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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

O ACORDO DE LENIÊNCIA NA LEI ANTICORRUPÇÃO


Revista dos Tribunais | vol. 947/2014 | p. 157 - 177 | Set / 2014
DTR\2014\9948

Renato de Mello Jorge Silveira


Professor Titular da Faculdade de Direito da USP. Vice-Diretor da Faculdade de Direito da
USP. Advogado.

Área do Direito: Constitucional; Penal; Administrativo


Resumo: O atual combate à corrupção é um dos temas derivados da globalização. A
preocupação não se dá mais em termos criminais, mas em muitas outras áreas do
Direito. Um bom exemplo disso é a atual Lei Anticorrupção brasileira. Apesar de não se
tratar de uma lei penal, ela aborda muitos temas criminais. Cuida, assim, do criminal
compliance e, mais especificamente, do regramento das denúncias internas e do Acordo
de Leniência. Suas particularidades, portanto, têm interessante característica híbrida.

Palavras-chave: Direito Penal - Corrupção - Lei Anticorrupção brasileira - Denúncias


internas - Leniência.
Abstract: The current fight against corruption is one of the issues arising from
globalization. The concern does not get more in criminal terms, but in many other areas
of law. A good example is the current Brazilian Anti-Corruption Law. Although it is not a
criminal law, it tackles many criminal issues. Thus takes care of the criminal compliance
and more specifically, the rules on internal complaints and the leniency agreement. Its
peculiarities, so have hybrid interesting feature.

Keywords: Criminal Law - Corruption - Brazilian Anti-Bribery Law - Whistleblowing -


Leniency.
Sumário:

1. Introdução - 2. A noção do acordo de leniência no primeiro cenário penal brasileiro -


3. A realidade internacional e o problema da corrupção: a busca de respostas comuns -
4. A paradigmática situação da Lei 12.846/2013 - 5. Whistleblowing, leniência e a Lei
12.846/2013: tendências penais - 6. Referências bibliográficas

1. Introdução

A dúvida sobre a proximidade entre a ética e o Direito sempre foi interessante questão.
A apriorística resposta a essa perene indagação é calcada em alguns primados nem
sempre comuns na literatura penal tradicional. Um destes diz respeito à interação,
atualmente corriqueira, de realidades econômicas e criminais, ou, dito de outra forma, o
uso do Direito Penal como braço forte da Economia.

Nesse diapasão, vários institutos têm ganho destacada importância, buscando uma
maior eficácia do uso penal econômico. Uma emblemática situação atinente a esse
estado de coisas diz respeito à real dificuldade de se descobrirem atos ilícitos praticados
no seio empresarial. Percebendo-se a realidade de um microcosmo existente dentro de
grandes empresas, passou-se a entender que deveria haver favorecimento específico
para quem viesse a denunciar esta ou aquela ilicitude. Passou-se, pois, à aceitação de
denúncias internas como fator minorante de sanção.

Isso não necessariamente constitui novidade. No firmamento penal brasileiro, essa


percepção, apesar de bastante criticada, é relativamente nova, guardando origens na Lei
8.072, de 25.07.1990, a conhecida Lei de Crimes Hediondos. De lá, a esta parte, viu-se
esse espectro ampliar sobremaneira, mas não sem contundentes objeções. Miguel Reale
Júnior, exemplo maior de penalista vincado a aspectos éticos, chegou, em momento
primeiro da construção da chamada delação premiada, a relacionar a institucionalização
da novidade como inegável paralelismo à figura de Joaquim Silvério dos Reis, o infame
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

delator que levou à prisão, condenação e execução de Joaquim José da Silva Xavier – o
Tiradentes – clássica e heroica figura da Inconfidência Mineira.

O problema, no entanto, ganha novas faces quando, movido por uma concepção
economicista, a legislação penal passa a prever, também, uma outra figura, conhecida
como Acordo de Leniência. Sua origem se dá na realidade anticoncorrencial, mas com
uma sorte de influência significativa da delação premiada. O passo seguinte, no entanto,
é dado por pressão de agências econômicas internacionais, como é o caso da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento econômico – OCDE –, que sugere
seu uso para o combate à corrupção. O Brasil, assim, passa a adotar esse modelo com a
Lei 12.846, de 01.08.2013, a chamada Lei Anticorrupção.

O presente ensaio tem por escopo uma análise do instituto do Acordo de Leniência na Lei
Anticorrupção e, com isso, desenvolver o tema à luz de muitas das discussões hoje
havidas em países que estão a desenvolver legislações similares, bem como seus
principais reflexos na conformidade nacional. Com essa visão, procurar-se-á, sobretudo,
balancear duas questões fundamentais ao tema, normalmente nem sempre levadas em
conta: a bipolaridade ético-jurídica e a ingerência de questões econômicas no Direito
Penal, analisando-se, desde logo, as origens e as atualidades do Acordo de Leniência.

2. A noção do acordo de leniência no primeiro cenário penal brasileiro

A dúvida sobre Ética e Direito tem atormentado o homem ao longo dos séculos. Indo
além das concepções de Bentham, seria de se ter em conta a chamada teoria do mínimo
ético, pela qual ter-se-ia que o Direito representa apenas um “mínimo moral declarado
obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem
realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável” – afirma Reale –
“armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não soçobre. A Moral, em
regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas como
as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a
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transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social”.

Semelhante concepção do ético e do moral em uma relação de cultura própria, afastada,


em parte, da sociedade em si, como a ética dos negócios, pode gerar algumas
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sintomáticas confusões. A busca de uma ética empresarial, não raro, pode ser
destoante de uma ética social esperada. A visualização das secantes de ambos os
círculos de influência pode ser, assim, algo bastante complexo. Um bom exemplo disso,
e que acaba por se confrontar com uma intrínseca contradição ética diz respeito a um
dos mais usuais instrumentos de busca de referendo ético: o chamado acordo de
leniência.

No distante ano de 1960, Bettiol, em artigo em homenagem a Jimenez de Asúa, teceu


comentários ao que entendia por passagem de um Direito Penal a um Direito Premial.
Para o mestre patavino isso se mostraria paradoxal, pois intuíra que o Direito Penal,
originalmente visto como retributivo, passava não só por um efeito preventivo como,
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também, por vezes, à forma de prêmio. Situações muitas, como de suspensão
condicional da pena, perdão judiciário, anistia, enfim, poderiam ser vistas, desde um
prisma clássico, como exemplo dessa situação. Ele, contudo, não poderia imaginar o que
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viria a seguir.

Os anos 1990 trouxeram, tardiamente, ao Brasil uma questionável realidade penal,


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aprimorando, em grande parte, a ideia de Direito Premial. Na procura de solução de
problemas contextuais, foram buscadas legislações de emergência, muito influenciadas
pela common law, em uma situação já antevista por Silva Sánchez quando do estudo da
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expansão do Direito Penal. O primeiro grande exemplo desse estado de coisas é
encontrado na Lei 8.072, de 25.07.1990, a chamada Lei de Crimes Hediondos. Específica
situação de utilitarismo penal, aquela normativa estipulou questão então chamada de
delação premiada. Destinava-se, em especial, para situação de extorsão mediante
sequestro, quando praticado em quadrilha, e um membro desta, denunciasse os demais,
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facilitando a liberação do sequestrado. Isso, desde o primeiro momento, suscitou


dúvidas sob o seu aspecto ético.

Silva Franco, v.g., critica profundamente a noção de que a traição estaria, nesse
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contexto, sendo premiada. Mas não só. Outros tantos penalistas, como Monteiro,
questionam a validade da medida, já que “há muito tempo que se fala em nosso Direito
em poder a justiça, através do Promotor, ‘negociar’ com o réu pena mais branda em
certas circunstâncias. É o instituto da bargaining (barganha), previsto na legislação
norte-americana, ou o do pattegiamento (Direito Premial) do Direito italiano. É a
primeira tentativa de introdução em nossa legislação. A dificuldade está em garantir ao
“delator’ a segurança da não represália por parte dos demais membros da quadrilha.
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Nem sempre o que é bom lá fora, é bom para o Brasil”. Menos críticos, outros autores,
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como Toron, chegam, contudo, a elogiar a medida.
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Vários diplomas legais subsequentes aprimoraram esse contexto, ampliando-o mais e
mais. Tendo em conta que, inegavelmente, havia um caráter pejorativo na rotulagem de
“delator”, pretendeu-se modificar semelhante alcunha. Assim o fez a Lei 11.850, de
02.08.2013. Segundo a previsão do seu art. 4.º, “o juiz poderá, a requerimento das
partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de
liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I – a identificação dos
demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas; II – a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa; III – a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades
da organização criminosa; IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito
das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V – a localização de
eventual vítima com a sua integridade física preservada.” Em outras palavras,
estabelece-se um favor legal correspondente à redução da pena para quem, sob
determinadas circunstâncias, venha a colaborar com a Justiça. Mas não só.

O § 1.º, do mesmo artigo, estabelece que “em qualquer caso, a concessão do benefício
levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a
gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.” Já o seu
§ 2.º, prevê que “considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério
Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela
concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido
previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Código de
Processo Penal”. Dessa forma, amplia-se, ainda mais, a noção do favor, concedendo
verdadeira anistia ao colaborador. Ora, as eventuais objeções à previsão desse instituto,
como visto, podem denotar uma crítica do ponto de vista ético, e são muito mais
frequentes do que se imagina. Ragués i Vallès, em um dos mais primorosos estudos
sobre a matéria, chega à conclusão de que, de fato, é muito significativa a ambivalente
valoração social do delator – hoje visto, no Brasil, como colaborador. Ele pode se
mostrar como herói ou vilão, sendo que, em muitos países, aceita-se plenamente até
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mesmo a atribuição de prêmios em dinheiro para quem auxilie a Justiça.

De todo modo, esse tipo de previsão atinente à colaboração também é percebido em


ramos especializados do Direito. Concretamente, a tendência a esse respeito, em âmbito
da Defesa da Concorrência, é percebida, em um primeiro momento, nos Estados Unidos
da América, com o chamado Leniency Program, de 1978. Ele foi instituído pelo
Departamento de Justiça, visando a concessão de anistia em troca de informações dadas
pelo primeiro proponente a delatar o conluio à autoridade antitruste. Também na Europa
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nota-se significativa adesão a programas similares, sendo ainda de se ver a própria
preocupação da OCDE a esse respeito.

A ideia básica em relação à leniência foi inserida, no Brasil, inicialmente através da


MedProv 2.055/2000, ao depois convertida na Lei 10.149/2000. É bastante evidente a
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proximidade com as percepções do que então se tinha, então, por delação premiada.
Entretanto, conceitualmente era diversa, pois não provinha originariamente de juízo
criminal. Essa normativa, de todo modo, fez introduzir artigos específicos na Lei
8.884/1994, consagrando o novo instituto do Acordo de Leniência.
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Críticas várias foram postas, desde logo, à inovação. Procurando aprimorar a defesa da
concorrência, em momento posterior foi aprovada a Lei 12.529/2011, a qual reformulou
o próprio Conselho de Administração e Desenvolvimento Econômico (Cade). Em seu art.
86, deu nova dimensão ao Acordo de Leniência, estipulando que “o Cade, por intermédio
da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação
punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da
penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem
autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as
investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: I – a
identificação dos demais envolvidos na infração; e II – a obtenção de informações e
documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação.” Tais colocações
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geraram, desde logo, problemas de interpretação, já que existe alguma dúvida sobre a
real possibilidade do colaborador poder, de fato, cumprir todas essas previsões.

Além disso, seu § 1.º prevê que “o acordo de que trata o caput deste artigo somente
poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I – a
empresa seja a primeira a se qualificar com respeito à infração noticiada ou sob
investigação; II – a empresa cesse completamente seu envolvimento na infração
noticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo; III – a
Superintendência-Geral não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação
da empresa ou pessoa física por ocasião da propositura do acordo; e IV – a empresa
confesse sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as
investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre
que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.” As disposições
cumulativas são apostas, assim, com pretensão de uma maior efetividade do benefício.
De toda forma, é firmada, aqui, a corrida para “tocar o sino” (ring the bell), ou seja, o
incentivo dado para que as empresas tenham pressa para a celebração do acordo, sob
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pena de perderem a oportunidade.

Existe previsão em relação às sanções aplicáveis, sendo que, conforme seu § 4.º,
“compete ao Tribunal, por ocasião do julgamento do processo administrativo, verificado
o cumprimento do acordo: I – decretar a extinção da ação punitiva da administração
pública em favor do infrator, nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido
apresentada à Superintendência-Geral sem que essa tivesse conhecimento prévio da
infração noticiada; ou II – nas demais hipóteses, reduzir de 1 (um) a 2/3 (dois terços)
as penas aplicáveis, observado o disposto no art. 45 desta Lei, devendo ainda considerar
na gradação da pena a efetividade da colaboração prestada e a boa-fé do infrator no
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cumprimento do acordo de leniência”. Note-se que mesmo não mencionando questão
criminal, dá-se indício de benefícios a serem outorgados aos lenientes.

Além disso, pretendendo dar garantias ao colaborador, dispôs, no seu § 9.º, sobre a
confidencialidade dos termos do acordo. Tem-se, pois, que “considera-se sigilosa a
proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do
processo administrativo.” Já no § 10, pontua-se que, “não importará em confissão
quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada, a
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proposta de acordo de leniência rejeitada, da qual não se fará qualquer divulgação”.
Tais previsões são fundamentais, pois o sigilo é de se esperar em termos de eficiência da
previsão, o mesmo sendo de se dizer sobre a proibição de se esperar a feitura de prova
contra o próprio leniente.

Derradeiramente, estipula, em seu art. 87, que “nos crimes contra a ordem econômica,
tipificados na Lei 8.137, de 27.12.1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à
prática de cartel, tais como os tipificados na Lei 8.666, de 21.06.1993, e os tipificados
no art. 288 do Dec.-lei 2.848, de 07.12.1940 – Código Penal, a celebração de acordo de
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leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e
impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se
automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.” É de
se notar que, aqui, verifica-se ingerência de órgão da Administração em termos de
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sanção penal, o que é bastante questionável. A racionalidade aplicada ao instituto do
Acordo de Leniência, portanto, segue o primado da teoria dos jogos, em especial a lógica
da “cenoura e do porrete” (stick-and-carrot approach). Assim, dar-se-iam benefícios ao
leniente que decidisse pôr fim à conduta e deletar pratica ilícita, sob pena de, caso não o
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faça, sofrer sanções severas. Não se trata de um simples abrandamento de sanção
administrativa pela própria Administração, mas, sim, de uma anistia penal dada pela
Administração por mera colaboração nas investigações. Por se tratar de medida de
extinção de punibilidade penal ofertada por um órgão do Executivo, muito se questionou
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sobre sua constitucionalidade.

Nesse sentido, é de se ver que o instituto do Acordo de Leniência, na realidade


concorrencial, mostra-se como uma figura hibrida, já que confere ao Cade disposição de
afastamento de responsabilidades administrativa e penal, a quem colabore consigo. De
todo modo, ele se sagrou, na literatura especializada, como verdadeiro pilar fundamental
da Política Nacional de Proteção da Ordem Econômica no Brasil, justamente por seu
caráter preventivo e reativo às atividades de cartel. Esse exemplo é a inspiração básica
da Lei Anticorrupção.

3. A realidade internacional e o problema da corrupção: a busca de respostas comuns

A corrupção é, historicamente, um fenômeno tão antigo como a própria vida em


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sociedade, atravessando o tempo, os sistemas políticos e a cultura em si mesma. Com
essa colocação, Mongillo principia um dos mais completos estudos sobre a questão da
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corrupção, frisando, em particular, seu entendimento dentro de uma globalização
econômica. Esse destaque deve ser tido como fundamental para a sua compreensão
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atual.

De fato, a corrupção se mostra como uma das maiores preocupações econômicas da


atualidade. Os custos da corrupção, e mesmo a corrupção como um problema
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econômico, são algo hoje bastante discutidos. O tema da corrupção é tomado, assim,
pelos estudos econômicos de modo bastante emblemático. Não menos curioso é o fato,
no entanto, de que no desenvolvimento desses estudos, também existe um movimento
reverso, e institutos penais acabam por se destacar nas próprias questões econômicas.
Sob esse ângulo, poder-se-ia sustentar que a corrupção assume um particular interesse
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dentro do próprio processo de globalização.

Sob um olhar clássico e tradicional, mostra-se bastante difícil uma definição do que
deveria se ter por corrupção. Na realidade brasileira, v.g., confundem-se alocações
temáticas do termo junto a diversos tipos penais, como o de corrupção de menores,
corrupção de água potável, ou, mais idealmente, em relação a agressões contra a
Administração Pública, onde se verificam crimes de corrupção passiva e ativa.
Internacionalmente, contudo, sua diagramação parece ser bem mais ampla. De fato, sob
muitos matizes, seria de se ter a corrupção como um conjunto de fatores de índole
econômica, institucional, política, social e histórica, que, personificando fenômenos
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desprovidos de ética, atacam os princípios básicos do Estado de Direito. Vista dessa
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forma, pode e deve ser tratada por instrumentos dos mais diversos, havendo muita
influência de diplomas internacionais.

Primordialmente, é de se dizer do verdadeiro papel precursor assumido pelo US Foreign


Corrupt Practices Act FCPA – norte-americano, de 1977. Muito antes da preocupação
ganhar o mundo em meados dos anos 1990, os Estados Unidos da América do Norte
estabeleceram uma legislação com bases a prevenir toda atividade corrupcional, com
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penas severas e multas altíssimas. Embrionariamente, mostrava-se ela como uma
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precursora de toda uma série de coisas que, anos depois, ganharia o mundo.
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Nos mencionados anos 1990, e com a perda do inimigo comunista, agências


internacionais como o G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, passaram a ter
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outros focos de interesse, notadamente penais, bem como as regras da OCDE. Assim é
que se percebe a fomentação de um grande número de convenções, acordos e
legislações atinentes às práticas anticorrupcionais. Seriam, pois, de se mencionar a
Convenção Interamericana contra a Corrupção, de 1996, a Convenção sobre a Proteção
dos Interesses Financeiros da União Europeia, de 1995, a Convenção sobre a Luta contra
Corrupção envolvendo Funcionários da União Europeia, de 1997, a Convenção da
Organização para a Colaboração e Desenvolvimento Econômico contra a Corrupção de
Funcionários Públicos Estrangeiros, de 1997, Convenção das Nações Unidas contra Crime
Organizado Transnacional, de 2000, Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção,
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de 2003, entre outros.

Uma boa explicação da razão da proliferação de normativas que tratam de assuntos


correlatos à corrupção, diz respeito ao que se denomina de nivelamento do campo de
jogo. Como se sabe, em termos comerciais e econômicos, vê-se, claramente, uma
tendência de estabelecimento de um Direito com vocação global. Muito bem, esse
pretenso estabelecimento, pode dar-se de dois modos diversos: através de um modelo
top-down, onde se verifica a harmonização de normas penais – regionais ou
internacionais – ou através de um modelo bottom-up, onde o próprio mercado acaba por
intuir as necessidades de nivelamento consuetudinário das regras, para um melhor
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aproveitamento do mesmo. Na realidade anticorrupcional, os modelos se completam
em inteiração, pois o nivelamento do nível de jogo pressuporia que, em realidades
iguais, seriam vistas as mesmas chances de mercado.

4. A paradigmática situação da Lei 12.846/2013

Em uma estreita obediência a muitos primados da OCDE, e em meio a uma política


global de combate à corrupção, o Brasil promulgou a Lei 12.846/2013. Resta bastante
interessante a percepção de que não se trata de uma legislação explícita ou
necessariamente penal mas que, inegavelmente, detém muitos institutos de proximidade
penal declarada.

Inicialmente, seriam de se ver, na tentativa de explanar alguns pontos sobre a natureza


da Lei 12.846/2013, as fontes, senão diretas, ao menos inspiradoras da própria
normativa nacional. Em outras palavras, principiar-se-á pela inserção das preocupações
econômicas junto ao Direito Penal para, ao depois, pontuar-se sobre a própria Lei. A
chamada Lei Anticorrupção finda por asseverar termos comuns ao que se tem por
compliance e criminal compliance.

Pois bem, o termo fundamental a dar lastro à efetivação do criminal compliance é


encontrado nas previsões quanto às denúncias internas. Para Mosmayer, essas
denúncias se converteram em um dos temas mais polêmicos, com partidários e
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detratores de toda ordem, o que, como se viu, é uma constante situacional deste
campo. Observe-se que o Acordo de Leniência previsto na normativa anticorrupcional
baseia-se em uma noção de autodenúncia das empresas quanto a ilícitos por ela
praticados, firmando-se quase que como um pilar fundamental da Política Nacional
contra a Corrupção. Isso, no entanto, leva a outro problema. A necessária descoberta
das situações irregulares. Considerando-se que a própria Lei Anticorrupção prevê, em
seu art. 7.º, que devem ser levados em conta, na aplicação das sanções, tanto a
cooperação da pessoa jurídica na apuração das infrações (art. 7.º, VII), como também a
existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo
à denúncia de irregularidades e aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no
âmbito desta (art. 7.º, VIII), é de se ter em conta a intrínseca ligação deste com o
fenômeno do criminal compliance. Deve-se verificar, pois, a existência destes e como se
procedem as chamadas denúncias internas.

Assim sendo, cumpre destacar que a Lei 12.846/2013 inovou a situação e as


possibilidades do Acordo de Leniência. Na verdade, deu-lhe novo formato e dimensão.
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

Formalmente, as descrições de ambos os institutos são muito próximas, como também


eram próximos os institutos da leniência para a defesa da concorrência e a delação
premiada. No entanto, alguns de seus predicados vêm-se, aqui, previstos de maneira
peculiar.

O art. 16 da Lei Anticorrupção, menciona que “a autoridade máxima de cada órgão ou


entidade pública poderá celebrar acordo de leniência com as pessoas jurídicas
responsáveis pela prática dos atos previstos nesta Lei que colaborem efetivamente com
as investigações e o processo administrativo, sendo que dessa colaboração resulte: I – a
identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e II – a obtenção célere
de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração.” Para tais fins,
estabelece o § 1.º desse artigo que, “o acordo de que trata o caput somente poderá ser
celebrado se preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I – a pessoa
jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para a apuração
do ato ilícito; II – a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração
investigada a partir da data de propositura do acordo; III – a pessoa jurídica admita sua
participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o
processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a
todos os atos processuais, até seu encerramento”. A similitude com as previsões
anticoncorrenciais são inúmeras. Resulta claro, entretanto, que não se está a falar de
uma leniência com reflexos penais, apesar do instituto ser genericamente penal. Como a
responsabilidade da empresa, consoante a própria Lei, é de caráter civil e administrativo,
dar-se-á a leniência nesses termos. Mas não só.

Informa ainda, o § 2.º, do mesmo artigo, que “a celebração do acordo de leniência


isentará a pessoa jurídica das sanções previstas no inciso II do art. 6.º e no inciso IV do
art. 19 e reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável”, enquanto que o §
3.º estabelece que “o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de
reparar integralmente o dano causado.” Não se trata de uma anistia, como se previa, na
defesa da concorrência, em termos do crime de cartéis, mas, unicamente, causa de
redução de pena.

De modo geral, repita-se, as demais previsões sempre se assemelham às descrições da


leniência em âmbito concorrencial. Assim, tem-se, no § 4.º, que “o Acordo de Leniência
estipulará as condições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o
resultado útil do processo,” enquanto que o § 5.º, assevera que “os efeitos do acordo de
leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo econômico,
de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições
nele estabelecidas”.

O sigilo, previsto em termos concorrenciais, também aqui, é tido como fundamental,


segundo o § 6.º, tendo-se em conta que “a proposta de Acordo de Leniência somente se
tornará pública após a efetivação do respectivo acordo, salvo no interesse das
investigações e do processo administrativo.” Também a presunção de inocência é
mantida, mesmo no caso de rejeição da proposta de leniência (§ 7.º); mas fica claro
que, no caso de “descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica ficará
impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de 3 (três) anos contados do conhecimento
pela administração pública do referido descumprimento” (§ 8.º).

De qualquer forma, tem-se que “a celebração do acordo de leniência interrompe o prazo


prescricional dos atos ilícitos previstos nesta Lei” (§ 9.º); e que, subsidiariamente, “a
Controladoria-Geral da União – CGU – é o órgão competente para celebrar os Acordos de
Leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no caso de atos lesivos
praticados contra a administração pública estrangeira” (§ 10). A omissão quanto às
implicações penais é patente. Apesar disso, não se têm previsão sobre uma anistia
criminal, pois não se fala necessariamente, na normativa abordada, em responsabilidade
penal, nem individual, nem da pessoa jurídica. Isso, por um lado, pode evitar toda uma
sorte de objeções sobre a própria constitucionalidade do instituto. Por outro, talvez iniba
o convencimento do leniente, que pode se ver, futuramente, processado criminalmente
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O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

pelo ato de corruptor inicial.

Em termos complementares, tem-se, a exemplo da Lei Anticoncorrencial, que “a


Administração Pública poderá também celebrar acordo de leniência com a pessoa jurídica
responsável pela prática de ilícitos previstos na Lei 8.666, de 21.06.1993, com vistas à
isenção ou atenuação das sanções administrativas estabelecidas em seus arts. 86 a 88”
(art. 17). Se assim o é, pode-se concluir, preliminarmente, que a noção fundamental da
previsão da Lei Anticorrupção inclui-se em uma tendência mundial relativa às práticas
internacionais contrárias ao que se entende por mal a ser combatido. A dúvida inicial
parece ser, pois, se o instituto do Acordo de Leniência anticorrupção é o mesmo que o
Acordo de Leniência antitruste. A partir daí, deve-se buscar as respostas devidas sobre
se sua vertente administrativa e civil, deve – ou pode – ser entendida e analisada
através de institutos penais. Enfim, trata-se de questão criminal? Deve ela ser vista sob
as luzes do Direito Penal?

5. Whistleblowing, leniência e a Lei 12.846/2013: tendências penais

A primeira resposta que se pode dar em relação à proximidade ou distância dos


institutos da leniência concorrencial e da leniência corrupcional é que os institutos são
distintos. Embora digam eles respeito a uma mesma regra de abrandamento de pena
pela colaboração, é de se ter em conta que as percepções anticorrupcionais dão-se sem
reflexos penais, como é o caso da corrente antitruste. Se isso é verdade, impõe-se um
problema: pode ele ser estudo sob a óptica do Direito Penal?

Para a compreensão do novo instituto, faz-se fundamental a percepção do liame entre as


denúncias internas e o próprio criminal compliance. O primeiro ponto de necessária
percepção é o de que as noções básicas dessas denúncias no setor empresarial – que
34
podem ser entendidas como whistleblowing ou, no caso brasileiro, sob o prisma de
Acordo de Leniência – são implicitamente ligadas ao conceito de programas e códigos de
ética e de conduta (de compliance e de criminal compliance). Imaginando-se a premissa
dos cumprimentos normativos, à luz da concepção de Sieber, segundo a qual ela se
35
insere em um novo termo de direção empresarial, tem-se, como resposta fundamental
a ideia de que os próprios trabalhadores acabem por se tornar vigilantes do próprio
36
dever de vigilância imposto pelo respectivo programa. Aqui, uma vez mais, o
paralelismo colocado, tendo-se este Acordo de Leniência como um novo pilar
fundamental.

Dir-se-ia, portanto, que a ideia aqui plasmada como Acordo de Leniência pode ser vista,
de fato, como uma das formas ideais de supervisão da eficácia de um programa de
37
compliance. As noções de autorregulação regulada, síntese maior da percepção de
compliance, tem, de modo geral, uma ampla proximidade com o Direito Penal. Ela gera
um sistema de enforcement particular que tem, por sua vez, um emparelhamento às
38
noções de due diligence exigidas pelo mundo econômico. Pois bem, apesar de se
imaginar que a responsabilidade das pessoas jurídicas, no caso brasileiro, não seja de
caráter penal, substancialmente o é. Atesta, nesse sentido, Nieto Martín, ao mencionar
que ao compliance não interessam os complexos debates do Direito Penal Econômico
sobre a tipicidade de uma ou de outra conduta. Na realidade, tem-se que o cumprimento
dos programas de compliance devem se dar em um momento pré-típico, em um caráter
39
preventivo de crimes. Embora o desenlace da Lei 12.846/2013 não seja penal, ela diz,
sim, respeito ao Direito Penal. Isso, para não se falar que, substancialmente, os
institutos que regem seu substrato são de Direito Penal. Pode-se mesmo imaginar que, a
se seguir uma tendência mundial, pode-se imaginar até mesmo uma reformulação da
atual lei nacional para, em um futuro próximo, ter-se a instituição de uma
responsabilidade propriamente penal das pessoas jurídicas, o que afastaria, de uma vez
por todas, qualquer dúvida a esse respeito. Isso, no entanto, ainda se mostra como
situação imaginada de lege ferenda.

Em sendo a lei dotada de uma lógica penal, tem-se, derradeiramente, uma aproximação
dos institutos de leniência. Apesar do Acordo de Leniência da Lei Anticorrupção não se
Página 8
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

mostrar propriamente penal, ele se aproxima, como exposto, de seu congênere da área
concorrencial. Daí, a necessidade de trabalho com o instrumental, também aqui. Tendo
isso por verdade, e assumindo que ocorreu, aqui, uma apropriação do ferramental penal
por outra área, resta claro que deve o Direito Penal passar a regê-lo. Por essa razão,
Prittwitz menciona o fato de que a Economia não só deve seguir as bases e regras
40
jurídicas, mas também as regras e fundamentos penais.

Deve-se, assim, recordar que existem verdadeiras razões para que se entendam os
reflexos e a alcunha de um criminal compliance. Em primeiro lugar, pode haver
concorrentemente uma responsabilidade penal individual por atos ilícitos dados dentro
da empresa. Mesmo que não se poste, na lei nacional, uma responsabilidade penal às
pessoas jurídicas, a lógica a reger esse procedimento é penal, não se esquecendo, pois,
que pode haver, até mesmo, uma responsabilidade civil de ato ilícito dado dentro da
41
empresa. Tudo parece, assim, justificar a noção de que o objeto de trabalho penal
deve conduzir à aplicação das denúncias internas no âmbito empresarial.

Dessa forma, a tese relativa ao whistleblowing pressupõe uma autolimpeza empresarial


que busca o deslinde de atividades criminosas. Ocorre que, nessa busca, e na imposição
de regras quanto ao Acordo de Leniência, esbarra-se na máxima do princípio do nemo
tenetur se detegere. Como, em outras palavras, exigir-se a realização de
autoacusações? Ora, isso claramente se resolveria, como pretende o exemplo nacional,
ao estipular regras de abrandamento de sanção ao colaborador, só que isso implicaria,
também, em outros problemas, como o fundamento das investigações, os tipos de
42
sanção impostas e a própria dimensão de anistia ou de implicações à empresa.

Antes de mais nada, há de se perceber que podem se ver presentes duas possibilidades
de whistleblowers: os internos e os externos. Os internos comunicariam a situação
irregular aos representantes da própria empresa, enquanto os externos efetuariam a
denúncia perante terceiros, que seriam vistos como autoridades ou meios de
43
comunicação. Ambos se enquadram em um firmamento de um ideal programa de
compliance, pois as denúncias, em si, exercem uma função preventiva sintomática. No
entanto, no que diz respeito ao Acordo de Leniência em si, tem-se uma noção de
denúncia externa, comunicada à autoridade competente. Mesmo assim, considerando
que a Lei Anticorrupção faz menção aos programas de compliance para a estipulação das
sanções, também as denúncias internas guardam absoluta importância.

Mas quem poderia estabelecer a denúncia? Ora, a Lei 12.846/2013, faz menção
específica de normas para a denúncia, as quais são muito próximas das estabelecidas
para a realidade concorrencial. Assim, uma vez mais é de se imaginar que existe, sim,
uma contaminação do caráter penal também em termos das investigações empresariais
44
internas além de suas consequências jurídicas.

Recorde-se, em definitivo, que a previsão genérica de um Acordo de Leniência derivado


de um programa de compliance tem, ainda, uma fundamental repercussão.
Considerando que está a se falar de uma denúncia propiciada por um funcionário de uma
dada empresa, inegável é a repercussão trabalhista que pode ser encontrada em
45
inúmeras situações correlatas. Na realidade, é de se ver que, em muitos aspectos, as
investigações internas estão mais sujeitas aos limites do Direito do Trabalho do que do
46
Direito Penal ou Processual Penal. Imagine-se, pois, as implicações trabalhistas em
relação às obrigações de um funcionário em denunciar a própria empresa, ou nas
consequências eventuais de sua atuação.

Entretanto, tal consideração pode levar, ainda, a uma outra sorte de indagações, em
especial no que diz respeito à própria eficácia dos programas de compliance, das
denúncias internas e do abrandamento das sanções às pessoas jurídicas envolvidas em
47
atividades ilícitas. Seriam eles minimamente válidos ou eficazes? Embora isso fique à
mercê da disposição da regulamentação, o exemplo do exterior é bastante elucidativo.
Muñoz de Morales Romero faz, nesse sentido, um fascinante levantamento sobre a
48
noção de efetividade dos programas de compliance em termos comparados. Na
Página 9
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

verdade, como diz Nieto Martín, a realidade da aplicação judicial dos programas chega a
49
ser, muitas vezes, decepcionante. A estipulação de pontos ou bônus para o
colaborador, pode sofrer críticas, mas há de se imaginar como deve ser buscada a
efetividade da denúncia. A regulamentação a ser implantada nos vários níveis da
Administração, portanto, mostra-se tão ou mais fundamental que a própria previsão em
si.
50
Muito se critica a possibilidade das investigações internas, e, por derradeiro, na noção
aqui posta sobre o Acordo de Leniência. Parece, no entanto, que seus méritos podem ser
maiores que seus danos. Ele parece ser uma tendência cada vez mais frequente. Já se
afirmou que tendências com as de influência econômica no Direito Penal não admitem
volta atrás. A própria particularidade sobre a utilização da teoria dos jogos nesse meio é
algo com que o penalista tem profunda dificuldade em lidar. Talvez, no entanto, a
missão do penalista seja outra: a de assumir um papel de condutor a uma redução de
danos causado por tais inovações. As premissas penais, principalmente as de ordem
garantista, devem sobrepujar os anseios por uma suposta cega eficácia da utilização
desses novos institutos. Há de se admitir, portanto, que, se o Mercado, a Política ou o
Direito mesmo, aceitam e defendem a utilização do Direito Penal em novos campos,
deve o Direito Penal impor seus limites. Isso é basilar, principalmente, caso se confirme
a tendência mundial e continue a se bradar por mais e mais usos penais. Essa, a única
saída para a manutenção de um Direito Penal ainda racional e com suas bases de
trabalho com o referencial no homem. A outra alternativa seria pouco aceitável e,
provavelmente, não desejável.

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1 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: José Bushatsky, 1974. p. 48.

2 BITTAR, Walter Barbosa; PEREIRA, Alexandre Hagiwara. Excursus: implicações éticas.


In: BITTAR, Walter Barbosa (coord.). Delação premiada (direito estrangeiro, doutrina e
jurisprudência). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 219 e ss. CARVALHO, Natália
Oliveira de. A delação premiada no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 123 e
ss. RIQUET, Marcelo A. La delación premiada en el derecho penal. El “arrepentido”: una
“técnica especial de investigación” en expansión. Buenos Aires: Hammurabi, 2011. p. 66
e ss.

3 BETTIOL, Giuseppe. Dal diritto penale al diritto premiale. Scritti giuridici. Padova:
Cedam, 1966. t. II, p. 949.

4 Para Bettiol, “in conclusioni, da quanto – talvolta in termini parossali – sono venuto
dicendo anche per la legislazione, la scienza e la prassi penalistica tenere presente il
detto dell’antica saggezza ‘in medio stat virtus’. Ocorre, come in ogni cosa, non perdere
il punto focale: quello dell’equilibrio. Solo da questopunto possiamo da un lato valutare
la natura e il significato di un diritto penale rigorosamente retributivo, dall’altro
considerare e pesare la natura e le conseguenze di un diritto penale che tende a
transformarsi in un diritto premiale.” BETTIOL, Giuseppe. Op. cit., p. 958.

5 Cf., quanto às experiências estrangeiras, GARCÍA ESPAÑA, Elisa. El premio a la


colaboración con la justicia. Especial consideración a la corrupción administrativa.
Granada: Comares, 2006. p. 29 e ss.

6 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del derecho penal. Aspectos de la política


criminal en las sociedades postindustriales. Madrid: Civitas, 2001. p. 84 e ss.

7 FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. São Paulo: Ed. RT, 2005, p. 359. Note-se
que em diversos países encontram-se vozes profundamente críticas, mencionando, v.g.,
que o fomento das delações mostra-se contrário a valores essenciais que definem o
modelo vigente aos valores de solidariedade da sociedade. MARTINEZ, Ana Paula.
Repressão a cartéis: interface entre direito administrativo e criminal. Tese de Doutorado,
São Paulo, USP, 2013. p. 230 e ss. RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los procedimientos
internos de denuncia como medida de prevención de delitos en la empresa. In: SILVA
SÁNCHEZ, Jesús-María; MONTANER FERNANDÉZ (coord.). Criminalidad de empresa y
compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona: Atelier, 2013. p. 168 e ss.
Página 13
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

8 MONTEIRO, Antonio Lopes. Crimes hediondos. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 43.

9 Para Toron, “toda a vez que uma vida puder ser salva, seja em decorrência de crime
comum, seja de delito político, justifica-se o tratamento diferenciado do Direito Penal.
Estranho, pelo contrário, seria tratar igualmente o agente que, além de desistir da
empreitada criminosa, auxilie a polícia a desvendar o crime e, depois, recebesse todos
os rigores da lei. Penso mesmo que o ‘prêmio’ deveria ser maior, comportando até, nos
moldes do Código Penal, a progressão do regime de pena.” TORON, Alberto Zacharias.
Crimes hediondos. O mito da repressão penal. São Paulo: Ed. RT, 1996. p. 102, nota
129.

10 BITTAR, Walter Barbosa. A delação premiada no Brasil. In: BITTAR, Walter Barbosa
(coord.). Delação premiada (direito estrangeiro, doutrina e jurisprudência). Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 90 e ss. LEAL, João José. Lei dos crimes hediondos ou
direito penal da severidade: 12 anos de equívocos e casuísmos. In: FRANCO, Alberto
Silva; NUCCI, Guilherme de Souza (org.). Doutrinas Essenciais Direito Penal. São Paulo:
Ed. RT, 2010. vol. 7, p. 72 e ss.

11 Em suas palavras, “pocas figuras se prestan a valoraciones sociales tan ambivalentes


como la del delator o, si se prefiere, la del denunciante. Desde ciertas perspectivas el
sujeto que pone en conocimiento de las autoridades las prácticas ilícitas que se cometen
en su entorno suele ser visto como autentico traidor, especialmente en aquellos casos en
los que dicho sujeto no ha sufrido ningún perjuicio propio a resultas de la actividad
denunciada y actúa movido exclusivamente por la voluntad de promover el respecto a la
legalidad o, peor aún, por un cierto ánimo de venganza o de obtener algún tipo de
beneficio. Desde otro punto de vista, sin embargo, dichos sujetos pueden presentarse
como un ejemplo de heroísmo y valentía, especialmente en aquellos casos en los que
ponen en riesgo sus intereses personales – sus expectativas económicas y profesionales
o, incluso, su seguridad personal – para salvar a su propia empresa, a terceras personas
o a la sociedad en su conjunto de posibles daños ocasionados por la actuación ilícita de
otros individuos o impedir la impunidad de éstos”. RAGUÉS I VALLÈS, Ramon.
Whistleblowing. Una aproximación desde el derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
p. 23. De modo similar, RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los procedimientos…, cit., p. 161 e
ss.

12 Cf., para uma análise da observação internacional, SALOMI, Maíra Beauchamp. O


acordo de leniência e seus reflexos penais. Dissertação de Mestrado, São Paulo, USP,
2012. p. 138 e ss.

13 Cf., entre outros, BRANCO, Fernando Castelo. Reflexões sobre o acordo de leniência:
moralidade e eficácia na apuração dos crimes de cartel. In: VILARDI, Celso Sanchez;
PEREIRA, Flávia Rahal Bresser; DIAS NETO, Theodomiro (coord.). Direito penal
econômico: crimes econômicos e processo penal. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 143 e ss.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Considerações penais sobre o acordo de leniência na
realidade antitruste. In: PASCHOAL, Janaína Conceição; SILVEIRA, Renato de Mello
Jorge (coord.). Livro homenagem a Miguel Reale Júnior. São Paulo: GZ, 2014. p. 561 e
ss.

14 COSTA, Helena Regina Lobo da; ARAÚJO, Marina Pinhão Coelho. Do programa de
Leniência. In: ANDERS, Eduardo Caminati; PAGOTO, Leopoldo; BAGNOLI, Vicente
(coord.). Comentários à nova Lei de Defesa da Concorrência. Lei 12.529, de 30 de
novembro de 2011. São Paulo: Método, 2012. p. 260 e ss.

15 BRANCO, Fernando Castelo. Op. cit., p. 151 e ss. MARTINEZ, Ana Paula. Op. cit., p.
211 e ss.

16 MAIA, Rodolfo Tigre. Tutela penal da ordem econômica: o crime de formação de


Página 14
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

cartel. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 228 e ss.

17 A noção de sigilo e confidencialidade dos termos do acordo é tão importante que


chegou-se a pontuar que “questão crucial para a efetividade de um Programa de
Leniência é a preservação do sigilo dos documentos apresentados, na forma como
determinada pela autoridade, de modo a não expor desnecessariamente o signatário do
acordo. Com isso em mente, o Ministério da Justiça submeteu à consulta pública a
criação de tipo penal para a divulgação, sem justa causa, de informações relativas a
acordo de leniência, com previsão de pena de detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos e
multa”. MARTINEZ, Ana Paula. Op. cit., p. 250.

18 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Considerações penais… cit., p. 577 e ss.

19 MARTINEZ, Ana Paula. Op. cit., p. 209 e ss. CRAWFORD, Adam. Sticks and carrots…
and sermons. Some thougthts on compliance and legitimacy in regulation of youth
anti-social behaviour. In: CRAWFORD, Adam; HUCKLESBY, Anthea (ed.). Legitimacy and
compliance in criminal justice. New York: Routledge, 2013. p. 204 e ss.

20 MAIA, Rodolfo Tigre. Op. cit., p. 232 e ss. MARTINEZ, Ana Paula. Op cit., p. 217 e ss.
SALOMI, Maíra Beauchamp. Op. cit., p. 208 e ss.

21 BRIOSCHI, Carlo Alberto. Breve historia de la corrupción – De la antigüedad a


nuestros días. Trad. Juan Ramón Azaola. Madrid: Taurus, 2004. p. 41 e ss. HABIB,
Sérgio. Brasil: quinhentos anos de corrupção. Enfoque sócio-histórico-jurídico-penal.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1994. p. 3 e ss.

22 MONGILLO, Vincenzo. La corruzione tra sfera interna e dimensione internazionale.


Effeti, potenzialità e limiti di un diritto penale “multilivello” dallo Stato-nazionale alla
globalizzazione. Napoli: Edizioni Scientifiche Italiane, 2012. p. 3 e ss.

23 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. A ideia penal sobre a corrupção no Brasil: da


seletividade pretérita à expansão de horizontes atual. In: BERDUGO GÓMEZ DE LA
TORRE, Ignacio; BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva (coord.). Estudios sobre la
corrupción: una reflexión hispano brasileña. Salamanca: Centro de Estudios Brasileños –
Universidad de Salamanca, 2013. p. 73 e ss.

24 ROSE-ACKERMAN, Susan. Corruption and government. Causes, consequences and


reform. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. p. 9 e ss.

25 Nesse sentido, Perez Cepeda e Benito Sánchez ao ponderarem que “el proceso de
globalización de la economía propicia prácticas corruptas en el comércio internacional
como consecuencia de la existencia de asimetrías o diferencias que se producen a
cualquier nivel económico, político, social o jurídico, que son aprovechadas por las
empresas para alcanzar los fines propuestos al amparo de las mismas. También es
evidente que la globalización genera un espacio económico carente de una regulación
efectiva y, paralelamente, la ausencia de una respuesta uniforme. Los delincuentes y
empresas se aprovechan de que, ante formas similares de criminalidad económica,
continúa habiendo distintos niveles de reproche social, de represión penal y gravedad de
las penas. Ante esta situación, las empresas realizan jurisdiction shopping, que consiste
en la elección de aquellos territorios con las legislaciones penales más laxas en materia
de sobornos para realizar transacciones comerciales corruptas. En este contexto, la
diversidad de los sistemas penales hace surgir importantes núcleos de impunidad que
serán aprovechados por las organizaciones criminales empresariales para fijar el
escenario de su intervención.” PEREZ CEPEDA, Ana; BENEDITO SÁNCHEZ, Demelsa. La
política criminal internacional contra la corrupción. In: BERDUGO GÓMEZ DE LA TORRE,
Ignacio; BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva (coord.). Estudios sobre la corrupción: una
reflexión hispano brasileña. Salamanca: Centro de Estudios Brasileños – Universidad de
Salamanca, 2013. p. 15.
Página 15
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

26 NÚÑEZ GARCÍA-SAUCO, Antonio. La convención de Naciones Unidas contra la


Corrupción. In: RODRÌGUEZ GARCÌA, Nicolás: FABIÀN CAPARRÒS, Eduardo A. La
corrupción en un mundo globalizado. Análisis interdisciplinar. Salamanca: Ratio Legis,
2004. p. 13 e ss.

27 MURIEL PATINO, María Victoria. Aproximación macroeconómica al fenómeno de la


corrupción. In: RODRÌGUEZ GARCÌA, Nicolás: FABIÀN CAPARRÒS, Eduardo A. La
corrupción en un mundo globalizado. Análisis interdisciplinar. Salamanca: Ratio Legis,
2004. p. 27 e ss.

28 BOERSMA, Martine. Corruption: a violation of human rights and a crime under


international law? Cambridge: Intersentia, 2012. p. 54 e ss.

29 Cf., em detalhes, BOERSMA, Martine. Op. cit., p. 55 e ss. MONGILLO, Vicenzo. Op.
cit., p. 355 e ss.

30 JAKOBI, Anja P. The OECD and crime: the fight against corruption and money
laundering. In: MARTENS, Kerstin; JAKOBI, Anja P. (ed.). Mechanisms of OECD
Governance. International incentives for national policy-making. Oxford: Oxford
University Press, 2010. p. 139 e ss.

31 PEREZ CEPEDA, Ana; BENITO SÁNCHEZ, Demelsa. Op. cit., p. 22 e ss. COSTA, Silvia
Chaves Lima. A nova face da corrupção frente à tutela da ordem econômica. In:
BERDUGO GÓMEZ DE LA TORRE, Ignacio; BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva (coord.).
Estudios sobre la corrupción: una reflexión hispano brasileña. Salamanca: Centro de
Estudios Brasileños – Universidad de Salamanca, 2013. p. 102 e ss. NIETO MARTÍN,
Adán. La privatización de la lucha contra la corrupción. In: ______; ARROYO ZAPATERO,
Luis. El derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013.
p. 191 e ss.

32 MONGILLO, Vincenzo. Op. cit., p. 23 e ss.

33 MOOSMAYER, Klaus. Investigaciones internas: una introducción a sus problemas


esenciales. Traducción: Adán Nieto Martín. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO
MARTÍN, Adán (dir.). El derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant
lo Blanch, 2013. p. 137 e ss.

34 Como bem destaca Ragués i Vallès, “la palavra inglesa whistleblower se traduce
literalmente al español como ‘el que toca el silbato’. La expresión se utiliza para hacer
referencia a quienes denuncian un determinado hecho ilícito, según suele afirmarse, por
analogía con los antiguos policías ingleses, que hacían sonar su silbato cuando advertían
la presencia de un posible delincuente”. RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Whistleblowing…,
cit., p. 19.

35 SIEBER, Ulrich. Programas de compliance en el derecho penal de la empresa. Una


nueva concepción para controlar la criminalidad económica. Trad. Manuel A. Abanto
Vásquez. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán (dir.). El derecho penal en
la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013. p. 65 e ss.

36 RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los procedimientos… cit., p. 162.

37 TRAPASSO, Maria Teresa. Control of compliance programs: the supervisory body. In:
FIORELLA, Antonio (ed.). Corporate criminal liability and compliance programs. Towards
a common model in European Union. Napoli: Jovene, 2012. vol. 2, p. 295 e ss.

38 NIETO MARTÍN, Adán. Problemas fundamentales del cumplimiento normativo en el


derecho penal. In: KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO,
Página 16
O acordo de leniência na Lei Anticorrupção

Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 23 e
ss.

39 Idem, p. 28.

40 PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de los


compliance officers. Traducción por Nuria Pastor Muñoz. In: KUHLEN, Lothar; PABLO
MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo (eds.). Compliance y teoría del
derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 210 e s.

41 ESTRADA I CUADRAS, Albert; LLOBET ANGLI, Mariona. Derechos de los trabajadores


y deberes del empresario: conflicto en las investigaciones empresariales internas. In:
KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo (eds.).
Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 203 e ss.

42 PABLO MONTIEL, Juan. Autolimpieza empresarial: compliance programs,


investigaciones internas y neutralización de riesgos penales. In: KUHLEN, LOTHAR;
PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo (eds.). Compliance y teoría
del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 222 e ss.

43 RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los procedimientos… cit., p. 163.

44 ESTRADA I CUADRAS, Albert; LLOBET ANGLI, Mariona. Op. cit., p. 203 e ss. Cf., para
uma visão geral do problema das denúncias internas, RAGUÉS I VALLÈS, Ramon. Los
procedimientos… cit.. p. 176 e ss.

45 VILLANI, Enrica. Compliance programs and “organizational fault” in Europe. In:


FIORELLA, Antonio (ed.). Corporate criminal liability and compliance programs. Towards
a common model in European Union. Napoli: Jovene, 2012. vol. 2, p. 274 e ss.

46 MOOSMAYER, Klaus. Op. cit., p. 140 e ss. GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y
derechos del trabajador, especialmente derecho a la protección de datos y
whistleblowing. In: KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA GIMENO,
Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 125
e ss. MASCHMANN, Frank. Compliance y derechos del trabajador. Traducción por Juan
Luis Fuentes Osorio. In: KUHLEN, Lothar; PABLO MONTIEL, Juan; ORTIZ DE URBINA
GIMENO, Íñigo (eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons,
2013. p. 147 e ss.

47 Cf., em detalhes, GOENA VIVES, Beatriz. La atenuante de colaboración. In: SILVA


SÁNCHEZ, Jesús-María; MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (coord.). Criminalidad de
empresa y compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona: Atelier, 2013.
p. 229 e ss.

48 MUÑOZ DE MORALES ROMERO, Marta. Programas de cumplimiento “efectivos” en la


experiencia comparada. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán (dir.). El
derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013. p. 211 e ss.

49 NIETO MARTÍN, Adán. Problemas fundamentales… cit.. p. 41 e ss.

50 MOOSMAYER, Klaus. Op. cit., p. 137 e ss.

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