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Disciplina:

Tecnologia dos Materiais


FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA Resumo do Tema 2:
Departamento de Electromecânica
Docente:
Msc. Eng. António Daniel Paturo

2. Estrutura dos materiais.


2.1 Ligações químicas.
Para se entender a ligação entre os átomos é necessário conhecer a estrutura dentro dos átomos individuai. Para
tal basta usar um modelo planetário relativamente simples da estrutura do átomo, ou seja, os electrões (os
planetas) giram em volta de um núcleo (o sol). Tomemos em consideração os protões e neutrões no núcleo com
base da identificação química de determinado átomo.
Segundo o modelo atómico de Rutherford-Bohr (Figura 2.1):
• Os prótons(p) e os nêutrons(n) formam a parte central do átomo – essa parte denomina-se núcleo;
• Ao redor do núcleo giram os elétrons – constituindo a eletrosfera.

Figura 2.1 – Modelo atómico de Rutherford-Bohr.

Na eletrosfera, os elétrons distribuem-se em camadas eletrônicas ou níveis eletrônicos. O número máximo de


camadas é sete; cada uma delas, por convenção, é designada por uma das seguintes letras:

Existe um número máximo de elétrons que cada camada pode abrigar:

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A maioria dos átomos não possui todas as camadas electrónicas. Por exemplo, o hidrogénio tem apenas uma
camada; o oxigénio tem duas; o alumínio, três; o manganês, quatro; a prata, cinco; o ouro, seis; o urânio, sete
camadas electrónicas.
Seja qual for a última camada electrónica de um átomo, ela nunca possui mais de oito elétrons.
Normalmente, ela tem menos de oito elétrons. Seja qual for a última camada eletrônica de um átomo, ela nunca
possui mais de oito elétrons. Normalmente, ela tem menos de oito elétrons. Para que um átomo seja estável,
ele deve ter oito elétrons na última camada. Acontece que somente poucos átomos, o dos chamados gases nobres
(hélio, neônio, argônio, criptônio, xenônio e radônio), são estáveis. Os átomos dos outros elementos químicos
são instáveis. Isso quer dizer que sua última camada não tem o número máximo de elétrons. Os átomos
instáveis não podem existir livres e isolados. Precisam se ligar a outros elementos para completar sua última
camada electrónica e, assim, conquistar a estabilidade. Os átomos instáveis tendem, portanto, a associar-se a
outros para ganhar, perder ou compartilhar elétrons. Efectuam desse modo uma ligação química.
O número de elétrons que um átomo pode perder, ganhar ou compartilhar é chamado valência.
Ao perder ou ganhar elétrons numa ligação química, o átomo se transforma em íon.
Os íons positivos ou cátions – átomos que perdem elétrons – têm valência positiva. Os íons negativos ou ânions
– átomos que ganham elétrons – têm valência negativa.
A valência que dá origem a íons chama-se eletrovalência. A ligação química proporcionada pela eletrovalência
chama-se ligação iônica ou eletrovalente. Os átomos que apenas compartilham elétrons não dão origem a
íons. Cada par de elétrons compartilhado representa uma valência. A valência dos átomos que compartilham
elétrons recebe o nome de covalência. A ligação química proporcionada pela covalência recebe o nome de
ligação covalente ou molecular.
2.1.1 Tipo de ligações químicas ou atómicas
Os elementos químicos são classificados como metais, não-metais, semimetais e gases nobres. Quando
tratamos de materiais, queremos dizer um conjunto de elementos químicos formando uma substância com
estrutura e ligações entre os átomos.
A ligação atómica se divide em duas categorias gerais:
1- Ligação primária ou forte e;
2- Ligação secundária ou fraca.
As ligações primárias envolvem a transferência ou o compartilhamento de electrões e produz uma junção
relativamente forte dos átomos adjacentes. Pertencem a essa ligação as:
a) Ligações iónicas.
b) Ligações covalente e;
c) Ligações metálica.
As Ligações secundárias ou fracas envolvem uma atracção relativamente fraco entre os átomos na qual não
ocorre qualquer transferência ou compartilhamento de electrões.
Cada um dos tipos fundamentais de materiais, está associado a certo tipo (ou tipos) de ligações atómicas. Os
compósitos, são combinações de tipos fundamentais.
Ligação Iónica
De modo geral, os átomos com menos de quatro elétrons na última camada tendem a perder elétrons, ao
participar de uma ligação. Com isso, transformam-se em cátions. É o caso dos metais.
Por outro lado, os átomos com mais de quatro elétrons na periferia tendem a ganhar elétrons no processo da
formação da ligação, tornando-se ânions. Trata-se dos não-metais.
Conclui-se que a ligação iónica ocorre entre um metal e um não-metal. É o que acontece,
por exemplo, na formação do cloreto de sódio, ou seja, o sal que a gente usa na cozinha, composto por um
átomo de sódio (metal) e um átomo de cloro (não-metal) Figura 2.2:

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Figura 2.2 – Formação do cloreto de sódio.

Ligação Covalente
As ligações químicas nem sempre acontecem entre um átomo que precisa ceder e outro que precisa ganhar
elétrons. Pode ocorrer também um encontro entre dois átomos que precisam ganhar elétrons.
Os átomos que possuem cinco, seis ou sete elétrons na última camada tendem a receber elétrons. Os não-
metais possuem essa estrutura electrónica. Assim, a ligação covalente ocorre entre não-metal e não-metal ou
entre hidrogénio e não-metal.
ligação metálica
É a responsável, entre outras propriedades, pela elevada condutividade térmica e eléctrica que todos os metais
possuem, causada pela mobilidade dos elétrons de valência.
A ligação metálica ocorre da seguinte forma: átomos com 1, 2 ou no máximo 3 elétrons na última camada (de
valência) possuem possibilidade de se movimentar livremente quando juntos com outros átomos com as mesmas
características. Os elétrons que não são de valência permanecem presos ao átomo. Estes elétrons presos mais
(+) os núcleos formam um “caroço” eletricamente positivo que é envolvido por uma nuvem de elétrons. Os
elétrons da nuvem actuam como uma “cola” mantendo os caroços positivos unidos (Figura 2.3). O fato dos
materiais metálicos possuírem este tipo de ligação determina as propriedades físicas e mecânicas, como
condutividade elétrica, térmica e capacidade de modelagem (ductilidade).

Figura 2.3 – Ilustração da nuvem electrónica, que caracteriza a ligação metálica.

Os principais tipos de ligações químicas fracas são:


a) Pontes de hidrogénio;
b) Forças de Van der Walls;
Estas ligações são muito mais fracas que as ligações metálicas, iónicas e covalentes.
A força de Van der Walls é uma força de atracção muito fraca que tem sua origem na atracção dos núcleos
positivamente carregados de cada molécula pelos elétrons de molécula. Este tipo de ligação tem sua
importância ressaltada nos polímeros(plásticos). Estes materiais possuem principalmente ligações covalentes e
iônicas entre os átomos formando moléculas. No entanto, existem ligações fracas (do tipo velcro) entre as
moléculas ou entre partes diferentes de uma mesma molécula formando um emaranhado de moléculas rígido
(como um novelo de lã cheio de nós). Isso faz com que o material polimérico tenha características plásticas
quando aquecido (no caso dos termoplásticos).

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O outro tipo de ligação fraca, as pontes de hidrogénio, forma-se quando um átomo de hidrogénio se assenta
sobre dois átomos de oxigénio ou dois átomos de nitrogénio, ou um de cada. Um exemplo importante é a água.
Existem ligações fracas entre os átomos de hidrogénio de uma molécula com o oxigénio de outra molécula de
H2O. Caso não existisse esta ligação a água seria gasosa nas condições em que vivemos, este simples fato
definiu nossa existência na Terra.
Tanto a força de Van der Walls como as pontes de hidrogénio são facilmente formadas e facilmente rompidas.
Poderíamos fazer uma analogia: as ligações fortes seriam como uma solda e a ligações fracas como um velcro.
2.2 Estrutura atómica dos materiais
Como já mencionado anteriormente, os átomos se agrupam através de ligações químicas. Na maioria dos casos
os átomos não estão agrupados de qualquer jeito. Eles se agrupam segundo uma regra que a natureza impôs a
cada tipo de material. O modo como os átomos estão agrupados dentro do material é chamado de estrutura
atómica dos materiais (ou arranjo atómico). A importância da estrutura atómica dos materiais deve-se ao fato
que elas influenciam marcadamente as propriedades dos materiais, ou seja, quão “resistentes”, duros,
moldáveis, etc., são os materiais.
O agrupamento dos átomos pode ser:
Agrupamento ordenado, ou aleatório. Entende-se por agrupamento ordenado o material que possui os
átomos em posições bem definidas, por exemplo, átomos enfileirados um atrás do outro. Os átomos podem se
arranjar (ordenadamente) de várias maneiras. Este tipo de arranjo é denominado Estrutura Cristalina (que nada
tem haver com transparência). Quase todos os metais e os cerâmicos possuem estrutura cristalina.
A Figura 2.4, mostra exemplos de diferentes tipos de estrutura cristalina. Neste caso temos diferentes
estruturas para materiais que são compostos única e exclusivamente de um mesmo átomo, o carbono.

Figura 2.4 – Exemplos de estrutura cristalina possível para o átomo de carbono (a) hexagonal, (b) cúbica diamante e (c) fulereno.

Agrupamento aleatório – os átomos não têm posições definidas. Cada átomo se acomoda da maneira que
lhe convém. Esta estrutura é chamada de Estrutura Amorfa (ou seja, sem forma, ou aleatória). Em geral, os
materiais cerâmicos na forma de vidro possuem estrutura amorfa. A Figura 2.5, mostra exemplo de uma estrutura
amorfa. Neste caso, apesar de ter uma organização a curta distância, os átomos do composto SiO2, se encontram
desorganizados.

Figura 2.5 – Desenho esquemático de uma estrutura amorfa (Callister, 2002).

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Agrupamento intermediário – este grupo designa-se de Estrutura molecular. Nesta estrutura os átomos
possuem posições definidas, mas a estrutura não é rígida. Os polímeros possuem estrutura molecular. A Figura
2.6, mostra um exemplo de estrutura atómica molecular.

Figura 2.6 – Desenho esquemático de uma estrutura atómica molecular (Callister, 2002)
2.2.1 Estrutura Cristalina
Materiais metálicos, como o ferro, o aço, o cobre e materiais não metálicos, como a cerâmica, apresentam esse
tipo de estrutura.
Rede Cristalina
É a estrutura cristalina que se forma segundo um reticulado espacial de forma geométrica definida e simétrica
dos átomos no espaço.

Figura 2.7 – A rede cubica simples se torna a estrutura cristalina cubica simples quando um átomo é coocado em cada ponto da
rede .

Parâmetro de Rede
É a distância entre as posições médias dos átomos.
Note-se que: A estrutura cristalina é determinada pelo tipo e pelo parâmetro da rede.

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Tabela 2.1 – Relaçcionamento entre tamanho da aresta, a, e raio atómico,r.

Factor de Empacotamento Atómico (F.E.A.)


Como forma de classificar o nível de ocupação por átomos em uma estrutura cristalina, define-se o Factor de
Empacotamento Atómico (FEA), que é dado por:
𝑵𝑽𝑨
𝑭𝑬𝑨 = (𝟏)
𝑽𝑪
Onde:
𝑁 = 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑓𝑒𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑜𝑢𝑐𝑢𝑝𝑎𝑚 𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎;
4
𝑉𝐴 = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜á𝑡𝑜𝑚𝑜 ( . 𝜋. 𝑟 3 ) ;
3
𝑟 = 𝑟𝑎𝑖𝑜 𝑑𝑜 á𝑡𝑜𝑚𝑜;
𝑉𝐶 = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎.

Látice ou célula unitária


É o menor elemento espacial que pode representar a simetria da rede cristalina.
A ordenação dos átomos nos sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de átomos
formam um padrão repetitivo. Dessa forma, ao descrever as estruturas cristalinas, frequentemente se
torna conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades repetitivas, chamadas de células
unitárias. (desenho a seguir). Esta,é a menor porção de cristal que ainda conserva as propriedades originais da
mesmo. Existem aotodo 14 tipos de células reunidas em 7 sistemas diferentes.

Figura 2.8 – Célula unitária real (a e b), célula unitária esquemática (c) e rede cristalina (d).
Para os nossos estudos, teremos três tipos de células unitárias a saber:
1. Estrutura Cúbica de corpo centrado, ou CCC.

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2. Estrutura Cúbica de face centrada, ou CFC.
3. Estrutura Hexagonal compacta, ou HC.
4. Estrutura Alotrópica ou Polimorfa.

Estrutura Cúbica de corpo centrado, ou CCC.


No arranjo Cubico de Corpo Centrado (CCC) existe um átomo em cada vértice de um cubo e um outro átomo
no centro do mesmo como mostra a figura. Esta estrutura pode ser encontrada no cromo, vanádio, zinco,
tungsténio, tântalo, bário, nióbio, lítio, potássio, etc. o factor de empacotamento atómico para esta estrutura é
de 68%.

Estrutura Cúbica de face centrada, ou CFC


O arranjo Cubico de Face Centrada (CFC) é caracterizado por exibir os mesmos átomos nos vértives,
encontrados nos outros dois arranjos cúbicos anteriores, e mais um átomo em cada face do cubo. A estrutura
cúbica de face centrada é a estrutura do alumínio, cálcio, chumbo, níquel, cobre, platina, prata, ouro, etc. o factor
de empacotamento atómico para esta estrutura é de 74%. A figura representa o diagrama esquemático desta
estrutura.

Estrutura Hexagonal compacta, ou HC


Esta estrutura Hexagonal Compacta (HC) é formada por dois hexágonos sobrepostos e, entre eles, existe um
plano intermediário de três átomos. Nos hexágonos existem sis átomos nos vértices e um outro no centro, ver
figura. A estrutura HC pode ser observada no berílio, berquélio, lítio, magnésio, cadmio, cobalto, titânio, etc. o
factor de empacotamento atómico para esta estrutura é de 74%.

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Alotropia ou Polimorfismo
É a propriedade que possui um material de apresenta-se em dois ou mais estados cristalinos diferentes, seja pela
simetria seja pela estrutura reticular de acordo com a mudança de temperatura ou pressão. Metais de grande
importância industrial como o ferro, o titânio e o cobalto apresentam transformações alotrópicas em
temperaturas elevadas.
Exemplos:
1. O ferro acima de 723°C apresenta uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC);
2. O ferro entre uma temperatura de 910°C a 1400°C apresenta uma estrutura cúbica de face centrada (CFC);
3. O ferro com a temperatura acima 1400° no estado sólido apresenta uma estrutura cúbica de corpo centrado
(CCC) com parâmetro de rede aumentado;
4. O alumínio à temperatura ambiente apresenta uma estrutura hexagonal compacta.
A tabela abaixo mostra alguns metais que apresentam variações alotrópicas e suas temperaturas de
transformação:

Cálculos de densidade
Um conhecimento da estrutura cristalina de um sólido metálico permite o cálculo de sua densidade verdadeira
() pela equação:

Onde:
n = número de átomos associados a cada célula unitária.
A = peso atómico.
VC = volume da célula unitária.
NA = número de Avogadro (6,023 x 1023 átomos/mol).
2.2.2 Fases dos Materiais
Fase: trata-se de uma ou mais partes do material que resguarda homogeneidade do ponto de vista estrutural,
ou seja, que mantém um arranjo atómico próprio;
Material unifásico e homogéneo: material que possui como um todo um mesmo arranjo atómico;
Material polifásico: caso coexistam em um mesmo material partes com identidades estruturais próprias, o
material será bifásico, trifásico ou, de modo genérico, polifásico (ou multifásico), em função do número de
partes estruturalmente homogéneas (fases) existentes nesse material.

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Fases Impuras
soluções sólidas ou estruturas de cristais mistos: •Fases impuras pressupõem a formação de soluções
sólidas (ou estruturas de cristais mistos), na qual átomos de um soluto (em menor quantidade) conseguem se
“dissolver” em uma estrutura principal, com átomos de solvente.
•Exemplos de soluções sólidas aplicadas aos metais:
•• solução sólida substitucional;
•• solução sólida intersticial.
Exemplo de Fase impura substitucional:

Figura 2.8 –

Exemplo de Fase impura intesticional:

Figura 2.9 –

Soluções sólidas em metais:


O aço: é um exemplo de material que desenvolve uma solução sólida (em uma de suas formas alotrópicas), na
qual átomos de carbono se dissolvem na estrutura do ferro.
• O aço tem maiores resistência, limite de escoamento e dureza que o ferro puro.
O latão: é outro exemplo de material “impuro”, em que o zinco é acrescentado à estrutura do cobre.
• O latão é mais duro, mais resistente e mais dúctil do que o cobre.

2.2.3 Imperfeições ou defeitos cristalinos:


Na estrutura cristalina existem defeitos. Sim, estes defeitos são inevitáveis e inclusive existe um certo valor
mínimo de defeitos presentes num material cristalino em equilíbrio, para uma determinada temperatura. Na
verdade, o tipo de rede cristalina, os tipos de defeitos cristalinos e a quantidade destes defeitos é que determinam
o comportamento mecânico de um material. Quando se trata de Tecnologia de materiais, sempre se é
mencionado algo relacionado à rede cristalina e a um tipo de defeito específico (as discordâncias).

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2.2.3.1 Tipos de defeitos cristalinos

Vazios
Os vazios (ou lacunas) ocorrem quando a posição de um átomo na rede cristalina não está ocupada. No caso da
analogia com a caixa de ovos, seria o mesmo que se estivesse faltando um ovo na caixa. A quantidade de azios
(lacunas) presente na rede cristalina aumenta com a temperatura, pois os átomos oscilam mais violentamente e
é provável que saltem para outro local ou em direcção à superfície. Por exemplo, a 700 ºC, de cada 100.000
pontos da rede cristalina, um está vazio.
Este tipo de defeito é considerado um defeito de ponto, pois é unidimensional, diferentemente de outros tipos
de defeitos como “em linha”, superficiais ou volumétricos.
A Figura 2.10, mostra um exemplo de um vazio na rede cristalina.

Figura 2.10 – Representação esquemática de um vazio na rede cristalina (a) e uma analogia com os

grãos de milho em uma espiga(b).

Átomo Intersticial
Os átomos intersticiais ocorrem quando um átomo não está em sua posição correcta, havendo um átomo a mais
na rede cristalina. Este átomo acaba “empurrando” os átomos vizinhos produzindo uma certa distorção na rede.
Este defeito também é considerado um defeito pontual. Este tipo de defeito interfere muito pouco nas
propriedades mecânicas dos materiais.
A Figura 2.11, mostra um exemplo de átomos intersticiais.

Figura 2.11 – Representação esquemática de um átomo intersticial na rede cristalina (a) e uma
analogia com os grãos de milho em uma espiga(b).

Contornos de Grão
Os contornos de grão são defeitos importantes nos materiais. Eles são na verdade uma falha na orientação dos
cristais. É mais fácil entender o que é o contorno de grão quando explicamos de onde ele vem. A Figura 2.12
ajuda a exemplificar o fenómeno.

Figura 2.12 – Representação esquemática da solidificação do material e a formação dos contornos de


grão a partir de vários núcleos (Callister, 2002).

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Durante a solidificação de alguns materiais, começam a surgir núcleos de cristalização (Figura 2.12a)). Isto é,
átomos começam a se aglomerar (sempre seguindo a estrutura cristalina). No entanto, numa panela onde se tem
o material derretido (fundido) começam a aparecer milhões de núcleos de solidificação ao mesmo tempo. Um
núcleo não sabe, no entanto, a orientação dos outros núcleos, e assim, cada um deles se forma numa orientação
diferente. Dentro do núcleo é que se tem a mesma orientação cristalográfica conforme os núcleos vão crescendo
(Figura 2.12b)) os átomos se agregam no núcleo formado seguindo a orientação cristalográfica deste núcleo.
Quando todo o material se solidificou os núcleos se encontram, porém, com orientações cristalográficas
diferentes (Figura 2.12c)). Assim, nesta região de encontro dos núcleos não há uma união completa e perfeita
como dentro do núcleo. Estes núcleos, ou seja, região cristalina com a mesma orientação cristalográfica é
chamada de grão. Os contornos de grãos então são as fronteiras onde regiões com diferentes orientações
cristalinas se encontram. Estas regiões são possíveis de se visualizar em um microscópio e aparecem como
linhas de separação como mostrado na Figura 2.12d). Os contornos de grão influenciam marcadamente nas
propriedades dos materiais. Quanto menor o tamanho dos grãos mais resistente tende a ser o material.
Existem tratamentos térmicos que podem alterar o tamanho de grão.
Discordâncias
As discordâncias podem ser consideradas como os defeitos mais importantes nos materiais metálicos cristalinos.
Um tipo de discordância é mostrado na Figura 2.13.

Figura 2.13 – Representação esquemática de uma discordância em forma de cunha (a) e sua
analogia numa espiga de milho (b).

Esta é caracterizada pela presença de uma fileira extra de átomos na rede cristalina. A este tipo de discordância
damos o nome de discordância em cunha. Existem outros tipos de discordâncias (em hélice e mista), mas
iremos nos fixar nesta para fins didácticos. Este tipo de defeito é chamado defeito em linha, pois o defeito seria
uma linha perpendicular ao plano desta página.
A discordância é um defeito tão importante, pois ela comanda o mecanismo de deformação plástica do material.
Quando um material cristalino se deforma permanentemente ele o faz através de movimentação de discordâncias
como a Figura 2.14, abaixo exemplifica este raciocínio.

Figura 2.14 – Representação esquemática da movimentação de discordância


em cunha (Callister, 2002).

Se eu aplico uma força (como aquela representada pelas flechas na Figura 2.14, para deformar o material. Tudo
nos levaria a pensar que a força necessária para movimentar uma coluna de átomos seria a somatória das forças
de ligação entre os átomos do plano. No entanto, a força necessária é muito menor. Isto ocorre porque os átomos
adjacentes à discordância quebram suas ligações e se ligam com os sucessivos átomos mais próximos, assim a
discordância se movimenta.

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