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26/10/2021 19:13 Um foguete para a santidade

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Texto da aula Aulas do curso

Direção Espiritual: a Jornada

Um foguete para a santidade


De que adianta dizer a alguém: “Você precisa chegar à Lua”, e não dar nenhum meio para isso? Ora, para ir até a
Lua é preciso ter um foguete. Também a santidade. Para chegar lá, é preciso ter um motor especial…

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Retomamos nosso curso de direção espiritual. É uma oficina em que vamos arregaçar as
mangas para pôr em prática os passos concretos do caminho da santidade. Para isso,
precisamos ser conduzidos por quem sabe das coisas, e o nosso mestre e condutor será
Francisco de Sales, santo e Doutor da Igreja. 

Ora, como São Francisco de Sales começa a direção espiritual das almas a ele confiadas — de
sua Filotéia, a alma que ama a Deus? De forma “estranha”. Aliás, a estranheza aparece desde o
início, no próprio título do livro: Introdução à Vida Devota. Ele começa falando de devoção. É a
respeito dela que falam os três primeiros capítulos, e é sobre eles que iremos falar na aula de
hoje. 

Queremos ser santos. Vimos um pouco na aula passada em que consiste mais ou menos a
santidade: em que nós, imagem e semelhança de Deus, começamos a agir divinamente, com
uma caridade incendida, com uma esperança firme, com uma fé heroica, como as que tiveram
os grandes santos. Não só isso: também com as outras virtudes infusas e os dons do Espírito
Santo — tudo isso é o agir de uma pessoa tão próxima de Deus, que age divinamente. 

A comparação clássica para ilustrá-lo é a do ferro e do fogo. O ferro e o fogo parecem ter
naturezas distintas. No entanto, quando os pomos um ao lado do outro, o fogo aquece o ferro, e
este vai-se purificando e ficando luminoso. O ferro, que antes era frio e opaco, fica brilhante;
depois, torna-se fluido e começa a desprender labaredas, como se o ferro mesmo fosse fogo. O
ferro, que por si mesmo tem natureza de ferro, pela ação do fogo começa a agir como se tivesse
natureza de fogo!

Assim é a santidade. Nossa natureza é humana, mas pela ação de Deus começamos a agir
como Deus, amando como Ele ama, conhecendo como Ele conhece. É o que vemos nosSuporte
santos,

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principalmente e com mais facilidade nos grandes santos. 


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Mas, para chegar lá, precisamos de um meio. Sem uma finalidade próxima, as pessoas se
perdem no caminho que leva a uma meta ainda muito distante. Afinal, de que adianta dizer a
alguém: “Olhe, você precisa chegar à Lua”, e não lhe dar nenhum meio para isso? Ora, para ir à
Lua faz falta construir um foguete, e um foguete se constrói em tais e tais passos... Aí, sim, se
torna possível ir à Lua. A causa final é a Lua. Parece longe, distante, quase impossível, mas já
podemos pelo menos começar a apertar uns parafusos.

Assim também a santidade. A primeira coisa de que precisamos para montar o “foguete” é a
devoção, isto é, certa disposição virtuosa de alma necessária a quem quer trilhar o caminho da
santidade. Se realmente queremos ser santos, precisamos ter uma vida devota. 

É por isso que São Francisco de Sales diz que seu livro é uma “introdução” a ela. O santo tem
vida devota, mas ele não começa sendo santo; até ele se tornar um, a vida devota lhe serve de
“motor” para dispô-lo a praticar os atos necessários para que a graça divina, como um fogo
abrasador, vá transformando o ferro frio do coração humano em ferro incandescente, cheio de
luz e de labaredas ardentes de caridade.

Saiamos por ora das comparações e vamos direto ao assunto: afinal de contas, o que é a
devoção? Muita gente pensa que ser devoto é realizar certos atos, fazer oração, rezar o Terço,
dar esmola, fazer jejum etc. A verdade é que a devoção não é algo externo, nem se confunde
com os atos exteriores. É algo interno, é o que interiormente alimenta esses atos. 

Na prática, isso quer dizer o seguinte. Uma pessoa recém convertida decidiu deixar a vida de
pecados, a vida velha, para fazer atos de amor a Deus por meio da oração, do jejum, da esmola
etc., mas tal pessoa — é a comparação usada por São Francisco — é como um doente ainda
convalescente. Diríamos hoje em dia: como alguém que acabou de sair da UTI e daí para a
fisioterapia, a fim de reaprender a caminhar. Trôpego, sem muita vontade de comer e se mexer,
ele não dá mais que uns passos cambaleantes. Sim, ele já caminha, mas “daquele jeito”…

É a vida de quem se converteu agora, pesada e difícil. Quem está no início da vida espiritual faz
atos de amor para com Deus, pois o amor já está presente em quem vive em estado de graça,
embora não seja ainda um amor de devoção. O devoto é a pessoa pronta para amar a Deus, a
pessoa que tem disposição e prontidão para amar.

Para entendê-lo melhor, outra comparação. Imaginemos uma mãe cuja criança acabou de
nascer. Está ainda naquele período trabalhoso em que acorda durante a noite, precisa ser

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amamentada, trocar de fralda etc. Se a mãe está sadia e tem todas as qualidades de uma mãe
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responsável, ela está muito atenta e voltada para a criança. De fato, algumas modificações no
cérebro da mulher fazem com que ela fique mais alerta. Mesmo que todo o mundo esteja
conversando na sala, sem que ninguém ouça nada, ela percebe o que acontece no quarto: “O
nenê acordou”. Como assim acordou? Ninguém ouviu nada! Só ela ouviu porque está sempre
atenta ao seu amado.

Imaginemos agora essa criança a chorar durante a noite. O pai, que ama o filho, até se levanta
para lhe dar os cuidados necessários, mas vai cambaleante e resmungão, de má vontade. Para
ele é mais pesado; para a mãe não. Esta, assim que ouve a criança, com prontidão se põe de pé
e vai ver o que aconteceu. Talvez até queira que o marido participe mais. Ela ouve os choros e
dá um cutucão no pai para ver se ele se dispõe a levantar-se dessa vez. Sim, o pai ama a
criança, mas não tem devoção; a mãe tem prontidão, ela vive para aquilo, ela quer servir a
criança, quer o bem dela, está toda voltada para o filho.

É a diferença entre quem só ama a Deus e quem o ama com devoção. O primeiro faz coisas por
Deus, mas com peso; o devoto as faz também, com leveza. O que São Francisco de Sales coloca
logo no início de suas instruções de direção espiritual para Filotéia é: “Filotéia, tu amas a Deus,
mas é preciso mais. Precisas de devoção, essa pérola rara que deve surgir em teu coração.
Embora tu passes por dificuldades e pela aridez; embora às vezes a oração te seja pesada, sem
consolações afetivas, em ti haverá uma disposição de vontade, uma prontidão para fazer o que
deves”.

Outra comparação, se ainda não ficou claro. Imaginemos as pessoas que fazem esporte. Há
dois tipos delas. Por um lado, há os que vão à academia arrastando os pés: “Ai! Tem de ir à
academia hoje… Nossa! Que chato!” Qualquer compromisso que surja lhe serve de desculpa
para se dispensar de ir: “Ah, hoje não posso, não vai dar. Estou com dor de cabeça”, ou “Preciso
passar no mercado”, ou “Um amigo está telefonando” etc.

Por outro lado, há os que treinam com devoção. Estes não só querem ir à academia como lhe
dão preferência sobre outras coisas. Se um amigo os chama ao telefone, dizem: “Nessa hora
não dá, cara”. Se do outro lado replicam: “Então desmarque, oras”, respondem: “Não, não posso
desmarcar”. Para eles, ir à academia é imperativo. Como se costuma dizer, no pain, no gain.
Sem dor, isto é, sem esforço, não há ganho físico.

Não é que não lhes custe nada. Custa, mas estas pessoas têm devoção àquilo, têm prontidão,
disposição. Estão convencidas e resolutas do que querem fazer. Vemos isso claramente. Duas
pessoas podem realizar o mesmo ato externamente. O pai e a mãe cuidam da criança à noite,
mas aquele arrastado, esta alegre e devota. O mole e o atleta fazem ginástica na academia, mas

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aquele sem gosto, este com empenho. Em uns e outros há sofrimento. Também a mãe, apesar
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do amor ao filho, sofre por ter de acordar à noite. Aquilo tem um custo, mas ela está pronta
para pagá-lo. Também o atleta, apesar da força física, sofre com a rotina de exercícios. Aquilo
tem um custo, mas está pronto para pagá-lo.

É isso que São Francisco de Sales quer que as almas tenham para se disporem no caminho da
santidade. Voltando à comparação feita no início da aula, quando falávamos de uma viagem à
Lua. Chegar à Lua é alcançar a santidade, é o fim último, o objetivo final. Mas para chegar lá é
preciso um meio, que é o objetivo próximo, algo a ser alcançado agora. É a devoção, ou seja, a
prontidão para realizar os atos que nos farão santos.

Neste curso, queremos arregaçar as mangas, pôr mãos à obra e realizar os atos que nos levam
para a santidade, mas São Francisco nos chama a atenção logo no início para o seguinte: sem
devoção, vai ser muito mais difícil, para não dizer impossível. Quem quer ser um grande atleta,
mas vai treinar arrastado, dificilmente alcançará o seu objetivo. É preciso ter vontade e
disposição. A devoção está exatamente aí.

Para muitos é difícil identificar a devoção porque confundem a vontade devota, pronta e
virtuosa com os sentimentos passionais. Claro, passionalmente também os devotos têm
dificuldades e aridez, também para eles é duro e custoso, como para a mãe supõe um esforço
cuidar do filho e como para o atleta, treinar todos os dias; mas houve neles uma modificação
interior, têm uma disposição de vontade pela qual estão prontos e atentos. 

Esse é o objetivo próximo que São Francisco de Sales nos propõe. Estamos ainda no início e, se
nos examinarmos atentamente, vendo agora como rezamos e fazemos nossos atos de religião,
é bem possível que nos demos conta: “Eu não tenho devoção”. Pelo menos já vimos o que nos
falta, o que é uma grande coisa e um bom começo!

Estas primeiras aulas nos servirão justamente para alcançar isso que nos falta, ou seja, para
descobrir essa pérola preciosa que é a devoção. Jesus mesmo, ao falar disso, usou a parábola
da pérola encontrada pelo mercador e a do tesouro escondido no campo. O reino dos céus é
semelhante a um tesouro enterrado no campo… Um homem vai e, surpreso e maravilhado, o
descobre. Teve notícia intelectual do achado: “Há um tesouro ali!” Mas depois é preciso ir e
vender tudo alegremente. Alegremente! Eis aí. Poderíamos dizer que ele foi e vendeu tudo
devotamente. Por quê? Porque viu o valor do tesouro.

São Francisco de Sales observa que, embora a devoção seja uma pérola preciosa, o mundo a
desmerece e calunia. Na verdade, criou-se uma caricatura dela, como se a vida de devoção

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fosse para pessoas “tristes”, “sisudas”, “mal-humoradas”; numa palavra: coisa de “gente
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ranzinza”. Nada disso. Lembremos os primeiros batedores enviados à Terra Prometida. O povo
estava do outro lado do Jordão, e alguns exploradores foram enviados para saber como era a
Terra que, disse Deus, manava leite e mel. Os exploradores voltaram, dizendo:

Fomos à terra, a qual na verdade mana leite e mel, como se pode reconhecer por estes
frutos. Porém tem habitantes fortíssimos e cidades grandes e muralhas… De nenhuma
sorte podemos ir contra este povo… porque é mais forte do que nós. O povo que vimos é
de estatura extraordinária… Até gigantes lá vimos…, comparados com os quais nós
parecemos gafanhotos (Nm 13, 28ss).

É o que o mundo faz, ao desmerecer de tantos modos a vida de devoção. Queremos entrar
nessa aventura que é trilhar o caminho da santidade, mas saibamos que o mundo nos vai dizer
muitas vezes: “Ih, isso é fanatismo… Ih, isso é coisa de desequilibrado… Não, você precisa ser
uma pessoa normal”... 

Ora, não há nada desequilibrado no amor. A medida do amor é amar sem medidas. Não é amor
verdadeiro o que se mede e contém a si mesmo. O amor não tem contraindicações. A prontidão
de amor com que precisamos amar a Deus, que tanto nos amou antes de ser amado, deve ser
muito grande. É uma beleza a vida da caridade!

Santa Teresa d’Ávila, ao escrever sobre o início da vida espiritual, adverte suas monjas de que é
necessário ter grandes desejos. É evidente: se sabemos que está à nossa espera uma terra
prometida onde jorra leite e mel, repleta de pérolas preciosas e tesouros escondidos,
precisamos desejá-la com todo o coração.

Alguém talvez esteja pensando: “Mas esse desejo não é soberba, uma falta de humildade?” Não.
A magnanimidade é temperada pela humildade. Temos consciência de nossa pequenez, mas
temos também de desejar as coisas santas com coração largo. Por quê? Porque Deus mesmo
quer nos dar seus dons.

Uma última comparação, tirada agora de Santo Agostinho. Temos uma sacola, uma espécie de
saco de pano para receber um presente. Para que o presente caiba dentro dele, é preciso
alargar as bordas do saco. Assim também o desejo das coisas grandes. É Deus quem nos dará a
santidade, mas nos cabe “alargar a vontade”, ter um desejo tão grande quanto o presente que
Ele nos quer dar. Não somos nós que nos faremos santos, mas podemos abrir mais espaço no
coração para receber de Deus esse dom.

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Um exemplo maravilhoso disso é Santa Teresinha do Menino Jesus. Na História de uma alma,
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Manuscrito A (32r), ela mostra um perfeito equilíbrio entre humildade e magnanimidade.
Escreve a santa Doutora, falando de si mesma: “Pensava que nascera para a glória e,
procurando o meio de consegui-la, Deus inspirou-me os sentimentos que acabo de descrever.
Fez-me compreender ainda que a minha glória não aparecia aos olhos mortais, que consistia
em me tornar uma grande santa”. Santa Teresinha viu algo grande: “As pessoas não enxergam
isso, mas eu enxerguei. Eu sou chamada a ser uma grande santa”. 

Não é soberba, como pode parecer à primeira vista, mas humildade. Continua ela: “Esse desejo
poderia parecer temerário, considerando o quanto era fraca e imperfeita e como ainda sou,
após sete anos passados em religião”, ou seja, no Carmelo; “contudo, tenho sempre a mesma
audaciosa confiança de me tornar uma grande santa, pois não conto com os meus méritos, não
tenho nenhum, mas espero naquele que é a própria virtude, a própria santidade. É Ele somente
que, contentando-se com os meus fracos esforços, haverá de elevar-me até si e, cobrindo-me
com os seus méritos infinitos, fará de mim uma santa”.

É isso que Deus quer fazer conosco. Precisamos ter esses grandes desejos e enxergar desde o
início a pérola preciosa que é a devoção, esse “foguete” que vai nos levar para o céu. Que Deus
verdadeiramente ilumine nossa inteligência.

Essa, portanto, é a tarefa da aula de hoje: meditar sobre o chamado à santidade, a grandeza e
maravilha de dizer: “Sou chamado a amar a Deus com o amor com que Ele se ama”. Meditemos
sobre isso. Fará com que nosso coração se alargue, e assim daremos os primeiros passos em
direção à vida devota. Se formos bem introduzidos nela, apesar dos esforços, do sofrimento e
do suor, não será mais interiormente pesado servir e amar a Deus!

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