debilita de forma conclusiva
as casas brancas.
35..âbS 'i'e8 36.ifdl! êi)d8 37.li!a3 Wf8
Anatoly, o Décimo-Segundo
38.!ita2 @g8 39.{)g4 @f8 40.li)e3 @g8
41.~ xf7+ tz:}xf7 42.lfhS! li.Jd8
Se 42 ...li.Jh8, Karpov deu a divertida variante
43.li:ig4 'i!fxh5 44.êi)xhS @fl 45.1i..b6 ãxa3
46.ãxa3 ãa8 47.ãxaS {)xa8 48.11..dS com
zugZ}Vang completo!
43.ii'g6! (graças ao peão ter se movimentado
para b6) 43...Wb8 44.itlb5! 1-0
As pretas abandonaram: não há sentido em
sofrer após 44...\lffl 45 .li.Jg4 ~ e8 46.1i..b6.
"Um fenômeno extraordinário, um triunfo da
estratégia superior" foi o que a imprensa
comentou a respeito desta parúda. E,
realmente, é um exemplo clássico de como
jogar em posições com o centro fechado.
" Quando, depois da partida, Unzicker, em
russo, subitamente amaldiçoou a sua posição
'com este cavalo preto idiota, que simplesmente
não consegue saltar para fora da sua jaula', a
minha surpresa foi tão grande que quase caí da
cadeira", relata Karpov. Enquanto isso, Tal aqui
já notava que o jogo com restrição à mobilidade
de um cavalo inimigo era um dos métodos
estratégicos favoritos de Karpov.
Depois de conqtústar mais três vitórias com
as brancas, Karpov conseguiu o melhor
resultado no primeiro tabuleiro (+ 10=4) sem
nenhum esforço aparente. Nas duas últimas
rodadas ele não jogou, porque, como candidato
à coroa, teve que participar do Congresso da
FIDE que tinha que aprovar o regulamento do
matcb do Campeonato Mundial a se realizar no
ano seguinte. O outro candidato, Viktor
Kortchnoi, substituiu o jovem colega no
primeiro tabuleiro, pedindo que o jovem
tomasse a palavra no Congresso, falando pelos
dois.
Eis as palavras de Karpov: "Decididamente
nos opusemos, de comum acordo, às três
seguintes exigências de Fischer: (1) match
ilimitado; (2) até 10 vitórias, (3) com escore de
9-9, conceder a vitória ao Campeão 1fondial.
Entretanto, depois de ter perdido o nosso match,
Kortchnoi resolveu dizer que as exigências de
285
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Fischer eram justificadas e que deveriam ter
sido aceitas. Acho que isso não foi muito bonito
da parte dele".
Por que Kortchnoi mudou de posição? Ele se
manifestou publicamente sobre esta questão
controvertida, ao conceder uma entrevista na
véspera da histórica 32ª partida em Baguio
(1978) e posteriormente, em seu livro
"Antichakhmatl' (O Anti-Xadrez), no qual
escreve: "Com a contagem de 5-5, ao final de
três meses de intensa disputa, formei uma
opinião completamente distinta sobre a
discussão que tinha precedido a passagem da
coroa de Fischer para Karpov... Será q_ue
Fischer estava certo ao exigir que o Campeão
do Mundo devesse defender o título com dois
pontos de vantagem - que o desafiante devesse
vence.r com a contagem de 10-8, mas que, com
9-9, o Campeão mantivesse o título? Sim, agora
imagino que isso fosse perfeitamente natural: o
Campeão Mundial merece isto, para não dizer
que, no caso de empate, a continuação do jogo
até a primeira vitória seria mera loteria e quem
quer que saísse vencedor não teria uma vitória
justa".
No verão de 1974, os dois "K" ainda
formavam uma frente unida expressando o
ponto de vista soviético. A atmosfera no
Congresso estava bastante aquecida; em seguida
aos ultimatos apresentados pelo Campeão
Mundial por telegrama, o dilema era
basicamente o seguinte: "Ou a FIDE ou
Fischer''. Por isto o discurso de Karpov dividiu
as opiniões. Roshal comenta: "Alguns delegados
interromperam a exposição de Karpov e o
presidente da sessão também não o apoiou e
até, pelo contrário, fez observar que ele estava
repetindo o que tinha sido dito antes. Karpov
enrubesceu e, muito .irritado, permaneceu quase
um núnuto calado e em seguida, com toda a
calma acrescentou: 'Tomo estas réplicas como
desrespeitosas'. Dito isto, desceu para o saguão
sob os aplausos de alguns daqueles que pouco
antes tentavam impedi-lo de falar".
Como resultado dos trabalhos dos dois
286
Congressos, isto é, deste e do extraordinário, de
março de 1975, todas as exigências de Fischer
foram atendidas, menos a que estipulava a
manutenção do título do Campeão no caso de
um escore de 9-9 (conforme descrito com mais
detalhes no volume 4). O famoso comunicado
de renúncia de Fischer: "Renuncio ao meu
título de Campeão Mundial de xadrez da
FIDE" foi por ele encaminhado a Nice,
provocando a pergunta retórica de Najdorf: "Se
Fischer está renunciando ao seu titulo, por que
a final dos Candidatos não está sendo mantida
sob o regulamento do VJatch do Campeonato
Mundial?"
Match fina l de Candidatos em 1974: o árbitro
principal O ' Kelly entre Kortchnoi e Karpov
O match Karpov-Kortchnoi (outono de 1974,
em Moscou) que se tornou de fato uma disputa
pelo Campeonato Mundial, obedeceu à regra de
5 vitórias para um dos participantes, mas com o
limite de 24 partidas, plenamente comparável ao
regulamento dos matches anteriores para a
conquista da coroa. Quais eram as previsões
ante11ores ao match?
"D urante a Olimpíada de N ice, Timman fez
notar que Kortchnoi, como antes, entrava em
apuro de tempo. Karpov; ao contrário, atuava
com facilidade, com boa reserva de tempo, o
que, na opinião de Jan, lhe conferia vantagem
no 111atch. Andersson e Portisch consideravam as
chances dos dois jogadores quase iguais.
Najdorf dava preferência a Karpov; ao passo
que Hort, apontando a boa forma de Karpov,
ao mesmo tempo sugeria que Kortchnoi em

Nice estava poupando as forças, de modo que
se podia prever que o 111atcb final poderia se
tornar uma guerra de nervos. Os Grandes
Mestres soviéticos se mantinham cautelosos em
suas previsões. Polugaevsky observava que
Karpov tinha a vantagem da idade,
compatibilidade de resultados e progresso firme
e constante - ''Ele mostrava muito mais força
contra Spassky do que contra mim". Taimanov
dizia que Kortchnoi costumava "se expor"
demasiadamente e mencionava também a
estabilidade e força crescente de Karpov: "Em
minha opinião, mais cedo ou mais tarde ele se
tornará o Campeão Mundial". Até certo ponto,
este prognóstico correspondia à opinião de
Larsen, ao afirmar que, oo estilo de xadrez, ele
se inclinava mais para Kortchooi, mas a voz da
razão sugeria Karpov" (Roshal).
Pouco antes do match, a equip e de treinadores
de Karpov recebeu um poderoso incentivo:
Furman e Razuvaev receberam o reforço de
Efim Geller, enxadrista de conhecimentos
enciclopédicos e brilhante estilo de ataque.
Segundo Razuvaev, aí pelo final do match, Geller
demonstrou a Furman seu descontentamento
com o jogo de Karpov, repetindo irritado:
"Tof)'a tem que aprender de novo a jogar com
mais agressividade". Furman ouviu tudo o que
o colega tinha a dizer, fumando seu cigarro
longamente em silêncio e depois disse: "Sabe de
uma coisa, Fima? Se você não gosta, procure
outro para ensinar do modo como acha que ele
deva jogar. Eu, de minha parte, estou satisfeito
com tudo o que Tofya faz e gosto da maneira
como ele joga''. Foi uma cena breve e
elogüente. Sabe~se que Furman tratava Karpov
com carinho paternal.
Entretanto, no início do match, Geller não
tinha mesmo razão para criticar. Depois de um
empate disputado na primeira partida, Karpov
obteve uma brilhante vitória combinatória na
2ª, usando uma das profundas preparações de
Efim Petrovitch Geller.
Anatoly, o Décimo-Segundo
Partida 67
A. Karpov - V. Kortchnoi
Final do Match de Candidatos, r partida
Moscot11974
Defasa Siciliana - B78
l.e4 c5 2.lZlf3 d6 3.d4 cxd4 4.l2ixd4 0 f6
5.lZlc3 g6 6..1l.e3 .1l.g7 7.0 0 c6 8.it'd2 0-0
9.~c4 (9.g4 - partida 85) 9 ... il.d7
(9 ...lZlxd4?! - volun,e 4, partida 5Z) 10.h4
A moda daqueles anos - uma variante muito
aguda com o avanço do peão h. Hoje em dia
está em voga o flexível l 0.0-0-0 â c8 1 l..~b3
0e5 12.Wbl e se 12 ...0c4, então l3.~xc4
âxc4 14.g4!, evitando ...h7-h5.
10...âc8 ll.¾i.b3 lZleS 12.0--0--0 li:)c4
Essa partida naturalmente não "mata o
Dragão", mas força as pretas a trabalharem cm
um novo método de defesa. Mais tarde a prática
mostrou que as melhores chances de restringir
o ataque e criar contrajogo são dadas pelo lance
radical 12 ... b5 !, introduzido na pratica
magistral por Miles e Sosonko. Para mais
detalhes, veja o vo/11me 1 da série Xadrez Moderno.
13.il.xc4 ã xc4 14.hS 0 xhS 1S.g4 lilf6
Uma das mais conhecidas tab!Jas da Dragão.
16.0de2!?
O prelúdio de uma novidade interessante. A
ameaça é 17.eS! e 18.gS, mas o comentário
seguinte de Karpov mostra que mesmo na
análise de posições agudas ele se empenha em
287
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
contar com raciocínio de natureza geral:
"Uma tentativa de apoiar esse lance com
variantes foi feita por E.Chumak, um jogador
de Dnepropetrovsk que publicou um artigo
sobre esse tópico em 1972. O embasamento
lógico para a retirada do cavalo do centro é
aproximadamente o seguinte. O ponto c3 é
muito importante na disposição das peças
brancas, contra o qual as pretas concentram as
suas ameaças. Aqui ocorre frequentemente um
típico sacrifício de qualjdade (llxc3), quando o
adversário conquista um forte ataque (é digno
de nota que após dobrarem os peões brancos na
coluna e a posição das pretas é tão rica em
possibilidades que inclusive sem um ataque,
mesmo no final da partida, elas podem manter
o equilibrio - isso foi demonstrado em suas
partidas de forma esplêndida pelo excepcional
Grande Mestre Leooid Stein). Assim, a idéia
principal de 16.liJde2 é a de apoiar o ponto c3.
Além disso, a partir de e2 o cavalo pode mudar
para um ataque direto ao rei inimigo."
Ao lado do lance profilático da partida, as
brancas têm uma ampla escolha de planos de
ataque. Aqui estão umas poucas ilustrações,
dispostas mais ou menos em ordem
cronológica:
1) 16.e5 ~xg4 (ou 16 ... dxe5 17.li:lb3 ãc6!
l8.~h2 :ãxc3! 19.bxc3 'i.Wc8! com contrajogo)
17.fxg4 ~xg4 18.ã dgl dxe5 19.lâxg4 h5!
20.l:!xhS E!:xd4! 2l..!k.xd4 exd4 22.~e4 (ou
22.t2ld5) 22 ... gxh5 23.gxg7+ ~xg7
24.~gS+ <;!?b7 25.~xb5+ ~g7 ½-½
(Chumak-Okhotnik, Dnee;gpetrovsk 1970);
2) 16.1i.116 li:lxe4 17.l!fe3 .ãxc3 18.bxc3
li:lf6 19.Ji.xg7 ,;J;;;xg7 20.lâh2 (ou 20.ãh4 ãg8
Tseshkovsky-Miles, Wijk aan Zee 1989)
20 ... .ãh8 (também tem sido jogado 20...'i!fc7,
mas não 20.. ."ilfaS?! 2 1.0 b3 i!Yxa2 22.l!Vxe7
1Wa3+ 23.$>bl lâe8 24.li'xd6 li'xd6 25Jãxd6
com vantagem para as brancas, como na partida
de referência Geller-Kortchnoi, 4ª partida do
match, Moscou 1971) 21.<tlb3 ~c6 22.g5 lub5
23.f4 ãe8 24.f5 ~b6 25.lud4 iVc5!
288
(Kasparov-Piket, Tilburg 1989);
3) 16.lud5 e6 17.~xf6+ ~xf6 18.'ifh2
ãfc8 19.'i!fxh7+ ~f8 20.c3?! b5! 21.2i.h6
~xh6+ 22.lifxh6+ ~e7 23.°i!fd2 b4, tomando
a iniciativa (Geller-Ivkov, Amsterdã 1974), ou
20.@bl e5 com jogo agudo (Kupreichik-
Khalifman, 54° Campeonato da URSS, Ivfinsk
1987);
4) 16.~b3 !!e8! 17.eS (17.1i.116 ~h8
18.~ g5 'ifc8, como Khalifman jogou em 1991
contra Nuno e Shorr) 17 .. . ~xg4 18.fxg4
~xg4 19.~dg l dxe5 20.~ (após 20.'ti'xd8
!ixd8 21.~a5(d2) :ãxc3! 22.bxc3 h5 a armada
de peões pretos é muito forte) 20 ... hS com
chances para ambos os lados;
5) 16.'~b l (a moda dos anos 1990)
16 ... lifc7?! (também não é suficiente
16...~xg4?! 17.fxg4 li:lxg4 18.life2 Anand-
Topalov, Hilversum 1993) 17.g5 0 h5 18.0d5
'ifd8 19.b3 gc8 20.0e2 e6 21.li:ldf4 li:lxf4
22.0xf4 lifc7 23.tfh2 h5 24.gxh6 ~e5
25.h7+ Wh8 26.~d4 e as brancas têm um
ataque perigoso (Anand-Khalifman, partida
rápida, Moscou 1995), mas é melhor 16.. .ãe8.
De uma forma geral, a prática demonstrou
que as pretas têm recursos defensivos
adequados em todas essas variantes.
16...ll.fa5
A julgar pela velocidade com a qual os dois
jogadores fizeram seus lances (realçando desse
modo a profundidade de suas preparações
caseiras), essa saída da dama era parte de um
plano defensivo agressivo pensado de antemão,
envolvendo, como mostrado na partida, um
cerro risco. Kortchnoi está pronto para trocar o
seu bispo em g7 com o objetivo de intensificar
de forma rápida seu ataque potencial.
Agora, resumindo os resultados das análises,
pode-se concluir que as pretas estavam erradas
em não jogar 16 .. .lãe8!, permitindo-lhes evitar
a troca do bispo em g7, que solifica as defesas
do seu rei. Após o agudo prelúdio 17 .~6 ~h8
18.e5 li:lxg4! l 9.fxg4, a parúda pode
prosseguir de duas maneiras:

1) 19 ... ~xg4 20.exd6 'f/!fxd6 21.~xd6 exd6
22.ãxd6 (Beliavsky-Filguth, Caracas 1976) e
apesar da vantagem material das brancas a
posição é indefinida após 22 . ...ie5 23.âd3 f6;
2) 19...~xe5 20.~f4 'Wa5 (também várias
vezes se demonstrou ser bom 20 ... fi.g7!?)
21.fi.xeS !fxe5 - essa posição ocorreu em
dezenas de partidas e as pretas puderam se
satisfazer com os resultados.
17.~ h6! ll.xh6
Naquela época, o Grande Mestre Simagin
mostrou com sucesso que, com o objetivo de
manter o bispo de g7, as pretas podem fazer um
excelente sacrifício de qualidade - 17 ... fi.h8
18.~xf8 ©xf8 e isso se tornou um
procedimento típico para a criação de contra-
jogo em tais posições. Mas agui isso é ineficaz,
uma vez que não há alvos que possam ser
at.acados na posição das brancas. Botv:innik
julgou ser essa posição teoricamente vencedora,
mas posso acrescentar no entanto que as pretas
mantêm possibilidades de continuar a luta.
18.'i!fxh6 !!fc8
19.!!dJ
''.Até esse momento, ambos os jogadores
fizeram os lances quase que de imediato, mas
aqui Kortchnoi pensou longamente. E, de fato,
ele tinha algo em que pensar... A novidade
19.fül3!, superprotegendo o ponto c3, em
numerosas variantes libera simultaneamente o
cavalo de e2 para o ataque." (Karpov)
No início do ,11atch Kortchnoi utilizou uma
Anatoly, o Décimo-Segundo
estratégia de risco, baseada na utilização de uma
abertura rara em seu repertório. Foi
aparentemente assim como ele imaginou a idéia
de jogar a "Dragão", que àquela época tinha a
reputação de ser uma variante complicada, com
numerosas posições sem uma avaliação
definida. Durante os três anos anteriores, ele a
havia utilizado em somente três partidas, mas
que partidas! Duas vezes em seu ,natch de
Candidatos com Geller (1971) e um mês antes
na s• partida em seu matcb de treinamento
com... Karpov.
Então, o surgimento da "Dragão" era
previsível, e a poderosa equipe de Karpov havia
preparado bem o seu protigé, inclusive
desenvolvendo um novo plano para as brancas.
Por todas as aparências, a preparação de
Kortchnoi para o duelo com o seu jovem
adversário não havia sido tão completa e
profunda.
Enquanto isso, análises mostram que 19.g dS,
que antes da partida era considerado o lance
principal, não é menos eficaz do que a novidade
de Karpov, da qual as virtudes principais são a
surpresa e o realce da solidez da proteção do rei
branco.
Diagrama de Análise
Botvinnik escreve que as pretas tinham uma
opção entre um final ligeiramente inferior após
l 9 ...l!fd8 e as complicações que seguiriam a
19.. J?4c5?, "as quais, aparentemente, eram
aquelas que Kortchnoi tinha em mente."
Entretanto, após o óbvio 20.g5 li)b5 2l.li)f4
289
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
não há "complicações". Mas 19...1!8c5 pode
ser considerado: 20.g5 lêJh5 21.EixcS ãxc5! (é
núm para as pretas 2l...'i/fxc5? 22.éz::idS ãxc2+
23 .$>dl !) 22.lêJf4 ãxg5 23.éz::icdS ãxd5
24.lêJxdS ~d8 - e não é fácil abrir uma brecha
na posição das pretas.
Só resta estudar com mais cuidado 19...!i'dS.
Chumak e, mais tarde, Botvinnik, consideraram
somente 20.gS lêJh5 21.lêJf4 !i'f8 22.l!fxf8+
~xf8 23.éz::ixhS gxh5 24J~xh5 cJilg7 com um
final algo mellior para as brancas.
O enérgico 20.eS dxe5 21 .:Sd2 é mais
perigoso (inclusive para as brancas!). Karpov
somente olhou para 21.g5 lêJb5 22.lêJg3 °i!'f8
23.ãxh5 gxh5 24.ãxd7 ifxh6 25.gxh6 com a
avaliação "o peão passado dá às pretas boas
contrachances". Isso é verdade, uma vez que o
peão h se torna subitamente terrivelmente
forte: 25 ... h4! 26.lêJfS ~f8 27.ã xe7 h3
28.ãxe5 ã 8c5 29.ã xcS :Sxc5 30.lêJg3 h2 e
agora é a posição das brancas que dá alguns
motivos para alarme.
Após 2 I .ãd2 é ruim jogar 21 .. .li'e8? devido
a 22.lêJdS!, mas 21...l!ff8 22.'i/fxf8+ ã xf8
23.g5 ~c6 24.gxf6 exf6 conduz a um final
complicado. É até mais promissor 21...V!fc7!
22.lêJd5 ã xc2+ 23.Wbl ã xd2 24.8xc7 ã xe2
25.lêJdS Se8, como jogado em uma partida por
correspondência. A excelente compensação das
pretas pela dama perrnite-llies pensar em mais
do que um empate. Dessa forma, 20.g5
definitivamente é mais forte do que 20.e5, mas
a escolha das pretas entre 19 ... !i'd8 e
19 ... ã8c5 não é tão óbvia.
19...1!4c5?
O primeiro lance independente - e de
imediato um erro decisivo. Após pensar por
mais de uma hora e meia em uma situação
desconhecida e indubitavelmente critica, dentre
quatro possibilidades Kortchnoi escollieu a
única que conduz rápida e forçosamente... à
derrota!
Karpov concorda com Botvinnik, que a
melhor chance prática seria l 9 ...°iWd8. ''.As
290
pretas nada pior têm a temer do que um final
levemente inferior." (Botvinnik). Ele
obviamente tinha em mente 20.g5 lêJh5
2I.lêJf4 'iff8 22.lêJxhS 'ii'xh6 23.gxh6 gxh5. A
discussão sobre as virtudes desse final deixaram
de ser tópicas após a publicação de uma nova
idéia de Shamkovich - 20.lêJd5! ãxc2+ (alguns
consideraram que fosse salvador 20 ... e6
21 .8xf6+ l.Wxf6 22.~xh7+ Wf8, embora após
23.c3 a 1ruc1at1va das brancas seja
inquestionável) 21.Wbl e6 22.lêJdc3!. As
pretas perdem a qualidade, conquistando em
troca dois peões - o que seria perfeitamente
suficiente, exceto pelo fato da iniciativa
permanecer com as brancas.
Vamos examinar as conseqüências de
19...g8c5, o que foi considerado por Karpov e
seus treinadores antes do match como sendo o
melhor.
Diagrama de Análise
De fato, após 20.g5 l2:ih5 (mas não 20...ãxg5
21.ãd5!) as variantes 2I.éz::if4 ãxc3 22.ã xc3
ãxg5 23.8d5 ~xd5 24.exd5 !fxd5 e 21.lêJg3
ã xc3 22.ã xc3 ã xg5 (as coisas são mais
simples para as brancas após 22 ... :Sxc3
23.lêJxhS! gxh5 24.l!ixhS Wf8 25.'t!Yh6+ We8
26.'t!fxh7 tixg5+ 27.Wbl eS 28.bxc3) 23.lêJfS
ã xf5 24.exf5 V!fxf5 (24 ... Ji.xf5?? 25.ã xh5
gxh5 26.!i'gS+ Wf8 27.ik8+) conduz a
posições similares com um equilibrio de forças
incomum, tornando difícil uma avaliação
categórica. Embora, é claro, seja mellior jogar

com as brancas.
N em Karpov, nem mesmo Botvimúk
mencionaram 19 ....âe6!?, uma forma muito
natural de defesa: 2O.g5 CzJh5 2l.CzJg3 \!He5 !
22.li::ixh5 gxh5 23.WxhS l!rg7!. Aqui é auto -
sugestivo 24.f4, mas 24 ... d5! 25.!Didl! iff8!
26.exd5 .i.f5 promete conttajogo para as pretas
(por exemplo, 27.lãd4 ~xc3! 28.bxc3 :!ãxc3
29.1Ild2 'i!fc8 3O.'fi'e2 'ifc5).
20.gS!
"Após pensar por 18 minutos em buc;ca de
uma refutação para 19 ... â 4c5, encontrei uma
bela combinação forçada." (Karpov)
20...I!xgS
Também perde 2O ... 8h5 em vista de
21.li::if4! "ã.xc3 (21.. .!!xg5 22."ã.d5! "ã.xd5
23.8cxd5 l!fc5 24.8xe7+ éb8 25.8xc8)
22.lãxc3 ãxc3 23.8xh5! gxh5 24.'iVxh5 éf8
25.l!fh6+ 'i&e8 26.'i!!Yxh7 ~e6 27 .!fb8+ Wd7
28.\!Jxc3.
21.l!dS! llxdS 22.lDxdS l!e8 23.8ef4 .âc6
"D e outra forma, Cz)xf6+ e 8d5 com mate.
Se 23 ...~e6 eu tinha preparado 24.8xe6 fxe6
25.8xf6+ exf6 26.i!fr'xh7+ ~f8 27.~xb7
'fWg5+ 28.$'bl "ã.e7 29.l!t'b8+ !te8 3O.Wxa7
(mas não 3O.IDt8+?? r:Ji;g7 e devido à ameaça
de .. .l!Kgl mate são as pretas que vencem)
3O.. Jâe7 31.'&b8+ "ã.e8 32.Wxd6+. Um úpo
raro e distinto do 'moinho de vento'!"
(Karpov). É verdade, seria mru.s simples
28.'~dl !
24.eS!
Cortando o caminho da dama preta para a ala
Anatoly, o Décimo-Segundo
do rei. "O mecanismo de ataque demonstrado
por Karpov, com o golpe principal desferido na
S2 fileira, ocorre aqui pela primeira vez e cria
uma impressão altamente artística." (Petrosian).
As brancas falham em vencer através de
24.0xf6+ exf6 25.8h5 \!Hg5+ ! 26.l!fxg5
fxg5 27.lz::if6+ Wg7 28.8xe8+ .âxe8 (Karpov)
29.:!âd l f5 3O.ã xd6 ~c6.
24.. ,j.xdS 25.e><f6 exf6 26.ifxh7+ (é claro,
não 26.8 h5?? ã el+) 26 .. .<itf8 27.'i!YhS+ 1-0
As pretas abandonaram em vista de 27...~e7
28.8 xd5+ ~xd5 29.ãel +.
Após três empates, Karpov venceu também a
6ª partida e desta vez, ao l .e4 Kortchnoi
respondeu com o para ele exótico l...e5 2.lz::if3
8 f6 e rapidamente terminou com uma posição
difícil. Depois, finalmeme, ele mudou para a
bem testada D efesa Francesa e não perdeu com
as pretas novamente, demostrando uma notável
força de vontade e firmeza. A começar pela 7ª
partida, seguiu-se uma série de nove empates
sucessivos. Na 13ª partida, a mais agitada e
duramente disputada, Karpov jogou de forma
imprudente por uma vitória no apuro de tempo
e esteve próximo de pagar caro por isso. Após
desperdiçar uma vitória no 34º lance, quando o
jogo foi reiniciado Kortchnoi pacientemente
procurou aproveitar a vantagem restante com
um perigoso peão passado a, roas Karpov, com
uma defesa extraordinária, alcançou o empate
no 97° lance.
Na abertura da 17ª partida (Catalã),
Kortchnoi conquistou uma vantagem óbvia,
mas demorou um pouco na busca de caminhos
para fortalecer a posição e terminou em grave
apuro de tempo. No 30º lance, cometeu um
equívoco ridículo, perdeu material e foi
obrigado a desistir imediatamente após o
controle do tempo. A contagem se tornou 3-0 a
favor de Karpov ou 10-7 pelo regulamento
antigo.
E Karpov decidiu que as coisas já estavam
resolvidas: "Depois disto, o match deveria
terminar por volta da 202 parúda.. Por que isto
291
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

não aconteceu? Foi devido ao pensamento

'insidioso': o match já está decidido, então não é
necessário nenhum esforço adicional. Tudo o
gue eu tenho que fazer é me apresentar e assinar
as planilhas das últimas partidas...". Anos
depois, ele admitiu: "Decidi que já era a hora de
pensar em Fischer, gue para a batalha com ele
tinha que poupar não só as forças, mas também
as idéias. A confiança se transformou em
segurança: eu já me sentia como se fosse o
vencedor".

Na 21ª partida, pela primeira vez na vida me

vi envolvido na maravilhosa atmosfera de um
match
Pela primeira vez na vida úve a experiência da
admirável atmosfera do match, no silêncio
reverente da sala, apenas interrompido pelo
sussurro de admiração ou decepção e do
falatório da sala de imprensa, para onde Nikitin
me levou para que eu "pudesse observar os
Após 18 partidas, a contagem era de 3-0 a
favor de Karpov (com 15 empates) pensamentos dos gigantes". Depois, ele me
levou de volta para o auditório e me dei,.,_ou. Ao
O resultado deste relaxamento prematuro admirar o enorme tabuleiro mural, fiquei
foram duas derrotas - na l 9' e na 20ª partidas, estupefato.
agravando sensivelmente a situação do match.
.Antes disso, Karpov nunca tinha sofrido mais
de duas derrotas em uma competição - o que
aconteceria agora?
Pre-eisamente durante esses dias eu estava de
passagem por Moscou, de volta para casa
depois de uma sessão da Escola Botvinnik.
Lembro-me como Mikhail Moiseevich
comentava as partidas do match no Palácio dos
Cientistas de Dubno. Antes ainda, na sessão de
fevereiro, ele tinha feito a cobertura do match
Karpov-Polugaevsky do mesmo modo e rodos
estes comentários serviram de base para o livro
que escreveu, com o título "Anato!, Karpov - Seu Com o auxílio de uma longa vareta, o
Cal!linho para o Cat!peonato Mundial'. Tive en tão demonstrador tinha acabado de reproduzir o
a grande felicidade de assistir ao vivo a 21 ª lance de Karpov, 12 ...!!b8? no tabuleiro. Corno
partida, levado pelo meu treinador Aleksander assim? Não consigo entender: as brancas têm o
Nikitin. golpe da vitória 13.lZ:ixh7!. Enquanto

292

Kortchnoi pensava na resposta, Nikitin chegou
e falei baixinho para ele: "Cavalo roma h7!". Ele
só respondeu: "É-é". Obviamente outros
também notaram esse lance: a platéia ficou
alvoroçada_
De fato, após 13.<~}xb7! !!e8 (infelizmente,
13 ...Wxh7 14.~h6+@g8 15.\!fxg6+ leva a um
xeque-mate inevitável) 14.'iii'h6 {:\eS 15.lz::lgS
Ji.xg516..1L.xg5 ~xg5 17.l!fxg5.1L,xd5 18.0-0
.1L.xc4 19.f4, as pretas abandonaram. Foi uma
pena que a partida tivesse terminado tão
depressa sem uma luta para valer... Mesmo
assim, este foi meu primeiro encontro com o
xadrez de alto nível, que deixou em mim, um
menino de 11 anos, uma recordação
inesquecível.
No hall, Tal e o meu treinador Aleksander
Nlkitln, que me levou àquela partida
Desnecessário dizer como os encarregados
soviéticos, que tinham depositado as esperanças
em Karpov, deviam estar ansiosos quando a três
partidas do final a contagem se tornou 3-2.
Uma testemunha ocular afirma que logo depois
da catastrófica 21 • partida, Bamrinsky, o chefe
da seção de xadrez da Comissão de Desportos
da URSS, se dirigiu a Anatoly e sugeriu que
discutisse urgentemente a situação no caso de
empate do match. Karpov respondeu firme:
"Estou na liderança e não pretendo empatar o
tnatchl". Devo recordar ao leitor que, de acordo
com o regulamento, no caso de um match
empatado, a decisão seria por sorteio. E como
já se mencionou no volu,ne 2, os membros da
Comissão de Desportos tentaram convencer
Anatoly, o Décimo-Segundo
em Moscou o Presidente da FIDE, Max Euwe,
a mudar o regulamento... Para sorte do xadrez,
Euwe se manteve firme.
Karpov também se manteve firme e,
conseguiu três empates, embora não tivesse
sido fácil suportar uma derrota tão brutal e
absurda. Parece gue antes, após a 5ª partida, na
qual havia ocorrido a mesma variante na
abertura, Petrosiao lhe aconselhou a não jogar
de novo essa linha, mas Anatoly esgueceu esse
conselho... "Deve-se dar o valor devido a
Petrosian: o seu senso de perigo era
fenomenal".
A 23ª partida, a última de Karpov com as
pretas, apresentou uma dificuldade particular:
como conseguir o empate? Quem lhe deu um
bom conselho aqui foi Botvinnik, lembrando a
variante da Defesa Índia da Dama da 21 •
partida do match-revanche Euwe-Alekhine
(1937). "Se Alekhioe jogou isso, significa que
não pode ser mau", disse Botvinnik. E
realmente, Karpov confiamememe conquistou
o empate.
No final do match Kortchnoi venceu duas par-
tidas, ameaçando a condição de desafiante de
Fischer de Karpov
E a partida final, a 24•, lembrou a 30ª e última
partida do ,natch Alekhine-Euwe (em 1935). Em
uma posição difícil, com um peão a menos,
Kortchnoi, a exemplo de Alekhine, percebendo
que não tinha nenhuma chance de sucesso,
propôs o empate e Karpov o aceitou de
imediato, uma vez que ist0 lhe dava a vitória no
matclr. 3-2 com 19 empates ou 12,5-11,5, pela
293
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
contagem antiga.
O vencedor declarou: ''Acho que eu deveria
vencer este match com uma margem maior, mas
como bem sei, em um dado ponto me descuidei
e joguei pior do que podia". E o perdedor,
apesar de urna entrevista provocadora e que
teve tristes conseqüências para ele (conforme
página 77), admitiu: " Eu me sentia
extremamente cansado, o que não me permitiu
dar um verdadeiro combate ao meu adversário
nas três úJtimas partidas".
Alguns meses mais tarde se tomou claro que
este efetivamente tinha sido um match pelo
Campeonato Mundial. Mas o paradoxo do ciclo
de 1974 foi o de que, no sentido criativo, a
função de um match para o Campeonato
Mundial foi desempenhada pela disputa
semifinal entre Karpov e Spassky, com enorme
influência no desenvolvimento posterior do
xadrez. É por esta razão que procurei fazer um
comentário quase completo sobre esse 1natch,
limitando-me a comentar apenas uma partida (a
mais animada) do match final, embora, como
disse Petrosian "uma partida assim pode servir
de reabilitação de um match inteiro". Mas, na
verdade, o ponto mais esplêndido da disputa
Karpov-Kortchnoi foi o match em Baguio,
quatro anos mais tarde...
Spassky: "Este foi o ciclo de Anatoly Karpov
- todos os seus ,natches, contra Polugaevsky,
contra mim e contra Kortchnoi ele venceu bem.
Em dado momento, ele se tornou de forma
objetiva, sem dúvida, o jogador mais for te. No
tempo de d uração, o match final de Candidatos
foi equivalente aos ,natches anteriores pelo
Campeonato Mundial. Karpov enfrentou a luta,
por assim dizer, no plano técnico, sem revelar
plenamente seu poder criativo. Usou com
firmeza um plano estratégico gue, a meu ver,
era o plano certo. É preciso ter em mente que
Karpov foi o primeiro a suportar o acréscimo
de esforço do novo regulamento para a seleção
do desafiante".
Tal: ''No ciclo dos matches de Candidatos, o
futuro vencedor atuou como que <lesem-
294
penhando três papéis: com Polugaevsky, apesar
de ser muito jovem, ele se revelou um psicólogo
maduro, capaz de explorar sutilmente as
fraquezas humanas no caráter do adversário;
com Spassky, ele aruou como um jogador
verdadeiramente inspirado, terrível no ataque e
tenaz na defesa; com Kortchnoi, jogou não
como um menino, mas como um homem feito,
apto a enfrentar uma disputa sem paralelo na
sua iotensídade competitiva. Karpov progride
todo o tempo, estando ainda longe da perfeição.
Não tenho a menor dúvida de que na hora de
enfrentar Fischer, ele estará ainda mais forte".
Botvinnik, em abril de 1975: "Na final, a luta
foi diferente do t11atch com Spassky. Desta vez,
Karpov foi mais prudente no jogo, evitando o
risco a todo custo. Ele já tinha dado mostra de
sua força, tinha que vencer o match, e pronto!"
Ao dar este parecer, Botvinnik apontou os três
pontos vulneráveis que o jovem de 23 anos
ainda tinha que trabalhar: a condição física
inadequada, a sensibilidade aos elogios (teria
sido devido a isso que depois da terceira vitória
ele "tinha perdido o senso de perigo e o
respeito pelo adversário, de forma que a
característica mais poderosa de sua força
competitiva desapareceu'') e o arsenal de
aberturas relativamente modesto. .Mas
Botvinnik conclui seu diagnóstico dizendo:
''.A.natoly Karpov é sem dúvida o jogador mais
forte de nossos dias".
Euwe: "O match final de Candidatos foi uma
batalha difícil e exaustiva que se distinguiu
como um duelo psicológico entre dois
competidores bastante diferentes". No
encerramento do 111atch, perguntaram a Euwe o
que aconteceria se Fischer não aceitasse o
desafio do adversário até o vencimento da data
limite. Euwe respondeu: "Se até 1° de abril de
1975 Fischer não me comunicar que aceita o
desafio, irei a Moscou para proclamar Karpov
como o 12° Campeão Mundial".
Havia ainda alguma probabilidade da disputa
com Fischer e a Comissão de Desportos da
URSS envidou todos os esforços para garantir o

bom preparo de Karpov. No início de 1975,
foram realizados vários treinamentos com a
participação dos melhores especialistas do país.
São de grande interesse as memórias de uma
testemunha ocular desses acontecimentos, Yuri
Razuvaev, publicadas aqui pela primeira vez:
"Um ano ames do match com Polugaevsky,
Anatoly se mostrava indolente: ele preferia
mexer com selos, jogar baralho e bilhar, ou
matar o tempo jogando relâmpago (nisso era
terrivelmente forte e podia esmagar qualquer
um, até mesmo Tal). Pelo visto, ainda não estava
acostumado ao ciclo. Ele era um talento
verdadeiramente natural: na infância tinha
estudado as partidas de Capablanca para
começar a jogar. Era wn jogador puramente
prático, um competidor! Então, é claro, Furman
o ajudou muito... Mas quando começou a
trabalhar, Anatoly o fez muito bem: participava
ativamente nas análises e fazia muitas
descobertas. Além disto, era sempre importante
que alguém 'jogasse' contra ele. Uma vez a cada
hora ou hora e meia, ele mudava a cor para
'jogar' a mesma posição com brancas ou pretas:
assim parecia treinar suas aptidões. Era
indispensável para ele encontrar uma resistência
constante para depois virar e descobrir o 'fio da
meada'. Eu me admirava com sua avidez: ele
podia 'usar' todas as posições características
com a mesma facilidade com ambas as cores.
Pelo visto, era neste ponto que se manifestava
sua extraordinária percepção de posições. Já vi
muitos Campeões Mundiais, mas este era fora
do comum.
Naturalmente, a influência de Geller não
pode ser negada, mas Tal foi outro enxadrista
que o influenciou muito. Por algum motivo
costuma-se dizer de Tal apenas que 'ele
calculava as variantes como um computador', e
pouco se menciona a compreensão que ele
tinha do xadrez, sua capacidade de avaliar de
forma instantânea uma posição. Esta qualidade
é uma coisa que não vi em nenhum outro
jogador. Naturalmente, Geller era um jogador
fantástico, mas Tal tinha um percepção mais
Anatoly, o Décimo-Segundo
suál das posições e tinha um esálo de xadrez
moderno, ultra-dinâmico. Graças à sua aptidão
para avaliações, ele podia captar rapidamente o
cerne do problema, para decidir a direção do
trabalho em qualquer posição complicada.
Neste sentido, ele era inigualável. De fato, nas
suas pesquisas, Tal era um pouco indolente e
comumente propunha: 'Seàa melhor jogar esta
posição em uma partida relâmpago'.
Em uma sessão de treinamento realizada no
hospital de Melnitcl?J J{ptchei nos arredores de
Leningrado, estávamos em três: Tal, Karpov e
eu. Quando se sentaram para 'jogar uma
posição' numa relâmpago, Tal começou
Jiteralmente a jorrar idéias. E eu, admirado, me
pus a anotar tudo em um grosso caderno de
notas...
Como foi feita a preparação para a batalha
com Fischer? Primeiro, como se previa um
match demorado, Karpov precisava ter uma
grande variedade de aberturas: afinal, em uma
distância assiro, mais cedo ou mais tarde se
mostraria a oportwúdade de 'abrir o caminho'.
Por isto, contra l.e4 preparamos, ao lado de
1...e5 e L.c6, a Defesa Siciliana - a Variante
Paulsen e a Scheveningen. Naquela época, na
Caro-Kan Anatoly preferia 4 ....áf5, que tinha
sido testada com sucesso no match com Spassky.
Eu então sugeri 'meu' lance 4 .. .'~Jd7, mas To!Ja
respondeu ceticamente: 'Bem, só em último
caso'. É interessante que anos depois esta
variante se tornou a arma principal de Karpov
com as pretas! Em segundo lugar, tínhamos a
mesma opinião de Geller, a de que Fischer se
arriscava muito na abertura, usando variantes
difíceis e, às vezes, até duvidosas do ponto de
vista estratégico. Por isto, por estranho que
pareça, a abertura era o seu ponto mais fraco e
vulnerável. Não sem razão Lasker afirmou: 'No
xadrez as pretas precisam primeiro se defender,
pois de outra forma a partida se transforma em
uma farsa'. Como nas variantes duplamente
agudas o papel de qualquer preparação aumenta
de forma demasiada, aqui se pode decidir o
destino de uma partida com um único lance. E
295
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
assim tentamos criar o maior número desse tipo
de preparações, como minas submarinas,
especialmente para as brancas.
Assim, contra a Variante Najdorf na Defesa
Siciliana, foi feito um estudo aprofundado da
variante com 6.~g5, tanto antes do match com
Polugaevsky como posteriormente, quando
Geller e Tal deram uma valiosa contribuição.
Contra a D efesa Aleklúne, que Fischer jogou no
111atcb com Spassky, Anatoly já estava 'armado
até os dentes'. Quando no final do torneio
Interzonal, Kortchnoi tinha proposto a ele a
aceitação reciproca de dois empates, e.le se
indignou e recusou terminantemente dizendo:
'Sem chances. Meu adversário Torre usa a
Defesa Alekhine e este é um ponto certo!'...
Além disso, antes do matcb com Spassky
convenci Anatoly a 'servir dos dois lados' e o
efeito foi excelente. Afinal, em Reykjavik,
Fischer também tinha tido êxito com muitas
aberturas (embora aqui eu concorde com
Bondarevsky - por medo!). Por que não agir do
mesmo modo contra o próprio Fischer?
Lembro-me de que Furman se queixou comigo
dizendo: 'AJgum capivara propôs a Tob•a jogar
l.e4 e agora nós dois estamos sofrendo!'.
Furman e eu jogávamos l .d4 e este lance
correspondia plenamente ao estilo de Karpov.
Em suma, continuamos trabalhando com l .d4.
De Fischer podia-se esperar principalmente a
D efesa Índia Antiga, a Grünfeld, e a Benoni
Moderna: preparações bastante completas
foram realizadas para estas aberturas e até
foram disputadas algumas partidas de treino.
Quando se tornou claro que Fischer não ia
jogar, Furman sacudiu os ombros e disse:
'Todas as aberturas que ele tem para as pretas
não são boas e ele decidiu cair fora'. D e fato,
logo foi posta em dúvida uma grande parte do
repertório de Fischer. Foi pena que isto não
aconteceu em uma disputa. direta, que poderia
dar um impulso gigantesco no progresso da
teoria de aberturas. Achávamos que em tais
matches deveríamos tentar romper as defesas do
adversário nas principais variantes, protegendo
296
as continuações mais fundamentais. Aliás, esta
linha foj a que prevaleceu nos matches seguintes
pelo Campeonato Mundfal e que Karpov
também adotou.
O árduo trabalho ajudou Karpov e daí por
diante ele começou a vencer todos os torneios!
Como dizem, o projétil errou o alvo. Mas para
o desenvolvimento enxadrístico de Karpov, foi
ruim ele não disputar o 111atch com Fischer. A
infelicidade deste grande jogador foi ter
imaginado rapidamente que, para derrotar os
demais jogadores, ele não precisava de mais
nada - e praticamente parou de trabalhar. Em
Baguio se valeu largamente de seus antigos
conhecimentos. Como resultado disso, após
perder seus melhores anos, Karpov não
realizou completamente o seu potencial criativo.
Fischer realizou completamente, mas Karpov
não".
Efim Geller e Igor Zaitsev com generosidade
dividiam com Anatoly Karpov as suas
descobertas de aberturas
Bondarevsky não pôde tomar parte nestes
treinos, mas ele e Polugaevsky apresentaram a
Karpov por escrito descrições detalhadas sobre
o campeão americano e estas anotações
interessantes foram publicadas recentemente
no livro Russos versus Fischer. As reminiscências
de Igor Zaitsev, publicadas aqui também pela
primeira vez, são interessantes:
"Bem no início de abril de 1975, fui
subitamente convidado (com quase toda certeza
a pedido de Tigran Petrosian) a participar de
uma sessão de treinamento em Novogorsk com
Anatoly Karpov, para assessorá-lo em algumas

questões teóricas. Ali, imaginei, as preparações
para o match com Fischer deveriam estar
fervendo. Mas quando lá cheguei, era muito
mais uma atmosfera de férias que reinava na
sessão de treinamento. Karpov e Petrosian
disputavam animadamente uma partida de
bilhar e Furman, brincando com eles, apreciava
o jogo de forma fleugmática. Em uns quarenta
minutos a disputa na mesa de feltro verde
terminou e fomos para um lauto banquete. Este
cenário de treino eu já conhecia muito bem
pelos longos anos de associação com Petrosian.
K.arpov e Petrosian sempre preferiam o contato
vivo com xadrez a análises cansativas.
Março de 1975 - No centro olímpico de
Novogorsk, Petroslan e Tal preparam Karpov
para o match com Fischer
Mais ou menos uma hora e meia depois do
almoço, finalmente Anatoly e eu saímos para o
seu aposento e sentamos diante do tabuleiro. O
que podia mostrar a ele de forma apressada
sobre o gênio Fischer? Lembro-me que
procurei despertar o interesse dele com uma
nova variante, que no final dos anos 1960 eu
tinha inventado na Abertura Espanhola: l .e4
e5 2.l2Jf3 l2Jc6 3.~b5 a6 4.~xc6 dxc6 5.0-0
l2Je7!? (que depois de minhas publicações nas
páginas da 64 foi usada com sucesso por Keres),
mas uma vez na linha principal 6.l2Jxe5 'i!fd4
7.tfhS g6 8.t!lg5 i.g7 9.l2J<i3 as pretas tinham
que entrar em um jogo indefinido com um peão
a menos através de 9 ... fS e isso não despertou
nenhum entusiasmo em particular em Karpov.
Algumas outras idéias interessantes, relativas à
Anatoly, o Décimo-Segundo
Espanhola 'Aberta', foram recebidas de forma
mais favorável por ele. Contudo, também não
quis dedicar muita atenção a elas: afinal, a
probabilidade de que Fischer preferisse
subitamente uma variante específica da Ruy
Lopez à Siciliana, era muito pequena. E Karpov,
que por natureza era wna pessoa decidida e
muito organizada, nunca perdia tempo.
Durante este nosso primeiro encontro
eoxadrístico ele era constantemente chamado
ao único telefone que se encontrava no piso
térreo do prédio: foi precisamente então que
finalmente se definiu a situação sobre o
Campeonato Mundial: Fischer não aceitou o
desafio. E ocorreu então que as minhas revisões
teóricas se iniciaram com o candidato e se
encerraram efetivamente com o Campeão
Mundial.
É difícil dizer quem seria o vencedor do
match. Ouvi mais de uma vez do próprio
Karpov que naquele ano as chances de Fischer
eram um pouco melhores, mas antes do início
do match dos Candidatos, Karpov afirmou
modestamente: 'Este não é o meu ciclo'.
Parece-me que se pudesse esperar dele um novo
salto qualitativo.
Em todos os seus matches triunfais, desde as
primeiras partidas, Fischer parecia ter
conseguido, de um modo inexplicável, semear
incertezas na alma de seus experimentados
rivais, ganhando superioridade psicológica
sobre todos eles. Quando o rival era menos
maleável, como por exemplo, o intransigente
Reshevsky, a disputa era bem mais árdua. Na
primeira metade do match com Fischer,
Petrosian também parecia ser um adversário
digno. Mas bastou que Petrosian fraquejasse,
perdendo o equihbrio mental, para que Fischer
se transformasse, passando a jogar com energia
redobrada. Como afirmam alguns psicólogos
profissionais, em uma disputa entre dois
indivíduos, a confiança absoluta é uma medida
constante: um conquista o que o outro perde.
É extremamente improvável que Karpov
sofresse um enfraquecimento psicológico. Isto
297
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
se confirma em toda sua carreira
excepcionalmente estável. Na verdade, a mesma
carreira sugere que Fischer poderia ser muito
mais tenaz se o match se prolongasse muito.
Karpov teria que prestar muito mais atenção ao
preparo físico em geral. Não devemos esquecer
que ele era oito anos mais novo do que o
Campeão e que, de acordo com as estatísticas
mundiais, em geral o sucesso costuma favorecer
os mais jovens.
Comparar as qualidades enxadrísticas dos
dois competidores é mais difícil ainda. Em
minha opinião, até 1975, a intuição posicional
de Karpov era mais forte, mas a visão
combinatória de Fischer era mais ampla.
Karpov era mais tenaz na defesa e Fischer, mais
resoluto no ataque. Havia também uma ligeira
diferença no modo de converter uma vantagem:
Karpov agia mais metodicamente, ao passo que
Fischer alcançava sua meta de forma mais
enérgica.
Fischer certamente tinha uma impressão mais
detalhada de seus 'esquemas', mas como seu
repertório de aberturas era menor, Karpov
podia testar pontos vulneráveis, inclusive
apoiando-se no suporte solidário dos
'compatriotas criadores de teorias'. A um
pequeno círculo de conhecidos, Petrosian
declarou várias vezes que a única razão pela
qual Fischer abandonou o xadrez foi porque
quase todas as suas variantes de abertura já
tinham sido refutadas. Pode ser que isco seja um
exagero, mas muitos pontos fracos das variantes
favoritas de Fischer já eram bem conhecidas.
Tentarei adivinhar o caráter concreto da
oposição de aberturas dos dois competidores.
Fischer quase nunca se desviava do seu
costumeiro l .e4, por mais que visse que nas
aberturas fechadas Karpov adotava esquemas
excepcionalmente sólidos e seguros. Mas como
poderia Karpov repelir l .e4? Provavelmente
com métodos incômodos e diversificados para
o adversário, com base ao mesmo tempo na
Espanhola, Petroff, Caro-Kan, e mesmo a
Siciliana. Karpov podia usar a Espanhola tanto
298
de forma tradicional, como escolher uma das
variantes específicas. Podia aproveitar o fato de
que, naqueles anos, para fugir do ataque
Marshall ou da variante abe.rta, Fischer muitas
vezes respondeu a 3...a6 com 4.1'.xc6.
Com as brancas, ao contrário do adversário,
Karpov podia alternar mais livremente entre
l.e4 e l.d4. Com l.e4, era possível usar as
variantes da Defesa Siciliana, ao passo que
depois de l.d4, era bem mais provável esperar
que Fischer escolhesse principalmente a Defesa
Índia Antiga. Tinha-se a impressão de que em
um match demorado, as chances de Karpov na
abertura pelo menos não seriam piores.
No estágio de transição da abertura para o
me10-Jogo, na solução de problemas
estratégicos, naquela época eu daria alguma
preferência a Fischer, tendo em vista seus bons
conhecimentos e experiência. Conrudo, não
vejo de que modo seja possível avaliar e
comparar fatores tão distintos, sendo Karpov
um jogador jovem, promissor e bem treinado,
ao passo que Fischer, com sua rigorosa dieta de
torneios, tramando variantes d e aberturas
sozinho, era um pesquisador profundo e
dedicado.
De qualquer modo, para mim era evidente
que eles eram adversários que se mereciam.
Ambos nunca tinham cometido erros graves,
não perdiam quase nunca e, aos olhos dos
contemporâneos, pareciam ser jogadores quase
infalíveis."
Para Karpov foi inestimável a experiência de
xadrez e de vida de Furman e Geller

No volume anterior, já expressei minha
opinião sobre por que Fischer se recusou a
jogar com Karpov. Agora, que de um modo
geral já conhecemos o trabalho da equipe de
Karpov, gostaria de explicar com mais clareza a
visão que renho da situação que surgiu naquela
época para o xadrez mundial.
Segundo minha avaliação, quando Furman e
Petrosian explicaram o afastamento de Fischer
pelo fato de que quase todas as suas variantes de
abertura já "não eram boas", ou tinham sido
"rejeitadas", esta afirmação era obviamente
exagerada. Era o exagero típico de especialistas
em xadrez da velha escola, acostumados a
pensar em termos mais gerais. Eles até que
percebiam a explicação correta, mas não se
expressavam com exatidão. É difícil entender:
quais variantes, afinal, tinham sido rejeitadas? A
agudíssima Najdorf ainda se pratica hoje em
dia, da mesma forma que as defesas de Fischer
a l.d4. E porventura se pode falar, de um modo
geral, da rejeição de variantes inteiras de
abertura? Além disso, até 1975 tinham surgido
no horizonte inúmeras variantes novas e
atraentes (dentre as quais, algumas incorretas do
ponto de vista clássico, como a Chelyabinsk ou
"porco-espinho"), algumas das quais bem que
Fischer poderia ter adotado.
Portanto, seria mui.to mais correto falar não
da rejeição de variantes de abertura especificas,
mas sim, do novo método de preparação de
aberturas em geral. Este era o ponto crucial do
problema. Com seu enorme trabalho nos
inícios dos anos 1970, Fischer deu um salto de
qualidade no desenvolvimento da teoria das
aberturas, sendo mesmo o precursor da
verdadeira revolução, que teve 1n1c10
precisamente no ano de ouro de 1972 e que, em
pouco mais de dez anos, levou o progresso do
pensamento enxadrístico até meus matches com
Karpov.
Para alguns, esses anos pós-Fischer podem
parecer um tanto enfadonhos, mas no xadrez
estava sendo realizado um colossal trabalho
latente. A renúncia de Fischer e a politização do
Anatoly, o Décimo-Segundo
xadrez desviaram um pouco o foco do aspecto
criativo, o que impediu que o papel deste
período de desenvolvimento do xadrez fosse
devidamente apreciado (é por este motivo que
dei cobertura aos mtrtches mais importantes de
Karpov com todos os detalhes). Embora, de
fato, na teoria das aberturas mudanças
revolucionárias já tivessem tomando lugar. Este
tópico se tomou tão fascinante e imenso, que eu
decidi dedicar a ele um volume em separado
('Xadrez Moderno, vohtme 1 - A &vol11çãao das
A berturas nosA nos 1970")
Qual terá sido o problema chave de Fischer?
Segundo meu ponto de vista, o que aconteceu
foi que, trabalhando sempre sozinho, acabou
pura e simplesmente não conseguindo se
adaptar às novas exigências de preparação,
ditadas pela revolução das aberturas. A
complexidade dos problemas que surgiam,
exigia outros métodos de trabalho, outra
maneira de pensar e - o que era de suma
importância - a presença de adversários. Enfim,
comparando hipoteticamente as preparações
dos pré-,11atches de Fischer e Karpov, convém
mencionar não só a vantagem do desafiante na
qualidade e quantidade de variantes específicas
preparadas, mas também, de modo particular,
sua óbvia superioridade na ampla extensão da
sua preparação.
É bem provável que Fischer, com seu
apurado faro do xadrez, mesmo antes do n1atch
Karpov-Spassky, tenha percebido claramente
que uma nova era tinha começado, a qual exigia
o abandono de seu método costumeiro de
trabalho. Ele podia ver com os próprios ofüos
os frutos da revolução que ele mesmo tinha
gerado, e reconhecia muito bem que não era
mais possível preparar-se sozinho. Convidar
assessores? l\fas ele sempre tinha trabalhado
sozinho, sem confiar nos ajudantes nem mesmo
para analisar posições adiadas! Ele
compreendeu bem que já tinham ocorrido
grandes mudanças qualitativas; entendeu que
tinha deixado um tipo de xadrez e partiria para
outro, e que para entrar na nova realidade
299
Gar,y Kasparov - Meus Grandes Predecessores

exigia-se um incrível esforço supremo. grau de intensidade, tive que reconstruir meu
Ele sabia que teria que jogar com o líder de estilo de jogo depois da derrota no match com
uma geração que tinha crescido na onda da Kramnik...
revolução de aberturas e que tinha introduzido Agora, retornemos à primavera de 1975. E m
essas mudanças qualitativas no xadrez; sabia 3 de abril, a FIDE proclamou Karpov o 12°
que iria encontrar pela frente um competidor de Campeão Mundial na história do xadrez. E em
sangue frio, que não só assimilara a lição de seus 24 de abril, em Moscou, no Salão da Sede dos
matches com Polugaevsky, Spassky e Kortchnoi, Sindicatos, celebrou-se a coroação do novo rei
mas que, além de usar as análises dos do xadrez. Em seu discurso, o D r. Euwe disse,
importantes Grandes Mestres soviéticos, devia entre outras coisas:
mostrar também sua extraordinária habilidade
de absorver instantaneamente, digerir e pôr em
prática com sucesso as novas idéias estratégicas.
Observando o ciclo de qualificação, ele
percebeu que Karpov se tornaria decididamente
forte na primeira parte da maratona. E assim
Bobby, dada sua conhecida instabilidade
psicológica, muito provavehnente começou a
ter muito medo de um fracasso inicial. No
entanto, estes medos também estavam em
grande parte na qualidade da preparação da
abertura. Fischer sentia que, em uma disputa
com Karpov, sua preparação podia não atender
às demandas do momento. Vítima de
numerosos complexos, acabou num círculo
vicioso: quando alguém cerne que não vai
conseguir se preparar como deve, o medo
aumenta ainda mais...
Em resumo, Fischer não tinha mesmo
condições de enfrentar a nova situação,
inclusive porque tinha parado de jogar durante
muito tempo. Na era de Botvinnik, era possível
ficar sem jogar por três anos e mesmo assim Moscou, 24 de abril de 1975: o Presidente da
manter o título de Campeão Mundial. Mas ADE, Max Euwe, coroou com louros o novo
agora, na época da revolução de aberturas, três campeão Mundial
anos valiam uma eternidade. Na história "Estou maravilhado com a tranqüilidade de
moderna do xadrez, os campeões e os Karpov, seu profundo senso de respeito e
desafiantes conseguem inaugurar uma era qualidades competitivas, que demonstrou todo
diferente somente se mantendo como o tempo em que toda esta história durou (desde
jogadores ativos. O trabalho mais gigantesco foi a elaboração do regulamento dos matches).
realizado nos anos 1970 por Kortchnoi, não Fischer teve todas as oportunidades para
deixando de impressionar também os esforços defender seu título. A sua obstinação ou outras
decisivos de reconstrução feitos por Karpov em notas de seu caráter, que eu, como muitos
meados dos anos 1980 (como descreverei mais outros, não entendo, impediram-no de utilizar
adiante). Também eu, embora não no mesmo seu direito e de cumprir seu dever no mundo do

300
 Anatoly, o Décimo-Segundo

xadrez. Quanto a Karpov, de uma coísa temos É digno de nota que, na partida da primeira
certeza: ele será um digno Campeão e rodada com Portisch, ele escolheu não seu lance
demonstrará muítas vezes a sua força em vários favorito, l .e4, mas 1.l2lf3, obtendo boa vitória
acontecimentos". com a Defesa Eslava (revanche de San
Euwe lembrou, não sem certo orgulho, que Antonio!). Dali por diante, a "técnica de servir
os primeiros dos três mil lances de Karpov a em ambos os lados", testada com bom
camínho do trono se deviam a ele, na Copa de resultado no match com Spassky e preparada
Niemeijer em Groningen (como se lê no contra Fischer, foi regularmente empregada por
capítulo "Um Menino Sério") e concluiu dizendo: Karpov, embora antes dos matches comigo ele
"Portanto, eu também colaborei para que mostrasse uma clara inclinação para 1.e4.
Anatoly Karpov se tornasse Campeão
Mundial".
Anos mais tarde, Karpov diria sem orgulho:
"Não sei o que pensa Fischer, mas considero
wna grande perda o match que não disputei com
ele. Não vale a pena adivinhar qual seria o
desfecho, mas não duvido um só instante que
haveria de ser o acontecimento mais importante
de minha vida.. Naturalmente, fiquei satisfeito
quando Max Euwe me coroou com o louro de
Campeão Mundial, mas naquela coroa faltavam
as folhas mais importantes, faltava a coisa mais
preciosa para mim - as insígnias memoráveis de
uma disputa com meu brilhante predecessor''.

Campeão em Plena Atividade

Depois de conquístar o título sem um match,
Karpov se lançou em uma provação em
batalhas de torneios, levado pelo desejo de
demonstrar que de fato não havia ninguém igual
a ele no mundo. Ele delineou seu credo na
própria cerimônia de coroação: "Parece-me que
uma das obrigações principais do Campeão
Mundial é ser um jogador atuante para que as
pessoas de vários países possam vê-lo ao
tabuleiro, para que Grandes Mestres e Mestres
possam medir forças, aprenderem com ele e
também ensinarem alguma coisa. Por isto
pretendo, de maneira firme e sistemática, tomar
parte em eventos nacionais e internacionais".
Sua estréia como Campeão foi no Memorial
Vidmar (Portoroz/Ljubljana, junho de 1975): 1.
Karpov - 11 em 15 (+ 7 = 8); 2. Gligoric - 10; 3-
5. - Hort, Ribli e Furman - 9½; 6-7. Parma e
Portisch - 8½; 8-9. Velimirovic e Ljubojevic - 8.
"Uma das principais obrigações do Campeão
Mundial é a de ser um jogador atuante"
(Karpov)
Depois veio o Campeonato de Equipes da
URSS (Riga, julho de 1975), que reuniu os
principais enxadristas em um fortíssimo
torneio: Karpov, Spassky, Petrosian, Tal,
Beliavsky... Karpov teve o melhor resultado
(+4=3), de novo derrotando Spassky com ajuda
de l .d4, desta vez com a Defesa Índia com o
cerco bem sucedido de um peão d5 isolado.
O teste seguinte do Campeão foi um super-
torneio em Milão (agosto-setembro de 1975).

301
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Milão, que pretendia sediar o n1atch Fischer-
Karpov; decidiu organizar este even to
importante segundo uma fórmula incomum,
em três estágios: primeiro, um torneio de todos
jogando com todos, entre 12 Grandes Mestres,
depois matches semifinais de quatro partidas
entre jogadores que tivessem obtido os quatro
primeiros lugares (1-4 e 2-3) e um match final de
seis partidas.
Karpov: ''.Aqui eu era simplesmente obrigado
a ser o primeiro! O torneio tinha uma estrutura
grandiosa, foi como se tivesse sido inventado
para por à prova a capacidade do novo
Campeão. O mundo ainda estava exigindo
provas da legalidade do 'novo regime' do
xadrez. lv1i1ão tinha que pôr os pingos nos i's.
Obrigatoriamente, eu tinha que terminar entre
os quatro primeiros... Quando se trata da
necessidade de ser o primeiro, depois de
disputar 21 partidas em 25 dias contra
adversários fortíssimos, o aspecto criativo tem
que passar para o segundo plano".
Depois de vencer três "duelos espanhóis" nas
seis primeiras rodadas, com pretas contra
Ljubojevic (profundo no final - em uma posição
empatada com bispos de cores opostas) e com
brancas contra Unzicker e Gligoric, ele assumiu
a liderança. E poderia terminar primeiro, se não
tivesse perdido na 8ª rodada com brancas para
Andersson. É sintomático o fato de Ulf
derrotar Karpov - e antes também Portisch! -
com seu esquema favorito de "porco-espinho",
que começava a ganhar força e que é um
esquema flexível, do qual tratarei em um
capítulo inteiro (no vo/un1e 1 da série Xadrez
Moderno, sobre a revolução de aberturas).
Karpov gostava de jogar contra este esquema
"porco-espinho" e só pensava na vitória:
"A.odersson costumava ficar mal de tempo,
assim eu jogava especialmente para lhe dar
matéria para meditação". Desenvolveu-se uma
luta de manobras complicadas e Ulf acabou
mesmo em terrível apuro de tempo, mas
quando jogou ...d6-d5 e fez um desesperado
sacrifício de qualidade, começaram os milagres:
302
Anatoly fez uma série de lances "óbvios" e...
adiou a partida em uma posição perdida.
Entretamo, ele não perdeu o lugar entre os
quatro primeiros e depois de uma semifinal
incruenta com Petrosian (2-2, vitória conforme o
melhor coeficiente do torneio), venceu o match
final contra Portisch: 3½-2½. O resultado de todo
o evento foi decidido pela única vitória de Karpov
e outra vez com as brancas, numa Abertura
Espanhola - na Defesa Steinitz melhorada. Mais
detalhes deste dificil match são dados no capítulo
"O Botvinnik Himgaro" (conforme volun1e 3, partida
40'). Tal: "Pouco antes do torneio, Karpov estava
adoentado e na Itália não mostrou a disposição
habitual. Acho que uma das manifestações mais
claras da categoria de um jogador é a capacidade
de atuar com sucesso, mesmo quando 'está mal'.
Foi precisamente isto que o Campeão
demonstrou em Milão".
Leningrado, novembro de 1975 - meu primeiro
encontro com Karpov foi no torneio do Palácio
dos Pioneiros
Em novembro Karpov deu algumas intensas
exibições em partidas simultâneas no Palácio
dos Pioneiros em Leningrado (onde, como já
foi dito, ocorreu nosso primeiro encontro no
tabuleiro). Algumas semanas depois, começou o
43° Campeonato da URSS em Ierevan e todos
os importantes enxadristas do país deviam
tomar parte: desde 1973, depois da perda da
coroa, a Comissão de Desportos se esforçou
intensamente para seguir esta linha.
Naturalmente, Karpov também deveria jogar
ali, mas teve que ser dispensado devido ao
cansaço e problemas de saúde, como justificou

com apresentação de atestado médico.
Descontente com a noticia de que Karpov
não participaria, o chefe da seção de xadrez,
Baturinsky, encaminhou um ofício a lvonin,
vice-presidente da Comissão de Desportos, nos
seguintes termos: "Pediria q11e você falasse
pessoal111et1te com A . E. Karpov e, se possíve4 co111 os
médicos encarregados, considerando que a não
participação do Campeão Mundial no campeonato
naciona4 depois da recusa de Kortchnoi e Spassl?, pelo
segundo ano consecutivo, causará repercussões
desfavoráveis". Mas os médicos de Leniogrado
con seguiram convencer os diretores de
esportes... E foi assim que Petrosian se tornou
o campeão nacional, com meio p onto à frente
de Vaganian, Gulko, Romanishin e Tal.
Já totalmente recuperado e descansado,
Karpov partiu com seu velho amigo e rival,
Rafik Vaganian, para o prestigiadíssimo torneio
"Solidariedade" em Skopje (fevereiro-março de
1976), onde quatro anos antes, tinha feito uma
brilhante estréia na Olimpíada.
O acaso reuniu os rivais logo na primeira
rodada e, de novo, como três anos antes em
Budapeste, Vaganian não conseguiu vencer com
sua favorita Defesa Francesa.
Partida 68
A. Karpov - R. Vaganian
Skllpje 1976, 1• rodada
Anatoly, o Dédmo-Segundo
23 ..tfS! (foi por esse motivo que as brancas
entregaram o peão de b2) 23...!!e7?
Na opinião de Karpov, "também perderia
23 ... gxfS devido a 24.ãd3 f4 25.l!fxf4 'tic2
26.ãg3+ ~ h7 27.'i.lff6" (ou 27.'i!fg4), mas
"seria mais resistente 25 ... f6" .
Na era do computador, isso pode ser dito
com muito mais certeza: 23 ...gxf5! 24.lãd3 f6!
seguido por .. Jig7 permitiria às pretas salvarem
a partida - 26.!!g3+ (é mais fraco 26.Étee3
ãg7!) 26 . .. ãg7 27.t!fxf6 ã xg3 28.fxg3 'i!Vb6+
29.<.!i'h2 ft/c7 ou 26.!fxf6 Étg7 27.ft/e6+ Wh7
28.!ff5+ Wh8, com um empate.
24.!txe7 fi:lxe7 2S..td3! it)fS
Uma escolha difícil: no caso de 25 .. .'~f8
(25 .. .lilc6? 26 ..txg6, enquanto se 25 ...Éte8?
ou 25 ...°i!fa3? então é decisivo 26J~!el) 26.~bl
'i!fd2! (mas não o lance de Karpov
26 ...l!fxa2?) 27.ã xb7 t½'el+ 28.Wh2 'i!fe6
29.t!fh8+ fi:lg8 30.'t!fd4 a posição das pretas
também é inviável.
26..txfS gxf5 27.ãeJ 'tifxa2 28.\Wxh6!
Após 28.âe3 as pretas se salvariam com o
belo 28 ... f4! 29.'ti'xf4 'ti'bl+ 30.Wh2 a3!
31.ãg3+ 't!fg6 32J!xg6+ fxg6, "e as brancas
não têm nada mais do que o xeque perpétuo"
(Karpov). Pela mesma razão :Se3 não vence nos
lances 29 e 31.
28 ...aJ 29.t!fgS+ Wf8 30.iff6 Wg8
31.'i:Y'xf5 'i'd2? (ainda não é tão claro
3 I...Wg7 com a intenção de d5- d4) 32.!!e7! e
as pretas abandonaram no lance 40.
Depois desta derrota, Vaganian obviamente
ficou desanimado e não competiu mais pelos
prêmios do torneio. Pode-se lembrar as palavras
de Kortchnoi: ''Vaganian é um enxadrista de
enorme potencial prático. Mas é mais um artista
do que um lutador. E precisa de inspiração para
demonstrar a sua classe. Mas a inspiração... a
inspiração é uma coisa caprichosa".
Já Karpov, embora tenha despendido urna
grande quantidade de energia na vitória da
primeira rodada, conseguiu, depois de um
303
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
empate com pretas contra Adorjan (note-se a
abertura: 1.e4 c5 2.l2Jf3 e6 3.d4 cxd4 4.l2Jxd4
a6 5.il.d3 "f!íc7 6.0--0 g6 etc.), vencer as quatro
partidas seguintes! Uma dessas partidas chegou
a um final com bispos de cores opostas muito
mais requintado do que o da sua partida com
Ljubojevic em Milão.
Partida 69
B. Kurajica - A. Karpov
Skopje 1976, 5ª rodada
A vantagem das pretas é em grande parte de
natureza acadêmica. É difícil imaginar qualquer
coisa real que dela possa se derivar.
32.~d3
Kurajica oferece a troca de damas,
acreditando que não há perigo nesse final de
bispos de cores opostas. Seria ligeiramente mais
circunspecto 32.h4 (Karpov) 32 . .. "f!if5
33.~d3, mas é difícil criticar seriamente o lance
feito: as brancas mantêm o empate por um
longo tempo no final.
32 ... ~xd3 33.cxd3 h4!
Pregando ligeiramente os peões brancos da
ala do rei e preparando uma ruptura potencial.
Com a criação de outra debilidade ou de outro
peão passado, o final com bispos de cores
opostas não pode ser vencido!
34.g3 <tlf7 35.<tle3 f5 36.<tlf4 <tlg6
37.<tle3?!
304
Passivo. O caminho mais simples para o
empate seria 37.gxh4, reduzindo o número de
peões pretos: 37 ... <tlhS 38.<tlxfS
(provavelmente também poderia se jogar
38.<tlg3, mas porque tornar as coisas
complicadas sem necessidade?) 38 ... i:t..xf3 e
agora, é claro, não 39.il.b2? ii.d5! 40 ..ft.cl em
vista de 40 ... <tlxh4 (Karpov considerou
somente 40 ... ~t7? 41..ft.b2 <tlxh4 42.dS!, com
igualdade) 41.<tlg6 <tlh3 42.<tlxg7 <tlxh2
43 .<tlf6 <tlg3 44.<tle7 <tlf3 45.<tld7 <tle2
46.<tlxc7 r:!;xd3, quando as pretas vencem, mas
39.<tlf4 i:t..e2 40.<tlg3 com uma posição
empatada.
Também é suficiente para um empate 37.g4,
negando ao adversário a possibilidade de
ruptura na ala do rei. Após 37 ... i:t..e6 38.1t.b2
fxg4 39.fxg4 ilb3 40.gS il.c2 as brancas
entregam seu peão d3 e movem seu bispo entre
as casas cl-b2-a3, enquanto se ...<tlí!, então
<tle5.
É claro, 37.<tle3 também não perderia, mas
isso seria uma "vitória moral" para as pretas:
elas tomariam espaço na ala do rei e as brancas
começariam a ter dificuldades na defesa.
37 ... <tlhS 38.~b4 g5
"Aqui está, a ameaça real de uma ruptura -
39 ... f4+ 40.gxf4 g4! 41.fxg4+ <tlxg4. As
brancas têm que voltar o seu rei, ainda não
imaginando onde mora o perigo." (Karpov)
39.<tlf2 ~a2 40.ii.a3 ii.bl 41.<tle2 1t.a2
42.i:t..cl ~e6 43.<tlf2 il.c8

4.d5?
"Mas isso são nervos." (Karpov). As brancas
não somente entregam um peão, mas, mais
importante, desdobram os peões e - e este é o
fator que permite a vitória das pretas!
As brancas deveriam ter continuado a defesa
de uma forma passiva - 44.'it>e2. Após
44 .. .~a6 45.We3 (seria favorável às pretas
45.~b2? hxg3 46.hxg3 f4 Karpov) 45 ... f4+
46.gxf4 g4 as brancas se salvam através de
47.f5 (Karpov) 47 ... g3 48.hxg3 hxg3 49.f6
©g6 50.f4 ou 47.fxg4+ éxg4 48.ée4 ~c8
49.We5 e se 49 ... éh3 50.f5 ~xf5 51.'it>xf5
Wxh2 elas têm 52.d5! cxd5 53.~f4+ @g2
54.~xc7, enquanto após 49 .. .~f5 é possível a
ruptura imediata: 50.d5 cxd5 51.c6 ~xd3
52.Wxd5 Wh3 53.f5! ~xf5 54.~f4, com um
empate.
A melhor chance das pretas seria o imediato
44 ... f4! 45.gxf4 g4. As brancas devem esperar:
46.éf2 il.f5 47.~a3 ~xd3 48.~cl ~c4 (o
bispo vai a d5, para forçar a captura em g4)
49.~b2 il.d5 50.fxg4+ éxg4 51.iLcl ~b3
52.Wg2 iLc4 53.@f2 ~d5. Agora as brancas
têm que se separar de um peão devido ao
Zf'gZ}Pang. 54.f5 éxf5 55.We3 Wg4 56.Wf2
Wh3 57.égl.
Aproximadamente a mesma posição surgiu
depois na partida, mas... ! Aqui os peões das
pretas estão dobrados e isso salva as brancas:
57 ... ~D 58.éf2 ~5 59.@gl ~dl 60.Whl
Wg4 61.ég2 éf5 62.éh3 ée4 63.~b2 éd3
64.éxh4 éc2 65.il.al a3 66.'it>g5 a2 67.Wf6
ç!?bl 68.il.c3 alie 69.~xal éxal. As pretas
ganham o bispo, mas o rei branco tem o tempo
certo de pegar todos os peões inimigos:
70.ée7 éb2 71.éd7 ~D 72.h4 'i!?c3 73.h5
Wxd4 74.h6 il.e4 75.h7 iLxh7 76.éxc6.
44 ... cxd5 45.d4 f4! 46.gxf4
''A posição das brancas é sem esperanças após
46.g4+ Wg6 seguido pela manobra de rei f7-
e6-d7-c6-b5-c4 e a mudança do bispo para
d3 ." (Karpov). Enquanto o rei branco é forçado
a defender os peões f3 e g4 colocados em casas
Anatoly, o Décimo-Segundo
brancas.
46 ... g4 47.'i!?g2 ~f5 48.'i!?f2 gxf3 49.@xf3
i.e4+ 50.'i!?f2 'i!?g4 51.~b2 'i!?xf4 52.il.cl+
'i!?g4 53.iLb2 c6 54.~cl Wh3 55.'i!?gl i.g6
56.@hl (não há nada mais) 56 ... Jl.h5
É claro, não 56 ... 'i!?g4? 57.Wg2 Wf5 58.Wf3
~5+ 59.We3, com empate. ''A todo custo o
rei branco deve ser retirado da casa f3."
(Karpov)
57.égl ¾l.dl! 0-1
As brancas abandonaram em vista de 58.il.b2
Wg4 59.ég2 ~f3+! 60.éf2 éf4 (Karpov) ou
58.'it>hl 'it>g4 59.ég2 éf5 60.éh3 (60.éf2
We4) 60 ... We4 e então novamente há uma
corrida, mas aqui após 61.iLb2 @d3 62.@xh4
éc2 63.il.al @bl 64.iLc3 a3 65.<.tigs a2
66.Wf6 alie 67.il.xal éxal 68.We6 Wb2
69.Wd6 éc3 70.Wxc6 éxd4 as pretas têm um
tempo decisivo.
"Mesmo as posições aparentemente mais
simples contêm muitos segredos e deve-se jogar
com o mesmo cuidado tanto nas posições com
muitas peças e roques para lados opostos, como
nos finais de bispos com cores opostas e o
mesmo número de peões. Muitas vezes basta
cometer um erro insignificante para perder uma
partida que poderia até estar correndo bem",
resume Karpov. Passados 22 anos, ocorreu em
outra de suas partidas (.partida 106) outro final
sutil com bispos de cores opostas.
Na 7ª rodada foi jogada a única partida entre
Reshevsky-Karpov: 1.~f3 c5 2.c4 tz:}f6 3.g3
g6 4.il.g2 il.g7 5.0-0 0-0 6.d4 cxd4 7.~xd4
~c6 8.luc3 tz:}xd4 9.iexd4 d6 10.ied3 a6
11.il.d2 !!b8 12.É!acl. Empate.
É incrível, mas verdade: o gigante do xadrez
americano de 64 anos, durante sua admirável
carreira, enfrentou 11 Campeões Mundiais. Em
Skopje, Reshevsky teve um resultado modesto,
sofrendo de todos os seus problemas habituais.
Karpov: ''A devoção e pontualidade que ele
tinha em cumprir os deveres religiosos eram
conhecidos em todo o mundo do xadrez. Os
preceitos de sua religião proíbem atividades,
305
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

inclusive a de jogo, nas noites de sexta-feira. Por de um campeão: 1. Karpov - 12½ (+10=5); 2.
isso todos os competidores concordaram que as Uhlmann - 11; 3.Timman - 10½; 4-5. Kurajica e
partidas de sexta-feira, no caso de Reshevsky, Tardjan - 9; 6. Velimirovitch - 8½; 7. Adorjan -
fossem realizadas na parte da manhã, para 8; 8-9. Ivkov e Matanovitch - 7½; 10. Vaganian
terminar antes do pôr-do-sol. Na primeira - 7. Depois do torneio, Karpov declarou
sexta-feira competia a Reshevsky jogar com orgulhosamente que, em termos de
Vaganian, que aceitou a disputa na parte da porcentagem, tinha superado o resultado de
manhã com absoluta calma e, até mesmo, Fischer em Skopje, em 1967 (13½ em 17).
mostrando total indiferença. Eu me preocupei e
disse: 'Procure saber a hora exata do início'.
Vaganian voltou com um ar desanimado
dizendo: 'Disseram que cedo, às 10 horas'. 'De
jeito nenhum', respondi. 'Você costuma se
levantar tarde. Antes de meio-dia nem pensar;
onze horas seria o mínimo aceitável. Seu caráter
conciliatório não deve se sobrepor ao seu
hábito de despertar'. Dito isto, Vaganian e eu
fomos procurar os organizadores. Reshevsky
discutiu e ameaçou ir embora de Skopje, mas
todos os demais competidores nos apoiaram. A
partida teve início às 11 horas e Vaganian a
conduziu brilhantemente e, ao final, a primeira
coisa que fez foi correr ao hotel para me
agradecer...".
Parece-me que este episódio revela o caráter
rigoroso e independente de Karpov, explicando
até certo ponto porque alguns talentos
brilhantes se tornam campeões e outros, não.
Aqui se deve explicar também que Anatoly,
assim como muitos outros Grandes Mestres
notáveis, tinha por natureza hábitos de "coruja
noturna" e era importante para ele iniciar as
partidas o mais tarde possível. Quando perguntaram.. quem era seu
A última intriga do torneio em Skopje foi o adversário mais perigoso, ele respondeu sem
encontro final entre os líderes Uhlmann e rodeios: "No momento ainda não apareceu
Karpov. O Grande Mestre alemão estava meio nenhum".
ponto atrás e, ao que parece, iria tentar a sorte. Pelo visto, sentindo grande entusiasmo com
No entanto, não conseguiu nada na abertura os sucessos de Karpov, a Comissão de
(conforme volume 3, partida 71, comentário ao 7º Deportas adotou uma deliberação
lance das pretas) e, descontente com sua impressionante, em março de 1976: "Sobre a
posição, propôs o empate. Foi quando Karpov preparação dos enxadristas soviéticos para as
mostrou de novo seu caráter: rejeitou a oferta competições dos Campeonatos Mundiais de
pacífica de empate e continuou a partida até a 1976-1978". No preâmbulo havia o seguinte
vitória. comunicado:
O resultado final foi verdadeiramente digno ''Em cumprimento às diretrizes da Comissão,

306

Número 117, de 7 de fevereiro de 1973 e Número 48,
de 29 de maio de 1974, os enxadristas soviéticos
alcançaram grandes sucessos em competições
internacionais e consolidaram sua posição de liderança
no mundo do xadrez Atualmente, eles detêm todos os
títulos de campeonatos disputados oficialmente, na
Europa e no mundo. O Grande Mestre Anato!J
Karpov, depois de sua proclamação como Campeão
Mundia4 tomou parte em competições na URSS e no
exterior, obtendo brilhantes resultados e reconhecimento
gera4 como primeiro enxadrista do mundo".
Esta resolução aprovou o plano trienal de
"Preparação dos membros das equipes da
URSS para as competições de campeonatos dos
anos de 1976-1978". Não sei até que ponto o
plano foi cumprido, mas quero dar a conhecer
aos leitores alguns trechos do admirável
documento, verdadeiro monumento de toda
uma época:
"Cada membro da equipe da URSS deverá todos os
anos jogar, em média, 80 partidas em seis competições.
A competição de controle para cada Grande Mestre,
determinando a sua carga de jogos para o ano
subseqüente, é o campeonato individual da URSS.
A carga horária de treinamento de um membro das
equipes da URSS deverá constar anualmente de quatro
sessões de duração total de 70 dias, mais quatro períodos
de trabalho individual de duração total de 70 dias.
Anualmente, em janeiro, deverá realizar-se um treino
de 24 dias dos enxadristas mais fartes da URSS na
Base Olímpica da Comissão de Desportos, em
Novogorsk. No deco"er do ano, deverão ser realizados
treinos de 12 a 18 dias nas bases da Comissão de
Desportos, antes dos eventos da FIDE e dos principais
torneios internacionais.
Cada membro da seleção da URSS é obrigado a
manter um diário de preparações e desempenhos. O
diário é oprincipal documento que servirá para refletir a
qualidade da preparação e desempenho prático do
jogador.
O estado de saúde e condições de preparo físico geral
do jogador serão monitorados permanentemente pelo
médico das equipes de xadrez da URSS. O preparo
psicológico se desenvolverá durante os treinamentos e
consultas médicas a especialistas sob coordenação do
Anatoly, o Décimo-Segundo
médico das equipes da URSS.
- O plano das atividades dos membros e treinadores das
equipes da URSS deverá conter as seguintes informações
atualizadas:
1. Estudo das partidas dos principais Grandes
Mestres estrangeiros (Mecking, Ijubqjevic, Andersson,
Hübner, Smefka4 Portisch, Hort, LArsen, Browne,
Kavalek) com uma análise critica, sumário de repertório
de aberturas e recomendações.
2. Estudo de problemas tópicos atuais e elaboração de
relatórios confidenciais 'Revisões de aberturas de 1975
(1976-1977)'. Prazos compreendidos (o período
completo de 1976-1978. Serão desenvolvidos com a
coordenação de importantes teóricos do xadrez (Grandes
Mestres e Mestres). Tamanho dos textos: 25 a 30
páginas datilogrefadas. Financiamento: por contratação
de 6 relatórios/ ano a 250 rublos = 1500 rublos.
3. Cópia de periódicos estrangeiros sobre xadrez.
Financiamento: por contratação; anualmente 20.000
páginas x 2,5 copeques = 500 rublos.
4. Processamento de dados enxadrísticos para uso nos
arquivos do Centro de Processamento da URSS.
Financiamento: por contratação, à taxa de 15.000
cartões pe,jurados x 20 copeques (custo médio estipulado
em 1974, durante a preparação de A. Karpov para o
match com R Fischer) = 3000 rublos.
Custo anual aproximado deste plano: 5000 rublos."
Enquanto isto, o xadrez seguia seu curso
normal. Depois do principal torneio, o
Campeão do Mundo participou de três
competições seguidas, cada uma delas com seis
partidas: em abril, a Copa da equipe da URSS
em Tblisi (+2=4); em maio, um torneio de duas
rodadas de quatro jogadores, em Amsterdã
(+2=4). Karpov: "O encerramento deste
torneio coincidiu com meu 25º aniversário e,
quando o Professor Euwe, de 75 anos, e eu
aparecemos na televisão, os holandeses
disseram brincando que aquele era o programa
do século"
Em julho, realizou-se outro torneio de 4
jogadores em Manila (+1-1=4). Na segunda
rodada, o Campeão perdeu inesperadamente
com as brancas para o ídolo dos torcedores
307
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
filipinos, Eugênio Torre, naturalmente que
desta vez não com a Defesa Alekhine, como no
Interzonal de Leningrado, mas com uma
variante duplamente aguda da Defesa Siciliana:
l.e4 c5 2.tz:lf3 d6 3.d4 cxd4 4.éz:lxd4 éz:lf6
5.tz:lc3 tz:lc6 6.it.g5 e6 7.IM2 a6 8.0-0-0 it.d7
9.f4 b5. Karpov lamenta: "E mesmo uma
excelente vitória sobre Ljubojevic não poderia
me salvar do segundo lugar na competição. Era
um torneio muito curto e, além do mais, o
'herói local', meu principal rival, continuava
jogando excepcionalmente bem".
Partida 70
L. Ljubojevic - A. Karpov
Manila 1976, 3ª rodada
Abertura Ruy upez - C95
1.e4 eS 2.tz:lo tz:lc6 3.i.bS a6 4 ..1l.a4 tz:lf6
5.0--0 .1l.e7 6.~el bS 7.~b3 d6 8.c3 0--0 9.h3
éz:lb8 10.d4 (10.d3 - partida 51) 10 ... li°lbd7
11.li°lbd2 i.b7 12.i.c2 ãeS
Karpov tinha uma pecepção brilhante das
sutilezas da disposição das peças na Variante
Breyer e ele jogava em ambos os lados com
igual sucesso. Das 34 partidas iniciadas nessa
variante, ele venceu 12 e não perdeu sequer uma
única! E no geral, respeitando grandemente a
"rainha das aberturas", lembra o preceito de
Capablanca: a Ruy Lopez é a pedra angular da
compreensão do jogo posicional.
Eu também lembro, desde a minha infância,
da opinião de outro luminar - Keres, que
considerava ser inconcebível o desen-
volvimento de um jovem jogador sem o
conhecimento e, ainda mais, a compreensão das
sutilezas da Ruy Lopez e que também o
conhecimento dessa abertura era necessário
para todos os jogadores fortes.
13.b4 (dez anos mais tarde em Tilburg,
Ljubojevic jogou de forma mais modesta contra
Karpov - 13.b3; para 13.a4 - partida 107)
13 ... .1l.f8 14.a4 /;LJb6 15.a5 li°lbd7 16.it.b2
308
16...ãbS! (no match com Fischer, Spassky
jogou 16 .. J!fb8?! - volume 4, partida 104)
17.~bl
Nos comentários da partida mencionada, a
continuação 17 .ãb 1 it.a8 também foi
examinada - Karpov derrotou Browne desse
modo dois meses mais tarde (Amsterdã 1976).
17 ...éz:lhS!
A remoção da dama de d 1 fez essa manobra
possível, com a intenção de estabelecer o ca;alo
na importante casa f4 e, além disso, facilitar o
avanço ... c7-c5. O imediato 17 ... c5?! é
perigoso devido a 18.bxc5 dxc5 19.dxe5 tz:lxe5
20.tz:lxe5 Ê'.xe5 2 l.c4 (Karpov) 21.. .~e6
22.~dl tz:ld7 23.e5 g6 24.it.e4.
18.c4?
Uma decisão equivocada. O peão c3 é a base
da cadeia de peões das brancas e o seu avanço
prematuro enfraquece sua forte posição central
e além disso tem um defeito oculto - a oposição
da dama branca e a torre em b8. Seria correto
18.itlfl, quando no caso de 18 ... itlf4 19.~cl
l!ff6 20.tz:llh2 as brancas teriam neutralizado o
surgimento do cavalo preto em f4. Mas Karpov
planejava 18 ... c5!?
18... bxc4 19.~xc4 exd4!
Um passo importante no plano de ativação.
Agora a torre preta entra em jogo.
20.it.xd4
O lance 20.tz:lxd4 teria permitido às pretas
desenvolverem uma iniciativa na ala do rei:
20 ... tz:le5 ! 21.itle3 (não 2 l.~b3 itlf4! ou
21.itld2 it.c8! Karpov) 21...l!fg5.

20 ...cS! 21.i.e3
Após 21.bxc5 .1i..xe4! as brancas teriam um
peão a mais: 22.~dl tz:\xc5 23.ii..xc5 i.xc2
24.Ê'.xe8 ~xe8 25.~xc2 dxc5.
21. ..c><b4?
O retorno imediato do cavalo através de
21... tz:lhf6 ! seria significativamente mais forte.
As brancas teriam perdido um peão sem
nenhuma compensação aparente, uma vez que
as complicações após 22 ..1t.f4 ~c7 23.~dl
(23 .tz:lcd2 .1t.c6) 23 ... cxb4 24.tz:ld6 .B'.e6
25.tz:\xt7 ~xf4 26.tz:\3g5 tz:lc5 27.g3 VJ!ic7
28.ii..b3 ~e7 terminam favoráveis às pretas.
22.tz:lb6?
As brancas desperdiçam sua chance. A
interposição de 22.i.a7 ! B'.a8 23 ..1i.d4 teria
deslocado a torre da coluna b e permitido a elas
manterem o equilibrio dinâmico, por exemplo:
23 .. . êz::lhf6 24. êz::lcd2 B'.b8 25 ..1i.a4 ! ~e6
26.ii..a7 ~a8 27.ii..d4 e se 27 ... êz::lc5 - 28.ii..c2.
Ljubojevic bloqueia a coluna b de uma forma
primitiva, mas agora as coisas esquentam para o
peão e4.
22 ... tz:lhf6! 23.VJ!i><b4 dS 24.'tifb3 d><e4
25.tz:lgS ~dS?
Outra decisão óbvia, mas infeliz, que
novamente altera a avaliação da posição. O
lance 25 ... ~e7! teria realçado a posição infeliz
do cavalo em g5 e forçado as brancas a
adotarem medidas extremas para liberá-lo.
Após 26.f3 exf3 (também não é mau 26 .. .tz:lc5
27.~c3 exf3 28 ..1i..d4 êz::lfe4 29.tz:\xe4 tz:\xe4
Anatoly, o Décimo-Segundo
30.'tifxf3 ifb4) 27.i.f2 tz:le5 28.gxf3 h6 29.f4
fxg5 30.fxe5 tz:lh5 as brancas teriam ficado em
uma posição quebrada e desanimadora.
26.'tifa4?
Fatal. O sacrifício da dama - 26. tz:\xd5 ! ~xb3
27.ii..xb3 tz:\xd5 28 ..1i.xd5 tz:le5 29.:!âedl
permitiria que as brancas contassem com um
empate.
26.. .l-f'l><b6! (o início do estágio final, que foi
calculado com precisão por Karpov) 27.i.xb6
(27.axb6? h6) 27...'i!fe7!
A oposição da dama em b 1 e a torre em b8
causo u uma grande quantidade de problemas às
brancas, enquanto não há forma de explorar a
oposição da dama em e7 e a torre em el.
28.f3 ~xb6! 29.axb6 'i!fcS+ 30.Whl
Após 30.<;t>h2 a forma mais vistosa de
resolver as coisas seria 30 ...i.c6 31.'tifa5 'i!ff2!
32.tz:lxe4 êz::lxe4 33.~xe4 ii..d6+ 34.<;t>hI 'i!fg3
35.B'.xe8+ ~xe8 36.<;t>gl 'i!fb2+ 37.Wf2 .1i..g3+
38.We3 'tifxg2 com um ataque irresistível.
30 ... .tc6! (agora é inevitável a perda de
material) 31.~aS exf3!
Não enfraquecendo o ataque. Entrar no final
através de 31 ... ~xa5 32.~xaS .1i..b4 teria
deixado esperanças de salvação às brancas após
33.B'.eal ou 33.ii..b3.
32.tz:\xf3
Seria impossível 32.°i!fxc5 devido ao simples
32 ... ~xel+ 33.~xel (33.°i!fgl fxg2+ 34.Wh2
i.d6 mate) 33 ... fxg2+ 34.<;t>h2 ii..xc5
(Karpov).
309
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
32 .. Jlfxc2 33.~xa6 ~xf3 34.gxf3 ãxel+
35..ã'.xel ~h5!
Precisão até o final! Após o imediato
35 ... ~f2 teria seguido 36 ..Eifl ~g3 37.~c8!
tZ:ld5 38.b7 tZ:ie3 39.~gl ~xf3 40.éh2 ~f2
41.Whl, "quando as brancas só têm um
empate". (Karpov)
36.l:!e8 (36.l:!gl ~c6! 37.ég2 il.d6)
36... ~fl
Isso conclui a partida, pois o rei preto se
esconde dos xeques em h6 e as brancas
perecem.
37..ã'.xf8+ éxf8 38.~a3+ We8 39.'i'Ua4+
ile7 40.~b4+ éf6 41.'i'Ud6+ ilg5 42.~e5+
éh6 0-1
Essa foi realmente uma vitória brilhante do
Campeão do Mundo sobre um dos jogadores
estrangeiros mais fortes daquela época. Karpov
venceu mumeras partidas graças à sua
superioridade na compreensão das posições,
mas aqui ele também superou o cálculo de um
adversário famoso exatamente por essa
capacidade.
O torneio em Manila tornou-se memorável
não só por esta partida. Karpov: "O filipino
Florêncio Campomanes, Vice-Presidente da
FIDE, amigo de Fischer, queria há muito
tempo combinar o nosso encontro. Quando
cheguei a Manila, Campo me informou
confidencialmente que Fischer também viria.
Mas o torneio terminou e Fischer não
apareceu... A caminho do aeroporto, fiquei
sabendo que Campomanes queria que o
acompanhasse a Tóquio. Então imaginei que
ele, de algum modo, tinha acertado se encontrar
com Fischer no Japão".
Nos dias 11 e 12 de agosto, os campeões se
encontraram uma segunda vez, na cidade de
Córdoba, na Espanha, não muito longe de
Montilla, onde Karpov tinha vencido um
torneio relativamente insignificante (+5=4). No
volume 4 é feita uma descrição mais detalhada
deste assunto. Roshal observa: "Botvinnik, com
quem Karpov tinha comentado por telefone o
310
seu encontro com Fischer, ficou em dúvida e
perguntou: 'Você acha que foi com ele mesmo
que conversou, ou teria sido com um sósia?'
Pode-se imaginar como o aparecimento do ex-
campeão causou surpresa a todo o mundo".
Com o final do ano, chegou a prova mais dura
para o Campeão do Mundo, uma prova mais
árdua do que muitos torneios internacionais: o
44º Campeonato da URSS (Moscou,
novembro-dezembro de 1976). Novamente
Karpov sofria de um resfriado e, para piorar a
situação, seus pais estavam gravemente
enfermos. Não houve jeito de ser dispensado;
ele estava sendo esperado com enorme
interesse. Tratava-se de um acontecimento sem
igual: anteriormente, dos Campeões Mundiais
soviéticos, nos anos em que eram Campeões
Mundiais, só Botvinnik tinha jogado os
campeonatos nacionais, em 1951, 1952 e 1955
(e só uma vez, em 1955, não foi o primeiro,
após o match suplementar com Taimanov).
Tal: "Pela primeira vez na história do xadrez
na URSS, o título de Campeão Mundial tinha
sido alcançado antes da conquista da medalha
de ouro de campeão nacional. Porém, o mais
importante era que fazia muito tempo que os
enxadristas russos não viam Karpov 'atuando'
de verdade. Ele obteve algumas vitórias em
torneios internacionais, mas essas competições
não tiveram muita repercussão. No início do
campeonato, ele parecia fora de forma. Alguns
empates e uma grave derrota para Geller, tudo
isto parecia prenunciar uma sensação... "
Na verdade não foi fácil para Karpov
suportar a derrota para Geller (volume 2, partida
102') e a ovação da platéia em homenagem ao
seu adversário. As autoridades esportivas
também ficaram seriamente preocupadas...
Então, na 4ª rodada o campeão teve uma
"mãozinha" de Balashov que, ao jogar com ele,
não sucumbiu à "tortura espanhola", mas antes
do adiamento tinha feito um lance fraco e logo
no recomeço da partida (no 43º lance)
rapidamente colocou a dama en prise e desistiu.
Embora, de um modo geral, este torneio possa

ter sido o melhor da carreira de Balashov, esta
derrota foi a única e, na segunda metade da
competição, só ele tentou manter o ritmo
estabelecido por Karpov.
Ao derrotar também Kupreichik com as
brancas, empatando com Petrosian com as
pretas ("salvação problemática em um final
dificílimo de torre") e Romanishin, o Campeão
Mundial conseguiu melhorar um pouco. A pós
sete rodadas, a situação dos líderes foi a
seguinte: Balashov - 5; Dorfman e Rashkovsky
- 4½; Geller, Karpov, Petrosian, Polugayevsky e
Tal - 4. Por estes números se torna evidente
como era importante para a competição o
choque na 8ª rodada entre Karpov e Iosif
Dorfman (que aliás, atuou também
brilhantemente no seguinte Campeonato da
URSS, dividindo o 1º e 2º lugares).
A vitória sobre Dorfman significou para Karpov
o momento da virada no 44° Campeonato da
URSS
Tal: "Esta partida prendeu completamente a
atenção não só da platéia. Eu estava jogando em
um tabuleiro vizinho e de quando em quando
me dava conta de estar mais interessado naquela
partida do que na minha própria. Acho que
muitos outros jogadores ali presentes sentiam a
mesma coisa: a mesa em que a disputa estava
sendo travada, estava permanentemente
rodeada de gente". Sim, eram tempos em que
até o pragmático Karpov podia-se impor uma
luta extremamente aguda sobre seus adversários
e ao fazê-lo agia de forma engenhosa e
confiante! Dorfman aceitou o desafio e o
resultado foi um espetáculo de xadrez
Anatoly, o Décimo-Segundo
interessante e complicado de forma incomum.
Partida 71
A. Karpov - I. Dorfman
44º Campeonato da URSS
Moscou 1976, 3ª rodada
Defesa Siciliana - B81
1.e4 c5 2.0f'3 d6 3.d4 cxd4 4.0xd4 0f6
5.0c3 e6 6.g4
"Nessas circunstâncias, quando a vitória é
absolutamente essencial, eu retorno para essa
aguda variante, imaginada pelo inesquecível
Paul Petrovich Keres. E na verdade eu
enfrentava um dos líderes do torneio."
(Karpov)
6 ... 1J.e7 (6 ... 0c6 - partida 50; 6 ... h6 -
partidas 83 e 89') 7.g5 0fd7 8.h4 0c6 9.1J.e3 a6
10.'i!fe2
Um lance que cria as bases para os golpes
agudos 0f5 ou 0d5. Mas, como mencionado
nos comentários da partida com Hort, seria
mais desagradável para as pretas 10.l!t'h5!?.
10 ...'i!fc7?!
Esse desenvolvimento da dama nessas
posições comuns da Siciliana nem sempre é a
melhor decisão. Aqui, pelo contrário, atrapalha
o desenvolvimento rápido do contra-ataque das
pretas. Seria necessário 10 ... 0xd4 1 l.~xd4
0--0 12.0-0-0 b5, deixando a coluna e para a
torre e permitindo à dama a possibilidade de ir
a a5.
11.0-0--0 b5
''Aparentemente sem temer as conseqüências,
as pretas provocam seu adversário a fazer um
sacrifício." (Karpov)
12.0xc6!
Após longa reflexão, Karpov decidiu contra o
sacrifício imediato do cavalo - 12.0f5, uma vez
que "o Z}Vischenzug 12 ... b4! conduz a imensas
complicações - 13.0d5 exd5 14.exdS ê2lde5!".
Uma análise posterior (naturalmente, com o
auxílio de um computador) mostrou que
15.0xg7+ Wf8 16.0e6+! fxe6 l 7.dxc6
311
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
promete nesse caos excelentes perspectivas para
as brancas, por exemplo: 17 ... 'i!Hxc6 18.f4 b3!
19.axb3 'i!Hxhl 20.fxeS dS 21.'i!Hf2+ <i!?e8!
22.i.g2 (é revelada a natureza ardilosa de
18 ... b3 - a abertura da coluna a cancela o xeque
de bispo: 22.kbS+?? axbS 23Jâxhl :Sal+)
22 ... ~h2 23.B'.hl ~xeS 24.i.d4 i.xgS+
25.hxgS 'i!HxgS+ 26.'i!?bl B'.f8 27.~e2 e, apesar
da vantagem material das pretas, a defesa é
difícil para elas.
Karpov considerou má a captura natural
12 ... exfS em vista de 13.'~JdS ~d8 14.exfS.
E ntretanto, as conseqüências de 13 ... ~aS!
14.exfS 0-0! não são de todo óbvias: 15.f6
i.d8 16.fxg7 B'.e8 17.~hS Cz::iceS.
Deve-se admirar a maravilhosa intuição de
Karpov: algumas vezes ele vai contra seu
próprio cálculo de variantes - e ao fazer isso
evita obstáculos que não eram visíveis nem para
ele! Nessa ocasião, também o senso de perigo
de Karpov não o abandonou: sua escolha do
momento para o sacrifício do cavalo se mostrou
correta.
12 .. .'i!fxc6 13.~d4! b4?
Dorfman praticamente força seu adversário a
sacrificar uma peça, na esperança de que
Karpov fique desconfortável na posição
resultante com desequilibrio material.
Os dois jogadores consideraram ser muito
arriscado o banal 13 ... 0-0. Karpov escreve:
''Após o roque, as pretas ficariam
imediatamente sob um ataque de peões." Mas,
312
ao permitir o Ataque Keres, as pretas deveriam
temer uma ofensiva de peões na ala do rei?!
14.Cz::id5! exdS 15.i.xg7
O plano de ataque alternativo 15.exdS?
~xdS 16.i.xg7 ~xhl 17.B'.el Cz::ieS 18.i.xeS
dxe5 19.'i!HxeS seria refutado pelo simples
19 ... 0-0!
15 ... ãgS 16.exdS ~c7 17.~f6 li)eS
18.~xeS dxe5 19.f4 i.fS
20.i.h3?!
Ao trocar o bispo de fS, as brancas
efetivamente matam o contrajogo planejado na
coluna e. Mesmo quando ataca, Karpov se
empenha em restringir a atividade do
adversário! Mas tal pensamento profilático,
quando sobreposto com uma ofensiva que
necessita de medidas determinadas, nem
sempre se mostra efetivo.
As brancas conseguiriam uma vantagem
óbvia através do imediato 20.fxeS! ~c8
21.B'.h2!, quando a dama preta não pode ir a c4.
Entretanto, Karpov não gostava do fato de que
seu adversário conseguisse obter contrajogo
após 21...'i!HaS 22.~f3 b3! 23.~xb3
(23.~xfS? até perde: 23 ... bxa2! 24.~xc8+
~d8 25.~c6+ 'i!?f8) 23 ... B'.g6. Aqui Karpov
concluiu suas análises de forma errada - após
24.'i!Hf3! kd7 25.B'.f2 ãg7 26.e6! as pretas
perdem de forma rápida.
20 ...i.xh3 21.ãxh3 ãc8 22.fxeS
Novamente como uma alternativa Karpov
sugere o lance profilático 22.b3, retirando das

pretas a casa c4, na qual elas baseavam quase
IOdo seu contrajogo salvador. Fala em uma
ftlltagem para as brancas após 22 ... e4
23.l!f xe4 Wf8, mas essa vantagem não é
assegurada tampouco através da sua sugestão
24.f5 .t.d6 25.f6 devido a 25 ... VJ!id7 26.:ãf3
Jlg6, ou 24.VJ!ixh7 VJ!ixf4+ 25.Wbl VJ!id6
26.l!ff5 'ãc7.
22 ...ii'c4!
Após ficar em uma posição desesperadora,
Dorfman encontra um excelente reagru-
pamento.
23.âdd3?!
Esse lance natural passou despercebido pelos
comentaristas, embora em muitas variantes seja
o enfraquecimento da retaguarda das brancas
que evita que elas concluam vitoriosamente o
seu ataque. Karpov novamente adere à
estratégia de restringir as possibilidades do
adversário e deseja manter a dupla de peões
h4+g5, que amarra as forças das pretas.
O sacrifício desses peões parece ser muito
assustador - 23.:ãhd3! ifxh4 (o reagrupamento
se desenvolve na partida - 23 ... 'i!ff4+? 24.Wbl
l!c4, aqui perde rapidamente: 25 .e6 :Se4
26.exf?+ Wxf7 27.!fh5+ Wg7 28.âf3) 24.d6
.t.xg5+ 25.Wbl :ãd8 26.e6, mas o tranqüilo
26 . .. :Sg6! permite às pretas permanecerem
flutuando: 27 .e7 .t.xe7 28 .dxe7 :Sxd3
29.VJ!ixd3 ii'xe7 30.l!fd4 :Sf6.
Entretanto, experiências verdadeiramente
terríveis aguardam as pretas após o profilático
Anatoly, o Décimo-Segundo
24.Wbl !. A seguinte variante ilustrativa conclui
com a transição para um final onde as pretas
podem contar com um empate: 24 ... :Sc4 25 .d6
:ãe4 26.!!e3! :Sxe3 27.l!fxe3 ~xg5 28.'i!fa7
~d8 29.e6! fxe6 30.rm ~f6 31.d7+ We7
32.d8VJ!i+ Wxd8 33.l!fa8+ We7 34.VJ!ixg8
VJ!id4! 35.VJ!ixh7+ .t.g7 36.c3 bxc3 37.VJ!ic2!
~6 38.b3 VJ!le3. Mas não é de todo óbvio que
as pretas tivessem sido capazes de transitar por
todas essas casas minadas com tão poucas
perdas.
23 ... 'i!ff4+! 24.'~bl ãc4! 25.d6
O direto 25 .e6 é bem sucedido após
25 ... fxe6? 26.d6 :ãe4 27.l!fh5+ VJ!if7 28.ii'dl
~f8 29.~l! V!fb7 30.Wcl! :Sg7 31.d7+!
:ãxd7 32J~xd7 Wxd7 33.:ãe3, mas a
centralização 25 . ..:Se4! novamente salva as
pretas. Por exemplo: 26.exf?+ VJ!fxf7 27.âhe3
:ãxe3 28.:Sxe3 :Sg6, enquanto o imediato
26.!!he3 culmina no espetacular 26 .. .:Sxg5!!
27.hxg5 .t.xg5.
25 ...!'!e4! 26.âhe3 âxe3
Aqui não funciona muito 26 .. J~xg5?
27.hxg5 .t.xg5 28.d7+ Wd8 devido ao contra-
sacrifício espetacular 29.:ãdl ! VJ!lxe3 30.VJ!fxa6!
VJ!lc5 31.~7, ou mesmo o prosaico 29.'i!fg2!
:ãxe3 30.VJ!ia8+ com mate.
27.!!xe3 'i!fxh4 28.ii'O 'i!fxg5
A captura do outro peão é igualmente má:
28 ...!!xg5? 29.ii'c6+ Wf8 30.dxe7+ Wxe7
3 l.a3 ! ou 28 ....t.xg5? 29 .e6 fxe6 30.:Sxe6+
Wd8 31.'i!fc6!. E somente o recuo 28 ... .t.d8!,
calculado com facilidade pelo computador e
não mencionado por nenhum dos
comentaristas, deixaria as pretas com chances
de uma defesa bem sucedida.
O computador segue produzindo algumas
variantes surpreendentes, nas quais o rei preto
se sente seguro no meio do tabuleiro, as quais
um jogador humano somente examinaria com
seriedade em uma análise: 29.e6 fxe6
30.:ãxe6+ Wd7 31.l!ff5 (ou 31.E:e3 Wxd6
32.VJ!ib7 ii'c4! 33 ..l:âd3+ We5 34.b3 ii'c5
35.~8+ Wf5 36.:Sxd8 l!fgl+ 37.Wb2 VJ!fc5!!,
313
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
com igualdade) 31...'i!fxg5 32.ãe7+ Wc6
33.'i!fc8+ Wb5 34.ãb7+ ~b6 35.a4+ bxa3
36.'i!Yd7+ ~c5 37.b4+ Wd4! 38.'i!fxh7 ~d8
39.'i!fd3+ ~e5. Se tudo isso é correto, deve ser
reconhecido que, longe das imprecisões óbvias,
cometidas por Karpov nos lances 20 e 23, as
brancas perderam grande parte da sua
vantag_em, restando-lhes somente a iniciativa.
29.!!el
''As brancas manteriam uma certa vantagem
após 29.'i!fc6+ Wf8 30.dxe7+ 'i!fxe7 31.'i!fh6+
ãg7 32.b3, mas eu queria mais e assim me
'restringi' a um lance tranqüilo - mas de fato
arriscado." (Karpov). A retomada imediata da
peça era a melhor continuação, de forma
objetiva. Mas com o apuro de tempo se
aproximando, o Campeão continua a aumentar
a pressão.
29 ...'i!fg2?!
Até agora Dorfman foi bem sucedido em
estancar o assalto, mas aqui ele perde as rédeas
da partida. Como sugerido por Karpov
29 ... 'i!fg4 30.'i!fc6+ 'i!fd7 após 31.'i!fe4! ~d8
32.'i!f xh7 ainda obrigaria as pretas a se
defenderem de forma precisa por muito tempo
- por exemplo, 32 ... ãf8 33.ãgl a5 34.ãg8
~e7 35.ãg7 ii.d8, mas o resultado da batalha
ainda permaneceria indefinido.
30.'i!ffS! (as pretas obviamente não viram
esse lance) 30 ...ãg6?
Pânico prematuro. Agora as brancas retomam
a peça em uma versão altamente favorável. Ao
314
continuar a persegu1çao à dama branca:
30 ... 'i!fg4! 31.'i!fxh7 'i!fg6! (as ameaças das
brancas podem ser facilmente estancadas
através de 31.. .Sl.h4 32.ãfl ãg7 33.'i!fd3 'i!fc8
34 .~d 1), as pretas criariam dificuldades
enormes para seu adversário, por exemplo:
32.'i!fh3 'i!fg4 33.'i!fd3 ~h4 34.ãfl 'i!fe6 - as
pretas mantêm uma peça a mais, não
permitindo se fazer uma avaliação definitiva da
posição.
31.ãfl
A partir desse momento, todos os lances das
brancas, como se diz na linguagem moderna,
estão de acordo com a "primeira linha do
computador".
31...'i!f dS 32.dxe7 <tlxe7 33.'i!ff4! a5
34.'i!fb4+ <tle8 35.'i!fxb7 'i!ff3 36.'i!fh8+ <tle7
37.'i!fh4+ <tle8 38.'i!fc4 'i!fb7 39.b3
As brancas obtêm sucesso em fazer uma casa
de fuga, sem diminuir o tempo de ataque. Agora
as pretas não têm o que esperar.
39 ... ãe6 40.ãgl ãxe5 41.ãg8+ We7
42.'i!fh4+ <tld7
43.'i!ff6!
A sutileza final, trabalhada durante as análises
da posição adiada. As brancas forçam a retirada
da torre, abandonando o peão a5 à própria
sorte.
43 .. J~e7 44.'i!ffS+ Wd6 45.'i!fxaS
"Foi tudo muito bem conferido, mas um peão
é um peão... ", comenta filosoficamente o
vencedor.
 Anatoly, o Décimo-Segundo

45... âeS
Em resposta a 45 ... W'e4 46.W'b6+ ~e5 Partida 72
A. Karpov - M. Tal
J7.t!fc5+ Karpov deu uma variante de quase 20
44º Campeonato da URSS
lances, consistindo, na sua opinião, nos lances
Moscou 1976, 10ª rodada
mais fortes para ambos os lados. Mas, como é
sabido, qualquer variante longa inevitavelmente
contém um erro. Esse é o caso aqui: "47 ... ~f4
48.âb8 ... ". Aqui é imediatamente decisivo
48.'i!fg5+ ~f3 49.W'g2+ ~e3 50.El.g3+, mas
ao invés do suicida 47 ... ~f4 as pretas podem
prolongar a partida com 47 ... ~f6, embora a
vitória para as brancas seja meramente uma
questão de tempo.
46.W'd8+ ~e6 47.~b2 f6 48.fü'S 'tWg7
49.W'c8+ ~d5 50.'tWc4+ 1-0

Karpov observa: "Depois desta importante

vitória psicológica, as coisas melhoraram cada
vez mais". Tal também escreve: "Como
costuma acontecer, esta brilhante vitória mudou
radicalmente não só a posição do Campeão
Mundial no torneio mas também o seu ânimo.
Karpov literalmente forçou o caminho para
dentro do grupo de líderes e depois, sem
diminuir o ritmo, foi superando um a um todos
os seus vizinhos na tabela do torneio".
Por alguma razão, o ex-Campeão não
menciona o seu encontro com Karpov na 1Oª
rodada, em que, com pretas, optou pela mesma
variante Siciliana utilizada por Torre em
Manilla. Desta vez, Karpov estava preparado e
empregou uma novidade interessante, mas Tal
não se perdeu e propôs um astuto sacrifício da
dama, obviamente surpreendendo o campeão,
que ficou pensando na resposta durante 40
minutos. Por fim, achou melhor recusar a oferta
e propor o empate. Só que Tal não aceitou, de
modo que a posição das brancas piorou e
depois de uma grave incorreção de Karpov
tornou-se desesperadora. Segundo testemunhas
oculares, Baturinsky nesse momento ficou
muito pálido...
31...âfd8
O simples 31...'tWd4+ 32.~bl W'xh4 não
parece claro devido a 33.g6, mas esses temores
não são compartilhados pelo computador: após
33 ... fxg6 com a ameaça de ... El.f2 as pretas
estão perto de vencer. "É difícil transmitir o que
seguia naquele instante no salão e no centro de
imprensa. Todos encontravam vitórias para o
ex-Campeão Mundial. Mas o Campeão
continuava a se mostrar são e salvo ao
tabuleiro." (Roshal)
32.~bl âd5?
Uma anistia! O profilático 32 ... g6! seguido de
... El.d5(4) ainda manteria uma posição
vencedora. Agora, entretanto, as brancas
encontram o único recurso de salvação.
33.g6! fxg6 34.âxe6 El.cd8 35.âcl! W'c3
36.âxg6 âxe5 37.W'f2 âed5 ½-½
O empate foi acordado com uma ovação do
auditório. Naquela noite Tal pareceu mais do
que contrariado...
Somente depois desta salvação milagrosa é
que "Karpov forçou o caminho para dentro do
grupo de líderes". Nas seis rodadas seguintes,
ocorreu um acontecimento surpreendente para

315
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

ele! - venceu quatro partidas com pretas (uma

das quais, com K. Grigorian, é mencionada nos Partida 73
comentários do volume 2, partida 103). Também A. Karpov - l. Smejkal
Leningrado 1977 -3ª rodada
venceu a última partida com brancas. Encerrou
Defesa Pirc-U.ftmtsev - B08
então o torneio em verdadeiro estilo de
campeão: 1. Karpov - 12 em 17 (+8-1=8); 2.
Balashov - 11; 3-4. Petrosian e Polugayevsky - 1.e4 g6
10½; 5. Dorfman - 9½; 6-7. Smyslov e Tal- 9. Na primavera, no Campeonato Europeu de
Este Campeonato da URSS provocou uma Equipes em Moscou, Smejkal tinha perdido um
onda de comentários no mundo do xadrez. O "duelo espanhol" para Karpov e agora ele
Grande Mestre Donner escreveu admirado: tentava a sorte em outra abertura.
"Têm-se a impressão de que Karpov, apesar da 2.d4 JJ..g7 3.-tlc3 d6 4.ltlf3 -tlf6 5.it.e2 0--0
sua aparência frágil, foi o único competidor 6.0--0 it.g4 (6 ... c5 - partida 17) 7.~e3 -tlc6
nesta maratona que não só manteve sua força, 8.!k'd2
mas até aumentou o ritmo até o final. Ele tinha Logo em seguida o Campeão introduziu
que realizar toda uma série de feitos 8.W°d3 (uma das idéias de Zaitsev) 8 ... e5 9.d5
competitivos". Com ele concordou o Grande -tlb4 (9 ... -tle7!?) 10.!k'd2 a5 ll.h3 ~d7
Mestre Byrne: "Karpov é superior aos 12.it.g5 com a iniciativa para as brancas
adversários em sua habilidade de mobilizar (Karpov-Kortchnoi, 13• partida do match,
todas as forças até o máximo nos momentos Baguio 1978). Mas posteriormente ficou claro
mais decisivos e difíceis". que isso pode ser neutralizado através de
8 .. .'52)d7 (Polugaevsky-Sax, Olimpíada de
No começo de 1977, o campeão conquistou
Buenos Aires 1978; Karpov-Timman,
novo fôlego com uma série de brilhantes
Amsterdã 1980).
resultados que confirmaram sem qualquer
8 ... e5 9.d5 -tle7 10.gadl
dúvida a sua superioridade. Em março: vitória
Um lance útil: Seu objetivo principal é
em Bad Lauterberg: 1. Karpov - 12 em 15
atrapalhar ao máximo ... c7-c6.
(+9=6); 2. Timman - 10; 3. Furman - 9; 4.
10 ... WbS
Sosonko - 8½ (à frente de Hübner, Olafsson,
As alternativas 10 ... Ji.d7, 10 ... i.xf3,
Gligoric, Miles, Andersson, Torre...). Em abril,
10 ... ~d7, 10 ... ~e8 e 10 ... b5 foram
impressionantes 5 em 5 no Campeonato
discutidas nas análises da partida Geller-Tal
Europeu por Equipes em Moscou (vencendo (volume 2, partida 101).
Smejkal, Ljubojevic, Gheorghiu, Portisch e 11.b3 .1Lxf3 12.it.xf3 -tld7 13.it.e2
Keene). Em maio: triunfo em Las Palmas: 1.
Karpov - 13½ em 15 (+12=3); 2. Larsen - 11;
3. Timman -10 (à frente de Tal, Browne,
Adorjan, Miles...)
Foi só no supertorneio de Leningrado, no
verão, dedicado ao 60º aniversário da Revolução
de Outubro, que a fadiga começou a se
manifestar: Karpov ficou atrás de Romanishin,
Tal e Smyslov, mas mesmo nesse torneio ele
disputou várias "partidas puramente
karpovianas". Aqui está uma delas.

316

13 ...fS?!
As pretas não deveriam se apressar para fazer
esse lance. Da mesma forma, o profilático
13 ... a6 entra nos seus planos, uma vez que
então 14.f4 perderia seu objetivo: após
14 ... exf4 elas conquistariam um excelente
posto avançado em e5, enquanto a casa e6
permaneceria inacessível para o cavalo branco.
14.f4!
Agora esse avanço é muito oportuno: embora
ele conceda o controle da casa e5 para as pretas,
em troca as brancas conquistam ótimo jogo nas
casas brancas.
14 ... a6
No Campeonato Europeu por Equipes,
Keene de forma imprudente tentou atacar
Karpov no estilo da Índia do Rei - 14 ... g5?!.
Mas as pretas têm poucas chances de criar sérias
ameaças ao rei branco sem seu bispo de casas
brancas e após 15.fxg5 f4 16.~f2 h6 17.gxh6
~xh6 um ataque de bispo à posição das pretas
demonstrou a fragilidade da estratégia de
Keene: 18.~g4 ~f6 19.~e2 B'.g8 20.~e6!
B'.g7 21.éhl ~g6 22.B'.gl ~e7 23.B'.d3 :!âh7
24.~f5 ! e as brancas têm uma clara vantagem.
15.fxeS ~xe5 16.B'.f2 'i!Ud7 17.B'.dfl fxe4?!
O alívio da tensão dos peões sem justificativa
suficiente geralmente faz as coisas mais fáceis
para o adversário. Eu preferiria 17 ... :ãae8
18 ..1iJ4 ~f7.
18.~xe4 B'.xf2 19.~xf2 h6 20.b3 B'.f8 21.c4
g5 22.~g3! ~7g6 23.~e3 B'.xfl+ 24.~xfl
ii'ti 25.'%!fc2 ~h4 26.~e2 ~eg6
Há uma manobra viscosa de batalha em
andamento, na qual as pretas constantemente
têm que se preocupar em consolidar a sua
posição.
27.~d3?!
Para mim outro reagrupamento parece ser
mais perigoso: 27.~h5! '%!ff6 28.'i!fe4! Agora
28 ... 'i!Val+ 29.~fl 'i!Vf6 30.g3 ct:'lf5 31.~f2
ct:'lge7 32.ct:'le3 '%!f e5 33.'%!f xe5 ~xe5 34.ct:'lxf5
ct:'lxf5 conduz a um final com dois bispos
contra bispo e cavalo, no qual as brancas têm
Anatoly, o Décimo-Segundo
boas chances de vitória. E a tentativa de contra-
atacar - 28 ... ct:'lf4 29.'i!Ve8+ éh7 30.~f7
'i!fa 1+ 31. ct:'lfl h5 deixa as brancas com um
peão a mais como resultado de uma espetacular
escaramuça tática: 32.~xf4 gxf4 33.'i!fe4+
éh8 34.'%!fxf4 ~d4+ 35.éhl ~e3 36.'%!fxe3
'%!fxfl+ 37.'i!fgl ~xf7 38.~d4+ e 'i!fxh4.
27... ~eS?
Desperdiçando uma oportunidade inesperada
de reativar as suas peças: 27 ... ct:'lf4! 28.~e4
'%!ff6 com a intenção de ... 'i!Val+ e ... ~e5.
Smejkal, que estava em seu costumeiro apuro de
tempo, não se arriscou a colocar sua dama
muito longe do rei e Karpov imediatamente
encontrou uma oportunidade excelente de
ativar sua própria dama e lembrar seu
adversário da debilidade das casas brancas na
sua posição.
28.~f2 ~f4 29.~e4 ~f6 30.'%!fdl! b6
31.'%!fg4!
De uma forma imperceptível as brancas
fizeram um progresso muito maior no
fortalecimento da posição e torna-se difícil para
as pretas encontrarem um bom lance.
31...ég7?!
O mais resistente 31... 'i!V d8 permitiria às
brancas uma agradável escolha entre a
preparação para a entrada em um final favorável
- 32.ct:'lh5 ct:'lxh5 33.'%!fxh5 'i!Uf6 34.'i!Ve8+ ég7
35.'i!Vd7+ 'i!Vf7 36.'i!Ug4 ct:'lg6 37.g3 e a criação
de uma ofensiva na ala da dama - 32.b4 °ife8
33.c5.
317
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
32.it.e3 <ilf7 33.'i!fcS V/iie7?
Com a sua seta quase caindo, Smejkal não vê
um salto inesperado do bispo e perde de
imediato. Entretanto, 33 ... ~fxg2! seguido
34.V/iixc7+ <tlf8 35."i!f c8+ ~f7 pode ser
chamado de melhor apenas por conter uma
cilada - 36.~h5? ~h2+! 37.~hl 'i!Val+
38.it.cl ~e5! e as pretas dão um xeque
perpétuo: 39.'i!f e6+ ~f8 40.V/iixh6+ ~f7
41.V/iih7+ ~f8 42.~bl 'i!Vc3 43.'i!Vh6+ ~f7.
Entretanto, através de 36.V/iie6+! ifxe6
37.dxe6+ ~xe6 38.~xg2 it_xg3 39.it.d5+ ~f5
40.it.xb6 elas transpõem para um final
tecnicamente vencedor.
34.$.h7! ~xh3+ 35.ifxh3 1-0
O ano terminou para o Campeão Mundial
como tinha começado - com uma confiante
vitória no outono no supertorneio de Tilburg:
1. Karpov - 8 em 11 (+5=6); 2. Miles - 7; 3-6.
Hort, Hübner, Kavalek e Timman - 6.
Em seguida, logo após o match final de
Candidatos (conforme o capítulo "A Revanche de
Belgrado", foi determinado o adversário de
Karpov para o match pelo Campeonato
Mundial. Para desagrado do grupo soviético, era
o desertor Viktor Kortchnoi. Como preparação
para a disputa prevista, ambos os Grandes
Mestres tomaram parte em importantes
torneios no início de 1978 - um em Wijk aan
Zee (1. Portisch - 8 em 11; 2. Kortchnoi - 7 ,5;
3. Andersson - 6,5) e o outro em Bugojno (1-2.
318
Karpov e Spassky- 10 em 15; 2. Timman - 9).
O mundo do xadrez, agora dividido entre
Ocidente e Oriente, aguardava com suspense a
tão esperada disputa da coroa.
Baguio na Visão de Karpov
"O match de Baguio foi o mais agitado e
escandaloso de todos em que participei na
minha vida", lembra Karpov. "O xadrez, cuja
essência significa o contato e o conhecimento
recíproco entre pessoas, foi transformado por
Kortchnoi em um campo de animosidade. Nem
antes nem depois vi coisa igual... O match
começou com uma atmosfera um pouco
pesada. Tentamos nos acostumar um ao outro,
sondando-nos cuidadosamente, sem pressa de
revelar nossos trunfos. Afinal, o match - pela
primeira vez em meio século - era ilimitado até
seis vitórias. Não era possível prever quanto
tempo duraria o match. Só sabíamos uma coisa:
não podia haver pressa".
O regulamento deste match - que teve uma
influência significativa no curso da história do
xadrez - teve uma origem interessante. Foi
redigido por uma comissão especial da FIDE,
cuja primeira reunião se realizou em fevereiro
de 1976, em Amsterdã. Participaram dos
trabalhos Karpov e Baturinsky, em nome da
Federação de Xadrez da URSS. Naquela época,
naturalmente, Karpov se expressou contra o
match ilimitado que tinha sido impingido ao
mundo do xadrez por Fischer. O lado soviético
propunha a disputa até seis vitórias, mas com o
limite de 24 a 30 partidas, e, no caso de empate,
o campeão conservaria o título.
Baturinsky: "Entretanto, logo se tornou claro
que a maioria - e em particular o Presidente da
FIDE, o Dr. Max Euwe - já estava ajustada ao
match ilimitado. O debate chegou a um beco
sem saída... Mas é preciso fazer justiça a Euwe
por ter achado uma solução interessante: não
estipular um limite, mas propor o jogo até obter
seis vitórias (e não dez, como Fischer tanto
tinha insistido); com o escore de 5-5, o
Campeão do Mundo conservaria o título, mas -

eaí está o importante acréscimo! - 'o candidato
mnquista o direito de disputar um novo match
com o Campeão dentro de um ano'. Então
Euwe deu mais um meio passo: em caso de
mver um segundo match, o número de partidas
«veria ser limitado. Todos concordaram com
isto, mas mesmo assim, percebia-se que não se
linha chegado a um acordo definitivo".
A solução final ocorreu só no outono de
1977, em Caracas, em uma sessão do Comitê
Central da FIDE. Um dos participantes, o
Grande Mestre Averbakh, recorda que, no dia
de sua chegada, o Diretor Executivo da
Federação de Xadrez dos Estados Unidos, Ed
Edmondson, pediu que ele providenciasse uma
reunião com Karpov antes do início dos
trabalhos do Comitê Central.
"E naquela mesma noite eles se reuniram,
estando eu também presente. Edmondson
entrou diretamente no assunto, perguntando:
'Que regulamento vocês preferem?' A resposta
de Karpov foi inesperada para mim: 'Eu
concordaria em jogar até seis vitórias e com o
resultado de 5-5, até a primeira vitória, mas
nesse caso gostaria de disputar uma revanche'.
(Embora a PIDE já tivesse abolido as revanches há
11tuito tempo - G. K). Edmondson exclamou:
'Excelente! Procurarei convencer os membros
do Comitê a adotar suas condições'. E, na
reunião do Comitê, tudo ficou acertado.
Tomando a palavra, o 'chefe local', Tudela, um
bem conhecido oficial da FIDE, expôs as
condições já citadas do Campeão,
acrescentando: 'Falta apenas perguntar ao Sr.
Karpov se ele concorda com estas condições'.
O Sr. Anatoly Karpov concordou
condescendentemente... Edmondson apenas
esboçou um sorriso malicioso. Em Baguio, com
aprovação de Karpov, ele foi nomeado membro
do Comitê de Apelações".
O discurso de Karpov foi gravado para a
posteridade por outra testemunha ocular destes
acontecimentos, o assessor de imprensa da
delegação soviética, Roshal: "Muitos desejam
ver algo de novo. Muito bem, concordo em
Anatoly, o Décimo-Segundo
disputar um match ilimitado, mesmo depois de
ter jogado um número tão grande de partidas
em torneios. Alguns são contra o empate
'reservado' para o Campeão Mundial. Quanto a
isto também estou de acordo. Espero não ter
que participar de uma revanche, mas se tiver e o
desafiante vencer, que com ele vença todo o
mundo do xadrez: milhões de admiradores
receberão um novo estímulo pela popularização
de nosso jogo sob a forma de um match-
revanche interessantíssimo. Estou pronto para
apoiar este compromisso".
Roshal afirma que Karpov começou a ser
aplaudido pelos delegados ainda antes de
terminar seu discurso e, "somente Euwe
expressou alguma reserva sobre a garantia do
direito de revanche para o Campeão Mundial,
somente em caso de que ele perdesse por 5-6,
mas então o próprio Euwe percebeu que
ninguém o apoiava". A decisão foi aprovada
quase por unanimidade. Ninguém se interessou
pela op1mao de Kortchnoi e Spassky,
participantes do match final de candidatos. A
situação que surgiu ao final dos matches finais de
1978 e de 1984 / 1985 não podia ser prevista
nem nos sonhos mais terríveis...
Naturalmente, Karpov era o favorito, mas é
preciso não esquecer que, não muito tempo
antes do início do match, ele havia sofrido uma
derrota grave e irreparável. Em março de 1978,
morreu Semion Furman, seu mentor
permanente, competente teórico do xadrez, que
conhecia como nenhum outro a natureza do
talento do seu protégé e que tinha resolvido com
êxito as tarefas da sua preparação estratégica.
Anos mais tarde, Karpov declarou: ''A morte de
Furman matou alguma coisa em mim. Eu me
sentia escravizado e não conseguia relaxar para
conseguir alguma coisa nova que pudesse
aproveitar - e com isso mudar a mim mesmo. A
ausência de novidades me deixava entediado e
por essa razão, sozinho era incapaz de me
forçar a trabalhar, como antes o fazia com
Furman".
Antes de Baguio, um outro treinador do
319
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Campeão, Yuri Razuvaev também "se afastou"
por motivos pessoais. Foi preciso então
mobilizar os treinadores de reserva. Os
principais integrantes da equipe renovada eram
Balashov, Zaitsev e Tal, desde há muito tempo
conhecidos de Karpov. Esta brigada poderosa
"escavou" muitas novidades, mas, mesmo
assim, parece-me que a ausência da mão
consolidadora de Furman foi sentida algumas
vezes no decorrer de um match longo e difícil.
Especialmente para este livro, o Grande
Mestre Zaitsev, velho treinador do Campeão,
contribuiu narrando suas memórias daqueles
dias distantes:
"Nosso primeiro treino de 18 dias antes de
Baguio realizou-se no início da primavera de
1978, perto de Sochi, na região pitoresca da
famosa Krasnaya Polyana. Ao lado dos
enxadristas - Karpov, Vasyukov e eu - também
estavam presentes o Dr. Vladimir Zukhar,
professor de medicina, Valery Krylov,
experiente treinador físico e o cozinheiro,
Viktor Bobylev, que depois por muitos anos
acompanhou Karpov em quase todas as
viagens. Foi esta a primeira vez que participei de
uma equipe tão variada. Tudo era novidade para
mim: desde um Karpov descontraído, que
jogava bilhar desesperadamente, aos passeios
diários de meia hora, respirando o ar puro da
montanha, discutindo todos os tipos de
assuntos do xadrez e de não-xadrez ...
Então se seguiu um treino completo de seis
meses na cidade de Gagry, na Geórgia, com a
participação de Tal, Balashov e o autor destas
linhas. Em Galgry se formou a equipe de
treinadores que viajaria com Karpov para as
Filipinas e foi delineada a amplitude de
problemas de abertura que poderíamos
encontrar no match com Kortchnoi.
Embora o trabalho nas variantes de aberturas
esteja em um estado de fluxo permanente, no
decorrer do match geralmente podem ser
enontrados vários tipos de correções e micro-
idéias interessantes. O trabalho de elaboração
de análises em grande escala pode ser impedido
320
pela agitação diária das disputas. Para
descobertas e esboços teóricos verdadeiros, é
necessária profunda concentração prolongada e
até mesmo isolamento. Então convinha
preparar todas as principais surpresas de
aberturas antes do match, para ter apenas que
variar e refinar no decorrer da competição as
idéias encontradas.
Para as brancas, a nossa equipe de análise
olhava constantemente para a variante aberta da
Espanhola e, é claro, também a Defesa Francesa
com 3.t2ld2 (além disto, por segurança,
tratamos das variantes decorrentes da
continuação crítica, 3.lik3). Para as pretas,
estudamos em três direções, que criaram para
nós muitos problemas: a variante do Gambito
da Dama com 5.it.f4, o esquema Carlsbad e
todas as variantes possíveis da Abertura Inglesa.
"Em nossa equipe de treinadores, a
especialização ocorria quase por si mesma.
Quem dava o tom nas análises eram os dois
jogadores excepcionais, Tal e Balashov. Além
disso, ambos possuíam uma memoria
extraordinária e altamente organizada e podiam
sempre oferecer informações enciclopédicas
completas em qualquer ramo da teoria. Não era
por acaso que Furman, ao exortar jovens
enxadristas, dava este conselho: 'Se vocês
quiserem conhecer a última palavra em teoria,
estudem as partidas de Tal, pois ele pega as
novas idéias mais rápido que os outros!'. A
memória de Balashov acumulava com facilidade
todos os clássicos e todo o corpo da teoria de
aberturas moderna. Ao mesmo tempo, você
sempre podia saber dele, por exemplo, qual o
dia da semana que correspondia à data de
nascimento de Alekhine, em 31 de outubro de
1892 (um domingo!). Também não me queixo
da minha memória (ainda dou exibições de
simultâneas às cegas), mas quando vejo as
manifestações fenomenais de memória em
Balashov, Tal, Kasparov ou Ivantchuk, percebo
a diferença de forma involuntária ...
Nesta divisão do trabalho em equipe,
geralmente assumia o papel bastante honroso

do 'cabeça fria', o de alguém capaz de observar
uma posição sem preconceitos e de um ângulo
imprevisto. Aparentemente, graças a estas
qualidades, fui capaz de inventar toda uma série
de esquemas de abertura completamente novos
e inúmeras melhorias nas variantes, durante
todo o tempo em que colaborei ativamente com
Karpov.
A vila em Baguio, onde Karpov foi
acomodado, era uma construção antiga
gigantesca, virtualmente remanescente da época
dos conquistadores. Para que não pudéssemos
ser ouvidos por nenhum instrumento durante
as reuniões de treinamento, construíram acima
de nós uma cobertura especial de polietileno.
Entretanto, não nos foi possível permanecer
neste espaço confinado por muito tempo:
depois de cerca de quarenta minutos,
começamos a sentir dificuldade para respirar e
nossas faces se cobriram por uma película de
água (estamos falando da região sub-tropical
oceânica!). Com o tempo bom, nós nos
dividíamos em duplas para fazer nossas análises
ao ar livre, desde a manhã até ao anoitecer, com
um breve intervalo para o almoço. Assim que
anoitecia, apareciam, de repente, morcegos
voando e fazendo ruído com as asas, ao mesmo
tempo que milhares e milhares de insetos e
mariposas enchiam todo aquele recanto. Assim,
querendo ou não, nós nos víamos obrigados a
voltar para o nosso paraíso de polietileno...
Durante três meses de pesquisas e tormentos,
criamos um grande número de boas idéias, mas
também surgiram alguns 'abortos', como dizia
Tal espirituosamente".
A primeira partida só durou duas horas.
Karpov: "Depois de meu 18º lance com as
pretas, ofereci o empate, plenamente justificado.
Kortchnoi pensou um pouco e depois, sem me
responder, sinalizou como se fosse um mau
negócio e começou a assinar a sua planilha. Eu
também assinei minha planilha e a entreguei a
ele, que empurrou a própria planilha para o lado
e, sem olhar para mim, assinou a minha. Mas eu
pensei que não fosse menos essencial fazer isto
Anatoly, o Décimo-Segundo
do que no início da partida (Tal, que estava
presente, era da mesma opinião). Sim,
Kortchnoi indicou de imediato que via o aperto
de mãos como uma simples formalidade".
Parece que para Karpov isto foi como uma
daquelas gotas que logo transbordaram seu
copo de paciência. Outro episódio, depois do
empate da segunda partida, onde ocorreu um
final de torre e bispo contra torre e cavalo.
Segundo Karpov, Kortchnoi teria dito:
"Karpov ouviu dizer em algum lugar que o
bispo é melhor que o cavalo. Nas mãos de
Leonid Stein talvez, mas não nas dele!". Houve
também ataques verbais contra Tal, para não
falar do Dr. Zukhar, que já tinha sido afastado
para a 4ª fileira (sobre isso veja o capítulo 'Baguio
na Visão de Kortchnoí').
Como resultado, antes da 8ª partida, Karpov
repentinamente recusou apertar a mão que
Kortchnoi lhe estendeu, deixando-o
desorientado. Este ato foi uma violação das
regras e, devido a isso, a pedido do campeão,
Roshal leu uma declaração na sala de imprensa,
explicando os motivos daquele ato deselegante:
" ... Os últimos acontecimentos demonstraram
que o desafiante não tem a intenção de alterar
seu curso de agravamento da situação. Assim
sendo, Karpov recusa o aperto de mão de
Kortchnoi".
Mas aqui, o que mais nos interessa é o que se
passou no tabuleiro. Voltemos novamente a
Zaitsev:
"Pela característica da batalha da abertura,
logo percebemos que Kortchnoi não tinha se
preparado ao acaso, como nós, porém de forma
mais decidida e completa, tendo decidido
antecipadamente com muita firmeza a série de
variantes e esquemas que pretendia empregar
na disputa. O início do match foi angustiante: na
3ª e 5ª partidas, Karpov se deparou com graves
problemas com as pretas, na segunda delas se
salvando da derrota somente por um milagre
(partida 29). Qualquer jogador que pretende ser
bem sucedido espera, em primeiro lugar,
conseguir vantagem com as brancas, mas nas
321
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
primeiras partidas, Anatoly não conseguiu
nenhuma vantagem importante na variante
aberta da Espanhola. Na 2ª partida, Kortchnoi
deliberadamente nos 'alimentou' com uma
novidade de segunda categoria e, posso dizer,
de qualidade inferior. Em casa não custamos a
detectar suas falhas, mas na 4ª partida, o
desafiante, como que seguindo algum tipo de
percepção especial, desviou e novamente
renovou a variante. Foi só na 8ª partida que
Karpov foi capaz de finalmente refutar a
abertura estrategicamente arriscada do
adversário (conforme o capítulo 'Baguio na Visão
de Kortchnoi'). O fato de ter conseguido enfrentar
o complicado problema no tabuleiro teve
conseqüências de longo alcance.
Kortchnoi, que por natureza é um
observador perspicaz, sem dúvida já tinha
percebido que Karpov, nas aberturas, só muito
raramente jogava diretamente para refutar o
plano do adversário e geralmente se preparava
para se satisfazer com uma solução posicional
sólida, transferindo o centro de gravidade para
a manobra do meio-jogo. Somente isso pode
explicar o aparecimento eventual no repertório
'de pretas' de Kortchnoi de variantes
teoricamente pouco confiáveis, tais como 4 ... f5
na Espanhola (20ª partida do match de 1974).
Em Baguio admitimos a possibilidade de que as
variantes Riga e Berlim aparecessem uma vez
(uma variedade da variante de Berlim foi
empregada posteriormente em Merano).
Pensamos também que a experiência dele com
o uso da Dragão - um sucesso na 5ª partida do
seu match de treinamento, em 1971 e um
desastre na 2ª partida do match de Candidatos
(partida 67) mostraria a ele como seria perigoso
repetir experimentos duvidosos contra Karpov.
No entanto, em Baguio, numa situação em que
o Campeão atuou com pouca confiança, o
desafiante arriscou o uso deste plano arriscado.
A meu ver, Kortchnoi percebeu com grande
perspicácia a condição do adversário e de um
modo geral demonstrou uma percepção
psicológica fora do comum. Em 197 4, eu atuei
322
como segundo de Petrosian no seu match
perdedor para Kortchnoi e lembro sempre um
caso bastante incomum. Na 5ª partida, que foi a
última do match, eu sussurrei algum comentário
inofensivo sobre Viktor Lvovich. O jogo estava
sendo realizado no amplo salão do teatro e eu
estava sentado na galeria, a uma boa distância
do palco... Foi terrível! Kortchnoi, que estava
pensando no lance, de repente virou a cabeça e
no meio da multidão de milhares de torcedores,
cravou os olhos em mim!
Após abrir a contagem na 8ª partida, Karpov
tentou a sorte na 10ª, ao utilizar minha novidade
aguda na variante aberta: 11.lt:\g5!?. Eu tinha
levado esta idéia para Krasnaya Polyana e
Karpov imediatamente se interessou por ela:
então constantemente tentamos aperfeiçoá-la.
Se tornou nossa artilharia pesada, apenas
aguardando o momento de entrar em ação. O
sacrifício de cavalo criou um verdadeiro furor
no mundo do xadrez, mas infelizmente não
produziu o efeito prático que esperávamos.
Após pensar por cerca de uma hora, Kortchnoi
se lançou magistralmente pelas nuanças táticas e
encontrou uma defesa (conforme volume 2 -
partida 118).
E, assim, o torpedo teórico errou o alvo e não
teve influência significativa no match; houve,
quando muito, um efeito psicológico definido.
O adversário viu que para abertura não
tínhamos só armamento leve, mas também
armas pesadas, o que o levou a agir com mais
cautela. De qualquer modo, este episódio nos
forçou a trabalhar unidos, porque tínhamos
visto a enorme capacidade enxadrística de
Kortchnoi com nossos próprios olhos."
Karpov: "A vitória na 8ª partida não diminuiu
a tensão que crescia em mim a cada dia.
Precisava mudar meu jogo de forma mais
decisiva, mas ainda não me sentia preparado
para tanto. E, na 1Oª partida, isto aconteceu.
Kortchnoi suportou um golpe bastante pesado
com uma defesa brilhante, sem que eu
explorasse todas as minhas oportunidades, sem
buscar logo a vitória. Seria o momento de pedir

um intervalo, mas não pensei nisso e fui para a
próxima partida".
Depois de sua derrota na 11 ª partida, o
Campeão finalmente pediu o intervalo, mas o
descanso não trouxe nenhum alívio: ''Tudo
precisa ser feito no momento certo!". Ao
começar a 12ª partida, não sentiu qualquer desejo
de jogar: "Nesta partida simplesmente cumpri o
tempo. Se Kortchnoi percebesse a minha
condição, eu me daria mal. Mas consegui dar a
impressão de desejar uma revanche imediata, de
tranqüilidade, confiança, energia - e ele pensou
somente em igualar e, depois de conseguir isso,
não escondeu a satisfação. O perigo passou. Mas
a crise não podia durar para sempre. A virada
ocorreu na 13ª partida, não antes, nem depois -
no meio da partida. Mas a partida começou
como as anteriores: joguei sem vontade, não
acompanhando as idéias do meu adversário..."
Partida 74
V. Kortchnoi - A. Karpov
Match pelo Campeonato Mundial
Baguio 1978, 13ª partida
Gambito da Dama - D53
1.c4 '2!f6 2.'2lc3 e6 3.'2lf3 d5 4.d4 i.e7
5..fi.g5 h6 6.i.h4 0-0 7Jkl
O plano patenteado de Kortchnoi. A 1ª
partida exploratória do match seguiu 7.e3 b6
81[cl (8.cxd5 - volume 4, partida 103; 8.~e2 -
partida 65) 8 ... ~ b7 9.ild3 (também evitando
9.~xf6!? ~xf6 10.cxd5 - partida 28) 9 .. . dxc4
10.~xc4 '21bd7 11.0-0 c5 12.dxcS '2!xc5
13.~e2 a6 14.!ffdl ~e8 15.a3 '2lfe4, com
igualdade. E 15.'2le5 b5 16.'2!xb5?!
(Kasparov-Karpov, 36ª partida do match,
Moscou 1984-85) é refutado através de
16 . .. ~8!
7 ... b6 (posteriormente Karpov introduziu
7 ... dxc4! - partida 84) 8 ..fi.xf6 (8.cxd5 - volume
3, partida 39') 8 ... ilxf6 9.cxd5 exd5 10.g3
Ao desenvolver seu bispo por g2, as brancas
desejam atrapalhar ... c7-c5 colocando pressão
Anatoly, o Décimo-Segundo
no peão d5, enquanto após ... c7-c6, como na
partida, elas podem restringir a cadeia de peões
pretos através de b2-b4.
10 ... c6
Um esquema sólido, quando todos os
conflitos são adiados para o meio-jogo. Seria
mais ativo 10 ... ~e6 11.~g2 c5 12.0-0 '2lc6
13.dxc5 bxc5. Não muito antes do match, foi
assim que um dos recentes treinadores de
Karpov jogara. A continuação foi 14.~el ãb8
15.'2ld3 c4 16.~f4 ãxb2 17.'2lcxd5 ii.xd5
l 8.ilxd5 ~e5, com igualdade (Olafsson-
Geller, Wijk aan Zee 1977), mas no caso de
15.li)xd5! ii.xd5 16.~xdS ~b4 17.~ b3 as
pretas ainda teriam que lutar pela igualdade.
11.ilg2 .fi.f5 12.0-0 ~d6 13.e3 '2ld7
14.'2lel ãfe8 15.'2ld3 g6 16.'2lf4 1l.g7
O bispo de casas brancas se manteria através
de 16 ... h5, mas Karpov não gostou do fato de
que após 17 .h4 a cadeia de peões na ala do rei
perderia a sua mobilidade, enquanto na ala da
dama as brancas manteriam algumas
oportunidades de pressionar.
17.g4!
Agudo e ao mesmo tempo forçado: se as
pretas fossem bem sucedidas na colocação do
seu cavalo em f6, seriam capazes de iniciar o
avanço de seus peões g e h.
17 ... 1l.e6 18.h3 ~f8
Também parece bastante bom 18 ... ~f6
(Karpov) 19.~xe6 ãxe6, mas as pretas não
querem bloquear o seu bispo em g7.
323
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
19.~xe6 (é claro, .. ~d7 não poderia ser
permitido) 19 ...~xe6
Karpov não gosta de prejudicar sua estrutura
de peões, embora ele comente que "seria
interessante 19 ... fxe6", fortalecendo de forma
potencial a mobilidade da cadeia central de
peões pretos. As brancas teriam que suprimir a
idéia de ... e6-e5 com 20.f4 e suas chances
seriam melhores na seqüência da partida:
20 ... ãac8 21 .~e2 c5 22.~d2 cxd4 23.exd4
~d7 24.~d3 .
20.~d3 ãad8
"Uma vez que aqui não há a perspectiva do
avanço ... c6-c5, não há nada para a torre fazer
em d8. As pretas deveriam ter pensado em jogar
sua dama para a ala do rei (... ~e7-h4) e atacar
os peões brancos através de ... h6-h5 ou ... f7-
f5." (Karpov)
21.ãc2 ~c7 22.~a4
Dobrar as torres - 22.ãfc 1 não evitaria que as
pretas se libertassem: 22 ... c5! 23.dxc5 bxc5
24.~b5 ~xb5 25.~xb5 d4!
22 ... ~d7 23.b3 ãe6
As pretas continuam a jogar sem um plano
claro, direcionando sua torre para d6, onde
ocupará uma posição passiva. "Deve se
considerar 23 ... ~b5 com a idéia de ... ~d6"
(Karpov), sem temer a pressão das torres
brancas no peão c6.
24.~c3 ãd6
Novamente uma decisão questionável,
permitindo às brancas iniciarem um plano ativo.
Após 24 ... ~f8 (Karpov: "evitando b3-b4")
teria sido muito mais difícil jogar isso.
324
25.b4! ~f8 26.~el b5
O posto avançado de c4 é agora para as
pretas mais importante do que o controle de c5.
27.~b3!
Um lance que resolve dois problemas
importantes: é desocupado o caminho
~e2-cl-d3-c5 para o cavalo e se prepara o
lance corrosivo a2-a4.
27...~aS 28.a4! bxa4
Não é possível obter um posto confortável
em c4: 28 ... ~b6 29.axb5 cxb5 30.~f4 ~c4
31.!fal a6 32.:Eka2 ~b7 33.~d3 .lâe6 34.l2:ic5
~xc5 35.dxc5 com uma vantagem óbvia. E "se
28 ... a6 seguiria 29.a5 e como resultado o cavalo
fica fora de jogo". (Karpov)
29.~xa4 ~b6 30.~b3 ãb8 31.~f4 ~c4
32.~a4
O sacrifício imediato da qualidade - 32.gxc4
dxc4 33.'i:!fxc4 é pouco promissor, em vista da
debilidade do peão b4: após 33 .. Jâb6 34.ãal
'i:!fb7 35.l2:id3 ãd8 36.~e4 @g7 37.!fa4 ãb8
as pretas seriam capazes de tomá-lo. Kortchnoi
não se apressa em forças as coisas, mas continua
a fortalecer a sua posição.
32 ... fS
Fiel à sua forma de jogar, no limiar do apuro
de tempo Karpov torna a partida mais aguda ao
custo do enfraquecimento do próprio rei. No
entanto, seria mais seguro primeiro trocar os
peões a7 e b4: 32 ... .lâb5 33 ..lâa2 a5 34.bxa5
.lâxa5 35.~c2 1:!xa2 36.~xa2 f5 (Karpov)
37.gxf5 ~xf5, embora mesmo aqui as pretas
ainda tivessem que demonstrar o equilibrio
após 38.'i:!fbl.
33.gxf5 ~xf5 34.~xa7 ãxb4 35..láal ~c8
36..lácl .lâb7 37.~a4
Karpov temia mais 37.~a6, pensando que a
cravada fosse bastante desagradável.
Entretanto, após o simples 37 ... ~d7 38.~fl c5
39.'i:!fa4 cxd4! (39 ... ~xa4? 40J!xa4 cxd4
41.~g2!) as pretas se defendem: 40.°ifxd7
.lâbxd7 41.exd4 ~b6.
37....lâf7 38.ãxc4!
Com sua seta quase por cair, as brancas

acrificam a qualidade. Na verdade não arriscam
aada, uma vez que os lances seguintes são
claros.
38...dxc4 39.'i!fxc4 'i!ffS 40.CzJd3 iJ..g7
Foi alcançado o controle de tempo e o
momento de adiar a partida. Karpov: "Eu me
sentei ao tabuleiro em uma condição e me
levantei em o utra. Percebi um momento de
mudança - subitamente imaginei que estivesse
ft:lldo tudo de forma diferente em relação à
&se pré-crítica anterior: de repente tudo se
IOI'Ilou claro, distinto e interessante. Como essa
partida terminaria também subitamente se
IDmou interessante para mim. E o fato de que
na seqüência eu jogasse bem, com toda força,
fui algo que eu não tinha dúvida de que
ocorreria." (K arpov)
41.ãa7
Kortchnoi pensou em seu lance secreto por
40 minutos! A posição adiada certamente é
desagradável para as pretas - uma daquelas em
que não há um caminho claro para o empate,
mas também não há uma vitória forçada. Os
dois jogadores tinham alguns dias para as
análises e se considerava que nem 41.f4, ou
41.~b4, ou 41.~c5 daria qualquer chance real
de vitória. O lance secreto também foi
submetido a análises meticulosas.
Kortchnoi: "Na busca pelo inatingível, gastei
metade da noite com meus auxiliares, fiquei
cansado e no dia seguinte decidi utilizar um time-
out - adiando a continuação." E isso ocorreu
Anatoly, o Décimo-Segundo
somente após a 14ª partida, a qual também foi
adiada, mas em uma posição sem esperanças
para ele. Assim, pela primeira vez na história
dos matches pelo Campeonato Mundial, duas
partidas foram retomadas na mesma tarde. Esse
foi um dos momentos culminantes da batalha
em Baguio!
Como o desenvolvimento da continuação
demonstrou, as análises da brigada de Karpov
foram mais profundas.
41. ..ãdf6!
"O final após 41...~e6 42.'i!fxe6 .Ê'.xe6
43.!5.a6 é muito desagradável em vista da
ameaça de d4-d5". (Karpov)
42.!!xti
Após 42Jâb7 a melhor defesa é oferecida por
42 ...~f8! (42 .. .'iat'h7?? 43.e4!) 43.ãxt7 !5.xt7
44.~e5 't!ixf2+ 45.'iat'hl ~d6 46.~xt7 ~xt7
47.~xc6 'i!fc7! e "após a troca das damas, o
final com bispos de cores opostas está
empatado." (Karpov). Mas as brancas têm uma
possibilidade de manter as damas - 48.'i!fa8+
©g7 49.'i!fal. Agora após 49 ... g5 a troca das
damas e o empate resultam de 50.e4 .if4 5 l .e5
~cl + 52.'i!fxcl ~xcl 53.d5 ~b2 54.e6 it.a3,
mas 50.~e4 deixa as brancas com algumas
chances de sucesso.
42 ...ãxti 43.dS
43 •.• .ieS!
Excelente! O bispo está posicionado de
forma ideal na diagonal b8-h2, onde não
somente bloqueia o peão, mas também fica
325
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
olhando o rei branco. "E a troca do bispo
(44.l2\xe5 ~xe5) faria as coisas mais fáceis
para pretas" (Karpov). De acordo com o
campeão, esse lance-chave foi sugerido por
Baturinsky, o chefe da delegação soviética (que
era um firme candidato a mestre).
44.dxc6
Fazendo par com seu colega na coluna e, o
peão passado d seria difícil de parar, mas os
peões separados e e e não apresentam nenhum
perigo.
44 ... ©g7 45.il.e4
Aqui Kortchnoi novamente está no apuro de
tempo. A manobra 43 .. .il.e5 obviamente foi
uma surpresa para ele. Entretanto, a posição das
brancas, se elas ainda sonham em vencer, não é
tão fácil de ser fortalecida. O avanço dos peões
debilita o seu próprio rei. Dessa forma, após
45.e4 'i'fr'h5 a ameaça de ... 'i'fr'e2 força 46.éz)xeS
'i'fr'xe5. E se 45.f4 il.c7 46.e4 há a forte
manobra 46 .. .'i'fr'aS, forçando as brancas a
agirem com cautela: se 47.'i'fr'd4+ ©h7 48.©h2,
então 48 ... gS!.
45 ... 'i'fr'gS+ 46.©fl ii.d6 47.i.dS :ãe7
48.i.f3 h5
Tal aprovou esse lance , "por precaução"
retirando a casa g4 do bispo branco e
ampliando a proteção do rei. O menos
ambicioso 48 ... 'i'fr'f6 também não deixaria às
brancas nenhuma chance particular de sucesso
- tanto no final após 49.'i'fr'd4 'i'fr'xd4 50.exd4
~f8 51.ê2lb2 (51.ii.g4 ~e8 e ~d8) 51.. ..1âe6
52.éz)c4 ~e7, como no caso de 49.éz)f4
(49.i.e4 'i'fr'e6!?) 49 ... ~xf4 50.exf4 'i'fr'd6.
49.i.dl
Em grande apuro de tempo, Kortchnoi não
quer tomar nenhuma decisão radical e somente
após o 56º lance pretende examinar a
possibilidade de jogar para vencer. A troca das
damas - 49.'i'fr'd4+ 'i'fr'f6 50.'i'fr'xf6+ ~xf6
conduziria a um final igual, por exemplo: 5 l .h4
:ãa7 52.i.dS :Sa5 53.e4 g5!.
49 .. .'~fS 50.©e2 ãe4 51.~c3+ 'i'fr'f6 (seria
perigoso 51...~h7? 52.c7 !!e8 53.1i..c2!)
326
52.'i!Vb3
Novamente evitando a troca das damas, que
equivale a uma proposta de empate: 52.~xf6+
~xf6 53.il.b3 e se 53 ... .lâh4, então 54.f4 .ãxh3
55.ê2lf2 .lâh4(2) 56.~f3 com a ameaça de ~g3.
52 ... ~fS 53.'i'fr'b7+ (evitando de novo
53.'i'fr'c3+ ~f6 54.iVxf6+, Kortchnoi quer
entrar no novo controle de tempo com as
damas - ele ainda tem esperanças de vencerQ
53 ....1âe7 54.'ii'b2+ ©h7 55.~d4 j}__c7
56.'i'fr'h4??
Em seu último lance antes do controle de
tempo, as brancas cometem um grave erro,
removendo a sua dama para o canto do
tabuleiro. O tranqüilo 56.'i'fr'cS, embora
permitisse a troca das damas - 56 ... iVxcS (após
56 ... l!ff6 57.ii.b3 Kortchnoi conquistaria seu
objetivo - uma posição complicada com as
damas em-jogo) 57.éz)xcS etc. - permitiria a ele
jogar com o empate nas mãos.
56 .. J!e4! 57.f4 (para salvar a dama esse peão
teve que avançar no momento maJs
inadequado) 57 ... il.b6! 58.il.c2 .1âxe3+
59.©d2 ~as+ 60.©dl ~al+ 61.©d2 ãe4
0-1
Esta foi uma das tragédias de Kortchnoi nas
Filipinas, juntamente com a 5ª e 17ª partidas.
Foi uma atitude inexplicavelmente destituida de
senso prático ficar pensando no lance 40
minutos e em seguida pedir o adiamento... Oleg
Skuratov, seu amigo desde a juventude, escreve:

"Viktor nunca se poupou, nunca economizou
suas forças. Essa extravagância se refletiu com
toda a força em Baguio. Observando seus
descuidos fatais, involuntariamente me lembrei
do Kortchnoi estudante, jogando partidas
relâmpago durante dias sem fim. Atraído pelo
jogo, ele não se dava conta das conseqüências
de tal esforço".
Na 14ª partida, a equipe do Campeão afinal
encontrou a chave da variante com que o
adversário conseguira dois empates no início do
match. Karpov: "Conduzi esta partida nas
minhas melhores tradições". Deparando-se
com outra novidade, Kortchnoi esforçou-se o
mais que pôde, mas perto do 30º lance não
suportou a pressão de uma defesa exaustiva e
trabalhosa.
Partida 75
A. Karpov - V. Kortchnoi
Matcb pelo Campeonato Mundial
Baguio 1978, 14ª partida
Abertura Ruy úpez - C82
1.e4 e5 2.iclf3 i'clc6 3.Ab5 a6 4.Aa4 iclf6
5.0-0 i'clxe4 6.d4 b5 7.Ab3 d5 8.dxe5 .ile6
9.c3 (9.ézJbd2 - partidas 85 e 86) 9 ... .ilc5
10.iclbd2 0-0 ll.il..c2 kf5 12.iclb3 il..g4
Três anos mais tarde, em Merano, Kortchnoi
tentou com sucesso 12 ....tg6! (partida 35).
13.h3!?
Uma surpresa! O jogo comum despretensioso
pela vantagem dos dois bispos - 13.l2::ixc5
li::lxc5 14.13.el, como em Bronstein-Flohr
(Campeonato da URSS 1944), Euwe-Eliskases
(Mar del Plata 1947) e Fischer-Larsen (Santa
Mônica 1966) não trouxe nenhum dividendo às
brancas na 2ª e na 4ª partidas aqui.
13 ... .th5
Karpov simplesmente menciona o lance mais
agudo 13 ...~xf3, enquanto Tal o considera não
desfavorável para as brancas. Realmente, é
difícil decidir, sem análise especial do jogo
indefinido após 14.gxf3 (14.~xf3?! li::lxe5
Anatoly, o Décimo-Segundo
Navarro-1.Ivanov, Cienfuegos 1980) 14 .. .l2Jxf2
15J~xf2 .txf2+ 16.'it>xf2 ~xe5 ou 16 ... ~4+
17.Wg2 ~xe5 - os bispos brancos terão o que
falar!
14.g4! .ilg6
A posição era
15.Axe4!
"Ocorreu-me ser possível ir para um final no
qual a presença de bispos de cores opostas não
diminui e até aumenta a vantagem das brancas."
(Karpov)
15 ... dxe4 16.i'clxc5 exf3 17.it.f4!
A base da idéia das brancas. Karpov não
desperdiça a oportunidade de conquistar outra
pequena vantagem: para salvar seu peão f3, as
próprias pretas são forçadas a trocar as damas -
e presenteiam seu adversário com um tempo
extra.
17 ...'i!fxdl
''Após l 7 ... ~e7 as brancas ganham um
tempo através de 18.~d5 li::la5 19.b4 ~c4
20.~fel e o peão f3 está perdido" (Karpov):
20 ... a5! 21.a3! etc.
18.ãaxdl icld8!
A melhor defesa. As pretas trocam o forte
cavalo em c5 e criam para o seu bispo um ponto
forte central, desse modo mantendo seu peão
f3. Kortchnoi até permite a torre inimiga na 7ª
327
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

fileira, quando ele vê como é possível tirá-la Kortchnoi, explorando o fato da ausência
dali. momentânea de coordenação das torres
19.iâd7 /;z)e6 20./;LJxe6 fxe6 21..t.e3 inimigas. As pretas novamente estão inundadas
(Karpov chegou nessa posição em casa) de problemas.
21. ..gac8
A troca de um par de torres após 21...ÉH7?!
22.Éffdl (Karpov) 22 .. Jâaf8 23.~c5 !'!xd7
24.gxd7 :Sc8 25.Wh2 ~e4 26.Wg3 il.d5 27.h4
permitiria às brancas chances reais de vitória.
22.ÉÍ'.fdl ~e4!
N o momento certo! Atrasar com 22 ... h5?!
concederia a 7ª fileira para as brancas: 23.gxh5
.1i.xh5 24.ge7 e gdd7. (Karpov)
23.ilcS!
Forçando a torre a deixar a coluna f e tomar
uma posição passiva; mas a torre branca
também é forçada a se retirar e isso sem dúvida 29 ... exdS 30.iâxdS ãce6 31.il.d4 c6 32.:ScS
é uma conquista para as pretas. Só se passaram três lances, mas como de
23 ... É!.feS 24.Ê'.7d4 (após 24.'i!i'h2 ~c6 a forma surpreendente mudou a situação no
torre teria que sair de d7) 24 ... .fl.dS 25.b3 a5 tabuleiro! As torres das pretas estão dispostas
26.'~h2 ÉÍ'.a8 27.@g3 l:fa6 de forma passiva, seus peões da ala da dama são
Após ser bem sucedido em montar uma alvos óbvios e o peão f3 está completamente
defesa, Kortchnoi relaxa e decide tentar condenado. Se a falange de peões brancos
prevenir c3-c4 através de medidas simples. Ele puder começar a avançar, as pretas serão
evitou o mais resistente 27 .. .a4 28.c4 bxc4 incapazes de segurá-la.
29.bxc4 ~ c6, possivelmente não percebendo 32 ...ãfS?
Agora a partida não pode ser salva. Os
que se 30.a3 há a forte resposta 30 .. Jâa5!.
recursos defensivos das pretas estavam muito
Karpov declarou que mesmo sem 30.a3 "as
longe de exauridos e em primeiro lugar elas
brancas têm uma vantagem posicional óbvia",
precisavam trocar as torres: 32 ... !!d8! 33.Wxf3
mas isso se consistiria simplesmente na
.i:!d5 34 ..l:!xd5 cxd5. Nesse caso, a tarefa das
dominação completa da coluna d, na qual não
brancas seria seriamente complicada e, talvez,
há casas de invasão. As brancas então teriam
tivesse se tornado totalmente irrealizável!
que tentar a abertura de outra frente na ala do
rei.. .
28.h4 âc6?
Um erro sério. Ainda não é muito tarde para
jogar 28 ... a4, mas Kortchnoi desenvolve a idéia
falha de transferir a sua torre e não percebe o
perigo.
29.âxdS!
No caso do " óbvio" 29.b4 as pretas
dificilmente ficariam sob perigo da derrota.
Com esse sacrifício inesperado de qualidade,
Karpov revela a imperfeição no plano de
Diagrama de Análise

328

Se as brancas movem seu rei, preparando o
avanço do peão f, as pretas encontram
contrajogo muito convincente:
1) 35.~g3 b4! 36.f4 ~c6! 37.cxb4 axb4
38.f5 ~c2 39.e6 t!xa2 40.W (no caso de
40.g5? .l2:e2! com a ameaça de ... g7-g6 as
brancas estão sob risco de perder: 4 l ..it.c5 .l2:e4
42.e7 g6 43.fxg6 hxg6 44.~xb4 ~f7 e o peão
d das pretas entra em ação) 40 ... ~a3 41.~f4
l!xb3 42.g5 .l2:h3 43.~c5 .E!:xh4+ 44.~e5 b3
(após 44 ... .l2:g4 45.~d6 o peão g5 não pode
ser tomado, mas 45 ... b3 ainda salva as pretas)
45.f6 ~e4+ (não 45 ... gxf6+? 46.gxf6 ~e4+
devido a 47.~f5!, vencendo) 46.~xd5 gxf6!
47.gxf6 (após 47.~xe4? b2 uma nova dama
surge com xeque!) 47 .. Jâf4 e o empate é óbvio;
2) 35.~e3 h5! 36.gxh5 (seria inofensivo
36.f3 hxg4 37.fxg4 b4! 38.h5 ~c6 39.~d3
~f7) 36 .. Jâh6 37.~f4 .E!:xh5 38.~g4 g6!
39.a4! (conquistar o peão a5 é a única chance
das brancas) 39 ... bxa4 40.bxa4 ~f7 41.f4
~e6 42.Jl.b6 gh8 43.~g5 (após 43.ii.xa5 .iâa8
44.~b6 :ãxa4 45.~g5 lâa2 46.~xg6 .l2:g2+ o
rei branco é empurrado para o canto do
tabuleiro, o que lhe retira qualquer chance)
43 ... gh5+! (seria passivo 43 ... ~f7?!
44.ii.xa5! :ãa8 45.ii.b4 ãxa4 46.e6+! ~xe6
47.~xg6, mas mesmo aqui, ao jogar 47 ... d4
48.f5+ ~d7! - o único lance: 48 ... ~d5? 49.f6
d3 50.c4+! ~xc4 51.f7 .l2:a8 52 ..it.d2 etc. -
49.f6 d3, após o surgimento das novas damas
parece que as pretas não estão perdidas)
44.'í!?xg6 :ãxh4 45.f5+ 'i!?xe5 46.~c7+ ~e4
47.f6 !!g4+ 48.'í!?h5 !!gl 49.f7 B'.fl 50.Wg6 d4
com um empate, uma vez que a casa de
promoção a não é controlada pelo bispo.
No entanto, as brancas podem antecipar o
contrajogo com ... h7-h5 (através de 35.h5) ou
com ... b5-b4 (35.a3). Assim:
3) 35.h5 b4! (35 ... !!c6 36.~e3 ou 36.a3!
conduz a variantes já examinadas; a antecipação
mecânica do avanço não é tão boa - 35 ... g5
36.hxg6 hxg6 37.We3 g5 38.f4! gxf4+
39.Wxf4 ~f7 40.~f5 :ãc6 e após 41.a3 fica
Anatoly, o Décimo-Segundo
claro que a manobra de torre entre c6, e6 e g6
não traz um empate, por exemplo: 41 ... a4
42.bxa4 bxa4 43.g5 ge6 44.~c5 e após
44 ... !'k6 segue 45.~d6!, enquanto se
44 .. _gg6 - 45 ..it.e7!, então .t.f6 e os peões
passados brancos iniciam o avanço) 36.We3
!!c6! 37.Wd3 (no caso de 37.cxb4 axb4 38.f4
!!a6 as coisas são mais simples para as pretas)
37 . .. g6! 38.hxg6 .Ei.xg6 39.f3 'í!?f7 40.cxb4
axb4 41.Jl.c5 ./âa6, conseguindo contrajogo
salvador tanto após 42.'í!?d4 ./âxa2 43.Wxd5
B'.d2+ 44.~d4 gd3 45.f4 :ãxb3 46.e6+ We8
47.f5 :ãd3 48.We4 gg3 49.~f4 :Sd3, como
também 42.il..xb4 ãxa2 43.Sl.d6 E!f2 44.We3
!!fl 45.b4 d4+ 46.'i!?xd4 :ãxf3 47.b5 We6
48.b6 !!b3;
4) 35.a3!. Assim era como Karpov
"pretendia continuar, para criar uma fortaleza
na ala da dama através de b3-b4 e somente
então avançar os peões da ala do rei." Isso dá as
maiores chances de sucesso: as brancas
atrapalham a ativação da torre e planejam Wg3
e f2-f4.
Diagrama de Análise
Aqui 35 ... h5? É um sacrifício de peão, o qual
as pretas não podem se permitir: 36.gxh5 :Se8
37.'í!?g4 (37.b4!?) 37 ... b4 38.axb4 axb4
39.cxb4 :ãb8 40.~c5 d4 41.Wf4 e as brancas
devem vencer. E a defesa passiva através de
35 ... g6? é rachada gradualmente através de
36.Wg3: Karpov somente deu o sem
esperanças 36 .. _ge8? 37.f4 :ãf8 38.e6 (é até
329
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
melhor 38.h5!), mas também não ajuda 36 ... h5
37.f4 hxg4 38.'it>xg4 'it>f7 39.'it>g5 (não 39.h5?
gxh5+ 40.'it>xh5 Ê'.g6 41.f5 Ê'.g2 e com seu rei
cortado as brancas não podem vencer)
39 .. J!.e8 40.f5 gxf5 4 l.'it>xf5 El:e6 42.½e3
:Sc6 43.~d2 (o peão h passado está pronto para
avançar e o contrajogo das pretas é demasiado
tardio) 43 ... b4 44.axb4 axb4 45.cxb4 Ê'.c2
46.e6+ etc.
Dessa forma as pretas precisam ter como
objetivo imediato a ativação da sua torre -
35 ... Ê'.c6! E no caso de 36.'it>g3 b4! 37.axb4
axb4 38.cxb4 E'.cl 39.e6 :Sel 40.~e3 {ou
40.b5 §'.xe6 4 l.b6 Ê'.e7 42.f4 g6) 40 ... 'it>f8
41.Wf4 We7 42.'~e5 d4 43.'it>xd4 'it>xe6
aparentemente elas conquistam um empate.
As brancas podem suprimir radicalmente a
idéia de ... b5-b4 através de 36.b4 ("à la
Karpov"), mas então a coluna a é aberta para a
torre: 36 ... axb4 37.axb4 'it>f7 38.Wg3 ~e6
39.f4 g6 40.h5 &6 41.~h4 i:l'.a2 42.Wg5 Eí'.g2,
com igualdade. Ao invés de 38.Wg3 seria mais
forte jogar 38.Wf4! e após 38 ... ~e6 39.ég5!
ou 38 ... Ê'.a6 39.Wf5! g6+ 40.'it>g5 :Sal 41.f4
E'.fl 42.f5 gxf5 (42 ... h6+ 43.éxh6 gxf5
44.g5!) 43.gxf5 h6+ 44.~g4 as coisas
claramente estão ruins para as pretas. Mas aqui
também elas encontram uma resposta: 38 ... h6!
39.h5 g6 40.hxg6+ E'.xg6 e desde que se
41.éf5 há 41...E'.g5+, se 41.~g3 - 41...h5, e
se 41.f3 - 41. .. ée6, as brancas têm que se
contentar com um empate.
Agora, na procura pela vitória, a seguinte
linha é fortemente auto-sugestiva: 36.Wf4 ~fl
37.~f5 e após 37 ... h6? 38.h5 seguido por
f2-f4 as pretas mais provavelmente serão
incapazes de resistir. Elas devem jogar de forma
enérgica: 37 ... g6+ 38.ég5 b4! 39.axb4 axb4
40.cxb4 .lâcl 41.f4 :ãdl! (41.. .E'.fl? 42.h5 h6+
43.éxh6 gxh5 44.f5! hxg4 45.e6+ ée7
46.~g6 e os peões brancos são irresistíveis)
42.½c5 d4 43.f5 gxf5 44.gxf5 h6+! (não de
imediato 44 ... d3? devido a 45.e6+ Wg8 46.f6)
45.éf4 (45.~xh6? d3 e são as pretas que
330
vencem) 45 ... d3 46.e6+ ~e8 47.We3 d2 e em
vista da troca do peão d2 por um dos peões
passados conectados, é um empate.
Uma versão mais refinada do mesmo plano é
41.b5!? (ao invés de 41.f4) . Ao forçar o
adversário a lidar com o peão b, as brancas
nesse meio tempo esperam conseguir mais na
ala oposta: 41.. .E'.bl 42.f4 lâxb3 43.f5 {43.b6
âb4) 43 .. Jâxb5 44.e6+ 'it>e7.
Diagrama de Análise
Ir para o peão h7 - 45.~h6 conduz ao
isolamento do rei: 45 ... gxf5 46.gxf5 l'!b3
47.éxh7 (47.~g5 :Sb5 - é aproximadamente o
mesmo do que após 45.h5) 47 ... :ãg3, com
igualdade. Seria mais interessante 45.h5 gxf5
46.gxf5 &5 (a casa c5 tem que ser guardada)
47.~f6+ (após 47.éh6 :Sa4 48 ..t.c5+ ~f6
49.Wxh7 d4 são as brancas que têm que tentar
o empate) 47 ... We8 48.~g7 ~e7 (um lance
natural, mas seria tecnicamente mais preciso
48 ... d4!, uma vez que após 49.~xd4 a torre
manterá sob fogo o peão f5 e as brancas serão
incapazes de vencer, mesmo após penetrar com
o seu rei em f6) 49.~d4 Ê'.b5 50.~h6 (o
momento ótimo para o ataque ao peão h7)
50 ... El:b3 51.~xh7 Ê'.g3 ! (não 51 ... .lâf3?
52.~c5+ ~f6 53.~g8!) 52.h6 (a diferença em
comparação com a variante 45.'it>h6 é a de que
o peão h está mais avançado, mas isso não é
decisivo) 52 .. J~g5 53.~g7 d4 54.f6+ ~xe6
55.ég8 d3 56.fl :ãf5 57.h7 d2 58.h8'fW dltf
59.~h6+ ~d7 60.½f6 ~g4+ 61.~g7 ~c4 e

o empate, evidentemente, não pode ser evitado.
A única tentativa que resta é 36.h5 éf7
37.ég3 - após isso as pretas respondem com o
úpico 37 ... b4! (não seria tão bom 37 ... ée6
38.f4 g6 39.éh4) 38.axb4 axb4 39.cxb4 ]âcl
40.f4 Éi.bl ! (é duvidoso 40 .. Jâdl 41..tcs
ãd3+ 42.éh4, por exemplo: 42 ... Ê5.xb3 -
42 ... ~e6!? - 43.f5 h6 44.e6+ ~e8 45.g5!
hxg5+ 46.ég4! ]âbl 47.h6! gxh6 48.f6,
vencendo) 41.f5 É\.xb3+ 42.éf4 É\.xb4 43.e6+
ég8 44.~e5 h6 45.~xd5 Él.a4! (após
45 ... Éi.b8? 46 ..tcS :Sd8+ 47.~c6 o rei apóia de
forma decisiva a iminente ruptura de peão:
47 ... 1:!dl 48.ii.d6 Éi.al 49.'it>d7 &7+ 50 ..ic7
ãa8 51.g5! hxg5 52.h6 g4 53.hxg7 ~xg7
54..teS+ etc.) e se 46.g5 hxg5 47.h6 gxh6
48.f6, então, "na opinião" do computador, as
pretas forçam um empate através de
48 ... É\.xd4+! 49.~xd4 g4 50.~e5 g3 51.f7+
©g7 52.éd6 g2 53.~e7 gl VJ!i 54.f8~+ ~h7.
Em uma partida prática, é claro, ainda seria
necessário um número de lances precisos das
pretas nessa posição final.
É razoável supor que esse final fascinante
contenha muito mais sutilezas. Mas, em todo
caso, não há dúvida de que 32 ... 'fif8? foi um
erro decisivo de Kortchnoi, permitindo que as
brancas tornassem a partida em um estágio
puramente técnico.
33.a4!
Karpov rompe o par de peões do adversário,
condenando as torres pretas à defesa das suas
ilhas de peões enfraquecidos.
33 ... bxa4 34.bxa4 g6 35.i!xaS 'fiee8
Anatoly, o Décimo-Segundo
Agora 35 ... hS pode ser desprezado pelas
brancas: 36.:Ek5! hxg4 37.a5 Ê5.d8 38.~xg4
Éi.d5 39.:S.xdS cxd5 40.éxf3, vencendo.
36.'f!..a7 (isso efetivamente conclui a partida)
36...füi
As brancas precisam não temer a troca
36 .. .i:~aS 37.a5 É\.xa7 38 ..t~a7: muitos dos seus
peões sonham em se tornar uma dama.
37.i!a6! (negando novamente qualquer
esperança de atividade às torres pretas)
37 ...'fic7 38.~cS :S.cc8 39.i&d6 i!a8 40.'f!..xc6
'f!..xa4 41.éxf3 hS 42.gxhS
O lance secreto. Os três peões pela qualidade,
mais peças ativas, não deixam ao adversário
qualquer chance de salvar a partida,
especialmente após as análises do adiamento.
No dia da continuação, primeiro o desafiante
de forma inesperada perdeu a 13ª partida (veja
acima). "Kortchnoi ficou chocado", lembra
Karpov. ''Afinal, em meia hora ele enfrentaria
uma segunda continuação - e uma segunda
derrota sucessiva... Eu pensei que ele não viesse
para essa continuação, mas ele chegou,
provavelmente para demonstrar que poderia
aceitar tranqüilamente esse golpe do destino.
Ele até sorriu. Eu posso imaginar o que esse
sorriso tenha lhe custado".
42 ... gxhS 43.c4 ãa2 44.'fib6 r;t;r, 45.cS
'f!..a4 46.c6 ée6 47.c7 éd7 48.i!bS 'f!..c8
49.ée3! I!xh4 50.e6+! 1-0
As pretas abandonam: 50 ...<t;xd6 5 l .É\.xc8
Éi.c4 52.:S.d8+! ~xc7 53.e7 ou 50 .. .'it>xe6
51.ii.g3!
A contagem se tornou 3-1 a favor do
Campeão e ele resolveu reforçar a retaguarda
para se ajustar à nova situação do match: "Eu
não forçava as coisas, mas continuava a jogar
como se nada tivesse acontecido, confiante de
que a onda que crescia em mim varreria o meu
oponente com sua força lógica. Foi o que
aconteceu na 17ª partida".
Para ser justo, convém dizer que, logo no
início desta partida incrivelmente dramática e
interessante, Kortchnoi perdeu onze minutos
331
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
no relógio na batalha com Zukhar (conforme
página 119) e então conquistou uma posição
completamente vencedora através de um jogo
enérgico. E naquela tarde, a "onda crescente"
poderia ter coberto Karpov "com sua força
lógica" ...
Antes de analisar esta partida, vamos tentar
compreender o que o Doutor em Ciências
Médicas Vladimir Petrovitch Zukhar fazia em
Baguio. Afinal, inicialmente a sua tarefa era
simplesmente cuidar para que Karpov dormisse
bem e prestar-lhe orientação psicológica.
Alexander Roshal lembra:
"Kortchnoi sempre foi conhecido pela sua
desconfiança e por acreditar na parapsicologia e
todo tipo de misticismo (posteriormente
chegou a disputar uma partida com ... o espírito
de Geza Maróczy!). Desde o início em Baguio,
quando Zukhar ainda não tinha começado a se
divertir, Victor Lvovich se queixou: 'Trouxeram
um psicólogo secreto com eles!'. Ele deve ter-se
lembrado de Zukhar do match de Moscou.
Resumindo, logo que Kortchnoi deixou
transparecer que tinha medo da hipnose, isso
foi explorado de imediato. Sabíamos
perfeitamente que Zukhar não era um
hipnotizador, mas decidimos: se isto é o que o
adversário deseja, pois que seja! E o próprio
Doutor ficou tão convencido do seu papel que
em seguida começou a se achar como o
virtualmente principal participante dos fatos.
Antes das partidas, no almoço, não tomava sopa
nem bebia água para poder permanecer firme
durante cinco horas seguidas no seu 'posto de
batalha' na quarta fileira da assistência. Não sei
ao certo se estava agindo desta maneira por
ordem de Baturisnky ou por sua própria
iniciativa.
Os meios que a equipe do desafiante tentou
combater nosso parapsicólogo!... A própria
Petra Leeuwerick sentou-se diretamente na
frente dele, bloqueando a sua visão. Então
Zukhar nos pediu, a Krylov e aos 'críticos de
arte à paisana' (oficiais da KGB - G.K) para
colocarem Petra em outra poltrona. Como ela
332
estava sentada quase no colo de Zukhar, Tal, de
forma espirituosa, comentou de imediato:
'Agora ele é Vladimir Petrovitch!'. (Vladimir
Petrovitch é um personagem do romance Primeiro
Amor' de Ivan Turguenev - N do T).
Os psicólogos são gente esquisita: quando se
fala muito sobre eles, começam a acreditar na
importância única da sua missão. Durante um
dos longos intervalos nos adiamentos das
partidas, todos fomos convidados a participar
de uma recepção, quando um apresentador
local anunciou: 'Entre nossos convidados
encontra-se a equipe de Anatoly Karpov.
Presente aqui, com eles, se encontra o famoso .. .'
Provavelmente iria anunciar o nome de Tal,
muito conhecido até nas Filipinas, mas antes
que acabasse de falar, Zukhar se levantou e fez
a inclinação de agradecimento..."
Roshal prossegue: "Passado algum tempo,
ouvimos do lado de Kortchnoi: 'Muito bem,
aguardem... Em breve chegará aqui uma pessoa
que vai hipnotizar a todos!'. No entanto, não
custou muito aos soviéticos desmascarar nosso
emigrante de Kharkov, um 'hipnotizador'
amador, que obviamente estava disposto a
qualquer tarefa. .. Tudo isto era uma guerra
psicológica. De início tomamos o episódio
como uma brincadeira. Eu mesmo, por
exemplo, me permiti uma brincadeira de mau
gosto sobre este 'judeuzinho'... Mas então estas
brincadeiras adquiriram dimensões mais
ameaçadoras".
Assim, após vencer a feroz batalha para fazer
Zukhar mudar de lugar, finalmente o desafiante
fez seu primeiro lance e o Campeão surgiu da
sua sala de descanso.
Partida 76
V. Kortchnoi - A. Karpov
Match pelo Campeonato Mundial
Baguio 1978, 1r partida
Defesa Nimzo-Índia - E47
1.c4 êzJf6 2.lzJc3 e6 3.d4 il.b4 4.e3 0-0
(evitando 4 ... c5 5.lzJe2!? - partida 29) 5.il.d3

c5 6.d5!?
Kortchnoi chamou esse lance novo e agudo
"uma idéia interessante de Yacob Murey''.
Geralmente é jogado 6.l2)f3 ou 6.l2:'ie2.
6 ... b5!?
As pretas respondem como na 7ª partida,
onde "esse sacrifício de peão veio como uma
surpresa e e se mostrou totalmente justificado
do ponto de vista prático". (Karpov)
7.dxe6 fxe6 (na opinião de Karpov, seria até
melhor 7...bxc4 8.exf7+ çt,h8 9.~xc4 d5)
8.cxb5 a6!?
E isso é uma novidade. Aparentemente o
campeão ficou insatisfeito com o resultado da
abertura na 7ª partida, onde em primeiro lugar
montou um peão central móvel: 8 ... Ji.b7 9.l2:'if3
d5 10.0--0 CzJbd7 11.l2:'ie2! 'i!fe8 12.CzJg3 e5
(12 ... c4!? 13 ..i.c2 l2:'ic5) 13 ..i.fS g6 14.~3
a6?! 15.l2:'ig5! axb5 (se 15 ... ~aS ou 15 ... 'i!fe7
seria forte 16.e4!) 16.l2:'ie6 c4 17.~d2! e as
brancas ganham a qualidade, mas... não a
partida.
9.l2:'ie2 d5 10.0-0 e5
Possivelmente fosse mais promissor
10 ... axbS 11.i.xbS ~a6 12.i.xa6 CzJxa6, mas
por uma questão de princípios Karpov não quer
definir nesse instante a posição do seu bispo.
11.a3
O primeiro momento crítico.
11 ... axb5?!
"Seria melhor escolher entre 11...i.aS e
Anatoly, o Décimo-Segundo
11.. ..i.xc3" (Tal). Se 11...~aS?! é bom o
contra-sacrifício 12.b4!, expondo a debilidade
central do inimigo: 12 ... cxb4 13.axb4 ~xb4
14.'i!fb3 ~xc3 15.l2:'ixc3 ~b7 16.e4! etc. Mas
11...~xc3 ! (agora, para evitar a resposta
12.bxc3) de fato poderia equilibrar: 12.l2:'ixc3
c4 13.~e2 (13.~c2 d4) 13 ... axb5 14.CzJxbS
~a6 15.l2:'ic3 (15.'i!Va4 CzJbd7 ou 15 ... CzJc6)
15 ... d4 16.exd4 exd4 17.SlfJ ~a7 18.l2:'ie2
Ei.d7 com belo contrajogo.
12.i.xb5 ~xc3
Uma escolha difícil. Algumas vezes acontece
que nas análises você chega a uma conclusão,
mas durante a partida começa a ter dúvidas e
novas variantes insinuam-se em sua mente.
Você muda o rumo do plano e posteriormente
se reprova: 'o que foi que eu fiz?'. Foi o caso
aqui: foi recomendado para Karpov que ele
deveria manter o bispo nessa posição, mas o
raciocínio ao tabuleiro conduziu-o a uma
direção diferente. Por que?
"Se 12 . .. ~e6 há a resposta desagradável
13.l2:'ia4, enquanto 12 ... c4 não funciona devido
a 13.e4 e a posição das pretas desmorona. No
caso de 12 ... ~aS (Tal) as brancas jogam
13.~d2, criando a ameaça de b2-b4, após o
que a abertura da coluna a favorecerá então as
brancas." (Karpov). Por exemplo: 13 ... ~a6
14.b4! cxb4 15.axb4 ~xb4 16.'i!fb3 ~c5
17 .E!:fd 1 ou l 7 .Ei.fc 1 e o centro suspenso das
pretas está à beira do colapso.
Assim 12 ... 'i!fh6 foi rejeitado por Karpov
devido a 13.~d3 c4? 14.l2:'ixd5, embora após
13 ... ~xc3 14.l2:'ixc3 ~e6! as pretas teriam
compensação pelo peão, enquanto 14.bxc3 não
seria tão favorável às brancas como na partida.
De fato 12 ... 'i!fh6? seria refutado de maneira
combinatória, que o campeão também viu,
mas ... não até o final: 13.l2:'ixd5! ifxb5
14.CzJxf6+ gxf6 15.'i!fdS+ çt,h8 16.it'xa8 ~b7
l 7.'i!fa7 ~a5!
333
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Diagrama de Análise
E aqui, ao invés da bela continuação dada por
Karpov - 18.êi:lc3 ii.xc3 19.bxc3 .ixg2!
20.'~xg2 âg8+ e 18.a4 ~c6 19.f3 ii.b6,
vencendo, há 18.b4!, mudando de forma aguda
a avaliação da posição: 18 ... 'i!Kc6? 19.f3 ~b6
não funciona devido a 20.b5!, enquanto no
caso de 18 ... cxb4 19.axb4 .txg2 20.'i!Kc5!
'i!fr'xc5 21.bxc5 .ixfl 22.'~xfl êi:lc6 (22.. ..1i.b4
23 ..ia3) 23.e4 ou 18 ... êi:ld7 19.êi:lc3! 'i!Kc6
20.e4 Ei.a8 21.~xa8 .ixa8 22.bxa5 as brancas
seriam capazes de converter a sua vantagem
material.
13.bxc3!
Karpov não gosta de peões defeituosos e
assim, até nos cálculos "para o seu adversário",
ele claramente subestimou essa captura com o
peão. Agora o trio de peões pretos perde a sua
mobilidade e as pretas têm que procurar outra
compensação pelo peão sacrificado. Mas isso
não é fácil, uma vez que elas não estão na frente
em desenvolvimento e o bispo em b5 paralisa o
seu contrajogo na ala da dama.
13 ... il..a6?!
As pretas concordam com a troca dos bispos
de casas brancas, contando que o outro bispo
das brancas está restrito e de alguma forma será
possível aproveitar isso. "Possivelmente fosse
melhor 13 ... ~b7", mas não 13 ... c4?! 14.a4
.ta6 15.~ a3 lât7 16.f4! 'i!Kb6 (Karpov)
17.'i!fd2! com vantagem óbvia para as brancas.
14.gbl ~d6
"Se 14... l2ibd7, então 15.e4 ii..xb5 16J~xb5
seguido por a3-a4, .ia3 e t2-f4" (Karpov).
334
Além disso, as pretas teriam que contar com
15 ..1i.c6!?.
15.c4 d4 16.lilg3!
Parece tentador o imediato 16.f4. Depois
disso, Karpov planejava responder 16 ... l2ic6,
não vendo que após 17.fxe5 êi::\xe5 18.exd4
CzJxc4 19.'i!Kd3! as pretas estariam mal:
19 ... êi:le5 20 ..if4 êi:lxd3 21..1i.xd6 gfc8 22.a4
c4 23.CzJc3 etc. "Provavelmente devesse ser
considerado 16 ... ii..b7", embora isso também
seja favorável às brancas: 17 .fxe5 'i!f xe5
18.êi:lg3 êi:lc6 (18 ... dxe3 19.gb3) 19 ..ia4! etc.
Só resta 16 ... d3!. De acordo com Karpov,
após 17.êi:lg3 exf4 (? - G.K) 18.B'.xf4 "as
brancas têm alguma vantagem". Mas na minha
opinião, elas têm uma posição praticamente
vencedora: 18 ...gd8 19.l2if5! 'i!fe6 20.~xa6
êi::\xa6 21.êi:lxg7! ou 18 ... ~xb5 19.âxb5 êi:lc6
(19 ... g6 20.âb3) 20.CzJf5 etc. É claro, seria
essencial 17 ... e4. Ou 17.êi:lc3 e4 e se 18.g4,
então 18 ... c4! com um jogo complicado.
16...êi:lc6 17 .a4!
Após o "guloso" 17.l2if5 'i!fe6 18.~xc6
'i!fxf5 19.e4! (19 ..ixa8? ~xbl Karpov)
19 ...'i!fr'e6! 20 ..1i.xa8 Ei.xa8 e 21...ii..xc4 o par
de peões pretos unidos e passados compensaria
o deficit material.
17...êi:laS?
Uma perda de tempo significativa. "O jogo
planejado contra o peão c4 foi mal sucedido.
Possivelmente o bispo devesse ter sido retirado
- 17 ... ii.b7" (Karpov). Isso também não
prometia às brancas qualquer vida fácil, mas de
todo modo a trama do jogo seria mantida.
18.'i!fd3 'i!Ye6 19.exd4! cxd4 (também é
insatisfatório 19 ... exd4 20 ..ia3 ou 19 ... ii..xb5
20.cxb5 exd4 21..ig5) 20.cS B'.fc8 21.f4!
Isso destrói as esperanças das pretas nos seus
peões centrais. Agora as brancas agregam uma
poderosa iniciativa à sua vantagem material.
21...âxcS
"É óbvio que eu perdi a batalha estratégica.
Tudo o que resta é confiar nos meus recursos
defensivos e procurar chances táticas."
(Karpov)
 Anatoly, o Décimo-Segundo

26.fxeS ãxe5 27.!l'.bS

''A captura do peão 27.lzJxd4 conduziria a
uma diminuição da tensão e ao resultado de
empate após 27 ... lzJc4" (Karpov). Entretanto,
após 28.ãb7+! nenhum empate é aparente:
28 ... ~g6 29.i.f8 lzJe8 30.ãb4 ou 28 ... ~e8
29.i.b4 ãxa4 30.êzJfS ~d8 31.~c3 e ãxg7
com um peão a mais e a iniciativa, enquanto se
28 ... ~g8, então 29.i.e7 ãxa4 30.i.xf6 gxf6
31.êzJfS ~d2 32.ãcl !, e "a 7ª fileira absoluta"
(Nimzowitsch) aproxima as brancas da vitória.
27•••lzJc4!?
"Em seus cálculos preliminares Kortchnoi
22.i.xa6!
não viu esse lance. É claro, as brancas
O caminho mais curto, embora as brancas
esperavam a troca das torres" (Karpov):
também conquistassem uma vantagem decisiva
27 .. JâxbS 28.axbS ~a8(e6) 29.~xd4,
após 22.fxeS ~xbS (22 ... ãxeS? 23 .i.xa6 e
vencendo. Seria ligeiramente melhor, mas
!!b8+) 23.axbS lâxeS 24.'i!Hxd4 (24.b6
também insuficiente 27 ... ãe2 28.~b2 (de
Karpov) 24 ... lâdS 25.'i!Hf4 ou 23 .. .'i!HxeS
forma evidente, não o único caminho) 28 ... d3
24.l2Jf5! (24.1i.d2 Karpov; 24.i.b2!?)
29.1i.c3 ~c4 30Jâb7+ ~f8 31.ãxg7 d2
24 .. .êi:Jg4 (24 ... lâd8 25.i.d2) 25.g3, e se
32.ãc7 i'!e4 33.aS! :iâf4! 34.i'!bl ~e8 35.ãc8
25 .. Jâf8 há o belo golpe 26.i.f4! 'i!Hf6
(26 ... 'i!HxfS? 27.~d6!) 27.êzJxd4 ãdS 28.i.c7!
~fl 36.g3 ! ãe4 37.lâfl ~f6 38.lâcS e vencem.
28.!l'.b7+ (28.~d6+? ãxd6) 28 ... ~e6 (não
t!fxd4+ 29.'i!Hxd4 lâxfl + 30.ãxfl lâxd4
há nada mais) 29.~xd4+
31.i.xaS, vencendo.
Para chegar à sua decisão pragmática,
22 ...'i!fxa6 23.'i!fxa6?!
Kortchnoi gastou quase todo seu tempo
Para sua infelicidade, Kortchnoi decidiu jogar
remanescente, mas ele resolveu não fazer um
não para um ataque, mas por um final
dos dois lances agudos de bispo, que também
tecnicamente vencedor. Após 23.lâb8+! ~fl
prometiam uma vitória:
24.!l'.bS! com a ameaça para a qual as pretas não
1) 29.i.f8!? d3! e, de fato, uma posição tão
teàam defesa: 24 ... exf4 25.lzJe4 !!c6 26.lzJxf6
complicada provavelmente possa ser resolvida
ãxf6 27.'i!Hxh7 lzJc6 28.ãfS! ou 24 ... ãc3
somente com o auxilio de um computador.
25.t!ffS ãxg3 (o que mais?) 26.fxeS! ãg6
27.exf6 gxf6 (27 ... ãxf6 28.'i!Hd7+) 28.i.gS!,
paralisando o exército inimigo.
23 .. J!xa6 24.il.a3 (esse bispo, que não tem
adversáào, está destinado a desempenhar um
grande papel no curso da batalha a seguir)
24 ... ãd5 25.êzJfS! ~f7
As pretas dificilmente teàam mais esperanças
após 25 ... êzJc6 26.fxeS ãxeS 27.!l'.b7, e se
27 . .. ãa7, então 28.lâb6!, por exemplo:
28 .. .'~d8 (28 ... lâe6 ou 28 ... ãxa4 - 29.i.d6!)
29.!l'.b8 :Sd7 30.êzJxd4! ãxd4 31.~b2 i'!edS
32.~xd4 i'!xd4 33.aS ~fl 34.a6 lâd7 35.a7
ãxa7 36.ãxd8, vencendo. Diagrama de Análise

335
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
No apuro de tempo, somente uma intuição
ultra-sofisticada ou a imprudência é que podem
conduzir um jogador por esse caminho:
30.lZ'id4+! 'it>d5 31.k xg7 'it>xd4 32.lâxf6!
B'.xf6 33.li.xf6 d2 34.:ãbl 'it>d3 35.k xe5 lZ'ixe5
36.a5 @c2 37.:ãal dliV+ 38.:ãxdl @xdl
39.a6 lZ'ic6 40.@f2 @d2 41.Wf3 Wd3 42.@f4
@c4 (42 .. .@e2 43.g4 @f2 44.h4 etc.) 43.Wg5
'it>b5 44.@h6 @xa6 45.'it>xh7 e a máquina
anuncia mate em 24 lances (!);
2) 29.~b4!?. Isso também necessitaria de
considerável precisão por parte das brancas:
29 ... lZ'ie3 30.lZ'ixd4+ @d5 31.lZ'if.3! :ãe8
32.B'.b5+ @e4 33.:ãal ou 29 ...@d5 30.:ãb5+
@e4 31.lZ'ig3+ @d3 32.E:dl + @c2 33.B'.xd4
:ãxb5 34.axb5 :ãal+ 35.@f2 @b3 36.~el
:Sa2+ 37.lZ'ie2 com um peão a mais e uma
posição tecnicamente vencedora.
29 ...'it>dS 30.lZ'iO?
Lances no apuro de tempo devem ser
criticados somente em consideração ao
estabelecimento da verdade. O vistoso
30.Slf8!? @xd4 31.Slxg7 parece arriscado,
embora as brancas recuperem com juros a peça
sacrificada temporariamente: 31 ... :ãee6 32.:St7
'ít>e5 33.g4! B'. xa4 34.g5 ou 31...lZ'id5
32.:ãdl +! @e4 33.~xe5, conquistando o peão
h e mantendo o peão a.
Por outro lado, o preciso 30.li~c2 lâxa4
3 l .Slf8 ! permitiria as brancas converterem sua
vantagem sem risco .particular: 31 ... lZ'ie8
32.lZ'ib4+! 'it>e4 33.lZ'ic6! com ataque decisivo,
ou 3 l.. .:ãe8 32.kxg7 lZ'ie4 (32 ... 'it>c6 33.lâb4!
:ãxb4 34.lZ'ixb4+ Wb5 35.:ãxf6 Wxb4 36.:ê:h6
etc.) 33.:ãdl+ 'it>c6 34.:ãdd7 lZ'ia5 35.E:bc7+
'it>b5 36.kd4 e as pretas não podem resistir.
30... lZ'ixa3 31.lZ'ixeS 'it>xe5 32.:Se7+ 'it>d4
33.:ãxg7?!
Kortchnoi tem por objetivo deixar as pretas
sem nenhum peão, esperando que a torre e o
par de cavalos das pretas sejam incapazes de
enfrentar os peões passados das brancas,
336
apoiados por suas torres ativas. Ele ainda não vê
nenhum perigo para si mesmo, de outra forma
primeiramente teria jogado 33.:ãf4+!,
expulsando o cavalo preto e somente após
33 ... 'it>d5(c5) - 34.B'.xg7 com chances de
sucesso.
33...lZ'ic4 34.lâf4+ lZ'ie4!?
"Por todas as aparências, as pretas
conquistariam um empate mesmo após
34 ...@d3, mas então 35.:ãf7 e ao final o peão h
tem que ser trocado com o peão a. Seria melhor
fazer isso de imediato, mas, por outro lado,
outra peça é ativada." (Karpov)
Eu acho que se 34 ... Wd3 , então é mais forte
35.h3!, não entregando nesse momento o peão
a: 35 ... lZ'ie3?! 36.a5! lZ'ifd5 37.:ãa4 ou
35 . .. lZ'id5 36.:ãd7! lZ'ie3 37.'it>f2 e ainda há um
longo caminho até o empate.
35.:ãd7+! (após 35.:ãxh7 :ãxa4 36.h4 'it>e5
3 7 .lâf8 lZ'ie3 as pretas conseguiriam se
defender) 35 ... We3?!
Karpov pega a chance! O cauteloso 35 ... We5
permitiria-lhe sonhar apenas com um empate
após 36.g3 lZ'icd6 (36 ... :ãxa4? 37.:ãe7+)
37.:Sxh7 :Sxa4 38.:Se7+ 'it>d5 39.g4 :ãal +
40.:ãfl.
36.:ãO+ @e2 37.lâxh7?
Como as brancas poderiam não tomar o peão
com a sua seta caindo? Mas seria muito mais
forte 37.:ãe7! lZ'icd2 38.!fa3 com a intenção de
a4-a5 e h2-h3. As pretas, impedidas de
contrajogo (38 . .. :ãc6 39.:Sal ! ou 38 ... :Sa5
39.:ê:a2!), teriam que tentar salvar seu peão h e
conduzir uma luta difícil pelo empate.
37 ... lZ'icd2?! (novamente arriscando uma
chance prática no apuro de tempo do
adversário, ao invés do simples 37 ... lâxa4, com
empate) 38.:ãa3?! (o tranqüilo 38.:ê:ff7! B'.xa4
- não 38 ...:ãc6? 39.h4! - 39.:ãa7 :ãc4 40.:ãal
novamente forçaria as pretas a lutarem por um
empate) 38...:ãc6!
/

39.ãal??
Também seria suicídio 39.h4?? ~al+
40.Wh2 li:Jfl 41.Wh3 li:Jf2 mate. Somente o
avanço do peão g teria dado o empate: 39.g4!
(também é possível 39.g3) 39 ... li:Jf3+ 40.~g2
lz::iel+ 41.~gl .lâcl 42Jâa2+ Wf3 43 ..lâf7+,
mas Kortchnoi não tinha tempo de suspeitar de
nenhuma perfídia por parte do adversário, que
rapidamente fez o lance preparado de antemão.
39... li:Jf3+! 0-1
No apuro de tempo é fácil desperdiçar um
golpe assim formidável. As brancas
abandonaram: 40.gxf3 .lâg6+ 41.Whl li:Jf2
mate ou 40.Whl li:Jf2 mate. Aplausos
ensurdecedores irromperam no salão: alguns
turistas soviéticos haviam chegado naquela
semana.
Karpov: "Meus dois cavalos deram o mate ao
rei inimigo no final da partida - uma coisa assim
nunca tinha acontecido em um match pelo
Campeonato Mundial. Depois de assinar as
planilhas, Kortchnoi se dirigiu para o tabuleiro
mural e pregou os olhos ali durante um certo
tempo, tentando entender o que tinha
acontecido".
Depois deste susto, o desafiante foi a Manila,
valendo-se de dois intervalos seguidos. Karpov:
"Para ser franco, desconfio que Kortchnoi
estava tentando evitar o jogo na presença de
turistas soviéticos e alguém até me disse ter
ouvido ele afirmar que não daria mais este
Anatoly, o Décimo-Segundo
prazer a eles. A direção do Terrace Plaza Hotel
organizou uma festa para comemorar minha
quarta vitória. Eu tinha que comer o rei branco,
feito de creme, enfeitando um bolo com quatro
velas nos cantos de um 'saboroso' tabuleiro,
onde se representava o final da 17ª partida.
Também naquela noite, 26 de agosto, foi dada
uma festa para comemorar o aniversário de
Roshal, assessor de imprensa da delegação
soviética. Edmondson, membro "neutro" do
júri, ergueu um brinde, dizendo: ''Vivemos em
um mundo dividido, onde continentes se
deslocam, religiões se chocam, famílias se
desfazem ... Mas o xadrez, ao contrário, unifica
os continentes separados. A aqueles que o
servem! A você, caro Alex!". Um quarto de
século depois, Roshal afirmaria: "Infelizmente,
como muitos de meus colegas, não posso
concordar totalmente com este elogio nem me
considerar uma pomba da paz. Guerra é
guerra...".
Não demorou muito a chegar uma notícia de
Manila: Kortchnoi estava exigindo o
afastamento do psicólogo soviético e a
instalação de uma divisória de vidro entre o
auditório e o palco, caso contrário, se recusaria
a continuar. O match esteve a ponto de fracassar.
Baturinsky ·relata que naquela mesma noite,
Karpov lhe disse: "Preciso ganhar o match, jogar
até o fim, apesar de todos os truques de
Kortchnoi. Descubra uma maneira de
conseguir isto". Foi assim, então, que surgiu o
"acordo de cavalheiros" entre Baturinsky e
Keene e, depois de um intervalo de uma
semana, o match recomeçou.
Baturinsky: "O período entre a 18ª e a 26ª
partida pode bem ser chamado de dias das
oportunidades desperdiçadas de Karpov. Ele
perdeu a 21 ª partida e não teve uma só vitória,
embora estivesse a um passo dela nas partidas
18, 2 , 22 e 25 - poderia facilmente concluir o
match, cendo pelo menos duas partidas. Em
quase cada unffl---ut::!S.:ia!i.. partidas, o Campeão
Mundial cometeu o mesmo erro estereotipado:
depois de alcançar uma grande vantagem com
337
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
um jogo excelente, demonstrou uma pressa
inexplicável e perdeu todas as chances. Por
exemplo, na 22ª partida, bastava selar como
lance secreto 41.~xd6. A opinião de Tal é que
as pretas desistiriam sem recomeçar. Mas
Karpov fez o lance no tabuleiro e continuou
jogando rápido; quando a partida foi adiada
depois de sete lances, não havia mais uma
vitória. Diante desta situação, os treinadores do
Campeão e amigos que se encontravam no
auditório queriam gritar: 'Pare, To!Ja!'.
Infelizmente isso não era possível... Karpov
explica estas 'escorregadas' pelo seu hábito de
infância de jogar rápido. Ao crescer, tentou se
livrar disso, mas nem sempre consegue. Parece
que também há por trás disto outra razão: em
momentos de uma tensão muito grande,
inevitável em uma disputa do nível desta que
estava travando, os reflexos de controle nem
sempre funcionam".
Depois da 22ª partida, Karpov estava
especialmente desanimado: "Por que não parei
imediatamente após o controle do tempo? Não,
fui em frente: ele joga, eu jogo... ele joga, eu
jogo... Quando me dei conta, minha rede estava
vazia. Foi então que não consegui dormir! E
pela primeira vez no match tive que recorrer a
Zukhar. Não é tanto a derrota que nos aflige,
mas principalmente as oportunidades des-
perdiçadas... Estava atormentado pelo meio da
noite, quando resolvi chamar Zukhar. Ele
tentou seus feitiços em mim - em vão. No dia
seguinte eu andava como um zumbi e durante a
noite não quis contar com a sorte e preferi
chamar Zukhar para me ajudar. De novo não
adiantou. O uso de comprimidos era tabu para
mim e o xadrez não perdoa isso. Quebrava a
cabeça e ainda não conseguia entender: por que,
por que, por que não pude explorar minha
vantagem de jogo tão óbvia?"
Apesar de vencer a 27ª partida, e a contagem
se tornar 5-2, a condição do Campeão não
melhorou. "Tudo o que podia queimar em mim,
já queimou ... Faltava somente um último passo,
mas não sabia, não imaginava e no momento
338
não via como fazê-lo".
Foi então que começou um verdadeiro drama
para Karpov: ele perdeu a 28ª e a 29ª partidas e,
depois de um empate na 30ª (conheço bem este
tipo de fadiga psicológica, que se acumula ao
nos vermos bem perto do atingimento da meta.
Em nosso match-revanche de 1986, quando
estava com "mais três", consegui perder três em
série). Para espanto de todo o mundo do
xadrez, a contagem foi para 5-5.
O que aconteceu imediatamente antes da
partida decisiva, a 32ª, está descrito no capítulo
"Baguio na Visão de Kortchnoi'.
Karpov: ''Vocês sabem o que distingue um
competidor de um não competidor? Ao perder
partidas sucessivas, o não competidor se
desmonta e desiste, ao passo que o competidor
continua avançando, porque sabe que o mau
pedaço vai passar e as coisas vão melhorar. Eu
pressentia que a onda de Kortchnoi já tinha
passado e que a minha estava em plena
ascensão... Em outra ocasião, após uma viagem
assim (a Manila, durante o intervalo - G.K), eu
ficaria esgotado, mas agora me sentia como se
tivesse tomado um banho renovador. Na hora
da 32ª partida, cheguei calmo e confiante.
Kortchnoi mal olhava para mim, e isto era o
bastante. Quando, semana após semana você vê
a mesma pessoa na sua frente, pode, à primeira
vista, adivinhar como ela está e como se sente.
E Kortchnoi percebia tudo; mesmo antes de
mim, ele percebeu que esta partida seria a
última. Eu lia tudo isto no seu olhar naquele
instante, principalmente ao perceber que ele
desviava os olhos imediatamente. Joguei a
partida da maneira como sempre tinha desejado
jogar: com calma, sem agitação, com facilidade
e naturalidade".
Infelizmente, a cobertura da histórica 3T
partida na mídia foi surpreendentemente
superficial e parcial. Pelo visto, estava em jogo a
enorme importância política do resultado além
da situação extraordinariamente nervosa do
match e o esgotamento perceptível de todos os
participantes do evento, inclusive os próprios

comentaristas. Espero ter conseguido
preencher a lacuna existente.
Partida 77
A. Karpov - V. Kortchnoi
Match pelo Campeonato Mundial
Baguio 19 78, 32ª partida
Defesa S chmid-Benoni - A43
1.e4 d6 2.d4 .ézJf6 3..ézJc3 g6 4..ézJf3 il.g7
S..ie2 0-0 6.0-0 c5
Um lance raro. "Kortchnoi é fiel à sua tática
favorita - a mudança do modelo da abertura
com a maior freqüência possível" (Karpov). A
18ª partida seguiu 6 ... .ig4 7 ..ie3 .ézJc6 (cf.
partida 73).
A escolha da abertura no final de um match
prolongado, especialmente com as pretas, não é
um assunto fácil. Os nervos estão bastante
desgastados e tudo o que você jogou
anteriormente parece cheio de falhas. Você
deseja alguma coisa nova, mas também ao
mesmo tempo sólido e ligeiramente
surpreendente. De acordo com o Grande
Mestre Panno, que ajudou Kortchnoi durante o
match, eles queriam "escolher alguma coisa
bastante complicada, especialmente levando em
consideração a condição psicológica do
campeão." Pode-se adivinhar quem o
convenceu a jogar 6 ... c5 (embora se saiba que
Keene e Torre jogaram de forma similar). Mas
a escolha se mostrou infeliz para Kortchnoi e
eles também estavam errados sobre as
condições psicológicas de Karpov.
7.d5
Levando a partida de imediato de uma Defesa
Pirc-Ufimtsev para um esquema Índio bem
conhecido: o assim chamado Schmid-Tal-
Benoni, que já ocorrera algumas vezes em
partidas de Karpov. É engraçado que o
primeiro "esteio" dessa variante fosse o árbitro
principal do match, Lothar Schmid (que, na
verdade, nesse momento já havia deixado
Baguio) e o segundo fosse um dos auxiliares do
Campeão ...
Anatoly, o Décimo-Segundo
Kortchnoi esperava 7.dxc5 dxc5 8.ifxd8
B:xd8 9.~e3 b6 10.~fdl, uma vez que a teoria
julgava ser essa variante ligeiramente favorável
às brancas. Karpov: "Mas imaginei que meu
adversário tivesse preparado uma melhoria e
evitei a troca dos peões." E realmente, logo
após o match, um dos segundos de Kortchnoi
demonstrou um lance novo, o qual resolvia os
problemas de abertura das pretas: 10... .ézJc6!
1l.!:1.xd8+ .ézJxd8 lU!dl ~b7 (Andersson-
Stean, Munique 1979).
Kortchnoi estava chocado: "Tinha analisado
esse lance por vários dias, contando com o
efeito psicológico dessa novidade. Foi grande a
minha surpresa quando no momento crítico
Karpov respondeu sem pensar. Ele conhecia o
lance 6... c5 (isso realmente é surpreeendente para um
Grande Mestre de alta categoria? - G.K) e ainda
mais - ele esperava que isso surgisse nesse dia!"
Mais uma vez deve-se admirar a percepção
psicológica de Karpov.
7....ézJa6
A continuação mais popular. A alternativa
estratégica envolve a corrosão imediata do
centro - 7 ... e6.
8..i.f4
Esse lance, inibindo ... e7-e6, agora é julgado
o mais forte, mas naquela época jogavam tanto
8.h3, como 8 ..ézJd2 (volume 4, partida 21).
8•••.ézJc7 9.a4
Profilaxia útil. Se 9 ..ézJd2 então sena
questionável 9 ... b5?! 1O..ézJxb5 (Najdorf-Tal,
Moscou 1967), mas seria aceitável 9 ... .ézJd7.
Mas se 9.:Sel, então 9 ... b5! lO ..ézJxb5
(10 ..i.xb5 .ézJh5!) 10 ... .ézJxe4 l l..ézJxc7 ifxc7
12 ..ic4 .ézJf6 e as pretas resolvem seus
problemas de abertura.
9...b6
Uma das três respostas principais: as pretas
antecipam o bloqueio a4-a5 e sem pressa
preparam ... b6-b5 ou ... e7-e6. No caso de
9 ....ig4 10.h3 ~xf3 1 l.~xf3 .ézJd7 12.t!fd2 a6
13 ..ie2 as brancas têm uma ligeira, porém
duradoura, vantagem (Karpov-Browne, Madri
339
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
1973). . ..
Seria mais agudo 9 ... a6!? - essa possibilidade
não dá às pretas igualdade completa, mas aqui
pelo menos elas adquirem algumas contra-
chances. Por exemplo, na partida Tal-
Velimirovic (Belgrado 1979), após 10.l:::fol
(atualmente está na moda 10.~d2 ou 10.h3,
mas não 10.aS CzJb5!) 10 ... :Sb8 11.aS (também
não é claro 11.eS CzJh5) 11 ... b5 12.axb6 :Sxb6
as pretas criaram jogo de peças que compensou
a debilidade de sua ala da dama.
A julgar pelo desenvolvimento posterior da
partida, Kortchnoi realmente ficou abalado
após a convincente reação do adversário à sua
preparação. Pensamentos se arrastavam entre
espiões e traidores e, além disso, violando tudo
o que havia sido combinado, novamente surgiu
na 4ª fileira do auditório o "terrível" Dr.
Zukhar, que o encarava com seu olhar
penetrante. A forma de jogo do desafiante foi
claramente prejudicada e ele começou a dispor
as peças de qualquer jeito, sem qualquer plano
nítido. E em poucos lances ele cometeu um erro
imperceptível, mas grave ...
10.B'.el .i!l.b7
Após 10 .. .a6 as brancas jogariam 1 l.h3 e
desenvolveriam a mesma disposição de forças
daquela na partida: 1 l ... CzJd7 (11..J~b8?
12.eS!) 12 ..i!l.c4 B'.b8 13 .~d3 (Khalifman-
Ermenkov, Burgas 1994) ou 11.. .~b7 12.~c4
~d7 13.~d3 (conforme o comentário a
seguir).
340
ll ..i!l.c4!
Uma nuança desagradável: as brancas de
imediato apóiam seu centro, ganhando um
tempo com h2-h3. "O profilático l l.h3 com a
idéia de manter o bispo na diagonal h2-b8, se
mostraria um atraso após 1 l...~d7 12.~c4
B'.ad8 13.~d3 e5 (ou 13 .. . e6 - G.K.) iniciando
um jogo duplamente agudo." (Karpov)
Entretanto, a prática tem feito certas
correções nessa avaliação: 13.CzJbS! a6
14.CzJxc7 ~xc7 15.~e2 !t'c8 16.!fadl B'.fe8
17.c3 e as pretas ainda não têm contrajogo
(Hort-Seppeur, Bundesliga 1984).
Por esse motivo, ao final do século XX as
discussões principais sobre 12 ... a6 13.~d3! (é
muito prematuro para 13.eS?! CzJh5 Sosonko-
Torre, Amsterdã 1977; Beliavsky-Torre,
Moscou 1981) 13 . . Jfad8 14.B'.adl 'i!Wc8
15.~e3 B'.fe8 e se 16.~6, então 16 ... e6!
(Piket-Gheorghiu, Ostend 1987; Adianto-Torre,
São Francisco 1987; Yusupov-Ljubojevic,
Linares 1992, mas no século XXI começaram a
jogar 16.:Sd2! e .lâedl, mantendo a ameaça de
uma atadura.
A ausência de h2-h3 induz as pretas a
retirarem o bispo de f4 da casa chave e5 .
11 ...CzJh5
"Uma preciosa perda de tempo. Ao invés
disso, seria necessário 1 l...~d7, para após
12.eS dxe5 13.CzJxeS ~f5 provocar a qualquer
custo complicações táticas: 14.lZ:lxg6 fxg6
15.~xc7 CzJg4" (Karpov). É pena, após

16.kg3 ii.d4 17.VJife2 com a ameaça de ~dl o
computador de maneira fria verifica que as
complicações rapidamente chegam ao fim:
17 ... ~xf2 18.~bS! ou 17 ... !fxf2+ 18.ii.xf2
llxf2 19.ç!j,hl ~xe2 20.~xe2 ~f2+ 21.âxf2
Axf2 22.d6+ e as brancas vencem. Dessa
forma, se 12.eS a resposta correta é 12 ... ~hS!
com jogo indefinido.
''Aparentemente, se l l...VJif d7 as brancas
responderiam 12.'t!fd3, mantendo chances um
pouco melhores, mas, no geral, se desenvolveria
uma batalha muito tensa." (Karpov). Assim,
após 12 ... a6 (ou l l...a6 12.'t!fd3 't½Vd7) ao lado
do normal 13.h3 ~ad8 14.i:Iadl (conforme o
comentário ao lance 11 das brancas) as brancas
teriam o forte 13.!!abl! !'l:ab8 (as pretas não
conseguiram jogar ... !'l:ad8, e 13 ... e6?! perde
um peão) 14.b4! ~hS 15.ii.d2 cxb4 16Jâxb4
com a iniciativa. E se 12 ...!'l:ad8, então é bom o
lance de Hort 13 .l2fü5 !, consolidando
claramente a vantagem das brancas (se
13 ... ~hS, então 14.i.cl).
A posição das pretas também não pode ser
melhorada através de l l...'~Jd7 12.VJifd2 etc.
Então, em comparação com o próximo lance de
Kortchnoi, parecem infundadas as críticas a
11...~hS.
12.~gS ~f6?
"Parece-me que nessa ocasião a predileção de
Kortchnoi por posições sólidas não foi para ele
um bom negócio," escreve Karpov... em seu
comentário a 11 .. .~hS. Mas a sua falha no 12º
lance não foi notada nem pelo próprio
vencedor, nem por Tal na revista 64, nem por
Filip no ltiformador, nem pelos vários outros
comentaristas!
Seria necessário 12 ... h6, por exemplo:
13.ii.h4 gS 14.~d2 ~f4 15.ii.g3 ~g6 16.~f3
a6 ou 13.i.e3 e6! 14.~d2 exdS 15.exdS gS,
avivando a pos1çao ao custo do
enfraquecimento da ala do rei. Esse método
obrigatório de defesa ocorreu na prática ao final
do século 20.
13.~d3
Anatoly, o Décimo-Segundo
''Agora, em todas as direções, é difícil para as
pretas jogarem" (Karpov). Ou mais
precisamente, as pretas estão à beira da derrota!
13 ... a6 14 ..ãadl i:Ib8
15.h3?!
Jogo ultra-seguro. "Eu não queria correr
riscos nesse momento," escreve Karpov. "Em
princípio, a continuação consistente,
aumentando a vantagem espacial das brancas e
intensificando sua pressão seria 15 .eS !? dxeS
16.~xeS etc. Em outra situação, eu
definitivamente teria jogado assim, mas nessa
partida não era o lugar de "pechinchar" e
colocar em risco toda a iniciativa das brancas."
De fato, após 16 ...!fd6 l 7.'i!ff3 ! !'l:be8
18.ii.f4 VJifd8 19.~c6 ~d7 20.keS ou 16 ... bS
17.axbS axbS 18.i.xbS! (18.~xbS?! ~cxdS
Tal) 18 ... ~cxdS (18 ... tz:lxbS 19.VJifxbS,
vencendo) 19.~xdS 'i!fxdS (19 ... ii.xdS 20.c4)
20.VJifxdS (mas não o lance de Karpov
20.'i!fg3? devido a 20 . .. ~xg2+!) 20 ... ~xdS
21.c4 a partida teria entrado em um estágio
técnico de conversão da enorme vantagem das
brancas.
Dessa forma, após 15.eS! a batalha nesse
encontro tão altamente importante seria
concluída, sem ter se iniciado. Enquanto isso, o
lance da partida deixa as brancas "somente"
com uma vantagem posicional duradoura.
1s....t1d7 t6.'i!fe3
"Ocupando outra linha importante e ao
mesmo tempo eliminando contrajogo do tipo
16 ... bS 17.axbS ~b6." (Karpov)
341
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
16... ii.aS! 17.!Lh6 b5 (não há outro jogo,
embora sem o bispo em g7 isso não seja por
muito tempo efetivo) 18.ii.xg7 c:i}xg7 19.!Lfl
iclf6 20.axb5 axb5 21.icle2 !Lb7?!
A prudência do adversário teria sido
explorada através de 21...e6 22.dxe6 iclxe6
23.iclg3 W!f c7. É claro, isso "levaria a uma séria
debilidade na estrutura de peões" (Karpov),
mas a posição das pretas ainda permaneceria
viável.
22.iclg3 B'.a8 23.c3 B'.a4 24.ii.d3 't!Ha8!?
"Menosprezando a ameaça das brancas. A
dama se move para o canto do tabuleiro no
momento em que nuvens da tempestade se
acumulam sobre a posição do rei. Talvez
Kortchnoi subestimasse o perigo?" (Karpov).
Ou talvez, ao contrário, Karpov superestimasse
as ameaças das brancas?!
25.e5!
Uma ruptura que por muito tempo
aparentava se evidente, chamada por Karpov de
"uma punhalada". No caso de 25.W!fg5 as
pretas se defenderiam através de 25 ... c:i)h8 !
26.eS iclg8.
25 ... dxeS
Um mate simples e espetacular seria
permitido por 25 ... iclfxdS?: 26.iclhS+ gxh5
(26 ... c:i)h8 27.ii'h6 icle6 28.iclgS) 27.ii'gS+
c:i)h8 28.ii'h6 f5 29.iclgS.
26.ii'xe5 lclcxd5 27.ii.xbS
É possível que, embora não notado por
ninguém, esse seja o ponto culminante de todo
o drama de Baguio.
342
27 ... B'.a7?
"A única maneira de pelo menos de forma
temporária manter o equilíbrio material"
(Karpov). Entretanto, em minha visão, seria
essencial 27 ... B'.aS! 28.c4 Wfr'b8!, ativando as
peças: após 29.icld2 ~a8 30.iclb3 B'.a2 3 l.B'.d2
iclc7 as brancas têm somente uma pequena
vantagem.
Seria mais enérgico 29.ii'gS! e6! 30.cxdS h6!
31.ii'e3 B'.xb5 32.dxe6 e após 32 ... B'.e8
33.Wc3 ~xf3 34.exf7 B'.xel 35.B'.xel ii'f4
36.gxf3 't!Hd4! 37.lzJe4 lzJxe4 38.fxe4 Wxc3
39.bxc3 Wxf7 as pretas mantêm esperanças de
salvação no final de torres. É verdade, as
brancas têm um lance difícil de encontrar:
36.B'.eS!, que conduz a uma vitória forçada:
36 ... c:i)xf7 (não 36 ... ii.c6? 37.B'.fS!! ou
36 .. Jâb3? 37.f8ii'+! c:i)xf8 38.WxcS+ etc.)
37.gxf3 Wb4 38.We3! c4 (38 ... Wxb2
39.B'.e7+ e mate) 39.B'.e6! B'.b7 (39 ... lzJdS
40.We4) 40.ii'es lzJd7 41.W!idS.
Mas tudo isso é irrelevante, uma vez que ao
invés de 32 ... B'.e8 é melhor jogar 32 ... it.xf3!
33.iVxf3 B'.b3, com o objetivo de tomar o peão
b2 e obter um final com dois peões contra três
na mesma ala (e, no caso de e6-e7 atacar com
todas as forças essa ruptura de peão). A busca
por uma vitória em uma posição assim, se afinal
houver, teria consumido as últimas forças das
brancas...
28.iclh4! (agora as dificuldades das pretas se
tornam insuperáveis) 28 ... il.cS
Seria mau 28 ... ~c6? 29.ii.xc6 Wxc6 30.c4
lzJb6 31.B'.d6! ! (Karpov) 3 l...exd6 32.lzJhfS+
ou 31...W!fc7 32.W!igS!. Se 28 ... Wfr'b8 Karpov
recomenda 29.c4 W!fxe5 30.B'.xeS "com um
final vitorioso" - 30 ... lzJc7? 31.B'.xcS, mas as
pretas respondem 31 ... B'.a5 ! e a vitória escapa.
Seria correto 29.iVgS! e6 30.c4 lzJc7 31.B'.d6!
com uma vantagem arrasadora.
29.il.e2
"Deve-se concordar que há algo que atrai
nesse lance" (Karpov). Eu prefiro a
centralização: 29.lzJe4 lzJc7 30.~d3 lzJe6

31.~xc5 etc.
29...~e6 30.c4 êzJb4 31.'i!fxcS 'i!i'b8 32.~fl
llc8?!
Também é improvável que o lance
obrigatório 32 ... h6 pudesse salvar as pretas.
Kortchnoi estava no apuro de tempo e sem
dúvida no fundo imaginou que a partida já
estivesse perdida...
33.'iWg5 ~h8 34.i!dl ~c6 35.'i!fh6 ãg8
(um lance que contraria a estética; seria
igeiramente melhor 35 ... ~g8 36.'t!fe3 ~f6)
l6.~f3 'i!ff8 37.'ti'e3 ~g7?!
Seria mais resistente 37 ... Eib7 (Karpov)
38.~gS .i.d7, mas as pretas tinham apenas
alguns segundos no relógio.
38.l'tigS ~d7 39.b4 'i!fa8 40.bS ~a5 41.b6
m,7
O lance secreto. No dia seguinte Keene
informou ao árbitro Filip que as pretas
abandonavam sem prosseguir a partida. 1-0
Ao vencer este match inesquecível com um
resultado de 6-5 (com 21 empates), Karpov
conservou o útulo de Campeão Mundial.
O que teria acontecido se ele tivesse perdido?
Dez anos depois, já na era da perestroika e
glasnost, Mikhail Tal, em um programa de
televisão, diria com um sorriso: "Não
poderíamos imaginar as conseqüências, caso
um jogador anti-soviético e não um soviético se
tornasse o Campeão Mundial. O xadrez poderia
ser declarado uma pseudo-ciência".
Posteriormente, Karpov voltou a colidir com
Kortchnoi na Olimpíada de Novi Sad (1990).
Em resposta às acusações "sobre o
comportamento dos soviéticos", subitamente
Karpov se dirigiu a ele em tom de desculpa: "Lá
em Baguio, todos temíamos por você. Se você
vencesse o match, seria fisicamente eliminado.
Tudo tinha sido preparado para isso ..."
Kortchnoi retomou esta versão nas
entrevistas mais recentes; "Não perdi
deliberadamente o match de Baguio, mas se
tivesse vencido, tudo estava preparado para me
aniquilarem. Na época, Roshal chegou a assinar
Anatoly, o Décimo-Segundo
um termo de responsabilidade para 'manter o
caso em segredo para sempre', mas Tal, que não
tinha assinado nenhum compromisso, me
revelou este fato na cara. Repito; Não perdi o
match deliberadamente. Mas algumas forças
superiores não me permitiram vencer".
Mas eis como Alexander Roshal comentou
este conflito no outono de 2005:
"Em toda minha longa vida no xadrez, não
encontrei nunca um único jogador de alto nível
que não se mostrasse desconfiado e cauteloso:
nem um só! Estas caractensttcas de
desconfiança e cautela, criadas pela constante
rivalidade, ajudam a preservar os segredos de
aberturas, e levam a pessoa a tratar com
amizade só os que não são perigosos, os que
não trairão você, não infligirão um trauma
psicológico etc. A desconfiança de outros
grandes jogadores chega a proporções
hipocondríacas e, às vezes, até paranóicas.
Lembro-me bem como, no verão de 1974,
pouco antes do match Karpov-Kortchnoi, ao
chegar à Olimpíada de Nice, eu entrei no
espaçoso salão de jogo junto com Bella, a
esposa de Kortchnoi. Karpov estava
acomodado bem longe de nós, numa
plataforma, e mais tarde, de repente me
perguntou: 'O que você estava falando por 35
minutos com a mulher de Kortchnoi?'
Imaginem só: durante uma partida, a uma
distância de 100 metros de nós, ele observou o
tempo que durou nossa conversa! Ele precisava
saber ao certo se eu estava com ele ou com
Kortchnoi. Ora, eu estava bem com ambos (e
até recentemente, Viktor me deu de presente
um exemplar do seu livro com a dedicatória:
'Ao meu amigo e incômodo inimigo").
Kortchnoi sofria mais ainda desse mal da
desconfiança. Uma vez, Tal me disse em tom de
brincadeira; Você tem mania de perseguição
que periodicamente se transforma em
megalomania e depois volta de novo para a
perseguição'. Mas, na minha opinião, com
Kortchnoi acontecia algo deste tipo. Era um
processo contínuo: quando perde, diz: 'oh, oh,
343
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
fui traído, existem espiões por toda a parte'; se
ganha, diz: 'de fato sou o máximo!'.
Quando fiquei sabendo por Tal que os dois
iriam se encontrar em Novi Sad e que
supostamente em Baguio temíamos pela vida de
Kortchnoi, fiquei preocupado e perguntei:
'Misha, por que você brinca desta maneira com
ele? Você sabe com quem está brincando? Tal
respondeu 'E daí? Agora provavelmente será
agradável para ele ouvir isso'. Mas é preciso
conhecer Kortchnoi: ele sempre leva a sério
qualquer brincadeira que o envolva! E, sendo
desconfiado e propenso ao misticismo, ele está
sempre à procura de uma agulha no palheiro -
mesmo quando ela não exista.
A julgar pela entrevista que deu, é óbvio que
Viktor superestimou meu grau de informações
sobre assuntos alheios ao xadrez, pois eu nunca
soube de nada sobre ameaça contra a sua vida e
rejeito todos os boatos sobre 'preparativos para
a sua eliminação física em Baguio' como
absurdos e totalmente falsos. O que aconteceu
realmente foi isto: se Karpov perdesse, deveria
ser disputado um match-revanche dentro de um
ano e a União Soviética faria de tudo para que
To!Ja nos trouxesse de volta a coroa do xadrez.
Além disso, por que teríamos que temer por
Kortchnoi? Seria mais lógico temermos por nós
mesmos. Quando a contagem chegou a 5-5,
fiquei mal, com a pressão sangüínea muito alta
e Zukhar, Balashov e Zaitsev foram ao meu
quarto. O psicólogo disse: 'Agora vou contar até
17; quando você despertar vai se sentir bem'.
Ele contava os números de maneira tão
monótona e desagradável que eu acabei
cochilando. Depois, perguntei: 'Zukhar já saiu?'
Os treinadores responderam: 1á foi, mas não se
preocupe, vamos fazer uns procedimentos'. E
eu respondi: 'Com os procedimentos de vocês,
parece que acabaremos derrubando árvores'.
Vejam que não fiquei sabendo disto por 'ouvir
dizer'. Lembro-me como piadas de humor
negro semelhantes também eram contadas pelo
próprio Baturinsky. Mas, felizmente, To!Ja
venceu"
344
As "piadas de humor negro" de Roshal e
Baturinsky precisam de uma explicação: nos
tempos de Stalin, os pais de Roshal foram
submetidos à repressão, ao passo que
Baturinsky serviu como procurador militar
durante muitos anos e se aposentou como
coronel.
Moscou 1978 - Entrevista coletiva após a
vitória sobre Kortchnoi
De grande interesse também, mas do ponto
de vista puramente enxadrístico, são os
comentários únicos de Igor Zaitsev:
"Ouvi as histórias mais variadas sobre a 32ª
partida, algumas fantásticas. Como testemunha
ocular de todo o match no auditório, gostaria de
também dar a minha opinião.
De início, voltarei bem ao passado. Acho que
Kortchnoi tirou para si uma grande vantagem
da derrota que sofreu para Spassky no match
final de Candidatos em 1968. Não sei como
nem com que ele começou a trabalhar naquela
ocasião, mas a partir de um dado momento o
jogo dele se tornou mais dinâmico e suas idéias
estratégicas se tornaram mais perfeitas e exatas.
O elemento estratégico se tornou a nota
característica do seu jogo. Assim, ao contrário
de outros candidatos à coroa, ele podia trocar
de uma abertura para outra, apesar do peso da
idade. A questão é que, com o avançar dos anos,
os enxadristas, em sua maioria, se acostumam
mais com a estrutura central típica de cada
abertura e mudar de uma estrutura para outra se
torna doloroso...
 Anatoly, o Décimo-Segundo

Em vista disso, sempre se pode esperar que conhecidos, a começar por Kramnik. Contudo,
Kortchnoi tenha condições de empregar deve-se admitir que aqui o curso da pressão
variantes em que o processo de formação da posicional das brancas condiz mais com o estilo
estrutura dos peões é variado e limitado a um de Karpov, ao passo que a preparação latente
período de tempo. Tem-se um exemplo disto na das pretas desta ou daquela ameaça do centro
Abertura Inglesa (um dos instrumentos de inimigo não corresponde ao espírito de
abertura mais eficazes de Kortchnoi) ou na Kortchnoi. Por isto não é de admirar que, na 32ª
Defesa Alekhine que também fazia parte de seu partida, a situação no tabuleiro começou logo a
arsenal no passado. O mesmo se pode dizer da nos favorecer. No entanto, até os últimos
flexível Defesa Pirc-Ufimtsev. Então, esta instantes desta disputa dramática, nosso grupo
decisão de Kortchnoi de optar por esta abertura totalmente exausto não acreditava que as coisas
em particular no momento mais importante do iriam ter um final feliz.
match, não considero algo 'sensacional' ou 'de Entretanto, o vôo de volta estava longe de ser
visão curta', mas, pelo contrário, bem previsível sem turbulências, no sentido literal. Durante
e de acordo com seu perfil enxadrístico. quase toda a viagem para Bombaim fomos
Em primeiro lugar, Kortchnoi já tinha usado perseguidos por outro tufão. Lembro-me que
esta defesa duas vezes contra Karpov: no muitas vezes o avião caiu em grandes vácuos,
torneio Interzonal de Leningrado (1973) e na causando um ligeiro pânico entre os
18ª partida do match de Baguio, e nas duas vezes passageiros. Ainda assim, isto não era nada em
tudo correu bem para as pretas. Em segundo comparação com o incrível alívio que todos
lugar, Keene, o segundo do desafiante, também sentimos, quando o fardo desta provação foi
tinha usado a mesma defesa contra Karpov no aliviado dos nossos ombros".
Campeonato da Europeu por Equipes, em
Moscou (1977). Apesar de ter perdido, ele
conseguiu provocar complicações em uma
partida duplamente aguda. Isto teria atraído a
atenção de Kortchnoi, que ao final tinha como
objetivo construir o seu sucesso. Além disto, a
maneira como Karpov usa esta abertura,
sempre com firmeza e sem pressa,
aparentemente não só não assustava Kortchnoi,
mas, ao contrário, até era conveniente para lhe
incutir ainda mais coragem. Uma confirmação
indireta destas conclusões é a única derrota de
Karpov em seu triunfal 50º Campeonato da
URSS (1983), derrota que ele sofreu com
brancas contra Azmaiparashvili, exatamente
com a Defesa Pirc-Ufimtsev.
É claro, a Defesa Pirc-Ufimtsev com 6 ... c5 é
bastante diferente, mas em vista da sua relativa
novidade, uma reorientação assim poderia se
mostrar tanto inesperada como bem sucedida.
Aliás, esta variante de forma alguma é
desacreditada pela teoria e posteriormente foi Moscou 1978 - "Pegou a coroa, trate de
usada por muitos Grandes Mestres bem conservá-la" (Brejnev)

345
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

A meu ver, Karpov disputou este match em

um período de baixa, de maneira que até a 17ª
partida não conseguiu suplantar Kortchnoi, que
objetivamente demonstrou sua superioridade.
Foi só depois do erro trágico na 17ª partida que
Kortchnoi, como se diz, 'ficou à deriva',
perdendo o match rapidamente. Como Karpov
deixou de ganhar muitas posições vencedoras, o
match se arrastou por mais tempo... Finalmente,
o resultado do match demostrou que Kortchnoi
oscilava enormemente entre lances fortes e
fracos. Karpov podia não jogar tão
brilhantemente, mas cometia menos erros.
Falando de um modo geral, o 'problema de
Karpov' é exatamente a regularidade do jogo,
sua capacidade admirável de sustentar um nível
suficientemente elevado dos lances.
Naturalmente, ele cometia erros, mas ao
contrário dos erros dos adversários, na maioria
esmagadora dos casos, esses seus erros não
eram fatais. Esta propriedade, aliada à
tenacidade proverbial do Campeão, permitiu
que ele pudesse mais tarde 'prolongar' os
matches mais difíceis, mesmo os sem esperanças. Depois de Baguio, Anatoly passou a se
preocupar seriamente com o preparo físico
Baguio serviu de sinal de alerta para Karpov,
forçando-o a começar a se ajustar pouco a O torneio de duas rodadas de 1O estrelas em
pouco. A partir de 1979, ele começou um Montreal, embora "marcado" pela ausência do
período em que desenvolveu um novo algoritmo boicotado Kortchnoi, reuniu um grupo que foi
e com firmeza melhorou o seu jogo. Mais tarde, único para aqueles tempos: Karpov, Tal,
lembrando as disputas com Kortchnoi, ele Spassky e todos os mais fortes enxadristas não
comentou: ''Aqueles foram os seus melhores soviéticos do mundo. Era uma prova ideal para
anos, mas eu desenvolvi mais rapidamente do o Campeão! Após um breve empate com
que o fortalecimento do seu jogo". Hübner no início, ele, de forma determinada,
deu início aos trabalhos.
Jogo Celestial Tal: "Jogadores de xadrez, via de regra, são
Em fevereiro de 1979, Karpov iniciou um gente que não perdoa. Por esta razão, a disputa
importante torneio em Munique onde, depois da partida na segunda rodada entre Karpov e
de 5 rodadas (+2=3) se tornou o líder, mas teve Timman era ansiosamente aguardada. Afinal,
que voltar urgentemente para casa devido à era o Grande Mestre holandês que tinha
morte do seu pai. Após esse duro golpe, ele infligido a última derrota em torneios do
provavelmente declinaria de participar do Campeão Mundial (em Bugqjno 1978 - G.K).
próximo "Torneio das Estrelas" (Montreal, Podia-se esperar que Karpov partisse para a
abril-maio de 1979), caso não tivesse revanche, e nisso ele foi brilhantemente bem
concordado previamente em jogar lá, e sucedido. Disputou a partida inteira de um só
entendendo que o seu não comparecimento fôlego. Consistentemente restringiu o
"ameaçaria a organização da competição". contrajogo do adversário e tomou o terreno

346

palmo a palmo...".
Deve-se mencionar aqui que o refinamento
especial e excepcional de Karpov na esfera da
profilaxia o aproxima de Petrosian. "Em
comparação com a maior parte dos seus
colegas, parece que os dois [Ka,pov e Petrosian]
eram dotados de um pensamento profilático
altamente desenvolvido", pensa Mark
Dvoretsky. ''A seguinte partida de Karpov (e em
grau não inferior, seu comentário sobre a
mesma), demonstra vivamente o estilo de jogo
e maneira de pensar do então Campeão
Mundial. Quanto trabalho sutil não se encerra
por trás de toda aquela simplicidade!".
Partida 78
A. Karpov - J. Timann
Montreal 1979, 2ª rodada
Defesa Pire - Uftmtsev - B07
1.e4 d6 2.d4 l2if6 3.l2ic3 g6 4.g3
Karpov geralmente jogava 4.l2if3 e .1t.e2
(partidas 73 e 77), mas nesse encontro com um
dos maiores conhecedores dessa defesa ele
queria, em suas palavras, experimentar um
pouco, tentar algo novo: "Eu joguei de acordo
com minha disposição".
4 ••. .t.g7 s..t.g2 O-O 6.l2ige2
Uma variante também sólida, mas
relativamente rara. "Uma vez que chegara a
época da proeminência na teoria do xadrez, A
Defesa Pire-U fimtsev havia adquirido a
reputação de ser uma abertura não totalmente
correta. E, para corroborar essa opinião, se
desenvolveram com intensidade todos os tipos
de esquemas de ataque para as brancas. Foram
necessários anos para descartar uma abordagem
assim incorreta, mas mesmo agora, devido à
inercia, muitos planos estratégicos nao
apressados ainda estão ofuscados". (Karpov).
6 ... eS (Um outro plano tentado por Timman
é 6 ... l2ibd7 e ... c7-c5) 7.0-0
Logo após essa partida, ocorreu que também
Anatoly, o Décimo-Segundo
tive que defender essa posição com as pretas:
7.h3 exd4 (seria interessante 7 ... b6!? ou
7 ... t2ibd7 e ... b7-b6) 8.t2lxd4 B'.e8 9.0-0
l2ibd7 10.a4 a5 1 I.l2Jdb5 l2Jc5 12 ..1i.g5 .t.d7
13.~d2 h6! 14 ..1t.xf6 .1t.xf6 15.l2id5 .1t.xb5
16.axb5 (Geller-Kasparov, 47º Campeonato da
URSS, Minsk 1979) e aqui o caminho mais
simples foi 16 ... t2ixe4, com igualdade.
7 ... l2ia6
Não é a melhor resposta. Seria muito mais
comum 7 ... c6, 7.JiJc6 ou 7 ... exd4. "Na
abordagem de meio-jogo e, em particular, no
meio-jogo em si, o estado disperso das forças
pretas causará a elas muitos inconvenientes.
Entretanto, Grandes Mestres de ponta (e
Timman certamente é um deles) são obrigados
a ter - e usualmente fazer - suas próprias
opiniões a respeito dessa ou daquela variante
dos livros. Isso permite que se façam avaliações
mais precisas e se promova o desenvolvimento
da teoria".
8.Ei.el c6 9.h3
"Um lance tipicamente profilático em tais
situações," explica Karpov. ''As brancas
restringem o bispo do adversário e ao mesmo
tempo também criam uma 'zona de exclusão' na
ala do rei para as demais peças menores".
9...Ei.e8
"Todas as esperanças das pretas conseguirem
contrajogo estão associadas com a pressão na
casa e4" (Karpov). "Mas isso já é pensamento
profilático," acrescenta Dvoretsky. "Karpov
imediatamente determina a idéia principal do
adversário, a qual ele olhará cuidadosamente
por toda a partida".
10 ..t.gS
Provocando ... h7-h6, para então jogar ~d2
com ganho de tempo. "Novamente um
expediente típico, que persegue o mesmo
objetivo - a acumulação de pequenas vantagens.
Então todos esses fatores imperceptíveis se
incorporam juntos na forma de um conjunto de
peças superiores às outras, o que
costumeiramente se diz ser uma vantagem
posicional" (Karpov). Na verdade, à luz do
347
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
comentário seguinte, deveria ser considerado
I0 ..te3!?
10 ... h6?!
Após 10 ... exd4 11.CzJxd4 h6 Karpov dá
12 ..tf4! g5 13.ii.cl (a debilidade da casa f5!),
enquanto se 10 ... ~b6!? - "simplesmente
11 .:Sb 1 com vantagem, uma vez que é
claramente insatisfatório 11 ... exd4 12.CzJxd4
CzJc5 13.b4 CzJcxe4 em vista de 14 ..txe4!
l2:Jxe4 l 5.CzJxe4 .txd4 l 6.CzJf6+". É claro, seria
correto 13 ... CzJe6 e então eu preferiria 13.CzJb3 !
CzJe6 14 ..te3 ~c7 15."i!fd2 etc.
Mas ao invés de 12 ... CzJc5 "seria possível
12 ... d5 ou 12 ... CzJg4!? 13.hxg4 (13.tDce2 tDf6!
- G.K) 13 ... ~xd4 14 ..fi.e3 ~xe3 15.B'.xe3 d5!
com jogo indefinido - essa variante tem sua
lógica interna: o bispo em g5 quase não
participa da batalha pelo centro e as pretas
exploram esse fator" (Dvoretsky). Realmente,
após 16.eS d4! 17.CzJa4 ~4 18.c3 _ixg4!
19.'i!Vxg4 'i!fxa4 20.:Sal (20.e6 'ti'xa2!)
20 ... !'fad8 21.b3 ~a3 22.cxd4 CzJc7 elas
consolidam a sua posição. Também não é claro
14.~f3 .fi.xg4! 15.~xg4 .fi.xf2+ 16.Wh2
.fi.xe 1 17 ..ãxe 1 .:Ses!
11.ii.e3 'i!Vc7?!
Tirando essa casa do cavalo em a6. Karpov
recomenda o profilático l l...'~h7 ("pois da
mesma forma esse lance terá que ser feito mais
cedo ou mais tarde") seguido de 12.~d2 exd4
13.CzJxd4 (! - G.K.) 13 ... CzJcS 14.f3 d5
15.CzJxc6 CzJcxe4 16.fxe4 (não 16.CzJxd8 CzJxd2
348
17.tz::\xf7?! !!xe3! 18.1:!xe3 d4) 16 ... bxc6, "e as
pretas têm um bom jogo".
Entretanto, l 7.exd5 cxdS 18.CzJxd5 contesta
a avaliação: se 18 ... B'.b8 segue 19 ..fi.xa7 B'.xel+
20.~xel B'.xb2 21..id4!, se 18 ... CzJe4 -
19.'i!Vd3 l2:Jxg3 (19 ... f5 20.B'.adl) 20.ii.f2 ou o
inesperado 20.ii.xh6!, enquanto após
18 ... CzJxdS 19.~xd5 'i!fxdS 20 ..txdS lâb8
2I..txa7 !:l:xel + 22.~xel B'.xb2 23.ii..b3! as
brancas mantêm seu peão a mais e suas chances
de sucesso (23 ...kxh3 24 ..lâe7 etc.).
Ao lado de 15 ... l2:Jcxe4 Dvoretsky sugeriu
15 ... bxc6 16.ii..xc5 dxe4, mas aqui também
após 17."i!fxd8 ~xd8 18.fxe4 aparentemente as
pretas não têm compensação pelo peão:
18 ... CzJd7 (18 ... .l3:d2 19.eS!) 19.B'.adl B'.b8
20.$.a3 B'.e8 (20 .. ..fi.xc3? 21.bxc3 e 22.e5!)
21.CzJa4 etc.
Aparentemente, é melhor trazer o cavalo
insone para o jogo - l l ... exd4 12 ..txd4!
(12.CzJxd4 CzJc5 13.ii.f4 ~h5!) 12 .. . ~c7
(agora não 12 ... ~c5?! devido a 13.eS!), "no
espírito da partida Sveshnikov-Tseshkovsky
(Sochi 1976), embora isso também não prometa
igualdade às pretas" (Karpov) após 13.'i!fd2
~e6 14.~e3 Wh7 15.g4.
12.'ti'd2 Wh7 (as pretas têm problemas
similares após 12 ... exd4 13.~xd4 Wh7
14.~adl) 13.B'.adl .fi.d7
É desfavorável jogar 13 ... exd4 14 ..txd4,
quando novamente não é possível 14 ... ~c5?
devido a 15.eS!. E, "no caso de 13 ...ii..e6 14.g4
.El.ad8 15.f4 2t.c4 16.~g3 as brancas têm uma
posição igualmente promissora como na
partida" (Karpov). Na opinião de Dvoretsky,
aqui merece consideração 16 ... exf4 17 ..txf4
c5. Eu acho que depois disso as brancas
responderiam com alegria 18.dS.
14.g4!
Um lance típico. O comentário de Karpov é
instrutivo: Após pensar um pouco, cheguei à
conclusão de que esse jogo direto no centro não
me levaria a lugar algum. Agora, com o objetivo
de conquistar novos territórios, devem ser

avançados os peões da ala do rei. Mas eu não
desejava jogar 14.f4 de imediato. Seria ilógico
aumentar a tensão de forma direta - da mesma
forma as brancas teriam que jogar em seguida
g3-g4, então porque primeiro não utilizar os
recursos de fortalecimento da posição, como
g3-g4 e ~g3. Ao mesmo tempo, as brancas
resolvem um importante problema estratégico
- reforçam o peão e4".
14 ... ãad8 15.~g3 ~c8
"O avanço f2-f4 pode ser radicalmente
evitado somente através de ... g6-g5, mas a
posição das pretas ainda não é tão ruim para
que elas decidam por uma medida assim
desesperada". (Karpov)
16.f4! b5?!
Todo Grande Mestre tem seus lances
favoritos, os quais faz na primeira
oportunidade. Timman gostava de ativar seu
jogo avançando o seu peão b, mas aqui isso
simplesmente enfraquece a sua posição ainda
mais. Entretanto, é difícil oferecer um bom
conselho às pretas: assim, no caso de 16 ... exf4
l 7.~xf4 'iWb6 18.b3 seguido por !!fl e ~e3
elas também estariam ameaçadas de morte por
sufocamento.
"Conhecendo o estilo de Karpov, não é difícil
adivinhar o próximo lance" (Dvoretsky)
17.a3! b4?! 18.axb4 ~xb4 (o único
resultado do avanço desesperado do peão foi
que agora é vantajoso para as brancas entrarem
em praticamente qualquer final) 19.l2ice2!
Anatoly, o Décimo-Segundo
"A idéia das pretas é de alguma forma juntar
suas peças, jogando ... a7-a5, ... ~a6, ... exd4 e
... c6-c5. Mas esse é um processo lento e as
brancas são bem sucedidas em impedir o plano
do seu adversário". (Karpov)
"Nós provavelmente pensaríamos em como
explorar o mais rápido possível a sólida
vantagem posicional das brancas - seja jogar
f4-f5, preparar g4-g5 e assim por diante. Mas
Karpov pensa de forma muito diferente:
mesmo em tais situações, ele antes de tudo
monitora as possíveis intenções do adversário e
tenta preveni-las". (Dvoretsky)
19 ... exd4?!
Uma admissão de que a batalha já foi perdida.
As pretas concedem o centro, após o que não
há mais nada pelo que esperar. Mas, de acordo
com Karpov, também não deixavam esperanças
19 ... a5 20.c3 ou l 9 ... c5 20.fxe5 dxe5 21.d5.
20.~xd4 a5
"O jogo subseqüente das brancas
essencialmente se reduz a evitar que as peças do
adversário entrem no jogo". (Karpov)
21.c3 ~a6
22.'iWc2!
"Provavelmente o melhor lance da partida, o
qual em grande escala é uma ilustração
excelente da idéia de Nimzovitsch sobre a
super-proteção de pontos importantes
estrategicamente. Aqui duas formas de
profilaxia mencionadas por Nimzovitsch são
combinadas de forma simultânea - prevenção
349
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
dos planos do adversário e super-proteção"
(Dvoretsky). As brancas não permitem ao
cavalo das pretas entrar em jogo (22 .. .liJc5
23 .b4!) e além disso apóiam o peão e4.
22 ... ~d7 23.'tifJ! (novamente profilaxia
contra ... ê2:lc5) 23 ... ãe7
Na opinião de Karpov, "não poderia ser feito
23 ...t~::lc5 devido a 24.e5". Dvoretsky discorda:
"Eu não vejo como se possa refutar 24 ... lz:)dS -
após 25.kxc5 dxc5 não é fácil para as brancas
demonstrarem a sua vantagem: 26.lz:)hS
(Adianto) 26 ... kb8 ou 26.~cl (Nunn) 26 ...c4
27.lz:)e4 f6 28.lz:)d6 :ê:f8". Entretanto, após
26.'i!fe4! a posição das brancas é claramente
melhor (26 ... c4 27.!!d2), embora as pretas
ainda possam resistir.
E após 23 .. c5, nas palavras de Karpov, "o
cavalo em a6 teria a aparência de um ser
reprovável".
24 ..l1.f2!
"Um dos últimos lances de profilaxia. Antes
de sua ofensiva decisiva, as brancas dispõem as
suas peças o mais harmoniosamente possível
e... m ais uma vez reforçam o seu posto
avançado e4! Seria prematuro 24.'i!fd3 em vista
de 24 ...~c8," escreve Karpov. Dificilmente ele
possa ter considerado variantes cooperativas,
tais como 25.e5? lz:)d5 26.exd6? t!xd6 27.c4?
ãxe3! 28.gxe3 lz:)xe3 29.~xd6 lz:)xdl,
vencendo (Nunn), mas ele adivinhou que
Timman queria jogar o seu bispo a e8 e assim
ele não força ... kc8, mas faz um útil lance de
espera, fortalecendo a ameaça de e4-e5.
24 ... il.eS?!
Nas palavras de Karpov, "um erro tático".
Mas eu acho que concordamos que de uma
forma ou de outra você não jogaria 24 ... ~c8 de
forma voluntária.
25.'i!fd3! 'i!fb7 (25 ... lz:)b8? 26.e5 ou 26.g5,
vencendo) 26.!!al!
Após longas manobras em sua metade do
tabuleiro, as brancas novamente retardam o
início da ofensiva, preferindo ganhar material.
26... ê2:lc7 (aqui e também um lance mais
350
tarde, não é possível ... ~xb2? devido a t!ebl)
27.I!xaS
Apenas a segunda travessia da linha de
demarcação (após 10.St.g5) conduziu a uma
posição completamente vencedora para as
brancas: elas têm um peão a mais e as suas peças
dominam, tendo espremido as forças principais
do adversário às duas últimas fileiras.
27 ... ãdd7 28.b4 lz:)e6
29..t.e3!
Karpov novamente não tem pressa,
planejando também conduzir o cavalo à fileira
de trás. Ele descartou 29.Wfd2, uma vez que
"após 29 ... d5!? as pretas obteriam algo que
lembra contrajogo: 30.e5 lz:)e4 3 l .ê2:lxe4 dxe4
32.lz:)d4 c5, com complicações". Aqui também
não há chances de salvação: 33 ..1t.xe4 'i!fb6
34.f5 ou 33.bxc5 Wfc7 34.ãeal lz:)xc5
35.~e3, mas... isso não era o bastante para
Karpov!
29 ... cS 30.fS ê2:ld8 31.bS
Não permitindo ao cavalo ir para c6. "Para a
'felicidade completa' só resta às brancas
jogarem c3-c4, para então conquistarem a
dominação sobre todo o tabuleiro". (Karpov)
31 ... ~hS 32.~f2
"O bispo realizou o seu trabalho em e3 e de
novo recua, para fortalecer o ponto e4".
(Dvoretsky)
32 •..'i!fc7 33.:ê:a4 'i!fb8 34.c4 l:!a7 (não há
motivo para se discutir 34 ... lz:)g8 35.h4)
35 ..ãxa7 !!xa7 36.eS! dxeS 37.~xeS l:!a2

38.li.xcS l-O
Um elogio à profilaxia!
Ao derrotar Spassky, Ljubojevic e Kavalek, o
Campeão liderava a corrida após a primeira
metade do torneio, mas na rodada seguinte
desperdiçou uma vitória no 39º lance contra
Hübner e foi alcançado por Tal, que estava
jogando de maneira brilhante. A rivalidade
acentuada forçou Karpov a buscar a vitória
contra Timman também com as pretas.
Mais tarde, Karpov declarou: ''A novidade
mais importante do torneio ocorreu
provavelmente nesta partida. Tinha sido
preparada para o match com Kortchnoi, mas foi
por ele habilmente evitada. Então, de forma
completamente inesperada, a variante 'abriu
fogo' contra Timman".
Partida 79
J. Timann - A. Karpov
Montreal 1979, 11 • rodada
Abertura Inglesa - A 28
1.c4 ~f6 2.~c3 e5 3.~f3 ~c6 4.e3
Em Baguio, foi testado de forma intensa 4.g3
.1i.b4 e dessa forma, não desejando conferir a
qualidade do trabalho de análise da brigada de
Karpov, Timman foi o primeiro a desviar,
esperando que os conhecimentos do adversário
fossem menos detalhados em outras variantes.
4...il.e7
Respondendo uma surpresa com outra!
Karpov também toma caminhos raramente
utilizados, evitando a variante principal 4 ... .1i.b4
5.irc2. Agora, no caso de 5 .. . 0-0 6.d3 .:ê:e8
7..1i.d2 ~xc3 8.~xc3 d5 9.cxd5 ~xd5 10 ..1i.e2
.1i.f5 as pretas não têm problemas.
(Ehlvest-Kasparov, Reykjavik 1988), mas é
mais desagradável para elas 6.~d5! ~e8
7.'%!ff5!? - esse golpe original foi introduzido
por Keene já em 1977. Dessa forma, ao invés
de 5 ... 0-0 com freqüência as pretas se livram
Anatoly, o Décimo-Segundo
imediatamente do bispo: 5 ... ~xc3 6.'%!f xc3
Wfe7 7.a3 a5 8.b3 d5, com igualdade
(H.Olafsson-Karpov, Olimpíada de Malta
1980).
5.d4 exd4 6.~xd4 0-0
7.~xc6
Após 7 .~e2 da mesma forma as pretas
podem jogar 7 ... d5!? com a idéia de 8.cxd5
~b4!. Agora, uma vez que falha 9.e4? devido a
9 ... ~xe4! 10.~xe4 irxd5, as brancas têm que
ficar satisfeitas com a igualdade - 9 .Sl.f3 !
~bxd5 10.li:\xd5 li:\xd5 11.0-0 .1i.f6 12.'%!fb3
li:lb6 13Jâdl (Miles-Timman, Portoroz 1979).
Outra reação promissora é 7 ... .1i.b4!? 8.0-0
~xc3 9.bxc3 B'.e8 (o adversário do famoso
maestro jogou de maneira muito mais pobre:
9 ... d5? 10.cxd5 ~xd5 l 1.li:lxc6 bxc6 12.Wfd4
~e6 13 ..1i.a3 Rubinstein-E.Cohn, Pistyan 1912)
10.f3 li:le5 11.e4 d6 o que também conduz a
uma posição da prática moderna de Grandes
Mestres (Azmaiparaishvili-Anand, partida
rápida, Dubai 2002).
Também é digna de menção a manobra
7.li:\de2 :Se8 8.li:\f4, restringindo a atividade do
peão d e dessa forma assegurando o controle de
espaço maior: 8 ... lzJe5 9.~e2 c6 10.0-0 a6
11.b3 b5 12 ..1i.b2 d6 13.Wfc2 (Timman-Miles,
Bugojno 1984).
7...bxc6 8.il.e2 d5 9.0-0 il.d6 10.b3
A troca preparatória 10.cxd5 cxd5 faz menos
notáveis os defeitos na estrutura de peões das
pretas e as brancas não têm muitas esperanças
351
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
de uma vantagem na abertura.
10...'i!:fe7!
Karpov escreve que "todas as indicações são
as de que as pretas estão bem posicionadas,
tanto no centro como em ambas as alas", mas o
que deveria alarmar de forma especial as
brancas é a ausência de um defensor importante
do seu rei - o cavalo em D. Devido a isso elas
são forçadas a avançarem um dos seus peões e
enfraquecer a sua defesa do rei.
ll.il.b2
O lance l l .cxd5? perderia o cavalo após
l l...'i!:fe5! enquanto se 1 l.~c2 então parece
bom 1 l...'i!:fe5 12.f4 'Wfe7. O desenvolvimento
tranqüilo do bispo parece ajudar as brancas a
evitarem novos problemas, permitindo-lhes
esperar por uma defesa com sucesso na área
restrita do tabuleiro, onde no momento não há
alvos para atacar.
Tal: "Livros de aberturas dos anos recentes
avaliam unanimemente a posição após 11 .~b2
como favorável às brancas. A resposta simples
mas paradoxal de Karpov força que essa
avaliação seja alterada de forma radical. Até o
final do torneio os Grandes Mestres analisaram
essa continuação, procurando igualdade para as
brancas ...".
ll ... dxc4!
O autor dessa captura inesperada foi Igor
Zaitsev, que sugeriu esse lance a Karpov
durante os preparativos para o match em Baguio.
A idéia da novidade é expandir ao máximo a
352
atividade das peças pretas, as quais estão
treinadas com sucesso na ala do rei. Zaitsev, que
era famoso pela sua visão não rotineira do
xadrez, viu imediatamente que essa virtude
principal da troca aparentemente ridícula mais
do que cancelaria seu defeito básico - a ruptura
completa da estrutura de peões.
12.bxc4?
Surpreendentemente, logo o primeiro lance
independente das brancas é a causa principal da
sua derrota. A escolha de Timman é má pela
razão de que a torre em a8 entra imediatamente
em jogo, após o que a dama branca se mostra
sobrecarregada pelas funções defensivas. Além
disso, as pretas adquirem um novo alvo para
atacar - o peão c4, cuja defesa novamente só
pode ser feita pela dama.
Mas ao tabuleiro não é fácil decidir por
12.~xc4 - outro defensor se afasta do rei.
Aqui, ao lado de considerações gerais, são
necessárias também variantes concretas. O
ataque prematuro 12 ....txh2+? (mas não o
sinal "!?" de Karpov) 13.~xh2 ê2::lg4+ perece
rapidamente: 14.~g3 'i!:fg5 15.f4 'i!:fg6 16.~f3
f!e8 17.e4. Também é ineficaz a ofensiva
sistemática 12 ...'i!VeS 13.g3 sili3 (Karpov) em
vista de 14.!fol !ifd8 15.WKD com vantagem
para as brancas. Entretanto, após 12 ... ~g4!
13 .g3 as pretas podem escolher entre forçar um
empate - 13 ... ~xh2 (Karpov) 14.~xh2 °i!fh4+
15.~gl ~xg3 ou continuar uma partida
duplamente aguda: 13 ... ~e5!? 14.~e2 ~fS
15.e4 (15.'i!Vd4? ~d3!) 15 ... sili3 16.~el ~c5.
12 ...ãbS! 13."fJ cl
Não é fácil defender o bispo: o inocente
13.É!bl? perde devido a 13 ... Ê'.xb2 14 ..ãxb2
'Wie5 (Karpov), mas também após 13.'i!Vc2
W9'e5 14.g3 ~.f5 15.WKcl 'iVe6 16 ..ãdl ~g4 a
pressão das pretas é extremamente
desagradável.
13 ... ~g4
"O ataque das pretas se desenvolve
facilmente e de forma espontânea. As brancas
têm que seguir com ansiedade o desenrolar dos

fatos na ala do rei". (Karpov)
14.g3?!
As brancas perderiam rapidamente após
14.h3? ~e5 15.g3 lz::lxf2! 16 ..E5.xf2 :ãxb2!
17.'i!Hxb2 ~xg3+ 18.:ãg2 t!fxe3+ etc. Mas a
troca 14.$_xg4 kxg4 era necessária e agora não
15.:ãel .E5.b4! (Kholmov), mas 15.h3,
esperando no caso de 15 ... 1i.f5 16.CzJe2 °%!fg5
17.CzJf4 netralizar gradualmente a iniciativa do
adversário, embora após 15 ... .th5! 16.CzJa4
(16.lâel ~e5! 17.f4 t!fe7) 16 ... c5 l 7.~c3
gfeg não seja fácil fazer isso.
14 ...ãe8!
O ataque imediato com sacrifícios 14 .. .'~:'lxh2
15.'i!?xh2 °%!fh4+ 16.'i!?g2 t!Hh3+ 17.Wgl kxg3
18.fxg3 °%!fxg3+ 19.Whl pareceu ser para
Karpov suficiente apenas para um empate por
xeque perpétuo.
Realmente, a inclusão da torre em e8 não é
bem sucedida: 19 ... .E5.e8!? 20.gf3! °%!fh4+
21.Wgl ! (o imprudente 21.Wg2? permitiria às
pretas romperem as defesas do adversário ao
estilo do computador: 21.. .:ãe5 ! 22.:ãg3
ii.h3+! 23.'i!?f2 gf5+ 24.ii.f3 $_g4 25.'i!?g2
ii.xf3+ 26 ..E5.xf3 ãg5+ 27.Wfl '!!Vhl+ 28.We2
°%!fh5! 29.CzJe4 !!g2+ 30.CzJf2 :ãg3, vencendo)
21...!!e6 22.~fl gg6+ 23.ii.g2 kh3 24 ..E5.xh3
t!fxh3 25.°%!fd2 e as pretas dão xeque perpétuo
- 25 ... ãxg2+ 26.°%!fxg2 'i!Hxe3+ 27.Wh2
'i!Hh6+.
15.lcldl?
Isso permite uma série de golpes pesados,
Anatoly, o Décimo-Segundo
mas 15.ii.f3, como recomendado por alguns
comentaristas, também se mostra insuficiente
em vista de 15 ... t!Hf6! 16.ii.xg4 ii.xg4 17.f3
.1i.h3 18Jâf2 l!Hg5! ou 16.1i.g2 'ii'h6 17.h4
(17.h3 CzJe5 Karpov) 17 ... g5! 18.ii.xc6 (18.e4
.t.f4!) 18 ... gxh4! 19.e4 'i!fh5.
O relativamente melhor 15.'i!Hc2 permite o
ataque padrão 15 ... lz::lxh2 16.Wxh2 '!!Vh4+
17.Wgl 1i.xg3 18.fxg3 l!Hxg3+ 19.Whl .E5.e6!.
15 ...CzJxh2! 16.cS (não é possível 16.Wxh2
devido a 16 ... ~h4+ 17.Wgl ~xg3 18.fxg3
iVxg3+ 19.Whl ge4!) 16 ... ldxfl! 17.cxd6
ldxg3!
Esse final espetacular da incursão do cavalo
na retaguarda do adversário, que não foi
percebida por Timman, retira das brancas suas
últimas ilusões.
18.fxg3 °%!f xd6 19.Wfl
Após 19.Wg2 Karpov dá uma vitória através
de 19 ... l!Hh6 20.g4 °%!fg521.e4 'i!Hxcl 22.il.xcl
:ãxe4 23.CzJc3 :ãe8. Eu teria preferido
19 ... t!VdS+ 20.ii.f3 ii.h3+ 21.Wf2 'i!Hd3
22.ii.e2 t!ff5+ 23.Wel c5 24.'i!Hc3 'i!Hg5, mas
aqui a escolha é uma questão de gosto.
353
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
19 ...iVh6 20.~d4 "i!fh2+
O fato de a partida continuar só pode ser
explicado pela indisposição de Timman em
abandonar tão cedo.
21.Wel iVxg3+ 22.Wd2 'i!Vg2! 23.lilb2
il.a6 24.liJdJ il.xd3! 25.~xdJ gbd8 26.Afl
"i!fe4+ 27.Wc3 c5! 28.Axc5 iVc6 29.Wb3
!!b8+ 30.Wa3 ge5 31.il.b4 Wb6 e somente
aqui as brancas finalmente abandonaram (0-1)
Esta é uma daquelas vitórias que causam uma
terrível impressão nos profissionais. Pensem só:
Vencer efetivamente em 20 lances (!) com uma
inofensiva variante de abertura (!) e sem erros
da parte do adversário (!).
De novo, Karpov tornou-se o único líder,
porém, como costuma acontecer depois de uma
partida de emoções fora do comum, ocorreu
um declínio temporário no seu jogo. Na rodada
seguinte, repentinamente ele perdeu com as
brancas para o azarão Larsen, que surpreendeu
o Campeão depois do lance l .e4 com a rara
Defesa Escandinava - l...d5 (Anand também
jogou isto contra mim na 14ª partida do nosso
match, em Nova York 1995). Posteriormente, o
dinamarquês deu a seguinte explicação muito
divertida: "Hort me disse: 'Ora, essa, você é um
escandinavo', ao que eu respondi: 'Está certo,
mas esta é apenas uma boa variante da Caro-
Kan'. Acho que contra Karpov foi uma boa
idéia evitar o enfraquecimento dos peões".
Larsen e Karpov ao tabuleiro: muitas
dificuldades para fazer frente ao jovem
Campeão
354
Na verdade, Karpov derrotou Larsen com a
Caro-Kan não só antes desta partida (em
Bugojno, 1978), mas também muitas vezes
depois (em Tilburg 1979 e 1982, Amsterdã 1980
e Linares 1983). Mas - a respeito do fato dos
enxadristas serem gente que não perdoa - logo
que se apresentou uma oportunidade, Karpov
também venceu de forma convincente uma
revanche contra o dinamarquês na Defesa
Escandinava (Mar del Plata, 1982).
Ao final, o "Torneio das Estrelas" em
Montreal encerrou-se com o triunfo do
Campeão e do ex-Campeão do mundo: 1-2.
Karpov e Tal - 12 em 18; 3. Portisch - 10½; 4.
Ljubojevic - 9; 5-6. Spassky e Timman -8½; 7-
9. Hübner e Kavalek- 8; 10. Larsen - 5½.
Tal observa modestamente: "Este não foi o
melhor torneio de Karpov, mas mesmo assim,
ele jogou melhor que todos os demais. Karpov
tinha Tal como segundo e Tal tinha Karpov
como segundo. Ocorreu que ele me treinava
não pior do que eu o treinava". Naquele tempo,
o ex-Campeão ainda não tinha abandonado a
esperança de disputar um match pelo
Campeonato Mundial. Logo em seguida ele
venceu brilhantemente o Torneio Interzonal em
Riga.
Por seu lado, em um período de dois anos,
Karpov venceu toda uma série de torneios,
grandes e pequenos e cada uma das suas raras
derrotas veio a causar uma verdadeira sensação.
Assim, no início do Campeonato Europeu por
Equipes, em Skara Ganeiro de 1980), onde fiz
minha estréia na equipe da URSS, o Campeão
de repente perdeu com as brancas para Miles,
que respondeu a 1.e4 com o audacioso l...a6?!.
Este foi o único sucesso do inglês em toda a
história dos encontros que tiveram em disputas
com controle clássico, quando Karpov
conquistou 12 vitórias contra ele, sempre com
brancas (conforme a partida 87).
Em maio de 1980, Karpov partiu com Tal e
Polugaevsky para um supertorneio de 12
Grandes Mestres em Bugojno. Depois da sua
recente derrota para Polugaevsky no match de

Candidatos, Tal já não era "o mesmo", sendo
que Larsen demonstrava boa forma. Após sete
rodadas, a situação dos líderes era a seguinte:
Larsen - 5½ ; Timman - 4½; Karpov e
Polugayevsky - 4; Andersson, Ljubojevic e Tal
-3½. Por aí se vê a importância da partida da
oitava rodada entre o Campeão Mundial e o seu
antigo segundo.
Desta vez, obviamente lembrando as
dificuldades que tinha tido com Tal na Defesa
Siciliana (partida 12), Karpov decidiu de novo
"mudar de plano" e obteve uma impressionante
vitória naquele que era então o ramo mais
tópico da Variante Merano.
Partida 80
A. Karpov - M. Tal
Bugojno 1980, 8º rodada
Defesa Semi-Eslava D48
1.c4 e6 2.êi)c3 dS 3.d4 c6 4.e3 êi)f6 s.êi)f3
làbd7 6.i..d3 (6.~c2 - partidas 95 e 96)
6 ... dxc4 7 ..1i.xc4 bS 8..1i.d3 a6
Era difícil para esses jogadores, amarrados
juntos no trabalho de análise, lutar um contra o
outro. Entrar em uma disputa teórica em
público seria absurdo e então os Grandes
Mestres tentaram surpreender um ao outro:
Karpov evitou l .e4, enquanto Tal respondeu
com uma abertura que era rara para ele.
9.e4 cS 10.dS c4 11.dxe6 cxd3
As pretas evitam l l...fxe6 (partida 10J) em
favor de um lance menos agudo, que na época
era considerado perfeitamente aceitável.
12.exd7+ 'i!fxd7 13.0-0
"Uma novidade. Geralmente era jogado
13.~g5 ou 13.e5" (Karpov) . Após 13.e5 êud5
14.'i!fxd3 a prática tem demonstrado que as
brancas permitem ao adversário excelente
contrajogo nas casas brancas: 14 ... êi)xc3
15.'i!fxc3 .1i.b7 16.0-0 ~c8 17.'i!fb3 $..e7 etc.
13 ... il.b7 14Jâel
Considerando que o péão d3 esteja
Anatoly, o Décimo-Segundo
condenado, Karpov não força os fatos através
do avanço do seu peão e, mas prepara
condições mais favoráveis para operações
futuras.
14 ... i..b4
Esse lance foi abandonado após a presente
partida, embora a maneira como as coisas se
desenvolveram mostrasse que a posição das
pretas era defensável. A seguinte linha
permaneceu sob a análise dos teóricos por
bastante tempo: 14 ... .1i.e7 15.e5 l2id5 16.ê2:le4
0-0 17.'i!fxd3 ~g4. Mas ao final ficou claro
que após 18.ê2:lfg5 ! a ligeira atividade das peças
pretas não compensa a sua desvantagem de
peão: 18 .. J'!ad8 19.a3 f5 20.exf6 gxf6
21.~h3! ~xh3 22.é2Jxh3 E'.fe8 23 ..1i.d2
(Karpov-Lutz, Dortmund 1994), ou 18 ... ~fd8
19.h3 ~h5 20.é2Jg3 ~g6 21.~xg6 hxg6
22.a3 E'.ac8 23.éuf3 b4 24 ..1i.g5 f6 25 .exf6
gxf6 26 ..1i.d2 (Piket-Shirov, Aruba 1995).
Desde aquela época, o lance 11.. .cxd3 tem
sido fortemente confinado aos "arquivos",
sendo considerado menos agudo e promissor
do que seu rival 11.. .fxe6.
15.êi)eS 'i!fe6
Outros lances não são melhores. Por
exemplo, no caso de 15 ... ~c7 a atividade das
peças pretas chega a um final após 16.$..f4!
.1i.xc3 l 7.ê2ixd3 ~d7 18.bxc3 E'.d8 l 9.!fo3 0-0
20 ..1i.g5 com vantagem.
16.êi)xdJ ~xc3 17.êi)f4!
355
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Um forte lance intermediário, que permite às
brancas lutarem pela iniciativa. Após 17. bxc3
0-0-0 18.f3 't!fc4 19.:âe3 ~g4! 20.fxg4 .txe4
21.~e2 .txd3 22.~f3 ~c5 a melhor saída
para elas seria provavelmente forçar um empate
- 23.~a3 ~xa3 24.~c6+.
17 ... ~d7
"É mau jogar 17 ... ~e5 18.bxc3 0-0
19.~d3, quando falha 19 ... 'i!fxc3 devido a
20 ..tb2! (Karpov). Mas, na minha opinião, a
centralização da dama e a retomada do peão
permitiriam às pretas esperanças pela igualdade:
20 ... ~c6 21.âcl 'i!fb6 22.~c5 âad8 23.'t!ff3
.tc8.
Além disso, não é claro o quanto as brancas
podem abrir a defesa das pretas após o
sacrifício da dama: 17 ....txel l 8.~xe6 .txf2+
l9.Wxf2 fxe6! (19 ... ~xe4+? 20.Wgl fxe6
21.~h5+! g6 22.°'i!fe5) 20.e5 ~e4+ 21.Wgl
0-0.
18.bxc3 ~xe4
A outra forma de trocar as damas é duvidosa
- 18 ... ~xdl 19.1':i.xdl, após o que as brancas
têm uma maneira forçada de manter seu peão a
mais: 19 ... ~xe4 20 ..ft..a3 (Karpov) 20 ... 1':i.d8
21.gel! Wd7 22.f3 ~d6 23.!fadl Wc6
24.~e6! fxe6 25.:S.xe6. Uma vez que as pretas
não podem trocar todas as torres, as brancas
mantêm chances de vitória: 25 ... âhe8 26.1':i.xe8
:S.xe8 27.1':i.xd6+ Wc7 28.Wf2 âd8 29.1':i.e6
~d2+ 30.Wg3 É\.xa2 3 l..~f8 g6 32.1':i.e7+ Wb6
33.âxh7.
19.~xd7+ Wxd7 20.il.a3 :l'ihe8 21.1':i.edl+
c:i;c7 22.f3
Agora o cavalo tem que recuar, e não para d6,
mas para uma posição na qual será incapaz de
defender o rei.
22 •. .lz)f6 23 ..td6+! Wb6 24.c4!
Sinalizando o inicio do ataque. O rei preto se
sente desconfortável, apesar da ausência das
damas.
356
24 .. l!ac8?
Agora o rei está completamente sem a sua
proteção de peões e a torre branca se torna
exuberante.
Eram oferecidas esperanças de salvar a
partida através de 24 ... bxc4!, preservando o
peão a6. Nesse caso, o rei ainda teria algo que
lembrasse uma proteção. Karpov deu a curta
variante 25.1':i.ab l + Wc6 26.1':i.b4, com a
avaliação "e vencem", mas após 26 ...1':i.ac8!
27.a4! g5! as brancas não têm nada melhor do
que 28Jâxc4+ c:i;b6 29 ..fi.c7+! Wa7 30.âd6,
após o que segue uma nova operação de trocas
- 30 ... ~e4! 3 l .fxe4 gxf4 32.1':i.d7 .ãxe4
33.1':i.xe4 ~xe4 34 ..ãxf7 Wb7 35 ..ft..xf4+ çi;,b6,
levando a partida a um final no qual as pretas
têm boas chances de empatar.
Uma resposta mais forte a 24 ... bxc4
25.1':i.abl+ Wc6 seria 26.1':i.d4!, com a idéia de
continuar o ataque, por exemplo: 26 ...:âac8
27 ..ta3 Wc7 28.!!xc4+ Wb8 29.1':i.cb4 âc7
30 ..tb2 çi;,c8 31 .~xf6 gxf6 32.1':i.b6 etc. Aqui
há uma defesa melhor - 26 ...1':i.ed8!. Após
27.1':i.b41':i.xd6 28.:S.dxc4+ Wd7 29.1':i.xb7+ c:i;e8
30.1':i.cc7 âd7 as brancas mantêm a iniciativa,
mas as pretas ainda têm chances reais de salvar
a partida.
25.cxbS axb5 26.a4! í:!cd8 27.axbS
Karpov consistentemente desenvolve seu
plano. O rei preto está coberto contra ataques
de torre pelo peão inimigo, mas as brancas
encontram uma ,maneira de se livrarem dele.

Entretanto, o elegante 27.:ãacl! :àd7 28.ii.c7+!
teria transformado esse peão em um
participante ativo do ataque, assegurando uma
vitória fácil: 28 ... ~a7 29.:àxd7 ~xd7 30.axbS.
27...:àd7 (não é possível mandar o cavalo de
volta: 27 ... gS 28.:ãacl! :àd7 29.~c7+! ~xbS
30.:àbl+) 28.:àd4 :ãed8 29.:àadl :ãc8
Novamente não é possível 29 ... gS, desta vez
devido a 30.ii.e7! :ãxd4 31.~xd8+ (Karpov)
30.ii.eS :ãe7
As pretas têm uma escolha melancólica entre
um final sem esperanças - 30 ...:àxd4 31.ii.xd4+
~xbS 32.ii.xf6 gxf6 33.:àd7 (Karpov) ou a
exposição suicida do rei, que foi preferida por
Tal.
31.:àd6+ ~xb5 32.:àbl+ ~c4 33.:àd4+
(como indica o computador, 33.:àd2 levaria ao
mate de forma mais rápida) 33 ... ~cS
34.ltld3+ 1-0
Em vista do mate inevitável, as pretas
abandonaram.
Na rodada seguinte, o Campeão derrotou
Timman com as pretas em bom estilo (abertura
Ruy Lopez, na variante de Zaitsev que tinha
entrado em moda - 9 ... ii.b7 10 d4 :àe8), e
depois venceu "por encomenda" contra
Kavalek e Gligoric. Foram quatro vitórias
sucessivas e todos os rivais ficaram para trás: 1.
Karpov - 8 em 11 + 5=6); 2. Larsen - 7½; 3.
Timman - 6 ½ etc.
Um mês e meio depois, teve início o torneio
de duas rodadas da IBM com oito
competidores, em Amsterdã. Antes do início,
Larsen e Timman declararam que jogariam pelo
primeiro lugar, "dando um fim às vitórias de
Karpov". Larsen, fora de forma, terminou no
fundo da tabela do torneio, ao passo que
Timman manteve a promessa, competindo com
o Campeão até o fim.
Karpov entrou neste torneio com uma das
novas esperanças do xadrez soviético, o
Campeão Mundial de Juniores de 1978, Sergey
Dolmatov. Em seu repertório, Dolmatov tinha
Anatoly, o Décimo-Segundo
a elegante Variante Chelyabinsk da Defesa
Siciliana, que ele empregou também contra
Karpov. Esta partida didática requer uma breve
introdução.
O auge da força de Karpov coincidiu com o
rápido progresso da Variante Chelyabinsk, mas
o estilo sufocante afugentou os competidores
com as pretas de pensarem em empregar contra
ele este esquema estrategicamente perigoso. A
partida com Dolmatov confirmou estes receios
e durante muito tempo não animou os Grandes
Mestres a usarem este esquema contra Karpov.
Só em 1994, Lautier se aventurou a usar este
esquema, conseguindo facilmente um empate,
mas nesse tempo, Karpov já raramente iniciava
uma partida com 1.e4.
Partida 81
A. Karpov - S. Dolmatov
Amsterdã 1980, 5ª rodada
Defesa Siciliana - B33
1.e4 c5 2.~f3 ~c6 3.d4 cxd4 4.~xd4 ~f6
5.~c3 e5 6.~db5 d6 7.ii.g5 a6 8.~a3 b5
Uma tabfya da Variante Chelyabinsk. Seu
desenvolvimento será descrito em detalhes no
volume 1 da série Xadrez Moderno
9.~d5
Karpov só utiliza essa variante, que
estrategicamente é a mais sólida. Ele jogou
quatro partidas com ela, tendo vencido duas,
uma no 101º (!) lance contra Yurtaev em 1979.
9... ii.e7 10.ii.xf6 ii.xf6 11.c3 0-0 12.~c2
:àb8
Naquela época, esse lance de torre, que inibe
o avanço corrosivo a2-a4, era considerado ser
uma importante sutileza, uma vez que a posição
após 12 ... ii.gS 13.a4 bxa4 14.:ãxa4 era
considerada favorável às brancas.
13.ii.e2 (quando jogavam 12 ... :àb8, em
primeiro lugar as pretas precisavam estar
preparadas para 13.h4!) 13 ... ii.gS 14.0-0 ii.e6
Considera-se mais preciso 14 ... aS, retirando
357
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
do cavalo branco a casa b4 e preparando a
disputa pelo posto avançado d5 através de
/fjc6-e7.
15.ii'd3 "i!fd7
Um desenvolvimento natural da dama, com o
objetivo de conectar as torres, mas aqui também
seria melhor 15 ... a5.
16."i!fg3! f6?!
Persistindo em seu objetivo de tomar o
controle da casa e3, as pretas entram em um
enfraquecimento absolutamente desnecessário
das casas brancas e, além disso, retiram do seu
bispo a excelente rota g5-d8-b6. Enquanto
isso, seria perfeitamente possível 16 ... Ji..d8
17./fjce3 g6, adiando a troca do seu bispo até
melhor momento.
17Jlfdl aS
Agora esse avanço, que até um lance atrás
prometia contrajogo completo, não é tão
efetivo.
18./fja3!
Uma decisão excelente e inesperada! O bispo
em g5 está vigiando o surgimento de um cavalo
em e3, para trocá-lo de imediato e então o
cavalo vai por outro caminho. Para um jogador
que acredita cegamente em regras clássicas, é
difícil imaginar que o retorno do cavalo para a
borda do tabuleiro seja a continuação mais
forte. Ao iniciar a batalha na ala da dama, as
brancas forçam seu adversário a gradualmente
mudar para uma defesa passiva.
18 ... /fja7
358
O posterior avanço do peão na ala da dama -
18 ... b4 simplesmente pioraria a posição das
pretas após 19./fjc4 bxc3 20.bxc3: seu bispo
está cortado de d8 e a torre branca já está em
dl.
19.h3! (a troca planejada dos bispos de casas
brancas é claramente vantajosa às brancas)
19 ...@hS
Deve-se dizer que o jogo impreciso das pretas
na abertura de forma alguma conduziu a um
fiasco estratégico imediato, uma vez que não
existem debilidades óbvias em sua posição e
tudo aquilo que é evidente é que não é tão
grande a diferença da atividade das peças. Mas a
partir desse momento, a partida se transforma
em um esplêndido exemplo de livro de como
demolir as defesas do adversário através da
acumulação de pequenas vantagens. Em tal
trabalho, por muito tempo Karpov não teve
rivais!
20.Ji..g4! ~fc8?!
No entanto, as pretas deveriam ter jogado
20 ... f5 e, após trazer o bispo para o jogo (mas
não o trocando pelo cavalo), montar uma
defesa após as trocas 21.exf5 Ji.xf5 22./fjc2
~xg4 23."i!f xg4 "i!fxg4 24.hxg4. Embora as
brancas ainda mantivessem a iniciativa, não é de
todo fácil para elas conseguir alguma coisa real,
por exemplo: 24 ... /fjc6 25./fjce3 g6 26.a4 /fje7
27./fjxe7 Ji..xe7 28.b4 axb4 29.cxb4 bxa4
30.~xa4 .E!.t7 3 l,/fjd5 Ji.g7 e a quantidade
limitada de material remanescente permite às
pretas esperanças de um empate.
21.Ji..xe6 "i!fxe6 22."i!fd3! ~cS?!
Novamente uma manobra natural e bastante
fraca, que permite às brancas iniciarem jogo
ativo. Seria melhor o imediato 22 . .. g6. Da
mesma forma, as pretas não ficar sem seu lance
temático, preparando ... f6-f5.
23./fjc2 g6
24.b4!
Karpov inicia uma operação nova e muito
longe de óbvia, tendo como objetivo a remoção
das obstruções de peões na ala da dama e

abrindo o caminho para a sua torre. Ele já
traçou os contornos da futura ofensiva.
24 ... axb4 25.l2icxb4 âb7 26.a4! bxa4
27.âxa4 f5 28.âa6! l2'ic8
As pretas têm que voltar, uma vez que o ativo
28 ... l2'ib5 permitiria que as peças brancas
abordassem o rei ao longo da indefesa 8ª fileira:
29.âa8+ Ç!;g7 30.l2'ia6 âc8 31.exf5! (escolher
o momento certo para essa troca permite
enfraquecer a fortaleza do rei ainda mais)
3 l...gxf5 32 ..!!xc8 !Vxc8 33 ..!!bl! .!!a7
34.!Vxb5 !Vxa6 35.'Jfib8!. Dessa forma
Dolmatov bloqueia com o seu cavalo a linha
perigosa.
29.âaS Ç!;g7
Se inicia uma nova fase da batalha. Para
vencer, as brancas precisam encontrar uma
forma de romper as ainda sólidas defesas
adversárias.
30.'Jfie2
Seria mais enérgico 30.'Jfia6! 'Jfid7 31.exf5!,
forçando as pretas a_ tomarem com o peão, o
que enfraquece a proteção do rei: 31...gxf5
32.!Vd3 'Jf!f7 33.âdal.
30 ...fxe4
Essa captura rompe a cadeia de peões das
pretas e cria o perigo do aumento da dominação
do adversário nas casas brancas (o que de fato
aconteceu no final). Mas a troca dos cavalos
30 ... l2'ie7 31.l2'ixe7 ii..xe7 também não
facilitaria a posição das pretas, uma vez que a
casa chave d5 seria novamente ocupada pelo
Anatoly, o Décimo-Segundo
cavalo - 32.l2'id5 it.g5 33.c4.
31.'Jfixe4 'Jfif5 32.!Ve2 âf7 33.c4 ii..h4
34.âfl
34 ... l2'ie7
De acordo com Dvoretsky, esse é o erro
posicional definitivo: "Porque trocar o cavalo
branco 'supérfluo' em b4? É verdade, após
34... e4!? (com a idéia de ... 'Jf!e5-d4) muitos
anos depois foi mostrada uma forte resposta
por Yuri Yakovich: 35.âa3! (ameaçando âe3) e
após 35 .. .ilg5, então 36.f4! (não 36.f3 Vf!e5)
36 ... ii.f6 37.g4 !Ve6 38.Ç!;hl seguido por
39.âe3. Dessa forma as pretas fariam melhor
em se restringir ao lance de espera 34 ... ilg5! e
se 35.âfal, então continuar tanto com tática de
espera (35 ... h5; 35 ... ii.h4), ou no entanto
jogar 35 ... e4, sem temer 36.:!âel ii.h4
37.'Jf!b2+ 'Jf!e5 38.'Jf!xe5+ dxe5 39.g3 it.f6
40.~xf6 âxf6 41.âxe4 ~d6 com empate
provável".
Na minha visão, manter a ligação dos cavalos
brancos também ameaçaria as pretas de forma
desagradável. Assim, se 34 ... ii..g5 35.âfal e4
36.âel ii.h4, então seria muito forte 37.g3
it.d8 38.~c2, quando o cavalo "supérfluo"
com sucesso entra em jogo: 38 ... ii.a5 39.~ce3
Vfixh3 40.'Jfib2+ Ç!;g8 41.âal ii.d8 42.'Jfid4. A
dominação central total das brancas, combinada
com a atividade das suas torres, faz a posição
das pretas mal defensável, por exemplo:
42 ... !Ve6 43.âla6! Vf!e5 44.'Jf!xe5 dxe5 e um
salto súbito do cavalo decide a partida -
359
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
45/Z:lc3! Si.g5 46.<tixe4 ii.xe3 47.0xc5 .ã'.xt'2
48.0e4!. As coisas também são difíceis para as
pretas após 35 .. .fi.h4 (ao invés de 35 ... e4)
36.g3 Si.d8 (não é suficiente o sacrifício de
peça: 36 .. ."~xh3 37.gxh4 ~xh4 39.0e3 0b6
40 ..ã'. 8a7) 37.h4.
35 ..ã'.a6
O imediato 35.0xe7 ii.xe7 36.0d5
permitiria às pretas trazerem de volta ao jogo a
sua torre colada em c5 - 36 ... .ã'.c8!
35 ... W°d7?
E sse lance é auto-sugestivo, mas merece ser
criticado severamente - as pretas são incapazes
de resistirem através de jogo passivo. A melhor
chance prática seria o sacrifício de peão
35 ...0xd5 36.0xd5 e4! 37 ..ã'.xd6 ~e5 38 ..ã'.a6
W°d4, ativando as peças co m chances de
empate.
36.W°e4 iclxd5 37.liixdS ii.e7 38 ..ã'.fal ~ f8
As pretas já não podem ativar o seu jogo -
38 .. .'~f5 39.W°e2 Si.114 40.g3.
39.W°e2 .ã'.c6
40•.ã'.6a3!
É espantosa a habilidade de Karpov de ver
todo o tabuleiro. Após dobrar as torres na
coluna a, subitamente ele muda de forma aguda
a direção do ataque e faz uma manobra
inesperada, com fortalecimento decisivo da sua
po sição. Uma vez que as pretas não têm um
lance mais útil do que voltar a sua torre a c5, as
brancas removem da partida a torre de f7,
enfraquecendo dessa forma a defesa do rei. A
360
sua outra torre agora pode ameaçar não só a
invasão na coluna a, mas também mudar para a
ala do rei via a3 e f3 . O que aqui se torna
notável é o papel de domínio desempenhado
pelo cavalo em d5, que evita o retorno em
tempo da torre de c5 para o auxílo ao rei, o que
deixa para ela o papel de simples observadora
dos fatos.
40 ... ãcS 41.i!f3! i!xf3 42.~xf3 ~f7
43.W°g4 hS
As pretas, para salvaguardar o seu monarca,
são obrigadas a entrar em novas debilidades.
44.'i!fe4 i!c8
Após 44 ... @h7 um ataque de ida e volta da
torre conclui a batalha: 45 ..ã'.a3 Si.g7 46.g4!
W°d7 47 ..ã'.f3! (o final técnico após 47.gxh5
W°f5 48.hxg6+ W°xg6+ 49."~xg6+ @xg6
50.â g3+ @fl 5 l .âg4 é uma recompensa
muito pequena por urna campanha tão bem
sucedida) 47 ... hxg4 48.hxg4 W'e6 49 ..ã'.a3!
W°f7 50 . .ã'. f3 W°e8 (50 ... W°e6 51.0f6)
51..ã'.f6!. N ada se altera através de 44 ... @h6
45 ..ã'.a8 ii.g7 46.g4!.
45.í:!a3 ~fS
Isso impede a invasão da torre na coluna f,
mas agora vem um golpe da outra ala. Após
45 ... âb8 46.âf3 a contra-invasão 46 ... ~7
47.@h2 ~bl é ineficaz: 48.~h4 ~e]
49.~f6+ <i:t'h7 50.W°f7+ ii.g7 51.W°c7 ãb]
52 ..ã'.fl W°gl+ 53.<i:t'g3 .lâb3+ 54.f3 h4;-
55.<i:t>xh4 ~t'2+ 56.g3, vencendo. Após
46 ... ~d7 47 ..ã'.f6 ~e8 o ganho da dama
através de 48.0c7 <i:t>xf6 49."~f3+ <i:t'e7
50.0xe8 í:!xe8 dá às pretas esperanças de
erguer uma fortaleza, mas o enérgico 48.f4!
rapidamente força a capitulação: 48 ... exf4
49 ..ã'.e6 ~f7 50.0xf4.
E no caso de 46 ... W°e6 (talvez a defesa mais
valente) as brancas não poderiam ganhar nem a
dama (47.~f6 W°xf6), nem um peão (47.l2\f4
~[5 48.~xf5 gxf5 49.0xh5+ <i:t'g6 com
contrajogo). Após 47.~h4! e4 (47 ... .ã'.b7
48 ..ã'.f6 ii.e7 49 ..ã'.xe6 ii.xh4 50.g3) 48.~e3
W°e5 49.~xe4 a vitória é tecnicamente simples.

46.!fa7+ 'ia?h6
Se 46 ... 'ia?h8 é decisivo o elegante golpe tático
4 7 .ltif6 !, levando a partida a um simples final
de damas vencedor: 47 ... V:!:Vxf6 (também não há
esperança em 47 ... ~g7 48.ifb7 V:!:Vxf6
49.V:!:Vxc8+) 48.V:!:Vb7! V:l:Vg7 49.ifxc8 V:!:Vxa7
50.V:!:Vxf8+ 'ia?h7 5 l.V:!:Vxd6.
47.V:l:Ve3+ g5 48.l!:Ve2 B'.b8 49.g4! hxg4?!
Mesmo assim, as pretas não deveriam abrir a
coluna h. O imediato 49 ... V:!:Vbl+ 50.'ia?g2 B'.b7
51.B'.xb7 V:!:Vxb7, seria mais resistente, embora
após 52.V:!:Vt3 ~g7 53.gxhS a partida tivesse
entrado em um final onde as pretas não tinham
meios de se oporem à dominação das casas
brancas pelo adversário.
50.hxg4 V:!:Vbl+ 51.'ia?g2
A dama preta está fora de ação, as brancas
conquistaram um posto avançado em f5 para o
seu cavalo e o caminho a7-a3-h3 está aberto
para a sua torre. Não é possível enfraquecer o
efeito terrível dessa manobra através de 51...e4
52.B'.a3 ég6 pois após 53.c5! as pretas não
podem tomar o peão (53 ... dxcS? 54.V:l:Va6+!) e
53 ... :ãc8, aparentemente a única continuação
aceitável, permite um belo ataque conclusivo:
54.V:!:Vc4! B'.xc5 55.V:l:Vd4! ~g7 56.lz::ie7+ én
57.V:!:Vxd6 etc. Então o desejo das pretas de
trocar as torres é lógico e aparenta ser uma
medida que facilita a sua posição.
51. ..:ãb7 52.B'.xb7 l!:Vxb7 53.V:!:Vf3!
Torna-se claro que a dama preta é incapaz de
vir em auxílio do seu rei devido a um mate
Anatoly, o Décimo-Segundo
trivial: 53 ... ifg7 54.V:!:Vh3+ ég6 54.V:!:VhS.
Restam poucas peças no tabuleiro, mas a
diferença de força dos dois pequenos exércitos
é tal que a batalha se encerra de forma imediata.
53 ... ~c8 54.~f6+ 'ia?h7 55.~il+ 1-0
Se 55 ... éh8, então é decisivo 56.lz::if6 e se
55 ... éh6 - 56.lz::ie3.
Na rodada seguinte, Karpov perdeu com as
pretas para Ribli e a segunda parte do torneio se
transformou em uma forte disputa com
Timman. Na penúltima rodada, a 13ª, o
Campeão jogou com brancas contra Ribli e
dada a situação do torneio, queria o quanto
antes a revanche.
E - muito típico de Karpov - novamente o
resultado foi um exemplo didático de acúmulo
das mínimas vantagens em combinação com
uma pressão fortíssima, que acabou dobrando o
limite de resistência do adversário.
Partida 82
A. Karpov - z. Ribli
Amsterdã 1980, 13ª rodada
Abertura Inglesa - A38
1.c4 (de novo servindo pela esquerda!) 1. .. c5
2.lz::if3 lz::if6 3.lz::ic3 lz::ic6 4.g3 d5 5.cxd5 lz::ixd5
6.il.g2 g6 7.0-0 ~g7 8.lz::ixd5 'i!fxd5
Essa variante, não sem veneno, é uma que
Karpov joga com ambas as cores, de cujas
sutilezas tem um excelente conhecimento.
9.d3 0-0 10.il.e3 ~d7!
Esse lance (ao invés do anterior 10 ... 'i!fd6),
que ocorreu pela primeira vez na partida
Timman-Olafssom (Amsterdã 1976), força a
admissão de que aqui não há nenhuma
dificuldade em particular para as pretas. Após
vê-lo no tabuleiro, Karpov imediatamente se
lembrou como se desenvolvera a partida de
referência e, após algum raciocínio, imaginou
uma novidade (veja abaixo).
11.lz::id4
361
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Posicionada em d5 a dama mantém sob fogo
o peão a2, não permitindo que a torre branca
entre em jogo. Mas ela não pode ser mandada
embora de forma vantajosa: 11.l'ild2 'iWbS ou
11.l'ilgS W9e5. Complicações interessantes
surgem rapidamente de forma inesperada em
um esquema monótono assim após 11.\llfcl b6
12.d4 cxd4 13.l'z:lxd4 lz:lxd4 14.~xdS l'z:lxe2+
15.~g2 l'z:lxcl 16..1i.xa8 ~xb2 17 ..!âbl .1i.f6!
18 ..!âfxc 1 :ãxa8, e a situação é descarregada
(Bagirov-Tukmakov, Tibilisi 1978).
11 ... W9d6 12.~xc6 (12.lZfüS W9e5)
12 ...ii.xc6 13..iixc6 \llfxc6 14.!kl "i!fe6
A posição crítica. As pretas ameaçam
consolidar através de 15 .. .b6 e as brancas não
podem adiar a captura do peão c5.
15.!Ixc5
As pretas não têm problemas após 15 .il.xc5
.1i.xb2 (ou 15 ... "i!fxa2 16.il.xe7 :ãe8 17 ..1i.a3
~xb2, com igualdade-Karpov) 16.~bl ii..g7
17.a4B'.fd818 ..1i.e3 b619."i!fd2~d5 (Timman-
Olafsson, Amsterdã 1976).
15 ...W9xa2
Karpov considera a posição após 15 ....1i.xb2
16.:ãbS ~f6 l 7.~a4 favorável às brancas.
Após 17 ... ~d7 18.!faS \llfxa4 19.B'.xa4 ~fc8
20.:àbl b6 as pretas se defenderiam em um
final inferior, como o da partida.
16.:ãb5!?
"Uma inovação, que me ocorreu durante a
partida" (Karpov). Não tem a pretensão de
refutar o esquema da abertura das pretas, mas
362
apresenta-lhes novos problemas.
16... b6
Uma reação aceitável, mas não a melhor.
Havia uma forma mais clara de equilibrar -
16 ... W9a6! l 7.'ifb3 b6 18.:ãb4 B'.fc8 19.:ãa4
"i!fb7 20.ãfal h5! (Ehlvest-Polugaevsky,
Reggio Emilia 1991) ou 18 ... !Hb8 19.1:k4 b5
20 ..1âc7 e6 21.:ãfcl h5 com uma partida
indefinida (Andersson-Timman, Ubeda 1997).
17.'i!fal!
Explorando o fato de que, com o peão em b2,
a casa a 1 é inacessível para o bispo preto, as
brancas desejam amarrar a torre em a8 na
defesa do peão a7. Se essa torre for capaz de
mudar para a 7ª fileira, o conflito estará
encerrado.
17 ..."i!fxal?
Com o objetivo de "secar" o jogo e selar a paz
o mais breve possível, as pretas se condenam ao
sofrimento em uma posição na qual a sua
melhor opção já era entrar em um final de
torres com um peão a menos. Sem dúvida,
"seria preferível 17 .. .'i!fe6" (Karpov) - com as
damas em jogo é mais fácil resistir em uma
posição assim: 18.\llfa4 .1âfc8 19.:ãb4 W9d5
20.:ãal ~h5 (Hansen-Sutovsky, Esbjerg 2001).
É claro, quando analisamos a posição em uma
situação tranqüila, podem ser resolvidos os
problemas apresentados por l 6.~b5 sem
dificuldade em particular. Mas no tabuleiro,
Zoltan Ribli foi incapaz de encontrar o caminho
correto, embora na época, no auge da sua
carreira, fosse famoso pela sua sutil
compreensão posicional.
18.ãxal
Torna-se claro que falta um tempo para as
pretas evitarem a invasão da torre em a6, a qual
é extremamente desagradável com a sua torre
em a8. Subitamente elas se encontram em
dificuldades.
18 ...ãtbS
Ribli adota uma postura passiva, pretendendo
finalmente remover a torre de a8 após
19 .. J:~b7. Não há nada para a torre fazer na

coluna e aberta: l8 ... B'.fc8 l9.B'.a6! B'.c2 20.b3
B'.xe2 2l.B'.bxb6 (Karpov) 21...B'.el+ 22.<i!?g2
.E:al 23.ãxal ~xal 24J~a6.
19.B'.a6!
Agora 19 ... B'.b7 conduz à perda de um peão e
a um final extremamente desagradável de torre
e bispo: 20.B'.bxb6! B:xb6 2l.~xb6 ~xb2
22.d4! e5 23.d5.
19 ... @f'S 20.B'.b4! ile5 21.B'.ba4!
Sutil. "Se 2l.b3 as pretas conseguiriam se
defender - 21...ilc7 22.B'.ba4 B'.b7". (Karpov)
21...bS?
O erro decisivo. Agora a transição para um
final difícil "5 contra 4" se transforma em
sonho, que depende inteiramente do desejo das
brancas. De acordo com Karpov, "seria
preferível 21...~xb2 22.~xb6 ãb7 23.~xa7
B'.c8, quando não é totalmente fácil para as
brancas vencerem esse final".
22Jfa2 B'.b7 23.b3!
Um sinal de alerta para as pretas. Mais do que
o ganho imediato de um peão através de
23.~xa7 ~xb2 24.ãxb2 B'.axa7 25 .B'.xa7 B'.xa7
26.ãxb5, Karpov prefere pressão posicional,
prosseguindo o desgaste do seu adversário.
23 ... ~b8 24.~cS (agora as pretas também
são retiradas da coluna e) 24 ...@e8 25.d4 @d7
26.e4!
Karpov: "Uma decisão razoavelmente
comprometedora, que necessita cálculo
profundo. Após 26.d5 as pretas seriam forçadas
a entrar em um final de torre - 26 ...~d6
Anatoly, o Décimo-Segundo
27 .~xd6 exd6, que parece completamente
vencedor para as brancas". Mas ele de forma
justificada queria mais.
26... e6 (o bispo preto não pode mais ir a d6)
27.b4 'it>cs
28.dS!
Karpov "não se preocupa com 28.~g2 B'.d7
29.ã6a5 ~d6! 30Jâxb5 ~xc5 31 .:Sxc5+
~d8 !, quando o rei branco não consegue
defender seus peões avançados distantes."
Realmente, no final de torre após 32.d5 exd5
33.B'.xd5 B'.xd5 34.exd5 as pretas adquirem um
fio de esperança: 34 ... a6 35.~f3 B'.b8 36.B'.xa6
B'.xb4.
28 ... exdS 29.exdS ãd7 (não 29 ... ~e5?
devido a 30.B'.e2 - Karpov) 30.d6 B'.d8
As peças pretas estão afogadas e agora o rei
branco vem para o jogo.
31.Wg2 'i!?d7
"No caso de defesa passiva - 31 ... 'i!?b7 as
brancas podem vencer através do seu rei via ala
do rei: 32.~f3 ge8 33.~f4 h6 34.h4 etc."
(Karpov). Por exemplo: 34 ... ~c8 35.ã2a5
~b7 36.h5 gxh5 37.~f5 B'.e6 38.f4 B'.g6
39.!fa3 ~c8 40.B'.d3 ~d7 4l.B'.e3, vencendo.
E se 31 ... B'.e8, então é possível 32.d7+ ~xd7
33.ãf6 (Karpov) e embora as pretas possam
complicar um pouco a tarefa do adversário
através de 33 ... aS! 34.bxaS B'.e5 35.~b4 We8,
da mesma forma as brancas estão próximas da
vitória: 36Jâb6 ~a7 37.B'.b7 etc. Embora não
se deva desprezar a importância da ativação da
363
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
torre preta: 32.<~f3!? B:e6 33.!:i.2a5 ©b7
34.©f4 h6 35.h4 - como na variante com
31 ... ©b7, o rei branco rompe através da
posição inimiga (35 ... B:el 36.h5 etc.).
32.B:e2!
Também há uma vitória através de 32.B:2a5
©e6 33.B:xb5 B:d7! 34.!:i.ba5! (Karpov
somente considera 34.lâa2 ~xd6, quando "a
posição não é tão clara") 34 ... ~xd6 35.Jlxa7,
mas com o lance da partida as brancas não
permitem ao adversário se desembaraçarem
normalmente.
32 ...©c8
No caso de 32 ... B:e8 33.B:xe8 ©xe8 34.©f3
(Karpov) 34 ... ©d7 35.©e4 ©e6 36.g4 o
exército preto faz um espetáculo lamentável.
33.B:e7 lâd7
34.B:a2!
A manobra decisiva de torre, enquanto o
imprudente 34.B:c6+? ©b7 35.lâxd7+ ©xc6
36.B:xf7! (36.lâd8 a5 Karpov) 36 ... a5!
permitiria às pretas boas chances de salvação:
37.!:i.xh7 ~xd6 38.~xd6 ©xd6 39.bxa5 B:xa5
40.B:g7 b4 41.lâxg6+ ©c5.
34 ... a5 (34 ... ©d8 35.ilb6+; 34 ... ~xd6
35.!:i.xd7 ©xd7 36.B:d2) 35.~c2 1-0
A facilidade com que Karpov derrotava os
melhores Grandes Mestres do mundo, em
posições que pareciam ser completamente
inofensivas, ainda criava uma forte impressão.
A vitória final contra Larsen serviu para
364
colocar os pingos nos i' s: 1. Karpov - 1O em 14
(+7-1=6); Timman - 9; 3. Sosonko - 8; 4. Hort
- 7½; 5-6. Dolmatov e Ribli - 7.
Teve grande repercussão também a segunda
vitória sucessiva do Campeão no supertorneio
do outono em Tilburg. Inicialmente, na segunda
rodada, ele venceu Ribli com as pretas -
revanche outra vez! Na terceira rodada ele
perdeu inesperadamente com as brancas para
Larsen (volume 4, partida 48), mas então, "na sua
fúria" infligiu derrotas a Timman, Hübner,
Andersson e Spassky. Contra o ex-Campeão do
Mundo, Karpov retirou de novo do seu arsenal
o perene Ataque Keres.
Partida 83
A. Karpov - B. Spassky
Tilburg 1980, 9ª rodada
Defesa Siciliana B81
1.e4 c5 2.lt1f3 e6 3.d4 cxd4 4.tz)xd4 tz)f6
5.tz)c3 d6 6.g4 h6 (6 .. _tz)c6 - partida 50;
6 ... ~e7- partida 71) 7.h4
Mais tarde, Karpov mudou para 7.lâgl
(partida 89), enquanto abandonou 7.g5 hxg5
8.~xg5 após duas partidas com Andersson
(Skara 1980; Bugojno 1980) onde as pretas
equilibraram com 8 ... tz)c6 9. ~ d2 ~b6
10.tz)b3 a6 11.0----0---0 ~c7 seguido por ... ~d7,
... ~e7, ... 0----0---0, ... ©b8, ... ~c8 e ... tz)g8!?.
7 ••• tz)c6 8.~gl d5!?
"A continuação mais crítica, se as pretas têm
como objetivo uma batalha no centro. De outro
modo, ao avançar no próximo lance seu peão g,
as brancas mandariam de volta o cavalo de f6".
(Karpov)
Outro golpe é empregado com mais
freqüência - 8 ... h5. Na primeira partida do
nosso match de 1984/85, Karpov jogou 9.gxh5
e após 9 ... tz)xh5 10.~g5 tz)f6 11.~d2 '%!9b6
12.tz)b3 ~d7 13.0----0---0 a6 (um esquema similar
ao que foi utilizado por Andersson - conforme
abaixo) resolvi com sucesso meus problemas de

abertura (mais detalhes sobre isso no volume 2 da
série Xadrez Moderno).
O lance 9.g5 /f:lg4 10.!k.e2 caminha de
encontro com 10 ... d5!, que foi imaginado pelo
Grande Mestre húngaro Andras Adorjan, que era
famoso pelo seu estilo de jogo interessante e até
mais pelas suas descobertas originais em várias
aberturas. Eu analisei essa idéia com ele antes do
meu primeiro match com Karpov e sua viabilidade
foi confirmada por uma das partidas de Andras:
11.<'8xc6 bxc6 12.!k.xg4 hxg4 13.~xg4 d4
14.'f:le2 e5! (Sznapik-Adorjan, Dortmund 1984).
9.!k.b5 il.d7 10.exdS /f:lxd5 (se 10 ... exd5
então é perfeitamente bom para as brancas
11.~e2+ !k.e7 12.il.e3 a6 13.!k.d3) 11.lclxd5
exd5
Simplificação como 11...<'8xd4 12.il.xd7+
°i!Uxd7 13.~xd4 '%!Hxd5 14.1!fxd5 exd5 conduz
após 15.!k.e3 a uma posição tediosa, na qual é
difícil para as pretas demonstrarem qualquer
atividade. Elas provavelmente podem se
defender, mas porque jogar um esquema de
abertura assim?
12.!k.e3!
"Desenvolvimento primeiro e sempre! Há
outra possibilidade tentadora - 12.'%!He2+, o que
após 12 ... ~e7 13.!k.e3 <'8xd4 14.!k.xd7+
<i!?xd7 15.!k.xd4 levaria a alguma vantagem para
as brancas, mas após 12 ... !k.e7 13.'f:lf5 !k.xf5
14.gxf5 <i!?f8 a posição não me parece clara".
(Karpov)
12 ...!k.e7
Anatoly, o Décimo-Segundo
Parece arriscado jogar 12 ... ~xh4 13.1!fd2!
(na minha opinião, o melhor lance, não
permitindo simplificação) 13 ...!k.e7 14.0-0-0.
Mas após o preparatório 12 ... a6! 13.!k.a4 o
peão pode se mostrar perfeitamente comestível:
13 ... ~xh4 14.~f3 1!fe7 15.0-0-0 1!fe4
16.~g3 0-0-0 17.<'8xc6 !k.d6! 18.~xd6
!k.xc6 19.~g3 ~xa4.
13.~d2
"Também seria possível 13.1!fe2, tentando
explorar a posição aberta do rei preto.
Realmente, então as brancas também se
submetem ao perigo ao longo da indefesa
diagonal a5---e 1, e também em alguns casos ao
longo da coluna e. As pretas teriam uma opção
entre 13 ... ~a5+ 14.c3 lf:lxd4 15.!k.xd7+ <i!?xd7
16.!k.xd4 lâhe8 e 13 ... 0-0 14.0-0-0 ~a5, que
após 15.!k.xc6 bxc6 16.<i!?bl parece muito
promissor para as brancas". (Karpov)
Entretanto, em minha visão, após 16 ... !k.xh4
as brancas têm um trabalho duro para
demonstrar que elas possuem compensação
pelo peão (digamos, 17.f4 lâfe8 etc.). Ao invés
de 15 .!k.xc6 elas podem jogar de imediato
15.<i!?bl, mas após 15 ... /f:lxd4 16.!k.xd4 ~xb5
17.~xe7 lâfe8 18.~a3 !fac8 as pretas têm
uma posição sólida (19.g5?! h5 e o ponto c2 se
torna o alvo para um contra-ataque).
E após 13.~f3 0-0 14.!k.xc6 bxc6 15.g5 as
pretas tomam a iniciativa com um sacrifício de
peão: 15 ... h5! 16.1!fxh5 ~a5+ 17.c3 lâab8.
13 ... !k.xh4?!
"Anteriormente, como recordo, o ex-
Campeão Mundial nem mesmo olharia para um
peão assim, mas os tempos mudam e o gosto
por um peão a mais pode surgir mesmo entre
jogadores como Spassky. Entretanto, o desejo
iminente das pretas de se livrarem de um dos
peões sobre sua posição é determinado pelo
desejo de remover seu rei para o flanco, o que
se for feito imediatamente seria perigoso:
13 ... 0-0 14.'f:lf5 !k.f6 15.0-0-0 e é difícil para
as pretas estancarem as ameaças" (Karpov). E
realmente, já é perdedor 15 ... d4? devido a
365
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
16.~xh6 gxh6 17.W!f xh6.
Entretanto, um dos maiores especialistas em
esquemas Scheveningen, Ulf Andersson (que
nos últimos anos tem jogado mais em torneios
por correspondência), encontrou a defesa
astuta 14 ... d4!, após o que nas complicações
15 ..txh6 ~b4 16.c3 dxc3 17 .bxc3 itle5 !
18.~e2 B'.e8 19.'~fl ~f8 20 ..tf4 W!fa5 as
pretas conquistam compensação excelente pelo
peão sacrificado (Timmerman-Andersson,
partida por correspondência 1995-97).
O lance da partida entrega completamente a
iniciativa para as brancas.
14.0-0-0 ilf6?!
Após o aliviador 14 ... itlxd4 15.~xd7+
W!fxd7 16.~xd4 0-0 as pretas correm o perigo
de ficar sob um ataque arrasador: 17.B'.hl ! W!f d8
18.B'.dgl ! ~f6 19.g5 il.xd4 20.W!fxd4
(20.gxh6? W!ib6! 21.c3 ~xf2) 20 ... hxg5
21.W!id3 f5 22.B'.h5 W!fd7 23.B'.hxg5 B'.f7
24.~3, vencendo.
Parece-me que a melhor decisão (assim como
no lance anterior) fosse rocar. É claro, após
14 ... 0-0 parece ameaçadora a resposta 15.g5.
Agora 15 ... ê2ixd4 é respondido pelo forte
16.W!fxd4!, quando as pretas perdem tanto após
16 ... ~xb5? 17.gxh6 .tf6 18.B'.xg7+ @h8
19.W!ff4 ~d7 20 ..td4, como 16 ... ~xg5?
17.il.xd7 W!fxd7 18.f4. E no caso de 16 ... hxg5
17 ..txd7 W!fxd7 18 ..txg5 ~xg5 19.B'.xg5 f6
20.B'.h5 o ataque das brancas é muito forte.
Seria mais cauteloso 15 ... hxg5 e se 16 ..txg5
_txg5 17 .B'.xg5 então não 17 ... ê2ixd4? devido
a 18.B'.xg7+! @xg7 19.W!fxd4+ f6 20.B'.gl+
@f7 21.W!ixd5+ .te6 22.W!ixb7+ W!fe7
23.B'.g7+, mas 17 . .. W!ff6 - nessa posição ainda
há tudo para se jogar. Pode parecer mais
desagradável 15.itlf5, quando após 15 ... d4
16.ii.xc6 dxe3 17.W!fxe3 bxc6 18.itlxh4 W!ixh4
19.B'.xd7 as pretas estão frente a uma defesa
laboriosa.
15.itlfS!?
Não é de todo fácil para as brancas
desenvolverem a sua iniciativa - as pretas não
366
têm debilidades na ala do rei e, além disso, seu
rei ainda não está lá! Por um lado, o lance de
cavalo é bom, com o que as brancas abrem a
coluna g, praticamente rejeitando qualquer
possibilidade das pretas rocarem (também na
ala da dama o rei não estará seguro);além disso,
as brancas estão prontas para capturar o peão
d5. Por outro lado, uma das principais peças de
ataque é trocada e o preço pela abertura da
coluna g é a perda de uma possível tempestade
de peões.
Karpov rejeitou o óbvio 15.f4, após falhar
em encontrar uma vantagem clara após
15 ... W!fa5 16.W!fxa5 itlxa5 17 ..txd7+ @xd7 e
somente após a partida ele descobriu que
"através de 18.itlf5! as brancas teriam
conquistado chances excelentes!". A verificação
no computador mostrou que Karpov estava
certo: 18 ... @c6 19.~d4 ii.xd4 20.B'.xd4 com
vantagem para as brancas. Não seria melhor
15 ... W!fc7 devido a 16.g5 hxg5 17.fxg5 .te5
18.itlf3 0-0-0 19 ..txc6 .txc6 20.itlxe5 W!ixe5
21.~xa7. Para evitar o pior, as pretas
novamente deveriam entrar no final - 21. .. B'.h2
22 ..td4 B'.xd2 23.~xe5 B'.xdl + 24.B'.xdl, mas
também aqui elas enfrentariam uma defesa
extremamente desagradável.
15 ... ~xfS
Não é mais possível rocar: 15 ... 0-0?
16.itlxh6+! gxh6 17.g5! .te5 18.f4 ii.c7
19.gxh6+ @h8 20.W!ixd5 W!fe7 (20 ... ii.e6
21.W!ig2!) 21..tc5 .txf4+ 22.@bl W!fe5
23.il.xf8, vencendo.
16.gxfS a6
Spassky pretende preservar o seu peão d
como uma compensação pelas dificuldades
experimentadas. Entrar no final - 16 ... 'i'd7!?
17. W!f xd5 'i'xd5 18 .B'.xd5 a6 daria a ele uma
chance de igualar após 19 ..i.xc6+ bxc6 20.B'.d6
B'.c8, graças ao seu peão passado h (21.B'.e 1 @f8
22.B'.d7 h5 23.B'.a7 h4 24.B'.xa6 h3). Mas
através de 19 ..ta4! b5 20 ..tb3 itle7 21.B'.d3
itlxf5 22.li.c5 B'.c8 23.B'.el+ itle7 24.~d6
Karpov manteria os dois bispos, a iniciativa e

chances reais de sucesso.
17.il.xc6+?
Uma troca estranha: o peão bastião central
das pretas está apoiado e elas adquirem a
possibilidade real de esconder o seu rei em c7
ou c8 e a utilização da coluna b para um contra-
ataque.
"É sempre lamentável entregar assim um
bispo, mas as brancas não têm tempo de recuá-
lo, uma vez que o peão d avançaria e as pretas
tranqüilamente removeriam o seu rei para f8 e,
se necessário, para g8", escreve Karpov. Aqui
ele é insuficientemente concreto. Com esse
desenrolar dos fatos, a torre em h8
permaneceria fora de jogo por um longo tempo
e ambos os bispos das brancas se tornam muito
ativos: 17.it..a4! b5 (aqui 17 ... ~d7 seria mais
fraco do que no lance anterior, pois ao lado de
18.~xd5 as brancas têm o muito desagradável
18.kb6! ~xf5? 19.~4) 18.~b3 d4 19.~e2.
Agora, tanto após 19 ... Wf8 20.~h5 ~e7
21.kf4 gas 22.ggel, como 19 ... ~e7 20.~f3
gc8 21.il.f4 ~e5 22.~g3 as brancas têm uma
poderosa iniciativa.
17 ...bxc6 18.il.cS
No caso de 18.kd4, o fato de que o peão d5
esteja defendido permite às pretas montarem
uma defesa com a participação ativa do seu rei:
18 ... il.xd4 19.~xd4 ~f6 20.~c5 (20.~4
Wd7! 21.~7+ Wd6!) 20 ... Wd7! 21.c4 filb8!
22.gd2 ~e7 23.~d4 ~f6 24.gxg7 ~xd4
25_gxd4 We7 26.cxd5 cxd5 27.gxd5 gb5
Anatoly, o Décimo-Segundo
com um empate iminente.
1s...gbs t9.h4!?
Jogo agudo e interessante; para apoiar sua
iniciativa declinante, as brancas decidem
entregar seu principal trunfo - a proteção segura
do seu rei. Após o tranqüilo 19.b3 gb5 20.il.d4
as pretas se defendem através de medidas
simples: 20 ... .1i.xd4 21.~xd4 ~f6 22.1:!gel+
Wf8 23Jâe5 gbs (no caso de 23 ... Wg8
24.ges+ Wh7 25.~xf6 gxf6 26.ge7 gf8
27.gc7 o final de torre é no entanto favorável
às brancas) 24.ggl (24.gdel Wg8) 24 . .. h5!?
E a posição não é clara (somente se 25.ggel,
ao invés de 25 ... h4?? 26.~4+, elas deveriam
movimentar o seu rei - 25 ... Wg8 etc.).
19.. ..lâbS?
Quando Karpov avançou seu peão b, ele
pensou que o seu adversário fosse obrigado a
sacrificar a qualidade. Mas isso não é assim - o
pior já estava sobre as pretas e 19 ... Wd7! teria
enfatizado isso. Ambos os reis estão
pobremente protegidos e as brancas também
têm que tomar cuidado, por exemplo: 20.~e2?
a5 21.c4 axb4! 22.cxd5 ~a5! 23.dxc6+ Wc8
24.Wbl b3 25.a3 gb5 e as pretas vão para o
ataque. Seria mais forte 20.c4 Wc7 21.cxd5
cxd5 22.~d3! - as brancas ainda seguram a
iniciativa, mas é difícil de se prever o final nessa
posição duplamente aguda.
20.ggel + Wd7 21.c4 gxcS 22.bxcS
22 ... il.gS?
O erro fatal, resultante do fato das pretas
367
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
superestimarem as suas próprias chances. O
lance exteriormente arriscado 19.b4 deve ter
excitado Spassky e ele decidiu castigar o seu
adversário presunçoso. Karpov também avaliou
a sua posição de forma muito otimista e
considerou ser a resposta mais apropriada
22 ... V:!fb8, quando ele planejava 23.cxd5!
(23.f4?! @c8! 24.cxd5 cxd5 25.ãe2 ãd8 com
chances para ambos os lados) 23 ... ~gS 24.âe3,
"quando as pretas têm que procurar a salvação
na variante 24 ... ~xe3 25.fxe3 'i!fe5 26.dxc6+
Wxc6 27.'i!i'd7+ Wxc5 28.'i!fa7+ Wb5". Mas
aqui não há salvação: 29.'i!fh7+ @c5 30.âd2!
'i!fal+ 31.Wc2 'i!fxa2+ 32.@dl VJ!ia4+
33.:S.c2+ @d6 34.VJ!ic7+ @d5 35.VJ!icS+ ée4
36.ée2! 'i!fb5+ 37.:S.c4+. As conseqüências de
25 ... :S.d8 26.dxc6+ ée7 não são tão
catastróficas, mas as coisas são muito difíceis
para as pretas no final de dama: 27.V:!fc2 âxdl+
28.VJ!ixdl W!fc7 29.'i!fdS h5 30.éd2.
Ainda assim, as pretas tinham a possibilidade
de atrapalharem seriamente a tarefa do
adversário - 22 ... 'i!ff8!. Após o forçado 23.'i!fb4
elas podem entrar no final: 23 ... 'i!fb8 24.'i!Vxb8
lâxb8 25.cxd5 âb5 (ou 25 ... aS 26.âe4 cxd5
27 ..ãxdS+ éc6 28.â:d3 @xc5 29.â:a4!)
26.dxc6+ éxc6 27.â:d6+ éc7 28.âxa6
âxc5+ 29.édl â:xf5 30.ée2 e ainda não é
fácil para as brancas vencerem.
23.f4 'i!Hf6!
Era nessa resposta inesperada que Spassky
depositava as suas esperanças. Agora não é
possível bloquear a diagonal através de medidas
naturais: 24.lâe5? VJ!ixe5 ! 25.fxe5 ~xd2
26.âxd2 âe8 e não é fácil nem mesmo para as
brancas se salvarem. Mas...
24.cxd5!
Aparentemente Spassky subestimou essa
captura e de antemão contava com 24.fxg5?
VJ!ial+ 25.Wc2 VJ!ixa2+ com um ataque
vitorioso: 26.éd3 ifxc4+ 27.@e3 hxg5! ou
26.@cl W!ial+ 27.éc2 W!ia4+ 28.écl :S.b8!.
Ele percebeu seu descuido quando já era muito
tarde, embora a lógica da batalha sugerisse a ele
368
aqui que qualquer variante vitoriosa para as
pretas fosse acidental e que ele tivesse que
verificar cuidadosamente antes de basear as suas
decisões nela.
24 ...'i!fal+ 25.@c2 VJ!ixa2+ 26.'it>d3 'i!Hxd2+
Seria mais resistente 26 ... 'i!fb3+ 27.VJ!ic3
W!ih5+ 28.VJ!ic4 Ü4, mas após 29.â:gl ~6
30.d6 a vitória das brancas é simplesmente uma
questão de tempo.
27.í!xd2 ~xf4 28.âa2!
Isso conclui a partida. A ameaça de d5-d6
não permite às pretas defenderem seu peão a6,
após o que tanto as torres das brancas como seu
rei se tornam terrivelmente ativos.
28 ... cxd5 29.í!xa6 h5 30.'it>d4 h4 31.@xdS
í!b8 32.f6 gxf6 33.âxf6 .1l.g3 34.:S.xti+ @dl
35.í!f8+ 1-0
O efeito dessa partida foi tamanho que por
um tempo 8 ... d5 caiu fora de uso e em
situações similares o avanço ... d6-d5 começou
a ser observado com grande suspeição.
O empate final com Tal brindou o Campeão
com um novo sucesso: 1. Karpov - 7½ em 11
(+5-1=5); 2. Portisch - 7; 3. Timman - 6½; ~
5. Sosonko e Spassky - 6; 6. Tal - ½.
No cenário destes sucessos quase contínuos.,
a única nota menos brilhante foi a do 4º e 5º
lugares em um torneio disputado em Buenos
Aires e uma derrota com as brancas paa
Timman em uma variante aguda da Defesa
Siciliana. Neste torneio, Larsen e Timman
finalmente realizaram o sonho tão desejado ck
superar o Campeão Mundial, conquistando os
dois primeiros lugares.
Imediatamente depois de Buenos Aires, o
Campeão Mundial liderou a equipe da URSS ru
Olimpíada de Malta (novembro-dezembro dé
1980), conseguindo o resultado de +6=6. Ei.:
era o segundo reserva naquele evento e foi só
com enorme dificuldade no desempate que
conseguimos terminar à frente da forte equiix
da Hungria. Verdadeiramente foi de ouro 2
partida final de Karpov-Jacobsen que foi adiach
depois de um difícil final de torre e conduzich

com precisão à vitória pelo nosso líder no
recomeço da partida.
Em 1981, pouco antes do match seguinte pelo
Campeonato Mundial, quando se previa que o
adversário novamente seria Viktor Kortchnoi, o
Campeão participou primeiro em um match-
torneio de quatro seleções da URSS (ali, pela
primeira vez o enfrentei frente a frente, com o
resultado de dois empates com muita luta) e
depois, em três torneios disputados: Llnares (1-
2. Karpov e Christiansen - 8 em 11; 3. Larsen -
7); Moscou (1. Karpov - 9 em 13; 2-4.
Kasparov, Polugaevsky e Smyslov - 7½) e
Amsterdã (1. Timman - 7½ em 11; 2.3
Karpov e Portisch - 7).
A julgar pelo número de vitórias e, sobretudo
pela qualidade e diversidade de estilo destas
vitórias, Karpov, nos seus 30 anos, estava em
ótima forma e era o favorito da próxima batalha
pela coroa.
"Não existem matches fáceis"
O match de Merano (outono de 1981), em
comparação com Baguio, é lembrado por
Karpov "com ternura e satisfação: o ambiente
rural, o povo, a impecável organização do
evento e também a própria vitória eram coisas
belas, inequívocas, rápidas...". Mas na época,
logo depois da vitória ele declarou: "Apesar de
curto, o match exigiu tanto intensidade como
um forte esforço mental. Não houve
praticamente empates curtos. Em cada partida,
com exceção da 17ª, a batalha continuou até os
'reis nus' e, por isto, esse match deve ser
considerado difícil. Mas para ser exato, não
existem matches fáceis para a disputa do
Campeonato Mundial".
Os preparativos do Campeão Mundial foram
feitos numa escala compreensiva e fundamental
sem precedentes. Igor Zaitsev relata:
"Durante os três anos que separaram Baguio
de Merano, o número das pessoas que
desejavam nos ajudar aumentou. Não se tratava
aqui de uma disposição de ânimo a favor de
Karpov e contra Kortchnoi. O fato era que
Anatoly, o Décimo-Segundo
participar nos preparativos de análises para
competições de alto nível era considerado um
encargo de grande prestígio (e também, muitas
vezes, obrigatório - G.K). Eu, de minha parte, na
condição de treinador mais velho do Campeão
Mundial, fiz de tudo para ampliar o círculo de
auxiliares voluntários. Achava que até mesmo
uma associação enxadrística de breve duração
com gente nova poderia enriquecer o estilo de
Karpov, tornando-o mais universal e flexível.
Com isto, seria possível também manter a
continuidade de v1soes, algo de suma
importância para qualquer grande jogador de
xadrez: no curso de sua formação, deve
examinar todos os passos de desenvolvimento
do pensamento secular deste jogo. Na realidade,
a organização da sucessão desses
conhecimentos é o fundamento de todo o
trabalho de treinamento. Aí reside também a
garantia dos muitos anos de estabilidade do
profissional nos torneios, ao passo que as
lacunas dos conhecimentos gera crises e
fracassos.
Assim, pois, imediatamente antes de Merano,
o núcleo da nossa equipe de treinamento
permaneceu o mesmo. De novo, Balashov e eu
fomos nomeados segundos, mas no trabalho
geral de preparação das análises, também
tomaram parte ativa Tal e Polugaevsky (eles
também viajaram para Metano), Geller e
Vaganian. Em diversas ocasiões, se juntaram a
nós Ubilava, Mikhailchishin, Tseshkovsky,
Kapengut, Kimelfeld, Lepyoshin e Rozenberg e
uma das sessões teve a visita de Georgy
Borisenko, associado do talento criativo de
Furman e decano do grupo dos teóricos
soviéticos, que todos nós, a começar por
Karpov, tratamos com grande respeito.
"Prevendo séria oposição na estréia, nós nos
esforçamos para aprender as lições de Baguio e
desta vez nos munimos de uma farta provisão
de surpresas teóricas, maiores e menores,
(embora como mais tarde se tornou claro, nem
todas as idéias fossem necessárias para as
condições). Evidentemente confiando nisso, no
369
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
último ano antes do match, Anatoly preferiu
ocupar-se de negócios públicos e, uma vez que
a equipe de treinamento era formada
principalmente por jogadores que estavam na
ativa, acostumados a participar regularmente
em várias competições, algumas vezes eu tive
que passar o tempo das sessões de treinamento
em orgulhoso isolamento.
Assim, em um dia incomum de janeiro de
1981, de repente chegaram de surpresa os
membros da direção na pessoa de Pavlov,
Presidente da Comissão de Desportos e de
Gramov, membro do Comitê Central do PCUS.
Ao notarem a estranha desolação do local, eles,
com benevolência mas com muita insistência e
rigor me interrogaram sobre o andamento dos
preparativos. Quando apresentei nossas
anotações de xadrez, que para os não iniciados
eram como escrita chinesa, a aparência
impressionante daqueles cadernos grossos e
amarelados, abarrotados de numerosas
variantes, tranqüilizou os dois visitantes.
Os boatos de que na ocasião dos matches com
Kortchnoi todos nós tínhamos sido mantidos
sob uma espécie de constrangimento não
correspondem à realidade. Não havia nem
sombra de advertências nem repreensões.
A principal sessão de treinamento antes da
nossa viagem se realizou em Plavinas (Stantsya
Kruspils), na Letônia, às margens de um
pitoresco lago junto da mata. Ali podíamos
trabalhar produtivamente e recobrar as forças
físicas.
Dali fomos para a Itália, onde o outono nos
acolheu com dias suavemente ensolarados e
com persistentes ataques de jornalistas cheios
de interesse. A nossa delegação foi acomodada
em um confortável 'chalé' de três andares, onde,
para agrado de todos, havia até uma piscina. Na
verdade, quando as paredes esquentavam, saíam
de todas as fendas bichos pretos repulsivos -
escorpiões! Era uma cena chocante. Como
trabalhar, fazer uma análise séria em tais
circunstâncias? O mínimo que se pode dizer é
que era incômodo. Que má sorte! Em Baguio,
370
fomos perseguidos por terremotos e ciclones e
aqui encontramos essas criaturas. Para nossa
tranqüilidade ficamos sabendo que estes bichos
só se tornam venenosos no mês de maio.
Assim, pouco a pouco nos acalmamos, mas os
escorpiões nos fizeram companhia até o final
do match...
Como costuma acontecer nessas
competições, a análise intensiva era feita à noite
- principalmente se na manhã seguinte fosse
preciso resolver algum problema de abertura ou
buscar uma solução mais apropriada para uma
posição adiada. Em comparação ao que ocorreu
em Baguio, aqui só houve quatro adiamentos:
2\ 4ª, 5ª e 8ª partidas.
Hoje, estamos todos acostumados com
partidas que se realizam de uma só vez, mas
naqueles anos, os matches ainda eram disputados
com adiamento depois de 40 lances. Este
costume tinha vantagens: era durante o trabalho
de partidas inacabadas que se completava a arte
das análises. Que esforço infernal, geralmente
de noite, se exigia dos treinadores! ... Ao estudar
as características das partidas adiadas, mesmo
antes de Merano, determinei que o adiamento,
assim como o direito ao primeiro lance, é sem
dúvida uma pequena vantagem para as brancas:
elas podem ser as primeiras a explorar, ou
conforme a situação, a não explorar o direito de
selar o lance! Informei esta observação a
Karpov, esperando que pudesse ser útil para ele.
Mais tarde, precisamente por causa deste trunfo
para as brancas, concordei que a abolição dos
adiamentos era uma ação lógica e justa.
É fácil calcular que em um match ilimitado é
sempre vantajoso ter as brancas na primeira
partida. Por isto, ao enviar Karpov para o
sorteio, nossas palavras de despedida foram
como as dos meticulosos colhedores de
cogumelos: 'Pegue só os brancos!' Mas tudo
saiu ao contrário..."
As brancas na primeira partida couberam a
Kortchnoi, mas não lhe serviram para nada.
Karpov, seguro de si, manejou a variante
Tartakower-Makogonov-Bondarevsky do

Gambito da Dama, sem medo de entrar em
uma posição com peões pendentes c5 e d5 e
assim em boa hora trocou o bispo preto (por
... ~f6-h5xg3) e depois de um erro das brancas
no 24º lance, ele calculou o típico ataque ... d5-
d4 com grande efeito e obteve uma excelente
vitória. Geller: "Depois disto, o Campeão
ganhou uma importante vantagem psicológica".
Na segunda partida, Kortchnoi tentou
surpreender o seu adversário com uma rara
defesa da abertura Ruy López, mas com ela
chegou a uma posição pior sem qualquer
contrajogo real - o forte de Karpov! "Ele
superou completamente o adversário na disputa
posicional. Tornou-se claro que a defesa do
desafiante - nunca a sua arma mais forte -
estava à beira do colapso e que ele era incapaz
de suportar a lenta ofensiva do Campeão.
Podia-se mencionar a coordenação excepcional
que as peças brancas conseguiram nesta
partida", escreveu Geller, que sete anos antes, se
você se lembra, não mostrava muito entusiasmo
pelo estilo de Karpov.
Merano, 1981 - o guarda-costas de Karpov,
Pischenko (ao centro), agente da KGB e
grande especialista em caratê
Depois de um empate na 3ª partida, Karpov
ainda venceu no estilo posicional sutil a 4ª
partida, onde, outra vez, como no match de
Moscou de 197 4, tinha sido usada a defesa
Petroff. Mas, em Moscou, as coisas terminaram
rapidamente em uma derrota, ao passo que
depois do 22º lance em Merano, o Campeão
"não faria questão de compartilhar o ponto, se
Anatoly, o Décimo-Segundo
Kortchnoi não tivesse introduzido o
procedimento de oferecer o empate através do
árbitro". Mas naquele momento, o desafiante
escolheu um plano duvidoso e sua posição
começou a se deteriorar lance após lance...
Foram ao todo quatro partidas - e já se
contavam três das seis vitórias necessárias.
Balashov comenta: "Dificilmente alguém
poderia adivinhar os lances de Karpov - esta é
uma indicação da sua boa forma". Tal: " Karpov
percorreu metade do caminho na velocidade de
um raio".
Naqueles dias, Viktor Kortchnoi começou a
se queixar de não estar passando bem; ele estava
convencido de que havia alguma razão para isto
e desconfiava que os soviéticos o estivessem
afetando com algum tipo de radiação. A este
respeito, podemos ouvir hoje o que diz
Alexander Roshal, que era na ocasião assessor
de imprensa da delegação soviética:
"Nada sei sobre algum tipo de influência
sobre Kortchnoi. Em Merano, nos
acompanhava um sensato psicólogo, Kabanov.
Ele conversou demoradamente comigo
procurando saber como Zukhar tinha atuado
em Baguio. Quando lhe disse que o nosso Dr.
Zukhar tinha conquistado um alto conceito de
si mesmo, Kabanov sorriu: 'Bem, isto não
acontecerá comigo'. Mas em uma semana ele
me pediu para recolher recortes de artigos na
imprensa estrangeira em que seu nome fosse
mencionado. Não sei, talvez ele precisasse disto
para o seu relatório...
Como em Baguio, tivemos muitos
acompanhantes, mas não para amedrontar o
adversário e sim para atender às condições
técnicas: segurança, proteção contra 'grampo
telefônico' etc. Em Merano tudo era bem mais
simples do que foi nas Filipinas. Kortchnoi já
não causava preocupação e todos sabiam que
Karpov seria o vencedor. A coisa mudou
quando após uma série de vitórias, Karpov
perdeu a 6ª partida e depois ainda, a 13ª. O
pessoal do Comitê de Desportos ficou um
pouco alarmado (imaginem se acontecesse uma
371
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
repet1çao de Baguio!) e começou a se
movimentar - ativaram o 'grupo de apoio' de
Moscou, procurando o auxilio de Grandes
Mestres...
Emmanuel Sztein, o assessor de imprensa da
delegação do adversário, lembrou
posteriormente em uma entrevista que eu teria
dito a ele a seguinte frase, quando nos
encontramos: 'Vamos aniquilar vocês'. Não me
lembro das palavras exatas, mas o certo é que
realmente eu poderia ter prometido que iríamos
fazer picadinho deles. Não estávamos só
confiantes, mas absolutamente convencidos da
vitória. Lembro-me de ter dito a ele: 'Hoje, a
diferença do poder do jogo entre Kortchnoi e
Karpov é a mesma que existe entre nós dois'
(aliás, apesar dos 'campos de batalha', meu
relacionamento com Sztein permaneceu
perfeitamente correto).
Na verdade, Kortchnoi muitas vezes
procurava a causa de seus defeitos fora de si
mesmo e atribuía suas falhas à interferência de
forças externas ou simplesmente da sorte do
adversário... Vishy Anand me disse uma vez: 'Já
venci cerca de quinze partidas contra ele sem
nenhuma derrota, mas ao término de cada uma
delas ele me diz que não tenho nenhuma idéia
do xadrez'. Este hábito também é notado em
muitos outros grandes enxadristas, mas no caso
de Kortchnoi, chegou ao extremo.
Assim é que, ao falar de uma 'radiação
secreta', Viktor Lvovich está apenas se gabando,
pois, não havia nenhuma radiação. Se por um
lado lembro Baguio como uma das competições
mais cativantes e impressionantes, por outro
Merano aparece mais como um evento
relacionado com o oceano e dias ensolarados,
visita a Veneza etc. Em Merano pudemos ter
um estilo de vida completamente diferente, sem
reclusão e monotonia".
Após seu início desastroso, Kortchnoi no
entanto ainda se recuperou e conseguiu se
equilibrar - conseguiu vários empates e mesmo
uma vitória perfeitamente boa (.partida 35), mas
na 9ª partida sofreu outro golpe forte.
372
Zaitsev: "As três derrotas dolorosas de
Kortchnoi na estréia não tiveram nada a ver
com a abertura. Karpov venceu o seu
adversário nos estágios avançados da partida e
as três vitórias restantes foram devidas
praticamente ao bom preparo trazido de casa.
Em primeiro lugar, na 9ª partida entrou em jogo
uma idéia puramente 'karpoviana', que muitos
se lembram pela manobra de 1 l...êz::ih5!. Aqui o
estilo distinto do Campeão Mundial é
claramente sentido".
Partida 84
V. Kortchnoi - A. Karpov
Match pelo Campeonato Mundia4 Merano 1981
9ªpartida
Gambito da Dama - D53
1.c4 e6 2.làc3 d5 3.d4 il.e7 4.lào làf6
5.~g5 h6 6.il.h4 0--0 7J!cl dxc4!
Uma das mais valiosas novidades do match. A
experiência posterior mostrou que, em troca da
concessão temporária do centro, as pretas
conquistam a oportunidade de desenvolver
confortavelmente suas peças na ala da dama.
8.e3
As pretas também equilibram após 8.e4 êz::lc6!
(o ponto essencial do plano com 7 . . . dxc4) 9.e5
(é favorável às pretas 9.il.xc4? lz::lxe4 10.i.xe7
êz::lxc3 l l.i.xd8 éz::lxdl 12 ..i.xc7 làxb2)
9 .. .làd5 10.i.xe7 lz::lcxe7 l l.it.xc4 li::lxc3
12.bxc3 b6 (fukmakov-Beliavsky, Tilburg
1984).
8...c5 9.i.xc4 cxd4 10.exd4
Se 10.êz::ixd4, então 10 ... il.d7! conduz a um
jogo igual, por exemplo:
1) l l.i.e2 làc6 12.êz::lb3 êz::ld5 13.i.xe7
lz::lcxe7 14.êz::lxd5 éz::lxd5 15.~d4 i.c6 16.i.f3
êz::ie7 (Kortchnoi-Karpov, 17ª partida do match,
Merano 1981);
2) 11.0-0 êz::lc6 12.êz::lb3 Ek8 13.ii.e2 êz::ld5
14.it.xe7 lz::lcxe7 15.éz::lxd5 êz::lxd5 16.ãxc8
~xc8 l 7.~d4 ~8 18.ii.f3 ~f6 19.~cS i.b5
20.gdl b6 (Karpov-Kasparov, 23ª partida do

match, Moscou 1984/85);
3) l l.~g3 a6 12.e4 l2:Jc6 13.ê2:Jb3 b5 14.ii.d3
b4 15.l2:Ja4 l2:Je5 16.~xeS ~xa4 (Ivanchuk-
Gelfand, Dortmund 1977).
10...'f)c6 11.0-0
É curioso que essa ~esma posição, somente
com a torre em e l, tenha sido alcançada - ainda
mais, a partir de outra abertura! - na 11 ª partida
do segundo match Karpov-Kasparov (1985) e
que esse tempo extra, que permitiu à torre estar
em e l, tenha desempenhado um papel decisivo
(conforme o volume 2 da série 'Xadrez
Moderno').
11 ...lf:lh5!
Um detalhe importante na construção da
abertura das pretas. Após a troca dos bispos de
casas pretas, seus cavalos controlam
completamente a casa d5.
12.~xe7 lf:lxe7 13.Sl.b3?!
Ao se defrontarem com uma forte novidade,
as brancas deveriam encurtar a partida e em
casa pensarem em uma reação mais efetiva a
7 .. .dxc4 ou mesmo dar uma olhada crítica nas
virtudes do lance 7.1::í.c 1. "Eu tive a impressão,"
escreve Karpov, "de que aqui Kortchnoi
imaginou que não tinha extraído qualquer
vantagem das peças brancas e tinha perdido a
batalha da abertura, mas como que pensando
por inércia, continuava a procurar caminhos de
jogar pela vitória. Foi por essa razão que ele
evitou as simplificações que seriam inevitáveis
após d4-d5".
Anatoly, o Décimo-Segundo
A abertura do centro 13.dS exd5 14.l2:Jxd5
l2:Jxd5 15.~xdS (ou 15.~xdS ê2:Jf4 16.~e4
ile6) 15 ... ~xd5 16.ii.xdS não evita que as
pretas completem o seu desenvolvimento:
16 ... êz:lf4 l 7.it.c4 it.e6 18.g31::í.ac8 com rápido
empate (Uhlmann-Kurajica, Sarajevo 1982).
13 ... lf:lf6 14.lf:le5 il.d7 15.~e2 ãc8
16.lf:le4?!
A partir desse momento, a posição de
Kortchnoi começa a se deteriorar a cada lance.
''As brancas são incapazes de encontrar um
plano nítido e não percebem o fato de que cada
troca de peça menor debilita potencialmente o
peão d4" (Karpov)
A isso posso acrescentar que, quando só há
peças pesadas no tabuleiro, um peão isolado é
sempre e somente uma debilidade. Mas o
problema principal das brancas é que é muito
difícil para elas encontrarem um plano bem
delineado - que ao final não conduza a uma
troca de peças menores similar e à mesma
debilidade óbvia do peão d4. Por exemplo,
16.1::í.fel 1::í.c7!? (Karpov; mas não 16 ... ii.c6?
17.l2:Jxf7 ~xf7 18.~xe6) 17.I:i.cdl ii.c6 e aqui
não é mais vantajoso para as brancas 18.l2:Jxf7
I:í.xf7 19.kxe6 êz:led5, enquanto após 18.êz:lbS
ilxb5 19.~xbS êz:led5 é muito mais fácil
adivinhar os próximos lances das pretas.
16.. .i~)xe4 17.~xe4
Após 17.~xc8 'i!fxc8 18.'i!fxe4 há um
método de jogo bem conhecido: 18 ... it.c6!
19.l2:Jxc6 ~xc6 20.~xc6 bxc6! 21.1::í.dl !!b8!,
373
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
deixando claro ser difícil se livrar do peão débil
d4. "O cavalo das pretas é capaz de tanto
defender com segurança seu próprio peão,
como também de atacar o peão inimigo d4,
enquanto as funções do bispo branco são
restritas". (Karpov)
17 ... il.c6 1s ..~)xc6 ãxc6!
"Dessa forma, resulta que as brancas não são
capazes, sem fazer concessões (por exemplo,
concedendo a coluna e), de mudar suas torres
para a ala da dama". (Karpov)
19.B'.c3?!
Um momento importante. "Kortchnoi gasta
bastante tempo considerando as conseqüências
da troca em c6 e ao final ele evidentemente
imaginou que tivesse subestimado os fatores
esboçados acima" (Karpov). A ausência do
bispo de casas pretas, que a partir de e3
defenderia o peão d4, faz as coisas difíceis para
as brancas e elas agora têm que tentar o empate
a partir de uma posição débil: 19J~xc6 bxc6!
(uma idéia que nos é familiar da 10ª partida do
match Lasker-Capablanca (volume 1, partida 90)
20.B'.cl ifb6 21..â:c4! .â:d8 22.g3. Eu acho que
com jogo preciso, essa é uma tarefa
perfeitamente exequível.
19 ...ii'd6 20.g3?!
Karpov acha que com esse lance as brancas
perderam suas "perspectivas de jogo na ala do
rei". Se elas tivessem alguma, então parece que
perderam muito antes. E, se elas estivessem
pensando em como salvar a partida, seria
melhor reagrupar ao longo das linhas de
20 ..ã:xc6 (20 ..tc2 g6) 20 ... bxc6 21..â:cl .â:d8
22 ..â:c4 - após 22 ... ê2\f5 23 ..ã:xc6 ifxd4
24.ii'e2 a iniciativa das pretas já não é
ameaçadora.
20 ... .â:dS (agora a posição se esclarece
estrategicamente com vantagem óbvia das
pretas) 21.ãdl
374
21. .. .â:b6!
Karpov evita a troca, para mais tarde
intensificar a pressão sobre o peão d4. E, por
todas as aparências, agora está decidido o
destino desse peão (como Larsen declarou com
perspicácia, peões isolados não devem ser
bloqueados, mas tomados!). Kortchnoi não vê
onde demonstrar alguma atividade, então é
forçado a mudar para uma defesa passiva.
22.ii'el 'i'Hd7!
Implementando com consistência o plano de
intensificar a pressão sobre o peão d4.
23.ãcd3
A tentativa atrasada de ativação 23 ..â:cS é
refutada de forma tática: 23 ... .â:d6 24 ..â:dcl
ê2lc6! 25 ..ta4 ê2lxd4! 26.il.xd7 ê2lf3+.
23 ...ãd6 24."i!Ve4 ii'c6 25.ii'f4
A troca de damas conduz à perda de um peão:
25."i!Vxc6 ê2\xc6 26.d5 ê2lb4 ou 25 ... bxc6
26 ..tc4 (26.g4 c5) 26 ... ê2lf5.
25...ê2ld5!
Agora a dama não pode ficar em uma casa
ativa - 26."i!Ve4 ê2lb4! - e é forçada a tomar
posição menos favorável (ela não pode sair da
ala da dama: 26."i!Vh4 a5 27.a4 b5!).
26."i!fd2 "i!Vb6! 27.ii.xd5?!
Com pouco tempo, Kortchnoi não quer
solapar a estabilidade do seu bispo ao mover o
peão a2 e decide estancar a ameaça de ... ê2ld5-
b4 da maneira mais simples. A posição após
27.a3 ê2le7 28.'i!ff4 ê2lc6 29.dS e5 30.'i!fe3
ê2ld4 também é vantajosa para as pretas, mas

possivelmente esse fosse um mal menor.
27 ...ãxd5 28.!!b3?!
Da mesma forma uma nova debilidade para
prevenir e6-e5 não pode ser evitada e, assim,
seria mais resistente o imediato 28.f4, não
tirando a torre da coluna d: 28 .. J~8d7 29.'i!ft2
t!fd8 30.'i!fe3.
28 .••'i!fc6 29.'i!fc3 'i!fd7 30.f4 b6! 31.!!b4
b5! 32.a4 bxa4 33.'i!f a3 a5 34.gxa4
As brancas venceram a batalha pelo peão a4,
mas a um preço demasiado alto: suas principais
forças estão presas na ala da dama.
34 ...'i!fb5! (a invasão da dama em e2 ameaça
destruir a posição das brancas em um instante)
35.I:'id2
Não seria melhor jogar 35.b3 (com a idéia de
35 ... ~e2 36.'i!fcl), concordando em entrar em
um mau final de torres após 35 .. _gb8 36.Ê'.d2
t!fxb3 37.~xb3 ~xb3 38.Ê'.da2 Ê'.bb5. Mas
Kortchnoi não quer entregar um peão e
também seria possível, como na partida,
35 ... e5 36.fxe5 ~xe5.
35 ... e5! 36.fxe5 ~xe5 37.'i!fal
É claro, não 37.dxe5? :ãxd2 38Jâxa5 'i!fe2.
As brancas só precisam fazer um lance e a sua
dama, estando em dl, estabilizaria por um
tempo a posição ...
37..•'i!feS!
Uma manobra esplêndida, explorando ao
máximo as possibilidades tanto verticais como
diagonais da peça mais forte. A posição das
brancas cai como um castelo de cartas.
Anatoly, o Décimo-Segundo
38.dxe5 (perde de imediato 38.~dl Ê'.e2)
38 ...!!xd2 39.ãxa5
Não há esperança de se erguer nem uma
ilusão de defesa após 39.'i!Yel 'i!Yd8 40.'i!fe3
'i!fd5! 41.!'!e4 gd3 42.'i!Yf4 g5! 43.'i!Yf5
(43.~g4 Ê'.dl+ 44.@t2 ~c5+ 45.~e3 Ê'.d2+
46.@f3 'i!fc2) 43 ... !'!dl + 44.@t2 'i!fd2+
45.!'!e2 ~d4+ 46.@g2 g4!
39 ... 'i!fc6 40.ãaS+ éh7 41.~bl+ g6
42.iffl (um novo teste para a vigilância das
pretas: se agora 42 ... if xa8?? então a resposta
43.~xf7+ força um empate) 42 ..."i!f c5+
43.éhl 'i!fd5+ 0-1
Em vista do inevitável 44.égl !'!dl as
brancas abandonaram.
Com a contagem de 4-1 após a 9ª partida,
Kortchnoi só poderia se salvar por um milagre.
Notava-se que ele tinha os nervos à flor da pele.
Karpov recorda: "Durante a 8ª e 9ª partidas, ele
me ofendeu; na 10ª, talvez com medo de que os
árbitros tivessem instalado microfone para
registrar o que ele dizia, simplesmente se
limitou a dizer tolices".
Rude Pravo da Tchecoslováquia: "Durante a 9ª
e 1Oª partidas, o Campeão Mundial teve que
levantar a mão cinco vezes, pedindo que o
árbitro-chefe, Paul Klein viesse ao tabuleiro:
'Durante a partida Kortchnoi insultou Karpov
em russo, denegrindo sua pátria e nós
repreendemos Kortchnoi várias vezes'. O jogo
e o correto comportamento do Campeão
Mundial é totalmente oposto à conduta de
Kortchnoi".
Agência de Notícias UPI: "Depois da 12ª
partida, Karpov acusou o adversário de lhe ter
dirigido palavras ofensivas, freqüentemente
impedindo-o de se concentrar, agitando as
mãos intencionalmente. Em resposta a esta
queixa, Kortchnoi explicou que apenas tinha
pedido a Karpov que parasse de se mexer na
cadeira para não o distrair".
Às três horas da madrugada, terminada a 12ª
partida, Baturinsky encaminhou a Gligoric,
presidente do Tribunal de Apelações, um
375
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
protesto por escrito do Campeão Mundial com
o depósito exigido de 500 francos suíços. No
dia seguinte, o júri fez uma advertência oficial
ao adversário, notificando-o de que a "repetição
de tal transgressão seria punida com uma multa
de 15.000 francos suíços".
No entanto, estes surtos eram apenas uma
pálida sombra do match anterior... Depois da sua
vitória na 13ª partida (partida 36), surgiu para
Kortchnoi um raio de esperança, mas logo a
partida seguinte demonstrou que aqui não iria
ocorrer uma "segunda Baguio".
Yuri Razuvaev, que naquela ocasião estava
atuando como treinador no Comitê de
Desportos da URSS, recorda: "Certa vez, tarde
da noite, depois da 6ª partida, fomos
subitamente intimados, Geller e eu, por Ivonin,
vice-presidente da Comissão de Desportos, a
comparecermos em seu gabinete, na manhã
seguinte 'para criarmos urgentemente para Tolya
alguma nova versão da abertura Ruy Lopez'. Ao
mesmo tempo, ele perguntou: 'Isto seria
possível?' Geller respondeu: 'Bem, vamos
tentar'. Na manhã seguinte, no canto do seu
espaçoso gabinete, vimos uma escrivaninha
com um tabuleiro com as peças, canetas e
folhas de papel. Do lado, havia um carrinho de
serviço com garrafas de água mineral e
sanduíches de caviar. Logo que Geller e eu nos
sentamos para iniciar a análise, Ivonin disse em
tom de negócio: 'Acho que tudo está em ordem.
Não quero incomodar vocês'. Dito isto, saiu e
fechou a porta... Passamos o dia inteiro
elaborando a análise. Foi assim que nasceu a
idéia da variante 13 .. .<:Z)e4!?. Anotei todas as
nossas variantes nas folhas de papel e passei o
texto para Ivonin...".
Zaitsev: "Na 14ª partida, ocorreu uma das
duas novidades venenosas, embora transitórias,
da variante da abertura Ruy Lopez, que decidiu
o resultado do match. Na ocasião, foi posta em
prática uma interessante idéia de Geller,
descoberta junto com Razuvaev, 13.êz:)e4!?.
Para decifrar as anotações, escritas à mão no
papel a fim de apresentar a descoberta a
376
Karpov, de maneira adequada, tive que
sacrificar uma desejada viagem a Veneza com a
nossa delegação, em um intervalo de três dias
entre as partidas".
Partida 85
A. Karpov - V. Kortchnoi
Match pelo Campeonato Mundial, Merano 1981
14ªpartida
Abertura Rily úpez - C80
1.e4 e5 2.êz:)f3 êz:)c6 3.ii.b5 a6 4 •.i.a4 ê2lf6
5.0-0 êz:)xe4 6.d4 b5 7 .ii.b3 d5 8.dxe5 .i.e6
9.ê2lbd2 (evitando 9.c3 - partidas 35 e 15}
9 ... l2lc5 10.c3 d4 ll.il.xe6
"Na 10ª partida do match de Baguio, Karpo~
jogou 1 I.êz:)g5!?, mas, como as análises e
partidas posteriores demonstraram, nesse caso
as pretas têm contrajogo suficiente", escreveu
Polugaevsky, sem suspeitar da popularidade
futura do lance de cavalo.
ll.JL1xe6 12.cxd4
Nem 12.a4 dxc3 13.bxc3 b4 14.'i!fc2 'i!fd5!
(G.Kuzmin-Dorfman, 46º Campeonato da
URSS, Tbilisi 1978), ou 12.êz:)b3 dxc3 13.'i!fc2
'i!fd5 14.~dl? êz:Jb4! 15.'i!fe2 'i!fc4! (Sax-Tal,
Tallin 1979) colocaram problemas sérios para as
pretas.
12 ...êz:Jcxd4 13.êz:Je4
Essa é uma daquelas novidades que ajudaram
a quebrar a resistência de Kortchnoi, que estan
a ponto de "reviver" no match. Os efeitos de ~
surpresas são muito fortes, uma vez que no
desenrolar do match é muito difícil para o
adversário encontrar o antídoto adequado.
Então, ele tem que trocar sua abertura principal
e a reserva nem sempre se equivale em term~
de qualidade e grau de preparação.
Geralmente era jogado l3.êz:Jxd4 'i!fxd4, por
exemplo: 14.'i!fe2 gag 15.a4 'i!fd5! l6.axb5
axb5 l 7.'i!fe4 (não 17.&5? ~b4! 18.gxb5
êz:)d4) 17 ... .it.c5 18.'i!fxd5 .B:.xd5 com um finai
de jogo excelente para as pretas (Adams-Anand.
2ª partida do match, Linares 1994). Oitenta an~

antes disso, após 14.'i'ff3 :ãd8 15.a4 (não
15.'i'fc6+ ~d7 16.'i'fxa6 .1t.b4!) 15 ... ~d5
16.~xd5 :ãxd5 l 7.axb5 axb5 18.&8+ êz:Jd8
l 9.lz:Je4! B:xe5 20.!'!dl .1t.e7 2 l.f3 :ê:f5?!
22.:ãc8 as brancas tomaram a iniciativa por um
longo tempo, em um tipo similar de final
(Capablanca-Lasker, São Petersburgo 1914),
mas logo a melhor prescrição se tornou
conhecida - 15 ... ..tb4 ! com igualdade.
13 .•• .i1.e7
Kortchnoi pensou por 79 minutos nesse
lance, estabelecendo o que era então um
recorde para matches de campeonatos mundiais.
Eu consegui bater essa conquista duvidosa,
quando na abertura da 2ª partida do meu match
com Karpov em Sevilha (1987), pensei por 83
minutos!
Ao encontrar outra surpresa, Kortchnoi
preferiu fazer o lance que era mais comum,
mesmo em bases gerais. A outra manobra
típica, 13 ... 'i'fd5?! foi condenada por Karpov
de forma correta: após 14.lz:Jxd4 lz:Jxd4
15.lz:Jc3 'i'fd7 16.~e3 .1t.c5 17.'i'fh5 ou
l4 . .. 'i'fxe4 15.lz:Jxe6 fxe6 16.~h5+ g6
l 7.'i'fh3 as brancas tomam a iniciativa de modo
firme.
14..i1.e3 lz:Jxf3+?
Essencialmente, o único erro da partida, mas
ao mesmo tempo irreparável. Pode-se lembrar a
2ª partida do match de 197 4 entre eles e o lance
perdedor de Kortchnoi 19 ... :ã4c5?, feito
imediatamente após uma novidade de abertura
Anatoly, o Décimo-Segundo
pelo seu adversário (,partida 67).
É óbvio que o cavalo não pode se manter no
centro: 14 ... c5 l5.b4! (com a seqüência
15 ... lz:Jxf3+ 16.'i'fxf3 c4 17.:ê:fdl 'i'fc8
l8.êz:Jd6+ ~xd6 19.exd6 0-0 20.d7).
Entretanto, essa troca também é má,
simplesmente assistindo a rápida ativação das
forças brancas. Na sua próxima partida com as
pretas, Kortchnoi encontrou o caminho correto
- 14 ... lz:Jf5! 15.'i!fc2 0-0.
Diagrama de Análise
16.lz:Jeg5 .t.xg5! 17.lz:Jxg5 g6 18.lz:Jxe6 fxe6
19.âael 'i!fd5 20.b3 :ê:ac8 com igualdade. Mais
tarde, as brancas muito mais freqüentemente
lutar por uma vantagem através de 16.:ê:adl !?
lz:Jxe3 17.fxe3 'i'fc8 e então, principalmente,
18.lz:Jd4 ou 18.h3:
1) 18.lz:Jd4 lz:Jxd4 l 9.exd4 iVe6! 20.lz:Jg3 !
(20.'i'fxc7 :ãac8 2l.'f!fa5 B'.c2 com excelente
compensação) 20 ... c6 (é engraçado que a
armadilha 20 ... f6? 2l.êz:Jf5! fxe5? 22.~3!
1-0 tenha capturado dois fortes Grandes
Mestres: Tseshkovsky-Yusupov. Ierevan 1982;
Chandler-Nunn, Naestved 1985) 2l.êz:Jf5 :ê:fe8
22.:ãd3 .1t.f8 23.:ãh3 g6 24.lz:Jh6+ ll.xh6
25.âxh6 c5 com igualdade (Short-Yusupov,
Torneio de Candidatos, Montpellier 1985);
2) 18.h3 :ãd8 19.êz:Jh2 :ãxdl 20.'f!fxdl 'i'fe8!
(a partida Geller-Tal, Sochi 1986, seguiu
20 ... lz:Jc5 e aqui, na opinião de Tal, 2l.'f!fd5!
teria dado a vantagem às brancas) 21.ifb5 lz:Jc5
22.lz:Jg3 a5! 23.lz:Jf5 :!::!a6 24.lz:Jg4 :ãg6,
tomando a iniciativa (Tal-Kortchnoi, Reykjavik
377
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
1987).
15.'i!fxf3 0-0 16.gfdl
O lance mais lógico, fortalecendo a posição
das brancas no centro. Karpov hesitou por um
longo tempo antes de fazer essa opção, pois
queria colocar sua torre na coluna f e avançar
seu peão f2. Mas isso teria reduzido o efeito da
novidade da abertura e conduzido a uma
posição indefinida: 16.iVg3?! ifd5! 17.lz::lf6+
ii.xf6 18.exf6 iff5 19.fxg7 !l:fd8 (Karpov), ou
mesmo 18 ... g6 19.iVM iff5.
16 ...ifeS
A dama não conseguiu pular para d5 e agora
é forçada a se amontoar nas fileiras de trás.
Karpov acha que Kortchnoi não escolheu o mal
menor. Entretanto, outros lances de dama -
16 ... ifc817.!l:acl !l:d8 18.lz::ld6 ~xd6 19.exd6
ou 16 ... ~8 17.iVg4 c5 18.f4 iVc7 19.lz::ld6 -
também conduziam a situações nas quais a
esperança de salvação da partida estão
associadas somente com possíveis erros do
adversário.
17.lz::lf6+! ~xf6
As conseqüências de 17 ... gxf6? 18.exf6 ii.d6
19.!l:d4! seguido por 20.!l:h4 são bastante
transparentes.
18.exf6 ifc8 19.fxg7
No momento, não há um ataque arrasador -
19.ifg3 !l:d8 20.f4? g6 21.f5 lz::lf8 e Karpov
escolhe uma continuação que no final deixa as
brancas com um peão a mais.
19... !l:dS
378
É claro, não 19 .. .'i,?xg7? 20.ii.116+! çt>xh6
21.iVf6+ com mate, enquanto após 19 ... lz::lxg7
as brancas não somente capturam o peão c7
(20.!l:acl ou 20.ifg3), como também criam um
ataque contra a posição debilitada do roque.
Kortchnoi não pretende entregar seu peão e e
espera que o peão branco em g7 defenda seu rei
de um ataque frontal.
20.h4
Karpov viu que não há nada que pare o
avanço do peão a h6, mas ao mesmo tempo
permite uma pequena atividade às pretas. O
vencedor critica a si mesmo, achando que "o
lance profilático 20.b4 deveria ter sido
considerado, assim como parar todo o jogo das
pretas e ao final forçá-las a tomar o peão g.
expondo dessa forma o seu rei".
20... cS 21.gacl
"Tecnicamente a solução mais forte sem
21.~xd8+ ifxd8 22.~dl lz::ld4 23.~xd4 cxd4
24.ife4!, e o peão h avança de forII12
desimpedida". (Karpov)
21...'i!fc7 22.hS
''Absorvido em minha idéia, perm1t1 ao
adversário ativar as suas peças e finalmente
conseguir contrajogo", escreve Karpov. "Eu
deveria ter continuado 22.iVf6! f!xdl +
23.!l:xdl !l:d8 24.~xd8+ ifxd8 25.ifxd8+
tz::'ixd8 26.~xc5; enquanto também sena
perfeitamente bom 22.b4 c4 23.h5".
Mas aqui não há motivo para tal auto-
reprovação - a posição das brancas da mesma
forma é facilmente vencedora.
22 ...ifeS! 23.h6 ifxb2
Era essa posição que Karpov tinha como
objetivo à distância. Mas, em suas palavras, "era
evidente que eu tinha subestimado algo: tiYe
que pensar por um longo tempo".
24.gd7
Um lance espetacular, que também ganha o
peão a6. ''Aparentemente, o único lance... No
caso de 24.~xc5 tz::'ixc5 25.!l:xc5 ifxa2
26.f!d7 as pretas têm a resposta 26 ... !l:ab8
27.iff4 !l:a8" (Karpov).

Entretanto, cercado pelos peões g7 e h6 o rei
ainda cai vítima das peças brancas: 28.B'.e7
't!fbl+ 29:ith2 ~g6 30JU5 B'.d4 31.~e3!
r!dd8 32.B'.ext7 ~xt7 33.B'.xt7 @xt7 34.~f3+
e não é possível 34 ... @g6 devido a 35.g4. Ao
invés de 27 .. Jâa8 as pretas podem de forma
imediata recrutar o auxílio da dama com
27 ... ~e6. Então 28.B'.cd5! I:!e8 (se 28 ... ~e8,
então 29.~xt7+ ~xt7 30.B'.xd8+ ~e8
31.B'.xe8+ :ãxe8 32.B'.d7 - está aberto o
caminho para o peão f2: 32 ... b4 33.f4 b3
34.B'.b7) 29.g3 (evitando 29.B'.5d6 ~el +
30.@h2 ~e5) 29 ... B'.b7 (após 29 ... b4
30.B'.5d6 ~a2 as brancas abordam mais
facilmente o ponto t7 através de 31.@g2
seguido por 32.B'.d5) 30.:ã7d6 ~el+ 31.@g2
B'.be7 32.B'.xa6 b4 33Jâb6 e as pretas também
perdem seu peão b.
Posso também mencionar o imediato
24 ... %Vxa2. Aqui também as brancas
conquistam seu objetivo, ao explorar a ameaça
de invasão das fileiras de trás: 25.B'.xd8+ ~xd8
26.lt.b6 ~d2 (26 .. .l'!b8 27.~7!) 27.~c6
r!b8 28.f4! (não de imediato 28.~c8+ tZ:ld8;
com 28.f4 as brancas defendem o peão de h6
na variante 28 ... b4 29.~c8+ tZ:ld8 30.~xb8
l!fxcl+ 31.@h2) 28 ... ~xf4 29.~c8+ tZ:ld8
30.B'.el !. Karpov sem dúvida estava certo
9uando avançou seu peão a h6!
24 ...B'.xd7 25.~xaS+ B'.d8 26.~xa6 ~e2!
27.B'.fl?!
As pretas ameaçavam xeque perpétuo, mas é
Anatoly, o Décimo-Segundo
somente agora que conseguem algum
contrajogo.
Karpov evitou o natural 27.g3 devido a
27 .. .'~Jd4 28.~xd4 cxd4, chegando à
conclusão de que "as pretas estancam as
ameaças de mate e o peão d se torna perigoso".
Parece-me que a vitória não é difícil aqui:
29 .~f6! ~e8 (29 ... B'.a8 30.~xd4 ~xa2
31.l!fd7 ~a6? 32.1':k6) 30J:!c7 B'.d7 31.~c6
B'.d8 32.~xe8+ :ãxe8 33.B'.d7. É possível que
as brancas vençam até mesmo através de
28.B'.xc5 tZ:lf3+ 29.@g2 tZ:lel + 30.@h3 ~fl +
31.@g4. O lance de espera 27 ... ~2 é mais
resistente, embora as brancas não
experimentem nenhum problema sério, por
exemplo: 28.a4 bxa4 (ou 28 ... b4 29.l!fb6 b3
30.B'.xc5 ~al+ 31.@h2 ~xa4 32.B'.e5)
29.l!fxa4 tZ:ld4 30.B'.xc5 ~1+ 31.@h2 lz::if3+
32.@g2 tZ:lel+ 33.@h3 tZ:ld3 34.B'.f5 ~hl+
35.@g4 - aqui o rei está seguro e as brancas
convertem seu material sem dificuldade
particular.
27 .••B'.dl 28.l!faS+ B'.d8
"Mas não 28 ... tZ:ld8 devido a 29.B'.xdl
Wixdl+ 30.@h2 ~h5+ 31.@g3 Wig6+
32.@h4 ~f6+ 33.@h3! ~e6+ 34.g4 - os
xeques chegam ao final e as brancas vencem".
(Karpov)
29.Wic6! b4
Em três lances a casa c4 estará bloqueada
pelas brancas, mas evitar ... b5-b4 em favor de
espera tática seria sem sentido. Nesse tipo de
situação as pretas precisam procurar chances na
batalha nervosa no tabuleiro, não nas análises
da partida adiada. Também de forma objetiva,
no caso de 29 ... Wid3 30.B'.cl "i!Ye2 31.g3 l!fb2
32.@g2 as possibilidades das pretas estão
exauridas e após 32 ... "i!Yxa2 33.i.xc5 o fim
está próximo.
30.'i!Na4! 'i!Nd3 31.ãcl ~d5 32.'i!Nb3 'i!Ne4
A troca das torres - 32 ... 'i!fh5 33.~c4 B'.dl +
34.ãxdl ~xdl+ teria conduzido a um final
facilmente vencedor para as brancas: 35.@h2
'i!Nh5+ 36.@g3 'i!Ng6+ 37.<itif3 'i!Nf6+
379
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
(37 ... ~h5+ 38.g4 lz::ig5+ 39.~xg5 ~xg5
40.~a6 ~d5+ 41.Wg3 ~e5+ 42.Wh3 ~e8
43.f3 - seguido de zugZ}Vang) 38.We2 ~2+
39.Wfl Wfal+ 40.il.cl. Não há mais xeques e
com seu rei imobilizado as pretas não podem
resistir: 40 ... ~d4 41.~xd4 lz::ixd4 42.~e3
lz::ie6 43.g4 c4 44.We2.
33.Wfr'c2
33 ... ~xc2?
No apuro de tempo, Kortchnoi troca a sua
peça mais ativa. As brancas teriam enfrentado
mais problemas através de 33 ... ~g4! e após
34.ii.xc5? .lâc8 35.~d2 o ataque da cavalaria
35 .. )~jf4! co nfundiria completamente a
situação: 36.f3 ~g5 37.lâc2 Wfxh6 38.~xb4
~g6.
Uma vantagem decisiva seria mantida por
34.f3 ~g3 35.~e4 ~d6 36.Wf2, embora
nessa posição o adversário possa ainda
continuar a resistir. É bastante provável que no
caso de 33 ... ifg4! a continuação da partida
não fosse meramente uma formalidade.
34 •.lâxc2 f5 35.f4! Wf7
É curioso que após 35 ... .lâd5 as brancas
também vençam (ao lado de 36.Wf2 e 36 ..lâe2)
através de 36.g4 fxg4 37 ..lâc4, planejando :ãe4
e Wg2-g3. O desamparo das pretas é absoluto
- tal a força do peão protegido g7.
36.g4! âd5 37.gxfS ãxf5 38.âd2 .lâf6
39.B'.d7+ @g8 40.fS!
O peão h6 precisa ser mantido. Embora após
40.:ãe7?! .lâ.g6+ 41.Wf2 :ê:xh6 42.f5 :ãf6
380
43Jâxe6 :ãxf5+ 44.~e2 Wxg7 as brancas
tenham um bispo a mais, ele não controla a casa
de coroação do último peão branco. Graças à
presença das torres ainda no tabuleiro, as
brancas devem vencer, mas a partida teria se
arrastado.
40...:ãxfS 41.:ãe7
Os lances remanescentes não precisariam ser
feitos, mas Kortchnoi não queria ouvir o
aplauso em honra do vencedor.
41...~xg7 42.É!xg7+ Wh8 43.ãc7 Wg8
44.~xcS !lg5+ 45.~f2 ãg6 46.it.e3
As pretas selaram seu lance secreto 46 ...:ãa6,
mas no dia seguinte abandonaram (1-0) sem
continuar.
A contagem se tornou 5-2. Zaitsev: "O fato
de que o final do match agora estivesse próximo
foi indicado com eloqüência pela 15ª partida, na
qual, através de um sacrifício astuto e
inesperado de bispo, Kortchnoi ganhou um
peão em uma posição com peças pesadas e
bispos de cores opostas. Mas o caminho
escolhido para a conversão da vantagem provou
ser muito simplificador e não colocou para
Karpov nenhum grande problema".
20.âcs
"Mesmo durante a partida, pareceu-nos que
fosse mais forte o imediato 20.exd4 e se
20 ... ~xd4 - 2 l .:ãc5 !. Após 21 .. .:ãad8 22.:ãd5
~xd5 23.~xd5 :ãxd5 24.~f3 .lâfd8 25.ãel e
as pretas levariam os próximos doze lances para
demonstrar um empate".

20 ... iH6 21.~dS?!
"Provavelmente as brancas não precisariam
se apressar com esse lance: após 2 l .exd4 ~ad8
(não seria melhor o lance recomendado por
Kortchnoi no 'Informador1 21 ... ~ac8) elas
pudessem tentar romper as defesas do
adversário através de 22.~a5!?. No caso do
direto 22 .. .b6?! 23.lâd5 as chances das brancas
melhoram em vista do enfraquecimento da casa
c6. Uma solução tática, encontrada com
facilidade pelo computador, evidentemente é
melhor - 22 ... W/c7 23.lâxa7 !il.xd4 24.lâxb7
!il.xf2+ 25.~hl W/xg3 26.W/f3 lâd2 27.W/xg3
!il.xg3, mas aqui também após 28.a4 f6 29.a5
lât7 30.a6 as brancas mantêm chances de
sucesso".
21 ... Wi c7 22.exd4 lâad8 e as pretas
conquistaram um empate no lance 41.
"Podia se sentir que Kortchnoi já não tinha
suas antigas energia e persistência. Podem ser
citados vários exemplos modernos onde com
esse balanço de material o lado mais forte foi
capaz de criar dificuldades consideráveis para o
adversário".
As duas partidas seguintes também
terminaram empatadas. Tal: "Eu não me
preocupei muito com que resultado Karpov
venceria. A única coisa que me preocupava é
que ele não repetisse os erros de Baguio e ele
não os repetiu. É verdade que em diversos
pontos os resultados dos matches coincidiam,
mas as analogias com Baguio terminavam ali. E
quando, com o resultado de 5-2, Karpov teve
três empates, não me preocupei, pois ele correu
o risco de perder várias outras vezes também.Já
na 18ª partida, todos os dados objetivos,
inclusive minha 'voz interior', apontavam para o
fato de que já era tempo de terminar o match.
Partida 86
A. Karpov - V. Kortchnoi
Match pelo Campeonato Mundia4 Merano 1981
18ªpartida
Abertura Ruy Lopez - C80
Anatoly, o Décimo-Segundo
1.e4 e5 VE:lf3 ~c6 3.~b5 a6 4.~a4 ~f6
5.0--0 ~xe4 6.d4 b5 7.~b3 d5 8.dxeS ~e6
9.itlbd2 itlcS 10.c3 d4 11.~xe6 itlxe6
12.cxd4 itlcxd4 13.a4!
Essa sugestão foi feita por Polugaevsky.
''Aqui tudo era muito mais simples: o autor da
idéia estava em Merano e ele próprio pôde
colocar da forma apropriada" (Zaitsev). Uma
análise conjunta mostrou que aqui havia muitas
armadilhas para as pretas, como após 13.itle4
(partida 85).
E apesar do fato de que seu adversário ainda
não tivesse resolvido os problemas de abertura
após o lance de cavalo, resolveu testar sua
reação a outra novidade. O efeito superou todas
expectativas! Kortchnoi pensou por 54 minutos
sobre sua resposta e não encontrou o melhor
plano de defesa.
13 ... ~e7?!
A prática de hoje em dia re1e1tou tanto
13 ... lle7 como 13 ... lâb8. No segundo caso, o
final de jogo que surge após 14.axb5 axb5
15.~e4 !il.e7 16.!il.e3 ~f5 17.!il.a7 Wixdl
18.lâfxdl lâd8 19.g4 lâxdl+ 20.lâxdl é difícil
para as pretas, por exemplo 20 ... ~h4
21.~xh4 !il.xh4 22.lle3 (Smirin-Hübner,
Polanica Zdroj 1995), ou 20 ... ~h6 21.h3 f5
22.exf6 gxf6 23.!il.e3 (C.Hansen-I.Sokolov,
Malmo 1997).
Por um tempo, foi considerado melhor
13 ... llc5. Após 14.~e4 !il.b6 as brancas têm
uma escolha direta, mas provavelmente o mais
381
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
promissor seja 15.l:ZJfg5!?. São dadas boas
chances de equilibrio por 14 ... 0-0 15.';zJxc5
l2:ixf3+ 16.~xf3 l2:ixc5 17.axb5 axb5 18.i.g5.
Essa posição foi considerada claramente
melhor para as brancas, até que as pretas
recorressem à medida radical do sacrifício da
dama - 18 ... B'.xal 19.i.xd8 1:3.xfl+ 20.'~xfl
.lâxd8. Isso ocorreu em particular na partida
Topalov-Anand (Dos Hermanas 1996), onde
após 21.g3 (não 21.~c6 l2:ie6 22.~xb5??
B'.dl+ 23.We2 l2:id4+) 21.. .l2:ie6 22.~7 g6
23.iVxb5 c5 24.h4 h5 as pretas erguem uma
fortaleza aparentemente inexpugnável. Mas
posteriormente, no século XXI, após 14.l2:ie4
somente é respondido 14 ... ~b6. A pergunta é
auto-sugestiva: a fortaleza realmente é
inexpugnável?
Hoje em dia, veio para a linha de frente
13 ...~b4, embora na partida Kramnik-Shirov
(partida rápida, Mônaco 2005) as pretas
terminassem rapidamente em uma situação
difícil: 14.axb5 l2:ixf3+? 15.l2:ixf3 axb5
16.B'.xa8 iVxa8 l 7.l2:ig5!. Também é ruim para
elas 14 . .. axb5? 15.É[xa8 ~xa8 16.l2:ixd4
l2:ixd4 17.iVg4. Então é jogado 14 ... l2:ixb5,
mas após 15.l2:ie4 0-0 16 ..1t.e3 (Shirov-Anand,
partida rápida, Mainz 2004), ou 15.~a4 .1t.e7
16.l2:ie4 (Svidler-I.Sokolov, Wijk aan Zee 2005)
as pretas encontram certas dificuldades.
Deve-se dizer que a prática moderna não
oferece uma receita absolutamente segura
contra 13.a4!.
14.l2:ixd4 l2:ixd4
Após realizar diversas tentativas para
defender a posição após 14 ... iVxd4 15.axb5
iVxe5 16.bxa6 0-0 l 7.~a4, as pretas
permanecem insatisfeitas com o resultado:
1) 17 ... füb8 18.a7 .lâb7 19.l2:if3 '%\fd5 (ou
19 ... ~5 20.iVxb5 B'.xb5 21 ..1t.e3 ~f6 22.l::fa2
Hjartarson-Smejkal, Bundesliga 1989) 20 ..1t.e3
~c5 21.B'.adl ~3 22.~xb3 gxb3 23 ..1t.xc5
l2:ixc5 24.l2:id4 (Ehlvest-Marin, Tallinn 1989);
2) 17 ... l2:ic5 18.'i!ic4 B'.fb8 19.âa5 ~d6
20.l2:ie4 l2:ixe4 21.'i!ixe4 ~4 22.'i!Vxb4 .1t.xb4
382
23 ..lâa4 B'.b6 24.a7 .1i.c5 25.B'.dl (Topalov-
Kortchnoi, Madri 1996) Parecia que Kortchnoi
pudesse salvar o final ao jogar 25 .. Jâb7
(26 ..1i.e3 ~xe3 27.fxe3 Wf8), mas também a
vantagem das brancas se tornaria tangível no
caso de 19.l2:if3! 'i!ie6 20.'i!ixe6 fxe6 21.a7
É[b7 22.l2:id4 ou 22 ..1i.e3 .
15.l2:ie4
Este lance temático "assegura às brancas uma
vantagem sólida, tanto com as damas no
tabuleiro ou após a sua troca". (Karpov)
15 ... l2:ie6?
O cavalo não pode ser mantido no centro.
Kortchnoi não queria movê-lo para fora da ala
do rei, mas em e6 sua posição não é segura. No
entanto seria melhor 15 ... 0-0 16.axb5 l2:ixb5
17 ..te3 ~c8 - o cavalo, protegido pelo peão
a6, defenderia por sua vez o outro peão isolado
e a dama, após se mover para e6 ou f5,
atrapalharia o desenvolvimento do ataque das
brancas.
Por su vez, um esquema assim foi praticado
por Yusupov, que é famoso pela resistência na
defesa. Ele teve problemas em três partidas de
1989 - com Ivanchuk (Linares), Adams e
Chandler (ambas em Hastings) e não encontrou
nenhum seguidor. Na variante 13 ... ~b4
14.axb5 l2:ixb5 (conforme acima), surgiram
posições com esquemas similares, mas com os
cavalos em f3 e e6 - aqui é mais fácil para as
pretas se defenderem.
16.~e3 0-0 17.f4 ~xdl

Se l 7 ... g6 Karpov estava pronto para jogar
18.g4!, garantindo o avanço f4-f5.
18.ãfxdl
Como resultado da sua abertura mal jogada,
as pretas terminaram em uma posição difícil,
sem um sinal de contrajogo.
18 ...ãtbS?!
As esperanças das pretas de ativação não se
destinavam a serem realizadas, enquanto o
surgimento da torre branca na 7ª fileira faz uma
catástrofe inevitável. O "resoluto" 18 ... fS
19.exf6 .âxf6 (ou 19 ... gxf6 20.fS liJg7 21.g4)
, 20.liJxf6+ (talvez seja até mais forte 20.fS
.âxb2 21.fxe6 ~xal 22.!!xal seguido por
<tic5) 20 ... gxf6 21.f5 liJg7 22.g4 parece muito
sem atrativos. A mlhor chance seria a
simplificação através de 18 ... !!fdS 19.axbS
axbS 20.!!xa8 :ãxa8 21.fS .lãd8 (21...liJfS
22 ..lãcl ! :ãa4? 23.liJc3) 22 ..ã:xdS+ (22.!!cl
<tid4) 22 ... liJxd8. Apesar da óbvia
superioridade das brancas, as pretas teriam
esperanças de salvar a partida, graças ao
limitado material remanescente.
t9.i:td7 ..trs
"Seria mais resistente 19 ... .âd8, embora
mesmo nesse caso, após 20.aS éiJf8 21 ..lãd3 a
posição das pretas esteja longe de ser agradável"
(Karpov). Realmente, apesar da igualdade
material, a desarmonia na colocação das peças
pretas e a sua má estrutura de peões fazem sua
posição objetivamente perdedora.
20.f5 liJd8
Anato/y, o Décimo-Segundo
21.a5!
A captura do peão 21.!!xc7 (o que era,
evidentemente, o que Kortchnoi esperava)
permitiria à torre se tornar ativa: 21 ... bxa4
22.~d4 .lãb4 23.!!dl (Keene) 23 ... .lãb7
(apontado por Karpov) 24.!!xb7 liJxb7 25 ..lãal
a3 26.bxa3 B'.d8. Ao postergar o ganho de
material, com jogo consistente o Campeão
Mundial nega ao seu adversário a mais mínima
chance.
21. ..liJc6 22.e6! fxe6 23.f6!
Jogo poderoso. "Pareceria que Kortchnoi
tivesse subestimado este lance quando jogou
19 ... ~f8" (Karpov). Eu acho que Kortchnoi
subestimou toda a série dos últimos lances das
brancas quando jogou a sua torre em b8.
23 .••liJeS
É possível seduzir a torre a sair da 7ª fileira,
mas a um preço demasiado alto: 23 ... B'.d8
24.ãxc7 &c8 25.f7+ ~h8 26.!!xc8 .lãxc8
27Jkl (Karpov) 27 ... éiJe7 28.B'.xc8 liJxc8
29.liJcS e uma peça precisa ser entregue pelo
peão f7. Também é intolerável suportar a torre
aqui: 23 ...!!c8 24.!!cl ! liJxaS 25 ...id4 .1âd8
26.!!cxc7 .lãxd7 27 ..lãxd7 liJc6 28.fxg7 .âe7
29.!!c7! .lãd8 30.~e3.
24.!txc7 .1ãc8 25.lã.acl !!xc7 26J~xc7 !!d8
27.h3!
"Não há motivo para pressa. Este lance
assegura um refúgio tranqüilo para o rei"
(Karpov). Eu relaciono de forma diferente o
tempo do xadrez em geral e da profilaxia em
particular. Isto é porque, de forma evidente,
nossos estilos enxadrísticos são tão diferentes.
27... h6
Isto não é a volta da profilaxia - as pretas
simplesmente não têm lances úteis. Elas
também perderiam após 27 ... !!d7 28.!!c8
!!dl+ 29.~f2 gxf6 30.éiJxf6+ ~g7 3I.éiJxh7
ou 31.~e2 .
28.ãa7! (sem dúvida a forma mais rápida da
conversão da vantagem) 28 ...liJc4
Nem agora, nem mais tarde, a torre poderá
deixar a 8ª fileira, devido a uma perda maior:
383
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
28 ...:Sdl+ 29.Wf2 ~bt 30..lÍ.d4 ~c6 31.f7+
Wh7 32.&8 ~xd4 33.~xf8 E'.xb2+ 34.Wgl
!!bl+ 35.Wh2 :Sfl 36.:Sds.
29 ..ib6! :Sb8 30.ilcS ll.xc5+ 31.~xcS
gxf6
32.b4!
Uma decisão tecnicamente precisa. Por um
instante as pretas têm um peão a mais, mas a sua
posição ainda é absolutamente sem esperanças.
Essa era a hora certa para abandonar, mas
Kortchnoi, como na última partida em Baguio,
queria resistir até o adiamento. O restante é
claro sem nenhum comentário.
32 ... :SdS 33.:Sxa6 Wf7 34.!!a7+ Wg6
35.:Sd7! :Ses 36.a6 ~a8 37J:!b7 Wf5 38.ãxbS
wes 39.~b7 WdS 40.~f7! rs 41.~f6
Kortchnoi jogou o lance secreto 41 ... eS, após
o que as brancas tinham uma ampla escolha de
lances vencedores: 42.~d7, 42.~a4,
42.~xf5 ... Mas, como esperado, não houve a
continuação da partida. Duas horas antes do
reinício marcado, as pretas abandonaram (1-0),
e o match se encerrou com a contagem de 6-2
(mais 10 empates) a favor de Karpov.
Baturinsky lembra que inicialmente
Kortchnoi encaminhou a Klein uma nota
manuscrita em inglês, dizendo: "Informo que
estou desistindo da 18ª partida e do match
inteiro e felicito Karpov e toda a delegação
soviética pela sua excelente técnica eletrônica.
Viktor Kortchnoi". Como é evidente, o
384
adversário acreditava sinceramente que a causa
da sua derrota tinha sido o uso de misteriosos
raios eletrônicos, mas quando, algumas horas
depois, Baturinsky pediu a Klein que lhe desse
uma fotocópia da nota de Kortchnoi, Klein
respondeu sorrindo: "Não existe nota
nenhuma".
Aqui está um resumo de Zaitsev nos dias de
hoje: "Parece que foram estas salvas disparadas
em homenagem à Variante Aberta que
saudaram a vitória de Karpov no match.
Formalmente foi assim que aconteceu, mas em
minha opinião, o principal motivo da derrota de
Kortchnoi no match foi ele ter-se desviado
excessivamente pelos esquemas em que .2
situação estratégica do centro se determinan
muito cedo. Como estrategista fortíssimo, ele
deveria talvez ter direcionado todos os esforç~
para a busca (ou, talvez, descoberta) de
esquemas em que, por muito tempo, uma luu
estratégia (não posicional mas estratégica) fosse
mantida, isto é, uma luta pelo controle do~
processos de formação de estrutura~.
Kortchnoi poderia ter-se valido de inspiraçk
em pelo menos duas de suas antigas vitóri~

contra Karpov, em Hastings (1971) e na 19ª
partida do match de Moscou (em 1974) quando
se jogou a compacta abertura de peão da dama.
Posteriormente, esta mesma estratégia foi
deliberadamente empregada contra Karpov e
não sem sucesso por adversários em outros
matches, como Yusupov (1989) e Anand (1998)".
As opiniões de bem conhecidos Grandes
Mestres, expostas imediatamente depois do
match não deixam de ser interessantes:
Polugaevsky: "Percebi a disposição do
Campeão Mundial não só de vencer o match,
mas principalmente de conquistar uma vitória
convincente. Ele encarou a competição
profissionalmente, no melhor sentido da
palavra".
Geller: ''A quinta hora de jogo, que é
tipicamente difícil para os competidores, foi
completamente bem aproveitada por Karpov.
Ele saiu-se bem, sem apuro de tempo e, acima
de tudo, não admitiu a desmobilização interna
prematura que mais de uma vez foi prejudicial
para ele em Baguio. O Campeão Mundial
também venceu a disputa teórica com sua
atuação prática e análise perfeitamente
equilibrada."
Gligoric: ''A qualidade do jogo em Merano foi
muito alta com um número bem menor de
defeitos do que em outros matches. O
desempenho de Karpov foi brilhante e agora
ele não tem rivais, e por isto, não há como julgar
a atuação de seu adversário com muito rigor. O
match forneceu importantíssimas conclusões
para a teoria de aberturas".
Schmid: "Karpov é um fenômeno
extraordinário. Acima de seu talento
excepcional, que o acompanha desde menino,
ele necessitava de condições valiosas para se
desenvolver. O Campeão Mundial de hoje é um
jogador universal de altíssimo nível".
Olafsson: ''Vitória convincente! Enfrentamos
três anos para escolher o futuro adversário de
Karpov e atualmente não é fácil adivinhar quem
haverá de competir com ele. Entre os
competidores mais prováveis eu citaria
Anatoly, o Décimo-Segundo
Timman, Kasparov, Kortchnoi, além de
Beliavsky e Balashov. Uma coisa é certa: hoje,
Karpov é o enxadrista mais forte do mundo".
Larsen: "Eu previa a contagem de 6-2 há
muito tempo e só errei quanto ao número total
de partidas, achando que seriam 22. Em todo o
período de pós-guerra, não houve nenhum
outro match pelo Campeonato Mundial com um
Campeão tão superior ao adversário. Acho que
o próximo aspirante à coroa será Timman, ou
Beliavsky, ou... Larsen. Kasparov? Ao sacrificar
ele sempre tem certeza de que vai vencer: é um
grande otimista!"
Najdorf: "Tenho que pedir desculpas a
Karpov. Até o presente eu o considerava como
um perfeito trabalhador do xadrez. Em Merano
ele se mostrou um gênio. O que ele faz pode
comparar-se com o jogo de Capablanca no auge
da fama. Eu colocaria Anatoly entre os
melhores jogadores da história".
Nove anos depois, quando as coisas se
esfriaram, o próprio Kortchnoi, em uma
entrevista, admitiu que Karpov era um
verdadeiro Campeão Mundial, ocupando um
lugar merecido na história do xadrez.
Quem é o Próximo?
Pelos resultados de 1981, os jornalistas
concederam a Karpov um outro - já o oitavo -
"Oscar" do xadrez, com seu contemporâneo e
rival de longa data Jan Timman no segundo
lugar. E o Grande Mestre holandês logo
confirmou a sua força, vencendo bri-
lhantemente um poderoso torneio em Mar del
Plata (em fevereiro de 1982): 1. Timman - 9½
em 13; 2. Portisch - 8; 3-5. Karpov,
Polugayevsky e Seirawan - 7½; Andersson - 7.
A partir da terceira rodada, Timman obteve
oito vitórias seguidas (!), inclusive uma contra
Karpov, de novo com pretas em uma Defesa
Siciliana (conformef. partida 89, comentário
sobre o 9º lance das brancas). Depois deste
sucesso, não restaram dúvidas sobre o vencedor
do torneio. Mas o que dizer do Campeão
Mundial? Polugaevsky responde:
385
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
"O mundo do xadrez já está acostumado com
Karpov terminando sempre em primeiro lugar.
Mas não convém esquecer que já se passou
pouco mais de dois meses do match de Merano.
Desde aquele tempo, o Campeão Mundial foi
'bombardeado' de todos os lados, participando
de numerosas reuniões com fãs do xadrez, sem
ter tempo para descansar. Isto repercutiu em
seu jogo: em muitas partidas ele deixou de
ganhar pontos que já tinham sido conquistados
e depois de chegar bem perto da vitória contra
Palermo, ele até perdeu... Embora ainda se
sentisse cansado depois do match pela coroa, o
Campeão Mundial, ao contrário da maioria de
seus predecessores, não se desviou de seu
princípio: participar de importantes torneios
previamente planejados".
Com um dos seus nove "Oscars" de xadrez
Na verdade, muitos compromissos
começaram a desviar Karpov da concentração
no jogo: com as bênçãos da cúpula da direção
do Partido, foi "eleito" presidente do Fundo
Soviético pela Paz (até hoje ele é o chefe desta
organização que passou por uma
transformação). Naquela época, ocupando o
cargo de redator-chefe da revista 64, o
Campeão manteve uma conferência de
imprensa por correspondência com leitores da
revista, respondendo as numerosas perguntas
que lhe eram encaminhadas. Minha atenção foi
atraída por duas de suas declarações:
A respeito de seu credo enxadrístico: "Ouvi
386
muitas vezes como Botvinnik divide os
jogadores em 'pesquisadores' e... os outros com
os quais ele me relaciona. Não vou discutir com
meu estimado amigo Botvinnik, porque, afinal,
não se trata de um nome, mas acredito
firmemente que minha atividade 'alheia à
pesquisa' é bem apreciada pelo mundo do
xadrez e, além disto, tem suas vantagens. Aliás,
o maior número de valiosas invenções de
Botvinnik no campo do xadrez vem daquele
tempo em que ele participava intensamente em
competições. É difícil calcular as perdas sofridas
pelo xadrez durante os anos dos 'afastamentos
sabáticos' voluntários do Grande Mestre no
auge de suas forças".
A respeito de seu futuro adversário e planos
dos jovens - Kasparov, Psakhis, Yusupov e
Dolmatov: "Se acrescentarmos a eles ainda os
melhores na idade de 30 anos, chegaremos ao
nome daqueles que disputarão os matches de
Candidatos no futuro imediato, inclusive, talvez,
com a participação em um match pelo título de
Campeão Mundial... Ainda não se pode dizer se
Kortchnoi conseguirá se reabilitar depois da
esmagadora derrota de Merano, mas atualmente
ele é o jogador número 2 no mundo. Na
verdade, conheço um Grande Mestre que tem
condições de derrotá-lo e acho que se ele for
qualificado para o match de Candidatos e
disputar com Kortchnoi, sairá vencedor. Estou
falando de Timman".
Para Karpov; também foi difícil o torneio de
Londres, em abril de 1982. No início, ele perdeu
chances de vitória na partida com Short; depois..
teve mais três empates e só conquistou :1
primeira vitória na quinta rodada, contra
Mestel. Ele escreve: "Como a imprensa loca!
publicou, nesta partida, o 'Dragão' foi abatido
com ajuda da técnica. Continuando o jogo de
palavras, eu acrescentaria que se trata de uma
coisa absolutamente natural: afinal, não se pode
pegá-lo com as mãos desprovidas".
 Anatoly, o Décimo-Segundo

Seguiram-se ainda mais três empates,

inclusive um com Timman. Jogando com as
brancas, Karpov queria muito a revanche de
Mar del Plata e, desta vez, conquistou uma
vantagem óbvia na Defesa Siciliana, mas, depois
de muitas imprecisões, ele se viu, pelo contrário,
obrigado a tentar salvar a partida: no torneio
havia sessões noturnas de adiamento e a partida
durou três dias seguidos. Mas, de um modo
geral, Timman não jogou equilibradamente em
Londres; como Karpov afirma: "a índole
desigual das atuações deste talentoso Grande
9... $.e6!
Mestre é surpreendente, apesar de já estar se
Isso é considerado ser o melhor, pois permite
tornando quase costumeira".
que as pretas com muita facilidade criem
Na 9ª rodada, o Campeão conseguiu afinal
contrajogo. Entretanto, ocasionalmente elas
uma segunda vitória, de novo na variante
também têm seguido com o sacrifício semi-
"Dragão" e, além disso, contra um especialista
correto 9 ... .1l.xg4?! 10.fxg4 li)xg4 ou pela
nesta, o inglês Tony Miles. Mesmo nesta
criação voluntária de um peão isolado central:
variante, Karpov buscou maneiras que
9 ... e6 10.0-0-0 (após 10Jf)db5?! as pretas
pudessem fazê-lo escapar das mais precisas
tomam a iniciativa: 10 ... dS 11..~ c5 a6!?
variantes e debates teóricos fundamentais para
12 ..t.xf8 Wxf8 13.exdS exd5 14.lz'.:la3 b5 -
as simples posições técnicas, onde o que
Kochiev-Miles, Manila 1974) 10 ... dS 11.gS
adquiriu importância decisiva foi sua
li)hs 12.M (12.f4!?; 12.:e:.8 1!?) 12 ... 12lg3
superioridade na compreensão posicional e 13.:ê:.gl i2\xfl 14.:ê:.gxfl 12le5 15.b3 ~a5
capacidade de dispor as peças "como convém". 16. Wb 1 :ê:.d8 17. exd5 exd5 (Dolmatov-
A partida citada é uma da série de seus Tseshkovsky, Frunze 1983).
''pianíssimo!' sicilianos. Para compreender a decisão de Miles jogar
9 ....t.e6, vamos olhar a partida da 5ª rodada
Karpov-Mastel: 9... i2\xd4 10 ..t.xd4 .1le6 (de
Partida 87
passagem, aqui há uma grande raridade -
A. Karpov - A. Miles
Londres 1982, 9ª rodada Botvinnik jogou o Ataque Rauzer: 10 ...'ifa5
Defesa Siciliana B76 l 1.h4 .1le6 12.hS :ãfd8? 13.hxg6 hxg6 14.a3
d5 15.eS 12ld7 16.~h2 i2lf8 l 7.~d3 com uma
vantagem enorme, Botvinnik-Averbakh,
1.e4 c5 2.li)f3 d6 3.d4 cxd4 4.li)xd4 li)f6 Moscou 1955) e aqui o campeão, que já tinha
5.li)cJ g6 6.i.e3 ~g7 7.f3 0-0 8.'ifd2 itlc6 experiência nessa posição (11.0-0-0 ~a5
9.g4 12.Càt'bl :ê:.fc8 13.a3 ~ab8 - 13 ... .1lc4!? -
A escolha de Karpov pode ser explicada pelo 14.g5 12lh5 15.12ld5 'ifxd2 16J~xd2 ~xd5
fato de que nas variantes agudas da Dragão - 17.exd5 Karpov-Dueball, Olimpíada de Skopje
9.0----0---0 d5 ou 9.~c4 ~d7 10.0-0-0 .ãc8 1972), imaginou no tabuleiro 1 I.li)d5!? com o
11.~b3 li)es 12.h4 (partida 61) 12 ... h5 - Miles objetivo óbvio de evitar o surgimento da dama
se sentisse muito confortável. ema5.

387
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Diagrama de Análise
Após l l...~xd5 12.exd5 l!fc7 (12 ... i:Vd7!?
13 ..ii.c4 ãfc8 14.~b3 a5! e o contra-ataque das
pretas não parece mais fraco do que o ataque
das brancas) 13.h4 .l:!ac8 14.ãh2 e5 15.dxe6
fxe6 surge uma situação duplamente aguda, na
qual Karpov, explorando o plano impreciso do
adversário, justamente consegue transpor com
rapidez para um final de jogo favorável.
Aparentemente Miles queria negar às brancas a
possibilidade de 11 .l2Jd5.
10.(µ)-0 l2Jxd4 11.~xd4 'ti°a5 12.aJ!
"É melhor fazer esse lance de imediato, sem
Wb l ". (Karpov)
12 ... :ãab8 13.h4 :ãfc8
Seria correto 13 ... b5! (não perdendo um
tempo), quando a invasão do cavalo em d5
promete até menos do que na partida: 14.l2Jd5
i:Vxd2+ 15.ãxd2 .ii.xd5 16.exd5 a5 17.~e2
l2Jd7 18.~xg7 Wxg7 19.:ãel .l:!fc8 20.~fl
l2Jc5 (Dolmatov-Alterman, Jelenite 1995) ou
14.g5 l2Jh5 15.l2Jd5 l!fxd2+ 16 ..l:!xd2 ~xd5
17 .exd5 l2Jg3 18 ..l:!g 1 ~xd4 19 J::l:xd4 l2Jxfl
20Jixfl, em ambos os casos com igualdade.
14.êz)dS
Não desejando se comprometer com ataques
em alas opostas, cujo resultado é difícil prever,
Karpov novamente utiliza seu método favorito,
criando um posto avançado em d5, o que lhe
garante uma vantagem espacial e uma situação
mais tranqüila: "O ataque direto ao rei nem
sempre é bem sucedido e então decidi me
satisfazer com uma ligeira vantagem no final
388
adiante". Aqui provavelmente seria mais
correto falar em uma ligeira iniciativa.
Ainda assim, a experiência posterior mostrou
que a abertura da coluna h-14.h5! b5 15.hxg6
seguido por 15 ... hxg6 16.l!fg5!, 15 ... fxg6
16.g5! ou 15 ... b4 16J8d5! colocam
problemas significativamente maiores para as
pretas.
14 ...l!fxd2+ 15.ãxd2 ~xd5
Mais tarde a captura com o cavalo sem
considerada mais segura: 15 ... l2Jxd5 16.exd5
(se 16.~xg7 então 16 ... l2Je3 iguala)
16 ... ~xd5! l 7.~xg7 ~xf3 18.~h3 ~xg4
19.:ãg3 Wxg7 20 ..lâxg4 (Dolmatov-Shirov,
Klaipeda 1988). Esse final, onde as pretas têm
três peões por um bispo, é difícil de ser avaliado.
Dvoretsky, que fez uma análise detalhada dele,
considera que as chances dos dois lados são
aproximadamente iguais, somente ao invés de
20 ... f5 ele recomenda a adoção de tática de
espera - por exemplo 20 ... 'ãc7. Se a estrutura
de peões das pretas não estiver debilitada, é
difícil para as brancas explorarem a
superioridade do bispo em uma posição aberta.
16.exdS a6 17.~e2
As brancas têm chances de conquistar uma
vantagem graças aos dois bispos e à
possibilidade de jogo combinatório na ala do rei
com uma posterior atadura.
17 ...êz)d7
Esperando, se as brancas mantiverem o bispo
através de l 8.ii.e3, criar contrajogo apó5

18 .. .''.zJe5 19.h5 b5 20.b3 é'.zJd7. Karpov, no
entanto, ao evitar a troca de bispos no
momento, não deseja conceder a grande
diagonal.
18.f4 é'.zJc5 19.l!h3 l!c7
Após 19 ...~xd4 20.§:xd4 é ineficaz o avanço
20 ... e5?! devido a 21.fxe5 dxe5 22.gdl
(Karpov), mas 20 ... b5 21.ge3 gc7 22.'~d2
é'.zJa4 23.b3 é'.zJb6 conduz a uma posição
aproximadamente igual, a qual Miles obteria
mais tarde.
20.geJ b5 21.~xg7
As brancas não podem permitir a ativação das
torres pretas após ... b5-b4 e Karpov faz um
reagrupamento profilático, esperando para ver
o que o adversário fará.
21. .. @xg7 22.l!d4! a5
Conhecendo o estilo dinâmico do seu
adversário, o campeão esperava uma atividade
assim. Se Miles tivesse jogado 22 ... é'.zJa4! 23.c3
é'.zJb6 (Karpov), tentando restringir a atividade
das peças inimigas através da necessidade de
defesa do peão d5, não seria claro o quanto as
brancas poderiam reinvindicar alguma
vantagem.
23.b4!
Realçando de imediato o enfraquecimento do
peão b5. Polugaevsky: "Se você estudar o jogo
de Karpov e Fischer no estágio técnico da
partida, poderá ver que ambos, quando jogam
com as brancas, tem uma preferência pelo bispo
das casas brancas. De forma bastante estranha,
Anatoly, o Décimo-Segundo
considero a mim mesmo como o culpado pelo
crescimento do gosto de Karpov por esse
bispo! Na 4ª partida do nosso match, eu tinha
um cavalo muito poderoso contra um bispo
imprestável no final da partida, mas eu dei um
jeito de perder essa partida desgraçada." (partida
54)
23 ... é'.zJa4
Alguns comentaristas consideraram ser esse o
erro decisivo, mas de fato ele não compromete
nada, embora fosse mais simples jogar
23 ... axb4 24.gxb4 (Karpov: "com vantagem
para as brancas") 24 .. _gcb7: a debilidade do
peão b5 é compensada pela debilidade do peão
d5 e a ligeira vantagem espacial das brancas é
compensada pela inexpugnável posição do
cavalo em c5.
24.bxa5! é'.zJc3 25.il.fl @f8
Pensava-se que após 25 ... ga8 o corajoso
ataque de surpresa do rei fosse muito forte -
26.~b2 é'.zJa4+ 27.~b3 é'.zJc5+ 28.~b4
(Karpov). Entretanto, ainda há várias peças no
tabuleiro e um ataque de surpresa assim envolve
risco considerável. Após 28 ... é'.zJa6+ 29.~xb5
gb7+ o posterior avanço do rei nas
profundezas do território inimigo é carregado
de problemas: 30.~c6? é'.zJc5! 31.gxe7 (de
outra forma, mate) 31.. _gxe7 32.~xd6 ge4!
(mais forte do que 32 ... gel 33.~xc5 gxfl
34.d6). E no caso da retirada sem glória -
30.~c4 é'.zJc5 - as pretas não têm motivos para
preocupação.
Ao invés de 26. ~b2 seria mais
empreendedor 26.gdd3!?, mas após 26 ... é'.zJa4
(26 ... b4 27.a6! gc4 28.fü3) 27.gb3 gac8
28.~d3 é'.zJc5 29.gxb5 é'.zJxd3+ 30.gxd3
gxc2+ 31.~bl gh2 não são totalmente claras
as conseqüências da batalha nesse complicado
final de jogo.
26.@b2 l!bc8?
Mas esse é realmente o erro decisivo! Após
26 ... é'.zJa4+! 27.~b3 é'.zJc5+ 28.~a2 é'.zJb7! (não
28 ... é'.zJa4 29.gd2 Karpov) permaneceria difícil
prever o resultado: 29.a6 (29.~b5 gxc2+
389
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
30.ébl .lâg2) 29 ... .:ãxc2+ 30.ébl gf2
31.~xb5 ~c5 32.~b4 .lâa8 33 ..lâe2 .lâf3 ou
29.c3 ~xa5 30 ..lâb4 .:ãc5 31.a4 .:ãa8! 32 ..1i.xb5
(32 ..lâxbS ~c4!) 32 ... .lâxd5.
27.éb3 .lâc5
Provavelmente Miles tinha por objetivo essa
posição, já pensando em tomar a iniciativa. É
provável que ele somente tenha dado uma
olhada superficial no sacrifício de qualidade,
não percebendo o lance final insidioso da
manobra tática das brancas.
28.a6! ~xdS
De outra forma, simplesmente a6-a7 e ~3.
29 ..lâxdS! .:ãxdS 30.âc3!
Esplêndido! "Uma série de lances
fantásticos!" (Polugaevsky). Agora uma troca
das torres é inevitável, e então o peão a, que
permanecia despercebido, de forma inesperada
chegará a dama.
30 ... âd8
Após 30 ... .:ãxc3+ 3 l.éxc3 .lâc5+
32.éb4 .lâc7 o mais simples seria 33.~g2!
(Karpov). "Aqui é o local onde o poder do
bispo se demonstra em toda a sua glória!"
(Polugaevsky)
31..lâc7!
Também havia uma vitória simples através de
31.a7 b4 32.axb4 .lâdl 33.ka6 .lâal 34.bS .!!a8
35 ..lâc7 etc.
31 ... âdl 32.~xbS e5 33.a7 exf4 34.âb7
~bl+ 35.éa4 .lâxbS 36.âxbS f3 37..lâb8 f2
38.âxd8+ 1-0
390
Na 10ª rodada, Karpov continuou sua "série
Siciliana" com uma vitória sobre Nunn - e
alcançou o líder por muito tempo Portisch. Mas
então veio um "embaralhamento inusitado de
líderes". O Campeão perdeu para o jovem
americano Seirawan (aliás, um dos segundos de
Kortchnoi), mas manteve a serenidade e na
penúltima rodada "por encomenda" venceu
Portisch.
Neste encontro importante ocorreu uma
outra variante da "Siciliana pianíssimo", como
desempenhado por Karpov - sua linha favorita
contra a Variante Najdorf:
1.e4 c5 2.~f3 d6 3.d4 cxd4 4.~xd4 ~f6
5.~c3 a6 6.~e2 e5 7.~b3 ~e7 8.0-0 0-0
(8 ... ke6 - partidas 54, 56 e 57) 9.~e3
9 ... ~e6!
A partida Karpov-Georgadze (Moscou 1983)
seguiu: 9 ... Wfc7 e ao invés de 10.a4 ~e6 11.aS
~bd7 12.~dS (volume 2, partida 98') as brancas
optaram por 10.Wfd2 (também lance de Geller)
10 ... .lâe8!? (anteriormente havia sido jogado
10 ... bS 11.~d5! ou 10 ... ~bd7!? 11.a4 b6
12 ..lâfdl ~b7) 11.a4 b6 12.~f3 ~e6 13.~cl!
(com a idéia de ~a2-b4-d5) 13 ... ~c6!
14.~d5! kxd5 15.exd5 ~a5?! (15 ... e4!?
Karpov) 16.b3 .lâec8 17 ..lâa2 ~b7 18.âdl
~c5 19.Wfel! (evitando ... ~e4) 19 ... Wlb7
20.g3 Wfd7 21.~g2 h6? (seria correto
21...~g4! 22.~xcS bxc5! e se 22.~d2, então
22 ... f5 ou 22 ...bS) 22.a5! b5 23.~xcS! .:ãxc5
24.~d3 ! .lâcc8?! (seria mais resistente 24 ... âc7

25.'8b4 °i!ff5) 25 .~b4 '!1.e8 26.~c6 ~f8
27.°i!fe2 e4?! 28.c4! bxc4 29.'i!fxc4 ~f5?!
30.l"!e2 h5 31..B'.del ! 'i!fxd5 32.°i!fxd5 '8xd5
33.$..xe4 '8c7 34.~e7+! '!1.xe7 35.~xa8 '!1.xe2
36 ..B'.xe2 '8xa8 37Jâc2! 1-0.
Aqui também se vê claramente a forma de
jogo de Karpov: a restrição profilática do
contrajogo do adversário (16.b3, 19.~el,
22.a5), a súbita transformação de uma forma de
vantagem em outra (23.$..xc5!) e a rápida
transferência do cavalo para c6. Tudo isso
desempenhado no mais alto nível!
10.~d2 (se l0.a4, então seria bom 10 ... ~ c6
ou l0 ...'8bd7 l l.a5 Ê'.c8! 12.f3 ~c7! l3.~d2
'!1.fd8 14.'!1.fdl d5! , com igualdade, Geller-
Ivkov, Interzonal de Palma de Mallorca 1970;
Stein-Bronstein, Tallinn 1971) 10 ... ~bd711.a4
!!cS
Também não é mau l l ... '8b6 12.a5 ~c4
13.~ xc4 $_xc4 14.'!1.fdl h6 15.'8cl Ê'.c8
16.'8d3 ii.e6 17.~b6 ~e8 18.f3 '8d7 19.~e3
f5 20.exf5 gxf5 2l.'8b4 °i!fg6 22.~d5
(Karpov-Quinteros, Olimpíada de Lucerna
1982) 22 ... ~ d8!, com igualdade.
12.aS
Seguindo Geller. O jogo aqui é lento, de
natureza rastejante e vencerá o jogador que
compreender melhor as sutilezas da posição:
fazendo a troca necessária no momento certo,
construindo corretamente uma cadeia de peões
e assim por diante. Para o estilo de Karpov, essa
é a variante ideal!
12 ...'i!fc7
Também é possível o lance de espera 12 .. .h6
(Penrose-Najdorf, Olimpíada de Varna 1962, ou
mesmo o moderno 12 ... '8c5 13.'8xc5 dxc5
14.°i!fxd8 gfxd8 15.f3 c4 (Hracek-Ponomariov,
Olimpíada de Bled 2002; Leko-Topalov, Wijk
aan Zee 2004).
13.Ê'.fcl
Preparando '8d5 . Se 13 ..ãfdl '8c5!
14.~xc5 dxc5 agora seria sem efeito 15.~d5
devido a 15 ... $..xd5 16.exd5 ~d6 l 7.c4 e4
18.g3 !!fe8. Ou 15.~f3 :S.fd8 16.~el Ê'.xdl
Anatoly, o Décimo-Segundo
17.ifxdl c4! 18.~b6 ifd6 19.°i!fel ifb4
(Lautier-Gelfand, Tilburg 1996), em ambos os
casos com igualdade.
13 ...ifc6 14.~f3
O momento crítico: é inevitável '8d5 e o
resultado do duelo da abertura depende de
como as pretas estiverem preparadas para ele.
14 ... ~c4
Portisch segue o caminho conhecido.
Também é possível jogar 14 .. J:UeS 15.~d5
~xd5 16.exd5 °i!fc4 17.ifd3 ifh4 18.g3 ~h3
com contrajogo, ou 14 ... h6 15.~dl '8h7
16.'8d2 ~g5! 17.'8d5 '8xf3+ 18.~xf3 $..d8
19.c4 Wh7 20.b4 f5, com igualdade (Leko-
Bologan, Olimpíada de Bled 2002).
15.i!a4!
Uma melhoria! Na partida Mestel-Browne
(Lone Pine 1978), após o insípido 15.~dl
Ê'.fd8 16.'8d5 '8xd5 17.exd5 'ilfb5 as pretas
obtiveram jogo excelente.
15 ... ~fdS 16 ..B'.b4! (retirando da dama a casa
b5, a qual fortalece o efeito da invasão do
cavalo) 16 ... ~c7 17.'8d5 '8xd5 18.exdS f5
19 ..ie2 $..xb3?
Portisch falha: seria melhor 19 .. .~xe2
20.if xe2 ~ f6.
20.ãxb3 f4?
E isso é um sério erro posicional. O correto
seria 20 ...$..f6!.
21.$..b6! '8xb6 22.Ê'.xb6 ¾l.g5 23 ..ig4 ãbS
24.~el! ifcS 25.Ê'.e4! (agora as pretas não
podem nem mesmo trocar as damas e estão
391
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
condenadas a uma espera passiva) 25 ...!H'S
26.b4 Wic7 27.c4 ~h8 28.cS! e as pretas
abandonaram no 40º lance (1-0).
As partidas com Portisch e Georgadze não
refletem só o estilo de Karpov, senão também
sua filosofia de jogo, em busca de esquemas
capazes de causar mais incômodo ao adversário,
com a vantagem de obter uma iniciativa
estratégica melhor com ausência de contrajogo.
Ao dominar também Spassky na última
rodada, com pretas em uma defesa Ruy López,
o Campeão Mundial concluiu merecidamente o
torneio de Londres: 1-2. Andersson e Karpov -
8½ em 13; 3. Seirawan - 8; 4-7. Ljuboyevic,
Portisch, Speelman e Timman - 7; 8-9. Miles e
Spassky - 6, ½; 1O. Geller - 6.
Moscou, 1981: nosso primeiro encontro,
observado de longe por Petrosian
O próximo evento mais importante foi o
supertorneio de Bugojno, em maio de 1982,
onde Karpov já tinha dois sucessos celebrados,
só que, nesta ocasião, não estava no grupo dos
competidores. Por isto eu, jovem campeão da
URSS nos meus 19 anos, já entre os cinco
jogadores mais fortes do mundo, consegui um
lugar ali. Já descrevi em meu livro Diryá Peremen
(Filho da Mudança) as dificuldades que esta
aventura implicava. Vou recordar ao leitor
apenas os detalhes mais importantes.
No começo de 1982, recebi convites pessoais
dos organizadores de três supertorneios:
Londres, Bugojno e Turim. Meus treinadores e
eu optamos por Bugojno, mas, quando
comuniquei esta decisão a Krogius, sucessor
392
direto de Baturinsky na administração de xadrez
do Comitê de Desportos, ele me sugeriu... um
torneio comum em Dortmund, cujo nível era de
quatro categorias abaixo. Quando perguntei o
que tudo isto significava, ele respondeu
diretamente: "Temos um Campeão Mundial e
não precisamos de outro". E o seu chefe,
Ivonin, deixou escapar em público: "O Comitê
de Desportos fará todo esforço que estiver em
suas mãos para evitar que Kasparov tenha
encontro com Karpov neste ciclo". O que
fazer? Aproveitando uma rápida viagem de
Ivonin e Sevastianov, Presidente da Federação
Soviética de Xadrez a Baku, fiz um apelo direto
a eles e ao líder, Geidar Aliev, do Azerbaijão. Só
assim fui autorizado a jogar em Bugojno.
O resultado desta disputa dos principais
Grandes Mestres do mundo evocou os
pensamentos a respeito das tormentas
iminentes no topo do xadrez: 1. Kasparov - 9½
em 13 (+6=7); 2-3. Ljubojevic e Polugaevsky -
8; 4-5. Hübner e Spassky- 7½; 6-8. Andersson,
Larsen e Petrosian - 7; 9. Ivanovic - 6; 10.
Timman - 5½. Botvinnik afirmou em uma
entrevista: "Se antes eu pensava que Kasparov
podia se tornar o rival de Karpov até o próximo
ciclo, depois de Bugojno sinto-me inclinado a
admitir que isto pode acontecer antes". Naquele
outono, venci também o torneio Interzonal de
Moscou (+7=6) e na Olimpíada de Lucerna,
substituindo Karpov, derrotei Kortchnoi em
uma disputa muito difícil.
O Campeão também não ficou de braços
cruzados. Em junho ele partiu com o seu
treinador Zaitsev para disputar um grande
torneio de duas rodadas em Turim. Planejou-se
a participação de oito Grandes Mestres de
primeira classe, mas, no último momento,
Timman desistiu e, depois do primeiro ciclo,
com o resultado de "mais um" também Hübner
se retirou, embora, conforme Zaitsev, não tenha
dado a ninguém a impressão de que estivesse
gravemente enfermo. Karpov se arrastou com
dificuldades: desperdiçou uma vantagem contra
Andersson e, de repente, perdeu para

Ljubojevic... Por sua vez, Portisch derrotou
Ljubojevic e passou para o grupo que estava à
frente.
Nesta situação, a disputa seguinte entre
Karpov e Portisch foi de capital importância.
Pelo visto, lembrando Londres, o Grande
Mestre húngaro evitou 1... c5 a favor da defesa
Petroff. Assim, entre os dois competidores teve
início um mini-match de abertura incomum com
três partidas, disputadas durante seis meses em
1982. Aqui Karpov fez uso outra vez do
estoque de preparações que sobraram de seus
matches pela coroa mundial, que lhe trouxe uma
enorme vantagem de longa duração, mesmo
contra os mais importantes teóricos do mundo.
Partida 88
A. Karpov - L. Portisch
Turim 1982, 6ª rodada
Defesa Petrojf - C42
1.e4 eS 2.~f3 ~f6 3.~xeS (3.d4 - partida
104) 3 ... d6 4.~f3 ~xe4 5.d4 dS 6.1l.d3 ii.e7
7.0-0 ~c6 8.ãel
A ordem moderna de lances - 8.c4! ~b4
9.ii.e2 0----0 10.~c3 ~JS (ou 10 ... Sl.e6) conduz
a uma tabiya tópica de abertura, que se tornou
especialmente popular na virada do século.
8••• .1Lf5
No fim, no entanto, foi considerado mais
promissor o tradicional 8 ....i.g4, apesar do
triste resultado para as pretas da partida
Karpov-Kortchnoi (6ª partida do match,
Moscou 1974).
9.c4!
"Uma novidade, que Zaitsev e eu únhamos
preparado para o match de Merano", comenta
Karpov, "mas ali na 4ª partida joguei 9 ..i.b5,
sob a influência da partida Timman-Portisch
(Moscou 1981). Também é freqüentemente
jogado 9.~bd2, por exemplo, Kasparov-
Karpov (Moscou 1981)".
Posso acrescentar que a partida Kavalek-
Anatoly, o Décimo-Segundo
Karpov na rodada anterior seguiu 9.a3?! 0-0
10.c4 ~f6 11.Cz:Jc3 Cz:Jxc3 12.bxc3 ~xd3
13.~xd3 dxc4 14.~xc4 Cz:Ja5 15.~a4 b6 e as
pretas conquistaram um empate sem
dificuldades particulares.
9 ... Cz:Jb4 10.il.fi! (é claro, não 10.cxdS?
Cz:Jxf2 !) 10 ... 0-0
Como jogado na segunda partida da "série
Petroff", não é bem sucedido 10 ... dxc4. Após
11.Cz:Jc3! ~f6 (é mau para as pretas 11...Cz:Jxc3?
12.bxc3 Cz:Jc2 13.ãeS Cz:Jxal 14.ãxfS ou
12 ... Cz:Jd3 13 ..fi.xd3 cxd3 14.~a3) 12.~xc4!
0-0 13.a3 Cz:Jc6 14.d5 Cz:Ja5 15.1/..a2 c5 16.~g5
(também é forte 16.Cz:Je5 .fi.d6 17.~f3)
16 ... !!e8 17.~a4 .i.d7 18.~c2 h6 19.Ml4
~xd5 20.~xdS ii.xh4 21.:ê:xe8+ .i.xe8 -
Karpov-Portisch, Tilburg 1982), teria seguido
22.Cz:Jxh4! ~xh4 23.~el, quando a experiência
de abertura das pretas termina em um desastre.
11.a3 ~c6 12.~c3
Em sua terceira partida com Portisch
(Olimpíada de Lucerna 1982), Karpov escolheu
a continuação superior 12.cxd5 ! ~xd5
13.Cz:Jc3 Cz:Jxc3 14.bxc3 ii.g6?! (permitindo às
brancas avançarem ambos os peões centrais;
seria melhor 14 ... ii.f6) 15.c4 ~d7 (após
15 ... ~d6 16.d5! agora seria mau jogar
16 ... .i.f6? 17.c5! ~d7 18.dxc6 ~xdl
19.:ê:xdl ~ xal 20.cxb7 !!ab8 21.~ f4) 16.d5
.fi.f6 17 .:ãa2 Cz:Ja5 l 8.ii.f4 (aumentando a
pressão; também não é ruim 18.Cz:Je5) l 8 ...:ê:fe8
19.!!ae2! E:ec8? (isso leva a uma derrocada,
393
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
mas já é difícil oferecer um bom conselho às
pretas) 20.~e5 ~f5 21.1i..d2! ~xc4 22.g4! e
as brancas venceram.
12 ...~xc3 13.bxc3 dxc4!
No momento não há nada para o bispo fazer
na grande diagonal: 13 ...1i..f6 14.~f4 dxc4
15.~xc4 ~d7 16.~a2 :ãfe8 l 7.~d2 b5
18.Ji.g5 com pressão desagradável (Adams-
l(arpov, Dortmund 1999). Portisch encontrou
um bom posto para o seu bispo de casas pretas.
14.il.xc41i..d6!
15.il.gS
Hoje em dia se considera que as brancas
mantêm a iniciativa através de 15.EÍ.a2! ~d7
16.~g5, por exemplo: 16 ...2lg6 17.li'le4 EÍ.fe8
18.Ei.ae2 2lxe4 19J:!xe4 Ei.xe4 20J~xe4 Ei.e8
21.f3!? li'ld8 22.~b3 c6 23.a4 li'le6 24.g3
(Adams-Anand, 3ª partida do match, Nova Delhi
2000) ou 16 ... ~a5 l 7.1i..d3 b5 18.~f3 ~g6
19.Ei.ae2 (Shirov-Karpov, partida relâmpago,
Praga 2002).
15 ... 'i!fd7 16.lclh4 (assegurando a vantagem
dos dois bispos, mas deve ser considerado o
jogo central-16.~e5) 16 ... ~a517.il.a2 b5!?
As pretas não querem se sobrecarregar com
um peão fraco através de 17 ... ~e6 l 8.1i..xe6
fxe6, embora seja difícil transformarem sua
vantagem rrúnima em algo real: 19.li'lf3 Ei.ae8
20.ii.h4 ~c6 21.~c2 h6 22.~g3 ~d5
(Adams-Anand, 1" partida do match, Nova Delhi
2000). Outra possibilidade é l 7 ... 1i..g4!?
18.~d3 !!ae8 19.h3 Ei.xel+ 20..l~xel Ei.e8, com
394
igualdade (Svidler-Adams, 3ª partida do match,
Nova Delhi 2000).
18.a4 a6?
A dinâmica da posição agora claramente é
favorável às brancas e Karpov explora isso de
forma muito habilidosa. Portisch ainda esperava
estabelecer o cavalo em c4 e então evitou
18 ...bxa4!, o que levaria a uma mudança radical
na estrutura de peões. Mas dessa forma as
pretas conquistariam um jogo igual!
Diagrama de Análise
Karpov pretendia jogar 19 .2ld5 EÍ.ae8
20.Ei.xe8 :ãxe8 21.li'lxf5 ~xf5 22.~xa4 EÍ.b8
23.EÍ.el "com as melhores chances", mas
23 ... c6 leva a uma igualdade completa:
24.~xa5 cxd5 25.~xa7 Ei.bl 26.~a8+ ~f8
27.1i..d2 ~e4 28.'~>fl ~d3+ 29.~gl ~e4. As
brancas também têm vantagem após 19.~xf5
~xf5 20.~e7 Ei.fe8 21.1i..bl ~d7 22.ii.xd6
li'lb3 !.
Resta considerar 19.c4 c5. Após o direto
20.dxc5 1i..xc5 2 l .:ãe5? as brancas podem até
perder: 21...~xdl+ 22.Ei.xdl 2lg4! 23.Ei.dd5
(ou 23.:ãxc5 ~xdl 24.Eí.xa5 !!fb8 25.~cl
~b3 26.1i..bl Ei.d8!) 23 ... f6! (Karpov) 24.Eí.xc5
li'lb3 25.1i..xb3 axb3. Na posição após 20.~xf5
~xf5 21.h4 ~b3 22.1i..bl ~d7 23.dxc5 li'lxc5
24..l'ifa2 Karpov vê "excelentes chances de
ataque, mas a ameaça de 25J:!d2 é facilmente
estancada através de 24 ... ~c7!. Aliás, ao lado
de 19 ... c5 as pretas também podem jogar
19 ... ~b3!?, por exemplo: 20.c5 (20.2i.xb3

axb3 21.'i!Vxb3 :ãfb8) 20 ... h6 21..'fJxf5 'i!fxf5
22.1i.xb3 axb3 23.cxd6 'i!f xg5 24.dxc7 b2
25.:Sbl ffac8 26.:Se5 'i!ff6 27.'i!fc2 'i!fd6
28.:ãc5 :Sfe8 29.g3 :ãe7, com igualdade.
19.axbS axbS 20 ..'fJxfS "i!f xfS 21.1le7
:ãfb8?!
É difícil chamar esse lance de erro, mas ele
certamente ajuda o desenvolvimento da
iniciativa das brancas. Aqui também não seriam
melhores lances da outra torre. Após
21.. ..13.fc8? 22.il.bl 'i!fd7 23 .'%!ff3! g6 24.~a2
Karpov julgou ser vencedora essa posição, mas
ele é muito categórico. A inesperada operação
tática 24 ....'fJc4! 25.~xc4 'i!fxe7! permitiria às
pretas continuar resistindo: 26.flxf?+! ég7
27.fld5 .13.xal 28J![xal etc.
Os problemas das pretas não se resolveriam
através de 21...:Sfe8 22 ..fl.xd6 cxd6 23.1lbl
'i!fd7 (23 ... Wih5? 24.:ãxe8+ B'.xe8 25.g4! 'i!fh3
26.:Sxa5 "i!fxc3 27.B'.xb5 B'.el+ 28.ég2)
24.fle4! '.ãa7 (perde um peão 24 ... d5?
25 ...txd5! Wixd5 26.B'.xa5) 25.~f5 Wic6 26.d5
B'.xel+ 27.Wixel "i!fa8 28.2l.d3 g6 29.Wie3
.'fJc6 30.B'.xa7.'fJxa7 31.'i!fd4 e é difícil para o
seu cavalo entrar em jogo.
O mais resistente seria 2 l...flxe7!? 22.B'.xe7
c6 (Karpov) 23.1lbl ! 'i!ff6 24."i!fel g6 25.fld3.
Agora as pretas perdem à força após 25 ... lz:lc4?
26.B'.xa8 :Sxa8 27 ..1i.xc4 bxc4 28.B'.e8+ :ãxe8
29.'i!fxe8+ ég7 30."i!fe5, mas suas defesas
resistem tanto após 25 ... lz:lb3 26.B'.bl :ãa3,
como 25 ... ég7 26.!!bl B'.ab8.
Anatoly, o Décimo-Segundo
22.g4!
Esse golpe agudo mas perfeitamente lógico (a
dama precisa ser deslocada de f5, de onde
defende o peão f7 e evita que a dama branca vá
a f3) deve ter chocado o normalmente
imperturbável húngaro e ele de imediato
permite um um golpe tático inesperado.
22 ..."i!fd7?
Seria essencial jogar 22 ... Wif4 23.1lxd6
Wixd6 (é ruim para as pretas 23 ... cxd6?!
24.1ld5! :ãa7 25.B'.e4 'i!Vg5 26."i!ff3) 24.'i!Vf3
'i!f d7! (mas não 24 .. J~'.f8 25 ..1i.xf7+ éh8
26.Wig3! Wixg3+ 27.hxg3 B'.xf7 28.B'.xa5 .13.af8
29 Jãxb5 :ãxf2 30.B'.f5 B'.2xf5 3 l.gxf5). Após
25.flbl! c6 26.2l.e4 é difícil para as pretas se
desvencilharem, uma vez que o cavalo é forçado
a permanecer em a5 para proteger o peão c6,
mas ainda é possível defender.
23.flxfi+! ~h8
A resistência não se prolongaria por muito
tempo através de 23 ... Wxf? 24.B'.xa5! ég8
(segue mate após 24 ... 1lxe7 25 .'i!f f3+ ou
24 ... B'.xa5 25.'iWb3+ ég6 26.2:!e6+) 25 ..13.xa8
:ãxa8 26.'iWb3+ Wh8 27 ..1i.xd6 cxd6. Após
28.Wie6 'i!fc6 29.d5 'i!fc8 30.g5 Wid8 31.h4 as
pretas não podem pegar o rei branco, pois suas
peças pesadas têm que guardar a 8ª fileira.
24.2l_xd6 ~xfi 25.B'.e7 (demolindo
definitivamente as defesas das pretas) 25 ... ~f8
26.1lc5
As brancas preferem intensificar a pressão,
não permitindo ao adversário qualquer chance.
Havia outra forma de vencer - 26.flx c7 'i!f xe7
27 ..1i.xb8 :ãxb8 28.B'.xa5 Wic7 29.:Sa3 :ãf8
30.'.ãb3 e as esperanças de contrajogo das
pretas são ilusórias: 30 ...'i!fc4 3 l.'.ãb4 'iWd5
32.~e2 Wic6 33.!!xb5 Wixc3 34.:ãf5 '.ãg8
35.d5.
26 ...'i!Vf4 27.~e2 h6 28.B'.e4 ii'ti 29.:ãeS
lz:lc4 30.:ãxaS :ãxa8 31..13.fS ~g6 32.~e4!
éh7 33.h3 :ãal+ 34.<;t,g2 '.ãcl 35.~b4 lz:ld6
36.flxd6 cxd6 37.'i!fd3 dS 38.13! 1-0
É inevitável a marcha do peão h3-h4-h5.
395
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Nas partidas restantes, Karpov conseguiu
uma boa revanche contra Ljubojevic e teve
cinco empates, suficientes para compartilhar o
primeiro lugar: 1-2. Andersson e Karpov - 6
em 11, (deduzida vantagem de Hübner); 3-4.
Ljubojevic e Portisch - 5½; 5. Spassky- 5.
Igor Zaitsev escreveu na revista 64: "Se
considerarmos que haviam passado apenas seis
meses desde a competição de Merano, que
consumiu tanto esforço e energia, os resultados
alcançados pelo Campeão Mundial nos dois
últimos torneios devem ser considerados bons.
Pelo menos, este é meu ponto de vista como
treinador".
Amsterdã 1981 - Analisando com o holandês
Jan Timman
Em julho, em Las Palmas, realizou-se o
primeiro de três Torneios Interzonais,
determinando o sucesso de Ribli e Smyslov e o
insucesso de Petrosian, Timman, Larsen e
Psakhis... Em agosto, em Toluca, a vitória foi
dividida por Portisch e Torre, deixando para
trás Spassky, Polugaevsky, Seirawan, Yusupov e
Balashov... Em setembro, em Moscou, nos
distinguimos, Beliavsky e eu, à frente de Tal,
Andersson e Geller... Assim, junto com
Kortchnoi e Hübner, os finalistas do ciclo
anterior, completou-se o número dos oito
candidatos que tinham que disputar uma série
de matches a fim de designar o próximo
adversário do Campeão Mundial.
Nesse ínterim, o Campeão, já descansado
depois das "batalhas travadas em Merano",
venceu com segurança o quarto torneio em
396
Tilburg (no outono de 1982): 1. Karpov - 7½
em 11; 2. Timman -7; 3-4. Andersson e
Sosonko -6½; 5-6. Petrosian e Smyslov - 6.
Poderia ter sido até melhor, mas depois de um
começo esplêndido -vitórias contra Hübner (o
escore foi de +5=8), Petrosian (pela primeira
vez na vida) e contra o novo candidato, Torre,
repentinamente cometeu um erro de cálculo e
perdeu para Portisch, quando já estava
praticamente na posição da vitória (conforme
partida 88, comentário ao 10º lance das pretas).
Karpov escreve na revista 64: "Este erro
afetou consideravelmente o resultado final,
porque além de perder um ponto, senti que meu
humor foi afetado, como se pode compreender.
Como era de se prever, um de meus principais
rivais na luta pelo primeiro lugar foi Jan
Timman. Ele é um jogador bastante original,
que se ocupa constantemente de pesquisas
tanto na teoria de aberturas como do meio-
jogo. Não se pode negar que é um forte Grande
Mestre. Porém, nos anos de competições
classificatórias, coisas estranhas acontecem com
ele. Parece que ele não consegue encarar o
sentimento de responsabilidade, com os
estresses que acompanham estes
acontecimentos, de modo que não consegue
controlar o nervosismo. Assim, no último ciclo,
o seu desempenho foi ruim no Torneio
Interzonal. É até um tanto injusto que um
jogador que teve uma atuação esplêndida
durante três anos, não possa se preparar para
um torneio (ou encarar um ataque de nervos),
vindo a ser eliminado do Campeonato Mundial
por mais três anos. Talvez valesse a pena
imaginar que os vencedores de vários torneios
pudessem gozar de um direito adicional (ou
convite pessoal) para participar nos matches de
candidatos".
A impressão é que, naquele tempo, o
Campeão Mundial sonhava em disputar um
match com Timman e sentiu muito quando este
sonho não se realizou. A sua contagem
individual contra um dos melhores Grandes

Mestres do Ocidente naquela ocasião era de +7-
3= 13. Mais tarde, o holandês, esquecendo os
"problemas nervosos que tinha sofrido" jogou
várias vezes em matches de Candidatos e duas
vezes chegou ao final. Até o início do match final
Karpov-Timman em 1990, a contagem subiu
para +16-4=30. Além disso, o insaciável
Karpov venceu tanto este match com 6½-2½
(+4=5) como o próximo, para o campeonato
mundial da FIDE (em 1993): 12½-8½ (+6-
2=13). Não há dúvida de que o talentoso
sucessor de Euwe poderia ter sido um bom
adversário pela coroa do xadrez, não fosse o
sólido muro dos Grandes Mestres soviéticos
chefiados pelos dois "K" ...
Em novembro de 1982, a coorte soviética:
Karpov, Kasparov, Polugaevsky e Beliavsky, os
reservas Tal e Yusupov esmagaram todos os
adversários na Olimpíada Mundial de Lucerna:
1. URSS - 42½ em 56; 2. Tchecoslováquia - 36;
3. Estados Unidos - 35½. Karpov comenta: "O
objetivo cumpriu-se com toda a facilidade. É
raríssimo para todos os jogadores de uma
equipe se encontrarem simultaneamente em
boa forma. Podíamos variar nossa equipe à
vontade". Até a 14ª rodada, Karpov disputou
oito partidas (+5=3) e eu disputei onze (+6=5).
Naquela mesma ocasião, com apoio soviético,
foi eleito presidente da FIDE o organizador do
match de Baguio, Florencio Campomanes. Antes
do anúncio do resultado da votação, ocorreu um
episódio de profundo simbolismo. Com voz
trágica, o presidente da mesa leu uma mensagem
que lhe tinha sido passada: "Lamento informar-
lhes a morte do Presidente Brejnev. Pediria a
todos para ficarem de pé e observar um minuto
de silêncio em sua memória". Imediatamente
depois, em silêncio sepulcral, foi anunciada a
vitória de Campomanes na votação realizada.
Parecia que o mundo do xadrez estava chorando
não o desaparecimento de Brejnev, mas o seu
próprio futuro ...
O próximo aparecimento do Campeão
Mundial foi no super-torneio de Linares (em
fevereiro de 1983): 1. Spassky- 6½ em 10; 2-3.
Anatoly, o Décimo-Segundo
Andersson e Karpov - 6 (+2=8); 4-6. Miles,
Sax e Yusupov - 5½ (à frente de Geller, Hort,
Timman, Seirawan e Larsen). Karpov jogou
com grande moderação e esperança, até que,
em dado momento, conseguiu uma brilhante
combinação, vencendo o prêmio da melhor
partida no torneio.
Partida 89
A. Karpov - G. Sax
Linares 1983, 3ª rodada
Defesa Siciliana - B81
1.e4 c5 vt1f3 d6 3.d4 cxd4 4.itlxd4 itlf6
5.itlc3 e6 6.g4
"Minha escolha de variante foi de certa forma
determinada pelo fato de nas primeiras duas
rodadas o Grande Mestre húngaro ter
conquistado duas vitórias e, em um torneio
curto, esse é um fator importante. Uma
tentativa tinha que ser feita para pará-lo",
escreve Karpov.
Como fica aparente nas partidas anteriores
com Hort, Dorfman e Spassky, quando era
necessano Karpov podia trocar tem-
porariamente seu estilo predominantemente
profilático, embora tentasse interpretar mesmo
a aguda variante do ataque Keres de maneira
estritamente posicional.
6... h6 (6 ... itlc6 partida 50; 6 ... il..e7 partida
71) 7.1:!gl
397
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
7 ... il.e7
Não muito antes disso as pretas tentaram
com sucesso 7 .. /iJc6 8.it.e3 g5!? 9.~d2 lz:Je5
(é questionável 9 ... lz:Jd7?! 10.0-0-0 lz:Jde5
l 1.il..e2 a6 12.h4 Anand-Sax, Reggio Emilia
1988) 10.il..e2 ~g6! 11.0-0-0 a6... ½
(Karpov-Spassky, Turim 1982). Nessa ocasião
as pretas poderiam enfrentar 9.h4!? (Zaitsev-
A.Sokolov, Moscou 1983).
Mas a partida Karpov-Timman (Plovdiv
1983), jogada logo em seguida continuou 8 ... a6
9.~e2 (9.h4!?) 9 ... ~xd4 l0.il..xd4e511.il.e3
il.e6 12.h4 e após 12 .. g6!? 13.g5 hxg5
14.hxgS lz:Jh5 15.0-0-0 ~f4 16 ..ixf4 exf4
l 7. ~d5 il..g7 as pretas conseguiram extinguir a
iniciativa do seu adversário.
8.il..e3 (evitando 8.h4 d5!? 9.exd5 ~xd5
10.il.b5+ éf8 com jogo agudo, Radulov-Sax,
Vrsac 1975) 8...'2lc6
Após esta partida Sax mudou para 8 ... a6.
9.~e2
De acordo com Karpov, a idéia deste lance
bastante incomum é que, após 0-0-0, as
brancas querem explorar a oposição da sua
torre e da dama branca na coluna d. Anterior-
mente foi tentado 9.it.e2, mas após 9 ... a6
10.~d2 ~xd4 l 1.~xd4 e5 12.~d2 il..e6
13.il..f3 ~d7 14.l:2:ldS it.g5 15.0-0-0 .1:k8
16.ébl il..xd5 l 7.exd5 ~c5 as pretas não têm
qualquer problema em particular (Karpov-
Timman, Mar dei Plata 1982).
9....td7
Uma novidade questionável com a idéia
típica de ... ~xd4 e ... il.c6. A partida Karpov-
Andersson (Turim 1982) seguiu 9 ... ~xd4
10 ..í!t.xd4 e5 11.il..e3 ke6 12.0-0-0 lz:Jd7!?
13.ébl a6 14.f4 exf4 15 ..ílt.xf4 il..f6!
16.~e3 .í!t.e5 com jogo confortável para as
pretas. É claro, uma melhoria tinha sido
preparada para a partida com Sax. Por
exemplo, 13.~b5!? l2:)b6! (Zaitsev) 14.~d2
e as pretas ainda têm que encontrar uma
defesa aceitável.
10.h4
398
Após 10.0-0-0 as conseqüências da variante
vista por Karpov não são claras: 10 ... ~xd4
l 1..í!t.xd4 e5 l 2.il.e3 l:!c8 com a idéia típica
de B:xc3 !. "Então em primeiro lugar as
brancas colocam em prontidão o mecanismo
de direção do cavalo para f6 (g4-g5) a partir
dessa posição importante".
10 ...'2lxd4 ll.~xd4 e5 12.J.e3 J.c6 (se
12 .. Jk8, então 13.g5 hxg5 14.hxg5 l2:)g4
15.B:xg4 1:!xc3! 16Jâg3! ou, até melhor,
15 ..td2!) 13.~d3
"Defendendo o peão e4 e fortalecendo o
controle das brancas da casa d5. Se ameaça
14.g5". (Karpov)
Na opinião de Dvoretsky, seria mais forte
13.'i!ff3!? (mas não 13.f3 l2:)h7!), por
exemplo: 13 ...dS 14.l2:)xd5! .í1t..xd5! (é ruim
14 ... l2:)xd5 ou 14 ... l2:)xe4 devido a
15.0-0-0!) 15.exd5 ~xd5 16.iLg2 com
ligeira vantagem para as brancas, ou 13 ... ~a5
14.0-0-0 (não é claro 14 ..td2 Y?:fb4)
14 ... l2:)xe4! 15.l2:)xe4 ~xa2 (15 ... d5?!
16.'i!ff5! dxe4 17.il.c4 !!:f8 18.Y?:fh7!?)
16. l2:)c3 il.xf3 (é perigoso para as pretas
16 ... Y?:fal+ 17.éd2 Y?exb2 18.Y?:fg3!)
l7.l2:)xa2 il..xdl 18.il.b5+! éf8 19.1:!xdl
com um final algo melhor para as brancas.
13 ... ~a5?
Infelizmente para Sax, ele imaginou uma
operação tática aguda. Seria duvidoso 13 ... d5?!
14.exdS l2:)xd5 15.0-0-0! l2:)xe3 16.~xe3
'i!fa5 17.il.bS! 0-0?! (l 7... ~xb5? 18.~xe5)

18.g5 (Dvoretsky) 18 ... hxg5 19.hxg5 Axb5
20.l2::ld5! B'.fe8 (20 ... 1!fd8 21.1!fxe5)
21.l2::\f6+! ou 17 ... a6 18.kxc6+ (não é
totalmente claro l 8.1!f xe5 axb5 l 9.~xg7 B'.f8)
18 ... bxc6 19.1!ff3!? (se imediatamente 19.g5,
então 19 ... hxg5 20.hxg5 .B'.b8! com a idéia de
... ~6) 19 ... ~6 (19 ... 0-0 20.g5!) 20.l2::le4
E!.b8 21. b3 e a diferença na colocação dos reis é
claramente favorável às brancas.
Mas seria muito melhor 13 ... l2::lh7! com a
idéia de sufocar o ataque da cadeia de peões do
adversário: após 14.h5 2lg5! 15.0-0-0 0-0 ou
14.0-0-0 Axh4 15.l2::lb5 0-0 16.l2::lxd6
(16.~xd6 ~a5!) 16 ... 1!ff6 e .. J~fd8 as pretas
têm uma posição sólida. Karpov sugeriu o
gambito 14.g5 hxg5 15.l2::\d5 "com uma ligeira
vantagem para as brancas". Dvoretsky discorda:
"O sacrifício de peão é tentador, mas não é
claro o quanto é correto: 15 ... gxh4 16.B'.xg7
l2::lf6 18.0-0-0 h3". Eu posso acrescentar
também que após 15 ... l2::lf6 não é com-
pletamente fácil, se é que possível, demonstrar
uma vantagem para as brancas.
14.0-0-0 l2::lxe4
É muito tarde para desviar: se 14 ... 0-0-0? as
brancas têm o forte 15.1!fc4 l2::lxe4 16.l2::ld5!
Axh4 17.~xe4 ~xa2 18.Ac4 (Dvoretsky) ou
15.g5! hxg5 16.hxg5 l2::lxe4 (se 16 ...l2::lh5(d7),
então l 7.~c4!) 17.l2::lxe4 d5 18.l2::ld2! e o
sacrifício do cavalo se mostra incorreto:
18 . .. d4 (18 ... g6 19.c;!;>bl e l2::lb3) 19.l2::lb3
~xa2 20.~f5+ .B'.d7 21.1!fxe5 dxe3 22.tâxd7
c;!;>xd7 23.kc4 e vencem.
15.l2::lxe4 d5 16.1!fb3
Karpov coloca um ponto de exclamação
neste forte lance: ''Agora as pretas são forçadas
a tomar o cavalo, após o que o rei é incapaz de
se proteger em qualquer das alas e permanece
perigosamente colocado no centro".
Entretanto, uma bela e inesperada idéia do
Grande Mestre Bologan é até mais forte:
16.l2::ld2! d4 (16 ... ~xa2 17.~f5!) 17.l2::lb3
1!fxa2 18.~f5!! dxe3 19.Ac4 0-0 20.g5 com
um ataque ganhador (mostrado por Dvoretsky).
Anatoly, o Décimo-Segundo
Por exemplo: 20 ... e2 21.gxh6! exdl1!f+
22.ãxdl Ae4 (22 ... kf6 23 ..B'.gl) 23.1!fxe4
2lf6 24 ..B'.d6, vencendo.
16 ... dxe4 17.Ac4 fü8
"A torre preta ocupa uma posição
inconveniente, na qual permanece até o final da
partida. Mas seria mau 17 ... 0-0 devido a 18. g5
hxg5 19.Axg5 com um ataque muito forte".
(Karpov): 19 ... Axg5+ 20.hxg5 e 1!fh3!.
18 ..B'.d5!?
Um espetacular sacrifício posicional da
qualidade, embora fosse auto-sugestivo l 8.g5 !
hxg5 19.hxg5, por exemplo: 19 ... ~4? 20.g6!
fxg6 21.~xb4 .ixb4 22 ..B'.xg6 ou 20 ... ~xb3
2 l .gxf7+ :Sxf7 22.axb3, pegando direto o peão
g7. Mas aqui Karpov não gostou da "única
chance das pretas - 19 ... g6: não era claro para
mim o quanto eu podia provocar esse lance". A
situação se esclarece através de 20 ..B'.hl !, um
lance apontado pelo Grande Mestre Motylev: se
20 ... ~b4? as brancas vencem de imediato
através de 21..ixf7+! .B'.xf7 22.~e6. É claro,
seria essencial 20 ... :Sd8, mas então é forte
21..âxd8+ ~xd8 22J~dl !.
Aproximadamente o mesmo ocorreria após o
imediato 19 ... E!.d8 20.B'.xd8+ Axd8 21.!!.dl!
(não é tão claro 21.c3 ~e7! Dvoretsky)
21...~e7 22.a3!, quando as brancas têm
dominação total: a queda das pretas é causada
pelo seu rei "mau". É só ligeiramente melhor
19 ... .B:c8 20 ..id5 ~b4 21.~xc6+ :Sxc6
22.~d5 ~d6 23.~xe4 etc.
399
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
18 ... .ixdS (as pretas têm que fazer a troca: se
18 ... V!!Jc7, então 19.ii.b5!) 19.ii.xdS B'.d8!?
"O lance natural, mas possivelmente não o
melhor. Após 19 ... l!fb4 20 ..ixb7 l!fxb3
21.axb3 B'.b8 o mais simples é 22.ii.xe4".
(Karpov)
Entretanto, Dvoretsky recomenda 21...'titd7!
22.E'.dl+ ~e6! 23.kd5+ ~f6 com chances de
empate, mas também um lance antes -
20.V!!ixb4! .ixb4 21.kxb7 B'.b8 (21...B'.d8
22.c3(a3) 22 ... ~d6 23.~xa7) 22 ..ic6+ ~e7
23 ..ixa7 B'.a8 (23 ... B'.bc8 24.ii..xe4) 24.1Lxa8
B'.xa8 25.li.e3 :Sxa2 26.~bl com boas chances
de vitória, enquanto "após o lance da partida, o
jogo é mais agudo para os dois lados".
20 ..ic4!
Evitando a troca dos bispos de casas pretas:
20 ..ixe4 ii.c5!, enquanto se 20 ..ixb7?! então
seria possível não somente 20 ....ic5 (Karpov),
mas também 20 ... .ixh4! (Dvoretsky).
20 ... kb4! (não 20 ... .ic5? 21..ib5+ ou
20 ....id6? 2I.V!!ixb7 V!!ic7 22.'%1:Vxe4) 21.c3 bS!
"No caso de 21...ii.d6 22.'%1:Vxb7 V!fic7 as
brancas poderiam escolher entre um final
esmagador - 23.'%1:Vxc7 .ixc7 24 ..ixa7 e a
continuação do ataque - 23.'%1:Vxe4. Também
seria muito forte 22.g5!? hxg5 23.B'.xg5".
(Dvoretsky)
22.~e2!
"É claro, o bispo de casas brancas terá que ser
mantido. Não são claras as conseqüências de
22.cxb4 bxc4 23.'%1:Vxc4" (Karpov). Realmente,
após 23 ... '%1:Vd5 (Dvoretsky) 24.'%1:Vxd5 (24.V!!Jc7
400
~d7, com um empate ou 24 ... f6!?) 24 .. .!!xd5
25 ..ixa7 ~d7! Preferencialmente as brancas é
que teriam que pensar em como empatar.
22 ....id6 23.°i!fdS!
"Não há sentido em jogar 23 ..ixb5+, uma
vez que após 23 ... ~e7 as torres das pretas
conquistam liberdade de ação" (Karpov). E se
23.g5, então 23 ... b4! (Dvoretsky)
23 .. .<tle1?
"O momento crítico. Seria mau para as pretas
23 ... V!fixc3+? 24.~bl ! V!!ixb2+ 25.~xb2 .ia3+
26.~xa3 B'.xd5 27 ..ixa7 e vencem, mas
chances melhores de defesa eram oferecidas por
23 ... l!fc7, após o que as brancas enfrentariam
uma escolha difícil," escreve Karpov, indicando
duas possibilidades: 24.g5, provocando
24 ... 'i!fxc3+?! 25.~bl, quando as brancas
conquistam a coluna e, ou 24 ..ixb5+ ~e7
25.~c2 - "um útil lance profilático", embora,
de acordo com Dvoretsky, após 25 ... E'.bS
26.E'.dl (26.g5 't!Hb7) 26 ... E'.fd8 27 ..ic4 ~f8 o
resultado não seja claro. Então, na minha visão,
seria melhor jogar 25.'i!f xe4 B'.b8 26.li.c4 't!Hb7
27.V!!ic2! B'.fc8 28.ii.b3, mantendo no entanto
uma vantagem.
Além disso, Dvoretsky recomendou 23 ... a6 e
"após 24.B'.dl 'i!fc7 25.'i!fxe4 as brancas
manteriam compensação suficiente pela
qualidade sacrificada, mas evidentemente não
muita". Entretamo, seria mais forte 24.'i!fc6+!
~e7 25.B'.dl B'.d7 (não 25 ... V!!ic7? 26.E'.xd6,
25 ...'i!fxa2? 26 ..ic5 V!!ie6 27.g5! ou 25 ... f6?
26.~bl ! B'.d7 27.li.b6 'i!Va4 28.b3 V!!ia3
29.E'.xd6!) 26.a3 'i!fd8 (seria ruim para as pretas
26 ... B'.fd8? 27 ..ib6 '%1:Va4 28.c4! ou 26 ... E'.b8?
27.g5! e ii.g4) 27.l!fxa6 V!fia8 28.l!fxb5 :àb8
29.V!!Jd5 e os três peões conectados e passados,
apoiados pelos bispos, dão às brancas chances
de vitória.
24.ii.cS! (parece que Sax não viu esse lance
forte: essa troca de bispos agora é vantajosa
para as brancas) 24 ... li.xcS
As pretas não podem jogar 24 ... V!!Jc7
25.'i!fxe5+ ~d7 26.li.xd6 '%1:Vxd6 27.B'.dl, nem

24 ... f6 25.~c4! (Karpov)
25.W!ixeS+ ©d7 26.W!ixcS W!ic7 27.W!ifS+
'it;e7?!
Nesta partida a casa e7 foi verdadeiramente
fatal para Sax! Seria mais resistente 27 ... ©c6
28.W!fxb5+ ©d6, embora 29.~4+ favoreça as
brancas tanto após 29 .. .W!fc5 30.W!fxe4!, como
também 29 ... ©e5 30.f3 ! (não é tão claro
30.f4+ ©xf4 31.ãfl+ ©e3) com um ataque
terrivelmente forte, por exemplo: 30 ... f5
31.gxf5 âxf5 32.fxe4 ãf2 33.W!fb5+ ou
30... W!ib6 31.W!ie7+ ©d5 (31...W!ie6 32.f4+!
'it;xf4 33.W!fc5 e3 34 ..l1-c4 e vencem) 32.:§.el !
©c6 33.a4! a6 34.b4 etc.
28.W!ixe4+ 'it;d7 29.W!ifS+ 'it;e7 30.ãel!
''Após longa reflexão, consegui encontrar a
melhor maneira de manter a tensão, mesmo
quando o rei preto se esconde em d8".
(Karpov)
30 ... :§.d6 31.~c4+! (Não permitindo que a
torre preta vá a e6) 31. .. ©d8 32.~xbS a6
Não seria melhor 32 ... ãf6 33.W!id5+ :§.d6
(33 ... ©c8 34.ãe7!!, como na partida)
34.W!ia8+ W!fc8 35.W!fxa7, vencendo.
33.it.a4! g6 34.W!if3! 'it;c8
Isto perde de imediato. A agonia poderia ser
prolongada com 34 ... W!fc4, por exemplo:
35 ..l1-b3 W!ic6(7) 36.W!if4 ou 35.W!ia8+ W!ic8
36.W!ia7 W!fc7 37.W!ie3 etc.
35.I!e7!! (Um elegante final de mate)
35 .. J::tdl+ (ou 35 ... l!Vxe7 36.W!ia8+ ©c7
37.'%lh7+) 36.©xdl W!ixe7 (36 ... ãd8+
37.ãd7!) 37.Wfr'a8+ ©c7 38.Wfr'a7+ ©d6
Anatoly, o Décimo-Segundo
39.W!ib6+ 1-0
39 ... ©e5 40.W!id4+ 'it>e6 41.~b3 é mate.
Depois o Campeão do Mundo venceu o
jubilar 50º Campeonato da URSS, em Moscou
(abril de 1983): 1. Karpov - 9½ em 15 (+5-
1=9); 2. Tukmakov - 9; 3-4. Vaganian e
Polugaevsky - 8½. Eu não tomei parte nesse
torneio, ao derrotar Beliavsky recentemente nas
quartas-de-final de nosso match de Candidatos,
estava me preparando para o match semifinal
com Kortchnoi.
Sobre este match, o mais importante de todo o
ciclo, que inicialmente fracassou por culpa do
Comitê de Desportos por ordem do Comitê
Central do Partido Comunista e da KGB, já se
disse alguma coisa no capítulo "Adeus ao Sonho".
Karpov tomou parte nas negociações de
Moscou com Campomanes e depois me
convidou à sua casa para discutirmos a situação
em particular. Ele me aconselhou a apelar para
Aliev, que era então membro do Politburo do
Comitê Central do Partido Comunista e
também, de sua parte, prometeu providenciar
uma reunião com Zimyanin, Secretário do
Comitê Central do Partido.
Algum tempo depois, quando o Presidente da
FIDE me condenou por não ter comparecido
em Pasadena, Karpov fez uma declaração
cautelosa e obscura: "Kortchnoi conquistou
uma vitória sem jogar, mas seu adversário
deixou de comparecer para o match não por
capricho ou enfermidade, mas devido a
circunstâncias complexas, alheias ao xadrez".
Obviamente, aqueles que criaram estas
circunstâncias e motivos tinham um objetivo
certo: "fazer de tudo" para que Kasparov não
fosse classificado para jogar com Karpov. Será
que o Campeão teria tomado parte na intriga?
No seu livro: Sestra mqya Kaissa (Caíssa é Minha
Irmã), Anatoly nega isto categoricamente. Ao
contrário, ele afirma que se esforçou bastante
para que estes matches, isto é, o meu com
Kortchnoi e o de Smyslov com Ribli fossem
realizados. Eis o que ele diz:
401
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
"Eu queria que tudo fosse honesto e feito
com a consciência limpa. Naquela ocasião,
Kasparov ainda não era um sério rival para
mim. Eu via todas as suas fraquezas e não tinha
dúvida de que poderia enfrentá-lo no tabuleiro
sem muita dificuldade. Este match até que me
interessava, porque quanto antes nos
encontrássemos, tanto mais esmagador seria o
resultado (e o andamento do primeiro match
demonstrou que este cálculo estava correto) ...
Não se tem aqui uma simples razão contra
todas as invenções de Kasparov sobre os meus
planos e atos maldosos? ... Eu tive até que viajar
para as Filipinas: todos pensávamos que, para
os interesses do caso, não seria prejudicial fazer
uso de minhas boas relações com Cam-
pomanes. E este cálculo era justificado".
Os argumentos razoáveis de Karpov têm uma
falha: foram apresentados após o evento, após o
quarto dos nossos matches. Mas então, no verão
de 1983, não se via com clareza em que poderia
se basear o otimismo do Campeão: eu estava
vencendo todas as competições, uma após
outra; já tinha recebido meu primeiro "Oscar"
do xadrez (e, logo depois, recebi o segundo),
meu rating subia rapidamente e, até o final do
ano, eu já tinha ultrapassado Karpov (e esta foi
a primeira vez em que ele foi superado em toda
a década pós-Fischer!). E nenhuma das "boas
relações dele com Campomanes" poderia
ajudar se naquele momento histórico os
recursos políticos de Aliev fossem insuficientes.
Não foi sem razão que Smyslov me disse mais
tarde: "Meu jovem, se a história de nossos
matches semifinais não tivesse ocorrido no verão
de 1983, mas um pouco antes, (isto é, antes de
novembro de 1982, quando Brljnev morreu e Afiev se
tornou membro do Pofitburo - G.K.), nós nunca nos
encontraríamos na final de Candidatos".
Em agosto, o Campeão Mundial venceu um
torneio de categoria 9 em H anover, depois de
sofrer uma derrota sensacional na primeira
rodada, contra o mestre Hartman (com as
brancas em um ataque Keres!), somando depois
oito vitórias e seis empates: 1. Karpov -11 em
402
15; 2. Georgadze - 10½; 3. Balashov - 10. Em
setembro venci o supertorneio de Niksic: 11 em
14, e em outubro, Karpov comemorou o seu
quinto triunfo em Tilburg- 7 em 11 (+3 =8).
Ao vencer meu dificílimo match com
Kortchnoi em dezembro e o match final contra
o sempre jovem Smyslov em abril de 1984, dei
uma resposta conclusiva à pergunta que há
muito tempo estava no ar, sobre quem haveria
de ser o próximo adversário do Campeão
Mundial.
Naquela primavera, o Campeão venceu
confiantemente dois torneios: em Oslo (+3=6)
e em Londres: 1. Karpov - 9 em 13; 2-3.
Chandler e Polugaevsky - 8; 4. Timman - 7½;
5-6. Seirawan e Ribli - 7; 7-8. Kortchnoi e
Vaganian - 6½. Aqui, "como de costume", ele
derrotou Kortchnoi, que após o final do
boicote novamente voltou a jogar em torneios
com enxadristas soviéticos.
O início do nosso primeiro match foi
catastrófico para mim: após 9 partidas,
Karpov liderava por 4-0
Em junho, Karpov e eu jogamos no segundo
match ansiosamente aguardado entre a URSS e o
resto do mundo. Nossos três primeiros
tabuleiros eram conhecidos: Karpov, KasparoY
e Polugaevsky, mas nossos adversários,
esforçando-se para melhorar o próprio
resultado, com astúcia trocaram a ordem dos
tabuleiros: Kortchnoi foi encarregado de
atormentar Polugaevsky, o inexpugnável
Andersson foi encarregado de "enfrentar'·
Karpov, e o experiente Timman foi lançado
contra o "apimentado" Kasparov. Este plano só

se justificou parcialmente: Kortchnoi de fato
derrotou Polugaevsky (+1=3, inclusive com um
empate com o reserva Tukmakov), mas Karpov
e eu derrotamos nossos adversários pela mesma
contagem. Nossa equipe também venceu: 21-
19.
Em 10 de dezembro de 1984, realizou-se em
Moscou o match sem limites entre Karpov e
Kasparov pelo Campeonato Mundial. Na
primeira partida, a abertura foi... um ataque
Keres! Mas aqui sou forçado a interromper meu
relato, porque este será o assunto da série
'Xadrez Moderno" - volume 2, que será dedicado
aos meus matches com Karpov.
Superfinal
Em julho de 1985, antes de nosso segundo
match, Karpov venceu um torneio de duas
rodadas em Amsterdã com 7 em 10 (+4=6),
meio ponto à frente de Timman. Nesse torneio
ele alternou entre l.e4 e 1.lt:Jf3, e no match
disputado comigo, entre 1.e4 e 1.d4. Na
decisiva 24ª partida, em que só a vitória lhe
interessava, ele iniciou com o favorito peão do
rei e a própria lógica do jogo, em uma
complicada Defesa Siciliana, exigiu que ele
expusesse a retaguarda através de g2-g4-g5.
Ele tomou a iniciativa, mas atrasou no 23º
lance, no 36º lance cometeu um grave erro de
apuro de tempo. Foi quando perdeu o match (11-
13) e também seu título mundial.
Moscou 1985 - Karpov perde o título de
Campeão Mundial em nosso segundo match. À
direita na foto, Camponames
Anatoly, o Décimo-Segundo
Passado o choque de não ter vencido nosso
primeiro match e de ter sido derrotado no
segundo, outro jogador necessitaria de um
período longo para se reabilitar, mas Karpov
mostrou com brilhantismo a determinação de
disputar outros torneios, para alcançar a melhor
forma para a próxima revanche em 1986. Já em
novembro, chefiou a equipe da URSS no
Campeonato Mundial por Equipes, em Lucerna
(+3=4). Em janeiro, em Viena, ele tomou parte,
pela primeira vez em 20 anos, em um torneio
"suíço", mas muito forte (+3=6), na primavera
saiu vitorioso com facilidade em Bruxelas (9 em
11, 2 pontos à frente de Kortchnoi e 2½ à
frente de Miles, Timman e Torre); no começo
do verão, venceu um supertorneio de duas
rodadas em Bugojno: 1. Karpov - 8½ em 14; 2-
3. Ljubijevic e A. Sokolov - 7½.
Em Bugojno, Karpov sofreu a única derrota
em um período de seis meses, contra a nova
estrela brilhante do xadrez soviético, Andrey
Sokolov (com pretas em uma defesa Ruy López,
Variante Zaitsev). A súbita ascensão de Sokolov,
meu contemporâneo e discípulo do experiente
treinador moscovita, Vladimir Yurkov, mostrou
seu enorme potencial enxadrístico: Campeão
Mundial de Juniores (1982), Campeão da URSS
(1984), um dos vencedores do Torneio
Interzonal em Biel e do Torneio de Candidatos
em Montpellier (1985). No início de 1986, no
match semifinal de Candidatos, ele esmagou
Vaganian com 6-2, enquanto no outro match
semifinal Artur Yusupov derrotou Timman em
excelente estilo: 6-3.
A maratona sem precedentes do Campeonato
Mundial organizado pela FIDE (quatro matches
em quarenta meses, o primeiro com 48
partidas), acarretou um grave problema, que
Kortchnoi já tinha imaginado na véspera da 32ª
partida do match em Baguio: o perdedor da
revanche, fisicamente não disporia de tempo
para tomar parte no próximo ciclo
classificatório. A FIDE descobriu uma saída
sem precedentes para aquela situação: o
vencedor do match final de Candidatos do novo
403
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
ciclo teria direito de jogar não com o Campeão
Mundial, mas com o perdedor da revanche e só
o vencedor desta "superfina!" é que se
classificaria para o match com o Campeão.
No outono de 1986, quase ao mesmo tempo
em que eu vencia a dificílima revanche contra
Karpov (12½-11 ½), Sokolov e Yusupov
disputaram o que seria um match final de
Candidatos ainda mais dramático: já no final,
Artur estava à frente com 6-4, quando perdeu
três partidas em seguida. O empate na última
partida, a 14ª, resumiu o resultado de seu
sofrimento: 6½-7½. Andrey confirmou sua
reputação de "homem sem nervos".
O match superfina! com Andrey Sokolov
( 1987) foi um dos sucessos brilhantes de
Karpov
Na seqüência, o match superfina! Karpov-
Sokolov (Linares, fevereiro-março de 1987),
deu a impressão inicial de ser um
acontecimento bastante intrigante, aguardado
com grande interesse. O jogo foi excelente nas
14 partidas. Vale a pena descrever
detalhadamente este match, uma vez que nesse
ponto começou, com efeito, um novo estágio
na carreira de Karpov.
Ao analisar os matches de Campeonatos
Mundiais, vimos muitas vezes como os
Campeões, depois de derrota para adversários
mais jovens em ascensão, começaram a perder a
404
confiança em s1 mesmos, deixando de
permanecer na vanguarda do pensamento
enxadrístico de sua época. Com Karpov
aconteceu o contrário: suas derrotas nos matches
de 1985 e 1986 só fizeram aumentar sua
motivação. Demonstrando uma rara
flexibilidade enxadrística, ele conseguiu
reajustar e desenvolver para si mesmo um novo
algoritmo de conduta no jogo do xadrez.
Graças a esta característica, por mais 1O anos o
12º campeão mundial batalhou no nível mais
elevado, vencendo muitos matches de
campeonato da FIDE e conquistando uma
esplêndida vitória em Llnares (em 1994) que
com razão é considerada como um dos mais
excelentes triunfos de torneios na história do
xadrez.
Antes de tudo, os resultados dos matches de
1984-1986 fizeram Karpov perceber a
necessidade de mudar seu repertório de
aberturas. Em princípio, ele já tinha passado
para l .d4 em nossa revanche, mas foi o match
com Sokolov que demonstrou a eficácia de sua
mudança. Aparentemente, o ex-Campeão
percebeu que era muito difícil para ele manter o
controle da situação nas agudas variantes da
Defesa Siciliana (aliás, Sokolov, como eu
também, usou com muito gosto a
"Scheveningen'') e que as partidas fechadas
estavam mais próximas de seu modo de pensar
e condiziam mais com sua idéia geral do xadrez.
Além disso, Karpov causou uma surpresa
com as pretas: a partir deste match, assumiu um
lugar firme em seu arsenal a Defesa Caro-Kan
com 4.f2ld7, uma arma bastante segura que ele
iria usar até o início do século 21.
Na primeira partida depois de 1.e4 c6,
Sokolov ao jogar 2.c4 d5 3.cxd5 cxd5 4.exd5
f2lf6 5.f2lc3 ê2lxd5 6.laf3 e6 7.d4 obteve uma
posição melhorada da Defesa Semi-Tarrasch do
Gambito da Dama: 7... il.e7 (7 ... ê2lc6 -8.~d3
Belyavsky-Karpov, Moscou, 1986; conforme
volume 2, partida 117) 8.il.c4 0-0 9.0-0 ê2lc6

10.âel (uma das tabfyas de Botvinnik, volume 2,
partida 36) 10 ... a6 11.ii.b3!? ~xc3 12.bxc3
b5 13. 'i!fr'd3 e as brancas mantiveram certa
iniciativa. O momento crítico foi no 25º lance.
25.âcS?!
Mais tarde, Andrey lamentou não ter jogado
25.~e4! "com chances de vencer". Então as
pretas teriam que encontrar o único larice
25 ... fil5 e no caso de 26.'i!fr'xg6! (é claro, não
26.~g5 ~ d5 ou, como mostrado por
Makarichev, 26 .d5 'i!fr'xd5! 27.âc5 'i!fr'xc5
28.~xc5 âxc5) 26 ... fxg6 27.~f6+ @g7
28.~xd7 âxh4 29.B'.c7 ii.d5 30.~e5+@g8
31 .it\xg6 ainda teria que lutar pela igualdade.
25 ...'i!fr'e7 26J~xe6! 'i!fxf6! 27.âxf6 l:!d7,
com um empate no 36º lance. No entanto, o
andamento do início da disputa parecia
confirmar o parecer de muitos especialistas de
que o match não seria uma prova nada fácil para
Karpov.
Na segunda partida, Karpov optou por uma
linha tópica da Defesa Índia da Dama, com
4.g3 (conforme a partida 90, comentário ao 19º
lance) que ocorreu várias vezes em meus matches
com ele. A partida foi adiada com um final de
bispo contra cavalo ligeiramente favorável às
brancas. Mas a defesa para as pretas era bastante
desagradável, especialmente contra Karpov! E
assim, Sokolov sucumbiu no final do segundo
controle de tempo.
Anatoly, o Décimo-Segundo
56... ~xe4??
Makarichev: "Um empate seria alcançado
através de 56 ... ~xa4 57.~d4 @d6 58.Wb5
(nada é dado por 58.e5+ We6 59.h4 h6 com a
intenção de ... g6-g5) 58 ... itlc5 59.ii.xc5+
bxc5 60.h4 h6 61.Wc4 Wc6 62.e5 h5 63 .Wd3
Wd7, com as pretas mantendo a oposição
distante".
57.WbS ~c5 58 ..ft.f8!! (com 58.a5 bxa5
59.Wxc5 Wf5 as pretas conseguiriam eliminar
os p eões inimigos) 58 ... ~d7 (58 ... itlxa4
59.Wxa4 Wf5 60.ii.d6) 59.ii.a3 Wd5
(59 ... wfs 60.~d6) 60.ii.e7 Wd4 61.ii.dS 1-0
Como Sokolov possuía um repertório de
aberturas limitado, com as brancas jogando
somente l .e4, seguia invariavelmente l ... c6, e
com as pretas respondendo a l .d4, escolhia
somente a Defesa Índia da Dama, foi
precisamente nessa arena pequena que se
travaram algumas disputas teor1cas
interessantes: nas onze partidas foram aplicadas
seis Defesas Caro-Kan e cinco Defesas Índia da
Dama.
As três partidas seguintes terminaram com
empate e parecia haver ainda esperança de que
Sokolov mostrasse o seu valor antes do término
do match. A 6ª partida haveria de ser decisiva.
Partida 90
A. Karpov - A. Sokolov
Match de Candidatos, Linares 1987,
6ªpartida
Defesa Índia da Dama E 15
405
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
1.d4 ~f6 2.c4 e6 3.~f3 b6 4.g3 i.a6 5.b3
i.b4+ 6.i.d2 i.e7 7.~c3 (7 ..il.g2 -partida 98)
7 ... d5 (7 ... 0-0 - partida 91) 8.cxd5 ~xd5
9.~xd5 exd5 10 ..il.g2 ~d7 11.0-0 0-0
12.Eicl !ie8
O lance 12 ... c5 permitiria às brancas uma
possibilidade adicional - 13.dxcS bxc5 14.~el
~b6 15.a4 Ê'.c8 16.aS ½ (Kasparov-Karpov,
14ª partida do match, Moscou 1984/85). E
embora a experiência tenha demonstrado que a
manobra de cavalo em d3 não seja
especialmente perigosa para as pretas, 12 ... Ê'.e8
retira das brancas essa opção (13.~el? i.a3).
13.Eiel c5 (seguindo a 2ª partida; a 4ª seguiu
13 ... i.d6 e as brancas tomaram alguma
iniciativa) 14.i.e3 i.b7 15.i.h3 cxd4
16.i.xd4 ~f6 17.!ic2 i.b4 18.Eifl i.a6
19.~h4!?
Na 2ª partida, Karpov resolveu liberar a casa
d4 para o seu cavalo - 19 ..il.b2. Ao invés de
19 ... i.f8 Sokolov deveria ter escolhido o mais
ativo 19 ... i.c5 (também é bom 19 ... ~e4, uma
vez que 20.i.xg7 não é perigoso devido a
20 ... çg;,xg7 21.W!fd4+ ~f6 22.W!fxb4 .il.xe2,
ganhando a qualidade) 20.a3 W!fe7 21.~d4
(21.b4?! W!fxe2!) 21...i.c8!.
Karpov pretende ~f5, o que está associado
não somente à ameaça potencial ao ponto g7,
mas também com a manobra do cavalo em e3
para um ataque ao peão d5 (veja e observe, o
406
bispo voltará a g2 com o mesmo objetivo).
19 ... i.f8 20.~fS ~e4 21.~e3
Ao criar pressão sobre o peão isolado, as
brancas mantêm a posição em um estado de
equilíbrio dinâmico. Após 21.~b2 i.c8
22.W!fd4 f6 ou 21.W!fcl ~g5! 22 ..il.g4 h5! a
iniciativa passaria para as pretas.
21. .. W!fd6 22.W!fcl Eiad8 23.Eidl (as brancas
desenvolveram o reagrupamento planejado...)
23 ... W!ih6 24.i.g2 i:z)g5 25.W!lb2 ~h3+
26.'ít'fl ~g5
Mas o contrajogo do adversário não lhes
permite "trabalhar" o peão isolado.
27.çg;,gl
Aqui Karpov tem uma difícil tarefa a resolver.
Por exemplo, o ataque 27.~fS W!fxh2 28.~xg7
é estancado através de 28 ... d4!. Esta ruptura
coloca às brancas problemas desagradáveis.
Após 29.~h6+ çg;,xg7 30.~g4 há o golpe
brilhante 30 ... Ê'.xe2! (Zaitsev viu 30 ... W!fhS
31.lâxd4 .il.a3 32.W!fal, quando as brancas
vencem, também mencionou 30 ... l2:xe2, mas
não informou o próximo lance das pretas)
31 .:ãxe2 ~a3 ! - um refinamento pelo
computador, forçando as brancas a pensarem
em como salvar a partida (32.W!f c2 W!fh5
33.W!ifS W!ig6).
27 ... ~h3+ 28.'it>fl ~g5 29.h4!?
Imaginando que, em um longo match, a
vantagem de 1 ponto não lhe garantisse nada,
Karpov resolveu tornar o jogo mais agudo. Este
lance enfraquece o rei, mas as análises mostram
que o risco não é muito grande e que a avaliação
do ex-Campeão estava correta, embora ele
tivesse que enfrentar alguns momentos de
ansiedade quando Sokolov lançou um ataque.
29 ... ~e4 30.~g4 W!fe6 (o prelúdio de alguns
eventos tempestuosos; entretanto, 30 .. .W!f g6!?
31.~e5 W!ff5 teria mantido uma tensão
considerável sem qualquer aventura perigosa)
31.i.h3

31...~a3!?
Parece menos comprometedor 31 ... 't!fg6,
embora após 32.~e5 da mesma forma uma
peça tenha que ser sacrificada, se as pretas não
quiserem ficar sob pressão (32 ... 't!ff6 33.~d3
'tl:Vh6 34.'t!fcl). Então, 32 ... ~xg3+!? 33.fxg3
't!fxg3 . Agora no caso de 34.'t!fc3 't!fh2 35.~g2
:Sc8 36.'t!ff3 elas têm uma opção entre um
empate espetacular - 36 ... Ê'.xc2 37.'t!fxf7+
éh8 38.'t!fg8+! com xeque perpétuo, ou
36 ... 2:!xe5 37.~xeS 't!fxe5 38.2:!xc8 i.xc8 - as
brancas capturam o peão d5, mas as pretas têm
excelente compensação pela troca. É melhor
para as brancas o imediato 34.li.g2! e após
34 ... 't!f xh4 as pretas têm três peões pelo cavalo
- é difícil dar uma avaliação definitiva.
É claro, o ataque das pretas era perigoso,
embora a fartura de possibilidades tentadoras
abrigasse o risco da escolha incorreta, o que de
fato aconteceu. O lance da partida, 3 l...~a3, é
bastante espetacular, mas, ao final da
tempestade combinatória, as brancas
conquistaram uma ligeira vantagem no final.
32.if xa3 li.xe2+!
Seria perdedor 32 ... ~xg3+? devido a
33.ég2! ~e4+ 34.éxg3 ifxc2 35.~h6+
gxh6 36.2:!gl.
33 ..13.xe2
Seria interessante 33.éxe2 ~c3+ 34.éd3
ife4+ 35.éxc3 l:!c8+ 36.li.cS ã'.xc5+
37.ifxc5 bxc5 38.éb2 d4 39.2:!cd2. Na
posição incomum resultante, as brancas têm
Anatoly, o Décimo-Segundo
vantagem material, mas suas peças não estão
coordenadas e então as pretas podem conseguir
criar contrajogo adequado, após, digamos,
39 ... aS. Karpov escolhe um caminho ma.ts
claro.
33 .. .'f:'ixg3+ 34.ég2 't!fxe2 35.'tl:Vcl!
35 .. .lf:'ihS 36.éh2!
Os comentaristas consideraram 36.if gS
ifxdl 37.~h6+ éf8 38.~b2 g6 39.li.a3+
ég7 40.~e7, concluindo suas evidências com
uma vantagem decisiva para as pretas através do
lance proposto por Polugaevsky 40 ... 'i!;Val !, o
qual, da mesma forma que toda a cadeia
precedente, é "encontrado" imediatamente pelo
computador: 41.~f5+ éh8 42.li.xd8 f6!
43.ifg4 't!fe5. Para completar o quadro, deve
ser mencionado que 37.~f6+ éh8 38.'t!fxhS
't!fxh5 39.~xhS f6 40.~g3 ég8 41.h5 éf7
conduz a uma posição onde, com um balanço
incomum de forças, a vantagem também está
com as pretas.
36 ... ãd6
As pretas têm que defender a 6ª fileira, uma
vez que 36 ... f6 perde forçado: 37.~h6+! gxh6
38.2:!gl+ éh8 39.ifxh6 2:!e5 40.l:!g3! Ê'.g8
4 l.li.g4!.
407
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
37.~d2
A troca das damas é iminente e o balanço das
forças novamente é incomum, a torre branca e
dois bispos estando melhor do que as duas
torres e dois peões das pretas.
37 ... ~f3
Novamente é perdedor 37 ... f6? devido a
38.éz:::ih6+! @f8 39.it.b2!, enquanto a posição
após 37 ... h6 38.~xe2 É\.xe2 39.a4 não difere
muito da alcançada na partida. Tentativas
"forçadas" de demonstrar o contrário -
39 ... Él.e4 40.êz:::le3 g6 41.it.g4 f5 42.it.f3
É\.xh4+ 43.@gl podem conduzir
simplesmente ao aumento das dificuldades das
pretas.
38.éz:::les ~f4+ 39.~xf4 éz:::lxf4
Com a troca das damas, a tensão da batalha
diminui de forma aguda e se inicia um estágio
de lentas manobras. Karpov é muito habilidoso
em posições assim e aqui também busca as
menores chances. Por um longo período, como
na 2ª partida, Sokolov demonstra tenacidade e
cuidado.
40.1i.d7 Él.d8 41.1i.b5 êz:::le6 42.1i.b2 a6
43.1i.fl Él.c8 44.Él.d2 d4 45.1i.g2 éz:::lf4 46.1i.f3
d3 47.êz:::lc4 Él.h6 48.Wg3 êz:::le2+ 49.1i.xe2 dxe2
50.Bxe2 b5 51.êz:::le3 Be6 52.Bd2 h5 53.Wf4
Bc7 54.BdS f6 55.1i.a3
Dificilmente seria aconselhável 55J~xh5 -
após 55 ... Él.d6 as pretas se tornam ativas e
retomam o peão. Ao jogar seu bispo a c5,
Karpov, ao contrário, restringe a atividade das
torres pretas e então, após apoiar o seu bispo
através de 57.b4, inicia o jogo na ala da dama
com a manobra inesperada com sua torre de d5
para al.
ss ... g6 56.1i.c5 Wf7 57.b4 <it>es 58.Bdl!
Bd7 59.Bal! Bd2
As brancas conseguem a criação de uma
debilidade em a6, mas em troca as pretas
conseguem ativar a sua torre.
60.'~f3 Wf7 61.a4 bxa4 62.Bxa4 g5
63.Ba3 Wg6 64.Wg2
408
64 ... gxh4?!
Ao perder a paciência, Sokolov dá um passo
em direção ao desastre. Ele pensou que aqui
não houvesse perigo em particular e com esta
captura (arruinando a cadeia de peões das
pretas) decidisse simplesmente reduzir o
número de peões brancos, contando com a
outra hipotética possibilidade de troca após
... a6-a5. Por um instante, um equilíbrio
nominal, mas infelizmente irreal, foi
estabelecido no tabuleiro. Em dada situação, a
torre e as duas peças menores protegidas pelos
peões se mostram mais fortes do que as duas
torres, que precisam ser guardadas
constantemente.
65.éz:::lfl Bc2 66.éz:::lh2 Bc4 67.êz:::lf3 Wf7
68.Wh2
O aparentemente mais vigoroso 68.éz:::ld4 Él.e5
69. êz:::ic6 teria levado quase que à força -
69 ... Bg5+ 70.@h2 B'.gxc5! 71.bxc5 É\.xc5
72.Bxa6 Él.c2 73.Wgl h3 74.f4 h2+ 75.@hl
Él.f2 - a uma posição onde as brancas, jogando
sem seu rei, provavelmente fossem incapazes de
salvar o seu próprio peão, por exemplo: 76.Él.a4
h4 77.êz:::la7 @g6 78.l2:ib5 Wf5 79.l2:id6+ @g4
80.f5+ @h381.Él.al Wg4 82.Él.dl @f4 83.Bd5
Él.e2.
68 .•• Bf4 69.Wg2 Bee4?!
É estranho que Sokolov não repetisse a
pos1çao (talvez para evitar 70.éz:::ld4?).
Dificilmente ele poderia esperar que esta
armadilha funcionasse: 70.Él.xa6?? h3+ 71.@g3

h4+. Karpov não tem pressa e continua
manobrando.
70.l2'ld2 ãe6 71.~fl! Êg4+ 72.'i!?h3 ãf4
73.í!a2 âf3+ 74/Bg2 !!d3
Se a torre se posicionar na 4ª fileira -
74 .. Jâf4, então após 75.lf:ie3 f5 76.~d5 ãg6+
77.'~h2 Ê'.fg4 78.Êal ! Êg2+ 79.'ít>hl Ê2g5
80.l2:k7 o peão a6 estará perdido.
75.~e3 Wg6 76.ãal f5?! (este avanço
simplesmente torna o peão mais vulnerável)
77.Wh2 f4 78.âgl+ 'ít>f7
79.~g2!
Iniciando o recolhimento da colheita.
Explorando o fato de que o bispo em c5 etá
defendendo o peão f2, as brancas ganham um
dos peões.
79 .. J~c6
As pretas poderiam tentar confundir as coisas
através de 79 .. J!f6 80.l2:lxh4 <;tie6, planejando
atacar o bispo com .. .'~d5 e tentar eliminar os
peões passados na ala da dama (... a6-a5). Mas
as brancas vencem tanto através de 8 l .Êg8
Wd5 82.Ê'.g5+ <;tic4 83.Ê'.xhS 1âd5 84.Êh7 a5
85.Êc7 Êa6 86 ...tf8+ <;tid3 87.bxaS ~dxa5
88.Wh3, como 81.~g6 Êd5 82.Êel+ Wfl
83.êZ::ieS+ Wg7 84.~c4 'ít>h6 85.~b6 Êg5
86.~d7 Êff5 87Jâal :ãg6 88.~b8, quando
não é possível salvar o peão a6.
80.~xf4 ãf3 81.~h3
O restante agora pode ser considerado uma
questão de técnica. As pretas não conquistam
nenhum contrajogo, e o seu peão h débil está
Anatoly, o Décimo-Segundo
condenado.
81. .. <;t,f6 82.Êel ãf5 83.Êe4 a5
Sokolov no entanto conseguiu trocar os
peões da ala da dama. Mas o peão solitário
remanescente das brancas é bastante suficiente
para a vitória.
84.li.e3! axb4 85.ãxb4 Êa6 86..ãxh4 Êaa5
87.Êc4 ãfb5 88.Wg3 Êa8 89.Wh4 Êg8
90.li.gS+ 1-0
É claro, Sokolov poderia continuar jogando,
mas imaginou que seria uma fútil perda de
tempo. A contagem do match se tornou 4-2.
Zaitsev: "Algumas vezes os mais leves
indícios permitem definir o estado mental de
uma pessoa. Não existe um grande xadrez sem
grandes emoções, sofrimentos e, talvez, até
grandes abalos. Quando cruzei por acaso com
Andrey na escada, voltando com seu treinador
do adiamento da 5ª partida, pensei como o
esporte pode ser trágico. E Sokolov é um dos
poucos que conseguem suportar uma derrota
com relativa facilidade".
Aparentemente esta partida determinava o
resultado do match. Não é fácil se recuperar de
um golpe tão forte do destino: você parece estar
fazendo tudo corretamente, dando tudo de si e
então chega o adversário e friamente demonstra
que todos os seus esforços foram em vão...
Nessa hora, Andrey deu mostras de coragem e
nas três partidas que seguiram conseguiu um
empate, depois de uma disputa renhida. Foi só
na 10ª partida, ao surgir um final complicado,
que ele foi abatido pelo "rolo compressor" de
Karpov.
Partida 91
A. Karpov - A. Sokolov
Match de Candidatos, Linares 1987,
10ªpartida
Defesa Índia da Dama E 15
1.d4 ~f6 2.c4 e6 3.~f3 b6 4.g3 li.a6 5.b3
.1Lb4+ 6.~d2 .1Le7 7.~c3 (7 ..1Lg2 - partida 98)
7 ... 0-0 (7 ... dS - partida 90) 8.e4 d5 9.cxd5
409
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
i.xfl 10.'it>xfl exd5 11.eS ~e4 12.'i!fe2
A 8ª partida seguiu 12.:ãcl c5! 13.@g2 lz::\c6
14.:ãel lz::lxc3 15.i.xc3 '%!fd7 16.'%!fd3 :ãac8
17 .Ji.d2 h6, com igualdade.
12 ... ~xc3 13.i.xc3 '%!fd7 14.@g2 ~c6
Não é mau, mas em seguida começaram a
jogar 14 ... c5 15.:ãhel '%!fe6 16.lz::\gl (a idéia de
Karpov, que se tornou muito popular após esta
partida) 16 ... lz::\c6 17.dxc5 d4 18.ii.d2 i.xc5-
quando o peão d passado dá às pretas um jogo
esplêndido. Isso ocorreu na partida Agdestein-
Karpov (2ª partida do match, Gõrvik 1991),
quando as pretas utilizaram a seqüência mais
correta de lances e após 19.'i!fe4 Ei.fe8 20.f4
;gad8 21.lz::\f3 d3 22.lz::\g5 'i!fd5 ficaram
posicionadas de forma excelente.
O ponto do lance escolhido por Sokolov é
transferir o cavalo para um posto ideal de
bloqueio em e6. Então as pretas jogariam ... c7-
c5 em uma situação mais favorável. Entretanto,
Karpov revela certos defeitos neste plano com
uma manobra sutil.
15.:ãhel ~d8
16.~gl! (planejando f2-f4, o que realça a
instabilidade da posição do cavalo em e6)
16 ... cs
Esse caminho não é sem algum risco
estratégico. A ofensiva das brancas seria
neutralizada através de 16 ... lz::le6 17 .f4 g6
18.lz::\f3 :ãae8, preparando o bloqueio ... f7-f5
com jogo perfeitamente aceitável.
17.f4 cxd4 18.i.xd4
410
As pretas conquistaram um peão passado,
mas precisam defendê-lo. Dessa forma,
enfrentam uma luta pelo equilibrio. De certa
forma, o cenário desta partida lembra a 2ª e a 6ª
partidas, onde inicialmente Sokolov se
defendeu bem e criou contra-chances, mas
então a tensão o dominou e ele cometeu erros,
que foram explorados por Karpov com
habilidade.
18 ... 'i!ff5 19.EÍ.adl i.b4 20.EÍ.fl ~e6
21.'%!fd3! '%!fxd3
As pretas precisavam de um tempo (... g7-g6)
para erguer um bloqueio nas casas brancas.
Agora seria muito arriscado jogar 21. .. g6
22.'%!fxf5 gxf5 pois os defeitos em sua estrutura
de peões só prometeriam problemas.
22.ãxd3 :ãac8 23.~t3 :ãc2+?!
Seria mais prudente restringir as
possibilidades do adversário através de 23 ... g6.
Não há vantagem evidente para as brancas após
24.:ãf2 :ãfd8 25.i.b2 (25.:ãe2!?) 25 ... d4!
26.lz::lxd4 ii.c5 27Jâfd2 lz::lxd4 28.i.xd4 :ãxd4
29.Ei.xd4 ii.xd4 30.Ei.xd4 EÍ.c2+, ou 24 ... lz::\c5
25.ii.xc5 :ãxc5 26.lz::\d4 Ei.fc8 27.f5 Ei.e8.
24.:ãf2 Ei.fc8 25.fS!
"Finalmente se inicia o avanço da falange de
peões brancos". (Karpov)
25 ... ~xd4 26.~xd4 :ãxf2+ 27.@xf2
A avaliação desta posição se tornou clara: as
brancas têm uma vantagem óbvia, mas é difícil
jogar pela vitória pelo fato de restar pouco
material no tabuleiro.
27 ... :ãcl (a ativação da torre é a única

esperança das pretas salvarem a partida) 28.g4
©f8 29.©t3 !Ul+ 30.©g3 !!cl
Sokolov não foi seduzido por dar outro xeque
- 30 ... !!gl+ - devido a 31.©f4! (31.©h3 l!cl)
31..Jâg2 (31..Jâfl+ 32.~f3 Karpov) 32.~c6
fü2+ 33.©g3 kel 34.©h3.
31.©f4 h6 32.h4 ©e8 33./;z:}f3 !!c2 34.a4
!!b2 35./;z:}d4 ke7 36.h5
Karpov, após pensar bastante, avança o peão,
utilizando quase todo o tempo que lhe restava.
É provável que não quisesse tomar nenhuma
ação que envolvesse a redução do número de
peões e então precisou de cálculo preciso. Mas
nessa ocasião ele não foi abandonado por sua
intuição?
Este lance foi condenado pela maioria dos
comentaristas, que consideraram ser muito mais
forte 36.g5 hxg5+ 37.hxg5. Vamos continuar
as análise com os lances 3 7 ... a6 (esperando e
cobrindo a casa b5) e 37 ... Ê'.bl (esperando e
dando maior liberdade de ação para a torre).
Diagrama de Análise
Então, 37 ... a6 38.f6 gxf6 39.gxf6 kc5
40.~f3 ka3 ! (a melhor defesa - um ataque aos
peões brancos que se movimentaram para casas
pretas!) 41.©f5 :ãf2 42.e6 ~b2! 43.b4 (após
43.e7 a5 as brancas não são capazes de
fortalecerem a posição) 43 ... b5 44.axb5 axb5
45.e7 !!fl 46.©g5 :ãt2 47.:ãb3 ~cl+ 48.Wf5
kb2 - é óbvio o empate.
No caso de 37 ... :ãbl 38.f6 (38.~f3 kc5
39.f6 pretendendo 39 ... gxf6 40.exf6!, é
Anatoly, o Décimo-Segundo
estancado por 39 ... g6! 40.~d2 Ê'.el! 41.:ãxd5
ke3+ com um empate) 38 ... gxf6 39.gxf6 ~c5
é possível uma variante análoga: 40.~f3 a5!
(seria perigoso 40 ... :ãb2 41.©f5 Ê'.e2 42.:ãxd5
Ê'.e3 43.~g5 §'.xb3 44.~xf7!) 41.©f5 Ê'.fl
42.e6 kd4! 43.e7 kb2. Outro recurso -
40.~b5 - não evitaria que as pretas
desenvolvessem aproximadamente a mesma
idéia: 40 ... :ãfl + 4 l.:ãf3 Ê'.el 42.~c7+ ©d7
43.~xd5 ~d4 ou 42.~xa7 Wd7 43.~b5 .tgl
44.Ê'.h3 §'.fl + 45.©g4 ©e6 e novamente os
peões brancos são vulneráveis.
Mas isto não esgota as análises de 36.g5. É
possível que o "lógico" 38.f6 seja um erro,
enquanto o inesperado 38.g6 traz um quadro
diferente: 37 ... a6 38.g6!? fxg6 39.fxg6 Ê'.g2
40.~e6 :ãxg6 41.~c7+ ou 37 ... Ê'.bl 38.g6!?
fxg6 39.fxg6 :ãgl 40.~b5. Ao entregar o seu
37 ... ~c5?
No apuro de tempo, ambos os jogadores
começam a cometer erros. Era importante o
controle da casa g5 (e, como resultante, da d8!)
e então as pretas deveriam ter manobrado a sua
torre - 37 ... Ê'.h2. Por exemplo: 38.ê2ic6
(38.©g3 Ê'.b2) 38 ... Ê'.h3+ (após 38 ... ©d7 o
belo sacrifício de cavalo 39.~b8+! Wc7
40.lz:lxa6+ Wb7 41.Ê'.xd5 Wxa6 42.:ãd7 ~g5
43.:ãxt7 conduz a uma situação na qual os
411
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
peões brancos não podem ser parados) 39.@e2
âh2+ 40.@e3 :ãh3+ (não 40 ... ~c5+ 41.@f4
:Sf2+ 42.@g3 - esta posição é examinada
abaixo) 4l.@d2 âh2+ 42.Wc3 âg2 e o
resultado da partida permanece indefinido.
38.i-De2?
Karpov não se aventura a 38.CZ:k6! - com
mínimas forças, as brancas de forma bastante
inesperada criam ameaças de mate, as quais
combinadas com a ruptura de peão prometem
uma vitória!
Diagrama de Análise
As pretas têm muitas possibilidades de
resposta:
1) a defesa passiva 38 .. .âf2+ 39.@g3 tâb2 é
rompida através de 40.g5! hxg5 41.:Sxd5
:Sxb3+ 42.@g4 ile7 43 .h6! gxh6 44.f6;
2) após 38 ... d4 39.g5! hxg5 40.b4! (as
brancas desejam explorar o mesmo expediente:
40 ... ~xb4 41.:ãxd4 ile7 42.h6) 40 ... ~e7
41.h6 gxh6 42.:Sxd4 âb3+ 43.We2 f6 44.e6, o
peão e6 custa a torre das pretas (44 ... @f8
45.âd7 ~xb4 46.âd8+ @g7 47.êz::lxb4 :Sxb4
48.@d3 :Sb3+ 49.@d4 :Sb4+ 50.:Sd5 :Sf4
51.e7 âxf5+ 52.@d4 âe5 53.e8~ :Sxe8
54.:Sxe8 h5 55.@e4 ou 50 ... âxa4 51.e7 âa5+
52.@d6 âe5 53.e8~ ~xe8 54.âxe8 h5
55.@e6);
3) finalmente, 38 ... ile7, para se 39.b4 ~xb4
40.g5 trocar as torres através de 40 ... ilel
4 l .:Sxd5 :ãd2 42.âxd2 i;..xd2, também perde
após 43.g6: 43 ... b5 44.f6 @f8 45.axb5 axb5
412
46.e6 fxe6 47.r/ ou 43 ... f6 44.exf6 gxf6
45.êz::ld8 @f8 46.êz::le6+ @g8 47.êz::lc7;
4) a última chance é transpor para um final de
torres: 38 ... âf2+ 39.Wg3 âc2! 40J~xd5
(também se chega a um final de torres com
40.Cz:\b8 a5! 41.:Sxd5 âc3+ 42.@f4 âxb3
43.Cz:\c6 ~e7, mas numa versão pior para as
pretas) 40 ... ~f2+ 41.@fJ âxc6 42.@xf2 âc3.
As pretas mantêm o peão, mas, por sua vez,
somente de forma temporária após 43.âd6!
âxb3 44.f6! gxf6 45.:Sxf6 âb4 46.WfJ e são
incapazes de combater os peões passados que
as brancas criarão em breve.
Uma vez que o apuro de tempo ainda não
terminou, agora é a vez de Sokolov cometer um
erro.
38 ... d4?!
Isto torna a defesa muito mais difícil. Após o
lance de espera 38 ... âbl ! a torre branca estaria
amarrada à defesa do peão e não haveria
ameaças de mate ao rei preto, com a partida
terminando em um empate: 39.Cz:\f4 âfl+
40.@g3 âgl+ 41.Cz:\g2 âbl 42.Cz:\e3 ~xe3
43.âxe3 @d7.
39.Cz:\f4
Tudo da mesma forma. Como no lance 36,
Karpov evita forçar os acontecimentos -
39.f6!? gxf6 40.exf6.
Diagrama de Análise
À primeira vista, essa continuação dá às
brancas boas chances de vitória: 40 ... :Sbl?
41.Cz:\g3 Wd7 (também leva a uma posição

difícil 41.. .~d6 42.lilf5 .1i.e5 43.lilxh6 ~xf6
44.lilf5) 42.g5! hxg5 43.h6 '.ãb2 44.lz::lfl g4+
45.'~?xg4 :ãe2 (não seria melhor 45 ... :ãg2+
46.:ãg3 :ãe2 47.h7 B'.e8 48.@f5 '.ãh8 49.:ãg7)
46.b4! ~d6 (46 ... ~xb4 47.B'.xd4+ 2l.d6
48.lilg3) 47.:ãxd4 e as pretas podem
abandonar.
Esperanças são oferecidas somente pelo final
de torres resultante após 40 ... @d7! 41.lilxd4
~xd4 42.:ãxd4+ @e6 43Jâb4 @xf6 (ou
43 ... b5!?, reduzindo o material remanescente
no tabuleiro: 44.axb5 axb5 45.:ãxb5 @xf6
46.b4 B'.bl) 44.B'.xb6+ @g5. Ao continuar
agora com 45.a5, as brancas obtêm dois peões
passados unidos, mas aparentemente as pretas
se salvariam por milagre com 45 ... :ãa2! 46.b4
:ãa4. Para ganhar tempo, a torre permanece o
mais afastada possível do rei branco e após
47.@e4 @xg4 48.@d5 f5 49.@c5 @xh5
50.:ãxa6 f4 as pretas criam contrajogo salvador.
Por exemplo: 51.'.ãf6 @g5 52.'.ãf8 h5 53.@b5
:ãal 54.a6 (ou 54.@a6 h4 55.b5 h3 56.'.ãh8
@g4 57.b6 @g3 58.b7 '.ãbl - o empate é
óbvio) 54 ... @g4! (não 54 ... h4 55.@b6 h3??
56.a7 @g4 57.a8~ :ãxa8 58.B'.xa8 h2
59.:ãal f3 60.@c5 e vencem; o peão f é o
candidato mais importante ao coroamento e
então não seria demasiado tarde para
55 ... @g4! 56.a7 f3 57.a8~ :ãxa8 58.:ãxa8 f2,
com igualdade) 55.@b6 f3 56.a7 @g3 57.a8~
:ãxa8 58.:ãxa8 f2 com um empate.
Ao invés de 41.lilxd4 as brancas podem, é
claro, tentar a mesma ruptura como após
40 ... '.ãbl, especificamente: 41.g5 hxg5 42.h6.
Mas aqui as pretas lidam com o peão h6 sem
perder material: 42 ... g4+ 43.@f2 '.ãbl! (é mau
43 ... g3+? 44.@D g2 45.lilgl lâbl devido a
46.@xg2, mas não 46.h7? :ãxgl 47.h8~ '.ãhl,
quando são as brancas que têm que se salvar:
48.:ãxd4+! .1i.xd4 49.~f8 com xeque
perpétuo) 44.lilg3 '.ãb2+ 45.@gl '.ãbl+
46.lilfl B'.el etc.
39 ... @d7 40.e6+ ~e8 41.@e4 a5 42.'.ãt'3!
Anatoly, o Décimo-Segundo
O lance secreto, sobre o qual Karpov pensou
por cerca de 20 minutos.
42 ... :ãbl 43.lild5!
43 ... :ãgl?
Em suas análises de adiamento, Sokolov não
encontrou um método confiável de defesa e
aparentemente voltou para a continuação
pensando que tivesse um final de jogo perdido.
Karpov tinha a mesma opinião. Entretanto, de
fato a posição adiada estava mais provavelmente
empatada!
Na revista "64" Igor Zaitsev revelou um
estudo de problema com o qual Karpov e sua
equipe (Zaitsev, Podgaets e Ubilava) planejavam
concluir a partida após 43 ... @f8!, que sem
dúvida é o melhor lance. Após uma noite e uma
manhã de análises, eles aqui planejaram 44.e7+!
~xe7 45.@xd4 '.ãgl 46.@c4! B'.xg4+ 47.@b5
it..d8 48.:ãc3 B'.h4 49.@c6 :ãxh5 50.@d7 :ãxf5
5 I.lilxb6!. Um belo "golpe vencedor".
Karpov: "Pois 51 ... it..xb6 conduz a um mate
divertido após 52.'.ãc8+ ~d8 53.:ãxd8, as
pretas são forçadas a entregar a qualidade -
51.. .:ãf3 e após 52.'.ãxf3 ~xb6 é decisiva a
inevitável ruptura b3-b4".
Mas tentemos sacrificar o bispo: 51. .. g5 !
52.@xd8 g4 53.lz::lc4 h5 - e não são as pretas
que aqui estão jogando para ganhar?!
Dessa forma, em minha visão, seria mais
forte 48.@c6! '.ãh4 49.lilxb6 .1i.xb6
(49 ... :ãxh5 50.lild7+ @g8 51.'.ãe3) 50.@xb6
:ãxh5 51. éxa5 e as brancas vencem a corrida
413
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
de peões: 51.. .g5 52.b4 g4 53.Efü g3 54.b5
1'!xf5 55.1'!gl 1'!f3 (55 .. J~g5 56.©a6) 56.b6
1'!b3 57.©a6 h5 58.b7 h4 59.©a7 f5 60.a5 f4
61.a6 D (61...h3 62.©a8!) 62.©a8! f2
63.!kl g2 64.a7 etc. Mas aqui é melhor
48 ... B:d4! 49.~xb6 il..e7 (49 ... il..xb6
50.©xb6 :ê:d5 51.b4 axb4 52.a5), tentando
controlar a casa b4.
Esta última variante sugere que o estudo da
equipe de Karpov também tinha um defeito
anterior. De fato, ao invés de 47 ... Ji.d8 é mais
preciso jogar de imediato 47 ... 1'!d4! 48.l2Jxb6
ii.b4 e esse bloqueio pareceria ser inexpugnável.
44.©d3 !!xg4?!
Seria um pouco mais resistente 44 ... ©f8
45.1'!f4 !!g3+ 46.©c4 d3 47.©c3 ©e8,
embora após 48.f6 ou 48.e7! f6 49.1'!e4 il..d6
50.©d2 as brancas estejam próximas da vitória.
45.f6!
O auge do plano das brancas. As pretas agora
não se salvam nem através de 45 ... fxe6 46.f7+
©d7 (46 ... @f8 47.l2Jc7) 47.~xb6+ ©c6
48.~c4, nem pelo "resistente" 45 ... 1'!g5
46.l2Jc7+ ©d8 47.e7+ il..xe7 48.fxe7+ @xe7
(Karpov) 49.@xd4 !!xh5 50.lzJdS+.
45 ... il.d6 46.~xb6 .â:gS 47.fxg7 !!xg7
48.ê2lc4 i..b4 49.exf7+ ãxf7 50.ãxf7 @xf7
51.l2ie5+! @f6 52.~c6 ll.el 53.~xd4 i..b4
54.ê2ic6 i..el 55.©e2 il.c3 56.©d3 ll.el
57.@c4 ©g5 58.ê2ixa5!
Uma solução elegante: os peões brancos
chegam primeiro por uma larga margem.
414
58 ... .1i.xa5 59.b4 .i.d8 60.aS @xhS 61.WbS
il.gS 62.a6 il.e3 63.©c6 1-0
As pretas abandonaram e a contagem se
tornou 6½ -3½ a favor de Karpov.
Na 11 ª partida, após 1.e4 e6, estando
desesperado para conquistar uma vantagem
após 2.d4 d5 3.l2Jd2 dxe4 4.l2Jxe4 l2Jd7 (3ª, 5ª
e 7ª partidas) ou 3.e5 il.f5 4.~c3 e6 5.g4 .1i.g6
6.l2Jge2 c5 (9ª), Sokolov seguiu seu duelo de
início - 2.c4 dS 3.exdS cxdS 4.cxdS l2if6
5.'tic3 ~xdS 6.ê2it3, mas Karpov, levando em
conta a condição do adversário, "mudou o tom"
- 6 ... ê2ixc3!? 7.bxc3 g6. E ... " Sokolov,
abandonando suas qualidades competitivas
únicas como não se imaginava que fizesse,
jogou então com pura paixão. Mas, na minha
opinião, vencer o 12º Campeão Mundial
atuando dessa forma é, por princípio,
impossível" (Makarichev). Após 8.h4?! ii..g7!
9.hS ê2ic6 10.ãbl Wffc711.ii..a3?! il.fS 12.ãbS
a6 13.ãcS 'i!fd7 14.'i!i'b3 0-0 15.hxg6 hxg6
16.il..c4 .i.f6! 17.d4 bS! 18.ii..dS li}aS 19.Wfídl
li}b7!, logo as pretas venceram a partida e com
ela o match: 7½-3½.
Igor Zaitsev escreveu na revista 64: "Andrey
possui um estilo de ataque memorável: de
maneira esplêndida e exata, calcula variantes
complicadas e gosta de um final de jogo
dinâmico. Mas, no momento, seu estilo ainda
não pode ser considerado universal, uma vez
que existe uma variedade de técnicas e
manobras posicionais típicas nas quais ele não
se sente muito seguro, como em situações
difíceis e complicadas.
Nosso objetivo consistiu exatamente em
evitar este último tipo de posição, preferindo o
primeiro. Quase sempre, com algumas poucas
exceções, Karpov conseguia manter seu
adversário à distância. Na 6ª partida, houve
alguns verdadeiros fogos de artifício. Devido a
um ligeiro descuido, coisa parecida ocorreria
também na 11 ª partida. No entanto, na maior
parte das vezes, não se dá o combate corpo-a-
 Anatoly, o Décimo-Segundo

corpo... O efeito do modo de jogar de Karpov, começar a classificação a partir de quartas-de-

sua técnica de virtuose e a arte de penetrar na fina! do match de Candidatos.
essência da posição continuam sendo
impressionantes". A Caça a Dois Coelhos
Tanto o resultado como os debates das A revista Shakhmary v SSSR faz o seguinte
aberturas foram simplesmente catastróficos elogio a Karpov em 1988: "O espírito de luta de
para Sokolov: um estrago completo! A maneira Anatoly Karpov é verdadeiramente inex-
flexível, infiltrante de jogar do ex-Campeão pugnável. Quase imediatamente após o match de
Mundial acabou sendo um enigma indecifrável Sevilha, nosso ilustre Grande Mestre saiu
para Sokolov. Infelizmente, depois dessa vitorioso outra vez em Wijk aan Zee, terminou
derrota, ele foi incapaz de aprender plenamente em segundo lugar no Memorial Euwe (depois
as lições do match perdido, não corrigindo as
de Short, a quem tinha derrotado na partida
falhas cometidas. Pouco a pouco, os resultados
individual) e, finalmente, venceu o primeiro
deste Grande Mestre, sem dúvida muito
estag10 da Copa do Mundo, recebendo o
talentoso, foram minguando e em alguns anos
prêmio da melhor partida do torneio". A
Sokolov saiu da elite mundial.
partida em questão foi uma vitória contra
Karpov, por sua vez, saiu renovado deste
Timman, então classificado como terceiro
match com l...c6 e reforçado na posição com
jogador no mundo, com as brancas em uma
1.d4. Enquanto os anos 1970 ele costumava
variante da moda no Gambito da Dama Aceito:
usar as mesmas "taf?yias" espanholas, tanto com
1.d4 d5 2.c4 dxc4 3.e4 ~f6 4.e5 ~d5 5.~xc4
as pretas como com as brancas, com o mesmo
~b6 6.~d3 (6.~b3,partida 48) 6 ... ~c6 7.~e2
sucesso, agora a Defesa Índia da Dama com
4.g3 tornou-se "território de Karpov", onde se
it.g4 8.it.e3 etc.
sentia mais confiante do que qualquer outro
competidor. Pode-se dizer com toda segurança,
que dali por diante os muitos anos de sucesso
de Karpov estariam relacionados com o fato de
que aqui, com as pretas, ele sempre conseguia
neutralizar a vantagem do adversário e, dada a
oportunidade, lançar um contra-ataque, ao
passo que, com as brancas, ele tinha que
procurar constantemente outros recursos para
ganhar as pequenas vantagens da iniciativa que
as brancas costumam ter na Defesa Índia da
Dama (conforme veremos mais adiante, nas No 54º Campeonato da URSS (1988), Mikhail
Botvinnik interessou-se pela posição da nossa
partidas 9 7 e 100). partida
Em nosso quarto match pela coroa, em
Devo lembrar que em 1988-1989, além do
Sevilha, de outubro a dezembro de 1987,
ciclo habitual de Candidatos da FIDE, pela
Karpov tomou a dianteira, depois que eu
cometi um grave erro no reinício da 23ª partida. primeira vez se disputou a Copa do Mundo, na
Depois disso, ele fraquejou sob a tensão verdade o campeonato de torneios em todo o
infernal da 24ª partida, a conclusiva. Consegui planeta, organizado pela Grandmasters
igualar a contagem (12-12) e conservar o meu Association - GMA. O ciclo bienal constava de
título, mas nossas disputas foram adiadas - seis supertorneios de estilo clássico, em
finalmente! - por três anos e Karpov teve que Bruxelas, Belfort, Reykjavik, Barcelona, Roterdã

415
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
e Skelleftea. Tornavam parte os 25 Grandes
Mestres mais fortes, cada um jogando em
quatro dos seis torneios, com aproveitamento
para classificação dos três resultados melhores.
Não é necessário dizer o impulso que o xadrez
teve e a rivalidade notável na luta por este novo
troféu de alto prestígio entte o 12º e o 13°
Campeões do Mundo.
Não participei do torneio da Primeira Copa
Mundial em abril, mas em maio nos
encontramos para o match-torneio de quatro
jogadores em Amsterdã (1. Kasparov - 9 em
12; 2. Karpov - 6 1/i; 3. Timman - 5½; meu
resultado contra Karpov foi +2=2), e em junho,
joguei no segundo estágio da Copa do Mundo,
em Belfort.
Antes da nossa partida, na penúltima rodada,
Karpov estava dois pontos atrás de mim, mas
uma novidade bem sucedida da Defesa
Grünfeld, na variante Zaitsev, que tinha sido
objeto de nossa disputa em Sevilha e em
Amsterd.1 (l.d4 l2if6 2.c4 g6 3.lik3 d5 4.cxd5
ct\xd5 5.e4 l2!xc3 6.bxc3 1l.g7 7.$.c4 c5
8.l'Lle2 l2ic6 9.~e3 0-0 10.0-0 Ag4 l l.f3
ê2:la5 12 ..i.xt7+ !? lãxf7 13.fxg4
g xfl+ l4.Wxfl 'iVd6 etc.), permitiu que ele
vencesse a partida e, como conseqüência,
diminuísse a diferença: 1. Kasparov - 11 ½ em
15; Karpov -1Q½.
Naquele mesmo verão, na seqüência apertada
dos supertor.neios, inseriu-se o 55° Campeonato
da URSS (Moscou, 1988), o mais forte desde há
muito tempo, que veio a ser o último da
história, reunindo a nata do xadrez soviético.
Aqui também travei uma dura batalha com
Karpov pela colocação mais alta, embora,
naturalmente, houvesse também outros
candidatos. Depois de oito rodadas, o grupo da
vanguarda era o seguinte: Belüvsky e Salov -
5 ½; Karpov, Kasparov e Yusupov - 5. Na 9ª
rodada, Salov derrotou Beliavsky e Karpov
obteve uma esplêndida vitória sobre Yusupov.
416
Partida 92
A. Karpov - A. Yusupov
55' Campeonato da URSS, Mosco11 1988,
9ªrodada
Gambito da Da,na D36
l.c4 e6 2.l2ic3 d5 3.d4 il.e7 4.lZ'IO l2if6
5.cxd5 exd5 6.~gS c6 7.Wc2
Karpov tem como objetivo o esquema
Carlsbad clássico, que geralmente é jogado com
muito sucesso pelas brancas. Mas com essa
ordem de lances, as pretas podem resolver
imediatamente o problema do desenvolvimento
do seu bispo c8.
7 .•. g6 8.e4
O plano de Timman, utilizado pela primeira
vez por ele contra Short (Belgrado 1987). É
muito insípido 8.e3 .i.fS, como ocorreu na
conhecida partida BobotSov-Petrosian (volume 3,
partida 43).
8... l2!xe4?!
Uma idéia nova, que não se mostt2
totalmente bem sucedida. A partida Timman-
Short mencionada anteriormente seguiu
8 ... dxe4 9.~xf6 ~xf6 10.\!fxe4+ ~ f8
11.Jl..c4 <J;;g7 12.0-0 ges 13.Wf4 .i.e6
14.~e6 ãxe6 15.lãfel lãxel+ 16.E!xe l ê2:ld7
17..!ue4 il..e7 l 8.h4 com a iniciativa para as
brancas. Mas a expenencia posterior
demonstrou que 15 ... 'i!fr'd6 no entanto mantém
a igualdade: 16.'I\Wxd6 lãxd6 17.lz::le4 ã d8
18.l2ixf6 ç!;xf6 19.ãe4 l2ia6 20.I!ael Eid7
2l.l2ie5 gc7 e pouco a pouco a iniciativa das
brancas é neutralizada.
Ao invés de 10. . .<it'f8 há outra maneira
apropriada: 10 ... 'rJfe7 l J.i.c4 0--0 12.0- 0 iU5
(ou 12 ...'i!Hb4 13.'i!fr'f4 .il.f5) 13.Wf4 'iWb4
14.ltJeS (14.~b3 ê2:ld7 Ruban-Dreev, Tbilisi
1989) 14 . . ..áxe5 15.dxeS l.l.e6 16.l2:le4 tfxc4
17.~ac l 'iibS 18.a4 'il¼'a5 19.lz::lf6+ Wg7
20.ê2:}hS+ com xeque perpétuo (Gulko-
Yusupov, Munique 1990).
A variante com 8.e4 gradualmente caiu fora
de uso, mas naquela época era muito tópica.

9.ii.xe7 Wxe7
O lance 9 ...Wlxe7? perderia de imediato
devido a 10.~xd5! - essa é a base tática da
idéia de Timmao.
10.~xe4 dxe4 ll.'ti'xe4+ .ii.e6
Na partida Novikov-Bro<lsky (Ierevan 1996)
as brancas tomaram a iniciativa após I I . . .Wf8
12.ii..c4 ~ fS I3.lH4 'i!fe7+ 14.@fl ! @g7
15.<z::lgS.
12.Ac4 lWaS+
A outra possibilidade defensiva é 12 ... ã e8
13.ii..xe6 @f8, por exemplo: 14.0-0 ãxe6
15.l!+'f4 'r!lg7 16Jãfe l !!xel+ I7.!!xel {)d7.
Zilberman-Polajzer (Bled 1989) continuou
18.l!!Yd6 (esta posição também teria sido obtida
por T imman, se ao invés de I8.h4 ele tivesse
jogado 18.ê2Jd6 .âxd6 I 9.!i'xd6) 18 ...ê2Jf6
19.'i!fe7 'i!fd7 e aqui através de 20.~gS ã e8
21.ê2Je6+ 'r!lg8 22.tixf6 !!xe6 23Jãxe6 as
brancas poderiam ter dado ao adversário uma
opção entre dois finais inferiores - dama
(23 ... fxe6) e peão (23 .. .Wxe6 24.tixe6 fxe6
25.f4 não é claro o quanto as pretas tenham um
empate). Entretanto, após 15... 'i!ff6 não há
forma das brancas fortalecerem sua posição
significativamente: 16.llfb6+ '5g7 17.'tifh4
lzJd7 ou 16.'i!fg3 Wg7 17.lhe l lzJa6.
É claro, nessa variante há alguns perigos para
as pretas, mas no entanto menores do que no
caso do tranqüilo 13.tfh4+ @f8 14.l\fxd8
!Ixd8 l5.1lxe6 fxe6 16.0-0-0. O peão e6 está
fraco e após o aproximado 16 ... lld6 17.lzJgS
h6 18.~e4 lld7 19.lzJcS lãe7 20.lãbel a
situação se torna extremamente desagradável
para ele.
13.Wft! lli'fS 14.ii'e3
O final de jogo com um peão fraco em e6
(após 14.ãel - isto provavelmente seria a
melhor chance) é bom para as brancas, embora
não tão favorável como na variante com
12 ...l'!e8. Mas Karpov conta que - com o rei
em e7! - as coisas seriam mais difíceis para as
pretas com a dama em jogo.
14 . ..li:'ld7 (se 14 ...lzJa6?! com a idéia de
Anatoly, o Décimo-Segundo
...~c7, então 15.dS! cxdS 16.tfa3+ Wf6
l 7.ii..xa6 bxa6 18.!fc3+ We7 19.lzJd4) 15.!!el
ã ae8
As pr.etas obviamente estão preparando a
retirada do rei para a ala da dama e as brancas
decidem executar uma ruptura.
16.dS!
Karpov gastou mais de 40 minutos
considerando esse sacrifício. Imaginou que esse
fosse o momento critico da partida: "As brancas
obviamente têm várias possibilidades táticas,
mas não fui capaz de juntá-las em uma cadeia
lógica de lances. Estava claro para mim que para
o desenvolvimento da iniciativa tinha que
sacrificar o peão central, mas fazer o que em
seguida? E de forma súbita a imaginação me
veio: as casas pretas débeis na posição das
pretas são defendidas pelo seu cavalo. E então
encontrei imediatamente uma manobra, com o
objetivo de eliminar este cavalo".
Nada é dado através do direto I 6.ii..xe6 fxe6
17.'i!fa3+ devido a (17 ...Wf6 envolve uma
armadilha transparente - 18.'ti'xa7?? 'i!Vbs+
19.Wgl &8, mas após 18/~gl a6 I9.h4 a
posição das pretas é inviável) 18.!fxa7 Wc7
19.'tia3 ã a8 20.tfc3 'i!Ybs + 21.Wgl E!xa2
22.b3 it'dS 23.h4 ã f8 24.lãh3 lãfS 25.lãg3
lzJf6. Outro lance tentador - 16.lzJgS também
permitiria as pretas retomarem o peão após
16... @d8! I 7.lzJxe6+ fxe6 18.ii..xe6 ifbs+
l9.1'!e2 ãhf'8 20.tib3 llf4 21.'ifxbS cxbS
22.dS 1'!d4 23.g3 lzJcS com um empate
417
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
provável.
16 ... cxd517..âb5 (17.l2Jd4 !fe5!) 17... a6?
O erro decisivo. Karpov recomenda 17 ... d4,
mas isto também perderia forçado: l 8.lZlxd4
!idS 19.ãdl 'iih5 20.~e2 "iWeS 21.°iia3+Wf6
22.lZlxe6 !!xe6 23.°iif3+ We7 24..i.c4 ãf6
25.l!fxb? etc.
Enquanto isso, ninguém percebeu o tranqüilo
17 ... l!fc2 !. lsto não é somente um ataque ao
peão b2, mas também uma mudança
significativa no papel da dama na luta posterior
(na partida ela voltou para a lamentável casa
h6).
Diagrama de Análise
Não é de todo óbvio como as brancas
possam explorar a posição "indecente" do rei
das pretas e das suas outras peças. Afinal, o rei
branco também está separando as suas torres e
atrapalhando as reservas de entrarem em jogo:
1) 18.b4 a6 19.â.xd? Wxd7 20.i2Je5+ We7
21.h4 d4!? 22.~xd4 ã d8 23.l!fe3 ã dl e as
pretas tomaram a iniciativa;
2) 18.lLJ<l4 l!fxb2 l9.a4 'it>f6 20.l!Vf4+ e é
ruim para as pretas 20 ...$>g7? 21.tZlxe6+
ãxe6 22.!!xe6 fxe6 23.it.xd7 (23 ... ifbl+
24.We2 Vxhl? 25.ifeS+), mas é possível
20 ...it.fS 21.~xfS ã xel+ 22.Wxel gxf5 - as
brancas não têm nada melhor do que o xeque
perpétuo.
Temos visto muitas vezes como a verificação
com um computador pode fazer correções nas
avaliações das até mesmo aparentemente mais
impecáveis partidas.
418
18.ifa3+
Com 1.llllil série de manobras geométricas
precisas, Karpov conduz as peças pretas a uma
situação de completo afogamento.
18... Wd8 19.1/HaS+! We7
Não é possível correr para a ala da dama:
19 ... Wc8 20.ãcl+ 'i!?b8 21.ifc?+ $>a8
22.li:Jd4 e as pretas são forçadas a entregar a
qualidade - 22 ... ifeS 23.l!fxe5 lz::ixe5
24.Axe8, pois 22 .. .'tiff6 23.~xa6! (após
23 ..i.c6 ã b8 24.lz::ixe6 bxc6 25.'tifxc6+ !!b7
26.'tifxa6+ Wb8 27.'i!fd6+ ~a8
inesperadamente fica claro que 28.lz::ic7+ 'i!?b8
29."i!fxd7 ãxb2! 30.f3 ~6 31.Jâc5 !!c8 só
traz um empate; seria melhor 28.!fa3+ @b8
29.I!c6, mas aqui também após 29 .. . fxe6
30.'i!id6+ 'i!ta8 31.ãa6+ ~7 32.ãxa?+ ~xa7
33.li'xd7+ $>b6 não é fácil indicar um caminho
claro para as brancas conquistarem uma
vantagem) 23 .. .ãb8 24.ãc3! (não o lance de
Karpov 24.'tiaS devido a 24 ... !!bc8!, mas não
24 ...l!fxd4?? 25.~xb7) 24 ... °ti'xd4
(24 ... bxa6 25.~c6+ 'i!?a7 26.ãa3 etc.) 25.~e2
conduz à perda da dama.
20.1!fb4+ Ç!?f6
Se 20 .. _ç!;id8 então é bom 21.ke2, assim
como a recomendação muito espetacular de
Zaitsev 2 1.~d4 iff6 22.~xa6! bxa6 23.!kl!
ãeg8 24.ãc6! - e não há salvamento para as
pretas.
21.°iid4+ We7 22.~d3 l!fhS
Após 22 ... 'iff6 23.ifb4+ as brancas tomam
os peões da ala da dama e o rei preto ainda está
na zona de perigo.

23.h4! (a dama está pregada na beirada do
tabuleiro!) 23 ... WdS 24.'°~)gS !!bf8 25..i.e2
(também seria bom 25.f.3 e Wf2, conectando as
torres) 25...'i!fh6 26..i.f3 ã e7 27.l!ib4! li'lf6
28.l!t'd6+
Seria imediatamente vencedor 28.Wf4
(Karpov), mas de toda forma as pretas não têm
defesa.
28 .• .lid7 29."ii'f4 li)g8 3 0.~ g4! 'it>cs
31 ..t><e6 f><e6 32.ã cl+ 'i.Íi?d8 33.li)xe6+ 'iti?e7
34.'ti'xf8+ ~xf8 35.fi:}xf8 'iti?xf8 36.!!h3 êue7
37.hS Wg7 38.h6+ 'i!?f6 39.I!o+ 'it>e6
40.ã el + 'it>d6 4I.ã f6+ Wc7 42.g4 li)c6
43.lãeS d4 1-0
O último lance foi o secreto. Sem continuar a
partida, as pretas abandonaram.
Na 14ª rodada venci Salov e em dois dias
estava na liderança, mas na 16ª rodada, Karpov
venceu Malaniuk na Variante Leningrado da
Defesa Holandesa e chegamos juntos ao final:
1-2. Kasparov e Karpov - 11½ em 17 (+6= 11);
3-4. Yusupov e Salov - 10. O regulamento
estipulava um match suplementar de quatro
partidas para o título de Campeão Nacional,
mas Karpov não quis jogar, e nisso foi apoiado
pelos dirigentes do Comitê de Desportos
juntamente com o Comitê de Apelações. Em
conseqüência, as medalhas de campeão foram
conferidas a nós dois (como descrevo mais
detalhadamente no capítulo sobre Botvinnik,
no volu,ne 2).
Em setembro, Karpov em excelente estilo
venceu o supertorneio em Tilburg, desta vez
numa competição de dois turnos, conquistando
10½ em 14 (+7=7), terminando dois pontos à
frente de Short e derrotando Timman duas
vezes. Em novembro, disputei lado a lado com
ele pela equipe soviética na Olimpíada de
Tessalônica, e a nossa contagem foi de +7=3 e
+6=4, respectivamente (1. URSS - 40½ em 56;
2-3. Inglaterra e Holanda - 34½.
Com muita dificuldade, venci o terceiro
estágio da Copa do Mundo (Reykjavi.k, em
outubro de 1988) e no quarto (Barcelona,
Anatoly, o Décimo-Segundo
primavera de 1989), dividi o 1° e 2° lugares com
Ljubojevic (mas ele conquistou o primeiro lugar
no desempate). Karpov não parócipou destes
torneios, mas ainda não tinha perdido as
esperanças de vencer a Copa do Mundo. Ao
mesmo tempo, ele dividiu a vitória dos
campeonatos Europeu e Mundial de jogo
rápido, organizados pela FIDE (em 1988) e no
início de 1989, em Seattle, venceu em quartas-
de-final o match de Candidatos contra
Hjartarson (3½-1 ½) e terminou em segundo
lugar atrás de lvanchuk em Linares.
O quinto estágio da Copa do Mundo
(Roterdã, junho de 1989) veio a ser talvez o
mais difícil torneio da biografia enxadrística de
Karpov. Para me alcançar antes da disputa
conclusiva em Skelleftea, ele tinha que
conquistar o primeiro lugar, com um resultado
pelo menos de 11 pontos em 15 contra os
melhores Grandes Mestres. O ex-Campeão
mundial começou com 5 em 6 e depois chegou
a 9½ em 121 Agora, só precisava de três
empates, mas... sua resistência se esgotou. Ele
sofreu três derrotas seguidas, contra Salov,
Ljuboyevic e Nunn e cedeu o primeiro lugar
para Timman. Na cerimônia de encerramento,
o holandês, muito feliz, disse que este tinha sido
o melhor .resultado de sua carreira...
No sexto torneio (Skelleftea, agosto-
setembro de 1989) Karpov poderia ainda
conseguir um sucesso completo se conquisrnsse
o primeiro lugar; com 11 em 15 (outra vez!), e
terminasse 1 ponto à minha frente. Nós nos
encontramos logo na segunda rodada, e eu,
com as pretas, o desequilibrei completamente
em uma Defesa Índia do Rei, mas desperdicei a
vitória no grave apuro de tempo do adversário.
N ikitin: "Este empate foi ruim para os dois
competidores". Mesmo assim, acabamos em
primeiro lugar, cada um com 9½ em 15.
Nossa diferença de pontos acima dos outros
competidores da Copa do Mundo abrangeu
quase todo um torneio: 1. Kasparov - 83
pontos; 2. Karpov - 81; 3. Salov - 68½; Ehlvest
4 19
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
- 68; 5. Ljubojevic - 66½; 6. Nunn - 65½; 7-8.
Beliavsky e Short - 63½; 9-10. Timman e
Hübner - 57 1/2; 11. A. Sokolov - 57. Alexander
Nikitin publicou na revista Shakb,na!J v SSSR
um resumo desta competição sem precedentes
que durou dois anos:
"Neste ciclo, a geração da era Fischer deu o
seu adeus. Tornou-se difícil para os brilhantes
campeões, como Kortchnoi, Tal, Portisch e
Spassky, competir com os colegas jovens, mas
eles continuaram atuando com dignidade. Não
se sabe se conseguirão passar pela peneira suíça
de classificação, bem comparável a uma loteria,
para a próxima Copa do Mundo: os anos farão
seu trabalho. Pode-se prever que, dentro de um
ano, apareça uma nova geração para competir
com a geração de Karpov e com a geração de
Kasparov. O s mais brilhantes e mais preparados
para essa competição são, a meu ver, l vanchuk,
Lautier, Gelfand, Dreev,Anand e Akopian".
Artur Yusupov ofereceu uma grande resistência
no match semifinal de Candidatos (1989)
420
De todas estas provações, a mais importante
para Karpov foi sem dúvida o match semifinal
de Candidatos com Artur Yusupov (Londres,
outubro de 1989). O resultado era previsível:
Yusupov sempre achou difícil jogar contra
Karpov e não se via de forma clara como ele
poderia mudar esta tradição. Mas o match
acabou sendo muito complicado para o ex-
Campeão. Como se pôde notar, o que
influenciou foi o cansaço depois das disputas
pela Copa do Mundo e também o fato de que
Yusupov e seu treinador, :Mark Dvoretsky, não
participaram muito dos torneios da Copa do
Mundo, conseguindo então um bom preparo
para o teste principal e organizar um grupo de
aberturas confiável.
Seguindo a moda daqueles anos, o fJ/atch era a
melhor de oito partidas com um novo controle
de tempo de seis horas: 40 lances em duas horas
mais 20 em uma hora, e só então é que podia
haver adiamento. Além de Igor Zaitsev e
Mikhail Podgaets, Karpov também foi ajudado
pelo Grande Mestre norte-americano Roo
Henley - também um sinal dos tempos!
Na primeira partida, Karpov com pretas
empregou uma forte novidade na Defesa Índia
da Dama, com 4.g3 ~a6 e conseguiu um jogo
confortável: empate no 44º lance. Na segunda
partida, optando pela variante 4.~c2 contra a
Defesa Nimzo-Índia, repentinamente se expôs
a um terrível ataque, mas no momento decisivo,
Yusupov vacilou.

23...e4?
A opinião geral era de que 23 ...~d3! daria às
pretas todas as chances de vitória. Se 24.!i'c3?!,
então agora seria bom 24...e4! (25.hxg4 fxg4,
vencendo). N ão seria melhor 24.~d5+Wh8
25.e4 devido a 25 ...0xcl 26.hxg4 (26.!i'xcl
t2Je3) 26...0d3 27.'t!fg3 lz:\f4 28.1!ae l fxg4 e
vencem. Se 24.'i!fg3, então 24...0xcl 25.hxg4
(25.~xg4 lz:lb3) 25 ...'t!fxeJ+ etc. E após
24.1!fe2 CzJxcl 0xe3 26.dxeS ãxeS as pretas
têm a iniciativa e um peão a mais.
24 dl! (evitando as variantes indefinidas com
24.hxg4 ~d3 ou 24 ... fxg4 25.'ti'xf2 gxf3)
24. ..li:)xdl
Não funciona 24...t2Jxh3+? 25.gxh3 !Vxh3
devido a 26.&2!. Mas agora, as chances são
iguais.
25.!fxdl ~xe3 26.'t!fe2 f4 27.~><e3 fxe3
28,gxf8+ i:txf8 29.l=iel l=id8 30.d5 c6 31.dxc6
!t'xc6 32.!t'xe3 Wxc4 33.!t'xe4 ½- ½
Na terceira partida, foi a vez de Karpov
empregar a Defesa Nimzo-Índia. Em resposta,
Yusupov optou pela aguda variante Sanúsch e
de forma ousada sacrificou a qualidade. O ex-
Campeão jogou com muita firmeza e tomou a
iniciativa, mas em feroz apuro de tempo,
verdadeiros núlagres começaram.
Partida 93
A. Yusupov - A. Karpov
Motch de Candidatos, Lundres 1989
3"partida
Anatoly, o Décimo-Segundo
36...'t!fe7?
Havia uma bela vitória através de 36 ...ã xe3 !
37.f6 (37.fxe6 E!xf3) 37 ... 'i!Kxg3+! ou
37.i!Vb8+ ~f7! 38.fxe6+ ©xe6 39.ãxe3+
lz:lxe3 40.\l.fb3+ CzJd5 (Zaitsev).
37.'til>S+ 'i!Vd8 38.'tti'eS !!/c7? (38 ...!!/f6,
com empate) 39.'t!fxc7?
Mas agora são as brancas que desperdiçam a
vitória - 39.f6! là:f8 40.t7+ ~d8 4t.'ii'g7
(D voretsky) ou 39 ...'iWxe5 40.f7+ © f8
41.fxg8~+ ~xg8 42.dxe5 E!xe3 43.ã xe3
t2Jxe3 44.CLJe4 li::lc4 45.lz:lf6+ Wf7 46.CLJxd7
li::lxa3 47.~g3! etc.
39,.,gxc7 40.fxe6 dxe6
Mas não 40...Efo3 (faimanov) 4l.CzJe4! e
vencem. Surgiu um final complicado, fora do
comum. Foi ulttapassado o controJe de tempo
e, enquanto nos velhos tempos a partida teria
sido adiada, agora, com as novas regras, o jogo
ainda continua até o lance 60.
41.lz:le4 iãc2 42.~ d2 a5 43.iãb3 ~ d7
44.ã b5 l!a8?!
"Um lance muito estranho, feito por Karpov
após um longo raciocínio. Durante a partida,
Yusupov considerou ser a melhor tentativa de
vitória 44 .. .li::le3!, embora após 45.CzJf6+ ~ c6
46.!fo5+ gxc5 47.0xg8 CzJfl+ 48.Wgl ã c2
49 .~f4 as brancas possam ser capazes de tomar
a posição". (Dvoretsky)
45.a4 Wc6 (45 ...E!c4 iguala - Taimanov)
46.b4! ã c4?! 47.ã cS+ ã xc5 48.dxc5 li::lb4
Planejando ...Wd5, mas agora a vantagem
está do lado das brancas; começam a avançar os
seus peões passados g e h.
49.hS
"Seria mais preciso 49.g4! Wd5 50.lz:\f6+,
quando as pretas teriam que jogar 50 ...~ xc5,
mantendo chances de empate." (Dvoretsky)
49...WdS 50.t2Jf6+ @e5
Após 50.. .<;;>xc5 5 l.g4 o rei está muito longe
dos perigosos peões brancos. Mas agora
também as pretas têm que lutar pela
sobrevivência.
s1.2.c3+ $'f4 52.g4 l!d8! 53.h6 Wg5 54.h7
421
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
© g6 55.Wg3 lDc6 56.Wf4 Wg7 57.g5?!
(novamente há a interferência de um agudo
apuro de tempo; seria melhor 57 .'~e3 !)
57...ã d3 58.j.eS l::!dt
S9.g6?? (um erro horripilante com a seta
quase caindo; teria levado a um empate 59.~d6
mtl) 59...lUt+ 60.@gS tiJxeS 6tlt:1hS+ 0-1
Esse lance foi o secreto, mas as brancas
abandonaram sem continuar.
Depois de tomar a clianteira, Karpov evitou a
D efesa Nimzo-Ínclia na 4ª partida, jogando
3.lZ:10, mas ao invés da Defesa Ínclia da D ama,
Yusupov preferiu entrar em um Gambito da
Dama, no qual escolheu não a então popular
Variante Makogonov-Bondarevsky, mas a
antiga defesa Lasker. K arpov agiu com
hesitação e cedeu a iniciativa, mas tudo acabou
bem para ele.
Na s• partida, depois de jogar mal em uma
Abertura do Peão da Dama, Karpov quase
conseguiu empatar, mas num apuro de tempo,
Yusupov repentinamente fez um sacrifício
posicional de um bispo e conseguiu uma bela
vitória. Esta partida ganhou o prêmio da
melhor par tida nos dois matches semifinais (que,
aliás, foram jogados no mesmo palco; no
segundo ,11atch, Timman derrotou Speelman por
4,5 -3,5).
D epois d e igualar o resultado, Yusupov
poderia construir o seu sucesso na 6ª partida,
que se mostrou verdadeiramente trágica p ara
422
ele. Foi empregada de novo a D efesa Lasker e
novamente as pretas tomaram a irúciativa, mas,
bem no último momento, ele perdeu a vitória
que já era certa.
38...a3?
O lance 38 ...ã xh2 venceria facilmente, por
exemplo: 39.f5 lât2+ 40.çt>el l::!xf5 ou 39.&6
!!t2+ 40.@e l i!xf4, vencendo.
39.1ia6! llf2+ 40.Wel a2 41.fS ~ d7 (ou
41...I!xh2 42.f6! etc.) 42.f6 Ç;t>e6 43.Iia8!
'i&xd6 44.ti ãxti 45.llxa2 'i&c5 46.i!a6 ½-½
Q uando depois do match perguntaram a
D voretsky como ele explicava que Yusupov
mais de uma vez tivesse desperdiçado a vitória
que parecia tão próxima, a resposta do
experiente treinador foi a seguinte:
"Uma pessoa desconfiada atribuiria a derrota
ao 'Dr Zukhar', cujo papel neste match foi
desempenhado por Igor Akimov, psicólogo e
ao mesmo tempo jornalista, antigo ajudante de
Karpov (e editor literário de seu livro 'Sestra mqya
Kaissa" - G.K) . D urante todas as partidas,
Akimov ficava sentado na primeira fileira e não
despregava os olhos dos competidores, isto é,
comportava-se como Zukhar em Baguio. A
explicação normal é mais simples: Yusupov
desperdiça demasiado esforço na partida, se
cansa, e no momento decisivo já não consegue
ver nada. E sta falha dele já tinha surgido
anteriormente".
Na r partida, ocorreu outra vez a abertura

com o Peão da Dama. Nesse momento, Karpov
conseguiu solucionar bem os seus problemas,
mas no 24° e 25º lances ele jogou de forma
imprecisa e as brancas tomaram a iniciativa. No
já costumeiro apuro de tempo recíproco, ele
ganhou um peão, mas no tabuleiro surgiu uma
posição com bispos de cores opostas. Foi
acordado o empate no 61 ° lance e o resultado se
tornou 3½-3½.
E então, finalmente começou a 8 partida, a
2
última no "tempo normal",
Partida 94
A. Karpov - A. Yusupov
Match de Candidatos, úndres 1989
8ªpartida
Gambito da Dama· D56
I.d4 êE)f6 2.c4 e6 3.êE)fJ d5 4.êE)c3 ii.e7
5 ..i.gS 0-0 6.e3 b6 7.Jl.b4 êE)e4 8.ii.xe7 V.ixe7
9.!tcl
Ao encontrar pela terceira vez a Defesa
Lasker, o ex-Campeão novamente faz uma
escolha diferente. Na 42 partida ele jogou
9.'tifc2 e na 6ª - 9.cxd5.
9 ...c6 10.ii.d3 êE)xc3 ll.ãxc3 dxc4
12.ii.xc4 êE)d7 13.0-0 e5
Foi alcançada uma posição da Variante
Capablanca (6 ... êE)bd7 7.E'.cl c6 8.ii.d3 dxc4
9.ib<c4 êE)d5 l0.~xe7 W!xe7 11.~ li:lxc3
12.ãxc3 eS), mas com o peão em h6. Isto não
é simplesmente um tempo a mais, mas também
uma debilidade na posição do roque e para as
brancas isto dá a chance de um ataque!
A alternativa é 13 ... b6 l4.ii.d3 c5. Eu joguei
isso na 6ª partida da Final do Torneio de
Candidatos (1984) e após 15.ii.bS E'.d8 mantive
o equilibrio. Após 15.ii.e4 E'.b8 16.'iic2 ou
16.'ifa4, que mantém uma ligeira pressão,
foram considerados mais promissores, como,
por exemplo, nas partidas Kramnik-Kasparov
(Las Palmas 1996) e Karpov-Yusupov
(Dortmund 1997).
14.ii.b3 exd4
Anatoly, o Décimo-S~gundo
Também é bastante seguro 14 ... E'.e8,
mantendo a tensão nos peões centrais. Após
15.dS cxdS 16.l!fxdS lilf6 muitas partidas, a
começar por Nikolic-Yusupov (Belgrado 1989),
alcançaram essa mesma posição - 17.'iic5 êE)e4
18.'iixe7 ~xe7 19.E'.c2 êE)g5 e
invariavelmente terminaram empatadas.
I5.exd4
15...êE)f6?!
Uma seria impreasao. Seria correto
15 . .. ~d8, como, por exemplo, na recente
partida Leitão-Morovic (Santos 2003). Ao jogar
seu cavalo para f8 e erguendo em boa hora uma
proteção em e6, as pretas com segurança
neutralizam o bispo em b3, que de outro modo
faz o rei preto muito desconfortável: 16.E'.el
'ii'd6 17.E!ce3 li:lf8 18.tile5 ii.e6 l9.W!h5
ii.xb3 20.lãxb3 '1ic7 e Morovic conseguiu
defender tudo.
16.l!el 'i!'d6 17.êE)eS ~dS
Como Benjamim jogou contra mim,
17 ... kf5? (Horgen 1994), é refutado por
18.êE)xV!. Eu não joguei isto, não percebendo
que após 18 ...E'.xf7 19.~xf7+ Wxf7 20.'yjb3+
c;.t>f8 21.i!fxb7 l!b8 22.l!fxa7 !!xb2 as brancas
vencem através de 23.§xc6! l!fxc6 24.'ib'a3+
etc.
Seria perfeitamente possível eliminar
radicalmente as ameaças ao ponto f7 através de
17 .. .~e6 18 ..âxe6 fxe6, embora os peões
isolados e6 e d4 não sejam equivalentes e seja
preferível a posição das brancas - digamos,
423
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

após l 8.ãg3 (Makarichev). "No caso de 22 ... fxg5 a resposta 23.f4!

1.8Jlg3
Agora se torna aparente que o peão h6,
enquanto guarda o rei contra as ameaças de
mate na fileira de trás, se transformou em um
alvo para ataque.
18....ifS
Uma decisão questionável. Provavelmente
fosse melhor l8 ... .ie6 l9.!fd2 ~b8. A
manobra de torre 20J! e4 2lf5 2 I.ãh4 não dá
nada sério: 21...&e8 (21.. ..ih7? 22.ãhg4 g5
23 ..ixd5 ifxd5 24.ãxgS! e vencem) e após
22.ãf3 .ig6 23 ..ixd5 cxd5 (23 .. .'tixd5'?
24J~xh6+) as brancas têm que ficar satisfeitas
com somente a atividade maior das suas
peças.
19.!fhS .ih7?
Um grave erro, após o qual já é difícil salvar a
partida. Seria necessário 19 .. .'ije6!, embora
um lance assim (na linha de fogo do bispo em
b3 e da torre em e l) seja difícil de se fazer.
E ntretanto, não há refutação direta. No caso de
20.i.xd5 cxd5 21.ê2id3 l!t'f6 22.ãf3 as pretas
têm uma opção: ou 22 ... g6 23.~xh6 t!fxd4
24.!rxf.5 1!t'xd3 25JUe5 lid4 26.b4 gac8
27 _gl e2 com a iniciativa para as brancas em um
final com peças pesadas, ou 22 ....ig6 23.l!xf6
.ixhS 24Ji!d6 .ig6 25.é2lf4 g fe8! - e neste
final é difícil para as brancas explorarem a sua
vantagem.
20.'TWg4! g5?
É claro, não parece muito sedutor 20 ... g6
2 l.h4 (Karpov), mas agora as pretas perdem
forçado.
21.h4 f6 22.hxgS!
A posição está madura para um assalto
decisivo e as brancas só precisam escolher o
caminho correto. O ataque precipitado 22.1.\fb5
fxe5 23.hxg5 ~g7 24 ..ixdS cxd5 25.lê.txeS foi
recomendado por alguns comentaóstas, mas
após 23 ... .ig6 24.!fxh6 e4! 25.!!xe4 fü7 as
brancas correm o perigo de se chegar a uma
imobilização.
22 ... hxgS
fortaleceria ainda mais". (Karpov)
23.f4?!
Aqui, em minha visão, Katpov desperdiçou
uma vitória forçada - 23.IDi3!. Este lance foi
sugerido ao lado de 23.~5 e 23.ê2if3 "com
variantes interessantes". Hoje em dia talvez haja
interesse somente pelo fato do computador
refutar o humano. Por exemplo, após 23.l2:)f3
çt,b8 24Jãe6 'i!fd7 25.é2lxg5 gg8, a
continuação correta não é 26.ã xf6? (Zaítsev)
26 . . .'ii'xg4 27.ãxg4 ~g5!, vencendo, mas
26.gxc6! tfxg4 27.ê2if7+ e também na
vaóante 25 ... fxg5 26.Wxg5 gg8 27.ti'eS+
ãg7 28.ãh6 'f9e7 29.ãxg? 'flxg7 30.iLc2
Zaitsev não percebeu uma defesa de
computador - 30...ê2if6!.
Mas tudo isso são detalhes secundários, uma
vez que 23 _gh3 ! daria às brancas uma
vantagem decisiva:
1) 23 ... fxe5 24.ãxh7! 'iff6. Na opinião de
Karpov, "graças a esse lance as pretas resistem"
(em comparação a 24 ... Wxh7 25~c2+), mas
isso não é assim - após 25.~eS 'i!i'xt2-'-
26.~h2 'TWf4+ 27.l!t'xf4 e ãxb7 está na hofll
delas abandonarem;
2) 23...\!Be7 24.See3! fxe5 25.axeS !ft7
26.'i!&'xgS+ !fg7 27.l:!xdS! cxdS 28.'ij'xd5-
çt,h8 29..ic2 &d8 30.lê.txh7+! (espetacular,
embora também seja possível simplesmente

424

movimentar a dama) 30 ...'i!fr'xh7 3 1.1!fe5+
1!fg7 32.!Yb5+ 'i.t'g8 33 ...tb3+ ãf7 34.li.xf?+
Wf8 (34 ... l!fxf? 35.t!fg5+) 35.l!.fc5+ Wxf7
36.1!fc7+. Essa geometria de computador
demonstra que as pretas não têm defesa.
23 ...ã ae8?!
Yussupov desperdiça a chance e entra em um
final de jogo perdedor. Seria recomendável
23 ...$'h8, para obter uma versão mais
favorável deste final: 24.fxg5 fxe5 25.g6 li'xg6
26.1!fxg6 1i.xg6 27.!!xg6 exd4. Após isso,
Zaitsev deu uma variante interessante com
ZJJ'gZJPangna posição final: 28.ã e4 ãf7 29 ...txd5
cxd5 30.ãh4+ lãh7 3 1.ãxd4 ã d8 32.ãg5
ã hd7 33.a3 a6 34.a4 b5 (? - G.K) 35.axb5
axb5 36.b4 e vencem (essa variante também foi
dada mais tarde por Karpov), mas após 34 .. . aS
não é claro como as brancas tenham uma
vitória.
Na minha opinião, seria muito m ais forte
24.li.xd5! cxdS (24 ... !Yxd5 25.fxgS ! fxe5
26.g6) 25.lild3 quando é difícil para as pretas
se defenderem, por exemplo: 25 .. J]fae8
26.ãxe8 ãxe8 27.fxgS ãg8 28.~3 ou
25 .. . ãgS 26Jie6 !fd7 27.fS etc. Ainda assim,
23 ... $'h8 teria dado maiores chances de
resistência.
24.fxgS fxeS
Se 24 ...A fS Karpov planeja,,a um sacrifício
espetacular da dama: 25.gxf6+!! 1i.xg4
26.âxg4+ $'h8 27.~fl+ ãxf7 28.â xe8+ ã f8
29.f7 ! ~ f6 30.!txf8+ 'ii'xf8 3 I.ãg8+,
transpondo para um final de peões facilmente
vencedor. E se 29...Wh7, então seria decisivo
30 ...tc2+ 'i!?h6 31 Jâg6+ tfxg6 32 ...txg6 <;!;>g7!
33.g3 ! (?vtakarichev).
25.g6 1J.xg6 26.d><eS! (uma importante
interposição, permitindo a manutenção do peão
a mais) 26 .. .'t!Ve6 27. ..txdS cxd5 28.~xg6+
l'Hxg6 29.ãxg6+ Wh7 30.ltd6
O final de torres resultante somente necessita
uma certa precisão técnica das brancas.
Anat oly, o Décimo-Segundo
30.. .!k8 (30 .. Jâd8 31.lãdl!) 31.lãe3 ã c2
32.lãd7+ Wg6 33.ãxb7 ãe8 (33 .. Jlff'2?
34.lãg3+ <;!;>h6 35.ãb8 ~ h7 36.ãh4!
Taimanov) 34.aJ d4 35.lãd3 ã xeS 36.ã xd4
ã g5
Seria ligeiramente mais resistente 36 ... ãee2
37.lãg4+ ~ f5, mas mesmo aqui não haviam
chances salvadoras: 38.ãgg7 ãxb2 39.!!xb2
lâxb2 40.!!xa7.
Nem todos os lances seguintes precisavam ser
feitos, mas Yusupov aparentemente estava em
estado de choque: o match com Karpov tinha
ido tão bem e ia perdê-lo praticamente sem luta
na partida final.
37.ãd6+ WhS 38.ã b7+ Wg4 39.ã d4+ Wf5
40.ã dS+ 'í!lg6 41 .lãg7+ Wxg7 42..lãxgS+ Wf6
43.ãbs a6 44J!Ib6+ We7 45.Wb2 Wd7
46.Wh3 'i!?c7 47.!!b3 © d6 48.g4 <;!;>e5
49.<ith4 Wf6 50.!tb6+ Wg7 Sl.$'h5 a5
52.!!b7+@g8 53.a4 1- 0
Karpov venceu o match por 4½-3½ e seguiu
direto para a final.
Numa entrevista concedida após o match,
Mark Dvoretsky descreve uma caractenst1ca
interessante do vencedor com as seguintes
palavras:
"Eu distinguiria três fatores, cuja combinação
por muito tempo atribuiu a Karpov uma grande
vantagem sobre os principais Grandes Mestres
do mundo. Primeiro, ele foi sempre um jogador
brilhante, intuitivo, dotado de esplêndida
425
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
percepção das peculiaridades das posições e seu
modo de jogar era fácil e seguro. Segundo, ele é
um jogador ideal, um competidor. Antes,
dificilmente perdia a cabeça, sabia o que fazer e
quando fazer e onde se arriscar; ele percebia
sutilmente o estado do adversário e podia
encontrar a continuação que o pudesse estorvar
com maior intensidade. Terceiro, em sua época,
o duradouro Campeão Mundial aproveitou as
experiências de praticamente todos os Grandes
Mestres do seu país e isto foi de enorme
benefício para ele assimilar a teoria.
Hoje em dia, o efeito destes fatores que
distinguiram Karpov nitidamente dentre outros
enxadristas diminuiu um pouco. E le já não
confia mais em sua intuição extraordinária, ele
demora muito tempo pensando e entra em
apuro de tempo. O seu antigo mecanismo de
jogo impecável também nem sempre funciona.
Nos dias de hoje suas decisões são afetadas por
eventuais receios, ou cansaço, ou por outras
coisas. Por fim, hoje a equipe de treinadores do
ex-Campeão Mundial está bastante reduzida".
Apesar de tudo o que Dvoretsky descreve, em
comparação com algumas outras estrelas da
época, que chegavam próximo ao topo do
xadrez para depois desaparecer, a estrela de
Karpov ainda manteve um brilho poderoso por
quase mais uma década.
Crise de Estilo
Depois da vitória segura contra Timman no
final do 111atch de Candidatos (Kuala-Lumpur,
março de 1990), o ex-Campeão declarou: "Com
o passar do tempo, com a idade, preciso buscar
novos estímulos para encontrar a força tão
necessária para o combate. Mas neste caso, o
que simplesmente desejo é vencer Kasparov".
E nosso quinto match pela coroa (Nova
York/Lyon, outubro-dezembro de 1990) foi,
como de costume, uma batalha dura. Por algum
motivo, por algum tempo Karpov evitou a
Caro-Kan e respondeu a l.e4 só com 1...e5.
Quatro zeros nas partidas abertas
determinaram sua derrota no geral (11 ½
426
12½).
Novamente Karpov tinha que iniciar o ciclo
classificatório a partir das quartas-de-final do
match de Candidatos. Lembro-me bem como na
hora do sorteio, em fevereiro de 1991, na
abertura do torneio de Linares, ele estava
exultante de felicidade, quando lhe coube a
sorte de formar dupla com o jovem Vishy
Aoand de 19 anos. Pela primeira vez, um
adversário de Karpov no match era tão jovem
que podia ser seu filho. Parecia pouco provável
que o Grande Mestre indiano, de um talento
extraordinário e promissor, mas jovem e
inexperiente demais, pudesse oferecer uma
resistência séria ao gigante do xadrez mundial
que era Anatoly Karpov. Aliás, em Linares,
ambos atuaram de forma indiferente (ali se
encontrava outro brilhante líder da nova
geração, Vasily Ivanchuk).
Artur Yusupov e Vishy Anand: adversários de
Anatoly Karpov
1'.Cas o match com Aoand, ·em Bruxelas, em
agosto de 1991, veio a ser ainda mais difícil para
Karpov do que seu match com Yusupov e o seu
andamento foi bastante parecido com aquele.
Talvez Karpov estivesse de novo desa-
costumado do controle de tempo de seis hora.~,
porém, o mais provável é que estivesse
sofrendo um cansaço psicológico, que
posterior mente iria causar a sua queda na
semifinal com Shon. De qualquer forma, o
desfile de erros e omissões mútuas no match de
Bruxelas rompeu todos os recordes
imagináveis.

Eles jogaram pelo melhor de oito partidas.
Como no t11atch com Sokolov, quatro anos antes,
os dois jogadores disputaram só duas aberturas:
a Defesa Caro-Kan e a Variante Merano,
preparada por Anand especialmente para este
match. Na primeira partida, Vishy optou por
uma variante rara contra a defesa Caro-Kan
(l .e4 c6 2.d3) e foi superado em uma manobra
tranqüila. Mas no fim da sexta hora de jogo, oo
apuro de tempo antes do segundo controle,
Karpov desperdiçou a vitória.
59...~ fS? (o simples 59 .. :'.t>f5 e ...ç!,e4
decidiria) 60.i.xb6! 61.g xe3.Ci&c3! l:id3+
63.@c4 ã a3 64.$>c5 ã xa4 65.b6 llb4 66.lla2
iibl 67.ã xaS com empate no 76" lance.
D epois disso, a disputa dos dois com-
petidores se acendeu. Na 2ª partida, quando se
deparou pela primeira vez com a variante
Metano de Aoand, o ex-Campeão ficou
inseguro no meio-jogo e só escapou da derrota
por milagre.
Anatoly, o Décimo-Segundo
42 ...b4?! (seria mais simples 42 ...l!ff5
43.~e5 g5!, vencendo - Anand) 43.f3! (única
chance) 43...bJ?
Ganhando um peão, mas deixando as brancas
construírem uma fortaleza. De acordo com
Anand, seria melhor 43 .. .c3 44.bxc3 b3
45.Aa3 ~xf3 e melhor ainda 43 ...'iib7! com a
ameaça decisiva de ...c4-c3.
44..tb4 .àxf3 45.'i!ff4 'i!fb7 46.~ cJ, com
empate no 73° lance.
Na 3ª partida, Anand conseguiu tomar a
iniciativa depois de uma despretensiosa
abertura e conquistou uma posição com-
pletamente vencedora. Mas, no apuro de tempo
do adversário, desperdiçou uma vitória rápida
no 38º lance, e então deixou o adversário
escapar completamente.
45Jâf8? ?
A partida poderia ser concluída de imediato
após 45.~d8! gxf4 46.g4! com a ameaça
decisiva 'i!r'h4 mate.
45.'ilfb7 46.'i!fd8 Qá não vence 46.!'.!g8(f6)
l!Ke4 47.l!Kf8+ @h5 48.!!xg6 em vista de
48 ...'c!fxf4+49.i!g3 h6! Anand) 46...'i!Ye4
47.1Wb4+Wg7 ½- ½
Na 4ª partida, graças a um hábil artificio,
Karpov conquistou uma óbvia vantagem
(conforme o comentário ao 1Oº lance na partida
95) e através de jogo preciso converteu isso em
uma vitória. Aparentemente estava tudo em seu
427
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
lugar, mas qual! Na 5ª partida, contra a Defesa
Caro-Kan Anand utilizou a variante 3.eS com a
versão sem pressa é2:l.f3 e 1t.e2 que estava
entrando na moda, superando por completo o
adversário formidável!
6l .exf6+? (a passagem para o final de jogo
com o cavalo poderia vencer facilmente através
de 61.ã xc7+ é2:lxc7 62.0h7 etc.)
6I••.w xf6 62.ãb8 0 d6 63.Wf4 .ãct
O lance secreto. A posição adiada parece sem
esperanças para as pretas, mas ao recomeçar o
jogo Anand cometeu um erro terrível no 74°
lance e, 20 lances depois, aceitou-se o empate.
Na 6ª partida, como na 2", Karpov outra vez
não foi bem no meio-jogo contra a variante
Metano. Anand obteve uma vantagem decisiva
e depois do adiamento venceu no 71° lance,
mas no mesmo dia, pouco antes desta
conclusão, ele tinha desperdiçado uma vitória
na 5ª partida adiada... Se tivesse vencido, a
situação seria um reflexo de Baguio, onde
Karpov tinha conseguido algo semelhante (no
reinício das 13ª e 14ª partidas). O que de fato
resultou foi um "reflexo" do match de 1989, no
qual, pelo contrário, Yusupov, embo.ra sem
adiamentos, havia vencido a 5ª partida e
desperdiçado a vitória na 6ª.
D e um modo ou de outro, o resultado do
match estava igualado. Na 7ª partida, de novo em
uma tranqüila Caro-Kan, Anand teve um
desempenho muito sutil no meio do jogo,
428
obtendo um final melhor e... desperdiçou a
chance de passar à frente.
41.i!c8? (4 U!g8+! Wh7 42.ãc8 deixaria as
pretas em uma situação bastante difícil:
42 ...Wg6 43.i.f4! !k4 44_ggs+c,:t,h7 45.ãa8
Anand) 41...f6! 42.Ac3 (se 42.A f4 ou 42.exf6,
seria vencedor 42 ...ãc4) 42 ...~ f7 43.exf6
~ xf6 44..fl.d2 !tc4 45.i!f8+©g6 46.i!a8 ã c6
com empate no 63° lance.
E chegou-se à 8ª partida, a conclusiva, de
novo com a variante Merano. Aqui também,
como no match com Yusupov, no momento
decisivo, o ex-Campeão lançou mão de uma
idéia relativamente nova, conseguindo virar o
jogo neste encontro dificílimo.
Partida 95
A. Karpov - V. Anand
Match de Candidat()s, Bru:x:elas 1991
8'partida
Dejua Semi-Eslava - D46
l.d4 dS 2.c4 c6 3.0 0 0 f6 4.0 c3 e6 S.e3
0 bd7 6.'t!Yc2
Uma vez que a "Merano" era uma abertura
nova para Anand, K arpov deliberadamente
evitou a linha mais analisada com 6 ..fl.d3
(partidas 80, 103 e 105), do princípio, ao fim do
match; além disso, ele já tinha utilizado com
sucesso 6.%!fc2 contra Van der Wiel (filburg
1988).

6 ... ii.d6 7..~ e2
Mais próximo do final do século, Karpov
desenvolveria seu bispo por d3 - ele geralmente
reconhecia os caminhos da luta pela iniciativa.
7 ...0-0 8.0-0 dxc4
Com o bispo em e2, pode-se retardar o alívio
da tensão central. Seria mais sólido 8 . .. b6,
explorando o fato de que após 9.e4 a dupla
troca em e4 não perde um peão, como no caso
de 7.Ad3. Na partida Karpov-Kaidanov
(Tilburg 1993) 9 ... ~xe4 l 0.~xe4 dxe4
I l.'!Wxe4 Ab7 12.Ad3 g6 13.Ah6 !!e8
14.!tad l f5 15.l!Ve3 c5 conduziu a um jogo
aproximadamente igual.
9.1'.xc4 'vJ!/e7
Uma tabfya de várias partidas pares no n1atch.
Foi somente na 2ª partida que Anand jogou
9... a6 seguido por 10.ãdl 'ife7!? l l.h3 b5
12.Ad3 c5, com igualdade e, no futuro, foi este
lance que foi julgado ser o mais flexível,
permitindo às pretas a manutenção de várias
opções envolvendo tanto ... b7-b5 (e então
...c6-c5), como também ... e6-e5.
10.a3
Antes disso, Karpov jogou 1 O.h3 - e na 4ª
partida conseguiu ser bem sucedido após
IO...a6 1 l.e4! eS 12.l!dl ! b5 13.Afl cS 14.dS
c4 !? 1S.a4 !!b8 16.axb5 axb5 17.!faS! b4
18.Cz::la4 tfd8 19.~a7 b3!? 20 .!fe2 lz:Jc5
21.Cz::lxcS .i.xc5 22.ã al! c3! 23.l2ixe5! c2
24.ãd3 'i!fe8? (24...Ad7! Spassky) 25.Cz::lc6
!!b6 26.Ae3 lz::lxe4 27.Axc5 ~xc5 28.ãe3 ...
1-0.
1fas aparentemente ele não estava satisfeito
com o resultado da abertura na 6• partida,
quando após 1O... c5 Anand obteve um bom
jogo (1 1.dxcS i..xc5 12.e4 .ild6 13.~ d4? !
Cz::le5), embora tenha ficado claro mais tarde que
este lance não equilibra completamente.
10. .. e5 ll.b3
Era essa posição que Karpov tinha como
objetivo (a mesma ocorreria após I O.b3 e5
1l.a3).
Anatoly, o Dédmo-Segundo
A interpretação moderna desta posição é a
seguinte: as brancas fizeram alguns lances úteis
de peões e agora pretendem dispor as suas
peças de maneira adequacu (Aa2, então talvez,
~d2). A luta gira ao redor da tensão central dos
peões, sendo desfavorável para as pretas a
captura em d4, uma vez que essa troca abre a
diagonal para o bispo em c l e também a coluna
e para o ataque à sua dama. Então, elas também
precisam esperar, empenhando-se em realizar
bons lances, mas a sua escolha é restrita. A
retirada do bispo de d6 é auto-sugestiva, para
reduzir o efeito da ameaça potencial '8h4, que
pode pressionar se for jogado ...h7-h6, - mas as
pretas necessitam deste lance, para dar a
conhecer maior força ao avanço ... e5-e4
( 11.. .e4 12.Cz::lgS). É ao redor de tais nuanças
que se luta a batalha da abertura.
u ...A c7
Durante uma época o bastante artificial
11 ... ~b8 era considerado mais sutil. O
fechamento temporário da torre era
considerado menos importante do que em
alguma variantes o bispo ficar indefeso em c7.
Em muitas partidas, inclusive algumas
envolvendo Karpov, o esquema 11 . .. Ab8
12.~a2 h6 13.~h4 :Sd8 14.~f5 l!fe8 se
mostrou ser bom. Mas então ficou claro que o
natural 11. ...ilc7 também não compromete
nada.
12.A a2 h6 13.lz:Jh4 ã e8
Não é bem sucedido 13 .. .exd4?. Após
429
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
14.li:lf5 'iti'e5 15.f4 'ti'e8 16.exd4 as brancas
dominam e após 16 ... ti::lb6? o golpe ópico
17 .li:lxh6+ é decisivo. As pretas não podem
utilizar o outro esquema - 13 ...ã d8 14.0f5
'iti'e8 devido a 15.ti::lbS!. Foi essa nuança que
forçou a atenção que se deu a 11 ...~ b8.
14.0 f5 'tif f8 15/L)bS (também tem sido
tentado 15.d5, mas sem sucesso em particular)
15 ... ~ b8 16.Ad2!
Com a ameaça de - nada mais nada menos -
emboscar a dama.
16... aS
Como já mencionado, seria desfavorável para
as brancas 16... exd4 17.exd4. Mas agora é
necessária uma ação enérgica das brancas -
todas as suas peças estão penduradas e se elas
não explorarem a posição dominante do cavalo
em f5, as pretas podem se desembaraçar e
ficarem posicionadas de forma excelente.
17.dxeS .i.xeS?!
Um erro, embora a influência deste lance no
resultado da partida tenha sido exagerada. As
pretas tinham duas alternativas sensíveis:
l7 ... li:lxe5 18.li:lbd4 c5 ou mesmo 17 ... ãxe5
l 8.fik3 0c5, expulsando o cavalo de f5 e após
19.0g3 !ie8 20.f4 ~a7 obter uma posição
complicada com chances para ambos os lados.
18.f4!
As brancas aumentam o seu ataque potencial
na ala do rei. As pretas não podem se satisfazer
com 18 ... cxb5? l 9.fxe5 E!xe5 (19... tZlxe5
20.0xh6+) 20..i.c3 e elas são forçadas a
430
retirarem o bispo. Assim as brancas resolveram
o problema de manter seu cavalo em f5.
18... ~ b8 19.tZlc3 ã d8?!
O cavalo em f5 é muito perigoso, e em
primeiro lugar as pretas deveriam começar a
lutar contra ele - 19 ... tZlcS!?. É verdade que
elas têm que contar com 20.0xh6+ gxh6
21. Wfg6+ W!fg7 22.Axfl+ ç!;>f8 23 .~xe8
0xe8, mas a avaliação da posição não é tão
óbvia. No final do jogo - 24.i!fxg7+ ~xg7 - as
pretas nada têm a temer (se 25.e4, então é forte
25 ... tZld6). Após 24.li'b.5 ~a7 certamente é
melhor jogar com as brancas, mas aqui há uma
tensa batalha em perspectiva, na qual as pretas
têm contra-chances.
No caso do preparatório 19 ... ~ h8 as
brancas têm tempo de transformar seu peão
débil de e3 em uma significativa peça de ataque.
A réplica tática 20.e4 tZlc5 2 l .e5 0fe4
22.tZlxh6 gxh6 23.~xe4 Af5 - provoca um
sacrifício de dama: 24.t!fxc5!? (também é
promissor 24.!!ael !? 0 xe4 25.ã xe4 ~a7+
26.~hl Ad4 27.Ael!) 24...~a7 25.'i!fxa7
~xa7 26.0d6 Ae6 27.0xe8 t!fxe8 28~xe6
fxe6 29.f5 exf5 30.ã xf5 'tifd7 3J.ãf2 com boa
compensação material e um ataque.
O lance de Anand persegue o mesmo
objetivo: prepara ...0c5, enquanto evita
~xh6+. Mas Karpov encontra um defeito na
posição da torre preta em d8.
20.~el! (se 20 ... 0c5, então é muito forte
2 1.~4) 2O...êZ)b7 21.~ h4 tZldf6 22.l!adl
As brancas claramente fizeram progresso:
mantiveram o par de peões móveis, o poderoso
bispo em a2, o cavalo em f5 , seu outro bispo se
movimentou de cl para uma posição ativa em
h4, enquanto as peças das pretas estão
amontoadas na 8ª fileira e ao invés de ir a c5 seu
cavalo foi parar em h7. E, em particular, a
ameaça é 23.0xh6+.
22 ...llxdl
Medidas radicais com 22 .. ..ft.xf5 23.i!fxf5
¼c.7 24.~f2 t!fc5? provavelmente dariam às
brancas um final vencedor após 25.t!fxcS

.ilxc5 26.e4 $.xf2+ 27.<~xf2 (seu bispo é
muito forte!) . Mas, sem dúvida, 24 ... b5 ! teria
feit0 as coisas mais dificeis para elas.
23.ãxdl
23 ....te6??
Um grave erro, que tem mais do que uma
refutação! A ameaça de 24.li:\xh6+ gxh6
25.'i'g6+ VJ.ig7 26.ãdS+ teria sido estancada
tanto através de 23 ...Axf5 (com a mesma idéia
24.~xfS 2.a7 25.~f2 b5), ou de 23 .. .~c7,
após o que não há nada forçado aparente. Se
24.tz:le4, então 24 ... ~xf.5 25.li::lxf6+ li::lxf6
26.'6xf5 ã d8 com simplificação em massa. E
embora através de 24.~h l! as brancas
mantivessem as vantagens da sua posição -
digamos, 24 ... AxfS 25.'i!Vxf5 ã d8 26.ã fl etc.,
ainda existiria a perspectiva de uma dura
batalha.
24.¾l.xe6 fxe6 2S.l!i'b3
Agora as cortinas podem ser baixadas.
As brancas também venceriam com o
vistoso 25 .l2::lxh6+ gxb 6 26.l!¼'g6+ Wh8
27.l2::le4 ! <tld5 (27 ... <tlxe4. 28J:!d7 'i'g8
29.'i!:Vxe4) 28.ãxd5 exd5 29..i.f6+ lilxf6
30.êzJxf6.
25 .. .'ife8 26.tilxg7! (a resistência posterior
de Anand só pode ser explicada pelo fato desta
ser a última partida) 26 ...'iff7 27/2ixe6 A a7
28.~ f2 1le8 29.<tld4 ilfxb3 30.ê2ixb3 .i.xe3
31..ixe3 ã xe3 32.li:lxaS 1- 0
As pretas abandonaram e Karpov venceu o
match- 4½-3½.
Anato/y, o Décimo-Segundo
Dois tnatches difíceis e duas vitórias nas
partidas decisivas! Uma admirável coincidência,
não é? Mas, só à primeira vista. Na verdade,
Karpov de novo pôs em prática suas raras
qualidades de combate em situações arriscadas,
mostrando que não tinha esquecido como devia
vencer "por encomenda".
Um mês depois, o ex-Campeão do Mundo
teve uma esplêndida atuação no primeiro e,
infelizmente, último estágio da Segunda Copa
do Mundo (Reykjavik, outono de 1991 ). Só uma
vitória desperdiçada na retomada da partida da
última rodada com Chandler (com empate no
119° lance) negou-lhe um primeiro lugar
sozinho: 1-2. lvanchuk e Karpov - 10½ em 15.
Mas logo, também Anand demonstrou seu
poderio, vencendo um tipo de
"supercampeonato da URSS" (Reggio Emitia,
1991-1992): Anand - 6 em 9; 2-3. Gelfand e
Kasparov - 5½; 4. Karpov - 5; 5-7. Ivanchuk e
Polugaevsky - 4½ etc.
Depois do ,natch com Anand, a variante "anti-
Merano" com 6.'ifc2 entrou definitivamente
para o repertório de Karpov, possibilitando
várias vitórias extraordinárias, conquistadas em
uma época em que os importantes Grandes
Mestres ainda estavam desbravando os
caminhos a seguir dentro deste traiçoeiro
labirinto. Ê muito característica a seguinte
partida disputada com o jovem Alexey Shirov,
de 20 anos de idade, outra estrela que surgia no
final do século 20.
Partida 96
A. Karpov - A. Shlrov
Bie/1992, 1r rodada
Defesa SenlÍ-Eslava - D46
1.d4 dS 2.c4 c6 3.li:lc3 li)f6 4.e3 e6 S:013
<tlbd7 6.'ii'c2 ~ d6 7.1J..e2 0-0 8-0-0 dxc4
9.1J..xc4 b5
Aparentemente mais enérgico do que
9 . .. 'flie7 (partida 95) e uma típica continuação
"Merano". Não é surpreendente o fato de que
431
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
tenha sido escolhida por Shirov. Naquela época,
a teoria desta variante não estava totalmente
desenvolvida.
10..âe2 ãe8
Ou 10 ... ~c7 1 l...âd2 ãe8 12.&c l com
alguma vantagem para as brancas (Karpov-Van
der Wiel, T ilburg 1988). É mais natural
1O.•.~b 7, mas naqueles anos a opinião
prevalente era a de que o plano das brancas
deveria envolver e3-e4 e cotão após ...e6-e5 a
torre preta se mostra bem colocada (como já
ocorrera em uma das partidas de Shirov).
11.!!dl 'tifc7
Uma vez que as brancas não jogaram a
abertura de uma forma muito ativa, as pretas
podem se permitir certas liberdades, ao
empregar um lubrido de variantes diferentes.
Mesmo assim, a experiência demonstra que, em
tais esquemas, a típica manobra tiJc3- e4
permite às brancas conquistarem a iniciativa.
Afüis, na variante 9 .. . a6 10.ã dl VJ!/c7 o lance
11 .li:Je4! foj tentado pela primeira vez na
prática pelo Grande Mestre Epishin, um dos
assistentes de longa data de Karpov.
12.b3 e5 13.h3 (defendendo contra 13 ... e4)
13 . .. i.b7
Contra Tukmakov (Aberto de Biel 1992)
Shabalov defendeu a posição das pretas com
sucesso após 13 ...a6 14.~b2 exd4 15.li:lxd4
~b7 16.lLJfS ~f'8 17.l2::ld5 li::lxd5 18.ã xd5
ã e6. Aqui é perigoso 18 .. .cS?! devido a
19.tiJh6+ ! gxh6 20.'i!HfS i.d6 (20 ... VJ!/c6
21..âd3!) 21.'i!Hg4+ ~f'8 22.°tifg7+ <:Ji/e7
23.lãfS ã f'8 24.~5 com um ataque.
14.~ b2 a6
Shirov prepara 15 ... exd4 16.li::lxd4 c5. A
alternativa é 14 ... exd4 15.l2::lxd4 e somente
então 15 ... a6 (conforme a partida Tukmakov-
Shabalov). Seria interessante 15 .ãxd4 !?, assim
como após 15 .. ...âc5 responder 16.!!h4 h6
17.lz:Je4 e se 15 .. .li::le5 16.&dl tiJxf3+
17.~xf3 ..àe5 sacrificar a <1ualidade: 18.li::lxbS!
'%!fb8 19.~ d6 ~xd4 20l!xd4 com excelentes
perspectivas.
432
15.dxe5 lzJxe516.a4!
Atrapalhando o máximo possível ... c6-c5,
sem o que o futuro do bispo em h7 parece
árido.
16 .. .ã ad8?
É difícil chamar um lance natural assim de
erro. O imediato 16 . .. b4?! 17.li:lb l c5
18.lz:Jbd2 daria às brancas uma duradoura
vantagem posicional, graças ao seu controle da
casa c4 e à possibilidade de um ataque ao peão
c5. O lance da torre foi feito na esperança de
jogar ...b5- b4 em um momento mais
conveniente, mas...
E nquanto isso, Shirov desperdiça um
verdadeiro momento conveniente: após
16 ... li::lxf3+! 17.~xf3 ..fila+ 18.'i;!;,hl ~eS não
seria possível evitar por muito tempo o avanço
libertador ...c6-c5.
17.li:lgS!
Realçando gue agora o cavalo se estabelecerá
na casa chave e4 e, ao impedir o avanço ...c6-
c5, assegurar às brancas uma duradoura
vantagem posicional.
17 ...'ife7 18.li::lcc4 lzJ><e4 l 9.li::lxe4 ~ b4
No caso de 19 ....âc7 as brancas de forma
vantajosa provocariam ... b5-b4: 20.lt.a3 b4
2 l ..âb2. Shirov prepara trocas na coluna d, mas
Karpov coloca-lhe um novo problema.
20.lDg3!
Como conter a ameaça de li::lf5 seguido de
f2-f4? É auto sugestivo 20 .. . g6, mas não é fácil
decidir por tal debilidade ao longo da diagonal

de casas pretas com o bispo não em f8, mas cm
b4. E de fato, após 2l.~ e4 defender oão é uma
coisa simples. Se 21.. .f5, então é fone 22.f4
ãxdl+23.ãxdl ~g4 24.hxg4 'i.Wxe4 25.li'xe4
fxe4 26.!!d7 lle7 27.ãd8+ çpf7 28J!b.8 ÇPc6
29.g5 !, enquanto após 25 .. Jlxe4, então
26.Ae5 ! ~e3 27.lld8+ Wf7 28.ÇPfl não se
pode salvar o bispo em b7.
20 ... f6
Shirov imaginou que este fosse o mal menor,
mas agora K arpov explora de imediato a
debilidade das casas brancas.
21..~.xeS!
Urna troca inesperada, a qual se justifica
através de cálculo concreto. Após 21...fxe5 (o
melhor) 22.Ad3 g6 23.Ae4 as pretas estão
frente a uma defesa desanimadora, o 9uc
claramente não seduziu Shirov.
21. .. tfxeS?! 22.Ad3 (como defender o
peão h7?) 22... h6?!
Vod precisa ter uma grande coragem para se
deciclir por 22 ... g6, permitindo 23.Axg6 hxg6
24.li'xg6+ @h8 (24 ... <i!?t'8 25.'~)fS e vencem)
25.l!fh6+ S>g8 26.luh5 f5 27.~f6+ ~f7
28.~xe8 ã xe8. Aqui as brancas têm muitas
continuações tentadoras, por exemplo:
29.li'b7+ l!fg7 30J!d7+ ã e7 3 t.'fixf5+ tff6
com uma escolha entre manter as damas e um
final no qual os quatro peões passados e unidos,
é claro, asseguram uma vitória, mas os dois
bispos das pretas mais o potencial peão passado
na coluna e também não podem ser
subestimados.
Anatoly, o Dédmo-Segundo
No tabuleiro é sempre difícil resolver
problemas assim: os defeitos de cada um dos
lances são razoavelmente óbvios. Shirov, que
nesta partida não fez nem um simples lance
ruim (mas toda uma série de lances de segunda
categoria), preferiu não corromper o equiltbrio
material, esperando sobreviver ao ataque do
adversário nas casas brancas. Mas suas
esperanças não se realizaram: Karpov concluiu
a partida de forma rápida e impressionante.
23.Ag6 llf8 24.lufS cS
A outa linha de defesa - 24 ... tfc5 25.'tife4
Ac8 - também pode ser aberta: 26.ãdcl ilxf5
27.jlxf5 Ac3 28.axb5I (mais preciso do que
28.'i!fg4 t!fe5 e as brancas não têm o vencedor
lla7) 28 ... axb5 29.'i!fg4 &8 30Jlab1! com
um ataque decisivo com os bispos de cores
opostas. Por exemplo: 30 ...°i!Ye5 31.'i!fg6 ~ fd8
32.'i!fb7+ ~ 33 ..ig6 (ou 33.b4 com a idéia
de jogar o bispo a b3).
25.axbS axbS 26.lla7 'tifc7
Não há defesa contra o ataque combinado de
todas as peças pretas. Após 26 ... llxd l+
27.!fxdl 'fic7 há o decisivo 28.~xb6+ gxh6
29.il.e4 l!b8 30 ..âxb7 Wf8 3 l .tfh5 ãxb7
32.'i!.Vxh6+ ÇPg8 33.\Wg6+ Wf8 34.!Vxf6+
@g8 35.Iia6. Enquanto se 26 ... tfb8, então é
mortal 27.lue7+ '.!?b8 28.M5! - o mesmo
tema da partida: a desocupação da casa g6 para
o cavalo.
27.~ h4 llxdl+ 28.'i!fxdl &8 (28 ...lld8
29.tfg4 °tid7 30.gxb7! 'tifxb7 3 l .'tic6+ @b8
32 ..âc2) 29.°ffg4! 'ti'c6
433
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
30.l!xb7! 'i!fxb7 31.'tife6+ 'it>b8 32.~e4
1- 0
A conclusão da sinfonia das casas brancas!
Após 32 ... !!al+ 33.~h2 'iWb8+ 34.f4 as bran-
cas dão mate.
Em 1992, Karpov venceu ttês torneios. em
Madri, Biel e Baden-Baden. Contudo, esse ano
veio a ser o mais trágico de toda sua carreira: na
primavera, em Linares, repentinamente ele
perdeu a semifinal do match de Candidatos para
Nigel Short: 4-6 (na outra semifinal, Yusupov
perdeu para Timman com a mesma contagem).
Este acontecimento sem precedentes causou
uma verdadeira sensação no mundo do xadrez.
As crônicas de xadrez das principais revistas
estavam cheias de enormes manchetes: "The
End of an Era" (O fim de uma era) (New in
Chess), "Rompeu-se o elo do tempo?" (Chess
Hera/d), "Fím da era - os enxadristas do
Ocidente superam os russos nos matches de
Candidatos" (British Chess Magazine), "Ruína dos
deuses em Linares" (Schach Magazin 64),
"Momento histórico: Karpov é nocauteado"
(jaque), "Short marca o fim de uma era" (&vista
Internacional de Ajadrez) etc.
434
Hans Ree escreveu em New in Chess: "Os
matches foram vencidos pelos jogadores com o
melhor planejamento do tempo. Era terrível
olhar para Karpov em particular, no espantoso
apuro de tempo em que se encontrava em quase
todas as partidas. E isto ainda não era tudo.
Parece que seus nervos de aço o haviam
abandonado. Eu já o havia visto em apuro de
tempo antes, mas ele sempre mantinha a calma.
Agora ele escava tenso, com o rosto desfigurado
pela emoção. O seu psicólogo, Zagainov, estava
na primeira fileira. O homem que devia estar
inspirando tranqüilidade, estava roendo as
unhas e esfregando as mãos, tão angustiado
quanto o discípulo". Logo depois, foi publicado
em Moscou um livro deste psicólogo dedicado
a este match com o simbólico título: Porqenie (A
D errota).
Foram interessantes também as observações
de Valery Murakhvei, colunista da rev.ista Chess
Hera/d-.
"Karpov possui uma fabulosa expeóência em
malches. A revista Schah-Magazjn 64 calcula que
em 1O anos ele disputou 254 partidas em
matches, das quais 144 contra Kasparov. Com
seus conhecimentos sutis da psicologia e
filosofia do combate em matches, parecia que ele
não tinha tido nenhuma dificuldade quanto ao
estilo e maneira de jogar de Shorc. Era de
esperar que a superioridade de Karpov em
posições estrategicamente definidas e no final
de partida se tornaria o fator decisivo no match,
uma vez que o adversário dificilmente poderia
neutralizá-lo, mesmo pela imposição de uma
batalha puramente tática.
Contudo, comprovou-se que a diferença de
14 anos de idade foi desvantajosa para K arpov.
O efeito da idade se manifesta primeiramente
na aptidão para manter um alto padrão
competitivo. Contra um cenário de sucessos
costumeiros, ocorrem muitas vezes períodos de
declínio, enfraquecimento da boa forma e
problemas elementares de saúde. Estes efeitos
acontecem mais cedo para uns e mais tarde para
o utros, mas em média o limite pode ser

considerado por volta dos 40 anos.
A situação ao redor de Karpov também se
transformou: na sua equipe, que costumava ser
tão numerosa e de alto nível, ocorreram
mudanças e cortes por vários motivos. Este
processo, para todos os efeitos, não foi sem
sofrimentos para Karpov: pela imprensa, ele
expressou suas gueixas a uma série inteira de
Grandes Mestres por não o ajudarem e por
ajudarem seus adversários. Pessoas que o
apoiavam e o serviam com fidelidade tinham se
afastado ou perdido a influência, o que também
afetaria o seu espírito de luta".
Meu próprio comentário sobre o que
aconteceu foi o seguinte: "Para o xadrez é
conveniente que um jogador do Ocidente possa
disputar o título supremo. Isso aumentaria
sígruficativamente o interesse pelo xadrez na
mídia e no público em geral... Não dou
preferência a nenhum dos dois finalistas,
Timman ou Sho1t, mas para o xadrez seria
melhor que Short vencesse. Para o público é
mais interessante, quando o competidor é mais
jovem do que o Campeão".
Naquele tempo, muitos pensavam que
realmente tinha chegado ao fim a cm Karpov.
Ninguém poderia sequer suspeitar como a
história do xadrez mudaria em 1993...
Contra a Índia da Dama
Chegou a hora de desviarmos nossa atenção
um pouquinho dos feitos competitivos do 12°
Campeão Mundial, pata falar da sua
contribuição à teoria de parúdas fechadas - ou
mais precisamente, da sua interpretação àqueles
esquemas estrategicos tranqüilos gue
correspondem mais completamente ao seu
estilo. Como já mencionei, Karpov se sentia
muito seguro com a Defesa Índia da D ama,
tanto com as pretas quanto com as brancas.
Não admira que muitas vitórias por ele
alcançadas com as brancas se tornassem
partidas clássicas para esta abertura.
Quanto a isto, o ano de 1993 foi de grande
importância. No fim de fevereiro, no início do
Anatoly, o Dédmo-Segundo
supertorneio de Llnares, o Wimbledon do Xadrez
de todos os anos, Karpov obteve dois sucessos
na Defesa Índia da Dama com 4.g3 - contra
4...Ab7 e 4...Aa6.
Partida 97
A. Karpov - V. Salov
Unares 1993, f rodada
4
/
Deje1a Índia da Dama - E18
l.d4 0 f6 2.c4 e6 3/i)f3 b6 4.g3 J'.Lb7
Salov jogava a Índia da Dama freqüentemente
e com bastante sucesso, mas contra K.arpov era
perseguido por fracassos. Assim em Linares
1992 ele perdeu para o ex-Campeão após
4 ... Aa6.
s.A g2 A e7 6.0c3 lile4 7 •.1Ld2 A f6 8.0-0
(8.i9c2 -partida 99) 8... 0-0 9.gc1 c5
Esta é considerada uma linha
estrategicamente arricada. Entretanto, após
9 ... d6 10.d5 0xd2 11.~xd2, na partida
Karpov-Salov (Reykjavik 1991) as brancas
venceram em uma prolongada luta de
manobras, ao explorat a sua vantagem espacial:
l l...t!fe7 12.e4 lZld7 13.lZld4 Axd4 14.i9xd4
e5 15.'ti'd2 aS 16.f4 0c5 17.fS f6 l8.ii.f3 etc.
E embora durante o curso da parúda Shirov
tivesse chances de tornar a situação mais aguda,
ele aparentemente não gosta desta característica
de jogo.
1O.dS e><dS 11.c><dS 0 ><d2 12./f)xd2 d6
13.0 de4!
As brancas estabelecem seu cavalo no centro,
explorando seu poder para preparar uma
ofensiva de peões na ala do rei.
t3 ... Ae7
Na partida Kasparov-Ligterink (Olimpíada de
Malta 1980), as pretas deram uma resposta mal
sucedida - 13 . .. làe8?! 14.Vd2 a6, com 15.b4!
as br.ancas realçaram a falta de harmonia na
colocação das suas peças e após 15 ....âe7
16.bxcS bxcS 17.'ii'f4 'ilc7 18.<tla4 1!fa5
19.l:!bl! 1Lxd5· 20.lZlb6 ~ xe4 21.li.xe4 :iâa7
435
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
lançaram um golpe decisivo - 22.lz::ic8 !.
Salov deveria ter se preparado melhor. Ao
recuar o seu bispo, esperava obviamente que os
dois bispos permitissem-lhe criar contrajogo
através do avanço dos seus peões da ala da
dama.
14.f4 li)d7 15.g4! a6 16.a4
Não permitindo um imediato ...b6-b5.
16...ã e8?
Uma atitude muito calma frente à ameaça
posicional de g4-g5, conquistando espaço e
com uma real perspectiva de ataque. Se as pretas
quisessem jogar ...b6-b5, seria melhor fazê-lo
de imediato - 16 ... bS 17.axbS axb5 18.li)xb5
~6, embora após 19.~bc3 dificilmente elas
tivessem compensação pelo peão. Entretanto,
as pretas ainda não são obrigadas a entrar em
medidas extremas assim - por exemplo, é
possível o simples 16 .. .h6.
Mas o lance mais interessante é 16 ...lz::if6.
Após 17.~f2 a resposta 17 ...h6 18.h4 g5?! é
excessivamente arriscada devido a 19.hxgS
hxg5 20.e3 e o enfraquecimento da ala do rei
pode se mostrar crítico. É mais seguro voltar -
17 ... lud7, para após l 8.g5 jogar o oportuno
18 ... f6 e se 18.l!ic2 evitar de forma mecânica
o avanço dos peões brancos - 18 ... h6.
17.gS Af8 18/~bl b5
É provável que Salov tenha decidido isso com
o coração partido, mas não há outra forma de
criar contrajogo.
19.axbS axb5 20.ltlxbS lWb6 21.lilbc3
436
A atividade das pretas na ala da dama tem
como objetivo simplesmente distrair a atenção
das brancas da ala do rei. Entretanto, mesmo
que fossem bem sucedidas em ganhar o peão de
b2, isso só significaria o restabelecimento da
igualdade material, e de forma alguma a criação
de contrajogo real.
21..."ti'b4
As pretas evitam um aumento do potencial de
ataque após E!f3- h3, mas agora a dama branca
vai para lá e as coisas se tornam até mais dificeis
para elas.
22.~d3 lilb6 23.\lfg3l ~ b8 24.!!cdl
As brancas tâm um peão a mais, peças bem
colocadas e a perspectiva de um ataque direto
ao rei, enquanto o contrajogo do adversário é
ilusório - todas as indicações são as de que as
pretas perderam completamente a batalha.
24 ...lilc4
Seria possível eliminar o peão b2 e mesmo
criar uma sombra de contra-ataque - 24 ... lz::ia4
25.fS lilxb2 26.ãbl ~3, mas após 27.ãf4 c4
28.ãh4 as brancas iniciariam um ataque
decisivo: 28 .. J~xe4 29.2âxe4 ã xc3 30Jàe8
Wg8 31 ."-ih4 e aqui não há defesa contra
32.g6. Também não é possível restringir o
avanço dos peões: 24 ...Ac8 25.fS ãe5 26.g6!
~xf5 27.lz:Jg5! Axg6 28.lz::ixf7+ Axf7
29.llxf7 seguido pela jogada do bispo de g2
para e6.
25.bJ! lilb6
O cavalo é forçado a retornar de mãos vazias.
No caso de 25 . ..ii'xb3 26.ãbl lz::ib2 as brancas
têm a agradável escolha entre continuar o
ataque (27.f5) ou ganhar material - 27.lHd l
etc.
26.g6!
O "estilo Siciliano" mais enérgico de
desenvolvimento do ataque. As brancas
também venceriam após 26.f5 !!a3 27.g6 f6
28.gxb7 ãxb3? 29.'i!fg6, e embora 28 ...0d7
permitisse às pretas resistirem um pouco, após
29.l2:lxd6 elas não são capazes de prosseguir.
A posição das brancas é tão forte que pode-

se observar uma rara circunstância na prática do
grande p ragmático Karpov: aqui ele rejeita o
ganho de material a favor de um ataque direto!
26...fxg6 27.f5 gxfS 28.ãxfS tzld7 29.ã dfl
T ambém seria possível 29.tz::lxd6 il.xd6
30.~xd6 tz::lf8 (ou 30 ... ~xc3 3 l.iexd7 il.a6
32.!!dfl) 31.'i'g3, mas Karpov não quer se
desviar muito do seu plano geral de
concentração de peças nas cercanias do rei
preto.
29 ... tz::leS 30.!!5f4 1\fb6 (também é mau
jogar 30 .. .tz::lg6 3 1.!l:g4 - com a ameaça de
ã xg6 - 3 1...~eS 32.ID14) 31.tzlgS tz::lg6
Isto permite uma conclusão elegante. Mas de
outra forma, o bispo se junta ao ataque com
efeito decisivo: 31 ... il.e7 32.tz::lf7+ tz::lxf7
33.ã xf7 .if8 34 ..ie4! ou 31...g6 32.ã h4 h5
33.tzlf7+ ©g7 34..ie4.
32.tzlf7+ ~g8 33.!fxg6! 1-0
Em vista de 33 . .. hxg6 34.ãh4,
Na 2ª rodada o ex-Campeão perdeu para
Timman, mas isto não esfriou em nada seu
espírito de luta.
Partida 98
A. Karpov - A. Beliavsky
Unam 1993, 34 rodada
Defesa Índia da Dama • E 15
1.d4 é2)f6 2.c4 e6 3.li)f.3 b6 4.g3 Aa6
Anatoly, o Décimo-Segundo
(4 ... .ib7 - partida 97, partida 99) 5.b3 Ab4+
O lance 5 .. .b5 é questionável - um mês antes
em Wijk aan Zee Karpov derrotou duas vezes
Christiansen após 6.cxb5 .ixb5 7 ..ig2 .ib4+
8.Ad2 a5 9.0--0 (e, aliás, venceu esse torneio
nocaute). ,,/
6..id2 .ie7 7..ig2 (7itz::l- partida 90,
partida 91) 1 .. . c6 8..ic3 5 9.tz::le5 tz::lfd7
10.CLJxd7 tz::lxd7 11.CLJd2 12.0-0
Uma daquelas van,ntes que Karpov
empregava com ambas as cores.
12...ã c8
Também é popular o lance flexível 12 .. .CLJf6
e isso ocorreu muitas vezes em suas partidas,
por exemplo: Karpov-Portisch (Rotterdã 1989),
ou Yusupov-Karpov (1 ª partida do match,
Londres 1989).
13.e4
Uma posição que foi alcançada na memorável
6ª partida de nosso primeiro ,natch (1984/1985),
onde eu estava com as brancas e na 21 ª partida
do matcb revanche (1986), onde Karpov
conduzia as brancas.
13 ...cs
Outra idéia dos jogadores húngaros. A
continuação anterior - 13 ...bS 14.!!el dxc4
15.bxc4, que foi testada nos matches
mencionados acima, ainda é tópica no século
XXI (posso mencionar a partida Bologan-
Kramnik, Dortmund 2004).
14.exdS exdS 15.dxcS dxc4 16.c6 cxb3
17.ã el il.bS
437
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Urna resposta bastante sólida, mas hoje em
dia é considerado ser melhor 17 ... b2 l 8..ixb2
ê2::lc5 (um exemplo recente: Topalov-Anand,
Campeonato Mundial da FIDE, San Luís 2005).
18.axb3!
Durante algum tempo jogavam 18.luxb3 e se
imaginava que as pretas não tinham problemas
em igualar. Um exemplo modelar foi fornecido
pela atraente partida terminada em empate
Yusupov-Sax (Rotterdã 1989): 18 .. ..ixc6
l 9.ii.xg7 g}xg7 20.~d4 ii.xg2 21 .lufS+ Wh8
22.l!xe7 .fili3 23.ti'd4+ lueS 24.li'xeS+ f6
25.li'e2 .i><fS 26.ã'.dl .ig4.
18 ... ~ c6 19..ixc6 I:Ixc6 20.E{xa7!
Resulta que isto promete alguma iniciativa
para as brancas, unia vez que 20 ... ã xc3? falha
devido ao paradoxal recuo 21 .~b 1!, ganhando
material: 21 ...!!c7 22.â xc7 f!!xc7 23.â xe7
!td8 24.f!!dS! ti'c l+ (24 ...ãf8? 25.llxd7
'fiel+ 26.ti'dl) 25.<êt>g2 â f8 26.ãxd7 'iWxbl
27.Ê'.d6! bS 28.ã b6, ganhando o peão b.
20....if6
Na pitoresca partida Karpov-Kortchnoi
(filburg 1991), após 20 ... ti:lf6 2l.'iff3 l!fd5?
(seria melhor 21.. .!!c7) 22.âexe7 tixf3
23.luxf3 !lxc3 24.ti:lgS as brancas
conseguiram um forte ataque, apesar da troca
das damas: 24 . ..llxb3 25.luxf? âe8 26.lãeb7
ãel + 27.Wg2 li)e8 28.ãb8 (ameaçando li)d6)
28 ... ã d3 (não 28 ... ã e6? 29.êud6 <êt>f8
30.âf?+ etc.) 29.f4 (com a idéia de ~e5;
29.!!xb6 âd2! e ã ee2) 29 ...ãe6.
Diag rama de Análise
438
30.h4? (um erro no apuro de tempo -
30.Wh3 !!de3 31.ti:lgS !!e7 32.~ xe7 !!xe7
33.!!xb6 manteria boas chances de vitória)
30 ... ã e2+ 3 1.Wh3 hS! (ao entregar uma peça,
as brancas lançam a rede de mate, da qual as
pretas só escapam às custas de um xeque
perpétuo) 32.li:)es â dl ! 33.l:!xeS+ Wb7 34.g4
I!e3+ 35.Wg2 !Id2+ 36.<.!lfl ã b3 37.Wgl
~ g3+ 38.@fl ãf3+ 39.'i!tgl !!g3+ 40.Wfl
ãh3 ½- ½.
Seria mais sólido 20 ... ~f6 uma vez que o
bispo em e7 e as outras peças das pretas
ocupam posições passivas e estão sujeicas a
ataques.
21.li:)c4
Também tem sido tentado 21.lz::ie4, embora
após 21.. .~xc3 22.Ê'.xd7 ifa8 as pretas
geralmente mantenham o equiltbrio.
21 ... /f:)cS
É interessante que na 16ª partida do seu matcb
com Kamsky (Elista 1996), quando o resultado
já estava praticamente decidido, Karpov jogou
est.a variante com as pretas e aqui respondeu
com 2J.. .ji_xc3. Mas após 22.âxd7 't!ff6
23.âe4 ele não percebeu um elementar golpe
posicional 23 .. .'iff5? 24.ãf4 !fe6
25.ãdxf?!, baseado na ausência de uma casa de
escape para o rei preto. Se ele tivesse se
preocupado com isso ao jogar 23 ... h6, a
igualdade seria conquistada.
22.'f!fxdS l!xd8
O lance 22 ... ~xd8 permitiria às brancas
manterem pressão muito forte no final da
partida através de 23 ..ib4 i.c7 24.~ dl.
23..ixf6 !Ixf6?
Após o match com Kamsky, na partida Wely-
Karpov (partida rápida, Cap D· Agde 1996), foi
jogado 23 ... gxf6!, e 24.~e3 ti:lxb3 25.lz::if5
ãc I conduziu no final a um empate. No caso de
24.~ee7 {Jxb3 25.ti:le3 â f8 26.li:)fS as pretas
têm o forte lance 26 ... h5!, libertando seu rei e
neutralizando a ameaça das brancas de
27.lz::ih6+ ~g7 28.li:)xf7 Wg6, quando elas não
têm nada a temer.

24.b4! ti:'le6?!
Resulta que o cavalo não tem uma boa casa.
O mal menor é entrar em um final de torres
com um peão a menos: 24 . . .b5 (não funciona,
com o mesmo objetivo 24 ...ti:'la4, pois ao invés
de 25.ãxa4 as brancas têm o forte 25.ãd7! ãf8
26.ãe5 com uma grande vantagem) 25.bxc5
bxc4 26.&4 ãc6 27.ãxc4 - a presença das
quatro torres deixa às pretas esperanças de
salvar a partida.
25.ti:'lxb6 ti::lgS 26.!ld7! êi)f3+ 27.<;t>O i!b8
28.ãedl
Combinando com habilidade operações de
ataque com o seu pequeno exército e a ameaça
de transpor para um final vencedor, Karpov
converte com precisão a sua vantagem.
28 ... $>18 29.ti:'ldS l!e6 30.ti:'lc7 ã h6 31.h4
g5 32.hxgS ti:'lxg5
Após 32 .. Jãhl + 33.©g2 !ixdl 34.l:lxdl
ê2lxg5 35 .ãd5 tZ:ie6 36.l:lb5 as pretas têm uma
escolha dentre muitos finais perdedores.
33.lãtdS! ~e4 34.!ldS+ ãxd8 35.ãxd8+
Wg7 (o final de torres após 35 ...<;t>e7 36.ãeS+
~d7 37.ãxe4 <tixc7 38.ilf4 é completamente
sem esperanças para as pretas) 36.êiJeS+ Wg6
37.Wg2 f6 38.!!d7 .âbS 39.!tg7+ @h6 40.l:le7
fS 41.l!e6+ ©gS 1- 0
E, em vista do óbvio 42.f4+ ~g4 43.l:lxe4,
as pretas abandonaram.
Devo lembrar que nessa ocas1ao Short já
tinha vencido o t11atch final de Candidatos contra
Anatoly, o Décimo-Segundo
Timman (6½-4½) e me sugeriu que
solucionássemos de uma só vez a gtande
quantidade de problemas acumulados na
negociação com Campomaoes: disputar o
Campeonato Mundial fora da jurisdição da
FIDE! Decidindo que este era o momento
oportuno para assentar o xadrez sobre bases
profissionais, concordei com a proposta. Assim,
em 26 de fevereiro, no auge das batalhas em
Llnares, Sbort e eu fizemos uma declaração
inesperada com conseqüências de longo alcance
no mundo do xadrez: "Garry Kasparov e Nigel
Short concordaram em disputar o seu match fora
da jurisdição da FIDE. O match será disputado
sob os auspícios do novo órgão, a Associação
Profissional de Xadrez (Projessional Chess
Assossiation - PCA) ... que pretende representar
os profissionais de xadrez em todo o mundo e
trabalhar pela difusão do jogo".
Não obstante a declaração, o supertorneio
prosseguiu. Depois de oito rodadas, Anand
estava liderando com meio ponto à frente de
Karpov e de mim. Já na 9ª e lif rodadas,
consegui vencer Anand com as brancas e
Karpov com as pretas (usando a Variante
Siimisch na Defesa Índia do Rei, sendo esta já a
nossa 162ª disputa). Com isto se decidiu o
resultado da competição como um todo: 1.
Kasparov - 1O em 13; 2-3. Anand e Karpov -
8½; 4. Shitov - 8½. Kramnik - 7½; 6-7.
lvantchuk e Salov - 6½; 8. Beliavsky- 6.
Em uma semana, em 23 de março, sem
maiores cerimônias, a Direção da FIDE privou
Short e eu dos direitos de desafiante e Campeão
e, ao mesmo tempo, ofereceu o direito de
disputar um ''match pelo Campeonato Mundial"
a dois candidatos-reserva, os perdedores do
ciclo classificatório, Timmao e KarpO\~
Esta súbita oportunidade de recuperar a
coroa, ainda que na versão exclusiva da FIDE,
reanimou e transformou o ex-Campeão. Em
abril e julho, ele venceu torneios em Dos
Hermanas e Dortmund, e no outono, enquanto
eu derrotava Sbort, ele não deu chance a
Timman, que manteve contagem equilibrada só
439
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
nas cinco primeiras partidas.
Ao derrotar Timman (1993), Karpov tornou-se
Campeão Mundial na versão da FIDE
Depois de conquistar o título de Campeão
Mundial da FIDE, em novembro ele venceu o
seu sétimo torneio em Tilburg, realizado de
acordo com o sistema nocaute, muito em moda
naquela época. Em mini-111atches ele derrotou,
um depois do outro, Romanishin, Vyjmanavin,
Kaidanov (ambos em partidas de desempate),
Yusupov, Beliavsky e, outra vez, Ivanchuk em
desempate.
Aqui o tema Defesa Índia da Dama
continuou na seguinte partida em que Karpov, a
partir do meio-jogo, atuou de maneira muito
interessante.
Partida 99
A. Karpov - A. Yusupov
Tilburg 1993, 5• rodada
Defasa Índia da Dama - E 17
1.d4 lDf6 2.c4 e6 3.lDf3 b6 4.g3 .1i.b7
5.i.g2 .ft.e7 6.lDc3 lDe4 7 ..id2 .1i.f6 8.l!fc2!?
(8.0--0 - partida 97) 8 ...lDxd2 9.l!fxd2
Uma posição típica: as pretas têm os dois
bispos enquanto as brancas dominam o centro
e controlam mais espaço.
9 ... d6 10.dS 0-0 11.lDd4!
Convidando à captura em d4 - isso conduz a
uma posição similar à já mencionada partida
Karpov-Salov (Reykjavik 1991 - conforme
partida 97, comentário ao lance 9). Yusupov
440
prefere manter seu bispo.
11 ... e5 12.~6 l!fd7 13.lDxbS ã fxb8
Parece que as pretas não têm do que reclamar.
No caso de 14.0--0 elas podem desenvolver seu
bispo por g7 e preparar ... f7- f5 que em
combinação com t'2-f4 conduziria à ativação
do bispo de casas pretas, que não tem
adversário.
14.h4!
Inesperado e forte. As brancas não somente
tomam espaço na ala do rei (após ...g7-g6 é
possível o ataque h4-h5), como principalmente
preparam a vinda do bispo a h3. Seu papel ali
será muito importante e a sua troca após
...~b7-c8 é vantajosa para as brancas, uma vez
que o enfraquecimento das casas brancas do
adversário será sentido com mais intensidade.
14 ... aS?!
Um lance rotineiro em posições deste tipo,
onde as brancas geralmente preparam uma
ofensiva de peões na ala da dama. Ou Yusupov
não antecipou o que viria em seguida, ou
superestimou a solidez de suas defesas.
O lance 14 ... a6 permitiria às pretas ter
esperanças de contrajogo. É claro, as brancas
ainda não rocaram grande e após 15 ..th3 tie8
16.0 e4 elas poderiam rocar para a ala do rei.
Mas com esse desenrolar dos fatos as pretas
manteriam mais possibilidades do que na
partida.
15.a4!
Karpov estabiliza a situação na ala da dama

para irúciar ações agressivas na ala do rei.
15 ... íif8 16.e4 hS (se 16 ... g6 então é
desagradável 17 .hS) 17.0-0-0!
As brancas mostram as cartas. Seu rei está
completamente seguro: devido à estrutura de
peões na ala da dama, as pretas não podem ter
esperança de fazer nenhum lance corrosivo de
peão ou desencadear uma tempestade de peões.
17 ... g618. .l.lh3 l!fe7 19.<i!?c2
Começam as manobras, em uma situação na
qual as brancas têm mais espaço e
possibilidades de fortalecer a sua posição.
19 ... Wg7?!
Um curso consistente de defesa. Se 19...ii..g7
então parece forte 20.g4 bxg4 21 .ilxg4 fS
22.$.f3, mas após o sacrifício da dama
20 ... 'iWxh4! 21.gxhS 'i!VxhS 22 ..tcS 'i!i'xdl+
23.'i!fxdl ii..xc8 (24.t'i:\b5 ii..d7) surge a
questão: as brancas podem vencer aqui?
20.f3 íih8 21.íib2 .ta6
22.êi}bS! l!af8
As brancas não têm medo da troca
22 ... .txb5 23.cxb5!, deixando bispos de cores
opostas no tabuleiro. É claro, as pretas
defenderiam seu peão c7 com seu bispo em d8,
mas cedo ou tarde as brancas avançariam de
forma vantajosa f3-f4. Entretanto, Karpov se
posiciona para preparar esta ruptura mesmo
sem a troca em bS.
23.Wbl 'tii'd8 24.'it'd3 il.e7 25.íie2 ii..c8?!
Yusupov fica cansado de esperar e decide no
entanto trocar os bispos, mas é possível que não
Anatoly, o Décímo-Segundo
devesse ter feito isso. Agora as brancas têm uma
partida muito fácil e o seu cavalo tem a
oportunidade de romper em c6.
26..ixc8 'i!fxc8 27.íigl il.d8
Esta passividade é forçada: 27 ... f5? 28.f4
rapidamente teria l.evado a problemas
insolúveis.
28.êi}a7 'i!i'b3 29.'iWc2 ãe8 30.~c6 .ãf6
31.ID'l 't!Sd7 32.'iWe2 íihf8 33..ãbl
Preparando um momento favorável para g3-
g4 ou f3-f4. Karpov mantém a tensão,
imaginando não ser fácil para as pretas
adivinharem a intenção do adversário. E de fato,
temendo ambas as rupturas, Yusupov não foi
capaz de encontrar uma saída desta posição
difícil.
33 ...íih8 34.'i!ff2 ãef8 35.l'àn ~g8?!
As pretas teriam colocado uma resistência
maior se tivessem previsto o avanço do peão f:
35 ... íie8 36.g4 'it>g8 37.'iig3 $l.g7.
36.f4! 'ifg4 37.'it'O! íie8 (seria ruim para as
pretas 37 ... 'i!i'xf3 38.llxf3 íie8 39.ãhfl ãb7
40.fS) 38.\Wxg4 hxg4 39.fS gS?!
Isso torna as coisas mais fáceis para as
brancas. Seria mais resistente 39 ... ~g7,
mantendo a tensão, embora eu ache que as
brancas gradualmente decidiriam as coisas
rompendo na ala da dama: Wc2, b2-b4 e se
.. axb4 - $>b3xb4 etc.
40.hS ãa8 41.Wc2 Wg7 42.'i&c3 lla6
43.l!al llha8 44.b4 Wf8
Um sacrifício .de qualidade desesperado. No
441
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
caso de 44 ... axb4+ 45.'i!txb4 Wh6 o mais
elegante meio de vencer foi apontado por
Ftacnik - 46.'i!?b5 JJ.g7 47.f6 .1lli8 48.!If2 Wh7
49 .h6 ~g6 50.h7! e tudo que resta é uma série
de xeques "maldosos" 50 ...&5+ 5 1.lzJxaS
lãxa5+ 52.~6 !Ic5+, que culminam em mate:
53.Wd7 !Ixc4 54.aS bxaS 55.!IxaS ãxe4
56Jàa8 ~xh7 57.~e7 etc.
45.bS
As brancas também teriam vencido através de
45.bxa5 bxa5 46.ã bl , mas Karpov decide
corretamente que uma "fortaleza" não poderia
ser alcançada.
45...ã 6a7 46.h6 .tb8
É interessante que após 46 ... 'i&g8 47.h7+
~b8 48.!Iahl l'âb7 49.ãh6 i.g7 sejam as
brancas que sacrifiquem uma qualidade - 50.f6!
.ilxh6 5 l .ã xh6 e as pretas estão absolutamente
perdidas: 51.. .ã e8 52.lzJe7 (com a idéia de
lzJf5-e3xg4, que abriria um caminho para a
invasão do rei) 52 ... !Ixe7 53.fxe7 l'âb8 54.cS!
bxcS 55.b6!
47.f6! (não essencial, mas eficaz) 47....txf6
48.!ifl .th8 49.lzJxa7 ã xa7 50.!!hS @e7
51.!!xgS !!a8 52.h7 f6 53.!!g8 !!f8 54.cS
dxc5 55.@c4 ~f7 56.d6 cxd6 57.ã xf8+
'i!?xf8 58.'i!?dS 1-0
O próspero ano de 1993 viu Karpov iniciar
uma nova e final arrancada, conseguindo várias
vitórias notáveis em eventos de categoria
mundial.
442
O Sufoco da Grünfeld
O sólido esquema com g2-g3 tornou-se a
arma favorita do 12° Campeão Mundial contra
as defesas G rünfeld e Índia do Rei. A
preferência de Karpov por esta arma se deveu
ao fato de ser este um esquema universal e
também porque, nas posições resultantes, as
pretas não podiam mostrar nenhuma atividade
de imediato. Ele obtinha os melhores resultados
principalmente em posições simétricas, no
momento em que o adversário tentava
neutralizar a iniciativa das brancas com ajuda da
cunha com os peões c6 e d5. Lembro que
Bronstein usou este recurso na 23ª partida de
seu match com Botvinnik e, apesar de ter
igualado o jogo com relativa facilidade, no final
o Campeal Mundial conseguiu reverter o
resultado a seu favor (vo/11n1e 2, partida 66) .
Por muito tempo, estas posições foram
consideradas muito tediosas. Toda a sabedoria
se reduzia ao fato de que, se as pretas pudessem
jogar lzJf6-e4, as chances supostamente seriam
iguais. Digamos, depois de l .d4 lzJf6 2.c4 g6
3.g3 .tg7 4,j.g2 c6 5.lzJf3 dS 6.cxd5 cxdS
7.0-0 0-0 8.li)c3 seria preciso jogar 8 ...~e4!.
De forma correspondente, seria melhor para as
brancas jogarem logo 8.~eS!, mantendo uma
ligeira iniciativa, embora isto não pareça
prometer nada de sério. No entanto, por
exemplo, Pettosian contra Kortchnoi na 4ª
partida do match disputado em Odessa em 1974,
conquistou desta maneira uma vantagem,
transformando-a posteriormente em vitória.
A principal defesa era considerada ser 8... e6 9
0-0 lzJfd7, retirando o cavalo de e5. Foi assim
que eu também joguei, duas vezes na revanche
de 1986 (3ª e 13ª p artidas) e duas vezes no match
de 1987 (1ª e 3ª partidas), conseguindo em cada
caso o empate (como descreverei mais
detalhadamente no volume dedicado aos
nossos n1atches). Mas posteriormente Karpov
demonstrou com sucesso que estes esquemas
simétricos não são de forma alguma inofensivos
para as pretas, como parece à primeira vista.
Vou descrever duas de suas partidas clássicas

contra importantes jovens Grandes Mestres,
nas quais ele demonstrou uma compreensão
sutiüssima dessas posições estéreis.
A primeira é a de um supertorneio dedicado
ao centenário do nascimento de Alekhine
(Moscou, outono de 1992), em que Karpov só
obteve 3 1/z pontos em 7, mas, na partida com
Gata Kamsky, o júri formado por Botvinnik,
Lllienthal e Najdorf lhe atribuiu o prêmio "da
vitória ao estilo de Alekhine".
Na verdade, um dos comentaristas da partida,
o Grande Mestre Mikhail Krasenkow,
discordou: " Para mim esta decisão é
questionável. Realmente, nas partidas do
primeiro Campeão Mundial russo há vários
exemplos de transferência do jogo da ala da
dama para a ala do rei. Mas aqui era uma coisa
totalmente diferente: a luta passou da ala do rei
para a ala da dama. E este é o estilo de Karpov!"
Partida 100
A. Karpov - G. Kamsky
Moscou 1992, 6ª rodada
Defesa Griiefeld - D79
1.d4 êzJf6 2.c4 g6 3.êzJf3 Ji...g7 4.g3 c6 s..tg2
dS 6.cxd5 cxd5 7.CzJc3 0---0 8.iZ)e5 e6 9.0---0
ÍzJfd7 10.f4 CzJc6 u. .te3
O que as pretas jogam agora?
Na partida Karpov-Timman (Memorial
Euwe, Amsterdã, maio de 1987), após
Anatoly, o Décimo-Segundo
l I...iZ)dxe5 12.fxe5 f6 13.exf6 Etxf6 l 4.ifd2
i.d7 15.@hl !!xfl + 16.Etxfl ~e7 17.Erdl!
(um lance típico de Karpov, reforçando o peão
d4) 17 ... Etc8 18.a3 (outro lance profilático)
18 . ...tf6 19.i.gl .tg5 20.ii'el êZ:id8 21.e4!
dxe4 22.~xe4 as brancas conquistaram uma
clara vantagem.
Provavelmente possa se melhorar o lance de
Timman, mas após 11 ... l2Jdxe5 aparentemente
as pretas não têm um caminho claro de igualar.
Outras formas têm que ser pensadas...
ll . ..l2Jb6?!
Kamsky segue a 1ª partida do match de Sevilha
(1987). A facilidade com a qual eu igualei a
partida aparentemente colocou Gata em um
estado de espírito otimista. Mas ele não se
aprofundou nas sutilezas da posição. De fato, o
desenvolvimento do plano executado pelas
pretas não é suficiente para igualar c seria
melhor expulsar imediatamente o cavalo com
l l.. .f6 Çt>arlida 1O1).
12.~ f2 ~ d7
Após 12 ... f6 as pretas então têm que contar
com l 3.CzJxc6 bxc6 14.e4 !. Foi devido à
ameaça posicional de e2-e4 que na 3ª partida
do match de Sevilha preferi 12 ...êZ:ie7.
13.e4! /i)e7 14.êZ:ixd7 'i!Yxd7 15.eS
As brancas fizeram progresso: avançaram seu
peão de retaguarda a e5 e obtiveram espaço.
No momento a posição está fechada e não é
sentida a força dos dois bispos. Mas as brancas
têm a perspectiva de abrir o jogo através do
avanço dos seus peões da ala do rei. As pretas,
enquanto isso, esperam pelo contrajogo na ala
da dama: para evitar o salto do cavalo a c4, as
brancas deveriam jogar b2-b3 e então as pretas
podem criar pressão na coluna e. Elas também
esperam que a atividade das brancas não
conduza a um resultado rápido, isto é, que a
tempestade de peões (g3-g4, f4-f5) não se
mostre mortal.
15....ãac8
Eu joguei 15 ...Erfc8 (isto dificilmente muda
alguma coisa, uma vez que da mesma forma as
pretas precisem dobrar as torres na coluna e)
443
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
16.!k 1 ~ - Aqui Karpov jogou com bastante
cautela - l 7 ..1lJ3 e as chances se tornaram
iguais: 17 ... ãc7 18.b3 ã ac8 19.'tifd2 ~c6
20.'ilfb2 a6 21..âe2 iee7. Mas logo em seguida
muitos notaram a possibilidade do plano
enérgico com g3-g4 e f4-f5!.
16,g cl a6
K.arpov recomendou 16 .. J:k7, mas após
l 7.b3 g fc8 l 8.°ti'd2 não é claro o que as pretas
podem fazer além do lance padrão 18 .. .a6,
conduzindo a uma posição da partida.
Talvez elas tivessem jogado 16 ... ~c4 17.b3
lõa3 18.li'd2 ã c7 19.'i!fb2 ~ b5, tentando
trocar peças, mas mesmo após 20.~e2 as
brancas têm uma vantagem duradoura graças ao
grande espaço dos seus dois bispos.
17.b3 ã c7 18.ied2 ã fc8 19.g4! .1l.f8
20.'ii'e3!
Karpov evita o melhor final após 20.liJe2
ã xcl 21.ãxcl g xcl 22.luxcl l2ic6 23.lud3,
pois ele quer mais. Ao invés disso, faz um
importante lance profiJático, reduzindo a
eficiência do contrajogo na coluna e. Para a
manobra essencial do seu bispo a a3, as pretas
têm que bloquear essa coluna com o seu cavalo
e então as brancas conseguem jogar f4-f5,
removendo seu cavalo de c3 e a sua torre da
coluna e, sem de nenhuma forma corromper a
coordenação das suas peças.
20 .. .l2ic6 21.rs! Aa3
Diagrama de Análise
444
As brancas têm muitas possibilidades
tentadoras e a melhor é longe de óbvia. O peão
d5 está minado: 23.l2!xd5? 0 xd5 24 ...âxdS
l2!b4 25.ãxc7? luxd5 e vencem. Karpov
inicialmente deu 23 ..ihl f!h5 24.Ji.xc8 ~ b6
25.ieh3 (dificilmente seria melhor 25.'ti¼'g3
~ xcl) 25 ... it.xcl 26.ifxhS gxh5 27.Ji.xb7,
mas então Karpov refutou sua própria
recomendação na News in Chess através de
27 ... ~ b2! 28.it.xc6? .âxc3, vencendo (então
só resta 28.ludl lt,xd4, com igualdade).
Outra idéia de Karpov é mais promissora -
23.l2ie2!? - a inclusão do cavalo for talece de
forma aguda o ataque! Assim, se 23 ... °ti'g4,
então 24.<;;!;>hl com a ameaça de kh3, enquanto
23.. .l!fhS 24.luf4 'iWg4 25.Wbl it.h6 entra em
26.Ael! lue7 27."ãxc7 ãxc7 28.it.h3 'ti¼'g5
(28 ... ~xf4 29."ãxf4 ifdl 30.ã fl) 29.it.aS
g c6 30.ife l ! com a ameaça de 31 .~xb6 ã xb6
32.~d7 e tias e isso não é tudo: após
30 ...Ji.f8 também há 31.l2!d3!, enquanto se
30 ...it.g7 31 ..âxb6 ã xb6 então também é bom
32.'ii'aS ãc6 33.~d8+ ~ 34.luxdS Wg7
35.luf4.
22.llcdl ~ b4
Um lance natural, mas no momento bloqueia
o caminho do bispo na ala do rei. "As peças
pretas estão tropeçando umas nas outras, o que
é explorado pelas brancas". (Krasenk.ow)
23.'tifh6!
Seria impreciso 23.0bl devido a 23 ...tz:lc2!
(Karpov) e o bispo de a3 consegue retornar à
sua ala "nativa".
23 ...'i!fe8?!
Os saltos do cavalo - 23 ...l2!d3?! 24.l2!xd5!
~xdS 25Jâxd3 ou23 .. .luc2 24.lue2 (Karpov)
24 ... .âf8 25.tih4 ~ b4 26.a3 "ãc2 27.luf4
liJc6 28.~d3 - não aliviam as pretas de suas
dificuldades.
Mas a casa para a dama (a guardiã da casa f8
e defensora do cavalo cm b4) deveria ter sido
escolhida de forma mais precisa - 23 .. .'ii'e7!
24.lubl it.b2, "abolindo" 25.lWd2. Após
25.$.114 (se 25.a3 0c2 26."ãd3 'tiff8 27.ifd2 as

pretas devem decidir por 27 ...~xa3 28.lZ:\xa3
V:!fxa3 - o cavalo estará perdido após
28 ...lZ:lxa3? 29.fxe6 fxe6 30.'ã'a5 ãc6
31._te1 VJf e7 32._tb4 - 29J! h3 iff8 na
esperança de que a tempestade passe) 25 .. .!ff8
26.tfd.2 !'k2 (Karpov) 27.'i!fe3 ou 26.'fi'f4
ãc2 (26 ... lZ:\xa2? 27.fxe6 fxe6 28.'i!fd2) 27.a3
e as chances das branc~s são melhores, mas a
torre em c2 restinge seus impulsos de ataque.
24.lZ:lbl! .Ab2 (agora o bispo esquecerá para
sempre o caminho de casa) 25.'ã'd2! lZ:lc2
Após 25 ... a5 26.a3! (26.'i!fxb2?? ãc2
27.lWa3 lãxa2) 26 ...lZ:lc2 Karpov
simplesmente teria capturado o peão -
27.'ilf xa5, enquanto se 26 .. Jk2 ele
responderia 27.'ilfe l ! 'i!fb5 28.axb4! ãe2
29.°i!fxe2 l!fxe2 30.bxa5 êud7 3U!d2,
ganhando o bispo condenado.
As peças pretas penetraram profundamente
na posição das brancas, mas pareceria melhor se
elas tivessem uma torre em c2. O cavalo
paralisa a sua própria torre e isso deixa as
brancas com as mãos livres para a ala do rei.
26.<itthl
"O conrrajogo das pretas está
temporariamente estancado e Karpov, sem se
apressar (no seu melhor estilo), começa a
preparação da ação decisiva''. (Krasenkow)
26... 'tffe7 27.kgl ~ d7 28.l!fJ !Vb4
"As brancas previnem a manobra ãb.3 e
°%Wh6" (Karpov)
29.ti'h6! 'i!ff8 30.'i!fgS! ii'g7
Anatoly, o Décimo-Segundo
A dama das brancas colocou fora de jogo a
das pretas, ao atraí-la a g7. Seria mais resistente
30 ... it'd8 3 l.it'd2 'f!e7, continuando a olhar
ambos os lados, embora após 32.~dfl ! as
brancas mais provavelmente tivessem dado
motivos para seu adversário se arrepender do
23º lance.
31.'ilfd2!
Um pêndulo impressionante da dama! As
pretas estão amarradas, suas peças menores
estão atoladas sem esperanças e as brancas
podem continuar a preparar a ofensiva decisiva.
3I . .. b6 32.I:!dfi aS 33.h4 (ameaçando um
possível h4-b5-h6) 33 ... ~ b4
Kamsky no entanto assegurou a invasão da
sua torre em c2 (34.ii'xb2? 1âc2), mas
enquanto isso as brancas fizeram progresso no
outro lado do tabuleiro e essa atividade atrasada
já não é mais perigosa para elas (no final até
mesmo as favorece!).
34.a3 g el 35.ii'f4 ~ c6 36.~ h3! ~ d8
(36 ... !!e2 37.li.)c3!) 37.~e3 b5
38.IDf2!
Uma decisão completamente inesperada.
Vendo que ~s pretas estão razoavelmente sóli-
das na ala do rei, Karpov encontra um plano
paradoxal: explorando a posição desesperada
do bispo em b2, ele abre uma segunda frente
próximo ao local onde as peças pretas estão
aglomeradas - a ala da dama. Após a troca das
corres - a úcúca peça do adversário com capaci-
dade de luta! - a dama branca rompe na posição
445
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
inimiga via coluna e , enquanto a preta está ato-
lada na ala do rei.
38 . ..b4 39.a><b4 a><b4 40.ã xc2 ã xc2
41.l:!12! !Ixf2 42.'i!fxf2 il.a3
No caso de 42 ... .àc3 43.f6 'iff8 44.Wb'c2 as
pretas entram em um final sem esperanças com
um peão a menos (Karpov), uma vez que
44 ... .àel é até pior devido a 45.~c7 1We8
46..àfl ~f8 47.~e7! l!fd7 48..àh6!. '1.Jm
final engraçado! Mas em a3 o bispo está
completamente fora de jogo". (Krasenkow)
43.!fr'c2 ~ xe5?!
Isto perde forçad o. O lance 43 ...~b8
permitiria às pretas evitarem perdas imediatas,
embor~, é claro, após 44.f6 'i!ff8 45 ..àfl
(Krasenkow), ou 45.-tld2 seguido por ~t3 e
kfl (Karpov), elas não resistissem por muito
tempo.
44.dxeS ~><e5 4S.1Wc8! °iWe4+ 46. .àg2
ll.i'xbt+ 47.'it>h2 .àb2 48.~ xd8+ 'it>g7
E aqui Karpov coroou sua obra prima
estratégica com um belo ataque de mace.
49.f6+! .àxf6 50..ãb6+! 'i!?xh6 51.'i!fxf6
~c2 52.g5+ 'i!?b5 53.Wg3!
Esse tipo de coisas acontece com mais
freqüência em problemas. Ainda não era tarde
para errar: 53.Wh3? 't!ff5+.
S3.. :i!fc7+ 54.Wh3 1-0
O mate é inevitável.
Em 1993, quando Short e eu "batemos a
porta" e contra rodas as expectativas Karpov
446
voltou ao trono, a FIDE decidiu colocar para o
seu Campeão um exame adicional, ao obrigá-lo
a iniciar no novo ciclo com um match semifinal
de 10 partidas. E este matcb teve lugar em
feve-reiro de 1995 na cidade indiana de Sanghi
Nagar.
No match com Gata Kamsky, com decisão
Karpov defendeu o t ítulo. Kirsan Ilyumzhinov
faz o lance inaugural, ao lado do árbitro Gert
Huyssen
O adversário de Karpov era o talentoso
Grande Mestre de 26 anos Boris Gelfand -
outra estrela cintilante do final dos anos 1980 e
inicio dos 1990, completamente comparável a
Anand e Ivanchuk. Em uma entrevista após
meu quinto 1JJatcb com Karpov (1990) eu até
apresentei a opinião de que no próximo ciclo
classificatório o mais poderoso adversário ao
ex-Campeão Mundial seria de fato Gelfand.
Entretanto, então ocorreu que eles se
encontraram três anos depois, após Boris ter
vencido já o seu segundo Torneio lnterzonal
(1993) e então derrotado Adams e Kramnik em
matches.
Gelfand deve ter depositado grandes
esperanças no match semifinal. A seu favor havia
uma diferença de idade de 17 anos, o que
poderia se tornar um fator significativo em vista
das difíceis condições climáticas da Índia ...
Após dojs empates no início, ele assumiu a
liderança ao vencer a 3ª partida em uma Caro
Kan com 3.e5 - Karpov sempre teve relações
difíceis com esta variante.
Mas logo na próxima partida, Karpov
devolveu a derrota com a sua favorita
"Grünfeld" simétrica. Nesta ocasião, a luta foi
 Anatoly, o Décimo-Segundo

muito mais complicada e duplamente aguda do

que em seu encontro com Kamsky.

Partida 101
A. Karpov - B. Gelfand
Matcb de Candidatus FIDE, Sa11ghi Nagar 1995,
4•rot1ada
Defesa Griinfald - D79

l.d4 ~ f6 2.c4 g6 3.g3 c6 4..i.g2 d5 S.cxd5

cxdS 6.~ f3 2.g7 7.~eS 0-0 8.~c3 e6
Em Llnares 1991, Gelfand escolheu 8 ....i.f5
9.0-0 ~ e4 e após 10.2.e3?! (na partida com
Kortchnoi mencionada no começo do capítulo,
Petiosian jogou de forma mais ativa - 10.$.f4)
10 ... ~xc3 l l.bxc3 li:Jc6 as brancas não
conseguiram nenhuma vantagem, mas...
empataram em um final duplo de torres tão
logo foi alcançado. É engraçado que neste
mesmo esquema Fischer vencesse finais
similares contra Geller e Black (Interzooal de
Palma de Mallorca 1970).
9.0-0 ~ fd7 10.f4 ~c6 11 ..i.e3 f6
A continuação principal (l l...~b6?! -
partida 1O{f).
12/L)f3
Na partida Karpov-Timman (4' partida do
match, Kuala Lumpur 1990), seguiu 12.li:Jd3
(12.li:Jxc6 bxc6, com igualdade, Georgadze-
Khuzman, Uzhgorod 1987) 12 .. . li:Jb6 l3.b3
'iWe7?! l4.a4 .i.d7 15 ..i.cl! l'!fd8 16.e3 .i.e8
17 ..i.a3 'fif7 18.ãc l .i.f8 19 ..i.xf8 ~xf8
20.g4! com a iniciativa para as branc,1.s, m<1s
então as pretas mellioraram: 13 ... A d7 14..âf2
VJf/e7 15.ãc l ~d8 16.ãc2 Ae8, com igualdade
(Karpov-Timman, 12ª partida do match,
Holanda/Indonésia 1993).
12 ••. ti::lb6 (a seqüência 12 ... f5 l 3.li:Je5 êi:lb6
14.b3 2.d7 15.~d3 êi:lc8 16.$.cl ! conduziu a
alguma vantagem para as brancas em Kasparov-
Topalov, ''Xadrez do Futuro", 2ª partida do
match, Leoa 1998) 13..i.fl
Também tem sido tentado 13.b3 ~d7
14..i.cl f5 15 ..b.3 (Bologan-Leko, D ortmund
2004).
13 ... .i.d7
Uma novidade, embora 13 ... f5 (prevenindo
e2-e4) 14.~ eS ~ d7 seja mais sólido, quando
as pretas geralmente conseguem eliminar a
ligeira iniciativa do adversário: 15.!fd2 l2Jc8
16.ti'e 3 ç!;,h8 17.lifdl êi:ld6 18.b3 ãc8
19J!acl ~e8 20.~el .1Lf6 (Karpov-Kasparov,
13ª partida do match, Londres/Leningrado
1986), 15.licl 'tife7 (Barecv-Leko, Sarajevo
1999) ou 15.g4 'fie7 16.gxfS gxf5 l 7.$'hl
~ h8 18.'tifd3 ~f6 19.'it'h3 ~g8, então ...ãg7 e
...&g8 (Bologan-Leko, partida rápida,
Dortmund 2004).
Entretanto, um jogo assim é precisamente no
estilo de Karpov: ele pode se engajar no gradual
fortalecimento da sua posição, procurando
debilidades no campo do adversário e
manobrando na expectativa de alguma ação
imprudente.
14.e4 dxe4 15.lLJxe4 ~ d5
Tendo conseguido assegurar o controle da
casa d5, Gelfand esperava possivelmente
explorar a debilidade do peão isolado d4. Mas
os defeitos na posição das pretas também são
óbvios: um peão débil e6 e um bispo passivo
em g7, que é difícil de ser ativado, uma vez que
...f6-f5 enfraquecerá a casa e5.
16.ãel (seria desfavorável para as brancas
16.êi:lcS b6 17 .<~xd7 ti'xd7 Ftacnik) 16... b6
17.ê2k3!
Agora que desapareceu a perspectiva de ir a
c5, não há nada para o cavalo fazer em e4 e o

447
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
seu retomo a c3 é perfeitamente lógico - a luta
pela casa d5!
É duvidoso o quanto a tentativa de colocar
pressão imediatamente sobre o peão e6 através
de 17,jili3 seria algo melhor, uma vez que as
pretas defendem sua debilidade sem nenhum
problema: 17 ...'i!9e 7 18 .!!e l !!ac8 19.li:Jc3
'i!fd6. Mas em combinação com a pressão em
d5, esta ameaça será desagradável, pois não é
tão fácil para as pretas manobrarem em espaço
restringido.
17 ... li:Jce7 18.1!fb3 (18.~h3 li:Jc7 Karpov)
18...aS
Agora, após o natural 18 ...fk8 seria bastante
bom: 19.1i.113! !!c6 (ou 19 ... f5 20.êi:ig5 ãc6
21.~g2) 20.!Iacl (Ftacnik). Não querendo
suportar a dama em b3, Gelfand decide por
uma debilidade em sua estrutura de peões.
19.a3
Karpov jamais gostou de debilitar seus peões
sem necessidade. Assim, aqui ele previne o
avanço ... a5-a4-a3, embora após 19 ..i.h3!? a4
20.!t'c2 !fc8 (Ftacnik) 21.'ii'e2 a3 22.êi:ixd5
êi:ixd5 23.~cl ii'e8 24.b3 os problemas das
pretas permaneceriam sem solução: 24... fS
25.i.g2 !Ic8 26.!!xc8 'i!fxc8 27.li:JeS e se
24 ... ãc8, então não 25.ãxc8 'i!fxc8 26..âxe6+
~xe6 27.~xe6+ 'i!fxe6 28.l::!xe6 ãc8 com
contrajogo, mas 25.i!c4!, mantendo a pressão.
19 ...a4 20.'ti'dl
Se 20.'i!i'a2 êi:ixc3 2l.bxc3 bS (com igualdade
- Karpov) 22.fi:Jd2 lic8 23.li:Je4 as chances
estão com as brancas, mas após 20 ... ãc8
21.:Sacl !!c6 (Ftacnik) 22.li:Jd2 1'.e8 as pret.as
conseguem defender seus peões débeis:
23.fi:Jc4 1J..f7 e se 23.'tlxd5 exd5 24.b3 (uma
tentativa de explorar a debilidade em b6), então
é possível 24 ... !!xcl 25.!!xcl g5, com
contrajogo na ala do rei.
20 ... ~c7
Gelfand recoloca seu cavalo de bloqueio: o de
e 7 irá a d5, assim o outro poderá defender o
peão de e6 a partir de c7 . A defesa deste peão
com a dama deixaria as brancas em vantagem:
448
20...'i!i'b8 2l..âh3 ~d6 22.li:Je4 'i!fc6 23.É!cl
l!fb5 24.ãc2 liJf5 25.êi:ic3! (a luta gira ao redor
da casa d5) 25 ...l!fc6 26.êi:ixd5 'i!i'xd5 27.~g2
l!fd6 28.liJd2, preparando a ruptura no centro.
Não se pode criticar 20 ...liJc7: as pretaS
ainda mantêm um jogo aceitável. .Mas é
instrutivo observai: como Karpov procura
recursos, manobrando nas casas centrais.
21.llcl êi:ied5 22.liJd2! §e8 (após 22 ... bS o
cavalo toma um rumo diferente - 23.liJde4)
23.liJc4! ~f8
24.~e4
Karpov inesperadamente muda o plano: uma
vez que ele não considerou ser útil trocar seu
cavalo em c3, temporariamente pára de assediar
a casa d5. Ainda assim, a intensificação lógica
deste cerco através de 24.liJe3 colocaria às
pretas os mais sérios problemas: 24 ... ~c6?!
25.fi:JcxdS! ~dS 26.fi:JxdS liJxd5 27.!!'c2!
(mais forte do que a recomendação de Karpov
27 .!!c6) com uma vantagem óbvia, ou
24 ... ~xc3 25.!!xc3 &7 (não é estético, porém
após 25 .. Jâc8 de Fatcnik, seguiria 26.!t'c2 e
não é fácil para as pretas se desembaraçarem)
26.h4 com a iniciativa para as brancas.
Na partida, em comparação, a retenção do
posto avançado dS permitiu às pretas manterem
uma defesa sólida. Mas, por outro lado, com um
grande número de peças no t.abuleiro, Gelfand
t.ambém tem que resolver problemas dos mais
difíceis. Ao final, a idéia de Karpov se justificou,
uma vez que na manobra seguinte as pretas não

atuaram da melhor forma.
24 ... .ibS 25.~ e2! ii.e7 26.!Iec2 '1b8 (era
ameaçado li)xb6) 27.'i!fd2 n f8?!
As pretas iniciam o 9ue parece ser um
reagrupamento bastante bom: a torre desocupa
a casa para o cavalo, que vai para g7, para cobrir
o rei e atrapalhar um possível avanço do peão b.
Mas este plano tem um defeito óbvio:
enfraquece o controle das pretas sobre a casa
d5. O desejo de Gelfand mover o rei para c7,
onde está sob um ataque "raio-X" pelas t0rres
brancas, é incompreensível, mas na minha
opinião, seria claramente prefcdvel 2 7 ... ii'd 7 -
após 28.h4 ele poderia jogar tanto 28 .. Jãec8
29.hS lile8 30.hxg6 hxg6 3 1.lue3 Ac6, ou
mesmo 28 ... h5. I sto é, graças ao seu controle
sobre d5, as pretas no entanto poderiam esperar
obter um jogo normal.
28.h4! lõe8?! (consistente, embora fosse
ainda melhor 28 .. .1fd7 - mesmo com a perda
de um tempoQ 29.~ e3 ~ g7
30.êi::lc3!
Retomando ao ataque ao ponto dS. Um
sacrificio de qualidade também merece séria
consideração: 30.~xdS!? exd5 3 l.fõc3 .âc4
(após o lance de Fatcnik 31 ....i.c6 as brancas
têm a forte resposta 32.~e2 !, quando é difícil
as pretas segurarem seus peões a4 e d S)
32.lilxa4 .i.b3 33.lilc3 (Karpov) e se
33 ....ixc2, então 34Jâxc2!. Em qualquer caso,
as brancas capturarão o peão d5 e terão
excelente compen sação. Mas Karpov queria
Anatoly, o Décimo-Segundo
conquistar mais!
30 .. .fõxcJ
As pretas são forçadas a entregarem seu
posto avançado. No caso de 30 ... ~c6
31.tucxdS .âxd5 32.lõxdS exd5 33.t+'d3 b5
34.~f3 (Ftacnik) elas perderiam um peão
muito importante.
31.l!xcJ gS!?
Imaginando que o desenvolvimento tranqüilo
dos fatos não lhe prometia nada, Boris decide
abrir o jogo na ala do rei.
32.bxgS
Agora a ruptura perigosa 32.d5!? é estancada
por 32 ... gxf4 33.gxf4 © h8 e o
enfraquecimento do rei branco dá contra-
chances às pretas.
32 ... fxgS 3J/i:}g4 gxf4 34.gxf4 it.d6?!
Ftacnik recomendou atacar o peão f4 de
outra forma - 34 .. .<~Jb5 !?. Isto de fato teria
colocado às brancas problemas um pouco mais
difíceis.
Diagrama de Análise
Parece altamente promissor 35.f5!? exfS
36.'ffi'h6! (mas não 36.lZlh6+ © g7 37.Ek7
©g6!, quando as brancas não têm nada melhor
do que um empate: 38.-t\g4 fxg4 39.it.e4+
Wf7 40.'i!fh6 lilf6 4t.Axh7 ghs 42.~g6+).
Entretanto, as pretas jogam e as coisas ficarão
difíce.is para elas:
1) 36 ...tug7 37.CLJeS ã f6 (após 37 ... ~g5 há
a forte resposta 38...âd5+! l!fxd5 39.l!Vxg5
tfct6 40.ã c? l!ff6 4I.1Wg2 Wh8 42.~h4 't!fh6
449
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
43.i.g5 'itfd6 44..if4 't!ff6 45.ãf7 e vencem)
38.'ilfhl ! (o bispo mira em d5 e a corre em h3)
38 ... ~h8 39.~ h3 h5 (39 . . .'t\t'g8 40.illl4)
40.ãxh5+ <t\xh5 41.'+Wxh5+ ~ g8 42.ligS+
Wf8 43.Efo3 etc.;
2) 36 ... fxg4 37 .'iixh5 .ie8 (37 ... .ig5
38.ãc7 .id3 39.~xg4 .ig6 40.ã lc6 e as
pretas não podem resistir; uma das ameaças é
41.~ xg6+ hxg6 42.'i!fe6+ ~h8 43.'ti'h3+)
38.~xg4+ 'iBh8 39 ..ig3 .id6 40.ãc7! .ig6
41.gd7 e a dama tem que ser entregue:
41.. .2i.xg3 42.!!xd8 .i.f2+ 43.~ hl ~xd8
44.d5. As brancas têm uma vantagem óbvia,
mas a batalha ainda continua.
A melhor defesa após 35.fS é sacrificar a
dama de uma forma diferente: 35 .. ..igS!
36..ie3 I!xf5 37..ixg5 ã xg5 38.g c8 ãxg4
39.ãxd8+ gxd8 40.~h6 li::lf4 41.~bl ã f8
42..i.e4 l2Jg6 - aqui as chances de vitória das
brancas não são tão grandes.
E ntretanto, mais do que o lance ao estilo de
Tal 35.f5, Karpov teria preferido 35.!U3
(Ftacnik) 35 . ...id6 36.l2\h6+ 'iBg7 37.fS com
um ataque, ou 35 ... li.Jf6 36.l2\b6+ (seria mais
fraco 36.l2\e5 l2\e4 37.'ti'e3 li:lxf2 38.ãxf2
.ih4 39.ã f3 E!h7! e ...ãg7) 36 ... ~h8 37.!fe3
com uma vantagem óbvia no caso de 37 .. ..id7
38.~e5 ãc8 39.l!xc8 tllxc8 40.ãc3 llfr'e8
4l.â c7. O sacrifício de peão 37 ....id6
38.'it'xe6 'ti'd7 não dá às pretas contrajogo
completo: 39.f5 ãbe8 40.'ti'xd7 .ixd7 41.ii.g3
.ixg3 42.ãxg3.
35.l:!O ! .i.e8
Nem mesmo tentando explorar a coluna g
aberta - 35 . . .'~h8. E realmente, após o
temático 36.d5! (seria mais fraco 36.li.::ieS l2:lf5
37.d5 devido a 37 ... \!;t'f6!, mas não 37 . . ..ixe5
38.fxe5 ~xd5 39.~xd5 exd5 40..ih3 .id7
41.ã c? .ie6 42.&6 .id7 43.ã f6 ãxf6 44.exf6
1âg8+ 45.<ith2 ã g5 46..i.e3 ID!S 47.~gl e
.ig4!) 36 . .. exd5 37.fS as ameaças das brancas
rapidamente se acumulam.
O objetivo de 35 . ...ie8 é óbvio: tomar a
iniciativa após 36.d5? i.h5 37.i.113 e5.
450
36.li.JeS li.JfS
As pretas precisam fazer alguma coisa para se
oporem ao avanço d4-cl5, mas o quê? Após
36 ....i.xe5 37.fxeS ã xf3 38.~xf3 sua posição
é difícil: se 38 ... .ih5 então é correto 39..i.g2!
(é duvidosa a recomendação de Ftacnik
39..i.c6, com a idéia de 39 ... bS 40.d5 exd5
41~a7! devido a 39 ...~h8! 40..i.xa4 l2\f5).
~..t.
37.dS!
A ruptura decisiva neste ponto uma vez bem
fortificado. A posição se abre com vantagem
óbvia das brancas.
37 ....i.xeS (não seria melhor 37 ... exdS
38.~xdS+) 38.fxe5 !!b7
Após 38 ... exd5 (38 ...Wfxd5? 39.l:!g3+)
Karpov deu 39.e6. Mas também é possível
jogar 39.!If4!? (não é claro o lance de Ftacnik
39.ã d3 em vista de 39 ... d4, quando é mau para
as brancas40.ii.xd4?! i.b5) 39 ... d4 (39 ...~e7
40.ã'.xf8+ Wxf8 41..ih4 Ftacnik) 40..i.xd4
l2:lxd4 4l.~xd4 W!/e7 42.e6, ou até o mais forte
40.~fl !. Agora, se 40 . . .'t!fg5 as brancas
vencem através de 4 1.~4 'ti'g6 42.<;!;ib2 e após
40 ... .i.b5 41.~4 \1Nd7 - através da diversão
42.e6!, quando no caso de 42 . .. 'ffxe6 a dama
preta não poderá defender por muito tempo o
peão d4: 43.ãg4+ éh8 44.~f5 ou 43 ...~g7
44.l!fr'xd4 l!fr'd7 45~d5+ 'i!?h8 46..i.f6.
Pode parecer que a manobra da torre a g7
dará algumas chances às pretas, mas Karpol"
demonstra de forma convincente que isto é
uma ilusão.

39.@h2! ãg7 (39 ... exd5 40.ã f4! ã d7
41.ã fl etc.) 40.ii.h3 ii.h5
Após 40 .. .ii.g6 não somente 4 l .d6 (Ftacnik),
mas também 41.lic6! e a posição das pretas é
inviável.
41.l!f4 g?h8?!
Ainda assim, 4 1.. .~g6 teria oferecido
melhores chances práticas, apesar de 42.d6
(Karpov) ou 42.ãc6!.
42.Axf5!
Aqui as brancas não precisam se preocupar
em deixar o seu rei como principal defensor:
elas ganham a qualidade e as ameaças das pretas
são estancadas com facilidade.
42 ...exfS (42 ...~ f.5 43..th4!) 43..ih4 'i!Ye8
(43 ..."iib8 44.d6!) 44..if6 .ig4 45..ixg7+
@xg7 46J~c7+ 'i&h8 47.e6!
Permitindo finalmente ao adversário dirigir
seu rei ao centro, mas...
47 ... 'ilt'hS+ 48.~ gl lig5 49.<itif2! "ifh4+
so.'i!?e3 t- o
Os peões passados das brancas se tornaram
totalmente irresisúveis.
Esta partida monumental teve uma influência
decisiva no curso podterior do match: ao vencer
em grande estilo, Karpov não somente igualou
a contagem, mas também minou a confiança de
G elfand no sucesso final. Após um empate na
s• partida, Boris perdeu a 6º e em seguida
também a 7ª - com as brancas em uma D efesa
Índia da D ama. Quando ele selou seu 61° lance,
ainda mantinha esperanças de se salvar em um
interessante final de bispos, mas no reinício
cometeu um erro imperceptível já no 63° lance
e Karpov criou um verdadeiro problema Sanghi
Nagar! Mais tarde ele declarou: "Esta posição
adiada foi a mais complicada da minha
carreira".
Após conquistar um empate na s• partida e
também vencer a 9•, Karpov venceu o match à
frente na tabela com a convincente contagem
de 6-3. Agora ele enfrentaria um encontro final
com Gata Kamsky, que havia arrasado Valery
Salov na outra semifinal...
Anatoly, o Décímo-Segundo
"O Torneio da Sua Vida"
Quando falamos sobre o ressurgimento de
Karpov após o seu retorno ao trono da FIDE,
todos lembram imediatamente seu triunfo
fenomenal em Llnares 1994. Entretanto, antes
de descrever isso, deve-se mencionar que no
sentido criativo não foi um sucesso menor para
ele o Torneio de Biel (1 992), que teve lugar
somente três meses após o seu fracassado match
com Short. Já estamos familiarizados com uma
grande partida de lá (partida 96) e aqui está outro
exemplo admirável.
Parlida 102
A. Karpov - A. Beliavsky
Biel 1993, 5 rodada
4
Aberlura RlfY úpez - C95
1.e4
Nos anos 1990, Karpov "servia pela direita"
somente contra um adversário específico.
Assim, no presente caso, ele provavelmente
levou em conta a predileção de Beliavsky pela
Variante Breyer, a qual por sua vez foi utilizada
por ele próprio de maneira feliz para ambos os
lados.
I.. .es 2.~ 0 ~ c6 3.il.b5 a6 4.il.a4 'Llf6
S.0-0 il.e7 6.É!el bS 7.il.b3 d6 8.c3 0-0 9.h3
€Jb8 10.d4 (l0.d3 - partida 51) 10••.€Jbd7
t I.êLJbd2 .ib7 12.il.c2 ã e8 13.a4
Este lance, que ocorreu pela primeira vez já
em 1964 em uma partida entre dois mestres de
Moscou, se tornou conhecido interna-
cionalmente apenas nove anos mais tarde
(conforme o comentário seguinte). Mas a sua
popularidade começou a crescer a partir de
1988, embora a linha principal permaneça
13.~fl (13.b4 - partida 70) 13 ...~f8 14.êi::lg3
(volume 4, partida 101).
13 ...~ fS
A partida Keres-Reshevsky (Interzonal de
Petrópolis 1973) seguiu 13 ...c5 14.~fl (seria
mais forte 14 .d5!) 14 ... .if8 ( 14 ... d 5!?)
451
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
15.tZ'lg3 g6 l6.b3 Ag7 17.dxe5 com um
empate rápido, mas após 17 .d5 ! estaria
esperando pelas pretas a tradicional "tortura
espanhola".
14.il.d3
Esperando restringir a ação do adversário
através da pressão sobre o peão b5.
14 ... c6
A posição do bispo cm d3 dá às pretas a
possibilidade liberar o avanço no centro: 14...b4
15.aS d5!? 16.exdS exd4 17.ãxe8 l!fxe8 l8.c4
Cz:lc5 (Khalifmann-Beliavsky, Leningrado 1990).
A partida recente Haznedaroglu-Short (Izmir
2004) confirmou que isso é perfeitamente
aceitável para as pretas: 19.Cz:lb3 tZ'lxd3
20.'i!fxd3 c6 21.dxc6 l!f xc6 22.Cz:lbxd4 Wc7
com contrajogo suficiente pelo peão.
Outra versão do sacrifício de peão -
14 ... exd4 15.cxd4 c5 (Spassky-Karpov,
Tilburg 1983) - não se estabeleceu em partidas
de torneio.
1S.b3
Após o padrão 15.li}f], Beliavsky por duas
vezes obteve sucesso em resolver seus
problemas de abertura através de 15 ... d5
16.~g5 dxe4 17.l!xe4 .àe7 - contra Balashov
(56º Campeonato da URSS, Odessa 1989) e
A.nand (Iinares 1992).
15...g6
Aqui 15 ... d5?1 conduz após l6.exd5 à perda
de um peão, por exemplo: 16 ... ê2Jxd5 17.dxe5
'8c5 (17 ...Cz:lxc3? 18.Wb'c2) 18.!fc2 '8xd3
452
19.'i!Yxd3 b4 (19 ... '8f4 20.!ffS) 20.c4 l2Jc3
21.~c2! c5 22 ..àb2 etc.
16.!fc2 .àg7
Seria interessante 16.. Jâc8!? 17 ..àb2 ê2Jh5 (é
muito cedo para 17 ... exd4?! 18.cxd4 d5 19.e5
lZ'lh5 devido a 20.e6! 2::!xe6 21.!!xe6 fxe6
22.Axg6 hxg6 23.!fxg6+ l2Jg7 24.l2)g5 CzJf6
25.ilif7+ e !fxb7) l8 ..àfl exd4! 19.cxd4
(19.liJxd4 ~g7 20.'84f3, com igualdade)
19 ...dS e após 20.e5 b4! as pretas até tomam a
iniciativa (Bezgodov-Balashov, Perm 1997).
17.~b2 lZlhS 18.~fi 'i!lb6
Até aqui ambos os lados manobraram de
acordo com prescrições testadas pelo tempo.
19.b4!
Aparentemente Karpov tinha esta novidade
em mente quando jogou l .e4. As brancas
tomam espaço na ala da dama, preparam c3-c4,
e sobretudo restringem a atividade das pretas.
Isto é típico de Karpov, que em quase todas
suas partidas era capaz de encontrar um arranjo
de peças que lhe permitia restringir as
possibilidades do adversário e ao mesmo tempo
sem nenhuma pressa fortalecer a sua própria
posição.
19..~l2lf4 20.dxeS
Seria possível manter a tensão - 20.liJb3 ãac8
21.~dl Cz:le6 22.liJa5 .àa8 23.!fb3 &d8
24.'i!i'a2 (A.Sokolov-Notkin, Elista 1994), mas
Karpov prefere tornar dara a situação. A razão
disto é revelada um pouco depois.
 Anatoly, o Décimo-Segundo

20...li)xeS na diagonal c8-h3, mas esta esperança não está

Se 20 ...dxeS 21.c4 (Karpov) 21.. .bxa4, destinada a se realizar. Seria mais corajoso
então é bom 22.c5 1Wxb4 23 ..âa3 'ti'a5 23 ...cxbS!, abrindo o bispo b7 e avivando a
24.li)c4 'W/c7 25.lud6, ou mesmo 22.tfxa4 e é partida. Neste caso, o jogo contra a debilidade
do peão b5, através de 24.cxbS axb5, pouco
difícil para as pretas evitar a atadura em seguida:
não se pode jogar 22 ... aS? devido a 23.bxaS! promete para as brancas. K arpov recomendou
\!Vxb2 24.ãeb 1 !Vc3 25 .lãc l !. 24.g3 li)e6 25.cS ou, de imediato, 24.cS! ~f6
21.li)xeS dxeS 25.ãe3 - na minha opinião, é mais preciso
As pretas são forçadas a fecharem o bispo, 25.I!a3, enquanto se 24 .. .t!fe6, então 25.luf3!,
uma vez que falham em igualar após 21.. .~xe5 inibindo ... f7-f5 (25 ... f5? 26.lugS 'fle7
27.'ti'b3+ lue6 28.c6) e mantendo a iniciativa
22.li)f3 (22.c4!?) 22 . . .$..g7 23.'i!fd2 (Karpov).
22.c4 após 25 ... h6 26.lãa3.
Em comparação com seu oposto, o bispo em 24.I!aS! (agora as pretas não têm tempo para
b2 se torna ativo e as pretas enfrentam a pensar no futuro do seu bispo em b7) 24 ... ~ f8
resolução de alguns problemas estratégicos Após 24... bxc4 25.li)xc4 'Wic7 (25 ...il'xb4?!
difíceis. 26.lãbl !) Karpov sugeriu 26.g3, com um sinal
22 ...!!ad8 de "vencendo", aparentemente contando que
Seria desfavorável a ativação do bispo em b726 ...l2:le6 simplesmente perde um p eão:
através de 22 .. . c5 em vista de 23.cxbS! cxb427 .k xe5 Ji..xe5 28.ãxeS. Entretanto, após
24.aS 'i!ff6 25.b6. Beliavsky está preocupado 28 ... cS 29.bxc5 l2:ld4 (seria mais agudo 29 . .. f6
com o estado de incerteza dos seus peões da ala30.~ xe6! ã xe6 3 l.%Wb3, quando é mau para as
da dama e provoca c4-c5, estabilizando a pretas 31.. .Ji..d5? 32.lãe3 lãb8 33.it'a2 &8
estrutura de peões. 34.exdS! ã xa2 35.dxe6 'i!le7 36.c6! e vencem,
mas ap ós 3l...<i!?g7! 32.lud6 através de um
contra-sacrifício de qualidade elas podem obter
o mesmo final com quatro peões contra três na
mesma ala) 30 .lãxe8+ ã xe8 31.1Wd3 !i'xc5
32.li)d2 lãd8 33.'ife3 lue6 - e não é fácil para
as brancas converterem seu peão a mais.
Então, seria preferível 26.t!fb3!, continuando
a construir a iruciativa, por exemplo: 26 ....ic8
27J!eal i.e6 28.it'e3 f6 29.lãa? ifb8
30.lZlaS!? (também é interessante 30.li)xe5!?
fxe5 31.ã xg?+ Wxg7 32.!Yxf4 kf7 33.&5
23.axbS! ou 30 ...l2:lxh3+ 3 l.gxh3 fxe5 32.l!fcS)
Após 23.cS Wic7 24.lub3 ~c8 as coisas 30 ... 1Wxb4 31.Ji..c3 'i!lf8 32.l2\xc6 i:Id7
ficariam mais fáceis para as pretas do que na 33.li!xd7 i.xd7 34.Ji..b4 'f!!f7 35.ãa7.
partida. Karpov tenta conseguir mais, ao 25..tc3! (mas não 25.cS? Ji..xc5) 25 ...t;)e<>!
explorar a debilidade do peão b5. Era neste lance que as pretas depositavam
23 ...axbS'f! suas esperanças. A captura em c4 levaria à perda
Esperando encontrar emprego para o bispo do peão e5 sem nenhuma compensação.

453
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
26.~f3!
Se 26.cxbS, então 26 ... l2)d4!, iniciando jogo
ativo no centro ao custo de um peão. É verdade
9ue após 27.i.xd4, tanto 27 ...ifxd4 28.l2)f3!
llfxb4 29.ã a7 (29 ... ã e? 30.ã bl! llfd6 31.b6)
como 27 ... !!!xd4 28.l2)c4 ti'd8 (28 ...llfc7
29.b6 ~b8 30.ifc3) 29.bxc6 .t.xb4 30.cxb7
(Karpov) são insuficientes para as pretas. Mas
27 ... exd4! 28.li:lc4 d31 29.1!fxd3! conduziria
forçado a um dos dois seguintes finais, onde as
pretas mantêm chances reais de salvar a partida:
1) 29 ... ã xd3 30.li:lxb6 .t.xb4 31.lãa7!
(Karpov) 31.. .ã a3 32.f!xa3 i.xa3 33.l2)c4
.t.c5 34.ãc I cxb5 35.l2)a5 Etc8 36.lz:.)xb7
ii_xt2+ 37.$'xt2 ~ xcl 38.i.xbS;
2) 29 ... ~xa5 30.bxaS Etxd3 3 l.i.xd3 cxb5
32.l2)b6 ~b4 33.I!al i.c3 34.l\fa2 l:Ie6
35.li:idS i.xd5 36.exdS lãa6 37.d6! ã xd6
38.i.xbS !!dl+ 39.$)h2 ã a] 40.Itxal i.xal
41.a6 Jl..d4 etc.
Karpov encontrou uma possibilidade mais
interessante, envolvendo o plano estratégico de
fechar o bispo em b7 e explorar a sua vantagem
espacial. Ao mesmo tempo, .as pretas até
conseguem um peão passado no centro,
apoiado pela torre em d8, e a torre de e8 entra
em jogo. Mas Karpov calculou que a atividade
das peças pretas seria temporária, en9uanto a
atividade das brancas, em vista da ameaça de
avanço do peão e e a abertura da posição do rei
preto, seria muito mais duradoura e perigosa.
26...l2)d4 27..t.xd4 exd4 28.cS "i!fc7
454
Para a sua completa felicidade, as pretas só
precisam fazer um lance - ...i.c8 e é difícil
imaginar que elas de fato não conseguirão fazê-
lo.
29.!!a7! 'iti'b8
Para inibir o avanço do peão e das brancas,
Beliavsky tenta ativar seu peão d. De fato,
29...JJ..g7 30.eS (Karpov) seria perfeit'l!11ente
aceitável para as pretas: 30 ...~8 3 l.~a2 !!d5
(31.. .d3? 32.e6) e a invasão 32.~a5 Ire7
33.lW'b6 não é fatal para elas - 33 ... d3 34Jàdl
d2 35.g3 (não seria melhor jogar 35.âxd2
ãxd2 36.lLJxd2 ~xe5 e se 37.l2)e4?, então
37 ... Ah2+ 38.'it'hl ã xe4 39.!!xb7 ii°f4)
35 ... '!Wc7 36.!i!xd2 !!xd2 37.lz:.)xd2 Axe5
38.l2)b3 (ou 38.!fxc7 ãxc7 39.€lb3 .ic3
40.lz:.)as i.xb4 4I.l2)xb7 $)g7 42.Ita6, com
igualdade) 38 ... 'ã'd7! 39.lz:.)aS i.xg3!
40.~xb7 ii.xt2+ com xeque perpétuo.
Entretanto, as brancas não eram obrigadas a
forçar as coisas e 30.i.d3 ! l::Ia8 3 I.I!xa8 ~xa8
32.ã al as conduziria a uma vantagem
posicional óbvia.
30.'i!fa2 d3
Consistente, embora fosse possível um curso
mais restritivo das ações: 30 ... .ig7 31 ..id3
ã d7 32.'i!VaS Af6 33.g3 kd8 34.i!fa2 com
vantagem para as brancas.
31.l::Ia3! (seria mais fraco 31.eS?! d2 32.lãdl
.\lh6! Karpov) 31 ...d2
Com este e com o seu próximo lance,
Beliavsky mantém a igualdade material mas isso
leva a um rápido colapso. Pode parecer que, ao
abandonar o peão à própria sorte - 31.. ..\lg7!?
32.ãxd3 (32.~xd3 'i!ff4) 32 .. J!xd3 33.kxd3
kc8, ele poderia tornar as coisas muito mais
difíceis para seu adversário.
32.0xd2 !!d4?
Isto essencialmente perde forçado! A melhor
chance prática novamente seria tentar montar
uma defesa com um peão a menos: 32 ... JJ..c8
33.l2:Jf3 Jl.e6.
Agora também, à primeira vista, as coisas não
estão assim tão ruins para as pretas: um peão

está atacado, sua dama quer saltar para f4 e o
seu bispo não perdeu as esperanças de alcançar
e6. Mas o próximo lance de Karpov mostra que
estas não são esperanças reais, mas sonhos
atrasados.
33.eS! lãxb4 (não 33 ...ãxeS? 34.ãxeS
'ilfxe5 devido ao "garfo" 35.l2if3) 34.e6!
Muito enérgico. A invasão repentina da
posição do adversário dá às brancas uma vitória
impressionante.
Parece ser mais forte 34.lbe4, quando se
34... lãe6 (34 ...t!fxe5? 35.êiJgS!) as brancas
têm o paralisante 35.lLJd6. Mas as pretas
entregam a qualidade - 34 ... lãxe4! 35.ãxe4
lãxe5 36.lãxeS 'i!fxe5 37.ID:3 'f/e7 38.ãd3
.àc8 39.'i!Va8 .àf5 40.lãd6 t!fe5, obtendo uma
posição perfeitamente defensável
34...fxe6
A alternativa seria 34 ...Wg7 35.!fal+ f6,
quando, para manter uma grande e então
decisiva vantagem, as brancas teriam que
encontrar uma solução bastante longa, cuja
primeira metade estaria compreendida em
nervosos lances de pré-controle de tempo:
36.lbe4! lãxe6 37.lbg5 lãxe t 38.l!.fxel lãa4 (é
claro, não 38 .. ,fxgS? 39.°ilfxb4 Karpov)
39.êiJe6+ $)g8 40.ãd3! °i'e5 4l.i!e3 'flb2
42."t:Wdl! lãa2 43.lãe2 lfal 44 .!Vd8 ãa8
45.'ii'c7 e vencem.
3S.ã xe6 $)h8 36.&e3!
Esta tone, cuja invasão a a7 tanto apavorou
Anatoly, o Décimo-Segundo
as pretas, de forma inesperada troca para a
coluna e.
36... ãxe6?
Seria muito roais resistente 36...'ti'a8!
37.'i!:Yc2 lãxe6 38Jâxe6. As pretas então
poderiam tranferir suas peças pesadas para o
campo de batalha, mas seu bispo de casas
brancas, atolado na ala da dama, é incapaz de
apresentar qualquer resistência: se 38 ... .àg7,
então é decisivo o inesperado 39.lLJc4!! com a
ameaça de 'i!fe4(2) e elas também não podem
se salvar através de 38 .. .'i!fd8 39.lbe4 !fd7
40.ãf6! .àg7 4 1.i!D lãd4 42.êiJd6 ou
38 ... lld4 39.'i!fc3 ~g7 40.l!Ve3 :!âd8 41.lbe4
(também é bom 4 1.lZ'lf3 1If8 42.lie7 ~c8
43.lLJeS) 41.. ..àc8 (4 1. .. lãe8 42.lZ'ld6 1Ixe6
43.lWxe6) 42.lie7 fil8 43.~d6 ~a2 44.lLJxc8
ã xc8 45 .!!e8+ lãxe8 46.ifxe8+ 'tii'g8
47.'ifxc6 'i:!ff8 (47 . .. 64 48.1Wb7) 48.it'dS,
vencendo.
37.'tii'xe6 llf4 (37 ....àxc5 38.°i'f6+ e lld3
Karpov) 38.lLJe4 'ii'd8?
No apuro de tempo as pretas entregam uma
torre, mas em vista da invasão inevitável do
cavalo a f6 ou d6, já não há como salvar a
partida: 38 ...~g7(h6) 39.lLJd6! etc.
39.iVeS+ 1- 0
O bispo em b7 é a reprovação silenciosa da
estratégia das pretas. O jogo preciso e confiante
de Karpov nos momentos mais tensos da
parti.da criou uma grande impressão.
Neste torneio de duplo turno com oito
Grandes Mestres, Karpov derrotou duas vezes
(!) Kortchnoi e Shirov e terminou em primeiro
lugar com ampla margem - 10½ em 14 (+8-
1=5). É evidente que estava se empenhando
para mostrar para si mesmo e para todo mundo
que era muito cedo para decretar o seu fim ...
E em Linares (fevereiro-março de 1994),
agora Campeão Mundial da FIDE, ele tentou
seu limite extremo para mostrar que o seu título
455
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
oficial, conquistado no match com Timman, não
tinha um peso menor do que o meu título
histórico, confirmado pela minha vitória sobre
Short.
Karpov teve outro estímulo poderoso: de
todos os tradicionais supertorneios nos quais
tomou parte, por alguma razão ele nem sempre
foi bem em Linares: 1°-2° (1981), 2°-3° (1983),
2° (1989), 7°-8° (1991), 4° (1992) e 2º-3° (1993).
Além disso, em 1992 e 1993 eu terminei em
primeiro com o resultado idêntico de l Opontos
em 13, quando Karpov fico u corres-
pondentemente 2½ e 1½ pontos atrás de mim.
Como V. e I.Linder escreveram, "aparen-
temente todos esses fracassos relativos
estimularam nele um desejo passional de vencer
o torneio de Linares, que na época se tornou
uma espécie de teste para a medição de quem
era quem no xadrez".
Corno ficou claro posteriormente, um papel
longe de secundário foi desempenhado pelo
emparceiramento, que nos colocou um em
seguida do outro: eu tirei o número 10 e
Karpov o número 11. D essa forma, todos os
participantes exceto um (Lautier) tinham que
jogar conosco em seguida. Averbakh: "Pode ser
esse o segredo do resultado extraordinário de
Karpov: seus adversários, que já tinham lutado
corpo a corpo com Kasparov, já estavam
bastante esgotados para enfrentá-lo em
seguida". Entretanto, o milagre que ocorreu
dificilmente possa ser explicado por isso ou pela
tremenda sorte que acompanhou o Campeão da
FIDE desde o início do torneio.
"A disposição é afetada pela sorte" - declarou
Karpov após o torneio. Este pensamento foi
confirmado logo na primeira rodada, quando
com as pretas, no apuro de tempo, arrebatou a
vitória contra Lautier.
456
39 ...1'.e4? (ao invés do tranqüilo 39 . ..likl8)
40.l!fxc6?
Com o simples 40.li)eS! fxe5 41..ixe4 exf4
42.l!fxc6 fxg3+ 43.'i!i>xg3 as brancas teriam um
empate em uma posição de força - 4 3.. J!d8
(Karpov).
40...l!lxc6 41.l!xc6 éz)dxf4! (é claro!)
42.l'.:Id6 li)xg2 43.cit'xg2 li)c7! (e não 43 ...ézJgS
44..ixg5 fxg5 45.ãa6! com igualdade -
Karpov) 44.Wf2 l!a8 45.il..e3 it)bS 46.ã b6
éz)c3 47.l!b3? (desanimado pelo seu grave erro
no lance do controle de tempo, Lautier perde
sem lutar) 47...ézJdl+ 48.<,!te2 .id5! (ou
48 ...~c2! 49.ãb7 !àe8) 49Jâd3 (49 .ã b6
ézJxe3) 49...il.c4 ~1
Na segunda rodada Karpov pegou de mim o
"comando" de Bareev, sabendo da sua ligação
com a Defesa Francesa, após l .e4 e6 2.d4 d5
3.li)d2 c5 4.exd5 exd5 5.li)gf3 l2Jf6 6 ..ib5+
it.d7 7 .it.xd7+ li)bxd7 8.0--0 1'.e7 9 .dxc5
it)xc5 10.l2Jd4 ele iniciou seu plano favorito
contra o peão isolado. Bareev igualou, mas
cinco lances antes do controle do tempo, agora
em uma posição de empate morto, ele
inexplicavelmente entregou uma torre,
permitindo mate em um lance!
Então, ambos iniciamos o torneio com duas
vitórias e na 3ª rodada ambos tínhamos as
pretas: eu empatei com Topalov, mas Karpov
jogou a abertura de forma bastante ruim contra
Illescas e então... aprisionou a dama do
ádversário no centro do tabuleito!

26..ib4 (seria essencial 26.g4) 26...aS!
27~ e7 e5! (uma surpresa: se 28.dxeS?, então
28 .. .gS! e vencem) 28.l!Vh4 exd4 29.'it'f4 dxe3
30.\!fxeJ d4 e embora as pretas mais tarde
perdessem a sua vantagem, Illescas desperdiçou
uma chance de empate e o peão passado d
decidiu as coisas.
Na 4ª rodada consegui bater Ivanchuk em
estilo impressionante, mas Karpov também
esquentou bastante, arrasando Topalov de
maneira muito bonita. Essa partida foi
considerada a melhor no volume 60 do
Itiformador e, junto com as partidas 67, 71 e 79,
merecidamente colocada no famoso livro The
IV'or/d's Greatest Chess Gat1Jes.
18.é2lc5 dxcS (também seda mau para as
pretas 18 .....te8 19.i21xe6! fxe6 20.ilxe6)
19.'ifxd7 ilc8 20.ílxe6! (um golpe
surpreendente!) 20...íla7 21.ílxg6+ fxg6 (aqui
não há nada mais) 22JWe6+ Wg7 23 ..txc6
Anatoly, o Décimo -Segundo
ã d8 24.cxb5 ..if6 25.é2le4 ..td4 26.bxa6 'ti'b6
27.iãdl 1Wxa6 28.ãxd4! (Karpov: "Um fato
raro - pela terceira ve-z em seguida uma torre é
sacrificada!) 28...ãxd4 29.'it'f6+ e as brancas
venceram.
Na Y rodada bati Judie Polgar, enquanto
Karpov recebia um "presente generoso" de
Jvanchuk, que, após uma abertura favorável,
subitamente começou a "perambuJar" e, após
perder um peão com um grave erro no lance 28,
prontamente abandonou. Na 6ª rodada com
dificuldade salvei meio ponto na minha partida
com G elfand, enquanto Karpov de forma
técnica venceu Polgar após utilizar uma "arma
especial": l.e4 c5 2.c3 e6 3.d4 d5 4.exd5 exd5
5.é2lf3 l"i:lc6 6 ...tb5 c4 7.é2le5 'tirb6 8.i.xc6+
bxc6 9.0--0 A d6 10.b3! etc. Em relação a essa
partida, vêm à mente as palavras de Igor
Zaitsev: "Todo G rande Mestre de força
excepcional tem sua própria visão do xadrez,
seu ritmo enxadristico, que não permitem que
na abertura eles possam ir contra suas próprias
convicções. Assim, Kapengut com as pretas
tentou seduzir Karpov com a Benorú Moderna,
enquanto Sveshnikov tentou persuadi-lo a
navegar por belas águas tranqüilas na variante
2.c3 na Defesa Siciliana - mas os seus esforços
foram em vão!". E exclusivamente para Judit ele
fez uma exceção...
Antes da 7ª rodada, na qual nós jogávamos
um contra o outro, Karpov tinha 6 pontos em 6
(!), com meio ponto à minha frente. Eu tinha as
peças brancas e era claro que esta seda a partida
decisiva do torneio. Meu treinador, Yuri
Dokhorian e eu gastamos um longo tempo
quebrando a cabeça sobre como tentar romper
a Defesa Caro-Kan para esta ocasião. Nela eu
venci duas vezes Karpov em Amstcrdã (1988)
e duas vezes em Linares (1992 e 2001), mas
nessa ocasião, em 1994, alguma coisa estava
errada e evidentemente me dediquei ao máximo
na preparação para a par tida. Após uma
abertura mal jogada, eu poderia me salvar?
Averbakh: "Enquanto nos dois torneios de
457
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
Linares anteriores foram duas vitórias sobre
Karpov, o que em larga escala determinou o
sucesso final de Kasparov; aqui foi o caso do
'diamante cortar diamante': a partida terminou
empatada e a diferença entre os dois
permaneceu inalterada".
Na 8ª rodada eu empatei com Slúrov, mas no
apuro de tempo o líder inspirado desequilibrou
Gelfand em uma posição complicada, embora
no lance 37 Boris pudesse ter criado problemas
difíceis para o seu adversário. Na 9ª rodada,
Karpov falhou em vencer um final melhor
contra Shirov, enquanto consegui derrotar
Kamsky e reduzir a desvantagem: agora eu
tinha 7 pontos, mas Karpov tinha 8!
Na 1Oª rodada - um fato raro - a sorte
abandonou meu rival: após conquistar um final
com um peão a mais e chances de vitória contra
Kamsky, jogou fora a vantagem com o
apressado lance 35... Entretanto, isso não me
ajudou: tentando com as pretas vencer a nova
estrela do xadrez russo Vladimir Kramnik,
joguei a Defesa Índia do Rei de forma muito
arriscada, ultrapassei o limite, fiquei sob ataque
e perdi.
Na opinião de Averbakh, "a questão sobre o
primeiro lugar foi decidida efetivamente por
Kramnik: após derrotar Kasparov, na rodada
seguinte perdeu para Karpov''. Antes da
partida, Vladimir, que então ainda não tinha 19
anos de idade, declarou em uma entrevista:
"Neste torneio Karpov está sendo muito
agressivo, freqüentemente entrando em
posições duvidosas. Se ele jogar assim contra
mim, terei a chance de derrotá-lo". Mas Karpov
não deu a ele uma chance assim.
Partida 10J
A. Karpov - V. Kramnik
Linares 1994, 11' rodada
Defesa Semi-Eslava - D48
1.d4 d5 2.c4 c6 3.~ 0 ~ f6 4.~ c3 e6 5.e3
~ bd7
458
Naquela época Kramnik utilizava com
regularidade a "Merano" e se sentia muito em
casa com ela.
6.il.d3 (6.'i!fc2 - partidas 95 e 96) 6 ... d><c4
7.it.><c4 b5 8..id3 a6
Na partida da 9ª rodada Karpov-Shirov, após
8 ... .ib7 9.a3 b4 10.li:le4 a5?! 1 l.~xf6+li:lxf6
12.e4 .ie7 13.'ilfe2 c5 14..ib5+ çt>f8 15.dxc5
.ixc5 l6..id3 as brancas conquistaram uma
vantagem. Como jogado mais tarde por
Kramnik contra Karpov (Dortmund 1995;
Mônaco 1996, partida rápida 1996) e contra
Anand (3a partida do 111atch, Lausanne 1998),
igualaria 10 ... ~xe4 l 1..ixe4 bxa3 12.bxa3
.id6.
9.e4 c5 10.dS c4
Um mês mais tarde, em Mônaco, Kramnik
respondeu 10 ...li'c7 ll.O--O .ib7 l2.dxe6fxe6
13 ..ic2 .ie7 (conforme partida 105, comentário
ao 13° lance das pretas).
11.dxe6 fxe6 (11.. .cxd3 - partida 80)
12..ic2 it.b7 (também tem sido tentado
12...t!fc7 13.0--0 .ic5) 13.0-0 'iWc7 14.~gS
A alternativa é 14.li:ld4 ou 14.'ilfe2 (partida
105'). "As brancas precisam se apressar em
procurar continuações ativas. Se elas não forem
bem sucedidas em explorar sua liderança
temporária de desenvolvimento, os peões ativos
das pretas na ala da dama, junto com as linhas e
diagonais abertas, possibilitarão que elas tomem
a iniciativa". (Karpov)
14 ... ~ cS (14 ...'fi'c6?! 15.l!'f3! Gligoric-
Ljubojevic, Linares 1991) 15.e5! (uma novidade
do começo dos anos 1990) 15...'i!fxeS 16.l!el
'ifd6 ]7.'ffxd6 .ixd6
Kramnik vai para esta posição sem hesitação,
provavelmente pensando que a conhecia "em
todos seus detalhes". Mas aqui ele encontrou
uma idéia original, de natureza estratégica muito
mais do que tática, envolvendo uma
interpretação sutil de um final de partida fora de
padrão.

18.Ae3!
Uma surpresa! Anteriormente só havia
ocorrido l8.l;:;xe6 l;:;xe6 19.ãxe6+ @d7
20.Éie2 l:!ae8 (20 ... b4!?) ou 20.iâ5 ©c7 e a
iniciativa até passou para as pretas. Karpov abre
uma nova página no desenvolvimento da
variante, postergando a captura do peão em
consideração de rápida mobilização.
18...0-0
Um lance natural, embora Kramnik pensasse
sobre ele por cerca de 50 minutos.
Evidentemente estava se perguntando quais
surpresas desagradáveis poderiam esperar por
ele no caso da resposta igualmente natural
18 ...l2id3!? l9.iJ.xd3 cxd3. Após 20.l2ixe6
(Ftacnik) 20 ... @t7 as pretas poderiam se
satisfazer tanto com 21.l2if4 b4 22.l2ia4 JJ.xf4
23 ..1t.xf4 ~ac8!, ou 21.fi.cS d2! 22.!!e2 b4
23.l2ia4 JJ.c6 24.l2ib6 iJ.xcS 25.l2ixa8 iJ.b5.
Seria melhor 20.ãadl!, tomando tanto o peão
d3 como o de e6, por exemplo: 20...0--0
2I.ãxd3 iJ.dS 22.l2ixe6 fi.xh2+ 23.'~xh2
fi.xe6 24.ãd6 ãfe8 (Kramnik-Kuczyoski,
Bundesliga 1994) 25.fi.d2 com uma vantagem
insignificante.
19.ã adl JJ.e7 (é claro, não 19 .. Jâ:fd8?
20.~xd6 e iJ.xc5) 20.iJ.xcS fixes 21.l2ixe6
lifc8 22.h3!
Após 22.l2ixc5 ãxc5 23.ãe7 ãb8 (Karpov)
ou 23 ... iJ.c6 (Ftacnik), assim como após 22.a3
iJ.b6! 23.l2ixg7 l2ig4 24.ãfl !!d8! (Gelfand-
Illescas, Dos Hermanas 1995) as pretas se
Anatoly, o Décimo-Segundo
defendem com sucesso.
O lance modesto, tipicamente de Karpov,
22.h3 prepara uma ofensiva em larga escala na
ala do rei. O objetivo principal é dirigir o cava-
lo a f6. Depois disto, tendo conseguido acesso
às casas e4, d5 e d7, as brancas podem extrair
beneficios da forte posição do seu cavalo em e6
e suas torres nas colunas centrais.
Ao encontrar um problema "venenoso", para
o qual não há solução forçada, sob condições de
tempo limitado para pensar, Kramnik foi inca-
paz de decifrar completamente as sutilezas da
posição resultante.
22 ... A f8?
Um lance óbvio, mas fraco. Seria até pior
22 ...ii.a7? 23.l2ixg7! b4 24.l2ia4. Mais tarde
foi tentado 22 ... ~b4, mas é melhor a recomen-
dação de Kortchnoi 22 ...ãab8! (com a idéia de
. .. JJ.a7) - as pretas mantêm o equilforio tanto
após 23.g4 Af3 24.ãd2 b4 (mais tarde
mudaram para 24 .. J~te8!?) 25.l2:)a4 fi.a7!
26.g5 l2id5 (Nikolic-Bareev, Munique 1994),
como também após 23.l2:lxc5 !!xc5 24.ãe6 b4
25.l2ia4 ãg5! (Kramnik-Shirov; Novgorod
1994) ou 24.ãd6 b4 25.l2ia4 Ê'.d5 (Gelfand-
Shi.rov, Biel 1995).
No entanto, o lance 18.JJ.e3 foi considerado
ser a novidade teórica mais importante na 60..
edição do Informador - e assim duas partidas do
vencedor em Linares (com Topalov e Kramnik)
foram alçadas ao topo na~ duas indicações da
melhor partida do ano. Karpov: "Um fato
459
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
muito raro na história dessas competições!''.
23.g4 b6
As pretas querem pregar o peão f na casa f2,
mas após 23 ... i.f3 24:ãd4! da mesma forma
estarão em uma posição dificil. Assim, se
24 .. .b4?! 25.lt::la4 a debilidade do peão c4
causará a sua queda: 25 .. Jâab8 (se 25 ...lt::ld5?
Karpov deu 26.ãe5 "etc.", mas seria muito
mais simples 26.lt::lg5!) 26.lt::lxf8 Wxf8
(26 . .. ã xf8 27.ãxc4) 27.ãf4 (Ftacnik) ou
24 ... ãab8 25.l2:lb6 ãc6 (25 .. .!!e8 26.l2:lxf8 e
ti:)xc4) 26.lZ:id7! lZ:ixd7 27.lãxd? com a ameaça
de i.xh7+ ou lt::lxf8 e ã ee7.
24.f4! (explorando o fato de que o bispo
preto deixou a diagonal a7-g 1) 24 ... i.f3
As pretas dirigem a sua torre para a 1" fileira,
para que uma possível oposição das torres na
coluna e possa também causar alguma preocu-
pação às brancas.
25.!!d2
"Parece mais enérgico 25.ãd4, com a idéia de
25 ...i.c6?! 26.g5 hxg5 27.fxg5 ti:)d7 28.IDi4 e
o rei das pretas está em uma rede de mate.
Entretamo, após 25 ... !!e8 elas ameaçam
... ãxe6 e ... i.c5 ou de imediato ...~c5"
(Karpov). É verdade, aqui também após
26.<it>f2 lil:xe6 (ou 26 ...$.b? 27.lt::lxf8) 27.!!xe6
~cS 28.Wxf3 ~xd4 29.lt::ldl as brancas têm
um final de jogo melhor.
25 .. ...tc6
Kramnik assegura a casa d7 para o seu cava-
lo, não desejando após 25... b4 26.ti:)a4 ã ab8
(26...c3?! 27.bxc3 bxc3 28.ãf2 ~.dS 29.lt::lb6
~e6 3O.lãxe6 ii..c5 3 l .l2:lxa8 ã xa8 32.ãc6,
vencendo - Ftacnik) 27.g5 hxg5 28.fxg5 ter
que movê-lo para a margem do tabuleiro.
Realmente, no caso de 28 .. .ti:)h5 29.i.g6
ii..c6 (29 ... b3 3O.axb3 ..tb4 3 l.ãf2 ii..xel
32.ãxf3 S xb3 33.i.f?+ <it>h8 34.it.xh5 ã xf3
35.it.xf3 c3 ajudaria as pretas a conquistarem
um empate, mas após 3O.a3! as coisas ficam
ruins para elas, uma vez que não funciona
3O ...~xa3?! 31.bxa3 c3 32.lt::lxc3 ~xc3
33.lud8) 3O.ii.xh5 Axa4 3 U'!fl !. As brancas,
460
de forma inesperada, ameaçam um ataque de
mate (Ji..fl e ~f4) e após 31...Sfü7 (seria pior
para as pretas 31.. ...tc5+ 32.Wg2! ..tc6+
33.~g3) 32.1:âd4 elas ganham pelo menos um
peão.
As pretas teciam que jogar 28 .. .lt::lh7 na
esperança de 29.h4 b3 3O.axb3 ii..b4 31.€tJc3
Axc3 32.bxc3 cxb3, mas o preciso 29J:!d4!
estancaria qualquer ameaça baseada em nuanças
táticas e manteria uma posição dominadora
para as brancas.
26.g5 hxg5 27.fxg5 Cz)d7
Não 27 ...ti:)h5? (Kortchnoi) 28.i.g6 0g3
29.'i!i'h2 e vencem (Ftacnik).
28.luxfS!
Uma transformação de vantagens: o cavalo
estava prevenindo a invasão das torres e
Karpov o entrega sem lamentações.
28 ...luxf8 (após 28 ... !Ixf8 29J;i'.e6! as pre-
tas enfrentam problemas virtualmente
insolúveis) 29.!!d6! b4
Uma tentativa de criar contrajogo.
Encontrando-se sob pressão posicional,
Krarnník é obrigado a procurar uma saída dessa
situação desagradável: aqui não há variantes que
conduzam à derrota, mas também não há meios
de facilitar a defesa com o auxilio de trocas.
Assim, após 29 ... !!:e8 (Kortchnoi) 3O.ãxeS
i.xe8 as brancas dominam o centro e têm todo
um leque de continuações tentadoras.
30.lue4
Karpov joga seu cavalo para f5 , esperando

crier ameaças irresistíveis ao rei. Tecnicamente
seria mais poderoso 30.li:ld5! (Karpov)
30 ....ixd5 3 l.É!xd5, permanecendo com um
bispo poderoso contra um cavalo. Fischer joga-
tia isso sem pensar! Então seria mau jogar
31.. .c3 32.g6! (Ftacnik) 32 ... cxb2 33.~b3
ãc3 34.!!bl! ou 31.. Jld8 (C. Hansen) 32.ãc5
ã ac8 33.Etxc4! ãxc4 34.Ab3, ganhando um
peão e a partida, mas mesmo após o mais
resistente 3I..Jl ab8 32.~4(6) as pret1s têm
poucas chances de conquistar um empate.
30... ~es
Seria pior 30....$.xe4 3 l..$.xe4 ou 30...lz::ld7
3 I.lz::lg3 !. Na opinião de Karpov, "seria
necessário 30....$.d7 3 l.h4 !!c6, quando as pre-
tas ainda podem respirar''. Mas somente com
dificuldades: 32.!!xc6 _txc6 33.lz::ld6 .td5
34Jâe5! .te6 35.&5 etc. e se 30...lãa7, enrão
3 I.ã d4!, combinando o trabalho sobre a debi-
lidade do peão com um ataque ao rei: 31 ...2i.d7
32.itld6 ou 31...ka8 32.g6!.
3V°tig3! lid8
Agora não se pode jogar 31.. ..td7 devido a
32.ãe7 .ixh3 33.~h5 (Karpov) ou 32.it.e4. E
se 31. .. c3 (C.Hansen) as brancas vencem
através de 32.~f5! cxb2 33.8e7+ @h8
34.~xc8 ãxc8 35.ãd2 (Ftacnik).
32.-i)fS i!xd6 (32 ... a5? 33 ..ie4 etc.)
33.~ xd6 ~g6?
No apuro de tempo Kramnik entrega um
peão, embora as pretas ainda pudessem se
defender mantendo equilíbrio material:
33 .. ..àf7 (Ernst) 34.<t:ixf7 ~xf7 35.i!e4 !!c8
36.b3!? cxb3 37Jãf4+! We8 38.~xb3 a5
39.i!f5 ou 33 ...lt.d7!? 34.h4! ~e6 35.:i:!e4
(Ftacnik) - a posição das brancas é mellior, mas
isso ainda não é o fim e, talvez, das tivessem
motivo para lamentar a oportunidade perdida
30.8d5!.
34..âxg6 ~ xg6 35.~xc4 lid8
"Seria suicida 35 .. J!f8 36.f!e4! CzJf4
(36 ... lãf3 37.Wg2) 37.h4 ~h7 38.<t:ieS".
(Karpov)
Anatoly, o Décimo-Segundo
36.~e4! (neutralizando o contrajogo das pre-
tas e preparando h3-h4) 36... b3 (relativamente
a melhor chance; após 36 ...!!d3 37.~g2 as
brancas vencem) 37.axb3
De acordo com Karpov, seria mais lógico
37 .a4, ganhando na seqüência o peão a.
37 ..l!d3 (as pretas depositam suas espe-
ranças no limitado material remanescente, mas
em vão) 38. Wg2
Também venceria 38J!e3, por exemplo:
38 . .. Eí:xe3 39.li:ixe3 8 f4 40.b4 (e se
40 .. .li'ld3, então 41.Wfl!) ou 38 ...i!d5 (C.
Hansen) 39.ã g3 <t:if4 40.Wh2.
38...lãxb3 39.b4 ~ f8?!
Após o mais resistente 39...Wf8 Karpov
responderia 40.h5 lz::le7 41.ãe5. Curt Hansen
recomendou 39 ... ãb4, quando 40.h5 <i)e5
daria chances de empate às pretas oo final de
torres, mas o final de cavalos após 40.'it>g3!
~eS 41.~d6 i!xe4 42.lz::lxe4 W f7 43.lZ:lcS aS
44.hS (Ftacnik) ou 42 ... 8 d3 43.b3 g6 44.Wf3
está perdido para elas.
40.lãeS! e as pretas perderam pelo tempo (1-
0) . Após o aproximado 40 .. .'~f7 (se 40...ãb4,
são bons tanto 4 l.!'!c8 como 41.CLJe5 ã xb2+
42.00) 4 J.lz::ld6+! (Karpov) 4l.. .~g8 42.g6
ã xb2+ 43.WO ã b6, as brancas ainda teriam
que superar alguns problemas para vencer. Elas
precisavam fechar o rei preto e capturar o peão
a: 44.!!d8 a5 45.h5 a4 46.itlfS ã b3+ (46 ... ã f6
47.Wg4 lãe6 48.ã a8 ãf6 49.Wg5 ã e6
50.lz:Jxg7!) 47.Wf4 lãb4+ 48.~g5 lãbS
461
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
49.fü8! a3 50.Wf41Th4+ 5 l.We3 â b3+.
Diagrama de Análise
A análise de Ljubomir Ftacnik conclui com a
variante 52.<iSe2 â b2+ 53 .@e l lãb l + 54.Wd2
}âf155 .CzJe7+ @h8 56.ãxa3 CzJe6 57.âa6 <tlf8
58.â a8 e com a avaliação "e as brancas
vencem". É provável que as brancas realmente
tenham uma posição vitoriosa, mas seu último
lance permite que seu adversário explore temas
de afogamento - 58 . . Jâd l +! 59.©e3 ã d8!.
Então, em minha visão, seria mais preciso
58.0c6! e somente então l!a8.
É possível que 52.<~d4 â b4+ 53.Wc5 ,,ença
mais rapidamente, por exemplo: 53 ... â f4
54.0e7+ @h8 55.Wd5 ãf3 56.©e4 lâf6
57.0f5 ãe6+ 58.'~f4 ©g8 59.lâxa3 âe8
60J!a7 0e6+ 6l.Wg4 ãf8 (61. ..@h8 62.h6)
62.lle7 ãf6 63 .lâe8+ CzJf8 64.@gS @h8
65.0xg7 - cortinas!
É interessante que uma pos1çao com as
mesmas forças - torre, cavalo e dois peões (em
g6 e h5) contra torre, cavalo e peão g7, mas
com o cavalo em g8, - ocorrida na partida
K.ramnik-Krasenkow (Wijk aan Zee 2003)
também tenha terminado com uma vitória das
brancas.
Após essa vitória, o destino do torneio estava
finalmente decidido. Na seqüência, Karpov
empatou com Anaod e arrasou Beliavsky em
uma Cat.alã. Ele sempre foi um adversário difícil
para o famoso Grande Mestre ucraniano, como
indicado pelas partidas 98 e 102, assim como
462
pela cont.-igem geral de seus encontros desde
1973: +16-3=10 a favor de Anatoly
Evgenyevich.
Assim foi conquistado um dos resultados
mais notáveis da história do xadrez: 1.Karpov -
11 em 13 (+9= 4); 2-3.Kasparov e Shirov 8½;
4.Bareev - 7½; 5-6.Kramnik e Lautier - 7; 7-
9.Anand, Kamsky e Topalov - 6½; 10.Ivanchuk
6 etc. Quando ainda não havia esfriado após a
batalha, declarei: "Este triunfo competitivo, na
minha visão, não foi apoiado por um jogo
excepcional. Tenho visto Karpov jogar melhor.
Agora ele encontrou uma maneira de jogo
ótima, a qual em virtude das suas qualidades
pessoais e de jogo, permite-lhe conquistar o
máximo resultado com o mínimo consumo de
energia nervosa. Uma espécie de apoteose do
pragmatismo".
A reação do mundo do xadrez foi resumida
por Averbakh: "O supertorneio em Linares
terminou de forma sensacional: o resultado de
Karpov traz à lembrança os legendários
sucessos de Alekhine em San Remo (1930) e
Bled (1931) e o triunfo de Botvinnik no
Campeonato da URSS de 1945 (+13=4).
Igualmente sensacional foi o início sem
precedentes de Karpov: seis pontos em seis!
Parece que o título de Campeão Mundial da
PIDE lhe deu uma confiança renovada em seus
poderes. Nesse ano Kasparov repetiu
exatamente o resultado de Karpov em 1993,
mas Karpov colocou uma cabeça e ombros à
sua frente!". Como os estatísticos informaram,
essa já foi a sua 125" vitória em torneios!
D epois deste " torneio da sua vida", Karpov
aparentemente decidiu que agora tinha
demonstrado tudo para todos e até mesmo fez
uma declaração corajosa à imprensa: "Sim,
gostaria de jogar um outro match com Kasparov,
mas agora ele precisa mais desse match do que
eu".
Entretanto, o sucesso de Karpov em torneios
logo começou a declinar: em abril, em Dos
Hermanas, ele concedeu o primeiro lugar para
Gelfaod e em maio, em Las Palmas, a Kamsky

(em cada um marcando +4-1=4) e em outubro
encontrou grandes problemas no supertorneio
"Siciliano" em Buenos Aires, ode somente
diviruu os 5°-6° lugares com Kamsky, atrás de
Salov, Anand, lvanchuk e Polgar.
Os participantes deste torneio incomum eram
obrigados a iniciar as suas partidas com 1.e4 c5
2.~f.3 e então 3.d4 cxd4 4.~xd4 - somente
uma Siciliana Aberta! "Essa foi uma forma
original de marcar o 60º aniversário do
excepcional Grande Mestre Lev Polugaevsky.
Embora o nome de Polugaevsky seja associado
com um número enorme de novidades,
distribuídas ao redor de várias seções da teoria
do xadrez, sua contribuição ao desen-
volvimento da Defesa Siciliana tem sido a mais
expressiva", escreveu Zaitsev.
Mais tarde, após elogiar o jogo dos
vencedores do torneio, o antigo treinador de
Karpov comentou com o seu tato costumeiro:
"Os resultados mais modestos dos demais
participantes podem ser em grande parte
justificados pela ausência (ou perda) da
habilidade Siciliana necessária para uma batalha
tão feroz". Eu acho que devemos respeitar a
coragem de Karpov em decidir testar sua força
naquele que talvez fosse o seu mais dificil
"campo de batalha".
Em Linares 1995, onde eu., Kramnik e Anand
não jogamos, Karpov (+5= 8) terminou em 2°,
atrás de lvanchuk, que teve um desempenho
brilhante (+7= 6), enquanto o resultado do
torneio de dois turnos em Linares 2001 refletiu
a inexorável marcha do tempo: 1.Kasparov -
7½ em 1O; 2-6. Karpov... - 4½.
Rei da FIDE
A disputa pelo Campeonato Mundial em
meados da década de 1990 foi, sem dúvida, a
mais intensa e incomum na história do xadrez.
Os desafiantes batalhavam de forma simultânea
em duas séries, tentando se qualificar na série da
PCA para um matcb comigo e na série da FIDE
para um matcb com Karpov. Além disso, de
acordo com um tratado de paz entre a FIDE e
Anatoly, o Décimo-Segundo
a PCA, concluído durante o Congresso e a
Olimpíada de Moscou (1994), um match de
"unificação" pela coroa também era
considerado.
Os favoritos em ambas as séries eram o já
experiente indiano de 25 anos Vishy Anand e o
"novo americano" que progredia de forma
muito rápida, Gata Kamsky, de 20 anos. Em
janeiro de 1994 eles se destacaram nos matches
da FIDE: Anand bateu Yusupov e Kamsky
venceu Van der Sterren (em cada caso, por 4½-
2½). E m junho, ambos venceram de forma
convincente seus matches da PCA: Anand contra
Romanishin (5-2) e Kamsky contra Kramnik
(4½-1 ½).
E então, em julho, um golpe do acaso os
colocou juntos no match semifinal da FIDE.
Essa foi uma batalha feroz! Vishy jogou fora
uma vantagem óbvia na 1~ partida e uma vitória
simples na 2•, então no entanto marcou duas
vitórias e esteve muito perto do sucesso na 5•
partida, mas atrasou o desfecho e a defesa tenaz
de Gata salvou meio ponto. O match era a
melhor de oito partidas e bem poderia ser
concluído antes disso... Na verdade, a contagem
de 3½ -11/2 também não poderia anunciar uma
surpresa. Mas aqui aconteceu alguma coisa no
bem regulado mecanismo de Anand (isso
também aconteceu com ele nos matches comigo
e com Karpov). A força de vontade
excepcionalmente forte de Kamsky nivelou a
contagem (4-4) e - por milagre! - acabou com
o seu desmoralizado adversário no tie-break por
2-0 e isso contra um dos reconhecidos reis de
partidas rápidas!
"Kamsky sem dúvida se desenvolveu como
um jogador e o seu progresso qualitativo é
óbvio'', declarou Karpov depois disso. "Mas
tenho a fume convicção de que o resultado dos
seus dois matches - com Kramnik e Anand -
reside no campo da psicologia. A ruína de
ambos adversários de Gata foi causada pelo
fato de que eles não o levaram a sério...".
Mas em setembro, na semifinal da PCA,
inspirado pelos seus sucessos, Gata literalmente
463
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
massacrou Short (5½-1 ½) - que havia sido o
desafiante "Número 1" no ciclo anterior.
Entretanto, Anand também não se lamentou
por muito tempo pela sua derrota no ciclo da
PIDE: na outra semifinal ele arrasou Adams
pela mesma contagem - e novamente se
encontraria com K amsky, só que desta vez na
Final da PCAI
Menos de um mês após esse teste severo, em
fevereiro de 1995, quase sem pensar, Kamsky
teve pouco trabalho (novamente 5½-1½) com
Salov no match semifinal da PIDE, o que
também pareceu impressionante, pois
anteriormente seu adversário havia nocauteado
Khalifman e Timman.
Entretanto, Gata foi incapaz de bater o
"milagroso indiano" uma segunda vez: nessa
ocasião, apesar de perder pelo tempo em uma
posição vencedora na primeira partida, Vishy
dominou completamente e venceu o match final
da PCA (6½-½).
Assim, meu próximo adversário no match pelo
Campeonato Mundial (Nova Iorque, outono de
1995) se tornou Anand e eu o derrotei em uma
luta severa: 10½-7½ (+4-1=13). E na final do
Campeonato Mundial da PIDE (Elista, verão
de 1996) Karpov não deu nenhuma esperança a
Kamsky- também 10½-7½, (mas +6-3=9).
É evidente que Karpov "levou Gat.a a sério".
Embora inicialmente o resultado do seu match
de 20 partidas parecesse incerto e enigmático:
poderia o ocupante por tanto tempo do topo do
xadrez ser capaz de resistir ao assalto do
surpreendentemente poderoso líder da nova
geração? A esse repeito, Kamsky lembrava
nitidamente o jovem Karpov. Mas o que
definitivamente lhe faltava era a flexibilidade de
Karpov e a sua profundidade de avaliação
posicional, o que, em última instância, decidiu
este match. Gata não se salvou nem pelo fato de
que seu adversário fosse 23 anos ma.is velho do
que ele...
E já Kamsky depositava enormes esperanças
neste match! Já em 1994 nas reportagens que
apareciam na imprensa de um ou outro lado -
464
PCA ou FIDE (ou talvez de ambas!) ele poderia
"ir direto a Kasparov". Agora só lhe restava
uma chance - bater Karpov. E, de forma
incomum para ele, ficou longo tempo sem
jogar, dedicando grande tempo para a
preparação. No matcb Gata utilizou muitas
aberturas variadas, evidentemente com a
esperança de que Karpov não fosse mais capaz
de seguir a rapidez da mudança das avaliações
das variantes modernas. Entretanto, apesar do
seu preparo, do seu trabalho extraordina-
riamente duro, persistência e força de vontade,
naõ foi capaz de colocar uma resistência
verdadeiramente séria contra o Campeão.
Logo a primeira partida, vencida por Karpov
em seu estilo posicional favorito, demontrou
sua superioridade óbvia nas manobras. N a
verdade, Kamsky venceu de forma
impressionante a 2" partida. Um inicio assim era
tradicional para o "Rei da PIDE": ele também
começou com uma vitória e uma derrota no seu
match contra Timman (1993) e também em
seguida contra Anand (1998).
Então seguiu um empate com 50 lances e, na
4• partida, Karpov conquistou de forma
convincente uma revanche pela sua derrota na
2": l.e4 c6 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 4.c4 tzJf6
5.tzJc3 e6 6.tzJf3 .ib4 7.cxci5 l2:lxd5 8.Ad2
~c6 9.Ad3 il..e7 10.0-0 0-0 1 l.'tife2 tzJf6
12.t2:le4 li'b6!? (na 2ª partida seguiu 12 ....âd7
13J~adl ãc8 14.ãfel tzJd5 15.~c3 t2:\f6 16.a3
Wc7?! 17.~gS 'ilfa5?! 18.dS! exdS 19.St.xf6!
A xf6 20.Axh7+! W><h7 21.1!xd5 .. . l-O) 13.a3
.id7 14.ã fdl & d8! 15.t2:\xf6+ ~xf6 16.ife4
g6 17 .~e3 liJe7!. .. 0- l. A imprensa escreveu
sobre o jogo de Karpov: "Sua estratégia de
manobra se mostrou muito difícil de ser
compreendida pelo seu adversário de 22 anos".
Após essa vitória, o Campeão manteve a
dianteira e nas partidas seguintes ditou os fatos.
E enquanto uma aguda escaramuça na abertura
conduziu ao empate na 5ª partida, é altamente
provável que os surpreendentes acontecimentos
na 6ª minaram a confiança de Kamsky no
sucesso final.

Partida 104
G. Kamsky - A. Karpov
Match pe/q Campeonato M11ndial da FIDE
Elista 1996, 6ª partida
Defesa Petrojf - C4 3
1.e4 eS 2.00 ~ f6
Esta rejeição temporária da Caro-Kan em
favor de uma sólida defesa de reserva não deve
ter surpreendido Gata.
3.d4 (naquela época, essa varian te era muito
popular; 3.0 xe5 -partida 8K) 3 ... ~ xe4 4.~ d3
dS S.~xeS 0 d7 6.~xd7
Mas n ão 6.l!fe2 0xe5! etc., como na bem
conhecida partida K arpov-Larsen (volume 4,
partida 48).
6...Axd7 7.0-0 i.d6
"Karpov tem um caminho próprio - ele não
se aventura nas variantes agudas após 7 ... ~ 4
8.c4 (µ)-0 9.c5 g5". (Beliavsky, J\1ikhalchishin)
8.~c3
Um lance que se tornou popular após o
exemplo colocado pelo Grande Mestre
Kharlov. A linha pricipal era e ainda é 8.c4!
(conforme volume 4, partida 48, comentário ao 6°
lance das brancas).
8 .. .~ b4
Karpov pensou sobre esta saída arriscada por
42 minutos. D epois foi considerada ser a
maneira mais segura de equilibrar 8... 0xc3
9.bxc3 0-0 10.~ hS f5, como, por exemplo,
jogado por Shirov contra Kramnik (Belgrado
1998; 2• partida do match, Cazorla 1998) e
Anand (2ª partida do match, Groningen 1997).
9.g3 0 xc3 10.bxc3 'tig4?! (no entanto é
mais sólido 10... ~3 l Uiel+ ~e6 com a
idéia de 12.âbl 0-0-0, enquanto a
recomendação de Beliavsky e Mikhakhishin,
12.ll.fl !ff5 13.g4 é duvidosa em vista de
13 ...l!ff6!) 11.ã el+
Anatoly, o Décimo-Segundo
11 ... @d8!?
"Urna novidade valiosa" (Karpov),
continuando o mesmo risco estratégico. Este
lance, como I O...'i!.fg4, foi feito de modo
instantâneo - tudo foi decidido quando as
pretas consideravam seu lance 8. "A perda do
roque não preocupa totalmente o Karpov de
hoje em dia" (Beliavsky, Mikhalchishin). Você
não concorda que de alguma forma isso lembra
a forma de jogar corajosa e incomum de
Steinitz e Lasker?
O normal 11.. .~f8 levaria após 12.li.e2
~f5 (Magem-Illescas, Pamplona 1995) 13 .ãb 1 !
seguido por c3-c4 a problemas para as pretas,
em vista da coordenação corrompida das suas
peças. Parece que após 9 l.ance incomum da
partida será mesmo até mais difícil para elas
conectarem as suas torres. Mas Karpov pensa
que o mais importante é trazer rapidamente
para o jogo a sua torre de h8 e então conectar
as torres mais carde, de uma forma original. E,
o que é muito típico, é que ele é bem sucedido
no desenvolvimento da sua idéia audaciosa!
12.it.e2
Kamsky, de forma natural, tenta castigar o
seu adversário: com as damas em jogo, as
brancas podem ter esperança de um ataque. O
final após 12.l!fxg4 .âxg4 13.ãbl b6 14.c4 c6
(1-1.Gurevich) ou 13 .. .i b8 (Ftacnik) 14.c4
( 14.Wg2 Wd7) 14 ... dxc4 15.~xc4 f6 não
prometia muito às brancas.
12 .. .l!ffS 13.ã bl (13.c4!? Karpov) 13 ... b6
465
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
No caso de 13...~c8 14.c4 dxc4 15 ..ixc4
h5 l 6.h4 as pretas permaneceriam em
dificuldades e assim elas se amparam em um
plano diferente.
14.c4 dxc4 (14 ... c6?! 15.cS! e c2-c4
Karpov) 1S..ixc4 l!e8!
Após 15 ...hS 16..id3 t!fg4 17.Ae2 e AO!
(Karpov) as brancas mudariam seu bispo para a
"sua" diagonal com um ganho de tempo e o seu
ataque central teria sido muito mais perigoso do
gue a distração de flanco das pretas.
t6.Ae3
Bloqueando a coluna e e evitando as trocas,
para explorar a desarmonia nas forças das
pretas. Após 16.l!xe8+ ~xe8 17.Ad3
(17.ii'e2+ ~f8 com igualdade) 17 ...l!id5
18.c4 'i'xd4 19.Ab2 l!ig4 (M.Gurevich) a
posição do rei preto no centro é invulnerável e
as brancas provavelmente não têm nada melhor
do que trocar as damas e retomar o peão, com
um final de jogo aproximadamente igual.
16....ic6!
Um lance importante: a ameaça de ...Af3(e4)
força as brancas a bloquearem a grande
diagonal. "Ao custo de dois tempi, as pretas
evitam a ruptura c2-c4-c5". (Karpov)
17.dS
É claro, não 17.il.fl? l5'd5. Mas agora o peão
dS restringe a mobilidade do bispo de casas
brancas das brancas, enquanto o bispo preto de
d6 se torna não somente uma forte peça
defensiva, mas também, em alguns casos, uma
466
peça de ataque!
t7 •.• Ad7 18.Afl?!
Parece que Gata não imagina como as pretas
possam resolver o problema de completar o seu
desenvolvimento e acreditou que teria tempo
suficiente para um ataque. Então, não veado
nesse instante um plano ativo, ele faz hinces de
"boa qualidade".
De acordo com Karpov, a única forma de
colocar dúvida na idéia das pretas seria o agudo
18 ..id3!. No caso de 18 .. .l!ixd5 19.c4 é difícil
para as pretas defenderem o seu rei: após
19 ... l!iaS? seguiria 20.cS! i.xc5 21.i.bS Ad6
22.l!idS ãb8 23.ji,gS+ f6 24.l!xe8+ .ixe8
25 ..id2 Wfa3 26..ib4, ganhando a dama,
enquanto se 19 ... tlfeS então é forte 20.h4 f6
(20.. .<iàt>c8 21.c5) 21..1'.xh7.
As brancas conquistariam uma vantagem
óbvia depois de 18... Wff6 19.~d2 h6 20..ia6!,
por exemplo: 20 ... cS 21.dxc6 Axc6 22.c4
Wc7 23.cS ou 22 ... ã e6 23.Af4 ãxe l +
24.!txel Wc7 25.l!ixd6+! l!ixd6 26.ãe7+
Ad7 27 ..ibS ãd8 28..ixd6+ ~xd6 29.l!xf7 e
vencem.
Sua vantagem seria menos notável após
18 .. .Wfg4!. Se agora 19..ie2 t!fg6 20.c4, então
as pretas podem forçar um empate: 20 ... l!xe3
21.fxe3 .ixg3 22.Ad3 ~xh2+ 23.'i!txh2
°ifh6+. Mas após l 9.l!id2 seus problemas
permanecem: 19 ... h6 20.c4 ou 19 ... a5 20 ..ifl
(20..ie2 ~f5 2 l..id4) 20 ... l!e7 21..id4 com
alguma iniciativa.
18... h6
Um prelúdio longe de óbvio para um
reagrupamento altamente eficaz. Também seria
possível jogar o imediato 18 .. J'.!e7 19.c4 ~ e8
20..id3 llif6 (não seria tão bom 20 ...~3
21.c5! bxc5 22.t!fc2), mas da mesma forma é
necessário o lance ...h7-h6 para gue em certas
variantes o peão h7 não fique pendurado e
possa ser coberta a casa g5, por exemplo:
2l.'iVd2 ~f8? (2 l...h6!) 22 ..tgS g xel+
23.l!xel l!id4 24 ..ixh7 tf xc4 25.Iâe4 ifbs
26.il.f6! com um ataque decisivo.

19.c4 !Ce7!
Mas agora o plano das pretas é óbvio:
desejam jogar .. .@e8-f8 e ...&e8. Então a
iniciativa das brancas rapidamente se evapora e
um final de jogo ligeiramente inferior as
aguarda. No momento, Kamsky tem tempo de
evitar um desenvolvimento assim dos fatos.
Mas a pergunta é, ele perceberá a aproximação
do momento cático?
20.i.d3
As brancas, para sua infelicidade, também
tramam um reagrupamento, tendo como
objetivo impedir o rei preto de se esconder na
ala do rei. Parece a Kamsky que, ao criar a
bateria lW+Ji. ao longo da diagonal bl -h7, ele
revela os defeitos da posição das pretas e que o
rei em f8 não poderá ser salvo. Mas isso se
prova ser uma ilusão!
Dificilmente seria algo melhor 20.ii.g2
(Karpov) - as pretas teriam desenvolvido o
mesmo plano: 20 ... We8 21.!t'd4 !t'g6
(21.. .WfS? 22.i.xb6 i.e5 23.ifh4 gxh6?
24.d6!) 22.~c3 Wf8 23.cS dxc5 24.ii.xcS
ii.xc5 25.~xcS ~d6 e um empate após
26.it'xd6 cxd6 27.'f!.xe7 ~ xe7 28.!tb7 'i!?d8
29.ii.fl lk8 30.'f!.xa7 ãcS seria um resultado
perfeitamente lógico.
20 ...il!f6 21.$>g2?1
Kamsky continua a evitar simplificações, não
acreditando que o plano lento das pretas possa
ficar impune. ''A impressão é a de que as
brancas têm suas peças misroradas: ao invés de
Anatoly, o Décimo-Segundo
colocar o bispo em sua casa lícita g2, elas
ocupam essa casa com o seu rei". (Karpov)
Seria mais ativo 2I.'ti'c2 We8 22.cS bxcS
23.ii.xcS e no caso de 23 ... i.xc5 24.'!WxcS
'i!fd6 25.it'xd6 cxd6 26.ãxe7+ Wxe7 27.ã b7
(Ftacnik) as brancas têm o melhor final de jogo,
enquanto se 23 ...Wf8 24.âxe7 Wxe7 25.il.d4
com a idéia de 1!fc3 e I!el (Christianseo) - elas
têm a iniciativa. Entretanto, após 23 ...ã xel+
24.ãxe l + Wf8 as chances gradualmente se
tornam iguais.
2l...$>e8! 22. .âc2 (é provável que aqui
também fosse melhor 22.'ti'c2, com a idéia de
c4-c5 Beliavsky, Mikhalchishin) 22...'i!Yc3!
Um forte lance intermediário. "Minha
resposta esfriou o ardor de Kamsky" (Karpov).
É claro, a dama não pode ser mantida em c3
por muito tempo, mas no momento ela previne
o plano com 'i!Vd3.
23.ii.b3?!
É daro, tanto 23.'ti'd3 l!fxd3 como 23 ..âd4
ãxe 1 mais provavelmente levem a um empate.
Mas Kamsky ainda pensava em mais.
A partir deste ponto de vista, era interessante
23.ãcl!? e se 23 .. .@fS, então 24.Abl,
forçando as pretas a tomarem cuidado:
24 ... t!rf6 25.'i,!fd3 ã ae8 26..i.d4 (26.t!rh7 g5)
26 .. ..i.eS 27.'i!Yh7 g5 28J!xe5 I!xeS 29.lk3
c5! 30J~f.3 ViHg7 3I.ViHxg7+ @xg7 32 ..âxe5+
ãxeS 33.1!a3 l!e7!. Este lance permite às
pretas estancarem as ameaças à sua ala da dama.
Após o divertido 29.il.g6 elas tanto podem
jogar 29 ... 'ti'xg6 30.ifhS+ 'i!fg8 31.'i!fxb6+
'i!fg7 32.it'xg7+ Wxg7 33.f4 f6 com um final
de jogo empatado, como o não menos
engraçado 29 . .. ii.h3+ 30.@xh3 g4+ 3 l.Wxg4
fxg6 32.'t½Yxb6+ @g8 33.©h3 't!ff5+ 34.Wg2
l!fe4+ 35.©gl l!fxd4, após o que as brancas
dão xeque perpétuo.
Entretanto, nenhum grande perigo é evidente
no càso de 23 . . :i'xc4. Somente que, após
24.id5 provavelmente não valha a pena tomar
o segundo peão - a situação após 24 ... iJfxa2
25.i.xd7+ @xd7 26.'tifd3 ãe5 27.I!edl pode
467
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
se mostrar desagradável para as pretas. Seria
mais seguro 24 ... l!fa4 25.~xd7+ 'rixd7
26.~d3 f5, por exemplo: 27.~d4 Wf8 28Jàe6
É!xe6 29.'i!YxfS+ ~fl 30.~xfl+ <t/xf7
31 .dxe6+ c.t>xe6 32.~xg7 h5 com um final de
jogo duplamente agudo.
23 •..Wf8 24.ãcl 'rlff6 25.~c2?!
A teimosia das brancas em conduzir um
plano pouco promissor tem conseqüências
irreparáveis. É mais lógico 25.cS bxcS 26.~xcS
e a tentativa das pretas em lançarem um golpe -
26 ... ~xcS 27.ãxcS ~g4? encontra uma
refutação espetacular: 28.'tifxg4 Etxel 29.d6 ! (a
casa f7 está a ponto de ruir) 29 ... ~g6 30.~D
c6 3 1.ã xc6 l!ff6 (seria totalmente mau
31..J:'!d8 32.E!c7) 32.'tifxf6 gxf6 33.~c7 com
final melhor para as brancas. Mas após 26 ... aS!
(Karpov) 27.'s.xe7 l!fxe7 28.~D a4 29.~c4
ãe8! a posição é igual.
25...ãaeS
Karpov completou com sucesso seu reagru-
pamento planejado, causando espanto ao
Grande Mestre Daniel King, comentarista da
partida: "Como K.arpov faz isso, eu não sei. Ele
tem uma misteriosa habilidade de coordenar
suas forças para que elas apresentem sua efi-
ciência máxima. Note como ele arrumou suas
peças, de forma que uma não esteja no cami-
nho da outra e que todas estejam protegidas;
p:1tece não existir uma simples debilidade em
seu exército. Compare esta posição com a de
quando ele jogou 11 ... c.t>d8; é dificil imaginar
468
que ele fosse capaz de conseguir wna harmonia
assim. Com o seu rei em segurança, com as tor-
res dobradas e a ala do rei das brancas debilita-
da, a iniciativa passou para Karpov".
Realmente, a posição das pretas agora é
preferível. E para as brancas em uma situação
assim, após consumir grandes esforços para
continuar o ataque, pode ser muito difícil se
readaptar para se defender. Pela inércia elas
fazem lances ativos, os quais freqüentemente
levam ao desastre...
26.Wd3?
Gata ainda sonha com as ameaças que a sua
bateàa 'i!f+A vai criar... Aqui, pela última vez,
ele deveria rejeitar seu esquema planejado e
urgentemente trocar os bispos - 26.~a4 Axa4
27.!fr'xa4, entregando completamente a
iniciativa ao seu adversário (27 ... l\Vg6 28.!fc2
lãe4 29.Ad2 ~cS), mas mantendo chances
reais de empate.
26 ... Ag4!
Isto deve ter chegado como uma ducha de
água gelada para Kamsky! As brancas gastaram
uma grande quantidade de tempo criando a
ameaça da invasão da dama em b7, mas resulta
que após 27.i!Vh7 g5!, não são elas, mas as
pretas que iniciam um ataque decisivo ao rei:
28.!'!bl (28.<;!tgl ~b4! 29.!!fl ~e2)
28 ...~xg3! 29.hxg3 ã xe3! 30.~e3 1!xe3
31.fxe3 Wff3+ 32.Wgl VWxe3+ 3H&g2 ~D+
34.c.t>h3 g4+ 35.$'h4 i½'g5 mate. Com um
lance Karpov revirou a avaliação da situação!

27.i.d2??
"Um verdadeiro desastre" (Karpov). A
posição das brancas é, é claro, difícil, mas ainda
defensável. Seriam colocados problemas
definitivos através de 27.f4 (mas não 27 ..id4?
'i!Bf3+!) - na variante de Karpov 27 ... ii..c5
28 ..it.xc5 bxc5 29Jl xe7 lãxe7 30.~dl as
chances de sucesso das pretas se reduziriam
drasticamente. Entretanto, ele venceria com o
inesperado 27 ... lãxe3 !! 28.lãxe3 !!xe3
29.tlfxe3 't!Yb2!, por exemplo: 30.h3 i.f5
31.°iWd2 .ie4+ 32.Wfl a5! 33.a4 f5 34.g4 .ia3
35.gxf5 ~ xf5 36.<tte2 ..tb4 37.tlfdl g6.
A defesa mais resistente seria 27.Íi..dl ! i.f5
28.'tifü3! (não 28.tlfd2 .1i.a3 Karpov), embora
após 28 ... i.e4+ 29.égl 'i!?g8 30.~c2 h5 o
exército preto se mostre muito ameaçado.
27 .. .!ie2! (a invasão decisiva) 28.ã ><el ã xe2
29.fill (29..iel .ic5! Karpov) 29.J~xd2! 0-1
Em vista de 30.!i'xd2 'ti'f3+ 3 1.<Bgl kb3.
Um final incrivel! Após tal perambulação do
rei preto, era difícil imaginar que tudo acabaria
em um ataque ligeiro e irresisúvel sobre... o rei
branco! "Parece que Kamsky não imaginou
completamente o que se passava no tabuleiro".
(Karpov).
Então o Campeão também venceu a 7ª
partida, que se arrastou por aproximadamente
sete horas e 71 lances e, após um empate nas•,
ele também venceu a 9ª! A contagem se tornou
arrasadora: 6½-2½. Mas aqui, para sua honra,
Gata conseguiu mostrar suas qualidades de luta
e na segunda metade do match houve urna luta
feroz e igual. Karpov conquistou sua sexta
vitória na 14• partida (como se estivesse
pagando tributo à memória dos matchcs
ilimitados) e após a 18ª partida atingiu os
necessários 10½ pontos.
Nem é preciso dizer como foi grande o
desapontamento para os Kamskys (Gata e o seu
rigoroso pai Rustem, 9ue dedicaram todos seus
esforços para a conquista do objetivo supremo).
Logo, por insistência do seu pai, este talentoso
Anato/y, o Décimo-Segundo
Grande Mestre abandonou o :xadrez por um
longo tempo e de forma séria iniciou o estudo
de medicina...
Enquanto isso, em 23 de agosto de 1996, em
seguida a uma reunião entre eu próprio, Karpov,
o Presidente da FIDE Kirsan Hyumzhinov e o
Presidente da Federação Russa de Xadrez,
Andrey Makarov, foi decidido que em 1997 se
realizaria um match Kasparov-Karpov "pelo
campeonato absoluto" e alguns dias depois
colocamos nossas assinaturas no memorando
correspondente.
Não quero me aprofundar na questão de
porque o nosso sexto rnatch não tenha sido
realizado (expressarei o meu ponto de vista em
minha autobiografia), mas um papel longe de
secundário foi desempenhado pelo resultado do
supertorneio em dois turnos dos seis jogadores
mais fortes do mundo em Las Palmas
(Dezembro de 1996): 1.Kasparov - 6½ pontos
em 10; 2.Anand - 5½; 3-4.Topalov e Kramnik -
5; 5-6. Ivanchuk e Karpov - 4.
Neste torneio categoria 21, um recorde para
aquela época e comparável talvez com o
memorável torneio AVRO (1938), Anatoly
Evgenyevich, após perder na segunda metade
para Anand e para mim, foi o único participante
que não marcou nem uma simples vitória. É
claro, ele poderia e deveria ter jogado melhor, se
tivesse demonstrado comprometimento
completo com o torneio e não tivesse ido, no
auge da batalha, para a abertura de algum
campeonato de juniores em Paris. Aqui pode-se
lembrar de Capablanca, que durante o torneio
internacional de Moscou (1925) também viajou
para outra cidade - Leningrado, para dar urna
exibição simultânea e sofreu uma derrota após
o seu retorno.
Depois disto, tudo o que restou a Karpov foi
defender seu título de Campeão da FIDE.
Precisamente nesta época, instigado por
Ilumzhinov, sob o pretexto de dar mais vida ao
espetáculo, o título de Campeão Mundial
começou a ser disputado em torneios nocautes,
com 128 participantes jogando mini-matchc.r de
469
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
duas partidas (nos estágios mais adiantados,
quatro e seis). No caso de contagens iguais, as
coisas eram decididas no tie-break: xadrez rápido
e, se necessário, até relâmpago.
É claro, eu não era contra o sistema em si, no
qual o famoso primeiro torneio internacional
(Londres 1851) foi jogado, mas eu - e não
somente eu! - pensei que ele fosse bom para
um evento do tipo de uma Copa do Mundo e
absolutamente inadequado para determinar o
jogador mais forte do planeta. Então, quando
Karpov e eu ("com o objetivo maior da
conciliação'') fomos convidados a entrar no
estágio da semifinal (um belo privilégio!),
declinei de jogar por uma questão de princípios,
não desejando criar um precedente que pudesse
causar danos ao histórico título de Campeão
Mundial.
Mas então, a FJDE permitiu Karpov
diretamente na superfinal(!), apesar dos
protestos de muitos conhecidos Grandes
Mestres - Kramnik até se recusou a participar...
Um detalhe "menor": os participantes da
superfina] receberiam a "parte do leão" do
prêmio total de 5 milhões de dólares: US$1,37
milhão para o vencedor e US$768 mil para o
perdedor.
O estágio principal do primeiro Campeonato
Mundial da FID E disputado pelo sistttma
nocaute teve lugar de 9 a 30 de dezembro de
1997 em Groningen e trouxe um merecido
triunfo para Vishy Anand. No caminho da
conquista, ele derrotou Nikolic (2-0),
Khalifman (1-1, partidas rápidas 2½-1 ½),
Almasi (2-0), Shirov (1 ½-½), Gelfand (1 ½-½) e
Adams (2-2; partidas rápidas 2-2; relâmpago 1-
0). E já em Lausanne em 1 de janeiro de 1998 -
imagine só! - teve lugar a abertura do seu match
superfina] com Karpov, que voou para lá das
Ilhas Canárias.
Deve ser clico que Karpov fala com muito
respeito acerca do jogo do Grande Mestre
indiano: "Seu gênio reside na originalidade.
Anand se sobressai dentre os muitos que
enfrentei e que tenho_na memória. Aqui há algo
470
especial, oriental, não conhecido por nós. N ós
provavelmente temos uma visão diferente não
somente na vida, mas também no tabuleiro ...".
O fato de que Vishy também tenha uma visão
diferente de vida se tomou claro depois de uma
entrevista após Groningen, na qual declarou:
"Penso que possamos entrar no século 21
esquecendo todos os privilégios e jogando
Campeonatos Mundiais normais".
Assim, o mundo do xadrez testemunhou a
inédita "experiência de Lausanne" da FIDE -
um match de seis partidas entre o relaxado
Karpov de 46 anos com Anand, de 28 anos,
exausto após três semanas de combate.
Partida 105
A. Karpov - V. Anand
Match pelo Campeonato Mundial da PIDE
Lausanne 1998, 1• partida
Defasa Semi-Eslava - D48
l.d4 dS 2.c4 c6 3.l2k3 itlf6 4.e3 e6 5.itlf3
itlbd7 6..id3
Em seu match de Candidatos (1991), em Biel
(1997) e na s• partida do match em Lausaone,
Karpov jogou contra Anand 6.ifc2 (partida 95
epartida 96), mas em todas elas as pretas foram
capazes de resolver seus problemas de abertura.
6... dxc4 7.i.xc4 b5 8.lt.d3 i.b7
Este Jance de Larsen ocorreu com maior
freqüência nos encontros "Merano" entre estes
dois adversários. Vishy também jogou várias
vezes 8... b4 e foj somente em sua última
tentativa (Mônaco 1996, partida rápida) que
Karpov conseguiu uma vantagem tangível após
o enérgico 9.itle4 .ie7 10.0-0~b711.êz:lxf6+
êz:lxf6 12.a3 0-0 13.axb4 Axb4 l4.e4 h6
15.e5! itld7 l6.i.c2 !!e8 17.'i!fd3 êz:lf8 l 8.ti'e4
'Llg6 19.iãd l 1:fe7 20.!fg4!.
9.0-0 (9.a3 - conforme o comentário ao 8°
lance das pretas na partida 103; 9.e4 - volume 4,
partida 43 epartida 41) 9 ... a6
Agora a partida é transposta para a variante
com 8 . . . a6. Anand também utilizou 9 ...b4
(como Polugaevsky - partida 26') ou mesmo

9 .. .1i.e7.
10.e4 c5 11.d5 !fc7 12.dxe6 fxe6 13.A c2
O prematuro 13.li.)g5 é estancado por
13 ...'i!fc6! 14.lfe2 c4 15.1i.c2 .ic5 l 6 ..ie3
0-0 17.&dl h6 18.li.)f3 Wic7 19.li.)d4 ãae8
20.a3 li.)e5 com um jogo excelente para as
pretas (Karpov-Anand, Mônaco 1994, partida
rápida).
13...c4
Também foi tentada a seguinte continuação
duplamente aguda: 13 ...1i.e7 14.liJgS l½fc6
15.'i!ff3 h6 16.ii'h3 bxg5!? 17.~xh8+ Wf7
18.'tfih3 g4 19.Wh4 lzJe5 (Karpov-Kramnik,
Mônaco 1994, partida rápida), da mesma forma
que, na segunda metade dos anos 1990, os
lances de Dreev 13 ... 0--0--0 ou 13 .. .1i.d6!?.
14.'ife2
Naquela época já tinha sido neutralizado
14.liJgS (.partida 103') e se desenvolvia uma nova
tendência - 14.liJd4 liJc5 15.1i.e3 !, sacrificando
o peão e4: 15 ...0--0--0 16.'tife2 e5 17.liJf3
(Lautier-Gelfand, Amsterdã 1996) ou 15 ... e5
16.lLJfS (Lautier-Kramnik, Mônaco 1996,
partida ripida). É roais forte 16.liJf3 ! e se
16 ../i:icxe4, então 17.tê::\xe4 li.)xe4 18.l:!el
com a iniciativa (Gelfand-Bareev, Novgorod
1997). As pretas podem completar melhor seu
desenvolvimento, mesmo à custa da qualidade:
16 ...1i.e7! l7.li.)g5 0-0! 18.1i.xc5 .ixc5
19.liJe6 t!fb6 20.liJxf8 ã xf8 (Kasimdzhanov-
Kasparov, Llnares 2005).
14•.•1i.d6 15./f)d4 /f)cS 16.f4 e5
Anatoly, o Décimo-Segundo
17.li.)dxb5!?
"Uma surpresa desagradável'' (Karpov). Em
uma partida contra Akopian (Olimpíada de
l erevan 1996) eu gastei um longo tempo
considerando esta sacrifício em b5 e no entanto
joguei 17.0f5, mas após 17 ... 0- 0 18.li.)xd6
'i!fxd6 19.fxeS 'fixes 20Jtf5 tfc7 2 I.1i.g5
com o preciso 21.. .0fxe4! 22.ãxf8+ ã xf8
23.0xe4 V.We5 as pretas forçaram um empate:
24.liJf6+ gxf6 25 ..ixh7+ éxh7 26.'tiüS+.
Após preparação caseira foi mais fácil para
Karpov decidir pelo sacrifício de cavalo,
especialmente uma vez que seu adversário,
cansado após as batalhas de Groningen, bem
gue poderia não ser capaz de encontrar seu
caminho nas complicações resultantes.
17 ... axb5 18.0 xb5 'i!i'b6 19./f)xd6+ 'i!fxd6
2O.fxe5 lWxe5 21.ãfS 'iWe7 22.'i!i'xc4
Agora as pretas encaram uma escolha
importante.
22 .. J!c8
"Uma defesa habilidosa - jogar no centro!"
(M.Gurevich). Foi este lance que quase colocou
a variante com 17 .ê2idxb5 fora de uso. É
perigoso jogar 22 . ..lLJcxe4?! 23.!i'bS+!
(retirando do adversário o direito de rocar)
23 ...~f8 24 ..ie3 com um forte ataque. O
lance 22 .. .lLJcd7 conduz a uma partida
indefinida (de acordo com Anand, "Kramnik
disse que havia checado com alguns amigos
todo este caminho já em 1991") após 23.i.d2
ãc8 24.m3.
23.WbS+! /f)cd7!
"Esgrimir tático impecável de ambos os
lados" (Zaitsev).
24.l!fxb7 (mas não 24.1i.a4?! i.c6 25.'tlfa6
0-0! 26.i.xc6 0b8 Karpov) 24 ...ã xc2
25.ii.gS
Se 25.:SaS!? (Karpov) as pretas têm a boa
resposta 25 .. .Wf7! (Stohl), uma vez que após
26.'t!fb3+ ti'e6! 27.~xc2 com 27 ...'i!fb6+ elas
também podem capturar a torre.
25... °ifd6!
Não é possível 25 ..."iVxe4? devido a
471
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
26.'i!fxe4 -tlxe4 27.ãel ãc4 28.b3! (não
28.lâdS? 0- 0 !) 28 .. Jãd4 29.ãf2! (uma
manobra muito forte) 29 ... h6 30.ãd2!
(Karpov) 30 ...ã b4 31.a3 e vencem, enquanto
após 29 ... -t\df6 30.!!f4 (Stohl) 30 .. Jàdl (não
há nada melhor) 3 Uãxd I -tlxg5 32.a4
novamente as pretas mais provavelmente
percam.
26.'ili'a8+ @f7?
No entanto a fadiga fala mais alto: Anand
decidiu forçar um belo empate através de um
xeque perpétuo, mas ele não percebeu o lance
31 das brancas. É auto-sugestivo 26 .. .'i!fb8
27.tfxb8+ -tlxb8 28.~xf6 (28.a4 0-0!
Zaitsev) 28 ... gxf6 29.ãf2 (Karpov) 29 .. Jâxf2
30.Wxf2 ~c6 (Stohl) ou 29.ãxf6 ãxb2 30.a4
~ d7 3 l.ID-2 ãb4 32.a5 ã xe4 33.a6 rJi;e7 34.a7
ãa8 (Flear-Galkin, Port Erin 2001) com um
final empatado.
27.t!fxh8 'tlfd4+ 28.Whl Vxe4 (28... 'iWxb2
29.Í!dl ! M.Gurevich) 29.ãf3 !!xg2!? (o auge
da idéia das pretas; 29 ...-t\e5? 30.ãxf6+)
30/,&xg2 ~es
E ao invés de 31.ãfl , que era esperado por
Anand e o qual após 31. .. ~xf3 32.ãxf3 't!fe2+
conduziria a um empate, aqui segue... Um
sacrifício de dama, após o que o bispo branco
consegue eliminar ambos os cavalos!
31.!fxg7+!
"Geralmente uma dama ataca um rei do
centro do tabuleiro, mas aqui este golpe
insidioso é desferiâo do canto próximo".
472
(Karpov)
31 .. .<~;>xg7 32.~xf6+ Wg6 (não mudaria
nada 32...@h6 em vista de 33.~xe5 't!fxe5
34.ã f2) 33.~xeS Wxe5 34.ãgl (uma bela
armadilha., mas também é suficiente 34.ãf2
Stohl) 34...hS
Não há nada mais: 34 ... i+'xb2+? 35.@hl +!
S'h5 36.!!h3 mate.
35.b3! 't!fe2+ 36.ã fl
Havia uma vitória mais rápida através de
36.Wh3+ S'h7 37.ãt7+ Wh6 38.ã f6+ @h7
39.a4 (Karpov) ou 37 ... @h8 38.ãf6! 'i!t'd3+
39.:Sg3 'i!fd7+ 40.Wh4 'i!t'd4+ 41.Wg5 etc.
36 .. J!fe4+ 37.00+?!
E isto já é um erro. Agora o peão a2 está
perdido e a batalha é grandemente prolongada.
Após 37.Wh3+ ! "í!th7 38.ãt7+ Wh6 (38 ...~h8
39.ã f6! - conforme o que foi dito acima)
39.:Sf6+ ~h7 40.ãg3 ambos os peões da ala da
dama estavam prontos a avançar.
37•.•Wh6 38.!!gJ 'i!i'b1+ 39.<,!?g2 'ili'e4+
40.!tgfJ 'i!i'g6+ 41.@fl 'i!t'bl+ 42.@gl lWg6+
43.@ht 'iibt+ 44.!!n Wxa2
Para evitar os xeques, as brancas tinham que
entregar um peão, mas na seqüência Karpov
joga com precisão: o trabalho harmonioso das
torres ajuda o rei branco a escapar dos xeques e
o peão b a avançar para a casa de coroamento.
45.ã f6+ <!lg7 46.ãf7+ @h8 47.!!18+ @g7
48.!!8f7+ S'g8 491!70 Wg7 S0.h3 't!fc2
Sl.ãlf2 'tlfe4 52.S'g2 Wb4 53.!!e2 'i!i'd4
S4.lãe7+ ©g6 55.lãe6+ <;/;g7 56.lãg3+ Wf7
57.lãgeJ 'i!fd5+ 58.@g3 'i!fgS+ 59.Wf2 'i!t'b4+
60.We2 !fd4 61.!!6e4 'i!fal ?!
"Um lance instantâneo, impulsivo"
(M.Gurevich). Todos os comentaristas
consideraram de forma correta ser mais
resistente 61...°ifb2+, mas após 62.@f3 'i'b2
63.h4 (Zaitsev, Karpov), da mesma. forma as
brancas têm uma posição vencedora.
62.©d3 @f6 63.l!e6+ © fS 64.b4 'i!fcl
65.@d4 'tlfc8 66.bS '%!fd8+ 67.@cS Wc7+
68.Wb4 °i!ff4+ 69.@b3 'i!i'c7 70.b6
"Com o peão em b6, a vitória é simplesmente

uma questão de tempo". (M.Gurevich)
70 ... 'ii'd7 71.2l3e5+ <cW4 72.ãe4+ 'it>g3
73.2le3+ Wh2 74.@c4
As peças brancas conseguiram coorden ação
completa e agora é a vez do rei ajudar o peão b6
a avançar.
74 ...b4
Anand faz as coisas mais fáceis para as
brancas, ao entregar seu peão. Depois disso,
explorando o fato de que a dama está amarrada
ao peão b6, Karpov cahnamente muda o rumo
do seu rei, mandando-o ao flanco da direita
para recolher o botim.
75.$'c5! "tii'c8+ 76.<;!?dS °iWd8+ 77.'it>e4
'i!fd7 78.'it>fS 'it>g2 79.WgS 'iWg7+ 80.'it>xh4
Wf2 (80...'ifh7+ 81.WgS l!Vg7+ 82Jl!g6)
81.213e5 °tiib8+
Também seria sem esperanças 81...°tiig3+
82.Wh5 l!fxh3+ 8Ht•g6 l!fg2+ 84.!Xg5 tfb7
85.!U5+ (Stohl) 85 .. .Wg3 86.ãf7 etc.
82.'~g4 'ii'g7+ 83.@fS °ti'b7+ 84.@f6
't!9h4+ (84 ...'ifxh3? 85.!Xe2+ levaria à perda da
dama) 85.~ 'i!fh7+ 86.'it>e8 'i!fb7 87.h4
'ifb8+ 88.Wf7 \lfb7+ 89.'it>g6 ti'b8 90.hS
ifg8+ 91.WfS 't!!h7+ 92.'it>f6 'it>f3 93.ãeJ+
Wf2 94.lle2+ 00 95.212e3+ @f2 96.@gS
ifg8+ 97.c.i?h4 °ifd8+ 98.@h3 'ifdl 99.2le2+
Wf3100.Wh2
"Ambos os jogadores estavam extremamente
cansados. Desta forma eu desperdicei a
possibilidade de 100.ãel ! com mate
inevitável". (Karpov)
IO0 ... i.Vd8 lOI.ã 6e3+ @f4 102.b7 'ifb6
Anatoly, o Décimo-Segundo
103.ã e4+ 00 104.ã 2e3+ Wf2 105.ãe7
'ifd6+ 106.@h3 'ifb8 107.l!3e5 Wgl
108.!!g7+ 1-0
Em vista de 108 ... Wf2 109.llf7+ Wgl
110.llel mate.
"Uma derrota extremamente vexatória para
Vishy - e um golpe muito doloroso em um
rnatcb tão curto" (M.Gurevich). Precisamos
reconhecer a coragem e a categoria de Anand:
na 2ª partida ele igualou a contagem e na 3"
conquistou um empate na "Merano" e estava,
sem dúvida, com esperança de ser bem
sucedido na 4• partida.
Mas naquele clia algo deu errado para ele na
abertura. Após fracassar em conquistar uma
vantagem, Vishy manejou o meio-jogo de
maneira incerta e terminou em uma situação
bastante desagradável, necessitando das brancas
uma defesa esmerada. Enquanto Karpov, que
estava em seu elemento, procurava a mais leve
chance de jogar pela vitóàa. Após a troca das
torres no 32º lance, foi alcançado um final com
as damas e bispos de cores opostas, onde a
defesa das brancas é complicada pela debilidade
do seu peão h5 e pela presença do afastado
peão passado do adversário na coluna a.
Partida 106
V. Anand - A. Karpov
Matcb pelo Campeonato Mundial da FIDE
Lausanne 1998, 4•partida
473
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
33 .••.âbS! 34.c4 (34.1!fb4?! ti'xb5!)
34... ~ e8 35.cS?
Com este lance natural, Anand desperdiça
uma chance real de empate: após 35.'i!fd8!
'ti'xb5 36.it.e3 não é aparente como as brancas
possam vencer. No tabuleiro, Karpov aqui
considerou 36 ... .âc6 37.~d6 .âa8 38.~d8
.i.e4 39.f3, com igualdade.
Mais tarde Zaitsev recomendou 36 .. .'t!:Vg6,
pata após 37.~d6 f4! 38..âxf4 ~bl+!
39.$'h2 'ilfe4 ganhar um peão, embora fosse
possível que as brancas ainda pudessem salvar o
final de damas após 40..it.e3 (40.~d2?! .it.c6!
4l.f3 'i!fxc4) 40 . .. .âc6 41.f3 'ilfxe3 42.'ilixc6
'ilfxe5+ ("etc." Zaitsev). Mas as brancas têm
uma resposta mais forte - 37.l!fa8! (controle da
grande diagonal) 37 ... a5 38.cS a4 39.c6 f4
40.c? ! (Ftacnik) com um empate.
35 .. .'ii'd7!
"Uma manobra excelente" (Zaitsev). "O peão
h5 não pode avançar e as pretas primeiro
podem ativar sua dama". (M.Gurevich)
36..ic3 Wfd3 37.ti'd4
Para evitar o pior (37 ..id4?! a5 ou 37.it.b4?!
l!fd5) as brancas trocam as damas, transpondo
para um final de bispos com um peão a menos,
uma vez que o peão h5 está condenado.
37...l!fxd4 38.Axd4 as
39.c6?
"Parece que Anand já se conformou com a
474
derrota" (Karpov). "Um lance stúdda, feito de
forma instantânea!! 'A posição já estava perdida
de qualquer forma,' disse Anand na conferência
de imprensa. Mesmo que assim seja (e para
mim, por exemplo, isso não é óbvio), a maneira
mais rápida de perder é 39.c6?" (M.Gurevich)
Realmente, este lance merece um ponto de
interrogação, pela razão de que torna as coisas
mais fáceis para as pretas. Parece que Vishy
estava certo: este final muit0 interessante de
bispos de cores opostas já estava perilido para
as brancas! Vamos considerar duas formas de
defesa - com o peão em f3 e com o peão em
f4:
1) 39.f3 ~xh5 (39... f4!?) 40.c6 .ie8 41.c?
.id7 42.'~f2 a4 43 ..it.c5 f4 (Ftacnik). E ntão as
pretas jogam ... g7- g5, ...Wg6-f6, ... h6- h5,
movimentam o seu bispo para b7 e seguindo
em frente com .. .h5-h4 e ...'it>g6-f7-e8-d7
ou ... g5-g4, para após f3xg4 e ... h5xg4
seguido por g2-g3xf4 e ...Wxf4 obter uma
posição do mesmo tipo que surgiu na variante
2: as pretas colocam seu peão em g3 e rompem
desimpedidas com seu rei na ala da dama.
De acordo com Karpov, a linha de defesa
com 42.g3 a4 43 ..ib2 é mais resistente, mas
em minha visão isso não complica seriamente
a tarefa das pretas: 43 .. . g5 4 4.Wf2 ~g6
45.'it>e3 .tc8 46.~a3 .it.b7 47.~d6 'it>f7
48..it.a3 $'e8 49.f4 'rt?d7 50..id6 ~c6 51.~ d4
gxf4 52.gxf4 h5 53.~e3 ~ d5 ou 49 ..ib4 Wd7
50 ..td6 @c6 51 .<.!?d4 (se 51.f4, então
51...<.!?dS 52.fxgS hxg5 53 .~ d3 .ia6+!
54.We3 Wc4) 51...h5! 52 ..ie? (após 52.f4
gxf4 53.gxf4 h4 54.'~e3 Wd5 a vitória é
simples) 52...<,!;lxc? 53 ..txgS ,it.xf3 com dois
peões a mais e a criação iminente de um
segundo peão passado.
2) 39.f4 a4 40.~b2 .it.xh5 4 1.c6 .te8 42.c7
.id7 43 .'i!n'.2 e as pretas encaram uma escolha
difícil.
 Anatoly, o Décimo-Segundo

49!.t)xa4 com um empate, mas 45 ...WhS!

(talvez também pudesse 45 ... .ib7, prevenindo
Wf3) 46!.&f3 Wh4 47..ie7+ g5 48.fxgS hxgS
49.g3+ 'i!?h5 50..ia3 .ib7+ 51.éf2 ég4
52..icl h6 53.Wg2 .ic8 54.@t2 .i.b7 (o
Zf'gZJVang força as brancas a movimentarem o
seu bispo de cl) 55.h3 f4 56.gxf4 $>xf4!
57 ..icl+ Wg4 58.©g] 'i!?h4 e o peão preto vai
a g3 e o rei - com efeito decisivo - para a ala da
dama.
Nada seria mudado através de 39..ic3 a4
Diagrama de Análise 40 ..ib4 .ixh5! 4l.c6 .ie2! 42.c7 ila6
(Zaitsev; Karpov). Após f2-t'3 ou t2-f4 as
O apressado 43 ... g5? joga fora a vitória:
pretas desenvolvem um dos seus planos
44.'it'g3 ég6 45 ..ic l! Wh5 46 ..bJ .ic8
examinados acima. Assim pode ser dito com
47 ..icl .ib7 48..b3 Wg6 49..ic l. A tensão
um grande grau de certeza que Anand
criada de peões é vantajosa para as brancas. Se
desperdiçou um empate anteriormente,
49 .. .g4, elas têm o lance 50.Wh4 com uma
embora, se as brancas manúvessem seu peão e,
ameaça ao peão h6. E após 49 ... Wfl, para levar
a vitória para as pretas seria mais dificil. Anand
o rei para a ala da dama, as brancas capturam o
esperava facilitar a sua defesa mantendo um
peão (50.fxg5 hxgS 51..ixg5), voltam com o
número igual de peões na ala do rei.
seu bispo (51. .. a3 52..icl a2 53 ..ib2) e então
39 ...1i.xc6 40.f3 f4!
têm tempo para trocar o seu peão débil g Vishy subestimou esta possibilidade de
(53 ... We7 54.~4 Wd7 55.g4 fxg4 56.éxg4 problema. "O lance chave, que Karpov sem
'i!?xc7) e voltam com o seu rei (57.Wf4 ©b6 dúvida viu à frente" (Zaitsev). Após 40 ... 1i.e8
58.©e3 Wc5 59.Wd2). É mais astuto 49 ... i.a6 4 l .g4 a partida provavelmente terminasse
50.<;!;>t3 gxf4 51.Wxf4 'i!?f7 52.g4 fxg4 empatada. Agora, entretanto, as pretas tomam o
53.éxg4 We7. Agora 54.Wh5? perde: peão h5 e as brancas, enquanto lidam com o
54 ... Wd7 55.<;.t>xh6 éxc7 56.$'g5 Wc6 peão f4, são forçadas a permitir que o peão
57.Wf4 'i!?ds 58 ..ib2 @c4 59.@e3 Wb3 passado inimigo alcance a2.
60..id4 Wc2! 61..icS .ibS - Zf'gZJVang. Seria
41.3Lb2 .ic8 42.li.cl a4 43 ..ixf4 a3
correto 54 ..ia3+ 'i!?d7 55 ..id6 .ie2+ 56.'i!?h4 44.3Le3 ~xh5
Wc8 57.Wg3, quando as pretas não podem
romper com o seu rei. O bispo em d6 está
colocado de forma ideal: defende o peão c7 e
controla o peão a4.
Levaria a um fortalecimento decisivo da
posição 43...Wg6! 44..ia3 .ic8 45.We3 e
agora não 45 ... 'i!?f7 46.Wd4 (Ftacnik)
46 ...We8 47.©c5 © d7 48.'i!?bS! (não
48.©b6? devido a 48 ... gS 49.fxgS hxg5
50..ib2 f4 51..icl We7 - as pretas entregam o
seu bispo pelo peão e, mas criam um segundo
peão passado na ala do rei) 48 ... Wxc7

475
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores
A queda das brancas é causada pela
debilidade dos seus peões da ala do rei. Se elas
os colocassem em casas brancas, então a
ameaça da sua diminação pelo bispo significa
que o rei branco seria incapaz de se dirigir à ala
da dama, quando o rei preto ali irrompesse. Mas
a colocação deles nas casas pretas cria
debilidades irreparáveis nas casas brancas, que o
rei preto poderá explorar para montar um
segundo peão passado.
45.Wf2
Ou 45.g4 a2 46.il.d4 il.e8 47.f4 g6 (as pretas
estão criando um peão passado) 48.Wt2 h5
49.Wg3 ~a4 50.<~h4 Wh6 5 1.il.c3 il.dl
52.gxhS gxhS (Ftacnik) - agora o rei branco
estará amarrado ao peão h, enquanto o das
pretas se dirige à ala da dama.
45 ... it.eS 46.it.d4 Ac6 47.Ac3 a2
''As pretas têm um plano vitorioso bem
delineado: ...$>g6- f5, ...g7-g5, ...h6-h5-h4 e
...g5-g4! Imaginando isso, Vishy provoca uma
crise". (M.Gurevich)
48.g3 hS! 49.g4
"Isto apressa o final" (Karpov). Mas seria da
mesma forma sem esperanças 49.Wg2 g5
50.Wf2 Wg6 51.<i!?e3 h4 52.Wf2 h3 e se 49.f4,
então 49 .. .'i!?g6 50.We3 Wf5 51.~b2 Wg4
52.Wf2 h4 53.gxh4 ç!;>xf4 ! (Ftacnik) e o peão h
está perdido.
49 ... h4! 0-1
Após 50.f4 g5 ! 5 l.f5 (51.fxgS Wg6)
5 l...exf5 52.gxfS g4 os peões pretos são
irresisúveis.
"Anand deve ter ficado chocado com os
acontecimentos dessa partida: aconteceu algo
fora do comum, um tipo de acontecimento que
fica gravado por um longo tempo na memória
de gerações do xadrez" (Zaitsev). Aliás, duas
décadas antes disso, Karpov já havia vencido
um final similar com bispos de cores opostas
contra Kurajica (partida 6</). Esses dois fmais
são uma excelente ilustração de como o 12º
Campeão Mundial atua com o efeito máximo na
476
exploração de erros imperceptíveis cometidos
pelos adversários sob o peso de problemas
acumulados.
"A primeira vitória de Karpov contra Anand
com as pretas!", escreveu o Grande Mestre
Mikhail Gurevich após a 4ª partida. ''A derrota
colocou Vishy em uma situação extremamente
difícil no match. A qualidade do seu jogo nessa
partida somente pode ser explicada pelo seu
cansaço extremo. Os poderes humanos não são
ilimitados: antes disso ele já havia jogado por
um mês partidas em seguida...".
No entanto, Anand conquistou um empate na
S- partida sem problemas em particular e então
venceu a 6ª, verdadeiramente "a partida da sua
vida":3-3! "É claro, não esperava que
conseguisse vencer", disse imediatamente ao
final da partida, "e agora e.stou muito, muito
feliz. Estou tão contente por ter conseguido
empatar a contagem, que no momento não
estou pensando sobre o tie-break de amanhã.
Pensarei nisso mais tarde".
Um momento dramático! Makarichev: "Vishy
provavelmente experimentou um sentimento de
bancarrota mental - a bancarrota da vitória,
quando após um trabalho muito duro a alegria
. .
se nustura com um entorpecimento e apana.
. .
Mas ele ainda tinha que jogar o tie-breakl".
Campomanes: ''Aconteceu a mesma coisa com
Karpov em Sevilha em 1987: novamente ele foi
incapaz de conquistar um empate na partida
decisiva do 111alch. Mas em Sevilha não havia o
tie-break e aqui há - e é praticamente impossível
antecipar o vencedor".
Karpov: "Eu estava muito contrariado: perdi
em uma posição na qual não havia mais
nenhum perigo para as pretas. Não calculei uma
variante. Bem, e em um match que estava indo
tão bem chegar a um estado assim -
naturalmente isso foi um choque e dificilmente
dormiria bem a noite inteira. Então, achei
melhor tomar a decisão: nada de xadrez, nada
de análises, nem do passado nem do futuro -
simplesmente ter a cabeça limpa. A única coisa
que me ajudou foi uma ducha gelada depois da

partida".
No dia seguinte, o destino do match e da coroa
da FIDE seria decidido em um m.ini-match de
duas partidas rápidas. Parecia que esse fosse o
forte de Anand, mas naquele instante a fadiga
estava à beira de derrubá-lo. Na primeira
partida, com as pretas, obteve uma posição
completamente vencedora e também uma
grande vantagem no tempo, mas... começou a
"escorregar"! Um pouco antes do final, o líder
subitamente se assustou e sentiu os últimos
metros da maratona.
39•••tiJxO+?
As pretas venceriam através de 39 ... a4 !
(Yusupov) 40.i.d7 (40.l2Jg5 a3) 40.Ji:lxf3+
41.1Wxf3 !Vxf3 42.!!xf3 'ãe7 43.i.xa4 (não há
nada mais: 43 .ãc8+ 'ãxc8 44.i.xc8 'ãa7)
43 ...'ãxc7 44.~xb3 Wf8 etc.
40.l!:VxO a4? (40 ...ê2Jd4! ainda manteria um
saudável peão a mais) 41.'ti!'xf6 gxf6 42.it.d7
lbd4? (42 ...'ãe7 com igualdade) 43.~ xe8
ê2Je2+ 44.Wg2 l2Jxc3 45.k xti+@f8 46.kxg6
e as pretas não foram capazes de resistir ao
assalto dos peões brancos (1- 0).
Karpov: "No início da 1ª partida do tie-break
me senti um pouco sem energia, mas então me
animei e minha clareza e rapidez de pensamento
retornaram... Eu acho que Anand simplesmente
não estava preparado para uma batalha feroz.
Ele pensava que jogasse melhor no xadrez
rápido e que as coisas já estivessem defirúdas.
Anatoly, o Décimo-Segundo
Deu toda a impressão de achar que o título de
Campeão já era seu. Mas, ao final, eu me
controlei melhor e venci". Entretanto, a julgar
pela 1ª partida, não foi esse o caso: não foi
Karpov quem "se controlou melhor e venceu",
mas Anand que se desligou e perdeu.
Zaitsev: "O intervalo entre as partidas - 15
minutos - foi utilizado pelo preparador físico
de Karpov, Valery Krilov, para massagear o seu
protégé, enquanto Elizbar Ubilava tentava em
vão acalmar o derrotado ('Vishy não me ouvia
nem me via mais: ele não estava ali.. .').
Infelizmente, na 2ª partida Anand não
demonstrou a necessária força de espírito,
perdendo o controle sobre si mesmo e sobre a
posição e em um momento furioso entregou
dois peões sem qualquer motivo, encerrando
assim o primeiro match do Campeonato
Mundial sob o novo sistema".
O canto do cisne de Karpov : vitória no
desempate do match final com Anand (1998)
Assim Karpov manteve o seu título de "Rei
da FIDE", provocando no entanto reações
diferentes no mundo do xadrez. Dvoretsky: "A
desigualdade era tão colossal e injusta! O
extremamente cansado Anand tinha que lutar
contra o descansado e bem preparado Karpov.
Mesmo nestas condições ele não conseguiu
vencer no 'tempo normal' e na primeira partida
rápida escapou d a derrota simplesmente por
milagre. Anand agora - e não sou só eu que
penso assim - é muito mais forte do que
Karpov e muito provavelmente venceria se as
condições fossem iguais (ambos os jogadores
igualmente descansados ou igualmente
477
Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

exaustos). Karpov juridicamente se tornou como a contribuição do 'triunvirato' de

Campeão Mundial, mas, aos olhos de quase Campeões Mundiais - Capablanca, Smyslov e
todos os jogadores de xadrez, efetivamente não Petrosian, com uma atitude similar na
é assim". abordagem dos problemas das aberturas."
O que fazer... Após 1993 a questão de quem
era o verdadeiro Campeão - o real ou o
"jurídico" - foi respondida individualmente,
baseada nas preferências de cada um...
Entretanto, o que para mim é certo e se
confirmou através das partidas dadas neste
volume é que Anatoly Karpov é um dos
maiores jogadores que marcaram o século 20 e
a sua contribuição para o conhecimento das
sutilezas do velho jogo é verdadeiramente
incalcuL-ivel.
É apropriado concluir esse relato da carreira
do 12º Campeão Mundial com as palavras do
seu antigo treinador Igor Zaitsev:
"É típico que com as peças pretas Karpov já
se sentisse mais atraído por essas abercuras
onde a escolha da variante seja das pretas. Por
exemplo, na Caro-Kan - 4 .. .lLJd7 ou 4 ...~5,
na Ruy Lopez - as variantes Smyslov, Breyer ou
Zaitsev. O mesmo pode-se dizer sobre a Defesa
Índia da Dama e a Defesa Nimzo-Índia. Na
minha opinião, essa é uma manifestação
involuntária de sensível eficiência, típica deste Como conclusão - a tradicional seleção de
grande jogador. opiniões de Campeões Mundiais.
Ao projetar várias concepções de abertu.ras,
nós naturalmente levamos em consideração as Euwe: "Através do seu estilo de jogo, Karpov
ligações com o xadrez do próprio Karpov. E pode ser comparado ao gênio cubano
sempre me pareceu que, desde o primeiro Capablanca, embora aqui também exista uma
instante do irucio da sua prepar-ação direta, ele diferença importante. Quando você joga
dava um tipo de vantagem para todos os seus diretamente as partidas de Capablanca, ocorre-
adversários nos matches e com o tempo esse seu lhe um pensamento involuntário: 'ah, é tudo tão
costume se aprofundou. Karpov nunca foi simples, até eu posso fazer isso'. Em
considerado um especialista em aberturas, em comparação, as partidas de Karpov inicialmente
vista da natureza do seu talento. Nos seus assustam você pela sua estratégia, que parece
melhores anos foi um jogador prático colossal, ilógica, mas logo se torna claro que o jogo é
com urna espantosa inruição posicional e extremamente lógico. Como o cubano, ele é
sempre mais inclinado a confiar no seu instinto, especialmente tenaz em posições difíceis.
muito mais do que em longas variantes Capablanca e Karpov têm outra coisa em
ajustadas para certos resultados. Mas ao mesmo comum - eles perdem de forma extremamente
tempo, a sua contribuição para a teoria das rara ... O fenômeno Karpov não tem análogos;
aberturas é suficientemente grande e marcante em todo caso, assim também tem sido com

478

muitos Campeões antes dele. Tenho em mente
não a sua juventude e a velocidade com a qual
escalou o topo do xadrez, mas seus resultados
espantosamente estáveis e o jogo equilibrado.
Jogo excelente. Nele há tanto cálculo de um
Grande Mestre adulto, tanta sobriedade e
tranqüila confiança em si mesmo e nos seus
poderes!"
Botvinnik: "Muitos especialistas consideram
ser Karpov um jogador racional, um lutador de
frieza incomum, a quem as emoções são
completamente alienadas e assim por diante.
Agora pode-se afirmar o contráóo; Karpov é
emocional, como muitas pessoas, mas sendo
mestre em se controlar, é criada uma falsa
impressão dele. Sem dúvida ele possui um forte
programa de auto-instrução. Demonstra um
conhecimento excelente de princípios
posicionais e não tem rivais na arte de dispor
suas peças de forma harmoniosa. Suas peças
são geralmente invulneráveis, enquanto as dos
adversáóos são sujeitas a pressão constante. A
esse respeito, o estilo de Karpov é
significativamente melhor do que o de
Petrosian, que, após conquistar uma posição
absolutamente segura para si mesmo, aguardava
pacientemente por descuidos do adversário.
Karpov não espera: joga de forma ativa!"
Smyslov: "No jogo de Karpov, sempre me
surpreendo com a sua espantosa habilidade de
avaliar a posição no tabuleiro de maneira precisa
e soberba. Avaliar de forma rápida, sem gastar
muito tempo com as análises. Isso vem da sua
fantástica intuição enxadástica, do seu talento
inato. E afinal, a avaliação correta da posição, a
avaliação das suas possibilidades nela, é a base
do jogo bem sucedido. Isso é o que em primeiro
lugar distingue Karpov dentre os póncipais
Grandes Mestres do mundo".
Tal: "Karpov é fantasticamente poderoso.
Ele é como um tangue, que não pode ser
desviado do seu objetivo. Sua persistência de
Anatoly, o Décimo-Segundo
aço é tortura para os fracos. Não sem razão,
alguns dos meus colegas lamentaram após
perder para Karpov: 'é impossível jogar - ele
coloca pressão em sua mente'. O caráter de
Karpov é o mesmo do seu jogo. Tanto na vida,
como no tabuleiro, ele é extremamente
poderoso. Essa é a coisa póncipal nele. Pode-se
dizer que seus aspectos mais fortes são
exatamente os que me faltam. Karpov tem uma
forma simples e clássica de converter uma
vantagem - eu nunca aprendi a fazer isso. Nos
momentos críticos ele é capaz de controlar os
seus impulsos - eu não posso conter as minhas
emoções... Anat0ly sempre me surpreendeu
pela habilidade em se defender, como dizem,
até o fim, quando muitos outros já teriam
desanimado".
Petrosian: Karpov demonstra com o seu
desempenho que ele tem uma natureza muito
poderosa. Sua perspectiva de xadrez é
claramente delineada. Isso é muito importante.
Para melhJrar, todo jogador talentoso deve ter
sua perspectiva, seus gost0s, suas preferências,
seus pontos de vista em certos problemas do
xadrez - teóricos, práticos e filosóficos. Fischer
tem as suas firmes convicções e ele é
surpreendentemente constante em suas
simpatias. Observamos aproximadamente o
mesmo com Karpov. Na verdade, seu estilo
ainda está evoluindo. Eu acho que ele será um
jogador universal e versátil".
Spassky: "Karpov é um geruo do xadrez,
rnas no sentido ideológico é similar a Botvionik.
Karpou usa o apoio do Partido para conquistar
seus objetivos pessoais. E posteriormente os
justifica como se fossem objetivos de Estado...
Mas devemos lhe dar o valor devido: como um
jogador de xadrez, realmente ele é grande."
479
ÍNDICE DE JOGADORES

Partidas indicadas pelo número da

página em que se encontram

Anand, V - 428, 470, 59, 61, 65, 66, 73, 79, Suetln, A - 61
473 81, 84, 87, 90, 94, 98,
102, 111, 122, 130, Svidler, P - 195
Bacrot, E - 202 135, 137, 148, 153, Tal, M - 21, 48, 65,
Baglrov, V - 33 157, 163, 167, 175, 315, 355
178, 182, 184, 187,
Beliavsky, A - 198, 191, 192, 193, 195, Timman, J - 81, 84,
437,451 198, 202, 287, 323, 347, 351
327, 332, 339, 372,
Dolmatov, S - 357 Uhlmann, W - 229
376, 381
Dorfman, I - 311 Unzicker, W - 283
Kramnik, V - 458
Flllp, M - 16 Vaganian, K - 303
Kurajica, B - 304
Fischer, R - 43, 45 Kuzmin, G - 223 Vasyukov, E - 48
Furman, S - 11 Yusupov, A - 416, 421,
Larsen, B - 73
423,440
Gelfand, B - 193, 447
Ljubojevic, L - 308
Geller, E - 34, 66
Matanovic, A - 57
Gipslis, A - 59
Miles, A - 387
Gllgoric, S - 218
Minic, D - 54
Greenfeld, A - 187
Nijboer, F - 182
Hort, V - 212
Petroslan, T - 53, 79
Hulak, K - 175
Piket, J - 191
Ivanchuk, v - 184
Polugaevsky, L - 30,
Kamsky, G - 443, 465 87, 90, 94, 148, 163,
Karpov, A - 111, 122, 234, 238, 243, 247
130, 135, 137, 153, Portisch, L - 393
157, 212, 218, 223,
229, 234, 238, 243, Ribli, Z - 361
247, 251, 255, 259,
264, 267, 273, 276, Salov, V - 435
283, 287, 303, 304, Sax, G - 397
308, 311, 315, 316,
323, 327, 332, 339, 5erper, G - 192
347, 351, 355, 357,
361, 364, 372, 376, Shamkovlch, L - 27
381, 387, 393, 397,
Shirov, A - 178
405, 409, 4 16, 421,
423, 428, 431, 435, Slmagin, V - 38
437, 440, 443, 447,
451,458,465,470,473 Smejkal, J - 316
Kasparov, G - 167 Sokolov, A - 405, 409
Kortchnoi, V - 11, 16, spassky, B - 98, 102,
21, 27, 30, 33, 34, 38, 251, 255, 259, 264,
43, 45, 48, 53, 54, 57, 267, 273, 276, 364

481
ÍNDICE DE ABERTURAS

Os números referem-se às partidas

Abertura Catalã Defesa Índia da D48 - 80,103,105

E04 - 42 Dama
E07 - 21 E12 - 38
E15 - 90, 91, 98 Defesa Siciliana
E17 - 99 B33 - 8 1
Abertura Inglesa E18 - 97 B76 - 87
A20 - 20 E19 - 24 B78 - 67
A28 - 79 B81 - 71, 83, 89
A29 - 45 B83 - 17, 63
A30 - 16, 43, 50 Defesa Índia do Rei
E91 - 58 B85 - 19
A33 - 37 B92 - 54, 56, 57
A34 - 34 E94 - 47
A38 - 82 E98 - 40, 41
E99 - 39
Gambito da Dama
D31 - 36
Abertura Ruy LopeJ
Defesa Inglesa D34 - 44
C80 - 85, 86
C82 - 31, 35, 75 A40 - 25 D36 - 92
C94 - 51 D37 - 30
C95 - 70, 102 053 - 74, 84
Defesa Nimzo-índla D56 - 94
C98 - 66
E25 - 4 D58 - 28, 65
Defesa Alekhlne E42 - 29
B03 - 7 E47 - 76
E56 - 55 Gambito da Dama
Defesa Caro-Kan E59 - 46, 59
Aceito
818 - 60 020 - 48
B19 - 62
Defesa Petroff
Defesa Eslava C42 - 88
023 - 49 C43 - 104

Defesa Francesa
C08 - 15 Defesa Plrc- Uflmtsev
C09 - 52, 53 B07 - 78
C18 - 3, 14, 27 808 - 73
C19 - 12, 22, 23 B09 - 9

Defesa Grünfeld Defesa Schmld·

D79 - 100, 101
Benoni
D86- 2
A4 3 - 77
091- 8
D92- 1
D97 - 5
Defesa Semi- Eslava
Defesa Holandesa D46 - 95, 96
A85 - 61 047 - 26

483
BIBUOGRAFIA

VOLUME 5

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Garry Kasparov - Meus Grandes Predecessores

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