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Análise de Cenários Econômicos


Tema 04 – Decisões governamentais
e seu impacto sobre a economia
Bloco 1

Prof. Roberto Resende Simiqueli


O Estado – um mal necessário?

• Quer queira quer não, não há economia


capitalista sem Estado, ainda que este
Estado só se faça presente para a
garantia dos direitos fundamentais e da
defesa da ordem.

(continua)
O Estado – um mal necessário?

• Ainda assim, na maioria dos casos, o


Estado não é somente um mantenedor
dos contratos; possui elevada importância
como regulador das flutuações repentinas
numa dada economia, garantindo
estabilidade ao sistema e norteando sua
atuação por um conjunto de metas e
uma estratégia de médio prazo.
O Estado – um mal necessário?

• Para os agentes do setor privado, entender


a atuação estatal é fundamental por
possibilitar a resposta às decisões de
política econômica tomadas pelas várias
esferas do governo.

(continua)
O Estado – um mal necessário?

• Uma pequena variação no sistema


tributário, a mudança da estratégia
governamental quanto à taxa de câmbio, a
promoção da indústria nacional por tarifas
protecionistas e desvalorização da moeda,
aumentos no salário mínimo, revisões das
diretrizes orçamentárias do governo – todas
essas medidas são pensadas com vistas a
incentivar a demanda e/ou promover
objetivos específicos de política econômica.
Metas de política econômica

• Manutenção do nível de emprego:


pessoas desempregadas não consomem, e,
como você deve se lembrar, o desemprego
é a distância entre o que uma economia
poderia produzir e o que ela efetivamente
produz (logo, representa uma série de
oportunidades perdidas ou desperdiçadas
pelos agentes econômicos).
Metas de política econômica

• Como geralmente é do interesse da


sociedade promover patamares razoáveis
de produção e renda, é comum que o
governo atue no combate ao desemprego
criando postos de trabalho e capitaneando
iniciativas de capacitação profissional.
Outras medidas (como variações no salario
mínimo ou incentivos a contratantes de
entrantes no mercado de trabalho)
também são pensadas nesse sentido.
Metas de política econômica

• Distribuição de renda: se você se


lembra do papel do multiplicador
keynesiano do gasto, certamente entende
por que uma distribuição equitativa de
renda é importante para garantir a
estabilidade e o crescimento de uma
economia capitalista.

(continua)
Metas de política econômica

• O combate à desigualdade garante não


só um sistema econômico mais estável,
com participação maior do consumo (e,
portanto, maior impacto do investimento
e de variações da renda), mas também
uma sociedade mais justa, igualitária e
democrática da perspectiva da igualdade
de oportunidades.
Metas de política econômica

• As ferramentas básicas à disposição do


governo, nesse sentido, são o salário
mínimo e as várias alíquotas de tributação,
que podem influir na forma como
diferentes camadas sociais são oneradas
ou privilegiadas pela arrecadação de
recursos pelo Estado.
Metas de política econômica

• Combate à inflação: a inflação pode


ocorrer por uma série de motivos, mas
geralmente é entendida como uma
flutuação positiva e consistente do nível de
preços, com consequências ruins sobre a
economia como um todo. Uma arrancada
inflacionária redistribui de forma drástica a
renda dentro do sistema, a partir da
rapidez (ou lentidão) com que contratos e
pagamentos são revistos para dar conta da
flutuação dos preços.
Metas de política econômica

• Também inviabiliza a concorrência das


empresas nacionais com o capital
estrangeiro, e eleva a demanda de moeda
para o motivo transação, promovendo
elevação correspondente nas taxas de
juros. De forma correlata, incide
diretamente sobre o poder de compra dos
trabalhadores pela dificuldade de revisão
ou reajuste dos salários.
Metas de política econômica

• A defasagem dos salários reais pode


colocar essa economia numa situação
de redução estrutural da demanda, e a
inflação geralmente é uma situação
indesejável, seu enfrentamento sendo,
muitas vezes, a principal meta de
política econômica nas economias em
desenvolvimento.
Metas de política econômica

• Todo o arsenal de política econômica do


governo pode ser empregado para esse
objetivo, mas é recomendável cautela: o
foco exagerado ou exclusivo na inflação
pode causar grandes danos para os
outros objetivos usuais de política
econômica, sacrificados em nome da
estabilidade de preços.
Metas de política econômica

• Crescimento econômico: as
economias capitalistas contemporâneas
são organismos em constante expansão.
Suas empresas demandam maiores
mercados; seus mercados, mais
produtos; seus consumidores, mais renda
para dispender na satisfação de suas
necessidades. Assim, é fundamental que
essas economias cresçam.
Metas de política econômica

• Exploramos esse tópico em algum detalhe


quando discutimos as flutuações positivas
na demanda agregada: é por essa via
(elevações na demanda e correspondentes
incrementos na renda) que as economias
geralmente elevam sua produção. Mas a
promoção desse crescimento pode ser
feita por vias variadas – por um lado, é
possível estimulá-lo pelo gasto autônomo
do governo, mas esse gasto autônomo
tem seus limites.
Metas de política econômica

• Por outro, pela organização dos


mercados de moeda de modo a garantir
taxas de juros favoráveis ao
investimento; uma terceira via viria pela
promoção das exportações e de seu
papel positivo sobre a demanda; por fim,
é possível falar também em medidas de
promoção direta da renda, como aquelas
apresentadas em alguns dos tópicos
anteriores (programas de transferência
de renda e elevação do salário mínimo).
Análise de Cenários Econômicos
Tema 04 – Decisões governamentais
e seu impacto sobre a economia
Bloco 2

Prof. Roberto Resende Simiqueli


Instrumentos de política econômica

• Política fiscal: compreende tanto a


arrecadação de tributos pelo governo, por
via da política tributária, quanto suas
despesas, pela chamada política de
gastos. Os gastos são representados
como componente da demanda agregada,
uma das formas de gasto autônomo em
nosso modelo; e os impostos? Grosso
modo, impactam sobre a renda, reduzindo-
a ao montante de renda disponível para
consumo e poupança.
Instrumentos de política econômica

• Política monetária: os mecanismos à


disposição do governo para influenciar
oferta e demanda de moeda – emissões,
open market, depósitos compulsórios,
redescontos e legislação sobre crédito e
taxa de juros. Exploramos esses elementos
em alguma profundidade no capítulo 2
sobre a dinâmica financeira da economia.
Instrumentos de política econômica

• É importante lembrar que instrumentos


de política monetária não servem
somente à manipulação do mercado
financeiro: podem atuar no sentido do
combate à inflação ou na promoção do
crescimento econômico.
Instrumentos de política econômica

• Política cambial: exploramos esse


ponto no capítulo anterior; trata-se do
controle, pelo governo, da taxa de
câmbio, com impacto decisivo sobre
importações, exportações, demanda
agregada, inflação e taxa de juros.
Instrumentos de política econômica

• Política de rendas: algumas políticas


peculiares, que usualmente seriam
entendidas como fiscais, monetárias ou
cambiais, são geralmente enquadradas
como políticas de rendas. Trata-se de
iniciativas de promoção do poder de
compra, da renda mínima ou de distribuição
de renda entre os agentes econômicos.

(continua)
Instrumentos de política econômica

• Como o governo arrecada recursos da


coletividade, ele pode redistribuí-los de
forma a tornar essa mesma sociedade
mais igualitária, da perspectiva da renda.
O sistema tributário

• Em teoria, os impostos deveriam


obedecer a alguns princípios básicos. Em
primeiro lugar, enfatiza-se o princípio
da neutralidade: os impostos não
deveriam interferir sobre os preços
relativos do mercado, minimizando o
impacto da carga tributária sobre as
decisões econômicas dos agentes.
O sistema tributário

• Na sequência, elencados sobre o


denominador comum do princípio da
equidade (que reza que os impostos
devem dividir seu ônus de forma
igualitária e justa entre os indivíduos),
há os princípios do benefício e da
capacidade de pagamento:...

(continua)
O sistema tributário

• ...respectivamente, defendem que um


tributo justo é aquele que se eleva de
forma proporcional aos benefícios obtidos
pelos agentes da atuação do Estado, e
de que agentes e famílias contribuiriam
com impostos de acordo com sua
capacidade de pagamento (o que
chamamos de impostos progressivos).
O sistema tributário

• Convivemos com uma multiplicidade de


impostos sobre o consumo (impostos
indiretos), que incidem sobre diferentes
categorias de bens e serviços. Com isso,
a atividade econômica não se pauta só
pelos preços e lucros praticados em cada
setor, mas também pela carga tributária
incorporada à operação naquele ramo de
atividade (em desacordo com o princípio
da neutralidade).
O sistema tributário

E como esses impostos poderiam ter efeito


positivo sobre o sistema? Ao financiar o
déficit público e permitir que o governo atue
de forma decisiva na promoção da demanda
e do investimento, a arrecadação tributária
potencializaria o crescimento, a distribuição
de renda, o nível de emprego e o combate à
inflação nessa sociedade.
O sistema tributário

• Mas para que isso aconteça é preciso que


a carga tributária seja progressiva e
que os impostos incidam sobre os
estratos superiores da renda (garantindo
que recursos que seriam retirados do
sistema econômico efetivamente
permaneçam nele);...

(continua)
O sistema tributário

• ...é preciso que não interfira com os


preços relativos dos setores
(estabelecendo-se de forma cuidadosa,
de modo a não prejudicar a dinâmica
econômica); que seja devidamente
auditada e que seu destino seja
garantido e verificado por lei.

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