Você está na página 1de 8

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE xxx, ESTADO DE xxx.

Processo nº: XXXXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

(PULAR 10 LINHAS)

Raquel Santos, já devidamente


qualificada nos autos do processo crime que lhe move a D. Justiça Pública, por
intermédio de seu Defensor infra-assinado, com procuração anexa (doc.anexo),
não se conformando, “data máxima vênia”, com a sentença de fls.xxx que a
condenou à pena de 6 (seis) anos de reclusão, com base no artigo 33 da Lei
11.343/06, vêm respeitosa e tempestivamente, com fulcro no artigo 593, inciso
I do Código de Processo Penal, interpor o presente recurso de APELAÇÃO.

Termos em que,

Pede e aguarda deferimento.

(Local,) 23 de Abril de 2018.

Assinatura:

OAB :
RAZÕES DA APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DO ESTADO DE xxx.

Processo nº XXXXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE xxx, ESTADO DE xxx

Apelante: Raquel Santos

Apelado: Justiça Pública

Egrégio Tribunal!

Colenda Câmara!

Doutos Julgadores!

Em que pese o ilibado saber jurídico do


Meritíssimo Juiz de 1º grau, impõe-se a reforma da respeitável sentença
condenatória proferida contra a apelante, pelas razões a seguir expostas:

I - DOS FATOS

Segundo denúncia do Ministério Público,


a Apelante encontra-se incursa nas sanções do crime prescrito no art. 33, da
Lei 11.343/06, posto que na data de 26.02.2018, quando voltava do trabalho
para a sua residência foi abordada em uma blitz policial e surpreendida na
posse de 5 gramas de “maconha”, sendo presa em flagrante sob acusação de
Tráfico de Entorpecentes, todavia sendo-lhe concedida a liberdade provisória.
A Apelante foi regularmente processada e
condenada pela prática de tráfico de drogas, com a pena fixada em 6 anos de
reclusão, com o início do cumprimento da mesma em regime fechado ante a
previsão contida no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, salientando ainda que o
Magistrado exasperou a pena-base em 1 ano por entender ser mais reprovável
a conduta daquele que trafica mesmo tendo um sustento lícito, e são estes
fatos que fundamentam a presente Apelação.

II – DO MÉRITO

a) Da Desclassificação do Delito

A Apelante foi imputada a conduta


delituosa prevista no art. 33, da Lei 11.343/06 referente ao tráfico de
entorpecentes, da qual incorre no verbo do tipo ‘’trazer consigo’’, contudo insta
observarmos as estipulações art. 28 § 2º da Lei 11.343 que é preciso em
especificar:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em


depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas:

§2º Para determinar se a droga destinava-se


a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância
apreendida, ao local e às condições em que
se desenvolveu a ação, às circunstâncias
sociais e pessoais, bem como à conduta e
aos antecedentes do agente.

Frente o dispositivo legal, cabe ponderar


que o nobre magistrado ‘’a quo’’ não atentou-se piamente as condições
subjetivas da Apelante no que tange sua primariedade e bons antecedentes,
bem como, deixou de mensurar a cerca da quantidade ínfima, no contexto de
um possível tráfico, de entorpecentes violando, deste modo as disposições
normativas mais justas de serem aplicadas ao caso concreto.

Neste diapasão, diante de tamanha


inobservância, deve por lógico ocorrer a desclassificação do Art. 33 para o Art.
28 lei 11.343/06, e como consequência, deve o presente feito ser anulado
desde o início, conforme previsão do Art. 564, I, do CPP, remetendo-se os
autos ao juiz competente, tendo em vista que o processamento e julgamento
do referido crime é de competência do Juizado Especial Criminal, nos termos
do Art. 48, §1° da lei de drogas.

b) Da Exasperação da Pena

Em caráter suplementar, apenas a título


de argumentação, caso seja entendimento deste Insigne Tribunal manter a
sentença do nobre juízo ‘’a quo’’, resta considerar os ditames do art. 42 da lei
11.343/06, posto que o Magistrado deliberadamente, fundou-se por
paradigmas pessoais e valorativos exasperando a pena-base em 1 ano, tendo
em vista que a Apelante trata-se de pessoa empregada e responsável pelo
próprio sustento, o que dentro de seu entendimento discricionário, contribui de
forma adversa e passível de reprovação mais enfática, a conduta daquele que
trafica mesmo tendo sustente licito.

Nada obstante, vivemos integrados a um


Estado democrático de direito que tem como objetivo basilar a supremacia da
lei em oposto a entendimentos meramente privativos, influenciados por
ideologias e valores próprios, nesta perspectiva o fundamento utilizado pelo
juízo para determinar a elevação da pena base padece de idoneidade, visto
que a Apelante é comprovadamente primaria e possui bons antecedentes,
considerando também a quantidade de droga de apenas 5 gramas, a medida
mais justa e condizente com os valores constitucionais e a segurança jurídica é
a de que a pena base seja reduzida ao patamar mínimo legal, afastado de uma
vez por todas o aumento de pena discricionária imposto pelo Juiz ‘’ a quo’’.
c) Da Redução da Pena

Outrossim, de extrema relevância para o


certame são as disposições disseminadas do parágrafo 4º do art. 33 da Lei
11.343/06, que é preciso ao determinar a redução de pena de um sexto a dois
terços nos casos em que o agente do delito for primário, possuir bons
antecedentes e não for integrante de organização criminosa ou se dedique a
atividades delinquentes.

Comprovadamente no caso em tela,


conforme amplamente debatido, a Apelante adéqua-se cabalmente as
disposições da lei por se tratar de pessoa íntegra, empregada, portanto
responsável pelo próprio sustento, primária e detentora de bons antecedentes,
desta feita incontestavelmente faz jus a redução de pena que lhe aufere a
norma.

d) Do Tráfico Privilegiado

Neste contexto, faz-se crucial ainda


considerar, no que tange a conversão das penas, a não hediondez do delito,
posto que em sentido com Art. 33, §4° da Lei 11.343/06, concomitante a
Resolução n° 5 de 2012 do Senado que suspendeu a execução da expressão
"vedada a conversão em penas restritivas de direitos", o crime imposto a Ré
trata-se de trafico privilegiado, assim sendo, logicamente, não possui um
caráter hediondo, o que consequentemente possibilita a Apelante usufruir da
substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.

Destarte assevera a jurisprudência:

EMENTA: 

Execução Penal – Tráfico privilegiado –


Afastamento do caráter hediondo do delito –
Decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento do HC 118.533/MS e
cancelamento da Súmula 512 pelo Superior
Tribunal de Justiça – Ausência de vinculação
– Recurso provido.

(TJ-SP – Agravo de Execução Penal:


0003064-51.2017.8.26.0154. Comarca: São
José do Rio Preto. Relator: Alexandre
Almeida. Data do Julgamento: 25/04/2018.
Órgão Julgador: 11ª Câmara de Direito
Criminal).

Ementa: Apelação criminal – Tráfico de


substância entorpecente e posse ilegal de
munição de uso permitido – Sentença
condenatória – Pretendidas, em relação ao
tráfico, a absolvição por fragilidade probatória,
a desclassificação para o crime de porte para
consumo próprio, a aplicação do redutor do
parágrafo 4º, do artigo 33,
da Lei nº 11.343/06 e a substituição da
privativa por restritiva de direitos –
Admissibilidade parcial – Elementos
amealhados nos autos insuficientes para a
comprovação da mercancia ilícita –
Apreensão de droga em quantidade
compatível com o uso pessoal do
acusado, o qual admitiu ser usuário e foi
abordado em local não conhecido como
ponto de venda de entorpecente –
Informações apresentadas inverossímeis
com a dinâmica do comércio espúrio
narrado na exordial acusatória, porém
aptas a sustentar a ocorrência do crime do
artigo 28, caput, da Lei nº 11.343/06 –
Desclassificação, de rigor – Fixação de pena
de prestação de serviços à comunidade – No
tocante ao crime de posse ilegal de munição,
materialidade e autoria suficientemente
demonstradas – Depoimento de policiais
valiosos na elucidação dos fatos –
Condenação bem editada, com base em
sólido e convincente acervo probatório –
Penas e regime escorreitamente fixados.
Recurso parcialmente provido. 

(TJ-SP – Apelação Criminal: 0000064-


18.2015.8.26.0573. Comarca: Botucatu.
Relator: Moreira da Silva. Data do
Julgamento: 19/04/2018. Órgão Julgador: 13ª
Câmara de Direito Criminal).
Grifos nossos.

Frente a todo o exposto, resta claro que a


sentença do nobre juízo ‘’a quo’’ padece de reforma, visto que não se acorda
ao disposto na legislação penal pátria, tal qual fundamenta-se em questões
puramente discricionárias e tendenciosas, prejudicando não somente os
interesses e prerrogativas processuais da Apelante, como também, afrontando
os ditames Constitucionais e a segurança jurídica.

III – CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer aos Doutos


Desembargadores, o conhecimento e provimento do recurso, para que haja a
reforma da r. Sentença e consequentemente;

a) O reconhecimento da desclassificação
do tráfico de entorpecentes para o porte de drogas para consumo pessoal, e
em função disto a anulação da presente demanda, desde o início, conforme
previsão do Art. 564, I, CPP, remetendo-se os autos ao juízo competente, tal
qual seja, o Juizado especial criminal;
b) Caso não seja a desclassificação o
entendimento de V. Exas., subsidiariamente, pugna-se pela redução da pena-
base ao patamar mínimo legal, com a aplicação da causa de diminuição de
pena do §4°, do Art.33, substituindo a pena privativa de liberdade em restritiva
de direito ou mesmo o regime aberto, nos termos do Art. 33, §2°, c do CP.

c) Por derradeiro, caso entendam pela


condenação da Apelante, o que não se espera, requer a aplicação da pena no
mínimo legal, com a devida aplicação do § 4º do artigo 33 da Lei 11.343/06,
analisando as circunstâncias pessoais favoráveis (artigo 59, inciso IV,
do Código Penal) e conversão em penas restritivas de direitos, de acordo com
o artigo 44 do Código Penal, posto que a mesma preenche todos os requisitos.

Nesses termos,

Pede e aguarda deferimento.

(Local,) 23 de Abril de 2018.

Assinatura:

OAB:

Você também pode gostar