As enfermeiras são muitas vezes os principais cuidadores dos clientes e das suas famílias que
estão a passar por um processo de transição. Elas atendem às mudanças e exigências que as
transições trazem às vidas quotidianas dos clientes e suas famílias. Para além do mais as
enfermeiras tendem a ser os cuidadores que preparam os clientes para as transições e que
facilitam o processo de aprendizagem de novas competências relacionadas com a saúde dos
clientes e experiência de doença. Exemplos de transições que tornam os clientes vulneráveis
são: experiências de doença tais como diagnósticos, procedimentos cirúrgicos, reabilitação e
recuperação; transições desenvolvimentais e de esperança de vida tais como gravidez,
nascimento, paternidade, adolescência, menopausa, envelhecimento e morte; e transições
culturais e sociais tais como migração, reforma e prestação de cuidados à família.
Propriedades
Consciência
Envolvimento
Mudança e
diferença
Duração da Terapêuticas de Enfermagem
transição
Pontos críticos e
eventos
À luz dos resultados destes estudos, a análise da natureza das transições sugere que as
enfermeiras devem considerar os padrões de todos os padrões de todas as transições
relevantes no indivíduo e na sua vida familiar em vez de se concentrar num tipo específico de
transição. Padrões de transição incluiriam transições únicas ou múltiplas. Considerações
importantes são se as transições múltiplas são sequenciais ou simultâneas, a extensão da
sobreposição de transições e a natureza das relações entre os diferentes eventos que estão a
despoletar transições num dado cliente.
Consciência
Envolvimento
Mudança e diferença
Duração da transição
Pontos críticos e eventos
No entanto, estas propriedades não são necessariamente distintas ou isoladas. Na verdade,
são propriedades interligadas de um processo complexo.
Consciência
Apesar da análise dos estudos apresentada no artigo, algumas questões continuam por
responder. Nomeadamente a questão de saber o que é que despoleta a transição: a
consciência da enfermeira ou a do cliente?
Envolvimento
Mudança e Diferença
A mudança e a diferença são propriedades essenciais das transições. Embora semelhantes,
estas propriedades não são intermutáveis, nem são sinónimos de transição. Todas as
transições envolvem mudança, enquanto nem todas as mudanças estão relacionadas com
transições. Um exemplo do estudo dos pais de crianças diagnosticadas com doenças
congénitas ilustra a diferença entre mudança e transição. Um dos pais descreveu o impacto do
diagnóstico como tendo resultado numa mudança abrupta no foco familiar. No entanto, a
transição foi um processo de longo prazo, que implicou que o pai se adaptasse a novos papeis
e situações, que aceitasse o diagnóstico, resultando eventualmente em novos significados e
uma sensação de domínio quando apreendeu e compreendeu esta nova situação. Assim, as
transições são o resultado de mudanças e resultam em mudanças.
Duração da Transição
1. O período de diagnóstico;
2. Os períodos intensivos de efeitos secundários dos ciclos de quimioterapia;
4. A conclusão do tratamento.
Na disciplina da Enfermagem, os seres humanos são definidos como seres activos que têm
percepções de e atribuem significados às situações de saúde e de doença. Estas percepções e
significados são influenciadas por e por sua vez influenciam as condições em que uma
transição ocorre. Assim, para perceber as experiências dos clientes durante as transições, é
necessário por a descoberto as condições pessoais e ambientais que facilitam ou dificultam o
progresso no sentido de atingir uma transição saudável. As condições pessoais, comunitárias e
sociais podem facilitar ou restringir os processos de transição saudáveis e o resultado das
transições.
Condições Pessoais
Significados
Quando um estigma está associado a uma experiência de transição, tal como a menopausa na
cultura coreana, a expressão de estados emocionais relacionados com esta transição pode ser
inibida. Uma vez que na cultura coreana as mulheres tendem a conceber a menopausa como
algo vergonhoso de se discutir em público, atravessam silenciosamente a menopausa por
conta própria, pelo que as suas experiências de menopausa se tornam solitárias. Deste modo,
os sintomas são atribuídos ao seu estado emocional e tornam-se estigmatizados. Os seus
sintomas psicológicos apenas foram notados quando acompanhados de expressão física:
através de dores de cabeça, dores musculares e exaustão. Talvez as culturas asiáticas e do
Médio Oriente expressem sintomas psicológicos através da somatização devido ao receio do
estigma.
Estatuto Sócio-económico
Preparação e Conhecimento
Condições Comunitárias
Os recursos comunitários também facilitam ou inibem as transições. Por exemplo, para lidar
com as transições de imigração, as mulheres coreanas apoiaram-se nos restaurantes,
lavandarias e mercearias da comunidade coreana buscando o apoio de outros emigrantes. No
entanto, devido à necessidade de privacidade e à desconfiança dentro da comunidade, as
mulheres raramente usaram estes recursos comunitários para questões relacionadas com a
saúde/doença. Assim, a desconfiança na comunidade coreana pode impedir as mulheres
coreanas de usar recursos familiares como apoio para ultrapassar as suas várias transições.
Atém se familiarizarem com os recursos do país de acolhimento, podem ter apoio inadequado
durante pontos críticos nas suas transições.
- Apoio de parceiros e familiares, especialmente por parte das suas mães e outras mulheres
importantes nas suas vidas;
- Informação relevante obtida por parte de profissionais de saúde e ainda em aulas, livros e
outros materiais escritos;
- Pessoas modelo;
- Respostas a questões.
Inibidores de transições saudáveis para estas mães incluíram recursos insuficientes para
suportar a gravidez e a maternidade. Planificar e oferecer aulas que eram inconvenientes para
as mulheres também funcionaram como inibidores. Tal como uma mulher disse, “Bem, na
verdade, todas as aulas eram no hospital e eu não tenho carro. E são à noite. E eu não tinha
acompanhante.” Outros inibidores de uma transição saudável incluíram apoio inadequado,
conselhos não solicitados ou negativos, informação contraditória e insuficiente e ainda o
aborrecimento de serem estereotipadas, enfrentar o pessimismo dos outros e sentirem-se
tratadas como “propriedade pública”.
Condições Sociais
A sociedade em geral também pode ser facilitadora ou inibidora das transições. Ver eventos de
transição de forma estigmatizada e com significados estereotipados tem tendência a interferir
com o processo de uma transição saudável. Por exemplo, a desigualdade social é um
constrangimento ao nível social que influencia a transição das mulheres para a menopausa. Na
cultura patriarcal coreana, a posição da mulher na família explica porque é que as suas
próprias necessidades de saúde são secundárias relativamente às de outros familiares. Deste
modo, analisar a transição da menopausa isoladamente sem considerar as desigualdades de
género enraizadas nas vidas destas mulheres não pode ser a forma mais correcta de lidar com
esta questão.
A marginalização foi também outro factor inibidor no estudo das mulheres coreanas. Uma vez
que estas estavam à margem, quer na sociedade de acolhimento quer na sociedade de origem,
negligenciaram e ignoraram as suas experiências de menopausa. Raramente reconheceram a
menopausa como um problema de saúde. Em vez disso, deram prioridade as seus assuntos
familiares e fizeram das suas necessidades pessoais algo de secundário. As atitudes culturais
relativamente ao corpo da mulher e suas experiências mais um factor inibidor para uma
transição saudável para a menopausa.
Padrões de resposta
Indicadores de Processo
Meleis eTragenstein afirmam que “cuidar […] diz respeito ao processo e às experiências de
transição de seres humanos que atravessam períodos de transição em que a saúde e a
sensação de bem-estar surgem o resultado.” Tendo por base os estudos descritos neste artigo,
uma transição saudável caracteriza-se por indicadores de processo e de resultado. Uma vez
que as transições se estendem pelo tempo, a identificação de indicadores de processo que
guiam os clientes ou em direcção da saúde ou em direcção à vulnerabilidade e ao risco permite
uma avaliação e uma intervenção precoce por parte das enfermeiras de modo a ajudar o
cliente a chegar a resultados saudáveis. Em cada um dos estudos, foram usados métodos para
revelar os processos inerentes às transições saudáveis. Algumas das observações acerca dos
indicadores ou padrões de resposta que caracterizaram as transições saudáveis serão descritos
de seguida. Estes padrões de resposta incluíram sentir-se integrado, interagir, sentir-se
situado, desenvolver a confiança e lidar com a situação.
Sentir-se integrado
Interagir
Entre as pessoas com cancro e os seus familiares que lhes prestaram assistência, a interacção
um-para-um foi uma dimensão crítica da experiência de transição. Através da interacção, o
significado da transição e os comportamentos desenvolvidos em resposta à transição
revelaram-se, clarificaram-se e foram apreendidos. Apesar do diagnóstico de cancro tenha sido
visto por todos como um evento de crise, o significado do auto-cuidado e da prestação de
cuidados variou de uma par de pessoas para outro. Em alguns pares, o envolvimento por parte
do prestador de cuidados teve alguma resistência por parte de alguns cancerosos desejosos de
se auto-cuidarem. Noutros pares, o envolvimento do prestador de cuidados foi bem-vindo
como gesto de apoio. Estas estratégias foram clarificadas através da interacção e da reflexão
acerca das novas e emergentes relações. Através da interacção, os pares criaram um contexto
no qual o auto-cuidado e a prestação de cuidados puderam ocorrer de forma eficaz e
harmoniosa.
Localização e sentir-se situado
A localização é importante para a maioria das experiências de transição, apesar de ser mais
evidente nuns casos do que noutros. Um exemplo disso é a emigração, caso em que a
localização implica muitas vezes um movimento unidireccional de um lugar para outro. Para os
emigrantes, há uma constante migração, real ou imaginária, entre o lugar de origem e o de
acolhimento, entre as suas vidas pré e pós migração. Nas suas histórias, as mulheres brasileiras
faziam comparações constantemente. Comparavam as suas vidas, experiências e atitudes pré
e pós emigração, desde que chegaram aos Estados Unidos até já estarem a viver neste país há
já algum tempo. Compararam quase tudo: cuidados de saúde, comida, dieta, nutrição,
relações familiares, preços, trabalho doméstico, clima, oportunidades de emprego e relações
de género e de classe social. As mulheres também demonstraram ter perspectivas diferentes
acerca das suas experiências de emigração. Uma das características das transições é a criação
de novos significados e percepções. As comparações foram uma das formas das mulheres
emigrantes puderem apresentar e examinar as suas experiências e dar-lhes significado. Elas
compreendiam a sua nova vida comparando-a com a que tinham antes.
Fazer comparações também foi uma forma de se situarem no tempo, no espaço e nas suas
relações; uma forma de explicar e talvez justificar como ou porque é que se mudaram para os
Estados Unidos, onde estão e onde estiveram e ainda quem ou aquilo que são. As
comparações foram multi-direccionais no sentido em que umas foram favoráveis ao Brasil ou
às suas experiências pré-migração e outras aos Estados Unidos ou às suas experiências pós-
migração. Tais comparações serviram certamente propósitos diferentes para cada uma das
mulheres em determinados momentos, mas sublinham a multiplicidade de perspectivas nas
experiências das emigrantes, algo que os não-emigrantes têm dificuldade de perceber.
Outra dimensão que reflecte a natureza do processo de transição é até que ponto há um
padrão indicador de que os indivíduos envolvidos estão a experimentar um aumento no seu
nível de confiança. O desenvolvimento da confiança manifesta-se no nível de compreensão dos
diferentes processos inerentes ao diagnóstico, tratamento, recuperação e viver com
limitações; no nível de utilização de recursos e ainda no desenvolvimento de estratégias para
lidar com a situação. As dimensões do desenvolvimento e manifestação da confiança
progridem de um ponto para o seguinte na trajectória da transição. Nas palavras de uma das
grávidas afro-americana, “então cheguei à conclusão de que […] acho que ele está a beber
leite suficiente. Está a aumentar de peso. Deve estar tudo bem com ele. Por isso não me
preocupo.” Outra participante no mesmo estudo estava mais confiante porque, tal como a
própria diz, “Tenho um determinado horário, e estou tão sintonizada com o horário dele.” As
participantes demonstraram conhecimentos cumulativos de situações, mais compreensão
acerca de pontos críticos ou de viragem e ainda um sentido de sabedoria como resultado das
experiências que viveram.
Indicadores de Resultado
Dois indicadores de resultado emergiram dos estudos examinados nesta análise: domínio das
novas competências necessárias para lidar com a transição e o desenvolvimento de uma
identidade fluida e integradora. Os níveis a que estes resultados são experimentados podem
reflectir, por substituição, a qualidade de vida para aqueles que experimentam transições. A
determinação de quando uma transição está completa deve ser flexível e variável dependendo
do tipo de mudança ou do tipo de evento iniciador da transição, bem como da natureza e
padrões da transição. Se os resultados forem tidos em consideração demasiado cedo no
processo de transição, poderão ser indicadores de processo. Se forem tidos em consideração
muito depois de a transição estar completa, podem estar relacionados com outros eventos na
vida do cliente. Em algumas transições, é mais fácil determinar um ponto de início e um ponto
de fim. Em todas as transições, há um elemento subjectivo de ter sido atingido um ponto de
equilíbrio na vida de uma pessoa. Nos estudos aqui relatados, o domínio e o ter sido adquirido
um novo sentido de identidade reflectiram resultados saudáveis do processo de transição.
Domínio
Uma conclusão saudável de uma transição é determinada pelo grau de domínio demonstrado
das competências e comportamentos necessários para lidar com as novas situações e
ambientes. No estudo da maternidade, uma participante descreveu o domínio indicando que
“Há cerca de dois meses atrás comecei a tomar as minhas próprias decisões.” Outra descreveu
o domínio como tomar o controlo dos cuidados que necessita: “Eu tinha de pedir aquele teste
sabe. Pensava que os médicos deviam saber … mas ela tinha-se esquecido.” As competências
necessárias para adquirir domínio do papel de prestador de cuidados incluíam monitorizar e
interpretar sintomas, tomar decisões, passar à acção, providenciar cuidados manuais, fazer
ajustamentos, aceder a recursos, trabalhar em colaboração com o paciente a quem os
cuidados são prestados e lidar com o sistema de prestação de cuidados de saúde. Os
resultados do estudo das famílias envolvidas na prestação de cuidados sugerem que o domínio
resulta da combinação de competências previamente estabelecidas com competências
desenvolvidas recentemente durante o processo de transição. Para além disso, a competência
desenvolve-se ao longo do tempo com a experiência. No entanto, quando os clientes
finalmente atingirem um certo sentido de estabilidade perto do final da transição, o seu nível
de domínio indicará até que ponto terão atingido resultados saudáveis na transição.
Identidades Integracionistas Fluidas
Conclusão
O conhecimento dá poderes àqueles que o desenvolvem, que o usam e também àqueles que
dele beneficiam. Compreender as propriedades e condições inerentes a um processo de
transição levarão a um desenvolvimento das terapêuticas de enfermagem que sejam
adequadas com as experiências únicas dos clientes e das suas famílias, promovendo assim
respostas saudáveis às transições.
As teorias propõem metodologias que permitem compreender situações complexas tais como
processos e respostas de transição vulneráveis dos clientes. Uma teoria média das transições
emergiu da análise dos estudos aqui apresentados. As teorias médias caracterizam-se por um
escopo mais limitado e menos abstracção do que as grandes teorias. Também se concentram
em fenómenos ou conceitos específicos e reflectem a prática. Uma vez que foram
considerados diversos tipos e padrões de transição neste desenvolvimento teórico,
acreditámos que a metodologia que daqui emerge fornece uma visão mais ampla das
transições, providenciando instruções práticas e dirigindo de forma mais coerente e
sistemática novas questões.
Tal como indicam os estudos aqui apresentados, as experiências de transição não são
unidimensionais. Pelo contrário, cada transição caracteriza-se pela sua unicidade,
complexidade e dimensões múltiplas. Futuros esforços devem ser direccionados no sentido de
definir as diversidades e complexidades das experiências de transição através de pesquisas
com populações diversas relativamente a aos mais variados tipos e padrões de transição. Cada
conceito proposto aqui necessita de ser mais desenvolvido e refinado. Do mesmo modo,
pesquisas no sentido de descobrir os níveis e natureza da vulnerabilidade em diversos pontos
ao longo das transições podem ser motivadas por esta teoria. Finalmente, as terapêuticas de
enfermagem que reflictam as diversidades e complexidades das experiências de transição têm
de ser identificadas, clarificadas, desenvolvidas, testadas e avaliadas.