O GH, também conhecido como somatotropina ou hormônio
somatotrófico, é o mais abundante hormônio secretado pela adenohipófise. Existem receptores de GH em diversos tecidos corpóreos, tais como: músculos esqueléticos, fígado, rins, pâncreas, coração, intestino, pulmão e cérebro. A maior parte do GH na circulação apresenta-se ligado a proteínas transportadoras específicas (GHBP). Apesar dos mecanismos de ação ainda serem pouco conhecidos, sabe-se que as GHBP não influenciam somente a forma como o GH circula, ou seja, 1) livre, que é sua forma biologicamente ativa, ou 2) ligado a proteínas transportadoras, que reduzem a sua depuração na circulação. As GHBP também podem regular as funções dos receptores de membrana do GH (GHR), uma glicoproteína transmembrana responsável pela ativação de quinases intracelulares.
Em geral, adultos saudáveis apresentam um ritmo circadiano de
liberação do GH (~ 0,5 mg/dia), que é lento e estável, seguido de abruptas secreções de pico (15-20 µg/L). Contudo, mulheres apresentam maior e mais frequente liberação de GH, tanto em estado de repouso quanto sob estresse (Ex.: exercício), se comparado a indivíduos do sexo masculino. Fisiologicamente, é somente durante o sono que homens apresentam maior secreção do GH e, ainda assim, esta é, na maioria das vezes, menor que a secreção observada em mulheres.
No decorrer do desenvolvimento humano, a secreção do GH em ambos
os sexos alcança concentrações máximas nos períodos de crescimento, principalmente na adolescência. Depois disso, tanto a frequência como a amplitude ou intensidade da secreção reduzem-se, não sendo difícil encontrar indivíduos com cerca de 20 anos que secretem por dia mais que o dobro da quantidade de GH que indivíduos com cerca de 60 anos. Os mecanismos responsáveis por estas alterações não estão totalmente esclarecidos na literatura. Apesar disso, outros diversos fatores podem influenciar a secreção do GH, incluindo o estado nutricional, a quantidade de sono e de gordura corporal, o estresse e a prática da atividade física ou grau de treinamento. Os efeitos do hormônio do crescimento nos tecidos do organismo podem ser geralmente descritos como anabólicos (usado em grandes quantidades, podem levar o indivíduo a morte quase que instantânea). Da mesma forma que a proteína de outros hormônios, o GH age por meio da interação com um receptor específico encontrado na superfície das células.
O ganho de altura conseguido durante a infância é o melhor efeito
conhecido da ação do GH e parece ser estimulado por no mínimo dois mecanismos: 1. O GH estimula diretamente na divisão e multiplicação dos condrócitos da cartilagem. Estas são as células primárias encontradas nas extremidades dos ossos longos das crianças (braços, pernas, dedos). 2. O GH também estimula a produção do Fator do Crescimento do Tipo Insulina 1 (IGF- 1 em inglês, antigamente conhecido como somatomedina C), um hormônio homólogo à proinsulina. O fígado é o alvo principal do GH neste processo e é o principal local de produção de IGF-1. O IGF-1 estimula o crescimento em inúmeros tecidos, e é gerado nesses tecidos-alvo, o que faz dele tanto um hormônio endócrino quanto um hormônio autócrino/parácrino.
Embora o ganho de altura seja o melhor efeito conhecido do GH, o
hormônio também assiste muitas outras funções metabólicas. O GH aumenta a retenção de cálcio e aumenta a mineralização dos ossos; aumenta a massa muscular; induz a síntese de proteínas e o crescimento de vários órgãos do corpo.
O hormônio também estimula o sistema imunológico e tem um papel na
homeostase de energia do organismo: ele reduz o consumo de glicose por parte do fígado, que é um efeito oposto ao da insulina. Também contribui para a manutenção e funcionamento das ilhotas pancreáticas; tende a promover lipólise, que resulta em alguma redução do tecido adiposo (gordura corporal) e no aumento de ácidos graxos livres e glicerol na corrente sanguínea.
Ele também promove a queima de gordura ao mover gordura
armazenada para a corrente sanguínea para ser utilizada como energia. Por conta desse efeito mobilizador de gordura, o GH reduz a quantidade de glicose e proteínas usada como combustível. Então, altos níveis de GH protegem a perda de massa magra e resultam em alguma redução do tecido adiposo.
A estatura final, no entanto, não é regida exclusiva e simplesmente pela
quantidade de GH à qual é submetido o indivíduo. Trata-se de uma conjunção de fatores que inclui outros hormônios mas mais fundamentalmente qual é a resposta que cada tecido pode dar a uma oferta maior de GH; em outras palavras, depende da programação genética do indivíduo. Se os níveis séricos de GH de um determinado indivíduo ainda em fase de crescimento são normais, somente haverá alteração significativa de estatura se este indivíduo receber cargas consideravelmente acima de seu nível padrão (que é normal, por hipótese). Entretanto, sob cargas sensivelmente acima do normal, os diversos tecidos respondem de maneiras diferentes (respostas descompassadas, desequilibradas, desproporcionais) e problemas podem surgir. Um exemplo é o gigantismo quando, entre outros problemas, verifica-se um crescimento fora do comum (há casos de indivíduos que passam de 2,50m), sempre acompanhado de diabetes severa, cardiomegalia e outros distúrbios que invariavelmente encurtam a vida do indivíduo (raramente atingem 40 anos de idade).
Assim, a estatura final do indivíduo depende, grosso modo falando, de
sua programação genética em geral (desde que tenha alimentação adequada e níveis normais de GH). Se a programação genética apontar para uma estatura final de, por exemplo, 1,60m, e se hipoteticamente submetido (artificialmente ou não) a uma carga alta de GH, o indivíduo poderá atingir 1,70, 1,80m ou mais, mas sempre às custas de um desequilíbrio orgânico perigoso e quase em sua totalidade irreversível (ainda que os níveis de GH regridam após atingida a estatura desejada). Em outras palavras, se tivermos dois indivíduos normais (sem falta nem excesso de GH) e um deles for, por exemplo, 20 cm mais alto que o outro, essa diferença de estatura não se deverá a níveis substancialmente diferentes de GH mas sim à programação genética de cada um; se o mais baixo fosse, hipoteticamente, submetido a um tratamento com altas doses de GH com vistas a uma estatura final maior, poderia atingir (e até passar) a estatura do outro indivíduo, mas ao final estaria em condições de saúde muito mais precárias.
Em 2005, os hormônios sintéticos do crescimento disponíveis nos
Estados Unidos (e seus fabricantes) eram o Nutropin (Genentech), o Humatrope (Eli Lilly), o Genotropin (Pfizer), o Norditropin (Novo Nordisk) e o Saizen (Serono). Os produtos são quase idênticos na composição, eficácia e custo, com variações apenas na formulação e no modo de uso. Também em 2005, uma empresa israelense, a Teva, lançou o Tev-Tropin aos Estados Unidos a um preço mais acessível.
Quanto aos riscos do tratamento, poucas substâncias justificam tão bem
a velha máxima de que "a diferença entre remédio e veneno é a dose" quanto o GH. Este hormônio pode ser responsável por grandes benefícios, mas também pode ser um desastre para o organismo. A diferença depende da indicação e da dose. Administrar a dose correta de GH não é fácil e exige constante monitoramento. Hormônio cobiçado pelos fisiculturistas devido a suas propriedades anabólicas e de mobilização de gorduras, o GH vem sendo usado em doses e de formas inadequadas. Um erro frequente entre esses atletas é a crença que se disseminou de que "quando se usa GH deve-se comer muito bem, incluindo alimentos que forneçam energia, como carboidratos". Esse erro é clássico e crasso, e agora veremos o porquê. Em doses elevadas deste hormônio, a primeira manifestação que se mostra com evidência é a elevação dos níveis de glicemia. O GH diminui o poder de resposta dos tecidos à ação da insulina; por esse e outros fatores, eleva-se a glicemia no sangue (doses de baixa para média são o suficiente para elevarem de 20 a 50 pontos os níveis de glicemia em jejum). Desnecessário comentarmos os perigos que a glicemia traz, fora que seus efeitos negativos são cumulativos. Sob cargas mais elevadas de GH deve-se adotar dieta semelhante à dos indivíduos diabéticos, até porque o organismo estará se comportando como se fosse diabético. Se descontinuada a administração de GH, os níveis de glicemia tendem a retornar ao normal, mas os danos causados não necessariamente retrocederão. Se os níveis de glicemia não retornarem ao normal, é sinal de que danos permanentes foram causados ao pâncreas, como se verá a seguir. Quando submetido a altas doses de GH, os níveis de glicemia se elevam, como foi dito acima. Com níveis altos e constantes de glicemia, o pâncreas é obrigado a produzir, sem parar, insulina e mais insulina. As células Beta Pancreáticas, encontradas nas Ilhotas de Langerhans, são responsáveis pela produção da insulina. Quando muito solicitadas, as ilhotas trabalham até literalmente estourarem. Quando muitas células morrem, instala-se um quadro de insulino-dependência e o indivíduo passa a ser diabético, mesmo que descontinue a administração de GH.
Muitos outros problemas além de diabetes podem surgir: gigantismo se
na fase de crescimento, acromegalia se na fase adulta; e mais: cardiomegalia, câncer (o GH não origina tumores, mas os alimenta), entre outros. Apesar de tudo, os riscos do tratamento são bastante raros quando o GH é fornecido em doses de reposição a pacientes com deficiência do hormônio.