Você está na página 1de 7

Dificuldade na escrita na graduação – um repensar acerca dessa

problemática

Jailza do Nascimento Tomaz Andrade1

RESUMO:
A escrita está presente em todas as sociedades letradas e é construída de forma tanto social quanto cultural,
evidenciando-se como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas fazendo-se conhecer por
meio de várias linguagens. Praticar a escrita constitui-se uma importante ferramenta no desenvolvimento do estudante e
é fundamental no processo de ensino-aprendizagem em todas as etapas de estudo, mas veremos sua importância na
graduação, quando espera-se que os estudantes apresentem seus trabalhos de conclusão de curso com clareza de
redação. Entretanto, diversos fatores influenciam negativamente no processo de escrita nos alunos de graduação, como
os de ordem psicológica, social, econômico, familiar, metodológico, etc. Desta forma, o presente trabalho tem o intuito
de contribuir para as discussões acerca das dificuldades na escrita, que os alunos de graduação enfrentam, utilizando o
método de revisão de literatura, de onde pode-se concluir que o estudante da Universidade é resultado do estudante
que foi construído ao longo da sua vida escolar, refletindo seus medos, formação, angústia, preguiça e, em alguns
casos, com o trabalho. O desafio é perceber a importância do processo da construção da escrita ainda na fase infantil,
para que o adulto estudante não pague um alto preço pelas falhas construtivas de seu passado escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Metodologia. Problemas de Escrita. Graduação.

1. INTRODUÇÃO:

O ato da escrita é uma habilidade construída por vários processos, interdependentes entre si, e geralmente se
faz representar pelo processamento das informações que chegam à memória, pela atenção, percepção, pela inferência
e pela dedução, podendo estas ser estudadas sob vários ângulos (ARAUJO, 2008) Na tenra idade, vários
pesquisadores já discutiram os motivos do não sucesso escolar, insucesso este que inclui a dificuldade da escrita, e
segundo os pesquisadores, as causas podem ser os fatores extra-escolares, como a família e as dificuldades
econômicas, e intra-escolares, como o ensino inadequado, chegando inclusive a afirmar que a causa poderia ser a
desnutrição dos aprendentes, este último desmistificado por Collares & Moysés (1996).

Sabe-se que várias causas podem interferir no processo de escrita dos alunos, e essa lista pode ser
acrescentada de fatores como falta de motivação, socioeconômicos, culturais, biológicos e até mesmo psicológicos,
alicerçados na falta de atenção, dificuldade de memorização ou outros requisitos básicos, facilitadores da escrita
(SHIMAZAKI, 2006). Estudos liderados por Vygotsky (1989) buscavam uma solução de base científica para os
problemas do ensino da linguagem escrita, onde recomendou ser necessário que as letras pudessem converter-se aos
elementos da vida das crianças, assim como acontece
com a linguagem, ou seja, da mesma forma que as crianças aprendem a falar, deveriam aprender a escrever,
entendendo que o aluno deveria compreender internamente a língua escrita, para organizar um plano de escrita,
cabendo a ele identificar se aquele plano era suficiente ou não. Se tais fatores não forem resolvidos ainda na fase

1
Jailza do Nascimento Tomaz Andrade, Graduada em Administração pela FACIASC – Faculdade de Ciências Aplicadas Sagrado Coração
(Pitágoras) / ES, pós graduada em Gestão Empresarial pelo Instituto Vale do Cricaré / ES, Mestra em Planejamento e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Taubaté/SP e Pós-Graduanda em MBA Metodologia do Ensino Superior pelo Instituto Nordeste de Educação Superior e
Pós-Graduação.
2

infantil, da construção do aprendizado, é fato que tais dificuldades acompanharão o estudante até sua vida adulta, na
graduação, onde a exigência será intensificada e o estudante não terá condições de corresponder à altura.
Assim, este artigo se debruça em entender os motivos que corroboram para que o estudante de graduação
tenha tal dificuldade para escrever e utilizará como metodologia a revisão da literatura, buscando em livros, artigos e
sites especializados, a fonte para responder tal questão. Portanto, é um estudo qualitativo e de revisão de literatura.
Conforme esclarece Boccato (2006, p. 266),
A pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais
teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de
pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque
e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para tanto, é de suma
importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa,
compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a
decisão da sua forma de comunicação e divulgação. BOCCATO, 2006, pag. 266)

Quando uma pesquisa bibliográfica é bem feita, ela pode gerar especialmente em temas pouco estudados, o
construto de hipóteses e até mesmo interpretações que podem ser utilizadas para iniciar outras pesquisas, conforme
afirmam Lima e Mioto (2007).

2. DIFICULDADE NA ESCRITA COMO UM LEGADO DA ALFABETIZAÇÃO NA INFÂNCIA

Para Ferreiro & Teberosky (1986), existe um termo chamado psicogênese, que define a origem, a gênese ou a
história da aquisição do conhecimento e das funções psicológicas do ser humano, onde acontece o desenvolvimento
desde o processo da alfabetização nos anos iniciais da criança, mas que também pode ser aplicada a qualquer outro
campo do conhecimento. Para elas, as autoras, quando se fala em escrita, esta concepção associa-se aos estudos
psicogenéticos e salientam que a apropriação da escrita baseia-se nos conhecimentos prévios do indivíduo, as
assimilações que ele faz, a capacidade de generalizações e isto vai depender das interações sociais e dos usos e
funções da escrita vivenciadas pela pessoa, também influenciada pela leitura.
Depreende-se que a criança que não lê e que não tem a escrita construída de maneira sistemática ainda na
fase da alfabetização, levará essa deficiência para a fase adulta. Salienta-se que na fase infantil, onde acontece a
alfabetização, não há como ter uma classe homogênea, onde todos os alunos tenham o mesmo nível de aprendizado,
pois os progressos na escrita são diferentes para cada auno, pois sofrem influência de outros fatores, que não apenas
aqueles vividos no ambiente escolar (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986). Este fato requer muito mais atenção por parte
do professor, para identificar aqueles que tenham maior dificuldade para trabalhar essa falha o quanto antes, a fim de
que a criança não leve essa dificuldade para a fase adulta, na graduação.
De acordo com Nemirovsky (2002), a idade cronológica não é o fator determinante para o nível da escrita, mas
as suas características apresentadas pela sua escrita. Ao final da década de 1980, os profissionais da pedagogia
passaram a expressar uma maior preocupação com o processo de alfabetização, com destaque para a linguagem
escrita. Nesse sentido, a autora desenvolve uma proposta de planejamento para o ensino da linguagem escrita, onde
determina a finalidade do ensino da escrita, que segundo ela “[...] consiste em formar sujeitos que sejam capazes de
3

produzir e interpretar textos, sendo progressivamente, ainda, melhores usuários do sistema de escrita convencional.”
(NEMIROVSKY, 2002, pag. 22).
Ou seja, quando a escrita segue um planejamento construtivo desde a infância, espera-se que na fase adulta,
o indivíduo consiga escrever sem dificuldade, como um processo que continuamente melhora com a prática e a
incorporação de novos conhecimentos ao processo.
Nemirovsky (2002) salienta que o papel do professor na fase de alfabetização é fundamental, pois sendo ele
um entusiasta da leitura e escrita, estará mais preparado para motivar seus alunos, apresentando argumentos sólidos
para os pequenos, realizando atividades que envolvem até trabalhos em grupo, para que possam aprender a observar o
contexto apresentado. Conforme citado anteriormente, são múltiplos os fatores que dificultam a aprendizagem e
segundo a definição de Ciasca:
As dificuldades de aprendizagem correspondem a uma categoria ampla de fenômenos que podem
influenciar negativamente o aprendizado. Abrangem os problemas de aprendizagem e os problemas
escolares, isto é, o modo como a escola lida com o processo de ensino-aprendizagem. Enquanto os
problemas de aprendizagem concentram o peso da dificuldade no aluno, as dificuldades de
aprendizagem incluem os fatores externos ao aluno. No caso da escola, são os problemas de origem
pedagógica. (CIASCA, 2003, p. 31 apud LEITE, 2012, p. 16).

Diante disto, constata-se que escrever bem não depende apenas do aluno, mas também da escola e todos os
problemas que permeiam o mundo pedagógico, compreendendo desde a estrutura, a motivação e o saber do professor,
além de todo o arcabouço externo ao querer do aluno, que o influenciam nesse processo.
Muito se fala que este ou aquele aluno possui dificuldade de aprendizagem - DA, mas segundo o Comitê
Internacional de Inteligência e Aprendizagem – ICL, considera-se DA:
Dificuldade de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de
desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura,
escrita, raciocínio, ou habilidades matemáticas, ou habilidades sociais. Estas desordens são
intrínsecas aos indivíduos, presumivelmente devem-se a disfunções do sistema nervoso central.
Mesmo pensando que uma dificuldade de aprendizagem pode ocorrer concomitantemente com
outras condições desvantajosas (handicampping) (e.g., déficit sensorial, deficiência mental,
distúrbios sociais e emocionais), com influências socioenvolvimentais (e.g., diferenças culturais,
instruções insuficientes ou inapropriadas, fatores psicogenéticos) e especialmente desordens por
déficit de atenção, todas as quais podem causar problemas de aprendizagem, uma dificuldade de
aprendizagem não é o resultado direto destas condições ou influências (ICLD apud Cruz, 1999,
p.60).

Este texto traz com profundidade as várias causas que podem levar o aluno a ter algum tipo de dificuldade de
aprendizagem, embora tal dificuldade não seja resultado direta de tais problemas, comportando-se como apenas mais
um fator complicador em todo o sistema de aprendizagem do aluno, devendo trabalhar-se várias frentes para resolução
de um fator que possa atrapalhar o processo, apresentando-se como um fator em que a escola e a família devam estar
atentar individualmente aos problemas que o estudante possa ter, a fim de saná-los o quanto antes, para evitar que se
perpetuem na idade adulta, refletindo-se na graduação, tema desse estudo.

2.1 Entraves psicológicos como inibidores da escrita


Como pode ser observado, os problemas relacionados à escrita, geralmente são originados na infância, ainda
no período da alfabetização, mas desdobram-se em outras causas diversas, como por exemplo, os problemas de
natureza psicológica. De acordo com Grigorenko e Sternemberg (2003, p. 29):
4

Dificuldade de aprendizagem significa um distúrbio em um ou mais dos processos psicológicos


básicos envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem, falada ou escrita, que pode se
manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou realizar
cálculos matemáticos (GRIGORENKO; STERNEMBERG, 2003, pág, 29)

Desta forma, coisas que poderiam se apresentar como insignificantes na infância, podem refletir-se na fase
adulta, pois se o aluno não entender e não conseguir dar sentido a algo que está sendo ensinado a ele, não irá
aprender, trazendo consequências posteriores. O entendimento do que é ensinado é diretamente ligado ao processo
psicológico da aprendizagem.
Os problemas escolares são frequentemente associados aos problemas de comportamento do estudante.
Ferreira e Marturano (2002) pesquisaram associações entre contextos de risco e problemas de comportamento em
crianças com baixo desempenho escolar. Concluíram que as dificuldades acadêmicas tendem a aumentar a
vulnerabilidade para a inadaptação psicossocial, quando o ambiente familiar está repleto de adversidades, como
problemas nos relacionamentos interpessoais, falhas parentais quanto à supervisão, monitoramento e suporte, menor
investimento dos pais no desenvolvimento da criança, práticas punitivas e modelos adultos agressivos. E enfatizam a
importância de ações preventivas que envolvam a criança e seu ambiente familiar para que tais problemas não venham
a se agravar na fase adulta, que é quando ele deverá se apoderar da escrita e seus argumentos.
O trabalho de Barrera e Maluf (2003) aponta correlações significativas entre os níveis iniciais de consciência
fonológica e o desempenho acadêmico de crianças. A consciência fonológica refere-se à capacidade da criança em
reconhecer que o que ela escreve é aquilo que verbaliza. Constitui uma capacidade que é adquirida normalmente pela
criança ao longo de seu desenvolvimento. Porém, a literatura mostra que a não aquisição da consciência fonológica
contribui para o desenvolvimento de dificuldades na leitura e escrita, ou seja, ela pode ser considerada como um fator
de risco e que, precocemente identificado, pode ser tratado de maneira preventiva pelos profissionais associados.

2.2- Fatores pessoais dificultadores da escrita

Giurlane (2004) afirma que a influência do ambiente familiar é significativa tanto sobre problemas de
comportamento como sobre dificuldades no aprendizado acadêmico. As crianças que não vão bem na escola sofrem
uma pressão criada por uma rede de pessoas significativas em suas vidas e da sociedade em geral.
A vida do estudante brasileiro é dificultada pelo próprio sistema de escrita do português brasileiro, que
caracteriza-se pela transparência e opacidade, pois tanto a leitura quanto a escrita dessa língua apresentam palavras
regulares e irregulares. Verifica-se que a escrita é a que apresenta mais opacidade, gerando erros mais graves, se
comparada com a leitura, pois o fonema mais completo a ser codificado por quem escreve é o “s”, chegando a ter 10
variações: sapato, cebola, experiência, paz, criança, pássaro, crescer, nasça, exceto, exsudar. Fato que na leitura o
mais complexo é o “x”, chegando a quatro variações: xale, exato, experiência, taxi. Ou seja, escrever é mais difícil do
que ler, conforme bem descreve OLIVEIRA; GERMANO; CAPELLINI (2016).
Segundo Sampaio et al (2017), os estudantes apresentam maior facilidade na escrita de palavras regulares,
que ele ouve frequentemente, quando em comparação com palavras de baixa frequência para ele, ou as chamadas
pseudopalavras, fato que demonstra que, quanto maior a exposição auditiva às palavras, visual e perceptiva para o
estudante, mais familiar as palavras se tornarão, facilitando a recuperação da escrita correta.
5

Pesquisa de Correll e Schwarz (1973 apud José e Coelho, 1997), relacionam as formas de distúrbios que
podem ocorrer no processo de aprendizagem, que podem prejudicar todo o processo de escrita do aluno e apresentam
sob vários aspectos: a) pela escola: condicionado pelo professor; pela relação professor-aluno; pela relação entre os
alunos; pelos métodos didáticos; b) pela situação familiar; c) por características da personalidade do aluno; e d) por
dificuldades de educação.
Entende-se, portanto, que a despeito de todos os demais fatores já citados anteriormente, existe ainda o fator
da própria personalidade do aluno, ou seja, se o aluno não quiser, se não se esforçar, se não tomar gosto pela escrita,
todos os outros fatores podem ser tratados e, mesmo assim, não terão sucesso.
Das leituras realizadas para a elaboração deste estudo, percebeu-se que desejo é o sentimento mais forte do
querer. É o aluno querer tanto, a ponto de não medir esforços para conseguir o objeto desejado, no caso, a escrita.
Segundo RUDEL (2007, p.35), “um impulso não satisfeito em tempo leva ao surgimento de uma tensão - que
caracteriza o desejo.” E sempre que “...o indivíduo pensa na coisa desejada, está criando ou aumentando tensão
psíquica, e ficando assim como alvo de motivação que o levará a agir no sentido de satisfazer o desejo surgido.”
O desejo é próprio de seres inacabados, pois um ser que não carece de nada, não deseja nada, seria um ser
perfeito, um deus; sabe-se perfeitamente que estudante não é Deus, portanto, sujeito ao desejo da aprendizagem.
Sendo próprio de seres inacabados, ele deveria fazer parte de todo ser humano – incluindo, naturalmente, os alunos,
que, segundo Freud (1990), deveriam fazer parte dos “desejantes de saber”, tal como as crianças e os cientistas.
Entretanto, percebe-se que o desejo de aprender parece diminuir com o tempo, a curiosidade já não existe
para assuntos básicos como a escrita, entre os alunos da graduação. Dão-se por satisfeitos com o processo
desenvolvido na fase infantil e acabam por expulsar o desejo da escrita. Este desejo incipiente, pode ser fruto de outro
fator: a preguiça que, analisando o texto a seguir, parece ser o mais tolerado dos 7 pecados capitais.
[...] ninguém se regozija ao pensar nos frutos azedos da ira [...] ou nos da inveja [...] ou ainda na
ruína da saúde ou do lar, que com frequência é o resultado da gula [...], da avareza e da luxúria. Mas
quando pensamos nas ramificações da preguiça, não conseguimos apagar de todo aquele sorriso
inicial. Parecem ter qualquer coisa de cômico, e ousaríamos dizer até de simpático: correrias
matutinas rumo ao emprego, por não se ter acordado na hora certa; cenas de comédia italiana entre
a mulher e o marido, que se entrincheira na poltrona e no jornal para não ter que ajudar; artes de
“cola” em estudantes pouco afeiçoados ao trabalho... (FAUS, 1987, pág.5)

Pode-se supor que a preguiça traz consequências contraditórias, sendo aprovada ou reprovada pela
sociedade, dependendo do contexto em que está inserida. Mas não é engraçada e nem aceita quando apresenta-se em
estudantes, fato que contribui para que ele não tenha vontade de escrever e, pior, que não tenha vontade de melhorar
por meio da escrita.
Em muitos casos também, a preguiça pode vir acrescentada do cansaço, que é comum a estudantes que
trabalham durante o dia e estudam à noite. Este pode ser mais um fator a contribuir para a dificuldade na escrita, mas já
não é possível separar o estudante adulto do trabalho. Mediante isso, o trabalho modifica a natureza produzindo as
coisas que atendem necessidades humanas e “por isso o trabalho é humanamente imprescindível ao homem desde
sempre” (FRIGOTTO, 2002, p.12).
Frequentemente, as escolas não conseguem unir trabalho e educação, pois eles foram separados, tipos como
diferentes, não considerando que o processo de aprendizagem no trabalho é primordial a uma instituição de ensino
onde estudam adultos. A consequência disso é que o aluno que trabalha chega cansado à escola e não aproveita seu
6

conhecimento no local de trabalho na construção do seu conhecimento escolar, nesse caso, na escrita, que poderia
voltar-se ao seu conhecimento profissional para estimulá-lo e ajuda-lo. (SAVIANI, 2007).
Volpi (1996) salienta que:
[...] a universidade deverá [...] produzir o saber buscando o equilíbrio entre o conteúdo social e a
excelência acadêmica especificamente profissional num explicito comprometimento como elevação
das condições de vida a níveis mais dignos e fraternos, numa significativa interação com o entorno
social onde se situa, cumprindo, assim, o papel cada vez mais é chamada a desempenhar. (VOLPI,
1996, p. 18)

Na fase adulta, quando o estudante está na Universidade, em muitos casos, não será possível dissociar sua
vida escolar da sua vida no trabalho, cabendo aos seus professores tirar vantagem da situação, levando o aluno a
escrever sobre suas experiências de trabalho, para que ele vivencie a realidade corporativa na realidade educacional:
duas situações indivisíveis no mundo atual.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fase acadêmica é a fase onde o estudante é considerado pronto para escrever corretamente, fazer suas
argumentações, construir seu pensamento. Entretanto, percebe-se que os estudantes levam consigo uma grande carga
de problemas de formação escolar, que refletem-se em sua escrita, comprometendo inclusive seu desempenho escolar
e, por fim, a construção de seu trabalho de conclusão de curso – TCC na graduação.
Fatores familiares, psicológicos, escolares e do próprio aluno, como a preguiça e o cansaço, são fatores
geradores da falta de qualidade da escrita do aluno e, na fase adulta, já não há muito que possa ser feito. Ou seja, a
vontade do aluno precisa ser maior do que os seus problemas, para que possa ter sucesso em sua escrita.
Este artigo não buscou, de forma alguma, esgotar o tema, que é amplo e fonte de inúmeras pesquisas, mas
teve como alvo chamar a atenção para o fato de que o estudante é cobrado na graduação o que ele não foi preparado
na fase infantil. As estruturas sociais, no momento da fase adulta, cobram por resultados e o estudante acaba por
sentir-se solitário, incapaz e improdutivo, aumentando ainda mais os seus problemas de escrever, fazendo com que,
muitas vezes, ele chegue a pagar para conseguir, por exemplo, entregar seu TCC, pois o medo o paralisa, a preguiça o
domina e o cansaço é mais um processo com o qual ele precisa lidar.
Sabedores de tais problemas, cabe à sociedade escolar, familiar e ao próprio aluno, analisar a importância do
aprendizado infantil, para que, na fase adulta, não tenha a escrita como problema, mas como aliada na realização dos
seus objetivos, um deles é a graduação, que passa pela entrega do TCC, devidamente escrito.

REFERÊNCIAS:
Araujo MR, Minervino CASM. Avaliação cognitiva: leitura, escrita e habilidades relacionadas. Psicologia em Estudo.
2008;13(4):859-65

Barrera, S. D. e Maluf, M. R. (2003). Consciência metalinguística e alfabetização: um estudo com as crianças da


primeira série do ensino fundamental. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 16, n. 3, pp. 491-502.         
7

BOCCATO, V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica e o artigo científico como forma de
comunicação. Rev. Odontol. Univ. Cidade São Paulo, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 265-274, 2006.

COLLARES, C.L. e MOYSES, M. A. A. Preconceito no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 1996.

CRUZ, V. Dificuldades de Aprendizagem: Fundamentos. Coleção Educação Especial. Porto: Porto Editora, 1999.

FAUS, F. A preguiça. São Paulo: Quadrante, 1987.

Ferreira, M. de C. T. e Marturano, E. M. Ambiente familiar e os problemas de comportamento apresentados por crianças


com baixo desempenho escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 15, n. 1, pp. 35-44. 2002

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas,1986.

FREUD, Sigmund. Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci. Lisboa: Relógio D’água, 1990

FRIGOTO, G. A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida. In FRIGOTO, G., CIAVATTA, M. (Orgs). A
experiência do trabalho e a educação básica. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPCA, 2002.

Giurlani, A G.. Ambiente familiar e os efeitos do Programa EPRP destinado a atenuar problemas de comportamento e
aprendizagem. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Saúde Mental. Ribeirão Preto, SP,
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 2004         

JOSÉ, E. da A.& COELHO, M. T. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Editora Ática,


1999.

LEITE, V. A. M. Dimensões da Não Aprendizagem. Curitiba, PR: IESDE, 2012.

LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa


bibliográfica. Rev. Katál., Florianópolis, v. 10 n. esp., p. 37-45, 2007.

NEMIROVSKY, Myriam. O Ensino da Linguagem escrita. Artmed, 2002

OLIVEIRA, Adriana M.; GERMANO, Giseli Donadon; CAPELLINI, Simone Aparecida. Desempenho de escolares em
provas de processo de identificação de letras e do processo léxico. Revista CEFAC, v. 18, n. 5, p. 1121-1131, 2016.

RUDEL, Douglas. Dicionário de Psicologia Prática. Obtido via Internet no site


http://paginas.terra.com.br/arte/rudeldouglas/Dicionario.htm. Acesso em 22 mai.2020

SAVIANI, D. Trabalho e Educação: Fundamentos Ontológicos e Históricos. Revista Brasileira de Educação, jan-abril.
vol.12, número 034. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, São Paulo, pp. 152- 165, 2007.

SAMPAIO, Maria Nobre et al. Spelling performance of public and private school students: A comparative study. Estudos
de Psicologia, Campinas, v. 34, n. 3, p. 399-410, 2017.

Shimazaki, E. M. Alfabetização e letramento em jovens e adultos com deficiência mental. Tese de doutorado
apresentado a Universidade De São Paulo, 2006.

VOLPI, Marina Tazón. A universidade e sua responsabilidade social. Porto Alegre: EDIPUCRS, Coleção Universitária, 4
ed. 1996

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Você também pode gostar