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CAP. I – CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS


DE BETÃO ARMADO. SISTEMAS ESTRUTURAIS

1 . GENERALIDADES SOBRE EDIFÍCIOS

 De uma forma geral, designa-se por EDIFÍCIO toda a


construção executada com a finalidade de abrigar
actividades humanas.

 Normalmente, os edifícios caracterizam-se pelos seus


diferentes tipos de uso. Os Tipos de Edifícios comuns são:
 Residenciais
 Escritórios
 Comerciais
 Industriais
 Especiais (armazéns, bibliotecas, museus, arquivos,
escolas, hospitais, clínicas e centros de saúde, centros
comerciais, hotéis, lares e empreendimentos
turísticos, estacionamentos e gares de transporte,
etc.)
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Figure 1 - Exemplo de alguns tipos de edifícios

A sua implantação envolve a utilização do seguinte:


 Material da Estrutura Resistente;
 Material da parte não-resistente;
 Instalações especificas (eléctricas, hidráulicas, etc.).

Os edifícios podem ser abordados em duas perspectivas:


 Projecto (análise estrutural para o Eng. Civil);
 Tecnologia de Construção (gestão, planeamento,
execução, controle de qualidade e fiscalização de
obra).
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Nesta cadeira pretende-se abordar aspectos relacionados


com o dimensionamento da estrutura resistente dos edifícios
mais comuns (residenciais, comerciais, escritórios, etc.). Os
Tipos de estruturas Resistentes Usados nos edifícios Comuns
são:
 Betão Armado;
 Betão Pré-esforçado (normalmente, associado ao
Betão armado);
 Estruturas metálicas e Mistas (aço/betão);
 Alvenaria Estrutural (armada ou não);
 Madeira (edifícios de pequena altura);
 Elementos Pré-fabricados de argamassa armada.
O enfoque da cadeira é a Concepção De edifícios de Betão
Armado. Nos edifícios comuns, normalmente a estrutura de
betão é embutida nas paredes, podendo ser aparente
conforme requisitos do projectista.

2. PROJECTO DE UM EDIFÍCIO. CONCEPÇÃO


ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS

2.1. Concepção Estrutural


A Concepção Estrutural consiste na escolha do Sistema
Estrutural que vai ser parte resistente do edifício.
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É das etapas mais importantes do projecto estrutural, pois


implica a escolha dos elementos estruturais a usar e definir
suas posições, de modo a formar uma estrutura eficiente,
capaz de absorver todos esforços actuantes e transmiti-los
ao solo de fundação.
A solução Estrutural adoptada deve atender aos requisitos
estabelecidos nas normas técnicas, nomeadamente os
relativos à capacidade resistente, ao desempenho em serviço
e à durabilidade.

2.2 – Projecto Estrutural


Normalmente, os materiais utilizados em uma construção
podem ser divididos em 2 grupos:
 Partes “Resistentes”, que constituem a ESTRUTURA da
construção, responsável pela sua resistência e
estabilidade;
 Partes consideradas “Não-resistentes”, que constituem o
ENCHIMENTO da construção (alvenarias, carpintarias,
revestimentos, etc.).
O Projecto Estrutural tem a haver com o dimensionamento,
desenho e detalhe dos elementos estruturais da edificação.
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Devem ser considerados vários aspectos no projecto de uma


construção:
 Projecto de Arquitectura
Atende a aspectos ligados à estética e à funcionalidade do
uso. Constitui a base para a elaboração do projecto
estrutural;
 Projecto de Estruturas
Atende a aspectos relativos à segurança, condições de
serviço e durabilidade. Deve estar em harmonia com os
demais projectos de especialidades (Por Ex: projecto de
electridade, de hidráulica, etc.);
 Projecto de Instalações
Atende a aspectos que envolvem instalações hidráulicas,
eléctricas e outras especiais (ex.: canalização de gás).

Em geral, o projecto estrutural é composto pelas seguintes


etapas (integrantes entre si, para gerar o projecto):

 Concepção Estrutural: fase mais importante, em que se


define o sistema estrutural, os materiais a usar e as ações
a considerar, com o objetivo de dimensionar os elementos
estruturais e prever seu comportamento;
 Analise estrutural (Dimensionamento): fase em que se
define as dimensões e as armaduras da estrutura;
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 Síntese Estrutural (validação): fase em que se


consubstancia os dois passos anteriores, recorrendo a uma
análise final e completa. Esta análise confirma (ou não) o
que já é conhecido.
Geralmente, os elementos estruturais que predominam na
composição das estruturas são lajes, vigas e pilares.

2.3 – Elementos Estruturais de Betão Armado.


Sistemas Estruturais.
Geralmente, as estruturas de edifícios são compostas por
elementos lineares (pilares e vigas), bidimensionais (lajes,
paredes e cascas) e tridimensionais (maciços de fundação,
etc.).
Os arranjos estruturais (ou sistemas estruturais) podem ser
compostos por um tipo de elemento estrutural, mas o que é
comum acontecer é serem compostas por um conjunto de
elementos estruturais.

2.3.1 – Elementos Estruturais Básicos


a) Laje
Elemento plano, geralmente horizontal, que serve de
pisos dos compartimentos, com a função de suportar as
cargas verticais (permanentes e variáveis) nele
aplicadas, solicitado predominantemente à flexão.
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Figura 2 - Planta da laje de pavimento em betão armado

Figura 3 - Corte A-A do pavimento

b) Viga
Elemento linear (barra), geralmente recto e horizontal,
que vence os vãos entre pilares dando apoio às lajes,
alvenarias e, eventualmente, outras vigas (ou pilares).
As vigas são, predominantemente, solicitadas à flexão.
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Figura 4 - Esquema de uma viga de betão armado

c) Pilar
Elemento linear recto, geralmente vertical, que
assegura o vão vertical dos compartimentos (pé-direito)
e o apoio as vigas, solicitado, predominantemente, à
compressão. Transfere as cargas da superstrutura para
as fundações.

Figura 5 - Pilar de betão armado


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As solicitações predominantes relacionadas acima, estão


associadas ao que se chama de “comportamento principal”
ou “comportamento primário” dos elementos estruturais.
Porém, as ligações rígidas existentes entre os diversos
elementos acarretam a presença de outras solicitações.

2.3.2 – Elementos Estruturais de Fundação


São elementos tridimensionais que transferem as cargas
provenientes dos pilares ao solo de fundação, considerando
as características mecânicas envolvidas.
As fundações classificam-se em:

 Fundações Directas
Quando a transferência de carga do pilar para a fundação
se der a pequenas profundidades. São exemplos as
sapatas, ensoleiramentos, etc.

 Fundações Profundas
Normalmente em estacas (pode ser também poços de
fundação, tubulões, etc.), quando a transferência de carga
do pilar para a fundação se der a “grande” profundidade.
Neste caso, o elemento de fundação que transfere a carga
do pilar para as estacas, chama-se maciço de
encabeçamento.
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Figura 6 - Esquema de fundação superficial (sapata) e de fundação profunda (bloco de


estacas)

2.3.3 – Elementos Estruturais Complementares


São os elementos estruturais que complementam a estrutura
do edifício e que, normalmente, são formados por uma
combinação dos elementos estruturais básicos. São exemplo
escadas, muros de suporte, vigas-parede, reservatórios, etc.
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2.4 – Aspectos Gerais Importantes a Considerar Na


Concepção Estrutural de Edifícios
 O conjunto da estrutura deve atender, tanto quanto
possível, à forma, à estéticas e a todas outras condições
impostas pelo projecto de arquitectura.
Em geral, nos edifícios correntes procura se embutir as vigas e os
pilares, de forma a revestir e “esconder” a estrutura;

 O posicionamento dos elementos estruturais na estrutura


da construção pode ser feito com base no comportamento
primário dos mesmos.
As lajes transferem as acções verticais para vigas de apoio; as
vigas transferem as acções provenientes da laje junto com o peso
das alvenarias para os pilares; e os pilares transferem as acções
provenientes das vigas para as fundações;

Figura 7 - esquema do arranjo estrutural mais comum nos edifícios


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 A transferência de cargas deve ser a mais directa possível,


pelo caminho mais curto.
Deve se evitar, na medida do possível, o apoio de vigas
importantes sobre outras vigas (apoios indirectos), bem como
apoio de pilares sobre vigas (vigas de transição);

Figura 8 - exemplo do processo de encaminhamento de cargas num edifício

 Os elementos estruturais devem ser o mais uniformes


possíveis, quanto à geometria e quanto às solicitações.
As vigas devem, em princípio, apresentar vãos comparáveis entre
si;

 As dimensões da estrutura, em planta, devem ser


limitadas (geralmente a 30m no máximo), para minimizar
os efeitos da variação de temperatura e da retração.
Isso pode ser conseguido através do uso de juntas de dilatação (ou
de separação), que resultam em blocos de estrutura
independentes, que não interagem entre si;

 Em edifícios de múltiplos pavimentos (com vários pisos) a


verificação da estabilidade global da estrutura assume
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grande importância porque a acção horizontal do vento


alcança valores significativos.
Estas solicitações são, normalmente, resistidas por “pórticos
planos”, ortogonais entre si, que devem ter resistência e rigidez
adequados. Para isso, é importante a orientação criteriosa dos
pilares com as rigidezes adequadas, ou introduzir elementos de
contraventamento (caixas de escada, pilares-paredes, etc.).

Figura 9 - Exemplo de estruturas de contraventamentos para atender às acções horizontais

 Em edifícios com garagens, deve-se posicionar os pilares


cuidadosamente a fim de permitir maior número de vagas
de estacionamento e facilitar o fluxo dos veículos.
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2.5 – Pré-dimensionamento de Elementos estruturais


de Betão armado
Uma vez definida a solução estrutural, deve se proceder ao
pré-dimensionamento de todos os elementos estruturais, de
modo a cumprir com todas as verificações de segurança e
otimizar o custo total da obra.

Devido a sua influência na determinação do peso próprio,


importa recordar a Classificação das Lajes:
 De acordo com o Tipo de Apoio
 Lajes Vigadas (apoiadas em vigas);
 Lajes Fungiformes (apoiadas diretamente nos pilares)
 Lajes em Meio Elástico (apoiadas em superfície
deformável – Ex: ensoleiramento geral)

 De acordo com a sua Constituição


 Monolíticas (só em betão armado)
 Maciças
 Aligeiradas
 Nervuradas

 Mistas (betão armado em conjunto com outro material)


 Vigotas pré-esforçadas
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 Perfis metálicos

 De acordo com o Modo de Flexão Dominante


(Funcionamento)
 Armadas numa direção
 Armadas em duas direções (em cruz)

 De acordo com o Modo de Fabrico


 Betonadas “in situ”
 Pré-fabricadas (total ou parcialmente)

2.5.1 – Pré-Dimensionamento de Lajes Maciças vigadas


A espessura das lajes e condicionada por:
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 Resistência (esforços) – Flexão e esforço transverso


 Características de utilização – Deformabilidade,
isolamento acústico, vibração, proteção contra incêndios,
etc.

a. Espessura mínima tendo em conta o uso (art. 102


REBAP)
 h≥5Cm, para lajes de terraços acessíveis;
 h≥7Cm, para lajes Sujeitas predominantemente a
cargas uniformemente distribuídas;
 h≥10Cm, para lajes sujeitas a cargas concentradas;
 h≥12Cm, para lajes sujeitas a cargas concentradas
importantes;
 h≥15Cm, para lajes apoiadas diretamente nos
pilares (lajes fungiformes).

b. Espessura tendo em conta a deformação (art. 102


REBAP)
 Em geral:

c. Espessura tendo em conta os Esforços (Momento e


Esforço Transverso)
 Momento Fletor
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 Esforço Transverso

2.6 – Concepção Das Estruturas em Planta (Atuação


das Acções Verticais)
Refere-se a definição da forma estrutural em planta, por
forma a receber as acções verticais (cargas permanentes +
sobrecargas).
Conforme visto atrás, num edifício as acções verticais são
suportadas por lajes que as transferem para as vigas (ou aos
pilares no caso de lajes fungiformes) que, por sua vez, as
transmitem aos elementos verticais (pilares, paredes e caixas
de escada/elevador). Os elementos verticais conduzem essas
cargas as fundações.
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Portanto, as soluções estruturais de pavimento podem ser:


a) Laje Vigada

Um caso especial desta situação e quando temos as lajes


apoiadas em paredes de betão (Estrutura laminar)

b) Laje Fungiforme
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c) Pre-Fabricacao

Para suster as acções verticais, pode-se adoptar diversos


tipos de sistemas estruturais, sendo de destacar os
seguintes:
 Sistema de pórtico plano ou tridimensional;
 Sistemas em pórticos treliçados;
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 Painéis tipo parede (toda estrutura em paredes


resistentes) e pórtico-parede;
 Sistemas com núcleos rígidos em betão armado (ou
em aço) e os pilares isolados;
 Sistemas tubulares.

Figura 10 - Subsistemas verticais


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A base para a analise e escolha do sistema a usar é o projecto


de arquitectura, a partir do qual se pode esboçar a planta da
forma estrutural, na qual se indica a localização dos
principais elementos estruturais (lajes, vigas e pilares). Ter
em conta que o Arquitecto projecta o edifício olhando de
cima para baixo, enquanto que o Engenheiro projecta a
estrutura olhando de baixo para cima.
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Figura 11 - Exemplo da planta de arquitectura de um edifício

Figura 12 - Planta da forma estrutural do edifício da fig.11


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2.7 – Concepção Vertical Das Estruturas (Atuação das


Acções Horizontais)
No geral, as acções horizontais que solicitam os edifícios são
o vento, sismos e impulsos (de terras e de água).
No entanto, quanto mais exposto estiver ou mais alto for o
edifício, as acções dinâmicas se agravam, especialmente as
originadas por vento e sismos. São diversos os problemas
criados por estas acções nas estruturas, nomeadamente de:
 Estabilidade;
 Resistência;
 Integridade e funcionamento de equipamentos;
 Saúde e conforto humano.
Embora o vento e o sismo sejam ambas acções dinâmicas, a
maneira pela qual são induzidas às estruturas é diferente: as
cargas do vento, aplicadas como externas, são
caracteristicamente proporcionais à superfície exposta de
uma estrutura; enquanto que as forças sísmicas são forças
internas, produzidas pela resistência da inércia da estrutura
a movimentos sísmicos.

Em bom rigor, a construção de edifícios com bom


comportamento às acções horizontais implica que:
• As acções a que vão estar sujeitos sejam
convenientemente caracterizadas;
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• A concepção da sua estrutura seja a adequada;


• A determinação dos seus efeitos seja feita através de
métodos apropriados;
• Se proceda a um dimensionamento correcto,
acompanhado de aspectos construtivos convenientes;
• Finalmente, uma execução cuidada.
Os sistemas resistentes a acções horizontais são, no caso de
edifícios elevados e em geral, dimensionados segundo
critérios de rigidez. O sistema deve impedir as deformações
e as acelerações excessivas sob acções de natureza dinâmica.

2.7.1 – Acção do Vento


A força do vento traduz-se numa pressão sobre as paredes
das fachadas, que é transmitida aos elementos de
contraventamento (paredes e pórticos) através das lajes, que
trabalham como membranas horizontais rígidas ao nível dos
pisos. O seu efeito é analisado considerando forças
concentradas ao nível de cada piso.
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Figura 13 - Ilustração da transferência da acção do vento em edifícios

A sua quantificação deve ser feita segundo o prescrito no


capítulo V do RSA. Segundo o RSA, a quantificação do vento
resulta da interação entre o ar em movimento e as
construções, exercendo-se sob forma de pressões aplicadas
nas suas superfícies.

2.7.2 – Acção Sísmica


Esta acção esta associada a movimentos tectónicos da crosta
terrestre que originam deformações, roturas e enrugamento
da camada superficial da terra, provocando libertação de
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energia que origina vibrações que se propagam sob forma de


ondas de diversos tipos, através da crosta terrestre.

Pela sua imprevisibilidade e grande poder destrutivo que


tem, torna-se fundamental, aquando da elaboração dos
projectos de estrutura, ter especial atenção e certos
cuidados que condicionam o comportamento duma
estrutura perante o movimento sísmico, dado que esta deve
cumprir 3 objectivos essenciais:
 Garantir a segurança de vidas humanas;
 Minimizar perdas materiais e económicas;
 Assegurar o funcionamento de instalações de
proteção civil (hospitais, quarteis de bombeiros, etc.)
para a função, após a ocorrência de um sismo.

Segundo estudos mais recentes sobre o assunto (vide EC-8),


para que uma estrutura apresente um bom comportamento
sísmico devem ser respeitados certos princípios a nível da
concepção estrutural, tais como:
1. Simplicidade estrutural;
2. Uniformidade em altura;
3. Simetria e regularidade (em planta);
4. Graus de redundância;
5. Resistência e rigidez bidirecionais;
6. Resistência e rigidez à torção;
7. Comportamento de diafragma ao nível dos pisos;
8. Fundação adequada;
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9. Não existência de cantos reentrantes ou o


posicionamento favorável dos elementos de rigidez.

A consideração das acções sísmicas deve reflectir-se na


concepção das estruturas, através de medidas especiais
tendentes a melhorar o seu comportamento em face deste
tipo de acções.

Assim, tanto que possível e entre outras recomendações,


deve procurar-se que:

• As características de resistência e rigidez das


estruturas sejam ponderadas de tal modo que, por um
lado, minimizem as acções sísmicas e, por outro,
limitem a ocorrência de grandes deslocamentos (de
referir: a simplicidade estrutural, uniformidade e
simetria, acção de diafragma ao nível dos pisos,
fundação adequada);

• As estruturas tenham os seus elementos (vigas, lajes,


pilares) convenientemente interligados em todas as
direcções, de modo a assegurar um eficiente
funcionamento de conjunto, assegurando resistência e
rigidez bidireccional e à torção;

• A disposição dos elementos da estrutura apresente


simetria, o mesmo se recomendado relativamente ao
conjunto das massas da construção;
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• As variações de rigidez e de massas (peso paredes,


revestimentos, peso próprio, lajes, etc.), principalmente
em altura, não apresentem grandes descontinuidades;

• As estruturas tenham possibilidade de dissipar energia


por deformação não elástica, o que requer adequadas
características de ductilidade dos seus elementos.

A acção dos sismos resulta de um conjunto de vibrações do


solo que são transmitidas às estruturas durante a ocorrência
de um sismo, protagonizada por ondas sísmicas relacionadas
com libertação de energia num ponto ou zona da crusta
terrestre.

Estes movimentos estão caracterizados como


deslocamentos, velocidades e acelerações com diferentes
direcções, magnitude, duração e sequência. A resposta da
estrutura aos movimentos está influenciada pelas
propriedades da mesma, o terreno em que se insere a
estrutura e o carácter do movimento de excitação.
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Figura 14 - Relações de distribuição em planta entre rigidez e massa.


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A quantificação da acção sísmica deve ser feita segundo o


prescrito no capítulo VII do RSA. Segundo o RSA, os valores
da acção sísmica são quantificados em função da sismicidade
da zona em que se situa a construção, assim como da
natureza do terreno da fundação onde será implantada a
estrutura.

2.8 – Analise Global de Estruturas de Edifícios

Os edifícios são, grosso modo, constituído por pórticos.


Sendo os pórticos de edifícios de betão armado estruturas
monolíticas, a deformação causada por uma carga vertical
espalha-se a todos os elementos do pórtico, embora a
grandeza da deformação decresça com o aumento da
distância.
No caso específico das acções horizontais, a deformação
produzida num pórtico é muito mais uniforme, sendo que
todos elementos se deformam de modo aproximadamente
igual ao nível de cada piso, independentemente da distância
aos pontos de carga, em contraste com o caso da carga
vertical.
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Figura 14 - Deformações em estruturas monolíticas

Sob a atuação das acções verticais e horizontais, os edifícios


podem ser sujeitos a mobilidades que podem criar acções
adicionais, nomeadamente momentos de segunda ordem e
momentos torsores nos elementos de contraventamento
(pilares e paredes estruturais). Para assegurar o bom
comportamento das estruturas a estes efeitos, é importante
efetuar a análise global da estrutura, conforme prescrito no
capítulo VIII do REBAP.

3. PROJECTO DE UM EDIFÍCIO. CÁLCULO ESTRUTURAL


DE EDIFÍCIOS
Concebida a geometria da estrutura e das suas secções
(concepção estrutural e pré-dimensionamento), bem como
determinadas as prováveis solicitações em serviço e a rotura,
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é objecto de analise de estruturas a determinação das


correspondentes deformações e tensões ou deslocamentos
e esforços.
Baseado nos resultados obtidos, pode se ajuizar se os
pressupostos do pré-dimensionamento satisfazem, ou seja:
se a solução actual (do dimensionamento) satisfaz os
requisitos de resistência (E. L. Últimos) e serviço (E. L.
Utilização) exigíveis, segundo uma perspectiva que
estabeleça um compromisso sensato entre a segurança e a
economia. Esta fase corresponde ao cálculo estrutural.

3.1. – Princípios Gerais do Dimensionamento


Estrutural
O projecto de uma estrutura deve atender aos seguintes
requisitos:
 Funcionalidade
Tem como objectivo satisfazer as condições para as quais
a obra foi concebida.
 Segurança
Tem a ver com a verificação da estrutura ao
colapso/rotura (E. L. Últimos) e condições de serviço (E. L.
Utilização).
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 Economia
Visa a optimização da solução estrutural no sentido de,
salvaguardando sempre a garantia de segurança, reduzir o
máximo o custo da obra (materiais, m.d.o e equipamento)
 Estética
Tem a ver com o enquadramento da obra no local,
distribuição de espaços e volumes, luz e sombras, etc.

3.2. – Tipos de Analise Estrutural


A bibliografia especializada indica a prática dos seguintes
tipos de analise estrutural:
 Analise Linear;
Nesse tipo de análise considera-se que os materiais que
constituem a estrutura assumem comportamento elástico-
linear.
A elasticidade é definida como a propriedade que o um
elemento tem de se deformar ao receber ações externas e
assim que cessadas as ações voltar à configuração inicial.
Ter um comportamento elástico-linear significa que o
material tem propriedades elásticas e que sua deformação
é proporcional à intensidade das ações externas.
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Figura 15 – Comportamento linear de uma estrutura de betão armado

 Analise Linear com Redistribuição;


Uma vez realizada a análise linear de uma estrutura, pode-
se proceder uma redistribuição dos esforços calculados,
decorrente da variação de rigidez dos elementos
estruturais. A fissuração, e a consequente entrada no
Estádio II, de determinadas seções transversais, provoca
uma redistribuição dos esforços solicitantes, para regiões de
maior rigidez.

É o caso de vigas contínuas, por exemplo. Ao aumentar-se


progressivamente o carregamento de uma viga contínua,
fissuras aparecerão primeiramente nos apoios, onde os
momentos fletores são maiores. A região do apoio entra no
Estádio II quando o betão tracionado deixa de contribuir na
resistência, por ação das fissuras. Ainda sob o carregamento
crescente, nota-se um aumento mais rápido dos momentos
fletores nos vãos, que ainda estão no Estádio I (seção não
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fissurada), do que nos apoios. Esse processo continua até a


entrada também da região do vão no Estádio II.

Figura 16 – Variação da rigidez e da curvatura de uma viga em função do diagrama de


momentos e da rigidez a flexão EI

 Analise Plástica;
 Analise Não linear;
uma análise não-linear é um cálculo no qual a resposta da
estrutura, seja em deslocamentos, esforços ou tensões,
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possui um comportamento não linear, isto é,


desproporcional à medida que um carregamento é aplicado
Na Figura 17 apresenta-se o gráfico ação x deformação (P x
d) onde se considera o comportamento não linear da
estrutura. Percebe-se que ao aumentar a ação P, aumenta-
se também a deformação d, mas sem existir uma
proporção. Neste caso, não se tem um módulo de
elasticidade definido.

 Figura 17 – Comportamento não-linear de uma estrutura de betão armado

 Analise Através de Modelos Físicos.


Por serem aqueles que se ensinam nos cursos de engenharia
civil no país, assim como também pelo facto de o REBAP se
basear neles, os cálculos estruturais são feitos pelas análises
linear e linear com redistribuição.
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Exemplo Pratico de Concepção e Dimensionamento Estrutural


Antes de se iniciar com o exemplo entanto que tal, importa
referir os Passos Para a Concepção, Dimensionamento e
Execução de Uma Obra
1. Dados Iniciais
Consistem no projecto de arquitectura, assim como
conhecimento das características relativas ao local onde será
executada a obra (geotécnicas, ambientais, etc.)
2. Sistema Estrutural
Mais importante nesta fase, e a definição do tipo de pavimento
que se pretende usar para o edifício, assim como o percurso
das acções ate as fundações
3. Posicionamento de Pilares e Paredes
Recomenda-se começar com a indicação dos pilares dos cantos
e os dos espaços comuns do edifício (caixas de escadas e/ou
elevadores). De seguida, indicar os das extremidades e, por
fim, os internos. O ideal e dispor os pilares alinhados para
permitir formar pórticos. Ter em atenção a necessidade de
respeitar o projecto de arquitectura e, sempre que possível,
embutir os pilares nas paredes.
4. Posicionamento de Vigas e Lajes
Recomenda-se posicionar as vigas de forma tal que permita
formar pórticos com os pilares e, em caso de necessidade, para
receber paredes divisórias. O seu posicionamento delimita as
lajes.
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5. Definir as Plantas Estruturais e Forma Estrutural em


Altura
6. Pré-Dimensionamento
7. Dimensionamento
8. Desenhos de Execução e memoria de calculo
9. Analise de custos (medições e orçamento)

Exercício
A figura representa a planta-tipo de um edifício de 6 andares
localizado no bairro Albazine, em Maputo, a conceber em
betão armado B30/A400. Pretende-se fazer o
dimensionamento e pormenorização do edifício.
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43

4. MEMORIA DO CÁLCULO ESTRUTURAL. FORMATO


DO DOCUMENTO
Não existe um modelo rígido do documento, sendo que o
mais importante é que possua toda informação básica que
justifique o cálculo do projectista.
De uma forma geral, o documento deve conter a seguinte
informação:

1. Introdução
1.1. Objectivo
Abordar as razões que levam o projectista a elaborar o
documento. Por exemplo:
“A presente memoria tem como objectivo estabelecer os parâmetros,
especificações e critérios a serem considerados no dimensionamento
da estrutura de betão armado do edifício [inserir nome da obra], situado
[inserir localização completa].
A concepção e dimensionamento estrutural do projecto contempla
as características e uso constantes do projecto de arquitectura
fornecido pelo projectista e confirmados pelo dono da obra”
1.2. Descrição geral do edifício
Descrever a arquitectura do edifício naquilo que se relaciona
com a concepção e cálculo estrutural.
1.3. Condicionalismos
Descrever o que condiciona/influencia a solução ou o cálculo
estrutural. Os condicionalismos podem ser do seguinte tipo:
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1.3.1. Rodoviários
Descrever de que forma os arruamentos existentes na
envolvente ou no local da obra podem influenciar a
solução e/ou o cálculo estrutural.
1.3.2. Orográficos
Descrever até que ponto o relevo pode influenciar a
solução e/ou o cálculo estrutural.
1.3.3. Geotécnicos
Descrever até que ponto o relevo pode influenciar a
solução e/ou o cálculo estrutural.
1.3.4. Hidráulicos
Descrever até que ponto as linhas de água que
atravessam o local da obra influenciam nas medidas a
adoptar para a implantação do edifício assim como na
solução e/ou o cálculo estrutural.
1.3.5. Geométricos
Descrever até que ponto a arquitectura pode influenciar
a solução e/ou o cálculo estrutural.

2. Solução Estrutural
Descrever a solução estrutural adoptada: em planta e em
altura, incluindo processo de encaminhamento de cargas; os
elementos de rigidez considerados; tipo de fundações; etc.
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3. Acabamentos
De inclusão facultativa. Neste ponto deve se descrever
apenas os acabamentos de âmbito do estudo de
especialidade de estruturas, nomeadamente:
 Impermeabilização das superfícies de betão;
 Tratamento das juntas de dilatação;
 Tratamento de juntas de betonagem;
 Tratamento do tardoz dos muros de suporte;
 Etc.

4. Recobrimentos
Por estar diretamente relacionados com a durabilidade das
estruturas, é conveniente listar aos recobrimentos de todos
os elementos estruturais.

5. Materiais Usados
Descrever os materiais que constituem a estrutura e indicar
suas características mais importantes.

6. Critérios de Dimensionamento e Segurança


Indicar os critérios de verificação usados; indicar a
regulamentação e normas usados; dizer em que termos será
feita a verificação da segurança; indicar as combinações
consideradas.
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7. Acções
Indicar e quantificar todas as acções que actuam na estrutura
(e seus coeficientes de combinação), nomeadamente:
7.1. Permanentes
 Peso próprio
 Restantes acções permanentes
 Paredes exteriores e divisórias
 Revestimentos de pavimentos, tectos, fachadas
e cobertura;
 Equipamento fixo;
 Impulsos de terras;
 Retração do betão

7.2. Variáveis
 Sobrecargas uniformes
 De utilização de pisos;
 Acção da neve;
 Acção do vento;
 Acção sísmica;
 Variação da temperatura.

8. Análise Estrutural
Indicar o modelo de analise; indicar a ferramenta usada para
o cálculo; referenciar as combinações consideradas para o
dimensionamento dos elementos estruturais; indicar a
interacção solo-estrutura usada; etc.
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9. Execução
Descrever o processo construtivo a ser adoptado, numa
sequência indicativa do faseamento/evolução da construção.

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