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1. Introdução
A dúvida sobre a proximidade entre a ética e o Direito sempre foi interessante questão.
A apriorística resposta a essa perene indagação é calcada em alguns primados nem
sempre comuns na literatura penal tradicional. Um destes diz respeito à interação,
atualmente corriqueira, de realidades econômicas e criminais, ou, dito de outra forma, o
uso do Direito Penal como braço forte da Economia.
Nesse diapasão, vários institutos têm ganho destacada importância, buscando uma
maior eficácia do uso penal econômico. Uma emblemática situação atinente a esse
estado de coisas diz respeito à real dificuldade de se descobrirem atos ilícitos praticados
no seio empresarial. Percebendo-se a realidade de um microcosmo existente dentro de
grandes empresas, passou-se a entender que deveria haver favorecimento específico
para quem viesse a denunciar esta ou aquela ilicitude. Passou-se, pois, à aceitação de
denúncias internas como fator minorante de sanção.
delator que levou à prisão, condenação e execução de Joaquim José da Silva Xavier – o
Tiradentes – clássica e heroica figura da Inconfidência Mineira.
O problema, no entanto, ganha novas faces quando, movido por uma concepção
economicista, a legislação penal passa a prever, também, uma outra figura, conhecida
como Acordo de Leniência. Sua origem se dá na realidade anticoncorrencial, mas com
uma sorte de influência significativa da delação premiada. O passo seguinte, no entanto,
é dado por pressão de agências econômicas internacionais, como é o caso da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento econômico – OCDE –, que sugere
seu uso para o combate à corrupção. O Brasil, assim, passa a adotar esse modelo com a
Lei 12.846, de 01.08.2013, a chamada Lei Anticorrupção.
O presente ensaio tem por escopo uma análise do instituto do Acordo de Leniência na Lei
Anticorrupção e, com isso, desenvolver o tema à luz de muitas das discussões hoje
havidas em países que estão a desenvolver legislações similares, bem como seus
principais reflexos na conformidade nacional. Com essa visão, procurar-se-á, sobretudo,
balancear duas questões fundamentais ao tema, normalmente nem sempre levadas em
conta: a bipolaridade ético-jurídica e a ingerência de questões econômicas no Direito
Penal, analisando-se, desde logo, as origens e as atualidades do Acordo de Leniência.
A dúvida sobre Ética e Direito tem atormentado o homem ao longo dos séculos. Indo
além das concepções de Bentham, seria de se ter em conta a chamada teoria do mínimo
ético, pela qual ter-se-ia que o Direito representa apenas um “mínimo moral declarado
obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem
realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável” – afirma Reale –
“armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não soçobre. A Moral, em
regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas como
as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a
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transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social”.
Silva Franco, v.g., critica profundamente a noção de que a traição estaria, nesse
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contexto, sendo premiada. Mas não só. Outros tantos penalistas, como Monteiro,
questionam a validade da medida, já que “há muito tempo que se fala em nosso Direito
em poder a justiça, através do Promotor, ‘negociar’ com o réu pena mais branda em
certas circunstâncias. É o instituto da bargaining (barganha), previsto na legislação
norte-americana, ou o do pattegiamento (Direito Premial) do Direito italiano. É a
primeira tentativa de introdução em nossa legislação. A dificuldade está em garantir ao
“delator’ a segurança da não represália por parte dos demais membros da quadrilha.
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Nem sempre o que é bom lá fora, é bom para o Brasil”. Menos críticos, outros autores,
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como Toron, chegam, contudo, a elogiar a medida.
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Vários diplomas legais subsequentes aprimoraram esse contexto, ampliando-o mais e
mais. Tendo em conta que, inegavelmente, havia um caráter pejorativo na rotulagem de
“delator”, pretendeu-se modificar semelhante alcunha. Assim o fez a Lei 11.850, de
02.08.2013. Segundo a previsão do seu art. 4.º, “o juiz poderá, a requerimento das
partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de
liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I – a identificação dos
demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas; II – a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa; III – a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades
da organização criminosa; IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito
das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V – a localização de
eventual vítima com a sua integridade física preservada.” Em outras palavras,
estabelece-se um favor legal correspondente à redução da pena para quem, sob
determinadas circunstâncias, venha a colaborar com a Justiça. Mas não só.
O § 1.º, do mesmo artigo, estabelece que “em qualquer caso, a concessão do benefício
levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a
gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.” Já o seu
§ 2.º, prevê que “considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério
Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela
concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido
previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Código de
Processo Penal”. Dessa forma, amplia-se, ainda mais, a noção do favor, concedendo
verdadeira anistia ao colaborador. Ora, as eventuais objeções à previsão desse instituto,
como visto, podem denotar uma crítica do ponto de vista ético, e são muito mais
frequentes do que se imagina. Ragués i Vallès, em um dos mais primorosos estudos
sobre a matéria, chega à conclusão de que, de fato, é muito significativa a ambivalente
valoração social do delator – hoje visto, no Brasil, como colaborador. Ele pode se
mostrar como herói ou vilão, sendo que, em muitos países, aceita-se plenamente até
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mesmo a atribuição de prêmios em dinheiro para quem auxilie a Justiça.
proximidade com as percepções do que então se tinha, então, por delação premiada.
Entretanto, conceitualmente era diversa, pois não provinha originariamente de juízo
criminal. Essa normativa, de todo modo, fez introduzir artigos específicos na Lei
8.884/1994, consagrando o novo instituto do Acordo de Leniência.
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Críticas várias foram postas, desde logo, à inovação. Procurando aprimorar a defesa da
concorrência, em momento posterior foi aprovada a Lei 12.529/2011, a qual reformulou
o próprio Conselho de Administração e Desenvolvimento Econômico (Cade). Em seu art.
86, deu nova dimensão ao Acordo de Leniência, estipulando que “o Cade, por intermédio
da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação
punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da
penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem
autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as
investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: I – a
identificação dos demais envolvidos na infração; e II – a obtenção de informações e
documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação.” Tais colocações
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geraram, desde logo, problemas de interpretação, já que existe alguma dúvida sobre a
real possibilidade do colaborador poder, de fato, cumprir todas essas previsões.
Além disso, seu § 1.º prevê que “o acordo de que trata o caput deste artigo somente
poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I – a
empresa seja a primeira a se qualificar com respeito à infração noticiada ou sob
investigação; II – a empresa cesse completamente seu envolvimento na infração
noticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo; III – a
Superintendência-Geral não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação
da empresa ou pessoa física por ocasião da propositura do acordo; e IV – a empresa
confesse sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as
investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre
que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.” As disposições
cumulativas são apostas, assim, com pretensão de uma maior efetividade do benefício.
De toda forma, é firmada, aqui, a corrida para “tocar o sino” (ring the bell), ou seja, o
incentivo dado para que as empresas tenham pressa para a celebração do acordo, sob
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pena de perderem a oportunidade.
Existe previsão em relação às sanções aplicáveis, sendo que, conforme seu § 4.º,
“compete ao Tribunal, por ocasião do julgamento do processo administrativo, verificado
o cumprimento do acordo: I – decretar a extinção da ação punitiva da administração
pública em favor do infrator, nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido
apresentada à Superintendência-Geral sem que essa tivesse conhecimento prévio da
infração noticiada; ou II – nas demais hipóteses, reduzir de 1 (um) a 2/3 (dois terços)
as penas aplicáveis, observado o disposto no art. 45 desta Lei, devendo ainda considerar
na gradação da pena a efetividade da colaboração prestada e a boa-fé do infrator no
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cumprimento do acordo de leniência”. Note-se que mesmo não mencionando questão
criminal, dá-se indício de benefícios a serem outorgados aos lenientes.
Além disso, pretendendo dar garantias ao colaborador, dispôs, no seu § 9.º, sobre a
confidencialidade dos termos do acordo. Tem-se, pois, que “considera-se sigilosa a
proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do
processo administrativo.” Já no § 10, pontua-se que, “não importará em confissão
quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada, a
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proposta de acordo de leniência rejeitada, da qual não se fará qualquer divulgação”.
Tais previsões são fundamentais, pois o sigilo é de se esperar em termos de eficiência da
previsão, o mesmo sendo de se dizer sobre a proibição de se esperar a feitura de prova
contra o próprio leniente.
Derradeiramente, estipula, em seu art. 87, que “nos crimes contra a ordem econômica,
tipificados na Lei 8.137, de 27.12.1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à
prática de cartel, tais como os tipificados na Lei 8.666, de 21.06.1993, e os tipificados
no art. 288 do Dec.-lei 2.848, de 07.12.1940 – Código Penal, a celebração de acordo de
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção
leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e
impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se
automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.” É de
se notar que, aqui, verifica-se ingerência de órgão da Administração em termos de
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sanção penal, o que é bastante questionável. A racionalidade aplicada ao instituto do
Acordo de Leniência, portanto, segue o primado da teoria dos jogos, em especial a lógica
da “cenoura e do porrete” (stick-and-carrot approach). Assim, dar-se-iam benefícios ao
leniente que decidisse pôr fim à conduta e deletar pratica ilícita, sob pena de, caso não o
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faça, sofrer sanções severas. Não se trata de um simples abrandamento de sanção
administrativa pela própria Administração, mas, sim, de uma anistia penal dada pela
Administração por mera colaboração nas investigações. Por se tratar de medida de
extinção de punibilidade penal ofertada por um órgão do Executivo, muito se questionou
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sobre sua constitucionalidade.
Sob um olhar clássico e tradicional, mostra-se bastante difícil uma definição do que
deveria se ter por corrupção. Na realidade brasileira, v.g., confundem-se alocações
temáticas do termo junto a diversos tipos penais, como o de corrupção de menores,
corrupção de água potável, ou, mais idealmente, em relação a agressões contra a
Administração Pública, onde se verificam crimes de corrupção passiva e ativa.
Internacionalmente, contudo, sua diagramação parece ser bem mais ampla. De fato, sob
muitos matizes, seria de se ter a corrupção como um conjunto de fatores de índole
econômica, institucional, política, social e histórica, que, personificando fenômenos
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desprovidos de ética, atacam os princípios básicos do Estado de Direito. Vista dessa
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forma, pode e deve ser tratada por instrumentos dos mais diversos, havendo muita
influência de diplomas internacionais.
Dir-se-ia, portanto, que a ideia aqui plasmada como Acordo de Leniência pode ser vista,
de fato, como uma das formas ideais de supervisão da eficácia de um programa de
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compliance. As noções de autorregulação regulada, síntese maior da percepção de
compliance, tem, de modo geral, uma ampla proximidade com o Direito Penal. Ela gera
um sistema de enforcement particular que tem, por sua vez, um emparelhamento às
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noções de due diligence exigidas pelo mundo econômico. Pois bem, apesar de se
imaginar que a responsabilidade das pessoas jurídicas, no caso brasileiro, não seja de
caráter penal, substancialmente o é. Atesta, nesse sentido, Nieto Martín, ao mencionar
que ao compliance não interessam os complexos debates do Direito Penal Econômico
sobre a tipicidade de uma ou de outra conduta. Na realidade, tem-se que o cumprimento
dos programas de compliance devem se dar em um momento pré-típico, em um caráter
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preventivo de crimes. Embora o desenlace da Lei 12.846/2013 não seja penal, ela diz,
sim, respeito ao Direito Penal. Isso, para não se falar que, substancialmente, os
institutos que regem seu substrato são de Direito Penal. Pode-se mesmo imaginar que, a
se seguir uma tendência mundial, pode-se imaginar até mesmo uma reformulação da
atual lei nacional para, em um futuro próximo, ter-se a instituição de uma
responsabilidade propriamente penal das pessoas jurídicas, o que afastaria, de uma vez
por todas, qualquer dúvida a esse respeito. Isso, no entanto, ainda se mostra como
situação imaginada de lege ferenda.
Em sendo a lei dotada de uma lógica penal, tem-se, derradeiramente, uma aproximação
dos institutos de leniência. Apesar do Acordo de Leniência da Lei Anticorrupção não se
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção
mostrar propriamente penal, ele se aproxima, como exposto, de seu congênere da área
concorrencial. Daí, a necessidade de trabalho com o instrumental, também aqui. Tendo
isso por verdade, e assumindo que ocorreu, aqui, uma apropriação do ferramental penal
por outra área, resta claro que deve o Direito Penal passar a regê-lo. Por essa razão,
Prittwitz menciona o fato de que a Economia não só deve seguir as bases e regras
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jurídicas, mas também as regras e fundamentos penais.
Deve-se, assim, recordar que existem verdadeiras razões para que se entendam os
reflexos e a alcunha de um criminal compliance. Em primeiro lugar, pode haver
concorrentemente uma responsabilidade penal individual por atos ilícitos dados dentro
da empresa. Mesmo que não se poste, na lei nacional, uma responsabilidade penal às
pessoas jurídicas, a lógica a reger esse procedimento é penal, não se esquecendo, pois,
que pode haver, até mesmo, uma responsabilidade civil de ato ilícito dado dentro da
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empresa. Tudo parece, assim, justificar a noção de que o objeto de trabalho penal
deve conduzir à aplicação das denúncias internas no âmbito empresarial.
Antes de mais nada, há de se perceber que podem se ver presentes duas possibilidades
de whistleblowers: os internos e os externos. Os internos comunicariam a situação
irregular aos representantes da própria empresa, enquanto os externos efetuariam a
denúncia perante terceiros, que seriam vistos como autoridades ou meios de
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comunicação. Ambos se enquadram em um firmamento de um ideal programa de
compliance, pois as denúncias, em si, exercem uma função preventiva sintomática. No
entanto, no que diz respeito ao Acordo de Leniência em si, tem-se uma noção de
denúncia externa, comunicada à autoridade competente. Mesmo assim, considerando
que a Lei Anticorrupção faz menção aos programas de compliance para a estipulação das
sanções, também as denúncias internas guardam absoluta importância.
Mas quem poderia estabelecer a denúncia? Ora, a Lei 12.846/2013, faz menção
específica de normas para a denúncia, as quais são muito próximas das estabelecidas
para a realidade concorrencial. Assim, uma vez mais é de se imaginar que existe, sim,
uma contaminação do caráter penal também em termos das investigações empresariais
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internas além de suas consequências jurídicas.
Entretanto, tal consideração pode levar, ainda, a uma outra sorte de indagações, em
especial no que diz respeito à própria eficácia dos programas de compliance, das
denúncias internas e do abrandamento das sanções às pessoas jurídicas envolvidas em
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atividades ilícitas. Seriam eles minimamente válidos ou eficazes? Embora isso fique à
mercê da disposição da regulamentação, o exemplo do exterior é bastante elucidativo.
Muñoz de Morales Romero faz, nesse sentido, um fascinante levantamento sobre a
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noção de efetividade dos programas de compliance em termos comparados. Na
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção
verdade, como diz Nieto Martín, a realidade da aplicação judicial dos programas chega a
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ser, muitas vezes, decepcionante. A estipulação de pontos ou bônus para o
colaborador, pode sofrer críticas, mas há de se imaginar como deve ser buscada a
efetividade da denúncia. A regulamentação a ser implantada nos vários níveis da
Administração, portanto, mostra-se tão ou mais fundamental que a própria previsão em
si.
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Muito se critica a possibilidade das investigações internas, e, por derradeiro, na noção
aqui posta sobre o Acordo de Leniência. Parece, no entanto, que seus méritos podem ser
maiores que seus danos. Ele parece ser uma tendência cada vez mais frequente. Já se
afirmou que tendências com as de influência econômica no Direito Penal não admitem
volta atrás. A própria particularidade sobre a utilização da teoria dos jogos nesse meio é
algo com que o penalista tem profunda dificuldade em lidar. Talvez, no entanto, a
missão do penalista seja outra: a de assumir um papel de condutor a uma redução de
danos causado por tais inovações. As premissas penais, principalmente as de ordem
garantista, devem sobrepujar os anseios por uma suposta cega eficácia da utilização
desses novos institutos. Há de se admitir, portanto, que, se o Mercado, a Política ou o
Direito mesmo, aceitam e defendem a utilização do Direito Penal em novos campos,
deve o Direito Penal impor seus limites. Isso é basilar, principalmente, caso se confirme
a tendência mundial e continue a se bradar por mais e mais usos penais. Essa, a única
saída para a manutenção de um Direito Penal ainda racional e com suas bases de
trabalho com o referencial no homem. A outra alternativa seria pouco aceitável e,
provavelmente, não desejável.
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1 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: José Bushatsky, 1974. p. 48.
3 BETTIOL, Giuseppe. Dal diritto penale al diritto premiale. Scritti giuridici. Padova:
Cedam, 1966. t. II, p. 949.
4 Para Bettiol, “in conclusioni, da quanto – talvolta in termini parossali – sono venuto
dicendo anche per la legislazione, la scienza e la prassi penalistica tenere presente il
detto dell’antica saggezza ‘in medio stat virtus’. Ocorre, come in ogni cosa, non perdere
il punto focale: quello dell’equilibrio. Solo da questopunto possiamo da un lato valutare
la natura e il significato di un diritto penale rigorosamente retributivo, dall’altro
considerare e pesare la natura e le conseguenze di un diritto penale che tende a
transformarsi in un diritto premiale.” BETTIOL, Giuseppe. Op. cit., p. 958.
7 FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. São Paulo: Ed. RT, 2005, p. 359. Note-se
que em diversos países encontram-se vozes profundamente críticas, mencionando, v.g.,
que o fomento das delações mostra-se contrário a valores essenciais que definem o
modelo vigente aos valores de solidariedade da sociedade. MARTINEZ, Ana Paula.
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São Paulo, USP, 2013. p. 230 e ss. RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los procedimientos
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compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona: Atelier, 2013. p. 168 e ss.
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção
8 MONTEIRO, Antonio Lopes. Crimes hediondos. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 43.
9 Para Toron, “toda a vez que uma vida puder ser salva, seja em decorrência de crime
comum, seja de delito político, justifica-se o tratamento diferenciado do Direito Penal.
Estranho, pelo contrário, seria tratar igualmente o agente que, além de desistir da
empreitada criminosa, auxilie a polícia a desvendar o crime e, depois, recebesse todos
os rigores da lei. Penso mesmo que o ‘prêmio’ deveria ser maior, comportando até, nos
moldes do Código Penal, a progressão do regime de pena.” TORON, Alberto Zacharias.
Crimes hediondos. O mito da repressão penal. São Paulo: Ed. RT, 1996. p. 102, nota
129.
10 BITTAR, Walter Barbosa. A delação premiada no Brasil. In: BITTAR, Walter Barbosa
(coord.). Delação premiada (direito estrangeiro, doutrina e jurisprudência). Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 90 e ss. LEAL, João José. Lei dos crimes hediondos ou
direito penal da severidade: 12 anos de equívocos e casuísmos. In: FRANCO, Alberto
Silva; NUCCI, Guilherme de Souza (org.). Doutrinas Essenciais Direito Penal. São Paulo:
Ed. RT, 2010. vol. 7, p. 72 e ss.
13 Cf., entre outros, BRANCO, Fernando Castelo. Reflexões sobre o acordo de leniência:
moralidade e eficácia na apuração dos crimes de cartel. In: VILARDI, Celso Sanchez;
PEREIRA, Flávia Rahal Bresser; DIAS NETO, Theodomiro (coord.). Direito penal
econômico: crimes econômicos e processo penal. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 143 e ss.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Considerações penais sobre o acordo de leniência na
realidade antitruste. In: PASCHOAL, Janaína Conceição; SILVEIRA, Renato de Mello
Jorge (coord.). Livro homenagem a Miguel Reale Júnior. São Paulo: GZ, 2014. p. 561 e
ss.
14 COSTA, Helena Regina Lobo da; ARAÚJO, Marina Pinhão Coelho. Do programa de
Leniência. In: ANDERS, Eduardo Caminati; PAGOTO, Leopoldo; BAGNOLI, Vicente
(coord.). Comentários à nova Lei de Defesa da Concorrência. Lei 12.529, de 30 de
novembro de 2011. São Paulo: Método, 2012. p. 260 e ss.
15 BRANCO, Fernando Castelo. Op. cit., p. 151 e ss. MARTINEZ, Ana Paula. Op. cit., p.
211 e ss.
19 MARTINEZ, Ana Paula. Op. cit., p. 209 e ss. CRAWFORD, Adam. Sticks and carrots…
and sermons. Some thougthts on compliance and legitimacy in regulation of youth
anti-social behaviour. In: CRAWFORD, Adam; HUCKLESBY, Anthea (ed.). Legitimacy and
compliance in criminal justice. New York: Routledge, 2013. p. 204 e ss.
20 MAIA, Rodolfo Tigre. Op. cit., p. 232 e ss. MARTINEZ, Ana Paula. Op cit., p. 217 e ss.
SALOMI, Maíra Beauchamp. Op. cit., p. 208 e ss.
25 Nesse sentido, Perez Cepeda e Benito Sánchez ao ponderarem que “el proceso de
globalización de la economía propicia prácticas corruptas en el comércio internacional
como consecuencia de la existencia de asimetrías o diferencias que se producen a
cualquier nivel económico, político, social o jurídico, que son aprovechadas por las
empresas para alcanzar los fines propuestos al amparo de las mismas. También es
evidente que la globalización genera un espacio económico carente de una regulación
efectiva y, paralelamente, la ausencia de una respuesta uniforme. Los delincuentes y
empresas se aprovechan de que, ante formas similares de criminalidad económica,
continúa habiendo distintos niveles de reproche social, de represión penal y gravedad de
las penas. Ante esta situación, las empresas realizan jurisdiction shopping, que consiste
en la elección de aquellos territorios con las legislaciones penales más laxas en materia
de sobornos para realizar transacciones comerciales corruptas. En este contexto, la
diversidad de los sistemas penales hace surgir importantes núcleos de impunidad que
serán aprovechados por las organizaciones criminales empresariales para fijar el
escenario de su intervención.” PEREZ CEPEDA, Ana; BENEDITO SÁNCHEZ, Demelsa. La
política criminal internacional contra la corrupción. In: BERDUGO GÓMEZ DE LA TORRE,
Ignacio; BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva (coord.). Estudios sobre la corrupción: una
reflexión hispano brasileña. Salamanca: Centro de Estudios Brasileños – Universidad de
Salamanca, 2013. p. 15.
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção
29 Cf., em detalhes, BOERSMA, Martine. Op. cit., p. 55 e ss. MONGILLO, Vicenzo. Op.
cit., p. 355 e ss.
30 JAKOBI, Anja P. The OECD and crime: the fight against corruption and money
laundering. In: MARTENS, Kerstin; JAKOBI, Anja P. (ed.). Mechanisms of OECD
Governance. International incentives for national policy-making. Oxford: Oxford
University Press, 2010. p. 139 e ss.
31 PEREZ CEPEDA, Ana; BENITO SÁNCHEZ, Demelsa. Op. cit., p. 22 e ss. COSTA, Silvia
Chaves Lima. A nova face da corrupção frente à tutela da ordem econômica. In:
BERDUGO GÓMEZ DE LA TORRE, Ignacio; BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva (coord.).
Estudios sobre la corrupción: una reflexión hispano brasileña. Salamanca: Centro de
Estudios Brasileños – Universidad de Salamanca, 2013. p. 102 e ss. NIETO MARTÍN,
Adán. La privatización de la lucha contra la corrupción. In: ______; ARROYO ZAPATERO,
Luis. El derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013.
p. 191 e ss.
34 Como bem destaca Ragués i Vallès, “la palavra inglesa whistleblower se traduce
literalmente al español como ‘el que toca el silbato’. La expresión se utiliza para hacer
referencia a quienes denuncian un determinado hecho ilícito, según suele afirmarse, por
analogía con los antiguos policías ingleses, que hacían sonar su silbato cuando advertían
la presencia de un posible delincuente”. RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Whistleblowing…,
cit., p. 19.
37 TRAPASSO, Maria Teresa. Control of compliance programs: the supervisory body. In:
FIORELLA, Antonio (ed.). Corporate criminal liability and compliance programs. Towards
a common model in European Union. Napoli: Jovene, 2012. vol. 2, p. 295 e ss.
Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 23 e
ss.
39 Idem, p. 28.
44 ESTRADA I CUADRAS, Albert; LLOBET ANGLI, Mariona. Op. cit., p. 203 e ss. Cf., para
uma visão geral do problema das denúncias internas, RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los
procedimientos… cit.. p. 176 e ss.
46 MOOSMAYER, Klaus. Op. cit., p. 140 e ss. GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y
derechos del trabajador, especialmente derecho a la protección de datos y
whistleblowing. In: KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO,
Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 125
e ss. MASCHMANN, Frank. Compliance y derechos del trabajador. Traducción por Juan
Luis Fuentes Osorio. In: KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA
GIMENO, Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons,
2013. p. 147 e ss.
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