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Copyright © 2021 Jaque AXT

Capa: Jaque Axt


Betagem: Leticia Guimarães
Revisão: Leticia Tagliatelli
Diagramação: Jaque Axt

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.2018.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa, porém no decorrer da história poderão ser encontrados
termos e gírias, além de objetos que não estão de acordo com a
Gramática Normativa para demonstrar a informalidade do texto e
deixá-lo mais fluido.
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO UM

Heinz Zornickel, está sendo pressionado a gerar herdeiros


para seu clã, sendo um dos Don mais temido, o problema é que
nenhuma mulher o atrai o suficiente para querer tê-la todas as
noites em sua cama e por isso segue sua vida sem se importar com
casamento ou com um futuro sem filhos. O que muda quando ele
para em uma boate, onde o dono lhe deve uma alta quantidade de
dinheiro. Lá ele conhece a doce Zara Dixon, filha do proprietário,
que será uma bela recompensa pela dívida do pai dela.
Zara Dixon cresceu em um meio conturbado, porém nunca
deixou que isso a impedisse de ser uma garota sonhadora e iniciar
seu curso de literatura inglesa. Até o dia que o mafioso mais temido
aparece na boate do seu pai, querendo tomá-la como pagamento de
uma dívida.
Zara não vê escolha, pois a vida do seu pai está em jogo. E
Heinz quer a garota e fará de tudo para tê-la.
Será que Zara será solícita ao homem?
Em um mundo onde o machismo predomina, a jovem terá
que ter altivez para poder ser ouvida pelo homem que quer tomá-la
para si.
AVISO: Este é um romance Dark contemporâneo, nada
tradicional.
Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de
consentimento questionável, agressão física e verbal, linguagem
imprópria e conteúdo sexual gráfico.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
Não leia se não se sente confortável com isso. Se você quer
um príncipe encantado, essa leitura não é para você.
Primeiramente quero agradecer a Deus por me conceder a
oportunidade de escrever mais esse livro.
Minha família, meu marido e meu filho por sempre estarem ao meu
lado.
E nesse livro não poderia deixar de fora uma pessoa que vem me
ajudando desde o meu primeiro livro, ela que avalia meus banners e
tem o melhor gosto musical, minha parceira Kate Costa.
Espero que apreciem a leitura e mergulhem no maravilhoso mundo
da In Ergänzung.
Beijos Jaque Axt.
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CAPA
PARTE UM
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
PARTE DOIS
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
EPÍLOGO
RECADINHO DA AUTORA
PARTE UM
Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida
pelos seus amigos.
João 15:13
PRÓLOGO

“CORRE, CORRE, CORRE, MAIS RÁPIDO, HEINZ.”


Minha consciência berra comigo, enquanto meu corpo está
buscando adrenalina de todos os lados.
Passo embaixo de galhos de árvores tentando ser o mais
silencioso possível, mas é impossível afinal há muitos galhos de
folhas secas no chão.
Olho para trás, vejo que não há mais ninguém correndo atrás
de mim e coloco meus dedos trêmulos em meus joelhos respirando
fundo, sentindo o cheiro úmido da floresta.
Puxo o ar diversas vezes.
Volto a caminhar desconhecendo este lugar do nosso vilarejo,
pois a todo momento olho para todos os lados e vejo somente
árvores e mais árvores.
Estava vindo do treinamento de artes marciais com dois
soldados quando sofremos um atentado, essa era a intenção deles,
acabar com a minha raça, mas sou mais rápido. Meu único erro foi
não ter uma arma comigo.
Agora estou caminhando nesta floresta à mercê do
desconhecido.
“Pensa, Heinz”, minha mente tenta organizar meus
pensamentos.
Como pensar rápido se com apenas doze anos meu pai não
havia me preparado para uma situação como esta?
Sei manusear uma arma, mas isso é uma tentativa inválida,
pois não tenho uma comigo agora.
Fico em silêncio e encosto meu corpo em uma árvore quando
de repente ouço passos perto de mim. Paraliso prendendo minha
respiração e olho em volta, preparado para atacar, é tudo ou nada.
Noto um homem andando distraído de costas para mim e sua
calibre 22 está preparada para atirar. Fico a postos, se eu o
prendesse por trás teria uma oportunidade de talvez sair vivo desta.
Levando vantagem por ser magro, piso na ponta dos pés em
um silêncio, parecendo estar sobrevoando o chão e o ataco.
— Desgraçado! — diz no reflexo.
Passo meu braço embaixo do seu o imobilizando, preciso
pegar sua arma e tenho a agilidade a meu favor, mas em força não
tem como se comparar com a de um homem formado.
— GAROTO MALDITO, ME SOLTE! — berra e isso não é
bom, até porque se tiver alguém com ele virá atrás imediatamente.
— Cala boca, seu merda! A mando de quem está aqui? —
vocifero em seu ouvido.
— Acha mesmo que vou falar?
Em um movimento que não prevejo, ele consegue se livrar de
mim, não sem antes eu lhe desferir um soco na mão onde está sua
arma, o que a faz cair longe.
Nós dois olhamos na direção dela.
Sinto uma pedra em meu pé, certamente ele chegará mais
rápido nela do que eu.
Pensando rápido pego a pedra e ataco em seu rosto, o que
faz o homem praguejar ao se desvencilhar e corro em direção a
arma.
Sinto algo queimar meu braço, estou quase pegando a arma,
quando aquela queimação passa por todo meu ser.
Não tenho tempo para pensar na dor, pois o segundo homem
está ali.
Sou um Zornickel e nascemos para mandar na porra toda.
Com dificuldade pego a arma com o braço bom.
— Já era para você, pirralho, Zornickel — diz o homem que
atirou em mim.
O que ele não esperava é que eu consigo atirar com as duas
mãos.
Engatilho a calibre 22, virando meu braço e no meu reflexo
bom atiro na cabeça do homem que tem um sorriso presunçoso em
seus lábios. O seu comparsa que ainda tem o olho escorrendo de
sangue, tenta pegar a arma dele e sem tempo atiro certeiro em seu
coração, fazendo o corpo cair ao lado do outro.
O cheiro metálico de sangue logo impregna o ar, o que faz o
lobo dentro de mim rugir.
Não sabia quanta munição tinha, por isso não podia ficar
desperdiçando.
Apenas neste momento sinto meu ombro voltar a queimar,
olho melhor e há sangue por todo meu casaco.
— Inferno! Como ninguém previu este ataque?
Ouço passos se aproximarem.
— Calma, Heinz.
Reconheço a voz de um dos nossos soldados.
— Me tira daqui — ordeno com a voz séria, notando que ele
se aproxima.
— Matou esses dois homens? — Olha boquiaberta os
cadáveres.
— Não estou sendo treinado para isso?
— Petrus vai enlouquecer.
— Meu pai que vá para o inferno! Não vejo a hora de ser o
Don e colocar esses imbecis nos eixos.
— Heinz, moleque, você só tem 12 anos.
— Vá à merda, Jordan! Tenho o suficiente para matar dois
homens, vou ser o Don mais novo que já comandou a In Ergänzung.
CAPÍTULO UM

— Senhorita Dixon, será que pode aguardar um pouco?


Olho na direção do meu professor concordando com a
cabeça.
Termino de organizar meus livros na mochila, passo em meu
ombro e arrumo meus óculos que havia abaixado quando peguei
minha mochila.
Caminho sobre meu All Star preto surrado e paro em frente à
mesa do meu professor.
— Pois não, senhor Mitchell — pergunto olhando por cima
dos meus óculos de grau.
— Estou admirado com seu desempenho, o que acha de
fazer parte do clube de literatura?
Abro minha boca diversas vezes, ficando sem reação, não
esperava este pedido dele.
— O que me diz, senhorita?
— Sim, claro, isso se não for muito tarde — concluo
lembrando que não posso chegar tarde em casa.
— Não é não, sempre após a aula, nas quintas-feiras nos
encontramos.
Concordo com a cabeça abrindo um largo sorriso e
agradecendo mais uma vez pelo convite.
Arrumo minha bolsa no ombro e sigo para fora da sala.
Senhor Mitchell é professor de literatura estrangeira, no meu
curso de letras.
Este é meu primeiro ano e ele tem mostrado ser o professor
mais atencioso.
Passo pela porta e encontro meu amigo, Trevor.
— Conversando com o professor?
— Sim, acredita que ele me chamou para participar do clube
de literatura? — declaro empolgada.
— Nossa, sério?
— Sim, estou tão feliz! Poder conversar sobre livros é minha
paixão. Já que meu melhor amigo não consegue me acompanhar
nas leituras. — Dou um soquinho no braço dele rindo.
— Sou de exatas, não de humanas — Trevor diz se fazendo
de ofendido.
Seguimos andando lado a lado, desviando dos outros alunos.
Trevor é meu melhor amigo desde o colegial e as vezes sinto
falta de uma amiga, mas isso logo passa quando lembro das
meninas que trabalham na boate do meu pai.
Aquilo é um ninho de cobras!
— Zara, quer passear antes de ir para casa? — Trevor
pergunta enquanto descemos as escadas da faculdade.
— Que tal um café no Starbucks, em frente a ponte? Este
horário geralmente é mais calmo.
Meu amigo concorda enquanto caminhamos em direção ao
seu automóvel.
Ele sabe a minha realidade e por isso sempre arruma um
pretexto para me tirar de lá.
Entro no banco do passageiro passo o cinto, enquanto meu
amigo dá a partida e fico olhando o trânsito de Manhattan.
— Chegou a pensar em morarmos juntos, Zara? — meu
amigo pergunta olhando para o trânsito.
— Pensei, Trev, e a resposta continua sendo não, por mais
que seja uma droga morar naquele lugar, não tenho coragem de
abandonar meu pai, sou a única família que ele tem. E sei que ele
zela pelo melhor, é graças ao trabalho duro dele que estou nessa
faculdade.
— Trabalho duro ilegal. — Faz que não com a cabeça.
— Não quero falar sobre isso, Trev, ele é meu pai, não tenho
coragem de deixá-lo só.
Trevor não toca mais no assunto.
Meu pai tem uma boate que funciona somente à noite. Por
isso sempre pede para eu chegar em casa antes dela abrir, assim
me tranco em meu quarto que fica mais afastado de toda aquela
loucura e não escuto praticamente nada. Mas sei de tudo que se
passa lá, uma vez tive curiosidade de saber como funcionava, saí
na espreita, porém tudo que presenciei me deixou nauseada. Vi as
mulheres se esfregando nos homens de tal maneira que me deu
vontade de vomitar.
Sei que o trabalho delas é esse, mas não me desceu.
Elas são tão submissas que não sei se nasci para fazer tal
coisa a um homem, somente para ver o desejo dele.
Aquilo é repugnante!
Aquele dia, agradeci aos céus por meu pai me manter presa
em meu quarto. Nunca aceitaria me vender a alguém daquela
forma, tanto que preferia morar na rua.
Trevor estaciona em frente a cafeteira e descemos sob seu
diálogo de como tinha sido sua aula de mecânica.
Aperto minha jaqueta de couro, deixando meu cabelo tampar
minhas orelhas, assim me protegendo das rajadas de vento.
A passos rápidos entramos no local, sendo recebidos pelo
calor ambiente.
— Esta época do ano é uma maravilha! — meu amigo soa
irônico.
— Baby, é Manhattan, quer calor está no lugar errado — digo
rindo.
Meu amigo pede nossos Cappuccinos, enquanto aguardo
sentada em uma mesa olhando o trânsito, minhas vistas se perdem
na famosa ponte Pênsil ao longe.
— Onde andam seus pensamentos? — meu amigo pergunta
sentando de frente para mim e entregando meu líquido.
— Estava apenas divagando.
Trevor embarca em um assunto aleatório, me fazendo rir de
secar as lágrimas.
Passar horas ao seu lado compensa a solidão da minha
noite.
Como tudo que é bom dura pouco, meu amigo me leva para
minha casa.
O trajeto é feito sob conversas sobre o jogo do time de
futebol americano da faculdade, eu acho que vai dar bom para os
nossos garotos, meu amigo já pensa o contrário.
— Obrigado, Trev — digo vendo-o estacionar em frente a
boate.
— Sabe que sempre pode contar comigo, não é mesmo? —
pergunta segurando minha mão.
Trevor é um homem bonito, apenas dois meses mais velho
que eu, seu cabelo preto na altura da orelha lhe dá um certo charme
quando o joga para trás e seu estilo rockeiro deixa muitas garotas
babando. Já tive vontade de ficar com ele uma vez, mas isso
passou quando pensei que poderia estragar nossa amizade.
— Nos vemos amanhã — concluo lhe dando um beijo na
bochecha.
Saio do seu carro, correndo pela lateral do edifício, moro em
uma parte mais isolada de Manhattan, onde a boate não fica tão
aparente e não chama a atenção das autoridades.
Passo pelas portas dos fundos, percebendo a movimentação
das garotas começar.
— Até que enfim chegou, garota — Lays, a gerente, diz com
desdém me vendo passar.
— Já estou subindo para o meu quarto — declaro passando
por ela sem dar a mínima.
Lays começou como uma garota qualquer aqui, mas agora é
gerente e sei que ela tem um caso com meu pai. Não entro em
assuntos como esse com ele, sei que é homem e deve ter suas
necessidades.
Subo a escada de dois em dois degraus passando pelas
meninas trajadas me olhando com nojo e o perfume escandaloso
delas faz meu nariz coçar. Paro em frente à minha porta, passando
por ela e trancando em seguida.
Este seria um típico dia que não conseguiria ver meu pai.
CAPÍTULO DOIS

— Isso é loucura, Don!


Não dou atenção para o que ele fala, passando por diversos
homens que me olham com cara de besta.
Será que é difícil acatar uma ordem minha sem questionar?
Entro em meu escritório com Jordan na minha cola.
— Heinz, pensa no que está fazendo — Jordan, meu
consiglieri, continua teimando.
Caminho até minha adega, encho um copo de whisky e tomo
tudo de uma vez só.
— Pensei e já tomei minha decisão. Sabe que quando me
decido não tem quem me faça voltar atrás. — Viro em direção ao
meu conselheiro, encostando meu corpo na mesa de bebidas e
sentando na ponta.
— Klaus é novo aqui, não sabemos se é confiável. — Jordan
passa a mão diversas vezes em seu cabelo.
— Ele é meu irmão, um Zornickel, nas suas veias corre meu
sangue. Otto não pode me substituir aqui, então ele vai ser meu
subchefe na Suíça. Otto vai ficar somente a par dos negócios de
Nova York de hoje em diante.
Otto é meu irmão mais novo, assim que ele completou 18
anos o nomeei meu subchefe, porém com o nosso domínio em
Nova York, tive que mandá-lo para lá. Nosso nome é novo lá,
nossas boates têm lucrado muito e meu irmão está conseguindo
administrar com maestria.
Nunca pensei na hipótese de sair da Suíça e ir para um lugar
mais agitado, gosto da calmaria e de comandar tudo da minha torre,
lugar onde já tentaram se infiltrar diversas vezes, mas sempre foram
pegos.
Respiro fundo, mordendo o canto do meu lábio, sentindo a
cicatriz de um combate de treinamento.
— Inferno! — Começo a andar de um lado para o outro.
— Loucura, não é mesmo?
Jordan além de ser meu conselheiro é meu melhor amigo.
— Pensei que Klaus nunca iria ser encontrado. Agora está
mais claro que os Vacchianos estão por trás disso.
— Ele disse que sempre morou na Itália, não é mesmo?
Concordo com a cabeça, paro ao lado da janela e olho a
neve cair ao longe, as colinas estão cheias de neve.
Klaus foi sequestrado ainda quando bebê, meu pai o
procurou por diversos anos, até que o deu como morto. Na época
eu era apenas um menino de dois anos e não lembro como foi.
Quem o reconheceu foi meu pai ao ver a imagem dele no jornal, o
criminoso mais procurado, sendo preso.
Meu irmão cresceu longe da máfia e vivia de roubos.
— Onde ele está? — pergunto virando meu corpo.
— Petrus o chamou, deve estar falando com seu pai.
— Mande-o vir na minha sala.
Jordan sai da sala, tiro minha arma do coldre, coloco em cima
da mesa, sento na cadeira, abro a gaveta, pego um charuto, o
preparando, e sinto o cheiro maravilhoso da erva que ele é feito.
Acendo dando a primeira tragada, sinto meu corpo tenso
relaxar e coloco os pés sobre a mesa. Fecho meus olhos, mas com
os ouvidos atentos.
Sou o Don mais novo que assumiu a In Ergänzung, tinha 17
anos quando meu pai foi diagnosticado com câncer e desde então
vive em tratamentos.
Estou com 38 anos e até hoje o velho não é mais o mesmo.
Depois que minha mãe faleceu no parto da minha irmã mais
nova, Petrus nunca mais foi o mesmo, por mais que ele se faça de
durão é óbvio que o que o movia era ela.
Isso é algo que nunca quero sentir, ser dependente de
alguém emocionalmente deve ser tenebroso, por isso nunca vou
amar ninguém.
Ouço passos pelo corredor, sou muito bom em audição e
abro meus olhos, vendo meu irmão passar pela porta junto com
Jordan.
— Pode sentar se preferir — digo com desdém.
— Como pode acreditar em mim? — Klaus diz sentando na
cadeira de frente para minha mesa.
— Porque você só tem duas escolhas. Primeiro, aceitar que é
um Zornickel, e assumir seu posto na nossa máfia. Segundo, pode
sair por aquela porta, mas tem um, porém, será considerado um
desertor, e sabe o que acontece com eles? — pergunto tirando
meus pés de cima da mesa, olhando em seus olhos azuis que têm o
mesmo tom dos meus.
— Responde para ele, Jordan.
— São mortos!
— Ou seja, aceita ser um Zornickel, ou morre — digo sem
devaneios.
— Teria coragem de matar seu próprio irmão? — pergunta
boquiaberto.
— Sem pensar duas vezes, ainda mais um como você que
não tem minha confiança.
— Então porque quer me pôr como seu subchefe, não
conheço nada aqui. Não sou como vocês.
— Klaus, está parecendo um ratinho medroso.
— Prefiro que me chamem por meu nome, Giancarlo.
— Nome de mulherzinha. Ninguém aqui neste clã irá chamá-
lo deste nome, seu nome será Klaus assim como foi batizado por
nossos pais — concluo querendo dar este assunto por encerrado.
— Sou um homem de 35 anos e sei tomar minhas decisões
— Klaus diz querendo sair da sala.
Faço sinal com a mão para Jordan o segurar.
Levanto da minha cadeira, andando a passos lentos em sua
direção, sei que minha presença o está deixando amedrontado.
— KLA.US ZOR.NIC.KEL — soletro cada sílaba para que ele
entenda. — Este é seu nome. Eu mando nesta porra.
Paro na sua frente, abaixando o suficiente para tirar o
canivete que tenho cravado em meu sapato, tirando a proteção e
Jordan o segura pelos braços o deixando imobilizado.
Sou um pouco mais alto que meu irmão.
Passo a ponta do canivete afiado em sua goela o que o faz
arregalar os olhos assustado.
— Não sabe o quanto me dá prazer tirar vidas imprestáveis,
principalmente aquelas que me irritam.
— Heinz — Jordan tenta me alertar.
— Calado, porra! Então, Klaus, vai tentar ir contra uma ordem
minha?
Ele faz que não com a cabeça e aperto a ponta do canivete
embaixo do seu queixo.
— Fala.
— Não vou ser contra.
— Agora está melhor. Irá passar por um treinamento, pois
precisa saber como funciona. — Abaixo meu canivete.
— Não quero ceifar vidas — meu irmão diz com medo, o que
me faz gargalhar.
— Por hora será poupado disso, mas apenas por hora. Agora
suma da minha sala.
Jordan o solta e ele sai esbarrando na porta.
— Ele tem muito a aprender — Jordan diz olhando meu irmão
sair pela porta.
— E ele vai. E ainda vou matar o desgraçado que o raptou da
nossa família.
— Klaus vem de uma realidade diferente da nossa, não sei
se ele conseguirá.
O que meu amigo disse em partes faz sentido, mas quero
acreditar no melhor.
Quero meu irmão ao meu lado!
— Outra coisa, Otto ligou, dizendo que precisa de você em
Nova York, problemas com um contrabandista.
— Sério? — pergunto voltando a sentar na minha cadeira,
pensando que teria um pouco de sossego.
CAPÍTULO TRÊS

Me espreguiço em minha cama com minhas pálpebras


preguiçosas para abrir.
O silêncio reina após a algazarra até altas horas da
madrugada e todos seguem dormindo.
Às vezes o barulho é tanto que preciso usar tampões.
Sento na minha cama, olhando o dia começar a raiar na
janela, pronta para começar mais uma rotina pacata de sempre.
Pego meu celular embaixo do travesseiro e abro a mensagem de
bom dia do meu amigo. Trevor é uma gracinha e meu dia sempre
inicia com um bom dia dele.
Respondo sua mensagem, levanto da cama e espreguiço até
ficar na ponta dos pés. Sigo em direção ao meu armário, abro e
pego uma calça jeans preta rasgada no joelho. Tiro minha camisola
jogando em cima da cama, visto a calça acompanhada de um
casaco fininho e pego a minha costumeira jaqueta de couro.
Para minha sorte tenho meu próprio banheiro, odeio usar o
banheiro das garotas. Elas são tão desorganizadas, tanto que há
calcinhas por todo lado, sem falar o odor forte de maconha. É
proibido o uso de drogas, mas muitas vezes os clientes acabam
trazendo.
Faço minha higiene e após escovar meus dentes, deixo meu
cabelo solto, caindo em sedosos fios ondulados. Adoro meu cabelo
castanho-escuro, pois realça minha pele morena natural e olhos
azuis.
Pego minha bolsa em cima da cama, passando em meu
ombro, e calço uma botinha sem salto. Destranco a porta, saio do
meu quarto a deixando trancada para ninguém entrar e guardo a
chave no meu bolso.
Sigo pelo corredor, desviando de algumas roupas espalhadas
e fazendo cara de nojo. Desço a escada sem encostar no corrimão,
com repúdio do que podiam ter feito ali. Passo pela sala onde
aconteciam os encontros, indo para os fundos e entrando na
cozinha. Abro um enorme sorriso ao ver meu pai sentado em uma
cadeira a me esperar.
— Bom dia, minha princesinha.
Confesso que em seu sorriso sinto um pouco de
preocupação.
— Bom dia, pai, algo que precisa me contar? — pergunto
abraçando seu corpo por trás, lhe dando um beijo no pescoço.
— Nada não, minha boneca.
— Tem certeza, papai? — questiono sentando na cadeira ao
seu lado.
— São apenas dívidas, que daremos conta.
— Pai. — Suspiro ao dizer. — Não andou pegando dinheiro
com pessoas da pesada, não é mesmo?
— Lays falou que eram homens confiáveis, mas o problema é
que este mês já é o segundo que atrasa o pagamento.
Fecho meus olhos com força, tinha que ter o dedo dessa
Lays no meio. Meu pai às vezes é tão ingênuo, não sei como
conseguia manter um lugar como este. Já não bastava o que havia
acontecido com mamãe, ele estava repetindo a dose.
— Será que eles virão atrás? — pergunto abrindo meus
olhos, observando a expressão cansada de Peter.
— Não sei, minha filha, mas se vierem quero que fique longe.
— Mas, pai....
— Sem “mas”, minha filha, já perdi sua mãe para uma
burrada dessa.
É bom que ele saiba, pois, mamãe foi morta quando
invadiram nossa boate, exigindo a quitação das dívidas do meu pai,
e como na época meu pai não tinha o dinheiro, os homens
receberam o pagamento com a vida da minha mãe.
Perco meu apetite, ver meu pai triste assim me deixa sem
chão, ele é a única família que tenho e se estou morando neste
antro do sexo é por causa dele. Não tenho coragem de deixá-lo no
meio dessas cobras, que são capazes de engolir Peter na primeira
oportunidade.
— Pai, estou saindo.
— Não vai comer?
— Trevor já está me esperando — digo levantando da
cadeira.
— Tudo bem, minha princesa.
— Promete me ligar se algo estiver acontecendo?
Meu velhinho revira os olhos concordando com a cabeça.
Dou um beijo na sua bochecha, saindo da cozinha em
direção a porta dos fundos. Passo pela calçada e encontro o carro
do meu amigo estacionado me esperando.
— Que carinha de triste é esta? — meu amigo vai logo
perguntando.
— Nada de mais, Trev. — Não quis entrar no assunto e ele
respeitou.
— E então, o que acha de maratonarmos uma série amanhã?
— Trevor logo muda de assunto.
— Fiquei sabendo que entrou uma nova série na Netflix, o
que acha? — pergunto sentindo meu ânimo voltar.
Entramos em uma conversa animada, meus finais de semana
geralmente são no apartamento do Trevor, ou ficamos estudando,
ou vendo alguma série, dificilmente meu amigo gosta de passear na
rua.
Chegamos na faculdade e cada um vai para o seu canto.
O dia passa em um ritmo lento, não conseguia tirar a
conversa do meu pai da cabeça.
E se esses homens fossem atrás dele?
Não podia perder o único membro da minha família.
Meu coração aperta só de pensar no meu pai passando
perigo.
Finalmente apita o último sinal, posso ir embora e finalmente
ver Peter para tirar esses pensamentos da minha mente.
— Cafezinho hoje? — Trevor pergunta assim que passo pela
porta da sala.
— Hoje não, Trev, preciso ir para casa ver meu pai.
— Sério? — Faz beicinho de tristeza.
Faço que sim com a cabeça e caminho ao seu lado em
direção a saída da faculdade.
Meu amigo insiste em me deixar em casa, no começo eu
nego, mas depois de tanto insistir acabo aceitando.
O caminho até minha casa é ameno, quando estou ao lado
do meu amigo consigo tirar da minha mente os problemas do meu
pai.
Porém, meu mundo desaba quando vejo três SUVs pretos
estacionados na frente da boate.
— Há algo de errado aí? — Trevor pergunta estacionando em
frente a boate.
— Não sei, vou lá ver.
— Vou junto. — Meu amigo faz sinal de abrir a porta.
— Não, vai embora. Não deve ser nada.
— Tem certeza, Zara?
— Tenho. — Dou um beijo na sua bochecha, abrindo um
sorriso forçado.
Desço do carro segurando a alça da minha bolsa com força
com meu mundo desabando aos poucos, imaginando cenas
horríveis.
Trevor vai embora.
Na porta da boate há três homens de preto fumando cigarro e
me olhando sérios.
Droga, papai, quem são esses homens?
Não entro por aquela porta, pois os homens dão o dobro do
meu tamanho.
Passo pela porta de trás, encontrando duas meninas
abraçadas, chorando na cozinha.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto apavorada.
— Eles vão matá-lo — uma delas diz choramingando.
Sem dar ouvidos vou na direção da voz de um homem que
fala grosso.
Entro na sala, dou um berro ao ver a arma pressionada na
cabeça do meu pai e imediatamente todos olham na minha direção.
— Por favor — digo em uma súplica. — Meu pai, não!
Meu olhar varre a sala, encontrando intensos olhos azuis que
me avaliam fixamente.
Neste momento, vejo meu corpo tensionar e um medo
percorrer minha espinha.
— Você não disse que tem uma filha — o homem diz em um
inglês puxado, sem desviar seus olhos de mim.
CAPÍTULO QUATRO

Batuco meus dedos na mesa, ouvindo meu irmão falar sobre


a nova ordem que ele está organizando para Nova York.
— Tem certeza que isso dará certo, Otto? — pergunto
mordendo o canto da minha cicatriz.
— Alguma vez já dei ponto sem nó? — Meu irmão sorri
maquiavélico.
No começo meu pai não gostou por eu ter mandando Otto
cuidar sozinho da sede em Nova York, mas ele está se saindo
melhor que a encomenda.
Passo a mão na minha cabeça, cansado da viagem.
— Agora mudando de assunto, como ele é?
Lógico que Otto quer saber do Klaus.
— Um Zornickel, só precisa descobrir isso — digo não
querendo entrar no assunto.
— Heinz sendo Heinz — Otto diz caçoando. — Por que não o
trouxe junto?
— Klaus tem muito que aprender e não tenho confiança em
tirá-lo da Suíça por enquanto — concluo colocando meus pés sobre
a mesa.
— Ei, tira o pé de cima da minha mesa.
— Sua é? — pergunto o olhando com desdém.
— Vá se fuder, Don de merda!
Mostro o dedo do meio para ele, a única pessoa que me
chama assim sem morrer é Otto.
— Preciso sair.
— Vai aonde? — pergunto entediado.
— Tem um indivíduo que está sem pagar há dois meses e já
foi dado a intimação.
— Otto, sabe que não é para tomar a frente de casos assim.
Sua vida é importante, por isso é que temos nossos soldados —
digo me ajeitando na cadeira.
— Sei... Sei. — Meu irmão revira os olhos. — Mas é coisa
pequena, não corro risco de vida.
Pego uma caneta e passo em meus dedos.
— Como sabe, hein? — pergunto desconfiado.
— O velho não tem onde cair morto, pelo que sei é sozinho,
tem um prostíbulo, precisou de dinheiro para pagar dívidas e se
caso atrasasse perderia o imóvel. Estou pensando se devo matá-lo
ou não... Não vai fazer falta para ninguém mesmo. Estou com os
dedos coçando.
— Como ele te achou? — Quero saber desconfiado.
— Uma puta dele veio até mim, Lays, mulher inteligente e
gostosa.
— Sua sagacidade me instiga, irmão. Vou junto, fiquei curioso
com essa Lays.
Otto dá uma gargalhada, enquanto o olho sério.
Pego minha arma, ergo meu colete colocando na parte de
trás da calça e volto a baixar escondendo assim minha coleguinha.
— Vamos que estou a fim de ver alguém implorar pela vida
hoje.
— Esse é o Heinz que eu conheço — meu irmão caçoa me
acompanhando para fora do escritório.
Otto é o oposto de mim enquanto ele tira vidas rindo, faço
isso sem dó nem piedade, mas no final temos os mesmos
princípios, proteger nosso clã.
Descemos a escada.
Otto mantem nossa sede em um bairro de classe alta, esses
são os melhores, pois não há vizinhos enxeridos.
Meu irmão chama um dos seus capos para trazer seus
soldados junto. Hadrian, meu fiel soldado está sempre ao meu lado,
protegendo.
Saímos da mansão olhando as árvores que cercam a casa.
— Tem certeza que não tem problema irmos para esse
muquifo? — pergunto assim que entro no carro, sentando no banco
de trás.
— Desde quando ficou chato? — Otto senta ao meu lado
rindo.
— Sou o Don, as vidas do nosso clã dependem de mim.
— Careta!
Olho de lado vendo o carro dar a partida. Nosso automóvel
no meio, enquanto os outros dois ficam um em cada ponta.
— Estou pensando em manter aquele bordel para ganharmos
dinheiro, e além do mais ter umas bucetinhas de bandeja — meu
irmão diz esfregando uma mão na outra.
— Desde que não chame a atenção — concluo olhando para
ele. — Sabe o quanto odeio que chamem atenção para nós, não é
mesmo?
— Relaxa, irmãozinho.
— Este é o problema, sei o quanto é exagerado. Pode ter a
cabeça de um gênio, mas quando se trata da cabeça de baixo fica
meio louco.
Tiro meu celular do bolso e leio a mensagem de Kiara, minha
amante da Suíça. Sei o quanto ela quer que eu a assuma, mas isso
não irá acontecer. Confesso que o sexo com ela é até bom, Kiara
deixa eu fazer o que quiser com ela e isso me deixar louco. Adoro
vê-la de quatro implorando por mais, com o corpo todo vermelho de
tanto eu bater.
— Ainda com Kiara? — Otto pergunta olhando por cima do
meu celular.
— Ela sempre me chama, e sabe como é, né? Acabo não
resistindo — digo coçando meu pênis.
— Depois sou eu que penso com a cabeça de baixo — meu
irmão diz com desdém.
— Ao contrário de você, sou discreto.
— Papai parou de pegar no seu pé para arrumar filhos?
— Não, nem me faça lembrar disso. Nenhuma mulher me
atrai o suficiente para a querer em minha vida. Todas passam a ser
tediosas com o tempo e está acontecendo isso com Kiara. Sou
capaz de matar aquela mulher sem ter que ficar um ano ao lado
dela, quem dirá uma vida — digo guardando meu celular no bolso,
sem respondê-la.
— Pelo menos não está prometido em casamento a uma
criança e além do mais, já tem 38 anos, logo vai passar do prazo.
— Vá se fuder! E sabe o quanto seu casamento com Astrid é
importante, então deixa este assunto adormecido — digo olhando
sério para ele.
— Estou deixando, ainda tenho seis anos para sair enfiando
meu pau em várias xoxotas.
— Com certeza, aproveita, que quando chegar a hora não
terá mais pênis para contar história.
— É aí que se engana, meu amiguinho aqui vai ter muitos
contos para contar.
— Maníaco!
Finalmente chegamos no muquifo, e como pensei, está
abandonado. Desço do carro olhando em volta e vejo casas
praticamente abandonadas.
— Tem certeza que quer manter este local? — pergunto
sentindo nojo do ambiente.
— Deixa eu expandir nossos negócios para prostíbulo,
irmão?
— Vou pensar no seu caso, mas este eu não quero. Vamos
acabar com isso de uma vez — digo andando em direção a porta.
Hadrian anda à minha frente e entra primeiro. Espero do lado
de fora com meu irmão, esperando os dois soldados fazerem a
vistoria.
— Tudo liberado, Don, o homem já o aguarda na sala —
Hadrian diz aparecendo na porta.
Entro no imóvel e meu passo ecoa no assoalho. Ouço o
ranger da madeira e o cheiro de cigarro impregnado no ar, tanto que
meu nariz coça.
Chego na sala, onde um velho nos aguarda sentado em um
sofá desbotado na cor vermelha, bem típico desses lugares.
— Podemos conversar, por favor — o homem vai logo
falando, é sempre a mesma história.
— Tem o dinheiro? — Otto pergunta.
— Não, mas podemos conversar.
Uma mulher aparece.
— Lays fica fora disso — o velho diz.
Então essa é a Lays que meu irmão falou, realmente é bem
gostosa, mas uma coisa é nítida, na sua testa está estampado
interesseira.
— Podemos comer e depois descartar — Otto diz ao meu
lado com seu sorriso maquiavélico.
— Gosto da hipótese.
— Tem o dinheiro, Peter? — meu irmão volta a perguntar
para o velho, sem dar atenção a puta.
— Não tenho, mas podemos conversar.
— Tem algo para dar em troca? — Otto pergunta sacando
sua arma.
A puta dá um berro ao ver meu irmão se aproximando do
velho e colocar a arma na cabeça dele.
— Só o que eu tenho é isto aqui — Peter diz em um
choramingo.
— Não tem nada então — digo sorrindo, prevendo presenciar
os miolos dele estourar.
— Por favor...
Ouço uma voz suave invadir o ambiente.
— Meu pai, não!
Olho na direção dela fazendo uma rápida avaliação.
Otto tinha me falado que o homem era sozinho, quando o
velho esconde uma verdadeira joia rara.
E eu a quero!
CAPÍTULO CINCO

Vejo aqueles homens querendo ceifar a vida do meu pai.


— Ela não é minha filha, é somente uma puta — meu pai diz
me olhando com desespero e não estou entendendo onde ele quer
chegar com isso.
— Quem é você? — um dos homens pergunta, o mesmo que
não tira os olhos de mim.
Para olhar em seu rosto preciso erguer meu rosto, mas não
queria olhar em suas esferas azuis, o homem me causa medo.
— Te fiz uma pergunta — diz um pouco mais grave, fazendo
meu corpo tremer.
Olho em desespero para meu pai, que faz sinal de não com
cabeça, para eu continuar com sua mentira.
— Zara — digo com a voz baixa. — Trabalho aqui. — Não
tenho coragem de dizer que sou uma puta, assim ele entende como
quiser.
— Está mentindo — o desconhecido diz parando na minha
frente, segura meu queixo, ergue para cima e olha em meus olhos.
— Odeio que mintam para mim.
— DEIXEM-NA EM PAZ, ZARA NÃO TEM NADA A VER
COM ISSO! — meu pai berra em um choramingo.
— Qual é a sua idade? — pergunta ignorando os protestos
do meu pai.
Seu rosto é tão lindo e ao mesmo tempo assustador, seus
lábios um tanto grosso com uma cicatriz no canto e os olhos têm um
azul gelado feito um iceberg.
— Dezenove — respondo em um sussurro.
— É virgem?
Arregalo meus olhos, não iria falar isso na frente de todos,
minha virgindade não está em jogo aqui ou está?
— Lógico que não, ela é uma garota aqui da boate. — Meu
pai volta a se debater, fazendo o outro homem apertar a arma ainda
mais na sua cabeça.
— Então quer dizer que eu posso levá-la lá para cima e
trepar com ela? — o homem à minha frente diz virando o rosto na
direção do meu pai.
— NÃO — berro dando um passo para trás e tirando sua mão
do meu queixo.
Tento caminhar em direção ao meu pai, mas o homem me
segura por trás, trazendo meu corpo de encontro ao seu. Fico tensa,
apenas por alguns segundos, e logo começo a me debater.
Com muita agilidade, ele espalma sua mão em meu pescoço,
apertando com força. Respiro com força, seu cheiro amadeirado
misturado com tabaco invade meu olfato e imagino que este é o
nosso fim.
— Essa garota não vale nada — Lays diz se insinuando para
eles.
Esta mulher não tinha jeito, como consegue se jogar para
cima de homens perigosos como eles?
Eles iriam nos matar.
Sem que eu preveja, o homem se movimenta, ergue seu
outro braço e um estouro me faz soltar um berro. Fecho meus olhos
com força, ele tinha acabado de atirar na cabeça dela e havia
sangue por toda parte.
— Heinz, minha trepada, irmão — o outro homem diz em tom
calmo, como se isso fosse a coisa mais normal.
— Cansei de ouvir a voz desta mulher. — Seu tom de voz
acima de mim é sereno.
Seu nome é Heinz, ele não é daqui, afinal seu inglês o
denuncia, e agora com esse nome, tudo indica que venha da
Alemanha.
— Agora vamos ao que interessa — Heinz diz cheirando meu
cabelo e seu aperto passa a ser um pouco mais suave. — Seu pai
tem uma chance de ficar vivo e isso vai depender unicamente de
você.
— O que preciso fazer? — pergunto abrindo meus olhos.
A cena diante de mim faz meu corpo estremecer, meu pai
está sujo com o sangue de Lays, o corpo dela está caído por cima
do sofá e meu pai me olha com desespero.
— Podem me matar — papai diz em uma súplica.
— Quieto, seu velho. — O homem que tem a arma apontada
para a cabeça dele dá uma batida nele me fazendo tremer.
— O que preciso fazer? — volto a perguntar desesperada,
não irei suportar ver meu pai morrer.
Sinto algo gelado passar em minha barriga, imediatamente
sei o que é, Heinz está passando sua arma em minha barriga.
Estes homens são loucos!
— Adoro ver seu desespero, pequena americana, minha
arma te causa medo.
Faço que não com a cabeça, preciso ao menos tentar me
mostrar forte.
— Pois não é o que o seu corpo está falando, não minta, a
cada mentira sua terá uma punição.
Seu aperto em meu pescoço é forte, me fazendo tossir.
— Me solta — peço agoniada.
— Tem duas escolhas, pequena Zara. — Seu aperto volta a
ser fraco e sua arma sai da minha barriga. — Primeira, seu pai
morre agora e a segunda e mais importante, ele tem uma chance de
ficar vivo e só depende de você — diz devagar em uma tortura que
chega a ser irritante.
— Fala de uma vez droga — digo me contendo.
— Calma, aprenda uma coisa, gosto de fazer tudo
minimamente detalhado — Heinz diz colocando meu cabelo para o
lado com a ponta da sua arma me fazendo arrepiar de medo. — É a
coisa mais deliciosa que eu já vi.
— Por favor… — Suspiro sentindo-o assoprar em minha
bochecha.
— Eu a quero e tenho o que quero, nem que seja na base da
chantagem — Heinz diz em um sussurro em meu ouvido. — Não
vejo a hora de tê-la nua em meus braços, se arrepiando com meus
toques.
Fecho meus olhos com força, não quero isso, não irei me
entregar a este homem doentio.
— Nunca me terá! — digo cuspindo as palavras.
— Sendo assim seu pai morre. Otto, pode fazer as honras.
— NÃO — berro me debatendo. — Meu pai, não!
— Então aceita a outra proposta? — Heinz pergunta
endireitando seu corpo atrás do meu.
— Que diabos de proposta é esta? — pergunto agoniada,
sentindo todos os meus músculos tensos.
Perto deste homem eu pareço um ratinho indefeso.
— Seu pai só sairá vivo se você se casar comigo.
Dou uma gargalhada sarcástica.
— Isso nunca! Tem que ter outra escolha.
— Claro que tem... Otto, mete bala!
— NÃO — volto a berrar.
— Heinz, tem certeza disso? — o homem que tem a arma
apontada na cabeça o meu pai pergunta.
— Tenho — responde sem rodeio. — Então o que me diz,
pequena americana?
Olho apavorada para meu pai e seus olhos cheios de
lágrimas.
— Filha, não aceite, esse erro foi meu, não é justo pagar por
algo que foi minha culpa.
— Pai, não posso deixar que matem o senhor — finalizo
suspirando. — Eu aceito.
Nunca pensei que iria me vender a troco da vida do meu pai.
CAPÍTULO SEIS

Quando minha resposta é dita, o homem que pelo que


entendi se chama Otto, tira a arma da cabeça do meu pai e Heinz
alivia o aperto, me dando a oportunidade de conseguir fugir do seu
contato. Sem perder tempo corro na direção do meu pai, abaixando
meu corpo e o abraçando sem dar importância ao sangue que jazia
em seu corpo.
— Filha, oh, minha filha, me desculpe — meu pai diz entre
lágrimas.
— Tudo bem, pai, vou sair dessa, vou ser forte — sussurro
em seu ouvido tentando ser convincente.
Aperto seu corpo com força, não quero deixá-lo, sei que ele
irá definhar se estiver sozinho.
— O momento é muito comovente, mas agora vamos.
Ouço Heinz me chamar e saio de perto do meu pai, olhando
assustada para ele.
— Vamos aonde?
— Vai vir comigo, precisa apenas dos seus documentos. O
resto deixa neste muquifo…
— Como assim? Tenho uma vida aqui, faço faculdade — digo
tudo de uma vez só.
— Pois não tem mais. Me entrega seu celular e tudo que
tenha que possa manter contato com outras pessoas.
— Isso é loucura, não vou ser sua prisioneira! — digo
exasperada.
— Até que se prove o contrário, vai ser.
Caminha em minha direção com seu porte elegante e olhar
predominante que me fez congelar.
— Otto, peça para que um dos soldados traga os
documentos dela. Agora, você, mocinha, esqueça que um dia teve
uma vida, pois agora você irá viver o que eu decidir — diz e me
puxa contra minha vontade, me carregando pelos braços.
— Por favor, aonde vamos, quem é você? — pergunto me
debatendo.
— Como se isso tivesse importância.
Estou colocando toda a minha força e como ele percebe que
não irá conseguir mais me puxar pelo braço, ergue meu corpo
colocando em seu ombro. Fico com meu rosto em suas costas, o
soco com toda minha força, mas em nada surte efeito, afinal o
homem é grande.
Saímos da boate e um homem abre a porta do carro. Como
se eu parecesse um saco de batatas, ele me joga no banco de trás,
me fazendo cair de qualquer maneira.
— Podem ir, Otto irá em outro carro.
O motorista dá partida e queria ao menos ter trazido
minha mochila da faculdade, mas nem isso tenho, estou apenas
com a roupa do corpo e meu celular no bolso.
Sua presença ao meu lado é magnética, mas não irei olhar
em sua direção, não vou chorar, serei forte e não posso mostrar
minhas fraquezas para este homem.
— Será que posso saber quem é você? — pergunto olhando
através da janela.
— Heinz Zornickel, chefe da máfia In Ergänzung.
Engulo a saliva, tendo meus piores pesadelos, eu não tinha
sido vendida a um mero homem e sim a um mafioso.
— O que quer de mim?
— Preciso de uma esposa e você me chamou a atenção.
Será a mãe dos meus filhos e reze para que eu não fique entediado
de você.
Sinto um calafrio passar por minha espinha com sua
resposta.
Contra a minha vontade olho em sua direção e seu rosto está
virado para mim.
— O que fará se isso acontecer? — pergunto temendo a
resposta.
— Quer mesmo saber?
— Não seria capaz de me matar?
Ele retribui com um meio sorriso e uma pequena mordida na
sua cicatriz, me fazendo tremer e ficar olhando hipnotizada para ele.
— Se for uma boa esposa terá todas as regalias…
— Não vou fazer todas as suas vontades, eu o odeio! —
cuspo todas as palavras sentindo nojo pelo que ele estava me
propondo a fazer.
Heinz pode ser a criatura mais linda que já vi, mas no lugar
do seu coração há uma pedra de gelo.
— Então teremos uma boa convivência, futura senhora
Zornickel.
— Tenho nojo de você — digo tentando socar seu peito duro.
Heinz se diverte com meu momento de frustração, segura
meus braços com força e aproxima seu rosto do meu enquanto eu
respiro ofegante.
— Saiba de uma coisa, Zara, eu não tenho dó e se for
preciso a punirei da pior maneira que puder deduzir.
Seu hálito bate em meu rosto, seus olhos azuis muito
próximos aos meus, sem que eu espere, ele gruda seu lábio no
meu. Volto a me debater o que é em vão e sua mão solta a minha
indo para as minhas costas. Não abro minha boca e não retribuo o
beijo, embora algo dentro de mim quisesse retribuir, mas sou difícil e
não irei me entregar a ele só porque temos este magnetismo.
Sinto sua mão descer para minha bunda e logo ele se
recompõe, sentando ereto ao meu lado com meu celular em sua
mão.
— Quanto mais resistir, mas será prazeroso para mim.
— Me devolve meu celular. — Me debruço querendo pegar
meu aparelho.
O carro faz uma curva fechada, me fazendo cair de bruços
em seu colo, dando a ele total visão da minha bunda. Sem que eu
espere desfere um tapa em minhas nádegas com força, o que me
faz soltar um berro diante da ardência.
— Estou louco para me enterrar nesta bundinha.
— Maldito! — digo tentando me levantar, mas ele me segura
ali.
Onde antes ele havia batido, agora está alisando, fazendo
meu corpo vibrar enquanto embaixo de mim começo a sentir algo
crescer e suspiro sentindo seu membro.
— Me deixa sair daqui.
— Sua recusa me faz querer fodê-la com força.
— NUNCA IREI ME ENTREGAR A UM MALUCO COMO
VOCÊ! — berro tentando sair dali.
— É o que veremos, pequena mentirosa, seu corpo a
denúncia, mostra o quanto quer isso, mas você é virgem, não sabe
o quão prazeroso é ter um homem.
— Tenho nojo de homens, principalmente iguais a você, tive
visão suficiente para saber que vocês só pensam no próprio prazer.
— Saiba que irá gozar diversas vezes — diz passando sua
mão por debaixo da minha blusa, me fazendo pegar um momento
de distração dele e sair do seu contato.
— Nunca me fará sentir tal sensação! — cuspo cada palavra
sentando ao seu lado. — Agora me devolva meu celular.
— Isso é o que veremos. Quer seu celular? — Abre a janela
do carro, jogando-o para fora. — Vá pegar então.
— Seu merda eu te odeio, odeio…
CAPÍTULO SETE

O carro estaciona em frente a uma enorme mansão,


daquelas estilo casa de artista de Hollywood, um homem abre a
porta e desço do automóvel respirando fundo, sentindo o cheiro das
flores que haviam por todos os lados, isso em nada se parece com a
casa de um mafioso.
Levo um susto ao ver outro carro estacionado atrás e sai de
dentro dele três homens incluindo o irmão de Heinz, não tinha
prestado atenção nele, seu semblante carrega uma aura sarcástica.
Minha avaliação é interrompida quando mãos fortes puxam meu
braço.
Caminho contra minha vontade.
— Aí! — reclamo tropeçando em um degrau da varanda. —
Sei andar sozinha. Não precisa ficar me puxando igual a uma
boneca.
— Estou doido para ver no que isso vai dar — o irmão dele
diz passando ao nosso lado.
— Vá se fuder, Otto! — Heinz olha na minha direção. —
Qualquer gracinha sua amarro uma coleira em seu pescoço para
que se comporte.
— Não sou um cachorro! — exclamo boquiaberta.
Ele não diz nada, apenas solta sua mão do meu braço.
Caminho atrás dele, analisando seu porte, ombros largos,
usa apenas uma camisa dobrada até o cotovelo, colete preto
terminando no início da sua calça social, onde ele usa um cinto.
Este é o primeiro homem que vejo que tem bunda.
Dobro minha cabeça para o lado analisando o volume que
aquela bunda tem, podendo ser até maior que a minha. Heinz pode
até ser um homem bonito, em certas partes gostoso, tá legal em
todas as partes, mas é sujo e tem dentro de si um monstro.
Entramos na residência e sigo os homens para o que parecia
uma sala. Homens andam por toda parte com o mesmo semblante
fechado.
— Hadrian, o jatinho já está pronto? — Heinz pergunta a um
dos seus homens.
— Sim, chefe!
— Tudo bem, Otto me dê os documentos dela. Vou voltar
agora mesmo, não aguento mais um minuto nesta cidade.
Seu irmão entrega minha bolsa enquanto fico olhando
boquiaberta, nem parece que estou ali.
— Isso não vai ficar assim e minha aula? — pergunto
atraindo a atenção deles.
— Seu pai vai ligar avisando que teve que se mudar. Agora
vamos.
— Espera, vamos aonde? — volto a perguntar puxando meu
braço.
— Garota, calada você é um diamante.
Heinz me puxa pelo braço, caminha comigo para os fundos
da casa e nem consigo olhar direito os detalhes da casa. Ele aperta
meu braço com força e faço careta diante da dor.
— Qualquer coisa me mantenha informado, Otto — Heinz diz
assim que chegamos no gramado nos fundos da residência.
— Pode ficar tranquilo, irmão, queria muito presenciar este
casamento de perto. Mas como não vou poder estar presente, quero
fotos.
Olho seu sorriso debochado.
Otto é um tanto estranho e vive sorrindo, ao contrário do
irmão.
Heinz volta a andar puxando meu braço, chegamos próximo
ao jatinho e subo os degraus primeiro passando pela porta. Respiro
fundo, sentindo o cheiro de couro predominar o ambiente, e vejo
algumas poltronas espalhadas todas em tom caramelo.
Heinz empurra minhas costas me guiando para uma poltrona,
onde praticamente me empurra me obrigando a sentar.
— Vai ficar sentada quieta?
Viro meu rosto para a janela sem respondê-lo.
— Tudo bem, você é quem pediu. — Puxa o cinto,
literalmente me amarrando, me impedindo de qualquer movimento,
deixando minhas mãos amarradas no meio das minhas pernas.
— Vai me manter amarrada aqui a viagem inteira? —
pergunto o olhando séria.
— Não respondeu a minha pergunta, e não estou a fim de me
estressar só quero sentar e descansar.
— Aonde estamos indo? — volto a perguntar, pois quero
saber.
— Isso não tem importância. Sabe o que é o melhor, a menos
que saiba falar alemão não terá ninguém para conversar.
— Como? — pergunto boquiaberta.
— Acredito que não seja surda.
Heinz fala em outro idioma com um dos seus homens e não
entendo o que falam, por isso viro para a janela, sentindo uma
lágrima, que há tanto tempo estou segurando, teimando em cair.
Fecho meus olhos evitando que alguém veja esta cena.
A porta é fechada e ninguém senta ao meu lado, o que é um
alívio. Os homens que estão junto de Heinz falam com a voz
exaltada no idioma deles, não conheço nada em alemão, mas sei
que é o idioma que falam.
O jatinho decola, e a posição é desagradável para dormir,
além do mais como dormir diante de tal loucura?
Minha garganta está seca, mas não quero dar o braço a
torcer e pedir água. Sem contar que o ar-condicionado do ambiente
está gelado demais me fazendo arrepiar.
Olho pela janela, vejo o avião sobrevoar as nuvens e me
perco naquelas que eu sempre achei que eram feitas de algodão
quando era pequena. Sorrio lembrando minha mãe dizer que
algodão-doce era feito de nuvem.
Fecho meus olhos, se mamãe estivesse viva, talvez teria
evitado esse incidente, ou talvez não.
Sinto alguém sentar ao meu lado e ignoro seu contato visual.
— Está com frio? — pergunta sentando ao meu lado.
Não respondo nada, não quero falar com este homem.
— A viagem é longa e se não tiver a sua resposta ficará
passando frio.
Olho para o lado, encarando suas esferas azuis e seu cabelo
bem aparado em um topete natural do seu corte.
— Será que pode me desamarrar? — pergunto.
— Vai se comportar?
— O que farei, tem seus homens por toda parte, acha que
sou retardada? — digo sendo sarcástica.
— Retardada, não, mas imprudente, sim — Heinz diz
soltando o nó da minha mão, liberando o cinto.
Vejo que em meu pulso ficou a marca da fivela e estico meu
braço.
Heinz estende uma garrafa de água para mim, a qual pego
sem pestanejar. Abro tomando tudo de uma vez só, sentindo o
líquido descer feito elixir dos deuses.
— Vejo que estava com sede — Heinz diz, levanta, pega um
cobertor e estende para mim.
— Durma, a viagem é longa, não quero ter que me estressar
com você.
Pego a coberta, sentindo meus olho pesarem, logo eu que
estava tão desperta a minutos atrás, estou caindo de sono neste
momento.
— Havia algo na água? — pergunto bocejando.
— Apenas um calmante, agora durma.
— Te odeio chefinho de mer… — Não consigo finalizar a
frase, pois o sono me embala.
CAPÍTULO OITO

Minhas pálpebras pesam e sinto meu corpo sobre uma cama


fofinha.
Será que estou sonhando?
Abro meus olhos e encaro o teto, não lembrando deste lugar.
Viro meu pescoço para o lado e imediatamente vem tudo em flashes
na minha mente.
Isso não é um sonho, e sim o meu pior pesadelo!
Como vim parar aqui?
Não dormi no avião?
Sento na cama, passando a mão em meu cabelo, vendo que
pelo menos uso a mesma roupa, ninguém tocou em mim ao menos.
O quarto é enorme, olho em volta, todo trabalhado em cores
claras, um lustre no meio dele, com uma porta toda de vidro na
lateral, que é coberta com uma cortina em tom caramelo. Minha
curiosidade me faz levantar, ando até ela e sinto minhas pernas
fracas, deve ser o efeito do calmante.
Por quantas horas eu dormi?
Chego na cortina, a empurro para o lado e arregalo os olhos
ao ver a neve fina cair.
Que lugar é este?
Não se vê nada além de montanhas e parece ser os fundos
da casa. Pego na maçaneta, mas está fechada. Passo a mão no
vidro, tiro a umidade e olho com mais clareza. Um rio corre no final
do terreno e a água é agitada.
Pensei que neve congelava água, pelo visto deve ter
começado a nevar recentemente.
Volto a andar pelo quarto, meu pé arrasta pelo assoalho e
percebo o quanto está frio. Vejo uma porta, passo a mão a
empurrando para o lado e abro.
Nunca tinha visto closet maior que este.
Entro caminhando ao lado da primeira prateleira e vejo
muitas roupas no meu tamanho.
Como isso é possível?
Isso me faz lembrar que não tomei banho.
Procuro peças íntimas e encontro uma gaveta com vários
tipos de lingerie, incluindo as mais sexys possíveis. Torço minha
boca e pego um conjunto de calcinha e sutiã simples.
Volto a andar procurando por uma roupa ao menos normal,
que não fosse esses vestidos chiques, em um canto havia um
conjuntos de moletom e é o que pego.
Com a roupa em mão saio do closet, rezando para que
houvesse um banheiro no quarto e como suspeitei, tem.
Ando até a porta, passando a mão na maçaneta e abrindo.
O banheiro assim como o resto é exagerado, com uma
banheira na lateral e um chuveiro na outra ponta. Coloco minhas
roupas sobre um pegador.
Começo a tirar minha calça jeans acompanhada do resto das
minhas vestimentas. Entro no chuveiro, ligo a ducha, deixo a água
cair sobre meu corpo e fecho meus olhos, pensando em meu pai.
Será que ele está tomando seus remédios?
Como ele está se virando naquele ninho de cobras eu
estando longe?
A imagem de Lays morta sobre o nosso sofá faz um nó se
formar em meu estômago. Não conheço esse homem e com certeza
são pessoas piores do que imagino.
Ensaboo todas as partes do meu corpo e enquanto faço isso
penso no quanto preciso ser forte e não mostrar minhas fraquezas
para esse homem, não sei até que ponto ele pode chegar.
Desligo o chuveiro, abro o box e piso em cima do tapete
fofinho, lembrando que não peguei uma toalha. Há um armário
embaixo da pia e talvez ali houvesse alguma. Quando vou dar o
primeiro passo, passo o ombro em minhas roupas as fazendo cair,
molhando minhas vestimentas limpas.
Droga!
Junto tudo vendo que não iria dar para usá-las molhadas.
Volto a pendurá-las, caminho até o armário, abro e vejo que tem um
roupão ali. Pego passando meus braços sobre as mangas, olho meu
reflexo no espelho e passo minha mão desembaçando o espelho.
Passo a mão em meu pescoço e vejo os hematomas que tinham
ficado do apertão.
Deixo meu cabelo úmido solto e respiro fundo caminhando
em direção a porta. Passo a mão na maçaneta e abro.
Estou de cabeça baixa quando sinto alguém me observar,
ergo meus olhos, me deparando com intensas esferas azuis a me
analisar.
— Finalmente acordou — diz me fazendo o ignorar.
Se eu dormi por todo esse tempo a culpa é toda dele!
Aperto o roupão com força, seguindo para o closet. Passo
pela porta, sentindo sua mão segurar meu braço, seu toque não é
suave e sim forte.
— Vai por mim, não é a melhor escolha ficar me ignorando —
o homem diz em tom ameaçador.
Viro meu rosto em sua direção, encarando suas feições
duras.
— Não tenho medo de você! — cuspo palavra por palavra.
Ele abre um sorriso de lado, mordendo o canto da sua
cicatriz, o que me faz arrepiar. No fundo estou com medo, mas não
deixo meus medos transparecem.
— É melhor que tenha, senhorita Dixon. Não me queira ter
como seu inimigo.
Sem esperar, ele me prensa na parede e tento empurrar seu
corpo, o que é em vão. Com muita agilidade, ele segura minhas
mãos sobre minha cabeça e minha respiração está ofegante.
Com sua mão vaga, ele começa a passar a ponta dos seus
dedos em meu pescoço e a cada toque eu ficava mais ofegante, até
que sua mão foi descendo para o meio do roupão.
— Não — rosno a palavra ao ver que ele está chegando
perto dos meus seios.
Seus olhos que antes estavam abaixados, erguem em minha
direção.
— Acredita que darei importância ao que você quer? — Heinz
pergunta em deboche.
Sua mão volta a acariciar minha pele, fazendo meu coração
bater descontroladamente.
Não sei o que está acontecendo comigo, isso tudo é loucura.
— Alguém já te tocou, Zara? — Sua voz é um sussurro.
Faço que não com a cabeça.
— Você se toca? — volta a perguntar.
Faço novamente que não com a cabeça.
— Apenas eu tocarei seu corpo, está entendido? Se eu
descobrir que alguém sonhou em tocar no que é meu, eu mato!
— Não sou sua! — digo ofegante, vendo-o aproximar seu
rosto do meu.
— Quanto mais resistir, mais excitante ficará. É minha desde
o momento que bati meus olhos em você.
Seus lábios encostam nos meus com uma mordida suave,
me fazendo suspirar. Não sei o que acontece comigo, mas quero
mais.
Nunca beijei um homem mais velho, por isso quem dá início
ao beijo sou eu.
Minha língua logo pede passagem e ele não nega. O beijo é
calmo, em ritmo lento e torturante. Heinz beija divinamente bem,
tanto que estou começando a perceber meu corpo lânguido.
Quando dou um berro com a mordida que ele dá em meu
lábio inferior.
Este homem é louco!
Sinto o gosto do sangue em minha boca.
— Isso é para aprender a nunca tomar iniciativa — diz sério.
— Maluco! — digo me debatendo com força e querendo sair
de perto dele. — Não te entendo, você é DOIDO, MALUCO, IDIOTA!
— berro tentando me esquivar dele.
— Não tente me entender, aprenda apenas uma coisa, não
me desafie. Quanto ao beijo, vejo que teremos um casamento muito
revigorante.
— TE ODEIO!
— Realmente, sua opinião não me interessa. Enfim, passei
aqui para dizer que nosso casamento será amanhã. O mais rápido
possível para ter esse casamento consumado, e se acaso não for
virgem pode se considerar uma mulher morta.
— Então me mate de uma vez, qualquer coisa para não estar
em seus braços imundos.
— Engraçado, não foi o que pareceu alguns minutos atrás.
Ele finalmente me solta, dando um passo para trás e no pico
da minha adrenalina começo a socar seu peito.
Sem que eu espere sinto sua mão estralar em meu rosto.
— Nunca mais volte a encostar em mim de tal forma — Heinz
diz irritado.
Cambaleio para trás, voltando a encostar na parede com a
mão em meu rosto.
— Se não aprender por bem, será por mal!
— Te odeio, odeio… — digo virando meu rosto, segurando
minhas lágrimas com toda força.
— Apenas coloque na sua cabeça, que se for submissa a
mim, nada disso irá acontecer.
— Nunca serei, NUNCA!
Com uma gargalhada estrondosa no quarto ele me deixa
sozinha. Sinto minhas pernas moles, caindo no chão e permitindo
que as lágrimas caíssem.
Nunca vou ser submissa a ele e serei resistente até minha
última força.
CAPÍTULO NOVE

Passei o dia sozinha no quarto, apenas me trouxeram comida


e nas duas vezes foi a mesma mulher. Tentei falar com ela, mas ela
não entendeu nada e se esquivou de mim em todos os momentos,
como se eu fosse um bicho de outro planeta.
Ouço alguém bater em minha porta, levanto da cama e vou
em sua direção a abrindo.
— O chefe a aguarda para jantar — um homem diz em um
inglês arrastado.
Não tenho tempo de falar nada, pois ele sai, me deixando só
com a porta aberta. Olho para dentro do meu quarto, dando de
ombros e sigo para fora.
O corredor tem pouca iluminação, apenas luminárias nas
paredes dão luz ao local.
Caminho a passos vacilantes.
Quando penso que estou sozinha, encontro o rapaz, que me
chamou, me aguardando na escada.
Sigo em sua direção, desço a escada, olhando tudo à minha
volta, encosto no corrimão em tons dourados combinando com os
tons cinzas das paredes e um granito que jazia no chão.
No fim da escada o rapaz olha para mim, fazendo sinal para
o seguir. Seguimos na direção oposta da sala, apenas olho de
relance e havia alguns homens espalhados pela casa.
Será que este povo não sabe o que é intimidade?
Ele abre uma porta dupla dando passagem para eu passar.
Dou dois passos observando uma mesa enorme, onde Heinz se
encontra sentado na ponta. Seus olhos estão fixados em seu
celular, ignorando minha presença. Ao seu lado há um homem, seu
olhar encontra o meu, e nele eu não consegui ver a maldade que
tem Heinz e os outros homens.
— Quer um convite? — Heinz pergunta me olhando com seu
ar de soberba ao me ver em pé sem reação.
Não dou atenção ao que ele diz, caminho em sua direção, ao
seu lado há um prato à minha espera e sento de frente com o outro
homem.
— Klaus, esta é Zara — isso é tudo que Heinz diz.
— É um prazer, Zara — Klaus diz com um sorriso pequeno
em seus lábios.
— Obrigada. — Sorrio em agradecimento.
— A menos que queira levar um tiro no meio da sua cabeça,
é melhor parar de olhar para minha futura esposa com estes olhos
babões.
— Não se garante, irmãozinho?
Uma coisa é nítida, Klaus tem o deboche do outro irmão.
— Não é porque é meu irmão que vou te poupar na hora de
te punir — Heinz diz de cabeça baixa, comendo como se estivesse
prevendo todos nossos movimentos sem nem ao menos estar
olhando.
Já sei um fato sobre ele, tem dois irmãos, Otto deve ser o
mais novo e esse o do meio, mas por algum motivo ele se dá melhor
com Otto.
Os pratos são servidos, não digo nada, como em silêncio e
pouca quantidade. Não consigo comer muito pensando no dia
seguinte e a palavra casamento fica latejando na minha mente.
Irei me casar com um doido.
Finalmente a sobremesa é servida, bolo de chocolate, o meu
favorito. Este eu como tudo, esqueci quanto meu corpo está
precisando de um pouco de açúcar.
— Chefe, seu pai está acordado — diz o mesmo rapaz que
foi me chamar.
— Diga que já estou subindo.
Ele concorda saindo.
— Foi um prazer te conhecer cunhadinha, espero poder vê-la
novamente... — Seu olhar cai sobre o irmão. — Viva. — Sai sem
esperar resposta.
Heinz olha sério em meus olhos, abre um meio sorriso e
aproxima seu dedo do meu rosto, me fazendo gelar. Limpa o canto
do meu lábio, me fazendo prender a respiração.
— Parece que gosta de chocolate, senhorita Dixon — diz em
tom debochado.
Fico vendo-o levar seu dedo na sua boca e chupar o doce
que tirou da minha boca.
— Vamos ver meu pai. — Levanta em seguida, me fazendo
sair do meu transe.
Fico de pé ao seu lado e Heinz pega em meu braço.
— Dá para parar de fazer isso? Sei andar sozinha, ou pega
na minha mão, ou me deixa andar sozinha. Que merda! — digo
irritada.
Parece uma criança pequena, toda vez me puxando pelo
braço.
Heinz não diz nada, apenas solta meu braço, segurando
suavemente minha mão. Fico admirada, pois pensei que ele não
acataria meu pedido.
Saímos da sala de jantar, passando por uma sala que possuí
três sofás, mas o que mais me chama a atenção é o piano. Sou
apaixonada por piano, fazia aula quando criança, e sempre quando
podia ia na escola de música para praticar. Sei que aquele é um dos
modelos mais completos.
— Alguém toca piano aqui? — pergunto enquanto ele
continua a me puxar pela mão.
— Minha irmã e minha mãe tocavam — Heinz diz mais um
fato sobre ele, tem uma irmã. — Toca? — pergunta me olhando de
relance e faço que sim com a cabeça.
Chegamos em frente a uma porta, onde ele coloca sua mão
na maçaneta.
— Meu pai é acamado, em alguns momentos tem alguns
delírios, mas em boa parte do tempo está com a consciência boa. —
Abre a porta e uma luz fraca está acesa.
Caminho ao seu lado, parando ao lado da cama, onde um
homem nos olha e seus olhos são avaliativos.
— Pai, esta é a Zara Dixon, ela é americana — diz passando
a mão em minhas costas.
— Uma bela jovem, nos dará boas crianças para a In
Ergänzung — diz em um sussurro.
Pelo visto todos da família sabem falar inglês fluentemente,
menos os empregados.
Não sabia o que falar com o homem, ele acabou de me
comparar a um cachorro procriador.
— Finalmente, Heinz, pensei que esse dever ficaria para
seus irmãos. Sabia que o seu treinamento não seria em vão, temos
que manter a linhagem em você, seus irmãos têm o coração bom
comparado ao seu. Sempre vou me orgulhar de tê-lo como filho.
— Petrus, pare de bobagem! Sabe que isso é uma grande
besteira — Heinz diz bufando.
— Sabemos o quanto isso é verdade.
— Bem, vim aqui apenas para apresentar minha futura
esposa.
— Espero que ela seja virgem, não podemos correr o risco de
ter um bastardo na nossa família.
O velho está se mostrando um verdadeiro machista.
— Quanto a isso pode ficar tranquilo.
— Quando ver seus filhos sinto que poderei partir com a
mente tranquila.
Queria sair daquele quarto, não estou preparada para pensar
em sexo quanto mais em filho.
Uma enfermeira se aproxima falando em alemão, manda nós
dois sair e se eu entendesse o que ela falou teria agradecido.
Saímos do aposento do pai dele, Heinz volta a segurar minha
mão me puxando, seus passos são o dobro do meu e sempre fico
para trás. Por algum motivo ele não me deixa andar sozinha.
— Não vou fugir, cacete! — digo impaciente enquanto ele me
puxa escada acima.
— Não confio em você.
Chegamos no andar de cima, parando em frente à minha
porta.
— Amanhã pela manhã deixarão o café na cama, em seguida
virão te preparar para o casamento, a cerimônia será na capela aqui
ao lado.
— Onde estamos e por que todos falam alemão aqui? —
pergunto querendo algum sinal.
— Estamos em algum lugar da Suíça, isso é tudo que precisa
saber.
Arregalo meus olhos.
Como vim parar aqui?
— Agora tenha uma boa noite de sono e aproveite sua última
noite virgem. — Dá seu sorriso maquiavélico, abre a porta do meu
quarto e me empurra para dentro.
Ouço o barulho da chave, um claro sinal que está me
trancando.
— TE ODEIO, HEINZ! — berro alto ouvindo sua gargalhada
do outro lado da porta.
CAPÍTULO DEZ

O dia raiou e ainda estou com os olhos estalados.


Como dormir diante de tal loucura?
Levanto da cama, sigo para o banheiro, diante do reflexo do
espelho não tem apenas os hematomas em meu pescoço e sim
olheiras profundas.
Heinz terá uma noiva espetacular.
Faço xixi, saio do banheiro e paro em frente a janela do
quarto sonhando com o dia que poderei ir nesta sacada
maravilhosa.
Desta vez não há neve e sim um tempo nublado, me dando
visão melhor das montanhas. Não tem casas, apenas vegetação.
Será que na parte da frente tem alguma moradia?
O rio que corta o fundo da casa continua bravo e fico
imaginando o quanto a água deve ser gelada.
Me sinto exausta da noite sem dormir, mas cansada de ficar
deitada na cama, por isso ando até o canto do quarto e arrasto uma
poltrona até a frente da janela. Já que não tenho nada para fazer,
ficarei olhando o céu nublado, entediante assim como meu ânimo.
Pego a coberta em cima da cama e sento na poltrona me
encolhendo ali com a coberta até meu queixo. Fico dispersa até que
sinto minhas pálpebras pesarem e acabo dormindo.

Acho que não foi uma boa ideia dormir nesta posição e meu
pé fica dobrado por tempo demais. Pisco meus olhos, me adaptando
a luz ambiente.
Que horas devem ser?
Olho preguiçosamente para o lado e encontro intensas
esferas azuis em minha direção.
Estava bom demais para ser verdade.
— Havia algo de errado com a cama? Por que está na
poltrona?
— Passei a noite em claro, e ficar sentada próxima a janela,
me pareceu ser um pouco menos tedioso.
— Pode ficar tranquila, logo terá bastante agitação na sua
vida.
Volto a olhar para a janela ignorando a presença dele.
— Toda vez que me ignorar terá uma punição, senhorita
Dixon.
Dou de ombros, não me importando com o que ele diz.
— Desconheço criatura mais teimosa.
— Tem oportunidade de se casar com outra ainda — digo
com desdém.
— Não volto atrás em uma decisão minha, só sairá daqui por
cima do meu cadáver. — Seu tom de voz é sério, me fazendo
tremer.
— Então assim será. — Olho em seus olhos, o desafiando,
sabendo que isso é uma briga perdida para mim.
— Toma cuidado, não queira ver meu lado obscuro, pode se
arrepender, e não terá mais volta. — Levanta da minha cama, dando
um passo na minha direção.
— Mas nada que parta de você me admira. Te odeio e isso
não mudará.
— É o que veremos. Seu almoço vai ser servido aqui e logo
virão para que você tenha sua tarde de noiva. Te encontro a noite no
altar.
— Não por escolha minha — digo olhando para meu reflexo
no vidro da janela.
Heinz dá uma sonora gargalhada, aquela que me faz tremer
de medo.
Volto a ficar sozinha, mas por poucos minutos e logo trazem
o almoço.
Levanto da poltrona, sento na cama e como ali mesmo, não
consigo ingerir muita comida, pois tudo isso está me deixando
doida.
Deixo a louça suja, deito na cama, olho para o teto e penso o
quão entediante e ao mesmo tempo amedrontador está sendo este
momento.
Não havia parado para pensar que esta noite iria perder
minha virgindade com o homem que eu abomino.
Um frio percorre minha espinha e fecho meus olhos
lembrando das sensações que seus toques causam em minha pele.
Na minha curta experiência de vida e apenas algumas bocas
beijadas, nenhum outro homem conseguiu despertar tal sensação e
não sei se isso é bom ou ruim. Heinz não é um homem bom, isso
está estampando em sua testa e me odeio por sentir tal excitação
em seus braços.
Preciso odiá-lo!
— Cheguei, florzinha!
Abro meus olhos assustada, ao ouvir uma voz animada entrar
no quarto.
— Sou Bryan e vim especialmente de Nova York para cuidar
desta noiva.
Pelo menos ele é americano e fala meu idioma.
— Boa tarde — digo sentando na cama e olhando o homem
extravagante à minha frente.
— Entrem, meninas, vamos ter um trabalhão pela frente —
diz para as três mulheres que passam pela porta. — Preparem a
banheira.
E assim vai ditando afazeres enquanto eu fico boba, olhando
tudo e ficando admirada.
Se fosse em outras circunstâncias este dia seria mágico, pois
sou tratada como uma princesa.
Enquanto uma mulher faz massagem em meus pés na
banheira, outra massageia meu ombro. Confesso que faz tempo que
não me sinto tão relaxada. Elas usam diversos aromas,
conseguindo deixar tudo ainda mais romântico.
Me sentam na poltrona, elas fazem minhas unhas, enquanto
o outro faz babyliss em meu cabelo, consigo até dar alguns sorrisos
diante do jeito descontraído deles.
Através da janela consigo ver a noite começar a cair e meu
coração fica mais apertado, o grande momento está quase
chegando.
Será que alguém entrará comigo na capela?
Espero que não e além de tudo, espero que não tenha muitas
pessoas, não estou a fim de ser amistosa com ninguém.
Tento não me concentrar nos minutos restantes, e em vão
tento imaginar que este casamento seria com o grande amor da
minha vida, o que quase me fez gargalhar, pois nunca imaginei me
vender a um homem que odeio.
Eles fazem a maquiagem, e em nenhum momento perguntam
dos hematomas, devem saber onde estão se metendo, por isso não
se aprofundam em assuntos sérios. Até tentei fazer perguntas, mas
todas elas desviam, tanto que me sinto um fracasso.
Parece que todos trabalham para esse homem.
— Agora é o grande momento, vamos colocar o vestido? —
Bryan pergunta me estendendo a sua mão.
Levanto, olhando o vestido digno de rainha à minha frente.
Como queria meu pai comigo neste momento. Sempre sonhei
com ele entrando comigo na igreja, isso se um dia viesse acontecer.
As ajudantes me ajudam a pôr uma lingerie sexy por baixo,
junto a uma cinta liga. Chego a me sentir ousada com a peça, até
lembrar do motivo que a estou usando.
Passo o vestido por minhas pernas, um modelo de manga
comprida, com as mangas esvoaçantes, corte em V, deixando um
pequeno decote à mostra, calço o salto, caminho até o espelho e
quase não me reconheço no reflexo.
Uma mulher maravilhosa que em nada se parece com uma
menina.
Meu cabelo está preso em várias camadas, amei o penteado,
a maquiagem realça meus olhos azuis e o vestido parece ter sido
feito sob medida para mim, pois seu corte é perfeito, deixa minha
cintura bem desenhada e a saia se encaixa perfeitamente em
minhas curvas.
— Está belíssima, a noiva mais linda que já vesti.
Sorrio ao ouvir o homem falar, me preparando para ser
devorada pelo lobo.
CAPÍTULO ONZE

Fico sozinha no quarto esperando alguém me buscar, estou


impaciente, andando de um lado ao outro.
Quando finalmente alguém aparece destrancando a porta.
— Lass uns gehen (Vamos lá) — diz me fazendo olhar
confusa.
Quando finalmente faz sinal com a mão para o seguir e assim
faço.
Caminho atrás do jovem homem, que assim como todos os
outros tem o mesmo semblante sério. Fico me perguntando como
pessoas jovens como ele se propõe a estar em um lugar assim.
Será que não tinham escolha ou gostavam dessa loucura
toda?
Uma coisa é certa, preciso aprender este idioma, se não serei
um zero à esquerda aqui.
Ergo meu vestido descendo a escada.
Será que tem alguma mulher neste casamento?
Só se vê homens nesta casa.
— Prazer me chamo Jordan Weber — um homem alto de
uma beleza um tanto distinta diz. — Sou consiglieri do nosso Don,
vou acompanhá-la até a capela.
Apenas assinto com a cabeça.
O que diabos um consiglieri faz?
Minha cabeça está dando diversos nós.
— Por favor me acompanhe e sem gracinhas, Heinz não está
de bom humor hoje — o homem diz se afastando, me fazendo
segui-lo porta à fora da casa.
Finalmente estou saindo da casa e respirando ar fresco, o
que faz meu corpo arrepiar, pois a temperatura está muito baixa.
— Será que consegue andar ao meu lado? — Jordan
pergunta impaciente.
Que homem chato, não dizem que é normal uma noiva se
atrasar, além do mais o bonitão está usando terno e deve ser mais
quente que a roupa que estou usando.
Apresso o passo andando ao seu lado, pegamos um caminho
de lajotinhas e meu salto a todo momento entra nos buraquinhos. O
caminho é escuro e não enxergo nada no chão.
Vejo uma capela a uma distância curta, agradeço e ao
mesmo tempo fico mais tensa.
Chegamos ao lado da capela que tem pouca iluminação e em
nada isso se parece com uma, parece mais um antro de filmes de
terror.
— Espero que não seja obrigada a tomar sangue de ninguém
— digo pensando alto.
— Não dê essa ideia ao Heinz — Jordan diz em deboche. —
Vou entrar, se você olhar ao redor verá que tem homens em todo
lugar, então não ouse tentar fugir. Assim que começar a tocar a
música você entra.
Assinto com a cabeça e olho ao redor confirmando o que o
homem havia falado. Tudo ao redor é tão escuro, será que se eu
fugisse eles me veriam?
E mesmo se fugisse, para onde iria, não conheço nada deste
lugar.
A música dá início, é uma melodia tocada no piano e não é a
marcha nupcial, porém assim como Jordan falou, sigo caminhando
até a porta e a cada passo meu coração dá uma batida forte.
Subo dois lances de escada caminhando sobre um assoalho
envernizado. Ergo minha cabeça olhando para o centro da pequena
capela, onde ele está parado e respiro fundo. Dou o primeiro passo
e parece que a cada passo dado é uma sentença para a minha
morte.
Quando passo pela porta, todos que estão sentados no
banco olham na minha direção, para a minha surpresa há muitas
mulheres ali e cada uma delas está ao lado de um homem,
deveriam ser suas esposas.
Meu olhar volta a encontrar com aquelas esferas gélidas,
ando em sua direção e chego ao seu lado sem saber o que fazer.
Quando ele estende sua mão, aperto a minha com força
respirando fundo e pego sua mão que está quente.
Neste momento percebo o quanto minha mão está gelada
com o seu toque.
— Está com a mão gelada, por que não usou uma luva? —
pergunta em um sussurro.
— Porque ninguém deu — digo revirando meus olhos.
Sua expressão fecha rapidamente, o padre, ou seja lá o que
este homem é, dá início na cerimônia falando tudo em alemão.
Apenas me faço presente, pois não entendo nada. Em nenhum
momento perguntaram se eu concordava com esta união, apenas
Heinz fala algumas vezes, em seu idioma, o qual não entendo nada.
Olho para o lado, observando o quanto o local é bem cuidado
e há imagens de Santos nas paredes.
Será que eles são devotos ao catolicismo?
Bom, isso não me diz respeito, pois na primeira oportunidade
vou fugir deste lugar.
Todos aplaudem quando Heinz vira de frente para mim, pega
minha mão, abre uma caixa e coloca em meu dedo anelar uma
aliança de pedras brilhantes que parece pesar uma tonelada. É
entregue uma caixa para mim, abro e há o anel dele. Heinz estende
sua mão, pego e observo alguns machucados recentes. Ele socou
alguma coisa, pois tem a marca certa em seu punho, por isso
rapidamente coloco o anel em seu dedo.
O padre diz mais algumas coisas, assinamos um caderno e
vejo que a caligrafia de Heinz é impecável. Fico admirada em um
homem como ele tem uma assinatura bonita como esta.
Quando ele segura minhas duas mãos com seu olhar sério
sobre mim, o padre diz as últimas palavras e todos ficam em
silêncio.
Será que este momento é o beijo?
Engulo em seco quando ele se aproxima de mim e seus
lábios chegam perto dos meus.
Minha respiração para quando ele toca meus lábios me
dando um beijo possessivo e sua mão aperta minha cintura com
força, me fazendo gemer em seus lábios, quando todos aplaudem.
— Não vejo a hora de rasgar este vestido e tê-la nua só para
mim — sussurra me fazendo corar.
Viramos em direção a todos, caminho ao seu lado e desta
vez ele anda devagar para me acompanhar.
— Vamos voltar para casa, será servido um jantar e depois
será toda minha, senhora Zornickel.
Agora não sou mais uma Dixon, e sim uma Zornickel.
Meu corpo arrepia assim que chegamos ao lado de fora da
capela. Heinz percebe, pois passa sua mão em meu ombro me
trazendo para perto de si. Não estava reconhecendo este homem,
seu corpo é quente e resolvo me aninhar ali, caminhando em
direção a casa.
— Não vá rápido, o salto entra nesses buraquinhos — peço.
— Só porque estou de bom humor neste momento.
— Não vou ousar perguntar o motivo.
— É melhor mesmo.
Respiro fundo sentindo seu cheiro amadeirado com aquele
aroma de tabaco denunciando que ele tinha fumado recentemente.
Finalmente chegamos à residência, onde todos foram se
aconchegando. Recebo muitas felicitações e muitas delas não
entendia nada.
Há muitas mulheres lindas ali, inclusive uma que não tira os
olhos de Heinz, sou uma pessoa muito observadora, e percebo a
troca de olhares deles.
O jantar é servido e com muito vinho e bebidas alcoólicas
todos festejam.
Resolvo não tomar nada, embora fosse o melhor para poder
me sentir mais leve, mas decido ficar sóbria.
Após o jantar perco Heinz de vista, ficando sozinha no meio
daqueles estranhos, por incrível que pareça a mesma mulher some
e tento dissipar qualquer pensamento da minha cabeça.
Ele não ousaria ficar com outra bem no dia do nosso
casamento, não é mesmo?
Decido ir ao banheiro que já sabia onde ficava, ando
arrastando meu vestido pelo chão quando ouço gemidos e palavras
ofegantes ditas em alemão. Meu coração imediatamente acelera,
caminho em direção aos sussurros e vejo o que não queria.
Como ele pode ter sido capaz?
Minutos atrás ele foi tão amoroso comigo e agora está me
traindo no nosso primeiro dia de casamento. Minhas suspeitas
estavam certas, aquela mulher é amante dele.
Pela penumbra do corredor seu olhar encontra o meu, saio
correndo e o ouço praguejar algo.
Sem perder tempo subo a escada, não quero ir para o meu
quarto, pois é um lugar óbvio.
Ando até o final do corredor e encontro uma escada que
subo. Tiro o salto dando mais facilidade para subir, o terceiro andar
não tem muita iluminação e sigo até o final do corredor encontrando
uma porta menor. Passo minha mão na maçaneta, ela abre
revelando uma escada de pedras e fecho a porta atrás de mim. Há
janelas de vidro que permitem a luz da lua passar ali, subo os
degraus em formato espiral e chego no que parece ser um quarto.
Tem muitos objetos de menino, ando até uma prateleira pego um
porta-retratos de um garoto que em muito se parece com Heinz.
Será que um dia este foi o seu quarto?
Guardo o porta-retratos no lugar, permitindo que as lágrimas
caiam e rezo para que ele não me encontre aqui.
Tenho que arrumar um jeito de fugir deste lugar e para isso
irei precisar de algum aliado neste lugar.
CAPÍTULO DOZE

Seu olhar encontra o meu, e não sei por que algo dentro de
mim se importa com o desapontamento que há ali.
Puxo o cabelo de Kiara com força, a ouvindo gemer de dor.
— Vou voltar a deixar uma coisa clara aqui, estou casado,
escolhi Zara para ser minha mulher, nunca mais volte a fazer seus
joguinhos — rosno todas as palavras.
Não sei como me deixei ser seduzido por ela, a acompanhei
até um canto justamente porque ela disse que queria conversar.
Tudo mudou quando ela começou a se insinuar e quando vi
já estava com o meu pau na sua boca e outra vez lá estava eu
pensando com a cabeça de baixo.
— Posso ser sua amante, não me deixe... Aquela mulher não
é para você, ela não te deixará fazer o que faz comigo.
— Só não dou um tiro na sua cabeça agora por respeito ao
seu pai. Some agora da minha frente — digo fechando minha calça.
— Heinz…
— Para você sou Don a partir de agora.
Para não acabar tomando uma atitude sem pensar saio dali,
estou irritado e aperto meus punhos, sentindo uma leve ardência
dos socos que dei na cara de um sujeito que tentou invadir minha
propriedade hoje.
Ando por todo lado da festa e não a encontro em lugar algum.
Onde diabos essa mulher se meteu?
— Jordan? — chamo a atenção do meu amigo que conversa
com um dos meus capos. Me aproximo do seu ouvido e pergunto:
— Onde Zara se meteu?
— Pensei que ela estava com você.
— Não está.
— Se quiser mando olhar nas câmeras, desta casa ela não
saiu, senão eu saberia.
Respiro fundo, cansado deste monte de gente na minha
residência. Este não é o desfecho que eu esperava e isso está me
deixando cada vez mais irritado.
— Deixa que eu vou para o meu escritório olhar. Fique aqui
fazendo sala e se alguém perguntar diz que subi com minha noiva.
Outra coisa, não deixa Kiara subir a escada, que ela se mantenha
somente aqui.
Ele assente e sigo desviando de todos sem olhar na cara de
ninguém.
Subo a escada de dois em dois degraus, parando em frente à
minha porta. Digito o código liberando a porta e assim entro,
imediatamente vou até a mesa sento na cadeira, ligo o computador
e a primeira câmera que abro é a do seu quarto. Para minha
surpresa ela não está lá, viro em direção ao banheiro e a porta está
aberta em um claro sinal que não está lá também.
Mandei instalar câmeras em seu quarto, escondidas para que
ela não saiba que está sendo vigiada.
Zara está sendo meu passatempo mais prazeroso.
Me contive para não colocar uma câmera em seu banheiro,
mas não fiz, para ao menos poder dizer que dei um pouco de
privacidade.
Mordo o canto da minha cicatriz torcendo o nariz.
Onde essa mulher se enfiou?
Procuro as câmeras do corredor onde eu estava alguns
minutos atrás, e lá a vejo correndo, ou ao menos tentando, pois o
vestido a impede. Sigo seus passos e sorrio ao ver que ela tira o
salto em um certo momento.
Queria fazer da sua primeira vez um momento único, mas
confesso que este pensamento passou, estou maluco por essa
mulher e quero fodê-la de todas as formas possíveis, nem que para
isso eu tenha que mantê-la presa em seu quarto apenas para o meu
prazer.
Ela sobe até o terceiro andar, onde quase ninguém vai.
— Não, aí não — digo vendo que ela caminha em direção ao
meu antigo quarto.
Sabia que deveria ter trancado essa porta.
Zara entra, e a partir dali não sei o que ela fez, pois nesse
quarto não tem câmeras.
Não queria que ela fosse lá, no quarto há muitas coisas
minhas de quando era um garoto, nunca quis mexer nele e papai
sempre falava que um dia um dos meus filhos iria querer aquele
aposento, por isso sempre se manteve intacto.
Quando era um moleque adorava aquele cômodo, passava
horas ali dentro, estudando e aprendendo sobre assuntos aleatórios,
até que o dia do atentado aconteceu, resolvi abandonar tudo aquilo
e fazer o que o dever me chamava. Assim fui para meu atual quarto,
abandonando o outro.
Passo a mão no meu cabelo, respiro fundo e levanto da
minha cadeira decidido a ir atrás dela, até que seu olhar magoado
surge na minha mente, e a partir deste momento decido que irei dar
a ela um tempo.
Vou para meu quarto para tomar um banho e quem sabe
dormir.
Passo pela porta seguindo pelo corredor, chego em meu
quarto, logo vou tirando o paletó e abro os botões do meu colete,
em seguida tiro a camisa de dentro da calça abrindo os botões e
jogando em qualquer canto as roupas. Olho para minha cama,
imaginando como seria ter aquela morena em meus lençóis, ver sua
pele arrepiada, poder presenciá-la gemendo diante dos meus
toques.
Inferno!
Estou parecendo um adolescente pensando só com a cabeça
errada.
Zara tem apenas um propósito, ser a mãe dos meus filhos, o
problema é que não quero ter que dividi-la com ninguém por
enquanto.
“Foco, Heinz, não deixe uma mulher virar a sua cabeça,
lembre-se do seu pai!”, minha mente tenta me alertar em vão.
Abro minha calça andando até meu banheiro, tiro o resto das
minhas vestimentas, ligo o chuveiro e entro embaixo. Deixo a água
escorrer pelo meu corpo e fecho meus olhos, “puto da vida” por ter
estragado esta noite.
Antes do casamento, Jordan me deu a dica de levá-la com
carinho, não sei como se faz isso, mas estou fazendo meu melhor,
assim teríamos uma boa noite e ela se entregaria com facilidade.
Mas o que eu fiz?
Coloquei tudo a perder quando enfiei meu pau na goela da
Kiara, não pensei no momento e deu no que deu.
Soco a parede com força, sentindo a dor passar por meu
punho, o machucado que há ali começa a sangrar novamente e
deixo a água escorrer até que pare. Desligo o chuveiro e passo uma
toalha em minha cintura sem secar meu peito. Caminho até meu
closet, pego uma calça de flanela, visto sem me importar com a
cueca e passo a mão em meu cabelo agoniado.
Chego na minha cama, deito a cabeça em meu travesseiro,
coloco a mão embaixo da cabeça, fecho meus olhos e
imediatamente me vem aqueles olhos azuis na mente.
O que será que ela está fazendo?
Viro de um lado para o outro, tento a todo custo dormir e o
barulho de risadas vindas do primeiro andar já havia cessado, um
sinal que a festa tinha acabado.
— Que se foda, vou atras dela — digo levantando da cama.
Sem me preocupar com minha roupa, sigo em direção a porta
e passo por ela, andando a passos rápidos.
Meu coração bate acelerado e a certo momento nem me
reconhecia.
Chego no terceiro andar, paro em frente a porta do meu
antigo quarto, respiro com dificuldade sentindo a adrenalina em meu
corpo. Giro a maçaneta, abro, volto a andar subindo os lances de
escada em formato espiral e abro a outra porta.
Entro no meu quarto de infância, está tudo na penumbra e o
silêncio predomina. Como estou descalço, consigo andar em
silêncio a encontrando encolhida na minha cama e paro ao seu lado.
Meu pênis logo dá sinal de vida ao ver sua linda bundinha à
mostra, usando uma camisa minha de criança que está erguida, me
dando total visão de suas nádegas com aquela linda lingerie presa
em uma cinta liga.
“Puta que pariu!”
Passo a mão em meu pênis sentando na cama e meus dedos
coçam para encostar em sua pele.
Não resisto, a acaricio e imediatamente corresponde ao meu
toque se arrepiando.
Será que ela está dormindo ou fingindo?
CAPÍTULO TREZE

Caminho pelo quarto, notando muitos pertences de um


garoto, porém tudo parece estar abandonado ou há muito tempo
sem ninguém entrar neste cômodo.
Com muita dificuldade tiro o vestido, o deixando sobre uma
poltrona, solto meu cabelo do coque, o deixando cair sobre meus
ombros. Passo minha mão suavemente em minha nuca, lembrando
da cena daquela mulher com o membro do meu marido em sua
boca.
Será que iria ser assim?
Será que sou apenas o seu objeto de fazer filho?
Iludida fui em pensar por um breve segundo que poderia ser
diferente.
Volto a andar pelo quarto, encontro um armário, abro e há
roupas infantis ali. Procuro por algo que me servisse, acho uma
camisa, visto, vou até a cama, bato a coberta sentando e
imediatamente deitando.
Quero apenas ficar sozinha esta noite, me encolho na cama e
fecho meus olhos lembrando do meu pai.
O que será que ele está fazendo?
Será que precisa de mim?
Uma lágrima volta a cair e rapidamente seco. Estou cansada
de chorar e prometo a mim mesma que aquele homem não me fará
chorar novamente, se ele pensa que sou uma virgem inofensiva, me
aguarde.
Me perco em pensamentos e caio em um sono leve.
Em meio a lucidez do sonho, sinto mãos em meu corpo.
Será isso um sonho?
Se for, por favor não pare!
As carícias não param, o toque é suave e minhas pálpebras
abrem preguiçosas. A penumbra do quarto me faz virar o rosto,
percebo que isso não é um sonho e sim ele.
Fico imóvel por alguns segundos o olhando assustada, porém
meu primeiro ímpeto é querer sair dali.
— Não me toque. — Seguro seu pulso, fazendo seus olhos
encontrarem o meu.
— Agora é minha e faço o que quiser com você. — Sua voz é
um sussurro rouco.
— Tenho nojo… — cuspo as palavras em sua direção.
— Não é o que seu corpo demonstra.
Heinz sorri com um ar egocêntrico quando solto seu pulso
querendo escapar da cama. Não sou rápida o suficiente, ele me
prensa, segura meus braços acima da minha cabeça e meu peito
sobe e desce em ritmo acelerado.
— Pensou que eu não a encontraria aqui? — Heinz diz bem
próximo ao meu rosto.
Não tinha reparado que ele tem uma tatuagem no canto do
pescoço e pela luz da lua que ilumina o quarto parece ser uma cruz,
o que é um tanto cômico.
— Do que está sorrindo? — pergunta e não percebo que ele
havia aberto um sorriso.
— Cruz? — pergunto torcendo o lábio.
— Algo contra? — volta a perguntar.
— Nada, mas vocês estão mais para o estilo masoquista
mesmo.
Abre um sorriso, aquele que ele sempre dá quando quer me
pôr medo.
— Tem medo, Zara?
— Não.
— Não é o que parece.
Seu aperto é firme, substitui as duas mãos por uma e mesmo
assim não consigo escapar dele. Ele vai passando seus dedos por
meu pescoço, parando na gola da camisa.
— Se tentar alguma gracinha juro que a punirei — diz
soltando as minhas mãos. — Vou te dar a chance de ter uma boa
primeira vez, mas qualquer empecilho seu, a comerei com força,
estamos entendidos?
Ele me quer aqui e agora?
Assim sem nem ao menos me preparar?
— Agora, você quer agora? — Arregalo meus olhos.
— Sim, pequena Zara.
Sinto seus lábios em meu pescoço, meu corpo fica tenso
quando sinto sua mão na barra da minha camisa, querendo erguê-
la. No automático deixo, a passando por minha cabeça. Seus olhos
grudam em meus seios tampados por meu sutiã e ele logo passa
sua mão em minhas costas, o tirando. O frio bate em minha pele,
fazendo meus mamilos intumescerem.
— Você é linda, Zara, aposto que os homens caem aos seus
pés.
Não digo nada, apenas quero tampar meu corpo.
— Não se tampe, ao menos não para mim. — Seu tom de
voz é possessivo. — Nunca deixarei nenhum outro homem tocar no
que é meu.
— Não…
Ele me corta com seus lábios, seu corpo rapidamente sobe
sobre o meu e sua língua invade minha boca, sentindo meu corpo
corresponder ao seu toque.
Uma mão sobe agarrando meu cabelo com força abaixo da
nuca, me fazendo arquear a cabeça para trás.
Seu beijo é quente e lento.
Heinz não perde a oportunidade chupa minha língua e me faz
suspirar. Nunca pensei ter tal sentimento em seus braços. Com uma
mordida leve em meus lábios vai descendo, mordisca meu queixo
deixando beijos até chegar em meus seios.
Sua boca abocanha um seio, sua língua passa por toda a
extensão do meu mamilo e me amaldiçoo por corresponder aos
seus toques.
Em seguida ele faz o mesmo com o outro seio, Heinz em
nenhum momento está sendo agressivo, muito pelo contrário, está
me proporcionando prazer. Sinto sua mão descer por minha barriga
entrando por baixo do tecido da minha calcinha, me fazendo
suspirar ao sentir seus dedos ali.
— Controle, Heinz. — Suspira sobre meu seio, sua cabeça
ergue e seus olhos encontram os meus.
Quero tocar seu peito nu, mas minha vergonha fala mais alto
e prefiro manter minhas mãos apertando a fronha da cama.
— Não tem noção do quanto estou me segurando, Zara. Mas
deflorar meninas virgens não faz a minha praia, e como este papel
cabe a mim, te darei o privilégio de conhecer um lado meu que pode
nunca mais ver futuramente — diz abrindo um dos seus sorrisos.
Volta a beijar minha boca, desta vez o beijo é um pouco mais
urgente, minha língua toma a sua, meu corpo não está aguentando
e começo a retribuir os toques.
Sinto um dedo seu entrar em meu ponto, me fazendo suspirar
entre a sua boca.
— Tão quentinha e apertada, sou capaz de ficar viciado nesta
bucetinha.
Sem que eu espere, ele puxa o tecido da minha calcinha,
rasgando e me deixando nua diante dele.
Heinz desce os beijos, sua mão que antes estava dentro de
mim, acaricia minhas curvas chegando em minha coxa e apertando
suavemente. Seu olhar cai sobre minha boceta e seu rosto desce
cheirando com força. Ter seus lábios encostados ali, me faz ter
vontade de segurar em seu cabelo, porém me contenho. Mordo
meus lábios com força, ao sentir sua língua passar por minha
cavidade e meu corpo me traí ao responder aos seus toques.
Inferno!
Heinz sabe o que está fazendo, jogo minha cabeça para trás,
passo minha mão em meu cabelo, a todo momento me contendo
para não encostar nele. Não queria isso, queria ao menos
demonstrar um pouco de resistência.
— Gostosa pra cacete! Saiba que eu a comerei de todas as
formas que puder imaginar minha virgenzinha. — Finaliza dando um
tapinha na minha boceta, me fazendo dar um gritinho.
Heinz fica de pé e tento não olhar em sua direção, mas como
um imã, meus olhos caem em seus movimentos. Ele abaixa sua
calça a todo momento me observando e meus olhos arregalam ao
ver seu membro. Não é um pênis extremamente grande, mas Heinz
é alto e eu sou baixa.
Isso vai me partir em duas!
— Seu olhar é cômico, o que só demonstra o quanto é
inexperiente…
Ele sobe sobre mim, seu corpo cobrindo o meu e seu rosto
roçando o meu.
— Prometo que doerá somente no começo. — Sua voz é um
sussurro e em nada se parece com o homem que eu odeio.
— Como confiar em você? — Meu corpo fica tenso sentindo
seu membro sobre meu ponto.
— Não fique nervosa, relaxe e apenas confie, pelo menos por
hora. — Abre um dos seus sorrisos que demonstra que não
perdoará da próxima vez.
Ele junta seus lábios aos meus, beijando lentamente e
provocando minha língua. Me concentro em seus lábios habilidosos
e quando percebo seu membro já está me preenchendo. Suspira
apertando minha cintura com força, seu olhar encontra com o meu,
suas pupilas estão dilatadas e noto o quanto ele está se segurando.
Seus movimentos são vagarosos, aperto a colcha com força,
sentindo a dor que todos dizem sentir na primeira vez.
— Heinz — peço em uma lamúria, querendo que ele tire fora.
— Logo passará, apenas relaxe — diz suspirando.
Seus lábios não soltam os meus, nos beijamos com desejo e
logo a dor vai cessando diante dos movimentos dele. Quando ele vê
que não reclamo mais começa a intensificar os movimentos indo
mais fundo, o que me fez soltar uns gemidos que não consigo
controlar.
Entre muitos movimentos de vai e vem, me contenho para
não encostar nele. Algo vai crescendo dentro de mim, uma
sensação gostosa, que junto com as suas estocadas e toques
suaves, me faz se entregar.
Isso é o que chamam de orgasmo?
Me contorço embaixo do seu corpo, sentindo-o ficar tenso.
Logo geme alto, estocando uma última vez dentro de mim com força
e seus olhos não desgrudam dos meus um único segundo.
Cai sobre meu corpo, seu suor se junta ao meu e nossas
respirações aceleradas vão se acalmando. Sinto seus lábios
carnudos em meu pescoço quando de repente levanta a cabeça,
voltando a ser aquele Heinz que eu odiava.
— Precisamos verificar.
Não acredito que ele falou isso!
Puxo o lençol sentindo seu corpo sair de cima do meu e o frio
se apossar.
— Nosso casamento será revigorante, senhora Zornickel —
diz em deboche.
Me encolho no canto da cama, me sentindo usada e com
raiva de mim mesma.
O que faz com que ele veja o sangue que havia saído de mim
diante do meu hímen rompido.
Heinz abre um sorriso vitorioso e veste sua calça saindo do
quarto com uma gargalhada estrondosa, me deixando sozinha com
seu cheiro impregnado no quarto. Sento na cama olhando para o
nada, penso em como faria para fugir deste homem e me sinto idiota
por na primeira oportunidade me entregar a ele diante de suas
palavras carinhosas.
Heinz Zornickel é a pior espécie de homem, capaz de jogar
sujo apenas para ter o que quer.
CAPÍTULO QUATORZE

Acordo sentindo uma leve ardência no meio das minhas


pernas, me fazendo recordar a noite anterior, a qual por um segundo
julguei ter sido boa. Isso até Heinz abrir a boca e me trazer a
realidade.
Minhas pálpebras pesadas abrem, estranhando por estar em
meu quarto. Olho em volta estranhando, pois peguei no sono no
outro aposento.
Quem havia me trazido?
Sento imediatamente, afasto a coberta e vejo que estou
vestida com uma camisola.
Passo a mão no meu cabelo, atordoada.
Que loucura é essa?
Droga, como queria minha vida de novo!
Levanto da cama, vou em direção ao meu closet, pego na
minha gaveta de calcinhas qualquer uma, tiro a camisola, jogo no
cesto de roupas sujas e visto a peça íntima, olhando meu reflexo no
espelho. Sempre me considerei normal, seios médios, bunda no
tamanho ideal para as minhas curvas.
O que aquele homem viu em mim?
Passo a mão em meu pescoço, sentindo como se suas mãos
estivessem passando ali, Heinz foi o único homem que me tocou
mais intimamente e talvez isso tenha me feito um pouco trouxa no
primeiro momento.
Teria que ser mais resistente!
Olho os vestidos, escolho um preto com decote reto, manga
comprida e na altura do joelho. Pego um salto médio, já que este é o
único calçado que há ali e com alguma sorte a porta estará aberta.
Passo no banheiro fazendo minhas necessidades, deixo meu
cabelo solto, meio armado e o jogo para trás.
Cruzo meus dedos, não quero ficar trancada neste quarto o
dia inteiro, talvez explorar a enorme casa que mais parece um
mausoléu e está precisando de uns toques femininos.
Chego na porta, passo a mão na maçaneta, com um suspiro
fundo, giro e para minha surpresa ela abre.
“Vamos lá, Zara!”
Talvez esse seja seu momento de demonstrar que em um
primeiro momento não irá aprontar, ou melhor dizendo, não vou
fugir.
Caminho a passos temerosos, não há ninguém no corredor e
isso só pode ser um sonho. Olho para as paredes escuras com a luz
sempre fraca, odeio lugares escuros, o que me faz odiar ainda mais
este aqui.
Chego na escada e nada de Heinz, porém ali havia seus
homens, inclusive um está parado no pé da escada. Passo a mão
no corrimão e a cada degrau que desço um sentimento diferente se
apossa de mim, entre eles se sobressai o medo do desconhecido.
Paro em frente ao homem, que nem olha em minha direção,
continua olhar acima da minha cabeça ignorando totalmente a
minha presença.
Estralo os dedos na sua frente querendo chamar a sua
atenção.
— Ei, cadê seu chefe?
Ele continua a olhar para a frente.
— Legal, não deve falar meu idioma. Droga!
Não quero ir à cozinha, vou aproveitar que não tem ninguém
por perto e ver aquele piano.
O lugar está impecavelmente silencioso e limpo, nem parece
que teve uma festa nesta sala na noite anterior.
Vejo o objeto que causa um leve formigamento em meus
dedos querendo sentir as notas dele. Me aproximo passando a mão
em sua madeira lustrosa em um preto que dá para se espelhar.
Olho em volta, os homens que ali estão parecem mais
estátuas, assim como o outro que encontrei na escada, eles não
olham na minha direção. Decido sentar na banqueta, pois minha
curiosidade em sentir aquele instrumento toca mais alto.
Ergo o suporte de madeira, aliso a ponta dos meus dedos e
noto que não há nenhum sinal de pó. Fecho meus olhos, lembro das
minhas aulas e da presença de Trevor. Ele apenas me
acompanhava, pois dizia que eu tocava bem e isso era como tocar a
música dos anjos para ele.
— Sabe tocar?
Abro meus olhos ao ouvir a voz.
Rapidamente fecho o piano ao notar o irmão de Heinz na
frente do instrumento.
— Relaxa, quero apenas conversar. — Olha em volta.
— Que tal darmos uma volta pela casa e conversarmos
melhor? Onde não tem esse monte de urubus à nossa volta —
Klaus diz estendendo seu braço.
— Como posso confiar em você? — pergunto vendo um
sorriso se formar em seus lábios.
— Acho que de todos aqui desta casa, sou o único que quer
ajudá-la — diz em um sussurro quase inaudível.
Respiro fundo aceitando o seu braço, levanto da banqueta e
caminho ao seu lado.
— Vamos na biblioteca, assim temos os pretextos dos livros,
e além do mais logo preciso voltar para os meus afazeres — Klaus
diz em tom ameno fingindo estar em um diálogo descontraído.
— Não quero problemas para o meu lado — digo, não o
conheço e preciso manter um pé atrás com todos aqui.
Klaus apenas assente, andamos até o outro lado da sala, ele
abre uma porta dupla e arregalo meus olhos percebendo a
quantidade exorbitante de livros que há ali. Vou logo entrando,
admirada com o ambiente.
— Vou ser bem direto, Zara.
Viro meu corpo encarando Klaus e vejo seus olhos azuis com
um brilho conhecido para mim.
— Fala.
— Estou aqui, pois é o único lugar que não tem ninguém
ouvindo, vamos fingir que estamos vendo livros.
Sigo Klaus até umas prateleiras, sentindo o cheiro
maravilhoso de livros misturado com lustra móveis.
— Aqui são os livros em seu idioma, acredito que não sabe
falar o alemão, certo?
Faço que sim com a cabeça.
— Certo, vai precisar aprender. — Pega um livro fingindo
folhear as folhas. — Heinz não sabe que estou tendo esta conversa
com você, mas preciso saber se quer estar aqui?
Arregalo meus olhos.
Será que esta é a minha chance de conseguir escapar?
— Não sei…
Queria confiar nele, mas e se fosse uma armadilha?
— Preciso que confie em mim, Zara, não sou igual ao Heinz.
Estou aqui um pouco mais de tempo que você, minha história é
longa, mas digamos que nasci em outro lugar e agora me
encontraram.
— É tudo tão confuso, minha cabeça está fazendo um nó.
— Disfarce, pegue um livro, tem câmera aqui! — Klaus alerta
e assim faço. — Justamente por isso precisa confiar em mim. Eu
não posso escapar desse inferno, não por hora, mas você pode, e
farei de tudo para ajudá-la.
Olho em seus olhos e vejo bondade nele, apesar dos olhos
parecidos, os irmãos não tem nenhuma semelhança. Klaus tem
cabelo preto com alguns poucos cachos e barba por fazer.
— Preciso de uma oportunidade onde posso me agarrar —
digo finalmente. — Não quero causar problema para você, Klaus.
— Não vai, só não podemos ser vistos conversando sobre
isso, precisamos bolar um plano e na hora certa agir.
Apenas assinto com a cabeça e arregalo os olhos ao ver uma
sombra atrás dele, preciso agir rápido por isso digo:
— Obrigado por me mostrar este lugar, Klaus — digo sorrindo
nervosa.
— Estou perdendo algo?
Engulo em seco ao ouvir a voz de Heinz.
— Não, irmãozinho, estava apenas apresentando a biblioteca
para a minha cunhadinha — Klaus diz virando seu rosto
descontraído ao irmão.
— O bom moço da família, agora some daqui, não tem que
estar treinando? — Heinz diz rude.
— Sim, chefe! — Faz uma continência saindo.
Agarro o livro em meu peito com força, olho para o meu
marido e seus olhos encontram os meus.
E agora o que será de mim?
Preciso acreditar que Klaus conseguirá me ajudar.
CAPÍTULO QUINZE

Aperto o livro com tanta força, sentindo o olhar de Heinz


sobre mim.
— Sobre o que conversavam? — finalmente diz dando um
passo de cada vez em minha direção.
— Klaus apenas me mostrou a sessão de livros americanos
— digo engolindo em seco.
— Está mentindo, sei que está. Mente muito mal, Zara. —
Seu tom de voz é ameaçador.
— Não, não estou… — Preciso ser a mais convincente
possível.
Heinz para na minha frente e sem que eu preveja, pega em
meu pescoço pressionando meu corpo na estante.
— Não minta, caso contrário será punida — diz em um tom
ameaçador próximo ao meu ouvido.
— Não estou, por favor… — tento falar, mas ele aperta com
força meu pescoço me fazendo ficar sem fala.
Meus olhos arregalam diante do seu aperto e consigo ver
suas veias saltadas em seu pescoço.
Heinz me olha nos olhos mordendo o canto da sua cicatriz.
— Odeio mentiras e sei que está mentindo — vocifera
virando meu corpo de encontro ao móvel.
Sinto seus músculos atrás de mim e seu pênis ereto cutucar
minhas costas. Não acredito que ele irá querer algo aqui. Sua mão
que antes estava em meu pescoço, agarra meu cabelo, gemo de
dor quando ele faz um nó com meu cabelo em sua mão.
— Não vai falar, Zara? — pergunta apertando minha coxa
com força.
— Não tenho nada para falar.
Eu não sou uma dedo-duro, Klaus prometeu me ajudar e
manteria nosso acordo até o final.
Ele suspira com força, sua mão sobe entre minhas pernas,
chegando em meu ponto.
— Heinz… — peço em uma súplica querendo sair dali.
— Devo puni-la, odeio ser contrariado… — finaliza frustrado.
Seus dedos passam pelo tecido da minha calcinha, chegando
em minhas dobras, suspiro ao sentir seus lábios em meu pescoço e
seu cheiro amadeirado com aroma de tabaco invade meu olfato.
— Por favor… — sussurro em uma lamúria.
Ele volta a apertar meu cabelo com força, me fazendo gemer
com isso. Já não sabia se estes gemidos são de dor ou uma mistura
de tensão sexual que este homem consegue transmitir.
Seus lábios param ao lado dos meus, morde o canto e sua
língua logo abre passagem. Solta meu cabelo, voltando a me virar
de frente para ele.
Com muita leveza ergue minhas pernas encaixando em sua
cintura, assim fico na sua altura e seus lábios grudados aos meus a
todo momento, mordiscando meu lábio inferior.
As madeiras da estante pressionando minhas costas, seu
corpo de frente ao meu, inalando o calor que ambos exalávamos.
Meu vestido que está erguido na altura da cintura dá total
acesso a ele.
— Seu cheiro me deixa maluco — diz entre nosso beijo.
Não digo nada, não sabia nada sobre este homem, ele
parecia um maluco psicopata e eu idiota à mercê dos caprichos do
meu corpo.
— Você é minha, Zara Zornickel, saiba disso, mato quem se
atrever encostar um dedo em você.
Suas palavras ditas no calor do momento me fazem ficar
mais excitada.
Sua mão passa pelo tecido fino da minha calcinha, a
puxando, rasgando e jogando em qualquer canto.
Com muita praticidade ele abre a sua calça liberando seu
pênis pressionando diretamente dentro de mim.
Suspiro ao senti-lo se enterrar em meu ponto e a leve
ardência me faz gemer de dor.
— Ainda dói? — pergunta pela primeira vez, parecendo se
importar comigo.
Seus olhos próximos aos meus, tanto que consigo ver os
traços do seu rosto com clareza, pele macia, barba rala e lábios
levemente vermelhos diante do nosso beijo.
— Um leve incômodo… — digo suspirando.
Heinz não diz nada e com um ritmo lento estoca dentro de
mim. Ver seu rosto tão próximo ao meu me faz ter vontade de senti-
lo em minhas mãos, por isso me atrevo a tocá-lo. Minha mão passa
por sua barba indo até seu pescoço. Ele não tem os traços duros e
sérios, é um homem lindo e ao mesmo tempo me causa medo.
Seus olhos fecham por um breve segundo, volta a estocar
com força, me fazendo delirar em seus braços.
Aperto seu ombro com força, seus lábios encaixando em meu
pescoço dando mordidas suaves que me fazem querer mais dele.
Sinto sua mão em minha boceta.
— Aí — reclamo ao senti-lo apertar meu ponto com força.
— Este será seu castigo, já que não consigo puni-la de outra
forma.
Urra se liberando dentro de mim, em seguida sai de perto, me
deixando no chão, o olhando sem reação.
Heinz me cortou e não me deixou sentir o prazer final.
Sinto seu líquido escorrer pela minha perna e quero tanto não
conseguir engravidar. Só de pensar em pôr no mundo um filho dele
me causa repulsa.
— Seu olhar é cômico... Quer guardar segredos com meu
irmão? Saiba que o castigo será todo seu.
O observo fechar sua calça na maior naturalidade.
— Temos um jantar para ir esta noite, são sócios importantes,
por isso esteja bem-vestida às 18 horas em ponto. Odeio atrasos.
Sem me deixar falar ele some e outra vez fico a ver navios.
Será que vai ser sempre assim?
Ele vem se alivia dentro de mim e some.
Nossas conversas não passariam de apenas sexo?
Bom, pelo menos encontrei a biblioteca.
Abaixo meu vestido, ainda me sinto frustrada diante do que
ele fez. Passo a mão em diversos livros até que encontro um
dicionário de inglês/alemão, é isso que eu preciso.
Pelo menos tentarei gravar algumas frases, ou palavras de
salvação, ou pelo menos um "socorro".
Pego dois livros qualquer, escondendo o dicionário no meio
deles, subo direto para meu quarto, preciso aprender este idioma o
quanto antes, pois o tempo está contra mim e a qualquer momento
posso engravidar dele.
Chego em meu aposento que antes estava todo bagunçado e
agora impecavelmente arrumado, alguém deve ter passado aqui.
Faço uma nota mental em nunca deixar nenhuma prova que
possa ser encontrada.
Sento na minha cama, pego os três livros e rapidamente abro
o dicionário dando início a minha leitura, pronunciando algumas
palavras.
Deito minha cabeça no travesseiro frustrada por não
conseguir pronunciar direito.
Me encontro tão cansada que não percebo o momento que
acabo pegando no sono.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Deixo Zara sozinha na biblioteca e sem me dar privacidade


Jordan já está na minha cola.
— Já estava à sua espera.
— O que houve desta vez? — pergunto coçando minha
cabeça.
— Lembra aquele rebelde que invadiu nossa propriedade,
hoje pegamos outro, está no calabouço.
— Conseguiram extrair algo dele? — pergunto caminhando
em direção ao calabouço.
— Ele está irredutível.
— Pois falará por bem ou por mal — digo subindo um lance
de escada que divide a sala da parte externa. — Mande chamar
Klaus — concluo ouvindo Jordan falar com um dos soldados ali
presente.
Chegamos ao lado onde é proibida a passagem de
funcionários da casa, quem já trabalha aqui há algum tempo sabe o
que se trata este lugar. Digito a senha, a porta abre e o cheiro do
lugar invade meu olfato, me fazendo sentir vivo. Sorrio de lado
descendo a escada de pedra.
As paredes são todas de pedra, meus antecessores
mandaram fazer este calabouço para podermos mutilar esses
pestes sem que ninguém ouvisse seus berros pela casa. Uma área
subterrânea, com pouca luz como eu gosto, assim como um
leopardo gosta de atacar a espreita. Quando menos esperam ali
estou eu.
Desço o último lance de escada, pisando no chão de piso
bordô.
— Hoje é um belo dia para se tirar vidas — digo sorrindo,
estralando meu pescoço.
Jordan gargalha atrás de mim, passo pela primeira grade e
não avisto ninguém ali. Há quatros celas espalhadas pelo cômodo,
em um dos cantos tem uma mesa com quatro cadeiras e no outro
dois sofás vermelhos, para assim termos nossas conversas
prazerosas.
Vejo a luz acesa em uma das celas, caminho até ela, onde
sou recepcionado por um soldado.
— Chefe, ele não fala nada, não atrevemos tocar nele... Nada
além de umas chibatadas, porém nada saiu.
— Sabem o nome? — pergunto em um sussurro.
Olho o homem sentado em uma cadeira, seus olhos
vendados e boca tapada com uma fita.
— Nada.
Concordo com a cabeça, notando meu irmão barulhento se
aproximar.
— Este é seu, Klaus — digo sem olhar seu semblante.
— Não farei isso.
Dou uma risada sarcástica.
— Lógico que fará.
Tiro minha arma da cintura, viro meu corpo em sua direção,
pego em sua mão, contra sua vontade e coloco em seus dedos
minha arma.
— Abra a cela.
Sem pestanejar o soldado libera passagem e caminho até o
homem o analisando. Já é o segundo a tentar invadir meu recinto,
alguma coisa eles estão querendo aprontar e preciso prever cada
movimento deles.
Suas mãos e pernas estão presas na cadeira. Tiro a fita da
sua boca, o homem tenta cuspir em minha direção, mas como está
vendado erra a pontaria, o que me faz desferir um soco na sua
bochecha.
— Qual seu nome?
Ele não diz nada e é sempre assim, muito dificilmente falam
algo.
— Me deem o soco inglês! — digo recebendo em minha mão
o metal, passo em meus dedos, alisando as pontas finas e tiro a
venda dos seu olho.
— Tem certeza que não falará nada, garoto?
Me olha abrindo um sorriso presunçoso.
— Ora, ora, se não é o grande Heinz Zornickel, é um prazer,
vossa senhoria.
Diante do seu deboche desfiro um soco em seu maxilar,
vendo o metal enterrar em seu queixo, o que o faz berrar de dor.
— QUAL SEU NOME? — berro sem paciência.
— Luck Cabot, não tenho medo de você. Minha intenção era
matá-lo, mas como não consegui, saiba que somos muitos e
acabaremos com essa In Ergänzung — o garoto que aparenta ter
uns 20 anos diz na maior cara de pau.
Ele está falando e isso é um bom sinal.
Chuto o pé da cadeira, o fazendo cair no chão e com um
ímpeto chuto seu estômago, fazendo com que ele cuspa sangue.
— Quem são vocês? — pergunto dando outro chute.
Abaixo, batendo com meu cotovelo em sua cabeça. Então
ouço um disparo e o garoto perde a vida bem diante dos meus
olhos. Ergo minhas vistas e vejo que Klaus havia acabado de atirar
no garoto.
— Que merda você fez? — pergunto levantando e indo em
sua direção.
— Estava torturando o garoto, quis acabar com isso o quanto
antes — Klaus diz dando um passo para trás.
Paro na sua frente apertando meu punho cerrado, odeio
quando fazem algo sem a minha permissão. Sem pensar direito dou
um soco no rosto, esquecendo do soco inglês que havia em meus
dedos, tão logo o sangue jorra da sua boca.
— Merda, Heinz — Jordan diz vindo em minha direção.
Ele é o único que me chama assim.
— Da próxima vez aprenda a nunca mais me desafiar.
Jogo a merda do soco inglês no chão deixando tudo para trás
e caminho em direção ao meu escritório.
Klaus precisa disso para aprender que aqui quem manda sou
eu. Ou dança conforme eu quero, ou eu faço dançar a valsa da
morte.
Tiro um maço de cigarro do meu bolso, acendo um, dou uma
longa tragada e sinto o gosto do tabaco que em certos momentos
me acalmam.
O que esse tal de Luck disse ficou preso na minha mente,
preciso reforçar mais minha escolta, embora sejam apenas alguns
rebeldes, não posso dar bobeira.
Pego meu celular com a outra mão e acesso a câmera do
quarto da minha bocetinha de ouro.
Lá está ela, até parece inofensiva deitada daquela forma.
Dou um zoom em sua mão, querendo saber o que ela está lendo.
Respiro fundo ao ver o que ela tem em suas mãos, um
dicionário, pelo visto ela quer aprender nosso idioma, isso
demonstra o quanto ela está se esforçando, bem acredito eu.
Preciso dar a ela um agrado.
Embora saiba que ela mentiu sobre Klaus, não sei o que
estavam falando, mas por estarem sussurrando não deve ser sobre
livros.
Estou saindo do escritório quando ouço os passos de Jordan
atrás de mim.
— Como ele está?
— Na enfermaria, nada que uns pontos não resolvam.
— Quero o Klaus na minha sala assim que estiver melhor. Ele
precisa entender, que neste mundo não tem espaço para ser bom.
Ou é mais inteligente ou é comido. Aquele trouxa pensa que vão
poupar a vida dele se cair na mão de algum inimigo — finalizo
dando uma tragada no meu cigarro.
— Tem razão, ele tem levado tudo na brincadeira, por isso é
meu medo vê-lo como subchefe!
— Isso está fora de questão — digo sem querer tocar no
assunto.
— É cabeça dura feito seu avô.
— Obrigado pelo elogio — concluo lembrando que meu avô
assim como eu, adorava tirar vidas lentamente, principalmente
quando se tratava de tirar informações.
— A propósito, procure uma professora para Zara, quero que
ela aprenda nosso idioma.
— Tem certeza que isso é uma boa ideia? Ainda não sei se
essa garota aqui é uma boa…
— Apenas faça o que estou pedindo — digo o cortando.
— Estou prevendo um Heinz apaixonado.
— Isso não é para mim, apenas a quero ao meu lado. Gosto
do prazer que Zara me proporciona.
— Isso tem nome e com certeza em breve saberá.
— Vá se fuder!
Jordan gargalha enquanto ando à sua frente.
CAPÍTULO DEZESSETE

Abro meus olhos preguiçosamente, me perdi no tempo e nem


notei o quanto havia dormido.
Deixo a claridade invadir minhas vistas, conseguindo
enxergar com clareza e me deparando com intensas esferas azuis.
— Finalmente acordou.
— Dormi demais? — pergunto com a voz preguiçosa.
— Tempo suficiente para acordar e se arrumar, mas primeiro
se alimente. Não comeu nada ainda.
— Tô sem fome, quero tomar um banho — digo teimosa.
Sento na cama ignorando a bandeja de comida que há ali.
— Preciso de você bem alimentada — diz em tom sério.
— Claro… — retruco feito uma criança mimada.
Pego um pedaço de bolo, levanto da cama, vou em direção
ao banheiro, mastigando o alimento.
Entro no banheiro e fecho a porta atrás de mim.
Olho meu semblante no espelho, fecho meus olhos
respirando fundo e como o último pedaço de bolo que há em minha
mão. Bato uma mão na outra tirando o farelo que restou em meus
dedos.
Abro o zíper do meu vestido, o deixando cair sobre meus pés,
como estou sem peça íntima, entro no chuveiro, ligo e deixo a água
cair sobre minhas costas.
Fecho meus olhos enquanto ensaboo meu corpo e a
sensação da água morna me faz relaxar. Massageio meu couro
cabeludo e demoro no banho rezando para que aquele homem saía
do meu quarto.
Cerca de meia hora depois desligo o chuveiro, não estou me
importando com o horário. Seco meu corpo com a toalha e pego um
dos cremes que há ali. Com o intuito de procrastinar ainda mais
dentro do banheiro passo creme em todo meu corpo com a maior
tranquilidade. Pego o secador e ligo secando meus fios úmidos,
devo ter ficado mais de uma hora no banheiro.
Quando me dá na telha saio.
Abro a porta, o encontrando parado ainda no mesmo lugar,
sentado em uma poltrona. Não havia notado, mas ele já está pronto
e usa um terno bem modelado ao seu corpo, ergo minhas vistas,
encontrando em seus lábios um cigarro.
— Dá próxima vez fume fora do meu quarto — digo franzindo
meu rosto.
— Pensei que estava acostumada com o cheiro — diz
presunçoso.
— Em meu quarto não permitia essas coisas — concluo
andando em direção ao closet, encerrando nosso assunto.
Passo a mão nos vestidos de noite e levo um susto quando
sinto suas mãos em minha cintura.
— Que susto… — digo virando meu rosto em sua direção.
Vira meu corpo de frente para o seu, abre o nó do meu
roupão e seu olhar avalia meu corpo nu.
— A partir desta noite seu quarto será o meu quarto. Não vai
mais ficar aqui — diz beliscando meu mamilo.
— E minha privacidade? — pergunto querendo fechar meu
roupão.
— Qual? Já está ganhando regalias demais, Zara. Estão
todos comentando pelos corredores, não que eu me importe.
— E quem disse que eu me importo, não entendo nada que
eles falam mesmo.
— Sobre isso, Jordan vai providenciar uma tutora para que
você aprenda o nosso idioma.
Imediatamente abro um sorriso, pois isso tomaria um pouco
do meu tempo. Quero abraçá-lo em agradecimento, mas me
contenho, este homem ainda não merece meu agradecimento.
— Obrigada. — É tudo que eu digo. — Que horas são?
— Tem meia hora para se arrumar. Por mais que eu queira
me aproveitar destas lindas curvas, temos que sair em tempo. É um
jantar com associados importantes, por isso use algo comportado —
diz e sai, assim como apareceu em silêncio some feito um fantasma.
Volto a olhar para os vestidos, pego um preto com decote em
V e percebo que cairá bem em meu corpo.
Tiro a roupa, pego uma lingerie preta, uma das peças sexys
presas na cinta liga, opto por ficar sem sutiã e usar somente um
tampão. Pego o vestido do cabide, passando por minhas pernas,
arrumo a alça de tecido em meu ombro e ergo o vestido andando
até o espelho. O decote ficou perfeito, se eu me abaixasse de forma
errada poderia pagar peitinho e era isso que eu queria, afrontar meu
querido marido.
Ele não tem orgulho em falar que eu vim de um bordel?
Faço um penteado rápido em meus fios, prendo o cabelo em
um coque frouxo no topo da cabeça, paro em frente a penteadeira,
faço uma maquiagem leve, porém realçando meus olhos azuis.
Por último escolho um colar com um pequeno pingente de
pedrinha e calço um salto preto, alto o suficiente para não fazer o
vestido arrastar no chão. Com uma última olhada no espelho, dou
um giro e vejo que o vestido está perfeitamente desenhado ao meu
corpo, parecendo ser feito especialmente para mim.
Pego uma echarpe preta, cubro meus braços nus e respiro
fundo seguindo para fora do quarto.
Neste momento me bate um frio na barriga.
Heinz pede para me comportar e aparentemente ele está
cedendo com a aula. Mesmo assim, este homem me privou de ter
uma vida e não posso deixar isso barato, por mais que o sexo com
ele seja prazeroso, não me deixarei levar por desejos carnais.
Chego na escada, passo meus dedos frios no corrimão,
desço um degrau por vez e olho para o chão com cuidado. Devido
ao barulho do salto, ouço vozes vindo na minha direção.
— Pensei que teria que ir atrás — Heinz diz bufando.
Ergo minhas vistas, olho em seus olhos, vejo sua rápida
avaliação em meu vestuário e seu semblante fecha rapidamente.
— Não tem outro vestido mais comportado?
— O que você quis dizer com isso? — pergunto me fazendo
de ingênua, mas por dentro dou uma gargalhada.
— Volte e vista outra coisa.
— Não temos tempo, Heinz.
Olho para o lado sorrindo ao ver Jordan falar e Heinz bufa
irritado.
— Vem, vamos — Heinz diz contrariado e com seu toque
quente pega minha mão.
Caminhamos em direção a porta de saída, assim que
passamos por ela o vento frio sopra em meu rosto.
— Esta noite irá dormir com a bunda dolorida e ficará uma
semana sem sentar.
Meu corpo arrepia ao ouvi-lo falar em meu ouvido feito uma
sentença.
CAPÍTULO DEZOITO

Fico em silêncio olhando as ruas escuras através da janela


do carro, ao meu lado está Heinz, mexendo em seu aparelho
celular. Dirigindo o carro deve ser um dos seus soldados, bom, é
assim que ele os chama. Jordan está sentado no banco do
passageiro e possuí um semblante sério, assim como Heinz ele
possuí uma cicatriz, mas é bem maior e ocupa toda a extensão da
sua bochecha, parece um corte feito por alguma arma branca.
Por ser noite não consigo ver nada e as ruas em boa parte
estão desertas.
Será que ninguém mora aqui?
Até que finalmente vejo ao longe luzes que pareciam ser de
um conjunto de poucas casas. O automóvel passa por ali e fico
olhando admirada as construções das casas em estilo enxaimel[1].
— Quem mora aqui? — pergunto admirada.
— Alguns soldados aposentados! — Heinz responde sem
desviar o olhar do seu aparelho.
Voltamos a pegar ruas escuras, o que me deixa cada vez
mais desanimada.
Como irei fugir deste lugar, se ninguém mora ao redor e ao
que tudo indica tem apenas vegetação?
Passamos por um enorme portão de metal, onde se vê luzes
ao chão iluminando a passagem do carro. Ao contrário do que
imaginava o lugar é admiravelmente lindo.
O carro faz uma volta no chafariz e para em frente a uma
porta. Abrem minha porta, passo uma perna de cada vez e ao
erguer minha cabeça o vejo ao meu lado.
Como este homem consegue ser tão rápido e silencioso?
Ele está com a mão estendida e a pego sentindo o calor do
seu toque, querendo me aninhar ali diante do frio que estou
sentindo. Porém me contenho e não demonstro nenhuma emoção.
Heinz não diz nada, apenas entrelaça sua mão na minha.
Caminho ao seu lado, subo quatro lances de escada, seus
passos são curtos e na entrada há duas mulheres lindas e altas
usando vestidos de gala.
— Don Zornickel — dizem e fazem uma breve reverência.
Passamos pela porta, encontrando um lindo salão de festas,
todo decorado em tons dourados com um enorme lustre ao meio do
salão.
— Este salão é de um dos meus sócios, o mais importante de
todos — Heinz sussurra em meu ouvido. — A filha dos Lehmann
está prometida em casamento ao Otto, por isso se comporte — diz
feito uma sentença, sem direcionar nenhuma outra palavra para
mim.
Por onde passamos todos cumprimentam.
Jordan está a todo momento ao lado de Heinz e recebo
diversos olhares, principalmente das mulheres que me olham de
queixo erguido, no mínimo se perguntando o que ele tinha visto em
uma mera americana.
Paramos ao lado da pilastra, sinto a mão de Heinz passar em
minhas costas e fico próxima ao seu corpo.
Um casal se aproxima de nós, uma mulher altiva, semblante
leve com um penteado em seu cabelo ruivo brilhoso, chega a dar
inveja a qualquer mulher com esta tonalidade de cor.
— Chefe. — O homem segura a mão de Heinz em um
cumprimento.
Ele é um pouco mais baixo que a mulher e um tanto
rechonchudo.
Após as apresentações ele vai logo falando em meu idioma
para a minha alegria.
— Fiquei sabendo do seu casamento com uma americana.
Seu olhar cai sobre mim, principalmente em meu decote,
fazendo Heinz apertar minhas costas.
— Foi uma cerimônia breve, tenho pressa em gerar herdeiros
— Heinz diz em um tom sério.
A mulher não tira seus olhos de Heinz e isso me deixa com
uma pulga atrás da orelha.
— Asli, o que acha de levar a senhora Zornickel para dar uma
volta enquanto Don e eu conversamos?
— Mas, pai… — diz a jovem que pensei ser a mulher e no
final é filha.
— Tenho assuntos para tratar do casamento da sua irmã com
Otto — o senhor Lehmann diz limpando sua testa com um paninho.
— Comporte-se — Heinz sussurra em meu ouvido.
Ele está me tratando com a mesma frieza de sempre desde
que saímos de casa, o que é normal. Sem ao menos se despedir sai
ao lado de Jordan e fico sozinha com raiva.
— Acredito que saiba se virar sozinha. Não vou ser babá de
nenhuma americana — diz e sai.
Ótimo, estou sozinha!
Um garçom passa oferecendo champanhe, aceito a taça
tomando tudo de uma vez só, preciso pensar rápido. Coloco a taça
em cima de uma travessa de outro garçom e caminho sozinha,
olhando tudo à minha volta.
Geralmente estes salões devem ter portas laterais, sigo
andando pelos cantos até que vejo uma porta e pelo fato de estar
entreaberta deduzo ser a porta de saída. Olho para os lados e
somente neste momento me atento aos detalhes, vejo dois pares de
olhos fixos em mim, reconhecendo ser um dos homens dele. Se eu
me atrever sair agora, seria como assinar minha sentença de morte.
Droga!
Ouço o som de piano e tiro a ideia de fugir da minha mente
por hora. Sigo as notas da canção e paro a uma distância boa do
piano ao ver um homem de costas.
Minha paixão pelo instrumento me faz se aproximar e o olhar
do homem que está tocando o piano se encontra com o meu,
abrindo um largo sorriso e dando uma piscada de olho.
— Toca? — pergunta diminuindo a velocidade a apenas
umas notas.
Faço que sim com a cabeça.
— Se quiser pode sentar aqui ao meu lado. — Bate ao lado
da sua banqueta.
— Se quiser assinar a sua sentença de morte vá em frente.
— Heinz surge atrás do homem.
Levo um susto ao vê-lo tirar uma arma da sua cintura,
colocando na cabeça do desconhecido.
— Por favor, Heinz, ele não fez nada — digo quase que
imediatamente.
— Oh, não sabia, Don... Não sabia que ela é sua mulher.
O olhar de Heinz encontra com o meu e o azul da sua íris
está gélido e sem emoção alguma. Sem que eu espere, ele dispara,
o som da sua arma é silencioso e foi certeiro fazendo o homem cair
sem espalhar sangue. Todos ao nosso lado olham surpresos e
imediatamente coloco minha mão na boca.
Não podia acreditar que ele havia feito isso.
Não pode ser, este homem é louco!
— Que isso sirva de recado ao próximo que se atrever a ficar
de gracinha com a minha mulher — diz guardando sua arma na sua
cintura.
Meus pés travam no chão, sinto sua mão passar em meu
pulso me puxando feito um cachorro.
— Heinz, ele era um soldado nosso. Não pode sair matando
um dos nossos.
Ouço Jordan declarar irritado atrás de nós.
— Que se foda! Esses soldados que controlem seus paus. Já
fiz tudo que tinha que fazer aqui, inclusive dei até um showzinho —
finaliza me fazendo tropeçar em meus passos.
Eu parecia um trapo em seus braços, todos ao redor olham e
não demonstram surpresa alguma, no mínimo deveriam conhecê-lo.
CAPÍTULO DEZENOVE

O carro estaciona em frente à residência de Heinz, não tenho


nem tempo de pensar e ele já está me puxando pelos braços.
O vento frio da noite me faz congelar e em um movimento
rápido me pega em seus braços me colocando em seus ombros.
— Droga, me coloca no chão!
— Tenho pressa — conclui enquanto soco as suas costas.
O cheiro do seu perfume invade meu nariz quando o vejo
subindo a escada. Decido parar de socar suas costas me sentindo
esgotada. Ele caminha na direção oposta ao meu quarto, entrando
em outro cômodo, todo em tom vermelho bordô.
Logo me joga na cama de bruços e o barulho da sua
respiração ecoa no quarto.
Hoje não quero sentir prazer, me recuso a sentir prazer com
este monstro.
O barulho dele abrindo seu cinto ecoa no quarto, sua mão
passa na minha bunda e ergue meu vestido.
Sinto o estalar do seu cinto em minhas nádegas depois a
queimação. Tento me esquivar, mas ele é mais rápido abaixando
seu corpo e segurando meu pescoço com força.
— Tudo isso é culpa sua, sua vadia — vocifera. — Eu pedi
para se comportar e não usar um vestido indecente — diz
descontrolado.
Tento a todo custo conter minhas lágrimas, mas elas saem.
Seu aperto em meu pescoço está forte e sinto que a qualquer
momento posso desmaiar.
Seu olhar encontra com o meu rapidamente, o suficiente para
sentir algo mudar em suas íris. Ele me solta e sai de perto de mim.
— Inferno!
Isso é o suficiente para ele sair e me deixar ali sozinha.
Deixo as lágrimas caírem dos meus olhos. Me encolho na
cama e não saio desta posição, deixando todos esses pesadelos me
dominarem.
Saudade do meu paizinho, do meu amigo.
Levo um susto quando algo toca no quarto, olho ao lado da
cama e ali tem um aparelho celular tocando. Sento na cama, olho no
visor e vejo o nome Verena. Meus dedos coçam e eu atendo.
A garota diz algo do outro lado da linha que não consigo
entender.
— Desculpa — digo em um sussurro.
— Espera, então não é mentira, meu irmão se casou com
uma americana — dispara em meu idioma.
— É… — Não sei o que dizer.
— A propósito sou Verena, aposto que nem sabe que existo,
sou a irmã mais nova do Heinz, como está com o celular dele?
— Conhece bem seu irmão — digo sorrindo para a garota
desconhecida. — Sou Zara, é um prazer, Verena. É bom conversar
com alguém.
— Imagino, esta casa é um tédio e ainda mais viver na
companhia do chato do Heinz. Ele não está judiando de você, está?
Tenho só 11 anos, mas conheço o irmão que tenho.
— Digamos que ele está mantendo a sua forma de ser —
digo não querendo me aprofundar nisso, embora minha bunda
latejasse de dor.
— Queria muito ir aí, mas Heinz está irredutível e cortou até
as minhas saídas do colégio, só porque eu fugi por uma noite — a
garota diz indignada.
— Aposto que deve ter um gênio bem forte — digo rindo,
secando meus olhos e tirando os resquícios das lágrimas que há ali.
— Sou uma Zornickel, baby, nasci para dar problema para
essa macharada de casa — a menina diz animada.
Entramos em um assunto descontraído, esquecendo quando
foi a última vez que ri. Estou tão distraída em meio a conversa que
nem noto quando a porta abre.
Heinz me olha interrogativo, vê seu celular em meu ouvido e
vem imediatamente em minha direção tirando o aparelho do meu
ouvido. Olha no visor, vê o nome da irmã e seu semblante mudando
para alívio.
Coloca o aparelho em seu ouvido falando em alemão com a
irmã e não entendo nada. Sua voz é mais calma dessa vez.
Levanto da cama, caminho em direção a janela, vejo
pequenos flocos de neve caindo do lado de fora e o rio aos fundos
da casa continua ruidoso.
Fecho meus olhos ao sentir sua mão em minha cintura.
— Deveria te punir, é assim que agimos com as mulheres
que não obedecem no nosso clã, mas quando se trata de você não
consigo e eu travo. Ver o seu semblante de dor, pela primeira vez,
me fez ver algo além de mim — Heinz conclui em um sussurro.
Não digo nada, ele me chamou de vadia e me recuso a pedir
desculpas por minhas roupas.
— Não voltarei a encostar um dedo em você sem o seu
consentimento — concluiu saindo de perto de mim. — Mas terá um
porém, dormirá neste quarto a partir de hoje. Suas coisas estarão no
meu closet amanhã.
Viro meu corpo o observando acender um cigarro.
— Então não fume esta coisa aqui dentro.
Olha para o cigarro em seguida para mim, apaga a cinza com
os seus dedos e fico olhando admirada por ele não fazer nenhuma
careta de dor.
— Não vai ficar bravo por eu ter falado com sua irmã? —
pergunto erguendo uma sobrancelha.
— Sei o quanto Verena pode ser persuasiva.
— Por que ela não estuda aqui? — pergunto, com a
quantidade de dinheiro que eles têm poderiam pagar os melhores
professores para ela.
— Longa história — diz abrindo os botões do seu colete.
— Gosto de longas histórias — tento falar para aproveitar que
ele está sendo solícito às minhas perguntas.
Heinz está de cabeça baixa, ergue os olhos o suficiente para
me olhar por cima, respira fundo, continua a abrir seus botões e fala:
— Quando Verena nasceu, eu tinha 26 anos, já tinha
assumido a In Ergänzung e meu pai estava começando com seus
problemas de saúde. Minha mãe engravidou por um descuido deles
e a médica falou desde o começo que as chances dela não resistir
ao parto eram grandes. Fizeram de tudo para ela tirar o filho, mas
ela pôs na sua cabeça que essa era a sua chance de ter o seu tão
sonhado terceiro filho. Amélie nunca superou o filho que havia sido
sequestrado. Minha mãe mostrava ser uma mulher forte, mas a dor
da perda do seu segundo filho, aquele que tiraram dos seus braços,
era maior. Hoje olhando Klaus vejo o quanto ele é parecido com ela
e tenta ver o lado bom em tudo. — Abre o último botão da sua
camisa, jogando em um dos cantos.
Analiso sua arma em sua cintura e ele a tira colocando em
cima de uma mesa.
— Verena nasceu e minha mãe faleceu, foi o fim do meu pai.
Daí que ele definhou de vez. Olhava para ela e não conseguia sentir
nada, por mais que ela seja minha irmã. Hoje em dia reconheço que
ela é minha propriedade e cuido dela, como a mim mesmo, mas não
consigo tê-la aqui perto. É um demônio meu que não consegui
superar. Verena nem sonha com isso, prefiro que ela continue
pensando que o irmão é um monstro e que a quer manter longe.
— Só consigo ver o quanto quer ser um monstro, mas no
fundo sei que há algo bom dentro de você — digo sem pensar.
Ele abre um dos seus sorrisos malignos, caminha em minha
direção com seu peito nu até parar bem próximo a mim.
— Não queira ver algo bom dentro de mim, Zara, pois não há.
Vai se decepcionar com o que descobrir.
— Por que faz isso com você mesmo? — pergunto peitando
suas perguntas.
— Este sou eu, não tem nada para querer ser mudado, sou
treinado para isso, tiro vidas igual você troca de roupas, para mim
isso é natural. Sabe quantos anos eu tinha quando matei o primeiro
homem? — pergunta bem próximo ao meu pescoço.
— Quantos? — pergunto embora não quisesse saber a
resposta.
— Doze, e foram dois homens em uma levada só — diz com
naturalidade.
— Está querendo me assustar — digo dando um passo para
trás querendo olhar em seus olhos.
— Estou conseguindo? — Morde sua cicatriz.
— Não tenho medo de você! Acabou de dizer que não
consegue fazer nada contra mim. Ou não honra com sua palavra?
— Não deveria confiar na palavra de um mafioso, Zara.
CAPÍTULO VINTE

Saio do banheiro enrolada em um roupão, vejo em cima da


cama um pijama e o quarto está silencioso.
Heinz não se encontra em lugar algum.
Tiro o roupão, visto a camisola e em seguida a calcinha. O
quarto está quentinho, Heinz deve ter mexido no aquecedor e
preciso aprender a mexer neste treco.
Arrumo as cobertas, deitando embaixo e sinto o seu cheiro no
travesseiro, dando uma longa fungada.
Será possível estar começando a sentir algo por este
monstro?
Não, isso está fora de cogitação!
Apago a luz do quarto, ficando na penumbra da noite que
entra pelas persianas.
Heinz estava prestes a dormir comigo, quando recebeu uma
ligação e teve que sair para resolver em seu escritório.
Fico inquieta, viro de um lado para o outro e meu corpo está
agitado com imagens daquele homem levando um tiro em sua
cabeça tanto que perco a noção da hora.
Ouço a porta do quarto abrir e finjo estar dormindo. A porta
do banheiro abre, em seguida o barulho do chuveiro, estranho já
que ele havia tomado banho antes de sair do quarto.
Não demora muito, escuto a porta abrir novamente.
— Finge muito mal — sussurra ao lado da cama.
Abro o olho pela metade, o vejo apenas de cueca em pé,
deixa seu celular ao lado da cama, puxa a coberta e deita.
— O que faz acordada?
— Estou sem sono!
— Posso te deixar cansada se quiser.
Seus olhos azuis param muito próximo aos meus.
— Não preciso deste tipo de cansaço — digo virando meu
corpo para a parede.
Sei que se ficasse olhando em seus olhos seria capaz de
acabar cedendo.
Heinz não se dá por vencido, logo aperta minha cintura e traz
meu corpo para junto do seu. Sua mão vai descendo por minha
barriga, indo direto ao meu ponto.
— Heinz, você disse… — digo em um sussurro.
— Shi, deixa eu tentar arrumar a merda que fiz…
Seus dedos logo chegam as minhas dobras e suspiro fundo
ao sentir seu toque quente e habilidoso. Encosto minha cabeça em
seu peito, rebolando ao seu toque.
— Você é gostosa, Zara, e o melhor disso tudo que é minha.
— Seus lábios seguem deixando beijos em meu pescoço, me
fazendo arrepiar a cada toque seu.
Seu pênis duro feito rocha pressiona minha bunda. Em meio
ao êxtase do momento, agindo à mercê do prazer, viro meu corpo
montando em cima dele.
Heinz abre um dos seus sorrisos safados que vou logo
devorando. Nossas bocas se juntam em um beijo quente e luxuoso.
Nossas línguas se entrelaçando a todo momento e sua mão passa
pelo tecido da camisola tirando pela minha cabeça.
Sento ereta em cima do seu membro, fazendo movimentos
de vai e vem em cima do seu pênis. Sua mão aperta meus mamilos,
me fazendo ficar louca de prazer.
Abaixo sua cueca o suficiente para seu membro saltar para
fora, sem que eu espere, Heinz puxa a alça da minha calcinha,
rasgando outra peça. Sem pensar vou logo espalmando seu peito,
alisando sua tatuagem em seu peito. Esfrego minha buceta em seu
pênis, fazendo com que ele entre em meu ponto.
Sua mão espalma minha bunda, nossos olhos grudados um
ao outro e cavalgo em seu membro, rebolando até onde consigo.
— Sua bunda ainda dói? — pergunta me puxando com uma
das suas mãos pelo meu pescoço.
— Está um pouco dolorida — digo em um sussurro.
— Desculpa… — diz me fazendo abrir a boca diversas vezes.
— Não sei o que há em você que me faz querer ser melhor…
Não digo nada e apenas o beijo.
Nossas bocas se entrelaçam perfeitamente uma na outra.
Com uma mão em meu pescoço ele vira meu corpo, ficando
por cima de mim, voltando a me penetrar desta vez mais forte, me
fazendo gemer de prazer.
Nossos corpos estão suados, passo a mão em seu pescoço,
indo em direção aos seus lábios, passando meu dedo por sua
cicatriz, aquela que ele sempre vive mordendo. Heinz fecha seus
olhos dando uma gemida forte ao me ver inserir meu dedo em sua
boca que ele chupa passando sua língua e me fazendo rebolar
embaixo do seu corpo.
Neste momento acabo não aguentando e começo a sentir
espasmos por meu corpo, gemendo alto e me liberando em um
orgasmo libertador.
Não demora muito, ele se libera dentro de mim, cai sobre
meu corpo com nossas respirações pesadas. Seu corpo pesado
sobre o meu me faz ficar brevemente sem ar, ele percebe e sorrindo
sai de cima de mim depois me puxa para seus braços, ficando de
frente para mim.
— Por que não pode ser sempre assim? — pergunto
pensativa.
— Porque este é meu mundo, posso ser este homem apenas
com você, diante dos meus homens tenho que ser forte o suficiente
para eles não verem a minha fraqueza — concluiu alisando o meu
rosto.
— Qual é a sua fraqueza? — pergunto aproveitando o
momento.
— Você é minha fraqueza, por isso queria ser rude com você
e não permitir que sentimentos fossem envolvidos. Se meus
inimigos descobrirem que você é a minha fraqueza tentarão te tirar
de mim. — Seus olhos transmitem o quanto ele está transtornado
consigo mesmo e seus lábios vem de encontro ao meu,
mordiscando de leve.
— Não consigo vê-la sofrer, quero o seu melhor, mas não
peça para ficar longe de mim, isso eu não farei.
Me entrego ao beijo com nossos lábios se tocando
suavemente.
— Quero falar com meu pai. Prometo não fazer nada que não
queira, mas me deixa falar com ele — peço em uma súplica.
— Por que se importa tanto com ele?
— É a minha única família.
— Eu sou a sua família agora — diz quase que
imediatamente.
— Por favor, Heinz.
Revira os olhos em desgosto.
— Tudo bem, venceu, amanhã darei um celular para ligar
para ele. Mas esta será a única exceção, certo?
— Por hora, sim — respondo dando um largo sorriso. —
Obrigada, Heinz!
— Zara, você será a minha perdição.
Não digo nada apenas selo com um beijo.
— Agora vamos dormir que está tarde — digo me aninhando
em seus braços fortes, sentindo algo que pensei nunca sentir por
este homem.
No fim não tive escolha e acabei cedendo quanto a dormir
com ele.
CAPÍTULO VINTE E UM

Depois de receber péssimas notícias e terem trazido quase


dois corpos sem vida para o esconderijo em uma tarefa sem
sucesso, não consegui extrair nenhuma notícia dos dois
imprestáveis que estavam rodeando meu espaço.
Vou descobrir quem está por trás disso e matarei um por um.
Confesso que não esperava essa reação de Zara, em certo
momento a vi abaixar suas barreiras, mas meu receio é que ela
esteja fazendo isso apenas para conseguir o que quer.
Minha confiança é algo que vai adquirindo aos poucos, mas
ver a expressão de dor em seus olhos me desmoronou e me
obriguei a sair de perto dela. Não consegui bater nela, sou uma
humilhação, porém ninguém precisa saber disso.
Ninguém precisa saber que Zara é a minha franqueza.
Em qual momento permiti que isso acontecesse?
Aqui estou eu com o meu corpo suado e sua linda bundinha
encostando nele. Cheiro seu farto cabelo castanho e percebo sua
respiração leve, constatando que ela havia dormido.
Será possível estar me apaixonando por ela?
O que esta mulher tem demais?
E é aí que está a resposta, toda vez que ela me enfrenta me
faz a querer mais. A cada não dela eu a desejo mais, fazendo o jogo
se tornar emocionante.
Passo meu nariz em seu cabelo, aperto minha mão em sua
barriga e a trago para mais perto de mim.
Posso estar louco, mas sou um louco consciente.
Não me arrependo de ter tirado a vida daquele soldado, isso
serviu de lição a todos que se atreverem a mexer com a minha
mulher.
Em meio aos meus pensamentos acabo adormecendo.

Acordo ao nascer do dia, não costumo dormir muito, visto


meu terno habitual e fico um tempo observando a linda morena
dormir em meus lençóis. Queria fodê-la logo pela manhã, mas tenho
assuntos para resolver em meu escritório.
Zara dorme feito um lindo anjo, suas feições são suaves e
respiração lenta. Com muito custo saio do meu quarto e caminho
pelos corredores chegando ao meu escritório.
Sento em minha cadeira, conto até três e vejo Jordan passar
pela porta.
— Pontual como sempre — digo pegando um charuto em
minha gaveta.
— Vejo que a noite foi boa afinal — Jordan diz sentando em
um dos sofás pretos.
— Melhor impossível — digo lembrando da minha pequena
ninfeta cavalgando em cima de mim.
— Pelo seu semblante vejo que realmente foi — Jordan diz
em deboche.
— Zara tem me surpreendido.
— Meu medo é que ela possa ser impulsiva, sabemos o
quanto ela deseja ir embora daqui.
— Isso nunca permitirei — digo sem pensar.
— Heinz, está ficando muito apegado a esta mulher, isso não
é um bom sinal, pode ficar desestabilizado, sabemos o quanto seus
inimigos te atacam partindo dela — Jordan diz preocupado.
— Nunca permitirei que descubram que ela é minha
fraqueza.
— Não quando está escrito na sua testa.
Jordan é meu segundo braço, meu consiglieri, quando
assumi como Don, o trouxe comigo. Antigamente ele era apenas um
soldado, que sempre esteve ao meu lado, nos piores e melhores
momentos. Com seus 47 anos é um dos solteiros mais cobiçados e
incapaz de arrumar uma esposa, ele afirma que não tem tempo para
lidar com esposa, por isso prefere ficar sozinho. Tanto que se
autointitula alma solitária.
— Por falar nisso, me arrume um celular com número.
— Por quê? — meu amigo logo pergunta.
— Sempre tem que ter um porque, né?
— Lógico que sim, você nunca faz ponto sem nó.
— Zara vai ligar para o pai dela — digo como quem não quer
nada preparando o meu charuto.
— Sério, Heinz? Já está fazendo todas as vontades dela?
Isso tá pior do que eu pensava. — Levanta andando de um lado
para o outro. — Isto é perigoso demais, Don, pare de pensar apenas
com a emoção.
Não dou atenção as suas lamúrias, continuo preparando meu
charuto e quando está pronto dou uma longa tragada.
Quando ele vê que não irei falar nada sai do escritório.
Coloco minhas pernas em cima da mesa, apenas degustando
a erva do charuto.
Não demora muito Jordan volta com o aparelho, jogando em
cima da mesa.
— Espero que esteja fazendo a coisa certa.
— É apenas uma ligação, Jordan, relaxa — digo sentando
ereto na cadeira.
Ficamos conversando por algumas horas a respeito das
suspeitas, analisando alguns contratos de uns sócios que não estão
em dia com o clã, até que o café é servido. Resolvo voltar ao meu
quarto e ver se Zara já havia acordado.
Entro em meu cômodo e a vejo dormir tranquilamente, admiro
como ela dorme bastante, quisera eu conseguir a proeza de ter o
sono pesado.
Caminho até a cama, passo a ponta dos meus dedos em
suas bochechas, em seguida em seu lábio carnudo, tão logo ela
abre os olhos feito uma gata manhosa se espreguiçando.
— Bom dia, Bela Adormecida.
— Nossa, você cai da cama, só pode! — diz virando de lado
querendo dormir novamente.
Sorrio diante da sua recusa, quase ninguém me faz sorrir e
esta mulher consegue isso.
— O café está servido, a quero comendo comigo, e além do
mais pensei que queria ligar para o seu pai.
Neste momento ela senta de imediato, me olha e abre um
lindo sorriso mostrando seus dentes brancos.
— Aqui está. — Estendo a ela o celular. — O aparelho é
grampeado, tenho acesso a tudo que seu pai falar, por isso nada de
gracinhas.
Ela apenas assente pegando o celular e discando o número.
Não demora muito, ela começa a falar e seu sorriso dá lugar
a lágrimas. Ela chora ao falar com seu pai. Não sei que sentimento
é este, não sei nem porque ela se importa com o verme do pai.
A deixo sozinha indo até a janela e olhando o tempo nublado.
Não sou um homem que chora, depois do atentado que tive nunca
mais ousei deixar uma lágrima cair, nem ao menos no velório da
minha mãe isso aconteceu.
Após um tempo olho para o lado, vejo que ela encerra a
ligação e limpa suas lágrimas.
— Muito obrigada, Heinz, estava muito preocupada com meu
pai.
— Tudo bem, suas aulas iniciam hoje. Jordan achou uma
tutora que virá todas as tardes dar aula a você. Lembrando que ela
é esposa de um dos meus capos, por isso não ouse fazer nenhuma
gracinha.
Zara assente com a cabeça sorrindo feito uma criança
quando ganha doce.
— Agora vamos tomar café que você precisa se alimentar!
— Sim, chefe! — diz em deboche levantando.
Não sei por que estou começando a gostar desta convivência
ao lado dela.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Poder falar com meu pai fez algo dentro de mim aquecer,
embora eu tenha o achado meio abatido. Queria muito ele ali
comigo, perguntar do meu amigo, mas fiquei com medo temendo
pela vida dele, por isso preferi não arriscar.
Entro no banheiro trocando de roupa rapidamente, uso uma
calça de linho com um casaquinho xadrez e amarro meu cabelo em
um coque.
Ao sair do banheiro vejo Heinz sentado na poltrona e por seu
semblante é nítido que está perdido em pensamentos.
Analiso suas feições, seu cabelo penteado para o lado e sua
tonalidade é um pouco diversificada, no claro se vê um dourado e
no escuro um castanho-escuro.
Caminho em sua direção, não queria estar me apegando
tanto a ele, mas sinto que é quase inevitável.
Paro na sua frente, atraindo a sua atenção para mim.
— Pronta?
Faço que sim, ele fica em pé na minha frente, dá beijo em
minha testa e pega em minha mão andando em direção a porta do
quarto.
Heinz é um homem alto, e eu, no entanto, sou baixa.
— Já parou para pensar que você tem idade para ser meu
pai? — pergunto descontraída enquanto caminhamos no corredor.
— Besteira.
— Claro, quando eu ainda estava nas fraldas, você estava
fazendo o que mesmo?
— Com 19 anos estava assumindo a In Ergänzung, traçando
umas bucetinhas, essa foi a época que mais tive apetite sexual e me
divertia tirando vidas.
— Claro, não era de se esperar outra resposta sua, não sei
por que ainda me surpreendo — digo sendo irônica.
— Quem mandou perguntar. — Seu tom de voz é natural,
como se fosse uma conversa qualquer.
— Você é estranho.
— Eu estranho? Você que é certinha demais, 19 anos,
cursando o que, literatura? Quer ver romance em tudo, essas
baboseiras de mulheres que veem o lado bom em tudo.
O que ele falou não deixava de estar errado.
— Acreditava em tudo isso até acabarem com a minha
liberdade.
Heinz dá de ombros, não se importando com o que eu havia
dito.
— É inacreditável! — digo puxando a minha mão da sua e
andando de braços cruzados.
— O que foi agora? — questiona erguendo uma sobrancelha.
— Não importa nenhum pouco a minha opinião?
— Não… — Volta a dar de ombros.
Caminho a sua frente, chegando primeiro na cozinha, vejo
Klaus sentado sozinho preparando sua xícara de café.
— Oh, meu Deus, o que é isso no seu rosto, Klaus? — Ando
em sua direção rapidamente.
— Pergunte ao seu marido — diz olhando desafiador para
Heinz.
Aproximo meu rosto do seu olhando o curativo em sua
bochecha, pelo tamanho é nítido que é algo sério.
Quando isso tinha acontecido?
— Doí? — pergunto encostando a ponta dos dedos.
Heinz solta uma gargalhada atrás de nós.
— Obrigado pela preocupação, Zara, logo vai estar melhor.
— Vamos, Zara, sente-se e coma — Heinz diz irritado.
Olho em seus olhos, não estava acreditando que tinha batido
no próprio irmão.
— Não sei por que ainda me surpreendo com você. Bateu no
seu próprio irmão? — digo cada palavra em tom de repreensão.
— Isso é para ele aprender a não me desafiar. Quando dou
uma ordem é para ser seguida de acordo com o que eu quero —
Heinz diz preparando uma xícara de café, desviando seu olhar do
meu.
— Quer dizer que se eu te desafiar fará o mesmo comigo? —
pergunto o vendo respirar fundo.
Heinz ignora minha pergunta, fingindo que nada havia sido
dito.
— Não me ignore, Heinz — friso.
Não sabia o que estava acontecendo comigo, um ódio tão
grande se apossou de mim por ver o que ele havia feito ao irmão.
— Zara…
Ouço a voz de Klaus atrás de mim.
Heinz ergue sua vista para mim e não tenho medo tanto que
dou um passo em sua direção, parando na sua frente.
Jordan entra na cozinha neste momento.
— Se não sentar agora não respondo por mim — diz em um
sussurro irritado.
— O que fará comigo, hein? — pergunto sabendo que estava
indo longe demais, o desafiando na frente dos seus homens.
Sem que eu espere em um movimento rápido, Heinz levanta
da sua cadeira grudando suas mãos em meu pescoço e me
empurra para a parede. Seus olhos me encaram com um azul gélido
movido pela sua raiva.
— É só isso que sabe fazer, sabia que nada do que falou era
verdade — digo cuspindo cada palavra.
Seu dedão pega em um ponto do meu pescoço que começo
a ficar sem ar.
— Ninguém, exatamente ninguém me desafia — diz
descontrolado.
É nítido que está fora de si, eu tinha ido longe demais.
— Entendeu? ENTENDEU? — berra batendo com a minha
cabeça na parede.
Neste momento começo a ver tudo turvo na minha frente.
— Heinz, cara, vai matá-la se não a soltar agora.
Ouço uma voz ao fundo.
Quando meu corpo cai no chão, me encolho ali e me sinto
impotente.
Como ele havia feito isso?
Heinz poderia ter me matado.
Passo a mão em meu pescoço sentindo a dor, lágrimas caem
dos meus olhos e fecho minhas pálpebras com força. A raiva está
me definindo neste momento.
— Zara, garota, você foi longe demais, nem eu me atrevo a
fazer isso.
Ouço a voz de Klaus ao meu lado.
— Vou levá-la ao seu quarto.
Passo a mão em seu ombro e abro meus olhos não vendo
mais ninguém ali.
Heinz havia saído do cômodo.
— Me leve a qualquer quarto, menos no dele.
— Admiro sua coragem, tem certeza?
Faço que sim e Klaus me leva ao meu antigo quarto.
Alguns homens da casa nos olham, dando um olhar de
advertência para mim. Não me importo, afinal não tenho nada a
perder.
— Klaus, aquele nosso plano ainda está de pé? — pergunto
assim que entramos no quarto.
— Sim, mas aqui não é o momento ainda, estou pensando
em algo. — Olha em volta. — Este quarto tem câmeras, não
podemos dar muita brecha aqui dentro.
— Como? — pergunto admirada.
— Não sabia, não é mesmo?
Faço que não, olho em volta e não avistamos nada.
— Heinz é esperto, colocou em algum lugar escondido.
Sento na cama coçando minha testa.
— Vou procurar e tirar tudo. O mais triste nisso tudo é que
minha aula deve ter ido para os ares — finalizo desanimada.
— Bem, provavelmente, garota, você foi longe demais, nunca
o vi tão transtornado daquela forma.
— Não quero vê-lo na minha frente. Não me conformo com o
que ele fez com você, Klaus.
— Não tome minhas dores, Zara, minha situação com Heinz
está sendo construída, ganhei esse soco na minha cara porque não
fiz o que ele queria. — Faz uma pausa. — Preciso ir, promete se
controlar? Não quero receber a notícia que foi morta.
Sorrio diante do que ele diz.
— Prometo. — Cruzo meus dedos.
Klaus dá uma piscada me deixando sozinha.
Volto a olhar em volta, agora seria a minha caça às câmeras.
Se Heinz pensa que serei submissa a ele está muito
enganado!
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Depois de revirar o quarto inteiro achei três malditas câmeras


e fico me perguntando se no closet e no banheiro tem também.
Entro no banheiro olhando tudo em volta e não localizo nada, em
seguida parto em direção ao closet e tiro muitas roupas do lugar, me
sentindo uma verdadeira louca.
Encontro uma câmera localizada no canto de uma gaveta.
Como não tinha visto antes?
Pego a câmera na mão, mostro o dedo do meio para o
objeto, jogo no chão e piso em cima.
Diante da adrenalina, começo a me sentir melhor.
Volto ao quarto e sento na cama respirando com dificuldade,
estou com fome tanto que minha barriga começa a dar pequenos
sinais de fome.
Há alguma chance de sair daqui sem ser vista?
Bem provavelmente não!
Mesmo assim tentarei.
Saio do quarto me sentindo vitoriosa. Sigo pelo corredor e
passo na mesa de café onde não há mais nada de comida. Vejo
outra porta, passo por ela e encontro a cozinha onde três mulheres
trabalham, ao me ver elas arregalam os olhos.
— Estou com fome — digo sorrindo de lado.
As três não entendem nada, é óbvio que ninguém entende o
que falo aqui.
— Ela tem fome, mamãe! — uma garota diz passando por
mim usando roupa de serviço.
— Obrigada — agradeço.
— Não há de que.
— Posso preparar meu café, é só me falar onde estão as
coisas — digo não querendo incomodá-las.
— Não incomoda, quer que arrumemos a mesa para você?
— a menina pergunta.
— Não, posso comer aqui no balcão mesmo e olhá-las
trabalhar.
A menina conversa com as mulheres e elas concordam, não
sem antes me olharem com medo.
Sento em uma banqueta, uma senhora serve café com bolo e
algumas torradas.
— Qual seu nome? — pergunto para a menina.
— Angelina, comecei a trabalhar aqui há um mês. O salário
dos Zornickel é um dos melhores e preciso ajudar em casa, agora
que meu pai não está mais conseguindo exercer os seus serviços
para a In Ergänzung.
Angelina aparenta ter a minha idade, porém é mais alta, seu
cabelo loiro e a pele é clara feito giz.
— É bom saber que alguém fala meu idioma aqui…
Angelina começa ajudar na cozinha e aproveito o momento
para aprender algumas palavras com elas.
Passo boa parte da minha manhã com elas, não tive minha
aula de idioma, mas pelo menos aprendi algo com as senhoras da
cozinha e com a ajuda da Angelina.
Aproveito e almoço com Angelina, logo subo para o meu
quarto, assim não precisarei almoçar com Heinz.
Chego aos meus aposentos, deito na minha cama e acabo
me perdendo em pensamentos.
Não sei qual será o próximo passo de Heinz, porém não faço
questão de obedecer.
Algumas horas passam quando ouço alguém bater em minha
porta. Levanto da cama e vou abrir.
— Heinz a aguarda em seu escritório — Jordan diz sério.
— Pois fale ao seu Don que não vou.
Sem que eu espere ele me puxa pelo braço.
— Você quem pediu.
Vejo que outra vez não tenho escolha.
— Tá tudo bem, me larga, sei andar sozinha. — Me debato
fazendo com que ele solte minha mão.
Jordan me solta e eu ando atrás dele. Paramos em frente a
porta do escritório e ele me empurra para dentro.
Entro feito um saco de batatas, a porta é fechada atrás de
mim, olho em volta observando como o ambiente é sombrio até meu
olhar encontrar Heinz com um charuto em sua boca.
— O que quer comigo? — vou logo perguntando.
— Sente-se — diz com calma.
— Não quero.
— Sente-se na porra da cadeira — desta vez diz de forma
mais grossa.
Contra a minha vontade sento.
— Tenho algo para dizer a você. — Desvia seu olhar de mim,
folheando algumas folhas.
Pensei que ele iria falar sobre o ocorrido de hoje.
Estende uma folha para mim e a pego imediatamente.
Em negrito está escrito, "PRONTUÁRIO DE ÓBITO, PETER
DIXON".
Automaticamente as lágrimas começam a cair pelo meu
rosto.
Não pode ser, falei com ele hoje de manhã!
Sem ler o resto da folha, olho em direção ao Heinz.
— Foi você, não é mesmo? Quis me punir — digo cuspindo
cada palavra.
— Por mais que eu queria aquele verme morto, desta vez
não tive o prazer de fazer isso. Olha o motivo da morte.
Meu olhar varre a folha e lá está, "Causa da morte:
envenenado por excesso de remédios."
Não pode ser é muita coincidência, bem no mesmo dia da
minha briga com Heinz.
— O obrigou a tomar esses remédios.
Heinz gargalha ecoando no escritório, sem se importar com a
dor que estou sentindo neste momento.
— Não mato ninguém desta forma.
— Preciso ir à Manhattan — digo sem pensar.
— Vá para o seu quarto, chora o luto do seu pai, mas a noite
irei te comer com força. A partir de hoje será tudo da forma que tem
que ser.
— Não fará isso! — digo em recusa.
— Te dei a oportunidade de ter o melhor de mim e
desperdiçou me desafiando na frente dos meus homens.
— Bateu no seu irmão… — digo descontrolada.
— Não se envolva em meus assuntos, por isso que a máfia
não é para mulheres.
— Machista prepotente!
Heinz me ignora como sempre faz.
— Não sei como pude acreditar que dentro de você tinha algo
bom.
— Parece que nem tudo são flores, não é mesmo? — diz e
dá uma tragada em seu charuto, voltando a olhar suas folhas.
— O que vão fazer com o corpo do meu pai?
— Não sei, talvez jogar em algum rio, ou deixar para os
cachorros comer, ou melhor, os urubus… — Dá de ombros como se
fosse um assunto qualquer.
— Não, por favor…
Seu olhar ergue das folhas.
— Não merece, Zara. Mas para a sua sorte mandei preparar
um enterro para ele, aquelas putas vão velar seu corpo e será
levado a um cemitério.
— Obrigada — digo em agradecimento, limpando as
lágrimas. — É só?
— Sim, se não estiver no nosso quarto às 20 horas, a
buscarei com chibatadas em sua bunda.
Engulo em seco sem falar nada, estou sem forças para falar
algo e me levanto da cadeira.
— A propósito, seu curso foi cancelado, até pensei em deixar,
mas diante do dedo do meio mostrado na câmera foi o ponto final
para o cancelamento.
Não digo nada ao observar seu sorriso sarcástico.
Como pude pensar sentir algo por este monstro?
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

— Fala, irmão — digo ouvindo Otto suspirar do outro lado da


linha.
— Estamos tendo problemas com aquele garoto novamente,
dessa vez a polícia chegou a visitar nosso cassino — Otto diz com
desgosto.
— Será que terei que dar um fim no imbecil?
— Acredito que para calar a boca dele somente apagando
esse merda. Coisa que eu já teria feito há muito tempo. O que está
acontecendo com você, hein?
Respiro fundo passando a mão em minha cabeça.
— Estava poupando a vida dele por ser amigo da Zara.
Trevor Smith vem nos dando uma dor de cabeça do caralho,
Otto mandou um dos seus capos dar um susto no imbecil, porém ele
vem insistindo no assunto e a todo custo quer saber o que
aconteceu com Zara.
— Agora abra o seu e-mail e veja as fotos que nosso hacker
encontrou no notebook dele — meu irmão diz e eu vou logo abrindo
meu notebook.
Acesso meu e-mail e lá está a mensagem de Otto, que logo
abro e há muitas imagens de Zara, a minha Zara. Deitada dormindo
em posição desconfortável, é nítido que as imagens foram tiradas
quando ela não via. Tinha uma dela usando um pijama de bolinhas
dormindo de bruços e não aparecia nenhuma parte nua do seu
corpo em nenhuma foto. Rolei diversas fotos e em todas Zara se
encontra distraída, na faculdade, em uma cafeteria, sorrindo,
pensativa, séria, de todas as formas possíveis.
— Inferno, o que o desgraçado faz com tantas fotos da minha
esposa? — pergunto irritado.
— Ao que tudo parece ele é um desses doidos perseguidores
que se fazem de amiguinhos — meu irmão diz tranquilamente do
outro lado da linha.
— Mande-o para a Suíça, traga-o amordaçado e vendado, eu
mesmo acabarei com a raça dele.
— Seu pedido é uma ordem, agora vou ver como meu novo
projeto da casa noturna anda — Otto finaliza animado.
— Maldito dia que concordei com isso!
— Estou ampliando nossos negócios, irmãozinho. — Dá uma
gargalhada e desligo sem me despedir.
Pego o resto do meu whisky, bebendo tudo em um gole só
enquanto fico admirando aquelas imagens. Um ódio me consome ao
saber que elas estavam nas mãos de outro homem.
Levanto da cadeira olhando o horário em meu relógio de
pulso e coço meus olhos indo em direção a porta do escritório. Não
encontro ninguém em meu caminho, sigo em direção ao meu quarto
assim que chego passo a mão na maçaneta abrindo a porta do
cômodo.
Quando entro não me surpreendo ao ver que Zara não está
ali. Seria muito bom se ela aceitasse um dos meus pedidos.
Tiro meu paletó jogando em um dos cantos depois tiro a arma
da minha cintura, tenho um certo costume em não ficar sem ela, e
deixo sobre o móvel.
Volto a andar pelo corredor indo em direção ao quarto que
Zara deve estar. Confesso que me diverti um pouco quando a vi
procurando as câmeras e ela foi bem afrontosa quando mostrou
aquele dedo. Não me importei com aquele gesto, mas decidi a punir
para assim aprender.
Chego em seu quarto, observo a porta entreaberta, entro e
não a encontro em lugar algum. Jogo as cobertas no chão e é nítido
que ela não está em lugar algum deste quarto.
“Zara Zornickel, onde você se meteu!”
Caminho em direção ao meu antigo quarto, encontro tudo na
penumbra e constato que ela não está aqui.
“Onde essa mulher se meteu?”
Um frio passa em minha espinha, pensando na hipótese que
ela poderia ter fugido, afinal já é tarde da noite e as rondas na casa
diminuem.
Decido ir à biblioteca. Desço os lances de escada correndo,
minha respiração está ofegante, passo pela sala de estar, chego nas
portas duplas, abro e a vejo fechar atrás de mim.
O lugar está em uma penumbra e o silêncio absoluto reina.
Passo pelos corredores não a encontrando ali, é quando minhas
vistas alcançam os sofás eu a vejo encolhida com livros ao seu
redor.
Com passos silenciosos chego perto dela, vejo diversos livros
sobre nosso idioma ao seu redor e um fato é certo: Zara é bem
determinada quando quer algo.
Me agacho, passo a mão em seus fios sedosos, os
colocando para o lado e seu rosto sereno demonstra que ela está
em um sono profundo.
— Pai? — sussurra em meio ao devaneio do seu sonho. —
Não me deixe, vou voltar para o senhor.
Suas palavras me cortam o coração. Zara sente falta do seu
pai, e eu sou egoísta o suficiente para a querer somente para mim.
Noto suas pálpebras se apertarem e aos poucos elas vão
abrindo. Seus olhos encontram os meus e ela não demonstra
nenhum sinal de resistência, fica apenas me observando.
— Vai me punir agora? — pergunta sussurrando.
É o certo a se fazer, Zara me desafiou, nem meus piores
inimigos fizeram isso. Perdi meu controle quando agi daquela forma
e poderia estar preparando o velório dela agora devido um ato
impensado meu.
— Acho que já teve surpresas demais para um dia. —
Levanto abaixando meus braços e a trazendo para o meu colo. —
Venha minha pequena ninfeta atrevida.
Zara me olha com os olhos arregalados, ela esperava uma
reação diferente minha e eu não a julgo, esperava o mesmo de mim.
Porém quando se trata de Zara, tudo dentro de mim muda, é como
não esperar nada de mim, e sim as atitudes mais inesperadas e
muitas vezes imprudentes.
A pequena mulher se aninha em meus braços e seu cheiro
adocicado invade meu olfato.
— Eu o odeio, Heinz, poderoso chefinho de porra nenhuma
— diz contra meu colete. — Não sei porque estou em seu colo, você
fede a cigarro!
Sorrio ao ouvi-la falar e subo a escada em direção ao meu
quarto.
Chego no cômodo, fechando a porta atrás de mim, ando em
direção da cama a deitando sobre o colchão.
— Apenas fala isso porque quer negar algo que está
crescendo dentro de você, assim como estou fazendo o mesmo —
digo bem próximo ao seu rosto.
— Se está falando de amor, saiba que nunca irei te amar.
Suas palavras me atingem em cheio.
— Não se cansa de sempre ficar na defensiva?
— Quando cogitei mudar com você quase me matou.
Sei que ela não irá abaixar a guarda tão facilmente.
— Porque me desafiou. Não quero falar sobre isso, é nítido
que temos opiniões controversas.
— Para você só é eficaz aquilo que o agrada, quando se trata
de algo que não agrada já parte para agressão.
— Bem-vinda ao meu mundo, nunca mandei esperar o
melhor de mim, quando cogitei lhe dar algo preferiu ficar contra mim.
Quis tentar e não soube apreciar — digo endireitando meu corpo,
ficando de pé.
Percebo que essa conversa não irá dar em nada, por isso
decido tomar um banho. Zara está convicta em manter sua opinião
até o final e assim não irá me perdoar tão fácil. Julgo que nunca
mais terei isso dela quando descobrir o que farei com seu melhor
amigo.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

Acordo sentindo meu corpo pressionado a outro, abro meus


olhos notando o quarto ainda na penumbra, deve ser madrugada.
— Zara?
Ouço sua voz feito um sussurro atrás de mim.
Sua mão alivia o aperto, me viro ficando de frente para ele e
nossos olhos se encontram.
— Como soube que eu tinha acordado? — pergunto ao
perceber que ele havia acordado junto comigo.
— Digamos que tenho o sono leve. É como se eu dormisse
com um olho aberto e outro fechado.
Fico observando seus traços, a barba por fazer e movida pelo
momento, acaricio os pelos da sua barba, sentindo cada detalhe do
seu rosto.
— O que deseja, Zara? — pergunta fechando seus olhos.
— Queria tanto que você fosse normal — digo sem pensar.
— Sou normal, não está vendo que sou de carne e osso.
— Sabe do que estou falando, porque quando estamos a sós
você é um, e na frente de outras pessoas é um homem frio,
calculista sem vida — digo vendo seus olhos voltarem a abrir.
— Precisa entender, por você sou capaz de tudo, Zara, você
tem o poder de despertar o melhor de mim, mas ao mesmo tempo
consegue me tirar dos eixos. Se perceberem que é meu calcanhar
de Aquiles, posso a estar colocando em perigo. Zara, você é minha
fraqueza e ninguém pode perceber isso. Tem noção do quanto isso
é perigoso?
Sem falar mais nada junto nossos lábios, ele é receptivo,
morde meu lábio inferior e nossas línguas se entrelaçam em uma
melodia lenta. O beijo é calmo, gostoso fazendo cada movimento
ser único.
Sua mão vai logo alisando minha barriga, desce por minha
calcinha, alcança meu ponto e seus dedos alisam minhas dobras.
Heinz sobe por cima de mim, desce os beijos por meu pescoço, tira
minha blusa beliscando meus mamilos com uma de suas mãos
enquanto a outra segue em uma tortura lenta em minha boceta.
Seus lábios alcançam meus mamilos, mordendo a ponta em
seguida passando sua língua em volta da minha auréola.
— Tão perfeita e minha — diz soprando o bico do meu seio.
Me contorço embaixo do seu corpo e rebolo de encontro ao
seu dedo.
Ele vai descendo os beijos e a cada beijo uma soprada. Para
em minha boceta, abaixa o tecido junto com a calça e sua língua
logo toma conta passando em minhas dobras enquanto ele alisa
seus dedos dentro do meu canal.
Sinto cada toque seu, glorificando o momento.
Meus dedos afundam em seu cabelo, pressionando sua
cabeça em minha boceta. Sua língua estala em minha intimidade
ecoando no quarto e meu corpo começa a ficar suado diante da
adrenalina.
Rebolo em seu rosto agarrando seu cabelo, tendo a visão
mais exótica deste homem sobre minhas pernas. Aquele homem
que queria odiar a todo custo, mas não conseguia dizer não aos
seus encantos quando estamos a sós.
— Goze para mim, ninfeta, me deixa se banhar deste néctar
— sussurra sobre a minha boceta.
Sua língua explora cada canto, mordisca suavemente minhas
dobras e seus dedos alisam minhas paredes internas.
Quando ele sente que estou quase gozando, tira seu dedo
substituindo por sua língua. Não resisto e acabo me entregando a
um orgasmo que me faz se contorcer embaixo dele, suspirando de
prazer. Heinz fica com a língua ali sugando até a última gota.
Ele sobe seus beijos pela minha barriga, liberando seu
membro o suficiente para me possuir.
— Minha gostosa… — diz abocanhando meu seio.
Abro minhas pernas para recebê-lo, seu pênis logo entra em
minhas paredes pulsantes após meu orgasmo. Seus movimentos
são lentos, em um vai e vem gostoso e calmo.
Seus beijos passam pelo meu pescoço chegando em meus
lábios, sua língua entra em minha boca e em um suspiro chupo sua
língua. O beijo se torna urgente, entre mordidas e gemidos
enquanto ele estoca dentro de mim.
Passo minhas mãos por suas nádegas sentindo a pressão
dentro do meu ponto e suas costas largas cobrindo todo meu corpo.
Este homem tem tudo para ser perfeito se não fosse seu
gênio matador.
— Heinz — sussurro entre o beijo.
— Fala, minha musa — diz erguendo seu rosto, fazendo
movimentos dentro de mim.
— Prometa não fazer mais nada para me machucar? — peço
suspirando em seguida.
— Não posso prometer nada e desculpa, meu anjo.
— Por favor…
Preciso de uma palavra de conforto dele.
— Prometo — diz beijando a ponta do meu nariz e nossos
olhares se conectam.
Uma vez eu li que durante o sexo não é o momento de
condições e promessas, pois tudo não passa de uma tensão do
momento.
Rebolo em seu membro sentindo que ele intensifica os
movimentos, suas estocadas se tornam brutas e cada vez mais
fortes.
Sem muito devaneio acabo me entregando a outro orgasmo e
Heinz não fica muito atrás, gemendo alto dá uma última estocada.
Nossos corpos em combustão caem exaustos na cama.
Ele sai de dentro de mim sem demora e sem olhar em meu
rosto.
Percebo que o dia começa a raiar lá fora.
Ele levanta da cama indo em direção ao closet e não entendo
nada. Fico sentada na cama esperando que ele retorne, mas ele
surge vestido com seu típico terno escuro.
— Já vai? — pergunto desanimada.
Seus olhos não encontram os meus, algo está errado.
— Sim, chegou uma encomenda para mim. — Segue em
direção a porta.
— Heinz… — chamo seu nome e ele vira me olhando. —
Aconteceu algo? — pergunto sentindo um nó se formar em minha
garganta.
— Desculpa ter feito essa promessa, eu não conseguirei
cumprir. — Sai me deixando só.
Fico olhando para o teto, sem entender nada, então minhas
vistas começam a ficar turva e um pressentimento ruim se apossa
de mim.
O que será que irá acontecer?
Odeio sentir esta sensação.
Deito minha cabeça no travesseiro, me recusando a sair
deste quarto, sendo uma verdadeira egoísta ao perceber que algo lá
fora não está certo.
Queria pedir para ele não tomar nenhuma atitude imprudente,
mas como?
Heinz nunca me ouvia, e afinal do que ele estava falando?
Oh, Senhor, algo bom não é!
Ele estava muito diferente quando saiu do quarto, parecia
lutar com seus demônios internos.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

— Isso é loucura, Heinz, acaba com tudo antes dela saber.


Ouço o sussurrar nervoso de Klaus.
— Antes de quem saber o que? — Me faço presente
entrando na sala de café.
Klaus dirige um olhar preocupado para mim enquanto Heinz
não diz nada, apenas toma um gole do seu café.
— Não finjam que eu não escutei nada, o que está
acontecendo aqui? — pergunto caminhando sobre meus saltos,
apoiando minhas mãos sobre uma cadeira.
— Conhece Trevor Smith? — Klaus pergunta.
Olho assustada de um para o outro enquanto Heinz me
observa franzindo a sua testa.
— Não… Sim… — Balanço minha cabeça com medo de falar
que eu o conheço.
— Zara? — Klaus volta a questionar.
— Sim, eu o conheço, é meu melhor amigo. — Olho para
Heinz lembrando do que ele disse hoje no quarto. — Por favor, não
faça nada com ele…
— Tiveram algum relacionamento? — Heinz pergunta muito
serenamente.
— Não nunca tivemos nada, ele é apenas um amigo, o deixe
fora disso.
Heinz pega seu celular e entrega o aparelho em minhas
mãos.
— Por que ele tem essas fotos suas em seu notebook?
Começo a rolar as diversas imagens enquanto minha boca
abre e fecha diversas vezes. Há muitas, são tantas que fico até sem
fala.
— Isso é mentira, essas fotos são montagens, não é possível
— digo sem acreditar.
— Então quer dizer que não reconhece o lugar onde essas
fotos foram tiradas? — Heinz diz irônico.
Sim eu reconheço, é no apartamento do meu amigo, mas
como ele tinha tirado essas fotos?
Cacete, como Trevor fez isso?
O que meu amigo queria com essas imagens?
— Como, por quê? — digo não entendendo nada.
— Não sei, Zara, eu que te pergunto isso. — Heinz se
aproxima de mim, para na minha frente e ergo meu rosto olhando
em seus olhos. — Realmente nunca tiveram nada? Porque nessas
fotos há posições bem comprometedoras.
— Heinz… — Reviro meus olhos sem entender.
— Esse tal de Trevor é lunático por você e tem nos
incomodado desde que chegou aqui — Heinz diz em tom sereno e
ele só age assim quando está com algo em sua mente.
— Heinz… me diga que não… — Não consigo terminar de
falar.
Meu marido aquele que eu julguei sentir algo, sai andando na
minha frente e sem pensar o sigo, praticamente correndo atrás dele,
pois seus passos são largos.
— Heinz, pelo amor de Deus, não faça isso com ela, tenha
piedade!
Ouço Klaus falar nervoso atrás de mim.
— Não sou Deus para ter piedade de ninguém — Heinz diz
debochado na maior tranquilidade.
Este eufemismo de Heinz está me deixando mais nervosa.
Chegamos nos fundos da casa, passamos por um corredor
onde há alguns homens parados enquanto meu corpo sua frio, já
temendo pelo pior.
Paramos em frente a uma porta, Heinz digita uma senha e
libera.
— Zara, não entre neste lugar, por favor, não vá… — Klaus
diz segurando meu pulso com suavidade.
— Pensa que é quem irmão? O anjo da guarda dela? —
Heinz debocha segurando a porta para eu passar — Chegou a hora
da Zara descobrir o que acontece com quem se atreve a cruzar o
meu caminho.
— Sou forte, Klaus — tento soar convincente, mas no fundo
estou morta de medo.
— Para isso você não vai ser, fique, não perca o que tem de
melhor dentro de você…
Não dou ouvidos a ele, dizendo um pedido de desculpa
silencioso.
Heinz entra e vou atrás dele, enquanto Klaus continua a nos
seguir.
Desço alguns lances de escada, chegando em um lugar
subterrâneo.
— Bem-vinda ao calabouço, aqui é onde matamos e
esquartejamos nossos inimigos… — Heinz diz entrando no lugar,
que me fez sentir um arrepio.
As paredes causam medo, pois há tudo quanto é tipo de
arma medieval presa como enfeite.
Passamos por uma cela e em seguida outra, do outro lado há
sofás, que ao que tudo indica é onde ficam os mafiosos.
Ouço um gemido, meu coração para e a sensação das
minhas pernas moles se apossam de mim.
Continuo andando feito um robô, quando paramos em frente
a uma cela.
— NÃO — berro segurando nas grades que estão trancadas
e tem dois homens em volta do meu amigo. — VOCÊ É UM
MONSTRO, HEINZ! — Não olho para o meu marido, pois minhas
vistas estão turvas.
Trevor está com o rosto desconfigurado e tem muito sangue
espalhado. Lágrimas começam a escorrer por meu rosto.
— Por favor, Trev… Por favor… — Soluço ao dizer. — Me
perdoe… me perdoe. — Minha voz está embargada, afinal nunca
pensei ver tal cena diante de mim.
— Za-zara — Trevor tenta falar, mas da sua boca não sai
mais nada.
— Como pode, Zara? Este homem tinha fotos suas em seu
notebook. Como poderia querer o bem dele mesmo assim?
Ouço a voz cínica de Heinz.
— Você pensa que é quem para decidir quem deve ou não
matar? — pergunto olhando furiosamente em seus olhos.
— Bem, apenas decido com quem se mete com o que é
meu… Este imprestável não vai fazer falta para ninguém.
Sem saber o que aconteceria comigo, dou um passo em sua
direção socando seu peito com o punho fechado, com toda a força
que eu tenho.
— Inferno! — Heinz esbraveja.
Ele segura meu pescoço, me fazendo grudar em seu corpo,
me segurando de costas para ele, vendo a cela onde meu amigo
está.
— Agora assista o que faremos com seu amiguinho lunático
punheteiro.
Me debato, querendo sair dos seus braços, mas o aperto fica
mais forte.
O som de tiro ecoa pela sala e ali vejo meu amigo ficar sem
vida.
— NÃO — berro. — Como pode, Heinz, como pode… —
sussurro vendo meu amigo cair da cadeira ao chão.
— Perdeu...
Ouço Heinz sussurrar quase inaudível.
— Isso era o certo a se fazer, e você precisava ver como as
coisas acontecem por aqui — conclui.
Pela primeira vez naquele dia eu senti que ele estava sendo
verdadeiro. Porém eu nunca o perdoaria, nunca…
— Eu te odeio… odeio…
Aproveito um momento de distração dele e saio correndo
daquele lugar com meus olhos queimando por lágrimas. Subo os
lances de escada e tento abrir a porta que está trancada. Quando
sinto alguém atrás de mim, é Klaus, que digita a senha e abre a
porta.
— Se esconda no terceiro andar, quinto quarto à esquerda,
naquele corredor não há câmeras… — sussurra em meu ouvido e
assim saio correndo.
Queria fugir deste lugar nem que fosse sem vida, pois agora
definitivamente eu não tenho mais nada a perder.
Aquele homem acabou com todos que eu amava.
CAPÍTULO VINTE E SETE

Entro no quarto andando de um lado para o outro, nunca


estive neste lugar antes. Cruzo meus braços e meus sapatos quase
estão furando o assoalho diante do meu nervosismo.
Escuto a maçaneta da porta abrir e Klaus entrar.
— E aí? Espero que tenha algo em mente — vou logo
falando.
— Sabe manusear uma arma?
Lógico que não sei, como iria saber?
Não querendo pôr o plano dele a perder, acabo concordando
com a cabeça.
— É meio em cima da hora, porém ouvi Heinz e Jordan
conversando que terão uma reunião muito importante com um sócio
no escritório. Tem que ser hoje, a próxima chance não sei quando
será, e além do mais, sabe nadar?
É lógico que não, mas não iria pôr o plano a perder, iria me
agarrar a qualquer coisa.
— Só tem uma alternativa para sair daqui e é pelo rio…
— Está louco, ele deve ser congelante! — digo exasperada.
Klaus passa a mão em seu cabelo e anda em minha direção.
— Infelizmente este é o único meio que encontrei de sair
daqui, Heinz é muito astuto na sua segurança, muito dificilmente
deixaria algo a desejar.
— Tá, onde este rio vai me levar? — questiono impaciente.
— Não sei… — Klaus diz sorrindo nervoso.
— Que maravilha! — Dou uma risada sarcástica. — Tenho
duas opções: ficar nesta casa à mercê desse homem, ou correr o
risco de morrer de hipotermia.
— Duas alternativas adoráveis… — Klaus conclui com pesar.
— Pois eu ficarei com a segunda alternativa — finalizo
decidida, sabendo o risco que isso me traria. — Como vamos fazer?
— questiono erguendo minha sobrancelha.
— Tem apenas um lugar que Heinz não pode entrar no
momento, não sem antes falar com Tommaso Vacchiano, o Don da
máfia italiana. Os dois têm uma rixa, portanto a Itália é o lugar mais
apropriado no momento.
— Certo — confirmo com a cabeça. — Farei isso caso
sobreviva ao rio.
— Agora vamos pôr o plano em prática, chegando na Itália,
vai seguir essas coordenadas, elas te levarão a Frederico Risso,
que providenciará documentos falsos. — Klaus me entrega uma
folha dentro de um plástico. — Não retire do plástico, é um uma
forma de manter o papel sem molhar.
Concordo com a cabeça, anotando mentalmente tudo que ele
falou.
— Vá ao seu quarto, vista uma roupa mais confortável para
correr. Em uma hora iremos pôr o plano em prática, oremos que
Heinz não descubra nada, saiba que não vou saber de nada e que
pensou nisso tudo sozinha, está bem?
— Obrigada por tudo, Klaus.
Caminho em sua direção, passo a mão em seu pescoço
dando um abraço apertado nele.
— Agora pegue esta arma, pode precisar dela.
Pego o artefato em meus dedos.
— Está carregada? — pergunto sentindo o peso em minha
mão com o frio do metal me causando calafrios.
— Sim, pronta para atirar.
Concordo nervosa.
— Agora vou nessa, não se esqueça daqui uma hora… — diz
e sai me deixando sozinha no quarto.
Guardo a arma em minha cintura, respiro fundo e começo a
andar em direção ao meu quarto, onde Heinz ainda não tinha
retirado minhas roupas.
Caminho a passos vacilantes pelos corredores, fazendo
preces a todo momento para não esbarrar com ninguém.
Chego em meu quarto sã e salva. Fecho a porta atrás de
mim, sento na cama, deito o corpo para trás e fico olhando o teto
por um longo tempo com as imagens do meu amigo sendo morto
latejando na minha mente.
Como pude pensar que poderia amar esse homem?
Que espécie de amor é esse?
Cheguei a cogitar que talvez esse sentimento, que ele diz
sentir por mim, poderia mudá-lo.
Que tola eu fui, nada pode mudar a mente de um mafioso!
Uma lágrima solitária cai, tão solitária quanto eu. Viro a
cabeça de lado e percebo que fiquei tempo demais deitada.
Sento, indo em direção ao closet.
Pego uma calça jeans preta junto com um casaco preto e os
visto sem cerimônia.
Deixo meu cabelo solto, procuro por um par de tênis pegando
o primeiro que acho. Não tenho nenhum documento meu comigo e
seria um milagre conseguir sair deste país, porém o fato de me ver
longe dele já me deixava com um pingo de esperança.
Tenho certeza de que quando estiver longe de Heinz este
sentimento que sinto por ele irá sumir.
Saio do closet colocando a arma em minha cintura, pego a
folha de Klaus e coloco no meu bolso da calça. Não podia levar
nada comigo, isso poderia acabar dando sinais aos homens de
Heinz.
Caminho até a porta do quarto, passo a mão na maçaneta,
fico alguns segundos segurando até que finalmente abro.
A cada passo que dou sinto minhas pernas cada vez mais
pesadas.
Desço a escada e vejo os homens de sempre parados pela
casa à espreita me observando.
Passo pela sala, noto o lindo piano e percebo que não tive a
oportunidade de tocá-lo. Paro alisando o instrumento, olho em
direção à porta dos fundos e vejo o segurança conversar com outro.
Prestes a pôr o plano em prática noto os dois se afastarem
da porta indo em direção a outro lugar, neste momento aproveito a
deixa.
Ando às pressas, saindo pela primeira vez durante o dia e
agradeço por estar um tempo nublado quando o vento frio se choca
com meu corpo.
Não penso e apenas continuo andando em direção ao rio.
Não olho para trás e minhas pernas tremem diante do nervosismo.
— Zara, pare agora!
Ouço a voz autoritária de Heinz atrás de mim.
Inferno!
Como ele me achou?
Não dou atenção e começo a correr em direção ao rio.
Chego em frente ao rio e as águas raivosas batem umas nas
outras. Pego a arma em minha cintura, viro em direção ao meu
marido, o encontrando ao lado de alguns homens, entre eles
reconheço Klaus. Ergo a arma em direção ao meu marido, fazendo
com que ele pare de andar.
— Nem mais um passo, senão eu atiro! — digo nervosa.
— Zara, podemos conversar, abaixa esta arma, vamos lá
para dentro — Heinz diz com calma começando a dar pequenos
passos em minha direção.
— Mais um passo e eu atiro!
— Sei o quanto é pura, não fará isso — Heinz diz fazendo
gestos com a sua mão tentando me acalmar.
Olho para todos seus homens que estão com a arma
apontada para mim.
— Todos abaixem as armas — Heinz pede aos seus homens.
Dou um passo para trás sentindo o declínio do rio, mais um
passo para trás e eu cairia.
— Zara, me perdoe, vamos nos acertar…
— Não acredito mais nas suas promessas vagas, sempre fui
apenas um projeto para você! — digo percebendo que ele não para
de dar pequenos passos em minha direção. — Fique longe de mim!
— concluo mirando em sua perna.
Fecho meus olhos e aperto o gatilho sem pensar, preciso
fazer com que ele pare.
— INFERNO, ZARA! — Heinz berra.
Abro meus olhos, o encontrando com a mão em sua ferida
que sangra.
— Chefe — um de seus homens diz querendo correr até ele.
— Todos em seus lugares, ninguém se mexa — Heinz diz
autoritário. — Agora já chega, Zara, entra agora! — diz querendo
endireitar seu corpo, mas não consegue por causa do tiro em sua
coxa.
— Está vendo, é desta autoridade que estou fugindo, não
quero isso, prefiro a morte a ser mandada por um homem o resto da
minha vida.
Quando percebo que ele não desistirá, fecho meus olhos
outra vez e sem ver direito o que acontece atiro novamente.
Definitivamente estou com sangue em meus olhos, pois nunca
pensei que conseguiria usar uma arma, quem dirá atirar duas vezes.
Abro meus olhos sentindo um tiro passar de raspão em meu
braço, o que me faz desvencilhar e cair na água.
A água gelada toma conta de mim, elas me puxam e sou
levada pela correnteza. Tento me erguer e pegar fôlego, porém meu
corpo parece me puxar para baixo.
Me debato, tentando sobreviver a todo custo, até que meu
corpo já fraco se deixa levar, com a última imagem do meu segundo
tiro que atingiu o peito de Heinz, o fazendo cair.
Será que matei Heinz Zornickel?
PARTE DOIS
"O ódio provoca dissensão, mas o amor cobre todos os
pecados."
Provérbios 10:12
CAPÍTULO VINTE E OITO

Um frio se instala em meu corpo e penso por um momento


que havia passado dessa para melhor.
Será que o inferno é assim?
Frio ao invés de quente?
Vozes alteradas se aproximam de mim, o idioma falado é
alemão, por isso não entendo nada.
Abro meus olhos percebendo que ainda estou viva, como?
A escuridão da noite denuncia que eu tinha ficado por um
bom tempo no rio.
Olho apavorada para os dois senhores.
— Me ajudem… — peço em um fio de voz, e é lógico que
eles não entendem nada.
Com ajuda o senhor me ergue com seus braços fracos, sua
esposa pega em meu braço e assim me apoio nos ombros de
ambos.
Meu corpo inteiro treme, não sei em que lugar estou e a
minha única escolha é confiar nestes senhores que nem ao menos
conheço.
Vejo uma casinha para onde estamos indo, não há nada em
volta e nenhuma iluminação externa, somente luzes internas.
Chegamos na varanda, com dificuldade subo o degrau,
passamos por um assoalho de madeira e pela porta aberta, sendo
recebida pelo calor da pequena casa aquecida.
A senhora de cabelo grisalho me estende uma manta e vou
logo me enrolando nela.
Meu coração para quando ouço barulhos de pneus e
imediatamente me vem Heinz na cabeça.
E se seus homens estivessem me procurado por ter
possivelmente matado seu chefe?
Olho apavorada em direção aos senhores, lembrando de
algumas palavras que aprendi com Angelina.
— Me… ajudem… — digo em seu idioma e imediatamente os
dois entendem.
O senhor me pega pelo braço e andamos em direção a uma
parede, onde ele empurra um quadro para o lado revelando uma
pequena porta. Ele a abre e entro me encolhendo na pequena caixa.
Após alguns segundos vozes alteradas e barulhos de botas
ecoam pela casa, e passo a mão em volta dos meus joelhos. Meu
coração bate rápido, meu nome é falado, e eu só entendo aquilo.
Porém logo tudo fica em silêncio.
Será que eles foram embora?
Heinz está procurando por mim, mas a pergunta que não
quer calar é, ele está vivo?
Não queria tê-lo matado.
Oh, meu Deus, o que eu tinha feito?
Uma voz feminina surge no local e logo ouço o barulho da
porta onde estou ser aberta, a luz ambiente invade minhas vistas
me fazendo cegar rapidamente diante da escuridão.
— Vem, garota — a mulher diz meu idioma fazendo sinal
para eu sair.
— Você me entende? — vou logo perguntando e aceitando a
sua mão para sair.
Endireito minhas pernas ficando de frente a bela mulher
morena.
— Sim, entendo, e pelo que meus avós falaram é esposa de
Heinz Zornickel? — Ergue uma sobrancelha.
— Por favor, não me leve para ele novamente — peço em
uma súplica.
— Tê-la em meus braços é uma ótima alternativa para me
vingar daquele merda — diz andando pela sala enquanto passa a
mão em seu queixo me analisando.
— Eu só quero fugir, ir para bem longe disso tudo.
Sua bota ecoa pelo assoalho de madeira e acho seus trajes
um tanto quanto ousados, botas de cano longo com salto. Calça de
couro junto com uma jaqueta aberta que revela um generoso
decote.
— Poderia matá-la, seria uma bela forma de me vingar
daquele mafioso que se julga ser Deus.
— Tá mais para Lúcifer — digo em voz baixa, porém ela me
ouve e abre um sorriso.
— É isso mesmo. Se eu a matar serei igual a ele… E estou
longe disso, quero apenas fazer vingança com minhas próprias
mãos e acabar com a In Ergänzung. Veio ao lugar certo, Zara, para
onde quer ir?
— Oh, meu Deus, muito obrigada! — Tento abraçá-la, mas
ela recusa me parando com seu braço.
— Sem abraços, odeio esse sentimentalismo todo. — Faz
cara de nojo. — Agora vem, precisamos trocar estas suas roupas,
deve estar congelando dentro delas.
— Com o calor daqui está bem melhor. Qual é o seu nome?
— Edvige Vogel, guarde esse nome, pois vou acabar com
Heinz Zornickel. — Sua voz contém uma certa mágoa com raiva.
— Boa sorte, Edvige, se ele estiver vivo depois do tiro que eu
dei nele — concluo pensativa.
— Aquele maldito vai sobreviver e está passando por uma
cirurgia até onde eu sei. Tenho informantes dentro daquela casa e
que isso não saia daqui.
Suspiro aliviada diante do que ela diz, porém, um certo medo
me assombra.
— Aliás, adorei saber que um dos tiros acertou aquele
bastardo.
Não agradeço, pois não sinto orgulho, queria ter fugido sem
causar mal a ninguém, mas sinto que Heinz mereceu isso, por tudo
que ele me fez passar.
— Tem algum documento? Como pretende sair do país? —
Edvige pergunta entrando comigo em um cômodo.
— Não tenho nada — digo desanimada.
Ela me olha com os olhos arregalados, mas logo suaviza.
— Certo, acho que isso não é problema, afinal vai ter que sair
do país com outro nome, e bem... — Olha meu corpo. — Talvez uma
peruca ou algo que a faça ficar irreconhecível.
Concordo com a cabeça, pois estou disposta a tudo para sair
deste lugar. Agora que dei o primeiro passo não irei voltar atrás.
— Para qual lugar pensa ir?
— Klaus disse que a Itália é o único lugar que posso ir.
— Tenho um ajudante lá dentro como disse, já ouvi falar este
nome. — Fica pensativa.
— Sim, Klaus me ajudou a sair, ele é o irmão do Heinz…
— Claro o irmãozinho protegido que foi encontrado em outro
país, e por coincidência na Itália, a máfia rival do Heinz, isso deve
ter dedo deles, preciso pesquisar mais sobre esses mafiosos
italianos…
Tudo que ela me fala me deixa um tanto curiosa.
Por que essa mulher sente tanta raiva de Heinz?
Apenas assinto com a cabeça.
— Agora vamos pôr o plano em prática, tirar você daqui e
fazer Heinz ficar furioso quando não a encontrar em nenhum canto
da Suíça… — Edvige dá uma risada alta, me fazendo tremer diante
da sua frieza.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

Dois anos depois…


Inferno!
Aperto a bengala com força.
— Já faz dois malditos anos… DOIS — berro olhando para
Jordan e Klaus.
Sinto que cada busca falha é uma forma de querer aceitar o
inevitável.
— Talvez deva se dar por vencido, Heinz, ela não está mais
viva — Jordan tenta entrar outra vez nesse assunto.
— Não, ela não está!
Caminho mancando em direção a minha adega e pego uma
garrafa de whisky. Se Zara estivesse morta o seu corpo iria
aparecer, mas ela simplesmente sumiu.
— Será que esta sua perna mancando não é o suficiente
para aceitar e seguir sua vida? — Jordan indaga outra vez em vão.
Despejo o líquido em um copo e dou um longo gole sentindo
passar queimando por minha garganta.
— Só irei descansar quando eu a encontrar viva ou morta. —
Pego o copo indo em direção a uma poltrona com a ajuda da
bengala.
— Irmão, talvez Jordan tenha razão — Klaus toma partido do
meu consiglieri.
Minha situação com Klaus havia melhorado nesses dois
anos, tudo mudou quando aceitei o fato de que ele não queria matar
ninguém. Meu irmão é o tipo de pessoa que denominamos os que
não gostam de sujar as mãos e sim arquitetar planos malignos.
Klaus estava se saindo um subchefe melhor que a encomenda. Em
seu rosto ficou a marca do soco que lhe dei e isso me fazia lembrar
de uma das malditas discussões que tive com Zara.
Havia se passados dois anos e eu ainda a tinha tão viva em
minha mente.
Sou capaz de tudo para ter essa mulher na minha vida, nem
que para isso eu tenha que dar o mundo a ela em troca da sua
presença.
— Já passamos pente fino em todo lugar, é impossível —
conclui sentando na poltrona e esticando minha perna.
— Bem… — Jordan pigarreia. — Tem somente um lugar.
Olho meu amigo com meus olhos faiscando ódio.
— Itália — digo pensativo.
— É impossível entrarmos lá — Klaus vai logo falando.
— Sim, é…
— Nada é impossível — digo pegando meu celular no bolso.
— O que pensa em fazer, irmão?
— Não está óbvio? Vou oferecer aliança ao maldito do
Tommaso se acaso ele encontrar Zara em seu território.
— Isso é loucura! E os anos de rivalidade? — Klaus se
mantem irredutível.
— Sabe de algo, irmão? Por que a recusa? — pergunto
erguendo uma sobrancelha tentando desvendá-lo.
— Não… não tem nada — Klaus pigarreia o suficiente para
perceber que ele esconde algo.
— Te conheço o suficiente para saber que está mentindo. —
Tomo um gole do líquido sem tirar os olhos do meu irmão.
Klaus revira seus olhos, andando de um lado ao outro.
— Ela está na Itália, eu a mandei ir para lá…
— Como? — pergunto estagnado.
— Sabe como eram as coisas quando ela estava aqui, não
aceitava o que fazia com ela — meu irmão tenta se justificar.
— Inferno, Klaus! Esse tempo todo sabia onde ela estava?
Passo a mão em minha testa, não querendo culpá-lo já que
na época não nos dávamos bem.
Fiz a promessa ao meu pai em seu leito de morte,
prometendo cuidar de Klaus e entender o gênio gentil dele. Petrus
teve uma morte lenta, ficou dois dias entre a vida e a morte. Nunca
vi alguém lutar tanto pela vida igual ele, até que finalmente se foi,
deixando seu legado totalmente para mim.
Procuro o número de Tommaso em minha agenda, possuía o
número de todos os Don, até mesmo dos que eu tinha desavenças.
— Vou acabar com isso de uma vez por todas — concluo
discando o número dele.
Coloco o aparelho em meu ouvido, chama três vezes quando
alguém atende.
— Ora, ora, se não é o grande Zornickel! — Tommaso vai
logo sendo sarcástico.
— Vou direto ao assunto, Vacchiano. Tem algo nas suas
terras que me pertence.
— E eu posso saber o que é? Estou curioso, já que não
esperava por esta ligação. — Dá uma das suas risadas nojentas.
— Ao que tudo indica minha mulher está se escondendo na
Itália.
— Quer dizer que ainda não a achou, qual é Zornickel, está
perdendo o dom do faro? Como sabe que ela está aqui?
— Fontes me falaram que ela foi para a Itália, e esse é o
único lugar que ainda não foi procurado — digo tomando um longo
gole do meu whisky que desce em seco.
— Vamos ao que interessa, o que ganho em troca?
Suspiro fundo, alisando a minha testa.
— A aliança da In Ergänzung — digo fechando meus olhos
com força.
— Isso é bom, na verdade maravilhoso. Posso contar com
seu clã caso tenha alguma desavença com a Rússia novamente?
Não queria isso, Tommaso segue um rumo bem mais
imprudente que o meu, ele vai se instalando em qualquer lugar sem
nem ao menos saber se aquela área pertence a alguém, o que
acarreta muitas vezes em muitos homens mortos. Eu, por outro
lado, prezo pela vida dos meus, por isso evito ao máximo expô-los
ao perigo se tratando da máfia inimiga.
— Tudo bem — respondo contra a minha vontade. — Tem a
minha palavra, Tommaso.
Ouço Tommaso sussurrar com alguém ao seu lado.
— Sabe onde ela está? Me manda todos os dados dela...
— Não faço a mínima ideia onde ela esteja, quanto a
aparência vou mandar fotos, acredito que ela deve estar usando
outro nome.
— Sua esposinha está em ótimas mãos, Zornickel, vou
encontrá-la o quanto antes, e para isso vou querê-lo em minhas
terras. Vamos fechar o acordo quando estiver com a sua cadela em
minhas mãos.
— Se ela tiver um único arranhão pode se considerar um
homem morto — concluo encerrando a ligação.
Mandarei alguém passar os dados para ele por e-mail.
Ninguém chama a minha mulher de cadela, e se Tommaso
pensa que serei conivente a todos seus desejos, está muito
enganado.
— E então? — Jordan me olha com angústia em seus olhos.
— Acho que vamos ter uma nova aliança, aquela que eu
tanto negava. — Respiro fundo prevendo fortes emoções nos
próximos dias.
Nunca aceitei a aliança com os italianos, pois tinha a maioria
dos Don ao meu lado, mas se para ter Zara ao meu lado novamente
tiver que aceitar a aliança com Tommaso, eu farei.
Sinto uma fisgada em minha coxa, lembrando do dia que ela
escapou de mim me deixando parcialmente aleijado, já que não
tenho todos os movimentos da minha perna.
CAPÍTULO TRINTA

CHLOE

Olho meu reflexo no espelho e observo meu cabelo liso


refletindo o loiro tingido em um corte Chanel.
— Já está pronta? — Beth, minha amiga de apartamento, diz
aparecendo no batente da porta.
— Sim, apenas irei colocar minha bota…
Ela pisca um olho saindo.
Por ironia do destino meu emprego é em uma boate, odeio o
horário, mas infelizmente isso foi a única coisa que consegui
arrumar.
Quando cheguei na Itália, me senti perdida.
Minha sorte foi Edvige, aquela mulher é de longe uma
máquina. Acabei adotando seu estilo de se vestir, assim intimidava
quem se atrevesse a se aproximar de mim. Ela conhecia Beth, que
me encontrou, porém nunca mais soube nada de Edvige, muito
menos a Beth sabia.
Minha amiga disse que Edvige é assim, ela some e aparece
do nada.
Amarro as fivelas da minha bota, endireito a calça de couro,
passo a minha jaqueta de couro em meus braços e caminho sob o
ecoar dos saltos.
Ouço o leve choramingar de um bebê partindo da sala.
Sorrio andando em direção ao meu pequeno Yan. A todo
custo ele tenta puxar o cabelo da babá que brinca com ele.
— Oh, meu amorzinho! — digo em voz manhosa, pegando
meu pequeno gordinho em meu colo.
— Mamã… — diz em um sorriso mostrando alguns
dentinhos.
— Mamãe vai trabalhar, mas logo vai estar de volta. — Dou
um beijo em sua bochecha apertando seu corpinho.
Yan completou um ano e três meses e por sorte de Deus ele
não tem muitos traços do pai. Seu cabelo é castanho-escuro e olhos
num tom de azul mais escuro, puxando o meu. A única coisa que
denunciava que puxaria do pai era o gênio, porém colocava em
minha cabeça que eram hábitos de bebês.
Yan foi a surpresa mais maravilhosa em minha vida. Quando
pensei que tinha tomado a atitude errada descobri a gravidez e
naquele momento percebi que tinha feito o certo, fazendo meu filho
crescer longe daquela loucura.
— Eleonor, o leite já está na geladeira, é só esquentar e dar
na mamadeira para ele — digo entregando meu menino nos braços
da babá.
— Vamos lá… — Beth surge segurando a alça da sua
mochila.
Nos despedimos e meu coração fica apertado toda vez que
fico longe do meu menino.
Beth e Eleanor sabem de onde eu vim, e sempre deixei claro
que se um dia algo acontecesse comigo iria precisar da ajuda delas
com Yan.
Cada dia é uma incógnita, pois ele pode aparecer em minha
vida novamente e não quero isso.
Não que eu tenha medo, pois sinto que esses dois anos
longe dele me fortaleceram, me fazendo ficar ainda mais decidida.
Acabei juntando minhas cicatrizes a minha fortaleza.
Entro no banco passageiro do carro da minha amiga.
— Ficou sabendo do barman novo que vai começar hoje? —
Beth diz batucando o volante do carro.
— Não sei, ele vai entrar no lugar de quem? — questiono
olhando algumas pessoas caminharem tranquilas pela calçada.
— A Isa pediu a conta. Pela glória do Senhor, não suportava
mais aquela víbora!
Dou um sorriso revirando meus olhos, confesso que não me
importo muito com fuxicos, pois morria de medo de alguém
pesquisar minha vida a fundo e perceber que na verdade meu nome
é Zara.
— Chloe, está na hora de desmamar o Yan, precisamos
arrumar uns homens para você.
— Sabe que isso não é empecilho para mim.
— Engraçado que a desculpa é sempre a mesma… — Me
olha e eu sorrio culpada.
— Nem faz tanto tempo que saí com um homem — digo
dando de ombros.
— Não, só vai fazer um mês.
Faço as contas mentalmente percebendo que ela tem razão.
A verdade é que nem um homem supria minhas necessidades e
sempre saia ainda mais frustrada. Às vezes acho que sou uma
espécie de mulher doida por sexo forte igual ao daquele homem, o
qual eu tento a todo custo apagar da minha mente.
Quando Klaus disse para vir para a Itália, não imaginei que
ficaria totalmente sem comunicação com ele, mas foi como se eles
tivessem morrido, porém o medo de andar sozinha pelos lugares me
assombra.
Após alguns minutos estacionamos em frente a boate, entro
ao lado da minha amiga e o lugar está vazio, pois ainda esta
fechado.
O DJ testa o som e caminho dançando ao som da sua
música, erguendo meus braços e brincando com o homem com
quem eu tenho uma amizade casta. Não gosto de fazer amizades
firmes com homens depois do que Trevor passou.
Entramos no vestiário encontrando os outros funcionários, tiro
minha jaqueta guardando em meu armário junto com minha bolsa.
Abaixo a minha blusinha em vão, pois ela mostra minha barriga.
— Cacete, o barman novo é simplesmente gato — Beth
sussurra em meu ouvido.
Olho para o lado e encontro o homem que ela tanto fala e
não passa de mais um para mim.
Faço uma rápida avaliação, braços musculosos, peitoral forte
e barba um tanto grande, algo que não aprecio.
Fecho meu armário, ouvindo Georgina falar atrás de mim:
— Esse já é meu.
— Todo seu — digo dando um sorriso falso.
— Pensa que é a maioral, né? Pelo seu sotaque americano
deduzo que esconde algo.
Dou um passo na sua direção, ficando bem próxima ao seu
rosto.
— E no que isso interfere? Tem medo? — Dou um sorriso,
igual ao que sempre recebia de Heinz.
A vaca recua saindo de perto de mim.
— Caraca, já percebeu que você consegue colocar essas
mulheres para correr só com o seu olhar, é como se você tivesse
um poder na sua aura.
Gargalho diante do que minha amiga diz, eu apenas tinha
aprendido com aquele monstro e muitas vezes usava isso a meu
favor.
O expediente começa, faço meu trabalho servindo as mesas,
recebendo cantadas baratas em meu ouvido e às vezes alguns
clientes de merda querendo passar a mão em meu corpo.
Às vezes conseguia torcer algumas mãos, isso quando não
estava com as mãos ocupadas. Nesses dois anos, percebi que
precisava estar preparada caso ocorresse de eu ser pega, por isso
fiz aulas de artes marciais, e aprendi a manusear uma arma, não
podia dormir no ponto e ser uma garota tola.
Depois da minha última advertência, tive que me controlar. A
mulher do dono não vai muito com a minha cara, por isso sempre dá
um jeito de me ver longe daqui.
Quando um cretino tentou me prensar na parede, o chutei
nas partes baixas socando seu rosto, claro que todos ficaram contra
mim, menos minha amiga.
— O novo barman não tira os olhos de você — Beth diz em
meu ouvido quando passa por mim.
— Sabe que não me relaciono com funcionários — digo
entregando um drinque.
Tenho algumas regras para dormir com um homem, ele tem
que ser de longe e eu tenho que ter certeza que nunca mais o verei.
Por isso irei ignorar qualquer iniciativa desse homem.
CAPÍTULO TRINTA E UM

CHLOE

Os dias passam e minha companhia favorita continua sendo


meu filho.
Beth tentou me empurrar para o novo barman, mas eu
recusei. Falei com ele algumas vezes, até chegar no ponto de falar
para ele que não iria acontecer nada entre nós. Precisava pensar no
bem da vida desse homem.
Chegamos ao final de mais um expediente, pego minha
jaqueta no armário, coloco meu cabelo atrás da orelha, pego meu
celular e vejo se há alguma mensagem da babá. Como não tem
nada volto a guardá-lo em meu bolso.
Beth irá esticar para uma festinha de alguns amigos dela, por
isso irei chamar um Uber.
Com a bolsa em meu ombro, caminho fazendo o salto ecoar
no ambiente silencioso, sou uma das últimas a sair.
Passo pela porta me despedindo do segurança, paro na
calçada e vejo o carro que pedi no aplicativo. Ando até ele, abro a
porta, sento no banco, quando tudo acontece muito rápido.
Sem que eu espere alguém coloca um pano em meu nariz
me fazendo apagar sem chance de pestanejar.

Meus braços estão apertados, tento mexer, mas é em vão.


Minha cabeça doí, minhas pálpebras abrem e analiso o ambiente
que parece ser um escritório. Um ambiente claro em tons cinzas
com grandes janelas de vidro.
— Ora, ora, se não é a senhora Zornickel. Ou devo chamá-la
de Chloe? Como acha melhor? — Um homem de olhos negros
surge com um sorriso presunçoso em seus lábios.
— Quem é você? — cuspo as palavras.
— Prazer, minha cara, Tommaso Vacchiano.
Ele se aproxima de mim com uma mão em seu bolso e um
copo de whisky na outra. Seu rosto para próximo ao meu, e viro o
meu em desgosto. Sua mão pega meu queixo, me analisando, sinto
meu sangue ferver e cuspo em sua cara.
— Vagabunda. — Ergue sua mão e fecho os olhos prevendo
o tapa.
— Tom, não esqueça — um outro homem surge falando.
— Tem razão, sem nenhum arranhão, tem sorte, sua puta! —
Se afasta falando de costas para mim. — Deve ser muito preciosa
na cama para o Zornickel a querer inteira e topar qualquer acordo.
Meu coração gela, ele me encontrou.
— Quem é você? — volto a perguntar.
— Será que não entendeu? — pergunta impaciente.
— Entendi o seu nome, quero saber que caralho que você é?
Que ligação tem com Heinz?
— Tem a boca suja, não é mesmo? — diz gargalhando. —
Sou Don da máfia italiana.
Droga, mil vezes droga, isso não estava nos meus planos!
Meu filho!
Será que a babá está cuidando dele?
Fecho meus olhos com força, eles não podem descobrir o
Yan, preciso deixar meu filho em segurança.
Fico em silêncio e faço careta ao ver os dois homens
acendendo um charuto.
Pelo menos estou sentada em um sofá fofinho, mas minhas
mãos já estão doendo diante do aperto das cordas.
Será que eles não conhecem algemas?
São melhores que estas merdas.
— Que mal-educado eu sou, tem fome, senhora Zornickel?
— Seu tom de voz é debochado e odeio isso.
— Quero que vá para o inferno! — digo destilando meu
veneno.
— Se fosse minha mulher iria apanhar até não sentir seu
corpo.
— Se eu fosse sua mulher iria preferir a morte — digo virando
meu rosto.
— Não sei por que Heinz está atrás de uma vagabunda feito
você.
— Primeiro vá pesquisar o significado desta palavra, seu
idiota.
Ouço barulho de sapatos ecoarem no corredor e meu
coração gela, não queria ver esse homem na minha frente.
— Acho que chegaram, já era tempo, não aguento mais ficar
um minuto perto desta criatura repugnante — Tommaso diz irritado.
O homem que não sabia o nome levanta da sua cadeira e
segue em direção a porta a abrindo.
Continuo com meu rosto virado, me recusando a olhar em
direção à porta.
— Já era hora — Tommaso diz.
Não se ouve nada, apenas sapatos ecoando no ambiente.
— Tem certeza? — Aquela voz que amaldiçoava meus
pesadelos e ao mesmo tempo me fazia desejar ecoa no ambiente.
Fecho meus olhos com força, sentindo todos aqueles
sentimentos voltarem à tona.
— Ué, como é o nome dela mesmo?
— Vá se fuder, Vacchiano — Heinz diz com a sua
impaciência de sempre.
Passos se aproximam de mim e sinto algo roçar minha perna.
— Pode pintar seu corpo de dourado, mas eu a encontraria
em qualquer lugar minha ninfetinha — sua voz sussurra muito
próximo ao meu ouvido com seu hálito batendo em meu rosto.
Abro meus olhos, viro meu rosto em sua direção e meus
olhos encontram suas esferas frias, encontrando a frieza de sempre.
— Nunca serei sua — digo cada palavra feito uma sentença.
— Sou capaz de mover o mundo para encontrá-la — sua voz
é o sussurro mais atormentador que já presenciei.
Heinz endireita seu corpo, vira se dirigindo aos outros
homens e anda mancando com a ajuda da bengala.
Será que isso é resultado do tiro que dei em sua coxa?
Devo confessar que esses dois anos não o fez mudar em
nada, continua com o mesmo porte altivo, usa seu terno bem
cortado, desenhando bem as curvas do seu corpo e aquela bunda
avantajada que eu desejava até demais.
— Agora vamos acertar os detalhes da nossa aliança,
Vacchiano.
— É aí que está... Sabe que comigo nada é tão fácil quanto
parece, não é mesmo? — Tommaso diz e senta em sua cadeira
atrás da sua mesa.
— Tínhamos um acordo — Heinz vocifera colocando a mão
em sua cintura e vejo que ele pega sua arma na mão.
— E temos, mas para esta aliança estar bem fortalecida,
quero uma união, fiquei sabendo que tem uma irmã — concluiu
abrindo um sorriso vitorioso.
— Verena está fora dos limites — Heinz bate sua bengala
com força no chão.
— Então sua esposinha não sai daqui. Sua esposa em troca
do meu casamento com sua irmã.
— NÃO — berro. — Vocês são loucos, Verena é só uma
criança!
Todos me olham.
— É por isso que mulheres não participam de conversas de
homens, tirem-na daqui — Tommaso diz autoritário.
— Não, Heinz, se me tirar daqui eu nunca o perdoarei.
Estamos falando da Verena, porra! — Fico descontrolada lembrando
da garota doce que falou comigo no telefone.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

De imediato não a reconheci, ela está tão diferente, com


cabelo loiro e roupas que em nada parecia com aquela mulher que
saiu da nossa casa. Zara se tornou o que eles chamam de mulher
fatal, perdeu seu jeito angelical e se tornou uma baita mulher.
Não que antes ela não era, mais agora...
Puta merda!
Só em vê-la usando aquelas roupas justas em seu corpo
maravilhosamente perfeito, me fazem querer fodê-la com força.
Sabia que não seria fácil, afinal quando se trata de Tommaso
pode esperar qualquer coisa.
Mas, Verena, minha irmãzinha de apenas treze anos?
Tommaso queria tirar Zara da sala, pois ela ficou
descontrolada quando tocaram no nome da minha irmã que ela nem
ao menos conhecia.
— Ninguém irá tirar a minha mulher da sala — digo em tom
autoritário sobrepondo a voz de Tommaso. — Melhor, soltem-na!
Sei que ela não irá fugir neste momento, afinal ela não é
doida e há homens por todo lado.
— Porque já não entrega o seu clã na mão dela, hein? —
Tommaso diz em deboche.
Um dos meus homens caminha na direção de Zara e solta
suas mãos e pernas. Minha mulher levanta, e puta que pariu, a
visão dela em pé faz meu corpo inteiro ficar tenso.
Ela está diferente e sua barriga um pouco à mostra me faz
querer tampá-la.
Zara caminha em minha direção com seus olhos raivosos
presos em mim.
— Não vai entregar a sua irmã a este monstro? — Cruza os
braços me olhando.
— Entenda uma coisa, Verena cresceu ou melhor está
crescendo tendo em mente que irá se casar com alguém sem amor.
Minha irmã já está preparada — digo respirando fundo.
Não havia pensado na hipótese de dar a mão da minha irmã
a outro Don, a queria por perto das minhas terras, por isso iria dá-la
em casamento a um dos meus sócios, mas Tommaso estava
totalmente fora dos meus patamares até este momento.
— Então, Heinz? Podemos firmar a união ou pretende deixar
sua esposinha para os meus homens, ou melhor, para eu usufruir?
— Não, isso nunca — vocifero querendo pegar a minha arma,
quando sinto uma mão delicada sobre a minha.
— Aceite com a condição da Verena saber e que esteja de
acordo com todas as cláusulas — Zara diz atraindo meu olhar ao
seu.
— Me poupe, ela não é apenas uma criança? O que ela vai
entender disso? — Tommaso diz impaciente.
— Zara tem razão — digo desviando meus olhos dela e
fuzilando Tommaso. — Podemos firmar esta união com o
consentimento da minha irmã, esteja na Suíça em cinco dias e
estarei com minha irmã lá. Tem a minha palavra.
— E se por um acaso ela não aceitar? — Tommaso dá uma
longa tragada em seu charuto.
— Se ela não aceitar, creio que teremos que arrumar outro
meio — digo perdendo o contato das mãos delicadas de Zara.
— Okay, Zornickel, apenas porque sei que é um homem de
palavra — Tommaso levanta da sua cadeira estende a sua mão e
apertamos com força selando um acordo.
— Agora se me der licença quero voltar para a minha Suíça
— digo me sentindo sufocado neste lugar.
— Tem certeza? Não quer uma estadia? — Tommaso insiste.
— Não, obrigado.
Caminho segurando minha bengala e passo pela casa sendo
acompanhado de alguns de seus homens quando finalmente
encontramos ar fresco.
— Não vou com você.
Olho para trás ao ouvir Zara falar.
— Como? — digo erguendo uma sobrancelha.
— Tenho uma vida aqui, não vou largar o que tenho aqui e
ficar a sua mercê novamente — diz decidida.
— Será que eu a terei que carregar?
— Não tenho medo de atirar em você — Zara diz erguendo
uma arma em sua mão. — Já fiz isso uma vez, posso fazer
novamente.
— Tá tudo bem, venceu — digo com calma tentando fazê-la
abaixar a arma. — Vamos conversar, onde você mora? Podemos ir
até a sua residência?
Zara fica um tempo pensativa até que finalmente concorda.
— Zara — chamo sua atenção. — Quero poder fazer
diferente, esses dois anos longe de você tem sido um verdadeiro
inferno, me deixe ao menos tentar…
Queria tocar no seu ponto fraco, mas ela não cai, o que era
de se esperar, afinal minha mulher não é mais a mesma menina
ingênua.
— Não acredito mais em você. Diante de tantas promessas
quebradas não tem mais como acreditar em você.
Respiro fundo enquanto ela me olha com um semblante
magoado, tentando camuflar por aquela imagem de mulher durona.
— Tudo bem, tem razão, estou disposto a tudo, e desta vez
quero fazer da forma correta. Apenas com você, só com você serei
conivente — digo contra todos os meus demônios, os quais queriam
me persuadir a ser carrasco com ela.
— Se você se atrever a mudar de rota, darei outro tiro, só que
agora na sua perna boa.
Abro um sorriso ao vê-la falar desta forma.
— E não me venha com esses sorrisinhos, desta vez, será da
minha forma.
Confesso que ver essa Zara decidida está me deixando com
um puta tesão.
— Veremos do que é capaz, Zara, ou devo chamá-la de
Chloe? — Irei entrar em seu joguinho e ver até onde ela é capaz de
negar a tensão que há entre nós.
— Pode me chamar de Chloe. Mas o que fez mudar de ideia?
— questiona caminhando em direção ao carro e senta no banco de
trás.
Faço o mesmo sentando ao seu lado.
— Já disse, quero fazer diferente, percebi que para tê-la ao
meu lado ou faço da sua maneira ou viveremos um inferno para
sempre.
— Bem observado.
Zara passa seu endereço e o motorista dá a partida.
— Agora me diga algo que não tem saído da minha mente,
com quantos homens se deitou?
— Sempre direto, não é mesmo? — diz sem soltar a arma da
sua mão. — Não lembro quantos foram, não sou de contar.
Meu lado possessivo entra em ação, só de pensar em
alguém tocando a minha mulher me deixa irado, porém me
contenho.
— Eles te proporcionaram os mesmos desejos que eu dava a
você, Zara? Não minta e fale a verdade.
Seus olhos não desgrudam dos meus e suas esferas azuis
começam a transmitir um certo desejo.
— A resposta é não, Heinz, o que foi uma eterna frustração.
Meu corpo desejando pelo seu me deixa irritada e frustrada.
Neste instante percebo que minhas chances com esta
mulher, gostosa pra cacete, não haviam acabado.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Levo Heinz ao meu apartamento porque sei que bem


provavelmente Yan estará no apartamento da Eleanor. Tiro meu
celular do bolso, quando Heinz o pega da minha mão.
— Me dê isso aqui agora! — digo decidida.
— Como sei que isso é seguro, hein? — diz abrindo o vidro
do seu carro, prestes a jogar meu aparelho.
— Não, vou contar para quem? Não tem ninguém, pode ficar
tranquilo — digo estendendo minha mão.
Com muita relutância entrega meu aparelho.
Não sabia como falar isso, mas não irei para a Suíça e não
ficarei lá, não nas mesmas condições de antes. Não irei confiar de
primeira na sua palavra, da última vez, foram apenas promessas
vagas.
Desbloqueio meu celular e há muitas mensagens de Beth e
Eleanor. Respondo que estou bem e peço para a babá ficar mais um
tempo com Yan.
Finalmente o carro para em frente ao prédio, um edifício
antigo que não tem muito luxo.
— Mora nisso aqui? — Heinz questiona.
— Alguma coisa contra? — digo erguendo uma sobrancelha
e saio do carro ao abrirem a porta.
Heinz pede aos seus homens para ficarem no carro, em um
alemão que agora eu entendo. Quando aprendi o idioma italiano
aproveitei e emendei o alemão, não querendo ficar por fora se
acaso voltasse para aquelas terras.
Caminho na frente de Heinz e cumprimento alguns
moradores que passam por mim olhando de cara feia para o homem
que me segue.
— Esqueci de mencionar, aqui não tem elevador — digo
parando no parapeito da escada.
— Ah, não! Vou ter que chamar um dos meus homens para
me levar no colo.
Olho admirada imaginando a cena.
— Precisava ter gravado a sua reação, eu consigo subir
escada.
— O Heinz 2.0 vem com versão debochada agora? —
pergunto e o vejo abrir um sorriso subindo a escada junto comigo,
porém em uma velocidade mais devagar.
— Está mais para versão 1.0… — resmunga diante da sua
perna manca.
— Desculpa, da próxima vez miro no meio das suas pernas
— digo em tom de deboche.
— Agradeço todos os dias por ter acertado minha perna,
ainda preciso de um herdeiro, e como dizem o tempo está ficando
curto.
Engulo em seco lembrando que ele já tem o seu filho tão
aguardado.
Finalmente chegamos ao segundo andar, paro em frente a
porta do meu apartamento, passo a mão na maçaneta e percebo
que está aberta, Beth deve estar em casa.
— CHEGUEI — berro entrando.
Não demora muito minha amiga aparece com os olhos
apavorados me dando um abraço forte.
— Sei que mandou eu manter a calma caso isso
acontecesse, foi o que fiz, porém foi como se meu coração pudesse
sair pela minha boca — diz em meio ao nosso abraço.
— Estou bem — digo vendo que ela se afasta. — Bem, Beth,
esse é o Heinz, você já sabe quem é.
Minha amiga olha de olhos arregalados para meu marido.
— Merda, isso não é um bom sinal?
— Fica calma, se puder nos deixar a sós... Pode ir à casa da
Eleanor?
Minha amiga concorda olhando com a cara feia para Heinz
ao passar por ele e fechar a porta.
— Presumo que esta sua amiga saiba de mim? — Heinz diz
caminhando em direção à sala junto comigo.
Faço que sim e sento no sofá.
Neste momento me arrependo de ter vindo para cá, há
alguns brinquedos de Yan espalhados pelo chão.
— E ela é de confiança?
— Não vai encostar um dedo seu nela. Beth sempre soube
de tudo e ficou calada — digo autoritária e ele senta ao meu lado.
— Acho que a versão 2.0 ficou para você. Anda com a língua
mais afiada do que imaginava — Heinz diz em tom ameno. —
Quanto a sua amiga fique tranquila, não posso encostar o dedo em
ninguém daqui.
— Descobri que sou mais forte do que pensava quando fugi
de perto de você — digo olhando em seus olhos, vendo que ele
morde o canto da sua cicatriz como sempre faz.
— E quanto as suas roupas? Desde que a vi rebolando sua
bundinha perfeita nesta calça justa fiquei com vontade de fodê-la
com força.
Seu olhar penetrante me deixa levemente úmida, tanto que
cruzo minhas pernas em uma vã tentativa de me manter sóbria
sobre seus encantos.
— Não vou cair na sua lábia, pode tentar o que quiser.
— Então quer dizer que cruzar suas pernas não foi porque
também está com saudade? — Tenta segurar minha perna, mas o
contenho segurando seu braço.
— Já disse que não! Agora sou eu que dou as cartas.
— Não posso virar um cachorrinho seu, Zara — sussurra
revirando os olhos.
— Infelizmente esta é a sua única opção se me quer
realmente, Heinz. Fez esta aliança apenas para ter a mim
novamente? — pergunto mordendo o canto dos meus lábios.
— Estou disposto a fazer tudo por você, esses dois anos
longe só me fizeram perceber o quanto fui um tolo agindo daquela
maneira contigo. Vi o que aconteceu com meus pais, como meu pai
definhou quando minha mãe faleceu, tem ideia o quanto é difícil?
Me entregar a alguém quando são os outros que se entregam a
mim? Me ver tão fraco, impotente diante desse sentimento, perceber
que meus inimigos podem usá-la apenas para me atingir? Já disse
uma vez e vou repetir, Zara, você é meu ponto fraco. Vivi o inferno
longe das suas birras, dos seus toques e da sua fala doce, a qual eu
estraguei, destruí com o que você tinha de melhor. Percebeu? Tudo
que toco eu estrago, mas sou egoísta, a quero, com tudo que há
dentro de mim, ódio, bem, mal, alegria... Não dá, não consigo mais
ficar longe de você — desabafa me fazendo ficar boquiaberta, o que
não durou muito tempo, pois logo ergo minhas barreiras.
— Então prove, prove que me fará feliz.
— O que eu preciso fazer para você entender?
— Me dê a liberdade, se esse sentimento for real ele virá à
tona.
— Não, isso não! — Heinz passa a mão em seu cabelo
impaciente.
— Não vou voltar para aquele lugar e correr o risco de ser
prisioneira novamente — digo lutando contra a minha vontade de
me entregar a ele.
— Não será, prometo, dou a minha palavra. Darei a você o
céu e a Lua se for necessário, mas não me abandone novamente.
— Sua voz contém uma súplica.
— Então faremos um acordo — digo sendo dura e não
abaixando a guarda para ele.
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

— E qual seria este acordo? — Heinz pergunta me olhando


esperançoso.
— Quero liberdade de ir e vir, não quero meu aparelho celular
confiscado e quero ter amigos "vivos" — finalizo sendo irônica.
— Em troca você vai comigo para casa?
Fico um tempo pensativa, ele parece realmente ter mudado.
— Me dê este voto de confiança, Zara, prometo mudar com
você, agora não me peça para mudar meus princípios.
— Com isso está querendo dizer que não irá parar de tirar
vidas? Decidir o futuro das pessoas?
— Sim, isso mesmo. Tenho inimigos e esta é a única forma
de tirar informações ou até mesmo conseguir informações. — Heinz
me olha esperançoso.
— Okay, é como dizem, não podemos mudar totalmente não
é mesmo, porém…
— Sempre tem um, porém — Heinz diz revirando os olhos.
— Quero ser seu braço direito — digo convincente que quero
estar ao seu lado em todos os assuntos.
— Sabe que Jordan já é meu braço direito, não é mesmo? —
Heinz abre um sorriso presunçoso.
— Que seja, posso ser o esquerdo, apenas quero estar a par
de tudo, não quero ser apenas a “esposa troféu”.
— Zara, Zara, o que fazer com você… — Fecha seus olhos,
tombando a cabeça para trás no encosto do sofá.
— Está me pedindo coisas demais — Heinz conclui em um
sussurro.
— Talvez eu deva ficar por aqui mesmo — digo dando de
ombros.
— Não, isso não. — Ergue rapidamente sua cabeça.
— Então o que me diz? — Ergo minha sobrancelha e passo a
perna em volta da sua cintura sentando em seu colo.
— Isso é uma provocação? — Heinz tenta outra vez passar a
mão em minha coxa.
— Não, não, não, mocinho… — digo mordendo o canto do
lábio. — Primeiro quero uma resposta. — Rebolo no seu colo com
sua calça social roçando na minha.
— Não sei por que, estou gostando desta nova versão… —
Abre um dos seus sorrisos.
— Deve ser porque não tenho mais medo de você.
— E alguma vez teve? — sussurra querendo se aproximar do
meu pescoço.
— Pensando bem, acho que não.
— Quanto a sua pergunta, a resposta é sim, se está ruim
essas suas propostas podem ficar ainda pior sem você.
— Isso aí, bom garoto!
— Agora sim estou parecendo um cachorro — Heinz diz em
meio a uma bufada.
— Meu pitbull — digo passando a mão em seu pescoço.
— Que saudade estava destas curvas.
Jogo minha cabeça para trás sentindo seus lábios em meu
pescoço.
Sua boca vai subindo, chegando na minha, nossas línguas se
encontram, em um misto de saudade e desejo, como se elas
pertencessem uma à outra. O beijo é lento, sua barba roça em meus
lábios e seus dedos apertam minha nuca agarrando meu cabelo
com devoção.
— Preciso me enterrar dentro desta bucetinha que tanto
venho sonhando… — diz em meio ao beijo mordendo meus lábios.
Levanto do sofá sob o seu olhar atento, tiro minha bota com
facilidade e jogo minha jaqueta em cima do sofá.
— Se aproxime de mim — pede.
Dou um passo em sua direção ficando entre suas pernas e
seus dedos encontram o botão da minha calça abrindo o zíper e
depois a abaixando com suavidade.
Sua mão espalma minha bunda.
— Não rasgue minha calcinha — peço vendo-o passar seu
dedo na lateral e a puxando.
— Tarde demais, senhora Zornickel — sussurra cheirando o
tecido. — Que saudade estava da minha garota boca suja.
Sorrio encontrando seu olhar.
— Será que seus homens imaginam o quanto eu o tenho nas
minhas mãos? — pergunto empurrando seu corpo contra o sofá e
sentando em seu colo.
— Que isso não passe na imaginação deles, tenho uma
imagem a zelar. — Suas mãos seguram meu rosto. — Continua tão
perfeita quanto eu lembrava, esse cabelo a deixa com um
semblante de mais velha, pensa em voltar para o moreno?
— Por hora, não, gosto de me ver assim… — Rebolo em seu
colo provocando seu membro ereto dentro da calça.
Com facilidade abro o botão da sua calça, em seguida o
zíper, liberando seu membro ao abaixar a cueca. Passo minha mão
em volta do seu membro.
— Isso me faz lembrar que nunca o tive em minha boca —
digo sendo ousada.
— Isso me faz crer que fez isso com outro. — Abro um
sorriso culpado. — Zara Zornickel, eu deveria puni-la por isso…
— Desde que seja com muito sexo.
— Vou fazer você ficar com meu pau um dia inteiro dentro
desta boquinha perfeita. — Passa seus dedos em meus lábios. —
Até ficar com o maxilar doendo, vai me chupar o dia inteiro.
Abro um sorriso sacana, sabendo que conseguia o persuadir,
agora que sei o que faz este homem ter o ponto fraco, vou usar a
meu favor.
Pincelo seu membro em minha entrada, introduzindo com
calma, pressionando todo dentro de mim e gemendo ao senti-lo me
preencher.
— Tão quente e apertadinha — Heinz sussurra com a voz
rouca.
Com a mão em seu ombro, rebolo em seu membro com
pequenos movimentos, o torturando. Heinz aproxima seus lábios do
meu pescoço mordiscando em meio a beijos.
Cavalgo em seu pênis, sentindo saudade do seu toque, até
mesmo do seu perfume amadeirado com cheiro de tabaco.
— Heinz Zornickel — sussurro em meio a uma lamúria. —
Quem diria que eu, que dizia odiá-lo, estaria aqui fazendo uma
proposta contigo.
Seus lábios não desgrudam do meu pescoço, quando ergue
seu rosto com uma mão em minha nuca e a outra em minhas
costas, pressionando meu corpo ao seu.
— Isto tem um nome, minha ninfetinha — diz com a voz
rouca.
Seus lábios tomam os meus em um beijo lento, entre muitas
mordidas eróticas.
— E qual seria este nome? — Me faço de desentendida
chupando seu lábio.
— É amor, paixão ou até mesmo atração.
Intensifico as estocadas, em meio a muitos movimentos de
vai e vem, nos levando aquela sensação maravilhosa, sentindo
nossos corpos entregues de uma maneira única como nunca
fizemos antes.
Meu corpo é o primeiro a dar sinais, aperto seu ombro com
força e minhas unhas fincam em seu colete. Meu corpo vibra e em
meio ao suor, me entrego a ele.
Não demora muito, Heinz vem junto, gemendo alto e urrando
meu nome.
Caio sobre seu corpo, deitando minha cabeça em seu peito
largo e duro.
— Zara? — sussurra meu nome.
— Oi? — digo embriagada pelo pós-sexo.
— Eu acho que te amo, mais do que deveria — diz em meio
a sua confusão.
— Acha, é?
— Não acho, tenho certeza. Eu a amo, senhora Zornickel,
seja minha para sempre? Dessa vez nas condições certas?
Ergo minha cabeça olhando em seus olhos.
— Quero ser sua, Heinz, só Deus sabe o quanto quero isso,
porém vou me pôr como prioridade — digo sendo hipnotizada por
seus lindos olhos azuis.
— Tudo bem, minha linda, vou fazer o que estiver ao meu
alcance para fazê-la a mulher mais realizada de todas.
Abro um sorriso me derretendo ainda mais em seus braços.
Por sorte, Heinz, não quis apertar meus seios, o que me fez
lembrar do meu filho.
— Antes de qualquer coisa, tem algo que precisa saber,
Heinz — digo em meio a um sorriso.
— Não sei por que, estou com medo de saber o que é.
— Vamos colocar nossas roupas, vai ver com seus próprios
olhos.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO

— Fique um tempo aqui, vou ali pegar um negócio e já volto.


— Desde que volte — digo em deboche.
Fico sentado no sofá e noto alguns brinquedos de criança.
Será que a amiga da Zara tem filhos?
Deito minha cabeça para trás, pego meu maço de cigarro
pensando em acender um, mas lembro que Zara não gosta. Então
fico segurando o cigarro em meus dedos.
O sexo com Zara foi melhor que eu esperava, por mais que
tenha sido rápido já que nossos corpos imploravam por aquele
alívio. Começo a ficar nervoso, levanto do sofá e caminho até uma
janela. Observo o apartamento dela, lugar onde ela havia se
escondido por esses dois anos.
Finalmente a porta abre, ouça Zara falando com alguém e
olho em direção à porta da sala. Ela aparece e não está sozinha, há
um garoto em seu colo, espera é um bebê.
— Diga oi para o papai — diz sorrindo para o garoto que
balbucia palavras em meio a sua babação.
— Como? — digo perplexo.
Zara vem andando em minha direção e a ficha não está
caindo.
Ela teve um bebê, o nosso bebê.
— Este é Yan, quando eu fugi não sabia que estava grávida,
não sei como consegui segurar a gravidez depois de tudo que
passei aquele dia — diz pensativa. — Imagina a minha surpresa
quando cheguei na Itália e meses depois descobri que estava
grávida?
Não sei o que dizer, meus olhos estão fixos no menino, uma
pequena cópia dela. Zara empurra o bebê em meu colo e o pego
meio sem jeito, soltando a minha bengala e pondo meu peso sobre
a perna boa.
— Eu já sou pai? — pergunto querendo uma confirmação.
— Sim — responde com um sorriso em seus lábios.
Não tinha como ficar bravo com ela por esconder a gravidez
e seu sorriso é tão radiante que não consigo me conter.
— Ele é lindo como você — digo ao ver o garotinho pôr sua
mão babada em minha barba.
— Dá para acreditar? — conclui e me sinto o homem mais
sortudo.
— Ele tem quanto, um ano e dois ou três meses?
— Um ano e três.
Nem preciso fazer as contas, este moleque é meu.
Seus olhinhos encontram os meus.
— Meu pequeno Don — digo me sentindo o pai mais babão
do mundo.
— Nem vem querer idealizar um futuro obscuro igual ao
seu…— Zara diz me cortando.
— Isso é algo que teremos que conversar, ele é um Zornickel,
e será treinado para ser um futuro Don, porém... — Faço uma pausa
diante do seu olhar reprovador. — Podemos abrir algumas
cláusulas.
— Assim está melhor.
— Mal vejo a hora de te apresentar aos meus homens, garoto
— digo todo orgulhoso ao ver meu menino abrir um sorriso.
— Sei que a conversa está boa demais, mas meus peitos
estão latejando e preciso que ele dê uma esvaziada.
— Vai me trocar assim é, poderia ter feito este serviço
também — digo debochando e entregando nosso filho em seu colo.
— Acredito que não irá gostar muito de leite materno —
concluiu sentando no sofá com Yan.
Abaixa sua blusa e o menino já logo suga seu peito,
enquanto fico observando a cena por alguns segundos e tenho
certeza que ela é uma mãe maravilhosa.
Caminho sentando ao seu lado, passo a mão em seu ombro
e cheiro seu cabelo loiro.
— Quando vamos para casa, diga que pode ser hoje? Não
aguento ficar longe de casa por muito tempo — peço em uma
súplica.
— Tudo bem, mas primeiro preciso passar no meu serviço,
me despedir do pessoal e agradecer as meninas pela ajuda que
elas me deram.
— Não quero que corte laços com essas pessoas se elas te
fazem bem, desde que isso não me ameace em nada — concluo
sendo duro.
Aliso o cabelinho cacheado do meu filho.
— Sabe o cabelo dele lembra muito o do Klaus, em uma das
poucas fotos dele que minha mãe guardava dava para ver pequenos
cachos castanhos. Klaus foi o único dos meus irmãos a vir mais
moreno puxando para meu pai — digo pensativo.
— Estão se dando bem agora? — Zara pergunta vendo
nosso filho dormir diante do leite materno.
— Por incrível que pareça, sim. Klaus está sendo meu
subchefe na Suíça, porém não suja suas mãos de sangue.
— Está vendo só? É pedir demais que faça a mesma coisa?
— Sinceramente, é sim, meu amor — digo sem perceber que
a chamei de forma carinhosa.
— Vou ficar mal-acostumada desta forma.
Zara levanta do sofá com o pequeno Yan em seus braços
adormecido e faz sinal com a cabeça para segui-la.
Caminho atrás da mulher, a todo momento tentando manter
minhas mãos longe dela. Chegamos em seu quarto, onde ela deita
nosso bebê em uma cama de casal.
— Vou tomar um banho, fica de olho nele, às vezes ele se
bate muito quando dorme.
Concordo com a cabeça, deito ao lado do nosso filho e fico
sobre minha mão velando o sono do meu menino, observando cada
detalhe dele, sua perfeição, sua pele de porcelana, um anjo
inocente, que nasceu para servir a máfia. Meu pequeno Don, vou
ensiná-lo desde jovem a se defender e nunca o expor ao perigo
igual meu pai deixou acontecer comigo.
Como pode ser possível amar tanto um serzinho pequeno
deste?
Eu mal o conheço, mas saber que ele saiu de Zara, fruto da
nossa união, está me deixando melancólico.
Sei que prometi a Zara que ele não seria igual a mim, e ele
não será, farei com que ele seja pior, mostrarei ao meu menino
como fugir das armações do amor e para isso eu o obrigarei a casar
cedo com uma jovem que eu escolher, observarei seus gostos e
pegarei uma que seja o oposto.
Não que eu ache que o amor seja uma merda, mas sinto que
este sentimento tem me deixado vulnerável e não quero o mesmo
ao meu filho.
Acabo não percebendo quando o sono me pega e adormeço
ao lado do meu pequeno Don.
CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Saio do banheiro arrumando o cinto da minha calça e solto


meu cabelo do coque ao entrar em meu quarto. Acabo me
deparando com a cena que eu jamais sonhei ver. Heinz está deitado
ao lado do Yan com seu braço protetor em volta do nosso filho.
Decido deixá-los dormir um pouco, dando meia volta e indo
em direção a cozinha.
— Parece que eu perdi a minha amiga — Beth diz entrando
na cozinha.
— Sabe que não. Se tudo sair conforme Heinz prometeu,
poderei vê-la quando quiser.
— E você acreditou, não é mesmo? — Ergue uma
sobrancelha.
— Precisei dar esse voto de confiança para ele, afinal… —
Não consigo concluir, pois Beth me corta.
— Afinal ele te prometeu céus e mundos, conheço esta
história bem. — Revira seus olhos seguindo em direção ao seu
quarto, porém antes conclui: — Não vai mais trabalhar, presumo eu?
— Não. — Encosto no balcão da pia cruzando minhas
pernas. — Vou apenas para me despedir do pessoal.
— Certo, amiga, quero muito seu bem, afinal você e Yan,
merecem todo o amor. Saiba que minhas portas sempre estarão
abertas para vocês. — Sorri forçado ao sair e me deixar só.
Fico olhando para o nada, pensando se essa é a escolha
certa a se fazer e se tudo isso não é um tiro no pé.
Heinz não parece mentir e preciso dar este voto a ele. Afinal,
ele disse que me ama, e eu nem ao menos falei o mesmo. Embora
eu saiba que o sentimento é recíproco.
— No que está pensando?
Ouço Heinz perguntar perto de mim.
Sorrio ao notar que ele está com Yan em seus braços e
nosso bebê puxa o botão da sua blusa.
— Estava apenas divagando... Que sono rápido — digo
sentindo sua mão em minha cintura.
— Parece que Yan sentiu saudade da mamãe.
— Yan, é?
— Okay, tive uma parcela de culpa, pois me mexi e ele
acordou. — Sorri beijando o topo da cabeça do nosso filho. — Isso é
bom, sono leve, nunca vai ser atacado quando estiver dormindo.
Reviro meus olhos e endireito meu corpo.
— Não tenho muitas coisas…
— Não se preocupe com isso, mandarei um dos meus
homens recolher todas as suas coisas, pegue apenas o essencial
para o Yan.
— Certo, chefe — concluo piscando um olho e caminho em
direção ao meu quarto.
Entro em meu cômodo e pego uma bolsa infantil colocando
algumas roupas e utensílios do meu príncipe. Olhar este lugar me
deu uma certa nostalgia, pensar que passei bons momentos ali e,
agora estou voltando ao desconhecido novamente, podendo
cometer o mesmo erro, mas acima de tudo preciso confiar nele,
aquele que me comprou em troca de uma dívida.
Será isso uma escolha certa?
Não sei, mas quero arriscar por mais que seja um tiro às
cegas.
— Pronta? — Heinz aparece me tirando do meu devaneio.
— Sim.
— Não tem o que temer, minha ninfetinha, tudo que falei é
verdade, com exceção de algumas coisas, mas isso não é nada
sério, tudo conciliável.
— Heinz Zornickel. — Cruzo meus braços olhando com cara
feia para ele.
— Fique tranquila, apenas respire e venha. — Sorri fazendo
aquele olhar maligno dele.
— Tem várias formas de eu te punir, marido — digo sorrindo
com malícia.
— Desde que não seja esses negócios de casal, onde a
mulher faz greve de sexo.
— Acertou precisamente — finalizo pegando a bolsa e todos
os acessórios que precisava.
— Zara Zornickel, isso é algo inadmissível — diz atrás de
mim.
— É o que veremos — concluo me aproveitando da situação.
Pego Yan em meu colo, pois com a perna manca, Heinz iria
ter dificuldade de descer com o nosso filho.
— É sério, precisamos conversar sobre isso — Heinz diz
enquanto descemos o último degrau.
— Não tem o que ser discutido, querido.
— Quem diria, reduzido de Don a cachorrinho — sussurra em
deboche.
— É bom saber, não preciso ficar frisando.
Passamos pela porta, vejo seus homens rindo, o que é um
tanto estranho, pois sempre estão sérios e até suas risadas me
causam medo.
— Seus bundas frouxas — Heinz chama a atenção deles e
todos olham. — Estão vendo em primeira mão o futuro Don.
Claro que todos ficam boquiabertos ao ver o bebê em meu
colo.
— Caraca, Heinz — Jordan é o primeiro a se manifestar. —
Você é pai… — diz e se aproxima do amigo lhe dando um abraço.
Outro fato que preciso anotar, não sabia que estes homens
sabiam o que eram um abraço, talvez não tenha passado tempo
suficiente com eles.
— Parece que finalmente sou pai — Heinz diz sorrindo.
— E o melhor de tudo, ele não puxou a você — Jordan diz se
aproximando de Yan que está em meu colo mordendo um
brinquedo.
— Quer morrer, Jordan? — Heinz diz ao amigo.
Todos querem ver o menino de perto, como se ele fosse o
mais novo rei. O fanatismo deles pelo clã é algo admirável, pois só
faltaram se ajoelhar na frente do meu filho.
Entramos no carro após muitos comentários e senti uma
certa nostalgia ao saber que iria me despedir dos meus amigos da
boate.
Heinz ficou com nosso filho em seu colo, conversando com o
menino sobre armas, como se um bebê entendesse algo. Porém
meu medo veio a seguir, meu marido é capaz de tudo pelo menino,
até mesmo lhe dar uma arma quando ainda for jovem demais.
Certamente terei uma longa conversa sobre isso com ele.
Ao chegar na boate entro sozinha, me despeço de todos e
com a glória de Deus recebi até pelos meus dias trabalhados, pelo
visto Giovana está de bom humor ao me ver saindo.
Outra vez me despeço da minha amiga Beth, que havia
chegado para trabalhar. Entre muitas lágrimas, dei adeus a todos,
indo em direção a um futuro incerto, outra vez, pois nada em minha
vida tem um futuro certo.
Sempre essas indecisões, o que é um tanto frustrante.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

A viagem de volta à Suíça foi tranquila, Heinz passou boa


parte ao lado dos seus homens, que resolviam alguns assuntos.
Não quis desgrudar do meu menino, por isso fiquei mais afastada.
Quando finalmente pousamos ao lado da residência, um frio
passou em minha barriga e imagens de tudo que passei ali vieram
feito flashes.
— Heinz… — sussurro apavorada segurando meu filho junto
ao meu corpo com toda a proteção que eu conseguia transmitir.
— Zara, meu amor. — Meu marido senta ao meu lado mesmo
o jatinho já estando vazio.
— Não, não consigo… — digo em meio ao meu tormento.
— Consegue sim, não deixarei ninguém fazer mal a você.
— E quanto a você? Meu maior medo parte de você —
concluo olhando em seus olhos.
— Dou a minha palavra, é a única coisa que posso lhe dar
neste momento. — Estende a sua mão. — Vamos?
Levanto junto dele e caminho à sua frente com nosso filho em
meus braços.
Desço os quatro lances de escada, sentindo o vento gelado
bater em meu rosto, tampando meu filho com a manta. Ando a
passos rápidos indo em direção a porta, havia até esquecido o
quanto aqui é frio.
Sinto a mão de Heinz em minhas costas assim que passo
pela porta. Reconhecendo cada canto deste lugar.
Nada tinha mudado...
Tudo permanecia como aquele dia.
Chegamos na sala de estar, onde Klaus está sentado
folheando um jornal e levanta o olhar nos vendo.
— Olá, cunhadinha.
Fico feliz em perceber que Klaus não perdeu a sua essência.
— Quase não acreditei quando Heinz me mandou uma
mensagem a respeito do meu sobrinho.
Klaus vem andando em nossa direção, dá um beijo delicado
em minha testa e não posso deixar de notar a cicatriz que ele tem
em seu rosto e a tatuagem igual a de Heinz em seu pescoço com
uma cruz tatuada.
— Klaus, seu rosto — digo apavorada.
— Tudo bem, acredita que marcas assim atraem ainda mais
as mulheres? E eu pensando que meu rosto era um pecado antes,
agora ele leva as mulheres ao delírio — meu cunhado diz se
gabando.
— Vejo que tudo se acertou por aqui.
Klaus vai logo pegando Yan em seus braços, o fazendo rir ao
imitar um avião.
— Vou ser o tio mais maneiro, tá legal, o Otto vai ser o
babaca — diz fazendo sons de avião com a sua boca. — Vai
decorando isso, até porque não vai ser tão difícil.
— Me lembre de não o deixar perto de você, vai ser um
coração mole igual ao tio molenga. Otto pelo menos tem sangue nos
olhos — Heinz diz em deboche.
— Vai por mim, Heinz, as crianças me adoram — Klaus diz
rindo. — Vocês não têm essas coisas de casal para fazer? Podem
me deixar com meu sobrinho, vou mostrar o lado bom da casa. E
não é o calabouço, abomino aquele lugar.
— Pode deixar que o calabouço eu mesmo mostro, Yan vai
sentar comigo na poltrona e vamos decidir o que faremos com a
próxima vítima — Heinz diz recebendo meu olhar reprovador.
Meu marido pega em minha mão e segue em direção à
escada.
— CUIDA DELE, KLAUS, LEMBRE-SE ELE NÃO É UM
BONECO — berro olhando para trás.
— Pode deixar, cunha!
Subo os lances de escada devagar, pois Heinz precisa da
ajuda da bengala.
— Sua perna dói?
— Às vezes sim, mas não sempre.
Passamos pelo corredor indo direto ao seu quarto.
— Nem vem querer pedir quarto separado, suas coisas já
estão no meu quarto.
— Nem falei nada — digo revirando meus olhos.
Chegamos ao nosso quarto, ele vai logo abrindo a porta e
entro olhando tudo em volta.
— Poderíamos dar um ar mais harmonioso aqui, o que acha?
É tudo tão escuro.
— Posso pensar no seu caso — diz passando sua mão em
minha cintura me abraçando por trás. — Está se sentindo melhor?
— finaliza sussurrando em meu ouvido.
— Um pouco mais aliviada — concluo virando meu corpo e
ficando de frente a ele.
— Me deixa ver a marca do tiro? — pergunto mordendo o
canto dos meus lábios.
— Vá em frente. — Dá liberdade para abaixar a sua calça.
Me ajoelho à sua frente, abro o seu cinto, o botão e em
seguida o zíper, tudo sob o seu olhar atento.
Abaixo sua calça e noto o volume semiereto do seu pênis.
Como se estivesse em câmera lenta, aproximo minha boca
da sua cueca beijando seu membro por cima do tecido. Sigo dando
beijos até chegar em sua coxa, onde eu atirei. Vejo a marca da bala
e passo a ponta dos meus dedos na cicatriz.
— Eu, eu — digo lembrando que havia dado dois tiros nele,
por isso continuo a falar: — Lembro que dei dois tiros em sua
direção, quanto ao outro tiro?
— Passou de raspão. Como você estava nervosa no
momento, deve ter pensado que me atingiu, mas por sorte, não era
tão boa de mira.
Acaricio seu pênis apertando suavemente.
— Zara, espero que tenha algo em mente quanto a isso —
Heinz diz em meio a sua voz rouca.
Olho para cima mordendo o canto do meu lábio e passo a
língua em seguida. Abaixo sua cueca liberando seu membro, seguro
com ambas as mãos, passo a ponta da minha língua no líquido do
seu pré-gozo e faço cada movimento sem tirar meus olhos dos
seus.
Pincelo a cabeça do seu pau com a minha língua, chupando
em seguida com força, fazendo um estalo ecoar no quarto.
Sua mão encaixa em meu cabelo, aperto com suavidade o
suficiente para ter total acesso aos meus movimentos.
Introduzo todo seu membro em minha boca, sugando até
onde consigo, faço alguns movimentos de vai e vem, tiro seu
membro da minha boca e passo minha língua por toda a sua
extensão, lambuzando meu rosto. Com uma mão em suas bolas,
aperto com suavidade fazendo Heinz respirar com dificuldade.
Ver suas expressões de prazer, faz algo acender dentro de
mim, talvez um certo sentimento de posse. Heinz faz as caretas
mais sensuais possíveis para um homem no pico do seu prazer, o
prazer que eu proporcionava. Isso me faz me sentir uma baita puta
que só conseguia sentir com ele. Queria tudo ao seu lado, poderia
testar todos meus limites em seus braços.
Volto introduzir seu membro, desta vez ele empurra com sua
mão, me fazendo engasgar algumas vezes.
— Zara… — diz em meio ao seu tesão. — Vou gozar, minha
ninfetinha… — diz e revira os olhos.
Chupo seu membro com vontade, sentindo o gosto do seu
líquido que jorra em minha boca.
— Oh, meu Deus, Zara você é minha, só minha…
Sugo tudo o que consigo, tiro seu membro da minha boca e
passo a língua em meus lábios, sugando os resquícios de líquido
que restam ali.
Com a sua ajuda, levanto e fico na ponta dos pés, beijando
seus lábios com suavidade.
— Não sei o que acontece comigo quando está ao meu
lado... Eu realmente não me importo de ser seu cachorrinho, quando
você me dá todo o amor que preciso em troca. O que acontece
entre quatro paredes ninguém precisa saber. Minha musa, razão
pela qual eu ainda vejo esperança em mim.
— Diante de tais palavras não tem como não nutrir
sentimentos por você. Já sentia que te amava. Durante esses dois
anos não teve um único dia que não pensei em você. Mas eu
precisava disso, precisava desse meu amor-próprio ou viraria pó se
continuasse ao seu lado. Esses anos serviram para ambos ver a
real importância na vida do outro. Te amo, Heinz Zornickel, meu
Don!
CAPÍTULO TRINTA E OITO

Três dias depois...


Minhas pálpebras pesavam diante do meu sono, passo a
mão ao lado da cama estranhando Heinz não estar ali, já que nos
dois primeiros dias ele ficou comigo até tarde.
Já era de se imaginar que o conto de fadas acabaria cedo
demais!
Abro meus olhos com dificuldade notando a claridade, olho
para o lado e vejo que já é tarde da manhã. Sento na cama, olho
para o berço de Yan e ele não está ali também, Heinz deve ter
levado nosso filho com ele.
Levanto da cama e vou direto ao closet, infelizmente minhas
roupas ali não eram as mesmas que eu costumava usar. Pego um
vestido na altura do joelho, com um decote moderado, com uma
certa facilidade para pôr meu menino para mamar.
Passo ao lado das sapatilhas pego uma no mesmo tom do
vestido, verde-musgo. Em meio a um bocejo ando até o banheiro,
paro em frente a pia e escovo meus dentes. Penteio meu cabelo
loiro, que precisa retocar a raiz caso queira continuar neste tom.
Após terminar no banheiro saio do nosso quarto.
Ando pelo corredor silencioso e estranho, pois ultimamente
Yan vinha fazendo um certo agito por aqui, ainda mais agora que
aprendeu a dar seus primeiros passinhos.
— Jordan, espera — chamo o consiglieri em sua língua, já
que agora eu sei falar alemão.
Ele olha para trás sério como sempre.
Este homem me causa um certo medo, o que não é
novidade, tudo aqui é tenebroso, mas estou me acostumando.
— Sim, senhora Zornickel?
— Onde está indo? — pergunto deduzindo que ele irá aonde
Heinz está.
— No calabouço, Heinz está lá.
— Vou matar o maldito! — digo furiosa caminhando em
direção ao calabouço.
Passo a passos rápidos por Jordan, sem dar importância a
ele.
Heinz me paga!
Deixei claro para ele que não queria nosso filho naquele
lugar.
Chego no corredor que eu tanto evito, há dois homens
parados na porta e vou logo tentando abrir, porém ela é protegida
com senha.
— HEINZ ZORNICKEL, ABRE ESTA PORTA AGORA —<