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Os três choros de José do Egito

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Vinicius Couto

Os três choros de José do Egito

São Paulo 2013

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Copyright © 2013 by Vinicius Couto

Coordenação Editorial Letícia Teófilo


Diagramação Claudio Braghini Junior
Capa Monalisa Morato
Preparação de texto Maria Clara Mangolin
Revisão Mônica Vieira/Project Nine

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Couto, Vinicius
Os três choros de José do Egito / Vinicius Couto. -- Barueri, SP : Ágape, 2013.

1. Cura divina - Ensino bíblico 2. Sofrimento


3. Sofrimento - Aspecto religioso I. Título.

13-01672 CDD-248.86

Índices para catálogo sistemático:


1. Cura divina do sofrimento: Vida cristã 248.86
2. Sofrimento: Cura divina : Vida cristã 248.86

2013
Publicado com autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida sem a devida autorização da Editora.
EDITORA ÁGAPE
Alameda Araguaia 2190 – 11o Andar
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www.editoraagape.com.br

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Agradecimentos

Todas as coisas que fazem-nos sentir realizados co-


meçam com um sonho. Um dia ousei sonhar e tive o pri-
vilégio de receber o apoio das pessoas que estão próximas
de mim. Por isso, gostaria de agradecer, em primeiro lu-
gar, a nosso Deus pela inspiração e pelas palavras que eu
mesmo jamais seria capaz de escrever. Em segundo lugar,
a Jesus pela Graça derramada em minha vida e ao Espírito
Santo pela ajuda e pelo consolo nos momentos mais difí-
ceis. Agradeço à minha família, ao meu pai, à minha mãe
e aos meus dois irmãos pelo incentivo. Ao Pastor Eduardo
da Igreja do Nazareno, em Dores de Campos, à sua famí-
lia e aos irmãos desse Ministério, pois nos acolheram, no
momento em que realmente estávamos precisando, com
grandioso amor em Cristo Jesus. Deus envia-nos amigos
que nos surpreendem e justamente nos momentos em que
mais precisamos. Aos meus irmãos na fé, dos quais optarei
por não citar os nomes, pois não quero correr o risco de me
esquecer de alguém, mas fica aqui o meu sincero abraço a
todos vocês que estiveram ao meu lado todo esse tempo.
Ao saudoso Pastor José Trindade, meu pai na fé, um pie-
doso servo de Deus, e a todos os irmãos da Igreja Assembleia

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de Deus Madureira, na cidade de Barroso. Vocês são ines-
quecíveis. Deixaram marcas vívidas do genuíno amor de
Cristo em meu coração.
Quero agradecer especialmente à mulher dos meus
sonhos, a ungida que Deus me deu, Jaqueline. Como dito
no Talmude, retirada não de cima, para não ser superior a
mim, não debaixo, para não ser humilhada, mas do lado,
isto é, de minha costela, para ser minha companheira, e
próxima ao coração, porque é a parte mais frágil. Nos dias
em que me dediquei a este projeto ela esteve firme, pa-
ciente e apoiou meus esforços. Amo-a demais. Aos meus
filhos Luís Otávio e Priscilla pelas noites que dividiram
seus brinquedos com meu computador enquanto eu escre-
via. Vocês são uma bênção, são os presentes que o Papai
do Céu me deu.
Obrigado a todos que torceram por mim e oraram
para que este projeto pudesse ser concretizado. Peço des-
culpas às pessoas que não foram lembradas, gostaria que o
nome de todos estivesse aqui. Que Deus os abençoe. Que
Deus abençoe a você, amado leitor, e que as bênçãos do
Altíssimo lhe acompanhem por onde quer que vá.

Que a Paz esteja convosco!!!

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Sumário

Prefácio..............................................................................................9
Introdução........................................................................................ 11

Parte I
O Passado..................................................................................................15
Capítulo 1 Conhecendo nosso contexto...............................17

Capítulo 2 Confrontando nossas cisternas.....................29

Capítulo 3 Confrontando nossas prisões.........................43

Parte II
O Presente.................................................................................................57
Capítulo 4 Conhecendo o problema..................................59

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Capítulo 5 Enfrentando o problema agora.................... 73

Capítulo 6 Entendendo os propósitos de Deus...............85

Parte III
O Futuro...................................................................................................101
Capítulo 7 Contemplando o futuro.................................103

Capítulo 8 A cura divina..................................................115

Capítulo 9 O tempo do renovo......................................... 129

Referências bibliográficas.........................................................141

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Prefácio

Foi com muita alegria, em espírito de oração, de re-


conhecimento e de gratidão ao Senhor, que li os originais
deste livro. Considerei com muita atenção cada pensamento
exposto, cada capítulo, as passagens bíblicas nas quais o autor
afirma suas convicções e considerações. Fiquei realmente feliz
diante do encargo que foi, para mim, um privilégio dos mais
gratos e edificantes.
Quando terminei a leitura, convenci-me de que, para
mim, em particular, a obra havia se revelado uma palavra
de cura interior, de saúde para o coração. Exatamente porque
vi expostas, qual em um espelho, situações que me tem sido
comuns e familiares. Para qualquer mágoa, desapontamen-
to ou tristeza, o Senhor oferece solução. Para tanto, basta
aceitarmos a mão que ele estende em nossa direção, a nosso
favor, na pessoa de Jesus, o Médico dos médicos, o verbo que
se fez carne.
Recobrar a saúde é uma das maiores bênçãos que rece-
bemos do Senhor. Males físicos afetam o nosso coração, bem
como situações adversas atingem em cheio o nosso bem-estar.
O interesse de Deus abrange as duas áreas. É importante que

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observemos seus ensinamentos, vivendo de acordo com sua
vontade, que é boa, agradável e perfeita.
O assunto de cada capítulo dá uma ideia precisa do que
o autor deseja oferecer como ajuda para o coração que, de al-
guma forma, tenha sido atingido por qualquer adversidade. É
certo que Deus usou o pastor Vinicius, para, com o presente
livro, levar auxílio, consolo e solução para muitos.
Espero que os benefícios que a mim advieram com a lei-
tura dos originais atinjam a sua vida. Essa é a minha oração.

Rev. Carlos Eduardo da Silva Santos


Titular da Igreja do Nazareno,
em Dores de Campos, Minas Gerais

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Introdução

Os três choros de José do Egito nasceu de um período de


estudo bíblico nos domingos de manhã em nossa igreja lo-
cal. Enquanto estudávamos o livro do Gênesis, percebi que
muitas pessoas estão sofrendo e não sabem. Quantos querem
avançar em suas vidas nas áreas profissional, familiar, conju-
gal e até espiritual, porém não conseguem? Quantas pessoas
vão herdar a vida eterna, mas vão pagar o pesado preço de
andarem limitadas nessa terra? A Igreja preocupou-se com
o lado espiritual por muito tempo e os crentes de nossa ge-
ração têm tido sede pela presença de Deus; é uma geração
que deseja ardentemente mergulhar no Rio de Deus, e isso
é bom. Nos dias de hoje, é fato que a Igreja tem aprendido
sobre o exterior do homem e rompido com muitos paradig-
mas sobre vestimentas, sexo, saúde e vida financeira. Entre-
tanto, a Igreja ainda deixou de lado, por um longo tempo, o
tratamento da alma.
O Apóstolo Paulo escreveu aos tessalonicenses, no
capítulo 5 e versículo 23, que precisamos ser santos em três
níveis: espírito, alma e corpo. O ser humano é, na verdade,
um espírito que possui uma alma e que habita um corpo, e

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satanás, nosso adversário, tem se aproveitado das feridas que
permanecem abertas nas almas de muitas pessoas, e trabalha
arduamente para lançar impedimento na vida dessas pessoas.
Após estudar um pouco mais sobre cura interior perce-
bi que vários homens de Deus em Sua Palavra também preci-
sariam passar por esse processo. Neste livro, especificamente,
abordaremos a história de José, bisneto de Abraão. Alguém
que teve uma história linda, capaz de emocionar a qualquer
pessoa pelo testemunho de sua vitória, mas ao mesmo tem-
po capaz de nos chocar, pois, quando falamos que ele fora
vendido como escravo pelos próprios irmãos, é como se esti-
vessem vendendo um pedaço de pão, sem levar em conta sua
área emocional, psicológica e possíveis traumas.
Quando lemos a história de José, podemos nos identi-
ficar de várias formas. Afinal, ele foi um homem que, após
tanta luta, venceu obstáculos e foi promovido a Governador
do Egito. Quando conhecemos esse trecho de sua vida, acha-
mos que tudo já está bem, pois José conquistara um posto de
honra, que lhe dava glória, fama e poder, elementos que muitas
pessoas estão em busca em nossos dias e que ludibriam aqueles
que os acham suficiente para alcançar a realização pessoal.
José, após alcançar esse cargo, poderia sentir-se o ho-
mem mais realizado do mundo; entretanto, ao ter que encarar
seus irmãos, em Gênesis 42:24, ele enfrentou, na verdade, seu
passado, confrontou suas mágoas e não as suportou, e então
se ausentou de seus familiares para chorar. O mesmo acon-
tece em Gênesis 43:29, quando se encontra com seu irmão
mais novo, Benjamim, e suas entranhas se comovem. Ele sai
rapidamente a fim de procurar um lugar para chorar. Lava seu
rosto e tenta se controlar, fingindo que nada tinha aconteci-

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do. Porém Deus queria lhe dar um tratamento completo e,
em Gênesis 45:1-2, vemos a manifestação da cura divina. José
chorou tão alto que até a casa de Faraó ouviu o grito de sua
alma. Desde então, José não foi mais o mesmo. Era um homem
que estava vivendo com o coração endurecido pelas mágoas
do passado, que já não sabia mais o que era derramar uma lá-
grima, mas, após o tratamento de Deus, tornou-se um chorão.
Tenho certeza que você conhece muitas pessoas como
José. Na verdade, você mesmo é alguém que se identifica
com o que já disse até aqui, e peço-lhe apenas que leia essas
páginas com calma. Não precisa ter pressa. Creio que o
Espírito Santo estará falando ao seu coração todo o tempo.
Sei também que o diabo odeia ver os crentes sarados e deseja
nos manter prisioneiros do passado, por isso, esse pode ser um
dos livros mais difíceis que você já leu ou lerá. Portanto, in-
sista, não deixe sua alma se abater e nem mesmo seu espírito
desfalecer. Creio que da mesma forma que José experimentou
o refrigério em sua alma, você também experimentará.
Antes de começar a leitura, oremos juntos:

“Senhor, nosso Deus e nosso Pai, agradecemos a Ti pela


oportunidade de conhecermos mais da Tua Palavra e pedimos
para que o Senhor possa fluir em cada letra que nossos olhos
discorrerem neste livro. Sabemos que apenas o Senhor é capaz de
nos sondar por completo, por isso te pedimos que possas sondar o
mais íntimo de nossa alma e tratar conforme a Tua vontade. Que
a cada capítulo possa ser derramado o bálsamo do Senhor sobre as
feridas que forem encontradas. Senhor, que o Teu Espírito Santo
ajude e console essa pessoa. Te pedimos em Nome do Amado de
nossas almas. Amém”.

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Parte I

O Passado
Jeremias 29:12 - 14 – Então me invocareis, e ireis, e ora-
reis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quan-
do me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós,
diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte.

Gênesis 42:24 – Nisto José se retirou deles e chorou.


Depois tornou a eles, falou-lhes, e tomou a Simeão dentre eles,
e o amarrou perante os seus olhos.

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Capítulo 1
Conhecendo nosso contexto

Isaías 43:13 – Ainda antes que houvesse dia, eu era; e


nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu,
quem o impedirá?

Quando olhamos para alguém, normalmente tiramos


uma conclusão precipitada a respeito de sua aparência ou de
suas atitudes. Quantos de nós não vivemos pelo ditado secu-
lar de que a primeira impressão é a que fica? Lembro-me de uma
vez em que viajei para fazer um teste em um clube esportivo.
Isso aconteceu antes de minha conversão, mas foi um grande
aprendizado. Estava no ônibus e pedi instrução ao cobrador a
respeito da parada mais próxima do local em que me dirigia
quando, alguns minutos depois, dois rapazes vestidos como
“funkeiros” adentraram no mesmo ônibus e perguntaram ao
cobrador como poderiam chegar ao mesmo lugar ao qual eu
estava indo.
A primeira impressão que tive foi ruim. Temi ser assal-
tado e pensei coisas terríveis a respeito deles, que acabaram
indo junto comigo para o local. Após duas horas de conver-

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sa, senti-me envergonhado por ter pensado aquelas coisas,
pois descobri que eram totalmente diferentes, moravam em
uma cidadezinha do interior de Minas Gerais e eram pessoas
muito simples.
Até cheguei a visitar a casa deles meses depois, e
criamos uma grande amizade. Conheci suas famílias e seus
amigos e passei, desde então, a tomar mais cuidado sobre o
que pensar de alguém.
Na verdade, desprezamos algo muito importante an-
tes de concluirmos algo sobre alguém: o contexto. Deus nos
disse, por intermédio do profeta Isaías, que ainda antes que
houvesse dia, Ele era; ou seja, ainda antes que o conhecêsse-
mos, ainda antes que fôssemos formados, Ele era Deus, não
recebeu esse nome agora. Há uma história, há um contexto.
Quando olhamos para a vinda de Jesus, não podemos
entendê-la apenas lembrando do dia específico do sacrifício
na Cruz. Há uma história, um contexto. Precisamos voltar ao
Gênesis, à criação, ao plano original de Deus e entender
todo o desenrolar da criação e da humanidade.
Lembro-me também de uma vez em que um rapaz as-
sassinou um companheiro em minha cidade por causa de
drogas. As pessoas queriam que ele morresse também, espe-
ravam pelo “olho por olho e dente por dente”. Até mesmo
meu pai, que nesse dia já era crente há pelo menos dois anos,
retrucou o mesmo veredicto, desejando a morte desse rapaz.
Mas quando analisamos seu contexto social, constatamos
que o rapaz criminoso vivia em meio à pobreza, à miséria,
não teve acesso a estudo e acabou ingressando no tráfico de
drogas ao enxergar uma oportunidade de ganhar um dinhei-
ro fácil, rápido e alto. Pode parecer exagero para alguns, há
pessoas que diriam que ele tinha escolha e que poderia ter

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se esforçado mais para mudar sua vida; enfim, certamente
encontraríamos muitos pontos de vista, mas não podemos
desprezar o contexto de vida. Contexto este que levou-o a se
sentir excluído da sociedade, quando saía maltrapilho pelas
ruas e se aproximava de um comércio, e os empresários que
ao lhe verem esboçavam em suas feições o desprezo, marcan-
do a alma desse rapaz.
Há ainda outros contextos a serem avaliados, como o
familiar, o qual não trouxe suporte ao rapaz, e sim a desestru-
tura, pois uma pessoa que não tem pai, e a mãe apenas assina
o nome com a impressão de um polegar imergido na tinta,
certamente carrega sobre si mágoas mui grandes. Conheço
muitas pessoas que não tiveram pai e, ainda hoje, têm difi-
culdades de se relacionar. Alegam que quando estavam na
escola e a presença do pai era requisitada em alguma reunião
ou apresentação, sentiam-se tristes por não o terem ao lado.
Mesmo que a mãe estivesse lá, ainda faltava algo, o que ali-
mentava a sensação de terem sido rejeitados.
Não podemos entender a dor que uma pessoa sente pela
ausência do pai nem mesmo as consequências que isso pode
trazer, a menos que tenhamos vivido isso na pele.
Mesmo olhando o contexto social e o familiar, podería-
mos ainda avaliar outra série de situações, mas vou me ater
à espiritual. Diria até que é a mais importante, pois o sábio
registra em Provérbios 22:6 que devemos ensinar à criança o
caminho em que deve andar. Este caminho não é apenas o de
estudar e se preparar para uma carreira profissional, não é o
de ser um bom cidadão e tampouco o de se ver longe das dro-
gas e más companhias, mas, sim, o Caminho de João 14:6.
O rapaz que cometeu o crime por causa das drogas
cresceu em um lar pseudocristão, muito comum em nossa

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sociedade predominantemente católica. Pessoas que vão à
missa, mas também recorrem a pais de santo em algum ter-
reiro de macumba ou a algum benzedor da esquina tal. Sabe-
mos que o ladrão vem para roubar, matar e destruir, mas não
aceitamos o que vem e se aproveita de pessoas feridas em suas
almas para provocar destruição em outras famílias.
O autor de Hebreus diz assim:

Hebreus 12:15 – “Tendo cuidado de que ninguém se prive


da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando,
vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”.

A amargura provocada pelos demais contextos vão se


infiltrando na alma das pessoas e criando raízes profundas. As
pessoas não conseguem mais chorar de alegria e de tristeza,
não conseguem demonstrar afeto, não mais compartilham da
alegria de outrem, nem mesmo repassam carinho, pois essa
amargura só aumenta. Pessoas contaminadas ao extremo por
esse sentimento são capazes de serem frias ao tirar a vida de
alguém, de se alegrarem com o infortúnio de outros, ou de
contaminarem os que estão próximos a elas com seu desâni-
mo, pessimismo e maledicência.
Quando então meu pai bateu o martelo dizendo que
esse rapaz deveria morrer, eu disse que não! Na verdade,
ele precisa conhecer a Jesus. Ele precisa se arrepender dos
seus pecados, precisa ser curado de suas amarguras, rejeições,
traumas e feridas.
O mesmo aconteceu entre Jesus e a mulher Samarita-
na. Ela era uma mulher desprezada pela sociedade. Vinha de
cinco casamentos que não deram certo e estava vivendo com
um homem que ainda não era oficialmente o seu marido.

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As pessoas nem sequer gostavam de se aproximar dela, pois
o que pensariam delas? O que seria da reputação de um ho-
mem que ficasse a conversar com aquela mulher? As pessoas
poderiam pensar que ele estava saindo com ela, que estava
traindo sua esposa; enfim, as pessoas poderiam pensar muitas
coisas. Até mesmo os discípulos ficaram cautelosos: preferi-
ram “vigiar” (como diria muito crente hoje em dia) e não se
aproximar. João relata 4:27 que os discípulos se admiraram
ao ver o Mestre conversando com aquela mulher.
Jesus, entretanto, não estava preocupado com sua re-
putação, mas sim em trazer cura para aquela filha de Abraão.
Em vez de condená-la, rogou que se dedicasse a adorar em
espírito e em verdade ao Deus Todo-Poderoso. Proporcionou
tão grande alívio que aquela mulher não se importou em sair
pela cidade falando para quem quer que fosse o que o Messias
havia feito por ela.
Ao olharmos para a vida de José, normalmente nos
lembramos de seu glorioso período de Governante do Egito
ou de como fora vendido como escravo, mas esquecemo-nos
de avaliar o contexto familiar. José vivia em uma família
que, embora fosse abençoada por Deus e detentora de uma
promessa divina, passava por conturbados distúrbios familia-
res. Acompanhe comigo sua descendência.
Era bisneto de Abraão, nosso pai na fé, homem que
tem seu nome e feitos gravados na galeria mais impressio-
nante da Bíblia, a dos heróis da fé. Este homem, que já em
sua velhice recebeu uma promessa de Deus, que ousou crer
e isso lhe fora imputado por justiça, certa vez quis ajudar a
promessa de Deus a se cumprir e relacionou-se em um caso
extraconjugal com a aprovação de sua esposa Sara, vindo a
nascer Ismael dessa relação.

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Com o desenrolar da história, vemos as feridas se alas-
trando em Agar, serva de sua esposa, quando esta serviu de
barriga de aluguel a Sara. Recebeu todos os cuidados que
uma gestante tem direito, quando sentia desejo de comer
algo diferente, Abraão levantava de madrugada e rodeava
sua região para encontrar. Aquela mulher nunca tinha rece-
bido um tratamento como aquele, um tratamento de prin-
cesa. Enquanto isso, Sara (que em hebraico é princesa), sua
verdadeira princesa, condoía-se de ciúmes, mas aguentava,
pois era necessário aguardar que a criança nascesse, valia
a pena se sacrificar durante aqueles nove meses.
Em contrapartida, Agar sentia-se humilhada, sentia-se
um objeto que fora utilizado apenas para gerar uma criança.
Sabia que toda aquela mordomia estava prestes a acabar as-
sim que a criança nascesse, Sara trataria de devolvê-la a sua
antiga função, a de escrava.
Agar chegou ao limite da rejeição e das humilhações,
e isso gerou um grande conflito para nosso pai Abraão admi-
nistrar. Deus então revela a Abraão que a criança da alian-
ça não era Ismael, mas sim alguém gerado dele e de Sara.
Abraão pede a Deus um sinal da promessa, e o Senhor o
faz cair em um profundo sono. Durante esse período, Deus
revela a Abraão que sua descendência seria afligida por qua-
trocentos anos em regime escravatório no Egito, mas que
julgaria essa nação opressora (Gn 15:14). Nesse momento,
Abraão pode ver antecipadamente cerca de três milhões de
israelitas saindo do Egito com Moisés, e a chama sonhadora
acende. Nosso Deus gosta de fazer os velhos sonharem, e em
Joel 2:28, durante a promessa da efusão do Espírito, Deus
promete que os velhos sonharão.

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Abraão repassa o sonho da promessa para seu filho Isaque
durante os anos, e este passa também a sonhar este belo sonho
de Deus. Isaque acabou aprendendo com seu pai não apenas
a sonhar, mas a como educar os filhos. Viveu em um ambiente
em que era, sem sombra de dúvidas, o “queridinho da mamãe”.
Teve vários contritos com Ismael até ser separado dele.
Quando Ismael vai embora com sua mãe, Deus já havia
revelado como seriam seus descendentes:

Gênesis 16:12 – “Ele será como um jumento selvagem


entre os homens; a sua mão será contra todos, e a mão de todos
contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos.”

Deus mostra que carregariam uma fúria contra a des-


cendência do irmão. É o que acontece hoje entre israelenses
e palestinos. Resultado da rejeição que Ismael sofrera quan-
do menino.
Isaque aprendera a diferir entre filhos e trouxe o mesmo
sistema para sua casa. Após se casar com Rebeca, nasceram-
-lhes duas crianças, Esaú e Jacó. Este era preferido da mãe, e
aquele preferido do pai. Desde o ventre, essas crianças con-
tendiam entre si, revelando um sinal de Deus de que havia
duas nações no interior do ventre de Rebeca, que, curiosa
acerca de tal fato, ora a Deus e recebe a resposta de que o
mais velho serviria o mais novo.
Não bastasse Isaque sonhar em ver Esaú como um gran-
de líder, chefe de uma grande nação, agora Rebeca é quem
começa a sonhar o sonho de Deus e ela se agarra à promessa
sobre a vida do caçula. Isaque, implantando o sistema edu-
cacional que aprendera com seu pai, deseja no final de sua

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vida abençoar Esaú. Sempre tendemos a olhar essa passagem
com olhos negativos para Jacó, quando “rouba” a bênção do
irmão, e até mesmo para Rebeca, pela instrução que dá ao
filho; mas ela havia se alimentado da promessa de Deus, que
era para o mais novo e não para o mais velho.
Jacó cresceu com a preferência do pai pelo irmão e nesse
dia teve um grande aprendizado: precisamos ser cegos para
escolher quem caminha conosco, pois se Isaque estivesse en-
xergando, Esaú é quem seria abençoado. Precisamos parar de
olhar para a aparência, para os talentos, para as capacidades
e ficarmos cegos, a fim de que possamos ouvir a voz de Deus.
Samuel passou pela mesma escola. Quando viu Eliabe,
achou que era o futuro rei de Israel, quando viu Abinadabe,
teve a mesma impressão; não bastasse este último, veio Samá,
mas ainda não era. Quando então aparece o esquecido Davi,
que ninguém dava nada por ele, Deus revela a Samuel que
Deus não vê como o homem vê, pois este olha para a apa-
rência, para o exterior, e o Senhor olha para o nosso coração.
Depois do ocorrido, Jacó parte em direção à terra de seus
antepassados e no caminho recosta sua cabeça sobre uma pe-
dra, utilizando-a como travesseiro. Lá ele tem um sonho e
vê uma escadaria que liga o céu à terra e anjos que subiam
e desciam por ela. Jacó passa a sonhar os sonhos de Deus e
resolve se tornar um homem sério.
Ele acaba se casando com duas mulheres, enganado
pelo sogro. A primeira, Leia, lhe dá quatro filhos, Rúben,
Simeão, Levi e Judá, e isso gerou uma competição gigantesca
entre as duas esposas. Raquel, não querendo ficar para trás,
entrega sua serva Bila a seu marido, que lhe dá Dã e Naftali.
Em meio a essa disputa, Leia faz o mesmo e entrega Zilpa, sua

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serva, ao marido, que a conhece e gera Gade e Aser. Leia
continua querendo humilhar sua concorrente, e nascem
mais duas crianças, Issacar e Zebulom. Consegue imaginar a
estrutura dessa família? As crianças cresceram em meio a um
ambiente de contendas, disputas e concorrências, até que
Raquel torna-se fecunda e nasce-lhe primeiro José e anos de-
pois Benjamim.
Jacó passa a cuidar de seus doze filhos, os quais crescem
nesse ambiente tenso e concorrido. Toda essa disputa era
também fruto da sensação de rejeição de Leia, que sentia-se
menos amada, pois Raquel, sua irmã, era quem Jacó verda-
deiramente amava. Após o nascimento de Benjamim, Raquel
morre, e as coisas começam a esquentar na casa de Jacó.
José começa a ter sonhos, algo que herdou de seu bisa-
vô Abraão, o qual ousou sonhar com três milhões de israelitas
que sairiam do Egito. Não bastasse José ser sonhador, como
o pai, era filho da mulher que Jacó mais amou. Ele, então,
resolve presentear seu filho com algo especial, uma túnica de
várias cores. Consegue imaginar a confusão que isso renderá?
Rúben, por ser o mais velho, que já tinha direitos a mais pela
tradição, ao saber da túnica, exibia-se para os irmãos, queren-
do saber se viram a túnica que o pai estava fazendo para ele,
já contando com o fato de que o presente lhe pertenceria.
Os demais competiam entre si, mostrando suas qualidades,
tentando justificar que também eram merecedores daquela
túnica, quando, de repente, Jacó entra na sala e entrega o
presente a José. Aquilo desperta ciúmes entre os irmãos, pois
a preferência está estampada e clara para todos.
Essa história continua a se repetir incontrolavelmen-
te nos dias de hoje. Quando avaliamos o contexto de vida

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das pessoas, percebemos como nossas famílias têm parte em
nossa formação.
Meu pai cresceu em uma família da qual não tenho
muitas informações, senão que era um total de quatro ir-
mãos, e que seu lar não era sustentado por muito dinheiro.
Lembro-me que, quando criança, não havia muita união
entre eles, e isso certamente formou a personalidade de
meu pai. Deus tem quebrado seu coração e ele tem aprendi-
do a demonstrar melhor o seu amor. Sempre foi um homem
seco, de poucas palavras e de nenhum elogio. Depois que
veio para Jesus, consigo entender sua linguagem corporal.
Algumas vezes ele tentou dizer que me ama e, embora não
saísse voz, seus olhos embargados em lágrimas e feição emo-
cionada disseram mais do que as palavras. Tenho certeza
que se eu descobrisse melhor seu contexto, poderia explicar
essas dificuldades.
Como não teve a melhor condição financeira em sua
infância, procurou dar o seu máximo para mim e meus ir-
mãos (mais dois). Construiu uma bela casa, grande e acon-
chegante, com um quarto e uma televisão para cada filho.
Hoje sabemos que isso não foi o melhor para nós, pois mais
nos distanciamos do que vivemos felizes, mas a sede dele em
nos proporcionar o que não teve era clara para todos.
Infelizmente, vemos muitos crentes passando sufoco
para viver em paz com a família, com eles mesmos e com as
outras pessoas. Crentes que tentam avançar nos ministérios e
às vezes ficam como que presos pela timidez, pela falta de saber
elogiar, de saber ouvir etc.
A mágoa que foi gerada no coração dos irmãos de José
era tão grande que chegaram ao ponto de querer matá-lo.

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Gênesis 37:18 – “Eles o viram de longe e, antes que che-
gasse aonde estavam, conspiraram contra ele, para o matarem.”

Muitas pessoas estão com ódio intrínseco, sentem nojo,


raiva, vontade de matar ou de morrer por problemas do pas-
sado. Se você sente alguma dessas coisas ao olhar para alguém
que lhe fez mal, provavelmente há uma ferida aberta em sua
alma e que precisa ser fechada. As feridas mais marcantes
vêm das pessoas mais próximas.
John Bevere, em seu livro A isca de satanás,¹ diz o seguinte:

[...] Quanto mais estreita a relação, maior a ofensa! Os


maiores sentimentos de ódio estão entre aqueles que um dia
foram próximos.

Os advogados podem atestar que os casos mais horríveis


estão na audiência de divórcio. A mídia americana cons-
tantemente relata casos de homicídios cometidos por mem-
bros desesperados de uma família. O lar, constituído para
ser um abrigo de proteção, provisão e crescimento, onde
aprendemos a dar e receber amor, é, frequentemente, a raiz
de toda dor. [...]

[...] A lista de ofensa é tão interminável como a de relacio-


namento, não importa quão simples ou complexa. Verdade
seja dita: apenas aqueles com que você se importa são capa-
zes de feri-lo. Você tem uma maior expectativa em relação a
eles – afinal, você deu mais de você a eles. Quanto maior a
expectativa, maior a queda.

Vemos muitos crentes que querem produzir, que querem


frutificar, mas estão marcados pelo ressentimento que famí-
lia, amigos e até mesmo irmãos em Cristo lhes deixaram.

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José quis compartilhar os sonhos que tivera, e os irmãos
debocharam de seus sonhos. Talvez seja você quem está com
sonhos desesperançados, despedaçados, mortos, destruídos,
mas Deus quer restaurá-los.
Gostaria que você avaliasse a sua família, o contexto
em que está inserido. Sei que pode ter passado por coisas muito
marcantes. Alguns leitores foram rejeitados desde o ventre,
várias foram as vezes que a mãe tentou abortar, o próprio pai
ofereceu remédios para que o aborto acontecesse. Outros fo-
ram abandonados pelo pai quando ainda criança. Algumas
moças foram abusadas sexualmente por familiar, vizinho ou
até mesmo pelo pai; mesmo que o pai fosse ministro na igreja
e tenha feito isso, não o culpe. Cada sensação de rejeição que
você possa estar vivendo, não culpe a nenhum deles.
Jesus entendeu esse princípio do contexto. Às vezes as
pessoas fazem coisas horríveis, como matar o Filho de Deus
sem razão alguma, porém, elas não sabem o que fazem. Oremos:

“Pai Celestial, quero ficar livre desses sentimentos. Quero


viver em abundância como prometeu o Teu Filho. Aprendi que
as pessoas fazem coisas e às vezes sem saber o que fazem, por
isso, da mesma forma que Jesus orou, eu oro: Perdoa-os, porque
não sabem o que fazem. Eu também os perdoo, em Nome de
Jesus. Amém.”

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