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Rompendo o ciclo vicioso da produção acadêmica

Marcelo Sabbatini1

Formar para o mercado ou formar intelectuais? O que poderia ser um dilema


conceitual ou um debate ideológico transforma-se, na atualidade, em uma ques-
tão crucial para as instituições de ensino superior. Pouco a pouco, imposta através
das políticas governamentais de avaliação da qualidade da educação, a concepção do
ensino como construção do conhecimento (e não somente como mera reprodução de
conhecimentos técnicos) afirma-se, ao mesmo tempo que as fronteiras entre teoria e
prática, entre pesquisa e tecido produtivo econômico se diluem em uma sociedade marca-
da pela rápida mudança e pelo acelerado desenvolvimento tecnológico.

Porém, a concepção de ensino superior como centro produtor de conhecimento


traz outros paradoxos. Por onde começar? Como viabilizar, em instituições de pequeno
porte, a dispendiosa atividade de pesquisa? Como instituir uma cultura organizacional
voltada para esta nova forma de se relacionar o saber? Onde encontrar os educadores-
profissionais e os profissionais-educadores que possam construir pontes entre mundo
aparentemente tão distantes, o da academia e o do trabalho?

Responder a estas perguntas não é fácil, nem simples. Mas a partir do momen-
to em que se reconhece que uma instituição de ensino superior deve desempenhar seu
papel social na criação e na transmissão do conhecimento, as possibilidades se abrem.
É com este espírito de renovação que a Escola Superior de Marketing – FAMA, reconheci-
do e tradicional centro educativo da cidade do Recife, empreendeu a partir do ano de 2010,
um ambicioso projeto. Com o estabelecimento de um Núcleo de Pesquisa (NUPES), seu
objetivo principal é fechar estas lacunas. Entre as atividades desenvolvidas por este Núcleo,
a iniciação científica e a monitoria visam a uxiliar o estabelecimento de uma cultura de
pesquisa científica, como elemento fundamental do processo de ensino aprendizagem.

É justamente com um sentido de estimular o pensamento crítico e o rigor meto-


dológico como base para o desenvolvimento das atividades empresariais e empreendedo-
ras, em consonância com as competências que tanto as organizações como os indivídu-
os necessitam adquirir e dominar no século XXI, que o projeto “estrela” nasce: a revista
Mercatus Digital.

Uma revista científica eletrônica feita por e para a comunidade acadêmica de uma
instituição que lida diária e profissionalmente com a informação, com a comunicação e
com a tecnologia. Uma revista que surge sob a égide do “acesso livre”, da lógica de cola-
boração em rede. Que busca humanizar e desmitificar a ciência e sua linguagem, aproxi-
mando-a do cotidiano e da realidade dos professores e alunos, conectando-os ao mesmo
tempo com o amplo universo da comunidade acadêmica.

Para possibilitar, tanto técnica como financeiramente, o projeto de uma revis-


ta científica eletrônica, optamos pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas
(SEER) do Instituto Brasileiro de Informação Científica e Técnica (IBICT), baseado por
1  Editor da revista Mercatus Digital e coordenador do Núcleo de Pesquisa (Nupes) da Escola Superior de Marketing /
FAMA, Recife, Pernambuco, Brasil. Endereço eletrônico: nupes@escolademarketing.com.br

Mercatus Digital, Recife, v. 1, n. 1, p. 7–8, julho de 2010. 7


Rompendo o ciclo vicioso da produção acadêmica

sua vez no software desenvolvido pelo Public Knowledge Project - Open Journal Systems
da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Como característica, este softwa-
re possui seu código aberto e uso livre sendo utilizado internacionalmente por diversos
projetos de publicação científica eletrônica e adotado como solução-padrão para as revis-
tas científicas brasileiras.

Contudo, a tecnologia não passa de mero artifício, se não houver conteúdo. E assim,
a revista Mercatus Digital também possui o objetivo de ser um canal de comunicação
científica disponível a todos aqueles que desejem adentrar pelos caminhos da produção
acadêmica. Ao questionamento com o qual abrimos este editorial, agora somamos outro:
publicar ou morrer? Ou então, mais pessimisticamente: publicar e morrer?

Em todos os níveis de atuação, a publicação em periódicos científicos surge como


elemento essencial daqueles que vão, de alguma forma, lidar com o conhecimento. Da
seleção para programas de pós-graduação strictu sensu e passando pelos concursos públi-
cos, “fazer currículo” é essencial. Cada vez mais, os indicadores quantitativos separam
aqueles “que podem” daqueles que “não podem”. A expressão “fazer pontinhos no Lattes”,
por impreciso que seja, é uma realidade.

Mas frente à necessidade de criar conhecimento (e mais importante, do ponto


de vista pragmático, de publicar), as leis da sociologia da ciência aparecem, implacáveis.
O efeito Mateus, identificado por Robert K. Merton, age premiando aqueles que já
possuem a chamada “moeda acadêmica” e marginalizando ainda os que não conseguiram
publicar.

Quebrar este círculo vicioso é imperativo e assim a revista Mercatus Digital, sem
abandonar a estimada qualidade da produção científica, pretende abrir a porta para jovens
e talentosos pesquisadores. Que ela seja o início de um longo caminho, mas também
um meio de aprendizagem, de auto-conhecimento e de transformação pessoal de nossos
colaboradores será nossa recompensa mais grata.

Prova disto é este número inicial, que encontrou ordem no caos e aletorieda-
de típica dos projetos nascentes. Com o tema “Informação, conhecimento e mercado”,
os autores desta edição convergiram em sua problemática. Assuntos como o marketing
de moda, o uso da cultura popular no marketing, as plataformas das mídias digitais, as
estratégias linguística utilizadas nas atividades de promoção e a gestão de grandes vare-
jistas (supermercados) revelam a centralidade e a importância que a informação e o
conhecimento desempenham para a satisfação das necessidades do mercado consumidor.
E com isso, reforçam a justificativa da existência desta revista eletrônica.

Finalmente, não podemos deixar de agradecer o apoio incondicional que encon-


tramos na direção da Escola Superior de Marketing, especialmente os professores José
Lavanerè Lemos das Chagas e Ana Carla Lemos de Assis. Esperamos corresponder a suas
expectativas e a seu belo projeto.

Desejamos uma boa leitura e bons estudos!

Marcelo Sabbatini

8 Mercatus Digital, Recife, v. 1, n. 1, p. 7-8, julho de 2010.

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