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NOVO PLURAL 9 • SOLUÇÕES

UNIDADE 2 – TEXTOS DRAMÁTICOS

PÁG. 78
ANTES DE LER
O conjunto de atividades de leiturae escrita aqui propostas visa a mobilizaçãode
conhecimentos adquiridossobre o texto dramático.
I − De narrativo a dramático
O jogo a partir do conhecido e divertido texto de Carlos Drummond de Andrade propicia uma
revisão e aplicação desses conhecimentos. Se o professor considerar oportuno, poderá usar o
jogo como meio de revisitação de um conteúdo gramatical −frases complexas − fornecendo
instruções determinadas para a construção das frases em 1.
II − Texto dramático a partir de imagem
Esta atividade pode funcionar como preparação indireta do estudo do Auto da Barca do
Inferno.

PÁG. 85
LEITURA/ESCRITA
1.a) V; d) F; g) F
b) V; e) F;
c) V; f) V;

2.d) A intemporalidade do teatro de Gil Vicente decorre dos temas e do contexto.

3.1d) as peças foram escritas na corte.

3.2 b) divertia e tornava as críticas mais facilmente aceites.

4. Entrevista a Gil Vicente


A escrita de um guião de entrevista a Gil Vicente e, eventualmente, da entrevista completa
será uma forma produtiva e divertida de recolha, seleção, tratamento e reelaboração da
informação recolhida nos diversos textos sobre Gil Vicente e o seu teatro.

PÁG. 88
LEITURA DO TEXTO
1. O Auto da Barca do Inferno foi encomendado a Gil Vicente pela rainha D. Leonor, viúva de
D. João II, e foi representado perante o rei D. Manuel I.
O argumento da peça é a alegoria da chegada dos mortos ao cais de passagem para a outra
vida, estando no cais duas barcas, uma que vai para o Céu, guiada pelo Anjo, a outra que vai
para o Inferno, guiada pelo Diabo.

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2.Dos preparativos da viagem.


3.O Diabo está alegre, eufórico, como se fosse para uma festa. (“Põebandeiras, que é
festa”.)
3.1 A boa disposição do Diabo deve-se ao facto de ele prever que terá muitos passageiros
para a sua barca. (“e despeja aquele banco /pera a gente que vinrá”.)
4. Esta cena inicial funciona como preparação daquilo que se vai passar, ao mesmo tempo
que o diálogo entre o Diabo e o Companheiro cria um ambiente animado e divertido. Além
disso, a animação que se vive na barca do Diabo, enquanto na do Anjo tudo permanece em
silêncio, prepara os espectadores para o destino das personagens.

GRAMÁTICA
1.Interjeições e locuções interjetivas:houlá!, Ora, muitieramá, hu-u!,Oh!, Ora, sus!, Em
boa hora! má hora,Oh-oh!, Oh-oh!, Oh!.
1.1Correspondem a exclamações que, neste caso, revelam, maioritariamente, o entusiasmo
do Diabo e do Companheiro.
2. Imperativo: vai, atesa, despeja, despeja, abaxa, faze, alija, põe.
2.1O imperativo é repetidamenteusado pelo Diabo que está a dar ordens ao Companheiro,
uma espécie de subalterno seu.
3.1Auto e ato são palavras divergentes do étimo latino actum.
3.2Via erudita − ato; via popular −auto. A palavra ato apenas entrou na Língua Portuguesa
no século XVI e, por isso, está muito próxima do étimo; a palavra auto, já usada na Idade
Média, afastou-se do étimo latino.
4. caro − carro; pera − para; vinrá−virá; abaxa− baixa.

PÁG. 95
LEITURA DO TEXTO
1. Elementos cénicos: pajem, cadeira,manto. Representam o estatuto social de Fidalgo:
o manto (a vaidade pela condição social), o pajem (todos os que o servem e sobre os
quais ele exerce a tirania) e a cadeira (os bens materiais e o poder).

2.Começa por parar junto à barca do Diabo, depois dirige-se à do Anjo e, finalmente,
regressa à do Diabo.

2. No início da cena, o Fidalgo está muitodescontraído e seguro, depois, quando se afasta


da barca do Diabo, começa a revelar preocupação e, ao mesmo tempo, irritação, pois
chama e ninguém lhe responde. Quando começa a falar com o Anjo, tenta recuperar a
segurança, no entanto, ao perceber que não lhe é permitido entrar na barca do
paraíso, mostra-se desanimado e um pouco arrependido de ter confiado no seu
“estado”. Perto do final, chega a mostrar-se humilde perante o Diabo, implora-lhe que
o deixe regressar à vida e, finalmente, mostra-se resignado com o seu destino.

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4.Ironia: “Ó poderoso dom Anrique” (l. 1); “Vejo-vos eu em feição / pera irao nosso cais…”
(ll. 18-19); “Embarqu’a a vossa doçura” (l. 103); “todos bem vos serviremos” (l. 108).
5.1 Com o Diabo, usa o argumento de ter deixado na terra quem reze por ele; com o Anjo usa
o argumento de ser fidalgo.
5.2Defendendo-se com as rezas de outrem, mostra que viveu tão confiante da sua
importância e tão habituado a que os outros fizessem tudo por ele que nem lhe ocorre que as
orações não seriam suficientes para o salvar. O argumento apresentado ao Anjo mostra a
arrogância e presunção do Fidalgo.
6.Gil Vicente pretende criticar a prática errada da religião dos que acreditavam que orações,
missas e práticas superficiais eram mais válidas do que as obras e a fé.
7.A alusão à condenação do pai do Fidalgo alarga a crítica à classe social, dando a entender
que os nobres são condenados, geração após geração.
8.1Divertido, ri do Fidalgo, chama-lhe tolo e mostra-lhe como está enganado em relação ao
desgosto da mulher e da amante.
8.2Alarga-se a crítica às mulheres, atribuindo-lhes falsidade, hipocrisia e infidelidade e
mostrando que o fingimento é transmitido de mães para filhas.
9.1O Fidalgo é acusado de ter vivido a seu prazer, de ser presunçoso e vaidoso e de ter sido
tirano para o povo.
9.2 Dom Anrique é um fidalgo de solar, vaidoso e presunçoso da sua condição social. O longo
manto e o pajem carregando a cadeira revelam essa vaidade e ostentação, tal como a reação
inicial face ao Diabo e depois face ao Anjo revela a arrogância de quem sempre esteve
habituado a que obedecessem às suas ordens. É no estatuto de nobre que ele confia como
razão para ser salvo, tal como sempre confiou ao longo da vida. É por isso que, quando o Anjo
o interpela, ele apresenta como único argumento para a salvação o facto de ser “fidalgo de
solar” e é também por isso que desdenha da barca a que chama “cortiço” e exige que o
tratem por “Vossa Senhoria”. Da vida sentimental ficamos a saber que além da mulher tinha
uma amante, no entanto, sabemos também que afinal, ele que era tão poderoso, era
igualmente enganado por elas. OFidalgo é uma personagem tipo,na medida em que
representa a nobreza e os seus vícios de tirania, presunção, arrogância e ostentação. É
exatamente por isso que, tal como aconteceu com seu pai, é condenado ao Inferno.

PÁG. 96
GRAMÁTICA
1. composição:filho de algo >fidalgo;
evolução fonética: filho de algo >fidoalgo>fidalgo;
evolução semântica: inicialmente significa infanção parapassar a significar nobre.
2.a) adsi>assi >assim – assimilação do -s sobre o -d; paragoge do-m
b)i >aí – inserção do segmento inicial (prótese) a;
c)dolor>door>dor – síncope do l e contração dos -ooem -o.
3.1jurado
3.2Subclasse do nome:
Júri: nome comum coletivo;
Jurado: nome comum.
Relação semântica:
Júri: holónimo;
Jurado: merónimo.

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4. Nas linhas 20-28 e 113-136, é usado o tratamento por tu, indiciando a impaciência do
Fidalgo e o desrespeito crescente que o Diabo tem por ele, à medida que vai recordando a sua
vida.

PÁG. 97
DO PASSADO PARA O PRESENTE
Esta atividade, de leitura e de oralidade,tem como objetivo fundamentala reflexão sobre o
princípio daigualdade, um dos princípios fundamentaisda Constituição da
RepúblicaPortuguesa.
Por outro lado, permite olhar criticamente o passado e compreender melhor o presente.

PÁG. 100
LEITURA DO TEXTO
1.1 Tratando o Onzeneiro por “parente”, o Diabo mostra que tem
qualquer coisa em comum com ele, como se fossem dois membros
de uma mesma família.

1.2Ironia.
1.3 Já que através das suas ações esteve sempre próximo do Diabo que o
inspirou a fazer o mal, irá agora pagar-lhe a inspiração, servindo-o no
Inferno.

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2.Queixa-se de não ter tido tempo para apanhar mais dinheiro e de ter
vindo sem uma única moeda, nem sequer para pagar ao barqueiro.

2.1A queixa mostra bem como, para o Onzeneiro, o dinheiro é a maior


preocupação, a coisa mais importante da sua vida.
2.2Eufemismo de morte.

3.1O Anjo recusa a passagem ao Onzeneiro, argumentando que o bolsão


ocuparia todo o barco. E, quando ele diz que vai vazio, o Anjo responde
que o amor ao dinheiro continua a encher o coração do Onzeneiro.

3.2 Há uma íntima ligação entre a sentença do Anjo e o bolsão, pois o


Onzeneiro é condenado por causa do amor ao dinheiro que o levou a
exercer uma atividade ilícita. Ora, a bolsa representa, precisamente,
essa ligação obsessiva ao dinheiro.

3.3 O Onzeneiro pensa que o Anjo lhe recusa a entrada por não ter
dinheiro para a pagar.l. 43-44

3.3.1Ajusta-se, pois o Onzeneiro dá tanta importância ao dinheiro que


está sempre a pensar nele e pensa que ele pode resolver tudo.

4. A ganância, a ambição, a usura.


4.1No Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente pretende criticar grupos
sociais e não indivíduos e, por isso, as suas personagens são

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personagenstipo. Sendo assim, elas não podem apresentar traços que as


individualizem.

PÁG. 100
GRAMÁTICA
1. São todas verbos com pronome pessoal átono (conjugação pronominal).

2. Presente do indicativo: c, d;
pretérito perfeito do indicativo: a, e, f;
futuro do indicativo: g;
imperativo: b.

3. Dou-vos tanta pancada.

4. Não me leixes buscar batel;


Não me dá tanta borregada.
Não vos darei tanta pancada.
Leixaram-metanto.
4.1Nas frases negativas, o pronome pessoal em adjacência fica em
posição pré-verbal; na frase declarativa afirmativa, é pós-verbal.

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PÁG. 101
OFICINA DE ESCRITA
Em alternativa, esta atividade podeser desenvolvida oralmente, numa breve recriação
dramática.

PÁG. 101
ORALIDADE
É grande a semelhança entre a cena do Onzeneiro e o quadro, sendo a única diferença digna
de registo o facto de, no quadro, a luta Anjo/Diabo (bem/mal) não estar terminada, pois a
morte, embora próxima, ainda não se deu. No entanto, a presença do Diabo é mais forte e o
avarento, virando costas ao Anjo, parece não resistir ao Diabo e estendea mão à bolsa de
dinheiro.

PÁG. 102
DO PASSADO PARA O PRESENTE
1. Para o Onzeneiro, o dinheiro é acoisa mais importante da vida; por isso, a sua vida foi
comandada pelo dinheiro e até na hora da morte é o dinheiro que mais o preocupa.
A crónica de R. Araújo Pereira mostra como é o dinheiro que comanda a sociedade, sendo a
economia a grande tirana, pois, como diz no final, tudo já se submeteu a ela.
2.1Verbos defetivos: verbos de conjugação incompleta; só se conjugam em algumas pessoas
e tempos.
2.2 Ex.: Nesse dia chovia mas as árvores floriam.

PÁGS. 104-105
LEITURA DO TEXTO

1. Cómico de situação (por ex., o Parvo pergunta se deve entrar a


pular ou a voar); cómico de linguagem (nas falas do Parvo (“de
caganeira./ De quê? De cagamerdeira”); cómico de carácter (de
certa forma, poderemos considerar que a própria personagem
apresenta traços de carácter cómicos).

2. Numapeça cujo argumento se centra no julgamento da vida das


personagens e cuja intenção é a crítica à sociedade, o passado só
interessa para revelar os pecados cometidos. Se o Parvo não pode
ter cometido nenhum pecado, porque não age com consciência do
mal, não faria sentido referenciar o seu passado.

2.1 Os símbolos cénicos estão relacionados com a vida terrena, ao


nível dos pecados cometidos. Se o Parvo não pecou, não

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transporta qualquer símbolo.(Os símbolos também ajudam a caracterizar a personagem, mas


o Parvo seria, com certeza, identificável pelo vestuário).

3. Nem chega a ter oportunidade de argumentar, pois o Anjo não lhe


recusa a entrada, além disso, para ele, embarcar para o Céu é tão simples e natural que nem precisa de se
esforçar.

3.1 Porque Joane é um simples, um pobre de espírito que nunca


pecou l.65-66.

4. A autoapresentação revela a simplicidade, relacionando-se com o


destino final, a salvação.

5. O PARVO é uma personagem de exceção no Auto. Apresenta-se sem


nada e, com graça, simplicidade e ingenuidade, diz-se tolo. Descontraído,
queixa-se por ter morrido, e só se irrita quando o Diabo o quer levar para
o Inferno, insultando-o, revelando o carácter descomedido e sem autocensura, próprio de um pobre de
espírito.Ao Anjo afirma ser talvez alguém (samica alguém = quase ninguém),

apresentação sintetizadora da sua simplicidade. Salva-se porque não há


maldade nos seus atos. Este Joane (assim se chamavam normalmente os
Parvos, personagem tipo do teatro medieval) é a concretização do
preceito cristão, “bem aventurados os pobres de espírito porque deles é o
reino dos Céus”.

PÁG. 105
GRAMÁTICA
1.1A relação estabelece-se em torno do conceito de pequenez. Assim, muito pequeno passou
a significar muito pequeno de espírito.
1.2 A palavra sofreu uma evolução semântica.
1.3parvulu(m)>parvoo>parvo: apócopedo m; síncope do l; contração das vogais oo.
3. O uso do calão está de acordo com a intenção que preside à construção da personagem,
pois acentua o seu carácter descomedido de pobre de espírito e provoca o cómico.

ESCRITA
2. Resumo
O Parvo tem origem numa personagem das sotties, representaçõescarnavalescas medievais
francesas e europeias. Normalmente usava túnica cinzenta, a partir do século XV sobretudo
verde e amarela, guizos, cabeça rapada com orelhas de burro ou funil, rosto enfarinhado
mascarado. Entrava em cena ruidosamente, dançando e fazendo acrobacias.
3. Síntese
A “naviarra dos tolos” é uma alusão ao poema satírico alemão “A Nave dos Loucos”, de 1494,
e ao quadro homónimo de Bosch. Num mundo às avessas, o Parvo é um pobre de espírito
merecedor do céu.

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JERÓNIMO BOSCH – O pintor daloucura


A propósito do texto B, poderá ser proposta aos alunos uma observação do quadro de
Jerónimo Bosch, intimamente relacionado com a cena do Parvo e com o Auto da Barcado
Inferno, em geral. Repare-se:
−na barca;
−nas personagens e suas atitudes;
−no Parvo, à margem;
−no diabo a espreitar na árvore.
Uma breve pesquisa poderá permitir aos alunos um contacto com a obra deste excecional
pintor contemporâneo de Gil Vicente. Para aqueles que tiverem oportunidade de visitar o
Museu de Arte Antigaem Lisboa, poderão ver ao vivo omagnífico tríptico de Bosch
“AsTentações de Santo Antão” (no mesmo museu poderão ver outra obra-prima próxima de
Gil Vicente – “Os painéis de S. Vicente” – e ainda a célebre Custódia de Belém atribuída a Gil
Vicente.

PÁG. 107
DO PASSADO PARA O PRESENTE
1. O Parvo hoje
No cinema, Charlot de Charlie Chaplin, Mister Bean, MonsieurHulotde Jacques Tati, na BD,
Pateta de Walt Disney, Obélixde Uderzo-Gosciny são personagens que representam, no
essencial, o mesmo que o Parvo; são simples, pelo menos na aparência, pouco inteligentes,
trapalhões, engraçados e sem maldade. São personagens divertidas, geradoras de cómico, e
que, em regra, contrastam com os outros. Por vezes é através deles que, de uma forma
aparentemente infantil, se põe a verdade a nu. Muito frequente no teatro, no cinema, na
banda desenhada, este tipo de personagem é também muito utilizado em rádio e televisão:
Herman José, os Gatos Fedorentos, Bruno Nogueira, são nomes incontornáveis.
2. Ser parvo num mundo parvo
− O sujeito poético afirma-se “parva”, porque faz parte de uma geração que não tem
trabalho e não luta contra essa condição, deixa-se ficar em casa dos pais, resignada, adiando
os projetos de futuro e pensando que não vale a pena lutar.
− Por outro lado afirma, ironicamente, que o mundo (entenda-se a sociedade) é “parvo”,
porque garante a escolaridade aos jovens, mas depois não lhes garante emprego ou dá-lhes
tão más condições que é como se os reduzisse a escravos.
− A intenção é claramente criticar a falta de oportunidade que a sociedadedá aos jovens e, ao
mesmotempo, espicaçar os jovenspara a necessidade de lutaremcontra o conformismo,
agarrando o futuro nas suas mãos.

PÁG. 109
LEITURA DO TEXTO
1.1 O Sapateiro usa como argumentos para ser salvo o facto de se ter
confessado, comungado, ter ouvido muitas missas e ter dado ofertas
à igreja.

1.2 O Diabo contrapõe, como motivo de condenação, os roubos que o


Sapateiro praticou e o facto de ter “calado dous mil enganos”.

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1.3 Tal como o Sapateiro, o Fidalgo confiava que as rezas se poderiam


sobrepor aos pecados, afirmando, em sua defesa, que deixava na
vida quem rezasse por ele.

1.4 A condenação das personagens que pecaram, apesar das rezas que
fizeram ou mandaram fazer, encerra uma crítica à forma
superficial como muitos católicos praticavam a religião, pensando
que as rezas, as missas, as comunhões tinham mais valor do que
a prática do bem.
2.Porque o Sapateiro pecou ao roubar os clientes.
2.1Os símbolos cénicos do Sapateiro são o avental e as formas que
representam exatamente a sua profissão. Uma vez que o Sapateiro é
condenado por ter roubado os clientes, há uma relação direta entre os
símbolos e os pecados que lhe são imputados.
GRAMÁTICA
1.Valor polissémico: carregado (com muito peso) e carregado (commuitos
e muito grandes pecados).Do mesmo modo, cárrega(peso) e carrega (peso
dos pecados).
2.1 Calão: na 4.ª, 8.ª e 10.ª falas do Sapateiro.
2.2O registo de língua usado pelo Sapateiro está de acordo com a
condição popular da personagem.

3.1Profissões: jardineiro, moleiro, padeiro, joalheiro, carpinteiro, serralheiro, barbeiro,


ferreiro, tanoeiro,barqueiro, chapeleiro.
3.2Estomatologista, gastroenterologista, taxista, alfarrabista, ervanário, bibliotecário.
3.3 precetor − encarregado da educação de crianças; estivador − que trabalha nas cargas e
descargas dos navios; silvicultor − que se dedica ao estudo dos métodos de regenerar e
melhorar as florestas; controlador − que orienta e coordena o tráfego de aviões; apicultor
−que cria e trata de abelhas.

DO PASSADO PARA O PRESENTE


Esta atividade pode ser desenvolvida em diversos suportes, pois a entrevista pode ser escrita,
oral, em áudio ou em vídeo. O importante é que, a par do treino de um modelo textual que
para os alunos é muito simples, se promova um domínio relevante da educação para a
cidadania − os direitos dos consumidores.

PÁG. 113

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LEITURA DO TEXTO
1. Esta apresentação revela que é um frade mundano, frequentador
da corte e dos seus prazeres.

2. Elementos cénicos: hábito de frade, equipamento de esgrima −


capacete, escudo, espada − e a rapariga.

2.1 O equipamento de esgrima representa o lado mundano do Frade


que, em vida, se dedicou a atividades nada próprias da sua
condição. A rapariga representa a quebra dos votos de castidade
que, como clérigo, tinha feito.

2.2 Critica-se no Frade o desajuste entre a sua condição eclesiástica


e a vida que levou. Por isso, os símbolos que traz representam os
aspetos em que essa vida se afastou do seu dever como clérigo.

3.1Ele deveria ser alguém dedicado à alma, ao espírito, acima das coisas
do mundo, mas é mundanal e, daí, a contradição.

3.2 “Um padre tão namorado”, “Devoto padre marido”, “padre Frei
Capacete”.

4.1A afirmação alarga a crítica aos outros frades, mostrando que a


quebra dos votos de castidade de Frei Babriel não é exceção, é um hábito
generalizado.

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4.2 O Frade é uma personagem tipo através da qual Gil Vicente pretende
criticar uma classe − o clero − acusando os seus membros de viverem em
desconformidade com as suas obrigações.
5.1“Som cortesão”, “Por minha la tenho eu, / e sempre a tive de meu”,“Eu hei de ser condenado? / Um padre tão namorado”,
“Por ser namorado / e folgar com ˜ua mulher / se há um frade de perder”, “Sabê que fui da pessoa”.
5.2O Frade não esconde o seu passado e até o assume, pois está
convencido de que por ser frade é impune.
6.A sua condição de frade é o argumento para ele irrefutável.

6.1Pretende mostrar-se que os clérigos se consideravam muito importantes e impunes. Tal


crítica revela o mal-estar na sociedade pelo facto de os clérigos serem cada vez em maior
número e mais ricos e poderosos.
7.O Frade é uma das personagens mais duramente criticadas, mas é uma das mais divertidas.
Desde a chegada, a dançar e a cantar, até quase ao final, mostra-se alegre. Assume-se como
frequentador da corte, o que revela o seu lado mundano e pouco dado à clausura. Essa
característica é confirmada quando diz saber dançar o tordião e esgrimir, atributos dos jovens
e galantes nobres. Não cumpriu os votos de pobreza e castidade, como se comprova pela
moça e pelas próprias palavras. Parece ter-se limitado a fazer o que os outros frades faziam,
com a arrogância de quem pensava que tudo lhe era permitido só por ser membro da Igreja. É
uma personagem tipo,através da qual se critica a formacomo o clero dava razão ao
velhoditado “Como Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”.
8. Cómico de situação, quando o Frade entra em cena a dançar com a moça, quando dá lição
de esgrima ou na combinação do hábito de frade e adereços de esgrima; cómicode linguagem
na repetição maquinal de “Deo gratias”.
8.1Ironia: “Pois, entrai! Eu tangerei / e faremos um serão”; “Fezeste bem, que é fermosa”;
“Que cousa tão preciosa...”; “E não vos punham lá grosa, / no vosso convento santo?”,
“Entrai,
padre reverendo!”; “Gentil padre mundanal”, “Um padre tão namorado, / e tanto dado à
virtude!...”
9.1A recusa do Anjo mostra a gravidade dos atos do Frade, considerando, assim, mais
repugnante o Frade pecar do que qualquer outra pessoa, pois ele, como elemento da Igreja,
deveria dar o exemplo.
9.2Ao ver que nem sequer era recebido pelo Anjo, o Frade percebe que não tem qualquer
hipótese. Afinal ele, como clérigo, conhecia as regras como ninguém, só que se tinha
habituado,
em vida, a não as cumprir.

GRAMÁTICA
1.1Oração subordinante: Fezeste bem; oração subordinada adverbialcausal: que é fermosa!

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1.2Sujeito: subentendido (vós); predicado: Fezeste bem; complemento oblíquo: bem. Sujeito:
nulo subentendido: (ela); predicado: é fermosa;predicativo do sujeito: fermosa.

PÁG. 117
LEITURA DO TEXTO
1. O Diabo fica muito contente.
1.1Porque tem a certeza de que é mais uma passageira para a sua barca.

2.1Um enorme carregamento − virgos postiços, arcas de feitiços,


armários de mentir, cofres de enleios, roubos, joias, guarda-roupa
d’encobrir, casa movediça, estrado de cortiça, coxins de encobrir, moças
que vendia− símbolos da atividade ligada à prostituição.

2.2. postiços, feitiços, mentir, enleios, alheios, encobrir.


2.2.1A personagem é hipócrita e mentirosa hábil que tenta fazer-se de vítima inofensiva para convencer os outros daquilo que
lhe interessa.
3.Diz que não entra sem Joana de Valdês, depois diz simplesmente, com alguma arrogância, que não quer entrar.

4- Começa por adular, depois faz-se de vítima e implora


humildemente.

5.1“Peço-vo-lo de giolhos”, “anjo de Deos”, “cónegos da Sé”, “fé”,


“apostolada, angelada, martelada”, “divinas”, “Santa Ursula”,”
converteo”, “Aquele do Céo”.

5.2Ela tenta usar uma linguagem que lhe parece a das pessoas boas, para
parecer boa, aos olhos do Anjo.

6.1O facto de já ter sido punida com açoites pela justiça, na terra. Ao
Anjo, ela argumenta que serviu o clero, entregando meninas aos cónegos
da Sé e que salvou muitas raparigas, arranjando-lhes “dono”.

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7. A Alcoviteira é caracterizada por si própria (nem o Diabo nem o Anjo fazem qualquer
afirmação sobre ela). Ela fala tanto sobre a sua atividade que não é necessário lembrar-lhe os
seus pecados. Na enumeração dos símbolos cénicos, ela revela que se dedicava a atividades
ligadas à prostituição e à prática de alguma feitiçaria, provavelmente relacionada com os
amores. Ao Anjo revela que os membros do clero eram seus clientes. A par desta
caracterização
direta, é fácil analisar o comportamento e as palavras de Brízida Vaz em cena e fazer uma
caracterização indireta que confirma completamente a primeira. Assim, quando descreve os
objetos que transporta, utiliza tantas palavras do campo semântico da mentira, que ficamos
imediatamente a saber que enganar os outros era a sua profissão, o que é confirmado ainda
pela forma hipócrita como se dirige ao Anjo para conseguir que ele a deixe entrar na barca do
Paraíso.
8. Gil Vicente visava criticar a atividade da Alcoviteira, mas também os seus clientes,
sobretudo os clérigos que recorriam aos favores destas mulheres para arranjarem raparigas.

PÁG. 118
GRAMÁTICA
1. alcova: aposento, adjacente a uma sala e de dimensões reduzidas, destinado a servir de
dormitório; pequeno quarto de dormir situado nointerior da casa, sem passagens para o
exterior; quarto de mulher; quarto de casal. (in Dicionário Houaiss daLíngua Portuguesa)
1.1Superstrato árabe: albarda, alfarrábio, alfândega, alfarroba, alfazema, alfinete, alface,
alforge, algarismo, álgebra, algema, algeroz, algibeira, algodão, algoz, alicerce, aljava,
almirante, almude, alperce, alqueire, alquimia.
2.Arcaísmos: bofé, mor.
3.oculum>oculu>oclu> olho – apócope do m; alteração do grupo cloem lho.
3.1Divergentes.
3.2olho provém do étimo latino oculumque, durante séculos, foi sofrendo transformações
fonéticas, na sua utilização pelo povo, até adquirir esta forma – formou-se por via popular;
óculo surgiu num momento em que um escritor, um cientista ou um erudito decalcou o nome
do Latim e o introduziu na língua, através da sua escrita – formou-se por via erudita.
4.1 Verbo auxiliar temporal: há de
4.2Frases: há de vir cá; havêsd’embarcar; Lá hei de ir desta maré;havês de levar pois não
m’há de aproveitar!
4.3havês d’embarcar: embarcareis; hei de ir: irei; havês de levar: levareis; não m’há de
aproveitar!: não me aproveitará.

PÁG. 120
LEITURA DO TEXTO
1. Este desagrado do Diabo é uma forma de mostrar que, aos judeus, nem o Diabo os queria.
2.1Analisando do ponto de vista do Judeu, porque ele sabe que não será aceite na barca da
Glória já que, em vida, nunca foi aceite nos lugares dos cristãos. Do ponto de vista cristão,
porque os judeus eram de tal modo mal considerados, que nem sequer poderiam admitir a
hipótese de encaminhar a personagem para a barca do Anjo.

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2.2 Tenta entrar através do seu dinheiro.


2.2.1É uma forma de mostrar uma das características sempre atribuídas aos judeus, a sua
forte ligação ao dinheiro.
3.1Simboliza a religião judaica.
3.2Recusa deixar o bode em terra para mostrar que os judeus nunca deixariam de o ser.
4.1Insinua que o Judeu roubou a cabra e acusa-o de ter cometido várias ofensas à religião
católica, como ter profanado a igreja e não ter respeitado o jejum.
4.2No seu ódio aos judeus, os cristãos acusavam-nos de diversas ações criminosas,
nomeadamente de enriquecerem à custa de roubos de natureza diversa. Além disso, e mais
grave que tudo, acusavam-nos de atentar contra a religião católica, cometendo as mais
variadas
profanações.

LEITURA
1. Judeus sécs. XV e XVI
Número − à roda dos 30 000
Locais − todo o país, sobretudo nas cidades (Lisboa, Santarém, Évora, Porto, Covilhã, Guarda,
Lamego, Coimbra e Setúbal)
Organização − em comunas dirigidaspor um rabi nomeado pelo rei
Classes − 3 grupos:
−pequeno grupo privilegiado (banqueiros, mercadores, físicos, administradores);
−artesãos (alfaiates, ourives, ferreiros, sapateiros, comerciantes);
−pobres (minoria);
Deveres − pagamento de pesados impostos;
−viver em guetos (Judiarias) com muralhas e portões que se fechavamà noite.
2. Expulsão e massacre dos judeus
−Em 1496 D. Manuel ordenou que os Judeus e Mouros fossem expulsos, caso não se
convertessem no prazo de 10 meses.
−Em 1506, durante 3 dias, cerca de 4000 judeus foram chacinados em Lisboa por fanáticos
católicos que os acusavam de provocar a peste.
−Judeus ilustres expulsos
Abraão Usque: intelectual exilado em Itália, publicou, entre outras obras, Menina e Moça de
Bernardim Ribeiro e a Bíblia de Ferrara.
Abraão Zacuto (1450-1510): astrónomo, matemático, historiador, serviu nas cortes de D. João
II e D. Manuel e, como conselheiro, foi um entusiasta apoiante da viagem por mar à Índia,
contudo, depois da viagem de Vasco da Gama, foi expulso de Portugal.
Amato Lusitano (1511-1568): médico e intelectual de Castelo Branco, estudou em Salamanca
mas, impedido de regressar a Portugal pela Inquisição, viajou pela Europa, estabelecendo-se
em Itália, onde foi professor, na Universidade de Ferrara, e médico do Papa Júlio III.
GraciaNasi(1510-1569): empresária refugiada na Holanda e depois em Constantinopla, salvou
milhares de judeus da morte.
Leão Hebreu (1464-1535): médico, filósofo e poeta, expulso de Portugal, escreveu Diálogos
de Amor.
Samuel Usque (1500-1555): escritor refugiado em Itália, publicou Consolação às Tribulações
de Israel, obra que, inspirada na Bíbliae nos clássicos, conta a história do povo judeu.
Isaac Abramavel(1437-1508): filósofo, diplomata, banqueiro, tesoureiro de D. Afonso V, caiu
em desgraça com D. João II, refugiando-se em Espanha onde, apesar de ter emprestado
grandes somas em dinheiro ao rei, foi expulso, fugindo para Veneza.

PÁG. 122

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GRAMÁTICA
1.1 Judiação− ato de fazer de alguém alvo de escárnio ou de maus-tratos;
judiar− tratar mal;
judiaria− (fig.) ato de maltratar alguém.
1.2Safardana− indivíduo sem escrúpulos, canalha.
1.3 Somítico− avarento.
2.2“Em algumas aldeias perdidas das Beiras ou de Trás-os-Montes talvez ainda seja possível
pedir uma toa e encontrar alguém que lha traga”. O advérbio talvez é a palavra responsável
pela diminuição do grau de certeza.
2.3Ex.: Nesse tempo, eu andava à toa na vida, sem objetivos nem sonhos, por isso sentia-me
uma pessoa à-toa, estúpida e inútil.
3.1Oração subordinante−“Vós, judeu, irês à toa,”
Oração subordinada adverbial causal−“que sois mui ruim pessoa”.
3.2 Oração subordinante
Vós: sujeito;
judeu: vocativo;
irês à toa: predicado;
à toa: complemento oblíquo.
Oração subordinada adverbial causal
sujeito nulo subentendido (vós);
sois mui ruim pessoa: predicado;
mui ruim pessoa: predicativo do sujeito.

PÁG. 123
DO PASSADO PARA O PRESENTE
1. RODA DE LIVROS
Romances históricos
−Grácia Nasi, Esther Mucznik
−A Senhora, Catherine Clément
Grácia Nasi, judia portuguesa, nasceu em 1510, com o nome cristão de Beatriz de Luna. Viúva
aos 25 anos, e herdeira de um império comercial que administra com inteligência, tem de
fugir do país, usando a fortuna para ajudar muitos judeus a escapar à Inquisição.
−O Último Cabalista de Lisboa, Richard Zimler
Em 1506, em Lisboa, 4000 cristãos-novos foram mortos e queimados no Rossio. Na sequência
desse massacre, um misterioso crime foi cometido, tendo sido assassinado o último cabalista
de Lisboa. Cabe aBerequias Zarco, o sobrinho da vítima, desvendar o mistério.
−Boas Fadas que te Fadem, Monteiro Cardoso
Uma história de paixão, crime e fuga, num ambiente de perseguições contra os cristãos-
novos.
Viver e morrer no Holocausto
Os 7 primeiros livros recomendados são narrativas breves e simples, acessíveis a alunos do 9.º
Ano. Os outros, embora igualmente fáceis, constituem narrativas mais longas e, por isso,
exigem um maior ritmo de leitura.
2.ISRAEL E PALESTINA
É importante que os jovens se interessem, desde cedo, pela realidade que os rodeia e não
assistam alheados aos dramas do telejornal, pois tal alheamento pode converter-se em
perigosa banalização da violência. Com esta atividade, de leitura, oralidade e escrita,
procura-se, exatamente, promover a aquisição de informação sobre o conflito bélico mais
recorrente nos noticiários, desde há algumas décadas.

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Saberão que, 3 anos depois do fim do Holocausto, em 1948, foi proclamado, na Palestina, o
Estado de Israel e que, para isso, o povo palestiniano que, aí vivia, foi ficando sem as suas
terras. Desde então, o mundo tem assistido à luta terrível entre israelitas e palestinianos,
reclamando ambos os povos o direito à terra.
2.1Introdução: 1.º parágrafo;
Desenvolvimento: 2.º, 3.º, 4.º parágrafos;
Conclusão: 5.º parágrafo.

PÁG. 128
LEITURA DO TEXTO
1. Como a perdiz era um símbolo da corrupção dos juízes, chamar ao Corregedor “amador de
perdiz” é chamar-lhe corrupto.
2. A altivez do Corregedor aproxima-o do Fidalgo.
3.É a língua usada nas leis.
3.1O Diabo está a ridicularizar a linguagem jurídica, dando a entender que as leis são só
conversa e a sua aplicação é adulterada.
4.Revela que ele está habituado a mandar, a ter subalternos que fazem o trabalho por ele.
5. O Diabo acusa-o de ter recebido subornos, mesmo das mãos dos judeus.
5.1O réu desculpa-se com a mulher, responsabilizando-a pela aceitação das ofertas.
6.1 Estas palavras do Diabo alargama crítica ao grupo social, namedida em que mostram que
o Inferno já está cheio de homens de leis.
6.2 Cenas do Fidalgo e do Frade.
7.Este julgamento em simultâneo é uma forma de mostrar a cumplicidade existente entre a
Justiça e os negócios dos poderosos.
8.1 Revela que não a levavam muito a sério, pois o Corregedor não confessava a verdade e o
Procurador só se confessaria em momentos de aperto.
8.2 Cenas do Fidalgo, do Frade, do Sapateiro e da Alcoviteira.
9.O Anjo reage com desdém e irritação à aproximação das duas personagens, de tal forma
que até lhes roga uma praga, atitude pouco própria do Anjo. Depois, muito sumariamente,
condena-os em nome da justiça divina que sobrepõe à justiça humana.
10.O Parvo corrobora a condenação, acusando-os de roubo, ou seja de se terem
indevidamente apropriado de coelhos e perdizes. No fundo, acusa-os de corrupção. Também
lhes dirige uma acusação semelhante à que dirigiu ao Judeu, de terem profanado as igrejas,
talvez para sublinhar a cumplicidade com os judeus porque estes tinham dinheiro.
11.Mostra que se conheciam em vida.
12. Ironia −“Dai cá a mão!”, “gentil cárregatrazês”, “Ora, pois, entrai. Veremos que diz i
nesse papel...”, “Queserês bom remador”, “Ora estás bem aviado”.eufemismo – “lago dos
cães”, “terra dos danados”.

PÁG. 129
GRAMÁTICA
1.descorregedor− palavra derivada de corregedor, por prefixação; à forma de base
acrescentou-se o prefixo desque significa contrário, negação.
2. Campo lexical de justiça: juiz, direito, feitos, corregedor, meirinho, ouvidor, bacharel,
escrivães, absolver, sentenciada.

LEITURA DA IMAGEM
É muito fácil e interessante estabelecer uma relação entre a cena do Corregedor do Auto da
Barca doInferno e o fresco de Monsaraz. A pintura, conhecida por Fresco doBom e do Mau

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Juiz, é muito simbólica e representa, à esquerda, o bom juiz, a ser coroado por dois anjos e,
à direita, o mau juiz, ou o juiz das duas caras. É este mau juiz que está reproduzido no
manual.
−As perdizes que o homem oferece ao juiz representam, como vimosno auto, a corrupção.
− O Diabo, no canto superior direito, está a tentar o juiz, para que eleaceite ser corrompido.
− O juiz tem duas caras porque, parecendo muito reto, como é próprio dos juízes, é afinal um
corrupto.

PÁG. 130
DO PASSADO PARA O PRESENTE
O conceito de Justiça, e as penasaplicadas em tribunal têm, naturalmente, mudado ao longo
da História e, por isso, parece-nos que atualizar esta cena do Corregedor é sobretudo
promover uma reflexão sobre o sentido das penas aplicadas e a função de reeducação que a
Justiça deve ter. Assim, propomos a leitura de uma notícia que dá conta de uma experiência
reabilitadora,
como ponto de partida para a discussão sobre penas de trabalho comunitário a aplicar em
cinco situações concretas. o presente

PÁG. 132
LEITURA DO TEXTO
1. Ambas as atitudes são reveladorasde uma certa ingenuidade doEnforcado que acredita em
tudo oque lhe dizem ou mandam fazer.
1.1O Enforcado é, talvez, a personagem mais difícil de caracterizar de todo o auto. É um
homem que acabou de morrer na forca, não sabemos porquê, e a quem convenceram que ser
enforcado o livraria do Inferno. Ingenuamente acreditou, e essa ingenuidade torna a cena
ainda mais estranha. Afinal, por que razão é este homem condenado ao Inferno? Por ter sido
um grande criminoso? Não podemos sabê-lo.
2.Esta cena, relativa a um condenado pela Justiça, complementa, de certa maneira, a cena
do Corregedor, mostrando os dois lados da aplicação da Justiça.
3.Não chegamos a perceber muito bem se Gil Vicente pretende criticar o Enforcado, o que
parece pouco plausível já que não fornece nenhuma informação sobre a sua vida e o seu
presumível crime, ou se pretende criticar os que o fizeram acreditar no absurdo da
santificação
pela forca.

ESCRITA
A precoce abolição da pena de morte (1867) pode ser um motivo de orgulho português que
deve ser estimulado nos alunos.

DO PASSADO PARA O PRESENTE


Sempre numa perspetiva de educação para os valores e para a cidadania, propomos atividades
que permitam o (re)conhecimento de uma organização tão importante como a Amnistia
Internacional.

PÁG. 135
LEITURA DO TEXTO

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1.1 A cantiga lembra aos mortais a transitoriedade da vida e a


necessidade de ter sempre presente a inevitabilidade de
comparecer naquele cais e ser julgado.

1.2 Os homens, seres mortais e pecadores.

1.3 A cantiga contém a moralidade da peça, na medida em que


equaciona a questão da transitoriedade da vida e da inevitabilidade
do destino final concordante com a forma como se viveu a vida
terrena.

2. Porque morreram a combater pela fé de Cristo contra os infiéis, o que


os livrou, automaticamente, de todos os pecados. Esta cena é reveladora
de uma mentalidade, ainda muito medieval, de apologia do espírito de
cruzada.

PÁG. 136
GRAMÁTICA
1. Os cavaleiros vinham tão seguros que o Diabo não os interpelou.
2.1Oração subordinante: Ó cavaleiros de Deos, / a vós estou esperando;
oração subordinada adverbial causal: que morrestes pelejando /
porCristo, Senhor dos céos!
2.2 Vocativo: Ó cavaleiros de Deos
Sujeito: subentendido (eu)
Predicado: a vós estou esperando
Comp. indireto: a vós

PÁG. 137
DO PASSADO PARA O PRESENTE
Parece-nos importante reequacionar, com os alunos, o conceito de herói que, seguramente,
se alteroumuito desde Gil Vicente. Nessesentido, é produtivo que a umaideia de herói
guerreiro e intolerante para com as outras culturas e raças, aceitável no século XVI, se
oponha uma ideia de herói completamente diferente − aquele que dedica a sua vida a ajudar
os outros.
Assim, a leitura do texto “Príncipes do Nada” e o visionamento de qualquerum dos programas
desta sériepode ser exemplar.

I −“Príncipes do Nada”

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1. Explicar o nascimento e a natureza do programa “Príncipes do


Nada”: quando nasceu a ideia, porquê, quem a apoiou, quem a
concretizou, que realidades mostra e como as mostra.

2.1“todas as pessoas que trabalham incansavelmente para construir um


mundo mais justo”. (ll. 21-23)– “são todos aqueles (na maioria
portugueses) que deixam a sua zona de conforto para se debruçarem na
ajuda ao desenvolvimento (ou de emergência) em países cujas culturas
são muito diferentes das suas”. (ll. 26-31)

2.2- São os voluntários e os trabalhadores de ONG e associações, os


agentes da Cooperação Portuguesa e os missionários religiosos, que
desenvolvem trabalho solidário longe de casa ou do país.

2.3 Adjetivos: resistentes, fortes, persistentes, lutadoras,


exemplares, resilientes, determinados, audazes, invulgares.

2.4 "Príncipes do Nada” podem ser ainda todos os protagonistas das


histórias de vida relatadas que, pedindo ajuda, nos ajudam a
mudar mentalidades.

II − Reinventar a Barca
Reescrever, à luz de um novo conceito de herói, o final da peça, pode ser um exercício muito
interessante, do ponto de vista do treino da escrita de texto dramático e da educação para os
valores da cidadania e da solidariedade.

PÁG. 140
PARA UMA SÍNTESE

AUTO DA BARCA DO INFERNO


síntese

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Personagens Tipo / Repre-


Símboloscénicos; Argumentos de acusação Argumentos de defesa Desenlace
(réus) sentatividade
pajem • viveu a seu prazer •é fidalgo de solar
FIDALGO Nobre
manto •é vaidoso e presunçoso • deixou na vida quem reze por condenado
(D. Anrique) presunçoso
cadeira • foi tirano para o povo ele
Burguês • precisa de ir buscar dinheiro
ONZENEIRO bolsa de dinheiro • foiavarento condenado
usurário para pagar a viagem
(apresentado pelo Anjo)
PARVO Pobre de ________________
nada • simplicidade salvo
(Joane) espírito
• inimputabilidade

SAPATEIRO avental Artífice •rezou, foi à missa, confessou-


• roubouosclientes condenado
(JoãoAntão) formasde sapatos poucosério se, deu dinheiro à igreja
rapariga • foi mundano
FRADE Clero • é frade
hábito + fato de • não respeitou o voto condenado
(Frei Babriel) mundano • rezoumuito
esgrima de castidade
arcas • já foi castigada em vida
ALCOVITEIRA armários • exerceu o ofício de
Alcoviteira • arranjou raparigas para condenada
(BrízidaVaz) raparigas alcoviteira
os padres
JUDEU ________________
bode Judeu • é judeu condenado
(Semifará)
• foi corrupto na aplicação • é corregedor
vara
CORREGEDOR Juiz corrupto da Justiça • foi mas a sua mulher que condenado
processos
• confessou-se mas mentiu aceitou os subornos
Funcionário (nem teve tempo de se _______________
PROCURADOR livrosjurídicos condenado
corrupto confessar)
Criminoso • já sofreu o castigo em vida,
ENFORCADO corda aopescoço • portersidocriminoso? condenado
condenado na prisão e na forca
hábito da Ordem de Cavaleiro • morreram a combater
CAVALEIROS ________________ os mouros, por Cristo salvos
Cristo cruzado

PÁG. 141
ANÁLISE GLOBAL
1. O auto contém doze cenas, sendoa primeira aquela em que o Diabo e o Companheiro
preparam a barca e seguindo-se uma nova cena sempre que uma personagem chega ao cais.
2.1Não. Tem diversos exposições, conflitos e desenlaces, tantos quantas as personagens em
julgamento.
2.2O auto apresenta unidade, através do argumento − o julgamento das onze personagens,
acabadas de morrer e presentes no cais de embarque para o outro mundo, onde são julgadas
pelo Diabo e pelo Anjo, de acordo com a vida que levaram. A circunstância em que se
encontram, o espaço e o Diabo e o Anjo são os elementos de ligação e continuidade.
2.3Argumento − No cais de embarque para a outra vida, o Diabo e o Anjo aguardam a
chegada de passageiros que serão levados por um ou por outro, consoante a vida que levaram.
Chegam sucessivamente onze personagens, representantes de diversas classes e grupos, que
são julgadas, se defendem quase todas, e são quase todas condenadas à barca do Diabo, com
exceção de um Parvo pobre de espírito e de Quatro Cavaleiros que morreram na luta contra
os mouros.
3.1 Todas as personagens são caracterizadas, desde logo, através dos símbolos cénicos que
transportam e que indiciam identidade e conduta. São também caracterizadas diretamente
através do que o Diabo e o Anjo dizem da vida que levaram e também através do que elas
dizem sobre si próprias. São caracterizadas indiretamente, através das suas atitudes durante
o julgamento, dos argumentos e da linguagem que usam.
3.2 São tipos, porque sintetizam e representam classes ou estratos sociais ou grupos
profissionais.
3.3São personagens planas, porque, para funcionarem como tipos, representando todo um
grupo ou uma classe, não podem apresentar traços profundos e individuais.

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3.4 Sim pois representam o mal e o bem, o inferno e o paraíso.


3.5Diabo➔Anjo➔Diabo: Fidalgo, Onzeneiro, Sapateiro, Frade, Alcoviteira, Corregedor,
Procurador
Diabo➔Anjo: Parvo
Diabo: Judeu, Enforcado
Anjo: Cavaleiros
O Parvo não regressa à barca do Diabo porque é salvo pelo Anjo; o Judeu e o Enforcado nem
sequer se dirigem ao Anjo pois sabem que não serão aceites; os Cavaleiros seguem
diretamente para a barca do Anjo, porque sabem que a sua morte os livrou do inferno.
3.6 Há sempre uma relação entre os símbolos e a condenação, pois eles representam a
atividade, a condição ou a característica que está na origem da sentença.
4. Linguagem
4.1Ex.: o Sapateiro e a Alcoviteira usam um registo popular, o Corregedor, o Fidalgo ou o
Frade usam um registo mais cuidado; já o Parvo usa sistematicamente o calão também usado
pelo Sapateiro.
4.2 O Sapateiro usa termos da gíria dos sapateiros; o Corregedor e o Procurador usam
linguagem jurídica.
5.O cómico
5.1Ex.: cómico de linguagem na cena do Parvo e do Corregedor/Procurador; cómico de
situação nas entradas em cena do Parvo e do Frade; cómico de caráter na personagem
Parvo.
5.2 Porque, por um lado, era um teatrode corte, representado para divertirem contexto de
festas palacianas e, por outro, porque a utilização deste processo tornava mais aceitável a
crítica a todas as classes sem exceção, mesmo aos mais poderosos. O teatro de Gil Vicente é
sobretudo satírico, adotando o lema latino “Ridendocastigat mores”.
6.Forma poética
Estrofes de 8 versos (oitavas); versos de redondilha maior (7 sílabas); esquema rimático
predominante abbaacca (rima emparelhada e interpolada).
7.Contexto histórico
Deve ser respeitada a estrutura:
Introdução (apresentação do tema) − no Auto da Barca do Inferno estão presentes as diversas
classes sociais, representadas através de personagens tipo.
Desenvolvimento (os vários tipos presentes; o que simbolizam; defeitos apontados;
desenlace).
Conclusão (os defeitos apresentados pelos representantes de todas as classes revelam uma
sociedade em crise, dominada pela vaidade, a falsidade, a tirania, a corrupção).

PÁGS. 145-146
LEITURA DO TEXTO
1. Argumento: a didascália inicial apenas revela que se trata de uma mulher cujo marido
estava de partida para a Índia, quando vieram dizer-lhe que ele já não partiria, tendo ela
reagido chorando. Com ela contracena a criada.
A primeira representação aconteceu em 1509, em Almada, perante a rainha D. Leonor.
5 personagens: Ama, Moça, Castelhano, Lemos, Marido.
2. A Ama e a Moça.
3. Por ver a patroa a chorar. O facto de se espantar revela que sabe que a Ama quer que o
marido parta.
4.1 A criada está a fingir, porque, evidentemente, ela não imaginava a patroa a chorar pelo
marido e, por isso mesmo, se espanta.

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4.2 Com ironia.


5. Irritação.
5.1 Chora porque receia que o marido já não parta, como lhe disseram.
5.2 Arreceo−Agasta-se-me o coração, / Que quero sair de mim. Esta gradação sublinha e
intensifica o seureceio de que o marido não parta.
6. Vai ver se a armada parte ou fica.
7. Da linha 38 à linha 47.
7.1 A Ama roga a Santo António que não lhe traga o marido e confessa que é impossível não
estar cansada dele. Pede a Deus que realize o seu sonho de ficar sem o marido.
8.1 Porque traz a boa notícia da partida da armada que leva o marido da patroa.
8.2 Quer alguma coisa que ele traga da viagem. Ao fim e ao cabo, a Moça também quer tirar
algum proveito da viagem à Índia.
9.1 Que ela não apenas desejava que o marido partisse, como também não quer que ele
regresse.
9.2 Ironia.
10. Não, esta fala é um aparte.
11.1 É ela própria que afirma “I se vai ele a pescar / Mea légua polo mar? / Isto bem o sabes
tu”, deixandoimplícita a sua habitual infidelidadenas ausências do maridomesmo para perto.
11.2 Ela assume a ideia de que a sua juventude e beleza não devem gastar-se à espera do
marido, que a diversão e o prazer são legítimos e tolas são as que assim não pensam. Dá,
enfim, a entender que a culpa da sua infidelidade é do marido que vai para longe
precisamente em maio, quando a energia juvenil é mais intensa.
12. Esta primeira parte do Auto da Índia corresponde à exposição, omomento dramático
inicial que introduz a ação, apresentando a situação − o marido está de partida para a Índia e
a mulher não deseja outra coisa nem tem a intenção de lhe ser fiel − e apresenta a
protagonista, revelando em traços muito gerais o seu carácter − a Ama é uma mulher jovem
que quer gozar a vida e fá-lo sem escrúpulos.

PÁG. 146
GRAMÁTICA
1. Arcaísmos (ex.) −mal estreada, demo, gamo, anojada, desconcerto, leda, eramá, nécia.
2.1 Aceção 2
2.2 s.f. substantivo (nome) feminino; p. ext. por extensão; p. ana. por analogia; B Brasil; ant.
antigo.
2.3 V
3.1 Frases exclamativas:
Jesu! Jesu! (admiração); Olhade a mal estreada! (censura irónica); Como me deixa saudosa! /
Toda eu fico amargurada! (pesar fingido); Ali muitieramá! (irritação); “Mau pesar veja eu de
ti!” (praga, ameaça).
3.2 Frases interrogativas retóricas:
Eu hei de chorar por isso? (negação com desdém); Como pode vir apelo? (incredulidade); E
essa cama,bem, que há? (censura).
4.1 O trocadilho certo que sublinha o receio da Ama perante a certeza de que o marido não
parte.
4.2 Contração dos pronomes pessoais me e o.
4.3 Complemento indireto: me + complemento direto: o.
4.4 O antecedente do pronome me é eu (subentendido); o antecedente dopronome o é “esse
desconcerto”.
5.1 A entrada da expressão decorre da existência de um superstrato árabe, conjunto de
vocábulos que entraram na língua, em virtude da ocupação árabe da península Ibérica.

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5.2 Alvíssaras: recompensa dada por boas novas, pela restituição de objeto perdido ou por
prestação de qualquer serviço ou favor.

PÁG. 151
LEITURA DO TEXTO
1. De desilusão, como se pode inferirda frase “Cuidei que era alguém”.
2.A Ama começa por se rir dos galanteios palavrosos do Castelhano, (ll. 21, 26, 64), revelando
um misto de aceitação e impaciência quando lhe diz “Andar embora” e depois “Se vós falais
desbaratos”, mas acaba por aceitar a corte e marcar encontro para mais tarde.
3.Porque soube que o marido tinha ido para a Índia e, por isso, a ocasião era favorável a
encontros amorosos.
3.1O Castelhano tenta ser subtil e faz-se apaixonado para conquistar a Ama. Não diz logo o
que pretende, prefere usar as palavras que ele considera dignas de uma conquista amorosa
para tentar impressioná-la.
4.1O Castelhano quer fazer-se passar por um homem galante, fiel ao amor, que sabe dizer
aquilo que, na sua perspetiva, uma mulher gosta de ouvir. Quer também passar a imagem de
homem impulsivo e corajoso. Finalmente, quer fazer-se passar por rico, apesar da capa velha
que traz vestida. Toda esta imagem falsa visa impressionar e conquistar a Ama, mas a Moça
não se deixa enganar dizendo que ele é um fanfarrão.
5.ll. 93-96 − “Entonces vos abrirei / De muito boa vontade: / Pois sois homem
de verdade / Nunca vos falecerei”l. 108 − “Muito bem me parece ele”.
6.1 Lemos.
6.2Segundo a Moça, Lemos é um desavergonhado interesseiro que apenas andava atrás da
Ama por dinheiro. A Ama contesta esta ideia, mas a Moça não desarma e afirma que, apesar
de há muito não dizer nada, assim que souber que o marido está ausente, ele aparecerá.
6.3A atuação do Lemos confirma as afirmações da Moça relativas ao seu carácter
desavergonhado e interesseiro. De facto, na passagem em que manda a criada ao mercado,
Lemos começa por a mandar trazer o mercado inteiro (ll. 177-178) e vai diminuindo a
encomenda quando percebe que é ele que terá de pagar. Ardilosamente vai arranjando
desculpas para dar uma quantia ridícula.
7.Atirando pedras à janela da Ama, como estava combinado.
8.1A Ama não parece ter ficado muito embaraçada, pois conseguiu reagir prontamente e
arranjar um estratagema para se livrar de confusões.
8.2Mentindo a ambos: ao Castelhano disse que tinha o irmão em casa, ao Lemos disse que
quem atirava pedras eram crianças e quem gritava na rua era, primeiro o vinagreiro que vinha
cobrar uma dívida, depois o corregedor.
9. Para a caracterização de cada um dos amantes de Constança, deverão ser tidos em conta
todos os elementos anteriormente analisados: o que cada uma das personagens diz sobre eles,
sobretudo a Moça; o que eles próprios dizem e as suas atitudes e reações.
9.1 O Lemos e o Castelhano são personagens enquadradas no mesmo tipo: os homens ociosos
e oportunistas que se ocupavam a fazer a corte a mulheres vulneráveis (neste caso porque o
marido estava em viagem para a Índia), tirando daí algum proveito; para isso, faziam passar-
se por galanteadores apaixonados, uma espécie de D. Juans pelintras armados em senhores
educados e corteses. No Castelhano é sublinhado, precisamente, esse donjuanismo cortês e
fanfarrão, enquanto no Lemos sobressai o oportunismo esperto.
10.Cómico de situação: a mais evidente é aquela em que está um amante na rua e outro em
casa; cómicode linguagem: a usada pelo Castelhano é tão excessivamente cortês e tão
deslocada naquela situação que produz efeito cómico.

PÁG. 152

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GRAMÁTICA
1. Arcaísmos: mesura, improviso, rebolarias, privança, muitieramá.
2.1tirai >atirai (processo de inserção: prótese do a).
2.2aparece >parece (processo de supressão: aférese do a).
2.3em boa hora >em boa ora >em boora>embora (processo de composiçãocom supressão de
segmentos:apócope do a e síncope do o).
2.4Iesus>Jesus >Jesu (processo de alteração do I a J; supressão: apócope do s).
3.1traga-a: presente do conjuntivo; em conjugação com pronome pessoal átono; trazerei
(3): futuro do indicativo; traze (2): imperativo.
3.2 trazerei −trarei; traze – traz.
3.3E ostras trá-las-ei?
3.4E se trouxesse azevias? ou E se trouxer azevias?
4.1Frase simples, porque é constituída por uma oração. Sujeito: ele
Predicado: Muito bem me parece
Complemento indireto: me
Predicativo do sujeito: muito bem.

PÁGS. 155-156
LEITURA DO TEXTO
1. ll. 270-272, p. 150 (Quantas artes,quantas manhas, / Que sabe fazerminha ama! / Um na
rua, outro na cama!)
2.O tempo cronológico é de 3 anos, mas o tempo psicológico para a Ama é de ano e meio;
este desajuste decorre do desejo de que não chegue o dia do regresso do marido.
3. A Ama deseja que o Marido nunca mais volte.
4. Com raiva e rejeição, ordenando à Moça que desarrume toda a casa para o receber o pior
possível.
5.Depois do choque inicial que parecia levá-la a rejeitar o Marido, Constança recompõe-se
rapidamente e, depois de lhe dizer, um pouco a rir, que não o quer, recebe-o muito bem,
fingindo-se cheia de saudades.
5.1Constança é coerente na mentira, na falsidade, na infidelidade, na astúcia e na adaptação
às circunstâncias.
6.1Conta-lhe que, quando ele partiu, esteve três dias sem comer e chorou tanto que quase
morreu de desgosto; que por ele rezou muito, fez promessas, peregrinações; que a saudade a
consumia, não a deixando alimentar-se, nem cuidar-se, nem sair de casa.
6.2O sentimento de culpa e a necessidade de engendrar uma mentira bem construída levam
Constança a falar muito, contando mentiras atrás de mentiras.
6.3 É muito interessante, pois Constança, astuta, avança com a conversa sobre a infidelidade,
antecipando-se. Inteligente, ao mostrar-se ciumenta das aventuras que o marido poderia ter
tido na Índia, afasta o foco de si mesma, impedindo que haja espaço na conversa para o
marido manifestar ciúmes ou desconfianças.
6.4 Esta conversa constitui uma situação cómica, precisamente pelo contraste em que
assenta: a mulher infiel faz-se ciumenta, enquanto o marido enganado se apresenta crédulo.
Para o espectador, que conhece a verdade, tudo isto é gerador de riso.
7.1Enfrentou tempestades, quase naufrágio, guerras e pilhagens, perigos de várias naturezas
“fadigas,tantas mortes, tantas brigas, p’rigosdescompassados” (ll. 146-148)
7.2Muito pouco. Ao nível familiar, ficou com o casamento mais arruinado, mais do que já
estava, ainda que não o saiba; ao nível financeiro, ganhou menos do que esperava, pois foi
explorado pelo capitão.
8.A crítica aos que lucravam com a expansão, enriquecendo por meios ilícitos: os roubos, as
pilhagens, a exploração dos marinheiros pelos capitães.

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9.A Ama é esperta e, sabendo que não pode livrar-se do Marido, resolve tirar proveito da
situação e, mais uma vez, divertir-se.
10.No retrato do Marido, deve sublinhar-se aquilo que se infere do relato da viagem e ainda o
sonho que o terá levado a partir, o engano de que é vítima (da mulher e do capitão),
a sua representatividade enquanto sujeito do sonho do Oriente.
11.A Ama, personagem principal, dá-se a conhecer desde a primeira cena, na qual ficamos a
saber que chora com medo de que o marido não parta e não de saudades por ele ter partido.
Através do diálogo com a Moça e do primeiro monólogo, Constança, que se autocaracteriza
como “moça e fermosa”, revela-se uma mulher para quem o casamento não tem qualquer
valor e as relações amorosas são um jogo de diversão. Assume claramente as suas intenções
de aproveitar a ausência do marido para gozar a vida, justificando com essa ausência o seu
comportamento, na medida em que considera um erro deixar fugir a juventude à espera “do
vento”, ou seja, de nada, que é o valor que ela atribui ao marido. A fidelidade é, aliás, um
valor que ela desconhece completamente e ficamos mesmo a saber que Constança já traía o
marido antes de ele partir para a Índia, quando ia à pesca. De resto, a relação que irá manter
com dois amantes ao mesmo tempo é reveladora da sua infidelidade leviana e do seu
imparável desejo de diversão. Acaba por enganar cada um dos amantes como engana o
marido, recorrendo à mentira com a maior das naturalidades. É uma mulher esperta e
manipuladora, com uma grande capacidade de adaptação às situações, como mostra na
forma de resolver a confusão da vinda simultânea dos dois amantes a sua casa e, sobretudo,
pela forma como, no regresso do marido, acaba por o aceitar. Esta última cena deverá ser
entendida considerando o contexto, uma vez que Constança, uma mulher do século XVI, sabe
que não tem alternativa à vida com o marido, é casada, tem de continuar casada, ainda que
não o ame. Por isso, quando ele regressa, a sua primeira reação é de fúria e rejeição, mas
imediatamente ultrapassa a irritação e recebe-o como se tivesse sido uma santa, revelando,
mais uma vez, a sua conveniente hipocrisia. Essa hipocrisia é um traço permanente na
personagem que quer, apesar do seu comportamento leviano, manter as aparências,
mostrando aos vizinhos, a cada um dos amantes e, finalmente, ao marido que é uma mulher
moralmente irrepreensível. A estes traços de carácter e comportamento da Ama não será
alheia a escolha do nome Constança, um nome irónico, pois significa o contrário daquilo que
ela é: inconstante nos amores.
Poderemos ver na Ama uma personagem tipo. Através do seu retrato bem realista, Gil
Vicente critica satiricamente todas aquelas mulheres que preenchiam a solidão
provocada pela ausência dos maridos embarcados na aventura expansionista com outras
aventuras, contribuindo para a degradação moral da sociedade portuguesa do século XVI.
11.1 O nome é irónico: a mulher inconstante nos amores tem o nome de Constança.
12.Apartes
Quantas artes, quantas manhas, / Que sabe fazer minha ama! / Um na rua, outro na cama!
(ll. 270-272,pág. 157); De mercês está minha ama / desfeitos estão os tratos. (ll.51-52);
Raivar, que este é outro jogo. (l. 54)

PÁGS. 156-157
GRAMÁTICA
1. Pleonasmo.
2.A utilização de um registo adequado ao contexto situacional ou ao estatuto social das
personagens é uma das riquezas do teatro vicentino. Nesta peça, cuja ação se passa num
ambiente entre o popular e o burguês, há marcas de diferentes registos, sendo o
registopopular muito presente. Será fácil, para os alunos assinalar exemplos dessas marcas
nas falas das diferentes personagens.
3.1Formação por composição.

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3.2Ex.: corrimão, picapau, girassol, malmequer, aguardente.


3.3Artístico contém, como palavra base, arte, um dos constituintes da composição de
artimanha; manhosocontém, como palavra base, manha, o outro constituinte da composição
de artimanha. São ambas palavras derivadas porsufixação.
4.11.ª pessoa do plural.
4.2 O uso da 1.ª pessoa do plural confere uma dimensão coletiva à aventura vivida pelo
Marido.

PÁGS. 160
OFICINA DE ESCRITA
Resumo
O Auto da Índia (1509) é uma peça de enredo cuja vivacidade, decorrente da conceção
temporal e cenográfica, mostra a familiaridade do autor com o género.
A protagonista, uma mulher de Lisboa, diverte-se com dois amantes simultâneos, enquanto o
marido está na Índia, acabando este por regressar sem riqueza e contando aventuras pouco
dignificantes. Ela engana-o fingindo saudades, ficando juntos e despreocupados no final.
A peça contradiz ideias oficiais, pois mostra o reverso dos Descobrimentos, a mediania dos
heróis do Oriente, a infidelidade das mulheres. Trata o adultério com cinismo divertido e no
fim, a mulher fica com o marido, sem vergonha e com prazer. (105 palavras)
Síntese
Segundo o autor, o Auto da Índia é uma peça de enredo, comprovando que, em 1509, Gil
Vicente já conhecia este género, resultando a vivacidade do tratamento do tempo e da
cenografia.
A protagonista é uma lisboeta que se diverte com dois amantes, na ausência do marido, na
Índia, de onde este regressa pobre e contando terríveis aventuras. Fingindo saudades que não
sentiu, ela mente-lhe e acabam juntos.
O autor considera que a peça mostra o outro lado dos Descobrimentos, contrariando a
narrativa oficial – a mediania dos heróis do Oriente e a infidelidade das mulheres. Na
verdade, o tema é o adultério, tratado com ironia, pois o casal fica junto. (111 palavras)

PÁGS. 161
ANÁLISE GLOBAL
1. Estrutura externa
1.13 atos, correspondentes a: −cena inicial quando o Marido da Ama está prestes a partir; −
período de ausência do Marido em que a Ama cria relações com os amantes; − chegada do
Marido.
1.2A 1.ª parte tem 3 cenas: − Moça e Ama; − Ama; − Moça e Ama.
2.Estrutura Interna/Ação
2.1 Cada um dos momentos corresponde, precisamente, a cada um dos atos que considerámos
na questão anterior. Assim: exposição: célula inicial na qual conhecemos a situação: o Marido
da Ama está prestes a partir e ela quer que ele parta, tencionando divertir-se na sua
ausência; conflito: vida amorosa da Ama durante a ausência do Marido; desenlace: chegada
do Marido que fica com a Ama.
2.2 Ex.: partida, ausência, regresso.
2.3Como temos vindo a analisar, a estrutura contínua do auto no qual se apresenta uma
intriga com princípio, meio e fim conferem unidade à ação.
2.4 O argumento (intriga, enredo) é a vida amorosa de uma mulher cujo marido parte para a
Índia, passando ela o tempo da sua ausência a divertir-se com dois amantes e recebendo-o,
no final, com a mentira da sua fidelidade.

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3.Personagens
3.1Todas as personagens são caracterizadas direta e indiretamente. Os dois amantes e o
Marido são caracterizados, diretamente, através do que a Ama e a Moça dizem deles e as duas
mulheres através do que cada uma diz da outra. Mas é sobretudo o comportamento de cada
um que nos
permite caracterizá-los com mais verdade; logo, a caracterização indireta é fundamental.
3.2A Ama é, sem dúvida, a protagonista (está sempre em cena e todas as personagens
existem como tal em relação com ela).
3.3São tipos, na medida em que sintetizam e representam determinados comportamentos e
grupos: a mulher adúltera, a criada cúmplice e interesseira, os amantes ociosos e
oportunistas que, na época, se aproveitavam da solidão das mulheres, o marido enganado. No
entanto, pela sua permanência em cena e pelas muitas situações vividas, Constança é uma
personagem mais completa do que a maioria dos tipos vicentinos.
3.4 São personagens planas, pois agem sempre de acordo com um padrão e, para funcionarem
como tipos, não podem apresentar traços profundos que os individualizem.
4. Espaço
4.1Lisboa: casa da Ama (referência à janela, à cama, à lareira, à cozinha, às escadas). A
Moça desloca-se ao Restelo de onde parte a armada e à Ribeira a fazer compras. O Marido
parte para a Índia.
5. Tempo
5.1 Na madrugada de um domingo de maio. (l. 6, pág. 153)
5.2 Três anos.
5.3 Poderemos dizer que essa noitesimboliza todo o período em que oMarido de Constança
esteve fora e ela o enganou.
6.Linguagem
6.1 A Moça e mesmo a Ama usam, com frequência, um registo popular; o Castelhano usa um
registo cuidado (literário), à maneira dos poetas de corte da época.
6.2Os apartes da Moça são muito importantes na explicitação dos comportamentos da Ama e
na produção do cómico.
6.3 Os monólogos da Ama revelam, de forma mais aprofundada, a personagem e as suas
intenções.
7.Forma poética
Estrofes de 9 versos (nonas); versos de redondilha maior (7 sílabas); esquema rimático
predominante abbaccddc(rima emparelhada e interpolada).
9.O contexto histórico
Deve ser respeitada a estrutura:
Introdução(apresentação do tema) − no Auto da Índia, através de uma história familiar, é
mostrado o lado negro da expansão.
Desenvolvimento(o que se passa cá, através do comportamento da Ama e dos outros; e lá,
através do relato do Marido).
Conclusão(a intriga revela uma sociedade em crise de valores a que a expansão não é alheia).

PÁGS. 167-171
FICHA DE REVISÃO
Texto 1
1. c); 2. d); 3.a); 4.b); 5.d); 6.d)
Texto 2
OPÇÃO A −Auto da Barca do Inferno
Leitura

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1. O excerto A pertence ao momento da peça que poderemos designar como a cena do


Fidalgo (embora o auto não esteja dividido em cenas), correspondendo ao conflito: o Fidalgo
fala primeiro com o Diabo e depois com o Anjo, recusa entrar na barca do Diabo e tenta
entrar na do Anjo que não o deixa embarcar. O excerto B pertence à cena do Judeu,
igualmente ao conflito que consiste na tentativa do Judeu em entrar na barca do Diabo.
2.1No diálogo com o Diabo, o Fidalgo apresenta como argumento para entrar na barca do
paraíso o facto de ter deixado na vida quem reze pela sua alma.
2.2O Sapateiro − que acreditava que seria salvo por sempre ter ido à missa, ter rezado, ter-se
confessado e comungado; o Frade − que confiava no facto de ser membro do clero e ter
rezado muitos salmos; a Alcoviteira − que lembrava os serviços prestados aos cónegos da Sé,
acreditando que isso lhe poderia valer a salvação. Há ainda o Corregedor −que afirma ter-se
confessado, mas como mentira ao confessor para não ter de devolver o fruto da sua
corrupção, não chega a apresentar esse argumento.
2.3Gil Vicente pretende criticar a falta de verdadeira fé e a prática incorreta da religião. De
facto, a condenação das personagens que pecaram, apesar das rezas que fizeram ou
mandaram fazer, encerra uma crítica à forma superficial como muitos católicos praticavam a
religião, pensando que as rezas, as missas, as confissões tinham mais valor do que a prática
do bem.
2.4Ao Anjo o Fidalgo apresenta a sua condição social como argumento de defesa. Por ser
“fidalgo de solar” acha que tem o direito ao céu, revelando, desta forma, toda a sua
arrogância e a convicção enraizada de que essa condição lhe dava todos os direitos e nenhuns
deveres.
2.5O Diabo alude à semelhante condenação do pai do Fidalgo alargando, assim, a crítica à
classe social, dando a entender que os nobres são condenados, geração após geração. Desta
forma, o Fidalgo é igualado ao pai e, por extensão, a todos os nobres arrogantese soberbos,
reforçando-se a dimensão de personagem tipo.
2.6 O Anjo sentencia que os tiranos (como o Fidalgo) não têm lugar no céu.
3.1 O Diabo mostra-se contrariado com a chegada do Judeu.
3.2O Judeu tenta comprar a passagem.
3.3A reação negativa do Diabo à chegada do Judeu pretende mostrar como os judeus eram
tão ostracizados que nem o Diabo os queria. Por sua vez, o facto de o Judeu tentar pagar a
passagem pretende revelar o grande valor que os judeus davam ao dinheiro ou, pelo menos, a
forma como, na época, os judeus eram vistos, associados ao dinheiro.
4.O Fidalgo usa um manto e faz-se acompanhar de um pajem que transporta uma cadeira de
espaldar. São estes os símbolos cénicos que representam a sua condição social, a sua vaidade
e arrogância, a exploração exercida sobre os que o servem. Quando entra, passa pela barca
do inferno, onde se recusa a entrar, dirige-se à barca do paraíso, na qual pretende embarcar,
mas sendo impedido pelo Anjo, regressa à barca do Diabo e entra nela. O Judeu faz-se
acompanhar por um bode que representa a sua religião. Quando entra, dirige-se
imediatamente à barca do inferno, pois apenas tem a pretensão de nela entrar, mas o Diabo
impede-lhe a passagem e ele irá para o inferno, mas a reboque.
5. O Diabo e o Anjo são personagens alegóricas, pois representam, respetivamente, o
inferno e o paraíso, o mal e o bem. O seu confronto é, afinal, a luta entre o bem e o mal.
Gramática
1.1Mandai meter a cadeira: oração subordinante; Que assi passou vosso pai: oração
subordinada adverbial causal.
1.2vosso pai: sujeito; assi passou: predicado; assi: modificador do predicado.
2. São usados versos de redondilha maior (7 sílabas); predominam as rimas emparelhada e
interpolada (com o esquema rimático abbaacca).

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3. O Fidalgo usa um registo cuidado, enquanto o Judeu utiliza um registo mais popular (“Que
vai cá?”, “Cuj’é esta barca que preste?”). Estes diferentes registos de língua são reveladores
da condição social das personagens.
4.Ironia:Porque a vedes lá de fora.
Eufemismo:ilha perdida (inferno)
Trocadilho:Pera lá vai a senhora?/ Senhor, a vosso serviço.
Comparação:Parece-me isso cortiço
5. Arcaísmos:ora, apercebida, leixo guarecer. A presença de arcaísmos justifica-se pelo facto
de o texto ter sido escrito no início do século XVI, num momento em que a língua portuguesa,
não tendo atingido a plena maturidade, sofria ainda um processo de evolução. (Esse processo,
como se sabe, não para; no entanto, a partir do século XVI, a língua estabilizou e as mudanças
passaram a ser pontuais.)
6.1 As palavras pai e padre são divergentes.
6.2Padre chegou ao português por via erudita; pai chegou por via popular.
OPÇÃO B −Auto da Índia
Leitura
1. O texto pertence ao início da peça. Poderemos dizer que se trata da primeira parte, a
exposição, pois é o momento dramático que introduz a ação, apresentando a situação − uma
mulher, a Ama, cujo marido está prestes a partir para a Índia, revela que deseja mesmo que
ele parta e não tem a intenção de lhe ser fiel − e apresenta a protagonista, mostrando, em
traços muito gerais, o seu carácter − é uma mulher jovem que quer gozar a vida e fá-lo sem
escrúpulos.
2. A Ama e a Moça falam sobre a partida do Marido para a Índia.
3.A Ama começa por mostrar-se triste e simultaneamente muito irritada, pois disseram-lhe
que o Marido já não partiria para a Índia. Na conversa com a Moça, queixa-se,chorosa, dessa
possibilidade e, com alguma raiva, lamenta-se do tempo que perdeu com os preparativos da
viagem. No monólogo, após a saída da Moça, revela o desejo de que o Marido parta e não
volte tão cedo. Quando a Moça regressa com a notícia da partida, a Ama fica feliz e confessa
a sua expectativa num futuro próximo de divertimento.
4. O cómico de situação está presente em todo o excerto. É cómico o facto de a Ama
supostamente chorar pela partida do Marido e, afinal, chorar porque ele não parte. São
cómicas as intervenções da Moça que, sabendo exatamente o que preocupa a patroa, finge
pensar que ela está triste devido às saudades. É cómica a assunção, por parte da Ama, de que
já enganava o Marido quando ele ia à pesca, a utilização da palavra perigo para a fidelidade
conjugal e a justificação antecipada da infidelidade.
5. São vários os indícios de que a Ama não será fiel ao Marido: chorar porque ele não parte,
confessar que já o enganava antes, manifestar alegria quando ele finalmente parte,
considerar tolas as que não enganam os maridos, justificar a infidelidade com o natural
impulso da natureza.
6. Os indícios confirmar-se-ão inteiramente, pois a Ama será duplamente infiel ao seu marido.
7. A Moça revela-se muito esperta. Começa por fingir que não percebe o verdadeiro motivo
da tristeza da Ama, para não a hostilizar, e cria uma certa cumplicidade, oferecendo-se para
ir saber notícias. Quando regressa, mostra-se alegre, partilhando da alegria da patroa, ao
mesmo tempo que deixa escapar o seu carácter interesseiro, pedindo recompensa.
Finalmente, é uma personagem que manifesta graça, vivacidade, energia, boa disposição.
Gramática
1.1Partem em maio daqui: oração subordinante; Quando o sangue novo atiça: oração
subordinada adverbial temporal.
1.2Oração subordinante: sujeito nulo subentendido (eles); Partem em maio daqui: predicado;
em maio: modificador do grupo verbal; daqui: modificador do grupo verbal. Oração

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NOVO PLURAL 9 • SOLUÇÕES

subordinada adverbial temporal: o sangue novo: sujeito; novo: modificador do nome


restritivo; atiça: predicado.
2. São usados versos de redondilha maior (7 sílabas); predominam as rimas emparelhada e
interpolada.
3. Ironia:Como me leixa saudosa!
Trocadilho:Dixeram-mo por mui certo / que é certo que fica cá.
Metáfora:Agasta-se-m'o coração, / que quero sair de mim.
4.Arcaísmos:demo, gamo, leixa, anojada, eramá. A presença de arcaísmos justifica-se pelo
facto de o texto ter sido escrito no início do século XVI, num momento em que a língua
portuguesa, não tendo atingido a plena maturidade, sofria ainda um processo de evolução.
(Esse processo, como se sabe, não para; no entanto, a partir do século XVI, a língua
estabilizou e as mudanças passaram a ser pontuais.)
5.1en+velho+ecer: palavra formada por parassíntese (prefixação e sufixação simultâneas).
5.2Pera>para (assimilação do e em a)
polo>pelo (dissimilação do o em e)
Escrita
Seguir a seguinte estrutura:
1.º Introdução − apresentação do tema proposto;
2.º Desenvolvimento − fundamentação ou apresentação de argumentos seguidos de exemplos
da obra estudada;
3.º Conclusão − iniciada por um articulador conclusivo (para concluir, concluindo, em
conclusão, em suma, enfim…).

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