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T3 Durabilidade e manifestações patológicas na construção

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ELEMENTOS NÃO


ESTRUTURAIS PARA EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS
PAVIMENTOS EM ESTRUTURA DE AÇO, COM BASE
NO MÉTODO DDI/DMI
Performance evaluation of non-structural elements for multiple steel
floor buildings, based on the DDI/DMI method
Pedro Souza(1,), José Luiz Paes(2), Gustavo Veríssimo(3) , José Carlos Ribeiro(4)

(1) Engenheiro Civil, Estudante de Mestrado, Universidade Federal de Viçosa, Brasil.


E-mail: consultoria.estrutural@gmail.com
(2) Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Brasil.
E-mail: jlrangel@ufv.br
(3) Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Brasil.
E-mail: gustavo@ufv.br
(4) Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Brasil.
E-mail: jcarlos.ribeiro@ufv.br

Resumo
Grande parte das patologias encontradas em edifícios de estruturas metálicas
são relacionadas aos elementos de vedação e paredes divisórias. A
movimentação do edifício, provoca deformações nas barras e distorções nos
quadros do pórtico do edifício, transmitindo esforços que provocam fissuração
nas alvenarias, arrancamento de revestimentos, entre outras manifestações
patológicas. Este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho dos
elementos não estruturais em pórticos de edifícios de múltiplos andares em
estrutura metálica para ações devidas ao vento. Quatorze modelos de pórticos,
com três tipologias estruturais e quatro alturas distintas foram analisados no
software SAP2000 e dimensionados. Para cada modelo analisado, foram
calculados os índices DMI (Drifit Measurement Index), para cada quadro do
pórtico. Este índice avalia a distorção média de cisalhamento provocada pelos
deslocamentos dos quatro nós dos vértices do quadro avaliado e foram
comparados com os índices DDI (Drift Damage Index), proposto na literatura,
que é o limite aceitável. Os resultados mostraram que a avaliação do
desempenho, relacionados principalmente à fissuração dos elementos de
vedação, pelo método proposto neste trabalho pode contribuir para a
verificação dos Estados Limites de Serviço, complementando as prescrições da
ABNT NBR 8800:2008, auxiliando os projetistas a elaborarem projetos onde os
elementos não estruturais possam ter a sua durabilidade compatível com a vida
útil estabelecida.
Palavras-chave: Estados Limites de Serviço; Deslocamento Lateral; Estruturas
Metálicas; Danos em elementos não estruturais; Desempenho Estrutural.
1. Introdução
A utilização de estruturas metálicas nas obras brasileiras tem crescido nos
últimos anos e isso tem promovido cada vez mais a formação de profissionais
especializados na elaboração de projetos estruturais para edifícios em aço.
Durante as últimas décadas, a evolução nos sistemas computacionais voltados
para análise e dimensionamento de estruturas, principalmente ligados à
modelagem por elementos finitos, fez com que as normas nacionais e
internacionais se desenvolvessem e passassem a considerar modelos mais
refinados, que apesar de complexos, são capazes de representar melhor o
comportamento real das estruturas em relação às abordagens mais antigas.
A possibilidade de utilização de computadores para elaboração de projetos,
aliados à adoção de normas mais modernas, principalmente após o advento do
Método dos Estados Limites, fez com que os projetos atingissem relações entre
segurança e economia mais satisfatórias.
Outro fator importante para elaboração de projetos mais econômicos foi a
inserção no mercado de aços de maior resistência, assim, os Estados Limites
Últimos, ligados ao colapso da estrutura, são atendidos com peças de seções
transversais mais esbeltas, produzindo-se, consequentemente, estruturas mais
deslocáveis, uma vez que o módulo de elasticidade do aço permanece
invariável em relação à resistência mecânica.
A ABNT NBR 8800:2008 [1] trouxe em seu texto a obrigatoriedade de
verificação de efeitos de 2ª ordem para todas as estruturas.
Consequentemente, a análise tornou-se mais complexa, fazendo com que os
projetistas recorram a softwares que considerem tal efeito.
Neste novo cenário, em que todos os projetos devem ser submetidos a uma
análise mais complexa, com a utilização de modernas ferramentas
computacionais, há uma discussão em voga sobre os critérios e procedimentos
a serem adotados para uma análise mais refinada da estrutura em situação de
serviço, com propostas inovadoras de procedimentos para verificação de
deslocamentos laterais do pórtico e critérios relacionados às ações a
considerar.
Os materiais utilizados nas paredes divisórias e fechamentos possuem em
geral boa resistência à compressão, entretanto, apresentam baixa resistência
mecânica a esforços de tração ou cisalhamento, situações nas quais ficam
sujeitos à fissuração. Uma das causas do aparecimento de esforços de
cisalhamento nas vedações é a transmissão de esforços da estrutura para a
vedação devido a deslocamentos provocados pela ação do vento (CASTRO,
1999) [2].
As normas atuais não possuem uma metodologia eficaz para avaliação dos
danos nos painéis de fechamento, o que, em alguns casos, conduz a estruturas
superdimensionadas, devido à necessidade do aumento de rigidez, e, em
outros casos, as estruturas ficam sujeitas a deslocamentos excessivos,
introduzindo esforços capazes de danificar elementos não estruturais. As
incertezas acerca da combinação de ações para o cálculo e do modelo a serem
utilizados fazem com que projetistas tendam a adotar soluções que nem
sempre atingem o objetivo principal, que é a integridade dos elementos de
fechamento.
Após a entrada em vigor da ABNT NBR 15575-2 [3], norma brasileira de
exigência de desempenho de edificações, que também traz em seu texto
prescrições sobre deslocamentos horizontais máximos, o rigor para o
atendimento a estes quesitos de desempenho em serviço passa a ser maior.
Espera-se que os projetos estruturais garantam o desempenho da estrutura
sem prejuízos aos elementos não estruturais. Ressalta-se que a norma de
desempenho também limita apenas o deslocamento horizontal, quando
estudos recentes demonstram que isto não é suficiente para garantir a
integridade dos elementos de fechamento.
Aswegan (2013) [4] pondera que não há uma metodologia clara nos códigos
internacionais, ficando a cargo do projetista a decisão sobre qual a melhor
forma para verificar o Estado Limite de Serviço relacionado ao deslocamento
lateral dos pórticos da estrutura. Existem divergências sobre qual a
combinação de serviço a ser considerada, o período de retorno associado à
ação do vento, a consideração ou não de efeitos de segunda ordem, o modelo
estrutural a ser utilizado, a influência da posição dos contraventamentos, o
material dos painéis de vedação, etc.
Este artigo visa uma análise crítica de proposições e discussões recentes
sobre as questões citadas no parágrafo precedente, com a expectativa de uma
contribuição à discussão em andamento no âmbito internacional relacionada à
avaliação dos Estados Limites de Serviço associados a deslocamentos laterais
de pórticos planos. Espera-se, com isto, obter avanços no sentido de garantir
um melhor desempenho das edificações.
O objetivo principal deste trabalho é uma avaliação dos métodos utilizados
pelos projetistas brasileiros considerando as prescrições da ABNT NBR
8800:2008 [1] para avaliação de deslocamentos laterais excessivos e compará-
los a uma metodologia proposta por Griffis (1993) [5], que considera a distorção
de cada quadro do pórtico, obtendo o efeito nos fechamentos e paredes
divisórias de forma mais realista.
2. Considerações sobre a avaliação do deslocamento lateral de
estruturas
2.1 Estados Limites de Serviço
De acordo com a ABNT NBR 8681:2003 [6], Estados Limites de Serviço são
aqueles que comprometem a durabilidade da estrutura, ou que por sua
ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos que podem impossibilitar a
utilização normal da construção. Os estados limites considerados por essa
norma são os seguintes:
 danos ligeiros ou localizados que afetam o aspecto estético da construção
ou a durabilidade da estrutura;
 deformações excessivas que afetam a durabilidade da construção ou seu
aspecto estético;
 vibração excessiva ou desconfortável.
Segundo a ABNT NBR 8800:2008 [1], as condições usuais referentes aos
Estados Limites de Serviço devem obedecer à Eq. (1).
(1)

onde:
Sser representa os valores dos efeitos estruturais de interesse, obtidos com
base nas combinações de serviço;
Slim representa os valores limites adotados para esses efeitos.
Este estudo terá como foco os estados limites que produzem danos localizados
que afetam o aspecto estético da estrutura ou sua durabilidade. Na Quadro 1
são apresentados os deslocamentos laterais máximos prescritos para as
estruturas de aço e mistas de aço e concreto segundo a
ABNT NBR 8800:2008.

Quadro 1 - Deslocamentos horizontais máximos permitidos pela ABNT NBR 8800:2008 [1]
Deslocamento
Descrição
máximo
Deslocamento horizontal no topo dos pilares em relação à base H/400
(1)
Deslocamento horizontal relativo entre dois pisos consecutivos h/500
(1) Os deslocamentos de corpo rígido provocados pelas deformações axiais dos pilares e
vigas devem ser desprezados.

2.2 Determinação dos deslocamentos horizontais entre dois pisos consecutivos


De acordo com a nota “m” da tabela C.1 do anexo C da ABNT NBR 8800:2008
[1], para cálculo do deslocamento horizontal entre dois pisos consecutivos
deve-se tomar apenas o deslocamento provocado pelas forças cortantes no
andar considerado, desprezando-se os deslocamentos de corpo rígido
provocados pelas deformações axiais dos pilares e vigas. Na Figura 1 mostra-
se um pórtico com os deslocamentos totais com os deslocamentos totais (Fig.
1.a) resultantes da soma dos deslocamentos de corpo rígido dos andares
causados pelas deformações axiais de pilares e vigas (Fig. 1.b.) com os
deslocamentos provocados pelas forças cortantes que atuam nos andares (Fig.
1.c).

a) b) c)
Figura 1 – Deslocamentos horizontais provocados por forças laterais em edifícios de dois
ou mais pavimentos. Fonte: FAKURY, SILVA, CALDAS (2016) [7]
Com base na Figura 1 pode-se observar que o deslocamento total será sempre
maior do que o deslocamento provocado somente pelas forças cortantes
atuantes no andar considerado.
Segundo Fakury (2016) [7], a determinação dos deslocamentos considerando
apenas as forças cortantes no edifício requer uma análise mais complexa, por
isso, na prática é comum obter o deslocamento total e de modo conservador,
limitá-lo em h/500. Assim, ao se verificar o deslocamento relativo entre pisos, a
condição relacionada ao deslocamento no topo dos pilares fica
necessariamente atendida e o comportamento real da estrutura é melhor
representado. Evita-se também realizar duas análises para cada modelo.
2.3 Determinação das combinações de ações
Em seu anexo C, no item C.2.3., a ABNT NBR 8800:2008 [1], prescreve que o
responsável técnico pelo projeto deve analisar criteriosamente cada situação e
decidir se determinado deslocamento pode ser considerado um estado-limite
reversível ou não. Na falta de uma melhor avaliação, se um elemento estrutural
suportar somente componentes não sujeitos à fissuração e se seu
comportamento em serviço for elástico, pode-se considerar o deslocamento
excessivo como um estado-limite reversível. Por outro lado, se o elemento
estrutural suportar componentes sujeitos à fissuração ou se o seu
deslocamento em serviço levar à ocorrência de deformações plásticas, deve-se
entender seu deslocamento excessivo como um estado-limite irreversível.
No item C.2.4, também do anexo C, a ABNT NBR 8880:2008 [1], diz que o
responsável técnico pelo projeto deve decidir quais combinações de serviço
devem ser usadas, conforme o elemento estrutural considerado, as funções
previstas para a estrutura, as características dos materiais de acabamento
vinculados à estrutura e a sequência de construção, exceto quando houver
indicação na tabela de valores máximos. Dependendo dos fatores
mencionados, pode ser que se tenha de alterar uma combinação de serviço
comumente utilizada. No entanto, nas situações em que esse deslocamento
venha a afetar o funcionamento de equipamentos, a causar empoçamentos na
cobertura, utilizar combinação frequente e quando causar danos permanentes
a elementos não-estruturais sujeitos à fissuração utilizar combinação rara.
A ABNT NBR 8800:2008 [1] traz em seu texto diversas informações importantes para a verificação do estado
limite relacionado ao deslocamento lateral de estruturas, entretanto gera certa confusão em alguns assuntos.
Para simplificação do entendimento, no
Quadro 2 apresenta-se resumidamente as combinações de ações a serem
utilizadas em cada caso.

Quadro 2 – Combinação de serviço a ser utilizada de acordo com o efeito na estrutura


Combinação de
Descrição
Ações
Efeitos de longa duração e aparência (flechas em vigas que não
Quase permanente
suportam alvenarias, vigas secundárias do sistema de piso, etc.)
Movimentos laterais de estruturas que não possuam
fechamentos, funcionamento de equipamentos, vibrações Frequente
excessivas, abertura de fissuras, empoçamentos na cobertura
Movimento lateral de edifícios, danos a elementos não estruturais
Rara
sujeitos a fissuração, danos a fechamentos, formação de fissuras
Portanto, de acordo com a norma brasileira vigente, na verificação para
deslocamentos laterais em edifícios de múltiplos pavimentos, que são o
objetivo deste estudo, devem ser utilizadas combinações raras de serviço.
2.4 DDI e DMI
Para avaliação de danos provocados em elementos de fechamento devidos à
força do vento, Griffs (1993) [5] define o conceito de DMI (Drift Measurement
Index) e DDI (Drift Damage Index).
Griffs (1993) [5] define como DDZ (drift damageable zone) (região danificável
por deslocamento horizontal) uma região retangular da estrutura, representada
pela Figura 2 limitada pelos pisos inferior e superior e pelas linhas de paredes
divisórias adjacentes ou de pilares.

Figura 2 - Definição de uma DDZ (SAKIYAMA, 2016) [8]

O DMI (Drift Measurement Index) é um índice para a avaliação da magnitude


da distorção média por cisalhamento sofrida pela DDZ (Drift Damageable
Zone), considerando os deslocamentos relativos entre os nós A, B, C e D,
dados pela Eq. 2.

DMI 
D1  D2  D3  D4 
(2)
2
onde:
D1  xB  x A  h Índice relativo ao deslocamento horizontal dos vértices A e B

D2   x D  x C  h Índice relativo ao deslocamento horizontal dos vértices C e D.

D3  zC  z A  l Índice relativo ao deslocamento vertical dos vértices A e C.

D4  z D  z B  l Ìndice relativo ao deslocamento vertical dos vértices B e D.

h Altura da região DDZ.


l Largura da região DDZ.
Os limites para as distorções na região DDZ, devem ser definidos em função
dos danos nos materiais de fechamento, e devem ser obtidos por meio de
racking tests de elementos não estruturais. Algan (1982) [9] fez uma
compilação contendo resultados de diversos pesquisadores para mais de 700
racking tests de vários elementos não estruturais obtidos de mais de 30 fontes
diferentes. Dentre os materiais ensaiados destacam-se: tijolo maciço e furado,
bloco de concreto, drywall, painéis de gesso e painéis de madeira. Na Figura 3
apresenta-se o gráfico que relaciona a intensidade de dano com a distorção de
cisalhamento para quatros diferentes tipos de materiais.

Figura 3 – Intensidade do dano / distorção por cisalhamento (BERDING, 2006) [10]

Com as curvas do tipo da Figura 3, é possível relacionar então, a intensidade


do dano em função da distorção de cisalhamento. Assim, fixando-se a
intensidade aceitável de dano em um material é possível estabelecer a
distorção por cisalhamento associada. O limite de distorção do painel
associado ao dano aceitável é definido por [5] Griffis (1993) como DDI (Drift
Damage Index), índice de dano por deslocamento horizontal. Assim, para
verificação da estrutura em serviço, propôs a Eq. (3).

DMI  DDI (3)

3. Metodologia
Este estudo foi realizado em duas etapas. Para as duas etapas foram
analisadas três tipologias estruturais distintas, aqui denominadas; Pórtico
Rígido (PRI), Figura 4(a); Pórtico Contraventado (PCV), Figura 4(b); e Pórtico
Enrijecido (PEN) Figura 4(c).
a)

b)

c)

Figura 4 - Pórticos analisados (a) Pórtico Rígido (b) Pórtico Contraventado (c) Pórtico
Enrigecido)
3.1 Etapa 1
Na Etapa 1, foram analisados 4 pórticos, com duas tipologias estruturais e duas
alturas distintas, conforme apresenta-se no Quadro 3.

Quadro 3 - Modelos estudados na Etapa 1


Tipologia Número de
Modelo Nomeclatura
Estrutural Pavimentos
1 Rígido 4 PRI-4PAV
2 Rígido 8 PRI-8PAV
3 Contraventado 4 PCV-4PAV
4 Contraventado 8 PCV-4PAV

A planta baixa apresentada na Figura 5 apresenta o esquema estrutural


utilizado para elaboração dos modelos estudados.

Figura 5 - Planta baixa - Etapa 1

Para cada modelo foram considerados os carregamentos gerados pelo peso


próprio dos elementos metálicos, as ações permanentes adicionais provocadas
pelo peso da laje, revestimentos de piso e alvenarias e as ações variáveis
devido à utilização, que para este estudo foi de 3 kN/m².
As ações devido ao vento foram determinadas conforme prescrição da ABNT
NBR 6123:1988 [11], levando em consideração, um vento com 50 anos de
período de retorno e velocidade característica de 50 m/s.
Os modelos foram então lançados no software SAP2000 v20 [12], para
obtenção dos esforços de primeira e segunda ordem de acordo com as
combinações de ações últimas normais mostradas no Quadro 4.
Quadro 4 - Combinação de ações - Etapa 1

Nomeclatura G (permanente) Q (sobrecarga) W (vento)

CN-1 1,40 1,50 0,84

CN-2 1,40 1,05 1,40

CN-3 1,00 1,40

Para cada modelo, foram detectados os esforços de cálculo principais e cada


barra foi dimensionada para Estado Limite Último conforme as prescrições da
ABNT NBR 8800:2008 [1].
Após o dimensionamento para Estado Limite Último cada modelo foi submetido
a duas análises para verificação de Estado Limite de Serviço. Na primeira
análise, aqui denominada (Análise-1), foram calculados os deslocamentos no
topo dos pilares de cada pórtico e os deslocamentos interpavimentos,
considerando o deslocamento total dos nós da estrutura. Para a Análise-1,
também foram calculados os índices DMI para cada região DDZ dos pórticos
estudados. Na segunda análise (Análise-2), as barras de vigas e pilares foram
enrijecidas axialmente (10.000 vezes), para que as deformações de vigas e
pilares não influenciassem os valores de deslocamentos horizontais, conforme
estabelecido na ABNT NBR 8800:2008. No Quadro 5, estão representados as
características e os tipos de resultados obtidos em cada uma das análises de
forma resumida.

Quadro 5 – Diferenças entre as análises realizadas


Análise-1 Análise-2
Cálculo dos deslocamentos considerando
Cálculo dos deslocamentos totais dos nós apenas a força cortante no andar
considerado
Deslocamento no topo dos pilares Deslocamentos interpavimentos
Deslocamentos interpavimentos
Deslocamentos em todos os nós para
cálculo do DMI

Todos os modelos então foram dimensionados para ELU e ELS conforme as


prescrições da ABNT NBR 8800:2008. Além disso, foram calculados os DMI’s
para todos os quadros dos pórticos e deslocamentos interpavimentos totais
para a estrutura dimensionada. Para efeito de comparação dos resultados
obtidos nos cálculos de DMI’s, foi calculado um DDI considerando uma
distorção de um quadro, com o limite de deslocamentos interpavimentos
permitido pela ABNT NBR 8800:2008, de h/500, conforme apresentado na Eq.
(4).

(4)
O Quadro 6, indica o quanto um DMI de 0,200%, representa de dano em um
fechamento ou parede divisória de acordo com o tipo de material, conforme o
gráfico apresentado na Figura 3.

Quadro 6- Intensidade do dano para DMI = 0,200% de acordo com o tipo de material

Material Intensidade do dano


Drywall 20%
Blocos de Concreto 40%
Tijolos 60%
Blocos cerâmicos 70%

3.2 Etapa 2
Na Etapa 2, foram analisados 10 pórticos, com três tipologias estruturais e
quatro alturas distintas, conforme apresenta-se no Quadro 7.

Quadro 7 - Modelos estudados na Etapa 1

Tipologia Número de
Modelo Nomeclatura
Estrutural Pavimentos
1 Rígido 4 PRI-4PAV
2 Rígido 8 PRI-8PAV
3 Rígido 16 PRI-16PAV
4 Enrijecido 4 PEN-4PAV
5 Enrijecido 8 PEN-8PAV
6 Enrijecido 16 PEN-16PAV
7 Contraventado 4 PCV-4PAV
8 Contraventado 8 PCV-8PAV
9 Contraventado 16 PCV-16PAV
10 Contraventado 24 PCV-24PAV

Para cada modelo foram considerados os carregamentos gerados pelo peso


próprio dos elementos metálicos, as ações permanentes adicionais provocadas
pelo peso da laje, revestimentos de piso e alvenarias e as ações variáveis
devido à utilização, que para este estudo foi de 3 kN/m².
As ações devido ao vento foram determinadas conforme prescrição da ABNT
NBR 6123:1988 [11], levando em consideração, um vento com 50 anos de
período de retorno e velocidade característica de 50 m/s.
Para cada modelo, foram detectados os esforços de cálculo principais e cada
barra foi dimensionada para Estado Limite Último conforme as prescrições da
AISC 360-16 (American Institute of Steel Construction).
A planta baixa apresentada na Figura 6 apresenta o esquema estrutural
utilizado para elaboração dos modelos estudados.
Figura 6 - Planta baixa - Etapa 1

Após o dimensionamento para Estado Limite Último cada modelo foi


dimensionado para Estado Limite de Serviço, considerando o deslocamento
total de cada um dos nós e limitando a h/500, conforme recomendado por
Fakury (2016), assim o deslocamento no topo do edifício não ultrapassou o
limite estabelecido pela norma de h/400. Os deslocamentos calculados também
foram utilizados para o cálculo do DMI e os resultados obtidos foram
comparados com o limite calculado na equação 7 (DDI = 0,2%).
Para os pórticos contraventados também foi verificado se os deslocamentos
relativos entre pisos, desconsiderando as deformações axiais de vigas e
pilares, de maneira análoga aos estudos feitos para a Análise-2 na Etapa 1,
atendem ao limite estabelecido na norma de h/500 para todas as alturas de
edifício consideradas.
4. Resultados
4.1 Etapa 1
Na Tabela 1 são apresentados os pesos obtidos para dimensionamento em
Estado Limite Último e Estado Limite de Serviço para cada um dos pórticos
considerados neste estudo.

Tabela 1 - Peso da Estrutura (ELU x ELS) – Etapa 1


Peso ELU Peso ELS
Modelo % Incremento
(kN) (kN)
PRI-4PAV 36,92 40,26 9,04%
PRI-8PAV 108,06 154,94 43,38%
PCV-4PAV 33,58 33,58 0,00%
PCV-4PAV 80,04 80,04 0,00%
Percebe-se que para os pórticos contraventados, não é necessário acrescentar
rigidez à estrutura para dimensionamento em ELS, já para os pórticos rígidos o
acréscimo de rigidez fica significativo, principalmente para o pórtico de 8
pavimentos.
Na Tabela 2 são apresentados os deslocamentos máximos entre dois
pavimentos consecutivos, para cada um dos pórticos, considerando as duas
análises descritas no Quadro 5. Na última coluna, são apresentados os
resultados obtidos para DMI do quadro com maior distorção no pórtico.

Tabela 2 – Deslocamentos máximos entre pavimentos consecutivos


Limite (A) (B) (A-B)
Modelo (mm) Análise-1 Análise-2 Diferença DMI
(mm) (mm) (mm)
PRI-4PAV 6,000 5,733 5,574 0,159 0,196% (ok)
PRI-8PAV 6,000 6,144 5,733 0,411 0,274% (não ok)
PCV-4PAV 6,000 0,835 0,465 0,370 0,049% (ok)
PCV-4PAV 6,000 2,404 1,189 1,215 0,193% (ok)

No Gráfico 1 observa-se a diferença percentual entre os deslocamentos


provocados pelas forças cortantes no andar considerado, conforme mostrado
na Figura 1 e os deslocamentos provocados pelo movimento de corpo rígido do
edifício, causado pelas deformações axiais de pilares e vigas.

100%

80%

60%

40%

20%

0%
PRI-4PAV PRI-8PAV PCV-4PAV PCV-4PAV

Força cortante… Movimento de corpo rígido…

Gráfico 1 - Composição percentual dos deslocamentos interpavimentos

Nos pórticos contraventados, a parcela referente ao deslocamento do edifício


como um corpo rígido é da ordem de 50%, enquanto para os pórticos rígidos, o
deslocamento por forças cortantes representa quase a totalidade dos
deslocamentos nos nós. É importante salientar que para o pórtico rígido de 8
pavimentos, os deslocamentos obtidos Análise-2 atenderam ao limite de h/500
de 6mm e para a Análise-1 este limite não foi atendido. O único dos pórticos
que não atendeu ao limite de DDI proposto foi o pórtico rígido de 8 pavimentos.
4.2 Etapa 2
Na Tabela 3 são apresentados os pesos obtidos para dimensionamento em
Estado Limite Último e Estado Limite de Serviço para cada um dos pórticos
considerados nesta Etapa. Na verificação, foram utilizados os deslocamentos
interpavimentos totais, considerando os deslocamentos provocados pelas
deformações axiais de pilares e vigas. Na última coluna, são apresentados os
resultados obtidos para DMI do quadro com maior distorção no pórtico.

Tabela 3 - Peso da Estrutura (ELU x ELS) – Etapa 2

Peso ELU Peso ELS %


Modelo DDI
(kN) (kN) Incremento

PRI-4PAV 120,32 121,84 1,26% 0,200% (ok)


PRI-8PAV 301,60 321,82 6,70% 0,224% (não ok)
PRI-16PAV 808,26 1042,32 28,96% 0,330% (não ok)
PEN-4PAV 102,58 102,58 0,00% 0,122% (ok)
PEN-8PAV 252,14 295,78 17,31% 0,193% (ok)
PEN-16PAV 720,74 1272,96 76,62% 0,165% (ok)
PCV-4PAV 111,44 111,44 0,00% 0,055% (ok)
PCV-8PAV 250,72 250,72 0,00% 0,106% (ok)
PCV-16PAV 644,16 644,16 0,00% 0,298% (não ok)
PCV-24PAV 1427,60 - 0,00% -

Na Tabela 4, são apresentados os resultados, somente para os pórticos


contraventados e rígidos dos deslocamentos máximos, obtidos da análise e
dimensionamento considerando os deslocamentos totais (Análise-1), e da
análise e dimensionamento desprezando-se as deformações axiais de pilares e
vigas, conforme estabelecido pela norma brasileira (Análise-2). Na Análise-1, a
condição de deslocamento no topo já está automaticamente atendida.

Tabela 4 – Pórtico Contraventado – Deslocamentos máximos


Limite Análise-1 Análise-2 Deslocamento no topo
Modelo
(mm) (mm) (mm) Análise-2 (mm)
PCV-4PAV 6,000 1,556 0,721 2,74 (ok)
PCV-8PAV 6,000 3,118 1,660 16,00 (ok)
PCV-16PAV 6,000 5,867 2,952 83,51 (ok)
PCV-24PAV 6,000 - 3,790 262,00 (não ok)
PRI-4PAV 6,000 5,810 5,840 17,709 (ok)
PRI-8PAV 6,000 5,503 5,109 36,308 (ok)
PRI-16PAV 6,000 5,351 5,996 105,846 (ok)

Nota-se que expandindo a análise para outras tipologias estruturais e


elevando-se altura, os pórticos contraventados são os que possuem melhor
eficiência na passagem do dimensionamento de ELU para ELS. Entretanto,
não foi possível dimensionar um pórtico com todos os perfis disponíveis no
catálogo para 24 pavimentos, considerando os deslocamentos totais dos nós
na análise de ELS. Os pórticos rígidos atendem ao DDI apenas para 4
pavimentos, os pórticos contraventados só atendem para 4 e 8 pavimentos. Já
para os pórticos enrijecidos, quando dimensionados para ELS atendem aos
limites de DDI para todos os pórticos.
Os resultados encontrados indicam que à medida que o prédio aumenta de
altura, a parcela correspondente ao deslocamento de corpo rígido do edifício
aumenta e fica muito dispendioso atender ao ELS da forma conservadora,
considerando as deformações de pilares e vigas. O pórtico contraventado de
24 pavimentos atende ao deslocamento no topo com um peso da ordem de
4.000 kN, com incremento de peso superior a 150% e mesmo assim, o
deslocamento entre pisos consecutivos não enquadra nos limites estabelecidos
pela norma.
A Tabela 5 apresenta as diferenças de pesos e os DDI’s máximos das
estruturas obtidas com as duas análises.

Tabela 5 - Relação entre pesos e DDI's para Análise-1 e Análise-2


Peso Peso
DDI DDI
Modelo Análise-1 Análise-2
Análise-1 Análise-2
(kN) (kN)
PCV-4PAV 111,44 111,44 0,055% 0,055%
PCV-8PAV 250,72 250,72 0,106% 0,106%
PCV-16PAV 644,16 644,16 0,298% 0,298%
PCV-24PAV - 1427,60 0,683%
PRI-4PAV 121,84 121,84 0,200% 0,200%
PRI-8PAV 321,82 320,84 0,224% 0,224%
PRI-16PAV 1042,32 890,90 0,330% 0,393%

As estruturas dimensionadas pela Análise-2 ficam mais leves ou com peso


idêntico às dimensionadas na Análise-1. Porém, quando esta diferença de peso
aumenta, a estrutura ultrapassa o limite de deslocamento no topo, levando o
projetista a ter que enrijece-la.
5. Conclusões
A verificação para deslocamentos relativos entre pisos consecutivos
estabelecida pela ABNT NBR 8800:2008, desprezando-se os efeitos
provocados pelos deslocamentos de corpo rígido do edifício é mais complexa
que a análise realizada de forma habitual pelos projetistas e na maioria dos
casos analisados não leva a resultados de dimensionamento muito
divergentes, apesar da diferença entre os valores de deslocamento.
Nos únicos casos analisados em que isso ocorreu para o pórtico
contraventado, com 24 pavimentos e para o pórtico rígido com 16 pavimentos,
o deslocamento no topo do edifício não foi atendido. Para que isso ocorresse, o
peso da estrutura foi tão elevado que este sistema estrutural se mostrou
inadequado.
Não existe uma relação direta entre deslocamentos interpavimentos e DMI. Os
índices obtidos revelam que o comportamento de cada estrutura é único e que
para uma avaliação dos danos nos elementos de fechamento e paredes
divisórias, a limitação entre os deslocamentos interpavimentos não é suficiente.
Em vários pórticos os ELS estabelecidos pela norma foram atendidos e os
índices DMI ficaram muito acima do limite de DDI=0,200%, como por exemplo
nos pórticos rígidos de 8 e 16 pavimentos e contraventados de 16 pavimentos.
A única tipologia estrutural que teve comportamento parecido para as duas
verificações foi a com pórticos enrijecidos.
Referências Bibliográficas

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