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CLASSICISMO E

RENASCIMENTO
Conceito de clássico
• O termo CLÁSSICO assumiu na
atualidade vários sentidos,
associados a diversos aspectos da
cultura e da arte.
• Já CLASSICISMO está associado a um
certo contexto, que deve ser
explicitado.
• Por sua vez, no que se refere à
LITERATURA, ambos os termos
Conceito de clássico
• Então, de forma geral, chamamos de
clássico uma determinada
composição musical, ou mesmo um
filme (“cult”).
• Segundo essa visão abrangente,
denominamos de clássico, p. ex., um
texto literário destacado e
recorrente na escola.
• E, assim, surge a pergunta: o que faz
Conceito de clássico
• O escritor italiano Italo Calvino, em
sua obra, “Por que ler os clássicos”,
enumera pelo menos 14 definições
para o termo.
• Em síntese, para o autor, o clássico é
aquele texto que resiste ao tempo, e
que se transforma a partir de sua
recepção, isto é, das diversas leituras
e releituras às quais é submetido.
Conceito de clássico
• Ou seja, o texto clássico participa de
uma memória coletiva de um povo,
de uma cultura, de uma literatura.
• Observa ainda Calvino: “Toda
releitura de um clássico é uma
leitura de descoberta como a
primeira” (1993, p. 11).
• Quer dizer, para Calvino, existem
alguns elementos que caracterizam
Conceito de clássico
• Desse modo, caracterizam o clássico:
a capacidade de gerar/provocar/
promover novas leituras, novas
possibilidades de compreensão do
texto, qualidade essa associada ao
caráter polissêmico da arte, da
língua, do mundo.
• Para Calvino: “Um clássico é um
livro que nunca terminou de dizer
Conceito de clássico
• A existência do clássico e de suas
múltiplas leituras e percepções gera
uma vasta literatura crítica,
originando aquilo que se denomina
de FORTUNA CRÍTICA.
• Ou seja, quando estudamos os textos
produzidos por Antonio Vieira,
estudamos também aqueles textos
críticos/analíticos que foram escritos
Conceito de clássico
• Enfim, para Calvino, o clássico seria
um livro que nos provoca, instiga a
pensar outros livros, o mundo, nós
mesmos.
• Clássico é um livro consagrado, visto
como importante, modelar,
exemplar, quase sempre escrito
antes de nossa época, espécie de
eterno contemporâneo, aquilo que
Conceito de clássico
• A leitura de diversos textos
considerados clássicos, nos diversos
períodos histórico-literários, além de
ilustrar o profissional da área de
letras, serve também para se
repensar como a teoria literária
elabora e discute a própria definição
do termo. E assim, associado ao
termo, surge outra noção
importante, qual seja a de CÂNONE.
Clássico e Cânone
• O conceito de clássico, com a
nomeação de obras clássicas, está
também associada à ideia de cânone.
• O cânone seria um conjunto
consagrado de obras, consideradas
como mais bem elaboradas, e que,
ao longo do tempo, são consideradas
mais representativas de uma
tradição, de um povo, de uma
Clássico e Cânone
• O cânone, em sua formação, está
permeado por questões históricas,
sociais, culturais e econômicas.
• Fato literário é “[...] aquilo a que [...]
se entende por obra, mas também
aquilo que envolve a obra – contexto,
público -, [...] a precede –
antecedentes, autor – e [...] se lhe
segue – a recepção [...]”
Clássico e Cânone
• O texto literário depende das
relações sociais e históricas nas quais
foi engendrado.
• A escola tem um papel central na
formação do cânone, com obras em
que são elaboradas uma imagem de
nação, de sujeito, de verdade.
• Tais fatores também interferem na
seleção de obras que passam a
Clássico e Cânone
• Em síntese: “[...] a canonização desta
ou daquela obra é um processo em
que muitos fatores entram em cena,
tais como determinações ideológicas,
estilos vigentes numa determinada
época, gênero dominante, contexto
geo-político-cultural, pertencimento
de classe, sexo e raça.” (SCHMIDT,
1996, p. 115)
Clássico e Cânone
• Conclusão: o conceito de clássico se
altera, no decorrer do tempo.
• Ao se referir à literatura, muitas
vezes quer dizer que está se referindo
às obras que resistiram ao tempo,
foram muito estudadas, se
consagraram por uma série de textos
críticos e, por sua importância,
entraram para o cânone de uma
Conceptualização de
Classicismo
• A etimologia do termo está
associado a classis, “frota”, em latim,
e se referia aos ricos que pagavam
impostos pela rota.
• Um escritor classicus é alguém que
escreve para essa categoria mais
afortunada e mais proeminente na
sociedade.
• Esse sentido inicial aparece em
Conceptualização de
Classicismo
• Posteriormente o termo vai sofrer
várias transformações e passa a
designar um valor, estético, ético,
mas sobretudo didático.
• Um escrito “clássico” torna-se uma
composição reconhecida como digna
de ser estudada nas “classes” das
escolas.
• Outro significado vai se impor e diz
Conceptualização de
Classicismo
• Isto é, diz respeito ao período em que a
literatura, as artes, a cultura de uma
nação ou de uma “civilização”
alcançam florescimento ou então o seu
apogeu.
• Exemplos: o Século de Ouro na
Espanha como de uma “época clássica”
ou de Shakespeare como o “escritor
clássico da língua inglesa – assim
Conceptualização de
Classicismo
• Existe também um conceito
estilístico do que vem a ser
designado como “clássico” ou
“classicismo”.
• Desse ponto de vista estamos nos
referindo a princípios e obras que
estão associados a certos preceitos
modelares derivados de certa fase
da arte grega e que a tomam como
Conceptualização de
Classicismo
• Tal codificação ocorreu
principalmente no Renascimento:
redescoberta da Antiguidade greco-
latina, ou “clássica”, com a
revalorização de suas produções
intelectuais e artísticas.
• Fundamental para o entendimento da
questão foi a tradução direta do grego
da Poética e o trabalho crítico de
Conceptualização de
Classicismo
• Baseada nas elaborações dos
comentadores Scaliger e Castelvetro
surgiu a ideia de que os princípios
fundamentais depreendidos da
prática e da teoria helênicas
constituíam um non plus ultra de
todo o fazer artístico, os cânones
imutáveis das condições e
procedimentos que geram a obra de
arte.
Conceptualização de
Classicismo
• Tal concepção tornou-se dominante e até
normativa, e passou a moldar e
remodelar tudo, originando o período
“clássico” do “classicismo” europeu,
inclusive sob a forma de um
“neoclassicismo”, que prevaleceu
durante o século XVIII em consonância
com o racionalismo ilustrado.
• Somente o Romantismo, em seus
Conceptualização de
Classicismo
• Segundo Croce, crítico e autor de
Iniciação Estética, são elementos
definidores do Classicismo: “[...] o
equilíbrio, a ordem, a harmonia, a
objetividade, a ponderação, a
proporção, a serenidade, a disciplina,
o desenho sapiente, o caráter
apolíneo, secular, lúcido e luminoso.
É o domínio do diurno.”
(CROCE,1999, p. 374).
Conceptualização de
Classicismo
• Ou seja, afastando-se do elemento
noturno, o Classicismo se quer
transparente e claro, e racional.
Para exprimir uma fé profunda na
harmonia universal. Significa
também que a natureza é concebida
primordialmente em termos
racionais, regendo-se por leis, e a
obra de arte deve refletir essa
harmonia.
Conceptualização de
Classicismo
• Para o Classicismo a obra de arte é
imitação da natureza e, ao imitá-la,
deve imitar seu concerto harmônico,
sua racionalidade profunda, as
próprias leis do universo.
• Um aspecto que se destaca é o
disciplinamento dos impulsos
subjetivos. Assim, o escritor clássico
domina os ímpetos da interioridade e
Conceptualização de
Classicismo
• Em outros termos, o autor clássico
se define precisamente por essa
autocontenção.
• É uma espécie de autolimitação, já
que o autor desaparece diante da
obra, não quer manifestar-se.
Melhor ainda: seu desejo expresso é
simplesmente o de ser objetivo.
• A obra vale pelo que ela é e não pelo
Conceptualização de
Classicismo
• Significa dizer, para usar uma
expressão do escritor italiano
Umberto Eco, que “a obra é fechada”.
• Nesse sentido, na criação exige-se
um modo de formar rigidamente
ligado ao objeto ou à ideia que se
tem do mesmo.
• Por isso, destacam-se os
procedimentos que assumem um
Conceptualização de
Classicismo
• No Classicismo predomina uma
rígida separação das artes, que não
se confundem, cada uma
obedecendo aos próprios ditames.
• Na literatura, cada gênero se
caracteriza por suas leis específicas.
• A poesia lírica não se apropria do
padrão épico e este, por sua vez,
não se confunde com a poesia
Conceptualização de
Classicismo
• Significa dizer que, a cada gênero
correspondem preceitos especiais e a
mistura dos vários tipos de composição
é encarada como um grave defeito.
• Outro elemento importante: a lei da
tipificação.
• A arte clássica não quer diferenciar e
individualizar, o objetivo é sempre
chegar ao geral e ao típico.
Exemplo na Arquitetura

Existem três ordens na composição


das colunas que sustentam os edifícios.
A aplicação dessas ordens não é
arbitrária, elas representam as tão
almejadas proporções humanas: a
base é o pé, a coluna, o corpo, e o
capitel, a cabeça.
Conceptualização de
Classicismo
• Na pintura e na escultura, a busca é
pelo universal; na literatura,
esquiva-se de descer a distinções
psicológicas.
• Em todas as suas manifestações,
tenta fixar o universalmente
humano, princípio fundamental já
estabelecido nitidamente na
dramaturgia por Aristóteles, porém
Conceptualização de
Classicismo
• Os clássicos separam os estilos: um
estilo alto, na dramaturgia, a tragédia –
que não pode recorrer a palavra de
extração inferior, e ser plasmada e
escrita em um contexto estilístico
próprio; a comédia, exige um padrão
médio de composição; a farsa há de
ser escrita em estilo baixo.
• O efeito visado é sobretudo o da
Conceptualização de
Classicismo
• No Classicismo o valor estético está
na obra, e somente nela; por trás da
arte, deve desaparecer o artista, que
trabalha quase como um artesão.
• O efeito da obra terá de ser dulce et
utile, como lembra Horácio: além de
provocar reações aprazíveis, deve
trazer proveitos de natureza prática,
sobretudo didática.
Conceptualização de
Classicismo
• De acordo com a visão classicista,
uma obra será tanto mais realizada
quanto maior o seu poder de
expressar, através da bela e suave
revelação da forma, ensinamentos e
verdades que elevem o
conhecimento e contribuam para o
aperfeiçoamento do gênero humano.
• Destaque para o efeito moral do
Conceptualização de
Classicismo
• Autores como Dante Alighieri,
William Shakespeare, Corneille,
Racine, e outros, são da opinião de
que a obra de arte tem uma função
importante, antes de tudo ética, ela
deve enobrecer o homem,
vinculando-o à boa “forma”, capaz
de falar à razão.
Visão renascentista do
mundo
• “Renasce” um modelo de arte
considerado por artistas e críticos
como aquele mais bem elaborado da
arte ocidental.
• Seu início no século XV, se espalha
pelas diversas artes, como pintura,
escultura e literatura.
• O grande representante do
movimento é o artista italiano
O que foi o renascimento?

• Importante movimento de renovação


cultural, ocorrido na Europa durante os
séculos XV e XVI.
• É considerado o marco inicial da era
moderna.
• Estimulou a vida urbana e o surgimento
de um novo homem.
Visão renascentista do
mundo
• O Renascimento é um marco
diferencial na história da arte
ocidental.
• Esse epíteto nos envia para os
modelos de arte greco-latinos que
são retomados pelo Ocidente no
século XV. Ou seja, indica um
“renascer” das artes neste contexto.
• Daí ser denominado de
Visão renascentista do
mundo
• Leonardo da Vinci representa
emblematicamente a junção entre o
conhecimento científico e o artístico.
Reúne em si as personalidades do
artista e do cientista.
• Autor dos famosos quadros da
Monalisa e da Última Ceia, destacou-se
como um profícuo pesquisador dos
modos de compreender o mundo por
Monalisa

Revela o interesse
do Renascimento
pelo homem.
Reproduzida de
todas as formas
imagináveis, a
magia dessa figura
“feminina”
continua intacta.
A última ceia

Visão mais humanista


Visão renascentista do
mundo
• Sobre esse momento histórico, observa
Sevcenko: “O Renascimento assinala o
florescimento de um longo processo anterior de
produção, circulação e acumulação de recursos
econômicos, desencadeados desde a Baixa Idade
Média. São os excedentes dessa atividade crescente
em progressão maciça que serão utilizados para
financiar, manter e estimular uma atividade
econômica. Surge assim a sociedade dos mercadores,
organizada por princípios como a liberdade de
iniciativa, a cobiça e a potencialidade do homem,
compreendido como senhor todo-poderoso da
natureza, destinado a dominá-la e submetê-la à sua
Visão renascentista do
mundo
• O cenário do Renascimento é a Itália.
, sobretudo o norte do país, com o
crescimento de Florença, importante
polo comercial e político, pelo qual
transitavam passageiros de vários
lugares do mundo, permutando
mercadorias e, principalmente,
ideias.
Visão renascentista do
mundo
• Segundo ainda Sevcenko, surgiram
novas técnicas de exploração agrícola
e mineral, o aperfeiçoamento da
fundição e da metalurgia, da
construção naval e da própria
navegação, novos armamentos para as
guerras.
• E algo fundamental: o surgimento da
imprensa, transformando o modo e a
Visão renascentista do
mundo
• Esse retorno à Antiguidade clássica vai
provocar uma maior valorização do
homem, repensado agora com um ser
guiado pela razão e não apenas pela fé.
• O caráter racionalista da arte
renascentista deve-se, então, à sua
aproximação das pesquisas realizadas
na física, matemática, geometria,
anatomia, filosofia, dentre outras áreas
O humanismo renascentista
• Ainda Sevcenko, observa que: o
termo humanismo, difundido no
século XV, remetia a um movimento
iniciado no século anterior com o
objetivo de “[...] dinamizar e revitalizar os
estudos tradicionais, baseado no programa dos
studia humanitatis (estudos humanos), que
incluíam a poesia, a filosofia, a história, a
matemática, a eloquência, disciplina essa
resultante da fusão entre a retórica e a filosofia.”
(1994, p.14)
O humanismo renascentista
• O propósito dos humanistas era
renovar o ensino medieval
português, que se baseava nos
princípios católicos, daí terem se
debruçado sobre a Antiguidade
clássica, que fornecia um modelo
mais secular.
• Postulavam uma separação entre
conhecimento e religião, isto é,
O humanismo renascentista
• Na realidade essa busca de “imitação”
da Antiguidade clássica era mais do
que imitação, era um motivo de
inspiração nos valores greco-latinos
que destacavam o homem, as ações
humanas, sempre voltadas para a
virtude e a glória.
• Cultuavam o homem universal,
cosmopolita, conhecedor de línguas e
Pietá

A figura do Cristo morto


parece ter vida correndo
nas veias. Os olhos
abaixados da Virgem, ao
contrário da tradição,
emocionam pela dor e pela
resignação. Seu manto,
drapeado, arranca do
mármore uma leveza.
(Michelangelo)
Arquitetura

Palácio de Carlos V
Palácio de
Alhandra, Granada
Vázquez de
Molina Úbeda,
Jaén
Arquitetura

Cúpula da igreja de
Bruneleschi,
Florença.
O humanismo renascentista
• O homem era encarado como um ser
guiado pela razão, guiado pelas
pesquisas, pela elaboração artística,
com o objetivo de produzir o belo
através do conhecimento das leis da
natureza e da harmonia presente
nesta.
• Os renascentistas valorizavam a
diversidade e o individualismo, já
Naquele tempo...

. Crise da Igreja.
. Expansão marítima.
. Mercantilismo.
. Absolutismo monárquico.
. Reforma protestante
. Copérnico: heliocentrismo.
. Galileu Galilei: sistema
astronômico.
Qual a visão do mundo?

• Humanismo ou Antropocentrismo:
“Homem tornou-se a medida de todas as
coisas” (Protágoras).
• Não se tratava de opor o homem a Deus e
medir suas forças. Deus continuou sendo
soberano. Tratava-se na verdade de
valorizar as pessoas em si, encontrar
nelas as qualidades e as virtudes negadas
pelo pensamento católico medieval
(Individualismo).
Davi

A valorização do ser
humano resultou na
criação de muitas
telas e esculturas
que valorizavam as
formas humanas ou
que retratavam
corpos nus.
(Michelangelo)
O humanismo renascentista
• Como dissemos, um dos traços do
Renascimento, também denominado
de Classicismo, é a junção entre a
arte e a ciência.
• Por outro lado, as são produzidas a
partir de modelos consagrados,
valorizando-se as regras do bem
escrever, normas derivadas da
análise de obras modelares
EM SÍNTESE, O
RENASCIMENTO VALORIZAVA
1- Imitação dos autores
clássicos gregos e romanos
da antigüidade: Homero,
Virgílio, Ovídio, etc...

2- Uso da mitologia: Os
deuses e as musas,
inspiradoras dos clássicos
gregos e latinos
aparecem também nos
clássicos renascentistas: Os
Lusíadas:(Vênus) = a deusa do
amor; Marte( o deus da guerra),
protegem os portugueses em
3- Predomínio da razão sobre os
sentimentos: A linguagem clássica
não é subjetiva nem impregnada de
sentimentalismos e de figuras,
porque procura coar, através da
razão, todas os dados fornecidos
pela natureza e, desta forma
expressou verdades universais.

4- Uso de uma linguagem sóbria,


simples, sem excesso de figuras
literárias.
5- Idealismo: O classicismo aborda o homem
ideal, liberto de suas necessidades diárias,
comuns. Os personagens centrais das
epopéias(grandes poemas sobre grandes feitos
e heróicos) nos são apresentados como seres
superiores, verdadeiros semi-deuses, sem
defeitos. Ex.: Vasco da Gama em os Lusíadas: é
um ser dotados de virtudes extraordinárias,
incapaz de cometer qualquer erro.
6- Amor Platônico: Os poetas clássicos
revivem a idéia de Platão de que o amor
deve ser sublime, elevado, espiritual,
puro, não-físico.

7- Busca da universalidade e
impessoalidade: A obra clássica torna-
se a expressão de verdades universais,
eternas e despreza o particular, o
individual,
aquilo que é relativo.
Naturalismo: volta à natureza

Hedonismo: defesa do prazer


individual

Neoplatonismo: elevação espiritual


por meio da interiorização.
LITERATURA - MARCO INICIAL

Em 1527, quando Francisco Sá de


Miranda retorna a Portugal, vindo da
Itália, trazendo o doce estilo novo
(soneto + medida nova).
Em Portugal...

. Conquista do norte da África;


. Caminho marítimo para as Índias;
. Descobrimento do Brasil;
. Monopólio do Poder político e
econômico do rei;
. Dinastia de Avis: D. Afonso V, D. JoãoII,
D. Manuel, o Venturoso
∙ Substituição da "medida velha"
medieval (versos de 5 e 7
sílabas métricas - redondilha
menor e redondilha maior) pela
"medida nova", proveniente da
Itália (versos decassílabos -
soneto).
LUÍS VAZ
DE
CAMÕES
∙ Poesia lírica e poesia épica - Camões.
Autores e obras
∙ Luís Vaz de Camões, poeta-filósofo: de
influência medieval e clássica, de
temática variada e abrangente (os
mistérios da condição humana, a
presença do homem no mundo, os
conceitos e contradições amorosas etc.)
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,


Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto


De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto


A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.
      E viva eu cá na terra sempre
triste.

      Se lá no assento etéreo, onde


subiste,
      Memória desta vida se consente,

      Não te esqueças daquele amor


ardente
      Que já nos olhos meus tão puro
viste.

      E se vires que pode merecer-te


      Alguma cousa a dor que me
ficou
      Da mágoa, sem remédio, de
perder-te,

      Roga a Deus, que teus anos


Os
Lusíadas
Os Lusíadas (1572)
O poema se organiza tradicionalmente em cinco partes:

1. Proposição (Canto I, Estrofes 1 a 3)


Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos navegadores
portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a
história do povo português.

2. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5)


O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão
inspirá-lo na composição da obra.

3. Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18)


O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de
propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas
portuguesas por todo o mundo.

4. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144)


A matéria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e as glórias da
história heróica portuguesa.

5. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156)


Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua “voz rouca” não
ser ouvida com mais atenção.
A armada de Vasco da Gama partiu do Restelo no dia 8 de Julho
de 1497 e chegou a Calecute, na Índia, no dia 20 de Maio de 1498.
  Resumo do enredo
      Portugal, como foi visto anteriormente,
passava por um momento de grandiosidade
diante das demais nações européias. Esse
momento era ainda mais valorizado pelo
espírito de nacionalismo que surgia nos
séculos XV e XVI. Motivados com a
liderança nas grandes navegações, foram
várias as tentativas de fazer uma epopéia
sobre o assunto e, com isso, registrar para a
posteridade esse momento de glória.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 *
      1. As – ar - mas – e os – ba – rões – a – ssi – na – la - dos A
      2. Que da ocidental praia lusitana B
      3. Por mares nunca dantes navegados, A
      4. Passaram ainda muito além da Taprobana, B
      5. E em perigos e guerras esforçados A
      6. Mais do que prometia a força humana, B
      7. E entre gente remota edificaram C
      8. Novo reino, que tanto sublimaram; C
A morte de Inês de
O EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO   
Camões, como outros artistas que
retrataram a morte de Inês de Castro,
prefere a imagem da espada encravada no
peito, sem dúvida, mais lírica, à do
degolamento:
      Tais contra Inês os brutos matadores,
      No colo de alabastro, que sustinha
      As obras com que Amor matou de
amores
      Aquele que depois a fez rainha,
      As espadas banhando e as brancas flores
      Que ela dos olhos seus regadas tinha,
      Se encarniçavam, férvidos e irosos,
      No futuro castigo não cuidosos.
Tu, só tu puro Amor, com força
crua,
Que os corações humanos tanto
obriga
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede
tua
Nem com lágrimas tristes se
mitiga,
É porque queres, áspero e tirano
Tuas aras banhar em sangue
O lirismo dentro da obra épica

Os Lusíadas é uma obra de caráter épico onde o


universo masculino é o predominante. Assim, todo o
episódio de Inês de Castro entra em perfeito contraste
com a restante obra. Neste episódio a personagem central
é feminina e o lirismo presente nos sonetos camonianos é
transposto para estas estâncias. Luís de Camões consegue
estabelecer com o leitor um contacto
inquestionavelmente emotivo. com os versos O desespero
que Camões coloca nas falas de Inês (inventadas por si)
faz com que um universo de terror progrida e “arraste”
consigo o próprio leitor. Existem momentos em que o
leitor é levado a sentir compaixão e levado também a
partilhar o sofrimento das personagens da tragédia, a
piedade perante tal destino trágico instala-se dando assim
origem à Catarse.
O velho do
Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se
chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que
tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

— "Dura inquietação d'alma e da


vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te
subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
O velho do Restelo
EPISÓDIO DO VELHO DO RESTELO
A cena mostra, logo de início urna massa aflita e
desesperada com a partida de seus filhos e esposos. As
mulheres, chorando, representam toda a multidão que
ficava em terra firme vendo seus queridos partirem para o
desconhecido:
      Em tão longo caminho e duvidoso,
      Por perdidos as gentes nos julgavam;
      As mulheres c’um choro piedoso,
      Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
      Amor mais desconfia, acrescentavam
      A desesperação e frio medo
      De já nos não tornar a ver tão cedo
      Qual via dizendo: — “Ó filho, a quem eu tinha
      Só para refrigério e doce amparo
      Desta cansada já velhice minha,
      Que em choro acabará penoso e amaro
      Porque me deixas, mísera e mesquinha?
      Porque de mi te vás, á filho caro,
      A fazer funéreo enterramento
A fala do velho do Restelo pode ser interpretada como
a sobrevivência da mentalidade feudal, agrária, oposta
ao expansionismo e às navegações, que configuravam
os interesses da burguesia e da monarquia. É a
expressão rigorosa do conservadorismo. Certo é que
Camões, mesmo numa epopéia que se propõe a exaltar
as Grandes Navegações, dá a palavra aos que se opõem
ao projeto expansionista. Portanto, O Velho do Restelo
representa a oposição passado x presente, antigo x
novo. O Velho chama de vaidoso aqueles que, por
cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem,
se lançam às aventuras ultramarinas. Simboliza a
preocupação daqueles que antevêem um futuro
sombrio para a Pátria.
MAR PORTUGUÊS 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães
choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 

Valeu a pena? Tudo vale a pena 


Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
 
Mas nele é que espelhou o céu. 
Gigante
GIGANTE ADAMASTOR
O gigante chama os portugueses de ousados e afirma que
nunca repousam e que tem por meta a glória particular,
pois chegaram aos confins do mundo. Repare na ênfase
que se dá ao fato de aquelas águas nunca terem sido
navegadas por outros: o gigante diz que aquele mar que
há tanto ele guarda nunca foi conhecido por outros.

E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas


No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar nos longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d’estranho ou próprio lenho:
Se nos mostra no ar, robusta e
válida,

De disforme e grandíssima
estatura;

O rosto carregado, a barba


esquálida,

Os olhos encovados, e a postura

Medonha e má e a cor terrena e


pálida;

Cheios de terra e crespos os


cabelos,

A boca negra, os dentes amarelos.


No plano histórico, simboliza a
superação pelos portugueses do medo
do “Mar Tenebroso”, das superstições
medievais que povoavam o Atlântico e
o Índico de monstros e abismos.
Adamastor é uma visão, um espectro,
uma alucinação que existe só nas
crendices dos portugueses. É contra
seus próprios medos que os
navegadores triunfam.
Vasco da Gama quando chegou às
Ilha dos
ILHA DOS AMORES
Vênus imagina um meio de recompensá-los por todas as
dificuldades enfrentadas com um prêmio. Auxiliada por
Cupido prepara-lhes uma ilha maravilhosa onde as mais
belas ninfas esperarão por eles. Camões mostra o local
como um verdadeiro paraíso:
Nesta frescura tal desembarcaram
Já das naus os segundos argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas deusas, como incautas
Algüas doces cítaras tocavam,
Algüas harpas e sonoras flautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais que não seguiam.
(...)
Duma os cabelos de ouro o vento leva
Correndo, e de outra as flaldas delicadas.
Acende-se o desejo, que se cava
Nas alvas carnes, súbito mostradas.
Mas cá onde mais se alarga, ali tereis
Parte também, co pau vermelho
nota;
De Santa Cruz o nome lhe poreis;
Descobri-la-á a primeira vossa frota.
Ao longo desta costa, que tereis,
Irá buscando a parte mais remota
O Magalhães, no feito, com verdade
Português, porém não na lealdade.
Todo o episódio tem um carácter simbólico.
Em primeiro lugar, serve para desmitificar o recurso à
mitologia pagã, apresentada aqui como simples ficção,
útil para "fazer versos deleitosos".
Em segundo lugar, representa a glorificação do povo
português, a quem é reconhecido um estatuto de
excepcionalidade. Pelo seu esforço continuado, pela sua
persistência, pela sua fidelidade à tarefa de expansão da
fé cristã, os portugueses como que se divinizam. Tornam-
se assim dignos de ombrear com os deuses, adquirindo
um estatuto de imortalidade que é afinal o prémio
máximo a que pode aspirar o ser humano.
De certo modo, podemos dizer que é o amor que conduz
os portugueses à imortalidade. Não o amor no sentido
vulgar da palavra, mas o amor num sentido mais amplo:
o amor desinteressado, o amor da pátria, o amor ao
dever, o empenhamento total nas tarefas colectivas, a
capacidade de suportar todas as dificuldades, todos os
Voltando aos comentários que se podem tecer a respeito do
epílogo da obra, é perceptível certo tom melancólico nas
palavras do poeta que, prevendo o fim dos bons tempos de
Portugal, aproveita para fazer sua “voz rouca” ser ouvida
novamente ao criticar a corte que cercava D.Sebastião e a
perda dos bons costumes da sociedade, a corrupção que por
sua vez levaria o país ao “caos”, como se pode notar na
estrofe 145

“No mais, Musa, no mais, que a lira tenho


Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com quem mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dua austera, apagada e vil tristeza.”.
De mais, há que se dizer que
Camões estava correto em sua
“profecia”, pois após 8 anos da
publicação de “Os Lusíadas”, data
que coincide com a morte do poeta,
o rei D.Sebastião desaparece na
Batalha de Alcácer-Quibir, o que
tem como consequência o declive
de Portugal e submissão ao domínio
espanhol.

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